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Esta Revista é parte integrante do “Semanário Grande Porto” de 19 de Fevereiro de 2010, não podendo ser vendida separadamente › Textos: Letrados Comunicação ‹ PAULO VAZ DIRECTOR-GERAL DA ATP “A crise pode proporcionar reforço do papel do EuroClusTexALBERTO ROCHA SECRETáRIO-GERAL DA AIPCLOP “Somos uma referência na Península IbéricaBRáS COSTA DIRECTOR-GERAL DO CITEVE Dar a mão à Galiza sem perder de vista o resto do Mundo Vila Real Aveiro Porto Braga Viana do Castelo Rio Minho Rio Douro Rio Douro Viseu Bragança Ourense ZAMORA Caminha Vila Nova de Cerveira Monção Melgaço Esposende Barcelos Guimarães Fafe Vila Nova de Gaia Póvoa do Varzim Vila do Conde Vila Nova de Famalicão Matosinhos Gondomar Maia Amarante Chaves Peso da Régua Mirandela Lamego S. João da Madeira V.ta Maria da Feira Espinho Águeda Vila Pouca de Aguiar Penafiel Ponte de Lima 0 50 km Lugo Santiago de Compostela A Curuña Pontevedra Vigo Ferrol Baiona A Guarda Verin Têxteis unem o Norte e a Galiza

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Esta Revista é parte integrante do “Semanário Grande Porto” de 19 de Fevereiro

de 2010, não podendo ser vendida separadamente

› Textos: Letrados Comunicação ‹

paulo vazdiRECToR-GERaL da aTP

“A crise pode proporcionarreforço do papeldo EuroClusTex”

alBERTo RoCHaSECRETáRio-GERaL da aiPCLoP

“Somos uma referência na Península Ibérica”

BRás CosTadiRECToR-GERaL do CiTEVE

Dar a mão à Galizasem perder de vista o resto do Mundo

Vila Real

Aveiro

Porto

Braga

Viana do Castelo

Rio Minho

Rio Douro

Rio Douro

Viseu

Bragança

Ourense

ZAMORA

Caminha

Vila Novade Cerveira

Monção Melgaço

Esposende

Barcelos

GuimarãesFafe

Vila Novade Gaia

Póvoa do Varzim

Vila do CondeVila Novade FamalicãoMatosinhos

Gondomar

Maia

Amarante

Chaves

Peso da Régua

Mirandela

LamegoS. João da Madeira

V.ta Mariada Feira

Espinho

Águeda

Vila Poucade Aguiar

Penafiel

Ponte de Lima

0 50 km

Lugo

Santiago deCompostela

A Curuña

Pontevedra

Vigo

Ferrol

Baiona

A Guarda

Verin

Têxteis unem o Norte e a Galiza

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A Alfândega do Porto será palco, no próximo dia 28, do II Fórum Luso-Galaico Cluster Moda, onde será apresentada uma análise sobre o momento actual da indústria têxtil e do vestuário tanto do Norte de Portugal como da Galiza e o contributo que o programa EuroClusTex tem dado para a consolidação da cooperação entre organizações e empresas das duas regiões. Este programa, que tem como parceiros a ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, o CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de

Portugal, e a AIPCLOP – Asociación de Industrias de Punto e Confeción de Lugo, Ourense e Pontevedra, visa a dinamização da cooperação entre empresas das duas regiões transfronteiriças, de forma a aumentar o seu poder competitivo em relação ao seu posicionamento no mercado. Foi apresentado no I Fórum Luso-Galaico, em Maio de 2009, e prolonga-se até 2011. Neste evento, será feito um ponto da situação em relação ao trabalho já desenvolvido.Um dos momentos altos do fórum será

FilEiRa TêxTil dEixa CaiR a FRonTEiRao EuroClusTex - Cluster Têxtil de Vestuário e Moda Transfronteiriço Norte Portugal – Galiza – é um dos projectos mais ambiciosos no âmbito da indústria têxtil e do vestuário (iTV) do Norte de Portugal e Galiza. Pensado conjuntamente pela aTP – associação Têxtil e Vestuário de Portugal – e pela aiPCLoP - asociación de industrias de Punto e Confeción de Lugo, ourense e Pontevedra –, o programa encontrou no CiTEVE - Centro Tecnológico das indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal – o parceiro ideal para consolidar um cluster transfronteiriço para a fileira têxtil, de moda e vestuário das duas regiões. Na prática, a partir do já existente e consolidado bom relacionamento comercial entre as indústrias têxteis de cada um dos lados da fronteira, o EuroClusTex ambiciona simplificar a comunicação e os negócios e incrementar a cooperação entre as empresas do Norte de Portugal e da Galiza no sector.Projectado para dois anos, o EuroClusTex conta com um investimento a rondar os 580 mil euros, financiado na sua maior fatia (444 mil euros) pelo PoCTEP - Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal 2007/2013. o programa foi apresentado em Maio do ano passado, em Vigo, por alturas da realização do i Fórum Luso-Galaico Cluster Moda.

o quE é um ClusTER?o economista Michael Porter criou e popularizou o conceito de cluster, que, adaptado ao universo da indústria, consiste na concentração e ligação de empresas e sectores, através de relações verticais (cliente-fornecedor) e horizontais (tecnologia), numa determinada região. Segundo o autor, esta concentração geográfica promove a inovação e a competitividade do cluster. Para Porter, são três as vantagens definitivas dos clusters industriais: incrementar a produtividade das empresas que lhe estão ligadas, aportar inovação e estimular a criação de novas

empresas.

ii FóRum luso-GalaiCo ClusTER moda

Cooperação e conhecimentodos dois lados da fronteira

“Base de Dados da Euroregião Têxtil, Vestuário e Moda, Galiza-Norte de Portugal” vai ser apresentada e permitirá um conhecimento mais profundo da realidade da indústria têxtil e do vestuário nas duas regiões

O I Fórum Luso-Galaico decorreu em Maio de 2009, na Galiza

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a apresentação de uma base de dados da euro-região envolvida no projecto, onde estarão referenciadas as empresas ligadas ao sector, naquela que poderá ser uma ferramenta fundamental não só para as empresas como para as organizações ligadas ao EuroClusTex, uma vez que passarão a ter uma informação mais precisa, a vários níveis, do potencial do sector nas duas regiões.A oportunidade deste fórum está relacionada com a 35ª edição do Salão Modtíssimo, uma mostra de vestuário organizada pela Associação Selectiva Moda, que tem a colaboração da ATP.

pRoGRama17h30Recepção. distribuição de documentação18h00Comunicações de boas-vindaspresidente da aiPCLoP e da CoiNTEGa, Pedro Regojo presidente da aTP, João Costa18h20apresentação do estudo “análise da indústria têxtil e vestuário no Norte de Portugal e Galiza: consolidação da complementaridade do Cluster Transfronteiriço da Euroregião”, por Manuel Teixeira (dG do CENiT)18h40apresentação da “Base de dados da Euroregião Têxtil, Vestuário e Moda, Galiza-Norte de Portugal”, por alberto Rocha (secretário-geral da aiPCLoP e da CoiNTEGa)19h00Palestra por Marco Bettiol (especialista em criatividade da Universidade internacional de Veneza e Universidade de Pádua)19h20Encerramento pelo conselheiro de Economia e indústria da Junta da Galiza, Javier Guerra Fernandez, e pelo presidente da CCdR-N, Carlos Lage

aTP, aSSoCiação PaTRoNaL PaRa CoNCENTRaR ESFoRçoS

valE 60 mil posTos dE TRaBalHoE TRês mil milHõEs dE FaCTuRação associação patronal de âmbito nacional, a aTP - associação Têxtil e Vestuário de Portugal, agrupa cerca de 730 empresas de toda a fileira têxtil e do vestuário, assegurando mais de 60.000 postos de trabalho e facturando 3.000 milhões de euros, sendo dois terços desse valor destinado aos mercados de exportação. Resultado da fusão da aPiM (associação Portuguesa das indústrias de Malha e de Confecção) e da aPT (associação Portuguesa dos Têxteis e Vestuário), ocorrida em Julho de 2003, a aTP tornou-se na maior organização representativa do sector têxtil e do vestuário em Portugal e uma das mais importantes europeias, coincidindo com o destaque que a indústria do sector ainda tem no país - assegura cerca de 17 % do VaB (Valor acrescentado Bruto), perto de 18% do emprego na indústria transformadora e 4.500 milhões de euros exportados, pouco menos de um quinto do total nacional. Uma nova fusão, desta feita com a aNET – associação Nacional das Empresas Têxteis (antigos grossistas têxteis), deu continuidade à estratégia de concentração e reforço do associativismo do sector, assegurando a representatividade de todas as actividades da fileira, das actividades industriais a montante e jusante aos serviços, com especial destaque para a distribuição têxtil e do vestuário. .

aiPCLoP, SoB o LEMa da UNião qUE Faz a FoRça

CRisE inTERnaCional dE 2009TEsTou sinERGias do GRupodesde a sua criação, em Maio de 1977, nunca a aiPCLoP (asociación de industrias de Punto e Confeción de Lugo, ourense e Pontevedra) tinha sido tão posta à prova quanto o foi face à profunda crise económica internacional espoletada no ano passado e ainda com efeitos sobre todos os sectores da economia e indústria mundiais. as vendas dos têxteis galegos sofreram uma quebra a rondar os 50% e alberto Rocha, secretário-geral da aiPCLoP, lançou o alerta: “a situação é complicada, ou se modernizam ou muitas empresas ficam pelo caminho”. o rumo adoptado não foi novo, antes o reforço do que de há muito estava pensado pela associação: forte aposta nas vendas através da internet e reforço da adesão a novas tecnologias. a crise ainda faz sentir-se, mas a aiPCLoP e os seus associados mantiveram-se à tona. Congregadora de cerca de 80 empresas do tecido industrial galego, a aiPCoP nasceu com o objectivo de representar, promover e defender os interesses de cada um dos membros. a ideia era aglutinar esforços para potenciar as sinergias do sector têxtil da Galiza, sob três premissas fundamentais: oferecer um produto de qualidade; recorrer a mão-de-obra qualificada; aderir em força à introdução de novas tecnologias.

CiTEVE, UMa aPoSTa NoS SERViçoS dE ExCELêNCia

a TECnoloGia Como insTRumEnTo paRa o suCEsso EmpREsaRial

o CiTEVE – Centro Tecnológico das indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal , é um dos parceiros fundamentais do projecto EuroClusTex. Vinte anos volvidos sobre a sua criação, é uma referência nacional e europeia para a promoção da inovação e desenvolvimento tecnológico da indústria têxtil e do vestuário (iTV) a quem promove, também, a melhoria da qualidade e do suporte instrumental para a definição de políticas industriais. Sediado no Norte de Portugal, o CiTEVE possui instalações em Famalicão e na Covilhã, e a esfera de influência do centro tecnológico já chegou a paragens tão distantes como o Brasil, a Tunísia ou a Índia, onde promove serviços de excelência em diversas áreas: testes laboratoriais, engenharia de produto e processo, certificação e normalização de produtos, investigação e desenvolvimento mais inovação (i&d+i), inteligência Moda, além de formação e qualificação. a consolidação de competências, ao nível dos testes e ensaios e da investigação e desenvolvimento (i&d) e do desenvolvimento do produto para sectores tão díspares como a mobilidade, saúde ou o habitat, diz bem do esforço do CiTEVE para aproximar a fileira têxtil e vestuário a estes sectores de aplicação, numa política de crescimento que inclui a intervenção em processos de especificação de produtos, controlos e respectivo sourcing.

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Em vésperas do II Fórum organizado no âmbito deste programa, que ponto da situação é possível fazer em relação ao EuroClusTex?O projecto EuroClusTex tinha como principais objectivos reforçar os laços institucionais entre os sectores complementares do têxtil, vestuário e moda, das regiões do Norte de Portugal e da Galiza, promover um maior conhecimento das realidades empresariais de um lado e outro da fronteira e, finalmente, permitir um reforço da interacção e da cooperação entre as empresas dos dois países. Os dois primeiros objectivos encontram-se plenamente realizados. E estão criadas as condições para que o terceiro objectivo, que é naturalmente o mais difícil de realizar, possa efectivar-se, algo que temos consciência de que demorará mais tempo e que não se esgotará na vigência do projecto que temos em curso. Seja como for, quer a ATP quer o CITEVE quer a AIPCLOP (Galiza), parceiros do EuroClusTex, estão muito

satisfeitos com a forma como o projecto tem sido desenvolvido. Importa também dizer que já existe um relacionamento intenso entre empresas portuguesas e galegas, no âmbito dos negócios da moda. O que está em causa agora é promover um “upgrade” nesse relacionamento, permitindo eventualmente que se criem empresas de capital misto, ou que se cruzem participações em empresas num país e noutro, de modo a que todos ganhem e todos possam ascender na cadeia de valor deste negócio.

Ao nível da inovação e competitividade, o que trouxe o projecto de novo e positivo ao tecido empresarial do Norte de Portugal e Galiza?A inovação tecnológica e não tecnológica são factores de diferenciação, que permitem às empresas escapar da concorrência destrutiva dos países asiáticos. Portugal tem uma fileira moda fortemente suportada na sua capacidade e especialização produtivas, enriquecida com “know-how”

de muitas décadas, e assistida por centros de competência de grande valia, como o CITEVE ou o CITEX . A Galiza, por seu turno, desenvolveu competências no domínio da criatividade e do “design”, mas, particularmente, no domínio dos modelos de negócio da distribuição e do ponto de venda. Basta ver o caso paradigmático que constitui a Zara e outras marcas da Inditex. Especializar cada um dos países nestas competências e cruzá-las é, indiscutivelmente, um imperativo de racionalidade que pode beneficiar os sectores, em Portugal e na Galiza, aforrando recursos e focando actividades.

Concorda que o EuroClusTex é a transformação, aos olhos do Mundo, do Norte de Portugal e Galiza num só, no que aos têxteis, à moda e ao vestuário diz respeito?O objectivo final será mostrar ao mundo que existe uma grande região no Noroeste da Península Ibérica que possui todos os predicados para ser um verdadeiro “distrito industrial” da moda à escala global. Vai necessitar de recursos abundantes, não apenas financeiros e humanos, mas, sobretudo, de liderança e de tempo. Não vamos esperar milagres deste projecto, mas vamos acreditar que este é o primeiro e decisivo passo de uma longa caminhada.

Que novas sinergias estão a ser criadas nas duas regiões através do EuroClusTex?Tal como referi atrás, trata-se, nesta fase que agora concluímos, de conhecer a realidade, através de um estudo sectorial e de uma

paulo vazdiRECToR-GERaL da aTP

“A crise pode proporcionar reforço do papel do EuroClusTex”

A cooperação entre a indústria têxtil e vestuário do Norte de Portugal e da Galiza tem um pêndulo: o EuroClusTex. Paulo Vaz, director-geral da ATP, explica nos objectivos principais do programa

O objectivo final será mostrar ao mundo que existe uma grande região no Noroeste da Península Ibérica que possui todos os predicados para ser um verdadeiro “distrito industrial” da moda à escala global

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base de dados para consulta mútua. Não se pode trabalhar apenas em suposições ou em “clichés”. As relações da indústria portuguesa com a galega não esgotam apenas na subcontratação entre fabricantes nacionais e a Inditex. Há muitas empresas nacionais que investiram na Galiza, nos últimos anos, têm escritórios aí, redes de lojas e querem expandir a sua actividade controlando os pontos de venda. O nosso objectivo é diversificar esse relacionamento também: queremos mais empresas galegas a comprar em Portugal, mas também queremos mais empresas portuguesas a vender na Galiza, eventualmente através da compra de empresas locais e/ou na entrada no seu capital.

A crise económica mundial teve reflexos no EuroClusTex?Tem efeitos em tudo e em todos. A curto prazo, são negativos, pois vamos encontrar empresas centradas nos seus próprios problemas, muitas vezes ao nível do desespero, e que não têm vontade ou meios para se envolverem em projectos novos. O sector têxtil e vestuário na Galiza, em especial o das pequenas e médias empresas, foi muito tocado, pois estava muito dependente do mercado interno. Em Portugal, dado termos um mercado doméstico relativamente pequeno e pobre, fortemente aberto ao exterior, sempre tivemos uma tradição exportadora e as empresas, mesmo as PME, não se assustam com o facto de ter de sair e vender onde quer que seja. Isto também é uma vantagem comparativa e um “know-how” que podemos partilhar e todos colhermos benefícios disso. A médio prazo, a crise pode proporcionar um reforço do papel do EuroClusTex, pois vai ser necessário redefinir o perfil dos sectores, dar dimensão crítica a empresas que não a têm, e isso pode ser feito através de fusões ou troca de participações entre empresas nacionais e galegas. Esperamos, pois, que esta crise tenha pelo menos o mérito de fazer repensar os modelos de negócio e as estratégias empresariais, pois a dimensão não é fundamental em termos industriais, mas é determinante em termos comerciais, porque os

grandes, indiscutivelmente, vendem e compram melhor.

De que forma é possível caracterizar, neste momento, a indústria têxtil e vestuário portuguesa (ITV)? A indústria têxtil e vestuário portuguesa tem sido sujeita desde há duas décadas a uma sucessão de constrangimentos e ameaças que a têm obrigado em permanência a reestruturar-se, a modernizar-se, a adaptar-se e a reinventar-se É certo que vão longe os tempos em que a ITV nacional representava um terço das exportações e do emprego na indústria transformadora, hoje, contudo, representa ainda 11% de tudo o que Portugal exporta e cerca de 150 mil trabalhadores directos. É uma actividade estratégica para Portugal, até porque é das poucas indústrias, por gerar bens transaccionáveis, que têm um saldo líquido na balança de pagamentos de quase mil milhões

de euros. A ITV tem uma característica única: a sua especial resiliência, acompanhada por uma capacidade extraordinária de se adaptar às mais difíceis circunstâncias e conjunturas, talvez porque está a competir nos mercados mais exigentes à escala global, permite antecipar que, mais uma vez, vai sobreviver a este desafio e as empresas que resistirem surgirão mais fortes e competitivas.

Pode o programa EuroClusTex dar contributos para uma mais rápida saída da crise? Os contributos do EuroClusTex inscrevem-se nas orientações estratégicas que foram desenhadas para o sector e as suas empresas. É preciso aproveitar todas as sinergias e complementaridades com outros sectores similares e regiões limítrofes, de modo a que, por via de uma “clusterização” da economia, se maximizem resultados. O mercado doméstico é insuficiente para garantir a sobrevivência de um sector que, apesar de ter diminuído nas últimas duas décadas, é ainda sobredimensionado para as necessidades internas do país. Desta forma só existe uma saída: temos de exportar mais e para mais mercados, temos de exportar melhor, ou seja, mais valor acrescentado, seja pela via do “design”, da marca, da inovação tecnológica ou da intensidade de serviço acoplada. O futuro continua a ser fora e não dentro.

Qual a Importância da base de dados da Euroregião Têxtil, Vestuário e Moda Galiza-Norte de Portugal?Ter uma base de dados desta região permite conhecer com rigor e precisão uma realidade que, neste momento, apenas intuímos. Sem conhecer o terreno que pisamos, não podemos caminhar com segurança e sem termos essa realidade mapeada e capaz de ser utilizada pelas empresas, dificilmente estamos estimulados a relacionarmo-nos e fazer negócios com segurança. A base de dados é, assim, o primeiro utensílio prático para que as empresas interajam e cooperem. Outros iremos providenciar até ao final do projecto, mas isso será matéria para outra entrevista.

paulo vazdiRECToR-GERaL da aTP

“A crise pode proporcionar reforço do papel do EuroClusTex”

Queremos mais empresas galegas a comprar em Portugal, mas também queremos mais empresas portuguesas a vender na Galiza, eventualmente através da compra de empresas locais e/ou na entrada no seu capital

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Em vésperas do II Fórum organizado no âmbito do programa, que ponto de situação faz em relação ao EuroClusTex?Fundamentalmente, avançámos muito na interacção ao nível da organização das empresas de um e outro lado, do mesmo modo que favorecemos operações pontuais e concretas entre as empresas dos dois lados da fronteira, tanto em termos estruturais como em oportunidades de negócio. Também fomos, e somos, uma referência na Península Ibérica para outros grupos empresariais e estruturas de diferentes áreas de negócio em outros sectores, que analisaram esta parceria e perceberam rapidamente vantagens neste projecto.

Inovação e competitividade são duas das bandeiras do EuroClusTex. Nestes parâmetros, que contributos do projecto para o tecido empresarial do Norte de Portugal e Galiza destaca?Um aspecto essencial: há uma entidade portuguesa, o CITEVE, cujas potencialidades não eram suficientemente conhecidas aqui na Galiza. Aprofundámos esse conhecimento e conseguimos evitar que se criassem estruturas duplicadas, digamos assim, vendo o que de mais forte existia de um e outro lado. Isto permite evitar que se façam coisas em paralelo sem saber da existência uns dos outros.

No plano internacional, poderemos entender o EuroCluxTex como a junção do Norte de Portugal e Galiza num só? Por exemplo, em mercados essenciais como os do Brasil e México?Não, possivelmente não. O mais importante é a melhoria da eficácia com que podemos intervir nesses mercados, mas cada empresa tem a sua identidade e individualidade, valores que importa e queremos preservar.

Que reflexos teve e tem a crise económica mundial no EuroClusTex?Está a ter reflexos evidentes nas empresas e

representa uma situação de forte preocupação pela quebra de consumo no mercado principal, que é a Península Ibérica, sobretudo em Espanha, apesar de algumas empresas terem conseguido de algum modo contornar isto. Foi importante que muitas empresas se tenham dado conta de que a situação era delicada, anteciparam-na e reagiram, mas o problema é que há questões que não

dependem só da ordem interna; também resultaram consequências negativas de um tecido muito polarizado, que gera mecanismos de resistência para as empresas mais pequenas, mais flexíveis e em que os empresários estão muito implicados na sua companhia.

No quadro da situação complicada que a economia espanhola atravessa, e sendo a industria têxtil um parceiro no EuroClusTex, como tem reagido o sector à crise? Especialmente na zona da Galiza, apostámos na potenciação de marcas próprias e com uma forte identidade, logo não havia grandes estruturas industriais propriamente ditas. Problema maior é o dos canais de distribuição, dominados por grandes marcas, daí uma outra aposta, a de criar modelos de comércio electrónico, por exemplo. Mas, sobretudo, procurámos estudar todas as possibilidades no sentido de reduzir ao máximo os efeitos negativos da crise na economia. Por outro lado, e não menos importante, intensificámos esforços para melhorar a nossa presença nos mercados internacionais.

alBERTo RoCHaSECRETáRio-GERaL da aiPCLoP

“Somos uma referênciana Península Ibérica”

Alberto Rocha, Secretário-Geral da AIPCLOP – Asociación de Industrias de Punto e Confeción de Lugo, Ourense e Pontevedra - , é o rosto espanhol da parceria entre os sectores têxteis do Norte de Portugal e Galiza

BaSE dE dadoS ao SERViço daS EMPRESaSvai apresentar a base de dados da Euroregião têxtil, vestuário e moda Galiza-norte de portugal no Fórum luso-Galaico. que importância atribui a este projecto?Vai permitir dois objectivos fundamentais: que as empresas tenham mais visibilidade com a sua oferta, aumentando as possibilidades de negócio entre elas; terem também um maior conhecimento da realidade empresarial das empresas já existentes, quais os volumes de negócio, as taxas de rentabilidade, identificar as empresas com mais força, com maior volume de negócios, como forma de atingirmos um nível de conhecimento que possa servir as empresas mais pequenas.

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Como surgiu o CITEVE no projecto do EuroClusTex?Temos vindo a trabalhar com a ATP para desenvolver actividades cruzadas que permitam o desenvolvimento da competitividade das empresas. Por outro lado, a relação com a Galiza é muito próxima, não só geograficamente, mas pela complementaridade da relação entre os sectores dos dois lados. Este projecto surge dos contactos continuados que temos com os nossos parceiros do lado galego. O projecto EuroClusTex não é mais do que a organização de um conjunto de actividades que têm vindo a ser desenvolvidas entre estes actores.

Que importância tem a participação do CITEVE nas relações com a Galiza? O CITEVE tem uma intervenção eminentemente tecnológica e o mercado da tecnologia têxtil está a ficar cada vez mais global – já chegámos ao Brasil, à Tunísia e à Índia. É possível ter relações comerciais em todo o mundo, mas a localização da Galiza permite os negócios de proximidade. Não tendo inicialmente a Galiza um centro tecnológico, imaginou-se que o CITEVE poderia dar uma mão às empresas galegas, independentemente de serem industriais ou de distribuição.

A crise foi, para o CITEVE, uma factor de retracção ou a participação no EuroClusTex é uma forma de afirmação do instituto enquanto parceiro de referência no sector?A crise não teve nenhum impacto no desenvolvimento deste projecto, ela manifesta-se no têxtil como nos outros sectores e não especificamente entre a Galiza e o Norte de Portugal.

Sendo o único instituto, no país, que se dedica ao estudo da matéria-prima e do processo têxtil, existe ainda muito caminho por percorrer para a afirmação do que se pretende venha a tornar-se num distrito industrial?O CITEVE é um símbolo de afirmação do “know-how” português e estamos a falar de uma área em que Portugal exporta e poderia exportar muito mais. É o único centro no país que exporta e a questão da afirmação joga-se no mercado mundial, ganhando clientes e o respeito dos seus pares na comunidade científica e tecnológica mundial. Cada vez mais podemos dizer que a engenharia têxtil nacional é reconhecida a nível mundial. Relativamente ao EuroClusTex, este projecto manifesta-se numa fase em que a concorrência da Ásia é muito forte – países que estão num processo de desenvolvimento contínuo nesta área –, sendo o imperativo de incorporar conhecimento cada vez maior. Há uma necessidade dos dois lados e esta é uma questão muito relevante, mesmo para a sobrevivência destes dois países europeus, ao contrário do que sucedeu em outros em que não possível segurar este sector.

Face à crise que afecta a economia espanhola, há condições para manter e/ou alargar as parcerias com as empresas da Galiza?Essa é uma falsa questão. A crise interna espanhola não é tão relevante, porque o mercado da euro-região, apesar de ibérico, é para fora da Península. Os grandes grupos galegos de distribuição têm uma implantação global.

Há novos projectos na forja? O que se pode esperar , para breve, da capacidade de

investigação do CITEVE?A vida de um centro tecnológico é ter projectos em todas as fases de gestão, desde a pré-competitiva até à com os clientes em espera. Diria que os grande desafios do CITEVE em termos tecnológicos estão relacionados com esta grande evolução – a nanotecnologia e a aplicação destas tecnologias no produto. Estamos no ponto de viragem entre a utilização da nanotecnologia para produtos muito especializados e aplicáveis a nichos de mercado muito restritos para a aplicação desta tecnologia para produtos de maior consumo, de maior importância para uma economia como a nossa. Os próximos tempos serão de grande revolução no sector dos materiais e da moda.

BRás CosTadiRECToR-GERaL do CiTEVE

Dar a mão à Galiza sem perder de vista o resto do Mundo

O responsável do CITEVE é face do lado tecnológico do EuroClusTex, uma parceria que, em tempo oportuno e com os olhos postos no crescimento além-fronteiras, se materializou e permitiu alargar o espaço de afirmação de um centro que se orgulha da sua capacidade exportadora de tecnologia.

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