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Apontamentos de Direito do Trabalho II 2ª frequência - 12 de Maio Capítulo IX A Dinâmica da Negociação Colectiva: Factos e Tendências 88. A evolução da regulamentação colectiva de trabalho em Portugal O conjunto dos elementos de regulamentação colectiva. A chamada regulamentação colectiva de trabalho abrange os instrumentos: de índole convencional; autónoma (contratos e acordos colectivos, acordos de empresa e acordos de adesão); os de natureza administrativa; heterónima (portarias de condições de trabalho, de extensão, entre outras...) e ainda; as decisões arbitrais, as quais assumem uma fisionomia semiautomática. A consideração unitária de um conjunto aparentemente tão heterogéneo sob o ponto de vista jurídico é possibilitada pela circunstância de que os seus diversos elementos descendem de uma mesma ordem de exigências sociais - a da adequação dos regimes de prestação de trabalho às características dos vários sectores, empresas e profissões, numa perspectiva de gradual melhoria das condições em que tal prestação é realizada - e, situam-se num mesmo ângulo de observação e actuação sobre as realidades do trabalho, que é o ângulo das colectividades, dos grupos organizados, dos interesses colectivos. Assim é quem por exemplo, a portaria de regulamentação do trabalho passou a ser vista pelo legislador como instrumento de superação de impasses negociais, e volta agora a ser tratada no CT, sob a designação de portaria de condições de trabalho, como substitutivo de uma convenção impossível (art.517º). A portaria de extensão é um mero instrumento de alargamento do âmbito de aplicação de uma convenção colectiva; está-lhe, por isso, funcionalmente associada. Em princípio, destinar-se-á a suprir as insuficiências de 1

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Apontamentos de Direito do Trabalho II2ª frequência - 12 de Maio

Capítulo IX

A Dinâmica da Negociação Colectiva: Factos e Tendências

88. A evolução da regulamentação colectiva de trabalho em Portugal

O conjunto dos elementos de regulamentação colectiva. A chamada regulamentação colectiva de trabalho abrange os instrumentos:

• de índole convencional;• autónoma (contratos e acordos colectivos, acordos de empresa e acordos de adesão);• os de natureza administrativa;• heterónima (portarias de condições de trabalho, de extensão, entre outras...) e ainda;• as decisões arbitrais, as quais assumem uma fisionomia semiautomática.

A consideração unitária de um conjunto aparentemente tão heterogéneo sob o ponto de vista jurídico é possibilitada pela circunstância de que os seus diversos elementos descendem de uma mesma ordem de exigências sociais - a da adequação dos regimes de prestação de trabalho às características dos vários sectores, empresas e profissões, numa perspectiva de gradual melhoria das condições em que tal prestação é realizada - e, situam-se num mesmo ângulo de observação e actuação sobre as realidades do trabalho, que é o ângulo das colectividades, dos grupos organizados, dos interesses colectivos.

Assim é quem por exemplo, a portaria de regulamentação do trabalho passou a ser vista pelo legislador como instrumento de superação de impasses negociais, e volta agora a ser tratada no CT, sob a designação de portaria de condições de trabalho, como substitutivo de uma convenção impossível (art.517º).

A portaria de extensão é um mero instrumento de alargamento do âmbito de aplicação de uma convenção colectiva; está-lhe, por isso, funcionalmente associada. Em princípio, destinar-se-á a suprir as insuficiências de cobertura das convenções coletivas, uma vez que estas só são directamente aplicáveis aos filiados nas associações subscritoras.

A decisão arbitral surge, então, como o produto de uma iniciativa das partes interessadas num processo negocial, quando se trate de arbitragem voluntária, ou do Ministro do Trabalho, no caso de arbitragem obrigatória; é pois, ainda, um sucedâneo da convenção colectiva; normalmente até recai sobre uma parte limitada da matéria negocial, ficando depois a constituir mero complemento do acordo obtido quanto ao restante. Art.476º + art.2º

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Capítulo XO Conflito Colectivo de Trabalho: Noção e Modalidades

90. O conflito colectivo como facto social e objecto de estudo.

Um dos temas mais complexos e importantes que se deparam no domínio do Direito Colectivo é o dos conflitos.

Na verdade, "o conflito latente ou ostensivo, é a essência das relações industriais"; a negociação colectiva é não só uma técnica de produção de normas, mas também, um método de superação de conflitos actuais ou potenciais; envolve um processo jurídico e uma dinâmica social.

A negociação colectiva e o conflito

A amplificação do objecto da negociação colectiva - primitivamente limitado à questão básico dos salários - está directamente relacionada com o aumento da conflitualidade laboral, quer no aspecto quantitativo, quer no que respeita às matérias litigiosas.

Esta tendência resulta acrescida dos efeitos do aumento de importância da negociação ao nível da empresa, onde adquirem maior transparência os moldes de organização e gestão, bem como os respectivos efeitos práticos. Por isso se escreveu já que "o contrato colectivo entra, de facto, em contradição consigo mesmo pois, em vez de conduzir a uma suspensão durável do conflito, alimenta as circunstâncias de novos conflitos".

Na situação inversa, o incremento da conflitualidade laboral - que se pode relacionar com factores económicos, políticos e mais amplamente, civilizacionais - engendra a aceleração e o enriquecimento dos mecanismos negociais ou para-negociais.

As múltiplas facetas do conflito

Os litígios colectivos laborais podem constituir objecto de análise sob diversas perspectivas científicas e técnicas. Dado que envolvem formas de comportamento grupal caracterizadas por dinâmicas e motivações específicas, oferecem matéria de relevo no domínio da psicologia e da sociologia do trabalho.

Enquanto mecanismos relacionados com o mercado de emprego e influentes na determinação dos salários, pertencem à área de interesses da economia do trabalho. Pelo facto de constituírem modos de afirmação de poder social - implicando a consideração de factores tácticos e estratégicos - e se conexionarem estreitamente com a organização e a actuação de instituições políticas, podem ser observados do ângulo da ciência política.

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Porque no seu desenvolvimento interferem ou podem interferir processos e técnicas que são objecto de uma disciplina jurídica - inspirada na ideia básica da integração dos conflitos em padrões ditados por uma certa concepção de equilíbrio social - penetram no campo do direito do trabalho, preenchendo assim um dos seus capítulos mais importantes.

A atitude básica do actual ordenamento jurídico perante a realidade social dos conflitos de trabalho pode inferir-se deste conjunto de posições parcelares:

• Reconhecimento da liberdade de organização e acção sindicais, incluindo garantias da actividade sindical no interior da empresa;

• Reconhecimento da liberdade de procedimentos negociais;• Limitações imperativas ao conteúdo e à periodicidade da negociação formal;• Previsão de métodos facultativos ou voluntários de resolução de conflitos;• Reconhecimento e garantia do direito de greve em termos amplos, nomeadamente no que

concerne aos motivos do seu exercício;• Proibição do lock-out, logo, recusa da ideia de paridade entre as partes em litígio.

91. O que é um conflito colectivo de trabalho?

Noção

• Existe conflito colectivo de trabalho quando se manifesta, através de comportamentos colectivos, uma divergência de interesses por parte de uma categoria organizada de trabalhadores, de um lado, é uma categoria organizada de empregadores, ou um só destes, de outro lado, em torno da regulamentação existente ou futura das relações de trabalho que interessam membros das mesmas categorias.

Da divergência ao conflito. O primeiro consiste na manifestação de uma divergência de pretensões colectiva.

• A divergência há de estar expressa, por comportamentos colectivos que a fazem passar do plano de mera desconformidade de interesses para o das realidades sociais. Não se trata pois de conflitos latentes, não declarados. Esta manifestação pode operar-se de diversas maneiras

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