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Negócios QUARTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2016 DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS 6 A Sasazaki projeta crescimento de 8% a 10% para o ano, apostando em novidades como telas para mosquitos e produtos de limpeza. Já a Kommerling aproveitará o potencial do mercado de PVC Empresas de esquadrias diversificam negócios para superar crise do setor CONSTRUÇÃO Juliana Estigarríbia São Paulo [email protected] Fabricantes de esquadrias apostam na diversificação dos negócios para enfrentar a pro- longada crise da construção civil. A estratégia, segundo empresas ouvidas pelo DCI, pode trazer crescimento de até 20% em um 2016 fadado a mais uma retração de vendas. A Sasazaki, uma das líderes do mercado nacional, desen- volveu desde telas para mos- quitos até produtos de limpe- za de esquadrias. A projeção da empresa é crescer de 8% a 10% neste ano. “Nós vamos ganhar market share”, aposta o CEO da empresa, Francisco Carlos Verza. Já a Kommerling, que atua exclusivamente no segmento de PVC, acredita que o poten- cial de crescimento do mate- rial nas vendas de esquadrias trará bons frutos à empresa. “Nossa projeção é crescer em torno de 20% em 2016”, afir- ma o diretor para América Latina, Oliver Legge. Segundo o vice-presidente de economia e estatística da Associação Nacional de Fa- bricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), José Sabio- ni, as empresas precisam cor- tar custos e investir em pro- dutividade para sobreviver. “Como nosso negócio en- tra na fase de acabamento da obra, ainda colhemos alguns frutos do boom imobiliário que começou há alguns anos. Mas devemos ter um período muito difícil pela frente”, ex- plica o dirigente. O CEO da Sasazaki conta que a empresa vem rodando com um turno de produção há algum tempo e que diante da queda da deman- da, demitiu cerca de 10% do DREAMSTIME A retração do mercado imobiliário pressiona a indústria de esquadrias, que deve ter queda em 2016 Eldorado reverte prejuízo e registra lucro de R$ 280 milhões PAPEL E CELULOSE Thiago Moreno São Paulo [email protected] A Eldorado Brasil registrou lucro líquido de R$ 280,6 mi- lhões no ano passado, ante prejuízo líquido de R$ 419 mi- lhões em 2014. Embora tenha mantido estável o nível de ven- da de celulose, o grupo foi fa- vorecido pelo preço maior do produto e pelo câmbio. Em relatório de resultados, a fabricante celulose afirma ter vendido 1,562 milhão de toneladas da commodity no ano passado, praticamente o mesmo volume alcançado em 2014. A receita bruta da companhia, por outro lado, apresentou alta de 47,4%, pas- sando de R$ 2,548 bilhões em 2014 para R$ 3,755 bilhões no último exercício. A Ásia, notadamente a Chi- na, foi o principal destino das exportações de celulose da El- dorado, tomando 43% do volu- me total de vendas. Em segui- da, vêm a Europa (32%), a América Latina (14%) e a Amé- rica do Norte (11%). O seg- mento de papéis tissue, usados para fins sanitários, foi o prin- cipal consumidor do produto da empresa, sendo responsável por 43% das vendas. Já os pa- péis para imprimir e escrever demandaram 28% do total. No ano passado, a Eldorado atingiu também a produção de 1,597 milhões de toneladas de celulose, valor 6,5% superior à capacidade nominal de sua fá- brica. De acordo com a empre- sa, o avanço na eficiência do processo industrial já possibi- litaria que a unidade opere em ritmo para produzir 1,7 milhão de toneladas por ano. Em termos de área plantada, a companhia destaca que so- mou 215 mil hectares de flo- restas no ano passado, ante 200 mil hectares mantidos em 2014. Em 2015, a Eldorado pas- sou a concentrar suas opera- ções florestais no Mato Grosso do Sul, reduzindo a distância média de transporte da madei- ra até sua unidade de Três La- goas (MS), e afirma já ter nota- do um efeito da medida sobre a diminuição dos custos logís- ticos e da emissão de gases. O grupo garante ainda que já percebeu um incremento de eficiência nas operações a par- tir da inauguração, em junho, de um terminal portuário pró- prio em Santos (SP). Segundo a Eldorado, a unidade vai gerar uma economia anual de R$ 80 milhões, e parte desse benefí- cio já incorpora os resultados do segundo semestre de 2015. Vanguarda 2.0 Em dezembro, a empresa afir- ma ter concluído o processo de terraplanagem do projeto de expansão de sua fábrica no MS, que terá capacidade para produzir mais 2,3 milhões de toneladas de celulose. Segun- do a Eldorado, as obras de in- fraestrutura da nova linha já estão 70% concluídas, com a instalação de tubulações que chegam a 16,5 quilômetros. 1, 562 Milhão de toneladas de celulose de fibra curta foi vendido no ano passado pela empresa. O resultado ficou praticamente estável na comparação com 2014. R$ 3,7 bi Foi o faturamento bruto da companhia em 2015, valor 47,4% frente ao ano anterior. A empresa afirma ter sido beneficiada pela forte demanda internacional. PERGUNTA E RESPOSTA JOSÉ SABIONI, VICE-PRESIDENTE DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA DA AFEAL Qual o nível de utilização da capacidade das empresas? Os fabricantes de esquadrias de alumínio operam a uma ociosidade média de 30%. Houve corte de vagas? Um retrato geral do segmento revela que houve redução de aproximadamente 5% a 6% do efetivo em 2015. Pode ocorrer mais demissões? Muitas empresas investiram em aumento de capacidade e tivemos novas entrantes. O cenário precisa melhorar para evitarmos demissões. Qual fator mais pressionou o desempenho do setor? A desaceleração do Minha Casa Minha Vida influenciou muito na queda das vendas. E as construtoras? Os estoques de lançamentos ainda estão muito altos, o que nos faz crer que 2016 também será ruim. Quais as perspectivas no médio prazo? Se não houver uma profunda mudança do cenário econômico, 2017 pode ser ainda pior do que este ano. efetivo na planta de Marília (SP) no ano passado. “Reduzimos ativos ociosos e postergamos alguns investi- mentos para priorizar eficiên- cia e melhoria de processos”, pondera. “O ano passado não veio conforme esperávamos, mas agora estamos prontos para crescer em 2016”, pontua. Verza salienta que a empre- sa não tem conseguido repas- sar o aumento de custos. “Rea- justamos preços, mas tivemos que reduzir muito as nossas margens. Os clientes estão di- minuindo cada vez mais os seus estoques”, observa. Com 90% das vendas no va- rejo (home centers e lojas espe- cializadas), a Sasazaki afirma que vai intensificar a abertura de novos canais de distribui- ção. “Estamos ainda muito concentrados no sul e sudeste, mas o nordeste é definitiva- mente uma região que preten- demos expandir os negócios.” O executivo acredita que o setor ainda vai ser muito pres- sionado em 2016, mas a pers- pectiva de lançamentos da marca – como janela acústica, por exemplo – pode trazer crescimento. “Apesar do déficit habitacional que o País tem, o mercado não deve crescer co- mo em anos passados. Mas quem estiver preparado vai sair mais forte da crise”, avalia. Segmento de PVC Segundo estimativas de mer- cado, a participação de esqua- drias de PVC nas vendas do se- tor varia entre 3% a 5% do total. Mas segundo o diretor da Kommerling, este negócio de- ve ganhar muito espaço no País. “O material ainda é um produto de nicho no Brasil, mas o potencial de crescimen- to é muito grande”, pontua. Segundo Legge, o PVC em esquadrias dispensa manuten- ção (comparativamente aos metálicos), tem melhor isola- mento acústico e também do calor. “A percepção de qualida- de do nosso produto é muito boa principalmente em obras de maior valor.” Por esse motivo, o executivo afirma que a maior parte das vendas do segmento é feita nas classes A e B. “O PVC é mais caro no momento da aquisi- ção, entretanto o custo-benefí- cio é maior”, pondera Legge. Apesar de ter sacrificado margens para ganhar partici- pação no ano passado, a Kom- merling aumentou em 60% o seu faturamento no período. “Ganhamos share principal- mente em relação a madeira e alumínio”, revela o executivo. Para 2016, a projeção da companhia é obter crescimen- to acima do mercado de es- quadrias de PVC, que deve crescer de 10% a 15%. “Vamos expandir nossa atuação inclu- sive para revendas”, afirma.

DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS Negóciosafeal.com.br/rev/wp-content/uploads/2016/02/DCI-27.01.16.pdf · 2016-02-05 · Eldorado, a unidade vai gerar uma economia anual de

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NegóciosQUARTA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2016 � DIÁRIO COMÉRCIO INDÚSTRIA & SERVIÇOS6

A Sasazaki projeta crescimento de 8% a 10% para o ano, apostando em novidades como telas paramosquitos e produtos de limpeza. Já a Kommerling aproveitará o potencial do mercado de PVC

Empresas de esquadrias diversificamnegócios para superar crise do setorC O N ST R U Ç ÃO

Juliana EstigarríbiaSão [email protected]

� Fabricantes de esquadriasapostam na diversificação dosnegócios para enfrentar a pro-longada crise da construçãocivil. A estratégia, segundoempresas ouvidas pelo DCI,pode trazer crescimento de até20% em um 2016 fadado amais uma retração de vendas.

A Sa s a z a k i , uma das líderesdo mercado nacional, desen-volveu desde telas para mos-quitos até produtos de limpe-za de esquadrias. A projeçãoda empresa é crescer de 8% a10% neste ano. “Nós vamosganhar market share”, apostao CEO da empresa, FranciscoCarlos Verza.

Já a Ko m m e r l i n g , que atuaexclusivamente no segmentode PVC, acredita que o poten-cial de crescimento do mate-rial nas vendas de esquadriastrará bons frutos à empresa.“Nossa projeção é crescer emtorno de 20% em 2016”, afir-ma o diretor para AméricaLatina, Oliver Legge.

Segundo o vice-presidentede economia e estatística daAssociação Nacional de Fa-bricantes de Esquadrias deAlumínio (Afeal), José Sabio-ni, as empresas precisam cor-tar custos e investir em pro-dutividade para sobreviver.

“Como nosso negócio en-tra na fase de acabamento daobra, ainda colhemos algunsfrutos do boom imobiliár ioque começou há alguns anos.Mas devemos ter um períodomuito difícil pela frente”, ex-plica o dirigente.

O CEO da Sasazaki contaque a empresa vem rodandocom um turno de produçãojá há algum tempo e quediante da queda da deman-da, demitiu cerca de 10% do

D R E A M ST I M E

A retração do mercado imobiliário pressiona a indústria de esquadrias, que deve ter queda em 2016

Eldorado reverte prejuízo e registra lucro de R$ 280 milhões

PAPEL E CELULOSE

Thiago MorenoSão [email protected]

� A Eldorado Brasil registroulucro líquido de R$ 280,6 mi-lhões no ano passado, anteprejuízo líquido de R$ 419 mi-lhões em 2014. Embora tenhamantido estável o nível de ven-da de celulose, o grupo foi fa-vorecido pelo preço maior doproduto e pelo câmbio.

Em relatório de resultados,a fabricante celulose afirmater vendido 1,562 milhão detoneladas da commodity noano passado, praticamente omesmo volume alcançadoem 2014. A receita bruta dacompanhia, por outro lado,

apresentou alta de 47,4%, pas-sando de R$ 2,548 bilhões em2014 para R$ 3,755 bilhões noúltimo exercício.

A Ásia, notadamente a Chi-na, foi o principal destino dasexportações de celulose da El-dorado, tomando 43% do volu-me total de vendas. Em segui-da, vêm a Europa (32%), aAmérica Latina (14%) e a Amé-rica do Norte (11%). O seg-mento de papéis tissue, usadospara fins sanitários, foi o prin-cipal consumidor do produtoda empresa, sendo responsávelpor 43% das vendas. Já os pa-péis para imprimir e escreverdemandaram 28% do total.

No ano passado, a E ldoradoatingiu também a produção de1,597 milhões de toneladas decelulose, valor 6,5% superior àcapacidade nominal de sua fá-

brica. De acordo com a empre-sa, o avanço na eficiência doprocesso industrial já possibi-litaria que a unidade opere emritmo para produzir 1,7 milhãode toneladas por ano.

Em termos de área plantada,a companhia destaca que so-mou 215 mil hectares de flo-restas no ano passado, ante200 mil hectares mantidos em

2014. Em 2015, a Eldorado pas-sou a concentrar suas opera-ções florestais no Mato Grossodo Sul, reduzindo a distânciamédia de transporte da madei-ra até sua unidade de Três La-goas (MS), e afirma já ter nota-do um efeito da medida sobrea diminuição dos custos logís-ticos e da emissão de gases.

O grupo garante ainda que

já percebeu um incremento deeficiência nas operações a par-tir da inauguração, em junho,de um terminal portuário pró-prio em Santos (SP). Segundo aEldorado, a unidade vai geraruma economia anual de R$ 80milhões, e parte desse benefí-cio já incorpora os resultadosdo segundo semestre de 2015.

Vanguarda 2.0Em dezembro, a empresa afir-ma ter concluído o processo deterraplanagem do projeto deexpansão de sua fábrica noMS, que terá capacidade paraproduzir mais 2,3 milhões detoneladas de celulose. Segun-do a Eldorado, as obras de in-fraestrutura da nova linha jáestão 70% concluídas, com ainstalação de tubulações quechegam a 16,5 quilômetros.

1, 562� Milhão de toneladas decelulose de fibra curta foivendido no ano passado pelaempresa. O resultado ficoupraticamente estável nacomparação com 2014.

R$ 3,7 bi� Foi o faturamento bruto dacompanhia em 2015, valor47,4% frente ao ano anterior.A empresa afirma ter sidobeneficiada pela fortedemanda internacional.

PERGUNTA E RESPOSTA

JOSÉ SABIONI,VICE-PRESIDENTE DE ECONOMIAE ESTATÍSTICA DA AFEAL

� Qual o nível de utilização dacapacidade das empresas?Os fabricantes de esquadriasde alumínio operam a umaociosidade média de 30%.

� Houve corte de vagas?Um retrato geral dosegmento revela que houveredução de aproximadamente5% a 6% do efetivo em 2015.

� Pode ocorrer maisd e m i s s õ e s?Muitas empresas investiramem aumento de capacidade etivemos novas entrantes. O

cenário precisa melhorar paraevitarmos demissões.

� Qual fator mais pressionouo desempenho do setor?A desaceleração do MinhaCasa Minha Vida influencioumuito na queda das vendas.

� E as construtoras?Os estoques de lançamentosainda estão muito altos, o quenos faz crer que 2016também será ruim.

� Quais as perspectivas nomédio prazo?Se não houver uma profundamudança do cenárioeconômico, 2017 pode serainda pior do que este ano.

efetivo na planta de Marília(SP) no ano passado.

“Reduzimos ativos ociosos epostergamos alguns investi-mentos para priorizar eficiên-cia e melhoria de processos”,pondera. “O ano passado nãoveio conforme esperávamos,mas agora estamos prontospara crescer em 2016”, pontua.

Verza salienta que a empre-sa não tem conseguido repas-sar o aumento de custos. “Re a -justamos preços, mas tivemosque reduzir muito as nossasmargens. Os clientes estão di-minuindo cada vez mais osseus estoques”, observa.

Com 90% das vendas no va-rejo (home centers e lojas espe-cializadas), a Sasazaki afirmaque vai intensificar a aberturade novos canais de distribui-ção. “Estamos ainda muitoconcentrados no sul e sudeste,mas o nordeste é definitiva-

mente uma região que preten-demos expandir os negócios.”

O executivo acredita que osetor ainda vai ser muito pres-sionado em 2016, mas a pers-pectiva de lançamentos damarca – como janela acústica,por exemplo – pode trazercrescimento. “Apesar do déficithabitacional que o País tem, omercado não deve crescer co-mo em anos passados. Masquem estiver preparado vaisair mais forte da crise”, avalia.

Segmento de PVCSegundo estimativas de mer-cado, a participação de esqua-drias de PVC nas vendas do se-tor varia entre 3% a 5% dototal. Mas segundo o diretor daKommerling, este negócio de-ve ganhar muito espaço noPaís. “O material ainda é umproduto de nicho no Brasil,mas o potencial de crescimen-to é muito grande”, pontua.

Segundo Legge, o PVC emesquadrias dispensa manuten-ção (comparativamente aosmetálicos), tem melhor isola-mento acústico e também docalor. “A percepção de qualida-de do nosso produto é muitoboa principalmente em obrasde maior valor.”

Por esse motivo, o executivoafirma que a maior parte dasvendas do segmento é feita nasclasses A e B. “O PVC é maiscaro no momento da aquisi-ção, entretanto o custo-benefí-cio é maior”, pondera Legge.

Apesar de ter sacrificadomargens para ganhar partici-pação no ano passado, a Kom-merling aumentou em 60% oseu faturamento no período.“Ganhamos s h a re pr incipal-mente em relação a madeira ea l u m í n i o”, revela o executivo.

Para 2016, a projeção dacompanhia é obter crescimen-to acima do mercado de es-quadrias de PVC, que devecrescer de 10% a 15%. “Va m o sexpandir nossa atuação inclu-sive para revendas”, afirma.