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ISSN 1810-0791 Vol. 3, Nº 1 Brasília, dezembro de 2005 Uso racional de medicamentos: temas selecionados 1 Constipação intestinal crônica no adulto e na criança: quando não se precisa de medicamentos Lenita Wannmacher* Página 1: Constipação intestinal crônica no adulto e na criança: quando não se precisa de medicamentos Resumo Diferentes abordagens não-medicamentosas (fibras, hidratação, atividade física, hábito intestinal regular, biofeedback, injeção de toxina botulínica, cirurgia) e medicamentosas (laxativos antigos e novos) têm sido propostas para prevenção e tratamento de um problema preva- lente no mundo ocidental, tanto em adultos quanto em crianças. Sua eficácia e sua segurança, pouco evidenciadas em estudos controlados, acompanham-se de mitos e concepções inadequadas ao correr dos tempos. Aqui se procura dar uma visão panorâmica do problema, mostrando que o emprego indiscriminado de laxativos, apesar de prevalente, não se enquadra no uso racional de medicamentos. *Lenita Wannmacher é professora de Farmacologia Clínica, aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente da Universidade de Passo Fundo, RS. Atua como consultora do Núcleo de Assistência Farmacêutica da ENSP/FIOCRUZ para a questão de seleção e uso racional de medicamentos. É membro do Comitê de Especialistas em Seleção e Uso de Medicamentos Essenciais da OMS, Genebra, para o período 2005-2009. É autora de quatro livros de Farmacologia Clínica. Introdução C onstipação intestinal crônica é problema muito co- mum, com definições variáveis entre profissionais da saúde e pacientes 1 . Para a maioria dos primeiros, cons- tipação corresponde a freqüência de evacuação inferior a três vezes por semana. Para os pacientes, constipação intestinal pode significar “sensação de evacuação incom- pleta, dificuldade para expelir as fezes (por duras ou secas), distensão abdominal ou mesmo gosto amargo na boca”. Alguns deles ainda acreditam em antigos conceitos que consideraram a irregularidade intestinal perigosa para a saúde – um verdadeiro “suicídio por intoxicação”. No século 19, cientistas formularam a teoria da “auto- intoxicação intestinal” que atribuía o “envenenamento” à retenção dos próprios resíduos 2 . Entretanto, há uma definição consensual (critérios ROME II) que diz existir constipação intestinal quando ocorreram dois ou mais dos seguintes eventos, por no mínimo 12 semanas nos últimos 12 meses 3 . Em adultos - dificuldade de evacuação no mínimo 25% das vezes, com fezes ressequidas ou muito duras no míni- mo 25% das vezes, sensação de evacuação incompleta no mínimo 25% das vezes, sensação de obstrução ano-retal ou bloqueio no mínimo 25% das vezes, manobras manu- ais para facilitar no mínimo 25% das vezes e menos de 3 evacuações por semana. Em crianças - fezes duras na maioria dos movimentos intestinais em 2 semanas; fezes firmes ao menos 2 vezes

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ISSN 1810-0791Vol. 3, N 1Braslia, dezembro de 2005Uso racionalde medicamentos:temas selecionados1Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentosLenita Wannmacher*Pgina 1: Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentosResumoDiferentesabordagensno-medicamentosas(fibras,hidratao, atividade fsica, hbito intestinal regular, biofeedback, injeo de toxina botulnica, cirurgia) e medicamentosas (laxativos antigos e novos) tm sido propostas para preveno e tratamento de um problema preva-lente no mundo ocidental, tanto em adultos quanto em crianas. Sua eficcia e sua segurana, pouco evidenciadas em estudos controlados, acompanham-se de mitos e concepes inadequadas ao correr dos tempos.Aquiseprocuradarumavisopanormicadoproblema, mostrandoqueoempregoindiscriminadodelaxativos,apesarde prevalente, no se enquadra no uso racional de medicamentos.*Lenita Wannmacher professora de Farmacologia Clnica, aposentada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atualmente da Universidade de Passo Fundo, RS. Atua como consultora do Ncleo de Assistncia Farmacutica da ENSP/FIOCRUZ para a questo de seleo e uso racional de medicamentos. membro do Comit de Especialistas em Seleo e Uso de Medicamentos Essenciais da OMS, Genebra, para o perodo 2005-2009. autora de quatro livros de Farmacologia Clnica.IntroduoConstipao intestinal crnica problema muito co-mum,comdefiniesvariveisentreprofissionais da sade e pacientes1. Para a maioria dos primeiros, cons-tipao corresponde a freqncia de evacuao inferior a trs vezes por semana. Para os pacientes, constipao intestinal pode significar sensao de evacuao incom-pleta,dificuldadeparaexpelirasfezes(pordurasou secas), distenso abdominal ou mesmo gosto amargo na boca. Alguns deles ainda acreditam em antigos conceitos queconsideraramairregularidadeintestinalperigosa para a sade um verdadeiro suicdio por intoxicao. Nosculo19,cientistasformularamateoriadaauto-intoxicao intestinal que atribua o envenenamento reteno dos prprios resduos2. Entretanto, h uma definio consensual (critrios ROME II) que diz existir constipao intestinal quando ocorreram doisoumaisdosseguinteseventos,pornomnimo12 semanas nos ltimos 12 meses3. Em adultos - dificuldade de evacuao no mnimo 25% das vezes, com fezes ressequidas ou muito duras no mni-mo 25% das vezes, sensao de evacuao incompleta no mnimo 25% das vezes, sensao de obstruo ano-retal ou bloqueio no mnimo 25% das vezes, manobras manu-ais para facilitar no mnimo 25% das vezes e menos de 3 evacuaes por semana.Emcrianas-fezesdurasnamaioriadosmovimentos intestinais em 2 semanas; fezes firmes ao menos 2 vezes Pgina 2:Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentospor semana por 2 semanas; ausncia de doena metablica, endcrina ou estrutural.Adicionalmente, subtipos de constipao, devidos a di-ferentes mecanismos, so reconhecidos: inrcia colnica (motilidadelenta),dificuldadeevacuatria(alterao funcionaldeassoalhoplvico,retoounus)econsti-pao funcional quando h trnsito normal. Em estudo realizado em 1000 pacientes com constipao crnica, trnsitocolniconormalfoiaformamaisprevalente (59%), seguida por dificuldade evacuatria (25%), trn-sito lento (13%) e combinao de distrbio evacuatrio com trnsito lento (3%)4. Reviso sistemtica5 refere que a prevalncia estimada em adultos na Amrica do Norte varia de 1,9% a 27,2%, com mdia de 14,8%. O problema ocorre mais em mulheres, na proporo de 2,2 :1, e em pessoas de mais de 65 anos. Aproximadamente 63 milhes de pessoas incluem-se nos critrios ROME II em Norte Amrica. A constipao tam-bmmaisprevalenteemindivduosno-caucasianose ocorre mais em crianas do que em adultos6. Em adultos, a constipao associa-se a outras co-morbi-dades (doenas neurolgicas, psiquitricas, proctolgicas, endcrinasemetablicas)eaousodemuitosmedica-mentoscompropriedadesanticolinrgicas(opiides, antidepressivos, diurticos, anti-histamnicos, antiparkinso-nianos, benzodiazepnicos, corticosterides, fenotiazinas, propranolol, sais de ferro e laxativos em uso crnico que produzem o clon catrtico, isto , aquele que funciona s base de laxativos)7-9.Histria de abuso sexual, inatividade fsica, educao limi-tada, baixo nvel econmico e sintomas de depresso so considerados como fatores de risco para constipao6.Levantamento10realizadocomgestantesmostrouqueas constipadas consumiram menos gua no primeiro trimestre (P = 0,04), mais alimentos no segundo trimestre (P = 0,04) e menos ferro (P = 0,02) e alimentao (P = 0,04) no ter-ceiro trimestre e depois do parto, respectivamente. No se encontraram diferenas estatisticamente significantes entre diferentes nveis de atividade fsica quando os grupos foram comparados. A associao demonstrada com padres diet-ticos durante a gestao e aps o parto permite introduzir recomendaes que previnam ou aliviem perturbaes do hbito intestinal durante e aps a gravidez.Emcrianasdezeroa18anos,revisosistemticacom abrangncia multinacional11 encontrou prevalncia varian-do entre 0,7% e 29,6% (mdia de 8,9%). No Brasil12, a prevalnciaestimadaemescolareschegoua28%.Na maioria das vezes, a causa funcional. A constipao cr-nica e refratria a tratamento tambm tem sido atribuda em crianas hipersensibilidade alimentar, por exemplo protena de leite de vaca13.Nos idosos, a constipao tem sido associada a dieta pobre emresduos,hidrataoinsuficiente,imobilidadefsica, co-morbidades e polifarmcia. possvel que a qualidade de vida dessas pessoas seja afetada pelo problema crnico, embora as evidncias sejam limitadas14. Nesta faixa etria, aprevalnciaatinge15%a20%,chegandoa50%em pacientes institucionalizados15. Assim,constipaoproblemarelevanteemsade pblica,precisandoseravaliadoporcuidadoresem ateno primria, gastrenterologistas e gestores de sa-de.Emborasomenteumterodosindivduosafetados procure atendimento mdico, os custos de tratamento de constipao chegam a centenas de milhes de dlares por ano despendidos somente com laxativos de venda sem prescriomdica16-18.Emcercade85%dasconsultas so prescritos laxativos.Preveno e tratamentoMedidas no-medicamentosasConstipao crnica funcionalA despeito de ser recomendao habitual, o aumento da ingesto de lquidos em crianas constipadas19 e em indiv-duos normais20 no produziu acrscimo na eliminao de fezes.Assim,medidavlidasomentequandohsinais de desidratao.Apesardaassociaoentresedentarismoeconstipao intestinalidioptica,arecomendaodeatividadefsica regularaindaassuntocontroverso.Emensaioclnico randomizado,43constipadoscommaisde45anose inativosforamalocadosparagruposA(manutenodo estilo de vida por 12 semanas) e B (programa de atividade fsica regular por 12 semanas) e receberam as mesmas re-comendaes dietticas. O exerccio determinou reduo no nmero de critrios Rome indicativos de constipao (2,7 para 1,7; P < 0,05) e no tempo de trnsito colnico e retossigmideo total (P < 0,05), confirmando ser vlido promoveraatividadefsicaregular21.Emoutroestudo, 157 participantes institucionalizados, entre 64 e 94 anos, 22%constipadose23%usandolaxativosforamrando-micamente alocados para: 1) treinamento de resistncia; 2) treinamento para aumento de mobilidade em geral; 3) Pgina 3:Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentosambos; 4) condio de controle educacional. O treina-mento mantido por 6 meses no aumentou a atividade fsica habitual nem afetou as queixas de constipao22. A ingesto de fibras na dieta (mais frutas, vegetais e gros integrais)aprimeiramedidarecomendada.Senose mostra suficiente, suplemento comercial com fibras (at 20 -25 g/dia) deve ser tentado. A adeso a suplementos comfibraspequenadevidoaflatulncia,disteno, plenitude e gosto desagradvel. Para melhorar a adeso, recomenda-se aumento gradual das fibras por uma a duas semanas6.Estudobrasileirorealizadoem38indivduos entre4e14anoscomconstipaofuncionalmostrou quesomente18,4%apresentavaminadequadaingesto diria de fibras na dieta. Neles, o tempo mdio de trnsito colnico esquerdo foi menor que no grupo com ingesto maior de fibras (11 versus 17 horas; P = 0,067). No houve correlao entre ingesto de fibras e tempo de trnsito em cada segmento colnico. Pacientes com trnsito prolonga-do apresentaram menor freqncia de evacuaes. No houve correlao entre ingesto de fibras e freqncia de evacuaesemcrianascomconstipaofuncionalcr-nica.Ascrianasconstipadascomaltoteordefibrasna dietativeramquadrosmaisgraveseprolongamentodo tempo de trnsito colnico23. Ensaio clnico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo24 avaliou a eficcia desuplementoricoemfibrassobretempodetrnsito intestinal e outros ndices de constipao em 48 crianas constipadas crnicas por 4 semanas. As que receberam o suplemento mostraram aumento no nmero de movimen-tos intestinais e reduo no relato de fezes endurecidas. O benefcio foi mais evidente nos pacientes com tempo de trnsito colnico prolongado. Abordagem recomendada a educao de crianas e de seus responsveis, com explicao da gnese do problema e nfase na adoo de hbitos intestinais. A criana deve serencorajadaaevacuaremmomentosespecficosdo dia para estabelecer um padro regular de defecao. Um momento apropriado aps as refeies para aproveitar o reflexo gastroclico25. Inrcia colnicaEste tipo de constipao caracterizado por demora de esvaziamento do clon proximal e reduo nas contraes peristlticasapsasrefeiesocorremaisfreqente-mente em mulheres jovens com uma evacuao semanal oumenosesintomasassociados(urgnciaparadefecar, distenso,doredesconfortoabdominais).Nestas,dieta rica em fibras pode aliviar a constipao. Em casos refratrios a todas as medidas, inclusive as me-dicamentosas, resseco colnica total e leo-retostomia poderiamserconsideradas.Reviso26de32sriesde casos mostrou taxas de satisfao entre 39% a 100% dos pacientes submetidos a colectomia, refletindo as grandes diferenas em incidncia de complicaes ps-operatrias e resultados funcionais de longo prazo. Quinze pacientes submetidosacolectomialaparoscpicatotal(2),colec-tomia total a cu aberto (6), e hemicolectomia esquerda laparoscpica (7) foram seguidos em mdia por 38 meses. Todosexcetoummelhoraramsintomaticamente,tendo evacuaes dirias27.Diculdade evacuatriaEste tipo de constipao se deve mais comumente dis-funo do assoalho plvico e do esfncter anal. So fatores determinantes fissuras anais ou hemorridas que produzem dor passagem das fezes, fazendo com que o paciente evite prolongadamenteadefecao.Adificuldadedeesvazia-mento efetivo do reto pode ser devida impossibilidade de coordenar msculos do assoalho plvico, abdominais e reto-anais no momento de defecar, reduzindo o descenso do perneo e a mudana do ngulo ano-retal, movimentos fisiolgicosfacilitadoresdaemissodefezes6.Amedida que vem sendo recomendada nesses casos o biofeedback auditivo ouvisual ouambossobre o funcionamento dos msculosdoassoalhoplvicoeesfncteranal,sendoos pacientes treinados a relaxar os primeiros e coordenar o relaxamentocommanobrasabdominaisqueaumentem a entrada de fezes no reto. Tal treinamento consiste em estmulos verbais sobre a coordenao muscular ou visu-alizaodasmanobraspormeiodeevacuaosimulada por introduo no reto de balo de ltex preenchido com 50 ml de ar ou gua ou fezes artificiais preenchidas com silicone (fecom). Essas manobras podem ser realizadas comsuportedeeletromiografiaano-retaloucateter manomtrico. Maiores explicaes sobre isso podem ser encontradas na referncia 6. Embora faltem estudos con-trolados, e os existentes sejam passveis de crtica, cerca de dois teros dos pacientes com disfuno do assoalho plvico se beneficiam com este treinamento3. Em 49 crianas constipadas crnicas, a comparao entre biofeedback e tratamento convencional mostrou a eficcia doprimeiroporcurtoprazo(3meses),semesclarecer sobre benefcios de longo termo28. Em caso de espasmo de msculos do assoalho plvico, a in-jeo de toxina botulnica de tipo A no msculo pubo-retal outra alternativa. Tem sido recomendada em pacientes Pgina 4:Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentoscom doena de Parkinson. Seria tambm uma medida em casos de retocele que consiste em hrnia, usualmente de parede anterior retal em direo vagina, e comumente resulta de trauma durante o parto ou episiotomia. Dentre 24 mulheres com constipao obstrutiva assim tratadas, 19 tiveram melhora em sintomas e resultados da defecografia e manometria em 2 meses. Uma desvantagem consiste no limitado efeito da toxina, exigindo repetidas injees para manter a melhora clnica29. Entretanto abordagem ainda menos estudada do que o biofeeedback. Emidosos,acupuntura,biofeedback,toxinabotulnicae cirurgia so abordagens com insuficiente experincia, cujas indicaes ainda devem ser esclarecidas15. Medidas medicamentosasLaxativos objetivam carrear lquido para o lmen intestinal, aumentar volume e amolecimento do bolo fecal e estimular peristaltismo intestinal. A eficcia entre diferentes repre-sentantes similar, embora com diferentes velocidades de resposta. Sua segurana, no entanto, diversa. O uso deve ser espordico, e a monoterapia prefervel. O custo deve ser considerado para sua escolha. Contrariamente ao antes afirmado, no h evidncia de abuso com laxativos. Constipao crnica funcionalPacientes no responsivos a terapia de fibras e aumento de atividade fsica podem tentar a seqncia de ainda um expansor do bolo fecal (preparaes de Psyllium), um la-xativo salino (sulfato de magnsio) ou osmtico (glicerol). Asdosesdevemserajustadasatqueoamolecimento das fezes seja obtido. A maioria dos laxativos osmticos demoravriosdiasparafuncionar.Ospacientesdevem serinstrudosanous-losexageradamentepelorisco de desidratao. Ensaio clnico randomizado30 mostrou ser similar a eficcia de polietilenoglicol e leite de magnsia em 79 crianas com constipao crnica tratadas por 12 meses. A nica dife-rena foi que o primeiro foi mais bem aceito pelas crianas do que leite de magnsia.Em caso de insucesso, laxativos estimulantes podem ser administrados (bisacodil ou derivados de sena) como ltima alternativa. Aumentam motilidade e secrees intestinais, mas tm a desvantagem de causar clicas abdominais. Seu efeito ocorre em horas. A dose desses agentes deve ser tateadaataobtenoderespostasatisfatria.Noh dadoscomprobatriosdequelesemoclonemdoses recomendadas, ou que sejam fator independente de risco de cncer colorretal31. Para pacientes com constipao severa, reserva-se medi-camento pr-cintico comotegaserode, agonistaparcial de receptor serotoninrgico6. Estudo com seguimento de 451 pacientes por 13 meses mostrou favorvel perfil de segurana e tolerabilidade com este medicamento32.Nos idosos, laxativos osmticos (polietilenoglicol) e forma-dores do bolo fecal so usualmente recomendados, embora hajalimitadasevidnciasdebenefcio.Anecessidadede manter boa hidratao com formadores do bolo fecal uma limitante ao seu uso. Tratamento intermitente com laxativos estimulantes considerado para pacientes no-responsivos aos agentes precedentes. Agonistas de receptores 5-HT4 (tegaserode, prucaloprida) and neurotrofina-3 (NT3) no foram adequadamente testados em idosos15. Lubiprostona,aprovadaemjaneirode2006(FDA)para tratamentodeconstipaocrnicaidioptica,cido graxo bicclico que seletivamente ativa canais de cloreto do epitlio gastrintestinal, aumentando a secreo de fluido. Estudos controlados por placebo demonstraram eficcia emconstipaocrnicaerazoveltolerabilidade,com nusea ocorrendo em 31% dos pacientes33.Inrcia colnicaNa falta de resposta ingesto de fibras, uso de laxativos podesertentadoparainduzirmovimentosintestinais regulares. Nos pacientes com impactao fecal, pode ser necessrio o uso de enemas. Diculdade evacuatriaPacientes com distrbios severos muitas vezes no respon-dem a laxativos orais, a menos que se usem altas doses, o que pode resultar em diarria ou efeitos adversos.Pgina 5:Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentosReferncias Bibliogrcas 1.WaldA.ConstipationinthePrimaryCareSetting: CurrentConceptsandMisconceptions.AmJMed 2006; 119 (9): 736-739.2.WhortonJ.Civilisationandthecolon:consti-pationasthediseaseofdiseases.BMJ2000; 321:1586-1589.3.BassottiG,ChistoliniF,Sietchiping-NzepaF,de Roberto G, Morelli A, Chiarioni G. Biofeedback for pelvicfloordysfunctioninconstipation.BMJ 2004; 328: 393-396. 4.NyamDC,PembertonJH,IlstrupDM,RathDM. Long-term results of surgery for chronic constipation. Dis Colon Rectum 1997;40:273-279. 5.Higgins PD, Johanson JF. Epidemiology of constipation in North America: a systematic review. Am J Gastro-enterol 2004; 99(4):750-759.6.LemboA,CamilleriM.CurrentConcepts:Chronic Constipation. 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ConclusoNocontextodaconstipaocrnica,medidasno-medicamentosasconstituemaprimeiraescolha para manejo inicial, com nfase em abordagem diettica e de hbitos de vida. Dependendo do me-canismo gerador do problema, outras abordagens no-medicamentosas so propostas. Os laxativos esto indicados quando as primeiras alternativas falham, no demonstrando diferena significativa de eficciaentreeles,sobretudoporlongoprazo.Quandousadosemesquemasrecomendados,sua segurana se equivale.Pgina 6:Constipao intestinal crnica no adulto e na criana: quando no se precisa de medicamentosEste Boletim direcionado aos profissionais de sade, com linguagem simplificada, de fcil compreenso. Represen-ta a opinio de quem capta a informao em slidas e ticas pesquisas disponveis, analisa e interpreta criticamente seus resultados e determina sua aplicabilidade e relevncia clnica no contexto nacional. Tal opinio se guia pela hierarquiadaevidncia,internacionalmenteestabelecidaeaceita.Assim,revisessistemticas,metanlisese ensaios clnicos de muito bom padro metodolgico so mais considerados que estudos quase-experimentais, estes, mais do que estudos observacionais (coortes, estudos de casos e controles, estudos transversais), e ainda estes, mais do que a opinio de especialistas (consensos, diretrizes, sries e relatos de casos). pela validade metodolgica das publicaes que se fazem diferentes graus de recomendao de condutas.Organi zaoPan-Ameri canadaSade/OrganizaoMundialdaSade-Brasil,2005. Todos os direitos reservados. permitida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte e no seja para venda ou qualquer fim comercial.Asopiniesexpressasnodocumentoporautores denominados so de sua inteira responsabilidade.Endereo: OPAS/OMS, SEN lote 19Braslia DF, CEP 70800-400Site: http://www.opas.org.br/medicamentos E-mail: [email protected] Vol. 3, N 2 - Medicamentos essenciais: vantagens de trabalhar neste contextoISSN 1810-0791 Ministrio da Sade19.Young RJ, Beerman LE, Vanderhoof JA. Increasing oral fluids in chronic constipation in children. Gastroenterol Nurs 1998; 21: 156-161. 20.Chung BD, Parekh U, Sellin JH. Effect of increased fluid intake on stool output in normal healthy volunteers. J Clin Gastroenterol 1999; 28(1): 29-32.21.De Schryver AM, Keulemans YC, Peters HP, et al. Effectsofregularphysicalactivityondefecation patterninmiddle-agedpatientscomplainingof chronicconstipation. 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McKeage K, Plosker GL, Siddiqui MA. Lubiprostone. Drugs 2006; 66 (6):873-879.Uso Racional de Medicamentos: Temas Selecionados uma publicao da Unidade Tcnica de Medicamentos e Tecnologias da Organizao Pan-Americana da Sade/OrganizaoMundialdaSadeRepresentaodo Brasil e do Departamento de Assistncia Farmacutica e Insumos Estratgicos da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos do Ministrio da Sade.Representantes institucionais:James Fitzgerald: Coordenador da Unidade Tcnica de Medicamentos e Tecnologia. OPAS/OMS.Manoel Roberto da Cruz Santos: Diretor do Departamento deAssistnciaFarmacuticaeInsumosEstratgicos. Ministrio da Sade.Coordenao da publicao:OrenzioSoler(OPAS/OMS).Textoepesquisa: LenitaWannmacher(UPF-RS/MembroEfetivo doComitdeSeleoeUsodeMedicamentos EssenciaisdaOMS).RevisodeTexto:Adriana Maria Parreiras Marques (OPAS/OMS). Consultor deComunicao:CarlosWilsondeAndrade Filho(OPAS/OMS).Normalizao:Centrode Documentao CEDOC (OPAS/OMS). Conselho Edi tori al : Adri anaMi tsueI vama(ANVI SA); CludiaGarciaSerpaOsriodeCastro(NAF/ENSP/FIOCRUZ);FabolaSulpinoVieira(DAF/SCTIE/MS); Rogrio Hoefler (CEBRIM). Layout e Diagramao: Grifo Design Ltda.