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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR UNIVERSIDADE E MERCADO: O ENSINO DE TECNOLOGIAS EMPRESARIAIS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM TURISMO POR: RAQUEL SOUZA DA SILVA Prof. Orientador Dr Vilson Sergio Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA NO

ENSINO SUPERIOR

UNIVERSIDADE E MERCADO: O ENSINO DE

TECNOLOGIAS EMPRESARIAIS NO CURSO DE

GRADUAÇÃO EM TURISMO

POR: RAQUEL SOUZA DA SILVA

Prof. Orientador Dr Vilson Sergio

Rio de Janeiro 2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA NO

ENSINO SUPERIOR

UNIVERSIDADE E MERCADO: O ENSINO DE TECNOLOGIAS

EMPRESARIAIS NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM TURISMO

POR: RAQUEL SOUZA DA SILVA

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre como requisito parcial para obtenção do título

de especialista em Docência no Ensino Superior.

Orientador: Porf. Dr. Vilson Sergio

Rio de Janeiro 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente ao meu marido, Guilherme Butter Scofano, pelos conselhos e orientações, e a minha mãe, Maria Silvana de Souza, por tudo que sou hoje e pelo que poderei ser no futuro.

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo principal analisar o ensino de tecnologias no curso de Graduação em Turismo. Para compreender o fenômeno do Turismo, foi discutida a importância socioeconômica desta atividade, bem como sua relação com as modernas tecnologias. Verifica-se, em particular, a necessidade de analisar as ferramentas tecnológicas desenvolvidas exclusivamente para este setor. Para que este estudo fosse realizado de acordo com o contexto atual do tema, foram necessárias, além da pesquisa bibliográfica, consultas a artigos recentemente publicados, sites de empresas de tecnologias, notícias e legislação pertinentes ao assunto. Também foram observadas as necessidades das empresas do setor, através do acompanhamento de dois sites que oferecem oportunidades de emprego. Constatou-se que as empresas, em geral, exigem pouco ou nenhum conhecimento em tecnologias, mesmo quando as atividades descritas nos cargos demandam conhecimentos tecnológicos. Em complemento, avaliou-se como as universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro que oferecem curso de bacharel em Turismo inserem o tema tecnologia em sua grade curricular. Este estudo foi realizado com base nos documentos disponibilizados pelas universidades, no que diz respeito ao planejamento curricular dos seus cursos de Turismo. Por fim, conclui-se que, mesmo não havendo a necessidade de formar profissionais especializados no uso das tecnologias utilizadas no mercado, é essencial que o graduando em Turismo seja familiarizado com as tecnologias que têm sido desenvolvidas na sua área de atuação.

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METODOLOGIA

O presente trabalho terá três formas diferentes de pesquisa: a pesquisa

bibliográfica a fim de analisar os conceitos pertinentes ao trabalho e embasar

teoricamente o desenvolvimento de algumas ideias; uma pesquisa quantitativa

a fim de analisar as exigências do mercado referente ao conhecimento de

tecnologias e uma pesquisa qualitativa sobre os currículos desenvolvidos nos

cursos de turismo das universidades públicas do estado do Rio de Janeiro.

Por ser um tema muito recente, durante todo o trabalho serão citados

não só os escritores que tratam sobre os temas, como também artigos

acadêmicos e notícias divulgadas pela mídia, bem como a legislação pertinente

e outras fontes governamentais. Dessa forma, será possível realizar análises

teóricas e conceituais mais contemporâneas e dinâmicas, de acordo com o

próprio perfil do tema proposto. Alguns dos temas a serem desenvolvidos que

exigem pesquisa bibliográfica são: finalidades e funções da universidade,

conceitos e análises sobre currículo, o avanço da tecnologia na atualidade,

conceitos que envolvem o mercado de turismo e as principais tecnologias

desenvolvidas para esta área, dentre outros assuntos. A pesquisa bibliográfica

será realizada a partir de fontes que envolvam os temas turismo, tecnologia e

ensino superior tanto isoladamente quanto dois ou três desses elementos de

forma conjunta.

A fase quantitativa do presente trabalho será uma pesquisa realizada

diariamente durante 90 dias no site de ofertas de emprego Catho e no setor de

vagas do site da ABAV-RIO. A empresa Catho foi escolhida após uma

pesquisa tanto em artigos sobre oportunidades de emprego encontrados nas

mídias de grande circulação quanto em mídias especializadas em

oportunidades e empregos. Além disso, foi observado o número de vagas

oferecidas por cinco sites de emprego em três dias diferentes: nos dias 20 de

setembro, 24 e 31 de outubro. Em todas as situações, o site que apresentou

maior número de vagas foi a Catho. A outra fonte desta pesquisa, a Associação

Brasileira dos Agentes de Viagens do Rio de Janeiro – ABAV-RIO, é uma das

poucas entidades que mantém, em seu site, um espaço permanente para a

oferta de empregos e, por isso, também será examinada. Nesta pesquisa, será

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contabilizado o número total de ofertas de empregos na área do turismo bem

como o perfil dessas vagas.

Vale ressaltar que o turismólogo (termo recentemente concedido ao

profissional especialista na área do turismo) tem uma grande variedade de

opções de trabalho. Segundo Trigo (2000), seu portifólio engloba: planejamento

turístico (privado e público), agências de viagens, operadoras turísticas,

hotelaria, consolidadoras, preservação artística e histórica, gastronomia,

eventos, turismo rural e ecológico em geral, centros de informação e

documentação para pesquisa turística, cruzeiros marítimos, educação para o

turismo, marketing direcionado, dentro muitos outros setores e segmentos.

Levando em consideração a afirmação acima, serão registrados, sempre

que possível o tipo de empresa que está oferecendo a vaga, lembrando que a

empresa tem a opção de aparecer como “confidencial”. Caso não seja possível

identificar o tipo de empresa pelo nome desta, o texto da oferta será analisado

por inteiro a fim de observar algum elemento que deixe claro a qual setor a

empresa pertence. Vale destacar também que serão contabilizadas apenas as

vagas que exigem formação em turismo. Dessa forma, não serão consideradas

as vagas que, apesar de serem oferecidas por empresas da área de turismo,

exigem exclusivamente outro tipo de formação e/ou experiência que não o

turismo, como, por exemplo, contabilidade, marketing ou apenas ensino

fundamental.

A pesquisa sobre a oferta de empregos será contabilizada em

documento do Excel, onde haverá uma planilha para cada site pesquisado.

Nesta planilha serão inseridas as seguintes informações: data da pesquisa,

data em que a vaga foi publicada no site, número da oferta (para que não haja

repetições), nome no cargo, formação acadêmica exigida, conhecimento de

softwares exigidos ou considerados como diferencial, nível hierárquico de

acordo com a divisão do próprio site e, sempre que possível o setor da

empresa. Ao final de 90 dias, as informações sobre número total de ofertas,

exigências, nível hierárquico e setor serão contabilizadas e cruzadas para a

realização de uma análise do perfil do profissional mais procurado nestes sites.

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A pesquisa será limitada às vagas oferecidas por empresas localizadas na

cidade do Rio de Janeiro.

A pesquisa qualitativa consiste na coleta documentos curriculares dos

cursos de bacharel em Turismo oferecidos pelas universidades públicas do

Estado do Rio de Janeiro – Universidade Federal Fluminense (UFF), que

oferece o curso em Niterói e em Quissamã, Universidade Federal do Estado do

Rio de Janeiro (UNIRIO), com o curso localizado na cidade do Rio de Janeiro,

e Universidade Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ), oferecendo o

curso no campus de Nova Iguaçu. Será observada a forma que o

conhecimento sobre tecnologia é tratado como conteúdo. Vale ressaltar que

esses cursos tem algo em comum: todos foram criados a partir de 2003,

quando também foi criado o Ministério do Turismo.

Dentre os autores que norteiam esta monografia, diversos foram

utilizados como base para cada um dos temas. Em relação aos conceitos

gerais de turismo, os autores COOPER et al (2001) e LAGE e MILONE (2000)

estão entre os principais que abordaram os temas mais pertinentes ao presente

trabalho. Já os autores BARRETTO (1995 e 2004) e TRIGO (1999), puderam

ser citados tanto no que diz respeito ao turismo quanto no que diz respeito ao

ensino superior nesta área. Outros autores também auxiliaram na análise sobre

a evolução da educação em Turismo como ANSARAH (2002) e MATIAS

(2002).

Outros autores foram discutidos em áreas mais específicas como

MARÍN (2004) e VALLEN e VALLEN (2003) que apresentaram ótimas análises

sobre a tecnologia desenvolvida para o setor do Turismo, ou, no caso da

educação, TRALDI (1987), PIMENTA e ANASTASIOU (2005) e MOREIRA e

SILVA (2005) cujas duas últimas obras citadas tratam mais especificamente do

currículo escolar.

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LISTA DE SIGLAS

ABBTUR - Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo

ABDETH - Associação Brasileira de Dirigentes de Escolas de Turismo e

Hotelaria

BDET - Boletim de Desempenho Econômico do Turismo

BSP - Business Server Provider

CBO - Classificação Brasileira de Ocupações

CEDERJ - Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro

CEEAD - Comissão de Especialistas de Ensino de Administração

CF - Constituição Federal

CFE - Conselho Federal de Educação

CNE - Conselho Nacional de Educação

CRM - Costumer Relationship Management (Gestão do Relacionamento com o

Cliente)

CRO - Central Reservation Office (Escritórios Centrais de Reservas)

CRS - Central Reservation System (Sistemas Centrais e Reservas)

DM - Datamining

DW - Datawarehouse

EMBRATUR - Instituto Brasileiro de Turismo

ENBETUR - Encontro Nacional de Bacharéis em Turismo

ERP - Enterprice Resourse Planning (Sistema de Planejamento de Recursos

Empresariais)

GDS - Global Distribuiton System (Sistemas de Distribuição Global)

GPS - Global Position System

IES - Instituição de Ensino Superior

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IUOTO - União Internacional das Organizações Oficiais de Propaganda

Turística

LDB - Lei de Diretrizes e Bases para o Ensino

MEC - Ministério da Educação

MTE - Ministério do Trabalho e Emprego

MTur - Ministério do Turismo

OMT - Organização Mundial do Turismo

PMS - Property Management System (Sistema Gerenciamento de Propriedade)

PNT - Plano Nacional do Turismo

SeSu - Secretaria de Educação Superior

SIG - Sistema de Informação Geográfica

TI - Tecnologia da Informação

TICs - Tecnologias da Informação e Comunicação

UFF - Universidade Federal Fluminense

UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UHs - Unidades Habitacionais

UNIRIO - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou

reduziram seu quadro de funcionários ............................................................. 22

Tabela 2 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou

reduziram seu quadro de funcionários (Transporte Aéreo) ............................. 22

Tabela 3 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou

reduziram seu quadro de funcionários (Operadoras de Turismo) ................... 23

Tabela 4 – Empresas que exigem experiência anterior (Catho e ABAV-RIO) . 61

Tabela 5 – Exigência de experiência no setor de Turismo (Catho e ABAV-RIO)

......................................................................................................................... 61

Tabela 6 – Vagas que exigênciam em conhecimento em algum tipo de

tecnologia (Catho e ABAV-RIO) ....................................................................... 62

Tabela 7 - Tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga (Catho) 65

Tabela 8 - Tipos de tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga

(ABAV-RIO)...................................................................................................... 67

Tabela 9 - Número de cursos ligados à área do Turismo ................................ 90

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Evolução do Emprego ................................................................... 30

Gráfico 2 - Categoria dos Cargos (Catho) ....................................................... 57

Gráfico 3 - Categoria dos Cargos (ABAV-RIO) ............................................... 59

Gráfico 4 - Formação acadêmica exigida (Catho) ........................................... 60

Gráfico 5 - Tipos de tecnologias exigidas (Catho) ........................................... 63

Gráfico 6 - Tipos de tecnologias exigidas (ABAV-RIO) ................................... 64

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Ciclo estratégico do CRM ............................................................... 41

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

CAPÍTULO I – O TRADE TURÍSTICO E SUA RELAÇÃO COM A

TECNOLOGIA .................................................................................................. 15

1.1 – O fenômeno do turismo....................................................................... 15

1.2 – O conceito de tecnologia e sua influência sobre o turismo ................. 23

CAPÍTULO II – AS PRINCIPAIS TECNOLOGIAS VOLTADAS PARA O

MERCADO DO TURISMO ............................................................................... 32

2.1 – Como os setores do Trade Turístico utilizam a tecnologia.................. 33

2.1.1 – Setor hoteleiro ............................................................................. 33

2.1.2 – Setor de agências de viagem ...................................................... 37

2.2 – Os principais Sistemas de Reservas e de distribuição global ............. 43

CAPÍTULO III – AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO ......................................... 53

3.1 – Análise teórica .................................................................................... 53

3.2 – Análise quantitativa sobre a pesquisa de campo ................................ 55

CAPÍTULO IV – A QUESTÃO DA TECNOLOGIA DENTRO DAS

UNIVERSIDADES ............................................................................................ 70

4.1 – A finalidade da universidade e seu papel na sociedade ..................... 71

4.2 – Debates sobre o currículo e o currículo no Ensino Superior ............... 76

4.3 – A evolução do curso superior em Turismo no Brasil ........................... 88

4.4 – Análise sobre a abordagem da tecnologia nas IES públicas do Rio de

Janeiro ......................................................................................................... 92

4.4.1 - Universidade Federal Fluminense ................................................ 93

4.4.2 – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro ..................... 95

4.4.3 – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ............................ 97

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4.5 – Considerações finais ........................................................................... 99

CONCLUSÃO ................................................................................................ 102

BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 105

WEBGRAFIA .................................................................................................. 107

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INTRODUÇÃO

O objetivo geral do presente trabalho é demonstrar a importância do

ensino das tecnologias desenvolvidas no mercado do turismo para a formação

profissional do bacharel em turismo. A fim de desenvolver plenamente este

objetivo, são considerados no decorrer da pesquisa os seguintes objetivos

secundários: contextualizar o fenômeno do turismo bem como as tecnologias

envolvidas nesta área; estudar como o mercado de trabalho se comporta no

que diz respeito à exigências de conhecimento em tecnologias e finalmente

observar tanto do ponto de vista teórico quanto na prática como as

universidades públicas se comportam frente a essa demanda.

A opção de analisar o ensino da tecnologia no curso de Turismo se

mostra relevante pela importância que as atividades deste setor vêm

alcançando nas últimas décadas e como o desenvolvimento econômico do

turismo vem ganhando destaque no mundo e no Brasil, mesmo diante das

recentes crises econômicas, criando cada vez mais postos de trabalho e

atraindo a atenção do governo e de grandes investidores. Podemos observar a

importância que o Estado tem dado a este setor com a criação do Ministério do

Turismo (MTur) em 2003 e, neste mesmo ano, com a publicação do primeiro

Plano Nacional do Turismo (PNT). Paralelamente à criação do MTur e do PNT,

foram criados os primeiros cursos de graduação em Turismo nas universidades

públicas do estado do Rio de Janeiro. Em 2006, o Ministério da Educação

(MEC), em conjunto com o Conselho Nacional de Educação e a Câmara de

Educação Superior publicou a resolução nº 13, que instituiu as diretrizes

curriculares nacionais do curso de graduação em turismo. Tudo isso demonstra

que, nos últimos anos, o Estado tem considerado a formação acadêmica do

profissional como um dos determinantes para o desenvolvimento do Turismo.

Como podemos observar atualmente, a tecnologia está cada vez mais

presente em todas as áreas do conhecimento, influenciando inclusive na

formação acadêmica. E não é diferente com o turismo. Desde a década de

1970, sistemas tecnológicos vêm sendo desenvolvidos especialmente para o

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gerenciamento e operação das mais diversas áreas setor de turismo,

otimizando e maximizando sua produtividade. A popularização da internet foi

outro marco que, sob vários aspectos, trouxe grandes modificações no meio

profissional, dentre os quais: novas formas de comunicação com clientes e

fornecedores, sistemas tecnológicos interligados mundialmente por redes,

acesso às informações em tempo real, dentre outros.

O último elemento deste tema, a educação no Ensino Superior,

demanda maiores reflexões principalmente no que diz respeito ao contato

inicial do graduando em Turismo com as ferramentas tecnológicas mais

utilizadas na sua área. Dois fatores nos alertam para os problemas a serem

enfrentados por esses alunos: de um lado, um mercado altamente competitivo

e que exige cada vez mais do profissional, do outro lado, cursos de bacharel

em Turismo oferecidos pelas universidades públicas do Rio de Janeiro, criados

recentemente e ainda em fase de adequação de acordo com as normas mais

atuais sobre as Diretrizes Curriculares do curso. Esses dois fatores nos alertam

duas questões que neste trabalho serão analisadas de forma conjunta: como a

universidade está preparada para a inserção da tecnologia no seu currículo e

qual é a importância deste conhecimento para a formação do bacharel em

turismo? O presente trabalho se justifica pelas contribuições que pode oferecer

sobre o desenvolvimento curricular do curso de Turismo, a formação do

graduando e sua preparação para o mercado de trabalho.

Este estudo se encontra dividido em quatro capítulos. No primeiro

capítulo serão delineados os conceitos básicos relacionados ao fenômeno do

turismo para entendermos melhor o contexto desta atividade atualmente.

Posteriormente neste mesmo capítulo serão desenvolvidos os conceitos

básicos que envolvem a ideia de tecnologia: tecnologia da informação,

inteligência artificial, programas e softwares. Por último, será apresentada uma

breve análise relacionando os dois elementos: tecnologia e turismo.

No capítulo seguinte serão detalhadas as diversas formas que a

tecnologia foi desenvolvida para auxiliar exclusivamente o setor de Turismo.

Haverá um subcapítulo em especial para os Sistemas de Distribuição Global e

Sistemas de Reservas, ferramentas que possuem um histórico próprio e que

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atualmente são indispensáveis para os principais setores do turismo

(Hospedagem, agenciamento e transporte aéreo). No terceiro capítulo será

apresentado um breve debate teórico sobre o que o mercado espera do

profissional de turismo. Posteriormente, através dos resultados sobre a

pesquisa de ofertas de emprego será possível observar até que ponto o

conhecimento de tecnologias poderia auxiliar o turismólogo na sua inserção ao

mercado de trabalho.

No quarto capítulo o presente estudo se volta para a Educação Superior.

Inicialmente haverá um debate sobre a finalidade da universidade frente ao

aluno e à sociedade. Posteriormente, em um subcapítulo separado será dada

uma atenção especial ao Currículo, principal ferramenta de planejamento e

controle de uma instituição de ensino. Serão desenvolvidos alguns conceitos

gerais sobre o tema, os elementos e atores que o influenciam, bem como o seu

planejamento, em especial, no ensino superior. No próximo subcapítulo será

realizado um enfoque no ensino superior em Turismo, apresentando um breve

histórico no Brasil e no Rio de Janeiro. Este capítulo será finalizado com uma

análise sobre como o tema “tecnologia” é abordado nos cursos de Graduação

em Turismo oferecidos pelas universidades públicas do Estado do Rio de

Janeiro. Tal análise será realizada através de um estudo sobre as ferramentas

curriculares disponibilizadas pela coordenação dos cursos.

O quinto e último capítulo, será finalizado, a partir dos capítulos

anteriores, com um panorama geral sobre o tema a fim de delinear o objetivo

principal: concluir até que ponto as tecnologias são importantes na formação

profissional do turismólogo. Além disso, será possível identificar as lacunas

entre as tecnologias desenvolvidas para o setor do Turismo e o que é visto

sobre o assunto nas universidades pesquisadas. E finalmente, serão

apresentadas sugestões de como abordar o tema “Tecnologia” tanto na

questão de conteúdo quanto na questão metodológica.

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CAPÍTULO I – O TRADE TURÍSTICO E SUA RELAÇÃO

COM A TECNOLOGIA

1.1 – O fenômeno do turismo

O ato de se deslocar, segundo alguns autores, segue a história do

homem há milhares de anos (BARRETTO, 1995; IGNARRA, 2000; DIAS,

2005). Barretto, ressalta que esses deslocamentos foram as primeiras grandes

imigrações, não podendo ser consideradas como viagens, pois “viajar implica

voltar, e o homem primitivo ficava no novo lugar desde que este lhe garantisse

o sustento; ele não tencionava retornar” (BARRETTO, 1995, p. 44). De

qualquer maneira, as primeiras eras da nossa evolução são constantemente

mencionadas pelos autores para demonstrar que o ato de se movimentar é

algo inerente ao homem.

Para entender melhor o fenômeno do turismo, é preciso salientar

algumas características acerca da sua teorização. Em primeiro lugar, o turismo

é um tipo de viagem, mas nem toda viagem é turismo conforme será detalhado

posteriormente (BARRETTO, 1995 e DIAS, 2005). Além disso, de acordo com

Dias (2005), “o conceito de turismo é uma matéria bastante controversa

segundo os vários autores que tratam desse assunto” (p. 23). Margarida

Barretto (1995), por exemplo, citou 17 definições diferentes que foram

elaboradas no decorrer da história teórica e acadêmica do turismo. Finalmente,

se compararmos a história teórica do turismo com outras áreas de

conhecimento, observamos que este é muito recente. Sancho (2001) e

BARRETTO (1995) afirmam que o início das teorias que envolvem este

fenômeno surgiu com a criação da escola de Berlim, por volta da década de

1930.

Devido às dificuldades em definir o tema (semelhança da conceituação

com outras atividades, diversidade de conceituações entre grande número de

autores e teorização relativamente recente), é importante relacionar os

elementos que são comuns a todas as definições e, consequentemente,

diferenciam esta atividade de outras, como viagens e migrações:

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• Existe um deslocamento por parte da demanda até o local de

consumo;

• Existe um prazo de permanência (a viagem pode ser um

deslocamento só de ida, contudo no turismo deve existir o

deslocamento de ‘ida e volta’)

• O turismo compreende tanto as atividades no local de visitação,

quanto seu deslocamento até o destino;

• Seja qual for o motivo da viagem, para ser considerado turismo, ela

inclui serviços e equipamentos criados para satisfazer as

necessidades dos turistas. (o que pode não ocorrer em uma viagem

comum, como, por exemplo, para trabalho temporário ou estudos)1.

Um exemplo do quão recente é a conceituação de turismo é a definição

estabelecida pela Organização Mundial do Turismo (OMT), publicada apenas

em 1994, a ser adotada pelos países membros com o propósito de padronizar

as pesquisas estatísticas no mundo:

O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes ao seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras. (SANCHO, 2001, p. 38)

Vale ressaltar que a OMT foi criada em 1970 com o nome União

Internacional das Organizações Oficiais de Propaganda Turística (IUOTO),

adotando o nome atual em 1974. Atualmente a OMT é um órgão especializado

das Nações Unidas, se tornando a principal organização internacional com

papel de promoção e desenvolvimento do turismo responsável e sustentável no

mundo (DIAS, 2005).

A história das viagens é longa, passando pelos gregos que viajavam

para tratar da saúde e para se reunirem para os jogos olímpicos. Na Idade

Média, destacam-se as grandes cruzadas, era também uma época em que as

viagens dentro da Europa se mostravam pouco seguras e apenas aquelas

pessoas que tinham necessidades administrativas ou sociais a realizavam.

Depois na Idade Moderna, a partir do século XVI, começam as grandes

1 Tópicos adaptados de Sancho (2001, p. 39) e Quevedo (2007, p. 20).

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viagens exploratórias para as Américas. Foi neste momento que surgiu o termo

tour, de origem francesa. Eram assim chamadas as viagens que os jovens de

família rica realizavam pela Europa, particularmente pela França, por alguns

anos, antes de retornarem e recomeçarem seus estudos. Ainda que esta seja

uma das primeiras manifestações de viagens que se assemelhem com o

turismo atual, foi apenas no final do século XIX, com o crescimento das

ferrovias e trens, que este fenômeno começou a se desenvolver como o

conhecemos hoje, contudo ainda se manifestava apenas entre as elites. (DIAS,

2005; IGNARRA, 2000; BARRETTO, 1995).

O turismo só começou a tomar a dimensão que vemos hoje após a

Segunda Guerra Mundial, na década de 1950, quando surge um novo mundo

que, por conta de diversos fatores presenciou o advento de uma nova

concepção de turismo: o turismo de massas. Alguns desses fatores foram:

desenvolvimento da aviação civil que diminuiu as distâncias, o direito às férias

remuneradas e maior democratização do ensino (TRIGO, 1999, p. 15), dentre

outros fenômenos.

Com o advento do turismo de massas, nos países industrializados, integrantes de todas as classes sociais tendem a praticar o turismo, que se incorpora gradativamente aos hábitos e costumes, convertendo-se em um fato significativo da vida das pessoas, principalmente daquelas que habitam os grandes centros. (DIAS, 2005, p. 38)

A partir deste momento, houve uma explosão do turismo das massas,

que tinha como características viagens padronizadas e, em muito casos, em

grupo a fim de manter o baixo custo. Nunca houve um número tão grande de

viagens a turismo, pois esta atividade se tornou algo inerente aos mais

diversos grupos sociais (DIAS, 2005). Hoje vivemos um novo momento deste

fenômeno que se torna global. Vemos principalmente o desenvolvimento do

turismo segmentado (diferente daquele turismo das massas, padronizado),

compreendendo serviços e atividades voltadas especialmente para os mais

diversos perfis de turista: terceira idade, jovens estudantes, esportistas,

amantes da natureza, o turismo social, dentre outros (QUEVEDO, 2007 e

LAGE e MILONE, 2000). Segundo Quevedo:

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Atualmente, é possível observar que o fenômeno do turismo tomou grandes proporções e se tornou uma das atividades econômicas e sociais mais importantes do mundo influenciado por uma sociedade caracterizada pelo acesso ilimitado à informação, maior tempo livre e busca por uma melhor qualidade de via. (QUEVEDO, 2007, P. 27).

Lage e Malone (2000) detalham algumas características da sociedade

contemporânea que influenciam uma nova forma de pensar em turismo:

Com a modernidade e o desenvolvimento da comunicação, do avanço tecnológico, de novos costumes, valores culturais e hábitos emergentes, as viagens foram crescendo , sofisticando-se e se adequando às novidades globais da época, demandada pelos consumidores e oferecida pelos produtores. (LAGE e MALONE, 2000, p. 26)

Assim, a partir de diversos autores é possível concluir que o perfil da

demanda do turismo no século XXI se apresenta cada vez mais informada e

informatizada. Atualmente, com grande experiência em viagens, o turista não

aceita qualquer tipo de serviço e o custo da viagem já não é o principal fator

decisivo e motivacional (como foi com o turismo de massas), sobretudo por

conta da alta concorrência que força os produtores a otimizarem sua

produtividade diminuindo da melhor forma possível seus preços. Cooper

destaca o novo perfil do turista sob o viés do mercado, destacando-o como

novo um consumidor que:

Tem capacidade de discernimento, busca qualidade e participação e, no mundo desenvolvido, faz cada vez mais parte de um grupo etário mais velho. As motivações para a viagem estão se afastando do passivo prazer ao sol, indo em direção a outras mais relacionadas à educação e à curiosidade. (Cooper et all, 2001, p. 483)

Por ser um tema amplamente analisado sob o enfoque econômico, o

presente trabalho levará em consideração o conceito de mercado turístico (ou

Trade Turístico, Dias (2005)) cujo sistema o futuro turismólogo está inserido.

Ao levar em consideração o mercado como um conceito geral, é preciso

observar que há dois elementos fundamentais para sua existência: a oferta e a

demanda (LAGE e MILONE (2000), SANCHO (2000) e DIAS (2005)). Lage e

Milone (2000) determinam demanda e oferta como os agentes econômicos,

respectivamente, consumidores e produtores cuja relação se define através de

uma troca de informações e decisões de compra e venda de diversos bens e

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serviços a disposição. Essa relação chamada pelos autores de “vasta rede de

informações” (Ibid, 2000, p.29) é o que chamamos de mercado turístico.

Segundo Dias (2005), no caso do turismo, a demanda é composta por:

(1) turistas efetivos; (2) turistas potenciais (aqueles que pretendem ou desejam

realizar turismo). Lage e Milone detalham que a demanda pode ser interpretada

como “a quantidade de bens e serviços que os consumidores estão dispostos a

adquirir por um dado preço e em um dado período de tempo” (2000, p. 26).

Analisando a demanda com base neste conceito é possível quantifica-la

através de pesquisas de campo sobre o consumo real e potencial de

equipamento e serviços turísticos, obtendo assim uma análise sobre o perfil do

turista (Ibid, 2000).

Já a oferta, segundo Dias (2005) é composta por: (1) recursos turísticos,

são os atrativos turísticos naturais e artificias; (2) serviços e equipamentos

turísticos, que são: meios de hospedagem, alimentação, entretenimento, e

outros serviços como agência de viagem, transportadoras, locadoras de

veículos, etc; e (3) infraestrutura e serviços básico, definido por Lage e Milone

como infraestrutura de apoio turístico, “formada pelo conjunto de obras e

instalações de estrutura física de base” para a atividade turística (2000, p. 29).

Alguns exemplos de infraestrutura de apoio turísticos são: sistema de

transportes urbanos, sistemas de comunicações, serviços urbanos como

esgoto e água, energia, sinalização, limpeza urbana, dentre outros (Ibid, 2000).

É dentro da oferta que se encontram os chamados setores turísticos,

composto por todos os tipos de empresas que oferecem direta ou

indiretamente equipamentos e serviços para a realização de uma viagem a

turismo. Ao analisarmos os setores turísticos é possível observar o mercado de

trabalho onde o turismólogo poderá atuar (Ansarah, 2005). Foram encontradas

diversas formas de divisões do setor, contudo a classificação resumida no

presente trabalho utilizará as fontes que apresentaram as divisões semelhantes

entre si como Dias (2005), Ansarah (2005) e dois documentos estatísticos do

MTur: Estatíticas Básicas de Turismo, Outubro de 2010 e Boletim de

Desempenho Econômico do Turismo, publicado em Outubro de 2012.

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A partir destes autores é possível englobar os principais setores que

atendem o turista na seguinte divisão: meios de hospedagem, agências e

operadoras de viagens, o setor de transportes entre os destinos (Transporte

aéreo, rodoviário, marítimo e pluvial), organizadores de eventos, alimentos e

bebidas (bares, restaurantes e lanchonetes) e lazer (parques temáticos,

boates, casas de espetáculos, dentre outros). Muitos desses setores

apresentam uma ampla demanda, sendo os turistas um dos perfis de clientes

que atende (como os setores de alimentos e bebidas e de lazer localizados no

destino turístico, que também atendem aos moradores da região).

Finalizando este tópico, é importante destacar o contexto do turismo

atualmente. Como se encontra esta atividade hoje? O turismo, mais do que

outros campos do mercado, é altamente vulnerável. Consequentemente, os

mais diversos fatores externos, ou seja, variáveis que estão fora do alcance

dos produtores, (mudanças políticas, econômicas ou sociais, acidentes

ambientais naturais ou causados pelo homem, evolução do transporte e da

comunicação, dentre outros) influenciam seu futuro provocando sua expansão

ou retração e alterando o perfil dos viajantes e dos fornecedores de

equipamentos e serviços turísticos (Cooper et all, 2001). Na prática, é possível

citar vários fatores que provocaram algum tipo de variação no mercado do

turismo nos últimos anos: os conflitos políticos da Primavera Árabe, por

exemplo, foram os principais fatores de redução na chegada de turistas no

norte da África (-8%) e no Oriente Médio (-9%) em 2011; a crise econômica de

2008/2009 provocou redução mundial no número de turistas 2; problemas de

saúde mundial, como, por exemplo, o que ocorreu com a disseminação da

gripe H1N1 que ameaçou a movimentação dos viajantes internacionais entre

2008 e 20093.

Contudo, estatísticas apresentadas tanto pelo MTur quanto pela OMT

evidenciam que o turismo demonstra grande força de crescimento mesmo em

meio aos grandes problemas mundiais, firmando sua importância na economia

mundial. Abaixo segue uma citação do ‘Panorama OMT del turismo’ editado em

2012 referente aos dados coletados de 2011: 2 OMT - Panorama del turismo. Edición 2012 3 MTur - Estatística e indicadores de turismo no mundo, 2009

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En 2011, el turismo mundial siguió recuperándose de los contratiempos de 2008-2009, aunque el año estuvo marcado por las persistentes turbulencias económicas, como los grandes cambios políticos en Oriente Medio y el Norte de África y el desastre natural de Japón. En todo el mundo, las llegadas de turistas internacionales (es decir, los visitantes que pernoctan) aumentaron en un 4,6% en 2011 hasta los 983 millones, partiendo de los 940 millones registrados em 2010, cuando las llegadas se incrementaron en un 6,4% (2012, p.3).4

O MTur, no Boletim de Desempenho Econômico do Turismo (BDET)5,

cita a OMT para frisar que vivemos um momento de incertezas e que, apesar

dos diversos fatores que provocam estas incertezas, o turismo é uma das

poucas atividades econômicas que vêm crescendo de forma significativa,

estimulando a demanda e os gastos. A consequência do crescimento desta a

atividade é principalmente a criação de inúmeros empregos diretos e indiretos.

O boletim citado acima é publicado desde 2010 e apresenta uma

pesquisa trimestral junto a 523 empresas de diversos setores do turismo. A

partir das tabelas apresentas sobre cada setor, é possível observar algumas

características do mercado de trabalho no turismo. Os setores Meios De

Hospedagem e Parques e Atrações Turísticas são exemplos de mercados em

que há uma variação sazonal no que diz respeito ao aumento, estabilidade e

redução do quadro de funcionários (Tabela 1). Este fator está intimamente

ligado às oscilações anuais do número de turistas nos destinos.

4 Tradução: Em 2011, o turismo seguiu recuperando-se dos contratempos de 2008-2009, apesar do ano estar marcado pelas persistentes turbulências econômicas, como as grandes mudanças políticas no Oriente Médio e no Norte da África e o desastre natural do Japão. Em todo o mundo, as chegadas de turistas internacionais (quer dizer, os visitantes que pernoitam) aumentaram em 4,6% em 2011 para 983 milhões, partindo dos 940 milhões registrados em 2010, quando as chegadas aumentaram em 6,4%. 5 A publicação trimestral elaborada pelo Ministério do Turismo em conjunto com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) é resultado da análise quantitativa e qualitativa da conjuntura econômica do turismo no Brasil. Realizada junto a dirigentes dos setores de meios de hospedagem, agências de viagem, operadores de agências, organizadores de eventos, transporte aéreo, empresas aéreas, parques temáticos e turismo receptivo.

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Tabela 1 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou reduziram seu quadro de funcionários

Período Meios de Hospedagem Parques e Atrações Turísticas

Crescimento (+)

Estabilidade (=)

Redução (-) Saldo Crescimento

(+) Estabilidade

(=) Redução

(-) Saldo

Jul-Set/2010 20 62 18 2 77 23 0 2

Out-Dez/2010 34 59 7 27 54 7 39 27

Jan-Mar/2011 35 52 13 22 0 44 56 22

Abr-Jun/2011 20 64 16 4 3 36 61 4

Jul-Set/2011 26 68 6 20 64 36 0 20

Out-Dez/2011 29 63 8 21 48 38 14 21

Jan-Mar/2012 10 80 10 0 31 37 32 0

Abr-Jun/2012 14 78 8 6 20 52 28 6

Jul-Set/2012 24 68 8 16 52 48 0 16 Fonte: BDET, Outubro de 2012

Já no setor Transporte Aéreo, durante o 3º trimestre de 2012, não houve

nenhuma empresa que tenha aumentado seu quadro de funcionários. Na

verdade, a maioria manteve o mesmo número de empregados e houve

demissões em 35% das empresas entrevistadas (Tabela 2). Este saldo

negativo se justifica, segundo a pesquisa, principalmente pela automação de

determinadas tarefas. Um dado interessante é que no mesmo período, 98%

das empresas aéreas apresentaram aumento do faturamento em relação ao

trimestre anterior, onde é possível supor que o setor não está passando por

crise financeira.

Tabela 2 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou reduziram seu quadro de funcionários (Transporte Aéreo)

Período Transporte Aéreo

Crescimento (+) Estabilidade (=) Redução (-) Saldo

Jul-Set/2010 100 0 0 2

Out-Dez/2010 98 2 0 27

Jan-Mar/2011 65 2 33 22

Abr-Jun/2011 13 55 32 4

Jul-Set/2011 14 36 50 20

Out-Dez/2011 58 42 0 21

Jan-Mar/2012 53 47 0 0

Abr-Jun/2012 82 18 0 6

Jul-Set/2012 0 65 35 16 Fonte: BDET, Outubro de 2012

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O exemplo das operadoras de turismo é um pouco diferente. O quadro

demonstra que houve um constante crescimento no quadro de funcionários em

boa parte das empresas. Contudo, houve uma quebra nessa constante no 2º

semestre de 2012 quando o setor começou a sentir os efeitos da crise mundial,

por conta da retração de alguns mercados, como o mercado receptivo

internacional (Tabela 3). No 3º trimestre de 2012 muitas empresas voltaram a

contratar novos funcionários, porém 55% delas ainda registraram redução no

seu faturamento no mesmo período, o que deixa claro que este setor ainda não

se restabeleceu completamente.

Tabela 3 - Quadro de Pessoal (%): empresas que aumentaram, mantiveram ou reduziram seu quadro de funcionários (Operadoras de Turismo)

Período Operadoras de Turismo

Crescimento (+) Estabilidade (=) Redução (-) Saldo

Jul-Set/2010 78 22 0 2

Out-Dez/2010 60 27 13 27

Jan-Mar/2011 35 65 0 22

Abr-Jun/2011 45 41 14 4

Jul-Set/2011 46 44 10 20

Out-Dez/2011 52 30 18 21

Jan-Mar/2012 70 17 13 0

Abr-Jun/2012 21 28 51 6

Jul-Set/2012 49 33 18 16 Fonte: BDET, Outubro de 2012

É neste contexto que o turismólogo deverá estabelecer sua carreira: em

mercado sazonal, repleto de altos e baixos, que sofre grande influência de

fatores imprevistos e independentes; altamente competitivo e cada vez mais

informatizado, exigindo cada vez mais conhecimento e flexibilidade de seus

produtores.

1.2 – O conceito de tecnologia e sua influência sobre o

turismo

Atualmente, o termo “tecnologia” se tornou um elemento constantemente

citado entre os pensadores dos mais diversos campos do conhecimento, pois é

apresentado como um dos fatores mais relevantes na sociedade

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contemporânea. Vale ressaltar, contudo, que ao considerarmos seu real

significado (sinônimo de metodologia, procedimento, técnica) observamos que

a tecnologia está presente na história do homem desde a descoberta do fogo.

Andrade Júnior cita Ribault ao definir tecnologia como um “conjunto complexo

de conhecimentos, de meios e de know-how (saber fazer), organizado com

vista a uma produção” (IN Quevedo, 2007, p. 34). Este mesmo autor ainda

detalha que uma tecnologia “resolve um problema e sua criação é

indispensável à fabricação de um produto, componente do produto ou para

uma transformação no interior de um processo longo e complicado” (Ibid, 2007,

p. 34). Kenski (2007) destaca a ‘banalidade’ da tecnologia em nossas vidas ao

afirmar que ela está tão presente nas atividades mais comuns, como dormir,

comer, trabalhar, se deslocar, que não a percebemos como algo não natural.

O que nos leva, então, a considerar que estamos vivendo uma nova era

tecnológica? A questão não está apenas na tecnologia em si, mas a forma que

a utilizamos e a dimensão da sua importância para a sociedade atualmente.

Castells (1999) defende a ideia de que vivemos um novo momento de

revolução adotando um pensamento de Stephen J. Gould (1980) cuja

concepção de história da vida é formada “por situações estáveis, pontuada em

intervalos raros por eventos importantes que ocorrem com grande rapidez e

ajudam a estabelecer a próxima era estável” (GOUD Apud CASTELLS, 1999,

p. 67). Para Castells, vivemos um desses intervalos que se caracteriza pela

“transformação de nossa ‘cultura material’ pelos mecanismos de um novo

paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação”

(Ibid, 1999 p. 67).

O autor ainda destaca que as revoluções industriais também foram

revoluções tecnológicas. De fato, o ponto em comum entre a atual revolução e

as duas revoluções industriais anteriores são exatamente as inovações

tecnológicas: durante 1ª Revolução Industrial, ocorrido no final do século VXIII,

novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira, a substituição de

ferramentas manuais por máquinas, alteraram a forma de produção; a 2ª

Revolução Industrial começa no final do século XIX, quando não só a produção

se modificou, mas principalmente a sociedade viu seu modo de vida se

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transformar com o desenvolvimento da eletricidade, novos produtos químicos,

difusão do telégrafo e a invenção do telefone (Ibid, 1999, p. 71). Contudo, há

alguns fatores que diferenciam a revolução que vivemos das anteriores. O

autor citado anteriormente apresenta cinco características que, em resumo,

definem o perfil deste novo “paradigma tecnológico”:

(1) A informação é a matéria prima: são tecnologias para agir sobre a informação, não apenas informações para agir sobre a tecnologia (...); (2) penetralidade dos efeitos da nova tecnologia, todos os processos de nossa existência individual e coletiva são diretamente moldados (...) pelo novo meio tecnológico; (3) a lógica de redes em qualquer sistema ou conjunto de relações; (4) flexibilidade, não apenas os processo são reversíveis, mas organizações e instituições podem ser modificadas (...). (5) a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado. (Ibid, 2005, p. 108 – 109)

Enquanto Castells (1999) apresenta um enfoque nas formas de

produção e organização da sociedade, Pierre Lévy detalha o papel das

Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). na constituição das culturas

e inteligência dos grupos no livro ‘As tecnologias da inteligência: o futuro do

pensamento na era da informática’ (1993), onde o autor traça uma linha

temporal sobre as ferramentas desenvolvidas pelo homem para a comunicação

subdividindo nos polos “oralidade primária”, “escrita” e “polo informático-

mediático”. Apesar do enfoque diferenciado, Lévy, assim como Castells

destaca as particularidades que fazem com que as novas formas de

comunicação sejam completamente inovadoras. Para o autor, vivemos uma

nova maneira de pensar e conviver que estão sendo elaboradas no mundo das

telecomunicações e da informática. O próprio processo de transmissão de

informações e comunicações necessita de um “aporte informático” para que

exista na forma que conhecemos hoje (ibid, 1993).

Lévy, em seu livro Cibercultura (1999), dá continuidade à suas ideias

sobre o comportamento e as evoluções da sociedade frente às novas

ferramentas das TICs. Neste mesmo livro, o autor ainda define genericamente

o termo informática como um conjunto de técnicas que permitem digitalizar a

informação e sua posterior armazenagem, transporte e difusão. O autor ainda

define programas (ou softwares) como “uma lista bastante organizada de

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instruções codificadas, destinadas a fazer com que um ou mais processadores

executem uma tarefa.” (Ibid, 1999, p. 41).

Sobre o termo ‘tecnologia da informação’, Castells resume seus atributos

como “forte e impositivo em sua materialidade, mas adaptável e aberto em seu

desenvolvimento histórico” (1999, p. 113). Abrangência, complexidade e

disposição em forma de rede são suas principais qualidades. Mas o que vem a

ser tecnologia da informação? O autor supracitado cita Brooks (1971) e Bell

(1976) ao defini-la como “ o uso de conhecimentos científicos para especificar

as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível (grifo do autor)”

(1999, p. 67). Cooper (2001) e Quevedo (2007) citam Poon (1993) para definir

tecnologia da informação como o termo concedido ao desenvolvimento do meio

(eletrônico) e dos mecanismos (computadores e tecnologias da comunicação)

para fins de aquisição, processamento, análise, armazenagem, recuperação,

disseminação e aplicação da informação. A partir das duas definições acima é

possível inferir que a tecnologia da informação é o desenvolvimento de meios

para tornar a informação reproduzível, ou seja, passível de ser adquirida,

armazenada, recuperada e disseminada.

Um termo mais específico do que as TICs é constantemente abordado

pelos autores no que concerne a tecnologia tanto na educação quanto no

turismo: o Sistema Especialista, que, conforme afirma Oliveira (2005), é um dos

ramos da Inteligência Artificial. Lévy define os sistemas especialistas como:

Programas capazes de substituir (ou, maior parte dos casos, ajudar) um especialista humano no exercício de suas funções de diagnóstico ou aconselhamento. O sistema contém, em uma “base de regras”, os conhecimentos do especialista humano sobre um domínio em particular; a “base de fatos” contém os dados (provisórios) sobre a situação particular que está sendo analisada; a “máquina de inferência” aplica as regras aos fatos para chegar a uma conclusão ou a um diagnóstico (1993, p. 39).

Vallen e Vallen (2003) destacam a importância deste tipo de sistema

tecnológico para os meios de hospedagens ao detalharem as vantagens do

sistema automatizado de gerenciamento de rendimento e receita como uma

ferramenta útil na tomada de decisões administrativas e financeiras, pois o

sistema compara o desempenho real com previsões e faz ajustes necessários

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nos preços das diárias, utilizando funções lógicas padrão ou operações de

inteligência artificial. “Na verdade, na ausência de gerência, esses sistemas

podem modificar automaticamente os preços, apurar a disponibilidade de

departamentos e monitorar a atividade de reservas.” (Ibid, 2003, p. 137).

No entanto, assim como a tecnologia da informação necessita do ser

humano para ‘ser’, o sistema especialista apresenta algumas desvantagens em

relação ao especialista humano como: não tem a criatividade do homem, na

maioria dos casos necessita de um comando, seu foco é restrito e seu

conhecimento também se restringe aos termos técnicos (OLIVEIRA NETO,

2005). As vantagens do ser humano são a capacidade intuitiva, bom senso e

uma visão mais ampla que vai além do conhecimento técnico.

Voltando ao tema das TICs, uma das suas ferramentas mais utilizadas

no mundo é a internet. Para o turismo esta ferramenta apresenta vantagens e

desvantagens. Do ponto de vista da demanda, o perfil do turista tem evoluído

por conta da chamada “democratização da informação” (MARÍN, p. 109, 2004).

Através da Internet, o consumidor tem acesso às mais diversas informações e

às empresas ligadas ao serviço de turismo (companhias aéreas, locadoras de

veículos, meios de hospedagens, dentre outros) (SANCHO, 2001). O turista se

tornou mais experiente e independente utilizando a internet para o

“planejamento, busca, reservas, aquisição e modificações de produtos

turísticos” (COOPER et al., 2001, p. 462).

Do ponto de vista das empresas, a Internet trouxe diversas facilidades

tornando o contato com o cliente mais prático e personalizado (COOPER et al.,

2001). Por isso, enquanto alguns setores cresceram por conta das evoluções

das TICs, proporcionando um contato mais direto com o cliente (Exemplo:

Companhias aéreas, redes hoteleiras e locadoras de veículos), outro setor vem

sofrendo com este fenômeno: as agências de viagens. Foram encontrados

diversos artigos e livros que abordam esta questão e todos afirmam que a

tecnologia pode se tornar uma ameaça a este setor, pois este acaba perdendo

sua função como intermediadora entre empresas de serviços turísticos e

viajantes (SANCHO, 2001; MARÍN, 2004; COOPER et al., 2001; TAVARES E

NEVES, 2011).

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Segundo Cooper et al. (2001), algumas das forças ligadas à tecnologia

que estão “minando o papel do agente de viagens” são: (a) os fornecedores de

diversos serviços turísticos estão cada vez mais voltados para controle dos

custos de distribuição, priorizando a comunicação direta com o turista, o que

evita pagamento de comissões; (b) A maioria das agências de viagens

emprega pessoas com treinamento inadequado e pouca experiência; (c) O

crescimento da concorrência com agentes eletrônicos altamente capacitados,

uma vez que a localização está se tornando menos importante, já que todo o

procedimento de reserva, pagamento e confirmação dos serviços podem ser

feitos pela internet.

Sancho (2001) destaca que as agências de viagens, diante deste novo

mercado, deverão “se especializar e oferecer um valor a mais, além de reduzir

seus custos e atuar como consultores e assessores de viagem, ao dispor de

maior experiência e informações que o cliente” (2001, p. 318). Assim como

Sancho, Marín (2004), também destacou novas ações que têm sido adotadas

pelas agências de viagens para se manter no mercado ao focar sempre no

cliente e personalizar o atendimento, “trocando o marketing de massas pelo

marketing “One2One”6 (p. 110).

Quanto ao profissional, Lévy (1999) enquadra muitas funções entre os

excluídos dessa revolução tecnológica. Segundo o autor, o desenvolvimento

tecnológico é tão rápido que é vista como “um ‘outro’ ameaçador” por muitos

não inseridos neste contexto. Estes excluídos seriam, por exemplo, diversas

classes sociais, regiões do mundo que não participam desta revolução e os

profissionais que viram seu método de trabalho ser completamente alterado (o

tipógrafo, que hoje, seria o design gráfico) ou cuja profissão não existe mais

(alguns exemplos são o datilógrafo e a telefonista que viram sua função

desaparecer por conta do advento do computador e da evolução da telefonia,

respectivamente).

6 Marketing one-to-one: “Baseia-se em clientes individuais e na personalização de produtos e serviços, por intermédio de um conhecimento do mercado conseguido pelo diálogo e pelo feedback de cada cliente” (CÉSAR, 2008).

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A aceleração é tão forte e tão generalizada que até mesmo os mais “ligados” encontram-se, em graus diversos, ultrapassados pela mudança, já que ninguém pode participar ativamente da criação das transformações de conjunto de especialidades técnicas, nem mesmo seguir essas transformações de perto. (1999, p. 27)

É importante frisar que muitas funções são extintas, outras alteradas,

mas não há registros na redução no número absoluto de empregos. Castells

(1999) questiona se estamos seguindo rumo a uma ‘sociedade sem empregos’

e ressalta que nas revoluções industriais não houve redução no número de

empregos, mas sim uma transferência de geração de empregos (da zona rural

para as cidades, da indústria para o setor de serviços). Assim acontece durante

esta nova revolução, pois muitos empregos estão sendo extintos, porém novas

funções surgem e surgirão na indústria da alta tecnologia e principalmente no

setor de serviços. Através de pesquisas em países desenvolvidos (Estado

Unidos, Japão e Comunidade Europeia), este mesmo autor observou que:

“a tecnologia da informação em si não causa desemprego, mesmo que, obviamente, reduza o tempo de trabalho por unidade de produção. Mas, sob o paradigma informacional, os tipos de emprego mudam em quantidade, qualidade e na natureza do trabalho executado”. (Ibid, 1999, p. 328)

No caso do mercado do turismo no Brasil, é possível observar um

aumento constante no número de empregos nos últimos anos. Segundo dados

estatísticos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), publicado pela MTur,

no Boletim de Desempenho Econômico do Turismo (BDET) em Outubro de

2012, o que tem ocorrido é a redução no aumento do número de empregos. O

último período registrado no referido documento é o 3º trimestre de 2012 (Julho

- Setembro), quando foram registrados, no setor de turismo, 5.235.755

admissões, contra 4.843.987 desligamento, com um saldo positivo de 393.768.

Com relação ao mesmo período em 2011, houve uma redução de 27,09% no

saldo positivo (Gráfico 1).

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Gráfico 1 - Evolução do Emprego no Brasil Saldo entre admissões e desligamentos no 3º trimestre de 2007 a 2012

Retirado do BDET, 2012

O mercado de trabalho para o profissional do turismo segue esta

tendência – não há redução no número total de empregos, mas há setores

diminuindo seu quadro de pessoal ou admitindo cargos que requerem cada vez

mais conhecimento de diversas áreas (economia, geografia, dentre outros),

inclusive conhecimento tecnológico. O agente de viagens, por exemplo, que

antes detinha informações exclusivas sobre os destinos e serviços turísticos,

hoje “compete” com a Internet. Sua função não foi extinta, mas o agente

atualmente deve dominar com facilidade ferramentas tecnológicas além de

conhecer os destinos mais detalhadamente, não bastando oferecer ao cliente

informações padronizadas, pois o turista, hoje, é bombardeado por

informações. Logo, o papel do agente é oferecer informações de qualidade e

diferenciadas (TAVARES E NEVES, 2011).

Por outro lado, a informação é vital para todos os envolvidos na

atividade do turismo. Como o turista, por exemplo, que antes de escolher seu

destino e realizar uma viagem, coleta informações através das mais diversas

fontes: diferentes canais de mídias, fornecedores de serviços turísticos, amigos

e parentes. Por isso, a tecnologia da informação se tornou a principal

ferramenta de distribuição, pois é a mais eficaz e competitiva. (COOPER et al,

2001). O autor ainda ressalta que o contínuo desenvolvimento da internet

“resultou em uma reengenharia de todo o processo de produção e distribuição

dos produtos turísticos” (Ibid, 2001, p. 463). Assim como Cooper, Fabbris e

Silva (2007) deixam claro que todo o processo de produção do turismo foi

profundamente alterado pelas novas técnicas:

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A revolução da tecnologia da informação está causando um impacto profundo na maneira como as viagens e os serviços complementares são anunciados, distribuídos, vendidos e entregues, porque o negócio real por trás das viagens é a informação (Fabbris e Silva In QUEVEDO, 2007, p ).

A consequência desta revolução tecnológica é um turismo mais

personalizado e competitivo o que pode se tornar uma ameaça para alguns ou

oportunidade para outros que conseguem utilizá-la para aperfeiçoar seus

serviços. A questão é saber acompanhar o desenvolvimento tecnológico de

forma inteligente, aproveitando as ferramentas dispostas no mercado de

acordo com o perfil de cada empresa. Por isso, no próximo capítulo serão

analisadas mais detalhadamente as ferramentas tecnológicas desenvolvidas

especialmente para o mercado turístico e como elas podem ser utilizadas,

destacando suas funcionalidades e também as dificuldades pelas quais as

empresas brasileiras passam ao tentar implementá-las.

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CAPÍTULO II – AS PRINCIPAIS TECNOLOGIAS

VOLTADAS PARA O MERCADO DO TURISMO

O presente capítulo tem como foco as tecnologias adotadas pelos

principais setores do mercado do turismo: agências de viagem e operadoras de

turismo, hospedagem e transporte aéreo. A evolução das ferramentas

tecnológicas aqui apresentadas tem sua origem muito recente. Algumas,

inclusive, ainda estão em fase de consolidação. Além disso, é possível

observar o quanto este tema passa por mudanças rapidamente ao analisarmos

as principais fontes adotadas neste capítulo: os autores Vallen e Vallen (2003),

que abordam as tecnologias encontradas no setor de hospedagem, e Marín

(2004), que detalha todas as tecnologias aplicadas às agências e operadoras

de turismo. Devido à velocidade das evoluções tecnológicas, algumas

descrições sobre o contexto da tecnologia apresentado pelos autores estão

desatualizadas. Contudo, mesmo que algumas das tecnologias descritas nos

livros citados não tenham sido comentadas no presente trabalho, estes foram

considerados importantes fontes teóricas por traçarem um perfil sobre todos os

tipos de tecnologia que permeiam o mercado do turismo.

Além da pesquisa bibliográfica, foi necessária uma pesquisa paralela na

Internet a fim de averiguar os avanços nas soluções tecnológicas apresentadas

pelas fontes teóricas. Para fazer esta pesquisa, foram utilizadas as informações

dos próprios sites das empresas que oferecem tecnologia para o mercado do

turismo, além de notícias sobre o mercado do turismo. O objetivo é tentar

abordar o tema de forma a estar o mais próximo possível da realidade atual no

mercado.

Se por um lado há pouca produção acadêmica sobre as diferentes

formas que a tecnologia está presente dentro dos diversos setores do turismo e

seus respectivos departamentos (financeiro, marketing, administrativo,

operacional, dentre outros), por outro, foi encontrada em diversos livros que

abordam o turismo em geral, uma breve análise sobre os Sistemas Centrais e

Reservas (CRS – Central Reservation System) e os Sistemas de Distribuição

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Global (GDS – Global Distribuiton System), desenvolvidos pelas companhias

aéreas. O CRS, além de revolucionar o sistema de reservas e emissão de

bilhetes aéreos foi posteriormente adotado pelo setor hoteleiro. Este mesmo

programa agregou outras funcionalidades imprescindíveis atualmente para

muitas agências e se tornou o que atualmente é denominado GDS. Pela

importância dispensada pelos autores a essas soluções tecnológicas, elas

serão analisados separadamente em um segundo tópico.

2.1 – Como os setores do Trade Turístico utilizam a

tecnologia

2.1.1 – Setor hoteleiro

O setor de hospedagem foi um dos que mais sofreu transformações em

toda sua estrutura administrativa e física. A tecnologia está presente tanto para

os hóspedes, que têm em suas Unidades Habitacionais (UH) comodidades

como acesso à internet sem fio, TV, ar condicionado, frigobar, dentre outros,

quanto para os funcionários do hotel, desde a camareira, que recebe

diariamente suas tarefas de forma automatizada até o gerente geral que pode

contar com recursos tecnológicos mais complexos, como auxílio na

coordenação de todos os setores (VALLEN e VALLEN, 2003).

Dentro da estrutura organizacional do hotel, é possível identificar a

presença de ferramentas tecnológicas em cada um dos níveis hierárquicos,

desde os departamentos mais operacionais até a gerência geral. Um exemplo

no nível operacional é o setor de limpeza dentro do hotel. Segundo Vallen e

Vallen (2003), antes da utilização de computadores, a ligação entre a recepção,

que tinha a responsabilidade de cuidar das entradas e saídas dos hóspedes, e

o departamento de limpeza era realizado verbalmente, por telefone ou

pessoalmente. Atualmente, a camareira recebe suas tarefas diárias através de

um programa integrado com a recepção informando os quartos a serem limpos,

bem como outras tarefas especiais que podem ser inseridas no sistema pelo

supervisor do departamento.

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A partir deste exemplo, é possível perceber que, com a evolução

tecnológica na estrutura do hotel, houve grande melhoria na comunicação

interna. Por outro lado, muitos cargos operacionais deixaram de existir. Um

exemplo de função extinta na maioria dos hotéis é o de controle de cobranças

telefônicas. Vallen e Vallen (2003) observaram que, desde 1960, é comum nos

Estados Unidos, encontrar aparelhos de telefone nos quartos dos hóspedes.

Antigamente, eram necessárias telefonistas para completar as ligações

solicitadas pelos hóspedes bem como incluir a cobrança destas na conta do

quarto. Atualmente, porém, este tipo de serviço foi automatizado não

necessitando mais de funcionários para realizar tal intermediação (Ibid, 2003).

Além disso, o sistema de telefonia computadorizado possui outras funções

como deixar mensagens para os hóspedes e sistema automatizado de

despertador (Sancho, 2001).

Chamadas locais ou de longa distância podem ser feitas [dos quartos dos hóspedes] por equipamento automático de discagem direta. Da mesma forma, ligações entre hóspedes, ou destes para departamentos do hotel (p. ex. o serviço de quarto), não necessitam mais de uma telefonista para serem completadas. A cobrança eletrônica registra automaticamente a tarifa das ligações para o hóspede. (VALLEN e VALLEN, 2003 p. 91)

Ao abordar os níveis gerenciais, os autores anteriormente citados

analisam a evolução tecnológica dos sistemas de gerenciamento de

rendimentos e o de gerenciamento de propriedade, que foram concebidos

originalmente nos Estado Unidos. O gerenciamento de rendimentos (ou

gerenciamento de receitas) está ligado diretamente ao controle dos preços das

UHs e volume de reservas e vendas fechadas. Muitos hotéis apresentavam ou

ainda apresentam um cargo específico para cuidar exclusivamente desta

questão cujo objetivo principal é “maximizar a receita bruta” do

empreendimento (Ibid, 2003, p. 133).

A iniciativa de criar sistemas automatizados para esta função teve seu

desenvolvimento na década de 1980 entre as companhias aéreas, cujos

conhecimentos sobre tecnologia geralmente tem estado a frente de todos os

outros setores (Vallen e Vallen, 2003). A partir do sucesso das criadoras dos

sistemas de gerenciamento de rendimentos eletrônicos, grandes

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empreendimentos hoteleiros passaram a utilizá-los na administração dos

custos e rendimentos dos seus hotéis. Isso era possível, pois o produto

vendido pelo transporte aéreo apresentava certas características semelhantes

aos meios de hospedagens: “ambos têm uma oferta fixa (assentos e

apartamentos) e produtos que perecem com a passagem do tempo” (Ibid,

2003, p. 133). Posteriormente, o setor de hospedagem introduziu uma nova

arquitatura para as ferramentas de gerenciamento de rendimentos ou receitas

de forma que fossem mais adequadas à sua realidade.

Vallen e Vallen (2003) afirmam que “Hoje, as grandes redes hoteleiras

desenvolveram sistemas de gerenciamento de rendimentos automatizados à

altura de que há de melhor nas companhias aéreas” (p. 133). Os autores ainda

listam algumas funcionalidades deste recuro tecnológico que é considerado

pelos mesmos como um tipo de sistema especialista pela sua capacidade de

tomada de decisão autonoma a partir de regras e gatilhos7 pré-programados:

• Estabelece e monitora a estrutura de preços do hotel; • Auxilia na negociação de preços com agências atacadistas

e grupos; • Monitora e restringe o número de reservas que pode ser

aceito para qualquer diária ou tipo de apartamento específico;

• Encontra o apartamento e o preço adequados às necessidades e sensibilidades do cliente (Ibid, 2003, p. 137)

Cooper (2001) também aborda no capítulo “O futuro do turismo” o

sistema de gerenciamento de rendimento, que na época ainda era um projeto

desenvolvido pelas companhias aéreas. Ele destaca que a facilidade

proporcionada por esse sistema no controle das vendas permite “que as

empresas turísticas tenham um relacionamento mais próximo com seus

clientes e recompensem a fidelidade” (p. 489). Outra funcionalidade do sistema

é o banco de dados integrado que “permite tratamento personalizado e o

7 Sistema de regras e gatilhos: “O computador faz a comparação da atividade real de reservas com as previsões contidas no orçamento. Quando um determinado período ou data está fora das regras para aquele intervalo de tempo, o computador o identifica. Feito isso, a maioria dos sistemas irá imprimir um relatório para a gerência, apontando os períodos que representam exceções à previsão”. (Vallen e Vallen, 2001, p.138).

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lançamento de iniciativas como programas de milhagem pelas companhias

aéreas” (Ibid, 2001, p. 489).

A evolução do sistema gerenciamento de propriedade (PMS - Property

Management System) pode ser observada dentro de vários departamentos

dentro do hotel. Este programa tem como principais características a

disponibilidade das suas informações para as mais diveras finalidades

(marketing, financeiros, operacional, recursos humanos, etc), além da

possibilidade de conexão com outros sistemas (VALLEN e VALLEN, 2003).

Ele [sistema de gerenciamento de propriedade] representa (...) o centro de uma série de sistemas eletrônicos auxiliares no hotel. O sistema de gerenciamento de energia, o sistema de controle de chamadas telefônicas e o sistema de fechamento eletrônico de portas de apartamento são três das interfaces mais comuns que operam em conexão com o PMS (Ibid, 2003, p. 424).

Segundo os autores, o departamento que mais se beneficiou com esta

tecnologia foi o auditor noturno. Sua função é contabilizar e registrar todas as

despesas e créditos (pagamentos das diárias e extras) do dia, incluindo o

cálculo de valores como as diárias, impostos sobre estas e alimentos e bebidas

consumidas dentro da UH, dentre outros (Ibdi, 2003). Além disso, o auditor

prepara os arquivos de cada UH para o dia seguinte, um importante documento

para a recepção e portaria na cobrança de diárias e extras durante o check-out,

e para a gerência a fim de acompanhar as receitas e despesas diárias do hotel

(Ibid, 2003).

De acordo com Vallen e Vallen (2003), antes do surgimento do PMS, o

laçamento destes valores eram feitos à mão dentro do arquivo físico de cada

apartamento. Altamente passivo de erros, o auditor noturno tinha como

principal objetivo detectar as falhas contábeis e deixar os valores corretos e

atualizados para o dia seguinte. Como o tempo para realizar estas tarefas

depende do número de apartamentos que o auditor deve apurar, isso poderia

durar a noite inteira e exigir vários auxiliares para que fosse finalizado a tempo.

Com as inovações tecnológica do PMS, o tempo para realizar tais tarefas

reduziu para poucas horas. (Ibid, 2003).

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Atualmente, as diárias e impostos já estão registrados no sistema de

gereciamento de propriedades que funciona em conjunto com o sistema de

gereciamento de rendimento, já explicado anteriormente. Vallen e Vallen (2003)

destacam as vantagens desse tipo de ferramenta tecnológica: a função do

auditor se reduziu a inserir despesas extras, fiscalizar e finalizar a contabilidade

para preparar os documentos para o dia seguinte. Ademais, não há mais a

necessidade de manter um imenso arquivo físico de cada apartamento e as

alterações podem ser realizadas através de outros sistemas e por outros

funcionários, como o próprio gerente do hotel.

Com os avanços tecnológicos, os programas de gerenciamento

analisados anteriormente estão cada vez mais integrados entre os diversos

departamentos existentes dentro do hotel. Segundo Cooper et al (2001), uma

das funções atuais deste tipo de sistema é “unificar a parte de atendimento e a

parte de apoio da empresa” (p. 467).

2.1.2 – Setor de agências de viagem

Para as agências e operadoras de turismo, a revolução tecnológica

seguiu um caminho um pouco diferente. Muitas das tecnologias aplicadas

neste setor foram desenvolvidas anteriormente por empresas tecnológicas que

já lidavam com a criação de softwares para outros tipos de empreendimentos e

viu a oportunidade de adaptá-las para o mercado do turismo (Marín, 2004).

Três soluções tecnológicas foram citadas por Marín (2004) com a função

auxiliar a administração interna da agência de viagem: Sistemas Back-office;

Sistema de Planejamento de Recursos Empresariais (ERP – Enterprice

Resourse Planning), e Sistema de Gestão Integral. O autor aborda inicialmente

os sistemas tipo back-office8 que normalmente possuem funcionalidades

básicas como: cadastro de clientes e fornecedores, processos operacionais

administrativos, processos do departamento financeiro e da gerência, além da

integração com outros sistemas.

8 Definição de back-office, segundo Marin (2004): “todas as atividades internas realizadas na empresa” (p. 116)

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Marín (2004) afirma que este tipo de recurso tecnológico tem como

principal característica operar baseado em uma série de informações que

devem seguir uma padronização única. Por isso, autor destacou as dificuldades

de aplicar estas ferramentas nas agências de viagem por conta de certos

aspectos especiais deste tipo de empresa, como o grande número de

fornecedores que exigem procedimentos de reserva e pagamento

diversificados e a complexidade dos produtos vendidos, pois o mesmo serviço

pode apresentar variações de preços de acordo com diversos fatores. O valor

de diárias de um hotel, por exemplo, pode alterar de acordo com o tipo da UH,

data da viagem, data e forma do pagamento e número de pessoas hospedadas

no mesmo quarto (Ibid, 2004).

O autor ainda detalha como as empresas de turismo se posicionaram no

Brasil frente a esta questão. As grandes empresas que tinham maior

capacidade financeira criaram seus próprios sistemas de gestão interna, como

a operadora de turismo CVC. Já outras agências adquiriram sistemas

tecnológicos já prontos de empresas de tecnologia. Contudo, Marín (2004)

alega que muitas das tecnologias adquiridas de forma terceirizada não são

ideais por não considerarem na sua arquitetura algumas características

especiais das agências de viagem.

É importante frisar que este assunto é muito recente e as tecnologias

analisadas ainda estão em desenvolvimento. O autor pôs em evidência os

defeitos das tecnologias desenvolvidas na época e estabeleceu um prazo de 5

(cinco) anos para que estas estivessem “totalmente adequadas às

necessidades-padrão das agências de viagens” (Marín, 2004, p. 117). O

significa que isso aconteceria por volta de 2009. Foi realizada uma pesquisa na

Internet tendo como referência os nomes das empresas de tecnologia citadas

pelo autor, tanto daquelas já consolidadas na oferta de produtos para o

mercado do turismo, quanto as que ainda planejavam atuar neste mercado.

Marín (2004) cita as empresas Apps informática e C&D Sistemas como

exemplo de empresas de tecnologia que ofereciam ferramentas back-office

para agências de viagem. Foi possível constatar que esta empresa atualmente

apresenta um link só para o setor do turismo no seu site, descrevendo um

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aplicativo integrado entre os departamentos administrativos e vendas. Já no

site da C&D não foi encontrada nenhuma informação sobre programas back-

office ou qualquer tecnologia voltada especialmente para o turismo. Todavia,

ela apresenta diversos clientes do mercado do turismo, como Marsans Brasil,

Maxtour e Tristar Turismo. Marín (2004) afirma que a partir de 2000, algumas

das maiores empresas de software nacional, a Benner Turismo, começaria a

adaptar suas ferramentas de gestão às agências de viagens. Hoje ela oferece

sistemas back-office para agências de viagens, turismo corporativo e agência

de eventos.

Com base em pesquisas realizadas na Internet, foi possível inferir que

houve uma evolução nas tecnologias aplicadas ao back-office das agências de

viagem. Através de notícias do site Panrotas (Portal voltado para os

profissionais do turismo com diversas informações (empresas cadastradas,

voos, fuso horário, vistos, embaixadas, etc), além de notícias sobre o

mercado), foram encontradas diversas empresas de tecnologia que têm

oferecido cada vez mais soluções tecnológicas para este setor as quais,

contudo, não foram citadas pelo autor. Um exemplo é a Netsar, criada em 2005

com foco principal nas agências de viagem e operadoras de turismo.

Outro recurso tecnológico citado por Marín (2004) também voltado para

a administração interna é o ERP cujo foco é os recursos da empresa. A

arquitetura do seu software tem como função principal facilitar “o fluxo de

informação entre todas as funções de uma companhia, tais como logística,

finanças e recursos humanos” (Ibid, 2004 p. 122). Esse tipo de programa,

altamente integrado, tem como qualidade principal a eliminação de informações

repetidas, já que os funcionários de todos os departamentos acessam a

mesma fonte de dados. Marín (2004) ainda defende que, por ser um banco de

dados único e universal, “decisões podem ser tomadas com uma visão mais

abrangente” (p. 122).

Ao abordar o contexto do sistema ERP no Brasil, o autor, afirma que as

empresas de tecnologia estavam começando a adaptar seus softwares para o

setor de agências de viagem. Softwares que anteriormente eram voltados para

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40

outros tipos de empresas e que futuramente poderiam “atingir o status de

Sistemas de Gestão Integral” (Marín, 2004, p. 215).

Foram encontrados alguns exemplos mais atualizados sobre a

aplicabilidade do ERP no turismo, como os produtos oferecidos pela Benner,

conforme já mencionado, considerada por Marín (2004) como uma das maiores

empresas de tecnologia no país. Hoje, esta empresa oferece softwares ERP

integrando as funcionalidades do back-office com as necessidades do

departamento de venda das agências.

Já o front-office da agência de viagem, atualmente, convive com

desenvolvimentos tecnológicos e sociais no comércio eletrônico. Marín (2004)

define comércio eletrônico como “a atividade de compra/venda de produtos e

serviços suportada por meios eletrônicos” (p. 125). Este processo de compra e

venda pode ser realizado parcialmente, quando o cliente envia um formulário e

deve aguardar resposta posteriormente, ou totalmente on-line, quando todo o

processo de pesquisa e reserva passa a ser automatizado, oferecendo uma

resposta instantânea ao cliente (Ibid, 2004).

Dessa forma, a Internet se torna um aliado na eficácia e qualidade dos

serviços oferecidos pela agência de viagem. Contudo, a existência do comércio

eletrônico atrai também novos concorrentes, como as agências virtuais e as

reservas on-line oferecidas diretamente ao cliente por companhias aéreas e

redes hoteleiras. (MARÍN, 2004 e O’CONNOR, 2001). Além disso, o perfil da

demanda turística tem mudado. Segundo Silva e Silva (2008), o cliente adquiria

produtos e serviços padronizados e atualmente exige cada vez mais produtos e

serviços diferenciados que se adaptem aos seus desejos e possibilidades

financeiras. Assim como Silva e Silva, muitos outros autores já abordados no

Capítulo I deste trabalho analisam a evolução do perfil do turista. Cooper

(2001) ainda destaca que o “novo consumidor turismo é informado, tem

capacidade de discernimento, busca qualidade e participação” (p. 483). Além

disso, “as motivações para a viagem estão se afastando do passivo prazer ao

sol, indo em direção a outras mais relacionadas à educação e à curiosidade”

(Ibid, 2001, p. 483).

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Para enfrentar es

(2008) apontam uma

de ser o produto para

oferecidos e procurand

momento” (Marín, 2004

criados para mensurar

Estes sistemas são ch

Cliente (CRM - Costum

SILVA, 2008).

Muito mais do

estratégia de trabalho q

importância à preserva

novos” (Marín, 2004, p.

Silva e Silva (2008) ao

pois a tecnologia auxili

considerado como estra

informação [operaciona

Fonte: Ad

ntar esta crescente concorrência, Marín (2004

nova forma de lidar com o mercado: o fo

para ser o cliente, personalizando os servi

urando “quantificar o grau de satisfação [do

, 2004, p. 110). Sistemas tecnológicos e proce

nsurar e analisar informações coletadas sob

ão chamados hoje de Gestão do Relacion

ostumer Relationship Management) (MARÍN,

s do que uma ferramenta tecnológica, o

alho que difere do marketing tradicional por d

servação dos clientes que se tem e não ape

04, p.111). A posição de Marín corrobora com

8) ao afirmarem que CRM “não é [apenas]

auxilia somente o nível tático” (p. 4). Assim

o estratégia pela empresa, interagindo nos div

cional, tático e estratégico]” (Ibid, 2008, p. 4).

Figura 1 - Ciclo estratégico do CRM

te: Adaptado de Marín, 2004

41

(2004) e Silva e Silva

o: o foco agora deixa

serviços e produtos

[do cliente] a cada

procedimentos foram

s sobre os clientes.

lacionamento com o

RÍN, 2004 e SILVA e

o CRM é “uma

l por dispensar maior

o apenas à busca de

a com as palavras de

nas] uma tecnologia,

ssim, “CRM deve ser

os diversos níveis de

p. 4).

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Após pesquisas em revistas eletrônicas de turismo e empresas de

tecnologias, foi possível observar que as afirmações de Marín (2004) sobre o

cenário das tecnologias de CRM no Brasil encontram-se desatualizadas. Nas

palavras do autor, não havia nenhum sistema de CRM próprio para agências

de viagem. Apenas grandes empresas e algumas agências virtuais tinham

conseguido implementar programas eletrônicos de acordo com as

necessidades específicas do turismo. Contudo, foram encontrados exemplos

de empresas de turismo que têm realizado parcerias com fornecedores de

tecnologias para criarem um sistema CRM adequando às características do

turismo9. Outro exemplo encontrado foi a Microsoft que oferece diversas

soluções tecnológicas. Dentre elas, o site da Microsoft Dynamics CRM

Marketplace que pode ser adaptado ao setor de hospedagem.

Silva e Silva (2008), ao citar Swift (2001), indicam dois exemplos de

CRM: Datawarehouse (DW) “sistema de gerenciamento de banco de dados,

elaborado para oferecer suporte para a tomada de decisões” (p. 4) e

Datamining (DM) “software que possibilita a extração de informações,

previamente desconhecidas, de base de dados acessíveis nos DWs” (Ibid,

2008, p. 4). Contudo, as autoras não deixam claro se estes sistemas são

adaptados à realidade do turismo ou se são as empresas de turismo que

devem adequar seus dados a estes programas.

A discussão quanto ao CRM pode se estender a todos os setores do

turismo, pois este tipo de estratégia se tornou um caminho a ser seguido por

todos os mercados. Atualmente, ao contrário de captar novos clientes, a

palavra de ordem, é fidelizar aqueles que já consomem determinado produto

ou serviço (Silva e Silva (2008). Esse conceito de marketing também pode ser

aplicado ao turismo. No caso do artigo das autoras Silva e Silva (2008), foram

analisadas as estratégias de CRM de duas redes hoteleiras. Neste contexto, o

objetivo das empresas é que o cliente, ainda que viaje para outros destinos,

prefira sempre se hospedar em um hotel da mesma rede.

9 Foram encontrados dois exemplos de parceria: a operadora de turismo Avant Garde com a empresa de tecnologia PMweb; e a agência de turismo Tereza Perez Tours que utiliza um sistema de CRM adaptado às duas necessidades e elaborado pela Inovetec.

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Finalmente, há uma característica em comum a todos os recursos

tecnológicos já abordados que deve ser considerada: a grande diversidade de

empresas de tecnologia que oferecem ferramentas para o mercado do turismo

ou as criam em parceria com empresas. Além disso, versões mais atualizadas

são apresentadas ao mercado periodicamente e, por isso, se torna um trabalho

árduo acompanhar todas as inovações presentes neste setor e as que ainda

estão por vir em breve já que cada uma tem suas peculiaridades. É possível ter

uma boa ideia dessa diversidade pelo número de empresas e suas soluções

tecnológicas listadas por Marín (2004). Foram numerados 41 fornecedores de

tecnologias oferecendo 56 produtos com as mais diversas funcionalidades,

dentre as mais citadas: back-office para agência de viagem e operadora de

turismo, sistemas de compra/venda hoteleira on-line, sistema de venda de

passagens aéreas e Sistemas de Gestão Integral.

Concluídas as análises sobre as ferramentas tecnológicas que suprem

determinadas necessidades do Trade Turístico, passaremos para umas das

tecnologias que mais se desenvolveram dentro desta área: os sistemas de

reservas e sistemas de distribuição global. Estas soluções tecnológicas

merecem uma análise mais detalhada pela complexidade do seu processo

histórico que constitui parte da própria história do turismo contemporâneo.

2.2 – Os principais Sistemas de Reservas e de

distribuição global

Uma das partes mais importantes de qualquer tipo de empresa de

turismo é o front-office, ou seja, os departamentos dentro da empresa que

entram em contato direto com o cliente (Marín, 2004). Vallen e Vallen (2003)

destacam que, dentre os departamentos considerados front-office do setor

hoteleiro (recepção, reservas e vendas), o setor de reservas é o que mais

demanda atenção. Atualmente, é possível observar que, tanto no setor de

agências de viagem quanto no hoteleiro, um sistema de reservas automatizado

se tornou imprescindível para controlar os serviços prestados ao cliente. A

origem dos programas tecnológicos atuais ligados à reservas e oferta de outros

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serviços turísticos está no setor que foi o pioneiro em visualizar esta

necessidade: o transporte aéreo (O’Connor, 2001 e Vallen e Vallen, 2003).

No final da década de 1950, o setor do transporte aéreo viu o número de

voos comerciais aumentar substancialmente. A partir de então, o processo de

reservas manual não era mais capaz de suportar o volume de venda e compra

de passagens aéreas. Para facilitar esse processo, as companhias aéreas

começaram a adotar o uso de computadores dentro da empresa a fim de

utilizar os primeiros sistemas centrais de reservas eletrônicos (CRS -

Computer Reservation System) (O’CONNOR, 2001; VALLEN e VALLEN, 2003;

MARÍN, 2004). Segundo O’Connor (2001), a princípio os sistemas de reservas

eram utilizados apenas internamente. Já no final da década de 1970, as

empresas aéreas deram início à instalação dos primeiros terminais de reservas

nas agências de viagem. (O’CONNOR, 2001; VALLEN E VALLEN, 2003;

MARÍN, 2004).

Inicialmente, contudo, o custo de manter um terminal de reservas dentro

da agência era elevado tanto para as empresas de transporte aéreo quanto

para as agências. Apenas as maiores empresas de turismo, que tinham maior

volume de vendas, mantinham os terminais das companhias em seu escritório.

Além das agências de pequeno porte, nas palavra de Vallen e Vallen (2003),

“muitas redes hoteleiras grandes não estavam conectadas àqueles sistemas de

reservas. Embora pudessem, algumas consideravam os custos proibitivos” (p.

121).

A primeira companhia aérea a criar esse sistema foi de origem

americana: a American Airlines, que criou o Sabre (O’CONNOR, 2001 e

VALLEN e VALLEN, 2003). Porém, as empresas americanas “começaram a

perceber os custos reais envolvidos na distribuição global de seus serviços e

deram início a um processo de grandes parcerias para integrar seus sistemas

de reservas” (MARÍN, 2004, p. 130). Vallen e Vallen (2003) citam o exemplo da

Worldspan, que foi originada dos “sistemas de propriedade das companhias

Northwest, Delta e TWA” (p. 121). Na Europa, o setor do transporte aéreo

entrou neste processo de forma mais tardia em relação aos Estados Unidos.

Porém, diferente deste país, os primeiros GDS europeus foram elaborados em

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conjunto por diversas empresas (O’Connor, 2001). Os dois principais GDS de

origem europeia, Galileo e Amadeus, entraram e operação apenas no início da

década de 1990 (Ibid, 2001). Alguns autores citam quatro empresas como as

maiores do mundo e que, a partir de 1990, começaram a dominar o mercado:

Amadeus, Galileo, Sabre e Worldspan (SANCHO, 2001; COOPER ET AL,

2001; VALLEN e VALLEN, 2003 e MARÍN, 2004). Vallen e Vallen (2003)

detalham a questão das fusões conforme descrito abaixo:

O tamanho e o custo dos sistemas centrais de reservas é impressionante: há cerca de 400.000 terminais em todos mundo, com a tecnologia e o suporte técnico correspondentes. A propriedade e a operação exigem os recursos de joint ventures como essas. Apenas a AMR Corporation, da American Airlines (SABRE, agora negociada publicamente), conseguiu fazê-lo sozinha. (p. 121)

Além das fusões, outra medida tomada pelas companhias aéreas foi

incluir nos seus sistemas a possibilidade de realizar reservas e emitir

passagens de outras companhias aéreas que não são proprietárias dos GDS.

O’Connor (2001) ressalta que “os sistemas originais eram específicos de uma

companhia – apenas vendiam passagens de sua proprietária” (p. 23). Essa

característica limitava as rotas encontradas em cada terminal, além de tornar a

pesquisa por voos mais demorada, já que o agente de viagem era obrigado a

acessar diversos terminais diferentes para encontrar a melhor opção de voo.

Com a inclusão de diversas companhias aéreas em um único programa, “a

possibilidade de acesso a uma gama muito mais ampla de voos aumentou a

funcionalidade dos sistemas, mudando sua orientação de um enfoque pequeno

e regionalizado, para uma perspectiva global” (O’Connor, 2001, p. 23).

Essa facilidade tornou os Sistemas de Reservas mais populares dentro

das agências facilitando a oferta de passagens aéreas ao consumidor final. De

acordo com Marín (2004), “uma vez que o potencial de distribuição eletrônica

dos GDS começou a ser reconhecido, outros serviços não aéreos foram

incorporados aos seus” (p. 131). O’Connor (2001) destaca dois fatores que

fizeram com que as companhias aéreas começassem a integrar a oferta de

outros serviços em seus sistemas: a exigência cada vez maior por parte dos

agentes de mais informações sobre outros serviços de turismo e a

oportunidade de aumentar os lucros destes sistemas, já que cada serviço

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vendido pelo agente reverte em uma taxa (conhecida como booking fee) a ser

paga à empresa que oferece o programa. Atualmente, os sistemas de

distribuição global oferecem informações, a possibilidade de compra-venda

entre as agências de viagem e os mais diversos produtos turísticos

(companhias aéreas, hotéis, locadoras de automóveis, casas de espetáculos,

restaurantes, transportadores marítimos, cruzeiros, dentre outros) (MARÍN,

2004 e O’CONNOR, 2001). Sancho (2001) lista as funções básicas dos GDS

mais recentes, que, em resumo, são:

• Informar, de modo neutro e arbitrário (...) sobre opções de voos,

hotéis, aluguel de automóveis, operadores turísticos, voos fretados,

barcas, cruzeiros, etc.;

• Reservas;

• Emitir a passagem (...);

• Administrar e facilitar o ato da venda mediante a conexão com o

sistema de contabilidade e gestão de agência ou um próprio do GDS.

A ajuda e a formação em linha permite solucionar qualquer problema

e esclarecer as possíveis dúvidas.

O aumento da demanda sentido pelas companhias aéreas e analisado

anteriormente, começou a ser percebido pelas redes hoteleiras na década de

1960. Todavia, a introdução de computadores como solução para o processo

de reservas neste setor foi mais tardia. Vallen e Vallen (2003) ressaltam o perfil

do setor hoteleiro, no que se refere às inovações tecnológicas:

É interessante observar que (...) o setor [de hospedagem] tem seguido historicamente a tecnologia de reservas das companhias aéreas que, em geral, foram responsáveis pelo desenvolvimento e investimento em novos sistemas, ao passo que o setor de hospedagem mostrou-se um pouco mais conservador. Ao optar por permanecer em compasso de espera durante os primeiros estágios do desenvolvimento, as redes hoteleiras acabaram economizando dinheiro ao aproveitar as tecnologias e os sistemas existentes (VALLEN e VALLEN, 2003, p. 120).

A primeira solução estratégica para controlar o grande volume de

reservas foi o estabelecimento de escritórios centrais de reservas (CRO -

Central Reservation Office), centralizando a reserva de todos os hotéis de uma

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rede em um escritório fora do hotel (VALLEN e VALLEN, 2003). O escritório

central substituía os setores de reservas situados de forma isolada em cada

hotel de uma rede. O’Connor (2001) cita Burns (1996) para descrever as

vantagens desse tipo de recurso tecnológico:

Em termos gerais, a lição estava clara: um ambiente de reservas centralizado era mais rápido, mais eficiente e, se bem projetado, muito mais econômico de operar do que escritórios individuais de reservas (BURNS Apud O’CONNOR, 2001, p. 36).

Contudo, o CRO era uma das principais fontes de custos das redes

hoteleiras. Isso ocorria porque “o escritório central tinha de pagar pela

prestação de serviços telefônicos gratuitos [já que, para os clientes, o telefone

era a principal forma de contato], e pelo custo de mão-de-obra dos agentes de

reservas necessários para atender telefones e processar outros serviços”

(O’CONNOR, 2001, p. 36).

Outro fator limitante era o controle das disponibilidades, pois este era

realizado de forma manual através de painéis que eram atualizados a mão a

partir do contato periódico entre a central de reservas e os hotéis da rede

(VALLEN e VALLEN, 2003). Esse processo era demorado e trazia margem a

erros, como, por exemplo, o over-booking10. Assim como ocorreu com as

companhias aéreas, o setor hoteleiro se viu obrigado a introduzir sistemas

computadorizados em suas centrais de reservas para tornar este serviço mais

eficiente e menos oneroso para a empresa (O’CONNOR, 2001). Essa inovação

tecnológica teve seu início em 1965, com o sistema Holidex introduzindo a

primeira central de reservas computadorizada (CRS) da rede Holiday Inn

quando, segundo O’Connor (2001),

Kemmons Wilson e Wallace Johnson, dois empreendedores visionários, observaram o sucesso da American Airlines com seu sistema computadorizado e acharam que ele poderia funcionar para processar as reservas de sua jovem cadeia de hotéis, a Holiday Inn (p. 36).

10 Over-booking: Quando o número de reservas confirmadas é maior do que o número de UHs disponíveis em um hotel. Isso pode ser uma estratégia do hotel para contornar o problema de baixa ocupação causado por reservas canceladas ou no show. Porém, se não for bem monitorada, essa estratégia pode sair do controle (VALLEN e VALLEN, 2003).

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Este tipo de ferramenta, mais do que um grande avanço do

departamento de reservas, trouxe novos horizontes na questão para o

marketing hoteleiro, “já que deram aos administradores de hotéis a

possibilidade de diferenciar-se, baseados na qualidade e característica do

produto, bem como preço” (Burns,1996 Apud O’CONNOR, 2011, p 37).

Marín (2004) afirma que a necessidade da integração entre GDS e CRS

hoteleiros começou a ser observada a partir da década de 1980 pelas grandes

bandeiras hoteleiras. Essa integração, contudo, teve um começo difícil, pois

havia diversos fatores que dificultavam a utilização das informações sobre os

hotéis dispostas no GDS. A arquitetura do GDS era projetada para oferecer

informações sobre voos, por isso havia alguma limitações na inserção de

informações: o sistema oferecia a possibilidade de inserir um número limitado

da diárias, o que impedia a oferta de muitas categorias de quartos e

diversidade de serviços que poderiam estar inclusos nas diárias (como diária

com ou sem café da manhã, por exemplo); as descrições do hotel e quartos

eram abreviadas por conta do limite de texto exigido; os hoteleiros eram

impossibilitados de inserir promoções de última hora pois o processo de

atualização dos valores era caro e demorado (O’Connor, 2001). Em resumo,

nas palavras de O’Connor (2001), “o número limitado de diárias apresentado,

as descrições inadequadas e a falta de ofertas especiais – faziam com que os

agentes de viagem não tivessem muita confiança nas informações sobre hotéis

apresentados nos sistemas [GDS]” (p. 26).

O autor acrescenta aos fatores limitantes analisados anteriormente o alto

custo e as dificuldades técnicas para criar “uma interface entre sistemas de

reservas por computador e sistemas de distribuição global” (Ibid, 2001, p. 41).

Segundo Marín (2004) e O’Connor (2001), poucas empresas conseguiram,

como a Holiday Inn, criar uma interface diferente para cada GDS e utilizar a

esta integração com sucesso.

Para solucionar o problema de integração entre GDS e CRS, mais uma

vez as grandes empresas hoteleiras tiveram a iniciativa de criar uma solução

tecnológica chamada comutação eletrônica (Marín, 2001). Desta vez, onze

grandes redes hoteleiras se juntaram para criar a THISCO (The Hotel Industry

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Switching Company), no início da década de 1990 (Vallen e Vallen, 2003).

Além da THISCO citada por diversos autores (O’Connor, 2001, Vallen e Vallen,

2003 e Marín, 2004), O’Connor (2001) cita da WizCom como outra grande

solução tecnológica criada para a mesma função.

A empresa comutadora (swich11 companie) funciona como uma ponte

de ligação entre os sistemas de reservas hoteleiros e todos os GDS. Isso

significa que, ao inserir informações em seu sistema de reservas, o hotel,

automaticamente está atualizando suas informações em todos os GDS. De

acordo com O’Connor (2001):

Em vez de ter de criar múltiplas interfaces entre os sistemas de reservas dos hotéis e os sistemas das companhias aéreas, as empresas hoteleiras precisam apenas desenvolver um ponto de entrada único (entre seu sistema de reservas por computador e a chave universal) que lhes permite contatar com todos os grandes sistemas (p. 41).

Vallen e Vallen (2003) destacam duas vantagens deste tipo de sistema

para o agente de viagem: o agente tem acesso às mesmas informações que o

setor de reservas interno do hotel, não precisando entrar em contato direto com

o hotel para confirmar se as informações estão atuais; “o agente de viagem só

precisa conhecer um conjunto de procedimentos e inserir apenas um grupo de

códigos” (Vallen e Vallen, 2003, p.123), o que anteriormente não existia pois

cada GDS oferecia um padrão de códigos diferentes.

Hoje, contando com um sistema altamente integrado, o CRS moderno

dos hotéis tem capacidade de controlar a negociação de um grande volume de

unidades habitacionais diariamente, pois as informações são disponibilizadas

em tempo real, além de poderem ser integrados com o GDS (VALLEN e

VALLEN, 2011 e O’CONNOR, 2001).

Para finalizar este tópico, é importante analisar como as empresas de

turismo comercializam seus produtos fora dos grandes sistemas de CRS e

GDS. Cooper (2001) alerta para o problemas enfrentados pelos hotéos de

médio e pequeno porte que, devido à diversas características próprias, não têm

11 “Swiching é a conexão estabelecida entre um terminal remoto e um computador” (O’Connor, 2001, p. 41).

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capacidade administrativa e financeira para utilizar as tecnologias dispostas no

mercado do turismo. O’Connor (2001) aborda uma das principais estratégias

adotada por hotéis independentes e de pequeno porte para obterem tecnologia

e estratégias de venda com baixo custo: o “consórcio de marketing” (p.43).

O consórcio de marketing funciona quando o hotel se liga a uma rede

hoteleira, mantendo sua administração independente. Nesse caso, o

empreendimento hoteleiro recebe serviços como aconselhamento sobre

marketing e promoção, propagandas e inserção do seu hotel em GDS. Como

compensação pelos aconselhamentos, nome da bandeira (que representa um

padrão de qualidade para muitos clientes) e inserção nos GDS, o hotel realiza

um contrato de pagamento à rede que pode ser a porcantgem dos lucros ou do

valor das reservas confirmadas (O’Connor, 2001). Dois bons exemplos de

redes citados por O’Connor (2001) e com membros existentes no Brasil são a

rede americana Best Western, com 16 hotéis no Brasil, e a Leading Hotels of

the World, que tem como membros apenas hotéis de luxo e onde o

empreendimento, neste caso, com 07 hotéis no Brasil. Essas redes são

americanas, mas estão presentes em várias partes do mundo.

Marín (2004) cita o ‘Roteiros de Charme’ como um exemplo de consórcio

de marketing que foi desenvolvido no Brasil. Contudo, o autor ressalta há um

grande número de hotéis independentes brasileiros que não conseguem se

inserir nessas evoluções tecnológicas por diversos fatores e não veem as

vantagens de aderir a uma rede independente de hotéis:

A natureza familiar da maior parte dos empreendimentos hoteleiros, unida a uma cultura pouco colaborativa entre empresários do ramo e a falta de uma classificação única de meios de hospedagem, tem limitado em grande medida a proliferação de redes não proprietárias que realizem um marketing conjunto de seus serviços. (Ibid, 2004, p. 146).

Outro elemento fora dos GDS e CRS hoteleiros que merece destaque é

a possibilidade de vendas on-line. A maioria dos autores já citados

(O’CONNOR, 2001, SANCHO, 2001, VALLEN e VALEEN, 2003, MARÍN, 2004)

é unanime ao definir a Internet como um fator crucial para a maior

independência na venda de serviços turísticos fora dos grandes sistemas de

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distribuição global. Para Marín (2004), a nova forma de contato com o cliente

beneficiou principalmente dois setores: o setor de transportes e o setor

hoteleiro.

A Internet surgiu como uma solução para oferecer uma distribuição global e venda on-line diretamente para hóspedes (b2c) e mesmo para distribuidores usuais dos hotéis. Dessa forma, hoteleiros começaram a desenvolver seus próprios sistemas de venda on-line (MARÍN, 2004, p. 148).

Ainda segundo o autor, muitas companhias aéreas sofriam com o alto

custo de pagar comissões duplas, para agências de viagem e GDS. Aquelas

que se recusavam a inserir seus voos no GDS tinham suas vendas

comprometidas, já dependiam em grande parte dos agentes para chegar ao

cliente final (O’CONNOR, 2001). Esses problemas fizeram com que as

empresas começassem a procurar outras soluções. Com a popularização da

Internet no início da década de 2000, começaram a desenvolver formas de

reservas e vendas de voos em seus sites, e “ainda consolidaram estruturas de

custos que permitem oferecer preços muito menores que aqueles praticados

pelas companhias tradicionais presentes nos GDS”. (MARÍN, 2004, p. 139).

A história da companhia aérea Gol é uma amostra do novo perfil de

venda do transporte aéreo. Criada em 2001, já iniciou suas atividades

oferecendo a possibilidade de reserva e venda de passagens on-line utilizando

o programa da empresa americana Navitaire que já oferecia o mesmo tipo de

software para outras empresas ‘low-cust’.

No caso dos hotéis, Marín (2004) cita algumas empresas de tecnologia

cujos sistemas de vendas on-line já haviam sido lançados no Brasil, como o

Desbravador e a Web-Business (p. 149). Ao analisar os serviços oferecidos por

estas empresas em seus sites, foi possível observar que houve uma evolução

na oferta dos softwares de venda on-line. Além de poderem ser agregados aos

GDS da agência através das empresas de comutação, esses programas

podem constituir um grande sistema integrado em conjunto com outros

sistemas tecnológicos internos do hotel.

Finalizamos este capítulo reforçando a desigualdade da evolução de

sistemas automatizados entre os setores do turismo e entre os países. Além

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52

desses fatores, o tamanho e volume de serviços vendidos pela empresa de

turismo também influencia na sua escolha por determinadas soluções

tecnológicas. Uma série de fatores pode prejudicar a adoção de avanços

tecnológicos como por parte de empresas de médio e pequeno porte:

• Falta de capital disponível para investimento em hardware e

software;

• Conhecimento insuficiente por parte dos funcionários, o que exigiria

mais custos e tempo para o treinamento;

• Muitos empreendimentos são gerenciados pelo próprio dono, que

geralmente não têm visão estratégica ou conhecimento de marketing

suficiente para o devido usufruto dos sistemas aplicáveis ao perfil da

empresa12.

A partir do que foi analisado neste capítulo, é possível concluir que não

só há uma diversidade muito grande de soluções tecnológicas, como há

também realidades diferentes de acordo com cada empresa. Por isso, no

próximo capítulo será analisado na prática que ferramentas tecnológicas as

empresas de turismo tem utilizado e o que elas têm exigido do profissional do

turismo.

12 Adaptados de Cooper et al, 2001, p. 469 e O’Connor, 2001, p. 67

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CAPÍTULO III – AS EXIGÊNCIAS DO MERCADO

3.1 – Análise teórica

No presente capítulo iremos analisar o que o mercado do turismo tem

exigido de seus profissionais, bem como as áreas mais consolidadas e aquelas

que ainda estão em processo de desenvolvimento. A pesquisa, conforme

detalhada anteriormente no tópico Metodologia, foi realizada durante 90 dias

nos sites da Catho e da ABAV-RIO.

A partir dos resultados foi possível observar primeiramente que as

empresas de turismo que mais utilizam esses meios como forma de divulgar

suas vagas de emprego são as agências de viagem e operadoras de turismo.

Isso não siginifica, contudo, que os outros setores ofereçam menos empregos.

As companhias aéreas e grandes redes hoteleiras, por exemplo, geralmente

possuem uma forma própria de seleção para suas vagas e, na maioria dos

casos, divulgam as ofertas de empregos em seus próprios sites. Algumas

empresas utilizam a tecnologia de uma empresa de RH para divulgar suas

vagas, como as companhias aéreas Tam e Gol, cujos sites apresentam um link

que leva diretamente ao site de recrutamento Elancers. Há ainda casos em que

a empresa possui um site exclusivamente voltado para informar as

oportunidades de emprego, como a rede de hotéis Accor, que divulga as vagas

abertas nos hotéis da rede localizados do mundo todo através do site

jobs.accor.com. Empresas como a rede hoteleira Accor – de grande porte cujos

escritórios, filiais ou franquias encontram-se localizados em várias partes do

mundo –, costumam informar em seus sites de empregos, oportunidades de

trabalho por todo o mundo. Outros exemplos que seguem as característica da

rede Accor são as companhias aéreas Air France e American Airlines.

Por isso, esta pesquisa não visa apontar onde está o maior número de

ofertas de trabalho, mas sim propor um estudo sobre o perfil de profissional

desejado pelas empresas que divulgam suas vagas nos sites pesquisados.

Mesmo porque, as áreas em que o profissional do turismo pode atuar são

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amplas e inclusive podem ir além dos setores já listados no Capítulo I13.

Ansarah (2002) lista 15 diferentes áreas em que o profissional pode atuar.

Dentre elas, áreas ainda pouco exploradas e mais intelectuais como, por

exemplo, publicações, pesquisa, magistério e consultoria.

É evidente que a história das profissões ligadas aos turismo segue em

paralelo à própria evolução desta atividade. O termo turismólgo surgiu na

década de 1970, quando foram inauguradas as primeiras universidades que

ofereciam o curso superior em Turismo no Brasil. Contudo, esta profissão

passou a ser oficialmente reconhecida pelo governo apenas a partir de 2012,

ou seja, 40 anos depois da criação do primeiro curso superior em Turismo no

país. Em 19 de Janeiro de 2012, foi publicada a Lei 12.591/12, que reconhece

a profissão de Turismólogo e delimita suas atividades. Logo após esta portaria,

em março de 2012, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) ligada ao

MTE também estipulou as funções do turismólogo, conforme segue:

Dirigem como representantes dos proprietários, ou acionistas, ou por conta própria, as atividades dos serviços de turismo, de alojamento e de alimentação. Planejam e executam projetos e programas inerentes a atividade turística buscando o desenvolvimento sustentável e o fomento do turismo. Para tanto, definem planos, políticas e diretrizes, traçam e executam planos de negócios. Buscam produzir os melhores resultados através de pesquisas e análises de mercado e garantem a qualidade de produtos e serviços oferecidos.

Como é possível observar, a CBO considera a função do profissional do

turismo a nível mais estratégico, composto por responsabilidades de gestão,

planejamento e coordenação. Inclusive a CBO considera como sinônimos de

turismólogo os termos Analista de turismo, Consultor em turismo, Gestor em

turismo e Planejador de turismo. Além disso, os títulos Diretor de produção e

operações de alimentação, Diretor de produção e operações de hotel e Diretor

de produção e operações de turismo são designações profissionais da mesma

categoria e, por isso, apresentam a mesma descrição de turismólogo.

13 No capítulo I, o mercado do turismo foi subdivido em: 1) meios de hospedagem, 2) agências e operadoras de viagens, 3) o setor de transportes entre os destinos (Transporte aéreo, rodoviário, marítimo e pluvial), 4) organizadores de eventos, 5) alimentos e bebidas (bares, restaurantes e lanchonetes) e 6) lazer (parques temáticos, boates, casas de espetáculos, dentre outros).

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A lei 12.591/12 é mais abrangente do que a CBO, estabelecendo 18

atividades ligadas à profissão, passando pelas atividades ligadas ao

magistério, marketing, pesquisa, gestão de empresas turísticas, planejamento

governamental e comcercialização de produtos turísticos, dentre outros.

Desta forma, um mercado que se mostra tão diversificado pode oferecer

grande diversidade de oportunidades ao profissional que escolhe esta área.

Entretanto, justamente por ter um mercado tão amplo é que o profissional do

turismo deve possuir determinados atributos para ter sucesso nesta àrea.

Ansarah (2002) afirma que o turismólogo, para ser um bom profssional, deve

ter “disposição para a profissão; qualidades comportamentais e conhecimentos

técnicos” (p. 44). Além disso, a autora defende que a graduação não é

suficiente para atuar no mercado do turismo. São necessárias diversas formas

de complementção ao estudo acadêmico a fim de aprimorar-se em

determinado setor do mercado do turismo. Os exemplos listados por Ansarah

(2002) foram: estágio profissional, leitura de assuntos dirigidos ao setor, cursos

extracurriculares (mais ligados ao setor que o profissional deseja atuar), cursos

de pós-gradução (especialmente para funções de gestão e planejamento),

participação em eventos, estudos de idiomas e a participação em empresas

júnior (quando existir essa possibilidade dentro da universidade).

A partir dos resultados apresentados a seguir será possível observamos,

na prática, as considerações teóricas expostas até o momento sobre o

profissional que atua no mercado do turismo e o que as empresas tem exigido

destes candidatos.

3.2 – Análise quantitativa sobre a pesquisa de campo

O presente estudo averigou um total de 184 ofertas de emprego. Foram

contabilizadas 142 vagas de emprego oferecidas por 93 empresas na Catho e

42 vagas oferecidas por 22 empresas no site da ABAV-RIO. Vale ressaltar que

no site da ABAV-RIO, por ser uma instituição ligada às agências de viagens,

todas as vagas encontradas foram oferecidas por empresas deste setor.

Contudo, mesmo ao contabilizar a pesquisa da Catho isoladamente, foi

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56

possível observar que as vagas no setor agência/operadora de viagens foram

maioria também.

A fonte das vagas foi uma das poucas semelhanças encontradas entre

os sites da Catho e da ABAV-RIO. Na maioria das análises houve grande

contraste no perfil das vagas encontradas nos dois sites. Por exemplo,

enquanto a ABAV-RIO apresenta vagas apenas do setor que a entidade

representa, a Catho evidencia grande diversidade nos tipos de empresas que

utilizam essa ferramenta de divulgação de vagas. Por conta dessas diferenças,

cada fator será analisado separadamente entre os sites a fim de evitar uma

falsa tendência para determinada característica.

O primeiro elemento considerado foi o nome dos cargos. Já neste tópico

inicial foram encontradas, nos dois sites, formas diferentes de identificação das

profissões. No caso da Catho, como no formulário a ser peenchido pelas

empresas, o campo “nome da oferta” é livre, ou seja, não há categorização pré-

determinada dos cargos por parte do site, foi encontrada grande diversidade de

nomes de cargos que possuiam funções semelhantes. Isso dificultou a

categorização das ofertas, que tiveram de ser analisadas detalhadamente para

a devida classificação. Já no caso da ABAV, a empresa, ao inserir uma nova

vaga no site, deve escolher entre os nomes já cadastrados. Isso facilitou a

categorização dos resultados deste site.

No caso da catho, os cargos foram agrupados em categorias de acordo

com a semelhança das atividades e funções descritas pela empresa. Em

alguns casos, quando o agrupamento pela semelhança das funções não era

possível, o agrupamento foi realizado de acordo com o setor do turismo em que

a oferta se encontrava (Gráfico 2). A maioria dos cargos oferecidos é para

operador/agente de viagens (40%). Dentro desta categoria se encontram os

operadores de viagens, cujo trabalho consiste basicamente na formatação de

pacotes para agências de viagens brasileiras ou estrangeiras (nesse último

caso são os chamados de operadores de receptivo internacional); e os agentes

de viagens, que fazem a intermediação entre os operadoras e turistas, além de

reservar e emitir bilhetes aéreos, realizar reservas de carros e hotéis, dentre

outros serviços. Dentro da sub-categoria agente de viagens se encontram as

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segmentações de agê

trabalho) e agências co

que viajam a trabalho o

Gr

Em segundo lug

exercer suas funções d

operacionais são ine

concierge15. Logo abaix

funções que lidam com

diversas empresas. Ne

ramos do turismo: hot

tecnologia para o merca

No caso da cate

incluidos os cargos de

operadoras, transporte

categoria por conta da

empresas. Já a catego

ofertas informadas por

14 Definição de governança:limpeza das UHs, e das dem2010, p. 13) 15 Definição de conciergeturísticas, mensagens, entsecretaria – tudo é da alçad

15%

6%

3%3%

8%

11%

e agências de intercâmbio (viagens para

ias corporativas cujos clientes são empresa

alho ou para participar de eventos.

Gráfico 2 - Categoria dos Cargos (Catho)

do lugar, encontram-se os diversos cargos

ões dentro de meios de hospedagens (15%),

inerentes ao setor, como recepção, g

abaixo vieram os departamentos de vendas

m com a comercialização de serviços e pro

s. Nesta amostra, as vagas foram oferecidas

o: hotelaria, empresas de seguro de viagem

mercado do turismo e restaurantes.

a categoria ‘cargos de gerência e supervisã

os de diversos setores (meios de hospedage

sportes, dentre outros), que foram agrupad

nta das suas funções a nível mais estratég

categoria assistente/auxiliar administrativo (6

s por empresas que não são do turismo, mas

ança: “À Governança foi designada às tarefas básicass demais áreas comuns do Hotel”. (Educatur Treinam

rge: Prestar informações e alguns serviços ao hós, entradas e reservas de eventos, babás, traduç alçada do concierge” (Vallen e Vallen, 2003, p. 89)

40%

14%

11%

Operador / Agente de

Vendas

Funções internas na ho

Assistente / auxiliar adm

Departamento de Mark

Funções internas de em

Gerência / Supervisão operacional)Outros

57

para estudos ou à

resas ou empresários

rgos oferecidos para

5%), cujas atividades

ão, governança14 e

endas (14%). São as

e produtos das mais

cidas pelos seguintes

iagem, empresas de

ervisão’ (8%), foram

edagens, agências e

rupados na mesma

tratégico dentro das

ivo (6%) engloba as

, mas incluem no seu

sicas de organização e inamento e Consultoria,

ao hóspede. “Indicações tradução e serviços de

te de viagens

na hotelaria

iar administrativo

Marketing

de empresas virtuais

visão (comercial ou

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58

organograma um funcionário que cuide de todas as viagens realizadas pela

empresa. Também estão nesta categoria os cargos administrativos internos

que foram oferecidos por agências e operadoras de viagens, ou seja, estão

inclusas as vagas que abrangem, além das atividades relacionadas à turismo,

a função de secretariado.

Por último, as categorias que ofereceram o menor número de empregos

foram o departamento de marketing e os cargos oferecidos por empresas que

trabalham com comércio eletrônico (Exemplo: Decolar.com e site Hotel

Urbano), ambas com 3%. No primeiro caso, o baixo número de vagas se

justifica pela função de marketing ser geralmente oferecida àqueles que tem

formação em publicidade ou comunicação, sendo contabilizados aqui apenas

os cargos em que a formação superior em Turismo era aceita. Já as poucas

vagas oferecidas por empresas virtuais justificam-se pelo número ainda

pequeno de empresas neste ramo no Brasil. O’Connor já afirmava, em 2001,

que a “distribuição de viagens pela Internet ainda está engatinhando” (p. 114).

A categoria “outros” se refere aos cargos cujas atividades não se

enquadram à demais categorias existentes (11%). Por conta da singularidade

destas ofertas, não foi possível agrupá-las em uma categoria diferente ou

inclui-las em algum dos outros grupos criados. Alguns exemplo foram:

professor de turismo, auxiliar de ouvidoria e contratador de hotéis.

No caso da ABAV-RIO, os cargos contabilizados foram agrupados em

apenas quatro categorias (Gráfico 3). A grande maioria das vagas encontra-se

na categoria agente/operador de viagens, englobando um total de 38 das 42

vagas oferecidas no site da ABAV-RIO. Dentro desta categoria, as vagas

oferecidas para agentes no setor corporativo chegaram a um número tão

significativo (18 ofertas), que foi esta foi apresentada em uma categoria a parte.

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Gráfi

Analisando mais

setor de agências de vi

através da evolução do

seus serviços voltando

“esses sistemas també

de negócios e ignorad

reforça esta limitação a

uma interface engessa

mercado corporativo q

satisfazer” (p. 134). A

contudo os dois autores

arquitetura tecnológica

mercado de lazer. As ag

mercado corporativo qu

Passando para o

pesquisa apresentaram

ABAV-RIO, nenhuma e

Técnico ou Ensino Su

pesquisa, pois foram co

relacionadas às funçõe

da Catho, onde há um

cadastro da vaga, foi po

43%

5%

Gráfico 3 - Categoria dos Cargos (ABAV-RIO)

mais detalhadamente o segmento corpora

de viagens, foi possível compreender sua fo

ão dos sistemas GDS que historicamente tê

ltando-se para esta demanda. O’Connor (20

também têm se concentrado fundamentalmen

norado o potencial do setor de lazer” (p. 32

ção ao afirmar que, até o século XX, os GD

gessada na tela “azul/preta” (p. 135) volta

tivo que são mais “homogêneos e relativam

34). As agências ainda seguem também

utores alegam que os GDS têm evoluído e de

ógica mais flexível e com mais informações p

. As agências tem seguido esta tendência, aten

ivo quanto ao mercado de lazer.

para o elemento ‘Formação acadêmica’, as du

taram, mais uma vez, algumas divergência

ma empresa apresentou qualquer requisito d

o Superior. Essa fato não prejudica a aná

am consideradas apenas as vagas que estav

unções que podem ser exercidas pelo turismó

á um campo para informar a escolaridade ex

, foi possível fazer uma seleção de forma mais

47%

5%5%

Operador / Agent

Agente corporativo

Administrativo

Gerência / Superv(comercial ou ope

59

orporativo dentro do

ua força no mercado

nte têm desenvolvido

or (2001) alerta que

talmente nas viagens

(p. 32). Marín (2004)

s GDS ainda tinham

voltando-se para o

ativamente fáceis de

bém esta tendência,

o e desenvolvido uma

ções para atender ao

a, atendendo tanto ao

as duas fontes desta

ências. No caso da

isito de Ensino Médio

a análise sobre esta

estavam diretamente

rismólogo. Já no site

de exigida no ato do

a mais clara. Ou seja,

Agente de viagens

orativo

upervisão u operacional)

Page 61: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

no site da Catho as va

Médio ou Ensino Su

desconsideradas para e

que podem estar fora d

contabilidade, advocaci

ou auxiliar de limpeza. P

composto apenas pelas

maioria exigia Ensino S

Algumas as vaga

pesquisa por descrev

gerenciamento e superv

em áreas correlatas. O

empresas aceitavam En

Administração, Relaçõ

exclusivamente Ensino

Gráfic

A diversidade de

o turismólogo concorra

quando estes já traba

experiência anterior tam

40%

6%

3% 12%

as vagas que exigiam apenas Ensino Funda

o Superior em outras áreas que não o

para esta pesquisa. Dessa forma, foi possíve

fora dos conhecimentos do turismólogo, com

ocacia ou cargos mais operacionais como seg

eza. Por isso, o Gráfico 4, referente à formaçã

pelas ofertas contabilizadas no site da Catho

sino Superior em Turismo como requisito.

s vagas que pediam apenas ensino médio for

escreverem atividades mais complexas o

supervisão exigindo sempre experiência anteri

tas. O que se destaca no gráfico é que

am Ensino Superior em outras áreas além do

elações Públicas ou Publicidade e apenas

nsino Superior em Turismo.

ráfico 4 - Formação acadêmica exigida (Catho)

de de cursos superiores aceitos pelas empres

ncorra com especialistas de outras áreas,

trabalham no mercado do turismo, pois a

ior também foi solicitada pela maioria das emp

38%

12%

1% Ensino Superior em Tu

Ensino Superior em Tuáreas correlatas

Ensino Superior em TuEnsino Médio

Ensino Superior em Tuáreas correlatas ou En

Ensino Médio

Não informa

60

Fundamental, Ensino

ão o turismo foram

ossível excluir cargos

, como, por exemplo,

o segurança noturno

rmação acadêmica, é

Catho, onde a grande

io foram incluídas na

as ou funções de

anterior na função ou

que a maioria das

m do Turismo, como

penas 38% exigiam

tho)

mpresas faz com que

reas, principalmente

pois a exigência de

s empresas no site da

em Turismo

em Turismo ou em

em Turismo ou

em Turismo ou em ou Ensino Médio

Page 62: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

61

Catho (Tabela 4). Por outro lado, a maioria das empresas que ofereciam vagas

no site da ABAV-RIO não informou sobre a exigência de experiência anterior.

Algumas empresas que não estabeleceram experiência anterior como

pré-requisito também não informaram claramente se o candidato à vaga

poderia não ter experiência na área. Por isso, não há uma categoria para

empresas que não exigem experiência anterior, e sim apenas a categoria “não

informaram”.

Tabela 4 – Empresas que exigem experiência anterior (Catho e ABAV-RIO)

CATHO ABAV-RIO

Sim Não informaram Sim Não informaram

82% 18% 11% 64%

Dentre as empresas que exigiam experiência anterior, muitas das vagas

necessitavam de candidatos que tivessem experiência exatamente na função

descrita. Contudo, a maioria exigia apenas experiência em áreas correlatas

(Tabela 5). Apenas duas empresas estabeleceram experiência profissional em

determinados sistemas tecnológicos como pré-requisito (GDS e Sabre) no site

da Catho. A partir destas informações, é possível concluir que a experiência no

estágio é crucial para que o graduando em Turismo consiga inserir-se neste

mercado, mesmo que não exerça em seu estágio a mesma função que

pretende para o seu futuro.

Tabela 5 – Exigência de experiência no setor de Turismo (Catho e ABAV-RIO)

CATHO ABAV-RIO

Na mesma função

Em áreas correlatas

Em sistemas tecnológicos

Na mesma função

Em áreas correlatas

Em sistemas tecnológicos

41% 58% 2% 47% 53% 0%

Dando continuidade às considerações sobre as ofertas de emprego,

foram observadas quais vagas tinham como exigência o conhecimento prévio

sobre alguma ferramenta tecnologia. As duas fontes da pesquisa apresentaram

pequena divergência. No caso da Catho, a maioria das ofertas exigia ou via

como diferencial o conhecimento de alguma forma de tecnologia. Já no

Page 63: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

62

resultado do site da ABAV-RIO, apesar da diferença pouco expressiva entre os

resultados, a tendência foi para que a maioria das ofertas não mencionasse

nenhum conhecimento em programas tecnológicos como pré-requisito (Tabela

6).

Tabela 6 – Vagas que exigiam o conhecimento em algum tipo de tecnologia (Catho e ABAV-RIO)

CATHO ABAV-RIO

SIM NÃO SIM NÃO

60% 40% 45% 55%

Ao explorar mais detalhadamente as vagas que exigiam conhecimento

em tecnologia como pré-requisito, foi possível identificar os tipos de tecnologias

solicitados pelas empresas. Vale ressaltar que algumas vagas pediam

conhecimento em mais de uma ferramenta tecnológica, por isso o total de tipos

de tecnologias exigidas é maior que o número de vagas que apresentavam

essa demanda. Foram 100 exigências entre as 85 vagas da Catho e 22

exigências entre as 19 vagas do site da ABAV-RIO. A seguir, analisamos o

resultado de cada fonte da pesquisa.

As vagas do site da Catho podem ser observadas no Gráfico 5. Na

maioria dos casos, há apenas a necessidade de conhecimento em programas

de computador básicos (por exemplo: Pacote Office, incluindo principalmente

Excel e Word) (27%) ou apenas “conhecimento em informática” como foi

descrito em algumas vagas (36%). Ao confrontar os dados estatísticos ora

expostos com a problemática das empresas no que concerne a tecnologia,

conforme já debatido no capítulo anterior, é possível inferir que há três

hipóteses que explicam resultado demonstrado: a maioria das empresas não

utiliza ferramentas tecnológicas específicas para o mercado do turismo ou, por

conta da falta de qualificação por parte dos candidatos, as empresas preferem

treiná-los a partir do momento que são efetivados. Ou ainda, por conta do

mercado pouco desenvolvido para tecnologias voltadas para o turismo, muitas

empresas desenvovem ferramentas tecnológicas cridas exclusivamente para

elas. A ausência de desenvolvimento tecnológico voltado para este setor é

evidenciada por Marín (2004), ao salientar que, em seu estudo no Brasil, não

Page 64: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

encontrou no mercado n

viagens à venda. Segu

(...) têm desenvolvido s

porém, são de propried

outras empresas” (Mar

empresas podem não

que o futuro funcionário

ferramentas tecnológica

Gráfic

Vale destacar ta

delimitam o conhecime

Conforme já analisado

para diversos setores

oferecer seus serviços

veículos) quanto para a

a maior gama de serviç

A categoria “outr

empresa e que, por i

própria. Além disso, nã

funções e são mais pe

são soluções tecnológic

21%

8%

cado nenhum sistema de comércio eletrônico

Segundo o autor, “algumas grandes operad

lvido seus próprios sistemas de venda on-line

opriedade dessas empresas e não podem se

” (Marín, 2004, p. 152). Essa característica

não exigir conhecimento em determinadas

ionário, após ser efetivado, deverá ter o trein

lógicas.

ráfico 5 - Tipos de tecnologias exigidas (Catho)

car também a porcentagem significativa de

ecimento em algum tipo de GDS como pré

lisado anteriormente, estes sistemas têm gran

tores do turismo, tanto para aqueles que

rviços e produtos (companhias aéreas, hotéi

ara as agências que recorrem a estes sistema

serviços turísticos aos seus clientes.

“outros” inclui programas que foram citados a

por isso, não puderam ser agrupados em

so, não se assemelham aos GDS, já que p

ais personalizadas para cada tipo de empres

ológicas como, por exemplo:

27%

36%

8%Pacote Office

Infomártica

GDS (Sabre, AmadeusGalileo)

Internet

Outros

63

nico para pacotes de

peradoras de turismo

line. Tais sistemas,

m ser adquiridas por

ística indica que tais

adas tecnologias, já

o treinamento nessas

)

a de empresas que

pré-requisito (21%).

grande importância

que a utilizam para

hotéis, locadoras de

istemas para oferecer

ados apenas por uma

s em uma categoria

que possuem outras

mpresa. Neste caso,

adeus e/ou

Page 65: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

1) Programa Fid

referente a ve

2) Ferramentas

cliente previa

de voos e ho

lado, essas f

vendas, reser

clientes16.

No caso da ABA

lembrar que esta entid

tendência é que haja e

compararmos as vagas

da Catho, as empresas

sistemas automatizados

Gráfico

Diferente das o

contabilizadas apenas 4

programas mais espec

Sabre ou Galileo) (61%

foram citadas por uma

empresa de tecnologi

16 Um exemplo de empresa

23%

a Fidelio, que oferece uma gama de soluçõ

e a vendas, reservas e gerenciamento para ho

entas de self-booking e self-tickets, que ligam

previamente cadastrado às todas as informa

e hospedagem encontradas no site da agê

sas ferramentas oferecem à agência vários

, reservas e gerenciamento sobre o fluxo de a

ABAV-RIO, o resultado apresentou um cená

entidade representa as agências de viagen

haja exigência de tecnologias relacionadas a

vagas informadas na ABAV-RIO àquelas enco

resas do site da ABAV-RIO foram mais claras

izados requisitados (Gráfico 6).

fico 6 - Tipos de tecnologias exigidas (ABAV-RIO

das ofertas encontradas no site da Cath

enas 4 exigências de Pacote Office. As outras

especializados, principalmente o grupo dos G

) (61%). A categoria “outros” englobam as t

uma ou duas empresas como, por exemplo:

nologia Reserve, citado em uma vaga;

presa que oferece ferramentas self-booking é a empre

18%

59%

Pacote Office

GDS (Sabre, Amadeus e/ou Galileo)

Outros (Tierra, BSP e Sistema Reserve)

64

oluções tecnológicas

ara hotéis;

ligam diretamente o

formações desejadas

a agência. Por outro

ários dispositivos de

o de acessos desses

cenário distinto. Vale

iagens e, por isso, a

das a este setor. Se

s encontradas no site

claras a respeito dos

RIO)

Catho, aqui foram

outras ofertas pediam

dos GDS (Amadeus,

as tecnologias que

mplo: um sistema da

ga; Business Server

mpresa Reserve.

deus

P e

Page 66: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

65

Provider (BSP), pedido por duas empresas17; e Tierra, um tipo de sistema

integrado utilizado por operadoras de viagens e composto pela parte

operacional das viagem (montagem do pacotes) e back-office da empresa.

Este que foi pedido para duas vagas oferecidas por uma empresa.

As tabelas a seguir detalham o número de exigências, bem como o tipo

de tecnologia, dentro de cada categoria de vaga. Ao observarmos as ofertas da

Catho, foi possível perceber que há a exigência de conhecimento em

tecnologias na maioria das categorias (Tabela 7). Dentre as nove categorias

existentes, cinco apresentam em maioria as vagas em que o conhecimento em

tecnologia se torna um pré-requisito ou um diferencial (são elas:

Operador/Agente de viagens, Departamento de Marketing, Funções Internas de

empresas virtuais, Gerência / Supervisão e Outros). Por outro lado, as vagas

relacionadas a vendas e aos cargos operacionais na hotelaria, na sua maioria,

não exigem qualquer tipo de tecnologia. Apenas na categoria Assistente /

Auxiliar administrativo houve empate.

Tabela 7 - Tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga (Catho)

Pacote Office Informática

GDS (Amadeus, Sabre e/ou

Galileo)

Internet Outros Nº de

vagas que exigem

Nº de vagas que não exigem

Operador/Agente de viagens 5 22 19 1 3 44 13

Vendas 7 1 0 1 1 8 12 Funções Internas na hotelaria 2 1 0 0 1 2 19

Assistente / Auxiliar administrativo 3 0 0 1 1 4 4

Departamento de Marketing 4 0 0 0 1 4 0

Funções internas de empresas virtuais 0 0 0 3 1 3 1

Gerência / Supervisão (comercial ou operacional)

4 1 2 0 0 7 5

Outros 2 11 0 2 0 13 3

17 É um sistema integrado ao back-office das empresas.

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66

Na mesma tabela foram enumerados os tipos de exigências de acordo

com cada categoria. Dessa forma, foi possível observar a demanda por

conhecimento em determinadas tecnologias de acordo com cada tipo de vaga.

No que concerne à exigência de domínio em tecnologias específicas do

turismo, a categoria que se destaca é a de Operadores/Agentes de viagens,

pois dentre as 44 ofertas que exigiam tecnologia, 19 pediam o conhecimento

em algum dos GDS. Além desta categoria, apenas duas outras vagas

relacionadas à Gerência exigiam o mesmo tipo de conhecimento.

Todas as outras categorias exigiam, em sua maioria, conhecimento no

Pacote Office completo ou em alguns dos seus aplicativos, principalmente

Word e Excel. Mesmo nos cargos que geralmente lidam com programas mais

especializados, como marketing e o próprio agentes/operadores de viagem,

não há, na sua maioria, nem descrição de algum programa com o qual o

candidato deverá saber lidar.

No resultado da ABAV-RIO (Tabela 8), não foram consideradas as

opções “informática” e “internet”, pois nenhuma empresa informou esse tipo de

exigência. Conforme já afirmado anteriormente, as vagas encontradas neste

site foram mais precisas sobre o tipo de tecnologia que estão exigindo dos

candidatos. Contudo, há um caso em especial que deve ser examinado

separadamente: há 15 vagas na categoria Agente Corporativo que não

especificaram nenhuma ferramenta tecnológica. Este dado foi resultado de

uma única oferta da empresa 4BTS, especializada no mercado corporativo, que

divulgou 15 vagas para agentes corporativo nível PL e SR18. Esta oferta não

apresentou nenhuma exigência. Contudo, pelo fato de informar que as vagas

seriam para nível Pleno e Sênior, é possível concluir que o candidato deve ter

uma boa experiência na área, bem como conhecimentos em determinadas

tecnologias. Segue a transcrição da descrição da vaga: “Consultor nível PL e

SR. Oferecemos salários entre R$ 2030,00 e R$ 2685,00 + VT + VR + AM +

AO e convênios com instituições de línguas, faculdades para graduação e pós

graduação e academia”.

18 Muitas empresas dividem o nível de responsabilidades de um cargo de acordo com o tempo de experiência e formação. Os níveis mais comuns são: Júnior (JR), Pleno (PL) e Sênior (SR).

Page 68: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

67

Outro fator interessante são as vagas de gerência. Foram apenas duas

vagas de supervisão oferecidas pela mesma empresa, 4BTS, que informavam,

também, serem de nível PL e SR. Contudo, assim como as vagas de agente

corporativo descritas anteriormente, estas não apresentam nenhuma descrição

sobre os conhecimentos que o candidato deve ter. Por isso, apesar de não

informarem a demanda pelo domínio de ferramentas tecnológicas, não é

possível afirmar que o profissional que se candidata a esta vaga não

necessitaria ter algum conhecimento em qualquer tipo de tecnologia.

Tabela 8 - Tipos de tecnologias exigidas de acordo com a categoria da vaga (ABAV-RIO)

Pacote Office

GDS (Amadeus, Sabre e/ou

Galileo) Outros

Nº de vagas que

exigem

Nº de vagas que não exigem

Agente/operador de viagens 3 10 2 14 6

Agente corporativo 0 3 1 3 15 Administrativo 1 0 2 2 0

Gerência / Supervisão (comercial ou operacional)

0 0 0 0 2

Apesar de o resultado demonstrar que as empresas não pretendem

contratar profissionais que tenham experiência e conhecimento em tecnologia

específicas do turismo, o mercado espera que este profissional esteja

familiarizado com a informática e programas de texto básicos, além de ter

habilidade em aprender a lidar com outras ferramentas tecnológicas.

Uma característica comum nas vagas encontradas é que a maioria é

voltada para cargos a nível operacional, diferindo um pouco da descrição

apresentada pela CBO sobre a função do turismólogo. Contudo, é importante

destacar que o presente trabalho trata de profissionais recém-formados que, na

maioria dos casos, não apresentam muito tempo de experiência no mercado.

Cargos de gerência, planejamento e coordenação geralmente exigem do

profissional não só a formação acadêmica na área, mas também anos de

experiência no setor. Por isso, na procura por ofertas de emprego, não é

comum encontrarmos empresas que aceitem recém-formados para cargos

hierarquicamente mais altos. A partir desses fatores, é possível concluir que no

Page 69: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

68

processo de desenvolvimento da sua carreira, o profissional de turismo recém-

formado deve começar nos cargos mais operacionais. Estes cargos também

podem exigir experiência anterior e a necessidade de determinados

conhecimento, mas o estágio pode ser a porta de entrada para estas funções.

Finalizando este capítulo, não podemos deixar de abordar a questão do

ensino das tecnologias já mencionadas no presente trabalho. Estas

ferramentas tecnológicas apresentam diversas características que dificultam

seu ensino na universidade:

• Podem apresentar arquiteturas diversas de acordo com cada tipo

de empresa; são atualizadas com grande frequência;

• Como são tecnologias oferecidas por empresas privadas visam

principalmente o mercado, oferecendo pouca abertura para seu

desenvolvimento e ensino dentro da universidade;

• Muitas dessas tecnologias, mesmo que ofereça funções

semelhantes a outras ferramentas já disponíveis no mercado, são

elaboradas exclusivamente para determinadas empresas de turismo;

• E finalmente há poucas ferramentas tecnológicas que possuem

cursos disponíveis ao público em geral.

Foram observadas algumas empresas de tecnologias que oferecem

treinamento on-line apenas aos funcionários de empresas de turismo quando

estas contratam seus serviços19. A exceção encontrada foi ABAV-RIO que

oferece cursos pagos do GDS Amadeus ao público em geral.

Todos esses fatores dificultam o ensino das diversas tecnologias

voltadas para o turismo na universidade, pois além das características

mencionadas anteriormente, a universidade segue um ritmo diferente das

evoluções tecnológicas. Entretanto, é preciso que o graduando tenha plena

consciência da existência desses tipos de tecnologias bem como suas funções

básicas e os setores do turismo que as utilizam. No capítulo seguinte iremos

descrever a evolução da formação universitária no Brasil, bem como a

19 Um exemplo encontrado foi o site Travel Port que oferece treinamentos on-line para os GDS Galileo e Worldspan para funcionários de agências cadastradas.

Page 70: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

69

formação do currículo, que, junto com o estágio profissional, pode se tornar um

importante instrumento para o aperfeiçoamento da relação entre o aluno e as

tecnologias do turismo. Finalizando a principal questão do presente trabalho,

serão analisados como o tema “tecnologia no turismo” está sendo discutido nas

universidades públicas do Rio de Janeiro.

Page 71: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

70

CAPÍTULO IV – A QUESTÃO DA TECNOLOGIA

DENTRO DAS UNIVERSIDADES

Até o momento, no presente trabalho analisou-se a importância e o

papel de cada elemento que envolve o ensino de tecnologia nas Instituições

que oferecem Curso Superior em Turismo: o fenômeno do turismo, o

desenvolvimento da tecnologia e o ambiente do mercado de trabalho cujo

formando irá encontrar. O quarto capítulo encerra este trabalho com o último

elemento deste processo: o sistema de ensino superior e os principais fatores

diretamente envolvidos – instituições, planejamento curricular e legislação

pertinente ao tema.

A Universidade possui a tripla função de pesquisa, ensino e extensão

(PIMENTA e ANASTASIOU, 2005). Contudo, essas funções não são exercidas

de forma equitativa (PIMENTA e ANASTASIOU, 2005; GODOY, 1988). Alguns

autores, como Oliveira Neto (2005), defendem inclusive que uma boa

Instituição deve prezar prioritariamente a pesquisa em detrimento do ensino e

da difusão de saberes, considerados como “consequências da pesquisa”

(LUCKESI, 1996 IN OLIVEIRA NETO, 2005; PEDRO, DEMO, 1981 IN GODOY,

1988). Esta questão é examinada no primeiro tópico, onde são discutidas as

diversas funções da universidade observando a perspectiva de cada elemento

nesta análise: instituição, aluno, professor e sociedade.

Na Educação Superior, ao traçar os objetivos de um curso, a instituição

deve dispor de estratégias de planejamento educacional. A principal ferramenta

para este planejamento é o currículo. Embora os conceitos sobre o currículo

tenham evoluído historicamente sob o aspecto do desenvolvimento de crianças

e jovens, foi possível constatar a existência de diversos autores que

apresentam uma análise curricular sob a visão do Ensino Superior. Dentre os

autores encontrados, muitos ainda se limitam a debater apenas sobre os temas

a serem abordados no Ensino Superior. No presente capítulo é apresentado

Page 72: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

71

um detalhamento sobre os conceitos e debates gerais sobre currículo e

currículo no Ensino Superior.

Posteriormente, são apreciados alguns tópicos sobre o Ensino Superior

em Turismo, apresentando um breve histórico no Brasil e no Rio de Janeiro e

uma descrição sobre a evolução curricular do curso de Turismo. Para encerrar

este capítulo, são identificadas como as tecnologias são abordadas nos cursos

de graduação em Turismo oferecidos pelas universidades públicas no Estado

do Rio de Janeiro, utilizando como fonte documentos divulgados pelas IES.

Dessa forma finalizamos o capítulo analisando na prática como as

universidades se posicionam frente as necessidades de conhecimento em

tecnologia no Turismo.

4.1 – A finalidade da universidade e seu papel na

sociedade

Ao considerar os objetivos da Universidade sob a ótica legislativa é

possível detectar os primeiros dispositivos legais publicados no Brasil já no

início da década de 1930. Godoy (1988), ao citar Campos (1940) e Fávero

(1977), destaca os decretos publicados em 1931, nº 19.850 – que cria o

Conselho Nacional de Educação – e nº 19.851 – que dispõe sobre o sistema

do Ensino Superior. Neste último, os fins do Ensino Universitário são

apresentados logo no primeiro artigo:

O ensino universitário tem como finalidade: elevar o nível da cultura geral, estimular a investigação científica em quaisquer domínios dos conhecimentos humanos; habilitar ao exercício de atividades que requerem preparo técnico e científico superior; concorrer, enfim, pela educação do individuo e da coletividade, pela harmonia de objetivos entre professores e estudantes e pelo aproveitamento de todas as atividades universitárias, para a grandeza na Nação e para o aperfeiçoamento da Humanidade (Decreto nº 19.851, de 11 de Abril de 1931).

O autor aponta ainda a antiga Lei de Diretrizes e Bases (LDB), lei nº

4.024, de 20/12/1961, revogada pela nova LDB, lei nº 9.394, de 20/12/1996, e

a lei 5.540, de 28/11/1968, sobre a reforma universitária, que, embora não

tenha sido revogada, compreende na sua maioria artigos já revogados por

Page 73: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL€¦ · Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de especialista

72

outras formas legais. A partir destas duas leis que, segundo Godoy (1988)

caracterizam uma mudança na visão sobre a universidade, é possível resumir a

função do ensino superior em três aspectos:

a) A aquisição de conhecimentos: missão de pesquisa; b) A transmissão de conhecimentos: missão de ensino e c) A aplicação de conhecimentos: missão de serviços (p. 15)

A LDB atual, publicada em 1996, segue a mesma linha de idéias em seu

artigo 43º, cujas finalidades da Universidade são listadas em sete incisos, que

resumidamente expressam os seguintes pontos: preparar o aluno para o

mercado de trabalho, tornando-o um profissional crítico e consciente (missão

de ensino), desenvolver pesquisas relevantes a sociedade (missão de

pesquisa), difundir seus conhecimentos e promover a prestação de serviços a

comunidade (missão de serviços). Já na Constituição Federal (CF) promulgada

em 1988, foi estabelecido o “princípio de indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão” a ser obedecido pelas universidades públicas e

particulares20.

Constata-se então que a legislação sempre procurou dar à Universidade

a função múltipla de atender às expectativas do aluno e do mercado de

trabalho, bem como às necessidades da sociedade e da comunidade local que

a cerca. Contudo, ao pesquisar as opiniões defendidas por alguns autores e

pensadores da educação, foi possível observar grande polêmica no que diz

respeito à importância de cada um dos três elementos citados na CF. Muitas

universidades priorizam a produção de pesquisas, em detrimento do ensino e

da difusão de saberes. Tornando-se hermética em seu mundo,

descompassada com necessidades de alunos e da sociedade (PIMENTA E

ANASTASIOU, 2005).

Nas palavras de Oliveira Neto (2005), apenas “na criação e na produção

do conhecimento, por meio da reflexão crítica da realidade é que a

universidade poderá cumprir sua missão” (p. 45). Entretanto, o autor ressalta

que as pesquisas e análises críticas devem ser “aliadas à solução dos

problemas sociais, trabalhando como sujeito ativo diante da própria história” (p.

56). Pimenta e Anastasiou (2005), por sua vez, criticam a constante visão

20 Artigo 207º

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73

limitada da Universidade, onde o professor é persuadido a priorizar as

pesquisas em detrimento do ensino prejudicando a formação do universitário.

Oliveira Neto (2005) e Pimenta e Anastasiou (2005) destacam afinal o

conflito ao qual se encontra a educação superior se encontra, entre preparar o

indivíduo para “o exercício de suas tarefas profissionais, determinadas pelas

políticas de desenvolvimento” (OLiveria Neto, p. 63, 2005) e manter seu papel

como “instituição líder, produtora de ideias, culturas, artes e técnicas renovadas

que se comprometam com a humanidade, com o processo de humanização”

(Pimenta e Anastasiou, p. 173, 2005). A questão não é deixar de lado o

desenvolvimento de pesquisas, mas sim oferecer paralelo às produções

científicas, um ensino de qualidade e adequado à realidade em que a

sociedade se encontra atualmente – dinâmica e rapidamente mutável.

Barretto et al. (2004), ao analisarem a educação superior do curso de

Turismo, tem seu foco principal na preparação profissional do estudante, desde

que o ensino não seja exclusivamente operacional e que haja constantes

pesquisas, a fim de atualizar os programas de acordo com as mudanças

sociais. A educação superior, contudo, não deve ser confundida com

treinamento. Ansarah (2002) cita a OMT (2001) ao detalhar a diferença entre

educação e treinamento:

a) A educação pode ser definida como um processo que dá ao individuo um conjunto de princípios, não aplicações detalhadas. Ela deve fornecer ao estudante um conjunto de ferramentas para interpretação, avaliação e análise de um novo conhecimento ao desenvolver suas capacidades críticas. (...) O conceito-chave é a provisão de transferência de habilidades básicas, tais como a habilidade analítica, a habilidade de comunicação escrita e verbal e a liderança, que deveriam ser desenvolvidas pela educação e aplicadas, pelo indivíduo, em diferentes contextos; b) O treinamento, por outro lado, é uma atividade muito mais específica que se concentra na aplicação detalhada em nível mais baixo, frequentemente habilidades práticas. O treinamento, em geral, é específico de um setor e procura equipar o trainee com habilidades definidas e claras, como emissão de bilhetes, serviços ou habilidades de contato com o cliente. (p. 20)

Como pode ser observada na citação anterior, a educação oferecida

pela Instituição de Ensino Superior (IES) deve prover ao aluno uma base para

o desenvolvimento crítico que vai além dos conhecimentos técnicos e

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operacionais. O estudo científico do Turismo em especial, por ser uma área

ainda recente, encontra-se em grande mutação. Isso faz com que o professor

não se limite as teorias já estabelecidas, devendo também agregar ao processo

de ensino análises, estudos e pesquisas sobre questões cada vez mais atuais,

integrando teoria e prática. Nas palavras de Ansarah( 2009) “no turismo, o que

se entende por verdade hoje, não quer dizer que necessariamente o será

manhã” (p. 29 )

Outro paradigma educacional, neste caso citado por Barretto et al.

(2004), é o desenvolvimento do ensino por competências no Ensino Superior

que, segundo os autores, tem como único objetivo atender às necessidades de

um mercado complexo, que exige profissionais cada vez mais preparados e

flexíveis. Ramos (2006) discute os elementos envolvidos na chamada

“Pedagogia das Competências”, ao qual é possível inferir que o conhecimento

deverá partir das empresas para as instituições de ensino. Ramos detalha um

sistema de formação denominado competência profissional, integrado por três

subsistemas: “a) normalização das competências por parte das empresas; b)

formação acadêmica por competências; c) avaliação e certificação de

competências” (p. 80).

Sobre o primeiro subsistema, a autora ressalta a importância de

estabelecer regras e padrões aplicáveis em diferentes ambientes produtivos.

Dentro da empresa, isso facilitaria na organização do organograma, processos

de promoções e plano de carreira, além da admissão de novos funcionários.

Externamente, as regras e padrões deixariam mais claro o que se espera do

trabalhador “convertendo-se em elementos orientadores para o sistema

educativo” (p. 81).

Ao discutir o segundo subsistema, formação de competências, a autora

não deixa claro em qual nível essa formação deve ser realizada, mas ressalta

que todo o sistema educativo que optar por esta orientação está priorizando

apenas as competências operacionais de determinado ramo do mercado de

trabalho, podendo ser comparado a um ensino baseado em treinamento

altamente especializado. Um problema alertado pela autora sobre a formação

baseada em competências é a dificuldade em trazer tais padrões para o

sistema de ensino-aprendizagem, por não apresentarem “nenhuma sequência

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75

que observe uma metodologia própria para a formação”. (...) “elas

(competências) expressam um objetivo, um resultado esperado e não uma

metodologia de como aprender e chegar ao resultado” (Ramos, p. 82, 2006).

O subsistema avaliação e certificação por competências, por sua vez,

pode ir além da avalição final de cursos, pois abre a oportunidade de

certificação por competências para aqueles cujos conhecimentos forma obtidos

na prática sem nunca terem feito qualquer tipo de formação acadêmica. Esses

processos educacionais voltados para o mercado podem ser aplicáveis a

cursos voltados para cargos cujos conhecimentos a serem desenvolvidos são

operacionais, não intelectuais. Contudo, não são completamente adequados ao

nível superior em que a análise crítica e o desenvolvimento intelectual fazem

parte da formação do educando.

Segundo Ansarah (2002), o curso superior em turismo deve ter uma

constante integração entre teoria e prática, entre treinamento e ensino. Para a

autora:

As instituições educacionais têm como compromisso direcionar os estudos para: • A formação de recursos humanos para o mercado de trabalho; • Estimular e despertar a preocupação com a pesquisa e a investigação; • Fornecer maior embasamento cultural e humanístico; • Preparar os profissionais para novas tecnologias e novos equipamentos. (p. 21)

A partir das considerações descritas neste primeiro tópico é possível

concluir que a IES apresenta finalidades sociais, culturais e econômicas. O

curso de Turismo, em particular, sofre a pressão de formar bons profissionais,

preparados para as rápidas mutações do mercado onde cada setor possui

exigências altamente especializadas e operacionais, e futuros pensadores,

dispostos a lançar-se em pesquisas nesta imatura ciência, por muitos ainda

nem considerada como tal. O perfil do formando oferecido pela universidade à

sociedade deve ser a principal questão a ser discutida e para tal a instituição

deve estar preparada para elaborar cursos mais dinâmicos, capazes de serem

atualizados para estarem em compasso com a sociedade. O primeiro elemento

a ser analisado no que diz respeito à elaboração de um curso e suas

disciplinas, é o planejamento curricular, próximo tópico a ser discutido.

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76

4.2 – Debates sobre o currículo e o currículo no Ensino

Superior

Assim como o fenômeno do turismo abarca diversas definições, foram

encontrados inúmeros conceitos relacionados ao Currículo durante pesquisa

bibliográfica. Ao traçar uma trajetória sobre os principais pensadores de

educação que desenvolveram definições curriculares desde o início do século

XX, Traldi (1987) chega a citar 28 autores.

A autora, antes de discorrer sobre as dezenas de definições encontradas

no decorrer do século XX, argumenta que a definição de Currículo defendida

por determinados pensadores pode apresentar diferentes focos conforme a

sociedade, a cultura e a época quando foi elaborada. Moreira e Silva (2005)

corroboram com esta ideia ao afirmarem que “o currículo é considerado um

artefato social e cultural. Isso significa que ele é colocado na moldura mais

ampla de suas determinações sociais, de sua história, de sua produção

contextual” (p.07). A partir disso, é possível inferir que a definição de Currículo

quase sempre teve sua evolução constantemente ligada ao contexto

econômico e social ao qual se encontrava.

Os primeiros estudos encontrados sobre a definição de currículo foram

desenvolvidos por Dewey (1902) e Kilpatrick (TRALDI, 1987 e MOREIRA E

SILVA, 2005), cuja corrente de pensamento era voltada “para a elaboração de

um currículo que valorizasse os interesses do aluno”. Outra definição

reconhecida durante décadas foi estabelecida por Bobbit cujo Currículo é

descrito como um “conjunto ou série de coisas que as crianças e os jovens

devem fazer e experimentar a fim de desenvolver habilidades que os

capacitem a decidir assuntos da vida adulta”(BOBBIT, 1941 apud TRALDI,

1987, p. 34).

Tais tendências, segundo Moreira e Silva (2005), seguiram quase

inalteradas até início da década de 1970. Harold Rugg (1936) e Ralph Tyler

(1949) procuraram sanar os problemas na elaboração do currículo centrando-

se principalmente na integração de variados pensamentos o que, segundo o

autor “nem sempre foi bem sucedido” (p. 11). Já Traldi (1987) identifica uma

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alteração nos valores que cercam o conceito de currículo já na década de

1950, quando Anderson (1956) acrescenta à definição clássica de Currículo

duas questões: conteúdo e método são indissociáveis; as experiências

curriculares devem incluir atividades extraclasses. Traldi também cita Rugg

(1936), que define o “Currículo como ‘programa integral da escola’, envolvendo

os fins da educação, o que os professores e alunos fazem e como o fazem e os

materiais que usam” (p. 34). A autora ainda destaca o enfoque no

planejamento dado por este pensador, uma inovação no conceito do Currículo

para a época.

Kliebard (2011), assim como Moreira e Silva (2005), avalia os clássicos

princípios de Tyler de forma crítica, contudo aprofundando sua análise sobre as

peculiaridades destes princípios. Inicialmente o autor destaca as quatro

perguntas aos quais Tyles (1949) afirmava que deveriam ser respondidas ao

elaborar um Currículo:

1. Que objetivos educacionais deve a escola procurar atingir? 2. Que experiências educacionais podem ser oferecidas que possibilitem a consecução desses objetivos? 3. Como podem essas experiências educacionais ser organizadas de modo eficiente? 4. Como podemos determinar se esses objetivos estão sendo alcançados? (Kliebard, 2011, p.24)

Kliebard (2011) alerta para a principal fase da doutrina e também a mais

crítica de todas: a elaboração dos objetivos. Neste ponto Tyler descreve três

fontes que devem ser consultadas ao elaborar os objetivos: estudos sobre o

aluno, estudos sobre a vida contemporânea e sugestões oferecidas pelos

especialistas no conteúdo. Kliebard (2011) define estas três fontes como uma

síntese de diversas doutrinas tradicionais, cada uma com seus “principais

representantes, seus seguidores e sua própria retórica” (p. 25). Isso, de acordo

com o autor, explicaria a popularidade de Tyler entre os mais variados

pensadores.

Seguindo a cronologia adotada por Moreira e Silva (2005), apenas a

partir da década de 1970, em meio a uma crise econômica que,

consequentemente, colocou em debate a própria cultura ocidental, foi quando

sugiram movimentos e protestos contra todas as instituições e valores

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tradicionais que representavam esta cultura. E assim a escola, bem como o

poder e o controle representados pelo Currículo, passaram a ser questionados

e criticados. A partir destas críticas, novas correntes conceituais sobre

Currículo foram desenvolvidas cujo foco, segundo o autor:

Não mais se supervalorizavam o planejamento, a implantação e o controle de currículos. Não mais enfatizavam os objetivos comportamentais. Não mais incentivava a adoção de procedimentos “científicos” de avaliação. (...) Deslocaram-se e renovaram-se, em síntese, os focos e as preocupações. (Moreira e Silva, 2005, p. 16)

Moreira e Silva (2005) firmam que os autores neomarxistas foram os

primeiros, nos Estados Unidos, a discutir o novo conceito de Sociologia do

Currículo que, posteriormente, esteve presente nas novas teorias

desenvolvidas dentro da Sociologia da Educação na Inglaterra. Silva (1990),

assim como Moreira e Silva (2005) destaca as ideias de Apple e Weis, cuja

principal crítica sobre o papel da escola remete as relações de poder e

dominação do conhecimento no que diz respeito ao planejamento curricular.

A sociologia do Currículo passou a considerar esta ferramenta

educacional fruto do conflito de interesses e da cultura e da sociedade do seu

tempo. Apple (1982, apud SILVA, 1990) apresenta então dois tipos de

currículo: o manifesto, “transmitido no corpo formal do escolar assegurando a

distribuição cultural e a seletividade social” (SILVA, 1990, p. 13) e oculto,

transmitindo de forma tácita “normas, valores e tendências que se realizam

simplesmente pelo fato de os alunos viverem as expectativas e rotinas

institucionais das escolas, dias após dias durantes anos” (APPLE, 1982, p. 27

apud SILVA, 1990, p. 13). Tais termos mantêm-se atuais até hoje. Outro

pensador destacado por Silva (1990) e Moreira e Silva (2005) é Henry Giroux,

cuja principal crítica recai sobre o papel reprodutivo da escola. De acordo com

este pensador, “os alunos de todas as classes e grupos carregam a lógica da

dominação e do controle, em graus diferentes; assim sendo, pessoas podem

escolher entre serem sujeitos da dominação ou sujeitos da história” (SILVA,

1990 p. 14).

Essas novas correntes, críticas ao conceito tradicional do currículo,

tentam responder a questões como as seguintes: a quem pertence o

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conhecimento? Quem o selecionou? Por que, por quem e para quem está

sendo planejado? Por isso, representa um novo foco nos conceitos que

envolvem o currículo, relacionando-o a cultura, a sociedade, ideologia e

diversidade (SILVA, 1990 e MOREIRA e SILVA, 2005). As reflexões de Paulo

Freire, grande pensador da educação brasileira, segundo Silva (1990)

apresentam suas indagações sobre o currículo de forma esparsa em suas

obras. Contudo, através de pesquisa bibliográfica realizada pela autora, fica

evidente que este cientista da educação defendia o ensino e cultura como

elementos indissociáveis (Ibid, 1990). Em especial em sua obra Pedagogia da

Autonomia (2011), o autor deixa claro sua crítica sobre o ato de simplesmente

transmitir o conhecimento já existente. Para Freire, o docente não existe sem

discente e por isso, o ensino só acontece realmente quando os alunos se

transformam em “reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber

ensinado” (p. 28).

Ao analisar a realidade do planejamento curricular no Brasil, Silva (1990)

ressalta a ideologia tecnicista presente nas propostas curriculares da década

de 1970 até o final da década de 1980. Segundo a autora, a implantação da lei

nº 5692/71, que estabeleceu novas regras para o ensino no 1º e no 2º grau,

tinha como objetivo padronizar nacionalmente as diretrizes curriculares com um

enfoque técnico-profissional, principalmente no 2º grau. Paralelo a legislação

federal, guias e propostas curriculares eram elaborados por especialistas e

enviados às escolas para serem executados (Ibid, 1990).

Sob o ponto de vista legal, este quadro se altera a partir da nova LDB,

publicada em 1996, quando se levou em consideração alguns elementos que

pretendiam ‘humanizar’ e diversificar a experiência escolar através de

elementos como, por exemplo:

• O objetivo de valorizar as experiências extracurriculares21;

• Divisão do currículo – uma baseada em diretrizes nacionais, outra

diversificada de acordo com as características de cada região22;

21 Inciso X do Artigo 3º 22 Artigo 26º

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• Inclusão de educação ambiental como parte obrigatório do

currículo23.

Ainda que a legislação adote certas práticas que tornam o currículo mais

diversificado e inclusivo, na prática, segundo Moreira e Silva (2005), ainda há

uma defasagem na teorização curricular cujo foco “tem ficado indiferente às

formas pelas quais a “cultura popular” (televisão, música, videogames, revistas)

tem constituído uma parte central e importante da vida das crianças e jovens”

(p. 28). A falta de compreensão sobre as transformações na educação e no

currículo decorrente das novas tecnologias é outra crítica apresentada pelo

autor.

As novas tecnologias e a informática ilustram as profundas transformações que se estão dando na esfera da produção do conhecimento técnico/administrativo, transformações que tem implicações tanto para o “conteúdo” do conhecimento quanto para sua forma de transmissão (p. 28).

Até este ponto, os pensadores e pesquisadores abordados neste sub

capítulo analisaram o currículo sob a ótica da formação social de crianças e

jovens, bem como sua preparação para o futuro. Contudo, grande parte das

questões ora levantadas pode nos conduzir aos elementos que envolvem

currículo universitário, principalmente no que diz respeito às relações de poder

e dominação na produção curricular dentro das universidades.

Determinadas indagações apontadas pela Sociologia do Currículo como,

por exemplo, quem seleciona os temas abordados, para quem e como é

formatada a grade curricular, dentre outras reflexões, são questionamentos que

devem ser destacados, pois têm relação direta com as finalidades da

universidade e com as expectativas do educando e da sociedade frente aos

futuros formandos. Ao defender a importância da definição dos objetivos

curriculares na universidade, Davies (1979) alerta que, além de delimitá-los é

de suma importância explicar sua relevância, para quem são relevantes e

finalmente, considerar o contexto temporal em que se encontram.

Estas questões devem ser levantadas, segundo Barretto et al. (2004), no

momento de elaboração do projeto político-pedagógico do curso, fase de suma

23 Parágrafo 7º do Artigo 26º

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importância para o planejamento curricular. Neste documento o projeto deve

ter como base as necessidades de determinados setores, bem como a

identificação destes, identificação do seu “marco situacional”, definição dos

conceitos adotados para estruturar seu “referencial filosófico-pedagógico e, por

fim”, (....) “ sua contribuição social, ainda que localmente situada” (p. 79).

Pimenta e Anastasiou (2002) listam diversas atribuições do ensino

universitário a serem consideradas no momento do planejamento curricular,

visto que este não deve considerar apenas os assuntos a serem abordados,

mas também as metodologias que poderão ser adotadas. Dentre as atribuições

estão:

Propiciar o domínio de um conjunto de conhecimentos, métodos e técnicas científicos que assegurem o domínio científico e profissional do campo específico e devem ser ensinados criticamente. Para isso, o desenvolvimento das habilidades de pesquisa é fundamental; conduzir a uma progressiva autonomia do aluno na busca de conhecimentos; (...) valorizar a avaliação diagnóstica e compreensiva da atividade mais do que a avaliação como controle; conhecer o universo cultural e de conhecimentos dos alunos e desenvolver, com base nele, processos de ensino e aprendizagem interativos e participativos (p. 164 – 165)

Para Freire (2011), a problemática da transmissão unilateral do

conhecimento, torna o aluno passivo frente às “respostas prontas” imbuídas no

discurso do professor e limitam sua criatividade e sua capacidade crítica.

Frente a este problema, o autor defende por parte de alunos e professores uma

postura mais “dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada” 24. Esta

também é uma questão a ser analisada do ponto de vista universitário. Neste

caso, além da interação aluno e professor, defendida por Freire, muitos

pesquisadores defendem um novo formato para o currículo universitário.

Gesser e Ranghetti (2011) relacionam uma série de princípios

norteadores para a elaboração de um novo currículo. As autoras ressaltam que

estes não devem ser declarados como modelos únicos a serem executados,

mas sim elementos a serem considerados no momento de planejar e executar

um currículo para a universidade. Estes princípios são:

1. Pesquisa, 24 Pedagogia da Autonomia, 2011, p. 83.

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2. Pergunta (ambos estão diretamente ligados, pois toda pesquisa

começa com a elaboração de uma pergunta),

3. Teoria da interdisciplinaridade, flexibilização curricular, participação

colegiada (considerando que todos os elementos envolvidos no

ensino devem participar no processo de elaboração e atualização do

currículo),

4. Reconhecimento dos contextos da prática profissional, parceria entre

universidade e entidades profissionais,

5. Ligação entre teoria e prática e,

6. Distribuição do tempo e espaço, este último sendo diretamente ligado

às divisões temporais e espaciais entre prática e teoria.

Dentre os princípios debatidos por Gesser e Ranghetti (2011), aquele

que mais foi abordado dentre os autores pesquisados, inclusive pensadores da

educação em turismo, foi a flexibilização curricular. Ansarah (2002) e Barretto

(2004) defendem a flexibilização curricular, onde a universidade poderia

oferecer ao aluno a oportunidade de aprofundar-se na área do turismo que

mais lhe interessa, tornando a experiência acadêmica mais proveitosa.

Reiterando as reflexões de Ansarah (2002) sobre a dinâmica do conhecimento

na área do turismo, a autora justifica a necessidade de flexibilização pelas

constantes evoluções sobre o conhecimento do turismo. Neste caso, a autora

não só defende que o aluno possa escolher quais disciplinas gostaria de

cursar, mas também as próprias disciplinas deveriam se tornar passíveis de

constantes reestruturações a fim de acompanhar a própria evolução da

sociedade. Esta ideia também é defendida por Oliveira Neto (2005) para a qual

a universidade deve estar

Municiada, através de mecanismos eficientes, de forma a não defasar o conhecimento e as habilidades que emana. Assim, o “aprender a aprender” necessita pautar a educação superior atual, com a finalidade de formar adequadamente a nova força de trabalho, à luz do momento tecnológico (p. 69).

Para Barretto et al. (2004), a justificativa para a flexibilização do currículo

pauta-se na questão da grande diversidade de perfis cujo futuro profissional do

Turismo pode adotar, contabilizando cerca de 90 funções diferentes

encontradas no mercado de trabalho. De acordo com os autores, se

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somássemos todas as carreiras que o profissional de turismo deveria cursar,

segundo o perfil desejado pelo Ministério da Educação (MEC), o estudante

permaneceria na universidade por 15 anos. Como consequência, os cursos

superiores em turismo se tornam generalistas e superficiais, formando

profissionais que não preenchem os requisitos “nem para pensar o turismo nem

para prestar serviços de qualidade” (p. 75). Para solucionar este problema os

autores apontam a flexibilização da grade curricular, dando ao aluno a opção

de escolher aprofundar-se em determinada área. Contudo, esta flexibilização

não terá êxito se o curso não for pautado em um projeto político-pedagógico

contendo a definição do seu perfil, sua contextualização na área em que se

encontra e o embasamento teórico mínimo que todo o futuro profissional em

turismo deve cursar.

O curso superior em turismo, em especial, apresenta algumas

peculiaridades que dificultam sua padronização e controle de qualidade. Trigo

(1999) cita um texto de Westlake (1994) ao listar as principais características

desta área que podem comprometer a qualidade do ensino. Dentre elas dois

pontos merecem destaque por influenciarem diretamente no planejamento

curricular:

• A educação em turismo é multidisciplinar e contém elementos atrativos para outras disciplinas como geografia, história e ciências comportamentais.(...) • A educação em turismo é também afetada pelo extenso conteúdo da natureza da indústria turística. Ela é fragmentada e atravessa vários setores que envolvem um grande leque de operações. Consequentemente, é difícil estudar todos os níveis e as nuanças de um campo razoavelmente indefinido (Westlake e outros 1994, pp 57 – 60 apud Trigo, 1999, p. 165).

Ao analisar a evolução curricular do curso superior em turismo foi

possível observar a diversidade das disciplinas consideradas básicas ao longo

da sua história, bem como as mudanças no foco dentro de cada proposta.

Matias (2002) aponta da Resolução s/n de 28 de Janeiro de 1971 publicada

pelo Conselho Federal de Educação (CFE) como o primeiro currículo mínimo

estabelecido no país. O primeiro curso de Turismo no Brasil foi criado em 1971,

mas foi apenas na década de 1980 que as categorias representantes dos

bacharéis em turismo, a Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo

(ABBTUR) e a Associação Brasileira de Dirigentes de Escolas de Turismo e

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Hotelaria (ABDETH), iniciaram seus debates sobre as disciplinas básicas do

curso (MATIAS, 2002 e Trigo, 1999). Durante os encontros promovidos

anualmente eram estabelecidas “extensas discussões sobre o currículo do

curso, o caráter científico do turismo e a forma como se deveria proceder para

ensiná-lo e regulamentar a profissão no nível nacional” (Trigo, 1999, p. 157).

Durante a realização do III Encontro Nacional de Bacharéis em Turismo

(ENBETUR), em 1981, foi criada uma Comissão de Currículos e Programas

cuja proposta de currículo mínimo foi encaminhada ao CFE. Nesta proposta

constavam, além das disciplinas obrigatórias, as possibilidades de habilitações

que poderiam orientar na formulação das disciplinas complementares.

Ao receber a proposta, o CFE solicitou um parecer ao Instituto Brasileiro

de Turismo (EMBRATUR), na época denominada Empresa Brasileira de

Turismo. Em resposta, esta entidade reformulou o currículo mínimo priorizando

a formação técnica e profissional, em detrimento de uma formação mais

conceitual e teórica. A partir das habilitações, foram estabelecidas, pela

primeira vez, as disciplinas que poderiam ser optativas. Sobre as habilitações

estabelecidas pela EMBRATUR (Agenciamento e Transporte, Hotelaria e

Planejamento), Matias (2002) afirma:

Para qualquer das opções, enfatiza-se a importância de capacitar o aluno para atuar tanto na área de produção, como na de Administração e Planejamento dos Serviços Turísticos. Esta previsão facilita a absorção e o encarreiramento do egresso no mercado de trabalho. (p. 16)

No ENBETUR realizado em 1995 foi mais uma vez elaborado um

currículo mínimo para o curso de turismo. Esta proposta apresenta um foco

mais humanizado do que a anterior, retomando, inclusive disciplinas

estabelecidas na resolução de 1971, como Sociologia e História. No mesmo

ano, a ABBTUR e a ABDETH passaram a promover em conjunto diversas

discussões para reestruturar a proposta de um novo currículo (Ibid, 2002). Em

resultado, 1996, após o Seminário Nacional de Reformulação Curricular dos

Cursos de Turismo e Hotelaria foi estabelecido um novo currículo que, em

1998, foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). Esta proposta

apresentou diversos aspectos inovadores, dentre elas:

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1. Foi estabelecida uma divisão do tempo na estrutura curricular para a

formação básica (25%), formação profissional (45%), formação

complementar (20%) e estágio (10%);

2. A formação básica, assim com a proposta elaborada no ENBETUR

de 1995 foi constituída por disciplinas mais humanas;

3. Pela primeira vez, nas matérias de formação foi estabelecida a

informática entre as disciplinas obrigatórias.

É interessante observar que, apesar da tecnologia estar presente no

turismo desde a década de 1970, como já foi discutido no Capítulo 2, foi

apenas nas propostas curriculares apresentadas a partir da década de 1990

que o referido tema foi estabelecido entre as disciplinas básicas a serem

cursadas.

A década de 1990 foi marcada por mudanças não só no ensino do

Turismo, mas também em todo o sistema educacional. Em 1996 foi

promulgada a nova LDB. Mesmo antes da LDB, em 1995, a Lei nº 9131 alterou

a redação da antiga LDB25 no que se refere às competências do CNE e

conferiu à Camara de Educação Superior a responsabilidade “deliberar sobre

as diretrizes curriculares propostas pelo Ministério da Educação e do Desporto,

para os cursos de graduação”. A partir de 1998, foram criadas diversas

Comissões de Especialistas de Ensino Superior com o objetivo de receber as

propostas de diretrizes curriculares enviadas pelas IES, analisá-las em

conjunto e emitir um parecer final apresentando um modelo de diretrizes

curriculares para o curso (Fornari, 2006).

O curso Superior em Turismo foi inicialmente analisado pela Comissão

de Especialistas de Ensino de Administração (CEEAD). Em sua composição

original não havia nenhum especialista na área de Turismo. Apesar das

solicitações feitas pela ABBTUR de formar uma comissão exclusiva para o

curso de Turismo ou um subcomitê assessor, desvinculada da CEEAD, a

Secretaria de Educação Superior (SeSu) apenas aprovou a nomeação de um

representante da área dentro do CEEAD (Ansarah, 2002). Em 1999, esta

Comissão chegou a elaborar um Manual de Orientação para Verificação “In

25 Os artigos 6º, 7º, 8º e 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961.

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Loco” das Condições de Autorização dos cursos de Turismo. Contudo, devido

às peculiaridades deste curso, em 2000, através da Portaria nº 1.518, foi

criada uma Comissão apenas para o Turismo que revisou os documentos já

elaborados pela Comissão do ensino de Administração (Ansarah, 2002 e

Fornari, 2006).

A partir de então, desde o final da década de 1990, o CNE/CES passam

a publicar diverso pareceres a fim de orientar a elaboração das Diretrizes

Curriculares. Dentre eles, o parecer 146/2002, que estabelece as Diretrizes

Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Direito, Ciências

Econômicas, Administração, Ciências Contábeis, Turismo, Hotelaria,

Secretariado Executivo, Música, Dança, Teatro e Design, e o Parecer 288/2003

que estabelece as Diretrizes Curriculares do Curso de Graduação em Turismo.

Foi então que, em 24 de Novembro de 2006, a Resolução nº 13 foi promulgada

determinando as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em

Turismo. Vale ressaltar que, apesar das diversas discussões promovidas pelas

entidades representativas do Turismo sobre a estrutura curricular do curso, o

currículo mínimo legalmente vigente até este momento era o Parecer nº35/71.

Dentre os referenciais apresentados pelos pareceres, em especial o

parecer 67/2003 ressalta o marco histórico consolidado a partir da nova LDB,

publicada em 1996, cuja concepção curricular baseia-se não mais no Currículo

Mínimo, mas sim em Diretrizes Curriculares. De acordo com o Parecer

67/2003, o Currículo Mínimo tinha como objetivo promover a padronização

nacional dos cursos de graduação, apresentando o mesmo grau de qualidade

para todos e curso e um profissional preparado para o mercado de trabalho.

Contudo, esse padrão já não atendia às necessidades de uma sociedade

dinâmica, pois engessava o currículo do ensino superior que por sua vez tinha

grandes dificuldades em acompanhar a evolução do mercado de trabalho.

Segundo o referido parecer,

Assim, rigidamente concebidos na norma, os currículos mínimos profissionalizantes não mais permitiam o alcance da qualidade desejada segundo a sua contextualização no espaço e tempo. Ao contrário, inibiam a inovação e a diversificação na preparação ou formação do profissional apto para a adaptabilidade (p. 2).

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A fim de oferecer mais liberdade às IES ao elaborarem seus currículos e

reestruturá-los de acordo com a demanda sempre quando necessário, as

legislações mais atuais optaram por estabelecer as Diretrizes Curriculares que

“objetivam servir de referência para as instituições na organização de seus

programas de formação, permitindo flexibilidade e priorização de áreas de

conhecimento na construção dos currículos plenos” (Parecer nº 67/2003, p.

04). Dessa forma, a Resolução nº13/2006 segue as características do novo

perfil de orientação curricular. Em destaque segue os principais tópicos

abordados que expressam uma orientação básica para a organização do

currículo:

• Determina que a organização do curso deva ser realizada através de

um projeto político-pedagógico;

• Lista as habilidades e competências que o curso em Turismo deve

propiciar ao aluno;

• Classifica os conteúdos em básicos, específicos e teórico-práticos;

• Inclui no projeto político pedagógico a criação de atividades

complementares26.

A partir dos documentos legais supracitados, é possível concluir que

para a legislação vigente o importante é apresentar os objetivos finais que o

curso deve alcançar, mas não há maiores detalhes sobre os meios de como

chegar a estes, deixando à IES a responsabilidade de direcionar sua grade

curricular de acordo com as demandas da sua região. No que se refere ao

ensino da tecnologia, a Resolução 13/2006 dispõe apenas que a “habilidade no

manejo com a informática e com outros recursos tecnológicos” deve estar entre

as competências e habilidades a serem alcançadas no curso superior em

turismo. Ou seja, a legislação atual considera a importância do ensino de

26 Art. 8º As Atividades Complementares são componentes curriculares que possibilitam o reconhecimento, por avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, inclusive adquiridas fora do ambiente acadêmico, abrangendo a prática de estudos e atividades independentes, transversais, opcionais, de interdisciplinaridade, especialmente nas relações com o mundo do trabalho, com as peculiaridades das diversas áreas ocupacionais que integram os segmentos do mercado do turismo, bem assim com as ações culturais de extensão junto à comunidade.

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tecnologia no turismo, contudo não especifica como o tema deve ser abordado,

ou até que ponto a disciplina ou matéria deve se aprofundar nas ferramentas

tecnológicas que envolvem o turismo, que variam muito de acordo com o perfil

profissional.

Antes de finalizar este capítulo serão analisadas as ferramentas

curriculares apresentadas pelos cursos de turismo oferecidos pelas IES

públicas do Rio de Janeiro. A grande maioria foi realizada antes da resolução

publicada em 2006 e por isso, podem estar defasadas e em processo de

reestruturação neste momento. Tudo isso demonstra que estamos vivendo um

momento de transição no ensino superior em turismo. Contudo, antes de

apresentar os currículos dos cursos de Turismo, será exposta no próximo

tópico uma breve análise sobre a evolução do curso superior em turismo no

Brasil a fim de contextualizá-lo na atualidade. Ao observar o histórico deste

curso no Brasil, constatamos que existem diversas peculiaridades que se

entrelaçam com a própria história política e econômica do país. Por isso, é

importante estuda-lo dentro da própria história do Brasil e da evolução da

educação no país.

4.3 – A evolução do curso superior em Turismo no Brasil

A origem do curso superior em turismo no Brasil, diferente de cursos

tradicionais como direito, história e medicina, por exemplo, começou há apenas

40 anos, no início da década de 1970, primeiramente entre as universidades

particulares. Sobre as peculiaridades deste curso, Matias ressalta que no

Brasil, o surgimento dos primeiros cursos foi diferente de países como Estados

Unidos e Europa, onde o Turismo evoluiu de outros cursos já consolidados em

universidades tradicionais. Aqui estes foram criados por “unidades

universitárias autônomas ou ligadas aos igualmente novos cursos de

comunicações e artes” (MATIAS, 2002, p. 04). Ansarah (2002) divide a

evolução do curso em Turismo em quatro fases:

a) A primeira, na década de 1970, é marcada pela criação dos cursos, primeiro o de turismo (1971, na Faculdade Anhembi Morumbi, hoje Universidade Anhembi Morumbi, sediada no Estado de São Paulo), e posteriormente os de

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hotelaria (1978 inicialmente com os cursos tecnológicos iniciados pela Universidade do Sul – RS); b) A segunda fase, na década de 1980, foi marcada pela estagnação de oferta de cursos, decorrente de problemas econômicos no país; c) A terceira fase, na década de 1990, caracteriza-se pela valorização dos cursos no âmbito acadêmico, com aumento do número de cursos nas áreas de turismo, hotelaria (...); d) A quarta fase é a atualidade e que deverá estabelecer o equilíbrio “quantidade versus qualidade” (p. 73)

Os primeiros cursos surgem durante o auge do “milagre brasileiro”

período de forte crescimento econômico e grandes investimentos em

infraestrutura e em empresas estatais. Foi marcado também pela “ascensão da

classe média, reforma universitária e investimentos na área de turismo no

sentido de atrair moeda forte estrangeira” (Silveira et al, 2012, p. 13). O período

também foi marcado por importantes conquistas nas políticas ligadas ao

Turismo, pois nesta época foi estabelecida a primeira Política Nacional de

Turismo (1966) e foi criada a EMBRATUR (1967) (Barretto et al, 2004). Matias

(2002) apresenta em tabela os primeiros cursos criados no país. Em apenas

um ano (1973) foram 7 cursos distribuídos entra as cidades de Brasília (2), Rio

de Janeiro (1), São Paulo (3) e Porto Alegre (1). Paralelo aos cursos

superiores, foram criados os cursos técnicos em turismo quando, em

decorrência da lei 5692/71, foi instituída a obrigatoriedade de um currículo

profissionalizante paralelo ao 2º grau. De acordo esta lei, parte do currículo

profissionalizante poderia ser aproveitada nos 3º grau. Isso, segundo Silveira et

al (2012) trouxe uma tendência dos cursos superiores em Turismo “se

comportarem como somatórios de treinamento técnicos, alinhados ao

tecnicismo vigente no processo do ‘milagre econômico’ brasileiro” (p. 13).

A segunda fase do curso relatada por Ansarah (2002), assim como a

primeira, é fortemente influenciada pela situação econômica em que o país se

encontrava. A partir de meados de 1970, o Brasil começa a sentir a recessão

mundial decorrente da crise do petróleo o que produz uma de “suas crises

cíclicas, provocando o desemprego, queda do poder aquisitivo das classes

médias e baixas e aumento das mensalidades escolares” (MATIAS, 2002, p. 5).

Já a década de 1990, principalmente, a partir da segunda metade desta

década, com a estabilidade da moeda e a abertura do mercado brasileiro, o

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turismo volta a ser valorizado como opção para desenvolvimento e geração de

empregos (Ibid, 2002). Esta fase caracteriza-se pela explosão de cursos

superiores em Turismo devido não só as condições políticas e econômicas,

mas também as novas regras estabelecidas pela LDB promulgada em 1996.

Esta lei estabelece as formas de registro de cursos em instituições particulares

e estende ao ensino superior cursos sequenciais e de extensão, cursos livres

que exigem inicialmente apenas a finalização do ensino médio ou equivalente,

diferentemente da graduação e pós-graduação, em que os candidatos devem

passar por um processo seletivo27. Outro ponto destacado por Silveira et al

(2012) para justificar o grande aumento dos cursos de turismo foi o interesse

de IES privadas por cursos que demandam pouca estrutura física de

laboratórios e , por isso, tem um custo de manutenção mais baixo do que

cursos mais complexos como engenharia ou química, por exemplo.

Ansarah (2002) apresenta um histórico de pesquisas realizadas no

decorrer da década de 1990 pela própria autora em parceria com Mírian

Rejowski sobre o número de cursos de turismo no país, de acordo com a tabela

abaixo:

Tabela 9 - Número de cursos ligados à área do Turismo

1994 1996 1998 2000

41 51 73 298 Fonte: Ansarah e Rejowski, 1994 e 1996; Rejowski, 1998 e 2000 apud Ansarah, 2002

A autora ressalta que a primeira pesquisa não representava a realidade

brasileira, pois ainda havia muitos cursos que naquele momento aguardavam o

reconhecimento do MEC e também não se encontravam nos dados de órgãos

ligados ao turismo ou a educação como a ABBTUR ou a Secretaria de Ensino

Superior do Ministério da Educação. Ainda que estes números sejam apenas

próximos da realidade, é possível observar a explosão de cursos nesta área já

no final da década de 1990.

A última fase citada por Ansarah (2002) é a estabilidade e consolidação

do curso de turismo. Sobre as consequências da explosão de cursos, Silveira

et al (2012) cita Panosso Netto (2009) ao afirmar que o crescimento do número

27 Artigo 44º, incisos I, II e IV. Redigido pela Lei nº 11.632, de 27 de Dezembro de 2007.

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de cursos no Brasil não foi acompanhado da evolução da qualidade dos

mesmos. Por isso, nesta nova fase muitos destes passam por momentos de

crise, principalmente nas IES privadas. Por outro lado, o governo federal passa

a influenciar fortemente na visão sobre o turismo no ensino superior ao

estabelecer o primeiro plano de ação voltado para a área - o Plano Nacional de

Municipalização do Turismo (OMT, 1999 apud SILVEIRA et al, 2012).

Posteriormente, o Plano Nacional de Regionalização do Turismo (2003 – 2007)

veio consolidar a parceria entre governo e instituições de ensino.

Na cidade do Rio de Janeiro, em especial, a evolução dos cursos seguiu

as tendências descritas neste subcapítulo. O primeiro curso de turismo foi

oferecido pela Faculdade de Turismo Guanabara, em 1973, seguido da

Faculdade da Cidade , em 1974, Faculdade Hélio Alonso, em 1977 e

Associação Educacional Veiga de Almeida, em 1980 (ANSARAH, 2002).

Apenas 30 anos após o primeiro curso oferecido por uma instituição

particular, surgem em 2003 os primeiros cursos de graduação em turismo

oferecidos por universidades públicas - Universidade Federal Fluminense

(UFF) e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Em

2006 a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) inaugura

Instituto Multidisciplinar em Nova Iguaçu e entre os cursos neste novo campus,

está a graduação em Turismo. Posteriormente, no vestibular de 2009, o Centro

de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ) 28, em parceria

com a UFRRJ inicia a oferta de vagas para o primeiro curso superior a

distância de Licenciatura em Turismo voltado para a formação de professores

que tenham como objetivo lecionar em cursos de nível técnico. É possível

inferir, a partir dos fatos relatados na década de 2010, que o ensino superior

em Turismo foi finalmente considerado pelas IES públicas como uma área do

conhecimento relevante necessitando de profissionais e pesquisadores com

formação superior.

28 CEDERJ é um consórcio é um consórcio formado por seis universidades públicas do Estado do Rio de Janeiro em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro, por intermédio da Fundação Cecierj, com o objetivo de oferecer cursos de graduação a distância, na modalidade semipresencial para todo o Estado (http://www.cederj.edu.br/fundacao).

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4.4 – Análise sobre a abordagem da tecnologia nas IES

públicas do Rio de Janeiro

Inicialmente é descrita a forma como foram adquiridos os documentos

usados como ferramenta de planejamento curricular nos curso de turismo de

três universidades públicas localizadas no estado do Rio de Janeiro: UFF,

UFRRJ e UNIRIO. Os documentos pesquisados deveriam apresentar

elementos que permitissem analisar como o curso trabalharia com a questão

da tecnologia durante o desenvolvimento dos estudos.

A Resolução nº13/2006 é a ferramenta legal mais recente e por isso a

melhor base para analisarmos os documentos encontrados para o

planejamento curricular dos cursos a serem estudados. Segundo parágrafo

único da resolução n° 13/2006:

Os planos de ensino, a serem fornecidos aos alunos antes do início do período letivo, deverão conter, além dos conteúdos e das atividades, a metodologia do processo de ensino-aprendizagem, os critérios de avaliação a que serão submetidos e a bibliografia básica.

Os pontos assinalados na citação citada acima podem ser encontrados

nas ementas dos cursos, onde cada disciplina é detalhada através de objetivos

específicos, temas abordados, metodologia de avaliação e ensino e

bibliografia. Outro documento importante é o projeto pedagógico que

demonstra de forma mais abrangente quais são os objetivos gerais do curso,

bem como sua missão, visão e identificação do contexto social em que se

encontra. A grade curricular ou fluxograma é outra fonte que pode nos oferecer

uma visão geral das disciplinas oferecidas pelo curso.

Para que o futuro universitário faça suas escolhas quanto ao curso que

deseja, a melhor medida a ser adotada pela universidade, seja ela pública ou

particular, seria a disposição de informações sobre seus cursos ao grande

público. Levando em consideração essa premissa, a presente pesquisa foi

realizada principalmente nos sites dos cursos de turismo das universidades

citadas anteriormente. Outra forma de adquirir os documentos a serem

analisados foi através do contato direto com as coordenações dos cursos.

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Abaixo segue uma descrição sobre o curso de turismo de cada universidade e

como o tema “tecnologia” é abordado em cada caso.

4.4.1 - Universidade Federal Fluminense

No site do curso de turismo foram encontradas as ementas das

disciplinas obrigatórias e das opcionais, além da matriz curricular e fluxograma.

Não foi encontrado nenhum projeto pedagógico no seu site, contudo no próprio

corpo do site encontra-se uma breve apresentação contendo o histórico do

curso, missão, objetivo, titulação e duração e turno.

Na sua missão, o foco principal é a qualificação profissional e sua

estrutura curricular tem como eixo central a gestão pública e privada do

turismo. Este texto encontra-se direto no site e observa-se estar atualizado de

acordo com as novas diretrizes curriculares para o curso superior em turismo.

A matriz curricular ilustra as disciplinas obrigatórias agrupadas em nove

eixos: (1) Fundamentos Socioculturais, Filosóficos e Espaciais; (2) Geografia;

(3) Fundamentos Gerenciais e Análise Quantitativa; (4) Teoria Geral do

Turismo; (5) Processos Técnicos e Operacionais do Turismo; (6) Língua

Estrangeira, (7) Processos de Gestão Empresarial do Turismo; (8) Processos

de Gestão Pública do Turismo e (9) Conteúdos Teóricos. Ao analisar as

disciplinas agrupadas dentro destes temas, o termo “tecnologia” é abordado

apenas em Sistemas de Informação no Turismo que se encontra do grupo de

“Fundamentos Gerenciais e Análise Quantitativa”. Sua ementa se volta

principalmente para a utilização da tecnologia como ferramenta de gestão da

informação a nível estratégico. É possível inferir que dentro deste tema não há

espaço para o ensino técnico, mas sim para uma análise mais abrangente

sobre a aplicabilidade das ferramentas tecnológicas para a gestão,

planejamento e controle da informação – elemento de extrema importância

para o turismo.

Ainda que o termo “tecnologia” tenha sido abordado apenas na disciplina

Sistemas de Informação no Turismo, não é possível afirmar que este assunto

não seja abordado em outras disciplinas visto sua grande abrangência sobre

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todas as áreas de atuação do profissional do turismo. Mesmo ao tratar de

áreas como eventos, transporte ou hotelaria, o docente não pode se abster de

abordar a tecnologia quando ensina tais disciplinas.

Dentre as disciplinas optativas, foram encontrados os mais diversos

temas e muitos destes têm, de alguma forma, a tecnologia como tema principal

ou como “pano de fundo”. Durante a leitura do documento “Disciplinas

Optativas” foram encontradas quatro com esta característica. Na disciplina

Técnicas Publicitárias e Turismo, a escolha das mídias, bem como as

tecnologias que envolvem a produção gráficas, estão dentre os tópicos

abordados. Esta é uma forma de aplicabilidade da tecnologia amplamente

utilizada no Turismo cujo produto ofertado se caracteriza como intangível e por

isso utiliza principalmente a demonstração de imagens e sensações no

processo de marketing e publicidade.

Outras duas disciplinas optativas tem a ferramenta tecnológica mais

discutida na atualidade, a internet, como foco principal: ‘Estratégia de Negócios

Turísticos na Internet’ e ‘Tecnologia da Informação, Internet e Negócios’. A

primeira apresenta um nível mais estratégico e profissional analisando

processos de planejamento, concepção e implantação de ferramentas

tecnológicas. Já a segunda disciplina apresenta um nível mais abrangente e

teórico focando no tema Tecnologia da Informação (Conceituação geral,

origens e relação com o turismo), advento da internet e e-business.

Finalmente, a quarta disciplina optativa é denominada ‘Inteligência de

Negócios’ cujo título aparentemente não nos remete diretamente ao tema aqui

discutido. Contudo, assim como ‘Técnicas Publicitárias e Turismo’, esta

disciplina apresenta a tecnologia sob um ponto de vista diferente e

especificamente aplicado ao turismo: o desenvolvimento e utilização de

sistemas que auxiliam na gestão espacial do turismo. Nesta ementa vemos o

termo SIG (Sistema de Informação Geográfica) citado em diversos trechos.

Esta ferramenta trabalha com o elemento alfanumérico (dados estatísticos,

indicadores, perfis) e o elemento geométrico, podendo ser empregado no

mapeamento de estratégias de negócios e marketing. O turismo por sua

característica espacial (o produto “vendido” é sempre um lugar, uma região ou

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uma estrutura espacial de grande porte como resort ou parques temáticos)

pode se beneficiar desta ferramenta já tão utilizada por outros ramos como o

setor de transportes e estudo ambientais.

Tais disciplinas (obrigatórias e optativas) foram elaboradas no decorrer

do processo de desenvolvimento do curso de Turismo da UFF, criado em 2003,

que passou a moldurar-se a partir da nova legislação vigente desde 2006.

Através da análise descrita neste tópico é possível concluir que atualmente o

curso de turismo oferecido pela UFF não apresenta dentre as disciplinas

obrigatórias grande desenvolvimento do tema tecnologia. Contudo, o curso

oferece ao aluno a possibilidade de aprofundar-se no tema sob focos

diferentes, garantindo assim maior qualidade no ensino da tecnologia e se

tornando mais próxima possível da realidade e das características próprias

desta área. Isso demonstra que o conhecimento em tecnologia não é um

objetivo em si, mas é visto como um mecanismo que deve ser empregado da

melhor forma possível possibilitando o desenvolvimento profissional do

bacharel em turismo.

4.4.2 – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

Assim como o curso de turismo oferecido pela UFF, a UNIRIO abriu

suas primeiras vagas em 2003. Dentre os cursos pesquisados este se

apresenta como o de maior cunho humanístico. No site do curso foi encontrada

apenas a lista das disciplinas. Além disso, no próprio corpo do site podem ser

encontrados os objetivos gerais e específicos. Como tais informações não

seriam suficientes para identificar como o curso aborda a questão da tecnologia

no turismo dentre as suas disciplinas, foi solicitado diretamente à coordenação

do curso outros documentos que pudessem orientar o futuro aluno sobre o

perfil do curso. Como resposta, a coordenação apresentou o projeto

pedagógico publicado em 2006 e o fluxograma do curso que subdivide as

disciplinas por departamentos.

O documento principal a ser analisado será o projeto pedagógico datado

de 2006. Este documento apresenta diversas alterações no planejamento

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curricular do curso levando em consideração o Parecer nº CNE/CES

0288/2003, incluindo mais disciplinas de gestão e tornando optativas algumas

disciplinas ligadas ao patrimônio. Nele também constam diversos tópicos que

definem bem o perfil do curso, como objetivos gerais e específicos,

competências e habilidades a serem desenvolvidas, contextualização do

turismo, nova estrutura curricular, dentre outros e finalmente as ementas das

disciplinas obrigatórias.

O objetivo geral do curso oferecido pela UNIRIO é pensar o turismo em

relação ao patrimônio natural e cultural, além de influenciar na formulação das

políticas da área, dentre outros aspectos. Tem como eixo principal um conjunto

de disciplinas voltadas para o estudo do fenômeno do turismo, para o

planejamento e implementação de políticas e diretrizes no campo do turismo.

Dentre seus objetivos específicos e no item Competências e Habilidades o

termo “conscientizar” é muito mais citado do que “capacitar”. Dentre as

habilidades a serem adquiridas pelos alunos estão: a reflexão e valorização

sobre o patrimônio cultural e natural, o desempenho do trabalho com ética e

honestidade, o desenvolvimento de estudos e pesquisas. A partir desta análise

é possível constatar que a gestão de empresas privadas e a importância do

desenvolvimento tecnológico para as diversas áreas do turismo não fazem

parte dos objetivos gerais propostos pelo curso.

A grade curricular se subdivide em sete eixos: (1) Teoria Geral do

Turismo e Planejamento; (2) Turismo e Cultura; (3) Turismo e Meio Ambiente;

(4) Gestão em Turismo; (5) Estudos Gerais; (6) Pesquisa e (7) Prática em

Turismo. Assim como os objetivos, a grade curricular expressa a foco

humanístico ao organizar um eixo específico para a cultura e outro para o meio

ambiente, tendo a gestão, diferente do curso e turismo oferecido pela UFF um

único eixo onde engloba tanto o público quanto o privado e além do

planejamento estratégico.

Dentre as disciplinas obrigatórias não foi encontrada nenhuma indicação

de que a tecnologia, dentro do enfoque da área estudada, poderia ser um dos

temas abordados. Importante salientar que as ementas do documento

estudado se apresentam muito resumidas informando apenas uma breve

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listagem sobre os assuntos a serem abordados, não detalhando objetivos

gerais e específicos, ou bibliografa de cada disciplina. O tema “tecnologia” foi

encontrado apenas em uma disciplina optativa: ‘Introdução à Ciência da

Computação’. Contudo, não há ementa para analisarmos melhor como seria

desenvolvido seu conteúdo. Conclui-se que, ainda que os documentos se

apresentam de forma incompleta, a organização curricular do curso não

oferece ao aluno a possibilidade de adquirir pelo menos um conhecimento

básico sobre as teorias que envolvem as tecnologias bem como as ferramentas

tecnológicas utilizadas no cotidiano do profissional do turismo nas mais

diversas áreas.

4.4.3 – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

O curso de turismo foi criado pela UFRRJ em 2006 em conjunto com

outros cursos, no momento em que a universidade abre um novo campus em

Nova Iguaçu denominado Instituto Multidisciplinar e em 2007 foi seu primeiro

vestibular. Isso permitiu que, diferente das universidades descritas

anteriormente, este fosse moldado a partir das novas diretrizes curriculares

desde a sua criação, pois o projeto político pedagógico foi embasado em

diversos documentos legais. Dentre eles, o Parecer nº. CNE/CES 0288/2003,

que trata das Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em turismo,

aprovado posteriormente como Resolução em 2006. Posteriormente, em 2010,

foi aprovado novo projeto político pedagógico baseado exclusivamente na

Resolução 13/2006. Todos os documentos citados no decorrer deste tópico

(Projeto Político Pedagógico publicado em 2006 e 2010 e grade curricular)

encontram-se disponíveis no site do curso.

O projeto Político Pedagógico publicado em 2010 é ainda mais completo

que o Projeto Pedagógico apresentado pelo curso de turismo da UNIRIO, pois

descreve desde a origem do curso de turismo na UFRRJ, passando por uma

pesquisa do perfil dos alunos egressos desde 2006, planejamento da estrutura

física e metas de bolsas de estudos e projetos de extensão, até o planejamento

curricular completo, compreendendo os eixos da formação e a divisão de

acordo com a resolução 13/2006 (conhecimento básicos, conhecimentos

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específicos e conhecimentos teórico-práticos), metodologia de ensino, grade

curricular e finalmente as ementas de cada disciplina com objetivos, assuntos e

referencia bibliográfica.

Segundo o documento supracitado, o objetivo geral do curso encontra-

se na formação técnica aliada a capacitação de um profissional capaz de atuar

de forma crítica e criativa no seu setor e considerando as questões ambientais

e socioeconômicas do local em que exerce sua profissão. Além da formação

profissional o curso tem como foco a dimensão científica ligada às pesquisas

tanto no âmbito público quanto privado.

Sua grade curricular divide-se em três eixos de formação: (1) Turismo e

Sociedade, constituída na maioria de disciplinas de conhecimento básico, (2)

Planejamento e Desenvolvimento Sustentável e (3) Gestão de Empresas

Turísticas, ambas compostas por disciplinas de formação específica.

Ao realizar uma pesquisa sobre a questão das tecnologias dentro das

ementas de cada disciplina foi possível detectar este tema em três disciplinas

obrigatórias e apenas uma disciplina optativa. Dentro do eixo Desenvolvimento

Sustentável foram encontradas duas disciplinas: ‘Cartografia e

Geoprocessamento’, onde são abordados temas como o SIG, já detalhado

anteriormente, geotecnologias, Global Position System (GPS) e sensoriamento

remoto, e ‘Transporte e Desenvolvimento’ onde o objetivo geral é analisar a

importância do desenvolvimento da tecnologia para a evolução dos transportes.

Tais disciplinas estão mais próximas do nível de planejamento estratégico com

foco na organização espacial da atividade turística.

A terceira disciplina obrigatória é ‘Agenciamento e Operacionalização de

Roteiros I’, ligada ao eixo Gestão de Empresas, que tem como propósito o

desenvolvimento de “praticas e rotinas administrativas relacionadas aos

empreendimentos turísticos” (p. 30). Esta disciplina tem a Tecnologia da

Informação e o GDS dentre os principais assuntos a serem debatidos. Esses

temas demonstram que a disciplina tem como fundamento o ensino de

tecnologias a nível operacional, pois conforme detalhado no capítulo sobre as

tecnologias encontradas no setor do turismo, Tecnologia da Informação (TI) e

GDS são ferramentas utilizadas na administração operacional e venda do

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produto turístico principal emente nos setores de transporte aéreo,

agenciamento e hospedagem.

O documento analisado apresenta uma lista de optativas e dentre elas

há três diretamente ligadas à tecnologia: Mudança Tecnológica e Trabalho,

Administração de Sistema de Informação e Ciências, Tecnologias e Profissões

Agrárias. Contudo, há apenas a ementa da disciplina Mudança Tecnológica e

Trabalho, que tem como objetivo principal “examinar as relações entre a

mudança tecnológica e as transformações no trabalho” (p. 178), apresentando

um cunho mais teórico e analítico do que prático.

As disciplinas oferecidas pelo curso de turismo da UFRRJ exprimem

muito bem o objetivo e perfil do curso que trabalha com dois eixos muito

distintos: por um lado, as ferramentas práticas do cotidiano de cargos de nível

mais operacional, por outro lado com análises mais profundas e teóricas no

que diz respeito as influências da tecnologia sobre o fenômeno do turismo e

sua espacialidade.

4.5 – Considerações finais

A IES segundo a CF deve exercer as funções de produção do

conhecimento, ensino e extensão. Como a criação do curso de Turismo em

Instituições públicas é recente – o primeiro foi criado somente em 2003 –, este

ainda se encontra em processo de consolidação. O ensino do turismo,

conforme visto no tópico 4.3 sobre a sua evolução, apresenta certas

peculiaridades que dificultam a universidade de exercer as três funções – é um

setor cuja produção do conhecimento ainda vem de fora das IES públicas,

conhecimento este ignorado pelas universidade públicas até então. Isso não

significa que não exista produção acadêmica, há diversos cursos tradicionais

de Turismo, onde se formaram grandes pensadores da área, mas essa

evolução ocorreu entre as universidades particulares que reconheceram este

setor ainda na década de 1970.

A criação dos cursos de Turismo nas IES aqui pesquisadas veio em um

momento muito importante para o setor pois, 40 anos após o estabelecimento

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da primeira lei sobre o currículo mínimo do curso, publicado em 1971, foram

estipuladas legalmente novas regras para sua estrutura curricular. Desta vez,

no lugar da rigidez de um currículo mínimo com disciplinas pré-estabelecidas, o

que dificultaria a atualização constante do curso, foram instituídas diretrizes

mínimas, descrevendo todas as competências e habilidades que o aluno

deverá ter após a finalização do curso. Isso facilita o planejamento curricular do

curso, que tem a liberdade de elaborar suas metodologias para alcanças as

competências e habilidades pré-estabelecidas em lei. Entretanto, esta

flexibilização no estabelecimento de disciplinas pode resultar em dois

problemas: a falta de padronização dos cursos, conforme pôde ser visto entre

as universidades pesquisadas, e o risco de uma formação generalista que

pouco acrescenta à formação cientifica ou profissional do aluno.

Estes dois riscos se apresentam de maneira evidente, quando

analisados os documentos curriculares disponibilizados pelas Universidades

avaliadas. Tais documentos são essenciais não só para o planejamento de

cada disciplina, que deve seguir o foco do curso, mas também para que o

candidato entenda melhor o perfil do curso e Faça suas escolhas de modo

mais consciente. Todas as universidades apresentaram ementas das

disciplinas e grade curricular, além dos objetivos gerais e específicos do curso.

Contudo, a UFF não apresenta seu projeto político pedagógico no site e as

ementas não seguem um padrão. Enquanto algumas disciplinas apresentavam

uma descrição completa, outras tinham apenas o objetivo geral ou a lista

bibliográfica. A UNIRIO não divulga nenhum documento em seu site que possa

ajudar a entender melhor e estrutura do curso. A UFRRJ, por sua vez, foi a

única que apresentou seu projeto pedagógico no site – um documento

completo e atualizado de acordo com a última lei vigente. Ainda assim,

algumas disciplinas optativas não tinham qualquer descrição da sua ementa.

Essa falta de padronização nos documentos pesquisados também

dificultou uma análise mais profunda sobre como a tecnologia poderia ser

abordada, pois elementos essenciais para uma melhor análise do currículo

não foram encontradas, como diretrizes sobre metodologia de ensino, formas

de avaliação e objetivos do ensino.

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Ao estudar o material obtido de cada curso foi possível concluir que,

mesmo que todos tentem seguir as competências e habilidades descritas na

Resolução 13/2006, cada um foi delineado com um perfil completamente

diferente. A UFF tem como foco principal a gestão a nível estratégico,

considerando altos cargos administrativos tanto em empresas públicas quanto

privadas, abordando a tecnologia principalmente nas disciplinas optativas. Já a

UNIRIO apresenta o eixo humano como principal objetivo, tanto que foi o curso

cuja grade curricular mais foi alterada após a Resolução 13/2006, pois não

tinha grande espaço para temas como administração e gestão. A UFRRJ, por

sua vez, oferece tanto opções de disciplinas ligadas a cargos operacionais,

considerando tecnologias como GDS e TICs entre os temas abordados, quanto

disciplinas mais teóricas onde há espaço para estudos e pesquisas mais

aprofundados sobre determinados temas.

Fica evidente que a tecnologia não é um tema de destaque na matriz

curricular dos cursos analisados. Caso o aluno queira se aprofundar em

determinadas ferramentas tecnológicas, terá que recorrer a disciplinas de

outros cursos, ou a cursos fora da universidade. O curso de graduação não

precisa formar especialistas em tecnologias, mas demonstrar de forma geral

onde estão as ferramentas tecnológicas que auxiliam tanto no mercado de

trabalho quanto nas pesquisas.

Para isso, é necessário não só que o tema fique mais claro nos

documentos elaborados pelo curso, detalhando as metodologias de ensino e

avaliação de acordo com o tema, mas também necessita de uma estrutura

física. Essa estrutura deve ser formada por laboratórios de informática

preparados com programas e sistemas a serem estudados, para que o aluno

esteja preparado para se inserir seja no mercado de trabalho, em pesquisas ou

mesmo em estudos mais avançados sobre o tema tecnologia. Pois sem uma

base mínima de conhecimento sobre o assunto será muito difícil para o aluno

se aprofundar neste tema tão abrangente e importante para todas as áreas de

conhecimento.

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CONCLUSÃO

Os temas debatidos no presente estudo demonstraram a importância e

as dificuldades em incluir conhecimentos sobre tecnologia no processo de

ensino-aprendizagem do curso superior em Turismo. Através deste trabalho, foi

possível compreender o processo de crescimento socioeconômico do Turismo

que tem ocorrido no Brasil, bem como o aumento do número de empresas e

entidades públicas envolvidas nesta atividade. Aumento este que teve como

consequência uma crescente demanda por soluções tecnológicas para as mais

diversas finalidades.

O uso da tecnologia no Turismo pôde ser analisada sob vários aspectos.

Em relação às análises sobre a gestão de empreendimentos turísticos, o

capítulo 02 demonstrou que muitos sistemas oferecidos inicialmente a outros

setores do mercado sofreram adequações, a fim de atender à área de turismo.

O estudo apresentou também o caso de grandes empresas que criaram suas

próprias soluções tecnológicas, tornando única a arquitetura de seus sistemas,

sua rotina de trabalho e sua forma de administrar informações.

Outro campo avaliado foi o desenvolvimento tecnológico dos sistemas

de comunicação, que promoveu não apenas a integração interna das

empresas, como também a interação entre empresas das mais diversas áreas

do turismo. Ademais, o setor turístico, cuja principal ferramenta de propaganda

baseia-se nos recursos visuais, pôde se valer das diferentes formas de mídia

para aproximar-se do turista em potencial.

Embora tenha sido observada a disseminação do uso de tecnologias no

setor do Turismo, através da pesquisa junto à empresas de ofertas de

emprego, ficou evidente que, na maioria dos empregos oferecidos, não havia

exigência de conhecimento prévio de tecnologias mais específicas do setor. Ao

analisar detalhadamente cada oferta, foi possível concluir que, ao assumir o

cargo, o profissional deve passar por algum tipo de treinamento, pois, em

muitos casos, dentre as atividades descritas sobre o cargo, era mencionado o

uso de alguma tecnologia. Contudo, mas não havia exigência de experiência

ou conhecimento sobre a referida tecnologia.

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Em decorrência da análise citada, dois fatores podem justificar a falta de

demanda por profissionais com conhecimento em ferramentas tecnológicas: 1)

Por conta da falta de qualificação dos profissionais, a empresa já prevê que

terá que qualificar o profissional para utilizar suas ferramentas tecnológicas.

Isso ocorre porque o profissional recém-formado sai da universidade com

pouco ou nenhum conhecimento sobre os tipos de tecnologias utilizadas pela

área em que irá atuar. 2) As ferramentas tecnológicas utilizadas pelas

empresas foram criadas exclusivamente para elas. Nesse caso, não haveria

como o candidato saber manusear tais sistemas. Isso pode ocorrer com

grandes instituições como companhias aéreas ou mesmo instituições

governamentais que contratam o serviço de empresas de tecnologia para

desenvolver seus softwares.

A existência de tantas formas tecnológicas para as mais diversas

finalidades é o principal obstáculo para adequar o ensino de tecnologias ao

perfil do processo de ensino-aprendizagem desenvolvido no ensino superior

em Turismo pelas universidades públicas. Vale lembrar que, conforme já

demonstrado neste trabalho, o processo de ensino no curso superior não deve

ser confundido com treinamento. Por isso, formar profissionais com domínio no

manejo destas ferramentas não está entre os principais objetivos das

universidades. No entanto, é importante que o futuro profissional adquira, ao

menos, um aprendizado introdutório sobre os tipos de tecnologias

desenvolvidos para e pelo setor do Turismo.

Por parte dos cursos de graduação de bacharel em turismo oferecidos

pelas universidades públicas do estado do Rio de Janeiro, as avaliações

realizadas sobre todos os documentos que expressam os objetivos do curso e

a orientação acadêmica das grades curriculares revelam que há uma carência

no desenvolvimento do tema, não só dentro dos assuntos abordados e

metodologia de cada disciplina, mas também na oferta de disciplinas

específicas sobre o tema.

A proposta para desenvolver o tema de acordo com o perfil do processo

de ensino oferecido pela universidade deve compreender principalmente os

fundamentos que envolvem o uso de tecnologias dentro de cada área do

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Turismo. A partir desta concepção, é possível traçar dois conjuntos de ações

que podem ser aplicadas paralelamente. Inicialmente, cada disciplina deveria

explorar melhor a sua relação com a tecnologia apresentando ao aluno um foco

mais atual do panorama desta disciplina. Alguns exemplos são as disciplinas

de gestão hoteleira, geografia e planejamento, onde são aplicadas diferentes

soluções tecnológicas. Outra ação seria a criação de disciplinas opcionais ou

cursos de extensão para os alunos interessados em aprofundar-se em

determinadas tecnologias. Essas atividades, desenvolvidas paralelamente ao

curso de graduação, poderiam ser elaboradas em parceria com empresas de

tecnologia e outros cursos de graduação que demandam conhecimentos

semelhantes. Dois exemplos são: disciplinas opcionais de Sistemas de

Informações Geográficas (SIG), ou tecnologias ligadas à cartografia em

parceria com o curso de Geografia ou Engenharia; e disciplinas de ferramentas

tecnólogas utilizadas no planejamento estratégico em parceira com empresas

de tecnologia e com o curso de Administração ou Economia. O objetivo não é

treinar o aluno, mas sim familiarizá-lo com a tecnologia do setor e torná-lo

capaz não só de identifica-la ao inserir-se no mercado, mas também oferecer

uma base teórica para que possa desenvolver academicamente o tema.

Certamente, este trabalho não poderia contemplar todas as questões

deste tema, pois demandaria uma análise integrada e aprofundada, envolvendo

não só o meio acadêmico, mas também as instituições governamentais e

privadas, a fim de tornar a formação do aluno mais completa e qualificada. No

âmbito espacial, este estudo tornou evidente o panorama no Rio de Janeiro,

mas há potencial para ser expandido a outras regiões do Brasil trançando um

perfil mais abrangente e diferenciando as singularidades de cada região.

Finalmente, no contexto educacional, o tema demanda estudos mais

aprofundados sobre as metodologias de ensino mais adequadas às

peculiaridades da tecnologia, levando em consideração as especificidades de

cada sistema em sala de aula.

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