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ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
Mônica Perpétua Carlos
MEIO AMBIENTE URBANO E SUA INFLUÊNCIA PARA A PRÁTICA
DE CRIME
Belo Horizonte
2016
Mônica Perpétua Carlos
MEIO AMBIENTE URBANO E SUA INFLUÊNCIA PARA A PRÁTICA
DE CRIME
Dissertação apresentada ao programa de
Pós-Graduação em Direito da Escola Superior Dom
Helder Câmara como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Gustavo Gonçalves
Ribeiro
Belo Horizonte
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
CARLOS, Mônica Perpétua. Meio ambiente urbano e sua influência para a prática de
crime. Local: Belo Horizonte. Minas Gerais – Brasil.
2016.
Número de Páginas: 88.
Dissertação apresentada à Escola Superior Dom Helder Câmara como requisito parcial para
obtenção do título de mestre em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Gustavo Gonçalves. Ribeiro
Banca Examinadora: Professora Maraluce Maria Custódio e Professor Adilson de Oliveira
Nascimento.
Palavras-chave: Meio ambiente urbano; Direito Ambiental; Teoria das janelas quebradas.
ESCOLA SUPERIOR DOM HELDER CÂMARA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO
Mônica Perpétua Carlos
MEIO AMBIENTE URBANO E SUA INFLUÊNCIA PARA A PRÁTICA
DE CRIME
Dissertação apresentada ao programa de
Pós-Graduação em Direito da Escola Superior Dom
Helder Câmara como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Direito.
Aprovado em: _____/_____/_____
_______________________________________________________
Prof. Dr. Luiz Gustavo Gonçalves Ribeiro (Orientador)
Escola Superior Dom Helder Câmara
________________________________________________________________
Professor Membro: Profa. Dra. Maraluce Maria Custódio
________________________________________________________________
Professor Membro: Prof. Dr. Adilson de Oliveira Nascimento
Nota: ____
Belo Horizonte
2016
Dedico esta dissertação aos meus familiares, e
especial ao meu falecido irmão, JOÃO MARTINS
DE ABREU, pois sempre admirou e se orgulhou dos
meus estudos. E alertava, o orgulho e a arrogância
são os maiores defeitos do homem, cuide-se para
que o conhecimento não lhe torne desumana. (in
memoriam).
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, antes de qualquer agradecimento, trago os motivos que me fizeram continuar no
caminho jurídico, tanto acadêmico como profissional.
No ano de 2000, iniciei no meio acadêmico quando tive o prazer de conhecer o Professor Dr.
Adilson Oliveira, o qual ministrou aulas de Direito Penal para minha turma. A forma como
ele lecionava e o afinco de transmitir conhecimento para os jovens acadêmicos me
fascinaram, e desde então venho tentando traçar meus passos seguindo os dele.
Assim, agradeço ao professor Dr. Adilson Oliveira por ter me proporcionado aulas tão
maravilhosas, por ter sido uma pessoa que compartilhou seus conhecimentos; hoje tenho o
orgulho de dizer que você, Adilson, é minha fonte de inspiração.
Como se não bastasse a minha admiração pelo Professor Dr. Adilson, ele me recomendou o
melhor professor o qual eu tive a honra de ter como orientador, o Prof. Dr. Luiz Gustavo,
cujas recomendações em nada deixaram a desejar. Só tenho a agradecer ao Professor Dr. Luiz
Gustavo, que me guiou no momento em que eu já não mais me sentia competente, pois o dia a
dia do meu trabalho não contribuía para o meu desenvolvimento acadêmico, e mesmo assim
sentia que o Professor Luiz não desistia de mim.
A competência e dedicação do Prof. Luiz como meu orientador foi de suma importância para
o desenvolvimento deste trabalho. Você, professor, embora não saiba, com o seu auxílio
desde o início deste curso de mestrado, o qual perdurou dois longos anos, foi mais que um
orientador, também foi minha fonte de inspiração.
Agradeço aos meus familiares, principalmente na pessoa da minha irmã Eliana Lúcia Carlos e
meu cunhado Wagner Barros.
Finalizo com o agradecimento daqueles que de alguma forma contribuíram para a conclusão
do presente trabalho, como meus amigos que, por diversas vezes, entenderam minha ausência
nos eventos sociais devido à minha dedicação acadêmica coligada com o meu trabalho
profissional.
“Aqueles que jamais subiram morros, favelas, ou
sequer conhecem de perto os antros frequentados
por marginais, e que se enclausuram comodamente
em seus gabinetes sem que nunca houvessem
participado de tiroteio no estrito cumprimento do
dever legal e também em legítima defesa, não se
devem apegar com antolhos ao texto gélido da lei,
distante do calor dos acontecimentos e a salvo de
gravíssimos riscos das atividades da Polícia
Judiciária, em toda plenitude legal.” (Mário
Portugal Fernandes Pinheiro, Procurador de Justiça)
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 – INVASÃO WILLIAM ROSA ..................................................................................................61
FIGURA 2 – CONSTRUÇÃO PREDIAL VERTICAL ................................................................................74
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Art. – Artigo
CDHU- Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
CPB – Código Penal Brasileiro
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil
EUA – Estados Unidos da América
STF – Supremo Tribunal Federal
STJ – Superior Tribunal de Justiça
TJ – Tribunal de Justiça
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo demonstrar que o meio ambiente artificial urbano deve
ser bem cuidado e planejado, adotando-se todos os instrumentos viabilizadores para se ter um
meio ambiente urbano saudável sem crimes, garantindo à população maior segurança.
Demonstrará que a superpopulação de uma cidade provoca o surgimento de favelas, devido a
fenômenos sociais como o êxodo rural e a imigração, uma vez que o campo não mais
comporta espaço para a nova geração, ocasionando o deslocamento para as cidades em busca
de emprego e de melhor qualidade de vida. Os novos anseios do ser humano no meio
ambiente urbano inviabilizam a repartição do espaço na cidade, fazendo com que o Estado
propicie moradias prediais verticais que muitas vezes provocam outros distúrbios na
população, porquanto interferem diretamente na parte psíquica do indivíduo, facilitando o
aparecimento da criminalidade. A pesquisa se desenvolveu pelo método qualitativo cujo
objetivo é analisar a efetividade do Direito Ambiental como ferramenta de política urbana
para a proteção ao ambiente em que vive o ser humano, e sua colaboração para a diminuição
de crimes urbanos. O marco teórico teve como referência a “teoria das janelas quebradas”,
escrita por Kelling e Wilson, os quais descrevem que em um lugar não cuidado e não
fiscalizado surgem crimes e criminosos. Utiliza-se da pesquisa feita por esses autores para
demonstrar que é possível haver um meio ambiente urbano artificial sem crimes, desde que
exista planejamento urbano, principalmente no tocante às moradias prediais.
Palavras-chave: Direito Ambiental; Meio ambiente urbano; Teoria das janelas quebradas.
RESUMEN
La disertación en análisis tiene como objetivo demostrar que el medio ambiente artificial
urbano debe estar bien mantenido y planeado, y hay que adoptarse todos los instrumentos
capaces de proporcionar/crear un entorno urbano saludable y sin delincuencia, asegurando a la
población más seguridad. Se demonstrará que la superpoblación de una ciudad desencadena la
aparición de aglomeraciones, debido a fenomenos sociales tales como el éxodo rural y la
inmigración, dado que las zonas rurales ya no más tienem espacio para las nuevas
generaciones, lo que provoca el desplazamiento del exceso de población para las ciudades en
busca de empleo y mejores condiciones de vida. Las nuevas aspiraciones del ser humano en el
medio ambiente urbano hacen imposible la distribución de espacio en la ciudad, haciendo con
que el Estado oferte habitaciones verticales que muchas veces crean otras perturbaciones en la
población, puesto que influyen directamente en la parte mental del individuo, lo que facilita la
aparición del crimen. La investigación fue desarrollada por el método cualitativo, el cuál tiene
como objetivo analizar la eficacia del Derecho Ambiental como una herramienta de política
urbana para la protección al ambiente en que viven los seres humanos, y su contribución a
reducción de la delincuencia urbana. El marco teórico tuvo como referencia la “teoria de las
ventanas rotas”, escrita por por Kelling y Wilson, los cuáles describen que en un sitio que no
és cuidado o vigilado surgen delitos y delincuentes. Se utilizó de uma investigación hecha por
estos autores para demostrar que és posible haber un medio ambiente urbano artificial sín
crímenes, para lo que és indispensable que haya planeamiento urbano, especialmente con
relación a las habitaciones en edificio.
Palabras-clave: Derecho Ambiental; Medio ambiente urbano; Teoría de las ventanas rotas.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................14
2 MEIO AMBIENTE URBANO E DIREITO AMBIENTAL ......................................................................17
2.1 MEIO AMBIENTE COMO DIREITO FUNDAMENTAL .......................................................................................... 19
2.2 MEIO AMBIENTE NATURAL ........................................................................................................................... 22
2.3 MEIO AMBIENTE CULTURAL ......................................................................................................................... 22
2.4 MEIO AMBIENTE DO TRABALHO ................................................................................................................... 22
2.5 MEIO AMBIENTE URBANO OU ARTIFICIAL ..................................................................................................... 23
2.5.1 Meio ambiente urbano como bem jurídico .......................................................................................... 25
2.6 DIREITO AMBIENTAL ................................................................................................................................... 30
2.6.1 Princípios do Direito Ambiental .......................................................................................................... 31 2.6.1.1 Princípio da prevenção e da precaução ...........................................................................................................33 2.6.1.2 Princípio do desenvolvimento sustentável ......................................................................................................36 2.6.1.3 Princípio da participação ................................................................................................................................37 2.6.1.4 Princípio do direito ao meio ambiente equilibrado e função social da cidade.................................................38
3 O FENÔMENO DO CRIME SOB A ÓTICA DA CRIMINOLOGIA ......................................................40
3.1 CRIMINOLOGIA: UMA ANÁLISE DA AÇÃO HUMANA NO AMBIENTE EM QUE HABITA ...................................... 40
3.2 TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS ............................................................................................................... 46
3.2.1 Tolerância zero ................................................................................................................................... 50
3.2.2 Crítica: os pobres e as minorias como alvo ........................................................................................ 53
3.2.3 A situação brasileira ............................................................................................................................ 55
4 A INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE URBANO NA PRÁTICA CRIMINOSA ................................59
4.1 DESENVOLVIMENTO URBANO ...................................................................................................................... 62 4.2 DIREITO URBANÍSTICO, RAMO DO DIREITO ATINENTE À POLÍTICA URBANA CONSTITUCIONAL: NA BUSCA DE
UMA CIDADE SUSTENTÁVEL ............................................................................................................................... 63
4.3 DO PLANEJAMENTO URBANO E SEGURANÇA PÚBLICA (LEI N.º 10.257/2001) ............................................... 67
4.4 VIOLÊNCIA URBANA: DESAFIO PARA O PLANEJAMENTO URBANO ................................................................. 71 4.5 CONSTRUÇÕES PREDIAIS VERTICAIS COMO SOLUÇÃO PARA A MORADIA URBANA, UM DESAFIO PARA A
SEGURANÇA PÚBLICA ......................................................................................................................................... 74
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................................80
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................83
14
1 INTRODUÇÃO
Com o constante aumento da criminalidade, inicia-se a preocupação quanto à sua
origem, e surgem múltiplos questionamentos, com o objetivo de implementar ferramentas
para combatê-la. Diante de tal situação, o meio ambiente urbano é considerado uma das vias a
ser analisada como causa que impossibilita a criminalidade, podendo até mesmo diminuí-la.
A moradia é um dos direitos fundamentais do homem, antevisto constitucionalmente.
Não há que se falar em dignidade humana se o homem não vive em um ambiente saudável e
digno.
O homem procura seu espaço em um mundo onde a tecnologia impera (centros
urbanos), pois por diversas vezes as máquinas vêm o substituindo. Isso pode ser observado
nitidamente no campo (meio rural), em que cada vez mais a mão de obra humana é substituída
por máquinas, o que causa evasão do homem para a cidade. Além, é claro, de uma incessante
busca pelo desenvolvimento profissional e intelectual.
Diversos crimes existem devido ao desenho ou projeto do lugar em que ocorrem. O
conhecimento dos níveis dessa influência auxilia órgãos de segurança a apontar quais as
causas geradoras da criminalidade não decorrentes somente das falhas ou omissões da polícia.
Se as características determinantes da prática criminosa forem corretamente avaliadas,
elas poderão ser extirpadas, e novos ambientes poderão ser concebidos sem esses mesmos
erros, precavendo potenciais problemas. A industrialização torna o crescimento desordenado
das cidades um catalisador de novos fenômenos sociais, que transformam os costumes, a
economia, o espaço e a demografia. Grandes desigualdades apimentam essa realidade
favorável a desvios de conduta e crimes.
Desse modo, surgem os seguintes questionamentos: o meio ambiente urbano pode
contribuir para o cometimento de crime? Qual a efetividade da proteção do meio ambiente
urbano para o não cometimento de crime?
O meio ambiente urbano estabelecido com a observância das normas ambientais pode
ser uma forma de influenciar na redução do crime; a contrario sensu sua não observância
pode contribuir para que a pessoa venha a cometer crimes. Ambientes não amparados pelo
Estado encontram-se mais propícios à criminalidade por oferecer refúgio a delinquentes,
traficantes, usuários de drogas ou por facilitar a prostituição, por exemplo.
15
Do estudo de normas ambientais, em conformidade com a Criminologia, Sociologia, e
regras de urbanização, nota-se a necessidade de um novo programa de habitação, com
edificações que viabilizem o policiamento, bem como facilitem a atuação dos órgãos sociais,
proporcionando maior segurança e uma vida digna aos habitantes. Muitas vezes, estes são
postos a coabitarem num mesmo ambiente físico com indivíduos com cultura e moral
diferentes. A redistribuição de familiares nesse ambiente físico retira-lhes uma das questões
sociais basilares que é a moradia digna.
O objetivo do presente estudo é analisar a efetividade do Direito Ambiental como
ferramenta de política urbana para a proteção ao ambiente em que vive o ser humano, e sua
colaboração para a diminuição de crimes urbanos.
Constantemente, as cidades têm sido geradoras de graves problemas urbanos,
resultados das migrações, do êxodo rural, do meio impróprio e desordenado de disposição do
espaço e, por conseguinte, da ausência de políticas públicas que podem colaborar para a
organização ambiental e concepção sociocultural do indivíduo. Nesse aspecto, a organização
dos municípios, a população que nele vive e o próprio ambiente podem contribuir à produção
criminal.
A maneira como o espaço urbano é projetado, construído e constituído pode diminuir
ou aumentar os indicadores de criminalidade de maneira drástica. Um espaço urbano
degradado, sem a prática de políticas públicas de favorecimento do cidadão e do ambiente, é
fator que contribui consideravelmente para a delinquência social.
A criminalidade surge em todas as sociedades, tanto nas grandes cidades, quanto nos
lugares mais afastados. Sendo o crime obra essencialmente humana, ciências como
sociologia, psicologia, psiquiatria, antropologia, entre outras, tomaram como campo de estudo
os aspectos da personalidade humana e os fenômenos criminosos advindos das características
sociais da criminalidade. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225, asseverou que
todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e ainda conferiu ao poder
público e ao cidadão a obrigação de preservá-lo para esta e as futuras gerações.
Concernente a isso não se pode esquecer de que algumas transformações urbanas
podem culminar em crimes, se não se aferir os discernimentos da Criminologia quanto ao
ambiente em que vive o homem, isto é, o meio em que este habita precisa ser considerado um
meio ambiente para se haver uma vida digna.
O Estado não pode se imiscuir de averiguar os aspectos criminais gerados pela
tentativa de resolver problemas de moradia, visto que a segurança pública é um dever do
16
Estado, direito e responsabilidade de todos. A participação do Estado na segurança pública é
realizada diretamente pelas instituições policiais: Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de
Bombeiros Militar, por meio de atos e operações, segundo a Carta Magna. Essas instituições
apenas podem ser usadas quando os outros ramos da política pública fracassarem, isto é, o
Estado necessita prever casos não almejados pela sociedade.
A exclusão territorial é não apenas sintoma da desigualdade social, mas também
elemento mantenedor dela. É necessário um planejamento que viabilize o acesso de todos às
oportunidades do mercado cultural e laboral. A partir do momento em que a cidade tiver suas
partes integradas e os serviços públicos alcançarem todos os seus destinatários, a violência
massificada deixará de ter motivos para existir.
O presente trabalho é do tipo exploratório e descritivo. O aporte teórico advém de
pesquisas acadêmicas, obras literárias, livros, artigos, revistas e periódicos, entre outros. O
critério de análise de dados será qualitativo.
Segundo Bertucci (2008), as pesquisas exploratórias têm como objetivo principal
proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo exposto ou construir
hipóteses. Pode-se dizer que tais pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de
ideias ou a descoberta de intuições. Já as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a
descrição de características de determinada população ou fenômeno, ou então o
estabelecimento de relações entre variáveis.
O trabalho será dividido em seções. Na primeira seção, serão demonstrados os
conceitos de meio ambiente urbano e Direito Ambiental, apresentando o meio ambiente como
direito fundamental do ser humano, bem como os princípios do Direito Ambiental.
Na segunda seção, cujo ponto principal é a teoria das janelas quebradas, será
apresentado o fenômeno do crime sob os preceitos da Criminologia, analisando-se a situação
brasileira ante a criminalidade no meio urbano.
A terceira seção demonstrará a influência do meio ambiente para a criminalidade,
pautando-se sobre o desenvolvimento urbano, a falta de planejamento urbano e a violência
existente, abordando ainda os desafios da segurança pública com relação às construções
prediais verticais.
A última seção apresentará a conclusão do trabalho, demonstrando aspectos relevantes
do tema e apresentando soluções de melhoria para o problema e objetivos apresentados.
17
2 MEIO AMBIENTE URBANO E DIREITO AMBIENTAL
O meio ambiente, local em que vive o homem, é uma das preocupações da
humanidade por ser direito de fundamental importância, o qual mereceu respaldo
constitucional quanto a sua preservação para as gerações presentes e futuras, imbuído no
espírito de se ter uma sadia qualidade de vida.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para presentes e futuras
gerações (BRASIL, 1988).
Essa prescrição constitucional adveio das inquietudes frente ao meio ambiente, que
têm limitações naturais e sofre com a paulatina destruição e degradação perpetradas pelas
ações do homem. Segundo Thomé (2015, p. 118), “tais acontecimentos, estopins da crise
ambiental, foram fundamentais para a elaboração dos primeiros princípios de proteção
ambiental”.
Nesse contexto, há algumas décadas o meio ambiente mereceu atenção para além das
fronteiras nacionais, e até os dias de hoje, mundialmente, debatem-se os impactos ambientais
oriundos da conduta humana. E isso porque o meio ambiente sofre com atitudes provocadas
em qualquer parte do mundo; a degradação em um local provoca alterações no meio ambiente
de outras regiões.
E as preocupações e questionamentos internacionais justificam-se, pois o meio
ambiente é compartilhado por todos e local propício ao pleno desenvolvimento da
humanidade. José Afonso Silva (2003, p. 28) confirma que o meio ambiente é bem jurídico
merecedor de proteção por ser considerado essencial para a sobrevivência humana:
O problema da tutela jurídica do meio ambiente manifesta-se a partir do momento
em que sua degradação passa a ameaçar não só o bem-estar, mas a qualidade de vida
humana, se não a própria sobrevivência do ser humano.
Assim, a CRFB/88 traz a nova concepção protecionista, a qual diz que o meio
ambiente deve ser protegido, e ao mesmo tempo sustentável, em detrimento da teoria
utilitarista do meio ambiente, porquanto esta pressupõe que a natureza apenas serve aos seres
humanos. Em outras palavras, o meio ambiente é de fundamental importância para a
coexistência humana e dos demais seres.
18
Segundo conceito trazido pela professora Beatriz Costa (2015, p. 55), o meio ambiente
ultrapassa os interesses concernentes somente aos humanos: “Meio ambiente é o conjunto de
elementos naturais e artificiais partilhados com seres humanos e não humanos, necessários ao
desenvolvimento e sobrevivência dessas espécies de forma harmônica e solidária”.
Importante salientar que a conceituação meio ambiente foi alterada no decorrer do
tempo, pois deixou de ser apenas um conceito natural, para abranger diversos outros fatores
atrelados à vida dos seres vivos.
Assim, o meio ambiente é o local onde a vida flui, tanto pelos elementos bióticos
como abióticos. Conforme bem descreveu Fabio Márcio Piló Silva (2015, p. 20), citando
Milaré, o meio ambiente é “constituído por seres bióticos e abióticos e suas relações e
interações”, não sendo um mero “espaço circunscrito, é realidade complexa e marcada por
múltiplas variáveis”.
Os novos conceitos que definem o meio ambiente levam em consideração diversos
aspectos como os avanços sociais e tecnológicos. Destarte, dentro do conceito do que vem a
ser meio ambiente, é necessário definir cada objeto de maneira que possa ser protegido pelo
ordenamento jurídico.
O meio ambiente pode ser classificado como meio ambiente natural, artificial, cultural
e do trabalho. O art. 3º da Lei n.º 6.938/1981 apenas se refere ao meio ambiente como
recursos naturais, deixando de mencionar as alterações feitas pelos humanos no meio
ambiente, como edificações urbanas, entre outros:
Art 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas (BRASIL, 1981).
Já na Resolução Conama nº 306/2002, o conceito de meio ambiente foi expandido,
passando a ser composto também pela parte social, cultural e urbanística, consoante inciso
XII, do Anexo I:
Meio ambiente como conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem
física, química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas (CONAMA, 2002).
Lado outro, Perazzoni (2011, p. 23), ao descrever meio ambiente urbano em seu livro,
definiu meio ambiente como meio ambiente bipartido em meio urbano e meio ambiente rural,
sendo que dentro de cada um deles coexistem os demais meios ambientes: o cultural, o do
19
trabalho, o natural. Percebe-se, portanto, que a definição de meio ambiente ainda não é
solidificada na doutrina.
2.1 Meio ambiente como direito fundamental
Há doutrinadores para os quais o direito fundamental difere-se dos direitos humanos,
mas estão intrinsecamente conectados em dado momento.
Segundo Pereira (2006), compreende-se que os direitos fundamentais nasceram apenas
a partir do momento em que os princípios de direitos humanos consubstanciados nas
declarações de direitos passaram a ser constitucionalizados, ou seja, incorporados pelas
Constituições dos Estados que as condescenderam. Nota-se, portanto, que as normas de
direitos fundamentais têm descrições próprias que as caracterizam como normas de direitos
humanos. Tais atributos referem-se a três pontos basilares: a positivação, a titularidade e a
eficácia.
No que tange à positivação, confere-se que as normas de direitos fundamentais são
reconhecidas e positivadas no campo do Direito Constitucional positivo de certo Estado,
enquanto as normas de Direitos Humanos referem-se a posições jurídicas que distinguem o
ser humano como tal, involuntariamente de sua conexão com alguma ordem constitucional.
No tocante à titularidade, observa-se que, ao contrário das normas de Direitos
Humanos, que possuem como titulares todos os seres humanos, indistintamente, algumas
normas de direitos fundamentais têm como titulares exclusivamente os cidadãos de
determinado Estado. Por fim, no tocante à eficácia, verifica-se que as normas de Direitos
Humanos dependem do status jurídico atribuído a elas pelo ordenamento que as recepcionou,
ao passo que as normas de direitos fundamentais já têm, comumente, a sua aplicabilidade
garantida pelas Constituições que as consagram.
Direitos fundamentais são também reconhecidos como direitos humanos – homem
como o centro das preocupações; são valores que só se abrem ao homem e seu meio, tanto na
sua individualidade, como na sua transcendentalidade.
Como já se disse, um dos elementos de definição dos direitos fundamentais é a
constatação de que tais direitos são de exclusiva titularidade de indivíduos humanos.
Ora, o fato de o conteúdo de um direito ser supra-individual e, por tal razão,
indivisível, como é o caso dos chamados bens coletivos, não o exclui da definição de
direitos individuais. E, não o excluindo, permite identificá-lo como um direito
20
fundamental, desde que seu conteúdo contemple prerrogativas imprescindíveis à
emancipação do homem (SILVA, 2007, p. 167).
Os princípios e as perspectivas do direito fundamental são utilizados para proteger o
meio ambiente como bem necessário ao homem. O meio ambiente é situado no campo do
direito de 3a geração, ou dimensão, como aquele contextualizado numa sociedade voltada para
práticas da transindividualidade:
Os direitos fundamentais desempenham funções múltiplas na sociedade e na ordem
jurídica. Essa diversidade de funções leva a que a própria estrutura dos direitos
fundamentais não seja unívoca e propicia algumas classificações, úteis para a melhor
compreensão do conteúdo e da eficácia dos vários direitos. Tem relevância conhecer
algumas tentativas mais notáveis de classificação conforme o papel desempenhado
pelos direitos fundamentais (MENDES, 2009, p. 139).
Os chamados direitos de terceira geração, também nominados de terceira dimensão,
dirigem-se à proteção da coletividade, de grupos de pessoas indeterminadas, sendo direitos
cuja titularidade é difusa ou coletiva, não mais do homem isoladamente. Por tal razão o meio
ambiente é de suma importância para a humanidade.
Assim, o meio ambiente é visto de forma coletiva, difusa. E pode ser situado, portanto,
como direitos fundamentais merecedores de proteção no ordenamento jurídico, amparados
constitucionalmente. Em outras palavras, Fabio Márcio Piló Silva também compreende que
meio ambiente é direito fundamental e indisponível previsto constitucionalmente:
O direito fundamental previsto no artigo recai especificamente sobre a expressão
“todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado” (art. 225,
CRFB/88). Assim, como possuidor do status de direito fundamental, o direito de
todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é indisponível
(SILVA, 2015, p. 21).
Atinente a isso, o meio ambiente é bem jurídico de grande relevância para a sociedade,
e tem um valor tão grandioso, que é por isso elevado à categoria de direito fundamental pela
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Isso se verifica na medida em que a Constituição o considera como um bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida, devendo o poder público e a
coletividade defendê-lo e preservá-lo, pois são verdadeiros direitos humanos.
E numa sociedade em que a transformação se dá de modo desenfreado, nascem
também novos interesses passíveis de proteção, como o meio ambiente em suas diversas
esferas. Por meio do Direito é de suma importância protegê-los, utilizando para tanto as vias
21
legislativas, criando leis viabilizadoras e protetoras de direitos humanos, no caso aqueles
atinentes ao direito a ter um meio ambiente saudável.
Em um dos ensaios, "Direitos do homem e sociedade", destaco particularmente a
proliferação, obstaculizada por alguns, das exigências de novos reconhecimentos e
de novas proteções na passagem da consideração do homem abstrato para aquela do
homem em suas diversas fases devida e em seus diversos estágios. Os direitos de
terceira geração, como o de viver num ambiente não poluído, não poderiam ter sido
sequer imaginados quando foram propostos os de segunda geração, do mesmo modo
como estes últimos (por exemplo, o direito à instrução ou à assistência) não eram
sequer concebíveis quando foram promulgadas as primeiras Declarações
setecentistas. Essas exigências nascem somente quando nascem determinados
carecimentos. Novos carecimentos nascem em função da mudança das condições
sociais e quando o desenvolvimento técnico permite satisfazê-los. Falar de direitos
naturais ou fundamentais, inalienáveis sou invioláveis, é usar fórmulas de uma
linguagem persuasiva, que podem ter uma função prática num documento político, a
de dar maior força exigência, mas não têm nenhum valor teórico, sendo portanto
completamente irrelevantes numa discussão de teoria do direito.
(BOBBIO, 1995, p. 6).
Para que o meio ambiente possa ser protegido, visto ser de grande importância para o
ser humano, erigido à categoria e proteção constitucional como direito fundamental,
necessário um bom planejamento urbano, e até mesmo leis repressivas de condutas lesivas ao
meio ambiente.
Assim, as condutas ameaçadoras do meio ambiente devem ser objeto de intervenção
estatal, por ameaçar bens jurídicos da mais elevada categoria. E diante da dimensão que vêm
se transformando essas ameaças, faz-se mais do que necessária a intervenção do Estado nas
condutas antiecológicas, tendo a própria Constituição Federal autorizado expressamente o uso
desse ramo do Direito, quando no art. 225, VII, § 3º, disse:
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independente da obrigação de reparar os danos causados (BRASIL, 1988).
Não basta apenas proteger o meio ambiente como direito fundamental ao ser humano,
com a finalidade de haver saudável qualidade de vida e resguardar o direito a um meio
ambiente conservado para as gerações futuras, deve-se também punir os contraventores da lei.
A proteção não pode ter como objeto o meio ambiente generalizado e amplo. A
doutrina, então, o divide para efetivar sua proteção de maneira sustentável e cumprir os
mandamentos da CRFB.
22
2.2 Meio ambiente natural
É preciso apontar as diferenças entre meio ambiente natural, artificial, cultural e do
trabalho. O meio ambiente natural ou físico é composto pelos recursos naturais, como o solo,
a água, o ar, a flora e a fauna, e pela conexão mútua de cada um desses ambientes com os
demais.
Afinando o elucidado, tem-se por meio ambiente natural o composto por bens
propriamente naturais; é o próprio ambiente físico com suas propriedades naturais que
existem independentemente da ação humana e podem ser bióticos e abióticos. A atmosfera, o
solo, a flora, a fauna e as águas são exemplos de bens da natureza.
Acrescenta-se a necessidade do meio ambiente natural para a vida humana, sem o qual
esta seria extinta. Por tal razão, o direito ao meio ambiente natural é fundamental, elevado ao
grau máximo do bem jurídico, igualando-se ao bem jurídico “vida”, a qual é posta pela
doutrina ao lado do próprio conceito de meio ambiente.
2.3 Meio ambiente cultural
O meio ambiente cultural é o patrimônio histórico, artístico, paisagístico, ecológico,
científico e turístico e constitui-se tanto de bens de natureza material, a exemplo dos lugares,
objetos e documentos de importância para a cultura, quanto dos de natureza imaterial, a
exemplo dos idiomas, das danças, dos cultos religiosos e dos costumes de maneira geral.
2.4 Meio ambiente do trabalho
O meio ambiente do trabalho, estimado ainda como uma extensão do julgamento de
meio ambiente artificial, é o conjunto de fatores que se relacionam às condições do ambiente
de trabalho, como o local de trabalho, as ferramentas, as máquinas, os agentes químicos,
biológicos e físicos, as operações, os processos, a relação entre trabalhador e meio físico.
23
2.5 Meio ambiente urbano ou artificial
O meio ambiente urbano ou artificial é o arquitetado ou modificado pelo ser humano,
sendo composto pelos edifícios urbanos, que são os ambientes públicos fechados, e pelos
equipamentos comunitários, que são os ambientes públicos abertos, como as ruas, as praças e
as áreas verdes. Embora esteja mais relacionado ao conceito de cidade, o conceito de meio
ambiente artificial envolve também a zona rural, aludindo-se somente aos espaços habitáveis,
visto que neles os ambientes naturais resignam lugar ou se juntam às edificações urbanas
artificiais.
O principal objeto do Direito classificado como meio ambiente urbano são as cidades,
estas criadas e transformadas pelo ser humano como espaço ideal para se viver, onde habita
atualmente a maior parte da população mundial.
A Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972 e ratificada pelo Brasil em 16 de junho de
2004, aduz que o homem tem a capacidade de alterar o meio em que vive como forma de
torná-lo essencial para seu bem-estar.
O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual
lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual,
moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça humana neste
planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da
tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em
uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente
humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o
gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma
(ESTOCOLMO, 1972).1
Contudo, existem divergências a respeito de o meio ambiente urbano ser tratado como
sinônimo de meio ambiente artificial.
Para José Afonso da Silva (2000, p. 21), o aspecto artificial do meio ambiente é aquele
constituído pelo espaço urbano edificado, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço
urbano fechado) e dos equipamentos públicos (ruas, praças, áreas verdes, espaços livres em
geral: espaço urbano aberto).
Consuelo Yoshida (2010, p. 97 apud MARQUES) observa que a cidade é um bem
ambiental (bem de uso comum do povo e a necessidade de ser essencial à sadia qualidade de
1 http://www.apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel/1972_Declaracao_Estocolmo.pdf
24
vida), na medida em que constitui uma síntese do meio ambiente em todos os seus aspectos.
Ao mesmo tempo não entende a cidade como meio ambiente urbano sinônimo de meio
ambiente artificial, havendo diversos outros fatores propiciadores para a vida nas cidades que
se complementam com o meio ambiente artificial.
Seria o diverso do proposto por José Afonso da Silva, que leva em consideração as
relações sociais, a qualidade de vida e outros bens não visíveis aos olhos, mas presentes nas
interações do homem na cidade.
Com base nisso, podemos afirmar que a cidade como meio ambiente é bem de uso
comum do povo e deve corresponder às suas expectativas, ou seja, o ser humano tem que se
sentir seguro no meio ambiente em que vive. Não se pode mais pensar na cidade de forma
isolada; ela tem que ter múltiplas funcionalidades para qualidade de vida sadia dos indivíduos
que nela coabitam.
E é nesse contexto que cabe ao poder público diligenciar a fim de que todos os seres
humanos possam usufruir do acesso à infraestrutura urbana de qualidade, moradia, lazer,
serviços públicos, sob o manto da segurança para desempenhar quaisquer dessas atividades
tranquilamente.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 propõe em seus artigos 182
e 183, respectivamente:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus
habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com
mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento
e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências
fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
§ 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa
indenização em dinheiro.
§ 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área
incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo
urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão
previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos,
em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os
juros legais.
25
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta
metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a
para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à
mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião (BRASIL, 1988).
Esses artigos são instrumentos viabilizadores de uma cidade sustentável. O Estatuto da
Cidade, Lei n.º 10.257/2001, foi elaborado com base em tais artigos, como norma geral a ser
observada pelos demais entes com relação às políticas públicas.
O mencionado Estatuto conceitua, em seu artigo 2º, inciso I, as diretrizes a serem
observadas:
Garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o direito à terra urbana,
à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana, ao transporte e aos
serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras gerações
(BRASIL, 2001).
2.5.1 Meio ambiente urbano como bem jurídico
Em que pesem as modalidades doutrinárias de meio ambiente (natural, artificial,
cultural, do trabalho), não se pode esquecer seu caráter de indivisibilidade, pois é um
ecossistema que rege as vidas como um todo indistintamente, um uno envolvendo partes, um
coletivo transcendendo as singularidades.
Para compreensão inicial de bens jurídicos, segundo lição de Roxin,
Podem-se definir os bens jurídicos como circunstâncias reais dadas ou finalidades
necessárias para uma vida segura e livre, que garanta a todos os direitos humanos e
civis de cada um na sociedade ou para o funcionamento de um sistema estatal que se
baseia nestes objetivos (ROXIN, 2009, p. 18-19).
A compreensão de bem jurídico remonta, fundamentalmente, à ideia de bem
existencial, imprescindível ao desenvolvimento social, o qual, consoante explicação de
Bianchini, Molina e Gomes,
É o bem relevante para o indivíduo ou para a comunidade (quando comunitário não
se pode perder de vista, mesmo assim, sua individualidade, ou seja, o bem
26
comunitário deve ser também importante para o desenvolvimento da individualidade
da pessoa) que, quando apresenta grande significação social, pode e deve ser
protegido juridicamente. A vida, a honra, o patrimônio, a liberdade sexual, o meio-
ambiente etc. são bens existenciais de grande relevância para o indivíduo
(BIANCHINI; MOLINA; GOMES, 2009, p. 232).
Porém, para melhor compreensão dentro do Direito, a definição do que é meio
ambiente urbano é de grande valia para explicar a sua particularidade, pois ele passa a ter um
valor de fundamental importância e merece amparo, mas só se justifica quando o Estado o
protege a título de bem jurídico, posto ser relevante para a sociedade.
Consoante isso, para ter proteção no ordenamento jurídico, primeiramente deve ser
separado; em outras palavras, ele deve ser mais bem delimitado. No caso do meio ambiente
urbano, ele sai da esfera global do que seja meio ambiente e se torna objeto do Direito,
retirado do grande universo meio ambiente, para só então ser considerado bem jurídico.
A par de tal informação, no meio ambiente em que há um grande número de pessoas,
que se relacionam socialmente, é o meio ambiente urbano composto por diversos fatores
sociais, culturais, urbanos, com a intenção de que possa viabilizar uma vida saudável, com
qualidade de vida, o qual é chamado de cidade. Freitas, citando Park, trouxe o modelo de
ecologia social para explicar a cidade e demonstrou que ela é a unidade orgânica em que vive
o homem:
Park e seus contemporâneos usavam modelo da ecologia social para pesquisar a
cidade. Ele propôs uma analogia entre a distribuição da vida vegetal na natureza e
organização da vida humana em sociedades. Esta a razão pela qual este conceito se
tornou conhecido como ecologia humana. [...] via a cidade não apenas como um
fenômeno geográfico, mas como um tipo de “superorganismo” que tinha “unidade
orgânica” derivada das inter-relações simbióticas das pessoas que vivem nela
(PARK apud FREITAS, 2002, p.67/68).
Portanto, a cidade nada mais é que o meio ambiente urbano, um pedaço do meio
ambiente, que, como acima demonstrado, abrange diversos setores ambientais. Seu
desmembramento para fins acadêmicos e jurídicos é de suprema importância.
Verificado o valor da cidade para a humanidade, cabe ao Estado delimitar regras,
institucionalizar normas, todas gerenciais, para tornar viável a vida urbana, valoração
importante para delimitar o bem e o torná-lo jurídico.
Ademais, para assegurar a ordem social nas cidades, são necessárias normas de
regulamentação capazes de atuar como sistema eficaz e de controle social. Nas palavras de
Bobbio (1995, p. 230), “A ordem, de fato, é o resultado da conformidade de um conjunto de
acontecimentos a um sistema normativo [...]”.
27
Assim, a cidade tem que ser considerada bem jurídico com valoração dada e
determinada por uma sociedade, que segundo ordenamento jurídico passa a merecer acolhida
em todos os escalonamentos da legislação.
E Prado (2009, p. 96) confirma que “o conceito material de bem jurídico reside, então,
na realidade social, sobre o qual incidem juízos de valor, primeiro do constituinte, depois do
legislador ordinário”.
Essa conceituação de bem jurídico advinda do ordenamento, segundo o autor, só
merece ser legítima a partir do momento em que é reconhecido, primeiramente, no âmbito
social; a isso se denomina valor social, que é o valor fruto das relações subjetivas, e que após
seu reconhecimento é levado para o mundo jurídico.
Afirma-se então que o bem jurídico é o valor social surgido primeiramente nas
entranhas de uma sociedade e que é utilizado pelo legislador como fundamento para sua
merecedora proteção dentro do ordenamento jurídico.
Portanto, o Estado, através de seu órgão legislativo, analisa que bem é tudo aquilo
considerado importante para o ser humano, podendo ser estimado em quantia (valor
patrimonial), bem como os bens naturais que de algum modo proporcionam ao indivíduo uma
comodidade.
Esses bens são fracionados em qualidade, segundo parâmetros definidos como mais
valiosos para a sociedade. Alguns bens aparecem até mesmo como imateriais, não poupáveis,
mas com um relevante reconhecimento existencial.
Na mesma esteira de pensamento, José Cirilo Vargas (2008, p. 2), ao tratar de bens
materiais, os considera não apenas como aqueles de valor econômico, pois não são os únicos
considerados bens jurídicos: pode haver bens imateriais elevados a patamares legais.
Para ele, “são bens jurídicos, antes de tudo, os bens de natureza patrimonial. Nesse
sentido, tudo que se pode integrar ao nosso patrimônio é um bem e, como tal, recebe tutela do
Direito. Mas não somente os bens patrimoniais que se erigiram em bem jurídico” (VARGAS,
2008, p. 2).
Na medida em que esses bens, através de juízos de valores de uma dada sociedade, são
considerados de suma importância para a vida humana, são merecedores de proteção pelo
ordenamento jurídico, e assim denominados, como outrora dito, bens jurídicos.
Frente ao disposto, ressalta-se que não se deve confundir “bem” com “valor”, em que
pese seu estreito relacionamento, uma vez que em sentido lato bem é tudo que é útil à vida do
28
homem, e nem todos os bens são valorados pela sociedade a ponto de serem considerados
jurídicos, isso devido ao seu caráter individual e subjetivo.
Para tanto, o bem somente é plausível de se tornar bem normatizado, quando lhe forem
acrescidos valores determinados pela sociedade, e ainda relevado o momento de sua
concepção, ou seja, em um dado momento. Até porque os valores mudam segundo evolução
social, política, cultural etc., a isso se deve o seu caráter individual e subjetivo.
Nas palavras de José Cirilo Vargas, o valor é de difícil definição, mas afirma que há
diferenças entre valores, ou seja, têm-se valores jurídicos e valores sociais; segundo o autor,
“O valor tutelado por uma norma é um valor jurídico, na medida em que entra em contato
com o mundo do Direito. Mas isso não quer dizer que fora dessa relação ele não tenha
também um significado: antes de um valor jurídico é um valor social” (VARGAS, 2008, p. 4).
Nos dizeres de Reale Jr. (2001, p. 31), “O certo é que toda norma enuncia algo que
deve ser, em virtude de ter sido reconhecido um valor com razão determinante de um
comportamento declarado obrigatório.”
Além desses ilustres doutrinadores, Ferrajoli, numa linha mais restritiva, voltada para
uma análise penal, entende que bem jurídico deve ter conteúdo valorado e, para analisar uma
lesão, necessário também efetuar um juízo de valor: “Palavras como lesão e bem jurídico são
claramente valorativas. Dizer que um determinado objeto e interesse é um bem jurídico, e que
sua lesão é um dano é tanto como formular um juízo de valor sobre ele”.2 (FERRAJOLI,
1995, p. 467).
Consoante a isso, bem jurídico é tudo aquilo que proporciona uma satisfação ao
homem, são valores materiais ou imateriais. É tudo aquilo que representa uma significação
social ou individual, como a vida, a honra, o patrimônio, a liberdade sexual, o meio ambiente
etc.
Nota-se que é majoritário o fato de ser o bem jurídico oriundo de um valor, o que não
foi diferente nos escritos de Toledo (1994, p. 15), pois trouxe em seus escritos que “Bem, em
um sentido mais amplo, é tudo aquilo que nos apresenta como digno, útil, necessário valioso
[...] Os bens são, pois, coisas reais, ou objeto ideal dotado de ‘valor’, isto é, coisas materiais e
objetos imateriais que além de ser o que são ‘valem’”.
2 Palabras como «lesión», «daño» y «bien jurídico» son claramente valorativas. Decir que un determinado objeto
o interés es un «bien jurídico* y que su lesión es un .daño. es tanto como formular un juicio de valor sobre él. (FERRAJOLI, 1995, p. 467).
29
Assim, não se pode elevar a patamares jurídicos quaisquer bens, eles devem ter sua
significação frente ao indivíduo e à sociedade, para somente após uma análise aprofundada
elevá-los à categoria da proteção jurídica.
Muitas coisas podem ser consideradas bem, mas somente aquelas de elevado valor
individual podem ser consideradas bem jurídico. Este deve ter elemento de grande interesse
ao homem em relação a um determinado bem existencial. Por exemplo, o bem “vida” pode ser
visto como bem jurídico no momento em que for confrontado pela morte ou pelo risco,
quando sua proteção será considerada de grande interesse.
Da mesma forma merece diferenciação o que seria objeto de interesse para o
ordenamento jurídico. Isso se deve ao fato de que alguns valores podem não ter interesse em
um determinado contexto social ou interesse político.
O Estado, portanto, acaba por qualificar um bem segundo interesses (políticos, sociais,
econômicos etc.), ou seja, por mais valorado que seja um determinado bem para uma
determinada sociedade, a depender das questões colocadas em “jogo”, não será elevado à
categoria do Direito.
A isso está atrelado o bem jurídico, como um bem devidamente valorado, mas apenas
posto no ordenamento jurídico, segundo interesses na sua proteção. Pode-se dizer que bem,
valor e interesse estão ligados entre si, mas nem tudo que é bem é protegido; da mesma forma
podemos afirmar quanto a valores, já que nem todos os valores são normatizados ou
censurados.
Observa-se que na seara cível diversos bens são considerados de grande valia, seja nas
relações sociais ou contratuais, mas apenas aqueles de valoração e interesse social são por
esse ordenamento protegidos. E isso se deve ao fato de não assoberbar todo o ordenamento
jurídico na proteção de bens irrelevantes; para tanto são utilizados princípios e regras
costumeiras.
Constata-se que a lei, portanto, é considerada parte importante no controle social; seria
o elemento substancial para prevenir, remediar ou castigar os desvios das regras prescritas.
Desse modo, a lei expressa a presença de normatização de bem jurídico e regulamenta essas
complexas relações sociais, e assim a coesão do grupo social é mantida.
Nos dizeres de Miguel Reale:
Reconhece-se em última análise, como uma conquista impostergável da civilização
o que técnica e tradicionalmente se denomina autonomia da vontade, isto é, o poder
que tem cada homem de ser, de agir e de omitir-se nos limites das leis em vigo,
tendo por fim alcançar algo de seu interesse e que, situado no âmbito da relação
30
jurídica, se denomina bem jurídico. Pode este ser, quanto ao conteúdo de natureza
econômica, estética, religiosa, de comodidade social, de recreação etc., pois o
Direito é sincrônico com todas as formas de vida social (REALE JR., 2001, p. 170)
(grifos nossos).
Assim, bem jurídico nada mais é que valor atribuído por uma sociedade e que através
do interesse acerca de sua proteção é elevado à categoria de norma prescrita no ordenamento
jurídico. Para parte da doutrina antropocentrista, esse bem elevado à categoria do Direito só
pode ser considerado lesionado quando se tratar de um bem jurídico cuja integridade o
sistema normativo proteja, reconhecendo-o como um direito do indivíduo3.
Nesse sentido, o bem jurídico individual deve atuar, segundo Hassemer, como
orientador de toda a ratio legis, fornecendo elementos para a configuração de uma
política criminal justa. Colocar a teoria do bem jurídico nesses termos, contudo, não
responderia à questão de se o Direito Penal está realmente em condições de proteger
tais bens, ou se estes efetivamente significam um limite legítimo de intervenção do
Estado (OLIVEIRA, 2013, p. 56).
Portanto, o local onde habita o homem, como bem jurídico, merece amparo pelo
ordenamento jurídico, através de instrumentos viabilizadores. Meio ambiente urbano é a
cidade bem planejada que deve dar ao ser humano uma vida saudável, uma maior qualidade
de vida.
Por isso, o Direito Ambiental, através de métodos sistêmicos e dos instrumentos de
políticas públicas, pode colocar à disposição do homem um meio ambiente urbano (cidades)
bem planejado e saudável, viabilizando melhor qualidade de vida para as gerações presentes e
futuras.
2.6 Direito Ambiental
Direito Ambiental é a ciência que se preocupa com os interesses atinentes ao meio
ambiente, em quaisquer de suas subespécies, como o natural, o artificial, o do trabalho e o
cultural, de forma a equilibrar uma essencial e sadia qualidade de vida. E por isso busca
proteção de bens jurídicos de fundamental importância para a vida dos seres vivos e seu meio.
3 F. von Liszt, Tratado, cit., 32, t. 11, p. 337: *la lesión o riesgo de un bien jurídico sólo será materialmente contraria al
Derecho cuando esté en contradicción con los fines del orden jurídico que regula la vida común.. Cf. también A. de Marsico,
Diritto penale. Parte generale, Jovene, Nápoles, 1937, p. 143. Citados por (FERRAJOLI, Luigi. 1995, op. cit. p. 426)
31
Numa sociedade moderna, faz-se necessário que o Direito Ambiental, juntamente com
os demais ramos da ciência, busque soluções sensíveis e ao mesmo tempo práticas, devido ao
aumento da complexidade de interesses e valores, pois os conflitos sociais se alastram para
além de respostas exatas e objetivas.
Assim, o Direito Ambiental pode ser visto como uma ciência multidisciplinar, que não
tem apenas direito material, mas processual, transindividual, metafísico, de interesse coletivo,
que até mesmo transpõe as fronteiras do Estado, sem assim ferir o princípio da soberania.
E isso se deve ao fato de que o interesse em comento trata de questões oriundas, para
alguns, do direito natural, que transpassa limites geográficos, por ser comum a todos.
Norberto Bobbio, ao tratar do direito natural, assevera que:
O direito natural é aquele que tem em toda parte (pantachoú) a mesma eficácia (o
filósofo emprega o exemplo do fogo que queima em qualquer parte), enquanto o
direito positivo tem eficácia apenas nas comunidades políticas singulares em que é
posto (BOBBIO, 1995, p. 17).
Em contrapartida aos seguidores do direito natural, Freitas (2012, p. 23) fala do
aspecto objetivo do Direito Ambiental e expõe que ele está estritamente ligado ao conjunto
das normas disciplinadoras da proteção da qualidade do meio ambiente.
2.6.1 Princípios do Direito Ambiental
Princípios são informadores de condutas e proporcionam, por meio de juízos de
valores abstratos, a interpretação e o fundamento do Direito.
Os doutrinadores Robert Alexy e Ronald Dworkin (apud COSTA, 2013, p. 19)
entendem que normas são gênero que tem como espécies princípios e regras.
Logo, o ordenamento jurídico contempla o arcabouço de normas ou padrões a serem
obedecidos; as normas são a tradução do almejado em uma sociedade, substrato de princípios;
e as regras são as conclusões destes. Assim, pode-se dizer que existem normas-princípios e
normas-regras.
Normas não são textos nem o conjunto deles, mas os sentidos construídos a partir da
interpretação sistemática de textos normativos. Daí se afirmar que os dispositivos se
constituem no objeto de interpretação; e as normas, no seu resultado. O importante é
que não existe correspondência entre norma e dispositivo, no sentido de que sempre
32
que houver um dispositivo haverá uma norma, ou sempre que houver uma norma
deverá haver um dispositivo que lhe sirva de suporte (ÁVILA, 2005, p. 22).
A doutrina faz uma distinção entre regras e princípios e explica também como adotar
normas-princípios e normas-regras quando houver colisão entre elas. Alexy, em seus
ensinamentos, diferenciou num primeiro momento os princípios e as regras quanto à
generalidade. Considerou que, se mais ampla sua aplicabilidade, trata-se de princípio; as
regras para ele têm aplicação mais específica, não havendo a possibilidade de flexibilização.
Ocorre que a diferença tendo como critério o grau não foi a ideal escolhida por Alexy;
ele foi criterioso e entendeu que, para não haver problema na colisão das normas, o princípio
deve ser analisado pelo critério qualitativo; ao contrário, as regras devem ser analisadas pelo
critério da validade.
Para Alexy, os princípios seriam mandamentos de otimização (maximização), ou seja,
são normas que ordenam que algo seja cumprido na maior medida do possível de acordo com
as possibilidades fáticas e jurídicas existentes. Em contrapartida, a norma deve ser cumprida
segundo o critério de validade, o que leva a interpretar que os princípios devem ser cumpridos
na maior medida possível, utilizando-se das circunstâncias fáticas e jurídicas existentes. As
circunstâncias fáticas dizem respeito às circunstâncias no caso concreto, analisando-se cada
caso. E as jurídicas são os princípios e as regras que apontam no sentido oposto e que vão
determinar a medida de seu cumprimento; exemplo é o direito à privacidade e à liberdade de
informação (sentidos opostos).
Dworkin, ao desenvolver sua teoria da colisão de princípios e regras (espécie de
norma), entendeu que os princípios devem ser aplicados segundo o bom senso a ser dado em
um caso concreto; já as regras devem ser aplicadas na medida exata.
As regras são mandamentos de definição; regras impõem resultados e têm aplicação
automática, obedecem à lógica do tudo ou nada. Aqui se aplica a subsunção, e não a
ponderação como no princípio.
Entrementes, os princípios como espécie de normas são basilares para o Direito
Ambiental, e enfatiza-se que este tem princípios próprios que o inserem como ramo do Direito
com autonomia suficiente para proteção de bens jurídicos ambientais.
Celso Antônio Bandeira de Mello (apud THOMÉ, 2015, p. 57) considera o princípio
como basilar do Direito, sendo de suma importância para “orientar o desenvolvimento e a
aplicação de políticas públicas”.
33
[...] é por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele,
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o
espírito e servindo de critérios para a sua exata compreensão e inteligência,
exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe
confere a tônica e lhe dá sentido humano. É o conhecimento dos princípios que
preside a intelecção das diferentes partes componentes de todo unitário que há por
nome sistema jurídico positivo.
Portanto, é indiscutível a relevância da existência de diversos princípios ambientais
que fundamentam o Direito Ambiental, a conferir-lhe suporte de existência como ciência do
Direito e permitir a aplicação de suas normas da melhor maneira em um dado caso concreto.
A utilização de princípios é importante, uma vez que as normas do Direito Ambiental
estão dispersas em inúmeros textos de lei. Por intermédio dos princípios, consegue-se
organizá-las, ou seja, dar-lhes suporte para sopesar de forma criteriosa a melhor interpretação
em um caso concreto.
Ainda, o fato de o interesse ambiental, conforme mostrado acima, transpassar limites
geográficos, e como direito natural comum a todos os indivíduos, fomenta ainda mais conflito
entre as normas alienígenas, pois o Direito Ambiental é visto como ciência universal, que até
mesmo transpõe as fronteiras do Estado, sem contudo ferir o princípio da soberania.
E para que isso seja possível, o Direito Ambiental utiliza todo o sistema normativo e
pondera os princípios conflitantes na busca fundamental do direito ao meio ambiente saudável
para as presentes e as futuras gerações.
Acrescenta-se também que numa sociedade moderna faz-se necessário que o Direito
Ambiental, juntamente com os demais ramos da ciência, busque soluções sensíveis e ao
mesmo tempo práticas, devido ao aumento da complexidade de interesses e valores, pois os
conflitos sociais se alastram para além de respostas exatas e objetivas, ensejando a
flexibilização dos princípios proposta por Alexy.
2.6.1.1 Princípio da prevenção e da precaução
O Direito Ambiental, tal como os demais ramos do Direito, utiliza-se de princípios
como informadores de condutas ambientais, alicerce ou fundamento do Direito. Dentre os
princípios do Direito Ambiental, tem-se o princípio da prevenção e o princípio da precaução.
Alguns doutrinadores, como Figueiredo (2013), conceituam que o princípio da
prevenção é entendido como sinônimo do princípio da precaução, que deve ser observado
34
como antecipador de danos ambientais, contra riscos conhecidos e previsíveis. Ele visa à
adoção de medidas cautelares antes de iniciar atividade passível de causar poluição ou
degradação ao meio ambiente.
Nas palavras de Canotilho e Leite (2011, p. 193), o princípio da precaução e o da
prevenção “são os dois lados de uma mesma moeda”, e citam “o adágio popular mais vale
prevenir do que remediar”, explicando a aplicação dos princípios como a finalidade de
prevenir riscos para as futuras gerações.
Para Edis Milaré, o princípio da prevenção é diferente do princípio da precaução. O
autor assevera que o princípio da prevenção deve ser aplicado aos casos em que o
empreendimento, atividade econômica, possa ocasionar perigo certo ao meio ambiente,
devendo as consequências do ato ser antecipadas, exigindo adoção de medidas suficientes ao
seu combate. Como se transcreve a seguir:
Aplica-se esse princípio, como se disse, quando o perigo é certo e quando se tem
elementos seguros para afirmar que uma determinada atividade é efetivamente
perigosa [...]
Na prática, o princípio da prevenção tem como objetivo impedir a ocorrência de
danos ao meio ambiente, através da imposição de medidas acautelatórias, antes da
implantação de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras (MILARÉ, 2011, p. 1070-1071).
Na mesma linha de pensamento, Paulo Affonso Leme Machado diferencia os
princípios da prevenção e da precaução:
No Brasil, quando a lei 6938/1981 diz, em seu art. 2º, que sua Política Nacional do
Meio Ambiente observará como princípios a “proteção dos ecossistemas, com a
preservação das áreas representativas”, e “a proteção de área ameaçadas de
degradação”, está indicando especificamente onde aplicar-se o princípio da
prevenção (MACHADO, 2014, p. 120).
Leme alerta também que o princípio da prevenção não é estático, ele deve ser
constantemente avaliado através de políticas públicas a depender de dados existentes em cada
momento, pois no tempo as medidas de aplicação do princípio da prevenção podem alterar
tanto na conformidade da evolução, quanto no desenvolvimento de cada país.
Já o princípio da precaução destina-se a evitar um perigo abstrato, ou seja, uma
situação de risco ou um potencial dano desconhecido em razão da imprevisibilidade das
consequências da atividade impactante. Relaciona-se sem sombra de dúvida à insuficiência do
conhecimento científico sobre determinado assunto, preocupando-se com um risco incerto,
possível de concretizar-se.
35
Esse princípio destina-se à proteção ambiental em face da incerteza dos saberes
científicos, de modo que é frequente a sua invocação quando se discutem assuntos relativos ao
aquecimento global, à engenharia genética e à introdução de organismos geneticamente
modificados, entre outros.
E ainda, no ano de 1992, foi realizada na cidade do Rio de Janeiro a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tendo-se reunidos para concretizar
e efetivar a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano,
adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972 e ratificada pelo Brasil em 16 de junho de
2004, a qual trouxe o princípio da precaução, de número 15, colacionado abaixo:
Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser
amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando
houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica
absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas
economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental (ONU, 1992).
É, portanto, dever jurídico evitar a consumação de danos ao meio ambiente, sob pena
de responder pelos atos praticados. Esses princípios são balizadores de quaisquer condutas
relacionadas ao meio ambiente; são as diretrizes para os demais princípios e normas
ambientais.
Tanto o princípio da prevenção quanto o da precaução visam a conscientizar não
apenas o Estado quanto à fiscalização e elaboração de políticas públicas, mas também o
homem em sua conduta social, de maneira a interagir com o seu meio e proteger seu habitat,
evitando danos irreparáveis.
Os avanços tecnológicos propiciam o exame dos princípios da prevenção e da
precaução, porque as consequências das atividades ou produtos podem ser danosas. Para tanto
os tribunais superiores aplicam tais princípios como guiador das atividades no mercado
econômico. Contudo, viabilizam a aplicação deles (prevenção e precaução) em conjunto com
o princípio do desenvolvimento sustentável, de maneira a não impactar o mercado econômico
e os avanços sociais necessários para o desenvolvimento.
[...] Ausência de eliminação total dos efeitos nocivos da destinação dos pneus
usados, com malefícios ao meio ambiente: demonstração pelos dados. 4. Princípios
constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentável e b) da equidade e
responsabilidade intergeracional. Meio ambiente ecologicamente equilibrado:
preservação para a geração atual e para as gerações futuras. Desenvolvimento
sustentável: crescimento econômico com garantia paralela e superiormente
respeitada da saúde da população, cujos direitos devem ser observados em face das
necessidades atuais e daquelas previsíveis e a serem prevenidas para garantia e
respeito às gerações futuras. Atendimento ao princípio da precaução, acolhido
36
constitucionalmente, harmonizado com os demais princípios da ordem social e
econômica. 5. Direito à saúde: o depósito de pneus ao ar livre, inexorável com a
falta de utilização dos pneus inservíveis, fomentado pela importação é fator de
disseminação de doenças tropicais. Legitimidade e razoabilidade da atuação estatal
preventiva, prudente e precavida, na adoção de políticas públicas que evitem causas
do aumento de doenças graves ou contagiosas. Direito à saúde: bem não patrimonial,
cuja tutela se impõe de forma inibitória, preventiva, impedindo-se atos de
importação de pneus usados, idêntico procedimento adotado pelos Estados
desenvolvidos, que deles se livram [...] (ADPF 101, Relatora: Min. Cármen Lúcia,
Tribunal Pleno, julgado em 24.6.2009, DJe-108 Divulg. 1º.6.2012. Publicação:
4.6.2012).
2.6.1.2 Princípio do desenvolvimento sustentável
É relevante mencionar que a comunidade internacional se preocupa com o
desenvolvimento acelerado da economia e o progresso social dos Estados soberanos. Isso
porque desde a década de 60 o planeta tem sofrido com diversos acidentes na esfera
ambiental.
Nesse contexto, foi realizada a Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo no
ano de 1972, que reuniu diversos representantes para discutir o futuro do planeta, assunto que
não se limita à esfera geográfica de um país.
Nas palavras de Paulo Affonso Leme (2014, p. 70), “não há qualquer país que não seja
sócio da ideia de desenvolvimento sustentável, mesmo e sobretudo os ricos”.
Em 1987, no Relatório intitulado por Brundtland, o presidente da Comissão Mundial
sobre o meio ambiente e o desenvolvimento Gro Harlem Brundtland definiu desenvolvimento
sustentável como aquele [desenvolvimento] que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades.
Também citado por Paulo Affonso Leme Machado (2014, p. 73), acerca do documento
apresentado na mencionada comissão, “para assegurar um desenvolvimento sustentável é
preciso, entretanto, promover valores que facilitarão um tipo de consumo nos limites do
possível ecológico e ao qual cada um possa razoavelmente pretender.”
No ano de 1992, no Brasil, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente, o que evidenciou ainda mais a preocupação de diversos países acerca do
desenvolvimento econômico frente às degradações ambientais provocadas pelo
desenvolvimento e o progresso econômico.
Nessa esteira, trouxe o princípio de número 1, enfatizando o desenvolvimento
sustentável nos seguintes dizeres: “Os seres humanos estão no centro das preocupações com o
37
desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com
a natureza” (ONU, 1992).
A preocupação dos países quanto ao meio ambiente mostrou-se necessária, pois um
país não se desenvolve sem a exploração dos recursos naturais, mas precisa fazer essa
exploração sem agredir a natureza e o meio ambiente.
O princípio do desenvolvimento sustentável não está expressamente disposto na Carta
Magna de 1988, mas se encontra implícito no art. 225, no que tange à parte referente do dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Assim, a alteração no meio ambiente pelo ser humano e em qualquer das esferas
ambientais, como a social, cultural, do trabalho, inclusive quanto à cidade, deve resguardar o
desenvolvimento com a observância da sustentabilidade. Principalmente quanto à parte de
preservar um meio ambiente sadio para as presentes e as futuras gerações, retirando dele tudo
que provoca inquietação no ser humano, inclusive a criminológica.
2.6.1.3 Princípio da participação
Já o princípio da participação demonstra claramente que a sociedade não é afastada do
papel de responsável pela preservação e proteção ambiental. Esse princípio, ao contrário,
traduz o envolvimento de toda a coletividade como parceira na preservação e proteção do
meio ambiente.
Para tanto, a Carta Maior trouxe instrumentos processuais, como ação popular, ação
civil pública, direito de petição, entre outros capazes de fazer valer o direito de todos de
usufruir um meio ambiente com qualidade.
Esse princípio focaliza na conscientização de todos os homens para uma efetiva
proteção do meio ambiente saudável, e ainda estende essa obrigação com viés futuro, para
proteção de interesses ainda não existentes, ou seja, para interesses além dessa geração, para
gerações vindouras, de forma que todos os seres humanos presentes e futuros possam gozar de
um meio ambiente saudável com qualidade de vida.
38
2.6.1.4 Princípio do direito ao meio ambiente equilibrado e função social da cidade
O meio ambiente deve ser favorável para seres se desenvolverem, haja vista que é
onde a vida biótica e a abiótica acontecem. O direito do ser humano de ter o local em que vive
preservado e equilibrado nada mais é que o próprio direito fundamental do ser humano, e
confere ao sujeito de direito a possibilidade de reivindicá-lo.
Como salientado, o meio ambiente é considerado direito de terceira geração ou
dimensão, já que é bem jurídico de grande valor para a humanidade e incorporado no texto
constitucional do Estado Democrático de Direito.
Meio ambiente é a extensão da vida, na conformidade do escrito por Milaré:
O reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio configura-se, na verdade,
como extensão do direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e
saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência-
qualidade de vida-, que faz com que valha a pena viver (MILARÉ, 2011, p. 1.065).
Milaré considera ainda o meio ambiente como algo transcendental. Por ser direito
fundamental, está disposto no caput do art. 225 da CRFB, mesmo que fora do artigo 5º do
mesmo diploma, pois a Constituição Federal é analítica e sistêmica, decompõe-se em
múltiplos elementos e depois sistematiza cada elemento que compõe o todo. Por sua vez, os
direitos e as garantias encontram-se distribuídos por todo o texto constitucional.
Nas belas palavras do prof. Thomé (2015, p. 65), “O fato de não compor o título
próprio dos Direitos e Garantias Fundamentais, englobante dos art. 5o ao 17, não lhe retira
substância nem formalidade.” E explica:
Sem embargo da maior concentração dos direitos naquela topologia, a identificação
de outros direitos igualmente fundamentais obriga uma leitura sistemática das
disposições da Constituição, que leve em conta o sentido direto ou gramatical do
texto, mas também a sua referência aos eixos normativos- axiológicos da sociedade
e sua relação com a organização e funcionamento do Estado (THOMÉ, 2015, p. 65).
Para Paulo Affonso Machado (2014, p. 62), “O conceito equilíbrio não é estranho ao
Direito. Pelo contrário, a busca do equilíbrio nas relações pessoais e sociais tem sido um fim a
atingir nas legislações.” Assim, o direito ao meio ambiente equilibrado significa dizer que
toda relação social faz parte do meio ambiente, e elas devem ser equilibradas, monitoradas
pelo Estado, sob pena de não atingir o direito fundamental prescrito na CRFB/88.
39
Atrelado ao princípio do direito ao meio ambiente equilibrado está o princípio da
função social da cidade, de maneira a se ter uma cidade sustentável. E para se efetivar esses
princípios, o Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/01) é instrumento hábil e traz em seu art. 1o,
parágrafo único, o conceito do que vem a ser uma cidade sustentável, com a sua função social
respeitada, considerando o bem-estar coletivo dos cidadãos e o meio ambiente equilibrado:
Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas
de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em
prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do
equilíbrio ambiental (BRASIL, 2001).
Após apresentar os conceitos sobre o meio ambiente urbano e o direito fundamental, é
preciso realizar uma conexão entre a criminalidade e a influência do meio ambiente,
apresentando, ainda, questões sobre a teoria das janelas quebradas e a atual situação brasileira
no que tange aos crimes.
40
3 O FENÔMENO DO CRIME SOB A ÓTICA DA CRIMINOLOGIA
Uma das maiores indagações que se apresentam sobre o surgimento do crime é a sua
causa. O que leva um indivíduo inserido na sociedade a praticar atos considerados não aceitos
pelos padrões morais, éticos e culturais dessa mesma sociedade?
A Criminologia é a ciência que tenta responder essas perguntas, capacitada a estudar
as condutas humanas e analisá-las em diversos aspectos, como ações do homem dentro de
uma sociedade composta de regras e valores.
Com os avanços sociais, a Criminologia foi-se diversificando e mudando o foco de seu
objeto. Segundo pesquisadores como Juarez Cirino, a Criminologia tomou outro rumo para
explicar o crime e o criminoso. Para ele a Criminologia parte da criminalidade para a
criminalização; não seria o tratamento anterior dado ao crime pela criminologia tradicional,
em que o indivíduo era analisado por suas características biológicas, psicológicas e
ambientais.
3.1 Criminologia: uma análise da ação humana no ambiente em que habita
A Criminologia é o instrumento que estuda as razões de determinados
comportamentos individuais, e até mesmo de um dado grupo situado em uma dada localidade.
Isso porque o ser humano é considerado no “reino animal” como ser racional. Em que
pese ter a racionalidade individual, ele deve agir na conformidade do agir do outro. E para que
ele promova esses atos, deve discernir o que é certo do que é errado, o bem do mal, o justo do
injusto; mas o indivíduo não é analisado como máquina, pois ele não está submetido a apenas
duas respostas, e por isso sua conduta é bastante complexa.
Para o direito natural, a capacidade de decisão na conduta humana é ditada pela
valoração dada pelo próprio indivíduo em torno de si mesmo, ou seja, ele age para satisfazer
apenas aos seus interesses pessoais, de acordo com sua natureza egoísta.
Segundo Juarez Cirino Santos, a ação do homem é analisada em sua naturalidade, em
conjunto com os fenômenos sociais.
As ciências naturais e as técnicas estatísticas desenvolvidas nas sociedades
industriais fazem nascer a criminologia, uma ciência explicativa da criminalidade
como fenômeno de massa. Este novo discurso de explicação da criminalidade,
construído pelo método positivista das ciências naturais, nas variantes biológica
41
(LOMBROSO) e sociológica (FERRI), pretende substituir o direito penal como
discurso oficial de imputação de fatos antissociais (SANTOS, Juarez Cirino, 2013,
p. 41).
Em contrapartida ao direito natural, o direito positivado busca prescrever as ações
humanas na lei. Ou seja, para o direito positivado, as ações e as condutas humanas são
guiadas por regras impostas, e não decididas por instintos.
Definindo o direito natural como o direito que todo homem tem de obedecer apenas
à lei de que ele mesmo é legislador, Kant dava uma definição da liberdade como
autonomia, como poder de legislar para si mesmo. […] uma vez entendido o direito
como a faculdade moral de obrigar outros, o homem tem direitos inatos e
adquiridos; e o único direito inato, ou seja, transmitido ao homem pela natureza e
não por uma autoridade constituída, é a liberdade, isto é, a independência em face de
qualquer constrangimento imposto pela vontade do outro, ou, mais uma vez, a
liberdade como autonomia (BOBBIO, 1995, p. 49).
Utilizando o direito natural e o direito positivado, a Criminologia aprecia as condutas
do homem dentro de uma sociedade; a conduta individual e egoísta é sopesada, não deixando
de lado o fato de que, juntamente com os avanços do homem na sua evolução social, a
previsão e presença de crimes é perfeitamente natural.
O pressuposto de que parte a Criminologia etiológica [...] é que existe um meio
natural de comportamentos e indivíduos que possuem uma qualidade que os
distingue de todos os outros comportamentos e de todos os outros indivíduos: esse
meio natural seria a criminalidade. Esse modo de considerar a criminalidade está tão
profundamente enraizado no senso comum que uma concepção que dele se afasta
corre o risco de, a todo o momento, passar por uma renúncia a combater situações
socialmente negativas (BARATTA, 1999, p. 154).
Em tudo que envolve a conduta do indivíduo (essa intrigante disputa interna do ser
humano na sua origem versus sua interação com os demais seres dentro da sociedade), surgem
dúvidas sobre as condutas criminosas. E a Criminologia tenta desvendar os mistérios
existentes nos atos humanos, fazendo uma correlação entre o crime, o criminoso e o meio em
que vive, utilizando para tanto diversas ciências, o que se assemelha ao descrito como
criminologia segundo Gomes e Molina:
[...] Cabe definir a criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se
ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do
comportamento delitivo, e que trata de subministrar uma informação válida,
contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime- contemplado
este como problema individual e como problema social-, assim, como sobre os
programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no
homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito.
(GOMES; MOLINA, 2012, p. 30).
42
Assim, na atualidade, os crimes vêm tomando dimensões descomunais, inclusive com
o surgimento de novas práticas criminosas. Tais condutas vêm sendo consideradas normais, e
em contrapartida as regras positivadas são visivelmente desprezadas. Esse acontecimento, em
que o crime é considerado normal, nada mais é que a prospecção dos distúrbios sociais: as
práticas delitivas são respostas da transformação social.
O delito [...] possui um papel direto no desenvolvimento moral de uma sociedade.
Não somente deixa o caminho livre para as transformações necessárias, mas em
determinados casos as prepara diretamente. Ou seja, o criminoso não só permite a
manutenção do sentimento coletivo em uma situação suscetível de mudança, mas
antecipa o conteúdo mesmo da futura transformação. De fato, frequentemente o
delito é a antecipação da moral futura (BARATTA, 1999, p. 60-61).
Quando o Estado perde o comando direcionador do que é certo e do que é errado,
determinados crimes, até mesmo os mais graves, são banalizados, como o crime de roubo,
principalmente nas grandes capitais.
Não é raro as reportagens jornalísticas mostrarem indivíduos praticando assaltos nos
centros urbanos na frente de todos, e sem qualquer pudor, até mesmo sabendo que estão sendo
filmados. Em alguns casos, os criminosos se exibem para as câmeras.
“Vejo que as pessoas estão se acostumando com a violência cada vez mais, e
ficando, de modo geral, passivas”, avaliou o presidente do Conselho Comunitário de
Segurança, Cláudio Espiga. De acordo com ele, o fato de os crimes não terem
grande crescimento não significa que seja algo positivo. “A situação está péssima e
nós estamos pessimamente estáveis”, apontou Espiga4.
Diante da normalidade anormal, as transgressões às normas penais vêm tomando
espaço no ambiente urbano, o que preocupa o Estado. Essa é uma questão instigante para a
Criminologia, principalmente quanto aos crimes violentos ocorridos com frequência nas
cidades, surgindo novas criminologias, novas fórmulas e objetos a serem estudados. Nas
palavras de Garland:
As novas criminologias da vida cotidiana são um conjunto de enquadramentos
teóricos cognitivos, que incluem a teoria da atividade de rotina, o crime como
oportunidade, a análise do estilo de vida, a prevenção do crime situacional e
algumas versões da teoria da escolha racional. A característica marcante destas
várias criminologias é que cada uma delas parte da premissa de que o crime é um
aspecto normal, lugar-comum, da sociedade moderna (GARLAND, 2008, p. 274).
4 jornaldelondrina.com.br
43
As cidades com sua urbanização desregular contribuem para o surgimento de crimes e
criminosos, evidência de que o crime está implicado nos avanços sociais, ou seja, causas
externas ao indivíduo que estimulam seu psicológico, ao lado do plano individual psíquico ou
biológico que tem grande influência para o cometimento de crimes, através do histórico
familiar de cada um, e até mesmo genético.
Conforme Jeffery, a conduta humana deriva tanto de variantes ambientais como
genéticas. A aprendizagem é um processo psicobiológico que inclui mudanças na
estrutura bioquímica e celular do cérebro. Trata-se de um sistema de informação que
flui do ambiente ao organismo, de acordo com a fórmula: código
genético+ambiente=código cerebral+ ambiente= conduta (GOMES; MOLINA,
2012, p. 232).
A Criminologia, nos dizeres de Juarez Cirino, busca averiguar o comportamento
criminológico dos indivíduos em desconformidade com a norma regida pelo seu meio, dentro
de um dado tempo histórico. Para ele, trata-se de uma nova criminologia, a Criminologia
crítica, em oposição à Criminologia tradicional, em que a criminalidade é vista como objeto
de criminalização e em que os métodos naturais de análise não são utilizados.
Em consequência dos transtornos urbanos, advindos do agrupamento de pessoas, a
violência como transgressão à norma está presente no meio social, nas relações entre as
pessoas, e sua censura é objeto de atenção em diversos setores principalmente pelo Estado
(representante da sociedade). Diante do contexto social em evolução, no qual o crime se torna
comum e natural, o Estado deve atuar como grande gestor, de modo preventivo e repressivo,
no intuito de minimizar o crime, consequentemente a violência.
Para atuar com primazia, o Estado, na busca de soluções dos crimes urbanos, não deve
desconsiderar os estudos da Criminologia que circundam as particularidades do indivíduo e
seu meio social ou cultural (meio ambiente). As distintas relações entre os homens devem ser
analisadas quanto ao tempo e espaço, isso sob o enfoque de que os indivíduos são substratos
de seu meio, de sua cultura.
O sociólogo Garland analisa através da Criminologia todos esses fatores e relaciona o
aumento da criminalidade ao índice econômico:
[...] O sistema penal criminaliza a pobreza e, como o neoliberalismo multiplica a
pobreza, o número de criminalizados cresce e crescerá na mesma proporção. [...]
Com um pouco de retardo, disseminou-se no seio da população urbana brasileira a
experiência do crime, cuja ocorrência estatística inequivocamente aumentou em
razão do desempenho da economia de consumo (maior disponibilidade de bens de
consumo em circulação) (GARLAND, 2008, p. 20).
44
Assim, o adensamento e o agrupamento de pessoas e suas relações pessoais são
objetos de estudo e podem explicar as causas do surgimento de crimes e criminosos, num
determinado meio ambiente. Mendroni (apud PERAZZONI, 2011, p. 91) traz a existência de
diversos crimes na modalidade organizada como uma nova versão de crimes criados nos
centros urbanos, amoldadas às próprias necessidades e facilidades que encontram no âmbito
territorial em que atuam.
Em virtude dessa gama de fatores que contribuem para o aumento de crime, e até
mesmo surgimento de novos crimes, o Estado vem aplicando ações finalísticas para
minimizar as adversidades sociais, geradoras de crimes e criminosos, impondo aos setores
públicos cumprimentos de metas, tentando igualá-lo ao setor privado. A título de exemplos,
têm-se os estímulos para prisões, equacionadas em números, da mesma forma os números de
policiais ostensivos postos na rua.
Essa possibilidade em equilibrar o meio ambiente urbano, através de gestão pública,
frente às causas conturbadas nas relações humanas no seu meio, são substratos para a
Criminologia, assimiladas às ocorrências de fatores externos que dão causa ao surgimento de
crimes e criminosos. Nos dizeres de Garland, não basta reprimir o crime, tem que saber a
causa e tratá-la:
Investigar os novos parâmetros do controle do crime significa, portanto, investigar
ao mesmo tempo a reconstrução social e de suas instituições responsáveis por
produzir a ordem. Significa perguntar “qual é o novo problema de natureza criminal
e social para o qual o emergente sistema do controle do crime representa a
resposta?”, “De qual nova estratégia governamental este sistema emergente faz
parte?” “Quais as novas condições sociais que ajudaram este processo?” O caráter
das relações sociais é tão densamente inter-relacionados que a perquirição da
transformação de um campo institucional leva inexoravelmente a questionar os
campos contíguos, assim como as relações culturais, políticas e econômicas
existentes entre eles. [...] o resultado de escolhas políticas e de decisões
administrativas, ambas assentadas sobre uma nova estrutura de relações sociais e
informadas por um novo padrão de sensibilidades culturais
(GARLAND, 2008, p. 48).
Para tanto, a Criminologia circunda os fatores externos às condutas humanas
individuais e adentra as esferas estatais quanto à gestão pública, e o que ela influencia nas
relações humanas nos grandes centros urbanos. Diante do quadro social, necessário encontrar
novas respostas; Pissaia entendeu que diversos fatores sociais contribuem para a
Criminologia, e cita a Criminologia crítica como um novo estudo desses fatores:
Diversos outros autores ao longo de décadas continuaram a tentar explicar e
conceituar crime e criminoso, até que em meados da década de 1960 é criado o
45
movimento da Criminologia Crítica, que visa entender o delito e o delinquente de
forma diversa das abordadas anteriormente: tal teoria surge em um contexto de
ebulição social onde novas respostas são necessárias.
Dentro da criminologia crítica desenvolve-se o estudo do labeling approach,
também chamado de teoria do etiquetamento social, que nasce em meados de 1960
nos Estados Unidos, buscando encontrar novos rumos para a análise do crime e
entendendo que este é apenas uma interpretação humana dos fatos observados,
objetivando também novos caminhos que esclareçam quais os critérios geradores da
criminalização (PISSAIA, 2013, p. 15).
Associado a essa perspectiva do estudo da Criminologia, o Estado deve buscar a causa
das diversas reações do homem, para melhor solucionar os conflitos, tudo para um melhor
viver em sociedade. Assim, na evolução social, o estudo e as pesquisas constantes são o
caminho para solucionar o problema que se agrava a cada dia. A ciência criminológica deve
ser utilizada pelo Estado de forma qualitativa, já que este, através de seus recursos de gestão,
pode tornar a vida nas cidades saudável.
Uma das possibilidades de alterar o quadro é a arquitetura urbana, pois esta tem
interferência direta no ser humano; a construção de uma cidade mal planejada influencia em
demasia as animosidades individuais, podendo causar distúrbios intrínsecos, como alteração
de humor, e provocar no indivíduo uma mentalidade criminosa, através de condutas
desviadas.
Na mesma linha de pensamento, Freitas (2002, p. 18) aduz que a “cidade submete o
indivíduo a constantes estímulos físicos e sociais, conduzindo à impessoalidade, mas também
propiciando liberdade e oportunidades.”
Gomes e Molina também consideram que os centros urbanos desorganizados, com
estrutura arquitetônica e urbanística mal feita, são espaços propícios a crimes e passíveis de
incidências criminosas, como em determinados locais, cujo espaço ambiental esteja em
desacordo com regras de políticas públicas:
Tendo em vista, assim, a significativa incidência dos fatores arquitetônicos,
urbanísticos e ambientais na delinquência ocasional, surge uma nova concepção
prevencionista que pretende intervir nos “cenários” criminógenos, nas edificações,
remodelando sob outros parâmetros a conveniência urbana (GOMES; MOLINA,
2012, p. 395).
Sob a análise sociológica, Freitas (2002) fala sobre a estrutura das cidades como fonte
de diversas ocorrências sociais; o autor trabalhou o enfoque criminógeno na estruturação de
uma cidade. Em que pese numa mesma cidade haver diversos espaços geográficos, como
gueto, espaços de imigrantes, bairros luxuosos, com suas alterações sociais, cada um exerce
influência direta nas ações humanas.
46
Com base em tais estudos, foi verificado que há incidência de crimes em determinados
ambientes, e Freitas trabalhou com respostas positivas, ao afirmar que o espaço urbano deve
ser estruturado, planejado. Esse espaço urbano pode ser sim desenvolvido, ou seja, o aumento
populacional nas cidades não é algo ruim, mas deve ser planejado e solidificar uma sadia
qualidade de vida para o ser humano, de maneira tal que interfira diretamente no seu agir,
diminuindo crimes e não criando criminosos.
3.2 Teoria das janelas quebradas
Por que o vidro quebrado no carro abandonado em um bairro supostamente seguro é
capaz de iniciar todo um processo criminal? Não é a pobreza. É obviamente algo que tem a
ver com comportamento, psicologia humana e relações sociais. Cacos de vidro em um carro
abandonado transmitem uma ideia de decadência, indiferença, quebra de códigos e regras de
vida, ausência de lei, regras, normas. Cada novo ataque sofrido pelos automóveis multiplicava
essa ideia, até que a escalada de acontecimentos, cada vez pior, torna-se irresistível, levando a
uma violência irracional.
Kelling e Wilson asseveravam que uma sociedade estável, na qual as famílias cuidam
de suas residências, preocupam-se com as crianças dos outros e desconfiam de estranhos pode
transformar-se, em poucos anos, ou até mesmo meses, em um ambiente assustador. Uma casa
é abandonada. O mato cresce. Uma janela é quebrada. Adultos deixam de repreender crianças
e adolescentes desordeiros. Estas, encorajadas, tornam-se mais desordeiras. Então, famílias
mudam-se daquela comunidade. Adultos sem laços com a família mudam-se para aquela
comunidade. Adolescentes desordeiros começam a se reunir na frente da loja da esquina. O
comerciante pede que se retirem. Eles se recusam. Brigas ocorrem. O lixo se acumula.
Pessoas começam a embriagar-se em frente aos bares. Um bêbado deita na calçada e lá
permanece. A desordem se estabelece, preparando o terreno para a ascensão da criminalidade.
A teoria das janelas quebradas5 foi publicada em l982, na revista norte-americana The
Atlantic Monthly, no artigo intitulado “Making neighborhoods Safe”, de autoria do cientista
político James Q. Wilson conjuntamente com o psicólogo criminologista George Kelling.
Mas o pesquisador pioneiro a realizar tais experiências foi Philip Zimbardo em l969,
experiência esta que versava em deixar dois veículos semelhantes, sem placas, parados com o
5 The broken window teory
47
capô aberto, permanecendo, um numa rua do Bronx/New York, que foi prontamente
depenado e em 24 horas a sucata passou a ser usada como entretenimento de crianças; e o
outro deixado em um bairro tranquilo de classe média alta em Palo Alto/Califórnia e
continuou intacto por duas semanas, até que Zimbardo quebrou algumas janelas e outros
componentes do automóvel. Desde então, em pouco tempo o veículo estava completamente
destruído.
Observou-se que, apesar da diferença social dos dois grupos, o ato destruidor ocorreu,
comprovando que propriedades sem dono e bens móveis e imóveis com marcas de degradação
são uma chamada para vândalos e até mesmo indivíduos ordeiros, todos fascinados pelo
abandono. A conclusão basilar da teoria das janelas quebradas é que o crime e a desordem
estão conexos, não permanecendo estima pela propriedade, já que bens em desordem simulam
abandono, gerando as primeiras ações para a violência e o vandalismo.
O artigo divulgado apresentava a desordem como motivo da criminalidade e a conexão
entre ela e episódios de crimes. Tal pesquisa ficou conhecida como broken windows, que
serviu de embasamento para a atual política criminal americana fixada em Nova Iorque
denominada “tolerância zero”.
Em 1990, o professor da Universidade Northwestern de Ciências Políticas Wesley
Skogan divulgou um estudo fundamentado em pesquisa na qual 13.000 pessoas residentes em
áreas residenciais de Atlanta, Chicago, Houston, Filadelfia, Newark e São Francisco haviam
sido entrevistadas. O estudo era intitulado “Disorder and decline: crime and the spiral of
decay in america neighborhoods” (“Desordem e declínio: o crime e a espiral de decadência
nas comunidades americanas”) e admitia os postulados da teoria das janelas quebradas.
Skogan afirmava que a relação de causalidade entre desordem e criminalidade era mais
intensa do que a relação entre criminalidade e outros atributos encontrados em certas
comunidades, tais como a pobreza ou o fato de a comunidade acolher uma minoria racial.
Essa conclusão é de suma importância, principalmente perante a afirmação, sempre frequente
e nunca comprovada, de que a causa principal da criminalidade vive nas injustiças sociais,
desemprego, pobreza, falta de oportunidades.
Kelling e Wilson usaram em suas pesquisas o exemplo de uma janela quebrada de uma
empresa. Se o indivíduo passa pela rua e se depara com a janela quebrada de uma empresa e
posteriormente a janela continua quebrada, existirá a impressão de que o imóvel está
abandonado. Seguidamente outro indivíduo irá quebrar mais uma janela, até que todas as
janelas estejam quebradas, comprovando que aquele patrimônio não tem nenhuma
48
importância, ou seja, ninguém se importa com ele. Esse descaso provoca um efeito cascata.
Existirá o estrago total do imóvel com as janelas quebradas, com o imóvel do lado, as ruas
serão tomadas por desordeiros e marginais, a aparência do bairro modifica, de modo que os
indivíduos vão se mudando e a comunidade se transforma em “terra de ninguém”.
Como consequências, ocorre o descaso dos habitantes tranquilos, que se mudam, a
desvalorização dos imóveis; os bons comerciantes vão embora e são substituídos por
pequenas biroscas; uma “boca de fumo” se aloja, e o Estado deixa de proporcionar os serviços
principais; a polícia começa a ser barrada; água e luz são ligados de forma clandestina. A
degradação e a degeneração do local tornam-se um ciclo vicioso. Inicialmente ocorre a
mudança de moradores, as crianças passam a conviver com o crime desde pequenas e nasce a
probabilidade de serem os criminosos do futuro.
Durante três décadas, a criminalidade só fez aumentar nos EUA. O modelo americano
de combate à criminalidade falhara porque não reconhecia a relação de causa e efeito entre
desordem, medo, criminalidade violenta e decadência urbana. A conexão entre desordem e
criminalidade é mais intensa que a relação entre criminalidade e pobreza. Em 1991, Kelling e
Coles realizaram uma pesquisa e verificaram que mais de um terço da população evitava
determinados ambientes, como bares, restaurantes, avenidas públicas, lojas, e vivia com
medo, não obstante o medo de polícia, promotores e demais entes de controle social
ingressassem em ato para reparar a ordem nas ruas da cidade.
A obra de Kelling, George e Catherine Coles, realizada em 1996, é citada por Bezerra
(2008). A obra cita a teoria das janelas quebradas: “Fixing broken windows – restoring
orderand reducing crimes in our communities” (“Consertando as janelas quebradas –
restaurando a ordem e reduzindo o crime em nossas comunidades”). Os autores relatam na
obra a relação de causalidade entre a criminalidade violenta e a ausência de penalidade das
pequenas contravenções e crimes. Da mesma forma que a desordem culmina em
criminalidade, a tolerância com pequenos delitos e contravenções leva à criminalidade
violenta.
Kelling e Coles demonstram como, ao longo do século XX, a polícia americana foi,
aos poucos, abandonando suas tarefas na manutenção da ordem pública para dedicar-se,
exclusivamente, ao combate ao crime. A raiz do aumento da violência nos EUA na segunda
metade do século XX está, também, nesta mudança de estratégia da polícia. Originalmente, o
papel da polícia americana era o de manter a paz e prevenir o crime.
49
A prevenção do crime era feita com a presença constante da polícia no seio da
comunidade. E aqui reside outro fundamento da broken windows theory. O policial deve fazer
parte da comunidade, entranhar-se na comunidade e lidar com as condições que criam o crime
(desordens de todo o tipo, embriaguez pública, jogos ilegais, etc.). Assim, ele conhece a
comunidade e é conhecido por ela. Cria-se um vínculo entre a comunidade e a autoridade
policial, e esse vínculo permite que ambos juntem forças para evitar o surgimento da
desordem e de pequenos delitos que, mais tarde, levarão à criminalidade violenta.
Assim, se algum traficante tenta imiscuir-se naquela comunidade, tanto a comunidade
como a polícia podem imediatamente identificá-lo e, unindo forças, expulsá-lo de lá ou
mesmo prendê-lo se ele for apanhado no exercício do tráfico. Mas para isso é preciso uma
comunidade organizada, que preze a manutenção da ordem, e uma relação de confiança entre
a comunidade e a polícia, de modo que ambos se auxiliem mutuamente.
Conforme Oliveira (2012), as correntes do positivismo criminológico, a política
criminal e a criminologia sociológica são a base doutrinária das janelas quebradas. Tais
teorias são fundadas no utilitarismo e prevencionismo. Partindo da hipótese de que não é
apenas a ausência de meios de subsistência, de educação e de justiça que induz ao crime, a
tolerância da sociedade e do estado com os pequenos delitos pode ser a maior causa.
A teoria das janelas quebradas representou um progresso para a Criminologia,
demonstrando a relação de causalidade entre a criminalidade e demais aspectos sociais, que
são menos relevantes do que a relação entre a desordem e a criminalidade.
A negligência e a desordem crescem junto com muitos males sociais e os ambientes
degenerados. Um exemplo a ser citado é o de um pai que deixa sua casa com algumas falhas,
incluindo a pintura nas paredes em mau estado, falta de hábitos de limpeza, maus hábitos
alimentares, palavrões, desrespeito entre os membros da família, etc.; gradualmente, as
relações interpessoais dos membros da família cairão em abandono, e a família começa a criar
más relações com a sociedade em geral.
Isso pode ser uma hipótese da decomposição da sociedade, a falta de adesão a valores
universais, a falta de respeito mútuo e pelas autoridades e vice-versa, a corrupção em todos os
níveis, falta de educação e formação da cultura urbana. A falta de oportunidades criou um país
com muitas janelas quebradas e ninguém parece disposto a corrigi-las.
O embasamento da teoria sobre as duas categorias – ordem e desordem – também diz
muito pouco. Aos criadores da broken windows, a desordem quer dizer que o bairro perdeu as
rédeas e que se não preocupa com o crime. Ela, porém, como se sabe, pode ter muitos
50
significados, afora o pregado por Wilson e Kelling: uma greve, um evento artístico, um estilo
de vida alternativo, um local de vendas; ou pode significar somente pobreza, desemprego e
desespero.
3.2.1 Tolerância zero
A explosão de crescimento da cidade, que se expande em círculos do centro para a
periferia, cria graves problemas sociais, trabalhistas, familiares, morais e culturais que se
traduzem em um fermento conflituoso, potencializador da criminalidade. A inexistência de
mecanismos de controle social e cultural permite o surgimento de um meio social
desorganizado e criminógeno que se distribui diferenciadamente pela cidade.
A política de tolerância zero, símbolo maior da broken windows, é marcada pelo
excesso do soberano e desumanidade das penas; um funcionalismo bipolar, um tudo ou nada;
culpado ou inocente; um sistema binário, muito a gosto de uma pós-modernidade reducionista
e maniqueísta.
A teoria das janelas quebradas foi realizada na prática em Nova Iorque, que vivia entre
os anos 80 e início dos 90 uma decadência urbana iniciada em meados dos anos 70, perante a
tolerância com a desordem e os pequenos ilícitos. Nesse período os sem-teto tomavam
ambientes públicos como praças, parques e metrô, realizavam suas necessidades fisiológicas
nas calçadas e esmolavam de modo agressivo; as pichações, liberadas, tomavam conta da
paisagem urbana; gangues proliferavam livremente e tomavam conta das regiões que estavam
sendo abandonadas, tanto pelos seus habitantes, quanto pelos turistas.
Em Nova Iorque, a situação caótica iniciou com a crise das grandes empresas. Devido
ao aumento dos custos e aos problemas para o transporte dos produtos, decidiram mudar para
locais mais acessíveis. Com isso muitos imóveis foram abandonados, trazendo o desemprego,
a mendicância, a prostituição e a criminalidade.
O metrô era o local de estrangulamento em Nova Iorque, necessário para o transporte
de três milhões de indivíduos diariamente. Dentre seus problemas principais, destacava-se o
não pagamento das passagens por aqueles que saltavam as catracas, transformando-se em um
local perigoso e sujo, dominado por gangues, onde aconteciam assaltos e tráfico de drogas.
A desordem era crescente, pichações, mendicância invasiva e vandalismo indicavam
um ambiente favorável à criminalidade. Nessa época, Willian Bratton foi indicado à prefeitura
51
da cidade, para que assumisse a chefia da polícia de trânsito, sendo designado o respaldo
intelectual imprescindível para resolver a concretização do policiamento.
A polícia de Nova Iorque tinha como inspiração a teoria das janelas quebradas, sob a
ideologia de que a polícia precisaria enfrentar de modo direto as ofensas menores que
induzem à desordem, culminando na diminuição dos crimes violentos.
Conforme Wilson e Kelling, a desordem e o crime estão na maioria das vezes
interligados e em constante desenvolvimento. O problema do novo chefe de polícia foi
colocar em prática a polícia criminal, já que os policiais estavam habituados a combater os
crimes violentos, sem dar muita ênfase aos crimes menores. Eles permaneciam distraídos à
segurança, pois auferiam tarefas sem sentido e portavam armamentos impróprios, estando
todos sem motivação. Branton reestruturou a polícia do metrô, empregando técnicas de
gerenciamento japonês, lideradas nas supervisões íntegras e descentralizadas. Inseriu o líder
“proativo”, intrínseco nos papéis de chefias de todo o departamento.
Os indivíduos que não se adaptaram à nova administração foram isolados, perderam o
cargo ou foram demitidos. Para Bratton era basilar reconquistar a autoestima dos policiais e
evidenciar a seriedade da função que exerciam na sociedade.
Então ele trocou os policiais mais antigos por um efetivo atual, com premiações,
deixando-os motivados com a função central a eles confiada. Elaborou ainda reuniões
semanais para troca de conhecimento entre a polícia e os chefes de delegacias, criando a
denominada “Compstat” (análise de estatísticas computadas). A Compstat versava em
gráficos estatísticos de criminalidade, com o progresso dos indicadores de criminalidade,
oferecendo chances de se debater táticas usadas e planejamento para lidar com os problemas.
Após resolver o problema com sua equipe de trabalho, Bratton começou a aplicar uma
tática de realizar pequenas prisões em massa, de estação em estação. Como não possuía
pessoal satisfatório, as “abordagens” no metrô foram realizadas em dias alternativos para cada
estação, colocando policiais à paisana para bloquear grupos de dez e prendê-los.
A população enaltecia e amparava; o número de pessoas que não pagavam passagem e
a desordem dentro dos trens foram diminuindo gradualmente e o que se notava era que grande
parte dos detidos por não pagarem passagem eram indivíduos que transportavam armas ou
sujeitos procurados com mandados de prisão expedidos.
O resultado do policiamento no metrô foi a diminuição dos roubos, assaltos,
assassinatos, desordem e uma maior calma para os usufrutuários do metrô. Bratton conseguiu
52
comprovar na prática a analogia entre a desordem e a criminalidade, por meio da coibição à
desordem, e a prudência aos crimes graves.
Quando Rudolph Giuliani venceu as eleições para a Prefeitura de Nova Iorque,
descobriu que os principais problemas da cidade eram a violência acomodada pela desordem e
o medo; buscou, então, sociedades com empresários em troca de melhoramentos fiscais,
seguindo o plano de cidade segura e limpa.
Giuliani nomeou Bratton como novo comissário (tipo de Secretário de Segurança
Pública da cidade), que, possuindo mais poder, conseguiu concluir as mudanças
imprescindíveis no Departamento de Polícia de Nova Iorque, até mesmo acabar com os casos
de corrupção da polícia. Bratton passou a atuar contra outros grupos que também afligiam os
nova-iorquinos por anos, os vândalos e lavadores de para-brisas que extorquiam dinheiro dos
motoristas.
Esse comportamento era punido com serviços comunitários ou com a prisão para
aqueles que não acatavam as intimações. Depois de abolir o problema dos lavadores, Bratton
buscou resolver o problema dos sem-teto, que improvisavam moradias embaixo das pontes,
dos mendigos, dos pichadores de muros, da prostituição, da pornografia e especialmente dos
“gazeteiros” (alunos que não frequentavam aula). Estes com maior precaução, até mesmo com
o auxílio dos gestores escolares e da mídia, impedindo problemas maiores no futuro; dessa
forma, ao serem pegos, eram movidos para a delegacia e os pais e diretores eram notificados.
Outras pequenas vitórias contra pequenos ilícitos confirmavam a teoria de Kelling:
uma pessoa foi presa por urinar num parque; quando questionada sobre outros problemas, deu
informações à polícia que resultaram na localização de um esconderijo de armas; um
motociclista foi detido por andar sem capacete, revistado, descobriu-se que carregava duas
armas consigo e tinha várias outras em seu apartamento; uma pessoa vendendo mercadoria de
origem suspeita depois de questionada levou a polícia a um receptador de armas roubadas.
Nem todo aquele que pratica um delito menor pode ser considerado capaz de um
delito grave. No entanto, alguns serão, especialmente se não encontrarem nenhuma repressão
ao pequeno ilícito praticado. Além disso, podem ter informações sobre outras pessoas que são
criminosos perigosos.
O resultado da aplicação da broken windows theory pelo Departamento de Polícia de
Nova Iorque foi a diminuição, pela primeira vez em trinta anos, dos índices de criminalidade
naquela cidade. Desde 1994, tais índices vêm diminuindo. A história dessa estratégia vitoriosa
53
é contada por William Bratton em seu livro Turnaround – how america’s top cop reversed
the crime epidemic (A reviravolta – como a polícia americana reverteu a epidemia de crime).
Essa política de segurança pública, a da aplicação da teoria de Kelling no combate à
criminalidade em Nova Iorque, é que veio a ser popularmente conhecida como "operação
tolerância zero". Muito distante, portanto, da caricatura que alguns desinformados, por vezes,
pintam, reduzindo a "operação tolerância zero" a uma mera "limpeza" das ruas centrais da
cidade, que, na sua equivocada visão, consistiria apenas na retirada de prostitutas, gigolôs,
bêbados e traficantes das ruas centrais de Nova Iorque.
O policiamento comunitário, portanto, é basilar na precaução do crime. A
apresentação corporal do agente policial na sociedade bloqueia a desordem e a criminalidade.
Nesse sentido, Kelling e Coles são defensores do "foot patrol", isto é, do patrulhamento a pé,
muito mais efetivo, no que tange à prevenção, do que dos agentes policiais motorizados, que
apenas circulam de carro. Aos desordeiros satisfaz, dessa forma, aguardar que passe o carro
da polícia, para permanecer a desordem, o que se torna muito mais difícil com o
patrulhamento a pé.
Nos EUA criou-se a ideia de que a polícia não devia mais zelar pela ordem pública,
mas investir todos os seus esforços apenas no combate ao crime. Assim, desordens e
pequenos ilícitos foram deixados de lado, para que se combatessem apenas os crimes mais
graves. Portanto, as pequenas janelas quebradas não mais eram reparadas, até que se chegou a
um ponto insustentável em que a criminalidade aumentou de tal forma nos centros urbanos,
que muitos deram conta do equívoco da estratégia adotada.
3.2.2 Crítica: os pobres e as minorias como alvo
Não obstante o admirável sucesso da "operação tolerância zero" na redução da
criminalidade em Nova Iorque, há fortes críticos dessa política criminal. Os críticos sustentam
que tal política oprime exclusivamente os pobres, os desprovidos e as minorias. Trata-se de
manifesto equívoco.
Kelling e Coles apontam que a finalidade de manter a ordem nada mais denotaria do
que um modo de abuso aos pobres e às minorias a decorrência de décadas do crescimento de
um individualismo sem limites. Produtos desse crescimento seriam a primazia da pessoa e o
seu direito de ser desigual; um destaque nas precisões e direitos particulares e a crença de que
54
tais direitos seriam incondicionais; uma rejeição a uma moralidade média dos norte-
americanos; e, finalmente, a noção de que entender indivíduos como criminosos os
estigmatizaria e os tornaria verdadeiramente criminosos.
No campo jurídico, as cortes americanas desenvolveram um corpo de antecedentes
legais nos quais a assistência aos direitos fundamentais e às liberdades individuais aumentou e
foi elevada a posições muito acima de suas respectivas responsabilidades ou dos interesses da
sociedade.
Dessa forma, o procedimento de um indivíduo causador de desordem numa sociedade
necessitava ser resguardada, pois, em última análise, ele tem direito a ser desigual, e sua
liberdade de ser diferente deve ser resguardada pelo judiciário. Os interesses da comunidade
não podem sobrepor-se aos direitos e liberdades individuais de uma pessoa.
A desordem foi aceita porque potencialmente todas as formas de desvios de
comportamento não claramente violentos foram analisadas como sinônimos de expressão
individual, e, desse modo, supostamente resguardadas pela primeira emenda.
Porém, Kelling e Coles asseveram que a ação por ordem permeia todas as classes
sociais e grupos étnicos. Quando os usuários do metrô determinaram a restauração da ordem,
foram os trabalhadores, principais usuários do sistema, que determinaram o reparo da ordem e
da segurança.
Os que defendem o reparo da ordem não estão sugerindo algum modo de opressão da
maioria. Referem-se, assim, a condutas que infringem padrões amplamente aceitos pela
sociedade, e sobre os quais há um acordo, sem qualquer denotação racial, de classes ou étnica.
Ainda, a desordem tem implicações mais graves em sociedades pobres e, logo, estas
são exatamente as que mais carecem de ordem a fim de impedir a ampliação da criminalidade.
Uma sociedade rica tem adequadas condições de conservar um estado de ordem que uma
comunidade pobre não tem, como a contratação de segurança privada.
É mais fácil consertar uma janela quebrada em uma comunidade rica do que em uma
comunidade pobre. Destarte, antes de oprimir os pobres e minorias, a restauração e
manutenção da ordem, verdadeiramente, vêm em sua ajuda. Para o controle da criminalidade
nessas comunidades, a restauração da ordem é indispensável. Pobreza não deve
fundamentalmente denotar crime e desordem.
Punindo o desordeiro, estar-se-ia estabelecendo um padrão, uma norma social com o
recado do que é certo e do que é errado e de que este último não é aceitável numa sociedade
“normal”. Isso poderia ter, como argumento, alguma validade – mas não tem! – se houvesse
55
perfeita transmissão e, nela, recepção, o que não ocorre nos EUA e muito menos no Brasil,
onde a estatística oficial garante a presença, para começar, de dezessete milhões de
analfabetos.
A política de tolerância zero, símbolo maior da broken windows, é marcada pelo
excesso do soberano e desumanidade das penas; um funcionalismo bipolar, um tudo ou nada;
culpado ou inocente; um sistema binário, muito a gosto de uma pós-modernidade reducionista
e maniqueísta. Basta lembrar que nos EUA diversas cortes e juízes têm aplicado penas mais
que vexaminosas.
3.2.3 A situação brasileira
É preciso salientar que não se intercede a fundação legítima e simples da teoria das
janelas quebradas à realidade brasileira. Não exclusivamente aspectos culturais e legais
evitariam isso, mas também a simples ausência de dinheiro para a prática de uma política
criminal nos padrões da que foi praticada em Nova Iorque é obstáculo quase intransponível
para que se reproduza aquela experiência precisamente como ocorreu.
O que realmente deve-se aprender com a experiência americana é a precisão inadiável
de coibição às infrações e aos pequenos delitos, como modo de manutenção da ordem e
cuidado aos crimes graves.
Antes do advento da Lei n.º 9.099/95, o que se compreendia, porém, era a virtual
interrupção do sistema quando se abordava a repressão de contravenções e pequenos crimes.
Isso se explica pela já aludida estratégia de prioridades. A polícia deve priorizar a
investigação de crimes graves, e não pode perder tempo com delitos de pouca seriedade.
Alguns comportamentos tipificados pela lei das contravenções penais há muito tempo
haviam deixado de ser reprimidos, como provocação de tumulto e conduta inconveniente (art.
40), perturbação do trabalho ou do sossego alheios (art. 42), mendicância ameaçadora (art. 60,
par. único, letra "a"), perturbação de tranquilidade (art. 65), embriaguez (art. 62, apresentar-se
publicamente em estado de embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a
segurança própria ou alheia), recusa de dados sobre a própria identidade ou qualificação (art.
68).
56
É de se observar que os bens jurídicos protegidos por essas normas dizem respeito, em
maior ou menor grau, à manutenção da ordem na comunidade. O próprio ato de quebrar
janelas configura o crime de dano (art. 163 do Código Penal).
Igualmente a pichação configura o crime de dano, ambos potencialmente
ocasionadores de desordem e fundadores de condições ambientais favoráveis ao aumento da
criminalidade. No que tange à pichação, a incondicional carência de jurisprudência sobre o
tema, perante a extensão epidêmica com que essa forma de crime se faz contemporâneo nos
grandes centros urbanos, dá bem uma ideia da imaginária deficiência de repressão desse
delito.
Mas não é apenas a estratégia das prioridades policiais que levou à ausência de
repressão de tais contravenções e delitos em que não se verifica violência ou grave ameaça à
pessoa. Há que se reconhecer que uma visão equivocada do Direito Penal, em nosso entender,
nos últimos anos e décadas em muito contribuiu para isso.
A ordem, o sossego alheio e a tranquilidade são bens jurídicos que merecem a
proteção da norma penal não apenas pelo seu valor intrínseco, mas também porque os
protegendo, está-se evitando a ascensão da criminalidade violenta.
Quando as pequenas janelas estão quebradas, não adianta correr para tentar evitar que
as grandes janelas sejam quebradas. Elas inevitavelmente o serão. Ou seja, não adianta
invocar o Direito Penal para cuidar dos crimes violentos quando se desprezou seu poder de
coerção a crimes menores, invocando-se princípios como o da intervenção mínima. Isso
significa atuar apenas no resultado e não na prevenção. O resultado só pode ser o aumento da
criminalidade.
O princípio da fragmentariedade, a seu turno, corolário do princípio da intervenção
mínima, sustenta que apenas as ações ou omissões mais graves endereçadas contra bens
valiosos podem ser objeto de criminalização. Segundo Baratta (2002), o princípio apresenta-
se sob três aspectos: em primeiro lugar, defende o bem jurídico somente contra ataques de
especial gravidade, exigindo determinadas intenções e tendências, excluindo a punibilidade da
prática imprudente em alguns casos; em segundo lugar, tipificando somente parte das
condutas que outros ramos do direito consideram antijurídicas e, finalmente, deixando sem
punição condutas meramente imorais como a mentira.
Novamente aqui o problema está em considerar bens valiosos apenas a vida, a
integridade física, a liberdade sexual, a liberdade individual e o patrimônio, por exemplo. E
considerar a ordem, o sossego e a tranquilidade bens não suficientemente importantes para
57
merecerem a proteção da norma penal. Uma vez que a ofensa a tais bens sem a devida
repressão penal levará inevitavelmente a uma criminalidade violenta, devem ser protegidos
pela norma penal, pois são as pequenas janelas cuja integridade garantirá a sobrevivência do
sistema de proteção social, evitando a proliferação da desordem e da criminalidade.
É válido registrar que não se advoga uma criminalização e/ou repressão de toda e
qualquer conduta que ofenda qualquer bem jurídico. Nem todo bem jurídico é passível de
proteção por uma norma penal. Há casos na legislação brasileira em que a criminalização de
determinadas condutas afigura-se como risível.
Tome-se como exemplo a Lei n° 7.643/87, que proíbe a pesca de cetáceos nas águas
jurisdicionais brasileiras, e cujo art. 1° determina:
Fica proibida a pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional, de toda
espécie de cetáceo nas águas jurisdicionais brasileiras (BRASIL, 1987).
A pena é de dois a cinco anos de reclusão. Sem contar o problema de definir o que
configura "molestamento intencional", fato é que o sossego de um cetáceo não é um bem
jurídico digno de proteção por uma norma penal, até porque pode ser muito bem protegido, e
até com mais eficácia, por regulamentos administrativos.
Aqui, nem o bem jurídico em si, e nem a possibilidade de a conduta ser causadora de
desordem (inexistente no caso) justifica uma proteção por uma norma penal. A saída não é tão
obscura quanto parece, ou quanto querem fazer parecer: um Direito Penal mínimo,
verdadeiramente subsidiário e que atenda à Constituição (que segue e deve seguir dirigente);
educação e saúde para todos: como exigir do mendigo que “seja educado, não atrapalhe e não
feda”, se não se dá a ele sequer ensino e saneamento básico? É hipócrita dizer, afinal, que
“todo mundo tem o direito de dormir embaixo da ponte”.
Abalou-se, na estrutura, a ética, sem a qual em perigo está a própria democracia.
Claro, tais propostas vão de encontro ao que existe de mais sagrado na política da terra
brasileira: o voto, símbolo maior da perpetuação das capitanias hereditárias e motor de
arranque de quase todas as ideias.
Enquanto os apóstolos da tolerância zero não entenderem que ela deve alcançar – isso
sim – a corrupção, a má-fé e o mau uso do dinheiro público, continuar-se-á vivendo nesta
terra encantada de valores e moral de imbróglio retórico. Isso eles não entendem, ou não
querem entender. Não querem perceber que quando alguém de dentro quebra as janelas,
pouco resta a fazer com os que estão lá fora.
58
A teoria das janelas quebradas, portanto, é utilizada para demonstrar que o Estado
deve antever situações propícias a fabricar criminosos e, por meio de políticas públicas,
intervir. Na seção seguinte, será demonstrado que o meio ambiente urbano sem planejamento
pode originar cidades desorganizadas, como ausência de espaço digno para se morar,
interferindo diretamente no indivíduo. E as construções prediais como forma de acabar com o
problema de moradia podem aumentar os índices de crimes, já que seriam ambientes
propícios para desenvolver a criminalidade, isso acaso não for bem elaborada a estratégia do
planejamento, como estudos associados à Criminologia.
59
4 A INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE URBANO NA PRÁTICA CRIMINOSA
O ambiente palco de interação humana deve ser fiscalizado, planejado e protegido
pelo ordenamento jurídico como forma de evitar crimes. O Estado, por meio de políticas
públicas, é o principal interlocutor dos problemas socioambientais relativos à segurança
pública.
Psicólogos por anos observaram o comportamento humano em determinadas
localidades e perceberam que, independentemente da classe social, basta apenas que o local
esteja abandonado ou deteriorado para que os indivíduos utilizem-se dele para práticas
criminosas.
Nos EUA, o prefeito Rudolph Giuliani utilizou a teoria das janelas quebradas na sua
estratégia para diminuir a criminalidade na cidade de Nova Iorque. Giuliani, em palestra feita
no dia 4 de setembro de 2013, na cidade de Belo Horizonte, no VI CONGRESSO
INTERNACIONAL DE DIREITO PENAL E CRIMINOLOGIA, asseverou que, se as ruas
não são cuidadas e bem policiadas, serão local propício a cometimentos de delitos. Assim,
deve-se retirar dela todos os delinquentes e puni-los, mantendo as ruas e praças limpas.
A teoria das janelas quebradas explica que o ambiente mal cuidado é passível de
transtornos sociais e afirma que o bairro, quando bem cuidado, nem mesmo necessita de
policiamento ostensivo: “Local movimentado como centro comercial ou um subúrbio
tranquilo, bem cuidado, pode precisar de quase nenhuma presença policial visível”
(WILSON; KELLING, 1982)6.
Essa teoria utilizada por Giuliani também se encaixa perfeitamente para explicar o
local degradado para as presentes e as futuras gerações como local passível de cometimento
de crimes contra o meio ambiente. Assim, confirma:
Philip Zimbardo, psicólogo de Stanford, relatou em 1969 em alguns experimentos
testando a teoria da janela quebrada. Ele providenciou para que um automóvel sem
placas estacionados com o seu capuz para cima em uma rua no Bronxand
comparável automóvel em uma rua em Palo Alto, Califórnia. O carro no Bronx foi
atacado por "vândalos" dentro de dez minutos de seu "abandono". O primeiro a
chegar foi um pai de família, mãe e filho, que removeu o radiador e bateria. Dentro
6 A busy bustling shopping center and a quiet, well-tended suburb may need almost no visible police presence.
<http://www.lantm.lth.se/fileadmin/fastighetsvetenskap/utbildning/Fastighetsvaerderingssystem/BrokenWindow
Theory.pdf.
60
de 24 horas, praticamente tudo de valor havia sido removido. Então destruição
aleatória começou - janelas foram quebradas, partes arrancadas, estofados rasgados.
As crianças começaram a usar o carro como um parque infantil. A maioria dos
adultos "vândalos" estava bem vestida, aparentemente brancos de corte limpo. O
carro em Palo Alto ficou intocado por mais de uma semana. Então Zimbardo
quebrou parte dele com uma marreta. Em breve, os transeuntes foram juntando-se.
Dentro de algumas horas, o carro tinha sido virado de cabeça para baixo e totalmente
destruído. Mais uma vez, os "vândalos" pareciam ser brancos, principalmente
respeitáveis7.
Tal teoria leva a crer que a propriedade e o espaço habitado merecem proteção
enquanto ambiente passível de destruição social para as presentes e futuras gerações. O local
que é palco constante de crimes se torna infectado, ficando durante anos propício à
criminalidade, pois o crime passa a ser considerado normal para os que ali habitam. Assim, o
ambiente desorganizado leva ao surgimento de uma população desordeira no tempo e
consequentemente desagregada.
Giuliani baseou-se na teoria das janelas quebradas para justificar a crescente
criminalidade na cidade de Nova Iorque e utilizou políticas públicas atreladas à segurança
para se construir uma cidade sem crimes. Ele apostou no aumento do efetivo policial atuando
nas ruas. E para tanto trabalhou com a reformulação de toda a polícia, retirou os policiais
corruptos, instituiu melhores salários e trouxe o judiciário para julgar imediatamente os
delinquentes.
Deve ser utilizado não apenas o policiamento ostensivo, mas também diversas
políticas públicas sociais, culturais, educativas, administrativas e a própria segurança pública,
pois são diversos os contornos sociais atinentes ao meio ambiente (local) em que vive o ser
humano. Não se pode valer-se apenas de locais degradados, mas de toda uma cultura que
colaborou para a degradação e evitar novas ocupações humanas passíveis de degradação.
Tem-se como exemplo de local degradado no Brasil a invasão de terrenos alheios,
como o caso da invasão William Rosa, na cidade de Contagem. Diversas pessoas invadiram o
7 Philip Zimbardo, a Stanford psychologist, reported in 1969 on some experiments testing the broken-window
theory. He arranged to have an automobile without license plates parked with its hood up on a street in the
Bronxand a comparable automobile on a street in Palo Alto, California. The car in the Bronx was attacked by
"vandals" within ten minutes of its "abandonment." The first to arrive were a family—father, mother, and
young son—who removed the radiator and battery. Within twenty-four hours, virtually everything of value
had been removed. Then random destruction began—windows were smashed, parts torn off, upholstery
ripped. Children began to use the car as a playground. Most of the adult "vandals" were well-dressed,
apparently clean-cut whites. The car in Palo Alto sat untouched for more than a week. Then Zimbardo
smashed part of it with a sledgehammer. Soon, passersby were joining in. Within a few hours, the car had
been turned upside down and utterly destroyed. Again, the "vandals" appeared to be primarily respectable
whites.
http://www.lantm.lth.se/fileadmin/fastighetsvetenskap/utbildning/Fastighetsvaerderingssystem/BrokenWind
owTheory.pdf
61
terreno de aproximadamente 210 mil metros quadrados, pertencente à CEASA (Centrais
Estaduais de Abastecimento de Minas Gerais). Calcula-se que cerca de centenas de famílias,
de forma desorganizada, adentraram esse imóvel e ali construíram suas residências. Tal
localidade, em menos de um ano, é cenário de diversas práticas criminosas, inclusive diversos
homicídios.
Figura 1 – Invasão William Rosa
Fonte: Luiz Costa/Hoje em Dia.
A cena ilustrada mostra um ambiente degradante para as presentes e as futuras
gerações, sem qualquer qualidade de vida. Trata-se de meio ambiente nocivo, que retira do ser
humano sua dignidade e seus valores.
Em que pese ser opção do indivíduo invadir locais para se assenhorar de propriedades
alheias, ele o faz na busca de uma vida melhor, e geralmente em lugares próximos às cidades
grandes. A ausência de fiscalização e de políticas públicas do Estado provoca naqueles que ali
vivem um sentimento de abandono.
Lugares como esse não são capazes de oferecer ao homem reais condições de vida
ambiental. A pessoa que ali reside coadjuva com o meio ambiente em condição desordenada,
em um cenário propício ao alto índice de criminalidade.
62
Conectados à teoria das janelas quebradas, Jacinto Nelson de Miranda Coutinho e
Edward Rocha de Carvalho (2003) trazem o eixo da teoria, aduzindo que tudo o que se destrói
deve ser logo refeito, para que não haja novos crimes:
[...] se um criminoso pequeno não é punido, o criminoso maior se sentirá seguro
para atuar na região da desordem. Quando uma janela está quebrada e ninguém
conserta, é sinal de que ninguém liga para o local; logo, outras janelas serão
quebradas (COUTINHO; CARVALHO, 2003, p. 24).
Aqui é demonstrado claramente que o ambiente em que vive o homem deve ser
protegido, planejado, bem estruturado, pois pode exercer grande influência na criminalidade
local. Assim, o meio ambiente urbano, que compõe o ecossistema, deve ser objeto de proteção
pelo ordenamento jurídico. E diante da imensa concentração populacional em determinadas
localidades, deve ser visto também como questão de política pública, que tem o poder de
evitar sua deterioração por meio do planejamento urbano.
Áreas degradadas em que impera a cultura criminosa solidificada devem sofrer
intervenção estatal com instrumentos viáveis, e até mesmo com instrumentos penais
coercitivos se as respostas desejadas muitas vezes não forem obtidas pelos meios menos
severos.
4.1 Desenvolvimento urbano
O homem precisa do espaço para viver bem e ter qualidade de vida. A busca dele pelo
melhor espaço físico para viver e se desenvolver remonta à primeira civilização, originada no
Egito, quando conferia grande significado à natureza, que era inclusive vista como um Deus,
pelos seus mistérios e por ser indomada. Aos poucos, o homem começou a dominá-la e a se
organizar.
Denota-se que o surgimento do que veio a ser chamado de cidade ocorreu há
aproximadamente 3.500 a.C., mais precisamente na região entre os rios Tigre e Eufrates
(Mesopotâmia) (SILVA, 2000, p. 3). Foi quando se teve a primeira notícia de seres humanos
dividindo um pequeno espaço (em conjunto).
A revolução industrial fez aumentar o contingente populacional no entorno das
cidades, porém de forma desordenada, ocasionando a maior densidade demográfica
populacional daquele tempo (SARNO, 2004, p. 3).
63
E com o crescente avanço das populações rurais para os centros urbanizados das
cidades surgem diversos problemas oriundos dessas transformações. Atinente a isso, fez-se
necessária a criação de normas com o fito de depurar e solucionar as consequências desse
crescimento desenfreado e resolver as incorreções das cidades que não comportam tal
crescimento populacional.
O Direito Urbanístico, cujo objeto é a questão social ambiental, surge sob esses
acontecimentos. Como ciência, tangencia tudo ligado ao desenvolvimento da cidade.
Portanto, Direito Urbanístico são normas descritas para orientar, planejar e instrumentalizar
meios de desenvolvimento para uma cidade sustentável.
O Direito Urbanístico é o ramo do Direito ainda debatido doutrinariamente, quanto à
sua autonomia, e se confunde com outros ramos, como Direito Administrativo, Econômico,
entre outros. No entanto essa divisão é necessária para melhor enquadrar os acontecimentos
urbanos de forma a levar ao legislador aquela parcela de bem merecedora de acolhimento em
textos normativos.
Assim, o Direito Urbanístico nada mais é que a preocupação normativa quanto à
cidade, no tocante ao seu desenvolvimento e interação entre os seres humanos. Notadamente,
é o ramo que se preocupa com segurança, saneamento básico, moradia, transporte, vias
públicas, trabalho, meio ambiente urbano.
Vale dizer que o Direito Urbanístico está também atrelado ao Direito Ambiental, por
tratar do meio ambiente urbano como sendo o meio ambiente artificial, com influência do
homem, transformado por este, através de edificações, ruas, praças. E tudo isso com
observância das normas e diretrizes do Direito Urbanístico.
Após o liberalismo, tais acontecimentos sociais fizeram com que os indivíduos
começassem a cobrar mais intervenções do Estado por causa do crescimento estarrecedor das
cidades. Surge assim o Estado mais interventor, que tem o Direito como instrumento
viabilizador de tal intervenção.
4.2 Direito Urbanístico, ramo do Direito atinente à política urbana constitucional: na
busca de uma cidade sustentável
Uma das incoerências da cidade é a criminalidade, que vem tomando espaço nas
relações sociais de forma assustadora. O consumo exacerbado e o desenvolvimento
64
econômico têm grande influência nisso, pois provocam o êxodo rural, ocasionando o aumento
e o acúmulo de população nas cidades.
Segundo Bauman (2008), o consumismo levou à aglomeração de pessoas em busca de
um lugar ao sol e no mercado econômico e permitiu a marginalização e exclusão social dos
que ficam de fora do progresso e do crescimento econômico.
Concomitante com o crescente avanço das populações rurais para os centros
urbanizados das cidades, surgem diversos problemas, como o aumento de crimes e de
criminosos. Nesse contexto, normas instrumentadoras são necessárias com o fito de depurar e
solucionar as consequências do alarmante medo da população de ações criminosas.
Assim, o aumento populacional em determinados lugares ocasiona problema nas
relações sociais como o enfrentamento das consequências do crime e do criminoso. O Estado
deve se preocupar em como solucionar esses problemas, e uma das formas é estabelecer a
política de segurança pública.
Não se pode mais aguardar que os problemas ocasionados por esses fatores
transpassem a segurança individual; com base nisso, a cidade tende a se tornar alvo de análise
num planejamento urbano sustentável voltado para a segurança pública.
Para a existência de cidades plenamente saudáveis, é imperativa a concepção de uma
política de planejamento para a segurança da população. Consuelo Yoshida entende a cidade
como um bem ambiental, de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.
Salienta ainda que a cidade não se confunde com o meio ambiente artificial, pois se revela
uma integração de todos os aspectos do meio ambiental.
A forma da cidade, por sua estrutura gerada por uma justaposição de elementos
materiais, sociais e sensíveis, permite a aquisição de um valor estético e imaginário
que constitui sua força de atração em relação aos indivíduos e aos grupos que nela
habitam, criando espaços existenciais onde se concretiza a cidadania. É na forma da
cidade, na interação de suas três dimensões, que há uma distinção do paroxístico, do
excesso, pela acentuação, pela caricaturização, pelo sobressaimento do invisível e do
subterrâneo que constituem a sensibilidade existencial que desenvolvemos em
relação a estes espaços, e que, ao longo de nossas vidas, demonstram-se como
incontornavelmente vitais nos processos de atribuição de sentido aos seres humanos
(SANTOS, André Leonardo, 2013, p.75).
A cidade como bem seria muito além do disposto por José Afonso Leme, pois se
levam em consideração as relações sociais, qualidade de vida e outros bens não visíveis aos
olhos, mas presentes nas interações do homem na cidade.
Com base nisso, podemos afirmar que a cidade como bem de uso comum do povo
deve corresponder às suas expectativas, ou seja, o ser humano tem que se sentir seguro no
65
meio ambiente em que vive. Não se pode mais pensar na cidade de forma isolada; ela tem que
ter múltiplas funcionalidades para sadia qualidade de vida dos indivíduos que nela coabitam.
Portanto, como preocupação do Direito, entendido como norma de conduta, que
através da moral e da ética são delimitadores das ações humanas em sociedade, surge o
Direito Urbanístico. Este aparece na seara dogmática como ramo do direito, pois quando da
elaboração da lei o legislador precisa observar critérios para fundamentar sua criação, alicerce
sem o qual não haveria base de sustentação. Destarte, as regras e os princípios devem ser
observados pelo legislador ao colocar no ordenamento jurídico normas a serem seguidas sob o
viés urbanístico.
O Direito Urbanístico é fundamentador de regras e princípios para o planejamento
urbano, tendo como principais diretrizes o disposto no artigo 182 e art. 183, da Constituição
Federal. Esses artigos, além de versarem sobre o planejamento urbano, trazem o plano diretor
como instrumento a ser viabilizado pelos municípios, ou seja, ele deve traçar metas de
execução e concretizar o planejamento urbano com a observância das diretrizes dispostas na
Constituição, tudo com a finalidade de se ter uma cidade sustentável.
Como forma de cumprir as diretrizes constitucionais, a União, por meio de sua
competência fiscalizadora, elaborou o Estatuto da Cidade (Lei n.º 10.257/2001) com regras e
princípios do Direito Urbanístico a serem seguidos pelos demais entes federados.
Essa obediência entre os entes federados deve-se ao fato de que estamos dentro de um
estado democrático de direito que tem como forma de Estado a federação, sendo esta a união
de todos os entes estatais, interligados entre si, em que pese cada um ter sua autonomia como:
I- Poder de autogoverno (capacidade de um povo escolher seus próprios
representantes políticos);
II- Capacidade legislativa (cada ente Estatal tem sua capacidade autônoma para
instituir sua ordem jurídica, sendo esta estabelecida pela Constituição);
III- Capacidade administrativa (cada Ente Estatal autônomo possui poder de
autoadministração e de administração dos interesses públicos da respectiva
sociedade);
IV- Capacidade financeira (é a capacidade que o ente possui de ter recursos
financeiros próprios e disponíveis); e
V- Capacidade tributária (é a capacidade que um ente Estatal possui de instituir e
arrecadar tributos da sua própria competência).
66
E também a Constituição Federal prevê a forma de governo:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
[...]
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição
(BRASIL, 1988).
Tais previsões constitucionais autorizam de forma equânime e justa que haja uma
intervenção do Estado em outro (federalismo cooperador), como forma de se cumprir o
disposto na Constituição Federal. Para tanto, não iria deixar a critério de um só ente a
elaboração, fiscalização, execução de metas do planejamento urbano, considerando as
particularidades financeiras e econômicas de cada ente, sem contudo ferir o princípio da
federação.
O Direito Urbanístico é a ciência que tem como objetivo colaborar para o
desenvolvimento da cidade; é composto por normas descritas para orientar, planejar e
instrumentalizar meios para se ter uma cidade sustentável. Ao traçar critérios de
planejamento, envolve também a segurança pública, objeto do Direito Penal, a Criminologia
entre outros.
Assim, o Direito Urbanístico nada mais é que a preocupação normativa com o
desenvolvimento da cidade e da interação entre os seres humanos. É o ramo do Direito que se
preocupa com a segurança, o saneamento básico, a moradia, o transporte, as vias públicas, o
trabalho e os aspectos relacionados ao meio ambiente urbano.
A intenção do legislador ao traçar o planejamento urbano como norma constitucional
foi colocar os interesses da cidade como bem ambiental a ser equilibrado. E o Estatuto da
Cidade, em resposta, tenta viabilizar tudo o que se encontra dentro da cidade, ordenando-a em
favor da coletividade.
Para tanto, é necessária a regulação do solo, por meio de diversos instrumentos como
zoneamento, usucapião e outros. A finalidade da cidade é servir ao homem, e aqui se
demonstra claramente a teoria antropocêntrica, pois não existiria cidade sem o homem, ela foi
criada por ele e para ele.
67
4.3 Do planejamento urbano e segurança pública (Lei n.º 10.257/2001)
O planejamento urbano está previsto na Constituição Federal de 1988, no TÍTULO
VII, Da Ordem Econômica e Financeira, CAPÍTULO II, art. 182 e 183, e tem o intuito de
viabilizar e ordenar, por meio de política de desenvolvimento urbano, a ser executada pelo
poder público na esfera municipal, o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade,
prevendo a criação de normas gerais quanto às diretrizes a serem adotadas, de forma que a
cidade se torne sustentável, com uma sadia qualidade de vida para as presentes e futuras
gerações.
Planejamento significa, segundo a Lei n.º 11.445/08 em seu art. 2º, inciso I:
[...] as atividades atinentes à identificação, qualificação, quantificação, organização e
orientação de todas as ações, públicas e privadas, por meio das quais o serviço
público deve ser prestado ou colocado à disposição de forma adequada
(BRASIL, 2008).
Assim, o planejamento urbano visa a garantir o disposto na Constituição Federal, com
o fito de atingir a sustentabilidade. Um dos aspectos para garantir uma cidade sustentável é a
convivência harmoniosa entre os indivíduos, com o fim de obter maior segurança por meio da
implantação de ações públicas.
Tem-se como exemplo o oferecimento de serviço público para garantir a comodidade
populacional, por meio de maior policiamento, e outras ações públicas voltadas à segurança
pública, e colocadas à disposição dos cidadãos. Os transtornos gerados pela criminalidade e a
ausência de políticas de segurança tornam a vida nas cidades menos saudável.
Observa-se que os índices de criminalidade aumentam conforme aumenta também o
desenvolvimento econômico, acarretando a superpopulação que, segundo Bauman (2005),
tem como excesso os não aceitos, aqueles que não conseguiram entrar no progresso do
desenvolvimento.
Se o excesso populacional (ou seja, a parcela que não pode ser reassimilada aos
padrões de vida normais e reprocessada para a categoria dos membros “uteis” da
sociedade) pode ser removido e transportado de modo rotineiro para além das
fronteiras do recinto em que se busca o equilíbrio econômico e o harmônico social,
as pessoas que escapam à remoção e permanecem dentro do recinto, mesmo que
agora redundantes, são marcadas para reciclagem (BAUMAN, 2005, p. 90).
68
Essa população excedente, com a falta de planejamento, provoca a desordem urbana,
tendo em vista que crescem a cada dia as favelas, paralelamente, os marginalizados. O
surgimento de guetos (favelas) com precária qualidade de vida não é comportado pelas
cidades sustentáveis, e também não é previsto pelo Estado, mas a ausência de planejamento
dificulta que a cidade, como bem comum de todos, ofereça qualidade de vida e
sustentabilidade para os seus habitantes.
Isso devido ao fato de as favelas apresentarem características peculiares como grande
número de pessoas na informalidade, que migraram para a cidade em busca de emprego, mas
se depararam com propriedades com preços bastante elevados. Isso conduz ao aparecimento
de aglomerados, pois a essas pessoas não resta alternativa a não ser residir em lugares
desordenados ou em propriedades alheias invadidas.
A industrialização torna o crescimento desordenado das cidades um catalisador de
novos fenômenos sociais, que alteram os costumes, a economia, o espaço e a
demografia. Grandes desigualdades temperam essa realidade propícia a desvios de
conduta e crimes (EVANGELISTA, 2012, p. 198).
Essa forma desordenada de crescimento traz junto consigo o aparecimento de
criminosos, com desvios de comportamento. Os lugares e sua arquitetura tornam-se local de
fácil contaminação criminal. Segundo Felipe Camelo de Freitas Evangelista (2012), em seu
artigo publicado na revista Veredas do Direito:
Em certa medida, vários delitos ocorrem devido ao desenho ou projeto do lugar que
os circunscreve. O conhecimento dos níveis dessa influência ajuda órgãos de
segurança a identificar quais as causas geradoras da criminalidade não decorrentes
apenas das falhas ou omissões da polícia (EVANGELISTA, 2012, p. 198).
Lado outro, a presença de crime é considerada um fenômeno social que sempre irá
existir, mas seu descontrole se mostra latente com a desordem e a ausência de um
planejamento urbano na cidade, provocando seu aumento.
Em outras palavras, não basta a individualidade separada da parte coletiva, a
coexistência dos dois gera fenômenos muitas vezes não desejados pelo próprio indivíduo.
A criminalidade é um fenômeno social, já identificado assim no final do século XIX
(DURKHEIN, 1897), como um fato próprio da existência humana, portanto fato
social. O fato social é distinto do livre arbítrio e consequência das forças coercitiva
da coletividade. É uma coisa mensurável e difere da vontade humana individual, a
qual encontra as estruturas sociais prontas, não é decisão do homem incorporar ou
participar destas formas de convívio, elas existem independente da vontade de cada
um e obrigatoriamente somos integrados a elas (GIDDENS, 1976)
(GOMES, 2005, p. 58).
69
Nesse contexto, faz-se necessária a intervenção do Estado. Bauman (2005) traz, em
seu livro Vidas desperdiçadas, que o medo é algo inerente ao ser humano, e quem o controla
trazendo conforto é o líder; alguns buscam a religião para aplacar seus medos. O medo de ser
vítima de crime e do criminoso pode ser aproveitado pelo Estado, que por meio de políticas
públicas viáveis e funcionais garante a segurança.
A falta de planejamento público para extirpar ou diminuir a sensação de insegurança
confere à população a sensação de rejeição, a qual deixa de confiar no Estado. E o Estado,
para retomar a confiança da população, até mesmo como forma de controlá-la, deve buscar
alternativas solucionáveis do problema e manter a ordem; ao contrário, um Estado sem líder
vira caos.
Nesse contexto, o Estado deve voltar-se para a viabilidade econômica; o crescimento
de um país está atrelado a tudo, inclusive às questões das relações sociais. Uma população
infeliz não produz, não desenvolve, dando vazão ao aparecimento da desordem.
Por esse fato que o planejamento urbano se encontra no título referente à ordem
econômica; a cidade faz parte do ciclo de desenvolvimento econômico de um país, que
objetiva mais investimentos externos, maior produção de forma sustentável.
Uma cidade sem planejamento urbano empaca o crescimento esperado pelo progresso.
Afirma-se que as cidades possuem um papel fundamental no desenvolvimento, pois a partir
da concentração de pessoas com atitudes e atos controlados é que haverá o desenvolvimento
econômico e social.
O Estatuto da Cidade prevê que para se ter uma cidade sustentável e com boa
funcionalidade, o indivíduo tem que ser analisado no seu contexto, como um componente da
cidade. O que significa dizer que planejar urbanisticamente é analisar os interesses do ser
humano, analisar o que é viável para que este tenha uma vida digna, com moradia, trabalho,
transporte, saúde, e principalmente segurança, esta como forma de controlar o medo.
Em que pesem entendimentos contrários de que a lei viabiliza apenas questões
materiais da cidade, como estrutura, forma física, esta deve ser vista como um dos fatores que
contribui para que o indivíduo no seu íntimo efetive mudanças em seu caráter.
Um pequeno comentário sobre o Estatuto da Cidade, lei que aportou em nosso
sistema jurídico desde 2001, e pela qual se nutria uma grande esperança de inovação
política e legislativa. Esta lei nasceu com os olhos fechados para qualquer ideia de
cidade sensível. O controle social do Estado sobre as ações políticas direcionadas à
cidade, previsto no art. 2º, em seus 17 incisos, refere-se quase que exclusivamente a
questões relativas à materialidade do espaço urbano. O mais próximo que chegou da
70
previsão de ações dirigidas ao plano sensível, espiritual, cultural foi no inciso I,
quando expressa que entre as diretrizes gerais consta o direito à cidade sustentável,
entendida, entre outras concepções, como o direito ao lazer. Também poderíamos
apontar, como outro elemento desta lei dirigido a ampliar os espaços sensíveis
urbanos, a previsão da gestão democrática da cidade, inserida no art. 2º, II e, mais
adiante, no Capítulo IV, com 3 artigos, cujas disposições, um tanto quanto
genéricas, jogam a responsabilidade de instrumentalização desses processos de
tomada de decisão coletiva para o âmbito público municipal. No mais, o Estatuto da
Cidade é uma legislação mais preocupada com a materialidade da urbe do que com
qualquer outro aspecto ou dimensão (SANTOS, André Leonardo, 2013, p. 75).
Uma cidade sustentável sem vida social por medo de ações criminosas de outrem não
tem funcionalidade alguma. Imagine uma praça com todos os seus encantos e preservações,
mas a qual não pode ser visitada pelo cidadão devido ao medo. Em breve o local se tornará
abandonado e esquecido, o Estado pararia de ali empreender recursos para o lazer, pois seria
despender recursos financeiros não necessários.
Assim, nos dizeres de Fiorillo (2012, p. 43), a política urbana fixada no art. 2º da Lei
10.257, de 2001, tem como objetivo regrar a cidade de acordo com a necessidade da pessoa
humana, observando-se o Piso Vital Mínimo.
Para San Juan, Bermejo e Ocáriz (2007) teorias ecológicas afirmam que o ambiente
pode ter influência decisiva sobre o comportamento humano e crime. Ecologia na
área criminológica representa a influência que o ambiente tem sobre o
comportamento do sujeito. Portanto, não é antissocial relação ao meio ambiente.
Destina-se nesse assunto personalidade antissocial tem sua formação em múltiplos
fatores e aspectos ambientais que o rodeiam e que uma vez favorecidas para o
fenômeno antissocial se desenvolve. Esta Criminologia específica é bem estudada e
há muito tempo já fez estudos como as influências climáticas para realizar certos
tipos de crimes, de Platão a Montesquieu, Quetelet e Parmelee para Werner Wolff
(1976), Leija Moreno (2004) teve Solis Quiroga (1985), Francisco Valencia (sf),
Maguire, Morgan e Reiner (2006) e todos aqueles que em tempo não teria enunciado
(HIKAL; WAEL, 2010, p. 5/6).8
Nesse passo, pode-se subsumir que o Estatuto da Cidade tem como um de seus
objetivos a busca pela segurança de seus habitantes, segurança pública, considerando a cidade
como meio ambiente urbano a ser protegido para os habitantes presentes e futuros.
Para tanto necessário ser um meio ambiente onde todos os indivíduos interagem entre
si, com qualidade de vida, sem criminalidade, conforme dispõe o já citado art. 225 da
Constituição Federal de 1988.
8 Para San Juan, Bermejo y Ocáriz (2007) las teorías ecológicas aseguran que el ambiente puede tener influencia decisiva en el comportamiento humano, así como de la criminalidad. La Ecología en el área criminológica representa la influencia que el ambiente ejerce
sobre la conducta del sujeto. Por lo tanto, existe la relación antisocial–ambiente. Es tendiente en cuanto a que la personalidad de un sujeto
antisocial tiene su formación en múltiples factores y aspectos ambientales que lo circundan y que en su momento favorecen para que se desarrolle el fenómeno antisocial. Esta Criminología Específica está bien estudiada y desde hace tiempo ya se había n hecho estudios de
cómo el clima influye para la realización de cierto tipo de delitos, desde Platón a Montesquieu, Quetelet y Parmelee hasta Werner Wolff
(1976), Leija Moreno (2004) Solís Quiroga (1985), Francisco Valencia (s.f.), Maguire, Morgan y Reiner (2006) y todos aquellos que de momento faltarían enunciar.
71
4.4 Violência urbana: desafio para o planejamento urbano
As cidades trazem consigo alguns problemas frutos de seu desenvolvimento
econômico e as degradações urbanas são um deles. Podemos citar como exemplos a
degradação do solo, da água, do ar, a sonora e a violência. O índice de crimes nas grandes
cidades aumenta, surgem diversos tipos de condutas ilegítimas lesionando bens jurídicos
(alheios), sendo necessário haver novas tipificações penais para tais fatos.
Nesse contexto, a violência seria transgressão que pode ser chamada de degradação da
qualidade de vida, uma das preocupações do Direito Ambiental no que se refere ao espaço
urbano. As favelas seriam um tipo de arquitetura com enorme influência para o surgimento de
criminosos e de práticas de crimes violentos.
A população sitiada nesse espaço é excluída do quadro social, em sua maioria não tem
acesso à cidadania (direitos básicos do indivíduo), como emprego, lazer, segurança. Além do
ambiente física e estruturalmente favorecer a criminalidade, pois falta iluminação adequada,
há prevalência de terrenos baldios, praças abandonadas, ruas sem calçamento, e ainda com
acesso precário, locais geralmente não monitorados pelo Estado para garantir segurança.
Todos esses fatores somados contribuem para levar os indivíduos para a “vida do
crime”, mesmo aqueles que não pretendem trilhar esse caminho, já que muitas vezes são
“forçados” a isso.
Essa primeira auditoria verdadeiramente global da pobreza urbana, que segue as
famosas de Friedrich Engels, Henry Mayhew, Charles Booth e Jacob Riis, é o ponto
culminante de dois séculos de reconhecimento científico da vida favelada, que teve
início em 1805 com Survery of Poverty in Dublin [Estudo da pobreza em Dublin],
de James Whitelaw. É também a contrapartida empírica há muito esperada das
advertências do Banco Muncial na década de 1990 de que a pobreza urbana se
tornaria “o problema mais importante e politicamente explosivo do próximo século”
(DAVIS, 2006, p. 30).
Morar na favela, no entanto, não torna necessariamente a pessoa criminosa, motivo
pelo qual há que se ter cuidado com análises apressadas sobre o fenômeno da favelização da
cidade.
De fato, a favela seria um entrave para o crescimento econômico, e sua eliminação
pelo Estado é interessante para o progresso e embelezamento da cidade. A justificativa de que
em favelas só há criminosos, no entanto, é uma falácia do Estado para justificar sua conduta
72
de eliminação social, pois na verdade o fator preponderante parece ser sua ausência dentro das
cidades sustentáveis.
Assim como no passado colonial, o regime hoje usou os argumentos da
criminalidade e da miséria urbana para “restaurar a ordem” nas cidades e, assim,
como as tentativas passadas, isso não resolverá o problema. [...] Afinal, a base dessa
pobreza urbana é a crise da reprodução do trabalho e o fracasso constante da atual
política econômica de estabilizar o meio de vida dos trabalhadores urbanos
(DAVIS, 2006, p. 120).
Em outras palavras, o Estado utiliza argumentos para consertar o que foi esquecido por
ele, ou seja, o surgimento desordenado das favelas ocorre justamente pela ausência de
fiscalização do Estado, o que demonstra que o planejamento urbano é de suma importância
para a cidade ser sustentável, e a manutenção da fiscalização é forma de prevenção desses
acontecimentos. No julgado de 2000, nos autos da apelação cível n. 888314/0, o voto do
Desembargador Ênio Santarelli Zulini, citado por Perazzoni (2011), trouxe tais informações
bem claras nos seguintes dizeres:
[...] todo o agrupamento depende de espaços livres para praças, empreendimentos de
recreação, do lazer e dos esportes, uma necessidade para aproximar as pessoas, patê
da política contra o ócio e a desesperança que revoltam e encaminham os deserdados
da fortuna para a violência (ZULINI apud PERAZZONI, 2011).
No entanto, a violência nas cidades em que há inúmeras favelas toma proporções não
mais controladas apenas pelo planejamento urbano, dando azo ao aparecimento do Estado
legislador, que cria normas penais mais severas contra novos crimes, como os praticados por
organizações criminosas. Na mesma esteira de pensamento, Mendroni (apud PERAZZONI,
2011, p. 90-91) afirma:
A evolução natural da humanidade, decorrente da modernização dos meios de
comunicação, equipamentos tecnológicos de toda natureza, dos meios de transporte
e de processamento de dados, trouxe também a reboque o incontrolável incremento
da criminalidade, mas, em especial, da criminalidade organizada.
E também Cárceles:
Nos últimos anos, o crescimento do número de ilícitos contra Planejamento
territorial tem sido motivo suficiente para incentivar o legislador a adotar uma
atitude de compromisso amparada na necessidade e urgência modificação
legislativa. É uma questão que tem se refletido no fortalecimento de alguns dos
preceitos do Código Penal vigente 9 (CÁRCELES, 2013, p. 575).
9 En los últimos años el crecimiento del número de ilícitos contra la ordenación del territorio ha sido motivo suficiente para
incentivar al legislador a la adopción de una actitud de compromiso amparada en la necesaria y urgente modificación
73
Dessa forma, não há que esperar que uma sociedade que se agiganta e se aglomera em
pequeno espaço territorial, com um grande número de pessoas, não seja vítima da
criminalidade; ao passo que o planejamento urbano merece maior atenção no que se refere aos
cuidados com a segurança pública, com uma gestão pautada em prevenção, fiscalização, com
mais policiamento nas ruas, e com policiais mais bem equipados e preparados.
O aumento populacional nas cidades é fruto do crescimento econômico que tem como
meta o progresso. O Estado é um grande coadjuvante para que a cidade seja o melhor lugar
para se viver; deve fomentar estudos voltados para um planejamento da segurança pública,
garantindo a sensação de felicidade e segurança na população. A ausência do controle do
Estado pode reverberar no descrédito, levando o cidadão a clamar por ações de autodefesa em
substituição do Estado.
O Direito Urbanístico é o corretor das incorreções, do desequilíbrio, da desordem nas
cidades. Ele visa dar sustentáculo para o planejamento urbano previsto na Constituição
Federal de 1988, pois esta dá diretrizes e estimula através do princípio da função social a
viabilidade de uma cidade sustentável, colocando o planejamento urbano nas mãos dos entes
federados como instrumento, como seus executores, ou como fiscalizadores para sua
implementação. Tudo na busca de uma cidade sustentável.
Não tenho dúvidas de que estão cobertos de razão Lévi-Strauss, Pesavento e Flusser
quando apontam a existência de uma imaterialidade cultural como elemento
constituinte da cidade. Há espaços que são mais do que prédios ou esquinas, luzes
ou sombras, verde ou concreto. Os mesmos espaços materiais são os espaços de
sociabilidade, de atribuição de sentidos e valores a um mundo que chamamos
cidade. Sobre a materialidade e sobre a sociabilidade, a partir das emoções e
sentimentos produzidos existencialmente, criamos imagens e discursos, produzimos
pensamento, e por ele construímos, uma cidade imaginária, uma cidade sensível que
é, conforme as palavras de Pesavento “aquela responsável pela atribuição de
sentidos e significados ao espaço e ao tempo que se realizam na e por causa da
cidade (SANTOS, André Leonardo, 2013, p.74).
Portanto, as cidades provocam o surgimento de favelas, estas indesejadas pela cidade
sustentável, pois consigo trazem fatores sociais prejudiciais, aumentando o número de crimes
e de criminosos. Tal alteração no quadro das cidades deve ser prevista, o que demonstra que a
ausência de planejamento e fiscalização acaba por ocasionar distúrbio nos cidadãos, como
estresse, sensação de insegurança, isolamento.
legislativa. Se trata de una cuestión que ha visto su reflejo en el refuerzo de algunos de los preceptos del actual Código Penal.
(CÁRCELES, 2013, p. 575).
74
A violência foi demonstrada como um fator social dentro do espaço urbano
desorganizado, não planejado e esquecido pelo Estado, e que fomenta até mesmo o
surgimento de novos crimes por meio de organizações criminosas. E como forma de prevenir
e também extirpar o crime é necessário o planejamento urbano voltado para a correção dessa
desordem, bem como elaboração de normas contentoras da violência e do criminoso.
4.5 Construções prediais verticais como solução para a moradia urbana, um desafio
para a segurança pública
Figura 2 – Construção predial vertical
Fonte: Fernando Quevedo / Agência O Globo.
Não basta ter um planejamento urbano, ele tem que ser projetado com eficácia e sob
diversos critérios e fatores; o local deve ser analisado e uma boa estrutura física, planejada.
Talvez o maior exemplo dessa nova lógica que guiou as construções dos espaços
urbanos contemporâneos seja Brasília. Aparentemente, uma cidade com inúmeros
requisitos para o exercício da cidadania no espaço urbano, mas, essencialmente, uma
cidade com blocos imóveis isolados, largas avenidas destinadas aos fluxos de
automóveis e outros veículos, amplas áreas verdes, um lago artificial enorme, mas,
por outro lado, uma cidade desumana, com espaços de convivialidade restritos às
classes abastadas que transitam pelos corredores do poder ou dos altos escalões do
serviço público, enquanto a periferia trafega por espaços sem qualquer planejamento
75
e sem qualquer possibilidade de construir uma identidade cultural que a ligue
visceralmente a um espaço existencial urbano
(SANTOS, André Leonardo, 2013, p.76).
Devido ao avanço social nas grandes cidades, com as novas tecnologias e
desenvolvimento econômico, a sociedade rural tem-se evadido para os grandes centros
urbanos, o que provoca o aumento do número de cidadãos em busca de moradia. A procura
pelo espaço físico para morar se torna disputa, e pela lei da oferta e procura faz com que haja
um elevado preço de mercado dos imóveis. Nas palavras da professora Maraluce Maria
Custódio, em conjunto com Douglerson Santos:
O mesmo se passa com a incrementação imobiliária de regiões de entorno dos
centros urbanos. A partir da década de 70 nos EUA e Europa e década de 80 no
Brasil, os habitantes vêm buscando sair dos grandes centros barulhentos, cinzentos e
poluídos e procurando um entorno, mas com um pouco de qualidade de vida:
natureza, ar mais puro, tranquilidade, bela paisagem (BRANCO, 1991). Surgindo a
cultura dos subúrbios, hoje chamados de periurbanos
(SANTOS; CUSTÓDIO, 2013) 10.
Em razão desse efeito, aqueles com parcos recursos para ter sua moradia acabam
invadindo terrenos alheios; no mesmo contexto, o Estado não está preparado para atender essa
demanda, surgindo a cada dia mais pessoas dispostas a invadir terrenos e imóveis alheios.
Há uma hipertrofia urbana que nos países do sul agrava-se, comparada aos países do
norte, em função da velocidade e da amplitude do processo, com um crescimento
acelerado da pobreza e um rápido desenvolvimento de periferias empobrecidas. Esse
crescimento urbano é caracterizado, essencialmente, pelo afluxo de populações
pobres oriundas de migrações rurais para a cidade, repetindo o fenômeno medieval.
Favelas nascem e crescem sem planejamento urbano, sendo quase sempre resultado
de ocupações ou invasões ilegais de terrenos ainda disponíveis. Com frequência
bastante alta, são lugares por excelência de insalubridade, violências urbanas,
criminalidade, desigualdades etc. (SANTOS, 2013, p.70).
Ocorre que, na localidade invadida, há ausência do Estado; falta planejamento urbano,
saneamento básico, iluminação pública, ruas pavimentas, entre outras necessidades primárias
do ser humano, provocando uma microssociologia, com regras e critérios próprios.
O Estado, para solucionar o déficit de pessoas sem teto e no intuito de viabilizar o
disposto constitucional da moradia (art. 6º, CF) 11, cria em 2009 o projeto para efetivar esse
direito fundamental, intitulado programa de moradia "Minha Casa, Minha Vida".
10 http://npa.newtonpaiva.br/direito/?p=831 11 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
76
O programa referido tinha o condão de beneficiar a família com baixa renda a ter
acesso a uma moradia digna. Na maioria dos casos, tratava-se de imóveis verticais, prédios.
O programa beneficiou também pessoas que moravam em situações irregulares, como
invasões advindas da carência por moradia. O Estado tentou com isso eliminar as favelas
horizontais, uma vez que estas frequentemente não são planejadas, e oferecer moradia digna
às pessoas de baixa renda.
Esse programa aumentou em demasia o número de prédios, locais estes com grande
quantidade de pessoas. Contrapondo a esse cenário perfeito pela busca de um lugar adequado
para se viver, as experiências da polícia judiciária mostram que esse planejamento urbano
muitas vezes não é suficiente para diminuir o crime, podendo até mesmo ser fomentador dele.
Esse tipo de estrutura física, mesmo que planejada, em que pese ser um atrativo
econômico para o Estado, pois ocupa espaço territorial pequeno, torna-se um escudo protetor
de indivíduos mal intencionados. No Rio de Janeiro, bem como em São Paulo e em Minas
Gerais, houve grande crescimento de crimes propiciados por esse tipo de construção, pois
inviabilizam a fiscalização e o monitoramento da segurança pública, que é um dos
instrumentos do Estado para impedir crimes e controlar a criminalidade.
Nem a polícia preventiva nem a repressiva conseguem, mesmo através das vias
judiciais, como mandados de busca e de prisão, repreender ou retirar indivíduos infratores
desses prédios.
Estima-se que condomínios de prédios construídos para efetivar o programa "Minha
Casa, Minha Vida" acabam tendo a mesma população equivalente à existente em um bairro,
porém com muros altos, e muitas vezes com um único acesso.
Essa estrutura vertical inviabiliza as atividades da polícia e funciona como
escamoteador dos crimes praticados dentro desses prédios, que são em sua maioria uso de
drogas, tráfico de drogas, armazenamento de armas, abrigo de foragidos, e até mesmo prática
de homicídios.
A polícia tem enorme dificuldade em adentrar esses prédios, que recebem apelidos
como “prédio do Carandiru”, referindo-se à casa de detenção da cidade de São Paulo, a qual
ficou conhecida pelo desastre ocorrido em 2 de outubro de 1992; “prédio do alemão”,
referindo-se à temida favela situada no Estado do Rio de Janeiro, etc.
Em alguns casos, policiais em suas investigações, e por inúmeras vezes, descobrem
que suspeitos de crimes adentraram apartamentos alheios para se esconderem, e
consequentemente não terem suas prisões efetivadas.
77
Nem mesmo assistentes sociais e membros do Conselho Tutelar têm a entrada
permitida nesses prédios; quando o fazem para cumprir requisição ministerial, ou por ordem
judicial, pedem apoio à segurança pública com a consequente presença de policiais.
Isso se deve ao fato de os marginais que ali habitam se apropriarem do prédio,
principalmente da área comum, e darem ordens para as forças do estado não entrar no prédio.
Dentro desses prédios, inclusive nos corredores, é possível visualizar pichações, e até
mesmo ausência de iluminação, pois eles depredam o interior e quebram as lâmpadas. Tudo
para dificultar a fiscalização interna de condutas indesejadas pelos demais moradores e como
forma de impor o comando.
Em uma incursão policial, houve moradores que solicitaram, às escondidas, proteção
por suas vidas e afirmaram que naquele local eles não têm a mínima condição de segurança.
Os infratores que ali habitam proíbem acesso de pessoas estranhas no local, como visitas, etc.
Alguns moradores escondem suas identidades profissionais, pois a depender do que fazem são
frequentemente ameaçados.
Quando a polícia é autorizada a adentrar no prédio para efetuar busca e apreensão em
uma das unidades, como apartamento, sua finalidade é muitas vezes infrutífera, pois os
suspeitos os visualizam com primazia ao chegarem ao local, devido à estrutura do prédio,
permitindo a retirada pelos infratores dos produtos ilícitos e das armas de dentro do
apartamento no qual será efetuada a busca, transferindo-os para outro apartamento no qual
não recai nenhuma suspeita.
Em outras palavras, a estrutura predial vertical é uma arma, um reino onde se
protegem marginais, equivalente àquelas cidades antigas em que os muros altos eram feitos
para inviabilizar os invasores, protegendo-os das guerras. Previsto na Bíblia Sagrada, 2012, p.
797, “Como cidade derrubada, que não tem muros, assim é o homem que não pode controlar
seu espírito” (Provérbios 25:28). E ainda,
Houve um tempo em que a cidade do Rio Grande buscava proteção atrás de muros
que lhe garantiriam a defesa contra invasões terrestres. Certamente, a memória
daqueles que viveram os conflitos com uruguaios, argentinos e paraguaios, em
meados do século 19, ainda estava repleta de relatos da invasão terrestre espanhola
de 1763 e do pânico que se apoderou da população. Posição de difícil defesa, a
localidade sofreu outro sobressalto em 1777, com nova tentativa de invasão
espanhola por D. Pedro de Cevallos (TORRES, 2006)12.
12 seer.furg.br/biblos/article/view/255/68
78
O cidadão que ali mora o qual não tem participação na vida criminosa é prejudicado,
pois não pode usufruir sua moradia como gostaria. Da mesma forma, quando os policiais
estão em serviço e têm que entrar nesses prédios, colocam suas vidas inteiramente nas mãos
dos malfeitores, pois a situação é de plena exposição física, considerando que o local em sua
maioria só tem um acesso, que é pelo portão principal.
Lado outro, os suspeitos estão nas partes superiores dos prédios, e através das janelas
têm a visão privilegiada, pois propicia a visualização de tudo, com muito maior visibilidade;
em contrapartida, os policiais ficam encurralados, totalmente desprotegidos.
Os delinquentes que ali residem percebem claramente quando há policiais
investigando, estes percebem as cortinas das janelas mexerem, indicando que estão sendo
espiados e monitorados. Assim os investigadores por vezes tocam a companhia de algum
apartamento, mas como esperado não são atendidos, nem mesmo pelos moradores
considerados do bem, pois os moradores se escondem, evitam qualquer contato com policiais,
pois têm medo.
Os malfeitores que ali residem muitas vezes afugentam famílias honestas, que mesmo
com o sonho da moradia, deparam-se com esse pesadelo em não poderem usufruir seu bem.
Assim, o programa de planejar melhor o espaço físico e reestruturar a cidade com a
retirada e remanejamento de pessoas merece estudos em diversos setores da política pública,
principalmente quanto à segurança, considerando o fato de que a criminalidade vem
aumentando, e essas estruturas não permitem a presença estatal.
E ainda, o sistema penal é extremamente garantista, protegendo não apenas os
cidadãos de bem, mas em maior grau aqueles que utilizam a lei para se beneficiarem de seus
crimes, isso porque não se é permitido dentro das leis penais o adentramento nas residências
sem expedição do mandado de busca e apreensão.
O garantismo focado no controle da legalidade não permite análise de questão social
ou política; nas palavras de Adilson de Oliveira Nascimento (2008, p. 123), “No modelo
garantista, a busca da verdade processual é controlada, só podendo ser obtida com a
obediência à normatividade constitucional de limitação do poder estatal penal, procurando
excluir no máximo possível, valorações”.
Não pode haver expedição de mandado de busca e apreensão coletivo, o que facilita
que bandidos residentes nos prédios utilizem os apartamentos alheios como esconderijo de
suas armas, produtos ilícitos e refúgios.
79
O aumento de crimes em prédios verticais se justifica primeiramente pelo aumento
populacional nas cidades, fazendo necessário programas governamentais para retirada de
famílias e pessoas dos lugares não planejados para esses prédios verticais.
Esses lugares acondicionam pessoas não conhecidas, que vêm de diversas localidades
e meios sociais. E ainda, os que ali habitam e não têm condições de irem morar em outro local
acabam por vezes entrando na criminalidade, pela interferência do meio ambiente em que
vive.
A ausência do Estado nesses prédios provoca senso de abandono e desespero. Jovens
se relacionam no pequeno espaço comum depredado, e ali se inicia o começo de uma vida
criminosa, demonstrando que o espaço comum dos prédios onde o Estado não está presente é
propiciador da prática de crimes e do surgimento de criminosos.
80
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aumento populacional nas cidades contribui para o surgimento de espaços e ações
não organizados, como favelas e invasões, desencadeando fatores não desejados em uma
cidade sustentável, como o aumento de crimes e de criminosos.
Demonstrou-se que o meio ambiente é de grande importância para o ser humano, e por
isso foi elevado à categoria constitucional, sendo necessário situar o meio ambiente urbano,
diferenciando-o dos demais meios ambientes divididos pela doutrina, como o meio ambiente
do trabalho, meio ambiente cultural, o meio ambiente natural, mas não deixando de
mencionar a sua conectividade, pois meio ambiente na verdade é um só, mesmo que
transformado pelo homem.
A CRFB traz diversos artigos protetores do meio ambiente, este como sendo direito
fundamental, já que transpassa os interesses únicos do ser humano; para tanto foi necessário
explicar a diferença e até mesmo a semelhança entre os direitos fundamentais e os direitos
humanos, razão por que este protege apenas interesses próprios ao homem.
O meio ambiente urbano e a cidade foram tratados no presente trabalho como
sinônimos, sendo bem jurídico fundamental e consequentemente protegido pelo Direito
Ambiental, que utiliza seus princípios para fundamentá-lo. A par disso, trouxe o princípio da
precaução e o princípio da prevenção, que tem como principal objeto a não ocorrência de
danos ao meio ambiente, de forma a prevenir e se evitar ocorrências futuras e desastrosas
frente aos anseios sociais, pois meio ambiente urbano é aquele local onde vive o homem, onde
este interage sócio e ambientalmente com seu meio.
Tratou-se de igual modo o princípio do desenvolvimento sustentável como essencial
para o desenvolvimento das cidades, e cuja base de sustento é progredir de forma sustentável.
Aclarou-se que uma cidade, meio ambiente urbano, pode ser evoluída e ao mesmo tempo
populosa, sem contudo perder a essência do respeito ao ser humano. Isso no que tange aos
respeitos recíprocos entre os indivíduos, respeitando a integridade deles acerca de seus bens
jurídicos, como o direito de viver bem, sem crimes, com segurança e liberdade.
Para tanto foi demonstrado que acaso o meio ambiente seja desequilibrado, pela
ausência de planejamento e fiscalização, surgem distúrbios, como estresse, sensação de
insegurança, isolamento.
Outro princípio fomentador do Direito Ambiental no que tange ao meio ambiente
urbano é o princípio da participação, relevante para que os indivíduos participem ativamente
81
das decisões políticas e conheçam seus reais direitos. Tudo para poder cobrar do Estado
políticas públicas viáveis no espaço em que habita, como esgoto, policiamento, saúde,
educação.
O Direito Urbanístico, ramo do Direito capacitado a elevar o meio ambiente urbano a
bem jurídico a ser protegido dentro do ordenamento, demonstrou ser necessário para se retirar
as incorreções, o desequilíbrio, a desordem surgidas nas cidades, pois ele visa dar
sustentáculo para o planejamento urbano previsto na Constituição Federal de 1988. As
normas instrumentadoras previstas constitucionalmente colocaram o planejamento urbano nas
mãos dos entes federados, como seus executores, ou como fiscalizadores para sua
implementação. Tudo na busca de um melhor lugar para se viver.
Assim, o local habitado pelo homem, visto como uma espécie de meio ambiente e que
compõe o ecossistema, se torna um fragmento dentro das preocupações do Direito Ambiental.
A proteção do local habitado pelo homem e propício à criminalidade é tratada tanto na ciência
penal como na Criminologia; atualmente, diante da imensa concentração populacional em
determinadas localidades, deve ser visto também como uma das questões circundantes ao
Direito Urbanístico.
Por meio da teoria das janelas quebradas foi possível demonstrar que um local
contaminado, poluído, degradado e esquecido pelo Estado é mais susceptível a crimes, fato
explicado também pela ciência da Criminologia.
Trouxemos à baila a existência de áreas isoladas degradadas, local habitado por
homens, a qual perdera a essência do que deveria ser o verdadeiro meio ambiente saudável,
aquele previsto constitucionalmente. O direito entra aqui na preocupação de que o local em
que alguns indivíduos vivem deve ser conservado de forma organizada, protegida, cuidada,
para que não prospere a criminalidade e a sensação de normalidade ante a prática de crimes.
O presente trabalho tem o condão de viabilizar discussões acerca do ambiente urbano
em que a criminalidade aumenta a cada dia. E alguns instrumentos a ser utilizados para
diminuir o crime passam pela análise do local habitado pelos indivíduos, sua cultura, sua
educação, que em conjunto com o local degradado são fatores que contribuem para o
aparecimento de novos crimes e criminosos.
Tentou-se demonstrar que o meio ambiente urbano, nas palavras de Consuelo
Yoshida, citada por José Roberto Marques, é a cidade; que há outros fatores propiciadores
para se ter uma vida saudável, ou seja, não são apenas os objetos materiais, mas tudo que
envolve uma cidade, como as relações humanas, seus valores e culturas.
82
A viabilidade quanto ao Estado tentar solucionar o problema de moradia, através de
construção predial vertical, acaba sendo ao mesmo tempo empecilho para o Estado no que se
refere à segurança pública. Tais construções prediais são utilizadas pelos malfeitores como
muralhas intransponíveis, de modo a praticar seus crimes, retendo provas e dificultando
prisões.
Não se pretendeu condenar o uso das construções prediais verticais, já que a tendência
de uso dessas construções é algo impossível de conter, pois são mais baratas e demandam
espaço geográfico menor, mas sim demonstrar que o ordenamento jurídico penal atual não
viabiliza ao Estado adentrar nesse espaço, no qual a criminalidade e o criminoso vêm
imperando.
83
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