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FACULDADE CAPIXABA DE NOVA VENÉCIA CURSO DE DIREITO
VITOR ANTÔNIO CASER VALENTIM
DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE EM ACIDENTES DE TR ÂNSITO DECORRENTES DE EMBRIAGUEZ E EXCESSO DE VELOCIDADE
NOVA VENÉCIA 2010
VITOR ANTÔNIO CASER VALENTIM
DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE EM ACIDENTES DE TR ÂNSITO DECORRENTES DE EMBRIAGUEZ E EXCESSO DE VELOCIDADE
Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Capixaba de Nova Venécia, como requisito parcial para a obtenção do titulo de bacharel em Direito. Orientadora: Profª. Willyana Bernardo Matins.
NOVA VENÉCIA 2010
Catalogação na fonte elaborada pela “Biblioteca Pe. Carlos Furbetta”/UNIVEN
V135d Valentim, Vitor Antonio Caser
Dolo eventual e culpa consciente em acidentes de trânsito decorrentes de embriaguez e excesso de velocidade / Vitor Antonio Caser Valentim - Nova Venécia: UNIVEN / Faculdade Capixaba de Nova Venécia, 2010.
60f. : enc.
Orientador: Willyana Bernardo Martins
Monografia (Graduação em Direito) UNIVEN / Faculdade Capixaba de Nova Venécia, 2010.
1. Direito penal 2. Crime de transito l. Martins, Willyana Bernardo II. UNIVEN / Faculdade Capixaba de Nova Venécia III. Título.
CDD. 341.5
VITOR ANTÔNIO CASER VALENTIM
DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE EM ACIDENTES DE TR ÂNSITO DECORRENTES DE EMBRIAGUEZ E EXCESSO DE VELOCIDADE
Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Faculdade Capixaba de Nova Venécia, como requisito parcial para a obtenção do titulo de bacharel em Direito.
Aprovada em 06 de Dezembro de 2010.
COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________________ Professora Willyana Bernardo Matins Faculdade Capixaba de Nova Venécia Orientadora
_________________________________________________ Professora Keila Tofano Soares Wolfgramm Faculdade Capixaba de Nova Venécia
_________________________________________________ Professora Thekeane Pianissoli Faculdade Capixaba de Nova Venécia
Dedico mais essa conquista em minha vida a DEUS, aos meus pais e irmãos,
meus avós, tios e tias. A toda minha família, à minha namorada,
Danieli e aos meus amigos, por estarem ao meu lado, acreditando em
meus sonhos e me estimulando a conquistá-los.
Agradeço a DEUS por ter me dado sabedoria e saúde para conclusão desse
trabalho. Aos meus pais por servirem de exemplo
para minha vida e por terem me dado vida.
Ao restante de minha querida família por estarem sempre me apoiando.
À minha namorada Dani, por ter me dado força e incentivo.
À minha orientadora Willyana Bernardo Martins, por sua imensurável colaboração,
por sua paciência e dedicação.
“É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve
procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é
senão a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los
de todos os sofrimentos que se lhes possam causar [...]”. (BECCARIA, 1998).
RESUMO Com a busca para distinguirmos dolo eventual de culpa consciente, constatamos que há algo em comum entre eles, que é previsão da seqüela, entretanto, para que seja configurado aquele, o agente deve assumir o risco de ocasioná-lo, enquanto na configuração desse, mesmo sabendo do risco, o agente acredita fielmente em suas habilidades, não aceitando como possível o resultado. A falta de discernimento na aplicação desses institutos ocasiona uma grande distorção nos efeitos das penas que serão aplicadas, quando comparadas com aquelas que deveriam ser impostas, pois é grande a variação das sanções entre os crimes dolosos e culposos. Com isso, para que haja a melhor interpretação e a mais correta punição, deve ser considerado em um caso real, a aceitação por parte do agente, em acreditar ou não que o resultado seria produzido. Contudo, os tribunais têm decidido que, não tendo como comprovar essa aceitação por parte do agente, pode-se caracterizar o tipo doloso, não só pela intenção de provocar o resultado, mas também pelo risco assumido por ele ao realizar tal conduta. PALAVRAS -CHAVES: conduta; intenção; previsão; resultado; risco.
LISTA DE SIGLAS
AND – Associação Nacional dos Detran(s)
ART – Artigo
CF – Constituição Federal do Brasil
CP – Código Penal
CTB – Código de Trânsito Brasileiro
DETRAN – Departamento Estadual de Trânsito
ES – Espírito Santo
s p – sem página
s d – sem data
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .........................................................................................11
1.1 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA..................................................11
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ...........................................................................12
1.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................12
1.4 OBJETIVOS.................................................................................................13
1.4.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................................13
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................14
1.5 HIPÓTESE...................................................................................................14
1.6 METODOLOGIA ..........................................................................................15
1.6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .........................................................................15
1.6.2 TÉCNICA PARA COLETA DE DADOS ...................................................................15
1.6.3 FONTES PARA COLETA DE DADOS ....................................................................15
1.6.4 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS .........................................................16
1.7 APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO DAS PARTES DO TRABALHO .........16
2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................18
2.1 NOTAS PRELIMINARES.............................................................................18
2.1.1 EVOLUÇÃO DA TEORIA GERAL DO CRIME E SEU CONCEITO .................................19
2.1.2 TEORIA CAUSALISTA .......................................................................................20
2.1.3 TEORIA FINALISTA DA AÇÃO ............................................................................21
2.1.4 ELEMENTOS DO CRIME OU ELEMENTOS DA TIPICIDADE OU DA
ANTINORMATIVIDADE ......................................................................................22
2.1.4.1 CONDUTA HUMANA .........................................................................................23
2.1.4.2 RESULTADO ...................................................................................................24
2.1.4.3 NEXO DE CAUSALIDADE...................................................................................24
2.2 CONDUTAS HUMANAS, CULPOSAS E DOLOSAS...................................25
2.3 TIPO DOLOSO ............................................................................................26
2.3.1 O DOLO NO CÓDIGO PENAL .............................................................................26
2.3.2 CONCEITO DE DOLO ........................................................................................26
2.3.3 ELEMENTOS DO DOLO .....................................................................................27
2.3.4 TEORIAS DO DOLO ..........................................................................................28
2.3.5 ESPÉCIES DE DOLO ........................................................................................29
2.3.6 DOLO EVENTUAL ............................................................................................31
2.4 TIPO CULPOSO..........................................................................................32
2.4.1 A CULPA NO CÓDIGO PENAL ............................................................................32
2.4.2 CONCEITO DE CULPA ......................................................................................32
2.4.3 ELEMENTOS DA CULPA ...................................................................................34
2.4.4 ESPÉCIES DE CULPA .......................................................................................36
2.4.5 CULPA CONSCIENTE .......................................................................................37
2.5 DIFERENÇA ENTRE DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE ...........38
2.6 DO EXCESSO DE VELOCIDADE E DA EMBRIAGUEZ NO TRÂNSITO....40
2.6.1 DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE EM ACIDENTES DE TRÂNSITO .................42
2.7 ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO ................................................46
3 CONCLUSÕES E RECOMEDAÇÕES ..............................................51
3.1 CONCLUSÕES............................................................................................51
3.2 RECOMENDAÇÕES ...................................................................................52
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................53
ANEXOS
ANEXO A – NOVA LEI SECA É APROVADA PELOS DETRANS DE TODO O
BRASIL .............................................................................................56
ANEXO B – DETRANS SE REÚNEM NESTA QUARTA-FEIRA (10) PARA
DISCUTIR SOBRE A NOVA LEI SECA ............................................58
11
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tende demonstrar os institutos do Dolo Eventual e da Culpa
Consciente, contudo ao defini-los, verifica-se uma mínima distinção, complicada de
ser notada na prática.
Para esclarecer a diferença entre esses tipos, a grande parte dos doutrinadores
tenta seguir métodos e alcançar hipóteses que consigam chegar a este fim, apesar
disso, a controvérsia encontra-se não na teoria, mas na prática.
Na verdade, o problema se encontra na dificuldade em provar que o sujeito ativo,
sabia ou não, da previsão das conseqüências do seu ato.
Deste modo, é fundamental que se alcance as devidas características de cada
instituto, caso contrário, a aplicação a qualquer modo de um ou outro elemento, sem
a clara explicação, pode acarretar num comprometimento da justiça, ombro de
amparo que jamais pode se afastar da sociedade.
1.1 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA
Diante do crescimento de casos de acidentes de trânsito ocasionados por motoristas
que não acatam as normas de trânsito, não respeitando sua própria vida e tão pouco
as vidas alheias, faz necessário saber, se é o sentimento de impunidade causado
por falhas na legislação vigente, que faz crescer o número de tragédias. As leis que
acumulam diversas lacunas aumentam os benefícios aos infratores e diminuem a
esperança das famílias de vítimas de que os transgressores sejam punidos.
Dessa forma, esse estudo tem o objetivo de identificar a diferença entre Culpa
Consciente e Dolo Eventual em acidentes de trânsito no Brasil em casos de
embriaguez e de excesso de velocidade.
12
Para efetuar a distinção sobre as espécies de condutas, devemos abordar dentre
alguns pressupostos, o da responsabilidade subjetiva, que norteia nosso
ordenamento jurídico, servindo para averiguar a ação do autor, analisando se o
comportamento do mesmo se forrava de dolo ou culpa. Contudo, tanto o dolo quanto
a culpa, possuem algumas classificações muito similares e complicadas de
diferenciar, sendo elas, a base desse estudo.
Analisando a Culpa, encontraremos como uma de suas espécies, a Culpa
Consciente, sendo praticamente uma exceção. Neste caso, o agente sabia da
possibilidade de ocorrência do evento danoso. Contudo, essa hipótese fora afastada
pelo causador. Ele confia que o resultado pode não ser produzido, esperando que o
evento jamais ocorra. Passando a avaliar o Dolo, chegamos à classificação do
mesmo como Dolo Eventual. Este se baseia na consciência do agente em aceitar
como possível e provável a produção do resultado e não se importar que ele ocorra.
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
O tema abordado encontra-se situado no ramo do Direito Penal, no capítulo de
Crimes contra a Vida, que aponta a possibilidade da conduta ser dolosa e culposa,
enquanto que no Código de Transito, principal fonte desse trabalho, só se admite a
conduta típica culposa.
1.3 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
De acordo com os ensinamentos de Rudio (1978, p.94), a formulação do problema
se resume em:
[...] dizer, de maneira explicita, clara, compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e apresentando suas características. Desta forma, o objetivo da formulação do problema de pesquisa é torná-lo individualizado, específico e inconfundível.
13
Passamos então a indicar as barreiras encontradas na aplicação do tema desse
estudo em casos concretos.
Como uma das conseqüências do juízo de condenação, a pena deverá ser
motivada, para formar uma das etapas da sentença, que se torna extremamente
complicado de se aplicar, devido à complexidade na averiguação dos seus
elementos.
A conduta humana ao praticar um crime, inclui algum procedimento afetuoso de
ação ou omissão, facultado a ser doloso ou culposo, na hipótese de
respectivamente, o autor querer ou assumir o risco de produção do evento ou
quando o próprio ignora seu dever de zelo, ou mesmo não desejando, sabe da
possibilidade de sua ocorrência, mas mesmo assim, atua de maneira a causá-lo.
A ausência de uma legislação mais rígida, no que tange a homicídios de transito,
acaba por deixar algumas lacunas no ordenamento jurídico, fato este que é o
principal causador do aumento de tais infrações, uma vez que, desperta o
sentimento de impunidade aos infratores e às famílias das vítimas.
Sendo assim, busca-se a resposta para o seguinte questionamento: Será que os
acidentes de trânsito, ocasionados pelo excesso de velocidade e pela embriaguez,
são envoltos do que a doutrina chama de Dolo Eventual ou de Culpa Consciente?
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 OBJETIVO GERAL
Demonstrar a ineficácia do Ordenamento Jurídico Brasileiro em distinguir Culpa
Consciente e Dolo Eventual, bem como, as injustiças ocorridas por causa da
impotência da lei neste sentido, provocando enorme reflexo na dimensão da pena,
devendo efetuar as distinções necessárias, que é a finalidade dessa monografia.
14
1.4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Analisar o que o Código de Trânsito Nacional, diz a respeito do tema;
• Verificar as hipóteses que o Código Penal a cerca do tema;
• Averiguar quais os pressupostos na Doutrina Brasileira, para se distinguir
Culpa Consciente e Dolo Eventual;
• Ponderar o posicionamento das jurisprudências a respeito;
• Constatar a opinião de doutrinas pertinentes ao assunto.
1.5 HIPOTESE
Acredita-se que a falta de discernimento por parte do Ordenamento Jurídico
Brasileiro, entre Culpa Consciente e Dolo Eventual, juntamente com as injustiças
causadas por essa falta de distinção, criam um sentimento de impunidade,
aumentando assim, a ocorrência de acidentes dessa natureza.
Com este trabalho, busca-se uma resposta para os problemas que vêem,
constantemente, ocorrendo na prática e que acabam por não possuir uma
explicação plausível de sua ocorrência, muito menos uma punição a altura do delito.
Ao fazermos uma analogia entre o dolo eventual e a culpa consciente, a central
distinção está no feitio afetuoso, sendo que em ambos, o atuante presume a
conseqüência, no entanto, no dolo eventual o sujeito aceita a produção do efeito,
enquanto que, na culpa consciente, o sujeito tem certeza que irá evitá-lo.
15
1.6 METODOLOGIA
1.6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA
Os recursos da metodologia que serão utilizados para estudo e aprimoramento
sobre o tema deste trabalho serão: pesquisas bibliográficas, pesquisas de
jurisprudências oriundas de fontes autorizadas e por meio da rede mundial de
computadores, a internet.
1.6.2 TÉCNICA PARA COLETA DE DADOS
Os dados foram produzidos por meio de pesquisas de jurisprudências e doutrinas. O
tema trabalhado possui alta complexidade sendo necessário haver um maior
aprofundamento, para obtermos melhor entendimento.
1.6.3 FONTES PARA COLETA DE DADOS
As fontes para arrecadação de informações podem ser classificadas em primárias
ou secundárias.
Todo material ainda não trabalhado sobre determinado assunto constitui o que se
denomina fonte primária que, pela sua relevância, dará origem a outras obras,
compondo e ampliando uma literatura especializada em determinado assunto.
Documentos fotográficos, recursos audiovisuais, ilustrações, desenhos, pinturas,
músicas, objetos de arte, e outros tantos são considerados fontes primárias da
investigação. Inclui-se, também, entre as fontes primárias, documentos de acervo
público e parlamentar, dados estatísticos, autobiografias e diários, relatórios de
visitas a instituições etc. Enfim, todas as obras ainda não analisadas ou
interpretadas que constituem subsídio de pesquisas documentais, são as fontes
primárias, a matéria prima.
16
A literatura originada muitas vezes dessas fontes primárias constitui o que se
denomina de referências bibliográficas numa pesquisa. Portanto, bibliografia, é um
conjunto de obras escritas para esclarecer fontes primárias, analisá-las, divulgá-las
ou estabelecê-las.
A diferença fundamental entre fonte primária e secundária consiste em que as fontes
primárias são constituídas de textos originais, com informações de primeira mão; as
fontes secundárias constituem-se da literatura a respeito de fontes primárias, isto é,
de obras que interpretam e analisam fontes primárias.
1.6.4 INSTRUMENTOS PARA COLETA DE DADOS
A pesquisa bibliográfica foi o instrumento utilizado para coleta de dados, sendo o
material contraído por meio de livros, ordenamento jurídico pátrio, jurisprudências e
outros trabalhos jurídicos.
1.7 APRESENTAÇÃO DO CONTEÚDO DAS PARTES DO TRABALHO
A presente monografia está dividida em quatro capítulos dispostos da maneira
abaixo listada:
No primeiro capítulo será desempenhada a introdução ao tema, evidenciando
também a justificativa, delimitação do tema, formulação do problema, objetivos geral
e específico, hipóteses e a metodologia que foram utilizadas no decorrer do trabalho.
No segundo capítulo, apresenta-se o referencial teórico, contendo os principais
conceitos, definições e onde será abordado o conteúdo imprescindível para basear o
trabalho realizado, a fim que haja compreensão sobre a correta aplicação do dolo
eventual e da culpa consciente em casos reais.
No terceiro capítulo são feitas as conclusões e as recomendações finais do estudo,
tomando como norte o referencial, abordando também as respostas aos objetivos
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delimitados e onde apresentados os principais efeitos existentes na execução do
trabalho.
No último capítulo, encontram-se as referências bibliográficas empregadas na
construção desta monografia, sendo enumerados os autores e suas doutrinas, bem
como outras fontes de pesquisa como as realizadas na rede mundial de
computadores.
18
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 NOTAS PRELIMINARES
Nessa parte, será demonstrado o objetivo deste trabalho partindo das opiniões de
diversos doutrinadores que trabalham o tema abordado, em conjunto com
jurisprudências dos tribunais superiores, com intuito de elucidar os questionamentos
sobre a aplicação dos institutos do dolo eventual e da culpa consciente em acidentes
de trânsito.
Como os referidos institutos são bastante idênticos, chegando a confundir até
mesmo os operadores do direito no momento de suas aplicações, é fundamental
que haja um bom esclarecimento sobre suas diferenças.
No Instituto do Dolo Eventual, o agente causador consegue raciocinar e sabe da real
possibilidade de causar o resultado, entretanto age com indiferença a essa
possibilidade e pratica o feito. De outro modo, mas muito diferente, na Culpa
Consciente o agente também está lúcido sobre as possíveis conseqüências do seu
ato, mas confia tanto em sua atuação, acreditando fielmente que aquilo não irá
ocorrer.
A variação das penas aplicadas nesses casos é expressiva, com isso, é
importantíssimo que se diferencie esses dois institutos, para que as injustiças
causadas por sua má aplicação deixem de existir.
Para que consigamos ter uma melhor interpretação sobre os tipos dolosos e
culposos, é fundamental que estudemos também o que é crime, quais suas
características e seus elementos, ou seja, conseguir formar um conceito sobre
delito, para depois questionar se a conduta é dolosa ou culposa.
19
2.1.1 EVOLUÇÃO DA TEORIA GERAL DO CRIME E SEU CONCEITO
Durante anos, vários doutrinadores buscaram ministrar um conceito de crime,
contudo, existem alguns conceitos que se realçaram, se não vejamos:
A doutrina penal brasileira inicialmente adotou um conceito formal de delito,
lecionado por Greco (2209, p. 147) alcançando que ”crime seria toda a conduta
humana que colidisse frontalmente com a lei penal editada pelo Estado.” Todavia,
esse entendimento averiguava só o fato de o agente desrespeitar a norma penal
sem levar em consideração qualquer outro fator.
Posteriormente, passou-se a deliberar que o crime seria o evento proveniente de
uma ação humana que ofende ou coloca em risco uma virtude abrigada por norma
jurídica.
Porém, esses dois conceitos anteriores, considerados como formal e material por
Greco (2009), foram tratados como ineficazes para manifestar com exatidão o que é
crime.
Nasce então uma terceira maneira de avaliar o crime, denominado conceito
analítico, pois pondera sobre os elementos que dão forma à infração, de modo mais
objetivo e transparente, passando a definir o crime como toda ação ou omissão,
peculiar, culpável e que for contra a lei. Esse entendimento trabalha o esboço do
crime de acordo com seus aspectos formadores, examinando cada uma dessas
características individualmente.
Entretanto, como em qualquer estudo, surgem aqueles que concordam e também os
que discordam, aparecendo assim as divergências doutrinárias, podendo citar como
exemplos dessas discordâncias, os saudosos professores Mirabete (2007) e
Damásio de Jesus (2002) que lecionam ser crime o fato típico antijurídico, sendo a
responsabilização por dolo ou culpa, um simples cálculo de pena.
De outro lado, alguns autores dentre os quais podemos citar Reale Júnior (1998),
ensinam que crime consiste em fato típico e culpável. Existem doutrinadores que
20
entendem ser o crime um fato típico, antijurídico e punível, outros defendem que o
crime é um fato típico, antijurídico, culpável e punível.
Contudo, há uma corrente majoritária que crêem ser crime o fato típico, antijurídico e
culpável, sendo que essa maioria se divide entre as Teorias Finalista e Causal,
sendo que nos aprofundaremos sobre elas na seqüência.
2.1.2 TEORIA CAUSALISTA
Também conhecida como Teoria Naturalista, Causal- naturalista ou Mecanicista, ela
foi concebida pelo nobre mestre alemão, Franz von Liszt ao findar do século XIX
perdurando até a metade do século XX (MARQUES, 2008).
Com intuito de averiguar se o agente causador cometeu fato típico ou não, devemos
exclusivamente analisar se foi ele mesmo o causador do resultado, praticando o ato
narrado na lei como crime. Não se apega à maneira de agir e nem qual seria a
finalidade do agente ao praticar a ação, se atentando somente à relação de causa e
efeito.
Crime, para essa teoria, é fato típico, antijurídico e culpável, pois o dolo e a culpa,
que são imprescindíveis para a existência do crime, pertencem à culpabilidade, logo
esta deve fazer parte do conceito de crime para os seguidores dessa teoria.
Para os defensores desta teoria, executa o fato típico, o agente que causar o
resultado, não importando se a conduta foi proveniente de dolo ou culpa, pois
segundo essa proposição, esses elementos serão avaliados somente quando
houver a averiguação da culpabilidade, por isso, os mesmos não pertenceriam à
conduta.
Como nos ensina Greco (2009, p. 129):
No causalismo a ação é meramente naturalista, não tendo qualquer valoração, ou seja, é o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no mundo exterior. Neste contexto o dolo e a culpa estão
21
situados na culpabilidade. Portanto dentro do crime existem elementos objetivos (fato típico e antijuridicidade) e outro elemento subjetivo (culpabilidade).
Com isso, essa teoria mostra que os elementos do dolo e da culpa, eram
trabalhados ao analisar a culpabilidade, significando que, além da conduta do
causador ser típica, mesmo sem sua vontade de causar tal efeito, também será
antijurídica se não houver excludente de ilicitude.
2.1.3 TEORIA FINALISTA DA AÇÃO
Segundo essa teoria, que é a seguida pelo Código Penal Brasileiro, considera-se
como típico o fato executado pelo agente, sendo sua conduta circunscrita por dolo
ou culpa.
Entretanto, considerar-se-á como conduta atípica, quando ausentes tais elementos,
pois o fato não pode ser considerado típico sem a existência de dolo e culpa. Com
isso, para ser tipificada a ação, devemos analisar o “animus” do agente sendo que
sua vontade e conduta devem ser trabalhadas em conjunto. A ação agora não mais
poderá se separar da finalidade, pois conforme esse entendimento, todo
comportamento humano é acompanhado de um objetivo legal ou ilegal.
Com a sanção da Lei nº 7.209 de 11 de julho de 1984, houve a reforma da Parte
Geral do Código Penal Brasileiro, ao focar prioritariamente na conduta humana, os
elementos do dolo e da culpa deixassem de ser ocupantes da culpabilidade
integrando-os à tipicidade, sendo que a culpabilidade foi preenchida pelo potencial
conhecimento da ilegalidade do fato.
Deste modo, o dolo não pode ser avaliado na culpabilidade e fora conduzido para o
tipo, separando a carga normativa, sendo que no entendimento da teoria finalista,
não é mais necessário saber se o agente sabia que o fato era ilícito, encaminhando
o elemento subjetivo para a ação.
22
Fundamental elencar os elementos que formam a culpabilidade que, para essa
teoria são: Imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de
conduta diversa. Ausentes algum desses componentes, o autor será imune a pena.
Em suma, o agente terá praticado o crime, mas não será aplicada qualquer sanção,
pois não será considerado culpável.
Com esse breve apanhado sobre as teorias do crime, também se faz necessário
estudarmos os elementos compositores do crime, sendo que o faremos a seguir.
2.1.4 ELEMENTOS DO CRIME OU ELEMENTOS DA TIPICIDADE OU DA ANTINORMAT IVIDADE
O conceito de tipicidade que também é conhecida como antinormatividade, se
embasa no texto do artigo 1º do Código Penal Brasileiro (2010, p. 541): “Não há
crime sem lei anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal.”,
significando em suma, que a lei deve existir antes do ato ilícito ser praticado,
abrangendo a conduta do agente. Deve-se respeitar o princípio da anterioridade da
lei penal, não podendo aguardar a ocorrência de um fato, para depois tipificá-lo
como antinormativo.
Conforme nos ensina Bitencourt (2006. p. 137) de forma bem resumida, deliberando
que a tipicidade é uma decorrência natural do princípio da reserva legal: nullun
crimen nulla poena sine praevia lege, ou seja, nenhum crime, nenhuma pena sem lei
penal anterior.
Com as devidas explicações sobre a tipicidade, passemos a observar as explicações
sobre fato típico transmitidas por Damásio de Jesus (2002, p. 154):
Significa que o crime praticado através de uma conduta positiva (ação), comissiva. Ou através de uma conduta negativa (omissão), omissiva, deve estar previsto em lei. A conduta praticada deve se ajustar à descrição do crime, pois, pode a conduta não ser crime, e, não sendo crime, denomina- se: conduta atípica (não punida, tendo em vista que não existe um dispositivo penal que a incrimine).
23
Ainda segundo Jesus (2002, p. 155) o fato típico é formado pelos seguintes
elementos:
a) Conduta humana dolosa ou culposa (comissiva ou omissiva); b) Resultado (nos crimes onde se exija um resultado naturalístico, não sendo este o caso dos crimes de mera conduta); c) Nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (salvo nos crimes de mera conduta e formais); d) Enquadramento do fato material (conduta, resultado lesivo e nexo) a uma norma penal incriminadora, ou seja, é o elemento fato típico.
Como nos ensina o referido autor (2002, p. 155) "a conduta descrita em norma penal
incriminadora será ilícita ou antijurídica quando não for expressamente declarada
lícita”. Assim, só será ilegal a conduta quando o causador não estiver amparado por
alguma das causas de exclusão de ilicitude abrangidas no artigo 23 do Código Penal
Brasileiro (2010, p. 543), ou em cláusulas permissivas localizadas na sua parte
especial ou em ordenamentos especiais.
Ainda sobre a conduta considerada antijurídica, segundo o ensinamento do citado
professor (2002, p. 155), “é a relação de contrariedade, que se estabelece entre a
conduta do agente e o ordenamento jurídico.” Assim considera-se que a ilegalidade
de um fato típico, se dará por exclusão, quando o ato praticado não localizar uma
causa que venha a aboná-lo.
2.1.4.1 CONDUTA HUMANA
É toda conduta perpetrada por dolo ou culpa, numa ação ou omissão praticada em
sã consciência e de livre e espontânea vontade. Sobre conduta, nos transmite
Zaffaroni (1999) que a conduta não se idealiza vontade, e a vontade não se idealiza
sem finalidade, a ação que diferencia o tipo culposo terá uma finalidade tal qual a
que individualiza o tipo doloso. A culpa não particulariza a conduta pela finalidade,
mas sim, pois pela maneira que se consegue esse desígnio se viola um dever de
cuidado.
24
Segundo nos ensina Greco (2009, p.165) conduta é:
A ação, ou conduta, compreende qualquer comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), podendo ser ainda dolosa (quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado) ou culposa (quando o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia).
É deveras importante advertir que a conduta é diferente do ato, pois o primeiro é a
manifestação da vontade do agente externada pelo conjunto de atos, que são os
componentes formadores da conduta, ou seja, a conduta se constrói pela prática de
um ou mais atos.
2.1.4.2 RESULTADO
Mesmo que seja tentado ou consumado, o resultado naturalístico é provocado pela
atitude do agente gerando alteração no ambiente exterior.
Faz-se necessário esclarecer que resultado não tem o mesmo sentido de evento,
pois tal como acontecem os casos fortuitos ou de força maior e os fenômenos
naturais, os eventos são ligados a qualquer tipo desses acontecimentos, enquanto o
resultado é a conseqüência da ação humana, seja ela oriunda de culpa ou dolo.
2.1.4.3 NEXO DE CAUSALIDADE
O nexo de causalidade se dá quando o dano causado é decorrente da prática do ato
ilícito pelo agente causador. Significa dizer que sem a conduta do agente não
existiria o resultado ocasionado por ela.
O Código Penal em relação à causalidade dispõe em seu artigo 13 (2010, p. 542)
que “o resultado de que depende a existência do crime, somente é imputável a
quem lhe deu causa”.
25
A respeito do nexo causal, Greco (2009, p. 217) afirma que:
O nexo causal, ou relação de causalidade, é aquele elo necessário que une a conduta praticada pelo agente ao resultado por ela produzido. Se não houver esse vínculo que liga o resultado à conduta levada a efeito pelo agente, não se pode falar em relação de causalidade e, assim, tal resultado não poderá ser atribuído ao agente, haja vista não ter sido ele o seu causador.
Assim, considera-se como causa da ação ou omissão sem a qual o resultado não
teria ocorrido.
2.2 CONDUTAS HUMANAS, CULPOSAS E DOLOSAS
Como esse estudo é direcionado a trabalhar a diferença na aplicação dos institutos
do Dolo Eventual e da Culpa Consciente em acidentes de trânsito, passaremos a
partir de agora, a uma breve abordagem sobre as condutas humanas, podendo ser
elas culposas ou dolosas.
Como já mencionado no item 2.1.4.1 deste trabalho, a Conduta Humana segundo
Greco (2009, p.165) se resume à ação, ou procedimento, compreende qualquer
comportamento humano comissivo (positivo) ou omissivo (negativo), que ainda pode ser
dolosa que é quando o agente quer ou assume o risco de produzir o resultado, ou culposa
que ocorre se o agente infringe o seu dever de cuidado, atuando com negligência,
imprudência ou imperícia.
Entretanto, o Código Penal Brasileiro em regra, nos ensina que todo crime só será
penitenciado, se praticado na forma dolosa, sendo que o comportamento culposo
será punível quando existir expressa previsão legal a esse respeito.
Nesse sentido é o que se determina no parágrafo único do artigo 18 do referido
Código (2010, p. 542), citando que “salvo os casos expressos em lei, ninguém pode
ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente”.
26
Por isso, entende-se que o dolo é a regra e a culpa é a exceção, pois o normal é que
se presuma a existência do dolo no tipo penal, enquanto a culpa deve ser
proclamada pela norma.
A carência dos elementos de culpa e dolo, na conduta do agente tira do ato
praticado o atributo de transgressão penal, fazendo o fato não ser considerado mais
como típico, levando o agente à impunidade.
Por causa desse tipo de impunidade, considera-se de suma importância diferenciar
Dolo de Culpa e suas derivações, que é o propósito desse exame, sendo que
começaremos a distingui-los a seguir.
2.3 TIPO DOLOSO
2.3.1 O DOLO NO CÓDIGO PENAL
Nos termos do artigo 18 do Código Penal (2010, p. 542):
Art. 18. Diz-se o crime: I - Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. II – [...]; Parágrafo único. Salvo nos casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
2.3.2 CONCEITO DE DOLO
Sobre esse conceito, alguns doutrinadores se posicionam da seguinte forma:
Para Greco (2009) dolo é a pretensão livre e consciente de realizar a ação prevista
no tipo penal incriminador.
27
Segundo Nucci (2007, p. 186): “dolo é a vontade consciente de praticar a conduta
típica”.
De acordo com Mirabete (2007, p.130): “dolo como a consciência e a vontade na
realização da conduta típica, ou a vontade da ação orientada para a realização do
tipo”.
Conforme leciona Capez (2007, p.200): “é a vontade e a consciência de realizar os
elementos constantes do tipo legal. Mais amplamente, é a vontade manifestada pela
pessoa humana de realizar a conduta.”
Pode se concluir dos conceitos apresentados pelos diferentes doutrinadores que não
há discordâncias a cerca da conceituação do dolo, referindo-se todos à consciência
e intenção do agente na prática do tipo penal.
2.3.3 ELEMENTOS DO DOLO
Entende-se que dolo é a prática do tipo penal realizada pelo agente com vontade e
consciência do mesmo.
De acordo com os ensinamentos de Bitencourt (2006, p. 335) são os elementos do
dolo:
[...] Elementos cognitivos ou intelectuais – Para a configuração do dolo exige-se consciência daquilo que se pretende praticar. Essa consciência deve ser atual, isto é, deve estar presente no momento da ação, quando ela está sendo realizada. É insuficiente, segundo Welzel, a potencial consciência das circunstâncias objetivas do tipo, uma vez que prescindir da atualidade da consciência equivale a destruir a linha divisória entre dolo e culpa, convertendo aquele em mera ficção... b) Elemento volitivo (vontade). À vontade, incondicionada, deve abranger a ação ou omissão (conduta), o resultado e o nexo causal. A vontade pressupõe, isto é, a representação, na medida em que é impossível querer algo conscientemente senão aquilo que se previu ou representou na nossa mente, pelo menos, parcialmente. A previsão sem vontade é algo completamente inexpressivo, indiferente do Direito Penal, e a vontade sem representação, isto é, sem previsão, é absolutamente impossível.
28
Notamos que o dolo é formado pela vontade que se dá pelo real desejo do agente
em efetivar o resultado e pela consciência de estar praticando tal ato antijurídico.
Ao estudarmos alguns dos maiores doutrinadores penalistas, notamos que a maioria
deles adota três teorias que buscam esclarecer a figura do dolo, sendo elas:
2.3.4 TEORIAS DO DOLO
Como lecionado por Mirabete (2007) e por Capez (2007), as teorias do dolo são a da
vontade, do assentimento e da representação com os seguintes significados:
De acordo com Mirabete (2007, p.129):
Para a teoria da vontade, age dolosamente quem pratica a ação consciente e voluntariamente. É necessário para sua existência, portanto, a consciência da conduta e do resultado e que o agente a pratique voluntariamente. Para a teoria da representação, o dolo e a simples previsão do resultado. Embora não se negue a existência da vontade na ação, o que importa para essa posição é a consciência de que a conduta provocara o resultado. Argumenta-se, contudo, que a simples previsão do resultado, sem a vontade efetivamente exercida na ação, nada representa e que, além disso, quem tem vontade de causar o resultado evidentemente tem a representação deste. Nesses termos, a representação já esta prevista na teoria da vontade. Para a teoria do assentimento (ou do consentimento) faz parte do dolo a previsão do resultado a que o agente adere, não sendo necessário que ele o queira. Para a teoria em apreço, portanto, existe dolo simplesmente quando o agente consente em causar o resultado ao praticar a conduta.
Conforme ensinamento de Capez (2007, p. 202):
Teoria da vontade: dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Teoria da representação: dolo é a vontade de realizar a conduta, prevendo a possibilidade de o resultado ocorrer, sem, contudo, desejá-lo. Denomina-se teoria da representação, porque basta ao agente representar (prever) a possibilidade do resultado para a conduta ser qualificada como dolosa. Teoria do assentimento/assunção: dolo é o assentimento do resultado, isto é, a previsão do resultado com a aceitação dos riscos de produzi-lo. Não basta, portanto, representar, é preciso aceitar como indiferente a produção do resultado.
29
Segundo doutrina Mirabete (2007, p.13 e 131), o dolo de acordo com o Código
Penal, se dá da seguinte forma:
Reza o Art. 18, inciso I, do CP: “Diz-se do crime: doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo.” Como resultado deve-se entender a lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico. Na primeira parte do dispositivo a lei refere-se ao agente que quer o resultado. È o que se denomina dolo direto: o agente realiza a conduta com o fim de obter o resultado. Assim, quer matar (art. 121), quer causar lesão corporal (art. 129), quer subtrair (art.155) etc. Na segunda parte do inciso em estudo, a lei trata do dolo eventual. Nesta hipótese, a vontade do agente não esta dirigida para a obtenção do resultado; o que ele quer é algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco de causá-lo. Essa possibilidade de ocorrência do resultado não o detém e ele pratica a conduta, consentido no resultado. Há dolo eventual, portanto, quando o autor tem seriamente como possível a realização do tipo legal se praticar a conduta e se conforma com isso.
Observa-se que o Código Penal Brasileiro (2010), quanto ao dolo direto seguiu a
teoria da vontade, pelo qual o agente quer a ocorrência do resultado e faz com que o
mesmo seja produzido.
Já em relação ao dolo eventual, o Código Penal abraçou a teoria do assentimento,
uma vez que o agente prevê, mas não quer o resultado, entretanto nada faz para
evitá-lo.
2.3.5 ESPÉCIES DE DOLO
Em relação ao surgimento das espécies de dolo, conforme nos ensina Bitencourt
(2006), ocorre pela necessidade de a vontade compreender o objetivo almejado pelo
agente, o meio utilizado, a relação de causalidade, bem como o resultado. A partir
da analogia entre a vontade e os elementos formadores do tipo, podemos classificar
as espécies de dolo em dolo direto e dolo eventual.
Observamos juntamente com a citação anterior, de Bitencourt (2006), a existência
de várias classificações das espécies de dolo e um grande desentendimento entre
os renomados autores, a respeito dessa divisão. Não distante dessa realidade,
Mirabete (2007, p.134) relaciona as espécies de dolo como sendo:
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Distingue-se na doutrina o dolo direto ou determinado do dolo indireto ou indeterminado. No primeiro, o agente quer determinado resultado, como a morte da vitima, por exemplo, no homicídio. No segundo, o conteúdo do dolo não é preciso, definido. Neste caso, poderá existir o dolo alternativo, em que o agente quer, entre dois ou mais resultados (matar ou ferir, por exemplo), qualquer deles ou o dolo eventual. Refere-se ainda a doutrina ao dolo de dano, em que o agente quer ou assume o risco de causar lesão efetiva (arts. 121, 155 etc.) e ao dolo de perigo, em que o autor da conduta quer apenas o perigo (arts. 132, 133 etc.). São essas espécies, porém, substancialmente idênticas. Dolo existe quando o agente quer ou consente na realização da figura típica ou, nos termos da lei, quando quer ou consente no resultado, não importando que esse tipo (ou evento) seja de dano ou de perigo. Distinção da doutrina tradicional é aquela que separa as espécies de dolo em dolo genérico e dolo especifico. Dolo genérico é a vontade de realizar o fato descrito na lei, em seu núcleo (vontade de matar, de subtrair etc.). Dolo específico é a vontade de realizar o fato com um fim especial (fim libidinoso, de obter vantagem indevida etc.). Foi visto, entretanto, que a distinção é a falha, pois o que existe são os elementos subjetivos do tipo. Fala-se, por fim, em dolo geral. Existe este nos casos em que o agente, supondo ter conseguido o resultado pretendido, pratica nova ação que, esta sim, vem a resultar no evento. É o exemplo da vítima de golpes de faca em tentativa de homicídio que é atirada ao mar pelo agente, na suposição de já tê-lo eliminado, causando-lhe a morte por afogamento. Respondera ele por homicídio doloso consumado em decorrência do denominado dolo geral quando, tecnicamente, haveria tentativa de homicídio seguida de homicídio culposo.
Segundo Capez (2007, p. 202 e 203) as espécies de dolo são:
a) dolo natural; b) dolo normativo; c) dolo direto ou determinado; d) dolo indireto ou indeterminado; e) dolo de dano; f) dolo de perigo; g) dolo genérico; h) dolo específico; i) dolo geral, erro sucessivo ou aberratio causae.
Ao estudarmos o dolo segundo os principais doutrinadores, verificamos que a
classificação mais utilizada entre eles divide o dolo indireto ou indeterminado em
dolo eventual e dolo alternativo.
Como uma das finalidades desse trabalho é aprofundar os estudos de Dolo
Eventual, proporcionando uma melhor aplicação desse instituto na dosimetria das
penas em processos decorrentes de acidentes de trânsito, se faz necessário que
conceituemos melhor essa espécie, sendo que o faremos a seguir.
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2.3.6 DOLO EVENTUAL
Na doutrina de Jesus (2002, p. 291), o autor cita um exemplo que esclarece a
diferença entre dolo eventual e dolo direto, se não vejamos:
O agente pretende atirar na vítima, que se encontra conversando com outra pessoa. Percebe que, atirando na vítima, pode também atingir a outra pessoa. Não obstante essa possibilidade, prevendo que pode matar o terceiro é-lhe indiferente que este último resultado se produza. Ele tolera a morte do terceiro. Para ele, tanto faz que o terceiro seja atingido ou não, embora não queira o evento. Atirando na vítima e matando também o terceiro, responde por dois crimes de homicídio: o primeiro, a título de dolo direto; o segundo, a título de dolo eventual.
O Dolo Eventual de acordo com Nucci (2007) é quando o agente dirige sua vontade
para prática de um resultado determinado que, seria algo que pretende ou às vezes
algo que lhe é um indiferente, porém vislumbrando a possibilidade da ocorrência de
um segundo resultado, não desejado, mas admitido, unido ao primeiro.
Com intenção de explanar melhor sobre esse tipo de dolo, examinaremos os
ensinamentos de Bitencourt (2006, p. 338), que transmiti o seguinte conceito:
Haverá dolo eventual quando o agente não quiser diretamente a realização do tipo, mas a aceitar como possível ou até provável, assumindo o risco da produção do resultado (art. 18, in fine, do CP). No dolo eventual o agente prevê o resultado como provável, ou, ao menos, como possível, mas, apesar de prevê-lo, age aceitando o risco de produzi-lo. Como afirmava Hungria, assumir o risco é alguma coisa mais que ter consciência de correr o risco: é consentir previamente no resultado, caso este venha efetivamente a ocorrer.
Com isso, podemos afirmar que dolo eventual se configura quando o agente
vislumbra em sua ação um resultado que não queira provocar, e mesmo assim,
assume o risco de ocasioná-lo ao dar seguimento em sua conduta antijurídica.
Ou seja, o agente dá seqüência em sua ação, mesmo sabendo das reais
possibilidades de ocorrência de um fato típico não tentado por ele.
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2.4 TIPO CULPOSO
2.4.1 A CULPA NO CÓDIGO PENAL
Conforme estabelece o artigo 18 do Código Penal Brasileiro (2010, p. 542):
Art. 18. Diz-se o crime: I- [...]; II- Culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo nos casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.
2.4.2 CONCEITO DE CULPA
Como pudemos observar o texto do Código Penal (2010) no item anterior, e de
acordo a citação seguinte de Nucci (2007, p. 192), o posicionamento é de que, a
culpa é uma exceção devendo ser expressa em lei sua aplicação, caso contrário, o
dolo será a regra.
O conceito de culpa é o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo, lícito ou ilícito embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível que podia ter sido evitado. O dolo é a regra a culpa e a exceção. Para se punir alguém por delito culposo é indispensável que a culpa venha expressamente delineada no tipo penal. Trata-se de um dos elementos subjetivos do crime, embora se possa definir a natureza jurídica da culpa como sendo um elemento psicológico-normativo. A culpa é o elemento psicológico, pois sendo elemento subjetivo se faz necessário uma ligação com o resultado. È elemento normativo porque sua verificação necessita de um prévio juízo de valor, na relação estabelecida entre o querer do agente e o resultado produzido.
Podemos conceituar o tipo culposo como um resultado ocasionado por imprudência,
negligencia ou imperícia, mesmo que o agente não tem o intuito de causar o fato
antinormativo e nem assume o risco de vir a produzi-lo, mas devido a falta de zelo
ao dever de cuidado objetivo gera sua ocorrência.
Leciona Bitencourt (2006, p. 350), não ser lógico efetuar uma partilha da culpa em
tipo penal subjetivo e objetivo, como veremos a seguir:
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O injusto culposo, como já referimos, tem uma estrutura completamente diferente do injusto doloso, não contendo o chamado tipo subjetivo, em razão da natureza normativa da culpa... ...Não se desconhece, no entanto, a existência de um certo componente subjetivo no crime culposo, formado pela relação volitiva final e um componente objetivo expresso na causalidade. Mas, como a relevância da ação é aferida através de um juízo comparativo entre a conduta realizada e aquela que era imposta pelo dever objetivo de cuidado, não tem sentido a divisão penal em objetivo e subjetivo, sendo irrelevante a relação volitiva final para a realidade normativa.
De acordo com os ensinamentos de Mirabete (2007, p. 136) onde o autor se refere
ao conceito de culpa como “a conduta voluntária (ação ou omissão) que produz
resultado antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que
podia, com a devida atenção, ser evitado”.
Ainda segundo o referido autor (2007, p. 140), sobre a tipicidade no comportamento
do agente, afirma que:
[...] nos crimes culposos determina-se através da comparação entre a conduta do agente e o comportamento presumível que, nas circunstâncias, teria uma pessoa de discernimento e prudência ordinários. É típica a ação que provocou o resultado quando se observa que não atendeu o agente ao cuidado e à atenção adequados às circunstâncias.
Culpa na lição de Bitencourt (2006) é a falta de observação ao dever objetivo de
cuidado manifestada numa conduta de resultado não pleiteado, contudo previsível.
Essa falta de observação ao dever de cuidado objetivo se constitui, pois o agente
não se atentou a algumas regras de comportamento, significando que o mesmo agiu
com imprudência, imperícia ou negligência, que são as modalidades da conduta
para ser considerada culposa.
Segundo Moura (s.d., s.p.) o significado de imprudência, imperícia e negligência é:
IMPRUDÊNCIA: comportamento positivo.um agir sem cautela necessária.o agente atua com precipitação,insensatez ou inconsideração, já por não atentar para a lição dos fatos ordinários, já por não perseverar no que a razão indica. NEGLIGÊNCIA: é culpa na sua forma omissiva. consiste em deixar de tomar o cuidado devido antes de começar a agir. implica a abstenção de um comportamento que era devido. negligente é quem, podendo e devendo agir de determinado modo por indolência ou preguiça mental, não age ou se comporta de modo diverso.
34
IMPERÍCIA: inaptidão técnica em profissão ou atividade. consiste na incapacidade, na falta de conhecimento ou habilitação para o exercício de determinado mister, se, além da demonstração da falta de habilidade, for ignorada pelo agente regra técnica específica de sua profissão, haverá ainda aumento da pena, sendo essa modalidade de imperícia ainda mais grave.
Com isso, podemos dizer que imprudência é a ação sem precaução, sem cautela ou
razão. Já a negligência é não proceder com o cuidado necessário antes de praticar o
ato. A imperícia se resume à falta de formação ou habilitação para exercício de tal
conduta. O agente não é capacitado naquela área que atuou.
Lembramos que para ser considerado como delito culposo, é necessário a união de
alguns elementos, que serão estudados a seguir.
2.4.3 ELEMENTOS DA CULPA
Nessa circunstância, elementos são tidos para a ocorrência do tipo, como pré-
requisitos, ou seja, sem eles não há como ser configurado o fato típico. São na
verdade, as características formadoras do crime ou do tipo penal, que no caso em
questão, dão forma ao crime culposo. Com a ausência desses elementos, não é
possível conseguir identificar a conduta como culposa.
Portanto, ao realizar um estudo sobre os elementos formadores do tipo culposo,
podemos relacionar uma variação na classificação desses, em decorrência dos
diversos posicionamentos doutrinários. Com isso, passaremos a mostrar essa
diferença de ensinamentos a seguir.
No entendimento de Greco (2009, p. 207 e 208) os elementos que compõem a culpa
são:
[...] Nota-se, portanto, que para a caracterização do delito culposo é preciso a conjugação de vários elementos, a saber: a) Conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva; b) Inobservância de um dever objetivo de cuidado manifestado através de negligencia, imprudência e imperícia; c) Resultado lesivo não querido, também não assumido, pelo agente; d) Previsibilidade;
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e) Nexo de causalidade entre a conduta do agente que agiu sem empregar o seu dever de cuidado e o resultado lesivo dela advindo; f) Tipicidade;
Não distante da divergência na classificação desses elementos, Bitencourt (2006, p.
350), classifica os elementos do fato típico culposo da seguinte maneira:
O tipo injusto culposo apresenta os seguintes elementos constitutivos: inobservância do cuidado objetivo devido; produção de um resultado e nexo causal; previsibilidade objetiva do resultado; conexão interna entre desvalor da ação e desvalor do resultado.
Considerando o ensinamento de Nucci (2007, p. 193), o doutrinador nos transmite
que os elementos da culpa se classificam em:
[...] a) na análise concentração da conduta voluntária do agente; b) ausência do dever de cuidado objetivo, significando que o agente deixou de seguir as regras básicas de atenção e cautela, exigíveis de todos que vivem em sociedade; c) resultado danoso involuntário: é imprescindível que o evento lesivo jamais tenha sido desejado ou acolhido pelo agente; d) previsibilidade: é a possibilidade de prever o resultado lesivo, inerente a qualquer ser humano normal; e) ausência de previsão (culpa inconsciente), ou seja, não é possível que o agente tenha previsto o evento lesivo ou previsão do resultado, esperando, sinceramente, que ele não aconteça (culpa consciente), quando o agente vislumbra o evento lesivo, mas crê poder evitar que ocorra; f) tipicidade há especial atenção para esse ponto, pois, como já foi mencionado, o crime culposo precisa estar expressamente previsto no tipo penal. Ex.: não existe menção, no art. 155 do Código Penal, à culpa, de forma que não há “furto culposo”; g) nexo causal: somente a ligação, através da previsibilidade, entre a conduta do agente e o resultado danoso pode constituir o nexo de causalidade no crime culposo, já que o agente não deseja a produção do evento lesivo.
Podemos notar nos ensinamentos ofertados nas citações anteriores que, mesmo
existindo uma falta de consenso dos doutrinadores quanto à classificação de todos
os elementos do tipo culposo, também há concordância na disposição de alguns
deles, sendo que abordaremos os mesmos a seguir:
A conduta é a ação do agente, comissiva ou omissiva.
A inobservância do dever de cuidado objetivo é nítido entre os elementos e acontece
quando há imprudência, imperícia e negligência;
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Outro elemento necessário para ocorrência do crime culposo é o resultado, pois sem
o qual não existe o crime.
O nexo de causalidade é na verdade o elemento de ligação entre a conduta do
agente e o resultado decorrente dela.
A previsibilidade ocorre de acordo com as reais condições do agente em saber que
existe risco de sua conduta ocasionar o fato típico culposo.
O último elemento, mas não menos importante é a tipicidade, que diferente do tipo
doloso que se presume na lei, pois é regra dela, a tipicidade do tipo culposo só se
caracteriza se existir a conduta típica proclamada na lei.
Com base nos elementos presentes em cada caso concreto, será averiguado se a
conduta é mesmo culposa, para depois ser constatado qual modalidade de culpa
pode ser atribuída ao crime. Assim, faremos abaixo, um levantamento das espécies
de culpa segundo as principais classificações doutrinárias.
2.4.4 ESPÉCIES DE CULPA
A maior parte dos autores penalistas classifica a culpa em culpa consciente ou culpa
com previsão e culpa inconsciente, culpa própria e imprópria. Em seguida,
elencamos alguns conceitos formulados por esses doutrinadores, a saber:
Na culpa consciente o agente prevê o resultado, pois é previsível, mas não o aceita,
enquanto a inconsciente não há previsão do presumido. Segundo os ensinamentos
de Greco (2009, p. 217) essas espécies de culpa se diferenciam da seguinte
maneira:
A culpa inconsciente distingue-se da culpa consciente justamente no que diz respeito à previsão do resultado; naquela, o resultado, embora previsível, não foi previsto pelo agente; nesta, o resultado é previsto, mas o agente, confiando em si mesmo, nas suas habilidades pessoais, acredita sinceramente que este não venha a ocorrer. A culpa inconsciente é a culpa sem previsão e a culpa consciente é a culpa com previsão.
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A culpa própria é a costumeira, que acontece sem a vontade do agente de ocasionar
aquele resultado e sem também que o mesmo assumisse o risco de causá-lo, pois
não foi previsto pelo agente, entretanto fosse previsível. Em relação à culpa
imprópria, Franco (2001, p. 195) conceitua a segunda como sendo:
Trata-se de uma conduta dolosa, cuja origem é a própria imprudência do agente. Exemplo: imaginando-se atacado por um desconhecido, o sujeito atira para matar, visando proteger-se. Após o fato, constata-se não ter havido agressão injusta. Houve dolo, no entanto, pois o tiro foi dado com intenção de matar ou ferir, ainda que para garantir a defesa pessoal. Entretanto, a lei penal prevê que, neste caso, se o erro for escusável estará configurada a legítima defesa putativa (art. 20, § 1o), não havendo punição. Mas, caso o erro seja inescusável, deve haver punição a título de culpa. Cuida-se exatamente da culpa imprópria, isto é, a culpa com previsão do resultado. Pensamos que, mesmo havendo culpa imprópria, não se acolhe a possibilidade de tentativa, uma vez que a lei penal dá a essa situação, o tratamento de culpa e esta não admite, em qualquer hipótese, tentativa.
Sendo um dos focos desse estudo, daremos ênfase ao conceito de culpa
consciente, criando um entendimento mais adequado ao uso dessa variação do tipo
culposo no cálculo da penalidade aplicada em procedimentos decorrentes de
ocorrências de trânsito. Com essa finalidade, abordaremos a seguir, de maneira
mais fundamentada, o conceito de culpa consciente.
2.4.5 CULPA CONSCIENTE
A culpa denominada consciente como já mencionado anteriormente, também é
conhecida por culpa com previsão, pois o agente realmente presumia o que era
previsível, entretanto, a culpa inconsciente, não há previsão do presumido, por isso
podemos chamá-la de culpa sem previsão.
Desse mesmo modo leciona Bitencourt (2006, p. 358) sobre essa espécie de culpa,
como veremos:
Há culpa consciente também chamada culpa com previsão, quando o agente, deixando de observar a diligência a que ele não ocorra. Quando o agente, embora prevendo o resultado, espera sinceramente que este não se verifique, estar-se-á diante de culpa consciente e não de dolo eventual. A ação sem previsão do resultado previsível constitui a chamada culpa inconsciente, culpa ex ignorância. No dizer de Hungria, “previsível é o fato cuja possível superveniência não escapa à perspicácia comum”. A
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previsibilidade do resultado é o elemento identificador das duas espécies de culpa. A imprevisibilidade desloca o resultado para o caso fortuito ou força maior. Na culpa inconsciente, no entanto, apesar da presença da previsibilidade, não há a previsão por descuido, desatenção ou simples desinteresse. A culpa inconsciente caracteriza-se pela ausência absoluta de nexo psicológico entre o autor e o resultado de sua ação.
Ainda sobre o conceito de culpa consciente, atentamos ao que nos fala Greco (2009,
p. 216 e 217), doutrinando que:
A previsibilidade é um dos elementos que integram o crime culposo. [...] Culpa consciente é aquela em que o agente, embora prevendo o resultado, não deixa de praticar a conduta acreditando, sinceramente, que este resultado não venha a ocorrer. O resultado, embora previsto, não é assumido ou aceito pelo agente, que confia na sua não-ocorrência.
Assim findamos que na culpa consciente, o resultado naturalístico é previsto pelo
agente, mas confia tanto em sua capacidade acreditando poder evitar a produção do
efeito.
2.5 DIFERENÇA ENTRE DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE
Será realizado nesse item um comparativo direto entre dolo eventual e culpa
consciente, já prestigiados separadamente em tópicos anteriores. Antes, porém,
para acentuar ainda mais a diferença entre essas espécies dos tipos doloso e
culposo, faremos uma remição dos conceitos individuais já abordados, citando-os
novamente:
Relembrando o disposto no item 2.3.6, quando em relação ao dolo eventual,
Bitencourt (2006, p. 338) nos transmitiu que no dolo eventual o agente prevê o
resultado como admissível, ou, ao menos, como possível, mas mesmo prevendo-o,
age acolhendo o risco de produzi-lo.
No tópico 2.4.5, novamente seguindo os ensinamentos de Bitencourt (2006, p. 358)
a respeito da ocorrência de culpa consciente, o autor comunica que essa espécie
que também é denominada de culpa com previsão, acontece quando o agente,
deixando de notar a diligência a que ele não ocorra. Quando o agente, embora
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prevendo o resultado, acredita sinceramente que este não ocorrerá, considera-se a
conduta como de culpa consciente e não de dolo eventual
Ao distinguir dolo eventual de culpa consciente, leciona Capez (2007, p.170) dizendo
que:
[...] a culpa consciente difere do dolo eventual porque neste o agente prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra (“se eu continuar dirigindo assim, posso vir a matar alguém, mas não importa; se acontecer tudo bem, eu vou prosseguir”). Na culpa consciente, embora prevendo o que possa vir a acontecer, o agente repudia essa possibilidade (“se eu continuar dirigindo assim, posso vir a matar alguém, mas estou certo de que isso, embora possível, não ocorrerá”). O traço distintivo entre ambos, portanto, é que no dolo eventual o agente diz: “não importa”, enquanto na culpa consciente supõe: é possível, mas não vai acontecer de forma alguma.
Segundo Bitencourt (2006) a fronteira entre o dolo eventual e a culpa consciente
constitui uma das dificuldades mais temerosas da Teoria do Delito. Existe entre eles
algo em comum, que é a previsão do resultado proibido.
Mas, enquanto no dolo eventual o agente concorda ao advento desse resultado,
admitindo o risco de produzi-lo, em vez de abandonar à ação, na culpa consciente,
ao contrário, repele a hipótese de superveniência do resultado, convencido que este
não ocorrerá.
Com o mesmo desígnio de individualizar essas espécies de dolo e culpa, Greco
(2009, p. 217) se posiciona da seguinte maneira:
Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita sinceramente na sua não-ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo assumido pelo agente. Já no dolo eventual, embora o agente não queira diretamente o resultado, assume o risco de vir a produzi-lo. Na culpa consciente, o agente sinceramente acredita que pode evitar o resultado; no dolo eventual, o agente não quer diretamente produzir o resultado, mas, se este vier a acontecer, pouco importa.
Não distante dessa linha de pensamentos, o ilustre Mirabete (2007, p. 145), espaça
dolo eventual e culpa consciente em sua obra afirmando que:
A culpa consciente avizinha-se do dolo eventual, mas com ele não pode se confundir. Naquela, o agente, embora prevendo o resultado, não o aceita como possível. Neste, o agente prevê o resultado, não se importando que
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venha ele a ocorrer. Pela lei penal estão equiparadas a culpa inconsciente e a culpa com previsão, “pois tanto vale não ter consciência da anormalidade da própria conduta, quanto estar consciente dela, mas confiando, sinceramente, em que o resultado lesivo não sobrevirá”. Já quanto ao dolo eventual, este se integra por estes dois comportamentos – representação da possibilidade do resultado e anuência a que ele ocorra, assumindo o agente o risco de produzi-lo. Igualmente, a lei não o distingue do dolo direto ou eventual , punindo o autor por crime doloso.
Observamos então que, o dolo eventual e a culpa consciente se distinguem pela
posição do agente em aceitar ou não a possibilidade do resultado ser produzido por
sua conduta.
Nos dois casos existe a previsão de ocorrer o resultado, sendo que na culpa
consciente, o agente prevê o resultado, mas acredita fielmente que o mesmo não
acontecerá. Enquanto no dolo eventual, também existe a previsão do resultado,
entretanto o agente não se preocupa com as conseqüências; pra ele o resultado
pouco importa.
2.6 DO EXCESSO DE VELOCIDADE E DA EMBRIAGUEZ NO TRÂNSITO
As condutas típicas decorrentes da direção de veículo automotor estão previstos no
Código de Trânsito (Lei 9.503/97), principalmente entre os artigos 302 e 312 (2010,
p. 855 e 856), onde constam crimes como o homicídio culposo e a
lesão corporal culposa, a condução de veículo sobre a influência de álcool, trafegar
em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas,
hospitais, a participação em via pública de corrida, disputa ou competição
automobilística não autorizada pela autoridade competente, conhecidas como
“rachas”.
A prioridade desse estudo é aperfeiçoar a aplicação do dolo eventual e da culpa
consciente em acidentes decorrentes do excesso de velocidade e da embriaguez na
condução de veículos automotores, com isso, daremos ênfase a esse tipo de crime,
como veremos a seguir:
41
Sobre os crimes dessa natureza, o Código de Trânsito Brasileiro (2010, p. 855 e
856) define os crimes de trânsito como sendo:
CAPÍTULO XIX DOS CRIMES DE TRÂNSITO [...] Seção II Dos Crimes em Espécie Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. [...] Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. [...] Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada: Penas - detenção, de seis meses a dois anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. [...] Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano: Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Nos casos particulares de homicídio ou lesão corporal praticados na direção de
veículo automotor, de acordo com o Código de Trânsito, tratados somente na forma
culposa, além das sanções administrativas, são aplicáveis penas que irão oscilar no
primeiro crime, de dois a quatro anos de detenção e no segundo, entre seis meses e
dois anos de detenção.
Entretanto, em um caso de homicídio, por exemplo, se fosse caracterizado como
crime doloso, seria amparado pelo artigo 121 do Código Penal (2010, p. 554), tendo
a pretensão punitiva aumentada para reclusão variando entre seis e vinte anos, além
de tramitar pelo rito do tribunal do júri.
42
Observa-se que a classificação das condutas na condução de automóveis, é restrita
ao tipo culposo pela própria lei de trânsito, acarretando a aplicação de penalidade
inferior àquela que seria aplicada se fosse considerada a ação como dolosa.
2.6.1 DOLO EVENTUAL E CULPA CONSCIENTE EM ACIDENTES DE TRÂNSITO
Como informado anteriormente, os delitos de trânsito a serem focados nesse
trabalho, são aqueles ocasionados por alta velocidade e pelo consumo de álcool.
Veremos abaixo que, tal como se torna muito complicado diferenciar na teoria, o
dolo eventual da culpa consciente, ao analisarmos alguns crimes de trânsito,
observaremos novamente a dificuldade em efetuar a aplicação de um ou outro na
prática.
Sobre a aplicação dessas espécies de dolo e culpa nos crimes de trânsito, leciona
Araújo (2004, p. 23) que:
Pela teoria do consenso, do assentimento ou do consentimento, há a crítica à teoria da representação, afirmando-se que não basta a previsão da possibilidade ou probabilidade concreta, mas um quid pluris, devendo existir uma atitude interior de aprovação ou consentimento em relação à concretização do resultado previsto como possível (aceitação do risco - teoria da aceitação do risco). (...) Nota-se, desta forma, a dificuldade em se caracterizar o dolo eventual nos crimes de trânsito. Numa situação normal o agente que conduz o veículo e provoca a morte de outra pessoa, por mais intensa reprovação social que exista, não se pode falar, a priori, que o mesmo assumiu o risco de causar a fatalidade. Existe, assim, uma prevalência inicial da culpa (às vezes inconsciente) em detrimento do dolo eventual nos delitos de trânsito.
Com o posicionamento acima, só podemos dizer que tanto no dolo eventual quanto
na culpa consciente, existe a previsão do resultado, sendo que no primeiro o agente
não se importa com as conseqüências enquanto no segundo acredita sinceramente
que o resultado não será produzido.
43
Também vigilante à diferença entre dolo eventual e culpa consciente, com foco
específico em homicídio proveniente de direção de veículo automotor, aglutinada
com álcool e excesso de velocidade, Greco (2009, p. 218/220) instrui que:
A questão não é tão simples como se pensa. Essa fórmula criada, ou seja, embriaguez + velocidade excessiva = dolo eventual, não pode prosperar. Não se pode partir do princípio de que todos aqueles que dirigem embriagados e com velocidade excessiva não se importam em causar a morte ou mesmo lesões em outras pessoas. O dolo eventual, como visto, reside no fato de não se importar o agente com a ocorrência do resultado por ele antecipado mentalmente, ao contrário da culpa consciente, onde este mesmo agente, tendo a previsão de que poderia acontecer, acredita, sinceramente, que o resultado lesivo não venha a ocorrer. No dolo eventual, o agente não se preocupa com a ocorrência do resultado por ele previsto porque o aceita. Para ele, tanto faz. Na culpa consciente, ao contrário, o agente não quer e nem se assume o risco de produzir o resultado porque se importa com a sua ocorrência. O agente confia que, mesmo atuando, o resultado previsto será evitado. Merece ser frisado, ainda, que o Código Penal, como vimos, não adotou a teoria da representação, mas, sim, a da vontade e a do assentimento. Exige-se, portanto, para a caracterização do dolo eventual, que o agente anteveja como possível o resultado e o aceite, não se importando realmente com a sua ocorrência. Com isso queremos salientar que nem todos os casos em que houver a fórmula embriaguez + velocidade excessiva haverá dolo eventual. Também não estamos afirmando que não há possibilidade de ocorrer tal hipótese. Só a estamos rejeitando como uma fórmula matemática, absoluta. (...) O clamor social no sentido de que os motoristas que dirigem embriagados e/ou em velocidade excessiva devem ser punidos severamente, quando tiram a vida ou causam lesões irreversíveis em pessoas inocentes, não pode ter o condão de modificar toda a nossa estrutura jurídico-penal. Não podemos, simplesmente, condenar o motorista por dolo eventual quando, na verdade, cometeu infração culposamente. (..) Concluindo, embora em alguns casos raros seja possível cogitar de dolo eventual em crimes de trânsito, não é pela conjugação da embriaguez com a velocidade excessiva que se pode chegar a essa conclusão, mas, sim, considerando o seu elemento anímico. Se mesmo antevendo como possível a ocorrência do resultado como ele não se importava, atua com dolo eventual; se, representando-o mentalmente, confiava sinceramente na sua não-ocorrência, atua com culpa consciente. E, para arrematar, se ao final do processo pelo qual o motorista estava sendo processado por um crime doloso (como dolo eventual), houver dúvida com relação a este elemento subjetivo, deverá ser a infração penal desclassificada para aquele de natureza culposa, pois que in dubio pro reo, e não, como querem alguns, in dúbio pro societate.
Em decorrência do direcionamento dado à legislação de trânsito, no momento de
sua elaboração e aprovação, ao ser pré estabelecido que a conduta só será culposa
em acidentes dessa natureza, houve durante algum tempo, condenações que nunca
alcançaram as finalidades de uma lei, que é a punição do infrator e principalmente, a
tentativa de se evitar novos crimes.
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A falta de punição adequada leva ao aumento de delitos em decorrência do
sentimento de impunidade. Com isso, surge da sociedade o clamor pela mudança
na legislação ou adequação da que já existe. A vontade é que se punam aqueles
que já transgrediram as leis, para servirem de exemplo e se iniba a ocorrência de
novos casos.
A restrição da lei de trânsito quanto ao tipo culposo, que acarreta punições mais
brandas, gera insatisfação, não só dos leigos, mas também dos operadores do
direito, que buscam melhores critérios para julgarem crimes dessa natureza.
Não é fácil distinguir dolo eventual de culpa consciente, pois ambos são parecidos,
chegando a ter características em comum. Os doutrinadores podem até conceituar
de forma mais clara, mas na prática, os juristas devem analisar não só um conceito
didático, mas sim as circunstâncias que ladearam a conduta.
É nesse momento que aparecem as dúvidas sobre as espécies de dolo e culpa,
objetos desse estudo. Os questionamentos são quanto ao tipo que deve ser adotado
para aquela determinada situação.
Discernir sobre a aplicação dessas espécies de dolo e culpa, é saber diagnosticar
qual tipo de conduta o agente teve ao praticar o delito. É fundamental conseguir
provar que o autor agiu com dolo eventual ou com culpa consciente, pois é isso que
irá dosar a penalidade imposta. É de suma importância caracterizar a ação em
dolosa ou culposa.
Nesse sentido, com foco no bom emprego dessas classes dos tipos doloso e
culposo, devemos observar outros aspectos, assim como leciona Mello (1996, s.p.)
em julgamento de Habeas Corpus originário do estado do Rio Grande do Sul
fornecendo o seguinte relato:
A conduta social desajustada daquele que, agindo com intensa reprovabilidade ético-jurídica, participa, com seu veículo automotor, de inaceitável disputa automobilística realizada em plena via pública, nesta desenvolvendo velocidade exagerada - além de ensejar a possibilidade de reconhecimento de dolo eventual inerente a esse comportamento do agente – ainda justifica especial exasperação da pena, motivada pela necessidade
45
de o Estado responder, grave e energicamente, à atitude de quem, em assim agindo, comete os delitos de homicídio doloso e lesões corporais” (HC 71.800-1-RS, um. T., rel. Celso de Mello, DJ20. 06.1995, RT733 ⁄ 478).
Ao examinarmos a posição de Nucci (2007, p. 188) em relação à súmula do
Supremo Tribunal Federal, o doutrinador afirma que tem sido posição seguida
atualmente, na jurisprudência pátria considerar a conduta do agente em
determinados delitos cometidos no trânsito não mais como culpa consciente, e sim
como dolo eventual.
As várias campanhas realizadas, apontando o risco da direção perigosa e
manifestamente ousada, são satisfatórias para esclarecer os motoristas da vedação
legal de certas condutas, tais como o racha, a direção em alta velocidade sob
embriaguez, entre outras. Se mesmo assim, continua o condutor do veículo a agir
dessa forma claramente arriscada, estará demonstrando seu desapego à
incolumidade alheia, podendo responder por delito doloso.
Nessa mesma linha, após relatório de Gracie (2008, s.p.), o julgamento do Habeas
Corpus número 91.159 oriundo de Minas Gerais, foi realizado pela segunda turma
do Supremo Tribunal Federal, sendo indeferido o pedido por unanimidade,
constando no relatório o seguinte posicionamento:
DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. “RACHA” AUTMOBILÍSTICO. HOMICÍDIO DOLOSO. DOLO EVENTUAL. NOVA VALORAÇÃO DE ELEMENTOS FÁTICO-JURÍDICOS, E NÃO REAPRECIAÇÃO DE MATERIAL PROBATÓRIO. DENEGAÇÃO [...] O dolo eventual compreende a hipótese em que sujeito não quer diretamente a realização do tipo penal, mas a aceita como possível e provável (assume o risco da produção do resultado, na redação do art. 18, I, in fine (ou assunção), consoante a qual o dolo exige que agente consinta em causar o resultado, além de considerá-lo como possível [...] A questão central diz respeito à distinção entre dolo eventual e culpa consciente que, como se sabe, apresentam aspecto comum: a previsão do resultado ilícito. No caso concreto, a narração contida na denuncia dá conta de o paciente e o co-réu conduziam seus respectivos veículos, realizando aquilo que coloquialmente se denominou “pega” ou “racha”, em alta velocidade, em plena rodovia, atingindo um terceiro veículo (onde estavam as vítimas) [...] Para configuração de dolo eventual não é necessário o consentimento explicito do agente, nem sua consciência reflexiva em relação as circunstâncias do evento. Faz-se imprescindível que dolo eventual se extraia das circunstâncias do evento, e não da mente do autor, eis que não se exige uma declaração expressa do agente [...] O dolo eventual não poderia ser descartado ou julgado inadmissível na fase do iudicium accusationis [...].
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Nota-se que o relator considerou a conduta do agente, como sendo caracterizada
por dolo eventual, ao entender que o mesmo havia previsto o risco de produzir o
resultado, não se importando com os danos e mesmo assim, dando continuidade à
sua ação, assumindo assim, o risco de produzir os efeitos já previstos.
Sabe-se que para ser caracterizado o dolo eventual, o agente deve ter previsto o
resultado, mas não tenha se importado com a ocorrência do mesmo, dando
continuidade à sua conduta e acabando por ocasioná-lo.
Já na culpa consciente, embora o agente saiba do risco em praticar tal ação, pois
também prevê suas conseqüências, acredita fielmente em suas habilidades e que
confia que poderá evitá-las.
Com base nesses conceitos e após análise de diversos posicionamentos
jurisprudenciais e doutrinários, embora não sejam unânimes, mas sim majoritários,
averiguamos que nos crimes de trânsito, envoltos em uma ou mais condutas das
previstas pelos artigos 306, 308 e 311 do Código de Trânsito, a conduta do agente
será considerada dolosa, pois o mesmo simplesmente assumiu o risco de produzir o
resultado procedendo daquela maneira.
Mesmo tendo decisões nesse mesmo sentido, uma das causas do aumento de
acidentes de trânsito, como citado anteriormente, é o sentimento de impunidade
propagado no seio da sociedade, sendo que uma das alavancas desse sentimento é
a morosidade da justiça em julgar processos dessa espécie. Enquanto a lei não for
clara a esse respeito, presenciaremos a impetração de inacabáveis recursos,
baseados na escuridão da norma reguladora, corroborando ainda mais para a
inércia da justiça.
2.7 ALTERAÇÃO DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
Com o aumento de acidentes de trânsito ocasionados pela falta de responsabilidade
de motoristas e de condutores até mesmo sem habilitação, a sociedade como um
todo, vem solicitando aos entes públicos, um maior rigor no texto e na aplicação das
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leis, sendo que isso só seria possível com a alteração de parte do Código de
Trânsito.
De acordo com reportagens divulgadas no site do DETRAN/ES, constantes nos
anexo “A” desse trabalho, os diretores de todos os Departamentos Estaduais de
Trânsito (Detran(s)) se reuniram na sede da Associação Nacional dos Detran(s) –
AND, no dia 10 de novembro do corrente ano, onde defenderiam propostas de
alteração do artigo 306 do referido Código de Trânsito.
Questiona-se o motivo de tentar alterar somente o artigo 306 do CTB, pois o mesmo
só trata da direção combinada com álcool, enquanto também existem casos de
outros delitos ocasionados por diferentes motivos. Contudo, a sugestão para
modificar só o artigo citado, se justifica quando analisadas as ocorrências de outras
condutas, como aquelas provenientes do excesso de velocidade, que normalmente
ocorrem cumulativamente com a ingestão de álcool. Lógico que existem casos
isolados de o condutor estar dirigindo em alta velocidade e sóbrio, entretanto, a
maioria dos casos registrados, parelha a embriaguez com alta velocidade, que
proporciona uma enorme dose de adrenalina ao motorista, no entanto, o mesmo tem
seus reflexos reduzidos pelo efeito do álcool, aumentando ainda mais a chance de
ocorrerem tragédias.
Segundo Lacerda (2010, s.p.), o diretor geral do DETRAN/ES, Marcelo Ferraz,
defendeu a redação sugerida pelo Espírito Santo, que foi construída com a
contribuição da sociedade em geral, por meio de uma consulta pública no site do
órgão e também por pessoas ligadas ao tema, como representantes da Ordem dos
Advogados do Brasil, dos poderes Executivo e Legislativo e das Polícias Militar
Estadual e Rodoviária Federal. Ainda de acordo com a mesma informante, a
proposta defendida pelo Espírito Santo sugeria as seguintes alterações:
REDAÇÃO ATUAL DO ARTIGO 306 DO CTB Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
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Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. REDAÇÃO SUGERIDA PARA O ARTIGO 306 DO CTB Art. 306. Conduzir veículo automotor, sob influência de qualquer concentração de álcool ou substância psicoativa: Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1º Se da conduta resultar lesão corporal, aplica-se a pena de detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 2º Se da conduta resultar lesão corporal de natureza grave, aplica-se a pena de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 3º Se da conduta resultar morte, aplica-se a pena de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 4º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 1/2 (metade) se a condução se dá: I - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação ou, ainda, se suspenso ou cassado o direito de dirigir; II - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo que esteja conduzindo; III - nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas; IV - transportando menor, idoso, gestante ou pessoa que tenha seu discernimento reduzido; V - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros ou cargas; VI - em veículos que exijam Carteira de Habilitação na categoria C, D ou E; VII - em rodovias; VIII - gerando perigo de dano. § 5º A caracterização do crime tipificado neste artigo poderá ser obtida: I - mediante testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outros meios que, técnica ou cientificamente, permitam certificar o estado do condutor; II - mediante prova testemunhal, imagens, vídeos ou a produção de quaisquer outras provas em direito admitidas.
Como informado anteriormente, a alteração sugerida ao artigo 306, alcançaria não
só os crimes oriundos da embriaguez, mas também aqueles que poderiam ser
evitados se o motorista não tivesse alcoolizado.
Na verdade, o texto não quer sugerir punição ao agente que esteja em estado ébrio,
tão somente pelas condições que o mesmo se encontra, mas principalmente pelos
danos que pode causar em decorrência de sua alcoolemia.
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Os acidentes de trânsito não acontecem só pelo fato de estar o causador bêbado,
mas sim pelas atitudes que ele tem por causa de seu estado, que em circunstâncias
normais não as praticaria.
Informamos que conforme Lacerda (2010) nos comunica, o primeiro passo foi dado,
com a aprovação por unanimidade, pelos representantes de todos os Detran(s)
presentes à reunião citada anteriormente, como podemos observar na matéria
constante no Anexo B.
Nota-se no texto proposto, a previsão de sanção mais rígida em casos que
motoristas embriagados que causam lesão corporal ou morte, por exemplo, não
necessitando mais que seja provada qual tipo de conduta municiou o agente, ou
seja, se o transgressor agiu com dolo ou culpa. A pena já é taxativamente imposta,
independente de o motorista ter agido com dolo eventual ou culpa consciente.
Os autores do novo texto proposto sabem das dificuldades em averiguar a presença
de dolo ou culpa nos acidentes automobilísticos, por tanto, os mesmos não foram
citados, sugerindo com isso, novas penalidades que não necessitam da constatação
dos tipos dolosos e culposos.
Observamos nas reportagens dos anexos A e B, que a sociedade está cada vez
mais inconformada com a forma e quantidade de acidentes de trânsito, não
aceitando mais a impunidade como realidade máxima nos processos dessa
natureza.
Após discussão, a “Nova Lei Seca”, assim como tem sido chamada, já foi aprovada
pelos Detrans de todo o Brasil. Toda a população espera por uma resposta mais
coercitiva a tantos casos de acidentes provocados pela embriaguez e excesso de
velocidade.
A população se mobilizou para criar uma sugestão de alteração do Código de
Trânsito, mas nada está concretizado, pois essa sugestão deverá ser transformada
em projeto de lei para percorrer todo um caminho até entrar em vigor.
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Conforme o sábio ensinamento de Beccaria (1998, p. 27), as leis não existem
somente para punir, mas também para evitar a ocorrência de novos casos, se não
vejamos:
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males da vida.
Vale ressaltar que as alterações sugeridas, não são decorrentes somente do clamor
de quem perdeu algum ente querido e esteja em busca de punição ao infrator, mas
sim de uma coletividade que queira utilizar o maior rigor da lei com intuito de
prevenção de novos acidentes, pois não adianta alterar uma legislação e torná-la
mais rigorosa se a cabeça das pessoas não muda e os crimes continuam
acontecendo.
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3 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
3.1 CONCLUSÕES
Nessa monografia, buscamos trabalhar para promover uma melhor distinção entre
os tipos dolosos e culposos, especificamente nas classes de dolo eventual e culpa
consciente, por existirem problemas na hora dos juristas saberem qual deles será
aplicado em um caso real.
Com os estudos realizados, observamos que entre essas duas classificações de
dolo e culpa, há uma característica par em ambas, que é a previsão dos danos
causados, contudo, no dolo eventual, o agente ainda que prevendo o resultado, não
se importa com a ocorrência do mesmo, dando seguimento à sua conduta delituosa.
Já na culpa consciente, o causador, embora também visualize os danos causados
pela sua ação, acredita francamente em suas aptidões, imaginando que poderá
evitá-los.
A distinção entre eles é real, mas não tão límpida, pois no dolo o agente não se
importa com o resultado ainda que saiba que pode ocasioná-lo, enquanto na culpa
consciente, o agente não quer o resultado, acreditando que poderá evitá-lo.
A diferença se dá pela aceitação ou não quanto ao risco de causar os danos, pois no
dolo eventual o autor aceita o risco e não se importa em ocasioná-lo, sendo que na
culpa consciente, ele sabe da possibilidade, mas entende que pode impedir o
resultado.
Tomando como base os ensinamentos que tivemos na realização desse trabalho,
podemos afirmar que, quando for evidente o assentimento do agente quanto às
conseqüências causadas por seu comportamento, caracteriza-se comportamento
cingido de dolo eventual. Todavia, se a ação não for circunscrita da anuência do
52
resultado pelo transgressor ou havendo falta de provas para embasarem tais
decisões, considera-se a conduta típica na derivação de culpa consciente.
3.2 RECOMENDAÇÕES
A falta de uma legislação mais nítida quanto à aplicação do dolo eventual e da culpa
consciente em acidentes de trânsito, gera punições equivocadas, pois por mais que
se tente provar que o agente assumiu os riscos ao dar seqüência à sua conduta,
dificilmente consegue-se elucidar o que passava em seus pensamentos, se
realmente havia previsto aquele resultado como possível e não tenha se importado
com os danos.
Com intenção de melhorar o uso desses tipos criminais na medição das penas,
recomendamos um aprimoramento no texto da lei de trânsito e em suas
interpretações doutrinárias, quanto às reais características e circunstâncias que dão
forma às condutas culposas e dolosas trabalhadas nessa dissertação..
Os estudos realizados sobre esse tema são escassos e a legislação ainda é falha
nesse sentido, aconselhamos por tanto, um tratamento mais significativo quanto à
nitidez das normas a esse respeito.
Antes que se proponha alguma alteração na lei de trânsito, recomendamos que
novos trabalhos fossem realizados, aprofundando ao máximo o entendimento sobre
dolo eventual e culpa consciente, para não existir possibilidade de interpretações
diversas e sanções distorcidas.
53
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ARAÚJO, Marcelo Cunha. Crimes de trânsito . Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. 2. BECCARIA, Cesare Bonesana. Dos Delitos e das penas . 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 3. BITENCOURT, Cezar Roberto; CONDE, Francisco Muñoz. Teoria geral do delito . 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 4. BRASIL. Vade mecum . 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 5. CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal : parte geral. 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 6. FRANCO, Alberto Silva et al. Código penal e sua interpretação jurisprudencia l: parte geral. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. 7. GRACIE, Ellen. Habeas Corpus . Supremo Tribunal Federal, Brasília 2008. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp>. Acesso em: 15 nov. 2010. 8. GRECO, Rogério. Curso de direito penal : parte geral. 11. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2009. 9. HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal . 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1958. 10. JESUS, Damásio E. Direito penal . 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. 11. LACERDA, Soraya. Detrans se reúnem nesta quarta-feira (10) para disc utir sobre a nova lei seca . DETRAN/ES. Vitória.10 nov. 2010. Disponível em: < http://www.detran.es.gov.br/_conteudo/2010/11/1867-detrans+se+reunem+nesta+quarta+feira+10+para+discutir+sobre+a+nova+lei+seca.html>. Acesso em: 12 nov.2010. 12. LACERDA, Soraya. Nova lei seca é aprovada pelos Detrans de todo o Brasil . DETRAN/ES. Vitória. 11 nov. 2010. Disponível em: < http://www.detran.es.gov.br/_conteudo/2010/11/1868-nova+lei+seca+e+aprovada+pelos+detrans+de+todo+o+brasil.html>. Acesso em: 12 nov. 2010. 13. MARQUES, Márcio Rangel. A teoria do crime . Campos dos Goytacazes, 2008. Disponível em: <http://www.fdc.br/Artigos/..%5C%5CArquivos%5CArtigos%5C19%5CATeoriaCrime.pdf>. Acesso em: 20/11/2010 – 12:00. 14. MIRABETE, Júlio Fabrini; FABRINI, Renato N. Manual de direito penal : parte geral, 17. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
54
15. MELLO, Celso de. Habeas Corpus . Supremo Tribunal Federal, Brasília 1996. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp>. Acesso em: 15 nov. 2010. 16. MOURA, Francismar Gomes. Teoria do crime culposo . João Pessoa. Disponível em: <http://francimargomesmoura.synthasite.com/ARTIGO_TEORIA_DO_CRIME_CULPOSO.php>. Acesso em: 09 nov. 2010. 17. NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado . 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 18. REALE JUNIOR, Miguel. Teoria do delito . 2 ed. São Paulo: Ed. Revistas dos Tribunais, 1998. 19. RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica . 24. ed. Petrópolis:Vozes, 1978. 20. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de derecho penal : parte general. In Fernando Galvão e Rogério Greco, Estrutura Jurídica do Crime. Belo Horizonte: Mandamentos. 1999.
56
ANEXO A – DETRANS SE REÚNEM NESTA QUARTA-FEIRA (10) PARA
DISCUTIR SOBRE A NOVA LEI SECA
Representantes dos Departamentos Estaduais de Trânsito (Detrans) de todo o país
se reúnem em Brasília, nesta quarta-feira (10) para discutir sobre a mudança do Art.
306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) que trata da punição para o motorista
que dirigir após ingerir bebida alcoólica.
Durante a reunião da AND, o diretor geral do Detran|ES, Marcelo Ferraz, vai
apresentar um texto com modificações no Art. 306. A redação sugerida pelo órgão
foi construída primeiramente com contribuições da sociedade em geral, que
participaram da Consulta Pública sobre o assunto realizada no site do órgão.
A consulta pública ficou aberta durante duas semanas e está disposta em formato
de fórum, ou seja, todas as contribuições enviadas estão à mostra permitindo que
houvesse a troca de informações entre os participantes, facilitando a interação e o
aprimoramento de novas propostas.
O texto também recebeu contribuições de pessoas ligadas diretamente ao tema
durante uma audiência pública realizada na última quinta-feira (04), na sede do
Detran|ES.
Participaram da audiência pública o diretor geral do Detran|ES, Marcelo Ferraz; o
tenente-coronel da Polícia Militar do Espírito Santo (PMES), Marcos Tadeu Celante;
o superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), inspetor Fábio Rodrigues; o
titular da Delegacia de Delitos de Trânsito, delegado Paulo César Ferreira; o
conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Fabrício Campos, o
representante da Bancada Federal, deputado Lelo Coimbra; o representante da
Bancada Estadual, deputado Hércules Silveira, o vice-governador do Estado,
Ricardo Ferraço, representantes dos agentes credenciados do Detran|ES, como
empresas que ministram cursos de trânsito e instrutores de trânsito, deputados
estaduais e cidadãos interessados no tema.
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Mais rigor
De acordo com a proposta do Detran|ES, entre outras mudanças, a pena de dirigir
sob influência de álcool deve ser aumentada caso o motorista esteja dirigindo sem a
carteira de habilitação. O motorista também teria aumento de pena se dirigisse
embriagado nas proximidades de escolas, creches e locais de grande concentração
de pessoas, transportando menores ou idosos ou ainda se for motorista profissional.
O texto também prevê a pena de reclusão de até 12 anos, caso o motorista
embriagado cause a morte de uma pessoa. Além da multa, cujo valor seria
estipulado pelo juiz.
Teste do bafômetro
A proposta de alteração do Art. 306 surgiu após a polêmica sobre a Sexta Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ), que decidiu, no mês passado, conceder habeas
corpus para trancar a ação penal contra um motorista que se recusou a passar pelo
teste do bafômetro.
Segundo Marcelo Ferraz, a idéia é não depender apenas do teste do bafômetro para
a constatação de crime de trânsito. De acordo com a proposta, além do teste do
bafômetro ou de exames clínicos, outras provas poderão caracterizar o crime. "A
constatação do crime por dirigir embriagado também pode ser feita com outras
provas lícitas admitidas em direito, como prova testemunhal, interrogatório,
acareação, vídeos, áudio, dentre outras", explica Ferraz.
Caso o condutor queira deixar comprovado que não ingeriu nenhuma bebida
alcoólica ele poderá pedir para fazer o teste do bafômetro, que não deixará de ser
utilizado durante as abordagens.
O texto com propostas para a alteração do Art. 306 será apresentado aos Detrans
de todo o país. Em seguida, o texto deve ser encaminhado à Presidência da
República, como proposta de alteração da atual lei.
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ANEXO B – NOVA LEI SECA É APROVADA PELOS DETRANS DE TODO O
BRASIL
O texto com propostas para alteração da Lei Seca, feito pelo Departamento Estadual
de Trânsito (Detran|ES), foi aprovado por unanimidade pelos representantes de
todos os Detrans do Brasil em reunião realizada na manhã desta quarta-feira (10),
em Brasília.
Durante o encontro, realizado na sede da Associação Nacional dos Detrans (AND),
o diretor geral do Detran|ES, Marcelo Ferraz, apresentou um texto com modificações
no Art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) que trata da punição para o
motorista que dirigir após ingerir bebida alcoólica.
A redação sugerida pelo órgão foi construída com a ajuda de pessoas ligadas
diretamente ao tema e também da sociedade em geral, que contribuíram através de
Consulta e Audiência Pública, realizadas pelo Detran|ES.
Após a apresentação detalhada do texto proposto pelo órgão, os representantes dos
Detrans avaliaram que a redação já está tecnicamente pronta para tramitar no
Congresso Nacional.
Autor da Lei Seca
O autor da Lei Seca, deputado federal Hugo Leal, também estava presente na
reunião da AND e parabenizou o Detran|ES pela iniciativa. Segundo o deputado, de
todos os debates já realizados sobre a Lei Seca, a proposta apresentada por
Marcelo Ferraz é a mais abrangente e mais completa que ele já viu.
"O texto proposto conseguiu amarrar todo o assunto sobre a Lei Seca,
destrinchando os pedaços, citando as penalidades para todas as situações em que o
condutor embriagado possa se envolver. O texto é completo, harmoniza os crimes
previstos no Código de Trânsito e, na minha concepção, já está pronto para ser
transformado em projeto de lei", afirmou Hugo Leal.
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Apesar da ideia de transformar o texto em projeto de lei ter sido apoiada por todos
os presentes, o deputado sugeriu esperar para o próximo ano legislativo. Segundo o
diretor geral do Detran|ES, Marcelo Ferraz, os trabalhos do legislativos estão
terminando e não haveria tempo para a votação do projeto.
"Os trabalhos se encerram no próximo dia 15 de dezembro, faltam apenas 11
sessões e na pauta do Congresso Nacional existem 12 Medidas Provisórias para
serem votadas e assuntos polêmicos como o pré-sal e o orçamento de 2011. A
chance do projeto de lei tramitar agora é praticamente nula e por isso vamos esperar
um pouco para não perdermos a oportunidade de mudarmos a lei atual", explicou
Ferraz.
Debates pelo país
O texto será transformado em Projeto de Lei e será encaminhado ao Congresso
Nacional em fevereiro do ano que vem, quando se iniciam os trabalhos legislativos.
Enquanto isso, durante os meses de dezembro e janeiro, o debate sobre a mudança
da Lei Seca será realizado pelo resto do país. Os Detrans irão levar o texto proposto
pelo Detran|ES com as modificações do Art. 306 para ser conhecido pela população
dos outros Estados.
Serão realizados fóruns, debates, seminários, com o objetivo de levar o texto para
conhecimento e discussão entre todos os brasileiros. "A ideia é que todos conheçam
a proposta para que o projeto chegue em fevereiro com legitimidade e respaldo da
sociedade, pois quanto mais força o projeto tiver, mais rápido poderá ser votado",
informou Marcelo Ferraz.
De acordo com o diretor geral, o Detran/ES estará à disposição dos outros órgãos
para contribuir e dar o suporte técnico necessário para que o tema seja divulgado.
"Nós, como autores da proposta, vamos acompanhar os debates realizados e ajudar
na discussão, oferecendo material e apoio técnico e jurídico que qualquer Detran
precisar", garantiu Marcelo Ferraz.
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Contribuição
Enquanto a proposta de alteração do Art. 306 não é transformado em Projeto de Lei,
as pessoas interessadas poderão deixar sua contribuição no site do Detran/ES.
Segundo Marcelo Ferraz a participação da sociedade foi muito importante para a
construção da proposta e por isso a Consulta Pública continuará aberta para
contribuições. "Queremos continuar ouvindo a população, as sugestões e críticas
para que o texto a ser transformado em Projeto de Lei atenda aos anseios da
população", afirmou o diretor geral.
Os resultados das discussões realizadas pelos Detrans do país também serão
disponibilizados no site do órgão para que a população acompanhe o que está
acontecendo pelo país.