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DANO AMBIENTAL SUMÁRIO: 1. Introdução. – 2. O conceito de dano ambiental: 2.1. Direito brasileiro. – 3. O dano e suas classificações: 3.1. Quanto à amplitude do bem protegido: dano ecológico puro, dano ambiental lato sensu e dano individual ambiental ou reflexo; 3.2. Quanto à reparabilidade e ao interesse envolvido: dano ambiental de reparabilidade direta e dano ambiental de reparabilidade indireta; 3.3. Quanto à extensão: dano patrimonial ambiental e dano extrapatrimonial ambiental. – 3. Características do dano ambiental. – 4. Formas de reparação do dano ambiental. – 5. Considerações finais. – 6. Bibliografia. 1. Introdução O cenário que atualmente se observa na sociedade é decorrente dos avanços técnico-científicos ocorridos nos últimos anos. Juntamente com este desenvolvimento, surgiram os problemas relacionados à poluição e aos prejuízos causados ao meio ambiente. Exatamente por essa razão, a questão ambiental tem tido grande repercussão, tanto no cenário nacional quanto no internacional. Chegou-se a um consenso mundial de que é

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DANO AMBIENTAL

SUMÁRIO: 1. Introdução. – 2. O conceito de dano ambiental: 2.1. Direito brasileiro. – 3. O dano e suas classificações: 3.1. Quanto à amplitude do bem protegido: dano ecológico puro, dano ambiental lato sensu e dano individual ambiental ou reflexo; 3.2. Quanto à reparabilidade e ao interesse envolvido: dano ambiental de reparabilidade direta e dano ambiental de reparabilidade indireta; 3.3. Quanto à extensão: dano patrimonial ambiental e dano extrapatrimonial ambiental. – 3. Características do dano ambiental. – 4. Formas de reparação do dano ambiental. – 5. Considerações finais. – 6. Bibliografia.

1. Introdução

O cenário que atualmente se observa na sociedade é decorrente dos

avanços técnico-científicos ocorridos nos últimos anos. Juntamente com este

desenvolvimento, surgiram os problemas relacionados à poluição e aos

prejuízos causados ao meio ambiente.

Exatamente por essa razão, a questão ambiental tem tido grande

repercussão, tanto no cenário nacional quanto no internacional. Chegou-se a um

consenso mundial de que é necessária a preservação do meio ambiente, bem

como a utilização de meios que impeçam a proliferação dos danos a ele

causados.

A urgência e importância da questão originou uma legislação mais rígida

sobre as questões ambientais, visando coibir práticas abusivas contra o meio

ambiente.

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Observa-se na legislação ambiental a constante preocupação do

legislador com a preservação do meio ambiente. Quando, entretanto, a

preservação não mais é possível, vez que o bem ambiental já foi atingido,

persegue-se a reparação do dano causado; dando-se prioridade à reconstituição

do status quo ante, e caso não seja possível, a indenização em pecúnia.

O presente artigo pretende tecer uma breve análise acerca do dano

ambiental, sua definição, classificações e repercussões.

2. Conceito de dano ambiental

O Direito Ambiental atua em duas esferas distintas: a preventiva e a

reparadora. Sendo o dano ambiental de difícil, ou muitas vezes impossível

restauração, ocupa a ação reparadora menor destaque e importância que a

preventiva. Atua preventivamente na medida em que constitui uma espécie de

estimulante negativo àquele potencial poluidor do meio ambiente, buscando

evitar, dessa forma, a ocorrência de dano ambiental.

Prevenir, conforme definido no Dicionário Aurélio, é “1. Dispor com

antecipação, ou de sorte que evite o dano ou mal.”. Em sede ambiental, prevenir

é atuar antecipadamente, procurando, por meios eficazes, evitar o dano

ambiental. Já a esfera reparadora está correlacionada àquelas situações em que

já se consumou o dano ambiental, momento em que tentar-se-á reconstituir o

bem ambiental e/ou indenizar-se-á pelos prejuízos ocorridos.

Por outro lado, quando não mais há possibilidade de prevenir, ou seja,

quando o dano ambiental resta consumado, este princípio incide na órbita da

repressão, cominando multas em sede de responsabilidade civil, ao agente

poluidor do meio ambiente.

O princípio do poluidor-pagador, importante diretriz da questão relativa à

responsabilidade ambiental encontra-se previsto na Constituição Federal de

1988, no seu art. 225, § 3º, segundo o qual, os poluidores ou usuários de

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recursos naturais, sejam estes pessoas físicas ou jurídicas, estão sujeitos às

sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar

os danos causados.

A reparação ambiental, como qualquer outro tipo de reparação, funciona

através das normas de responsabilidade civil, que por sua vez, pressupõe

prejuízo a terceiro, ensejando pedido de reparação do dano, consistente na

recomposição do bem ambiental ao estado em que se encontrava antes de ser

atingido ou numa importância em dinheiro (indenização).1

A imposição da responsabilidade civil tem como pressuposto a ocorrência

de um dano. Assim, o dano consiste um elemento imprescindível para que se

possa estabelecer a obrigação de reparar. Entretanto, cumpre salientar que,

ainda que não se tenha um prejuízo mensurável, a simples transgressão de uma

prescrição legal implicará na aplicação de sanção correlata.

2.1. Direito brasileiro

Conforme mencionado acima a expressão dano ambiental figura como um

dos pilares da responsabilidade em matéria ambiental. Juntamente com o nexo

de causalidade, o dano ambiental servirá como base estrutural da teoria da

responsabilidade ambiental.

Diferentemente de outras legislações, a brasileira não conceituou

expressamente dano ao meio ambiente. Tal fato não foi impedimento para o

legislador tecer definições acerca das noções de poluição – “a degradação da

qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a)

prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem

condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem

desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do

1 Milaré, Edis. Direito do Ambiente. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 420.

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meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões

estabelecidos”2, e de degradação da qualidade ambiental – “a alteração adversa

das características do meio ambiente”3.

Percebe-se, assim, que o legislador vincula, de modo inseparável,

poluição e degradação ambiental, ao salientar expressamente que a poluição

resulta da degradação, que se tipifica pelo resultado danoso,

independentemente da inobservância de regras ou padrões específicos.Dessa

maneira o dano em espécie é em geral toda degradação que atinja a segurança

e a saúde de todas as formas de vida, humana ou não, e sua correlação com as

atividades sociais e econômicas, e o próprio meio ambiente seja no aspecto

físico, artificial, cultural ou do trabalho.

Segundo Maria Isabel de Matos Rocha, dano ambiental é “a lesão ou

ameaça de lesão ao patrimônio ambiental, levada a cabo por atividades,

condutas ou até uso nocivo da propriedade”4.

Dessa forma, havendo uma lesão a um bem ambiental, resultante de

atividade praticada por qualquer pessoa, seja esta física ou jurídica, pública ou

privada, que seja responsável por este dano, em caráter direto ou indireto, não

somente há caracterização do mesmo, como ainda há a identificação daquele

que deve arcar com o dever de indenizar5.

Assim, poderíamos dizer que dano ambiental é a degradação do equilíbrio

ecológico, que causa lesão aos recursos ambientais e que compromete a sadia

qualidade de vida.

3. O dano ambiental e suas classificações

2 Lei 6.938/81 art. 3º, III3 Lei 6.938/81 art. 3º, II4 Rocha, Maria Isabel de Matos. Reparação de danos ambientais. Revista de Direito ambiental São Paulo, ano 2, n. 19, p. 1305 Idem, p. 136

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A expressão dano ambiental traz em si diversas concepções. Em certos

casos, diz respeito a uma alteração nociva no meio ambiente, como a poluição

atmosférica, por exemplo, sendo assim uma afetação do direito que a todos

assiste a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Por outro lado, pode

dizer respeito às conseqüências, aos efeitos advindos desta alteração, atingindo

a saúde e/ou interesse da população, como no caso em que os moradores de

uma vila sejam intoxicados pela poluição do rio que abastece a região em que

habitam. Também poderíamos analisar o dano ambiental de acordo com o

cunho do prejuízo acarretado, seja este de ordem patrimonial ou

extrapatrimonial.

Sendo assim, para melhor visualizar e compreender as facetas do dano

ambiental, destacaremos a seguir algumas de suas classificações.6

3.1. Quanto à amplitude do bem protegido: dano ecológico puro, dano

ambiental lato sensu e dano individual ambiental ou reflexo

Considera-se dano ecológico puro aquele em que há afetação prejudicial

dos elementos naturais do meio ambiente, como fauna e flora, não sendo

considerados os elementos ambientais culturais e artificiais. Dessa forma, aqui

se trata do bem ambiental em sentido estrito: dos componentes essenciais do

ecossistema.

Já no dano ambiental lato sensu , são incluídos não somente os bens

ambientais naturais, como também os artificiais e culturais, sendo, portanto, o

bem ambiental visualizado por uma concepção unitária. Sendo possível a

caracterização de dano em bem de natureza imaterial, como aqueles inseridos

no patrimônio cultural de um povo.

6 Conforme Leite, Rubens Morato. Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 98

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Dano ambiental individual ou reflexo, quando se observa um dano, que

embora correlacionado ao meio ambiente, esteja adstrito à esfera individual. O

meio ambiente, portanto, estaria aqui analisado como um microbem, bem

circunscrito à esfera individual, correlacionado a uma afetação prejudicial a

interesse ou saúde de um ou mais indivíduos. O foco, neste caso, não é dado ao

meio ambiente em si - que seria protegido por via transversa – mas a valores

próprios do lesado.

3.2. Quanto à reparabilidade e ao interesse envolvido: dano ambiental de

reparabilidade direta e dano ambiental de reparabilidade indireta

Dano ambiental de reparabilidade direta quando diz respeito a interesses

próprios individuais e individuais homogêneos, e apenas com reflexos ao meio

ambiente considerado como um microbem. Neste caso, uma vez comprovado o

dano e o nexo de causalidade, o lesado terá direito a ser indenizado

diretamente.

Por outro lado, considera-se dano ambiental de reparabilidade indireta,

aquele correlacionado a interesses difusos e coletivos. Dessa forma, tutela-se o

macrobem ambiental, inserido no âmbito dos interesses da coletividade. Não se

pretende aqui tutelar interesses individuais.

3.3. Quanto à extensão: dano patrimonial ambiental e dano

extrapatrimonial ambiental

Como afirmado anteriormente, para que haja indenização civil,

imprescindível se faz a comprovação do dano causado, seja este de índole

patrimonial ou moral. Conforme afirma Carlos Alberto Bittar, o dano é prejuízo

ressarcível experimentado pelo lesado, traduzindo-se, se patrimonial, pela

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diminuição patrimonial sofrida por alguém em razão de ação deflagrada pelo

agente, mas pode atingir elementos de cunho pecuniário e moral.

Como o dano acarreta lesão aos interesses de outrem, tutelados

juridicamente, sejam eles econômicos ou não, percebe-se que o dano pode ser

patrimonial ou moral.

Para definir dano patrimonial, faz-se necessário, primeiramente,

estabelecer o que significa patrimônio.

Hans Fischer conceitua patrimônio como a totalidade dos bens

economicamente úteis que se encontram dentro de poder de disposição de uma

pessoa7.

Neste sentido, dano patrimonial vem a ser a lesão concreta, que afeta um

interesse relativo ao patrimônio da vítima, consistente na perda ou deterioração,

total ou parcial, dos bens materiais que lhe pertencem, sendo suscetível de

avaliação pecuniária e de indenização pelo responsável.

A dimensão do dano patrimonial dar-se-á pela diferença auferida entre a

situação atual do patrimônio do lesado e aquela em que ele encontrar-se-ia caso

o dano não houvesse restado consumado. Caso seja possível a restauração do

bem ao seu estado anterior, a esta será dada prioridade em detrimento da

indenização pecuniária.

Em se tratando de dano ambiental patrimonial, portanto, teríamos

consubstanciado um prejuízo ao patrimônio ambiental. Mas o que vem a ser

patrimônio ambiental?

Como dito anteriormente, o Direito Ambiental faz uma proteção integral de

todos os bens ambientais, que não somente englobam os naturais, como

também os culturais e artificiais, pois o Direito ambiental se preocupa com todos

esses bens. Abarca ele não somente o meio ambiente natural – as condições

físicas da terra, da água e do ar, mas também o meio ambiente humano –

condições produzidas pelo homem e que afetam a sua existência no Planeta8.

7 Apud Diniz, Maria Helena. Op. cit., p. 618 Neste sentido, Milaré, Edis. Op. cit., p. 68.

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Nesse diapasão, o legislador pátrio preocupou-se em tutelar os recursos

ambientais, dentre os quais: as águas9; as cavidades naturais subterrâneas10; a

energia11; espaços territoriais protegidos e seus componentes12; a fauna13; a

flora14; as ilhas15; o patrimônio cultural16; o mar territorial17; as praias fluviais18, as

marítimas19; os recursos naturais da plataforma continental20, da zona econômica

exclusiva21; sítios arqueológicos e pré-históricos22; os terrenos da marinha e seus

acrescidos23; os terrenos marginais24.

Portanto, o Direito brasileiro, ao ampliar o conceito de bem ambiental,

apontando para os fatores de ordem econômica, sociais e culturais, admite que

além destes serem interativos entre si, produzem efeitos, direta ou

indiretamente, sobre a qualidade de vida do homem25.

Segundo Maria Isabel de Matos Rocha, patrimônio ambiental é “um

conjunto de bens que possibilitam um desenvolvimento equilibrado da vida

humana”, sendo, portanto, pressuposto dos demais direitos fundamentais: só os

que tiverem vida com qualidade e saúde poderão exercitar os demais direitos de

personalidades e políticos26.

Dessa forma, teremos um dano ambiental patrimonial quando o seu

enfoque for voltado à reconstituição, reparação e indenização do bem ambiental

lesado.

9 Artigo 20, III, da Constituição Federal de 1988.10 Artigo 22, X, da Constituição Federal de 1988.11 Artigo 22, IV, da Constituição Federal de 1988.12 Artigo 225, III, § 1º, da Constituição Federal de 1988.13 Artigo 225, § 1º, VII, da Constituição Federal de 1988.14 Artigo , 225, § 1º, VI, da Constituição Federal de 1988.15 Artigo 20, IV, da Constituição Federal de 1988.16 Artigos 216, V e 23, III, da Constituição Federal de 1988. 17 Artigo 20, VI, da Constituição Federal de 1988.18 Artigo 20, III, da Constituição Federal de 1988.19 Artigo 20, IV, da Constituição Federal de 1988.20 Artigo 20, V, da Constituição Federal de 1988.21 Artigo 20, V, da Constituição Federal de 1988.22 Artigo 20, XIII, da Constituição Federal de 1988.23 Artigo 20, VII, da Constituição Federal de 1988.24 Artigo 20, III, da Constituição Federal de 1988.25 Gomes, Celeste Leite dos Santos Pereira. Op. cit., p. 9.26 Rocha, Maria Isabel de Matos. Op. cit., p. 132

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Por outro lado, dano moral é a lesão que se dá a interesses não

patrimoniais de uma pessoa.

O caráter patrimonial ou moral do dano não se dá pela verificação da

natureza do direito subjetivo que foi lesado, mas aos efeitos advindos da lesão

jurídica, haja vista que do mesmo prejuízo podem resultar danos de ordem

diversa.

O dano moral será direto quando consistir na lesão de um bem

extrapatrimonial, contidos nos direitos da personalidade, como a vida, liberdade,

honra, intimidade, etc. Será indireto quando consistir na lesão de um bem

jurídico patrimonial, que por via transversa, provoca prejuízo a um bem

extrapatrimonial, como a perda de um bem com valor afetivo.

O dano moral pode ser coletivo quando houver injusta lesão da esfera

moral de uma certa comunidade, ou seja, uma violação antijurídica de um

determinado círculo de valores coletivos. Assim, a consecução do dano moral

coletivo implica na agressão do patrimônio de valores de uma comunidade

idealmente considerado. Em última análise, pode-se dizer que se feriu a cultura,

em seu aspecto imaterial27. Ademais, se o particular pode ser ressarcido em

virtude de um dano causado à sua moral, qual a razão que impede a

coletividade de também sê-lo?

Um dos exemplos de dano moral coletivo é o ambiental. O meio ambiente

é categoria que exprime uma série de elementos que, em seu conjunto,

constituem um valor que transcende a sua mera soma, e que não pode ser

traduzido mediante parâmetros econômicos.

Isso porque o dano ambiental não implica apenas numa afetação do

equilíbrio ecológico, mas de outros valores, que se encontram intrinsecamente

vinculados a ele, como qualidade de vida e saúde. Neste sentido, Luís Felipe

Colaço Antunes28, para quem a necessidade de uma noção unitária de ambiente

resulta não só da multiplicidade de aspectos que caracterizam as atividades

27 Bittar, Carlos Alberto. Dano ambiental: natureza e caracterização. Jurifran. Disponível em: <http://orbita.starmedia.com/~jurifran/ajdamb.html>. Acesso em: 2 mar. 2002.28 Apud Carlos Alberto Bittar, Op. cit.

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danosas para o equilíbrio ambiental, por conseguinte de uma planificação global,

mas também da necessidade de relacionar o problema da tutela do ambiente

com os direitos fundamentais da pessoa, notadamente o da saúde.

Como não há critérios legais para que o quantum indenizatório do dano

seja aferido, deverá o magistrado valorá-lo por arbitramento. Difícil, porém,

quantificar o dano moral de uma comunidade inteira que tenha sofrido com a

perda de um bem ambiental estimado, como, por exemplo, a destruição das

Sete Quedas, no Paraná.

Válido o ensinamento de Roque Marques, que propõe alguns parâmetros

para aferição do dano ambiental de efeitos morais, quais sejam: a)

circunstâncias do fato, b) gravidade da perturbação (intensidade leve, moderada

ou severa; tamanho da área afetada; duração da agressão; tempo de

recuperação da área afetada); c) condição econômica do poluidor29.

Neste sentido, já decidiu o egrégio Tribunal de Santa Catarina que “como

não é possível encontrar-se um critério objetivo e uniforme para a avaliação dos

interesses morais afetados, a medida da prestação do ressarcimento deve ser

fixada ao arbítrio do Juiz, levando-se em conta as circunstâncias do caso, a

situação econômica das partes e a gravidade da ofensa.30

4. Formas de reparação do dano ambiental

Conforme estabelece o artigo 4º, VII, da Lei 6.938/81, a Política Nacional

do Meio Ambiente tem, dentre outros objetivos, impor ao poluidor e predador, a

obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados.

Nesse sentido, e como dito anteriormente, o ressarcimento do dano pode

ser feito de dois modos distintos, quais sejam: a) reparação natural ou

específica, no qual se retorna ao status quo ante; ou b) indenização em dinheiro.

29 Apud Fiorillo, Celso Antonio Pacheco; Rodrigues Marcelo Abelha, Manual de direito ambiental e legislação aplicável. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 1999, p. 139.30 Apud José Rubens Morato Leite. Op. cit. p. 307

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Quando já resta consumado o dano ambiental, aprioristicamente deve-se

tentar a realização da reparação específica do bem ambiental, reconstituindo ou

recuperando o meio ambiente agredido, cessando-se a atividade lesiva e

revertendo-se a degradação ambiental31.

Numa ação de responsabilidade civil interposta contra uma empresa

poluidora, o pedido mediato deve ser no sentido de reparar o dano causado ao

meio ambiente de modo específico, como por exemplo, através do

reflorestamento da área desmatada, a promoção de programas educacionais na

seara ambiental, etc.

Tem-se, dessa forma, uma primeira tentativa de recompor o bem

ambiental, restabelecendo o estado das coisas. Somente em casos em que não

logre êxito esta possibilidade, abrir-se-á a hipótese de reparar via indenização

em dinheiro, uma vez que a simples condenação em quantum pecuniário, por

mais vultuosa que seja, não tem o condão de reavivar o prejuízo causado em

virtude da cessação de fruição de um meio ambiente sadio e ecologicamente

equilibrado.

Por fim, atente-se para o fato de que embora em muitos casos não seja

possível a idêntica reparação, revertendo e reparando completamente o dano

ambiental, ainda assim é dada prioridade a uma reparação específica, em

detrimento a indenização em dinheiro.

5. Considerações finais

Viu-se que o Direito ambiental tem como preocupação primordial e

essencial atuar preventivamente, tendo em vista a dificuldade, ou muitas vezes,

impossibilidade, de recuperar o bem ambiental danificado. Esta é a mola

propulsora do Direito ambiental, e é nela que as atenções maiores devem se

centrar.

31 Nesta linha, Milaré, Edis. Op. cit. p. 425

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Quando, no entanto, o dano ambiental, que pode ser de caráter

patrimonial ou moral, já resta consumado, faz-se necessário averiguar sua

autoria, para que seja imputada ao agente poluidor a obrigação de reparar o

dano; preferencialmente restaurando o status quo ante, e quando não possível,

indenizando em dinheiro.

Daí a importância do empresariado em manter uma postura preventiva,

adotando medidas protetivas ao meio ambiente, e evitando, dessa forma, a

consecução do dano ambiental.

A globalização, a expansão das indústrias e a necessária adaptação de

suas atividades para que haja menor agressão ao ambiente, exige do

empresariado moderno uma nova visão de trabalho e conseqüentemente uma

nova forma de administração: a administração ambiental.

As empresas deverão também executar programas internos de educação

ambiental visando conscientizar seus empregados das novas diretrizes, sem o

que dificilmente conseguirá obter sucesso neste empreendimento.

A preservação do meio ambiente, por si e em si, carrega a vital

importância de fazer com que o mundo não só permaneça vivo, mas saudável.

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