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Determinação de diversos compostos em bebidas por cromatografia de alta
eficiência (HPLC)
Simões, Filipa; Moreira, Filipe; Lobo, Gerson
Licenciatura em Bioquímica, Bioquímica Experimental I, Turma nº2, Grupo nº4,
DQB/FCUL, Campo Grande Ed. C8, 1749-016 Lisboa)
ResumoCom este trabalho experimental pretendeu-se identificar a presença de
diversos compostos (benzoato de sódio, sacarina e cafeína) em três amostras de
bebidas, nomeadamente chá, café e coca-cola. Para isso, recorreu-se à técnica de
cromatografia de alta eficiência, também conhecida por HPLC, sendo também
possível, recorrendo ao método do padrão externo, a determinação do teor em
cafeína.
A partir da cromatografia utilizada detectou-se a presença de sacarina e
cafeína na coca-cola; de cafeína no chá e de cafeína na amostra de café. A única
amostra padrão que não foi possível identificar por comparação dos tempos de
retenção foi o benzoato de sódio.
Quanto à determinação da concentração de cafeína em cada uma das amostras
analisadas, recorreu-se à análise quantitativa, que teve em conta as diferentes
diluições a diferentes concentrações. Construiu-se assim uma curva de calibração da
área do pico em função da concentração dessas soluções - método do padrão
externo. Método este usado para calcular o teor de cafeína em cada bebida. Verificou-
se pois que a ordem pela qual a bebida que apresenta o maior teor em cafeína é o
café (0,29 mg/mL), seguida da coca-cola (0,146 mg/mL) e finalmente do chá (0,813
mg/mL), obtendo-se valores ligeiramente inferiores aos tabelados, possivelmente
devido às diferenças intrínsecas às diferentes marcas de cada produto analisado.
Introdução
A cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) consiste numa fase móvel
(normalmente constituída por uma mistura de solventes) que transportam a amostra
em análise através de uma coluna cromatográfica, a interacção entre os analitos em
estudo e a coluna determinam a forma como a separação dos vários analitos ocorre.
Depois de feita a separação a fase móvel conduz os analitos ate um detector que é
1
normalmente UV/Vis embora detectores diferentes como os de índice de refracção
possam ser utilizados.
Existem vários factores que influenciam a análise por HPLC, no entanto os
mais importantes são a composição da fase móvel e o tipo de coluna (factores como a
temperatura, fluxo e modo gradiente ou isocrático, são utilizados na fase de
optimização de método cromatográfico).
As primeiras colunas cromatográficas eram constituídas por partícula de sílica
que podiam ou não ser revestidas por diferentes compostos para lhe conferirem
diferentes capacidades separativas. Hoje em dia estas colunas são ainda as mais
utilizadas, no entanto já existem no mercado colunas de base polimérica e que são
utilizadas em gamas de pH mais extremas onde não é possível utilizar sílica.
As colunas podem classificar-se em dois grupos: as de fase reversa (C8, C18),
falando-se em cromatografia de fase reversa, e as colunas de fase normal (sílica,
NH2), falamos então de cromatografia de fase normal.
As colunas de fase reversa utilizam-se para separar compostos neutros e a
fase da coluna é hidrofóbica. Solventes como o acetonitrilo, o metanol e as soluções
tampão são usadas como fase móvel.
As colunas de fase normal utilizam-se para amostras em que o analito é
hidrofóbico sendo a fase estacionária polar e usando para a fase móvel solventes
como o n-hexano, n-heptano ou isopropanol.
Os dois principais mecanismos de separação desta técnica são a interacção
composto-coluna e a velocidade a que esta interacção ocorre.
Em fase reversa a interacção ocorre entre os grupos funcionais que revestem a
fase estacionária da coluna (normalmente grupos octilsilano – C8 e octadecilsileno –
C18).
A velocidade a que este mecanismo ocorre tem a ver com a composição da
fase móvel. Fases móveis com grande quantidade de meio aquoso produzem
cromatogramas com tempos de retenção mais elevados. Se aumentarmos a
concentração de solvente orgânico reduz-se o tempo de análise. Factores como o pH
da fase móvel poderão também ter que ser considerados para alguma separação
cromatográfica.
2
Em fase normal quando se esta em presença de colunas polares e eluentes
apolares os mecanismos que se estabelecem para a separação cromatográfica
baseiam-se na capacidade de se estabelecerem mecanismos de adsorção.
A tabela seguinte mostra por que razão compostos como a acetona, DMF e
DMSO não são utilizados em fases móveis. Os seus cutoff situam-se numa zona de
máximo de absorvência de um grande número de compostos. Já a agua e o
acetonitrilo, com máximo a 200 e 190 respectivamente, situam-se numa zona do
espectro onde um número muito reduzido de substâncias possui absorvência.
Tabela 1- Absorvância dos solventes
Solvente UV (nm) Cutoff @ 1AU
Ácido acético 230
Acetona 330
Acetonitrilo (ACN) 190
Dimetilformamida (DMF) 268
Dimetilsulfóxido (DMSO) 268
Dioxano 215
Etanol (EtOH) 210
Metanol (MeOH) 205
N-propanol 210
Iso-Propanol (IPA) 210
Tetrahidrofurano (THF) 215
Agua (H2O) 210
3
Parte experimental
4
Pesou-se 1 mg de sacarina, de aspartame e de benzoato de sódio para balões de 5 mL e aferiu-se com eluente
Pesou-se 25 mg de cafeína para um balão de 100 mL e afereiu-se
com a fase móvel
Peprarou-se 5 padrões de cafeína diluindo 1,5,10 e 20 mL em balões de 25 mL.
Aferiu-se com o eluente
Mediu-se 1 mL de café para um balão de 50 mL e aferiu-se com o
eluente
Usou-se um saco de chá em 500 mL de
água fervente. Mediu-se 4 mL para um balão de 20 mL e aferiu-se
com o eluente
Mediu-se entre 10 a 15 mL de pepsi para um gobelet e usou-se o
ultra-sons para desgaseificar a bebida
Após a desgazeificação mediu-se 8 mL para um
balão de 20 mL e aferiu-se com o eluente
Filtraram-se as amostras sob pressão
com um filtro de membrana
Tratamento de dados
Tempos de Retenção
Tabela 2: Tempos de retenção das amostras padrão
Amostras Padrão Diluição Tempo de Retenção (min)
Benzoato de Sódio - 15,88
Sacarina - 4,12
Cafeína 1 1/25 11,60
Cafeína 2 2/25 11,78
Cafeína 3 5/25 11,75
Cafeína 4 10/25 11,75
Cafeína 5 20/25 11,67
Como se prepararam várias amostras padrão de cafeína, torna-se necessário
calcular o valor médio do tr deste padrão, sendo ele dado por:
t rmédio=15×∑i=1
5
ci=15× (11,60+11,78+11,75+11,75+11,67 )=1
5×58,55=11,71≈12min
É possível identificar os compostos anteriormente enunciados na tabela nas
amostras estudadas (café, coca-cola e chá) por comparação dos tempos de retenção
lidos a partir dos cromatogramas.
No caso da coca-cola, verificou-se que ao maior pico do cromatograma
corresponde um tr (tempo de retenção) de 11,92 min. Por comparação com a tabela 1
conclui-se que a coca-cola é constituída por cafeína. No cromatograma desta bebida é
possível observar um pico menor, com um tr = 4,44 min. Assim, do mesmo modo se
conclui que a sacarina é outro componente da coca-cola.
Para o chá apenas se detectou um pico evidente, com um t r de 11,63 min. Isto
significa que este chá tem cafeína na sua composição, o que é de esperar dado que o
chá usado foi chá preto.
Por fim, no cromatograma da amostra de café são visíveis diferentes picos,
destacando-se um maior ao qual está associado um tr de 11,62 min. Os restantes
picos não têm valores de tempos de retenção que possam ser comparados com a
tabela 1.
5
Note-se que de todos os padrões preparados o benzoato de sódio foi o único
que não foi detectado nas amostras de chá, coca-cola e café, uma vez que nenhum
dos picos presentes nos respectivos cromatogramas tinha a ele associado um valor de
tr igual ou semelhante a 15,88 min.
Observando todos os cromatogramas, presentes em Anexo conclui-se acerca
da sua resolução. Os cromatogramas têm uma boa resolução quando têm uma boa
selectividade e um alargamento de banda pequeno.
Neste caso em particular, verifica-se que todos eles têm um alargamento de
banda pequeno e, no geral, uma boa selectividade. Para o cromatograma da amostra
do café pode ser considerado que a selectividade é relativamente pior, já que os picos
estão próximos, no entanto são perceptíveis, o que permite concluir que se trata de um
cromatograma com uma boa resolução.
Por comparação dos valores de tr de cada constituinte das amostras com o valor
de tr obtido para a cafeína padrão, pode-se aferir que todas as amostras possuem
cafeína na sua constituição, correspondendo esta apenas ao último pico de cada
amostra – tabela 3.
Tabela 3 : Tempos de retenção (tr) e áreas dos picos correspondentes à identificação da cafeína
nos cromatogramas das amostras preparadas a partir de diversas bebidas (chá, café e coca-cola).
Bebid
a
tr/
min
Ápico/
mm2
tr (padrão
de
cafeína)/mi
n
Composto
identificad
o
Café11,6
2
5000000
0
11,72
Cafeína
Chá11,6
38271500 Cafeína
Coca-
Cola
11,9
2
2119700
0Cafeína
Tendo em conta a tabela 3 , observa-se que os tempos de retenção não
coincidem totalmente, podendo esta discrepância dever-se ao erro inerente ao
aparelho de medição.
6
Utilizando o método do padrão externo, foi possível determinar a concentração
de cafeína em cada uma das amostras. Construiu-se para tal uma curva de calibração
por regressão linear, através do método dos mínimos quadrados, a partir da
representação gráfica da área dos picos em função da correspondente concentração
de cafeína.
Sabendo que para a solução mãe se diluiram 25,5 mg de cafeína em 100 mL de
eluente, calculou-se a concentração de cafeína presente em cada solução diluída de
padrão de cafeína:
C=mV
C=25,5100
=0,255mg /mL
Sabendo que para a primeira solução se dilui 1mL (Vi) de solução mãe de
cafeína em 25mL (Vf) é possível determinar a concentração da solução preparada.
C iV i=C f V f⇔C f=C iV i
V f⇔C f=
0,255×125
=0,01mg /mL
Procedendo-se de forma análoga para as restantes diluições efectuadas, as
concentrações calculadas são apresentadas na tabela 4.
Tabela 4- concentração das soluções obtidas por diluição da solução mãe de cafeína (0,25mg/mL), e respectivos tempos de retenção (tr) e área do pico.
Diluição V solução mãe[Cafeína] (mg/mL)
TrÁrea do
pico1 1 0,01 11,6 4216100
2 2 0,0211,7
89733400
3 5 0,0511,7
521891000
4 10 0,111,7
527070000
5 15 0,211,6
737968000
De modo a determinar a concentração de cafeína nos 3 compostos analisados
por HPLC, aplicou-se o método do padrão externo, relacionando-se graficamente
(gráfico I) as áreas de cada pico com as concentrações de cafeína conhecidas (tabela
4). Obtém-se pois a curva de calibração representada na figura 1.
7
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.250
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000
30000000
35000000
40000000f(x) = 164395232.172471 x + 7681662.35489221R² = 0.891996452303613
Series2Linear (Series2)
[Cafeína] (mg/mL)
Área
do
pico
UA
Figura 1-Curva de calibração referente ao método do padrão externo, obtida por regressão linear atravéss a partir da represCurva de calibrado do padrão externo, obtida porntação gráfica dos resultados
da tabela
Neste caso, confirma-se a existência de linearidade entre as grandezas em
estudo pois o R2 obtido é 0,892 (valor próximo de 1, correspondente às correlações
perfeitas).
Utilizando os valores das áreas dos picos de cafeína de cada amostra,
determinou-se a concentração (x), substituindo-se y pelas áreas obtidas nos
cromatogramas.
y=2×108 x+8×106
⇔x= y−8×106
2×108
No caso da amostra de chá substituímos o valor de y e obtém-se:
C=8271500−8×106
2×108=0,0814mg /mL
8
Tabela 5- concentração de cafeína de cada uma das amostras estudadas, em função das respectivas áreas de pico e tempos de retenção.
Amostra [cafeina]/(mg/mL)
café 0,2100
cha 0,0014
coca-cola 0,0660
Como as amostras são preparadas através de diluições é necessário recalcular a
concentração de cafeína nas bebidas em estudo.
Sabendo que
⇔c inicial=c final×V finalV inicial
c inicial×V inicial=c final×V final⇔
E sabendo também que, por exemplo, para o chá foram utilizados 4 mL num
volume final de 20 mL, tiramos que:
c i=0,0014×20
4=0,007mg /mL
Sabendo que esta concentração está contida numa solulção de 500mL,
multiplica-se este volume com a respectiva concentração, para calcular a massa total
de cafeína presente em solução.
mcafeína=0,007×500=3,5mg≈ 0,0035g
Tendo uma massa inicial de 1,5g, torna-se, então, possível calcular o teor real
de cafeína presente no equivalente a uma saqueta de chá.
% teorcafeína=mcafeínamchá
(¿ )% teor cafeína=0,00351,5
=0,2%
Efectuando os mesmos cálculos para as restantes amostras, obtemos o quadro
seguinte.
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Tabela 6 – Concentrações originais de cafeína nas amostras
Amostra[Cafeína]
(mg/mL)
Volume final da
solução (mL)
Volume inicial da
amostra (mL)
[Cafeína] Inicial
(mg/mL)
Teor cafeína
(mgcafeína/gamostra)
Chá 0,0014 20 10 0,007 2,33mg/g=0,2%
Coca-Cola 0,0660 20 8 0,165 0,17mg/g=1,7%
Café 0,2100 50 1 10,5 52,42mg/g=5,2%
Pela observação da tabela 6, verificamos que é o café a bebida que contem
uma maior concentração de cafeína.
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Conclusão
Este trabalho teve como objectivo principal a identificação da presença de
cafeína em amostras tais como café, chá e coca-cola, bem como o seu teor nestas
bebidas.
Após o seu estudo por HPLC, foi realizada uma análisa dos cromatograma
obtidos. Por comparaçao dos tempos de retenção de cada pico obtido com o tempo de
retenção obtido para o padrão de cafeína, verifica-se a existência de um pico a que
corresponde um tr característico da cafeína em todas as amostras, confirmando assim
a sua presença em cada uma das bebidas. Para a sacarina verifica-se a existência de
um pico na coca-cola e para o benzoato de sódio não se verifica qualquer pico nas
três amostras.
Em seguida recorreu-se ao método do padrão externo para determinar o teor de
cafeína de cada amostra de bebida. Para tal, construiu-se uma curva de calibração a
partir da representação gráfica das áreas dos picos em função da concentração de
cafeína (mg/mL). Assim, tendo por base a equação da recta obtida, conhecendo-se as
áreas correspondentes ao pico da cafeína, assim como as diluições efectuadas na
preparação de cada amostra, concluiu-se que a bebida mais concentrada em cafeína
é o café (10,5), seguida da coca-cola (0,165) e finalmente o chá (0,007).
Relativamente ao teor de cafeína presente em cada amostra, verificou-se que o
café apresenta a maior percentagem de cafeína em mgcafeína/gamostra (5,2%).
Apesar de os resultados obtidos serem ligeiramente diferentes dos teóricos,
subestimando a concentração de cafeína, possivelmente por estes valores
dependerem da marca e do modelo do produto testado (podendo se assim explicar a
diferença mais significativa do valor obtido para o chá), foi possível determinar a
ordem relativa esperada de concentração em cafeína das bebidas.
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Bibliografia
Reversed phase HPLC application guide, Macherey-Nagel
Braga Morais, Zilda; Métodos cromatográficos, licenciatura em análises clinicas
e de saúde pública, Escola Superior de Saúde Egas Moniz, 2008-2009
12
Anexos
13
Figura 1- Cromatograma coca-cola e chá
Figura 2- Cromatografia da sacarina e da cafeína padrão 1
Figura 3- Cromatogramas da cafeína padrão 2 e 3
Figura 4- cromatogramas da cafeína padrão 4 e 5
14