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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 3 – nº 1 - 2009 1 Contrato de Transporte Aéreo - Aplicabilidade do Código Brasileiro de Aeronáutica, do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor Maria Bernadete Miranda Luiz Eduardo Miranda José Rodrigues Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada. Mestre em Engenharia Mecânica e Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA e Professor de Engenharia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Engenheiro. 1. Introdução Geralmente o homem exprime suas idéias, seus sentimentos, suas vontades e suas sensações através da linguagem falada ou escrita. Podendo também manifestar seu pensamento por meio de gestos, com os jogos de fisionomia e suas atitudes sendo esta a linguagem mímica. Vele recordar, a este respeito, a proposição 5.6 do “Tractatus Lógico Philosophicus”, de L. Wittgenstein: “Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo”. 1 Dédalo e seu filho Ícaro, heróis da mitologia grega já tinham um sonho, mas como interpretá-lo? Eles quiseram ultrapassar as fronteiras do firmamento seguindo rumo ao sol, usando asas feitas com penas de aves que fixavam ao corpo com cera. Ícaro, entusiasmado com a experiência teria se aproximado muito do sol. O calor derreteu a cera fazendo com que perdesse as asas e ocasionando sua morte por afogamento no mar. Morreu perseguindo uma aventura lá no alto. O céu sempre foi o seu maior desejo, porém o mar foi a sua sepultura. Mais do que uma estória a lenda nos traz o antigo desejo do homem de voar. Datam do século XI as primeiras reais tentativas do homem de voar. Procurando imitar o vôo das aves, construíam asas e jogavam-se de penhascos e torres. O resultado previsivelmente era desastroso. 1 CARVALHO, Paulo de Barros. Apostila de filosofia do direito I. Lógica jurídica. Capítulo II – Língua e linguagem, p. 3.

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 3 – nº 1 - 2009

1

Contrato de Transporte Aéreo - Aplicabilidade do

Código Brasileiro de Aeronáutica, do Código Civil e do

Código de Defesa do Consumidor

Maria Bernadete Miranda

Luiz Eduardo Miranda José Rodrigues

Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada. Mestre em Engenharia Mecânica e Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA e Professor de Engenharia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Engenheiro.

1. Introdução

Geralmente o homem exprime suas idéias, seus sentimentos, suas

vontades e suas sensações através da linguagem falada ou escrita. Podendo

também manifestar seu pensamento por meio de gestos, com os jogos de

fisionomia e suas atitudes sendo esta a linguagem mímica. Vele recordar, a este

respeito, a proposição 5.6 do “Tractatus Lógico Philosophicus”, de L. Wittgenstein:

“Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo”. 1

Dédalo e seu filho Ícaro, heróis da mitologia grega já tinham um sonho,

mas como interpretá-lo? Eles quiseram ultrapassar as fronteiras do firmamento

seguindo rumo ao sol, usando asas feitas com penas de aves que fixavam ao

corpo com cera. Ícaro, entusiasmado com a experiência teria se aproximado

muito do sol. O calor derreteu a cera fazendo com que perdesse as asas e

ocasionando sua morte por afogamento no mar. Morreu perseguindo uma

aventura lá no alto. O céu sempre foi o seu maior desejo, porém o mar foi a sua

sepultura. Mais do que uma estória a lenda nos traz o antigo desejo do homem de

voar.

Datam do século XI as primeiras reais tentativas do homem de voar.

Procurando imitar o vôo das aves, construíam asas e jogavam-se de penhascos e

torres. O resultado previsivelmente era desastroso.

1 CARVALHO, Paulo de Barros. Apostila de filosofia do direito I. Lógica jurídica. Capítulo II –

Língua e linguagem, p. 3.

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Por meio de avançadas tecnologias, homens audaciosos foram

conseguindo realizar o sonho desse inquieto viajante do espaço. O homem

moderno conseguiu esculpir na linguagem dos deuses a história concreta do

senhor que venceu e dominou os espaços. Atualmente, graças aos poderosos

aviões, diariamente convivemos com as estrelas em termos de comunicação e

transporte.

O avião é rápido, inquietante, belo, quase irreal. Dura um instante na

medida do tempo, num vôo ousado feito um condor. E quando das alturas vem

descendo é majestoso e cheio de encantamento. Esse extraordinário fenômeno

de locomoção náutica atraiu a atenção dos juristas, que manifestaram interesse

em participar do processo de fixação de um direito de navegação e transporte.

A riqueza dos fatos e negócios jurídicos da nova invenção aeronáutica fez

ressaltar a problemática da responsabilidade civil, como ponto central de todo o

ordenamento dos transportes aéreos.

O artigo 22, I, da Constituição Federal, de 1988, estabelece,

expressamente, que “compete privativamente à União legislar sobre Direito

Aeronáutico”.

No passado usava-se a expressão “Direito Aéreo”, provinda dos doutores

franceses, que desde o princípio a adotaram. Michel de Juglart, por exemplo,

sustenta que “o direito aéreo é conjunto de regras jurídicas relativas à aeronave e

a sua circulação ou navegação aérea, entendendo que esta é a realizada por

meio da aeronave”. 2

É compreensível, que alguns oficiais, funcionários e bacharéis, no passado,

ficassem apegados à expressão “Direito Aéreo”, influenciados pelas leituras

francesas, mas não justifica afastar-se da norma constitucional vigente, que

tipifica , no artigo 22, I, o “Direito Aeronáutico”, não como simples denominação,

mas como ramo autônomo do direito objetivo, que rege as relações, atividades e

serviços vinculados à utilização de aeronaves civis ou comerciais.

Sampaio de Lacerda, entende que “Direito Aeronáutico é complexo de

normas jurídicas relativas à navegação feita pelo ar, tendo como objeto o

2 JUGLART, Michel de. Traité de droit aérien. Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence:

Paris, 1989, vol.I, p.23.

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fenômeno da locomoção aérea, não somente restrita aos transportes aéreos, mas

extensiva a outras atividades de locomoção aérea, como a esportiva”. 3

Assinala Paulo Dourado de Gusmão que “O Direito Aeronáutico é o

complexo de normas disciplinadoras do transporte aéreo, aplicável às aeronaves,

às suas tripulações, aos aeroportos e ao espaço aéreo”. 4

Assim, a União, através do Legislativo, houve por bem de editar a Lei nº

7.565, de 19 de dezembro de 1986, recepcionada pela Constituição Federal de

1988, dispondo sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica como conjunto de

normas sistematizadas, relativas ao Direito Aeronáutico, tipificado pelo artigo 22,

I, da nossa Carta Magna, com a finalidade de regular as atividades e serviços,

direta ou indiretamente, vinculados à utilização de aeronaves civis e comerciais.

No Brasil, referente ao contrato de transporte aéreo, utilizamos o Código

Brasileiro de Aeronáutica, Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, as normas

constantes do Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078 de 11 de setembro

de 1990, nas relações entre consumidor e fornecedor, 5 o novo Código Civil, Lei

nº 10.406 de 11 de janeiro de 2002, em seus artigos 730 a 756, além dos

Tratados e Convenções Internacionais.

2. História da Aviação Civil

Deixando de discorrer sobre a pré-história da aviação, sonho dos antigos

egípcios e gregos, 6 que representavam alguns de seus deuses por figuras

aladas, e passando por sobre o vulto de estudiosos do problema, como Leonardo

da Vinci, que no século XV construiu um modelo de avião em forma de pássaro,

pode-se localizar o início da aviação nas experiências de alguns pioneiros que,

3 LACERDA, J.C. Sampaio de. Curso de direito comercial marítimo e aeronáutico. Rio de Janeiro: Freitas Bastos. 1949, p. 402. 4 GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do direito. Rio de Janeiro: Forense. 1976, p. 228. 5 Artigo 2º - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único – Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Artigo 3º - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º - produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancaria, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 6 Sobre os gregos Dédalo e Ícaro relatamos alguns pontos na introdução do trabalho.

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desde os últimos anos do século XIX, tentaram o vôo de aparelhos então

denominados mais pesados do que o ar, para diferenciá-los dos balões, cheios de

gases, mais leves do que o ar.

Ao contrário dos balões, que se sustentavam na atmofesra por causa da

menor densidade do gás em seu interior, os aviões precisavam de um meio

mecânico de propulsão para fornecer a sustentação necessária para que se

elevassem na atmosfera. O brasileiro Santos Dumont foi o primeiro aeronauta que

demonstrou a viabiliodade do vôo do mais pesado do que o ar. O seu vôo no “14

Bis” em Paris, em 23 de outubro de 1906, na presença de inúmeras testemunhas,

constituiu um marco na história da aviação, embora a primazia do vôo em avião

seja disputada por vários países. Entre os aeronautas pioneiros, podemos citar:

Gabriel Voisin, Louis Blériot, Wibur e Orville Wright, Trajam Vuia e Henry Farman.

No período de 1907 a 1910, Santos Dumont realizou inúmeros vôos com o

monoplano Demoiselle. Patrono da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira, onde

recebeu a patente de Marechal do Ar, faleceu em São Paulo em 1932, sendo

considerado até hoje, o brasileiro que mais se destacou em nível mundial na

história da aviação.

Ao vôo de Santos Dumont seguiu-se um período de competição entre

países da Europa e os Estados Unidos, na conquista de recordes de velocidade e

distância. Com a Primeira Guerra Mundial, a aviação tomaria considerável

impulso, em virtude do uso dos aviões como arma de grande poder ofensivo, mas

seria na década de 1920/30 que esse avanço se consolidaria.

Desde antes da Primeira Guerra Mundial, atravessar o Atlântico sem

escalas era a meta dos aeronautas e projetistas de aviões. Em 1919, Raymond

Orteig, de Nova Iorque, ofereceu um prêmio de US$ 25.000,00 a quem voasse de

Nova Iorque a Paris, sem escalas. De fins de 1926 até 1927 vários aviadores

norte-americanos e franceses tentaram a conquista do prêmio. Finalmente,

venceu a prova um piloto do correio aéreo, Charles Lindbergh.

Nos três anos seguintes, foram realizados muitos outros vôos sobre o

Atlântico, inclusive a primeira travessia feita por uma mulher, Amélia Earhart, em

junho de 1928, juntamente com dois outros pilotos. Quatro anos depois, a

aviadora norte-americana voaria sozinha, atravessando o Atlântico.

Em 1931, Wiley Post e Harold Gatty fizeram a primeira viagem

relativamente rápida ao redor do mundo, no monoplano “Winnie Mãe”,

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percorreram 15.474 milhas em 8 (oito) dias e 16 (dezeseis) horas. Em 1933, Post

realizaria sozinho o vôo ao redor do mundo em 7 (sete) dias e 19 (dezenome)

horas. Em 1938, Howard Hughes faria, em um bimotor, a volta ao mundo em 3

(três) dias e 19 (dezenove) horas.

O transporte internacional começou a ser feito em larga escala depois da

Segunda Guerra Mundial, por aviões cada vez maiores e mais velozes. A

introdução dos motores a jato, usados pela primeira vez em aviões comerciais

(Comet), em 1952, pela BOAC (empresa de aviação comercial inglesa), deu maior

impulso à aviação como meio de transporte. No fim da década de 1950,

começaram a ser usados os modelos Caravelle, a jato, de fabricação francesa

(Marcel Daussaud/Sud Aviation). Nos Estados Unidos, entravam em serviço no

ano de 1960 os jatos Boeing 702 e 707 e dois anos depois o Douglas DC-8 e o

Convair 880. Em seguida apareceram os aviões a turbohélice, mais econômicos e

de grande potência. Soviéticos, ingleses, franceses e norte-americanos passaram

a estudar a construção de aviões comerciais cada vez maiores, para centenas de

passageiros e a dos chamados “supersônicos”, a velocidades duas ou três vezes

maiores que a do som. Nesses item dos supersônicos, as estrelas internacionais

foram o Concorde (franco-britãnico) e o Tupolev (russo) que voam até os dias de

hoje.

No final da década de 60 e início da década de 70 surgiram modelos

capazes de transportar até 400 passageiros, como o Boeing 747, o Douglas DC-

10, o Lockheed Tristar L-1011, todos americanos e mais recentemente o Airbus

(consórcio europeu), o Douglas MD-11 e os Bpeing 767 e 777, norte-americanos.

Os supersônicos comerciais, o Tupolev 144 e o Concorde iniciaram linhas

regulares, tendo sido a primeira inaugurada em janeiro de 1976, que cobria o

percurso Rio de Janeiro – Paris em menos de 7 (sete) horas, considerando uma

escala em Dacar, para reabastecimento. Este vôo era efetuado pela companhia

aérea francesa Air France. Posteriormente a maioria desses vôos, inclusive o do

Air France, foram suspensos em razão do alto custo com combustíveis e

manutenção e pelo volume pequeno de carga e de passageiros transportados por

vôo (apenas 144). A velocidade supersônica exigia uma aerodinâmica compatível,

assim, os aviões possuíam fuselagens estreitas. Hoje em dia o concorde é ainda

utilizado em vôos de luxo em poucas rotas comerciais freqüentadas sempre por

abonados turistas ou executivos. A poluição sonora desses aviões supersônicos

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causou também problemas ecológicos e eles acabaram sendo proibidos de

pousar em importantes aeroportos como Nova Iorque e Dacar, que era a escala

do vôo Rio – Paris.

No início do século XXI, a Boeing (americana) e a Airbus (européia)

dominam o mercado mundial de grandes jatos. A Boeing incorporou a Douglas, a

Lockheed produz apenas aviões militares e outras novas empresas chegaram ao

mercado internacional com força. Como a brasileira Embraer e a canadense

Bombardier. O mercado de jatos executivos também está em alta e os maiores

mercados são Estados Unidos, Brasil, França, Canadá, Alemanha, Inglaterra,

Japão e México, pela ordem.

3. História da Aviação Civil Brasileira

A aviação iniciou-se no Brasil com um vôo de Edmond Plauchut, a 22 de

outubro de 1911. O aviador, que fora mecânico de Santos Dumont em Paris,

decolou da praça Mauá, voou sobre a avenida central e caiu no mar, da altura de

80 (oitenta) metros, ao chegar à Ilha do Governador.

Era então bem grande o entusiasmo pela aviação. Na redação do jornal “A

Noite”, no dia 14 de outubro, fundava-se o Aeroclube Brasileiro, que em janeiro do

ano seguinte teria sua escola de aviação. Aí, como muitos outros, aprendeu a

voar o primeiro ás da aviação brasileira, o capitão Ricardo Kirk, que seria também

o primeiro brasileiro a morrer em desastre de aviação, em 28 de fevereiro de

1915.

Em 17 de junho de 1922, os portugueses Gago Coutinho e Sacadura

Cabral chegaram ao Brasil, concluindo seu vôo pioneiro, da Europa para a

América do Sul. E em 1927 seria terminada, com êxito, a travessia do Atlântico,

pelos aviadores brasileiros, João Ribeiro de Barros e Newton Braga, no avião

“Jaú”, hoje recolhido ao Museu Ipiranga.

Iniciou-se a aviação comercial brasileira em 1927. A primeira empresa no

Brasil a transportar passageiros foi a Condor Syndikat, no hidroavião “Atlântico”,

ainda com a matrícula alemã D-1012. A 1º de janeiro desse ano, transportou do

Rio de Janeiro para Florianópolis o então Ministro da Viação e Obras Públicas,

Vitor Konder e outras pessoas. A 22 de fevereiro, iniciava-se a primeira linha

regular, a chamada “Linha da Lagoa”, entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande.

Em junho de 1927, era fundada a Viação Aérea Rio-Grandense (VARIG), sendo

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transferido para a nova empresa o avião “Atlântico”, que recebeu o prefixo

nacional P-BAAA. Em 1º de dezembro do mesmo ano, a Condor Syndikat, que

acabara de inaugurar sua linha Rio-Porto Alegre era nacionalizada, com o nome

de “Sindicato Condor Limitada”, mas tomaria, durante a Segunda Guerra Mundial,

o nome de Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul (absorvida nos anos 80 pela VARIG).

Em novembro de 1927, inaugurando a linha para a América do Sul da nova

companhia francesa Aeropostale chegava ao Rio de Janeiro, Jean Mermoz, que

se tornaria o mais famoso aviador da época.

Em 1929, a Nova Iorque – Rio – Buenos Aires Line (Nyrba) iniciava o

serviço aéreo entre essas duas cidades e o Brasil, tendo sido fundada no Brasil a

Nyrba do Brasil S.A., com linha semanal entre Belém e Santos, e que se

transformaria na Panair do Brasil, extinta em 1965.

A fundação do Aerolóide Iguaçu, com linha inicial São Paulo – Curitiba e

logo se estendendo a Florianópolis, marcou o ano de 1933. Em novembro de

1933 era fundada por 72 (setenta e dois) empresários, a Viação Aérea São Paulo

– VASP, que iniciaria em 1936 o vôo regular entre Rio e São Paulo, a linha de

maior tráfego da aviação brasileira.

A extensão do país e a precariedade de outros meios de transportes

fizeram com que a aviação comercial tivesse uma expansão excepcional no

Brasil. Em 1960, o país tinha a maior rede comercial do mundo em volume de

tráfego depois dos Estados Unidos. Na década de 1950, operavam cerca de 16

empresas brasileiras, algumas com apenas dois ou três aviões e fazendo

principalmente ligações regionais. Se destacava na Amazônia, a então SAVA S.A.

– Serviços Aéreos do Vale Amazônico, com sede em Belém, fundada pelo

Comandante Muniz e que com a ajuda do seu amigo e, futuro Brigadeiro e

Ministro da Aeronáutica Edurado Gomes conseguiu a concessão presidencial

para vôos regulares de passageiros e cargas.

A crise e estímulo do governo federal às fusões de empresas reduziram

esses número para apenas quatro grandes empresas comerciais (VARIG, VASP,

Transbrasil e Cruzeiro). Muitas cidades pequenas saÍram do mapa aeronáutico,

mas ainda nessa mesma década organizaram-se novas empresas regionais,

utilizando inicialmente os aviões turbohélices fabricados no Brasil pela Embraer,

bandeirante EMB-110.

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A VARIG absorveu a Cruzeiro e adquiriu outras pequenas regionais, se

transformando no início desse século XXI como a maior transportadora da

América Latina e a então regional TAM, dirigida pelo Comandante Adolfo Rolim

Amaro – falecido em julho de 2001 em acidente de helicóptero no Paraguai, se

transformou na segunda maior empresa do continente sul-americano. VASP e Gol

também se destacam como empresas comerciais. A Transbrasil paralisou suas

atividades no final de 2001.

4. O Empresário da Navegação Aérea

O exercício efetivo da navegação aérea é considerado pelo Regulamento

nº 737, de 1850, em seu artigo 19, § 5º, como mercancia (isto é, atividade

econômica). A expressão usada por esta lei é: “Considera-se mercancia: armação

e expedição de navios”, que abrange, no significado de mercancia, a idéia de

empresa e de repetição organizada de atos profissionais.

A Lei nº 4.137, de 10 de setembro de 1962, que trata da repressão ao

abuso do poder econômico, definiu a empresa nos seguintes termos: “Considera-

se empresa toda organização de natureza civil ou mercantil destinada à

exploração por pessoa física ou jurídica de qualquer atividade com fins lucrativos”.

Recentemente, entre nós, a Lei nº 10.406, de 11 de janeiro de 2002, em

seu artigo 966, não definiu empresa, preferindo nosso legislador definir

empresário nos seguintes termos: “Considera-se empresário quem exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a

circulação de bens ou serviços”.

Desta maneira, podemos admitir que, no sentido jurídico, exerce atividade

econômica organizada todo agente capaz, obedecendo objeto lícito, possível,

determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei. Em outras

palavras, é considerado empresário, conforme a nova concepção doutrinária: a) a

pessoa física (firma individual), que exerce profissionalmente atividade econômica

empresarial; b) a sociedade, que é constituída para a prática da atividade própria

de empresário sujeito ao Registro Público das Empresas Mercantis; e c) a

sociedade por ações, qualquer que seja o seu objeto.

O fenômeno do transporte em sentido técnico e empresarial faz

necessariamente aparecer a figura do instituto jurídico da armação, que significa a

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profissão do armador, aquele que explora comercialmente o navio (ou a

aeronave).

O Código Comercial, Lei nº 556, de 25 de junho de 1850 em seu artigo 484

emprega as expressões “armação” e “armador”, ao passo que o Código Brasileiro

de Aeronáutica em seus artigos 122 e 123 usa os termos “exploração” e

“explorador” 7 de aeronave.

Determina o Código Brasileiro de Aeronáutica em seu artigo 122: “Dá-se a

exploração da aeronave quando uma pessoa física ou jurídica, proprietária ou

não, a utiliza, legitimamente, por conta própria, com ou sem fins lucrativos”.

Determina ainda em seu artigo 123: “ Considera-se operador ou explorador

de aeronave:

I – a pessoa jurídica que tem a concessão dos serviços de transporte

público regular ou a autorização dos serviços de transporte público não regular,

de serviços especializados ou de táxi aéreo;

II – o proprietário da aeronave ou quem a use diretamente ou através de

seus prepostos, quando se tratar de serviços aéreos privados;

III – o fretador que reservou a condução técnica da aeronave, a direção e a

autoridade sobre a tripulação;

IV – o arrendatário que adquiriu a condução técnica da aeronave e a

autoridade sobre a tripulação”.

Diante das considerações da norma jurídica, o empresário da navegação

marítima é denominado “armador”; e o da navegação aérea chama-se “explorador

de aeronave”.

Exploração é termo técnico de Direito Aeronáutico, com a acepção de

utilização legítima, por conta própria, de aeronave, com ou sem fins lucrativos.

Consiste em tirar proveito da aeronave, em que sobressaem os seguintes

elementos essenciais: a) aproveitamento; b) legitimidade; c) por conta própria.

Os fins podem ser lucrativos ou não. A lucratividade, embora necessária na

exploração comercial, não o é na exploração civil. O aproveitamento implica em

tirar proveito, vantagem de aeronave, valer-se dela para determinados fins, utilizá-

la em atividades aéreas públicas ou privadas. A legitimidade significa que a

utilização da aeronave seja conforme a lei e não proibida por ela, de modo que

7 Explorador é a pessoa, organização ou empresa que se dedica ou se propõe dedicar à

exploração de aeronaves.

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não se considera exploração o uso de aeronave pelo que tenha se apoderado

dela ilicitamente.

Por conta própria significa que o aproveitamento ou utilização se faz com

controle sobre a tripulação e com a condução técnica da aeronave.

Assim, nos termos do Código Brasileiro de Aeronáutica, considera-se

explorador de aeronave (ou empresário da navegação aérea), a pessoa jurídica

concessionária dos serviços de transporte público regular, o proprietário da

aeronave quando se tratar de serviços aéreos privados, o fretador que reservou a

condução técnica da aeronave arrendada, o arrendatário que adquiriu a condução

técnica da aeronave arrendada e a autoridade sobre a tripulação.

Devemos ainda salientar que aeronave é todo aparelho manobrável em

vôo, capaz de se sustentar e circular no espaço aéreo mediante reações

aerodinâmicas e capaz de transportar pessoas ou coisas.

A aeronave não se confunde com veículo automotor nem tampouco a ela

se estende o conceito de veículo automotor. No máximo, num enfoque muito

geral, poder-se-ia admiti-lo como espécie do gênero veículo, deste modo temos:

a) veículo aéreo: aeronave, militar e civil; b) veículo terrestre: automotor, elétrico,

propulsão humana, tração animal e reboque; c) veículo aquático: marítimo, fluvial

e lacustre.

Contudo, mesmo sob esse enfoque, não se pode deixar de reconhecer que

aeronave e veículo automotor são espécies completamente diferentes, que de

comum só tem a possibilidade de serem veículos.

Analisando a definição legal de aeronave, constata-se que, para ser

aeronave, o veículo tem de navegar no espaço aéreo e não nas vias públicas

terrestres, uma vez que aeronave é a máquina que voa no espaço, mediante

reações aerodinâmicas, não se reduzindo a simples veículo automotor, que é

termo específico do transporte viário terrestre.

Portanto o empresário da navegação aérea será o explorador da aeronave,

em outras palavras, aquele que se dedica ou se propõe dedicar à exploração de

aeronaves.

5. A Aeronave

Define-se aeronave como todo aparelho manobrável em vôo que possa

sustentar-se e circular no espaço aéreo mediante reações aerodinâmicas apto a

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transportar pessoas ou coisas. Normalmente as aeronaves são classificadas

segundo a forma de obter a sustentação necessária ao vôo em duas categorias:

aeróstatos e aeródinos.

Os aeróstatos são também chamados de veículos “mais leves” que o ar.

Basicamente, seu funcionamento está relacionado com a força de empuxo do ar,

ou seja, força de flutuação, conhecida em física como princípio de Arquimedes.

O exemplo mais conhecido de aeróstatos é o balão de ar quente, onde o

mesmo contém em seu interior, ar aquecido, que nessas circunstâncias torna-se

menos denso que o ar externo da atmosfera deslocando-se para cima no interior

do balão, propiciando assim uma força dirigida para cima, de mesma magnitude

porém em sentido oposto ao peso do ar que desloca e superior ao próprio peso

do aeróstato, provocando desse modo sua ascensão na atmosfera. Os balões de

ar quente embora sejam classificados como aeronaves, possuem baixa

capacidade de manobrabilidade no ar, pois o piloto só consegue comandar

movimentos de ascensão e descenso do mesmo através do aumento ou

diminuição da temperatura em seu interior.

Um subconjunto dos aeróstatos munido de sistema de propulsão e de

meios de controle de direção são os dirigíveis, que na primeira metade do século

XX foram muito utilizados por todo o mundo. Nos dias atuais, também é muito

comum observarmos dirigíveis cruzando os céus das grandes cidades, trazendo

em seu suntuoso balão várias marcas publicitárias.

Por outro lado, os aeródinos são chamados de veículos mais pesados que

o ar, obtendo a força de sustentação necessária ao vôo através da reação

aerodinâmica do ar em movimento com as superfícies projetadas para

desenvolver sustentação, ou seja, o princípio da ação e reação, também

conhecido na física como a terceira lei de Newton.

Dentre os aeródinos podem ser citados todos os tipos de aviões,

helicópteros e naves espaciais. No presente artigo, o foco principal de análise são

os aviões, classificados como aeródinos capazes de voar por meios próprios,

através da reação aerodinâmica do ar sobre suas asas. Dentre os aviões,

também existem várias subdivisões de classificação, desde os pequenos

monomotores à hélice até os jatos supersônicos à reação, que são capazes de

atingir velocidades maiores que a velocidade do som.

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Como citado, o princípio básico do vôo de um avião está relacionado em

grande parte à aerodinâmica da aeronave, que estuda as forças produzidas pelo

ar em movimento. A nomenclatura aerodinâmica deriva do grego, aer = ar e dina

= força, portanto, “a força do ar”. Na prática, esta força sempre aparecerá quando

ocorrer um movimento relativo entre um corpo e o ar, ou seja, quando o corpo

está em movimento e o ar imóvel (um avião voando em uma região sem ventos),

quando o ar está em movimento e o corpo imóvel (teste de modelo de avião em

túnel aerodinâmico) e, finalmente, quando o corpo e o ar estiverem em

movimentos com velocidades diferentes (avião voando em uma região sujeita a

ventos). Os aviões podem ser classificados em diversos tipos, conforme as

características das asas, da fuselagem, do trem de pouso, do grupo moto-

propulsor, etc.

Embora existam diversos tipos de classificação entre os aviões, todos eles,

sem nenhuma exceção, estão sujeitos durante o vôo a quatro principais forças,

que são o peso, a tração do motor, a sustentação e o arrasto. Respectivamente,

cada uma dessas forças podem ser definidas do seguinte modo; a) Peso: Como

todos os corpos situados no campo gravitacional da Terra, o avião tem peso, que

é uma força vertical, no sentido do centro da mesma. Quando o avião se encontra

pousado, seu peso deve estar em equilíbrio com as reações do solo que agem

sobre os trens de pouso. Em vôo, o peso da aeronave deve ser equilibrado por

uma força aerodinâmica denominada; b) Sustentação, que é produzida pela asa

devido ao princípio da ação e reação citado anteriormente. Para uma

configuração de vôo horizontal, a força de sustentação é igual ao peso; c)

Arrasto: é uma força aerodinâmica indesejável ao vôo, porém inevitável, que

tende a frear o avião e, assim, tem que ser contrabalançada por outra força, sem

a qual o avião perderia velocidade e/ou altitude. A resultante das forças de arrasto

e sustentação é denominada resultante aerodinâmica; d) Tração: é a força que

contrabalança o arrasto, é produzida pelo conjunto moto-propulsor. Para a

condição de vôo reto horizontal, as quatro forças se anulam, isto é, o arrasto é

igual à tração e o peso é igual à sustentação, desse modo o avião se encontra em

equilíbrio.

Como citado na definição das quatro forças básicas que atuam sobre um

avião em vôo, a força de arrasto é indesejável ao vôo, porém inevitável, pois

todos os corpos em movimento relativo ao ar devido à área de contato com o

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mesmo, estão sujeitos ao arrasto, que é uma força prejudicial ao vôo; é neste

ponto que surge a grande importância da aerodinâmica no projeto dos mais

modernos aviões existentes, pois como a força de arrasto é inevitável, os

engenheiros aeronáuticos trabalham arduamente na busca de reduzir o arrasto ao

máximo, e para isso utilizam as mais modernas superfícies aerodinâmicas para o

projeto de asas, fuselagens e outros componentes da estrutura de um avião,

conseguindo desse modo a maior relação possível entre a força de sustentação

gerada e a força de arrasto, o que melhora em muito o desempenho das

aeronaves.

Atualmente, os aviões possuem uma enorme série de modelos que vão

desde os monomotores de pequeno porte passando para aeronaves de médio

porte até os grandes jatos de carreira. Normalmente os aviões de pequeno porte

são utilizados para operações de treinamento, operações agrícolas ou mesmo

para vôos panorâmicos sobre determinadas localidades.

Dentre as aeronaves de porte médio, temos os turbo-hélices e os

pequenos jatos executivos, esses tipos de aeronaves são muito utilizadas para o

transporte de passageiros e pequenas quantidades de carga, devido ao seu

espaço interno reduzido.

Já os grandes jatos comerciais propiciam uma maneira muito eficiente e

segura de se executar o transporte de pessoas e/ou cargas a distâncias muito

grandes em um tempo muito pequeno, permitindo assim o rápido avanço da

globalização e o intercâmbio cultural entre os diversos povos da Terra.

O avanço tecnológico da industria aeronáutica é constante e atualmente já

existem aeronaves militares de reconhecimento não tripuladas, bem como

algumas companhias aéreas já utilizam em seus aviões o sistema conhecido

como “fly by wire”, onde todo o vôo da aeronave é controlado por um operador em

terra, utilizando-se para tal, rastreamento de radar e informações de satélite, que

enviam dados precisos da operação e localização da aeronave.

Por todos estes fatos, torna-se impossível não dizer que a aeronave foi e é

uma das grandes conquistas obtidas pela humanidade, pois, não há uma pessoa

neste imenso planeta que não tenha admiração por esses grandes pássaros de

metal que cruzam os ares com toda sua imponência e beleza tanto em vôo como

nos instantes de maior atenção, que são o pouso e a decolagem. Como é bonito

ver uma aeronave de grande porte se aproximando para o pouso, leve e suave

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como uma águia planando na imensidão do céu em busca de um local seguro

para aterrissar. Embora muitas vezes não aceito pela comunidade internacional,

para nós brasileiros, Aberto Santos Dumont foi e sempre será o pai da aviação,

um título que muito orgulha o povo brasileiro pois mostra a capacidade intelectual,

cientifica e criativa de todos os brasileiros, pois foi devido ao 14 Bis em um breve

vôo realizado em 1906 em Paris na França que o homem descobriu realmente

que era possível vencer a gravidade, e a partir daí a aviação não parou mais de

crescer e se desenvolver propiciando ao homem viagens espaciais em

velocidades jamais imaginadas por nossos antepassados.

6. O Contrato de Transporte Aéreo

O contrato é o consentimento de duas ou mais pessoas sobre o mesmo

objeto, na expressão genial de Ulpiano, e tanto Aristóteles, quanto Kant e,

modernamente, a escola de Kelsen, consideram o contrato uma norma criada por

particulares, mas, na precisa conceituação de Clóvis Bevilaqua, “é o acordo de

vontades para o fim de adquirir, resguardar, modificar ou extinguir direitos”. 8

É a associação de duas ou mais vontades, o acordo de duas ou mais

pessoas, tendo em vista determinado objeto, e sua validade pressupõe

necessariamente a pessoa capaz, objeto lícito e forma prescrita e não proibida

por lei. Neste sentido, Washington de Barros Monteiro. 9

A partir das transformações sociais, econômicas e culturais, a noção

tradicional de contrato evoluiu, como o próprio Direito, sendo, hoje, comum os

contratos de adesão.

Orlando Gomes nos ensina que, “o contrato de transporte, negócio jurídico

dos mais usuais, deixou de ser simples modalidade da locação para se tornar

relação contratual autônoma, sujeita a regras próprias.

O desenvolvimento dos meios de transporte ensejou a realização de

contratos em condições bem diferentes das que existiam quando, ainda

primitivos, não eram explorados comercialmente em grande escala. O transporte,

8 BEVILÁQUA, Clóvis. Código civil comentado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1916, p. 240.

9 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 1998, vol. 5º, p. 5.

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tanto de pessoas como de carga, constitui hoje atividade profissional que se

realiza, de regra, sob a forma do contrato de adesão”. 10

Ainda consoante ao mesmo autor, “o contrato de adesão caracteriza-se por

permitir que seu conteúdo seja preconstituído por uma das partes, eliminada a

livre discussão que precede normalmente à formação dos contratos, mas até este

seu traço distintivo continua controvertido”. 11

No contrato de adesão, uma das partes tem de aceitar em conjunto, as

cláusulas estabelecidas pela outra, aderindo a uma situação contratual que

encontra definida em todos os seus termos. O consentimento manifesta-se como

simples adesão a conteúdo preestabelecido da relação jurídica.

Fran Martins assevera que “os contratos de adesão significam uma

restrição ao princípio da autonomia da vontade, consagrado pelo Código Civil

francês, já que a vontade de uma das partes não pode manifestar-se livremente

na estruturação do contrato, ficando adstrita apenas a aceitar ou não as cláusulas

e condições que lhe são impostas pelo proponente”. 12

Pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, considera-se contrato de transporte

aéreo aquele em que o empresário se obriga a transportar passageiro, bagagem,

carga, encomenda ou mala postal, por meio de aeronave, mediante um certo

pagamento, podendo o empresário, como transportador, ser pessoa física ou

jurídica, proprietário ou explorador da aeronave.

Pelo novo Código Civil, Lei nº 10.406/02, contrato de transporte é aquele

onde alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para

outro, pessoas ou coisas.

Para Fran Martins, “contrato de transporte é aquele em que uma pessoa ou

empresa se obriga a transportar pessoa ou coisa, de um local para outro,

mediante o pagamento de um preço”. 13

Define-se como contrato de transporte aéreo aquele pelo qual um

empresário da navegação aérea se obriga receber passageiros, bagagens, carga,

encomenda ou mala postal, e levá-los ao seu lugar de destino, com segurança e

presteza, mediante o pagamento de um preço.

10 GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 306. 11

GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense. 2000, p. 109. 12 MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.82. 13 MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 195.

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O contrato de transporte aéreo caracteriza-se como: a) consensual, pois se

aperfeiçoa com a simples troca de consentimento dos contratantes, isto é, o

transportador se obriga a remover a coisa ou a pessoa e o remetente, a pagar o

preço. Há quem defenda a natureza real, por não se configurar o transporte sem

uma pessoa ou coisa a transportar. Justifica este pensamento a necessidade,

para sua perfeição, da entrega da coisa, ou do embarque do passageiro.

Enquanto não se consuma este passo, não passa de contrato preliminar, mas

demonstra Orlando Gomes, que no momento em que as partes cruzam as suas

vontades, torna-se perfeito e acabado o ato. A entrega da mercadoria ou mesmo

o desembarque do passageiro, determinam a conclusão do contrato. No

transporte de coisas, prossegue, a carga da mercadoria considera-se ato de

execução do contrato, presumindo-se que seja o ato decisivo de sua formação

porque é o modo de expressão do consentimento do expedidor. 14 E no transporte

de passageiros, forma-se o contrato desde o momento em que é adquirido o

bilhete de passagem, ficando o transportador com a obrigação de realizar a

condução do passageiro de um lugar para outro, o qual já satisfez a sua

obrigação, que consiste no pagamento do preço.

As obrigações do transportador não surgem antes do recebimento das

mercadorias, mas isso não impede a formação anterior do contrato, até porque

ele contrai a obrigação de recebê-las; 15 b) bilateral, por gerar obrigações para

ambas as partes. Apenas o transporte gratuito pode ser considerado unilateral; c)

oneroso, eis que as vantagens e obrigações alcançam os dois contratantes,

exceto se for gratuito o contrato; d) de duração, porquanto o cumprimento da

obrigação de transportar não se realiza em um único momento, mas se prolonga

no tempo, de forma continuada; e) comutativo, o que significa a correspondência

entre as obrigações e as vantagens; f) não solene, por não depender de

formalidade especial para se realizar; g) de adesão, pois tanto no transporte de

mercadorias como no de pessoas por empresas, prevalecem condições uniformes

e tarifas invariáveis, o que permite a formalização de contratos impressos. As

empresas estabelecem as cláusulas, devendo ser aceitas ou rejeitadas em bloco

pelos que pretendem os serviços. Trata-se de contrato-tipo, ou de adesão, menos

14

GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 308. 15 GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 308.

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no transporte individual, onde domina o estilo comum, cabendo às partes

acertarem as regras para cada caso.

No transporte de passageiro, são essenciais o preço, o lugar da partida e

de chegada, além do horário e número do vôo.

No transporte de carga, o primeiro ato é a entrega da mercadoria ao

transportador, tornando-se este, desde logo, responsável, mediante a aceitação

do respectivo conhecimento. No de bagagem, a respectiva nota é o comprovante.

No contrato de transporte aéreo, são partes: o transportador e o

passageiro, expedidor ou pessoa que atue em nome de um ou de outro. A

Convenção de Guadalajara de 1961, em seu artigo 1º, alínea b, define o

transportador contratual, a pessoa que, como parte, conclui um contrato de

transporte regido pela Convenção de Varsóvia, com um passageiro, um expedidor

ou uma pessoa que atue em nome de um ou de outro.

O contrato de transporte aéreo torna-se perfeito e acabado pelo acordo

entre o passageiro, o expedidor ou pessoa que atue em seus nomes de um lado,

e de outro, o transportador ou pessoa que, igualmente, atue em seu nome.

Geralmente, o transportador atua por meio de seus empregados, que são

seus prepostos, para todos os efeitos legais, podendo ocorrer, a interferência de

agências de viagens ou agências de cargas. Por esse motivo, as agências

poderão emitir os bilhetes com fiel observância do disposto na lei e

regulamentação correspondente.

A prova do contrato de transporte é o bilhete de passagem, a nota de

bagagem e o conhecimento de carga. São instrumentos obrigatórios, sendo os

dois primeiros de emissão do transportador que, corporificando o contrato,

comprovam-no. Trata-se de obrigações do transportador emiti-los e de direito do

passageiro exigi-los. A emissão do conhecimento é obrigação do expedidor.

A construção dogmática e tradicional do contrato de transporte aéreo

repousa em quatro princípios: a) autonomia da vontade, que abrange não

somente a liberdade de contratar, mas especialmente aquele poder atributivo do

indivíduo de manifestar sua vontade sob a proteção e tutela da ordem jurídica; b)

consensualismo que se manifesta através da aceitação, que é a explicitação da

vontade da outra parte sobre o mesmo objeto; c) força obrigatória que consagra a

idéia de que o contrato, uma vez obedecidos os requisitos legais, torna-se

obrigatório entre as partes, que dele não se podem desligar senão por outra

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avença, em tal sentido. Isto é, o contrato vai constituir uma espécie de lei privada

entre as partes, adquirindo força vinculante igual à do preceito legislativo, pois

vem munido de uma sanção que decorre da norma legal, representada pela

possibilidade de execução patrimonial do devedor; d) boa-fé, que opõe-se, por

sua própria natureza, ao princípio do formalismo romano. Refere-se muito mais ao

sentido moderno de lealdade e confiança na realização dos seus próprios

interesses dentro de um contexto objetivo de colaboração estreita com as

aspirações da sociedade, conforme dispõe o artigo 422 do novo Código Civil: “Os

contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em

sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”.

Portanto o elemento fundamental do contrato de transporte aéreo é o

consentimento das partes. Porém, a figura do contrato de adesão , de importância

primordial nos transportes aéreos, não se ajusta perfeitamente ao esquema

tradicional.

Embora autores notáveis tenham feito esforços no sentido de explicar o

contrato de adesão sob a ótica dos esquemas tradicionais, ainda não há

concordância sobre a natureza desta curiosa figura do direito moderno. Talvez

possamos admitir um novo fator que influencia com os imperativos de mudanças,

por exemplo, a introdução dos novos conceitos de eficácia, rapidez e segurança

nas relações mercantis, muito mais condizentes com a dinâmica atual do que a

antiga imagem de dolo e fraude.

O contrato de adesão, no exercício efetivo do comércio aeronáutico, deverá

ser celebrado na forma prevista dos artigos 180 e 181 do Código Brasileiro de

Aeronáutica, que dispõem:

Artigo 180 – “A exploração de serviços aéreos públicos dependerá sempre

da prévia concessão, quando se tratar de transporte aéreo regular, ou de

autorização no caso de transporte aéreo não-regular ou de serviços

especializados”.

Artigo 181 – “A concessão somente será dada a pessoa jurídica brasileira

que tiver:

I – sede no Brasil;

II – pelo menos 4/5 (quatro quintos) do capital com direito a voto,

pertencente a brasileiros, prevalecendo essa limitação nos eventuais aumentos

do capital social;

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III – direção confiada exclusivamente a brasileiros.

§ 1º - As ações com direito de voto deverão ser nominativas se se tratar de

empresa constituída sob a forma de sociedade anônima, cujos estatutos deverão

conter expressa proibições de conversão das ações preferenciais sem direito a

voto em ações com direito a voto.

§ 2º - Pode ser admitida a emissão de ações preferenciais até o limite de

2/3 (dois terços) do total das ações emitidas, não prevalecendo as restrições não

previstas neste Código.

§ 3º - A transferência a estrangeiro das ações com direito a voto, que

estejam incluídas na margem de 1/5 (um quinto) do capital a que se refere o item

II deste artigo, depende de aprovação da autoridade aeronáutica.

§ 4º - Desde que a soma final das ações em poder de estrangeiros não

ultrapasse o limite de 1/5 (um quinto) do capital, poderão as pessoas

estrangeiras, naturais ou jurídicas, adquirir ações do aumento de capital”.

7. Transporte Aéreo de Passageiros – Código Civil e Código Brasileiro

de Aeronáutica

O transporte de passageiros está regulado pelo novo Código Civil, Lei nº

10.406, de 11 de janeiro de 2003, em seu artigo 734 e seguintes, pelo Código

Brasileiro de Aeronáutica, Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986, em seu

artigo 227 e seguintes e por Convenções e Tratados Internacionais.

O novo Código Civil, Lei nº 10.406/02, determina que o transportador é

responsável pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,

salvo motivo de força maior, sendo considerada nula qualquer cláusula

excludente de responsabilidade, e permite ao transportador exigir do passageiro,

uma declaração do valor de sua bagagem a fim de fixar o limite de indenização.

Pelo novo Código Civil o transportador está sujeito aos horários e

itinerários previstos, respondendo por perdas e danos em qualquer atraso, a não

ser por motivo de força maior. O transportador não pode recusar passageiros,

salvo nos casos previstos nos regulamentos, ou condições de higiene ou saúde

da pessoa o justificarem. Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à

vontade do transportador, o mesmo fica obrigado a concluir o transporte, correndo

também por sua conta todas as despesas de estadia e alimentação com o

passageiro, durante a espera do novo transporte.

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Ainda pelo novo Código Civil, o passageiro por sua vez, tem o direito de

rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a

restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao

transportador com tempo suficiente de ser renegociada. Ainda é facultado ao

passageiro desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, desde que

provado que outra pessoa ocupou o seu lugar. O passageiro que deixar de

embarcar somente terá direito a restituição da sua passagem, se provar que outra

pessoa foi transportada em seu lugar. Em todas essas hipóteses o transportador

terá o direito de reter até 5% (cinco por cento) da importância a ser restituída ao

passageiro, a título de multa compensatória.

Pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei nº 7.565/86, o transportador é

obrigado a entregar o respectivo bilhete individual ou coletivo de passagem, que

deverá indicar o lugar e a data da emissão, os pontos de partida e destino, assim

como o nome dos transportadores, sendo que o bilhete de passagem terá a

validade de um ano, a partir da data de sua emissão.

Se o transportador vier a cancelar a viagem, o passageiro terá direito ao

reembolso do valor já pago, e em caso de atraso da partida por mais de 4 (quatro)

horas, o transportador estará obrigado a providenciar o embarque do passageiro,

em outra aeronave que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino, ou

restituir de imediato, se o passageiro preferir, o valor do bilhete da passagem.

Todas as despesas decorrentes da interrupção ou atraso de viagem, inclusive

transporte de qualquer espécie, alimentação e hospedagem, correrão por conta

do transportador, sem prejuízo da responsabilidade civil.

Em caso de reembolso ao passageiro, este deverá ser integral se todo o

preço foi pago, mas se o pagamento foi feito apenas de uma parte, somente da

devolução dessa parte se cogitará, cancelando-se o contrato de transporte.

No transporte de pessoas, as partes que interferem no contrato são o

transportador e o passageiro, sendo o bilhete de passagem (cláusulas geralmente

impressas) o instrumento que prova o acordo de vontades no sentido de ser o

adquirente transportado de um para outro lugar mediante o preço ajustado no

contrato de adesão.

Em princípio, o contrato de transporte aéreo de pessoas deve atender o

disposto no artigo 104 do novo Código Civil, quando trata da capacidade das

partes contratantes para a validade do negócio jurídico, e o que prescreve o artigo

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116 sobre a manifestação de vontade pelo representante no caso das pessoas

incapazes. Este contrato compreende, também, a obrigação para o transportador

de transportar a bagagem do passageiro.

A obrigação de transportar o passageiro cabe ao transportador e o

passageiro tem a obrigação de pagar a importância pela aquisição do bilhete de

passagem e de apresentar-se ao lugar de embarque antes da hora prefixada para

a partida.

O contrato extingue-se, no momento em que o passageiro desembarca no

seu lugar de destino, resultando desse fato a cessação das responsabilidades e

obrigações assumidas pelo transportador.

O contrato de transporte aéreo de passageiros é um negócio jurídico de

caráter consensual formando-se pelo simples acordo de vontades do passageiro

e do transportador.

8. Transporte Aéreo de Carga – Código Civil e Código Brasileiro de

Aeronáutica

Pelo novo Código Civil, Lei nº 10.406/02, o transporte de coisas encontra-

se regulado no artigo 743 e seguintes e determina que a coisa, entregue ao

transportador, deve estar caracterizada pela sua natureza, valor, peso e

quantidade, e tudo o mais que for necessário para que não se confunda com

outras, devendo ser indicado o destinatário pelo seu nome e endereço.

Ao receber a coisa o transportador deverá emitir o conhecimento de

transporte com a menção dos dados que a identifiquem, segundo o disposto em

lei especial. O transportador poderá recusar a coisa, caso a embalagem seja

inadequada, ou que possa por em risco a saúde das pessoas, ou danificar o

veículo e outros bens.

O transportador deverá conduzir a coisa ao seu destino, tomando todas as

cautelas necessárias para mantê-la em bom estado e entregá-la no prazo

ajustado ou previsto.

A responsabilidade do transportador está limitada ao valor constante do

conhecimento e começa no momento em que ele, ou seus prepostos, recebem a

coisa e termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se a

aquele não for encontrado.

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As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem

apresentar o conhecimento endossado, devendo aquele que as receber conferi-

las e apresentar as reclamações que tiver sob pena de decadência dos direitos.

No caso de perda parcial ou de avaria na mercadoria, o destinatário poderá

propor ação contra o transportador e deverá denunciar o dano em (10) dez dias a

contar da data da entrega.

No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores são

responsáveis solidariamente pelo dano causado perante o remetente, ressalvada

a apuração final da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento

recaia, por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso

houver ocorrido o dano.

Pelo Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei nº 7.565/86, em seu artigo 235,

está determinado que no contrato de transporte aéreo de carga será emitido o

respectivo conhecimento, com as seguintes indicações: a) o lugar e data da

emissão; b) os pontos de partida e destino; c) o nome e endereço do expedidor;

d) o nome e endereço do transportador; e) o nome e endereço do destinatário; f) a

natureza da carga; g) o número, acondicionamento, marcas e numeração dos

volumes; h) o peso, quantidade e o volume ou dimensão; i) o preço da

mercadoria, quando a carga for expedida contra pagamento no ato da entrega, e,

eventualmente, a importância das despesas; j) o valor declarado, se houver; k) o

número das vias do conhecimento; l) os documentos entregues ao transportador

para acompanhar o conhecimento; m) o prazo de transporte, dentro do qual

deverá o transportador entregar a carga no lugar do destino, e o destinatário ou

expedidor retirá-la.

Sem prejuízo de responsabilidade penal, o expedidor responde pela

exatidão das indicações e declarações constantes do conhecimento aéreo e pelo

dano que, em conseqüência de suas declarações vier a causar ao transportador

ou a qualquer outra pessoa.

O conhecimento aéreo, até prova em contrário, faz presumir, a conclusão

do contrato, o recebimento da carga e as condições do transporte, sendo

permitido ao transportador, recusar a carga desacompanhada dos documentos

exigidos e cujo transporte e comercialização não sejam permitidos.

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Ao chegar a carga no lugar de destino, o transportador deverá avisar o

destinatário para retirá-la em 15 (quinze) dias a contar do aviso, a não ser que

tenha sido estabelecido outro prazo no conhecimento.

A carga deverá ser entregue ao destinatário e presume-se entregue em

bom estado quando não houver protesto do mesmo. O protesto deverá ser feito

através de ressalva lançada no documento de transporte ou mediante qualquer

comunicação escrita, encaminhada ao transportador: a) em caso de avaria da

carga, o protesto deve ser feito no prazo de 7 (sete) dias a contar do recebimento;

b) em caso de atraso da carga, o protesto deverá ser feito no prazo de 15 (quinze)

dias a contar da data em que a carga haja sido posta à disposição do destinatário.

Se não houver protesto, somente será admitida qualquer ação se fundada

em dolo do transportador.

Em caso de transporte sucessivo ou de transportador de fato o protesto

será encaminhado aos responsáveis; e o dano ou avaria e o extravio de carga

importada ou em trânsito aduaneiro serão apurados de acordo com a legislação

específica.

A execução do contrato de transporte aéreo de carga tem inicio com o

recebimento da carga e persiste durante o período em que se encontra sob a

responsabilidade do transportador, seja em aeródromo, a bordo de aeronave ou

em qualquer lugar, no caso de aterrissagem forçada, até a entrega final ao

destinatário.

O período de execução do contrato de transporte aéreo é aquele em que

as mercadorias se encontram sob a guarda direta ou indireta do transportador,

seja em aeroporto, seja a bordo de aeronave, seja em qualquer outro lugar, no

caso de pouso fora do aeroporto, porém não abrange nenhum transporte

terrestre, marítimo, ou fluvial, efetuado fora do aeroporto. Entretanto, quando, na

execução do contrato de transporte aéreo, efetuar-se qualquer daqueles tipos de

transporte, para carregamento, entrega ou baldeação, e houver dúvida sobre

onde ocorreu o dano, a responsabilidade do transportador será regida pelo

Código Brasileiro de Aeronáutica, salvo prova em contrário.

O contrato de transporte aéreo de carga, não deixa de ser uma variedade

da teoria geral das obrigações , isto é, um negócio jurídico pelo qual uma pessoa

(física ou jurídica) se obriga a transportar de um lugar para outro mercadorias por

via aérea, mediante o pagamento de um frete.

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Essa conceituação abrange os seguintes elementos que compõem o

contrato de transporte aéreo de carga: a) transportador profissional, que será a

pessoa física ou jurídica nas figuras do proprietário (explorador) da aeronave; b) o

documento obrigatório (conhecimento – air waybill), que é o instrumento escrito

que prova a celebração do contrato de transporte; c) a obrigação principal do

transportador, pois o mesmo assume a obrigação de transportar determinada

mercadoria (bens, objetos), que pelo contrato abrange o tempo decorrido desde o

carregamento (embarque das mercadorias a bordo da aeronave) até a operação

de descarga ou desembarque das mercadorias da aeronave.

São partes no contrato de transporte aéreo de carga: a) a pessoa que

entrega a mercadoria para ser transportada, no caso o remetente ou expedidor; b)

a pessoa que recebe a mercadoria, encarregando-se de transportá-la, isto é, o

transportador; c) a pessoa a quem a mercadoria é destinada e a quem cabe

recebê-la, denominada destinatário.

Assevera Fran Martins, que “das pessoas que intervém no transporte de

mercadorias somente são partes integrantes do contrato o remetente ou

carregador e o transportador ou condutor. O destinatário é apenas a pessoa a

quem a mercadoria é enviada, não se envolvendo, assim, na feitura do contrato.16

9. A Responsabilidade no Transporte Aéreo e o Código de Defesa do

Consumidor

Visando facilitar, dividimos o transporte aéreo em internacional e interno ou

nacional. O transporte aéreo internacional é disciplinado pela Convenção de

Varsóvia, de 12 de outubro de 1929, recepcionada no nosso ordenamento jurídico

pelo Decreto nº 20.704 de 24 de novembro de 1931. A Convenção de Varsóvia

sofreu emendas do Protocolo de Haia, datado de 28 de Setembro de 1955, sendo

em 28 de maio de 1999, assinada a Convenção para a Unificação de Certas

Regras Relativas ao Transporte Aéreo Internacional, chamada de Convenção de

Montreal.

O transporte aéreo interno, atualmente, é regulado pelo Código Brasileiro

de Aeronáutica, Lei nº 7.565 de 19 de dezembro de 1986, pelo novo Código Civil,

Lei nº 10.406 de 11 de janeiro de 2002.

16

MARTINS, Fran. Contratos e obrigações comerciais. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 206.

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O que caracteriza como internacional o transporte aéreo é o fato de os

pontos de partida e destino, ficarem situados em países diversos, haja ou não

interrupção ou baldeação.

Já o transporte aéreo doméstico, é aquele cujos pontos de partida,

intermediários e de destino estejam situados no território nacional; não obstante,

esse transporte não se descaracterizará, se, por motivo de força maior, a

aeronave fizer escala em território de outro País, desde que os pontos de partida

e destino sejam em território nacional.

A responsabilidade do transporte aéreo nas conformidades da Convenção

de Varsóvia, é meramente subjetiva , com culpa presumida, conforme artigo 17,

que diz: "Responde o transportador pelo dano ocasionado por morte, ferimento ou

qualquer outra lesão corpórea sofrida pelo viajante, desde que o acidente que

causou o dano, haja ocorrido a bordo da aeronave, ou no curso de qualquer

operação de embarque ou desembarque”. E, o artigo 20, nº 1, quando determina:

"O transportador não será responsável se provar que tomou, e tomaram seus

prepostos, todas as medidas necessárias para que se não produzisse o dano ou

que lhes não foi possível tomá-las".

A responsabilidade adotada pela Convenção de Varsóvia é a referente ao

artigo 159 do antigo Código Civil de 1916 e que hoje aprece regulada pelo artigo

186 do novo Código Civil, que diz: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,

negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda, que

exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Essa responsabilidade se inspira na

idéia da existência da culpa como fundamento para a obrigatoriedade de reparar

o dano . É a culpa em sentido amplo, lato sensu, para indicar não só a culpa

estrito sensu, mas também o dolo. Como diz o Professor Sérgio Cavalieri Filho 17 :

"Por essa concepção clássica, todavia, a vítima só obterá a reparação do dano se

provar culpa do agente, o que nem sempre é possível na sociedade moderna".

A jurisprudência tem interpretado esses dispositivos de forma a atribuir ao

transportador aéreo a responsabilidade objetiva não suprimida nem pela força

maior. O fato do passageiro concorrente ou exclusivo, pode atenuar ou elidir a

responsabilidade do transportador. Dispõem o artigo 21 da Convenção de

Varsóvia: “Se o transportador provar que o dano foi causado por culpa da pessoa

17

CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. São Paulo: Malheiros, p. 137.

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lesada, ou que esta para ele contribuiu, poderá o tribunal, de conformidade com

as disposições de sua lei nacional, excluir ou atenuar a responsabilidade do

transportador”.

Uma outra particularidade na responsabilidade do transportador aéreo é a

forma de indenização limitada a um valor máximo, valor esse, que tem sido objeto

de inúmeras divergências e dificuldades na sua fixação. Determina o artigo 22, nº

1 da Convenção de Varsóvia: “No transporte de pessoas, limita-se a

responsabilidade do transportador à importância de duzentos e cinqüenta mil

francos, por passageiro. Se a indenização, de conformidade com a lei do tribunal

que conhecer da questão, puder ser arbitrada em constituição de renda, não

poderá o respectivo capital exceder àquele limite. Entretanto, por acordo especial

com o transportador, poderá o viajante fixar em mais o limite de

responsabilidade”.

A limitação, todavia, deixa de existir, passando a indenização a ser fixada

com base no direito comum, se houver dolo ou culpa grave da parte do

transportador, consoante o artigo 25, nº 1, da referida Convenção de Varsóvia:

“Se for intentada uma ação contra um preposto do transportador, por motivo de

um dano mencionado na presente Convenção, este preposto, se provar que agiu

no exercício de suas funções, poderá se prevalecer dos limites de

responsabilidade que podem ser invocadas pelo transportador em virtude do

artigo 22”.

A reflexão acima evidencia um absurdo quando transfere o ônus da prova

para a vítima.

Pela Convenção de Montreal a responsabilidade do transportador e a

medida da indenização do dano ficou estabelecida nos artigos 17 a 22 e

determinou-se no artigo 21, nº 1, o valor de 100.000 Direitos Especiais de Saque,

como sendo o limite de indenização previsto: “O transportador não poderá excluir

nem limitar sua responsabilidade, com relação aos danos previstos no número 1

do Artigo 17, que não exceda de 100.000 Direitos Especiais de Saque por

passageiro”.

Vale dizer que com o advento da Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990,

iniciou-se uma verdadeira batalha a respeito da indenização. Entraram em cena

os defensores da matéria e utilizaram suas armas de acordo com a posição em

que se encontrava o interesse a ser defendido.

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Alguns sustentam que, sendo integral o dever de indenizar como prescrito

no artigo 6 º, VI do Código de Defesa do Consumidor , afastada está a hipótese

de limitação . Outros defendem o princípio de que no conflito entre a lei interna, o

Código de Defesa do Consumidor e o tratado, prevalece o tratado, pelo que nossa

lei não poderia alterar a Convenção de Varsóvia e nem a Convenção de Montreal.

Tal polêmica ganhou corpo e então, a nossa suprema corte, em julgamento

de RE nº 80.004, de 1975 até 1977, manifestou entendimento no sentido de que a

Convenção, embora tenha aplicabilidade no Direito Interno do Brasil, não se

sobrepõe às leis do País. Logo, em caso de conflito entre tratado e lei, prevalece

a lei , por representar a última vontade do legislador, embora o descumprimento

no plano internacional possa acarretar conseqüências . Desta forma, não

permanece entre nós, a aplicação da indenização limitada prevista na Convenção

de Varsóvia.

Newton de Lucca 18 assevera que, “não se pode pretender, nas hipóteses

de conflito, a prevalência das normas da Convenção de Varsóvia sobre o Código

de Defesa do Consumidor, por inúmeras razões”. Mais adiante ...... “Em primeiro

lugar, cumpre mencionar que o regime de responsabilidade do transportador

aéreo, estabelecido por esta Convenção, revelou-se, desde os primórdios,

insuficiente, sendo absolutamente contundentes as críticas a seu respeito,

conforme será visto mais adiante. Os limites de indenização por ela fixados deram

ensejo aos mais acirrados debates, fossem por causa de seus baixos valores,

fossem em razão de suas constantes desvalorizações”. Mais adiante ......... “Em

segundo lugar, 19 a jurisprudência alienígena – particularmente a alemã e a

italiana – encarregou-se, efetivamente, de não reconhecer, nem a prevalência das

normas da Convenção de Varsóvia sobre a ordenação jurídica interna, nem

tampouco a constitucionalidade do sistema de limitação à responsabilidade do

transportador aéreo nos casos de morte ou lesão a passageiro”.

No embate entre as duas correntes que situam os tratados internacionais

em face do direito positivo dos Países que o firmarem - Monista, que dá primazia

ao Direito Internacional, e Dualista que atribui a prevalência do Direito Interno ,

18 LUCCA, Newton de. Teoria geral da relação jurídica de consumo. Tese de Concurso para Provimento de Cargo de Professor Titular de Direito Comercial da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 2002, p. 292. 19 LUCCA, Newton de. Teoria geral da relação jurídica de consumo. Tese de Concurso para Provimento de Cargo de Professor Titular de Direito Comercial da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 2002, p. 297.

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ficamos mais atraídos pela teoria Dualista por considerar que os dois direitos são

autônomos e independentes um do outro. Apenas para ilustrar é oportuno citar

que Kelsen, 20 rejeitando o dualismo jurídico, são defensáveis as duas posições:

a) A validade do Direito Internacional depende de seu reconhecimento pelos

Direitos Nacionais (primado do Direito Nacional); e b) A validade do Direito

Nacional depende de seu reconhecimento pelo Direito Internacional (primado do

Direito Internacional).

Sem nos aprofundarmos no debate, o que fugiria o objetivo deste artigo,

vale, contudo, esclarecer que a Convenção de Varsóvia é um Tratado que, na

lição de Paulo Dourado de Gusmão, 21 transforma-se em norma de direito interno,

tendo assim força de lei, obrigando o juiz a respeitá-lo e aplicá-lo aos casos a ele

submetidos, quando, na forma prescrita na Constituição, for por ato legislativo do

Congresso Nacional (Decreto Legislativo) aprovado, e por Decreto do Presidente

da República promulgado, dando-lhe assim executoriedade. Destarte, o Tratado

Internacional para ter valor de direito interno , ou seja, de lei, depende de dois

atos normativos : Decreto Legislativo do Congresso e Decreto do Presidente da

República.

A Convenção é um Tratado Internacional, integrado ao sistema jurídico

brasileiro, primeiramente pela assinatura, pelo plenipotenciário brasileiro, pela

edição de Decreto Legislativo expedido pelo Congresso Nacional, pela edição de

Decreto Presidencial, pela publicação no Diário Oficial da União e, ainda no Diário

Oficial do Congresso Nacional.

A validade do Tratado tem suporte Constitucional no artigo 5º, parágrafo 2º

da Carta Magna, onde prescreve: "Os direitos e garantias expressos nesta

Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela

adotados, ou Tratados Internacionais em que a República Federativa do Brasil

seja parte".

No transporte aéreo doméstico, a responsabilidade limitada do Código

Brasileiro de Aeronáutica, encontra-se presente nos artigos 246 e 257.

20 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. São Paulo: Martins Fontes. 1987, p. 297. 21

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à ciência do direito. Rio de Janeiro: Forense, 1974, p. 235.

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Artigo 246: “A responsabilidade do transportador, por danos ocorridos

durante a execução do contrato de transporte, está sujeita aos limites

estabelecidos neste Título”.

Artigo 257: “A responsabilidade do transportador, em relação a cada

passageiro e tripulante, limita-se, no caso de morte ou lesão, ao valor

correspondente, na data do pagamento, a 3.500 (três mil e quinhentas)

Obrigações do Tesouro Nacional (OTN), e, no caso de atraso do transporte, a 150

(cento e cinqüenta) Obrigações do Tesouro Nacional (OTN).

§ 1º - Poderá ser fixado limite maior mediante pacto acessório entre o

transportador e o passageiro.

§ 2º - Na indenização que for fixada em forma de renda, o capital para a

sua constituição não poderá exceder o maior valor previsto neste artigo”.

Percebe-se, também, o conflito com o Código de Defesa do Consumidor,

uma vez que a limitação que ora se trata, tem como respaldo, o fato de o

transportador não suportar o pagamento das indenizações em caso de morte de

todos os passageiros e tripulação. Perdendo, ainda, a aeronave, o que extinguiria

o seu negócio.

Outro argumento seria o de que o passageiro aéreo tinha condição de

arcar com parte do risco. Atualmente, o transporte aéreo é acessível a todas as

camadas da sociedade ativa, sem dotar de privilégios econômicos os seus

usuários.

Com o surgimento do Código de Defesa do Consumidor esses dispositivos

que estabelecem responsabilidade limitada para as empresas de transporte aéreo

foram derrogados, pois como são prestadoras de serviço público, estão

subordinadas ao regime do nosso código em seu artigo 3º, parágrafo 2º que

define o fornecedor e o que é considerado serviço, e o artigo 6º, X que determina

como direito do consumidor, a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos

em geral, estabelecendo responsabilidade objetiva integral, como se lê no artigo

22 e parágrafo único: “Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,

concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de

empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes,

seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

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Parágrafo único – Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das

obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a

cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código”.

No caso, é o transportador aéreo parte integrante do serviço público por

concessão da União, conforme dispõem a Constituição Federal de 1988, em seu

artigo 21, XII, “c”, não podem as empresas que exploram o transporte aéreo ficar

fora do regime integral de indenização estatuído no Código de Defesa do

Consumidor em seu artigo 6º, I e VI e em seu artigo 25.

A responsabilidade limitada somente é admitida, em situações justificáveis,

nas relações de consumo entre fornecedor e consumidor pessoa jurídica,

conforme prescreve o artigo 51, I, parte final, jamais sendo aplicada entre

fornecedor e consumidor pessoa física.

Para concluir devemos frisar que a responsabilidade no transporte aéreo

nacional, não é tão conflitante quanto o internacional, pois sendo o Código

Brasileiro de Aeronáutica e o Código de Defesa do Consumidor leis nacionais, e

sendo o Código de Defesa do Consumidor posterior ao Código Brasileiro de

Aeronáutica, há de prevalecer naquilo que dispõe de forma diferente. Vejamos

então a regra do artigo 2º, parágrafo 1º, da Lei de Introdução ao Código Civil,

“Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a

modifique ou revogue.

§ 1º - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,

quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria que

tratava a lei anterior”.

Nesta oportunidade foram apresentadas apenas as responsabilidades

subjetiva objetiva adotadas, respectivamente, na Convenção de Varsóvia e no

Código de Defesa do Consumidor.

A responsabilidade do transportador aéreo começa com os trâmites de

embarque e termina com o desembarque, seja de passageiro, bagagem, carga,

encomenda ou mala postal.

“A aviação continua a evoluir e jamais vai parar, é uma história sem

fim”.

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