Contra a Escola, de John Taylor Gatto

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo de sete páginas que explicita as origens e os propósitos do modelo contemporâneo de escolarização compulsória.

Citation preview

ssseesforos tempestuososquho-mea-sese,a-lhes-seameEsquea f.ososaoinvs-os,mess,atravs

-se

** 09/2003 - Revista HarperContra a EscolaComo o ensino pblico debilita nossas crianas e por queJohn Taylor Gatto*Traduo de Camila Abadie e Helena Yoshima**

Durante os trinta anos em que ensinei em algumas das piores, e em algumas das melhores, escolas de Manhattan, tornei-me um especialista em tdio. O tdio estava em todos os lugares do meu mundo, e se voc perguntasse s crianas, como eu fazia frequentemente, por que elas sentiam-se to entediadas, as respostas eram sempre as mesmas: elas diziam que o dever era rse ele quisesse mesmo dizer "obtuso", acho que ele teria usado "obtuse", um adjetivo mais brando. Parece que ele quis passar que as crianas realmente achavam estpidas aquelas lies, com toda a fora do adjetivo.

estpido, que aquilo no fazia sentido, que elas j sabiam aquilo. Diziam que gostariam de estar fazendo algo de verdade, no apenas ficar sentadas aqui e ali. Elas diziam que os professores pareciam no saber muito sobre as suas temticas e obviamente no estavam interessados em aprender mais. E as crianas estavam certas: os professores estavam to entediados quanto elas.O tdio o estado comum dos professores de escola, e qualquer um que tenha passado algum tempo em uma sala de professores pode atestar a falta de energia, as reclamaes e o desnimo encontrados ali. Quando questionados sobre o porqu de sentirem-se entediados, os professores tendem a culpar as crianas, como voc j devia imaginar. Quem no se rpara no ter que colocar a correta forma "sentir-se-ia"

sentiria entediado ensinando alunos grosseiros e interessados somente nas notas? Isso na melhor das hipteses. Claro, os prprios professores so produtos dos mesmos programas de escolarizao compulsria de doze anos que tanto aborrecem os estudantes, e, como membros da escola, eles esto presos a estruturas ainda mais rgidas do que aquelas impostas sobre as crianas. Ento de quem a culpa?Todos somos culpados. Meu av ensinou-me isto. Em uma tarde, quando eu tinha sete anos, queixei-me de tdio para ele, e ele deu-me uma pancada na cabea. Disse-me que jamais repetisse aquela expresso em sua presena, e que, se eu estava entediado, aquilo era culpa minha e de mais ningum. O dever de animar-me e instruir-me era inteiramente meu, e as pessoas que no soubessem disto eram infantis e, se possvel, deveriam ser evitadas. Certamente no eram confiveis. Aquele episdio curou-me do tdio para sempre; e aqui e ali, ao longo dos anos, eu fui capaz de transmitir a lio a alguns estudantes notveis. No entanto, na maioria das vezes, achei intil tentar desafiar a noo oficial de que o tdio e a infantilidade eram o estado natural das coisas na sala de aula. Muitas vezes precisei desafiar os costumes e at mesmo driblar a lei para ajudar as crianas a libertarem-se dessa armadilha.O imprio contra-atacou, claro; adultos infantis geralmente confundem oposio com deslealdade. Certa vez, ao voltar de uma licena mdica, descobri que todas as provas que garantiam minha licena haviam sido intencionalmente destrudas, que meu contrato havia sido rescindido, e que eu mantinha nem mesmo minha licena como professor. Aps nove meses de rEssa expresso no muito comum. Que tal "Aps nove meses de tormentas"?

tormentas, eu finalmente consegui recuperar minha licena, quando a secretria da escola admitiu ter testemunhado o desenrolar dos fatos. Durante este perodo, minha famlia sofreu mais do que eu gostaria de lembrar. Quando, em 1991, finalmente me aposentei, eu tinha razes mais que suficientes para pensar em nossas escolas com seu confinamento forado de alunos e professores por longos perodo em salas, num regime quase rQuando ele fala em "cell-block style" ele quer gravar na cabea do leitor essa imagem de algo carcerrio mesmo, de indignar. Na prxima pgina ele vai novamente fazer essa comparao.

carcerrio como fbricas virtuais de infantilidade. No entanto, eu honestamente no conseguia ver por que tinham de ser daquela maneira. Minha prpria experincia me havia revelado o que muitos outros professores precisam tambm aprender ao longo do caminho, ainda que guardem para si mesmos por medo de represlias: se quisssemos, poderamos, de maneira fcil e barata, eliminar as velhas e estpidas estruturas, e ajudar as crianas a adquirirem uma educao em lugar de simplesmente receberem uma escolarizao. Encorajaramos as melhores qualidades da juventude curiosidade, esprito aventureiro, resilincia, a capacidade de ter insights surpreendentes simplesmente sendo mais flexveis em termos de tempo, textos e provas, estimulando as crianas a tornarem-se adultos competentes, dando a cada aluno a autonomia que ele ou ela precise para assumir um risco de vez em quando. Mas no fazemos isso. E quanto mais eu perguntava por que no, e insistia em pensar sobre o problema da escolarizao como um engenheiro faria, mais eu me enganava: E se no h um problema com nossas escolas? E se elas so do jeito que so, to distantes do senso comum e da longa experincia sobre como as crianas aprendem as coisas, no porque estejam fazendo algo errado, mas porque esto fazendo algo certo? possvel que George W. Bush tenha acidentalmente falado a verdade quando disse que "no vamos deixar nenhuma criana para trs? Ser que nossas escolas so feitas para garantir que nenhuma delas jamais venha a crescer de fato?Ns realmente precisamos de escola? No me refiro educao, mas escolarizao forada: seis perodos por dia, cinco dias por semana, nove meses por ano, por doze anos. Esta rotina mortal realmente necessria? Se sim, para qu? No nos escondamos atrs da leitura, escrita e matemtica como motivos, pois dois milhes de homeschoolers felizes certamente descartaram essa justificativa banal. Mesmo que no o tivessem feito, um nmero considervel de norte-americanos famosos nunca passou pelos sufocantes doze anos pelos quais nossas crianas atualmente tm de passar, e eles saram-se bem. George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Abraham Lincoln? Algum os ensinou, com certeza, mas eles no foram produtos de um sistema escolar e nenhum deles jamais se graduou em uma escola secundria. Durante a maior parte da histria americana, as crianas geralmente no passaram pelo ensino mdio, mas os desescolarizados tornaram-se almirantes como Farragut; inventores como Edison; capites da indstria, como Carnegie e Rockefeller; escritores, como Melville, Twain e Conrad; e mesmo acadmicos, como Margaret Mead. Na verdade, at bastante recentemente, pessoas que atingiam a idade dos treze anos no eram de maneira alguma vistas como crianas. Ariel Durant, co-autora de uma enorme srie de livros muito boa sobre histria mundial junto com o seu marido Will, casou-se aos quinze anos; e quem poderia declarar que Ariel Durant era uma pessoa ignorante? Sem escolaridade, talvez; mas no ignorante.Ns temos sido ensinados (isto , escolarizados) em nosso pas a pensar em sucesso como sinnimo de, ou, no mnimo, dependente de "escolarizao", mas historicamente v-se que isso no verdade, nem em termos intelectuais, nem em termos financeiros. E hoje em dia, muitas pessoas por todo o mundo encontraram formas de educarem-se a si mesmas sem recorrer a um sistema de escolas secundrias compulsrias que frequentemente lembram prises. Por que, ento, os americanos confundem educao com tal sistema? Qual exatamente a finalidade das nossas escolas pblicas?A escolarizao em massa de natureza compulsria envolveu-se com os Estados Unidos da Amrica entre 1905 e 1915, embora tenha sido concebida muito antes, e reivindicada pela maior parte do sculo XX. As razes para esta enorme agitao da vida familiar e das tradies culturais foram, grosso modo, trs:1. Criar boas pessoas;2. Criar bons cidados;3. Fazer de cada pessoa a melhor verso de si mesma.Tais metas so ainda hoje defendidas frequentemente, e a maioria de ns aceita-as de uma ou outra forma como uma definio aceitvel da misso da educao pblica; mesmo sendo poucas, as escolas falham em alcan-las. Mas, estamos totalmente errados. Compondo o nosso erro est o fato de que a literatura nacional tem declaraes numerosas e surpreendentemente consistentes acerca do verdadeiro propsito da escolarizao obrigatria. Temos, por exemplo, o grande H. L. Mencken, que escreveu em "The American Mercury", em abril de 1924, que o objetivo da educao pblica no encher os mais jovens da espcie com conhecimentos e despertar sua a inteligncia... Nada poderia estar mais distante da verdade. O objetivo simplesmente reduzir o maior nmero possvel de indivduos ao mesmo nvel seguro, reproduzir e treinar uma cidadania padronizada, e acabar com a dissidncia e com a originalidade. Este o seu objetivo nos Estados Unidos e este seu objetivo em qualquer outro lugar.Em funo da reputao de Mencken como um satrico, podemos ser tentados a descartar essa passagem como sendo um sarcasmo hiperblico. Seu artigo, no entanto, segue traando o modelo de nosso prprio sistema educacional, voltando ao j desaparecido - mas jamais a ser esquecido -, estado militar da Prssia. E embora ele certamente estivesse ciente da ironia de que havamos recentemente estado em guerra contra a Alemanha, Mencken, o herdeiro do pensamento e da cultura prussianos estava sendo perfeitamente srio aqui. Nosso sistema educacional realmente prussiano, e isto , de fato, motivo para preocupao.Uma vez que a saibamos procurar, o estranho fato de uma origem prussiana para nossas escolas aparece repetidamente. William James referiu-se a isso muitas vezes na virada do sculo. Orestes Brownson, o heri do livro "O verdadeiro e nico cu", de 1991, de Christopher Lasch, denunciou publicamente a prussianizao das escolas norte-americanas na dcada de1840. Em 1843, o Stimo Relatrio Anual de Horace Mann para o Conselho Estadual de Educao de Massachusetts essencialmente um hino terra de Frederico, o Grande, e um chamado para que o seu modelo de escolarizao fosse trazido para c. Que a cultura prussiana tenha se expandido vastamente na Amrica no fato surpreendente, dada nossa antiga associao com esse Estado utpico. Um prussiano serviu como assistente do Presidente Washington durante a Guerra da Revoluo, e tantos alemes estabeleceram-se aqui em 1795, que o Congresso cogitou publicar uma edio em lngua alem das leis federais. Mas, o que choca que ns adotamos to avidamente um dos piores aspectos da cultura prussiana: um sistema educacional elaborado deliberadamente para produzir intelectos medocres, para tolher a vida interior, para negar aos alunos apreciveis habilidades de liderana, e para assegurar a formao de cidados dceis e incompletos - tudo com o intuito de formar uma populao administrvel.Foi a partir de James Bryant Conant presidente de Harvard por vinte anos, especialista em gs letal na I Guerra Mundial, executivo no projeto da bomba atmica na II Guerra Mundial, alto comissrio da zona americana na Alemanha depois da II Guerra Mundial, e verdadeiramente um dos personagens mais influentes do sculo XX que eu percebi pela primeira vez os reais propsitos da escolarizao americana. Sem Conant, ns provavelmente no teramos o mesmo estilo e graus de testes padronizados que desfrutamos hoje em dia, nem seramos abenoados com gigantescas escolas que armazenam 2000 a 4000 alunos por perodo, como a famosa Columbine, em Littleton, Colorado. Logo depois de aposentar-me como professor, peguei o ensaio A criana, os pais e o estado, de 1959, de autoria de Conant, que mais parecia um livro, e fiquei mais do que intrigado em v-lo mencionar rapidamente o fato de que as escolas modernas que frequentamos foram o resultado de uma revoluo planejada entre os anos de 1905 e 1930. Revoluo? Ele abre mo de explicar, mas conduz o curioso e o desinformado ao livro de Alexander Inglis, de 1918, Princpios da educao secundria, no qual viu-se tal revoluo atravs dos olhos de um revolucionrio.Inglis, que rhttp://www.thecrimson.com/article/1935/1/11/the-inglis-lecture-pdr-samuel-drury/

d nome a uma palestra sobre educao em Harvard, deixa perfeitamente claro que a escolarizao compulsria no continente americano foi planejada para ser exatamente o que havia sido na Prssia de 1820: a quinta coluna no movimento democrtico burgus que ameaava dar aos camponeses e proletrios uma voz na mesa de negociaes. A escolarizao moderna, industrializada e compulsria pretendia um tipo de inciso cirrgica na unidade potencial dessas subclasses. Separe as crianas por assunto, por faixa etria, por constantes avaliaes nos testes e por muitas outras maneiras mais sutis, e tornar-se-ia improvvel que a massa ignorante da humanidade, separada na infncia, jamais se rpara evitar a cacofonia

reintegrasse em um todo perigoso.Inglis divide o propsito o propsito verdadeiro da escolarizao moderna em seis funes bsicas; qualquer uma das quais suficiente para arrepiar os cabelos daqueles que so inocentes o bastante para acreditar naquelas trs metas citadas anteriormente:1. Funo de ajustamento ou adaptao. As escolas devem estabelecer hbitos fixos em reao autoridade. Isto, obviamente, bloqueia o julgamento crtico por completo. Alm disso, praticamente destri a ideia de que coisas teis ou interessantes devam ser ensinadas, porque voc no pode testar a obedincia reflexiva at saber se as crianas conseguem aprender e fazer coisas tolas e cansativas.2. Funo de integrao. Tambm pode muito bem ser chamada de funo de conformao, pois sua inteno tornar as crianas to parecidas quanto possvel. Pessoas conformadas so previsveis e isso muito til para aqueles que desejem explorar e manipular uma grande massa trabalhadora.3. Funo de diagnstico e direo. A escola destina-se a determinar o papel social de cada estudante. Isto feito ao rfrase estranha, difcil de traduzir. Tu entendeu o sentido? Eu confesso que no.

implantar evidncia matemtica e anedtica em registros cumulativos. Como em "seu registro permanente". Sim, voc tem um.4. Funo de diferenciao. Uma vez que seus papis sociais tenham sido "diagnosticados", as crianas devem ser ordenadas de acordo com tais papis, e treinadas somente at onde seu destino dentro da mquina social merecer - e nenhum passo a mais. Fazer

de cada criana a melhor verso de si mesma? Esquece!5. Funo seletiva. Isso no se refere de maneira alguma escolha humana, mas teoria de seleo natural de Darwin sendo aplicada ao que ele chamava de "as raas favorecidas". Resumindo, a ideia ajudar, tentando, conscientemente, melhorar o estoque de procriao. As escolas so feitas para rotular os que "no se encaixam" - com notas baixas, aplicao de correes, e outras punies - to claramente que seus colegas aceitam-nos como inferiores e efetivamente afastam-nos dos sorteios reprodutivos. isso que todas aquelas humilhaes que seguem desde o primeiro ano tm o intuito de fazer: livrar-se da sujeira.6. Funo propedutica. O sistema social implcito nessas regras exigir um grupo de elite de cuidadores. Com este fim, uma pequena frao das crianas ser silenciosamente ensinada a como administrar este projeto contnuo, como observar atentamente e controlar uma populao deliberadamente emburrecida e sem ter como reagir, para que o governo possa seguir sem ser desafiado, e as corporaes jamais venham a ter necessidade de trabalho obediente.Este, infelizmente, o propsito da educao pblica obrigatria neste pas. E para que voc no tome Inglis como um excntrico isolado com uma viso muito cnica com relao ao empreendimento educacional, voc precisa saber que ele nunca esteve sozinho na defesa destas ideias. O prprio Conant, desenvolvendo em cima das ideias de Horace Mann e outros, fez campanhas incansveis por um sistema escolar americano elaborado seguindo as mesmas linhas. Homens como George Peabody, que fundou a causa de escolaridade obrigatria por todo o sul, certamente entenderam que o sistema prussiano era til em criar no somente um eleitorado inofensivo e uma fora de trabalho servil, mas tambm uma manada virtual de consumidores acfalos. Com o tempo, um grande nmero de tits industriais chegou a reconhecer os enormes benefcios em cultivar e cuidar de tal manada atravs da educao pblica; entre eles, Andrew Carnegie e John Rockefeller.A est. Agora voc sabe. No precisamos das concepes de Karl Marx sobre uma grande guerra entre as classes para ver que de interesse da complexa gesto, econmica ou poltica emburrecer as pessoas para desmoraliz-las, dividi-las, separando-as umas das outras, e descart-las caso no se conformem. A classe pode enquadrar a proposio, como quando Woodrow Wilson, o presidente da Universidade de Princeton, disse o seguinte Associao de Professores escolares da cidade de Nova Iorque em 1909: "Ns queremos que uma classe de pessoas tenha educao liberal, e queremos que uma outra classe de pessoas, uma classe muito maior, de necessidade, em cada sociedade, renuncie aos privilgios da educao liberal e dedique-se a executar tarefas manuais especficas e difceis." Mas, os motivos por trs das repugnantes decises que provocam estes fins no precisam, de forma alguma, ser baseados em classes. Eles podem resultar puramente do medo, ou da crena hoje j conhecida, de que "eficincia" a virtude fundamental, em vez de ser o amor, a liberdade, o riso ou a esperana. Acima de tudo, podem surgir da pura ganncia.Havia muita fortuna a ser feita, afinal, com uma economia baseada em produo de massa, e organizada para favorecer a grande corporao, mais do que aos pequenos negcios ou fazendas familiares. Mas, produo em massa demandava consumo em massa; e, na virada do sculo XX, a maioria dos americanos considerava pouco natural e pouco sbio comprar coisas das quais no se precisasse de verdade. A escolaridade obrigatria foi uma beno, neste sentido. As escolas no tinham que treinar as crianas num sentido direto para pensarem que deveriam consumir sem parar, pois ela fazia algo ainda melhor: ela encorajava-os a nem sequer pensar. E isso os tornou alvos fceis para ainda outra grande inveno da era moderna - o marketing.Voc no precisa ter estudado marketing para saber que h dois grupos de pessoas que sempre podem ser convencidos a consumir mais do que precisam: viciados e crianas. A escola fez um excelente trabalho ao transformar nossas crianas em viciados, mas fez um trabalho espetacular ao transform-las em crianas. Mais uma vez, isso no foi um acidente. Tericos desde Plato e Rousseau at o nosso Dr. Inglis sabiam que se as crianas pudessem ser enclausuradas com outras crianas, livres da responsabilidade e independncia, motivadas a desenvolver somente as emoes triviais como a ganncia, a inveja, o cime e o medo, elas cresceriam sim, mas sem verdadeiramente amadurecer. Na edio de 1934 do seu j famoso livro "Educao Pblica nos Estados Unidos", Ellwood P. Cubberley detalhou e enalteceu a estratgia de ampliaes escolares sucessivas, que estendeu a infncia por mais dois a seis anos; e o ensino obrigatrio era, at ento, uma novidade. Este mesmo Cubberley - que era reitor da Escola de Educao de Stanford, editor de livros-texto na Hughton Mifflin, amigo de Connat e correspondente em Harvard - escreveu o seguinte na edio de 1922 do seu livro "Administrao da Escola Pblica": "Nossas escolas so fbricas nas quais os produtos brutos (as crianas) devem ser moldados e formados E de responsabilidade da escola construir alunos de acordo com as especificaes determinadas." perfeitamente claro para a nossa sociedade hoje o que eram aquelas especificaes. A maturidade agora est banida de quase todos os aspectos das nossas vidas. Leis fceis de divrcio acabaram com a necessidade de batalhar-se por um relacionamento; o crdito fcil removeu a necessidade de auto-controle fiscal; o entretenimento fcil tirou a necessidade de aprender a entreter-se a si mesmo; as respostas simples removeram a necessidade de fazer-se perguntas. Tornamo-nos uma nao de crianas, felizes em entregar nossos juzos e nossas vontades a exortaes polticas e lisonjas comerciais que insultariam qualquer adulto de verdade. Ns compramos televisores, para, em seguida, comprarmos o que vemos neles. Compramos computadores, e depois compramos as coisas que vemos neles. Compramos tnis de $150 quer precisemos ou no, e quando eles se acabam, ns prontamente compramos um outro par. Dirigimos SUVs, e acreditamos na mentira de que eles constituem algum tipo de segurana para nossa vida, at mesmo quando estamos de cabea para baixo dentro deles. E o pior de tudo, ns nem piscamos os olhos quando Ari Fleischer nos diz "tomem cuidado com o que dizem", mesmo se lembrarmos de termos ouvido em algum momento l atrs, na escola, que a Amrica a terra da liberdade. Simplesmente tambm camos nesta. Nossa escolaridade, como planejado, cumpriu com isso.Agora, as boas noticias. Uma vez que voc entendeu a lgica da escolaridade moderna, suas armadilhas e truques so fceis de evitar. A escola treina as crianas para serem empregadas e consumidoras; ensine seus filhos a serem lderes e aventureiros. A escola treina as crianas a serem obedientes por reflexo; ensine seus filhos a terem um pensamento crtico e independente. Crianas bem escolarizadas tem uma baixa tolerncia para o tdio, ajude seus filhos a desenvolverem uma vida interior, de forma que nunca se entediem. Incentive-os a encararem o contedo srio, o contedo adulto, em histria, em literatura, filosofia, msica, artes, economia, teologia - todas as coisas que os professores escolares sabem muito bem como evitar. Desafie seus filhos a lidarem com a solido para que aprendam a desfrutar da companhia de si mesmos e a conduzir dilogos interiores. Pessoas bem escolarizadas so condicionadas a detestarem o "estar s", e buscam companhia constante por meio da televiso, computador, celular, e em amizades superficiais rapidamente conquistadas e rapidamente abandonadas. Seus filhos devem ter uma vida mais significativa, e eles podem.Primeiramente, no entanto, devemos despertar para perceber o que nossas escolas realmente so: laboratrios experimentais de mentes jovens, centros de treinamento para os hbitos e atitudes que a sociedade corporativa exige. O ensino obrigatrio atinge as crianas apenas acidentalmente; seu propsito real o de torn-las serviais. No deixe que seus filhos tenham suas infncias prolongadas, nem mesmo por um dia. Se David Farragut pde assumir o comando de um navio de guerra ingls capturado quando ainda era pr-adolescente, se Thomas Edison pde publicar um folhetim aos doze anos, se Benjamin Franklin pde instruir-se no uso de uma impressora com a mesma idade (e ento se colocar em um curso de estudos que sufocaria qualquer snior de Yale hoje), no h dvidas do que seus filhos podem fazer. Depois de uma longa vida e trinta anos nas trincheiras das escolas pblicas, conclu que o gnio to comum quanto o p. Ns limitamos nossos gnios s porque ainda no descobrimos como administrar uma populao de homens e mulheres escolarizados. A soluo, eu acho, simples e gloriosa. Deixemos que eles administrem-se a si mesmos.

* John Taylor Gatto ex-professor do estado e da cidade de Nova Iorque e autor do mais recente livro "The Underground History of American Education". Ele participou do frum da revista Harper "School on a Hill," que apareceu na edio de 2001.** Camila Abadie casada, dona de casa, me de trs filhos, homeschooler e mestre em filosofia. Escreve no blog Encontrando Alegria (http://encontrandoalegria.blogspot.com). Helena Yoshima casada, dona de casa, me de dois filhos, homeschooler e professora de ingls. Escreve no blog Amar Sem Fim (http://www.amarsemfim.com.br).***09/2003 - Revista Harper