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CyanZine #4

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MinC, Twitter e Games na quinta edição do CyanZine

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A presente obra encontra-se licenciada sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 3.0 Unported. Para visualizar uma cópia da licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/ ou mande uma carta para: Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California, 94105, USA.

Você tem a liberdade de:

• Compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra. • Remixar — criar obras derivadas.

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• Compartilhamento pela mesma licença — Se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob uma licença similar à presente.

Considerando que alguns dos artigos aqui publicados não são exclusivos da CyanZine, tendo sido incorporados a partir do site de seus respectivos autores, por vezes a licença do CyanZine se torna ainda mais restritiva do que a original (mas nunca menos restritiva). Portanto, convém visitar a publicação diretamente para o caso de se precisar de uma licença mais flexível do que esta.

Quinta edição do CyanZine. Continuando com a fórmula adotada: reunindo artigos interessantes de vários blogs e priorizando o formato ePUB para distribuição. Alguns questionamentos deverão ser feitos em breve a respeito destas decisões, mas deixo para a próxima edição (e última deste ano).

Uma mudança sutil já aparece: a personalização dos banners de sessões fixas ou exclusivas. Quem sabe um dia consigamos aumentar o número de sessões exclusivas, não é mesmo? Vamos em frente.

O mundo é um lugar cada vez mais difícil de se viver. A mão pesada das empresas donas do mundo continuam esmagando os que trabalham. Tudo pelos lucros. Protestos pipocam mundo afora. Greves e manifestos populares. É interessante acompanhar, ao menos um pouco, o que aconteceu em Teresina. Mais um protesto descentralizado, viabilizado graças às redes sociais. É a tecnologia mostrando a que veio, mostrando-se uma ferramenta possível, dentre tão poucas que temos, para nos defendermos das injustiças e desmandos dos mais poderosos.

Muitos questionamentos. O CyanZine mais uma vez está inundado de artigos do blog Trezentos. Dentre vários, há um novo blog que está aqui representado é um blog de Videogames, mas com um artigo mais pra se pensar, falando da suspensão de descrença. Enfim, leiam esta modesta seleção do que pude encontrar de interessante nesse último mês. Bom proveito e boa leitura!

Cárlisson Galdino

http://cyanzine.bardo.ws/

Foto desta edição: http://www.flickr.com/photos/briweldon/6189557052/

Technomyrmex PallipesPrimeiro, o Trisquel. Não poderia ser diferente. O Trisquel 5 é a grande novidade desta nova versão do CyanPack. Lançado em setembro trazendo como codinome o deus celta Dagda, o Trisquel (agora baseado no Ubuntu 11.04) continua evoluindo. Uma novidade interessante é a habilitação da leitura de tela já por padrão. Ou seja, se você colocar o DVD no drive e reiniciar o computador, o instalador já vai funcionar com leitura de tela habilitada, sem que nada mais precise ser feito.

No material de leitura, temos a adição da Revista Nintendo Blast. Talvez por um lado não seja tão bom assim colocar uma revista voltada a um mundo de software privativo, mesmo que de entretenimento. Por outro lado, a revista tem grande qualidade em todo a sua criação e está disponível sob licença Creative Commons. Se você conhecer revistas interessantes sob licenças permissivas, sugira!

Dos softwares para Windows, temos o Firefox 7 e a adição de dois grandes softwares livres que já são conhecidos de usuários GNU. O Deluge, cliente de Bittorrent; e o Banshee, player de audio e video com suporte a podcast. Além de outras atualizações.

Baixe lá o seu Technomyrmex Pallipes (CyanPack 11.7). Em DVD e CD. http://cyanpack.bardo.ws/

Séries Antigas e Séries NovasEm um mês houve uma série de novidades no site. Vamos começar pela publicação do Castelo do Rei Falcão, um cordel longo, certamente o mais longo que já escrevi. Narra uma história em clima de conto de fadas, uma história de rei, plebeia e um castelo no alto de uma colina. http://x.bardo.ws?ld

Estou escrevendo o livro Sinas – Copos e Minas há vários anos. A escrita do livro acontece em tempo real, ou seja, se eu for escrever um parágrafo novo, escreverei diretamente no site. A novidade é que o capítulo 8 foi concluído e iniciado o capítulo 9. http://sinas.bardo.ws/

Uma ideia me ocorreu, a de escrever séries textuais com atores. Eu tenho escrito séries textuais, como Warning Zone e Redblade. A ideia de usar atores é que os personagens principais teriam um ator cada. Seria responsabilidade do ator definir estilo, personalidade, linguajar do personagem. Não como RPG, mais como gravação mesmo. O autor define a história e os personagens, superficialmente. Os atores complementam a definição dos personagens. As cenas, porém, seguem um roteiro pré-determinado. Se a ideia vai dar certo ou não, não sei, mas estou fazendo testes de um piloto. Se funcionar, a gente transforma em série. A história é de Speckman, o Homem-Grão, o único super-herói de um mundo.

Por falar em séries, a primeira que escrevi foi Jasmim e ela será lançada impressa no dia 28 de outubro na Bienal do Livro em Maceió. Se você for para Maceió para participar do V Encontro Nordestino de Software Livre, dá um pulinho lá na Bienal também! Quem comprar na ocasião receberá um brinde bacana (quantidade limitada).

Lembram a greve dos técnicos-administrativos das Instituições de Ensino Superior? A greve terminou de um jeito fraco. Mesmo com o direito constitucional de greve garantido por uma liminar judicial, o governo se negou a negociar com a categoria e terminou vencendo o grupo pelo cansaço. A UFAL e mais umas universidades continuam em greve, mas

com pauta local. E agora entram os Correios e os bancos. Melhor sorte para eles.

O projeto wzSync está se concluindo. A série Warning Zone já está sincronizada com a Revista Espírito Livre, falta o site, o que deve concluir lá pra novembro. A ideia era, uma vez concluído o wzSync , iniciar o rbSync, sincronizando a série textual Redblade com a Revista BrOffice. Como a revista está demorando muito para sair, vou terminar iniciando uma nova série textual. Portanto, acompanhem o site porque em breve estará no ar a enquete com quatro candidatas para que você ajude a escolher qual vai ser a próxima série. http://bardo.ws

O Melhor do Mundohttp://x.bardo.ws?lo, 15 de setembro de 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Conheci um cordelista

Que lançou só dez cordéis

Se gabando ele de ter

O melhor cordel do mundo

Mas espere um segundo!

Naquela mesma cidade

Na rodoviária vende

Obras bem mais grandiosas

E pensando nesse mundo

Me pergunto: quem julgou?

Se é um ou outro melhor?

O mundo já analisou?

Para o mundo decidir

O melhor, tem que escolher

Será que ele analisou

Todo e qualquer concorrente?

Que critérios que ele usa

Para essa avaliação?

Qual com escolas de samba

Separam e pontuam à mão?

Foi assim que de pensar

Concluí com meus botões:

Pra ser o melhor do mundo

Basta alguém acreditar

O Novo MinC é Veneno na Veia do Povo Brasileirohttp://www.trezentos.blog.br/?p=6278, 23 de agosto de 2011

Por Carlos Henrique Machado Freitas

Impressiona a expansão em escala acelerada das diferentes formas de se produzir um inferno na vida cultural do Brasil. Mal saímos de uma notícia tirana vinda do MinC, sua ideologia produz em seguida uma outra ação destrutiva, sempre contra o povo brasileiro.

A pergunta é simples: qual a interpretação que se faz hoje do governo Dilma na área da cultura? O aprofundamento dos ataques da gestão de Ana de Hollanda à cultura brasileira carrega toda a crueldade dogmicida, toda uma matemática para fragilizar as bases sociais da cultura do Brasil. Ninguém acredita que isso seja uma caduquice da ministra. Os polos magnéticos que desviam o curso das políticas implantadas no governo Lula não nos deixam outro raciocínio que não um tratado feito por conjugação de forças de extrema direita criadas em laboratórios para se tornarem fatais a todos os avanços que tivemos nos últimos oito anos.

Mas essas transformações radicais que mais se assemelham com o pior dos exploradores estão em consonância com a palavra final da Presidenta Dilma? A opinião pública não faz outra pergunta. Dilma não está vendo esse jogo de músculos que parece um vergonhoso vale-tudo? Ou isso é um cavalo de tróia plantado pelos demotucanos via Grassi? É enorme a quantidade de brasileiros que já passaram da condição de descontentes com o MinC. A água já atingiu a fervura máxima.

Todos hoje falam de maneira firme do horror que é a política do MinC de Ana de Hollanda. Não há desenho esculpido ou pintura que mostre mais claramente que Ana atende a uma disciplina de um sistema imposto por corporações e que se transforma a cada dia em regimento no MinC, ignorando por completo a opinião da sociedade. Eles estão atacando e destruindo o programa Cultura Viva, a reforma da Lei Rouanet, sem falar que não sabemos como anda a reforma da LDA, o que sabemos é que a

ferocidade dessa política mudou por completo a paisagem da cultura brasileira em somente oito meses.

Espero sinceramente que as pessoas se coloquem de maneira mais explícita sem se restringirem às críticas francas. Não há mais tempo para guarda-freios, ou damos uma resposta direta a toda essa brutalidade do MinC ou nos transformaremos em assoalho dos barões do século XXI. Ana e Grassi são dois bonecos que atendem à nova arquitetura de poder que as corporações tentam construir pelas janelas da cultura.

A carta da Deputada Alice Portugal a Ana de Hollanda espinafrando o MinC não basta? A CPI do Ecad, um escritório tatuado na alma da ministra e na sua própria administração, todos os dias nos traz notícia de uma ação de cartel, de construção de uma máfia que invadiu o território da cultura brasileira. E com esse modelo que tem sonoridade de forma escancarada dentro do MinC reduzindo qualquer noção de moralidade pública não é suficiente para dar um xeque-mate nos caciques do MinC?

O Ministério da Cultura do Brasil certamente é hoje um dos símbolos a serviço do poder econômico, das transnacionais e seus movimentos globalizadores e seletivos. O MinC hoje é veneno na veia do povo brasileiro. Ou seja, é bom lembrar aos artistas, amigos particulares da ministra que foram à mídia defendê-la que, “O Veneno Está na Mesa”, na mesa da ministra da cultura.

Artigo 14: Estranha numerologia do direito à privacidade

http://www.trezentos.blog.br/?p=6290, 28 de agosto de 2011

Por Rodrigo Pereira

Algumas pessoas estão atentas quanto a questão da retenção do registro de IPs, principalmente com a situação do Brasil. E nesse contexto você se depara com estranha numerologia que soa como uma profecia ainda não cumprida. Independente de toda as idéias conspiratórias e místicas, podemos tirar uma lição e questões muito importantes sobre tudo isso:

“A provisão de conexão à Internet impõe ao administrador do sistema autônomo respectivo o dever de manter os registros de conexão sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança, pelo prazo máximo de 6 (seis) meses, nos termos do regulamento.”

Art. 14 da minuta do projeto do marco civil da internet

O tom ao qual foi escrito o tal artigo permite uma interpretação bastante irônica sobre o que seria esse “prazo máximo”. Principalmente quando se observa o projeto apresentado no congresso nacional ontem (dia 25 de agosto), o qual estente desse prazo “possível”, e agora fixo, para 1 ano. O que seria esse prazo máximo? Talvez um limite como “você será filmado por câmeras 24h por dia mas a câmera não passará do limite máximo da porta do banheiro”. Ou talvez lhe filmem por 6 meses e depois apaguem as filmagens. Parece bom, não é? Me parece que a sua privacidade vai ser reipeitada, ninguém vai te filmar tomando banho. Ou não? É óbvio que este artigo foi escrito dessa forma apenas para confundir, colocar a questão da retenção de logs como uma coisa estabelecida, mas que na verdade, não é. Exatamente como coloca Renato Opice Blum na última audiência sobre o projeto de lei Azeredo: “Logs é uma questão superada e consolidada”. Será mesmo? Retenção de logs está sendo debatida no mundo todo, recentemente uma lei na Alemanha de retenção de logs foi considerada ilegal por entrar em conflito com direitos fundamentais da

constituição desse país, assim como a diretiva de retenção de dados da União Européia se demonstra incompatível com muitas constituições européias. A malícia é gritante e muitas pessoas esclarecidas não perceberam.

Para ter uma idéa de prazos que sejam razoáveis, vamos olhar outro artigo 14:

“An IIS providing services related to information, the publishing business, and e-announcements shall record the content of the information, the time that the information is released, and the address or the domain name of the Web site.

An Internet service provider (ISP) must record such information as the time that its subscribers accessed the Internet, the subscribers’ account numbers, the addresses or domain names of the Web sites, and the main telephone numbers they use.

An IIS provider and the ISP must keep a copy of their records for 60 days and furnish them to the relevant state authorities upon demand in accordance with the law.”

Artigo 14 da lei que regula a Internet Chinesa.

Calma lá! Então quer dizer que a proposta de regras de retenção de logs de IP no Brasil é pior que as regras estabelecidas no país que mais censura e tenta controlar a internet no mundo? Você pode tirar suas conclusões sobre o que é pior: 60 dias ou 6 meses/1 ano. O que você acha? Alguma coisa me diz que o Governo Chinês gostaria de manter esses registros por muito mais tempo mas existe uma limitação de custos para isso. Afinal o Cardeal Richelieu já sabia: “Mostrem-me seis linhas escritas pelo mais honesto dos homens e eu encontrarei um motivo para enforcá-lo”. Registros antigos é algo que o Governo Chinês poderia usar muito bem contra qualquer pessoa que ousasse lhe desafiar. Só que em matéria de internet chinesa estamos falando de 457 milhões de usuários. Um volume imenso de dados para se guardar, tenho certeza que já tem um grande custo para fazer isso por 60 dias. O que demonstra também um total desconhecimento dos aspectos técnicos da retenção de logs por parte dos proponentes dessa lei.

Mas uma coisa que muitos chineses sabem fazer muito bem é se desviar dessa vigilância, e sobretudo dos bloqueios impostos a sites pelo governo.

Eles usam serviços de proxys e VPNs protegendo com criptografia pessada seu tráfego de dados e criando um rota alternativa dentro da internet para ocultar os dados finais ou os IPs que acessam. Isto é como um proxy ou VPN funciona genericamente: Ele pode deixar apenas uma informação para qualquer espião (os provedores) que estiverem no meio do caminho – Que a pessoa usou o IP do proxy para alguma coisa em determinado horário, nada mais. É análogo a usar um desses cartões pré-pagos para fazer chamadas internacionais: Na sua conta de telefone só vai constar que você ligou para um número local, quando, na verdade, você conversou com o Dalai Lama na India. Mas o governo nunca vai saber para quem você ligou, a não ser que tenha acesso a algum registro na empresa de ligações internacionais ao qual você usou. O que acontece com proxys e VPNs é que geralmente eles estão em outros países e fora da jurisdição. E muitos proxys são pagos e encaram a privacidade como um negócio, então pode acreditar que eles deliberadamente não mantêm logs de suas conexões como uma medida para se proteger e ao seu negócio, e também para proteger seus usuários.

Vamos a outro artigo 14:

“Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.”

Artigo 14 da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Muitas pessoas parecem exercer esse direito intuitivamente quando usam proxys ou VPNs para proteger a sua privacidade. Mas não por uma questão legal, mas técnica. Todos nós sabemos que Os Direitos Humanos são destreipeitados em todo o mundo, principalmente na China. Posso até esboçar um paralelo ao uso dessas tecnologias com a o índice de desrespeito aos Direitos Humanos.

Na China, tentam bloquear proxys, mas sempre há uma alternativa. Na Suécia, os usuários da Internet se defendem com próxies contra a diretiva de rerenção IPRED. Em Portugal, usuários de redes p2p são processados a partir de seus registros de IPs. Então, conclamo os Hackers, como todos nós, a montar nossa própria resistência com proxys e VPNs e qualquer nova tecnologia para assegurar o nosso direito à privacidade. Com certeza muitas pessoas acharão uma causa justa. Ou talvez você apenas enxergue nisso uma oportunidade de negócio para vender a privacidade que o governo insiste em tirar. A questão é: Se há

controle, pode acreditar que sempre vai haver resistência. Ela pode se dar de muitas formas: No front tecnológico, no âmbito legal ou no político. Nós vamos lutar.

• Minuta - http://culturadigital.br/marcocivil/debate/

• Lei na Alemanha – http://x.bardo.ws?rx

• Lei na Internet Chinesa – http://x.bardo.ws?ry

• 457 milhões de usuários na China – http://x.bardo.ws?rz

• Na Suécia – http://x.bardo.ws?s0

• Em Portugal - http://www.partidopiratapt.eu/arquivos/1101

• http://opartidopirata.blogspot.com/

Várzea Alegre: Porque querem o fim do anonimato online

http://www.trezentos.blog.br/?p=6299, 31 de agosto de 2011

Por Roney B

Fala-se muito aqui no Trezentos sobre o Marco Civil e a criminalização da Internet, no entanto creio que ainda não falamos o suficiente e além disso não devemos deixar passar em branco nenhum ataque á liberdade de expressão e ao nosso direito de cobrar dos políticos que não sejam corruptos.

Recentemente o prefeito de Várzea Alegre, José Helder Máximo de Carvalho, processou o Google para tirar do ar um blog anônimo que denuncia prática de corrupção em seu mandato (links no final do post).

O Google se recusou a tirar o blog do ar tendo sido condenado até o momento a pagar 225 mil reais mais 5 mil diariamente. Provavelmente ainda vão recorrer.

Pessoalmente não creio que empresas devem estar acima das leis locais, ou seja, ao ser obrigado pela justiça a tirar o blog do ar o Google deveria acatar a ordem.

Os responsáveis por impedir que nossas vozes sejam caladas por uma justiça que não atende os princípios da liberdade de expressão é nosso: seu e meu que estou aqui sem anonimato me colocando ao lado do denunciante anônimo querendo a explicação para uma obra de 140 mil reais estar no estado que está na denúncia vista no blog.

No entanto o mais importante aqui é: como um cidadão comum que morasse na região e constatasse as irregularidades poderia fazer as denúncias correndo o risco de encarar os gastos de um processo dessas dimensões?

Deve ficar claro para nós que o anonimato é um instrumento essencial nesse momento para que possamos ser informados das irregularidades dos

nossos políticos.

Sem o anonimato nossa democracia continuará se arrastando como fez nas décadas passadas quando raramente a corrupção era denunciada.

A onda atual de denúncias pode ser explicada em parte pelo confronto entre facções políticas, mas sem o olho atento da mídia, incluindo a mídia informal de jornalistas independentes que pressionam a mídia de massa se dedicar empenhadamente às denúncias talvez a onda não passasse de marola…

Não que ainda não seja apenas uma marola, podemos esperar um tsunami a caminho, mas para isso precisamos de instrumentos para fazer denúncias.

Não estou aqui defendendo a prática do anonimato, sou contra. Tudo que digo é de cara limpa e acredito no direito de fazer isso, mas o fato de uma denúncia ser anônima não desobriga o denunciado de se explicar.

Estou convencido que, no momento, o combate ao anonimato é impulsionado não pela preocupação com o crime digital, mas sim com a denúncia anônima de irregularidades muito bem identificáveis.

Referências

• Várzea Alegre Real – O blog processado - http://vazeaalegrereal.blogspot.com/

• Notícia no Gizmodo – http://x.bardo.ws?s3

• Lista de processos no Tribunal de Contas dos Municípios – http://x.bardo.ws?s4

• Vlogger comentando o caso – http://x.bardo.ws?s5

Coletivo pela liberdade na internet do Brasil conquista prêmio FRIDA

http://www.trezentos.blog.br/?p=6302, 2 de setembro de 2011

Por João Carlos Caribé

Movimento Mega Não foi a única iniciativa Brasileira a conquistar o prêmio internacional para as iniciativas que tenham contribuído com o uso da Internet como catalisador para a mudança.

O movimento brasileiro Mega Não foi anunciado ontem (01), como um dos cinco ganhadores do Prêmio FRIDA. Os jurados consideraram que o ativismo do projeto teve destaque na luta contra a censura de conteúdos na Internet. Como parte do Prêmio, o Mega Não representará o Brasil no 6º encontro anual do IGF e no LACNIC XVI.

Lançado esse ano, o Prêmio FRIDA é oferecido pelo Registro de Endereços Internet para a América Latina e o Caribe (LACNIC), o Centro Internacional de Pesquisas para o Desenvolvimento (IDRC) e a Internet Society (ISOC). Seu objetivo é reconhecer projetos e iniciativas que colaboram de forma significativa com o uso da Internet como catalisador para a mudança na América Latina e o Caribe. Seguindo a temática desse ano para o encontro anual do Fórum de Governança da Internet – IGF 2011, a premiação se dividiu em quatro áreas (acesso, liberdade, desenvolvimento e inovação) e ainda abriu espaço para a melhor campanha 2.0.

O Movimento Mega Não – criado por um grupo de ativistas para lutar contra o vigilantismo e pela liberdade na Internet – foi a única iniciativa brasileira a conquistar o Prêmio FRIDA. Concorreram 123 projetos de 34 países, incluindo Canadá, México, Argentina e Chile. Só do Brasil, foram inscritos 51 projetos, dentre os quais o Cidade Democrática, a Transparência Hacker e a MetaReciclagem.

O anúncio dos ganhadores foi realizado nesta última quinta feira, por meio do site oficial do Prêmio e por email:

Es un placer informarle que su proyecto fue elegido por el jurado del Premio FRIDA IGF 2011 como el mejor de la categoría Libertades. El jurado consideró su iniciativa como “un proyecto que muestra una destacada actividad a nivel público y político para evitar la censura de los contenidos de Internet”.

É um prazer lhe informar que seu projeto foi eleito pelo juri do Prêmio FRID IFG 2001 como o melhor na categoria Liberdades. O Jurado considerou sua iniciativa como “um projeto que mosta uma destacada atividade à nivel público e político para evitar a censura dos conteúdos da Internet”.

Além do Mega Não, foram premiados o uruguaio Plan Ceibal, na categoria acesso; a Red Educativa Mundial, na categoria Desenvolvimento e o argentino Mercedes y Marcos Paz Digital, na categoria Inovação. Como parte do Prêmio, os vencedores irão ao próximo Encontro Anual do Fórum de Governança da Internet em Nairóbi, no Quênia (27-30 setembro 2011) e no LACNIC XVI em Buenos Aires, Argentina (3-7 outubro 2011).

O reconhecimento Internacional por importantes instituições ligadas à governança da rede e ao fomento do desenvolvimento, demonstram que o Movimento “Mega Não” esta no caminho certo. Além dos frutos plausíveis nesta luta das multidões utilizando a web como principal ferramenta para seus objetivos.

A conquista do Prêmio FRIDA levará o Movimento Mega Não à um novo patamar, possibilitando alianças com movimentos semelhantes na América Latina e na Africa formando uma forte frente para garantir o direito de expressão e liberdade na rede em prol do progresso e da luta das minorias nestas nações.

Sobre o Mega Não

O Movimento Mega Não surgiu a partir da luta da sociedade Brasileira contra o PL 84/99 que havia acabado de retornar do Senado para a Câmara dos Deputados. O principal objetivo do movimento foi de concatenar em um único site todos os movimentos e eventos contra este projeto que irá criar uma forte camada de controle na web sob o argumento de coibir cibercrimes. A agenda de movimentos foi adicionado

uma série de estudos com o objetivo de embasar a luta pela liberdade na rede. O movimento a partir deste ponto foi ganhando visibilidade e hoje tornou-se sinônimo da luta pela liberdade na web.

• http://meganao.wordpress.com/

• http://www.premiofrida.org/por/

• http://lacnic.net/pt/index.html

• http://www.idrc.ca/EN/Pages/default.aspx

• http://www.isoc.org/

O MinC que fala grosso com os pobres e fala fino com os ricos

http://www.trezentos.blog.br/?p=6316, 4 de setembro de 2011

Por Carlos Henrique Machado Freitas

A triunfalista Ministra da Cultura, Ana de Holanda, ganha do valor econômico, em mais uma desastrosa entrevista, a etiqueta de “Menos show e mais ação”. E partiu mesmo para a ação de criminalizar cinicamente os pontos de cultura e defender vergonhosamente o Ecad e a Lei Rouanet.

Até aí nada de novo. Sob seu comando, o MinC, em oito meses de permanente crise, promoveu um desastre contra as classes sociais menos favorecidas e colocou os ricos no olimpo. Mas a Ministra na entrevista deu também um show de soberba e, ao mais puro estilo “comigo ninguém pode” fez seu primeiro arroto real sentada no trono, dizendo não temer a travessa das bananas, pois muitos que declararam guerra a ela, juravam que sua gestão não passaria das festas de São João, tripudia do alto de sua onipotência.

Durante a entrevista, a Ministra, de boca cheia, fala de sua tipoia, a Secretaria da Economia Criativa, mesmo que ninguém, nem mesmo a sua secretária Claudia Leitão tenha noção do que a Ministra exclama como augusta obra-prima em seu cenário de papelão já surrado até mesmo nos bastidores da política nacional. O Ministério da Cultura tem se revelado um fiasco tão grande que até seus canzarrões não levam mais a majestade ao pé da letra. Mas ela põe uma estrela na porta de seu camarim, suspira e segue saltitante na entrevista, “o apoio do mundo da cultura foi praticamente total”. Upa!

Ocorre que Ana de Hollanda criou um império de normas que dá cada vez mais força ao papel dominante das normas privadas na esfera pública. Isso mais do que desnorteou a atmosfera cultural do Brasil, produziu insegurança e medo de que a politização da cultura se generalize com

rapidez, além de outros processos negativos em diversos níveis do governo. E é neste momento que nas plenárias a presença de Ana se torna um processo distorcido. Coincidência ou não, já se tornou tradição o distanciamento do Palácio do Planaldo da imagem da Ministra. Na realidade é péssimo para a visibilidade de Dilma posar ao lado de Ana de Hollanda. E num típico fenômeno de quem não tem remédio, Ana praticamente não se encontrou com a Presidente Dilma, jamais esteve em seu gabinete para uma reunião, no máximo, chegou à Casa Civil.

Na verdade ninguém no governo quer levá-la a sério tamanha dificuldade que suas ações têm provocado com seus desequilíbrios e distorções na forma de agir na base estrutural do Ministério da Cultura. O MinC hoje mudou negativamente a paisagem geopolítica do governo Dilma. Preocupada em acomodar a fidalguia do Ecad e os Rouantes, institutos, fundações e os captadores corporativos associados, Ana, dentro do governo, virou macaco em loja de louça. Ninguém atura mais seu apelo exagerado de auto-piedade. Ela consegue o impossível a ponto de ser quase unanimidade negativa no território de nossa cultura.

Não há, portanto, a menor hipótese do seu vergonhoso sentimentalismo reverter essa pantomima de aforismos. A realidade é que todos estão cansados do niilismo original que se transformou em espetáculo de absurdos em um MinC contemplativo e redentor do mercado. É comum Ana ser considerada simplesmente como uma figura inventada na política, até porque jamais procurou inserir um pensamento humano que desse sentido à sua genealogia moral. Ana trabalha fortemente pelo poder dominante, é aí que ela aparece forte e contundente, sobretudo quando não aceita sob qualquer hipótese que o Ecad seja fiscalizado pelo Estado e, na entrevista, solta esta pérola de cinismo. “Não houve mudança. Eu nunca falei a palavra “fiscalizador” e continuo não falando”.

O fato é que, além dos cordeiros, e as aves de rapina que arrebatam milhões de recursos públicos via Lei Rouanet, não existe uma pessoa que não combata hoje esta “dourada vitória” da Minista sobre a cultura do povo brasileiro. Ela já nem disfarça mais que seu objetivo é, além de lutar para que os poderosos retomem a luz dentro do MinC, é sobretudo, criminalizar e isolar os pontos de cultura. E aproveita o ensejo para atacar milhões de brasileiros envolvidos com o Cultura Viva. “Se for para o Estado se tornar paternalista e assistencialista, eu sou contra. É preciso

buscar formas de independência da ajudinha do governo.”

Não podemos sequer dizer que Ana mercantiliza a cultura. Quando olhamos através do espelho do MinC, podemos dizer com consciência tranquila que Ana mercantilizou os aportes públicos justamente onde lhe convém, dando aos porcos da captação, os sutis iluminados do capitalismo cultural, o atrativo maior de suas vidas, milhões de recursos públicos. Portanto, agora, onde teceu um tratado com as trevas, a Ministra continua preparando as festas das “bodas de marfim” dos elefantes de ouro, institutos e fundações erguidos e sustentados com dinheiro público via Rouanet.

Na entrevista da Ministra ao Valor Econômico, o que não deixou dúvidas é que ela não pretende deixar qualquer lacuna entre o poder dominante e o MinC. E assim permitir que o ideal ascético domine a atmosfera cultural do Brasil. Igualmente, no entanto, a índole da Ministra deixa claro que todas as modificações ébrias para destruir as bases sociais da cultura brasileira serão tratadas como um sistema prioritário e, portanto, a marginalização e a aplicação metódica de penitências aos Pontos de Cultura serão sempre objeto de uma prudente preocupação de sua gestão.

A Ética da Mídia Tradicionalhttp://x.bardo.ws?re, 7 de setembro de 2011

Por Cacilhας, La Batalema – http://montegasppa.blogspot.com/

Hoje passei o dia no HMLJ, porque minha esposa passou mal.

Não ficamos esperando ser atendidos… fomos rapidamente atendidos e minha esposa passou por uma bateria de exames para tentar identificar a causa das dores. Fomos muito bem atendidos e minha esposa teve toda atenção que precisou.

Porém…

Enquando eu esperava por minha esposa, apareceu uma equipe de reporcagem reportagem da Band.

O repórter perguntou a cada pessoa que pôde se ela estava sendo negligenciada e a resposta era quase unanimente que a pessoa tinha sido atendida sem muita espera e estava sendo dispensada a atenção médica necessária.

Dada a resposta em favor do corpo de médicos, o repórter automaticamente se desinteressava daquela pessoa, indo para a próxima, até encontrar uma mulher muito zangada com o atendimento supostamente ruim – Onde? – que falou muito mal do hospital. A essa sim o repórter deu atenção.

Depois foi chatear o pessoal da fila de visitantes, sem ver que o paciente acompanhado pela tal mulher zangada, supostamente precisando de internação, saiu andando e vendendo saúde – só queria atenção mesmo.

Essa é a ética da mídia tradicional: não há investigação de fatos, a reportagem é pré-concebida na redação e o repórter pseudo-investigativo ignora todas as evidências contra a hipótese que se deseja provar.

• http://www.hospitalsworldwide.com/listings/12678.php

Vale a pena publicar um livro?http://x.bardo.ws?rh, 23 de setembro de 2011

Por Alessandro Martins - http://livroseafins.com/

Já se sabe que o mercado está saturado. Muitas matérias em jornais e revistas apontam esse momento de ajuste entre oferta e demanda de livros impressos. O fato é que há espaço para tudo e para todos, muito embora haja esta oscilação no momento. Algumas experiências apontam sucesso como, por exemplo, no caso da criadora do site blurb.com. Contudo, o sucesso da explosiva demanda de produção de livros (impressos) ainda não reflete com cuidado o que vai acontecer depois com os autores de livros. O que virá após?

Há muitas razões para que uma pessoa publique um livro, quer por uma editora convencional, quer por meio da autopublicação. Mas o objetivo da editora não é necessariamente o objetivo do escritor, portanto, as visões de lucros, custos e realizações pairam em circustâncias bem diferentes.

Na semana de 5 a 9 de setembro de 2011, o canal G1 divulgou uma série de reportagens, mostrando estratégias de escritores iniciantes que levaram ao sucesso. Isso mesmo! Vendo a reportagem, todo mundo vai acreditar poder ser um escritor finaceiramente e pessoalmente realizado. Porém, isso não reflete a maioria, a regra. O momento está difícil e complicado para todos os seguimentos. E a oferta de profissionais é e sempre foi farta. E nesse jogo de intuição, capacidade, cálculos e apostas muita gente boa acaba ficando para trás, ao posso que muito material ruim segue adiante, mas tem sempre uns azarões que surpreendem. O jeito, pelo visto, é apostar na informação, na criatividade, nas estratégias para seduzir um leitor que tem fama de ler pouco e um mercado que está sofrendo uma grande transformação.

• Digitalização - http://networkedblogs.com/mWUqQ

• Problemas de estocagem: superprodução de livros - http://x.bardo.ws?ri

• Alternativas para o futuro - http://www.nuvemdelivros.com.br/

• Excesso na autopublicação - http://x.bardo.ws?rj

• A criatividade e o estilo Nintendo - http://oxisdoproblema.com.br/?p=331

• De olho na bibliodiversidade - http://x.bardo.ws?rk

• Aqui tem mais. - http://x.bardo.ws?rl

Vou listar aqui para os escritores ou pretendentes a escritores algumas indicações para a autopublicação:

• Clube de Autores - http://clubedeautores.com.br/

• Fábrica de livros – http://www.fabricadelivros.com.br/

• Singular digital - http://www.singulardigital.com.br/

• Libro Virtual - http://www.librovirtual.org/

• AGBOOK - http://www.agbook.com.br/

• Simplíssimo - http://www.simplissimo.com.br/

• Lulu.com - http://www.lulu.com/

• Blurb.com - http://www.blurb.com/

• Perse - http://perse.doneit.com.br/

* Colaboraram com essa postagem os amigos do Livros, livreiros, livrarias e editoras e as meninas do Luluzinha-Camp.

• http://www.facebook.com/groups/livrosfb/

• http://www.luluzinhacamp.com/

Uma manifestação que já dura vários anos – #contraoaumento

http://blog.filipesaraiva.info/?p=368, 4 de setembro de 2011Por Filipe Saraiva

Esse post faz parte da Série #contraoaumento, que estou escrevendo sobre minhas impressões dos atos pela qualidade do transporte público em Teresina. Saiba mais neste link. (http://blog.filipesaraiva.info/?p=376)

Desde o dia 29 de agosto, uma segunda-feira, estudantes e moradores de Teresina fazem manifestação por qualidade no transporte público municipal. Serão agora, 5 dias consecutivos de manifestação. O estopim do ato foi o aumento do preço da passagem no apagar das luzes do dia 26 de agosto, sexta-feira, que elevou a tarifa para R$ 2,10.

O sistema viário de Teresina opera desde 1988 sem licitação. Teresina é a única capital do país que não tem integração entre as linhas de transporte. Não há qualidade no transporte no que concerne às especificidades da cidade: em Teresina, cidade muito quente, os ônibus não possuem cortinas ou vidros fumês para proteção solar, e nem um sistema de ventilação ou refrigeração adequados. A planilha que aponta qual é o valor a ser cobrado dos usuários do sistema é anacrônica (data de 1994) e sujeita a manipulações de todos os tipos. O acesso a ela é difícil, e até certo tempo era considerada lenda nos círculos de conversas dos que se importam com o assunto. Falando do mais básico: Teresina não tem parada de ônibus adequada! O ministério público estadual já ajuizou várias ações contra a prefeitura, por conta de todas estes pontos acima.

Acompanho a questão há pelo menos 9 anos, desde 2002. Durante esse tempo, meu interesse e participação gravitaram em vários níveis. Existem pessoas que acompanham a mais tempo; outras começaram recentemente. Basta lembrar que, ainda nos anos 80, ônibus foram queimados na UFPI pelos estudantes da época. Logo, temos um velho problema que se arrasta há anos em nossa cidade.

Sempre que houve aumento no preço da passagem, o SETUT, STRANS e PMT indicavam que o aumento havia sido dado pela planilha. E a planilha, invisível; ninguém sabia dizer onde estava. Enquanto o preço da passagem foi aumentando, em nada mudou a qualidade do serviço.

Os diferentes prefeitos que pude acompanhar os mandatos (Firmino, Silvio Mendes e Elmano) sempre foram muito prestativos com o SETUT. Por exemplo, a instalação dos cartões passe-verde foi paga pelos usuários do sistema, incluídas na dita “planilha”. Além de todo aumento pedido pelo SETUT ser prontamente atendido pelo prefeito de ocasião.

E os vereadores? Nesses anos todos, pouco fizeram. Nem eles tem ideia de como funciona a bendita planilha de custos do SETUT. E parece que pouco se interessam em saber, pois nunca houve um movimento com resultados práticos da casa para verificar ou debater o transporte público na cidade.

Em todos estes anos, todo aumento do preço levou à manifestação estudantil. A maioria delas foram mais tranquilas, pacíficas. Em 2005 houve radicalização – ônibus foram destruídos nas praças do centro e queimados na UFPI. A polícia enfrentou os estudantes no Fripisa, inclusive com tiros em nossa direção. Infelizmente, nada foi conseguido e as pessoas foram desmobilizadas.

Agora em 2011, as coisas estão bem diferentes. O ministério público, que entrou com representação no TJ-PI para auditoria da planilha e suspensão de aumentos de passagem em 2010, teve o ganho de causa deferido em 2011. A passagem deveria voltar a custar R$ 1,75, e só poderia haver reajuste após auditoria da planilha. O resultado do julgamento chegou no interessante momento em que a prefeitura já discutia mais um aumento de passagem.

O que a prefeitura fez? Ao invés de seguir a decisão judicial, ela utilizou sua própria procuradoria para garantir a manutenção do valor em R$ 1,90! Ela recorreu ao STJ e conseguiu derrubar a liminar do TJ-PI. Então, cidadão, entenda: você acredita que a prefeitura utilizou seu próprio aparato jurídico para derrubar uma decisão judicial que só privilegiaria os empresários do SETUT? Pois foi isso o que aconteceu.

Após conseguir a manutenção em R$ 1,90, a prefeitura aumentou

novamente o preço da passagem, agora para os já citados R$ 2,10. E sem esperar auditoria na planilha, sem dar indicativos da melhora da infraestrutura do sistema viário, enfim, sem nada para o passageiro – só o aumento ficou para ele.

Por tudo isso, a manifestação dos estudantes de Teresina, que começou na segunda e foi até esta última sexta, é mais do que justa. E ela trás em si um alento para todos aqueles que, menos anos mais anos, acompanharam a história da luta dos movimentos sociais em Teresina por um sistema viário de qualidade.

A decisão do prefeito Elmano de suspender o aumento da tarifa durante 30 dias (prorrogáveis por mais 30), até auditoria na planilha do SETUT, é uma vitória dos estudantes. Entretanto, ela indica outra questão: que essa luta, que já dura anos, pode durar ainda mais tempo.

Fiquemos de olho.

• http://blog.filipesaraiva.info/?tag=contraoaumento

Nas redes, nas ruas – #contraoaumentohttp://blog.filipesaraiva.info/?p=374, 4 de setembro de 2011

Por Filipe Saraiva

Algo interessante que o #contraoaumento (ou #aumentonaothe e, mais tarde, #vitoriadopovothe) mostrou foi quanto ao poder mobilizador que a rede dá para as pessoas, quando usada com inteligência e quando as pessoas querem ir às ruas também.

As formas de mobilização que se apoiam na comunicação via rede já deram várias demonstrações de força, em especial porque as manifestações que delas ecoam se tornaram, em sua maior parte, manifestações de grande proporção. Recomendo fortemente a leitura do texto da Aracele Torres, Da Rede para as Ruas, no qual ela faz um apanhado dos principais movimentos que ocorreram no mundo nos últimos dois anos que se utilizaram da internet como meio de comunicação catalizador, além de teorizar sobre as possibilidades de interação ciberespaço – ruas.

Para mim, a grande mobilização das pessoas nas ruas foi motivada pelo uso massivo das redes sociais. O prefeito aumentou a passagem na sexta a noite, o ato foi puxado para segunda de manhã. Como explicar aquele monte de estudantes nas ruas?

Lembro que na era pré-internet massificada, há poucos anos atrás, articular um a manifestação era muito complexa por conta da comunicação. No movimento estudantil, passávamos semanas planejando entre as várias entidades. Essas entidades deveriam avisar os demais estudantes de cursos e colégios específicos.

Passávamos então pelo boca-a-boca. Falas em corredores. Panfletagem em salas de aula, RU, biblioteca. Entrada em sala de aula. Carro de som rodando pela universidade… enfim. Esperávamos que as demais entidades fizessem algo parecido. E, no dia do ato, lá iam os que se importavam para as ruas.

Mas agora, a comunicação foi feita diretamente com os estudantes. Os que se importavam repassaram para o seu ciclo de amigos. E estes para seus respectivos ciclos. O efeito cascata foi potencializando a página do ato. Quem se interessava chegava lá e escrevia algo. Quem se interessava pelo que estava escrito, comentava. E assim o ato foi sendo articulado. E assim o ato saiu das mãos de entidades, organizações e pessoas que tiveram o oportunismo de se intitularem “líderes” do ato – apesar das sucessivas manobras e da iniciativa da mídia em apontá-los como tais.

Para mim, isso explica a presença massiva de estudantes secundaristas na manifestação. Universitários e populares que já passaram anos participando de manifestações olharam e se indagaram: “de onde saiu tanto estudante secundarista? Onde essa galera estava?”. Não dá pra dizer que foi alguma entidade secundarista, como UMES ou AMES, que articulou essa galera. E ainda, haviam muitos estudantes de escolas particulares da cidade. Essa galera viu a chamada do ato na internet – e foram às ruas. Sem intermediários, sem entidades burocráticas os “organizando”.

Além da própria articulação do ato, a internet serviu também para informar o que estava acontecendo, em tempo real. Manifestantes munidos de celulares com conexão à rede enviavam mensagens a todo momento. Tiravam fotos. Faziam videos. Ativistas que não puderam se fazer presencialmente, repercutiam esse material para os demais. Produziam textos, repassavam. Não é de se admirar, é notório que quem acompanhou a cobertura da manifestação pela rede achou-a bem melhor que qualquer outro portal de notícias, ou imprensa convencional, de rádio-tv-jornal.

Os estudantes fizeram a sua mídia e contaram a sua versão dos fatos. O jornalismo piauiense vai ter que conviver com essa questão daqui por diante: os manifestantes agora tem poder para também serem a mídia, e fazerem o contraponto ao discurso hegemônico de criminalização do movimento que repercutiu na maior parte dos veículos de comunicação da cidade (e do país também). De outra parte, as entidades políticas também terão que aprender como usar estas ferramentas para potencializar seus atos e entrar na guerra pela opinião pública – que sempre defendi. Para mim, a luta social é também uma batalha midiática. Se não nos atentarmos para este front, perdemos tudo.

Mas não caia no engano de que a rede é tudo. Fui entrevistado para o Cidade Verde, que deve sair na revista em setembro, sobre a importância das redes na manifestação. A jornalista me perguntou se a questão da redes foi o motivo do sucesso da manifestação. Falei que não: o que motivou o sucesso foram as pessoas nas ruas e a radicalização do ato. O que a rede propiciou foi um outro nível e estilo de comunicação e construção da memória do ato. Se por exemplo, as pessoas não estivesse afim de ir às ruas, ou se os motivos não fossem suficientes (o que são, há muitos anos), não haveria internet que conseguisse uma vitória, mesmo que inicial, sobre o SETUT+PMT.

Não vamos confundir as ferramentas de auxílio com o processo de luta em si.

Outra característica interessante deste ato é que, além da comunicação e construção do ato via internet, ela também foi utilizada como front de ataque direto.

Os sites de algumas instituições sofreram ataques conhecidos como defacement. Estes ataques tem como finalidade colocar uma mensagem de protesto ou chamada de atenção em um determinado site. É um dos ataques mais prezados por ciberativistas que pretendem espalhar mensagens. Neste ataque, normalmente bancos de dados ou contas de e-mail não são invadidos, mas há hackers que fazem vários ataques combinados, vazando dados e provocando o defacement também. Podemos, em certa medida, comparar o defacement com a pichação.

No primeiro dia de manifestação, o próprio site do SETUT foi alvo de um defacer. A mensagem colocada era a hashtag #contraoaumento, que linkava a página na rede Twitter onde os usuários trocavam mensagens sobre o ato. Esta invasão potencializou a manifestação de madrugada, levando a palavra SETUT a atingir os tópicos mais comentados da rede no Brasil, naquele horário.

No dia seguinte o site do PSTU também sofreu um ataque defacement. A mensagem falava de uma pessoa (alguém) que estava indignada com a questão do reajuste das passagens e da falta de mobilização da maioria da população.

Já na última sexta, último dia da manifestação, um grupo de hackers fez um defacement no site do Diário Oficial do Piauí, ligado ao governo do estado. A mensagem mostrava o apoio do grupo aos manifestantes do

#contraoaumento.

Será que agora teremos mais ataques defacement ou de outros tipos nas mobilizações sociais em Teresina?

Suspensão de descrença: como os games nos fazem aceitar o impossível

http://x.bardo.ws?ra, 7 de setembro de 2011Por Bruno Grisci - http://www.nintendoblast.com.br/

Quando estamos jogando, lendo ou assistindo a um filme ou programa, em geral não nos preocupamos com algumas coisas absurdas que acontecem nessas obras. O que nos faz aceitar tão facilmente que encanadores cresçam quando comem cogumelos ou que beber algum remédio genérico possa curar totalmente alguém?

Dá para acreditar?

A reação das pessoas mencionada acima recebeu o nome de suspensão de descrença, que basicamente refere-se a uma disposição voluntária dos espectadores de uma obra de ficção em abrir mão de certas premissas da realidade, como, digamos, a lei da gravidade, e passe a aceitar aquelas que são apresentadas pela história, não importando se são possíveis ou não. Você renuncia o julgamento racional que faria no mundo real (dizendo ao seu amigo que ele não irá voar se sair pela janela, por exemplo), esperando receber entretenimento em troca.

Um retrato de Samuel Coleridge, como devem suspeitar.Como bons curiosos, vocês devem estar se perguntando (ou não) como surgiu essa expressão. Pois bem, o primeiro a usá-la foi o poeta, crítico e ensaísta inglês Samuel Taylor Coleridge, em sua Biographia Literaria, de 1817. Como o próprio escreveu:

"... Foi aceito que meus esforços devem ser dirigidos a pessoas e personagens sobrenaturais, ou pelo menos românticos, mas de forma que transfira da nossa natureza interior um interesse humano e uma aparência de verdade suficientes para obter dessas sombras da imaginação a suspensão voluntária da descrença por

um momento, o que constitui a fé poética.” - Samuel Taylor Coleridge, Biographia Literaria

Esse conceito, é claro, não era totalmente novo, pois já era percebido desde a antiguidade, especialmente na Roma antiga, mas Coleridge deu destaque ao assunto.

Agora você está em outro mundo

E qual a importância disso tudo? A suspensão de descrença é especialmente significativa para a ficção, ou de outra forma a nossa capacidade de criação seria extremamente limitada. Imagine como seriam nossas histórias se exigíssemos uma grande verossimilhança, e tudo precisasse ser feito de acordo com a realidade. Poderíamos dar adeus à maioria das grandes obras, em todos os gêneros. Mesmo um enredo com a ação num mundo comum e pessoas normais necessita de alguns escapes para fluir, e então não precisamos nos preocupar tanto em como nosso personagem principal faz para ir no banheiro e outros fatos não tão importantes.

Link carregando seus itens: nada prático.Nos videosgames, esse fenômeno é claro. Se o Link consegue transportar todos aqueles itens embaixo de uma túnica verde, ótimo. Talvez onde vivemos isso não seja possível, mas, bem, Link vive em Hyrule, lá isso pode ser feito e ponto final, até porque ninguém gostaria de ter a tela da TV tapada por uma bolsa enorme recheada de itens. Mesmo em simuladores, que inclusive possuem fãs que defendem que quanto mais realístico, melhor, ainda existem coisas bem diferentes da realidade. Ou você acha que uma guerra em Modern Warfare é igual a uma de verdade?

Não, os jogos simplesmente não funcionariam se precisassem ser fiéis ao nosso mundo, até mesmo por questões de mecânica. O que acontece se falarmos com algum personagem e, logo após, falarmos novamente? Quase sempre ele repetirá exatamente o que disse antes, não importa quantas vezes seja necessário, bem diferente do que aconteceria na realidade. Essa é uma decisão tomada para que o jogador possa acessar novamente uma informação caso precise, e nós aceitamos isso. Outras quebras de realidade, como alienígenas falando inglês, baús de tesouro em locais aleatórios ou poder saltar de grandes alturas sem se machucar são decisões tomadas para facilitar a experiência.

Quebrando a suspensão

Apesar do que foi dito anteriormente, a suspensão de descrença nem sempre ocorre como deveria, por culpa do autor, na maioria das vezes. Afinal, se ela é voluntária, o público não engolirá qualquer coisa.

Considere isso: a suspensão de descrença libera a ficção de precisar ser fiel à realidade, então temos total liberdade para criar novos universos onde animais falam, carros voam e mágica existe. Estamos abertos para essa “nova realidade”. Mas isso não quer dizer que qualquer fato será aceito.

Alguém precisa dar umas explicações.Assim como um animal falante não faz sentido no nosso mundo, num outro onde animais falam, alguns deles serem mudos que não faz sentido (o que inclusive cria aquele tipo de discussão sobre porque o Pateta e o Pluto, da Disney, são tão diferentes, embora sejam ambos cachorros). Em suma, um universo ficcional não precisa atender às leis da nossa realidade, mas sim da sua própria. Daí vem o pensamento popular de que “você pode pedir à audiência que aceite o impossível, mas não o improvável”. A história precisa funcionar dentro de sua própria lógica, transformar nosso impossível em normal e mantê-lo consistente.

O que não falta são exemplos de enredos que se contradizem, até porque não é fácil criar vários elementos e encaixá-los como se existissem naturalmente. Certas decisões quase certamente causarão uma perda na suspensão pela inserção de algo desconexo na história, resultando, por exemplo, em Deus Ex Machina.

Nesse ponto, algumas pessoas podem ficar um pouco confusas. Afinal, estamos dizendo que existe total liberdade para a criação de um mundo, mas ao mesmo tempo ele obedece algumas regras. Então por que qualquer coisa que acontecesse não poderia ser aceita? Porque, apesar de diferente do nosso, esse mundo criado ainda obedece regras, as suas próprias, que surgiram junto com ele. Logo, é razoável aceitar que elementos destoantes causem estranheza ou até mesmo desconforto, não por serem inventados, mas por não harmonizarem com o resto da obra. Por isso, inclusive, que uma comédia que use esses “absurdos” como piadas não sofrerá com esse problema, já que uma de suas regras é a utilização desses recursos.

Jogar, ler e assistir a filmes é muito bom, e pode ser uma experiência ainda mais interessante se sabemos um pouco mais sobre o “interior” desses meios. Suspensão de descrença é um conceito bastante discutido e nos permite entender ainda mais como funcionam as narrativas.

• Deus Ex Machina – http://x.bardo.ws?rb

Quem faria bom proveito do WebOS?http://x.bardo.ws?ru, 26 de agosto de 2011

Por Fabio Luiz - http://falcon-dark.blogspot.com/

Prólogo

O mundo da indústria de TI parece cada vez mais maluco. O PC está virando uma espécie de commodity, aquele tipo de coisa que você compra sem pensar pois sabe que precisa de qualquer jeito, como gasolina. E ainda assim apresenta vendas estagnadas. Qualquer estacionamento de esquina tem um PC funcionando. Bancos, lojas de departamentos, supermercados, aonde quer que existam filas de consumidores há dezenas de PCs. Todos conectados em rede fazendo suas tarefas de formiguinha.

Em casa todo mundo tem (ao menos) um. Pelo menos todo mundo que está acima da linha da pobreza. E no primeiro a maioria das casas tem mais de um. E fica fácil de entender porque as vendas não evoluem. Diferente da gasolina não se compra PC toda semana. E como os Sony Vaio ficaram muito parecidos com os Acer (por dentro e por fora) o consumidor começou a achar que PC é igual Miojo, não importa o sabor que está escrito na embalagem todos tem o mesmo gosto.

No mundo do PC miojo commodity o mercado (ao menos nos EUA) passou a procurar diferenciais. E ainda que fosse impossível encontrar algum PC diferente por dentro a Apple estava oferecendo PCs diferentes por fora. E bem diferentes. Não conheço alguém que ache os Macs feios e todo mundo que já pensou em gastar mais do que R$4mil em um notebook certamente estava encarando um MacBook em alguma vitrine da vida.

E a explosão de mercado dos Macs aconteceu. Sim, explosão. Nos EUA eles já são responsáveis por mais de 10% da base instalada de computadores e no mercado de notebooks com preço superior a US$999 Macs respondem por 60% das escolhas dos consumidores. Na verdade

quando se fala de computadores caros praticamente só se vende Macs. Os PCs se tornaram a escolha de quem tem um orçamento apertado ou precisa de uma máquina com propósitos absolutamente genéricos. Esse movimento é tão forte que tornou a Apple o quinto maior fabricante mundial de PCs. Seria pouco não fosse o fato de que a margem por máquina vendida da Apple é seis vezes a obtida pela HP. Ou seja, a HP precisa vender 6 máquinas para conseguir o mesmo lucro que a Apple por cada PC entregue. Mas a HP não tem 60% do mercado. Isso significa que no mundo dos PCs miojo commodity quem mais ganha dinheiro é quem não transformou seu PC em miojo nem em commodity.

E por que isso é importante? Porque gerou momento e confiança para a Apple partir para o movimento da Era Pós-PC.

Deixando o PC para trás

A Apple capturou a atenção do mercado de tal forma que sentiu confiança para criar um tablet. Ela já tinha tentado ter um PDA antes, o Newton, quando o PDA parecia ser o bicho que destronaria o PC. A Palm não deixou que as ambições da Apple se tornassem realidade. Mas a maioria das pessoas olhava para o Palm e perguntavam: pra quê preciso disso? Para nada. E ele não destronou o PC.

O tablet não era novidade, a MS já havia demonstrado dezenas de vezes um notebook sem teclado rodando Windows XP. Mas as pessoas não queriam Windows nem em seus computadores, quem diria tê-lo em ainda mais dispositivos? Não me critique, essa é a verdadeira razão pela qual o Windows não vingou em nada que não seja um PC. As pessoas não querem aquilo em seus telefones, carros, GPS, etc. E se 90% da população do planeta fosse rica era o Mac OS quem teria 90% do mercado de sistemas operacionais. O share do SO da Apple condiz com o share da população que tem grana sobrando para comprar um computador. Ou seja, se as pessoas tivessem dinheiro para escolher não usariam Windows.

Mas mesmo depois de o mercado ter recusado o conceito de tablet algumas vezes a Apple sentiu-se confortável para tentar. Os sucessos de iPod e iPhone somados à grande tração dos Macs no mercado parece ter gerado na Apple a certeza de que sua versão para um conceito perdedor seria um sucesso. E foi mesmo. O iPad é uma unanimidade e a Apple

vende todas as unidades que consegue fabricar. Para o varejo isso é uma festa, quando mais iPads se compra, mais se vende. É como vender água no deserto.

A Apple sorri e diz que inaugurou a Era Pós-PC, onde as pessoas só precisam de um PC quando vão fazer algo muito complexo do ponto de vista técnico, como desenvolver uma aplicação para o iPad. E os fabricantes de PC, o que dizem dessa coisa de Era Pós-PC? Eles concordam!!! Como assim?

O que não tem remédio, remediado está

Os fabricantes de PC concordam que a Apple inaugurou a Era Pós-PC porque assim parece que a Apple está batendo nas empresas de equipamentos de telefonia móvel. Porque ele é um dispositivo de acesso à internet móvel. Se os fabricantes de PC quisessem que o iPad fosse classificado como um computador eles estariam em apuros porque a Apple então se tornaria a maior fabricante mundial de computadores pessoais, ou PCs. Nada mal pra quem estava falida em 1996 não? É melhor admitir que seu produto está uma geração defasado do que assumir que você não consegue competir em seu próprio campo com uma empresa que não leva o mercado corporativo a sério.

Se somarmos as vendas de Macs e iPads a Apple é a empresa que mais vende computadores no mundo. Mas a indústria do PC fez questão de dizer, ei isso não é um PC. É um legítimo representante da Era Pós-PC, portanto não é problema nosso. Quem foi tentar concorrer com o iPad? As fabricantes de celulares, obviamente. Mas elas nunca tinham feito computadores ou sistemas operacionais como poderiam fazer algo além do PC sem nunca ter feito um PC? Bom, elas não fizeram. Até agora nenhum produto foi capaz de superar o iPad. Tentaram e falharam as então gigantes do mercado de telefones RIM (BlackBerry), Motorola, Samsung e HP. HP????? O que a HP está fazendo nesta lista?

Comprei um par de asas, acho que posso voar!

A HP adquiriu a Palm para entrar no mercado de smartphones, tablets e sistemas operacionais móveis. Por alguma razão a direção da HP achou que gastar 1,2bi de dólares para entrar em um mercado ainda mais

competitivo e com ainda menores margens que o de PCs era uma grande idéia. A HP acreditou que o webOS, um brilhante SO desenvolvido sobre o Linux pela Palm para smartphones, em suas mãos poderia ser um forte concorrente no marcado dominado pelo iPad. Alguns modelos de smartphones foram lançados, sem alarde e sem sucesso, mas eram projetos da Palm e não houve motivo para preocupação. O HP TouchPad, esse sim, desenvolvido e comercializado pela propria HP é que mostraria o potencial da empresa.

A HP seguiu a mesma receita da Samsung, Motorola e RIM. Um hardware muito potente nos specs e muito fraco na prática. Em parte pela falta de cuidado no projeto, em parte pela falta de polimento no SO. Acontece que esses dois aspectos são onde a Apple brilha. Some a isso a escassez de aplicativos no momento do lançamento e você tem tablets que ninguém quer. Mas tem mais. Venda esses tablets pelo mesmo preço que o iPad. Aliás, não venda, porque eles não serão levados para casa por ninguém. Apenas um mês no mercado foi o bastante para que a HP percebesse o óbvio. Que não basta um rostinho bonito para concorrer com o iPad. É necessário um ou dois anos de projeto cuidadoso, elevado ao extremo em cada detalhe, para produzir um dispositivo ímpar. E depois vendê-lo tão barato a ponto de sangrar o caixa da empresa. Ninguém (nem a IBM) fez isso contra o Windows. Ninguém (nem a Microsoft) fará contra o iPad.

Ter um produto que venda mais que o iPad é algo tão difícil de executar (e tão perigoso) que nenhum CEO em sã consciência vai tentar convencer sua empresa a fazer. Seria preciso um CEO tão demente quanto o Steve Jobs com uma empresa tão fanática por seu lider quanto a Apple para criar um produto que concorresse com o iPad. Não vai acontecer. É uma verdade que a HP percebeu, que a RIM vai perceber em breve, que o Google vai perceber com a Motorola (mas não vai admitir nunca) e como a Samsung vai fingir não ter percebido. O iPad é o Windows da Era Pós-PC e, como tal, terá 90% do seu mercado até que o mercado decida que quer outro conceito. A diferença é que não vai durar tanto tempo. O reinado do iPad será mais breve mas tão absolutista quanto o do Windows.

Aos vencidos, as batatas

Ao perceber a eminência do xeque-mate a HP fez o óbvio. Enfiou a mão no tabuleiro e acabou com o jogo. Com um mês de mercado o TouchPad foi descontinuado. A HP aproveitou para aposentar também o webOS descontinuando o desenvolvimento de qualquer dispositivo móvel que pudesse usá-lo. E de brinde ainda falou que vai transformar sua divisão de PCs em uma empresa separada e tentar vendê-la a algum idiota outra empresa interessada em produzir porcarias baratas PCs para para empresas e consumidores. No melhor estilo "se não pode vencê-lo pegue a bola e vá embora" a HP deixa de concorrer com a Apple focando em serviços a empresas, segmento onde a maçã não atua.

A HP ressaltou que considera a hipótese de licenciar o webOS para terceiros, assim as empresas que se sentirem incomodadas com a compra da Motorola Mobility pelo Google podem usar o webOS como alternativa ao Android e ao Windows Phone 7, 8, 9...?

Isso é uma pena, porque eu acho que o webOS é a única alternativa viável ao iOS se o Google continuar mantendo o Android 3 fechado. O webOS não vai conseguir sair da casca em mais essa aventura. Porque seus concorrentes tem uma coisa que o pobre webOS não tem: um pai (ou mãe) disposto a gastar dinheiro para ver o filhote feliz. Google e Microsoft são enfiar as mãos nos bolsos e ajudar as empresas a subsidiar os custos de smartphones e tablets com Android e WP, para concorrer com o iOS. A HP, ao contrário, vai tentar cobrar para que incluam seu webOS na jogada. Não vai dar certo.

À alguém isto pode ser útil

Mas (e sempre tem um "mas") uma empresa pode usar o webOS para suas alimentar suas ambições. E pode até querer pagar por isso. Essa empresa tem como mascote um lagarto vermelho e é conhecida por uma raposa flamejante e há pouco tempo atrás anunciou que planeja desenvolver uma API que funcione via web e que gostaria até mesmo de ter seu próprio sistema operacional para smartphones. Acertou quem aí gritou Mozilla!

Eu aposto que neste momento tem alguém na Mozilla considerando licenciar o webOS para torná-lo o sistema operacional móvel da empresa.

Isso faria sentido pois além do webOS estar quase pronto para o mercado ele pode ser adaptado para ser uma API que funciona sobre outros sistemas operacionais e permitiria à Mozilla criar um ambiente universal para rodar suas Apps com uma interface consistente e uniforme em vários tablets, smartphones e até nos PCs.

Como a Mozilla já anunciou a intenção de ter ambas peças, um sistema e uma API, ela poderia chegar a um acordo com a HP para usar o webOS. Poderiam dividir a receita com a venda de Apps e publicidade na plataforma. A HP poderia rentabilizar o capital já gasto com a aquisição do webOS e a Mozilla acharia uma alternativa à única fonte de receita que tem que é a pesquisa em seu navegador para PCs. Seria bom pra todo mundo e o webOS sairia vivo.

Quem tem twitter não precisa de caminhãohttp://x.bardo.ws?k6, 28 de agosto 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Minha mãe fala que meu bisavô adorava frases de parachoque de caminhão. Ele anotava num caderninho. Tem algumas que ela fala que são bem interessantes, especialmente as acompanhadas de historinhas.

Tinha um sujeito que era apaixonado por uma menina chamada Glória, e colocou no caminhão "Boa era a Glorinha". O problema é que a mulher casou com o delegado que, ao saber que o caminhão tinha voltado à cidade com aquela frase, chamou o sujeito e o obrigou a tirar aquilo. No ano seguinte, ele chega à cidade com o caminhão trazendo uma nova frase: "Continuo com a mesma opinião".

Outra que acho legal é a do "Soldado e mulher feia comigo não passeia". O pessoal pegou o caminhoneiro e raspou a frase. Depois ele voltou com "Rasparam, mas não passeiam".

A necessidade de colocar frases para o mundo é tão grande que tem gente que nem tem caminhão mas tem "frase de parachoque" adesivada no carro. "O que eu tenho foi Deus que me deu" ou "É velho, mas está pago"... O legal é que, nos dias de hoje, todo mundo pode ter esse tipo de coisa. Quem tem twitter não precisa de caminhão!

Então, aproveito para listar alguns felizes proprietários deste e-caminhão, legais de se seguir, que têm um estilo bem parachoque mesmo:

O Criador (@ocriador)

• O Cristianismo não é opensource. Portanto parem de pegar Minha palavra, modificar e sair vendendo como se fosse sua.

• Meus filhos, cumprir 7 dos 10 mandamentos não os fazem passar por média.

• Não, filho, "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” não é

o slogan do Wikileaks.

• Na Minha "Computação em nuvem", dá para baixar espírito via torrent.

• O inferno hoje está um alvoroço: música alta, bebidas e fogos de artifício. Feliz dia do advogado!

Não é Amor (@naoehamor)

• Ironia é passar trote pra uma garota de programa e ela ficar puta.

• O amor não é aquilo que te ajuda a segurar a barra. O nome disso é instrutor de academia. O amor é outra coisa.

• O amor não é aquilo que não sai da tua cabeça. O nome disso é "Pôneis Malditos". O amor é outra coisa.

• O amor não é aquilo que te faz perder o equilíbrio. O nome disso é labirintite. O amor é outra coisa.

• Kiwi é uma fruta tão ruim que se fizesse parte da brincadeira 'salada mista' seria equivalente a uma dedada.

Piadas Nerds (@piadasnerds)

• Soldados-robôs movidos a bateria sobem o morro. Qual o nome do filme? R: Tropa de E-Lítio. #DiaDoSoldado

• O amor não é fogo que arde sem se ver. O nome disso é Metanol. O amor é outra coisa.

• Como uma mula-sem-cabeça zumbi come seu cérebro? // Não come, mas cozinha pros outros zumbis comerem.

• Estagiários são como Magikarps. Ninguém dá a mínima, mas quando evoluem (depois de muito tempo), todo mundo paga pau.

• Qual é a especialidade de um técnico em informática evangélico? R: Converter arquivos.

Frases Ditas (@FrasesDitas)

• "Fuja das tentações... Mas devagar, para que elas possam te alcançar"

• "A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda."[M.Quintana]

• "Um grama de exemplos vale mais do que uma tonelada de conselhos"

• "É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que vc é um idiota do que falar e acabar com a dúvida"[A.Lincoln]

• "Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer."[C.D.Andrade]

Sábio Brasileiro (@SabioBrasileiro)

• Todo furacão tem nome de mulher: Katrina, Irene, Rita... acho que os cientistas já comprovaram que uma mulher faz tanto estrago quanto eles.

• Steve Jobs não é mais presidente da Apple e vai mudar o nome para Steve Vacations.

• "Rir é o melhor remédio". Chega na farmácia e pede 20mg de HAHAUHAUAHUAHUA pra dor de cabeça então.

• No Mister Pizza você come pizza. No Burguer King você come um hamburguer. Pela lógica, no Subway voce devia comer um metrô.

• Como responder algo no Yahoo Respostas: fale algo idiota e no final, escreva "MAS PROCURE UM MÉDICO E ELE TE AJUDARÁ MELHOR"

E claro, não deixem de me seguir (@carlisson), o GUSLA (@guslabot) e a banda Infinnita (@infinnita)

• O Criador - http://twitter.com/OCriador

• Não é Amor - http://twitter.com/naoehamor

• Piadas Nerds - http://twitter.com/PiadasNerds

• Frases Ditas - http://twitter.com/FrasesDitas

• Sábio Brasileiro - http://twitter.com/SabioBrasileiro

• Cárlisson - http://twitter.com/carlisson

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• Infinnita - http://twitter.com/infinnita

A História dos Games: Nintendohttp://x.bardo.ws?l4, 6 de setembro 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

A Nintendo já dominou dividiu os domínios do mundo dos jogos eletrônicos com a SEGA em eras passadas. Depois "sumiu" do mapa e hoje tem foco novamente, apesar de não estar tão bem assim nas rodadas mais recentes...

Segundo a Wikipedia, Nintendo é um provérbio japonês que significa "Deixe o destino para o céu". Apesar de a era dos videogames ser bastante recente, a empresa já tem mais de 100 anos. Claro, atuava em outras áreas antes dos eletrônicos chegarem. Criava baralhos especiais, pode-se dizer assim. Ao ver seus negócios ameaçados pelos jogos eletrônicos da Atari e Bandai foi que, na melhor filosofia "se não pode vencê-los, junte-se a eles", ela mergulhou nesse mercado que crescia.

O primeiro produto dela nessa área foi um tal de Game & Watch, que era como um minigame de um jogo só. O formato é curioso, pois inspirou o atual Nintendo DS. Mas vamos por partes.

O sucesso da Nintendo creio que começou com o Donkey Kong. A partir daí, alguns arcades e anos passaram até surgir o Nintendo Entertainment System (NES, 8 bits), o Game Boy (portátil), o Super Nintendo Entertainment System (SNES, 16 bits). Depois disso, a Nintendo perdeu sua força. Veio o Nintendo 64 contra o PlayStation, mas era o início da Era Sony. Depois, a Nintendo ainda tentou com o Game Cube.

A Nintendo voltou a chamar a atenção do mundo dos consoles em 2006, com o Nintendo Wii, um console com uma nova forma de interação. O jogador teria movimentos captados com o Wii-Mote, e os movimentos seriam reproduzidos no jogo. Em jogos de tiro é possível empunhar o joystick, ou girá-lo em cenas de espadas ou jogos de tênis. Assim, enquanto os outros fabricantes de jogos investem no realismo e no poder de processamento e renderização, a Nintendo vinha trazendo novos

conceitos. Devido, além dessas características bem particulares, ao menor custo, o Nintendo Wii ganhou algum mercado e encarou os concorrentes da Sony e da Microsoft.

Claro, não foram só os conceitos que mantiveram a Nintendo no topo no século passado e hoje a mantêm competitiva, foram os jogos. A Nintendo tem costume de fazer jogos focando a diversão pelo jogo, pelo que ele traz e não necessariamente pelo realismo, como parece ser a regra das outras hoje em dia. Personagens consagrados como Super Mário, Link (de Zelda) e Samus Aran (de Metroid), com reforço da turma do Pokémon anos depois. Pessoalmente, eu prefiro jogos dos consoles da Nintendo. A impressão que tenho é exatamente a que falei neste parágrafo: os outros estão focando muito o realismo e às vezes os jogos se tornam divertidos além de realistas. A maioria é apenas realista.

No mundo dos portáteis, parece-me que a Nintendo sempre reinou (ou pelo menos nunca perdeu de goleada, digamos assim). O cinzento GameBoy se manteve na sua época, mesmo com concorrentes coloridos como o Game Gear... E em 2004 veio o Nintendo DS que, assim como o Wii, trazia sua própria inovação: uso de duas telas, uma superior e outra inferior, sendo a inferior sensível também a toque. Este ano saiu o 3DS, que acrescenta, além do direcional em cruz, um manche (comum nos joysticks de uns anos pra cá, para jogos 3D) e a capacidade de enviar imagens diferenciadas para cada um dos olhos do jogador, criando assim imagens tridimensionais. Seu principal concorrente é o PSP, da Sony. Recentemente, anunciaram uma significativa redução de preços no Nintendo 3DS, visando a não perder mercado.

Nos consoles está previsto, no próximo ano, o Wii U, que trará joysticks com telas de 6 polegadas, sensíveis a toque e com acelerômetro e giroscópio. Será o suficiente para se manter no páreo? O tempo dirá.

• Nintendo - http://en.wikipedia.org/wiki/Nintendo

• Wii U – http://x.bardo.ws?1o

A Plataforma Nintendo DShttp://x.bardo.ws?n8, 22 de setembro 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Sempre admirei muito a Nintendo, mas fiquei longe dela por anos. Há um tempo tive contato com o líder no mercado de videogames portáteis da atualidade e realmente o que a Nintendo fez foi algo muito bom.

O Nintendo DS é a plataforma de videogame portátil que sucedeu a plataforma Game Boy Advance. Falo de plataformas porque essas duas plataformas começaram com um modelo só e terminaram recebendo companhia de outros modelos, mas ainda para o "mesmo mundo".

Para quem esteve viajando nos últimos anos e não conhece o Nintendo DS, aqui vão alguns conceitos que o tornam especial:

1. Já nasceu com uma infinidade de jogos à disposição, já que roda também jogos do Game Boy Advance (o mesmo que acontece com o Nintendo Wii, que roda jogos do Game Cube além dos seus próprios)

2. Controles estilo Super Nintendo. Com isso quero dizer exatamente: um direcional em cruz, mais quatro botões distribuídos em losango - Y, X, B, A -, mais dois botões a serem usados com os indicadores: os famosos L e R;

3. Duas telas: isso pode parecer confuso e tal, mas é fantástico você poder andar por um labirinto numa tela vendo o mapa em tempo real na outra, ou ver outras informações igualmente úteis.

4. A tela inferior é sensível ao toque. Aqui está o toque de mestre da Nintendo neste console. Hoje pode parecer trivial esse conceito, mas o Nintendo DS original foi lançado em 2004.

5. Também tem um microfone no aparelho.

6. Aparelhinhos próximos podem se comunicar para que jogadores joguem em rede, bastando estarem próximos fisicamente.

7. Acesso à rede da Nintendo através de Internet sem fio, permitindo que se jogue online com amigos (através da troca de um código gigantesco) ou com desconhecidos.

8. A sua estrutura faz com que ele se feche em si mesmo para ser guardado, protegendo as telas e os botões de controle. Isso é algo simples a princípio, mas é fantástico pela proteção que se dá ao equipamento e por funcionar como um "stand-by" instantâneo. Basta fechar o aparelhinho que o jogo é pausado, tudo é suspenso e ele entra em modo de economia da bateria. Reabrindo-o, ele volta instantaneamente ao ponto do jogo onde tinha parado.

O uso da tela sensível varia de jogo para jogo. Em parte deles é apenas uma forma alternativa de interação (além dos botões), em outras é a única forma de interação.

Há um jogo com o Yoshi que começa com o bebê Mário despencando pendurado em balões de ar. A caneta é usada para criar nuvens que desviem o Mário dos obstáculos até que ele chegue ao chão em segurança e o Yoshi possa pegá-lo.

Feel the Magic, da Sega, tem uma mecânica simples, mas usa e abusa da tela sensível. O personagem principal tem que enfrentar os mais diversos desafios em várias fases para conquistar uma garota.

Em Zelda: Spirit Tracks, o controle do Link (personagem principal da franquia Zelda, para quem incrivelmente não conhece) é feito com cliques na tela. Golpes de espada são feitos deslizando a canetinha na tela no sentido que o jogador quer que Link desfira golpes. E o mais legal é a flauta sendo tocada: o usuário sopra no microfone e desliza a flauta para os lados usando a canetinha. É um conceito muito simples e muito divertido.

Sem contar o sucesso Nintendogs, jogos de Pokémon, de outras

produtoras tempos Sonic, Castlevania, Final Fantasy... Acho que já deu pra dar uma ideia de como é o mundo do Nintendo DS, ao menos em conceito. Agora, os consoles...

Depois do Nintendo DS, a Nintendo lançou o DS Lite, uma versão otimizada, reduzida, com bateria melhor. Depois veio o DSi, acrescentando câmera, recursos melhores para conectividade e compra de jogos na forma online pelo DSiWare. Até aí trata-se basicamente da mesma plataforma (apesar de DSi permitir algumas gracinhas que o DS não permite, não se vê jogos por aí feitos para DSi). A coisa mudou este ano com o 3DS, que cria uma nova plataforma.

Em tamanho, pelo que li a respeito, o 3DS é bem aproximado do DS Lite. As diferenças principais são os acréscimos para jogos 3D. Além de uma capacidade de processamento e renderização muito superiores à do DS, o 3DS acrescenta um direcional analógico e é o primeiro dispositivo vendido capaz de gerar efeito de 3 dimensões sem necessidade de óculos especiais. Vê só... Como se não bastasse, ainda acrescenta acelerômetro e giroscópio.

Ainda traz três câmeras (duas frontais, que permitem captura de imagens em três dimensões) e vem com um pacote de softwares.

Algo que achei curioso é que o Nintendo DS parece fazer homenagem ao primeiro videogame da Nintendo, o Game & Watch (assim como o controle do Wii lembra um controle de um videogame pré-histórico que não recordo no momento). Se foi intencional, é muito bacana esse resgate em forma de homenagem, ao mesmo tempo em que traz novidades reais ao mundo dos jogos, que vão além da busca frenética por mais poder de processamento.

O que sempre gostei da Nintendo foi que ela costuma focar a diversão. Jogos de Nintendo 8 bits continuam divertidos até hoje, o que é bem diferente dos jogos atuais dos outros fabricantes. Parece que a regra é fazer jogos o mais realistas possível e torcer pra que isso os torne divertidos. Alguns conseguem ser divertidos, mas a maioria não.

Continua admirando essa empresa, mesmo que seja um ícone do mundo privativo. Fazer o quê? O mercado dos jogos é um mercado caro de se entrar... Seria muito bom se aparecesse uma arquitetura aberta de console de última geração, com APIs e toolkits amplamente disponibilizados.

Creio que muitos jogos incríveis apareceriam, grande parte feitos pela própria comunidade. Enquanto isso não acontece, fico aqui torcendo para ter oportunidade num futuro próximo de me atualizar no mundo dos games de forma mais prática e de ter meu Wii e meu 3DS (se eu pudesse escolher de graça entre Playstation 3, Xbox 360 e Wii, eu ficaria com o Wii).

• Nintendo DS – http://x.bardo.ws?sa

• Yoshi - http://x.bardo.ws?sb

• Feel the Magic – http://x.bardo.ws?sc

• Game & Watch – http://x.bardo.ws?sd

Cordel Encantadohttp://x.bardo.ws?oi, 25 de setembro 2011

Por Cárlisson Galdino – http://www.carlissongaldino.com.br/

Cordel Encantado acabou. Foi muito bom o fato de terem dado valor à Cultura nordestina (mesmo que na forma de homenagem). Também foi muito bom terem feito mais uma novela que foge daquele cenário atual urbano Rio-São-Paulo. Agora que acabou, vamos falar um pouco do que foi essa novela.

Para quem não conhece, o cordel é bastante forte e tradicional no Nordeste brasileiro. Já existia em Portugal e aqui ganhou força. É bem verdade que antes mesmo do cordel português, poesias épicas enormes sempre tiveram lugar nas mais variadas líguas e culturas.

Cordel é uma poesia enorme, mas com características próprias. O nome vem do hábito de ser vendido em feiras, em livretos (um livreto por história/poesia), pendurados em barbantes, chamados na época de cordéis. Hoje o cordel continua vivo.

São temáticas comuns em cordel os casos regionais e as pelejas. Usam-se elementos folclóricos por vezes, como lobisomem e mula sem cabeça; por vezes envolve-se personagens memoráveis como Lampião e Seu Lunga. A peleja é uma disputa, fruto de um duelo entre dois personagens. A peleja pode ser um registro de uma disputa de repentistas ou pode retratar um confronto hipotético ou fictício.

Quanto à capa, há os mais diversos tipos de ilustrações: fotos de lugares, fotos de esculturas (como é o caso dos cordéis do pernambucano Mestre Galdino) e desenhos em papel (ou em computador, como os meus). Apesar de todas essas possibilidades, o mais comum e o realmente tradicional é o uso de xilogravuras. O procedimento é: esculpe-se em madeira uma espécie de carimbo para a imagem do cordel, daí imprime-se a imagem.

Pessoalmente, tenho alguns cordéis meus por aqui. Em especial,

recomendo o Cordel da Pirataria, a Peleja de Pelé contra Roberto Carlos, o Castelo do Rei Falcão e o Cordel Digital, como exemplo desta literatura. Fugindo um pouco das regras de cordéis, recomendo os cordéis Castelo Gótico, Você tem os fontes também e Asas Negras.

Agora falando da novela especificamente, vamos começar pelo seu ponto mais forte: a abertura.

Primeiro, a música do Gilberto Gil é excelente. Passa um ar épico por si só e resume o roteiro, em parte. Coisa de gênio que ainda não deixou de pensar e de inventar coisas novas.

Já a animação é outra pérola. Inspirada na xilogravura, mas com conceito de camadas, com sombra e com movimentação dos elementos, me chamou muito atenção e me fez imaginar como seria bacana um jogo eletrônico inspirado em xilogravuras, nesse jeitão. Alguém se habilita a fazer um? (ou já conheceu algum assim?)

Quanto à novela em si, ela foi feliz ao trazer o foco para o mundo do Cordel. A ideia de juntar rei e cangaceiro é por si um elemento rico se bem explorado. A princesa sumida... O figurino foi bem trabalhado, atores muito bons. O prefeito de Brogodó, por exemplo.

Era uma novela que tinha tudo para ser fenomenal: um bom conceito, boa equipe de produção, bons elementos chave... Algumas coisas, porém, não funcionaram tão bem quanto poderiam.

O conflito dos cangaceiros com o vilão da história, o coronel Timóteo, foi muito infeliz. A infantilidade de imaginar que homens forjados na batalha do dia a dia dentro da mata teriam pena de matar o sujeito nas infinitas oportunidades que apareceram, ou de deixá-lo pegar armas no chão quando estava rendido e cercado, e atitudes similares, fizeram os cangaceiros parecerem mais com senhoras beatas do que com cangaceiros de fato. Pode-se dar um desconto à falta de violência deles devido ao horário em que a novela passou, mas não à falta de sagacidade.

Apesar de o cordel fazer uso muitas vezes de elementos externos, como referência, homenagem ou mesmo releitura de clássicos, a novela abusou do recurso. O Homem da Máscara de Ferro, o Fantasma da Ópera, o Conde de Montecristo, dentre outros. É bacana esse tipo de homenagem. Quando você escreve uma história de alto nível, criativa, o uso de elementos externos enriquece a sua história e é digno de elogios. Quando

você escreve uma história que se desenrola de um jeito meio forçado, repetitivo e previsível, o abuso das referências pode levar a crer que as homenagens não são bem homenagens, mas tábuas de salvação na falta de criatividade.

Não há muito o que falar sobre o último episódio. É a forçada de barra extrema de sempre. Todos os personagens se acertam, se casam e tudo se resolve. Até passa o que aconteceu vários anos depois pra ficar provado que todos se acertaram muito bem acertado. Parece até que o quão bem termina a novela é usado como prova de competência do autor. Detesto mesmo isso. Não há nada mais artificial.

Por fim, volto ao que disse no início: parabéns à Globo pela abertura da novela, pela ideia de fazer uma novela inspirada em cultura popular nordestina e pela fuga da mesmice. De qualquer forma, no balanço geral foi muito melhor que a média das novelas que ela faz. Agora que acabou, posso voltar à minha vida sem novelas.

• Cordel Encantado - http://cordelencantado.globo.com/

• Cordéis do Bardo – http://x.bardo.ws?se

• Cordel da Pirataria – http://x.bardo.ws?bt

• Peleja de Pelé contra Roberto Carlos – http://x.bardo.ws?0o

• O Castelo do Rei Falcão – http://x.bardo.ws?ld

• Cordel Digital – http://x.bardo.ws?1j

• Castelo Gótico – http://x.bardo.ws?am

• Você tem os fontes também – http://x.bardo.ws?3x

• Asas Negras – http://x.bardo.ws?6h

Vida de Programador

http://x.bardo.ws?s8, 1 de setembro de 2011

Vida de Programador

http://x.bardo.ws?r2, 3 de setembro de 2011

Vida de Programador

http://x.bardo.ws?s9, 20 de setembro de 2011

Marfim Cobra – Parte 5/8Marfim Cobra está disponível na íntegra em http://mc.bardo.ws/ e para

venda em http://www.bookess.com/read/7286-marfim-cobra/

Por Cárlisson Galdino

Sábado, 13 de junho. Maceió está mais deserta à noite, desde o dia em que um esqueleto começou a caminhar sobre seu chão. Pobres mortais, que não conhecem a face de seu salvador...

Marfim aparece. Mas não onde queria. Está na mesma rua de onde saiu, diante do corpo fulminado pela luz laranja.

"É claro! Não deu certo. Se não sei como é o inimigo, como posso chegar a ele assim? Pelo menos, agora sei que isso funciona. Mas, quem eu devo procurar?" Pensa Marfim e pára pra refletir por algum tempo. "Claro! Áquos!" Ele concentra energia, aponta o braço para seus próprios pés e parte a serpente de energia branca, que o envolve em um casulo. O casulo desaparece e Marfim ressurge no mar.

É dia, e Marfim se vê imerso nas águas do oceano, diante de Áquos, mas não do Áquos que conheceu. Está diante de um Áquos ferido, apoiado no tridente. Áquos fez sinal para que o seguisse e saiu. Marfim o acompanhou até a praia. Lá poderiam ter uma comunicação melhor. Áquos parecia estar mal.

- Onde estamos? - pergunta ao enfraquecido Áquos.

- Onde estamos... Não sei. Numa ilha, eu acho.

- E eles? Lunar e Corvo?

- Devem estar recuperando suas energias. Corvo no céu e Lunar em alguma montanha ou algo assim.

- Pode me dizer o que exatamente aconteceu?

- Claro. Vim em busca de zumbis e encontrei um bom punhado de esqueletos miseráveis. ...sem querer ofender.

- E como estão?

- Como deveriam: mortos.

- Não sabe como isso me deixa mais tranqüilo. Disseram-me que havia um novo avatar de Fimiq, pensei que...

- Quem disse isso?

- Um homem misterioso, que disparava raios laranjas...

- Raios laranjas!?! Não pode ser!

- Qual o problema?

- Tem certeza de que eram laranjas?

- Sim, claro.

- Eram poderosos?

- Sim, mas me diga qual é o problema?

- Só conheço um ser que dispara raios laranjas e fortes. Redry, em sua forma humana.

- O deus da vida?!?

- O próprio.

- Isso significa que...

- ...se já houve tempo para se formar um avatar, pode já existir outro.

Eles param e pensam por algum tempo. Por alguns instantes imaginam como seria se Fimiq conseguisse vir à Terra. Sabe-se que raríssimos são os que conseguem sobreviver a um combate contra um avatar. Eles pensam em silêncio, temendo terem que combater alguém assim. E o silêncio permanece, até que Marfim nota quão cansado está seu colega.

- Você recupera energia no mar?

- É.

- Pois é bom ir descansar: você está péssimo.

- Tem razão. - ele se vira e volta ao mar, em passos lentos.

Marfim Cobra está só na praia. A praia está deserta, com certeza por causa desses tantos incidentes envolvendo seres sobrenaturais. Ele resolve

caminhar, e caminha pela praia por uma ou duas horas, até ver um ponto se aproximando pelo céu. Marfim parou e esperou que chegasse a ele. O portador do punhal das serpentes cria ser o Corvo, desde o princípio. À medida em que se aproximava, tinha mais certeza disso. Ele chegou e pousou diante de Marfim.

- O que houve com suas roupas? - perguntou.

- O tempo, as batalhas... E você, está melhor?

- Estou, o brigado. E você? O que faz aqui? Passeando?

- Talvez Fimiq tenha conseguido vir à Terra como avatar.

- Sério? Que bom, pois estou com uma vontade de arrebentar a cara dele...

- Não brinca. O caso é sério.

- Como você veio aqui? Não me diga que foi por magia...

- Foi, algum problema?

- Claro! Uma viagem tão longa pode ter deixado seus poderes mágicos no fim do poço. - fala Corvo, mas Marfim não responde. - Você não pode enfrentar Fimiq assim. Tem que reabastecer as forças.

- Não, eu me sinto ótimo.

- Não diga... Tente usar o mesmo poder.

- Em quê?

- Sei lá! Qualquer coisa. - Eles olham em volta e vêem alguns pássaros voando perto. Marfim aponta o braço direito para lá, concentra energia e... nada. Concentra mais, e nada. Na terceira vez a serpente branca sai, para sumir após percorrer apenas três metros, dissolvendo-se no ar como fumaça.

- Não lhe falei?

- É, você está certo. O que faço para carregar?

- Como vou saber? Cada um de nós tem como santuário um tipo de canto diferente. A resposta deve estar no seu passado. A propósito, também preciso recarregar mais minhas energias mágicas. Preciso ir, só passei mesmo pra dizer "oi".

- Tá, obrigado.

- Por nada. - fala o Corvo que, já prestes a decolar, pára e diz - Ah, antes que eu me esqueça: Oi!

E vai embora para o céu.

"Bem, no meu passado... Onde eu poderia recarregar minhas energias?" Marfim reflete por alguns segundos, até chegar a uma conclusão: "o cemitério!" Isso! Todos os problemas estariam resolvidos.

"Mas... onde acho um cemitério?" Agora a preocupação retorna. Mas não há muito o que pensar, só há um modo de resolver esse problema: sair à procura de um. Ele sai na esperança de encontrar. Caminha e, só algumas horas depois de iniciar a busca, finalmente encontra um lugar de repouso dos corpos de quem já cumpriu seu papel na Terra. Já era noite quando o encontrou. Mas não estava tudo certo. Havia algo errado e Marfim não tinha certeza de qual era o problema. Havia apenas uma sensação estranha, uma sensação de que o perigo estava próximo. Não estava errado. Quando diante do aterrador prédio, dos dois extremos da rua vinham esqueletos. "Lá estão mais deles..." Eles se aproximam em passos sem pressa, alguns mais rápidos, outros mais lentos, mas sem pressa para chegar.

Marfim Cobra lutou, com seu Punhal das Serpentes, e derrubou os esqueletos, um a um. Terminada a batalha, seu corpo estava exausto, e de novo se viu cansado, e precisando de repouso. Ele caminhou em direção ao cemitério e nele entrou. Uma vez lá, andou até bem próximo de seu centro. Já era noite e Marfim se sentou e tentou relaxar. Conseguiu fazê-lo em poucos minutos. Dormiu. Dormiu sem que chegasse a perceber que alguém o vigiava. Dormiu sem saber que, no instante em que fez isso, todo o seu corpo desaparecia. Dormiu sem perceber que, no centro do cemitério, só havia agora seu punhal: o Punhal das Serpentes. Dormiu sem saber que nele havia agora, no fim do cabo, um pequeno e aparentemente decorativo crânio branco. Dormiu sem perceber que na verdade estava sendo chamado.

E lá estava mais uma vez naquele escuro sem fim. Lá estava Marfim Cobra em uma escuridão iluminada por alguma luz inexistente, com uma névoa branca que lhe alcançava os joelhos. E de novo lhe apareceu aquele ser com seis braços e duas pernas, embora, exceto por esse último

detalhe, parecesse totalmente humano. Sim, era mesmo o deus daquela corajosa pilha de ossos. Era aquele de cujo nome Marfim não ousaria esquecer.

- Kin-Rá. - deixa escapar o nome de seu deus, enquanto abaixa a cabeça.

- Levante-se. - fala a voz de Kin-Rá, carregada de justiça e luta. Marfim o faz. O silêncio perdura por longos minutos, enquanto o sobrenatural justiceiro começa a ficar angustiado pela demora. Mas Kin-Rá finalmente recomeça. - Você já sabe que perigo enfrentará. Você já conhece, por palavras e feitos, o inimigo da vida. As batalhas que seguirão não serão fáceis, pois ele é o que promete vida eterna sobre a Terra, e poder. Erguer-se-ão, em pouco tempo, generais mortos-vivos de todas as partes do mundo, liderando exércitos de esqueletos, zumbis e fantasmas. Ele já está, mas não totalmente - pára por alguns segundos, e prossegue. - Nessas batalhas menores vocês não estarão sós, o deus da vida, o da guerra e a dos ventos com certeza farão parte dessa guerra. Mas nas batalhas principais, eles não poderão interferir de forma direta. - Mais uma vez Kin-Rá pára. Desta vez ele se vira, ficando de costas para o esquelético herói. - Pode ir. Mas não se esqueça de apenas uma coisa: siga sempre seu senso de justiça. Ele não te trairá, pois é justo.

- Obrigado. - É a única coisa que Marfim consegue dizer, pois antes mesmo que pensasse em uma forma de sair, já estava despertando. Não era noite ainda, mas também não era dia. O céu estava vermelho e o Sol já não podia ser visto. A noite mais uma vez se aproximava, mas Marfim, que acabara de ressurgir próximo ao punhal - que voltou a ser como era antes - , continuava cansado. Por isso, resolveu não caçar essa noite, mas permanecer no cemitério e só lutar se as circunstâncias pedissem.

Ficou alerta e, quando cansava de ficar parado, caminhava por todo o cemitério, às vezes até checando a rua dos portões. Por azar ou por sorte, a noite de Marfim se resumiu a isso. Com Áquos, submerso em água, e Lunar, em uma montanha qualquer, a noite não foi tão diferente. Mas em alguns pontos da cidade novos esqueletos surgiam e só o Corvo pôde ver. Como uma unidade de justiça, ele não resistiu e desceu para enfrentar tais criaturas. A muito custo ele conseguiu derrotar algumas. Entretanto, são tão poucos vencidos de tantos que invadem o lugar, que alguém acharia que foi apenas um martírio. Ao fim de tão pequena luta, o Corvo se sente cansado. Mas não só isso. Há também felicidade em seus olhos e, ao

amanhecer, ele se dirige aos céus esperando se recuperar para as próximas batalhas que hão de vir.

Cansado da monotonia, Marfim começa a riscar o chão com seu punhal. Risca signos ilegíveis para pessoas de hoje. Para muitos seriam simplesmente símbolos. Para alguém com mais imaginação (se seu lado psíquico sobreviver à visão de um esqueleto que tem chamas no lugar dos olhos, riscando o chão, com certeza seria enormemente ampliada sua capacidade imaginativa), significariam a execução de um ritual mágico qualquer. Os dois estariam errados. São alguns dos signos da escrita de seu tempo e lugar. Ele não escrevia muito, já que quanto mais voltamos no tempo, mais voltada aos que podem é a escrita. Ele havia aprendido pouco, e agora, cansado de caminhar por todo o cemitério sem resultados, e sem poder sair por não estar recuperado totalmente, escreve só para se lembrar do passado. Embora não tenha propriedades mágicas, os símbolos no chão começam a abrir um portal para o passado. Para o passado das recordações.

Uma equipe inspirada em super-heróis dos quadrinhos ou séries japonesas invade o cemitério. Os seis membros, vestidos em trajes coloridos, correm contornando a capela, quando chegam os primeiros raios do Sol. Três por cada lado, correndo. Eles se encontram nos fundos e lá só há símbolos antigos, de uma língua morta, desenhados na areia, com um punhal largado em seu centro. Um punhal com um cabo feito de duas serpentes, talvez de metal. As cabeças separam o cabo do gume, como proteção. Suas caldas prendem um crânio em miniatura, imitando um crânio humano. Nem sinal de Marfim Cobra. O marrom do grupo se aproxima e toma o punhal em suas mãos. Ele sinaliza, chamando os outros com a cabeça, enquanto se dirige às pressas ao portão. Os outros cinco o seguem.

Para que possamos tomar fôlego, vamos parar um pouco a cena para que o leitor obtenha mais detalhes sobre essa equipe que entrou de forma tão rápida e inesperada na história.

Faz uma semana que o mundo conheceu a Força Corvo. São seis pessoas, cada uma com o poder de uma das seis pedras mágicas, cristalinas e cada qual com uma cor própria. Uma preta, uma rosa, uma marrom, uma

vermelha, uma amarela e uma laranja. Tais pedras estavam em um museu. Em um acidente, uma delas flutuou no ar e começou a girar em torno da cabeça de um visitante. Como se estivesse se desfazendo em pó, começou a descer, mantendo os mesmos movimentos circulares de antes, mas deixando na "vítima" uma estranha roupa colante. Ao chegar aos pés, quando restava apenas um pedaço do tamanho de um giz, subiu e desenhou uma espada no ar, terminando por se desfazer por completo. O visitante ganhava uma roupa cor-de-laranja e uma espada. Ele ficou tão assustado que desmaiou em alguns minutos. Tudo que havia formado desapareceu e ressurgiu a pedra laranja ao lado da cabeça do visitante. Assim se descobriu como ativar e desativar a magia das pedras do Corvo.

Cada pedra trazia o desenho de um capacete, lembrando um corvo, e era perfeitamente lapidada. O capacete surgia idêntico ao desenho, quando o traje era invocado.

As pedras foram recolhidas por uma entidade governamental, e também se procurou aumentar enormemente a segurança dos museus no mundo todo. Seis membros das forças especiais da nação foram convocados para utilizar o equipamento. Nem bem tiveram tempo para treinar o uso dos artefatos, já tiveram que sair à caça de esqueletos, numa trilha que terminou por colocá-los diante do punhal de Marfim e os signos que ele havia deixado na areia - fato descrito na cena anterior. Voltemos à ação.

O sexteto abandona o cemitério correndo. Não é medo. Eles sabem que ainda têm muito o que fazer. Não precisam virar esquinas para encontrar mais um monte de esqueletos. O corvo marrom, que seguia na frente, saca o punhal - o seu, não o de Marfim - e começa a enfrentar os detestáveis rivais. O Punhal das Serpentes ele arremessa para o alto.

- Rose, é com você! - grita, enquanto se abaixa. O corvo rosa pisa em suas costas e salta cerca de seis esqueletos, pegando no caminho o punhal de Marfim Cobra. Mal chega ao chão, saca sua arma. Um bastonete que cria um globo de fogo ligeiramente rosado. Sabe aqueles aparelhos de defesa pessoal, que dão choque elétrico? Ele funciona aproximadamente da mesma forma, só que, como já disse, cria um globo de fogo. Globo esse que pode atingir um metro de raio. Ela rapidamente ativa tal arma e corre, com a arma em sua frente, abrindo caminho entre os esqueletos, que caem em chamas mágicas vindas de tão fantástico artefato. Ela corre dessa forma até avistar a moto, ao lado do carro. Corre e monta. Não há quase

nenhum esqueleto por aqui, mas Rose não perde tempo, e acelera em direção ao seu QG.

- Toma isso, seu magrela! - grita o corvo vermelho, ao mesmo tempo em que desce o machado, quebrando o crânio do esqueleto-alvo. Junto com os corvos laranja e negro, lidera a força de ataque, abrindo caminho entre os mortos-vivos, enquanto mais deles se aproximam. Os corvos restantes cuidam da retaguarda.

- Quantas vezes tenho que dizer? Não somos heróis de seriado infantil. - fala o corvo amarelo, lutando cautelosamente com seu bastão.

- Qualé, cara? Vai amarelar agora? - responde prontamente o vermelho, aplicando outro golpe em outro esqueleto.

- Peter... - fala o laranja, em tom interrogativo.

- Só queria saber de onde vem tanto esqueleto... - responde o corvo marrom.

- Aahhh!

Em outro lugar da cidade, uma esquina. Em uma das ruas, nada. Na outra, milhares de esqueletos. No meio um rastro de pneus queimados. No fim do rastro, o corvo rosa em sua moto, quase caída.

- Só faltava essa! - grita nervosa, diante de uma multidão de esqueletos. Ativando sua arma, tenta enfrentar alguns. Até que a chama se apaga. - Que é que eu faço agora...

- Precisa de ajuda, corvinha? - a voz, que é totalmente estranha, vem do céu. Ela olha para cima e vê o Corvo, a unidade de justiça de Kin-Rá.

- Quem é você?

- Eu sou o Corvo. Agora, - ele desce e a segura pelos braços - vamos deixar de conversa que eles estão muito perto.

Ao sentir que já está no ar, e ver os esqueletos alcançando sua moto, ela suspira fundo e deixa ser levada pelo estranho. Ele voa com ela até um edifício próximo.

- Em outra ocasião, eu teria o maior prazer em derrubar esses malditos um a um, mas... Ai, minhas costas! Bem, o que fazia uma avezinha sem asas

no meio daquela festa?

Ela ergue a cabeça e encara, pela primeira vez, o Corvo. Ela vê através de dois buracos no elmo, o lugar onde deveriam estar seus olhos.

- Quem... O quê é você? - pergunta, recuando assustada. - Não tem ninguém aí dentro!?!

- Ih! Sabia que tinha esquecido alguma coisa...

- Você está com eles, não é? - pergunta, aos berros, apontando para baixo.

- Eu? Nem em sonho! Eu tô aqui justamente para matá-los.

Ela fica calada. O Corvo dá um passo e ela saca a arma.

- Não se aproxime. - E a ativa, quase atingindo a unidade de justiça de Kin-Rá.

- Hei! Calma aí! - Ela insiste em se manter como estava. O Corvo saca a espada. - Foi você quem pediu. Quer fogo, não é? Eu também tenho. Aoh Eker Joh!

Imediatamente sua espada entra em chamas. Os dois ficam frente a frente por um bom tempo, até que a arma dela apaga. Rose vê o Corvo parado, com a espada em chamas na mão. Eles se encaram novamente, por mais algum tempo. Então o Corvo sacode a espada no ar, como se isso, por si só, fizesse com que as chamas fossem extintas. Mas elas apagam.

- Calma. Se eu fosse seu inimigo teria te matado. - fala o Corvo, então, de forma calma e sugestiva. Ela fica parada por algum tempo, até que finalmente responde.

- Certo. Seus argumentos são convincentes, mas não me convenceram. Quem é você, e o que faz aqui?

- Sou uma unidade de justiça de Kin-Rá...

- Quem?

- Kin-Rá. Nunca ouviu falar do deus da justiça, do deus-aranha?

- Não.

- É, esqueci. Kin-Rá é sempre o primeiro deus a chegar e a sair. Vai ver por isso foi esquecido, mas, continuando...

- O que você é afinal? Um morto-vivo?

- De certa forma. Somos paladinos de Kin-Rá...

- Somos?

- Somos quatro agora. Voltando ao assunto, nós estamos aqui pra acabar com Fimiq, o responsável por esses esqueletos.

- Você sabe quem é o responsável!?!

- Sim. ...e não. É o avatar do deus da destruição. Ele quer destruir toda a vida da Terra, mas não o conhecemos ainda.

- Avatar... É um protegido desse deus?

- Não. É o próprio Fimiq na forma humana.

- Se está na forma humana, o único problema é encontrá-lo, certo?

- Claro que não! Você é maluca? Um deus na forma de avatar tem poderes tão grandes que você jamais sonharia existir. Eu diria mais: localizá-lo é um excelente e inofensivo passa-tempo, comparado à luta que nos espera.

- Mas você tem um deus do seu lado.

- Um deus, simplesmente, não tem grandes poderes, de forma direta. Eles não têm acesso direto a esse mundo de forma fácil. O deus da morte seria uma formiga diante de um avatar da deusa dos ventos. Por isso os deuses se usam de sacerdotes. Eles são o elo entre eles e a Terra, enquanto eles estão na forma de deuses.

- Certo. Isso é problema... - ela pára um pouco, até que se lembra da adaga. - Espere! Tenho que levar isso aqui pra base, com urgência. Você poderia me ajudar?

- De forma alguma! Esse é o Punhal das Serpentes e pertence a Marfim Cobra. O que foi feito dele!?!

- Não sei! Esse punhal estava largado no cemitério, quando chegamos...

- Pouco provável. Marfim Cobra jamais abandonaria sua arma. Entregue-me o punhal.

- Não senhor, sem essa. E se esse punhal for poderoso, você estiver mentindo, e estiver do lado dos esqueletos? Quem sabe até seja o verdadeiro responsável por eles. Agora não dou mesmo! E essa caveira fortalece ainda mais minhas suspeitas.

- Caveira?

- Ela ergue o punhal rapidamente, e o Corvo vê a pequena caveira presa ao punhal como se houvesse sido feito assim.

- Caveira... - repete o Corvo, dando as costas e caminhando em passos lentos, pensativo.

- Que foi agora? Outro truque?

- Não. Só acho que meu amigo ainda vive. Bem, aonde você precisava ir mesmo?

- À minha base, mas... Será que posso confiar em você?

- E você tem escolha? Quem mandou não ter asas? Um corvo sem asas... A propósito, qual é o seu nome?

- Pode me chamar de Rose. Vamos logo que tenho muito o que fazer hoje.

O Corvo pega Rose e a leva para os céus, através dos quais, a partir de informações da passageira, chega à base dos corvos.

- Senhor. Há algo estranho se aproximando, pelo céu.

- Deixa ver... Hmmm... Deixe se aproximar, traz Rose. Reúna os cinco outros corvos.

- É ali. - diz Rose, apontando para a base. O Corvo a leva até lá.

- Já chegaram? - pergunta, ao chegar.

- Parece que não adiantou muito ter vindo na frente. Mas isso não importa agora. Quem é ele?

- Deixe-me contar toda a história. Eu vinha de moto até aqui, mas no caminho, justo numa esquina, apareceram milhares de esqueletos. Eu lutei o quanto pude, até minha arma falhar. Foi quando ele apareceu e me salvou. Levou-me para o topo de um edifício... - E contou toda a história que o leitor acabou de acompanhar.

- Obrigado pela ajuda, mas, se quiser ficar por aqui, terá que entregar a espada. - diz o homem vestido de terno azul.

- Ficar eu quero, mas não é justo que eu fique aqui desarmado. Todos vocês estão armados, menos eu. A espada não entrego.

- Você está em nosso território.

- Aí! Mais uma prova de que estou sendo injustiçado. Essa área é toda de vocês. E quem garante que vocês não trabalham pra Fimiq?

- Tudo bem, não temos tempo a perder. - ele se vira para o corvo amarelo. - Hoje você cuida da imprensa.

- Imprensa? - pergunta o Corvo.

- Vê se não amarela de novo. - ironiza o corvo vermelho.

- John e Rose. Vocês acompanham a visita aonde ela for, enquanto estiver aqui dentro. Os outros podem descansar. - o autoritário homem de terno estende a mão para Rose e pega o Punhal das Serpentes.

- Cuidado com isso. - recomenda o Corvo.

- Eu sei cuidar dos meus assuntos. - responde, antes de sair.

Quatro corvos e os homens de terno vão embora. De modo que, no topo do prédio dos corvos, restam apenas o Corvo; Rose, o corvo rosa, e John, o corvo laranja.

- Não quer entrar? - convida Rose.

- Não, prefiro ficar aqui, ao vento. - responde o Corvo, e passa a fitar o horizonte. - Vocês falam com a Imprensa?

- É, por quê? Algum problema?

- Disseram coisas péssimas dela.

- Nós...

- É um mal necessário. - John interrompe.

Eles conversam até o fim da tarde, lá em cima. Claro que os corvos humanos, durante esse tempo, alimentam-se, entre outras coisas. Mas há algo mais importante.

- Já é quase noite! - grita o Corvo, interrompendo uma construtiva conversa sobre magia.

- E daí? - pergunta Rose.

- Daí que o Marfim deve despertar e eu tenho que estar por perto ou ele vai causar o maior estrago!

- Quem é Marfim?

- Marfim Cobra, outra unidade de justiça... Onde está o punhal?

- Com os cientistas, mas você não pode entrar lá.

- Vocês vão precisar desses cientistas depois?

Os dois membros da Força Corvo se olham, pasmos diante do desespero do visitante.

- Onde está? Não temos tempo a perder!

- Bem, - começa John. - nós podemos fazer um acordo... Você deixa a espada conosco, por enquanto, e pode ir ver o punhal. Que acha?

- Isso não é acordo, isso é chantagem.

- São quase seis...

- Está certo. Você venceu. Onde está o punhal? Rápido! - o Corvo entrega a espada.

- Siga-me. - depois John entrega a espada a um funcionário e desce todos os andares de escada, seguido pelo Corvo e por Rose, nesta ordem.

John caminha pelo corredor (os dois o acompanham). Caminha até achar uma porta. Segura a maçaneta e espera que os outros cheguem.

- Ele está aqui.

Abre a porta. Um brilho verde majestoso, tão definido e belo quanto o de um raio, preenche todo lugar. Eles caminham apressados por entre as prateleiras da enorme sala, e chegam em tempo de ver uma magnífica cena. O punhal, flutuando a mais de um metro do chão, dispara alguns relâmpagos verdes para as lâmpadas, o chão e as paredes, ao mesmo tempo em que brilha uma luz não-natural, nem artificial. Simplesmente uma luz mágica, também verde. Do nada aparece, segurando o punhal, Marfim Cobra, com seus olhos em chamas vermelhas no meio da luz verde, com ar imponente.

Quando o Corvo olha em volta, os dois corvos estão se deslocando lentamente. Um pela esquerda, outro pela direita, para cercarem Marfim.

Quando estão quase lá, Marfim Cobra percebe suas presenças e, num movimento rápido, segura o punhal com o gume para baixo, mas antes que possa gritar as palavras mágicas...

- Parem todos! - o Corvo interrompe. Os dois parecem não se incomodarem tanto com o grito. Simplesmente param, mas continuam de armas em mão e a postos. - Parem! Ele é meu amigo! A outra unidade de justiça de que falei!

- Que bom te ver! Amigos seus? - pergunta Marfim, fingindo não dar mais atenção aos quase agressores. Ele sai andando em direção ao Corvo e o cumprimenta.

- Quê? - pergunta finalmente Rose, com expressão de quem não entende mais nada.

- Não há o que entender. Ele está com os mortos! - Do meio das estantes vem o corvo vermelho, correndo com o machado na mão, seguido pelos corvos restantes. Os dois paladinos de Kin-Rá saltam habilmente para trás.

Os corvos vermelho e negro continuam em disparada, quando se ouve um estrondo do outro lado da sala. A parede caiu. - um pedaço dela, pelo menos.

- Encontramos. Agora, vamos à luta. Não temeis: a cavalaria chegou! - é Áquos, com Lunar, que acaba de abrir caminho no meio da parede.

Aproveitando-se da surpresa dos presentes, eles partem e tomam de Marfim e Corvo seus dois adversários. O Corvo aproveita e voa para perto de Rose (entenda por perto uma distância segura). Antes que Marfim pudesse pensar no que fazer, alcança-o o corvo marrom, e os dois passam a lutar com seus punhais.

- Você mentiu - grita Rose, com raiva, segurando fortemente a arma.

- Não! Eles são unidades de justiça, como eu.

O corvo amarelo, antes de entrar na luta, olha toda a cena e vê dois do seu time conversando com o estranho. Corre pra perto para saber melhor o que acontece.

- Eles invadiram nossa base!

- Não! Marfim entrou aqui através do punhal. Já os outros, ao chegarem,

nos viram em perigo e resolveram ajudar!

- Parem! - John resolve finalmente gritar para todos, mas eles não param.

- Parem! - fortalece o Corvo. Um líder não faz parar um exército que já está em combate, mas representantes dos dois lados, juntos, podem fazer os dois exércitos pararem.

O resultado é que eles cessam a agressividade.

- Suponho que houve um mau-entendido. - grita John. - Peço que todos os invasores se identifiquem.

- Invasores!?! - grita Marfim.

- Esqueça isso. - intervém o Corvo. - Vamos, identifiquem-se logo para que isso termine o quanto antes.

- Sou Marfim Cobra, unidade de justiça de Kin-Rá, e não faço a menor idéia do que possa estar fazendo aqui.

- Sou Áquos, unidade de justiça de Kin-Rá. Eu e Lunar estamos aqui porque nosso deus assim nos ordenou.

- Lunar.

- Ele é outra unidade de justiça. - completa o Corvo. - Não estranhem o seu mutismo: ele não é de falar muito. ...agora, chegou a vez de se apresentarem a nós. Julgo termos esse direito.

- Certamente. Nós somos a Força Corvo, uma equipe a mando do governo, com o objetivo de salvar o mundo.

- Rose... não diria melhor. - elogia o corvo amarelo.

- Eu sou Rose, o corvo rosa; estes são John, o corvo laranja, e Tommy, o amarelo. Esses três são Stevie, o corvo negro; Peter, o marrom e Gilbert, o vermelho.

Por alguns instantes mais os grupos permanecem calados. Eles se fitam, como se inseguros quanto às palavras dos outros. Até que Áquos resolve se aproximar do Corvo.

- Os sinais de Kin-Rá nos trouxeram aqui. Creio que não sem um motivo forte.

- Tem razão. Temos que partir e lutar contra os esqueletos o quanto antes.

- Temos? Você não pode ir: parece muito fraco.

- E daí? Não vai ser por falta da minha participação que Fimiq vai vencer. Eu vou lutar.

- Tudo bem.

Neste instante Lunar se volta para o buraco na parede - que ele mesmo havia feito - , grunhe e corre em direção a ele. Sai da base enquanto todos se olham com estranheza. Por olhares decidem o óbvio: resolvem sair atrás dele. Marfim Cobra, estando mais próximo da passagem, é o primeiro a alcançar a rua, em busca de Lunar, que rapidamente vira uma esquina. Ouve-se então várias pancadas, rápidas e sucessivas, como uma bala de canhão atravessando várias paredes finas de gesso: Lunar encontrou seu objetivo.

Os últimos integrantes do grupo formado pela aliança entre as unidades de justiça e a Força Corvo chegam.

- Seu amigo tem um ótimo faro! - comenta Gilbert, o corvo vermelho. - Vamos lá, galera! Tão esperando o quê? Madeira!

- Corvo, poupe-se tanto quanto puder. - recomenda Áquos, pouco antes de todos correrem ao encontro dos esqueletos, com os quais o Lunar já começara uma batalha violenta.

Seguindo a recomendação do colega e amigo, o Corvo fica um tanto pra trás. Felizmente não tanto que o prive do prazer de derrubar alguns dos inimigos. Tommy, o corvo amarelo, encontra-se com ele. Não por pedido dos amigos, mas por ter um certo temor quanto à guerra. Embora já mortos, os esqueletos não são fáceis de serem derrotados, pois lutam como homens primitivos e sem emoções - jogando violentamente os membros contra os oponentes, ou tentando lhes prender para machucar enquanto os outros acertam os golpes com maior facilidade - , com a vantagem de, como esqueletos, serem mais duros e machucarem mais.

No entanto, esqueletos estão longe da perfeição. A eles não voltam os espíritos de quando vivos. São simples ferramentas de quem os conjura, e da vida só trazem a chance de morrer. Embora não sintam dor, a força que os mantém de pé - a que alguns associam a pequenos demônios - se esvai após alguns golpes, talvez a quantidade de que necessitavam para morrer, quando o fizeram. As unidades de justiça já estavam acostumadas a isso.

Até Marfim Cobra, antes de morrer, já enfrentou alguns. Quanto aos humanos, parecia que aprendiam rápido.

Dessa forma a luta prosseguia: muitos golpes violentos e certeiros do lado de Marfim, enquanto poucos dos desferidos pelas criações de Fimiq atingiam alguém. Os esqueletos no começo somavam mais de cinqüenta, mas quem pararia no meio de uma guerra pra contar os inimigos? O fato é que, pouco a pouco, fosse qual fosse o número inicial, ele baixava, mais e mais, até que só havia um duelo. Dois esqueletos. E num golpe voraz o Punhal das Serpentes executou o último inimigo.

- Você ficou aí atrás o tempo todo? - ironiza Gilbert, dirigindo-se ao Tommy.

- Não enche.

- Foi rápido, não? E agora, o que a gente faz? - Rose perguntava, convencida de que haviam feito um excelente trabalho. Mas antes que o Corvo começasse a expor sua opinião de que não estava tudo acabado, os olhares do grupo viam, dos lados opostos, Stevie e Lunar fitando extensões opostas da rua, faiscando de ódio. Simples: dois grupos de esqueletos se aproximavam. Dessa vez cada lado deve ter muito mais que o exército que foi derrotado.

- Esperem. - fala Áquos, com a mão no ombro de Lunar, que estava prestes a correr para lutar. - Vamos esperar que venham até nós.

- Com todos nós juntos, eles não poderão nos cercar individualmente. - completa Peter. - Não quero que ninguém se distancie.

- Além do mais, eles não pararão antes de chegar até nós.

Desta forma, o heróico grupo se põe em forma de um círculo, voltado para fora. Os esqueletos se aproximavam, e não se via o fim de nenhum dos dois exércitos. Uma certa inquietude tomava conta dos guerreiros, quando repentinamente todas as armas saem de suas mãos, com uma força de tal forma inesperada que ninguém pôde oferecer resistência. Até a do Corvo, que ainda estava na base.

- Que...

- Minha arma!

Todas as armas se reúnem no centro do círculo que eles haviam formado.

Do céu vem um brilho de aço inexplicável, e uma espada enorme surge e aponta para as armas. Marfim se recorda então o que Kin-Rá dissera: "o deus da vida, o da guerra e a do vento".

- Calma! É para o bem! - grita Marfim, antes que alguns pusessem em ação seus planos de correr e retomar as armas. - É o deus da guerra. Kin-Rá garantiu que ele está do nosso lado.

Mal Marfim Cobra acabava de pronunciar estas palavras, quando um raio parte da espada ao chão, atingindo todas as armas, com o mesmo brilho metálico, numa ofuscante explosão prateada. Quando todos começam a enxergar, vêem que já estão com as armas nas mãos, e que os esqueletos já estão a alguns passos. As armas estão mais poderosas, e todos percebem.

John é o primeiro a lutar, salta com sua espada e, com dois giros, cinco esqueletos vão ao chão, enquanto um rastro prateado que a espada deixou se desfaz no ar.

- À luta!

Todos saltam com igual fúria, e começam a destruir os esqueletos aos milhares, mas milhares de novos esqueletos surgem no alcance de suas visões.

Quanto ao fortalecimento das armas, as modificações mais interessantes foram na arma de Rose, que era capaz de criar globos de fogo e agora disparava os globos criados, de fogo prateado; a do Corvo que ganhou um maravilhoso fogo prateado ao grito "Aoh Eker Joh" e a de Marfim, que agora deixa um rastro mesclado, meio verde, meio metálico.

A essa altura, o círculo já se expandira a um raio de pelo menos três vezes o original. Se antes eram pouco atingidos, agora eram praticamente intocáveis. Voltemos nossos olhos ao corvo amarelo, de cujo bastão ganhara agora a fúria e consistência de um martelo. Com golpes precisos e cautelosos, Tommy começava a fortalecer sua auto-confiança. Alguns crânios quebrados lhe mostravam que não era ele menos capaz que os outros.

Quando quebrava mais um crânio, viu, de relance, o Corvo começando a se deslocar de forma mais lenta.

- Ele está fraco! - gritou, no mesmo instante, John, do outro lado da

batalha.

Desde o início Tommy era o mais próximo do Corvo. Os esqueletos começam a cercar o paladino voador. Alguns golpes, o Corvo cai de joelhos.

"Chega!" O corvo amarelo se prepara, enquanto, com um só golpe, derruba quatro esqueletos que dele se aproximavam. Isso lhe dá espaço para a manobra pretendida. Ele corre em direção ao espancamento e, uma vez que se vê próximo o suficiente, rola no chão por entre os esqueletos, parando a quatro passos do Corvo, que estava cercado e já deitado no chão. Com alguns golpes, alguns como um batedor profissional de baseball, outros como se empunhando uma lança, ele se livra dos agressores e dos que estavam mais próximos. O Corvo está caído no chão, ainda se move, mas de forma muito lenta. Só então ele vê: estão longe demais do círculo inicial. Empolgavam-se tanto com a luta que nem perceberam. Além do mais, um utilizava o outro como referência para não se afastar. Os esqueletos já se aproximam, por todos os lados. Ele resolve tomar uma atitude estranha. Ergue o Corvo, passa o bastão entre seus braços, pelas costas e apoia o ferido nas próprias costas. Reunindo toda sua força, ele impulsiona o bastão para cima. Como um canhão, no momento exato em que o Corvo é arremessado, tanto o bastão quanto o uniforme de corvo se desfazem no ar, juntando-se em uma pedra preciosa que cai no chão. Não há mais corvo amarelo, há Tommy apenas. Enquanto o Corvo cai nos braços de Áquos, que se dirigiu ao lugar da queda, dentro do círculo, Tommy se abaixa e pega a espada do Corvo. Ela é pesada agora que está sem armadura, mas ele não pretende se entregar. Ergue a espada e consegue desferir uns dois golpes antes de ser atingido pelas costas por um golpe violento. O golpe o leva ao chão e o faz largar a espada. O herói desaparece no mar de ossos.

- Não! - Gilbert grita ao ver seu amigo sumir nesse oceano branco-amarelado, que parece não ter fim. - Tommy!!!

Já é quase dia. O último esqueleto cai por um machado, mas não com fúria e coração como lutava há algumas horas. Agora, com frieza e ódio. Concluída a batalha, ele corre para junto dos ossos onde deveria estar Tommy. A rua está repleta de ossos, mas ele gravou bem o lugar. Lá

chegando, pôde ver um homem estendido no chão, numa poça de sangue, já semi-coagulado. Estava irreconhecível: uma assombrosa figura estraçalhada. Ele se abaixa e toma em suas mãos a pedra do corvo amarelo e a espada do Corvo. Os outros corvos se aproximam. Do outro lado da rua, as três unidades de justiça se reúnem ao redor do Corvo. Só agora suas forças começaram a voltar.

- Você está melhor? - pergunta Marfim.

- Sim. Não muito, mas... Onde está o corvo amarelo? Lembro que ele me salvou...

Os outros abrem espaço e ele pode ver, do outro lado, os corvos reunidos. Com passos difíceis pelo cansaço, ele chega lá, seguido pelas outras unidades.

- O que houve?

- Ele usou todo o poder da pedra para conseguir salvar sua vida. Não teve tempo para se transformar de novo e se foi. - responde John.

Antes que o Corvo pudesse assimilar totalmente a notícia, o corvo vermelho se levanta, entrega-lhe a espada e segue em direção à base. Cinco metros atrás, segue-o o corvo negro. Os outros dois ficam mais um pouco até que resolvem ir também.

- Rose, é esse seu nome? - pergunta Marfim, que ajuda o Corvo a andar.

- É.

- Pedir-lhe-ei uma coisa: você poderia, assim que houver tempo, levar o Corvo para o topo do prédio de vocês para que se recupere?

- Claro, mas...

- Desculpe, não tenho muito tempo. - Ele lhe entrega o Corvo e segue até Áquos. - Até a noite.

Os primeiros raios do Sol chegam e Marfim Cobra desaparece, alterando seu punhal da forma que já foi dita. Áquos se abaixa, pega o punhal e entende o pedido do colega. Guarda-o.

- Você está melhor? - pergunta Rose ao Corvo.

- Estou sim.

Eles seguem. São os últimos a entrar na sala e ver sobre a mesa três pedras: uma amarela, uma vermelha e outra negra. Da janela, Peter via o carro partir.

- Somos três por enquanto. Se alguém mais resolveu desistir, aproveite a ocasião. - pede, virando-se para os presentes.

- Não, ainda estou aqui. - responde Rose.

- Estou contigo. - e John.

- Tudo bem, dispensados.

- Desculpe, mas - Áquos se dirige a Peter - entendo porque o vermelho desistiu, mas, e o outro?

- Os dois disseram que não podiam mais se enganar. Que não eram heróis e o único herói que havia aqui acabara de partir.

Do topo do prédio, Rose e o Corvo vêem o céu. Olham as nuvens, lembram-se da batalha. Praticamente venceram todos os esqueletos que havia na cidade. Eles olham o céu. O Corvo já está bem melhor. Os dois sabem que não acabou. Isso é óbvio até, há um avatar que precisa ser vencido. Mas será que conseguirão encontrar força suficiente para vencê-lo? Depois de ontem... Tudo bem, não importa, eles pretendem lutar mesmo assim. A única coisa que não querem é ter que enfrentar esqueletos de novo.