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Fator "Estado Civil" na adaptação à doença crónica. Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Psicologia em Saúde do curso de Fisioterapia
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Psicologia em Saúde 2014/2015
O fator Estado Civil na adaptação à doença crónica
Adriana Castro
Alice Rodrigues
Ana Rafaela Fernandes
Bárbara Ribeiro
Bárbara Moreira
Curso de Licenciatura em Fisioterapia 2014/2015
Introdução
Dado que o nosso trabalho incide sobre a influência do estado civil na
adaptação à doença crónica, iremos referir o conceito desta para um melhor
entendimento do conteúdo do trabalho.
Das diversas definições de doença crónica, destacamos a definição da
Organização Mundial de Saúde (OMS) “doenças que têm uma ou mais das
seguintes caraterísticas: são permanentes, produzem incapacidade/deficiências
residuais, são causadas por alterações patológicas irreversíveis, exigem uma
formação especial do doente para a reabilitação, ou podem exigir longos
períodos de supervisão, observação ou cuidados.” (Organization, 2014)
“A doença crónica normalmente exige um tratamento permanente, por
isso é necessário que o indivíduo cultive hábitos e atitudes que promovam a
consciência para o autocuidado. Portanto, aderir ao tratamento, é imprescindível
para o controle de uma doença crónica e o sucesso da terapia
proposta.’’(Maldaner, Beuter, Brondani, Budo Mde, & Pauletto, 2008).
Em suma, ocorreram mudanças quanto à compreensão da adesão ao
tratamento. Assim sendo, o seu conceito define-‐se como um processo onde os
sujeitos envolvidos são influenciados por diversos fatores que determinam a sua
continuidade ou descontinuidade. Desta forma, são alguns os fatores que
influenciam a adaptação à condição de doente e iremos mencionar o fator estado
civil que, em direito, é a situação de uma pessoa em relação ao matrimónio ou à
sociedade conjugal.
Curso de Licenciatura em Fisioterapia 2014/2015
A doença crónica e a relação com o estado civil
“Ao longo do último meio século, a ligação entre um casamento “melhor” ou “pior” e a “doença e a saúde” têm sido um assunto de muito interesse
empírico” (Robles, Slatcher, Trombello, & McGinn, 2014)
Várias estudos mostram que, o facto de duas pessoas serem casadas e/ou
viverem juntas, pode facilitar ou dificultar a adaptação à doença, e também de
certa forma influenciará na reação aos tratamentos que esta exige.
“(...) tem crescido uma grande evidência que o estado civil e a qualidade
marital podem ser importantes correlações de morbilidade psicológica durante a
doença.” (Rodrigue & Park, 1996). Assim, confirmamos que cada vez mais são
feitos estudos para saber se de facto o estado civil pode ser um grande peso na
adaptação às doenças. Adiante iremos abordar alguns tópicos que poderão
ajudar na resposta à pergunta: facilita ou dificulta?
Facilita ou dificulta ?
• O poder monetário
“Pessoas solteiras têm mais percepções negativas do
funcionamento profissional, considerando a falta de uma segunda
fonte de renda da família para ajudar a gerenciar os custos
exorbitantes de saúde associados com tratamentos de
cancro.”(Rodrigue & Park, 1996).
É verdade que, pessoas com companheiros poderão sentir mais
proteção ao saberem que o seu cônjuge têm poder financeiro para
suportar as despesas típicas mensais (como alimentação, renda de
casa/carro, despesas com os filhos) e ainda as despesas de
eventuais medicações/tratamentos. Já os solteiros/viúvos poderão
não sentir o mesmo por serem só eles a acarretar com todas as
despesas, ficando mais vulneráveis a maus pensamentos
psicológicos e, muitas das vezes, evitarem certas medicações que
são essenciais ao tratamento e que estão a comprometer não só o
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processo de tratamento como muitas vezes a sua própria vida, só
para poderem fazer uma refeição diária.
• O supervisor
“Observou-‐se que ambos os cônjuges compareciam juntos às
reuniões do programa, demonstrando, assim, o suporte
cooperativo sobre o seu processo de adaptação à doença. Pessoas
que vivem só enfrentam ainda mais problemas além daqueles
relacionados à doença e, sendo assim, o envolvimento de um
membro da família é um componente facilitador para a adesão ao
tratamento medicamentoso.”(Gomes, 2010).
Outro ponto de vista é o companheiro ser o “supervisor” do
doente, ou seja, quando uma pessoa sofre de uma doença crónica
normalmente tem de fazer a medicação sempre no mesmo período
do dia, e que muitas das vezes o grau de incapacidade de ser
autónomo é baixo. Ao existir um cônjuge que supervisione a toma
da medicação (entre outras coisas), o doente não ficará tão
preocupado e sentir-‐se-‐á mais positivo ao saber que tem o
companheiro do seu lado e, consequentemente, confiará mais nele.
• O suporte emocional e psicológico
“... a ausência de um companheiro em casa pode levar a níveis de
depressão e ansiedade...” “...um cônjuge pode ser um grande
suporte para o paciente em termos da sua adaptação em relação à
exigência da sua doença e aos seus tratamentos.” (Rodrigue &
Park, 1996).
De facto, os solteiros são pessoas mais isoladas e estão mais
predispostos a terem pensamentos negativos, sendo
imprescindível a presença de um cônjuge para combater estas
emoções. Ou seja, pode-‐se constatar que “pacientes solteiros
demonstram mais pensamentos e sentimentos infelizes (p.e.
tristeza, baixa autoestima, problemas com a sua aparência
corporal) diretamente relacionados com a sua doença do que os
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pacientes casados.” (Rodrigue & Park, 1996).
Como é exemplo em muitos casos de doenças, os doentes sofrem
alterações ao nível corporal (p.e. toma de cortisona que fará
aumentar o peso). Assim, um suporte de companheirismo irá
aumentar a autoestima e, consequentemente, possibilitar uma
reação positiva quer na adaptação à doença, quer na adesão ao
tratamento.
• A paternidade/maternidade
Outro ponto de vista será os filhos. Um progenitor solteiro que
tenha filhos a seu cargo sentirá mais dificuldade em adaptar-‐se à
doença e em comparecer aos tratamentos, pois não tem um
companheiro que possa cuidar destes na sua ausência. A maior
parte das vezes é difícil os familiares auxiliarem uma vez que,
também têm vida profissional e, como foi referido no tópico do
poder monetário, estas pessoas também tem como obstáculo os
termos financeiros para pagar uma creche/ATL. Sendo assim,
doentes com um companheiro terão menos preocupações visto
que, tem a facilidade de deixar o menor ao encargo do
companheiro e, deste modo, poder aderir na totalidade ao
tratamento.
• A independência
“...pessoas que não têm um companheiro (normalmente figura de
maior auxílio) que as apoiem de modo mais constante nas suas
dificuldades, tem maiores exigências e também por isso maior
necessidade de se adaptarem de forma mais autónoma. Ou seja,
poderão estar agora menos dependentes de outros na realização
de certas tarefas (e.g., “tomar banho ou vestir-‐se sozinho”), pelo que
as limitações em realizá-‐las sozinhas são menores.”(Ferreira,
2014).
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Com esta expressão, apercebemo-‐nos que em certos casos um
doente apresenta uma maior facilidade na adaptação à doença
quando na ausência de um companheiro, visto que, apesar de no
início a adaptação ser mais rigorosa, após o período de
ambientação às necessidades básicas (como o tomar banho ou
fazer a refeição) será muito mais autónomo do que um outro
paciente na mesma circunstância que tenha um cônjuge a fazer-‐lhe
tudo, mesmo as mais simples tarefas como apertar uma camisa.
Em suma, será uma mais valia para ser mais independente,
evitando assim pensamentos como “sou um fardo” ou “só dou
trabalho”, porque realmente é capaz de realizar as atividades da
vida diária sozinho.
Curso de Licenciatura em Fisioterapia 2014/2015
Conclusão
Após a realização de todo o trabalho, podemos afirmar que o estado civil é
um fator importante na adaptação à doença crónica, e que o facto do doente ter
um companheiro a seu lado, facilita a adaptação à doença.
A razão do doente ter um companheiro vai ser benéfica em diferentes
aspectos, principalmente no apoio psicológico e na ajuda às incapacidades ou
défices que a doença possa trazer. Como consequência, o doente irá ter menos
preocupações, visto que as irá repartir com o companheiro, podendo dedicar
mais tempo e força ao tratamento da doença ou impedir o seu avanço.
Ainda assim, e como em todo o caso existem excepções, podendo nestes
casos o parceiro entender que a doença impede o paciente de realizer simples
tarefas o que não é verdade, pois com a prática este doente sairá menos
prejudicado se cooperar nas suas atividades da vida diária.
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Reference:
Ferreira, M. (2014). ADAPTAÇÃO À LESÃO VERTEBRO-‐MEDULAR. PSICOLOGIA,SAÚDE & DOENÇAS, 15(2), 380-‐395.
Gomes, T. (2010). Controle da pressão arterial em pacientes atendidos pelo programa Hiperdia em uma Unidade de Saúde da Família. 17(3), 132-‐139.
Maldaner, C. R., Beuter, M., Brondani, C. M., Budo Mde, L., & Pauletto, M. R. (2008). [Factors that influence treatment adherence in chronic disease patients undergoing hemodialysis]. Rev Gaucha Enferm, 29(4), 647-‐653.
Organization, W. H. (2014). Global status report on noncommunicable diseases 2014. Robles, T. F., Slatcher, R. B., Trombello, J. M., & McGinn, M. M. (2014). Marital
quality and health: a meta-‐analytic review. Psychol Bull, 140(1), 140-‐187. doi: 10.1037/a0031859
Rodrigue, J. R., & Park, T. L. (1996). General and illness-‐specific adjustment to cancer: relationship to marital status and marital quality. J Psychosom Res, 40(1), 29-‐36.