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1 Educação a Distância e Participação Social: uma Experiência no Campo da Educação Popular no Brasil Elomar Christina Vieira Castilho Barilli, Carla Moura Lima, Stenio de Freitas Barretto Alex Bicca Corrêa, Marco Antonio Carneiro Menezes Coordenação de Educação a Distância, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz [email protected] Resumo O presente trabalho se propõe a apresentar a experiência do Programa de Qualificação em Educação Popular em Saúde - EdPopSUS no que tange ao seu componente a distância, fruto da parceria entre a Secretaria de Gestão Participativa do Ministério da Saúde do Brasil, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, estas últimas Unidades da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituição centenária de pesquisa, educação e prestação de serviços de saúde pública, como caminho para a discussão sobre a inserção da Educação a Distância (EAD) como modalidade educativa viável para a Educação Popular em Saúde (EPS). Embora a EPS historicamente se apoie na presencialidade, o EdPopSUS inaugura o uso de ambientes virtuais como recurso para a mediação didático-pedagógica e gestão de ensino, frente ao desafio de formar quase 20 mil agentes de saúde em curto tempo, aliando qualidade e custo. Até o momento se constitui como a principal ação da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS). Foi desenvolvido por meio de três chamadas de um curso livre para qualificar as práticas dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Vigilância em Saúde, profissionais que nasceram e vivem nas comunidades dos mais de 5 mil municípios brasileiros, com intuito de, problematizando as situações de saúde de cada território, contribuir para que eles se reconhecessem como educadores populares que, referenciados nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), desenvolvem ações de cunho educativo junto as populações. A tecnologia utilizada foi o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), por se o sistema aberto e livre adotado pelas políticas públicas de formação no Brasil. Através dele foram disponibilizadas a Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA), destinada às trocas entre alunos e corpo docente e; a Comunidade Virtual de Trabalho (CVT), como instrumento para a otimização da gestão descentralizada. Os relatórios de avaliação sobre o seu uso totalizaram 1.030.988 participações distribuídas em visualizações, envio de atividades, postagens e outras atividades realizadas por docentes, nas três chamadas do Programa. Na CVA os maiores índices de visualizações foram dos alunos e, quanto às postagens, os maiores índices foram dos tutores, aqui chamados de mediadores. Isso ratifica o seu papel do tutor como motivador das discussões, ao mesmo tempo em que revelam uma certa timidez dos alunos em expressarem-se em fóruns de discussão. Por outro lado, o número de visualizações e compartilhamento de produtos de arte e cultura pode representar o seu desejo de participar desta experiência inovadora no campo da Educação Popular em Saúde, o que revela o potencial da Educação a Distância como modalidade educativa viável e para o acesso democrático ao saber organizado que contribua para a formação de cidadãos emancipados e livres capazes de intervir criticamente na sociedade. Palavras-chave: Educação a Distância, Participação Social, Agentes Comunitários de Saúde, Educação Popular em Saúde, Saúde Coletiva.

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Educação a Distância e Participação Social: uma

Experiência no Campo da Educação Popular no Brasil

Elomar Christina Vieira Castilho Barilli, Carla Moura Lima, Stenio de Freitas Barretto

Alex Bicca Corrêa, Marco Antonio Carneiro Menezes

Coordenação de Educação a Distância, Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz

[email protected]

Resumo O presente trabalho se propõe a apresentar a experiência do Programa de

Qualificação em Educação Popular em Saúde - EdPopSUS no que tange ao seu componente a distância, fruto da parceria entre a Secretaria de Gestão Participativa do Ministério da Saúde do Brasil, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp) e a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, estas últimas Unidades da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituição centenária de pesquisa, educação e prestação de serviços de saúde pública, como caminho para a discussão sobre a inserção da Educação a Distância (EAD) como modalidade educativa viável para a Educação Popular em Saúde (EPS). Embora a EPS historicamente se apoie na presencialidade, o EdPopSUS inaugura o uso de ambientes virtuais como recurso para a mediação didático-pedagógica e gestão de ensino, frente ao desafio de formar quase 20 mil agentes de saúde em curto tempo, aliando qualidade e custo. Até o momento se constitui como a principal ação da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS). Foi desenvolvido por meio de três chamadas de um curso livre para qualificar as práticas dos Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Vigilância em Saúde, profissionais que nasceram e vivem nas comunidades dos mais de 5 mil municípios brasileiros, com intuito de, problematizando as situações de saúde de cada território, contribuir para que eles se reconhecessem como educadores populares que, referenciados nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), desenvolvem ações de cunho educativo junto as populações. A tecnologia utilizada foi o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment), por se o sistema aberto e livre adotado pelas políticas públicas de formação no Brasil. Através dele foram disponibilizadas a Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA), destinada às trocas entre alunos e corpo docente e; a Comunidade Virtual de Trabalho (CVT), como instrumento para a otimização da gestão descentralizada. Os relatórios de avaliação sobre o seu uso totalizaram 1.030.988 participações distribuídas em visualizações, envio de atividades, postagens e outras atividades realizadas por docentes, nas três chamadas do Programa. Na CVA os maiores índices de visualizações foram dos alunos e, quanto às postagens, os maiores índices foram dos tutores, aqui chamados de mediadores. Isso ratifica o seu papel do tutor como motivador das discussões, ao mesmo tempo em que revelam uma certa timidez dos alunos em expressarem-se em fóruns de discussão. Por outro lado, o número de visualizações e compartilhamento de produtos de arte e cultura pode representar o seu desejo de participar desta experiência inovadora no campo da Educação Popular em Saúde, o que revela o potencial da Educação a Distância como modalidade educativa viável e para o acesso democrático ao saber organizado que contribua para a formação de cidadãos emancipados e livres capazes de intervir criticamente na sociedade.

Palavras-chave: Educação a Distância, Participação Social, Agentes Comunitários de Saúde, Educação Popular em Saúde, Saúde Coletiva.

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Introdução

A ação social na perspectiva democrática, em consonância com as abordagens educativas que objetivam o protagonismo das coletividades diretamente envolvidas, preconizam a participação social a partir da consciência cidadã para a intervenção na sociedade.

Historicamente as nações mundiais têm buscado convergir investimentos para os setores de saúde e educação, ora sob bases capitalistas, ora sob marcos emancipatórios. O Brasil, país continental e multicultural, tem construído sua história educativa a partir dos pressupostos teóricos de grandes nomes como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Paulo Freire e tantos outros que desenharam o processo de ensino brasileiro, levando-o a alcançar, no século XXI, o patamar de política estruturada de governo e de Estado, com orientação integradora e voltada ao acesso universal da população. Cita-se como exemplos, para acesso ao ensino superior, o Programa Universidade para Todos (PROUNI/2005) e o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB/2005).

Em conformidade com a educação, a saúde se coloca como direito de cidadania também assumido por uma política de Estado, que reorganizou todo o sistema nacional de saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS), que traz como princípios finalísticos, a Universalidade, Equidade (equilíbrio das oportunidades de sobrevivência) e Integralidade da atenção à saúde.

Para a consecução destes princípios, o SUS buscou suporte em princípios estratégicos que são a Descentralização (transferência de poder de decisão sobre a política de saúde do nível federal para o nível local), a Regionalização (delimitação de uma base territorial para a organização de ações de saúde), a Hierarquização (possibilidade de organização das unidades segundo grau de complexidade tecnológica dos serviços) e a Participação Social, os quais orientam as diretrizes políticas organizativas e operacionais do sistema de saúde (artigo 196 da Constituição Federal de 1988). Ao Estado cabe a responsabilidade por promover a saúde, proteger o cidadão contra os riscos a que ele se expõe e assegurar a assistência em caso de doença ou outro agravo à saúde (Teixeira, 2011).

A estruturação de políticas públicas voltadas às demandas de saúde das comunidades, passa por estratégias de educação popular que envolvam os profissionais da Atenção Básica à Saúde, no sentido de que se entendam como agentes ativos do cuidado, responsáveis pelas mediações no âmbito da saúde dentro de uma concepção de Estado.

Este cenário ratifica a interdependência da educação e saúde como caminho para o aumento da qualidade de vida do povo brasileiro, expresso em práticas intersetoriais que falem a língua dos sujeitos sociais, convidando-os a problematizarem sua própria realidade, comprometendo-se com ela.

A Educação Popular em Saúde (EPS) possibilita a aproximação e diálogo entre o saber popular, o saber médico científico, os profissionais e as instituições de saúde. A preocupação é priorizar a vocalização das necessidades e dos desejos da população, assim como a escuta dos profissionais para o acolhimento e o cuidado, na busca por caminhos possíveis que tenham significado para ambos.

Para Teixeira (2011), [...] do ponto de vista sócio cultural também existem barreiras,

sendo a principal delas, sem dúvida, a barreira da linguagem, da comunicação entre os prestadores de serviços e os usuários. Ainda quando chega aos serviços, grande parte da população não dispõe de condições educacionais e culturais que facilitem o diálogo com os profissionais e trabalhadores de saúde, o que se reflete, muitas vezes, na dificuldade de entendimento e de aprendizado acerca do

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comportamento que deve adotar para se tornar coadjuvante do processo de prevenção de riscos e de recuperação da sua saúde. Uma simples receita médica pode ser um texto ininteligível para grande parte da população que não sabe ler (p. 4).

Segundo Stotz, David e Un (2005), ao contrário do tecnicismo comumente encontrado na educação formal, a EPS busca outros caminhos para enfrentar as dificuldades vividas ao mesmo tempo em que fala a mesma linguagem das populações desfavorecidas.

Os principais agentes que militam na articulação entre comunidade e o SUS nos mais de 5 mil municípios brasileiros, são os Agente Comunitários de Saúde (ACS) e os Agentes de Vigilância em Saúde (AVS). Estes agentes nasceram e vivem na diferentes comunidades e, por isso, têm acesso mais protegido contra riscos ligados à violência que hoje assola um número significativo de comunidades brasileiras, como resultado da má distribuição de renda no pais.

Em outubro do ano de 2011, a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB/2011), destaca que a Atenção Básica à Saúde se dá através de práticas de cuidado e gestão democráticas e participativas, ratificando, ainda, as atividades educativas como atribuições destes agentes com vistas a promoção da saúde e prevenção à doenças.

Em seguida a portaria 2.761/2013 (BRASIL, 2013) institui a Política de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), entre outros pontos propõe uma prática político-pedagógica para orientar as ações voltadas para a [...] promoção, proteção e recuperação da saúde, a partir do diálogo entre a diversidade de saberes, valorizando os saberes populares, a ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos...”.

Diante deste quadro político favorável à aproximação da população e controle social às questões comunitárias, o desafio recaiu na operacionalização de um processo educativo calcado nos marcos da Educação Popular em Saúde, capaz de formar, em curto período de tempo, um grande número de ACS e AVS com qualidade e a custos aceitáveis.

Neste ponto a Educação a Distância (EAD) se coloca como modalidade educativa capaz de minimizar as distâncias, contribuindo para solidificar os vínculos criados presencialmente.

Tanscendendo fatores puramente voltados para cobertura e/ou escala, a Educação Profissional busca muito mais do que ampliar oportunidades de acesso, diversificar as formas de apresentação e representação do conhecimento e flexibilizar os meios e formas de apropriação cognitiva. Busca, sobretudo, viabilizar a reflexão do aprendiz acerca de suas próprias necessidades e potencialidades, ao desenvolvimento da consciência crítica sobre os conteúdos necessários ao seu processo formativo e a orientação no sentido dele ser capaz de decidir sobre quando e como utilizar os conhecimentos apreendidos, com vistas a intervir eficazmente em seu contexto de trabalho. A integração de todos esses fatores faz dos processos educativos a distância uma das alternativas mais promissoras (BARILLI, 2007).

No contexto das políticas nacionais de educação em saúde, a EAD se coloca como modalidade estratégica face às necessidades de formação, heterogeneidade dos grupos sociais e dimensões geográficas, haja vista os mais de 80 mil profissionais inscritos nos cursos a distância da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (www.ead.fiocruz.br) e os mais de 40 mil egressos.

O desafio de inserir técnicas e tecnologias da modalidade a distância em processos de Educação Popular em Saúde, portanto, é o foco do presente trabalho, na busca por compartilhar a visão de sua viabilidade como recurso democrático para o acesso ao saber que contribua para a qualificação da participação social.

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A Política de Educação Popular em Saúde

A educação tem, em seu processo de construção e amadurecimento histórico, assumido diferentes contornos resultantes das próprias conformações sociais. Responsável pela de transmissão da cultura para as diferentes gerações (GADOTTI, 1984), a educação vem desempenhando seu papel mediada pelos projetos sociais em sua maioria de base capitalista, mas resistindo, aqui e ali, em expressar princípios mais nobres.

Streck (2006) destaca que a educação não pode se isentar de colaborar para a geração das realidades sociais [...]. a educação sozinha não transforma o mundo, mas sem a educação também não haverá transformação (p.273).

No que se refere à da Educação Popular (EP), Groppo e Coutinho (2013, p.20) referenciam suas origens nos tempos do populismo, destacando sua vinculação aos movimentos sociais e lutas em prol de direitos. No Brasil, como pratica sócio-educativa, a EP encontrou nos postulados de Paulo Freire, um caminho de teorização, ganhando espaço na literatura científica. A partir da alfabetização de adultos das classes subalternas, Freire desenvolveu um modelo educacional entendido, sobretudo, como uma forma de compreender e refletir sobre o mundo, a partir da qual pode-se transformar a realidade dentro de uma ação consciente (FREIRE, 1987). Nesta lógica, seu marco pedagógico se empenha pelo respeito à cultura e especificidades regionais apoiadas pelo vocabulário, costumes e saberes das populações, tendo como meta sua autonomia e emancipação para o exercício da cidadania.

Freire salienta que a educação é um ato de enfrentamento amoroso, onde o diálogo se erige como instância transformadora e crítica. Dentro desta visão, a educação se constitui como atos de amor e coragem, uma vez que confere ao indivíduo condições para poder criar criticamente às palavras de seu mundo, possibilitando a sua existência, mais do que o viver, fazer o indivíduo reexistir como um ser eminentemente relacional (FREIRE, 2001). A EP se concretiza na roda, onde os participantes são dispostos em formato de circulo de modo que todos possam se ver mutuamente, além de favorecer uma ideia de troca contínua e horizontalização de papéis. Esta conformação ilumina a importância da participação individual para a legitimação do coletivo. A Educação Popular em Saúde (EPS) traz como pontos de partida o conceito ampliado de saúde [...] considerado como um estado positivo e dinâmico de busca de bem-estar, que integra os aspectos físico e mental (ausência de doença), ambiental, pessoal/emocional e sócio-ecológico (comprometimento com a igualdade social e com a preservação da natureza)(SCHALL e STRUCHINNER, 1999); e a participação social, compreendida como requisito fundamental para a implantação e consolidação do sistema brasileiro de saúde (o Sistema Único de Saúde - SUS), na Constituição Brasileira de 1988 e, posteriormente institucionalizada e regulamentada nas leis 8080/90 e 8142/ 90 (Brasil, 1990 In: BISPO JUNIOR et al, 2008). Neste contexto, para Albuquerque e Stotz (2004), [...] a promoção da saúde passa a ser vista como uma tarefa dos governos, das instituições e grupos comunitários, dos serviços e profissionais de saúde (p. 260). Ainda para estes autores, a concepção teórica da EPS [..] valoriza o saber do outro, entendendo que o conhecimento é um processo de construção coletiva, visando a um novo entendimento das ações de saúde como ações educativas (idem).

A EPS como proposta orientada para a promoção da autonomia das pessoas, formação de consciência crítica e superação de desigualdades sociais, teve dentre os seus desdobramentos, práticas profissionais e/ou populares institucionalizadas junto a

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serviços de Atenção Básica em Saúde ou não institucionalizadas vinculadas a grupos e movimentos sociais.

Os principais profissionais que estabelecem a mediação da realidade e interesses das comunidades com as políticas do SUS, são o Agente Comunitário de Saúde e o Agente de Vigilância à Saúde (Lei 11.350/2006; Emenda Constitucional 51/2006, Brasil, 2004). Estes profissionais são pessoas que nasceram, vivem e atuam nas comunidades, entendendo-lhes a realidade e necessidades de saúde (BARILLI et al, 2014). Este percurso lhes garante o livre trânsito nos espaços da comunidade, realizando ações domiciliares, individuais e/ou coletivas. Em 12 de julho de 2012, foi instituída, pela Secretaria de Gestão Participativa do Ministério da Saúde do Brasil, a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS-SUS), a qual considera as reflexões e práticas da Educação Popular para contribuir com a construção de novos sentidos e práticas do SUS, fortalecendo a educação em saúde e a constituição de princípios éticos que orientem o cuidado, gestão, formação, participação social e controle social em saúde (Brasil 2013).

A PNEPS-SUS se apropria de princípios da EPS como o Diálogo entre Saberes, Problematização e a Construção Compartilhada do Conhecimento, de modo a fortalecer a gestão participativa nos espaços de cuidado do SUS, buscando intensificar a mobilização e o protagonismo popular na defesa do direito à saúde e valorizar a diversidade de saberes e culturas integrando os saberes populares ao cotidiano dos serviços de saúde (BRASIL, 2012).

Como principal estratégia para a materialização da PNEPS-SUS foi lançado, em 2014, o Programa de Qualificação em Educação Popular em Saúde (EdPopSUS), por meio de um Curso livre voltado para a sensibilização dos Agentes de Saúde no que concerne às suas práticas educativas em saúde junto às comunidades brasileiras, conforme apresentado a seguir. O Programa de Qualificação em Educação Popular em Saúde – EdPopSUS O EdPopSUS busca promover reflexões e re-orientações das práticas de educação em saúde vigentes no SUS, uma vez que estas ainda persistem na perspectiva transmissiva de conhecimentos, desconsiderando os saberes, linguagens e valores sociais.

O marco político-pedagógico, de base sócio-construtivista, considera que a aprendizagem é um processo complexo que se dá no contexto social por meio da interação entre agentes culturais que vivenciam experiências novas as quais são confrontadas com outras já vividas favorecendo, assim, o desenvolvimento de novos esquemas mentais expressos em conhecimentos individuais e coletivos (BARILLI e PESSÔA, 2013). Soma-se a este, o marco da pedagogia crítica (FREIRE, 1997, 2003) a qual, sobretudo, entende a educação como prática de liberdade que, através da compreensão crítica da realidade, torna o sujeito apto a politicamente libertar-se das formas de opressão (SANTIAGO, 2012); reconhece o saber como pertencente a um ato maior, o de conhecer, destacando, assim, o elemento epistemológico da ação de aprender.

O Programa foi desenvolvido para qualificar as práticas educativas do campo da atenção básica por meio a formação dos ACS e AVEs que, referenciados nos princípios do SUS, desenvolvem práticas voltadas para a mobilização social, promoção da saúde e equidade, tendo como base político-pedagógico a Educação Popular em Saúde (edital de convocação, 2014).

Para além desta meta, o Programa teve como objetivos específicos: desenvolver habilidades para ativar e conduzir coletivamente processos de mobilização comunitária e práticas educativas em saúde que reconheçam os saberes tradicionais, os elementos socioculturais e a diversidade que compõe os territórios de

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atuação da atenção básica; fomentar a implementação da política nacional de Educação Popular em Saúde no SUS; aproximar os ACS e AVS das políticas e ações de enfrentamento das iniquidades em saúde e; fortalecer estes agentes enquanto profissionais de atenção básica, resgatando o valor de seu trabalho e sua importância na comunidade, além de ampliar sua articulação junto a equipe de saúde, a rede de serviços e aos movimentos sociais/populares no território;

Foi estruturado em um curso livre, cuja oferta foi composta por três chamadas de 53 horas, distribuídas 04 (quatro) encontros presenciais de 08 (oito) horas (um encontro por semana), perfazendo um total de 32 (trinta e duas) horas presenciais, 11 (onze) horas de acesso a Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA) e 10 (dez) horas de atividades de campo orientadas e de elaboração do trabalho final.

As atividades didáticas contemplam 4 encontros presenciais (um por semana), quatro trabalhos de campo (realizados pelo aluno-equipe) entre os encontros presenciais, sendo o último para apresentação do trabalho de conclusão de curso e; momentos de conexão virtual por meio de um Ambiente Virtual de Aprendizagem – chamado de Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA), apoiado na tecnologia Moodle, o qual está sediado em provedor institucional na EAD – Ensp/Fiocruz.

MOODLE é a sigla de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment, um programa informático considerado como software livre por serem a distribuição e instalação sem custo, como também por possuir código fonte aberto, o que possibilita que equipes de programadores de cada instituição realizem mudanças segundo suas necessidades. Estas características lhe valeram a adoção como plataforma de ensino (também chamado LMS – Learning Managment System) das políticas públicas brasileiras de formação

Foi realizado no Distrito Federal e mais 8 estados brasileiros (Piauí, Ceará, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul). Pensado inicialmente para atingir 16 mil agentes, mas ao final de sua 3ª chamada, tinha formado aproximadamente 20 mil profissionais, como mostra a tabela 1.

Tabela 1. Distribuição de agentes matriculados por chamada e por unidade da federação

ESTADOS MATRICULA 1ª CHAMDA

MATRICULA 2ª CHAMDA

MATRICULA 3ª CHAMDA

Rio de Janeiro 830 1051 1424

Ceará 891 459 808

Distrito Federal 128 67 128

São Paulo 972 408 401

Sergipe 388 472 497

Rio Grande do Sul 185 387 576

Piauí 482 344 406

Pernambuco 1302 833 1092

Bahia 1545 1434 1555

Total de Matriculados por chamada 6723 5455 6887

TOTAL GERAL 19065

FONTE: Relatório Reunião Internúcleos – Dados Extraídos do Sistema Integrado de Gestão Acadêmica da Fiocruz

O material didático do curso livre foi composto por um Caderno do Aluno, contendo a estrutura temática. Devido a inexperiência dos educandos na interação com este tipo de processo educativo, o Caderno do Aluno destinou a servir como um guia para leitura teórica e realização de atividades. Porém, os tutores (denominados

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aqui “mediadores”) estiveram livres para propor desdobramentos didáticos a partir dele. O conteúdo, foi materializado em quatro Unidades de Aprendizagem (UAs)1: 1) Educação Popular em Saúde e o Protagonismo dos Sujeitos Sociais, 2) Saúde e a Nossa Sociedade, 3) Cultura, Arte e Saúde e, 4) Saúde, Equidade e Participação Social. O material didático foi especificamente construído para o Curso.

O corpo docente foi distribuído em mediadores (tutores), profissionais atuantes no campo da educação popular em saúde, responsáveis pelo acompanhamento dos alunos; educadores populares, militantes da EPS com larga experiência em participação em movimentos sociais e o orientador de aprendizagem, atuando no apoio às atividades pedagógicas locais, analisando e refletindo as práticas desenvolvidas, o que se apresentou como uma atuação potente para o desenvolvimento do curso (Relatório Ensp-EdPopSUS, 2015, MIMEO).

A gestão do Programa foi conduzida por um Comitê Gestor (formado por profissionais das instituições parceiras), uma Coordenação Nacional ligada à Ensp, Apoiadores Nacionais (distribuídos pelos estados integrantes), Núcleos Estaduais (compostos por um coordenador e um ou dois profissionais de suporte) e quatro Núcleos Técnicos (Pedagógico, Avaliação e Pesquisa, Operacional e Conexões Virtuais).

Docentes aliados aos profissionais ligados à gestão do Programa somaram mais de 400 atores pedagógicos.

A Educação a Distância no EdPopSUS

Para Santos (2012) apud Faria, a produção cultural nascida através da articulação entre seres humanos e dispositivos em conexão, como o que ocorre no ensino à distância, é denominada cibercultura.

De acordo com Faria (2014, p.75), educação a distância, hoje (grifo nosso), está relacionada essencialmente à internet.

Segundo a mesma autora (p. 76), estima-se que apenas um terço da população mundial tenha acesso ao conteúdo da internet e, o Brasil segue esta tendência. Os motivos, segundo a autora, pelos quais a outra parcela da população não acessa a rede mundial de computadores variam desde impedimentos políticos e econômicos até mesmo inadequação técnica-estrutural para a oferta do serviço. Assim, evidencia-se que apesar da internet ser um espaço aberto e democrático, nem todos os indivíduos estão inseridos nestes espaços produtores de cibercultura.

O curso potencializou articulações interinstitucionais as quais apoiaram o planejamento e a realização do curso nos estados. O apoio interinstitucional e junto a movimentos sociais, em alguns estados, viabilizou a infraestrutura necessária a realização dos encontros presenciais, possibilitando a inclusão digital dos alunos dos núcleos estaduais mais interiorizados.

Independente de ser a modalidade educativa presencial e/ou a distância, busca-se democratizar a educação de qualidade e materializá-la pela interação humana, a qual mais do que a comunicação, prioriza o compartilhamento de culturas e a construção individual e coletiva por meio da cooperação entre os sujeitos da aprendizagem. Isso torna-se possível através de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs) desenvolvidos especialmente para suportarem iniciativas educativas, ou seja, tecnologias educacionais que oferecem recursos voltados para o acesso a conteúdos, busca intuitiva e interação humana, por meio da expressão e participação ativa.

O virtual é o potencial que algum fenômeno possui para ocorrer. A análise etimológica da palavra virtual aponta para uma derivação do

1 Composição de cada UA: conteúdo, interação e atividades avaliativas.

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latim “virtus”, que por natureza expressa força, potência e capacidade. Para Levy (2011), a virtualidade não se opõe ao realismo. O real é apresentado pelo autor como algo que está acontecendo no momento e possui relação dialética com o possível. Pode-se afirmar que o possível é o real que ainda não aconteceu, entretanto, o fenômeno a ele associado irá ocorrer sem que haja qualquer modificação na sua natureza. Em momento algum é necessária a criação de um novo sentido para que o possível ocorra, ele simplesmente ocorrerá dada a hora de sua transmutação em realidade (SILVA, 2008).

O EdPopSUS (curso) foi desenvolvido presencialmente com momentos de conexão virtual através de uma Comunidade Virtual de Aprendizagem (CVA) na tecnologia Moodle. Para possibilitar a comunicação e compartilhamento de vivências relacionadas aos processos de desenvolvimento e execução do curso, foi desenvolvida uma Comunidade Virtual de Trabalho (CVT). Aliado ao corpo docente, os participantes do CVT compõem as equipes de trabalho, distribuídos da seguinte forma: comitê gestor, composto por representantes das instituições parceiras, centros estaduais, as equipes ligadas ao Distrito Federal e outros estados participantes (coordenadores estaduais, articulação e oficiais de apoio e operacional apoio), além de quatro centros de desenvolvimento de processo: educação, investigação e avaliação, operação e conexão online.

Assim, a CVA destina-se a INTERação entre os sujeitos da aprendizagem distribuídos em educando e corpo docente (mediadores, educadores populares e orientadores de aprendizagem). Já a CVT foi desenvolvida para promover a integração entre as equipes de trabalho ligadas ao EdPopSUS para facilitar a gestão descentralizada do ensino, compartilhando processos operacionais.

No que se refere ao curso, apesar de a maior carga horária ser presencial, a CVA foi adotada para o alcance dos seguintes objetivos: 1) contribuir para a humanização do processo de aprendizagem por meio da consolidação dos vínculos criados no encontro presencial; 2) motivar a participação e compartilhamento de saberes e práticas, através das temáticas propostas nos fóruns de discussão; 3) prover material didático complementar no formato de vídeos e outros produtos ligados à arte e cultura populares; 4) registrar a riqueza das produções individuais e coletivas.

As atividades realizadas nas CVA e CVT foram distribuídas em visualizações, postagens, envio de atividades (somente pelos alunos) e outras atividades (realizadas somente pelos docentes), totalizando 1.030.988 atividades/participações nas 3 chamadas do curso, conforme mostram as tabelas 2 e 3.

Os resultado apresentados a seguir advêm dos relatórios expedidos pela plataforma Moodle.

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Tabela 2. Distribuição das atividades realizadas na Comunidade Virtual de Aprendizagem – CVA: 1ª , 2ª e 3ª chamadas do EdPopSUS

Tabela 3. Distribuição das atividades realizadas na Comunidade Virtual de Trabalho

O Gráfico 1 apresenta os percentuais de visualizações distribuídos por agente

pedagógico

ATIVIDADES NA COMUNIDADE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM QUANTIDADE

VISUALIZAÇÕES

Visualizações CVA 1ª Chamada 53.811

Visualizações CVA 2ª Chamada 167.343

Visualizações CVA 3ª Chamada 82.311

POSTAGENS

Posts CVA 1ª Chamada 21.666

Posts CVA 2ª Chamada 26.090

Posts CVA 3ª Chamada 22.920

ENVIO DE ATIVIDADES

Envios de Atividades 1ª Chamada 6.141

Envios de Atividades 2ª Chamada 5.354

Envios de Atividades 3ª Chamada 6.355

OUTRAS INTERAÇÕES - SÓ DOCENTES

Excluir, Acrescentar, Atualizar

CVA - 1ª Chamada 177.112

CVA - 2ª Chamada 220.113

CVA - 3ª Chamada 133.129

TOTAL CONSOLIDADO 922.345

ATIVIDADES NA COMUNIDADE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM QUANTIDADE

VISUALIZAÇÕES

Visualizações CVT 1ª Chamada 34.448

Visualizações CVT 2ª e 3ª Chamada 7.124

POSTAGENS

Posts CVT 1ª Chamada 200

Posts CVT 2ª e 3ª Chamadas 278

OUTRAS INTERAÇÕES - SÓ DOCENTES

Excluir, Acrescentar, Atualizar

CVT 1ª Chamada 59.847

CVT 2ª e 3ª Chamadas 6.746

TOTAL 108.643

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GRÁFICO 1. Percentuais de Visualizações Distribuídos por Agente Pedagógico e por chamadas do EdPopSUS (CVA e CVT) – A, B e C

Perfis das senhas usadas na comunidade virtual: Mediador = tutor; Coordenador & OA = orientador de aprendizagem; Coordenador Geral = apoiador nacional; Educador Popular

Conforme mostra o gráfico 1, o número de visualizações de alunos, nas três

chamadas do curso, foi bem maior do que as do restante dos atores pedagógicos (mediador = tutor, coordenador geral e educador popular). Isso pode sugerir um período de “ambientação” ao uso de AVAs pelo fato de, segundo levantamento realizado pelo Núcleo de Pesquisa e Avaliação ligado ao Programa, os alunos nunca terem participado de cursos a distância antes do EdPopSUS. Faria (2015) cita Wagner (1934) que afirma que o processo interativo somente pode ser concluído a partir da existência de um mecanismo de retorno do estímulo comunicacional. A inexistência deste feedback de qualquer indício de construção do saber do compartilhado.

Estudos relativos à participação humana em fóruns de discussão de processos educativos apontam sua utilização como elemento importante para o desenvolvimento de capacidade colaboração, indo para além do repositório de atividades, mas um instrumento de acompanhamento do crescimento dos alunos (Segenreich, 2005), além de recurso para a construção coletiva de conhecimento e aprendizado (Batista e Gobara, 2007). Aliado a estes, Souza (2007) afirma que os fóruns de discussão também colaboram para a solidificação dos vínculos do grupo social, uma vez que para o autor quanto mais saudável for a relação interpessoal, mais significativos são os resultados em relação ao aprendizado nos ambientes virtuais.

Para Silva (2008), a interação virtual que substitui os processos tradicionais de comunicação é embasada em três princípios: a) participação ativa, contextualizada e com possibilidade de interferência na informação; b) bidirecionalidade, o processo de

B -

A -

C -

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comunicação dinâmico, os dois atores são emissores e receptores de mensagem; c) permutabilidade potencial, onde a comunicação permite a inclusão de novos atores, novas mensagens e novos significados.

Apesar dos fóruns de discussão serem espaços de opiniões por vezes divergentes (ÁVILA el al, 2009), também se prestam à construção colaborativa quando permeados por um clima de cordialidade.

Mattar (2009) cita que a interação entre alunos é motivadora, já que provê a sensação de pertencimento que combate o isolamento e passa a integrar a “sala de aula virtual”. Conclui dizendo que a falta de interações entre os participantes pode contribuir para a evasão e abandono do curso.

No EdPopSUS, a INTERação foi observada na CVA entre os educandos e o corpo docente (mediadores, educadores populares e orientadores de aprendizagem), aqui considerados como sujeitos da aprendizagem, prerenizando-se os vínculos construídos face-a-face, além do acompanhamento pedagógico dos trabalhos de campo e, sobretudo, onde acontecem as trocas de ideias sobre os temas semanais por meio dos fóruns de discussão. Pelo fato das interações se darem por meio de intervenções sobre postagens precedentes, a figura 1 mostra 4 postagens e 3 interações. Figura 1. Mecanismo de interação em fóruns virtuais (2ª chamada do EdPopSUS)

O levantamento da quantidade de interações não é aqui apresentada, uma vez

que não é contemplada pelos cruzamentos e relatórios realizados pelo Moodle. Correa

(2014), entretanto, realizou um estudo quantitativo e qualitativo acerca das interações

realizadas nos fóruns de discussão sobre Educação popular em saúde e o

protagonismo dos sujeitos sociais (1ª Unidade de Aprendizagem), na 2ª chamada do

Curso, no Distrito Federal e nos estados do Piaui e São Paulo, constatando um total

de 396 interações, conforme mostra a tabela 4.

Fonte: CVA EdPopSUS, 2ª chamada

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Tabela 4. Distribuição quantitativa das postagens e interações por local de realização do curso

Local Número postagens Número interações

Piauí 369 334

Distrito Federal 13 1

São Paulo 118 64

TOTAL 477

396

FONTE: CORRÊA (2014)

O Estado do Piauí apresentou o maior número de postagens e interações,

mesmo sendo um dos estados da região nordeste brasileira que apresenta apenas 17, 39% de microcomputadores por domicílio, sendo que, destes, 12,87% com acesso à internet, ocupando a 26ª posição no cenário nacional (Mapa da Inclusão Digital FGV/CPS, 2012).

O Gráfico 2 apresenta os percentuais de postagens distribuídos por agente pedagógico e por chamada do curso na CVA nos fóruns temáticos de discussão

GRÁFICO 2. Percentuais de Postagens nos fóruns de discussão na CVA,

distribuídas por Agente Pedagógico e por chamadas do EdPopSUS – A, B e C

Na 2ª chamada do Curso, os alunos elevaram sua participação com postagens na

CVA (32%), reduzindo a participação dos mediadores (tutores). Entretanto, a participação dos mediadores nos fóruns temáticos de discussão na CVA ratifica o seu papel de propositores e estimuladores da reflexão e discussão coletiva ao mesmo

A -

-

C -

-

B -

-

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tempo em que sugere uma certa falta de vivência, por parte dos alunos, em fóruns de discussão de cunho educativo formal.

O gráfico 3, apresenta uma comparação entre CVA e CVT no que concerne as visualizações e postagens.

Gráfico 3. Comparativo CVA – CVT: visualizações e postagens por chamada do curso

Comparando as visualizações nas CVA e CVT, nas 3 chamadas do EdPopSUS,

observa-se que foi na 2ª chamada que o houve o maior índice (48%), destacando a CVA como espaço próprio da mediação pedagógica professor-aluno.

O grande número de participantes da CVA (em torno de 5 mil alunos por chamada do curso e 194 docentes) em relação ao número de participantes da CVT (em torno de 200 profissionais que compuseram as equipes de trabalho) explica o baixo índice de visualizações e postagens na CVT na comparação das duas Comunidades Virtuais.

Barilli et al (2014), desenvolveram um protocolo de avaliação da CVT abordando os fóruns de discussão: Sala Virtual de Mediadores (fórum para interação entre o corpo docente, onde os orientadores de aprendizagem e educadores populares trocaram experiências oriundas do exercício da docência), Fórum de Coordenadores e equipes (compartilhamento de experiências, documentos e orientações), Troca-Troca (destinado à interação sobre os processos de trabalho), Dá uma força (fórum destinado à elucidação de dúvidas relacionadas ao uso dos recursos educacionais).

A análise qualitativa das postagens nos fóruns de discussão demonstrou que, das categorias de análise, Experiências Vividas, Problemas Enfrentados e Expressões Culturais, a primeira apresentou maior índice conforme mostra o gráfico 4.

GRÁFICO 4. Quantidade de postagens nos fóruns de discussão da CVT,

distribuídas por categorias de significação

Problemas enfrentados Experiências vividas Expressões culturais

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Para além desses resultados, a tabela 5 mostra a riqueza das produções de arte

e cultura compartilhadas no CVT somente na 1ª chamada do Curso.

Tabela 5. Levantamento de produções postadas na CVT, distribuídos por local participante do EdPopSUS (1ª chamada do curso)

CE PE BA DF SE RJ SP PI TOTAL

Poesias 2 1 6 3 0 0 2 3 17

Imagens 33 7 22 5 4 6 21 0 98

Vídeos 6 0 1 1 0 0 6 0 14

Textos 3 1 0 4 1 1 0 1 11

Avaliações 1 2 4 1 1 1 43 0 53

TOTAL 45 11 33 14 6 8 72 4 193

Conclusões

Os resultados revelaram o interesse dos atores pedagógicos ligados ao EdPopSUS em vivenciar as propostas didáticas virtuais, mesmo sendo esta a primeira experiência para a maioria e apesar das dificuldades de acesso à internet. Isso coloca em evidência o debate sobre a utilização de técnicas e meios da Educação a Distância na Educação Popular em Saúde.

Os produtos ligados à arte e cultura compartilhados na CVA, preservaram a identidade cultural destes atores e propiciaram a troca e registro dos diferentes cenários da saúde no ambiente virtual.

Acredita-se que a inserção das Comunidades Virtuais no Curso, agregou outros valores à ação política da PNEPS-SUS, uma vez que, colaborando para incluir digitalmente os agentes que historicamente convivem com cenários de exclusão, propiciou a sua inserção social pelo compartilhamento de vivências inter-regionais entre agentes de saúde (alunos) de problemas de saúde vivenciados no território com vistas à sua problematização dentro de um contexto educativo.

Por outro lado, a gestão de ensino de aproximadamente 20 mil sujeitos cognoscentes (escala) aliada aos múltiplos processos que envolvem as equipes multiprofissionais (também considerados sujeitos em formação), certamente deve contar com o apoio de instrumentos informatizados que suportem o desenvolvimento, implementação e avaliação por meio de cruzamento de dados e relatórios de acompanhamento, quase impossíveis de serem realizados manualmente a tempo e custo aceitáveis. Neste sentido pode-se considerar que o uso das comunidades virtuais contribuiu para a tomada de decisão e transparência dos processos ligados à gestão, através da circularidade de informações e compartilhamento de processos de trabalho.

A descentralização dos processos pedagógicos proporcionou autonomia dos estados participantes na construção de estratégias de viabilização e operacionalização do curso, as quais foram compartilhadas na CVT. Houve ainda a formação de redes de apoio, de movimentos e de conhecimentos.

O uso da tecnologia impõe “o fazer” e isso, por si só, já é educativo. No caso do EdPopSUS, tanto alunos como professores e equipes de gestão tiveram a oportunidade de vivenciar um processo de formação profissional mediado pela tecnologia, usada como recurso para aproximação e debate. Para alunos e professores por meio da problematização de contextos concretos à luz do aporte teórico atual e consistente perenizados nas postagens e interações registradas nos fóruns de discussão na CVA. Para as equipes de gestão, expressas nas orientações, soluções e produções compartilhadas na CVT.

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A Educação Popular tem na presencialidade o seu elemento mais marcante (BARILLI et al, 2014) - e isso não é diferente na Educação Popular em Saúde (EPS) - que tem na roda e nas expressões de arte e cultura sua maior fonte de inspiração pelas trocas entre sujeitos.

O esforço que se fez aqui, foi evidenciar o potencial da Educação a Distância para, assim como ocorre presencialmente, favorecer a consolidação dos vínculos e trocas humanas para além do tempo e do espaço. Isso requer a orientação pedagógica do mediador (professor / tutor), desde que sejam capacitados para mediar esta nova forma de ensinar, aprender e INTERagir, transformando os fóruns virtuais de discussão em rodas de conversa virtuais que favoreçam os encontros, compartilhamentos e construção de saberes no campo da Educação popular em Saúde.

Hoje as redes sociais já são uma realidade apropriada pelas diferentes gerações, minimizando as distâncias temporais e geográficas de forma livre. Mesmo face às desigualdades sócio econômicas, as populações laçam mãos de recursos que lhes garantam o acesso à comunicação digital como dispositivos móveis (que no Brasil possui um custo menor via operadoras de telefonia móvel), lan houses com acesso livre em shoppings, associações e instituições formadoras. Cabe aos educadores e pesquisadores do campo da educação, utilizar esta apropriação tecnológica em contextos pedagógicos problematizadores e construtores de cidadania, apoiados em didáticas participativas e motivadoras.

O Curso traz como principal resultado a qualificação da ações sociais dos agentes de saúde através de auto reconhecimento como educadores populares que elaboram, em diálogo com o povo, ações educativas que têm, na participação, o caminho para o compromisso coletivo pela qualidade de vida.

Por outro lado, o Projeto Democrático e Popular promotor de vida e saúde caracteriza-se por princípios como a valorização do ser humano em sua integralidade, a soberania e autodeterminação dos povos, o respeito à diversidade étnico-cultural, de gênero, sexual, religiosa e geracional; a preservação da biodiversidade no contexto do desenvolvimento sustentável; o protagonismo, a organização e o poder popular; a democracia participativa; organização solidária da economia e da sociedade; acesso e garantia universal aos direitos, reafirmando o SUS como parte constitutiva deste Projeto. Meios de operar tais princípios certamente passam pela formação humana para a cidadania, tendo na Educação a Distância, uma modalidade educativa estratégica e viável para o acesso democrático ao saber organizado que contribua para a formação de seres politizados, emancipados e livres.

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