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 DEMOCRADURA Des de o iníc io do processo civ iliza tóri o os ser es huma nos apresen tam uma preocupação inata em rotular, e delimitar, suas formas de organização e de controle político e social, de estabelecer terminologias e definições que consagrem formas e tipos de governo criados e aperfeiçoados. As instituições e as relações de poder delas derivadas, vi a de regra, variam confo rme a po ca, a localização geogr!fic a, as condições" limi tações na turais e o modelo ec on #mico e o modo de produção predominantes, ou se$a, estabelecendo uma relação esp aço" temporal que lhes d! sustentação e que lhes imputa uma diferenciação ímpar. %ais pressupostos influenciam diretament e no arran$o hist ór ico e estr at gic o & tanto regional co mo global &, determinando a visão geopolít ica ampla e o entendimento dos fatores e das forças que concorreram tanto na sua g'nese como nos seus est!gios de desenvolvimento e de sustentabilidade. (utro fator crucial a ser considerado o tipo de liderança e o seu grau de empatia com seus governados, encontrando)se aí incluso o pro$eto de poder do grupo dominante e os meios e os e*pedientes empregados para que se$am alcançadas as suas finalidades +imediata s e de longo prazo- bem como a delimitaç ão dos padrões de tica e de moralidade & políticos, ideológicos e individuais & a serem implementados. %odo esse prólogo introdutório, essencialmente teórico, destina)se a criar um referencial para uma breve an!lise do atual panorama dos rumos da política brasileira, nos cen!rios micro e macro regional & interno, Amricas do ul e /atina, frente aos países de língua portuguesa e na comunidade internacional das nações. /ogicamente, trata)se de uma visão particular, porm tecida 0 luz do encaminhamento dos fatos e da apreciação de outras opiniões e e*pectativas"perspectivas que demonstram certo grau de congru'ncia neste particul ar. 1onsider ações de natureza comparat iva no que tange ao atual modelo político e ideológico das nossas relações domsticas e diplom!ticas são inevit!veis, mas não delimitam e nem se constituem no ob$etivo precípuo desse coment!rio- pelo contr! rio, lhe concedem muito mais fle*ibilidade e maior alc ance analítico. 2em se trata tampouco de um libelo acusatório ou condenatório, ou sequer apol og tico, cont ra essa ou aqu ela dou trin a oficial ou polí tico "par tid! ria"ideo lóg ica, resume)se, simplesmente, a apresentar considerações ligadas a um momento histórico específico onde os diferentes graus de atuação dos seus agentes deflagradores e

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COMETÁRIOS SOBRE GEOPOLÍTICA E POPULISMO NA AMÉRICA DO SUL

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DEMOCRADURA

Desde o início do processo civilizatório os seres humanos apresentam uma

preocupação inata em rotular, e delimitar, suas formas de organização e de controlepolítico e social, de estabelecer terminologias e definições que consagrem formas e

tipos de governo criados e aperfeiçoados. As instituições e as relações de poder delas

derivadas, via de regra, variam conforme a poca, a localização geogr!fica, as

condições"limitações naturais e o modelo econ#mico e o modo de produção

predominantes, ou se$a, estabelecendo uma relação espaço"temporal que lhes d!

sustentação e que lhes imputa uma diferenciação ímpar. %ais pressupostos influenciam

diretamente no arran$o histórico e estratgico & tanto regional como global &,

determinando a visão geopolítica ampla e o entendimento dos fatores e das forças que

concorreram tanto na sua g'nese como nos seus est!gios de desenvolvimento e de

sustentabilidade. (utro fator crucial a ser considerado o tipo de liderança e o seu grau

de empatia com seus governados, encontrando)se aí incluso o pro$eto de poder do

grupo dominante e os meios e os e*pedientes empregados para que se$am alcançadas

as suas finalidades +imediatas e de longo prazo- bem como a delimitação dos padrões

de tica e de moralidade & políticos, ideológicos e individuais & a serem implementados.

%odo esse prólogo introdutório, essencialmente teórico, destina)se a criar um

referencial para uma breve an!lise do atual panorama dos rumos da política brasileira,

nos cen!rios micro e macro regional & interno, Amricas do ul e /atina, frente aos

países de língua portuguesa e na comunidade internacional das nações. /ogicamente,

trata)se de uma visão particular, porm tecida 0 luz do encaminhamento dos fatos e da

apreciação de outras opiniões e e*pectativas"perspectivas que demonstram certo grau

de congru'ncia neste particular. 1onsiderações de natureza comparativa no que tange

ao atual modelo político e ideológico das nossas relações domsticas e diplom!ticas

são inevit!veis, mas não delimitam e nem se constituem no ob$etivo precípuo desse

coment!rio- pelo contr!rio, lhe concedem muito mais fle*ibilidade e maior alcance

analítico. 2em se trata tampouco de um libelo acusatório ou condenatório, ou sequer 

apologtico, contra essa ou aquela doutrina oficial ou político"partid!ria"ideológica,

resume)se, simplesmente, a apresentar considerações ligadas a um momento histórico

específico onde os diferentes graus de atuação dos seus agentes deflagradores e

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condutores determinam suas possíveis implicações e intenções inseridas no processo

de amalgamação e de construção do quadro e do horizonte geopolítico por eles

ob$etivado e perseguido.

3ara atender a tal finalidade concebi um termo, um oportuno neologismo, que

tem a pretensão de conciliar os arran$os e os desvios da formatação dos novos"velhos

rumos do universo político"ideológico"institucional"diplom!tico que vivenciamos, ou

suportamos, ou sobrevivemos, classifiquei)o, singelamente, como DEMOCRADURA4 a

ditadura de uma hipottica democracia plena, a qual tudo e todos devem se submeter,

conforme a aceitação e obedi'ncia compulsórias e incontest!veis frente 0s

determinações e pr!ticas inquestion!veis urdidas pelos seus avatares e lordes

protetores dos anseios e necessidades populares e nacionais & ainda que esse mesmopovo não saiba que as querem ou que, necessariamente, concordem com elas, ou que

então se$am abertamente, e pragmaticamente, contr!rias aos reais e $ustos interesses e

aspirações da 2ação. egundo 5alebranche “a liberdade é um mistério” , e o que se

faz com ela, ao nível das instituições e do tratamento da coisa p6blica, deve diferir por 

demais do livre arbítrio e do personalismo dos governantes, buscando não confundir 

programas políticos"partid!rios"ideológicos com a estruturação de um plane$amento

estratgico nacional e da condução das relações diplom!ticas e dos interesses

e*ternos & de curto, mdio e longo prazo. 7uando se confunde partido com governo,

personalismo, ou mesmo caudilhismo, com conduta dese$ada de um mandat!rio,

política partid!ria com atuação governamental, ultrapassado o perigoso limite em que

o governante imputa a si mesmo, e ao seu grupo, o papel da 8nação viva9, daquele que

por pretensamente representar o con$unto da sociedade, pelo menos assim se

considera, tem poderes suficientes para moldar a realidade aos seus conceitos e

princípios, pois figura, hipoteticamente, acima das leis e das instituições que deve

reorganizar. :sse tipo de despotismo cl!ssico, e não esclarecido, historicamente

amplamente e*emplificado por 8e*peri'ncias totalit!rias9, como no caso do Absolutismo

e, mais recentemente, pelos grandes 8ismos9, do sculo passado e deste4 fascismo,

nazismo, comunismo, stalinismo, maoismo, castrismo, fundamentalismos,

chavismo"bolivarianismo etc. %al comportamento err!tico, nefasto e predatório poderia

ser muito bem computado a falibilidade humana, 0 ingenuidade das boas intenções &

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mesmo que por caminhos atentatórios ao mínimo respeito 0 individualidade, a

coletividade e aos mais elementares sentimentos e preceitos humanit!rios &, mas creio

que, no caso dessa estirpe de governantes oportunistas, títeres, inescrupulosos e

sediciosos, e*travasa essa limitação natural, incorrendo diretamente em premeditação

e e*ecução de linhas de ação previamente determinadas e plane$adas.

3odemos encontrar alguma sustentação para esse posicionamento na seguinte

passagem de 8( /ivre Arbítrio9, do filósofo alemão Artur chopenhauer, que pretende

retirar das brumas da casualidade fatalista este tipo de ação refle*a4 “Toda coisa age

de acordo com a própria natureza e sua natureza precisamente por meio das

suas a!"es e#tr$nsecas ati%as& debai#o do impulso dos moti%os' Do mesmo

modo& todo (omem age de con)ormidade com o *ue é& e a a!+o consoante , suanatureza é determinada& caso por caso& pela in)lu-ncia necessitante dos moti%os'

.'''/ é por meio do *ue )azemos *ue recon(ecemos a nós mesmos e a*uilo *ue

somos' 0obre esta %erdade& e n+o sobre a pretensa liberdade de indi)eren!a&

repousam a consci-ncia da responsabilidade e a tend-ncia moral da %ida' Tudo

depende do *ue o (omem é1 toda a!+o sua reponta naturalmente& como o

corol2rio de um teorema'” ;nclui)se aqui, alm da liberdade moral +livre arbítrio, o uso

concomitante das liberdades física e intelectual, de e*pressar seus conceitos e opiniões

em contato direto, ou mediado 

pelos meios de comunicação, com seus concidadãos,

como caminho para a efetivação dos seus ob$etivos e da implementação das suas

propostas, sendo, portanto, um comportamento interativo, ordenado e plane$ado, não

tendo nada de ocasional ou de espont<neo.

 Ampliando um pouco mais esse aspecto da discussão, podemos observar como

a dualidade entre o que se aparenta e aquilo que realmente se constitui)se numa

simulação usual e corriqueira, perfeitamente cristalizada no $ogo do poder ao longo dos

tempos. ( pai da moderna ci'ncia política, o arguto 2icolau 5aquiavel, cita na sua

magistral obra 8( 3ríncipe9, no capítulo =>, 8A conduta dos príncipes e a boa)f9, que a

palavra empenhada pelos mandat!rios e suas ações devem ser e*tremamente

limitadas 0 e*ecução dos seus interesses, agindo ora pela lei +natureza humana, ora

pela força +natureza animal, ou mesmo pela $unção tempor!ria de ambas, mas sempre

em conson<ncia com suas metas, e*ternando o que se dese$a ser de aceitação e

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consenso gerais, ou se$a, mascarando seu verdadeiro eu sem, porm, $amais sufoc!)lo :

“Um pr$ncipe prudente n+o de%er2& pois& agir com boa3)é *uando& para )az-3lo&

 precise agir contra seus interesses& e *uando os moti%os *ue o le%aram a

empen(ar a pala%ra dei#arem de e#istir' Este preceito n+o seria bom se todos os(omens )ossem bons mas como eles s+o maus& e n+o mant-m a pala%ra& n+o se

est2 obrigado a agir de boa3)é' E nunca )altaram raz"es leg$timas para mascarar a

inobser%4ncia das promessas .'''/  De%e3se compreender *ue um pr$ncipe&

especialmente se )or no%o no poder& nem sempre pode obser%ar tudo o *ue é 

considerado bom nos outros (omens& sendo muitas %ezes obrigado& para

 preser%ar o Estado& a agir contra a )é& a caridade& a (umanidade e a religi+o'

5recisa& portanto& ter a mente apta a se modi)icar con)orme os %entos sopram&seguindo as %aria!"es da sorte 6 e%itando des%iar3se do bem se )or poss$%el& mas

guardando a capacidade de praticar o mal& se )or!ado pela necessidade'” 

 Alzira ?argas, filha e assistente de @et6lio ?argas, testemunha ocular das

transformações brasileiras a partir da evolução de =BC, nos concede uma sagaz

interpretação das necessidades do governo versus a esperada conduta ilibada dos

líderes ao tecer uma compreensão do enquadramento do :stado 2ovo na classificação

das formas de governo precedentes, e a ele contempor<neos, e*pressa no seu livro

8@et6lio ?argas, meu pai94 “Dois pontos até ent+o negligenciados passaram a ter 

%alor1 o modo pelo *ual os candidatos a dirigentes obtin(am o poder e os meios

*ue se utiliza%am para go%ernar'.'''/ Os atuais regimes de )or!a s+o& ora

ditaduras3timocr2ticas& ora aristocracias3despóticas& ora monar*uias3 

democr2ticas' E& se atentarmos bem& %eri)icaremos *ue as democracias

modernas nada mais s+o do *ue uma )eliz combina!+o das tr-s )ormas puras de

 Aristóteles e 5lat+o' Os “politis”& n7cleos de cidad+os li%res e iguais perante a lei&

escol(em sua “aristocracia” os mel(ores e os mais capazes& para os representar e elegem& pelo menos teoricamente& o mel(or entre os mel(ores para ser seu 

“monarca”& seu go%ernante& seu 5residente'”  ?erificamos aqui a habitual associação

da democracia com termos como eleição e voto universal, os quais podem ser muito

bem direcionados, ou manipulados, pela m!quina estatal, e pelo apoio decisivo da

e*ist'ncia de uma mídia subserviente, subtraindo)lhes suas isonomia e legitimidade, e

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claramente distanciando)nos do conceito de democracia e*pressa, por e*emplo, no

famoso discurso proferido por Abraham /incoln, em @ettEsburg, na mais pura definição

grega desta idia de redenção absoluta, como o “go%erno do po%o& pelo po%o e para

o po%o'”  Aqueles que dentre nós não se apercebem desse con$unto de ações que

hodiernamente se produzem, e reproduzem, a olhos vistos, ferindo de morte nossas

mais caras garantias individuais e constitucionais, rasgando todos os apan!gios

democratas, ou dormem o sonho torpe de um moderno e decrpito 5orfeu ou então

devem figurar como personagens insossos de corruptelas insidiosas, e malversadas, da

8Ftopia9, de %homas 5orus, ou de 8Dom 7ui*ote9, de 5iguel 1ervantes.

e na natureza nada se cria, nada se perde e tudo se transforma, e

evolutivamente se adapta para sobreviver, postulado similar pode ser empregado naesfera dos relacionamentos políticos e institucionais. A mesma idia de manipulação da

opinião p6blica, de se trabalhar prioritariamente com desinformações e distorções dos

fatos, de se impor o monólogo e as verdades oficiais em detrimento do livre debate e do

confronto democr!tico de idias, são pilares arduamente defendidos por diferentes

regimes e formas de governo ao longo dos tempos. (bservamos essa modalidade de

pensamento tanto em 5aquiavel como nas diretrizes da eficiente, e azeitada, m!quina

de propaganda nazista- e, mais recentemente, em países tendencialmente, e

efetivamente, ditatoriais e fundamentalistas, e mesmo pretensamente neopopulistas e

caudilhistas. ( 5inistro da 3ropaganda do %erceiro eich, o fidelíssimo e essencial

Goseph @oebbels, afirmava com toda a propriedade que “a mentira *uando repetida

%2rias %ezes& e com %eem-ncia& acaba se trans)ormando em  %erdade” , tão

somente e*ternando uma das m!*imas da ideologia nazista no que diz respeito ao uso

da propaganda- e*pressa da seguinte forma por Adolf Hitler, em 85ein Iampf94 “Toda

 propaganda de%e ser popular e estabelecer o seu n$%el espiritual de acordo com a

capacidade de compreens+o do mais ignorante dentre a*ueles a *uem pretendese dirigir' Assim& a sua ele%a!+o espiritual de%er2 ser mantida tanto mais bai#o

*uanto maior )or a massa (umana *ue ela de%er2 abranger .'''/ A arte da

 propaganda reside 8ustamente na compreens+o da mentalidade e dos

sentimentos da grande massa' Ele encontra& por )orma psicologicamente certa& o

camin(o para a aten!+o e para o cora!+o do po%o .'''/   O po%o& na sua grande

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maioria& é de $ndole )eminina t+o acentuada& *ue se dei#a guiar& no seu modo de

 pensar e agir& menos pela re)le#+o do *ue pelo sentimento'”   %alvez se$amos

ingenuamente, e pela ótica do discurso dos vencedores da JK @uerra 5undial, levados

a concluir que tais conclusões se$am frutos da peculiar frieza teut#nica, da tradicional

rígida disciplina alemã, o que seria um ledo e pueril engano, pois seria)lhes impossível

requerer a patente de tão monstruosa, porm eficaz, forma de manipulação e de

distorção das informações de domínio p6blico- largamente utilizada tanto pelos seus

simpatizantes como pelos seus oponentes. 3odemos, isto sim, visualizarmos aqui uma

adaptação dos ensinamentos atemporais de 5aquiavel, que no seu manual para os

governantes dei*a bem claro como a arte da dissimulação deve ser levada a sua forma

mais pura de desfaçatez4 “Mas é necess2rio saber dis)ar!ar bem essa natureza& edissimular per)eitamente os (omens s+o t+o pouco argutos& e se inclinam de tal 

modo ,s necessidades imediatas& *ue *uem *uiser engan23los encontrar2 

sempre *uem se dei#e enganar'.'''/ De modo geral& os (omens 8ulgam mais com

os ol(os do *ue com o tato1 todos podem %er& mas poucos s+o capazes de sentir'

Todos %-em nossa apar-ncia& poucos sentem o *ue realmente somos& e estes

 poucos n+o ousar+o opor3se , maioria *ue ten(a a ma8estade do Estado a

de)end-3la'”  3or isso, prioritariamente, sem e*imir outros fatores condicionantes, uma

boa estratgia, e equipe de marLeting, pode vender a imagem que quiser, levando uma

população dócil e influenci!vel a legitimar a implantação de governos oportunistas,

particularistas e sediciosos que apenas en*ergam no e*ercício do poder uma atividade

parasit!ria e degenerativa das instituições e de esgarçamento do tecido social.

( grande poeta grego ófocles nos ir! fundamentar em mais uma das colunas

que sustentam a construção do templo)mor da desagregação da política da correção,

com uma oportuna observação, dei*ando claro que aqui ela perde seu sentido original,

como tudo o que assenhoreado pelos ases da dem'ncia e da distorção da verdade,

ao dizer que4 “A mais agrad2%el das %idas é a*uela *ue se passa sem nen(uma

espécie de sabedoria” - logicamente se referindo a alegria despreocupada dos

entretenimentos l6dicos de uma inf<ncia sadia e repleta de benesses. 5as, retomando

os e*emplos do nazismo, atravs de trechos de um discurso proferido por Hitler, em

=BJM, veremos como a manipulação da educação, a destruição do ensino formador de

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opiniões e criticista, e o subseqNente transplante de um arcabouço ideologicamente

direcionado que estabelece as diretrizes do sistema de ensino"aprendizagem, são vitais

0 manutenção de um :stado totalit!rio, de uma só voz & a do seu líder supremo e

infalível, ecoada pelo seu sqNito e acólitos títeres &, ob$etivando o culto ao seu

redentor e guia4 “A meta do estado popular tem de ser a orienta!+o de seu 

trabal(o educacional n+o para o simples )im de ministrar con(ecimentos& mas

 para criar e treinar corpos saud2%eis' O treinamento das )aculdades intelectuais

representa apenas um ob8eti%o secund2rio' Mas também nisto de%e3se dar 

-n)ase& em primeiro lugar& , modelagem e )orma!+o do car2ter& sobretudo para

desen%ol%er a )or!a de %ontade e a capacidade de tomar decis"es& 8untamente

com um pronunciado senso de responsabilidade' O treinamento erudito ecient$)ico ocupa o 7ltimo lugar .'''/'  Um (omem de pe*uenas realiza!"es

intelectuais& mas )isicamente saud2%el& de car2ter bom e est2%el e pronto a tomar 

decis"es respons2%eis& é mais %alioso e %anta8oso para a comunidade nacional 

do *ue uma pessoa )raca e de ele%ada cultura'”  Alinhavando tal proposta priorit!ria,

ve$amos a contrapartida pinçada de trechos de 8( 3ríncipe9, de 5aquiavel4 “5ortanto&

se um pr$ncipe precisa con*uistar e manter o poder& os meios *ue empregue

ser+o 

sempre tidos como (onrosos& e elogiados por todos& pois o %ulgo atenta

sempre para as apar-ncias e os resultados o mundo se comp"e só de pessoas

do %ulgo e de umas poucas *ue& n+o sendo %ulgares& )icam sem oportunidade

*uando a multid+o se re7ne em torno do soberano'”  :ntretanto não se trata tão

somente de garantir a subservi'ncia popular atravs de um doutrinamento urdido e

macetado pelos meios de comunicação e ancorado na formação escolar, de sustentar 

os dogmas do sistema ou a autoridade e a infalibilidade dos seus líderes, de lhes

adestrar com as vendas do fanatismo, mas de selecionar seus quadros dirigentes que

irão reproduzir, vigiar e garantir a sustentabilidade das suas bases de poder.

2ovas pistas deste 8pormenor9 podem ser encontradas no indispens!vel g'nio

de :rasmo de oterdã +Desidrio, no seu apai*onante e fenomenal, dentre tantos

outros e in6meros ad$etivos, 8:logio da /oucura9. 1om relação ao mundo enevoado que

cerca os governantes despóticos afirma: “Apesar de todo o bril(o *ue os circunda&

os pr$ncipes me parecem in)elizes por n+o terem *uem l(es diga a %erdade& e por 

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serem obrigados , amizade dos aduladores *ue a dis)ar!am' 9Mas& dir3se32& os

 pr$ncipes n+o gostam de ou%ir a %erdade& e é por isso *ue e%itam a compan(ia

dos s2bios& com medo de encontrarem alguns *ue pre)iram dizer3l(es coisas

%erdadeiras e agrad2%eis:' Con%en(o& os reis n+o amam a %erdade'”   3odemos

mesmos nos remeter a antiga sabedoria oriental na pungente lenda dos tr's macacos &

e tão atual e folclórica para nós brasileiros & que não viam nada, não ouviam nada e

não falavam nada, ou se$a, valendo)se da sua auto)amputação desses sentidos

essenciais para não assumirem responsabilidades e nem se comprometerem com o

que quer que se$a. (utra alfinetada magistral de :rasmo nos dei*a frente a frente com

a inconst<ncia do $ulgamento e da racionalidade dos homens e dos governantes4

“Dizia& pois& *ue a ;ortuna ama os insensatos& os ousados e os temer2rios .'''/ Asabedoria torna os (omens t$midos' < assim *ue se %-em diariamente esses

in)elizes& presas da pen7ria& da )ome e da dor& %i%er obscuros& desprezados e

detestados por todos' 5elo contr2rio& os loucos nadam na opul-ncia& go%ernam

os impérios& numa pala%ra& gozam da mais )lorescente sorte' Com e)eito& se

)azeis consistir a %ossa )elicidade em agradar aos soberanos e ser admitidos ao

bril(ante grupo dos pr$ncipes e cortes+os& de *ue %os ser%ir2 a sabedoria=.'''/

>ue triste papel )areis no comércio se& )iéis ,s leis da sabedoria& n+o ousardes

cometer um per87rio& se corardes por %os apan(arem a mentir& se enc(erdes a

cabe!a dos in*uietadores escr7pulos )ormados pelos s2bios sobre o roubo e a

usura?.'''/ Um asno ou um boi as alcan!aria mais cedo do *ue o (omem  de bom

esp$rito e bom senso'”  : como se tudo isso não fosse suficiente, ainda h! aquele

recorrente 8comple*o de 2ero9 que assombra muitos candidatos, postulantes e calouros

a ditador ou caudilho, ou que $! o são, ou que estão efetivamente pavimentando tal

caminho pela sua continuidade no poder, que quando seus aduladores não lhes são

suficientes, obedecem ao velho provrbio4 “0e n+o tens *uem te elogia& é bom *uete elogies a ti próprio'”  A loucura zombeteira, genial e criativa não lhes companheira

 & a mesma que definiu muito dos grandes homens e líderes no caminhar da história

humana &, lhes inimiga, pois a sede pelo poder lhes patológica e auto)destrutiva &

infelizmente com perverso efeito bumerangue para seus manipulados s6ditos, quase

sempre imolados no altar da sua megalomania e das suas fobias.

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%odas as situações aqui apresentadas, atravs das citações de autores de

diferentes pocas, lugares e estilos, podem, guardadas as devidas proporções,

temporalidades e suas $ustas transposições, serem muito bem adaptadas 0 presente

realidade geopolítica do nosso país e as escolhas feitas pelos seus atuais governantes.

;nsisto que corremos o grave e iminente risco, o perigo real e imediato, de nos

tornarmos parceiros menores na nova composição de forças regionais"globais que se

avizinha e que $! começa a delinear seus contornos. 2ossas escolhas diplom!ticas e o

direcionamento da nossa política e*terna, mais imediatista & sem visão de con$unto ou

de ob$etivos de mdio e de longo prazo &, e dada a fanfarronices e discursos

ideologicamente difusos, verborr!gicos, sofism!ticos e sem subst<ncia, tem se

mostrado de uma inoper<ncia tamanha que compromete o esforço de gerações deh!beis e srios diplomatas que alavancaram e fundamentaram nosso lugar de respeito

no cen!rio internacional. ( chamado 8risco ?enezuela9, e os seus, dentre outros,

8efeitos colaterais9 boliviano e equatoriano, e o 8surto cubano9, com todas as suas

variantes e implicações, batem insistentemente 0 nossa porta, mas faz)se um

perturbador 8ouvido de mercador9 por parte dos nossos dignit!rios- talvez porque se$a

essa a parte que lhes caiba nos arran$os acertados nos acordos bilaterais & não

necessariamente oficiais & com seus 8hermanos9 ideológicos. As tentativas de se

restringir a atuação da mídia livre ao 8politicamente correto9, de coloc!)la nos aceit!veis

par<metros colaboracionistas com o pretenso regime popular e salvacionista, de

submet')la a prvia an!lise de órgãos reguladores estatais, de evitar que sua ação

reacion!ria & por meio de 8perseguições in$ustificadas9, 8den6ncias vazias9 e

8investigações sórdidas9 & atrapalhe o curso das mudanças necess!rias ao progresso

institucional e social, atrelando)a aos segmentos $! 8domesticados9 e efetivamente

8progressistas9, parece ser a t#nica do neopopulismo caudilhista que, de forma

agourenta, e nefasta, grassa nas nossas vizinhanças e no nosso próprio quintal. A idia

de uma constituinte paralela, de duas assemblias nacionais simult<neas e divergentes

 & nas suas g'neses e nas suas funções &, tambm agrega, como mais um prel6dio de

caos, um fator fatalmente desestruturante e de inequívoca formação de instabilidade

política e institucional- ainda mais se considerarmos a recorrente conduta pouco tica,

e*emplar, louv!vel e de falta de retidão, alm de e*tremamente corporativista,

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desregrada e promíscua, rotineiramente, e escandalosamente, empreendida por parte

consider!vel dos nobres parlamentares republicanos e por altos representantes do

e*ecutivo e do $udici!rio & $ustamente de onde deveria partir o e*emplo capital para o

procedimento correto e homog'neo de toda nossa sociedade.

%udo nos leva a crer que & mesmo não tendo tido acesso, lido ou estudado com

afinco e profundidade as preciosas lições de 8( 3ríncipe9 & os 8guias da 2ação9 tenham

adotado, e adaptado ao seu pro$eto de poder, como linha mestra de ação, e norma de

procedimento"comportamento irrefut!vel, a mais conhecida das m!*imas de 5aquiavel4

“@a conduta dos (omens& especialmente dos pr$ncipes& contra a *ual n+o (2 

recurso& os )ins 8usti)icam os meios'” 

Fma frase de /uís 1arlos 3restes, líder do 31O, 0s vsperas da evolução de=BPM, me vem insistentemente 0 lembrança4 “@+o estamos no go%erno& mas 82 

estamos no poder'”   ó que ho$e o governo tambm lhes pertence- não ao seu

partido"legenda & 31O &, mas 0 continuidade da sua linha ideológica e doutrin!ria. :

daí que me pergunto4 o que lhes falta agoraQ

CEBER AMEDA DE OERA 6 5RO;E00OR DE 0TFRA

DEEGADO DA AMTB 6 DEEGACA TE@E@TE3BRGADERO 

@E0O@ ;RERE AE@HRE3IA@DEREJ 6 0A@TO0 DUMO@T 6 MG