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( ) Sexta-feira, 7 de agosto de 2015 .3 2. ESTADO DE MINAS A lógica capitalista neoliberal transforma a relação entre cidadãos e o espaço urbano em mercadoria, mas tem enfrentado um crescente movimento da sociedade que busca recuperar o espaço comum As disputas e lutas sociais pelo direito à cidade configuram-se como um “entre-lugar” que abre brechas para postos inovadores de colaboração e de contestação PARA LER MAIS A CIDADE VISTA: MERCADORIAS E CULTURA URBANA Mônica Stahel, WMF Martins Fontes, 2014 CIDADES REBELDES David Harvey, Martins Editora, 2014 REVISTA AU Editora Pini (au.pini.com.br) PARIS, CAPITAL DA MODERNIDADE David Harvey, Boitempo, 2015 TEORIAS E PRÁTICAS URBANAS, CONDIÇÕES PARA A SOCIEDADE URBANA Vários autores, Editora C/ Arte, 2015 A Por que alguém deve ler O capital? O que ficou ul- trapassado e o que se mantém atual no livro? Uma das primeiras razões para se ler O capital é que um livro é fabuloso, é incrível quando você se acostuma com alguns dos movimentos do estilo de Marx. É um peça maravilhosa da literatura. E porque tem algumas poderosas ideias analíticas que fazem com que você compreenda a vida ao seu redor. Muitas coisas n' O capital são bem con- temporâneas. Quando falo aos estudantes sobre as práticas contemporâneas de emprego em Bangla- desh e quando as fábricas entraram em colapso, não há diferença nenhuma sobre o que Marx falou e o que ocorre nesses espaços atualmente. Por que há cidades pelo mundo que se tornam lu- gares tão hostis para os seres humanos? E de que maneira a globalização afeta a vida e a estrutura das rotinas nas cidades? Cada vez mais, as cidades foram criadas para que o capital seja investido, não para que as pessoas vi- vam nelas. O capital não se importa com um am- biente decente para viver, mas se preocupa em ab- sorver muitos projetos, muito capital e fazer um projeto que dê muito lucro. Há muito deslocamen- to ocorrendo nas cidades, e isso, na verdade, é mui- to hostil. Um dos conceitos-chave que Marx fala é do tempo de giro do capital que significa uma ten- dência de qualquer capital continuar a estimular as coisas. O que significa que o tempo está sendo constantemente encolhido e comprimido e, na verdade, a vida nas cidades está ficando mais apressada em vários aspectos, pois o tempo de gi- ro está sendo impulsionado a se tornar cada vez mais rápido e rápido. E isso está colocando pressão no homem e na vida dele. Isso significa que as cida- des têm essencialmente se tornado reféns de um processo de circulação de capital que é acelerado, que temos de acelerar nossa vida e isso a torna mais estressante. Como essas mudanças têm afetado a vida nas cidades? As pessoas estão cada vez mais perdendo o contro- le da qualidade de suas vidas diárias. Isso significa que elas estão ficando alienadas em suas condições de vida e crescentemente alienadas nas condições de seu trabalho, que se tornou automático e sem sentido. Alienadas do processo político, pois as pes- soas sentem que não há uma consulta democráti- ca sobre grandes projetos ocorrendo nas cidades. Então, há uma alienação generalizada. Uma popu- lação alienada tende a ser muito passiva até que al- go acontece e eles ficam extremamente raivosos. Estamos vendo muitos protestos nas cidades, que levam a uma onda de violência, como Londres, Es- tocolmo, Paris, Istambul, aqui no Brasil. O que significa essa onda de violência? Esses momentos de violência são expressões de des- contentamento, o que sugere que devemos pensar em melhores maneiras de consultar as pessoas e elas se sentirem participantes da democracia e achar maneiras de criar novos significados em suas vidas. Encontramos indivíduos fazendo isso por meio da criação de institutos para definir significa- dos para suas vidas e novas maneiras de viver suas vidas ou se juntando a grupos religiosos, que confe- rem algum significado. Então, precisamos confron- tar tudo isso. E parar de nos concentrar em não ape- nas encontrar empregos para as pessoas, mas em- pregos significantes, não só casas, mas moradias de- centes em um ambiente culturamente rico. Como concebeu o “direito à cidade”? Isso é sobre como tentar estabelecer o direito de to- dos de ter o controle da natureza do conjunto ur- bano que o cerca. Não é o direito sobre algo que já existe. É o direito de mudar o que existe, é menos alienante, é algo mais enriquecido. Acho que esse direito à cidade deve pertencer a todos. O que ve- mos hoje são alguns moldando as cidades do jeito que querem e desejam, excluindo os outros da ci- dade. Quando falo sobre isso, tenho que falar sobre a luta de definir quem tem direito à cidade. Quero considerar o direito à cidade a todos aqueles que estão marginalizados e excluídos, o direito do alie- nado e do descontente de mudar a cidade, e então deixar de ser alienado e descontente. Então, para mim, é um movimento político que deve ser colo- cado junto no contexto de moradia, educação, saú- de, cultura e unificar um programa. Colocar juntos e juntos criar uma alternativa à urbanização, à ci- dade, que possa preencher os desejos e as necessi- dades em caminhos significantes. Como o senhor vê o movimento reivindicando es- paços para bicicletas e atividades culturais à luz do dia nas cidades? Gosto da diversidade nas cidades. Quanto mais di- versidade cultural, melhor. Gosto de algumas coisas de Nova York, há vários modos de vida lá. Há China- town, uma cidade chinesa. Há Koreatown, com ati- vidades da Coreia. Isso adiciona muitas cores à vida social. Quanto mais for construído, melhor. Precisa- mos ter mais espaços públicos, onde as pessoas pos- sam fazer coisas diferentes. Acho muito bom esse volta da bicicleta como forma de transporte, pois as pessoas estão fazendo exercício, não usam gasolina, e pode-se chegar mais rápido ao trabalho do que de carro. Ter pistas para bicicletas é muito bom, mas é preciso ter certeza de que elas estão no local certo e na posição certa. Temos que transformar a cidade em amiga das bicicletas, mas isso exige muita edu- cação dos motoristas e respeito. O que senhor acha das cidades do Brasil? Fiquei impressionado com a transformação que ocorreu no Brasil. Estive aqui há 40 anos. Todas as cidades que visitei nos anos de 1970 se transforma- ram no seu todo. O que é interessante como ocor- reu essa transformação. Foi construída em volta de autoestradas, condomínios e shoppings. Todos no Brasil insistem que no Brasil foi diferente. Mas dei- xe-me dizer: é o mesmo que aconteceu com todos. Foi o mesmo que aconteceu na Turquia, na Índia, no Canadá, nos EUA. Vocês não são diferentes, são exatamente cópias disso. Todos reclamam que o socialismo não tem diversidade, mas acho que o capitalismo é que não tem (risos). Como mudar a cidade de acordo com o nosso dese- jo? E como a especulação imobiliária tem promovi- do, como no Brasil, a campanha política? O mais importante agora é ter movimentos sociais fortes nas cidades, que estão preparadas para cola- borar nas mudanças das situações. Temos que ir pa- ra o lado de fora da política contemporânea, temos que ir para o lado de fora dos mecanismos de po- der político, que é sobre o poder do dinheiro, usa- do para legal ou ilegalmente corromper decisões políticas. E essa é a única coisa que vai mudar as ci- dades. Precisamos de movimentos sociais fortes e poderosos dizendo que queremos mudar a cidade, e queremos fazer dessa ou daquela maneira. Não tenho nenhuma fórmula, as pessoas têm que se unir, se consultar, falar, trabalhar e descobrir o que pode ser feito. Criar uma estrutura confederal para discutir como podemos fazer nossa cidade melhor de forma coletiva. DAVID HARVEY O direito a uma cidade humana SEVERINO FRANCISCO GRUPO INDISCIPLINAR B Br r a as sí í l l i i a a Com o processo vertiginoso de globalização, as cidades de todos os pontos do planeta foram assoladas pelos poderosos e milionários interesses da especulação imobiliária e dos megaprojetos de urbanização que desumanizaram os espaços urbanos. Ao mesmo tempo, surgiram mobilizações populares no sentido de preservar a qualidade da vida, de ocupar as vias com bicicletas, de garantir lugar para os pedestres e de frear o delírio dos interesses corporativos que enriquecem meia dúzia de pessoas espertas em detrimento do interesse público. O antropólogo inglês David Harvey é um dos mais importantes pensadores das questões urbanas na atualidade. Ele formulou um novo conceito de direito à cidade. Para Harvey, isso não se resume ao acesso aos bens existentes, mas sim ao direito de transformar a cidade em um lugar de todos e não de alguns privilegiados. Ele é autor de vários livros sobre o clássico O capital, de Karl Marx. O curso que concebeu sobre o livro de Marx, disponibilizado no site da Cuny, em 2008, já obteve mais de 700 mil acessos. No Brasil, foi lançado recentemente Paris, a capital da modernidade (Ed. Boitempo), em que analisa as transformações urbanas e culturais da cidade francesa no século 19. A globalização, a especulação imobiliária, a invasão das bicicletas e as mobilizações sociais pela qualidade de vida nas cidades são temas abordados nesta entrevista. “As cidades têm essencialmente se tornado reféns de um processo de circulação de capital que é acelerado. Isso significa que temos de acelerar nossa vida e isso a torna mais estressante” A metrópole biopolítica tendência neoliberal, que há três dé- cadas assola o mundo, marca-se por modos de manipulação do tempo e do espaço urbanos que implicam mutuamente o Estado e o mercado em formas híbridas de governança. A produção, nesta etapa do desenvolvi- mento capitalista, passa, de forma ca- da vez mais evidente, do antigo for- dismo fabril centrado na disciplina dos corpos nas fábricas a um pós-for- dismo imaterial, semiótico, calcado na produção e na difusão não de dis- ciplina e gestos mecânicos, mas de linguagens, desejos, modos de vida, serviços etc. Desse modo, toda a me- trópole e seus cidadãos conformam, para o capitalismo pós-fordista, o que a fábrica e os operários outrora foram para os donos dos meios de produ- ção. A cidade em toda a sua amplitu- de é o lugar do qual o capital extrai mais-valia e renda, expropriando e apropriando-se tanto do comum ma- terial (terra, ar, água, natureza) quan- to do comum imaterial (linguagens, modos de vida e de trabalho) para o seu funcionamento maquínico. Bas- ta observarmos nosso cotidiano para perceber que cada centímetro do ter- ritório urbano tem valor no processo de expansão da metrópole, intensa- mente implicando consumo em ins- tâncias do viver como a moradia, o transporte, a cultura, a segurança, a arte, os espaços verdes etc. Nesse contexto, o poder público e a iniciativa privada confluem-se em diversas formas de parcerias. O argu- mento do qual o Estado lança mão para sustentar tais alianças com fre- quência baseia-se na expectativa de geração de mais recursos e riquezas, de empregos, e do “embelezamento” da cidade tendo em vista a promo- ção do turismo. Se em alguma medi- da isto pode até ser verdade, o que aí não se diz é que, em última instância, os recursos levantados pelos investi- dores visam ao benefício primeiro dos próprios investidores, e não da população em geral, levando no mais das vezes a um processo de gentrificação ou de enobrecimento de grandes áreas. Nesta ciranda, os trabalhadores que outrora eram de- tentores do próprio negócio ou de casa própria na região escolhida pa- ra, digamos, uma requalificação ou revitalização – como em uma opera- ção urbana, por exemplo – serão transformados em empregados ou obrigados a transferir seu negócio para regiões periféricas da cidade; os empregos gerados serão de menor valor agregado; e os moradores de baixa renda se verão obrigados a mudar para regiões onde consigam pagar aluguel compatível. Por fim, os novos custos com a mobilidade ur- bana serão novamente motivo para novos empreendimentos e novas parcerias público-privadas. Diante disso, pode-se afirmar que o tal “eno- brecimento” de uma região é acom- panhado por um movimento de ex- pulsão de grande parte das pessoas que ali moram e/ou trabalham, res- paldado pelo discurso da “revitaliza- ção” e da “requalificação”, como se só houvesse “vida” (ou qualidade espa- cial) após a morte de um certo coti- diano e socialidade, vistos como pou- co rentáveis pela ótica neoliberal. Em tempos de capitalismo pós- fordista, imaterial, cognitivo, criati- vo, rentista, viver e produzir torna- ram-se práticas indissociáveis. Habi- tar, morar, deslocar e ocupar a cida- de podem assim ser vistos como pro- cessos biopolíticos, ou seja, processos em que a política e a economia pas- sam a se confundir com o próprio vi- ver. Não obstante, em meio à veloci- dade alucinada do avanço capitalis- ta, assistimos ao surgimento de mo- vimentos sociais, culturais e ambien- tais determinados a defender os es- paços urbanos comuns, isto é, espa- ços em que a vida em comum (não mediada apenas pelo consumo) to- ma forma. A causalidade própria do urbano é o encontro, lugar de trocas e do fazer-junto, do viver-com. Ao movimentar âmbitos plurais de tro- cas, as disputas e lutas sociais pela produção do espaço e pelo direito à cidade configuram-se como um “en- tre-lugar” que abre brechas para no- vos signos e postos inovadores de co- laboração e de contestação, e reali- nham as fronteiras entre público e privado, entre tradição e modernida- de e enfrentam as expectativas nor- mativas da ideia de progresso (qual é a “cidade” que queremos? quem são os sujeitos da produção do espaço?). A natureza urbana é uma instân- cia, entre outras como a cultura e as linguagens, paradigmática para se refletir sobre o viver em comum nas cidades, e como tal é também funda- mental como ponto de partida para construção de políticas urbanas mais democráticas e sustentáveis. Em um ambiente urbano predo- minantemente tomado por constru- ções, avenidas e carros, o verde dos jardins, das praças, dos parques, dos quintais e da arborização das vias são importantes vetores de resistência positiva do comum urbano. Essas re- sistências tomam forma quando as práticas da jardinagem, da constru- ção e manutenção de hortas urba- nas, da contemplação, etc. passam a ocupar o cotidiano dos cidadãos. A natureza urbana proporciona espa- ços de lazer e de sociabilidade que podem criar mundos e tecer o aces- so ao espaço comum: lugar partilha- do, que se move com lógica e tempo próprios para além das pressões eco- nômicas. As áreas livres e a arboriza- ção representam também potencial espaço para a agricultura urbana e para os jardins comestíveis. De outro lado ainda, não podemos esquecer a crise ambiental e, eminentemente, hídrica que enfrentamos. Áreas ver- des funcionam em conjunto, susten- tando os processos naturais e o ciclo da água, indicando que, no limite, o próprio planeta nos impõe a condi- ção irrevogável de um necessário planejar e viver em sintonia com o bem comum. Assim, cada reserva florestal, cada árvore, cada praça, ca- da parque, cada jardim, cada quintal, cada pequena área permeável den- tro das edificações é relevante e pre- cisa ser valorizada e protegida. Não faz muito, um Projeto de Emenda à Lei Orgânica nº 7/2014 de Belo Horizonte propunha permitir a utilização de 15% da área de praças, parques e reservas ecológicas para a construção de edifícios públicos. A aprovação desta lei permitiria a des- truição de mais de 1 milhão de me- tros quadrados de áreas verdes urba- nas, política que iria de encontro a possíveis soluções para a crise hídri- ca atual. Neste contexto, a Rede Ver- de emergiu em Belo Horizonte co- nectando movimentos como Salve a Mata do Planalto ou Criação do Par- que Jardim América, contra as pro- postas de mudança nas regras de ocupação das áreas verdes da cidade. Observa-se aí que não faz sentido, por exemplo, a transferência pelo município de lotes públicos para uma empresa denominada PBH Ati- vos, por meio da Lei 10.699, de 10 de janeiro de 2014. Já que a prefeitura necessita de áreas para construir no- vos equipamentos públicos, por que doar terrenos para a alienação e, ao mesmo tempo, permitir a ocupação de áreas verdes? Na contramão das ambições e práticas do poder público em Belo Horizonte, em 2014, Copenhague foi eleita pela Comissão Europeia como a cidade mais verde da Europa (EC, 2012). Ao entender como a natureza é desenhada na cidade, percebemos planos e políticas voltados para uma rede de cemitérios tratados como oá- sis, casas de cultivo agrícola, escolas de jardinagem e uma comunidade de produção e distribuição de ali- mentos orgânicos locais. A natureza é inserida no cotidiano da cidade de tal forma que atravessa não apenas todas as quadras, assim como as su- perquadras, como em Brasília, mas também a vida de seus habitantes. O lazer, o consumo de alimentos, a mo- bilidade e a socialização estão direta- mente conectados e interdependes nesta natureza que se infiltra no de- senho da cidade e de seus edifícios. A complexidade do desenho da cidade e suas múltiplas variáveis inter-rela- cionadas são reveladas na agenda de Copenhague ao tratar do verde que incorpora da natureza nos planos de transporte local, biodiversidade, uso sustentável de áreas verdes, poluição sonora, manejo do lixo, tratamento de água e esgoto, performance ener- gética, entre outras esferas explicita- das nos relatórios enviados à Comis- são Europeia (EC, 2014). Parques, praças, jardins, áreas de preservação ambiental são funda- mentais para a qualidade ambiental nas metrópoles e garantem vida mais saudável para todos. Além dis- to, defende-se a importância da multiplicação desses locais. São es- paços coletivos nos quais os cida- dãos podem conviver parte das suas vidas em espaços de convívio sem a mediação do consumo, como obser- vamos nos que não sejam necessa- riamente shoppings, instituições privadas, condomínios fechados, dentre outros exemplos. Entender a importância do verde sob a ótica do comum, o que isto é, aquilo que per- tence e pode ser gerenciado por to- dos indistintamente, permite que a bandeira ecológica seja resgatada de forma efetiva, tendo em vista que há em ação uma forte tendência de transformá-lo em apenas um selo de qualidade cooptado pelos interesses de mercado e esvaziado de política social de fato. Vale, pois, lembrar Da- vid Harvey quando, no livro Cidades rebeldes, coloca a seguinte questão, a partir da teoria do sociólogo urba- no Robert Park: se a cidade é o mun- do que o homem criou, a cidade também é o mundo no qual o ho- mem está condenado a viver. É a partir desta concepção que o direito à cidade se formula, não devendo ser confundido como um direito estan- que, que deve estar garantido pela lei. A luta pelo direito à cidade não é a luta pela norma, mas pela possibi- lidade de construção democrática, coletiva, comum e cotidiana do es- paço e das leis. Grupo Indisciplinar da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, CNPq) realiza pesquisas sobre a produção contemporânea do espaço urbano, aliando teoria e prática, atividades de ensino, pesquisa, extensão, ativismo urbano e experiências diversas em abordagem transversal e indisciplinar. Este texto, escrito para o caderno Pensar, é assinado coletivamente por Alemar S. A. Rena, Arthur Nasciutti Prudente, Júlia Franzoni, Luciana Bragança, Marcela Silviano Brandão Lopes, Marcelo Maia e Natacha Rena. ANA YUMI KAJIKI/DIVULGAÇÃO * Seja em Belo Horizonte, em Istambul, na Turquia, ou em Nova York, movimentos civis reivindicam maior participação dos cidadãos sobre as decisões relacionadas à cidade JEWEL SAMAD/AFP ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS BOGDAN CRISTEL /REUTERS EMMANUEL DUNAND/AFP

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( ) Sexta-feira, 7 de agosto de 2015 .3 2. ESTADO DE MINASA lgica capitalista neoliberal transforma a relao entre cidados e o espao urbano em mercadoria,mas temenfrentado umcrescente movimento da sociedade que busca recuperar o espao comumAs disputas elutas sociais pelodireito cidadeconfiguram-secomo umentre-lugarqueabre brechas parapostos inovadoresde colaboraoe de contestaoPARA LER MAIS A CIDADE VISTA: MERCADORIASE CULTURA URBANAMnica Stahel, WMF Martins Fontes,2014 CIDADES REBELDESDavid Harvey, Martins Editora, 2014 REVISTA AUEditora Pini (au.pini.com.br) PARIS, CAPITAL DA MODERNIDADEDavid Harvey, Boitempo, 2015TEORIAS E PRTICAS URBANAS,CONDIES PARA A SOCIEDADE URBANAVrios autores, Editora C/ Arte, 2015APor que algum deve ler O capital? O que ficou ul-trapassado e o que se mantm atual no livro?Uma das primeiras razes para se ler O capital que umlivro fabuloso, incrvel quandovoc seacostuma com alguns dos movimentos do estilode Marx. um pea maravilhosa da literatura. Eporque tem algumas poderosas ideias analticasque fazem com que voc compreenda a vida aoseu redor. Muitas coisas n'Ocapital so bem con-temporneas. Quandofaloaos estudantes sobreasprticas contemporneas de empregoemBangla-desh e quando as fbricas entraram em colapso,nohdiferenanenhumasobreoqueMarxfaloue o que ocorre nesses espaos atualmente.Por que h cidades pelo mundo que se tornam lu-gares to hostis para os seres humanos? E de quemaneira a globalizao afeta a vida e a estruturadas rotinas nas cidades?Cada vez mais, as cidades foram criadas para queocapital sejainvestido, noparaqueas pessoas vi-vamnelas. Ocapital no se importa comumam-bientedecenteparaviver, mas sepreocupaemab-sorver muitos projetos, muito capital e fazer umprojetoquedmuitolucro. Hmuitodeslocamen-toocorrendonas cidades, eisso, naverdade, mui-to hostil. Umdos conceitos-chave que Marxfala dotempodegirodocapital quesignificaumaten-dncia de qualquer capital continuar a estimularas coisas. O que significa que o tempo est sendoconstantemente encolhido e comprimido e, naverdade, avidanascidadesestficandomaisapressada emvrios aspectos, pois o tempo de gi-ro est sendo impulsionado a se tornar cada vezmais rpidoerpido. Eissoestcolocandopressonohomemenavidadele. Issosignificaqueas cida-des tm essencialmente se tornado refns de umprocesso de circulao de capital que acelerado,que temos de acelerar nossa vida e isso a tornamais estressante.Comoessas mudanas tmafetadoavidanas cidades?As pessoas estocadavezmais perdendoocontro-le da qualidade de suas vidas dirias. Isso significaqueelas estoficandoalienadas emsuas condiesde vida e crescentemente alienadas nas condiesde seu trabalho, que se tornou automtico e semsentido. Alienadas doprocessopoltico, pois as pes-soas sentemque noh uma consulta democrti-ca sobre grandes projetos ocorrendo nas cidades.Ento, humaalienaogeneralizada. Umapopu-laoalienadatendeaser muitopassivaatqueal-go acontece e eles ficam extremamente raivosos.Estamos vendomuitos protestos nas cidades, quelevamaumaondadeviolncia, comoLondres, Es-tocolmo, Paris, Istambul, aqui no Brasil.O que significa essa onda de violncia?Essesmomentosdeviolnciasoexpressesdedes-contentamento, oque sugere que devemos pensarem melhores maneiras de consultar as pessoas eelas se sentirem participantes da democracia eachar maneiras decriar novos significados emsuasvidas. Encontramos indivduos fazendo isso pormeioda criaode institutos para definir significa-dos para suas vidas e novas maneiras de viver suasvidasousejuntandoagruposreligiosos, queconfe-remalgumsignificado. Ento, precisamos confron-tar tudoisso. Eparar denosconcentrar emnoape-nas encontrar empregos para as pessoas, mas em-pregossignificantes, noscasas, masmoradiasde-centes emumambiente culturamente rico.Como concebeu o direito cidade?Issosobrecomotentar estabelecer odireitodeto-dos de ter o controle da natureza do conjunto ur-bano que o cerca. No o direito sobre algo que jexiste. o direito de mudar o que existe, menosalienante, algo mais enriquecido. Acho que essedireito cidade deve pertencer a todos. Oque ve-mos hoje soalguns moldandoas cidades dojeitoque quereme desejam, excluindo os outros da ci-dade. Quandofalosobreisso, tenhoquefalar sobrea luta de definir quemtemdireito cidade. Queroconsiderar o direito cidade a todos aqueles queestomarginalizados eexcludos, odireitodoalie-nadoe dodescontente de mudar a cidade, e entodeixar de ser alienado e descontente. Ento, paramim, ummovimentopolticoquedeveser colo-cadojuntonocontextodemoradia, educao, sa-de, culturaeunificar umprograma. Colocar juntose juntos criar uma alternativa urbanizao, ci-dade, que possa preencher os desejos e as necessi-dades emcaminhos significantes.Como o senhor v o movimento reivindicando es-paos para bicicletas e atividades culturais luz dodia nas cidades?Gosto da diversidade nas cidades. Quanto mais di-versidadecultural, melhor. GostodealgumascoisasdeNovaYork, hvriosmodosdevidal. HChina-town, uma cidade chinesa. H Koreatown, comati-vidades daCoreia. Issoadicionamuitas cores vidasocial. Quantomaisfor construdo, melhor. Precisa-mostermaisespaospblicos, ondeaspessoaspos-samfazer coisas diferentes. Acho muito bomessevoltadabicicletacomoformadetransporte, poisaspessoasestofazendoexerccio, nousamgasolina,epode-sechegar mais rpidoaotrabalhodoquedecarro. Ter pistas para bicicletas muitobom, mas precisoter certeza de que elas estonolocal certoena posio certa. Temos que transformar a cidadeemamiga das bicicletas, mas issoexige muita edu-caodos motoristas e respeito.O que senhor acha das cidades do Brasil?Fiquei impressionado com a transformao queocorreu no Brasil. Estive aqui h 40 anos. Todas ascidades quevisitei nos anos de1970setransforma-ramno seutodo. Oque interessante como ocor-reuessatransformao. Foi construdaemvoltadeautoestradas, condomnios eshoppings. Todos noBrasil insistemquenoBrasil foi diferente. Mas dei-xe-medizer: omesmoqueaconteceucomtodos.Foi o mesmo que aconteceu na Turquia, na ndia,noCanad, nos EUA. Vocs nosodiferentes, soexatamente cpias disso. Todos reclamam que osocialismo no tem diversidade, mas acho que ocapitalismo que no tem(risos).Como mudar a cidade de acordo com o nosso dese-jo? E como a especulao imobiliria tem promovi-do, como no Brasil, a campanha poltica?Omais importanteagorater movimentos sociaisfortes nas cidades, que estopreparadas para cola-borar nasmudanasdassituaes. Temosqueir pa-raoladodeforadapolticacontempornea, temosque ir para o lado de fora dos mecanismos de po-der poltico, que sobre o poder do dinheiro, usa-do para legal ou ilegalmente corromper decisespolticas. Eessa a nica coisa que vai mudar as ci-dades. Precisamos de movimentos sociais fortes epoderosos dizendoquequeremos mudar acidade,e queremos fazer dessa ou daquela maneira. Notenho nenhuma frmula, as pessoas tm que seunir, se consultar, falar, trabalhar e descobrir oquepodeser feito. Criar umaestruturaconfederal paradiscutir comopodemos fazer nossacidademelhorde forma coletiva.DAVID HARVEYOdireito a uma cidade humanaSEVERINO FRANCISCOGRUPO INDISCIPLINARBraslia Comoprocessovertiginosode globalizao, as cidades de todos os pontos doplanetaforamassoladas pelos poderosos e milionrios interesses daespeculaoimobiliriae dosmegaprojetos de urbanizaoque desumanizaramos espaos urbanos. Aomesmotempo,surgirammobilizaes populares nosentidode preservar aqualidade davida, de ocupar as viascombicicletas, de garantir lugar paraos pedestres e de frear odelriodos interesses corporativosque enriquecemmeia dzia de pessoas espertas emdetrimento do interesse pblico. Oantroplogoingls DavidHarvey umdos mais importantes pensadores das questes urbanasnaatualidade. Ele formulouumnovoconceitode direitocidade.Para Harvey, isso no se resume ao acesso aos bens existentes, mas simao direito detransformar a cidade emumlugar de todos e no de alguns privilegiados. Ele autor de vrioslivros sobre o clssico Ocapital, de Karl Marx. Ocurso que concebeu sobre o livro de Marx,disponibilizado no site da Cuny, em2008, j obteve mais de 700 mil acessos. No Brasil, foilanado recentemente Paris, a capital da modernidade (Ed. Boitempo), emque analisa astransformaes urbanas e culturais da cidade francesa no sculo 19. Aglobalizao, aespeculao imobiliria, a invaso das bicicletas e as mobilizaes sociais pela qualidade devida nas cidades so temas abordados nesta entrevista.As cidades tmessencialmente se tornadorefns de um processo decirculao de capital que acelerado. Isso significa quetemos de acelerar nossavida e isso a torna maisestressanteA metrpolebiopolticatendncia neoliberal, que h trs d-cadas assola o mundo, marca-se pormodos de manipulao do tempo edoespaourbanosqueimplicammutuamente o Estado e o mercadoemformas hbridas degovernana. Aproduo, nestaetapadodesenvolvi-mentocapitalista, passa, deformaca-da vez mais evidente, do antigo for-dismo fabril centrado na disciplinados corpos nas fbricas aumps-for-dismo imaterial, semitico, calcadona produoe na difusonode dis-ciplina e gestos mecnicos, mas delinguagens, desejos, modos de vida,servios etc. Desse modo, toda a me-trpole e seus cidados conformam,paraocapitalismops-fordista, oqueafbricaeosoperriosoutroraforampara os donos dos meios de produ-o. Acidade emtoda a sua amplitu-de o lugar do qual o capital extraimais-valia e renda, expropriando eapropriando-setantodocomumma-terial (terra, ar, gua, natureza) quan-to do comumimaterial (linguagens,modos de vida e de trabalho) para oseu funcionamento maqunico. Bas-taobservarmos nossocotidianoparaperceber quecadacentmetrodoter-ritriourbanotemvalor noprocessode expanso da metrpole, intensa-mente implicandoconsumoemins-tncias do viver como a moradia, otransporte, a cultura, a segurana, aarte, os espaos verdes etc.Nessecontexto, opoder pblicoea iniciativa privada confluem-se emdiversas formas deparcerias. Oargu-mento do qual o Estado lana mopara sustentar tais alianas comfre-quncia baseia-se na expectativa degerao de mais recursos e riquezas,deempregos, edoembelezamentoda cidade tendo em vista a promo-odoturismo. Seemalgumamedi-da istopode at ser verdade, oque anosedizque, emltimainstncia,os recursos levantados pelos investi-dores visam ao benefcio primeirodos prprios investidores, e no dapopulaoemgeral, levandonomaisdasvezesaumprocessodegentrificao ou de enobrecimentode grandes reas. Nesta ciranda, ostrabalhadores que outrora eram de-tentores do prprio negcio ou decasa prpria na regio escolhida pa-ra, digamos, uma requalificao ourevitalizaocomoemumaopera-ourbana, porexemploserotransformados em empregados ouobrigados a transferir seu negciopararegies perifricas dacidade; osempregos gerados sero de menorvalor agregado; e os moradores debaixarendaseveroobrigadosamudar para regies onde consigampagar aluguel compatvel. Por fim, osnovos custos com a mobilidade ur-bana sero novamente motivo paranovosempreendimentosenovasparcerias pblico-privadas. Diantedisso, pode-seafirmar queotal eno-brecimento de uma regio acom-panhadopor ummovimentode ex-pulso de grande parte das pessoasque ali moram e/ou trabalham, res-paldado pelodiscursoda revitaliza-o edarequalificao, comoseshouvesse vida (ou qualidade espa-cial) aps a morte de um certo coti-dianoesocialidade, vistos comopou-co rentveis pela tica neoliberal.Em tempos de capitalismo ps-fordista, imaterial, cognitivo, criati-vo, rentista, viver e produzir torna-ram-se prticas indissociveis. Habi-tar, morar, deslocar e ocupar a cida-depodemassimser vistos comopro-cessos biopolticos, ouseja, processosem que a poltica e a economia pas-samaseconfundir comoprpriovi-ver. No obstante, emmeio veloci-dade alucinada do avano capitalis-ta, assistimos ao surgimento de mo-vimentos sociais, culturais eambien-tais determinados a defender os es-paos urbanos comuns, isto , espa-os em que a vida em comum (nomediada apenas pelo consumo) to-ma forma. A causalidade prpria dourbano o encontro, lugar de trocase do fazer-junto, do viver-com. Aomovimentar mbitos plurais de tro-cas, as disputas e lutas sociais pelaproduo do espao e pelo direito cidadeconfiguram-secomoumen-tre-lugar que abre brechas para no-vos signos epostos inovadores deco-laborao e de contestao, e reali-nham as fronteiras entre pblico eprivado, entretradioemodernida-de e enfrentamas expectativas nor-mativas daideiadeprogresso(qual a cidade que queremos? quemsoos sujeitos da produo do espao?).A natureza urbana uma instn-cia, entre outras como a cultura e aslinguagens, paradigmtica para serefletir sobre oviver emcomumnascidades, ecomotal tambmfunda-mental como ponto de partida paraconstruodepolticas urbanas maisdemocrticas e sustentveis.Em um ambiente urbano predo-minantementetomadopor constru-es, avenidas e carros, o verde dosjardins, das praas, dos parques, dosquintais edaarborizaodas vias soimportantes vetores de resistnciapositivadocomumurbano. Essas re-sistncias tomam forma quando asprticas da jardinagem, da constru-o e manuteno de hortas urba-nas, da contemplao, etc. passamaocupar o cotidiano dos cidados. Anatureza urbana proporciona espa-os de lazer e de sociabilidade quepodem criar mundos e tecer o aces-soaoespao comum: lugar partilha-do, que se move comlgica e tempoprprios paraalmdas presses eco-nmicas. As reas livres e a arboriza-o representamtambmpotencialespao para a agricultura urbana eparaos jardins comestveis. Deoutrolado ainda, no podemos esquecer acrise ambiental e, eminentemente,hdrica que enfrentamos. reas ver-des funcionamemconjunto, susten-tando os processos naturais e o cicloda gua, indicando que, no limite, oprprio planeta nos impe a condi-oirrevogveldeumnecessrioplanejar e viver em sintonia com obem comum. Assim, cada reservaflorestal, cada rvore, cada praa, ca-daparque, cadajardim, cadaquintal,cada pequena rea permevel den-tro das edificaes relevante e pre-cisa ser valorizada e protegida.Nofazmuito, umProjetodeEmenda Lei Orgnica n 7/2014 deBeloHorizonte propunha permitir autilizao de 15% da rea de praas,parques e reservas ecolgicas para aconstruo de edifcios pblicos. Aaprovao desta lei permitiria a des-truio de mais de 1 milho de me-tros quadrados dereas verdes urba-nas, poltica que iria de encontro apossveis solues para a crise hdri-ca atual. Neste contexto, a Rede Ver-de emergiu em Belo Horizonte co-nectandomovimentos comoSalveaMata do Planalto ou Criao do Par-que Jardim Amrica, contra as pro-postasdemudananasregrasdeocupaodas reas verdes dacidade.Observa-se a que no faz sentido,por exemplo, a transferncia pelomunicpiodelotespblicosparauma empresa denominada PBHAti-vos, por meio da Lei 10.699, de 10 dejaneiro de 2014. J que a prefeituranecessita de reas para construir no-vos equipamentos pblicos, por quedoar terrenos para a alienao e, aomesmo tempo, permitir a ocupaode reas verdes?Nacontramodasambieseprticas do poder pblico em BeloHorizonte, em2014, Copenhaguefoieleita pela Comisso Europeia comoa cidade mais verde da Europa (EC,2012). Ao entender como a natureza desenhada na cidade, percebemosplanos epolticas voltados paraumarededecemitrios tratados comoo-sis, casas de cultivo agrcola, escolasde jardinagem e uma comunidadede produo e distribuio de ali-mentos orgnicos locais. A natureza inserida no cotidiano da cidade detal forma que atravessa no apenastodas as quadras, assimcomo as su-perquadras, como em Braslia, mastambmavidadeseus habitantes. Olazer, oconsumodealimentos, amo-bilidadeeasocializaoestodireta-mente conectados e interdependesnesta natureza que se infiltra no de-senhodacidadeedeseus edifcios. Acomplexidadedodesenhodacidadee suas mltiplas variveis inter-rela-cionadas soreveladas na agenda deCopenhague ao tratar do verde queincorpora da natureza nos planos detransporte local, biodiversidade, usosustentvel dereas verdes, poluiosonora, manejo do lixo, tratamentode gua e esgoto, performance ener-gtica, entreoutras esferas explicita-das nos relatrios enviados Comis-so Europeia (EC, 2014).Parques, praas, jardins, reas depreservao ambiental so funda-mentais para a qualidade ambientalnasmetrpolesegarantemvidamais saudvel para todos. Almdis-to, defende-se a importncia damultiplicao desses locais. So es-paos coletivos nos quais os cida-dos podemconviver parte das suasvidas emespaos de convvio semamediaodoconsumo, comoobser-vamos nosque no sejam necessa-riamenteshoppings, instituiesprivadas, condomnios fechados,dentre outros exemplos. Entender aimportncia do verde sob a tica docomum, oque isto, aquiloque per-tence e pode ser gerenciado porto-dos indistintamente, permite que abandeira ecolgica seja resgatada deformaefetiva, tendoemvistaquehemaoumafortetendnciadetransform-loemapenas umselodequalidade cooptadopelos interessesde mercado e esvaziado de polticasocial de fato. Vale, pois, lembrar Da-vidHarveyquando, nolivroCidadesrebeldes, coloca a seguinte questo,a partir da teoria do socilogo urba-no Robert Park: se a cidade o mun-doqueohomemcriou, acidadetambm o mundo no qual o ho-mem est condenado a viver. apartir desta concepoque odireitocidadeseformula, nodevendoserconfundidocomoumdireitoestan-que, que deve estar garantido pelalei. Aluta pelo direito cidade no a luta pela norma, mas pela possibi-lidade de construo democrtica,coletiva, comum e cotidiana do es-pao e das leis.Grupo Indisciplinarda Escola de Arquitetura daUniversidade Federal de MinasGerais (UFMG, CNPq) realizapesquisas sobre a produocontempornea do espaourbano, aliando teoria e prtica,atividades de ensino, pesquisa,extenso, ativismo urbano eexperincias diversas emabordagem transversal eindisciplinar. Este texto, escritopara o caderno Pensar, assinadocoletivamente por Alemar S. A.Rena, Arthur Nasciutti Prudente,Jlia Franzoni, Luciana Bragana,Marcela Silviano Brando Lopes,Marcelo Maia e Natacha Rena.ANA YUMI KAJIKI/DIVULGAO*Seja em Belo Horizonte, em Istambul, naTurquia, ou em Nova York, movimentos civisreivindicam maior participao dos cidadossobre as decises relacionadas cidadeJEWELSAMAD/AFPALEXANDREGUZANSHE/EM/D.APRESSBOGDANCRISTEL/REUTERSEMMANUELDUNAND/AFP