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Ricardo Resende Direito do Trabalho Captulo 30 Curso Completo (Resumo)Direito Administrativo do Trabalho (cf. edital AFT)

30.1. Generalidades Como temos estudado desde o primeiro captulo do nosso Curso, o Direito do Trabalho visa reequilibrar a relao capital/trabalho, mediante a interveno estatal no domnio econmico, e especificamente nas relaes de trabalho, a fim de compensar a flagrante inferioridade econmica do trabalhador (hipossuficiente) frente ao empregador. Ocorre que, alm da interveno estatal atravs do poder de editar normas, o Estado se faz presente na relao de emprego, velando pelo mencionado equilbrio, ao lanar mo de seu poder de polcia administrativa. exatamente a que entra a fiscalizao do trabalho, e consequentemente o trabalho dos Auditores-Fiscais do Trabalho. Nas palavras do Prof. Jos Cairo Jr., grande parte dos dispositivos trabalhistas, principalmente aqueles contidos na CLT, classificam-se como normas mais que perfeitas, pois apresentam, no mnimo, uma dupla sano para um mesmo ato antijurdico, sendo uma de natureza laboral (inadimplemento) e outra de natureza administrativa (infrao administrativa) 1. bvio que a incidncia de dupla sano no implica, no caso, bis in idem, pelo simples fato de que se tratam de sanes de natureza diversa. Com efeito, h inclusive dois prejudicados distintos: de um lado, o trabalhador, que teve seu direito trabalhista violado; de outro, o Estado, na condio de representante da sociedade, que viu desrespeitada uma regra de convivncia de fundamental importncia, porque ligada dignidade do cidado trabalhador. O chamado Direito Administrativo do Trabalho cuida exatamente dos limites da interveno do Estado na relao de trabalho, e notadamente do poder punitivo da fiscalizao trabalhista.

30.2. Base legal Dispe a Constituio de 1988 que compete Unio organizar, manter e executar a inspeo do trabalho (art. 21, XXIV).

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JNIOR, Jos Cairo. Curso de Direito do Trabalho. 4 Ed. Salvador : Juspodivm, 2009, p. 667.

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A Conveno 81 da OIT tambm prev a manuteno de sistema de inspeo do trabalho pelos pases signatrios, dentre os quais o Brasil. A CLT prev, no art. 626, a realizao da inspeo do trabalho pelo Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio, atual Ministrio do Trabalho e Emprego. Por fim, o Regulamento da Inspeo do Trabalho RIT foi aprovado pelo Decreto n 4.552/2002, o qual regulamenta a atuao dos Auditores-Fiscais do Trabalho, e ser objeto de estudo neste captulo, por integrar o contedo programtico do concurso para AFT.

30.3. Do processo das multas administrativas A CLT dedica o Ttulo VII ao processo das multas administrativas. Vejamos os dispositivos. Art. 626 - Incumbe s autoridades competentes do Ministrio do Trabalho, Indstria e Comercio, ou quelas que exeram funes delegadas, a fiscalizao do fiel cumprimento das normas de proteo ao trabalho. Pargrafo nico - Os fiscais dos Institutos de Seguro Social e das entidades paraestatais em geral dependentes do Ministrio do Trabalho, Industria e Comercio sero competentes para a fiscalizao a que se refere o presente artigo, na forma das instrues que forem expedidas pelo Ministro do Trabalho, Industria e Comercio. Atualmente a fiscalizao do trabalho incumbe exclusivamente aos Auditores-Fiscais do Trabalho, diretamente vinculados ao Ministrio do Trabalho e Emprego (art. 1 do RIT). Assim, no mais se aplica o disposto no pargrafo nico ao art. 626, tendo em vista que os fiscais do INSS no so mais dependentes do MTE, e sim integram a Receita Federal do Brasil, diante da unificao das receitas Federal e Previdenciria.

Art. 627 - A fim de promover a instruo dos responsveis no cumprimento das leis de proteo do trabalho, a fiscalizao dever observar o critrio de dupla visita nos seguintes casos: a) quando ocorrer promulgao ou expedio de novas leis, regulamentos ou instrues ministeriais, sendo que, com relao exclusivamente a esses atos, ser feita apenas a instruo dos responsveis; b) em se realizando a primeira inspeo dos estabelecimentos ou dos locais de trabalho, recentemente inaugurados ou empreendidos.

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Em algumas hipteses legais o poder de polcia administrativa estatal se limita, em um primeiro momento, orientao dos empregadores. a chamada dupla visita, que consiste na orientao do empregador na primeira visita e, se recalcitrante o empregador (ou seja, se reincide na mesma falta), a sim na autuao, mas apenas na segunda visita. O critrio da dupla visita no se limita s hipteses do art. 627, alneas a e b da CLT. Com efeito, tais hipteses devem ser estudadas combinadas com o disposto no art. 23 do Decreto n 4.552/2002, e com o art. 55, 1, da Lei Complementar n 123/2006 (Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte). Vejamos: Decreto n 4.552/2002 (RIT): Art. 23. Os Auditores-Fiscais do Trabalho tm o dever de orientar e advertir as pessoas sujeitas inspeo do trabalho e os trabalhadores quanto ao cumprimento da legislao trabalhista, e observaro o critrio da dupla visita nos seguintes casos: I - quando ocorrer promulgao ou expedio de novas leis, regulamentos ou instrues ministeriais, sendo que, com relao exclusivamente a esses atos, ser feita apenas a instruo dos responsveis; II - quando se tratar de primeira inspeo nos estabelecimentos ou locais de trabalho recentemente inaugurados ou empreendidos; III - quando se tratar de estabelecimento ou local de trabalho com at dez trabalhadores, salvo quando for constatada infrao por falta de registro de empregado ou de anotao da CTPS, bem como na ocorrncia de reincidncia, fraude, resistncia ou embarao fiscalizao; e IV - quando se tratar de microempresa e empresa de pequeno porte, na forma da lei especfica. 1 A autuao pelas infraes no depender da dupla visita aps o decurso do prazo de noventa dias da vigncia das disposies a que se refere o inciso I ou do efetivo funcionamento do novo estabelecimento ou local de trabalho a que se refere o inciso II. 2 Aps obedecido o disposto no inciso III, no ser mais observado o critrio de dupla visita em relao ao dispositivo infringido. 3 A dupla visita ser formalizada em notificao, que fixar prazo para a visita seguinte, na forma das instrues expedidas pela autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho.http://www.euvoupassar.com.br Eu Vou Passar e voc?

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Lei Complementar n 123/2006: Art. 55. A fiscalizao, no que se refere aos aspectos trabalhista, metrolgico, sanitrio, ambiental e de segurana, das microempresas e empresas de pequeno porte dever ter natureza prioritariamente orientadora, quando a atividade ou situao, por sua natureza, comportar grau de risco compatvel com esse procedimento. 1 Ser observado o critrio de dupla visita para lavratura de autos de infrao, salvo quando for constatada infrao por falta de registro de empregado ou anotao da Carteira de Trabalho e Previdncia Social CTPS, ou, ainda, na ocorrncia de reincidncia, fraude, resistncia ou embarao fiscalizao.

Art. 627-A. Poder ser instaurado procedimento especial para a ao fiscal, objetivando a orientao sobre o cumprimento das leis de proteo ao trabalho, bem como a preveno e o saneamento de infraes legislao mediante Termo de Compromisso, na forma a ser disciplinada no Regulamento da Inspeo do Trabalho. Conforme dispem os a arts. 28 e 29 do RIT, o procedimento especial para ao fiscal poder ser instaurado, sempre autorizado pela chefia imediata, nas seguintes hipteses: I - motivo grave ou relevante que impossibilite ou dificulte o cumprimento da legislao trabalhista pelo tomador ou intermediador de servios; II - situao reiteradamente irregular em setor econmico. No caso de instaurao do referido procedimento especial, o AFT abstm-se, em um primeiro momento, de autuar o infrator, e firma com ele termo de compromisso escrito. No caso de descumprimento do termo de compromisso ou da negativa em firmar o mesmo, lavram-se os autos de infrao respectivos. Importante ressaltar que o procedimento especial no se aplica s situaes de grave e iminente risco sade ou integridade fsica do trabalhador (art. 28, 6, do RIT).

Aproveitando o link com a questo do procedimento de fiscalizao, a inspeo do trabalho funciona basicamente sob trs formas procedimentais: a) Fiscalizao direta: todo o procedimento de fiscalizao se d no local de trabalho, desde a verificao fsica at a anlise documental.

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b) Fiscalizao indireta: todo o procedimento de fiscalizao se d no rgo descentralizado do MTE (normalmente Superintendncia Regional, no caso das capitais de Estado, ou Gerncias Regionais, nas cidades do interior), sendo a notificao enviada ao empregador por via postal. Nos termos do art. 30, 2, do RIT, a fiscalizao indireta poder ser adotada quando: - da execuo de programa especial para a ao fiscal; - o objeto da fiscalizao no importar necessariamente em inspeo no local de trabalho Exemplos de fiscalizao indireta so aes fiscais para insero de aprendizes, de portadores de necessidades especiais, ou ainda ao fiscal para regularizao de recolhimentos do FGTS. c) Fiscalizao mista: a combinao dos dois procedimentos anteriores, ou seja, o AFT procede inspeo in loco, e notifica o empregador a apresentar os documentos necessrios na unidade descentralizada do MTE.

Art. 628. Salvo o disposto nos arts. 627 e 627-A, a toda verificao em que o Auditor-Fiscal do Trabalho concluir pela existncia de violao de preceito legal deve corresponder, sob pena de responsabilidade administrativa, a lavratura de auto de infrao. Primeiro a CLT traz as excees (dupla visita e procedimento especial), depois a regra, ou seja, a regra a lavratura de um auto infrao para cada preceito legal violado. Se o AFT no o faz, pode ser responsabilizado administrativamente, pois estar se omitindo em relao ao seu poder-dever. Neste sentido, importante frisar que a atividade da fiscalizao vinculada, no comportando discricionariedade do agente pblico.

1 Ficam as empresas obrigadas a possuir o livro intitulado "Inspeo do Trabalho", cujo modelo ser aprovado por portaria Ministerial. 2 Nesse livro, registrar o agente da inspeo sua visita ao estabelecimento, declarando a data e a hora do incio e trmino da mesma, bem como o resultado da inspeo, nele consignando, se for o caso, todas as irregularidades verificadas e as exigncias feitas, com os respectivos prazos para seu atendimento, e, ainda, de modo legvel, os elementos de sua identificao funcional. 3 Comprovada m f do agente da inspeo, quanto omisso ou lanamento de qualquer elemento no livro, responder ele por falta grave no cumprimento do dever, ficando passvel, desde logo, da pena de suspenso at 30 (trinta) dias, instaurando-se, obrigatriamente, em caso de reincidncia, inqurito administrativo.

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4 A lavratura de autos contra empresas fictcias e de endereos inexistentes, assim como a apresentao de falsos relatrios, constituem falta grave, punvel na forma do 3. As empresas so obrigadas a possuir e manter no local de trabalho o Livro de Inspeo do Trabalho, destinado s anotaes relativas ao fiscal (data de incio, data de trmino, prazos concedidos, irregularidades encontradas, autos de infrao lavrados, etc). Na verdade o Livro de Inspeo serve como histrico de fiscalizaes anteriores para que o AFT encarregado da prxima fiscalizao possa, de imediato, conhecer o passado do empregador, o que importante, por exemplo, para aplicao do critrio da dupla visita. As ME e as EPP so dispensadas de possuir o Livro de Inspeo do Trabalho (art. 51, IV, da Lei Complementar n 123/2006). Os 3 e 4 tratam de hipteses de desvio de conduta do AFT, prevendo a punio aplicvel.

Art. 629 - O auto de infrao ser lavrado em duplicata, nos termos dos modelos e instrues expedidos, sendo uma via entregue ao infrator, contra recibo, ou ao mesmo enviada, dentro de 10 (dez) dias da lavratura, sob pena de responsabilidade, em registro postal, com franquia e recibo de volta. 1 O auto no ter o seu valor probante condicionado assinatura do infrator ou de testemunhas, e ser lavrado no local da inspeo, salvo havendo motivo justificado que ser declarado no prprio auto, quando ento dever ser lavrado no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de responsabilidade. No mesmo sentido, o art. 24, pargrafo nico, do RIT. Constituem motivos justificados para lavratura do auto de infrao fora do local da inspeo, por exemplo, a ocorrncia de embarao fiscalizao, hiptese em que o AFT no tem a obrigao de lavrar o auto no local, at mesmo por questes de segurana, bem como a hiptese em que a lavratura do auto no local possa perturbar o funcionamento do estabelecimento. De qualquer sorte, a validade do auto de infrao no depende da assinatura do infrator, podendo ser o auto enviado ao empregador por via postal. A lavratura fora do local no tem o condo de invalidar o auto de infrao, e sim de sujeitar o AFT responsabilizao administrativa.

2 Lavrado o auto de infrao, no poder ele ser inutilizado, nem sustado o curso do respectivo processo, devendo o agente da inspeo apresent-lo autoridade competente, mesmo se incidir em erro.

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O dispositivo tem por objetivo controlar o uso dos formulrios de auto de infrao pela administrao, tendo em vista a importncia do ato administrativo consistente na lavratura do auto de infrao. Assim, uma vez lavrado o auto de infrao, o AFT no tem mais controle sobre sua tramitao, a qual se faz, atualmente, sob a forma de processo administrativo. Caso tenha o auto de infrao sido lavrado com erro, ainda assim no ser nulo se do processo constarem elementos suficientes para a caracterizao da falta. Neste sentido, o art. 10 da Portaria GM/MTb n 148/1996: Art. 10. A omisso ou incorreo no Auto de Infrao no acarretar sua nulidade quando do processo constarem elementos suficientes para a caracterizao da falta. 1 Quando se tratar de omisso ou erro na capitulao da infrao, caber autoridade regional, mediante despacho saneador e antes do julgamento, corrigir a irregularidade, concedendo novo prazo autuada para apresentar defesa.

3 O infrator ter, para apresentar defesa, o prazo de 10 (dez) dias contados do recebimento do auto. O empregador autuado tem dez dias, contados a partir do primeiro dia til seguinte ao do recebimento do auto de infrao (seja mediante assinatura no prprio auto, seja pela data atestada pelos Correios), para apresentar defesa por escrito, se quiser. Caso apresente a defesa, o processo ser analisado por um AFT analista de processos (naturalmente diferente daquele que lavrou o auto de infrao), que opinar pela subsistncia ou no do auto de infrao. Ento, a autoridade regional (normalmente o Superintendente Regional do Trabalho e Emprego, mas que, por delegao, pode ser o Gerente Regional do Trabalho e Emprego), acolhendo o parecer do analista, julga o auto de infrao procedente ou no. Se subsistente o auto de infrao, imposta a multa, sendo o infrator notificado por via postal. A partir da notificao, segue-se o rito dos artigos 635 e seguintes da CLT, conforme veremos adiante.

4 O auto de infrao ser registrado com a indicao sumria de seus elementos caractersticos, em livro prprio que dever existir em cada rgo fiscalizador, de modo a assegurar o controle do seu processamento. Atualmente o controle do processamento dos autos de infrao feito atravs da autuao em processo administrativo, com numerao padronizada e controle eletrnico de tramitao.

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Art. 630. Nenhum agente da inspeo poder exercer as atribuies do seu cargo sem exibir a carteira de identidade fiscal, devidamente autenticada, fornecida pela autoridade competente. obrigatria a identificao do AFT em toda ao fiscal, porm a mesma pode se dar aps iniciada a ao fiscalizatria, ou seja, depois da verificao fsica, desde que isso seja necessrio ao sucesso da diligncia. Neste sentido, o art. 12 do RIT: Art. 12. A exibio da credencial obrigatria no momento da inspeo, salvo quando o Auditor-Fiscal do Trabalho julgar que tal identificao prejudicar a eficcia da fiscalizao, hiptese em que dever faz-lo aps a verificao fsica. A exigncia de documentos por parte do AFT, entretanto, s possvel aps a identificao, consoante dispe o pargrafo nico do supramencionado art. 12.

1 proibida a outorga de identidade fiscal a quem no esteja autorizado, em razo do cargo ou funo, a exercer ou praticar, no mbito da legislao trabalhista, atos de fiscalizao. 2 - A credencial a que se refere este artigo dever ser devolvida para inutilizao, sob as penas da lei em casos de provimentos em outro cargo pblico, exonerao ou demisso bem como nos de licenciamento por prazo superior a 60 (sessenta) dias e de suspenso do exerccio do cargo. Os dois pargrafos acima dispensam maiores comentrios, pois tratam de controle bvio do credenciamento dos Auditores-Fiscais do Trabalho. H apenas uma ressalva a fazer: o RIT dispe de forma diferente sobre o prazo do pargrafo segundo, no caso de licenciamento, nos seguintes termos: Art. 10. Ao Auditor-Fiscal do Trabalho ser fornecida Carteira de Identidade Fiscal (CIF), que servir como credencial privativa, com renovao qinqenal. 1o Alm da credencial aludida no caput, ser fornecida credencial transcrita na lngua inglesa ao Auditor-Fiscal do Trabalho, que tenha por atribuio inspecionar embarcaes de bandeira estrangeira. 2o A autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho far publicar, no Dirio Oficial da Unio, relao nominal dos portadores de Carteiras de Identidade Fiscal, com nome, nmero de matrcula e rgo de lotao. 3o proibida a outorga de identidade fiscal a quem no seja integrante da Carreira Auditoria-Fiscal do Trabalho.

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Art. 11. A credencial a que se refere o art. 10 dever ser devolvida para inutilizao, sob pena de responsabilidade administrativa, nos seguintes casos: I - posse em outro cargo pblico efetivo inacumulvel; II - posse em cargo comissionado de quadro diverso do Ministrio do Trabalho e Emprego; III - exonerao ou demisso do cargo de Auditor-Fiscal do Trabalho; IV - aposentadoria; ou V - afastamento ou licenciamento por prazo superior a seis meses. Aqui temos um caso tpico de conflito de normas. claro que Decreto (RIT) no revoga Lei (CLT), ento no podemos dizer que o prazo do art. 11, V, do RIT, tenha substitudo ou revogado o prazo do art. 630, 2, da CLT. Parece-nos mais um caso de ilegalidade do Decreto, por extrapolar seus limites regulamentares. Entretanto, como o dispositivo consta do texto do Decreto e no foi questionado judicialmente, e considerando que o RIT integra o contedo programtico do concurso para AFT, atentem-se para o enunciado de eventual questo a respeito. Se a banca pedir conforme o RIT, no tenham dvidas: sigam o disposto no art. 11, V. Do contrrio, fiquem com a informao da CLT.

3 - O agente da inspeo ter livre acesso a todas dependncias dos estabelecimentos sujeitos ao regime da legislao, sendo as empresas, por seus dirigentes ou prepostos, obrigados a prestar-lhes os esclarecimentos necessrios ao desempenho de suas atribuies legais e a exibir-lhes, quando exigidos, quaisquer documentos que digam respeito ao fiel cumprimento das normas de proteo ao trabalho. Este dispositivo constitui prerrogativa imprescindvel atuao do AFT, tendo em vista que, do contrrio, no seria possvel o exerccio da inspeo do trabalho. Com efeito, tanto o ingresso em qualquer estabelecimento onde se desenvolva qualquer tipo de trabalho, a permanncia no estabelecimento pelo tempo necessrio verificao (Precedente Administrativo n 22 do MTE), bem como a prerrogativa de exigir esclarecimentos e a apresentao de documentos que comprovem a regularidade trabalhista do empregador, constituem ferramentas indispensveis para a eficcia da ao fiscal. O RIT esclarece os limites de tais prerrogativas, nos seguintes termos: Art. 13. O Auditor-Fiscal do Trabalho, munido de credencial, tem o direito de ingressar, livremente, sem prvio aviso e em qualquer dia e horrio, em todos os locais de trabalho mencionados no art. 9.

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Art. 14. Os empregadores, tomadores e intermediadores de servios, empresas, instituies, associaes, rgos e entidades de qualquer natureza ou finalidade so sujeitos inspeo do trabalho e ficam, pessoalmente ou por seus prepostos ou representantes legais, obrigados a franquear, aos Auditores-Fiscais do Trabalho, o acesso aos estabelecimentos, respectivas dependncias e locais de trabalho, bem como exibir os documentos e materiais solicitados para fins de inspeo do trabalho. Art. 15. As inspees, sempre que necessrio, sero efetuadas de forma imprevista, cercadas de todas as cautelas, na poca e horrios mais apropriados a sua eficcia. Observe-se que a fiscalizao no se limita inspeo durante o dia, pela simples razo de que h trabalho noturno e tambm este deve ser protegido pela atividade de polcia administrativa estatal. Da mesma forma, o AFT pode ingressar nos estabelecimentos em dias oficialmente no teis, at mesmo para certificar-se de que realmente no se desenvolve trabalho naquele estabelecimento em dia destinado ao repouso. Obviamente o AFT no precisa avisar o empregador acerca da visita, at porque boa parte do sucesso da fiscalizao depende da surpresa, a fim de que sejam encontradas as reais condies de trabalho, sem a tradicional maquiagem para esperar a fiscalizao.

4 - Os documentos sujeitos inspeo devero permanecer, sob as penas da lei nos locais de trabalho, somente se admitindo, por exceo, a critrio da autoridade competente, sejam os mesmos apresentados em dia hora previamente fixados pelo agente da inspeo. Devem ser mantidos obrigatoriamente no local de trabalho, atualmente, apenas os seguintes documentos: a) Registro de Empregados; b) Livro de Inspeo do Trabalho (dispensado para as ME e EPP, como visto); c) Quadro de horrio (dispensado para as ME e EPP) e/ou controle de ponto (no dispensado para as ME e EPP, e sim para os estabelecimentos que contem com at 10 trabalhadores). Os demais documentos podem ser mantidos em escritrios fora do local de trabalho, devendo ser apresentados em data e hora fixadas pelo AFT, sendo o prazo concedido varivel de 2 (dois) a 8 (oito) dias, a critrio do Auditor. Neste sentido, a Portaria MTE n 3.626/1991: Art. 3 O empregador poder utilizar controle nico e centralizado dos documentos sujeitos Inspeo do Trabalho, exceo do registro de empregados, do registro de horrio de trabalho e do Livro de Inspeo do Trabalho, que devero permanecer em cada estabelecimento.

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1 A exibio dos documentos passveis de centralizao dever ser feita no prazo de 2 (dois) a 8 (oito) dias, segundo determinao do Agente da Inspeo do Trabalho. 2 O controle nico e centralizado dos documentos, referido no caput deste artigo, no que concerne ao registro de empregados, refere-se apenas ao termo inicial do registro necessrio configurao do vnculo de emprego, aplicando-se s suas continuaes o disposto no pargrafo anterior. 3 O registro de empregados de prestadores de servios poder permanecer na sede da contratada, desde que esta se localize no municpio da contratante e desde que os empregados portem carto de identificao do tipo "crach", contendo nome completo do empregado, data de admisso, nmero do PIS/PASEP, horrio de trabalho e respectiva funo

5 - No territrio do exerccio de sua funo, o agente da inspeo gozar de passe livre nas empresas de transportes, pblicas ou privadas, mediante a apresentao da carteira de identidade fiscal. Tambm a fim de facilitar a atividade de fiscalizao, a CLT assegura ao AFT, no exerccio de sua funo, o passe livre, ou seja, a gratuidade do transporte para o deslocamento a trabalho. No mesmo sentido, o art. 34 do RIT, esclarecendo ainda que a gratuidade se estende aos pedgios: Art. 34. As empresas de transportes de qualquer natureza, inclusive as exploradas pela Unio, Distrito Federal, Estados e Municpios, bem como as concessionrias de rodovias que cobram pedgio para o trnsito concedero passe livre aos AuditoresFiscais do Trabalho e aos Agentes de Higiene e Segurana do Trabalho, no territrio nacional em conformidade com o disposto no art. 630, 5o, da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT), mediante a apresentao da Carteira de Identidade Fiscal. Pargrafo nico. O passe livre a que se refere este artigo abrange a travessia realizada em veculos de transporte aquavirio.

6 - A inobservncia do disposto nos 3, 4 e 5 configurar resistncia ou embarao fiscalizao e justificar a lavratura do respectivo auto de infrao, cominada a multa de valor igual a meio (1/2) salrio mnimo regional at 5 (cinco) vezes esse salrio, levando-se em conta, alm das circunstncias atenuantes ou agravantes, a situao econmico-financeira do infrator e os meios a seu alcance para cumprir a lei.

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O pargrafo 6 prev a punio para o caso de embarao regular atividade da fiscalizao, ou seja, para o caso de infrao ao disposto nos 3 a 5.

7 - Para o efeito do disposto no 5, a autoridade competente divulgar em janeiro e julho, de cada ano, a relao dos agentes da inspeo titulares da carteira de identidade fiscal. O disposto no 7 visa dar publicidade ao credenciamento dos AFTs, garantindo segurana ao empregador, que tem como conhecer previamente quem e quem no autorizado a ingressar em seu estabelecimento. No mesmo sentido, o art. 10, 2, do RIT: 2 A autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho far publicar, no Dirio Oficial da Unio, relao nominal dos portadores de Carteiras de Identidade Fiscal, com nome, nmero de matrcula e rgo de lotao.

8 - As autoridades policiais, quando solicitadas, devero prestar aos agentes da inspeo a assistncia de que necessitarem para o fiel cumprimento de suas atribuies legais. Sempre que necessrio o AFT pode solicitar s polcias (militar ou federal) apoio, de forma a garantir a segurana das diligncias. comum, por exemplo, o acompanhamento da polcia federal nas aes do grupo mvel de combate ao trabalho escravo, dados a complexidade e o risco que envolve tais operaes.

Art. 631 - Qualquer funcionrio pblico federal, estadual ou municipal, ou representante legal de associao sindical, poder comunicar autoridade competente do Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio as infraes que verificar.

Pargrafo nico - De posse dessa comunicao, a autoridade competente proceder desde logo s necessrias diligncias, lavrando os autos de que haja mister. O artigo em referncia trata da possibilidade de comunicao, por agentes pblicos ou sindicatos, de eventuais irregularidades trabalhistas ao MTE, para que sejam apuradas pela fiscalizao. Na prtica, entretanto, o dispositivo no relevante, tendo em vista que atualmente qualquer pessoa, e no s agentes pblicos ou representantes sindicais, pode formalizar denncia acerca de eventuais infraes trabalhistas nos plantes fiscais mantidos nas unidades descentralizadas do MTE.

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Art. 632 - Poder o autuado requerer a audincia de testemunhas e as diligncias que lhe parecerem necessrias elucidao do processo, cabendo, porm, autoridade, julgar da necessidade de tais provas. Na defesa administrativa a que alude o art. 629, 3, pode o autuado requerer a audincia de testemunhas, bem como outras diligncias que lhe paream decisivas para elucidar o processo. Entretanto, se o requerimento tem inteno flagrantemente procrastinatria do feito, a fim de retardar a imposio da multa, pode ser denegado, a critrio da autoridade competente. A autoridade competente, no caso, a mesma competente para julgar a procedncia ou no do auto de infrao, isto , a autoridade regional (Superintendente Regional do Trabalho ou, por delegao deste, o Gerente Regional do Trabalho). Neste mesmo sentido, o art. 25 da Portaria GM/MTb n 148/1996: Art. 25. O Delegado Regional do Trabalho determinar de ofcio, ou a requerimento do interessado, a realizao de diligncias necessrias apurao dos fatos, inclusive audincia de testemunhas, indeferindo as que considerar procrastinatrias.

Art. 633 - Os prazos para defesa ou recurso podero ser prorrogados de acordo com despacho expresso da autoridade competente, quando o autuado residir em localidade diversa daquela onde se achar essa autoridade. Esta hiptese excepcional de prorrogao do prazo de 10 dias para defesa ou recurso administrativo (art. 636) se justificava na poca da promulgao da CLT, em que havia inegvel precariedade dos meios de transporte e de comunicao. Hoje, entretanto, no mais se justifica, tendo em vista que tanto a defesa como o recurso podem ser enviados unidade descentralizada do MTE por via postal, valendo, para fins da contagem do prazo, a data da postagem. Portanto, sempre possvel ao autuado apresentar a defesa no prazo legal convencional. Assim, na prtica, esta hiptese praticamente no existe mais, at mesmo porque depende de despacho expresso da autoridade competente (tambm a mesma autoridade competente para julgar a procedncia ou no do auto de infrao), o que geralmente no ocorre pelas razes expostas acima.

Art. 634 - Na falta de disposio especial, a imposio das multas incumbe s autoridades regionais competentes em matria de trabalho, na forma estabelecida por este Ttulo.

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Pargrafo nico - A aplicao da multa no eximir o infrator da responsabilidade em que incorrer por infrao das leis penais. Como j foi mencionado, a imposio de multa administrativa incumbe autoridade regional do MTE, qual seja, o Superintendente Regional do Trabalho e Emprego. Por exceo, pode o Superintendente delegar a atribuio aos Gerentes Regionais do Trabalho e Emprego. A propsito, consoante dispe o RIT so as seguintes as autoridades competentes em matria de inspeo trabalhista: - autoridades de direo nacional, regional ou local; - Auditores-Fiscais do Trabalho; - Agentes de higiene e segurana do trabalho, em funes auxiliares de inspeo do trabalho. Por fim, prev o pargrafo nico que a punio administrativa no se comunica instncia penal, ou seja, trata-se de instncias independentes, podendo o empregador ser condenado tanto administrativamente como criminalmente pela mesma conduta, desde que esta configure, a um s tempo, infrao administrativa e penal.

DOS RECURSOS Art. 635 - De toda deciso que impuser multa por infrao das leis e disposies reguladoras do trabalho, e no havendo forma especial de processo caber recurso para o Diretor-Geral Departamento ou Servio do Ministrio do Trabalho e Previdncia Social, que for competente na matria. Pargrafo nico. As decises sero sempre fundamentadas. Art. 636. Os recursos devem ser interpostos no prazo de 10 (dez) dias, contados do recebimento da notificao, perante autoridade que houver imposto a multa, a qual, depois de os informar encaminh-los- autoridade de instncia superior. 1 - O recurso s ter seguimento se o interessado o instruir com a prova do depsito da multa. 2 - A notificao somente ser realizada por meio de edital, publicada no rgo oficial, quando o infrator estiver em lugar incerto e no sabido. 3 - A notificao de que trata este artigo fixar igualmente o prazo de 10 (dez) dias para que o infrator recolha o valor da multa, sob pena de cobrana executiva.

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4 - As guias de depsito eu recolhimento sero emitidas em 3 (trs) vias e o recolhimento da multa dever preceder-se dentro de 5 (cinco) dias s reparties federais competentes, que escrituraro a receita a crdito do Ministrio da Trabalho e Previdncia Social. 5 - A segunda via da guia do recolhimento ser devolvida pelo infrator repartio que a emitiu, at o sexto dia depois de sua expedio, para a averbao no processo 6 - A multa ser reduzida de 50% (cinqenta por cento) se o infrator, renunciando ao recurso a recolher ao Tesouro Nacional dentro do prazo de 10 (dez) dias contados do recebimento da notificao ou da publicao do edital. 7 - Para a expedio da guia, no caso do 6, dever o infrator juntar a notificao com a prova da data do seu recebimento, ou a folha do rgo oficial que publicou o edital.

Apresentada a defesa administrativa (art. 629, 3), a autoridade competente julgar a procedncia ou no do auto de infrao. Se julgado procedente, ser imposta ao infrator a multa administrativa (notificao pelo correio). Recebida a notificao da imposio de multa, abrem-se ao infrator duas possibilidades: - recolher o valor da multa, com reduo de 50%, no prazo de dez dias; - recorrer administrativamente da deciso, tambm no prazo de dez dias. Se optar por recolher o valor da multa com reduo de 50%, cabe ao autuado apresentar o comprovante de recolhimento na unidade descentralizada do MTE, para baixa. Caso opte pelo recurso administrativo, o autuado deve apresentar seu recurso perante a autoridade administrativa que imps a multa, que ento o encaminhar, devidamente informado (com uma espcie de contra-razes de recurso) autoridade nacional (segunda instncia administrativa). O 1 tem provocado, durante anos a fio, intensa discusso, sob o argumento de que no teria sido recepcionado pela Constituio de 1988. O prprio STF julgou, por vrias vezes, constitucional o dispositivo. Entretanto, a Smula Vinculante n 21 do STF ( inconstitucional a exigncia de depsito ou arrolamento prvio de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo) trouxe a questo novamente baila. A soluo, que nos parece definitiva na seara trabalhista, veio com a edio da Smula n 424 do TST, em novembro de 2009: SUM-424 RECURSO ADMINISTRATIVO. PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE. DEPSITO PRVIO DA MULTA ADMINISTRATIVA. NO RECEPO PELA CONSTITUIO FEDERAL DO 1 DO ART. 636 DA CLT - Res. 160/2009, DJe divulgado em 23, 24 e 25.11.2009

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O 1 do art. 636 da CLT, que estabelece a exigncia de prova do depsito prvio do valor da multa cominada em razo de autuao administrativa como pressuposto de admissibilidade de recurso administrativo, no foi recepcionado pela Constituio Federal de 1988, ante a sua incompatibilidade com o inciso LV do art. 5. Portanto, para fins de concurso pblico, no restam dvidas de que o 1 no foi recepcionado. A notificao em regra feita por via postal (correspondncia com aviso de recebimento). No obstante, caso o infrator esteja em lugar incerto e no sabido (endereo inconsistente ou desconhecido, por exemplo), e somente neste caso, ser notificado por edital, publicado no Dirio Oficial da Unio DOU. Por fim, as decises administrativas sero sempre fundamentadas, conforme pargrafo nico do art. 635. A rigor o dispositivo redundante, posto que como ato administrativo que a deciso administrativa deve ser sempre motivada, em ateno aos princpios que regem a Administrao Pblica.

Art. 637. De todas as decises que proferirem em processos de infrao das leis de proteo ao trabalho e que impliquem arquivamento destes, observado o disposto no pargrafo nico do art. 635, devero as autoridades prolatoras recorrer de ofcio para a autoridade competente de instncia superior. Apresentada a defesa administrativa (art. 629, 3), a autoridade regional julgar a procedncia ou no do auto de infrao. Se a deciso for pela improcedncia total (o que implica arquivamento do processo), dever a autoridade regional remeter o processo de ofcio autoridade superior (nacional), para o reexame necessrio, a exemplo do que ocorre em decises de primeira instncia que condenam a Fazenda Pblica em geral.

Art. 638 - Ao Ministro do Trabalho, Indstria e Comercio facultado avocar ao seu exame e deciso, dentro de 90 (noventa) dias do despacho final do assunto, ou no curso do processo, as questes referentes fiscalizao dos preceitos estabelecidos nesta Consolidao. Este artigo estabelece uma possibilidade anmala de interveno do Ministro do Trabalho e Emprego no processo administrativo referente a autos de infrao. Com efeito, permite que o Ministro do Trabalho e Emprego traga para si (este o sentido do termo avocar) o julgamento da deciso, ou seja, atropela o procedimento padro de julgamento pelas instncias administrativas estabelecidas. Na prtica, felizmente no utilizada tal prerrogativa.

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CAPTULO III DO DEPSITO, DA INSCRIO E DA COBRANA Art. 639 - No sendo provido o recurso, o depsito se converter em pagamento. A hiptese a do art. 638, 1, que prev o depsito prvio do valor da multa como condio para apreciao do recurso administrativo, sendo que, julgado improcedente o recurso, o depsito utilizado como pagamento da multa devida. Se procedente, o depsito seria levantado pelo autuado, naturalmente. Porm, o entendimento consolidado na Smula 424 do TST no sentido da inconstitucionalidade (no recepo) da exigncia do depsito prvio, linha de raciocnio pela qual o art. 639 tambm deixa de fazer qualquer sentido.

Art. 640 - facultado s Delegacias Regionais do Trabalho, na conformidade de instrues expedidas pelo Ministro de Estado, promover a cobrana amigvel das multas antes encaminhamento dos processos cobrana executiva. A partir do momento em que a imposio da multa tornou-se definitiva (seja pela improcedncia do recurso administrativo, seja pela inrcia do infrator em recorrer ou em recolher o valor notificado), cabe ao Estado proceder cobrana do dbito. Esta cobrana feita normalmente via judicial, atravs da inscrio do dbito em dvida ativa e posterior execuo judicial. No obstante, nada impede que a Administrao tente, uma vez mais, a cobrana extrajudicial, como medida de economia de tempo e de recursos, dado o alto custo da cobrana executiva.

Art. 641 - No comparecendo o infrator, ou no depositando a importncia da multa ou penalidade, far-se- a competente inscrio em livro especial, existente nas reparties das quais se tiver originado a multa ou penalidade, ou de onde tenha provindo a reclamao que a determinou, sendo extrada cpia autentica dessa inscrio e enviada s autoridades competentes para a respectiva cobrana judicial, valendo tal instrumento como ttulo de dvida lquida e certa. Trata-se da inscrio do dbito em dvida ativa da Unio, para posterior cobrana executiva, nos termos do artigo seguinte.

Art. 642 - A cobrana judicial das multas impostas pelas autoridades administrativas do trabalho obedecer ao disposto na legislao aplicvel cobrana da dvida ativa da Unio, sendo promovida, no Distrito Federal e nas capitais dos Estados em que funcionarem Tribunais Regionais do Trabalho, pela Procuradoria da Justia do Trabalho, e nas demais localidades, pelo

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Ministrio Pblico Estadual e do Territrio do Acre, nos termos do Decreto-Lei n 960, de 17 de dezembro de 1938. Pargrafo nico. Revogado pelo Decreto-lei n 9.509/1946. Atualmente a cobrana feita pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN/AGU) por meio de processo de execuo por ttulo extrajudicial, perante a Justia do Trabalho, nos termos do art. 114, VII, da CRFB/88. O rito a ser seguido o da Lei n 6.830/1980.

30.4. Atribuies dos Auditores-Fiscais do Trabalho O art. 18 do RIT arrola as atribuies conferidas aos AFTs. De uma forma geral, o estudo deste dispositivo mesmo literal (memorizao), pois as questes pertinentes normalmente tambm o so. Apenas algumas das hipteses legais merecem algumas observaes. Vejamos:

Art. 18. Compete aos Auditores-Fiscais do Trabalho, em todo o territrio nacional: I - verificar o cumprimento das disposies legais e regulamentares, inclusive as relacionadas segurana e sade no trabalho, no mbito das relaes de trabalho e de emprego, em especial: a) os registros em Carteira de Trabalho e Previdncia Social (CTPS), visando reduo dos ndices de informalidade; b) o recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Servio (FGTS), objetivando maximizar os ndices de arrecadao; c) o cumprimento de acordos, convenes e contratos coletivos de trabalho celebrados entre empregados e empregadores; e d) o cumprimento dos acordos, tratados e convenes internacionais ratificados pelo Brasil; A alnea d demonstra a importncia do conhecimento do Direito Internacional do Trabalho para a inspeo trabalhista. No mesmo sentido, o art. 1 do RIT menciona como uma das finalidades do Sistema Federal de Inspeo do Trabalho a aplicao das convenes internacionais ratificadas pelo Brasil: Art. 1 O Sistema Federal de Inspeo do Trabalho, a cargo do Ministrio do Trabalho e Emprego, tem por finalidade assegurar, em todo o territrio nacional, a aplicao das disposies legais, incluindo as convenes internacionais ratificadas, os atos e decises das autoridades competentes e as convenes, acordos e contratos coletivos

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de trabalho, no que concerne proteo dos trabalhadores no exerccio da atividade laboral.

II - ministrar orientaes e dar informaes e conselhos tcnicos aos trabalhadores e s pessoas sujeitas inspeo do trabalho, atendidos os critrios administrativos de oportunidade e convenincia; III - interrogar as pessoas sujeitas inspeo do trabalho, seus prepostos ou representantes legais, bem como trabalhadores, sobre qualquer matria relativa aplicao das disposies legais e exigir-lhes documento de identificao; IV - expedir notificao para apresentao de documentos; Recorde-se apenas que o prazo para apresentao de documentos de, no mnimo, 2 (dois) dias, e de, no mximo, 8 (oito) dias, conforme Portaria n 3.626/1991. Atente-se ainda para o fato de que o AFT somente pode notificar o empregador a apresentar documentos aps a sua identificao, mediante exibio da Carteira de Identidade Funcional CIF. V - examinar e extrair dados e cpias de livros, arquivos e outros documentos, que entenda necessrios ao exerccio de suas atribuies legais, inclusive quando mantidos em meio magntico ou eletrnico; O AFT tem a prerrogativa de examinar e copiar quaisquer documentos (seja em que mdia for, ou seja, em papel, arquivos de computador, etc) que de alguma forma possam interessar verificao do cumprimento das normas de proteo ao trabalho. Mencione-se, como exemplo, a verificao de tacgrafos, a fim de constatar a eventual prorrogao da jornada de trabalho do motorista alm do limite legal, bem como a verificao de fitas de caixa, tambm para aferir a jornada efetiva dos operadores de caixa. VI - proceder a levantamento e notificao de dbitos; VII - apreender, mediante termo, materiais, livros, papis, arquivos e documentos, inclusive quando mantidos em meio magntico ou eletrnico, que constituam prova material de infrao, ou, ainda, para exame ou instruo de processos; VIII - inspecionar os locais de trabalho, o funcionamento de mquinas e a utilizao de equipamentos e instalaes; A inspeo do local de trabalho compreende a possibilidade de registro audiovisual das condies de trabalho, ou seja, o AFT pode fotografar ou filmar o local, como forma de registrar as condies encontradas. Neste sentido, deciso recente da Justia do Trabalho do Paran. bvio que cabe ao AFT zelar pelo sigilo de tais informaes, as quais somente podem ser utilizadas no estrito exerccio da funo fiscalizadora.

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IX - averiguar e analisar situaes com risco potencial de gerar doenas ocupacionais e acidentes do trabalho, determinando as medidas preventivas necessrias; X - notificar as pessoas sujeitas inspeo do trabalho para o cumprimento de obrigaes ou a correo de irregularidades e adoo de medidas que eliminem os riscos para a sade e segurana dos trabalhadores, nas instalaes ou mtodos de trabalho; XI - quando constatado grave e iminente risco para a sade ou segurana dos trabalhadores, expedir a notificao a que se refere o inciso X deste artigo, determinando a adoo de medidas de imediata aplicao;

XII - coletar materiais e substncias nos locais de trabalho para fins de anlise, bem como apreender equipamentos e outros itens relacionados com a segurana e sade no trabalho, lavrando o respectivo termo de apreenso; XIII - propor a interdio de estabelecimento, setor de servio, mquina ou equipamento, ou o embargo de obra, total ou parcial, quando constatar situao de grave e iminente risco sade ou integridade fsica do trabalhador, por meio de emisso de laudo tcnico que indique a situao de risco verificada e especifique as medidas corretivas que devero ser adotadas pelas pessoas sujeitas inspeo do trabalho, comunicando o fato de imediato autoridade competente; XIV - analisar e investigar as causas dos acidentes do trabalho e das doenas ocupacionais, bem como as situaes com potencial para gerar tais eventos; XV - realizar percias e auditorias, no campo de suas atribuies e formao profissional, emitindo pareceres, laudos e relatrios; XV - realizar auditorias e percias e emitir laudos, pareceres e relatrios; XVI - solicitar, quando necessrio ao desempenho de suas funes, o auxlio da autoridade policial; XVII - lavrar termo de compromisso decorrente de procedimento especial de inspeo; XVIII - lavrar autos de infrao por inobservncia de disposies legais; XIX - analisar processos administrativos de auto de infrao, notificaes de dbitos ou outros que lhes forem distribudos; XX - devolver, devidamente informados os processos e demais documentos que lhes forem distribudos, nos prazos e formas previstos em instrues expedidas pela autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho;

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XXI - elaborar relatrios de suas atividades, nos prazos e formas previstos em instrues expedidas pela autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho; XXII - levar ao conhecimento da autoridade competente, por escrito, as deficincias ou abusos que no estejam especificamente compreendidos nas disposies legais; XXIII - atuar em conformidade com as prioridades estabelecidas pelos planejamentos nacional e regional, nas respectivas reas de especializao;

XXIII - atuar em conformidade com as prioridades estabelecidas pelos planejamentos nacional e regional. 1o A autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho estabelecer, no planejamento anual, as reas de atuao prioritrias dos Auditores-Fiscais do Trabalho em razo de sua especializao. 2o Aos Auditores-Fiscais do Trabalho sero ministrados regularmente cursos necessrios sua formao, aperfeioamento e especializao, observadas as peculiaridades regionais, conforme instrues do Ministrio do Trabalho e Emprego, expedidas pela autoridade nacional competente em matria de inspeo do trabalho. Por fim, o art. 19 do RIT estabelece proibies s autoridades de direo do MTE, visando assegurar as prerrogativas dos AFTs: Art. 19. vedado s autoridades de direo do Ministrio do Trabalho e Emprego: I - conferir aos Auditores-Fiscais do Trabalho encargos ou funes diversas das que lhes so prprias, salvo se para o desempenho de cargos de direo, de funes de chefia ou de assessoramento; II - interferir no exerccio das funes de inspeo do trabalho ou prejudicar, de qualquer maneira, sua imparcialidade ou a autoridade do Auditor-Fiscal do Trabalho; e III - conferir qualquer atribuio de inspeo do trabalho a servidor que no pertena ao Sistema Federal de Inspeo do Trabalho.

30.5. Vedaes estabelecidas aos Auditores-Fiscais do Trabalho: O art. 35 do RIT estabelece diversas condutas vedadas aos AFTs, sob pena de responsabilizao civil, pena e administrativa.

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Art. 35. vedado aos Auditores-Fiscais do Trabalho e aos Agentes de Higiene e Segurana do Trabalho: I - revelar, sob pena de responsabilidade, mesmo na hiptese de afastamento do cargo, os segredos de fabricao ou comrcio, bem como os processos de explorao de que tenham tido conhecimento no exerccio de suas funes; II - revelar informaes obtidas em decorrncia do exerccio das suas competncias; III - revelar as fontes de informaes, reclamaes ou denncias; e IV - inspecionar os locais em que tenham qualquer interesse direto ou indireto, caso em que devero declarar o impedimento. Pargrafo nico. Os Auditores Fiscais do Trabalho e os Agentes de Higiene e Segurana do Trabalho respondero civil, penal e administrativamente pela infrao ao disposto neste artigo. Art. 36. Configura falta grave o fornecimento ou a requisio de Carteira de Identidade Fiscal para qualquer pessoa no integrante do Sistema Federal de Inspeo do Trabalho. Pargrafo nico. considerado igualmente falta grave o uso da Carteira de Identidade Fiscal para fins outros que no os da fiscalizao.

Observao final: para a prova de AFT, decorem o RIT! O objetivo deste captulo apenas propor uma forma de se estudar combinadamente a CLT e o RIT, bem como esclarecer alguns pontos porventura obscuros, o que no isenta o candidato de memorizar os dispositivos legais aplicveis, simplesmente porque a esmagadora maioria das questes de concurso cobram tais dispositivos em sua literalidade.

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