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Ensino Fundamental Anos Iniciais 4 o Ano – 3 o Bimestre

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Ensino Fundamental Anos Iniciais

4o Ano – 3o Bimestre

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PortuguêsSumário

Capítulo 8 – No país dos Prequetés ............................................................................. 8

Capítulo 9 – Uni duni tê .............................................................................................. 25

Capítulo 10 – A revolta das palavras .............................................................................41

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PortuguêsApresentação

Este caderno foi escrito para você e para todos que gostam de aprender, ler, ouvir e contar boas histórias.

Foi escrito, também, para que você mostre suas opiniões sobre o mundo a sua volta, crie e recrie textos falando e escrevendo, para melhorar sua re-lação com o mundo. E para isso, você vai usar a língua portuguesa, nosso maravilhoso idioma que vai ajudá-lo a conhecer a linguagem dos quadrinhos, das notícias de jornais, dos contos, das fábulas, a poesia... e de muitos ou-tros textos.

Queremos convidá-lo a ler, participar, divertir-se, opinar e escrever.Enfim, este caderno é para você crescer melhor no mundo em que vive!

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No país dos PrequetésPortuguês 8C

apítu

lo

Para começar

Neste capítulo, estudarei as características do texto dramá-tico, ambiguidade e pessoas do verbo.

Hoje tem espetáculo: No país dos PrequetésPeça em um ato para bonecos e atoresPersonagensCriançasNitaChico LucinhaZéJuca

(Quando as luzes vão se acendendo, Juca, Zé, Lucinha, Chico e Nita estão começando sua brincadeira e vão subindo o tom de voz na medida em que a luz vai ficando mais forte)

Juca Bento-que-bento-é-o-frade!Todos Frade!Juca Na boca do forno!Todos Forno!Juca Cozinhando um bolo!Todos Bolo!Juca Fareis tudo que seu mestre mandar?Todos Faremos todos!Juca E quem não fizer?Todos Levará um bolo…Juca Então… (hesita e pensa)… cada um imita um bicho sem barulho…

(todos começam a cumprir as ordens. Zé faz logo um macaco, ime-diatamente reconhecível. Enquanto é cumprimentado por Juca, os outros vão aos poucos prosseguindo e sendo identificados.)

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Juca Isso, Zé. Seu macaco está mesmo bem macacal. E foi o primeiro. Ganhou.

Zé Agora é minha vez de ser o mestre.Juca É… Mas, calma. Ainda faltam os outros. Olha ali o Chico dando

uma de galo. E Lucinha parece uma pata, meio esquisita. Que é isso, hein, Lucinha?

Lucinha É uma pata choca. Daquelas bem chocas mesmo. De choquice chocolatada.

Zé (implicante) Chocante!Juca Não brinca, Zé. Serve, Lucinha. E você Nita? Não tá fazendo

nada? (todos ficam quietos e olham para Nita)Nita Puxa, vocês não são mesmo capazes de adivinhar, é? É mesmo um

bando de gente de cabeça enferrujada. Eu já ganhei, porque sou a única que estou mesmo fazendo tudo o que seu mestre man-dou – um bicho sem barulho. Macaco é um bicho bem barulhen-to. Vive guinchando assim, ó… (imita, com muitos guinchos). E galo é outro. Todo dia a gente ouve a cantoria dele (imita). E pata choca, com todo esse quem-quem-quem… quer bicho mais cheio de barulho?

Juca Mas ninguém fez barulho, Nita…Nita Ah, é, bebé? Mas também ninguém fez bicho sem barulho que

nem você pediu… Só eu. Fiz um, não. Fiz uma porção de bichos.Zé Fez coisa nenhuma. Você só ficou foi bem paradinha aí. Nem se

mexeu.Nita E vocês não sabem descobrir bicho que não faz barulho e fica pa-

radinho? Tem bicho-pau… Tem ostra… Tem tudo quanto é tipo de marisco… Tem jiboia quando tá jiboiando… (todos se olham meio espantados, como se não soubessem o que dizer).

Nita Tão vendo só? Ganhei!Juca Essa não. Quem ganhou foi o Zé, que fez primeiro o macaco.Nita Nada disso. Bem na horinha que você acabou de falar eu já es-

tava fazendo bicho-pau, ostra, marisco, cavalo dormindo, urso hibernando, jiboia jiboiando, tudo isso ao mesmo tempo. E, ainda mais: bicho sem barulho mesmo e não essa apelação de vocês. Quem ganhou fui eu.

Juca Você não entendeu, Nita. Não era um bicho sem barulho. Era uma imitação sem barulho.

Nita Mas não foi isso que você disse.

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Chico Vamos parar com esse papo furado e continuar a brincadeira.Juca Isso mesmo. Zé, você é que é o mestre agora.Lucinha Mas falta dar um bolo na Nita, que não fez tudo o que seu mestre

mandou. Só ficou parada.Juca É. Dá a mão aí para levar palmada.Nita Olha, gente, eu não estou a fim de criar caso. Todo mundo acha

que o Zé deve ser o mestre agora, então eu não vou brigar desta vez. Mas eu sei que eu ganhei. E não vou dar uma de boba agora não. Vá lá que eu não seja o mestre, mas não vou esticar a mão para levar palmada de ninguém.

Chico Ih, Nita, deixa de tanta onda! Você sabe que não dói, é só de brin-cadeira. Brincar de bento-que-bento-é-o-frade é assim. Quem faz primeiro vira o mestre. Quem não faz leva palmada.

Zé Um bolo, um bolinho só, de leve, na mão.Nita Não. Eu sei que é brinquedo e não dói. Mas é que eu fiz tudo o

que seu mestre mandou. Só que fiz do meu jeito.Chico Ai. Será que vai durar muito? Daqui a pouco está na hora de entrar e

a gente nem brincou direito, só ficou falando, nhem-nhem-nhem…Lucinha É isso mesmo, assim não dá.Juca Então vamos continuar. Vá lá… Dessa vez você fica sem levar

bolo. Vamos em frente. Zé, começa.Zé Bento-que-bento-é-o-frade!Todos Frade!Zé Na boca do forno!Todos Forno!Zé Cozinhando um bolo!Todos Bolo!Zé Fareis tudo que seu mestre mandar?Todos Faremos todos!Nita Fazeremos todos!Zé Nita, você não ouviu outro dia dona Jurema explicar que a gente

não deve dizer fazeremos, que a gente já sabe conjugar o verbo fazer e sabe que não é fazeremos, é faremos?

Nita Ouvi, sim, e nem estava pensando nisso agora. Só falei porque saiu assim, eu estava acostumada, né? Afinal de contas, toda a vida a gente brincou de bento-que-bento-é-o-frade dizendo fa-zeremos todos. E só agora é que dona Jurema explicou isso. Eu falei sem pensar. (pausa) Mas agora estou pensando (pausa). E sabem de uma coisa? Eu acho que não tem nada demais.

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Chico Pronto, lá vai ela começar outra vez.Nita Vou sim! EU acho que quando a gente fala fazeremos na hora

da brincadeira a gente está só brincando. Não estou conjugando verbo nenhum. Estou só dizendo umas palavras meio esquisitas que são da brincadeira. Que nem palavra mágica. Pensa bem: que quer dizer essa coisa de bento -que -bento -é -o -frade? Alguém é capaz de me explicar que que é isso?

(Todos se entreolham e fazem que não.)Nita E essa tal de boca de forno? Não tem nada a ver com o frade. E

o forno não tem boca. (pausa) E esse negócio de cozinha bolo? A gente não cozinha bolo, a gente bota pra assar, ainda mais no forno. E no fim, ainda leva bolo de palmada, em vez de comer bolo de forno.

Chico E daí, Nita? É um jeito de brincadeira em que a gente se diverte. Nita Pois é. Eu acho ótimo, já falei até que parece palavra mágica.

Que nem Uni-duni-tê…Lucinha Salamê Minguê…Zé Abracadabra…Juca Abre-te, Sésamo…Lucinha Marraio Filidô…Nita Isso mesmo. Só que então, eu acho que a gente devia dizer faze-

remos, como sempre foi.Zé Tá bom, vamos dizer qualquer coisa. Mas vamos continuar a brin-

cadeira…MACHADO, Ana Maria. Hoje tem espetáculo: No país dos Prequetés. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 2001. (Col. Literatura em minha casa.)

Para continuar

Conversa sobre o texto

1. Você deve ter observado que logo após o título do texto há uma lista de personagens que participarão da história, essa é uma característica de um texto escrito para ser dramatizado. Assim, o autor já indica quantas persona-gens serão necessárias para compor a história. Há também um trecho que vem entre parênteses, qual a função dele?

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2. No país dos Prequetés começa com as crianças brincando de uma brin-cadeira parecida com “seu mestre mandou”. Em que consiste essa brinca-deira?

3. Quem era o mestre da brincadeira?

4. Quando a brincadeira começa, o mestre diz algumas frases. O que fa-zem os participantes?

5. Qual é a pergunta-chave para saber se todos vão participar do jogo?

6. Quando pergunta para os colegas se vão obedecer-lhe, Juca diz: “fa-reis”. Que pronome acompanharia esse verbo?

7. Qual a primeira ordem dada pelo mestre?

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8. Todos entenderam a ordem de forma igual?

9. Quando Juca anuncia que o vencedor era Zé, Nita diz que ele não cum-priu a tarefa de forma correta, afirmando que ela sim havia feito o que o mes-tre tinha solicitado. Qual a justificativa dela?

10. Você considera adequada a justificativa, o argumento de Nita?

11. A brincadeira continua apesar de Nita não concordar com o fato de Zé ter se tornado o mestre. Esse fato marca o início de momentos de discordân-cia entre ela e os colegas. Qual foi o próximo?

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12. Por que ela não pode usar a forma “fazeremos”, segundo Zé?

13. Qual a justificativa de Nita para usar “fazeremos”?

Para continuar

O texto em contexto

O texto de 1977 de Ana Maria Machado ficou tão conhecido que até hoje é possível vê-lo em cartaz. No site de Ana Maria Machado, encontramos o seguinte texto sobre a obra:

“Bento que Bento é o Frade

Bento que bento é o frade!Frade!Na boca do forno!Forno!Cozinhando um bolo!

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Bolo!Fareis tudo que seu mestre mandar?Fazeremos todos!

Fazeremos? Será que, na hora de brincar, existe algum problema de não se fazer exatamente tudo que o mestre mandar?

Será que tem importância falar de um jeito esquisito e não conjugar o ver-bo certinho, como manda a professora?

E Salamê Minguê, o que quer dizer?Nita tinha esses e muitos outros questionamentos na ponta da língua. Per-

sonagem encantadora, cuja verdade deixou gamado até o mestre Drummond, Nita resolveu que não era obrigada a pensar exatamente como todos os de-mais.

“Bento que bento é o frade” originalmente foi escrito como uma peça infan-til chamada No país dos Prequetés, ganhadora do concurso de dramaturgia infantil do Teatro Guaíra. Sua adaptação literária foi o primeiro livro infantil de Ana Maria Machado a ser publicado, em 1977, pela editora Abril.

(Cartaz adaptado do original)

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Em 1979, a peça No país dos Prequetés foi encenada no Rio, com Sonia Braga no papel de Nita.

O livro falou de questionamento e obediência, liderança e consenso, so-lidariedade e mutirão numa época em que ainda não era fácil nem comum tratar de assuntos dessa natureza. Só mesmo uma figura alegre e corajosa como Nita para fazer o que ela fazia naqueles tempos!”

(Disponível em: <www.anamariamachado.com>.)

1. O texto nos mostra que Nita ficou conhecida como uma personagem questionadora que encantou até o “mestre Drummond”. Por que o autor usa a palavra “até” para falar de Drummond?

2. A peça foi encenada em 1979, no Rio de Janeiro, em que teatro?

3. No cartaz do teatro, o nome Sonia Braga vem em destaque. Por quê?

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4. Em que dia e horário acontece o espetáculo?

5. Logo a seguir da data do espetáculo, vem a frase “CURTA TEMPORA-DA”. O que isso significa?

Para continuar

A língua em contexto

Muitas vezes, ao nos comunicarmos, pode ocorrer um entendimento incor-reto por parte de nosso ouvinte/leitor (interlocutor). Assim, o cuidado com a forma de dizer o que desejamos coloca-nos atentos.

Durante a brincadeira “bento-que-bento-é-o-frade”, Juca pede para os co-legas fazerem um “bicho sem barulho”. Essa expressão pode ser entendida de duas formas:

A – Imitar um bicho sem fazer nenhum barulho para isso.B – Imitar um bicho que não emite/não produz nenhum barulho.

Para Juca, estava muito claro que se tratava de imitar um bicho em silên-cio, mas Nita diz:

“— Puxa, vocês não são mesmo capazes de adivinhar, é? É mesmo um bando de gente de cabeça enferrujada. Eu já ganhei, porque sou a única que

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estou mesmo fazendo tudo o que seu mestre mandou – um bicho sem baru-lho. Macaco é um bicho bem barulhento. Vive guinchando assim, ó… (imita, com muitos guinchos). E galo é outro. Todo dia a gente ouve a cantoria dele (imita). E pata choca, com todo esse quem-quem-quem… quer bicho mais cheio de barulho?”

Observe que ela diz ser a única a cumprir o que seu mestre mandou e enfatiza: “bicho sem barulho”, depois fala sobre os bichos imitados por seus colegas e afirma que todos são muito barulhentos.

Por que Nita pode entender a fala de Juca de maneira diferente dos amigos? Porque a expressão usada por ele possibilitou um outro sen-tido, ou seja, apresentou dois sentidos possíveis, o que chamamos de duplo sentido ou ambiguidade:

Ambiguidade: duplicidade de sentidos que um texto pode apresentar.

Observe o exemplo a seguir:

NÍQ

UE

L N

ÁU

SE

A

GONSALES, Fernando. Níquel Náusea: tudo que balança cai! São Paulo: Devir, 2003.

Na tirinha acima, vemos a coruja chamar o rato para ver os filhotes dela, e o rato responde: “Bah!”, o que indica algo incerto, como se ele duvidasse do que ela fala. Em seguida afirma: “As corujas sempre acham seus filhotes lindos!”

Ao analisarmos essa fala do rato, temos aí um duplo sentido:

A – O fato de a coruja (ave) dizer que os filhotes são lindos e querer que o rato os veja.

B – O fato de a palavra coruja também ser usada para dizer que alguém tem muita admiração e muito orgulho dos próprios filhos.

Note que, no último quadrinho, a coruja ainda tenta convencer o rato dizen-do: “É sério!”, mostrando que de fato agora ela fala como alguém não “coruja” ou “admiradora” dos próprios filhotes.

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1. No último quadrinho, a coruja ainda diz “Desta vez é verdade!!”. O que podemos concluir dessa frase?

2. A coruja consegue convencer o rato? Justifique.

Nita, além de questionar a expressão usada por Juca, usa a forma “fa-zeremos” para responder à pergunta do mestre. Nesse momento, todos os amigos a corrigem, mostrando que o certo seria “faremos”, de acordo com a conjugação do verbo. E o que significa conjugação do verbo?

Verbo: é uma palavra que expressa ação, estado, fato ou fenômeno me-teorológico, sempre em relação a um determinado tempo.

“Juca Fareis tudo que seu mestre mandar?Todos Faremos todos.”

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As palavras grifadas podem ser classificadas como verbos porque indi-cam ações que são/serão feitas pelas crianças. Observe que temos a forma “fareis/faremos”, isso indica que o verbo fazer possui uma forma diferente para cada sujeito ou pessoa do verbo:

Pessoas do verbo fazerSingular Plural1a pessoa = Eu faço Nós fazemos2a pessoa = Tu fazes Vós fazeis3a pessoa = Ele/ela faz Eles/Elas fazem

Agora é sua vez!

3. Identifique e grife os verbos no trecho a seguir. Depois, copie-os.

“É esse negócio de mandar, mandar e a gente fazer. Fazer tudo que seu mestre mandar. Tudo o que manda el-rei Nosso Senhor. Todo mundo tem mania de ficar mandando em crianças sem parar. E a gente só ali, obedecen-do, obedecendo sem cansar. Mas acho que eu cansei.”

4. Encontre, no trecho anterior, os verbos usados na primeira pessoa do singular (eu) e registre-os a seguir:

5. Como ficariam os verbos do exercício anterior na primeira pessoa do plural?

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Para continuarProdução de texto

Nita nos faz lembrar de outra personagem criada por um autor brasileiro. Leia trechos do livro Reinações de Narizinho sobre

essa personagem:

Emília foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa. Apesar disso, Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha entre dois pés de cadeira.

Você se lembra dela? Sim, trata-se de Emília, personagem criada por Montei-ro Lobato, que ficou famosa por questionar tudo e todos. Essa boneca era muda até que o doutor Caramujo lhe deu uma pílula:

Emília engoliu a pílula, muito bem engolida, e começou a falar no mesmo instante. A primeira coisa que disse foi: “Estou com um horrível gosto de sapo na boca!” E falou, falou, falou mais de uma hora sem parar. Falou tanto que Narizinho, atordoada, disse ao doutor que era melhor fazê-la vomitar aquela pílula e engolir outra mais fraca.

Agora é sua vez! O que Emília deve ter falado depois que engoliu a pílula? Com quem conversou? Quais foram as perguntas feitas? Escreva um texto narrando essa conversa. Lembre-se de que Emília é questionadora, criativa e teimosa.

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Para casa

1. Observe a tirinha a seguir e responda ao que se pede.

NÍQ

UE

L N

ÁU

SE

A

Fernando Gonsales

a) No primeiro balão, ao dizer que eles só não vão aceitar um tipo de pirata, o que é possível entender?

b) A resposta de outra personagem mostra que falam do DVD do filme Piratas do Caribe 3. Qual palavra produziu o duplo entendimento? Por quê?

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c) Por que eles não vão tolerar?

d) Há um erro de ortografia no quadrinho, qual é ele? Faça a correção.

2. Observe:

2009

KIN

G F

EAT

UR

ES

SY

ND

ICAT

E/IP

RE

SS

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a) No primeiro quadrinho, Hagar tenta convencer o filho a comer, dizendo que “é preciso aceitar o amargo junto com o doce”, o que nos leva a pensar que ele está falando dos problemas que encontramos na vida. Isso se comprova no segundo quadrinho? Justifique.

b) Podemos dizer que a fala de Hagar, no primeiro quadrinho, apresenta ambiguidade, duplo sentido? Por quê?

Para finalizar

O que aprendi no capítulo 8? Assinalar

Identifico as características do gênero dramático.

Sei identificar a ambiguidade.

Identifico as pessoas do verbo.

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Uni duni têPortuguês 9C

apítu

lo

Para começar

Neste capítulo, estudarei as características da narrativa de suspense policial e do advérbio.

Uni, duni, têSalamê MinguêEntraram no barraco do Zé do Cravo. Abriram a geladeira. Um, dois e

três… O salame minguou. E lá se foi o sorvete colorido. Deixaram um bi-lhete em código:

“Uni, duni e têSalamê minguêUm sorvete colorêUni, duni e tê”.

O Cravo e a RosaZé do Cravo se chamava Zé da Silva até que arranjou um cravo no pé,

que doía o bastante para fazer mancar. Foi aí que ganhou o apelido. E gostou. Comprou um paletó de segunda mão e passou a usar um cravo na lapela. Pois bem. Ele se apaixonou pela Rosa […] De cara, a pediu em casamento.

Casaram? Que nada! Namoram e brigam. […] Há anos. […] Há décadas! A última briga foi debaixo de uma sacada. O Cravo saiu ferido e a Rosa despe-daçada. O Cravo ficou doente. A Rosa foi visitar. O Cravo teve um desmaio e a Rosa pôs-se a chorar.

O gato mudoNaquele dia, 19 de janeiro de 1981, às 6h15 da tarde, Zé do Cravo subia

o morro quando parou para conversar com Dona Xica, que carregava no colo o seu gato mudo.

O assunto foi: medo de ladrão, falta de dinheiro, o preço do salame e o tanto que o gato gostava de salame. […]

Zé do Cravo se despediu e seguiu para sua casa. Lá, encontrou a janela aberta, a geladeira vazia e um bilhete em código. Ficou tão furioso que

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começou a gaguejar. Só que em vez de gaguejar no princípio, como é cor-rente, gaguejava no final:

— Eu mato-to-to esse ladrão de salame-me-me! — gritava com um pe-daço de pau na mão.

Neste instante apareceu na janela o gato mudo da Dona Xica.

Na delegacia[…] Zé do Cravo depôs na delegacia:— Atirei o pau no gato-to-to, mas o gato-to não morreu-reu-reu…E o resto vocês já sabem. A polícia não prendeu ninguém. Afinal o gato

tinha até recuperado a fala. E ficou esclarecido que ele, o gato, não era o autor do roubo, já que não escrevia, nem sabia nenhum código.

Senhora viúvaDona Xica era viúva. E tinha saudade do Totó, o falecido. Por isso, cha-

mava de Totó o gato que não escrevia, nem sabia código, embora não fosse mais mudo.

Ia saindo da delegacia com o gato Totó no colo quando viu entrar um finíssimo senhor, […] resolveu voltar e ver o que se passava.

O que se passavaO elegante rapaz era filho do conde. E vinha fazer uma acusação séria.

Um general andava assaltando sua geladeira e deixando mensagens inde-cifráveis. […]

— Algo assim: uni, duni e tê…O delegado anotou a mensagem no papel. Despediram-se cerimonio-

samente e o filho do conde foi embora. Aí, o delegado embolou a folha de papel, […] e jogou uma, duas, três vezes para o ar, com a palma da mão.

Neste instante…Neste instante, chegou um general numa belíssima farda. Como Dona

Xica não tinha, mesmo, nadinha para fazer, resolveu esperar para ver o que se passava desta vez.

O que se passava desta vezO general foi direto ao assunto. Que fossem feitas averiguações. O filho

do conde tinha assaltado sua casa e deixado um bilhete em língua estran-geira. Com certeza, francês. E entregou o bilhete ao delegado, que leu franzindo a testa, […]

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— Uni, duni e tê…Mas assim que o general foi embora, o delegado fez uma bola com o

pedaço de papel e jogou para o ar.

Com quem quereis se casarO gato Totó estava brincando com as duas bolinhas de papel. Dona

Xica, suspirando. O delegado vendo Dona Xica suspirar. Até que cansou de espiar e perguntou, irônico:

— Dizei, senhora viúva, com quem quereis se casar. Se é com o filho do conde ou se é com o senhor general.

[…]— Não é com nenhum desses homens. Eles não são para mim. Eu sou

uma pobre viúva. Triste e coitada de mim.

Samba LelêO nome do delegado é Levivaldo. Mas o apelido é Samba Lelê, apesar

da barriga, ele dança na Escola de Samba Barra da Saia. Só esta semana ele recebeu sete queixas de bilhetes em código.

São sete bilhetes mesmoO delegado já tinha recebido as queixas do bilhete do Zé do Cravo, do filho

do conde e do senhor general.Depois foi o bilhete da Terezinha de Jesus e mais três: o primeiro do seu

pai, o segundo do seu irmão e o terceiro daquele que Tereza deu a mão. Por sinal, moram todos juntos no mesmo barraco. Dona Xica mora lá tam-bém. O pai de Tereza era o pai do falecido Totó…

LAGO, Angela. Uni duni tê. São Paulo: Moderna, 2005.

Para continuar

Conversa sobre o texto

1. Angela Lago utiliza-se de várias parlendas e cantigas para compor sua obra. Quais são elas?

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2. Ao reunir todas as parlendas e cantigas anteriores, Angela Lago compõe uma nova história. Qual o tema dessa história?

3. Como se chamava Zé do Cravo e por que ele recebeu esse apelido?

4. No momento em que Zé do Cravo descobriu o roubo em sua casa, co-meçou a gaguejar no fim da frase. Há algumas das parlendas ou cantigas que você citou que possuem esse recurso de gaguejar?

5. Quando Zé do Cravo vai à delegacia, ele começa a contar ao delegado o que fez, e o narrador diz “e o resto vocês já sabem”. Por que ele afirma isso?

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6. Logo depois do roubo na casa de Zé do Cravo, o filho do conde e o ge-neral vão até a delegacia fazer queixa do assalto em suas geladeiras. Quem eles acusavam?

7. O ladrão sempre deixava um bilhete considerado indecifrável. O que di-zia o bilhete?

8. Logo após as vítimas saírem, o delegado faz uma bolinha com o pedaço de papel. O que isso indica?

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9. Observe a imagem do delegado:

A posição em que ele se encontra demonstra o quê?

10. Cada parte da história recebe um subtítulo. Por que você acha que eles foram colocados?

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Para continuar

O texto no contexto

Encontrar o autor de um crime nem sempre é mais importante do que desvendar todas as pistas deixadas pelo criminoso. Normalmente, a nar-rativa de suspense trabalha com a construção de cenário que colabora e define os acontecimentos. Na história de Angela Lago, a desavença entre o general e o filho do conde traz indícios de que as suspeitas deles podem ser infundadas.

Há uma famosa história de Conan Doyle, criador de uns dos detetives mais famosos da história da literatura, Sherlock Holmes, em que alguns assassi-natos são atribuídos a um cão. Vamos conhecer mais sobre essa obra que virou tema de filme?

ELEMENTAR, MEU CARO WATSON

Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) é um escritor escocês que ficou mui-to conhecido pela criação de Sherlock Holmes, um detetive inteligente, as-tuto, especialista em desvendar casos de difícil solução. Uma das famosas histórias com esse detetive é O cão dos Baskervilles, livro que serviu de inspiração para várias produções do cinema.

Numa versão, o filme começa com a narração do médico Dr. Richard Mortimer sobre a lenda do “Cão dos Baskervilles”. Para tanto, fala-se de Sir Hugo Baskerville, um nobre excêntrico, acostumado a reunir seus amigos de bebida em sua mansão, em Dartmoor, interior da Inglaterra. Durante essas reuniões, ele exibe seu comportamento arrogante e autoritário. Sir Hugo também era um homem violento, perverso, ateu, de humor cruel e ameaçador, características que lhe trouxeram o desprezo de pessoas de todo o país. Ele foi encontrado morto violentamente e a seu lado havia uma grande pata de um cão. Essa seria a desgraça de sua família, que estaria marcada para morrer.

Nas redondezas dessa mansão amaldiçoada, um homem, Sir Charles, é encontrado morto, com o rosto marcado por um olhar de terror. As circunstân-cias de sua morte são misteriosas e Dr. Mortimer busca os serviços profissio-nais do detetive Sherlock Holmes e de seu fiel parceiro, Dr. John H. Watson.

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PH

OTO

12/A

FP

A dupla tem como tarefa desvendar a maldição da lenda do “Cão dos Baskervilles” e tentar evitar que a maldição faça sua próxima vítima: o úl-timo descendente vivo da família, Sir Henry Baskerville. Ele deseja tomar posse da mansão, que está sob os cuidados de um velho casal de empre-gados.

O filme mostra, então, uma história de vingança e maldição na forma de uma lenda envolvida em acontecimentos sobrenaturais.

Vale lembrar que, nesse filme, o astuto detetive não deixou de dizer a Dr. Watson, seu amigo assistente, a frase célebre dita durante suas investiga-ções de casos aparentemente insolúveis: “Elementar, meu caro Watson”.

PH

OTO

12/A

FP

Cena do filme O cão dos Baskervilles

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1. Qual é a lenda do cão dos Baskervilles?

2. O detetive Sherlock e seu assistente Watson são chamados para des-vendar o caso. Que desafio eles têm pela frente?

3. Qual frase de Sherlock Holmes ficou conhecida até hoje?

4. Ao compararmos a postura de Sherlock Holmes e a do delegado Samba Lelê do texto anterior qual a principal diferença?

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Para continuar

A língua em contexto

Os acontecimentos da história de Angela Lago ganham cada vez mais suspense até chegarmos aos sete bilhetes entregues ao delegado. As ações ocorrem progressivamente e, a cada momento, uma vítima vai até a delega-cia fazer sua queixa.

Para o leitor se localizar diante desses fatos, foram colocados subtítulos que indicam explicações, lugares e tempo. Essas palavras ou expressões podem indicar as circunstâncias nas quais os fatos ocorreram, observe:

Na delegaciaAinda transtornado pela raiva, Zé do Cravo depôs na delegacia.

Tanto o subtítulo quanto o trecho grifado indicam o local onde os fatos aconteceram. Outras palavras mostram o momento em que tudo ocorreu:

Neste instante…Neste instante, chegou um general numa belíssima farda…

No exemplo anterior, a expressão do subtítulo e a expressão grifada indicam o tempo em que as ações ocorreram. As palavras que acrescentam circuns-tâncias aos fatos são chamadas de advérbios.

Advérbio é uma palavra que modifica o sentido do verbo, do adjetivo e de outro advérbio.

Vejamos outros exemplos:

Entraram no barraco do Zé do Cravo. – indica lugar onde ocorre o fato.Zé do Cravo se despediu e seguiu para sua casa. Lá, encontrou a janela

aberta… – indica lugar – a casa de Zé do Cravo.

Dependendo da circunstância que ele acrescenta (de modo, lugar, tempo, negação, afirmação, dúvida, intensidade ou quantidade) o advérbio recebe uma classificação diferente.

1. Agora é sua vez de identificar a circunstância apresentada pelo advérbio grifado:

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a) Naquele dia, 19 de janeiro de 1981, às 6h15 da tarde, Zé do Cravo subia o morro…

b) Ficou tão furioso que começou a gaguejar.

c) E ficou esclarecido que ele, o gato, não era o autor do roubo, já que não escrevia, nem sabia nenhum código.

d) Provavelmente em códigos usados em tempo de guerra.

e) Despediram-se cerimoniosamente e o filho do conde foi embora.

f) Com certeza, francês.

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Para continuar

Produção de texto

Ao terminar de ler o texto de Angela Lago, você deve ter se perguntado: afi-nal, quem vinha praticando os roubos e deixando a mensagem indecifrável? Vamos conhecer agora o fim da história?

O criminoso era o menos suspeito de todos: o delegado. Todas as pistas nos levavam até o gato, que quase morreu e não era o culpado. Procure o livro, leia-o até o fim! Agora é sua vez de criar uma história de suspense. Lembre-se de usar elementos desse tipo de história; por exemplo, um cená-rio assustador e um mistério a ser desvendado.

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38

Para casa

1. Observe a página de um site da Internet:

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OTO

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a) Qual o nome do site?

b) Que tipo de livro essa livraria vende?

c) Quais palavras que aparecem na página estão relacionadas a suspense?

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d) Que imagens do site reforçam a ideia de suspense?

2. Leia a contracapa de O cão dos Baskervilles, de Arthur Conan Doyle, da editora Melhoramentos:

“Nos pântanos que cercam a mansão de Dartmoor, um animal fantasmagó-rico espalha terror. Alucinação coletiva? Um monstro de verdade surge da noite dos tempos? Manipulação e sombria vingança? Os cadáveres se mul-tiplicam. O fiel Dr. Watson confessa-se vencido, mas Holmes enfrenta o de-safio e enfrenta o enigma em condições aterradoras. Sir Arthur Conan Doyle nasceu em Edimburgo, na Escócia, em 1859, e morreu em Cowborough (Sussex), Inglaterra, em 1930. Médico especialista em oftalmologia, criou o detetive Sherlock Holmes, cuja primeira aventura (Um estudo em vermelho) foi publicada em 1887 pela revista Corhill Magazine. Rapidamente, o detetive e seu assistente, Dr. Watson, tornaram-se um verdadeiro fenômeno internacio-nal consagrando seu autor como o criador do maior personagem dos roman-ces policiais de todos os tempos.”

Copie as expressões anteriormente grifadas e registre a seguir quais cir-cunstâncias elas acrescentam ao texto:

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Para finalizar

O que aprendi no capítulo 9? Assinalar

Identifico o diálogo entre os textos.

Identifico as características do gênero suspense policial.

Sei reconhecer os advérbios e suas circunstâncias.

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A revolta das palavrasPortuguês 10C

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Para começar

Neste capítulo, estudarei o fato de que as palavras podem ter diferentes sentidos. Além disso, conhecerei as diferenças entre texto literário e não literário.

A revolta das palavras

Como as personagens desta história são palavras, nada mais natural que ela aconteça nas páginas de um dicionário.

O dicionário é uma espécie de pomar. Só que as suas árvores, em vez de serem árvores de frutas, são árvores de palavras.

Cada uma das letras do alfabeto é uma árvore onde estão penduradas as palavras que começam por essa letra. Assim abacate pertence à letra A, banana à letra B, caqui à letra C, e assim por diante.

A ordem por letra inicial, isto é, a ordem alfabética, ajuda a gente a en-contrar rapidamente as palavras quando quer descobrir o que cada uma delas significa.

Por exemplo, vocês sabem o que significa ábaco? Se não sabem, é só ir ao dicionário, procurar a letra A, localizar nela ábaco, e ler a sua defi-nição.

Aí ficarão sabendo que ábaco é uma moldura com arames, ao longo das quais há bolinhas coloridas que a gente pode movimentar. Movimentando essas bolinhas, conseguimos fazer rapidamente somas e subtrações.

Pois bem: o dicionário só funciona quando cada palavra está correta-mente classificada pela sua letra inicial. Se estiver classificada por engano em alguma outra letra, aí é muito difícil achá -la.

Mas a dificuldade será muitíssimo maior se a definição da palavra estiver trocada.

Imaginem, por exemplo, que vocês vão procurar na letra V a definição de verdade e lá encontram isto: “Ideia, juízo ou opinião falsos”.

Claro que essa não é a definição de verdade, e sim a definição de men-tira, pois falso é aquilo que não é verdadeiro.

Felizmente, nos dicionários, isso nunca acontece. Mas costuma aconte-cer muito na vida fora do dicionário. E, toda vez que acontece, engana as pessoas e desmoraliza ou bagunça o significado das palavras.

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Foi por causa disso que houve a Revolta das Palavras. Um dia, elas se cansaram de estar sendo usadas de maneira errada por pessoas sem escrúpulos, que só queriam tirar vantagens para si, sem se importar de causar prejuízo aos outros.

Certa noite, numa hora em que os dicionários não estavam sendo usa-dos, elas fizeram uma reunião. A reunião foi presidida pelas duas palavras mais prejudicas pelo mau uso — ou seja, a Verdade e a Mentira.

— Minhas irmãs — disse a Verdade —, nós precisamos tomar provi-dências para acabar com os abusos na maneira como somos usadas. A mim, me usam constantemente as pessoas desonestas quando querem se aproveitar da ingenuidade de gente de boa -fé.

— É isso mesmo — confirmou a Mentira. — Os desonestos também abusam de mim quando chamam de mentiroso alguém que diga algo ver-dadeiro que possa prejudicá -los. E, embora eu não queira, sou obrigada a servir de disfarce das más intenções deles.

Para acabar com esses abusos, minhas irmãs — concluiu a Verdade —, só há uma solução. De agora em diante, todas nós devemos nos recusar a ser mal -usadas. Assim, quando alguém quiser dizer ou escrever uma mentira disfarçada de verdade, não conseguirá. Porque, em vez de eu apa-recer, mandarei no meu lugar a Mentira.

— E se um desonesto — confirmou a Mentira — quiser chamar uma verdade de mentira, não adianta me chamar que eu não irei. No meu lu-gar mando a Verdade. Vocês todas, façam isso também, não se deixem explorar.

As outras palavras bateram palmas para a proposta das duas presiden-tas e juraram, a uma só voz, que cumpririam ao pé da letra o que ficara combinado na reunião.

No dia seguinte começaram a acontecer as coisas mais estranhas pelo mundo afora.

Enquanto tomava o seu café da manhã, o Industrial teve a pior surpresa de sua vida quando abriu o jornal e leu o anúncio que mandara publicar. Bufando de raiva, telefonou imediatamente para o Publicitário:

— Você é um incompetente, um irresponsável! Como teve a audácia de escrever, no anúncio que redigiu para a minha indústria, que os nossos produtos estão muito longe de ser os melhores do mundo?

— Eu nunca escrevi isso! Só poder ter sido erro do jornal! — respondeu, aflito, o Publicitário.

Por telefone, o Industrial reclamou com o Dono do Jornal.

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— Na hora de ser impresso, o anúncio foi conferido e estava tudo em ordem. Só pode ter sido sabotagem de algum agitador ou coisa de feitiça-ria! – justificou -se, consternado, o Dono do Jornal.

Nessa mesma hora, o Comerciante estava arrancando os cabelos de raiva porque, na fachada do seu supermercado, havia um cartaz escan-daloso. Em vez de dizer que os preços dos produtos ali vendidos eram os mais baixos, dizia que eles eram iguais ou até um pouco mais altos que os dos outros supermercados.

E o susto do Político entrevistado pela televisão quando disse diante das câmeras, sem saber por que nem como, que não cumpriria nenhu-ma das promessas feitas aos seus eleitores e que se elegera apenas para ganhar dinheiro?

Eu poderia ficar horas e horas contando muitos outros fatos estranhís-simos acontecidos naquele mesmo dia. Aconteceram a quem, como o In-dustrial, o Publicitário, o Dono do Jornal, o Comerciante e o Político, cos-tuma dizer mentiras publicamente, com a maior cara de pau, só para se aproveitar da boa -fé dos outros.

Mas se eu fosse contar tudo isso, a história da Revolta das Palavras ia ficar comprida demais, e eu sei que ninguém gosta de histórias muito esti-cadas, cheias de repetições.

Por isso, vou apenas acrescentar que nesse mesmo dia inesquecí-vel a Incompreensão foi fazer uma queixa à Verdade e à Mentira. Re-clamou que o Poeta continuava mentindo sem que nada acontecesse com ele.

— Imaginem vocês que ele escreve “A laranja madura é um sol sobre a mesa”! Onde se viu confundir uma bola pequena como a laranja com uma bola enorme como o sol? E se a laranja fosse tão quente como o sol, a mesa pegava fogo na mesma hora!

— Não é bem assim — explicaram a Verdade e a Mentira — a poesia diz as coisas de modo original, tão fora do comum, que parece estar mentindo o tempo todo. Mas pense bem: não é o sol que amadurece as frutas? E o amarelo brilhante da laranja não é como o amarelo do sol que tivesse des-cido do céu até a terra?

Ah! eu quase ia esquecendo de dizer que tudo isso aconteceu num dia 2 de abril.

Isso porque, se o dia 1o de abril é o Dia da Mentira, nada mais justo que o dia seguinte sirva para desmenti -lo e fique marcado no calendário, de hoje em diante, como o Dia da Desmentira.

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Na manhã do Dia da Desmentira, as bibliotecárias de todas as biblio-tecas do mundo fugiram apavoradas de seus locais de trabalho porque, quando chegaram lá, os dicionários estavam às gargalhadas, fazendo uma barulheira de estourar ouvido de surdo e de pôr fantasma para correr.

Talvez vocês estejam pensando aí com os seus botões que, afinal de contas, se durou apenas um dia, a Revolta das Palavras não adiantou coi-sa alguma.

Mas se pensam assim, se enganam.De agora em diante — eu aposto —, todos vão prestar mais atenção

no que dizem às pessoas aproveitadoras, para ver se elas estão mesmo dizendo a verdade quando prometem mundos e fundos.

Sempre que vocês fizerem isso, lembrem -se de encostar bem o ouvido ao dicionário. Talvez consigam escutar lá dentro uma porção de risadinhas.

PAES, José Paulo. A revolta das palavras: uma fábula moderna. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1999.

Para continuar

Conversa sobre o texto

1. Logo no começo da história, o narrador nos diz que o dicionário é uma espécie de pomar. Por que ele faz essa comparação?

2. Qual a vantagem de as palavras estarem organizadas em ordem alfabé-tica no dicionário?

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3. Além de as palavras virem em ordem alfabética, que outro fator é impor-tante quando procuramos as palavras no dicionário?

4. A troca da definição das palavras nunca acontece no dicionário, mas fora dele ocorre sempre, por quê?

5. Quais são as palavras que mais sofrem com essas trocas?

6. Por causa da troca de significados houve a Revolta das Palavras. Em que consistiu essa revolta?

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7. Depois da reunião, as palavras juraram que cumpririam “ao pé da letra” o que haviam combinado. O que significa essa expressão?

8. O que aconteceu depois dessa revolta?

9. Por que o Industrial, o Publicitário e o Comerciante tiveram seus textos alterados?

10. Apenas uma pessoa não foi atingida pela revolta. Quem foi?

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11. Por que essa pessoa não sofreu com a revolta das palavras?

12. A revolta durou apenas um dia, mas isso não significa que ela não foi importante. O que ela trouxe de benefício?

Para continuar

O texto no contexto

Como as palavras são usadas em alguns momentos sem a preocupação com o verdadeiro significado delas, surgiu a expressão “mentiras que pare-cem verdades”, que deu nome a um livro e a uma lista de frases que são ditas sem serem de fato verdade. Vamos conhecer algumas delas?

• Diamantes são pedras preciosas que duram para sempre. Na verdade, se os diamantes forem aquecidos a 4.500 °C, eles podem derreter.

• O Mar Morto é um mar. Nada disso, trata -se de um lago muito grande e muito salgado, que fica na Jordânia.

• Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. A probabilidade de isso ocorrer é pequena, mas existe.

• O urso coala é tão fofinho! Sim, ele pode ser fofo, mas não é urso. Trata -se de um marsupial, parente do canguru.

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Você deve ter observado que todas as frases anteriores são usadas pelas pessoas como se fossem verdades e, de tanto serem ditas e repetidas, aca-bam ganhando essa característica.

1. Você já ouviu algumas dessas frases? Qual(is)? Em que situação?

2. Pesquise outras “mentiras que parecem verdades” e anote -as.

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Para continuar

A língua em contexto

Usar o dicionário para encontrar o significado de uma palavra ajuda a re-solver alguns erros de entendimento de texto ou mesmo de ortografia.

Muitas vezes as palavras ganham um sentido diferente no contexto em que estão inseridas. Assim, podemos dizer que existe verdade ou mentira num texto jornalístico ou científico, mas não podemos afirmar isso quando falamos de um texto literário.

O texto literário trabalha com a linguagem em seu sentido próprio e, também, no sentido figurado, ou seja, pode dar a ela um sentido original.

O texto não literário trabalha com a linguagem em seu sentido próprio, empregando as palavras de acordo com as definições do dicionário.

Vejamos alguns exemplos:

Texto A – Quatro historinhas de horror1.Por ter sido criado em laboratório,Frankenstein não teve mãe.

Isso lhe dava complexo,especialmente no dia das mães.

Nesse dia, voltou ao laboratórioe pediu uma mãe biônica.

Quando a viu pronta, ficou tão encantadoe a abraçou com tanto amor

que a sufocou. Antes de morrer, a mãedisse ainda, num suspiro:

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“Como é doído… ser mãe… de Frankenstein…”

2.Era uma vez um vampirotão bem -educado, mas tão bem -educado,que toda vez que sugavao sangue de uma pessoanão esquecia de dizer: “Muito obrigado”.

3.Certa noite eu sonhei que embaixo da cama havia um monstro medonho.Acordei assustadoe fui olhar: de fato,embaixo da cama estava um monstro medonho.Ele me viu, sorriue me disse, gentil:“Durma! Sou apenas o monstro dos seus sonhos”.

4.Aquele fantasma que assombravaum belo castelo,mas vivia sempre sujo e desleixado,foi rebaixado,por causa disso,a assombração de depósito de lixo.

PAES, José Paulo. É isso ali. 2.ed. Rio de Janeiro: Salamandra, 1993.

1. Por que esse conjunto de pequenos poemas recebeu o nome de Histo-rinhas de horror?

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2. Quem são as personagens dessas historinhas de horror?

3. Observe que, ao contar as quatro historinhas, o poeta brinca com a lin-guagem, usando a rima para isso. Qual rima temos na história 4?

4. Leia a seguir a definição de monstro e vampiro no dicionário:

Monstro: ser disforme, fantástico e ameaçador, descomunal, que pode possuir diversas formas.

Vampiro: corpo de um morto que, segundo tradição lendária, à noite se reanima e sai do túmulo para sugar o sangue dos vivos.

Volte às histórias 2 e 3 e verifique se o vampiro e o monstro de José Paulo Paes se encaixam nessas definições. Registre sua conclusão a seguir:

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Texto B – Os monstros estão à solta

Um dos gêneros mais prolíficos do cinema, o horror, divide opiniões ao narrar histórias fantásticas que mexem com a emoção do público e cau-sam sensações incômodas. Medo e diversão de mãos dadas ganhando destaque na 1a edição da Maratona de Cinema.

Terror, pavor, pânico e susto. Resumindo em uma única palavra, medo. Princípio elementar do cinema de horror, o medo é um dos sentimentos mais básicos do ser humano e é a mola -mestra de um tipo de filme que causa calafrios e assusta. Para os de estômago fraco, um gênero a ser evitado. Para os que se aventuram no gore, no slasher ou no splatter, pro-duções recheadas de ameaças fantásticas, monstros aterradores ou seres humanos com comportamentos disfuncionais estão à disposição. Tudo em nome do terror e, claro, da diversão.

Em uma espécie de homenagem ao gênero, Fortaleza é tomada por eventos macabros, bizarros e apavorantes. O principal deles é a primeira edição da Maratona de Cinema, que toma conta, de 11 a 23 de agosto, da telona do Centro Cultural Sesc Luis Severiano Ribeiro. O evento traz duas mostras relacionadas ao gênero: O Hitchcock que você nunca viu e O es-tranho e maravilhoso mundo do horror, com filmes pouco conhecidos do diretor inglês e obras de referência do gênero pinceladas de 11 diferentes nacionalidades que cobrem cerca de 80 anos de história (1911 a 1983).

Fábio Freire. Disponível em: < http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=560464>. Acesso em: 15/2/2009.

Gore: Filmes com extrema e explícita violência física, mem-bros decepados, tripas escorrendo de sangue jorrando.Prolíficos: Produzidos em grande quantidade.Slasher: Filmes sobre matança, geralmente com psicopatas e serial killers, que não têm pena de passar a faca, facão, ser-ra elétrica ou qualquer objeto cortante nas suas vítimas.Splatter: Tipo de filme gore tão exagerado que se torna ab-surdo e cômico.

5. O que as pessoas esperam encontrar quando vão assistir a um filme de horror?

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6. Os filmes de horror são classificados em gore, slasher e splatter. Por que há essa divisão?

7. O splatter chega a ser quase um filme de humor, por quê?

8. O texto Os monstros estão à solta tem qual objetivo?

9. Ao compararmos o texto A com o B, percebemos que ambos tratam de assuntos semelhantes? Justifique.

10. Qual dos textos podemos classificar como não literário? Por quê?

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Para continuar

Produção de texto

O desejo das palavras de não serem usadas de forma indevida mostra que muitas vezes as pessoas usam a palavra sem compromisso com a verdade.

Verificar as informações que recebemos é dever de cada um, já que algu-mas pessoas inventam ou até mesmo mentem em benefício próprio.

Dizer a verdade, nada mais que a verdade, vem se tornando cada vez mais difícil atualmente, pois as pessoas justificam as falhas ou as faltas por meio das mentiras.

Algumas mentiras que parecem verdades vêm sendo desmentidas. Agora vamos ler um artigo da revista Ciência Hoje sobre outras possíveis mentiras:

Verdade ou mentira?

Pó de borboleta cega? Sucuri come boi? Descubra a resposta aqui!Ratos velhos viram morcegos, sapos lançam veneno nos olhos das pes-

soas, cobras podem comer bois inteiros… Ufa! Quantas lendas existem sobre os animais! Se você parar para pensar, aposto que vai se lembrar de mais algumas, envolvendo aranhas, sapos, cobras ou qualquer outro bicho temido. Afinal, eles são presença certa na imaginação popular. Sabia, po-rém, que poucas dessas histórias são verdadeiras?

Não podia mesmo ser diferente, já que lendas desse tipo são criadas pelas pessoas. Pensando que o desconhecido é o que estimula a invenção de histórias assim, o Zoológico do Rio de Janeiro criou um projeto para tentar esclarecer dúvidas sobre alguns animais e mostrar que muitos não devem ser temidos, porém, respeitados.

Como explica Adarene Motta, bióloga do zoológico e coordenadora do projeto Quem tem medo do lobo mau?, mitos como o do rato velho que vira morcego ou o do sapo que lança veneno são muito antigos e, por mais que às vezes pareçam absurdos, como são muito repetidos, acabam virando verdade para as pessoas. “Desde pequenos, os mais velhos ouvem essas histórias”, diz a bióloga. “Por esse motivo, os adultos tiveram mais medo ao interagir com alguns animais do que as crianças, que ainda estão apren-dendo sobre esses bichos.”

Interagir? Pois é, quem visitou o zoo durante esse projeto teve a oportu-nidade de tocar em cobras e morcegos. Os mais corajosos se adiantavam

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e tinham que ser contidos pelos biólogos para darem vez aos outros. Já os receosos precisavam de um certo estímulo para mexer com esses animais. Porém, o objetivo principal era tirar dúvidas sobre esses bichos. Então, va-mos esclarecer algumas das mais comuns:

Pó de asa de borboleta pode cegarAo manusear uma borboleta, fragmentos da asa desse inseto podem

ficar presos na sua mão. Se você coçar o olho depois, é possível que ocor-ra uma reação alérgica e nada mais. “Aconteceria o mesmo se entrasse poeira no olho”, explica Adarene.

Gambá que bebe cachaça Em alguns lugares do interior, para evitar que o gambá ataque as galinhas,

algumas pessoas deixam um copo de cachaça perto do galinheiro. Elas pen-sam que, assim, o animal vai consumir a bebida, ficar bêbado e não conse-guirá correr atrás da criação. Mal sabem elas, no entanto, que o bicho pode esbarrar na bebida, derramá -la e nem vale atacar as galinhas. O que ocorre, na verdade, é que o gambá é um animal noturno e fica bastante sonolento ao ser perturbado durante o dia, dando a impressão de que está bêbado. Daí que vem a expressão “bêbado como um gambá”.

Sucuris podem comer um boi Algumas fotos na Internet mostram enormes cobras engolindo bois. Po-

rém, elas não passam de montagens. De acordo com Adarene, as maiores sucuris, que podem medir até doze metros, conseguem apenas comer be-zerros ou animais de porte semelhante. “Por mais que elas tentassem, não conseguiriam abrir a boca o suficiente para engolir um boi”, explica a bióloga.

Sapo que lança veneno nos olhos das pessoasO sapo cururu tem duas glândulas chamadas paratoides que ficam atrás

de seus olhos. Nelas, realmente há uma substância venenosa, porém o bi-cho não tem capacidade de lançá -la em ninguém. O que pode acontecer é um cachorro desavisado morder o sapo nesse local. Quando acontece isso, a glândula é espremida e o líquido sai.

Aranha que faz teia não é venenosa Não é bem assim. Segundo a bióloga, apenas as aranhas que fazem teias

simétricas, aquelas bonitinhas, com desenho uniforme, não são venenosas.

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Aranhas que têm veneno também fazem teias, só que as que produzem são meio “bagunçadas”. A viúva -negra, por exemplo, é uma aranha extre-mamente venenosa e faz teias.

É importante saber também que alguns animais podem ser realmente perigosos. Adarene conta que, no zoológico, as crianças também foram orientadas a não mexer com animais sem saber quais os riscos que eles podem oferecer. Às vezes, bichos aparentemente inofensivos, como inse-tos, podem transmitir graves doenças. Então, nada de aprisionar insetos em vidros para mostrar aos amigos ou levar pequenos bichos para casa sem conhecê -los muito bem. Estamos combinados?

Júlio Molica. Disponível em. <http://cienciahoje.uol.com.br/51348>. Acesso em: 16/2/2009.

Depois de conhecer mais sobre esses animais que parecem ser muito assustadores, crie uma história na qual uma personagem acredita que mor-cegos viram vampiros e participa desse projeto do zoológico do Rio de Ja-neiro. Como ela se comportará durante a visita? Quais perguntas fará aos instrutores?

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Para casa

1. Leia o texto a seguir e classifique -o em literário ou não literá-rio:

No Brasil, mais de 40.000 pessoas morrem anualmente em acidentes de trânsito. Esses números podem ser maiores ainda, pois as estatísticas apre-sentam falhas. De acordo com o Anuário Estatístico das Rodovias Federais 2010, somente nas estradas paulistas, no ano de 2010, ocorreram 13.009 acidentes, com 359 mortos e 3.529 pessoas feridas.

2. Justifique sua resposta ao exercício anterior.

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3. Agora é sua vez! Procure em jornais e revistas dois textos: um literário e outro não literário e cole -os no espaço abaixo.

Para finalizar

O que aprendi no capítulo 10? Assinalar

Identifico texto literário e não literário.

Sei reconhecer o uso adequado das palavras dependendo do contexto.