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CyanZine #0

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Primeira edição da revista, que reuniu postagens de blogs diversos.

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A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported. Para visualizar uma cópia da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ ou mande uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California, 94105, USA.

Você tem a liberdade de:

• Compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra. • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

• Atribuição — Você deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

• Uso não-comercial — Você não pode usar esta obra para fins comerciais.

• Compartilhamento pela mesma licença — Se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à presente.

Considerando que alguns dos artigos aqui publicados não são exclusivos da CyanZine, tendo sido incorporados a partir do site de seus respectivos autores, por vezes a licença do CyanZine se torna ainda mais restritiva do que a original (mas nunca menos restritiva). Portanto, convém visitar a publicação diretamente para o caso de se precisar de uma licença mais flexível do que esta.

A ideia do CyanZine veio nesses últimos meses. O princípio é produzir uma revista eletrônica a partir de posts diversos, do meu próprio site e de diversos blogs que permitam legalmente isso e constituindo uma seleção de artigos. Claro, podemos ter contribuições, desde que se adequem à linha editorial.

Sendo um “projeto de uma pessoal”, dou-me ao direito de selecionar artigos que condigam com a forma como penso, evitando publicação de posts que me pareçam equivocados (como por vezes acontece em revistas de muitos colaboradores).

Pelo menos de início, portanto, o CyanZine vai funcionar mais ou menos como o CyanCD funciona. Enquanto o CyanCD é uma coletânea atualizada de softwares livres para Windows, o CyanZine será uma coletânea de posts.

Outra decisão referente ao CyanZine é a adoção do formato ePub como formato principal de distribuição. Sim, porque o ePub, além de ser um formato aberto de livro digital, é também um formato mais adequado do que, por exemplo, o PDF. O texto se adequa bem a qualquer dispositivo de leitura, sem dramas. É desta forma que, para incentivar um padrão aberto e divulgar essa ótima tecnologia, o ePub será o formato principal de distribuição do CyanZine. Alternativamente, disponibilizarei também um PDF. Porém, não espere para esse PDF uma “diagramação” como em revistas impressas. O nosso foco aqui é o conteúdo!

Também falarei no CyanZine da minha produção artística, além de manter uma coluna falando especialmente do CyanCD. A liberação de versões do CyanZine estará totalmente vinculada à liberação de versões do CyanCD, sendo os dois publicados sempre juntos.

Estou incluindo, nesta edição inicial, o primeiro capítulo do meu primeiro romance: Marfim Cobra. A ideia é fornecer para vocês uma leitura bacana a cada edição do CyanZine. Como o formato ePub, a meu ver, é bem agradável de se ler, especialmente em dispositivos apropriados para leitura digital, vou publicando essa sessão “Dose de Leitura”. De início, o

Marfim Cobra, depois a gente passa para outra obra.

Como já mencionei antes, aceito contribuições de artigos, desde que se adequem à temática da revista, que por enquanto é indeterminada, mas que se pode deduzir um alinhamento temático simplesmente pela análise geral dos artigos que a compõem nesta edição inicial. Qualquer coisa, vocês podem entrar em contato comigo através de [email protected]. E espero que apreciem este trabalho!

A foto da capa desta edição foi tirada em 15 de abril de 2010 em Forestland, Oakland, CA, Estados Unidos da América, usando uma uma Nikon D5000, por wolfpix: http://www.flickr.com/photos/wolfraven/5279585778/#/

Technomyrmex IlgiTodo ano, o CyanCD adota um macrotema, em torno do qual suas versões girarão. Ano passado foram os pilotos brasileiros de Fórmula 1. Este ano, o tema central é Technomyrmex.

Technomyrmex é um gênero de formigas encontradas principalmente nos trópicos. A família Technomyrmex do CyanCD traz como principal novidade a liberdade. A partir do Technomyrmex Albipes (CyanCD 11.1), o CD passou a trazer somente softwares livres. Antes disso, eram incluídos também softwares gratuitos, desde que suas licenças permitissem a redistribuição. Agora, CyanCD é um CD totalmente livre.

A contagem também perde o vínculo com o mês. Antes, o número de versão era x.y, sendo x o ano e y o mês, como ocorre, por exemplo, com a distribuição GNU/Linux Ubuntu. Este ano, o y passa a ser um mero contador. Assim, 11.1 (T-Albipes) foi lançado em janeiro; 11.2 (T-Fulvus) em feveriro; e o mais recente, o 11.3 (T-Ilgi), em abril. O CyanCD é bimestral, a menos que seja especialmente necessário lançar uma versão antes de completar 2 meses da última. Foi o caso do BrOffice 3.3, que motivou o CyanCD 11.2 sair ainda em fevereiro.

Algo que começa também na linha Technomyrmex é a publicação de revistas digitais como parte do CD. Começando com a Revista Espírito Livre e a Revista BrOffice, na edição 11.1. Agora, na 11.3, acrescentamos a Revista Qt e o CyanZine. Se você conhece alguma revista em formato digital cuja distribuição seja assim livre e que você considera que seria um interessante acréscimo à banca do CyanCD, é só me falar.

Por conta de o CyanCD trazer agora o CyanZine, em formato ePub, foi adicionada uma forma de visualizar arquivos ePub. Trata-se da extensão ePub Reader, mostra o livro diretamente no navegador. Se preferir uma solução mais sofisticada, recomendo o FBReader.

Também troquei o Puppy Linux pelo MacPup, uma distribuição

derivada, que conta com a vantagem de trazer o Enlightenment como ambiente gráfico. Ou seja, reiniciando o CyanCD pelo CD, você terá um ambiente GNU/Linux ainda mais utilizável e mais amigável que antes! Claro, devido a tudo isso, algumas coisas tiveram que sair...

Bom, espero que gostem e espero opiniões, críticas, sugestões, etc.

Séries e EventosFinalmente a continuação de Escarlate se aproxima do fim. Escarlate narra a aventura de Zand, um ex-bardo guerreiro, em busca dos ladrões de Knova, um dragão vermelho fêmea por quem é apaixonado. A história segue em 50 episódios e, ao fim, terminou não terminando. Então, conforme decidido democraticamente em meu site, Escarlate terminou ganhando uma continuação em Escarlate II, a série de contos seguinte.

O que chamo de série de contos na verdade é uma história única e longa, mas dividida em episódios pequenos, como um anime. Escarlate II também terá 50 episódios, assim como Jasmim também tinha.

Costumo publicar um episódio por sábado e, nesse ritmo, Escarlate II terminará neste mês de abril. O que virá depois? Bem, depois de Jasmim eu apresentei aos leitores do site quatro possibilidades de história. Os leitores escolheram Escarlate. Depois de Escarlate, mais quatro opções, e Escarlate II venceu. O certo é que eu vou repetir a medida. Vou apresentar mais quatro possíveis histórias e a vencedora é que se tornará uma série de contos.

Porém, antes disso, tenho dois projetos. Além de Escarlate II – que logo termina –, eu estou escrevendo duas outras séries: Warning Zone e Redblade. Nenhuma das duas está sendo publicada no meu site e é nisso que consistem meus dois projetos de sincronia. As duas vêm sendo publicadas, respectivamente, na Revista Espírito Livre e na Revista BrOffice.

Quanto aos projetos, trata-se de uma sincronia completa: começar a publicar as séries no meu site semanalmente e, ao mesmo tempo, publicar dois episódios por revista, de modo que o episódio do site seja o mesmo da revista e, complementarmente, a contagem de episódios da série acompanhe a contagem de edições da revista.

Dessa forma, primeiro começarei sincronizando Warning Zone. Logo após Escarlate II, vocês poderão ver o primeiro episódio de Warning

Zone no meu site. Quem já está acompanhando através da Revista Espírito Livre não vale revelar o futuro nos comentários!

Como eu disse anteriormente, vão ser apresentadas sim mais quatro histórias candidatas a fim de se escolher a Próxima Série do Bardo. Porém, ao que tudo indica, isso só acontecerá depois das duas sincronias de séries terem sido finalizadas, o que nos leva no mínimo ao final deste ano.

Após isso tudo, as 2 séries e mais a nova série ainda indefinida serão publicadas mensalmente. As 2 terão uma publicação por mês, cada, acompanhando as revistas, enquanto a nova cobrirá os sábados complementares.

Quem quiser acompanhar as séries que já publiquei, bem como os romances Marfim Cobra e Os Guerreiros do Fogo (além de outros livros meus), pode encontrá-los para download gratuito em http://www.carlissongaldino.com.br ou adquirí-los impressos ou em formato eletrônico em http://www.bookess.com/profile/carlisson.

Quem quiser acompanhar o que ainda estou escrevendo, leia a Revista Espírito Livre em http://revista.espiritolivre.org/ e a Revista BrOffice em http://revista.broffice.org/. E acompanhe meu site. Também estou escrevendo um romance chamado Sinas – Copos e Minas, por lá.

Estávamos planejando o I Encontro de Software e Cultura Livre de Arapiraca – ESCLA – para ocorrer em torno do FLISOL – Festival Latinoamericano de Instalação de Software Livre. Devido a problemas com patrocinadores, o ESCLA terminou sendo adiado para os dias 27 e 28 de maio. Quem quiser, pode vir prestigiar em Arapiraca-AL. O site do evento é http://www.escla.com.br.

O FLISOL ainda vai haver, mas apenas com installfest. Em Delmiro Gouveia e em Maceió, porém, haverá FLISOL com palestras. Mais informações sobre o FLISOL, inclusive os locais e programações em todas as cidades onde o evento vai acontecer, você pode obter em http://www.flisol.net.

A Armahttp://www.carlissongaldino.com.br/poesia/arma, 16 de maio de 2007

Por Cárlisson Galdino

Sozinhos, tão distantes desde antiga data

Amor, Saudade e Sonho vêm e quem diria?

Às vezes trazem Dor; em outras, Alegria

Mas sempre vem uma outra e sempre nos maltrata

Qual uma ave trancada em gaiola de prata

Tristeza indesejada quem faz companhia

Sarcástica, tortura a gente noite e dia

Aos poucos, se deixamos, nos machuca e mata

É quando somos tidos por nossa Quimera

É quando nos insiste em recordar alguém

Não temos muitas chances de enfrentar a fera

É a solução cantar contra as dores que vêm

Nos dias em que cantar é a forma mais sincera

De mentir pra si mesmo que está tudo bem

Não existe pedofilia na Internethttp://www.trezentos.blog.br/?p=5427, 8 de janeiro de 2011

Por Raphael Tsavkko Garcia

Não existe pedofilia na internet.

Não, você não leu errado. É isto mesmo. Repito: Não existe pedofilia na internet.

O que existe na rede, porém, é a troca de fotos de pedofilia e até mesmo o aliciamento de menores, mas o crime em si de pedofilia, o abuso de menores, acontece em outro lugar. Na casa do criminoso, da vítima, na rua, em motéis baratos e coniventes e por aí vai.

O crime em si não “acontece” na rede.

Alguns podem falar “mas e o aliciamento?”, bem, de fato, acontece aliciamento de menores em chats, pelo msn e etc, mas eu me pergunto: “O problema é da internet em si ou dos pais que dão liberdade irrestrita aos seus filhos menores?”.

Pessoalmente acredito que o problema não esteja na internet, mas nos pais.

Você deixa seu filho de 10 anos andar sozinho nas ruas? Pegar um ônibus, ir ao shopping sozinho? Se sim, você é um péssimo pai/mãe. Mas imagino que a franca maioria diria “não”. Pois bem, então porque você deixa seu filho só navegando pela internet?

Não há problema algum, em tese, de sue filho andar só nas ruas, o problema na verdade é para onde ele pode ir ou quem pode passar por ali na hora. E o mesmo vale para a internet. O problema não é a navegação sem controle dos pais, mas a possibilidade de que seu filho vá onde não deve (site de sexo, por exemplo) ou que seja “visitado” por alguém com péssimas intenções.

Mas, engraçado, nunca vi a tentativa de se criminalizar o ato de andar na rua, da mesma forma que não é crime para um pai ou mãe deixar seu filho andar só. A responsabilidade nesses casos é dos pais e, caso aconteça, da polícia ir atrás.

Então porque querem criminalizar o mero ato de navegar na internet? Sim, pois é isto que prega a Lei Azeredo, que chamamos de AI5Digital. A criminalização do mero ato de navegar com a desculpa de proteger as crianças – e proteger bancos, financeiras e etc.

Com o AI5Digital seremos forçados a ter cadastros para acessar a rede, como se precisássemos mostrar nossa identidade a um guarda sempre que saíssemos de casa. Teríamos nossos registros gravados por meses à fio, nas mãos de provedores, como se fôssemos bisbilhotados por um big brother sempre que saíssemos de casa pra ir à padaria.

A pedofilia, o crime, não acontece na rede, mas fora dela. Esta apenas serve para propagá-la, como o telefone permitia conversar com o mundo, mas não era considerado arma do crime quando pedófilos se comunicavam através dele e criavam códigos para trocar suas fotos e vídeos.

Um crime abominável não pode ser enfrentado através da privação de direitos de uma maioria, através da quebra de privacidade generalizada. E, convenhamos, sabemos que a real intenção de controlara rede não é a de combater crimes, mas a de controlar a forma pela qual o cidadão pensa. A intenção é impedir a troca de informação e conhecimentos, a de vigiar os passos de todos, como um big brother moderno.

O crime, pedofilia, deve ser combatido com toda a força, mas onde e quando ele acontece, dentro da lei, e não através da privação de direitos. Não se garantem direitos de uns privando o de outros que não cometeram crime algum.

A pedofilia acontecia antes da internet, antes do telefone. Os criminosos apenas acharam uma nova forma de se manter em contato, de trocar informações, de aliciar. Mas o crime é o mesmo ha séculos, quiçá milênios e pode, e deve, ser combatido como sempre foi: Com o rigor da lei. Mas estas leis já existem.

Da mesma forma, criar um perfil falso e difamatório se enquadra como falsidade ideológica e também em outros crimes, não precisamos de lei

específica para a rede, ou seja, não precisamos criar uma legislação específica na rede para o que já existe. Quem cria perfil falso para humilhar o dono do nome verdadeiro, por exemplo, já comete um crime pela legislação atual, não precisamos criar nenhuma nova lei para isto, no máximo ensinar à advogados e juízes a forma correta de agir.

Vejam o absurdo proposto pela Lei Azeredo: Imagine que você está indo comprar um livro na livraria perto de casa – o mesmo que entrar em um site e comprar este mesmo livro sem sair da sala de casa. Você seria observado o caminho inteiro por câmeras, que gravariam todos os seus passos – se falou com alguém, se olhou pra alguém, o caminho que fez – que gravariam tudo que você estivesse falando com outra pessoa.

O livro que você comprou seria gravado – quem sabe você não é um terrorista e aquele livro de receitas de bolo te ensinaria a criar uma bomba? – e cada movimento seu seria guardado.

Um pensamento agradável, não? Pois é exatamente isto que querem fazer com a internet. Seus acessos seriam gravados – e pior, sequer seria pelo governo, mas por um provedor, com regras de segurança ainda mais frouxas – e todos os seus passos monitorados.

Oras, imagine que você está conversando na rua com um amigo, aceitarias que esta conversa fosse gravada e guardada? Não? Então porque aceitar a mesma coisa na internet, que sua conversa via MSN seja gravada por algum provedor?

Pegaríamos alguns bandidos? Claro, mas também estaríamos abrindo mão de nossa liberdade e privacidade e permitindo que cada passo de nossas vidas sejam monitoradas e verificadas por terceiros.

Da mesma forma que só podem entrar na minha casa com um mandado ou ouvir minhas conversas telefônicas com algo semelhante, também só deveriam poder entrar no meu computador, verificar meus acessos ou ler/ouvir minhas conversas por skype ou msn com um mandado semelhante. E tudo isto com a presunção de um crime.

Aliás, o caso dos bancos é interessante. Bancos são invadidos, cofres são arrombados e grana é roubada a todo tempo. Mas alguns vigilantes acreditam que estes crimes são exclusivos da internet. Roubar senhas e números de cartão de crédito por e-mail é o mesmo que um canalha colocar um aparelho nos caixas eletrônicos e fazer o mesmo, e nem por

isto existe lei que nos obrigue a ser monitorados 24 horas por dia em todos os nossos passos. Porque então propor algo assim para a internet?

Porque podemos ou devemos abrir mão da privacidade de nossos dados na internet como se estes fossem diferentes do nosso sigilo telefônico ou fiscal?

Tudo isto, meus caros, ouvir conversas e ter acesso aos dados já é uma realidade. Mas precisa ser feito com mandado, com a presunção de que há de fato um crime acontecendo, com a permissão de um juiz e não simplesmente com a mera vontade de A ou B. Tem de ser feito através de meios legais que garantam a privacidade e a segurança do cidadão.

Mas a Lei Azeredo passa por cima disto tudo, torna a internet algo totalmente desconectado da realidade – como se um plano alternativo e não apenas uma extensão de nossas vidas – e passível de ser controlada, de ser invadida.

A Lei Azeredo propõe que todos sejam tratados como culpados até que provem o contrário, desobriga a necessidade de mandado para que governo e autoridades invadam minha privacidade e acessem meus dados.

Vamos permitir que isto aconteça?

Não tenha filhoshttp://www.trezentos.blog.br/?p=5465, 19 de janeiro de 2011

Por Ana Cláudia Bessa

Se você quer continuar levando a vida da mesma forma que leva sem filhos, não tenha filhos.

Ter filhos significa mudar tudo na sua vida, desde a hora de acordar até a hora de dormir e quanto dormir. Muda tudo.

Então se você não está preparado para isso, não tenha filhos.

Ou então, se você não está disposto a doar boa parte de seu tempo ( e de seu orçamento), não tenha filhos. Filhos demandam muito do nosso tempo, da nossa atenção, daquele dinheirinho guardado para aquela roupa ou sapato que estamos precisando mas que vão ter que esperar.

Necessidade dos filhos nem sempre pode esperar e ter um filho significa se doar por completo a esse outro ser humano em todos os aspectos: para se alimentar, para se lavar, para se limpar, para se vestir, calçar e andar… ele precisará de nós como nunca ninguém precisou.

E precisará de nós sem se importar se estamos cansados ou se estamos com aquele problemão para resolver. Ele precisa de nós, na maioria das vezes, do nosso sorriso, não importa o que esteja acontecendo. Porque eles precisam do nosso sorriso.

Então, se você não está preparado para se dar, não tenha filhos.

Se você não quer ter trabalho, não tenha filhos.

Se quer sair todo final de semana para ver aquele filme que foi lançado e que todos estão comentando, não tenha filhos porque nem sempre terá com quem deixá-los para ir ao cinema. Ou mesmo, eles podem ter uma gripe mais forte ou façam tanta manha que você não consiga sair de casa.

Se você é apegado às suas coisas, não tenha filhos. Eles, em sua ânsia em descobrir o mundo, vão mexer naquela sua caneca de estimação e deixar cair no chão. Acredite, isso acontece. E a caneca não volta e nem a criança fez de propósito. Mas que a caneca não volta, não volta.

Se sua casa é impecavelmente arrumada, cheia de enfeites que não podem ser tocados ou você vai ficar louco que aquele sofá lindo apareça com um risco de caneta, não tem filhos.

Se ainda você á homem e acredita que tudo com relação ao seu filho deve ser resolvido por sua esposa, não tenha filhos porque os filhos são do casal e um pai tem que participar de tudo, tanto quanto participou na hora de contribuir para a vinda desse filho.

Se você é mulher, prepare-se. Você será a grande referência dessa criança por muito tempo e é sua presença que ele vai solicitar sempre. Se você não está disposta em abrir mão da manicure, da escova e da hidratação semanal, não tenha filhos.

Claro que muitas pessoas dirão que há um certo exagero da minha parte. Eu penso que não, estou vendo nua e cruamente tudo o que um filho significa de mudança em nossa vida e se talvez, todas as pessoas soubessem disso antes de ter um filho, talvez decidissem por não ter. E não tenho dúvidas que muita gente que hoje deixa seu filho para ser educado pela escola, ou que não acha que tem que abrir mão de nada em favor dos filhos, teríamos menos crianças mal-educadas e negligenciadas no mundo.

E apesar de eu não achar que evitar filhos seja uma tarefa da mulher, infelizmente, somos nós que precisamos tomar as rédeas disso porque depois que o filho vem, é em nosso corpo que ele fica, e já no começo, o homem fica bem menos comprometido com este filho que pode não ter sido planejado ou desejado por ambas as partes. E a gravidez já é um grande exemplo de quem é que tem sua vida virada do avesso desde o começo, enquanto o pai assiste meio que de camarote.

Aí, depois que o filho nasce, é a gente que o alimenta por 6 meses exclusivamente em nosso peito. E novamente o homem fica ao lado, mesmo que participativo, dando suporte àquela situação completamente nova.

E neste ponto eu sou bem crítica com relação à função do homem e não

penso que ele deva dar suporte. Ele tem que participar ativamente porque ele precisa fazer a sua parte nesta responsabilidade que é colocar um filho no mundo. Pra mim, homem não ajuda, homem participa.

Escrevo tudo isso porque numa mesma semana, vi mais de duas mulheres com 4 filhos, andando na rua, se virando e uma delas grávida de novo porque , além da falta de responsabilidade e orientação, os pais destas crianças, com certeza, deveriam estar dando suporte e não estão. Fazer o filho é fácil, assumir é que são elas. E independente da irresponsabilidade dessas mulheres depois de tantas gravidezes, são elas que estão na rua se virando e andando com aquele monte de filhos.

E coitados desses inocentes que não pediram para vir ao mundo.

E isso não é uma realidade da baixa renda. Conheço e já vi vários homens falando que não querem nem saber de trocar uma fralda. Então meu amigo, não tenha filhos, porque filhos sujam fraldasssss que precisam ser trocadas. E você mulher, se seu companheiro não pretende assumir tudo o que um filho demanda, escolha outro pai para seus futuros filhos, porque seu filho também merece coisa melhor.

Filhos precisam de amor, de dedicação, de tempo, de paciência.

Se não tivermos disposição para se doar, para que decidir ter filhos?

Desarquivando o Brasil – Pela Abertura dos Arquivos e Punição dos Torturadoreshttp://www.trezentos.blog.br/?p=5526, 7 de fevereiro de 2011

Por Raphael Tsavkko Garcia

Há um ano fiz uma proposta de blogagem coletiva pela abertura dos arquivos da ditadura e pela punição dos torturadores. Na época, tinha uma entrevista pronta com representantes dos familiares de mortos e desaparecidos – Verdade e Justiça, com Criméia Almeida e Suzana Lisbôa – e a ofereci para ser publicada ao mesmo tempo por vários blogues. Era inexperiente como blogueira e tuiteira e tinha poucos contatos, mas mesmo assim consegui que dezoito blogues publicassem a entrevista e outros tantos publicaram os banners da campanha.

Mas um fantasma nos rondava. Muitos tiveram medo de entrar mais fundo na campanha e produzir também textos próprios porque temiam que a direita usasse contra a candidata do governo Lula (que optou por manter o sigilo dos arquivos), que é ex-guerrilheira e foi torturada, etc. Dilma Rousseff venceu as eleições legitimamente e agora é governo. Não há mais disputas e nem desculpas para não abraçar essa causa. Ela é justa, justíssima.

A Corte dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheceu a importância de se identificar e punir os torturadores da Ditadura Militar, decidindo que a manutenção da Lei da Anistia fere acordos internacionais assinados pelo Brasil. Mas, infelizmente, o governo brasileiro segue ignorando a decisão.

Enquanto isto, o Supremo Tribunal Federal (STF) permanece na mais completa imobilidade e não dá mostras de que, ao menos pela via judicial, a decisão da OEA será respeitada. O Brasil, desta forma, caminha para se tornar um país criminoso, que não respeita as decisões de cortes internacionais superioras.

A tortura está institucionalizada no país porque não é possível punir tortura tendo anistiado os maiores torturadores de nossa história e nem sequer identificá-los. O Estado precisa investigar o paradeiro dos ainda desaparecidos políticos do regime militar. Paradeiro dos restos mortais dos desaparecidos porque a mim não convence essa papagaiada de guerrilheiros poupados por torturadores carrascos vivendo por aí com medo e identidades falsas.

O Brasil é o país mais atrasado da América Latina com a revisão de seu passado e sua história. A Argentina julgou e condenou só no ano passado 89 repressores de sua ditadura, além de já ter ordenado a abertura dos arquivos secretos e já possuir um museu da memória do período da repressão. Chile e Uruguai também, com algumas pequenas diferenças. Mas todos foram de encontro ao passado sem medo.

Iniciativas que visavam a criação de uma Comissão da Verdade, a revisão da Lei da Anistia e a punição dos torturadores – todas parte do Terceiro Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH3) – foram paulatinamente esvaziadas, empurradas para debaixo do tapete e esquecidas. A secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, se limitou a defender uma Comissão da Verdade sem punições, mas baseada no “entendimento” entre torturadores e vítimas.

Já passou da hora do Estado brasileiro vir a público e pedir desculpas junto com as Forças Armadas pelas atrocidades cometidas e pelos anos de censura, medo e tolhimento da liberdade que causaram danos incalculáveis a várias gerações e ao país, que perdeu o rumo de sua evolução histórica natural e a produção cultural e científica dessas gerações.

Não gostaria de ver mais mães de desaparecidos morrendo sem saber o que o Estado brasileiro fez com seus filhos, sem enterrar seus restos mortais, acabarem seu luto continuado de quatro décadas e sem receberem um pedido de desculpas oficial. O Brasil precisa conhecer a história dessas pessoas.

A proposta de blogagem coletiva consiste em aderir a campanha produzindo um post inédito (enfoques político, jurídico, direitos humanos, cidadania, histórico,… Escolham!) e usando essa charge feita pelo quadrinista Ton nOise (@tonoise). Todas as contribuições são bem-

vindas.

Outros cartuns e charges, textos, entrevistas. Podemos combinar de indicar nos blogs e nas redes sociais todos os posts da blogagem, sempre usando a tag #DesarquivandoBR e citando sempre que possível “desarquivando o Brasil”. Já estou propondo tag, título da campanha para facilitar, mas se alguém pensar em algo melhor é só falar, propor. Meu objetivo é ver a presidenta Dilma Rousseff reclassificando os arquivos agora ultrassecretos da ditadura militar brasileira como PÚBLICOS.

Bóra nessa luta?!?

*Texto feito pela @Nideoliveira71 e com acréscimos de @Tsavkko

Os Nacionalistas da Cultura (“Creative Commons é entreguismo”)

http://www.trezentos.blog.br/?p=5556, 21 de fevereiro de 2011

Por Rodrigo Savazoni

Tomo a liberdade de republicar aqui o excelente texto de Pablo Ortellado, cuja versão original pode ser encontrada aqui.***********

A ascensão de Ana de Holanda para o Ministério da Cultura com a promessa de reavaliar a revisão da lei de direitos autorais “em defesa dos autores” gerou um acirrado debate que tem animado as páginas dos cadernos de cultura. No debate, tem aparecido com orquestrada frequência uma curiosa tese: os críticos da nova política do ministério são ingênuos manipulados pelas grandes empresas de Internet, que querem se apropriar da cultura brasileira sem pagar pelo conteúdo. A revisão da lei de direitos autorais ampliando exceções e limitações, a supervisão estatal das sociedades de gestão coletiva (como o ECAD) e o estímulo ao licenciamento livre (por meio de licenças como as Creative Commons) causariam apenas prejuízo aos autores brasileiros. As grandes corporações do mundo digital, ao contrário, seriam as grandes beneficiadas, já que explorariam o acesso livre a esses conteúdos por meio de publicidade. Contra essas políticas inovadoras, seria preciso manter as regras e políticas de direito autoral atualmente em vigor que protegem razoavelmente bem os autores e são uma plataforma adequada para a projeção internacional da cultura brasileira.

A linguagem anti-imperialista surpreende, vindo de onde vem. Os defensores da tese são os sócios locais da indústria cultural internacional, sobretudo do setor fonográfico – empresas nada nacionais como a Warner, a Sony, a EMI e a Universal. Obviamente, a acusação é apenas um jogo retórico, mas como tem encontrado algum eco, não seria despropositado relembrar alguns fatos básicos.

No mercado de música brasileiro, os autores são brasileiros, mas as empresas são estrangeiras. O discurso pseudo-nacionalista só pode funcionar porque o Brasil tem uma situação ímpar: é o único país, fora os Estados Unidos, onde o consumo de música nacional é superior ao de música estrangeira. No entanto, essa música nacional é explorada por empresas majoritariamente estrangeiras: a Warner, a Sony, a EMI e a Universal. O que temos, portanto, é uma associação entre os grande autores nacionais (os velhos nomes da MPB e os novos nomes do pop e do sertanejo) e as grandes empresas internacionais.

Os intermediários, em boa parte estrangeiros, se apropriam de mais de 50% do direito autoral. A venda de discos e a execução pública (rádio, TV e shows) movimentam juntos pelo menos 400 milhões de reais anuais em direito autoral. Esses valores são distribuídos para os atores da cadeia produtiva da música: de um lado, criadores strictu sensu como compositores, arranjadores, intérpretes e músicos e, de outro, intermediários como empresas fonográficas, associações de autores, produtores e o escritório de arrecadação (ECAD). Na divisão dos recursos do direito autoral, os intermediários ficam com 51% e a menor parte dos recursos é dividida entre os criadores.

O Brasil é altamente deficitário em direito autoral. Se há ainda alguma dúvida que a exploração do direito autoral é interesse estrangeiro, basta olhar a balança comercial de direito autoral do país com os Estados Unidos. Todos os anos enviamos mais de 2 bilhões de dólares como pagamento de direito autoral (em todos os setores – não apenas música). Os americanos, por sua vez, nos pagam apenas 25 milhões.

A remuneração aos autores brasileiros é concentrada, distorcida e segue critérios obscuros. A distribuição dos recursos de direito autoral no Brasil é, antes de tudo, distorcida pelo jabá, mecanismo pelo qual as empresas pagam para ter a música executada nas rádios e TVs para depois receberem o direito autoral de execução e vendas como “retorno”. Além disso, o escritório de arrecadação tem procedimentos obscuros que não podem ser auditados e que concentram a distribuição em muito poucos autores.

O que temos então é uma indústria predominantemente estrangeira que se apropria da maior parte dos recursos de direito autoral em detrimento dos verdadeiros criadores e os remete ao exterior para as matrizes. No

entanto, como remunera bem alguns poucos autores brasileiros segundo procedimentos obscuros, estes agem como porta-vozes nacionais desta estrutura internacional de exploração da cultura brasileira.

Se tudo isso ainda não é suficiente, uma última e conclusiva evidência pode ser encontrada na contribuição da IIPA (International Intellectual Property Alliance) para o relatório 301. O relatório 301 é um mecanismo comercial do governo americano por meio do qual tenta interferir nas políticas de direito autoral de “países em desenvolvimento”. Esse relatório avalia se a política de direito autoral desses países, no entender dos Estados Unidos, é adequada – e se ele considerar que a de algum país não é, pode punir com sanções comerciais unilaterais. A IIPA, que é uma organização que reúne as indústrias do software, do disco, do filme, do livro e dos games nos Estados Unidos, no seu último relatório defende exatamente as mesmas posições quanto à reforma da lei de direito autoral que o atual ministério da cultura – motivo pelo qual as posições da ministra são diretamente elogiadas.

É no mínimo curioso que agentes das grandes multinacionais utilizem um discurso nacionalista e até anti-imperialista para atacar os ativistas da cultura livre. É evidente que se trata de má-fé orientada a atingir resultados políticos. Mas como a mentira e a má-fé se disseminam talvez valha a pena esclarecer algumas coisas:

O movimento de cultura livre defende a independência dos criadores, não a indústria – nova ou velha. Embora o movimento seja uma rede mais ou menos solta de ativistas, sem um programa explícito, me parece claro um objetivo comum: o de produzir uma nova economia da cultura, na qual os criadores e não os intermediários sejam os principais beneficiários dos dividendos econômicos e na qual os bens culturais possam circular livremente sem barreiras de direito autoral, permitindo o acesso de todos ao patrimônio cultural. A cultura que se vislumbra é uma cultura na qual os criadores sejam remunerados e, simultaneamente, o público tenha acesso às obras. Há várias experiências bem sucedidas em curso sobre como realizar esse objetivo – principalmente aquelas na qual há deslocamento da fonte de remuneração do criador, do direito autoral para serviços, como shows e apresentações ao vivo. Esse movimento não pretende que os intermediários da velha indústria (gravadoras, editoras, etc.) sejam simplesmente substituídos por novos intermediários (empresas

de Internet, editoras digitais, etc.), nem que os criadores não sejam remunerados. O movimento de cultura livre defende um modo de produzir cultura descentralizado, diverso, esteticamente autônomo, economicamente sustentável e no qual os bens culturais sejam acessíveis a todos.

O mundo que os novos intermediários vislumbram é diferente. É um mundo no qual o acesso às obras, gratuito ou apenas mais barato, é organizado por grandes empresas que comandam indiretamente a cadeia produtiva e geram dividendos com a venda da privacidade dos usuários para publicidade dirigida. É um mundo onde se pode ler livros ou escutar música na Internet gratuitamente sacrificando a privacidade pessoal para a venda de publicidade. Esse modelo traz grandes riscos para uma liberdade civil fundamental que é a privacidade, coloca em risco a autonomia econômica e estética dos criadores e ameaça a diversidade de oferta de obras para os consumidores.

Como se vê, o programa dos defensores da cultura livre é muito diferente do programa da nova indústria cultural. Mesmo assim, os defensores do velho modo industrial de produção da cultura tentam desqualificar o movimento de cultura livre apresentando-o como agente das novas empresas.

Não podemos ficar presos, no entanto, a duas alternativas corporativas, que subtraem, cada uma a seu modo, a autonomia de criadores e consumidores. O processo de mudanças nos modos de produção da cultura não nos leva a ter que escolher entre a EMI e a Google. Ele abre uma janela de oportunidades para novas práticas e novas políticas que emancipem e protejam os autores frente ao poder econômico dos grandes intermediários e que apoiem as potencialidades de acesso à cultura trazidas pelas novas tecnologias. É esse tipo de visão que esperamos do Ministério da Cultura.

Associação Internacional de Propriedade Intelectual lança relatório sobre o Brasil e diz o

que espera do MinChttp://www.trezentos.blog.br/?p=5561, 24 de fevereiro de 2011

Por Sérgio Amadeu

O Relatório Special 301 da International Intellectual Property Alliance – IIPA (Aliança Internacional de Propriedade Intelectual) é enviado anualmente ao Governo norte-americano e visa sugerir medidas para defender a indústria de copyright dos Estados Unidos.

A IIPA, criada em 1984, é uma coalizão privada de associações comerciais que representam as indústrias dos EUA interessadas na expansão do copyright. Ela emprega esforços bilaterais e multilaterais para assegurar os interesses de seus associados seja lutando pela abertura de mercados externos fechados seja combatendo o que consideram pirataria.

Os sete membros da IIPA são: Association of American Publishers (AAP), the Business Software Alliance (BSA), the Entertainment Software Association (ESA), the Independent Film & Television Alliance (IFTA), the Motion Picture Association of America (MPAA), the National Music Publishers’ Association (NMPA) and the Recording Industry Association of America (RIAA).

O Relatório Special 301 traz capítulos sobre os diversos países, inclusive o Brasil (http://www.iipa.com/rbc/2011/2011SPEC301BRAZIL.pdf). Reproduzo a seguir, um trecho do documento em que a IIPA analisa as mudanças no Ministério da Cultura. A tradução é livre, mas buscou ser completamente fiel ao original em inglês. Você pode tirar as suas próprias conclusões.

“SPECIAL 301 – BRAZIL …

A. Reforma da Lei de Direitos Autorais.

Embora o projeto de reforma da Lei de Direitos Autorais proponha uma série de melhorias em relação à lei atual, também levanta uma série de preocupações para as indústrias de copyright. Estes incluem o seguinte:

- O projeto propõe muitas novas exceções e limitações aos direitos autorais, que são desnecessariamente amplas e incompatíveis com um equilíbrio viável entre as proteções e as exceções. As preocupações incluem uma nova e ampla exceção geral para um número de usos socialmente benéficos, bem como as exceções de interoperabilidade, o acesso por pessoas com deficiência, e de obras impressas, às quais carecem de definições críticas. Não ficou claro se essas novas exceções estão limitadas pelo teste de três etapas estabelecidas no artigo 13 do Acordo TRIPS. Além disso, é importante que haja uma linguagem clara, especificando que, no que diz respeito aos programas de computador, as exceções que se aplicam são aquelas dispostas na Lei de Software do Brasil.

- O projeto não resolve lacunas significativas na legislação brasileira de salvaguardas para as medidas para a proteção tecnológica (DRMs) utilizadas por proprietários de direitos autorais para controlar o acesso ou a cópia de seus trabalhos. A lei deve abranger especificamente tanto os controles de acesso como os controles de cópia; deve proibir não somente o ato de evasão das DRMs, mas também o tráfico de serviços e dispositivos de evasão, e deve incluir correções penais para fabricação ou distribuição de dispositivos de evasão. Como observado anteriormente, essas deficiências na legislação brasileira geraram um mercado praticamente não regulamentada, especializado em cópias de jogos, modificação de chips e outros dispositivos de evasão, o que resultou em um mercado de videogame completamente dominado pelo produto pirata. O projeto de lei iria piorar a presente situação, pelo enfraquecimento até mesmo das leis atuais já inadequadas, ao apresentar uma ampla exceção para qualquer ato de evasão realizado com a finalidade de realizar limitação ao direito de autor *. Dada a amplitude de algumas dessas exceções, como mencionado acima, estes dispositivos ameaçam claramente engolir tudo o que existe em termos de regras contra a neutralização de TPMs.

(*) obs do trad.: eles se referem aqui à um dos aspectos de maior sucesso

da lei entre os ativistas internacionais:

http://www.techdirt.com/articles/20100711/22043810167.shtml

http://www.boingboing.net/2010/07/10/brazils-copyright-la.html

- O projeto representa uma oportunidade perdida para se abordar a área crítica de pirataria on-line, e em particular, para fornecer incentivos legais (como, através de disposições de responsabilidade subsidiária) para incentivar a cooperação entre prestadores de serviços on-line e os titulares de direitos no combate à pirataria online. A IIPA sente-se encorajada por indicações preliminares de que a nova Ministra da Cultura vai analisar cuidadosamente a proposta de 2010, bem como os comentários recebidos, antes de apresentar uma nova versão da peça legislativa. Nós instamos a ministra a aproveitar esta oportunidade para corrigir as deficiências no projeto de 2010, e resolver os problemas fundamentais que este projeto representa. O objetivo deve ser uma lei que reforce a proteção dos direitos de autor e direitos conexos, assim promovendo a produção de novas obras originais, em face dos desenvolvimentos tecnológicos que têm efetivamente corroído a capacidade dos titulares de direitos em fazer valer seus direitos.

B. “Marco Civil” Regime Jurídico da Internet.

Esta proposta, elaborada pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas e o Ministério da Justiça [*], deixa de reconhecer a importância da proteção dos direitos autorais no ambiente online como um ingrediente essencial para o crescimento saudável do comércio electrónico. Além disso, o projeto criará obstáculos à aplicação eficaz dos direitos autorais na Internet; prevenindo o uso potencial de uma série de mecanismos para combater a pirataria on-line, e criando imunidades gerais da responsabilidade sem qualquer condição para cooperação no combate àqueles que utilizam o acesso à Internet para cometer roubo de direitos autorais. Como observado em outras partes deste relatório, o lançamento do projeto de lei “Marco Civil da Internet” foi percebido em muitos setores como uma declaração que desencoraja medidas voluntárias de cooperação anti-pirataria e, assim, lança uma cortina de fumaça sobre os esforços para se convocar uma mesa-redonda para discussão franca sobre tais medidas voluntárias. A IIPA sente-se contemplada com a informação de que esta proposta será sujeita a novas

revisões e exames, e aguarda com expectativa a possibilidade de participar em um esforço para desenvolver um quadro jurídico equilibrado para a Internet e o comércio electrónico, que contemple uma apreciação da importância da proteção dos direitos de autor como elemento crítico do marco regulatório.”

[*] = A redação do IIPA busca desconhecer que o projeto do Marco Civil foi uma construção coletiva que nasceu da luta contra o AI-5 Digital. O processo contou com duas fases e centenas de colaborações realizadas a partir da plataforma online da Cultura Digital http://culturadigital.br/marcocivil/.

Propaganda Mentehttp://www.trezentos.blog.br/?p=5605, 14 de março de 2011

Por Ana Claudia Bessa

Gente, acho que sou eu a problemática.

Sério… Logo vou precisar de tratamento porque eu não consigo ver essas coisas e achar normal.

Publicitário que faz propaganda para Banco deveria ganhar o prêmio nobel: da mentira, da enganação. me mostre alguém feliz com o banco e retiro o que digo.

Me mostre um banco que pensa em mim, que só falta eu, que quer fazer algo junto comigo (SEM ME EXPLORAR) e eu retiro o que eu disse.

Eles vendem uma imagem falsa…isso não é ético. Não é só a empresa que nos engana, a publicidade também. Nos termos da lei, conivência também é crime.

Alguns publicitários e alguns artistas estão extrapolando todos os limites do bom senso e fazendo propagandas que beiram o absurdo.

Infelizmente, há muito dinheiro e interesses envolvidos nisso tudo e muita gente pensa: “pagando bem, que mal tem?”.

E vemos propagandas que propagam mentiras absurdas:

Numa propaganda de desodorante, uma conhecida atriz, alega que não conseguia bons papéis porque suava muito e o desodorante x “praticamente salva” (aspas minhas) sua carreira.

Ela devia feder muito…ô dó!

Numa outra, um conhecido artista, fala de um refresco de fruta em pó dizendo que aquilo é refresco de fruta! Gente…aquilo é uma mistureba de pó flavorizado e cheio de conservantes!

Mas porque não usar a credibilidade que fama confere para vender aquilo como suco de fruta, mesmo estando na cara que não é, não é mesmo?

Se aquilo é fruta, eu sou uma jaca!

Numa outra, de carro, o texto fala: fazemos um carro para sua alma, nosso carro gosta de gente…. kkkkkkkkkkk

O publicitárioque criou isso tava doidão, não estava?

Em outra o sabonete bactericida que previne 75% das doenças….

kkkkkkkkkkkkkkk desculpem não resisti.

Isso é vacina que funciona, melhor que a vacina contra febre amarela e gripe H1N1 !!

Vou chupar este sabonete!

(Não cito nomes de artistas nem de empresas, porque nenhum deles merece)

Excesso de Informação nos torna idiotashttp://www.saindodamatrix.com.br/archives/2011/02/excesso_de_info.ht

ml, 28 de fevereiro de 2011

Por @acid0

Quando o escritor norte-americano Nicholas Carr começou a pesquisar se a internet estava arruinando nossas mentes, assunto de seu novo livro, ele restringiu seu acesso à internet, deu um tempo no e-mail e desligou suas contas no Twitter e no Facebook.

Em seu novo livro The Shallows: What the Internet is Doing to Our Brains, ele diz que a rede está nos privando da capacidade aprofundada de raciocínio.

Carr levantou em 2008 a questão controversa de que "o Google estaria nos deixando idiotas" e decidiu aprofundar sua pesquisa sobre como a rede afeta nosso cérebro. Seu livro examina a história da leitura e a ciência de como o uso de diferentes mídias afeta nossa mente. Explorando como a sociedade passou da tradição oral para a palavra escrita e depois para a internet, ele detalha como nosso cérebro se reprograma para se ajustar às novas fontes de informação. Ler na internet mudou fundamentalmente a forma como usamos nosso cérebro.

A quantidade de textos, fotos, vídeos, músicas e links para outras páginas combinada com incessantes interrupções na forma de mensagens de texto, e-mails, atualizações do Facebook e feeds de RSS fez com que nossas mentes se acostumassem a catalogar, arquivar e pesquisar informações. Desta forma, desenvolvemos habilidades para tomar decisões rapidamente, especialmente visuais. Por outro lado, cada vez lemos menos livros, ensaios e textos longos – que nos ajudariam a ter foco, concentração, introspecção e contemplação. Ele diz que estamos nos tornando mais bibliotecários – aptos a encontrar informações de forma rápida e escolher as melhores partes – do que acadêmicos que podem

analisar e interpretar dados.

A ausência de foco obstrui nossa memória de longo prazo e nos torna mais distraídos. "Nós não nos envolvemos com as funções de interpretação de nossos cérebros", diz. Ele ainda afirma que, por séculos, os livros protegeram nossos cérebros de distrações, ao fazer nossas mentes focalizarem um tema por vez.

Mas com aparelhos como o Kindle e o iPad tornando-se comuns, Carr prevê que os livros também mudarão. "Novas formas de leitura requerem novas formas de escrita".

Se escritores suprem a necessidade crônica de uma sociedade distraída, eles inevitavelmente evitarão argumentos complexos que requerem atenção prolongada e escreverão de forma concisa e aos pedaços, Carr prevê. Ele inclusive sugere um exercício para aqueles que sentem que a internet os tornou incapazes de se concentrarem: diminuam o ritmo, desliguem a web e pratiquem habilidades de contemplação, introspecção e reflexão.

É bem claro pelo que já sabemos sobre a ciência do cérebro que, se você não exercita habilidades cognitivas específicas, você acaba as perdendo. Se você se distrai facilmente, não pensará da mesma forma que pensa se você presta atenção

(Nicholas Carr)

Cientistas dizem que fazer malabarismo com e-mail, celular e outras fontes de informação muda a maneira como as pessoas pensam. Nossa concentração está sendo prejudicada pelo fluxo intenso de informação. Esse fluxo causa um impulso primitivo de resposta a oportunidades ou ameaças imediatas. O estímulo provoca excitação - liberação de dopamina - que vicia. Na sua ausência, vem o tédio.

Enquanto muita gente diz que fazer várias coisas ao mesmo tempo aumenta a produtividade, pesquisas mostram o contrário. As multitarefas dificultam a concentração e a seleção necessárias para ignorar informações irrelevantes. E mesmo depois que a pessoa se desliga, o pensamento fragmentado continua.

Para estudiosos de Stanford, a dificuldade de se concentrar só no que interessa mostra um conflito cerebral, que vem da nossa evolução. Parte

do cérebro age como uma torre de controle, ajudando a pessoa a se concentrar nas prioridades. Partes primitivas, como as que processam a visão e o som, querem que ela preste atenção às novas informações, bombardeando a torre de controle. Funções baixas do cérebro passam por cima de objetivos maiores, como montar uma cabana, para alertar sobre o perigo de um leão por perto. No mundo moderno, o barulho do e-mail chegando passa por cima do objetivo de escrever um plano de negócios ou jogar bola com o filho.

Mas outras pesquisas mostram que o cérebro também se adapta. Usuários de internet têm mais atividade cerebral do que não usuários. Eles estão ganhando novos circuitos de neurônios. Isso não é necessariamente bom, porque não significa que estamos nos tornando mais inteligentes. Nossas crianças nascem sabendo programar o micro-ondas e mexer nas configurações da TV, mas ao crescerem terão menos senso crítico e independência que as outras gerações. Estarão TERRIVELMENTE acostumadas a terem tudo pronto, mastigado, desde a pipoca de micro-ondas até as notícias que recebem. Ficaremos parecidos cada vez mais com os gordinhos do filme Wall-E, imersos na informação de tal ponto que falarão com os colegas DO LADO via MSN (e isso já acontece nas empresas!). Com as relações sociais tradicionais sendo destruídas e trocadas por uma virtual, quem detiver o controle dos meios de tráfego virtual controlará as relações sociais. E vocês acham que os governantes já não sabem disso? Por que será que Obama teve uma reunião com todos os donos dos "corredores de informação"?

A música também é uma forma de induzir a mudanças no cérebro. Ajuda a manter o "gado", tão interessante para quem controla as engrenagens.

Um estudo foi conduzido por cientistas em um grupo de ratos para estudar os efeitos da música rock. O grupo de ratos que foi exposto à música rock foi ficando progressivamente mais desorientado em testes, e por fim se tornaram incapazes de completar o labirinto. Quando os cérebros destes ratos foram dissecados, verificou-se que eles foram submetidos a mudanças estruturais anormais. Os neurônios em seu cérebro (em especial na região do hipocampo, que é conhecido por ser importante na aprendizagem e na formação da memória) cresceram de forma descontrolada em todos os sentidos, sem fazer conexão com outros neurônios. Aumentos significativos no RNA mensageiro, que está

envolvido na formação da memória, também foram encontrados. Eu achei essa notícia um pouco exagerada, e por não ter o NOME dos pesquisadores, resolvi pesquisar mais e encontrei o seguinte:

O estudante David Merrill repetiu a experiência e chegou a conclusões parecidas, mas não pôde ir muito longe pois os ratos que ouviam rock mataram uns aos outros. O estudo de G. M. Schreckenberg e H. H. Bird (1988) demonstra que ratos expostos a música desarmônica (ou seja, sem harmonia) desenvolveram danos nos nervos cerebrais e "degradação do comportamento".

Ou seja, a configuração do cérebro vai mudar SIM, especialmente se forem expostas crianças a isso (como vimos no começo do documentário Zeitgeist: Moving Forward). Nos EUA 20% das crianças sofrem algum tipo de distúrbio mental, enquanto 5 MILHÕES de crianças e adolescentes sofrem de distúrbio mental GRAVE.

Não é minha intenção culpar o rock - até porque eu gosto e acho que é apenas UM aspecto do problema - mas sim a exposição a um determinado tipo de som. Ele muda dependendo do país e grupo social, mas somos BOMBARDEADOS por tipos de som cuja semelhança entre eles é ser estressante, percussivo ao extremo e longe de qualquer harmonia. Cada vez mais nossas "musas" e "musos" pop vão promovendo sons mais e mais bizarros, longe do tipo de música que nos cativou no começo de suas carreiras e chegando muito próximo dos sons que são usados pra simular drogas (e não creio que seja uma mera coincidência). Me chamem de teórico da conspiração se quiserem, mas não deixem de meditar no que leram, e observar com certo distanciamento as "informações" que pipocam ao seu redor.

SAÚDE

Passar mais de quatro horas por dia em frente à televisão aumenta o risco de sofrer doenças cardiovasculares e inclusive o de morrer, revela um estudo divulgado hoje pela imprensa australiana.

A probabilidade de sofrer doenças cardiovasculares é 80% superior a de quem passa menos tempo, e a de morrer aumenta 46%. Até porque ver TV engorda.

Concretamente, cada hora em frente a uma televisão representa um risco de morte 11% maior, de acordo com a pesquisa realizada com 8.800

pessoas e divulgada na publicação científica "Circulation: Journal of the American Heart Association". O cientista David Dunstan afirmou que o problema é causado pela falta de mobilidade, que impede que o organismo processe de maneira adequada açúcares e gorduras. Não importa que se façam exercícios diários - o dano vem do tempo prolongado que se passa sentado diante de uma tela, segundo Dunstan.

As 8.800 pessoas pesquisadas, entre 25 e 50 anos de idade e que se uniram ao projeto entre 1999 e 2000, realizavam entre meia e uma hora de exercícios diários e, no entanto, 284 morreram em seis anos.

Dunstan indicou que a pesquisa enfocou particularmente os casos de gente que vive junto à televisão, mas as conclusões são aplicáveis a qualquer outra atividade sedentária, como as pessoas que passam o dia jogando computador. O pesquisador lembrou que "o corpo humano foi feito para se movimentar".

Três em cada quatro norte-americanos serão obesos em 2020. Você não vê esse padrão de beleza na mídia, vê?

Assim como os passageiros de Wall-E, não temos interesse no mundo que nos cerca, nem no que nos reserva o futuro. Não enquanto tivermos distração suficiente pra preencher nossos dias vazios e "modelos" pra satisfazer nossos desejos por nós. Quem é a mão que nos "alimenta"? Quem manda no "capitão" desse navio? Pretendo fazer um post sobre os efeitos do que comemos e bebemos diariamente, e como as grandes indústrias estão por trás de um lento envenenamento que nos torna fracos, doentes, estúpidos e favorece o lucrativo comércio dos remédios e planos de saúde.

Fontes:Ver TV eleva risco de morte;Concentração e distração;Abuso de aparelhos eletrônicos provoca conflito cerebral

F-Droid – Um repositório livre para Androidhttp://www.carlissongaldino.com.br/post/f-droid-reposit%C3%B3rio-livre-

para-android, 23 de janeiro de 2011

Por Cárlisson Galdino

Já faz uns meses que estou com um tablet rodando Android, comprado na DealExtreme, do qual já falei em outro post. Trata-se de um tablet de 7" muito útil. O problema que identifiquei foi a duração da bateria, mas com um ajuste de brilho e uma desativada do wi-fi (quando a questão é somente para ler conteúdo offline), até que resolve bem o problema. O wi-fi funciona muito bem.

Para instalar programas no tablet, existe o recurso App Market, equivalente ao da Apple. Ele exige um cadastro, mas os programas podem ser instalados gratuitamente (nem todos, creio eu, mas a maioria). De qualquer forma, é um saco ter que se cadastrar e lembrar a senha. Além do mais, a quantidade de programas que me apareceu era bem limitada, provavelmente devido à versão do Android ser mais antiga (o meu irmão comprou também um tablet exatamente do mesmo modelo, mas que veio com uma versão mais nova, creio que a 2.0. O meu veio com o Android 1.6). Talvez seja pelo tablet não ser homologado pela Google, também não sei...

Terminei pesquisando por alternativas ao AppMarket e encontrei algumas curiosas. O SlideMe deu muito erro ao tentar instalar algumas aplicações, enquanto o AppsLib simplesmente não rodou aqui. Mas não é destes que vou falar hoje, mas de um repositório de aplicações para Android que oferece apenas Softwares Livres, o F-Droid. Apesar de ter pouquíssimos aplicativos, ele funcionou muito bem por aqui.

Para instalar, você tem que ir no site do projeto F-Droid e baixar o instalador (formato apk). Uma vez instalado, ele funciona de maneira similar ao AppMarket, mas não precisa de cadastro nem autenticação para uso, basta ir utilizando.

No F-Droid você encontra cliente VNC, SSH, programa para criptografia, leitor de código de barras, catálogo de livros, cliente Jabber, visualizadores de livros digitais, vários joguinhos mais simples, dentre outros aplicativos. Com a vantagem de todos serem livres! Vale a pena uma conferida!

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Um pouco sobre Ufologiahttp://www.carlissongaldino.com.br/post/um-pouco-sobre-ufologia, 26 de

janeiro de 2011

Por Cárlisson Galdino

Ocorreu ano passado algo interessante nas assembleias da ACALA (Academia Arapiraquense de Letras e Artes) e acho que nem cheguei a comentar por aqui. Antes de mais nada, vale dizer que as nossas assembleias, nós dividimos em dois momentos: o momento para discussão de assuntos administrativos, projetos e atividades gerais de uma Academia de Letras; depois um dos acadêmicos apresenta um tema, como uma palestra interna.

O palestrante é escolhido previamente, até para que se prepare para a palestra. Pois bem, o Dr. Judá Fernandes há alguns anos começou a escrever cordéis e, em uma palestra, ele expôs seu novo cordel falando que a Terra era o centro do Universo. O argumento para essa afirmação é que não haveria outros planetas com vida, então, as coisas giram em torno de nós porque os acontecimentos mais importantes para alguém seriam por aqui mesmo.

Um argumento interessante, mas... Dizer que não existe em definitivo vida fora da Terra é um tanto radical. Então terminei comprando a "briga" e me colocando como palestrante posterior para tratar de Ufologia.

Não dá para dizer que com certeza existe vida fora da Terra, mas também não dá para dizer que com certeza não existe. Quem afirma que tem certeza na existência ou tem razões no seu próprio universo de experiências pessoais ou está fazendo um salto de fé. Quem nega categoricamente está fazendo um salto de fé. Como em religião e na postura radical cientocrata.

Até aí ainda vá lá agora dizer que todos os casos de relatos de discos voadores são besteira é um pouco demais. Foi o que me motivou a

pesquisar e tratar do tema na assembleia seguinte. Quantos relatos existem? Todas as pessoas que relataram são loucas ou mentirosas? Até a ciência aceita a existência de Objetos Voadores Não Identificados (sem julgar o que são, se são naves, fenômenos atmosféricos ou o que mais, afinal, são não identificados).

É interessante que eu lia um pouco de Ufologia antigamente e tinha a recordação de que Ufologia era algo sério, que eles tinham bons métodos, por exemplo, para identificar fraudes em fotos (e que realmente a grande maioria das fotos de discos voadores que apareciam eram fraudes). Pois bem, vamos começar...

Segundo a Wikipedia, a Ufologia é o estudo de relatos, registros visuais, evidências físicas e demais fenômenos relacionados a objetos voadores não identificados, ou OVNIs. Há algumas teorias para explicar OVNIs, que se agrupam assim:

1. Hipótese de serem algo relacionado a vida extraterrestre (geralmente naves, tripuladas ou não);

2. Hipótese de naves humanas avançadas (como aconteceu no passado com alguns veículos experimentais bélicos estadunidenses);

3. Hipótese interdimensional, segundo a qual OVNIs seriam naves vindas de um universo paralelo ou que são naves humanas vindas do futuro.

4. Hipótese da explicação natural, que prega que os fenômenos são fenômenos perfeitamente naturais, porém ainda não conhecidos em profundidade pela Ciência;

5. Alucinação e histeria coletiva

6. Que são frutos de alguma atividade paranormal

7. Fraude

Estas são as principais teorias e nada impede que mais de uma esteja certa, a depender do caso. Quem somos nós para sabermos hoje o que ocorre de fato?

Explicação Natural

Na linha de explicação natural, achei interessantes alguns fenômenos

atmosféricos.

Podem se formar na atmosfera, não se sabe exatamente como, círculos de plasma ou de gás ionizado em cor vermelho-alaranjada, capaz de atingir 100 km/h e interferir em comunicações de rádio. O fenômeno existe mesmo, ainda não se sabe muito sobre ele. Chamam-se raios globais.

Há também o clássico fogo corredor ou fogo fátuo. Este ocorre em pântanos, brejos... É fruto da combustão da fosfina (tá, não sei o que é isso), gerando uma luz azulada. O curioso é que esse fenômeno atmosférico é sensível a deslocamento de ar, de modo que se alguém vê isso e foge pode ter a sensação de estar sendo seguido.

Durante a Segunda Guerra Mundial, um fenômeno foi muito comum. Esferas alaranjadas perseguiam aviões. De início, pensaram que poderia ser alguma arma nova dos alemães, mas depois se revelou que os pilotos alemães relatavam o mesmo fenômeno, que ficou conhecido como Foo Fighter e para o qual até hoje ainda não há uma explicação satisfatória.

Na Wikipedia há diversos casos de relatos de OVNI. Os dois mais interessantes que encontrei foram o de Travis Walton e o que ficou conhecido como a Noite Oficial dos OVNIs. Aqui apresento os dois casos conforme encontrados na Wikipedia no dia em que pesquisei, mas transformados em tópicos.

Caso de Travis Walton

• 5 de novembro de 1975

• Travis Walton era lenhador e mais 5 amigos

• 5 de novembro

• Subitamente perceberam uma estranha luz no meio das árvores e resolveram investigar. Ao se aproximarem de carro o bastante para ver a fonte da luminosidade, perceberam que esta emanava de um objeto discóide parado a uns 6 metros de altura e dividido por linhas verticais escuras.

• Rogers estava parando a caminhonete quando Walton saltou do veículo para ir em direção ao objeto. Quando seus amigos viram o que ele estava fazendo gritaram para que voltasse. Walton parou por um momento, e depois continuou. Mais tarde ele

explicaria a sua atitude: "Eu fiquei com medo do óvni ir embora e eu perder a chance da minha vida de ver um disco voador."

• Colocando-se bem abaixo do óvni, Walton ouviu uma série de ruídos mecânicos. Seus amigos, ao pé da picape, continuaram a chamá-lo, quando de repente a espaçonave começou a rodopiar. Walton se abaixou atrás de uma pedra e ao se levantar para voltar à picape sentiu como que uma alta descarga elétrica e desmaiou. Ele não viu o que o acertou, mas seus amigos sim: um forte raio de luz azul saído do óvni.

• Walton foi jogado para o alto e caiu a 3 metros de distância, totalmente inconsciente. Aterrorizados, seus amigos fugiram em disparada na picape, sem saber se o objeto os perseguia. Quando já estavam distantes do local, Rogers olhou para trás e viu que nada os seguia. As discussões começaram sem demora. Peterson e Rogers disseram que eles deveriam voltar e pegar Walton, mas alguns rejeitaram a ideia. Nesse momento, Rogers parou a caminhonete e disse com firmeza: "Quem não quiser voltar saia do carro agora e espere! Agimos como um bando de covardes, é verdade, mas precisamos fazer o que devíamos ter feito em primeiro lugar!"

• Todos concordaram em voltar. Ainda estavam se aproximando do local do incidente quando Rogers, o motorista, conseguiu ver rapidamente entre as árvores, ao longe, o objeto luminoso subindo e afastando-se a alta velocidade para nordeste.

• Quando chegaram ao lugar onde haviam abandonado Walton, estava tudo quieto. Ainda receosos, saíram do veículo juntos, mas acabaram por se separar para vasculhar melhor a área, chamando pelo amigo. Inicialmente eles ficaram aliviados por não encontrar nenhum corpo, achando que Walton havia escapado. Mas depois de procurarem bastante e nada encontrarem, pensaram com horror na hipótese que restava: ele havia sido levado pelo disco voador!

• Por cinco dias Travis Walton ficou desaparecido. Até mesmo os seus amigos foram suspeitos de tê-lo assassinado e inventado toda a história. Foram insistentemente interrogados pela polícia

e todos tiveram as suas casas reviradas. Para provar que não mentiam, aceitaram se submeter ao detector de mentiras, que não acusou qualquer inverdade. Durante os três primeiros dias do sumiço de Walton, dezenas de policiais e centenas de voluntários vasculharam a floresta. Foram usados até helicópteros e cães farejadores, sem resultado.

• 10 de novembro, Travis liga para o cunhado pedindo ajuda.

• Quando voltou a si, estava cheio de dores pelo corpo, num enorme mal-estar físico. Nos primeiros instantes não se atreveu a abrir os olhos, tal era a dor. Finalmente os abriu e começou a distinguir as primeiras formas. Percebeu que estava deitado sobre uma mesa e viu um retângulo no teto do qual saía uma luz difusa que iluminava a sala. Pensando estar num hospital e ainda com a visão debilitada, ele sentiu uma pressão no abdômen e percebeu que três figuras, provavelmente médicos, vestidos de vermelho, colocaram um estranho aparelho metálico na sua barriga.

• Walton começava a achar estranha a cor das roupas dos "médicos" que o examinavam quando recuperou a visão abruptamente. Olhou então melhor e ficou chocado: não eram médicos que o observavam, mas sim pequenas criaturas com olhos escuros enormes! As suas cabeças eram desproporcionais em relação ao corpo e não apresentavam cabelos nem nariz ou orelhas salientes. As suas roupas eram constituídas por uma peça única, sem cintos nem qualquer tipo de adereços. "Pareciam com fetos", diria mais tarde.

• Assustado, Walton levantou-se rapidamente da mesa empurrando uma das criaturas e fazendo o aparelho que estava na sua barriga cair no chão. Ele percebeu que os seres eram bem leves e fáceis de derrubar. No entanto, Walton ainda estava muito enfraquecido e não conseguiu se aguentar nas pernas, apoiando-se na mesa. Ao ver que as criaturas aproximavam-se para agarrá-lo, tentou então vencer a sua fraqueza, pondo-se de pé e agarrando um tubo transparente de cima da mesa. Tentou quebrar a parte de cima para poder ameaçar os seres, mas o objeto era inquebrável. Os seres faziam sinais de "não" ou

"pare" para ele. Walton começou a gritar para as criaturas se afastarem. Depois de o encararem por alguns instantes, os seres saíram por uma porta atrás de si rapidamente, em direção a um corredor à direita.

• Walton, nervoso, e apoiando-se numa bancada, começou a observar os estranhos objetos do aposento à procura de algo melhor para se defender caso as criaturas voltassem.

• Vendo que nada acontecia, decidiu também ele sair pela porta em direção ao corredor, onde não se via ninguém. Passou por uma porta à esquerda que dava para o que parecia ser uma sala, mas não se atreveu a olhar lá para dentro, tal era o medo. Mais à frente, outra porta, desta vez à direita. Walton abrandou o passo, na esperança de encontrar ali uma saída.

• Entrou numa sala redonda com três retângulos nas paredes, semelhantes a três portas fechadas. No centro da sala estava uma cadeira voltada de costas para a entrada. Walton decidiu entrar devagar, receando que alguém estivesse sentado na cadeira. Vendo que estava desocupada, aproximou-se. Observou um estranho fenômeno: à medida que se aproximava da cadeira, as paredes da sala iam escurecendo. Pontos brilhantes apareciam, como estrelas. Quando chegou à cadeira, era como se as paredes tivessem ficado transparentes e ele pudesse ver o céu noturno. No braço esquerdo da cadeira ficava uma pequena alavanca e no direito um display luminoso com filas de botões coloridos. Pensando que um daqueles botões podia abrir alguma porta, Walton começou a apertá-los, sendo a única reação uma alteração dos ângulos e da posição das linhas que surgiam no display luminoso. Decidiu então sentar-se na cadeira, obviamente feita para alguém com um corpo menor que o seu. Pegando na alavanca à direita e pressionando-a para a frente, viu as estrelas todas moverem-se rapidamente para baixo, como se ele estivesse a conduzir a nave! Receoso de causar um acidente, de desviar o curso da nave e não saber voltar, decidiu não tocar em mais nada.

• Voltando para a extremidade da sala, as paredes voltaram a ficar como estavam ao princípio e ele tentou encontrar algo que

abrisse uma das três portas na parede, sem sucesso. Voltou à cadeira e novamente as paredes escureceram. De repente, Walton ficou surpreendido pelo que viu na porta de acesso: outro ser humano! O humanóide tinha uns 2 metros e vestia um capacete transparente; era musculoso, tinha cabelos loiros compridos e vestia uma roupa justa azul.

• Walton correu até ele e começou a fazer várias perguntas, mas o homem manteve-se calado. Depois, agarrou Walton pelo braço. Ele achou que o homem não respondeu nada por causa do seu capacete e pensou que ele o levaria para um lugar onde ele poderia tirar o capacete e conversar.

• Eles finalmente foram a uma outra sala, onde Walton viu uma mulher e dois homens sentados na sala. Eles estavam vestidos iguais ao ser que o acompanhava e como ele tinham feições e corpo perfeitos. A mulher tinha um cabelo mais comprido do que os dos homens. Eles não usavam capacetes.

• Walton chegou a perguntar "onde diabos estava". Os seres somente olharam para ele com uma expressão serena. O ser que estava de capacete sentou Walton numa cadeira e saiu da sala.

• Walton continuava a falar, e a mulher e um dos homens pegaram seus braços e colocaram numa mesa próxima, mas ainda com aquela expressão de compaixão e serenidade. Ele viu que eles não iriam responder a nada e então começou a gritar com eles. A mulher pegou um objeto que parecia uma máscara de oxigênio, mas sem tubo, e colocou no nariz e boca de Walton que perdeu a consciência e só acordou quando estava deitado perto de uma rua em Heber.

• Walton ainda pôde ver o objeto se distanciando quando ele acordou no meio da estrada. Depois ele correu até um posto de gasolina e telefonou para a sua irmã para pedir que alguém fosse pegá-lo, mas foi o cunhado, Grant, quem o atendeu. Grant foi com o irmão de Walton, Duane, apanhá-lo, e quando o encontraram, Walton começou a falar dos seres com quem estivera durante cerca de uma hora e meia. Grant imediatamente lhe disse que ele estivera desaparecido por cinco dias, ao que

Walton reagiu com grande surpresa e só acreditou quando passou a mão no próprio rosto e percebeu como a sua barba estava crescida.

• Depois Walton também foi examinado no detector de mentiras, que não acusou qualquer inverdade. O analista do polígrafo, Dr. Gene Rosenbaum, afirmou: "Este jovem não está mentindo… ele realmente acredita naquilo."

A Noite Oficial dos OVNIs

• 19 de maio de 1986

• Esta revoada de óvnis durou cerca de três horas, e foi observada nos estados de Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A situação chegou a tal ponto que o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA) considerou a segurança de voo ameaçada, principalmente em São Paulo, onde se concentra o maior número de rotas aéreas do país, e onde os óvnis estavam mais ativos.

• Isso levou o alto comando da Força Aérea Brasileira a deflagrar duas operações de interceptação e perseguição dos OVNIs por caças F-5E e Mirage, uma partindo da Base Aérea de Santa Cruz (RJ) e outra de Anápolis (GO).

• No dia seguinte, o então Ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Júlio Moreira Lima, deu uma entrevista coletiva à imprensa, juntamente com os pilotos dos caças, confirmando os acontecimentos, por isso os eventos daquela noite ficaram conhecidos como a Noite Oficial dos OVNIs. [1]

• Em 25 de setembro de 2009 foi divulgado o relatório oficial da Força Aérea Brasileira sobre o caso, que diz: "Como conclusão dos fatos constantes observados, em quase todas as apresentações, este Comando é de parecer que os fenômenos são sólidos e refletem de certa forma inteligência, pela capacidade de acompanhar e manter distância dos observadores, como também voar em formação, não forçosamente tripulados."

Conclusões

Admiro muito o Dr. Judá, mas neste ponto discordo totalmente. Não quero dizer que haja necessariamente vida além da Terra (creio que haja, mas não tenho nada além da crença para te mostrar). O que quero aqui é que você pense um pouco nesse assunto antes de torcer o nariz e berrar que vida só existe aqui na Terra. Afinal, se tanta coisa ainda não foi explicada de maneira satisfatória (e tantos tentaram explicar), não há margens para certeza no sentido oposto. A menos que você tenha fé nisso.

BeBook Club e os E-Book Readershttp://www.carlissongaldino.com.br/post/bebook-club-e-os-e-book-

readers, 27 de fevereiro de 2011

Por Cárlisson Galdino

Ler no computador é um saco. Esta é a verdade, e o que tem dificultado por anos a popularização de livros digitais. Formatos, já existem vários. Softwares leitores, também. Mas aquela tela brilhante intimida qualquer um. A leitura de texto oriundo de uma fonte luminosa é cansativa e já temos que lidar com isso o tempo todo para e-mails e blogs... Como popularizar livros digitais? Bem, a realidade está mudando, e a causa disso, a meu ver, não são os tablets e iPads (que não passam de "computadores portáteis", com o mesmo LCD dos monitores), mas os Leitores de Livros Digitais e a tecnologia e-Ink.

Então, chegando fim de 2010, resolvi que, como escritor, já era hora de conhecer na prática esses tais leitores de livros digitais. Na ideia mesmo de estar por dentro do que está havendo no mundo nessa área. Fui pesquisar os modelos que havia por aí.

Antes, porém, já havia sondado os formatos de livros digitais da atualidade. O mais interessante parece ser o ePub, um formato aberto baseado em XML, que torna os livros fluidos. Tá, tem o PDF, tem o TXT, tem o HTML... Mas um formato pra e-book mesmo é mais apropriado. Mais flexível que o PDF, adapta-se à tela sem ficar desconfortável de ler (letra pequena demais). Bem, vamos aos candidatos.

Kindle - O mais famoso da atualidade, lançado pela Amazon. A partir de 139 dólares, preço ótimo! E com suporte a internet sem fio. Não se adequava para mim por não suportar o ePub. Ao invés disso, a Amazon prefere investir em um formato privativo, exclusivo dela. Isso pode ser um "e daí?" para a maioria dos usuários, mas não é quando a gente analisa o cenário global, para quem entende da importância de padrões

abertos para a sociedade. O Kindle é hoje, em menor proporção, o "AutoCAD dos e-books" ou o "Corel Draw dos e-books", tentando se firmar com seu formato privativo, para ficarmos dependentes dele.

Ao cortar o Kindle por conta do ePub, pode lhe parecer que estou sendo radical, que estou procurando um equipamento alienígena, mas não. A ampla maioria dos modelos no mercado suportam sim ePub. O Kindle é que está na contramão e, por ter muita gente indo na dele, é que se sustenta. Os da Sony, por exemplo, suportam ePub.

No momento da pesquisa que fiz, o único modelo disponível no Brasil era o Positivo Alpha. Pareceu-me muito bom, inclusive por trazer o dicionário Aurélio integrado, mas R$ 700,00 considerei um valor um tanto alto e fora da realidade para o dispositivo (na prática, o que comprei ficou até um pouco mais caro que isso, depois de Fedex e alfândega). Ah, o Positivo Alpha também suporta ePub.

Dentre os modelos que pesquisei por aí afora terminei finalmente encontrando um que vendia para o Brasil e que não estava tão caro. BeBook. A Endless Ideas - o fabricante - é uma empresa holandesa e tem alguns variantes de leitores de livros digitais: BeBook Club, BeBook Neo, BeBook One e BeBook Mini. Comprei o BeBook Club, que estava a um bom preço e tinha alguns recursos interessantes. Por 179 dólares (e nem tem wi-fi).

Especificações Técnicas

Primeiro, o BeBook Club tem tela de 6 polegadas em tecnologia e-Ink. Essa tecnologia é uma maravilha, pois desenha a tela sem usar luz, de modo que a tela do aparelho realmente se assemelha muito a papel, não cansando a vista. É o que faz toda a diferença. Além de consumir pouquíssima energia: a duração de bateria de um e-book reader é medida em viradas de página! A do BeBook Club dura 12.000.

Suporta os formatos ePub e PDF, além de ler arquivos .doc, .txt, .HTML, .djvu, .chm, .fb2 e mobipocket. Para quem não conhece, Djvu é um formato aberto "concorrente" do PDF, enquanto fb2 e mobipocket são formatos próprios para e-book. O chm é da Microsoft, utilizado para montar ajuda nos programas para Windows. Bem, o BeBook Club suporta todos esses. Não gosto da ideia de proteção de arquivos por DRM (Digital Right Management), mas se você se interessa pro isso, o BeBook Club suporta DRM da Adobe nos formatos ePub e PDF.

Também suporta arquivos de imagem nos formatos JPG, Tiff, Gif, Png e Bmp. Claro, pela tecnologia adotada, a gradação de tonalidades não é perfeita, além de ser monocromático. Mas suporta.

Também reproduz audio em MP3 e Wave, podendo tocar músicas enquanto lemos algum livro. Não possui caixa de som, mas sim saída P2 para fones de ouvido.

Suporta cartão SD, a alimentação é feita via uma porta mini-USB e um cabo que liga na USB (o cabo é desses comuns e o produto vem com um deles de boa qualidade).

Impressões

Agora vamos às minhas impressões sobre o produto. Acho que já deixei claro o quanto gostei da tecnologia e-Ink. Realmente faz toda a diferença. O lado ruim é que não dá pra ler se você estiver em um ambiente escuro, mas isso é o de menos, quando consideramos o conforto visual equiparável ao do papel.

Não dá pra ler no escuro: o e-Ink é tecnologia muito diferente do LCD.

Não apenas papel, mas papel reciclável, já que a tela também não é tão branca assim. É realmente muito confortável.

Não sei a razão, mas o meu BeBook não se deu muito bem com cartão MiniSD dentro daqueles adaptadores para slot SD. O cartão fica desmontando o acesso e remontando, constantemente. Usar um cartão genuinamente SD resolve o problema. Sua capacidade interna é de 512 mega.

É simples o seu uso. A barra de progresso de leitura no rodapé da tela ajuda a gente a se posicionar. Ele é fino e praticamente não esquenta nada (ao contrário do tablet que eu tenho).

O interessante é que só depois notei que a Endless Idea disponibiliza o código-fonte do sistema dos seus leitores digitais (menos do Club, mas não deve ser muito diferente do One e do Neo). É uma implementação baseada em Linux. Mais um ponto a favor do produto.

Problemas

Agora o lado ruim. Como eu disse no começo do artigo, eu comprei para o Natal. O fato de estar escrevendo este artigo apenas agora já dá uma suspeita de que houve problemas, não é? Pois houve.

Primeiro, a entrega é realmente rápida. Menos de quinze dias. Em compensação, eles enviam via Fedex. A taxa é alta e a alfândega é paga antecipadamente por eles, justamente para agilizar. Assim, no fim das contas, contando com a capinha, que comprei também, um BeBook Club de 179 dólares saiu por mais de R$ 700,00. Seria mais negócio talvez ter comprado um Positivo Alpha, economicamente falando, mas o BeBook Club é um bom produto.

Logo que chegou, em pouco tempo, tive um problema com a memória interna de armazenamento. O leitor começava a reiniciar sozinho. Conectando-o no computador via USB e rodando o fsck.vfat, recebi erros de Entrada/Saída. É, flash defeitudoso...

Entrei em contato por e-mail e eles pediram para enviar o produto de volta. Usei a conta Fedex da Endless Ideas para envio, de modo que não houve gastos adicionais de minha parte no envio daqui para lá.

Após contatos por email e tentativas deles, eles não encontraram erro. :-/ Felizmente, mandaram-me um novo e este novo está funcionando bem por enquanto. Só o envio, que teve uma taxa que tive que pagar. Acho que é imposto de importação sobre o frete ou alguma viagem do tipo... Povo

explorador! Em compensação, o trajeto de lá até aqui levou menos de uma semana!

Conclusão

Acredito realmente que os leitores de livros digitais vieram para ficar. Vão finalmente trazer para a Indústria Editorial o drama que a Indústria Fonográfia vive. Basta baratear os produtos. Isso é ruim? De modo algum! Sempre se reclama que as pessoas por aqui leem pouco! Espero que esse novo brinquedo termine por estimular a leitura. O e-Ink realmente faz diferença.

Hoje eu compraria um Positivo Alpha, ou mesmo um tal de Gato Sabido (que na verdade é apenas o Cool-ER lançado no Brasil com outro nome). Porém, não me arrependo de ter comprado o BeBook Club. No fim das contas, é questão de escolha mesmo de sua parte. O custo fica quase o mesmo e a entrega é muito ágil, mesmo sendo em outro país. Ah, detalhe! O Gato Sabido também lê ePub (até parece que só o Kindle não lê).

Se for comprar um tablet ou um iPad pensando principalmente em livros digitais, recomendo que repense essa decisão. Se for para email e outras funções mais, tudo bem, é a melhor opção.

No DealExtreme e em sites chineses que acompanho, ainda não chegou a tecnologia e-Ink, este é o alerta que dou! Tem alguns e-book readers por lá, mas todos usam LCD. Não é a mesma coisa e não sei se vale a pena. Entre um leitor com LCD e um tablet, preferia o segundo.

Enfim, vamos em frente! Cada vez mais compartilhar conhecimento e cultura!

Contos Psicodélicos (e mudança de editora)http://www.carlissongaldino.com.br/post/contos-psicod%C3%A9licos-e-

mudan%C3%A7-de-editora, 10 de março de 2011

Por Cárlisson Galdino

O Clube de Autores oferece um ótimo serviço, porém sempre tive algumas dificuldades.

Primeiro, e mais importante: eles recebem arquivo em PDF para assim montarem nossos livros. O problema é que o PDF gerado pelo BrOffice nunca serve. Eu entro em contato com eles e eles atenciosamente convertem para um PDF que sirva. Sim, o pessoal do Clube de Autores atende e resolve, mas não convém necessitar de intervenção humana toda vez que eu precisar publicar ou alterar qualquer detalhe em um livro.

Isso já vinha me irritando. Como se não bastasse, tem o frete, que encarece ainda mais o já caro "livro-por-unidade".

Foi então que conheci Bookess, um serviço concorrente do Clube de Autores. Dentre as vantagens: três formatos de livro (pocket, tradicional e grandão); venda na loja com frete grátis; venda do arquivo em formato digital; desconto progressivo de acordo com a quantidade.

Bem, resolvi testar e publiquei um livro por lá, um livro inédito. O livro chegou e muito me agradou a qualidade do trabalho deles. Então, decidi sair do Clube de Autores. Agora, no Bookess, você encontra seis livros meus:

• O romance Marfim Cobra

• O romance Os Guerreiros do Fogo

• A série Jasmim, em formato pocket

• A série Escarlate, em formato pocket

• O livro de poesias As Asas da Águia, em formato pocket

• O recém-publicado Contos Psicodélicos, também pocket

E, claro, agora eu próprio envio os arquivos dos livros para lá, em vários formatos, incluindo ODF!

E sobre Contos Psicodélicos, trata-se de uma coletânea de pequenas histórias que fazem pensar, de realidade distorcida e fantástica. A maioria delas inéditas, mas nem todas. Sem interligação entre si, somente histórias. Histórias como A Bola de Fogo Azul e Problemas de Espaço-Tempo. Deem uma olhada!

E assim, quem quiser contribuir com este autor e prestigiar seu trabalho, pode comprar um dos livros lá (em versão impressa ou digital). Bookess, recomendo.

http://www.bookess.com/profile/carlisson/

Breve, Escarlate II...

Uma Questão de Nomehttp://www.carlissongaldino.com.br/post/uma-quest%C3%A3o-de-nome,

13 de março de 2011

Por Cárlisson Galdino

O que é GNU?

Tudo começou com projeto de Richard Stallman. Um projeto que visava a criar um Sistema Operacional que fosse totalmente livre, que permitisse a um usuário desenvolver atividades em um computador sem que tivesse que se submeter a licenças nocivas para a sociedade. Licenças que cerceam, que negam o conhecimento e nos dizem que ajudar nosso vizinho não é uma coisa boa. Para isso surgiu o projeto GNU.

Como o habitat natural dos hackers naquele tempo eram sistemas Unix, o projeto de Sistema Operacional totalmente livre o adotou como guia. Então a ideia passou a ser a de recriar o Unix. Mas uma vez recriado, não seria mais Unix, seria “um outro Unix”, que seria livre. Então Stallman resolveu fazer uma piada nerd, que já era feita naquele tempo. Criou um chamado “acrônimo recursivo”, que nada mais é do que uma sigla que se repete dentro da própria definição. Alguém cria um software chamado Sure, outro cria um “INéS Não é Sure”, outro cria um “BUSAM é Um Sure Altamente Melhorado”... Esses dois seriam “acrônimos recursivos”. No nosso caso, o Sistema Operacional se tornou o “GNU Não é Unix”.

Mas não é só essa a brincadeira do nome GNU: há mais curiosidades a seu respeito e razões para a escolha desse nome. Uma delas é a pronúncia em inglês, que se aproxima de “New”. Outras razões se referem ao animal Gnu.

Gnu é um quadrúpede estranho que vive na África. Uma mistura de cavalo com minibúfalo ou qualquer coisa parecida. Enfim, é um animal esquisito, o que tornou a escolha do nome ainda mais interessante. Como se não bastasse tudo isso, gnus se agrupam em manadas enormes, das

maiores do reino animal, o que é bem conveniente para reforçar o conceito de Comunidade, que é tão importante em projetos de Software Livre.

O GNU e o Linux

O Sistema Operacional GNU estava quase pronto, mas a equipe terminou cometendo um erro ao tentar ser vanguardista demais. O kernel que escolheram desenvolver – o Hurd – seria baseado em microkernel. Imagine várias pequenas partes sendo executadas independentemente, trocando mensagens entre si. A ideia é muito boa, mas o problema estava justamente nessas mensagens. A equipe só veio notar quanto era difícil depurar essas mensagens quando já era bem tarde.

Tarde porque apareceu um outro kernel de Sistema Operacional Unix antes que o Hurd ficasse minimamente utilizável: o Linux. Isso terminou sendo muito bom, pois se não fosse o Linux, o GNU provavelmente demoraria ainda uns anos para se tornar utilizável. Mas houve um efeito colateral no fortalecimento do Linux: o nome.

Notem que o Projeto GNU foi idealizado por Richard Stallman, mas contou com uma equipe, tornando-se um projeto fundamental da Free Software Foundation (fundação também criada por Stallman). O nome GNU se refere ao projeto e toda a equipe que nele trabalhou, resultando em um Sistema Operacional quase completo. Então nos chega um kernel como quem não quer nada e assume todos os méritos. E o que era o Sistema Operacional GNU rodando em kernel Linux passa a ser chamado simplesmente de Linux.

Parece uma disputa de ego, não é? Mas a situação não é tão simples. O Projeto GNU está inteiramente fundamentado nas bases do Movimento Social do Software Livre, na visão de que o software ético é o software livre e que software privativo não é uma boa para ninguém, exceto financeiramente para seus próprios criadores. Do outro lado, o projeto Linux remete à imagem de seu criador e líder: Linus Torvalds. E o que Linus Torvalds pensa sobre tudo isso? Bem, para Linus, o importante é se divertir.

Resumindo a ópera: um usuário utiliza o sistema e se admira com ele. Então procura saber mais sobre ele. Dizem que o sistema que ele está utilizando é “o Linux”, então ele busca sobre Software Livre e Linux. O

que descobre? Nada sobre as causas sociais, e toda a luta da Free Software Foundation termina comprometida por conta de uma palavra...

A “Licença GNU”

Além do Sistema Operacional, o Projeto GNU terminou criando muitas outras coisas. Desde o GNOME até... licenças de uso. Já vi recentemente um site que falava da GPL como “Licença Pública GNU”. Gente, não! Não existe uma “Licença GNU”! Não podemos nos referir desta forma. Simplesmente porque o projeto GNU oferece várias licenças. O “G” da GPL é de “General” e o GNU você coloca antes, sem abreviar: GNU GPL. Além desta ainda temos a GNU LGPL, a GNU FDL, dentre algumas outras. GNU General Public License quer dizer: Licença Pública Geral do projeto GNU, daí a necessidade de sermos específicos.

Conclusão

GNU é mais que um projeto, é um estado de espírito. Pense bem quando chamar o sistema somente de Linux, tenha cuidado para não estar deixando de lado tudo o que motivou essa importante luta. Falam que GNU/Linux é longo e que Linux é uma forma de resumir, mas não se pode deixar o principal fora do resumo...

Nerdsonhttp://nerdson.com/blog/rescue/, 18 de janeiro de 2011

Por Karlisson Bezerra

http://nerdson.com/blog/genesis/, 4 de fevereiro de 2011

Por Karlisson Bezerra

Marfim Cobra – Parte 1/8Marfim Cobra está disponível na íntegra em

http://www.carlissongaldino.com.br/sites/default/files/marfimcobra.pdf e para venda em http://www.bookess.com/read/7286-marfim-cobra/

Por Cárlisson Galdino

Dia: sexta-feira, 13 de Fevereiro. Hora: zero e cinqüenta minutos. Lugar: cemitério em algum ponto de Sergipe. Está tudo escuro e deserto. Hora e lugar perfeitos para algo muito fora do comum acontecer...

"O quê? Onde estou? Está tudo tão escuro... Acho que aqui é para cima... - cavando com as mãos - Encontrei a superfície. Agora, é preciso apenas um pouco de esforço e... estou fora... Que lugar é esss... Não, não pode ser. Minhas mãos... esqueleto! Ossos! Minhas roupas cheias de buracos... Isso não é possível. Eu estou... morto?"

O pânico percorre todos os seus ossos, - afinal, é só o que tem agora.

Uma hora depois, superado o susto...

"Bom, agora eu sou uma espécie de... zumbi! Um morto-vivo. O que faço então? Normalmente mortos-vivos não têm livre arbítrio, não é verdade? Por que será que sou um morto-vivo e conservo a inteligência? Que droga! Eu era tão legal naquele corpo meu de sempre... Bem, mas não adianta muito ficar me lamentando, não é verdade? Certamente há vantagens em ser um morto-vivo. Vou tentar descobrí-las. Hora de um pequeno furto. - olha em sua volta - Ali! Aquela mansão está ótima pra começar."

Vai até o muro da mansão. Pula-o com facilidade e segue em direção ao quintal. Passa pela piscina, olhando com curiosidade e se dirige à garagem.

"Exatamente o que suspeitei: o morador daqui é mago. Olha só essa carruagem enorme... Não parece haver estábulos ou cavalos por aqui... - chega à cozinha. - Quantos móveis e instrumentos estranhos. Vou tentar abrir uma dessas gavetas... Olha só! Talheres... São falsos, droga! São leves demais... Vou procurar algo melhor... E esses cristais... Se não estou enganado, vi um desses no castelo de um rei descuidado, que guardava ouro em um baú destrancado embaixo da cama. Espere! E minhas roupas? Aqui deve ter alguma coisa que eu possa usar. Mas... e essa fechadura? Nunca vi uma assim em toda a minha vida! Acho melhor tentar as janelas."

Ao se virar, seguindo à saída da garagem...

"Que maravilha! Uma caixa de ferramentas! Vamos ver o que tem dentro. - abre e encontra ferramentas que conhecia e outras que lhe são completamente novas. Fecha a caixa, que tem forma, trancas e divisórias diferentes, mas que ele não duvida de sua eficiência. Sai da garagem e fica à frente de uma janela de madeira. Após cerca de vinte minutos consegue êxito e entra na casa. - Esse mago talvez não seja exatamente um mago. Vejo apenas alguns artefatos, mas ele não parece se preocupar com a defesa de sua moradia: até agora não encontrei nada. Geralmente sou recebido com gólens, armadilhas mágicas, e outras surpresas. Deve ser só um colecionador. Mas se for mesmo mago, ou é muito descuidado ou terrivelmente perigoso."

Subitamente, ouve um grito de trás dele.

- Parado, seja quem for! - fala um vulto, segurando algo. Está escuro, e nenhuma outra característica se faz clara.

Cobra (assim era chamado em vida) sente uma enorme necessidade de fugir. Quando está prestes a fazê-lo lembra-se de que agora não é mais humano, mas também lembra que armas mágicas e magias ferem mortos-vivos tanto quanto a humanos, algumas até mais. Se ele for realmente um mago, ou mesmo um colecionador, o que ele carrega pode também ser mágico. E isso sem falar nas magias que normalmente os magos usam: devastadoras. Sendo assim, Cobra decide que definitivamente não pode mais ficar ali. Mas para ele a roupa não importa tanto. Já que ele deixou o que roubou fora da casa, não perderá tanta coisa. Cobra corre para a janela, mas quando está prestes a pulá-la, o mago grita:

- Pare aí, ladrãozinho covarde!

- Covarde? - Cobra indaga, virando-se. Há muito não se dirigiam a ele com essa palavra... Muitos já morreram após alguém chamá-lo de covarde no passado. Inclusive, no final, ele próprio.

A luz da Lua e de uma lâmpada externa iluminam seu rosto. Cobra ouve o objeto que o mago segurava cair e vê agora um vulto trêmulo. "Com certeza não é um mago. Talvez um colecionador barato, ou nem isso." Mas isso não lhe importa agora. Aquele homem falou o que jamais deveria ter falado. No local onde deveriam ficar os olhos, há duas pequenas chamas vermelhas expondo a sua fúria. O dono da casa tão nervoso está que suas mãos trêmulas derrubam, constantemente, vasos, imagens e outros enfeites, que vão ao chão e se estraçalham em mil pedaços. Mas a ira de Cobra não se abala com isso, ao contrário, aumenta. De repente, Cobra sente uma misteriosa energia percorrer seu corpo, passando pelos braços, que faíscam. Mas essa energia não causa qualquer dor, dá apenas uma sensação de poder. Sente, então, que deve apontar o braço para algo: o falso mago, claro! Sai uma serpente de energia, que se enrola no dono da casa, formando uma espécie de casulo. O homem some como se nunca houvesse existido. Há agora apenas um lugar vazio onde ele estava.

- Quem é o covarde "agora"? - Cobra pergunta. Também não sabe muito o que aconteceu, mas aconteceu.

Cobra esquece completamente o problema com suas roupas. Pula a janela, apanha o roubo e foge. Pulado o muro, surge uma pergunta em sua mente: "Para onde ir?" Depois de pensar um pouco no assunto, ele decide que o ideal é, ao menos por enquanto, voltar para o lugar de onde veio: o cemitério. Cobra nunca teve medo de coisas e lugares assim, sempre foi extremamente confiante e orgulhoso por ter se acostumado com esses ambientes.

"Interessante. Mesmo sabendo que mortos-vivos não dormem, sinto-me cansado. Talvez o que fiz com o colecionador de artefatos tenha me tirado as energias. Terei que dormir para recompô-las. ...por mais absurda que me pareça a idéia." Deita-se e adormece, então.

Porém, acorda ainda de noite. O cansaço passou. Olha em volta. Não há nada diferente. O céu está bem escuro. Sinal de que não tardará a vinda

do astro dourado. E não demorou. Após alguns minutos de espera impaciente, Cobra contempla o nascer do Sol.

"Hora de investigar melhor a torre e o alcance do que fiz." Mas, ao tocar a caixa de ferramentas, Cobra sente sua mão queimar e de repente está tudo escuro.

Cobra começa a ficar consciente. Ouve uma voz distante. Parece chamar o seu nome. Há uma neblina baixa e fraca. Parece não haver paredes, apenas uma sombra sólida em seu lugar. A luz é fraca e não vem de nenhum lugar logicamente aceitável. Cobra segue em direção à voz que o chama. De repente se vê diante de um ser estranho. Parece um homem com cerca de trinta anos, barba, cabelos escuros e curtos e, o que é mais estranho, com seis braços e duas pernas, lembrando uma aranha.

- Kin-Rá - Cobra deixa escapar o nome de seu deus, enquanto se ajoelha diante da estranha figura.

- Cobra. Sabes o que me agrada? Minhas regras? O que salva os meus seguidores? - pergunta Kin-Rá, com um olhar grave.

- Sim, senhor. Jamais ser injusto, cometer desonestidades, roubos ou faltar com a palavra e, sempre que puder, combater os que o fazem. - Responde Cobra, entristecido, pois sabia exatamente onde seu deus queria chegar.

- Então, se sabias o que queria que fosse feito, por que não o fizeste?

- Senhor... - Cobra não consegue completar a frase...

- Você merece o castigo da eternidade sem corpo: a vida sem vida em um imenso vazio... Mas a cada cinco mil anos eu escolho um seguidor destinado ao castigo eterno para lhe dar uma segunda chance.

- Sinto-me grato e honrado, senhor! - fala Cobra.

- Em sua vida, não fizeste nada além de contrariar minhas vontades. - continua Kin-Rá. - Como Cobra você espalhou dor e tristeza. Nessa segunda vida você deve espalhar alegria e esperança. O que você fizer de mal à noite o machucará ao dia. Se seguires meus desejos, após anular suas más ações, finalmente poderá mudar, você tem poder para isso. E, a partir deste momento, você passará a se chamar Marfim. Marfim Cobra.

Como Cobra fizeste o mal. Como Marfim Cobra deverás fazer o bem. Mude logo, enquanto ainda há tempo, ou sofrerá as conseqüências do castigo eterno...

As palavras ecoam na mente de Cobra - não, agora Marfim Cobra -, quando ele acorda. Por um instante tentou afastá-las da mente, mas quanto mais tentava, mais elas o perseguiam. Pensou então que talvez fossem as coisas que ele havia roubado à noite. Talvez por causa delas não se sentisse em paz consigo. Pegou a caixa de ferramentas, desta vez pensando em pô-la onde encontrou, ela não mais lhe queimou a mão e as palavras que o atormentam se tornaram menos dolorosas.

Seus ideais no início foram belos, mas por fraqueza ele não pôde seguí-los. Foi assim que se tornou um ladrão devoto do deus da Justiça, o que nunca havia ficado claro pra ninguém, nem pra ele mesmo.

Marfim Cobra pula o muro com a mesma facilidade de antes, vai até a garagem e deixa as coisas exatamente onde as encontrou. Ao voltar o rosto para o muro vê dois homens descendo o mesmo com cordas: ladrões? Assassinos? Sequestradores? Não importa. Marfim resolve se esconder atrás da "carruagem" (o automóvel) e esperar que eles se aproximem. Um terceiro pula o muro e se abaixa, fazendo um sinal para os outros dois, que vão à garagem tentar arrombar a porta. Marfim Cobra, como fôra um ladrão, conhece algumas técnicas. Resolve usar uma delas. Desliza silenciosamente até os dois que estão à porta. Ao ver Marfim se aproximar, o terceiro do grupo grita: "Cuidado!" Mas, antes que os dois ladrões à porta entendam o que está acontecendo, Marfim Cobra salta golpeando os dois no estômago. Os dois caem, inconscientes. Marfim corre velozmente em direção ao terceiro, que já estava em cima do muro. Mas o terceiro não consegue fugir. Marfim Cobra conseguia pular esse muro, sem auxílio de nada, com extrema facilidade. Estando as cordas lá, não levou mais que uma pequena fração de segundo e, quando o terceiro ladrão estava tocando o chão, Marfim já caía sobre ele...

Havia um carro em frente ao muro, sem dúvida era o líder da operação. No momento em que Marfim despencava do muro sobre o terceiro ladrão, o carro acelerou.

"Uma carruagem sem cavalos? Magnífico! Não os alcançarei a tempo... Espere! E se eu conseguir lançar aquela magia sem palavras ou gestos?" -

Ele tenta se concentrar, mas não adianta. Quando o carro já está longe, ele finalmente sente toda aquela energia percorrendo seu corpo. Ele então aponta o braço para o carro e... Tcharam! O carro sumiu.

"É! Isso compensa o fato de eu não poder mais roubar. Talvez, quando Kin-Rá falou em poder, estivesse se referindo a isso..." Pensa Marfim. As palavras que o torturavam sumiram. Ao sumirem, Marfim ouve: "Continua agindo assim, e em breve serás libertado. Eu me comunicarei contigo. E saberás quando eu estiver falando!"

Marfim Cobra atravessa a rua e segue em direção ao cemitério. Espera alguma mensagem prometida por Kin-Rá, mas nada recebe. Quando está prestes a ir embora, uma cobra rasteja sobre seus pés, olha-o, bota a língua para fora e sai rastejando.

"Será isso um sinal? Acho que devo seguí-la." Marfim Cobra a segue. Ela rasteja até um túmulo recente e entra. "Será que devo abrí-lo?" Pensa, mas depois de prestar mais atenção vê a chapa do túmulo. Tem o nome de alguém e alguns números: 1967-1992. "Hã? Como assim? O que é isso?" Pensou depois que poderia haver qualquer coisa importante dentro do túmulo. Quando já tinha as mãos levantadas para destruí-lo, a cobra fugiu rapidamente, sendo perdida de vista. "É, certamente não devo quebrá-lo!" E fica a pensar na frase que dissera. De repente, ouve uma voz.

- És tu o dito Marfim Cobra?

- Sim, sou eu! - Responde, virando-se e imaginando quem poderia o estar procurando. Mas, ao contrário de todas as possibilidades que conseguiu criar, quem o chamou parecia um sacerdote.

- Não se assuste! Eu sou um dos pouquíssimos sacerdotes de Kin-Rá que existem hoje em dia. Kin-Rá me disse que você precisaria de um lugar pra ficar. Eu tenho uma casinha onde você poderia ficar durante o dia. O que acha? - sugere o sacerdote de Kin-Rá.

- Se esta é a vontade de Kin-Rá, aceito.

- Eu trouxe roupas para que cubra todo o corpo. - Enquanto revista a mochila.

Depois que Marfim recebe e veste a roupa, os dois saem até uma cidade próxima. No caminho, o clérigo começa a explicar algumas novidades, como o automóvel... Na pequena cidade não há muito movimento de

carros, mas para Marfim é o bastante. Finalmente eles chegam à casa do clérigo. É uma casa humilde, possui poucos cômodos. Durante o resto do dia, ele ensinou a Marfim Cobra muitas coisas sobre o mundo e sobre aquela cidade. Seu cognome, conforme lhe disse, é Formiga Vermelha, pois se considera muito inferior a seu deus, tendo assim uma maneira de demonstrar como se sente pequeno em sua presença. Ao chegar a noite...

- Já vai embora? - pergunta, ao ver Marfim vestindo o resto de suas roupas. - Espere! Tenho algo a lhe mostrar.

Formiga vai ao quintal, demora um pouco. Volta, falando.

- Eu nunca tinha conseguido entender o que cobras tinham a ver. - Marfim começa a estranhar a conversa. - Mas agora entendi. Kin-Rá fez isso para você. - Fala, estendendo a mão, e nela um punhal com uma figura de cobra no cabo. Marfim o pega e analisa detalhadamente. - "Apenas os nascidos entre serpentes poderão usar o 'Punhal das Serpentes', que convocará para serví-lo, duas serpentes lutadoras. Se és o destinado a recebê-lo, gritarás: 'Inchinmy Ejoda' e as serpentes o servirão." Boa sorte!

- Obrigado. - responde Marfim. "Acho que é hora de entrar em ação!"

Marfim Cobra sai da pequena casa do Formiga. A rua está deserta. Marfim vai às ruas mais desertas: nada de errado acontece! Ele anda por horas sem nada encontrar. Enquanto caminha começa a pensar em sua vida. Por que seguiu um caminho tão tortuoso? Era a vida fácil, claro. Tinha consciência de que não devia agir daquela forma e ainda assim agia. Mas não pode ter sido só isso. Marfim sempre fôra forte de vontade em muitas outras situações. Por que haveria de fraquejar justo naquela?

Um caminhão passa na pista ao lado da cidade, com dois carros próximos a ele. Quando passa (parece estar cheio de mercadorias), os carros aceleram atrás. Um indivíduo no banco dos passageiros de um dos carros aponta um revólver para o motorista do caminhão, que freia.

Pensamentos depois, há um assalto. Os carros param. Marfim corre em direção à cena. O homem armado desce do carro - os outros também - e aponta o revólver para o motorista. Marfim está a cinqüenta metros, aproximando-se. Os outros assaltantes vão até o carregamento e o descobrem. Marfim está a quarenta metros, quando o assaltante que segura a arma está prestes a matar o motorista. Marfim Cobra se concentra e em pouco tempo consegue invocar o seu poder - está

aprendendo a controlá-lo -, aponta o braço e a serpente de energia acerta o que mataria o condutor do estranho veículo (estranho para Marfim, claro), criando um magnífico casulo brilhante de energia, que após alguns segundos desaparece junto com o assaltante que estava dentro.

O que parece ser o chefe do grupo grita, desesperado: "atirem! Matem o desgraçado!" Os outros, sem perceber o perigo que é Marfim, atiram. Marfim continua avançando, mesmo quando eles acertam, pois as balas não o machucam. Finalmente, o esqueleto os alcança e os derruba facilmente. Outros vêm, enquanto o chefe do grupo corre em direção a um dos carros. Marfim, percebendo que precisa de ajuda, resolve usar sua nova arma e grita: "Inchinmy Ejoda!", segurando firmemente o punhal, com o gume voltado para baixo. Imediatamente após isso partem dois raios verdes do punhal: um à esquerda de Marfim, e outro à direita. Cada raio cria uma serpente verde, com flamas nos olhos. Os assaltantes, percebendo que aquilo é sobrenatural, soltam as armas e correm. Marfim aponta o braço esquerdo para o chefe, e o direito para os assaltantes que estão tentando fugir. As serpentes partem, quase que no mesmo segundo, nas direções indicadas.

O clérigo de Kin-Rá, Formiga Vermelha, acorda. Abre os olhos: vê o teto de sempre; senta-se na cama: vê as paredes, seu criado-mudo e seu armário, já um pouco acabados. Troca de roupa e se levanta. Segue, então, para sua minúscula sala, pensando em como teria se saído Marfim Cobra nessa missão. Mas, ao chegar lá, leva um susto: depara-se com ele encostado na parede em frente.

- Como se saiu? Foi bem em sua primeira missão? - Pergunta.

- Estavam querendo saquear um carro de mercadorias...

- Um caminhão!

- É. Dei um jeito neles. Acho que foi bom para uma primeira vez... - Marfim Cobra.

- Bom! - O clérigo responde, indo à minúscula cozinha. Mas interrompe seus passos e se vira para Marfim. - Você come? Quero dizer: precisa consumir alguma coisa pra repor energias?

- Não no momento.

- Como assim? - O clérigo Formiga.

- Vou te dizer uma coisa. Quando eu voltei à vida e usei meus novos poderes, tive sono e precisei dormir, não sei por quanto tempo... Até o amanhecer. Agora o uso e não preciso mais dormir. Achei estranho e talvez você também o ache, mas aconteceu. Por isso, não estranhe se eu precisar me alimentar, de uma hora para outra.

- Só uma coisa. Dá pra usar o capuz? Sabe como é... Seu aspecto não é um tanto... Deixa pra lá, vai...

Formiga Vermelha fica parado, perdido em pensamentos. Depois de poucos minutos vai à cozinha tomar seu café da manhã.

Ao voltar, pergunta:

- E hoje, o que gostaria de fazer?

- Que tal me ensinar a decifrar esses símbolos gráficos? - Aponta para um jornal sobre a mesa.

Tudo corre bem durante esse segundo dia. As orações de Formiga, aprendizado de Marfim. O dia passa calmo e à noite...

- Já vai? - Pergunta Formiga.

- Já. - Marfim responde.

- Sei que você não precisa, mas... Boa sorte!

- Obrigado.

Marfim Cobra parte para as ruas: vai agir, vai lutar pela justiça, enfrentar os perigos do mundo.

A noite passa e Marfim se desloca pelas ruas da cidade. Constantemente. Nada acontece.

"Essa tranqüilidade não está me agradando. Será que nessa noite nada ocorrerá?" Pensa Marfim Cobra. "O jeito é continuar vigiando a cidade..."

E continuou a vigiá-la, porém nada de estranho ocorreu. Parecia que todos realmente haviam evitado sair. Parecia que todos estavam amedrontados por alguma eventual notícia sobre o ocorrido. E assim a noite passou - nessa monotonia: sem ação, sem emoção, sem mais pontos positivos por Kin-Rá. Enfim, amanheceu.

- E aí? Como foi?

- Nada foi.

- Não houve nada?

- Nada.

- Não se preocupe com isso. Olha! Dizem que um dia é da caça e o outro do caçador. Quem sabe hoje à noite...

- Não tenho outra escolha a não ser aguardar.

- E olha o que saiu no jornal!

Marfim se inclina sobre a mesa e vê naquelas páginas a foto do caminhão e dos corpos, tirada à distância.

- E o que diz? - pergunta Marfim.

- Que um sumiu e dois foram mortos de maneira estranha. Não sabem o que aconteceu. O caminhoneiro diz que foi um... "esqueleto". Muito bom, hein? Mas tão achando que é o chupa-cabras.

- É o quê?

- Um bicho que ataca animais por aí... ...mas não deve existir não. - Formiga pára e começa a olhar Marfim Cobra preocupado. - Bom, se você existe...

Mais um dia se passa. Mais informações Marfim guarda. E mais uma vez sai às ruas. Sai na expectativa de uma noite melhor.

Durante o dia, o morto-vivo aprendeu também um pouco sobre os tipos de crime que se pratica hoje, apenas para constatar que as coisas não mudaram muito...

Hora: uma e quarenta e três. Em uma das ruas mais desertas da cidade algumas pessoas se encontram reunidas. Um grupo de cinco ou seis. Marfim Cobra passa atento por uma rua a esta perpendicular, e percebe que algo estranho está acontecendo. "O que um grupo de pessoas estaria fazendo de madrugada, de pé em uma calçada de uma rua deserta?" Sim. Com certeza há algo estranho aqui. Marfim se esconde ao lado de uma casa, na esquina, e tenta observar atentamente o que está acontecendo. As

pessoas estão formando um círculo fechado. Não dá pra ver muita coisa, mas elas parecem ter espingardas e revólveres. Algo muito suspeito. Marfim se aproxima, aos poucos, quando de repente um deles o vê.

- Pessoal! Olha "ele" ali!

- Chumbo nele! - grita outro, enquanto todos pegam rapidamente suas armas. Certamente não gostaram do que um "homem encapuzado" fez há duas noites.

Eles abrem fogo. São seis. Um traz uma metralhadora, enquanto os outros trazem armas mais comuns. Marfim recebe alguns tiros, mas não se machuca. "Se eles querem encrenca, eles terão." Pensa Marfim, enquanto posiciona o punhal para ter ajuda das serpentes de energia.

- Ele usa colete à prova de balas! - grita um dos seis, mostrando a conclusão a que chegou para a pergunta: "Por que as balas não o ferem?" Ele larga a arma, tira um punhal que trazia consigo e dispara em direção a Marfim Cobra. Pena que, para ele, imunidade a balas só exista em filme ou desenho animado...

Outros o seguem. Só fica para trás o homem que usava a metralhadora, resmungando, pois não poderá mais usá-la com seus aliados na frente. Marfim grita: "Inchinmy Ejoda!", segurando o punhal com a lâmina para baixo. A lâmina adquire um brilho verde e lança dois raios do mesmo verde para os lados de Marfim. Esses raios criam, cada um, uma serpente de energia que, ao sinal de Marfim, ataca. A da direita ataca o que está mais próximo, enquanto a da esquerda voa como uma flecha disforme em direção ao que ficou para trás. Os dois caem. Enquanto outros param, sem ação, os dois restantes correm contra Marfim. Este se concentra e consegue atingir um deles com sua serpente energética, que sai de seu braço direito, mas o outro chega perto o bastante para realizar ataques. Marfim não é atingido, mas os movimentos bruscos fazem com que os panos que o escondiam caiam, mostrando sua cabeça esquelética. O atacante fica tão assustado que, depois de levar um soco violento no estômago, mesmo com seu corpo capaz de se erguer - dolorosamente, embora -, permanece no chão com os olhos arregalados e uma expressão de terror na face.

Os outros dois que restam estavam prontos para agir, mas essa visão lhes deu mais algum tempo de inatividade, até que um dos dois, antes que

fosse tarde demais, diz ao outro o que acha que pode ser a única salvação.

- Pra igreja!

Os dois correm. ...e Marfim vai atrás. Faltando cerca de três metros para o primeiro deles alcançar a igreja, Marfim derruba o segundo, que havia ficado muito para trás.

- Padre! Abra! - Grita o último deles, à porta da igreja, batendo desesperadamente. E não demora para que a porta abra.

- Padre! Me ajuda! - Diz ele, nervosíssimo, enquanto entra e fecha a porta. - Tem um esqueleto atrás de mim. O senhor tem que me ajudar.

- Calma, filho. Não tem ninguém atrás de vo... - O padre é interrompido por uma forte pancada na porta.

- Pegue a água benta! Está ali. - O padre não mais discute. Ele aponta para algum lugar na direção do altar. Sabe que esta é a hora de mostrar a que veio ao mundo. É a hora de fazer diferença.

O barulho de pancadas na porta continua. O último pistoleiro corre na direção que lhe foi anteriormente indicada pelo padre. As pancadas continuam e a porta, que esteve firme e impecavelmente sólida por anos, parece prestes a desabar. O homem começa a correr de volta com um pequeno frasco nas mãos. Os barulhos parecem parar por alguns segundos. O homem chega e entrega o frasco ao padre. O homem da fé abre tal frasco. Neste momento, no ar soa um alto estrondo, e a porta é arrombada por uma figura esquelética com os punhos fechados e unidos, caindo em arco. A tampa do frasco cai no chão e o padre joga um pouco do conteúdo do dito, e muito bendito, frasco no esqueleto.

"Meus ossos doem. O que esse miserável jogou em mim? Estou fraco! Não consigo força para nada..." Marfim se sente fraco. Fraco como jamais esteve. E ele se ajoelha no chão, pois suas pernas não conseguem mais sustentar o seu peso. O padre, então, com a frieza de um carrasco, rezando para os céus, ergue o frasco pensando em jogar mais água benta "neste demônio" que está diante dele, mas logo uma idéia melhor lhe surge: por que jogar de poucas poções? Então ele segura o frasco com força, com o braço direito, preparado para arremessá-lo. "Claro! O frasco é de vidro! Se um pouco de água benta fez com que ele caísse enfraquecido, todo o frasco jogado de uma só vez decerto o matará." Ele

recua um pouco mais a mão, pronta para jogar o frasco, quando um pequeno cilindro com ponta arredondada rompe a velocidade do som, causando um enorme estrondo.

Uma figura na calçada chama a atenção. Está segurando uma arma de fogo com as duas mãos. O padre cai para trás e o frasco se quebra. É Formiga Vermelha o atirador. Marfim, caído no chão e enfraquecido, mal consegue vê-lo. "O último pistoleiro" saca a sua arma e atira: acerta o ombro esquerdo de Formiga. Quase que ao mesmo tempo, ele revida com um tiro certeiro em seu coração. A outrora ameaça cai inerte. Marfim, já no chão, mal pode falar ou ver, muito menos se mover. Formiga Vermelha o toma: põe o braço dele em torno de seu pescoço e, com muito esforço devido ao ferimento no ombro, o arrasta atravessando a porta da igreja. ...ou o que sobrou dela. Formiga Vermelha sabe que essa cidade, como muitas outras, teme as balas, teme o desconhecido. Demorará alguns minutos até que a curiosidade das pessoas vença seus medos, e saiam à rua para saber o que aconteceu. Isso possibilitará o retorno de Marfim e Formiga. Formiga sabe disso, e toma proveito. Chega em casa cansado e sem forças, sangrando, fecha bem a porta, larga Marfim em um lado da pequena sala e cai no outro lado, abraçando o chão como se quisesse poder tocá-lo um pouco mais. Talvez alguns anos...

"Já é dia? Não me lembro bem, o que aconteceu? Um grupo de atira... Oh, não! Formiga Vermelha!" Marfim se levanta e, sem que precise procurar muito, encontra seu amigo em uma poça de sangue, caído próximo à porta. "Não! Ele não pode estar morto!" Ele ergue seu braço e larga. O braço do clérigo cai como o de um boneco. Marfim cai de joelhos ao lado do corajoso sacerdote. Ele choraria. Se tivesse olhos de matéria. Há batidas na porta, mas é como se não ouvisse.

- Abra a porta. Somos da polícia. - grita alguém, do lado de fora da casa, com tom de voz autoritário.

Marfim parece não ouvir. As batidas se repetem, agora ligeiramente mais fortes.

Um forte pontapé e a porta se abre. Os tiras vêem a cena, mas não conseguem acreditar. Um esqueleto ajoelhado próximo a um cadáver. Logo passa por suas cabeças que Marfim foi o assassino. - Decisão precipitada. Se eles olhassem com mais atenção veriam nele a dor da

perda de seu único amigo na Terra de hoje. Começam a atirar em Marfim. Um deles, com ar de líder, manda um outro buscar reforços e comunicar o fato. E continuam atirando. Claro que, pela natureza mágica de nosso bizarro herói, as balas não o ferem, não o enfraquecem, mas o trazem de volta à Terra.

- Parado! Seja você o que for! - grita o líder dos policiais.

Marfim Cobra quer ficar sozinho e não suporta o incômodo fardado. Ele se levanta. Os tiras recuam um pouco. É agora! Marfim dispara uma serpente branca com seu braço direito. A serpente envolve em um casulo um dos policiais e, como sempre, desaparece, levando a vítima. Marfim, depois disso, corre em direção à porta, derrubando com os braços dois policiais que estavam no caminho. Eles, talvez por covardia, ficam no chão, imóveis.

Marfim segue sem rumo pela rua. A Lua ainda domina mas, depois de tantos e tantos tiros, a população não consegue conter a curiosidade em torno do que aconteceu. Os poucos que colocam seus rostos para fora de casa têm a infelicidade de ver Marfim Cobra andando no meio da rua. A visão é aterrorizante e, certamente, alguns se arrependerão para sempre de terem tido essa curiosidade.

Marfim Cobra está agora saindo da parte urbana dessa cidade. Não sabe aonde vai. Sabe apenas que vai e, por enquanto, isso é suficiente.

Logo chegará o amanhecer. Marfim sabe que logo veículos tomarão essa terra sob seus pés. Já se afastou muito da cidade e não pegou o caminho que passa pelo cemitério. No entanto, isso pouco importa para ele. E Marfim Cobra segue com suas vestes, mas não é coberto totalmente por elas. Ele não dá importância a isso. Segue andando. Somente ao ouvir o barulho de um motor ele, apressadamente, esconde-se por trás de suas roupas velhas. O caminhão passa e o desperta. Ele percebe que esse foi o primeiro de muitos outros que hoje passarão por aqui. Olha para os lados. Em um lado há bois dormindo. No outro há uma casa e um pouco de barulho se inicia. O Sol ainda não nasceu. As pessoas estão acordando. Só lhe resta seguir em frente para descobrir onde chegará.

Marfim segue andando pela estrada quando encontra uma rua sem calçamento à esquerda da principal que ele seguia. Como é menos movimentada, ele toma o novo caminho. Também não sabe aonde o

levará mas, como já disse, isso não é importante para ele. E ele segue, mudando de ruas para fugir das pessoas. Estas, ao verem um vulto encapuzado, afastam-se desconfiadas. Elas constituem um problema, mas não maior que a presença de crianças que, sempre tão curiosas, não ficam como os adultos. Elas ou temem e choram ou se sentem atraídas. São o perigo principal. E ele seguiu. Algumas crianças ainda se aproximaram e viram duas chamas vermelhas na escuridão de seu capuz. Elas foram, apressadas, contar isso aos pais, que se benziam e negavam a afirmação das crianças, alegando ter sido obra de suas férteis imaginações. Marfim Cobra seguia sem destino certo, por ruas novas, vendo novas paisagens, novas casas e pessoas. Tudo que não o conhecia ou não lhe pertencia.

Primeiro volta à vida, depois perde seu único amigo e conhecido. O que mais deve esperar de seu destino? Segue em frente e vê um rio. Há pessoas ao longe, mas como não precisa respirar e o rio certamente é fundo, ele conseguiria passar sem ser visto. E ele o faz. Não com esse pensamento, apenas continua sua trajetória e passa sob o rio até o outro lado. E nada mais vê. Não que não possa, que tenha perdido essa capacidade. Marfim não vê porque não consegue dispersar sequer uma pequena fração de seus pensamentos.

"Kin-Rá! Por que me colocaste aqui? Por que não me deixaste viver em morte? E agora? Agora que se foi meu amigo, instrutor e conselheiro... Por que lhe disseste que eu corria perigo e o tiraste de sua cama para morrer? Detesto e sempre detestei perder companheiros. O que farei? Sigo por esses malditos caminhos sem imaginar onde chegarei. Aonde devo ir agora? Por favor, me diga. Disseste-me que responderia às minhas perguntas, que me diria o que fazer, para onde ir... Esta é a hora: o que faço, Kin-Rá?"

Marfim Cobra segue andando por ruas e mais ruas. Seu corpo anda, mas sua mente ficou muito atrás. Ele anda com passos sem vontade, enquanto espera a resposta de seu deus, que nada diz. Depois de uma longa espera, mal sabe quantos dias e noites, ele lembra que deuses muitas vezes se comunicam por sinais. Ele tenta retornar ao seu corpo e começa a ver um azul. Parou. Agora a imagem está mais clara: é fim de tarde e à sua frente está o oceano, como sempre, se mesclando ao céu. Isso não faz muito sentido para ele. Marfim começa a olhar ao redor quando vê, em seu lado esquerdo, ao longe, topos de alguns edifícios. "É esse meu destino."

Pensa ele, enquanto se vira para a provável cidade e começa a caminhar. "Há muito o que ser feito." Ele conhece a quantidade, mas não a qualidade (o que deve ser feito). Isso é de pouca importância agora. O desafio do caos o aguarda e Marfim Cobra sabe que não pode fugir dele e que o que fez é muito pouco se comparado com o necessário. Mas ele acredita que vai conseguir e, se depender desse sentimento, Marfim, cedo ou tarde, terminará sua missão na Terra e então poderá ter a vida livre e feliz na teia abençoada.