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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA NO
ENSINO SUPERIOR
UNIVERSIDADE E MERCADO: O ENSINO DE
TECNOLOGIAS EMPRESARIAIS NO CURSO DE
GRADUAÇÃO EM TURISMO
POR: RAQUEL SOUZA DA SILVA
Prof. Orientador Dr Vilson Sergio
Rio de Janeiro 2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA NO
ENSINO SUPERIOR
UNIVERSIDADE E MERCADO: O ENSINO DE TECNOLOGIAS
EMPRESARIAIS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM TURISMO
POR: RAQUEL SOUZA DA SILVA
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre como requisito parcial para obtenção do título
de especialista em Docência no Ensino Superior.
Orientador: Porf. Dr. Vilson Sergio
Rio de Janeiro 2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço especialmente ao meu marido, Guilherme Butter Scofano, pelos conselhos e orientações, e a minha mãe, Maria Silvana de Souza, por tudo que sou hoje e pelo que poderei ser no futuro.
RESUMO
A presente monografia tem como objetivo principal analisar o ensino de tecnologias no curso de Graduação em Turismo. Para compreender o fenômeno do Turismo, foi discutida a importância socioeconômica desta atividade, bem como sua relação com as modernas tecnologias. Verifica-se, em particular, a necessidade de analisar as ferramentas tecnológicas desenvolvidas exclusivamente para este setor. Para que este estudo fosse realizado de acordo com o contexto atual do tema, foram necessárias, além da pesquisa bibliográfica, consultas a artigos recentemente publicados, sites de empresas de tecnologias, notícias e legislação pertinentes ao assunto. Também foram observadas as necessidades das empresas do setor, através do acompanhamento de dois sites que oferecem oportunidades de emprego. Constatou-se que as empresas, em geral, exigem pouco ou nenhum conhecimento em tecnologias, mesmo quando as atividades descritas nos cargos demandam conhecimentos tecnológicos. Em complemento, avaliou-se como as universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro que oferecem curso de bacharel em Turismo inserem o tema tecnologia em sua grade curricular. Este estudo foi realizado com base nos documentos disponibilizados pelas universidades, no que diz respeito ao planejamento curricular dos seus cursos de Turismo. Por fim, conclui-se que, mesmo não havendo a necessidade de formar profissionais especializados no uso das tecnologias utilizadas no mercado, é essencial que o graduando em Turismo seja familiarizado com as tecnologias que têm sido desenvolvidas na sua área de atuação.
METODOLOGIA
O presente trabalho terá três formas diferentes de pesquisa: a pesquisa
bibliográfica a fim de analisar os conceitos pertinentes ao trabalho e embasar
teoricamente o desenvolvimento de algumas ideias; uma pesquisa quantitativa
a fim de analisar as exigências do mercado referente ao conhecimento de
tecnologias e uma pesquisa qualitativa sobre os currículos desenvolvidos nos
cursos de turismo das universidades públicas do estado do Rio de Janeiro.
Por ser um tema muito recente, durante todo o trabalho serão citados
não só os escritores que tratam sobre os temas, como também artigos
acadêmicos e notícias divulgadas pela mídia, bem como a legislação pertinente
e outras fontes governamentais. Dessa forma, será possível realizar análises
teóricas e conceituais mais contemporâneas e dinâmicas, de acordo com o
próprio perfil do tema proposto. Alguns dos temas a serem desenvolvidos que
exigem pesquisa bibliográfica são: finalidades e funções da universidade,
conceitos e análises sobre currículo, o avanço da tecnologia na atualidade,
conceitos que envolvem o mercado de turismo e as principais tecnologias
desenvolvidas para esta área, dentre outros assuntos. A pesquisa bibliográfica
será realizada a partir de fontes que envolvam os temas turismo, tecnologia e
ensino superior tanto isoladamente quanto dois ou três desses elementos de
forma conjunta.
A fase quantitativa do presente trabalho será uma pesquisa realizada
diariamente durante 90 dias no site de ofertas de emprego Catho e no setor de
vagas do site da ABAV-RIO. A empresa Catho foi escolhida após uma
pesquisa tanto em artigos sobre oportunidades de emprego encontrados nas
mídias de grande circulação quanto em mídias especializadas em
oportunidades e empregos. Além disso, foi observado o número de vagas
oferecidas por cinco sites de emprego em três dias diferentes: nos dias 20 de
setembro, 24 e 31 de outubro. Em todas as situações, o site que apresentou
maior número de vagas foi a Catho. A outra fonte desta pesquisa, a Associação
Brasileira dos Agentes de Viagens do Rio de Janeiro – ABAV-RIO, é uma das
poucas entidades que mantém, em seu site, um espaço permanente para a
oferta de empregos e, por isso, também será examinada. Nesta pesquisa, será
contabilizado o número total de ofertas de empregos na área do turismo bem
como o perfil dessas vagas.
Vale ressaltar que o turismólogo (termo recentemente concedido ao
profissional especialista na área do turismo) tem uma grande variedade de
opções de trabalho. Segundo Trigo (2000), seu portifólio engloba: planejamento
turístico (privado e público), agências de viagens, operadoras turísticas,
hotelaria, consolidadoras, preservação artística e histórica, gastronomia,
eventos, turismo rural e ecológico em geral, centros de informação e
documentação para pesquisa turística, cruzeiros marítimos, educação para o
turismo, marketing direcionado, dentro muitos outros setores e segmentos.
Levando em consideração a afirmação acima, serão registrados, sempre
que possível o tipo de empresa que está oferecendo a vaga, lembrando que a
empresa tem a opção de aparecer como “confidencial”. Caso não seja possível
identificar o tipo de empresa pelo nome desta, o texto da oferta será analisado
por inteiro a fim de observar algum elemento que deixe claro a qual setor a
empresa pertence. Vale destacar também que serão contabilizadas apenas as
vagas que exigem formação em turismo. Dessa forma, não serão consideradas
as vagas que, apesar de serem oferecidas por empresas da área de turismo,
exigem exclusivamente outro tipo de formação e/ou experiência que não o
turismo, como, por exemplo, contabilidade, marketing ou apenas ensino
fundamental.
A pesquisa sobre a oferta de empregos será contabilizada em
documento do Excel, onde haverá uma planilha para cada site pesquisado.
Nesta planilha serão inseridas as seguintes informações: data da pesquisa,
data em que a vaga foi publicada no site, número da oferta (para que não haja
repetições), nome no cargo, formação acadêmica exigida, conhecimento de
softwares exigidos ou considerados como diferencial, nível hierárquico de
acordo com a divisão do próprio site e, sempre que possível o setor da
empresa. Ao final de 90 dias, as informações sobre número total de ofertas,
exigências, nível hierárquico e setor serão contabilizadas e cruzadas para a
realização de uma análise do perfil do profissional mais procurado nestes sites.
A pesquisa será limitada às vagas oferecidas por empresas localizadas na
cidade do Rio de Janeiro.
A pesquisa qualitativa consiste na coleta documentos curriculares dos
cursos de bacharel em Turismo oferecidos pelas universidades públicas do
Estado do Rio de Janeiro – Universidade Federal Fluminense (UFF), que
oferece o curso em Niterói e em Quissamã, Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro (UNIRIO), com o curso localizado na cidade do Rio de Janeiro,
e Universidade Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ), oferecendo o
curso no campus de Nova Iguaçu. Será observada a forma que o
conhecimento sobre tecnologia é tratado como conteúdo. Vale ressaltar que
esses cursos tem algo em comum: todos foram criados a partir de 2003,
quando também foi criado o Ministério do Turismo.
Dentre os autores que norteiam esta monografia, diversos foram
utilizados como base para cada um dos temas. Em relação aos conceitos
gerais de turismo, os autores COOPER et al (2001) e LAGE e MILONE (2000)
estão entre os principais que abordaram os temas mais pertinentes ao presente
trabalho. Já os autores BARRETTO (1995 e 2004) e TRIGO (1999), puderam
ser citados tanto no que diz respeito ao turismo quanto no que diz respeito ao
ensino superior nesta área. Outros autores também auxiliaram na análise sobre
a evolução da educação em Turismo como ANSARAH (2002) e MATIAS
(2002).
Outros autores foram discutidos em áreas mais específicas como
MARÍN (2004) e VALLEN e VALLEN (2003) que apresentaram ótimas análises
sobre a tecnologia desenvolvida para o setor do Turismo, ou, no caso da
educação, TRALDI (1987), PIMENTA e ANASTASIOU (2005) e MOREIRA e
SILVA (2005) cujas duas últimas obras citadas tratam mais especificamente do
currículo escolar.
LISTA DE SIGLAS
ABBTUR - Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo
ABDETH - Associação Brasileira de Dirigentes de Escolas de Turismo e
Hotelaria
BDET - Boletim de Desempenho Econômico do Turismo
BSP - Business Server Provider
CBO - Classificação Brasileira de Ocupações
CEDERJ - Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro
CEEAD - Comissão de Especialistas de Ensino de Administração
CF - Constituição Federal
CFE - Conselho Federal de Educação
CNE - Conselho Nacional de Educação
CRM - Costumer Relationship Management (Gestão do Relacionamento com o
Cliente)
CRO - Central Reservation Office (Escritórios Centrais de Reservas)
CRS - Central Reservation System (Sistemas Centrais e Reservas)
DM - Datamining
DW - Datawarehouse
EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo
ENBETUR - Encontro Nacional de Bacharéis em Turismo
ERP - Enterprice Resourse Planning (Sistema de Planejamento de Recursos
Empresariais)
GDS - Global Distribuiton System (Sistemas de Distribuição Global)
GPS - Global Position System
IES - Instituição de Ensino Superior
IUOTO - União Internacional das Organizações Oficiais de Propaganda
Turística
LDB - Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino
MEC - Ministério da Educação
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
MTur - Ministério do Turismo
OMT - Organização Mundial do Turismo
PMS - Property Management System (Sistema Gerenciamento de Propriedade)
PNT - Plano Nacional do Turismo
SeSu - Secretaria de Educação Superior
SIG - Sistema de Informação Geográfica
TI - Tecnologia da Informação
TICs - Tecnologias da Informação e Comunicação
UFF - Universidade Federal Fluminense
UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UHs - Unidades Habitacionais
UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou
reduziram seu quadro de funcionários ............................................................. 22
Tabela 2 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou
reduziram seu quadro de funcionários (Transporte Aéreo) ............................. 22
Tabela 3 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou
reduziram seu quadro de funcionários (Operadoras de Turismo) ................... 23
Tabela 4 – Empresas que exigem experiência anterior (Catho e ABAV-RIO) . 61
Tabela 5 – Exigência de experiência no setor de Turismo (Catho e ABAV-RIO)
......................................................................................................................... 61
Tabela 6 – Vagas que exigênciam em conhecimento em algum tipo de
tecnologia (Catho e ABAV-RIO) ....................................................................... 62
Tabela 7 - Tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga (Catho) 65
Tabela 8 - Tipos de tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga
(ABAV-RIO)...................................................................................................... 67
Tabela 9 - Número de cursos ligados à área do Turismo ................................ 90
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Evolução do Emprego ................................................................... 30
Gráfico 2 - Categoria dos Cargos (Catho) ....................................................... 57
Gráfico 3 - Categoria dos Cargos (ABAV-RIO) ............................................... 59
Gráfico 4 - Formação acadêmica exigida (Catho) ........................................... 60
Gráfico 5 - Tipos de tecnologias exigidas (Catho) ........................................... 63
Gráfico 6 - Tipos de tecnologias exigidas (ABAV-RIO) ................................... 64
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Ciclo estratégico do CRM ............................................................... 41
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12
CAPÍTULO I – O TRADE TURÍSTICO E SUA RELAÇÃO COM A
TECNOLOGIA .................................................................................................. 15
1.1 – O fenômeno do turismo....................................................................... 15
1.2 – O conceito de tecnologia e sua influência sobre o turismo ................. 23
CAPÍTULO II – AS PRINCIPAIS TECNOLOGIAS VOLTADAS PARA O
MERCADO DO TURISMO ............................................................................... 32
2.1 – Como os setores do Trade Turístico utilizam a tecnologia.................. 33
2.1.1 – Setor hoteleiro ............................................................................. 33
2.1.2 – Setor de agências de viagem ...................................................... 37
2.2 – Os principais Sistemas de Reservas e de distribuição global ............. 43
CAPÍTULO III – AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO ......................................... 53
3.1 – Análise teórica .................................................................................... 53
3.2 – Análise quantitativa sobre a pesquisa de campo ................................ 55
CAPÍTULO IV – A QUESTÃO DA TECNOLOGIA DENTRO DAS
UNIVERSIDADES ............................................................................................ 70
4.1 – A finalidade da universidade e seu papel na sociedade ..................... 71
4.2 – Debates sobre o currículo e o currículo no Ensino Superior ............... 76
4.3 – A evolução do curso superior em Turismo no Brasil ........................... 88
4.4 – Análise sobre a abordagem da tecnologia nas IES públicas do Rio de
Janeiro ......................................................................................................... 92
4.4.1 - Universidade Federal Fluminense ................................................ 93
4.4.2 – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro ..................... 95
4.4.3 – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ............................ 97
4.5 – Considerações finais ........................................................................... 99
CONCLUSÃO ................................................................................................ 102
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 105
WEBGRAFIA .................................................................................................. 107
12
INTRODUÇÃO
O objetivo geral do presente trabalho é demonstrar a importância do
ensino das tecnologias desenvolvidas no mercado do turismo para a formação
profissional do bacharel em turismo. A fim de desenvolver plenamente este
objetivo, são considerados no decorrer da pesquisa os seguintes objetivos
secundários: contextualizar o fenômeno do turismo bem como as tecnologias
envolvidas nesta área; estudar como o mercado de trabalho se comporta no
que diz respeito à exigências de conhecimento em tecnologias e finalmente
observar tanto do ponto de vista teórico quanto na prática como as
universidades públicas se comportam frente a essa demanda.
A opção de analisar o ensino da tecnologia no curso de Turismo se
mostra relevante pela importância que as atividades deste setor vêm
alcançando nas últimas décadas e como o desenvolvimento econômico do
turismo vem ganhando destaque no mundo e no Brasil, mesmo diante das
recentes crises econômicas, criando cada vez mais postos de trabalho e
atraindo a atenção do governo e de grandes investidores. Podemos observar a
importância que o Estado tem dado a este setor com a criação do Ministério do
Turismo (MTur) em 2003 e, neste mesmo ano, com a publicação do primeiro
Plano Nacional do Turismo (PNT). Paralelamente à criação do MTur e do PNT,
foram criados os primeiros cursos de graduação em Turismo nas universidades
públicas do estado do Rio de Janeiro. Em 2006, o Ministério da Educação
(MEC), em conjunto com o Conselho Nacional de Educação e a Câmara de
Educação Superior publicou a resolução nº 13, que instituiu as diretrizes
curriculares nacionais do curso de graduação em turismo. Tudo isso demonstra
que, nos últimos anos, o Estado tem considerado a formação acadêmica do
profissional como um dos determinantes para o desenvolvimento do Turismo.
Como podemos observar atualmente, a tecnologia está cada vez mais
presente em todas as áreas do conhecimento, influenciando inclusive na
formação acadêmica. E não é diferente com o turismo. Desde a década de
1970, sistemas tecnológicos vêm sendo desenvolvidos especialmente para o
13
gerenciamento e operação das mais diversas áreas setor de turismo,
otimizando e maximizando sua produtividade. A popularização da internet foi
outro marco que, sob vários aspectos, trouxe grandes modificações no meio
profissional, dentre os quais: novas formas de comunicação com clientes e
fornecedores, sistemas tecnológicos interligados mundialmente por redes,
acesso às informações em tempo real, dentre outros.
O último elemento deste tema, a educação no Ensino Superior,
demanda maiores reflexões principalmente no que diz respeito ao contato
inicial do graduando em Turismo com as ferramentas tecnológicas mais
utilizadas na sua área. Dois fatores nos alertam para os problemas a serem
enfrentados por esses alunos: de um lado, um mercado altamente competitivo
e que exige cada vez mais do profissional, do outro lado, cursos de bacharel
em Turismo oferecidos pelas universidades públicas do Rio de Janeiro, criados
recentemente e ainda em fase de adequação de acordo com as normas mais
atuais sobre as Diretrizes Curriculares do curso. Esses dois fatores nos alertam
duas questões que neste trabalho serão analisadas de forma conjunta: como a
universidade está preparada para a inserção da tecnologia no seu currículo e
qual é a importância deste conhecimento para a formação do bacharel em
turismo? O presente trabalho se justifica pelas contribuições que pode oferecer
sobre o desenvolvimento curricular do curso de Turismo, a formação do
graduando e sua preparação para o mercado de trabalho.
Este estudo se encontra dividido em quatro capítulos. No primeiro
capítulo serão delineados os conceitos básicos relacionados ao fenômeno do
turismo para entendermos melhor o contexto desta atividade atualmente.
Posteriormente neste mesmo capítulo serão desenvolvidos os conceitos
básicos que envolvem a ideia de tecnologia: tecnologia da informação,
inteligência artificial, programas e softwares. Por último, será apresentada uma
breve análise relacionando os dois elementos: tecnologia e turismo.
No capítulo seguinte serão detalhadas as diversas formas que a
tecnologia foi desenvolvida para auxiliar exclusivamente o setor de Turismo.
Haverá um subcapítulo em especial para os Sistemas de Distribuição Global e
Sistemas de Reservas, ferramentas que possuem um histórico próprio e que
14
atualmente são indispensáveis para os principais setores do turismo
(Hospedagem, agenciamento e transporte aéreo). No terceiro capítulo será
apresentado um breve debate teórico sobre o que o mercado espera do
profissional de turismo. Posteriormente, através dos resultados sobre a
pesquisa de ofertas de emprego será possível observar até que ponto o
conhecimento de tecnologias poderia auxiliar o turismólogo na sua inserção ao
mercado de trabalho.
No quarto capítulo o presente estudo se volta para a Educação Superior.
Inicialmente haverá um debate sobre a finalidade da universidade frente ao
aluno e à sociedade. Posteriormente, em um subcapítulo separado será dada
uma atenção especial ao Currículo, principal ferramenta de planejamento e
controle de uma instituição de ensino. Serão desenvolvidos alguns conceitos
gerais sobre o tema, os elementos e atores que o influenciam, bem como o seu
planejamento, em especial, no ensino superior. No próximo subcapítulo será
realizado um enfoque no ensino superior em Turismo, apresentando um breve
histórico no Brasil e no Rio de Janeiro. Este capítulo será finalizado com uma
análise sobre como o tema “tecnologia” é abordado nos cursos de Graduação
em Turismo oferecidos pelas universidades públicas do Estado do Rio de
Janeiro. Tal análise será realizada através de um estudo sobre as ferramentas
curriculares disponibilizadas pela coordenação dos cursos.
O quinto e último capítulo, será finalizado, a partir dos capítulos
anteriores, com um panorama geral sobre o tema a fim de delinear o objetivo
principal: concluir até que ponto as tecnologias são importantes na formação
profissional do turismólogo. Além disso, será possível identificar as lacunas
entre as tecnologias desenvolvidas para o setor do Turismo e o que é visto
sobre o assunto nas universidades pesquisadas. E finalmente, serão
apresentadas sugestões de como abordar o tema “Tecnologia” tanto na
questão de conteúdo quanto na questão metodológica.
15
CAPÍTULO I – O TRADE TURÍSTICO E SUA RELAÇÃO
COM A TECNOLOGIA
1.1 – O fenômeno do turismo
O ato de se deslocar, segundo alguns autores, segue a história do
homem há milhares de anos (BARRETTO, 1995; IGNARRA, 2000; DIAS,
2005). Barretto, ressalta que esses deslocamentos foram as primeiras grandes
imigrações, não podendo ser consideradas como viagens, pois “viajar implica
voltar, e o homem primitivo ficava no novo lugar desde que este lhe garantisse
o sustento; ele não tencionava retornar” (BARRETTO, 1995, p. 44). De
qualquer maneira, as primeiras eras da nossa evolução são constantemente
mencionadas pelos autores para demonstrar que o ato de se movimentar é
algo inerente ao homem.
Para entender melhor o fenômeno do turismo, é preciso salientar
algumas características acerca da sua teorização. Em primeiro lugar, o turismo
é um tipo de viagem, mas nem toda viagem é turismo conforme será detalhado
posteriormente (BARRETTO, 1995 e DIAS, 2005). Além disso, de acordo com
Dias (2005), “o conceito de turismo é uma matéria bastante controversa
segundo os vários autores que tratam desse assunto” (p. 23). Margarida
Barretto (1995), por exemplo, citou 17 definições diferentes que foram
elaboradas no decorrer da história teórica e acadêmica do turismo. Finalmente,
se compararmos a história teórica do turismo com outras áreas de
conhecimento, observamos que este é muito recente. Sancho (2001) e
BARRETTO (1995) afirmam que o início das teorias que envolvem este
fenômeno surgiu com a criação da escola de Berlim, por volta da década de
1930.
Devido às dificuldades em definir o tema (semelhança da conceituação
com outras atividades, diversidade de conceituações entre grande número de
autores e teorização relativamente recente), é importante relacionar os
elementos que são comuns a todas as definições e, consequentemente,
diferenciam esta atividade de outras, como viagens e migrações:
16
• Existe um deslocamento por parte da demanda até o local de
consumo;
• Existe um prazo de permanência (a viagem pode ser um
deslocamento só de ida, contudo no turismo deve existir o
deslocamento de ‘ida e volta’)
• O turismo compreende tanto as atividades no local de visitação,
quanto seu deslocamento até o destino;
• Seja qual for o motivo da viagem, para ser considerado turismo, ela
inclui serviços e equipamentos criados para satisfazer as
necessidades dos turistas. (o que pode não ocorrer em uma viagem
comum, como, por exemplo, para trabalho temporário ou estudos)1.
Um exemplo do quão recente é a conceituação de turismo é a definição
estabelecida pela Organização Mundial do Turismo (OMT), publicada apenas
em 1994, a ser adotada pelos países membros com o propósito de padronizar
as pesquisas estatísticas no mundo:
O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras. (SANCHO, 2001, p. 38)
Vale ressaltar que a OMT foi criada em 1970 com o nome União
Internacional das Organizações Oficiais de Propaganda Turística (IUOTO),
adotando o nome atual em 1974. Atualmente a OMT é um órgão especializado
das Nações Unidas, se tornando a principal organização internacional com
papel de promoção e desenvolvimento do turismo responsável e sustentável no
mundo (DIAS, 2005).
A história das viagens é longa, passando pelos gregos que viajavam
para tratar da saúde e para se reunirem para os jogos olímpicos. Na Idade
Média, destacam-se as grandes cruzadas, era também uma época em que as
viagens dentro da Europa se mostravam pouco seguras e apenas aquelas
pessoas que tinham necessidades administrativas ou sociais a realizavam.
Depois na Idade Moderna, a partir do século XVI, começam as grandes
1 Tópicos adaptados de Sancho (2001, p. 39) e Quevedo (2007, p. 20).
17
viagens exploratórias para as Américas. Foi neste momento que surgiu o termo
tour, de origem francesa. Eram assim chamadas as viagens que os jovens de
família rica realizavam pela Europa, particularmente pela França, por alguns
anos, antes de retornarem e recomeçarem seus estudos. Ainda que esta seja
uma das primeiras manifestações de viagens que se assemelhem com o
turismo atual, foi apenas no final do século XIX, com o crescimento das
ferrovias e trens, que este fenômeno começou a se desenvolver como o
conhecemos hoje, contudo ainda se manifestava apenas entre as elites. (DIAS,
2005; IGNARRA, 2000; BARRETTO, 1995).
O turismo só começou a tomar a dimensão que vemos hoje após a
Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, quando surge um novo mundo
que, por conta de diversos fatores presenciou o advento de uma nova
concepção de turismo: o turismo de massas. Alguns desses fatores foram:
desenvolvimento da aviação civil que diminuiu as distâncias, o direito às férias
remuneradas e maior democratização do ensino (TRIGO, 1999, p. 15), dentre
outros fenômenos.
Com o advento do turismo de massas, nos países industrializados, integrantes de todas as classes sociais tendem a praticar o turismo, que se incorpora gradativamente aos hábitos e costumes, convertendo-se em um fato significativo da vida das pessoas, principalmente daquelas que habitam os grandes centros. (DIAS, 2005, p. 38)
A partir deste momento, houve uma explosão do turismo das massas,
que tinha como características viagens padronizadas e, em muito casos, em
grupo a fim de manter o baixo custo. Nunca houve um número tão grande de
viagens a turismo, pois esta atividade se tornou algo inerente aos mais
diversos grupos sociais (DIAS, 2005). Hoje vivemos um novo momento deste
fenômeno que se torna global. Vemos principalmente o desenvolvimento do
turismo segmentado (diferente daquele turismo das massas, padronizado),
compreendendo serviços e atividades voltadas especialmente para os mais
diversos perfis de turista: terceira idade, jovens estudantes, esportistas,
amantes da natureza, o turismo social, dentre outros (QUEVEDO, 2007 e
LAGE e MILONE, 2000). Segundo Quevedo:
18
Atualmente, é possível observar que o fenômeno do turismo tomou grandes proporções e se tornou uma das atividades econômicas e sociais mais importantes do mundo influenciado por uma sociedade caracterizada pelo acesso ilimitado à informação, maior tempo livre e busca por uma melhor qualidade de via. (QUEVEDO, 2007, P. 27).
Lage e Malone (2000) detalham algumas características da sociedade
contemporânea que influenciam uma nova forma de pensar em turismo:
Com a modernidade e o desenvolvimento da comunicação, do avanço tecnológico, de novos costumes, valores culturais e hábitos emergentes, as viagens foram crescendo , sofisticando-se e se adequando às novidades globais da época, demandada pelos consumidores e oferecida pelos produtores. (LAGE e MALONE, 2000, p. 26)
Assim, a partir de diversos autores é possível concluir que o perfil da
demanda do turismo no século XXI se apresenta cada vez mais informada e
informatizada. Atualmente, com grande experiência em viagens, o turista não
aceita qualquer tipo de serviço e o custo da viagem já não é o principal fator
decisivo e motivacional (como foi com o turismo de massas), sobretudo por
conta da alta concorrência que força os produtores a otimizarem sua
produtividade diminuindo da melhor forma possível seus preços. Cooper
destaca o novo perfil do turista sob o viés do mercado, destacando-o como
novo um consumidor que:
Tem capacidade de discernimento, busca qualidade e participação e, no mundo desenvolvido, faz cada vez mais parte de um grupo etário mais velho. As motivações para a viagem estão se afastando do passivo prazer ao sol, indo em direção a outras mais relacionadas à educação e à curiosidade. (Cooper et all, 2001, p. 483)
Por ser um tema amplamente analisado sob o enfoque econômico, o
presente trabalho levará em consideração o conceito de mercado turístico (ou
Trade Turístico, Dias (2005)) cujo sistema o futuro turismólogo está inserido.
Ao levar em consideração o mercado como um conceito geral, é preciso
observar que há dois elementos fundamentais para sua existência: a oferta e a
demanda (LAGE e MILONE (2000), SANCHO (2000) e DIAS (2005)). Lage e
Milone (2000) determinam demanda e oferta como os agentes econômicos,
respectivamente, consumidores e produtores cuja relação se define através de
uma troca de informações e decisões de compra e venda de diversos bens e
19
serviços a disposição. Essa relação chamada pelos autores de “vasta rede de
informações” (Ibid, 2000, p.29) é o que chamamos de mercado turístico.
Segundo Dias (2005), no caso do turismo, a demanda é composta por:
(1) turistas efetivos; (2) turistas potenciais (aqueles que pretendem ou desejam
realizar turismo). Lage e Milone detalham que a demanda pode ser interpretada
como “a quantidade de bens e serviços que os consumidores estão dispostos a
adquirir por um dado preço e em um dado período de tempo” (2000, p. 26).
Analisando a demanda com base neste conceito é possível quantifica-la
através de pesquisas de campo sobre o consumo real e potencial de
equipamento e serviços turísticos, obtendo assim uma análise sobre o perfil do
turista (Ibid, 2000).
Já a oferta, segundo Dias (2005) é composta por: (1) recursos turísticos,
são os atrativos turísticos naturais e artificias; (2) serviços e equipamentos
turísticos, que são: meios de hospedagem, alimentação, entretenimento, e
outros serviços como agência de viagem, transportadoras, locadoras de
veículos, etc; e (3) infraestrutura e serviços básico, definido por Lage e Milone
como infraestrutura de apoio turístico, “formada pelo conjunto de obras e
instalações de estrutura física de base” para a atividade turística (2000, p. 29).
Alguns exemplos de infraestrutura de apoio turísticos são: sistema de
transportes urbanos, sistemas de comunicações, serviços urbanos como
esgoto e água, energia, sinalização, limpeza urbana, dentre outros (Ibid, 2000).
É dentro da oferta que se encontram os chamados setores turísticos,
composto por todos os tipos de empresas que oferecem direta ou
indiretamente equipamentos e serviços para a realização de uma viagem a
turismo. Ao analisarmos os setores turísticos é possível observar o mercado de
trabalho onde o turismólogo poderá atuar (Ansarah, 2005). Foram encontradas
diversas formas de divisões do setor, contudo a classificação resumida no
presente trabalho utilizará as fontes que apresentaram as divisões semelhantes
entre si como Dias (2005), Ansarah (2005) e dois documentos estatísticos do
MTur: Estatíticas Básicas de Turismo, Outubro de 2010 e Boletim de
Desempenho Econômico do Turismo, publicado em Outubro de 2012.
20
A partir destes autores é possível englobar os principais setores que
atendem o turista na seguinte divisão: meios de hospedagem, agências e
operadoras de viagens, o setor de transportes entre os destinos (Transporte
aéreo, rodoviário, marítimo e pluvial), organizadores de eventos, alimentos e
bebidas (bares, restaurantes e lanchonetes) e lazer (parques temáticos,
boates, casas de espetáculos, dentre outros). Muitos desses setores
apresentam uma ampla demanda, sendo os turistas um dos perfis de clientes
que atende (como os setores de alimentos e bebidas e de lazer localizados no
destino turístico, que também atendem aos moradores da região).
Finalizando este tópico, é importante destacar o contexto do turismo
atualmente. Como se encontra esta atividade hoje? O turismo, mais do que
outros campos do mercado, é altamente vulnerável. Consequentemente, os
mais diversos fatores externos, ou seja, variáveis que estão fora do alcance
dos produtores, (mudanças políticas, econômicas ou sociais, acidentes
ambientais naturais ou causados pelo homem, evolução do transporte e da
comunicação, dentre outros) influenciam seu futuro provocando sua expansão
ou retração e alterando o perfil dos viajantes e dos fornecedores de
equipamentos e serviços turísticos (Cooper et all, 2001). Na prática, é possível
citar vários fatores que provocaram algum tipo de variação no mercado do
turismo nos últimos anos: os conflitos políticos da Primavera Árabe, por
exemplo, foram os principais fatores de redução na chegada de turistas no
norte da África (-8%) e no Oriente Médio (-9%) em 2011; a crise econômica de
2008/2009 provocou redução mundial no número de turistas 2; problemas de
saúde mundial, como, por exemplo, o que ocorreu com a disseminação da
gripe H1N1 que ameaçou a movimentação dos viajantes internacionais entre
2008 e 20093.
Contudo, estatísticas apresentadas tanto pelo MTur quanto pela OMT
evidenciam que o turismo demonstra grande força de crescimento mesmo em
meio aos grandes problemas mundiais, firmando sua importância na economia
mundial. Abaixo segue uma citação do ‘Panorama OMT del turismo’ editado em
2012 referente aos dados coletados de 2011: 2 OMT - Panorama del turismo. Edición 2012 3 MTur - Estatística e indicadores de turismo no mundo, 2009
21
En 2011, el turismo mundial siguió recuperándose de los contratiempos de 2008-2009, aunque el año estuvo marcado por las persistentes turbulencias económicas, como los grandes cambios políticos en Oriente Medio y el Norte de África y el desastre natural de Japón. En todo el mundo, las llegadas de turistas internacionales (es decir, los visitantes que pernoctan) aumentaron en un 4,6% en 2011 hasta los 983 millones, partiendo de los 940 millones registrados em 2010, cuando las llegadas se incrementaron en un 6,4% (2012, p.3).4
O MTur, no Boletim de Desempenho Econômico do Turismo (BDET)5,
cita a OMT para frisar que vivemos um momento de incertezas e que, apesar
dos diversos fatores que provocam estas incertezas, o turismo é uma das
poucas atividades econômicas que vêm crescendo de forma significativa,
estimulando a demanda e os gastos. A consequência do crescimento desta a
atividade é principalmente a criação de inúmeros empregos diretos e indiretos.
O boletim citado acima é publicado desde 2010 e apresenta uma
pesquisa trimestral junto a 523 empresas de diversos setores do turismo. A
partir das tabelas apresentas sobre cada setor, é possível observar algumas
características do mercado de trabalho no turismo. Os setores Meios De
Hospedagem e Parques e Atrações Turísticas são exemplos de mercados em
que há uma variação sazonal no que diz respeito ao aumento, estabilidade e
redução do quadro de funcionários (Tabela 1). Este fator está intimamente
ligado às oscilações anuais do número de turistas nos destinos.
4 Tradução: Em 2011, o turismo seguiu recuperando-se dos contratempos de 2008-2009, apesar do ano estar marcado pelas persistentes turbulências econômicas, como as grandes mudanças políticas no Oriente Médio e no Norte da África e o desastre natural do Japão. Em todo o mundo, as chegadas de turistas internacionais (quer dizer, os visitantes que pernoitam) aumentaram em 4,6% em 2011 para 983 milhões, partindo dos 940 milhões registrados em 2010, quando as chegadas aumentaram em 6,4%. 5 A publicação trimestral elaborada pelo Ministério do Turismo em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) é resultado da análise quantitativa e qualitativa da conjuntura econômica do turismo no Brasil. Realizada junto a dirigentes dos setores de meios de hospedagem, agências de viagem, operadores de agências, organizadores de eventos, transporte aéreo, empresas aéreas, parques temáticos e turismo receptivo.
22
Tabela 1 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou reduziram seu quadro de funcionários
Período Meios de Hospedagem Parques e Atrações Turísticas
Crescimento (+)
Estabilidade (=)
Redução (-) Saldo Crescimento
(+) Estabilidade
(=) Redução
(-) Saldo
Jul-Set/2010 20 62 18 2 77 23 0 2
Out-Dez/2010 34 59 7 27 54 7 39 27
Jan-Mar/2011 35 52 13 22 0 44 56 22
Abr-Jun/2011 20 64 16 4 3 36 61 4
Jul-Set/2011 26 68 6 20 64 36 0 20
Out-Dez/2011 29 63 8 21 48 38 14 21
Jan-Mar/2012 10 80 10 0 31 37 32 0
Abr-Jun/2012 14 78 8 6 20 52 28 6
Jul-Set/2012 24 68 8 16 52 48 0 16 Fonte: BDET, Outubro de 2012
Já no setor Transporte Aéreo, durante o 3º trimestre de 2012, não houve
nenhuma empresa que tenha aumentado seu quadro de funcionários. Na
verdade, a maioria manteve o mesmo número de empregados e houve
demissões em 35% das empresas entrevistadas (Tabela 2). Este saldo
negativo se justifica, segundo a pesquisa, principalmente pela automação de
determinadas tarefas. Um dado interessante é que no mesmo período, 98%
das empresas aéreas apresentaram aumento do faturamento em relação ao
trimestre anterior, onde é possível supor que o setor não está passando por
crise financeira.
Tabela 2 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou reduziram seu quadro de funcionários (Transporte Aéreo)
Período Transporte Aéreo
Crescimento (+) Estabilidade (=) Redução (-) Saldo
Jul-Set/2010 100 0 0 2
Out-Dez/2010 98 2 0 27
Jan-Mar/2011 65 2 33 22
Abr-Jun/2011 13 55 32 4
Jul-Set/2011 14 36 50 20
Out-Dez/2011 58 42 0 21
Jan-Mar/2012 53 47 0 0
Abr-Jun/2012 82 18 0 6
Jul-Set/2012 0 65 35 16 Fonte: BDET, Outubro de 2012
23
O exemplo das operadoras de turismo é um pouco diferente. O quadro
demonstra que houve um constante crescimento no quadro de funcionários em
boa parte das empresas. Contudo, houve uma quebra nessa constante no 2º
semestre de 2012 quando o setor começou a sentir os efeitos da crise mundial,
por conta da retração de alguns mercados, como o mercado receptivo
internacional (Tabela 3). No 3º trimestre de 2012 muitas empresas voltaram a
contratar novos funcionários, porém 55% delas ainda registraram redução no
seu faturamento no mesmo período, o que deixa claro que este setor ainda não
se restabeleceu completamente.
Tabela 3 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou reduziram seu quadro de funcionários (Operadoras de Turismo)
Período Operadoras de Turismo
Crescimento (+) Estabilidade (=) Redução (-) Saldo
Jul-Set/2010 78 22 0 2
Out-Dez/2010 60 27 13 27
Jan-Mar/2011 35 65 0 22
Abr-Jun/2011 45 41 14 4
Jul-Set/2011 46 44 10 20
Out-Dez/2011 52 30 18 21
Jan-Mar/2012 70 17 13 0
Abr-Jun/2012 21 28 51 6
Jul-Set/2012 49 33 18 16 Fonte: BDET, Outubro de 2012
É neste contexto que o turismólogo deverá estabelecer sua carreira: em
mercado sazonal, repleto de altos e baixos, que sofre grande influência de
fatores imprevistos e independentes; altamente competitivo e cada vez mais
informatizado, exigindo cada vez mais conhecimento e flexibilidade de seus
produtores.
1.2 – O conceito de tecnologia e sua influência sobre o
turismo
Atualmente, o termo “tecnologia” se tornou um elemento constantemente
citado entre os pensadores dos mais diversos campos do conhecimento, pois é
apresentado como um dos fatores mais relevantes na sociedade
24
contemporânea. Vale ressaltar, contudo, que ao considerarmos seu real
significado (sinônimo de metodologia, procedimento, técnica) observamos que
a tecnologia está presente na história do homem desde a descoberta do fogo.
Andrade Júnior cita Ribault ao definir tecnologia como um “conjunto complexo
de conhecimentos, de meios e de know-how (saber fazer), organizado com
vista a uma produção” (IN Quevedo, 2007, p. 34). Este mesmo autor ainda
detalha que uma tecnologia “resolve um problema e sua criação é
indispensável à fabricação de um produto, componente do produto ou para
uma transformação no interior de um processo longo e complicado” (Ibid, 2007,
p. 34). Kenski (2007) destaca a ‘banalidade’ da tecnologia em nossas vidas ao
afirmar que ela está tão presente nas atividades mais comuns, como dormir,
comer, trabalhar, se deslocar, que não a percebemos como algo não natural.
O que nos leva, então, a considerar que estamos vivendo uma nova era
tecnológica? A questão não está apenas na tecnologia em si, mas a forma que
a utilizamos e a dimensão da sua importância para a sociedade atualmente.
Castells (1999) defende a ideia de que vivemos um novo momento de
revolução adotando um pensamento de Stephen J. Gould (1980) cuja
concepção de história da vida é formada “por situações estáveis, pontuada em
intervalos raros por eventos importantes que ocorrem com grande rapidez e
ajudam a estabelecer a próxima era estável” (GOUD Apud CASTELLS, 1999,
p. 67). Para Castells, vivemos um desses intervalos que se caracteriza pela
“transformação de nossa ‘cultura material’ pelos mecanismos de um novo
paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação”
(Ibid, 1999 p. 67).
O autor ainda destaca que as revoluções industriais também foram
revoluções tecnológicas. De fato, o ponto em comum entre a atual revolução e
as duas revoluções industriais anteriores são exatamente as inovações
tecnológicas: durante 1ª Revolução Industrial, ocorrido no final do século VXIII,
novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira, a substituição de
ferramentas manuais por máquinas, alteraram a forma de produção; a 2ª
Revolução Industrial começa no final do século XIX, quando não só a produção
se modificou, mas principalmente a sociedade viu seu modo de vida se
25
transformar com o desenvolvimento da eletricidade, novos produtos químicos,
difusão do telégrafo e a invenção do telefone (Ibid, 1999, p. 71). Contudo, há
alguns fatores que diferenciam a revolução que vivemos das anteriores. O
autor citado anteriormente apresenta cinco características que, em resumo,
definem o perfil deste novo “paradigma tecnológico”:
(1) A informação é a matéria prima: são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas informações para agir sobre a tecnologia (...); (2) penetralidade dos efeitos da nova tecnologia, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (...) pelo novo meio tecnológico; (3) a lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações; (4) flexibilidade, não apenas os processo são reversíveis, mas organizações e instituições podem ser modificadas (...). (5) a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado. (Ibid, 2005, p. 108 – 109)
Enquanto Castells (1999) apresenta um enfoque nas formas de
produção e organização da sociedade, Pierre Lévy detalha o papel das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). na constituição das culturas
e inteligência dos grupos no livro ‘As tecnologias da inteligência: o futuro do
pensamento na era da informática’ (1993), onde o autor traça uma linha
temporal sobre as ferramentas desenvolvidas pelo homem para a comunicação
subdividindo nos polos “oralidade primária”, “escrita” e “polo informático-
mediático”. Apesar do enfoque diferenciado, Lévy, assim como Castells
destaca as particularidades que fazem com que as novas formas de
comunicação sejam completamente inovadoras. Para o autor, vivemos uma
nova maneira de pensar e conviver que estão sendo elaboradas no mundo das
telecomunicações e da informática. O próprio processo de transmissão de
informações e comunicações necessita de um “aporte informático” para que
exista na forma que conhecemos hoje (ibid, 1993).
Lévy, em seu livro Cibercultura (1999), dá continuidade à suas ideias
sobre o comportamento e as evoluções da sociedade frente às novas
ferramentas das TICs. Neste mesmo livro, o autor ainda define genericamente
o termo informática como um conjunto de técnicas que permitem digitalizar a
informação e sua posterior armazenagem, transporte e difusão. O autor ainda
define programas (ou softwares) como “uma lista bastante organizada de
26
instruções codificadas, destinadas a fazer com que um ou mais processadores
executem uma tarefa.” (Ibid, 1999, p. 41).
Sobre o termo ‘tecnologia da informação’, Castells resume seus atributos
como “forte e impositivo em sua materialidade, mas adaptável e aberto em seu
desenvolvimento histórico” (1999, p. 113). Abrangência, complexidade e
disposição em forma de rede são suas principais qualidades. Mas o que vem a
ser tecnologia da informação? O autor supracitado cita Brooks (1971) e Bell
(1976) ao defini-la como “ o uso de conhecimentos científicos para especificar
as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível (grifo do autor)”
(1999, p. 67). Cooper (2001) e Quevedo (2007) citam Poon (1993) para definir
tecnologia da informação como o termo concedido ao desenvolvimento do meio
(eletrônico) e dos mecanismos (computadores e tecnologias da comunicação)
para fins de aquisição, processamento, análise, armazenagem, recuperação,
disseminação e aplicação da informação. A partir das duas definições acima é
possível inferir que a tecnologia da informação é o desenvolvimento de meios
para tornar a informação reproduzível, ou seja, passível de ser adquirida,
armazenada, recuperada e disseminada.
Um termo mais específico do que as TICs é constantemente abordado
pelos autores no que concerne a tecnologia tanto na educação quanto no
turismo: o Sistema Especialista, que, conforme afirma Oliveira (2005), é um dos
ramos da Inteligência Artificial. Lévy define os sistemas especialistas como:
Programas capazes de substituir (ou, maior parte dos casos, ajudar) um especialista humano no exercício de suas funções de diagnóstico ou aconselhamento. O sistema contém, em uma “base de regras”, os conhecimentos do especialista humano sobre um domínio em particular; a “base de fatos” contém os dados (provisórios) sobre a situação particular que está sendo analisada; a “máquina de inferência” aplica as regras aos fatos para chegar a uma conclusão ou a um diagnóstico (1993, p. 39).
Vallen e Vallen (2003) destacam a importância deste tipo de sistema
tecnológico para os meios de hospedagens ao detalharem as vantagens do
sistema automatizado de gerenciamento de rendimento e receita como uma
ferramenta útil na tomada de decisões administrativas e financeiras, pois o
sistema compara o desempenho real com previsões e faz ajustes necessários
27
nos preços das diárias, utilizando funções lógicas padrão ou operações de
inteligência artificial. “Na verdade, na ausência de gerência, esses sistemas
podem modificar automaticamente os preços, apurar a disponibilidade de
departamentos e monitorar a atividade de reservas.” (Ibid, 2003, p. 137).
No entanto, assim como a tecnologia da informação necessita do ser
humano para ‘ser’, o sistema especialista apresenta algumas desvantagens em
relação ao especialista humano como: não tem a criatividade do homem, na
maioria dos casos necessita de um comando, seu foco é restrito e seu
conhecimento também se restringe aos termos técnicos (OLIVEIRA NETO,
2005). As vantagens do ser humano são a capacidade intuitiva, bom senso e
uma visão mais ampla que vai além do conhecimento técnico.
Voltando ao tema das TICs, uma das suas ferramentas mais utilizadas
no mundo é a internet. Para o turismo esta ferramenta apresenta vantagens e
desvantagens. Do ponto de vista da demanda, o perfil do turista tem evoluído
por conta da chamada “democratização da informação” (MARÍN, p. 109, 2004).
Através da Internet, o consumidor tem acesso às mais diversas informações e
às empresas ligadas ao serviço de turismo (companhias aéreas, locadoras de
veículos, meios de hospedagens, dentre outros) (SANCHO, 2001). O turista se
tornou mais experiente e independente utilizando a internet para o
“planejamento, busca, reservas, aquisição e modificações de produtos
turísticos” (COOPER et al., 2001, p. 462).
Do ponto de vista das empresas, a Internet trouxe diversas facilidades
tornando o contato com o cliente mais prático e personalizado (COOPER et al.,
2001). Por isso, enquanto alguns setores cresceram por conta das evoluções
das TICs, proporcionando um contato mais direto com o cliente (Exemplo:
Companhias aéreas, redes hoteleiras e locadoras de veículos), outro setor vem
sofrendo com este fenômeno: as agências de viagens. Foram encontrados
diversos artigos e livros que abordam esta questão e todos afirmam que a
tecnologia pode se tornar uma ameaça a este setor, pois este acaba perdendo
sua função como intermediadora entre empresas de serviços turísticos e
viajantes (SANCHO, 2001; MARÍN, 2004; COOPER et al., 2001; TAVARES E
NEVES, 2011).
28
Segundo Cooper et al. (2001), algumas das forças ligadas à tecnologia
que estão “minando o papel do agente de viagens” são: (a) os fornecedores de
diversos serviços turísticos estão cada vez mais voltados para controle dos
custos de distribuição, priorizando a comunicação direta com o turista, o que
evita pagamento de comissões; (b) A maioria das agências de viagens
emprega pessoas com treinamento inadequado e pouca experiência; (c) O
crescimento da concorrência com agentes eletrônicos altamente capacitados,
uma vez que a localização está se tornando menos importante, já que todo o
procedimento de reserva, pagamento e confirmação dos serviços podem ser
feitos pela internet.
Sancho (2001) destaca que as agências de viagens, diante deste novo
mercado, deverão “se especializar e oferecer um valor a mais, além de reduzir
seus custos e atuar como consultores e assessores de viagem, ao dispor de
maior experiência e informações que o cliente” (2001, p. 318). Assim como
Sancho, Marín (2004), também destacou novas ações que têm sido adotadas
pelas agências de viagens para se manter no mercado ao focar sempre no
cliente e personalizar o atendimento, “trocando o marketing de massas pelo
marketing “One2One”6 (p. 110).
Quanto ao profissional, Lévy (1999) enquadra muitas funções entre os
excluídos dessa revolução tecnológica. Segundo o autor, o desenvolvimento
tecnológico é tão rápido que é vista como “um ‘outro’ ameaçador” por muitos
não inseridos neste contexto. Estes excluídos seriam, por exemplo, diversas
classes sociais, regiões do mundo que não participam desta revolução e os
profissionais que viram seu método de trabalho ser completamente alterado (o
tipógrafo, que hoje, seria o design gráfico) ou cuja profissão não existe mais
(alguns exemplos são o datilógrafo e a telefonista que viram sua função
desaparecer por conta do advento do computador e da evolução da telefonia,
respectivamente).
6 Marketing one-to-one: “Baseia-se em clientes individuais e na personalização de produtos e serviços, por intermédio de um conhecimento do mercado conseguido pelo diálogo e pelo feedback de cada cliente” (CÉSAR, 2008).
29
A aceleração é tão forte e tão generalizada que até mesmo os mais “ligados” encontram-se, em graus diversos, ultrapassados pela mudança, já que ninguém pode participar ativamente da criação das transformações de conjunto de especialidades técnicas, nem mesmo seguir essas transformações de perto. (1999, p. 27)
É importante frisar que muitas funções são extintas, outras alteradas,
mas não há registros na redução no número absoluto de empregos. Castells
(1999) questiona se estamos seguindo rumo a uma ‘sociedade sem empregos’
e ressalta que nas revoluções industriais não houve redução no número de
empregos, mas sim uma transferência de geração de empregos (da zona rural
para as cidades, da indústria para o setor de serviços). Assim acontece durante
esta nova revolução, pois muitos empregos estão sendo extintos, porém novas
funções surgem e surgirão na indústria da alta tecnologia e principalmente no
setor de serviços. Através de pesquisas em países desenvolvidos (Estado
Unidos, Japão e Comunidade Europeia), este mesmo autor observou que:
“a tecnologia da informação em si não causa desemprego, mesmo que, obviamente, reduza o tempo de trabalho por unidade de produção. Mas, sob o paradigma informacional, os tipos de emprego mudam em quantidade, qualidade e na natureza do trabalho executado”. (Ibid, 1999, p. 328)
No caso do mercado do turismo no Brasil, é possível observar um
aumento constante no número de empregos nos últimos anos. Segundo dados
estatísticos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), publicado pela MTur,
no Boletim de Desempenho Econômico do Turismo (BDET) em Outubro de
2012, o que tem ocorrido é a redução no aumento do número de empregos. O
último período registrado no referido documento é o 3º trimestre de 2012 (Julho
- Setembro), quando foram registrados, no setor de turismo, 5.235.755
admissões, contra 4.843.987 desligamento, com um saldo positivo de 393.768.
Com relação ao mesmo período em 2011, houve uma redução de 27,09% no
saldo positivo (Gráfico 1).
30
Gráfico 1 - Evolução do Emprego no Brasil Saldo entre admissões e desligamentos no 3º trimestre de 2007 a 2012
Retirado do BDET, 2012
O mercado de trabalho para o profissional do turismo segue esta
tendência – não há redução no número total de empregos, mas há setores
diminuindo seu quadro de pessoal ou admitindo cargos que requerem cada vez
mais conhecimento de diversas áreas (economia, geografia, dentre outros),
inclusive conhecimento tecnológico. O agente de viagens, por exemplo, que
antes detinha informações exclusivas sobre os destinos e serviços turísticos,
hoje “compete” com a Internet. Sua função não foi extinta, mas o agente
atualmente deve dominar com facilidade ferramentas tecnológicas além de
conhecer os destinos mais detalhadamente, não bastando oferecer ao cliente
informações padronizadas, pois o turista, hoje, é bombardeado por
informações. Logo, o papel do agente é oferecer informações de qualidade e
diferenciadas (TAVARES E NEVES, 2011).
Por outro lado, a informação é vital para todos os envolvidos na
atividade do turismo. Como o turista, por exemplo, que antes de escolher seu
destino e realizar uma viagem, coleta informações através das mais diversas
fontes: diferentes canais de mídias, fornecedores de serviços turísticos, amigos
e parentes. Por isso, a tecnologia da informação se tornou a principal
ferramenta de distribuição, pois é a mais eficaz e competitiva. (COOPER et al,
2001). O autor ainda ressalta que o contínuo desenvolvimento da internet
“resultou em uma reengenharia de todo o processo de produção e distribuição
dos produtos turísticos” (Ibid, 2001, p. 463). Assim como Cooper, Fabbris e
Silva (2007) deixam claro que todo o processo de produção do turismo foi
profundamente alterado pelas novas técnicas:
31
A revolução da tecnologia da informação está causando um impacto profundo na maneira como as viagens e os serviços complementares são anunciados, distribuídos, vendidos e entregues, porque o negócio real por trás das viagens é a informação (Fabbris e Silva In QUEVEDO, 2007, p ).
A consequência desta revolução tecnológica é um turismo mais
personalizado e competitivo o que pode se tornar uma ameaça para alguns ou
oportunidade para outros que conseguem utilizá-la para aperfeiçoar seus
serviços. A questão é saber acompanhar o desenvolvimento tecnológico de
forma inteligente, aproveitando as ferramentas dispostas no mercado de
acordo com o perfil de cada empresa. Por isso, no próximo capítulo serão
analisadas mais detalhadamente as ferramentas tecnológicas desenvolvidas
especialmente para o mercado turístico e como elas podem ser utilizadas,
destacando suas funcionalidades e também as dificuldades pelas quais as
empresas brasileiras passam ao tentar implementá-las.
32
CAPÍTULO II – AS PRINCIPAIS TECNOLOGIAS
VOLTADAS PARA O MERCADO DO TURISMO
O presente capítulo tem como foco as tecnologias adotadas pelos
principais setores do mercado do turismo: agências de viagem e operadoras de
turismo, hospedagem e transporte aéreo. A evolução das ferramentas
tecnológicas aqui apresentadas tem sua origem muito recente. Algumas,
inclusive, ainda estão em fase de consolidação. Além disso, é possível
observar o quanto este tema passa por mudanças rapidamente ao analisarmos
as principais fontes adotadas neste capítulo: os autores Vallen e Vallen (2003),
que abordam as tecnologias encontradas no setor de hospedagem, e Marín
(2004), que detalha todas as tecnologias aplicadas às agências e operadoras
de turismo. Devido à velocidade das evoluções tecnológicas, algumas
descrições sobre o contexto da tecnologia apresentado pelos autores estão
desatualizadas. Contudo, mesmo que algumas das tecnologias descritas nos
livros citados não tenham sido comentadas no presente trabalho, estes foram
considerados importantes fontes teóricas por traçarem um perfil sobre todos os
tipos de tecnologia que permeiam o mercado do turismo.
Além da pesquisa bibliográfica, foi necessária uma pesquisa paralela na
Internet a fim de averiguar os avanços nas soluções tecnológicas apresentadas
pelas fontes teóricas. Para fazer esta pesquisa, foram utilizadas as informações
dos próprios sites das empresas que oferecem tecnologia para o mercado do
turismo, além de notícias sobre o mercado do turismo. O objetivo é tentar
abordar o tema de forma a estar o mais próximo possível da realidade atual no
mercado.
Se por um lado há pouca produção acadêmica sobre as diferentes
formas que a tecnologia está presente dentro dos diversos setores do turismo e
seus respectivos departamentos (financeiro, marketing, administrativo,
operacional, dentre outros), por outro, foi encontrada em diversos livros que
abordam o turismo em geral, uma breve análise sobre os Sistemas Centrais e
Reservas (CRS – Central Reservation System) e os Sistemas de Distribuição
33
Global (GDS – Global Distribuiton System), desenvolvidos pelas companhias
aéreas. O CRS, além de revolucionar o sistema de reservas e emissão de
bilhetes aéreos foi posteriormente adotado pelo setor hoteleiro. Este mesmo
programa agregou outras funcionalidades imprescindíveis atualmente para
muitas agências e se tornou o que atualmente é denominado GDS. Pela
importância dispensada pelos autores a essas soluções tecnológicas, elas
serão analisados separadamente em um segundo tópico.
2.1 – Como os setores do Trade Turístico utilizam a
tecnologia
2.1.1 – Setor hoteleiro
O setor de hospedagem foi um dos que mais sofreu transformações em
toda sua estrutura administrativa e física. A tecnologia está presente tanto para
os hóspedes, que têm em suas Unidades Habitacionais (UH) comodidades
como acesso à internet sem fio, TV, ar condicionado, frigobar, dentre outros,
quanto para os funcionários do hotel, desde a camareira, que recebe
diariamente suas tarefas de forma automatizada até o gerente geral que pode
contar com recursos tecnológicos mais complexos, como auxílio na
coordenação de todos os setores (VALLEN e VALLEN, 2003).
Dentro da estrutura organizacional do hotel, é possível identificar a
presença de ferramentas tecnológicas em cada um dos níveis hierárquicos,
desde os departamentos mais operacionais até a gerência geral. Um exemplo
no nível operacional é o setor de limpeza dentro do hotel. Segundo Vallen e
Vallen (2003), antes da utilização de computadores, a ligação entre a recepção,
que tinha a responsabilidade de cuidar das entradas e saídas dos hóspedes, e
o departamento de limpeza era realizado verbalmente, por telefone ou
pessoalmente. Atualmente, a camareira recebe suas tarefas diárias através de
um programa integrado com a recepção informando os quartos a serem limpos,
bem como outras tarefas especiais que podem ser inseridas no sistema pelo
supervisor do departamento.
34
A partir deste exemplo, é possível perceber que, com a evolução
tecnológica na estrutura do hotel, houve grande melhoria na comunicação
interna. Por outro lado, muitos cargos operacionais deixaram de existir. Um
exemplo de função extinta na maioria dos hotéis é o de controle de cobranças
telefônicas. Vallen e Vallen (2003) observaram que, desde 1960, é comum nos
Estados Unidos, encontrar aparelhos de telefone nos quartos dos hóspedes.
Antigamente, eram necessárias telefonistas para completar as ligações
solicitadas pelos hóspedes bem como incluir a cobrança destas na conta do
quarto. Atualmente, porém, este tipo de serviço foi automatizado não
necessitando mais de funcionários para realizar tal intermediação (Ibid, 2003).
Além disso, o sistema de telefonia computadorizado possui outras funções
como deixar mensagens para os hóspedes e sistema automatizado de
despertador (Sancho, 2001).
Chamadas locais ou de longa distância podem ser feitas [dos quartos dos hóspedes] por equipamento automático de discagem direta. Da mesma forma, ligações entre hóspedes, ou destes para departamentos do hotel (p. ex. o serviço de quarto), não necessitam mais de uma telefonista para serem completadas. A cobrança eletrônica registra automaticamente a tarifa das ligações para o hóspede. (VALLEN e VALLEN, 2003 p. 91)
Ao abordar os níveis gerenciais, os autores anteriormente citados
analisam a evolução tecnológica dos sistemas de gerenciamento de
rendimentos e o de gerenciamento de propriedade, que foram concebidos
originalmente nos Estado Unidos. O gerenciamento de rendimentos (ou
gerenciamento de receitas) está ligado diretamente ao controle dos preços das
UHs e volume de reservas e vendas fechadas. Muitos hotéis apresentavam ou
ainda apresentam um cargo específico para cuidar exclusivamente desta
questão cujo objetivo principal é “maximizar a receita bruta” do
empreendimento (Ibid, 2003, p. 133).
A iniciativa de criar sistemas automatizados para esta função teve seu
desenvolvimento na década de 1980 entre as companhias aéreas, cujos
conhecimentos sobre tecnologia geralmente tem estado a frente de todos os
outros setores (Vallen e Vallen, 2003). A partir do sucesso das criadoras dos
sistemas de gerenciamento de rendimentos eletrônicos, grandes
35
empreendimentos hoteleiros passaram a utilizá-los na administração dos
custos e rendimentos dos seus hotéis. Isso era possível, pois o produto
vendido pelo transporte aéreo apresentava certas características semelhantes
aos meios de hospedagens: “ambos têm uma oferta fixa (assentos e
apartamentos) e produtos que perecem com a passagem do tempo” (Ibid,
2003, p. 133). Posteriormente, o setor de hospedagem introduziu uma nova
arquitatura para as ferramentas de gerenciamento de rendimentos ou receitas
de forma que fossem mais adequadas à sua realidade.
Vallen e Vallen (2003) afirmam que “Hoje, as grandes redes hoteleiras
desenvolveram sistemas de gerenciamento de rendimentos automatizados à
altura de que há de melhor nas companhias aéreas” (p. 133). Os autores ainda
listam algumas funcionalidades deste recuro tecnológico que é considerado
pelos mesmos como um tipo de sistema especialista pela sua capacidade de
tomada de decisão autonoma a partir de regras e gatilhos7 pré-programados:
• Estabelece e monitora a estrutura de preços do hotel; • Auxilia na negociação de preços com agências atacadistas
e grupos; • Monitora e restringe o número de reservas que pode ser
aceito para qualquer diária ou tipo de apartamento específico;
• Encontra o apartamento e o preço adequados às necessidades e sensibilidades do cliente (Ibid, 2003, p. 137)
Cooper (2001) também aborda no capítulo “O futuro do turismo” o
sistema de gerenciamento de rendimento, que na época ainda era um projeto
desenvolvido pelas companhias aéreas. Ele destaca que a facilidade
proporcionada por esse sistema no controle das vendas permite “que as
empresas turísticas tenham um relacionamento mais próximo com seus
clientes e recompensem a fidelidade” (p. 489). Outra funcionalidade do sistema
é o banco de dados integrado que “permite tratamento personalizado e o
7 Sistema de regras e gatilhos: “O computador faz a comparação da atividade real de reservas com as previsões contidas no orçamento. Quando um determinado período ou data está fora das regras para aquele intervalo de tempo, o computador o identifica. Feito isso, a maioria dos sistemas irá imprimir um relatório para a gerência, apontando os períodos que representam exceções à previsão”. (Vallen e Vallen, 2001, p.138).
36
lançamento de iniciativas como programas de milhagem pelas companhias
aéreas” (Ibid, 2001, p. 489).
A evolução do sistema gerenciamento de propriedade (PMS - Property
Management System) pode ser observada dentro de vários departamentos
dentro do hotel. Este programa tem como principais características a
disponibilidade das suas informações para as mais diveras finalidades
(marketing, financeiros, operacional, recursos humanos, etc), além da
possibilidade de conexão com outros sistemas (VALLEN e VALLEN, 2003).
Ele [sistema de gerenciamento de propriedade] representa (...) o centro de uma série de sistemas eletrônicos auxiliares no hotel. O sistema de gerenciamento de energia, o sistema de controle de chamadas telefônicas e o sistema de fechamento eletrônico de portas de apartamento são três das interfaces mais comuns que operam em conexão com o PMS (Ibid, 2003, p. 424).
Segundo os autores, o departamento que mais se beneficiou com esta
tecnologia foi o auditor noturno. Sua função é contabilizar e registrar todas as
despesas e créditos (pagamentos das diárias e extras) do dia, incluindo o
cálculo de valores como as diárias, impostos sobre estas e alimentos e bebidas
consumidas dentro da UH, dentre outros (Ibdi, 2003). Além disso, o auditor
prepara os arquivos de cada UH para o dia seguinte, um importante documento
para a recepção e portaria na cobrança de diárias e extras durante o check-out,
e para a gerência a fim de acompanhar as receitas e despesas diárias do hotel
(Ibid, 2003).
De acordo com Vallen e Vallen (2003), antes do surgimento do PMS, o
laçamento destes valores eram feitos à mão dentro do arquivo físico de cada
apartamento. Altamente passivo de erros, o auditor noturno tinha como
principal objetivo detectar as falhas contábeis e deixar os valores corretos e
atualizados para o dia seguinte. Como o tempo para realizar estas tarefas
depende do número de apartamentos que o auditor deve apurar, isso poderia
durar a noite inteira e exigir vários auxiliares para que fosse finalizado a tempo.
Com as inovações tecnológica do PMS, o tempo para realizar tais tarefas
reduziu para poucas horas. (Ibid, 2003).
37
Atualmente, as diárias e impostos já estão registrados no sistema de
gereciamento de propriedades que funciona em conjunto com o sistema de
gereciamento de rendimento, já explicado anteriormente. Vallen e Vallen (2003)
destacam as vantagens desse tipo de ferramenta tecnológica: a função do
auditor se reduziu a inserir despesas extras, fiscalizar e finalizar a contabilidade
para preparar os documentos para o dia seguinte. Ademais, não há mais a
necessidade de manter um imenso arquivo físico de cada apartamento e as
alterações podem ser realizadas através de outros sistemas e por outros
funcionários, como o próprio gerente do hotel.
Com os avanços tecnológicos, os programas de gerenciamento
analisados anteriormente estão cada vez mais integrados entre os diversos
departamentos existentes dentro do hotel. Segundo Cooper et al (2001), uma
das funções atuais deste tipo de sistema é “unificar a parte de atendimento e a
parte de apoio da empresa” (p. 467).
2.1.2 – Setor de agências de viagem
Para as agências e operadoras de turismo, a revolução tecnológica
seguiu um caminho um pouco diferente. Muitas das tecnologias aplicadas
neste setor foram desenvolvidas anteriormente por empresas tecnológicas que
já lidavam com a criação de softwares para outros tipos de empreendimentos e
viu a oportunidade de adaptá-las para o mercado do turismo (Marín, 2004).
Três soluções tecnológicas foram citadas por Marín (2004) com a função
auxiliar a administração interna da agência de viagem: Sistemas Back-office;
Sistema de Planejamento de Recursos Empresariais (ERP – Enterprice
Resourse Planning), e Sistema de Gestão Integral. O autor aborda inicialmente
os sistemas tipo back-office8 que normalmente possuem funcionalidades
básicas como: cadastro de clientes e fornecedores, processos operacionais
administrativos, processos do departamento financeiro e da gerência, além da
integração com outros sistemas.
8 Definição de back-office, segundo Marin (2004): “todas as atividades internas realizadas na empresa” (p. 116)
38
Marín (2004) afirma que este tipo de recurso tecnológico tem como
principal característica operar baseado em uma série de informações que
devem seguir uma padronização única. Por isso, autor destacou as dificuldades
de aplicar estas ferramentas nas agências de viagem por conta de certos
aspectos especiais deste tipo de empresa, como o grande número de
fornecedores que exigem procedimentos de reserva e pagamento
diversificados e a complexidade dos produtos vendidos, pois o mesmo serviço
pode apresentar variações de preços de acordo com diversos fatores. O valor
de diárias de um hotel, por exemplo, pode alterar de acordo com o tipo da UH,
data da viagem, data e forma do pagamento e número de pessoas hospedadas
no mesmo quarto (Ibid, 2004).
O autor ainda detalha como as empresas de turismo se posicionaram no
Brasil frente a esta questão. As grandes empresas que tinham maior
capacidade financeira criaram seus próprios sistemas de gestão interna, como
a operadora de turismo CVC. Já outras agências adquiriram sistemas
tecnológicos já prontos de empresas de tecnologia. Contudo, Marín (2004)
alega que muitas das tecnologias adquiridas de forma terceirizada não são
ideais por não considerarem na sua arquitetura algumas características
especiais das agências de viagem.
É importante frisar que este assunto é muito recente e as tecnologias
analisadas ainda estão em desenvolvimento. O autor pôs em evidência os
defeitos das tecnologias desenvolvidas na época e estabeleceu um prazo de 5
(cinco) anos para que estas estivessem “totalmente adequadas às
necessidades-padrão das agências de viagens” (Marín, 2004, p. 117). O
significa que isso aconteceria por volta de 2009. Foi realizada uma pesquisa na
Internet tendo como referência os nomes das empresas de tecnologia citadas
pelo autor, tanto daquelas já consolidadas na oferta de produtos para o
mercado do turismo, quanto as que ainda planejavam atuar neste mercado.
Marín (2004) cita as empresas Apps informática e C&D Sistemas como
exemplo de empresas de tecnologia que ofereciam ferramentas back-office
para agências de viagem. Foi possível constatar que esta empresa atualmente
apresenta um link só para o setor do turismo no seu site, descrevendo um
39
aplicativo integrado entre os departamentos administrativos e vendas. Já no
site da C&D não foi encontrada nenhuma informação sobre programas back-
office ou qualquer tecnologia voltada especialmente para o turismo. Todavia,
ela apresenta diversos clientes do mercado do turismo, como Marsans Brasil,
Maxtour e Tristar Turismo. Marín (2004) afirma que a partir de 2000, algumas
das maiores empresas de software nacional, a Benner Turismo, começaria a
adaptar suas ferramentas de gestão às agências de viagens. Hoje ela oferece
sistemas back-office para agências de viagens, turismo corporativo e agência
de eventos.
Com base em pesquisas realizadas na Internet, foi possível inferir que
houve uma evolução nas tecnologias aplicadas ao back-office das agências de
viagem. Através de notícias do site Panrotas (Portal voltado para os
profissionais do turismo com diversas informações (empresas cadastradas,
voos, fuso horário, vistos, embaixadas, etc), além de notícias sobre o
mercado), foram encontradas diversas empresas de tecnologia que têm
oferecido cada vez mais soluções tecnológicas para este setor as quais,
contudo, não foram citadas pelo autor. Um exemplo é a Netsar, criada em 2005
com foco principal nas agências de viagem e operadoras de turismo.
Outro recurso tecnológico citado por Marín (2004) também voltado para
a administração interna é o ERP cujo foco é os recursos da empresa. A
arquitetura do seu software tem como função principal facilitar “o fluxo de
informação entre todas as funções de uma companhia, tais como logística,
finanças e recursos humanos” (Ibid, 2004 p. 122). Esse tipo de programa,
altamente integrado, tem como qualidade principal a eliminação de informações
repetidas, já que os funcionários de todos os departamentos acessam a
mesma fonte de dados. Marín (2004) ainda defende que, por ser um banco de
dados único e universal, “decisões podem ser tomadas com uma visão mais
abrangente” (p. 122).
Ao abordar o contexto do sistema ERP no Brasil, o autor, afirma que as
empresas de tecnologia estavam começando a adaptar seus softwares para o
setor de agências de viagem. Softwares que anteriormente eram voltados para
40
outros tipos de empresas e que futuramente poderiam “atingir o status de
Sistemas de Gestão Integral” (Marín, 2004, p. 215).
Foram encontrados alguns exemplos mais atualizados sobre a
aplicabilidade do ERP no turismo, como os produtos oferecidos pela Benner,
conforme já mencionado, considerada por Marín (2004) como uma das maiores
empresas de tecnologia no país. Hoje, esta empresa oferece softwares ERP
integrando as funcionalidades do back-office com as necessidades do
departamento de venda das agências.
Já o front-office da agência de viagem, atualmente, convive com
desenvolvimentos tecnológicos e sociais no comércio eletrônico. Marín (2004)
define comércio eletrônico como “a atividade de compra/venda de produtos e
serviços suportada por meios eletrônicos” (p. 125). Este processo de compra e
venda pode ser realizado parcialmente, quando o cliente envia um formulário e
deve aguardar resposta posteriormente, ou totalmente on-line, quando todo o
processo de pesquisa e reserva passa a ser automatizado, oferecendo uma
resposta instantânea ao cliente (Ibid, 2004).
Dessa forma, a Internet se torna um aliado na eficácia e qualidade dos
serviços oferecidos pela agência de viagem. Contudo, a existência do comércio
eletrônico atrai também novos concorrentes, como as agências virtuais e as
reservas on-line oferecidas diretamente ao cliente por companhias aéreas e
redes hoteleiras. (MARÍN, 2004 e O’CONNOR, 2001). Além disso, o perfil da
demanda turística tem mudado. Segundo Silva e Silva (2008), o cliente adquiria
produtos e serviços padronizados e atualmente exige cada vez mais produtos e
serviços diferenciados que se adaptem aos seus desejos e possibilidades
financeiras. Assim como Silva e Silva, muitos outros autores já abordados no
Capítulo I deste trabalho analisam a evolução do perfil do turista. Cooper
(2001) ainda destaca que o “novo consumidor turismo é informado, tem
capacidade de discernimento, busca qualidade e participação” (p. 483). Além
disso, “as motivações para a viagem estão se afastando do passivo prazer ao
sol, indo em direção a outras mais relacionadas à educação e à curiosidade”
(Ibid, 2001, p. 483).
Para enfrentar es
(2008) apontam uma
de ser o produto para
oferecidos e procurand
momento” (Marín, 2004
criados para mensurar
Estes sistemas são ch
Cliente (CRM - Costum
SILVA, 2008).
Muito mais do
estratégia de trabalho q
importância à preserva
novos” (Marín, 2004, p.
Silva e Silva (2008) ao
pois a tecnologia auxili
considerado como estra
informação [operaciona
Fonte: Ad
ntar esta crescente concorrência, Marín (2004
nova forma de lidar com o mercado: o fo
para ser o cliente, personalizando os servi
urando “quantificar o grau de satisfação [do
, 2004, p. 110). Sistemas tecnológicos e proce
nsurar e analisar informações coletadas sob
ão chamados hoje de Gestão do Relacion
ostumer Relationship Management) (MARÍN,
s do que uma ferramenta tecnológica, o
alho que difere do marketing tradicional por d
servação dos clientes que se tem e não ape
04, p.111). A posição de Marín corrobora com
8) ao afirmarem que CRM “não é [apenas]
auxilia somente o nível tático” (p. 4). Assim
o estratégia pela empresa, interagindo nos div
cional, tático e estratégico]” (Ibid, 2008, p. 4).
Figura 1 - Ciclo estratégico do CRM
te: Adaptado de Marín, 2004
41
(2004) e Silva e Silva
o: o foco agora deixa
serviços e produtos
[do cliente] a cada
procedimentos foram
s sobre os clientes.
lacionamento com o
RÍN, 2004 e SILVA e
o CRM é “uma
l por dispensar maior
o apenas à busca de
a com as palavras de
nas] uma tecnologia,
ssim, “CRM deve ser
os diversos níveis de
p. 4).
42
Após pesquisas em revistas eletrônicas de turismo e empresas de
tecnologias, foi possível observar que as afirmações de Marín (2004) sobre o
cenário das tecnologias de CRM no Brasil encontram-se desatualizadas. Nas
palavras do autor, não havia nenhum sistema de CRM próprio para agências
de viagem. Apenas grandes empresas e algumas agências virtuais tinham
conseguido implementar programas eletrônicos de acordo com as
necessidades específicas do turismo. Contudo, foram encontrados exemplos
de empresas de turismo que têm realizado parcerias com fornecedores de
tecnologias para criarem um sistema CRM adequando às características do
turismo9. Outro exemplo encontrado foi a Microsoft que oferece diversas
soluções tecnológicas. Dentre elas, o site da Microsoft Dynamics CRM
Marketplace que pode ser adaptado ao setor de hospedagem.
Silva e Silva (2008), ao citar Swift (2001), indicam dois exemplos de
CRM: Datawarehouse (DW) “sistema de gerenciamento de banco de dados,
elaborado para oferecer suporte para a tomada de decisões” (p. 4) e
Datamining (DM) “software que possibilita a extração de informações,
previamente desconhecidas, de base de dados acessíveis nos DWs” (Ibid,
2008, p. 4). Contudo, as autoras não deixam claro se estes sistemas são
adaptados à realidade do turismo ou se são as empresas de turismo que
devem adequar seus dados a estes programas.
A discussão quanto ao CRM pode se estender a todos os setores do
turismo, pois este tipo de estratégia se tornou um caminho a ser seguido por
todos os mercados. Atualmente, ao contrário de captar novos clientes, a
palavra de ordem, é fidelizar aqueles que já consomem determinado produto
ou serviço (Silva e Silva (2008). Esse conceito de marketing também pode ser
aplicado ao turismo. No caso do artigo das autoras Silva e Silva (2008), foram
analisadas as estratégias de CRM de duas redes hoteleiras. Neste contexto, o
objetivo das empresas é que o cliente, ainda que viaje para outros destinos,
prefira sempre se hospedar em um hotel da mesma rede.
9 Foram encontrados dois exemplos de parceria: a operadora de turismo Avant Garde com a empresa de tecnologia PMweb; e a agência de turismo Tereza Perez Tours que utiliza um sistema de CRM adaptado às duas necessidades e elaborado pela Inovetec.
43
Finalmente, há uma característica em comum a todos os recursos
tecnológicos já abordados que deve ser considerada: a grande diversidade de
empresas de tecnologia que oferecem ferramentas para o mercado do turismo
ou as criam em parceria com empresas. Além disso, versões mais atualizadas
são apresentadas ao mercado periodicamente e, por isso, se torna um trabalho
árduo acompanhar todas as inovações presentes neste setor e as que ainda
estão por vir em breve já que cada uma tem suas peculiaridades. É possível ter
uma boa ideia dessa diversidade pelo número de empresas e suas soluções
tecnológicas listadas por Marín (2004). Foram numerados 41 fornecedores de
tecnologias oferecendo 56 produtos com as mais diversas funcionalidades,
dentre as mais citadas: back-office para agência de viagem e operadora de
turismo, sistemas de compra/venda hoteleira on-line, sistema de venda de
passagens aéreas e Sistemas de Gestão Integral.
Concluídas as análises sobre as ferramentas tecnológicas que suprem
determinadas necessidades do Trade Turístico, passaremos para umas das
tecnologias que mais se desenvolveram dentro desta área: os sistemas de
reservas e sistemas de distribuição global. Estas soluções tecnológicas
merecem uma análise mais detalhada pela complexidade do seu processo
histórico que constitui parte da própria história do turismo contemporâneo.
2.2 – Os principais Sistemas de Reservas e de
distribuição global
Uma das partes mais importantes de qualquer tipo de empresa de
turismo é o front-office, ou seja, os departamentos dentro da empresa que
entram em contato direto com o cliente (Marín, 2004). Vallen e Vallen (2003)
destacam que, dentre os departamentos considerados front-office do setor
hoteleiro (recepção, reservas e vendas), o setor de reservas é o que mais
demanda atenção. Atualmente, é possível observar que, tanto no setor de
agências de viagem quanto no hoteleiro, um sistema de reservas automatizado
se tornou imprescindível para controlar os serviços prestados ao cliente. A
origem dos programas tecnológicos atuais ligados à reservas e oferta de outros
44
serviços turísticos está no setor que foi o pioneiro em visualizar esta
necessidade: o transporte aéreo (O’Connor, 2001 e Vallen e Vallen, 2003).
No final da década de 1950, o setor do transporte aéreo viu o número de
voos comerciais aumentar substancialmente. A partir de então, o processo de
reservas manual não era mais capaz de suportar o volume de venda e compra
de passagens aéreas. Para facilitar esse processo, as companhias aéreas
começaram a adotar o uso de computadores dentro da empresa a fim de
utilizar os primeiros sistemas centrais de reservas eletrônicos (CRS -
Computer Reservation System) (O’CONNOR, 2001; VALLEN e VALLEN, 2003;
MARÍN, 2004). Segundo O’Connor (2001), a princípio os sistemas de reservas
eram utilizados apenas internamente. Já no final da década de 1970, as
empresas aéreas deram início à instalação dos primeiros terminais de reservas
nas agências de viagem. (O’CONNOR, 2001; VALLEN E VALLEN, 2003;
MARÍN, 2004).
Inicialmente, contudo, o custo de manter um terminal de reservas dentro
da agência era elevado tanto para as empresas de transporte aéreo quanto
para as agências. Apenas as maiores empresas de turismo, que tinham maior
volume de vendas, mantinham os terminais das companhias em seu escritório.
Além das agências de pequeno porte, nas palavra de Vallen e Vallen (2003),
“muitas redes hoteleiras grandes não estavam conectadas àqueles sistemas de
reservas. Embora pudessem, algumas consideravam os custos proibitivos” (p.
121).
A primeira companhia aérea a criar esse sistema foi de origem
americana: a American Airlines, que criou o Sabre (O’CONNOR, 2001 e
VALLEN e VALLEN, 2003). Porém, as empresas americanas “começaram a
perceber os custos reais envolvidos na distribuição global de seus serviços e
deram início a um processo de grandes parcerias para integrar seus sistemas
de reservas” (MARÍN, 2004, p. 130). Vallen e Vallen (2003) citam o exemplo da
Worldspan, que foi originada dos “sistemas de propriedade das companhias
Northwest, Delta e TWA” (p. 121). Na Europa, o setor do transporte aéreo
entrou neste processo de forma mais tardia em relação aos Estados Unidos.
Porém, diferente deste país, os primeiros GDS europeus foram elaborados em
45
conjunto por diversas empresas (O’Connor, 2001). Os dois principais GDS de
origem europeia, Galileo e Amadeus, entraram e operação apenas no início da
década de 1990 (Ibid, 2001). Alguns autores citam quatro empresas como as
maiores do mundo e que, a partir de 1990, começaram a dominar o mercado:
Amadeus, Galileo, Sabre e Worldspan (SANCHO, 2001; COOPER ET AL,
2001; VALLEN e VALLEN, 2003 e MARÍN, 2004). Vallen e Vallen (2003)
detalham a questão das fusões conforme descrito abaixo:
O tamanho e o custo dos sistemas centrais de reservas é impressionante: há cerca de 400.000 terminais em todos mundo, com a tecnologia e o suporte técnico correspondentes. A propriedade e a operação exigem os recursos de joint ventures como essas. Apenas a AMR Corporation, da American Airlines (SABRE, agora negociada publicamente), conseguiu fazê-lo sozinha. (p. 121)
Além das fusões, outra medida tomada pelas companhias aéreas foi
incluir nos seus sistemas a possibilidade de realizar reservas e emitir
passagens de outras companhias aéreas que não são proprietárias dos GDS.
O’Connor (2001) ressalta que “os sistemas originais eram específicos de uma
companhia – apenas vendiam passagens de sua proprietária” (p. 23). Essa
característica limitava as rotas encontradas em cada terminal, além de tornar a
pesquisa por voos mais demorada, já que o agente de viagem era obrigado a
acessar diversos terminais diferentes para encontrar a melhor opção de voo.
Com a inclusão de diversas companhias aéreas em um único programa, “a
possibilidade de acesso a uma gama muito mais ampla de voos aumentou a
funcionalidade dos sistemas, mudando sua orientação de um enfoque pequeno
e regionalizado, para uma perspectiva global” (O’Connor, 2001, p. 23).
Essa facilidade tornou os Sistemas de Reservas mais populares dentro
das agências facilitando a oferta de passagens aéreas ao consumidor final. De
acordo com Marín (2004), “uma vez que o potencial de distribuição eletrônica
dos GDS começou a ser reconhecido, outros serviços não aéreos foram
incorporados aos seus” (p. 131). O’Connor (2001) destaca dois fatores que
fizeram com que as companhias aéreas começassem a integrar a oferta de
outros serviços em seus sistemas: a exigência cada vez maior por parte dos
agentes de mais informações sobre outros serviços de turismo e a
oportunidade de aumentar os lucros destes sistemas, já que cada serviço
46
vendido pelo agente reverte em uma taxa (conhecida como booking fee) a ser
paga à empresa que oferece o programa. Atualmente, os sistemas de
distribuição global oferecem informações, a possibilidade de compra-venda
entre as agências de viagem e os mais diversos produtos turísticos
(companhias aéreas, hotéis, locadoras de automóveis, casas de espetáculos,
restaurantes, transportadores marítimos, cruzeiros, dentre outros) (MARÍN,
2004 e O’CONNOR, 2001). Sancho (2001) lista as funções básicas dos GDS
mais recentes, que, em resumo, são:
• Informar, de modo neutro e arbitrário (...) sobre opções de voos,
hotéis, aluguel de automóveis, operadores turísticos, voos fretados,
barcas, cruzeiros, etc.;
• Reservas;
• Emitir a passagem (...);
• Administrar e facilitar o ato da venda mediante a conexão com o
sistema de contabilidade e gestão de agência ou um próprio do GDS.
A ajuda e a formação em linha permite solucionar qualquer problema
e esclarecer as possíveis dúvidas.
O aumento da demanda sentido pelas companhias aéreas e analisado
anteriormente, começou a ser percebido pelas redes hoteleiras na década de
1960. Todavia, a introdução de computadores como solução para o processo
de reservas neste setor foi mais tardia. Vallen e Vallen (2003) ressaltam o perfil
do setor hoteleiro, no que se refere às inovações tecnológicas:
É interessante observar que (...) o setor [de hospedagem] tem seguido historicamente a tecnologia de reservas das companhias aéreas que, em geral, foram responsáveis pelo desenvolvimento e investimento em novos sistemas, ao passo que o setor de hospedagem mostrou-se um pouco mais conservador. Ao optar por permanecer em compasso de espera durante os primeiros estágios do desenvolvimento, as redes hoteleiras acabaram economizando dinheiro ao aproveitar as tecnologias e os sistemas existentes (VALLEN e VALLEN, 2003, p. 120).
A primeira solução estratégica para controlar o grande volume de
reservas foi o estabelecimento de escritórios centrais de reservas (CRO -
Central Reservation Office), centralizando a reserva de todos os hotéis de uma
47
rede em um escritório fora do hotel (VALLEN e VALLEN, 2003). O escritório
central substituía os setores de reservas situados de forma isolada em cada
hotel de uma rede. O’Connor (2001) cita Burns (1996) para descrever as
vantagens desse tipo de recurso tecnológico:
Em termos gerais, a lição estava clara: um ambiente de reservas centralizado era mais rápido, mais eficiente e, se bem projetado, muito mais econômico de operar do que escritórios individuais de reservas (BURNS Apud O’CONNOR, 2001, p. 36).
Contudo, o CRO era uma das principais fontes de custos das redes
hoteleiras. Isso ocorria porque “o escritório central tinha de pagar pela
prestação de serviços telefônicos gratuitos [já que, para os clientes, o telefone
era a principal forma de contato], e pelo custo de mão-de-obra dos agentes de
reservas necessários para atender telefones e processar outros serviços”
(O’CONNOR, 2001, p. 36).
Outro fator limitante era o controle das disponibilidades, pois este era
realizado de forma manual através de painéis que eram atualizados a mão a
partir do contato periódico entre a central de reservas e os hotéis da rede
(VALLEN e VALLEN, 2003). Esse processo era demorado e trazia margem a
erros, como, por exemplo, o over-booking10. Assim como ocorreu com as
companhias aéreas, o setor hoteleiro se viu obrigado a introduzir sistemas
computadorizados em suas centrais de reservas para tornar este serviço mais
eficiente e menos oneroso para a empresa (O’CONNOR, 2001). Essa inovação
tecnológica teve seu início em 1965, com o sistema Holidex introduzindo a
primeira central de reservas computadorizada (CRS) da rede Holiday Inn
quando, segundo O’Connor (2001),
Kemmons Wilson e Wallace Johnson, dois empreendedores visionários, observaram o sucesso da American Airlines com seu sistema computadorizado e acharam que ele poderia funcionar para processar as reservas de sua jovem cadeia de hotéis, a Holiday Inn (p. 36).
10 Over-booking: Quando o número de reservas confirmadas é maior do que o número de UHs disponíveis em um hotel. Isso pode ser uma estratégia do hotel para contornar o problema de baixa ocupação causado por reservas canceladas ou no show. Porém, se não for bem monitorada, essa estratégia pode sair do controle (VALLEN e VALLEN, 2003).
48
Este tipo de ferramenta, mais do que um grande avanço do
departamento de reservas, trouxe novos horizontes na questão para o
marketing hoteleiro, “já que deram aos administradores de hotéis a
possibilidade de diferenciar-se, baseados na qualidade e característica do
produto, bem como preço” (Burns,1996 Apud O’CONNOR, 2011, p 37).
Marín (2004) afirma que a necessidade da integração entre GDS e CRS
hoteleiros começou a ser observada a partir da década de 1980 pelas grandes
bandeiras hoteleiras. Essa integração, contudo, teve um começo difícil, pois
havia diversos fatores que dificultavam a utilização das informações sobre os
hotéis dispostas no GDS. A arquitetura do GDS era projetada para oferecer
informações sobre voos, por isso havia alguma limitações na inserção de
informações: o sistema oferecia a possibilidade de inserir um número limitado
da diárias, o que impedia a oferta de muitas categorias de quartos e
diversidade de serviços que poderiam estar inclusos nas diárias (como diária
com ou sem café da manhã, por exemplo); as descrições do hotel e quartos
eram abreviadas por conta do limite de texto exigido; os hoteleiros eram
impossibilitados de inserir promoções de última hora pois o processo de
atualização dos valores era caro e demorado (O’Connor, 2001). Em resumo,
nas palavras de O’Connor (2001), “o número limitado de diárias apresentado,
as descrições inadequadas e a falta de ofertas especiais – faziam com que os
agentes de viagem não tivessem muita confiança nas informações sobre hotéis
apresentados nos sistemas [GDS]” (p. 26).
O autor acrescenta aos fatores limitantes analisados anteriormente o alto
custo e as dificuldades técnicas para criar “uma interface entre sistemas de
reservas por computador e sistemas de distribuição global” (Ibid, 2001, p. 41).
Segundo Marín (2004) e O’Connor (2001), poucas empresas conseguiram,
como a Holiday Inn, criar uma interface diferente para cada GDS e utilizar a
esta integração com sucesso.
Para solucionar o problema de integração entre GDS e CRS, mais uma
vez as grandes empresas hoteleiras tiveram a iniciativa de criar uma solução
tecnológica chamada comutação eletrônica (Marín, 2001). Desta vez, onze
grandes redes hoteleiras se juntaram para criar a THISCO (The Hotel Industry
49
Switching Company), no início da década de 1990 (Vallen e Vallen, 2003).
Além da THISCO citada por diversos autores (O’Connor, 2001, Vallen e Vallen,
2003 e Marín, 2004), O’Connor (2001) cita da WizCom como outra grande
solução tecnológica criada para a mesma função.
A empresa comutadora (swich11 companie) funciona como uma ponte
de ligação entre os sistemas de reservas hoteleiros e todos os GDS. Isso
significa que, ao inserir informações em seu sistema de reservas, o hotel,
automaticamente está atualizando suas informações em todos os GDS. De
acordo com O’Connor (2001):
Em vez de ter de criar múltiplas interfaces entre os sistemas de reservas dos hotéis e os sistemas das companhias aéreas, as empresas hoteleiras precisam apenas desenvolver um ponto de entrada único (entre seu sistema de reservas por computador e a chave universal) que lhes permite contatar com todos os grandes sistemas (p. 41).
Vallen e Vallen (2003) destacam duas vantagens deste tipo de sistema
para o agente de viagem: o agente tem acesso às mesmas informações que o
setor de reservas interno do hotel, não precisando entrar em contato direto com
o hotel para confirmar se as informações estão atuais; “o agente de viagem só
precisa conhecer um conjunto de procedimentos e inserir apenas um grupo de
códigos” (Vallen e Vallen, 2003, p.123), o que anteriormente não existia pois
cada GDS oferecia um padrão de códigos diferentes.
Hoje, contando com um sistema altamente integrado, o CRS moderno
dos hotéis tem capacidade de controlar a negociação de um grande volume de
unidades habitacionais diariamente, pois as informações são disponibilizadas
em tempo real, além de poderem ser integrados com o GDS (VALLEN e
VALLEN, 2011 e O’CONNOR, 2001).
Para finalizar este tópico, é importante analisar como as empresas de
turismo comercializam seus produtos fora dos grandes sistemas de CRS e
GDS. Cooper (2001) alerta para o problemas enfrentados pelos hotéos de
médio e pequeno porte que, devido à diversas características próprias, não têm
11 “Swiching é a conexão estabelecida entre um terminal remoto e um computador” (O’Connor, 2001, p. 41).
50
capacidade administrativa e financeira para utilizar as tecnologias dispostas no
mercado do turismo. O’Connor (2001) aborda uma das principais estratégias
adotada por hotéis independentes e de pequeno porte para obterem tecnologia
e estratégias de venda com baixo custo: o “consórcio de marketing” (p.43).
O consórcio de marketing funciona quando o hotel se liga a uma rede
hoteleira, mantendo sua administração independente. Nesse caso, o
empreendimento hoteleiro recebe serviços como aconselhamento sobre
marketing e promoção, propagandas e inserção do seu hotel em GDS. Como
compensação pelos aconselhamentos, nome da bandeira (que representa um
padrão de qualidade para muitos clientes) e inserção nos GDS, o hotel realiza
um contrato de pagamento à rede que pode ser a porcantgem dos lucros ou do
valor das reservas confirmadas (O’Connor, 2001). Dois bons exemplos de
redes citados por O’Connor (2001) e com membros existentes no Brasil são a
rede americana Best Western, com 16 hotéis no Brasil, e a Leading Hotels of
the World, que tem como membros apenas hotéis de luxo e onde o
empreendimento, neste caso, com 07 hotéis no Brasil. Essas redes são
americanas, mas estão presentes em várias partes do mundo.
Marín (2004) cita o ‘Roteiros de Charme’ como um exemplo de consórcio
de marketing que foi desenvolvido no Brasil. Contudo, o autor ressalta há um
grande número de hotéis independentes brasileiros que não conseguem se
inserir nessas evoluções tecnológicas por diversos fatores e não veem as
vantagens de aderir a uma rede independente de hotéis:
A natureza familiar da maior parte dos empreendimentos hoteleiros, unida a uma cultura pouco colaborativa entre empresários do ramo e a falta de uma classificação única de meios de hospedagem, tem limitado em grande medida a proliferação de redes não proprietárias que realizem um marketing conjunto de seus serviços. (Ibid, 2004, p. 146).
Outro elemento fora dos GDS e CRS hoteleiros que merece destaque é
a possibilidade de vendas on-line. A maioria dos autores já citados
(O’CONNOR, 2001, SANCHO, 2001, VALLEN e VALEEN, 2003, MARÍN, 2004)
é unanime ao definir a Internet como um fator crucial para a maior
independência na venda de serviços turísticos fora dos grandes sistemas de
51
distribuição global. Para Marín (2004), a nova forma de contato com o cliente
beneficiou principalmente dois setores: o setor de transportes e o setor
hoteleiro.
A Internet surgiu como uma solução para oferecer uma distribuição global e venda on-line diretamente para hóspedes (b2c) e mesmo para distribuidores usuais dos hotéis. Dessa forma, hoteleiros começaram a desenvolver seus próprios sistemas de venda on-line (MARÍN, 2004, p. 148).
Ainda segundo o autor, muitas companhias aéreas sofriam com o alto
custo de pagar comissões duplas, para agências de viagem e GDS. Aquelas
que se recusavam a inserir seus voos no GDS tinham suas vendas
comprometidas, já dependiam em grande parte dos agentes para chegar ao
cliente final (O’CONNOR, 2001). Esses problemas fizeram com que as
empresas começassem a procurar outras soluções. Com a popularização da
Internet no início da década de 2000, começaram a desenvolver formas de
reservas e vendas de voos em seus sites, e “ainda consolidaram estruturas de
custos que permitem oferecer preços muito menores que aqueles praticados
pelas companhias tradicionais presentes nos GDS”. (MARÍN, 2004, p. 139).
A história da companhia aérea Gol é uma amostra do novo perfil de
venda do transporte aéreo. Criada em 2001, já iniciou suas atividades
oferecendo a possibilidade de reserva e venda de passagens on-line utilizando
o programa da empresa americana Navitaire que já oferecia o mesmo tipo de
software para outras empresas ‘low-cust’.
No caso dos hotéis, Marín (2004) cita algumas empresas de tecnologia
cujos sistemas de vendas on-line já haviam sido lançados no Brasil, como o
Desbravador e a Web-Business (p. 149). Ao analisar os serviços oferecidos por
estas empresas em seus sites, foi possível observar que houve uma evolução
na oferta dos softwares de venda on-line. Além de poderem ser agregados aos
GDS da agência através das empresas de comutação, esses programas
podem constituir um grande sistema integrado em conjunto com outros
sistemas tecnológicos internos do hotel.
Finalizamos este capítulo reforçando a desigualdade da evolução de
sistemas automatizados entre os setores do turismo e entre os países. Além
52
desses fatores, o tamanho e volume de serviços vendidos pela empresa de
turismo também influencia na sua escolha por determinadas soluções
tecnológicas. Uma série de fatores pode prejudicar a adoção de avanços
tecnológicos como por parte de empresas de médio e pequeno porte:
• Falta de capital disponível para investimento em hardware e
software;
• Conhecimento insuficiente por parte dos funcionários, o que exigiria
mais custos e tempo para o treinamento;
• Muitos empreendimentos são gerenciados pelo próprio dono, que
geralmente não têm visão estratégica ou conhecimento de marketing
suficiente para o devido usufruto dos sistemas aplicáveis ao perfil da
empresa12.
A partir do que foi analisado neste capítulo, é possível concluir que não
só há uma diversidade muito grande de soluções tecnológicas, como há
também realidades diferentes de acordo com cada empresa. Por isso, no
próximo capítulo será analisado na prática que ferramentas tecnológicas as
empresas de turismo tem utilizado e o que elas têm exigido do profissional do
turismo.
12 Adaptados de Cooper et al, 2001, p. 469 e O’Connor, 2001, p. 67
53
CAPÍTULO III – AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO
3.1 – Análise teórica
No presente capítulo iremos analisar o que o mercado do turismo tem
exigido de seus profissionais, bem como as áreas mais consolidadas e aquelas
que ainda estão em processo de desenvolvimento. A pesquisa, conforme
detalhada anteriormente no tópico Metodologia, foi realizada durante 90 dias
nos sites da Catho e da ABAV-RIO.
A partir dos resultados foi possível observar primeiramente que as
empresas de turismo que mais utilizam esses meios como forma de divulgar
suas vagas de emprego são as agências de viagem e operadoras de turismo.
Isso não siginifica, contudo, que os outros setores ofereçam menos empregos.
As companhias aéreas e grandes redes hoteleiras, por exemplo, geralmente
possuem uma forma própria de seleção para suas vagas e, na maioria dos
casos, divulgam as ofertas de empregos em seus próprios sites. Algumas
empresas utilizam a tecnologia de uma empresa de RH para divulgar suas
vagas, como as companhias aéreas Tam e Gol, cujos sites apresentam um link
que leva diretamente ao site de recrutamento Elancers. Há ainda casos em que
a empresa possui um site exclusivamente voltado para informar as
oportunidades de emprego, como a rede de hotéis Accor, que divulga as vagas
abertas nos hotéis da rede localizados do mundo todo através do site
jobs.accor.com. Empresas como a rede hoteleira Accor – de grande porte cujos
escritórios, filiais ou franquias encontram-se localizados em várias partes do
mundo –, costumam informar em seus sites de empregos, oportunidades de
trabalho por todo o mundo. Outros exemplos que seguem as característica da
rede Accor são as companhias aéreas Air France e American Airlines.
Por isso, esta pesquisa não visa apontar onde está o maior número de
ofertas de trabalho, mas sim propor um estudo sobre o perfil de profissional
desejado pelas empresas que divulgam suas vagas nos sites pesquisados.
Mesmo porque, as áreas em que o profissional do turismo pode atuar são
54
amplas e inclusive podem ir além dos setores já listados no Capítulo I13.
Ansarah (2002) lista 15 diferentes áreas em que o profissional pode atuar.
Dentre elas, áreas ainda pouco exploradas e mais intelectuais como, por
exemplo, publicações, pesquisa, magistério e consultoria.
É evidente que a história das profissões ligadas aos turismo segue em
paralelo à própria evolução desta atividade. O termo turismólgo surgiu na
década de 1970, quando foram inauguradas as primeiras universidades que
ofereciam o curso superior em Turismo no Brasil. Contudo, esta profissão
passou a ser oficialmente reconhecida pelo governo apenas a partir de 2012,
ou seja, 40 anos depois da criação do primeiro curso superior em Turismo no
país. Em 19 de Janeiro de 2012, foi publicada a Lei 12.591/12, que reconhece
a profissão de Turismólogo e delimita suas atividades. Logo após esta portaria,
em março de 2012, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) ligada ao
MTE também estipulou as funções do turismólogo, conforme segue:
Dirigem como representantes dos proprietários, ou acionistas, ou por conta própria, as atividades dos serviços de turismo, de alojamento e de alimentação. Planejam e executam projetos e programas inerentes a atividade turística buscando o desenvolvimento sustentável e o fomento do turismo. Para tanto, definem planos, políticas e diretrizes, traçam e executam planos de negócios. Buscam produzir os melhores resultados através de pesquisas e análises de mercado e garantem a qualidade de produtos e serviços oferecidos.
Como é possível observar, a CBO considera a função do profissional do
turismo a nível mais estratégico, composto por responsabilidades de gestão,
planejamento e coordenação. Inclusive a CBO considera como sinônimos de
turismólogo os termos Analista de turismo, Consultor em turismo, Gestor em
turismo e Planejador de turismo. Além disso, os títulos Diretor de produção e
operações de alimentação, Diretor de produção e operações de hotel e Diretor
de produção e operações de turismo são designações profissionais da mesma
categoria e, por isso, apresentam a mesma descrição de turismólogo.
13 No capítulo I, o mercado do turismo foi subdivido em: 1) meios de hospedagem, 2) agências e operadoras de viagens, 3) o setor de transportes entre os destinos (Transporte aéreo, rodoviário, marítimo e pluvial), 4) organizadores de eventos, 5) alimentos e bebidas (bares, restaurantes e lanchonetes) e 6) lazer (parques temáticos, boates, casas de espetáculos, dentre outros).
55
A lei 12.591/12 é mais abrangente do que a CBO, estabelecendo 18
atividades ligadas à profissão, passando pelas atividades ligadas ao
magistério, marketing, pesquisa, gestão de empresas turísticas, planejamento
governamental e comcercialização de produtos turísticos, dentre outros.
Desta forma, um mercado que se mostra tão diversificado pode oferecer
grande diversidade de oportunidades ao profissional que escolhe esta área.
Entretanto, justamente por ter um mercado tão amplo é que o profissional do
turismo deve possuir determinados atributos para ter sucesso nesta àrea.
Ansarah (2002) afirma que o turismólogo, para ser um bom profssional, deve
ter “disposição para a profissão; qualidades comportamentais e conhecimentos
técnicos” (p. 44). Além disso, a autora defende que a graduação não é
suficiente para atuar no mercado do turismo. São necessárias diversas formas
de complementção ao estudo acadêmico a fim de aprimorar-se em
determinado setor do mercado do turismo. Os exemplos listados por Ansarah
(2002) foram: estágio profissional, leitura de assuntos dirigidos ao setor, cursos
extracurriculares (mais ligados ao setor que o profissional deseja atuar), cursos
de pós-gradução (especialmente para funções de gestão e planejamento),
participação em eventos, estudos de idiomas e a participação em empresas
júnior (quando existir essa possibilidade dentro da universidade).
A partir dos resultados apresentados a seguir será possível observamos,
na prática, as considerações teóricas expostas até o momento sobre o
profissional que atua no mercado do turismo e o que as empresas tem exigido
destes candidatos.
3.2 – Análise quantitativa sobre a pesquisa de campo
O presente estudo averigou um total de 184 ofertas de emprego. Foram
contabilizadas 142 vagas de emprego oferecidas por 93 empresas na Catho e
42 vagas oferecidas por 22 empresas no site da ABAV-RIO. Vale ressaltar que
no site da ABAV-RIO, por ser uma instituição ligada às agências de viagens,
todas as vagas encontradas foram oferecidas por empresas deste setor.
Contudo, mesmo ao contabilizar a pesquisa da Catho isoladamente, foi
56
possível observar que as vagas no setor agência/operadora de viagens foram
maioria também.
A fonte das vagas foi uma das poucas semelhanças encontradas entre
os sites da Catho e da ABAV-RIO. Na maioria das análises houve grande
contraste no perfil das vagas encontradas nos dois sites. Por exemplo,
enquanto a ABAV-RIO apresenta vagas apenas do setor que a entidade
representa, a Catho evidencia grande diversidade nos tipos de empresas que
utilizam essa ferramenta de divulgação de vagas. Por conta dessas diferenças,
cada fator será analisado separadamente entre os sites a fim de evitar uma
falsa tendência para determinada característica.
O primeiro elemento considerado foi o nome dos cargos. Já neste tópico
inicial foram encontradas, nos dois sites, formas diferentes de identificação das
profissões. No caso da Catho, como no formulário a ser peenchido pelas
empresas, o campo “nome da oferta” é livre, ou seja, não há categorização pré-
determinada dos cargos por parte do site, foi encontrada grande diversidade de
nomes de cargos que possuiam funções semelhantes. Isso dificultou a
categorização das ofertas, que tiveram de ser analisadas detalhadamente para
a devida classificação. Já no caso da ABAV, a empresa, ao inserir uma nova
vaga no site, deve escolher entre os nomes já cadastrados. Isso facilitou a
categorização dos resultados deste site.
No caso da catho, os cargos foram agrupados em categorias de acordo
com a semelhança das atividades e funções descritas pela empresa. Em
alguns casos, quando o agrupamento pela semelhança das funções não era
possível, o agrupamento foi realizado de acordo com o setor do turismo em que
a oferta se encontrava (Gráfico 2). A maioria dos cargos oferecidos é para
operador/agente de viagens (40%). Dentro desta categoria se encontram os
operadores de viagens, cujo trabalho consiste basicamente na formatação de
pacotes para agências de viagens brasileiras ou estrangeiras (nesse último
caso são os chamados de operadores de receptivo internacional); e os agentes
de viagens, que fazem a intermediação entre os operadoras e turistas, além de
reservar e emitir bilhetes aéreos, realizar reservas de carros e hotéis, dentre
outros serviços. Dentro da sub-categoria agente de viagens se encontram as
segmentações de agê
trabalho) e agências co
que viajam a trabalho o
Gr
Em segundo lug
exercer suas funções d
operacionais são ine
concierge15. Logo abaix
funções que lidam com
diversas empresas. Ne
ramos do turismo: hot
tecnologia para o merca
No caso da cate
incluidos os cargos de
operadoras, transporte
categoria por conta da
empresas. Já a catego
ofertas informadas por
14 Definição de governança:limpeza das UHs, e das dem2010, p. 13) 15 Definição de conciergeturísticas, mensagens, entsecretaria – tudo é da alçad
15%
6%
3%3%
8%
11%
e agências de intercâmbio (viagens para
ias corporativas cujos clientes são empresa
alho ou para participar de eventos.
Gráfico 2 - Categoria dos Cargos (Catho)
do lugar, encontram-se os diversos cargos
ões dentro de meios de hospedagens (15%),
inerentes ao setor, como recepção, g
abaixo vieram os departamentos de vendas
m com a comercialização de serviços e pro
s. Nesta amostra, as vagas foram oferecidas
o: hotelaria, empresas de seguro de viagem
mercado do turismo e restaurantes.
a categoria ‘cargos de gerência e supervisã
os de diversos setores (meios de hospedage
sportes, dentre outros), que foram agrupad
nta das suas funções a nível mais estratég
categoria assistente/auxiliar administrativo (6
s por empresas que não são do turismo, mas
ança: “À Governança foi designada às tarefas básicass demais áreas comuns do Hotel”. (Educatur Treinam
rge: Prestar informações e alguns serviços ao hós, entradas e reservas de eventos, babás, traduç alçada do concierge” (Vallen e Vallen, 2003, p. 89)
40%
14%
11%
Operador / Agente de
Vendas
Funções internas na ho
Assistente / auxiliar adm
Departamento de Mark
Funções internas de em
Gerência / Supervisão operacional)Outros
57
para estudos ou à
resas ou empresários
rgos oferecidos para
5%), cujas atividades
ão, governança14 e
endas (14%). São as
e produtos das mais
cidas pelos seguintes
iagem, empresas de
ervisão’ (8%), foram
edagens, agências e
rupados na mesma
tratégico dentro das
ivo (6%) engloba as
, mas incluem no seu
sicas de organização e inamento e Consultoria,
ao hóspede. “Indicações tradução e serviços de
te de viagens
na hotelaria
iar administrativo
Marketing
de empresas virtuais
visão (comercial ou
58
organograma um funcionário que cuide de todas as viagens realizadas pela
empresa. Também estão nesta categoria os cargos administrativos internos
que foram oferecidos por agências e operadoras de viagens, ou seja, estão
inclusas as vagas que abrangem, além das atividades relacionadas à turismo,
a função de secretariado.
Por último, as categorias que ofereceram o menor número de empregos
foram o departamento de marketing e os cargos oferecidos por empresas que
trabalham com comércio eletrônico (Exemplo: Decolar.com e site Hotel
Urbano), ambas com 3%. No primeiro caso, o baixo número de vagas se
justifica pela função de marketing ser geralmente oferecida àqueles que tem
formação em publicidade ou comunicação, sendo contabilizados aqui apenas
os cargos em que a formação superior em Turismo era aceita. Já as poucas
vagas oferecidas por empresas virtuais justificam-se pelo número ainda
pequeno de empresas neste ramo no Brasil. O’Connor já afirmava, em 2001,
que a “distribuição de viagens pela Internet ainda está engatinhando” (p. 114).
A categoria “outros” se refere aos cargos cujas atividades não se
enquadram à demais categorias existentes (11%). Por conta da singularidade
destas ofertas, não foi possível agrupá-las em uma categoria diferente ou
inclui-las em algum dos outros grupos criados. Alguns exemplo foram:
professor de turismo, auxiliar de ouvidoria e contratador de hotéis.
No caso da ABAV-RIO, os cargos contabilizados foram agrupados em
apenas quatro categorias (Gráfico 3). A grande maioria das vagas encontra-se
na categoria agente/operador de viagens, englobando um total de 38 das 42
vagas oferecidas no site da ABAV-RIO. Dentro desta categoria, as vagas
oferecidas para agentes no setor corporativo chegaram a um número tão
significativo (18 ofertas), que foi esta foi apresentada em uma categoria a parte.
Gráfi
Analisando mais
setor de agências de vi
através da evolução do
seus serviços voltando
“esses sistemas també
de negócios e ignorad
reforça esta limitação a
uma interface engessa
mercado corporativo q
satisfazer” (p. 134). A
contudo os dois autores
arquitetura tecnológica
mercado de lazer. As ag
mercado corporativo qu
Passando para o
pesquisa apresentaram
ABAV-RIO, nenhuma e
Técnico ou Ensino Su
pesquisa, pois foram co
relacionadas às funçõe
da Catho, onde há um
cadastro da vaga, foi po
43%
5%
Gráfico 3 - Categoria dos Cargos (ABAV-RIO)
mais detalhadamente o segmento corpora
de viagens, foi possível compreender sua fo
ão dos sistemas GDS que historicamente tê
ltando-se para esta demanda. O’Connor (20
também têm se concentrado fundamentalmen
norado o potencial do setor de lazer” (p. 32
ção ao afirmar que, até o século XX, os GD
gessada na tela “azul/preta” (p. 135) volta
tivo que são mais “homogêneos e relativam
34). As agências ainda seguem também
utores alegam que os GDS têm evoluído e de
ógica mais flexível e com mais informações p
. As agências tem seguido esta tendência, aten
ivo quanto ao mercado de lazer.
para o elemento ‘Formação acadêmica’, as du
taram, mais uma vez, algumas divergência
ma empresa apresentou qualquer requisito d
o Superior. Essa fato não prejudica a aná
am consideradas apenas as vagas que estav
unções que podem ser exercidas pelo turismó
á um campo para informar a escolaridade ex
, foi possível fazer uma seleção de forma mais
47%
5%5%
Operador / Agent
Agente corporativo
Administrativo
Gerência / Superv(comercial ou ope
59
orporativo dentro do
ua força no mercado
nte têm desenvolvido
or (2001) alerta que
talmente nas viagens
(p. 32). Marín (2004)
s GDS ainda tinham
voltando-se para o
ativamente fáceis de
bém esta tendência,
o e desenvolvido uma
ções para atender ao
a, atendendo tanto ao
as duas fontes desta
ências. No caso da
isito de Ensino Médio
a análise sobre esta
estavam diretamente
rismólogo. Já no site
de exigida no ato do
a mais clara. Ou seja,
Agente de viagens
orativo
upervisão u operacional)
no site da Catho as va
Médio ou Ensino Su
desconsideradas para e
que podem estar fora d
contabilidade, advocaci
ou auxiliar de limpeza. P
composto apenas pelas
maioria exigia Ensino S
Algumas as vaga
pesquisa por descrev
gerenciamento e superv
em áreas correlatas. O
empresas aceitavam En
Administração, Relaçõ
exclusivamente Ensino
Gráfic
A diversidade de
o turismólogo concorra
quando estes já traba
experiência anterior tam
40%
6%
3% 12%
as vagas que exigiam apenas Ensino Funda
o Superior em outras áreas que não o
para esta pesquisa. Dessa forma, foi possíve
fora dos conhecimentos do turismólogo, com
ocacia ou cargos mais operacionais como seg
eza. Por isso, o Gráfico 4, referente à formaçã
pelas ofertas contabilizadas no site da Catho
sino Superior em Turismo como requisito.
s vagas que pediam apenas ensino médio for
escreverem atividades mais complexas o
supervisão exigindo sempre experiência anteri
tas. O que se destaca no gráfico é que
am Ensino Superior em outras áreas além do
elações Públicas ou Publicidade e apenas
nsino Superior em Turismo.
ráfico 4 - Formação acadêmica exigida (Catho)
de de cursos superiores aceitos pelas empres
ncorra com especialistas de outras áreas,
trabalham no mercado do turismo, pois a
ior também foi solicitada pela maioria das emp
38%
12%
1% Ensino Superior em Tu
Ensino Superior em Tuáreas correlatas
Ensino Superior em TuEnsino Médio
Ensino Superior em Tuáreas correlatas ou En
Ensino Médio
Não informa
60
Fundamental, Ensino
ão o turismo foram
ossível excluir cargos
, como, por exemplo,
o segurança noturno
rmação acadêmica, é
Catho, onde a grande
io foram incluídas na
as ou funções de
anterior na função ou
que a maioria das
m do Turismo, como
penas 38% exigiam
tho)
mpresas faz com que
reas, principalmente
pois a exigência de
s empresas no site da
em Turismo
em Turismo ou em
em Turismo ou
em Turismo ou em ou Ensino Médio
61
Catho (Tabela 4). Por outro lado, a maioria das empresas que ofereciam vagas
no site da ABAV-RIO não informou sobre a exigência de experiência anterior.
Algumas empresas que não estabeleceram experiência anterior como
pré-requisito também não informaram claramente se o candidato à vaga
poderia não ter experiência na área. Por isso, não há uma categoria para
empresas que não exigem experiência anterior, e sim apenas a categoria “não
informaram”.
Tabela 4 – Empresas que exigem experiência anterior (Catho e ABAV-RIO)
CATHO ABAV-RIO
Sim Não informaram Sim Não informaram
82% 18% 11% 64%
Dentre as empresas que exigiam experiência anterior, muitas das vagas
necessitavam de candidatos que tivessem experiência exatamente na função
descrita. Contudo, a maioria exigia apenas experiência em áreas correlatas
(Tabela 5). Apenas duas empresas estabeleceram experiência profissional em
determinados sistemas tecnológicos como pré-requisito (GDS e Sabre) no site
da Catho. A partir destas informações, é possível concluir que a experiência no
estágio é crucial para que o graduando em Turismo consiga inserir-se neste
mercado, mesmo que não exerça em seu estágio a mesma função que
pretende para o seu futuro.
Tabela 5 – Exigência de experiência no setor de Turismo (Catho e ABAV-RIO)
CATHO ABAV-RIO
Na mesma função
Em áreas correlatas
Em sistemas tecnológicos
Na mesma função
Em áreas correlatas
Em sistemas tecnológicos
41% 58% 2% 47% 53% 0%
Dando continuidade às considerações sobre as ofertas de emprego,
foram observadas quais vagas tinham como exigência o conhecimento prévio
sobre alguma ferramenta tecnologia. As duas fontes da pesquisa apresentaram
pequena divergência. No caso da Catho, a maioria das ofertas exigia ou via
como diferencial o conhecimento de alguma forma de tecnologia. Já no
62
resultado do site da ABAV-RIO, apesar da diferença pouco expressiva entre os
resultados, a tendência foi para que a maioria das ofertas não mencionasse
nenhum conhecimento em programas tecnológicos como pré-requisito (Tabela
6).
Tabela 6 – Vagas que exigiam o conhecimento em algum tipo de tecnologia (Catho e ABAV-RIO)
CATHO ABAV-RIO
SIM NÃO SIM NÃO
60% 40% 45% 55%
Ao explorar mais detalhadamente as vagas que exigiam conhecimento
em tecnologia como pré-requisito, foi possível identificar os tipos de tecnologias
solicitados pelas empresas. Vale ressaltar que algumas vagas pediam
conhecimento em mais de uma ferramenta tecnológica, por isso o total de tipos
de tecnologias exigidas é maior que o número de vagas que apresentavam
essa demanda. Foram 100 exigências entre as 85 vagas da Catho e 22
exigências entre as 19 vagas do site da ABAV-RIO. A seguir, analisamos o
resultado de cada fonte da pesquisa.
As vagas do site da Catho podem ser observadas no Gráfico 5. Na
maioria dos casos, há apenas a necessidade de conhecimento em programas
de computador básicos (por exemplo: Pacote Office, incluindo principalmente
Excel e Word) (27%) ou apenas “conhecimento em informática” como foi
descrito em algumas vagas (36%). Ao confrontar os dados estatísticos ora
expostos com a problemática das empresas no que concerne a tecnologia,
conforme já debatido no capítulo anterior, é possível inferir que há três
hipóteses que explicam resultado demonstrado: a maioria das empresas não
utiliza ferramentas tecnológicas específicas para o mercado do turismo ou, por
conta da falta de qualificação por parte dos candidatos, as empresas preferem
treiná-los a partir do momento que são efetivados. Ou ainda, por conta do
mercado pouco desenvolvido para tecnologias voltadas para o turismo, muitas
empresas desenvovem ferramentas tecnológicas cridas exclusivamente para
elas. A ausência de desenvolvimento tecnológico voltado para este setor é
evidenciada por Marín (2004), ao salientar que, em seu estudo no Brasil, não
encontrou no mercado n
viagens à venda. Segu
(...) têm desenvolvido s
porém, são de propried
outras empresas” (Mar
empresas podem não
que o futuro funcionário
ferramentas tecnológica
Gráfic
Vale destacar ta
delimitam o conhecime
Conforme já analisado
para diversos setores
oferecer seus serviços
veículos) quanto para a
a maior gama de serviç
A categoria “outr
empresa e que, por i
própria. Além disso, nã
funções e são mais pe
são soluções tecnológic
21%
8%
cado nenhum sistema de comércio eletrônico
Segundo o autor, “algumas grandes operad
lvido seus próprios sistemas de venda on-line
opriedade dessas empresas e não podem se
” (Marín, 2004, p. 152). Essa característica
não exigir conhecimento em determinadas
ionário, após ser efetivado, deverá ter o trein
lógicas.
ráfico 5 - Tipos de tecnologias exigidas (Catho)
car também a porcentagem significativa de
ecimento em algum tipo de GDS como pré
lisado anteriormente, estes sistemas têm gran
tores do turismo, tanto para aqueles que
rviços e produtos (companhias aéreas, hotéi
ara as agências que recorrem a estes sistema
serviços turísticos aos seus clientes.
“outros” inclui programas que foram citados a
por isso, não puderam ser agrupados em
so, não se assemelham aos GDS, já que p
ais personalizadas para cada tipo de empres
ológicas como, por exemplo:
27%
36%
8%Pacote Office
Infomártica
GDS (Sabre, AmadeusGalileo)
Internet
Outros
63
nico para pacotes de
peradoras de turismo
line. Tais sistemas,
m ser adquiridas por
ística indica que tais
adas tecnologias, já
o treinamento nessas
)
a de empresas que
pré-requisito (21%).
grande importância
que a utilizam para
hotéis, locadoras de
istemas para oferecer
ados apenas por uma
s em uma categoria
que possuem outras
mpresa. Neste caso,
adeus e/ou
1) Programa Fid
referente a ve
2) Ferramentas
cliente previa
de voos e ho
lado, essas f
vendas, reser
clientes16.
No caso da ABA
lembrar que esta entid
tendência é que haja e
compararmos as vagas
da Catho, as empresas
sistemas automatizados
Gráfico
Diferente das o
contabilizadas apenas 4
programas mais espec
Sabre ou Galileo) (61%
foram citadas por uma
empresa de tecnologi
16 Um exemplo de empresa
23%
a Fidelio, que oferece uma gama de soluçõ
e a vendas, reservas e gerenciamento para ho
entas de self-booking e self-tickets, que ligam
previamente cadastrado às todas as informa
e hospedagem encontradas no site da agê
sas ferramentas oferecem à agência vários
, reservas e gerenciamento sobre o fluxo de a
ABAV-RIO, o resultado apresentou um cená
entidade representa as agências de viagen
haja exigência de tecnologias relacionadas a
vagas informadas na ABAV-RIO àquelas enco
resas do site da ABAV-RIO foram mais claras
izados requisitados (Gráfico 6).
fico 6 - Tipos de tecnologias exigidas (ABAV-RIO
das ofertas encontradas no site da Cath
enas 4 exigências de Pacote Office. As outras
especializados, principalmente o grupo dos G
) (61%). A categoria “outros” englobam as t
uma ou duas empresas como, por exemplo:
nologia Reserve, citado em uma vaga;
presa que oferece ferramentas self-booking é a empre
18%
59%
Pacote Office
GDS (Sabre, Amadeus e/ou Galileo)
Outros (Tierra, BSP e Sistema Reserve)
64
oluções tecnológicas
ara hotéis;
ligam diretamente o
formações desejadas
a agência. Por outro
ários dispositivos de
o de acessos desses
cenário distinto. Vale
iagens e, por isso, a
das a este setor. Se
s encontradas no site
claras a respeito dos
RIO)
Catho, aqui foram
outras ofertas pediam
dos GDS (Amadeus,
as tecnologias que
mplo: um sistema da
ga; Business Server
mpresa Reserve.
deus
P e
65
Provider (BSP), pedido por duas empresas17; e Tierra, um tipo de sistema
integrado utilizado por operadoras de viagens e composto pela parte
operacional das viagem (montagem do pacotes) e back-office da empresa.
Este que foi pedido para duas vagas oferecidas por uma empresa.
As tabelas a seguir detalham o número de exigências, bem como o tipo
de tecnologia, dentro de cada categoria de vaga. Ao observarmos as ofertas da
Catho, foi possível perceber que há a exigência de conhecimento em
tecnologias na maioria das categorias (Tabela 7). Dentre as nove categorias
existentes, cinco apresentam em maioria as vagas em que o conhecimento em
tecnologia se torna um pré-requisito ou um diferencial (são elas:
Operador/Agente de viagens, Departamento de Marketing, Funções Internas de
empresas virtuais, Gerência / Supervisão e Outros). Por outro lado, as vagas
relacionadas a vendas e aos cargos operacionais na hotelaria, na sua maioria,
não exigem qualquer tipo de tecnologia. Apenas na categoria Assistente /
Auxiliar administrativo houve empate.
Tabela 7 - Tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga (Catho)
Pacote Office Informática
GDS (Amadeus, Sabre e/ou
Galileo)
Internet Outros Nº de
vagas que exigem
Nº de vagas que não exigem
Operador/Agente de viagens 5 22 19 1 3 44 13
Vendas 7 1 0 1 1 8 12 Funções Internas na hotelaria 2 1 0 0 1 2 19
Assistente / Auxiliar administrativo 3 0 0 1 1 4 4
Departamento de Marketing 4 0 0 0 1 4 0
Funções internas de empresas virtuais 0 0 0 3 1 3 1
Gerência / Supervisão (comercial ou operacional)
4 1 2 0 0 7 5
Outros 2 11 0 2 0 13 3
17 É um sistema integrado ao back-office das empresas.
66
Na mesma tabela foram enumerados os tipos de exigências de acordo
com cada categoria. Dessa forma, foi possível observar a demanda por
conhecimento em determinadas tecnologias de acordo com cada tipo de vaga.
No que concerne à exigência de domínio em tecnologias específicas do
turismo, a categoria que se destaca é a de Operadores/Agentes de viagens,
pois dentre as 44 ofertas que exigiam tecnologia, 19 pediam o conhecimento
em algum dos GDS. Além desta categoria, apenas duas outras vagas
relacionadas à Gerência exigiam o mesmo tipo de conhecimento.
Todas as outras categorias exigiam, em sua maioria, conhecimento no
Pacote Office completo ou em alguns dos seus aplicativos, principalmente
Word e Excel. Mesmo nos cargos que geralmente lidam com programas mais
especializados, como marketing e o próprio agentes/operadores de viagem,
não há, na sua maioria, nem descrição de algum programa com o qual o
candidato deverá saber lidar.
No resultado da ABAV-RIO (Tabela 8), não foram consideradas as
opções “informática” e “internet”, pois nenhuma empresa informou esse tipo de
exigência. Conforme já afirmado anteriormente, as vagas encontradas neste
site foram mais precisas sobre o tipo de tecnologia que estão exigindo dos
candidatos. Contudo, há um caso em especial que deve ser examinado
separadamente: há 15 vagas na categoria Agente Corporativo que não
especificaram nenhuma ferramenta tecnológica. Este dado foi resultado de
uma única oferta da empresa 4BTS, especializada no mercado corporativo, que
divulgou 15 vagas para agentes corporativo nível PL e SR18. Esta oferta não
apresentou nenhuma exigência. Contudo, pelo fato de informar que as vagas
seriam para nível Pleno e Sênior, é possível concluir que o candidato deve ter
uma boa experiência na área, bem como conhecimentos em determinadas
tecnologias. Segue a transcrição da descrição da vaga: “Consultor nível PL e
SR. Oferecemos salários entre R$ 2030,00 e R$ 2685,00 + VT + VR + AM +
AO e convênios com instituições de línguas, faculdades para graduação e pós
graduação e academia”.
18 Muitas empresas dividem o nível de responsabilidades de um cargo de acordo com o tempo de experiência e formação. Os níveis mais comuns são: Júnior (JR), Pleno (PL) e Sênior (SR).
67
Outro fator interessante são as vagas de gerência. Foram apenas duas
vagas de supervisão oferecidas pela mesma empresa, 4BTS, que informavam,
também, serem de nível PL e SR. Contudo, assim como as vagas de agente
corporativo descritas anteriormente, estas não apresentam nenhuma descrição
sobre os conhecimentos que o candidato deve ter. Por isso, apesar de não
informarem a demanda pelo domínio de ferramentas tecnológicas, não é
possível afirmar que o profissional que se candidata a esta vaga não
necessitaria ter algum conhecimento em qualquer tipo de tecnologia.
Tabela 8 - Tipos de tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga (ABAV-RIO)
Pacote Office
GDS (Amadeus, Sabre e/ou
Galileo) Outros
Nº de vagas que
exigem
Nº de vagas que não exigem
Agente/operador de viagens 3 10 2 14 6
Agente corporativo 0 3 1 3 15 Administrativo 1 0 2 2 0
Gerência / Supervisão (comercial ou operacional)
0 0 0 0 2
Apesar de o resultado demonstrar que as empresas não pretendem
contratar profissionais que tenham experiência e conhecimento em tecnologia
específicas do turismo, o mercado espera que este profissional esteja
familiarizado com a informática e programas de texto básicos, além de ter
habilidade em aprender a lidar com outras ferramentas tecnológicas.
Uma característica comum nas vagas encontradas é que a maioria é
voltada para cargos a nível operacional, diferindo um pouco da descrição
apresentada pela CBO sobre a função do turismólogo. Contudo, é importante
destacar que o presente trabalho trata de profissionais recém-formados que, na
maioria dos casos, não apresentam muito tempo de experiência no mercado.
Cargos de gerência, planejamento e coordenação geralmente exigem do
profissional não só a formação acadêmica na área, mas também anos de
experiência no setor. Por isso, na procura por ofertas de emprego, não é
comum encontrarmos empresas que aceitem recém-formados para cargos
hierarquicamente mais altos. A partir desses fatores, é possível concluir que no
68
processo de desenvolvimento da sua carreira, o profissional de turismo recém-
formado deve começar nos cargos mais operacionais. Estes cargos também
podem exigir experiência anterior e a necessidade de determinados
conhecimento, mas o estágio pode ser a porta de entrada para estas funções.
Finalizando este capítulo, não podemos deixar de abordar a questão do
ensino das tecnologias já mencionadas no presente trabalho. Estas
ferramentas tecnológicas apresentam diversas características que dificultam
seu ensino na universidade:
• Podem apresentar arquiteturas diversas de acordo com cada tipo
de empresa; são atualizadas com grande frequência;
• Como são tecnologias oferecidas por empresas privadas visam
principalmente o mercado, oferecendo pouca abertura para seu
desenvolvimento e ensino dentro da universidade;
• Muitas dessas tecnologias, mesmo que ofereça funções
semelhantes a outras ferramentas já disponíveis no mercado, são
elaboradas exclusivamente para determinadas empresas de turismo;
• E finalmente há poucas ferramentas tecnológicas que possuem
cursos disponíveis ao público em geral.
Foram observadas algumas empresas de tecnologias que oferecem
treinamento on-line apenas aos funcionários de empresas de turismo quando
estas contratam seus serviços19. A exceção encontrada foi ABAV-RIO que
oferece cursos pagos do GDS Amadeus ao público em geral.
Todos esses fatores dificultam o ensino das diversas tecnologias
voltadas para o turismo na universidade, pois além das características
mencionadas anteriormente, a universidade segue um ritmo diferente das
evoluções tecnológicas. Entretanto, é preciso que o graduando tenha plena
consciência da existência desses tipos de tecnologias bem como suas funções
básicas e os setores do turismo que as utilizam. No capítulo seguinte iremos
descrever a evolução da formação universitária no Brasil, bem como a
19 Um exemplo encontrado foi o site Travel Port que oferece treinamentos on-line para os GDS Galileo e Worldspan para funcionários de agências cadastradas.
69
formação do currículo, que, junto com o estágio profissional, pode se tornar um
importante instrumento para o aperfeiçoamento da relação entre o aluno e as
tecnologias do turismo. Finalizando a principal questão do presente trabalho,
serão analisados como o tema “tecnologia no turismo” está sendo discutido nas
universidades públicas do Rio de Janeiro.
70
CAPÍTULO IV – A QUESTÃO DA TECNOLOGIA
DENTRO DAS UNIVERSIDADES
Até o momento, no presente trabalho analisou-se a importância e o
papel de cada elemento que envolve o ensino de tecnologia nas Instituições
que oferecem Curso Superior em Turismo: o fenômeno do turismo, o
desenvolvimento da tecnologia e o ambiente do mercado de trabalho cujo
formando irá encontrar. O quarto capítulo encerra este trabalho com o último
elemento deste processo: o sistema de ensino superior e os principais fatores
diretamente envolvidos – instituições, planejamento curricular e legislação
pertinente ao tema.
A Universidade possui a tripla função de pesquisa, ensino e extensão
(PIMENTA e ANASTASIOU, 2005). Contudo, essas funções não são exercidas
de forma equitativa (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005; GODOY, 1988). Alguns
autores, como Oliveira Neto (2005), defendem inclusive que uma boa
Instituição deve prezar prioritariamente a pesquisa em detrimento do ensino e
da difusão de saberes, considerados como “consequências da pesquisa”
(LUCKESI, 1996 IN OLIVEIRA NETO, 2005; PEDRO, DEMO, 1981 IN GODOY,
1988). Esta questão é examinada no primeiro tópico, onde são discutidas as
diversas funções da universidade observando a perspectiva de cada elemento
nesta análise: instituição, aluno, professor e sociedade.
Na Educação Superior, ao traçar os objetivos de um curso, a instituição
deve dispor de estratégias de planejamento educacional. A principal ferramenta
para este planejamento é o currículo. Embora os conceitos sobre o currículo
tenham evoluído historicamente sob o aspecto do desenvolvimento de crianças
e jovens, foi possível constatar a existência de diversos autores que
apresentam uma análise curricular sob a visão do Ensino Superior. Dentre os
autores encontrados, muitos ainda se limitam a debater apenas sobre os temas
a serem abordados no Ensino Superior. No presente capítulo é apresentado
71
um detalhamento sobre os conceitos e debates gerais sobre currículo e
currículo no Ensino Superior.
Posteriormente, são apreciados alguns tópicos sobre o Ensino Superior
em Turismo, apresentando um breve histórico no Brasil e no Rio de Janeiro e
uma descrição sobre a evolução curricular do curso de Turismo. Para encerrar
este capítulo, são identificadas como as tecnologias são abordadas nos cursos
de graduação em Turismo oferecidos pelas universidades públicas no Estado
do Rio de Janeiro, utilizando como fonte documentos divulgados pelas IES.
Dessa forma finalizamos o capítulo analisando na prática como as
universidades se posicionam frente as necessidades de conhecimento em
tecnologia no Turismo.
4.1 – A finalidade da universidade e seu papel na
sociedade
Ao considerar os objetivos da Universidade sob a ótica legislativa é
possível detectar os primeiros dispositivos legais publicados no Brasil já no
início da década de 1930. Godoy (1988), ao citar Campos (1940) e Fávero
(1977), destaca os decretos publicados em 1931, nº 19.850 – que cria o
Conselho Nacional de Educação – e nº 19.851 – que dispõe sobre o sistema
do Ensino Superior. Neste último, os fins do Ensino Universitário são
apresentados logo no primeiro artigo:
O ensino universitário tem como finalidade: elevar o nível da cultura geral, estimular a investigação científica em quaisquer domínios dos conhecimentos humanos; habilitar ao exercício de atividades que requerem preparo técnico e científico superior; concorrer, enfim, pela educação do individuo e da coletividade, pela harmonia de objetivos entre professores e estudantes e pelo aproveitamento de todas as atividades universitárias, para a grandeza na Nação e para o aperfeiçoamento da Humanidade (Decreto nº 19.851, de 11 de Abril de 1931).
O autor aponta ainda a antiga Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei nº
4.024, de 20/12/1961, revogada pela nova LDB, lei nº 9.394, de 20/12/1996, e
a lei 5.540, de 28/11/1968, sobre a reforma universitária, que, embora não
tenha sido revogada, compreende na sua maioria artigos já revogados por
72
outras formas legais. A partir destas duas leis que, segundo Godoy (1988)
caracterizam uma mudança na visão sobre a universidade, é possível resumir a
função do ensino superior em três aspectos:
a) A aquisição de conhecimentos: missão de pesquisa; b) A transmissão de conhecimentos: missão de ensino e c) A aplicação de conhecimentos: missão de serviços (p. 15)
A LDB atual, publicada em 1996, segue a mesma linha de idéias em seu
artigo 43º, cujas finalidades da Universidade são listadas em sete incisos, que
resumidamente expressam os seguintes pontos: preparar o aluno para o
mercado de trabalho, tornando-o um profissional crítico e consciente (missão
de ensino), desenvolver pesquisas relevantes a sociedade (missão de
pesquisa), difundir seus conhecimentos e promover a prestação de serviços a
comunidade (missão de serviços). Já na Constituição Federal (CF) promulgada
em 1988, foi estabelecido o “princípio de indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão” a ser obedecido pelas universidades públicas e
particulares20.
Constata-se então que a legislação sempre procurou dar à Universidade
a função múltipla de atender às expectativas do aluno e do mercado de
trabalho, bem como às necessidades da sociedade e da comunidade local que
a cerca. Contudo, ao pesquisar as opiniões defendidas por alguns autores e
pensadores da educação, foi possível observar grande polêmica no que diz
respeito à importância de cada um dos três elementos citados na CF. Muitas
universidades priorizam a produção de pesquisas, em detrimento do ensino e
da difusão de saberes. Tornando-se hermética em seu mundo,
descompassada com necessidades de alunos e da sociedade (PIMENTA E
ANASTASIOU, 2005).
Nas palavras de Oliveira Neto (2005), apenas “na criação e na produção
do conhecimento, por meio da reflexão crítica da realidade é que a
universidade poderá cumprir sua missão” (p. 45). Entretanto, o autor ressalta
que as pesquisas e análises críticas devem ser “aliadas à solução dos
problemas sociais, trabalhando como sujeito ativo diante da própria história” (p.
56). Pimenta e Anastasiou (2005), por sua vez, criticam a constante visão
20 Artigo 207º
73
limitada da Universidade, onde o professor é persuadido a priorizar as
pesquisas em detrimento do ensino prejudicando a formação do universitário.
Oliveira Neto (2005) e Pimenta e Anastasiou (2005) destacam afinal o
conflito ao qual se encontra a educação superior se encontra, entre preparar o
indivíduo para “o exercício de suas tarefas profissionais, determinadas pelas
políticas de desenvolvimento” (OLiveria Neto, p. 63, 2005) e manter seu papel
como “instituição líder, produtora de ideias, culturas, artes e técnicas renovadas
que se comprometam com a humanidade, com o processo de humanização”
(Pimenta e Anastasiou, p. 173, 2005). A questão não é deixar de lado o
desenvolvimento de pesquisas, mas sim oferecer paralelo às produções
científicas, um ensino de qualidade e adequado à realidade em que a
sociedade se encontra atualmente – dinâmica e rapidamente mutável.
Barretto et al. (2004), ao analisarem a educação superior do curso de
Turismo, tem seu foco principal na preparação profissional do estudante, desde
que o ensino não seja exclusivamente operacional e que haja constantes
pesquisas, a fim de atualizar os programas de acordo com as mudanças
sociais. A educação superior, contudo, não deve ser confundida com
treinamento. Ansarah (2002) cita a OMT (2001) ao detalhar a diferença entre
educação e treinamento:
a) A educação pode ser definida como um processo que dá ao individuo um conjunto de princípios, não aplicações detalhadas. Ela deve fornecer ao estudante um conjunto de ferramentas para interpretação, avaliação e análise de um novo conhecimento ao desenvolver suas capacidades críticas. (...) O conceito-chave é a provisão de transferência de habilidades básicas, tais como a habilidade analítica, a habilidade de comunicação escrita e verbal e a liderança, que deveriam ser desenvolvidas pela educação e aplicadas, pelo indivíduo, em diferentes contextos; b) O treinamento, por outro lado, é uma atividade muito mais específica que se concentra na aplicação detalhada em nível mais baixo, frequentemente habilidades práticas. O treinamento, em geral, é específico de um setor e procura equipar o trainee com habilidades definidas e claras, como emissão de bilhetes, serviços ou habilidades de contato com o cliente. (p. 20)
Como pode ser observada na citação anterior, a educação oferecida
pela Instituição de Ensino Superior (IES) deve prover ao aluno uma base para
o desenvolvimento crítico que vai além dos conhecimentos técnicos e
74
operacionais. O estudo científico do Turismo em especial, por ser uma área
ainda recente, encontra-se em grande mutação. Isso faz com que o professor
não se limite as teorias já estabelecidas, devendo também agregar ao processo
de ensino análises, estudos e pesquisas sobre questões cada vez mais atuais,
integrando teoria e prática. Nas palavras de Ansarah( 2009) “no turismo, o que
se entende por verdade hoje, não quer dizer que necessariamente o será
manhã” (p. 29 )
Outro paradigma educacional, neste caso citado por Barretto et al.
(2004), é o desenvolvimento do ensino por competências no Ensino Superior
que, segundo os autores, tem como único objetivo atender às necessidades de
um mercado complexo, que exige profissionais cada vez mais preparados e
flexíveis. Ramos (2006) discute os elementos envolvidos na chamada
“Pedagogia das Competências”, ao qual é possível inferir que o conhecimento
deverá partir das empresas para as instituições de ensino. Ramos detalha um
sistema de formação denominado competência profissional, integrado por três
subsistemas: “a) normalização das competências por parte das empresas; b)
formação acadêmica por competências; c) avaliação e certificação de
competências” (p. 80).
Sobre o primeiro subsistema, a autora ressalta a importância de
estabelecer regras e padrões aplicáveis em diferentes ambientes produtivos.
Dentro da empresa, isso facilitaria na organização do organograma, processos
de promoções e plano de carreira, além da admissão de novos funcionários.
Externamente, as regras e padrões deixariam mais claro o que se espera do
trabalhador “convertendo-se em elementos orientadores para o sistema
educativo” (p. 81).
Ao discutir o segundo subsistema, formação de competências, a autora
não deixa claro em qual nível essa formação deve ser realizada, mas ressalta
que todo o sistema educativo que optar por esta orientação está priorizando
apenas as competências operacionais de determinado ramo do mercado de
trabalho, podendo ser comparado a um ensino baseado em treinamento
altamente especializado. Um problema alertado pela autora sobre a formação
baseada em competências é a dificuldade em trazer tais padrões para o
sistema de ensino-aprendizagem, por não apresentarem “nenhuma sequência
75
que observe uma metodologia própria para a formação”. (...) “elas
(competências) expressam um objetivo, um resultado esperado e não uma
metodologia de como aprender e chegar ao resultado” (Ramos, p. 82, 2006).
O subsistema avaliação e certificação por competências, por sua vez,
pode ir além da avalição final de cursos, pois abre a oportunidade de
certificação por competências para aqueles cujos conhecimentos forma obtidos
na prática sem nunca terem feito qualquer tipo de formação acadêmica. Esses
processos educacionais voltados para o mercado podem ser aplicáveis a
cursos voltados para cargos cujos conhecimentos a serem desenvolvidos são
operacionais, não intelectuais. Contudo, não são completamente adequados ao
nível superior em que a análise crítica e o desenvolvimento intelectual fazem
parte da formação do educando.
Segundo Ansarah (2002), o curso superior em turismo deve ter uma
constante integração entre teoria e prática, entre treinamento e ensino. Para a
autora:
As instituições educacionais têm como compromisso direcionar os estudos para: • A formação de recursos humanos para o mercado de trabalho; • Estimular e despertar a preocupação com a pesquisa e a investigação; • Fornecer maior embasamento cultural e humanístico; • Preparar os profissionais para novas tecnologias e novos equipamentos. (p. 21)
A partir das considerações descritas neste primeiro tópico é possível
concluir que a IES apresenta finalidades sociais, culturais e econômicas. O
curso de Turismo, em particular, sofre a pressão de formar bons profissionais,
preparados para as rápidas mutações do mercado onde cada setor possui
exigências altamente especializadas e operacionais, e futuros pensadores,
dispostos a lançar-se em pesquisas nesta imatura ciência, por muitos ainda
nem considerada como tal. O perfil do formando oferecido pela universidade à
sociedade deve ser a principal questão a ser discutida e para tal a instituição
deve estar preparada para elaborar cursos mais dinâmicos, capazes de serem
atualizados para estarem em compasso com a sociedade. O primeiro elemento
a ser analisado no que diz respeito à elaboração de um curso e suas
disciplinas, é o planejamento curricular, próximo tópico a ser discutido.
76
4.2 – Debates sobre o currículo e o currículo no Ensino
Superior
Assim como o fenômeno do turismo abarca diversas definições, foram
encontrados inúmeros conceitos relacionados ao Currículo durante pesquisa
bibliográfica. Ao traçar uma trajetória sobre os principais pensadores de
educação que desenvolveram definições curriculares desde o início do século
XX, Traldi (1987) chega a citar 28 autores.
A autora, antes de discorrer sobre as dezenas de definições encontradas
no decorrer do século XX, argumenta que a definição de Currículo defendida
por determinados pensadores pode apresentar diferentes focos conforme a
sociedade, a cultura e a época quando foi elaborada. Moreira e Silva (2005)
corroboram com esta ideia ao afirmarem que “o currículo é considerado um
artefato social e cultural. Isso significa que ele é colocado na moldura mais
ampla de suas determinações sociais, de sua história, de sua produção
contextual” (p.07). A partir disso, é possível inferir que a definição de Currículo
quase sempre teve sua evolução constantemente ligada ao contexto
econômico e social ao qual se encontrava.
Os primeiros estudos encontrados sobre a definição de currículo foram
desenvolvidos por Dewey (1902) e Kilpatrick (TRALDI, 1987 e MOREIRA E
SILVA, 2005), cuja corrente de pensamento era voltada “para a elaboração de
um currículo que valorizasse os interesses do aluno”. Outra definição
reconhecida durante décadas foi estabelecida por Bobbit cujo Currículo é
descrito como um “conjunto ou série de coisas que as crianças e os jovens
devem fazer e experimentar a fim de desenvolver habilidades que os
capacitem a decidir assuntos da vida adulta”(BOBBIT, 1941 apud TRALDI,
1987, p. 34).
Tais tendências, segundo Moreira e Silva (2005), seguiram quase
inalteradas até início da década de 1970. Harold Rugg (1936) e Ralph Tyler
(1949) procuraram sanar os problemas na elaboração do currículo centrando-
se principalmente na integração de variados pensamentos o que, segundo o
autor “nem sempre foi bem sucedido” (p. 11). Já Traldi (1987) identifica uma
77
alteração nos valores que cercam o conceito de currículo já na década de
1950, quando Anderson (1956) acrescenta à definição clássica de Currículo
duas questões: conteúdo e método são indissociáveis; as experiências
curriculares devem incluir atividades extraclasses. Traldi também cita Rugg
(1936), que define o “Currículo como ‘programa integral da escola’, envolvendo
os fins da educação, o que os professores e alunos fazem e como o fazem e os
materiais que usam” (p. 34). A autora ainda destaca o enfoque no
planejamento dado por este pensador, uma inovação no conceito do Currículo
para a época.
Kliebard (2011), assim como Moreira e Silva (2005), avalia os clássicos
princípios de Tyler de forma crítica, contudo aprofundando sua análise sobre as
peculiaridades destes princípios. Inicialmente o autor destaca as quatro
perguntas aos quais Tyles (1949) afirmava que deveriam ser respondidas ao
elaborar um Currículo:
1. Que objetivos educacionais deve a escola procurar atingir? 2. Que experiências educacionais podem ser oferecidas que possibilitem a consecução desses objetivos? 3. Como podem essas experiências educacionais ser organizadas de modo eficiente? 4. Como podemos determinar se esses objetivos estão sendo alcançados? (Kliebard, 2011, p.24)
Kliebard (2011) alerta para a principal fase da doutrina e também a mais
crítica de todas: a elaboração dos objetivos. Neste ponto Tyler descreve três
fontes que devem ser consultadas ao elaborar os objetivos: estudos sobre o
aluno, estudos sobre a vida contemporânea e sugestões oferecidas pelos
especialistas no conteúdo. Kliebard (2011) define estas três fontes como uma
síntese de diversas doutrinas tradicionais, cada uma com seus “principais
representantes, seus seguidores e sua própria retórica” (p. 25). Isso, de acordo
com o autor, explicaria a popularidade de Tyler entre os mais variados
pensadores.
Seguindo a cronologia adotada por Moreira e Silva (2005), apenas a
partir da década de 1970, em meio a uma crise econômica que,
consequentemente, colocou em debate a própria cultura ocidental, foi quando
sugiram movimentos e protestos contra todas as instituições e valores
78
tradicionais que representavam esta cultura. E assim a escola, bem como o
poder e o controle representados pelo Currículo, passaram a ser questionados
e criticados. A partir destas críticas, novas correntes conceituais sobre
Currículo foram desenvolvidas cujo foco, segundo o autor:
Não mais se supervalorizavam o planejamento, a implantação e o controle de currículos. Não mais enfatizavam os objetivos comportamentais. Não mais incentivava a adoção de procedimentos “científicos” de avaliação. (...) Deslocaram-se e renovaram-se, em síntese, os focos e as preocupações. (Moreira e Silva, 2005, p. 16)
Moreira e Silva (2005) firmam que os autores neomarxistas foram os
primeiros, nos Estados Unidos, a discutir o novo conceito de Sociologia do
Currículo que, posteriormente, esteve presente nas novas teorias
desenvolvidas dentro da Sociologia da Educação na Inglaterra. Silva (1990),
assim como Moreira e Silva (2005) destaca as ideias de Apple e Weis, cuja
principal crítica sobre o papel da escola remete as relações de poder e
dominação do conhecimento no que diz respeito ao planejamento curricular.
A sociologia do Currículo passou a considerar esta ferramenta
educacional fruto do conflito de interesses e da cultura e da sociedade do seu
tempo. Apple (1982, apud SILVA, 1990) apresenta então dois tipos de
currículo: o manifesto, “transmitido no corpo formal do escolar assegurando a
distribuição cultural e a seletividade social” (SILVA, 1990, p. 13) e oculto,
transmitindo de forma tácita “normas, valores e tendências que se realizam
simplesmente pelo fato de os alunos viverem as expectativas e rotinas
institucionais das escolas, dias após dias durantes anos” (APPLE, 1982, p. 27
apud SILVA, 1990, p. 13). Tais termos mantêm-se atuais até hoje. Outro
pensador destacado por Silva (1990) e Moreira e Silva (2005) é Henry Giroux,
cuja principal crítica recai sobre o papel reprodutivo da escola. De acordo com
este pensador, “os alunos de todas as classes e grupos carregam a lógica da
dominação e do controle, em graus diferentes; assim sendo, pessoas podem
escolher entre serem sujeitos da dominação ou sujeitos da história” (SILVA,
1990 p. 14).
Essas novas correntes, críticas ao conceito tradicional do currículo,
tentam responder a questões como as seguintes: a quem pertence o
79
conhecimento? Quem o selecionou? Por que, por quem e para quem está
sendo planejado? Por isso, representa um novo foco nos conceitos que
envolvem o currículo, relacionando-o a cultura, a sociedade, ideologia e
diversidade (SILVA, 1990 e MOREIRA e SILVA, 2005). As reflexões de Paulo
Freire, grande pensador da educação brasileira, segundo Silva (1990)
apresentam suas indagações sobre o currículo de forma esparsa em suas
obras. Contudo, através de pesquisa bibliográfica realizada pela autora, fica
evidente que este cientista da educação defendia o ensino e cultura como
elementos indissociáveis (Ibid, 1990). Em especial em sua obra Pedagogia da
Autonomia (2011), o autor deixa claro sua crítica sobre o ato de simplesmente
transmitir o conhecimento já existente. Para Freire, o docente não existe sem
discente e por isso, o ensino só acontece realmente quando os alunos se
transformam em “reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber
ensinado” (p. 28).
Ao analisar a realidade do planejamento curricular no Brasil, Silva (1990)
ressalta a ideologia tecnicista presente nas propostas curriculares da década
de 1970 até o final da década de 1980. Segundo a autora, a implantação da lei
nº 5692/71, que estabeleceu novas regras para o ensino no 1º e no 2º grau,
tinha como objetivo padronizar nacionalmente as diretrizes curriculares com um
enfoque técnico-profissional, principalmente no 2º grau. Paralelo a legislação
federal, guias e propostas curriculares eram elaborados por especialistas e
enviados às escolas para serem executados (Ibid, 1990).
Sob o ponto de vista legal, este quadro se altera a partir da nova LDB,
publicada em 1996, quando se levou em consideração alguns elementos que
pretendiam ‘humanizar’ e diversificar a experiência escolar através de
elementos como, por exemplo:
• O objetivo de valorizar as experiências extracurriculares21;
• Divisão do currículo – uma baseada em diretrizes nacionais, outra
diversificada de acordo com as características de cada região22;
21 Inciso X do Artigo 3º 22 Artigo 26º
80
• Inclusão de educação ambiental como parte obrigatório do
currículo23.
Ainda que a legislação adote certas práticas que tornam o currículo mais
diversificado e inclusivo, na prática, segundo Moreira e Silva (2005), ainda há
uma defasagem na teorização curricular cujo foco “tem ficado indiferente às
formas pelas quais a “cultura popular” (televisão, música, videogames, revistas)
tem constituído uma parte central e importante da vida das crianças e jovens”
(p. 28). A falta de compreensão sobre as transformações na educação e no
currículo decorrente das novas tecnologias é outra crítica apresentada pelo
autor.
As novas tecnologias e a informática ilustram as profundas transformações que se estão dando na esfera da produção do conhecimento técnico/administrativo, transformações que tem implicações tanto para o “conteúdo” do conhecimento quanto para sua forma de transmissão (p. 28).
Até este ponto, os pensadores e pesquisadores abordados neste sub
capítulo analisaram o currículo sob a ótica da formação social de crianças e
jovens, bem como sua preparação para o futuro. Contudo, grande parte das
questões ora levantadas pode nos conduzir aos elementos que envolvem
currículo universitário, principalmente no que diz respeito às relações de poder
e dominação na produção curricular dentro das universidades.
Determinadas indagações apontadas pela Sociologia do Currículo como,
por exemplo, quem seleciona os temas abordados, para quem e como é
formatada a grade curricular, dentre outras reflexões, são questionamentos que
devem ser destacados, pois têm relação direta com as finalidades da
universidade e com as expectativas do educando e da sociedade frente aos
futuros formandos. Ao defender a importância da definição dos objetivos
curriculares na universidade, Davies (1979) alerta que, além de delimitá-los é
de suma importância explicar sua relevância, para quem são relevantes e
finalmente, considerar o contexto temporal em que se encontram.
Estas questões devem ser levantadas, segundo Barretto et al. (2004), no
momento de elaboração do projeto político-pedagógico do curso, fase de suma
23 Parágrafo 7º do Artigo 26º
81
importância para o planejamento curricular. Neste documento o projeto deve
ter como base as necessidades de determinados setores, bem como a
identificação destes, identificação do seu “marco situacional”, definição dos
conceitos adotados para estruturar seu “referencial filosófico-pedagógico e, por
fim”, (....) “ sua contribuição social, ainda que localmente situada” (p. 79).
Pimenta e Anastasiou (2002) listam diversas atribuições do ensino
universitário a serem consideradas no momento do planejamento curricular,
visto que este não deve considerar apenas os assuntos a serem abordados,
mas também as metodologias que poderão ser adotadas. Dentre as atribuições
estão:
Propiciar o domínio de um conjunto de conhecimentos, métodos e técnicas científicos que assegurem o domínio científico e profissional do campo específico e devem ser ensinados criticamente. Para isso, o desenvolvimento das habilidades de pesquisa é fundamental; conduzir a uma progressiva autonomia do aluno na busca de conhecimentos; (...) valorizar a avaliação diagnóstica e compreensiva da atividade mais do que a avaliação como controle; conhecer o universo cultural e de conhecimentos dos alunos e desenvolver, com base nele, processos de ensino e aprendizagem interativos e participativos (p. 164 – 165)
Para Freire (2011), a problemática da transmissão unilateral do
conhecimento, torna o aluno passivo frente às “respostas prontas” imbuídas no
discurso do professor e limitam sua criatividade e sua capacidade crítica.
Frente a este problema, o autor defende por parte de alunos e professores uma
postura mais “dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada” 24. Esta
também é uma questão a ser analisada do ponto de vista universitário. Neste
caso, além da interação aluno e professor, defendida por Freire, muitos
pesquisadores defendem um novo formato para o currículo universitário.
Gesser e Ranghetti (2011) relacionam uma série de princípios
norteadores para a elaboração de um novo currículo. As autoras ressaltam que
estes não devem ser declarados como modelos únicos a serem executados,
mas sim elementos a serem considerados no momento de planejar e executar
um currículo para a universidade. Estes princípios são:
1. Pesquisa, 24 Pedagogia da Autonomia, 2011, p. 83.
82
2. Pergunta (ambos estão diretamente ligados, pois toda pesquisa
começa com a elaboração de uma pergunta),
3. Teoria da interdisciplinaridade, flexibilização curricular, participação
colegiada (considerando que todos os elementos envolvidos no
ensino devem participar no processo de elaboração e atualização do
currículo),
4. Reconhecimento dos contextos da prática profissional, parceria entre
universidade e entidades profissionais,
5. Ligação entre teoria e prática e,
6. Distribuição do tempo e espaço, este último sendo diretamente ligado
às divisões temporais e espaciais entre prática e teoria.
Dentre os princípios debatidos por Gesser e Ranghetti (2011), aquele
que mais foi abordado dentre os autores pesquisados, inclusive pensadores da
educação em turismo, foi a flexibilização curricular. Ansarah (2002) e Barretto
(2004) defendem a flexibilização curricular, onde a universidade poderia
oferecer ao aluno a oportunidade de aprofundar-se na área do turismo que
mais lhe interessa, tornando a experiência acadêmica mais proveitosa.
Reiterando as reflexões de Ansarah (2002) sobre a dinâmica do conhecimento
na área do turismo, a autora justifica a necessidade de flexibilização pelas
constantes evoluções sobre o conhecimento do turismo. Neste caso, a autora
não só defende que o aluno possa escolher quais disciplinas gostaria de
cursar, mas também as próprias disciplinas deveriam se tornar passíveis de
constantes reestruturações a fim de acompanhar a própria evolução da
sociedade. Esta ideia também é defendida por Oliveira Neto (2005) para a qual
a universidade deve estar
Municiada, através de mecanismos eficientes, de forma a não defasar o conhecimento e as habilidades que emana. Assim, o “aprender a aprender” necessita pautar a educação superior atual, com a finalidade de formar adequadamente a nova força de trabalho, à luz do momento tecnológico (p. 69).
Para Barretto et al. (2004), a justificativa para a flexibilização do currículo
pauta-se na questão da grande diversidade de perfis cujo futuro profissional do
Turismo pode adotar, contabilizando cerca de 90 funções diferentes
encontradas no mercado de trabalho. De acordo com os autores, se
83
somássemos todas as carreiras que o profissional de turismo deveria cursar,
segundo o perfil desejado pelo Ministério da Educação (MEC), o estudante
permaneceria na universidade por 15 anos. Como consequência, os cursos
superiores em turismo se tornam generalistas e superficiais, formando
profissionais que não preenchem os requisitos “nem para pensar o turismo nem
para prestar serviços de qualidade” (p. 75). Para solucionar este problema os
autores apontam a flexibilização da grade curricular, dando ao aluno a opção
de escolher aprofundar-se em determinada área. Contudo, esta flexibilização
não terá êxito se o curso não for pautado em um projeto político-pedagógico
contendo a definição do seu perfil, sua contextualização na área em que se
encontra e o embasamento teórico mínimo que todo o futuro profissional em
turismo deve cursar.
O curso superior em turismo, em especial, apresenta algumas
peculiaridades que dificultam sua padronização e controle de qualidade. Trigo
(1999) cita um texto de Westlake (1994) ao listar as principais características
desta área que podem comprometer a qualidade do ensino. Dentre elas dois
pontos merecem destaque por influenciarem diretamente no planejamento
curricular:
• A educação em turismo é multidisciplinar e contém elementos atrativos para outras disciplinas como geografia, história e ciências comportamentais.(...) • A educação em turismo é também afetada pelo extenso conteúdo da natureza da indústria turística. Ela é fragmentada e atravessa vários setores que envolvem um grande leque de operações. Consequentemente, é difícil estudar todos os níveis e as nuanças de um campo razoavelmente indefinido (Westlake e outros 1994, pp 57 – 60 apud Trigo, 1999, p. 165).
Ao analisar a evolução curricular do curso superior em turismo foi
possível observar a diversidade das disciplinas consideradas básicas ao longo
da sua história, bem como as mudanças no foco dentro de cada proposta.
Matias (2002) aponta da Resolução s/n de 28 de Janeiro de 1971 publicada
pelo Conselho Federal de Educação (CFE) como o primeiro currículo mínimo
estabelecido no país. O primeiro curso de Turismo no Brasil foi criado em 1971,
mas foi apenas na década de 1980 que as categorias representantes dos
bacharéis em turismo, a Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo
(ABBTUR) e a Associação Brasileira de Dirigentes de Escolas de Turismo e
84
Hotelaria (ABDETH), iniciaram seus debates sobre as disciplinas básicas do
curso (MATIAS, 2002 e Trigo, 1999). Durante os encontros promovidos
anualmente eram estabelecidas “extensas discussões sobre o currículo do
curso, o caráter científico do turismo e a forma como se deveria proceder para
ensiná-lo e regulamentar a profissão no nível nacional” (Trigo, 1999, p. 157).
Durante a realização do III Encontro Nacional de Bacharéis em Turismo
(ENBETUR), em 1981, foi criada uma Comissão de Currículos e Programas
cuja proposta de currículo mínimo foi encaminhada ao CFE. Nesta proposta
constavam, além das disciplinas obrigatórias, as possibilidades de habilitações
que poderiam orientar na formulação das disciplinas complementares.
Ao receber a proposta, o CFE solicitou um parecer ao Instituto Brasileiro
de Turismo (EMBRATUR), na época denominada Empresa Brasileira de
Turismo. Em resposta, esta entidade reformulou o currículo mínimo priorizando
a formação técnica e profissional, em detrimento de uma formação mais
conceitual e teórica. A partir das habilitações, foram estabelecidas, pela
primeira vez, as disciplinas que poderiam ser optativas. Sobre as habilitações
estabelecidas pela EMBRATUR (Agenciamento e Transporte, Hotelaria e
Planejamento), Matias (2002) afirma:
Para qualquer das opções, enfatiza-se a importância de capacitar o aluno para atuar tanto na área de produção, como na de Administração e Planejamento dos Serviços Turísticos. Esta previsão facilita a absorção e o encarreiramento do egresso no mercado de trabalho. (p. 16)
No ENBETUR realizado em 1995 foi mais uma vez elaborado um
currículo mínimo para o curso de turismo. Esta proposta apresenta um foco
mais humanizado do que a anterior, retomando, inclusive disciplinas
estabelecidas na resolução de 1971, como Sociologia e História. No mesmo
ano, a ABBTUR e a ABDETH passaram a promover em conjunto diversas
discussões para reestruturar a proposta de um novo currículo (Ibid, 2002). Em
resultado, 1996, após o Seminário Nacional de Reformulação Curricular dos
Cursos de Turismo e Hotelaria foi estabelecido um novo currículo que, em
1998, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Esta proposta
apresentou diversos aspectos inovadores, dentre elas:
85
1. Foi estabelecida uma divisão do tempo na estrutura curricular para a
formação básica (25%), formação profissional (45%), formação
complementar (20%) e estágio (10%);
2. A formação básica, assim com a proposta elaborada no ENBETUR
de 1995 foi constituída por disciplinas mais humanas;
3. Pela primeira vez, nas matérias de formação foi estabelecida a
informática entre as disciplinas obrigatórias.
É interessante observar que, apesar da tecnologia estar presente no
turismo desde a década de 1970, como já foi discutido no Capítulo 2, foi
apenas nas propostas curriculares apresentadas a partir da década de 1990
que o referido tema foi estabelecido entre as disciplinas básicas a serem
cursadas.
A década de 1990 foi marcada por mudanças não só no ensino do
Turismo, mas também em todo o sistema educacional. Em 1996 foi
promulgada a nova LDB. Mesmo antes da LDB, em 1995, a Lei nº 9131 alterou
a redação da antiga LDB25 no que se refere às competências do CNE e
conferiu à Camara de Educação Superior a responsabilidade “deliberar sobre
as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação e do Desporto,
para os cursos de graduação”. A partir de 1998, foram criadas diversas
Comissões de Especialistas de Ensino Superior com o objetivo de receber as
propostas de diretrizes curriculares enviadas pelas IES, analisá-las em
conjunto e emitir um parecer final apresentando um modelo de diretrizes
curriculares para o curso (Fornari, 2006).
O curso Superior em Turismo foi inicialmente analisado pela Comissão
de Especialistas de Ensino de Administração (CEEAD). Em sua composição
original não havia nenhum especialista na área de Turismo. Apesar das
solicitações feitas pela ABBTUR de formar uma comissão exclusiva para o
curso de Turismo ou um subcomitê assessor, desvinculada da CEEAD, a
Secretaria de Educação Superior (SeSu) apenas aprovou a nomeação de um
representante da área dentro do CEEAD (Ansarah, 2002). Em 1999, esta
Comissão chegou a elaborar um Manual de Orientação para Verificação “In
25 Os artigos 6º, 7º, 8º e 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961.
86
Loco” das Condições de Autorização dos cursos de Turismo. Contudo, devido
às peculiaridades deste curso, em 2000, através da Portaria nº 1.518, foi
criada uma Comissão apenas para o Turismo que revisou os documentos já
elaborados pela Comissão do ensino de Administração (Ansarah, 2002 e
Fornari, 2006).
A partir de então, desde o final da década de 1990, o CNE/CES passam
a publicar diverso pareceres a fim de orientar a elaboração das Diretrizes
Curriculares. Dentre eles, o parecer 146/2002, que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Direito, Ciências
Econômicas, Administração, Ciências Contábeis, Turismo, Hotelaria,
Secretariado Executivo, Música, Dança, Teatro e Design, e o Parecer 288/2003
que estabelece as Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Turismo.
Foi então que, em 24 de Novembro de 2006, a Resolução nº 13 foi promulgada
determinando as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Turismo. Vale ressaltar que, apesar das diversas discussões promovidas pelas
entidades representativas do Turismo sobre a estrutura curricular do curso, o
currículo mínimo legalmente vigente até este momento era o Parecer nº35/71.
Dentre os referenciais apresentados pelos pareceres, em especial o
parecer 67/2003 ressalta o marco histórico consolidado a partir da nova LDB,
publicada em 1996, cuja concepção curricular baseia-se não mais no Currículo
Mínimo, mas sim em Diretrizes Curriculares. De acordo com o Parecer
67/2003, o Currículo Mínimo tinha como objetivo promover a padronização
nacional dos cursos de graduação, apresentando o mesmo grau de qualidade
para todos e curso e um profissional preparado para o mercado de trabalho.
Contudo, esse padrão já não atendia às necessidades de uma sociedade
dinâmica, pois engessava o currículo do ensino superior que por sua vez tinha
grandes dificuldades em acompanhar a evolução do mercado de trabalho.
Segundo o referido parecer,
Assim, rigidamente concebidos na norma, os currículos mínimos profissionalizantes não mais permitiam o alcance da qualidade desejada segundo a sua contextualização no espaço e tempo. Ao contrário, inibiam a inovação e a diversificação na preparação ou formação do profissional apto para a adaptabilidade (p. 2).
87
A fim de oferecer mais liberdade às IES ao elaborarem seus currículos e
reestruturá-los de acordo com a demanda sempre quando necessário, as
legislações mais atuais optaram por estabelecer as Diretrizes Curriculares que
“objetivam servir de referência para as instituições na organização de seus
programas de formação, permitindo flexibilidade e priorização de áreas de
conhecimento na construção dos currículos plenos” (Parecer nº 67/2003, p.
04). Dessa forma, a Resolução nº13/2006 segue as características do novo
perfil de orientação curricular. Em destaque segue os principais tópicos
abordados que expressam uma orientação básica para a organização do
currículo:
• Determina que a organização do curso deva ser realizada através de
um projeto político-pedagógico;
• Lista as habilidades e competências que o curso em Turismo deve
propiciar ao aluno;
• Classifica os conteúdos em básicos, específicos e teórico-práticos;
• Inclui no projeto político pedagógico a criação de atividades
complementares26.
A partir dos documentos legais supracitados, é possível concluir que
para a legislação vigente o importante é apresentar os objetivos finais que o
curso deve alcançar, mas não há maiores detalhes sobre os meios de como
chegar a estes, deixando à IES a responsabilidade de direcionar sua grade
curricular de acordo com as demandas da sua região. No que se refere ao
ensino da tecnologia, a Resolução 13/2006 dispõe apenas que a “habilidade no
manejo com a informática e com outros recursos tecnológicos” deve estar entre
as competências e habilidades a serem alcançadas no curso superior em
turismo. Ou seja, a legislação atual considera a importância do ensino de
26 Art. 8º As Atividades Complementares são componentes curriculares que possibilitam o reconhecimento, por avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, inclusive adquiridas fora do ambiente acadêmico, abrangendo a prática de estudos e atividades independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações com o mundo do trabalho, com as peculiaridades das diversas áreas ocupacionais que integram os segmentos do mercado do turismo, bem assim com as ações culturais de extensão junto à comunidade.
88
tecnologia no turismo, contudo não especifica como o tema deve ser abordado,
ou até que ponto a disciplina ou matéria deve se aprofundar nas ferramentas
tecnológicas que envolvem o turismo, que variam muito de acordo com o perfil
profissional.
Antes de finalizar este capítulo serão analisadas as ferramentas
curriculares apresentadas pelos cursos de turismo oferecidos pelas IES
públicas do Rio de Janeiro. A grande maioria foi realizada antes da resolução
publicada em 2006 e por isso, podem estar defasadas e em processo de
reestruturação neste momento. Tudo isso demonstra que estamos vivendo um
momento de transição no ensino superior em turismo. Contudo, antes de
apresentar os currículos dos cursos de Turismo, será exposta no próximo
tópico uma breve análise sobre a evolução do curso superior em turismo no
Brasil a fim de contextualizá-lo na atualidade. Ao observar o histórico deste
curso no Brasil, constatamos que existem diversas peculiaridades que se
entrelaçam com a própria história política e econômica do país. Por isso, é
importante estuda-lo dentro da própria história do Brasil e da evolução da
educação no país.
4.3 – A evolução do curso superior em Turismo no Brasil
A origem do curso superior em turismo no Brasil, diferente de cursos
tradicionais como direito, história e medicina, por exemplo, começou há apenas
40 anos, no início da década de 1970, primeiramente entre as universidades
particulares. Sobre as peculiaridades deste curso, Matias ressalta que no
Brasil, o surgimento dos primeiros cursos foi diferente de países como Estados
Unidos e Europa, onde o Turismo evoluiu de outros cursos já consolidados em
universidades tradicionais. Aqui estes foram criados por “unidades
universitárias autônomas ou ligadas aos igualmente novos cursos de
comunicações e artes” (MATIAS, 2002, p. 04). Ansarah (2002) divide a
evolução do curso em Turismo em quatro fases:
a) A primeira, na década de 1970, é marcada pela criação dos cursos, primeiro o de turismo (1971, na Faculdade Anhembi Morumbi, hoje Universidade Anhembi Morumbi, sediada no Estado de São Paulo), e posteriormente os de
89
hotelaria (1978 inicialmente com os cursos tecnológicos iniciados pela Universidade do Sul – RS); b) A segunda fase, na década de 1980, foi marcada pela estagnação de oferta de cursos, decorrente de problemas econômicos no país; c) A terceira fase, na década de 1990, caracteriza-se pela valorização dos cursos no âmbito acadêmico, com aumento do número de cursos nas áreas de turismo, hotelaria (...); d) A quarta fase é a atualidade e que deverá estabelecer o equilíbrio “quantidade versus qualidade” (p. 73)
Os primeiros cursos surgem durante o auge do “milagre brasileiro”
período de forte crescimento econômico e grandes investimentos em
infraestrutura e em empresas estatais. Foi marcado também pela “ascensão da
classe média, reforma universitária e investimentos na área de turismo no
sentido de atrair moeda forte estrangeira” (Silveira et al, 2012, p. 13). O período
também foi marcado por importantes conquistas nas políticas ligadas ao
Turismo, pois nesta época foi estabelecida a primeira Política Nacional de
Turismo (1966) e foi criada a EMBRATUR (1967) (Barretto et al, 2004). Matias
(2002) apresenta em tabela os primeiros cursos criados no país. Em apenas
um ano (1973) foram 7 cursos distribuídos entra as cidades de Brasília (2), Rio
de Janeiro (1), São Paulo (3) e Porto Alegre (1). Paralelo aos cursos
superiores, foram criados os cursos técnicos em turismo quando, em
decorrência da lei 5692/71, foi instituída a obrigatoriedade de um currículo
profissionalizante paralelo ao 2º grau. De acordo esta lei, parte do currículo
profissionalizante poderia ser aproveitada nos 3º grau. Isso, segundo Silveira et
al (2012) trouxe uma tendência dos cursos superiores em Turismo “se
comportarem como somatórios de treinamento técnicos, alinhados ao
tecnicismo vigente no processo do ‘milagre econômico’ brasileiro” (p. 13).
A segunda fase do curso relatada por Ansarah (2002), assim como a
primeira, é fortemente influenciada pela situação econômica em que o país se
encontrava. A partir de meados de 1970, o Brasil começa a sentir a recessão
mundial decorrente da crise do petróleo o que produz uma de “suas crises
cíclicas, provocando o desemprego, queda do poder aquisitivo das classes
médias e baixas e aumento das mensalidades escolares” (MATIAS, 2002, p. 5).
Já a década de 1990, principalmente, a partir da segunda metade desta
década, com a estabilidade da moeda e a abertura do mercado brasileiro, o
90
turismo volta a ser valorizado como opção para desenvolvimento e geração de
empregos (Ibid, 2002). Esta fase caracteriza-se pela explosão de cursos
superiores em Turismo devido não só as condições políticas e econômicas,
mas também as novas regras estabelecidas pela LDB promulgada em 1996.
Esta lei estabelece as formas de registro de cursos em instituições particulares
e estende ao ensino superior cursos sequenciais e de extensão, cursos livres
que exigem inicialmente apenas a finalização do ensino médio ou equivalente,
diferentemente da graduação e pós-graduação, em que os candidatos devem
passar por um processo seletivo27. Outro ponto destacado por Silveira et al
(2012) para justificar o grande aumento dos cursos de turismo foi o interesse
de IES privadas por cursos que demandam pouca estrutura física de
laboratórios e , por isso, tem um custo de manutenção mais baixo do que
cursos mais complexos como engenharia ou química, por exemplo.
Ansarah (2002) apresenta um histórico de pesquisas realizadas no
decorrer da década de 1990 pela própria autora em parceria com Mírian
Rejowski sobre o número de cursos de turismo no país, de acordo com a tabela
abaixo:
Tabela 9 - Número de cursos ligados à área do Turismo
1994 1996 1998 2000
41 51 73 298 Fonte: Ansarah e Rejowski, 1994 e 1996; Rejowski, 1998 e 2000 apud Ansarah, 2002
A autora ressalta que a primeira pesquisa não representava a realidade
brasileira, pois ainda havia muitos cursos que naquele momento aguardavam o
reconhecimento do MEC e também não se encontravam nos dados de órgãos
ligados ao turismo ou a educação como a ABBTUR ou a Secretaria de Ensino
Superior do Ministério da Educação. Ainda que estes números sejam apenas
próximos da realidade, é possível observar a explosão de cursos nesta área já
no final da década de 1990.
A última fase citada por Ansarah (2002) é a estabilidade e consolidação
do curso de turismo. Sobre as consequências da explosão de cursos, Silveira
et al (2012) cita Panosso Netto (2009) ao afirmar que o crescimento do número
27 Artigo 44º, incisos I, II e IV. Redigido pela Lei nº 11.632, de 27 de Dezembro de 2007.
91
de cursos no Brasil não foi acompanhado da evolução da qualidade dos
mesmos. Por isso, nesta nova fase muitos destes passam por momentos de
crise, principalmente nas IES privadas. Por outro lado, o governo federal passa
a influenciar fortemente na visão sobre o turismo no ensino superior ao
estabelecer o primeiro plano de ação voltado para a área - o Plano Nacional de
Municipalização do Turismo (OMT, 1999 apud SILVEIRA et al, 2012).
Posteriormente, o Plano Nacional de Regionalização do Turismo (2003 – 2007)
veio consolidar a parceria entre governo e instituições de ensino.
Na cidade do Rio de Janeiro, em especial, a evolução dos cursos seguiu
as tendências descritas neste subcapítulo. O primeiro curso de turismo foi
oferecido pela Faculdade de Turismo Guanabara, em 1973, seguido da
Faculdade da Cidade , em 1974, Faculdade Hélio Alonso, em 1977 e
Associação Educacional Veiga de Almeida, em 1980 (ANSARAH, 2002).
Apenas 30 anos após o primeiro curso oferecido por uma instituição
particular, surgem em 2003 os primeiros cursos de graduação em turismo
oferecidos por universidades públicas - Universidade Federal Fluminense
(UFF) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Em
2006 a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) inaugura
Instituto Multidisciplinar em Nova Iguaçu e entre os cursos neste novo campus,
está a graduação em Turismo. Posteriormente, no vestibular de 2009, o Centro
de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ) 28, em parceria
com a UFRRJ inicia a oferta de vagas para o primeiro curso superior a
distância de Licenciatura em Turismo voltado para a formação de professores
que tenham como objetivo lecionar em cursos de nível técnico. É possível
inferir, a partir dos fatos relatados na década de 2010, que o ensino superior
em Turismo foi finalmente considerado pelas IES públicas como uma área do
conhecimento relevante necessitando de profissionais e pesquisadores com
formação superior.
28 CEDERJ é um consórcio é um consórcio formado por seis universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da Fundação Cecierj, com o objetivo de oferecer cursos de graduação a distância, na modalidade semipresencial para todo o Estado (http://www.cederj.edu.br/fundacao).
92
4.4 – Análise sobre a abordagem da tecnologia nas IES
públicas do Rio de Janeiro
Inicialmente é descrita a forma como foram adquiridos os documentos
usados como ferramenta de planejamento curricular nos curso de turismo de
três universidades públicas localizadas no estado do Rio de Janeiro: UFF,
UFRRJ e UNIRIO. Os documentos pesquisados deveriam apresentar
elementos que permitissem analisar como o curso trabalharia com a questão
da tecnologia durante o desenvolvimento dos estudos.
A Resolução nº13/2006 é a ferramenta legal mais recente e por isso a
melhor base para analisarmos os documentos encontrados para o
planejamento curricular dos cursos a serem estudados. Segundo parágrafo
único da resolução n° 13/2006:
Os planos de ensino, a serem fornecidos aos alunos antes do início do período letivo, deverão conter, além dos conteúdos e das atividades, a metodologia do processo de ensino-aprendizagem, os critérios de avaliação a que serão submetidos e a bibliografia básica.
Os pontos assinalados na citação citada acima podem ser encontrados
nas ementas dos cursos, onde cada disciplina é detalhada através de objetivos
específicos, temas abordados, metodologia de avaliação e ensino e
bibliografia. Outro documento importante é o projeto pedagógico que
demonstra de forma mais abrangente quais são os objetivos gerais do curso,
bem como sua missão, visão e identificação do contexto social em que se
encontra. A grade curricular ou fluxograma é outra fonte que pode nos oferecer
uma visão geral das disciplinas oferecidas pelo curso.
Para que o futuro universitário faça suas escolhas quanto ao curso que
deseja, a melhor medida a ser adotada pela universidade, seja ela pública ou
particular, seria a disposição de informações sobre seus cursos ao grande
público. Levando em consideração essa premissa, a presente pesquisa foi
realizada principalmente nos sites dos cursos de turismo das universidades
citadas anteriormente. Outra forma de adquirir os documentos a serem
analisados foi através do contato direto com as coordenações dos cursos.
93
Abaixo segue uma descrição sobre o curso de turismo de cada universidade e
como o tema “tecnologia” é abordado em cada caso.
4.4.1 - Universidade Federal Fluminense
No site do curso de turismo foram encontradas as ementas das
disciplinas obrigatórias e das opcionais, além da matriz curricular e fluxograma.
Não foi encontrado nenhum projeto pedagógico no seu site, contudo no próprio
corpo do site encontra-se uma breve apresentação contendo o histórico do
curso, missão, objetivo, titulação e duração e turno.
Na sua missão, o foco principal é a qualificação profissional e sua
estrutura curricular tem como eixo central a gestão pública e privada do
turismo. Este texto encontra-se direto no site e observa-se estar atualizado de
acordo com as novas diretrizes curriculares para o curso superior em turismo.
A matriz curricular ilustra as disciplinas obrigatórias agrupadas em nove
eixos: (1) Fundamentos Socioculturais, Filosóficos e Espaciais; (2) Geografia;
(3) Fundamentos Gerenciais e Análise Quantitativa; (4) Teoria Geral do
Turismo; (5) Processos Técnicos e Operacionais do Turismo; (6) Língua
Estrangeira, (7) Processos de Gestão Empresarial do Turismo; (8) Processos
de Gestão Pública do Turismo e (9) Conteúdos Teóricos. Ao analisar as
disciplinas agrupadas dentro destes temas, o termo “tecnologia” é abordado
apenas em Sistemas de Informação no Turismo que se encontra do grupo de
“Fundamentos Gerenciais e Análise Quantitativa”. Sua ementa se volta
principalmente para a utilização da tecnologia como ferramenta de gestão da
informação a nível estratégico. É possível inferir que dentro deste tema não há
espaço para o ensino técnico, mas sim para uma análise mais abrangente
sobre a aplicabilidade das ferramentas tecnológicas para a gestão,
planejamento e controle da informação – elemento de extrema importância
para o turismo.
Ainda que o termo “tecnologia” tenha sido abordado apenas na disciplina
Sistemas de Informação no Turismo, não é possível afirmar que este assunto
não seja abordado em outras disciplinas visto sua grande abrangência sobre
94
todas as áreas de atuação do profissional do turismo. Mesmo ao tratar de
áreas como eventos, transporte ou hotelaria, o docente não pode se abster de
abordar a tecnologia quando ensina tais disciplinas.
Dentre as disciplinas optativas, foram encontrados os mais diversos
temas e muitos destes têm, de alguma forma, a tecnologia como tema principal
ou como “pano de fundo”. Durante a leitura do documento “Disciplinas
Optativas” foram encontradas quatro com esta característica. Na disciplina
Técnicas Publicitárias e Turismo, a escolha das mídias, bem como as
tecnologias que envolvem a produção gráficas, estão dentre os tópicos
abordados. Esta é uma forma de aplicabilidade da tecnologia amplamente
utilizada no Turismo cujo produto ofertado se caracteriza como intangível e por
isso utiliza principalmente a demonstração de imagens e sensações no
processo de marketing e publicidade.
Outras duas disciplinas optativas tem a ferramenta tecnológica mais
discutida na atualidade, a internet, como foco principal: ‘Estratégia de Negócios
Turísticos na Internet’ e ‘Tecnologia da Informação, Internet e Negócios’. A
primeira apresenta um nível mais estratégico e profissional analisando
processos de planejamento, concepção e implantação de ferramentas
tecnológicas. Já a segunda disciplina apresenta um nível mais abrangente e
teórico focando no tema Tecnologia da Informação (Conceituação geral,
origens e relação com o turismo), advento da internet e e-business.
Finalmente, a quarta disciplina optativa é denominada ‘Inteligência de
Negócios’ cujo título aparentemente não nos remete diretamente ao tema aqui
discutido. Contudo, assim como ‘Técnicas Publicitárias e Turismo’, esta
disciplina apresenta a tecnologia sob um ponto de vista diferente e
especificamente aplicado ao turismo: o desenvolvimento e utilização de
sistemas que auxiliam na gestão espacial do turismo. Nesta ementa vemos o
termo SIG (Sistema de Informação Geográfica) citado em diversos trechos.
Esta ferramenta trabalha com o elemento alfanumérico (dados estatísticos,
indicadores, perfis) e o elemento geométrico, podendo ser empregado no
mapeamento de estratégias de negócios e marketing. O turismo por sua
característica espacial (o produto “vendido” é sempre um lugar, uma região ou
95
uma estrutura espacial de grande porte como resort ou parques temáticos)
pode se beneficiar desta ferramenta já tão utilizada por outros ramos como o
setor de transportes e estudo ambientais.
Tais disciplinas (obrigatórias e optativas) foram elaboradas no decorrer
do processo de desenvolvimento do curso de Turismo da UFF, criado em 2003,
que passou a moldurar-se a partir da nova legislação vigente desde 2006.
Através da análise descrita neste tópico é possível concluir que atualmente o
curso de turismo oferecido pela UFF não apresenta dentre as disciplinas
obrigatórias grande desenvolvimento do tema tecnologia. Contudo, o curso
oferece ao aluno a possibilidade de aprofundar-se no tema sob focos
diferentes, garantindo assim maior qualidade no ensino da tecnologia e se
tornando mais próxima possível da realidade e das características próprias
desta área. Isso demonstra que o conhecimento em tecnologia não é um
objetivo em si, mas é visto como um mecanismo que deve ser empregado da
melhor forma possível possibilitando o desenvolvimento profissional do
bacharel em turismo.
4.4.2 – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Assim como o curso de turismo oferecido pela UFF, a UNIRIO abriu
suas primeiras vagas em 2003. Dentre os cursos pesquisados este se
apresenta como o de maior cunho humanístico. No site do curso foi encontrada
apenas a lista das disciplinas. Além disso, no próprio corpo do site podem ser
encontrados os objetivos gerais e específicos. Como tais informações não
seriam suficientes para identificar como o curso aborda a questão da tecnologia
no turismo dentre as suas disciplinas, foi solicitado diretamente à coordenação
do curso outros documentos que pudessem orientar o futuro aluno sobre o
perfil do curso. Como resposta, a coordenação apresentou o projeto
pedagógico publicado em 2006 e o fluxograma do curso que subdivide as
disciplinas por departamentos.
O documento principal a ser analisado será o projeto pedagógico datado
de 2006. Este documento apresenta diversas alterações no planejamento
96
curricular do curso levando em consideração o Parecer nº CNE/CES
0288/2003, incluindo mais disciplinas de gestão e tornando optativas algumas
disciplinas ligadas ao patrimônio. Nele também constam diversos tópicos que
definem bem o perfil do curso, como objetivos gerais e específicos,
competências e habilidades a serem desenvolvidas, contextualização do
turismo, nova estrutura curricular, dentre outros e finalmente as ementas das
disciplinas obrigatórias.
O objetivo geral do curso oferecido pela UNIRIO é pensar o turismo em
relação ao patrimônio natural e cultural, além de influenciar na formulação das
políticas da área, dentre outros aspectos. Tem como eixo principal um conjunto
de disciplinas voltadas para o estudo do fenômeno do turismo, para o
planejamento e implementação de políticas e diretrizes no campo do turismo.
Dentre seus objetivos específicos e no item Competências e Habilidades o
termo “conscientizar” é muito mais citado do que “capacitar”. Dentre as
habilidades a serem adquiridas pelos alunos estão: a reflexão e valorização
sobre o patrimônio cultural e natural, o desempenho do trabalho com ética e
honestidade, o desenvolvimento de estudos e pesquisas. A partir desta análise
é possível constatar que a gestão de empresas privadas e a importância do
desenvolvimento tecnológico para as diversas áreas do turismo não fazem
parte dos objetivos gerais propostos pelo curso.
A grade curricular se subdivide em sete eixos: (1) Teoria Geral do
Turismo e Planejamento; (2) Turismo e Cultura; (3) Turismo e Meio Ambiente;
(4) Gestão em Turismo; (5) Estudos Gerais; (6) Pesquisa e (7) Prática em
Turismo. Assim como os objetivos, a grade curricular expressa a foco
humanístico ao organizar um eixo específico para a cultura e outro para o meio
ambiente, tendo a gestão, diferente do curso e turismo oferecido pela UFF um
único eixo onde engloba tanto o público quanto o privado e além do
planejamento estratégico.
Dentre as disciplinas obrigatórias não foi encontrada nenhuma indicação
de que a tecnologia, dentro do enfoque da área estudada, poderia ser um dos
temas abordados. Importante salientar que as ementas do documento
estudado se apresentam muito resumidas informando apenas uma breve
97
listagem sobre os assuntos a serem abordados, não detalhando objetivos
gerais e específicos, ou bibliografa de cada disciplina. O tema “tecnologia” foi
encontrado apenas em uma disciplina optativa: ‘Introdução à Ciência da
Computação’. Contudo, não há ementa para analisarmos melhor como seria
desenvolvido seu conteúdo. Conclui-se que, ainda que os documentos se
apresentam de forma incompleta, a organização curricular do curso não
oferece ao aluno a possibilidade de adquirir pelo menos um conhecimento
básico sobre as teorias que envolvem as tecnologias bem como as ferramentas
tecnológicas utilizadas no cotidiano do profissional do turismo nas mais
diversas áreas.
4.4.3 – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
O curso de turismo foi criado pela UFRRJ em 2006 em conjunto com
outros cursos, no momento em que a universidade abre um novo campus em
Nova Iguaçu denominado Instituto Multidisciplinar e em 2007 foi seu primeiro
vestibular. Isso permitiu que, diferente das universidades descritas
anteriormente, este fosse moldado a partir das novas diretrizes curriculares
desde a sua criação, pois o projeto político pedagógico foi embasado em
diversos documentos legais. Dentre eles, o Parecer nº. CNE/CES 0288/2003,
que trata das Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em turismo,
aprovado posteriormente como Resolução em 2006. Posteriormente, em 2010,
foi aprovado novo projeto político pedagógico baseado exclusivamente na
Resolução 13/2006. Todos os documentos citados no decorrer deste tópico
(Projeto Político Pedagógico publicado em 2006 e 2010 e grade curricular)
encontram-se disponíveis no site do curso.
O projeto Político Pedagógico publicado em 2010 é ainda mais completo
que o Projeto Pedagógico apresentado pelo curso de turismo da UNIRIO, pois
descreve desde a origem do curso de turismo na UFRRJ, passando por uma
pesquisa do perfil dos alunos egressos desde 2006, planejamento da estrutura
física e metas de bolsas de estudos e projetos de extensão, até o planejamento
curricular completo, compreendendo os eixos da formação e a divisão de
acordo com a resolução 13/2006 (conhecimento básicos, conhecimentos
98
específicos e conhecimentos teórico-práticos), metodologia de ensino, grade
curricular e finalmente as ementas de cada disciplina com objetivos, assuntos e
referencia bibliográfica.
Segundo o documento supracitado, o objetivo geral do curso encontra-
se na formação técnica aliada a capacitação de um profissional capaz de atuar
de forma crítica e criativa no seu setor e considerando as questões ambientais
e socioeconômicas do local em que exerce sua profissão. Além da formação
profissional o curso tem como foco a dimensão científica ligada às pesquisas
tanto no âmbito público quanto privado.
Sua grade curricular divide-se em três eixos de formação: (1) Turismo e
Sociedade, constituída na maioria de disciplinas de conhecimento básico, (2)
Planejamento e Desenvolvimento Sustentável e (3) Gestão de Empresas
Turísticas, ambas compostas por disciplinas de formação específica.
Ao realizar uma pesquisa sobre a questão das tecnologias dentro das
ementas de cada disciplina foi possível detectar este tema em três disciplinas
obrigatórias e apenas uma disciplina optativa. Dentro do eixo Desenvolvimento
Sustentável foram encontradas duas disciplinas: ‘Cartografia e
Geoprocessamento’, onde são abordados temas como o SIG, já detalhado
anteriormente, geotecnologias, Global Position System (GPS) e sensoriamento
remoto, e ‘Transporte e Desenvolvimento’ onde o objetivo geral é analisar a
importância do desenvolvimento da tecnologia para a evolução dos transportes.
Tais disciplinas estão mais próximas do nível de planejamento estratégico com
foco na organização espacial da atividade turística.
A terceira disciplina obrigatória é ‘Agenciamento e Operacionalização de
Roteiros I’, ligada ao eixo Gestão de Empresas, que tem como propósito o
desenvolvimento de “praticas e rotinas administrativas relacionadas aos
empreendimentos turísticos” (p. 30). Esta disciplina tem a Tecnologia da
Informação e o GDS dentre os principais assuntos a serem debatidos. Esses
temas demonstram que a disciplina tem como fundamento o ensino de
tecnologias a nível operacional, pois conforme detalhado no capítulo sobre as
tecnologias encontradas no setor do turismo, Tecnologia da Informação (TI) e
GDS são ferramentas utilizadas na administração operacional e venda do
99
produto turístico principal emente nos setores de transporte aéreo,
agenciamento e hospedagem.
O documento analisado apresenta uma lista de optativas e dentre elas
há três diretamente ligadas à tecnologia: Mudança Tecnológica e Trabalho,
Administração de Sistema de Informação e Ciências, Tecnologias e Profissões
Agrárias. Contudo, há apenas a ementa da disciplina Mudança Tecnológica e
Trabalho, que tem como objetivo principal “examinar as relações entre a
mudança tecnológica e as transformações no trabalho” (p. 178), apresentando
um cunho mais teórico e analítico do que prático.
As disciplinas oferecidas pelo curso de turismo da UFRRJ exprimem
muito bem o objetivo e perfil do curso que trabalha com dois eixos muito
distintos: por um lado, as ferramentas práticas do cotidiano de cargos de nível
mais operacional, por outro lado com análises mais profundas e teóricas no
que diz respeito as influências da tecnologia sobre o fenômeno do turismo e
sua espacialidade.
4.5 – Considerações finais
A IES segundo a CF deve exercer as funções de produção do
conhecimento, ensino e extensão. Como a criação do curso de Turismo em
Instituições públicas é recente – o primeiro foi criado somente em 2003 –, este
ainda se encontra em processo de consolidação. O ensino do turismo,
conforme visto no tópico 4.3 sobre a sua evolução, apresenta certas
peculiaridades que dificultam a universidade de exercer as três funções – é um
setor cuja produção do conhecimento ainda vem de fora das IES públicas,
conhecimento este ignorado pelas universidade públicas até então. Isso não
significa que não exista produção acadêmica, há diversos cursos tradicionais
de Turismo, onde se formaram grandes pensadores da área, mas essa
evolução ocorreu entre as universidades particulares que reconheceram este
setor ainda na década de 1970.
A criação dos cursos de Turismo nas IES aqui pesquisadas veio em um
momento muito importante para o setor pois, 40 anos após o estabelecimento
100
da primeira lei sobre o currículo mínimo do curso, publicado em 1971, foram
estipuladas legalmente novas regras para sua estrutura curricular. Desta vez,
no lugar da rigidez de um currículo mínimo com disciplinas pré-estabelecidas, o
que dificultaria a atualização constante do curso, foram instituídas diretrizes
mínimas, descrevendo todas as competências e habilidades que o aluno
deverá ter após a finalização do curso. Isso facilita o planejamento curricular do
curso, que tem a liberdade de elaborar suas metodologias para alcanças as
competências e habilidades pré-estabelecidas em lei. Entretanto, esta
flexibilização no estabelecimento de disciplinas pode resultar em dois
problemas: a falta de padronização dos cursos, conforme pôde ser visto entre
as universidades pesquisadas, e o risco de uma formação generalista que
pouco acrescenta à formação cientifica ou profissional do aluno.
Estes dois riscos se apresentam de maneira evidente, quando
analisados os documentos curriculares disponibilizados pelas Universidades
avaliadas. Tais documentos são essenciais não só para o planejamento de
cada disciplina, que deve seguir o foco do curso, mas também para que o
candidato entenda melhor o perfil do curso e Faça suas escolhas de modo
mais consciente. Todas as universidades apresentaram ementas das
disciplinas e grade curricular, além dos objetivos gerais e específicos do curso.
Contudo, a UFF não apresenta seu projeto político pedagógico no site e as
ementas não seguem um padrão. Enquanto algumas disciplinas apresentavam
uma descrição completa, outras tinham apenas o objetivo geral ou a lista
bibliográfica. A UNIRIO não divulga nenhum documento em seu site que possa
ajudar a entender melhor e estrutura do curso. A UFRRJ, por sua vez, foi a
única que apresentou seu projeto pedagógico no site – um documento
completo e atualizado de acordo com a última lei vigente. Ainda assim,
algumas disciplinas optativas não tinham qualquer descrição da sua ementa.
Essa falta de padronização nos documentos pesquisados também
dificultou uma análise mais profunda sobre como a tecnologia poderia ser
abordada, pois elementos essenciais para uma melhor análise do currículo
não foram encontradas, como diretrizes sobre metodologia de ensino, formas
de avaliação e objetivos do ensino.
101
Ao estudar o material obtido de cada curso foi possível concluir que,
mesmo que todos tentem seguir as competências e habilidades descritas na
Resolução 13/2006, cada um foi delineado com um perfil completamente
diferente. A UFF tem como foco principal a gestão a nível estratégico,
considerando altos cargos administrativos tanto em empresas públicas quanto
privadas, abordando a tecnologia principalmente nas disciplinas optativas. Já a
UNIRIO apresenta o eixo humano como principal objetivo, tanto que foi o curso
cuja grade curricular mais foi alterada após a Resolução 13/2006, pois não
tinha grande espaço para temas como administração e gestão. A UFRRJ, por
sua vez, oferece tanto opções de disciplinas ligadas a cargos operacionais,
considerando tecnologias como GDS e TICs entre os temas abordados, quanto
disciplinas mais teóricas onde há espaço para estudos e pesquisas mais
aprofundados sobre determinados temas.
Fica evidente que a tecnologia não é um tema de destaque na matriz
curricular dos cursos analisados. Caso o aluno queira se aprofundar em
determinadas ferramentas tecnológicas, terá que recorrer a disciplinas de
outros cursos, ou a cursos fora da universidade. O curso de graduação não
precisa formar especialistas em tecnologias, mas demonstrar de forma geral
onde estão as ferramentas tecnológicas que auxiliam tanto no mercado de
trabalho quanto nas pesquisas.
Para isso, é necessário não só que o tema fique mais claro nos
documentos elaborados pelo curso, detalhando as metodologias de ensino e
avaliação de acordo com o tema, mas também necessita de uma estrutura
física. Essa estrutura deve ser formada por laboratórios de informática
preparados com programas e sistemas a serem estudados, para que o aluno
esteja preparado para se inserir seja no mercado de trabalho, em pesquisas ou
mesmo em estudos mais avançados sobre o tema tecnologia. Pois sem uma
base mínima de conhecimento sobre o assunto será muito difícil para o aluno
se aprofundar neste tema tão abrangente e importante para todas as áreas de
conhecimento.
102
CONCLUSÃO
Os temas debatidos no presente estudo demonstraram a importância e
as dificuldades em incluir conhecimentos sobre tecnologia no processo de
ensino-aprendizagem do curso superior em Turismo. Através deste trabalho, foi
possível compreender o processo de crescimento socioeconômico do Turismo
que tem ocorrido no Brasil, bem como o aumento do número de empresas e
entidades públicas envolvidas nesta atividade. Aumento este que teve como
consequência uma crescente demanda por soluções tecnológicas para as mais
diversas finalidades.
O uso da tecnologia no Turismo pôde ser analisada sob vários aspectos.
Em relação às análises sobre a gestão de empreendimentos turísticos, o
capítulo 02 demonstrou que muitos sistemas oferecidos inicialmente a outros
setores do mercado sofreram adequações, a fim de atender à área de turismo.
O estudo apresentou também o caso de grandes empresas que criaram suas
próprias soluções tecnológicas, tornando única a arquitetura de seus sistemas,
sua rotina de trabalho e sua forma de administrar informações.
Outro campo avaliado foi o desenvolvimento tecnológico dos sistemas
de comunicação, que promoveu não apenas a integração interna das
empresas, como também a interação entre empresas das mais diversas áreas
do turismo. Ademais, o setor turístico, cuja principal ferramenta de propaganda
baseia-se nos recursos visuais, pôde se valer das diferentes formas de mídia
para aproximar-se do turista em potencial.
Embora tenha sido observada a disseminação do uso de tecnologias no
setor do Turismo, através da pesquisa junto à empresas de ofertas de
emprego, ficou evidente que, na maioria dos empregos oferecidos, não havia
exigência de conhecimento prévio de tecnologias mais específicas do setor. Ao
analisar detalhadamente cada oferta, foi possível concluir que, ao assumir o
cargo, o profissional deve passar por algum tipo de treinamento, pois, em
muitos casos, dentre as atividades descritas sobre o cargo, era mencionado o
uso de alguma tecnologia. Contudo, mas não havia exigência de experiência
ou conhecimento sobre a referida tecnologia.
103
Em decorrência da análise citada, dois fatores podem justificar a falta de
demanda por profissionais com conhecimento em ferramentas tecnológicas: 1)
Por conta da falta de qualificação dos profissionais, a empresa já prevê que
terá que qualificar o profissional para utilizar suas ferramentas tecnológicas.
Isso ocorre porque o profissional recém-formado sai da universidade com
pouco ou nenhum conhecimento sobre os tipos de tecnologias utilizadas pela
área em que irá atuar. 2) As ferramentas tecnológicas utilizadas pelas
empresas foram criadas exclusivamente para elas. Nesse caso, não haveria
como o candidato saber manusear tais sistemas. Isso pode ocorrer com
grandes instituições como companhias aéreas ou mesmo instituições
governamentais que contratam o serviço de empresas de tecnologia para
desenvolver seus softwares.
A existência de tantas formas tecnológicas para as mais diversas
finalidades é o principal obstáculo para adequar o ensino de tecnologias ao
perfil do processo de ensino-aprendizagem desenvolvido no ensino superior
em Turismo pelas universidades públicas. Vale lembrar que, conforme já
demonstrado neste trabalho, o processo de ensino no curso superior não deve
ser confundido com treinamento. Por isso, formar profissionais com domínio no
manejo destas ferramentas não está entre os principais objetivos das
universidades. No entanto, é importante que o futuro profissional adquira, ao
menos, um aprendizado introdutório sobre os tipos de tecnologias
desenvolvidos para e pelo setor do Turismo.
Por parte dos cursos de graduação de bacharel em turismo oferecidos
pelas universidades públicas do estado do Rio de Janeiro, as avaliações
realizadas sobre todos os documentos que expressam os objetivos do curso e
a orientação acadêmica das grades curriculares revelam que há uma carência
no desenvolvimento do tema, não só dentro dos assuntos abordados e
metodologia de cada disciplina, mas também na oferta de disciplinas
específicas sobre o tema.
A proposta para desenvolver o tema de acordo com o perfil do processo
de ensino oferecido pela universidade deve compreender principalmente os
fundamentos que envolvem o uso de tecnologias dentro de cada área do
104
Turismo. A partir desta concepção, é possível traçar dois conjuntos de ações
que podem ser aplicadas paralelamente. Inicialmente, cada disciplina deveria
explorar melhor a sua relação com a tecnologia apresentando ao aluno um foco
mais atual do panorama desta disciplina. Alguns exemplos são as disciplinas
de gestão hoteleira, geografia e planejamento, onde são aplicadas diferentes
soluções tecnológicas. Outra ação seria a criação de disciplinas opcionais ou
cursos de extensão para os alunos interessados em aprofundar-se em
determinadas tecnologias. Essas atividades, desenvolvidas paralelamente ao
curso de graduação, poderiam ser elaboradas em parceria com empresas de
tecnologia e outros cursos de graduação que demandam conhecimentos
semelhantes. Dois exemplos são: disciplinas opcionais de Sistemas de
Informações Geográficas (SIG), ou tecnologias ligadas à cartografia em
parceria com o curso de Geografia ou Engenharia; e disciplinas de ferramentas
tecnólogas utilizadas no planejamento estratégico em parceira com empresas
de tecnologia e com o curso de Administração ou Economia. O objetivo não é
treinar o aluno, mas sim familiarizá-lo com a tecnologia do setor e torná-lo
capaz não só de identifica-la ao inserir-se no mercado, mas também oferecer
uma base teórica para que possa desenvolver academicamente o tema.
Certamente, este trabalho não poderia contemplar todas as questões
deste tema, pois demandaria uma análise integrada e aprofundada, envolvendo
não só o meio acadêmico, mas também as instituições governamentais e
privadas, a fim de tornar a formação do aluno mais completa e qualificada. No
âmbito espacial, este estudo tornou evidente o panorama no Rio de Janeiro,
mas há potencial para ser expandido a outras regiões do Brasil trançando um
perfil mais abrangente e diferenciando as singularidades de cada região.
Finalmente, no contexto educacional, o tema demanda estudos mais
aprofundados sobre as metodologias de ensino mais adequadas às
peculiaridades da tecnologia, levando em consideração as especificidades de
cada sistema em sala de aula.
105
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