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1 Estratégia de Lobbying na Tramitação do Exposure Draft 63 (Benefícios Sociais) no Âmbito do IPSASB Odilanei Morais dos Santos Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Cleia Maria da Silva Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Resumo O objetivo deste trabalho é identificar possíveis diferenças de posicionamento entre os grupos participantes do processo de consulta pública do Exposure Draft 63 (benefícios sociais), de modo a identificar se os mesmos atuaram com estratégia de lobbying individual ou em coalisão, perante o normatizador International Public Sector Accounting Standard Board (IPSASB), por meio das 36 cartas-comentário em resposta as seis questões propostas pelo IPSASB. As cartas foram analisadas com a aplicação de análise de conteúdo (qualitativa) e utilização de estatística (quantitativa), apoiada nos testes ANOVA e Qui-quadrado. Os resultados apontaram que que não há diferença significativa entre os grupos quanto a estratégia de lobbying no que se refere a proposta normativa dos benefícios sociais. Contudo, houve uma predominância do grupo Associação Profissional (18 participantes) com uma posição mais favorável às questões, enquanto os Reguladores Nacionais (14 participantes) demonstraram-se na direção de desacordo ao questionário da audiência pública do ED 63. Assim como, foi identificado uma possível coalização entre os grupos de Associação Profissional e Auditores Públicos, corroborando a teoria do interesse público e a busca por legitimidade dos interessados perante o órgão normatizador, os pares e a sociedade. Considerando os desafios inovadores no processo de regulação das normas contábeis, contribui-se com literatura sobre regulação no que tange à teoria do interesse público e do lobbying, mas aplicada na área pública, em junção com a teoria da legitimidade, tendo como pano de fundo a norma contábil sobre benefícios sociais, com impacto direto na finalidade e função do Estado e da sociedade. Palavras-Chave: benefício social. Lobbying. IPSASB. interesse público. legitimidade.

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Estratégia de Lobbying na Tramitação do Exposure Draft 63 (Benefícios Sociais) no

Âmbito do IPSASB

Odilanei Morais dos Santos

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Cleia Maria da Silva

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Resumo

O objetivo deste trabalho é identificar possíveis diferenças de posicionamento entre os grupos

participantes do processo de consulta pública do Exposure Draft 63 (benefícios sociais), de

modo a identificar se os mesmos atuaram com estratégia de lobbying individual ou em

coalisão, perante o normatizador International Public Sector Accounting Standard Board

(IPSASB), por meio das 36 cartas-comentário em resposta as seis questões propostas pelo

IPSASB. As cartas foram analisadas com a aplicação de análise de conteúdo (qualitativa) e

utilização de estatística (quantitativa), apoiada nos testes ANOVA e Qui-quadrado. Os

resultados apontaram que que não há diferença significativa entre os grupos quanto a

estratégia de lobbying no que se refere a proposta normativa dos benefícios sociais. Contudo,

houve uma predominância do grupo Associação Profissional (18 participantes) com uma

posição mais favorável às questões, enquanto os Reguladores Nacionais (14 participantes)

demonstraram-se na direção de desacordo ao questionário da audiência pública do ED 63.

Assim como, foi identificado uma possível coalização entre os grupos de Associação

Profissional e Auditores Públicos, corroborando a teoria do interesse público e a busca por

legitimidade dos interessados perante o órgão normatizador, os pares e a sociedade.

Considerando os desafios inovadores no processo de regulação das normas contábeis,

contribui-se com literatura sobre regulação no que tange à teoria do interesse público e do

lobbying, mas aplicada na área pública, em junção com a teoria da legitimidade, tendo como

pano de fundo a norma contábil sobre benefícios sociais, com impacto direto na finalidade e

função do Estado e da sociedade.

Palavras-Chave: benefício social. Lobbying. IPSASB. interesse público. legitimidade.

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1. Introdução

Os cidadãos são considerados atores institucionais dentro de uma sociedade civil, com

capacidade de conferirem legitimidade aos seus representantes, pelos atos da administração

pública. Nesse caso, um dos critérios utilizados para inferir a legitimidade é o regulatório,

que, muitas vezes, é alterado por mudanças e costumes, ao longo do tempo, pelas relações

sociais, individuais e/ou de grupos de interesse. (Meyer & Rowan, 1977; Conselho Federal de

Contabilidade, 2016).

A regulação da contabilidade pública e a adoção de seus padrões internacionais, por

exemplo, têm sido tema constante de debates acadêmicos, assim como em associações e

organismos profissionais, reguladores e supervisores, organizações do setor público,

indivíduos, entre outros atores envolvidos neste processo (Feijó, 2013; Caperchione, 2003,

Brusca & Martínez, 2016, CFC, 2016, Yamamoto & Noguchi, 2013).

Esse movimento decorre da convergência da contabilidade pública às International

Public Sector Accounting Standard (IPSAS) e, dessa forma, com enfoque no regime accrual-

based (patrimonial), quando, até então, o mais utilizado era o regime cash-based

(orçamentário) (Yamamoto & Noguchi, 2013; Caperchione, 2003; Feijó, 2013).

As IPSAS são as normas e diretrizes contábeis, emitidas para aplicação ao setor público,

e têm, como órgão responsável no contexto mundial, o International Public Sector

Accounting Standard Board (IPSASB), que atua no desenvolvimento para a utilização, em

todas as entidades públicas dos países que optaram pela adoção, incluindo o Brasil. Nessa

direção, o IPSASB segue um processo estruturado preliminar, público, oferecendo aos

interessados a oportunidade de participar, com comentários, das propostas normativas que

ainda estão em andamento, para a futura regulação (International Federation of Accounting,

2018).

Esse processo é realizado por meio de consulta pública, sob forma de um projeto de

exposição Exposure Draft (ED), disponibilizado no site do IPSASB, com o objetivo de

explorar o assunto e os detalhes da discussão, oferecendo à exposição, com pauta e prazos

para o fechamento, para comentários por parte dos interessados.

Nesse sentido, o IPSASB emitiu, em outubro de 2017, o ED 63 (benefícios sociais), que

aborda a implementação de benefícios sociais, tais como: pensões estatais, benefícios de

desemprego e suporte de renda, abordando os requisitos de reconhecimento e mensuração,

inclusive a necessidade de divulgação das informações aos usuários.

Esse Exposure Draft é uma proposta pública de regulamentação a ser apreciada antes da

emissão de uma norma com objetivo de obter opinião pelos eventuais grupos de interesse pela

regulação que está sendo tratada. Vale ressaltar que nesta pesquisa, a norma é a IPSAS 42 que

foi aprovada em 31 de janeiro de 2019, logo após a realização deste estudo e,

consequentemente não está sendo analisada aqui. Essa proposta tem em vista que as IPSAS

existentes até o momento não fornecem orientações sobre como contabilizar os benefícios

sociais, bem como por se considerar que, em longo prazo, os valores dessas despesas são

significativos para a maioria dos entes governamentais (IFAC, 2018; CFC, 2016).

Assim, o interesse social do cidadão que contribui para o funcionamento do Estado

encontra-se diretamente alinhado ao ED 63, uma vez que a Estrutura Conceitual, aplicada ao

Setor Público, menciona que as informações contábeis têm como um dos usuários os

“cidadãos que recebem os serviços do governo e de outras entidades do setor público e

proveem parte dos recursos para esse fim” (CFC, 2016, p.11), e que as usam como forma de

avaliar o desempenho do “public values are long-termi”, sobre o período de mandato de seus

gestores públicos, cujo movimento é conceituado pela literatura como accountabilityii (Brusca

& Martínez, 2016).

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Resumindo, os cidadãos são usuários da informação contábil pública, a qual, por sua

vez, é regulada pelo IPSASB, objetivando o interesse público. Nesse contexto, diante desses

atores do setor público, a presente pesquisa busca responder à questão: Quais as diferenças de

posicionamento entre os grupos participantes do processo de consulta pública do ED 63

(benefícios sociais), de modo a identificar se os mesmos atuaram com estratégia

de lobbying individual ou em coalisão?

Para responder ao objetivo principal do estudo, realizou-se uma análise de conteúdo das

cartas-comentário do ED 63, visto ser essa a técnica mais utilizada nas pesquisas anteriores

sobre lobbying, e que contribui para as inferências nos textos das cartas, sobre a compreensão

e qualidade das narrativas encontradas. Combinando com essa análise fez-se, ainda, uso de

técnicas estatísticas (Carmo, Ribeiro & Carvalho, 2016; Mozzato, 2011; Krippendorff, 2002).

A literatura existente sobre o processo de normatização internacional da contabilidade

pública vem se preocupando com a implementação do regime de competência em governos,

pois não é algo simples, e tem apontado uma baixa aderência devido as dificuldades com

baixa percepção de utilidade por parte dos políticos e baixa percepção de equipes, incluindo

até mesmo fatores culturais. Identificando assim, que o processo está sendo direcionado para

uma harmonização das normas contábeis pelos aspectos e características regionais, ao passo

que uma padronização fica cada vez mais distante de ser observada em estudos recentes

(Yamamoto & Noguchi, 2013; Caperchione, 2003; Guthrie, 1998; Christiaens, Reyniers &

Rolle, 2010). Neste sentido, apenas trabalhos voltados para o setor privado abordou a análise

das audiências públicas.

Assim, este estudo visa suprir essa lacuna e contribuir para trazer à tona na área a

literatura sobre regulação contábil aplicada no setor público, no que tange a teoria do interesse

público e a prática do lobbying, alinhando-se com a teoria da legitimidade, sob a proposição

da atuação dos interessados, em face da relevância e do impacto dos benefícios sociais na

finalidade e função do estado democrático de direito e da sociedade (Bresser-Pereira, 2017).

2. Lobbying, interesse público e legitimidade na regulação do IPSASB

Lobbying é compreendido pela literatura contábil como uma atividade exercida por

interessados (indivíduos ou organizações), no esforço de promover, influenciar ou até mesmo

obstruir um processo político proposto de regulação ou normatização (Weetman, Davie &

Collins, 1996; Sutton, 1984). Na regulação do International Accounting Standad Board

(IASBiii), estudos sugerem que, por se tratar de um lobbying político, que oferece

oportunidades para influenciar os resultados que ainda serão alcançados na emissão da norma,

o exercício do lobbying é mais eficaz na fase das consultas públicas (Georgiou, 2004).

Na busca de estudos anteriores sobre lobbying no campo do IPSASB, talvez por ser um

campo relativamente incipiente quanto às recentes mudanças no setor público, o resultado não

gerou êxito. Talvez, ainda, porque o IPSASB seja considerado um órgão cujo interesse é que

todo processo seja desenvolvido visando a emissão dos padrões contábeis, em direção ao

interesse público na melhoria da qualidade e da transparência dos relatórios financeiros,

emitidos pelo setor público, quanto à gestão financeira, prestação de contas e tomada de

decisões (IFAC, 2018).

Cabe mencionar, que a teoria do interesse público responde, de forma eficiente e social,

na existência das falhas de mercado: (i) monopólio natural; (ii) externalidades; (iii)

assimetrias de informações; e (iv) excesso de concorrência, tendo em vista que há “um

modelo de regulador como uma entidade incorruptível e infalível” (Kothari, Ramanna &

Skinner, 2010, p. 71), pelo qual não haveria ambiente para o exercício forte de lobbying e

seus potenciais efeitos sobre os resultados regulatórios, apenas uma abertura de espaço para o

debate, na busca da melhoria das propostas, adequando-as aos padrões a serem emitidos,

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reforçando, assim, o não “achados” de pesquisas anteriores (Kothari, Ramanna & Skinner,

2010).

Assim, para atender ao objetivo desta pesquisa, adentrou-se na analogia ao setor

privado, trazendo a experiência ao campo público, uma vez que existem, igualmente (setor

público-privado), dois polos na arena de debate da proposição de uma nova norma contábil:

(i) os interessados no exercício do lobbying e; (ii) o IPSASB. Por essa razão, as estruturas e os

arranjos institucionais, por parte desses atores, visam a interação com a teoria da regulação e o

próprio interesse público, no que tange ao “bem social” e ao “bem comum”, com enfoque na

redução da assimetria informacional entre governo e sociedade (Mcwilliams & Siegel, 2001;

Argandoña, 1998).

Dessa forma, para compreender os interessados envolvidos na atuação das audiências

públicas, buscou-se respaldo no estudo de Matos, Santos, Rodrigues e Leite (2018) sobre a

classificação e os objetivos dos grupos (Figura 1).

Figura 1 – Classificação de grupos sobre lobbying

Grupo Objetivo

Positive Accounting Theory

Group

(PATG)

Busca analisar as motivações econômicas dos gestores das empresas

preparadoras das demonstrações contábeis, que sustentam sua participação

no processo de elaboração de normas contábeis, e como essas motivações

afetam sua disposição em participar do processo de lobbying,

posicionando-se contra ou a favor de determinada proposta normativa

contábil.

Economic Theory of Democracy

Group

(ETDG)

Investiga a participação de interessados em geral no processo de lobbying

nos normatizadores contábeis, com a preocupação de investigar os

motivos e as características que levam os interessados a participar do

processo de elaboração de normas contábeis, em uma perspectiva de

balanceamento entre custos e benefícios dessa participação.

Coalition and Infuence Group

(CIG)

Estuda as potenciais coalizões entre os grupos de interesse e a possível

influência desses nas decisões dos reguladores contábeis, investigando

como as várias preferências dos interessados no processo contábil se

relacionam e como os reguladores incorporam essas preferências no seu

processo de elaboração de normas.

Fonte: Matos et al. (2018).

Verifica-se, na Figura 1, que Coalition and Influence Group (CIG) tem o objetivo de

influenciar os reguladores e sua coalizão no processo de elaboração das normas sobre os

distintos grupos de interesse, alinhando-se às investigações propostas neste estudo, sob a luz

da teoria do interesse público.

Desse modo, o lobbying pode ocorrer não em busca da eficiência do poder político, e

sim por interesse na legitimidade perante os demais atores envolvidos em todo o processo de

mudança das estruturas organizacionais (Dimaggio & Powell, 1983; Tolbert & Zucker, 1996;

Meyer & Rowan, 1977). Segundo Fogarty (1992), essas estratégias na regulação contábil já

foram analisadas no sentido da legitimidade perante a sociedade ou da manutenção da

credibilidade junto a agentes externos. Já Kenny e Larson (1993), concluíram que as

organizações visam a sua própria sobrevivência em busca da legitimidade, em face de seus

constituintes, justificando as consultas prévias em suas regulações, assim como procede o

IASB (Matos et al., 2018).

A teoria da legitimidade foi utilizada por Matos et al. (2018) na avaliação do

posicionamento dos auditores e reguladores sobre as respectivas coalizões quanto às propostas

do International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB). Por meio de análise das

cartas-comentário, com aplicação de testes estatísticos, os pesquisadores identificaram que

não houve predominância de nenhum grupo de interesse quanto à efetividade na realização de

lobbying em aderência com a teoria institucional, por interesses diversos (Matos et al., 2018).

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Os estudos pioneiros sobre a temática de lobbying apresentam, ainda, algumas teorias

que sustentam a sua utilização nesse processo. Por exemplo: a teoria positiva da

contabilidade, que aborda a existência dos interesses econômicos e seus respectivos retornos

marginais (Watts & Zimmerman, 1978); e a teoria econômica da regulação, pela qual os

interessados buscam atingir seus próprios interesses de forma racional (Stigler, 1971; Posner,

1974).

Albuquerque, Marcelino, Rodrigues e Cariano (2017) analisaram a potencial existência

de lobbying no processo de substituição da norma IAS 17 pela norma IFRS 16, promovido

pelo IASB, utilizando-se das cartas-comentário e de análise estatística univariada e bivariada,

sugerindo o estudo quanto à existência de lobbying, por meio da constatação de divergência

significativa entre as entidades financeiras e não financeiras sobre a contabilização das

operações de arrendamento (leasing).

Carmo, Ribeiro e Carvalho (2016) discutiram o arcabouço teórico e empírico das

pesquisas que envolvem lobby na regulação contábil, por meio de levantamento teórico e

investigação dos autores sobre o tema. Nesse sentido, observaram a predominância de duas

linhas: i) forte utilização de cartas-comentário; e ii) utilização de método de análise dos dados

baseado em regressão, com variáveis dependentes dicotômicas.

Já Santos e Santos (2014), identificaram os fatores determinantes à participação na

audiência pública promovida pelo IASB com a submissão de cartas-comentário ao documento

de discussão relacionado às atividades extrativistas, analisando as cartas-comentário e

empregando técnicas quantitativas, com uso de modelos econométricos. Nesse caso, os

resultados indicaram que o tamanho é um fator determinante em todos os modelos utilizados,

demonstrando que grandes empresas petróliferas são mais propensas a praticarem lobby com

base na teoria dos grupos de interesse.

3. A proposta do Exposure Draft 63 (Benefícios Sociais)

No decorrer de 2002, 2004 e 2008, o IPSASB já havia deliberado sobre os benefícios

sociais, no intuito de fornecer uma ampla divulgação às partes interessadas, em busca de um

desenvolvimento mais consistente sobre o reconhecimento do passivo desses benefícios.

Contudo, como não chegou a nenhum consenso sobre o tratamento contábil apropriado, o

órgão concordou em adiar a discussão até que fosse compilada a sua estrutura conceitual

(Mason, 2018).

Segundo Mason (2018, p. 75), o IPSASB concluiu que, na estrutura conceitual “as

demonstrações financeiras não podem satisfazer as necessidades de informação dos usuários

sobre benefícios sociais”. Essas demonstrações constituem objetivos principais para a maioria

dos governos, inclusive na representatividade de seus gastos sobre o interesse aos benefícios

sociais, corroborando, assim, o objeto deste estudo (IFAC, 2018).

Nessa direção, o IPSASB retomou os trabalhou em 2014, vindo a publicar, em 2015,

um documento de consulta (Consulation Paper-CP) sobre o reconhecimento e a mensuração

de benefícios sociais. Nessa consulta, foram exploradas três abordagens para a contabilização:

i) eventos obrigatórios; ii) contrato social; e iii) seguros. Após a revisão das respostas, o órgão

emitiu o ED 63, sobre as abordagens de eventos obrigatórios e de seguros, excluindo, por falta

de manifestação e apoio dos entrevistados, a abordagem de contrato social (Mason, 2018).

O ED 63 verificou que a IPSAS 19 (provisões, passivos contingentes e ativos

contingentes) excluiu as provisões relacionadas a benefícios sociais na contrapartida das

despesas, resultando na obstrução da informação sobre as finanças do governo para os

usuários das informações. Buscando corrigir essa falta, a proposta contida na ED 63 visa o

aumento da accountability e da transparência na melhoria da tomada de decisões e do

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interesse público, uma vez que o regulador acredita que está promovendo a consistência e a

comparabilidade do setor público (IPSASB, 2017a).

Para melhor visualizar e compreender essa proposta, seu escopo é representado a seguir,

na Figura 2.

Figura 2. Escopo do Exposure Draft 63 (benefícios sociais)

Fonte: IPSASB (2017b) (tradução nossa)

Conforme ilustrado na Figura 2, os benefícios sociais (ED 63) interagem com outras

transações não abordadas na minuta de exposição, assim como não aborda como elas são

tratadas pelas IPSAS.

Prosseguindo na análise, observa-se que o escopo do ED 63 define benefícios sociais

como aqueles fornecidos para: a) favorecer pessoas específicas e/ou familiares que cumprirem

os critérios de elegibilidade; b) mitigar o efeito dos riscos sociais; c) atender às necessidades

da sociedade como um todo; ressalvando que d) não são serviços universalmente acessíveis

(IPSASB, 2017a).

Por seu turno, riscos sociais são eventos ou circunstâncias que têm relação com as

características individuais ou familiares, sobre idade, saúde, pobreza e situação de emprego.

Desse modo, podem afetar, negativamente, o bem-estar desses indivíduos ou familiares,

quanto à imposição de recursos adicionais, inclusive na redução de sua renda. Nota-se, ainda,

a ressalva que os serviços universais são acessíveis e disponibilizados pela entidade

governamental a todos os indivíduos que tenham acesso, porém, se houver critérios de

elegibilidade, deixam de ser riscos sociais (IPSASB, 2017a).

Para melhor entendimento sobre o que são benefícios sociais, de acordo com o ED 63,

apresenta-se, no Figura 3, comparativo entre o que constitui ou não benefício social:

Figura 3 – Descrição dos benefícios sociais (ED 63)

São benefícios sociais Não são benefícios sociais

Pensões de reforma do Estado

- Pago a todos aqueles acima de certa idade, como

meio de assegurar que os necessitados sejam

cobertos.

Benefícios de aposentadoria (funcionários do Governo)

- Não atende às necessidades da sociedade como um

todo.

Pensões para deficientes

- Atende à definição de um benefício social - aborda

o risco social, pago quando os critérios são

Serviços Universais de Saúde

- Conheça a definição de serviços universalmente

acessíveis1.

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atendidos.

Benefícios de desemprego

- Atende à definição de um benefício social - aborda

o risco social, pago quando os critérios são

atendidos.

Socorro em desastres

- Mitiga os efeitos de um risco geográfico em vez de

um risco social.

------------

Serviços de Defesa

- Os serviços não são fornecidos a indivíduos

específicos, mas são serviços coletivos.

Notas: (1) os serviços universalmente acessíveis são os disponíveis para toda a sociedade, sem necessidade de

critério de exigibilidade.

Fonte: IPSASB (2017b).

Pode-se observar, segundo o exposto na Figura 3, que os benefícios sociais diferem dos

não sociais em torno de certa especificidade do beneficiário, que ora é um sujeito

determinado, ou acaba sendo o universalmente social.

Para Mason (2018), o esboço do ED 63 é mais amplo, abrangendo também a assistência

social, não se restringindo apenas à pensão e ao benefício social. Essa abrangência leva em

consideração que uma das responsabilidades do projeto é o desempenho do conceito de

“evento passado”, o qual é controvertido com algumas abordagens atuariais, já que o autor

descreve o evento passado (potencial), considerado pelo IPSASB, como o impacto das

responsabilidades que esses eventos teriam nas demonstrações financeiras quanto às pensões.

Cabe mencionar, ainda, que a proposta interage tanto com o setor privado quanto com o

público, visto que existem algumas considerações sobre os contratos de seguros (IFRS 17) e,

sobre estes, com as questões de isenções temporárias, pelas quais a entidade não precisa

garantir a relevância das suas políticas públicas às necessidades de decisões econômicas aos

usuários conforme o IFRS4 (IPSASB, 2017a).

Outra questão abordada remete ao próprio regime de competência e a sua possibilidade

de retroagir (IPSAS 3 e 33), sendo este o ponto central da convergência do setor público.

Diante dessas interações, existem, ainda, competências, como: eventos subsequentes (IPSAS

14); provisões de ativos e passivos contingentes (IPSAS 19); inventários (IPSAS 12);

propriedade para investimento (IPSAS 16); imobilizado (IPSAS 17); ativos biológicos e

produtos agrícolas (IPSAS 27), entre outras. (IPSASB, 2017a). Essas, porém, não se aplicam

aos instrumentos financeiros no âmbito público (IPSAS 28 e 29); e nem aos benefícios de

empregados (IPSAS 39) (IPSASB, 2017a).

Nesse sentido, o IPSASB elaborou seis questões específicas para comentários (SMCs –

Specific for Comment), contidas no ED 63, direcionando para as melhorias da relevância,

representatividade e fiel comparabilidade das entidades governamentais, que fornecem as

demonstrações financeiras sobre benefícios sociais (IPSASB, 2017a; Mason, 2018). Segue o

Figura 4 retratando os questionamentos:

Figura 4 – Descrição das questões do ED 63

Questão/Temática Descrição

SMC 1

Escopo

Você concorda com o escopo desta Minuta de Exposição e, especificamente, com a

exclusão de serviços universalmente acessíveis, pelas razões dadas no parágrafo BC21

(c)1?

Se não, o que muda para o escopo que você faria?

SMC 2

Definição

Você concorda com as definições de benefícios sociais, riscos sociais e serviços

universalmente acessíveis, que estão incluídos neste esboço de exposição?

Se não, o que muda para as definições que você faria?

SMC 3

Abordagem de

Seguro

Você concorda que, com relação à abordagem de seguro:

(a) Deve ser opcional;

(b) Os critérios para determinar se a abordagem de seguro pode ser aplicada são

apropriados;

(c) Direcionar os preparadores para seguirem as normas contábeis internacionais ou

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nacionais relevantes dos contratos de seguros (IFRS 17, Contratos de seguro e normas

nacionais que adotaram substancialmente os mesmos princípios da IFRS 17) é

apropriado; e

(d) as divulgações adicionais, exigidas pelo parágrafo 12 desta Minuta de Exposição, são

apropriadas?

Se não, como você acha que a abordagem de seguro deve ser aplicada2?

SMC 4

Abordagem de

Eventos

Obrigatórios

Você concorda que, sob a abordagem de eventos obrigatórios, o evento passado, que dá

origem a uma responsabilidade por um regime de benefícios sociais, é a satisfação pelo

beneficiário de todos os critérios de elegibilidade para o próximo benefício, o que inclui

estar vivo (se isso é explicitamente declarado ou implícito nas disposições do esquema)?

Se não, que evento passado deve dar origem a um passivo por um benefício social?

Este Esboço de Exposição inclui uma Visão Alternativa, em que alguns membros do

IPSASB propõem uma abordagem diferente para reconhecimento e medição.

SMC 5

Divulgação de

Eventos

Obrigatórios

Com relação aos requisitos de divulgação para a abordagem de eventos obrigatórios,

você concorda que:

(a) As divulgações sobre as características dos regimes de benefícios sociais de uma

entidade (parágrafo 31) são apropriadas3;

(b) As divulgações dos valores nas demonstrações financeiras (parágrafos 32-33) são

apropriadas3; e

(c) Para os fluxos de caixa futuros, relacionados aos regimes de benefícios sociais de uma

entidade (ver parágrafo 34)3:

(i) é apropriado divulgar os fluxos de caixa futuros projetados; e

(ii) Cinco anos é o período apropriado para divulgar esses fluxos de caixa futuros.

Se não, quais requisitos de divulgação devem ser incluídos?

SMC 6

Divulgação do

RPG1 a Longo

Prazo

Você acha que o IPSASB deve empreender mais trabalho sobre relatórios de

sustentabilidade fiscal de longo prazo e, em caso afirmativo, como?

Se você acha que o IPSASB deve empreender mais trabalho sobre relatórios de

sustentabilidade fiscal de longo prazo, que novos desenvolvimentos ou perspectivas

adicionais, se houver, emergiram em seu ambiente que você acredita que seriam

relevantes para a avaliação do IPSASB sobre qual trabalho é necessário?

Notas: (1) Sobre as considerações do IPSASB, em relação às definições de risco social, distinção dos

beneficiários. (2) A inclusão de informação sobre as obrigações esperadas, a serem liquidadas no futuro, no

presente, e o enquadramento ao indivíduo. (3) Risco social não envolve desempenho. A proposta de

reconhecimento e mensuração, contidas sobre seguros, baseiam-se na IFRS 17. Os entrevistados no CP

consideraram que a aplicação da abordagem de seguro sobre benefícios sociais não representa fielmente a

substância econômica.

Fonte: IPSASB (2017a).

As questões podem ser definidas por temáticas centrais, delimitadas pelos pesquisadores

deste estudo, de acordo com o conteúdo oferecido por cada um aos respondentes.

4. Metodologia

Na presente pesquisa, propõe-se a investigação dos diferentes grupos de participantes

nos processos de emissão de normas no âmbito do IPSASB, por via das cartas-comentário.

Visa, ainda, identificar os distintos interesses sobre as temáticas abordadas no questionário,

tendo em vista que esses documentos formam uma parte integrante no processo de

normatização e compõem informações sobre posicionamento das partes interessadas.

Dessa forma, a metodologia utilizada parte de uma abordagem exploratório-descritiva,

realizada no website do IPSASB, como fonte de dados secundários. Os documentos

analisados são as cartas-comentário do ED 63 (Figura 4). O procedimento adotado consistiu

na análise de conteúdo, visando observar, classificar, categorizar e interpretar os dados, com

auxílio do software MAXQDA®, seguida do tratamento estatístico dos dados, com o apoio

software SPSS 20 e excel.

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A análise de conteúdo permite a construção de dados, trechos e citações, organizadas

em temas e categorias, seguindo um exame e uma interpretação dos achados para elucidar um

significado na produção do conhecimento empírico (Bowen, 2009).

Segundo Mozzato (2011), a análise de conteúdo é utilizada com o objetivo de identificar

sinais em blocos de textos, para convertê-los em valores numéricos, como, por exemplo,

numa medição qualitativa para estruturar uma coleta matricial de conteúdos em medidas

codificadas, a qual será transformada em narrativa numérica. Desse modo, ela é considerada o

método mais robusto na abordagem qualitativa, conforme apontado por alguns estudos sobre

responsabilidade social, em pesquisa longitudinal de empresa, como também em estudos da

teoria da legitimidade, dentre outros.

Com as cartas-comentário, o primeiro passo foi a classificação dos participantes com

adaptação ao estudo de Brown, Ellwood e Conrath-Hargreaves (2018). A amostra foi

constituída, inicialmente, pelas 41 (quarenta e uma) cartas, excluindo-se, destas, duas: i) a

número 39 (Direction Générale des Finances Publiques) do Governo Central da França, a

qual encaminha os comentários da carta 38 (Conseil de Normalisation des Comptes Publics),

causando assim uma duplicidade; e ii) a número 21 (The Swedish National Financial

Management Authority), que manifestou-se apoiando a proposta do IPSASB, apenas.

Restaram, assim, 39 (trinta e nove) cartas. Como os perfis Academia e Auditoria Privada

contaram com um número baixo de participantes, sendo 1 e 2, respectivamente, decidiu-se por

excluir da análise de dados ambos os grupos. Assim, a representação dos grupos ficou

distribuída conforme Tabela 1:

Tabela 1 – Classificação dos grupos respondentes

Grupos Frequência Percentual Frequência

(Final)

Percentual (Final)

Academia 1 2,6 - -

Associação Profissional 18 46,2 18 50,0

Auditoria Pública 4 10,3 4 11,1

Auditoria Privada 2 5,1 - -

Regulador Nacional 14 35,9 14 38,9

Total 39 100,0 36 100,0

Fonte: Adaptada de Brown, Ellwood e Conrath-Hargreaves (2018)

Com a classificação final dos grupos, pode-se observar que os grupos de associação

profissional e regulador nacional apresentam percentual com maior frequência, 18 e 14 cartas,

respectivamente, totalizando 36 respondentes, somados os 4 da Auditoria Pública.

A descrição dos grupos baseou-se na identificação da atividade fim de cada um, e na

potencialidade de interesses comuns, dentro da maior homogeneidade possível de elementos,

que não causassem prejuízo na identificação mínima. Assim, a composição final, na tentativa

de segregação viável aos objetivos, ficou distribuída da seguinte forma:

Associação Profissional – rede de profissionais da contabilidade, como organizações,

associações, consultoria, institutos, entre outros.

Auditoria Pública – órgãos governamentais de auditoria, como Auditor Geral do Setor

Público.

Regulador Nacional – órgãos públicos reguladores, incluindo tesouro nacional,

conselho normativo da classe contábil, autoridade nacional, serviço federal de seguro social.

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Com a descrição das questões (Figura 4) e com a classificação dos grupos (Tabela 1),

tem-se a hipótese geral: Quais as diferenças de posicionamento entre os grupos

participantes do processo de consulta pública do ED 63 (benefícios sociais), de modo a

identificar se os mesmos atuaram com estratégia de lobbying individual ou em coalisão?

Para a realização da pesquisa em tela, as questões foram analisadas por meio de

codificação, passando pela transformação em variáveis qualitativas ordinais, numa escala de 5

pontos, com base na classificação proposta no Figura 5, do tipo “Likert”.

Figura 5 – Escala de classificação das respostas

Classificação Definição

1 Discordância com a proposta do ED 63

2 Discordância, mas com ressalvas, sobre a proposta do ED 63

3 Ambivalente (neutro ou incerto sobre a proposta do ED 63

4 Concordância, mas com ressalvas, sobre a proposta do ED 63

5 Concordância com a proposta do ED 63

Fonte: Elaboração própria.

Em linha com Matos et al. (2018), as classificações extremas “1 e 2” estão alinhadas no

campo de “discordância” das propostas contidas no ED 63, enquanto que as classificações “4

e 5” reportam índice de favorabilidade no campo da “concordância” com a proposta do

IPSASB.

Assim, para atender ao objetivo proposto, os dados foram submetidos a distintas

técnicas estatísticas de análise, tais como: análise descritiva, distribuição de frequências (para

verificar o padrão geral das respostas por partes dos diferentes grupos de interesse), testes

ANOVA e de Qui-quadrado, além do teste post hoc (para conferir mais robustez aos

resultados sobre possíveis diferenças entre o posicionamento dos respondentes).

Isso posto, são apresentados, a seguir, os resultados obtidos à luz da metodologia

discutida nesta seção.

5. Análise dos dados

Com os dados agrupados, passou-se à análise da distribuição de frequência das

respostas por questões, conforme exposto na Tabela 2, a seguir, considerando a variação da

escala apresentada no Figura 5.

Tabela 2 – Distribuição da frequência das respostas por questão (absoluta e relativa)

Questões Discordo Discordo com

ressalva Ambivalente

Concordo

com ressalva Concordo

Não

respondeu Total

Q1 0(0,0%) 6(16,7%) 2(5,5%) 8(22,2%) 20(55,5%) 0(0,0%) 36(100,0%)

Q2 0(0,0%) 13(36,1%) 3(8,3%) 9(25,0%) 8(22,2%) 3(8,3%) 36(100,0%)

Q3 0(0,0%) 3(8,3%) 14(38,9%) 11(30,5%) 5(13,9%) 3(8,3%) 36(100,0%)

Q4 0(0,0%) 3(8,3%) 7(19,4%) 19(52,8%) 4(11,1%) 3(8,3%) 36(100,0%)

Q5 0(0,0%) 6(16,7%) 10(27,8%) 11(30,5%) 7(19,4%) 2(5,5%) 36(100,0%)

Q6 3(8,3%) 6(16,7%) 4(11,1%) 15(41,7%) 4(11,1%) 4(11,1%) 36(100,0%)

Total 3(1,4%) 37(17,1%) 40(18,5%) 73(33,8%) 48(22,2%) 15(6,9%) 216(100,0%)

Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme os dados apresentados na Tabela 2, é possível observar que, dentre os 36

respondentes, houve predominância de posições favoráveis às propostas apresentadas pelo

IPSASB, cerca de 56% (respostas 4 ou 5), em detrimento das posições desfavoráveis, que

ficaram em torno de 18,5% (respostas 1 ou 2).

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Já sob a ótica das questões (Q), individualmente, nota-se favorabilidade para Q1, Q4,

Q5 e Q6, que tratam, respectivamente, do escopo da minuta de exposição, especificamente; da

exclusão de serviços universalmente acessíveis; da abordagem de eventos obrigatórios com a

satisfação de estar vivo para ser elegível ao próximo benefício como a condição de evento

passado, assim com a sua divulgação; e da necessidade do IPSASB empreender mais trabalho

sobre relatórios de sustentabilidade fiscal de longo prazo.

Por sua vez, a questão com menor favorabilidade foi a Q2, a qual trata sobre as

definições de benefícios sociais, riscos sociais e serviços universalmente acessíveis, tendo os

participantes, na sua maioria, sinalizado que não estão satisfeitos com a distinção das

definições, inclusive solicitaram maiores esclarecimentos para que não gere conflitos de

entendimentos.

O ponto neutro ficou para a Q3, a qual aborda a divulgação de seguros, tendo em vista

que os respondentes apresentaram posicionamentos controversos sobre os tópicos

mencionados dentro de uma mesma questão.

Seguindo com a análise, apresenta-se a Tabela 3, referente as distribuições de

frequência, considerando os grupos de interesse selecionados. Observando os dados, verifica-

se que a Associação Profissional forma o grupo com maior número de posicionamentos

favoráveis às propostas do IPSASB, com respostas 4 ou 5; enquanto o grupo Regulador

Nacional tem certa homogeneidade na distribuição de frequência e foi o grupo que mais

discordou, com classificação 1 ou 2.

Tabela 3 – Distribuição da frequência das respostas por grupo de interesse

Grupo de Interesse Discordo

Discordo

com

Ressalvas

Ambivalente Concordo com

Ressalvas Concordo

Não

Respondeu Total

Associação

Profissional 1 12 21 35 32 7 108

Auditoria Pública 0 4 2 12 2 4 24

Regulador

Nacional 2 21 17 26 14 6 84

Total 3 37 40 73 48 15 216

Fonte: Dados da pesquisa.

Assim, tanto a Associação Profissional quanto o Regulador Nacional são os grupos de

interesse que representam 88,9% da participação ao ED (Tabela 1), e, consequentemente,

expressam posições com maior e menor favorabilidade.

Ato contínuo, passou-se a analisar algumas repostas que apresentaram antagonismo

entre os grupos, utilizando a Q1 (Tabela 2), pela expressão da “concordância” (respostas 4 ou

5) ou “discordâncias” (respostas 1 ou 2).

Respostas da Q1 (Associação profissional):

Association of Accounting Technicians (tradução nossa): “A AAT

concorda com o escopo e a exclusão de serviços universalmente

acessíveis”.

Chartered Accountants Australia and New Zealand (tradução nossa):

“Recomendamos que o IPSASB considere expandir o escopo para

incluir acesso universalmente a serviços, ou redefinindo o escopo em

termos da natureza da transação e do setor do destinatário”.

Respostas da Q1 (Regulador Nacional):

Swiss Public Sector Financial Reporting Advisory Comittee (tradução

nossa): “O SRS-CSPCP concorda com o escopo deste Exposure

Draft”.

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The Treasury New Zealand (tradução nossa): “O Tesouro da NZ

continua a ter as preocupações expressas em nossa resposta ao

Projeto de Consulta que o escopo da norma é: insuficientemente

claro; cria problemas de limite com outros padrões (atuais e

propostos); convida à possibilidade de que transações, com

substância econômica similar, sejam tratadas diferentemente”.

Posteriormente, calculou-se a estatística descritiva do instrumento de pesquisa (Tabela

4). Esse cálculo foi realizado sobre as respostas de Q1 a Q6. Dessa maneira, foi possível

observar a tendência geral da amostra na distribuição das questões desde sua discordância até

a concordância total, como se observa a seguir.

Tabela 4 – Estatística Descritiva das Questões

Fonte: Dados da pesquisa.

Percebe-se, conforme exposto na Tabela 4, que há, na Q1, uma tendência da amostra,

independente do perfil, de posicionamentos favoráveis a proposta do IPSASB. Em relação às

demais questões.

Estabelecendo outra análise, apresenta-se a Tabela 5, onde é detalhado o resultado sobre

a favorabilidade que os grupos de interesse e sua coalização apresentaram, por meio de cada

uma das questões, objeto deste estudo.

Tabela 5 - Índice de favorabilidade por grupos de interesse e por coalizão

Grupo de Interesse (%) Coalizão (%)

Questões (favorabilidade) (favorabilidade)

Associação

Profissional Auditoria Pública

Regulador

Nacional Total

Associação Profissional e

Regulador Nacional

Q1

(n = 36) 88,9 75,0 64,3 77,8 78,1

Q2

(n = 33) 56,3 50,0 46,20 51,5 51,7

Q3

(n = 33) 52,9 66,7 38,5 48,5 46,7

Q4

(n = 33) 76,5 100,0 53,8 69,7 66,7

Q5

(n = 34) 52,9 75,0 46,2 52,9 50,0

Q6

(n = 32) 68,8 50,0 50,0 59,4 60,0

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Q6

N Válido 36 33 33 33 34 32

Ausência 0 3 3 3 2 4

Moda 5 2 3 4 4 4

Desvio Padrão 1,134 1,245 0,869 0,801 1,021 1,208

Variância 1,286 1,551 0,756 0,642 1,042 1,459

Mínimo 2 2 2 2 2 1

Máximo 5 5 5 5 5 5

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Total 66,3 70,0 50,0 60,2 59,1

Fonte: Dados da pesquisa.

Analisando a Tabela 5, verifica-se um percentual de 70% para a Auditoria Pública, o

que pode ser explicado pela sua baixa frequência na participação do ED (Tabela 1), tendo em

vista que, dentro do seu universo, as suas respostas acabam tendo um “peso” maior em

relação aos outros grupos, que ficam mais diluídos entre outras opções.

Considerando os grupos Associação Profissional e Regulador Nacional, com maiores

frequências, verifica-se a favorabilidade tendendo ao primeiro, corroborando as evidências já

apresentadas (Tabela 3).

O passo seguinte foi analisar o resultado da Análise da Variância (ANOVA) realizado

entre os grupos (Tabela 6), para perceber se existe diferenças significativas entre o

posicionamento dos grupos.

Tabela 6 – Resultado da ANOVA

Notas: nível de significância de 1% (***), 5% (**) e 10% (*).

Fonte: Dados da pesquisa.

Pode-se verificar que há diferença significativa entre os grupos de interesse, ao nível de

5%, apenas na Q4, que trata da abordagem e divulgação de eventos obrigatórios, sobre

eventos passados e a condição de estar vivo, sinalizando, assim, certa preocupação, entre os

interessados, com possibilidade da visão alternativa. Além disso, os grupos apresentaram

bastante divergência sobre o que é “estar vivo”? Gerando assim, vários questionamentos sobre

o ponto de partida para a mensuração e a dificuldade conceitual em conjunto com outras

normas vigentes, como por exemplo a IPSAS 39 (benefícios a empregados). Em

contrapartida, outros grupos apontam pela favorabilidade e demonstram a importância da

Soma dos

quadrados df Quadrado Médio Z-score Sig.

Q1

Entre os Grupos 4,036 2 2,018 1,626 0,212

Nos Grupos 40,964 33 1,241

Total 45,000 35

Q2

Entre os Grupos 1,257 2 0,628 0,390 0,681

Nos Grupos 48,380 30 1,613

Total 49,636 32

Q3

Entre os Grupos 0,556 2 0,278 0,353 0,706

Nos Grupos 23,626 30 0,788

Total 24,182 32

Q4

Entre os Grupos 3,776 2 1,888 3,378 0,048**

Nos Grupos 16,769 30 0,559

Total 20,545 32

Q5

Entre os Grupos 0,673 2 0,337 0,309 0,736

Nos Grupos 33,709 31 1,087

Total 34,382 33

Q6

Entre os Grupos 2,540 2 1,270 0,863 0,432

Nos Grupos 42,679 29 1,472

Total 45,219 31

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prevenção das contas públicas do governo. Conforme é possível verificar sobre o

questionamento apontado pelo participante abaixo:

Respostas da Q4 (Regulador Nacional):

The Treasury New Zealand (tradução nossa): “O balanço da

Demonstração da Posição Financeira dos ativos / passivos líquidos

mostra a contribuição líquida / obrigação imposta aos contribuintes

passados para o futuro ou, em alternativa, o benefício / obrigação dos

contribuintes futuros que estão herdando do passado. A questão então

o que parece surgir, é: o que fazer com os usuários que querem que

as contas do governo sejam exibidas sobre as chamadas atuais, em

impostos futuros? Deveria incluir o impacto de nossas políticas atuais

no futuro?

Com a diferença significativa de posicionamento entre os grupos, quanto à Q4, optou-se

para analisar ANOVA de todos os grupos de respondentes, realizando em seguida o teste

post-hoc de Scheffé, para obter esta confirmação, o qual está exposto na Tabela 7.

Tabela 7 – Múltipla comparação – teste post-hoc (Q4)

Nota: nível de significância de 1% (***), 5% (**) e 10% (*).

Fonte: Dados da pesquisa.

O resultado apresentado na Tabela 7, como se pode observar, aponta diferença

significativa no posicionamento entre os grupos de interesse, considerando uma possível

coalizão entre auditoria pública e associação profissional, conforme demonstrado nas

respostas abaixo:

Respostas da Q4 (Auditoria Pública):

Audit Zealand (tradução nossa): “Consideramos a base conceitual

para o ponto de reconhecimento proposto do IPSASB, incluindo vivo,

ser fraco e vemos o mérito nas visões alternativas expressas no ED.

No entanto, consideramos importante que um padrão seja concluído.

A proposta no ED é relativamente simples de implementar e, de uma

perspectiva pragmática, podemos apoiar a abordagem de

reconhecimento proposta como um resultado razoável”.

Respostas da Q4 (Associação Profissional):

Association of Accounting Technicians (tradução nossa): “Em teoria,

a abordagem de eventos obrigatórios parece lógica onde existem

tipos distintos de benefícios oferecidos. No entanto, é difícil ver como

ele pode ser aplicado a um sistema com base na provisão de uma

provisão padrão mais elementos adicionais, como existe agora no

Reino Unido sob os acordos de Crédito Universal. O crédito universal

destina-se a fornecer mecanismo mais flexível e holístico para a

entrega de benefícios sociais e, se for bem-sucedido no Reino Unido

pode ser replicado em outros países. Para o Crédito Universal, o

evento passado que dá origem a um passivo de baixa renda, com a

definição de "baixa" variando de acordo com circunstâncias. AAT

considera que a obrigação abordagem de eventos poderia ser

(I) Perfil (J) Perfil Diferença de

Média (I-J) Std. Error Sig.

Associação Profissional Auditoria Pública 0,000 0,468 1,000

Regulador Nacional 0,692 0,275 0,057*

Auditoria Pública Associação Profissional 0,000 0,468 1,000

Regulador Nacional 0,692 0,479 0,364

Regulador Nacional Associação Profissional -0,692 0,275 0,057*

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simplificada, para indicar apenas que as entidades devem medir a

responsabilidade por beneficiários que se qualificam. Tentativas de

serem mais granulares do que isso parecem se torna menos relevante,

devido a fatores específicos do país, especialmente se acordos como o

crédito (onde não há mais um evento de qualificação) se torna mais

comum”.

Diante desse fato, entendeu-se necessário analisar o teste Qui-quadrado de

independência de Pearson, cujos resultados são apresentados na Tabela 8.

Tabela 8 – Teste de qui-quadrado de Pearson

Questão Qui-quadrado de

Pearson

Razão de

probabilidade

Associação

Linear por

Linear

N de Casos

Válidos

Valor 5,912 6,208 2,632 36

Q1 df 6 6 1

Sig. Assint. (2

lados) 0,433 0,400 0,105

Valor 5,029 6,232 0,784 33

Q2 df 6 6 1

Sig. Assint. (2

lados) 0,540 0,398 0,376

Valor 3,920 4,391 0,654 33

Q3 df 6 6 1

Sig. Assint. (2

lados) 0,688 0,624 0,419

Valor 10,113 13,095 5,373 33

Q4 df 6 6 1

Sig. Assint. (2

lados) 0,120 0,042 0,020

Valor 5,263 6,142 0,461 34

Q5 df 6 6 1

Sig. Assint. (2

lados) 0,511 0,407 0,497

Valor 3,586 3,949 1,586 32

Q6 df 8 8 1

Sig. Assint. (2

lados) 0,892 0,862 0,208

Notas: nível de significância de 1% (***), 5% (**) e 10% (*).

Fonte: Dados da pesquisa.

Com a aplicação do teste de Pearson, observa-se que a Q4 deixou de apresentar

diferença significativa de posicionamento entre os grupos, em desacordo com os testes

anteriores.

Assim, é prudente inferir que esses resultados indicam que não há diferença

significativa entre os grupos de interesse em face ao ED 63, sugerindo apenas por uma

favorabilidade de temáticas pelas questões Q1, Q4, Q5 e Q6 (Tabela 2), por parte dos grupos,

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em especial pelo grupo Associação Profissional (Tabela 3). Desse modo, corroboram os

estudos anteriores, em que pese sobre a participação dos atores dentro da arena de debate do

IPSASB, cujo objetivo é a própria teoria da regulação e o interesse público sobre o “bem

social” e o “bem comum”, com a redução da assimetria informacional entre governo e

sociedade (Mcwilliams & Siegel, 2001; Argandoña, 1998).

De igual modo, confirmam os achados de Matos et al. (2018) e Fogarty (1992), sobre a

evidência da teoria da legitimidade perante à sociedade e a manutenção da credibilidade e

sobrevivência dos agentes externos, não havendo predominância de grupos para a realização

de lobbying, no que tange aos interesses diante do IPSASB, sobre a regulação dos benefícios

sociais.

6. Considerações Finais

O presente estudo teve o objetivo de identificar possíveis diferenças de posicionamento

entre os grupos participantes do processo de consulta pública do Exposure Draft 63

(benefícios sociais), de modo a identificar se os mesmos atuaram com estratégia

de lobbying individual ou em coalisão, perante o regulador International Public Sector

Accounting Standard Board (IPSASB), por meio de cartas-comentário dos distintos

interessados na implementação da nova IPSAS 42.

A análise do posicionamento dos grupos de interesse e sua coalizão foi realizada em 36

(trinta e seis) cartas-comentário submetidas aos IPSASB, verificando que não há diferença

significativa entre os grupos quanto à estratégia de lobbying no que se refere a proposta

normativa dos benefícios sociais, nos mesmos moldes dos achados de Matos et al. (2018),

mas esse no âmbito do IAASB para as normas de auditoria.

Observou-se que o posicionamento da Associação Profissional (18 participantes) foi

mais favorável que o Regulador Nacional (14 participantes) demonstrando que os grupos

atuaram de acordo com interesses distintos na questão 4 (Q4). Essa distinção de interesse

pode ter origem na diferença significativa que se verificou na proposta do IPSASB sobre a

abordagem de eventos obrigatórios, pelo qual o evento passado dá origem a uma

responsabilidade por um regime de benefícios sociais, incluindo uma visão alternativa em que

alguns membros do órgão regulador teriam a possibilidade de propor abordagens diferentes

para reconhecimento e medição. Assim como, restou evidenciada uma possível coalizão entre

os Auditores Públicos e Associação Profissional sobre a mesma questão.

Nesse contexto, fica evidenciado que os grupos atuaram no processo normativo de

acordo com seus interesses, mas de qualquer forma, na direção da legitimidade perante o

órgão normatizador (IPSASB), seus pares e até mesmo a sociedade, confirmando os estudos

de Fogarty (1992).

Desta feita, contribui-se para os estudos sobre o processo de regulação internacional e

nacional na área contábil do setor público, na junção da teoria de interesse público e

legitimidade, tendo em vista que não foram encontradas contribuições anteriores sobre a

participação dos interessados e a estratégia de lobby no processo de normatização, apenas

uma concentração sobre a mudança aos padrões internacionais da contabilidade pública.

Assim, por se entender que a mudança no setor público-privado ainda é um desafio aos

pesquisadores da área e apresenta potencialidade na redução da assimetria informacional entre

governo e sociedade, sugere-se que estudos futuros possam contribuir com outras

investigações, avaliando o posicionamento dos demais grupos, que respondem as diversas

propostas públicas emitidas pelo IPSASB. Além disso, poderiam avaliar a efetividade das

normas emitidas, especialmente da IPSAS 42.que foi aprovada após a realização deste estudo

(31/01/2019), gerando assim uma limitação na pesquisa. Um outro fator de limitação aos

resultados, foi o baixo número de grupos de interesse e de cartas.

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17

Vale mencionar que, mesmo considerando todo o cuidado em não apresentar qualquer

víeis de escolha sobre a validação e as classificações das respostas adotadas, ainda assim,

trata-se de uma limitação ao trabalho e passível de questionamentos.

7. Referências

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pois, se utilizados em curto prazo, poderão apresentar falhas. (Bryson, Crosby, & Bloomberg, 2014). ii Accountability é compreendida como uma forma de responsabilização política, pela qual os governantes

respondem por suas ações ou omissões aos seus representados (Abrucio & Loureiro, 2005). iii O IASB é o órgão regulador na emissão dos padrões de contabilidade para o setor privado, as chamadas IFRS

(International Financial Reporting Standard) (IFAC, 2018).