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Comunicação Digital / Cibercultura Prof. Dr. Andre Stangl https://ambientedigitalpuc.wordpress.com/

Comunicação Digital / Cibercultura... Henry Jenkins propõe em seu livro Cultura da Convergência (2006), três conceitos básicos: convergência midiática, cultura participativa

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Comunicação Digital / Cibercultura

Prof. Dr. Andre Stangl

https://ambientedigitalpuc.wordpress.com/

Henry Jenkins propõe em seu livro Cultura da Convergência (2006),

três conceitos básicos: convergência midiática, cultura participativa e inteligência coletiva.

Um processo chamado “convergência de modos” está tornando imprecisas as fronteiras entre os meios de comunicação, mesmo entre as comunicações ponto a ponto, tais como o correio, o telefone e o telégrafo, e as comunicações de massa, como a imprensa, o rádio e a televisão.

Um único meio físico – sejam fos, cabos ou ondas – pode transportar serviços que no passado eram oferecidos separadamente. De modo inverso, um serviço que no passado era oferecido por um único meio – seja a radiodifusão, a imprensa ou a telefonia – agora pode ser oferecido de váriasformas físicas diferentes. Assim, a relação um a um que existia entre um meio de comunicação e seu uso está se corroendo."

Ithiel de Sola Pool (1983)p. 37

Cada meio de comunicação tinha suas próprias e distintas funções e seus mercados, e cada um era regulado por regimes específcos, dependendo de seu caráter: centralizado ou descentralizado, marcado por escassez ou abundância, dominado pela notícia ou pelo entretenimento, de propriedade do governo ou da iniciativa privada.

Pool sentiu que essas diferenças eram em grande parte resultado de decisões políticas, e eram preservadas mais por hábito do que por alguma característica essencial das diversas tecnologias. Mas ele percebeu que algumas tecnologias de comunicação suportavam maior diversidade e um maior nível de participação do que outras.

p. 37

Convergência: palavra que defne mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura. Algumas das ideias comuns expressas por este termo incluem o fluxo de conteddos através de várias plataformas de mídia, a cooperação entre as mdltiplas inddstrias midiáticas,

a busca de novas estruturas de fnanciamento das mídias que recaiam sobre os interstícios entre antigas e novas mídias, e o comportamento migratório da audiência, que vai a quase qualquer lugar em busca das experiências de entretenimento que deseja. p.377

Talvez, num conceito mais amplo, a convergência se refra a uma situação em que mdltiplos sistemas de mídia coexistem e em que o conteúdo passa por eles fuidamente. Convergência é entendida aqui como um processo contínuo ou uma série contínua de interstícios entre diferentes sistemas de mídia, não uma relação fxa. p.377

Como Pool previu, estamos numa era de transição midiática, marcada por decisões táticas e consequências inesperadas, sinais confusos e interesses confitantes e, acima de tudo, direções imprecisas e resultados imprevisíveis.

Duas décadas depois, encontro-me reavaliando algumas das principais questões que Pool levantou – sobre como manter o potencial da cultura participativa na esteira da crescente concentração das mídias, e se as transformações trazidas pela convergência abrem novas oportunidades para a expressão ou expandem o poder da grande mídia.

p.38-9

...os velhos meios de comunicação nunca morrem – nem desaparecem, necessariamente. O que morre são apenas as ferramentas que usamos para acessar seu conteúdo – a fta cassete, a Betacam. São o que estudiosos dos meios de comunicação chamam de tecnologias de distribuição. (...)

As tecnologias de distribuição tornam-se obsoletas e são substituídas. CDS, arquivos MP3 e ftas cassetes são tecnologias de distribuição.

O conteúdo de um meio pode mudar..., seu público pode mudar ... e seu status social pode subir ou cair ..., mas uma vez que um meio se estabelece, ao satisfazer alguma demanda humana essencial, elecontinua a funcionar dentro de um sistema maior de opções de comunicação.

Desde que o som gravado se tornou uma possibilidade, continuamos a desenvolver novos e aprimorados meios de gravação e reprodução do som. Palavras impressas não eliminaram as palavras faladas. O cinema não eliminou o teatro. A televisão não eliminou o rádio. Cada meio antigo foi forçado a conviver com os meios emergentes. É por isso que a convergência parece mais plausível como uma forma de entender os últimos dez anos de transformações dos meios de comunicação do que o velho paradigma da revolução digital.

p.41-2

No futuro próximo, a convergência será uma espécie de gambiarra – uma amarração improvisada entre as diferentes tecnologias midiáticas – em vez de um sistema completamente integrado.

Neste momento, as transformações culturais, as batalhas jurídicas e as fusões empresariais que estão alimentando a convergência midiática são mudanças antecedentes na infraestrutura tecnológica.

O modo como essas diversas transições evoluem irá determinar o equilíbrio de poder na próxima era dos meios de comunicação.p.45

A proposta de Jenkins de entender a convergência como uma cultura, não é apenas tecnológica, não se trata apenas de

aparelhos multifuncionais,

(a falácia da caixa preta…).

O conceito de convergência, refere-se ao um novo paradigma de cultura.

I- A insufciência da expertise - o especialista solitário é superado pela inteligencia coletiva e colaborativa.

II - A economia afetiva - que através da interação com o público, envolve emocionalmente os consumidores.

Fã recria show do Radiohead apenas com gravações do pdblico Projeto Rain Down sincroniza imagens da platéia com mdsicas

da banda inglesa; DVD será distribuído na internet Alexandre Matias, de O Estado de S. Paulo

A temporada de shows internacionais no Brasil sempre esquenta no segundo semestre, mas, para muita gente, o melhor show de 2009 já aconteceu quando o Radiohead fez duas apresentações, no Rio

de Janeiro e em São Paulo, em março passado. Entre as milhares de pessoas que assistiram aos shows, centenas levaram câmeras e

celulares que flmam, registrando, de diferentes ângulos, praticamente a íntegra das duas apresentações.

O paulistano Andrews Ferreira Guedis, no entanto, não levou câmera - mas ao chegar em casa após o show passou a procurar, no YouTube, os

vídeos da apresentação. "Quis aproveitar a empolgação pós-show juntando vídeos que apareceram na internet para uma edição

multicâmera da música ‘Paranoid Android’", explica. "Depois disso fui bombardeado com perguntas sobre a edição de outras músicas. Nunca tinha pensando em fazer um projeto desses, apenas editava vídeos de

shows da minha própria banda - a Refnk"

http://infograficos.estadao.com.br/focas-economicos-13/crowdfunding.shtml

cultura participativa (ou colaborativa)

Pierre Levy argumenta que com a inteligência coletiva, numa sociedade de redes, ninguém sabe tudo – vamos nos livrar da ideia do homem da Renascença e tirar da educação o conceito

de que todo estudante deve aprender as mesmas coisas.

Todo mundo sabe alguma coisa. Vamos criar uma cultura de especialidades diversas e múltiplas formas de conhecimento.

O conhecimento de um indivíduo está disponível para o grupo sempre que necessário.

Individualmente, não podemos muito contra o tsunami de informação que quebra sobre nós todos os dias.

Coletivamente, no entanto, temos a capacidade mental de enfrentar problemas complexos, que normalmente estariam

bem além de nossas capacidades pessoais.

Jenkins conclui seu livro ressaltando que a cultura da convergência são mudanças nas formas de relacionamento do

público e dos artistas com os meios de comunicação.

Essa reconfguração se dá através da nossa relação com a cultura popular e o entretenimento comercial, atividade que fatalmente ajudará na compreensão das dinâmicas sociais e

movimentos culturais da próxima década.

As habilidades adquiridas nestes processos apresentam implicações consideráveis no modo como aprendemos,

convivemos, trabalhamos, e exercemos a cidadania.

Se olharmos para a história da cultura, veremos movimentos amplos

que contradizem a viabilidade a longo prazo dos modelos correntes

de propriedade intelectual. Antigamente, havia uma cultura

popular que permitia uma participação ampla, que dava mais ênfase ao valor social que ao valor

econômico dos atos criativos, na qual não havia grande separação entre

criadores profssionais e amadores, e que dependia da troca de habilidades

e conhecimentos.

Depois veio a cultura de massa, na

qual a produção cultural foi

privatizada e profssionalizada,

em que a maioria de nós consumia e

apenas uns poucos produziam, na qual ninguém era dono

das próprias tradições culturais ou das narrativas que conduziam

nossa imaginação.

Segundo Jenkins, a ideia da revolução digital era de que as novas mídias iriam desbancar e, de certa maneira, substituir os meios de massa.

Previa-se o ocaso da radiodifusão, da mesma forma que outras gerações de revolucionários imaginavam o ocaso do Estado. Não foi isso que

aconteceu.

O que estamos presenciando é uma interação crescente entre mídias tradicionais e mídias novas. Isso tem fortalecido – não enfraquecido – as

mídias novas.

O poder das redes de radiodifusão agora coexiste com o poder das redes sociais. Em alguns casos, isso vem forçando a radiodifusão a

procurar uma nova relação com os consumidores.

A indústria agora tenta satisfazer uma demanda ampla pelas mídias que nós consumidores

queremos – quando queremos e onde queremos. Há uma tentativa de satisfazer o desejo do público de participar ativamente na produção e

circulação de conteúdo midiático.

Por exemplo, em 2012, no enredo da novela brasileira Cheias de Charme 16 , três empregadas domésticas postam um videoclipe na internet e se tornam celebridades por conta da repercussão do vídeo nas redes 17 . Aliado a isso, a emissora criou um concurso 18 , em que empregadas postavam vídeos inspirados no das personagens. Nas redes sociais também criaram perfis das principais personagens, que por vezes faziam comentários sobre os fatos dos capítulos. A trama chegou a ter um escritório de advogados com uma especialista em Creative Commons 19 e passeatas organizadas via rede para salvar as heroínas da cadeia.

Em 2014, o mesmo núcleo de autores e consultores, entre eles Hermano Vianna e Ronaldo Lemos, criou outra novela, Geração Brasil, que aprofundou as experiências transmidiáticas. No novo enredo exploraram a tensão entre tecnologias abertas e proprietárias, cultura hacker, games, crowdsourcing, etc. Dessa vez teve até um aplicativo para celulares, Filma-ê, que podia ser baixado pelos telespectadores para interagir com a trama.

Geração Brasil deu um passo adiante. No capítulo anterior à interrupção da Copa, dois personagens, Davi e Manu, participando de um reality show transmitido pela Parker TV, canal a cabo que só existe na ficção, lançaram um aplicativo para smartphones que precisava virar hit. Tudo bem metanarrativa: o público “real” deveria se transformar também em personagem, passando a baixar o app como se fosse o público da Parker. O desafio possuía aspectos mais complexos. Em “Cheias de charme”, era necessário apenas apertar o botão de “play” para ver o clipe. Agora, além da instalação, seria preciso também produzir vídeos segundo os desafios propostos em cada pílula diária da novela (alguns dos vídeos do público eram exibidos no dia seguinte, passando a fazer parte da trama “real” da novela).(VIANNA, 2014).

Bibliografa

JENKINS, H. Os sentidos da convergência (entrevista concedida a Vinicius Navarro). Revista Contracampo. Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ), nº 21, 2010.

JENKINS, H. Cultura da convergência. São Paulo: Aleph, 2008.

VIANNA, Hermano. Transmídia. O Globo, Rio de Janeiro, 27 jun. 2014.