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Ed & Lorrain Warren: Domonologistas

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ParaM.M.

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ESPÍRITO(es.pí.ri.to):

Umserouperonalidadesobrenatural,incorpóreoeracional,geralmenteconsideradoimperceptívelaossentidoshumanosnocotidiano,mascapazde

tornar-sevisívelaseubel-prazere,emregra,tidoporperturbador,aterrorizanteouhostilàraçahumana.

—TheOxfordEnglishDictionary

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GERALDBRITTLE

Introduçãodoautor

É impossível preparar o leitor, emuns poucos e curtos parágrafos, para o que o aguarda nas páginasdeste livro.Afinal,oqueestáregistradoaquiématerialquevaimuitoalémdehistóriasdefantasmas,das excentricidades da assim chamada atividade poltergeist, e adentra em uma dimensão muito maisprofunda—umadimensãodehorroreperversidadequeénãoapenasreal:suaatuaçãoestáliteralmentealémdoimaginável.Apesar disso, o que se pode dizer é que todas as informações apresentadas neste livro são

verdadeiras. Estes são casos reais que aconteceram a pessoas reais e, ressalvadas algumas poucasexceções,todososincidentesocorreramduranteasegundametadedadécadade1970.Alémdisso,foigrandeocuidadoparaquefossemincluídostãosomenteoscasosdosarquivosdosWarrenquetivessemsidotestemunhadosporclérigoseexorcistasordenados,ou,emdeterminadascircunstânciassecundárias,as ocorrências em que os principais envolvidos eram críveis e confiáveis, e cujos comentáriosestivessemgravadosclaramenteemfita.Deve-seenfatizaraindaquenãoháexagerosouhipérbolesnaapresentação dos fenômenos descritos neste livro. De qualquer forma, o espaço simplesmente nãopermiteainclusãodedetalhesassombrososquesãonecessáriosparainventarqualquercasoespecífico.No entanto, em última análise, o principal objeto de interesse aqui não são os estudos de caso, os

fenômenosperturbadores,nemmesmoastranscriçõesdevozesdeespíritos.Outroscasospoderiamtersidousados.Outrosfenômenos,maisaterrorizantes,poderiamtersidorevelados.Emvezdisso,oquefazqualquerum tremeremseu íntimoéo significadodoqueEdeLorraineWarren têmadizer.Enãoháporta-vozesmaisdignosdeconfiançaquandootemaéespíritosefenômenossobrenaturais.OsWarrendedicaramaltruisticamentesuavidainteiraaoestudo,aoensinoeàinvestigaçãodasforçasespirituais:suasexperiênciasforamcomprovadasedocumentadasporpadres,rabinos,médicos,médiuns,policiaisereconhecidosespecialistasempesquisasdefenômenospsíquicos.Nestelivro,EdeLorraineWarrenrevelam,deformadiretaefiança,oincrívelsegredodaquiloque

destrói a paz em casas mal-assombradas. Eles identificam a categoria de espíritos que vitima sereshumanos com a possessão e denominam a atividade poltergeist por aquilo que ela é. Os princípiosmísticos revelados pelos Warren durante suas explicações foram minuciosamente pesquisados everificados e, de acordo com a autoridade de textos teológicos e acadêmicos sobre demonologia eexorcismo, as declarações do casal estão corretas. Quando considerado em sua totalidade, o que osWarrendizemsimplesmentedesafia todasasnossasnoçõesdevida,morteedo lugardohomemnesteplaneta.Não obstante, o leitor deve lembrar que apenas raramente forças exteriores de fato interferem de

maneira direta ou efetiva na vida das pessoas. O homem é capaz de criar suas próprias vitórias emonstruosidades, demodoque é irresponsável culpar forças sobrenaturais quando a verdadeira culpaquasesempreestádentrodenósmesmos.Portanto,nãosedevesuporqueadinâmicaeasperturbaçõesdetalhadas nestas páginas aconteçam em cada esquina. As explicações e análises dos Warren dizemrespeitosomenteàquelescasosemqueofenômenodefatosemanifestaeoagenteéidentificadocomode

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origemverdadeiramentepreternatural.Por causa dos riscos potenciais de se criar uma réplica exata de um caso ou de uma circunstância

específica,osdiálogosemalgunscapítulossãonecessariamentereconstruçõesdeconversasemqueEdeLorraineWarrenserecordamdoevento,corroboradaspelodepoimentoemprimeiramãodetestemunhase/ouporgravaçõesqueosWarrenfizeramnolocaldosfatosenquantoosfenômenosestavamemcurso.Nomes,endereços,lugareseoutrosdetalhesidentificadoresdotipoforamalteradosquandonecessário,paraprotegeraidentidadedosindivíduosqueforamespectadoresouvítimasdosfenômenos.Atodasaspessoas e famílias cujos nomes e experiências são mencionados neste livro, estendo minha sinceragratidão,eespera-sequeseusesforçoseasprovações incomunsquevivenciaramsejamaomenosumpoucoremediadospelaexposiçãoquesefazaqui.Porfim,otextodestelivrofoirevisado,quantoàsuaexatidão,pordoisexorcistascatólicosromanos,

a quem expresso formalmente, por escrito, neste momento, meus agradecimentos por sua versadaorientação. E à minha esposa e meus pais, minha imensa gratidão: seu apoio inabalável fez toda adiferençadomundo.

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PREFÁCIO

Conhecer pessoas agradáveis em meio a problemas e confusão é sempre uma experiência especial.Conhecerpessoasagradáveisprofundamentepreocupadascomasdoreseasmazelasdosoutros—sejampsíquicasouespirituais—éestaremcontatocomdonsraros.Em nossos tempos de caos, sofrimento e instabilidade, é inspirador encontrar indivíduos que

transmitam um espírito de paz e respeito pelo próximo, independentemente de raça, credo, linhagemétnicaouconvicção religiosa.Assiméo afável casalEdeLorraineWarren,quenos fala atravésdaspáginasdestelivro.ConheciEdeLorrainequandovisitavasuaparóquia,emConnecticut.Àmedidaquesuahistóriade

vidasedesvelava,emergiramclaramenteemmimduasimpressõesprincipais.Primeiro,aqueleeraumcasalcompassivo,afetuoso,devotoe realista,comdonsespeciaisdemente,espíritoealma.Segundo,elesestavamempenhadosnalutaparaprotegere/oulibertarpessoasqueseencontravamsobodomíniodeforçasmaléficasoude influênciasnegativas.Seuardentedesejode livrar tais refénsdomaléumaaspiração santa e valiosa, e um trabalho sério que já conta com 35 anos de estudos, investigações eregistros minuciosos feitos com precisão e análise científica. Os dons pessoais de discernimentopsíquicoeespiritualedeoraçãodevotadosWarrenlevaram-nosafrequentesconsultascomocleroparaoministériodaIgrejaedeseupoderbenévolosobreasforçasdomal.Enquantopadrecatólico,sinto-meespecialmentetocadopelasinceridade,humildadeeprudênciaque

estecasaltransmite,epeloespíritodeafabilidadequepareceacompanhá-lo.Diantedeinfluênciasrebeldesemaléficas,determinadasadestruirouobstruiroplanodivinoparao

bem-estar temporal e eterno do homem, a humildade é a chave para a verdade que vence as forçasenganadorasdomal.TantonoAntigoquantonoNovoTestamento,DeusfeiadosartifíciosdeSatãeseusdemônios. Assim, o Senhor alerta o homem contra as mentiras de Satã: a verdade é o coração daspalavrasdeDeusaohomem.Para a pessoa que acredita noDeus daBíblia, o culto demoníaco é uma prática pagãmaligna que

escolheopor-seaDeus.Àsvezes,Eleésimplesmenteignorado;muitasvezes,éimitadoempadrõesderituaiseencantamentos;outrasvezesainda,édiretamenteblasfemado.Aspráticase“brincadeiras”quefazempartedocultodemoníacosãodefatoperigosas,comodemonstraahistóriadosWarren.Noentanto,esteéumperigoprofundoereal,nãoummeroacaso.Comomuitasvidasforamintensamenteperturbadase algumas ceifadasmediante assassinatos e “acidentes”, constitui extrema imprudência, por parte daspessoas,brincarcompoderesqueelasnãopodemcontrolaremenosaindacompreender.ODeusdaBíblia é oDeusdaverdadequedescreveSatã comooPai daMentira.Abrirmo-nos às

verdadesdeDeuseàsSuaspromessasésermoshumildes.VivermosSuasverdadeséestarmosasalvodomalassustadorquelevaàdestruição.Pessoalmente, espero que todos aqueles que leiam estes relatos sejam tocados pela graciosa

afabilidadedeEdeLorraineWarreneabramocoraçãoeavidaaosalvíficoEspíritodeNossoDeusdeAmor.

ReverendoJohnC.Hughes,M.S.

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ALÉMDEAMITYVILLE

DoladodeforadoescritóriodeEdWarren,noCondadodeFairfield,orelógiodeumaantigacapelamarcavaopassardosminutoscomumaprecisãodiscretaemecânica.Tudoomaisestava imóvel.Eraumanoiteescuraefria,quejáiaavançada,naNovaInglaterra.Dentrodoescritório,umalumináriadelatãoiluminavaaescrivaninhaàqualEdWarren,umhomemde

50 anos, grisalho e pensativo, estava sentado, trabalhando.Centenas de livros o cercavam, amaioriadeles trazendo estranhos títulos arcanos sobre a misteriosa tradição da demonologia. Acima daescrivaninhapendiamfotografiasdemongeseexorcistasdesemblantecarrancudo,cadaqualaoladodeEdWarren em cenários que lembravammonastérios. Para Ed, que estava ali trabalhando no silênciosepulcraldanoite,aqueleforaumdiasinistro—umdiaqueaindanãotinhaterminado.No último instante antes da hora cheia, omovimento do relógio ganhou vida em uma sequência de

cliques e relés, soando enfim três sonoras badaladas sombrias.À terceira, Ed ergueu os olhos, ficouatentoaossonsdaescuridãoeentãovoltouaescrever.Eram3h,averdadeirahoradasforçasdomal,ahoradoAnticristo.Eagora,semqueosoubesse,EdWarrenseriaatacadoaqualquerinstante.Apenasalgumashorasantes,EdeLorraineWarrenretomavamàsuaresidênciaemConnecticutapós

teremsidochamadosparainvestigarcertasalegaçõessobreaexistênciadeuma“casamal-assombrada”nolitoralsuldeLonglsland,emumagradávelbairroresidencialdacidadedeNovaYork.Emdezembrode1975,acasaforacompradaporGeorgeeKathleenLutz,queparalásemudaramcomostrêsfilhospequenosporvoltadoNataldaqueleano.UmanoantesdeosLutzcompraremacasa,ofilhomaisvelhodo antigo proprietário assassinou os seis membros da família enquanto eles dormiam, às 3hl5 damadrugadadodia13denovembrode1974,comumriflecalibre.35[1].Em14dejaneirode1976,osLutzfugiramdacasa,afirmandoquehaviamsidovítimasdeforçassobrenaturaismanifestas.EssecasoveioaserconhecidomaistardecomoAmityville[2].Aofinaldejaneirode1976,aimprensajáhaviatomadoconhecimentodasalegaçõesdafamíliaLutz

acercadesuabizarraexperiêncianacasa,econvocouprontamenteespecialistasparainvestigarocaso.Os especialistas requisitados foram Ed e LorraineWarren. OsWarren foram consultados porque, emcírculosprofissionais,sãoconsiderados talvezasmaioresautoridadesdopaísemquestões relativasaespíritos e fenômenos sobrenaturais. Ao longo de pelo menos três décadas, Ed e Lorraine Warreninvestigarammaisde3milperturbaçõesparanormaisesobrenaturais.Aperguntaqueosveículos jornalísticosqueriamquefosserespondidaerabasicamentesehaviaum

“fantasma”nacasaàépoca.ArespostadadapelosWarrenaofinaldetrêsdiasdeinvestigação,porém,foialgoqueninguémpodia

esperar.Narealidade,arespostaeraliteralmentedifícildeacreditar.“Sim”,revelarameles,“nanossaopinião,haviaumespíritoatormentandoosLutznacasa.Contudo”,

concluíram,“nenhumfantasmaestavapresente.”Oquesignificavaessaafirmaçãoparadoxal?Implicariaaexistênciadeoutrostiposdeespíritosalém

defantasmas?Porincrívelquepareça,arespostaqueosWarrenderamfoi:“Sim!”.

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“Há dois tipos de espíritos que são encontrados em verdadeiras situações de lugares mal-assombrados”,explicaramem6demarçode1976.“Umtipoéhumano;ooutro,noentanto,éinumano.Umespíritoinumanoéalgoquenuncacaminhousobreaterraemformahumana.”A grave informação dada pelos Warren não se tratava de mera especulação bem-intencionada —

porque, exatamente duas semanas antes, Ed e LorraineWarren haviam se deparado com um espíritoinumanonaprópriacasa.Edfoioprimeiroaveraaparição.OescritóriodeEdWarrensitua-seemumaedícula,dotamanhodeumchalé,ligadaàcasaprincipalporumlongocorredordealvenaria.Edestavasentado, trabalhando nos detalhes preliminares do caso Amityville naquela fatídica madrugada defevereiro,quandoo trincodaportaaofinaldocorredorseabriucomumestalo,quefoiacompanhadopela batida estrondosa da pesada porta de madeira. Em seguida, passos avançaram em direção aoescritório.Elerecostou-senacadeira,esperandoLorraineentrarcomumaxícaradecafé,queseriamuitobem-

vinda.“Aqui dentro”, chamou. No entanto, passaram-se longos instantes, e sua esposa não apareceu.

“Lorraine?”,chamoueleoutravez,masnãohouveresposta.Emvezdisso,oqueeleouviu,intensificando-seaolonge,foiumuivosobrenaturaldevento.Nãoerao

assobiodoarsobosbeiraisdacasa,masorugidoameaçadordeumciclonedistante.Ospelosdeseusbraçosarrepiaram-se.“Lorraine?”,chamouele,comavozmaisforte.“Vocêestáaí?”Mas,novamente,nãohouveresposta.À medida que o agourento som de redemoinho aumentava em poder e intensidade, Ed repassou

depressanamenteoqueaconteceranosúltimosinstantes.Ocorreu-lhe,então,quehaviaescutadoapenastrêspassosnocorredor—nãoospassoscontínuosdeumapessoaandando.Algumacoisaestavaerrada.Derepente,aluzdalumináriadaescrivaninhaenfraqueceuàintensidadedachamadeumavela.Então,

abruptamente, a temperatura no escritório despencou até alcançar a de uma câmara fria. Um odordesagradávelepungentedeenxofresefezsentirnocômodo.Desconfiadodaqueleestardalhaçoinsólito,EdWarrenabriuagavetadaescrivaninhaeretiroudalium

frascode águabenta eumgrande crucifixodemadeira.Emseguida, levantou-se edeu algunspassos,saindo do escritório e entrando no corredor. Nisso, do corredor emergiu, rodopiando, um horrendotorvelinhocônico.Acoisa,sendopontudanabaseelarganotopo,eramaisnegraqueonegrornaturaldanoite.Muito

maiorqueumhomem,amassarodopianteentrounasalamaliluminadaedeslizoulentamentenadireçãodeEd,parandounstrêsmetrosàsuaesquerda.Eleobservavaenquantoacoisapareciaficaraindamaisdensaeescuraqueantes!Defato,eleconseguiuverque,dentrodotorvelinho,algocomeçavaatomarforma.Umaentidadecomeçavaamanifestar-seemformafísica!Comodemonologista,EdWarrensabiaqueprecisavaagirdepressatomarainiciativaantesqueaquela

assustadoramassanegrasetransformasseemalgoaindamaisameaçadoreperigoso.Segurandoacruzvoltadaparaaquiloqueagoraassumiarapidamenteaformadeummacabroespectro

encapuzado,EdWarrenavançou.Noinstanteemqueofez,porém,aentidadesemoveu,desafiadora,nadireçãodele.Edparouepermaneceufirmeenquantoaformaavançava,deslizandodevagar.Quandoamassanegra

rodopiava a apenas poucos passos, Ed, de forma metódica e determinada, em um movimento quedesenhavaumacruz, aspergiuo conteúdodo frascodeáguabentana coisa.Emseguida, ele recitouoantigocomando:“EmnomedeJesusCristo,ordenoqueváembora!”.Por segundos que pareciam eternos, a massa negra permaneceu imóvel, a não mais que trinta

centímetros da cruz. Então, aos poucos, começou a recuar—mas não sem antes transmitir a Ed umavisãoclaradeelemesmoeLorraineenvolvidosemumacidenteautomobilísticopotencialmentefatalemumarodovia.Comisso,aentidaderetirou-separaocorredordeondeemergira.

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UmaimensasensaçãodealíviotomoucontadeEdWarren,quecontinuavadepé,suandoemprofusão,alinasalacongelante.Todavia,enquantoeletentavareorganizarospensamentos,rosnadosferozes,comoosdeanimaisbrigando,desúbitoirromperamdoladodeforadacasa.Edimediatamentepercebeuquenãoeramanimaisbrigando:aapariçãoaindaestavanacasa.ElahaviasimplesmentesubidoasescadasparaatacarLorraine!Evitandoocorredor,Edabriuàspressasaporta lateraldoescritórioedisparoupelosdegrausnos

fundosdacasa.Elechegariatardedemais.Noandardecima,LorraineWarrenestavasentadanacama,lendoabiografiadopadrePio,umnotável

monge capuchinho que muitos acreditam estar destinado à santidade. Não importa o quanto se sintacansada,LorrainenãodormequandoEdprecisa trabalhar sozinho, tardedanoite, noescritório.Apósumavidainteiratrabalhandocomosobrenatural,EdeLorraineWarrensabemquenuncaestãosozinhos—nunca.Enquantoelalia tranquilamente,umaatmosferadeterrorespalhou-sepeloquarto.Então,baixandoo

livro,tambémpercebeuquehaviaalgumacoisaerrada.Muitoerrada!“Fiqueiaterrorizada”,lembra-seLorraine,“masnãosabiadoqueestavacommedo.Olheipeloquarto,

mas não havia nada ali. Então, observei nossos dois cachorros, que dormiam ao lado da cama. Elesestavam imóveis. À exceção dos pelos de cada um deles, que estavam completamente eriçados,arrepiadosdacabeçaaorabo!Então,donada,começouumverdadeiropandemônio.”AentidadenegraemredemoinhoqueEdhaviaafugentadoapenasumminutoantespareciaterrecuado

pelocorredoreentradonacasa.Ohorrendoinvasoranunciousuachegadaproduzindoumsomtrovejantedepancadas que, paraLorraine, soavam“como se alguémestivesse batendo comummartelo emumachapademetal”.Oviolentobarulhodegolpessobressaltou-a—então,emquestãodesegundos,todoocalordoquartodesapareceu,oqueadeixoutremendodefrio.Depoisdisso,oterrívelsomdemarteladasparou, e também ela ouviu o som de um torvelinho vindo em sua direção. O barulho ameaçador epavorosovinhadasbandasdocorredor,noandardebaixo.Apavorada,elaouviuoredemoinhosubirasescadaseentrar,rodopiando,nacozinha,emseguidanasaladejantar,nasaladeestar...“Oquequerqueestivesseláforapareciaestarprocurandopormim”,dizLorraine.“Oqueeraaquilo?

Porqueestavaaqui?Então,derepente,umciclonenegroarremeteurodopiandoparadentrodoquartoesecolocoudiantedemim.“Eu não conseguiría sequer começar a descrever o absoluto terror e desespero que senti conforme

aquela coisa mórbida, negra, dentro do torvelinho se aproximava cada vez mais de mim”, lembraLorraine. “Tentei me mover, mas não conseguia. Tentei gritar, mas as palavras não saíam! Naquelemomento,tiveumasensaçãodemorteiminente,comonuncahaviasentidoantes.Comomédium,eusabiaqueaqueleeraumespíritodemorte.Maselepareciaquereraindamaisqueamorte:elequeriaamim,queriaminhaessência,meuser.“Então,acoisaficoupior”,continuaLorraine.“Sentiqueestavasendoarrastadaparadentrodaquela

coisanegrafuriosa.Enãohavianadaqueeupudessefazerparaimpedirisso!Mecanicamente,fizaúnicacoisa em que consegui pensar: roguei, em nome de Deus, por proteção. Daí, de algum modo, tivecondiçõesdefazerumacruz—umacruzgrande,enorme—noar,entremimeacoisa.Issoafezparar.Maselanão iaembora!Eunãosabiaoquefazeremseguida.Aessaaltura,graçasaDeus,Edentroucorrendo na casa. Nisso, a coisa rodopiou para o quarto ao lado, atravessou os tijolos e subiu pelachaminé.E,então,acabou.Nãohavianadaquebrado,nadadestruídodepoisdisso.Noentanto,essenãofoionossoprimeiroencontrocomumespíritoinumano!”OqueconfrontouEdeLorraineWarrennaquelasprimeirashorasdamadrugadanãoeraumfantasma.

(Tampouco foi algo visto exclusivamente por eles. Existem relatos de outras pessoas sobre amesmamassanegraemredemoinho.)Antes,aquiloeraaapariçãodealgomuitomaisnefastodoquequalquer

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fantasmajamaispoderiaser:amanifestaçãodeumfenômenorelativamentemaisraro,conhecidocomoespíritodemoníacoinumano.Enquantoentidadepreternatural,considera-seoespíritoinumanocomoalgodotadodeumainteligêncianegativaediabólica,focadaemumairaperpétuacontraohomemeDeus.Estudaroqueesseespíritoé,oqueelepodefazereoquesuaexistênciapodesignificaré,emúltima

análise,otrabalhoeaincumbênciadodemonologista.Atérecentemente,erampoucasaspessoas,àexceçãodeoutrosprofissionaiseclérigosexorcistas,que

conheciamavidadeEdeLorraineWarren.Otrabalhodeles,pornecessidade,nãoerapúblico.Emvezdisso,osWarrenmantinham-selongedosholofotes,quertrabalhandosigilosamentecomindivíduosqueestivessempassandoporverdadeirosproblemasrelacionadoscomespíritos,quercomoinvestigadores,realizandopesquisasnoslocaisondefenômenosestranhosouinusitadosestavamemcurso.Os Warren começaram a investigar fenômenos espirituais na metade da década de 1940, mas foi

somente na década de 1970 que eles de fato se tornaram conhecidos pelo público. Parecia que elesestavamsempreondequerqueocorressequalqueratividadebizarraounefasta.Em1972,porexemplo,ofantasmadeumservodoséculoXIXentrouematividadeemumamansãoemWestPointecomeçouaatormentarosconvidados.Maistarde,osjornaisdeNovaYorknoticiaramqueosWarrenhaviamsidochamados pelo Exército para confrontar aquele espírito zombeteiro e colocar um fim nas suastravessuras.No início de 1974, osWarren estavam de novo namira do público. Dessa vez, eles foram vistos

rapidamenteporocasiãodoencerramentodeumcasoemqueumpadredaIgrejaCatólicaRomanatevequerealizarumexorcismoemumacasaquevinhasendodestruídaporvândalosinvisíveisquechegavamatémesmoaatacarpessoas!Maistarde,naquelemesmoano,ocasaltornou-senotícianovamente,dessaveznarededetelevisão,porqueumacasanaregiãosuldaNovaInglaterravinhasendoabaladaporumadasmais inacreditáveis atividadesdo tipo“poltergeist” já registradas. “Acausadasperturbações, emambososcasos”,dizEd,conhecedordoassunto,“foidemoníaca.”Contudo, foi apenas em 1976, quando foram chamados a investigar relatos de uma irrupção de

“atividadedemoníaca”emAmityville,queEdeLorraineWarren,bemcomoseuextraordináriotrabalhonocampodosfenômenossobrenaturais,passaramaserfocodeatençãonacional.Quem são essas duaspessoas, vistas em segundoplanonas fotografias da imprensa,mas raramente

identificadas?Comoelassão?Eporquefazemotipodetrabalhoquefazem?Embora se possa pensar que pessoas envolvidas com demonologia devem ser necessariamente

fascinadaspelomacabro,EdeLorrainenãosãoocultistasnemexcêntricos,tampoucoestãoempenhadosemalgumaespéciede cruzada religiosa.Aocontrário, avisãoqueosWarren têmdavida équalquercoisa,menosnegativa.Narealidade,elessãoeficientesemseutrabalhoapenasporserempessoasmuitopositivas.EdWarrennasceuemConnecticut,emsetembrode1926.Robusto,de tronco largoearredondadoe

natureza afável, Ed parece mais o quitandeiro da esquina que um demonologista. Nitidamentedespretensioso,Ednãodeixa transpareceremnadaomisteriosoconhecimento—epoder—que trazconsigo.Tranquilo e despreocupado, dele emana aquele ar de competênciaque sevê empessoasqueaprenderamoquesabemdomodomaisdifícil.LorraineWarren, nascida a poucos quilômetros do futuromarido, em janeiro de 1927, é esbelta e

atraente,semprecomumsorrisonorosto.Ajulgarporsuaaparência—adeumadonadecasaeleganteda Nova Inglaterra— ninguém jamais poderia supor que ela seja uma clarividente perspicaz e umamédiumdetranseleve.Alémdisso,Lorrainetemodombíblicododiscernimentodosespíritos,doqualSãoPaulofalaemsuaPrimeiraEpístolaaosCoríntios.Juntos,EdeLorraineWarren,cadaqualnacasados50anosdeidade,formamumcasalcordatoefeliz

quetemumaamizadeúnicanocasamentoeumavisãoclaramentepositivadavida.Nãoobstante,tudooqueosWarrenjávirameaprenderamaolongodesuaextraordináriacarreiraconjuntaproporcionou-lhes

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umasabedoriaquevaimuitoalémdesuaidade.Hoje,enãoédesesurpreender,aperguntafeitacommaiorfrequênciaaEdeLorraineWarrené:“O

que de fato aconteceu no caso Amityville?”. Embora nenhuma resposta breve pudesse solucionar aquestão,talvezaexplicaçãomaisabrangentequeosWarrenjáderamarespeitodocasotenhasidoemuma palestra beneficente realizada em sua cidade natal,Monroe, emConnecticut, durante o verão de1978.Apalestrafoidadanoconservadoprédiodetijolosdaprefeituramunicipalemumagradáveleameno

iníciodenoite,nofinaldeagosto.DezminutosantesdahoramarcadaparaaexposiçãodeEdeLorraine,as poltronas do novo e equipado auditório já estavam todas ocupadas.Aqueles que não conseguiramencontrar assentos acabaram descendo pelo corredor e sentando-se na parte da frente, com as pernascruzadas. Haviamuito alvoroço e tagarelice emmeio àmultidão. Por todo o recinto, palavras comofantasma,espíritoeexorcismopodiamserouvidasaquiealinasconversas.Pareciaquetodos,aomenosnaquelanoite,tinhamumahistóriadefantasmasparacontaraalguém.Nopalcoestavamduastribunas,ummicrofonecromadoinstaladoemcadaumadelas.Àsoitohoras,

asluzesdorecintodiminuem,osilênciotomacontadaplatéiae,noinstanteseguinte,osWarrensobemaopalco.Lorrainevestiaumalongasaiadelãxadrez,blusadebabadoseumcoletedeveludonegro;Ed,umcasacoazuleumagravatadetecidoxadrez,quecombinavacomasaiadaesposa.“Nestanoite,senhorasesenhores,Edeeugostaríamosdecompartilharcomvocêsalgumasdasnossas

experiências dentro de muitas casas mal-assombradas que têm aparecido recentemente nos jornais.Gostaríamosdemostraroquedescobrimosnessascasas,bemcomodiscutir algumasdas informaçõesqueobtivemosnoscasosemquefoipossívelacomunicaçãocomosespíritosqueasassombravam.”Nessemomento,Eddáumacenodecabeçaparaoprojecionista,queapagaas luzesdopalco.Uma

ondadevozes ansiosas elevou-sena sala. “Ah,não, elesvãomostrar fotos!”, exclamaumagarotinha,afundandosemdemoranapoltrona.“Aqui temos uma verdadeira casa mal-assombrada”, declarou Ed quando o primeiro slide foi

projetado.“Digoqueacasaémal-assombradaporqueaquelasenhoradeaparênciabondosaquevocêspodemverali,depéjuntoàjaneladoandartérreo,éumfantasma.”Eassimcomeça...ÉporissoqueosWarrenfazempalestras:nãoparacontarhistóriasdefantasmas,

masparaapresentarcasosverdadeirosquemostramaexistênciadosfenômenossobrenaturaiseexplicarcomoeporqueelesocorrem.ComoexplicaEd:“Aexistênciadosespíritosnãoéumaquestãodefé,éumaquestãodeprovas.Na

verdade,aperguntanemétantoseosfenômenosestãoali,masporqueestãoali.Eporqueinterferemtantonosassuntoshumanos?”.ArazãoporqueosWarrenfazempalestraspúblicasremontaaaproximadamenteumadécada,finaldos

anos de 1960. À época, em meio a experimentações de estilos de vida alternativos, um renovadointeressepeloocultoderepentefloresceu.Fechadahaviaquaseumséculo,aportaparao“submundo”foiescancaradade súbito, aoque se seguiuumdrástico aumentononúmerode relatosde incidentes comfenômenos espirituais nocivos. Quase que imediatamente, osWarren foram soterrados com o que seprovaramsercasosgenuínosdeopressãoepossessãoespiritualnegativa.Amaioria das pessoas afetadas então era de jovens em idade universitária. Preocupados com esse

gravedesdobramento,osWarrenderaminícioaumprogramadepalestrasemcampiuniversitários,nasquaisalertavamestudantesdetodoopaíscontraosperigosdooculto.Corroborandosuaspalavrascomprovas documentais — slides, fotografias, gravações em fitas cassete e artefatos físicos —, Ed eLorrainedeixavamumaimpressãoindelévelnaquelesaquemfalavam.Empoucotempo,opúblicoficoufascinadocomsuasexperiênciasemprimeiramãoesuaspesquisascontínuas.Embora hoje em dia eles façam palestras principalmente para plateias de estudantes, os Warren

tambémfalamagruposcomunitárioseparticipamdeprogramasderádioetelevisão,quandodispõemde

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tempo para tal. O que os tomou populares foram sua honestidade e sua experiência. Seu estilodescontraído, informativo e pragmático fez com que muitos céticos passassem a acreditar nessesfenômenos. Não obstante, mesmo que Ed e Lorraine apresentem uma explicação articulada dosfenômenosespirituais,elestêmconsciênciadagravidadedesuasdeclarações.Porisso,osWarrennãodizemnadaquenãopossamcomprovarcomevidênciascríveisecasosdocumentados.Durantesuapalestracomslides,aplateiadeConnecticutpermanecesentadaemsilêncioenquantoEd

eLorrainedetalhamcasoapóscasodefenômenosespirituais,ilustrandoseuscomentárioscomimagensdefantasmas,luzesproduzidasporpsiquismo,levitaçõeseobjetosmaterializados.(DanGreenburgdiz,emseulivroSomething’sThere[HáAlgoAli,emtraduçãolivre],que,seosWarrendisseremqueviramumfantasma,entãoelesviramumfantasma!)Quandoasluzesdoauditóriosãoacesasnovamente,dúziasdemãoserguem-sedeimediato.Umelementoobrigatórionaspalestraspúblicasdocasaléasessãodeperguntase respostasquese

segue à exposição. Nela, as pessoas podem compreender por si mesmas o estranhíssimo tópico dosespíritos,porqueépossívelfazerumaperguntaaosWarrenereceberumarespostadiretaeobjetiva.ParaEdeLorraine,issoécomoumaconversaentrevizinhos."Agoraque todosvocêsestãoprontosparaentraremumacasamal--assombrada”,brincaEdcoma

plateia,“vamosàprimeirapergunta!"Umsenhorjáidoso,usandoóculosdearodourado,levanta-se."Tenho idade suficiente para ser seu pai, EdWarren,mas, em toda aminha vida, nunca vi nenhum

desses tiposde fenômenos,comovocêoschama.Você jáviuumfantasmapessoalmente?Jáviuessesobjetoslevitando?”Evoltouasentar-se.“Naminha vida, já vimuitos,muitos fantasmasmaterializados”, respondeEd, pelomicrofone. “Os

fantasmasquevocêsviramnessesslideshojeforamfotografadospormimouporfotógrafos-médiunsqueestavamtrabalhandocomigonasinvestigações.Naverdade,aindaesteanoiremosparaaInglaterraparatentarconseguirumafotografiadaDamadeCastanhodeRaynhamHall—LadyDorothyWalpole,umdosfantasmasmaisfamososqueexistem.NãomuitolongedalificaBorley,aregiãomaismal-assombradadopaís.LorraineeeujávimosaFreiradeBorleycaminhandopelaruae,destavez,tentaremosfotografá-latambém.”Tomando um gole do seu copo de água gelada, Ed prossegue. “Quanto a levitações— sim, já vi

levitaçõesdetodosostipos.Essecasoquelhesmostreiestanoitefoiporatividadedemoníaca,nãoporfantasmas.Duranteoseudesenrolar,testemunheiumrefrigeradordepoucomaisde180quilosseerguerdochão.Emoutrocaso,observeiumatelevisãodearmáriosubirlentamentenoar,eentãocaircomumestrondoensurdecedor, comoodeumaexplosão.Noentanto,nada sequebrou!Esses sãoapenasdoisexemplosquemevêmàmente,embora levitaçõesocorramemmuitoscasosemqueespíritos—tantohumanosquantoinumanos—estãoportrásdaperturbação.Então,respondendoàsuapergunta,senhor:sim,jáviumfantasma;sim,jávilevitaçõesacontecerem.”Edapontaparaumalouraaltaqueselevantaparafalar.“NolivroAmityville,oautorcitaumaantigacrençadequeespíritosdomalnãopodematravessaruma

extensãodeágua”,dizela.“Issoéverdade?”“Não,ésóumasuperstiçãoantiga”,respondeEd.“Espíritosnãosãoafetadosporbarreirasfísicas—

nempeladistância,aliás.Osimplesatodepensaremumespíritoespecíficoésuficienteparaatraí-loatévocê.”Lorraine chamaumadolescente que estivera sentadonas primeiras fileiras, perto do palco. “Oque

vocêsqueremdizercomsobrenatural?",eledesejasaber.“Se você procurar a palavra no dicionário, encontrará que ‘sobrenatural’ significa a atividade

provocadaporDeuseSeusanjos”,respondeLorraine.“Masamaioriadaspessoasnãoentendeotermodessamaneira.Então,emvezdisso,usamosapalavranosentidoqueémaiscomumentecompreendido,

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ou seja, atividade provocada por qualquer força ou agente que não faça parte do nosso reino físico,terreno. Tecnicamente, os fenômenos provocados por espíritos inumanos são chamados de atividadepreternatural.Paraexplicardeoutraforma,osfenômenosprovocadosporespíritosinumanospoderiamserconsideradosmilagresnegativos.”Emseguida,Edapontaparaumamulhernomeiodopúblico.“Seeumorresseamanhã”,perguntaela,

“metornariaumfantasma?”“Épossível”,respondeEd,“maspoucoprovável.Noentanto,sevocêmorressederepente,deforma

inesperada—digamos,emumacidente—ese recusasseaaceitaro fatodeestarmorta,entãomuitoprovavelmente você permaneceria presa à Terra até perceber que está fora do jogo, que está morta.Nesse meio-tempo, enquanto estivesse tentando entender essa questão, já em espírito, vocêprovavelmente permaneceria presa a lugares familiares —* como a sua casa. Nada lhe pareceriadiferente:vocêseriacapazdevereouviroutrosmembrosdasua famíliaexatamentecomoantes,maselesnãoconseguiriamvê-lanemouvida.‘Qualéoproblema?’,vocêpoderiaseperguntar.‘Porquenãoprestamatençãoemmim?’Então,frustrada,vocêencontraumamaneira—pelopoderdamentesobreamatéria—decomeçarafazerobjetossemoverem,ouabaterportas,parachamaratenção.Éclaro,aúnica coisa que você de fato vai conseguir fazer é deixar sua família apavorada.A essa altura, seusparentestalvezentrassememcontatoconosco,eentãonósiríamosatéacasaeteríamosumaconversinhacomvocê,enquantoespírito—paraquevocêconseguisseseguirparaooutroladocorretamente.”“Como vocês dois se envolveram no caso Amityville?”, pergunta aos Warren um senhor moreno,

vestindoumacamisetaderúgbi.“Alémdisso,oquevocêsfizeramdurantesuasinvestigaçõesqueoutrosnão fizeram?” As perguntas deixaram a plateia animada. É óbvio que todos também querem ouvir aresposta.“Sualongapergunta,senhor,pedeumarespostalonga”,alerta-oLorraine,comgraciosidade.“Nãotemproblema”,dizohomem.“Então,tudobem”,começaLorraine.“Nossoenvolvimentoteveinícionaúltimasemanadefevereiro

de1976,quandorecebemosemcasaumtelefonemadeumajovemprodutoradetelevisãodacidadedeNova York. Ela queria saber se tínhamos disponibilidade para investigar uma suposta casa mal-assombradaemLong lsland.Eudisseque talvez,masqueprimeiroprecisaria saberdemaisdetalhes.Então, ela explicou a questão do assassinato dos DeFeo, em 1974, e da experiência dos Lutz naresidência. Em seguida, falou que seu canal de tv estava fazendo a cobertura do trabalho deparapsicólogosepesquisadoresdefenômenospsíquicosquehaviamentradonacasalogoapósafugadafamília Lutz. No entanto, após um mês, aqueles investigadores ainda não tinham nenhuma respostaconcreta.Então,elaqueriasabersepoderíamosrealizarumasessãoespíritanacasaeinformarseeramespíritosqueestavamportrásdoproblema.“Eurespondiquesim,quepoderíamosinvestigaracasa,masrealizarumasessãoespíritaseriauma

questão muito diferente. Ela compreendeu. Enquanto ainda estava ao telefone, consultei Ed, queconcordouquenãohaveriaproblemaemanalisarmosocaso.“Quando fomosparaLong lsland, encontramosGeorge eKathypela primeira vez.OsLutz estavam

morandotemporariamentenacasadamãedeKathy.Ocasaldissequenãoqueriasequerchegarpertodacasa que havia comprado: nós tivemos que ir até eles para pegar as chaves da residência. Para nãoformarmos prejulgamentos com relação à investigação, não entrevistamos a família Lutz à época. Noentanto, fizemos algumas perguntas pontuais ao casal, para atestar sua sinceridade. Sem dúvida, elesestavamsendosinceros:estavamcompletamenteapavorados!Desuaparte,Georgenospediuapenasumacoisa.Sefôssemosentrarnacasa,que,porfavor,pegássemosaescrituraealevássemosparaele.Nósconcordamosepartimosparaolocal.“Acasaerabembonita”,continuaLorraine,ajeitandoocintodetecidoquadriculadosobreocoletede

veludo.“Edestacionouocarronaentradadagaragemedemosumavoltaemredordela,paratermosuma

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ideiadolugar.Emseguida,destrancamosaportadafrenteeentramos.“Umavezládentro,aprimeiracoisaqueEdeeufizemosfoiandarjuntospelacasa,umandarporvez.

Oqueencontramosfoiumaresidênciaquepareciatersidoevacuadaàspressas.Sobreamesadasaladejantarhaviaumacasafeitadebiscoitosdegengibre,todadecoradaparaoNatal,jornaisdemeadosdejaneirode1976estavamespalhadospelasmesasounochão.Osarmáriosdacozinhaestavamcheiosdecomida,bemcomoorefrigerador.Noporão,umfreezerverticalestavaabarrotadocomprovisõesquevaliam algumas centenas de dólares; havia roupas dobradas sobre a secadora, prontas para seremguardadas.Obarzinhotinhaumestoquedegarrafasdebebidalacradas.Osarmáriosestavamrepletosderoupas—temos,vestidos,sapatos,tudo.HaviajoiassobreacômodadoquartodocasalLutz.Relíquiasdegeraçõesanteriores,atémesmoosálbunsdefotografiasdafamíliaforamdeixadosparatrás,àvista,paraseremlevados.Emresumo,acasaestavaexatamentedojeitoqueacasadevocêsprovavelmenteestáhojeànoite,quandovocêsvieramatéaquiparaassistirnossapalestra.Seaquelaspessoastivesseminventadoahistória,elascomcertezanãoteriamdeixadoaescrituradacasaparatrás,juntamentecomumagrandequantidadedepertencesvaliosos.“Nossa investigação envolvia ir em frente e realizar a sessão espírita”, diz Lorraine. “Portanto,

voltamosàcasadeAmityvilleemumadataposteriorpararealizarumasessãoespíritanoturnadiantedecâmeras de televisão e equipamentos de gravação, como haviam solicitado que fizéssemos.No todo,creioquehaviadezessetepessoaspresentes.“Trêsmédiuns,euentreelas,participaramdamesaduranteasessão”,contaLorraine.“Asoutrasduas

médiunseramasra.AlbertaRileyeasra.MaryPascarella.MaryeAlbertasãoexcelentesmédiunsdetranse; ambas profissionais, é claro, e também grandes amigas nossas.Antes do início da sessão, Edlançoumão de provocações religiosas. Sabíamos que, se um espírito inumano estivesse presente, eleseriaprovocadoareagirseexpostoaobjetossagrados.Entretanto,nãosabíamoscomoeleiriareagir.”“Bem, tivemos uma resposta satisfatória”, diz Ed, assentindo com a cabeça. “Ocorreram vários

fenômenos—nãoemtermosdeatividadeexterioraterrorizante—,mascomoumataquefísicocontrapelomenosmetadedospresentes,emespecialaquelesquetinhamumatarefacrucialduranteasessão.Comecei a ter reações físicas involuntárias, tais como arritmias cardíacas. Senti essas ‘palpitações’,comoeuáschamo,porumastrêssemanasdepoisqueestivemosnacasa.“Pelomenosmetadedaspessoasquepresenciaramasessãoexperimentaramourelataramfenômenos

naquele lugar, os quais elas julgavam ser fora do comum.Assim, embora a sessão espírita tenha sidobasicamenteumfiasco,esse fiasco foi resultadodaaçãodealgumagenteexterno.”Pertodocorredor,levantou-se uma mulher de cabelos escuros. “Certa vez, me disseram que o padre do livro sobreAmityvillenuncaexistiu.”“Senhora”,respondeLorraine,“opadrequeparticipoudocasoénossoamigo.Nósoconhecemosmuitobem.Nãosóoquefoirelatadonolivroaconteceuaelecomooutrascoisasquenuncaforamreveladastambémlheaconteceramdesdeentão.Opadrejásofreuinúmerasvezesporseuenvolvimentonessecaso.”Comestaresposta,osWarrenagradecemàplateiaeencerramapalestra.Comosempre,porém,esse

não é o fim das perguntas.Metade das pessoas formam filas para sair,mas a outrametade coloca-sediantedopalcoecercaocasal.“Como vocês sabem que esses espíritos demoníacos de que vocês falam não são realmente algo

humano—apenasfantasmasperversos?”,perguntaumhomem.“Senhor”, responde-lhe Lorraine, “às vezes, no início de um caso, não se pode distinguir entre um

espíritohumanonegativoeumespíritoinumanonegativo.Ambospodemserextremamentemalvados,eàs vezes até trabalham juntos. No entanto, apenas um espírito demoníaco tem o poder de provocarfenômenos negativos extraordinários como incêndios, explosões, desmaterialização, teletransporte elevitaçãodeobjetosgrandes.Alémdisso,emcasosdepossessão,oespíritoseidentificaclaramente.Eledizoqueé.Àsvezes,revelaopróprionome.Seosenhorouvisseumagravaçãodospossuídos,nãoteria

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dificuldadeemreconheceradiferençaentreumespíritohumanoeuminumano.”“Por que vocês não as reproduzem aqui?”, interpõe uma mulher. “Nós costumávamos reproduzir

gravações para nossas plateias”, responde Lorraine, “mas, em um grupo muito grande de pessoas,existemmuitas psicologias receptivas.A exposição à ocorrência real pode acabar produzindo efeitosnegativossobrealgumaspessoas.”E,porfim,decorremaisumahoraantesqueosWarrenconsigamdefatodeixaroprédiodaprefeitura.Maistarde,naquelanoite,apósotérminodapalestra,EdeLorrainerelaxamemcasanacompanhiade

amigos.Porqueelesrespondematantasperguntasdopúbliconaspalestras?“Asperguntasfazempartedoprograma”,explicaLorraine.“Quandoterminamosaexposição,sempre

abrimosumespaçonoeventoparaperguntas.Embora,àsvezes”,brincaela,“euacordenomeiodanoiteouvindoumpedidodistantede ‘Maisumapergunta,por favor'.Quantoàsnossaspalestras,euasvejocomoumaviademãodupla.Aspessoasvêmnosouvirporqueestãointeressadasnoquetemosadizer.Emtroca,proporcionamosumbombriefing,achoquevocêpoderiausaressetermo,deduashorassobreotemadosfenômenosespirituais.Quandoterminamosanossaexposição,interagimoscomaplateiapormeio de perguntas. Vemos nosso papel como tendo um caráter educacional. É por isso que tentamosresponderàsperguntasdetodos.”Porquehátantointeresseemespíritosefenômenossobrenaturaishojeemdia?“Aspessoassempreseinteressarampelooculto”,respondeLorraine.“Mas,nosúltimosdezanos,o

públicotemsidoexpostoatantainformaçãosobreotemadosespíritosedosobrenaturalqueagoraestátentandorealmentecompreendê-lo.Emtodososlugaresaquevamos,aspessoasjáleramOExorcista,jáleramsobreonossoenvolvimentonocasoAmityville.Equeremsabermais.Queremdescobrircomoepor que esses fenômenos aterrorizantes ocorrem, e o que está por trás deles. O argumento de queespíritossãoumailusãoouumaidiossincrasiapsicológicajánãosesustentamais.Aspessoasqueremsaberaverdade,mesmoquearespostasejaabertamentedesagradável.”OsWarrendemonstramtranquilidadeaofalarsobreaexistênciadosespíritos.Comoelesrespondemà

afirmaçãodequeelesnãoexistem?“Nunca houve uma pessoa, no passado ou no presente, que pudesse provar a inexistência do

sobrenatural”,declaraEd.“Porém,dadasasmesmasconsideraçõesquequalquerpessoapoderia fazeremjuízo,eupoderia—sefosseconvocadoporummotivoadequado—provarquefantasmasexistem,queapariçõesexistem,quecasasmal-assombradasexistem,quefenômenossobrenaturaisexistem,equeespíritosdemoníacosinumanosexistem.”Edmostraumafotografia,tiradaemumacasainfestadaporespíritosdemoníacos,doqueparecesero

fantasmadeumgaroto.“Istonãoeraumfantasma”,dizEd,meneandoacabeça.“Oespíritoquevinhacomandandooambiente

naquelaocasiãoassumiamuitosdisfarcesdiferentes.Contudo,emúltimaanálise, todoseramomesmo:eles eram um só. Quanto à fotografia, o garoto não tinha os olhos. Isso é uma marca registrada dodemoníaco.Todavezqueelesemanifesta,háumaimperfeição—sempreexistealgumacoisaanormalnasua aparência. Às vezes, a imperfeição é tão óbvia que, a princípio, passa despercebida, mas aimperfeiçãoestápresente.”Se há uma mensagem que Ed e Lorraine Warren tentam transmitir com clareza é que o oculto é

basicamenteumacidenteesperandoparaacontecer.“Naúltimadécada”,dizEd,“houveumaumentodecemvezesempráticasocultistasnegativas.Porquê?Porque,nasuamaioria,aspessoasnãosabemqueexistem forçasnegativas reaisnomundo.Emvezdisso, fazemcomqueoocultopareçaum jogo,umadiversão,umapanaceiaparatudoqueosafligem.Bastaveromodocomooocultoétratadonosjornaisenas revistas hoje em dia— como uma novidade inofensiva.Bem, ele não é inofensivo, ele pode serperigoso!QuandoLorraineeeufazemospalestras,apresentamosoquesentimosserumcontra-argumento

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necessárioatodoesseinteresseforjadopelooculto.Nósmostramosoladonegativodoocultocomoelerealmente é: um paraíso ilusório. Para aqueles que apenas se interessam pelo material, que queremaprendercomoevitarproblemascomespíritos,oconhecimentodoassuntorepresentanãosópoder,masumaarmadeproteção.Emoutraspalavras,conhecerpreviamenteéestarpreparado.”Após34anosnessetrabalho,elesjáviramdetudo:ochoque,oterror,osfenômenosinacreditáveis.

ParaEdeLorraine,os fenômenos fazemsentido;elessabemporqueestesacontecem.Apósumavidainvestigando o desconhecido, osWarren agora compartilham esse conhecimento do sobrenatural e decomo ele funciona. Mas cuidado! “O demônio vem em muitas formas”, diz Ed, com entonaçãosignificativa,“algumasbempioresdoqueaquelassobreasquaisfalamosestanoite!”[1]TheNewYorkTimes,15nov.1974.[AsnotassãodoAutor,salvoindicaçãocontrária.][2]Amityville(DarkSide®Books,2016),deJayAnson.Trad.EduardoAlves.[NotadoEditor.]

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ARTEEAPARIÇÕES

Porincrívelquepossaparecer,ademonologiaeoexorcismoaindasãopraticadosnaeramoderna.Defato, existem sete demonologistas reconhecidos apenas na América do Norte. Seis são clérigosordenados,membrosdediversasdasprincipaisreligiões.OsétimoéEdWarren.Cadaumdeleséúnico.Todosvivenciaramhorroresparaalémdoimaginável.Ecadaumdesseshomensviveemconstanteriscodevida.ComoEdWarrenseenvolveucomademonologia?“Foiumchamado?”,perguntaram-lhe.“Não.Consideroumchamadoalgoelevadoemajestoso”,admiteEd.“Masacreditofirmementequeo

trabalho que faço hoje é algo que, sem dúvida, estava destinado a fazer. Digo isso porque inúmerosfatoresdecisivosmeafetaram,mesmonatenrainfância.“Eutinha5anosdeidade”,recorda-se,“quandopercebi,pelaprimeiravez,quealgumacoisaforado

comum estava acontecendo neste mundo. A proprietária do lugar onde morávamos era uma idosasolteironaquenãogostavadecães—oudecrianças.Elasesentavaà janelaedefatoesperavavocêfazeralgumacoisaerrada.Equandofazia,elasaíacorrendodacasa,gritandofeitolouca.“Bem,maisoumenosumanoapóssuamorte,euestavanoandardecima,namesmacasa,tirandoos

calçados que usava para brincar.O sol já estava se pondo e o quarto ia ficando escuro.Enquanto euestavaali, sentadonochão,aportadoguarda-roupaseabriusozinha.Dentrodaescuridãodoguarda-roupa, vi um ponto de luz,mais oumenos do tamanho de um vaga-lume. Em poucos segundos, a luzcresceue ficoudo tamanhodeumserhumano,eentão, inacreditavelmente,aapariçãodaproprietáriaestavadepédiantedosmeusolhos,semitransparente,vestindooquepareciaserumtipodemortalha.Ela franzia o rosto, como sempre, e estava com a mesma aparência que tinha em vida. Em seguida,desapareceu.“Comoeucontavacomapenas5anos,nãosabiaseessetipodecoisaeranatural,mastiveasensação

de que não era, porque fiquei apavorado. Quando contei ao meu pai, que era policial estadual deConnecticut,elemedisseparaesqueceroqueeutinhavistoenuncacontaraninguém.Bem,eunãoconteianinguémnaépoca,mastambémnuncaesquecidoquevi.”AmedidaqueEdcrescia,abuscaporrespostasaessesacontecimentosestranhosemisteriosostornou-

seumacruzadaqueconstituiuabaseparasuafuturacarreira.Sendoumacriançaobservadora,elequeriasaberporqueessascoisasestranhasestavamsempreacontecendoàsuavolta,eseoutraspessoastinhamexperiênciassemelhantes.“Aomesmo tempoemqueminha infância sepassava emumacasamal-assombrada, eu frequentava

umaescolacatólica.Eucomcertezanãoeraogarotomaisreligiosodaclasse.Naverdade,nãogostavasequerdeiràigreja,porquetinhaquemearrumar”,continuaEd.“Noentanto,quandoosbonspadreseasboasfreirasdaescolafalavamsobreespíritosesobreodiabo,eu—maisdoqueosoutrosnaminhaclasse—tinhamotivosparaouvir.Mesmocompouca idade,eu já tentavacompreenderos incidentesbizarros de fenômenos psíquicos que via acontecer naminha própria casa.Minha educação de base,portanto, me deu uma visão metafísica geral do mundo. Eu não sabia se aquelas informações eramverdadeirasoufalsas,éclaro,mas,mesmoassim,eumelembravadelas.

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“Alémdisso,aconteceramoutrascoisascomigonainfância.Meupaieraumhomemmuitodevotoquenuncadeixoudeiràmissaumúnicodiadesuavida—talvezporqueelevisseoladomaisfeiodavidatodososdias,comopolicial.Oquesei,porém,équemeuavôteveumaforteinfluênciasobremeupai.Meuavôfoiumhomemmuitopiedoso,muitodevoto.Quandofaleceu,deixouaseconomiasdasuavidainteiraparaaigrejaquefrequentávamos,paraquefossecompradoumvitralcomafiguradeSãoMiguelaocentro.Aindacriança,eucostumavaentrarnaigrejaeolharparaaquelevitralenormeelindo,comaluzdosolqueoatravessava,emeperguntavaquemeraSãoMiguel.Hojesei,éclaro,queSãoMiguelfoioArcanjoqueexpulsouSatãdocéu,eéopatronodosexorcistas.“Umadascoisasmaisdesconcertantesquemeaconteceuquandocriança”,retomaEd,“foiqueeutinha

sonhoscomumafreiraquevinhaconversarcomigo.Chegouaopontoemqueconteiaomeupaisobreessamulher,eadescreviemdetalhes.Certanoite,meupaidisse,perplexo:‘Essamulhereraasuatia’.Eununcaconheciminha tia.Ela faleceuantesdeeunascer.Fiquei sabendoqueela tinhasido freiraehaviapassadoporsofrimentosfísicosinacreditáveis.Meupaicostumavachamá-ladesanta,porfaltadeumtermomelhor.Emumdosmeussonhos,elamedissealgoquecomeçouafazersentidoapenasquandometorneiadulto.‘Edward’,disseela,‘vocêapontaráamuitospadresocaminhocertoaseguir,masvocêmesmo nunca será padre.’Bem, não sou padre,mas de fato trabalho em conjunto com eles, e instruoaquelesqueforamdesignadosparatrabalharnaáreadademonologiaedoexorcismo.Assim,comtodaafranqueza,meu trabalhonãoéumchamado.Emvezdisso,eudiriaqueestousimplesmentecumprindomeudestino.”Enquanto isso, a quase três quadras do futuro marido, crescia Lorraine Moran, a filha caçula,

inteligenteeprecocedeumadignafamíliairlandesa.Alémdisso,elaeraumagarotacomumaverdadeirapercepçãodoalém,poisLorrainenasceucomodomdaclarividência—acapacidadedeverparaalémdotempoedoespaçofísicos.“Eunãosabiaque tinhaodomdeumsentidoadicional”, lembraela. “Eusimplesmenteachavaque

todostivessemosmesmossentidosdadosporDeus—vocêsabe”,brinca,“todososseissentidos.Bem,descobriquenãoeraassimquandoeutinhaporvoltade12anosdeidade.Naépoca,eufrequentavaumaescolaprivadasóparameninas.EraoDiadaÁrvore,eestávamostodasnogramadodafrente,depé,formandoumcírculoaoredordeumburacoabertonosolocomumapá.Bem,assimquecolocaramamuda na terra, eu a vi como uma árvore totalmente crescida. Ergui os olhos para ver seus galhosrobustos,repletosdefolhasfarfalhandoaovento,semsaberqueestavatendoumaexperiênciadesegundavisão.Afreiraqueestavadepéaomeuladocutucoumeubraçoeperguntou,noseuhabitualtomsevero:‘Srta.Moran, por que está olhando para o céu?’Eu disse que estava apenas olhando para a árvore...‘Vocêestávendoofuturo?’,elameperguntou,nomesmotomsevero.‘Sim’,admiti,‘achoquesim.’“Bem, foiosuficiente—fui imediatamentemandadaparaumacasade retiro,ondepasseio fimde

semana.Eunãopodiaconversarnembrincar,nãopodiafazernada,apenasficarsentadaalinaigrejaodia todo, rezando. Aquilo me ensinou uma lição. Depois disso, quando se tratava de coisas queenvolvessemclarividência,eumantinhaminhabocacalada.”Em retrospecto, a experiência de Lorraine naquele Dia da Árvore serviu para canalizar suas

habilidadesparaobem,tornando-seumaferramentaqueacabariaporauxiliarmilharesdepessoas.Ed,comoamaioriadaspessoas,nãopossuíaquaisquerdonspsíquicosapaientes.Noentanto,aexposiçãocontínuaadadospsíquicosduranteofinaldadécadade1940eoiníciodadécadade1950(acumuladosaolongodoperíodoemqueosWarren“caçaramfantasmas")fezcomqueaclarividênciadeLorrainesedesenvolvessesignificativamente.Maistarde,nadécadade1970,elafoisubmetidaatestesnaUCLAesuaclarividênciafoiconsiderada“muitosuperioràmédia”.Aspessoas talvezestivessem inclinadasachamardedestinoomodocomoosWarrenseuniram.A

princípio, o casal não planejava fazer do sobrenatural sua vocação. Em vez disso, como explicaLorraine,elefoiumavocaçãoqueosencontrou.

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“Edeeunoscasamos—osdoisaos18anos—quandoeleestavanaMarinha.Naverdade,nossaúnicafilha,Judy,játinhaseismesesquandoEdvoltoudoteatrodeoperaçõesdoPacíficoeaviupeiaprimeira vez. Terminada a SegundaGuerraMundial, tivemos que arranjar ummeio de ganhar a vida,comotodomundo.Nósdois tínhamoshabilidadesparaapinturadepaisagensenutríamosodesejodepintar.EdjáhaviafrequentadoaescoladeartesemNewHavenantesdaguerra,então,começamosnossocasamentopresumindoqueseríamospintores.”Aarte,noentanto,acabouportornar-seopontodepartidaparaapesquisapsíquica.“Veja”,continua

Lorraine,“precisávamosdeum temaparapintar—umbom tema,algocomqueaspessoaspudessemsentir uma conexão. Casasmal-assombradas revelaram ser o tema ideal. Ed encontrava algum artigosobreumacasamal-assombradanojornalouconseguiaalgumapistadeumlugarassimcomaspessoasdacidade.Então,íamosaolocalnonossoantigoChevrolet.Eddesenhavaumbeloesboçocompletodacasaedoterreno.Enquantoisso,éclaro,odonodolugarficavaespiandopelajanela,seperguntandooque raios estava acontecendo. Éramos apenas crianças na época, então, um de nós batia na porta,mostrava aos moradores o esboço da casa e oferecia o desenho em troca de informações sobre aassombração. Se a história fosse bastante envolvente, pintávamos a casa para nossa coleção e, maistarde,vendíamosoquadroemumaexposiçãodearte.“Aotodo,passamoscincoanosviajandopelopaís,pintandoeinvestigandocasasmal-assombradas—

e não exatamente por coincidência, posso acrescentar. Antes de nos casarmos, Ed já havia devoradotodososlivrosdisponíveissobreopreternatural,emboraeunãosoubessedissoàépoca.Assim,alémdepintar,eleficavatotalmenteabsortoempesquisadecampo,sempretomandonotasarespeitodaquiloemqueoslivrosestavamerrados.”De forma bastante concreta, os Warren usaram o mundo como sua universidade, adquirindo uma

miríade de informações nesse período. Geralmente, eles eram os primeiros e, por vezes, os únicospesquisadoresainvestigarumlocalmal-assombrado.Embora,nainfância,Edtivessevistoaconteceremàsuavolta fenômenosquefariamoscabelosdequalqueroutrapessoaficarempé,Lorrainenão tinhaexperiência alguma com fantasmas e assombrações. Portanto, já adulta, ela permanecia naturalmentecética.“No começo”, recorda-se ela, “eu tinha bastante cautela com relação às pessoas com quem

conversávamos. Eu achava que elas estavam sofrendo de algum excesso de imaginação, ou apenasinventando aquelas coisas para chamar atenção. Na verdade, algumas das coisas que as pessoas noscontavampareciamumcompletoabsurdode tãoestranhas—naquelaépoca.Comopassardo tempo,porém, comecei ame convencer.Nós íamos a lugaresdiferentes,muito afastadosunsdosoutros, umasemanaestávamosem lowa,naoutra,noTexas,masnormalmentehaviaumasemelhança,àsvezesatémesmocertaexatidãonashistóriasqueaquelaspessoascontavam.EláestávamosEdeeu,comasmãoseosbraçoscobertosdetinta,oferecendoconsoloapessoasque,normalmente,tinhamodobrodanossaidade,edizendooquesabíamossobreadinâmicadoreinoespiritual.”OqueosWarrenaprenderamsobrefantasmasduranteaqueleperíodo?Ofenômenoéreal?E,emcaso

positivo,elesforamindagados,comoosespíritossemanifestam?“Parecequeamaioriadaspessoaspensaquefantasmasandamseesgueirandonoandarsuperiorde

residênciasantigasemumestadonevoento,vaporoso”,dizEdemresposta.“Masnãoéassim:paraservisto,o fantasmaouaapariçãoprecisadeenergia físicaparasemanifestar.Descobrimosqueexistemdoisprocessosbásicospelosquaisumespíritohumanopodeprovocarsuaprópriamaterialização.Umdelesrequerumapresençahumana;ooutro,não.“Quandoumespíritopresoà terraprecisadeumapresençahumanaparasemanifestar,eleativaum

processo complexode transferência de energia para adquirir substância”, explicaEd. “E a costela deAdãopara amaioriadasmanifestações fantasmagóricas énadamaisquea aurahumana.Ao redordo

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corpo de todo ser vivo existe um brilho bioluminescente que é resultado de uma descarga natural deenergiadocorpo.ClarividentescomoLorraineconseguemvere‘ler’aaurahumana,queserevelaemtrêscamadasque

refletemoestadofísico,emocionaleespiritualdapessoa.Espíritostambémleemauras”,observaele,“eaauradeumindivíduopoderepelirouatrairapresençadeumespíritoespecífico.Dequalquerforma,ofantasma sorve pequenas porções de energia desse brilho bioluminescente, ou aura, que se reúnem eformam um globo ou pequenos pontinhos de luz. Essa energia luminosa, combinada com o calor e aenergiaeletromagnéticadocômodo,éoqueoespíritohumanousaparasemanifestar.”Instadaadarumaexplicaçãomaissimples,Lorrainediz:“Imaginequevocêestápassandoanoitena

casadeumamigo.O lugaré tãoagradávelealegrequevocê jamaispensariaemumfantasma.Nessanoite,vocêélevadoaoquartodehóspedese,empoucotempo,estádormindoprofundamente.Emalgummomento,nomeiodanoite,vocêacorda.Talvezoespíritotenhaprojetadofisicamenteosomdevidrosequebrandooudabatidadeumaporta,parachamarsuaatenção.Sentando-senacama,vocêé invadidoporumasensaçãodemedo—vocêsabequealgumacoisaestáerrada.Olhandodepressaaoredordoquarto, você vê dois globos azulados de luz,mais oumenos do tamanho de bolas de golfe, flutuandopróximosumdooutro,maisoumenos1,5metroacimadochão.Enquantoobserva,talveztambémvejaraiosdeluzcoriscandodoseucorpo—issoéaenergiaeletromagnéticaqueestásendoretiradadasuaaura.Emumpiscardeolhos, aquelasduasbolasde luz se juntame formamumabolamaior,maisoumenosdotamanhodeumatoranja.Essabolaentãosealongaráemumformatodecharutodaalturadeumserhumano.“Nolugardosglobosdeluz,outraspessoasrelatamvercentenasdeminúsculospontinhosdeluzem

umanuvemque—comoosglobos—se fundememumbrilhocilíndricomaior.Emqualquerumdoscasos,dentrodessebrilhobioluminescentealongadocomeçarãoasurgireasedefinirasfeiçõesdeumapessoaatéqueoespíritoalcanceamáximamanifestaçãoquepuder.Apropósito,paraserexata,issoseráchamado de fantasma se as feições não forem reconhecidas por aquele que o vê; se as feições sãoconhecidas,trata-sedeumaaparição.Dequalquerforma,porém,vocêtemumvisitante.”“Aoutramaneirapelaqualumfantasmapodeaparecer”,explicaEd,“ébasicamentediferente—eum

pouco teatral. Em dias muito úmidos, com bastante chuva ou nevoeiro, ou em noites de tempestade,quando há eletricidade no ar graças às descargas dos raios e relâmpagos, um fantasma é capaz de sematerializarcomaenergiadisponívelnaatmosfera.Quandoumfantasmaouumaapariçãosemanifestadessamaneira,costumahaverumfortecheirodeozônionocômodo,eamaterializaçãoresultantepareceterumbrilhoazulado—umespetáculoetanto,possogarantir.Dequalquerforma,porém,éprovávelqueo espírito se manifeste antes que você note a presença dele ou enquanto você observa. O pontoimportanteéque,emumcaso,oespíritorequerumapresençahumanaparasematerializar,aopassoque,nooutro,bastaaMãeNatureza.Noentanto,éevidentequeumespíritonãoprecisasemanifestarparaestar presente, porque ele não é intrinsecamente uma entidadematerial.O fantasma já está lá. Ele semanifestaapenasparaatestaraprópriapresençaàquelesqueestãonoreinofísico.”Omodocomoumfantasmasemanifestaéumacoisa—masaaparênciaqueeleassumediantedeuma

pessoaéoutrahistória.Porquealgunsfantasmasnãotêmcabeçaousemostramdesfigurados?“Aaparênciadeumespírito”,afirmaEd,“dependeinteiramentedomodocomoeledecideprojetarasi

mesmo,oudecomovêasipróprioemsuamente.Éporissoquecontatoscomespíritospresosàterranemsempresãoeventostranquilos,passivos.Atragédiavememmuitasformas,emgeralacompanhadadeviolência,eosúltimospensamentosdeumindivíduotendemadominaramentedoseuespíritoapósamortefísica.Assim,viaderegra,ofantasmasemanifestaráemumespetáculogrotesco,querepresentaomodo como elemorreu. Além disso, uma pessoa que encontra um fim trágico normalmente leva umaatitude negativa para o além-vida,muitas vezes culpandoDeus pelas suas aflições.Emconsequência,alguns espíritos são perversos e—ao contrário do quemuitas pessoas podempensar—umespírito

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malignoécapazdeprovocarefeitosfísicosepsicológicosquepodemlevaradoenças,ferimentoseatéamorte.Aopressãopsicológicaexercidaporespíritoshumanospoderesultaremdepressãoprofunda,emhábitos perniciosos como embriaguez e insônia e atémesmo em impulsos suicidas.Os efeitos físicospodemvariardesdedoençasprolongadasatépontadasdedoresagudasquenão têmorigemclínicanocorpo.”PelomenosmetadedaspessoasquebuscamaajudadeEdeLorraineWarrenacadaanonuncateve

nenhumenvolvimentocomespíritosoucomooculto.Emvezdisso,elascostumamserpessoascomuns,cotidianas,queinadvertidamenteseenvolveramemsituaçõesemqueespíritosjáestavamativosantesdasuachegada.IssoaconteceuemAmityville,ondeafamíliaLutzperdeumuitodinheiroetambémsofreuumacatastróficaexperiênciaemocional.Algumaspessoascompramcarrosmal-assombradose,então,seveem forçadas a recriar acidentes trágicos. Outras ainda se veem incontrolavelmente possuídas peloespíritodealguémoudealgumacoisaqueclaramentenãosãoelas.Eéfrequentequeaspessoasmaisdesprevenidasacabemsendovítimasdefenômenosespirituais.FoiexatamenteissooqueaconteceuemWestPoint.Eraomêsdeoutubrode1972.UmoficialdaAcademiaMilitardosEstadosUnidostelefonouparaos

Warren um dia antes da data marcada para o casal realizar uma palestra geral para os cadetes dali.Emboraoscomentáriosdooficialfossemdeliberadamentevagos,ele,nãoobstante,disseaosWarrenquehaviasurgidoumcuriosoproblemadesegurança,equeriasaberseelesestariamdispostosaajudarnocaso—emcaráterprofissional—antesdasuapalestranodiaseguinte,emPoint.Semfazerquaisquerquestionamentos, os Warren concordaram em prestar seu auxílio. “Ótimo”, disse o oficial, aliviado.“Mandareiumcarrobuscá-losamanhã,às15h.”Nodiaseguinte,àtarde,umalustrosalimusinepretacomplacasgovernamentaisparoudiantedaporta

dafrentedosWarren.EdeLorraine,vestidoscomtrajesformaisparaapalestra,deslizaramparadentrodoveículo,noespaçosobancotraseiro.Ochofer,umsargentoadministrativo,disse-lhesqueopercursolevariacercadeumahora,masnãodeuqualqueroutrainformação.Seguindo para o norte pela rodovia estadual Taconic Parkway e enfrentando ocasionais nevascas

moderadas,alimusinemanteveumritmoconstantede95km/h.OutraspessoasqueviajavampelaestradaespiavamocarroenquantoosWarrenseperguntavamquetipode“problemadesegurança”terialevadoogovernoasolicitarosseusserviços.Umpoucodepoisdas16h,elesentrarampelosportõesdaAcademiaMilitardosEstadosUnidos.O

sargento parou o veículo junto à entrada dos escritórios do quartel-general, abriu a porta de trás econduziuocasalaooficialnocomandodeWestPoint.OmajorDonaldWilson,umhomemmetódicoeamistoso,convidou--osa se sentarem.Eleentãoos

informou da programação que já estava preparada: jantar com os oficiais do corpo docente às 18h,seguidodeumapalestrageralparatodasasturmas,às20h.“Mais uma coisa...” Nos minutos que se seguiram, o major Wilson passou a explicar uma falha

inexplicável de segurança que estava ocorrendo na residência de um dos oficiais de West Point.Naturalmente, a polícia do Exército já havia investigado o problema, mas em vão, admitiu ele. Osproblemastinhampioradoaindamais.Portanto,decidiu-sebuscarumaopiniãoexternaarespeitodeumproblemaqueparecianãoterumaexplicaçãonatural.“Então,senãohouverobjeção,ooficialgostariadeconversarcomvocêsantesdojantar.”“Ficaremosfelizesemajudar”,respondeuEd.“Osenhorsabequaléanaturezadoproblema?”“Cáentrenós...”,omajorquasedeixouescaparumlargosorriso.“Háumfantasmanosaposentosem

questão.”Apagandoasluzes,ooficialpegouseuquepe,acompanhouosWarrenpelaportadasalaeapresentou-

lhesaum fotógrafodoExército,queaguardava sentadonocorredor.Estabeleceram-se limites estritosquantoàcoletadeinformaçõesnaqueledia—todososregistrosdocumentaisseriamdepropriedadedo

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governonorte-americano.Do ladode fora, vozes fortes e cadenciadasquebravamo silêncio conformeos cadetesmarchavam

pelaimobilidadecinzentadatarde.Ogrupocaminhoutranquilamenteatéosaposentosdogeneral,umaimpressionanteestruturadetijolos.Umauxiliar-geraldopessoaladministrativoatendeuàportadafrentedamansãoeconvidouogrupoa

entrar.Empoucosinstantes,ogeneralemcomandoesuaesposachegaramaohalldeentradaeooficialapresentou-os aos Warren. O general impressionou Lorraine, mostrando-se um homem gentil ecompassivo,degrandesensatezeinteligência.8Aesposadogeneralconduziutodosaumasaladeestargraciosamentemobiliadacompeçasantigasdeváriosperíodos,herançadosgeneraisanterioresaolongodedoisséculos.“Nada macabro aconteceu aqui”, disse o general, sentando-se no que parecia ser sua poltrona

predileta. “No entanto, nesta casa ocorreram muitos incidentes que, até agora, ninguém conseguiuexplicardemodoamedeixarsatisfeito.Umhistóricodosfatos:noporão,háumestúdioprivativo.Essecômodoémantidotrancadoeseguro.Mas,nãoimportaquantasvezesacamaqueficaalisejaarrumada,elaésempreencontradadesfeitamais tarde.Noandardecima, fantasmasforamvistossobrevoandoacasa.Esseseunãovi,mas seouvemrelatos sobreelesháanose, aoqueparece,elesacompanhamoquartel.Agora,eunãocontarianadadissosenãofosseporumproblemainsólitoepersistentequetemos:percebemos que pertences pessoais e outros objetos importantes desaparecem com regularidade. Elesnãosãoroubados”,enfatizou,“masficamtemporariamentedesaparecidos.”Omilitarparoudefalarporuminstanteparacolocarosóculos.“Tenhoquereconhecerquenadadisso

édemasiadoimportante,amenosquecolocadoemperspectiva.Umadasresponsabilidadesdooficialemcomando aqui é o protocolo social. Nesta casa, recepcionamos uma boa parcela de líderesgovernamentaiseoficiaisdealtapatentedoExército.Recentemente,emocasiõesespeciais,ocorreramalguns eventos potencialmente sérios. Carteiras foram roubadas, bolsos foram esvaziados, dinheiro elembrancinhas pessoais foram furtados de eminentes dignitários e suas esposas.Algum tempo depois,todos os objetos roubados foram encontrados lá em cima, primorosamente dispostos sobre umapenteadeirananossasuítemaster.”OsWarrenpermaneciamsentados,emsilêncio,tentandocompreenderanaturezaúnicadoproblema.“Este absurdo não pode continuar”, disse o general, com veemência. “No entanto, sabemos que

ninguémcometeutaisatos.Porisso,minhaperguntaavocês,sr.Warrenesra.Warren,éaseguinte:seforum fantasma— e eu enfatizo, se for— então,me digam: um fantasma é capaz demanipular objetosfísicos?”“Sim”,respondeuEd,“écapaz,sim.Desdequeosobjetosnãosejammuitopesados,comoessesqueo

senhordescreveu.”“Tudobem,então”,falouogeneral.“Issopareceseraobradeumfantasmaparavocês?”“Combasenoqueosenhordiz,sim”,respondeuEd.“Naverdade,ébastanteprovávelqueumespírito

humanoestejaatuandoaqui,porqueosobjetosnãodesapareceramporcompleto.”Aturdidocomaresposta,ogeneralfitouEdporuminstante.“Vocêsaberiadizersenestacasaháum

fantasmaqueroubacarteiras?”.Lorraineviuissocomosuaoportunidadederesponder:“Senhor,souclarividente.Omelhorafazermos

seriaandarpelacasa.Issomepermitiriaafirmarsedefatoumespíritoestácausandoessasperturbações.Éomelhorteste”.O general e a esposa concordaram, e o grupo levantou-se.Ed e omajorWilson seguiram rumo ao

porão,comachavedoestúdioqueficavaaliembaixo.Comosempre,acamaestavadesfeita,comosealguémtivessedormidoali.Noentanto,tudoomaisestavaemperfeitaordem.Elesfecharamoquartoevoltaramparaopisotérreo.Nacozinha,omajorWilsonmostrouaEdumatábuadecortaralimentosqueostentavaumamanchaúmida.“Elaquaseseca”,disse-lheomilitar,“mas,todatarde,ficamolhadaoutra

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vez!”Emoutropontodacasa,acompanhadadogeneraledaesposa,Lorrainepassavaportodososcômodos

dopisotérreodeolhosfechados,começandopelasaladeestar.Elapermaneciadepénocentrodecadaumdeles,tentandoperceberqualquerpresençainvisível.Nadaserevelounotérreo,emboraLorrainetivesseficadoumtantofascinadaemumdosquartosmais

afastadosdaentradadamansão.“Estequarto*,disseela,“estequartoéondeJohnKennedysehospedavasemprequevisitavaoPoint.Asvibraçõesaquisãorealmentebelíssimas."Umpoucodesconcertada,aesposadogeneraldisseaLorrainequeelaestavacerta:“Esteeraoquarto

dopresidente;elenãopodiasubirasescadasporcausadacoluna”.ApósdeixaremopisotérreodamansãoThayer,aesposadogeneralconduziu-osporumaescadaria

balaustrada que subia ao primeiro andar. Em cada cômodo,Lorraine captava impressões das pessoaspoderosasquehaviampassadoalgumtemponacasa,masnenhumasensaçãoque indicasseumespíritozombeteiro.Emumquartodoprimeiroandar,Lorraineparounovamenteporlongosinstantes.“Umasenhoraidosa

passouum longoperíodonestequarto”, ponderouela. “Amulher costumava ficardepé juntodaquelavarandaabertaeolhavaparaocampo.”Lorrainecaminhouatéajanela.Àdistância,elaviuoscadetesemformaçãonaáreadedesfiles.Então,

virou-se outra vez para o quarto. “Essamulher eramuito sensata e carregava um fardo junto comumhomem,nasuavida.Elaoaconselhava...masohomemnãoeraomaridodela.”“EleégeneralDouglasMacArthur”,disseomilitar.“Asenhoraidosaéamãedele.Esteeraoquartodasra.MacArthurquandoofilhoerasuperintendenteaqui.”Ogrupoqueestavanoandardecimadesceudevoltaàsaladeestar,onde todosse reencontraram.

“Apósandarpelacasa inteira”,admitiuLorraine,“nãosentiapresençadeninguémquepudesseseroresponsávelporprovocarosfenômenosqueosenhordescreveu.Poroutrolado,épossívelqueoespíritotenhadeliberadamentenosevitado.”“Existealgummeiodedescobririsso?”,perguntouomajor.“Sim”, respondeu ela, “isso pode ser verificado no estado de transe.” Uma expressão apreensiva

passoupelorostodomajor.“Issosignificaqueteremosquefazerumasessãoespírita?”“Não”,riuela,“apenasvouprecisarpermanecersentadaporalgumtempoaqui,estanoite,depoisque

otumultoeasvibraçõesdodiatenhamseapaziguado.”ComaconcordânciadeLorraine,decidiu-serealizarumareuniãonamansãoapósapalestradanoite.

Seoproblemapudesseserresolvidodeumavezportodas,aomenosvaliaapenatentar.Emumjantaragradávelàs18hdaqueleiníciodenoite,osWarrenforamapresentadosaosoficiaisdo

corpodocentedeWestPoint,osquais,comsuasrespectivasesposas,mostraram-securiosíssimosacercadetodososaspectosdatemáticadosobrenatural.Às20h,EdeLorrainefizeramumapalestrageralsobreespíritosparaumaplateiamilitarespantada.OsWarrenilustraramsuapalestracomoshabituaisslidesdefantasmas,apariçõeseoutrosfenômenosinusitados,queprovocaramascostumeirasexclamaçõesde“Oh!”e“Nossa!”.Emboraapalestratenhasidorecebidacomentusiasmo,nenhumdoscadetesimaginousequerporuminstantequetaiscoisaspoderiamacontecernoPoint.Durante a sessão de perguntas ao final da exposição, uma jovem na casa dos 30 anos de idade

levantou-se e disse aos Warren que sentia ser aquele um bom momento para contar algo que vinhacarregandoconsigoavidainteira.ElaqueriaquetodossoubessemqueaquilodequeosWarrenestavamfalando era verdade. Essas coisas incomuns de fato acontecem. Seu pai era o líder de voo daquelaesquadrilhadecaçasqueseperdeusobreoTriângulodasBermudas,em1945,enuncavoltouparacasa.Eleeosoutroshomensrealmenteseperderamnomar.Eemboraaspessoas talvezpreferissempensarqueaquiloéalgumtipodeembuste,nãoé.Quandoelasesentou,aplateiaempesoexplodiuespontaneamenteemgritosdeaprovaçãoeaplausos.

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Vendoissocomoaoportunidadeperfeitaparaencerrarapalestra,Edcumprimentouoscadetesedisseboa-noiteatodos.Cincominutosmaistarde,osWarrenjáestavamvoltandoàmansãoThayer,nacompanhiadooficiale

demaisumgrupoprivativodeoficiaisesuasesposas,osquaisocasalhaviaconhecidoduranteojantar.Lorraineexplicouaomajorquetinhaaimpressãodequeoquartodasra.MacArthurseriaolugarmaisfavorávelparaumatentativadecomunicação.Omajor,porsuavez,disseaelaqueogeneraleaesposatinhamdepartiremumaviagemparaNova

York,dehelicóptero,às22h.Emboraestivessememoutrolocaldocampus,elesfariamumaparadanamansãoantesdepartir.“Semproblemas”,respondeu.Apósserrecepcionadoàportadafrenteporumauxiliardopessoaladministrativo,ogruposubiuao

primeiroandaredirigiu-seaoquartodasra.MacArthur,ondeosoficiaisesuasesposassesentaramnochão.Lorrainesentou-senacama.(“Umacama”,observaLorraine,“umlugaremqueaspessoaspassamum terço da vida dormindo, é uma excelente fonte de vibrações.”) Todas as luzes foram apagadas, àexceçãodeuma,eLorrainefechouosolhos.“Vejo um homem negro se aproximando”, logo anunciou ela, falando alto, como um repórter de

noticiário. “Ele está vestindo um uniforme escuro, sem galões nem condecorações. Esse homem estáconoscoagora.”Olharesdispararampelasala,masnãosepodiavernenhumafiguracomaqueladescrição.“Esse homem está tomado de um sentimento de medo, culpa e falta de aceitação. Ele está muito

arrependidodealgumacoisa.”Lorraineparou,ocorpotenso,osbraçostotalmenteestendidosaoladodotórax. “Ele está falando comigo agora. Está dizendo que foi acusado de assassinato. Sua cela fica noporão.MasoExércitooabsolveudaqueleassassinato.Elesearrependemuito,muito,ejánãoconsegueconteressaangústia.Épor issoqueelevempegandocarteiras...elequerqueoExércitosaibadasuaangústia.”Todosnoquartopermaneciamsentados,emsilêncio,esperandoparaouvirmais.“Qual éo seunome, rapaz?”,perguntouLorraine. “Digao seunome...Eleestámedizendoque seu

nomeéGerir.Estásoletrando:g-r-e-e-r.Qualéadata?...Énoiníciodemiloitocentose...—não,énoiníciode1800.Elejánãosabemaisadata.Estádizendoquequerapenasqueseuarrependimentosejacompreendido.Elequersaberquemeusou.”Lorraine,emtranseprofundo,começouapenderparafrente.Eddisseparaelainclinar-separatrás.“Sr.Greer”, disse ela, “fui enviada peloExército para descobrir qual é o seu problema...Não, sr.

Greer,osenhornãoétidoemdesonra”,disseela,aparentementeemresposta.“Suaabsolviçãoteveummotivo. Está nos registros que a morte que o senhor causou não foi um assassinato. Sua absolviçãopermanece.”“Escute,sr.Greer.SeuarrependimentoécompreendidopeloExército.Masjáéhoradesuaangústia

terminar.Nãohánadaquepossamosfazerpelosenhor.Osenhorestáseprendendo;osenhorprecisaselibertar da culpa. Já passou tempo suficiente.Estamos agora no séculoXX—na década de 1970.Osenhornãoentendeosdiasdehoje.Todavezqueosenhortiraospertencesdeumapessoaimportante,colocaoExércitoemumaposiçãomuitoperigosa...Eleestámedizendoquejánãoprecisafazerisso.Estáconfuso.Quervoltaràvida...”OsbraçosdeLorraineafrouxaram;emseguida,elacomeçouasairdotranse.“Lorraine”,disseEd,enfático,“fiquecomele.Tenteenviá-loparaooutrolado.”Lorrainecontinuousentada,emsilêncio,porlongosinstantese,então,voltouafalar.“Paraviveroutra

vez, sr. Greer, o senhor precisa ir para a luz. Já é hora de o senhor se entregar e recomeçar. Todosprecisamfazerisso.Concentre-senaluzeváemdireçãoaela.Váaoencontrodosseusamigosedasuafamília.Váparacasa,paraaluz,sr.Greer.Concentre-senaluzedeixequeelaoleve...”

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Lorrainedespertoude súbito, osolhos arregalados. “Ele se foi.Perdi contato comele”, declarouamédium.Asluzesforamacesasenquantoosoficiaisesuasesposasse levantavam,falandoemtonsansiosos,

aossussurros.Lorraine,depénocentrodogrupo,fezumadescriçãocompletadohomemedisseque,porfim,Greerhaviasimplesmentedesaparecido.Poucotempodepois,acomitivadesceuaoandartérreoepartiu,masosWarreneomajoraguardaram

nasaladeestar.Algunsminutosdepois,chegaramogeneralesuaesposa.Lorrainerelatousucintamenteacomunicaçãoquefizera,observando,emconclusão:“NãotiveaimpressãodequeGreerquisesseestaraqui.Decertaforma,achoqueeleestavaapenasesperandoparaserdispensado.Depoisdisso,duvidomuitoquequalqueroutroobjetovenhaadesaparecer.Mas, se issoaconteceroutravez,por favor,meinforme—hácoisasquepossofazeràdistância".“Émuitagentilezasua”,disseogeneral.“Contudo,háumpequenoporém.Nenhumnegrojamaisserviu

no Point até este século. No entanto, prometo que o major verificará essa questão e encontrará umarespostanaspróximassemanas.”Enquantoconversavamnohalldeentrada,ouviu-seumhelicópteropousarláfora.Erahoradeir.Após

uma trocadeagradecimentosedespedidasnosdegrausda frente,ogeneraleaesposaatravessaramogramadoeembarcaramemumgrandehelicópteromilitarqueseguiriaparaNovaYork.Perguntando-seseGreerteriarealmentepostoumfimnoseutormentodemaisdeumséculo,osWarrenacomodaram-senobancotraseirodalimusinequeosaguardava.Algumassemanasmaistarde,duranteumapalestranaUniversidadedeBoston,EdeLorraine,aindano

palco,foramchamadosaatenderumtelefonemadeWestPoint.OExércitoqueriaqueelessoubessemqueuma pesquisa completa eminuciosa dos registros fora feita e descobriu-se que um homem negro, umporteirodenomeGreer,haviaservidonoPoint.DesignadoparatrabalharnamansãoThayernoiníciodoséculoXIX,eleforaacusadodeumassassinato,masoExércitooabsolveu.Seusregistrosestavamemdesordemeseriamagoraarquivadoscomo“Falecido”.“E,apropósito,dapróximavezquevieremdarumapalestranoPoint,poderiam,porfavor,fazeralgumacoisaarespeitodofantasmadeumsoldadodecavalariadaGuerraCivilqueserecusaadeixarumdosnossosdormitórios?Precisamosdoespaço.”O Exército, é claro, não é a única grande organização que teve que lidar recentemente com um

fantasma.DepoisdaquedadeumdosseusaviõescomerciaisL-1011emEverglades,aEasternAirlinesfoi vítima de recorrentes fenômenos espirituais nos seus aviões, como foi relatado emThe Ghost ofFlight401 [O Fantasma doVoo 401].No ano que se seguiu ao desastre,muitas centenas de pessoassupostamente testemunharamosespíritosda tripulaçãomortamanifestadosemforma físicaabordodeoutrosjatosTristar.Emdeterminadaocasião,avozdoespíritodeDonRepo,oengenheiroaéreomortonoacidente,teriasidocaptadapelogravadordovooquandoelesematerializounacabineeconversoucommembrosdatripulação.Porvezes,épossívelnegarouignorarquetaiseventosinsólitosocorram.Nãoobstante,emsituaçõestaiscomoadeWestPoint,quandoosfenômenossimplesmentenãocessam,ocaminhomais certeiro é reconhecer quehá algo ali—,nemque seja apenaspara fazer os fenômenospararemdeacontecer.“Narealidade”, ressaltaEd,“épositivoqueoExército tenhaconsideradoosobrenaturalcomouma

hipótese válida. Nas minhas viagens, eu normalmente percebo que as pessoas que não acreditam emfantasmasmuitas vezes não querem acreditar neles. Elas veem o sobrenatural como algo ameaçador,então, apagam as informações. Felizmente, esses oficiais do Exército não ajustaram uma realidadedesagradável de modo a adequá-la aos seus propósitos. Em vez disso, eles analisaram os dados,consideraramasevidênciasdeformalógicaechegaramaumaconclusãoracionalquelevouàsoluçãodoproblema.”Quandoalguémfazmençãoà temáticados fantasmas,amentequasequede formaautomáticaevoca

imagensdecastelose solares senhoriaismal-assombradosna Inglaterra.PelaexperiênciadosWarren,

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existemmaisfantasmasnaInglaterraounosEstadosUnidos?“ABBCmefezessamesmaperguntaemLondres,nãomuitotempoatrás”,respondeEd.“Hálugares

nomundoquesãorealmentemal-assombrados,emuitosdesseslugaresficamnaInglaterra.OpresbitérioBorley,porexemplo,équasecomoqueumportalparaosobrenatural,eotemsidoporcentenasdeanos.BastaleroslivrosrecentesdeHarryPrice,comoPoltergeistOverEngland[PoltergeistnaInglaterra],paradescobririsso.Porém,delonge,existemmuitomaisfantasmasnosEstadosUnidosquenaInglaterra.Omotivodissoéumaquestãonumérica.Emboraonívelcotidianodeatividadeespiritualsejaomesmonomundotodo,ofatoéquesimplesmenteexistemmaispessoasnosEstadosUnidos.Emoutraspalavras,onde há uma população muito numerosa, também existe maior probabilidade de que algumas dessaspessoassejampegaspelasíndromedofantasmaquandomorrem.”EmquelugaresdosEstadosUnidosumapessoaestámaispropensaaencontrarumfantasma?“Em termos de lugares físicos”, responde Ed, “descobrimos que a possibilidade de encontrar um

fantasmaémaioremconstruçõesantigaseisoladas.Casasdefazendasoufeitasdetijolos,maisantigas,construídaspertodomarduranteacolonizaçãodosEstadosUnidos,têmomaiorpotencialdesermal-assombradasporcausadasgeraçõesqueviveramemorreramali.Masfantasmasnãoaparecemapenasemcasasmal-assombradas.Porexemplo,recentemente,váriaspessoasdavizinhança,inclusiveanossaassistente,Judy,comentaramtervistoumhomem,vestindoumagabardina,andandodeláparacánarua,à noite, na frente da nossa casa — embora ele desaparecesse sempre que alguém se aproximava!Aconteceque,diasantes,umrapazhaviatrazidoalgunsdestroçosdovoo401,aqueleaviãoajatoquecaiu em Everglades. No exato instante em que entregou o primeiro destroço a Lorraine, o rapaz queestavadepéaoladodelaviuaapariçãodeDonRepo—oengenheiroaéreoqueestavanocaça.Eraomesmohomemquehavia sidovisto na estrada.Ele estava andandode lá para cá, esperando, porque,talvez por coincidência, nós nos encontraríamos com pessoas da família dele ainda naquela semana,ocasião em que Lorraine viu o engenheiro e outra aparição presentes durante todo o tempo em queconversamos.Apropósito,devomencionar tambémqueonomeStewardouStewart foicomunicadoaLorrainenoinstanteemqueelacomeçouafazerapsicometriadaspartesdo401.”Arespostaabriucaminhoparaperguntasaindamaisprofundas.Primeiro,porqueofenômenoocorre?

Existealgumarazãoparaqueumapessoavenhaase tomarumfantasmaeoutranão?Esseéo tipodeperguntas a que Ed e Lorraine conseguem responder em detalhes complexos. Ainda enquanto jovensartistas,elesvieramadescobrirqueespíritoshumanospresosàterranãopassamdepessoascujocorpofoisubtraídoàentidadetotal.Enredadosemumestadomentaldeconfusão,essesinfelizespossuemvida,mas não corpo.No entanto, comou sem corpo, eles ficampresos emum limbo temporário entre estereinoeoalém.Certosfatoresdealgumaformaconspiraramparaimpedirqueoespíritofizessequalquerprogressoadiante.“A síndrome do fantasma”, explica Ed, “é provocada por uma tragédia na vida de um indivíduo,

ocasiãoemqueamorteocorresubitamenteouemcircunstânciasmuitotraumáticas.Menosfrequenteéasituação em que o espírito se demora aqui por causa de um apego atipicamente forte a coisas destemundo.Porém,emqualquerumdoscasos,oespíritopresoàterraseidentificacomestemundo,nãocomoalém.Agora,emregra,pessoasqueconseguemcontemplarumavidaapósamorte farãoapassagemcorretamente. No entanto, a mente do espírito preso à terra tende a ficar enrijecida em um estadoemocionalespecífico.Nofundo,oespíritobuscaumasolução,éclaro,masestátãoenredadonoprópriotraumaenasuatristezaquenadalhefazsentido,excetoacontemplaçãodoseuestadoemocional.Muitasvezes,ofantasmanãotemsequerconsciênciadequeamorteocorreu.Issoaconteceporqueapessoanacondiçãodefantasmajánãotemamesmapercepçãoquetinhaenquantoserdecarneeosso.Quandosedáacomunicação,emgeralvocêprecisadizeraeles—naverdade,precisaconvencê-los—dequeestãomortos,queforamdissociadosdoseucorpofísico.Amente,vejabem,nãoéafetadapeloadventodamorte.Assim,seelachegaderepenteouemmeioaumtraumaemocional,oespíritoficapresoemum

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estadodeirresolução.Éporissoqueespíritospermanecemaqui,àsvezesporgerações.Otemponãoéumfatorparaosespíritos.Elesvivememumaespéciedepresenteeterno.Éasabedoriaeapercepçãodarealidadequepermitemqueoespíritohumanosigaadiante.“Basicamente,quandoumfantasmaéresponsávelporfenômenosdeassombração”,continuaEd,“ou

ocorreunacasaalgumasituaçãoemocionalquedesencadeiaaperturbação,ouoespíritopresenteestátentando comunicar o seu problema ao reino físico. Tomemos primeiro as situações emocionais. Aspessoascostumamseperguntarporqueduas,três,umadúziadefamíliasmoraemumacasa,masapenasuma pessoa ou família vivência fenômenos espirituais. A resposta é que normalmente aconteceu umainterligaçãoemocional.“Porexemplo,vocêtemumacasaantigaemquealguémcometeusuicídiocemanosatrás.Nessemeio-

tempo,seisfamíliaspodemtervividoalienãoterpassadopornemumúnicoeventoestranho.Então,umdia, muda-se para lá alguém que também tenha uma inclinação para a autodestruição. Imediatamentecomeça a atividade espiritual. Ocorreu uma interação emocional. É como colocar pilhas em umalanterna:estabelece-seumaconexãoentreemoçõescompatíveis.“Vejamosoutroexemplo;Atétalvezcinquentaanosatrás,asmulheresdavamàluzemcasae,àsvezes,

elasmorriamnoparto.Agora,umamulherquequeiramuitoterumfilhoeserumaboamãedificilmentedesejaria morrer no momento do parto. Então, ela pode permanecer presa à terra, na casa —emocionalmenteligadaaolugar.Cemanosdepois,umafamíliacomumrecém-nascidosemudaparaessacasa.Derepente,ofantasmadeumamulherdaépocavitorianaévistonoquartodobebê.Apresençadacriançadesencadeouumarespostaemocional.Essetipodefenômenoespiritualémuitocomumejáperdiacontadequantasvezesaconteceu.“Outromotivo para que um fantasma semanifeste tem por base uma necessidade de comunicação.

Nessescasos,oespíritopresoàterraestátãoenredadonaprópriatragédiaousituaçãonãoresolvidaquesemanifestaráaqualquerumafimdetentarcomunicarseuinfortúnio.Éporissoqueluzesseacendemeseapagam,ouseescutambatidas,oupequenosobjetossemovemnapresençadaspessoas.Oespíritoestátentandochamaratenção.IssoaconteceuemWestPoint.Devezemquando,porém,ofantasmanãosabe que está ali. Tenho uma fotografia de um caso assim. Era um monge da Inglaterra e euinadvertidamenteofotografeinaigrejadeBorleyenquantoelefolheavaumlivroenorme.“Umexemploaindamelhordisso”,prossegueEd,uéumcasoqueaconteceuhápoucosanos,aquinos

EstadosUnidos.Umafamíliadesetefilhosjáadultoseoseupairecentementeviúvotinhaumfantasmana sua casa.Até aí, tudobem.Maseraumpoucomaisque isso—oespírito era a apariçãodamãe.Cerca de dois meses antes de a família nos contatar, essamulher voltava de carro para casa com aprópriamãe,de65anos,apósteremfeitocomprasdeNatal,quandocomeçouanevarbastante.Ansiosaparachegaràcasaantesqueatempestadepiorasse,essasenhorachegouaumtrechoruimdaestrada.Ocarrobateuemumaárvore,matandoasduasnamesmahora.Emboraaavó tenha feitoapassagemdeimediato,amãenãoofez.“Porqueelaficoupara trásnaformadeumespírito?Porqueaúltimacoisaque tinhaemmenteera

chegaremcasa:e foipara láqueelaseguiu,mascomoumespírito.Pouco tempodepoisdoacidente,movimentaçõesincomunscomeçaramaocorrernacasa.Apósalgunsmeses,ficouclaroqueaorigemdaatividade era o espírito damãe. Digo claro porque omais sensitivo dos filhos a viu, em um estadosemimaterializado,regandoplantas,arrumandoascamas,fechandoportasdearmários;nomeiodanoite,quandoestavafrio,elafechavaasjanelas—coisasdessetipo.Noseunovoestadodeconsciência,essamulherestavatotalmenteinconscientedequeera,então,umadesencarnada.”Comoumapessoapodenãoperceberqueéumfantasma?“Bem,éalgoparecidocomumaamputação.Umapessoapodepensarqueasuapernaamputadaestá

ali,quandonãoestá.Paraofantasma,éamesmacoisa,sóque,nocasodoespírito,ocorpointeirofoiamputado.

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“Noentanto,naquelecaso,tivequelançarmãodeummédiumdetranseprofundoparasecomunicarcomamulher”, concluiEd.“Hojeumasessão longaecomovente.No início,passamospela rotinado‘Nãoeu.Eunãosouumfantasma’,porqueelanaturalmenteserecusavaaaceitarofatodeestarmorta.Porfim,porém,naquelatarde,nósconseguimosfazercomqueamulherfizesseatransiçãocorretamente,enquanto espírito.Os fenômenos na casa pararam de imediato, é evidente. Para alguns, pode parecercruel fazer essamãe seguir adiante, mas o espírito humano não é nenhum animalzinho de estimação.Portanto,eraimperativoqueessamulherconhecesseasuacondição.Docontrário,nofuturo,quandoafamília se mudasse dali ou morresse também, ela ainda continuaria presa à terra. Repito, tragédia eirresoluçãoconstituemoslemasdasíndromedofantasma.”Acomunicaçãocomumaentidadefantasmagóricaocorre,emregra,portelepatia.Essefoioprocesso

que Lorraine usou emWest Point. Não foi necessário que Greer se mostrasse para se comunicar. Atelepatiafoiabsolutamentesuficienteparafazerotrabalho.Atelepatia,umahabilidadelatenteemtodasaspessoas,éumaformadetransferênciadepensamento.

Emvezdeumaideiasertransmitidapormeiodavoz,elaétransmitidadiretamentepelocérebro.Assimcomoosolhoseosouvidos,océrebro—oórgãomaiscomplexodocorpo—tambéméumórgãodepercepção.Colocado de outramaneira, o cérebro podemanejar dados sensoriais que os outros cincosentidosnãopodem.Osespíritosconsideramesse“sexto”sentidoomais fácildeusarcomocanaldecomunicação.Contudo,oquenãosesabelargamenteéqueatransferênciadepensamentoéumfenômenofísico.“O pensamento tem substância”, explica Ed, “e a substância do pensamento são vibrações. Toda

informação sensorial, qualquer que seja seu tipo, chega a nós pormeio de vibrações.Nosso corpo écomoumaimensaantenacomreceptoresespecializadosparacaptaressasvibraçõesespecíficas.Assimcomoondasderádio,essasvibraçõesnãopodemservistas,emboraestejamànossavolta.Enãoapenaspensamentos: tudo nomundo tem uma vibração única própria, uma frequência especial. Por serem asfrequênciasdiferentesentresi,océrebroécapazdedistinguirfisicamenteumacoisadaoutra.“Oúnicoporéméque,paraocérebrohumano,éimpossíveldistinguirentreumsomreal,físico,ea

impressãopsiquicamentecriadadessesom.Afrequênciadeamboséidêntica.Dessemodo,quandoumfantasmasecomunicaportelepatia,issoénadamaisnadamenosquetransferênciadevibraçõesdeumamenteparaaoutra.Oresultadoéacomunicação.Logo,éclaroquenãohaveriacomunicaçãodooutroladosenãoexistisseuma inteligência,umamentegerandovibrações telepáticasdirecionadasao reinofísico.Como jovens artistas, Ed e Lorraine descobriram que grande pane dos fenômenos em casas mal-

assombradaspoderiaseratribuídaaatuaçãodeespíritospresosàterra.Comotempo,elesaprenderamqueessasentidadesdesencarnadas—emboraàsvezesresponsáveisporfenômenosassustadores—nãoexistiamdefatoparaumpropostosinistro.Alémdisso,apesardaestranhaatividadequeessesespíritospresos à terra eram capazes de desencadear, eles não eram dotados de poderes verdadeiramentemisteriosos.Em alguns casos raros, porém, ficou evidente aosWarren que havia outra categoria completamente

diferente de fenômenos. As forças ativas nessas casas tinham poderes que eram de fato misteriosos.“Muitasvezes”,dizLorraine,“chegávamosao locaiquandoaperturbaçãoaindaestavaemcurso.Nósvíamosaatividadepornósmesmos,emprimeiramão.Porém,acimade tudo,eu teriaquedizerqueocomportamento das pessoas contava a verdadeira história. Nós entravamos em uma casa, e a famíliaestavaabsurdamenteapavoradacomoquetinhavistoouvivenciado.Alémdisso,naqueletempo,haviapouquíssimasounenhuma instituiçãoouagênciaaqueaspessoaspudessempedirajuda,então,muitasvezes,essasfamíliastinhamqueresistirsozinhasaessesataquesinacreditáveisdeespíritosmaléficos.Quandochegávamos,elasemgeralestavamexaustas,esgotadasporcausadosfenômenosincessantesqueaconteciamàsuavolta.Eemborainúmerasdessaspessoasestivessemsendoatormentadasquasequeao

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ponto da loucura, muitas vezes elas não percebiam que os espíritos — para não dizer espíritosdemoníacos — eram normalmente os responsáveis. O que estava acontecendo a essas pessoas erainquestionável:elasestavamsitiadas.“Emúltimaanálise,oqueEdeeu tiramosdessasprimeirasexperiências foiacompreensãodeque

haviaumespíritoportrásdosfenômenos,masesseespíritoeramuitopior,muitomaisameaçadorqueumsimplesfantasma.“Umfantasmaébasicamenteumaentidadepassivacompoderesehabilidadeslimitados.Geralmente,

ele semanifestarádemaneira aleatória, tentará se comunicar e, então,desaparecerádevista.Tudo seresumeaumciclo:manifestação,comunicação,dissipação”,declaraEd.“Eofantasmaapenasraramentefazalgumacoisaalémdesedaraconhecer.Acabamospordescobrirqueoespíritohumanocomumpresoà terra é um solitário, acorrentado a um problema pessoal e buscando a solução para o caráterfundamentaldesseproblema.Ofantasmasecomportadeformasprevisíveis,querdesejandocomunicarseupesarouserdeixadosozinhoparacontemplaropróprio infortúnio.Noentanto,essesoutroscasosnãoostentavamnemumúnicopadrãosequerdoespíritopresoàterra.Oenormetumulto,osfenômenosnegativos,ochoqueeoterrorindicavamquealgodiferenteestavaatuando.”Nospiorescasos,osWarrenencontravamsituaçõesemqueascoisasestavamcompletamenteforade

controle.Aopassoqueumespíritohumanorelativamentedócilpudessefazerlevitarumlápisouquebrarumachaleira estimada,nesses casos, a casa inteira eradestruídademaneiradeliberadae sistemática.Nãoraro,aspessoasdacasaeramatacadas,noâmbitomentalefísico.Deinício,osWarrenatribuíramessasperturbaçõesabandosdeespíritos,talvezsaqueandoapósamortetalcomoohaviamfeitonaterra.Noentanto,essaexplicaçãootimistanuncasesustentou,poisesseeraumfenômenocomumpropósito—algo que era dotado de uma inteligência misteriosa—, alguma coisa que indicava um discernimentoabsolutamenteperverso.Enquanto um fantasma se manifestava a qualquer momento, do dia ou da noite, essa espécie de

fenômenoocorriacommais frequêncianaausênciade luznatural.Asperturbações tendiamacomeçarapósopôrdosoleterminarantesdoraiardodia.Eaocontráriodeumfantasma,quedemandavaenergialuminosaparasemanifestar,essacoisaeranegraquandovisívelaosolhoshumanos,eparavadeagirnapresençadeluz.Elaapareciacomoumagrandemassasemforma,emregradescritapelas testemunhascomo“maisnegraqueonegrornatural”.Além disso, tudo que era associado ao espírito era aterrorizante e negativo.Diferentemente de um

fantasma, que desaparecia se despertassemedo, esse espírito apenas se fortalecia em uma atmosferaamedrontadora.Suachegadafazia-seacompanhardeumasensaçãodecompletopavoremauagouro;umainegávelatmosferademaldadeeanimosidadeselvagemtomavao lugar.Emgeral,umfedorrepulsivo,asqueroso—deenxofre,excrementooucarneapodrecida—enchiaolugaremqueelesematerializava;muitasvezes,deixavaparatrásalgumresíduodesangueououtrosfluidoscorporais.E,comoumfarol,ele irradiavauminveteradosensodeódioeciúmedestrutivo;suaatuaçãoeracruel,violentae iníqua.Ademais,osWarrennotaramque,quandotaisentidadesestranhasestavampresentes,elasjogavamsujo,usavamlinguagemobscenaecausavamferimentosedanos.Casoapóscaso,osfenômenoscomqueosWarrensedefrontavamtraziamasmesmasmarcasperversas

e aterradoras.O que era essa força depravada de ódio e violência? Por fim, no entanto, eles já nãoprecisavamconjecturar,pois,para fazer-se conhecer,o espírito costumavadeixarpistasdeliberadasediretas: cruzes invertidas,montes de excremento, poças de urina.De fato, ele emgeral escrevia, comaudácia,oqueera,especialmenteemespelhos—aocontrário,dadireitaparaaesquerda:

OCAINOMEDOu,demaneiraaindamaisclara:

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MORTEADEUS“Quando não rabiscava blasfêmias”, diz Ed, “ele escrevia obscenidades degradantes, vulgares.

Quando vi essas inscrições nojentas pela primeira vez, pensei que alguémna casa tivesse umamenterealmentedoentia.Eu,ingênuo,tenteiapagaressesgrafitesdasparedesedosespelhosparaqueLorrainenãofosseexpostaaeles.Contudo,assimqueeuosapagava,elesapareciamoutravezdiantedosmeusolhos.Logoficouclaroparamimqueaquilonãoeraobradesereshumanos—nemdeespíritoshumanos.“Aprincípio”, admitiu ele, “toda a ideia de fenômenos demoníacos era incompreensível paramim,

como tenho certeza de que o seria para qualquer um que se visse envolvido na mesma situação.Entretanto, também ficava cada vez mais óbvio que essas perturbações eram totalmente diferentesdaquelasprovocadasporespíritoshumanospresosàterra.Essasentidadesnãosóescreviamemparedescomo, emcasos raros, chegavama falar—comumavoz física.Mesmoassim,nemLorraine, nemeuconseguíamosaceitarofato.Essasforçastipicamentenegativaseramtãopoderosaseameaçadorasquefazíamosde tudoparaevitá-lasnonosso trabalho.Estar apenasnasproximidadesdo fenômeno já eraemocionalmente pavoroso. Embora eu soubesse que estávamos fazendo um progresso efetivo nacategorizaçãodocomportamentodoespíritohumanopresoàterra,aquiloeraalgoquenuncahavíamosplanejado.”ParaEdWarren,adescobertadoreinodemoníaconãoeraumaespéciedepontofinalemumabusca

religiosaimoderada.Elenãosaíraaomundoeencontrara“demônios”parasatisfazerosseuscaprichos.“Deparamoscomessaatividadeporacidente,nocursodasnossasinvestigações.Elajáestavaláquandoaencontramos.Mas,aocontráriodoqueacontececomespíritoshumanos,essascoisasnãoeramalgocom que se deve mexer. Nós nos mantínhamos à distância e estudávamos sua atuação tanto quantopodíamos,aomesmotempoemqueajudávamosapessoaouafamíliaenvolvida.Foiapenasmaistardequedescobrimoscomqueferocidadeessasentidadesinumanasatacavamqualqueremblemareligioso—e,consequentemente,arealgravidadedoproblemadodemoníacoparaocleropiedoso.”SeriapossívelqueascrençasreligiosasdosWarrenseriamcapazesdeafetaroqueviam?Pareceque,emcertamedida,umapessoaestariamaispropensaaperceberatividadessobrenaturaissejáacreditassenisso.“Fazsentido”,concordaEd,“masoquevimosnonossotrabalhonãopoderiatersidoinfluenciadopor

aquilo em que acreditamos. Não temos nenhum motivo para influenciar as coisas ou agir comparcialidade.Não somos fanáticos pregadores daBíblia.Não cobramos por nossos serviços e somosambosfísicaementalmentesãos.Vocêprecisacompreenderquesomoschamadosporoutraspessoasquejá estão vivenciando a atividade perturbadora. Seus filhos de repente começaram a agir de formapeculiar ou as coisas estão voando pela casa, e essas pessoas não sabem por que essas coisas estãoacontecendooucomofazerofenômenoparar.Então,essaspessoasacabampedindonossaajuda.QuandoLorraine e eu nos envolvemos, é sempre após a eclosão da perturbação, não antes—e aí fazemos opossívelparaidentificaraorigemdaperturbaçãoeagimosdeacordocomoquedescobrimosafimdefazê-laparar,ouchamamosalguémquepossafazê-lo.“Hojeemdia”,dizEd,“aspessoasquenãoestãofamiliarizadascomoproblemagostamdefilosofar

acercadodemoníaco,comosefosseumaocorrênciapuramentepsicológica,oudizemqueelenemsequerexistedefato.Entretanto,essaspessoasnuncatestemunharamosfenômenosporsimesmas;docontrário,nãofariamtaisafirmaçõesvazias.Aomenosumavez,elasprecisamteraexperiênciadeentraremumacasaondeessesespíritosinumanossemanifestaram.“Do lado de fora, os vizinhos estarão perambulando pela calçada. Eles instintivamente sabem que

alguma coisa está errada.Quando você entra na casa, é provável que a família esteja aos soluços ouacuada, uns agarrados aos outros de tanto pavor, totalmente petrificados por causa de alguma coisahorrívelpeloqualtenhampassado.Suasroupastalvezestejammeiorasgadas.Noar,podeserquepaire

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umforteodordeenxofre,ozônioouexcremento.Seháumapossessãoemcurso,esseindivíduoécapazdevirparacimadevocêcomoumtremendomonstro.Objetosestarãolevitando.Ointeriordacasatalvezesteja arruinado devido à ação de forças invisíveis: todos os objetos, grandes ou pequenos, estarãoreviradosequebrados.Émuitocomumqueseouçampancadasinacreditáveisvindasdasparedes.Enasprópriasparedes,éprovávelqueafirmaçõesobscenasouantirreligiosastenhamsidoescritaspormãosinvisíveisemumadúziade línguasdiferentes.Coisasvãosematerializaredesmaterializarbemdiantedosseusolhos.Objetosreligiosossãoprofanadosoupenduradosdecabeçaparabaixo,bemàvistadetodos.Pequenaslabaredaspodemestartremulandonoscantosdascadeiras,ascortinastalvezjátenhamsido consumidas em chamas. Caos absoluto! E, envolvendo tudo isso, haverá uma atmosfera deperversidade tãodensaquevocêpoderiacortá-lacomuma faca.Ecoarãogritospavorosos,profundosgemidos sinistros ou gargalhadasmaníacas, capazes de fazer o seu sangue gelar nas veias. Então, emalgummomento—sevocêestiver semsorte—,opróprioespíritopodesurgirpelaporta,ou sairdaparede, ou semanifestar atrás de você e, de repente, ficamuito claro que aquilo não é uma fantasiadistorcidapassíveldeexplicação.Éumverdadeiroataquefísicocontraahumanidadeequeocorredemaneirapropositaledirecionada.”Curiosamente, osWarren vieram a descobrir que os fenômenos provocados por espíritos inumanos

ocorriam em etapas. No início, enquanto o espírito se estabelecia no lugar, a atividade era apenasmoderada,cautelosa,paranãocausaralarme.Contudo,nemtodasaspessoasestavamsujeitasaenfrentartaisfenômenos.Emgeral,indivíduosespecíficoseramselecionadosparaaincursãoouoataque.Ehaviaummotivoparaqueelesfossemoalvo—comoduasjovensenfermeirasdescobriramrecentemente.

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ANNABELLE

QuandootelefonetocanacasadosWarreneumclérigocomumtomdevozsombriodooutroladodalinhapedepara falarcomEd,égrandeaprobabilidadedequealgosério tenhaacontecido.Foiassimcom“Annabelle”.Desta vez, o encaminhamento vinha de um padre episcopal. Telefonando dos escritórios

administrativosdaIgrejaemConnecticut,oclérigoestavarepassandoumamensagemquereceberadeumministrodeoutrolocaldoestado.Emboraasinformaçõesdadaspelopadrefossemsuperficiais,eledisseaEdqueduasjovensenfermeirashaviamse“comunicado”comoquejulgavamserumespíritohumano.Porém,opadretinhadúvidasdequeessefossemesmoocaso,porqueopedidodeajudaincluíaofatodequeumamigodasgarotashaviasidoatacado—fisicamente.Conquantoosferimentosnãofossemsérios,aatividadeaindaestavaemcurso,eumadasgarotaspareciaacreditarquehaviaalgoestranhodentrodoseuapartamento.“Vocêinvestigariaocasomaisafundo”,solicitouele,“e,comodemonologista,poderiarecomendaralgumaaçãoformaldaIgreja,casonecessário?”Concordando com a avaliação do clérigo de que algo de natureza espiritual negativa pudesse estar

atuando,EdWarrenaceitouoencaminhamento.Comisso,opadreinformouaEdonúmerodetelefoneeonomedasjovens.Apósfalarcomosacerdote,Edligouimediatamenteparaonúmeroquelheforadado.Aoconseguircontatarumadasenfermeiras,EdaveriguouaexistênciadoproblemaedisseàjovemqueeleeLorraineestavamacaminho...Emboraotráfegoestivessetranquilonainterestadualnaqueledia,osWarrenlevarambemmaisdeuma

horaparachegaraoendereçodomodernoprédiobaixodeapartamentos.Apósestacionaremocarro,ocasalfoiatéaportadafrenteeEdtocouacampainha.Elelevavaconsigoumgravadordefitacassete,umacâmeraeumamaletapreta.Osomdepassosqueseaproximavampeloladodedentrologosefezouvir. Ferrolhos de trancas foram soltos, e uma jovemde25 anos, atraente, aindaquede rosto sério,chamadaDeirdreBernard, abriu a porta.Ed eLorraineWarren apresentaram-se e, em seguida, foramlevadosaoapartamento.AjovemenfermeiraconduziuosWarrenatéacozinha,passandoporumaamplasaladeestar.Ali,Cal

Randellesuanoiva,LaraClifton,estavamsentadosàmesatomandoumcafé.Deirdreapresentou-lhesosWarren,masosjovensfalarammuitopouco.Aexpressãofacialsériaeesgotadadostrêsdiziatudo.Osdemonologistasentãosesentaramàmesajuntocomosjovens.Apósinserirafitacassetenogravador,Edligouoaparelhoeregistrouohorário,adata,oendereçoeonomecompletodosprincipaisenvolvidosnocaso.“Tudobem",começouele.“Eugostariadeouvirahistóriainteira,desdeocomeço.Quemaquipode

contá-la?”“Euposso”,respondeuDeirdre.“Certo.Cal,Lara,porfavor,acrescentemqualquerdetalhequeeladeixardemencionar”,orientouEd.“Sãoduashistórias,naverdade”,disseDeirdre.“Umaquecomeçounoiníciodasemana,comCal.A

outraésobreAnnabelle.MassuponhoqueambassejamsobreAnnabelle.Nãotenhocerteza.”

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“QueméAnnabelle?”,perguntouEdnamesmahora.“ElapertenceaDeirdre”,tomouLara.“Pertence?”,indagouLorraine.“Annabelleéumservivo?”“Seelaéviva?”,tomouDeirdre,confusa.“Elasemexe.Agecomoseestivesseviva.Masnão,acho

queelanãoéviva.”“Annabelleestánasaladeestar”,disseLara,apontandoporcimadamesa.“Estásentadanosofá.”Lorraineolhouparaaesquerda,paraasaladeestar.“Vocêestáfalandodaboneca?”“Issomesmo”,respondeuLara.“AquelabonecadepanoRaggedyAnn,grande.AquelaéAnnabelle.

Elasemexe!”Edselevantouefoiatéasaladeestarparainspecionaraboneca.Elaeragrandeepesada,dotamanho

deumacriançadequatroanosde idade,eestavasentadacomaspernasestendidasnosofá.Osolhosnegrossempupilaencararam-nodevolta,enquantoosorrisopintadodavaàbonecaumaexpressãodeironiasinistra.Depoisdeexaminaracoisasemtocá-la,Edvoltouàcozinha.“Deondeveioaboneca?",EdperguntouaDeirdre.“Foiumpresente”,respondeuajovem.“Minhamãemedeunomeuúltimoaniversário."“Existealgummotivoparasuamãetercompradoumabonecaparavocê?”,indagouEd.“Não.Erasóumanovidade—paradecoração”,disseaenfermeira.“Tudobem”,prosseguiuele.“Quandovocêcomeçouanotaraocorrênciadealgumaatividade?"“Hámaisoumenosumano”,disseDeirdre. “Abonecacomeçouaandar sozinhapeloapartamento.

Nãoestouquerendodizerqueelaselevantoueandouporai,nemnadaassim.Querodizerque,quandochegávamosdotrabalho,elanuncaestavaexatamenteondeatínhamosdeixado.”“Expliqueessaparteumpoucomelhor”,solicitouEd.“Depoisqueganheiabonecadeaniversário”,explicouDeirdre,“euadeixavaemcimadacamatodo

dia demanhã, depois que a cama estava arrumada.Os braços ficavamao ladodo corpo e as pernas,estendidasparafrente—exatamentecomoelaestásentadaali,agora.Porém,quandovoltávamosparacasa,ànoite,osbraçoseaspernasestavamposicionadosdeformasdiferentes.Porexemplo,aspernasestavamcruzadasnaalturadostornozelos,ouosbraçosestavamcruzadosnocolodela.Depoisdemaisoumenosumasemana,issonosdeixoudesconfiados.Então,parafazerumteste,demanhãeucruzavadepropósitoosbraçoseaspernasdaboneca,paraverseela realmentesemexia.E,éclaro, todanoite,quandovoltávamosparacasa,osbraçoseaspernasestavamdescruzadoseacoisaestavasentadaaliemumadúziadeposturasdiferentes.”“É,maselafaziamaisque isso”, interrompeuLara.“Aboneca tambémmudavadecômodosozinha.

VoltamosparacasaumanoiteeAnnabelleestavaemumacadeiraaoladodaportadafrente.Dejoelhos!Mas, o engraçado foi que, quando nós tentamos fazer a boneca ficar de joelhos, ela simplesmentedesabou.Eraimpossívelcolocá-ladejoelhos.Outrasvezes,nósaencontrávamossentadanosofá,apesarde,aosaímosdoapartamento,demanhã,elaterficadonoquartodeDeirdre,comaportafechada!”“Maisalgumacoisa?”,perguntouLorraine.“Sim”,disseDeirdre.“Elanosdeixavabilhetinhoserecados.Acaligrafiapareciaserdeumacriança

pequena.”“Oqueosbilhetesdiziam?”,indagouEd.“Diziamcoisas quenão faziamnenhum sentidopara nós”, respondeuDeirdre. “Asmensagens eram

comoajudeagenteouajudecal,masCalnãoestavacorrendonenhumtipoderisconaocasião.Equemera‘agente?Nósnãosabíamos.Alémdisso,omaisesquisitoeraqueosbilhetesestavamescritosalápismas, quando tentávamos encontrar um lápis, não havia nenhumno apartamento!E o papel emque elaescrevia era pergaminho. Revirei o apartamento, procurando papel tipo pergaminho, mas, outra vez,nenhumade nós tinha esse tipo de coisa.” “Parece que alguém tinha a chave do apartamento e estavapregandoumapeçademaugostoemvocês”,declarouEdcategoricamente.

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“Foi exatamente o que pensamos”, disse Deirdre. “Então, fizemos algumas coisinhas, como deixarmarcasnas janelaseportas,ouajeitaros tapetesdemodoquequalquerumqueentrasseaquideixariauma pista que pudéssemos ver. Mas nunca, nem uma única vez, apareceram sinais de que houvessemesmoumintrusovindodefora.”“Enquanto a boneca ficavamudando de lugar e nós passamos a desconfiar de ladrões, outra coisa

absurda aconteceu”, acrescentou Lara, em seguida. “A boneca Annabelle estava sentada na cama deDeirdre, como sempre. Quando voltamos para casa, uma noite, havia sangue nas costas da mão daboneca, e três gotas de sangue no peito dela!” “MeuDeus, aquilo realmente nos deixou apavoradas”,disseDeirdre,comfranqueza.“Vocêsnotaramqualqueroutrotipodefenômenoocorrendonoapartamento?”,perguntouEd.“Umavez,pertodoNatal,encontramosnoaparelhodesomumabotinhadechocolatequenenhumde

nóshaviacomprado.Supostamente,elaveiodeAnnabelle”,disseLara.“Quando vocês chegaram à conclusão de que havia um espírito associado à boneca?”, indagou

Lorraine.“Sabíamos que alguma coisa esquisita estava acontecendo”, respondeuDeirdre. “A boneca de fato

mudava sozinha de um cômodo para o outro. Ela realmente ficava em posturas diferentes, todos nósvimos.Masqueríamossaberporquê.Seráquepodiahaverumarazãoplausívelparaabonecaestarsemexendo?Então, Lara e eu entramos em contato com umamulher que émédium. Isso foi hámais oumenos um mês, ou talvez seis semanas depois que tudo isso começou a acontecer.” “O que vocêsdescobriram?”“Descobrimosqueumagarotinhamorreunestapropriedade”,DeirdrecontouaosWarren.“Elatinha7

anoseoseunomeeraAnnabelle—AnnabelleHiggins.OespíritodeAnnabelledissequebrincavanoscamposmuito tempo atrás, antes de estes apartamentos serem construídos. Ela nos disse que aquelesforam‘temposfelizes’.Comotodosporaquieramadultosesósepreocupavamcomosseusempregos,nãohavianinguémcomquemelapudesseinteragir,sóagente.Annabellesentiaquenósconseguiríamosentendê-la.Foiporissoqueelacomeçouamovimentarabonecadepano.TudooqueAnnabellequeriaera ser amada, então ela pediu se poderia ficar conosco e se mudar para dentro da boneca. O quepodíamosfazer?Então,dissemossim.”“Espereuminstante”,interrompeuEd.“Oquevocêquerdizercomelaqueriasemudarparadentroda

boneca?Estádizendoqueelapropôspossuirobrinquedo?”“Correto, esse foi o trato”, tomouDeirdre. “Parecia bastante inofensivo. Somos enfermeiras, sabe,

vemossofrimentotodososdias.Tivemoscompaixão.Dequalquerforma,começamosachamarabonecadeAnnabelledaliemdiante.”“Vocês fizeram alguma coisa diferente com a boneca depois de descobrirem que ela estava

supostamentepossuídapeloespíritodeumamenininhachamadaAnnabelle?”,perguntouLorraine.“Naverdade,não”,disseDeirdre.“Mas,éclaro,elajánãoerasóumaboneca.EraAnnabelle.Não

podíamosignoraressefato.”“Certo,antesquevocêváemfrente,vamosvoltaruminstante”,pediuEd.“Primeiro,vocêganhoua

bonecano seu aniversário.Depoisdeum tempo, a boneca começoua semover—ou, pelomenos, amudardelugarosuficienteparaquevocêsonotassem.Issoasdeixoucuriosas,entãovocêsdecidiramfazerumasessãoespírita,eumespíritosecomunicou,dizendoquesechamavaAnnabelleHiggins.Essesupostoespíritodeumagarotinhatinha7anosepediuparavirmorarcomvocês,possuindoaboneca.Vocêsconcordaram,porcompaixão.Então,passaramachamarabonecadeAnnabelle.Correto?”“Correto”,disseramDeirdreeLara.“Vocêsalgumavezviramofantasmadeumagarotinhanesteapartamento?”,perguntouEd.“Não”,responderamambasasjovens.“Vocêsdisseramqueumchocolateapareceuaquicertavez”,comentouEd.“Aconteceumaisalguma

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coisaestranhaquevocêsnãoconseguiriamexplicar?”“Umavez,umaestatuetaseergueunoar,dooutro ladodasala”, recordouDeirdre.“Então,eladeu

umacambalhotanoarecaiunochão.Nenhumadenósestavapertodaestatueta—elaestavadooutroladodasala.Esseincidentenosdeixoucompletamenteapavoradas.”“Deixem-meperguntaroutracoisa”,continuouEd.“Vocêsnãopensaramquetalveznãodevessemter

dadotantaatençãoaumaboneca?”“Nãoeraumaboneca!",corrigiu-oDeirdre.“'EracomodeAnnabellequenósnosimportávamos!”“Éissomesmo!”,disseLara.“Quero dizer, antes de vocês saberem qualquer coisa sobre Annabelle - “Como poderíamos saber

algumacoisa?”,perguntouDeirdre.“Mas,pensandobem,vendoagora,talveznãodevêssemosterdadotanta credibilidade à boneca. Mas, de verdade, víamos a coisa como nada além de uma mascoteinofensiva.Elanuncafezmalaninguém...pelomenosatéoutrodia.”“Vocêsaindaachamqueoqueestámovimentandoabonecasetaoespiritodeumagarotinha?”,indagou

Lorraine.“Oquemaispoderiaser?”,disseLara,emresposta.“Éumamalditabonecadevodu,é issooqueelaé”, soltouCal. "Fazmuito tempoque falei aelas

sobreaquelacoisa.Abonecaestavasótirandovantagemdelas...”“Tudo bem, Cal, acho que chegou a hora de você contar a sua versão das coisas’, observou Ed,

dirigindo-seaorapaz.“Deixe-me colocar desta forma: eu não gostei da boneca, e a boneca tambémnão gostou demim”,

disseele.“Aquelacoisapensa,ebonecasnãopensam,certo?Então,desdeocomeço,nãoacheiqueessacorsaandandopeloapartamentodelasfossebonitinha.”“Alémdisso,conte-meoqueaconteceuavocê*,disseEd.“Conteaelessobreossonhos*,persuadiu-oLara.“Bem”,continuouCal,“acoisamefazterpesadelos.RecorrentesMas,aindaassim,oquevoucontara

vocêsnãoéumsonho,naminhaopinião,porque,dealgumaforma,viacontecercomigo.Daúltimavezque aconteceu, caí no sono em casa, um sono muito pesado. Enquanto eu estava ali, deitado, me viacordar.Alguma coisameparecia errada.Euolhava ao redor doquarto,masnãohavia nada fora dolugar.Então, quando olhei para baixo, para osmeus pés, vi a boneca de pano,Annabelle.Ela estavasubindodevagarpelomeucorpo.Elachegouãalturadomeupeitoeparou.Então,abriuosbraços.Umdeles tocou um lado do meu pescoço, e o outro tocou o outro lado, como se estivesse fazendo umaconexãoelétrica.Daí,eumevisendoestrangulado.Eumecontorciae tentavaempurrarabonecaparalongedomeupeito,maseubemquepodiaestarempurrandoumaparede,porqueelamiosemovia.Euestavaliteralmentesendoestranguladoatéamorte,masnãoconseguiasairdaquelasituação,nãoimportaoquantoeutentasse.”“Sim,masopadrecomquemfaleidissequevocêtinhasidofisicamenteatacado.Éissoqueconsidera

oataquefísico?”,pressionou-oEd.“Não”,declarouCal.“Issoaconteceuaqui,nesteapartamento,quandoLaraeeuestávamossozinhos.

Erammaisoumenos22hou23heestávamosestudandoalgunsmapasporqueeuiaviajarnodiaseguinte.Tudoestavaquietonaquelahora.Derepente,nósdoisouvimosbarulhosnoquartodeDeirdre,oquenosfez pensar que alguémhavia invadido o apartamento.Eume levantei e fui em silêncio até a porta doquarto,queestavafechada.Espereiatéosbarulhospararem,abriaportacomcuidadoecoloqueiamãoparadentroparaacenderaluz.Ninguémestavaládentro!SóqueabonecaAnnabelleestavajogadaaumcanto,nochão.Entreisozinhoecaminheiatéacoisaparaversealgoesquisitohaviaacontecido.Porém,quandochegueipertodela, tiveanítida impressãodequealguémestavaatrásdemim.Eumevireinomesmoinstantee,bem...”

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“Elenãovaifalarsobreessaparte”,declarouLara.“QuandoCalsevirou,nãohavianinguémali,mas,de repente, ele soltou umberro e agarrou o peito. Ele estava como tronco encurvado, tinha cortes eestava sangrando quando cheguei até ele.A camisa estava ensopada de sangue. Cal estava tremendo,apavorado.Voltamosparaasaladeestar.Então,abrimosacamisadelee,nopeito,haviaoquepareciamsermarcasdegarras!”“Possoveramarca?”,perguntouEd.“Jásumiuagora”,disse-lheorapaz.“Eutambémvioscortesnopeitodele”,manifestou-seDeirdre,emapoioaosamigos.“Quantashavia?”,indagouEd.“Sete”,disseLara.“Trêseramverticais,quatrohorizontais.”“Vocêtinhaalgumasensaçãonoscortes?”“Todososcorteseramquentes,comosefossemqueimaduras”,disseorapaz.“Você já teve cortes ou ferimentos namesma região do peito antes de acontecer esse incidente?”,

questionouEd.“Não”,tornouele.“Vocêperdeuaconsciênciaantesoudepoisdeoataqueacontecer?"“Não”,foinovamentearesposta.“Quantotempolevouparaosferimentoscicatrizarem?”,perguntouLorraineWarren.“Elas cicatrizaram bem depressa”, disse Cal. “Já tinham quase sumido no dia seguinte, e sumido

totalmentenooutro.”“Aconteceumaisalgumacoisadesdeentão?”,perguntouEd.“Não”,foiarespostadetodos.“Quemfoiaprimeirapessoaquevocêscontataramdepoisqueocorreuoincidente?”“EntreiemcontatocomumpadreepiscopalchamadoKevins”,DeirdreinformouaEdeLorraine.“Porquevocêsdecidiramchamá-loemvezdechamarummédico?”,indagouLorraine.“Vocêachaquealguémdeforateriaacreditadodeondetinhavindoaquelamarcadegarrasnopeitode

Cal?”, perguntou Deirdre, retoricamente. “Além disso, concordamos que os cortes eram menosimportantesdoqueomodocomoCalfoiferido.Queríamossaberseissoaconteceriaoutravez.Nossoproblemaera:aquemperguntar?”“HáalgummotivoparavocêsteremchamadoespecificamenteopadreKevins?”,questionouLorraine.“Sim.Confiamosnele”,disseDeirdre.“Eledáaulasaquiperto,emumafaculdadequeministraapenas

osdoisprimeirosanosdoscursosdegraduação.Alémdisso,Laraeeuoconhecemos.”“Oquevocêscontaramaopadre?”,perguntouEd.“Ahistóriatoda—sobreAnnabelleecomoelasemoviasozinha,eprincipalmentesobreoscortesde

Cal”, respondeuDeirdre. “No início, tivemos receio de que ele não acreditasse, mas não foi esse oproblema—eleatéqueacreditou.Noentanto”,concluiuela,“opadredissequenuncatinhaouvidofalardessetipodecoisaacontecendohojeemdia.Nósestávamosmorrendodemedonaocasião,epergunteioqueeleachavaquetinhaacontecidoconosco.”“Oqueelefalou?”,indagouEd.“Eledissequenãoqueriafazerespeculações”,respondeuDeirdre.“Masopadrepareciarealmenteter

a impressãodequeeraumaquestãoespiritual,possivelmentealgo importante,edissequeentrariaemcontatocomalguémdegraumaiselevadonaIgreja—umtalpadreEverett.”“Foiissooqueelefez”,informou-lheEd.Então,preocupada,LaraperguntouaosWarren:“OquevocêsachamquefezaquilonopeitodeCal?”.“Vamosdiscutirissoemuminstante”,respondeuEd.“Primeiro,paraencerrarmos,deixem-meapenas

fazeralgumasperguntas.Essetipodecoisajáaconteceuavocêsantes—aqualquerumdevocês?”“Não”,osjovensdisseramaosWarren.

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“OnomeAnnabelle,ouAnnabelleHiggins,significavaalgumacoisaparavocês,navidareal,antesdeesseincidenteocorrer?”“Não”,responderamelesmaisumavez.“Emboravocêsnuncatenhamvistonadadenaturezaespiritualaqui,Caldissetersentidoumapresença

noquartoantesdeserferido...”“Existealgumacoisaaqui”,afirmouLara,comfirmeza.“Naverdade,jánãosuportomaisficarneste

lugar.Decidimosarranjarumnovoapartamento.Vamossairdaqui!”“Temoqueissonãoserádegrandeajudaparavocês”,disseEd.“Oquequerdizer?”,perguntouDeirdre,espantada.“Pararesumir,pessoal,vocêsinadvertidamentetrouxeramumespíritoparadentrodesteapartamento

—eparaassuasvidas.Enãoconseguirãoselivrardelecomessafacilidade.”AafirmaçãodeEderacompreensivelmenteinquietante.Porprudência,eleeLorrainepermaneceram

caladosparaqueostrêsjovenscolocassemospensamentosemordem.Passadoumlongominuto,Edtomouafalar.“Conseguiremosajudá-los,evamoscomeçarhojemesmo.

Agora.AprimeiracoisaqueeugostariadefazerételefonarparapadreEverettepedirqueelevenhaatéaqui.Então,vocêsterãoquecompreenderoqueaconteceueporqueCalrecebeuaquelahorrívelmarcadegarrasnopeito.Eupoderiausarotelefone?”Ednãoteveproblemasparacontataropadreepiscopal,quejáestavaàesperadoseutelefonema.Lorraine,enquantoisso,dirigiu-seàsaladeestarparadetectarapresençaespiritualqueestavanoapartamento.Depoisdotelefonema,osWarrenretomaramàcozinhajuntocomosoutros.“Tudobem”,disseEd, impassível,“quandoopadreEverettchegar,elevai realizarumaespéciede

bênção, um... exorcismo da propriedade.” “Eu sabia!”, declarou Cal, enfático. “Eu sabia que ia darnisso.”“Sim, creio que sim”, disse-lhe Ed. “Mas, não estou certo de que algum de vocês saiba por que

motivo.Paracomeçar,nãoexistenenhumaAnnabelle!Nuncaexistiu.Vocêsforamenganados.Noentanto,estamosdefatolidandocomumespíritoaqui.Oteletransportedabonecaenquantovocêsestavamforado apartamento, o aparecimentode bilhetes escritos empergaminho, amanifestação simbólica de trêsgotasdesangueeosgestosqueabonecafazia,tudoissoésignificativo.Essascoisasmedizemquehaviaintento} o que significa que havia uma inteligência por trás da atividade. No entanto, fantasmas —espíritos humanos — pura e simplesmente não conseguem provocar fenômenos dessas natureza eintensidade.Elesnãotêmessepoder.Emvezdisso,oqueseapossoudestelugaréalgoinumano.”“Inumano?”,perguntouCal,perplexo.“Demoníaco”, disse-lhe Ed de imediato. “Normalmente, as pessoas nunca são incomodadas por

espíritos demoníacos inumanos, amenos que façam alguma coisa para trazer essa força para as suasvidas.E,sintodizer,garotas,masvocêsfizeramalgoparatrazerodemoníacoparaassuasvidas.”“Comooquê?”,Deirdrelogoindagou.“Bem,nasuamaioria,vocêscometeramerroshonestosmas,nestecaso,cometeramospioreserros”,

respondeuEd.“Oprimeiroerrodevocêsfoiterdadotantaatençãoparaaboneca.Vejam,arazãopelaqualoespíritomovimentouaboneca,noinício,erachamaratençãoparasi.Aoconseguiraatençãodevocês,elepassouaexplorá-las.Emvezderetribuirasuapreocupaçãoeoseucuidado,elesimplesmentelhescausoumedoeatémesmoferimentosfísicos.Essaéanaturezadoespíritoinumano:eleénegativo,gostadeprovocardor.Logonoiníciovocêsnãodeveriamtertoleradoaatividadeincomum.Noentanto,emvezdecortaromalpelaraiz,ofatodespertouacuriosidadedevocêseissofoinotado—emtermossobrenaturais.“Oerroseguintefoicontatarumamédium”,prosseguiuEd.“Quemquerquetenhaatuadocomomédium

foi involuntariamente usada pela entidade como instrumento de comunicação. Durante a sessão, esseespíritoinumanotransmitiuinformaçõesfalsasavocês.Oespíritodemoníacoémentiroso.Elejáfoiaté

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chamadodePaidaMentira.Vocêsforamenganadas—porumespíritodamentira—e,semsuspeitardenada,acreditaramnahistória.Opiorerro,porém,foidaraoespíritoapermissãodequeeleprecisavapara ‘entrar na boneca’. Era isso o que ele queria e tirou proveito do fato de vocês ignorarem suaexistênciaparafazê-lo.”“Porquê?",indagouLara.“Porque,paradefato interferirnavidadevocês,oespíritodemoníacoprecisaobtersuapermissão

para fazê-lo de algummodo. E, infelizmente, pormeio da sua livre e espontânea vontade, vocês lhederamessapermissão.Foiomesmoqueentregarumaarmacarregadaaummaníaco.”“Então,abonecaestápossuída?”,quissaberDeirdre.“Não,elanãoestápossuída.Espíritosnãopossuemobjetos:espíritospossuempessoas”,informouEd.

“Emvezdisso,oespíritoapenasmovimentouabonecapelolugar,criandoailusãodequeelaestivesseviva.Mas,comovocês,moças,acreditavamqueeraoespíritodeumagarotinha,Annabelle,aaparênciaea realidadeeramamesmacoisa.Emresumo,vocêssemantiveramabertas,eumespíritonegativoeenganador tirou vantagem disso — com a sua permissão, é claro. Foi assim que o fenômeno foiprovocado.”Edfezumapausaparaversehaviamaisalgumapergunta,masnenhumafoifeita.“Agora, o que aconteceu aCal no iníciodesta semana*, continuou ele, “acabaria acontecendomais

cedo ou mais tarde. Na realidade, vocês todos estavam correndo o risco de ser possuídos por esseespírito,eeraissooqueacoisaestavarealmentequerendo.MasCalaquinãoacreditounaencenaçãoe,portanto, era uma ameaça constante à entidade. De uma forma ou de outra, acabaria havendo umconfronto.Eoqueaconteceu?Paracomeçar,oespíritotentouestrangularCalatéamorte.Quandoissonãodeucerto,eleocortoucomumamarcasimbólicadegarras,lávimosessamarcadegarrasemoutroscasos:éumsinalindicativodeumapresençainumana.Vocêssesafaramdestavez.Setivessemdadoaoespíritomaisumaouduassemanas,todosvocêspoderiamtersidomortos.’“Esse...esse...espíritodemoníacoestánoapartamentoagora?’,perguntouLara,petrificada.“Sim, receio que sim”, respondeu Lorraine. “Há apenas uma entidade envolvida, mas seu

comportamentoéabsolutamenteimprevisível.”PareciaqueaspalavrasdosWarrencomeçavamasercompreendidas.“Vocêsestãofalandosério,não

é?’,disseDeirdre,incrédula.Acampainhadafrentetocou.OpadreEveretthaviachegado.Aconversanacozinhaterminouquando

Deirdrese levantouparaatenderàporta.Comaproximidadedopôrdosol,queaconteceriadaliumahora,Edestavaansiosoparaquearesidênciafosseabençoadaparaquepudesseentãoretirarabonecadalievoltarparacasa.EnquantoosWarren recolhiamsuascoisas,opadreEverett—aquemEdeLorrainenuncahaviam

visto pessoalmente— entrou na cozinha. O padre episcopal, um homem alto de meia-idade, estavaclaramentedesconfortávelnoseupapeldeexorcista.Apósa trocadoscumprimentospreliminares,Eddisse aopadreque, em seu julgamento, o espírito responsável pela atividadeperniciosa era inumano,ainda estavano apartamento eque aúnicamaneira de fazê-lo sair dali seria pelopoderdaspalavrasescritasnabençãodoexorcismo.“Nãoestoude todofamiliarizadocomademonologia”,admitiuopadre,“Comovocêsabequeesse

tipodeespíritoestáportrásdaperturbação?"“Bem, neste caso, não foi tão difícil chegar a essa conclusão’, disse Ed, com franqueza. “Esses

espíritos agem de formas características. O que está acontecendo aqui é basicamente o estágio deinfestaçãodofenômeno.Umespírito,nestecaso,umespíritodemoníacoinumano,começouamovimentarabonecapeloapartamentopormeiodeteletransporteeoutrosmecanismos.Apósdespertaracuriosidadedas moças —- que era o objetivo do espírito ao movimentar a boneca —, elas cometeram o erroprevisível de trazer para cá uma médium, que fez com que a situação evoluísse. A mulher disse às

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garotas, no estado de transe, que o espirito de uma garorinha chamada Annabelle estava movendo aboneca. Comunicando-se por intermédio da médium, a entidade se aproveitou da vulnerabilidadeemocionaldasmoradorasdoapartamentoedurantea sessãoconseguiuextrairdelasapermissãoparaprosseguir com o seu intento. Visto que o demoníaco é um espírito negativo, ele começou então aprovocar a ocorrência de fenômenos ostensivamente negativos: causou medo com os movimentosesquisitos da boneca; promoveu a materialização de bilhetes perturbadores, escritos à mão; deixouresíduosdesanguenaboneca;e,porfim,chegouaferirorapaz,Cal,nopeito,abrindoumasangrentamarcadegarras.“Alémdaatividade,Lorrainetambémdetectouqueesseespíritoinumanoestáconoscoagora.Lorraine

éumaexcelenteclarividenteenuncaseenganouquantoànaturezadeumespíritoqueestejapresente.Noentanto, se o senhor quiser ir adiante, podemos desafiar a entidade agora mesmo com provocaçãoreligiosa.Osenhorpoderáverporsimesmo...”“Não,creioquenão",tomouopadreEverett.“Porquenãofazermossimplesmenteoquetemqueser

feito?”Nestecaso,opadrelevoucercadecincominutospararecitarabênçãodoexorcismoemcadacômodo

doapartamento.Abênçãoepiscopaldeumlarconstadeumdocumentoprolixodesetepáginasetemumcarátermarcadamentepositivo.Emvezdeespecificamenteexpulsarentidadesmalignasdaresidência,aênfaseéencheracasacomopoderdapositividade—opoderdeDeus.Nãohouveproblemasnemacidentesduranteoprocedimento.Aoterminaroexorcismodaresidência,

opadreabençoouaspessoaspresentese,emseguida,declarouqueestavatudobem.Lorraine tambémconfirmouqueoapartamentoeaspessoasestavamlivresdaentidadeespiritualinfestadora.Concluídoo seu trabalho,EdeLorrainedespediram-seepartiramdevoltaparacasa.Apedidode

Deirdre, e comoprecaução para que o fenômenonunca tornasse a ocorrer no apartamento, osWarrenlevaramagrandebonecadepanoconsigo.ColocandoAnnabellenobancotraseiro,Edconcluiuqueseriamaisseguroevitaropercursopelainterestadual,casoaentidadenãotivessesidoseparadadabonecadepano.Seupalpiteestavacorreto.Imediatamente,EdeLorraineWarrensentiram-sealvodeumódioferoz.Então,acadacurvaperigosa

daestrada,seucarro,queeranovo,começavaamorrer,fazendocomqueadireçãohidráulicaeosfreiosfalhassem.Repetidasvezes,oveículoesteveprestesaenvolver-seemalgumacolisão.Comcerteza,teriasido fácil parar e lançar a boneca no matagal. Contudo, se o objeto profano simplesmente não se“teletransportasse”devoltaparaoapartamentodasjovens,nomínimoelecolocariaemriscoqualquerpessoaqueoencontrasse.Na terceira vez emqueo carromorreuna estrada,Ed retiroudamaletaum frascode águabenta e

aspergiuo seuconteúdo sobreabonecadepano, fazendoo sinaldacruz sobreela.Aperturbaçãonocarroparoudeimediato,permitindoqueosWarrenchegassememcasasãosesalvos.Aolongodosprimeirosdiasqueseseguiram,Edmanteveabonecasentadaemumacadeiraaoladoda

suaescrivaninha.Obrinquedolevitouváriasvezesnoinícioedepoispareceuficarinerte.Duranteassemanassubsequentes,porém,abonecacomeçouaapareceremdiversoscômodosdacasa.

QuandoosWarrensaíameadeixavamtrancadanoescritórioanexoàcasa,emgeral,aovoltar,elesaencontravam,aoabriraportadafrente,sentadaconfortavelmentenapoltronadeEd,noandartérreo.Percebeu-seaindaqueAnnabelletrouxeraum“amigo”,uragatopretoque,porvezes,sematerializava

aoladodela.Ogatorondavaocômodoumavez,prestandoatençãoespecialaoslivroseoutrosobjetosdoescritóriodeEd;emseguida,voltavaparajuntodabonecaredesmaterializava-seapartirdacabeça.TambémficouevidentequeAnnabelleodiavaclérigos.Duranteoprocessodeacompanhamentoquese

seguiu ao caso, fez-se necessário que os Warren consultassem os padres episcopais associados aoincidente no apartamento das jovens enfermeiras. Certa noite, ao voltar para casa sozinha, Lorraineapavorou-se com rosnados altos e fortes que reverberavampela casa inteira.Mais tarde, ao ouvir às

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gravações na secretária eletrônica, havia dois telefonemas seguidos do padre Kevins. Entre as duasligaçõesestavamgravadososinconcebíveisrosardosqueelahaviaouvidoanteriormentenacasa.Certodia,opadreDanielMills,umexorcistacatólico,estavatrabalhandocomEdeperguntousobreo

novoobjetodedecoraçãodoescritório,abonecaAnnabelle.Ed detalho o caso ao padreDaniel e entregou-lhe a papelada para que a analisasse.Após ouvir o

relato de Ed quanto ao que havia acontecido, o sacerdote pegou a boneca de pano e disse, comindiferença:“Vocêésóumabonecadepano,Annabelle.Nãopodefazermalaninguém”.Opadreentãoarremessouabonecapreenchidadeespumadevoltaàcadeira.“Émelhornãofalarissooutravez”,alertou-oEd,comumagargalhada.Nãoobstante,umahoramais

tarde,quandoopadreDanielparouparasedespedirdeLorraine,aopartir,elarogouqueele tomassemuitocuidadoaodirigir,einsistiuquetelefonasseassimquechegasseaopresbitério.“Vislumbreiumatragédiacomaquelejovempadre”,dizLorraine,“maseletinhaquefazercomoquisesse.”Poucashorasdepois,otelefonetocou.“Lorraine”,disseopadreDaniel,“porquevocêmefaloupara

tomarcuidadoaovolante?”“Porque”,disseela,“seucarroficariasemcontroleevocêsofreriaumacidente.”“Bem,vocêtinharazão”,declarouele,categoricamente.“Osistemadefreiosfalhou,quasemorriem

umacidentedetrânsito.Meucarroestádestruído.”Maistarde,naqueleano,emumagrandereuniãosocialnacasadosWarren,LorraineeopadreDaniel

retiraram-se para uma sala de leitura a fim de conversar por alguns instantes. Por uma estranhacoincidência,Annabellehaviapassadoàquelecômodonodiaanterior.EnquantofalavacomLorraine,opadreviuumornamentodecorativoemumaparedefazerummovimentorápido.Derepente,ocolardedentesdejavalide61centímetrosqueestavaacimadelesexplodiucomumaforçaimpactante.Aoouviraquelebarulhoimpressionante,outrosconvidadosforamdeimediatoàsala,momentoemquealguémdogrupoteveocuidadodetirarumafotografia.Quandorevelado,oretratoestavaabsolutamentenormal—exceto por dois fachos de luz intensa acimada boneca, ambos apontandona direçãodopadreDanielMills.“Emoutraocasião”,contaEd,“euestavanomeuescritório,trabalhandocomumdetetivepolicialem

umcasoqueenvolviaumassassinato relacionadoabruxariana região.Comopolicial,ele jáviu todotipodecrime;definitivamente,nãoeraotipodehomemqueficava‘apavorado’.“Enquanto conversávamos, Lorraine me chamou lá para cima para atender a um telefonema

interurbano.Eudisseaodetetivequeficasseàvontadeparaolharomeuescritório,masquetomasseocuidadodenãotocaremnenhumdosobjetos,porquevinhamdecasosemqueforçasdemoníacashaviamsidoinvocadas.“Bem,nãodevia fazermaisdecincominutosqueeuhaviasaídodoescritórioquandoessedetetive

apareceu lá em cima, absolutamente branco.Quando lhe perguntei o que acontecera, ele se recusou afalar”,lembraEd,abrindoumlargosorriso.“Ohomemapenasficavamurmurando:‘Aboneca,abonecadepanoéreal...!’EleestavafalandodeAnnabelle,éclaro.Aquelabonequinhafezcomqueelepassasseaacreditarnessascoisas!Naverdade,pensandobem,todasasreuniõesquetivecomodetetivedepoisdaquelediaaconteceramsemprenoescritóriodele”“Aindanasemanapassada,ocorreuumincidenteparecidoaqui”,acrescentaLorraine.“Contratamos

umcarpinteiroparavirconstruirmaisestantesnoescritóriodeEdenquantoeleestavafora,naEscócia.Ocarpinteirosubiuasescadasepediuqueeulevasseabonecaparaoutrolugar,paraqueelepudessecontinuartrabalhando.Comtodaafranqueza,abonecameassusta.MasEdnãoestavaemcasa,entãotivequetirá-ladelá.“Objetos profanos como a bonecaAnnabelle têmuma aura própria.Quandovocê os toca, sua aura

humanasemisturacomadeles.Essamudançaatraiespíritosimediatamente.Équasecomodispararumalarmedeincêndio.Portanto,parameproteger,eumeaspergicomáguabentae,emseguida,‘abençoei*

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abonecadepanocomáguabenta,fazendoosinaldacruzsobreela.Quandopergunteiaocarpinteiroseele queira se aspergir também, ele me lançou uma espécie de sorriso obsequioso, dizendo que nãoacreditavaemespíritosnememreligião,equedispensavaessenegóciodebênção.“Nessahora,nossagatinha,Mareie,estavadeitadanoescritóriodeEd,comosemprefaz.Assimque

pegueiAnnabelleparalevá-laparaooutroladodasala,ospelosdeMareiesearrepiarameelacomeçouasoltarunsmiadosestridentes,aflitadepavor.Elaseesgueirouatéaportaquedáparaforaecomeçouachamardeumaformaestranha,comoeununcatinhaouvidoumgatofazerantes.Mareienãoparouatéqueabriaportadoescritórioedeixeiqueelasaísseparaaluzdosol.Ocarpinteiroobservoutudo,pasmo.Então,semdizerumapalavra,eleestendeuobraço,pegouofrascodeáguabentadaminhamão”,dizela,comumgrandesorriso,“eseaspergiunamesmahora.Écomodigoquandoestamosfazendotrabalhodecampo—nuncaencontreiumateuemumacasamal-assombrada.”“Édifícilparaaspessoasaceitaraexistênciadealgoque foramcondicionadasaacreditarquenão

existia”,afirmaEd.“Noentanto,faltadeconhecimentopermitiuqueesseespíritonegativoconseguisseentrar na vida de três jovens incautos. Se eles soubessemque tais espíritos sinistros existem, então ébastanteprovávelque,hoje,umrapaznãoteriasidofisicamenteferidocomamarcadabesta.”Não obstante, muitos sustentam que a noção de espíritos é irracional e infundada, dizendo que o

fenômeno é uma ilusão, uma alucinação ou que simplesmente não existe. Namelhor das hipóteses, aatividade pode ser esclarecida pela ciência. Será mesmo? Recentemente, os Warren abordaram talassuntoemredenacionaldetelevisão.

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FENÔMENOSSOBRENATURAIS

Uma hora e meia após deixarem Connecticut, Ed e LorraineWarren estão sentados em uma sala debastidores,aguardandoparagravaroDavidSusskindShow,nacidadedeNovaYork.O tema do programa daquela noite é “OOculto” e, durante o primeiro bloco, três pessoas contam

comoémoraremumacasamal-assombrada.OsWarrenvãoparticipardorestantedoprograma,emumadiscussãoemformatodepainelcomopadreAlphonsusTrabold,odr.AlexTanousedoispesquisadoresdefenômenospsíquicos,queocasalacaboudeconhecer.OpadreTrabold,umamigodelongadatadeEdeLorraine,éfradefranciscanoeprofessordeteologia.Eletambéméespecialistaemdemonologiaefenômenosparanormais.Odr.TanouséumrespeitadomédiumeteólogoquedáaulasnaUniversidadedeSouthernMaine.Paraessegrupo,queestáassistindoaoprogramapelomonitor,ficalogoevidentequeoseuverdadeirotemanãoétantooocultoemgeral,masosfenômenosespirituaisemparticular.Quandooprimeiroblocotermina,essesespecialistaseescritoresdeixamasalanosbastidorespara

tomarem seus lugares no set de filmagem. Após o intervalo comercial, David Susskind conduz adiscussão diretamente ao ponto. “O fenômeno é real — ou é apenas uma excentricidade da mentehumana?”Apresentandoexplicaçõesparapsicológicas,odr.Tanouseoutrosconvidadosdefendemaopiniãode

quegrandepartedosfenômenoséprovocadaporpsicocinese,outelecinese—opoderdamentesobreamatéria.OpadreTraboldeosWarrenconcordamcomasexplicações,mastambémalertamquepartedaatividadeécausadaporalgumainstrumentalidadeexterior.Elesacrescentamtambémqueéimprudente,quandonãoperigoso,subestimaracontecimentosincomunsemumaresidência,emespecialaquelesquepodemdefatoserdeorigemdemoníaca.OsWarrenexplicamaindaqueocasoAmityvillenãofoiumafraude, e que os fenômenos absurdos, normalmente fantásticos, relatados pelos principais envolvidoseram indicativos da estratégia de forças demoníacas. “No entanto", ressalta o padreTrabold, “não sedeve ter pressa demais em acreditar que toda e qualquer ocorrência estranha seja de origemsobrenatural.”Oprogramacorreubem.Noentanto,elenãoexplorouasimplicaçõesmaisprofundasdosfenômenos

espirituaisnemoqueestárealmenteportrásdeles.Aindaassim,quandotudoterminou,David,defalatão amável atrás das câmeras quanto diante delas, agradeceu a todos por fazerem daquela noite tãointeressante.Todosestavamfelizesporatenderaoconvite.Parao telespectador,porém,queagoraeraagraciadocomumentretenimentoameno,aindahaviamuitasperguntasa responder.Qualéopapeldaciêncianoestudodosobrenatural?Oqueéparapsicologia?Quaissãooslimitesdaabordagemcientíficadefenômenosespirituais?Ondeaatuaçãodoparapsicólogoseseparadaatuaçãododemonologista?Porcerto,EdeLorraineWarrenserãoosprimeirosaexplicarquenemtodomovimentoouatividade

estranhaéresultadodaatuaçãodeespíritos,menosaindadeforçasdemoníacas.“Emgrandepartedasvezes”,dizEd,“existeumaexplicaçãonaturalparaocorrênciasesquisitasemumacasa,comocientistasjáconseguiramprovarparaalémdequalquerdúvida.Noentanto,éerradocrerquealegitimidadedosfenômenos espirituais dependa, em última instância, do veredicto da comunidade científica. Osobrenatural não é um tema científico per se; sua validade não pode ser determinada apenas por uma

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análisecientífica.Éverdadequeatividadeespiritualgenuínajáfoiregistradaemfotografiasepormeiodeoutrosequipamentosdegravação,masaquestãoenvolvemuitomaisdoquefenômenosobserváveis.”Alémdisso,comoobservaEd,nãofaltamevidências.“Aquelesdenósquelidamcomosobrenaturalo

tempotodosabemqueosfenômenossãoreais—nãohádúvidadisso.Portanto,quandoaspessoasmedizemquenãoacreditamemfantasmase forçasespirituais,oqueestãodefatodizendoéquenão têmfamiliaridadecomosdadossobreoassunto.Aindaassim,elesexistem—casoalguémsedêaotrabalhodeprocurar.Naverdade,grandepartedelesfoireunidasobcondiçõestãorigorosasquefazemcomquemuitasoutraspesquisascientíficaspareçamfrágeis,emcomparação.Porexemplo,tomemosumcasoqueLorraineeeucomeçamosainvestigarnoúltimoverão[1978],emEnfield,Inglaterra,noqualfenômenosenvolvendoespíritosinumanosestavamemcurso.Então,nãoerapossívelregistraraatmosferaperigosaeameaçadoradentrodaquelacasinha.Noentanto,erapossívelfilmaraslevitações,osteletransporteseasdesmaterializaçõesdepessoaseobjetosqueestavamocorrendoali—eissoparanãomencionarasmuitas centenas de horas de gravações em fita cassete das vozes desses espíritos falando alto peloscômodos.[EmumaconexãotransatlânticacomEnfield,essasvozesforamtransmitidaspelarádioWVAM(Pensilvânia)em16dejunhode1978.]Nãovourepetirolinguajarvulgarqueasvozesusavamquandoentreinocômodocomelas,mas,enquantoestivemoslá,aSociedadeBritânicadePesquisasPsíquicasjáhavia gravado, em videoteipe, 1.300 horas desses fenômenos, enquanto ocorriam. A BBC estava alifilmandoocasoemseparado,aparentementeparaumdocumentáriodetelevisão.“Os fenômenos estão lá, realmente estão! É por isso que digo que ou você sabe ou não sabe que

fenômenos espirituais existem. Se não sabe, vá investigar as descobertas por si mesmo,mas nãomevenha dizer que não acredita em espíritos. Porque eu vou provar a existência deles para você: narealidade, vou mostrar coisas que acontecem neste mundo que você não acreditaria que pudessemacontecer!”Apesardaenormequantidadededadosquecientistaseoutrosinvestigadoresjáconseguiramcoletar,a

abordagem científica continua sendo algo comouma espada de dois gumes.Embora o cientista talvezconsigaconfirmaraocorrênciadefenômenosincomuns,eledefatoínãoestáemposiçãodejulgarsetalatividade está sendo provocada por i agentes espirituais. Por essa razão, o papel mais apropriado àciêncianoestudodosobrenaturalémostrarondeeventosestranhosnãosãoobradeespíritos.Porque,viade regra, é possível encontrar explicações naturais para a ocorrência de atividades insólitas em umaresidência.“Interpretações equivocadas, identificações incorretas, enganos e alucinações explicam uma grande

parceladaatividade‘sobrenatural’queérelatada”,apontaEd.“Umencadeamentodecoincidênciaspodelevarumafamíliaasuporquetemumfantasmaemcasa.Outraspessoaspodemouvir‘vozesdeespíritos’quando,narealidade,seualto-falantedealtadefiniçãoestácaptandoondasderádioporcontaprópria.Problemasnafiaçãodeumacasapodemfazercomqueluzespisquemoueletrodomésticosnãofuncionemquandooscircuitosestãosobrecarregados.Epessoascomtendênciasparanoicasvão tirarproveitodequalqueratividadeincomumparasatisfazersuasfantasias.“Muitasvezes,aspessoas leemumahistóriadehorrorouassistemaumfilmeaterrorizantee ficam

assustadas.Empoucassemanas,essaspessoascomeçamaacreditarqueháumfantasmanoporãoouumvampiro no sótão, e não é possível convencê-las do contrário. Então, elas contratam supostosespecialistaspara iremàsuacasaese livraremdo‘fantasma’.Essesespecialistasvãoentrarnacasa,desfilar para lá e para cá com túnicas demago, acender cartuchos de fumaça comprados em lojas deprodutos para mágica, recitar um monte de coisas ininteligíveis e, em geral, fazer um espetáculo defingimento!Depois,vãocobrarmilharesdedólarespelaprestaçãodeserviçosdeocultismo.Eissocontinuaráatéquetenhamarrancadoatéoúltimocentavodaquelesinfelizes.Seideumcasoem

queimpostoresdessetipoengaramduasmulheres,dando-lhesumdesfalquede50mildólares!”Talvezaprimeiraexplicação legítimapara incidentespeculiaresemumacasasejaapsicocinese,o

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poder que amente tem de levitar ou teletransportar pequenos objetos por um espaço.A PK, como éabreviada,éprovocadapelatransferênciadeenergiapsíquicaparaobjetos.Tipicamente,oindivíduoqueemanaessaenergiaestáemummomentode intensapressãoeestresse.Criançasfrustradasoufuriosascostumam ser a origemde atividadePK. “Embora seja incomum, a psicocinese pode se assemelhar afenômenosprovocadosporespíritos”, sugereEd.“LevitaçõesPKraramenteenvolvempesosacimademeioquilo.Atéhoje,nenhumexperimentodemonstrouqueamentehumanapossamoverpesossuperioresaumquilo.Espíritosdemoníacos,aocontrário,normalmentemovimentammóveisoueletrodomésticosquedemandariamdoishomensfortesparaseremerguidos.“Às vezes, existem razões físicas comuns para movimentos estranhos”, prossegue ele, “tais como

perturbaçõesmagnéticasougeológicasnaáreaemquesãorelatadasasmovimentações.Vezporoutra,aeletricidadecriaforçasquepromovemumasuspensãodagravidadeououtrosefeitosinusitadospertodeparedes.Aquecedoreselétricosinstaladosemrodapéspodemgerareletricidadeestáticacapazdeatrairou levitarobjetos levesdeplásticooudepapel.Sabe-sequecanosdeaçoeoutrosobjetosmetálicosdentrodasparedespodemficarmagnetizados,oquelhesdáacapacidadedeatrairpequenospregosouclipes de papel. Embora tal atividade possa parecer misteriosa, o que está realmente acontecendo éperfeitamente normal. Nas ocasiões em que não há uma explicação humana nem física paraacontecimentos estranhos, então a causa da perturbação tende a sermesmo a presença de espíritos.Equando espíritos sãoos responsáveis, namaioria das vezes, a atividadepode ser atribuída a poderesespirituaisinumanos.”Nãoobstante,fenômenosinsólitos,emsi,nãoconstituemaprincipalpreocupaçãododemonologista.Emregra,esseéotrabalhodoparapsicólogo,queestudafenômenosincomunsapartirdeumpontodevistacientífico.Nopassado,aparapsicologiaeramuitomalvistaporqueaquelesqueseintitulavamparapsicólogoscostumavamserpessoasqueseafirmavamespecialistaseostentavamtítulossolicitados por correio como credenciais. Hoje em dia, porém, o assunto é uma área legítima deinvestigação, estudada por profissionais certificados nas principais universidades e instituições depesquisa.“Em geral”, afirma Ed, “o parapsicólogo está em busca de uma única coisa: uma ligação entre

fenômenos insólitos e as capacidades latentes damente humana.No entanto, quando se depara com aproblemáticadosfenômenosespirituaisinumanos,oparapsicólogocostumasereferiraelescomoumaatividade‘poltergeist’.Poltergeistéumapalavradoalemãoantigoquesignifica‘fantasmabarulhentoetravesso’.Otermo,porém,éumaformainadequadaderegistrarosfatos,porquenãoespecificanemlidacomaverdadeiracausadaperturbação.“Aindaassim,aparapsicologia,porestaraliadaàciência,podeoferecerapenasexplicaçõesdentro

doâmbitodeconceitoscientíficosetécnicasdetestejáaprovados.Emconsequência,oparapsicólogonormalmenteécolocadonaposiçãocontraditóriadeanalisaroreinosobrenaturalusandoprincípiosquese aplicam apenas ao reino natural. Infelizmente, dada essa limitação, na maioria das vezes, oparapsicólogoconcluiqueaquiloqueelenãopode testar simplesmentenãoexiste.Por isso,ele lançamão de uma palavra evasiva como ‘poltergeist’ quando se faz necessária uma linguagem maisespecífica.”Como observa Ed: “Grande parte dos fenômenos espirituais é invisível e imensurável. As

manifestações exteriores representam apenas uma parte de um quadro muito maior que não pode sermedido com instrumentos de teste. Embora a parapsicologia tenha nos fornecidomuitos dados sobrefenômenosinsólitosealigaçãodelescomohomem,elanuncasequerseaproximoudeumacompreensãodos verdadeiros princípiosmetafísicos que regem amaioria dos fenômenos espirituais.Na realidade,comoregra,oparapsicólogonãoacreditanaexistênciadeespíritos—àsvezes,atéopontodoridículo.Aindarecentemente,porexemplo,euestavaemumaresidênciacomproblemasqueeusabiaqueestavamsendocausadosporumespírito.Poracaso,acabeimencionandoissoaoinvestigadorchefedoprojeto.‘Essenegóciodeespíritosnãoexiste’,elemedisse.Bem,assimqueelefalouisso,umacaixadelenços

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depapelseergueunoar,atravessouasalavoandoeoacertounacabeça.‘Achoqueadmitoestarerradodestavez’,disseele,perplexo”.OsWarren não se consideram parapsicólogos, visto que existe uma diferença fundamental entre a

parapsicologiaeademonologia.Aparapsicologianãodácredibilidadeaosobrenatural,aopassoqueademonologia se ocupa apenas de eventos sobrenaturais. Embora o parapsicólogo e o demonologistapossam investigar omesmo caso, cada um tende a olhar para os fenômenos a partir de perspectivascompletamentediferentes.“Meutrabalho”,dizEd,“écuidarparaquepessoasnãosemachuquem—sejafísicaoumentalmente

—efazercomqueos fenômenoscessemouentraremcontatocomalguémquepossa fazê-lo.Quandoforças demoníacas estão envolvidas, esse ‘alguém’ acaba sendo o clero. Na minha experiência, oparapsicólogopareceestarpreocupadoapenascomoseulivroderegistros.Elecostumaestaremumainvestigaçãoporquefoienviadoparaláouporqueestátrabalhandocomalgumaespéciedesubvenção.Ele olha para as pessoas como a origem do problema e sua função é listar e registrar omáximo defenômenosquepuder.Eérealmentemelhorqueelenãovolteaosseussuperiorescomaexplicaçãodequeumfantasmaestavaportrásdaperturbação!“Eu não tenho esses problemas. Entro em um caso primeiro como investigador de fenômenos

psíquicos”,continuaEd.“Enãoentroneleesperandoencontraratividadeespiritual.Semeconvençodeque nenhum espírito está envolvido, saio do caso. Como demonologista, tenho interesse apenas emfenômenos sobrenaturais: se é natural, não é da minha alçada. A atividade natural continuará sempropósito ou direção e acabará desaparecendo. Mas perturbações sobrenaturais acontecem por ummotivo.Ocientistapodepassarmesesemumlocalmal--assombradosemqueocorranadapassíveldeteste.Então,certatarde,euchegoaolugarcomobjetosreligiosos,provocooqueestáalie,derepente,diantedetestemunhas,começaopandemônio.Essessãofenômenossobrenaturais:vocêprecisairalémdomanualdeciênciasparaencontrarasrespostasaqui.”“Nonossotrabalho”,Lorraineaproveitaogancho,“nãoestamosinteressadosapenasnosfenômenos,

comoocientistaestritocostumaestar.Abasedasnossasfunçõesécomaspessoasporque,namaioriadas vezes, a atividade espiritual está direcionada para as pessoas. Em geral, entramos em um casoquandoa família jáestá sendoassediadaháalgumtempo.Normalmente,apolícia,ospsicólogoseosparapsicólogosterãoditoaessaspessoasqueelasestãoimaginandocoisasouquenãoestãodizendoaverdade.Eelesfalamissoporquenãocompreendem—ounãoqueremcompreender—osfenômenosespirituais.“Dada a nossa experiência, enxergamos as coisas de forma diferente: vemos pessoas normais nas

garras de um verdadeiro horror. Nós não as desacreditamos sumariamente como se fossemdesequilibradasnemlhesdizemosqueestãotendoumareaçãoexagerada.Perguntamosaelasporqueosseussentimentossão tão intensos.Sabe,àsvezes,aspessoasenvolvidasemumcaso ficamforaodiatodo evoltampara casa tardedanoite sópara evitar sua residência, porque sabemque ela estámal-assombrada.Outras vezes, as pessoas são oprimidas ao ponto de se tornarem prisioneiras na própriacasa,semnuncasairdelá.Issonãoéumcomportamentonormal.”“Para colocar de outramaneira”, completaEd, “quando tive quepegar as chaves comGeorgeLutz

paraentrarnamansãodeAmityville,elenãoqueriaficaraumadistânciamenorquequatroquarteirõesdaprópriacasa!Eleéumhomemgrandeerobusto,faixavermelhaemcaratê,ex-oficialdaMarinha.Elenãorespeitaoquenãoexiste.AntesdesemudarparaaquelelugardeAmityville,aopiniãodeGeorgeeraqueosmortosestãomortosenãopodemfazermalaninguém.Nanoiteemqueelemeentregouaschaves,pergunteioqueeleviudentrodacasa.Osr.Lutzmeolhoubemnosolhosedisse:‘Sr.Warren,osenhorsabeoqueeuvi’.“Esse é o aspecto humano”, ressalta Ed. “Mas os fenômenos também; são importantes. Como

demonologista, procuro determinados tipos de atividade, porque é a minha função — e do clero

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especializado— determinar se existe um agente externo; se de fato há uma inteligência por trás daatividade—umainteligênciadeorigemsobrenatural.”Noentanto,comoosWarrenpodemsaberseumainteligênciaestárealmenteportrásdaperturbaçãose

talagenteexternoéinvisível?Lorraine explica: “Embora essa inteligência em geral escolha permanecer invisível, não há como

cometerequívocosquantoaoqueestáportrásdosfenômenos,emespecialseforumespíritodemoníacoinumano.Aatividadeocorreráemcírculos,aocontrário,emsentidoanti-horário,ouemalgumaevidenteviolaçãoàsleisdafísica.Pedras,porexemplo,ouporcaseparafusoscairãodeumcéuabertosobreumacasaque está sofrendoumataquedemoníaco.Essaspedrasvão cair com tal forçaquepodemde fatopenetrarotelhado.Tambémjávimosessamesmachuvaradadepedrasacontecerdentrodeumacasa.Epara que se perceba que tais eventos não são de origem natural, os objetos cairão em zigue-zague,desafiando a lei da gravidade, demodo que não reste dúvidas quanto ao que está realmente por trásdeles.Apropósito,essachuvadepedras,ouatémesmodepequenosanimaiscomorãsoupeixes,nãoérara—elaaconteceemalgumlugardestepaísmaisoumenosumavezporsemana.“Enãoserãoapenasobjetoscaindo:umadúziadeoutrasocorrênciassobrenaturaisestaráacontecendo

dentroda residênciaexatamenteaomesmo tempo.Eenquantoesseshowde fenômenosexterioresestáacontecendo,umataquesemelhante,decarátersubjetivo,serálançadocontraasprópriaspessoas.Coisaspavorosas,comocrianças inocentesse transformandoemmonstrossórdidoscomforçasobre--humana.Ou adultos envelhecendo de repente, da noite para o dia, ou assumindo as feições dosmortos.E, emmuitos casos, esses efeitos não são totalmente reversíveis. Sim, essas coisas acontecem! Isso émuitoreal,algoseriíssimo.Quandoforçasdemoníacassãoasresponsáveisporumaperturbação,normalmente,vidassãoarruinadas.”Quando osWarren são chamados a investigar uma possível presença demoníaca, que procedimento

usamparadeterminaranaturezadoespíritopresente?“Quandonosencaminhamumcaso”,respondeEd,“emgeralépormeiodeautoridadeseclesiásticas.

Depois de tomarmos conhecimento do problema, contatamos de imediato os principais envolvidos.Naturalmente, o fator tempo é essencial. Estamos lidando com algo que é bem capaz de provocarferimentosouatémesmoamorte.“Aochegarmosaolocaldosfatos,eumesentocomafamíliaefaçouminterrogatóriocompleto.Essas

entrevistassãogravadas.Tenhomilharesdecasosgravados.Geralmente,falomuitopoucoparaqueaspessoas tenham que me dizer o que vivenciaram. Fico atento a certas pistas e características quedistinguemaatuaçãodoespíritodemoníacodeoutrostiposdefenômenos.“Vou querer saber, por exemplo, quando a família vivência a atividade. Amaioria dos problemas

espirituaisocorreduranteanoite,depoisqueosolsepõe.Afamílianotouodoresestranhosnacasaourápidasvariaçõesdetemperatura?Écomumqueumespíritoprojeteodoresparasinalizarasuapresença,ouabsorvaenergiadocômodo,deixando-omuitogelado.Elesouvirambarulhosquesugeremapresençade um estranho na casa? Portas que batem sozinhas, sussurros, respirações pesadas e luzes que seacendemeapagamporsimesmassãofortesindicaçõesdeumapresençaespiritual.Afamíliaéacordadaemhoráriosespecíficosdanoite?Muitasvezes,umespíritovairecriarasuaprópriatragédianomesmohorário,todososdias,normalmentenoinstanteemquesuavidafísicachegouaofim.Afamíliatemmedodeentraremalgumaáreaoucômodoespecíficodacasa?Umespíritohumanotendeapermaneceremumcômodoquelheerafamiliaremvida;umespíritoinumanohabitaráumaáreadacasaqueeleconsideremaishospitaleiraemtermospsíquicos.“Searespostaforsimaváriasdessasperguntas,vouadianteeperguntoseelesusaramumtabuleiro

Ouija.Essaéaformamaiscomumpelaqualespíritosnegativossãoatraídos.Elesrealizaramumasessãoespírita?Aquelesqueincentivamentidadesinvisíveisaentrarnasuacasacostumamatrairespíritosde

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uma espécie que nunca imaginaram existir. Eles realizaram rituais satânicos ou de magia negra? Aspessoasriemdahistóriadevenderaalmaaodiabo,masotristefatoéqueissopodeserfeito—e,aliás,com muita facilidade. Alguém da família esteve em uma casa mal-assombrada? Uma pessoa quedemonstreinteressesuficienteparaentraremumacasaverdadeiramentemal-assombradaestápropensaatrazer consigo, para a própria residência, um espírito desesperado. Eles vêm tendo sonhos bastanterealistas ou pesadelos ameaçadores que, depois, acontecem?Muitas vezes, o súbito conhecimento deeventosfuturosésinaldeumapresençaespiritual.Osespíritoscostumamsecomunicarcomaspessoasporsonhos,estadoemqueoinconscienteestáabertoereceptivo.Elesmataramalguém,poracidenteoudeoutraforma?Otúmulonãoéofim,eumfantasmaembuscadevingançaporumamorteprematuraé,àsvezes,capazdeexigirumaformaprópriade justiça.Algummembrodafamíliaesteveemcontatocomalguém que esteja possuído ou realize rituais de ocultismo com frequência? É muito comum queindivíduospossuídosouenvolvidoscomasartesnegrasestejamcercadosporumamultidãodeespíritos.Umapessoavulnerávelquetenhacontatocomumindivíduopossuído—ouatémesmocomumamadornotratocomooculto—correoriscodesecolocarsobainfluênciadeespíritos,quertalinfluênciasejadesejada ou não. Alguém da família sabe se foi amaldiçoado? Isso parece superstição, mas já lideipessoalmentecomdúziasdecasosemquepessoas foramamaldiçoadasouesconjuradasporoutrasdeforma metódica. Um dos piores casos de possessão já registrados pela Igreja Católica Romana nosEstadosUnidosocorreunadécadade1920,quandoumpaiamaldiçoouaprópria filhaparaque fosseatormentadapelodiabo.“Depois que certas perguntas são respondidas”, continua Ed, “peço que a família explique os

fenômenos que ocorreram.Eles viramobjetos semover ou levitar?Semedizemque um refrigeradorlevitou,seiqueissoestáalémdopoderdaPKhumana.Elesviramcoisasdesaparecer?Viramobjetosatravessarparedes?Substâncias,objetosouanimais semanifestarammisteriosamente?Depoisdeumahora fazendo essas perguntas, vou saber se as pessoas estão ou não sendo honestas; se a atividade éaleatóriaouproposital;seháumainteligênciaportrásdosfenômenoseseessainteligênciaédeorigemhumanaoudemoníaca."Quandochamadosainvestigarumcasotípicoemqueeventosestranhosestãoacontecendo,osWarren

trabalhamsozinhosouháoutraspessoaspresentesparatestemunharaperturbação?"Emprimeirolugar”,dizLorraine,“nãoexisteessacoisadeum‘casotípico’:cadacasoédiferentee

temaprópriadinâmicapeculiar.Quantoatestemunhas,namaioriadasvezes,alémdeEd,eumesmaeosprincipaisenvolvidos,outrosindivíduosveemaatividade.Àsvezes,Edeeudefotoacabamossendoasprimeiraspessoasdeforaachegarao localdosfenômenosmas,depoisdefeitosospreparativosparacomeçarmosumainvestigação,trabalhamoscomdiversosassistentesmuitocapacitados.Porexemplo,oprincipalassistentedeEdéumrapazmuitoversadodenomePaulBartz.Elejáestáconoscohámuitosanosetemsidofrequentementeexpostoaatividadedemoníaca.Alémdisso,costumamoschegarcomumfotógrafoqueestaráaliparafotografaraatividadeàmedidaqueelaocorre,bemcomoquaisquerformasespirituaisquepossamsercapturadasemfilme.Nosraroscasosemqueénecessáriaacomunicaçãocomaentidade,ummédiumdetranseprofundotambémpodenosacompanhar.Seespíritosinumanosparecemestar por trás daperturbação, entãoEd emgeral traz consigoumpadreou acólitoquequeira ter umaexperiênciaemprimeiramãocomfenômenosdemoníacos.Posteriormente,seaatividadeestiversendoprovocadaporpoderesinumanos,umclérigolocaleumexorcistaestarãopresentescomotestemunhas.“Noentanto,tambéméprecisolembrarque,antesdechegarmos,amigos,vizinhos,parentes,policiais,

parapsicólogos, psicólogos e pesquisadores de fenômenos psíquicos podem já ter testemunhado aatividadenatentativadeajudaradeterminaroqueestáportrásdoproblema.Comoaúltimacoisaqueaspessoascostumampensaréemespíritos,Edeeusomos,portanto,osúltimosaseremchamados.”Existealgumaformaespecialpelaqualessescasoscomeçam—querodizer,ospiores?

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“Essaéumaperguntamuitogenérica”,respondeLorraine,“masdeixe-merespondê-ladestamaneira.As emoções em uma casa tendem a desencadear os fenômenos.Dessemodo, um lar feliz é amelhorproteçãocontra intrusos invisíveis.Como regra, fantasmasnão tendema ser felizes; elesnormalmentevão semanifestar para alguém com que possam se identificar emocionalmente. Omesmo se aplica aespíritos inumanos—coma ressalvadeque,nesses casos, as emoções teriamque sermuito intensasparaatrairumaentidadedemoníacanegativa.Contudo,emmuitíssimosdoscasosquetemosinvestigado,osfenômenosforamconvidadosaentrar.Pessoasquepensavamqueosobrenaturalfosseinofensivoouquenãoacreditavamnasuaexistênciatrouxeramaatividadeparaassuasvidasporlivreeespontâneavontade!”Umaspectoparticularmenteimpressionantedosfenômenosdemoníacoséqueoespíritodemoníacode

fato apela para a violência quando exposto a artefatos religiosos, a recitações de orações ou areferênciasaDeusouaJesusCristo.ComoexplicaEd,éporissoqueoestudodasforçasdemoníacaséumassuntoreligioso,nãocientífico.“O assunto não é religioso porque eu digo que é religioso ou porque eu quero acreditar que seja

verdadeiro”,declaraEd.“Digoqueofenômenoéreligiosoporqueéaessepoderqueele—oespíritodemoníaco—responde.AspessoaspodemnãoacreditaremDeus,masessesespíritosacreditam.”Existeoutramaneiradecompreenderoespíritodemoníacoinumanoexcetoemumcontextoreligioso?“Emúltimaanálise,arespostaénão.Vocêachaquenãopercorriessamesmalinhaderaciocínio?”,

indagaEd.“Vocêpodechamaro fenômenodepoltergeist,comofazocientista,masquandooespíritocomeça com a sua ação profana, esse rótulo se desfaz bem depressa. Simplesmente não há umaexplicaçãosecular—ouseja,nãoreligiosa—paraaexistênciadessesespíritos.”Ed e Lorraine Warren dão palestras ao público — e a grupos profissionais que se ocupam de

fenômenos espirituais — há pouco mais de Fuma década. Em 1968, quando os Warren fizeram suaprimeirapalestrapública,EdeLorrainejáhaviamdedicadomaisde22anosàpesquisaeaoestudodosfenômenos sobrenaturais. Contudo, eles não faziam ideia de que pessoas comuns tinham interesse emouvirsobresuasexperiências.Paragrandesplateias,ponderavamEdeLorraine,oassuntoempautaerademasiadoassustador.Alémdisso,apenasaquelesquehaviamvivenciadoosfenômenosteriaminteressenotema.Émuitomelhordeixaressasquestõesparalá.“Nãoexatamente”,argumentouochefedeumcomitêlocaldebolsasdeestudo.“Porquenãotrazem

umadúziadassuaspinturasdecasasmal-assombradasparaaprefeiturae,então,dãoumapalestranodiada Exposição Artística de Jogos de Chá? O dinheiro dos ingressos daria um verdadeiro impulso àcampanhadebolsasdeestudo.”Emumgestoemproldacomunidade,osWarrenconcordaram.Nodiamarcado,suaspinturasforam

expostas, umaao ladodaoutra, emcavaletes ao longodopalco.Nervoso,EdWarren,munidodeumponteiro, esclareceu os detalhes insólitos de cada caso diante de uma plateia lotada. A palestraprosseguiuporbemmaisdeumahora.Nofinal,osWarrenconseguiramlevantardinheirosuficienteparabancarnãouma,masduasbolsasde

estudosnaqueledia7desetembrode1968—aniversáriodeEdWarren.Embora as pessoas estivessem interessadas em ouvir histórias de fantasmas, Ed e LorraineWarren

acabaram percebendo que não podiam talar abertamente sobre fenômenos demoníacos. O tema eraimpopular: elepareciaenvolverparadoxose superstição—edesagradouàs sensibilidadesdaépoca.NemtodosestavampreparadosparaaceitaroqueosWarrentinhamadizer.Então,poralgumaestranharazão,tudoissomudouderepente."Em1970",explicaEd,“quandocomeçamosapalestraremfaculdades,comeceiaficar insatisfeito,

indignadoaté,comasapresentações.Lorraineeeupresumimossinceramentequepessoasmaisinstruídasquisessem saber toda a história sobre o tema dos fenômenos espirituais. Mas, naquela época, todosestavamembuscada‘verdade’,sóquetinhaqueserumcertotipodeverdadequeestivessedeacordo

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comospreconceitosemvoga."Enquantofalávamossobrecasasmal-assombradase fantasmas,aspessoasficavamsatisfeitíssimas.

Quando tínhamosquemencionarespíritosdemoníacos,demonologia,odiabo—oupior, secitávamosCristo, padres, ou religião—, uma onda de animosidade emergia da plateia, como se alguém tivesseapertadouminterruptor.Ahostilidadeàsvezeseratãointensaquenãoconseguíamossequerprosseguir.Emboramuitosestivessemacompanhandooqueestávamosdizendo,outrosselevantavameiamembora.Namesma hora, professores se tomavam especialistas e nos desafiavam com argumentos irrefletidossobreainexistênciadosespíritos.Algunschegaramanosdizerquetudoquetínhamosvivenciadodesdeadécadade1940nãohaviasequeracontecido!Asituaçãochegouatalpontoquepenseiseriamenteemvoltarparaomeuestúdioelevarumavidatranquilacomopintorenquantotrabalhavacompessoasquedefatoprecisassemdeajudaemquestõesespirituais.“Umdia,nocarro,eudisseaLorraine:‘Chega.Nãovounemmesmomencionaroassuntodemonologia

de agora em diante. Se as pessoas querem pensar que a coisa para em fantasmas e casas mal-assombradas,poisqueseja.Nãovouexpornossotrabalhoaoridículoparaquealgumrepórterressentidoconsigapublicarumahistória,enãovoudeixarqueaspessoastransformememzombariaotrabalhosérioqueocleroespecializadofaznessaárea’.Lorraineconcordoucomigo."“Enquantoeufalavaessascoisas,passamosporacasoporumgrandeprédioabobadadodeumasede

demissão,situadoàsmargensdorioHudson.Eusemprequisentrarnaquelelocal,entãodeimeia-voltacomocarroeestacionei.Entramospelaportadafrenteenosvimosemumsaguãosilenciosoedemuitobom gosto. Um padre já idoso e curvado, com uma bengala, estava olhando vasos e outros objetosornamentaischinesesdentrodeumavitrine.Atravesseiosaguãoepareiao ladodele. ‘Nossa,padre’,disseeu,‘essascoisascomcertezavieramdemuitolonge.’Eletinhaumsemblantemuitosereno,muitobelo.O homemergueu os olhos paramim e disse: ‘Passeimuitos anos deminha vida trabalhando naChina,comomissionário’.Comisso,começamosaconversar.Faleisobreomeutrabalho,eeleficavaassentindocomacabeça,comoseconhecessebemtudoaquilo.“‘Realizeimuitos,muitosexorcismosnaChina’,disseele,‘masnãocontoaalgunspadresdaquioque

jáfiz.Elesnãosabem.Nãoacreditam.’Então,eleolhoubemdentrodosmeusolhosedisse:‘Gostariaquevocêfosseverafreira japonesanabibliotecadoprimeiroandar’.“‘Porquê,padre?’,pergunteiaele.“‘Porqueelatemalgoalhedizer.Algoquevocêdeveriasaber.’“Lorraineeeusubimosasescadas,

entramosnabibliotecaeencontramosafreira.Elapareciaumamulhermuitointeligente,tinhamaisde50anosevestiaumhábitopreto.Nósnosapresentamose,então,conteisobreaconversaque tivecomopadreidosoláembaixo.Elasorriueassentiudomesmojeitoqueeletinhafeito.“‘Vocêestámuitodesanimadocomascoisasquevêm lheacontecendoultimamente, sr.Warren’,disseela,exatamenteassim.‘Nãosintamaisessedesânimo.Otrabalhoqueestáfazendotemumpropósito.Ascoisasvãomudarparavocêmuitoembreve.Antesdoqueimagina!’“Então,elacontinuouenoscontousobre o trabalho dela como freira e suas experiências com exorcismos pelo mundo todo. Quandoterminoudefalar,elamedeuumlivromuitoeruditosobredemonologiareligiosaeexorcismo.Olivroveioaserimportanteparamimposteriormente.Porém,daquelediaemdiante,quandosaíamosparadaraspalestraseacabávamosfalandoàspessoassobreaexistênciadasforçasdemoníacas,nãohouvemaisridicularização. Foi como se um enorme peso tivesse sido tirado das minhas costas. De repente, aspessoaspassaramater interessenaquiloqueestávamosdizendoecomeçaramafazerperguntassérias.Foiumagrandereviravolta.Eagora,hojeemdia,oassuntodespertauminteressetremendo.”

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CONJURAÇÕESNONATAL

Emmeados demaio de 1978, os narcisos já floresciam,mas a primavera ainda não havia chegado aConnecticut.Lorraineplanejarapassarosábado,dia13,plantandocóleusnojardimdoseuquintal,mastempestadesdeventoatingiramoestado,seguidasdecincodiasdeforteschuvas.Acondiçãoclimáticafoioencerramentoadequadodeumasemanaemquenadahaviadadocerto.Narealidade,tensõesvinhamseacumulandoemtornodeLorrainedesdeoiníciodomês,eelasabiaquealgologoteriaqueeclodir.Comumachuvatorrencialqueaçoitavaacasa,osWarrenpassaramaquelatardedesábadoplanejando

o itinerárioda sua iminenteviagempara a Inglaterra.Comoseu trabalho frequentementeos levava aoReinoUnido,osWarrenacabaramadquirindoumconhecimentoespecializado tambémdos locaismal-assombradosbritânicose,porcausadisso,haviamsidoconvidadosaapresentarumapalestraabordodoQueenElizabethII,emjunho.AochegaremàInglaterra,elespassariamdoisdiasemLondres,cumprindocompromissosde entrevistas àBBC, e, em seguida, viajariamaYorkshire,Edimburgo, às terras altasescocesaspróximasdolagoNessedoStonehengeantesderegressaraSouthampton,emjulho,paradarumapalestranaviagemdevoltadonavio.Após terem feito algum progresso nos seus planos sobre o Reino Unido naquela tarde, osWarren

saíramparajantar.Retomandopoucodepoisdameia-noite,Lorraineverificouasligaçõesregistradasnasecretáriaeletrônica:haviaumamensagemdeumamigodeLosAngeles;emseguida,umtelefonemadasuafilhaJudy,queestavadefériasnaVirgínia;depois,asolicitaçãodeumrapazparamarcarumhoráriocomEd;e,porfim,umaestranhasequênciadecliquesezumbidosincomuns,seguidadavozaflitadeumadesconhecida:“Espero que consigamme ouvir.Meu nome é Foster, sra. Sandy Foster.Não sei exatamente o que

aconteceuaqui",disseela,comavozàbeiradodescontrole,“masmeusfilhosficaramassustadose...e...eforamperseguidosporalgumacoisa...”Hesitação.Emseguida:“Etemalguémoualgumacoisanacasa,láemcima,noquartodeumadascrianças.Porfavor,liguemdevoltaassimquepuderem”.Ed e Lorraine ouviram em silêncio enquanto a mulher angustiada dava seu endereço e número de

telefone.Emborajáfosse0h40,Lorraineprontamentetentouretomaraligação.“Quandoumcasonoséencaminhado”,explicaEd,“entramosimediatamenteemcontatocomapessoaouafamíliaqueestátendoproblemas.Senosparecernecessárioentrarnocaso,entãoofereceremosajuda.Dizemosàfamíliaquenãocobramospelonosso tempo,masqueprecisamosser reembolsadospelasdespesasbásicas [comotarifas aéreas, quartos de hotel e assim por diante]. Esclarecido isso, agendamos uma visita paraaconteceromaisdepressapossível.Emgeral,jáestamosacaminhodentrodeumaouduashoras.”Otelefonedasra.Fosterchamouinúmerasvezesmas,emseguida,aconexãocaiu.Lorrainedesligoue

discoudenovo.Dessavez,pareciaquealguémhaviaatendido,masotelefonecontinuavaachamar.Naterceiratentativadecontataronúmero,Lorraineteveomesmoresultadofrustrante.Semsaberoque fazer,Lorrainediscouparaaoperadorade telefonia,queentãodiscouonúmeroe

teveexatamenteomesmoproblema.Porsuavez,aoperadorachamouasupervisoradela,queouviuàexplicaçãodeLorrainedequeestavatentandoretomaraligaçãodeumapessoaaflita.Compreensivaesolícita,asupervisorasubmeteualinhaadiversosprocedimentosdetesteseletrônicos,masemvão.Ela

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admitiu estar intrigada: “Não há nada de errado com o telefone receptor; sua ligação deveria sercompletada”.Todavia,osWarrennãoconseguiramcontataramulhernaquelanoite.ComobemsabemEdeLorraine,oqueaconteceuaotelefonedosFosternãoeraincomum.Naverdade,

essaespéciedeartificioeletrônicoeraclichêquandoumespíritomalignoestavaatuando.Interferências,obstruções, confusão— táticas para ganhar tempo— são rotineiras para um espírito determinado edotadodahabilidadedemanipularvariáveisfísicasemetafísicas.Namanhã seguinte, domingo, 14 demaio, osWarren foram de carro até a igreja.No caminho, um

intensofedorrançosodeexcrementoespalhou-sepeloveículo.Então,nametadedacelebração,omesmoodorpútridopsiquicamenteprojetadoassaltouossentidosdocasal.Maisumavez,quandovoltavamparacasa, no carro, ficaram nauseados devido a um fedor repugnante. Contudo, Ed e Lorraine não oassociaramaocasodemoníacoqueestavamprestesainvestigarnaquelatarde.QuandoosWarrenchegaramda igreja,Lorraine telefonoude imediatopara a famíliaFoster.A sra.

Fosteratendeuaotelefonenosegundotoque.Lorrainecontou-lhesobreadificuldadequeteveparaentraremcontatonanoiteanterior.“Otelefoneestavafuncionandonormalmente”,respondeuamulher,“masnãotocou depois da meia-noite. Sei disso porque estava esperando a sua ligação.” O problema com otelefoneperturbouaindamais amulher e, por isso,Lorrainemarcouumhorárioparavisitar a famílianaquelatarde.Às14h,osWarrenjáhaviamchegadoàresidênciadosFoster.Aresidênciadafamíliaeraumatípica

casaaoestiloCapeCodemumaáreaarborizadaenaqual,EdeLorrainevieramadescobrir,afamíliajámoravahaviatrezeanos.Todososmembrosdafamíliaestavampresentesnaquelatarde.AlFoster,guarda-fiosdeumaempresadetelefonia,eraumhomemdet35anoseaparênciajovial.Sua

esposa, com quem Lorraine havia falado ao telefone, tinha a mesma idade do marido, mas pareciaexauridaeperturbada.Todavia,elesnãotinhamtestemunhadoosfenômenos.Tudoforavivenciadopelostrêsfilhosdocasal:Meg,de15anos;Joel,de14;eErin,de11anos.EdajeitouasuaaparelhagemdegravaçãoemumamesapróximaenquantoLorrainepediapermissão

para caminhar pela casa. Quando os Warren trabalham juntos, Lorraine normalmente investiga apropriedadeusandosuaclarividênciaenquantoEdentrevistaafamília.Elacomeçapeloporãoesegueatéchegaraosandaressuperiores,parandoemcadacômododacasa.Umavezqueaclarividênciaéumahabilidade sensorial como os outros cinco sentidos, Lorraine não consegue evitar o recebimento deimpressões psíquicas, assim como não poderia recusar-se a ver ou ouvir. Portanto, se existe umapresençaespiritualem1umacasa,sãomuitograndesaschancesdequeelaaperceba.Quandoelasaiudasala,Eddeuinícioaumaextensaentrevista.Osr.easra.Fosterdeixaramclaroquenãohaviamvivenciadonenhumdosfenômenosaqueosseus

filhossereferiam.“Masimagino”,disseasra.Foster,“queissosejaprovavelmenteculpaminha,pelomenos a partir do pouco que sei sobre o assunto.Meg sempre se interessou pelo oculto—bruxaria,feitiços, esse tipo de coisa. Ela tem uma pequena biblioteca, mas nenhum dos livros era sobreconjurações.Então,noúltimoNatal,compreiumlivrodeconjuraçãodedemônioseodeidepresenteparaela.Eusinceramentenãoimagineiquenadaparecidocomissofosseacontecer.”“Tudobem”,disseEd,voltando-separaMeg.“Ondeestáolivro?”“Láemcima”,respondeuagarota.

“Éumlivrodecapabrochura.Eleexplicacomoconjuraralgocomo75demôniosdiferentes.Descreveoritualcorretoeexplicaodébitoquevocêtemquepagarseoritualdercerto.”“Evocêrealizoualgumdosrituais?”“Sim.”“Quaisdemôniosvocêtentouconjurar?”“Quais?”,repetiuela.“Nãosei.Sófizalgunsdosrituaisfáceis,aquelesqueconseguientenderepara

osquaiseutinhaomaterialnecessário.Masquandorealizeiosrituais,nadaaconteceu.Então,parei.”

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“Àsvezes,arespostavemdias,semanas,mesesouatéanosmaistarde”,informou-lheEd.“Conte-meoqueaconteceuavocêessasemana.Vocêteveproblemas,creioeu.”“Duasvezes”,disseMeg.“Quemestavaaquiquandoaconteceu?”“Joel,Erin e eu”, respondeu ela. “Aprimeira vez foi naúltimaquinta-feira.Papai emamãe tinham

saídoparairàcasadeumamigo.Ficarmosemcasaporquetínhamosaulanodiaseguinte.ErineJoeljáestavamnacama.Eutinhaacabadodetomarbanho.Desciparaverificarseasportasestavamtrancadas.Tambémdesligueiorádioeasluzesdaquidebaixoantesdevoltarláparacima.“Quandochegueiaomeuquarto,ouvibarulhodeáguacorrendonobanheiro.Nãodeiatençãoàquilo,a

princípio,mas, algunsminutos depois, segui pelo corredor até o banheiro e vi que todas as torneirasestavam abertas. Eu as fechei. Então, ouvi o rádio ligado outra vez aqui embaixo. As luzes tambémestavam acesas! Eu gritei: ‘Quem está aí?’, mas ninguém respondeu. Antes de descer de novo, olheidentrodoquartodeErin.Elaestavadormindonacama.OlheinoquartodeJoeltambém,maseleaindaestavaacordado.Pergunteiseeletinhaligadoorádioaquiembaixo.Elerespondeuquenão.Então,desci,apagueiasluzesedesligueiorádiopelasegundavez.“Quandovolteiláparacima,ouviáguacorrendonobanheirodenovo!Fiqueiloucaderaiva,porque

eutinhacertezadequeeraJoelqueestavafazendoaquilo.Sóque,quandosaídobanheiro,orádioestavaligadonovolumemaisaltoetodasasluzesdaquidebaixoestavamacesas!EntreinoquartodeJoeledisse:Temalguémnacasa’.”“Joel,vocêouviuorádio?”,perguntouEd.“Sim,ouvi,masnãodeiimportância”,respondeuele."Vocêabriuastorneiras?”,indagouEddepressa,naesperançadepegarogarotodesurpresa.“Éclaroquenão!”,respondeuomenino.“Eunemsequersaidacama.”“Tudobem.Meg",disseEd,

“porfavor,continue.”“Deládecima,ouviqueorádioestavatrocandodeestações,entãodescidepressaoutravez,achando

que os meus pais talvez estivessem em casa. Quando cheguei aqui em baixo dessa vez, o botão desintonizaçãodorádioestavasemovendosozinhodeláparacá.Fiqueialiobservando,efoientãoquecomeceiaficarapavorada.Desligueiorádioeapagueiasluzesdenovo,masquandoeuestavasubindoas escadas, na metade do caminho, senti uma mão muito gelada tocar o meu ombro, apenas por umsegundo, no escuro. Eu quase gritei, masme contive. Fui direto para omeu quarto, fechei a porta eapagueialuz.Mas,antesdemedeitarnacama,ouviosomdepassos,comosealguémestivessesaindodomeuquarto,passandoparaocorredor.Acontecequeaportanãoseabriu!”"Vocênãoachouqueessascoisaseramestranhas?”,perguntouEd.“Claroqueachei”,disseMeg.“Euestavamorrendodemedo!”“Erin,vocêouviuorádio?",perguntou-lheEd.“Não,euestavadormindo”,respondeuagarotinha.“Diga,Meg,maisalgumacoisaaconteceudepoisquevocêouviuospassossaindodoseuquarto?”“Sim,muitas!Quandoalcanceiacama,eumedeiteiefecheiosolhos.Derepente,ouviumaportaaqui

no térreo bater muito forte. Depois, ouvi móveis sendo empurrados de um lado para o outro e sequebrando,comoseestivessemsendoarremessadosporalguémmuitofurioso.Eurealmenteachavaquetinhaumapessoanacasa,masestavaapavoradademaisparafazeralgumacoisa,entãosófiqueiali,deolhos fechados.Mas, apesar de estar com os olhos fechados, eu conseguia ver o meu quarto inteiroatravésdasminhaspálpebras!Abriosolhos,masnadaestavadiferente.Então,fecheiosolhosoutravez.Daí—atravésdasminhaspálpebras—viumaluzprateadasairdobosqueeflutuarparadentrodomeuquarto.Eelatambémestavaláquandoabriosolhos.Depoisdisso,sóseiquealgumacoisa—amãodealguém—deu trêspuxõesnomeucabelo.Cadavezelapuxavamais forte, atéque,na terceira,meusolhosseencheramdelágrimas.Então,griteiecorriparaoquartodeJoel.”

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“Joel”,indagouEd,“vocêouviutodoessebarulhoaquiembaixo?”“Ouvi”,respondeuele.“Porquenãofeznada?”“Euestavacommuitomedo”,admitiuogaroto.“Boaresposta”,disseEd.“Erin,vocêouviualgumacoisa?”“Ouviosmóveissendojogados,equandoMeggritou,eutambémfuiparaoquartodeJoel.”“Mais oumenos que horas aconteceu tudo isso?”, questionouEd. “Isso é omais esquisito”, contou

Meg.“Erammaisoumenos22h30quandosaídochuveiro,masorelógionomeuquartoestavatrêshorasadiantado.EquandofuiparaoquartodeJoel,orelógiodeleestavatrêshorasatrasado.”“Certo.Depois que você foi para o quarto de Joel, os barulhos pararam?” “Tudo ficou aindamais

alto”,disseMeg.“Vocês ouviram qualquer outro som na casa naquele momento? Pancadas nas paredes? Vozes?

Batidas?”“Não,apenasportasbatendo,passosemóveissendoarremessados”,disseJoel.“Oquevocêouviu,Erin?”“OmesmoqueJoelouviu.”“Tambémouvioque,paramim,pareciamsussurrosaltos”,declarouMeg.“Vocêconseguiudistinguiroqueelesdiziam?”,perguntou-lheEd.“Não.”“Eospassos?”,prosseguiuEd.“Elesseguiamparaalgumlugar?”“Elesandavamemcírculos”,disse

Joel.Megconcordoucomumgestodecabeça.“DepoisqueforamparaoquartodeJoelecontinuaramouvindoessesbarulhosaquiembaixo”,repetiu

Ed,“oquevocêsfizeram?”“Nósdiscutimos”, respondeuJoel.“Megqueriachamarapolícia,maseunãoqueriadeixar,porque

sabia que não tinha ninguém aqui embaixo! Se a polícia viesse, achei que eles poderiam pensar queestávamospregandoumapeçaneles.”“Por fim, ligamos para a mãe e o pai na casa do amigo deles”, falou Meg. “Mas, quando eles

chegaram, tudo já tinha parado. Tudo o que eles fizeram foi nos dizer que tínhamos ‘ouvido coisas’porqueestávamoscansados.Elesnãoacreditaramnagente!”“Sra.Foster”,perguntouEd,“asenhorajáviuououviualgumacoisaestranhanestacasa?”“Não;comoeudisseantes,nuncavinada.Aúnicacoisaestranhaquejáouviaquiéopássarocanoro.”

Elahesitou.“Poranos, tivemosumgrandepinheirodo ladodeforada janeladonossoquarto.Algunsmesesatrás,cortamosaárvore.Mas,agora, todanoite,nasúltimas três semanas,Aleeuouvimosumpássarocanorocantandodoladodeforadanossajanela,ondeaárvoreficava.”“Al,vocêtambémescutouopássaro?”,indagouEd.“Sim,todanoite”,respondeuele.“Nuncadeimuitaimportância,maspássarosnãocantamànoite,não

é?”“Não”,disseEd.“Normalmente,não.Bem,pareceque todosvocês jávivenciaramcoisasestranhas

aqui”,resumiuEd.“Achamqueestacasaémal-assombrada?”“Euachoqueé”,disseMeg.“Eutambémacho”,tornouJoel.Erineamãetambémestavaminclinadasaconcordar.“Sr.Foster?”,perguntouEd.“Bem,eunãosei.Nuncaestivepresentequandoqualquercoisadessetipoaconteceu.”Nesse momento, Lorraine voltou ao térreo. Ela assentiu discretamente para Ed, com a cabeça,

revelandoquehaviaumapresençaespiritualnacasae,emseguida,sentou-seàmesadasaladejantar.Em vez de alterar o clima da conversa, Ed resolveu esperar até que tivesse todas as declarações dafamíliagravadasparaperguntaraLorraineasimpressõesqueelateve.“Vocêsdisseramqueessesfenômenosaconteceramavocêsduasvezes”,Edlembrouascrianças.“O

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queaconteceudasegundavez?”“A segunda vez foi ontem à noite”, respondeu Joel. “ApenasMeg e eu estávamos aqui.Aconteceu

quasequeexatamenteamesmacoisadequinta-feira.Dessavez,Megestavanoquartodelaeeu tinhatomadobanho.Quandosaídobanheiro,ouvio rádio ligadoaquiembaixo.Asestaçõesestavamsendomudadasdevagar,eeugritei:‘Deixenesta’.Mas,quandodesciasescadas,nãotinhaninguémali,sóocachorro.Eleestavarosnando,muitobravo,paraalgumacoisanasala.Aquilofoimuitoestranho,porqueelenãopodiaterouvidoalgumacoisa.Nossocachorroésurdo!Então,eumelembreidaoutranoiteecorri de volta lá para cima e fui para a cama.Uns cincominutos depois, começaram os passos aquiembaixo,fazendoacasainteiratremer.Eosmóveiscomeçaramaserarremessadosoutravez.Tivemedodaprimeiravez,masontemeufiqueirealmenteapavorado.”“Vocêtambémouviuisso,Meg?”,perguntouEd.“Sim,omesmoqueeleouviu.Chegueiagritar,domeuquarto,paraJoel:‘Vocêestáouvindoisso?’

Maselegritoucomigo,reclamando:‘Caleaboca!’"“Achoqueeunãoqueriaadmitirqueaquiloestavaacontecendodenovo",reconheceuJoel.“Quandoestavanoseuquarto,vocêviuousentiualgumacoisaestranha?”,indagouEd.“Não,nada."“Evocê,Meg?"“Bem, quanto mais medo eu sentia, mais alta ficava a barulheira aqui embaixo. Da segunda vez,

tambémviumanuvemescura,arroxeada,nomeuquarto.Eunãoconseguiaolharparaeladiretamente—sópelocantodosolhos.Enquantoaquelabolaroxaestavanomeuquartofiqueicomosolhosfechadosparanãopodervê-la.Pelo tempoquepermaneeideitadaali, fecheibemasminhasmãos.Derepente,sentioutramãotentandoforçaraminhaaseabrir!Eraumamãobemforte,contoadeumhomemadulto.Elanãoconseguiuabriromeupunho,entãopuxouomeubraçoetentoumearrancardacama.ElapuxouquasemetadedomeucorpoparaforadacamaantesdeeugritarporsocorroDaí,elamesoltou,ecorriparaoquartodeJoel.EdolhouparaJoel.“Oqueaconteceuemseguida?"“Megeeuqueríamosligarparaapolícia,ouparaosmeuspaisoualguém”,respondeuogaroto,“mas

nãoqueríamossairdoquarto.Megmecontousobreamão,enósdoissentimosquemaisalgumacoisairiaacontecer.”“Comooquê?”“Agentenãosabia”, respondeuogaroto. “Massentimosumarmuito fortedemaldadeemvoltada

gente.Nãoseicomodescrever.Dequalquerforma,queríamossairdacasa,masnãoqueríamosterquepassarpeloandardebaixo.MegdissequeeramelhorpularmospelaJanela,masacheiaquiloloucura.Eudisseaelaque iríamoscorrerpara fora.Megvestiu roupasdomeuarmárioporqueelanãoqueriavoltarparaoquartodela.Então,abriaportadoquarto.Davaparaverasluzesacesasaquiembaixoeouvimos os passos pesados pela casa. Mas não demos a mínima, apenas queríamos sair: então,decidimossaircorrendoparafugirdaqui.”“Saímos para o corredor, mas nada aconteceu”, disse Meg, “só que o andar inteiro estava muito

quente,defazersuar.Então,descemosasescadas,correndoomaisdepressaqueconseguimos,esaímospelaportadafrente.”“Vocêsviramosmóveisreviradosnasalaaquiembaixo?”“Não,achoquenão.Elesestavamforadolugar,masnãolembrodetervistonenhummóvelvirado.”“Vocêviu,Meg?”“Eunemsequerolhei”,admitiuela.“Aúnicacoisadequeme lembrodapartededentrodacasa”,prosseguiu Joel, “équeo rádionão

estava tocando—estavachiando, comoseestivessecaptandoestática.Dequalquer forma, saímosdacasaedecidimoscorreratéocampusdauniversidadeparaligarparaalguém.Nuncavoumeesquecer

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disso.Tinhacachorrosláforae,quandonosviramcorrendo,começaramacorrerjuntocomagente.Mas,quando chegaram perto, eles correram para trás! E os pássaros — enquanto estávamos correndo, obosque inteiro estava cheio de pássaros piando feito loucos!” “Isso aconteceu a que horas mais oumenos?”“Entre23he23h30,ontemànoite.”“Além do fato de que pássaros não cantam à noite, houve alguma coisa esquisita em relação ao

incidente?Vocênotouseospiosvinhamapenasdeumlado,talvezdaesquerda?”“É, só do lado esquerdo”, disse o garoto, enfático. “Como o senhor sabe?” “Não importa agora”,

respondeu-lheEd.“Apenascontinuecontandooqueaconteceuláfora,narua.”“Estávamoscorrendopelarua,mastinhaalgumacoisaperseguindoagente,atrásdenós”,prosseguiuo

adolescente.“Aquiloqueestavanacasa,sejaláoquefosse,tinhanosseguido.Estávamoscorrendonadireçãodoposte,porquesentimosqueestaríamossegurosseconseguíssemoschegarlá.Maspareciaquenãoiríamosconseguirchegaràluz.Nãoconseguíamosavançar.Eracomocorrernomesmolugar.Tinhaalgumtipodecampodeforçasegurandoagente.”“Seaquelaforçativessealcançadovocês,Meg,oqueachaqueteriaacontecido?”,perguntouEd.“Elanosalcançou!”, disse a garota. “Era pesada e tentou forçar a gente de volta pela rua. Se não

tivéssemosalcançadoaluz,elateriamatadoagente.”“Porquedizisso?”“Porquenãotinhaarpararespirar”,respondeuela.“Dealgumaforma",recordouJoel,“conseguimoschegaraopostedeiuz.Dali,davaparaveracasa.

Nãoestávamos tão longeassim.Obarulhodospássaros tinhadiminuídobastante.Debaixoda luz,nósnossentimosmaisseguros;pelomenosjánãosentíamosapressãonosempurrando.Maspareciaquealâmpadaestavaenfraquecendo,entãodecidimoscorrersem.pararatéchegarmosaocampus.Assimquesaímosdaluz,porém,osguinchosdapassarinhadaficaramaindamaisaltosqueantes.Aquilonosdeixouapavorados. Mas corremos, e continuamos correndo o máximo que podíamos até que chegamos aocruzamentoonde estavamos carros.Foi a primeira vez quenos sentimos a salvo.Então, caminhamospelaestradaatéqueencontramosumalojaaindaaberta.Eutinhaumanotadeumdólareatrocamosali.Depois,fomosatéocampuseencontramosumtelefone.OspésdeMegestavamcobertosdebolhas,porestarusandomeussapatos.Elasesentounovãodeumaportaenquantoeuligavaparaosnossospais.”“Vocêstiveramalgumproblemaparafazeraligação?”,interrompeuLorraine.“Não,senhora”, respondeuJoel.“Conseguifalarcomeleseconteioque tinhaacontecido,maseles

disseram que estávamos sonhando e que eramelhor voltarmos para a cama”, respondeu o garoto, umpouco irritado. “Eu disse a eles que não estávamos em casa— que estávamos no campus e que nãovoltaríamos para casa! Enquanto eu estava falando, vi um policial do campus encostar a viatura ecomeçaraconversarcomMeg.Mamãemedisseparapedirqueelenoslevasseparacasa,queelesnosencontrariamlá.Depoisdisso,nãoaconteceumaisnada—pelomenosnãoatéagora.”Orestantedafamíliapermaneciasentado,emsilêncio,cadaumabsorvendoaquelahistóriaestranhae

inacreditávelqueascriançashaviamrelatado.Ed,então,perguntousobreas impressõesdeLorraine.“Notérreo”, informouela,“sentiapenasuma

camadadevibraçõesnegativas.Noentanto,parecerealmentehaveralgumacoisaláemcima,noquartodeumadascrianças.Nãotenhocertezadequal.QuandoestivenoquartodeJoel,sentiumaatmosferadeconfusãointensaseabatersobremim,comoseeuestivessebêbada.”“Sentimosissotambém!”,disseMeg,perplexa.“Essasensaçãomefezperdertodaanoçãodeondeeuestava”,continuouLorraine.“Quandoconsegui

sair daquele quarto, fui até a porta do que deduzi ser o quarto deMeg.Aome colocar junto daquelaporta, senti uma pressão na cabeça e nos ombros, uma pressão que começou ame forçar a recuar, adescerasescadas.Decidinãoentrarali.Eraumapresençainumanae,aoquemeconsta,acreditoestar

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instaladanoquartodeMeg.Vocêporacasotemvelaspretasdeconjuraçãonoseuquarto?",perguntouLorraine."Sim",tomouMeg,pasmacomapergunta.Edolhouparaaquelesqueestavamsentadosàmesa.Afamíliapareciaassustadae impotente.Osr.

Fosterprovavelmentesentia-sediminuídoaosolhosdafamíliapornãoconseguirlidarcomumproblema—aindaqueinvisível—queestavaacontecendonaprópriacasa.“Seascoisasnãotiveremidolongedemais”,disse-lhesEd,“voutentarresolveroproblema.Porque

vocês não saem e fazem um passeio de carro hoje? Fiquem fora por mais ou menos uma hora”,recomendou ele. “E, enquanto estiverem fora, por favor, não discutam os acontecimentos dos últimosdias,nemsequerpensemneles.Quandovoltarem,entãopoderemosconversar.”Elesficaramcontentesemsaberquealgopodiaserfeito.Osr.Fosterconduziudepressaafamíliapela

portadafrentee,emmenosdeumminuto,todosjáestavamdentrodocarro,saindodali.EdeLorrainepermaneceramdentrodacasa.Elessabiamqueascriançasnãopoderiamterinventadoa

história:elacontinhamuitosdetalhesespecíficos,maisquesuficientes,osquaisapenaspelaexperiênciaerapossívelconhecer.Narealidade,nadadoqueascriançasdisserameranovidadeparaEdeLorraine.Todos os detalhes que elas haviam relatado correspondiam a atividades demoníacas comque o casalhaviasedeparadonopassado.Noentanto,atarefadelesagoraeraidentificaraverdadeiranaturezadapresençaespiritual—afimdeexpulsá-la.NãoésemprequeosWarrenconseguemdeterminaranaturezaprecisadeumespíritotãosomenteao

entrevistaraspessoasenvolvidas.“Oespíritodemoníacotentapermaneceranônimo”,explicaEd,“mas,no fim das contas, ele não consegue. O espírito deixa sinais indicativos de poder preternatural. Porexemplo, taisespíritoscostumamdesconsideraroambiente físico.Hápoucosanos,estivemosemumacasa onde umoperador de câmera de televisão estava sendo atingido por bolinhas de gude que eramjogadas nele—saídas diretamente de umaparede!Outras vezes, o espírito demoníaco cria objetos apartir do nada.Se sólidas, taismaterializações sãomornas ao toque, o que indica algumprocesso demanipulaçãodeenergia.Àsvezes,asmaterializaçõessedesmaterializamcomamesmarapidezcomqueforamcriadas;outrasvezes,elaspermanecem.Tenhoumacoleçãodessesaportes,comosãochamados.”Tais“aportes"ousubstânciasteletransportadasjáforamanalisadospelaciência?“Comcerteza”,respondeEd.“Essasprovasfísicassãonecessáriasparadocumentaranecessidadede

umexorcismo.Semprequeessassubstânciassemanifestamemumcaso,recolhoumaamostraeaenvioaumlaboratórioparaaidentificaçãodosseuscomponentes.Osaportesproduzidoscommaiorfrequênciasãourina,bile,vômito,sangueouexcremento.Taissubstânciasaparecemporqueforamteletransportadasparaaresidênciaouforamsinteticamentecompostaspelosespíritosnocomandodaatividade.Emgeral,esses aportes contêm todos os minerais, oligoelementos e aminoácidos encontrados na natureza. Nãocostuma haver nada de especialmente novo ou misterioso com relação a eles, exceto o modo comoapareceramali.Espíritosdemoníacospodemsercapazesdefazercoisasestranhas,masestãolimitadosàmanipulaçãodoambientefísico.Aocontráriodoquepossampensarnossosamigossatanistas,umdiabonãoéumdeus”,dizEd,comironia.“Elenãotemverdadeirospoderesdecriação—consegueapenasrearranjaroquejáexiste.”Porqueénecessáriopedirqueafamíliasaiadacasa?“Se as informações que consigo durante a entrevista são ambíguas, como se não existe nenhum

fenômenovisívelemcurso”,respondeEd,“então,paradeterminarseapresençaespiritualéhumanaouinumana, preciso recorrer à provocação religiosa: é uma tática perigosa, mas também reveladora.Praticamentequalquer coisapode acontecer nesse tipode situação; por isso, se tenhoqueprovocar oespírito,peçoparaquetodossaiamparaalmoçareficosozinhonacasa.Emalgunscasos,Lorraineficacomigo,masopapeldelanãovaialémdodiscernimentodanaturezadoespírito.Nãohánadaqueumclarividentepossafazercontraumespíritodemoníacoperverso,emboraexistaminúmerasformaspelas

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quaisumaentidadenegativapodeferirseriamenteumindivíduo‘sensível’.Quandoestousozinho,usoaprovocação porque não soumédium— preciso provocar atividade que eu possa perceber commeuscinco sentidos, como outra pessoa qualquer. Sempre levo comigo uma relíquia do padre Pio, paraproteção:quantomaispoderreligiosoeuagrego,maioréaprobabilidadedequeelesejaprovocadoaresponder. Sabendo o que serei obrigado a enfrentar, muitas vezes eu me sentiria mais confortávelcarregandoumachavederodaeumrevólver.Porém,nãosepodematarumacoisaqueexistedesdeoiníciodostempos.“Entretanto,quandoestousozinhoali,tudonacasaficaimóvelesilencioso.Nadapareceestarerrado.

Seaperturbaçãoestálocalizadaemumlocal,então,primeirovouatéessaárea.Seafamíliamedissequenãoháumlocalespecífico,entãoapenasvoudecômodoemcômodo,atéquealgumacoisaaconteça.Casoo responsávelpeloproblema sejaum fantasma, elenormalmente semostrará amimenquantoeuestiverpercorrendoaresidência.Elesabequeabrincadeiraacabou,eumfantasmadefinitivamentenãoquersedesentendercomDeus.Mas,seforumespíritodemoníaco,quejurouodiaraDeuseérepelidopelos objetos religiosos, então, mais cedo ou mais tarde, as coisas vão começar a acontecer. Atemperaturadentrodacasacairáatéqueolugarfiquegelado,ouaumentaráaníveisintoleráveisdecalor.Vaisurgirumfedordecarneapodrecidaouqualqueroutroodor repugnante.Possoouviralgumacoisaexplodir.Umavozameaçadora,diferentedequalquervozhumanaquevocê jáouviu,ordenaráqueeusaia.Podeserqueeuouçapassos—projetadostelepaticamente—correndoescadaacima.Issoéumamanobraparame fazer seguirobarulho,demodoa talvez ficarencurraladoemalgumcômodo.Mãosinvisíveispodemrabiscaralgumaobscenidadenasparedes,bemdiantedosmeusolhos.Outrasvezes,nada disso vai acontecer. E, então, quando eu menos esperar, o espírito trairá a própria presença ecomeçaráasemanifestaràsclaras.Eporqueesseprocessodeprovocaçãoreligiosa funciona?Éporminhacausa?Não.Funcionaporqueoespíritodemoníacoodeia,estoudizendo,odeiaqualquermençãoaonomedeDeusouousodeobjetosreligiosos.Talentidadeestátãomergulhadaemculpa,ódioeciúmequeaprovocaçãoreligiosachegaaserdefatodolorosaparaela.”Na residência dos Foster, os Warren trabalharam juntos. Para fins de provocação, Ed usou um

crucifixo e água benta—dois itens que são anátemas à entidade demoníaca.Descendo ao porão, Edespargiuáguabentanosquatrocantosdaquelaárea.Emseguida,eledisse,emvozalta:“EmnomedejesusCristo,ordenoquetodososespíritos—humanosoudiabólicos—saiamdestahabitaçãoenuncaretornem”.OsWarrenesperaramporalgumaresposta,masnãohouvenenhuma.PorqueEdtempermissãodeusaráguabentaseelenãoéumsacerdote?“Não é uma questão de ter permissão”, diz Ed. “As pessoas têm permissão de usar água benta na

própria casa. A diferença é que a água que uso no meu trabalho foi abençoada por certos padresespecíficos,quesãoexorcistas.EssaáguaédotadadeumpoderpositivomuitorealNãoéaáguaemsiqueimporta,masapiedadequeelarepresenta.Euapenasusoaágua,nãoaabençoo.”Nopisotérreo,Edrepetiuomesmoprocedimentoemcadaumdoscômodos.Oprocesso,conhecido

peloexorcistacomoesconjuro,exigequeoespíritoinfestadorsemanifeste(seestiverpresente)embora.Tendo “esconjurado”oporão e todosos cômodosdopeso térreo, sem incidentes, osWarren estavamprontosparacomeçara trabalharnoandardecima,onde sabiamquedificuldadesestavamàespreita.Contudo, enquanto se preparavam para agir, um terror pavoroso tomou-os de assalto. Para eles, essaemoçãotelepaticamenteprojetadaexperimentadadeformasimultâneaporambos,eraumaindicaçãodaclara deumapresençademoníaca inumana. “Oespírito demoníaco”dizEd, “projeta terror domesmomodoqueumacascavelusaseuchocalho—comoumalerta.”Umcheiroúmidodemofoergueu-senasala.Derepente,elesperceberamumlampejodemovimento

noaltodasescadas.Emseguidaumaportafechou-secomumabatida—osompraticamenteostiroudochão.OsWarrenpensaramduasvezesantesdeiradiante.Elessabiamquequalquererrodeavaliaçãodapartedelespoderiaresultaremumcontragolpedeterrorquetalvezdurasseanos.

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Como costuma ocorrer, porém, osWarren decidiram continuar. Eles começaram a subir as escadasparaoprimeiro andar.Noentantonão importaoquanto tentassem,nemEd,nemLorraine conseguiamavançarparaalémdametadedasescadas.Umaforçaimpenetrávelíeobstinadafaziapressãoparaquevoltassem.SegundoLorraine,"pareciaqueestávamosandandomergulhadosatéosombrosemumriodecorrenteza rápidae forte”.Apesardemuito resistirem,a forçaexercidacontraelesera impossíveldevencer.Devagar,osWarrenrecuaram,descendoasescadasparanãoseremderrubadosdecostas.Nopédaescada,porumbreveinstante,soouumarisadadiabólica. Irritado,Edaspergiumaiságua

bentano local, oque fez comqueapressãodiminuísseo suficienteparadeixá-los chegar ao topo.Oprimeiro andar era todo dividido em quartos. Um longo corredor estendia-se ali, no sentido docomprimentodacasa.Ed aspergiu o quarto de Erin com água benta e, em seguida, recitou o comando de expulsão, sem

incidentes.Esconjuradoaquelequarto,ocasalseguiuparaodeJoel.Aporta leve,queestiveraabertaantes,agoraestavafechada.Edgirouamaçanetaredondaeempurrouaportacomaspontasdosdedos,abrindo-a.Para alíviodo casal, o quarto estavavazio.Mais umavez,Ed realizouoprocedimentodeesconjurosemproblemas.OquartodeMegfoiaúltimaparada.A porta do quarto da filha mais velha também estava fechada. Os Warren não sabiam o que os

aguardavadooutro lado.Edgirouamaçanetadaporta, entreabriu-a e, depois, escancarou-a.Osdoisrecuaram de forma involuntária. Havia algo no quarto. Mesmo invisível, o espírito projetava umahorrívelsensaçãodeinfelicidade;eraumaemoçãoabsolutamentecomovente,projetadaporumaentidadeque está condenada àdanação eterna.Nãoobstante, osWarren eramexperientes demais para reagir aessamanobraemotiva.Nãopassavadeumsubterfúgio,umapeloporcomiseração.Emvezdisso,comserenidadeférrea,Edentrounoquarto,empunhandoacruz.Emboranãosepudessevernenhumapresençafísica,oquartoestavamuitogelado.Umaúltimavez,Ed

aspergiuáguabentanosquatrocantosdocômodo.Então,emtomdecomando,falou:“EmnomedeDeus,mostre-seagora—ouváembora”.Fez-seumlongosilêncio.“Dê-nosalgumsinaldasuapartida”,disseele,emvozalta,dentrodoquartovazio,“ouumexorcismoserárealizadoaquiaindahoje”Quasequenomesmo instante, amórbida sensaçãode infelicidadecomeçouaabandoná-los.Então,a temperaturadocômodovoltouaospoucosaonormal.Ofeitiçoforaquebrado.Inspecionando o quarto, os Warren viram por que o espírito havia adotado aquele cômodo como

morada.OquartodeMegtinhavelaspretasdeconjuração,vestimentasparapráticadeocultismoelivrosquecontinhamtodotipoderituaisprofanos.Edcolocouosobjetosnocestodelixodagarota,levoutudoparaocorredore,então,“selou”oquartocomaleituradeumaoraçãodesantificaçãorecomendadaparaasituação.Acabadootrabalho,osWarrendesceramoutravezaopisotérreo.Paraeles,aquelalongaetensatarde

dedomingonãoprecisavatersidotãodesagradável.Olhandopelajaneladasaladeestar,LorraineviuafamíliaFostersentadanocarro,naentradadagaragem.Elaabriuaportaeacenouparaqueentrassem.“Tudodependedassuasaçõesfuturas”,explicouEd,depoisqueelesentraram.“Quaisquermelhorias

quevocêspossamterpensadoemfazernassuasvidasdevemser feitasagora.Porcerto”,disseeleaMeg,“nãodevehavermaisnenhumritual,dequalquertipo!Todososlivrosdeocultismoeaparafernáliadeconjuraçãoqueestavamláemcima,noseuquarto,vãoparaolixo.“Além disso, recomendo veementemente que vocês peçam a um clérigo da região para abençoar a

casa.Vejam,oqueaconteceuéque,quandoasuafilhasemeteucomrituaissobrenaturais,eladefatoatraiu um espírito negativo para dentro da casa.A bênção precisa ser feita como precaução contra oretornodoespírito.Noentanto,elaseráeficazapenassevocêsmantiveremumaatmosferaemocionalquenãoatraiaessetipodeentidadeparacáoutravez.Meuconselhoéquevocêsconsigamqueessabênçãosejafeitahoje,nãoamanhã.“E, acima de tudo”, enfatizou Ed, “suamelhor proteção pelas próximas semanas e pelos próximos

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meses é cultivar interesses positivos como um escudo contra a negatividade. Se forem religiosos,consideremiràigrejaemfamíliaumavezporsemana,comomostradesinceridade.Essaatitudeseriaumbomcomeçoparaneutralizaraforçaespiritualquefoiatraídaparaestelugar.Emsuma,suafilhafezalgonegativoqueagoraprecisasercontrabalançadocomalgopositivo.Consequentemente,todosvocêsestãosusceptíveisaumarepetiçãodesseseventos—amenosquecultivemodesejodequeissonãoaconteçadenovo.Lorraineeeufizemosoqueestavaaonossoalcance.Orestoécomvocês.”Junto à porta da frente, Ed fez um último comentário: “A propósito, o espírito nessa casa está

dormente”,alertouele,“masnãofoiembora”.Nessemomento,osóculosdegraudeLorraineelevaram-sedasuamãoàvistadetodos,giraramuma

vezno ar e, então, despencaramnochão,quebrandoa lente esquerda.OsFosterobservaramatônitos,emboramalcompreendessemoquehaviaocorridonaquelaresidência.Elesforamtãosomentevítimasquehaviamtratadoosobrenaturalcomoumbrinquedoquando,narealidade,elesquetinhamservidodebrinquedoaosobrenatural.

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DEORIGEMSOBRENATURAL

Detodososobjetosdeconversaçãocomunsefamiliaresquesãoabordadosquandoaspessoasestãoreunidas,detodasascoisasremotasdanaturezaeapartadasdossentidos,nãohánadatãoàmão,tãoinusitado,queotemadosespíritoseseoquedizemsobreeleséverdade.Éoassuntoqueaspessoasdiscutemcommaiorfacilidadeenoqualmaissedemoramporcausadaabundânciadeexemplos,alémdeserprazenteiroeagradável,eadiscussãoseramenostediosaquesepodeencontrar.

—PierreLeLoyer,1586

Alguns dos primeiros livros já impressos em língua inglesa tratavam da temática dos espíritos e dademonologia.OsespíritosnãoeramumfatomenoscotidianonoséculoXVIdoqueosãohoje:ocorriamamesmaruínaeomesmoterror,eumcenárioigualmenteviolentorepetia-se.Nostemposbíblicos,jesusfalavasobrefantasmas,espíritos,demôniosepossessãocomconhecimento

decausa. “Na realidade”,observaEd, “opróprioCristomostrou-se aomenosumadúziadevezesnaformadeapariçãoaosseusseguidores,antesdaRessurreição.”Recuandoaindamaisnahistória, pareceque aquestãodos espíritos tempreocupadoahumanidade

desdeoiníciodacivilização.AindanostemposdaGréciaAntiga,escritoresviamtodaessaatividademalignacomoalgomaisominosoqueaocasionalmanifestaçãodeumespectronegronomeiodanoite.Mesmoàquelaépoca,osantigosconsideravam-noumespírito,umaentidadecomumpropósitonegativo,eatribuíram-lheonome“daemon”,comosignificadodeespíritoperversoouimpuro.Hoje, documentos sobre a existência de fenômenos envolvendo espíritos presos à terra estão

disponíveisnamaioriadosgrandescentrosouembibliotecasuniversitárias,graçasaotrabalhorealizadopor respeitáveis organizações de pesquisa psíquica ao longo do último século. Contudo, informaçõescorretassobreoespíritodemoníacoaindasãodifíceisdeencontrar—comosempreforam.Oassuntoéenvoltoemsigilo.Amaioriadoslivrossobreocultismofazreferênciassuperficiaisa“demônios”,mastaisinformaçõescostumamestarentremeadascomressalvasdequeofenômenonãopassadesuperstiçãomedieval.Cientistasdescartamcompletamenteahipótesedaexistênciade“espíritos”;aclassemédicatende a ver o tema como ilusãooupsicose; e os acadêmicos concebemdemônios comouma fantasia.Apenasaclassereligiosadácréditoànoçãododemoníaconaaltateologiae,então,oassuntoderepentetorna-sebastantereal.Elerecebeumnome:oMysteriumIniquitatis—ouoMistériodaIniquidade.Eaodiaboatribui-seumsímbolo:xpistos—oAnticristo.Amelhorformadealcançaralgumacompreensãosobreoassuntoseriaconsultarosespecialistas,mas

ninguémsimplesmenteentraemumaigrejaousinagogaepedeparafalarcomumdemonologista.Nãohátantosdelesassim,seusnomessãoconfidenciaiseelesestãoobrigadosarelatarassuasexperiênciastãosomenteaosseussuperiores.NemmesmoEdWarrendirátudoarespeitodesseshorrendosespíritosdastrevasquevêmnomeiodanoitetrazendomensagenseproclamaçõesdeblasfêmia.Naverdade,quandopressionado a falar sobre isso, a resposta de Ed é: “Existem coisas do conhecimento dos padres, e

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tambémdomeuconhecimento,queémelhornãorevelar”.Então,qualéabaseparaasopiniõesdeEdWarren?Háevidênciasreaisouconfirmaçõesqueprovam

assuasafirmações?“Pessoasquenãoestãofamiliarizadascomofenômenoàsvezesperguntamsenãoestouenvolvidoem

algumaespéciedealucinaçãoultrarrealista,comoDomQuixoteduelandocommoinhosdevento.Bem,alucinações são experiências visionárias. Por outro lado, este é um fenômeno que responde comretaliação.Meuconhecimentodoassuntonãodiferedaqueledeclérigosversados,eelesvãodizer,comamesmaclarezacomquedigo,quenãosetratadealgoquepossaserfacilmenteclassificadocomoumpesadelo.“Posso sustentar tudo o que falo com provas autênticas”, prossegue Ed, “e relatos de testemunhas

confiáveis e profissionais gabaritados. Não existem conjecturas envolvidas aqui. Minhas afirmaçõessobreanaturezadoespíritodemoníacosãobaseadasnasminhasprópriasexperiênciasemprimeiramioaolongodemaisdetrintaanosnestetrabalho,corroboradaspelasexperiênciasdeoutrosdemonologistasreconhecidos,alémdasexperiênciasdocleroexorcista,ocentenasdetestemunhasqueforamvítimasdetaisespíritosecias físicasdepeso.Odogmareligiosoacercadoespiritodemoníacosimplesmentesemostradeacordocomasminhasprópriasdescobertassobretaisespíritosnavidareal.Masdeixe-mesermaisespecífico.“Oespíritoinumanocostumaseidentificarcomoodiaboe,então—pormeiosfísicosepsicológicos

—provaserexatamenteisso.Falandomaisumavezapartirdasminhasexperiênciaspessoais,jáquefuiqueimado por essas forças invisíveis. Já recebi talhos e cortes; esses espíritos entalharammarcas esímbolosnomeucorpo.Fuiarremessadode láparacápelasalacomoumbrinquedo.Meusbraços jáforam torcidos para trás até ficarem doloridos por uma semana. Padeci de enfermidades súbitas paraficarforadeumainvestigação.Monstruosidadessemanifestaramdiantedemim,emformafísica,fazendoameaças demorte, de ruína àminha família e de tormento no além. Porém, o que quer que eu tenhatestemunhado,ocleroquedevedesafiarafoiçademoníacajásofreu—emuitopior."Estou falando de atividade que está acontecendo neste exato instante. Amanhã, por exemplo, vou

submeter provas documentais à Igreja Católica para justificar o exorcismo de uma jovem que estápossuídaagora,enquantoeufalo.“Notocanteaprovas”,continuaEd,“tenhomuitosmilharesdehorasdegravaçõesemfitacassetede

entrevistas com pessoas e família* de todo o território norte-americano e britânico, e tais gravaçõesdocumentamplenamentearealidadedosfenômenosdemoníacos.Eupoderiaencherumauditóriodebomtamanhocomtestemunhasqueconfirmamoquedigo.Tenhoumacoleçãodeobjetosesubstâncias—osaportes de que falei — que foram criados sinteticamente por ação demoníaca. Tenho fotografiasverdadeiras de fenômenos demoníacos em curso. Elas mostram levitações, materializações e formasespirituais.Tenhoprovas,emfitacassete,dessesespíritosfalando.Muitasvezes,eleschegamatémesmoaseidentificarpelosseusnomesdiabólicos.Alémdisso”,revelaele,“essasentidadesmeconfrontarampessoalmente, falandoatravésdospossuídoseassumindoformasfísicasmanifestas, tãosólidasquantovocêoueu.Eelasmedizem—comamesmaclarezacomqueestoufalandoagora—quemelassão,porqueestãoaquieoquevãofazer!Diantedasolicitaçãoparaapresentarumexemplodoúltimoponto,Edvaiatéoseuescritórioeretoma

comumafitamagnéticaemrolo.“Istofoigravadoemumasessãoem1972”,dizele,passandoafitapelotape deck de rolo. “Na ocasião, estávamos tentando determinar quem ou o que vinha oprimindo e àsvezespossuindoumamulherchamadaMarydesdequeelatinha8anosdeidade.Quandoagravaçãofoifeita,Marytinhauns55anos.NaquelediatambémestavampresentesLorraine,eu,umpadrecatólicoeumamédiumdetranseprofundo.Imediatamenteantesdestesegmento,oespíritovinhafalandoatravésdamédium—mentindo,passandoalínguasestrangeirasparanosimpedirdecompreendê-loefalandocomumavozemfalsete,alegandoserum‘anjo’.Parachegaràverdade,colocamosumcrucifixosobreuma

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mesaatrásdamédium—queestavaemtranse,comosolhosbemfechados.Emseguida,ordenamosqueoespíritofalasse,eapartirdaí,algomuitodiferentefoicomunicado.”Edligouogravador:Voz:Eunãoescolhiestaraqui!EdWarren:Então,porqueveio?V.:EstousubmetidoaoPoder!E.W.:Poderdequem?uV.:Umaluzbranca!E.W.:Descreva-separamim.V.: Não. [O crucifixo, então, é colocado de pé, ao que se seguem gritos *agonizantes do espírito

possessor.]E.W.:Descreva-separamim!V.: Em verdade, devo dizer qual é a minha aparência. Sou perverso— e feio de aparência. Sou

inumano.Souvingativo.Tenhoumrostohorrendo, tenhomuitospelosásperospelocorpo.Meusolhossãomuito fundos.Sou todonegro.Carbonizado.Tenhocabelos.Minhasunhas são longas,meusdedosdospéstêmgarras.Tenhoumacauda.Usoumalança.Oquemaisvocêquersaber?E.W.:Comovocêchamaasimesmo?V.:[Proclamando]EusouResisilobus!EusouResisilobus!“Embora Ed e eu não tenhamos a pretensão de ser teólogos acadêmicos”, diz Lorraine, “não

encontramosnadanonossotrabalhoqueindiquequeoespíritodemoníacosejaoutracoisaqueumanjocaído. O comportamento rotineiro do espírito, os seus poderesmetafísicos e a sua violenta reação aobjetos sagrados certamente corrobora tal conclusão. Na verdade, eu me atreveria a dizer quetranscrições de exorcismos provariam que o espírito demoníaco é o proverbial anjo caído.” Não seencontra qualquer outra justificativa para a existência desse espírito além do que é sugerido nasEscrituras.EmambosostestamentosdaBíblia,anjosedemôniossãomencionadoscercade3milvezes.[1]Nãoexistenenhumoutroprecedenteconfiávelsobreoespíritodemoníaco,àexceçãodealgunstextosreligiososenigmáticosqueoferecemomesmopontodevistabásico.Omotivo exato do desentendimento entre o espírito demoníaco eDeus é desconhecido ao homem.

ComodisseopapaPauloviem1972:“Sabemosmuitopoucoacercadetodoessedramainfelizanterioraoiníciodomundo”.(Nãoobstante,omesmopronunciamentopapaltambémdeixouclaroqueoDiaboéumaentidadereal~nãoumsímboloouumametáforapsicológica.Mesmonoseucurtopontificadodeummês,opapaJoãoPauloireafirmouasconvicçõesdosseuspredecessoresdequeoDiaboexistecomoumser real.)Algumasdasmelhoresexplicaçõessobreesseassuntoverdadeiramente inolvidávelestãocontidasnaobradeNicolasCorte,WholstheDevil?[QueméoDiabo?],enadeBillyGraham,Angels[Anjos],masaexplicaçãodefinitivacontinuaaserencontradanolivrodeSantoAgostinho,ACidadedeDeus.AclássicahistóriadaQuedadosAnjospodeserresumidadaseguintemaneira:OsprimeirosseresqueDeuscrioueramanjos.Dentretodososanjoscriados,nenhumerasuperiora

Lúcifer. Deus criou Lúcifer em tamanha perfeição que ele era tudo, exceto Deus. Insatisfeito com opróprioser,porém,Lúcifertentoualcançar,porinveja,oquenãolhecabia.Defato,LúcifertentouserDeus,negaraexistênciaDeleegovernarelemesmooscéus.Dessemodo,oespíritodemoníacoprovaserumespíritonegativodepossessão.OutrosanjosaliadosaLúcifertomarampartenomesmodesejoruinoso,a“cobiça”:ouseja,estavam

dispostosarenunciaraosdonsdasuanaturezaafimdetomaraquiloquenãolhespertencia.AsupostarespostadeDeusdiantedessatraiçãocósmicafoibanirLúciferesualegiãodoCéu,aoqueessesanjoscaídosjuraramdesobediênciaperpétuaaoSenhor.LúciferfoirenomeadoSatã—ocaluniador,oacusador,oPaidaMentira.Embora tenhamcaídodo

seuestadodegraça,essesanjosnãoforamdestituídosdoseupoder;aocontrário,conservaramtodosos

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poderespretematurais—paraalémdaterra—quelhesforamdadosnacriação.Taispoderesconsistembasicamenteemexistênciaimortal,conhecimentomísticodouniversoeopoderdeignorarasleisfísicasdanatureza,oquelhesdáacapacidadedeproduzirfenômenospsíquicosepromovercriaçõessintéticas.Não obstante, apesar dos poderes impressionantes, o espirito demoníaco foi proibido de dominar ohomem.Emvezdisso,aaliança foiqueDeusprotegeriaohomemseeste,porsuavez, respeitasseospoderesdeDeus.Em última análise, é óbvio que ninguém conhece a história completa. A oposição do espírito

demoníaco a Deus não representa, em si mesma, uma prova da inferência de Deus. É apenas porinferência que consideramos que Deus existe, diante das palavras e ações de ódio desses seressobrenaturaisblasfemadores.“No entanto”, como observa Ed. “independentemente de qualquer interpretação das Escrituras,

espíritosinumanossórdidosdefatovagampelaTerranosdiasatuais.Equandoseordenaquefalem,arespostadessesespíritosémuitograve:"MeunomeéLegião—somosum’.Tambémécertoqueessesespíritossãodotadosdepoderesdevastadoreseagemcontraahumanidadecommalícia,desprezoeumairaferoz.Curiosamente,aúnicaproteçãoqueohomempode invocarcontraessasforçasnegativaséamençãodonomedeDeus—emboradeformamaisespecialodeJesus—eaapresentaçãodeobjetosabençoados.Docontrário,nadaconseguiráimpediressasentidadesespirituaisbizarras.”Ainda assim, se a atividade é tão ostensiva, por que os cientistas não chegaram a conclusões

semelhantescomrelaçãoaosfenômenosespirituaisinumanos?“Cientistassãopessoas”,respondeEd,“ealgunscientistaseinvestigadoresdefenômenospsíquicosjá

viram o que está acontecendo e hoje o compreendem. Os céticos mais veementes, porém, nuncatestemunharamosfenômenosporsimesmos.Noentanto,asmovimentaçõeseaatividadeprovocadasporesses espíritos estão cientificamente documentadas em muitíssimos casos. Infelizmente, osparapsicólogos desconsideraram a atividade, julgando-a PKou, nomáximo, atribuem a perturbação aespíritoshumanospresosàterra.Noentanto,mesmoissoéincorreto:comoelemesmoadmite,oespíritoinumanonuncafoiumescravodeDeusemformahumana.Eleseorgulhadisso.Narealidade,relatoseevidênciasfornecidospelosprincipaisenvolvidosepor testemunhasconfiáveis,sessõesgravadascomospossuídos,transcriçõesdeexorcismos,2milanosderegistrosdaIgreja—tudoissomostraqueelessãonadaalémdoqueseconhecequeelessejamdesdeoinício:espíritosdiabólicosinumanos,tomadospeloódioedotadosdasabedoriamaléficaparausá-lo,espíritoscujaexistênciaseestendeportodasaseras,alimentandoumódioviolentoporDeuseprometendoaruínadohomem.Noentanto,amaiorpartedoódio deles é dirigida aDeus, e apenas raramente umhomem testemunha toda a intensidadeda suafúria.“Quanto ao fenômeno em si”, prossegue ele, “uma dúzia de investigadores pode examinar uma

residênciainfestadaporforçasdemoníacasenãoencontrarnada.Eissoporque,emgeral,oinvestigadorcientífico está pescando semanzol.O cientista, abordandooproblema como seu cronômetro e o seupapel tornassol, não representa nenhuma ameaça à entidade infestadora. Com certeza a entidade nãorevelarásuapresençadeformavoluntária.Mas,entrealicomumobjetoreligioso,eoespíritoinumanoresponderáaodesafio.“Devo me apressar a dizer, porém, que não recomendo, em absoluto, que nenhum investigador ou

pesquisador de fenômenos psíquicos realize tal procedimento. A provocação é um procedimentodistintamentereligioso,nãocientífico.Elaexigepreparaçãoespecialantesdesersequertentada,ouosresultadospodemserdesastrosos.Digoissocomoumavisoantecipadoàquelesquepossamtentar.Pormaisdedicadoquesejauminvestigador,chegaumpontoemqueeledeveparar,aceitaroimpasseeirparacasa.Nãoexisteessacoisade‘vitória’nestetrabalho.Oobjetivofinaléoexorcismo,obanimentoda força negativa. Nenhuma outra atitude terá êxito. O demoníaco é um problemamuito grave,muitosério, e nem boas intenções nem ‘intolerância varonil’ vão expulsá-lo. Ele recua apenas em nome de

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Deus.Esó.”Provavelmente o aspectomais perturbador dos fenômenos demoníacos seja que, por trás de todo o

terrorecaos,háumainteligênciaardilosaecalculista.“Tenha em mente, ainda, que não se trata de uma coisa morta”, ressalta Ed. “Trata-se de uma

inteligêncianegativaeativaqueéanterioraohomemnaevoluçãocósmica.Elatemmaisconhecimentoquenósporqueémaisantigaquenós.Veja-acomoumapoderosa inteligêncianegativacompletamenteperdidanoseuódioporDeus.Aofazer isso,vocêcomeçaráacomporoquadrodoqueérealmenteoespíritodemoníaco.”Talveznenhumobjetoilustredemaneiramaisvividaa“sabedoriamaligna”doespíritodemoníacoque

oantiquíssimoespelhodeconjuraçãode1,5metroquependedaparedepróximaaoescritóriodeEd.Nãosepodedeixardenotarosornamentosdasuamoldurainsculpida,maseleéqualquercoisa,menosumestimadoobjetodearte.Emvezdisso,oespelhoestásoboolharvigilantedeEdWarrenporqueéumobjetoprofano.“Hojeemdia”,explicaEd,“aúnicafamiliaridaderealqueaspessoastêmcomamagiadeespelhos

derivadarimadeBrancadeNeve:‘Espelho,espelhomeu,existealguémmaisbeladoqueeu?’.Mas,nopassado,bruxasefeiticeirosusavamespelhosparapreveremanipulareventosfuturospormeiodemagia—nãoilusão,masmagiagenuína,averdadeiramanipulaçãodanaturezaedosacontecimentos.Aqueleespelhoornamentadoaoladodaminhaportaveiodaresidênciadeumvingativohomemde55anos,daPensilvânia,chamadoStevenZellner,queousavaparapraticarumritualmedievalpoucoconhecidoaquechamamosspeculum,oumagiadeespelho.“Agora,amagia,comoabruxaria,podeserusadaparaproduzirtantoefeitosbonsquantoruins.Esse

homem usava o espelho como instrumento demagia negra. Primeiro, ele realizou um longo ritual deencantamentoourecitouumalongafórmuladeconjuração,convidandoomundoespiritualparaajudá-loamanipularofuturo.Feitooencantamento,eleentãodirecionavaoolharparaoespelho,usando-oquasedamesmaformaqueseusaumaboladecristal:comopontodeconcentração.“Quandoousoupelaprimeiravez,Stevenviumuitopouconoespelho,nadaalémdamovimentaçãode

formasborradas,oupequenosincidentesrápidosquenãosignificavamnadaparaele.Porém,diaadia,semanaasemana,quantomaiseleconcentravasuaatençãonoespelho—ouseja,quantomaisabriasualivrevontade à experiência—,mais controleStevenganhava e, emconsequência,mais ele conseguiaver.Porfim,apósrealizaresseritualspeculumobsessivamentepormuitosmeses,osr.Zellnerchegouaopontoemquebastavadeclararoquequeriaverparaqueaimagemdesejadaaparecesse.“Finalmente, depois de ter concluído o ritual, ele conseguia de fato sintonizar o futuro sempre que

quisesse.Ohomempodiaver—erealmentepredizer—eventosdoseuinteressequeocorreriamumdia,ummês,atéumanomaistarde.Mas,comoensinaoditado,‘opodernosescravizaatodos’,e,empoucotempo, ele decidiu tirar proveito desse poder oculto. Dando um passo adiante, ele passou a projetarpessoas no espelho. Invariavelmente eram pessoas de que o sr. Zellner não gostava — que eleselecionavaparasevingaroupunir.QueDeusajudeoaçougueiroquetenhapassadoapernaemStevenZellner!”,brincaEd.“A fimde aplicar a própria forma de justiça, Steven escolhia uma vítima, cuja imagem surgiria no

espelho.Oindivíduo,quenãosuspeitavadenada,eravistoemalgumasituaçãofuturareal.Então,tendoa vítima literalmente diante dos seus olhos, Steven decretaria, pela sua vontade, que um infortúniorecaíssesobreaquelapessoa.Porexemplo,elevia suavítimadepé,noaltodeum lancedeescadas.Nessasituação,seelequisessefazê-lacairdasescadasequebrarumbraço,bastavaqueeledesejassevertalacontecimento.Aoexecutaressetipodemagia,ohomemdefatoenxergavaaconcretizaçãodasuajustiçarancorosanoespelho,exatamentecomoeleplanejava—algomaisoumenoscomoassistiraumarepriseinstantâneaantesdeaaçãoocorrer.“Umtruqueengenhoso,nãoé?Mashaviaumporém.Essesatosmaléficosnãoaconteciampelosimples

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poder da vontade de Steven; eles seriam realizados por espíritos inumanos que ele comandava comoparte do ritual. Para fazer a vítima cair das escadas, o espírito inumano iria momentaneamentedesorientarapessoa,aportarumpoucodegraxaemumdegrauouchegariamesmoadarumempurrãopsicocinéticonavítima—eentão,ploft!“Noentanto,emalgummomento,Stevencometeuumerro,eamagiacomeçouadarerrado.Nãotenho

dúvidasdequeelenegligenciouapartedoritualemquetinhadeprestarhonrasaSatã.Emconsequência,omal que ele pretendia infligir aos outros começou a recair sobre ele. Contudo, isso foi apenas umagravosecundário,poisosespíritosqueelehavialiberadoparaatormentarosseusinimigostinham,emvezdisso,infestadoacasadeleeseocupavamativamentedeoprimi-lo.Ouviam-sepassossemcorpoerespiraçõespesadasnacasaque,nomais,estavavazia.Portasseabriamsozinhas.Objetoslevitavamoueramarremessadospelocômodopormãosinvisíveis.Barulhossobrenaturaisoacordavamnomeiodanoite.Emsuma,umapresençainvisívelperambulavapelolocal,enãohavianadaqueelepudessefazerarespeito.“Depoisdemaisoumenosuma semana, essehomemestava tãoaterrorizadoque telefonouparaum

eminenteoficialcatólicoaquino lestee implorouqueeleenviasseumdemonologistaàcasadele.Noentanto, em vez de enviar para lá um sacerdote ocupado, aquele oficial eclesiásticome contatou emConnecticut e perguntou se eu poderia investigar o caso e tentar acertar as coisas. Naquela ocasião,Lorraine e eu estávamos trabalhando com uma agenda apertada, mas, para nós, as pessoas vêm emprimeirolugar.Então,canceleiorestantedosnossoscompromissosnaqueledia,inclusiveaparticipaçãoemumimportanteprogramadeentrevistas,eparticomaminhaesposa,decarro,paraonortedeNewJersey.“Quandochegamosaoendereço,encontramosumhomemabsolutamenteempânico.Éclaro,eletinha

todoodireitodeestar.Portasabriamefechavamsozinhas.Objetosvoavamaquieali,pelacasainteira.Acadaminuto,algumacoisacolidiaeseespatifava,ouricocheteavaemumaparede,acertavaochãoese estraçalhava—uma verdadeira balbúrdia!A certa altura, durante a tarde, até omeu carro acabouenvolvido.Maisoumenosumahoradepoisdechegarmoslá,oscarrosnaruacomeçaramabuzinar.Aoolharpela janela,vionossocarroatravessadonomeiodavia,bloqueandoambasasfaixasdetráfego.Quandochegamos,estacioneiocarronaentradadagaragemdosr.Zellner,puxeiofreiodemãoetranqueasportas.Mesmoassim,alguémna ruadisse tervistoocaemdescerde ré, sozinho.Quandosaíparapegá-lo,éclaro,asportasdocarroaindaestavamtrancadaseofreiodemãoestavapuxado.“De qualquer forma”, continuaEd, “era evidente que eu terá que fazer alguma coisa ainda naquela

tardeparainterromperaperturbação.Emumasituaçãocomoessa,amelhorsoluçãoé‘apunhalarodiabocom a própria força’, por assim dizer—portanto, o que eu precisava fazer era reverter o ritual queSteven havia realizado. Eu o fiz, correndo considerável risco, mas isso colocou um fim imediato naatividade,etambémanulouqualquermalefíciofuturoqueohomemtivesseprojetado—porqueoritualreversoobrigavaoespíritodemoníacoarealizaromalefíciopelasuaprópriacontaeresponsabilidade,ouentãofazercessartotalmenteaopressão.“Naquelatarde,aoterminarmosotrabalho,osr.Zellnerquissabersepoderíamoslevaroespelhode

conjuração conosco quando fossemos embora. Eu disse: “Claro”. Assim, aomenos eu sabia que nãoprecisaria,voltaraomesmocasopelasegundavez.Então,coloqueioespelhonoporta-malasdocarro,eLorraineeeupartimosdevoltaparacasa,poucoantesdeescurecer.“Quando eu era jovem e inexperiente em relação aos perigos deste trabalho”, diz Ed, “busquei a

orientaçãodepessoasbastanteversadasque,muitotempoatrás,jáhaviamaprendidoossegredosmaisprofundosdestemundo.Àquelaépoca,umhomemextremamentesábiomedisse:‘Ed,eujamaisentrariaemcasasparaconfrontarotipodeentidadesquevocêconfronta,qualquerquefosseomotivo—eemespecialquandosetratadodemoníaco.Umavezquevocêcruzaolimiareentranomundodastrevas,vocêpassaaviverparasempreemperigo,etambémaquelesaquemvocêama.Gosteounão,vocêserá

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único—esolitário—entreoshomens.Nuncaseesqueça:as forçasdiabólicasquevocêdesafia sãoastutas,pois,aocontráriodequalquermortal,elaspossuemasabedoriaeoconhecimentodaseras’.“Fazia um frio terrível naquela noite. As ruas tinham placas de gelo, então seguimos devagar. Eu

também sabia que a remoção do espelho havia enfurecido certos espíritos perversos e que isso metornavaobjetodairadeles,então,fizquestãodeserextracautelosoaodirigir.Bemcomousemcautela,aunsoitoquilômetrosdacasadohomem,passeiporumburacopequenonaestrada.Emcircunstânciasnormais,Issonãoteriatidonenhumaimportância.Porém,naquelaocasião,estourouumpneuradialnovo,decemdólares—coisaquaseimpossíveldeaconteceremumincidentedesse.IssofezocarrodarumaguinadacInvadirafaixadetráfegocontrária.Carrosfreavamedesviavam,deixandodenosacertarporumtriz.Foiummilagrenãotermosmorridoalimesmo.“Depoisdetrocaropneu,volteiparaaestrada.Umaenormecarretaapareceuatrásdagente,saiupara

aesquerdae,então,entrounafaixaemqueestávamos,bemnanossafrente.Logonoteiquehaviaalgumacoisa estranha com relação àquele caminhão: ele não tinha letreiros, placas ou qualquer tipo demarcação.Derepente,apesardeestarmosemumapistaseca,ocaminhãocomeçouaespirraremnossopara-brisa litrosdeumagosmaverdeegelatinosa, tornando impossívelqueeuenxergasse lá fora.Oslimpadoresdepara-brisamal conseguiam retirar aquela coisa.Quandoconsegui enxergaroutravez, ocaminhãohaviadesaparecido.Noentanto,assimqueopara-brisaficoulimpo,essemesmocaminhãonosultrapassoupelaesquerda,entrounanossafaixa,nanossafrente,eprovocouamesmaconfusãooutravez.“Quandoissoaconteceupelaterceiravez,ficouóbvioquealgumacoisasinistraestavaacontecendo,

então,pareinabeiradaestradaedeixeio tráfegoseguirenquantoeu limpavaasujeiradopara-brisa.Cinco minutos mais tarde, depois de já termos voltado à estrada, exatamente o mesmo caminhão seaproximou, passou pela esquerda, entrou de forma brusca e descuidada na nossa faixa, bem na nossafrente e, no mesmo instante, começou a espirrar litros daquela gosma verde e espessa. A substânciaatingiu apenas o nosso carro e, quando consegui recuperar a visibilidade, o caminhão haviadesaparecido,comoantes.Coisassemelhantesjáaconteceramconoscoquandoestávamosindoaoutrasinvestigações ou voltando delas. Nunca tinha sido aquela coisa verde antes, mas nosso carro já foiinundado com aguaceiros de urina e— em uma ocasião— cerveja. Como sempre, apenas o carro éatingido.“Dequalquerforma,essenegóciocomocaminhãoserepetiupelomenosmeiadúziadevezes,enão

haviamodo de eu conseguirme livrar dele— ou daquilo. A situação era tão perigosa que tínhamoscerteza de quemorreríamos. Enfim consegui sair da estrada na primeira oportunidade, e peguei umarodoviasecundáriaquelevavaatéConnecticut.“Tudo correu bem pormais oumenos uma hora depois daquilo”, prossegue Ed. “Quase não havia

tráfegonaquelaestradasecundária,entãonossentimosbastanteseguros.Mas,derepente,nomeuespelhoretrovisorinterno,noteiumcarroatrásdenósqueseaproximavaaumavelocidadetremenda.Jáestavaescuroàquelaaltura,masaqueleveículonãotinhanenhumfarolaceso!Aúnicacoisaqueeuconseguiadistinguireraumpardeluzesdepresençafracas.Emumafraçãodesegundo,ocarronosalcançou,jogouparaa faixadeultrapassagemeseguiua todavelocidadepelaestrada.Eraumcarropreto-azeviche,ejuroqueomotoristanãonosatingiuporumtriz.Lorraine,olhandoparaocarroquedisparavaadiante,disse que era como se o próprio diabo tivesse acabado de passar! ‘Bem, pode ser’, eu disse a ela,'porqueomalditoidiotaquasenosmatou.’Ocaraeramaluco,dirigindoàquelavelocidade,ànoite,emumaestradacobertadegeloenenhumfarolaceso."Continueinomeucursoenquantoessecaraseguiarasgandopelaestradaànossafrente.Aolonge,euo

vipassarsobreumapontesuspensadeumaúnicafaixa,ecomeçarasubirumacolina.Aúnicacoisaqueconseguiaverdaquelecarropretoeramasluzesdepresençatraseiras,efiqueifelizpormelivrardele.Porém,quandoelechegouaoaltodacolina,maisoumenos1,5quilômetroàfrente,euovifrear,girarocarronadireçãocontráriaedesceracolinaemgrandevelocidade.Umasensaçãohorrorosa,denáusea,

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tomoucontademim.Euconseguiapensarapenasquesofreríamosumterrívelacidente.“Agora, eu já havia entrado naquela estreita ponte suspensa. Mas, no tempo em que eu havia

percorridonãomaisdeumterçodela,aquelemalucojátinhadescidoacolinaatodavelocidadeeestavaentrandonaoutraextremidadedaponte!‘Oqueéisso?’,lembroquedisseamimmesmo.‘Essecaraestáemalgumtipodeviagemparaamorte?’“Comaquelecarroavançandoemaltavelocidadenanossadireção,nãohaviapossibilidadededar

marcha a ré e deixá-lo passar.Ao contrário— se ele não parasse imediatamente, nós bateríamos defrente!Maselecontinuavaavançando!Aponteformavaumarco,comoumcavalete,sobreumaravina.Seeuvirasseparaaesquerdaouparaadireita,nósteríamosmergulhadonovaleemorrido,comcerteza.Quandomeus faróis iluminaramagradedo radiadordaquele carro,griteiparaLorraine se abaixarnoassoalho. Porque, na certa, ali vinha aquele maníaco já no meio da ponte, correndo direto na nossadireção.“Eleestavaa145km/h.Euestavaa65km/h.Àquelaaltura,mesmoquenósdoistentássemosparar,a

inérciaaindalevariaoscarrosaumacolisão.Eraumasituaçãosemsaída.Mesmoassim,eutinhaquefazer alguma coisa. Restando cinco segundos para batermos, minha vida se reduziu a uma perguntasimples:Devodesviarouseguiremfrente?Noúltimoinstante,algomedissecontinueemfrente”“Jánãohaviatempo.MinhasúltimaspalavrasparaLorraineforam:‘InvoqueSãoMiguel!’.Faltando

doissegundos—e,nessassituações,vocêpensaemtermosdetempo,nãodedistância—meusbraçosestavamfirmesnovolanteeeuestavaprontoparaabatida.Umsegundoantesdacolisão,inspireiumaúltimavez.Então, bemno instantedo impacto... SSSHHHHH!Eraumcarro-fantasma! Lorraine tinharazão."Autores religiosos sempre chamaram o espírito demoníaco de “gênio maléfico"— uma referência

veladaàestratégiapremeditadaquepodeserdiscernidaquandooespíritodemoníacoéresponsávelporperturbações em uma casa. Portanto, em uma investigação, é principalmente essa inteligência— umaforçaracionalativaportrásdosfenômenos—queodemonologistabusca.Emvirtudedanaturezaextraordináriado trabalhodeEdeLorraineWarren,aestratégiadoespírito

demoníaco costuma também envolver a ambos. Na verdade, ela chega a ter início antes que o casalrecebaumasolicitaçãoparaentraremumainvestigaçãoousesegueaumtelefonemacomumpedidodeajuda.Edexplicaumrecenteatodevandalismoqueocorreunoseuescritório:“Isso acontece umas duas vezes por ano, em geral depois do pôr do sol. Da última vez, porém,

aconteceu em plena luz do dia. Lorraine e eu estávamos na cozinha, depois do almoço. Primeiro, otelefonetocou.Lorraineatendeu,mas,comonãohavianinguémnalinha,eladesligou.Maisoumenosumminutodepois,otelefonetocououtravez—noentanto,emvezdostoquesintermitentesnormais,osomeracontínuo.QuandoLorraineatendeu,umrosnadoguturaleanimalescosefezouvirnalinha.“Elaficouperturbadaemepassouotelefone,etambémouviorosnado.Assimquedesligamos,nosso

pastor-alemãocomeçoualatirferozmenteláfora.Nessemomento,começouoque,pelobarulho,pareciaser uma briga violenta no meu escritório. Dava para ouvir móveis sendo arremessados, e o som deobjetoscolidindoequebrandoprosseguiupelomenosporunsdezminutos.Atendênciadamaioriadaspessoasteriasidocorreratéláparadescobriroqueestavaacontecendo,éclaro,masvocênãogostariadetervistooqueestavahavendoláembaixo!“Umahoramaistarde,entramosnoescritório.Eleestavacompletamentedevastado.Quadroshaviam

sidoarrancadosdasparedes, arquivos estavam revirados evazios.Livros, papéis, cadeiras, abajures,mesas—tudohaviasidojogadoemumapilhanocentrodasala.Sabemos,porexperiência,queaquilonãoeraobradesereshumanos.Aquiloeraobradodemônio.“Entenda, essas entidades são delinquentes espirituais. Eles estão sempre lá.Às vezes, você os vê

pelocantodosolhos,passandodepressadeláparacá.Outrasvezes,elesficamvagueandoentreoestadofísicoeonãofísico:semimaterializados,semforma,comoumanuvemcinza-carvão.Temosumacordo”,

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dizEdcomironia,masabsolutamentesério.“Elesnãomeincomodameeunãojogoáguabentaneles.”Então,porqueoescritóriofoivandalizado?“Neste exato instante”, responde Ed, “não sabemos por que está ocorrendo essa intensificação de

atividade,maséprovávelqueaconteçammaiscoisasestranhas—comsorte,nadasério.Essetipodecoisacostumaocorrerumaouduassemanasantesdesermoschamadosparainvestigarumcasosérioemque apresençademoníaca está envolvida.Agoramesmo, aúnica coisaque sabemos éque, emalgumlugar,alguémestá sendooprimidooupossuídopeloespíritodemoníaco.Apessoaou famíliaqueestásendoassediadaprovavelmentenãofazamenor ideiadequemsejamLorraineeeu,emenosaindadecomonoscontatar.Porém,deummodooudeoutro,elesvãoligarpedindoajuda.Noentanto,osespíritostambém sabem disso. Esse é, em parte, o motivo por que o escritório foi arrasado: para tentar nosintimidardesdejá.Comoeudigo,háummétodoeumaestratégiaemtodosessesfenômenos.”A comunidade religiosa hámuito é alvo de ataques demoníacos, e as pessoas piedosas são o alvo

preferido.CompareasdeclaraçõesdeEdWarrencomestetrechodabiografiadopadrePio:Muitasvezes,aoentraremsuacelapequenaemodesta,Pioencontravatudorevirado:oleitosimples,ascobertas,oslivroseatintadotinteirorespingadanas

paredes.Essesestranhosespíritosapareciam-lhesobasmaisdiversasformas,emgeralusandohábitosde monge. Certa noite, ele viu que o seu leito estava rodeado de monstros pavorosos [...] eles oagarraram,sacudiramelançaramaochãoecontraasparedes,comofaziamcomfrequênciaaCurad’Ars[...].Aforaoseuconfessor,elenãofalavaaninguémsobretaisvisitações.Certanoite,eleviuentrarnasuacelaummongecomasilhuetaeosemblantedopadreAgostino,seu

antigoconfessor.Ofalsomongeaconselhou-oeexortou-oadesistirdavidadeascetismoeprivações,afirmandoqueDeusnãopoderiaaprovaromododevidadele.OpadrePio,estupefatocomaspalavrasdopadreAgostino,ordenou-lhequeproclamassejuntocomele:“VivaGesu”[VidaLongaaJesus].O estranho personagem desapareceu de imediato, deixando no aposento um estranho odor

desagradáveldeenxofre[...].[2]Obviamente,ademonologiasurgiunacomunidadereligiosacomoumaproteçãonecessáriacontraessa

incrível influência sobrenatural.E embora, normalmente, o assunto sejamantido emconfidencialidadenos dias de hoje, todas as principais religiões dispõem de um clero especializado que se dedica àdemonologiaeaoexorcismo,nãocomoumresquíciodopassado (opadrePio faleceuem1968),mascomoumanecessidade contemporânea real. Para os católicos, a demonologia é um tema importante osuficientepara serensinadoaocleronasuniversidadespontificaisdeRoma.“Acomunidade religiosapreferiria não ter que lidar com o problema dos fenômenos demoníacos”, diz Ed. “Ela apenas o fazporquetemquefazer.”Enquantodisciplina,ademonologiaabrangeoestudodefilosofia, teologia,psicologia(tantonormal

quantoanormal),antropologia,química,biologia, físicaemetafísica.Umaabordagemassim tãoamplapermite que o clérigo-demonologista determine, quando outros pesquisadores não o conseguem, sefenômenosincomunssão,emúltimaanálise,deorigemsobrenatural.Taisjulgamentossãosérios:avidadepessoascostumaestaremjogo.Alémdeconhecimento,odemonologistaouexorcistaprecisaserdotadodeforçainteriorinabalávele

estar completamente no comando em situações de pandemônio irrestrito e violento. “Uma pessoa queentrasseemumasituaçãodeplenaatividadedemoníacasemautocontrole”,observaEd,“enlouqueceriaemcincominutos.Osfenômenosoatacamatravésdetodososseuscincosentidos;aomesmotempo,elesseaproveitamdasuapsicologiapessoal.Sevocêapenasvacilar,vocêfraqueja,esefraqueja,cainasgarrasdeumaforçaespecializadaematormentarosinocentes,osignoranteseoscaídos.“Eoque é pior", acrescentaEd, de forma espantosa, “esses espíritos conhecema suavida inteira:

passado, presente e, em certa medida, futuro. Na verdade, quando estou trabalhando com pessoaspossuídas,aprimeiracoisaqueaentidadepossessoranormalmentemedizé:‘EdWarren,euseiquem

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vocêé!’."Embora Ed não seja clérigo, ele realiza grande parte do trabalho do clero nessa área. “Viagens,

investigaçõesdelongaduração,análisededados,discernimentodeforçasespirituais,aconselhamento,acompanhamentoposterior—ascoisasqueocleronãotemtempodefazer—,esseéomeutrabalho,emais",dizEd.“Serumdemonologistaéalgoquenãosealardeia,entende,porqueaprópriapalavratendelogoadeixaraspessoasparalisadas.Tambémnãohámotivoparaalarmaraspessoas,emespecial seestiveremdefatoenvolvidasemumasituaçãodeatividadedemoníacaenãosaibam."Qualquerumque já tenha testemunhadoos fenômenos ignóbeiseprofanosprovocadosporespíritos

inumanos malignos sabe que um demonologista arrisca a vida sempre que entra em uma casa paraconfrontarasforçasdaescuridão.Nãoobstante,essetrabalhoprecisaserfeito.Docontrário,indivíduosque inadvertidamente caiam na armadilha do demônio acabarão vendo-se vulneráveis e sozinhos napresençadepoderesquesãoimpiedososcausadoresdeterroreviolência.E,comisso,aestratégiadoespíritodemoníacoteráapenascomeçado.Como o sr. Zellner tão habilmente colocou ao descrever seu problema a EdWarren: “Há um ser

invisíveledementeperturbadanaminhacasa,causandodevastaçãoetentandomesubjugar".Emboraelenão o soubesse na ocasião, o sr.Zellner não apenas identificou o problema comodefiniu a estratégiabásicadaforçademoníacaemumamesmaafirmação.[1] Padre John Nicola,Diabolical Possession and Exorcism [Possessão Diabólica e Exorcismo].

Rockford,III:TAN,1974.[2] PadrePio:TheStigmatist [Padre Pio:O Estigmatizado], pelo rev. Charles Carty: TANBooks,

1953.

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INFESTAÇÃO:OINÍCIODOPROCESSO

“Muitoantesdenosenvolvermosemumcaso—aliás,muitoantesdesequersabermosqueháumcaso”,dizLorraine,“eventosestranhoscomeçamaacontecer.Euoschamode‘coisinhasgrandes’.Otelefonetocará de maneira estranha e, quando eu o atender, ouvirei vozes sussurrando ao longe, ou rosnadosanimalescos, ou efeitos sonoros esquisitos. Mais tarde, quando o caso vem à tona, é provável queescutemososmesmossussurrosouefeitossonorosnolocalmal-assombrado.“Alémdisso,éprovávelqueoutrosincidentesperturbadoresnosaconteçamantesdoencaminhamento

de um caso de atividade demoníaca. Por volta demeia-noite, podemos ouvir alguém caminhando emcírculosnoalpendredafrente,ouandandodeumladoparaooutronoterraçodosfundosdacasa.Então,vamosverificar, é claro,masninguémestará ali, emboraos passos continuemaudíveis.Outras vezes,ouvimospassossubindoàspressasumlancedeescadasdentrodecasa,tentandonosassustar.Podemosverfortesfaróisdecarroseaproximandopelaentradadagaragem,seguidosdosomdepassose,então,trêsbatidasnaportadafrente.Contudo,novamente,aoverificarmos,nãohaveráninguémàportae,derepente,nãohaveránenhumcarronaentradadagaragem.Emgeral,estamossujeitosaouvirumtumultoláno escritóriodeEd, embora aportado escritório esteja trancada eos alarmes sonorosnão tenhamdisparado. Podemos estar sentados tranquilamente em casa quando passa uma lufada enregelante devento, ououvimoso farfalhar de roupas, como se alguém tivesse acabadodepassar por ali.Umgatopretopodeentrarcaminhandonasaladeestar,sesentaredesaparecer—simbolizandoumenvolvimentodemoníaco.“Duasnoitesatrás,Edfoichamadoparatratardeumassuntooficialforadacidade.Eletevequeviajar

para oMeio-Oeste, e fiquei terrivelmente apreensiva quanto à sua segurança. E exatamente às 3h damanhã, ouvi um estrondo tremendo, inacreditável, de alguma coisa arrebentando, inclusive janelasquebrandoeotinirdecacosdevidro.Obarulhoeradefatocomoseotelhadoestivessevindoabaixo!Eumelevanteiepercorriacasausandoumalanterna—porquealuzdesorientaoespíritodemoníaco—,masnãovinada.Emboranãotivesseacontecidonadafísico,aqueleestrondoaindamefaziatremerdemedo.Nãodáparaseacostumarcomessetipodecoisa!Emvezdisso,Edeeuviemosacompreenderque essas ‘manobras’ negativas, como as chamamos, fazem parte de uma estratégia maior, maisabrangente,daentidadedemoníaca—estratégiaquejáestáemfuncionamentoantesmesmosdesermoschamadosaintervir.Éapenasemretrospectiva,depoisdeocasotersidosolucionado,quearelaçãocomessesincidentesperturbadoresficaclara.Noentanto,oquerealmentesabemosdeantemãoéquealgumapessoaoufamíliaestásendoassediadaporumespíritoquenãoquerinterferênciasefarápraticamentequalquercoisaparanãoserdetectado.”Àmedidaque se aproximaomomento emqueosWarren se envolverão emumcaso específico, as

obstruçõeseinterferênciasnasuavidatornam-secadavezmaisostensivas.Sealguémestádesesperadopor ajuda e envia uma carta, é possível que ela seja entregue no endereço errado. Se alguém tentatelefonar,oaparelhonãovaitocar,emboraEdeLorraineestejamemcasaedisponíveis.Mensagensdevozdeixadasnasecretáriaeletrônicadocasalestranhamentenãoserãogravadasouestarãodistorcidas

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por intensa estática.Umavezque amensagemconsiga chegar aosWarren e eles partamparao local,pode-seesperarquequalquercoisalhesaconteçanocaminho,inclusivecolisõesdefrentecomcarros-fantasma.E,comoobservaLorraine:“Quandovistasde forma isolada,nenhumadessasobstruções fazqualquersentidonaocasião;elasparecemnãopassardecuriosascoincidências.E,repito,apenasdepoisdo fato,quandooquadro totaléanalisado,équeosatrasoseasobstruções semostrampartedeumaestratégiamaisampla”.Informa-nosodicionárioqueestratégiaéummeiodesuperaremastúcia—portruqueseartifícios—

a fim de obter uma vantagem. O espírito demoníaco provou ser classicamente ummestre estrategistacontraohomem.Fazendo-sepresentesemuminstanteedesaparecendonoseguinte,pormuitotempoascomplexas manipulações desses famigerados espíritos permaneceram um mistério. No passado, fatosacercadomodusoperandidaentidadeerampoucoseseparadosporgrandesintervalos.Nãodispondodelivrosneminstrumentosdedetecção,mongescclérigospodiamtãosomentemanterrelatosmanuscritosdeperturbaçõesdiabólicasparaopossívelusodefuturoshistoriadores.Agora, contudo, após séculos de pesquisa e investigação, enfim começou a transparecer umpadrão

paraocomportamentodemoníaco.Emconsequência,odemonologistadoséculoXX—comoauxíliodelivros,tecnologiaecomunicaçãodemassa—temamaiscompletacompreensão,atéhoje,dasestratégiasemotivosostensivosdessasentidadeselusivas.“Existem três estágios distintos da atividade demoníaca”, revela Ed, “infestação, opressão e

possessão. Em alguns casos raros, a morte pode ocorrer como um quarto estágio ou no lugar dapossessão.Seninguéméchamadoapôrumfimnaatividadedoespíritoeaperturbaçãoficalivreparaseguirseucurso,entãoépossívelpreverquecadaestágioocorreránaordem1-2-3.“Duranteoestágiodeinfestação,aestratégiaéprovocarmedo—edessemodogerarenergiapsíquica

negativa—, o que começa a fragilizar a vontade humana.As crianças Foster vivenciaramo primeiroestágiodofenômeno,ainfestação,assimcomoosr.Zellner.Ocasocomabonecadepano,Annabelle,tambémteriaqueserclassificadocomoinfestação.Emboraessescasosnãoprecisassemteracontecido,elesilustramqueosfenômenosdemoníacosnãotendemaocorreramenosqueumindivíduodêalgumaespéciede‘permissão’paraqueumespíritoentrenasuavida.Asportastêmqueestarabertasparaqueofenômenoaconteça”,afirmaEdcomveemência.Portanto,emtermosleigos,oespíritodemoníaconãotemlivredomíniosobreohomem.Emvezdisso,

peloexercíciodoseulivre-arbítrio,homensemulheresescolhemabriraportaparaodesconhecidoe,então,seguemocaminhosombrio.ComoexplicaEd:“Oespíritodemoníacoéumespíritoqueaspessoasnão precisam conhecer. Especificamente, é uma questão de necessidade versus vontade.Um fantasmaprecisacomunicaroseuproblema,ou fazumavisita,na formadeaparição,paradar informaçõesqueumapessoavivatalveztivessequesaber.Oespíritodemoníacoédiferente:elesefazpresenteporqueaspessoas,pormeiodopróprio livre-arbítrio,queremouconvidamumcontatoespiritualquandonãohánecessidadedisso.Comrelaçãoaisso,aplicam-seduasleis:aLeidaAtraçãoeaLeidoConvite.“ApremissadaLeidaAtração”,explicaEd,“ésemelhanteatraisemelhante.Daratençãoaopositivo

atraiopositivo;daratençãoaonegativoatraionegativo.Portanto,pessoasquefazemcoisasnegativasouclaramente contrárias à natureza estão basicamente ‘fazendo o trabalho doDiabo por ele’ e, de fato,atraem espíritos negativos para junto de si. Eles estão namesma frequência, por assim dizer.O casoAnnabelle é um bom exemplo. Aquelas garotas tinham um vínculo inocente, mas não natural, com aboneca;essafaltadebomsensofoipercebidapeloespíritodemoníaco.Umavezali,elepassouaatuareoprimiuasgarotasparaqueconsultassemumamédiumeacreditassemnamensagemfalsa.Emsuma,asjovensderamcartabrancaparaque‘Annabelle’entrassenavidadelas.Seocasotivesseidoadiante,orapaz,Cal,correriaumriscorealdeseferirdeformabemséria,issosenãofossemorto;easgarotaspoderiamtersidopossuídaspelaentidade.”

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“Como extensão da Lei daAtração”, acrescenta Lorraine, “o espírito demoníaco também pode sertrazidocomo resultadodas açõesdeumapessoa.Tipicamente, transgressõesnumerosas egratuitasdobem—maldadespraticadasdemaneiravoluntáriaporumhomemcontraoutro—sãoumavitóriadomale atuam como um sinal a espíritos negativos. Quando um indivíduo sente satisfação ao cometer atoscruéiseperversos,avibraçãodoseucorposealtera,oqueresultaemumaauradecormaisescuraqueonormal. Assim como um tubarão segue l um rastro de sangue, a mudança na aura atrai um espíritonegativoparajuntodapessoa.”A atração também pode ocorrer quando um indivíduo demonstra um lapso ao permitir que o seu

autocontrole vacile. Como coloca Ed: “Se você não consegue se controlar, então alguma coisa vaicontrolá-lo.Ódio, ira, desespero, tristeza profunda, embriaguez e uma sensação de inferioridade comtendênciassuicidasvãoatrairodemoníacoemumestalardededos.Ohomemnãorecebenenhumbuquêdo demônio: esses espírito está ali apenas para promover a destruição dele”. Em suma, o espíritodemoníaco costuma ser atraído por ações e tendências de pensamento incompatíveis como bem-estarsaudávelepositivo.“Pela Lei do Convite”, prossegue Ed, “a coisa é ‘peça e receberás’. Uma pessoa pode

deliberadamente invocaroespíritodemoníacopormeiodeumritualouviaumcanaldecomunicaçãosincero.Esseéumgestoostensivoevoluntário,queenvolvemagiacerimonial,encantamentos,sessõesespíritas, o uso do tabuleiro Ouija ou rituais profanos secretos em que o indivíduo voluntariamenteconvidaumapresençademoníacaparajuntodesi.Realizarumdosrituaiscostumaseroprimeiropassoemumcaminhosemvolta.Aconjuraçãopodeserumatoparticular,feitonaprópriacasadoconjurador,ou—comoéanovamoda—empúblico,comumdoscrescentescultosdesatanismoouconciliábulosdebruxasdemagianegraquedefendemtalatividade."Qualéarelaçãoentrebruxaria,satanismoeoespíritodemoníaco?‘Primeiro,vamosentenderoqueéabruxaria",respondeLorraine.‘Awicca—oubruxaria—tem4

mil anos e é normalmente chamada a ‘religião antiga porque antecede tanto o judaísmo quanto ocristianismo.AspessoasquepraticamawiccasãoconhecidascomobruxasdemagiabrancaeveneramaMãeTerra.Elasmanipulamforçasnaturaispararesultadospositivos—cura,boasorte,amorduradouroecolheitasabundantes.Alémdisso,noentanto,vocêcomeçaadesviarparaamagiacinzenta,amagianegraeosatanismo.Éaíqueosproblemassurgem,porqueabruxariaéumaviademãoduplaepodeserusadaparaalcançarfinspositivosounegativos.“Amagia cinzenta recebe esse nome por causa dos seus efeitos. A bruxa cinzenta lança feitiços e

manipula o destino e a sorte das outras pessoas de uma forma que não é nem inteiramente boa, nemtotalmentemá.Emessência, amagiacinzentaé realizadacomo intuitodeproporcionaraumapessoaumavantageminjustasobreoutra.Overdadeiroproblema,porém,estánamagianegraenosatanismo.Abruxademagianegrabusca recompensas terrenas—dinheiro, sexo,poder,prestígio—oua ruínadeadversáriospormeiodoauxílioexpressodeforçasdiabólicas.Essasbruxaspodemrecorrerademôniose diabosmenores durante os seus rituais. Já os satanistas recorrem à hierarquia satânica—Astaroth,BelzebueatéLúcifer—paraintercederemseubenefício.Paragarantirpodereefetividade,asbruxasdemagianegratrabalhamassociadasaespíritosdemoníacosespecíficos,aopassoqueosatanistavaiatéofimeveneraSatãcomoumdeus.“No passado, os rituais negativos envolviam tudo, desde o assassinato de bebês até pactos com o

próprio Diabo. Nos rituais mais extremos, os celebrantes viravam a Bíblia de cabeça para baixo eurinavamnela,começandoemseguidaumamarchaemsentidoanti-horário,formandoumcírculomágicoenquantoentoavamblasfêmias,renúnciasaDeusesubmissãoaooutrosenhor,Satã.”“Valendo-se de rituais profanos, os satanistas e as bruxas de magia negra são capazes de invocar

espíritos demoníacos específicos e ordenar que cometam atos que tragam benefícios tanto pessoaisquantoparaogrupo”,observaEd.“Dinheiro,prestígio,conquistassexuais, riquezasmateriais,enorme

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poder pessoal e a quedade adversários pormeiode feitiços emaldiçõespodem ser alcançadospelaintervenção de forças espirituais inumanas. No entanto, o espírito demoníaco é um agiota, e ele nãoapenascobraantesquevocêestejapreparado:elequeropagamentoemdobroporaquiloquedá.Emúltimaanálise,elequerasuaalma.Éporissoquefeiticeiros,bruxasdemagianegraesatanistasacabampagandoumaltopreço,talvezumpreçoeterno,poraquiloquefazem."Hojeemdia, indivíduossolitáriosquerealizamritosextraídosde livretoscompradosembancasde

jornal podemnão estar preparados para a realidade aterradora emgeral destinada a encontrá-los pormeio daquilo a que Ed chama lei cósmica. “Foi isso o que aconteceu no caso Foster”, diz Ed. “OverdadeiroiníciodocasoteriaqueseridentificadocomoodiadeNatalde1977,quandoamãecolocouumlivrodeconjuraçõesdebaixodeumaárvoredeNatal,acreditesequiser!Háumgrandesimbolismoaí.Assim,elafezoconvitebásicoparaqueoespíritodemoníacoentrassenacasadela.Sejacomofor,foiMegquemdeuapermissão.Seelativessedevolvidoolivroouojogadofora,nenhumdosincidentesinsólitos teria acontecido.No entanto, pela própria livre vontade,Meg realizou os rituais formais deconvitequecolocaramoprocessoemmovimento.”QuandonemaLeidaAtraçãoenemaLeidoConviteatuam,entãoainfestaçãoespiritualdeumacasa

jádeveterocorridoantesdeosnovosmoradoresseinstalarem.IssoaconteceunocasoAmityville,porexemplo,noqualafamíliaLutzcaiuemumaarmadilhasobrenatural.Curiosamente,osWarrenafirmamqueessaéaformapelaqualamaioriadas*pessoascomunsentraemcontatocomfenômenosespirituaisinumanos. Não obstante, mesmo em uma casa infestada, nem todas as pessoas estarão vulneráveis àinterferêncianegativa.“Umapessoafelizeequilibrada”,dizLorraine,“teoricamentebloqueiaaentradadeforçasnegativascomasuadisposiçãopositiva.Poroutrolado,assimcomoumamoscaéatraídaparao papel pega-mosca, uma pessoa melancólica e deprimida em uma casa infestada é quase que umagarantiadeproblemas.Namaioriadasvezes,porém,ofenômenoéconvidadoparaavidadealguémpelapermissãodadaparaqueosespíritosentrem.”Dequemaneirasessapermissãopodeserdada?“Pela abertura de canais de comunicação que deveriam permanecer fechados”, responde Ed.

“TabuleirosOuija,sessõesespíritas,cerimôniasdeconjuração,rituaiscomvelas,instrumentosdeescritaautomáticasãoportasqueseabremparaosobrenaturale,maiscomumentedoquesepensa,levamporumcaminhodeinfortúnio,terroreruína.“OtabuleiroOuijajáprovouserumafamigeradachavemestraparaoterror,mesmoquandoaintenção

dacomunicaçãoédenaturezaabsolutamentepositiva”,ressaltaeledeformaenfática.“Detodososcasosaqueatendemos,quatroemcadadezenvolvemindivíduosquecontataramespíritosinumanospelousodeumtabuleiroOuija.FuiumadaspoucaspessoasqueexaminaramosregistrosoficiaisdocasoretratadonolivroOExorcista.Aquelecaso,que,apropósito,aconteceuaumgaroto,nãoaumagarota—ocorreuem1949e,sabecomoelecomeçou?ComousodeumtabuleiroOuija!“Emsimesmo,oOuijanãoénada”,acrescentaEd.“Nãopassadeumpedaçodepapelãoprensado

comoalfabetoescritonele.Omesmoefeitopodeserobtidocomumataçadevinhoemborcadasobreumamesaencerada,comosecostumavafazernadécadade1930.Porém,emqualquerumdoscasos,éummeiodecomunicação.Epoutraspalavras,oproblemaéparaqueseusaoobjeto.Quandovocêusaotabuleiro Ouija, dá permissão para que qualquer espírito desconhecido se comunique. Você abriria aporta da frente da sua casa e deixaria entrar qualquer umque o quisesse?É claro que não. Porém, éexatamenteissooqueestáfazendoemnívelsobrenatural.SãoraríssimasasocasiõesemqueLorraineeeu encontramos alguém que tenha tido uma experiência verdadeiramente positiva ao usar o tabuleiroOuija.Paraaquelesquaseviciadosno tabuleiroequepensamestaremcontatocomo ‘divino’,nuncahouve,atéondesei,umaúnicasituaçãoemqueumespíritoangelicalpositivotenhavindoaumtabuleiroOuija comuma genuínamensagemprecognitiva.Como já dissemosmuitas vezes, antes que amaioriadessasatividadesocorra,éprecisoqueseabramasportas.O tabuleiroOuijaéumamaneirade fazer

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isso.”“Omesmoproblemaacontececomsessõesespíritas”,observaLorraine.“Quandopessoascomunsse

envolvememcomunicaçõescomentidadesespirituais,simplesmentenãoháqualquergarantiaquantoaquemouoqueestásecomunicandodooutrolado.Acomunicação‘àscegas’éaoportunidadeperfeitaparaumespíritoenganadorentrarnavidadeindivíduoscrédulos.”Maséimpossívelfazercontatocomamigoseparentesquejáseforam?“Sevocêtemseis,oito,dezpessoasconcentrandoamentenacomunicaçãocomosespíritos”,dizela,

“entãoháumaenormeprobabilidadedequeacomunicaçãoaconteça.Mas,aindaassim,vocênãosabecomoqueestásecomunicando.Geralmente,asinformaçõespodemserverificadasporumaúnicapessoaàmesa.Contudo,comosaberqueas informaçõesnão foram transmitidasao indivíduoporumespíritonegativo—atravésdatelepatia—antesdeaperguntaserfeita?“Alémdisso,nem todapessoaque falece ficanecessariamentepresaà terra e àdisposiçãopara se

comunicarcomvocê.Afimdeseconduzirumasessãoespíritadeformaadequada,vocêdeveprimeiroterumarazãomuitoboaparaisso.Deveterconsigoummédiumprofissionalexperientequevenhaporrecomendaçãodeumaorganizaçãodepesquisapsíquicadeboareputação.Umclarividente localbem-intencionadomasingênuoouummédiumamadorpodemfazercontatocomespíritos,masnãoconseguiránecessariamentediscernirseoespíritoemquestãoébom,mauouindiferente.Nessecaso,tomoadizer,vocênãosabedefatocomquemestáfalando.“Outroponto:umasessãoespíritadeveserrealizadaduranteodia.Emgeral,espíritoshumanostêma

mesma capacidade de se comunicar durante o dia”, explica Lorraine. “Sessões espíritas realizadas ànoitemuitocomumentetrazemespíritoshumanosnegativosouespíritosdemoníacos—àsvezesporqueoindivíduoque está realizando a sessão já foi oprimido, de antemão, a fazê-la nas horas de escuridão.Quantasvezesvocê jáouviufalardemesasdesessõesespíritasseerguendonoaresemovendopelasala?Fantasmasnãotêmopoderdeerguermesas,aindaqueoquisessem.Apenasduascoisaspoderiamfazer isso: um espírito inumano ou, o que é mais provável, a energia psíquica gerada pelas pessoassentadasaoredordamesa.“Aquestãoé,sevocêtemumanecessidaderealdesecomunicarcomlpoutrolado,issodeveriaser

importante o suficiente para você buscar a ajuda de um especialista autorizado. Do contrário, teráproblemassenãotomarcuidadosquedevemantecederumasessãoespírita."Umavezdadaapermissão,querpormeiodaLeidoConviteoudaLeidaAtração,restaverificarsea

infestaçãodefatoocorreu.Emcasoafirmativo,osWarrendizemqueissoseránormalmentenotadocomoumaumentogradualdepequenosincidentesaolongodeumperíododesemanasouatémeses.“Duranteainfestação,aestratégiadoespíritodemoníacoécausarmedopormeiodeincidentescom

fenômenos inexplicáveis", conta Ed. “A atividade prevalecerá sobretudo durante as horas de maioraberturapsíquicadanoite,entre21he6h,comopicoocorrendoentre1he5h.Osprimeirosincidentesdaatividadetenderãoaacontecerexatamenteàs3hdamanhã.Essehoráriosimbólico,o‘meio-dia’dodia demoníaco, é escolhido como um gesto de zombaria, porque está em direta oposição ao horáriotradicional da morte de Jesus. Ocorrida a infestação inicial, os fenômenos vão tender a irromper aqualquer horário após o pôr do sol. Se o espírito infestador puder absorver energia durante as horasclarasdodia,aatividadetambémpoderáocorrerduranteesseperíodo,emboraemmenorgrau.“Noentanto,aolongodosestágiosiniciaisdainfestação,oespíritoemgeralfaztremendosesforços

paradisfarçarasuaatuação”,acrescentaele.“Nãoédointeressedoespíritoinfestadorserdescobertoprematuramente.Portanto,aatividadenãochamarámuitaatençãoenquantooespíritoseestabelece.Emgeral, as pessoas ignoraram os fenômenos implausíveis, considerando-os acasos inesperados,coincidências ou ilusões naturais. Nomáximo, a atividade insólita será atribuída à psicocinese ou àatuaçãodeespíritoshumanosatormentados.Namaioriadasvezes,essejulgamentoestácorreto.Porém,naquelas raras situaçõesemquehá forças inumanasnegativaspor trásdaatividade,aatuaçãodeuma

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inteligênciasinistraaospoucosficaráevidente.”VistoqueocasoFosterilustraoestágiodeinfestaçãonasuaformamaisfácildeserreconhecido,vale

apenadedicaralgumtempoàanálisemaisdetalhadadocaso.“Paracomeçar”,dizEd,“nãohouvenenhumamaterialização,antes,duranteoudepoisdocaso,deum

espírito humano preso à terra. Em vez disso, os fenômenos exteriores refletiam a intervenção de umespíritoinumano,umavezqueumfantasmanãoteriasidocapazdeprovocaramaiorpartedasestranhasocorrências.Alémdisso,nãohavianadadealeatóriocomrelaçãoàatividade.Narealidade,emvezdeserumamanifestação-dissipaçãofortuitadeumfantasma,aquelaatividadeeradinâmicaeorientadaaumobjetivo,oquesugereumaestratégianegativa.“Alémdisso,aatividadedespertoumuitomedo.Esseéumsinalclarodeumapresençademoníaca,

porque espíritos inumanos precisam domedo para semanifestar, ao passo que os fantasmas não. OsfenômenosviolentoseperniciososnocasoFostertinhamointuitodeassustar.IssoficouevidentequandoMeg me disse: ‘Quanto mais medo eu sentia, mais alta ficava a barulheira aqui embaixo’. Percebe?Apenas quando o indivíduo nota que alguma coisa estranha está acontecendo é que os fenômenoscomeçama ficar assustadores.Neste caso,Meg sentiuum toquegelado, então,o cabelo foipuxadoe,depois,elatodafoipuxada,tudoissoporumamãoinvisível.Passostambémforamouvidos,levandoascrianças a presumir que havia uma presença física na casa. Elas também passaram por uma rodadaapavorante de móveis se quebrando, sussurros mágicos e a manipulação do rádio, das luzes, dosrelógios,dastorneirasedatemperaturanoscômodos.Atémesmoocãosurdoreagiuàpresença!”Ademais,aadolescentemencionoutervistoumaformaescurapelocantodoolho.Issoestariacorreto*

deacordocomosWarren,porqueoolhofísicoéfeitoparaverimagensnaturais;imagenssobrenaturaiscostumam ser detectadas pela visão periférica. “A forma em si era provavelmente a dos primeirosestágios da materialização do espírito em uma massa negra”, comenta Ed. “À medida que a garotaliberavacadavezmaisenergiapsíquicanegativa,oespíritorecebiaosrecursosdequeprecisavaparasemanifestar.”“Mesmonoestágiodainfestação,háummétodonaloucura”,observaLorraine.“Opássaro-fantasma

quecantavaànoitenaárvorequejánãoexistiadoladodeforadajaneladospaiseraumprenúnciodequeeventoscalamitososestavamporvir.Quandoosfenômenosdefatoocorreram,atendênciaeraquesemanifestassememsériesdetrês.Asluzesforamapagadastrêsvezesantesqueagarotasentisseotoquedamãogélida.Orelógionoquartodagarotaestavatrêshorasadiantado;orelógionoquartodomeninoestavatrêshorasatrasado.Ocabelodagarotafoipuxadonãouma,mastrêsvezes.”“Fenômenos que ocorrem em sequências de três constituem uma assinatura da atuação demoníaca”,

ressaltaEd. “Normalmente, a primeira coisa que acontece em um caso de infestação é o somde trêsbatidasnaporta.Nãohaveráninguémali,éclaro,pelomenosninguémvisível.”Noentanto,porqueousodonúmerotrêspeloespíritodemoníaco?“Otrêséusadocomoumsinal”, respondeele.“Otrêséusadopropositadamentecomouminsulto—parazombardaTrindade.Noentanto,oseiséonúmerododiabo.Açõesdemoníacasemregravãoaconteceremgruposdeseis,demodoquefiqueabsolutamenteclaroqueosfenômenosnãoforamaleatórios,maspremeditados.”QuandoascriançasFostercorreramparaforadecasa,elassentiramumaforçamaléficaquediminuiu

quandoestavamembaixodopostedeluzdarua.EsseéoutrofatosignificativoparaosWarrenporqueforçasnegativasmostram-seincapazesdeagiremumambiente iluminado.Nãoéporcoincidênciaqueesses espíritos são conhecidos como espíritos das trevas. Além disso, os pássaros que piavamselvagementeestavamematividadeapenasàesquerda.EmoutroscasosqueEdeLorraineinvestigaram,pássaros que guincham à noite, à esquerda, costumam ser encontrados no chão, mortos, na manhãseguinte.ComoficaevidentenocasoFoster,aatividadedeinfestaçãonãoocorrecomoumainvestidarápidae

ostensiva.Emvezdisso,osfenômenoscomeçarãocomtrêsbatidasagourentasàportaoupassosserão

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ouvidospelacasa.Podehaverumbarulhodealgoraspandoouarranhandodentrodasparedes.Pontosestranhamentequentesoufriosserãodetectadosemcertasáreas.Umcômodooulocalespecíficodacasacausará repulsaouparecerá “assustador”.Sonsde sussurrooudeuma respiraçãopesadapoderão serouvidosporqualquerpessoapresente.E,acimadetudo,oindivíduoqueestáemumambienteinfestadosentiráconstantementequeháoutrapresençaali.Essasensaçãodeumapresençanolocalaumentaráatalpontoqueafamíliapodecomeçaraacordaremhoráriosespecíficosdanoiteouprecisamenteàs3hdamanhã.Duranteoestágiodainfestação,comopassardotempo,coisascomeçarãoaacontecer.Guinchosde

filhotes de animais talvez sejam ouvidos, vindos daquele cômodo “assustador”. O barulho de algoraspandoouarranhandodentrodasparedesmudaráparabatidas,pancadaslevese,maistarde,emgolpespesados e surdos. “Peças” serão pregadas com o objetivo de despertar fúria. Eletrodomésticos vãocomeçarafuncionarsozinhos.Otelefonevaitocar,massemquehajaligaçãonenhuma.Acampainhadaportadafrentesoaráaomesmotempoemqueseouvirãobatidasnaportadosfundos.Ninguémvaiestaratrásdenenhumadasportas.“Outraindicaçãodeumapresençainumanaéamovimentaçãoinsólitadeobjetos”,dizLorraine.“Um

copodecristalpodecairnochãosozinho,maselenãovaiquebrar—vaiquicar!Acomidanofogonãocozinha. A água em que é mergulhada a louça para lavar congela. Chaves não vão abrir fechaduras.Maçanetas não vão girar, prendendo a pessoa no porão ou no banheiro. Outras vezes, as coisassimplesmente não permanecem onde foram deixadas, não importa quantas vezes os objetos sejamrecolocadosnolugar.“Tudoisso,éclaro,exigedemaisnãoapenasdapaciência,masdasanidadedoindivíduo.Noentanto

osefeitospsicológicosnãosãoumelementodesseestágio.Emboraaatividadeestranhapossaprovocarcerta ansiedade e muita preocupação, a mente do indivíduo ainda não foi invadida, como ocorre naopressão. Crianças, em especial as bem pequenas, são muitíssimo vulneráveis à atividade inumana,mesmo no estágio da infestação. É bastante comum que bebês de um ou dois anos de idade em umaresidência infestada acordem gritando, completamente aterrorizados. O espírito demoníaco não sentenenhumremorsoemassediarumbebê.Umapessoaqueestejaalertaequefiquedesconfiadaeconsigaidentificar os primeirosmecanismos dos fenômenos demoníacos deve procurar ajuda namesma hora,antesqueoseventosavancemparaumnívelmaispessoale,então,saiamcompletamentedocontrole.“Umaperguntaqueaspessoascostumamnosfazer”,dizLorraine,“é:‘Comovocêssabemqueexiste

um espírito inumano em uma casa?’ A resposta é que, quando um espírito demoníaco inumano estápresente,vocêsabequeeleestáali.Mesmoantesdosseuscincosentidoscomeçaremaperceberofato,osextosentidojáestáabsolutamentecientedaquelapresença.Quandoentrevistamospessoascomrelaçãoaessesespíritos,omaiscomuméquedigam:Tiveumahorrívelsensaçãodemorteàminhavolta’.Ou:‘Davaparasentiromalnaquelecômodo’.“Quandovocêestáemumambienteespiritualmenteinfestadoeosseuscincosentidosentramemação,

vocêverá,sentiráeouvirácoisasclaramentehorrendasouanormais.Masmesmoissonãoésuficientepara o espírito”, prossegue ela, “porque essa coisa tem que fazê-lo termedo dela. Assim, o tumultoassustador que ela promove é parte da estratégia. É bem verdade que, nos primeiros estágios dainfestação,osfenômenosserãoambíguos.OlevitardeumaxícaradechápodesercausadoporPKouporum fantasma—eoespíritodemoníaco sabeque isso seráchamadodepoltergeist, emvezde serreferidocomoaquiloqueédefato.Oespíritodeliberadamenteseescondeatrásdaambiguidade,afimdeseestabelecer.Portanto,nãoseolhaapenasparaosfenômenosobserváveis.Vocênãopodeapontarparaqualquerxícaradecháqueestejalevitandoedizer:‘Arrá!Éumfenômenodemoníaco!’Éprecisovertambémacomplexidadepropositaledirigidaqueacompanhaaperturbação.Aatividadeassumeumpadrão cheio de significado.Oque, a princípio, parece ser uma sequência curiosa de acontecimentosacabaporserevelar,apósoseuestudo,umconjuntodeeventosintegralmentevinculadosumaooutro,

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algodiferentedecoincidênciaseatividadesarbitráriasealeatórias.”Emboraohorrorvivenciadodurantea infestação jáseja terrível,eleé tãosomenteumapreparação

para o pandemônio que tende a ocorrer no estágio seguinte. Ainda que as perturbações durante ainfestaçãosejaminquietantes,irritantesouassustadoras,duranteaopressão,oespíritocomeçaaassumiro controle e a usar todo o poder maligno que tem à sua disposição. Como coloca Ed: “Durante ainfestação,vocêtemumproblema.Comaopressão,vocêtemumverdadeirotranstorno”.

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OPRESSÃO:AESTRATÉGIAREVELADA

A infestação significa basicamente que uma casa está mal-assombrada. A opressão significa que osespíritos que assombram a casa estão tentando subjugar as pessoas que vivem ali. Em nível prático,portanto,umassuntoqueosWarrenenfatizamnassuaspalestraséodosfenômenosdeopressão.Eelesofazemporqueainfestaçãodeumacasaporespíritospodeterocorridosemquefossepercebidaoupodeestaremcurso semqueseja reconhecida—eaprimeiravezquesenotaalgumproblemaéquandoaopressãojáteveinício.Durante a infestação, a estratégia demoníaca é causar medo a fim de destruir a força da vontade

humana.Duranteaopressão,oespíritojáestabelecidoalitendealançarumbombardeiodefenômenosinacreditáveisouiniciarumataquepsicológicofurtivodestinadoadominarcompletamenteavontadedavítima.“Oprincipalobjetivonaopressãodemoníaca”,dizEd,“éfazercomqueoindivíduopercaocontrole

oudemonstreumlapsomomentâneonasualivrevontade,oqueabreaportaparaqueocorraapossessão.A estratégia do espírito infestador neste estágio é começar a provocar fenômenos tão terríveis edesnorteadoresquepraticamentedestroemavontadeeatolerânciadapessoa.Noentanto,essaatividadedesenfreada e anormal é uma distração. A ocorrência de fenômenos em duas frentes— a física e apsicológica—enfraqueceedesorientaavítimaaomesmotempoemquelevasuasemoçõesaolimite.Alémdisso,parapiorarascoisas,seumaoumaisentidadesforambem-sucedidasduranteainfestação,então,outrosespíritosaindamaispoderosospodementraremcenae,nesseponto,osfenômenosquejáeramruinsficampiores,edaípassamaserterríveis.Oautocontroleéessencialnesteestágio,poisumaveziniciadaadestruiçãosistemáticadavontade,aatividadenãovaicessaratéquealguémafaçaparar.A percepção do problema é crucial porque a atividade aos poucos crescerá até se transmutargradualmenteemumcompletocaos.”A estratégia de opressão pode ser resumida, de formamais acertada, a isto: o espírito demoníaco

procura desumanizar o indivíduo. Por todos os meios, ele tenta reduzir um ser humano— de modoostensivoouvelado—aoseuestadomaisdegenerado.Escritoresreligiososhámuitoreconheceramessefato e, em consequência, dividem a estratégia da opressão em dois tipos: a interna (pelamente) e aexterna(pelossentidos).Umaconstituiumfenômenopsicológico;aoutra,físico.A opressão externa é uma ocorrência passível de observação: um espírito negativo interage com o

mundo físicoparaprovocar fenômenos ilusóriosouassustadores.Nesteestágio, afirmamosWarren,apessoapodeveresentiraatividade.“Nãohácomoconfundi-la”,ressaltaLorraine.“Forçabrutaéusadapara aterrorizar umapessoa ou família.Enlouquecido por natureza, o espírito demoníacodirige a suafúriaàdestruiçãomaterialouaoataqueapessoas.Emalgunscasos,haverápistassutisdeumapresençaespiritual; em outros, um completo rompante de ira. Porém, em praticamente todos os casos queexaminamos,osespíritosqueinfestamacasadefatomanipulamoambientefísicoemalgumamedida.”Quetiposdecoisasacontecemcompessoasquedeparamcomfenômenosespirituaisinumanos?Aque

intensidadeaopressãopodechegar?

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“Quando Lorraine e eu somos chamados a atuar em um caso em que esteja acontecendo opressãoexterna”,dizEd,“háinvariavelmenteumimensoterrorenvolvido.Oataque—eéissoquecostumaser—atingeafamíliaemnívelnaturalesobrenatural.Quantoaostiposdecoisasquepodemacontecer,emgeral, os cinco sentidos da vítima serão saturados com a percepção de fenômenos assustadores ourepulsivos:odoresnauseantes,gemidosmacabros,gritosapavorantes,batidas,pancadas levesefortes,respiração pesada e sussurros mágicos, passos sem corpo, rápidas alterações de temperatura em umcômodo,visõeshorripilanteseassimpordiante.Quandoumaperturbação realmenteavança,digamos,para o que chamamos de assédio diabólico, então se observam fenômenos como materializações,desmaterializações,teletransportes,levitações—depessoaseobjetos,sensaçõesdeestrangulamentoaoredor do pescoço, braços que são agarrados por trás, cortes, queimaduras, talhos, feridas, súbitasdoençascríticas,doresdecabeçatorturantes,vulgaridadeseblasfêmiasescritasnasparedespormãosinvisíveis, irrupções espontâneas de fogo, vozes inumanas falando ao telefone, faces demoníacasaparecendona telada televisão—tudooquevocêpuder imaginar,eu jávi.Àsvezes,asvítimassãomantidasprisioneirasdentrodaprópriacasaenquantosãosistematicamentesubjugadas,eatémortas,porforçasinumanasemaléficas.Emtermosmentais,océrebroficarásobrecarregado;emtermosfísicos,ocorpoficaráexaurido;e,emtermosemocionais,apessoaoufamíliaficaráarrasada,prostrada.Énesseponto, quando a atividade se toma absolutamente insuportável, que a vítima é acordada às 3h damadrugadapor uma entidadevestidadepreto, depé, aopéda cama, dizendopara a pessoaparar deresistir!Issoéterror,éopressão!“Vejamosumbomexemplo”,dizEd.“Todoano,milhõesdenorte-americanosmudamderesidência,e

um número significativo deles passa a morar em casas onde existe a possibilidade de um espíritodormenteserativado.FoiissooqueaconteceuaosCarlson.OsCarlson,umcasalfeliznacasados30anos,comprouumaantigahospedariaaquinaNovaInglaterra.Eraumabelaresidênciaantiga,comoquetiradadeuma ilustraçãodaCurrier& lves [empresade impressõesde litografiasque funcionouentre1834e1907], epara aqual semudaramemumaSexta-FeiraSanta.Agora,NathanCarlsonviajavaeficavaforaduranteasemana,masaesposadele,Alexandra,ficavaemcasaotempotodoparacuidardobebêedafilhamaisvelhadocasal.Poucotempodepoisdamudança,asra.Carlsoneafilhacomeçaramaouvirpassosnoprimeiroandar,onde,nopassado,oshóspedescostumavamficar.Duranteatardeejánoiteadentro,elasouviampassosarrastadosdebotassemovendopelopisoacimadelas.Opadrãodosomerasempreomesmo.“Airmãmaisvelhadasra.Carlson,quemoravaaliperto,àsvezespassavaanoitenacasaeajudavaa

cuidar das crianças enquanto o sr. Carlson estava fora.A filha e a irmã da sra. Carlson dormiam noprimeiro andar, e também ouviam aqueles passos.OsCarlson também tinham quartos localizados emoutropontodacasaparaosfuncionáriosruraisdapropriedadequeviviamali,eesseshomensouviampassosfazendocírculosemvoltadesuacama.Naverdade,enquantoasra.Carlsondormia,ànoite,elaeraacordadapelosespíritosdacasa,quechegavamapuxaroscobertoresdacamaenquantoelaestavadeitada ali. Mais tarde, ela descobriu que a mesma coisa acontecia aos funcionários rurais dapropriedade, o que explicava por que os homens em geral se demitiam pouco depois de seremcontratados.“Porfim,osfenômenosdeinfestaçãoevoluíramparasussurrosquepodiamserouvidosatrásdeportas

fechadas.Noentanto,quandoasra.Carlsonesuairmãmaisvelhaverificavamocômododeondevinhamossussurros,nuncahavianinguémali.Emboraaquelesespíritosprojetassempalavrasemgeralaudíveisosuficienteparaserempercebidasasmulheresnuncaconseguiamidentificaralínguaqueestavasendofalada.Àsvezes,essalínguamisteriosaouvidaemcasasinfestadasacabasendotãosomenteoinglêsditodetrásparafrente.“O tempo passava e o tormento prosseguia. Depois de arrumar a casa, enfeites e outros pequenos

objetosnuncaestavamexatamenteondeasra.Carlsonoshaviadeixado.Ànoite,doladodeforadacasa,

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viam-seluzesacesasnosótão—emboranãohouvesseeletricidadeláemcima.Umdia,enquantopintavaumquarto,atemperaturacaiuderepente,eelasentiuumamãotocaroseuombro.Asra.Carlsondisseterficadotãofuriosaqueatirouabrochadepinturanadireçãoemqueelaacreditavaestaraentidade,egritou:‘Nãoseiquemvocêéouoquequer,masnãovaimepegar’.Asra.Carlson,éclaro,contavaaomarido sobre tais perturbações. Entretanto, o sr. Carlson, nunca tendo vivenciado os sons ou osfenômenos,nãodavaimportância,dizendoàesposaqueeramrangidosdecasavelha.“Isso faz parte da estratégia do espírito demoníaco, é claro— direcionar os fenômenos a pessoas

específicas,enquantooutrasnãovivenciamnada.Emgeral,aopressãoseconcentraráemumoutalvezdoismembrosdogrupofamiliar.RealmentenãoimportaseoespíritojáestavanasdependênciasquandoacasafoicompradaouseascriançasotrouxeramaousarumtabuleiroOuija.Seháumespíritonegativolá,elevaiatormentaralguém.Normalmente,aentidadeescolheráapessoamaisvulnerável,emtermospsicológicos,oualguémquepasseamaiorpartedo temposozinhona residência.Nãoéprecisodizerque,emgeral,essapessoaéadonadecasa.Quatroemcadacincocasosdeopressãoepossessãoqueinvestigamosenvolvemmulheres.Oespíritodemoníacoachamaisfáciloprimirmulheresporqueelassãogeralmentemaisabertasesensíveisqueoshomens—alémdofatodeestaremfisicamentenocenárioemqueoespíritoinfestadorestáativoenquantoomaridoestáfora,trabalhando.“O motivo por que o espírito demoníaco escolhe uma pessoa é óbvio: duas pessoas poderiam

compararasexperiênciasereconhecerumainfluênciaexterna.Poroutrolado,umaúnicapessoanãotemmeiosdeprovaroqueestáacontecendo.Sentirotapalevedeumamãoinvisívelnoombro,ouvirbateraporta de um cômodo vazio, encontrar um anel de casamento no fundo do vaso sanitário podem serexperiências um tanto perturbadoras, mas não indicam nada sobrenatural. Assim, para evitar aridicularização,apessoanão fala sobreoproblema.Emvezdenósdoisproblemasapartirdeum,oindivíduooprimidosimplesmenteinternalizaaexperiência.“Noentanto,maiscedooumaistarde,surgeadúvidacomrelaçãoasimesmo,eapessoacomeçaa

questionar a própria sanidade. Ela não consegue encontrar a origem das buzinas de automóveis queecoamnasaladeestarànoite.Elanãovêninguématrásdesidepoisdesentirumpuxãonoscabelos.Nãoconsegueencontrarnenhumanimalmortoqueexpliqueoodorrepugnantequesefazsentirdepoisdopôr do sol. Estou de lato vivenciando isso? — a vítima pergunta a si mesma, com honestidade.Naturalmente, o espírito opressor tira proveito da dúvida que criou, passando a alimentá-la até que apessoa já não saiba se está indo ou voltando. É por isso que os fenômenos são considerados umadistração.Elessãoproduzidosparadesestabilizaravítima.Portanto,naopressão,a individualidadeéintencionalmenteatacadaporumaforçaexternae,seavítimacomeçaaperderocontrole,entãoestáaumpassodapossessão—oobjetivo,éclaro,daentidadeinumanapossessora.“NocasoCarlson”,continuaEd,“fenômenosdeopressãoexternaocorriamquasequetododia,visto

queainfestaçãojáhaviaocorridonacasamuitotempoatrás.Astorneirasdacozinhaedobanheiroseabriamde repente, com forçamáxima, e aomesmo tempo.Ouviam-sebatidas incessantesnas janelas,portasseentreabriam,esemprehaviaospassosdebotasemovimentaçãodepessoasandandonoandardecima.Umaverdadeiracasamal-assombrada!Emalgumasocasiões,asra.Carlsonouviatrêsbatidasnaportadafrente—sinalconvencionaldeumapresençainumana.Contudo,semprequeiaatéaporta,nãohavianinguémali.Noprimeiroandar,umvisitanterelatoutervistoumacobranopeitorildajaneladepois de ouvir três batidas leves na janela. Porém, não existia nenhuma árvore próxima pela qual oréptilpudessetersubido.“Certavez,aoouviro somde trêsbatidas, a sra.Carlson tambémescutouaportada frenteabrire

fecharemseguida,aoqueseseguiuumbarulhodepassospesadosdebotasnoandardecima.‘Agoraeuopeguei’, pensou ela.Com toda a coragemque tinha, a sra.Carlson subiu as escadas, armada comapistoladomarido,everificoucadacômodosistematicamente,determinadaaencontraroodiosointruso.Mas,éclaro,nãohavianinguémvisívelali.Comoacontececomtantafrequênciaquandoodemoníaco

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estáenvolvido,elafoitapeada.“Entretanto”, prossegue Ed, “esses foram basicamente pequenos incidentes se comparados às

ocorrências trágicas e sinistras que se seguiramdepois.Enquanto viviamna casa, osCarlson tiveramoutrofilho.Umanoite,quandoasra.Carlsoneumaempregadadafazendaassistiamàtelevisãonasaladeestar,elasouviramderepenteumaexplosãofortíssima,tremenda.Aoselevantaremdeumsaltoparaveroqueera,pensandoqueacaldeirativesseexplodido,encontraramaportadoquartodobebêaberta,estourada com violência. Objetos ainda sacudiam e vibravam quando elas chegaram, e a temperaturadentrodocômodo‘eraigualàdeumacâmarafrigorífica’,disseamãe.Obebênasceuprematuroe,atépoucas semanas antes, havia ficado em uma incubadora, no hospital. Embora os espíritos da casativessemevidentementetentadomatá-lo,obebêconseguiusobreviveràexperiência.Noentanto,quandoomenininho tinha trêsanos,asra.Carlsonfezoutradescobertasurpreendente.Umdia,aopassarpelofilho,elederepentesoltouumgritoaltoeestridente. ‘VocêpisouemBeatrice!’,disseeleàmãe,commuitaclareza.Sendoaqueleumnomesofisticadodemaisparaumacriançadetrêsanosconhecer,emaisaindapronunciar,asra.CarlsoncolocoudeladoasroupasparalavarqueestavacarregandoeperguntouàcriançaquemeraBeatrice.‘Elaéminhaamiga’,respondeuomenino.‘Elamedizoquefazer.’Asra.CarlsonentãopediuaofilhoqueperguntasseaBeatricequemelaera.Ogarotinhoperguntoue,depoisdeaguardarpoucossegundospelaresposta,eledisseàmãe:‘Beatricememandoudizeravocêqueelaéumabruxa!’“Comoamaioriadaspessoas,osCarlsonnãoacreditavamemfenômenosespirituaisnemconheciam

nadasobreeles,demodoqueaquelasentidades invisíveisdentrodacasaexerciamumdomínioquasequeirrestritosobreafamília.Econtinuouassimatéque,porfim,certanoite,ascoisaschegaramaumpontocrítico.Asra.Carlsonestavasozinhanacamaquandoviuumagrandeformanegraalinoquarto.Ela descreveu a entidade como sendo ‘mais negra que amáxima escuridão da noite’. Ela disse issoporqueas luzesdoquarto estavamapagadas e, no lugarondemoravam,nãohavia iluminaçãopúblicaparalançarsombrasestranhas.Aentidadesemovimentoudevagarpeloquarto,deixando-aparalisadadepavor.Tecnicamente,asra.Carlsonfoivítimadefantomania[ouparalisiapsíquica].Antesdeamassanegradesaparecer,elasetransmutouemumglobodeluzsintéticamaisoumenosdotamanhodeumaboladebasquete,produzindoumrugidoensurdecedor,queelacomparouaosomdeumalto-fomo.Ofenômenoaumentou em intensidade até que, de repente, desapareceu, deixando a sra. Carlson completamenteexausta,aoqueelacaiudeimediatoemumsonopesado.Issoaconteceumaisduasvezes—trêsnototal.“Nasduasvezesseguintes,osr.Carlsonestavaemcasa,nacama,emcompanhiadaesposa,masele

nãoviunada.Comomedisseasra.Carlson—e,vejavocê,elaeraumamulhersensataelúcida:‘Nomeu coração, eu sabia que aquele terror estava destinado exclusivamente a mim e a mais ninguém’.Quandooespíritoveiopelasegundavez,elaacordou,de repente,comapresençadamesmaentidadenegrapertodoseuladodacama.Aissoseseguiuamanifestaçãodograndeglobodeluz,maisumavezacompanhadodorugidodeumalto-fomo.Ofenômenochegouaoápicee,então,desapareceu,deixando-acompletamente semenergia.Na terceiranoite, o espírito semanifestoupara ela, noquarto.Ela tentouacordaromarido,masfoiemvão:elaosacudiuebateunascostasdele,masohomemnãoacordava—ou,antes,nãoconseguiaacordar.Nessemeio-tempo,oespíritopermaneceuameaçadoramentecomelaali,noquarto,deixando-amuitoapavorada.Porfim,amensagemqueaentidadedemoníacaprojetouparaelafoi:‘Saiam!’.Eelessaíram.Hoje,osCarlsonvivemnamesmacidadezinha,masagorasabemtudosobreahospedariaeosespíritosfunestoseopressoresqueelaabriga.”Oespíritodemoníacomanifesta-sesemprecomoumamassanegra,semelhanteaumanuvem?“A‘massanegra’dequefalo”,dizEd,“éamaneiramaiscomumpelaqualoespíritodemoníacose

apresentanoreinofísico.Nãoseiseissorepresentaomecanismodasuamanifestação,ouseépeculiaradeterminadostiposdeapariçõesdemoníacas.Entretanto,umespíritodemoníacopode,emúltimaanálise,semanifestar comoo próprio JesusCristo!Ele pode ser visto comoum fantasma, pode vir comoum

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espectroencapuzadoouatémesmonaformadeumanimal.Algunsanosatrás,enquantoestavasentadonomeu escritório, aqui em casa, por acaso vi, de relance, pelo canto do olho, alguma coisa se mover.Quandoolheidiretamente,viumanimalnegroquenuncatinhavistoantes,comduasvezesotamanhodeumamarmota,andandopelo tapete.Erapeludo,gordoegingavaaocaminhar—comoseocorponãofosseadequadoàspernas.Eunãosabiaoqueeraesupusquetivesseentradoporalgumaporta,vindodamata.Contudo,quandomelevantei,viquenenhumaportaestavaaberta.Nessemomento,porém,oanimalestavaseguindoparaocorredor.Elepareciaterfocinho—comoumgambá.Seguiacoisaenquantoelabamboleava pelo corredor. Como a porta estava fechada, ele não poderia avançar, então, para nãoencurralarobicho,parei—maselecontinuouandandoeatravessouaportafechada.Umsegundodepois,quandoabridepressaaporta,oanimalhaviadesaparecido.Foientãoquemedeicontadequeeraumespírito—ou,nomínimo,amonstruosacriaçãodeum.Asalaemqueeleentrou—seéquede fatoentrou na sala — era autônoma e não tinha outras portas de acesso. Seja lá o que fosse, a coisadesapareceu.Narealidade,oespíritodemoníacoinumanopodeassumiraformaquequiser."Seéassim,então,porqueelevemcomoumamassanegra?“Porqueo lemadoespíritodemoníacoéanonimato”, respondeEd.“Oespíritosemostracomouma

grandemassanegraindiferenciadaqueéclaramentevisívelnasrarasocasiõesemqueévistoduranteodia,emborasejamaioraprobabilidadedetestemunhá-loduranteashoraspsíquicasdanoite.Noentanto,apenas em raras ocasiões ele se mostrará em forma pretematural. Por que vir em forma inteligível,raciocina ele, quando a melhor proteção do espírito— na realidade, sua principal proteção— é oanonimatoeadescrençanasuaexistência?Porém,enquantofenômenofísico,amassanegraéoespíritoe,comotal,éperigosíssima.Quandoencurralaumapessoa,comoofez,digamos,comascriançasFoster,oindivíduorelataumatremendafaltadear,umfrioinacreditávelnocorpoeumapressãocomoadopesodeumpedregulhosobresi.Seapessoanãoconseguefugir,entãoacabou.Emgeral,aconteceráumadaduascoisas:ouumacombustãoespontânea—apessoaexplodiráemchamaseseráreduzidaacinzas—ouacompletadesmaterializaçãodo indivíduo,àsvezesparasempre. Incidentesdecombustãohumanasãomuito raros: existem apenas cerca de vinte casos registrados.No entanto, émais provável que oindivíduo seja desmaterializado.Na casa dosCarlson,Lorraine conseguiu detectar que amassa negrahaviaengolidoduaspessoas.Oprimeiroaliteralmentedesaparecersemexplicaçãofoiolacaiodeumsoldado.Amassanegraseaproximoudelenoestábulo,nosfundosdacasa,noanode1776.Nuncamaisfoivisto.A segundapessoaadesaparecer foiumagarotinhadeuns14anosde idade, chamadaLauraDuPre, que correupara dentro de umarmário da casa para fugir damassa negra,mas em seguida foiengolidaporela.IssoocorreuporvoltadaviradadoséculoXXeapolíciaestadualaindamantémoseunomenalistadepessoasdesaparecidas.Aterceiraadesaparecerpoderiatersidoasra.Carlson,senãotivessetidoaprudênciadeentraremcontatoconoscoantesqueosespíritosdavelhahospedariafizessemomesmoaelatambém.”Ed diz que o espírito demoníaco apenas raramente se mostra em forma pretematural. Qual é a

aparênciadoespíritodemoníaco?Elesesentedesconfortávelaoresponderàpergunta.“Embora o espírito possa se projetar na forma que escolher”, diz Ed, “sua aparência é uma

abominação,umamonstruosidade.Veroqueestádefatopor trásdofenômenonãoéalgoquesedevedesejar.Realmenteverodemoníacoésentiraruína.Oqueficavisíveléalgodeaparênciaclaramentepreternatural:algorealosuficienteparaservisto,masque,aindaassim,nãoédestemundo.”Mas,qualéaaparênciadele?“Basicamente”, respondeEd,combastante relutância,“elenãoéhumano.É inumano.Temescamas.

Parece...umréptil.Éisso”,dizele.“Nãovoudescreverorestantedaimagem.”A opressão, todavia, nem sempre é externa e observável. Ela é, na mesma medida, subjetiva. A

opressãointernaéumaintrusãodemoníacadecaráteremocionalepsicológicoquevisapromoverumacompletamudançanaformadepensardapessoa.Aqui,aestratégiadoespíritoopressorémanipulara

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vontadedoindivíduodetalmaneiraquehábitosruinspiorem,ehábitosmuitoruinssetransformememimpulsosde “pecado”ou autodestruição.Comocriaturadepecadoque é, o espíritodemoníacobuscatomaroserhumanorepreensível,afundando-oatéchegaraumnívelquerejeitatodaavida.Escrevendoexatamente sobre esse ponto no século v, Santo Agostinho observou que um hábito incontrolado setransforma em uma necessidade. “Isso”, diz Ed, “é precisamente o que acontece durante a opressãopsicológica.Oindivíduocorreoriscodesetomarumjoguete,quandonãoumescravo,doespíritoqueooprime.Emestágiosavançadosdeopressão,aentidadepodeexercertamanhodomíniosobreavontadedapessoaqueelajánãotemnenhumaautonomia.Nesseponto,éclaro,oserhumanoestáàsportasdapossessão.”“Oobjetivodoespíritoopressor”,acrescentaLorraine,“épossuirocorpodapessoa,ou,seissonão

forpossível, levá-laacometerassassinatose suicídio—ouambasascoisas.Antesdechegaraesseponto,porém,oindivíduooprimidojáterásidovítimadeumaestratégiamuitocomplexa.Deixe-medarumexemplodecomoaestratégiadeopressãointernapodeserabrangente.“Emabrilde1978, recebemosumtelefonemadeumamulherdeuns35anos,articuladae instruída,

queestavacompletamenteapavorada.Essamulher,PatríciaReeves,estavasubmetidaaopressão,maselanãosabiaoqueestavalheacontecendo.Elateveextremadificuldadedeentraremcontatoconosco,ao passo que Ed e eu tivemos a mesma dificuldade de chegar até ela. Patrícia e a amiga haviamcomprado uma autêntica casamal-assombrada naNova Inglaterra. Embora os eventos do caso sejaminteressantes,oqueéimportanteaquiéaclarezacomqueaestratégiademoníacaatuounacompra.“PatrícianasceuecresceuemOhio,descendentedeumalongalinhagemdeministrosbatistas.Elanão

era casada, então dividia o aluguel com outra mulher, chamada Melinda. Embora fosse uma adultacapacitada em todos os aspectos, dinheiro, felicidade e satisfação pare: ciam ser negados a ela, ePatriciachegouaopontodeplanejaroprópriosuicídio.Completamentefrustrada,elacomprouumlivrode bruxaria. Dos rituais daquele livro, ela selecionou um, que visava a prosperidade. Poucosmesesdepoisderealizaroritual,Patriciaconseguiuumempregoquepagavabemeerabastanteprestigiado.“Curiosamente, desde os 12 anos de idade, Patricia tinha um sonho vivido e recorrente, no qual

morava em uma antiga casa de fazenda em estilo colonial. Comprar essa casa ‘dos sonhos’ era umobjetivodevida.ParaPatricia,issosignificava‘irparaolar’.Amoradaficavaemumcenáriorural,naregiãonortedaNovaInglaterra,etinhaquetersidoconstruídanomáximoatéoiníciodoséculoXIX.Então,todasemana,semfalta,elaiaàbibliotecamunicipalnocentrodacidadeeconsultavaojornaldeBostonembuscadosclassificadosdeimóveis.ComoPatriciamesmadisse,elaofazia‘obsessivamente’.Namedida emque aopressão tambémé chamadaobsessão, todooprocesso estava acontecendobemdebaixodoseunariz,emboraelanãoosoubesse.“Um dia,mais oumenos dois anos depois de assumir o emprego, Patricia encontrou no jornal um

anúnciodeumaantigacasadefazendaquepareciaperfeita.Desejandovê-la,elaeacolegadequartoMelindatiraramfériasjuntaseviajaramdecarroparaoleste.Elasviramacasapelaprimeiravezem1®dejaneirode1977.“Olugareraadoráveleficavaaofinaldeumalongaestradadeterracercadadeárvores,recuadamais

oumenosumquilômetrodaestradaprincipal.Emborao lugarparecesse ideal”,dizLorraine,enfática,“aquilo era uma armação.”Descobriu-semais tarde que a antiga proprietária da casa era uma bruxasatânica demagia negra.Um tanto estranho, não acha, que elas tivessem sido atraídas do ensolaradosudoeste,aquase5milquilômetros,paraomeiodasflorestasdaNovaInglaterra,afimdevivernaquelacasaemparticular?Bem,podeparecerestranhomas,aorealizaroritualdemagianegra,Patriciae,emmenorgrau,Melindaestavamemdébitocomas forçasdemoníacas.Equemelhormaneiradeatraí-lasparaaperdiçãoquetransformandoumsonhoemrealidade?“Nodecorrerdoperíododeumano,asduasmulheresviajaramparaolesteumtotaldenãoumanem

duas,mastrêsvezesantesderatificaroseudesejodecomprarapropriedade.Emdadaocasião,airmã

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de Patricia, Susan, também foi até lá. Durante aquele período, nenhuma das mulheres suspeitou quehouvessealgumacoisaerrada.“Quandooprocessodeopressãointernacomeça,équaseimpossívelreconheceroproblema,porquea

mudançaocorredevagar,passoapasso.Basicamente,apessoaestásendotreinadaou‘preparada’paraomomento em que a possessão pode acontecer. No dia 31 de dezembro de 1977, Patrícia tomou umaimportante decisão: pedir demissão do emprego e comprar a casa. Ela e Melinda eram tiposindependentes edisseramquequeriam ‘voltarpara anatureza e criar animais’.Na realidade, é claro,issoeraaLeidaAtraçãoagindo."Quandosedemitiu",continuaLorraine,“Patríciajáhaviaprovidenciadotodaapapeladanecessária

paraacompradacasadefazenda.Noentanto,nenhumbanco,nemnacostaOestenemnacostaLeste,estavadispostoaconcederumavultosahipotecaparaduasmulheressolteiras.Paracompraracasaserianecessário que elas pagassem uma entrada substancial, e elas não tinham aquele dinheiro. Mas semproblema! Enquanto visitava Los Angeles, Melinda se inscreveu em um jogo de um programa detelevisãoe,nodiadoseuaniversário,ganhoudezvezesovalornecessárioparaopagamentodaentrada.Na realidade, o prêmiopraticamente quitava a casa.Ainda assim, quando elas voltaramaobanco, osfuncionários responsáveis por autorizar empréstimos quiseram, por alguma razão, três assinaturas nahipoteca.Porcausadisso,airmãdePatrícia,Susan,foiincluídanatransaçãoeassinouahipotecacomasoutras duas mulheres. Tradicionalmente, quando um pacto é assinado, o espírito demoníaco costumaarranjarparaquetrêspessoas—trêsvontadeshumanas—participemdocompromisso,maisumavezcomoinsultoàTrindade.ParainfelicidadedeSusan,seudestinoestavaagoraformalmenteatreladoaodasoutrasduasmulheres.“Nodiaemqueahipotecafoiassinada,passospesadosdebotasentraram,ànoite,noapartamentode

PatríciaeMelinda,noNovoMéxico.Oquepareciaserumintrusoesmurrouaportadoquartodecadaumadasmulheres.Isoladasdotelefonedasaladeestar,ambaspassaramumanoitedepuroterror,cadaumasozinha,encolhidademedo.Oqueelasnãosabiamàépocaéqueaquelaeraaentradaclássicadoespíritodemoníaco.Eraahoradecobraracontapeloritualdeprosperidade.“Com a hipoteca assegurada, Patrícia eMelinda semudarampara a fazenda no final de janeiro de

1978. Assim que começaram a residir na casa, elas tiveram uma horrível sensação de que eramobservadas. A sensação era tão intolerável que as duas muitas vezes dormiam em um motel nasproximidadesenquantoconsertavamointeriordacasaduranteodia.Elas tambémtinhamdoiscãesdaraçacorgi,quesemprehaviamsedadobemantes.Contudo,assimqueosdoiscãesforamlevadosparaapropriedade, elescomeçaramaatacarumaooutro.Asmulheres tinhamquemantê-los separadosparaqueumnãoestraçalhasseooutro.“Mais oumenos namesma época, Patrícia eMelinda também começaram a discutir e a brigar por

coisasinsignificantes,semimportância.Emvezdetrabalhar,elasdiscutiampordiasafioquempintariaumajanelaouquempintariaumaporta.Veja,essasmulheresnãopercebiam,masestavamsendoforçadasa esse comportamento, assim como os cães. Na realidade, a opressão estava totalmente preparada,apenasesperandopelachegadadogrupo.“Porfim—sobojugodaopressão—elasdecidiramqueaquelaeraacasadelasequedormiriamali

emvezdebancaremocaromotellocai.Aessaaltura,asensaçãodequeeramobservadasficouaindapior,transformando-seemumaatmosferadeperversidade.Acreditandoqueaquelassensaçõesfossemdenaturezaapenaspsicológica,asmulheresfizeramopossívelparanãodarimportânciaàsemoções,mas,então,começaramaacontecercoisasestranhas.Ànoite,elasouviam,doladodeforadacasa,cânticosfunestosquefaziamosanguegelar.Duranteodia,amôniaeprodutosdelimpezadesapareciam;nolugardelesapareciamgotasde sangue.Dentrodacasa,dinheiroeobjetospessoais tambémdesapareciamenuncamaiseramencontrados.Umatarde,ouviram-sebatidasnaportadosfundos.Quandoforamatender,nãohavianinguémali.Emvezdisso,oqueasmulheresencontraramfoiumrastrodepegadasesquerdas

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—umsinaldoespíritodemoníaco—naneve,quechegavaàalturadosquadris.Apegadaslevavamaoceleiro e ocorriam a intervalos de três pés [91,5 centímetros],mas tinham apenas a profundidade depoucomaisdeumcentímetronanevemacia.“Poucosmesesdepoisdacompradacasa,airmãdePatrícia,Susan,foiatéláparaajudarnosreparos.

Susaneraumamulhersensível,nacasados20anos.Dessavez,quandochegouàcasadafazenda,olugarasufocoucomumterrormórbido,eelapegouimediatamenteumvoodevoltaparacasa.Noentanto,elaainda foi perturbada pelos espíritos opressores, pois, algumas semanasmais tarde, do nada, Susan seesfaqueou brutalmente com uma faca de açougueiro. O médico que socorreu a jovem disse que osferimentos—havia trêsdeles—deveriam ter sido fataisequenãoconseguiaentendercomoelanãohaviamorrido.“Porabandonaracasadafazenda,Melindatambémrecebeuumapuniçãosemelhante.Nãomaisdeum

mês depois de se mudarem para lá, Melinda desenvolveu uma aversão tão grande pela malignidadepresentenolocalqueeiatambémvoltouparaOhio.MashaviaapenaspoucosdiasqueMelindaestavaláquando foi violentamente estuprada por um intruso desconhecido. Àquela altura, ela sucumbiu.Acreditandoqueoterrormentalerapreferívelàbrutalidadedaviolênciafísica,elaretornouàcasadafazendanaNovaInglaterra.“Naprimaverade1978, tendovivenciadoumadiversidadedehorroresao longodemeses, aquelas

pobresmulheresestavamtotalmentemergulhadasnaopressão.Apareceramrugasnorostodeambas,seuscabeloscastanhosficaramgrisalhose,fisicamente,suasfeiçõesenvelheceramaodobrodaidadedelas.‘Eunãoconseguiamereconhecernoespelho’.Patríciamecontou.‘Nossosolhostinhamumaexpressãodevazioemorte.’”“De vez em quando, Melinda era involuntariamente tomada por uma personalidade perversa, em

especialquandoPatriciaqueria fazeralgumamudançaradicalnamoradia.OpiorepisódiofoiquandoPatricia alugou uma serra elétrica e estava prestes a cortar uns pinheiros na frente da casa, os quaisescureciamoseuinterior.“‘Melindasaiucorrendodedentrodacasacomoseestivessepegandofogo’,Patriciamedisse.‘Ela

tinha uma expressão incrivelmentemaligna no rosto— era o rosto de outra pessoal Ela ameaçoumematar se eu fizesse umúnico corte emalgumpinheiro!’Patricia então compreendeuquehavia algumacoisa errada — metafisicamente errada — e viu que precisava buscar ajuda. Depois de enfrentartremendasdificuldadesparaquealguémacreditassenela,umapessoaacaboulhedandoonossonomeeelanoscontatou.“Eunãopodiadizerissoaelasnaépoca”,prossegueLorraine,“mas,paraaquelasmulheres,amorte

estava realmente muito próxima. Aquela casa de fazenda era um lugar mortal. Quando Ed e eupercorremos de carro a via de acesso à propriedade, vi— pela segunda visão— pessoas vestindotúnicas realizandoalgum tipode ritualprofanonacampinaao ladodacasa.Haviacânticos,eo showtodo estava acontecendo à noite; as pessoas usavam um ser humano— ou vítima— como altar. Aoentrarmosnacasa,ficouevidenteparamimquequemquerquetivessevividoalianteshaviapraticadomatançaemutilaçãodeanimais.Euconseguiasentiratristezademuitascentenasdeanimais,pequenosegrandes,quehaviamsidomortosnolocal.E,nacasa,aatmosfera,opróprioarqueserespiravaestavapesadodemaldadeeperversidade.Olugartambémmecausourepulsaeficouclaroqueapenaspormeiodeopressãodemoníacaalguémpodiaviveremumterritóriotãoinfernal.“Acredito que o que dissemos deixa bem claro que uma inteligência negativa invisível estava

conduzindo os eventos ali. Porém, quero ressaltar que, neste caso, naquela casa, ela não era apenasinvisível.EnquantoEdentrevistavaasmulheres,decidicaminharpelaresidência.Umdoscãescorgimeacompanhou.O lugareracomoamaioriadessascasas infestadas—desconfortáveleameaçador,comumatristezaquerecobriatudo.Derepente,ocãodisparoupelocorredor,derrapandoaoparardiantedaportadeumarmário,ondecomeçouarosnarcomagressividade.Abriaporta.Oarmáriocheiravaauma

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fossa. O cão se virou para alguma coisa dentro do armário e, então, segundos depois, para minhaperplexidade, uma figura totalmente negra— na forma geral de um homem,mas sem feições— saiucorrendodoarmário,passoupormimesubiudepressaasescadas,comocorginosseuscalcanhares,apersegui-lo.Emtodaaminhavida,nuncaviodemônioassumirumaformatãoabertamentehumanoide."Nestecaso”,concluiLorraine,“ainvestidadaestratégiadeopressãodoespiritodemoníacofoisutil

—maispsicológicaquefísica.Dequalquerforma,porém,aestratégiadodemôniopermaneceamesma:destruiraforçadevontadedoserhumanoafimdepossuirocorpo,ouoprimiroindivíduo,levando-oacometeralgumatonegativo,depreferênciaqueenvolvaderramamentodesangueemorte.E,nestecaso,elequase tevesucesso.Asduasmulheres tiveramquepassarporumaformadeexorcismoparaseremlibertadasdainfluênciaedasdeformidadesfísicasprovocadaspelasentidadesinumanasquehabitavamolugar.Nofinal,PatríciaeMelindavenderamafazendapelopreçoquepagaramporelaevoltaramparaoNovoMéxico,ondehojelevamumavidamaistriste,porém,maissensata.EmboraEdeeupudéssemoscontinuardesfiando todosos fatores fortementeentrelaçadosqueconstituemestecasoespecífico,achoqueestábastanteclaroqueumcasocomoesteenvolvemuitomaisquecoincidência.Háumainteligêncianegativaseesgueirandonosbastidores,dirigindotodaaatividade.”“Quandoosfenômenospassamdoestágiodainfestaçãoparaodaopressão”,concordaEd,“oespírito

demoníaco de fato já não consegue ocultar a própria presença. Em vez disso, por orgulho da suaeficiência,elecomeçaadeixarcartõesdevisita—algunsliterais,outrossimbólicos.“Normalmente,oespíritodemoníacogostaderevelarasuapresençaporescrito.Eletempredileção

por escrever em paredes e espelhos, chegando ao ponto de preferir batom ou giz de cera comoimplemento de escrita.O espírito demoníaco tende a escrever de trás para a frente, da direita para aesquerda,demodoqueamensagemtenhaqueserlidaemumespelho.Pareceatéquealguémescreveuaspalavras e frases nas paredes com a mão ‘errada’. Quanto ao que dizem, o que esses espíritosbasicamente tendem a escrever são vulgaridades, indecências e blasfêmias, em geral na língua faladapelapessoaoufamíliaoprimida.Podehavermisturadeoutras línguas,embora issoocorracommaiorfrequênciaquandooespíritofaladuranteapossessão.Emestágiosmaisavançadosdaopressãoouemsituaçõesemquediabosestãoporperto,línguasmaissofisticadaspodemserusadas.”EdeLorrainefalamquasequeexclusivamentesobredemônios.Seexistemdiabos—umahierarquiaà

partedeespíritos—porquenãofalarsobreelestambém?“Embora leigos tenhamescritomuita coisa sobrediabos”, afirmaEd, “meuconhecimentoderivada

minhaprópriaexperiênciaoudoestudodedocumentosreligiososautênticos.Combasenomeutrabalho,oquesesabecorretamentesobrediabosémínimoemcomparaçãocomoquesesabesobreoespíritodemoníaco. É o espírito demoníaco que vemos realizando todos esses fenômenos extraordinários. Éverdadeque,duranteumexorcismo,umespíritodemoníacovai adiante ebravateia ser esteouaquelediabo,mas,emgeral,eleestámentindo.Nofinaldascontas,adistinçãoentredemôniosediabosécomoaquela entre trabalho e gerenciamento: uns trabalham, outros supervisionam. Espíritos demoníacos deuma ordem superior promovem a opressão interna, porque espíritos inferiores, bestiais, não têm oconhecimento e a habilidade de completar a atividade com a possessão. As entidades inferiores secontentamemprovocardevastaçãoexternaafimdeenfraqueceravontadepelomedo,aopassoqueasentidades superiores enfraquecem a vontade diminuindo a resistência psicológica interna. Em termosteológicos, veja bem, os diabos eram uma ordem superior de anjos antes da Queda, e têm maisconhecimento e poder que os espíritos que estão abaixo deles.Os escritos de umdiabo tendema serlimpos e organizados, por exemplo, escritos de trás para frente, da direita para a esquerda, em umacaligrafia muito bonita. Além disso, essas entidades mais versadas em geral lançam mão de línguasclássicas—sobretudoolatim,embora,àsvezes,tambémogregoouohebraicoantigo.Aocontráriodosespíritos demoníacos, diabos parecem propensos a escrever apenas em papel ou pergaminho e tãosomentequandoumpactocomSatãestáenvolvido.Emgeral,noscasoscomqueeutrabalho,osrabiscos,

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garranchoseblasfêmiassãofeitosporespíritosdemoníacos.”Quandoaentidadedemoníacanãocolocaliteralmenteoseunomeemsuaobraabominável,osWarren

precisamsairembuscadetraçosmaissimbólicoseintelectuaisdasuapresença.“Primeiro”, diz Lorraine, “trata-se de um espírito negativo, portanto, é algo que ‘segue em sentido

contrário’.Odemoníacotendeaatuaremoposiçãodiretaaosprincípiosdomundopositivo.Quandooespíritosemove,elecostumafazê-lodadireitaparaaesquerda,emsentidoanti-horárioouemcírculos.Ao se aproximar de você, ele geralmente vem da esquerda ou de trás. Ódio, obscenidade e mortefortalecem o espírito demoníaco; bondade, luz e oração o imobilizam. O espírito vem de preto,intensificaomalebuscamaisdestruirqueaprimorar.Osresíduosquedeixaparatrássãorepugnanteseasquerosos. Derramamento de sangue e lesões físicas são elementos fundamentais do fenômeno. Eleajudaomalvadoeoignorante;eleatacaoinocente,oincautoeopiedoso.Eleétraiçoeiro,dissimuladoevemcomoumladrãonanoite.Eleocultaasuapresençacommentirasepreservaoseuanonimatopormeiodeduplicidadeeinvisibilidade.Comojádisseramescritoresreligiosos:‘Nãohánadadepositivonanaturezadoespírito;seuserbaseia-senaausênciadealgoquesejabom’.Os mecanismos simbólicos de atuação desse espírito não são menos indicativos da sua presença.

Normalmente,oespíritodemoníacoescolheráumdiaouperíodosignificativodoanoparadarinícioaoseuassédio.OsWarrendescobriramqueocasiõesfavoráveisaissoincluemoNatal,aPáscoa,aSexta-Feira da Paixão, o início da Quaresma, a primeira noite da Páscoa judaica, o mês de novembro (operíodoastrológicodosignodeEscorpião),domingos,sextas-feiraseoaniversáriodaspessoas.“Afasedaluatambémpodeintegrarafórmula”,observaEd.“Aluanovaéafasepreferida,porcausa

datotalausênciadeluznatural—alémdisso,aluanovahámuitoévistacomosímbolodamorte.Noentanto, é comumqueoseventosvenhamaatingir seupicooua ter iníciona luacheia. Issoaconteceporque, pelo relógio da natureza, o que começa em uma lua nova chega ao ápice em uma lua cheia.Contudo,devoenfatizarque,quandoseestá lidandocomfenômenosespirituais,essesimbolismopodeser percebido muito mais tarde. Repito: apenas em retrospectiva, diante de uma análise, é que umnúmero,dataouperíodoespecíficodoanoserevelarápartedaestratégiageraldeumespíritoopressor.“Quandotodososfatoressãoreunidos”,prossegueEd,“apósentrevistarmososprincipaisenvolvidos

etestemunharmosaatividadepornósmesmos,entãoficaevidentequeháumaordemnopandemônio.Sevocêtivessequereconstruirumtípicocasodeopressãodemoníaca,disporiadealgocomomilfatoresseparados.Dessemodo,ocasoprecisaserestudadonasuatotalidadeparaqueainteraçãodetodososfatores—ahistória,osfenômenos,ossinais,ossímbolos,aestratégiaeasincronicidade—possaservistacomoumaatuaçãoconjunta.Quandovistonatotalidade,aprogressãodoseventosficaráóbvia,comcadadetalhezinhodesempenhandooprópriopapel.Vocêidentificaráaorigemdoproblema,osarranjospreliminares,aestratégiadeinfestação,aestratégiadeopressão,asocorrênciassimbólicaseassimpordiante.Haverásinaisdeaçãodeliberada—eventosocorrendoemhoráriosprecisosdodiaouapenasemcertos dias da semana.Embora seja impossível repetirmos todos os detalhes do casoAmityville, porexemplo, vejamos algumas das semelhanças entre o que os Lutz relataram o que já vivenciamos nasnossasinvestigações.“Primeiro”,dizEd,“consideremososantecedentesdocaso,antesdeosLutzsemudaremparaacasa.

OsDeFeo, uma família normal de setemembros, semudou para a residência no início da década de1960.“Porvoltadas3hdodia13denovembrode1974—opiorhoráriododia,provavelmentenodiamais

problemáticodoano—ofilhomatouosoutrosseismembrosdafamília,inclusiveoprópriopai,comumriflepotente.Nenhumdosvizinhosouviuosdisparos.Trezemesesapósaocorrênciadosassassinatos,George eKathleenLutz semudarampara a residência durante a temporadadoNatal—emgeral, umperíodode atividadedemoníaca.Nosso conhecimentodoque aconteceu em seguida é inevitavelmenteindireto—nãoestávamoslácomosLutz.Mas,deacordocomoqueelesdisseramaJayAnson,George,

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quecostumavaserasseado,sevestirbemeserumpoucoworkaholic,ficoupreguiçosoedesleixado.Elepermaneceu sentado junto à lareira durante praticamente o episódio inteiro. George estava sempresentindo frio, emborao termostatoda casa ficasse constantemente entre26e27graus.Noscasosqueinvestigamos,quandooespíritoabsorveenergiatérmica,eletambémretiratodoocalordoscômodos.Oqueelesentiuéoquechamamosfriopsíquico.Vocêpodeseenrolaremumadúziadecobertores,masnãovaiadiantarnada,porqueocalordoseucorpotambémestásendoroubado.“É claro”, continua ele, “um espírito absorve essa energia por uma razão: para usá-la contra as

pessoasdacasa.Umavezquesetratadeumaentidadenegativa,quepensadeformanegativa,então,essaenergiaéusadaparapropósitosbrutaisenegativos.“Aomesmo tempo,Kathy nos contou que já ‘não eramais elamesma’: havia se tomado irritadiça,

briguentaeimpacientecomascrianças.DeacordocomolivroAmityville,elateveváriossonhosquepareciamsemelhantesacertosfatosdocasodoassassinatodosDeFeo.Ascriançastambémcomeçaramaficarbriguentas,eocãodafamíliaagiadeformapeculiardesdeamudançaderesidência.“Oqueaconteceuemseguida?”,perguntaEd,retoricamente.“Apenasaquelesqueestiveramlápodem

dizer ao certo. Entretanto,George eKathy contaram que centenas demoscas apareciam no quarto doandarde cima.Os fluidosdovaso sanitário ficavamnegros.Um leãode cerâmica se teletransportavapelacasa.Osmóveissemoviamporvontadeprópria.Amãodeumadascriançasfoiesmagada,porém,omeninonãosofreunenhumalesãofísica.E,éclaro,nomeiodanoite,Georgeouviaosomdeumabandamarcial.“Ironicamente,enquantoosLutzviviamnacasa,fizemosduaspalestrasparapúblicosuniversitáriose,

nelas, detalhamos os tipos de fenômeno com que as vítimas se deparam em ambientes infestados porforçasdemoníacas—inclusiveosomdebandasmarciaistocandoJohnPhilipSousanomeiodanoite!“Aatividadequelevaoselodospoderesdemoníacostemointuitodeassustar.Alémdisso,afamília

Lutzafirmatambémterexperimentadofriopsíquico,temperaturasdecalorsufocanteeoodorrepulsivode excremento— um sinal convencional da presença demoníaca.Os Lutz também tiveram problemasenquantousavamotelefone,eoirmãodeKathyLutzdeufaltade1.500dólaresnoseubolso—dinheiroqueelepretendiausaremdespesascomseucasamento.”Essedinheirorealmentedesapareceu?“Não sei dizer”, responde Ed. “Mas é comum que dinheiro desapareça em casas infestadas por

espíritosmaléficos.Aperdadeumchequedepagamentode saláriooude somasvultosasdedinheiroperturbaráumindivíduo.Éapenasumadasmuitasmaneiraspelasquaisespíritosnegativostentamabalarumapessoaoufamília.Contudo,achoimprovávelqueessedinheiro‘perdido’simplesmentedesapareça.Em vez disso, cá entre nós, eu diria que hámais oumenos 100% de chance de que o dinheiro sejateletransportadoparaumfeiticeirooualgumapessoaenvolvidacomasartesnegras.Digo issoporqueconheçofeiticeirosquenuncatrabalharamumdiasequernavidae,noentanto,suascondiçõesfinanceirassãoexcelentes.Paraeles,tudodácerto.Avidadeleséfácil,ecoisasboassemprelhesacontecem.Essesindivíduos não têm absolutamente nenhum problema. O dinheiro os encontra. Por quê? Porque elesfizeramumacordometafísicocomoespíritodemoníacoetrabalhamemconluiocomele.“Embora isso possa parecer inofensivo, há um problema. Esses feiticeiros ou bruxos normalmente

contraemumadívidacomoespíritodemoníacoquechegaavalerasuaprópriaalma;ouumdébitoqueodiabocobraráemumadívidafutura;outalvezosacrifíciodealguémàsuaescolha,comoumacriança.Paraessagente,éabásicajornadadeFausto.Avidaécurta,eelesnãoarespeitam.Elesvendemaalmapor um centavo quando ela vale um milhão. Então, sim, quando dinheiro desaparece em uma casainfestada,estoudispostoaapostarqueelereaparecenacarteiradeumfeiticeiro!“TodosessesfatoreslevaramasemoçõesdosLutzaolimiteeosdeixaramemumasituaçãoemque

começaram a duvidar da própria sanidade", retoma Ed. “No entanto, essas perturbações, somadas amuitas outras que não mencionei, como um crucifixo que foi simbolicamente virado de cabeça para

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baixo,fazemlembraroquetemosvistoemfenômenosdeopressãoexterna.Indomaislonge,porém,osLutzdisseramqueaformadeumdemôniosurgiusozinha,marcadaafogo,naparteposteriorinternadalareira. Esses espíritos tipicamente se manifestam nas chamas ou em lareiras. Houve também umamonstruosidadeencapuzadaquesemostrounasescadas.Essesespíritoscostumamservistosemhábitosdemonge.E,éclaro,afilhacaçula,Missy,falavadeumporcoquechamavaasimesmodeJodieedisseàcriançaqueeraumanjo!”ParecehavercertacontrovérsiacomrelaçãoaJodie,oporco.Elepoderiatersidoumaentidadereal,

física?“Eumesmonuncaviaentidade”,respondeEd.“Noentanto,nãoénecessárioqueumespíritosetorne

físico.Espíritostambémpodemseprojetarpormeiodeumprocessoaquechamamoshipnosetelepática.Esse monte de sílabas significa simplesmente que o espírito tem a capacidade de projetar a própriaimagem em qualquer forma que escolher, por um processo que se poderia chamar percepção extra-sensorial tridimensional. Basta que o espírito pense em como quer se apresentar, e essa será a suaaparência. Usando essemétodo— e tanto espíritos humanos como inumanos podem fazer isso—, aentidade se esquiva ao olho físico e projeta a imagem desejada diretamente no ‘olho da mente’, aimaginação,ou terceiroolho, comoéchamadonas religiõesorientais.O resultadodessa transferênciatelepáticadevibraçõesdeuma inteligênciaparaoutrapode ter todaa roupagemdeumser físico.Narealidade,porém,oespíritopodenunca ter semanifestado fisicamente.Deuma formaoudeoutra,noentanto,algumacoisatemqueestaraliparaserpercebida.”OcasoAmityvilleocorreuduranteatemporadadeNatal.Umcasonãomenoshorrendodefenômenos

demoníacos genuínos aconteceu durante a época da Páscoa de 1974 e durou oito semanas emeia atéfinalmentecessargraçasaumexorcismosancionadopelaIgreja.ÀexceçãodosWarren,doexorcistaedosprincipaisenvolvidosnocaso,poucaspessoasatéhojesabemquehouveumabatalhasobrenaturalnaresidênciadessafamílianorte-americananormalemtudoomais.VejamosocasodosBeckford.

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FAMÍLIASOBATAQUE

Nodia3demarçode1974,osr.PeterBeckford,de50anos,fezumaanotaçãonocalendáriodacozinha:opneudocarrodasuafilhaVickyacabaradefuraremumacorridaatéadrogaria.Servindo-sedeoutraxícara de café naquela manhã de domingo, Pete Beckford nunca teria imaginado que aquele eventoaparentemente comumera o início de um cerco completo lançado por violentos espíritos inumanos, oqualcomeçariacomatosdevandalismoeterminariacomaquasetotaldestruiçãodasuapequenacasa.OcaosreinarianaresidênciadosBeckfordporque,nanoiteanterior,VickyBeckford,entãocom19

anos de idade, havia saído da linha: ela convidou um espírito demoníaco a semanifestar. Embora agarota iludida tenha dado essa permissão sem querer, ela, não obstante, cometeu uma transgressãosobrenaturaldamaiorgravidade.OresultadofoitalvezopiorcasodeataquediabólicoqueosWarrenjávivenciaram.“No entanto, o verdadeiro início do caso teria que ser datado em um ano antes”, afirma Ed. “Foi

quando Vicky começou a usar o tabuleiro Ouija.” Nos dias atuais, o motivo da garota para buscarcomunicaçãoespiritualeraatécompreensível.Entediadaesolitária,elaestavaembuscadeaventuras.Sua família era severa e religiosa, eospaismantinhamagarota eo irmãodela,Eric,de15anos,narédeacurta.Vicky,queeraumaadolescentemelancólica,tinhapoucosamigoseerabastanteintrovertida.Certanoite,quandonãoestavafazendonada,eladecidiutentarencontrarumamigonotabuleiroOuija.Após todos terem ido para a cama, ela colocou o “mágico tabuleiro falante” no chão, posicionou osdedossobreapranchetaecomeçouafazerperguntas.“Temalguémaí?MeunomeéVickyLouiseBeckford.Temalgumespíritoquepossameouvir?"De

repente, a pranchetadeslizou, subindodepressaparao sim.Para infortúnio futurodeVicky, ela agoratinhaumcolegadesencarnado.Dali em diante, ela passou a contatar o mesmo espírito todas as noites. A moça aguardava

ansiosamente pela comunicação noturna com seu condescendente “amigo" etéreo e passava horasconversandocomelepelotabuleiro.E,nãoédesesurpreender,oespíritotirouvantagemdasvaidadesda garota, sempre fazendo questão de elogiá-la: VOCÊ ESTAVA LINDA NO VESTIDO MARROMHOJE,VICKY.VOCÊÉTÃOBONITAEMCOMPARAÇÃOCOMAQUELASGAROTAS.AMANHÃ,USE UM RABO DE CAVALO, FICA BONITO ASSIM. Noite após noite, o espírito do tabuleiroenfatizavaquestõesmelodramáticasque,mais tarde, levariama excessos emocionais, vocême faz tãofeliz, querida, o tabuleiro dizia perversamente à adolescente solitária. EU ADORARIAME CASARCOMVOCÊ,SEPUDESSE.VOCÊ TEMTANTA SORTEDE ESTARVIVAERAOUTRO SUBTERFÚGIO.DIGA-MECOMO

FOIESTARVIVAHOJE,IMPLORAVAOESPÍRITO.Emresposta,Vickynarravacompadecidamenteosacontecimentos do dia.Na sequência, ela fazia perguntas à coisa.O espírito respondia com históriassobreamortedelee sobrecomose sentira solitárioantesde“conhecê-la".Vickyacreditavaemcadapalavra. Ardilosamente, todas as noites, o espírito exacerbava as emoções da garota. Então, paravaabruptamentedesecomunicaredizia,paraprovocá-la:VEJOVOCÊAMANHÃ.Nodecorrerdemuitosmeses,aentidadelevouVickyaacreditarqueeraoespíritodeumadolescente,

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umaespéciede“anjoadolescente",quehaviamorridoquandoagarotaaindaeramuitopequena.Ingênuae sem desconfiar de nada, Vicky respondia, dizendo ao “rapaz" tudo sobre si mesma e os seussentimentos.Por suavez, o espíritodo tabuleiro comunicava “intimidades" semelhantes à garota.Nãoobstante,naúnicaocasiãoemqueelapediuqueoespíritolherevelasseseunome,aentidadeopressorarecusou,dandoadesculpaesfarrapadadeque“nuncadeviarevelaroseunomeaumapessoaviva,ouentãoseriaforçadoaretornaràsbrumas”.Comopassardotempo,porém,Vickyapaixonou-sepeloespíritodotabuleiroOuija,queelapassoua

vercomonamorado.Pararetribuirsuaafeição,oespíritodavaàmoçainformaçõessobreeventosfuturosinsignificantes.Depois,elatestemunhava,pelacidade,incidentesqueoespíritodisseraqueocorreriam.Nogeral,oespíritodotabuleiroOuijatornou-seextremamenteconfiávelparaVickyBeckford.Depois de um ano trocando intimidades pelo tabuleiro,Vicky ficou emocionalmente dependente do

espírito.Duranteaúltimasemanadefevereirode1974,eladeuumpassoadiante.“Vocêpoderevelaromeufuturo?”,perguntou.O espírito mostrou-se mais do que feliz em atendê-la. Em uma sessão longa e carregada de

envolvimento, ele apresentou um cenário da vida de Vicky pelos seis anos seguintes, fornecendo-lhedetalhesespecíficos,atémesmoadatadenascimentodoseuprimeirofilho,eofatodequeelateria,aotodo,trêsfilhosaté1978(todasessasinformaçõesacabariamseprovandocorretas!).OenvolvimentoarrebatadordeVickycomumespíritodesconhecidologoadeixouaindamaiscuriosa

e impaciente. Ela queria ver o namorado invisível. Na madrugada de sábado, 2 de março, a garotaimplorouqueelesemanifestasse.Apenasumavez,disseaoespírito,elaqueriavercomoeleera.Namanhãdodiaseguinte,umdomingo,PeteBeckfordsaiue tentoudarpartidanoseucarro,maso

veículo não funcionou. Erguendo o capô, ele observou que os cabos da vela de ignição haviam sidoremovidos; as mangueiras de borracha, soltas; e a correia da ventoinha, cortada. Não muito tempodepois,Vicky tentoudar partida nopróprio carro.Ele tambémnão funcionou e, por fim, teveque serrebocadoparaumaoficinamecânicalocal.Nodiaseguinte,osmecânicosdeduziramquepartesinternasdomotorhaviamsidodesmontadas.Naquelasemana,outrosincidentesdevandalismoaparenteocorreramaoredordacasadosBeckford.

A campainha dos fundos foi arrancada da sua caixa.Os arbustos plantados junto ao alicerce da casaforamarrancadosdochão—comraízesetudo.Notelhado,umcanodeferrofundidode1,8metroqueacomodavacaboselétricosfoiinexplicavelmentedobradoemumângulodenoventagraus.Nasexta-feira,8demarço,PeteBeckfordmarcou“umpneu furado”nocalendáriodacozinha.Tão

logoocarrodeVickyvoltoudaoficinamecânica,umdosoutrospneusmurchou.Nodiaseguinte,sábado,o pai dela fez amesma anotação no calendário; embora, dessa vez, parecesse que o pneu havia sidocortadocomumafaca.Nesseínterim,inexplicavelmente,Vickyjánãoconseguiacontataronamoradoinvisívelpelotabuleiro

Ouija.Noiteapósnoite,ela tentavasecomunicar,masapranchetasimplesmentedeslizavaparaadeus.Elanãofaziaideiadequeoseubem-amadoetéreohaviasemanifestadodefato:naformadeumvândalosobrenatural.Nasegundasemanademarço,osdanosmateriaisàcasaeaoscarros jáeram tãopreocupantesque

PeteBeckfordfezumareclamaçãoàpolícia-Quandoospoliciaischegaram,Peteressaltouadestruiçãocausadaàsplantaseaosarbustosdojardim,aoexteriordacasa,eaaparenteinvasãoàgaragemtrancadaparafurarpneusedesmontarmotores.Emcercaocasião,elechegaramesmoaouviralguémdarfortespancadasnacasapeloladodefora!Antesdepartirem,ospoliciaisgarantiramaPete—umrespeitávelmembrodacomunidade—queficariamdeolhonapropriedadeduranteaspatrulhasnoturnas.Todavia,posteriormente,naquelasegundasemana,veiooprimeiroindíciodequeosdanosnãotinham

nadaavercomgarotostravessosdavizinhança.Depoisdotrabalho,Peteeaesposa,Sharon,estavamsentados na cozinha fazendo perguntas a Eric sobre os amigos dele. Esses incidentes de vandalismo

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seriamresultadodealgumtipoderixacolegial?Derepente,ostrêsouviramalgoseratiradocontraumaparedee seestilhaçaremalgum lugardentrodacasa.Percorrendo-acomcautelapara investigar, elesencontraramumburacodequasecinquentacentímetrosnaplacadegessodaparededoquartodeEric.O fato de que as bordas irregulares do buraco no gesso apontavam para dentro da parede era

igualmenteinquietante.Ogolpeforadesferidoapartirdointeriordacasa!ParaosBeckford,oestranhovandalismoderepenteassumiuumanovaegravedimensão.Naquela noite, quando se recolheram, osBeckford ouviram algo raspando e arranhando dentro das

paredes.Eracomoseumesquilotivesseentradonacasa.Atentoaossons,noescuro,Petetambémouviuobarulhodeumatábuasendosolta.Saindodacamadeumsalto,eleacendeuasluzesepassoumeiahoraverificandoacasa,doporãoao sótão.Nãoencontrounenhuma tábua solta;naverdade,nãoencontrounada fora do lugar. Não obstante, os mesmos barulhos esquisitos e perturbadores continuaram pelorestantedasemana.Enquanto isso,ocarrodeVicky jáhavia tido trêspneusfurados,demodoquePetecomprouparaa

filha umnovo jogo de pneus radiais.Na terça-feira, 9 demarço, na garagem trancada, umdos novospneusdagarotafoifurado.Elepareciatersidorasgadocomumafaca.Naterceirasemanademarço,osfenômenoscomeçaramaseintensificar.Apósocairdanoite,alguma

coisa começou novamente a golpear a casa dosBeckford pelo lado de fora.As fortes pancadas, quesoavamcomocabum, ocorriamem sequências de três, e golpeavamcom tanta violência que faziamacasavibrar.Naturalmente,Petesaiuparainvestigar,masnãohavianadaquepudessever.Aomenosumadúziadevezesnaquela semana,eleeEric saíramdacasacom lanternas, tentandoemvãoencontraraorigemdaspancadas.À medida que aquela terceira semana se arrastava, batidas abruptas e irritantes começaram a ser

ouvidastambémdentrodacasa.Elasaumentaramdepressaemintensidade,atéqueosomfossecomoode um adulto batendo nas paredes. Quando a família ia dormir, as pancadas e raspagens aleatóriascontinuavam.Porvoltadameia-noite,osomdetábuassendoarrancadasdasparedespodiaserouvidoportodaapequenacasa.Nofinaldesemana,dias20e21demarço,asválvulasdepressãodosradiadoresavapordosistema

decalefaçãodealgummodoseafrouxaram,espirrandoáguaquentepelasparedesepeloscarpetes.OprimeiroimpulsodePetefoiresponsabilizarVickyouEric,maselesnãoestavamemcasaquandoissoaconteceu. Intrigado, apesar de aborrecido, ele recolocoumetodicamente os cilindros dos radiadores,mas,aintervalosdepoucashoras,elessesoltavamoutravez,provocandomaisdanosporcausadaágua.Porfim,eledesligouacalefaçãonoporão.Nessemeio-tempo,aspancadaspelacasaficavammaisfrequenteis—eintensas.Emvezdedescansar

naquelefimdesemana,PeteBeckford,umhomemcom23anosdeexperiênciaemdesigndemáquinas,quasedesmontouacasaembuscadaorigemdosbarulhos.Apóstrabalharodomingointeiroemvão,eledesistiu.Namanhãseguinte,precisandodesesperadamentedepazesilêncio,eleserendeuechamouumencanadoreumprofissionalqueconsertassecalefações.O profissional reparador de calefações chegou cedo na manhã de terça-feira da quarta semana de

marçoedeclarouqueosistemaestavaemperfeitoestadodefuncionamento.Contudo,eletambémouviuossonsdepancadaseacaboupassandoquasedezenovehorasnacasadosBeckfordtentandoacabarcomasbatidasintermitentes.Nofinal,aúnicacoisaqueelepôdedizeraPeteeSharonfoique“osbarulhosnãoestãosendocausadospelacalefação”.Naquarta-feira,oencanadorfoiexaminarosradiadores.Peteestavatrabalhandonasuafábrica,mas

Sharonexplicouque, todososdias,umaouduasválvulasdepressãoafrouxavam,espirrandovapor eáguaquente.Elatambémfalousobreaspancadasnasparedeseossonsdealgoraspandoearranhandoduranteanoite.Oencanadorfeztestesparaidentificarvazamentosdepressão,masosradiadorestambémestavamem

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perfeitoestadodefuncionamento.Porprecaução,eletrocouasválvulasantigaspornovas,apertando-ascom toda a força. Ainda mais estranhamente, tão logo ele passava ao seguinte, o novo cilindro eraencontradonochão,aoladodoradiador.Apóstestareconsertartodososradiadoresduasvezes,ele,porfim, recolocouosantigoscilindros.Emseguida, recolheusuas ferramentasedisseaSharonBeckford:“Dona,asenhoraestácomumproblemão!".Naquelamesmasemana,outrodospneusnovosdeVickyfoirasgadocomumafaca,mesmoqueocarro

estivesse estacionado dentro da garagem trancada como sempre.No entanto, pneus furados haviam setornadoproblemasinsignificantesemcomparaçãoaocaosqueestavaacontecendodentrodacasa.Diaadia—emespecialdepoisdopôrdosol—,aspancadasnasparedesdacasa ficavammaisaltas.Osgolpessurdoscostumavamperdurarhorasafio,noiteadentro.Quadrosedecoraçõescaíamdasparedescomaforçadoimpacto.Corajosamente, os Beckford tentaram lidar com aquele problema absurdo saindo para jantar,

perambulandoporshoppingcentersoufrequentandocinemasdrive-inquepudessemmantê-losforatantoquantopossível.Emboraasprimeirastentativasdafamíliadeevitarotumultotivessemproporcionadocerto alívio temporário, o que havia acontecido até então era apenas o prelúdio do pandemônio queestavaporvir.Nodomingo,31demarço,maisumcortedefacaapareceuemumdospneusnovosdeVicky.Aquela

era a sexta vez que um pneu era cortado ou murchava. Também era a última vez em que ela teriaproblemascomeles.Issoporque,naquelanoite,ovandalismoinexplicáveldoúltimomêstransformou-seematividadeostensivamentesobrenatural.Por volta das 22h daquele domingo, enquanto ocorriam as incessantes pancadas, Pete e Sharon

assistiamà televisãono seuquarto,o lugarmais silenciosodacasa.EriceVicky, commedode ficarsozinhos,estavamsentadosnochão,pertodospais.Derepente,portrêsvezesemsequência,asluzesseapagarameseacenderamsozinhas;emseguida,atelevisãodesligou.Nisso,osBeckfordviramapesadapenteadeirademadeiradoquartocomeçara levitarmisteriosamente,erguendo-seaalgunscentímetrosdochão.Horrorizados, eles observaram enquanto, repleta de coisas, a penteadeira — de 1,8 metro de

comprimentoepesandocercade110quilos—começouabalançarcomviolênciaparaafrenteeparatrás.Frascosdeperfumeedecosméticoscaíramnochãoequebraram.Emseguida,apenteadeiradesceueparou.Uminstantedepois,porém,umadasgavetasseabriudevagar,ficoususpensaporumsegundoe,então,fechou--sedesúbitoecomforça.Empoucotempo,todasasgavetasestavamabrindoefechando,sozinhas,deformaabrupta.Enquanto os Beckford permaneciam sentados, paralisados de terror, a* gavetas se aquietaram.

Imediatamente,umapesadacadeira,cheiaderou<pasdobradas,ergueu-seaunsnoventacentímetrosdochão, inclinou-teparao lado,derrubouas roupase,depois, caiu sobreelas comumbaquepesado.Aseguir,umdepoisdooutro,osquadrosergueram-sedosteu*ganchos,afastaram-sedaparedeeflutuaramemcírculopeloquarto.“MeuDeus”,gritouSharon, “oque fizemosparamerecer isto?"Nestemomento,o estradodacama

caiunochão.Acamadecasalcedeu,comPeteeSharonsobreela.Osquadros,então,caíramaochãoetodaaatividadecessou.Maistarde,naquelanoite,depoisdearrumaremabagunça,osBeckfordtentaramdormir.Noentanto,

quandoas luzes foramapagadas, a famíliaouviuo somdeumgatinhomiandonoquartodehóspedes.Minutosdepois,osomsetransformounochorodeumbebê.Petequeriaverificaroquarto,masobomsenso dizia-lhe para ficar longe dali. Os incessantes barulhos de algo raspando e arranhandotransformaram-seemsonsdecoisasrasgandoerebentando.Umavezmais,ouviu-seobarulhodetábuassendoarrancadasdasparedes;narealidade,pareciaqueacasainteiraestavasendodesmantelada.Pancadas recomeçaram no telhado e do lado de fora da casa, transferindo-se, em seguida, para o

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interiordasparedes.Ao longodeumahora,aspancadassemexeramatéchegaraocorredore, então,pararamdemaneiraagourenta.Derepente,batidasagudasevibrantessoaramnacabeceiradacamadePeteeSharon,comoseapeçaestivesserecebendomarteladas.Ocasalsaltoudacama,masobarulhocontinuou.Acertaaltura,Petecontoudezoitogolpescontínuosnacabeceirademadeira.À medida que o medo se espalhava pela casa, a atividade ficava ainda mais poderosa e intensa.

Quandoouviuamobíliatombandonasaladeestar,Peteestavaprestesasairparainvestigar,mas,então,umgritoassombrosoveiodoquartodeVicky.“Algumacoisaestavaaqui!”,disseagarota,ofegantedepânico.“Algumacoisaestavanestequarto,

comigo!”Nodia1ºdeabril, choverampedras!Elascaíamdocéuaberto, atingiamo telhadodosBeckforde

rolavam,caindonogramado.Apavoradaaoverqueumadaspedrasestourouajaneladosfundoseentrounacasa,Sharontelefonouparaomarido,notrabalho.Cansadoporcausadanoiteanterior,Petepediuàesposaqueligasseparaapolíciaedissequeiriaparacasanaqueleinstante.Quando Pete Beckford chegou à residência, a polícia já estava no local, também assistindo ao

inacreditável espetáculo de pedras caindo do céu «obre a despretensiosa casa.As pedras caíramporcercadeumahora,ao todo,edepoispararam.Desesperado,Peteperguntouaospoliciaisoque fazer.“Chameumpadre”,sugeriram.Comoumpadrepoderiaajudar?,pensouPete.Nãohavianada“religioso”comrelaçãoàsdificuldades

dafamília.PeteBeckfordficouemcasapelorestantedodia.Naquelanoite,quandoosolsepôs,móveiseobjetos

começaramalevitardentrodacasa,àvistadetodos.Algunsdositenscaíam,aopassoqueoutroseramarremessadoscontraasparedes.A terrívelatividade insidiosadurouanoite inteira.OmáximoqueosBeckfordpodiamfazererasairdocaminho,poisalgunsdosobjetospareciamseratiradosdiretamenteneles.Namanhãseguinte,comacasatodabagunçada,Peteestavairritadoosuficienteparaaceitarasugestão

dopolicial.Sendocatólicoromano,eletelefonouparaopresbitériodaigrejacatólicalocaleconversoucomopadrequeestavadeserviço.Osmóveisdacasaestavamlevitando,explicouPete;objetoscarosestavamsendojogadosnochãoequebrados;pancadas,coisasraspandoeoutrosbarulhosassustadoreseramouvidosanoitetoda;haviachovidopedrassobreacasa!OpadreanotouoendereçodosBeckfordeprometeuqueestarialáemumahora.Aperturbaçãoparouabruptamentequandoopadrechegou,mas,mesmoassim,Peteoconduziupela

casa.Pisandosobreescombrosemóveisrevirados,aúnicaavaliaçãodopadrefoiquealguémnacasaestava “perturbado” e eramelhor que ele chamasse um psiquiatra. Então, o clérigo partiu, ao que aspancadaselevitaçõesrecomeçaram.Atormentadoeconfuso,Petechegouatrasadoaotrabalhonaqueledia.Absolutamentefurioso,decidiu

iradianteeconfidenciaroproblemaaoúnicohomemquerespeitavaenoqualconfiava:oseusupervisor.Emumcubículocomparedesdevidro,Pete explicouoporquêde tantas ausênciasno seu registrodefrequência,queanteseraexcelente.Porquaseumahora,Petereveloutodaahistóriainsólitaaohomem.OsupervisoracreditouemPeteequeriaajudá-lo,masnãosabiacomopoderiaserútil.Noentanto,eleselembravadonomedealgumaspessoasqueouvirafalandonorádio.“OsobrenomedeleséWarren,creioeu:lembroqueelesdiziamque,àsvezes,apenasumobjetoabençoadocolocadonacasafariacomqueacontecimentosesquisitosparassem.Nãoseicomoentraremcontatocomessagente,masachomesmoqueelessãoasuamelhoralternativa.”AconversadeixouPeteBeckfordbastanteanimado.Nofinalda tardedaqueledia,eledesceuatéo

porãoedesembrulhouumaestátuadegessodemeiometrodeSantaAna,queeleesperavaquepudesseresolveroproblema.Contudo, assimquePetea levouparacima, eleouviuuma tremendaconfusão liembaixo. Ao correr de volta para investigar, ele encontrou amobília da sala de recreação no porão

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flutuandoemplenoar.Àesquerda,pedrasdesabãoevidrosdedetergentetambémestavamlevitandonalavanderia,espirrandooseuconteúdonochão.AirracionalidadedaquilotudofoidemaisparaPete.Elesearrastoudevoltaláparacimaedeufaltadaestátua.Maistarde,eleaencontrounobanheiro,aoladodovasosanitário.Naquelanoite,alémdetodososoutrosfenômenosintoleráveis,guinchosebarulhosinfernaisencheram

acasadosBeckford.Depoisdeumabusca, namanhã seguinte, a estátuadeSantaAna foi encontradadebaixodoscobertores,nacamadoquartodehóspedes.Antes de descobrir o paradeiro da estátua, porém, Pete encontrou obscenidades escritas a lápis na

porta do quarto de Eric, o mesmo tipo de baixeza vulgar que se encontra em um banheiro público.Acreditando que Eric pudesse de algum modo estar por trás de tudo, Pete foi tomado de fúria erepreendeu duramente o filho. Eric, porém, simplesmente entrou em desespero e desatou a chorar dofundodocoração.Ogarotonãohaviafeitonadadeerrado.Petepediudesculpasaele.Emboraperplexo,PeteBeckfordaospoucoscomeçouasedarcontadeque,poralgummotivomisterioso,suafamíliacaíranasgarrasdamesmacriatura—fosseoquefosse.À medida que se arrastava a primeira semana de abril, dormir tornou-se impossível. Farto, Pete

decidiuretirarafamíliadacasaatéquesepudesseencontrarumasolução.Talvezelesapenasestivessemimaginandoaquilotudo,pensou,outalvez,seficassemfora,o“feitiço"sequebrasse.Levandoartigosdehigienepessoaleumamudaderoupaslimpas,osBeckfordforamparaomotelmaispróximo.No motel, naquela noite, eles dormiram todos no mesmo quarto, por segurança. Todavia, logo

descobriramquenãohaviacomofugirdassuasdificuldades.Luzesacendiam-seeapagavam-sesozinhas.Quadrosabandonavamasparedeseaspancadasrecomeçaram.Namanhãseguinte,quandoosBeckfordvoltaramaoseuquartodepoisdocafédamanhã,tudoestava

revirado.Osmóveisestavamtombados,gavetashaviamsidoarrancadas.Lençóiseroupas,colchõesemolasestavamespalhadospelocômodo.Aocomeçaremaarrumar tudo,ogerenteapareceuparadizerqueoutroshóspedeshaviamreclamadodas“crianças”Beckfordbatendonasparedesanoiteinteira,eafaxineirahaviacomentadosobreovandalismoridículonoquarto.PeteBeckfordassumiuaresponsabilidadeportudo,pediudesculpasegarantiuaogerentequeaquilo

não aconteceria de novo. Porém, naquela noite, aconteceu.No dia seguinte, os Beckford não tiveramescolhasenãovoltarparacasa.No sábado, 6 de abril, quando Pete abriu a porta da frente de casa, a mistura de odores era

inacreditável. Tapetes e camas estavam impregnados de respingos de comida, produtos de limpeza,bebidas alcoólicas, graxa de sapato, água de colônia e perfume.Toalhas estavam enfiadas dentro dosvasos sanitários.Amobília de todosos cômodos estava revirada, parte dela quebrada.Pelas paredesestavamrabiscadasblasfêmiasverdadeiramentedoentiasemtintavermelho-sangue,bemcomoacusaçõesobscenasaDeuseaCristo.OsBeckfordlevaramorestantedodiaparalimparasparedeserecolocaracasaemordem.EmcasosparticularmenteviolentosqueosWarren investigaram,a característicamaisimpressionantedaestratégiadeopressãoéessetipodedestruiçãosistemática.Oresultadodoviolentoataquedessesvândalosinvisíveisésuficienteparadeixarumobservadorchocadoeboquiaberto.Parecerealmente que um batalhão de imbecis marchou pela casa. Há destruição por toda parte. Palavrasindecentesestãorabiscadasnasparedes.Peçasestimadaseobjetosreligiosossãoescolhidosparaseremconspurcadosearruinados.Emtermosdedinheiro,podesermuitocarobancaroanfitriãododemônio.Não obstante, por que a destruição? Por que essas entidades incorpóreas se dariam ao trabalho dedestruirobjetosmateriais?“Taisespíritossãoaessênciadacrueldade”,dizEd.“Sevocêpassoumetadedavidatentandomontar

umacasaboaeconfortávelparasuafamília,émuitoangustianteficarparadoeassistira5mildólaresemmóveisvirar lixoemumaquestãodeminutos.Viaderegra,muitosserãoosespíritosresponsáveispelaaçãoviolenta—eelesvãoarruinar tudoque tenhavalorparavocê.Evocênãopodefazernada

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sobreisso.Setentar,seráimpedido,incapacitadoporalgumaforçainvisível,ouentãoestarásujeitoaseratingidonacabeçaporumobjeto.Muitasvezes,comonocasoBeckford,aspessoasnãoestãosequeremcasa quando a destruição acontece. Elas simplesmente chegam e encontram todos os seus pertencesarrasados, destruídos ou quebrados. É tão inconcebível que um ser incorpóreo possa causar tamanhoestragoqueaprimeirareaçãodaspessoasépegaro telefonee ligarparaapolícia,acreditandoqueacasa foi saqueada por ladrões.No entanto, o efeito final da destruição é psicológico.O espírito estátentandoquebraravontadedoindivíduo.“Nãoesqueça”,continuaele,“queos fenômenosexternossãousadoscomodistração.Enquantoestá

quebrando a mobília, o espírito dedica a mesma quantidade de energia para desestabilizar a pessoainternamente.Paramantersuasemoçõessobcontroleduranteaopressão,vocêteriaqueterapaciênciade um santo. Quer a perturbação o deixe assustado, deprimido, furioso ou qualquer outra coisa, éimpossívelnãoficaremocionalmenteabalado.Nãohánadadoqueseenvergonhar—issoéserhumano.Embora seja aceitável que se fique abalado como resultado da situação, outra coisa completamentediferenteéperderocontrole,porque,emúltimaanálise,éissooqueoespíritodemoníacoestátentandofazer.”Nodia7deabril,DomingodeRamos,oirmãodePete,Terry,levariasuafamíliaàcasadosBeckford

para jantar.Ao contrário de Pete, Terry era um profissionalmais instruído, embora ambos os irmãosfossemtrabalhadoresdedicadosqueajudaramumaooutroavidainteira.Talvezagora,pensouSharon,elesconseguissemresolveraqueleproblemajuntos.Ela e Pete explicaram a Terry o terrível suplício pelo qual estavam passando. Todavia, nenhuma

atividade incomumaconteceunaquele domingo enquantoo clã dosBeckfordpermaneceu sentadoparajantar.AúnicarespostadeTerryBeckfordfoidizerqueprecisavahaverumaexplicaçãoracionalparatudoaquilo.Depoisdojantar,asduasfamíliasseguiramparaasaladerecreaçãonoporão.Terrylevaraslidesda

suarecenteviagemdefériascomafamília,inclusivefotografiasdaTerraSanta,umaatraçãoturísticanasuarota.Quandoapareceuumslidequemostravacruzes,estátuase templos,Vicky levantou-sedeumsaltoe

apontou.Dealgumaformainacreditável,daparededoporãobrotavaágua!Derepente,asluzesseapagarametomaramaseacender,sozinhas.Uminstantedepois,começaramas

pancadasláemcima.Juntos,TerryePetecorreramparaotérreoafimdedescobrirdeondevinhamaspancadas.Noentanto,semprequeseaproximavam,obarulhosimplesmenterecomeçavaemoutraparteda casa. Então, do telhado vieram sons como se carpinteiros estivessem em cima da casa, batendomarteloscomtodaaforça.Acasainteiravibravae,umavezmais,quadroscaíamdasparedes.Enquantoisso,aesposaeosfilhospequenosdeTerry,tomadosdepavor,haviamseguidooshomensescadaacima.PeteinsistiuqueTerrytirasseafamíliadeledacasa.Terrydetestouaideiadedeixaroirmãoemumasituaçãotãoestarrecedora,mas,naquelanoite,nãoteveescolha.“Nãohánadanaturalnisso”,admitiu,enfim,Terry,àportadafrente.“Émelhorprocuraroutropadre

quelhedêouvidos!”Naquelanoitededomingo,oreinodeterrorcontinuou.Noentanto,alémdaquilo,pareciaquetodosna

casahaviamenlouquecido.“Voumatarvocê!”,Vickygritavaparaoirmão.“É?Eumatovocêprimeiro!”,Ericrosnavadevolta.“Euvoumatarosdois!”,Sharongritavaparaosfilhos.Emmeio às brigas e às discussões, as pancadas surdas continuavam, e com amesma intensidade.

Nessemomento, a cabeça girando, vendo a casa destruída, PeteBeckford desmoronou.Com lágrimasreluzindo nos olhos, elemandou que todos parassem!Quando olhou para o pai, Eric debulhou-se emlágrimas, e Sharon também desatou a chorar. Vicky, porém, parecia indiferente e insensível. Ela se

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trancounoquartoeficoualiatéoamanhecer.Nodiaseguinte,8deabril,PeteBeckfordestavaexaustoepálido.Elejáhaviausadotodasassuas

folgas pormotivo de doença para cuidar da questão do pandemônio.Algo tinha que ser feito,mas, aquemelepoderia recorrer?Profissionaisdeconsertonãoconseguiramajudar,nemapolícia, a igreja,tampouco o próprio irmão. Enquanto Pete permanecia de pé junto à janela da cozinha, ele se pegoufitandoagrandecruznoaltodacasaderetirodomonastériovizinhoàsuapropriedade.Derepente,ocoraçãodePeteinundou-sedeesperança.Osmongessaberiam!Peteaguardouatédepoisdahoradocafédamanhãe,então,subiuaviaatéacasaderetiro,ondeum

bondosomonge demeia-idade o conduziu para o saguão de entrada. Pete começou logo a explicar oproblemadamelhormaneiraquepodiaepediu,emdesespero:“Osenhorviria,porfavor,àminhacasaparaverdoqueestoufalando?”.Omongeconcordou.Juntos,elesdesceramaviadevoltaàcasatérreadosBeckford.Dentro da residência, o monge examinou os danos causados à mobília e às paredes. Ele ouviu as

pancadasaleatóriaseleuasobscenidadesrabiscadaspelolugar.Nãoobstante,apesardaquilotudo,eraevidentequeomongenãoseperturboucomnadadoqueviu.Emvezdisso,elefezPetesesentar.“Deixe-meexplicaroqueacreditoestaracontecendoaqui.Existemcoisasqueocorremnestemundo

quesãodeliberadamentemantidasemsegredo—coisasquealguémsódescobrepelaexperiência.Naminhaopinião—etenhoapenasumconhecimentolimitadodetaiscoisas—,esteproblematerrívelquevocêsestãosofrendoestásendocausadoporespíritos.Vocêacreditanessascoisas,Pete?”“Ultimamente,padre,estouabertoasugestões.”“Muitobem,então”, recomeçouomonge. “Esse tipodeespírito,que senteprazer ematormentar as

pessoasnãoéumfantasma,masumespíritodeumaordemespecial.Nãosabemosquasenadasobreeles,excetoquesãoespíritosrealmenteperversos.Ajulgarpelopropósitodasaçõesquerealizam,pareceriaquehá algumacoisa errada comeles.Eumesmonãopossodesafiar o tipode espíritoqueparece terentrado na sua casa, embora existam outros que o possam.Mas, lembre-se", ressaltou o monge, “háoutrosmistériosnomundo.Osmistériosdaciênciaserevelamaosnossosolhostodososdias.Nemtodaperguntaestranhatemumarespostaestranha.Amentenospregapeças,anaturezatambém.AntesqueaIgrejadesigneumclérigoparaumcasocomooseu,aquestãodeveprimeiroserprovadacomosendogenuinamenteespiritual.Oquevocêacha?”“Achoqueépossívelqueo senhor tenhadesvendadoaquestão,padre.Eugostariade seguirnessa

linha”,concluiuPete.“Então,voulhedaronomedealguémquetalvezconsigaajudá-loasolucionaresteproblema.Onome

deleéEdWarren.”EssaeraasegundavezquealguémaconselhavaPeteBeckfordaprocurarosWarren.Quandoosdois

homenscaminharamdevoltaàcasaderetiro,omongefezumaligaçãoeconseguiuonúmerodotelefonedeEdeLorraine.“Émelhorvocêentraremcontatocomessaspessoasomaisrápidopossível.”“Éexatamenteoquevoufazer”,assegurou-lhePete.Maistardenaquelamanhã,notrabalho,PetetelefonouparaosWarrenefaloucomJudyPenney,uma

jovemquetrabalhacomointermediáriaquandoEdeLorraineestãoforadacidade.Judyjáouviualgumashistóriasarrepiantespelotelefone,masaquelaemparticularadeixoucommedo.“OsWarrenviajaramparaooeste”,eladisseaPeteBeckford,“mastransmitireioseurecadoaeles.Sugiroqueosenhorvoltealigarnosábado;atélá,elesjáterãovoltado.”Para sábado, porém, faltavamcinco longos dias: eraSemanaSanta, o períodomais notório do ano

para atividade demoníaca. Na manhã seguinte, ao nascer do sol, os Beckford acordaram ao som deobjetos golpeando o telhado. Saindo para investigar, elesmais uma vez viram pedras caindo sobre acasa,vindasdonada.Duranteasemanainteira,pedrascomeçavamacairsobreacasadosBeckfordaoalvorecer—eparavamaoentardecer.Suaquantidadeevelocidadevariavam.Algumascaíamdevagar,

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comoqueafundandoemágua.Outrasdesciamemumziguezagueirregular.Pordiversasvezesocorriaumviolento dilúvio de pedras e rochas, algumas caindo com força suficiente para ficarem alojadas notelhado.Quandoatingiamochão,cercademetadedaspedrasdesaparecia;asoutraspermaneciamali,para que a família as limpasse mais tarde. Dentro da casa, a atividade antirreligiosa tornara-se tãoviolentaquantoachuvadepedras lá fora.Crucifixoseramviradosdecabeçaparabaixo.Quadrosdesantos eramestilhaçados -ospedacinhosdeixadosdesafiadoramente emumapilha.AestátuadeSantaAna,queosBeckfordagoramantinhamnasaladeestar,eraescondidacomfrequência,comosealgonãosuportassevê-la.Defeto,aatividadeantirreligiosachegouaumridículoextremo.Certanoite,osBeckfordouviramum

tremendotumultonoquartodeEric.Quandoabarulheiracessou,elesforamatéláeencontraramumadascamasdesolteirodestruída.Ocolchãoestavadebaixodaarmaçãodacama;acamaboxdemolas,noentanto,estavaescoradanaparede,cobrindoumaimagemdeJesus.Em outra ocasião, enquanto estavam sentados na sala de estar, os Beckford ouviram um gemido

horrendo e pesaroso ressoar dentro da cozinha. Com muita cautela, Pete seguiu pelo corredor até ocômodo. Nomeio da cozinha estava o grande refrigerador de duas portas da família; ele havia sidoafastadodaparedeatéoexatocomprimentodoseufiodeeletricidade.Nanoiteseguinte,elesouviramomesmogemidoprolongado;maisumavez,orefrigeradorfoiencontrado90centrodocômodo.Talvez ainda mais intimidadora tenha sido a constatação de que nem sequer a matéria física

representavaobstáculoàsentidadesopressoras.Peteficavacomaúnicachavedofreezerhorizontalquese localizavanoporão.Dealgummodoextraordinário,certa tarde,quandoabriuofreezerpararetirarprovisões, ele encontrou ali dentro a grande bigorna de ferreiro, que elemantinha na garagem.Maistarde, Pete também descobriu que a sua enorme caixa de ferramentas, feita de aço, havia sidoteletransportadaparaosótão.Piorde tudo,agorapareciahaverumapresença físicana residência.Quandosozinhos,membrosda

famíliatinhamanítidasensaçãodequealguémestavanocômodo,fitando-ospelascostas.Oterrorerareforçadopelosomdepassos,pelofarfalharderoupaseporumarespiraçãopesada.Certavez,quandoseviroudepressa,SharonBeckfordviuumaformanegradepé,àssuascostas,noquarto.ParaosBeckford,aSexta-FeiradaPaixão—12deabril—daqueleano foiumdiadepuropavor.

Uma atmosfera ameaçadora envolveu a casa.De fato, parecia queo lugar inteiro poderia explodir derepente enquanto o pandemônio enfurecido continuava sem perder intensidade. Pedras esmurravammisteriosamenteoladodeforadolocalaomesmotempoemqueocaosdesenfreadoseguiadentrodela.Somando-seatudoisso,agorahaviaaquelapresençainvisívelquepareciacadavezmaisrealefísica,atal ponto que ninguém tinha coragem de ficar sozinho na casa nem por um instante. Os Beckford,amedrontadoseatormentados,tinhamumaúnicaesperança—osWarren,quemquerqueelesfossem.

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LIBERTAÇÃO

Odiaera12deabril.DentrodoterminaldoaeroportoLaGuardia,pessoassuficientesparaencherumapequenacidadeiame

vinhamem rebuliço, à esperade aviões.Do ladode fora, naplataformadeobservação elevada, o arestava impregnadodevaporesdediesel edogemidoagudodemotoresde turbo-hélice.Ao longe,dolado esquerdo, via-se a silhueta dos prédios de Manhattan contra o sol poente. Acima, no céucrepuscular,jatoschegavamvindosdooeste,faziamumacurvaàdireitaacimadaWhitestoneBridgee,então,umaum,desciamlentamentedevoltaaosolo.Abordodograndeaviãodetrêsmotoresquepousavalogoapósas18hdaquelefimdetardeestavam

EdeLorraineWarren,voltandoparacasadepoisdedezdiasfazendopalestrasemdiversoslugares.Eleshaviam palestrado seis vezes em quatro estados, aparecido em duas oportunidades na televisão,respondidoatrêshorasdeperguntasemumprogramaderádiocomaparticipaçãodeouvintes,visitadoumacasanãomuitomal-assombradaeconcedidoquatroentrevistasseparadaspararepórteresdejornaisestudantis.Ocasalficoufelizaoretomar:osWarrenestavamansiososparapassaroDomingodePáscoacomparentes.Nasegunda-feira,elesviajariamnovamente,agoraparaoestadodoMaine.Porvoltademeio-diadodiaseguinte,sábado,Lorrainerecebeuumtelefonemadeumhomemforade

si de tantomedoe angústia.Ao seumodoagradável, elao acalmou.O senhorpoderia explicar o seuproblemadamaneiramaisespecíficapossível?”Ao longo de quinze minutos, Pete Beckford desfiou uma história quase que incrível demais para

acreditar.Elecontousobreospneusrasgadosgosmotoresvandalizados,quelhehaviamcustadomaisde500dólaresparaconsertar;contousobreosfrascosdecatchup,óleosparasalada,alvejanteseperfumesque flutuavam pelo corredor e derramavam o seu conteúdo sobre tapetes, móveis e eletrodomésticoscaros;contouqueEumaestátua,umabigornaeumrefrigeradorsemoviamporcontaprópria;quemóveispesadoslevitavam;quepedrascaíamsobreasuacasaequebrotavaáguadasparedes.Elejánãopodiasuportar.Peteimplorouporajudaedissequeestavadispostoapagarovalorquefosseporela.Aprincípio,ocorreuaLorrainequeaimaginaçãodePeteBeckfordtivessesaídodocontrole.Contudo,

quandoeleterminouorelato,ficouevidenteparaelaquearesidênciadaquelehomemestavasofrendoumassédio diabólico. “Ed está cuidando de outro caso neste sábado”, disse-lhe Lorraine. “No entanto,podemos iratéasuacasaamanhã,nodomingo.”Peteconcordounahora.Apósaangústiadasúltimasseissemanas,fesperarmaisumdiacomcertezanãotrariagrandesconsequências,pensouele.Ademonologianãoétãosomenteumaquestãodesairàcaçadesúbitastorrentesdeatividadeinsólita.

Paraondequerquevá,eapesardasuaagendanormalmentecheia,aprioridadedocasalWarrenéajudaraquelesqueestãosendooprimidos,atacadosouatémesmopossuídosIpelasforçasdastrevas.Naquelanoite,LorrainerefezasmalasdeviagemIe,noiníciodamanhãdodiadePáscoa,jáestavamacaminhodeVermont, comumaparadanacasadePeteBeckford.Ocasal chegouà residênciadosBeckfordnatardedodiadePáscoa.“O lugarpareciabemIcalmo”,dizEd,“excetopelaspedrasespalhadaspelogramado.” Dentro da casa, porém, as coisas não estavam nada calmas. Móveis caros mostravam-selascados emanchados.Marcas cobriamasparedes, eumodor repulsivopermeavao ar.Lorrainenão

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dissenada,massentiu,naocasião,apresençadeentidadestãonumerosaseameaçadorasaliquetevequeseesforçarparanãovoltarparafora.Parecia-lhequeumafúriadesvairadaestavaacaminho,queopior,defato,aindaestavaporvir.Depois de apresentar a família a Ed e Lorraine, Pete lhesmostrou E o restante da casa. Em cada

cômodo,eleparavaparacontarpelomenosKumadúziade incidentes, relatosqueosWarrenouviamcomatenção—tomandoanotaçõesmentaisdaatividadequeeledescreviaenquantosemantinhamalertasaqualquerexagerooulábiaporpartedohomem,aonarraroseventos.Tendopercorridoacasa toda,EdeLorraineconduziramumaentrevista investigativacomosquatro

membrosdafamília.Primeiro,pediramquePetefalasseportodosefizesseumacronologiadoseventosque jáhaviamacontecidonacasadesdequeoassédiocomeçara.Pormaisdeumahora, ele forneceudetalhesmeticulososdoseventosqueeram—naavaliaçãodosWarren—potencialmenteprovocadosporespíritos.“Algumdevocêssabeoquepodeterdesencadeadoesteproblemanacasa?”,perguntouEd.“Não”,responderam.“Quandovocêsnotaramaprimeiraocorrênciadeatividadeincomum?"“Nósachamosquefoinodia3demarço,quandoopneudocarrodeVickyfurouquandoelaestavana

drogaria.Emborapossatersidoumacoincidência,parecequefoioprimeiroincidente”,esclareceuPete.“Alguémnavizinhança,ou algumparentemaispróximo, faleceu recentemente—alguémcomquem

talvezvocêsnãoseentendessemmuitobem?”“Não.”“Alguémnafamíliaestáfazendotratamentocomumpsiquiatra?”“Não.”“Vocês compraram algum móvel de antiquário ou de segunda mão — digamos, em um bazar de

garagem—antesdeotumultocomeçar?”“Não.”“Alguémdafamíliacomprououganhouumpresenteouumaestatuetaestrangeiraincomum?Estátuas

demadeira?Umbonecodevoduhaitiano?Umquadrodealgumadeidadedeoutrareligião?”“Não.”EnquantoEdeLorrainefaziamperguntasaosBeckford,começaramaocorrerbatidasintermitentes.Os

sons foramouvidosdentrodasparedespor algunsminutos, depoispararam.Eles recomeçaramalgunsminutos mais tarde, dessa vez emergindo de vários pontos do piso. Os barulhos eram audíveis osuficienteparaseremregistradospelogravador.OsWarrencontinuaramcomasperguntas,ignorandoaatividade.Então,Eddeuinícioaumasériede

questionamentosespecíficosqueeleesperavaquepudesseidentificaraorigemdoproblema.“Vocêstêmalguminteressenoocultocomopassatempo?Têmparticipadodesessõescomgruposde

expansãodeconsciência?”“Não.”“Algumdevocêscomprouou tomouemprestadosdabiblioteca livrossobresatanismoourituaisde

bruxaria?”“Não.”“Peloquevocêssabem,foirealizadaalgumasessãoespíritanestacasa—mesmoanosatrás?”"Nunca”,foiarespostafirme.“Eric, Vicky, algum dos seus amigos tem interesse no oculto, ou talvez faça rituais ou magia

cerimonial?”"Não.”"AlgumdevocêsusouumtabuleiroOuijaoualguminstrumentodeescritaautomática?”“Ai”,disseVicky,empoucomaisqueumsussurro.

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“VocêusouumtabuleiroOuija,Vicky?”,Lorraineperguntouespecificamenteparaagarota.“Sim”,admitiuela,parasurpresadafamília.“Tudobem,querida,entãoémelhorvocênoscontartudosobreisso”,disseLorraine.“Comecebemdo

início,porfavor.”Com isso,VickyBeckfordcontoucomoestiverausandoo tabuleiroOuijapara secomunicarcomo

espírito de um “adolescente” que supostamente haviamorrido nas redondezas uns dez anos atrás. Elaadmitiununcaterdefatovistooespírito,embora,umavez,tivessepedidoparaqueelesemanifestasse.A garota também defendeu a existência real do espírito, citando eventos futuros que ele previu comexatidãodiasantesdeacontecerem.Elanegouqueoseuamigoespiritual;pudesseterprovocadoaquelaatividadehorrendanacasa.Eleera“gentilecompreensivo”,nãocrueledestrutivo.“Esseespíritorevelouonomeavocê?”,Lorraineperguntouàmoçaquandoelaterminoudefalar.“Não,elemedissequenãopodia”,respondeuVicky.“Presumoquevocêaindaestejasecomunicandocomesseespírito”,disseLorraine.“Não”,admitiuVicky,comcertatristeza.“Devoterfeitoalgumacoisaerrada.Nuncamaisconseguime

comunicarcomeledepoisquepediparaelesemostrarparamimnaquelanoite.”“Quandofoiaquelanoite?”—pressionou-aLorraine.“Só um minuto”, disse Vicky, levantando-se e indo para o quarto. “Dia 2 de março”, gritou ela,

voltando,emseguida,paraamesa.“Eaatividadecomeçou...?”“Nodia3demarço!”,concluiuPeteBeckford,olhandoparaEd.Pete,SharoneErichaviamouvido,estupefatos,àhistóriainusitadadeVicky.Comopoderiaalgotão

bobocomoumtabuleiroOuijacausartamanhacalamidade?Assim,emmeioaobarulhodaspancadas,Ednão teveescolhaanãoserpassarameiahora seguinteexplicandoà famíliaa realidademedonhadosfenômenosdemoníacos.Quandoeleterminousuaexplicação,osBeckfordpermaneceramsentadosemsilêncio,perplexos.“Sr.

Warren”,Peteporfimsentiu-secompelidoaindagar,“comosabedissotudo?”“Sr.Beckford”,respondeuEd,“esseéomeutrabalhoeeuovenhofazendoportodaaminhavida.Eu

souumdemonologista.”“MeuDeus”,foitudooquePeteconseguiudizer.EncerrandoaentrevistacomafamíliaBeckford,EdeLorrainepediramlicençaparaconversarasós

lá fora, no gramado da frente. O casal concordava que o caso era muito mais sério do que haviaimaginado no início. Com certeza, o assédio nunca cessaria por simesmo.Na realidade, a atividadeestava chegando a um estágio perigoso. E, como a família já havia percebido, eles não evitariam oproblemafugindodele—oproblemaosseguiriaparaondequerquefossem.OsWarrenchegaramàconclusãodequeasoluçãomaisrápidaseriaenvolveraIgrejaimediatamente—paraqueofenômenopudesseserverificadoe,então,combatido.Edsabiaque,emalgummomento,umclérigo teriaque testemunharoqueestavaacontecendo,eele

queriaqueopadreDanielespecificamente fosseessa testemunha.ComapermissãodosBeckford,eletelefonou para o mesmo padre escolhido como inimigo pelo espírito vinculado à boneca de panoAnnabelle. O padre Daniel, um jovem sacerdote versado de trinta e poucos anos, havia estudadodemonologiarecentementee,aolongodoúltimoano,Edvinhasendooseututornosaspectospráticosdadisciplina.Algumas horasmais tarde, logo depois do pôr do sol, o padre chegou à residência dos Beckford.

Naquelemomento,aatividadejáhaviarecomeçado,compancadasesonsdecoisasraspando,bemcomoa levitação de pequenos objetos. Para testar se as pancadas estavam sendo provocadas de formadeliberada,Edbateuduasvezesnaparede.Ouviram-seduaspancadasemresposta!Emseguida,eledeuquatro batidas em uma sequência rápida. Quatro batidas rápidas soaram no piso, depois na mesa.

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Obviamente,haviaumainteligênciaportrásdaatividade.EdpediuqueopadreDanielrecitasseumabênçãoemcadacômodo,oque,depoisdefeito,reduziua

força e a frequência das pancadas — o aspecto mais irritante da perturbação. Depois disso, Ed eLorrainesentaram-senasaladeestaredeixaramopadreapardasituação.OsWarrentinhamquepartirparaoMainenaquelanoite,masopadreDanielficariacomafamíliaduranteaausênciadocasal.“Agoravocêseráalvodeódio”,Eddisseao jovempadre,semrodeios.“Emhipótesealgumavocê

devedesafiarosespíritosaindanãoidentificadosqueestãoaqui.Vocêcorreperigofísicoementalnestacasa. Se não for cauteloso, pode se machucar seriamente. Por isso, não tente resolver os problemassozinho.Apenasseja forteenãodeixequesuasemoçõesodominem.Useo rosário,nãoa raiva.”Edentregou-lhe um cartão. “Aqui está o número do telefone de onde estaremos. Não suponha nada. Sehouver algumacoisa quevocênão saibaou comâqual nãopossa lidar, liguepara nós, dedia oudenoite.” Anotando outro número de telefone, Ed acrescentou: “O padre Shawn McKeegan será o seusuperior imediatonestecaso.Eujáentreiemcontatocomele.LigueparaopadreMcKeegantodososdiaseomantenhainformadodaatividadequeestiverocorrendoaqui.“Nessemeio-tempo”,disseEdaSharonBeckford,“sabemosquevocêsestãonasmelhoresmãos,e

sempre existe a possibilidade de que a presença de um padre faça com que os fenômenos parem.” iDepois de fazer tudo quanto podiam naquela noite, Ed e Lorraine partiram para o aeroporto. Eles semanteriamconstantemente emcontatovia telefonee retornariamdeVermontde imediato casoopadreDanielprecisassedeles.ComapartidadosWarren,afamíliaofereceuaopadreDanieloquartodehóspedes.Naquelanoite,

apósapagaras luzes,osacerdotedeitou-seeouviu todosossonsaterradoresqueosBeckfordvinhamouvindonoúltimomês.Nos poucos dias que se seguiram, a atividade prosseguiu inalterada. 0 padre Daniel continuou a

testemunharosbarulhoseosestranhosmovimentosdeobjetos.Aindaporvoltadaquarta-feiraapósasemanadePáscoa,ficouevidentequeaatividadeestavaocorrendoapesardapresençadopadre—oucomointuitodedesprezá-lo.SemprequeopadreDanielpediaumlápis,umcopodeáguaouumlivro,oobjetoseerguiaeflutuavaatéeleou,commaiorfrequência,simplesmenteestariadalinapróximavezemqueeleoprocurava.Emumaspoucasocasiões,oobjeto jáestavaacaminhoantesmesmodeopadrepedi-lo.Taisatospareciamdivertidos,masEdalertouqueopadreDanielnãoos levasseamal.Taisdesafios sarcásticos tinham por objetivo testar a paciência do clérigo, ou até provocá-lo a umenvolvimentoemocionalquetalveznãoconseguissecontrolar.Quando todos se recolheram na noite daquela quarta-feira, a atmosfera na casa era qualquer coisa,

menosdivertida.A fúriadabarulheira impediuquequalquerumdormisse.Porém, alémdocaos, umapresençamalignaeassustadorafez-sebastanteevidentenacasa.Aolongodanoitetoda,opadreDanielsentiuahostilidadeviolentaecoléricadaquelaentidade.Naquinta-feira,18deabril, quandoosWarren retornaram,opadreDaniel estavaesgotadoemuito

pálido. Depois de quatro dias e quatro noites com os Beckford, ele precisava afastar-se da árduatormentademoníaca.Naquela tarde,elevoltouparaoseupresbitérioafimderecuperar-seporalgunsdias.Ele também informariaopadreMcKeeganque talvezumexorcismo tivessequeser realizadonacasa.Enquanto isso, Ed e Lorraine passaram a noite com osBeckford para verificar, por simesmos, os

fenômenos,bemcomotentardiscerniranaturezaexatadapresençaespiritual.Commedo,EriceVickyinstalaram--seno chãodoquartodospais.Dormindo comas roupasqueusavamdurante o dia, comotodososdemais,EdeLorrainedescansariamnascamasdesolteironoquartodeEric,dooutroladodocorredor.QuandoasluzesdosWarrenseapagaramnaquelanoitedequinta-feira,osfenômenosmanifestaram-se

comforçatotal,começandocomgrunhidoseoutrossonsbestiais,seguidosporaquelaespéciedegritos

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penetrantesepavorososassociadosaumfilmedeterror.Somadoaisso.Haviasonsdecoisasrasgandoearrebentando,osquaissetransformaramnobarulhodetábuassendoarrancadasdasparedes.Empoucotempo,aspancadasusuaiscomeçaram.Elasseintensificaram,dandoaimpressãodequegolpesdeumpunho gigantesco atingiam a casa. A força dos golpes fazia a construção inteira tremer. Ed pensou,preocupado,seaintegridadeestruturaldacasaaindapoderiasuportartamanhaviolência.Porpraticamenteumahora,osfenômenosganharampodereintensidade,todosossonsenlouquecidos

acontecendo ao mesmo tempo. De repente, gritos aterrorizados fizeram-se ouvir no quarto de Pete eSharon.QuandoEdchegoulá,afamília,histérica,afirmouquealgumtipodefiguramuitíssimonegrasemanifestaraecomeçaraacircularpeloquarto.Indignadocomoabusoqueestavasendoinfligidoàfamília,Eddecidiuiradianteedesafiaroquequer

queestivessenaresidênciaarevelarasuaidentidade.MandandoEricparaoquartoafimdeficarcomLorraine,elepediuqueVickyeospaisdagarotasesentassemnacama.Então,eletraçouumagrandecruznoarcomamãodireita.“EmnomedoPai,doFilhoedoEspírito

Santo,euexijoquereveleasuaidentidade.EmnomedeJesusCristo,vocêéumespíritodemoníaco?”Com isso, a cama de casal, com os três Beckford em cima, ergueu-se de maneira sobrenatural e

permaneceu suspensa no ar, a uns sessenta centímetros do chão. De repente, a penteadeira avançoudepressapeloquarto,comosetivesserodinhas.Edconseguiusairdocaminhoantesdeomóvelcolidircontraaparede,nomesmoinstanteemqueacamadecasaldespencounochão.Enquanto isso,Eric estava deitado, chorando em silêncio na outra cama de solteiro, no seu quarto.

QuandoLorrainesevoltouparaconfortaroadolescente,paraoseuespanto,Ericestava levitandounssessenta centímetros acimada cama!Umsegundodepois, ela observouó adolescente ser atirado comtremenda força contra a parede do outro lado, a 1,5metro de distância. O garoto, então, despencou,parecendoumamontoadonochão.Lorraine saiu da camade um salto e acendeu a luz, instante emque os demais entraramno quarto.

Atordoadoetrêmulo,Ericnãotiveranenhumossoquebrado,masorostoeopeitoestavaminchadoseapresentavamhematomas.OsinalpedidoporEdforadado.Oespíritodemoníacoestavaagindo!Issoficouaindamaisevidente

namanhãseguinte,depoisdonascerdosol,quandoLorraineolhoupelajaneladoquarto.Decabeçaparabaixo, fincadoemummontedenevequeaindanãohaviaderretido,estavaocrucifixodenogueiradetrintacentímetrosqueestiverapregadonoquartodePeteeSharondesdeodiaemquesecasaram.Nasexta-feira,19deabril,enquantoEdeLorrainepermaneciamnasuaestadiacomosBeckford,os

fenômenos tomaram-se um espetáculo aindamaior de poder pretematural. Obscenidades e blasfêmiassurgiam no teto do quarto dos pais, escritas em tinta vermelha indelével. De forma ainda maissurpreendente,enquanto todosobservavam,opapeldeparedecomeçouasesoltar,umafolhaporvez,revelandolinguagemimoraleblasfêmias,novamenteescritasemtintavermelho-sanguenaparede,sobopapel!Quadrosagoranãoapenassemoviamporsimesmos:elescomeçavamaqueimareexplodiremchamas.Trabalhosdecrochê,toalhasdebanhoecachecóispegavamfogoderepentee,então,[ardendoemchamas,atiravam-seemalguémnocômodo.Aatividadeferozcontinuouduranteofimdesemana.OsWarrencancelaramtodososcompromissos

parapoderemficarcomosBeckfordatéavoltadopadreDaniel,nodomingo.Enquantoisso,aviolênciaprosseguianamesmaintensidade.Nasaladerecreaçãonoporão,pesadaspoltronasreclináveiserguiam-se no ar, flutuavam até omeio do cômodo e, então, colocavam-se umas sobre as outras em posiçõesostensivamentesexuais.Acertaaltura,orestantedamobíliaflutuavaparaamesmaáreaedespencavaaesmo no chão. Lá em cima, o papel de parede continuava a se desprender, expondo os odiosassentimentosdodemônio.E,nodecorrerdissotudo,focosdeincêndiocomeçavamdeformaespontânea,exigindoquetodosficassematentosparaimpedirumaconflagraçãosúbita.

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Nodomingo,quandodoregressodopadreDaniel,ficouevidenteparaEdeLorrainequeapenasumexorcismo poderia colocar fim àquela fúria. Normalmente, um padre não precisa de permissão paraexorcizarumacasa.Noentanto,OExorcistaacabaradeserlançadocomofilmeeaIgrejaestavabastantesensível a críticas naquela época. Desse modo, as instruções que o padre havia recebido do padreMcKeeganeramclaras:consigafundamentarasuasolicitaçãodeexorcismocomprovasdocumentaisdeatividadesobrenatural!Os Warren haviam previsto essa complicação burocrática e já estavam coletando as provas

necessárias quandoo padre chegou.Contudo, amaior parte do trabalho ainda teria que ser feita pelopadre Daniel. Os Warren, impossibilitados de adiar outros compromissos importantes com pessoasenvolvidas em outros casos, tiveram que partir naquela noite para o norte do estado de Nova York.Portanto,opadreprecisariapermanecerdenovonacasa—paraentrevistarafamíliaerelacionartodososincidentesdefenômenosquehaviamocorrido,enquantomantinhaumregistrodaatividadeincessante,queagoraaconteciacomaindamaisforçaeviolência.Na segunda e terça-feira, 22 e 23 de abril, o padre Daniel ocupou-se de documentar a atividade.

Reunindooperfildepersonalidadevcadamembrodafamília,eleacabouporverocustohumanodeumassédio diabólico. Talvez o mais afetado fosse Pete Beckford. Desde o início, cada som e cadamovimento haviam enchido o homemde ummedo que emergia da própria alma.Além disso, ele nãoconseguiasuportaraideiadequeacasadeleparecia,agora,seramoradiadodiabo.Comoaquilotudoerainconcebíveleindesejado!Cansado,humilhadoeemocionalmenteexaurido,PeteBeckfordtambémestava doente, sofrendo de uma dolorosa úlcera para a qual tomava medicamentos caros. Emboramantivesseos comprimidos escondidos, todamanhã ele encontrava amedicaçãodescartadadentrodovasosanitárioejánãopodiapagarpeloluxoderenovarareceitamédica.Petenãoconseguiatrabalharjá havia mais de um mês e as constantes despesas com danos e profissionais de conserto estavamdevorandosuasminguadaseconomias.“Aopressãointernapodeservistacomoumprocessopaulatino”,explicaEd.“Quandocomeça,trata-

se basicamente de uma situação de resposta a estímulos. O espírito estimula determinada emoção—digamos, a depressão. Se a pessoa responde ao impulso, o espírito passa a repetir o estímulo. Se apessoa continua respondendo, então aquela emoção será reforçada com tanta frequência e intensidadeque, por fim, um belo dia, acaba acontecendo um colapso ou uma catástrofe.Muitas vezes, porém, oindivíduosequersaberáqueestásendoprogramadoparadestruirasimesmo,porqueaopressãotambémpode ser externa. Assim, enquanto o espírito está transformando a depressão interna em profundodesespero,eledistraiaatençãodapessoaparaioseuaparelhodealtafidelidadequecustoumildólareseestálevitandonomeiodasala,prestesasearrebentarnochão.”SharonBeckfordreagiraemumnívelmaispessoal.Porqueaquelaviolência,destruição,vulgaridade

eódioestavamacontecendo?Eleshaviamtrabalhadoavidainteiraparaconstruirumaboacasaeumafamília decente. Eles e os filhos iam à igreja todo domingo. Com lágrimas de raiva, Sharon faziaperguntascategóricasparaasquaisnãohaviarespostasprontas:“Seistoéodiaboagindo,então,ondeestáDeus?ÉjustoquenossacasatodasejadestruídaporquenossafilhausouumtabuleiroOuija?”.OpadreDanielcompreendiaosofrimentodeSharonBeckford.No entanto, suas perguntas exigiam uma solução, e o padre foi forçado i a respondê-las com as

palavrasapropriadasdoCapítuloXVIIIdoLivrodeDeuteronômio:“Entre tinãoseacharáquemfaçapassarpelofogoaoseufilhoouàsuafilha,nemadivinhador,nemprognosticador,nemagoureiro,nemfeiticeiro,nemquemconsulteaumespíritoadivinhador,nemmágico,nemquemconsulteosmortos,poistodoaquelequefaztalcoisaéabominaçãoaoSenhor”.“Pessoasemsituaçõesdeopressão”,comentaEd,“costumamperguntar: ‘PorqueDeuspermiteque

issoaconteça?’.Bem,Deusnãopermiteque issoaconteça: aspessoaspermitemque issoaconteça.Oespíritodemoníacotemqueatuardeacordocomasregrasestabelecidaspelo^Criador.Éporissoqueos

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atosecomportamentosdelessãotãodissimulados:oespíritodemoníaconãopodeinterferirdiretamenteem assuntos humanos. Porém, as pessoas também têm que obedecer às regras! Portanto, quando umindivíduoviola as regras por livre e espontânea vontade, ele está por conta própria.Ainda assim, ospoderesdemoníacossão,aomenosteologicamente,limitadosà‘tentação’.Emoutraspalavras,oespíritodemoníaconãopodeforçaralguémafazeralgocontraaprópriavontade—maselepodeinfluenciarapessoaacometeratosqueelageralmentenãocometeria.Tampoucopodeoprimirumindivíduoparaalémdasuacapacidadederesistir.Veja,emtermoscósmicos,oespíritodemoníacopodeseaproximarapenasaté um ponto, não mais que isso. Mas, assim como as pessoas desrespeitam as regras, também odemoníaco as desrespeita.No caso dosBeckford, os espíritos infestadores foram longe demais. ElesinfringiramaleideDeus.”OsefeitosdahorrendaperturbaçãosobreEriceramdifíceisdedeterminar.Tendo15anos,ogaroto

erasensíveleimpressionável.Antesdoepisódio,eleeraextrovertidoesociável.Emmeadosdeabrilde1974,estavatraumatizado,quietoerecluso.Paraoseuprópriobem,ogarototalveztivessequeconsultarumpsicólogo.Vicky demonstrava uma gama de emoções, desde culpa até indiferença. Normalmente, seu

comportamentoeradefensivo;emdadasocasiões,elasemostravahostileesbravejavacomqualquerumàsuavolta.Agarotaeradefinitivamenteumacandidataapossessão,eascircunstânciaseramfavoráveisparaqueissoacontecesse.Durante todo aquele período, os fenômenos continuaram semnenhumamudança.Antes de partir, os

WarrenhaviamchamadoopadreDanieldelado.“Hámuitasentidadesnacasa”,disse-lheEd,“mas,ajulgarpelaintensidadeepelaforçadosfenômenos,suspeitamosqueaperturbaçãoestejasendocausadapor algo alémde poderes demoníacos.Existe uma clara possibilidade de que uma entidade diabólicasuperiorestejaenvolvida,talvezatraídaapartirdacasaderetiro,ondepoderiaestartentandoatormentarosmonges.Nessecaso,podeserquevocênotealgumsinalqueoalertedetalpresença.”Essesinalsedeunanoitedeterça-feira,quandoEdeopadreDanielconversavamaotelefone.Um aspecto curioso em relação ao assédio diabólico é que o rosário é um tabu para o espírito

demoníaco. Apenas as entidades mais ameaçadoras e blasfemadoras se atreveriam a movimentá-lo.EnquantoopadreDaniel falavaao telefone,o rosário saiu flutuandodoquartodehóspedesemqueosacerdote estava instalado. Ele observou o rosário virar à esquerda, flutuar pelo corredor, virar àesquerda outra vez, entrar na cozinha, e, por fim, enrolar-se em uma cadeira ali, em um gesto deestrangulamento.Foiosuficiente!EdpediuqueopadreDaniel tirassea famíliadacasaeque todospermanecessem

afastadosdaliatéqueeleeLorrainevoltassemdeNovaYork,naquinta-feira.Comisso,todosfizeramasmalasepartiramimediatamente.OpadreDaniel voltou para o seu presbitério.OsBeckford foramhospedar-se na casa dos pais de

Pete,alinavizinhança.Umavezmais,osfenômenosseguiramcomeles.PeteBeckfordnuncacontouaospais, de 75 anos, o que estava acontecendo à sua família, pois tinha certeza de que o fardo de talconhecimento bastaria para deixá-los aterrorizados. Não obstante, naquela noite, quando todos serecolheramnacasade“vovóevovô”,aatividadeirrompeu.Pequenosobjetoslevitaram,quadroscaíramdasparedesebatidasirromperamportodaaresidência.0problemanãochegouacausarincômodonanoitedeterça-feira,mas,nanoitedequarta-feira,acasainteiraressoavacompancadasimpiedosas.Namanhã seguinte, as torneiras dos banheiros e outras instalações hidráulicas foram violentamenteretorcidasearrancadasdaparedeporalguma força inimaginável.Sem tentarexplicara situação.Petechamouumencanadorparaconsertaroestrago,arrumouascoisasdafamília,eelespartiram.Jáoclérigofoiafetadodeumamaneiramuitomaissinistraenefasta.Pelasduassemanasanteriores,

elehaviatestemunhadoosmaislincríveisfenômenoscausadospelaatividadedemoníaca.Aquelediaboteológico assumira proporções reais, e o padre Daniel sentia-se em verdadeiro perigo. De fato, um

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espíritodacasadosBeckford tambémohaviaseguido.Naprimeiravez,eleviuumaformacilíndricaescura,negra,bloqueandoapassagemnoestreitocorredorquelevavaaosseus aposentos.Nasdemaisnoites,aformapostou-senocorredor,mantendooclérigoprisioneironasuamodestaceladuranteanoiteinteira.AomesmotempoemqueacasadospaisdePeteestavasofrendodanos,opadreDanielestavafazendo

a barba quando, diante dos seus olhos, a luminária pendente do banheiro apagou e soltou-se do teto,desmontando.Umaauma,aspartesdesceramflutuandoepousaramnapia.Naquinta-feira,25deabril,osWarrenvoltaramdonortedoestadodeNovaYork, tendocancelado

outroscompromissosereorganizadoasuaagendaparaquepudessemconcentrar-seinteiramentenocasoBeckford.Eles encontraramopadreDaniel emum restaurante próximopara discutir osmais recentesdesdobramentos da situação.OsBeckford não foramencontrados em lugar algumnaquelamanhã,masPetehaviadadoaopadreumacópiadachavedaresidência.Edsugeriuquetalvezfosseumaboaideiaentrarnacasasemafamíliaporpertoparainfluenciarascoisasdeumaououtramaneira.Dorestaurante,Ed,LorraineeopadreDanielseguiramdecarrodiretamenteparaacasa.Umavezque

ninguém sabia o que havia acontecido ali dentro enquanto a família ficou fora, Ed decidiu que seriamelhoreleentrarsozinhonacasa.Aodestrancaraportadafrente,Edviuqueolugar inteirohaviasidosistematicamentevandalizado.

Abajures,mesas, cadeiras, livros,quadros, roupasemóveis estavamespalhadospela saladeestar.Ocheirotambémeraabsurdamenterepulsivo.Diversostiposdelíquidoforamderramadosedeixadosalipara apodrecer. Caminhando pela casa Ed encontrou camas viradas de cabeça para baixo, gavetaslargadaseroupasdecamaespalhadasportodolado.Narealidade,tudoquantofossepassíveldesairdolugarpareciatersidorasgado,arrebentadoeviradodecabeçaparabaixo.Nacozinha,tudooqueestavanadespensaenorefrigeradorforaamontoadonochão,compratose talheresempilhadossobreaquelainsanidadeabsoluta.Voltandopelocorredor,Edde repentepercebeuquealgoestavaerrado.Um instantedepois, a casa

começouatremerviolentamentecomosetivessesidoatingidaporumterremoto,produzindoumbarulhoestrondoso.Temendoqueaestruturapudessedefatodesmoronar,Edtentouchegaràportadafrente,maselenãoconseguiasemover!Aomesmotempo,doladodefora,LorrainepercebeuqueEdestavacorrendoperigo.Quandoelaeo

padre Daniel chegaram à porta da frente, viram Ed atordoado, andando pela sala de estar, a camisacobertade sangue.Ao retirá-loda casa, eles encontraramno seubraçoesquerdodois talhos longos eprofundos,queformavamosinaldacruz.Recusando-seaprocurarummédico,Edpediuqueeleslavassemoferimentoe,emseguida,fizessem

atadurasfirmescomgazeeesparadrapodokitdeprimeirossocorrosdocarro.Edexplicouque“golpespsíquicos cortantes começarama serdesferidospela sala, abrindo talhosnasparedes e cortinas”.Elerecebeucortesnobraçoporqueoergueuparacobriro rosto,sentindoqueas forçaspresentesnacasapretendiammutilá-lo.Edacreditavaqueoataqueforadirecionadoespecificamenteparaele,poisfoielequem primeiro desafiou as forças na casa com provocação religiosa e ameaçou pôr fim à sua açãodesenfreada,alertandoasautoridadeseclesiásticassobreocaso.Contudo,alógicadeEdtambémdiziaqueosBeckford,emúltimaanálise,équeestavamcorrendoperigo.“Osespíritos tomaramacasacomoprimeiropassoparaalcançaroseuobjetivo:dominara família

inteira”,dizEd.“Emcasosdessetipo,porém,Lorraineeeudescobrimosque,namaioria,aspessoastêmuma força de vontade muito resistente. Portanto, nenhum espírito de fora simplesmente chegará edominaráumapessoaoufamíliacomtantafacilidade.Éporissoquefenômenosdeopressãotendemavariaremintensidade,deumcasoparaooutro.Oespírito,ouespíritos,atuarámetodicamentesobreumaemoção,oumesmoumadúziadelas,atéquevocêfiquevulneráveleirracionaldevidoaotormento.Todomundotemumpontodecolapso,masumapessoasemfirmeza—digamos,alguémqueestáàsraiasdo

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suicídio—podeserdominadamaisfacilmente.Oespíritonãoprecisadetonarumdesvariodeatividade.Entretanto,comumindivíduodevontadefirme,oespíritopartirácomtudoparacimadele,inclusivecoma pia da cozinha. O oprimido pode acabar percebendo que não é capaz de fazer nada em relação àatividade,então,emvezdeenfrentá-la,eleparaderesistireassumeumaatitudepassivadiantedaforçaopressora.Quandoavontadedapessoaficaabertaàdominação,opróximopassodoespíritoopressoréapossessão.“Poroutrolado,seapessoanãodesiste,osfenômenosvãocontinuarouatéaumentaremintensidade

atéqueapressão se tome insuportável.Umcolapsomental seria a etapa lógica seguinte.Contudo,nomomentoemquedeveriasobrevirumcolapso,emgeralocorreapossessãoououtracatástrofe.Espíritosinumanos violentos capazes de provocar incêndios poderiam facilmente reduzir a casa a cinzas comtodosládentro.”Quantopioresficavamosfenômenos,maispertoosBeckfordestavamdapossessãooudamorte.Portanto,naquelemomento,maisdoquenunca,ocasotransformava-seemumaconfrontação,tornando

osBeckfordrefénsdeumjogomuitomaior.Porquestõesdesobrevivência,EdeopadreDanieltinhamqueparar aquelas forçasmaníacas cheiasdedeterminação.Recuar seria tão somentedar cartabrancaparaqueoespíritodemoníacomatasse,possuísseouatormentasseafamíliaindefinidamente,etambématormentasseEdeopadreDanielpelorestodavidadeles.Portanto,elesnãotinhamalternativasenãoperseverar—evencer.Porvoltadomeio-diadaquelaquinta-feira,25deabril,osBeckford—pálidos,exauridoseandrajosos—estacionaramnaentradadasuagaragem,emumsedãdequatroportas.Quandoentrarameviramacasadestruída,afamíliamergulhouemdesespero.Noentanto,osWarreneopadreDanielfizeramcomquerecobrassemaconfiançae,trabalhandotodosjuntos,aoanoitecer,acasahaviasidocolocadadevoltaacertaordem.Na sexta-feira,26deabril, apósumanoitedecaos,EdeLorraineajudaramopadreDaniel coma

papeladaqueeleprecisavasubmeteraopadreMcKeegan.Emcircunstânciasnormais,umpadrepoderialevar semanas para fazer a verificação,mas, com a ajuda dosWarren, o padreDaniel partiu naquelamesmanoitecomtodaadocumentaçãonecessáriaparasolicitarumexorcismopelafamília.Nesseínterim,EdeLorrainepermaneceramcomosBeckford.Oassédioopressivohaviaexauridoa

famíliatantofísicaquantomentalmente,edetalmodoquequalquerumdelespodiaagorasersubmetidoàpossessão.Issoprecisavaserevitadoatodocusto,emboraajtodostenhasidonecessáriapararesistiraobombardeiodeatividadequeocorreunofinaldesemanadosdias27e28deabril.Molduras demetal agora começavam a arder e pegavam fogo.Cachecóis, roupas de cama emesa,

roupaspessoaisetoalhasexplodiamemchamaseeramatiradasdiretamentenaspessoasqueestivessemno cômodo, emgeral provocandodolorosas queimaduras.Os fenômenos continuaramnoite e dia, semtrégua.Mobíliadasaladeestareraencontradanoquartodocasal,aopassoqueosmóveisdoquartosurgiamnasaladeestar.Cincominutosdepois,amobíliadeambososcômodosvoltavaaodevidolugarenquantoosWarreneosBeckfordobservavam,estupefatos.Nanoitedesábado,27deabril,EdcomentoucomosBeckfordquegostavamuitodoseucarroequeo

modeloeramuitoeconômico.Namanhãseguinte,Eddestravouaportadocarroeviuqueaalavancadesetahaviasidoarrancadadacolunadadireçãoejogadanobanco.Quandooveículonãodeupartida,Edsoltouatravadocapôpeloladodedentroe,então,foiverificaromotor.Sobocapô,oscabosdaveladeignição estavam atados em nós, e as mangueiras a vácuo do carburador haviam sido arrancadas ependiam,soltas.No domingo, o padre Daniel enfim telefonou para a casa assedia da dos Beckford para dar boas

notícias.OpadreMcKeegan,comquemopadreDanielestiveraemconstantecontato,haviaaprovadoanecessidadedarealizaçãodeumexorcismonapropriedade.Eledesignariaumexorcista,queprecisariafazertrêsdiasinteirosdejejumeoraçõesamodepoderrealizaroritual.Oexorcistadesignadoparaocaso daria início ao seu JejumNegro na segunda-feira demanhã.A data do exorcismo, portanto, foi

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marcadaparadaliatrêsdias—quinta-feira,2demaio.Comoconfrontofinalagoraiminente,aatividadenegativaaointeriordacasaintensificou-sedeuma

novaeestranhaforma.Asmovimentaçõesagorapareciamacontecermaisdepressa,comocmumfilmeexibidocomodobrodavelocidadenormal.Naqueledomingoànoite,comodemonstraçãodeforça—oupara indicar a chegada de novas entidades — duas grandes coberturas de metal dos radiado resdesapareceram de súbito. Alguns segundos depois, um alto baque metálico fez-se ouvir no porão.Correndoparaaportaquedavaparaaquelapartedacasa,Ericencontrouascoberturasdosradiadoresnaescadadoporão.Maistarde,naquelanoite,houveumextraordináriotumultonoquartodeVicky,masnãosepôdever

nenhumindíciodeatividade.Contudo,quandoLorrainedeumeia-voltaparasairdoquarto,elatropeçouemumaescadaextensíveldealumíniodequasecincometros,queestiveraescoradadoladodeforadagaragemapenasalgumashorasantes.Nasegunda-feira,29deabril,enquantoestavanoquartodeEric,ondeosWarrendormiam,Lorraine

ouviuumobjetodemetalcairnochão.Eraumpinodedobradiça.Quandoolhouparaaporta,elaviuooutropinodedobradiçadeslizandoparacimadoseuencaixe.Estetambémcaiue,umsegundodepois,aportadesapareceu!Emseguida,ospinosdasdobradiçasdaportadoarmáriosoltaram-seeaquelaportatambémdesapareceu!Foiumademonstraçãodepoderque,contudo,nãointimidouLorraine.Na terça e na quarta-feira, com a proximidade do exorcismo, foi impossível dormir à noite. A

atividade incessante era perigosa demais para que qualquer um a negligenciasse.No dia 1º demaio,vésperadoexorcismo,todosselimitaramadormiremturnos,revezando-senapatrulhadacasaafimdeevitarincêndiosououtrospotenciaisperigos.Porvoltadas22h30danoitedequarta-feira,Lorraineestavanocorredorquandoovãodaportaque

levaàsaladeestarcomeçouabrilhar.Algunsinstantesdepois,ovãointeiroestavamergulhadoemumaluz resplandecente tão intensa que Lorraine não conseguia olhar diretamente para ela. Seria um sinalpositivo?,perguntou-seela.Oespíritodemoníaconãochegaemraiosresplendentesdeglória.PeteBeckfordeEdestavamnasaladeestarnessemomentoetambémviramaluz.Todavia,nomeio

daquelaluz,tambémviramumasilhuetacomeçaraemergirlentamente.Lorraineentrounasaladeestarporumaportadiferentee,comoshomens,assistiuàmaterialização

ficar cada vezmais nítida. Passado umminuto, a forma de uma senhora idosa fez-se visível, emboraestivesse completa apenas da cintura para cima. O que significava aquilo? Estaria essa entidadeafirmandoseraresponsávelportodaacalamidadequehaviaocorrido?“Fale conosco”, disseEd, emalto e bomsom.Masomisterioso espectro simplesmenteolhoupara

cada um deles, sem responder. Parecia ser um fantasma, mas Lorraine, que se concentrava na figurasemimaterializadanovãodaporta,percebeuqueacenatodaeraumtruque.Fantasmascostumamserchamadosde“anjosdodiabo”e,pelomenosmetadedasvezes,oquesurge

comoum fantasmaé,naverdade,umespírito inumanoprojetando-se emdisfarcehumano. “Ed”,disseLorraine,“afaste-se.Issonãoéhumano!’Naquele instante, duas poltronas aveludadas ao lado da lareira tombaramde lado.Elas rolaramna

direçãodeEd,ergueram-senoar,ospésvoltadosparaele,econseguiramprendê-locontraaparede.Obustonovãodaportaobservoutudocomumlargosorrisosarcástico,desaparecendoaseguir.Edfezosinal da cruz sobre as cadeiras, que caíram imediatamente no chão.Um instante depois, um vidro deesmaltelevitouedisparouparaooutroladodasala,quaseacertandoatestadodemonologista.Faltandoapenasdozehorasparaoexorcismo,Ed,LorraineeosBeckfordestavamdeterminadosanão

fecharosolhos.Apesarde cansados à exaustão, eles semantiveramemvigília anoite toda.As luzespermaneceramacesasefazia-sepoteapóspotedecafé.Deram duas, três, quatro da manhã, e não houve incidentes dignos de nota. As 5h, a noite enfim

começou a ceder lugar ao dia. Lá fora, pássaros começaram a gorjear àmedida que o sol se erguia

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devagaratravésdasárvoresqueseenchiamdebrotos.Amanhãdequinta-feirahaviachegado.Emseuprópriogestodepreparação,afamíliaBeckfordeos

Warrenforamdecarroaumaigrejanasredondezasparaparticipardamissadas8h.Então,voltaramparaacasaàs9heaguardaramachegadadoexorcista.Às9h30,elechegou.Emborajáestivessenameia-idadeecomeçasseaficarcalvo,opadreRoarkera

decompleiçãofísicaforteepareciamaisumestivadorqueumhomemdaIgreja.Aatitudedaquelepadresisudo e grave, que vestia uma camisa preta de mangas curtas e colarinho clerical branco, era puraseriedade.Nãoobstante, juntocommuitosoutrospadres,elehaviarezadolongamentepelosucessodoexorcismoqueestavaprestesarealizar.OpadreRoarkeEdWarrenjáhaviamtrabalhadojuntosumavezeconfiavamumnooutro.Naquele

momento,eles sedirigiramàcozinhaparaconversar.Edpensavaqueosespíritosenvolvidosnocasoerammaisquedemoníacos?Ele tinha plena certeza de que, acompanhando espíritos inumanos inferiores, estava presente uma

entidadedotipoincubo,quevieraatraídapelagarota.Porém,diantedopoderincomumdoataqueedaproximidadedacasaderetironavizinhança,eleacreditavaqueumainteligênciadiabólicasuperiorumdiabo—estavadefatonocomandodoataque.OlhandoparaasatadurasnobraçodeEd,opadreperguntou:“Issoaconteceuaqui?”.“Sim”,Edfoiobrigadoadizer.EleeopadreRoarkvoltaramparaasaladeestar,ondeLorraineeosBeckfordaguardavam,sentados.

Damalapreta,Roarkretirouumaestolaroxa,beijou-aecolocou-asobreosombros.Antesdedarinícioao ritual,mexorcista abençoou, separadamente, todosospresentesnacasa,demodoquenenhummallhes sobreviesse durante a leitura do exorcismo, pDesde a sua chegada, o padre havia faladomuitopoucocomqualquerpessoa,àexceçãodeEd.Quandochegouavezdeabençoarafilhadafamília,noentanto,eleperguntoucomseveridade:“VocêéVicky?”.“Sim,padre”,respondeuagarota. “O padre Daniel Mills me contou o que você fez aqui”, disse ele, categoricamente. De repente,

amedrontada pelo tom intimidador do sacerdote, Vicky Beckford tentou conter lágrimas de culpa evergonha. Inflexível, o padre perguntou: “Vicky, você desejou que esta situação terrível acontecesse a sua

família?”. "Não, é claro que não!”, disparou ela, com raiva, em resposta.Mas, então, abaixou a voz. “Não,

padre.Eunãodesejeiqueistoacontecesse.Foiumacidente.” “A Igreja considera pecado o que você fez. Sabia disso? Já pediu per-’ dão ao Senhor?” “Sim,

padre.” “Ótimo”, disse ele, abençoando a garota. “É necessário compreendermos uns aos outros.” Tendo

abençoadotodosaquelesqueestavamalipresentescomotestemunhas,oexorcistacomeçoualeroritodeexorcismo.Recitadoparteeminglês,parteemlatim,oritoconsisteemorações,salmosepronunciamentosque

comandamqueosespíritosinvasoresdeixemapropriedade.Oexorcistalevoumaisdeumahoraparaleroritualinteiro.Durantealeitura,nãoseouviuumúnicosomnacasa,salvoavozdopadre.Excetopelaóbviadestruiçãovisívelportodaparte,eracomosenadajamaistivesseacontecidoali.0 ato que conclui o exorcismo é uma ordem direta e explícita para que o espírito revele a sua

identidade.Estandotodosdepéemumamplocírculonomeiodasaladeestar,opadreRoarkleu,comvozprofundaeséria:“Ordeno-te,espírito imundo,óAntigaSerpente.PeloJuizdosvivosedosmortos.PeloCriadordo

Mundo,quetemopoderdelançarnoInferno,dize-meteunomeoudáumsinalesaiimediatamentedestacasa!”0padreesperouporumminutointeiro,masnadaaconteceu.Obviamentecontrariadopelassuaspalavras terem sido ignoradas, Roark repetiu a ordem em voz alta e trovejante, acrescentando frases

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aindamaisameaçadoras.“Euordeno,sobpenadecastigo,acadaespíritoimundo,acadadiabo,acadapartedeSatã:sai,pelo

NomedeDeus.“Submete-teaDeus!“Nãoéaoshomensqueestásdesobedecendo.Deus,oPai,équeordena!Deus,oFilho,équeordena!

Deus,oEspíritoSanto,équeordena!“Ouve,portanto,e teme,Satã! Inimigodaraçahumana!Origemdamorte!Raizdomal!Sedutordos

homens!Motivodediscórdia!Criadordeagonia!ContemplaaCruzdoMaisExcelsoDeus!Ordeno-te:obedeceevaiembora!Dizeoteunomeoudáumsinalesaidestahabitação!’Derepente,SharonBeckfordgritou:“Ali!Aoladodalareira!’.Àmedidaqueoseuaspectomanifestose tomava lentamentediscernível, ficouevidentea todosque

testemunhavamqueacabeçadacoisatinhachifres.Elaficavadepésobrecascosfendidosetinhacauda!Aomesmo tempo, a temperatura da sala despencou para um frio quase enregelante enquanto o cheironauseabundodecarneemdecomposiçãoencheuoar.Aspergindo água benta na imagem insolente demais de doismetros, o padre Roark ordenou: “Vai

embora,emNomedeDeus”.O espírito desapareceu nomesmo instante.Contudo, assimque a silhueta sumiu, o rosto vermelho-

sanguedeumdiabo,acabeçadotamanhodeumaboladebasquete,surgiunosujocarpetebege.Acabeçaameaçadoratambémtinhachifres,queseprojetavamparaoslados.Oexorcistaagitouoassessóriocheiodeáguabentanafigurabidimensionalqueolhavaparacimaa

partirdochão,projetandoumolhardeódioirado.Então,lentamente,eladesvaneceu.Umminutodepois,tudooquehaviarestadoeraumcontornoróseonotapete.Osinalhaviasidodado.Assim,oexorcista leuaoraçãofinaldeaçãodegraças, terminandoenfim

comaafirmação:“Dadoanósosinaldapartida,confioasegurançadestaspessoas,osBeckford,edacasadelesemVossasmãos,Senhor.Ouvi-nos,eouvisuasorações;concedeiqueelesvivamempazecontentamentodestediaemdiante.EmnomedoPai,doFilhoedoEspíritoSanto.Amém”.OqueocorreunaresidênciadePeteeSharonBeckfordentreosdias3demarçoe2demaiode1974é

classificado como um verdadeiro ataque diabólico. O terrível assédio que durou sessenta diasconsecutivoscessoudeformaabruptacomoexorcismorealizadonacasa,em2demaiode1974.Ocaso,bemcomotodososseuspormenores,éagoraumfatoregistrado.Nosseusprópriosarquivos,

Ed Warren conserva uma declaração escrita pelo irmão de Pete Beckford, o qual foi testemunhainvoluntáriadosfenômenosocorridosnacasa.

Nem eu, nem ninguém daminha família jamais testemunhamos ou, de fato,vivenciamosalgotãoesquisitoeaterrorizante.Tenhocertezadequeoimpactodaquelaexperiênciaobscurapermaneceráparasemprecomosmeusítemerososfilhos e a minha esposa. A incompreensível adversidade que testemunhamosdeixaonossoassustadogrupofamiliaremcompletoaturdimento.Pelomenosinestemomento,eladesafia todasasexplicaçõesracionaise lógicas.Todasasprovas tangíveis eos fatos relacionadosaomistériopretematuraldoseventostestemunhadospelanossafamíliadevemserdesnudadose,então,racionalmenteexaminados por pessoas competentes que tenham experiência no trato dessasquestões estranhas e desconcertantes. Quando, e se, tal estudo for levado acabo, acredito firmemente que as suas conclusões finais acabarão por sugerirquepoderesouinfluênciassobrenaturaisestavamoperandoali.

—TerenceBeckford

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Após o exorcismo da sua casa, a vida dosBeckford voltou gradualmente ao normal.No entanto, operíodo prolongado de danos a móveis, paredes, tapetes, colchões, roupas de cama, instalaçõeshidráulicas, telhadoecarros teveumcustomuito superiora5mildólares. (Ironicamente,o segurodafamília não cobria “atos de Deus”. Hoje, os Beckford vivem satisfeitos na mesma pequena casasuburbana. Eric está em outra cidade, fazendo faculdade. E, é claro, Vicky, atualmente casada, estásempreocupada—comosepoderiaesperar—comtrêsfilhospequenosparacriar.

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UMSERVODELÚCIFER

OqueaconteceuàfamíliaBeckfordnãoé,emabsoluto,umeventocomum.Nãoobstante,atrairespíritosnegativos para junto de si não é assim tão incomum.Todo ano,Ed eLorraineWarren atuam empelomenos uma dúzia de casos sérios de opressão e possessão demoníaca, e é impossível dizer quantosoutroscasosocleroespecializadoéchamadoaresolvernomesmoperíodo.OquedistingueocasoBeckfordéqueeleconstituiuumataquediabólico.“Fenômenosdeinfestaçãoe

opressãosãoumacoisa”,dizEd,“mas,quandosetemumataquediabólico,vocêestálidandocomalgomuitomaispoderosoqueoespíritodemoníaco.Oespíritodemoníaco temapenasdeterminadograudeconhecimentoeoseuintelectopodeirapenasatécertoponto.Poroutrolado,estecasosaiudocontroledevidoà intervençãodahierarquiasatânica.Parafazerumaanalogia,umacoisaépilotarumaviãodebombardeioelançarumabombaatômica;outracoisaéinventaraarma.Essaéamesmadistinçãoentrediabos e demônios. Embora ambos pertençam ao assim chamado Reino, o espírito demoníaco é umaentidade vil e bestial quando comparado à inteligência mais profunda da hierarquia diabólica. Noentanto,nãotenhadúvidasdequeambosestãoembuscadamesmacoisa:oespíritodemoníacoapenasfazotrabalhosujo.Aindaassim,quandosetemumcasoenvolvendofogo;oteletransportedebigornas,portas e coberturas de radiadores; a levitação de objetos extremamente pesados; a movimentaçãosacrílegaderosárioseestátuasabençoadas;alémdeexemplosirracionais,quaseinsanosdeblasfêmia—então,écertoqueexisteumverdadeiromaníacoportrásdasituação,orquestrandoopandemônio.”Porqueessepoderdiabólicosemostroucomoumdiaboclássicoduramenteoexorcismo,comchifres

ecauda?Essedetalheédifícildeacreditar.“Bem,comcerteza”, respondeEd.“Éexatamentepor issoqueelesemanifestoudessamaneira.Ele

assumiu a forma de um diabo arquetípico para, primeiro, preservar o anonimato — sempre umaprioridadeIparaodemônio.E,segundo,parafazeroexorcistaparecerpossivelmenteumtolo.Quandotivesse que relatar a aparência que o espírito I assumiu ao receber o comando para ir embora, issolevantaria dúvidas I quanto à credibilidade do exorcista ou sobre o caso em geral. Esse tipo I decomportamentoépadrãonoquedizrespeitoaodemoníaco.Noentanto,independentementedaformaquetenhaassumido,oimportanteparaosBeckfordéqueasforças/oramexpulsasdacasa.”E quanto às pessoas? Que efeitos sofrem os seres humanos que passaram por um episódio com o

espíritodemoníaco?“Dadaanaturezaextremamentetraumáticadamaioriadoscasosenvolvendofenômenosdemoníacos”,

explica Lorraine, “recomendamos que os principais envolvidos participem de um programa deacompanhamentodeseismeses,paraqueconsigamlidarcomoqueaconteceunavidadelas.Recobraraestabilidade psicológica é algo muito particular e exige bastante autoanálise. Normalmente, oacompanhamentoéfeitoporumclérigodafédafamília,àsvezesatéopróprioministro.Quandoissonãoépossível,Edeeuajudamos taispessoasao longodosmesesdifíceis.Àsvezes,éclaro,ochoqueégrande demais, e certos indivíduos vão precisar de psicoterapia. De qualquer forma, sempre se ficaabaladoapósumaexperiênciacomofenômeno.Algunsescolhemvê-loporaquiloqueeleé;outrosvãoalémeoconsideramsuma‘revelação’;háaindaaquelesqueprecisamdeumprolongadoprocessode

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terapia,oumesmohospitalizaçãoporlongosperíodos.Eoutros,porrazõespsicológicas,simplesmentevãonegarqueoseventosdiabólicosumdiaaconteceram.“Viaderegra,aquelesqueconseguemlidarcomoproblemavãotomarasprecauçõesnecessáriaspara

queelenuncavolteaacontecernasuavida;aquelesquenãoconseguemcompreender,ounãoquerem,permanecemabertosàocorrênciadeproblemasaindamaisgravesnofuturo.Amaioria,porém, levaasériooqueaconteceue,assim,promovegrandesmudanças,àsvezesatémesmoradicaisnoseuestilodevida.“Essas pessoas começam se afastando fisicamente do cenário”, prossegue Lorraine. “A pessoa ou

famíliasemudadeumladodopaísparaooutro,vaimorarnoexteriorouvoltaparaoestadoouacidadeondecresceu.Suaatitudecostumaser:‘Qualquercoisaparasairdaqui!’.Emboraaspessoasnãopossamse distanciar fisicamente dos espíritos, a sinceridade da ação delas é o que importa— e esse é overdadeiro mecanismo de distanciamento. Além disso, uma dose assim tão pesada de realidade vaiinspirar outros indivíduos a reavaliar o curso da própria vida. Muitas vezes, adultos deixarão umemprego que não seja gratificante e assumirão ocupações criativas ou de assistência social.Invariavelmente,seosprincipaisenvolvidosnãoeramreligiososantesdoproblema,eleslogopassama‘levar a religião a sério’. Sua ênfase geral é: segurança, redução domedo e prevenção de qualquerrecorrênciadoepisódionegativo.“Taissãoasmudançasexteriores”,dizLorraine.“Contudo,emnívelemocionalepsicológico,pessoas

que foram alvo de um ataque espiritual negativo têm muito trabalho mental a fazer para recobrar oequilíbrio. Crianças, infelizmente, costumam ser as mais afetadas. 0 terror que testemunharam épermanente.Serexpostaatamanhaviolência,vulgaridade,indecênciaemedopersistentedeixaemumacriançaumapercepçãodomundoquepoucosdenósconseguiríamoscompreender.“Para adultos, emgeral é necessário algum aconselhamento.Embora a possessão ou o pandemônio

tenhasido testemunhadoemprimeiramão,aspessoasgeralmentenãoconseguemaceitaro fatodequeforçasinvisíveisdenaturezasobrenaturalforamasreaiscausadorasdocaos.fAsociedadeé,emparte,responsávelpeloproblema,éclaro.Aspessoas têmsidometodicamenteensinadasanãoacreditaremfantasmas, espíritos e forças sobrenaturais porque se supõe que essas coisas sejam ‘irracionais’. Naminha opinião, fechar a mente ao conhecimento é que é irracional. No aconselhamento, as pessoasprecisamdesaprenderapercepçãoestreitadavidaquelhesfoiensinadae,então,seremexpostasaofatodequeomundoéumlugarmuitomaiscomplexoesériodoqueelasforamlevadasaacreditar.”Porque,naopiniãodeEd,algumaspessoasdisseramqueocasoAmityvillefoiuma“fraude”?“Isso faz parte de um padrão de negação que anda de mãos dadas com a questão dos espíritos”,

esclareceEd.“Quandoalgumacoisaéameaçadora,amentetentanegá-la.Empsicologia,issoéchamadorepressão. Pessoalmente, não fico surpreso com esse clamor de fraude: é um aspecto previsível dareaçãogeral diantede fenômenosdemoníacos.Anosmais tarde, ao conversar compessoasque forampossuídas ou sofreram um assédio diabólico, essesmesmos indivíduos costumam negar que o eventotenha ocorrido. Essas pessoas são mentirosas? Não, elas estão reagindo a um trauma. O que lhesaconteceuétãoincompatívelcomasuaracionalidadeque,comomecanismopsicológicodedefesa,elasnegamqueoeventotenhaocorrido.Emmenormedida,amesmacoisaacontecequandosurgeumlivrocomoAmityville.Otemaéameaçador,atémesmotraumáticoparaalgunsleitores.Alémdisso,apalavra‘fraude’éumagarantiadelucrosquandousadaemumaí:manchetedeprimeirapágina.”Raramente se lê sobre os dois primeiros estágios dos fenômenos demoníacos— a infestação e a

opressão—emjornais,excetoemtermosdaassimchamadaatividade“poltergeist”.Nãoobstante,casosdepossessãodiabólicasãopublicados,masaninguémsecontacomopossessãoocorreu.Aindaassim,senãoseresisteàopressãofísicaoupsicológica,ousenãoseconsegueobteraajudaadequada,então,oespíritoopressorécapazdepassaràpossessão.E,quandoissoacontece,ascoisastornam-semuitomaiscomplicadas e sinistras.Afinal, toda a violência e o terror que podemocorrer durante os estágios de

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infestação e opressão destinam-se nada menos que à possessão diabólica de um ser humano. Se aopressão for bem-sucedida, a porta de acesso à vontade fica simplesmente escancarada. Então, oindivíduoéinvadidoporuma,ouatéumamultidão,deentidadespossessoras.“Vocêprecisatraçarumalinhabemlargaentreopressãoepossessão”,dizEd,traçandocomodedo

uma linha namesa. “Durante a opressão, o espírito demoníaco tentamanipular a vontade humana pormeiodetentação,intimidaçãoeoutrasinfluênciassórdidasqueoindivíduoemgeralpodeafastarouàsquaispoderesistir.Porém,quandoocorreapossessão,oespírito inumano jánãooataca:elese tomavocê,porassimdizer.Apoderar-sedocorpodapessoae imporsuavontadeàdoespíritohumanoéoobjetivofinaldoespíritodemoníaco.Porincrívelquepossaparecer,ocorposetomahospedeirodeumsercompletamentediferente.Oquepossuiocorpoéumespíritoexteriorinumanodenaturezaclaramentediabólica que não tem qualquer relação com o indivíduo possuído. Um espírito independente, comvontadeeinteligênciapróprias,tomaocorpohumanoàforçae,comaprópriavoz,desafiaqualquerumafazê-lo sair.”Expandindoa ideia,Lorrainediz:“Os teólogoscostumamchamarocorpohumanode ‘amansãodaalma’;amoradaqueoespíritohabita.0espíritodemoníacochamagrosseiramenteocorpodeumacasaparahabitar.Pessoasquedeixama‘portadafrente’destrancada,convidandoouatraindoforçasespirituais,criamarealpossibilidadedapossessão.‘0lixodeumhomeméotesourodeoutro.’Aquelesquenãoapreciamodomdavidacorremoriscodetê-laarrancadadeumaformabastanterealefísica”.Quandoapossessãodefatoocorre,existealgumacoisaqueficaevidentenaaparênciadoindivíduo

afligido?“Muitasvezes,apessoapossuídatemumaaparênciacomum,comovocêeeu”,respondeEd.“Exceto

porumacoisa:osolhos.Dizemqueosolhossãoasjanelasdaalma,eacreditoquesejaverdade,porqueoquesevênosolhosdeumapessoaseveramenteoprimidaoupossuídaédiferentedetudooquevocêjáviu.Osolhosnãoficamcaídosoumeioadormecidos;ficamarregaladosevigilantes.Alémdisso,oquese vê naqueles olhos não é humano: é selvagem, animalesco e cheio de ódio. Já vi esse olharenlouquecido e sobrenaturalmuitas vezesnavida e, emcadaocasião, parecequepercoumapequenaparte demim no processo. Estou convencido de que esse é um olhar que as pessoas não devem ver,porqueéverdadeiramenteoespíritodomalvendoatravésdasjanelasdeumserhumano.“Háapenasalgunsmeses,Lorraineeeutínhamosacabadodeparticipardeumprogramadetelevisão

na região norte da cidade deNovaYork.Ao sairmos, pegamos um táxi para Chinatown, onde íamosalmoçar. Enquanto caminhávamos pela rua, vimos que havia um tumulto na esquina, com carros depolíciaportodososlados.Então,sugeriquecortássemoscaminhoporumapassagemoutravessaànossaesquerdaquedarianaMottStreet.“Bem,entramosnatravessa,queestavalotadadelatõesde lixoamassadosecompletamentecheios.

Haviamoscas,vermeseanimaiscomoratosebaratasportodaparte.Acombinaçãodocalorcomofedordolixoemdecomposiçãologocomeçouareviraronossoestômago.Apesardisso,continuamosseguindoporali.Maisaofundo,atravessafaziaumalevíssimacurva,demodoque,aopassardametade,jánãosepodiaverarua.“Estávamoscaminhandodepressamas,aochegarmosàmetadedatravessa,nofinaldalongafilade

latõesdelixo,vimosdoispésestendidosparafora.PediqueLorraineficasseparadaenquantoeuseguiaemfrente.Quandomeaproximei,viqueeraumhomem,ummoradorderua.Eleeracaucasianoetinhaentre35e65anos—eraimpossíveldizer.Ohomemestavasemimorto,sentadonochãocomaspernasesticadasnocaminho,ascostasapoiadasnaparede.Eleestavamaisimundodoquequalquerpessoaqueeujátenhavisto:cobertodeferidas,abertasecomcascasdecicatrização,eobviamentemuitodoente.“Mas isso é apenas o início da história porque, amontoadas sobre o corpo dele como se o sujeito

estivesse sentado na cama, coberto comuma colcha—havia pilhas de lixo emputrefação, das quaisescorria chorume. Esse amontoado nojento cobria o homem desde o peito até os joelhos. Os braçosestavam caídos nomeio do líquido de podridão, emoscas pousavam por todo o rosto e o corpo do

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homem.Ratostinhamaparentementemordiscadoosseuspésededos.Eraevidentequeohomemnãosemovimentavahaviadias.“Ironicamente, os sapatos dele estavam dispostos com todo o cuidado ao seu lado, engraxados e

prontosparaseremusados.Agora,eujáestivenaguerraejáviabominaçõesespirituaisemcasasmal-assombradas,masduvidoquejamaistenhavistoalgomaisrepulsivoeasquerosonavida.Comoaquilopodiaacontecer?Comoumserhumanopoderiaserreduzidoaumestadocomoaquele?“Olhei para aquela pobre alma deplorável dos pés à cabeça e fui tomado de compaixão e pesar.

Quandoenfimolheiparaorostodohomem,fiqueichocadoeinstintivamentedeiumpassoparatrás.Orostodeleestavacontorcidoemumperversosorrisodeescárnio—ehaviaIaquelebrilhohorrendoeinumano de delírio nos olhos. Então, eu soube o que havia acontecido a ele. E aquilo que estavapossuindoohomem,porsuavez,tambémmereconheceu.“‘Seufilhodamãe!’,falei,tamanhaeraaminharepulsadiantedacena.“Acoisa riu, debochadamente. ‘Euo estoumatando!’, elemedisse. ‘Empoucosdias, elevai estar

morto.E,sabedeumacoisa,vocênãoIpodefazernadaparaajudar.Porquejáestáfeito!’”“Ainfluênciademoníacapodeserdeumafeiurarepugnante”,enfatizaLorraine.“Quandoumapessoa

sucumbe aos impulsos sugeridos pelo demônio— e tais impulsos costumam ser osmais negativos ebestiais—oespíritopode fazer comqueapessoa rolenochãocomoumanimal.Porquê?Porqueoespírito demoníaco é inumano. Quando oprime as pessoas, ele as desumaniza, exatamente como fezàquelepossuídona travessa.Antesdeserpossuído,eledeve ter sidoduramenteoprimido.Quandoassuasemoçõesseigualaramaotemperamentodestrutivodoespíritoopressor,ocorreuapossessão.Éporissoqueaopressãodemoníaca‘bem-sucedida’podetransformarumserhumanoemalgoinferioraumafera.”Qual é a resposta de Ed às críticas ou alegações de que o espírito demoníaco não passa de uma

fantasiaextremamentevividadaimaginaçãoouumameraquestãopsicológicadeduplapersonalidade?“O fenômeno é fruto da imaginação apenas para aqueles que nunca o testemunharam”, rebate Ed.

“Então,arespostaquedouaissoé:não,essesnãosãodemôniospsicológicos.Sãoentidades.”Porém,comosepodetercerteza?Quandoocorreapossessão,acontecealgumacoisaespecificamente

físicaquedistingueofenômenodeIumamudançapuramentemental?“MeuDeus,sim”,respondeEd.“Especificamente,quandoocorreapossessão,umaentidadeinumana

possessora entra no corpodapessoa, às vezespeloplexo solar,mas emgeral pelo lado esquerdodoindivíduo,entrandopelabasedopescoço,ondeocérebroeacolunaseconectam[1].Aomesmotempo,ocorpoastral—oespíritodapessoa—normalmenteédeslocadoesaidocorpofísicopeloladodireito.Oespíritohumanopareceumanévoabranca;oespíritoinumanopareceumanévoanegra.Alémdisso,

naminhaexperiência,emnovedecadadezcasosdepossessão,ostraçosfaciaisdapessoaassumemumaaparênciaossudaedistorcida,completamentediferentedaaparêncianormaldapessoapossuída.Avozproduzidacostumaserdesagradávelemasculina,emboranãosepossageneralizar:geralmente,muitosespíritos participamdapossessãode umcorpo, cadaumcomaprópriamaneira bizarra de vocalizar.Quantoamudançasnocorpo,aforçadeumpossuídoésimplesmenteabsurda.Jáviumacriançapossuídaarremessaradultospelocômodocomoumlutadordesumô.Eumadultopossuídoétotalmenteimpossívelde conter. Eu sei— já fui atacado por pessoas possuídas emmais de uma ocasião e, mesmo sendogrande,pesandocemquilos,possoatestarquenenhumserhumanojamaisconseguiria,sozinho,repeliroataquedeumindivíduopossuído.Vocêestálidandocomumacoisaquetemaforçadeseishomens.“Esse é o aspecto físico”, dizEd. “Umavezque aconteça a possessão, o espírito tentarámutilar o

corpoquehabita—comofoi retratadoemOExorcista—oudará inícioaumrompantedeviolênciafísica desenfreada. O espírito demoníaco não se contenta em apenas possuir o corpo: suamente temfixaçãopelamorte.Omotivobásicoportrásdapossessãoéque‘umpodematarmuitos’.Nãoimportaseoindivíduodiabolicamentepossuídoéumlídermundialtirânicoouummatadorderua—oobjetivoéo

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mesmo:umpodematarmuitos.Quandovocêcompreendeisso,entãoaestratégiadoespíritodemoníacocomeça a fazer sentido.Até que se realize um exorcismo, o corpo será uma ‘casa’ para umaoumaisentidades. O ponto principal é que não há nada psicológico com relação a verdadeiros casos depossessão.Emumcasomuitosériodepossessão,oexorcistachegouaexpulsar98entidadesdiferentesdocorpodapessoapossuída—ecadaumadelasrespondiaàmençãodeumnomediferente!Emboraospsicólogos normalmente confundam o fenômeno com casos de personalidades múltiplas, a únicamultiplicidadeenvolvidaéamultidãodeespíritospossessoresnocorpodavítima.”Aqualquer umque solicite provas de “verdadeiros casos de possessão" aEd eLorraineWarren é

melhor munir-se de coragem suficiente para permanecer sentado durante a resposta. Após uma vidainteiradedicadaaoestudodosobrenatural,osWarrenreuniramumtesouroúnicodedadosquecobremtodososaspectosdosfenômenosespirituais—provasqueservemparaconfirmartudooqueelesdizemmais de uma dúzia de vezes.Muitas dessas provas estão localizadas no que osWarren denominam oOccultMuseum[MuseudoOculto].Omuseu—cujoacervoserálegadoaumauniversidadebritânica—écontíguoaoescritóriodeEd

Warren.ElecontémumaextraordináriacoleçãodefitascassetecomgravaçõesdeentrevistascommuitosmilharesdepessoasquecontataramosWarrenaolongodosanosporqueelas—ouafamíliadelas—estavamvivenciandoproblemas relacionadosaespíritos.Asdetalhadasentrevistas factuaisconstituemverdadeirashistórias dehorror, tragédia emorte infligidas a indivíduos comunspor forças espirituaishostis.Tambémháumnúmeromenordefitasemqueforamgravadasasvozesdeespíritosquefalaramabertamenteemumcômodo,atravésdocorpodepessoaspossuídas,oupormeiodeummédiumdetransematerialquerealmentenoslevaarefletir.AsprovasreunidaspelosWarrenincluemaindacercademilslidesefotografiasquemostramtodaumagamadeatividadesespirituaisqueelestestemunharamnoseutrabalho,inclusiveimagensimpressionantesdeespíritosemdiversosestágiosdemanifestação.Omuseucontémaindaarquivosdedeclaraçõesjuramentadas,testemunhos,provasqueoscorroboramematériasjornalísticas sobre o trabalho do casal ao longo dos anos. Não obstante, o que mais impressiona ovisitantesãoosestranhosobjetosdeaparênciasinistraqueelevêàsuavoltanoOccultMuseum.Cadaobjetodomuseufoiretiradodeumacasaousituaçãoemqueocorreramfenômenosdemoníacos.

Algunsdosobjetoseamuletosguardadosalisão tãonegativamente“carregados”queosimplesatodesegurarumdelespodedesencadearamanifestaçãodoespíritooriginaloupermitirqueumapossessãoocorra de imediato. Os Warren não guardam esses objetos perigosos como recordações de antigasexplorações — eles o fazem porque precisam fazê-lo. E isso porque, se um objeto diabolicamentecarregadofordestruídoummalefíciorecíprocopoderiaserinfligidoàpessoaoufamíliaqueopossuiunopassado.“Éaversãodemoníacadobíblico‘olhoporolho,dentepordente’”,explicaLorraine.Seadestruiçãodeumobjetonegativonãoresultaremdanofísico,podeacontecerdeoespíritoretornaraolocaldeondefoiexorcizado.Emvezdecolocaralguémemperigofísico,osWarrenrespeitamopoderdessesobjetosnegativosepermitemquepermaneçamcomoevidênciasmateriaisdequeomalexistenomundocomoumaforçareal,capazdemovimentar-se.Existemcercadecemitensnacoleçãoatéagora,ealgumahistóriaestáassociadaaquasetodoseles.

Háumcolardepérolasque,quandocolocadoemvoltadopescoço,estrangulaapessoaqueousa.Estáali o longo espeto negro que uma bruxa satânica usou, muito tempo atrás, paramatar o filho recém-nascidoemumsacrifícioparaodiabo.Tambémaliseencontraagrandebonecadegessovestidaàmodavitorianaquenãosóassumiuasfeiçõesdasuaantigadonacomoganhouvidaecomportou-secomoumser humano por mais de vinte anos. Há caixas cranianas de seres humanos que foram usadas como“cálicesdeêxtase”parabebersangueduranterituaisdebruxaria.Aliseencontraocaixãoemqueumhomem possuído dormiu todas as noites ao longo da sua vida adulta.Há pedras— algumas bastantegrandes— que caíram do céu sobre casas submetidas a assédios diabólicos. Existem crucifixos queforamliteralmenteexplodidosporespíritosdemoníacoseaindaoutros,quesatanistasdesonraramcom

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urina e excremento. Há pactos escritos com o diabo, bolas de cristal, espadas cerimoniais e adagassacrificiais.EstãoaliasvelasnegraseolivrodeconjuraçõesdocasoFostere,aoladodaportaquedáparaoescritóriodeEd,estápenduradooespelhodeconjuraçãoremovidodacasadeStevenZellner,emNew Jersey.A prancheta e algumasmolduras queimadas do casoBeckford estão expostas sobre umamesa não muito distante de um armário de madeira em que Annabelle, a boneca de pano, agorapermanecesentada,segurandoumcrucifixosimplesdemadeiranassuasmãozinhasdetecido.E,porfim,háovéunegroderenda.Ovéufezpartedeumcasodepossessãoemqueumespíritoinumanodeixouumamensagemdiretae

explícita para EdWarren. A voz da entidade possessora foi claramente gravada em fita cassete. OsWarren, sentados juntos emum sofá noOccultMuseum, agora explicamo estranho caso da jovem—bizarraporsisó—que,certodia,foilevadaaoescritóriodeEdWarrenporcausadeoutrosproblemasdeordemespiritual.“Edeeutínhamosfeitoumapalestraparaumaplateiadeuniversitários”,começaLorraine.“Foiuma

palestranormal,excetopelofatodequeeusentia,noauditório,umapresençanegativaque,pormaisqueeu tentasse, não conseguia localizar.Quando falamosparaumgrupodepessoas, normalmente consigodistinguirquemestá ali.Clérigos, por exemplo, costumamcomparecervestindogolas rolêou camisasinformais, mas consigo ver que são do clero pela aura bege-claro que envolve aqueles que foramordenados. Satanistas e grupos demagia negra em geral aparecem na nossas palestras vestidos comoqualqueroutrapessoa,masaauradeles tambémsedestaca.Naquelaocasião,porém,eusimplesmentenãoconseguialocalizaraorigemdasvibraçõesnegativas.“Quandoasessãoparaperguntasterminou,aspessoasdoauditóriovieramparaapartedafrentedo

recinto,comosempre;umadúziadelascercouEd,emaisumadúziamecercou.Depoisdeunsquinzeminutos,olheiemvoltaeviqueEdestavaconversandocomumrapaz,umestudante.Aoladodojovemestavaumagarotaque,poralgummotivo,fervilhavadefúria.NomesmosegundopedilicençaaogrupoqueestavaàminhavoltaefuiparajuntodeEd.”“Jimmy, o rapaz que estava falando comigo”, contaEd, “havia levado a namorada,Kendra, para a

nossapalestraporquesuspeitavaqueelahaviasidotomadaporalgumainfluênciaoculta.Elemecontouque,quandoanamoradaficavairritada,elaseenchiadeintensoódioefúria;suasfeiçõesmudavamparaalgoquelembravaum‘lobo’e,então,avozdeuma‘pessoa’diferentefalavadedentrodela.“QuandoLorraineveioatémim,agarotaexperimentouumepisódiodepossessãoinstantâneabemali,

nopalco.ElainvestiucontraLorraineeefetivamentetentoumatá-la.Oincidentenãosóassustouaminhaesposa comodeixou apavoradas todas as demais pessoas à nossa volta, que rapidamente saíramdali.Encerramosasessãodebate-papocomopúbliconamesmahora.LeveiKendraeonamoradoparaumasalaatrásdopalco.Lorraineficouesperandonosaguãoenquantoeuconversavacomaquelesdois.“Na sala atrás do palco, a garota sofreu uma possessão completa. SuaRespiração era pesada, e a

entidadequeapossuíaestavatotalmentetomadadeumódiointensoeviolento.Dealgumaforma,suasfeições tambémassumirama aparência lupinadequeo rapazhavia falado.Avozdestoanteprojetadapela entidademais tarde provou ser diferente da voz da jovem.Eu não tinha umgravador comigo naocasião, mas isso não teve a menor importância, porque a coisa que possuía a garota simplesmentedesatouabradaremumaincompreensívelfúriaacusatória.“Depois de uns dezminutos, a possessãopassou.Então, a garota parecia estar bem—pelomenos

quando eu nãome aproximava, o que aparentemente tornava a instigá-la de novo.Assim, para evitarproblemas,senteidooutroladodasala.Quandosentiquepodiaconversarcomela,contei-lhesobreoincidentequeeuhaviaacabadodetestemunhar.Elamedissequetinhaapenasalgumaconsciênciadasuacondição, embora realmente reclamasse de perdas de memória que a faziam pensar que estivesseenlouquecendo.Agarotanãoconseguiaselembrardehoraseatédiasinteirosdasuavida.Nodecorrerdostrêsmesesanteriores,explicouela,aquilohaviapiorado.Eulhefaleiqueperdadememóriasempre

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acompanhava casos de possessão, porque não havia nada para ela lembrar. Os lapsos de memóriarepresentavam episódios de possessão— em que a vida era levada não por ela, mas pela entidadepossessora. No entanto, antes que qualquer coisa pudesse ser feita pela garota, o que realmente seprecisavasabereraporqueelavinhasendopossuída?“DescobriqueKendraeraumajovemgrã-fina—talvezatémimada—quetinhadinheirosuficiente

paracomprarqualquercoisaquequisesse.Maisoumenosumanoantes,porém,chegouummomentonasuavidaemqueelaencontroualgoqueodinheironãopodiacomprar.Esse‘algo’eraorapazsentadoaoseulado.Jimmyeraumtiponórdico,matriculadoemumafaculdadequefaziapartedaIvyLeague[grupodeoitouniversidadesdaNovaInglaterra,quetêmemcomumaexcelênciaacadêmicaeoelitismo],emumestadopróximo.Kendrahaviaconhecidoorapaznasuacidadenatal,noverãoanterior,eparecequeelesseencontraramalgumasvezes.Noentanto,aofinaldoverão,comosenãonutrissesentimentosporKendra,orapazignorouasabordagenssubsequentesdajovem.“Ela,poroutro lado,havia seapegadoapaixonadamenteaogarotoenão sossegouatéconquistá-lo.

Basicamente, ela via Jimmy como uma commodity desejável, não como um ser humano. Essadesumanizaçãodeumapessoanãopassoudespercebida.Digoissoporqueagarotalançoumãodetodosos métodos possíveis para ganhar a afeição do rapaz— desde escrever cartas sedutoras até enviardinheiroparaqueelecomprassepassagensparapodervisitá-lanaescola.Porém,nenhumadas táticasfuncionou.Pelomenos,nãoatéelasedepararcomabruxariaritualística,queéondeentraovéunegroderenda.ParaagarrarJimmy,elarecorreuaooculto.Kendrafoiaumalojaeencontrouumlivrosobreasartesnegras,cujo títulonãovoumencionar.Ela levouaobraparacasae,mais tarde,naquelasemana,realizouemsegredoumritualparaconquistaramantes—umantigoritualqueháséculosvemcolocandopessoasemproblemas.”OsWarrencostumamserrelutantesquandosetratadedardetalhesprecisos,taiscomonomesdelivros

de conjuração, o ritual específico demagia que determinado indivíduo usou ou o nome dos espíritosresponsáveisporataquesdemoníacosespecíficos.Porquê?“Não menciono nomes de espíritos”, diz Ed, “porque saber um nome demoníaco em particular

equivale a dar atenção àquela entidade e, se você faz isso, pormais breve que seja, estará cedendocombustívelparaqueelasemanifeste.Quantoadetalhesespecíficos,deixe-mecolocardestaforma.Sevocêentregaumaarmacarregadaaalguém,podeacontecerdeessapessoadispará-la.Sevocêlhederumaarmacarregadamas semopercussor, entãonãoháperigode ela disparar.É issooque eu faço:retiroopercussordasminhasdeclarações.Issoéoqueprecisaserfeitocomestematerial.Pessoasquerealmentequeiramsabercomorealizarrituaissatânicospodemsedirigiràbibliotecalocaledescobrir.Masnãosereieuadizeraelascomodescerpelaestradasemvolta.Meutrabalhoéjustamenteooposto:ajudarpessoasquejáforamlongedemaisedizeràquelasquetalvezqueiramseenvolvercomoocultoparaquenãoofaçam!”Edretomaoassunto:“Aessênciadamagianegraéumpactocomodiabo,emulheresquefazemtal

pactosetornam,defato,noivasdodiabonaterra.Agora,umavezqueodiaboéchamadodePríncipedaTerra,bastaqueanoivadodiabopeçaprazeresmundanosaoseu‘marido’paraqueelasupostamenteosconsiga.Oúnicoporéméque,antesdequaisquerdessesbenefíciosseremconcedidosàbruxa,elatemque voluntariamente dar a alma ao diabo.Kendra eramercenária o suficiente para celebrar umpactodesses. Parte da parafernália era a mantilha negra de renda, que ela usou como ‘véu de casamento’deturpado,esobreoqualcolocouumacoroadechifresdebode.Emseguida,elasecasoucomomalaorenunciar aDeus e ao seubatismo, e jurando fidelidade aSatã.Ela terminouo ritual tomando sangueanimalemumataça,paraselarovoto.Ataça”,dizEd,apontandoparaamesadecarvalhonomeiodoOccultMuseum,“estáali,aoladodovéuedoschifresdebode.“Kendra explicou que, mais oumenos ummês depois de ter realizado o ritual, Jimmy começou a

demonstrar interesseporela.Ele,noinício,davaalguns telefonemase,porfim,passouavisitá-laaos

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finsdesemana.ParaKendra,tudoestavaperfeito.Noentanto,oqueelanãolevouemcontaéquehaviaficadoemdébitocomoespíritodemoníaco.Aofazeroritualdemagia,Kendradeupermissãoparaqueodemônioentrassenasuavida.Normalmente,a fórmulamágicaqueelausou teriaatraídoumincubo,oopressorsexualdemulheres,ouumsúcubo,oopressorsexualdehomens;mas,naquelecaso,elaatraiuumespíritodemoníacoinferior.Noentanto,essaentidadefoiadianteeaoprimiusexualmentedomesmojeito, ao que parece porque esse era o seu ponto de maior vulnerabilidade. O espírito inflamavacontinuamenteaspaixõesdajovem,atéqueelafoireduzidaaumaescravadoimpulso.Nessaconjuntura,o espírito opressor conseguiu possuirKendra ao seu bel-prazer, e foi a partir daí que ela começou asofreroslapsosdememória.“Tendopassadobemmaisdeumahoraentrevistandoocasal-edevodizerqueonamoradonãoficou

muitofelizcomoqueouviu-soubeque,paraasegurançadaprópriagarota,euprecisavaprovidenciarumexorcismoimediatamente.Docontrário,aentidade,sabendoqueeusabiaqueelaestavapossuindoagarota,poderiapossuí-laumaúltimavezeprovocarumasituaçãodesuicídio.“Comissoemmente,fuiaosaguão,expliqueioproblemaaLorraineepediqueelalevasseocarro

alugado de volta ao hotel por aquela noite. Então, o casal e eu fomos, no carro de Jimmy, para oapartamentodeKendra.Passeianoiteassistindoafilmesantigosnatelevisão,emcompanhiadeJimmy,enquantoagarotadormianoquarto,comaportaabertaeumaluzacesa.“Namanhãseguinte,telefoneiparaumexorcistaprotestantelocalemquemtenhograndeféeconfiança.

NãopudechamarumexorcistacatóliconaocasiãoporqueoclerocatólicotemqueseguirapolíticadoVaticanoepassarporumperíododetrêsdiasdeoraçõesejejumantesdeconduzirqualquerexorcismodeumapessoapossuída.“Oexorcistaeoseuassistente,ambosclérigosprotestantes,chegaramemmaisoumenosumahora.Os

doiseramhomenscapacitados,demodoquelhesexpliqueiohistóricodocaso.Éclaro,elesjáhaviamouvidoaquelahistóriaantes.Emseguida,Kendrafoitrazidaparaasala.Atéaquelemomento,osclérigosaindanãohaviamtestemunhadoapossessãoenemagarota tinhasidopossuídadesdeanoiteanterior.Portanto,oqueprecisavafazer,emprimeirolugar,eraprovaraossacerdotesqueapossessãoestavadefatoocorrendo.“Umdosmuitostestesparaverificarapossessãoécolocarumcrucifixodiretamenteatrásdacabeça

dapessoapossuída.Então,nestecaso,oexorcistaorientouagarotaafecharosolhosecontarlentamenteatévinte.Oassistente,quejáestavaàscostasdeKendra,posicionouacruzquinzecentímetrosatrásdacabeça da garota.A entidade que a estava possuindo de repente soltou umgrito selvageme violento:‘Tireissodaí!Estáqueimando!Tire!’.“O uso da cruz fez com que a entidade se revelasse, momento em que pudemos confrontar

intelectualmente o espírito que estava dominando a garota, O espírito, o mesmo que havia possuídoKendrananoite anterior, admitiu que estava sozinhonapossedo corpodamoça.Quandoo exorcistacomandouquese identificasse,elerespondeucomaseguintedeclaração: ‘SouumservodeDiana”.Apropósito,Dianaéumespíritodeopressãosexual,conhecidocomoadeusadacaça’namitologia.Nãoconseguimosarrancarmuitomaisdoespírito.Namaiorpartedo tempo,eleexplodiaemrompantesdegritos,maldiçõeseuivos.“Normalmente, antes que se permita a realização de um exorcismo, uma investigação formal é

conduzida a fim de provar que um indivíduo foi de fato possuído. Naquela ocasião, porém, erainquestionávelque agarota estavapossuída.Por isso, o exorcistadecidiuque seriamelhor realizaroritualdelibertaçãoalimesmo,naquelemomento.“Neste caso, ele ficou no controle da situação desde o início, tamanho era o medo que a coisa

demonstravaàmençãodonomedeDeusoudiantedapresençadacruzoudaáguabenta.Aindaassim,aentidadepossessorasemostroubastanteresistentedurantealeituradoritual,quelevouporvoltadeumahora.Duranteo rito, o espírito ficavagritando: ‘Ela éminha, ela éminha.Aalmadela éminha”, em

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referênciaaKendra.Porfim,oespíritofoiexorcizadodagarotanaqueledia,mas,antesdepartir,acoisajurouque‘retornariaparaoutrapessoa”.“Nenhumdenósalipresentessabiaoqueoespíritotinhaemmente.Maistarde,euiriadescobrir.”[1]Namedula oblonga. Para uma explicaçãomais detalhada, vejaAutobiografia de um Iogue, de

ParamahansaYogananda.LosAngeles:Self-RealizationFellowship,1946.

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ORETORNODAENTIDADE

“Depoisqueoexorcismoterminou,libertandoKendradojugodaqueleespírito”,prossegueEd,“agarotame entregou o véu negro de renda, os chifres de bode, a taça e o livro de conjurações, temendo quepudessesertentadaouoprimidaausá-losoutravez.Lorraine,então,foimebuscarnoapartamentodelae,maistarde,naqueledia,comoéomeucostume,trouxeaquelesobjetosparacasa,paraguardá-losemsegurança.“Desdeo início, aparafernáliademagiamecausouproblemas”, recorda-seEd.“Umapresençame

seguia a toda parte. Então, na noite seguinte, depois do pôr do sol, um frio psíquico encheu o meuescritórioeoOccultMuseum,ondeeuhaviacolocadoosobjetos.Sentindoamudançana temperaturaenquantoestavasentadojuntoàminhaescrivaninha,melevanteiedeiumaolhadanomuseu.Ali,aoladodo véu e dos chifres, vi umamassa nevoenta de um cinza-escuro,mais oumenos do tamanho de umhomem,seacumulandoemumadensaformanegra.Paraimpedirqueacoisasemanifestasse,useiáguabenta para torná-la invisível outra vez.No entanto, ficou evidente que a entidadequepossuiuKendratinhaviajadojuntocomosobjetosprofanos.“Porobradodestino,nodiaseguinte,recebiumtelefonemadeumcolegachamadoRobertGoldstrom.

ElequeriamarcarumhorárioparaviraomeuescritóriocomafilhaDenise.‘Porquevocêprecisamever?’,pergunteiaele.“Frustradoepreocupado,eleexplicouqueafilhaeradotadadeumconhecimentonaturaldoqueele

considerava serbruxaria.Fazendoum rápidoapanhadodavidadagarota,opaidisseque, emvezdebrincar como uma criança comum, Denise era constantemente encontrada sozinha, realizando rituaiscomplicados que envolviam pentagramas, sangue de animais e tudo o mais — coisas com que umameninadeseisanosnãoestariafamiliarizada.JámaisvelhaDenisedemonstravaaversãopelaigrejaeseretiravadapresençadeclérigos.Aomesmotempo,ascriançasdavizinhançatinhamummedoinstintivodela;mesmoaprópriamãedagarotanãogostavadeficarsozinhanomesmocômodoqueafilha.“Naadolescência,Deniseficouaindapior.QuandofixavaosolhosI«aspessoas,mesmoquandoestas

nãoopercebiam,agarotaenchiaamentedelascomumterrorinumano.Oolhardelaeratãointensoquechegavaatéapararmáquinas!Seiqueissoéverdadeporque,posteriormente,euavifazerisso.Elafezumcarroqueestavapassandopelaruapararderepente.Noentanto,essaatividadenãoeraomotivopeloqual Goldstrom havia me ligado. Em vez disso, Denise havia começado a manifestar diferentespersonalidades: algumas masculinas, outras femininas, e algumas que nem sequer poderiam serconsideradashumanas.Alémdisso,asdeclaraçõesdessas‘personalidades’continhamterríveisameaçasaRobertGoldstromeàsuaesposa.“Diantedisso,elelevouagarotaapsiquiatras,quereconheceramqueoproblemaeraalgomaisque

psicológico. Os médicos o orientaram a levar a filha a um clérigo, mas o ministro que Goldstromconsultounãoqueriaveragarotaamenosqueelafossetrazidaamimantes.Depoisdeouviroproblemadohomem,marqueiumhorárioparavê-losnosábadoseguinte,às11h.“Naquelanoite, o espírito tentou semanifestarmaisumaveznoOccultMuseum;eoutravezusei a

água benta. No dia seguinte, segunda-feira, Lorraine e eu viajamos por causa de compromissos de

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palestraseentrevistasnaPensilvâniaeemOhio.Retomamosapenasjánofimdasexta-feira.Nooutrodia, sábado,às11h,RobertGoldstromchegoucoma filha,comohavíamosmarcado.Denise tinhaporvoltadedezenoveanos.Elaeraalta,magra,cabelosescuroseolhosazuisquelançavamumolharferozepenetrante. Quando tentei lhe dar um aperto de mão, ela recuou e me encarou com desconfiança,observandocadamovimentoqueeufazia.“Conduzindoaquelesdoisaomeuescritório,pediqueDenisesesentassenacadeiraaoladodaminha

escrivaninhaeopaiseacomodasseemumapoltronapróxima.Então,ligueiogravadorepediqueosr.Goldstromdescrevesseoproblemadenovo.Ohomemrepetiuque,semprequeeleouaesposafalavacomafilha,nenhumdelessabiaaocertoseestavafalandocomDenise—oucomalgumapersonalidadeestranha.Durantetodoorelato,agarotanãotirouosolhosdemimnemuminstantesequer.“Quandoopaiterminou,tenteifazerperguntasàgarota.‘Quemévocê?’,perguntei.“‘DeniseGoldstrom’,respondeuela,comdesdém.“‘Quantosanosvocêtem?’“‘Maisdoquevocêimagina’,disseela.“‘E quanto ao que o seu pai me contou? É verdade que você vem manifestando personalidades

diferentes?’“‘Eleéparanoico’,respondeuela.‘Eusoueumesma.Souquemeuquiserser.’“‘Algumadassuaspersonalidadeséinumana?’,perguntei,pressionandoagarota.“‘Eunãotenhoqueresponderanenhumadassuasmalditasperguntas’,disparouela.“QuandoerguiosolhosparafazeroutraperguntaaDenise,elaestavameencarandocomumdosseus

olharespenetrantes.Vocêescolheuocaraerradoemquemusar isso’, eu faleiàgarota. ‘Nunca,nuncatenteissooutravezcomigo!’“Pelaprimeiravezdesdeque entrounanossa casa, a garotadesviouosolhosdemim.Elaparecia

atordoadaedesorientada,comosetivesseacabadodeseratingidanacabeçacomumtacodebeisebol.Seus olhos correram pelos objetos que estavam naminha escrivaninha e, então, pararam sobre o véunegro de renda, que eu havia colocado ali, em um canto afastado, para impedir que o espírito semanifestasse.Derepente,antesqueeuconseguisseimpedi-la,amoçapuloudacadeira,agarrouovéueosegurou junto ao peito. Suas feições imediatamente começaram a se transformar nas de uma criaturadesvairada,comumsorrisozombeteiro,muitodiferentedaquelagarotabonita.Logopegueidoisfrascosdeágua,umnãoabençoado,ooutroabençoadoporumexorcistamuitopiedoso,emeafasteidoquejánãoeraDenise,masumespíritoinumano:umdiaboinferiordoinferno.Isto”,dizEd,apertandoobotãodeplaydogravador,“foioqueouvi.”Umagargalhadadiabólica,rouca,derepenteirrompedopardecaixasdesom.“Vocêestárindodemim”,escuta-seavozdeEdfalando,“mas,comquemestoufalando?”EoespíritoquepossuíaDenisecomeçaatagarelar.

Voz:Seiquemvocêé!Rá,rá,rá,rá,riii...[risos]EdWarren:Quemévocê?V.:Ro,rooo...E.W.:Quemévocê?V.:Vocênãomeconhece?Rá!Vocênãomeconhece?Ora,vamos,vocêsabequemeusou.Vocênão

sabe quem eu sou? Estou sofrendo. Estou sofrendo [porque o espírito havia sido exorcizadorecentemente.E.W.:Porqueestásofrendo?V.:Ro,ro,riii...Pretoéaminhacor.Éacordamorte,acordamorte.Acordamorte!!E.W.:Quemomandouparacá?V.:EucultuoDiana,eLúcifer!...Eluz,luz,luz:tudooqueésagradoémaldito!

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E.W.:Tenhoumacoisaparavocê.V.: [Em tom de desafio.]O que você tem paramim que eu já não possua? Posso possuir quem eu

quiser,seu[impropérioapagado].E.W.:Vou colocar na suamão e vocême diz o que é. [Testando a entidade,Ed coloca a água não

abençoadanamãodeDenise.]V.:Uuuuuh.Émolhado!E.W.:Éissomesmo.V.:Émolhadoeeunãogosto.Gostodecolocargordurahumanasobreomeucorpo.Egostodesangue.

Egostodeversangue.Egostodebebersangue.E.W.:Tenhomaisumacoisaparavocê.Tenhoáguabentaparavocê.V.:Águabenta?Águaoquê?Você?...VocênãoéumhomemdeDeus!E.W.:Não,nãosou.V.:Vocênãoestánemlá,nemcá,nãoé?E.W.:Exatamente,nemlá,nemcá.V.:Vocênãosabe!Eleestátantonoinfernoquantonocéu.Enãoexisteuminferno,enãoexisteumcéu.

Não,nãoexisteuminferno,enãoexisteumcéu.Existeapenasumlugar,enãovoulhefalarsobreesselugaragora,vou?Vocêsabe,nãoé?Vocêsabe.Vocêestáentreocéueoinferno.Enãoexistecéuneminferno.Masvocêvaientender!E.W.:Não,évocêquevaientender.V.:[Umagargalhadadiabólicasoapordezsegundos.]Eugostodisso.Vocêsabe?Issomedápaz.[O

espíritoagoraestáchorando.]Istomedápaz,eeugostodepaz.Gostodepaz,egostodeficarquieto.[Berrando.]Masnãogostodevocê!E.W.:Euseiporquevocênãogostademim.V.:[Berrando,enraivecida.]Porquê?E.W.:VocêjánãotemKendraparapossuir,nãoé?V.:[Gargalhando.]Eutenhoqualquerumquequeirater.SoumaisfortequevocêeseuhomemdeDeus

[oexorcista]!E.W.:Veremos.Veremosqueméomaisforte.Qualéoseunome?Comovocêchamaasimesmo?V.:Deixe-mecolocardestamaneira,homem...[vulgaridade.].SouumprotegidodeLúcifer.Vocêsabe

queméLúcifer?E.W.:Diga-mevocê.QueméLúcifer?V.:Rá,rá,rá,rá.Eleéoúnicodeusqueestácerto!Vocêsabeque,quandoqueroumacoisa,euposso

tê-la?[Proclamando.]Eupossoteroquequiser!E.W.:VocêquisKendra,masnãoconseguiuficarcomela.V.:Ro,ro,ro.Kendranãosabe!Kendranãosabe!E.W.:Oqueelanãosabe?V.:Elavaibeberosangue!Elavaibeberosangue!Elavaimever!Euvoupossui-laoutravez!E.W.:Outravez?V.:[Inflexível]Outravez!E.W.:Não,elanãovaifazerisso.V.:[Gritando.]Ecomovocêvaiprotegeraquelagarota.Elaéminha.Aalmadelaéminha!E.W.:Nadadelapertenceavocê.V.:Vousugartodoosanguedela!E.W.:Vocênãovaifazernadaaela!V.:Rá,rá!Eugostodela.Elaéomeubrinquedinho[arrulhando].E.W.:Elafoioseubrinquedo,atéelameprocurar.Masvocêgostariadeacertarascontascomigo,não

é?

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V.:[Gargalhandoerindo.]Possofazerqualquercoisaqueeuquiser!E.W.:Vocênãovaifazernada!Tenhoumacoisa[águabenta]queémaisfortedoquevocênuncaserá.

Vocêtambémsabedisso,nãosabe?V.:Aham!Sim.[Gritando.]Vocêacreditaemcoisastãofalsas!Ah!Eoqueé?E.W.:Vocêtentouaparecerparamimnaquelanoite.Oquepretendiafazer?Euoexpulsei,nãofoi?V.:Euqueriamatá-lo, eestou falandosério. [Guinchos ininteligíveis.] [...]Você vai cravar alguma

coisanomeucoração?Eunãotemcoração!E.W.:Éissomesmo,vocênãotemcoração.V.:Não.E.W.:Maseuvoulhedaroutracoisa.[Edjogaáguabentanajovempossuída.]Vocênãogostamuito

disso,gosta?V.:[Furiosa,gritando.]Não!!!E.W.:Vocêgostadosinaldacruz?V.:Não!E.W.:Tudobem,agora,euvoulhedizerumacoisa...V.:[Gritandoviolentamente.]E.W.:[...]Queroquevocêsaia.Equeroquenuncamaisvolteaqui!V.:Parecomisso!E.W.:Não,eunãovouparar.EmnomedeDeus,vocêvaisair...V.:[Gritandoviolentamente.]EmnomedeJesusCristo,caleaboca!E.W.:VaiseremnomedeJesusCristo!Evocêvaiembora!Enãovaivoltarmais!V.: [Declarando.] Eu voltarei! Ou, se não voltar, outromais forte virá! Eu sou fraco,mas existem

outrosmaisfortes!!E.W.:Vocêéfraco,evocêvaiembora,vouexpulsá-lo.EmnomedeIDeus,vouexpulsá-lo!tV.:Rá,

rá,rá,rá,rá,riiii...E.W.:Aqui estámais uma coisa para fazê-lo pensar. [Ed unta o corpo da jovem com água benta,

traçandoosinaldacruz.]V.:[Guinchosdeagonia.]Ah,meuDeus,fogo!Fogo,fogo,fogo!E.W.:[Sobrepondo-seaosguinchosegemidos.]Eunãoqueroquevocêvolteaestacasaoutravez!

Estámeentendendo?V.:Ah,meuDeus.Ah,meuDeus.Ah,meuDeus.Ah...E.W.:Eunãoqueroquevocêvoltedenovoaestacasa!Nuncamais!Agora,saia.Saia!Lamentosameaçadores,guinchoscomodeumabrigadegatoseváriosoutros sonsanimalescos são

então ouvidos como se estivessem se afastando quando a entidade possessora abandona o corpo dagarota,rEdcolocaumfimaosgemidosapertandoobotãostopdogravador,deixandooOccultMuseumsilenciosocomoumamasmorra.Apósumlongominutodereflexão,eleenfimquebraosilêncio:“Éissoqueestáláfora.Éissoqueestápossuindoessascrianças...espíritosinumanos,demoníacos.Inumanos,porquenãosãocomoohomemenãotêmvirtudespositivas;demoníacos,porquesãoumaordemdeanjosquese intitulamdiabos;eespíritos,porquenão têmexistêncianoplanofísico,masnometafísico.Sãoinvisíveiseintangíveis...masestãolá!”.OespíritorealmentevoltouparapossuirKendra?“Ah,meuDeus, sim!”, respondeEdde imediato.“Nãomaisdeumasemanadepois,onamoradoda

garotatelefonouemecontouoquehaviaacontecido.Kendrabebeuaoferendadesanguemaisumavez—exatamente comoo espírito disse que aconteceria—e ela foi logopossuídapelamesma entidademaisumavez.Tivequevoltaroutravezàfaculdade,confrontaroespíritoeprovidenciarnovamentequeKendrafosselibertadapormeiodeumexorcismo.”

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PorqueoprimeiroexorcismofeitoemKendranãofuncionou?“Ele funcionou”, diz Ed. “Mas a cooperação da pessoa é necessária para que um exorcismo seja

totalmente eficaz.Deus ajuda aqueles que se ajudam!Oexorcista restaurouo livre-arbítrio dagarota,masoespíritoaoprimiuoutravez.Emvezderesistiràtentação,elaseguiuemfrenteetomouaoferendadesangueumasemanadepois.Issoreabriuocampodasuavontadeedeuaoespíritoapermissãodequeprecisavapararetornarepossuirocorpodagarotadenovo.”OespíritopossuiuKendraumaterceiravez?“Não,hojeelaestálivredela.”EquantoaDenise?Oquehouvecomela?Equaleraoproblemadela,afinal?“Após o incidente da possessão”, respondeEd, “suas feições voltaram ao normal e, com isso, dei

continuidadeàentrevista.Oincidentequevocêouviunafitamemostrouqueaquelagarotaeraumvasoabertoparapossessão,oqueexplicavaporqueestavamanifestandopersonalidadesdiferentes—pelomenos, personalidades inumanas. Na verdade, descobriu-se que Denise era uma médium paracomunicaçãoentreoreinodemoníacoeoreinohumano.Oquetenteidescobrirfoicomoelaadquiriutalcapacidade.“Aáguabentaqueeuhavia jogadonagarotaconseguiuacalmá-laosuficienteparaquepudéssemos

conversar em um nível semirracional. Durante aquele intervalo, ela revelou um longo e complexoenvolvimentocomfeitiçariaepráticasnegativas,oqualseestendiaparaalémdos limitesdasuavidaatual.Elaéoquechamamosdeumafeiticeiranatural:ninguémlhedisseoquefazer,tampoucoelaleusobre o assunto em algum livro. Ela nasceu com conhecimento e poder negativos. Seu conhecimentovinhadeexperiênciasadquiridasemvidaspassadas—econhecimentoéalgoquenuncaseesquece,emespecialoconhecimentonegativoqueéadquiridoemoutrasencarnações.Essecaso,vejabem,entrabemnoâmagodacoisa,devoltaàdimensãodoverdadeiromal,sobreoqualamaioriadaspessoasnãotemconhecimentonenhum.“Emoutraspalavras,Deniseerauminstrumentododemônio:elaexistiapraticamentecomoumaporta-

vozparaespíritosdemoníacosNoentanto,amoçanãoéumabruxa;opoderdabruxariaderivadeumvotodeserviraodiabo.Emvezdisso,Deniseeraumafeiticeira.Semelhanteàbruxaria,masdiferentedela, a feitiçaria é a capacidade de manipular o mundo físico por meio de um acordo com forçasespirituais.Agarotaestavaassociadaaespíritosinumanosnegativos,umacordofeitoemumaencarnaçãoanterior

—sobreaqualelafalavacomconhecimentodecausaeriquezadedetalhes. “No entanto, ela não sabia exatamente como fazer o espírito demoníaco atender às suas vontades.

Emboraeleausasseàvontade,elanãoconseguiafazeromesmocomoespírito.FoiporissoqueDenisesepermitiusertrazidaamim.Elasabiaquemeuera,àbocapequena,eveioatéomeuescritóriocomaequivocada suposição de que poderia me coagir ou intimidar a revelar certos segredos cruciais dademonologia, os quais ela ainda não havia aprendido por simesma.É claro que eu não diria nada àgarota. Dar conhecimentomístico àquela menina seria como dar uma granada demão a uma criançapequena.“Ao longodomês subsequente, eumeencontrei comDeniseeopaidelaumas trêsvezes,masnão

haviaabsolutamentenadaqueeupudessefazerparasanarasituação.Tudooquepudefazerfoidaraopaiumacartadeencaminhamentoaserapresentadaaoclérigo,naqualeuafirmavaqueDeniseprecisavade aconselhamento religioso: a sua vida, a menos que ela decidisse mudá-la, estava dedicada aonegativo.Narealidade,amenosquedefatovejaaluz,elaviveráemorrerásobaquelainfluência.”Edacreditaemreencarnação?“Deixe-mecolocardestamaneira”,respondeEd,“eusinceramentenãoseidizerseareencarnaçãoé

umprincípioouprocessopeloqual todasaspessoaspassamnaturalmente.Oquepossoafirmaréquetenhoregistrosdecasosqueprovamquecertosindivíduostiverammaisdeumavida.Poroutrolado,não

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tenho informações para provar que todas as pessoas vivenciam o fenômeno. Além disso, quando odemônio está envolvido em uma situação, você está lidando com uma perturbação da ordem natural.Consequentemente, se um indivíduo que faz um pacto com as forças demoníacas de fato acabavivenciando o renascimento em outra vida, ele o faz em circunstâncias questionáveis. Aquela vidaadicional—emcertamedida—teriaqueserconsideradauma‘encarnaçãoartificial’.”KendraeDeniseseconheciamantesdeEdseenvolvernocaso?“Não",respondeele.“Elasnuncase

encontraram,enãoseconhecematéhoje.OúnicomotivoparaDenisetervindoaomeuescritóriofoiatramadoespíritoexorcizadoparaqueissoacontecesse.”Apsicometriaéacapacidadede“saberpelotoque”.NãoseriapossívelqueDenise,aoagarrarovéu

negro de renda, tenha feito uma conexão com Kendra e, portanto, reproduzido todo o evento porpsicometria?“Nessecaso”,respondeEd,“issoseriaestenderdemaisoconceitodepsicometria.Poderiaterhavido

um episódio de percepção extra-sensorial, eu lhe garanto,mas não foi essa a situação.Uma entidadeexterior, independentedeambasasgarotas, estavaenvolvida.Quandooespíritonãoestavapossuindonenhumadelas,estavapresentenesteescritório.AoefetivamentepossuirDenise,aprimeiracoisaqueelemedissefoi:‘Euseiquemvocêé’.Eunãosabiaquemouoqueeleera,éclaro,maseujátinhaouvidoaquilo muitas vezes antes, de outros espíritos inumanos possuindo outras pessoas. Em seguida, elecomeçouadizerqueestava‘sofrendo’.IssonãodiziarespeitoaKendranemaDenise,masaotormentoemocional de um espírito que fora exorcizado. Também se nota que era uma entidade independente,porquesereferiaaKendrapelonome,oqueindicavaadistinçãodeidentidade.“Maistarde,ignorando-setudoomaisqueaentidadedisse,elaforneceuumainformaçãoprecognitiva

de que a universitária, Kendra, seria possuída de novo. Essa segunda possessão ocorreu; existemregistros da realização do segundo exorcismo. Por fim, acrescente a isso o fato simbólico de que aentidadeconseguiudistinguir entre águaabençoadaenãoabençoada: a águanãoabençoadadavaumasensação ‘molhada’, a água abençoadaqueimava como ‘fogo’.Você jáviuumapessoa reagir daquelejeitoquandotocadaporáguabenta?”Porqueoespírito teveuma reação tãoviolentaàáguabenta?“Aguaéágua,masaáguabentaestá

carregadacomoespíritodopositivo—comoespíritodoquechamamosdeDeus.Empessoas,aáguabentapode terumefeitopositivoe,emalgunscasos,podeserusadaatémesmoparapromovercuras.Para o espírito demoníaco, porém, a água benta tem justamente o efeito contrário: a entidade a sentecomosefosseácidooufogo.”Oque o espírito quis dizer com ‘gosto de paz’ e ‘gosto de ficar quieto’? “O espírito encontra paz

apenasaopossuirumcorpohumano.Docontrário,elepermaneceemumestadodesofrimento.”Oespíritoestavadefatosofrendo,comoafirmouqueestava?E,seestava,porquê?“Sim, ele estava sofrendo por ter sido exorcizado;mas a resposta émais complicada que isso. O

espíritodemoníacoé levadoàpossessãopordoismotivos.Primeiro,o seu reino—chame-o inferno,chame-o como quiser— é tão intolerável que esses espíritos farão qualquer coisa para fugir dali.Olugar,vejavocê,é intoleráveldeviver—éoinferno!Essesespíritosnãoatormentamapenaspessoaseles se atormentam uns aos outros. A única maneira de sair disso é possuindo um corpo humano. Equandoumapessoapodeserpossuídaporumaentidade,elapodeserpossuídapormuitas.Narealidade,apossessãopormuitasentidadesnãoéaexceção,éaregra.Emcasosmaissérios,emgeralseisoumaisespíritosestãohabitandoocorpodavítima.Pelapossessão,essesespíritosencontrampazcomrelaçãoaos constantes tormentos que vivenciam. O exorcismo, portanto, é a pior coisa que lhes poderiaacontecer.“Ooutromotivoparaapossessão,eomaisimportante,baseia-senoconceitodoAnticristo.Todoo

esforçodoespíritoinumanodirigidoaestafinalidade:conquistaraTerraedestruiraraçahumanadiantedosolhosdeDeus.Assim,pelapossessão,oespíritoinumanomatadoiscoelhoscomumacajadadasó:

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eleseescondedoinfernoecumpreasuatarefadearruinarohomem.Oespíritodemoníacoinumanoéumverdadeiroinimigodahumanidade,nãoseicomoexpressá-lodeoutraforma”.Vocêacreditanoinfernocomoumlugardefogoeenxofre?“Não”,respondeEd.“Nãoacreditoemuminfernodefogo.Embora,atravésdospossuídos,eutenha

ouvidooespíritodemoníacosequeixardo‘fogodoinferno’,nãopossonemporuminstantecrerqueumDeusamantíssimocriariaumhorrortãoincompreensívelcomooinferno.Noentanto,porsuaabordagempervertidadaexistência,essesespíritospodemtercriadoopróprioinfernodefogo;considerandoqueasuaexistênciaéaantítesedopositivo,taltormentoseriaacriaçãodeles.“Emúltimaanálise,porém,anoçãoqueoespíritodemoníaco temde infernoémuitomaisdolorosa

queadesofrimentofísico.Essesespíritossabemqueestãocondenadosàpuniçãoeterna,oquesignificaqueoespíritodemoníaco—oportadordapragadomal—seráeliminadodouniversonatural.Ou,comodiz a Bíblia: ‘Os maus perecerão'. Ainda assim, em vez de mudar, ele prefere ser o que é: mau epernicioso. Portanto, em um nível intelectual, o inferno faz mais sentido quando visto como umaseparaçãoeternadeDeus:ouseja,separaçãototaldafontedaexistência.”Então,oqueoespíritoquisdizerquandodeclarou:“Nãoexistecéuenãoexisteinferno,existeapenas

umlugar"?“Nãopossodizer,porquenãosei”,responde.“Nãoseesqueçadequeoespíritodemoníacoéomestre

das mentiras. O exorcista, por exemplo, é orientado a nunca se envolver em uma conversa com odemônio.Então,nãosepodejulgarquetudooqueeledizéverdadeiro.Nessecaso,porém,épossívelqueeleestivessesereferindoàideiadeser—eàideiadenada.Ouseja,nofim,quandotudotiversidocomputado,oúnicolugaremquehaverávidaéondeexisteoser.Paraalémdisso,realmentenãosei.Souumdemonologistaqueatuanaprática,nãosouteólogo.”Equantoàafirmaçãodoespíritoarespeitodeespalhargordurasobreocorpo?“Issoremontaaumpassadomuito,muitodistantenahistória.Namagianegra,oassassinatodeuma

criançaeraumpresentetradicionalaLúcifer.Ocorpoerafervidoatésedesfazereagorduradeleeratransformada em um unguento que, então, podia sermisturado a beladona e outras ervas e espalhadosobreocorpodabruxa. Issomostraqueaqueleespírito jápossuiuoutraspessoasnopassado,porqueestáfamiliarizadocomaprática.”Eaênfasedadaaosangue?“Osangueéaoutrametade”,respondeEd.“Aentidadebuscaprofanarocorpoeosangue.Osangueé

odomdavidaconcedidopeloCriador.Essasentidadespodemzombardavidaousimulá-laaobebersangueoubesuntarocorpocomgordurahumana,masoquesenteméciúmedocorpoencarnadoedasuasubstânciavivificante,osangue.”AentidadepossessoradissequecultuavaDiana,adeusadabruxaria.Dianaéumaentidadefeminina?“Não,Dianaéumdiabo.Sãoaspessoasosmitólogos—queatribuemgêneroataisentidades.Seo

espírito demoníaco tem dois sexos, eles são o ódio e o ciúme. É preciso lembrar que o espíritodemoníacoé,narealidade,umanjo,emborasejaumanjodeperdição.”Comoficaevidentenestecasodovéunegro,apossessãonãoéumaquestãodeconfundirumproblema

psicológicocomumproblemareligioso.Naverdade,éacapturadeumcorpohumanoporumaentidadequeclaramenteidentificaasimesmacomoumservododiabo(nestecaso,de“Lúcifer”)e,apartirdeentão, passa a comprovar a sua declaração com conhecimento e poder preternaturais. Além disso, oespírito não hesita em revelar os seus motivos. Provavelmente, a afirmaçãomais significativa que aentidadepossessorafeznoescritóriodeEdtenhasidoareferênciaaKendra.Comabsolutaveemência,oespíritodeclarou:“Elaéminha.Aalmadelaéminha!”.Essaapropriaçãodaalmahumanaéaverdadeiraessênciadapossessão.Éaúnicamaneiraderesgataraalmaépeloprocessodeexorcismo.Neste caso específico, foram realizados dois exorcismos em Kendra afim de expulsar o espírito

invasor.Comoadmitiuaprópriaentidadepossessora,elaera“fraca”,masoespírito tambémdeclarou

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que “existem outros mais fortes”, referindo-se à hierarquia diabólica. "Embora os diabos ordenem apossessãodeumserhumanoemparticular”,dizEd,“umdiaboquasenuncaparticiparádapossessãocmsi.Emvezdisso,éoespíritodemoníacoquepossuiaspessoas.Háexceções,éclaro.SabemosqueopróprioLúciferesteveenvolvidonapossessãodeumamulhernoIowa,chamadaAnnaEcklund,noanode1928,porquetestemunhasrelataram,àépoca,queelesefezvisívelcestevepresenteduranteaúltimapartedoexorcismo,permanecendodepéemumcírculodefogoeusandoumacoroanacabeça.”DeacordocomEdWarren,apossessãodiabólica temporpropósitodesafiaraautoridadedeDeus,

pois,emtaiscasos,“odiabo,violandoaleicósmica,defatocometeoatoproibidoeassumeaformaencarnada.Quandoissoacontece,nãoháalternativasenãorealizaroexorcismomaior.”E,infelizmente,nãoháprovamaisclaradaexistênciadodiaboqueaquelaobtidaduranteoexorcismo

maiordeumapessoapossuída.

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ALMAREFÉM

NodiaIade julhode1976,apenasseismesesdepoisdeocorridoocasoAmityville,emLonglsland,umajovemde22anos,estudantenaUniversidadedeWurzburg,naAlemanhaOcidental,morreuduranteumexorcismoque rendeu a gravação demais oumenos 43 horas de fita cassete. Partes do terrível eextenuanteexorcismoforamtransmitidaspelatelevisãoalemã.Amortedagarota,somadaaofatodequeexorcismosaindaeramrealizadosnestaerademodernidade,chocouopúblicodaAlemanhaOcidental.ComonoticiouojornalTheNewYorkTimes,em8deagostodaqueleano:

ApósumritualangustiantequebempoderiatersaídodofilmeOExorcista,umaalemã-ocidental de 22 anos — possuída por demônios, de acordo com ospadresqueaatenderam—morreudedesnutriçãonodiaIadejulho.[...]Que a prática de exorcismo ainda existisse na Alemanha Ocidental era fatodesconhecidoatéamortedeAnnelieseMichel,umaalunademagistério.Porém,segundo alguns relatos posteriores ao caso, o exorcismo pode ser quase umapráticacorriqueira.

Em reação àmorte da sita.Michel, as autoridades alemãs denunciaram judicialmente os exorcistascatólicospornegligência.Opromotorlocaldeclarouqueajovemfoiimpedidadealimentar-sedeformaadequadae,portanto,morreuemconsequênciade“desnutriçãoedesidratação”.Entretanto, as acusações eram um tanto simplistas, pois faziam parecer que os exorcistas jesuítas

haviamsidoresponsáveispelamortedajovem,oquecertamentenãofoiocaso.Asrta.Michelmorreunãoporcausadatentativadeexorcismo,masporquejánãoconseguiasuportarosuplíciodapossessão.Além disso, ao contrário das acusações judiciais, os exorcistas não impediram que a jovem sealimentasse; não teria havido motivo para isso. Um médico deu assistência à garota durante todo osuplício. De acordo com Ed: “O fato é que, por seis meses, ou seja, durante todo o processo doexorcismo,AnnelieseMichelviveucompletamentesemalimentosouágua”.Ademais, a srta.Michel fora submetida a variados graus de possessão ao longo dos três anos que

antecederam a tentativa de exorcismo. Durante esse período, médicos e psiquiatras tiveram todas asoportunidades de curá-la de qualquer doença mental ou física que ela tivesse. Contudo, apesar dosmelhoresesforçosdamedicina,asaúdedajovemdegeneroujconsideravelmenteentre1973(anoemqueapossessãoteveinício)e1976.AnnelieseMichelesteveemmeioaumabatalhasobrenaturalquediziarespeitonãoaoseucorpo,masàsuaalma;oexorcismofoirealizadoapenascomoúltimorecurso,emumesforçodeevitaramortedela.Ainda assim, a pergunta que permanece não é de cunho legal, mas religioso: por que Anneliese

morreu? “Jáme fizeramesta perguntamuitas vezes”, respondeEd, “mas as pessoas normalmente não estão

preparadas para a resposta verdadeira. Eu acabo por evitar o assunto explicando que nem todos osexorcismostêmumfinalfeliz.Masomotivodamortedagarotaalemãéqueelatinhaquemorrer.Ocaso

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écomplicado,masequivaleaumassassinatoporpartedasforçasdemoníacas. “A garota era uma ‘alma-vítima’, como define a Igreja. Ela foi possuída não porque tivesse feito

algumacoisaerrada—masporqueeraextremamentebondosa.Issoacontecemaisoumenosumavezacadadezanos:o termo religiosoparadescrevero fenômenoé ‘iniquidade’— indicandoumflagrantecrimemoral.Odemôniotomouessagarotaporqueelaeraumserhumanodevotoebondoso.Elepossuiuo corpo da jovem em um esforço deliberado de desonrá-la e provocar um confronto com o Todo-Poderoso.Assim,oatodapossessãotinhasignificadofísicoemetafísico.Espíritosdemoníacosentraramno corpo da jovem pela primeira vez em 1973. Então, de acordo com aminha interpretação, diabospassaramaparticipardapossessãoem1975.Suapresençanestereinoérara,comoeujádisse,excetoemcasossignificativosdepossessão.“A propósito, esses diabos chamavam a si mesmos ‘Hitler’ e ‘Nero mas os nomes eram apenas

simbólicos,usadosparaimpedirasuaidentificação.Apesardisso,avaliandoosdadosquetenhodaqueleexorcismo,háregistrosdequeumdiabodealtahierarquia,Belzebu,estavapresentenapossuídaeeraoresponsávelpelapossessão.“Agora,noseudesejodesesperadodeajudara filha,ospaisdagarota—sendocatólicos romanos

praticantes—buscaramaajudadoclerojesuíta.Duranteoperíodoinicialdapossessão,agarotatinhamomentosdelucidezeinstruíaosjesuítasanãofazerconcessõesàsentidadesqueahaviampossuído.Porsuavez,aquelespadresfizeramtudooquepodiaserfeito,antesderecorreremaoexorcismo.Elesrezaram constantemente por ela. Eles se colocaram em perigo físico e psicológico ao confrontar asentidadesetentarpersuadi-lasadesistirdapossessão.Oexorcismofoideliberadamentedeixadocomoúltimo recurso. Veja bem, não se considerou a hipótese de realizar um exorcismo porque todos osenvolvidos estavam agindo diante de uma proposta inaceitável feita pelas entidades possessoras— apropostaclássicaemcasosdessanatureza:Acrediteemmim,eagarotavivera:acrediteemDeus,eagarotamorrerá!Para a família e os exorcistas, a ideia toda era absolutamente impensável: eles não resgatariam o

corpodameninaemtrocadasuaalma!Dessemodo,asituaçãopassouaserumaquestãodefé.Aquestãonãoeracomidaeágua:comoTeresaNeumann,umaestigmatizadadoséculoXX,essagarotaviviasemnenhumalimentoouágua.Emvezdisso,aquestãoeraseelespermitiriamqueodiaboassumisseaformaencarnadanoanode1975,annoDomini.Earespostadessaspessoasfoinão!Emboraafamíliadagarotatenhavividoemagonia cadaminutode cadadiados três anosduranteosquais ela foipossuída, elescompreenderamoqueestavaacontecendoeasuafénuncavacilou.“Por fim, diante dessa resistência inabalável, as entidades diabólicas submeteram a garota a um

tormentomentalefísicotãoterrívelqueaúnicaalternativarestantefoirecorreraoexorcismoantesqueaquelascoisasadestruíssemporcompleto.Assim,noiníciode1976,osexorcistasjesuítasderaminícioàleituradoRitualRomanodeexorcismosobreela.Depoisdeseisárduosmeses,osexorcistashaviamlidooritual66vezesaotodo—observeonúmero—e,aessaaltura,elasucumbiuàmorte.Amortefoiumalibertaçãoparaagarota:comoumamártir,essaeraasuaúnicasaídaparaaliberdade.”Porqueasentidadesnãoobedeceramaoscomandosdoexorcista,comosãoobrigadasafazer?“Asentidadesdemoníacasabandonaramocorpodagarota.Osdiabos,porém,desafiaramnãosóas

ordensdoexorcistacomotambémasleisdeDeus,peloquevãoreceberumareprimendamaiordoquecríamoscapazesdeconceber.Emvezdedesistirdapossessão,essasentidadesdiabólicasausaramparaafirmarseuódioporDeus.ComocomCristo,agarotateveavidainjustamentearrancadaporoutros.E,emboratenhasofridoamortefísica,elasobreviveucomaalmaintactaeoespíritoimaculado.Nãoforamospadresqueamataram.Nemoritualdeexorcismotemamaisremotarelaçãocomisso.Agarotafoiassassinadapelodiabo,eesseéumfatodocumentadoemgravações." Algumas pessoas agarram-se à crença de que a possessão diabólica é uma ocorrência de caráter

puramente psicológico— que não existem “entidades exteriores" e que rumores sobre espíritos são

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bobagem. Considerando que grande parte da atividade demoníaca está de fato interligada à esferapsicológica,éjustoperguntarondeficaapsicologianotemadaopressãoedapossessãodemoníaca.Atécercadeumséculoatrás,todaequalquerdoençamentaleratratadacomoumsinaldepossessão.

Hoje, todaequalqueropressãooupossessãoé tratadacomoumsinaldedoençamental.Essadrásticamudançadeumainterpretaçãoabsolutaparaaoutradenadaserviupararesolveroconstanteproblemadainfluênciademoníaca:resultouapenasemumatrocaderótulos.Assim,nopassado,umindivíduoqueapresentasse comportamento impróprio era rotulado como “possuído" e trancado em uma instituição.Hoje, o indivíduo oprimido ou possuído (que também apresenta comportamento inadequado) édiagnosticadocomo“mentalmentedoente”etambémétrancadoemumainstituição.“A maioria das pessoas que se queixa de estar sendo oprimida ou possuída por espíritos está

mentalmentedoente”,observaEd,“masessenemsempreéocaso,comoaprendinaprática.“Em1971, fuiabordadoporumafamíliaque,demaneira tranquilaeracional,disseacreditarqueo

filhoestivessepossuídoporumespíritodemoníaco.Euosdeixeifalar,eentãodisse:‘Tudobem.Ondeestáoseufilhoparaqueeupossadarumaolhadanele?’Elesmedisseramqueo rapazestavaemumhospital psiquiátrico no estado de Nova York, onde havia sido internado oito anos antes, comoesquizofrênico.“Já comopaciente, o rapaz reclamava de algumaoutra coisa dentro dele, aomesmo tempo emque

murmurava ocasionalmente coisas sobre o diabo.Ninguém o levava a sério, à exceção dos pais, queleramacercado temadapossessão e encontraramdados suficientespara se convencerdequeo filhopoderiaestarpossuído.“Algumas semanasdepois, acompanheia famíliaaohospitalparaverogaroto.Bem,eleestavaum

farrapomental,babava,mal semoviaenão reconhecianinguém.Euhavia levadoumacruzcomigoe,então,comeceiameaproximardele,pelascostas.Euestavaprestesacolocaracruzatrásdacabeçadogarotoquandoelede repente sevirou,osolhosmuitoarregalados,emeencaroucomaqueleolhardeódio furioso tãocaracterísticodospossuídos.Oque todosnósvimosnão foiogarotoquehavia sidotrazidoparaasalaemumacadeiraderodas.Vimosoutroservirà tona:umseralertaeviolento,quehaviasidoprovocadoporumobjetoreligiosoqueorapaznemchegouaver.“Ohistóricosaudáveldojovemantesdainternaçãosomadoàsuareaçãoàcruzmedeumotivospara

acreditar que ele pudesse estar possuído. Para abreviar a história, fui adiante e reuni todos os fatosdisponíveissobreocaso,osquaiscontinuavamindicandoapossibilidadedepossessão.Então, fizumtremendo esforço, inclusive arriscando a minha reputação, para conseguir que um exorcista fossedesignadoparaocaso.Bem,euconseguie,poucosmesesdepois,aIgrejaCatólicanomeouumexorcistapararealizaroritual.“Quando o avião que trazia o padre chegou a NovaYork, eu já havia providenciado tudo. Com a

permissãodasautoridadesdohospital,ospaisbuscaramorapazeolevaramparacasa.Eleestavafracoeprostrado,eprecisavadeajudaparafazertudo,comoumacriança.Ogarotofoicolocadosobreumacama. Então, o exorcista leu o ritual de exorcismo sobre ele. Durante a leitura, não ocorreu nadaincomum.Orapazapenaspermaneceudeitadoali,inerteequaseinconsciente.Nãohouveabsolutamentenenhuma indicação de possessão até o último instante, quando o exorcista ordenou que os espíritosdeixassemocorpodorapaz.Derepente,eleficoumuitoagitado,sedebateu,gemeu,ofegou,suou,gritoueberrou.“Um minuto depois, ele desabou sobre a cama outra vez. Uma expressão de serenidade e paz se

espalhou pelo rosto do garoto. Ele abriu os olhos, agora límpidos e livres de qualquer influêncianegativa,efalou,deformabastanteclara:‘Acabou,oespíritofoiembora’.Bem,vinteminutosdepois,aquelerapazselevantoueestavatãosãoearticuladocomoqualqueroutrapessoanoquarto.Poucosdiasdepois,elerecebeualtadohospitalenãoteveproblemasdesdeentão.Queracondiçãodaquelegarotofosseumadoençamental—oupossessão,comosustento—ounão,ofatoéqueoexorcismocurouoseu

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problema.”Apsicologiatendeavertodososcasosdeopressãoepossessãocomomanifestaçõesdeumououtro

tipodedistúrbiomental.Atendênciapredominanteédiagnosticartaiscasoscomoparanoia,histeriaouesquizofrenia,porqueos sintomasexterioresdaopressãooupossessãoespiritual (estresse, ansiedade,desorientação, imagens fantasiosas) são semelhantes aos sintomas clássicos de neurose e psicose.Contudo,independentementedasemelhançadossintomasvisíveis,aetiologiaou'causadoproblemanãoéamesma.Antes,umexamemaisminuciosofdasqueixasdoindivíduooprimidooupossessorevelariaque,emboraseucomportamentopossapareceranormal,eleestáfuncionalmentesão.Oqueelefazétãosomenterelataroqueestáacontecendo—ouseja,eledizqueestásendoassediadoporforçasexteriores.Entretanto,comoessas“forçasexteriores”foramhámuitoexorcizadasdaliteraturacientífica,umexamemaisminuciosoéraro.Então,oindivíduoafligidoporespíritosétrancafiadoemumainstituição.Odr.JeanLhermitteéumneurologistafrancêsquefazexamesclínicosparaaIgrejaCatólicaeaquem

foram encaminhados para diagnósticomuitos indivíduos potencialmente possuídos. EmVrais et FauxPossedes[VerdadeiroseFalsosPossuídos,1956],odr.Lhermitteobservaque:

Independentemente do que possam pensar os céticos, os ateus e os malinformados, as manifestações demonopáticas não estão extintas; aindaobservamos os fenômenos que espantavam e preocupavam os nossosantepassados,mas comum senso crítico e umconhecimentodoqual eles nãodispunham.Porém,devoesclarecerque, emboraoneurologista eopsiquiatratenhamqualificaçãoparadiscerniredefinirumaestruturaanormaldamenteoualgum distúrbio físico, eles devem permanecer no papel demédicos e não iralémdassuascapacidades,demodoque,quandoapresençadadoençamentalnãoéclara,oneuropsiquiatradevebuscaraajudaeacooperaçãodoteólogo.

Diante de tais conceitos, não admira que padres e psicólogos tenham sido chamados de “meios-irmãos”no estudodohomem.Noentanto, comopodemverdadeiros casosdepossessãodiabólica serdiferenciadosdedoençasmentais?Aprimeiraeprovavelmentemaisimportantedistinçãoseriaaperdadoeu.Nãohánadanocampoda

psicologia que considere a perda do eu um fator real na doença mental. De fato, no seu Esboço dePsicanálise (1940), Freud observa que a perda do eu não é uma condiçãomédica, não importa quãocompletaadegeneraçãodamentepossaparecer.

Mesmoemumestado tioapartadodarealidadedomundoexteriorcomoodaconfusão alucinatória, descobre-se, pelos próprios pacientes, após a suarecuperação,que,naocasião,emalgumcantodasuamente(comoelesdizem),escondia-se uma pessoa normal que, como um espectador desvinculado,observavapassarporeleotumultodadoença.

Nãoobstante,emcasosgenuínosdepossessão,oindivíduoexperimentaofenômenodaperdadoeu.Oquesubstituioeu,ouoespirito,doserhumanoéumaentidadetotalmenteindependentedapessoa.ComoexplicaEd:“Oespíritodemoníacopodetantodesalojaroespiritohumanocomocoabitarocorpocomele.Quando issoacontece,aentidadepossessoraeapessoapodemfalarapartirdocorpoaomesmotempo. Nos casos em que mais de uma entidade esteja possuindo um corpo humano, como costumaacontecer, o problema é determinar quantas entidades possessoras compõem o grupo.Naqueles casosrarosemquemaisdeumapessoadafamíliaestápossuída,asentidadespossessorastendemarevelara

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suaidentidadeinadvertidamenteaofalarapartirdequalquerumdosdoiscorpos.“Quanto a características distintivas, entidades possessoras falam em geral com a vozmasculina e

roucaquemencionei anteriormente,mesmoquando falamapartir do corpodeumamulher oudeumacriança.Quando fala através de umamulher, porém, o espírito demoníaco por vezes usará um falseteagudo.A fala pode vir da laringe—ainda que o indivíduo possuído esteja inerte ou inconsciente naocasião—ousimplesmenteressoarapartirdealgumlugarforadocorpo.Seoquiser,odemôniopodese identificar pelo nome. Ele normalmente dirá, por exemplo: ‘Meu nome é Ódio’, ‘Meu nome éPreguiça’, ‘MeunomeéLuxúria’.Ou, então, pode ir adiante edaronomedemoníaco, geralmenteumtermodeorigemantigaque jáestejanos livros.Aentidadeouentidadespossessoraspodemusarumalínguaconhecida,masnãoéincomumquepassemalínguasestrangeirasoumortas,dasquaisopossuídonãotenhanenhumconhecimento."O indivíduo realmente possuído vive não só uma perda ou deslocamento do eu: existem sintomas

adicionais que não guardam qualquer relação com distúrbios psicológicos clássicos. Um fator é a“metamorfose”,porfaltadeumtermomaisadequado.Emoutraspalavras,podemocorrertransformaçõesnorostoenocorpo.Maisumavez,talfenômenonãoéumacondiçãoclínica.Pessoasnãopodempassare não passam por transformações flagrantes,mudando de uma aparência para a outra— amenos emcasos de possessão.Não obstante, como afirmaEd: “Eu e outras testemunhas já vimos as feições depessoaspossuídassetransformaremnaquelasdeumlobo,deumporcoe,maiscomumente,deumgorila.Jáviindivíduospossuídosassumiremasfeiçõesdosmortos,bemcomosetransformarememcoisasquepoderiamserdescritasapenascomogrotescasemacabras.Etodasessasmudançassãofísicas.Apeleeosossosrealmentemudamdeforma,depoisvoltamaonormal,quandooepisódiodepossessãopassa.”Alémdaperdadoeueda“metamorfose”,umterceirofatorquenãoédetectadoemcasosdedoença

mentaléaocorrênciadefenômenosclaramentesobrenaturaisnascercaniasdoindivíduopossuído.“Emcercademetadedoscasosdepossessãoacontecemfenômenosexterioresobserváveis”,comentaEd.“Aatividade tende a ser da ordem de levitação, teletransporte, materialização e desmaterialização deobjetosfísicos.Oespíritodemoníacoprovocaatividadeinsólitaparaprovaràstestemunhasquepoderesinumanos estão atuando. Em resumo, a distinção entre doença mental e possessão diabólica genuínacostumasertãograndequantoadiferençaentreanoiteeodia.”Quandoumapessoarealmenteépossuídapeloespíritodemoníaco,apenasoexorcismoreverteráessa

apropriação humilhante de um corpo í humano. Todavia, não é tão somente o corpo que o demônioaprisionaeescraviza,mas,emúltimaanálise,aalma—aessênciametafísicadoserhumano.“Sevocêquisercompreenderporqueoexorcismoénecessário”,dizEd,“entãoprecisaentenderasdádivasdequeohomemgoza.Eletemavida,temlivre-arbítrioetemaqueletoquedegraçachamadoalma.Avidaeolivre-arbítriopertencemaohomem,mas,teoricamente,aalmapertenceaDeus.Assim,para

usarumaanalogia,aalmaécomoumarelíquiadeDeusquefoidadaaohomemparaqueelenãoaperca.Masaívemoespíritodemoníaco,quevêohomemcomoumaimagemodiosadeDeus,eentãoatacaaalma, por nenhum outro motivo além de rancor — para tirá-la do alcance de Deus como umademonstraçãodeforça.NocasoretratadoemOExorcista,asletrasS-P-I-T-E[D-E-S-P-E-I-T-O]defatosurgiram,emvergõesvermelhos,nopeitodogarotopossuído.“Noentanto,oespíritodemoníaconãopodesimplesmentepossuirumcorpoelevaraalma—porque,

sepudesse,eleofaria!Emvezdisso,eletemqueencontrarumamaneiradetirá-ladevocê.Eissoelefaz enfraquecendo a vontade, ou influenciando a vontade para que se afaste do positivo e se volte aonegativo.Comotempo,seapermissãoédadaouseainfluênciaébem-sucedida,chegaummomentoemqueapossessãoocorreráquasequedeformainevitável.E,namaioriadoscasosdepossessão,oespíritoalegaterconquistadoaalmaporqueconseguiuefetivamentedominaravontadedapessoa.Aindaqueapessoatenhasidoenganada,aalegaçãoébasicamenteverdadeira.Portanto,aúnicacoisaquepodeserfeitaéexorcizaroespíritoe,então,reeducarapessoaquantoaosfatossombriosdavida.”

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Exorcismosignificaliteralmente“expulsarespíritosmalignosemnomedeDeus”.Todasasprincipaisreligiõestêmalgumaformaderitualdeexorcismocomopartedasualiturgia.OritualcomqueamaioriadaspessoasestáfamiliarizadaéoRitualeRomanumquefoidesenvolvidopelaIgrejadeRomacomopropósitoespecíficodeexorcizarespíritosdiabólicosdocorpohumano.Entretanto,nemtodoexorcismotemumcaráterdemaiorgravidade.Enquantoprocedimentoreligioso,oexorcismotemvariadostiposefunções.“Existemexorcismosmenoresemaiores”,explicaEdWarren.“Exorcismosmenoresassumemaforma

de uma bênção. Na realidade, é raro que uma pessoa não tenha passado pelo rito mais básico deexorcismo.Emborageralmentenãosesaiba,obatismoé,naverdade,umritualdeexorcismoeumadasprincipaisrazõespelasquaistãopoucaspessoassofremumapossessãoespontâneaduranteoseucursodevida.“Além disso, exorcismosmenores são destinados a expulsar espíritos demoníacos de uma casa ou

libertar umapessoade espíritos negativosquepossamestar causandoopressão.Aquestão équeumainfluêncianegativa temacapacidadededominarumapessoaouumaresidênciasimplesmentepornãohaver nenhuma influência positiva para neutralizá-la. Quando se procede a uma bênção, podersobrenaturalpositivoédeliberadaemetodicamenteusadoparaneutralizaronegativo.OclérigoconduzoritualemnomedeDeus.Portanto,seoespíritodemoníacoviolaoexorcismo,elenãotemquesehavercomoclérigo,mascomairadivina.”Emboraumexorcismomenorpossalivrarumacasadeespíritosnegativos,na realidade,oespíritodemoníaconuncapossuicasasouobjetos.O reverendoChristopherNeil-Smith, clérigo anglicanoeumdosmais conhecidos exorcistasdomundo, assimo explicano seulivroTheExorcistandthePossessed[OExorcistaeosPossuídos]:

Em essência, o exorcismo não se destina a lidar com fantasmas, nemmesmocomcasas,mascomestadosdealmadepessoasvivasmolestadasporespíritosmalignos.[...]O mal vem através das pessoas e [o exorcismo] tem apenas um efeitosecundárioouresidualsobrelugaresoucasas.Lugaressãoafetadosporqueaspessoasqueviviamalicometeramatosmaléficos.

Assim,umaresidêncianãotemalma,eodiabonãotemalma.Apenasapessoatemalmaeessaéaúnicacommodity,achaveparaa imortalidadequeodemôniobuscapossuir—aindaqueapenasparadestruí-la. Por essa razão, o exorcismo maior dos possuídos não é uma benção passiva, mas umaexpulsãoativadeentidadesespirituaisquenãoirãoemboraamenosquandoadequadamenteordenadasafazê-lo.Emtermoscontemporâneos,espíritosdemoníacossãoterroristasinumanosquepossuemocorpode um indivíduo e fazem de sua alma um refém; o exorcismo maior é, portanto, uma procedimentofundamentadoemoraçõespara libertaraalmadessa tirania.“Quandoumexorcismomaiorprecisaserrealizado,issosignificaqueumespíritoinumanotomoupossedocorpoedaalmadeumapessoa,eessaalmaprecisaserresgatada”,declaraEd.NocasoocorridonaAlemanhaOcidental,oritualdeexorcismorealizadoemAnnelieseMichelfoio

RitualeRomanum,oritualmáximodoexorcismo.Eissoporque,seanecessidadedarealizaçãodeumexorcismo maior foi reconhecida, as autoridades da Igreja concluíram, após longa e diligentedeliberação,queumserhumanofoipossuídoporaquiloquechamaasimesmodeLegião.Eessanãoéumadecisãoqualquer.Naverdade,antesqueasautoridadeseclesiásticasconsideremapossibilidadedarealização de um exorcismomaior, as provas da possessão devem ser incontestáveis e convincentes.Todas as explicações naturais precisam ser eliminadas, ao mesmo tempo em que as alegaçõessobrenaturaisdevemsercomprovadaseverificadas,semexceção.O indivíduo possuído terá que ser minuciosamente examinado por ummédico. Tumores cerebrais,

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desequilíbrioshormonais enarcose, por exemplo, são apenas trêsdosmuitos fatores corriqueirosquepodem provocar alterações físicas e mentais em um indivíduo. Ainda que exames, raios X e testesclínicosdemonstremqueapessoaestáfisicamentesaudável,seránecessáriaumaavaliaçãopsiquiátricaemseguida.Apsicologiaanormalécapciosaecomplexa,eopsiquiatraresponsávelpelaavaliaçãoficaencarregadodedeterminarseapessoaestáounãopossuídaouapenassofrendodedelírios,alucinações,personalidadesmúltiplasouqualquerdentreumavariedadededistúrbiosmentaisqueseparecemcomapossessão.Enquantoasaúdefísicaepsicológicadoindivíduoestásendoverificada,asautoridadeseclesiásticas

vãodesignarumdemonologistaparaocaso."Odemonologistaéresponsávelporconduzirumainvestigaçãoinlocoparadeterminaravalidadede

qualquer suposto caso de possessão”, explica Ed. “Essa investigação envolve entrevistar todas aspessoas relacionadas ao caso, inclusive o indivíduo dado como possuído, para descobrir se estavampresentesfatoresouseforamcometidosatosquepudessempermitirqueumespíritoinumanoinfligisseapossessão. Se houve relatos de fenômenos exteriores associados ao caso, o demonologista devetestemunharpessoalmenteaocorrênciadequalqueraspectodetalatividadee,emseguida,determinarseela foi provocada por forças naturais ou sobrenaturais. Por fim, o demonologista deve testemunhar apossessãoafimdeavaliaranatureza,opodereonúmerodeespíritosenvolvidos,e.sepossível,tentardescobriraidentidadedascriaturaspossessoras.“Noentanto,oespíritodemoníacodificilmenteestaráansiosoporrevelar-seaalguémcomautoridade,

capazdeocasionarasuaexpulsão”,prossegueEd.“Assim,noscasosemqueapossessãonãoficalogoaparente, o que acontece em mais ou menos metade das vezes, o demonologista é forçado a usarprovocaçãoreligiosa—algocomousargáslacrimogêneo—paratrazeraentidadeàtona.”Instadoadarumexemploespecífico,Edlogocitaaomenosumadúziadecasosemquetevequeusar

provocaçãoparatestarumapossessão,eentãopassaadardetalhesdeumcasoespecíficoquecertamenteilustraoprocesso.“Euestavalidandocomumamulherdeorigemhispânica,muitobonitaerefinada,deuns25anosde

idade,quehaviaatraídoumespíritodemoníacoparaasuacasaaobrincarcomuminstrumentodeescritaautomática”, conta Ed. “Como geralmente acontece, a possessão foi notada não pela vítima,mas pormembrosdasuafamília.Essaspessoasperceberamoproblemaaoouviremvozesmasculinasroucaserudes falandoaltonoquartoda jovem.Quandomembrosda família,preocupadoscoma segurançadamoça, acabaram entrando no cômodo, ficaram aturdidos ao descobrir que as vozes estavam vindo docorpo da mulher, embora ela estivesse em sono profundo na ocasião. Ao tentarem acordá-la, ela selevantoudacamaefoirosnandoatéeles,comosdentesàmostraeosdedoscurvadoscomosefossemgarras.“Antesdaminhaentradanocaso,afamíliajáhaviaprocuradoinúmerosmédicosepsiquiatras,queem

nada puderam ajudar aquelas pessoas. Tendo chegado a um impasse, eles consultaram o seu próprioministrobatista,quecolocouafamíliaemcontatocomigo.“Naocasiãoemqueinterrogueiosfamiliaressobreocomportamentoinsólitodajovem,marqueiuma

tardeparapoderentrevistá-laàluzdodia,quandoelaficavaemcasa.Agora,quandovocêlidacomodemoníaco, está lidando com algo perigoso. Por isso, quando fui a casa da família, cheguei com trêsjogadores de futebol americano grandalhões que frequentavam uma faculdade perto dali. Tambémestavampresentesnacada,naquelatarde,opaidajovemeoministrobatista,osdoistãograndesefortesquantoosjogadoresdefutebol.“Antesdeentrarnacasa,eufaleiaosrapazesquefariaajovemsesentarnapartedomeiodosofáda

saladeestar,eentãoescolhiosdoishomensmaioresepediquesesentassemumdecadaladodamoça.Aumdeles entregueiumpequenocrucifixonapalmadamão fechada, colocardiscretamenteobraçossobreoencostodosofáe,então,posicionarocrucifixoatrásdanucadajovem.

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“O teste habitual da possessão é feito pormeio da recitação da oração, da leitura daBíblia ou daexposição do possuído a um crucifixo ou outro objeto sagrada abençoado. O objeto ou método deprovocação escolhido naturalmente depende da convicção religiosa do demonologista. Sou católico,portanto,usométodoscristãos.Contudonãofazomeuestiloficardepé, lendooraçõesetudoomais,então,quandotenhoqueprovocar—comovocêdeveternotado—usoumcrucifixoabençoado,porqueoconsiderootestemaisrápidoecerteiro.“Quando entramos, o pai e o ministro batista estavam esperando janto da jovem. Pedi que ela se

sentassenomeiodosofá.Emseguida,osdoisjogadoresdefutebolsesentaramaoladodela,comoeuoshaviaorientado.Pediqueoterceirorapazficassedepéaomeulado,comumaatitudedespreocupada,maspreparadopara agarrar a garota, se necessário.Com isso, comecei a fazer à jovemuma série deperguntascorriqueiras:‘Comovocêsesente?’;‘Qualéasuaprofissão?’;eassimpordiante.Depoisdemais ou menos cinco minutos, fiz o aceno de cabeça para o rapaz que estava com a cruz, e elecasualmentecolocouobraçosobreoencostodosofá,atrásdopescoçodajovem.“Noinstanteemqueeleergueuocrucifixoeoaproximoudanucadamoça,umagrandepoltronade

estúdionoladomaisdistantedasalatombousozinha.Poucossegundosdepois,umamesaviroucomaspernasparao ar edesabounochão.Batidas epancadas começarama soarnasparedes, seguidasporgolpessurdosnotelhado,quepareciampassosdeumgiganteandandoemcimadacasa.Emseguida,umagrandelumináriademesaseergueunoar,atravessouasalavoandoecolidiucontraumaparede.“Vendoeouvindotudoaquilo,opaificoucompletamenteaterrorizado",dizEd,tomadodecompaixão,

“epensei queopobreministrobatista fosse enlouquecer alimesmo.Enquanto isso tudo acontecia, asfeiçõesdaquelabelamoça se transformaramnas feiçõesdeumagrosseira fera sub-humana.Rosnadosanimalescoscomeçaramavirdocorpodajoveme,aomesmotempo,elacurvouosdedosemgarrasetentoupartirparacimademimeretalharomeurosto.Todosaquelescincohomens:ostrêsjogadoresdefutebol,opaidamoçaeoministro—pesando, juntos,bemmaisque450quilos—malconseguiramimpedi-la. Neste caso, subjuguei o espírito segurando um segundo crucifixo no espaço entre assobrancelhasdajovem,ordenandoentãoqueaentidadepossessorafosseembora,oqueaconteceudepoisdeunscincominutos.”Após relatar o incidente da provocação, Ed reproduz a gravação original do episódio na casa da

jovem, o qual provou ser uma demonstração horrenda e impressionante de ódio, fúria e violênciainumana.“Em resumo, portanto, enquanto demonologista, entrevistei a família, testemunhei a ocorrência de

fenômenosexterioresna sala emque se encontravaapossuída e confrontei a entidadenapresençadetestemunhas.Depoisdeobter tais informações, recomendei a realizaçãodeumexorcismopara aquelecaso,oquefoifeitoumasduassemanasdepois.Emconsequência,hojeamulherestálivreelevaumavidarespeitávelnacidadedeNovaYork.”Emborarelatoserecomendaçõesdosmédicosresponsáveispelosexamesfísicosedodemonologista

oficiante possam, muitas vezes, ser suficientes para convencer as autoridades eclesiásticas danecessidade de exorcismo, normalmente devem ser apresentadas provas adicionais que ratifiqueminquestionavelmentetalnecessidade—emespecialquandosetratadoRitualeRomanum.Porexemplo,gravações, fotografias, leiturasde instrumentosde teste, substânciasouobjetosmaterializados têmqueserapresentadoscomoprovasfísicasdaocorrênciadefenômenosdistintamente“preternaturais”.Alémdisso, testemunhas confiáveis serão convocadas a atestarmudanças no caráter e na atitude da pessoapossuída e, quando cabível, confirmar que alguma atividade incomum aconteceu na sua presença. Oscritériosparaidentificarumapossessão,emparticularparaosexorcismoscatólicos,sãorigorosos.Issoporque,alémdetudooquesemencionouanteriormente,nenhumadecisãopeloexorcismoseráconcedidaamenosqueserespondasima,nomínimo,umadestasquatroperguntascruciais:

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Oindivíduorevelouconhecimentosecretoousobreofuturo?Oindivíduopossuídofalouemlínguasouidiomasquelheeramdesconhecidosanteriormente?Oindivíduodemonstroupoderes inumanosouprovocouatividadeclaramentealémdacapacidadehumana?A entidade possessiva identificou-se pelo nome ou deu algum sinal irrefutável de uma presençadiabólica?

Umavezrespondidastaisperguntasereunidastodasasdemaisinformações,ocasoéentãosubmetido

àsautoridadeseclesiásticas.Se,depoisdeumestadomuitocuidadosodetodososdados,seapresentaadecisãodequeoexorcismomaiorénecessário,designa-seumexorcistapararesolveraquestão.“Cadaumadasprincipais religiões temopróprio ritualdeexorcismo”,comentaEd,“nãocomoum

vestígio do passado, mas como uma necessidade cotidiana. É um equívoco difundido pensar que oexorcismo é um ritual medieval obsoleto que já não é realizado. O exorcismo ainda é necessário erealizado neste século assim como foi em todos os séculos passados. Embora o número exato deexorcismomaioresforamrealizadosentre1970e1980,apenasnaAméricadoNorte.”Emúltimaanálise,aspessoasnãodeveriamserpossuídaspornenhumespíritoalémdoseupróprio—

muito menos por qualquer espírito demoníaco desumano. Portanto é necessário poder sobrenaturalpositivoparadesfazeracatástrofeespiritualdapossessão.Odiabo“nãorespeitahomemalgum”;assim,essa perturbação da ordem natural pode ser remediada tão somente por um clérigo devidamenteordenado, que atua como representante diante de Deus. Essa tarefa particularmente difícil exige umindivíduomuitíssimopiedosoque,sozinho,consigaconfrontarasentidadesdecididamenteignóbeisqueseengajamnapossessãodesereshumanos.“Namaioriadasreligiõesnãocristãs,oritualcostumaserconduzido por um clero especializado”, diz Ed. “Em outras palavras, o exorcista tem uma funçãoespecializadaqueosoutrosclérigosdasuareligiãonãotêm.Issoseaplicaparticularmenteàsreligiõesorientais. Na fé judaica, o exorcismo é conduzido por um exorcista, que lê o ritual estabelecido nasagradaToráenquantoé,emregra,assistidoporumminyan[quórum]dedezjudeuspiedososquefazempartedotemplo.Nasdenominaçõescristãstambémexistemclérigosespecializados,emboratodoclérigocristão ordenado seja um potencial exorcista, porqueCristo foi um.Na realidade, JesusCristo foi omaiorexorcistaquejáviveu.Elenãosóexorcizavaospossuídoscomotraziaosmortosdevoltaàvida!”Alémdisso,asEscriturasindicamqueJesustransmitiuessepoderdeexorcizarodemôniodocorpodohomemaosseusDiscípulos,usandoasseguintespalavras, registradasnoCapítulo10doevangelhodeSãoLucas:

Aquele quevos ouve, amimouve; e aquele quevos rejeita, amim rejeita; eaquelequemerejeita,rejeitaAquelequemeenviou[...].Eisquevosdoupoderparapisarserpenteseescorpiões,etodaaforçadoinimigo;enadavoscausarádano.Mas não vos regozijeis nisso, que os espíritos se vos submetam; antes,regozijai-vosdetervossosnomesescritosnoscéus.

Embora talvez se imagine que osmembrosmais elevados do clero sejam chamados a efetivamenterealizarumexorcismomaior, isso raramente acontece. “Já trabalhei comexorcistasdequase todas asprincipaisreligiões”,dizEdWarren.“Epercebiquesãohomensmaisvelhos,geralmenteentre40e80anos. Costumam ser homens muito santos e humildes, que demonstram um profundo cuidado pelaspessoaseobem-estardelas.Geralmente,elesnãotêmoutrotítuloalémdemonge,padre,rabino,ministroouiogue,mastodosparecempersonificarumacombinaçãodesabedoria,bondadeecompaixãoquenão

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sevêempessoascomuns.”Todavia,piedade,sabedoria,devoçãoehumildadenãosãosuficientes.Enquantopessoa,oexorcista

deveincorporarasvirtudesdebondadeemoralidadequerepresentamosmelhoresaspectoshumanos.Enãomenosimportante:oexorcistadeveserforteobastanteparasuportarostormentosmentaisefísicosque frequentementeocorremnabatalhapara recuperarumaalmahumanadasgarrasdodemônio. “Emalgummomentodasuavida,semexceção,oespíritodemoníacoatacaoexorcistaporserohomembomqueé.Atarefadoexorcistaéotrabalhomaisingratodomundo.Aindaquesejaumhomemdeenormevalor pessoal”, afirmaEd, “ele costuma ser criticado e ridicularizadopor aqueles que são ignorantesdemaisparareconheceroquantoeledeveriaserestimado."Quandoéprecisorealizarumexorcismomaior,adata,ohorárioeolocaldoritualsãonormalmente

estabelecidoscomantecedência,semprequepossível.“Apreferênciaépordiassantosoudiasdefestasdesantos”,observaEd.“Viaderegra,oritualémarcadoparaashorasmatutinas,demodoaevitarosataquesqueodiabo—oPríncipedasTrevas—écapazdeempreenderduranteashoraspsíquicasdanoite.Oexorcismopodeacontecernamoradiadoindivíduopossuído,masprovavelmenteserárealizadoem alguma casa religiosa. Exorcismos potencialmente violentos, envolvendo entidades muitíssimomalignasoupoderosas,costumamserrealizadosemalgumhospitalvinculadoaumainstituiçãoreligiosa,lugaremquemédicoseequipamentosdesustentaçãodavidaestãoapostos.”Nesseínterim,nosdiasqueprecedemaumexorcismomaior,oexorcistasesubmeteráaumarigorosa

preparação.Eleseabsterádealimentosetomarááguaabençoadaapenassenecessário.AissosechamajejumNegro.Espiritualmente,oexorcistaficaráenclausuradoemoraçãoporumperíodomínimodetrêsdias,afimdeserfortalecidocomastrêsVirtudesTeológicasdafé,daesperançaedacaridade:fénoqueeleestá fazendo,esperançadeque teráêxito,eacaridadededoar-se livrementeembenefíciodopróximo.Por fim, tendo-secolocadoemumestadodegraça,oexorcistavai implorarpelaassistênciaDivina,umavezqueohomemnãotempoderinerentesobreessesanjosnegativosdeperdição.Nodiadoexorcismo,reúnem-seosassistentes,quetambémseprepararamparaoritualcomoraçãoe

jejum.Seexisteapossibilidadedehaverviolênciaduranteoexorcismo,apessoapossuídaserádeitadaemumacamaeusará roupas folgadas. “Qualquer coisaquepossa semover,queimarou ser atiradaéremovidadoquarto”,revelaEd.“Sevocêderumporreteaoespíritodemoníaco,eleoacertarácomisso.Portanto,aúnicacoisaquedevepermanecernoquartoéumamesa,sobreaqualserãocolocadasvelas,óleosbentoseoSantíssimoSacramento.Todososoutrosmóveiseobjetosterãoqueserretiradosdali,paraasegurançadoexorcistaedeseusassistentes.”Comisso,teminíciooterrívelsuplício.EmseulivroDiabolicalPossessionandExorcism[PossessãoDiabólicaeExorcismo],opadreJohn

Nicolaobservouque:“Oexorcismonãoéumabatalha,masumaguerra”.Avitórianessaguerraocorrequandooespíritodemoníacoabandonaoindivíduopor jánãosuportaraexposiçãoa tudooquelheéoposto,ouseja,oSagrado.Assim,éistooqueoexorcistarecita:

Eu teesconjuro,espírito imundo, todooataquedoadversário infernal, todaalegião,grupoeseitadiabólica.EmnomedonossoSenhorJesusCristo,saieafasta-tedestacriaturadeDeus.PoiséElequeteordena,Elequetemandouprecipitar-tedoaltodoscéusaoprofundoabismoda terra. [...]Estremeçae fuja,enquantoclamamosemnomedoSenhor,peranteQuemoinfernoestremece,paraQuemassantasVirtudesePodereseDomínioestãosujeitos,aQuemosQuerubinseSerafinslouvamtomvozesinfinitasenquantocantam:Santo,Santo,Santo,SenhorDeusdeSabaoth!

EmboraoexorcismoprevistonoRitualeRomanumsejaumdocumentocerimonialcomnãomaisde25

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páginasaproximadamente (dasquaismetadecontémsalmos),muitasvezes,oespírito(s)possessor(es)partirá(ão)apenasdepoisdeumlongoeexcruciantesuplício—comoaconteceunoexorcismorealizadona Alemanha Ocidental. Sem interferências, o Ritual Romano é recitado em cerca de duas horas.Todavia,oqueocorredurantealeituradotextoéquesetornaumsuplício.Ofraseadododocumentoétãoforteedesafiadoraoespíritodemoníacoquearesistênciadasentidadespossessorasàsdeclaraçõespodemfazeroexorcismoarrastar-seporhoras,dias,semanaseatémesesininterruptos.Oqueaconteceduranteodesenrolardeexorcismosmaioreséinformaçãoquenãosedisponibilizaao

público:umexorcismonãoéumespetáculo.Contudo,comodeontologista,EdWarrentrabalhajuntodeexorcistas e já auxilioumais oumenos 43 exorcismos diferentes, tanto nosEstadosUnidos quanto naInglaterra. Ele testemunhou os fenômenos bizarros e também já foi alvo dos terríveis ataques e dasperseguiçõesquenormalmentecompõemosuplício.“Emprimeirolugar”,dizEd,“compreendaqueaminhafunçãoésempreadeauxiliaroexorcista.Eu

não fico andandode lá para cá como algum tipo de capelãobancandoo padre; estou ali para ajudar.Conheçoossinaisdeperigo,então,quandosurgemproblemas,meuconhecimentopodeserútil.Poroutrolado,éoexorcistaquetemafunçãorealmenteperigosadeexpulsaroespíritodemoníaco,eécontraoexorcistaque,emúltimaanálise,odemônioconcentraasuavingança.“Comrelaçãoaoqueaconteceduranteumexorcismo,primeirodeixe-medizerque,decadadezcasos,

emaproximadamenteseisdelesoespíritoobedeceàsordensdoexorcistaevaiemboraàprimeiraleituradoritual.Apazeatranquilidadedoquartosãoosinaldequeosespíritosdeixaramocorpodapessoapossuída.Emgeral, nessas ocasiões, o próprio possuídodirá ‘Acabou’ ou ‘Apossessão terminou’.Éclaroqueoexorcistaprecisatercauteladiantedisso.Osmaiseficientesentreelestêmoquesechamade‘domdodiscernimento’:elessabemcomcertezaseoespíritoaindaestápossuindoounãooindivíduo.“Porém, surgemproblemas emquatro de cada dez exorcismos.Ocorrem fenômenos no quarto, e as

entidades possessoras oferecem resistência.Nesses casos, tão logo o exorcista dá início à leitura doRitual, os espíritos respondem com um contra-ataque, cujo objetivo é impedir a continuidade doexorcismo.Geralmente,issoconsisteemgritosdesvairados,vaiasouberrosproduzidospelasentidadesdentro da pessoa. O relinchar de cavalos, o latir de cães, o grunhir de porcos são barulhos típicosemitidospeloespíritodemoníacoparainterromperoritual.Interrupções,aliás,sãoapalavradeordemduranteumexorcismomaior.Osuivos, ladridos eguinchos felinos sobrenaturaispodemcontinuarporhorasafio.Paraoexorcista,porém,essessonsbestiaisnãopassamdeinconveniênciasirritantes,“Àmedidaqueoexorcismoprossegue”, continuaEd,“asentidadespossessorascostumamdespejar

vulgaridades e blasfêmias— linguajar grosseiro, repugnante e obsceno. Falando com voz inumana erascante,essascoisastambémdesafiamasEscriturasqueestãosendolidase,àsvezes,até‘corrigem’oexorcistaseeleporacasoomitirumafraseoupronunciarinadequadamenteumapalavra—emlatimouinglês — do Ritual. Esses insultos e calúnias mais tarde se transformam em ataques pessoaisdesmoralizadorescontra todosospresentes.Essesespíritos,vejabem,conhecemnãosóasEscrituras,mastambémavidadetodasaspessoasnoquarto.Elesvãotentarafastaroexorcistaeosassistentesaomencionarincidentesdolorososdavidadetaispessoas,relembrandotragédiaspessoaiscomumprazerperverso.Vãorevelarcoisasparticularespelasquaisapessoatalvezsesintaextremamenteculpadaouvãotrazeràtonaeventosqueprovoquemgrandedoroupesar.Quandoissonãofunciona,elespassamahumilharcadaumadaspessoaspresentesfazendoumalistadetodosospecadosmortaiscometidosporela,nafrentedetodomundo,demorando-senaquelesqueprovavelmentesejammaisembaraçososaumapessoa em particular. Para os católicos, este último problema é evitado por meio da confissão:curiosamente,oespíritodemoníaconãotemconhecimentodepecadosqueforamconfessados!“Quandoosataquespessoaisaoexorcistaeaosassistentessemostraminsuficientesparafazerpararo

exorcismo, é possível que ocorram fenômenos incríveis e assustadores nos casos em que estão

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envolvidasentidadesmuitopoderosas.Nessescasos,jávioquenãodeveriaser;jávioquenãopoderiaser. Em um exorcismo, por exemplo, o demôniomaterializou algo como o equivalente a seis ou setebaldes de uma substância que parecia uma combinação de espaguete com cabelos. E o fedor deexcrementomisturadoaoodordaquiloeratãointensoquefaziaoestômagorevirar.Entretanto,ospioresfenômenossãoinfligidosaopossuído.“Empelomenosseiscasos,vioindivíduopossuídolevitaracimadacama.Vioscabelosdavítima

arrancados do couro cabeludo pormãos invisíveis. Já vi a pessoa possuída vomitar litros e litros desubstânciaspútridase repugnantes, emgeral fedendoaexcremento.Viqueimadurasecortespsíquicosapareceremportodoocorpodopossuído,provocandogritosdesesperadosedolorososquandoeleestáconscienteduranteoritual.“No caso de uma garota de 13 anos que estava possuída por um incubo, vimos marcas de dentes

surgiremnobraçodamenina.Peloquenosfoipossívelidentificar,erammordidascomoadeumanimal,comsalivaúmidaàsuavolta.Asmarcasrompiamacarneesangravam.Tambémjáviodemôniofazerincharocorpodoindivíduopossuídoatéalcançarodobrodotamanhonormal.Acabeça,o tronco,osbraços,osdedos,aspernas,ocorpointeiroficoutãoinchadoedesfiguradoqueapelecomeçouarasgareexsudarsangue;chegamosapensarqueapessoafosseexplodir!Noentanto,todasessasqueimaduras,marcas emudanças físicasno corpodesaparecem imediatamentequandoas entidadespossessoras sãoexorcizadas, e éoquequisdizer com ‘paz e tranquilidade’noquarto ao finaldeumexorcismobem-sucedido.“Essassãocoisasque testemunheipessoalmente.Mas,deixe-me lembrá-lo”,continuaEd,“queesse

tipodefenômenorepugnanteédefinitivamenterelatadoemoutrosexorcismos,dosquaisnãoparticipeiEm1977,porexemplo,maisoumenosumanoantesdamortedopapaPaulovi,umainexplicávelondadepossessõespareceterocorridoentremuitasfreirasediversospadresdoVaticano.Nessescasos,ospossuídosnãosóassumiamformasgrotescascomoregurgitavampregos,cacosdevidro,bileeanimaisvivos.”EdabreumlivrointituladoBegoneSatan[Afasta-te,Satã].“EeisaquioqueaconteceuàmulherdeEarling,lowa,duranteumexorcismode23dias,em1928.”Incontáveis crias de diabos também interrompiam o procedimento do exorcismo com interferências

desagradáveisequaseinsuportáveis.Emconsequênciadetaisperturbações,orostodamulherficoutãodistorcido que ninguém podia reconhecer as suas feições. Em seguida, o corpo inteiro dela ficou tãoterrivelmentedesfiguradoqueocontornonormaldesapareceu.Acabeçapálida,emaciadaecadavérica,que assumiamuitasvezeso tamanhoeo formatodeumcântarode água invertido, ficou tãovermelhaquantobrasas incandescentes.Osolhos seprojetarampara foradascavidades,os lábios incharamatéficaremquasedo tamanhodemãoseocorpomagroe fino inchou tantoqueopastorealgumas irmãsrecuaramdemedo, achandoque amulher seria rasgada e explodiria empedaços.Por vezes, a regiãoabdominaleasextremidadesdamulherficavamrígidascomoferroepedra.Emtaisocasiões,opesodoseucorpofaziatantapressãonaestruturademetaldacamaqueashastesvergavamatéochão.“Éissooqueonossoamigo,odiabo,fazàspessoas”,dizEd,comindisfarçáveldesdém.“Contudo,

nãoimportaoquantoosfenômenospossamsetornarintensoseirracionais,éimpensávelqueoexorcistavenha a sucumbirduranteoprocesso.Atuandono interessedobem,o exorcista e aqueles à suavoltadevem lutar contra fenômenos físicos repulsivos que fariam até o indivíduo mais empedernido seencolherde choque e repugnância.No entanto, ainda assim,o exorcista resiste e continua repetindooritual, àsvezesquaseaopontodamorte, atéque finalmenteasentidadespossessoras revelemas suasidentidadesevãoembora,emnomedeDeus. “Quando o exorcista intervém”, conclui Ed, “ele enfrenta a coisa de verdade. Quando todo o

lamentávelprocessotermina,oindivíduoestálivredeumespíritoexternoqueadmitequererdominarohomemeprovocarsuacompletaruínaedestruição.Paraoexorcista,porém,osuplícioaindanãochegouao fim. Nenhum exorcista jamais sai ileso de um confronto com oMal. Ele permanece para sempre

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sozinho,apartadodosoutroshomens,sentindooaguilhãoeoódiomordazqueodiaboreservaaDeus.Essaéaverdadeiranaturezadoexorcismomaior!”QualéopiorcasoqueEdeLorrainejáinvestigaram?"Issoéumacoisadequeeununca,nuncafalo”,admiteEd,ficandoderepentemuitosério.“Ocasofoi

quaseonossofim, issoeugaranto.Nósnosvimoslevadosaumlugarforadestemundo,umlugarquevocênuncaacreditariaexistir,mesmoqueeuodescrevesse.Cadaminuto,cadasegundodaquelaslongashorasfoitãoinacreditável,tãoincompreensivelmentehorrível,queachoqueagoraconheçooverdadeirosignificadodeinfernoeovalordavidanaTerra.”

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ASVOZESDEENFIELD

“Háalguémvivonaquelecarroaliembaixo?”,opolicialestadualdaPensilvâniaperguntava.OFordLTDpretohaviasaídopelalateraldarodoviaemaltavelocidade,capotadováriasvezespela

extensão de um barranco íngreme e parado uns novemetros abaixo da superfície da estrada, em umamontoadodegeloeneve.“Estãotodosbem”,disseomotorista.Depois de chamar um guincho, o policial abriu a sua caderneta de couro e perguntou: “O que

aconteceu?”.Ummotoristadecarretarespondeu:"Euvinhaunsoitocentosmetrosanãs:docura.Parnenhummotivo

aparente,elesaiudocontrole.Atraseirabalançoudaesquerdaparaadireita,dadireitaparaaesquerdaaté que o motorista conseguiu recuperar o controle. Alguns segundos depois, o carro deu um girocompleto.Masogironãofoinormal:eutinhaaimpressãodequeasrodasdocarronemsequerestavamnaestrada—queocarroestava,naverdade,girandonoar!E,então,eleestavanoar.pareceuquefoipuxadodelado,antesdesairdaestrada,passandoporcimadaproteçãoedescendopelobarranco”.“Queméomotorista?”,perguntouopolicial,emseguida.“Soueu”,respondeuEdWarren."Ocarrosaiudocontroleduasvezes.Nasegundaveznãoconsegui

virá-lo...”O que realmente aconteceu, contudo, foi algo diferente — algo que poucos policiais teriam

compreendido,mesmoapósumaexplicaçãotangaetediosa.“Estava tudobem”, recorda-seEd. “Eraumdiadecéu limpo.Lorraineeeuvínhamosconversando

sobreasituaçãodevárioscasosemqueestávamosenvolvidosàépoca.Doisoutrêsminutosantesdoacidente, tínhamoscomeçadoa falar sobreo casoAmityville, que, apropósito, nãoeradiferentenemmaisviolentoqueosoutroscasosdequevínhamostratando.Derepente,ocarrosaiudocontrole.“Agora, eu dirijomais de 80mil quilômetros por ano, demodo que dou conta de conduzir omeu

própriocarro.Sóqueaquilofoiesquisito;asensaçãoeracomoseumamãogigantescativesseacertadoocarroportrás.Naprimeiravez,atraseiradocarrosubiu,saindodochão.Nasegundavez,ocarrointeirosaiudochão.Nósgiramosnahorizontalumaouduasvezese,quandopercebi,estávamosdescendoumbarranco a 80 km/h, de ré.A única coisa que nos impediu de bater no fundo foi a neve que o carroescavouenquantoestavadescendo.“Inacreditavelmente,nãohouvedanosaocarro,excetoporalgunsamassadosna lataria.Umguincho

puxouo carro barranco acima e, umahora depois, já estávamos seguindoviagem.O estranho é que”,interpôsEd, “nanoiteque se seguiu ànossavisita aAmityville, naquela emque a entidadenegra emformaderedemoinhomeconfrontou,elaprojetouavisãodesseacidenteautomobilístico.Ironicamente,oincidenteaconteceunasmontanhasPocono,emumlugarchamadoValedoSenhor!”Depoisdeexorcismo,demonologia talvezsejaaatividademaisperigosadomundo.Portanto,nunca

um caso é rotineiro para osWarren.De fato, com o passar de cada ano e a cada novo caso, eles seexpõemaumperigocadavezmaior.Afinal,depoisdededicaravidatodaaoestudodosobrenatural,EdeLorraineWarrensearriscamsemprequeseenvolvememumcasonoqualestãoematividademaisdo

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que espíritos humanos presos à terra. E embora eles possam enfrentar e vencer forças vis eblasfemadorasouajudararesolverumaperturbação,demodoqueosmoradoresdolugarpossamviverempaz,deumaformaoudeoutra,osespíritoscomqueelessedeparamcontinuamaatormentá-losporanosapósaocorrência.Éumriscodesagradável,aindaquereal,dotrabalho.Umexorcistapassaporpreparaçõeselaboradasantesdeconfrontaroespíritodemoníaco.OsWarren

fazemalgumacoisaespecialparaasseguraraprópriasegurança?“Antes de avançarmos em um caso sério”, responde Lorraine, “tomamos uma série de precauções.

Primeiro,avaliamosminuciosamenteaspessoascomquemestamoslidando.Nãovamoscolocaranossavidaemriscoporalguémqueacabarávoltandoatráseatraindoosmesmosespíritosumasemanadepois.Assim,começamosporanalisarasinceridadeeanecessidadeporpartedapessoaoudafamíliaquenoscontatou.Depoisdisso,examinamosnossasprópriasmotivaçõesenossaconsciência.Somosaspessoascertasparaassumirocaso?Outrosindivíduos—talvezdoclero—poderiamfazerumtrabalhomelhordesde o início?No entanto, nós nunca recuamos diante de um caso por ele ser demasiado difícil ouperigoso."Agora, se decidimos prosseguir com uma investigação, então tomamos precauções adicionais”,

continuaela.“Somoscatólicos,por isso,eugeralmentepassoumatardeoumaisna igreja,orandopornossasegurançaeparaquetenhamosêxito.Euusoorosário.Aquelesdenósqueestãonestetrabalhotêmconhecimentodopoderpalpáveldorosário.Seéumcasograve,pedimosqueváriospadresrezempornós e,muitas vezes, também pedimos que se celebre umamissa. Algumas pessoas talvez achem issoestranho,mas,apartirdanossaexperiência,sabemosquenãoexisteoutramaneira:boasintençõesnãosão suficientes para ser bem-sucedidoneste trabalho.Sejamos francos: não estamos lidando comumaideia,umconceitoouumailusão.Estamoslidandocomamanifestaçãoreal,física,dodiaboemumadesuasmuitasformaspoderosas.“Quanto ao que nos protege”, conclui Lorraine, “essa é uma questão totalmente diferente. Quando

enfimentramosemumacasaemqueessesespíritosnegativosestãoatuando,usamosmedalhassagradasespeciais, abençoadas, e levamosconoscouma relíquiadeumsanto.Contra forçasdemoníacas, essesobjetivos espiritualmente positivos trazem consigo um grande podermetafísico.Mas nunca realmenteentramos sozinhos em uma casa: muitos outros entram conosco, em espírito. Além disso, podemosperceber que recebemos a ajuda de espíritos positivos em casos particularmente difíceis. Comoclarividente,tambémconsigomecomunicarcomguiasespirituaisquenosdãoproteçãoeorientação.Porfim,EddeveasegurançadeleaSãoMiguel,cujapresençaàsvezesnoséreveladaporsinaissimbólicospositivos.“Emsuma,nãoseconseguefazerestetrabalhoe,aomesmotempo,permanecervivosemaajudado

alto;emerefiroàsvezesàajudafísicadoalto.HáocasiõesemqueestáocorrendoumverdadeirocaosnacasaemqueEdestáprestesaentrar.Nessassituações,umaforçaimpenetrávelcercaacasa,ouduas‘mãos’ fortes empurram Ed para trás, impedindo-o de entrar. Sabemos que a presença é de naturezapositiva—talvezatémesmoangelical—,porqueocheirodeperfumeefloresfrescaséprojetadoaomesmotempo.Então,veja,nósnãovamossimplesmenteentraremumacasainfernaledesafiarodiaboou a sua legião. Em vez disso, se somos bem-sucedidos no nosso trabalho, é por causa do nossoconhecimentodosobrenatural,bemcomodasorações,docuidadoedaorientaçãodetodosaquelesquenos dão apoio. Se não tomássemos essas precauções ou se fizéssemos este trabalho por meracuriosidade,então,umacoisaécerta:jáestaríamosmortosaestaaltura!”Comisso,Edentranadiscussão.ElehaviachegadodaInglaterranodiaanterior.SuaviagemaoReino

Unido teve por objetivo visitar uma família em cuja casa fenômenos espirituais inumanos vêmacontecendocomcrescenteregularidadeaolongodosúltimostrêsanos.EssaforaaterceiravisitadeEdaEnfieldsónoúltimoano.Dessavez,opropósitodavisitafoireunirprovasdosfenômenosqueestão

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ocorrendo na casa, provas que pudessem ser usadas para comprovar a necessidade de exorcizar aresidência.“OcasoEnfieldfazocasoAmityvilleparecerumacasadebrinquedo",dizEd.“Eestoufalandosério.

OsLutzconseguiramsairdacasadepoisde28diasdeterror.Nestecaso,aspessoasnãopodemsairdaresidênciapormotivoseconômicoseestãosendoobrigadasasuportaraperturbaçãojáhátrêsanos.Aspessoasqueestãosendovitimadas,comoaimprensalondrinavemnoticiandoàexaustão,sãoumamulherde50anosdeidade,divorciada,eostrêsfilhos.Elesvivemjuntosemumacasacusteadapelogoverno,nosubúrbiodeEnfield,zonanortedeLondres.Nafamíliaháduasgarotas,umadelascom15anoseaoutracom12anosagora,eummeninode8anos.Emboraosfenômenostenhamcomeçadorepentinamenteemagostode1977,ocasocomeçouem1976,quandoasduasgarotasatraíramentidadesinumanasparaacasadepoisdebrincarcom—vocêadivinhou!—um tabuleiroOuija.Asgarotasnão tinhamnenhumpropósito sinistro aousá-lo: elas apenasnão tinhammaisnadapara fazer e estavambrincandocomotabuleirocomosefosseumjogo.Paraainfelicidadedelas,Londreséumlugarespiritualmenteativo.Oresultadofoiqueasmeninasfizeramcontatocomumespíritodemoníacoquefezoseutruqueeconseguiuarrancardelaspermissãoparaentrarnacasa.Algumassemanasdepois,esseespíritoinfestouacasa,enãoestavasozinho:elelevouconsigoseiscamaradas!Essesseisespíritosestãopresentesnacasanesteexatoinstante,enquantofalo.“Quando os espíritos foram inicialmente atraídos, irrompeu a costumeira torrente de fenômenos de

infestação:batidas,pancadas,sonsdealgoraspando,golpeseassimpordiante.Comopassardotempo,osfenômenosprogrediram.Objetossematerializavam,pessoaslevitavam—-principalmenteasgarotas—einúmerasformasnegrassemanifestavameflutuavampelacasaduranteanoite.Apósamãerelataroproblemaàforçapoliciallocal,apolíciainvestigouaqueixa,masemvão.Noentanto,empouquíssimotempo,aimprensasoubedocaso,erepórteresepesquisadoresdefenômenospsíquicosafluíramàquelacasa geminada de tijolos. Entre 1977 e 1978, eles não só colocaram a família em evidência comodocumentaramemdetalhesarealidadedosfenômenosqueocorriamali.Então,elesforamembora,semque ninguém jamais dissesse àquelas pessoas como poderiam se livrar da perturbação.Na realidade,parecequeninguémsequersabiaoqueestavahavendo.Ocasohaviasidoclassificadocomoumsuposto‘ataque poltergeist’, e assim permaneceu. Quando estive na Inglaterra, no verão de 1978, o casomechamouaatençãoedecidivisitarafamília.“Naquela ocasião”, continua Ed, “passei uma semana em Enfield. Fiz entrevistas minuciosas com

todos os membros da família, separadamente e juntos, enquanto testemunhava os fenômenos queaconteciamàminhavolta,nacasa.Comodemonologista,pudeperceberqueaquelesindivíduosestavamsendosistematicamenteoprimidose,porvezes,atépossuídosporespíritos inumanos.Porexemplo,asgarotassaíamdochão, levitando,seentrecruzavamnoareeramcolocadasnochãooutravez,emumademonstraçãodepoder inumano.Naverdade,pareciaque, toda semana,umaououtradasgarotas erasubmetida à levitação, normalmente na companhia de testemunhas.Amãeme contou já ter entradonoquarto das meninas e encontrado a filha mais nova levitando em pleno ar enquanto dormia em sonoprofundo.Emoutrasocasiões,elahaviatestemunhadoasfilhassubindoedescendosobreacama,‘comoumioiô’,naspalavrasdela,semquenenhumadasgarotasconseguissecontrolaraatividade.Ascriançastambémfalaramdeumamassanegraquesemanifestanosseusquartos,ànoite,easaterrorizacomasuapresença.“Mesmoenquantoeuconversavacomafamília,coisasseerguiamnoareflutuavampelasala.Certa

noite,umacadeirademadeiraseelevounoar,permaneceuparadaporuminstanteeentãoexplodiu.Emoutraocasião,umarochagrandeepesada,dotamanhodeumaboladesoftball,semanifestoudonadanomeioda saladeestar e caiunochãocomumbaque!Mais tarde, levei aquela rochaaumgeólogodaUniversidadedeLondres,semlhedizerondeeuahaviaconseguido.Euapenaspediaoprofessorquemedissessedeondearochapoderiatervindo.‘ApedraéorigináriadeumlugarúniconasIlhasBritânicas’,

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elemedisse.‘EsselugaréaIlhadeWight.’AIlhadeWight,éclaro,selocalizanoCanaldaMancha,uns120quilômetrosasudoestedeLondres,emlinhareta.“Maissérioqueosfenômenosexternoséoqueestáacontecendoàscriançasdaquelacasa”,prossegue

Ed.“Asmeninas,emespecial,estãosofrendoepisódiosdepossessãonosquaisassumemasfeiçõesdeuma‘idosamorta’,deacordocomamãe,‘etêmaforçadeumaamazona’.Oaspectomaisperigosodosepisódiosdepossessãoéqueumadasfilhasnormalmenteélevadaaatacaramãeetentamatá-lacomasprópriasmãos—e,emmuitasocasiões,quaseconseguiu.Poucassemanasantesdeeuchegar,umadasgarotas foi possuída. Depois que a entidade possessora andou de forma ameaçadora pela casa, elacolocou agarota emumestadode agitação frenética.Amãe foi forçada a levar a filha a umhospitallocal,ondeosmédicostrabalharamporseisousetehoras,tentandotirá-ladaqueleestado.Oincidenteparou de súbito depois que o espírito se retirou do corpo da garota e, então, ela se levantou esimplesmentesaiuandandodasaladeemergência.“Delonge,porém,oaspectomaisimpressionantedestecasosãoasmanifestaçõesvocaisfísicasque

ocorremdentrodacasa.Asvozesdeseisespíritosdiferentesfalamemaltoebomsomdentrodoquarto.Ecomosehouvesse seispessoas invisíveispresentesali.É incrível:nãodáparaacreditarmesmosevocêestiverlá!“Ainda que a família esteja comendo na cozinha, as vozes falam em outro cômodo! A Sociedade

BritânicadePesquisasPsíquicas—quetrabalhounocasoantesdemim—passouumpentefinonacasae verificou que era impossível que as vozes estivessem sendo projetadas por alto-falantes ou porqualqueroutromeioeletrônico.“Asvozesfalamcomumnítidosotaquecockney,característicodaregiãolestedeLondres.Oespírito

demoníacoéumimitador,portanto,alielefalacomessesotaqueporqueafamíliapodecompreendê-lo,emboraumdosespíritosacabedeslizandoparaoalemãoquandobementende.Eessasvozesnãosãoalgocomoumafraseousentençaocasional:elasfalamotempotodo.Essesespíritos tagarelamnãosóparaaspessoasna sala;quandoninguémestá sedirigindoaeles, elesconversamentre si!Eles falammaisdoqueaspessoas.“A Sociedade Britânica de Pesquisas Psíquicas tem suas próprias gravações das vozes desses

espíritos,mas,comoasuaorganizaçãoéparticular,asprovasatéagoranãoforamdisponibilizadasaopúblicoemgeral.Fuiatéacasacomopropósitoespecíficodeconseguirasgravaçõesdessasvozes,oquepoderiaserusadoparadocumentaranecessidadedeexorcismo.”Edfezalgumagravaçãodasvozes?“Podeapostarquesim”,respondeele,dandoumtapinhaemumpardefitascassetesobreamesaàsua

frente.“Emboraválevaralgumtempoparaqueoconteúdodestasfitaspossaseranalisado,asevidênciasestão bem aqui. E, na minha opinião, este conteúdo representa uma das provas mais importantes daexistênciadoespíritodemoníacoobtidasatéagora.Voureproduzi-las...”Asfitasrodamporbemmaisdetrêshoraseoqueseouvenelaséalgoverdadeiramenteinacreditável.

AsgravaçõesforamfeitasenquantoEdedoisassistentes,PaulBartzeJohnKenyhercz,entrevistavamamãeeastrêscriançasnaresidênciadeEnfield.Enquantoostrêshomensfaziamperguntasàfamília,erapossível ouvir outras vozes— as vozes dos espíritos— falando na sala ao mesmo tempo: “Vamosapagar as luzes”; “Vá descascar o papel de parede”; “Arremesse amesa”; “Não deixe que ele entrenaquelequarto”estavamentreosmuitoscomentáriosqueasvozesfaziamquandonenhumserhumanodacasafalavacomelas.Combastantefrequência,umavozestranhíssima,parecidacomadeumpapagaio,intrometia-se,dizendoapenas:“Olá".Porvezes,osdemaisespíritosuniam-seàvozdepapagaioemumarodadadeolás.Entretanto,nemtodosossonsproduzidospelosespíritosassumiamaformadelinguagem.Pelomenos10%dagravaçãotrazgrunhidos,gemidos,“ecas”eimitaçõesdesonsdeanimais,dosquaisomaisrepetidoeraumlatidodecachorro.Quanto à comunicação com esses espíritos, parecia não haver nenhum problema. Por vezes, os

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espíritos dirigiam-se às pessoas no cômodo; outras vezes, as pessoas no cômodo dirigiam-se aosespíritos.Otimbredasvozeséextremamenteásperoegutural.Aelocuçãoédefinitivamentecockney—narealidade,tãocockneyqueoouvidonorte--americanotembastantedificuldadeparacompreendê-la.Anatureza das declarações dos espíritos haveria de colocá-los em uma baixa escala de inteligênciahumana, aindaqueelesnão sejam, emabsoluto, ignorantes.Praticamente todas asperguntas feitas aosespíritostevealgumaresposta.Emboraasvozesinumanasgeralmentefornecessemrespostasdiretaseracionais,muitodoquediziam

também era sem sentido e imprevisível. Há uma voz predominante na multidão e, por ocasião dagravação,oespíritoidentificou-secomo“Fred”.FoiaFredqueEdWarrendirigiuamaiorpartedassuasperguntas.Oquesegueéumtrechodaqueleinterrogatório.EdWarren:Olá?Voz:Olá.E.W.:Vocêsabequemeusou?V.:Sim.E.W.:Quemsoueu?V.:Ed.E.W.:Éissomesmo,souEd.Quemévocê?V.:Fred-die.E.W.:VocêéFreddie,hein?Qualéoseunomeverdadeiro?V.:Eccccaa...[barulho]E.W.:Quandovocêvaiemboradaqui,Fred?V.:Quinhentosanos.E.W.:Émuitotempo.Vocêpodemoveralgumacoisapiaranosmostrarqueestáaqui?V.:Não.E.W.:Porquenão?V.:Tonnnyarrancouomeubaço.E.W.:Ah,estãovocêsestãoemdois?Deixe-mefalarcomTommy.V.:[Umanovavoz,emboraaindaásperaegutural]É.EusouTommy.E.W.: Tommy, como você acha que poderíamos nos livrar de todos os problemas que estão

acontecendonestacasa?V.:Mateosfantasmas!E.W.:Mateosfantasmas?Vocênãoéumfantasma?V.:Não!E.W.:Diga-me,comovocêentrounestacasa?V.:Subiatravésdastábuasdopiso.E.W.:Vocêsestãoemquantos,aotodo?V.: [Contandodevagaredeliberadamente]Ah... uh... um... dois... três... quatro... cinco... seis.Seis

estãoaqui—não,cinco.E.W.:Quaissãoosnomesdeles?V.:Fred-die,Tom-mie.Billy,ah...CharlieeDick.Johnnãoestáaqui.E.W.:OndeestáJohn?V.:Nãosei.E.W.:Queméolíder?Vocêéolíder?V.:Ninguém.Ninguéméolíder.Eusouummentiroso.E.W.:Quemmaisestáaqui?Temmaisalguémaqui?V.:Sim.E.W.:Quem?

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V.:OHomem-Sarjetaestáaqui.E.W.:Deixe-mefalarcomoHomem-Sarjeta.Deixe-ofalar.Vocêestáaí,Homem-Sarjeta?V.:Sim.[Umavozguturaldiferente;estaéumpoucomaisclara.]E.W.:Homem-Sarjeta,oquevocêtemadizer?V.:[Barulhosdeganidos.]Estacasaestámal-assombrada.Mateosfantasmas!E.W.:Homem-Sarjeta,vocêjáestevevivo?V.:Sim.E.W.:Onde?V.:Emsoldados.Souumsoldado.E.W.:Vocêésoldadodequeexército?V.:Detodososexércitos.Souumsoldado.E.W.:Quemmaisestáaqui,Homem-Sarjeta?V.:Ah...uh...Zacharyestáaqui.E.W.:Deixe-mefalarcomele,Homem-Sarjeta.DeixeZacharyfalar.V.: [De repente, ouvem-se gemidos e lamentos inimagináveis. A voz estranhíssima.Os queixumes

terminamemumlongogritode“Socorro”,quelevadezsegundosparaseremitido.]E.W.:Caramba.Oquefoiisso?ColoqueZacharydevolta.V.:[Repetem-segemidosangustiosos.]E.W.:Quemmaisestáaqui,Fred?V.:NãosouFred,souTommy!E.W.:Deixe-mefalarcomFred...Fred,vocêestáaí?V.:Sim,Fredestáaqui.[Amudançadevozindicaque“Fred”estáfalando.]E.W.:Fred,coloqueZacharydevoltaparafalar.V.:Elenãovaivir. [Pausa.]Voudizerquemmaisestáaqui.Teddyestáaqui.OHomem-Teddyestá

aqui.E.W.:Deixe-mefalarcomoHomem-Teddy,Fred.V.:Eccaaa...[Barulho.Emseguida,silêncio,quebradodepoucosempoucossegundosporumavoz

semelhanteàdeumpapagaio,quediz“Olá”.Umasegundavoz surgeediz“olá”,àqualavozdepapagaiorespondecomdoisolás.Umaterceiravozune-seaosolás,eumaquartavozentracomseu“olá”.Então, uma quinta e uma sexta voz reúnem-se às anteriores, formando um coro de vozes depapagaio,todasdizendo“olá”,oqueacabaprogredindoparaguinchosaltosedesvairados.Asvozesadicionaisdesaparecememseguida,deixandoavozdepapagaiooriginalrepetindoseuolásingular.][Eddirige-seaosespíritosnovamenteapósotumulto,masnãoháresposta.]"Durantetodootempoemqueestivefalandocomessesespíritos'’,observoeleduranteoperíodode

silêncionagravação,“coisasvoavampelasala.Porissoosbarulhosdeobjetosquebrandoebatendonofundo.Cadeiras emesas se erguiamno ar e caíam.Objetos pequenos, coisinhas, atravessavam a salaunindoericocheteandopelasparedes.Nasaladejantar,opapeldeparedeeradescascadodasparedesenquantoobservávamos.Umafacadecarnesematerializounocolodomeuassistente,Paul.Umpregotambém surgiu do nada. E, como passou a ser esperado na casa, os espíritos deixaram uma pilha deexcrementonocarpetedoquartodamãe,nosegundoandarastrêshorasdatarde.”Quando os espíritos na gravação não estavamproduzindo um arroubo de insanidade aleatória, eles

pareciamsedivertirenchendoasaladegrunhidos,grasnadas,latidos,guinchoseumavariedadedesonsdeoutrosanimais,dosquaisomaisirritanteeraumgritoesganiçadodegato.Umespíritoemparticularemitiuumuivointricadoesobrenaturalqueabriuumanovacomunicação.E.W.:Rapazes,vocêsparecemtersaldodiretodoinferno,Vocêsabeondeéoinferno,Fred?V.:Sim.

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E.W.:Ondeficaoinferno,Fred?V.:Eccaaa...[Barulho.]E.W.:Quantosanosvocêtem,Fred?V.:Dezesseis.E.W.:Vocêéumfantasma,Fred?V.:Não...ah...sim.Souumfantasma.E.W.:Quem?V.:Batman.SouoBatman.E.W.:OBatmannãoéumfantasma.V.: [Osespíritos passamauma sequência de sons animalescos, dos quais 0 quepredomina é um

latidodecachorro.]E.W.:Vocêsqueremseranimais?Imitemalgunsanimais.Imitemumporco.V.:[Grunhidodeporco.]E.W.:Equetalumcachorro?V.:[Latidos.]E.W.:Eumgato?V.:[Ummiadoaltoeestridente.]E.W.:Equetalumperu?V.:[Grugulejo.]E.W.:Quantosanosvocêtem,Fred?V.:Setentaeoito.Souummentiroso.Tommyéummentiroso,E.W.:Eusei.V.:Possocantarumacanção?E.W.:Éclaro,Fred,váemfrente,cante.V.: La-de-da-de-da... [bruscamente] Jack e Jill subiram a montanha para buscar um balde de água

benta...tá...tá...tá...E.W.:Vocêécristão,Fred?V.:Eca.Soldado.Souumsoldado!E.W.:Quandovocêmorreu,Fred,comosoldado?V.:Estousempremorto.E.W.:Vocêjáfoicasado,Fred?Játeveumaesposa?V.:Sim.E.W.:Qualeraonomedela?V.:Nãosei.E.W.:Quantosanosvocêtemagora?V.:Trinta.Tenhotrinta.E.W.:Vocêsabequediaéhoje?V.:Sim.Dia,ah...sete.E.W.:Correto.Vocêsabeemquemêsestamos?V.:A-gos.Aagoss.Agosto.Setedeagosto!E.W.:Ondevocêarranjouestesnomes:Fred,Tommy,Billyeosoutros?V.:Ostúmulos.E.W.:Vocêvaiaoantigocemitérioaquiperto?V.:Sim.E.W.:Porquê?V.:Paralerostúmulos.E.W.:Vocêgostadocemitério,Fred?Porquegostadocemitério?V.:Morte![grunhidos]E.W.:Oquevocêachadenós,norte-americanos?V.:Odeiovocês,odeiovocês,odeiovocês...

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E.W.:VocêsabeondeficamosEstadosUnidos,Fred?V.:Nãosei.Possoircomvocê?E.W.:Não,Fred.Játenhomuitooquefazersemvocê.V.:Ed.Ed...Ed...E.W.:Oquevocêquer,Fred?V.:Arrebentarogravador.E.W.:Vocêgostariadefazerisso,nãoé?V.:Sim.[Osespíritostiramafitaoriginaldogravadorduranteasessão.]E.W.:[Retomando.]Você

sabe o que vou fazer com estas fitas, Fred? Vou mostrá-las para alguns cientistas que conheço nosEstadosUnidos.Elesvãoficarmuitointeressadosemvocê,Fred!V.:Vou arrebentar o gravador durante a noite! [Então, começaumabriga entre dois espíritos, que

discutemquemvai“arrebentar”ogravador.Enquantoasvozesavançamdoníveldediscussãopara“arres”e“uivos”,EdpedequePaulsaiaeváatéocarropegarumagarrafadeáguabentavindadoSantuário Walsingham, no norte de Londres. Paul volta e informa que a garrafa de água bentadesapareceu.]E.W.:Ondeestáaáguabenta,Fred?V.:Euaatireiparalonge.E.W.:Vocêaatiroupara longe?Sevocênão trouxeraquelaáguabentadevolta,vamos realizarum

exorcismoemvocê!V.:Rá,rá,rá.E.W.:Vocêquerqueeutragaumpadreaqui?V.:Sim,tudobem.Traga-oaqui.Voudarumchutenotraseirodele.E.W.:OquevocêdiriaseaMãeBenditaomandasseirembora,Fred?V.:Eccaaa.Ugh.E.W.:Vocêsabeoqueéisto,Fred?Oquevocêestávendo?V.:Ah...umacruz.E.W.:Eissomesmo,umacruz.Estacruzsignificaqueosseusdiasaquiestãocontados.V.:Voucortaracabeçadealguém.E.W.: Da próxima vez que eu voltar aqui, Fred, é melhor que você tenha ido embora. Porque, da

próximavezqueeuvier,voutrazercomigoumexorcistamuitopoderoso,alguémcomquemvocênãovaiquerersemeter.V.:[Háumlongointervalo.]Ed.Ed.Ed...Ed...Ed-ward.E.W.:Oqueé,Fred?V.:Vamosbrincardeexorcista.Vápegaraáguabenta...Reproduzidaagravação,Lorrainederepentelevanta-sedeumsaltodosofáe,determinada,avançaa

passos largos até a porta do quarto. Em seguida, ela chama Ed. Ao verificar o quarto, o local estácheirandoaálcoole,sobreapenteadeiradeLorraine,umcrucifixoornamentalinstaladodentrodeumacavidadenaparedeestáviradodecabeçaparabaixo!Por prudência, a discussão sobre o caso Enfield é encerrada. Não obstante, de certa forma aquilo

pareceuserapenasapontadoicebergemtermosdefenômenosdemoníacoshojeemdia.Periodicamente,osjornaisnoticiamhorrendosassassinatosemmassaperpetradosporpessoasque,maistarde,afirmamcomaudáciaque“oDiabo”oualgumamaligna“figuradenegro”osinstruiuamatar.Aomenosumaouduasvezesacadadécadaocorreumcasogravedepossessãodiabólicaemqueo

indivíduo possuído abriga entidades que se identificam como diabos e demônios, algumas chegandomesmoaproclamaroseunomeparatodosouvirem.Em1978,maisdenovecentaspessoasmorreramnaGuianaemumcasosemprecedentesdesuicídio

emmassa que possivelmente poderia se dever, em alguns aspectos, a uma opressão demoníaca.Billy

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Graham,contudo,deuumpassoadianteaodizeraumaplateianoNationalPressClub,emWashington,queeleacreditavaqueoreverendoJimJonesestava“possuído”eque“eleusavaaigrejaparaosseusprópriosobjetivosdemoníacos”.Porquetantaatividadesobrenaturalnegativaestáacontecendonosdiasdehoje?“Osespíritos inumanosvagueiampela terradesdeoprincípiodos tempos”, respondeLorraine, “de

modoquenãohánenhumanovidadecomrelaçãoaisso.OqueénovoéasituaçãoquetestemunhamosnoséculoXX.Assim,eudiriaqueexistemdoismotivosbásicos,paraoexcessodeatividadenegativaqueestáocorrendoatualmente.Umdeles temaver comnúmeros.Hámaispessoasnomundohojedoquejamaishouvenahistória.Muitíssimasdessaspessoasestãoinsatisfeitascomavida,alienadasdareligiãoou em busca de conhecimentos extraordinários. Aomesmo tempo, nunca na história tanta informaçãoprofana e negativa esteve à disposição de todos. No passado, essas informações eram conhecimentosecreto, usado por algumas das pessoas mais perversas que já existiram. Hoje, grande parte desseconhecimento está impresso em livros que são vendidos como doce. Essas informações são asverdadeiras,eumapessoaingênuaquedecidausá-laparaobjetivospessoaisébemcapazdeocasionarinfestação,opressãooupossessãoporespíritosinumanos.Portanto,basicamente,temosumapopulaçãoalfabetizadamuitograndecomacessoininterruptoainformaçõesrealmentetenebrosas.Bastaquehajaodesejo e a motivação errada para usá-las. A partir daí, é um passo muito pequeno para atrair odemoníaco.“Ooutromotivoparaestarmosvendotantaatividadeespiritualnegativa”,prossegueLorraine,“tema

vercomafaltadeconhecimentomísticodaspessoas.Veja,ataquesespontâneosporiniciativadoespíritodemoníacosãoextremamente raros.NosséculosXIXeXX,amaiorpartedaatividadedemoníaca foiclaramenteinstigadapelaspessoas.Issotudoseresumoaofatodequeosfenômenosdemoníacossãoum“problemacomaspessoas”.São aspessoasque abremportasparao submundocomopróprio livre-arbítrio.“Comodizemosmuitasvezes,oreinodemoníaconãoéalgoqueumapessoadescobreporacaso.Eleé

descobertoporacidente,ouporsefazervoluntariamentealgoqueprovoqueaocorrênciadosfenômenos.Namaioriadasvezes,odemônioéconvocadodeformadeliberada,pelaescolhaformalmentedeclaradadealguém.Esseéoâmagodaquestão,porqueohomempodeescolherentreobemeomal.Portanto,todavezqueumindivíduoconvocaumdessesespíritosinumanos,elerepetedenovotodoodramadeAdãoeEva.Ouseja,muitotempoatrás,ohomemfoialertadosobreodiabo,masaeletambémfoidadaaliberdadedeescolheraceitarounãoasuainfluência.Noentanto,hojeemdiaaspessoasnãosabemsequerquetêmumaescolhaformalatéquesejatardedemais—apenasdepoisquejáacessaramoreinodemoníaco. O problema básico é que este século assiste a uma grave desintegração no ensino deconhecimentomístico, de formaque,mais umavez, as pessoas estão tendoque aprender comos seuserros.‘Aquelesquenãoaprendemcomopassadoestãofadadosarepeti-lo’,jádizoditado.QuandoEdeeudamospalestras,fazemoscomqueaspessoasse lembremdequeomundotemaspectosmísticos,tanto positivos como negativos, e que espíritos demoníacos deveriam ser deixados ardendo no seudevidolugar.Noquedizrespeitoaesteassunto,oconhecimentoéumaarma.Incidentesdefenômenosdemoníacosseriamreduzidosdrasticamenteseaspessoassoubessemopesadeloqueoocultonegativopodeser.Eoseunúmerocairiaaindamaisseosmeiosquepossibilitamasuaconjuraçãonãoestivessemtãoprontamentedisponíveisnasprateleirasdaslojas.”Enquanto milhões de pessoas estão brincando com fogo ao se envolver com o oculto, atuam nos

EstadosUnidosoutroscultosquasereligiosos,algunsdosquaisinvocamespíritosnegativosparaauxiliá-los como "guias” ao longoda vida. Seguindopara o extremo aindamais sinistro, outros grupos estãoativamente engajados em rituais demagianegra—e isso semmencionaros satanistas, que, de formadeclarada,"preferemotraseirodeSatãaorostodeJesus”.Noentanto,qualéoníveldedifusãodamagia

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negranaatualidade?"Provavelmenteexistemmaispessoaspraticandomagianegrahojedoqueemqualqueroutroperíodo

dahistória”,explicaLorraine.“Éevidentequeessaspessoasnãoandamporaíusandoumchapéupreto.Emvezdisso,ossatanistaseasbruxasdemagianegracomquejátivemosquelidarnonossotrabalho

surgemcomotiposbastantecontemporâneos,filhosdoseutempo—ouentão,agemdemaneiraestranhae maluca para causar a impressão de que são apenas excêntricos. As artes negras são muito maispraticadas do que as pessoas imaginam ou sabem.Na realidade, deixe-me citar uma coisa que vi nojornaldestamanhã”,dizLorraine,abrindooHartfordCourant:

Ocãofarejadordacidadeencontrouoscorpossemvidadequinzeanimaisdomésticos que se acredita tenham sido mutilados em uma ação de caráterritualísticoe,então,descartadosoupenduradosemárvores.Osuperintendenteveminvestigandodiversosincidentesrecentesemqueforamencontradaspilhasde carneiros, ovelhas, coelhos e galinhas mortos. Algumas dessas pilhasaparentementeforamdescobertaspoucashorasdepoisdeosanimaisteremsidoabatidos. Duas semanas atrás, cães e gatos também foram encontradospendurados em galhos de árvores. Alguns dos animais estavam sem sangue.Fontespoliciaisdizemqueumapossívelrelaçãoentreosaparentesabateseumgruporeligiosoocultistaestásendoinvestigado.

“Mal sabe a polícia”, retoma Lorraine, “que essa destruição hedionda da vida— e a retirada desangue para uso posterior em rituais de conjuração— é uma prática bastante rotineira em grupos demagianegra.Contudo,comcoisasmacabrascomoessaacontecendocomregularidadeportodoopaís,aspessoasestãolentamentecomeçandoaperceberqueapráticademagianegativaémuitomaiscomumdoque elas supunham.Mas deixe-me dar um aviso aqui. A última vez que se teve notícia difundida dapráticadamagianegrafoiduranteaInquisição,umperíodohorrendo.Naquelaépoca,entreosséculosXVIeXVIII,aproximadamente200milpessoasforamtorturadasemortasnaInglaterra,naEuropaenaAméricasobcondiçõesdeextremacrueldade.Naqueletempo,overdadeirocrimenãofoicometidoporaqueles acusados de bruxaria, mas pelos fanáticos religiosos que, de forma cruel e sistemática,massacraramtodasaquelascentenasdemilharesdepessoas.Assim,emboraamagianegraestejasendopraticadahoje,eissorepresentaumproblemamuitosérioeperigoso,eladeveser,noentanto,combatidapormeiodaeducaçãoedotreinamentoreligiosoadequado—nãocomacusações,torturaeassassinato.Como disse certa vez o psicólogo Carl Jung: ‘Se nossa civilização tivesse que perecer, seria antesdevidoàestupidezqueaomal’.”NãohádúvidasdequeomaiorrepositóriodeinformaçõessobreaatuaçãodemoníacaéoVaticano,

emRoma.Todavia,taisregistros,queremontamacercade2milanos,sãoabsolutamenteinacessíveis.De fato, a IgrejaCatólica não permite sequer que os próprios padres examinem os dados, exceto emcasosdeextremanecessidadedasinformações.Obviamente,oaspectonegativodomundoéumahistóriaquenãosepretendecontar.Masporquê?Seainstituiçãoreligiosasabequetodaessaatividade"iníquaestá acontecendo, por que não dámais informações acerca daquilo queEd e Lorraine chamam de os“fatossombriosdavida”?EstaéarespostafrancadeEd:“Omotivobásicoparaqueasinstituiçõesreligiosas,cristãsououtras,

nãoreveleminformaçõessobreoassuntoéqueoespíritodemoníacoéconsideradoamanifestaçãofísicadoDiabo."Deveriam ser divulgadas mais informações”, continua ele, “mas, se a Igreja viesse a público e

admitisse abertamente que possessão e exorcismo são realidades cotidianas, então, de repente, todomundocomeçariaachamarclérigos,padres,ministroserabinos,comqueixasdeopressãoepossessão

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por‘espíritosdomal’.Cadapessoasolitáriaqueouvirumaportabaternomeiodanoiteporcausadovento vai querer um exorcismo. Assim, tornar essas informações totalmente públicas causaria umverdadeiro desastre. Da maneira como se atua hoje, casos legítimos chegam ao conhecimento dasautoridadesreligiosasapropriadasesãotomadasprovidênciasarespeito—emboraissodemoremuitoaserfeito.“Nãoéquenãosedevadizeralgosobreoassunto”,prossegueEd."Autoridadesreligiosasdeveriam

liberarmaisdetalhessobrecasosdepossessãoeexorcismo.Elasdeveriaminformaraspessoasdequeessesespíritosnegativossãoreais,nãoumasuperstiçãobobadopassado.Docontrário,comoaspessoassaberão que usar um tabuleiroOuija ou realizar sessões espíritas são atos com o potencial de atrairespíritosquepodemarruinarassuasvidas?Sabe,quandoLorraineeeufazemosumapalestraemumafaculdadeouemumauditóriomunicipal,anotíciaseespalhapelacidadediasantesdadatadoevento.Por ocasião da palestra, todos os lugares da casa costumamestar ocupados, obrigandoo restante daspessoas a ficar de pé ou a se sentar nos corredores, enquanto umas duzentas pessoas têm que serdispensadasnaentrada.Porquê?Porque,emmeioaestasociedadedainformação,aspessoasanseiampor informações subjetivas sobreavidaeo lugardohomemnouniverso.Estamos todos juntosnisso,sabe? E se as pessoas estão tão avidamente interessadas no assunto, então, as instituições religiosasdeveriamatentara issoeexplicaressasquestõesmetafísicascomtranquilidadeàsuacongregaçãoaossábadosoudomingos,quandosereúnem.Repito,seas informaçõesnecessáriassãosonegadas,dequeoutramaneiraaspessoasfarãoumaavaliaçãoprecisadavida,damorteedomundoqueascerca?Porisso,arespostaésim,épossíveltecerargumentosemfavordaliberaçãodealgumasinformaçõessobrefenômenosespirituais.Noentanto,issotambémprecisaserfeitodeumaformainteligenteecrível.”Alémdoseutrabalhocomoinvestigadores,conselheirosepalestrantes,osWarrentambémoferecem,

uma vez por ano, um curso de caráter universitário sobreDemonologia e Fenômenos Paranormais nafaculdadeSouthernConnecticutStateCollege.“Éaíquerealmenteabordamosomaterial”,explicaEd,emumdiaensolarado,depoisdaaula.“Aqui,

temostempodeanalisartodaaextensãodoproblema,emumambienteacadêmico.Oprimeiropassoéfamiliarizaroalunocomosfenômenosparanormais—eventosquesãoestranhosouincomuns,masquetêmumaexplicaçãonatural.Então,passamosàatividadeespiritual.Estudamosoqueespíritospodemenão podem fazer.Discutimos a filosofia, a psicologia, a física e ametafísica do assunto tanto quantopossível. No entanto, mais do que apenas falar, colocamos as provas sobre a mesa. Mostramos aosalunos objetos físicos reais que foram materializados ou teletransportados do outro lado. Tambémmostramos os verdadeiros instrumentos de conjuração que foram usados para invocar determinadasentidadesespirituais.Discutimoscasosemdetalheseexaminamosastáticas,aestratégiaeosignificadodosfenômenosresultantes.Mostramosaosalunosfotografiaseslidesdeatividadeespiritualemcurso,embora,nofuturo,eutambémqueirausarfilmesevídeosgravadosduranteaocorrênciadeperturbações.Omaterialvisualpermitequeoalunovejaosespíritosemformamanifestada.Elestambémpodemverlevitaçõesemcurso,bemcomoaaparênciaqueaspessoasassumemquandosãosujeitasaopressãooupossessãodemoníaca.“Abordamosaindaoquechamamosdefotografiaspsíquicas—aquelasemqueimagensquenãoeram

visíveisquandoafotografiafoitiradaaparecemnofilme.Muitasvezes,fotografiastiradasemumacasamal-assombradaouumaáreapsiquicamenteativamostramumapessoavivacomosefosseumaaparição—ouseja,parcialmenteinvisível.Epossívelveratravésdela!Êquasecomomostrarohomemcomooespiritoqueeleédefato!Emoutrasocasiões,fotografiaspsíquicasmostrarãoformasbioluminescentes,fantasmas, aparições, faces de demônios, objetos que não estavam presentes quando a fotografia foitiradaeassimpordiante.Porfim,encerramosocursocomgravaçõesemfitacassetedevozesespirituais,tantohumanasquanto

inumanas. Isso permite que os alunos ouçampor simesmos asmensagens e as declarações que essas

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entidadestransmitem.Elesouvemespíritospresosàterracontandofatosprecisossobresimesmoseseusparentesfalecidoshámuitotempo.Tambémos fazemosouvir gravaçõesdevozesde alguns espíritos inumanosdardejandoblasfêmias,

ameaças,maldiçõeseprevisões,bemcomosegabandodoOutroReino,juntamentecomreferênciaspornomeàsantigasentidadesdiabólicasqueelesservem.Ématerialpesado,tenhoquereconhecer.Porém,vocêsabiaqueossatanistassãoumdosgruposquecrescemmaisrápidoemcampiuniversitárioshojeemdia?Emuitosestudantesdesprevenidosestãosendoarrastadosparaessateiaporqueninguémnuncalhesdeuquaisquer informaçõesemcontrário.Omaterialqueensinamoséfactualeobjetivo,egarantoquenenhumdosnossosjovensjamaissetornaráumafuturavítimadonegativo.Narealidade,aofinaldocurso,elesvêmaténósedizem:‘Obrigadopornoscontar.Nuncasaberíamosdeoutraforma’.”

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ÚLTIMAPERGUNTA,PORFAVOR

NãoéexagerodizerqueEdeLorraineWarrenlevamumavidamuit0ocupada.Primeiro,elesraramenteestãoemcasa.Aspalestraseotrabalhodecampomantêmocasal“láfora,nomundo,comodizLorraine,por dezdosdozesmeses do ano.Um fimde semanapormês, no entanto, eles conseguemvoltar paraConnecticuteficaremcasa.NessesfinsdesemanaemqueosWarrenestãoemcasa,suaresidênciaéumacolmeiadeatividade.

Amigos,parentesecolegasdeprofissãoentramesaemcomomembrosdeumagrandefamília.Quando não há visitas, parece que o telefone está constantemente tocando, com ligações de todo o

territóriodosEstadosUnidos.Ecada telefonemaéurgente—ouassimpareceparaaquelesqueestãofazendoaligação.“Comlicença”,dizLorraine,estendendoobraçoparaatenderaotelefonedavarandapeladécimavez

emumahora. Por acaso, o telefone estava coma função viva-voz ativada para que ambos osWarrenpudessemouviraligação.VocêéLureenWern,ouWarn,ousejaláoquefor?”,perguntaumamulhernãomuitoarticulada,quase

desafiandoLorraine.SouLorraineWarren”,respondeela,enfatizandoassílabas.“Possosaberoseunome,porfavor?”“Éclaro”,dizamulher.“Equalé?”,Lorraineéforçadaaperguntar.“AquiquemfalaéCeliaHayden.”“Celia,possoajudá-laemalgumacoisa?"“Sim,éporissoqueestouligando,Lureen.Vocênãoéa,uh...claribidentistaquefalounorádioontem

ànoite,emNewHaven?Vocêtavafalandosobreconhecerumespírito,eteumaridoéumdemonismooualgumacoisaassim?”“Équaseisso”,respondeLorraine,paciente.“Possoajudá-laemalgumacoisa,Celia?”“É."“Então,oqueé?”“Bem,Lureen,voutedizer,ésério!Querdizer,tenhoumproblemamisteriosodeverdadeaqui!Você

temcertezaqueéamesmaqueestavanorádio,eostiraspedemparavocêencontrarumassassinoparaeles,eentãoostirasvãoeprendemocaranacasadele,certo?”“Certo”,respondeLorraine,sorrindo.“Porfavor,digaqualéoseuproblemamisterioso,Celia.Tenho

trabalhoafazer.”“Tudobem,sóesperoquevocêtenhatempoparaomeucoso...”“Váemfrenteparaquepossamosdescobrir”,Lorrainepersuadeamulher.“Certo.Bem,eucoloqueielabemaqui,nofogão,Lureen.Eusempreesquentoelaantesdecomer.E,

agora,elasumiu.Desapareceu!”“Oquedesapareceu?”,perguntaLorraine,quaserindoagora.“Minha dentadura! Eu sempre coloco ela no fogão e, agora, algum fantasma ou demônio levou ela

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embora.Nãoconsigoacharminhadentaduraemlugarnenhum.Eeuprocurei.”Lorrainedesataarir.“Issoéterrível”,elaconseguedizer.“Oqueétãoengraçado,Lureen?”,perguntaamulher,irritada.“Comoéqueeuvoucomer?”“Celia”,Lorraineconsegueresponder,“apostoqueseidizerondeestáasuadentadura!”“Onde?”,perguntaamulher,ansiosa.“Levanteodedoindicadordireito,bemnasuafrente.Entendeu,Celia?”“Qualdeles?”“Seuindicadordireito—nasuamãodireita,odedoqueficaaoladodopolegar.Tudobem?”“Tudobem”,respondeamulher,obediente.“Agora,coloqueessededonabocaemordadeleve.Viu,suadentaduraesteveaíotempotodo.”Faz-seuma longapausa.“JesusCristo,vocêestácerta!”,dizamulher,atônita.“Vocêéboamesmo,

Lureen.EspereatéeucontarproErnie...”Clique.Perplexa e rindo do incidente, Lorraine desliga o telefone, e então brinca: “O que eu posso dizer?

Quandovocêébom,vocêébom...”.Considerando que ninguém no seu juízo perfeito quer acordar nomeio da noite e deparar com um

espíritoaterrorizanteaopédacama,surgeapergunta:comoimpedirquetaisfenômenosaconteçamnasuavida?Istoé,comopodemosnospoupardeconfrontosdesagradáveiscomosobrenatural?Quando osWarren apresentam palestras sobre demonologia, eles nunca deixam de enfatizar que “é

precisoabrirasportasparaqueosespíritospossamentrar”.Emregra,taisportassãoabertaspormeiodaLeidoConviteoudaLeidaAtração,comolembraLorraine.“ALeidoConviteatuaquandoaspessoasconvidamespíritosparaentrarnasuavidaaorealizarem

algumritualocultistaouaotentaremdeliberadamentesecomunicarcomomundoespiritualpormeiodesessões espíritas, rituais e coisas do tipo.Embora o convite ao contato espiritual geralmente produzaalgumascomunicaçõesfalsasdooutrolado,oquenãosecostumareconheceréqueaentidadequeestásecomunicando nem sempre é humana— ainda que declare ser— e nem sempre vai embora quando oexercíciodeconjuraçãotermina.“ALeidaAtração”,continuaela,“entraemjogoquandoumindivíduoouumafamíliaéatraída,por

alguma razão psíquica, para um lugar específico em que a infestação por espíritos negativos já tenhaocorrido. Por outro lado, pensamentos negativos obsessivos tambémpodem atrair espíritos negativos,porque a vontade se mostra aberta e vulnerável. Contudo, seja pela Lei do Convite ou pela Lei daAtração,deumaformaoudeoutra,oindivíduodeixouaportadoseulivre-arbítrioaberta,querpornãoprezaradequadamentepelavida,querprocurandoforadesipoderesquenãosãohumanos.Aquestãoéqueoespíritodemoníacoéumaferaespiritualcomasabedoriadaseraseopoderdosanjos.Amelhorescolhaéevitá-lo,masnãosefazissonegandoofatodequeofenômenoexiste.Emvezdisso,vocêoevitasabendoqueeleexisteeestáali—demodoquepossaficarforadocaminhodele!”Porquetantaatividadeespiritualseconcentraemcasas?“Espíritos presos à terra preferem lugares emocionalmente familiares”, diz Ed, chegando para

participar da conversa na varanda da frente. “Portanto, eles habitam amesma residência que lhes erafamiliar durante avida física.Noentanto, espíritos inumanos existempara atormentar aspessoas, porissoelesinfestamcasas,poiséondeaspessoastendemasermaisvulneráveisainfluências.Tambémháoutro motivo: construções e lugares escuros ajudam a reter vibrações espirituais. Espaços abertos eluminosidadeintensaenfraquecemforçasespirituais.”Residênciasantigasestãomaispropensasaseremmal-assombradasouinfestadasquecasasnovas?“Em geral”, responde Lorraine, “casas antigas têm ummaior potencial de seremmal-assombradas

porquemaisvidaaconteceunelas.Noentanto,maisimportantequeaidadedaresidênciaésuahistória.Se houve algum assassinato, suicídio ou outra forma trágica de morte na casa, então, as chances dedepararcomaatividadedeespíritospresosàterrasãomaiores.Seoantigoproprietáriopraticavamagia

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negra, feitiçaria ou bruxaria, existe uma grande possibilidade de que forças inumanas tenham sidoatraídasparaacasa—e,amenosquetenhasidoexorcizada,espíritosnegativospermanecerãoaliparainfestar o local.Quanto aoque sepode fazerpara evitar umacasamal-assombradaou infestada, sejacauteloso quando estiver procurando um imóvel para comprar ou alugar. Desconfie de casas quepermaneceram vazias por longos períodos.Normalmente, casas permanecessem vazias porque são defato inabitáveis.Conversecomosvizinhos sobrea casaou façaalgumasverificaçõespela cidade,natentativa de descobrir algum rumor sobre ela.Outra coisa: quando estiver examinandouma casa, sejaantiga ou nova, fique atento a sinais físicos de alguma presença espiritual. Você pode notar odoresestranhosquesãodetectáveismasnãotêmumaorigemóbvia;ouestranhospontosfriosemcômodosouáreasemquenãohaveriamotivoparaumamudançanatemperatura.Sequiseriralém,peçaaumamigomédiumparaandarpelacasacomvocê.”Sevocêcompraumacasa,masnão temcertezaseháounãoespíritosali,oquesepodefazerpara

minimizaraschancesdedespertarumespíritodormente?“Bem,voulhecontaralgunstruques”,dizEd.“Sedoladodeforadacasahouvermuitosarbustose

árvoresperenes fazendosombranas janelas,corte-as.Deixeosolentrar!Pinteasparedes internasdacasa de branco, amarelo ou azul-claro. Essas cores interferem em vibrações espirituais. Livre-se dequadroselembrançasdeproprietáriosanterioresquevocêencontrarnosótão,noporãoounagaragem.Vocêtambémpodeconsiderarapossibilidadedevenderespelhosemóveisantigosquetenhamficadonapropriedade, e seria aindaumaboa ideiaprovidenciarumabênçãodacasa.Mas, acimade tudo,umafamília feliz, um lar feliz, é amelhor proteção contra omal Emoções negativas geralmente disparamatividade espiritual, portanto, junto com tudo omais, crie uma atmosfera emocional na casa para quenenhumproblemapossaocorrer.Obviamente,édesnecessáriodizerquenãosedevedaroportunidadeaosurgimentodeproblemas.Então, joguefora todaequalquerparafernáliaocultista.Dessamaneira,umapessoanãopodeserincentivada,querporcuriosidade,querporopressão,ausá-la.”Seumapessoadesconfiaquetemumfantasmaemcasaenãoquerterproblemascomele,quemedidas

deveriatomar?“Torneoambientefísicoiluminado,leveealegre”,respondeLorraine.“Muitasvezes,osimplesato

de rearranjaradisposiçãodosmóveisneutralizaumespíritoativo.Se issonãofuncionar,consulteumclérigo e providencie uma bênção para a casa. Se, depois de tomadas essas medidas, o problemapersistir,entãovolteaoseuclérigoeinsistaparaqueeleajudearesolveroproblema.Ou,sevocênãoforreligioso,entreemcontatocomumaorganizaçãodepesquisaspsíquicasdeboareputaçãoquepossacolocarumclarividentenocasoparafazercomqueoespíritosigaoseucaminho.Porém,emnenhumacircunstânciasedevefalarcomumaentidadedesconhecida,nãoimportaoquantosejalindaaformaqueelapossaassumir.E,principalmente,nãorealizeumasessãoespírita:issoécomousarumrádioamadorPX.Você talvezpenseque está se comunicandocomoespíritoque está assombrandoa casa,mas, narealidade, uma dúzia, dez dúzias de espíritos diferentes podem responder à atenção que você estáoferecendo.”Sehouverdefatoumespíritonacasadealguém,quaissãoossinaiscaracterísticosquedistinguemum

espíritopresoàterradeumespíritoinumano?“Um fantasma pode assustá-lo”, respondeEd. “Um espírito demoníaco vai assustá-lo— e acabará

ameaçandoasuavida.Nosestágiosiniciais,osfenômenosassociadosaespíritostantohumanosquantoinumanospodemserosmesmos.Ambosostiposdeespíritovãomanipularoambientefísiconatentativadefazercomqueapresençadelessejanotada.Adiferençaéanaturezadaatividadeassociadaacadatipo.Emregra,fantasmasfarãocoisasàcasa,enquantoespíritosdemoníacosfarãocoisasàspessoas.Umtentaassustá-loparaquevocêsaiadacasa.Ooutrotentaassustá-loparaquevocêenlouqueça—mesmo.Fantasmas farão coisas esquisitas, misteriosas, assustadoras ou estranhas, mas só raramenteaterrorizantes. Um fantasma vai acender e apagar luzes, transportar pequenos objetos de cômodo em

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cômodo,ouatéprojetarsonsdepassos,guinchosegritos.Devezemquando,ofantasmasemanifestará,masésóisso.Aatividadedeespíritospresosàterratendeaocorrerdevezemquando.Podemacontecercoisasestranhas,masnãoseráumafúriadesenfreada.Emresumo,ofantasmaestápreocupadoconsigomesmo,nãocomvocê;portanto,elefarácoisasquepodemlhedararrepios,masnãomaisqueisso.“Seháumespíritoinumanonacasa,poroutrolado,issosignificaquearesidênciaé,agora,oreinodo

demônio.Umespíritoinumanonunca,ouapenasraramente,semanifestaránoinício.Emvezdisso,oquesedeveprocuraréporatividadeverdadeiramentesinistra.Oespíritodemoníacoéumespíritonegativo,demodo que acabará provocando fenômenos claramente negativos.No começo, é provável que vocêescutebatidas,pancadas,golpesebarulhosdecoisasarranhandoouraspando.Essesbarulhos têmporobjetivo testar a sua paciência—e a sua sanidade.Odores repulsivos ou sensações inexplicáveis deterror também podem ser percebidos nesse estágio. Fique atento ao comportamento de crianças eanimais. Crianças são clarividentes até mais ou menos os 12 anos de idade; todos os animais sãonaturalmente clarividentes. Se crianças ou animais reagiremmal à casa, isso é sinal de umapresençaespiritual.Noentanto,seacasaestiverinfestada,então,comopassardotempo,osfenômenosexterioresse intensificam até se transformarem em atividade abertamente perceptível, e não apenas estranha ouassustadora, mas absolutamente aterrorizante. Se for permitido, essa atividade negativa continuará ecresceráemfrequência,poderenegatividade,atéquesetransformeemnadamenosqueumperpétuoecompletopandemônio.Naturalmente,oimportanteédesconfiarjánoinício.Sevocênotaraocorrênciade fenômenos estranhos ou incomuns e não fizer nada a respeito, o espírito infestador entenderá issocomoumapermissãoparacontinuar.“Quanto à opressão interna promovida por espíritos inumanos, ela será percebida em termos de

mudançasdeopiniões,hábitos, comportamentosoupersonalidade.Seapessoavive sozinha,amelhorrecomendaçãoaquié‘conhece-teatimesmo’.Seaopressãoestáincidindosobreumúnicomembrodafamília, osoutrosdevemprocurarpormudançasnegativasnapessoa:depressão, interessesmórbidos,reclusão— ou excessos, como episódios desvairados de raiva, embriaguez de cair ou explosões deviolênciadestrutiva.”Seumapessoatemmotivosparacrerqueumespíritoinumanoestádefatoinfestandoasuacasa,oque

eladevefazer?“Sairdolugarimediatamente”,dizEd.“Emseguida,procurarumclérigo,explicaroproblemacomo

máximo possível de detalhes e pedir a ajuda dele.Mas, em hipótese alguma, um indivíduo deve agircomo demonologista ou exorcista amador e desfilar pela casa com objetos abençoados. Isso apenasprovocariaumataquediabólico.”Porfim,dadaapossibilidadeinesperadadeumindivíduoterquelidarcomumamigoouparenteque

realmentetenhasidopossuído,oquedevefazer?“É improvável que alguém tenha necessidade desta informação", responde Ed, “no entanto, se a

entidade que se manifestar através da pessoa não for particularmente violenta, apenas acusatória eblasfemadora,então,chameumclérigo.Seaentidadepossessorafizerameaçase forviolenta,saiadacasaechameapolícia.Sóentãoprocureumclérigo.Emqualquerumdoscasos,busqueajudanahora.Masnãofiquesozinhonacompanhiadapessoapossuída.“Como digo aos jovens padres com quem trabalho, quem está falando não é a pessoa, mas uma

entidadediabólica.Portanto,nãolhedêouvidos.Nãofalecomela.Concentre-seemsefazerenvolverpeloquechamamosdeluzdeCristoe,entãotentesairdolocalatéquealguémcomoeuouumexorcistapossaentrarnacasaeconfrontaraentidade.”Nasuaopinião,qualseriaoperigomáximoquandoselidacomodemoníaco?“Nonível transitório”, respondeEd, “avidaquevocê levanão seria sua,mas, emvezdisso, seria

conduzidaporoutroser.Deixarasuavontadeabertaaodemônioésepermitir serasuamarionete.Operigo máximo, porém, seria permitir que seu espírito humano absorvesse as características

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repreensíveis e blasfêmias do espírito demoníaco — o inimigo da existência —, pois quando issoacontece,oindivíduocorreoriscodecompartilhardodestinodessesespíritosdetrevas:separar-sedafontedaexistência.Esseseriaograveperigodesepermitirsertomadoporessesespíritosnegativosdeperdição.Veja, teologicamente falando, anjos sagrados são a ratificação suprema da vida; no entanto,passandoaoladonegativo,oespíritodemoníacoéumacorrupçãodanatureza—umespíritodeperdiçãoque, emvezde afirmar avida, existeparadestruí-la.Portanto, como serhumano,vocêpodeescolherentreserpartedoproblema—oupartedasolução.Então,nofinal,quechancesohomemtemcontraforçastãoextraordináriasderuína?“Na minha opinião”, responde Ed, “a melhor proteção do homem é a sua essência inerentemente

positiva.Comojádissemos,oespíritodemoníacoéalgoqueestáseguindonocaminhocontrário.Porém,nasuaqueda,eleestádeterminadoalevarconsigoomaiornúmerodepessoasquepuder.Nossatarefaenquantohumanos,poroutrolado,éviverdeformaadequadaeconfirmaropositivo.Aleicósmicanosdiz:‘Obemproduzaindamaisbem,omalproduzcadavezmaismal’.Lançandomãodanossanaturezapositivaeacolocandoemaçãoemumuniversobasicamentepositivo,podemosconstruirumavidadobem—e,emconsequência,ummundobom.Masnãobastaseajoelharerezarparaqueissoaconteça.Vocêtemquesairefazerissoacontecertodososdias,porque—pelaprática—sabeeacreditaqueoprincípio é verdadeiro.” “Por outro lado”, observa Lorraine, “o espírito demoníaco recua quandoconfrontadocomopositivo.Elesefortaleceapenascomonegativooucomoqueareligiãochamade‘pecado’.Eaquiloaquemerefirocomopecadonãoéaviolaçãoderegrasarbitrárias,masadeliberadatransgressãodobem.Ouseja,opecadoéalgoquetemumefeitoprejudicialsobreaprópriavida.Emúltimaanálise,pecadoé imaturidadeespiritual,eaquelesquesão tolososuficienteparasubestimarovaloreopropósitodavidaacabamdefatoatraindoodemoníacoparasi.E eles o fazem porque, gostem ou não, ao realizar atos negativos que depreciam a vida, estão

realmenteauxiliandoessesespíritosnoseupapelcósmico.Afirmaropositivogeraumpoderporsisó.Portanto,serpositivoéamelhorproteçãocontraaquiloqueéchamadode‘mal’.”“Veja”,afirmaEd,“oquenãosecompreendedeformaadequadaéqueexisteumnegativomísticoeumpositivomístico.Comoemcima,assimembaixo.Onegativotemrecebidotantaatençãoeênfasequeaspessoasesqueceramquetambémexistempoderosas forçaspositivasnomundo—forças reaisquepodemsercompreendidaseusadasparabenefíciospráticos.Noentanto,nesteséculo,estamosemumperíodosabáticoemrelaçãoaoconstante problemado bem e domal, demodo que essas forças positivas têm sido relegadas ao lixocomoumagrandebobagemsupersticiosa.Contudo,issonãomudaofatodeque,aoenfatizaropositivo,vocêdesencadeiaumasequênciadeeventosqueratificamavidaeaexistência;aopassoqueacentuaronegativoatraitragédia,caosemorte.“A jornada da vida”, resumeEd, “é trabalhar com o positivo e enfatizá-lo— esse é o verdadeiro

tesouro.Aspessoasestãoprocurandosoluçõesnestemundo,earespostanãoestánooculto.Elaestáemseguirofluxopositivodanatureza,porqueeleébomeasseguraavidaemvezdamorte.”Poucaspessoasdescobrem,mesmoaolongodeumavidainteira,anaturezamaisprofundadomundoemquevivemos.Contudo,aspesquisaseaexperiênciadosWarrensugeremdemaneiraconvincentequeháumreinodeexistênciacompletamentediferente lá fora:umreinodeexistênciachamadoespíritos—entidadesnãofísicasquetêmexistênciaindependenteeseparadadohomem.AsdescobertasdeEdeLorraineWarrenemnadacorroboramaideiadequeohomemétãosomente

uma criatura física que vive, morre e deixa de existir. Em vez disso, suas pesquisas apontaminevitavelmente para a conclusãode queo homeméuma criaturamuitomais viva e dinâmicadoquenossas percepções e filosofias restritivas nos levaram a crer até agora. Por essa razão, os Warrendefendemqueumacompreensãolivredepreconceitosarespeitodadimensãoespiritualdavidapode,emvezdeseralgoameaçadorouruim,“enriqueceronossoentendimentodomundo,demodoquepossamosestarlivresparaviveravidaaomáximo”.

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Umabrisaleveagitaasfolhas,quebrandoamagiadosilêncionaquelatardedeverão,navarandadafrentedacasadosWarren.Erguendoosolhos,LorrainevêqueEdestácomaatençãoconcentradanojardim.“Algumproblema,Ed?”,perguntaela.“Háumacobraporaqui”,declaraele,fitandoasflores.“Seiquesim.Possosentir.Tenhocertezade

queacoisaestáaqui.”Noentanto,nãohánenhumacobraàvista.Aomenos,nãoatéuminstantedepois.Então,comoeradese

esperar—desobavaranda,sai rastejandoumalongacobranegra.Elasedemoraapenasosuficienteparaservista,deslizandoemseguidaparaomeiodahera.“Edsempresabequandoháumacobranojardim”,assegura-meLorraineWarren.

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ED E LORRAINE WARREN passaram por experiências sobrenaturais na infância, em Connecticut.Tomaram-se namorados na época do colégio. No seu aniversário de 17 anos, Ed foi recrutado pelaMarinhadosEstadosUnidospara servirnaSegundaGuerraMundial.Algunsmesesdepois, seunavioafundounoAtlânticoNorteeelefoiumdospoucossobreviventes.Logoapós,EdeLorrainecasaram-seetiveramumafilha.

Em 1952, Ed e Lorraine fundaram a Sociedade daNova Inglaterra para Pesquisas Psíquicas, omaisantigogrupodecaça-fantasmasdaregião.DeAmityvilleaTóquio,elesseenvolveramemmilharesdeinvestigaçõeseexorcismosautorizadospelaIgrejaemtodooplaneta.Dedicaramsuasvidasetalentosextraordináriosparaensinarosoutrosecombaterasforçasdemoníacasondequerquefossemchamados.EdWarrenfaleceuem2006.

GERALD BRITTLE é autor de obras de não ficção, com formação em literatura e psicologia,especializado em teologia mística. Além de Ed & Lorraine Warren: Domonologistas, publicadooriginalmenteem1980,éautordeTheDevilinConnecticut(1983).

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CapaDarksideBooksRedesSociaisFolhadeRostoDedicatóriaDefiniçãoIntroduçãodoautorPrefácioAlémdeAmityvilleArteeapariçõesAnnabelleFenômenossobrenaturaisConjuraçõesdeNatalDeOrigemSobrenaturalInfestação:OIníciodoProcessoOpressão:AEstratégiaReveladaFamíliasobataqueLibertaçãoUmservodeLúciferORetornodaEntidadeAlmaRefémAsVozesdeEnfieldÚltimapergunta,porfavorSobre

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