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FBV - FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO CURSO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL MARIA ILMA DE MELO OLIVEIRA Cultura organizacional, práticas de gestão de recursos humanos e inserção de pessoas com deficiência na rede hoteleira de BelémPA: Um estudo de múltiplos casos. Recife/PE 2011

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FBV - FACULDADE BOA VIAGEM

CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

CURSO MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO EMPRESARIAL

MARIA ILMA DE MELO OLIVEIRA

Cultura organizacional, práticas de gestão de recursos humanos e inserção de

pessoas com deficiência na rede hoteleira de Belém– PA: Um estudo de

múltiplos casos.

Recife/PE

2011

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MARIA ILMA DE MELO OLIVEIRA

Cultura organizacional, práticas de gestão de recursos humanos e inserção de

pessoas com deficiência na rede hoteleira de Belém– PA: Um estudo de

múltiplos casos.

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em

Administração, da Faculdade Boa Viagem – FBV,

para obtenção do Título de Mestre em Gestão

Empresarial

Área de Concentração: Psicologia do Trabalho e

das Organizações

Orientadora: Profª. Drª. Maria Auxiliadora Diniz

de Sá

Recife/PE

2011

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Oliveira, Maria Ilma de Melo Cultura organizacional, práticas de gestão de recursos humanos e inserção de

pessoas com deficiência na rede hoteleira de Bélem-PA: um estudo de múltiplos casos / Maria

Ilma de Melo Oliveira. – Recife: A autora, 2011.

192 p. : il.; figuras; quadros.

Dissertação (mestrado) – Faculdade Boa Viagem. Administração, 2011.

1. Cultura Organizacional 2. Pessoa com deficiência 3. Recursos humanos. 4.

Hotelaria. I Título.

CDU 658.3-056.26

O48c FBV

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Dedico este trabalho aos meus filhos Paulo Victor

e Jamile Alanna como incentivo e o exemplo de

que a busca do conhecimento e do

desenvolvimento não tem barreiras. E ao meu pai

Paulo Bezerra de Melo Sobrinho (In Memorian).

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AGRADECIMENTOS

Ao iniciar uma caminhada, o ser humano nunca pode determinar se conseguirá atingir

seus objetivos; nesse caminhar existem possibilidades de que ocorram tropeços, porém a grande

virtude é a coragem para se levantar e começar novamente, nunca desistir.

Todavia, ao terminar uma jornada, não há prazer no mundo que possa ser comparado

àquele momento. Todas as dificuldades são esquecidas, mesmo que momentaneamente, e após a

euforia, novas metas, novos objetivos são traçados e o ser humano recomeça sua caminhada.

Por isto, agradeço primeiramente a Deus, por tudo que Ele tem proporcionado em minha

vida e por esta nova conquista. Não esquecendo que a contribuição de pessoas para que cada

jornada da vida seja alcançada é primordial, pois oferece incentivo, coragem e confiança para

seguir adiante, ou até mesmo, críticas e sugestões de aperfeiçoamento e melhoria.

Desta maneira, agradeço à Faculdade Boa Viagem, através do Programa de Pós

Graduação em Administração, pela oportunidade de realizar o mestrado em uma instituição tão

conceituada.

Agradeço à Profª. Drª. Maria Auxiliadora pela orientação e por transmitir seu

conhecimento e experiência na área de cultura organizacional.

Agradeço aos membros da banca de qualificação, pelo apoio e sugestões, que tanto

contribuíram para lapidação e desenvolvimento desse trabalho.

A minha querida Mãe Maria José por sempre me direcionar para o caminho certo da vida.

Aos meus familiares de Recife e de Belém pelo apoio sem medida e por acreditarem em nossos

sonhos.

Em especial, ao meu companheiro, amigo e amado esposo, Jaime Oliveira, pelo estímulo

e compreensão na materialização deste sonho.

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“Onde, afinal, têm início os direitos humanos universais? Em

pequenos lugares, perto de casa, tão perto e tão pequenos que

não podem ser vistos em nenhum mapa do mundo. Assim são

os lugares onde todo homem, mulher e criança busca igual

justiça, igual oportunidade e igual dignidade, sem

discriminação.”

Eleanor Roosevelt

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RESUMO

O ambiente hoteleiro é voltado para mostrar sempre um lugar que prima pela perfeição e pela

beleza, atributos que se materializam na aparência física do hotel, tanto interna quanto

externamente. Para dar suporte às necessidades dos hóspedes, os meios de hospedagem

dependem, em sua quase totalidade, da atuação de profissionais com variadas qualificações que

têm muito, pouco ou quase nenhum contato com os hóspedes. Onde o Departamento de Recursos

Humanos (RH) é o responsável em buscar pessoas com as competências necessárias ao

atendimento das necessidades da organização e consequentemente dos hóspedes. Itens como: boa

aparência, boa dicção, cabelos e unhas bem feitas, etc. fazem parte dos pré-requisitos para se

enquadrar nos padrões das empresas hoteleiras. Nesse contexto, buscou-se entender nesta

pesquisa como a cultura dessas organizações reage à inserção profissional das pessoas com

deficiência no ambiente de trabalho. Para tanto, foi realizado um estudo de múltiplos casos, onde

foram selecionados como unidades de análise três hotéis dos tipos: Independente, de Rede

Nacional e de Rede Internacional, da cidade de Belém, Estado do Pará. A abordagem adotada

nesta pesquisa foi de natureza qualitativa, tanto na coleta quanto na análise dos dados. A base

para a análise dos dados foi as transcrições do conteúdo das entrevistas e das anotações colhidas

no diário de campo. Salienta-se que a análise dos resultados foi realizada por meio da análise de

conteúdo. Dos resultados encontrados os mais relevantes nos hotéis em estudo foram: a

existência dos elementos da cultura organizacional tais como valores, crenças, mitos, tabus

pressupostos, normas, histórias, rituais e cerimônias e como cada um destes elementos interfere

na inserção de pessoas com deficiência; e a identificação das práticas de gestão de recursos

humanos adotadas na inserção de funcionários com deficiência. Onde se concluiu que dos três

hotéis apenas o de rede internacional trabalha todas as práticas que fizeram parte deste estudo, e

que os outros dois utilizam apenas as práticas de recrutamento e seleção.

Palavras-Chave: Cultura organizacional. Pessoa com deficiência. Hotelaria. Recursos humanos.

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ABSTRACT

The hotels market has as the main goal to show to everybody a place that is perfect and beautiful.

And these features are seen in the external and internal their appearance. In order to hold the

necessities of guests, the ways of hosting depending on, almost totally, the several qualifications

professionals‟ behavior that have much, few or almost nothing contact with the guests. So, the

Department of Human Resources (RH) that is responsible for looking for people that have the

requirements to attend the organizations and the guest necessities. Items like: good appearance,

good diction, hair and nails perfects, etc. are required in order to agree with the hotels market

standards. Based on this sense, this work has sought to figure out like culture of these

organizations reacts to professional insertion of disabled person in the working place. Therefore,

it was carried out a study of multiple cases, where three kinds of hotels in Belém, Pará -Brazil

were chosen as units of analysis: Independent, National network and International network. The

subject that was covered in this research was qualitative, as the collecting data as data analysis.

The base for this data analysis was the overwrite the subject of interviews and notes of field

diary. It is relevant to observe that the data analysis was carried out through Content Analysis.

From the found results, the most one relevant in the hotels studied were: the existing of cultural

organization elements like values, beliefs, myths, assumptions, standards, stories, rituals and

ceremonies and as each of these elements are related to the deficient people insertion; and

identification of management practices of human resources set on the insertion of people with

disabilities. Then it is accomplished that only the international network hotel works with all

practices studied here, and that the others two one use only the enrollments practices and

selection.

Keywords: Organizational culture. Disabled person. Hospitality. Human resources practices.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura geral do trabalho ........................................................................................... 18

Figura 2 – Fundamentação Teórica ............................................................................................... 20

Figura 3 - Ritos organizacionais mais comuns .............................................................................. 34

Figura 4 - Tipos de ritos e suas características .............................................................................. 34

Figura 5 - O processo de desvendar a cultura de uma organização ............................................... 45

Figura 6 – Metáfora de cebola ....................................................................................................... 46

Figura 7 - Níveis de cultura e suas interações .............................................................................. 47

Figura 8 - Posicionamento do Treinamento e Desenvolvimento .................................................. 66

Figura 9 - Três posições básicas das empresas .............................................................................. 67

Figura 10 - Paleta da Diversidade.................................................................................................. 69

Figura 11 – Dimensões da diversidade .......................................................................................... 70

Figura 12 - Paradigmas da gestão da diversidade.......................................................................... 71

Figura 13 – População por tipo de deficiência .............................................................................. 82

Figura 14– Percentual população residente por tipo de deficiência .............................................. 83

Figura 15 – Tipologias e conceitos novos de deficiência .............................................................. 96

Figura 16 - Metodologia ................................................................................................................ 97

Figura 17 - Tipos básicos de projetos para estudos de caso .......................................................... 99

Figura 18 – Análise e discussão dos dados ................................................................................. 109

Figura 19 – Teia cultural ............................................................................................................. 147

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Categorias de elementos culturais ............................................................................... 26

Quadro 2 - Quadro dos Valores ..................................................................................................... 28

Quadro 3 - Mitos sobre as pessoas com deficiência ...................................................................... 42

Quadro 4 - Classificação OMS impedimento, deficiência e incapacidade .................................... 78

Quadro 5 - Tipos de Deficiência.................................................................................................... 80

Quadro 6 - Principais causas de deficiência no mundo ................................................................. 85

Quadro 7– Percentual de cota por número de funcionários ........................................................... 95

Quadro 8 - Perfil dos participantes da pesquisa .......................................................................... 102

Quadro 9 - Comparação gestora x PCDs HI ............................................................................... 121

Quadro 10 – Comparação Gestora x PCDs HRN ........................................................................ 130

Quadro 11 – Práticas inserção PcDs - HRN ................................................................................ 141

Quadro 12 – Análise do comportamento não-verbal ................................................................... 144

Quadro 13- Elementos culturais identificados ............................................................................ 148

Quadro 14 – Práticas de RH encontradas .................................................................................... 150

Quadro 15 - Os paradigmas de inclusão de PcD e as formas de atuação das empresas .............. 167

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIH Associação Brasileira da Indústria de Hotéis

ACD Análise Crítica do Discurso

ADA American Disabilities Act

ANPAD Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Administração

APPD Associação Paraense de Portadores de Deficiência

AVAPE Associação para valorização de pessoas com deficiência

CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde

DAC Disabled Access Credit

DPE Diretoria de Pesquisas

FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos

HI Hotel Independente

HRI Hotel de Rede Internacional

HRN Hotel de Rede Nacional

IBGE Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística

ICF International Classification of Functioning, Disability and Health

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

OIT Organização Internacional do Trabalho

OMS Organização Mundial da Saúde

OMT Organização Mundial do Turismo

ONU Organização das Nações Unidas

PcDs Pessoas com Deficiência

PIB Produto Interno Bruto

RH Recursos Humanos

SINE Sistema Nacional do Emprego

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 6

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA .................................................................... 6

1.2 PERGUNTA DE PESQUISA ........................................................................................... 12

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA: ......................................................................................... 12

1.3.1 Objetivo geral ................................................................................................................ 12

1.3.2 Objetivos específicos..................................................................................................... 13

1.4 JUSTIFICATIVAS ............................................................................................................ 13

1.4.1 Justificativas Teóricas ................................................................................................... 13

1.4.2 Justificativas Práticas .................................................................................................... 15

1.5 Estruturação do Trabalho ................................................................................................. 17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................................... 19

2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL ................................................................................... 20

2.1.1 Conceitos de Cultura Organizacional ............................................................................ 22

2.1.2 Elementos da Cultura .................................................................................................... 25

2.1.2.1 Valores .................................................................................................................... 27

2.1.2.2 Crenças e pressupostos ........................................................................................... 30

2.1.2.3 Ritos, rituais e cerimônias; ..................................................................................... 32

2.1.2.4 Normas ................................................................................................................... 36

2.1.2.5 Tabus ...................................................................................................................... 37

2.1.2.6 Mitos ....................................................................................................................... 38

2.1.2.7 Símbolos e Sinais ................................................................................................... 43

2.1.3 Níveis da cultura............................................................................................................ 45

2.1.4 Cultura Organizacional e a gestão de Recursos Humanos ............................................ 49

2.2 PRÁTICAS DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS ............................................. 50

2.2.1 Recrutamento e Seleção ................................................................................................ 53

2.2.2 Socialização ................................................................................................................... 61

2.2.3 Treinamento e Desenvolvimento .................................................................................. 64

2.3 DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES ....................................................................... 68

2.3.1 Diversidade da força de trabalho e Pessoas com Deficiência ....................................... 72

2.4 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ..................................................................................... 74

2.4.1 Aspectos conceituais das deficiências ........................................................................... 76

2.4.1.1 Tipos de Deficiências ............................................................................................. 79

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2.4.1.2 Causas da Deficiência ............................................................................................. 84

2.4.2 Acessibilidade no ambiente de trabalho ........................................................................ 86

2.4.3 Legislação de apoio às Pessoas com Deficiência .......................................................... 89

2.4.3.1 Garantias legais de acesso ao trabalho no Brasil .................................................... 93

a. Constituição Federal de 1988 ...................................................................................... 93

b. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990 ................................................................... 94

d. Lei 8213/91, de 24 de julho de 1991 .......................................................................... 94

e. Decreto 3298/99, de 20 de dezembro de 1999 ............................................................ 95

3 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 97

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA ................................................................................ 98

3.2 LOCUS DA INVESTIGAÇÃO ....................................................................................... 100

3.3 SELEÇÃO DOS SUJEITOS ........................................................................................... 100

3.4 COLETA DE DADOS ..................................................................................................... 103

3.4.1 Instrumentos ................................................................................................................ 103

3.5 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................ 104

3.6 LIMITAÇÕES ................................................................................................................. 105

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ............................................................................. 108

4.1 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................................. 109

4.1.1 HOTEL INDEPENDENTE (HI) ................................................................................. 110

4.1.1.1 Caracterização do Hotel........................................................................................ 110

4.1.1.2 Elementos Culturais .............................................................................................. 112

4.1.1.3 Práticas de gestão de RH ...................................................................................... 115

4.1.1.4 Comparação de percepções: Gestora x PcDs HI .................................................. 118

4.1.2 HOTEL REDE NACIONAL (HRN) .......................................................................... 122

4.1.2.1 Caracterização do Hotel........................................................................................ 122

4.1.2.2 Elementos Culturais .............................................................................................. 123

4.1.2.3 Práticas de gestão de HRN ................................................................................... 126

4.1.2.4 Comparação de percepções: Gestora x PcDs HRN .............................................. 128

4.1.3 HOTEL DE REDE INTERNACIONAL (HRI ) ......................................................... 131

4.1.3.1 Caracterização do Hotel........................................................................................ 131

4.1.3.2 Elementos Culturais .............................................................................................. 132

4.1.3.3 Práticas de gestão de RH ...................................................................................... 136

4.1.3.4 Comparação de percepções: Gestora x PcDs HRI................................................ 139

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4.1.4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS CASOS............................................................... 145

4.1.4.1 Caracterização dos hotéis: .................................................................................... 145

4.1.4.2 Elementos Culturais .............................................................................................. 146

4.1.4.3 Práticas de gestão de RH ...................................................................................... 149

4.1.4.4 Comparação de percepções: Gestoras x PcDs ...................................................... 152

4.2 - DISCUSSÕES ................................................................................................................ 154

5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................ 162

5.1 CONCLUSÕES ................................................................................................................ 162

5.2 RECOMENDAÇÕES ...................................................................................................... 169

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 171

APÊNDICE A: Roteiro 1 - Gestores de Recursos Humanos ........................................ 190

APÊNDICE B: Roteiro 2 - Funcionários ...................................................................... 191

APÊNDICE C: Listagem de observações ..................................................................... 192

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1 INTRODUÇÃO

Este capítulo inicia-se com uma contextualização sobre a cultura e a questão da inserção

das pessoas com deficiência no mercado de trabalho, mais especificamente na rede hoteleira,

mostrando brevemente como esta força de trabalho é vista, aos olhos da cultura organizacional de

um mercado tão competitivo e diverso. Após a contextualização, a pergunta de pesquisa é

apresentada e logo em seguida os objetivos: geral e específicos e as justificativas teóricas e

práticas deste trabalho.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA

A atividade turística no Brasil cresce a cada ano, ganhando uma importância cada vez

maior no contexto do desenvolvimento sócio-econômico (NAVES; COLETA, 2004),

aumentando sua participação no Produto Interno Bruto - PIB do país e atraindo mais

investimentos. Entre esses investimentos encontram-se aqueles voltados para o ramo hoteleiro,

que mesmo diante de uma crise que abalou o mundo, vêm apresentando números expressivos em

seu crescimento (ABIH)

A importância do setor pode ser medida pelos dados divulgados pelos órgãos oficiais de

turismo e hotelaria. Como é o caso da cidade de Belém estado do Pará, que tem tido nos últimos

anos um crescimento bastante significativo em relação à melhoria e ampliação de sua estrutura

hoteleira (ABIH-PA). A cidade atrai pelos seus encantos: sua cultura, sua história, suas ruas

arborizadas por enormes mangueiras, que acabaram por lhe atribuir seu apelido, a Cidade das

Mangueiras. “Belém é a maior cidade do mundo na linha do equador e é a porta natural de

entrada para o mágico e exótico reino da Amazônia, seu povo hospitaleiro, suas belezas naturais,

seu patrimônio histórico e os investimentos que vêm sendo feitos indicam um enorme potencial

turístico da cidade” (TEIXEIRA; TEIXEIRA; VIEIRA. 2006 p. 2)

O crescimento da oferta hoteleira na cidade de Belém e sua região metropolitana é,

segundo a ABIH-PA (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – seção Pará), significativo já

que na cidade encontram-se 19 empreendimentos hoteleiros sendo construídos, o que fará

aumentar em mais de 73% a oferta de unidades habitacionais (apartamentos). Entende-se que

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esse crescimento da oferta hoteleira vem atrelado a necessidade de um grande contingente de

mão de obra das mais variadas funções.

Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT) as pessoas viajam por razões

variadas lazer, negócios, saúde, religião e razões pessoais. Para se conquistar um turista é

imperioso que haja uma infra-estrutura que dê suporte às suas necessidades, e é justamente dentro

deste contexto, que se encontra a indústria hoteleira (ANDRADE; BRITO; JORGE, 1999;

COOPER et al, 2007), que tem como função primária acomodar as pessoas que estão longe de

casa suprindo suas necessidades básicas (MEDLIK; INGRAM, 2000) de descanso, alimentação,

segurança e conforto (NAVES; COLETA, 2004). Nesse sentido, no entendimento de Marques

(2003, p. 27), a hotelaria pode ser considerada “a base sobre a qual se apóia todo o edifício do

turismo” e ainda afirma que “sem hotelaria não há turismo”. Dessa forma, entende-se que a

hotelaria se destaca como serviço essencial à viabilização da atividade turística em suas várias

modalidades.

O ambiente hoteleiro é voltado para mostrar sempre um lugar que prima pela perfeição,

pela beleza, atributos que se materializam na aparência física do hotel, tanto interna quanto

externamente (ISMAIL, 2001; MIGUEL 2001, NICKSON, 2007). Os hotéis transparecem esses

cuidados quando se observa a conservação do prédio, seus jardins, iluminação interna e externa,

sinalização, decoração, (MIGUEL, 2001), uniforme, asseio e apresentação dos funcionários.

Tudo isso, Marques (2003, p. 384) resume em uma palavra: Hospitalidade. O que para o autor

“[...] deve estar no balcão da recepção, na bandeja do café da manhã [...], bem como [...] no

prazer de uma cama bem feita, a água quente do banho, o silêncio dos corredores, a cortesia do

pessoal [...].”

Todo esse cuidado pode ter uma explicação na origem da hotelaria que de acordo com

Naves e Coleta (2004 p. 96) “está ligada à idéia de castelo e palácio que hospedavam famílias

reais e suas escoltas, cortes, sábios, músicos e artistas”. Portanto todo o aparato, honras, mimos,

requinte e a busca pela perfeição constante podem estar ancorados na cultura do bem servir, que

ultrapassou os séculos e faz parte da rotina diária dos hotéis pelo mundo. Que para Duarte (2006,

p. 12) “é a chave para um mundo de fantasia onde todos trabalham para lhe satisfazer ao menor

gesto”.

Para dar suporte às necessidades dos hóspedes, os meios de hospedagem dependem, em

sua quase totalidade, da atuação do elemento humano (MARQUES, 2003 p. 333) considerado

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como peça fundamental na acolhida do hóspede (CASTELLI, 2003 p. 36), demandando uma

série de profissionais com variadas qualificações que têm muito, pouco ou quase nenhum contato

com os hóspedes. Onde o Departamento de Recursos Humanos (RH) é o responsável em buscar

no mercado pessoas com as competências necessárias ao atendimento das necessidades da

organização e consequentemente dos hóspedes.

Grande parte da literatura que aborda o assunto faz uma espécie de listagem com os

atributos necessários para aqueles que querem trabalhar nos setores considerados de linha de

frente (CASTELLI, 2003) também chamados front of the house1. Itens como: boa aparência, boa

dicção, cabelos e unhas bem feitas, etc fazem parte dos pré-requisitos para se enquadrar nos

padrões das empresas hoteleiras.

Nesse contexto, busca-se entender como a cultura dessas organizações reage à inserção

profissional das pessoas com deficiência no ambiente de trabalho. Faz-se mister esclarecer que,

neste estudo, o termo adotado foi inserção, já que este é entendido como o ato de introduzir

pessoas com deficiência em ambientes de trabalho para a realização de atividades profissionais.

Esse conceito se distingue de outros dois conceitos: integração e inclusão. Segundo Sassaki

(2003b), a integração pressupõe a introdução social das pessoas com deficiência a partir de sua

reabilitação, isto é, da possibilidade de se ajustarem às expectativas sociais e funcionais. A

inclusão enfatiza a responsabilidade da sociedade de assegurar a participação e o exercício da

cidadania por parte de todos; nesse sentido, incluir uma pessoa com deficiência é assegurar a

adequação de condições e instrumentos necessários para o pleno exercício de sua atividade ou

desempenho social. Por esses motivos, será adotado o conceito de inserção por ser um ato que

não acentua nem a perspectiva da integração nem a da inclusão.

De acordo com Stefan Gröschl, professor e pesquisador da ESSEC Business School da

França “um dos desafios da contratação de pessoas com deficiência, em especial pela indústria

hoteleira, poderia ser a ênfase na aparência física dos empregados do hotel2.” (GRÖSCHL, 2007

p. 671). O mesmo autor diz que estudos feitos nos setores de varejo e hospitalidade no Reino

1 Expressão que, em hotelaria, identifica os setores e departamentos, que fazem parte do atendimento dos hóspedes

na linha de frente. Fonte: VIEIRA, Elenara V. de; CÂNDIDO, Índio. Glossário Técnico: Gastronômico, Hoteleiro e

Turístico. Caxias do Sul: Educs, 2003, p. 195. 2 Tradução própria.

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Unido destacam a importância da estética pessoal, principalmente no que tange a beleza física

(GRÖSCHL, 2007).

Sobre este assunto, em 1994 foi realizado um estudo pelos economistas Daniel

Hamermesh e Jeff Biddle sobre a relevância da questão da aparência e da beleza física nas

relações de trabalho para examinar o impacto que estas têm sobre os ganhos de uma pessoa nos

Estados Unidos e Canadá. Os entrevistados foram classificados em um dos seguintes grupos:

abaixo da média, na média e acima da média

“Os resultados esclareceram que existe uma significante penalidade entre os homens

com má aparência [...] os trabalhadores considerados com beleza abaixo da média são

penalizados com 9% sobre seu salário, ao passo que os que têm beleza acima da média

são premiados com 5%. [...] entre as mulheres, existe a mesma evidência de premiar as

de melhor aparência com 4% sobre seus salários, enquanto as de aparência ruim têm

uma penalidade de 8%.” (HAMERMESH; BIDDLE, 1994 p. 1186)

Aqui no Brasil, um estudo feito por Grisci et al (2008) no setor bancário sob o título:

“Beleza física no contexto do trabalho imaterial bancário”, também explorou o assunto e chegou

a conclusão que:

“A relevância da beleza física legitima-se na relação com a clientela. Entre os bancários

se torna senso comum que a aparência e a beleza daqueles que fazem o atendimento ao

público determinam o modo de condução – do xingamento à cordialidade – de eventuais

reclamações por parte dos clientes.” (GRISCI ET AL, 2008 p. 12).

A mesma situação se repete nos hotéis que também fazem contratações com base nos

atributos físicos das pessoas. Sobre o assunto, Wood (1992, p.65) escreveu que “para cargos com

alto nível de contato com o público, os hotéis procuram frequentemente pessoas que apresentem

um grau razoável de atratividade física”.

Diante da literatura consultada, há indícios de que este tipo de procedimento seja habitual

na contratação de pessoas, principalmente quando se direciona o olhar para aquelas que estariam

em contato direto com o público. Dessa forma, cria-se uma espécie de cultura pela beleza e

perfeição. O que Deixa de fora pessoas que não se enquadram no padrão estipulado, mesmo que

elas tenham as competências necessárias ou até mesmo acima do exigido para o cargo.

Dentro deste panorama, surge um questionamento: como ficam os profissionais com

deficiência nas organizações hoteleiras? Já que eles têm alguns impedimentos que podem não

condizer com a cultura dessas organizações.

Além do exposto anteriormente, sabe-se também que, hoje em dia, o ambiente de trabalho

é altamente competitivo e que a busca por um lugar no mercado de trabalho é grande em todas as

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áreas e atividades (JONES, 1997, p. 55). O que falar então das pessoas com deficiência que

possuem todo um histórico de segregação (FONSECA, 2001) e falta de oportunidades em todos

os campos? Seja na educação, na saúde, no lazer, no trabalho, etc.

Antes de seguir com esta contextualização, cabe explicar o porquê da utilização do termo

pessoa com deficiência. Segundo Godoy et al (2000), “as palavras movem montanhas”. O que os

autores explicam é que dependendo da forma como a sociedade se dirige às pessoas com

deficiência, as palavras podem soar como discriminatórias. Eles ainda enfatizam como tudo muda

ao nos dirigirmos a elas como: “pessoas com deficiência ou pessoa portadora de necessidades

especiais”. Nesse caso, a pessoa não é deficiente, mas apresenta uma deficiência, o que é outra

idéia. Portanto, “uma boa forma de mudar o mundo é mudar as palavras que usamos (grifo dos

autores)” (GODOY ET AL, 2000 p. 11).

Desta forma, com base no exposto, neste trabalho de dissertação o termo que foi

empregado para se referir a estas pessoas será Pessoa com Deficiência (PcD) e sua variação no

plural “PcDs” significando Pessoas com Deficiência.

Ressalta-se que tanto as citações da literatura quanto os textos das legislações tiveram os

termos empregados pelos autores conservados, mesmo que estes estejam em desacordo com a

realidade atual. Acredita-se que esta seja a melhor forma de respeitar a opinião dos autores e de

preservar o contexto em que a informação foi coletada.

Cristina e Resende (2006, p. 1) consideram que a situação, ainda é mais preocupante para

as PcDs, que além de conviver com esse ambiente de competitividade e concorrência, ainda têm

que se deparar com o “famoso e invencível preconceito”.

Nesse sentido, Jones (1997) considera que:

“o desemprego e a falta de oportunidade são fantasmas que atormentam muitas pessoas,

sendo muito mais evidente para as minorias que têm enfrentado uma rede de

discriminação injusta em todos os aspectos do emprego e PcDs não são exceção.”

(JONES, 1997 p. 550)

Na verdade, no Brasil, a preocupação com a inserção das pessoas com deficiência ganhou

destaque após o surgimento da Lei nº 8213/91 também chamada de Lei de cotas, que em seu

texto obriga todas as empresas com mais de cem funcionários, a ter em seu quadro funcional

entre 2 e 5% de suas vagas destinadas a PcDs. Esta lei abriu portas para que as PcDs tivessem a

oportunidade de se sentir tão produtivas quanto aquelas ditas “normais”. Esta política é vista por

Costilla et al (2003, p. 17) como:

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“uma ação afirmativa que visa atingir a igualdade de oportunidades, oferecendo meios

institucionais diferenciados para o acesso das pessoas portadoras de deficiência ao

sistema jurídico e de serviços e, portanto, a viabilizar-lhes o gozo e o exercício de

direitos fundamentais, sobretudo no que concerne ao direito de toda pessoa ser tratada

como igual.”

No entanto, esta lei não é garantia de acesso das PcDs ao mercado de trabalho

(TANAKA; MANZINI, 2005; DIAS, 2008; BAHIA; SCHOMMER, 2010), pois a inserção das

pessoas portadoras de deficiência possui inúmeros obstáculos. Na literatura podem-se identificar

vários deles. Para Costilla, Neri e Carvalho (2010, p.13), um desses obstáculos se deve “ao

preconceito em relação à sua capacidade contributiva em um conceito competitivo que hoje

orienta o mundo empresarial”. Os autores explicam que:

“este preconceito está relacionado ao desconhecimento acerca das reais possibilidades

do portador de deficiência de se inserir como agente ativo do processo de produção,

desde que lhe sejam dadas as oportunidades de desenvolvimento de todo o seu

potencial.” (COSTILLA; NERI; CARVALHO, 2010 p.13).

Outro aspecto que dificulta a inserção da PcD no trabalho apontado por Tanaka e Manzini

(2005, p. 275), é a falha no processo de formação e qualificação profissional; além dos fatores

individuais, econômicos e sociais.

A literatura mostra que a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade como um

todo ainda encontra obstáculos, e a dificuldade aumenta quando se trata da inserção dessas

pessoas no rol de funcionários das organizações, mesmo se tendo uma base legal que ampare esse

direito. Nesse sentido, Pires, Bonfim e Bianchi (2007 p. 204) afirmam que a inclusão social é um

processo que depende não apenas da aprovação de leis. Os autores afirmam ainda que a inclusão:

“Vai muito além, há a necessidade de cursos profissionalizantes, voltados para a

capacitação de PcDs, empresas interessadas e comprometidas com a adesão dessa mão

de obra, projetos e verbas públicas e privadas, para que o direito de todo e qualquer

cidadão, possa ser efetivamente cumprido; pois cidadão, independente de suas

particularidades, é antes de tudo um ser humano.”

Nesse processo é imprescindível a participação da sociedade, que deverá ser modificada e

preparada para receber as PcDs, em todas as áreas do processo social como: educação, saúde,

trabalho, assistência social, acessibilidade, lazer, esporte e cultura (COSTILLA; NERI;

CARVALHO, 2002).

Por não haver nenhum estudo científico, no Estado do Pará, voltado para inserção de

profissionais com deficiência no mercado de trabalho hoteleiro, e por esta realidade específica da

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pessoa com deficiência não ser conhecida, buscou-se nas práticas de RH, elementos culturais que

desvendassem o posicionamento das organizações hoteleiras em relação a esta força de trabalho.

Visto que, de acordo com a teoria de Freitas, M. (1991a), este departamento desempenha um

papel fundamental na manutenção da cultura organizacional.

A razão de se buscar na cultura uma explicação para a situação da inserção das PcDs na

rede hoteleira está ancorada em Schein (2009, p. 1), pois segundo o autor a “cultura faz parte da

vida social do homem em todos os sentidos, e se faz presente em todas as horas, sendo

constantemente desempenhada e criada pelas interações entre as pessoas”.

Este estudo voltou-se para a rede hoteleira de Belém do Pará, mais especificamente para

os hotéis inseridos na Lei de Cotas (com mais de cem funcionários), e envolveu três tipos de

organizações: um Hotel Independente3, um Hotel de Rede

4 Nacional e um Hotel de Rede

Internacional. Com isto, houve a possibilidade de se conhecer como a cultura de três padrões de

administração hoteleira diferentes se comportam diante da inserção de PcDs.

A seguir serão apresentados: a pergunta de pesquisa, os objetivos geral e específicos e

logo após, suas justificativas teóricas e práticas.

1.2 PERGUNTA DE PESQUISA

Como a cultura organizacional e as práticas de gestão de recursos humanos

orientam a inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA?

1.3 OBJETIVOS DA PESQUISA:

1.3.1 Objetivo geral

Investigar como a cultura organizacional e as práticas de gestão de recursos humanos

orientam a inserção de pessoas com deficiência em três hotéis da rede hoteleira de Belém - PA

3 Hotéis únicos, geralmente de menor porte e de administração familiar.

4 São também chamados hotéis de cadeia, e concentram várias unidades que pertencem ou estão afiliadas a uma só

companhia que opera e dirige um grande número de estabelecimentos.

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1.3.2 Objetivos específicos

1. Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de

inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA

2. Investigar se há e quais as práticas da gestão de recursos humanos adotadas por

hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com deficiência.

3. Comparar as percepções dos gestores e das pessoas com deficiência, quanto às

práticas de inserção dessas últimas em hotéis da rede hoteleira de Belém - PA.

1.4 JUSTIFICATIVAS

1.4.1 Justificativas Teóricas

Vários aspectos da inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho vêm

sendo abordados pelos pesquisadores da área, contribuindo para buscar a compreensão da

inserção dessa dimensão da diversidade nas organizações (CARVALHO-FREITAS; MARQUES,

2010).

Uma boa parte das pesquisas é direcionada aos assuntos: socialização das pessoas com

deficiência (CARVALHO-FREITAS et al, 2010; MARTINEZ; LIMONGI-FRANÇA, 2009);

acessibilidade (CLEVELAND; BARNES-FARRELL, RATZ, 1997) mercado de trabalho

(NASCIMENTO; DAMASCENO; ASSIS, 2008, NAMBU, 2003); o trabalho protegido por lei

(COSTILLA, NERI; CARVALHO, 2010; FONSECA, 2001; LINO; CUNHA, 2008; Schwarz;

Haber, 2009); entre outros.

Já quando se cruza os temas Hotelaria e PcD, encontram-se, na maioria das vezes,

trabalhos científicos que abordam temas como conforto, ambientação e acessibilidade de PcDs

que entram pelo hall social, ou melhor, como hóspedes (SANSIVIEIRO; DIAS, 2005; SILVA,

CEOLIM; ELY, 2007; SILVA, MÁRCIA, 2009), no entanto, quando o objetivo é estudar o

acesso destas pessoas como atores organizacionais, logo se constata a necessidade de mais

aprofundamento e reflexão, bem como a intensificação de estudos e pesquisas.

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Este fato também é objeto de estudo de Gröschl, na qual descobriu que as investigações

no âmbito do setor hoteleiro têm focado principalmente os grupos historicamente desfavorecidos,

como as mulheres, trabalhadores mais velhos e minorias étnicas. E que, quando se encontram

pesquisas com foco em questões relativas à deficiência, estas discutem principalmente as

necessidades dos hóspedes e clientes com deficiência (GRÖSCHL, 2010).

Na opinião de Gröschl (2010, p. 3) “não há dúvidas de que a indústria hoteleira é um

importante empregador no mundo industrializado e em desenvolvimento”, porém ele argumenta

que existem poucos estudos que exploraram as práticas de emprego, bem como as de apoio a

atração e a integração das PcDs nas organizações hoteleiras. O autor também diz não ter

conhecimento de quaisquer estudos acadêmicos publicados que exploram aspectos do emprego

das PcDs no setor hoteleiro, com exceção de Ross (2004) que fez um estudo da discriminação por

deficiência numa perspectiva ética e do próprio trabalho dele nesta área.

Já no Brasil, o único trabalho encontrado foi de Souza e Coimbra (2007)5 da Unifor

(Universidade de Fortaleza), que analisou a cultura organizacional e a absorção da mão-de-obra

de PcDs em cinco hotéis de Fortaleza-CE, ratificando a quase inexistência de trabalhos

científicos na temática escolhida.

A partir destas constatações, ressalta-se outra justificativa teórica que é a contribuição

para o desenvolvimento do conhecimento científico, acadêmico e organizacional, a partir dos

resultados apresentados por este trabalho de pesquisa.

Diante do exposto acima, entende-se que este estudo sobre a inserção das PcDs na rede

hoteleira de Belém seja inédito no Estado, o que contribuiu para disseminar informações para a

geração de novos conhecimentos sobre o assunto, servindo de base para orientação da sociedade

em geral, dos profissionais e das empresas, à medida que possibilitou conhecer como esta

realidade se processa dentro da cultura das organizações hoteleiras.

Assim, o resultado deste estudo pôde trazer algumas respostas sobre o assunto em pauta,

que auxiliarão (auxiliou) numa nova visão destes profissionais, ou até mesmo uma releitura das

5 Disponível em: http://www.aedb.br/seget/artigos07/694_SEGeT2007.pdf

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políticas e práticas dos gestores de RH. Podendo também ser expandida para outros tipos de

organizações.

Por fim, ressalta-se que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10%

(algo em torno de 610 milhões de pessoas) da população mundial é portadora de algum tipo de

deficiência, sendo que no Brasil os resultados do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE) mostraram que 14,5% da população ou 24,5 milhões de pessoas são

portadoras de deficiência, desse número apenas 9 milhões tem atividade remunerada, sendo que

deste total somente 200 mil possui registro em carteira. Esses dados corroboram (corroboraram)

ainda mais a importância desta pesquisa para sociedade, pois eles mostram o sub-aproveitamento

desta categoria de trabalhadores.

1.4.2 Justificativas Práticas

No Brasil, o setor hoteleiro, teve um crescimento expressivo, desde a última década do

século passado. Dados da ABIH mostraram que os meios de hospedagem no Brasil, só em 2007,

geraram cerca de 500 mil empregos diretos e mais de 1.500 indiretos. Esses números nos dão a

dimensão da importância que a indústria hoteleira tem na geração de emprego e renda, mas

quanto desta oferta foi ocupada por PcDs? Como ficam estes profissionais diante deste cenário?

Os meios de hospedagem têm características que lhes são próprias quanto à gestão de RH,

pois seus funcionários terão contato com clientes de culturas e costumes diferentes, devendo

fechar todo ciclo do serviço com excelência. Nesse sentido, Naves e Coleta (2003, p. 206) dizem

que dentro das organizações hoteleiras:

“Fica clara a importância em propiciar uma cultura organizacional que promova

incessantemente a busca do comprometimento de seus clientes internos, pois somente a

partir de funcionários dedicados e dispostos a vestir a camisa será possível a organização

oferecer serviços com qualidade e que superem as expectativas dos clientes.”

Isto mostra o quanto a gestão de RH é fundamental, para Walker (2002, p. 425) isto se

deve ao fato da indústria da hospitalidade ser constituída de produtos e serviços na maioria das

vezes intangíveis onde o elemento humano é um dos principais requisitos. Sobre a importância do

Departamento de RH na cultura de uma organização, Freitas, M(1991, p.91) explica que o RH é

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“Tido como verdadeiro guardião da cultura organizacional, o Departamento de RH exerce

funções estratégicas, que promovem a aceitação, consolidação e mudanças culturais”.

Também foi uma justificativa prática o fato de que com esse estudo se contribuiu para

mostrar como se dá a inserção profissional das PcDs, já que existe a compreensão de que durante

muitos anos, as PcDs foram vistas apenas como objeto de caridade e filantropia (BAHIA;

SCHOMMER, 2010). Há vários anos elas se vêem envolvidas em uma luta pela cidadania

(ARANHA, 2001; CARDOSO, 2007; LIPPO, 2004) buscando sua participação plena na

sociedade (MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2007); já que não era comum se ver

profissionais com deficiência em ambientes de trabalho, quer no setor público quer no setor

privado.

Carvalho-Freitas (2007b) ressaltam que na atualidade “os estudos sobre a inserção de

pessoas com deficiência se posicionam, de forma explícita ou implícita, sob a égide de dois

paradigmas políticos internacionais dominantes”. A autora explica que:

“Um seria derivado dos Estados Unidos e Canadá, tem por foco fortes medidas

antidiscriminação, com ênfase nos direitos civis e no modelo de vida independente por

parte da PcD e, o outro, proveniente de países europeus, se origina e depende

substancialmente de cotas compulsórias de emprego e de uma extensiva ação do

Estado.” (CARVALHO-FREITAS, 2007b p. 56)

Ainda para os mesmos autores, é nesse segundo paradigma que o Brasil se enquadra.

Pode-se perceber, e a literatura comprova que ainda existe grande resistência por parte das

empresas em fazer contratações de profissionais com deficiência. Mas até que ponto esta

resistência tem lugar nos meios de hospedagem da cidade de Belém-PA? Em havendo esta

resistência a cultura estabelecida nestas empresas contribui de alguma forma para esta condição?

Para tanto, esta pesquisa pretendeu buscar nos elementos da cultura organizacional

hoteleira como se processa a inserção de PcDs, já que este é um setor onde existe a

predominância pela busca do belo, do perfeito, conforme visto na seção 1.1. E seus resultados

poderão ser úteis não só para a rede hoteleira de Belém-PA, como também para outras empresas,

ONGs e associações que trabalham com pessoas com deficiência, para as próprias pessoas com

deficiência, e quaisquer outras pessoas que tenham interesse pelo tema.

Finalizada a explanação sobre o problema de pesquisa, os objetivos e as justificativas.

Encontram-se na próxima seção toda estruturação deste trabalho, com uma síntese de cada um

dos capítulos e em seguida a apresentação de um diagrama.

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1.5 Estruturação do Trabalho

O trabalho foi estruturado em cinco capítulos, conforme descrito a seguir:

Capítulo 1: Introdução – Neste capítulo foram apresentados a pergunta de pesquisa e

seus objetivos: geral e específicos, além das justificativas teóricas e práticas;

Capítulo 2: Fundamentação Teórica - Apresenta uma revisão bibliográfica sobre

cultura organizacional, práticas de gestão de recursos humanos, Diversidade e Pessoas

com deficiência;

Capítulo 3: Metodologia – Apresenta a metodologia utilizada nesta pesquisa, ou seja, as

etapas desenvolvidas para se chegar ao problema da pesquisa;

Capítulo 4: Análise e Discussão dos Dados - Analisa-se e discute-se, neste capítulo, os

resultados encontrados na pesquisa;

Capítulo 5: Conclusões e Recomendações - É reservado às conclusões e às

recomendações resultantes do desenvolvimento deste trabalho.

Para possibilitar uma visualização geral dos capítulos, foram criados diagramas que são

apresentados no início de cada um deles, o que dá a possibilidade de se observar o que será

estudado antes de iniciar a leitura. Diagrama é um gráfico do sistema lógico utilizado como

ferramenta de comunicação, que tem como característica a facilidade de entendimento mesmo

para pessoas não técnicas (OLIVEIRA, 2011).

Na Figura 1 encontra-se toda a estrutura do trabalho, de forma a facilitar sua visualização

e compreensão. Encerrando-se assim, o capítulo de introdução. No capítulo seguinte será

apresentada a fundamentação teórica que embasará este estudo.

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Figura 1 – Estrutura geral do trabalho

Fonte: Adaptada de OLIVEIRA, 2011

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo aborda, na primeira seção, a cultura organizacional, seus níveis e os

principais elementos que a compõe. Buscando, desta forma, entender a influência que a cultura

organizacional tem nas políticas empresariais dirigidas à gestão de recursos humanos, voltando-

se principalmente para a inserção das pessoas com deficiência nas organizações hoteleiras

A segunda seção aborda as práticas de RH voltadas para a inserção das pessoas nas

organizações, direcionando-se para as pessoas com deficiência. Assim serão abordados

recrutamento, seleção, socialização e treinamento e desenvolvimento.

A diversidade nas organizações será o foco da terceira seção, mostrando como esta pode

ser utilizada a favor das organizações. Enfatizando um dos componentes desta diversidade que é

o objeto de estudo desta pesquisa: as pessoas com deficiência.

Em seguida, na quarta e última seção será abordado o assunto pessoas com deficiência.

Esta seção está dividida em três sub-seções onde serão apresentados os aspectos conceituais,

tipologia das deficiências, acessibilidade, bem como a legislação que protege o direito ao trabalho

desses profissionais a nível nacional e mundial.

Na Figura 2, a seguir, encontra-se um diagrama com a síntese deste capítulo.

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Figura 2 – Fundamentação Teórica

Fonte: Adaptada de OLIVEIRA, 2011

2.1 CULTURA ORGANIZACIONAL

Uma ampla gama das ciências sociais (por exemplo, antropologia, sociologia, psicologia),

utiliza o termo cultura, tendo, portanto, diferentes significados em diferentes campos (Gröschl e

Doherty, 2000). Antropólogos como Geertz (1989) tratam a cultura como sistemas de símbolos e

significados compartilhados, onde o foco de seu estudo está em como os indivíduos interpretam e

compreendem as suas experiências e como estas se relacionam à ação. Geertz inclusive busca a

essência da cultura em Max Weber, defendendo a idéia de que o homem é um ser amarrado a

teias de significados que ele mesmo teceu, assumindo a cultura como estas teias (GEERTZ 1989,

p. 15).

No entendimento de Schein (2009) a cultura é criada pelo fato das pessoas que estão no

mesmo ambiente compartilharem suas experiências. Para o autor a cultura surge quando as

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suposições individuais dos envolvidos são compartilhadas e suas experiências acabam por

resolver juntos os problemas de sobrevivência e integração interna do grupo, dando início a uma

nova suposição básica, desse grupo que se formou, surgindo, assim, a cultura.

Como explicado no início desta seção, o interesse pelo tema abrange várias áreas, e talvez

em função disso não exista uma uniformidade entre os pesquisadores sobre o tema, abrindo

portas para diferentes conceitos de cultura e dos termos utilizados para descrever seus elementos.

Uma razão para isso poderia ser que os pesquisadores vêm de diferentes campos, cada um com

seu background cultural e que pode influenciar a visão do que é e como funciona a cultura

(GRÖSCHL; DOHERTY, 2000; ELY; 2001). A literatura da área freqüentemente cita Kroeber e

Kluckhohn6, que identificaram cerca de 164 definições diferentes de cultura (GRÖSCHL;

DOHERTY, 2000 p. 12).

Coube aqui direcionar o estudo da cultura para área organizacional, mais especificamente

para as empresas hoteleiras, onde pesquisas sobre os dois temas são quase inexistentes,

principalmente quando se cruza o assunto profissionais com deficiência. A maioria dos estudos,

sobre as pessoas com deficiência na hotelaria são feitos focando-as como consumidores do

serviço de hospedagem.

Hofstede (1984, p. 21) lembra que a palavra cultura é geralmente utilizada para designar a

sociedade (nação), ou para grupos regionais ou étnicos. Em seu pensamento a palavra cultura

também pode ser utilizada, igualmente para designar outros grupos de pessoas como: as

organizações, as profissões, ou as famílias.

Coerente com esta visão, os estudos da cultura começaram a ser desenvolvidos também

nas organizações, e esta relação entre cultura e organização, deu origem a um novo conceito: o da

cultura organizacional. O conceito de cultura foi trazido às ciências administrativas no final da

década de 1950 (FLEURY; SAMPAIO, 2002), mas foi na década de 1980 que se iniciou o

aprofundamento das diversas concepções de cultura no âmbito social e organizacional (MOTTA;

CALDAS, 2009). Nos últimos anos as pesquisas sobre o tema, sob os mais diversos enfoques

teórico-metodológicos têm aumentado e se popularizado consideravelmente (FREITAS, 2007;

6 KROEBER, Alfred Louis , KLUCKHOHN, Clyde. Culture: a critical review of concepts and definitions.

Vintage Books: New York, 1952

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FLEURY, A., 2009). Existe uma grande diversidade de propostas conceituais encontradas na

literatura, algumas apresentam idéias similares e outras contestam conceitos propostos dando

novos rumos à pesquisa.

O termo cultura organizacional também apresenta diversas definições, buscando enfatizar

algumas vezes o lado estratégico, ou operacional, ou ainda sociológico (TOMEI; BRAUNSTEIN,

1993). De acordo com Freitas, M (2007, p. 11) os estudos em torno da cultura organizacional

“seguiu uma base de conceitos emprestada da antropologia cultural, na qual encontramos diversas

correntes que privilegiam diferentes aspectos desta questão humana”.

De acordo com Smircich (1983, p. 339) “o conceito de cultura tem sido cada vez mais

ligado com o estudo das organizações”, o que pode ser constatado pelo número de publicações na

área e até mesmo pelos estudos encontrados numa simples pesquisa na Web7.

A mesma autora faz uma distinção entre duas linhas de pesquisa quando o assunto é

cultura organizacional: na primeira linha enfoca a cultura como uma variável, como alguma coisa

que a organização tem, sendo a cultura uma variável independente, externa à organização, e que é

trazida, por seus membros, da sociedade onde a organização está inserida; já a segunda linha

concebe a cultura como uma raiz da própria organização, algo que a organização é definindo a

cultura como uma variável interna, onde ela explica que as organizações não produzem apenas

bens e serviços, mas também produtos culturais como lendas, ritos, símbolos (SMIRCICH,

1983).

2.1.1 Conceitos de Cultura Organizacional

Dentro das organizações existe uma energia social que conduz seus membros a agir de

acordo com inúmeros detalhes de conduta dando-lhes direcionamento, e também um mecanismo

de controle, aprovando ou reprovando seu comportamento (NAVES; COLETA, 2004 p. 98).

7 Também conhecida como World Wide Web (WWW ou W3). Refere-se ao serviço da Internet que permite a

distribuição de todos os documentos disponíveis em servidores por todo o mundo. De modo ainda mais amplo, a

Web pode referir-se a todos os documentos acessíveis por intermédios de um navegador. Disponível em:

www.pozati.com/2008/01/18/terminologia-da-internet/. Acesso em: 21.12.2010.

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É válido ressaltar que cada organização tem seu universo próprio, por mais que esteja

inserida no mesmo contexto sócio-econômico-cultural, cada uma apresenta características

singulares, pois dentro do ambiente interno existem variáveis que diferenciam uma das outras,

como por exemplo: a história, os valores, crenças e normas adotadas na organização, o modelo de

gestão e liderança, entre outras.

No ambiente organizacional a cultura pode ser vista como um poderoso mecanismo que

buscará conformar condutas, homogeneizando maneiras de pensar e viver a organização,

introjetando uma imagem positiva da mesma, dando a idéia de que todos são iguais

escamoteando as diferenças e anulando a reflexão (FREITAS, M., 1991a).

Esse conceito leva a crer que a cultura pode ser planejada e modificada de acordo com os

interesses organizacionais, sem dar oportunidade das pessoas interagirem, assim como, de dar sua

contribuição para formação da cultura organizacional. O que difere do conceito de outros autores

como é o caso de Hofstede.

Geert Hofstede é um dos estudiosos da cultura organizacional mais citados em trabalhos

científicos. Ele define cultura como "programação coletiva da mente que distingue um grupo de

pessoas de outro. Se manifesta não apenas em valores, mas em maneiras mais superficiais: por

meio de símbolos, heróis, rituais e valores" (HOFSTEDE 1984, p.21).

Um dos conceitos mais conhecidos e difundidos sobre cultura organizacional foi

apresentado por Edgar Schein, em 1992, que é consultor de grandes empresas e adota uma

postura clínica8 nos estudos dos fenômenos culturais. O autor explica a cultura organizacional

como:

“O Conjunto de pressupostos básicos, que um grupo inventou, descobriu ou desenvolveu

ao aprender como lidar com os problemas de adaptação externa e integração interna e

que funciona bem o suficiente para serem considerados válidos e ensinados a novos

membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir em relação a esses

problemas.” (SCHEIN, 2009 p. 27)

Este conceito de cultura organizacional é o mais abrangente (FREITAS, M., 1991a, 2007;

CARVALHO, 2008; FLEURY, 2009a), Schein, claramente, se preocupa em ir além dos

comportamentos observáveis, privilegiando a aprendizagem do grupo e assumindo que a cultura

tem funções específicas (FREITAS, 2007 p.13).

8 Schein (2009) explica que a postura clínica é adotada sempre que há a demanda parte da própria organização.

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24

Com esse conceito Schein mostra a dinamicidade da cultura, enfatizando que esta não é

estática, engessada pela empresa, mas sim que ela é dinâmica e que pode ser modificada,

aprendida e transmitida para os indivíduos na organização.

Segundo Schein (2009) as culturas emergem, basicamente, de três fontes:

“(1) As crenças, valores e suposições dos fundadores;

(2) As experiências de aprendizagem dos membros do grupo à medida que a

organização se desenvolve; e

(3) As novas crenças, valores e suposições introduzidos por novos membros e líderes”

(SCHEIN, 2009 p. 211-212).

O autor acrescenta ainda, que, embora cada um deles exerça um papel crucial, de longe o

mais importante para a origem da cultura é o impacto dos fundadores; e que, apesar da cultura ser

criada por experiências compartilhadas, na visão de Schein (2009 p. 211), “é pela figura do líder

que se inicia o processo ao impor suas crenças, valores e suposições desde o início”, mostrando,

dessa forma, que o líder tem um importante papel na formação da cultura de uma organização.

Maurice Thévenet (1989, p. 15) utiliza a mesma linha de pensamento de Schein quando

ele fala que “a cultura não é um estado; evolui permanentemente porque constitui um processo

contínuo de aprendizagem da própria organização”, ou seja, existe um processo de adaptação da

cultura sempre que haja necessidade, onde a construção da cultura é feita a par e passo com as

reações da empresa às novas situações (THÉVENET, 1989 p.15).

Partindo também da concepção de Schein, Fleury elaborou uma proposta onde definiu

cultura organizacional como sendo:

“Um conjunto de valores e pressupostos básicos expressos em elementos simbólicos,

que em sua capacidade de ordenar, atribuir significações e construir identidade

organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso como ocultam e

instrumentalizam as relações de dominação” (Fleury, 2009a p. 22).

Nesta proposta conceitual Fleury (2009a) incorporou a dimensão política inerente a tal

fenômeno (FLEURY; SAMPAIO, 2002), deixando clara a situação de relações de dominação, ou

seja, de relações de poder que faz parte do cotidiano da organização, através de seus líderes.

Sobre este aspecto, Barreto (2009, p. 35) diz que “tão amplo ou mais que o poder, enquanto

variável para análise de sistemas sociais, é a cultura. Certamente diríamos que a cultura, a partir

de uma perspectiva antropológica, é mais ampla que o poder”.

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25

Na linha do universo simbólico das organizações e partindo de um conceito usual Janice

Beyer e Harrison Trice9 (1991) apud Fleury (2009a) definiu cultura organizacional como “rede de

concepções normas e valores, que são tão tomadas por certas que permanecem submersas à vida

organizacional” os autores acrescentam que “para criar e manter a cultura estas concepções,

normas e valores devem ser afirmados e comunicados aos membros da organização de uma

forma tangível” (FLEURY, 2009a p. 19). Os elementos que compõem esta parte tangível da

cultura são formados pelos ritos, rituais, mitos, estórias, gestos e artefatos

Na opinião de Freitas, A. (2009) “a conceituação de cultura pelos seus elementos acaba

por se revelar envolvente e plena de detalhes que nos passam despercebidos na vida

organizacional cotidiana”, a autora ainda complementa dizendo que ao ser feito um estudo mais

formal que esses elementos podem nos causar certa surpresa quando reconhecemos alguns de

seus traços. Na seção seguinte serão apresentados os principais elementos da cultura

organizacional citados pela literatura, já que se entende que é por estes elementos que se pode

conhecer a cultura de uma empresa.

2.1.2 Elementos da Cultura

O estudo dos elementos da cultura organizacional se faz presente na maioria dos estudos

feitos da área, os pesquisadores buscam por meio destes entender e explicar o funcionamento e

importância que o seu desvendamento tem para as organizações. Freitas, A. (2009, p.15)

considera que a descrição dos elementos que constituem a cultura organizacional, buscam

entender a forma como eles funcionam e as mudanças comportamentais que eles provocam são

maneiras de dar ao assunto um tratamento mais concreto e possibilitar o seu reconhecimento mais

facilmente.

Tamayo (1996, p. 157) afirma que, de forma geral, pode-se dizer que a cultura consiste de

elementos compartilhados que constituem os padrões para perceber, pensar, agir e se comunicar.

O mesmo autor cita os valores, junto com as normas, as crenças compartilhadas, os símbolos e os

rituais como os elementos que constituem a cultura de uma sociedade ou de uma empresa.

9TRICE, Harrison M., BEYER, Janice M. Cultural Leadership in Organizations. Organization Science V. 2, No.

2, May 1991, pp. 149-169.

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Esses elementos fazem com que, no início, a cultura se torne uma competência distinta

uma fonte de identificação, uma espécie de “cimento que mantém os membros unidos”,

fornecendo uma interpretação ou uma mensagem para os membros da organização a respeito do

que se considera importante ou válido (FREITAS, M., 1991a; FREITAS, A., 2009).

Ao analisar os principais estudiosos do tema nota-se que a maioria dos autores concorda

sobre a importância de se estudar a cultura de uma organização e ao mesmo tempo admitem que a

cultura seja um termo complexo, consistindo em vários elementos, onde alguns deles estão

implícitos e outros explícitos (GROESCHL; DOHERTY, 2000 p. 14).

Existem alguns elementos que são mais citados pela literatura que são parte integrante do

constructo cultura, tais como: valores; crenças e pressupostos; ritos, rituais, cerimônias; estórias e

mitos; tabus; heróis; normas (NAVES; COLETA, 2004 p. 98; FREITAS, A., 2009 p.15;

TAMAYO, 1996 p. 157).

Driskill e Brenton (2005) fizeram uma divisão dos elementos culturais, onde eles foram

separados em 12 elementos principais e classificados em quatro categorias: elementos

simbólicos, elementos de papéis, elementos interativos, elementos de contexto (ver Quadro 1).

Para cada categoria, os autores incluíram algumas sugestões para identificar os elementos.

Quadro 1 - Categorias de elementos culturais

Valores

Elemento Principal

Elementos Simbólicos Símbolos

Estórias

Linguagem

Metáforas

Elementos de Papéis Heróis

Bandidos

Elementos Interativos Rituais

Regras informais

Estilo de comunicação organizacional

Elementos de Contexto Histórias

Lugar

Fonte: DRISKILL e BRENTON, 2005

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O que estes autores trazem de diferente dos outros pesquisadores nos estudos dos

elementos culturais, é que eles além de categorizarem os elementos eles também incluíram os

elementos: metáforas, bandidos e lugar.

Diante do exposto, entendeu-se, que a melhor forma de se responder a pergunta de

pesquisa (seção 1.2 p. 13) proposta neste estudo, seria buscando nos elementos culturais, citados

pela literatura da área, condições que leve a este fim. Já que se acreditava que pelo estudo desses

elementos podia-se entender como a cultura se comporta diante da inserção de PcDs. Portanto,

foram selecionados alguns elementos, com base na freqüência em que são citados pela literatura,

e que podem ou não ser encontrados na pesquisa, bem como existem elementos que podem não

constar desta seleção e ser vivenciado no período da investigação em campo.

Os elementos culturais selecionados foram: valores; crenças; pressupostos; ritos; rituais;

cerimônias; normas; tabus e mitos. A ordem de explanação dos elementos é aleatória, ou seja,

não haverá nenhuma ordem de grau de importância, profundidade, nível, tangibilidade,

intangibilidade, etc.

2.1.2.1 Valores

A cultura da empresa é constituída pelos valores comuns sobre que parece assentar o

funcionamento das organizações (THÉVENET, 1989 p. 52), sendo estes apontados por diversos

autores como o mais importante elemento cultural (FREITAS, M., 1991a p.15). É através dos

valores que os indivíduos recebem referências sobre o que é aceito ou não na organização de que

fazem parte (TANURE; EVANS; PUCIK 2007).

Similares à cultura, valores e normas são termos utilizados em todas as ciências sociais e

têm, portanto, diferentes, embora não independentes significados. Hofstede (1984), por exemplo,

vê os valores como sentimentos inconscientes e conscientes, que se manifestam no

comportamento humano. Nesse contexto, o autor explica valor da seguinte maneira:

“Se acreditamos num valor, isso significa que a questão envolvida tem certa relevância

para nós e que nós identificamos alguns resultados como bom e outros como mau.”

(HOFSTEDE, 1984, p.19).

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28

Além disso, este autor também distingue valores entre desejados e desejáveis, fazendo a

distinção entre o que as pessoas realmente desejam versus o que elas pensam que deve ser

desejado

No entendimento de Freitas, A. (2009, p. 16) os valores “são aquilo que é importante para

o sucesso da organização e devem ser considerados guias para o comportamento organizacional

no dia-a-dia”. Empresas bem sucedidas costumam ser rigorosas em relação aos desvios nesse

particular. Administradores e líderes teriam como tarefa principal modelar, realçar e encarnar os

valores da organização.

Para R. Hugonier citado por Thévenet (1989, p.83), “a cultura é um sistema de valores

implícitos que os homens, a todos os níveis, serão capazes de exprimir, se lhes for dada

oportunidade”. Neste caso, a cultura e os valores seriam, assim, sinônimos visto que a evolução

de um está atrelada a evolução do outro (THÉVENET, 1989). O tema é, assim, também

entendido por Freitas, A. (2009 p. 17), a autora afirma que os valores são geralmente definidos

para resistir ao teste do tempo e incorporar as mudanças que ocorrem no contexto.

Para facilitar o entendimento dos valores Thévenet criou um quadro de valores (Quadro

2), onde ele dividiu os valores em três tipos: Valores declarados, valores aparentes e valores

operacionais e para complementar adicionou ainda as atitudes. Para cada um dos tipos de valores

identificados por Thévenet são apresentados alguns exemplos de onde e quais ocasiões estes

valores ocorrem.

Quadro 2 - Quadro dos Valores

VALORES DECLARADOS

- Na declaração de princípios ou na filosofia proclamada da empresa;

- Nos discursos do Presidente - Na imprensa da empresa;

- No manual de acolhimento;

- Na comunicação externa

VALORES APARENTES

- Na escolha dos heróis;

- Na escolha dos dirigentes;

- Na escolha daquilo que se considera êxito (produto, carreira,

estratégia, decisão, apreciação da concorrência);

- Na comunicação externa;

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Cont.

VALORES OPERACIONAIS

- Nos sistemas de controle:

- Controle orçamental;

- Avaliação das performances;

- Avaliação do pessoal;

- Remuneração;

- Regulamento interno;

- Em certos procedimentos de gestão

- Recrutamento;

- Gestão de carrreiras;

- Programa de redução de custos;

- Relações estruturais (entre filiais, divisões, sede, funções)

ATITUDE

- Relativo ao sistema burocrático;

- Relativo ao contexto;

- Relativo à concorrência.

Fonte: THÉVENET, 1989.

Mas, quais valores são realmente importantes dentro de uma organização? Quais são

amplamente divulgados e efetivamente realizados? Esses valores interferem nas políticas e

práticas de gestão de pessoas? Quais os valores declarados das empresas hoteleiras em relação à

inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho?

No entendimento de PEASE (2005, p. 80) as declarações de valores servem como um

guia que enuncia os princípios fundamentais que a organização deve ter no ambiente de trabalho,

e que estas ajudam a definir a ética pela qual uma organização opera. O autor ainda salienta que

algumas empresas declaram valores que não vivenciam no seu dia-a-dia.

“Muitos valores organizacionais incluem uma declaração de compromisso com a

diversidade e inclusão sem que haja uma descrição mais detalhada do que é entendido

como "valorização da diversidade”. (PEASE, 2005 p. 80)

Por este fato, acredita-se que as respostas para os questionamentos acima podem estar na

observação deste elemento não apenas naquilo que é dito pelos gestores através de seu discurso,

mas também pelos artefatos existentes na empresa, como local de trabalho, uniforme, etc.

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2.1.2.2 Crenças e pressupostos

Estes elementos são considerados pela maior parte dos estudiosos como núcleo da cultura

e os mais difíceis de serem modificados. Schein (2009) explica que são os pressupostos os pontos

centrais da cultura e não os valores. O mesmo autor ainda enfatiza que:

“os valores estão abertos à discussão e as pessoas podem concordar ou não com eles. Os

pressupostos básicos são tão aceitos que alguém que não os conservar é visto como um

„estrangeiro‟ ou como „louco‟ e é automaticamente descartado”10

(SCHEIN, 2004 p. 25,

grifos do autor).

Oshiro et al (2005, p. 121) afirmam que “as crenças e pressupostos se manifestam na

estrutura, sistemas, símbolos, mitos e padrões de recompensa dentro da organização”. Assim

sendo, é muito mais fácil ajustar as manifestações de cultura do que modificar o núcleo de

crenças e pressupostos em uma organização

Os termos crenças e pressupostos têm sido usados como sinônimos nos estudos culturais

para expressar aquilo que é tido como a verdade na organização (SCHEIN, 2009; FREITAS, M

1991a). Uma verdade não é questionada nem discutida, ela é natural (FREITAS, A., 2009 p. 17).

Mas, Fleury et al (2009, p. 282) alertam que para revelar seu verdadeiro significado, é preciso ir

além das aparências e das primeiras impressões. É preciso estar atento para aprender os atos

falhos dos discursos, os lapsos de memória e as contradições entre o discurso e a prática.

Por este motivo é muito importante que os administradores sejam vigilantes e reforcem

estas crenças, evitando, a ocorrência de discrepâncias entre o discurso e a prática (FREITAS, M.,

1991a p. 19).

Voltando ao conceito de Schein, pode-se perceber que para este autor, a cultura é como

um conjunto de pressupostos que está sempre em processo de formação, visto que a

aprendizagem sobre como se relacionar com o ambiente e como administrar as questões internas

estará sempre ocorrendo. O autor ainda reitera que, uma vez que os pressupostos tenham

funcionado bem o suficiente para serem considerados válidos, são ensinados aos demais

membros da organização como a maneira correta para se perceber, se pensar e sentir-se em

relação aqueles problemas (SCHEIN, 2009).

10

Tradução própria.

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Ainda, na visão do autor, o entendimento dos pressupostos básicos é fundamental para que se

possa perceber melhor a cultura e os valores dos membros da organização, pois estes além de ser

intangíveis e invisíveis são taken for granted11, ou seja, são largamente aceitos e difundidos sem uma

prova evidente da sua validade, mas que ao serem questionados geram certa estranheza (SCHEIN,

2009).

É interessante citar ainda Fleury, Shinyashiki e Stevenato (2009, p. 275), que defendem

que esses pressupostos não estão organizados aleatoriamente; mas que se padronizam em

paradigmas culturais com alguma ordem e consistência para orientar a ação do ser humano.

Foram essas crenças e pressupostos que relegaram durante séculos as PcDs a viverem afastadas,

em todos os âmbitos, do convívio social. Em relação às crenças, Moragas (1972), apud Sassaki

(2004, p. 2), relata que “num passado não muito remoto a humanidade considerava uma

crueldade fazer com que pessoas com deficiência trabalhassem”. Para Pastore (2000) o que

levava as sociedades a evitar o contato e bloquear o trabalho das PcDs eram alguns fatores como:

ignorância, preconceito, e medo.

Em relação à pessoa com deficiência, a literatura tem mostrado que esta tem sido objeto

de preconceitos (THOMAS E ELY, 1996; NASCIMENTO ET AL, 2008; OMOTE, 1987;

GLAT, 1995; CROCHÍK, 1996; POPOVICH et al., 2003; QUINTÃO, 2005, dentre outros). A

esse respeito, Carvalho-Freitas e Marques (2009, p. 246) dizem que “os preconceitos estão

fundados em crenças generalizadas sobre características pessoais (atributos) de grupos

minoritários, as quais são consideradas como tipicamente negativas” (grifo do autor).

Nesse sentido é importante conhecer o que as empresas pensam, sentem e fazem em

relação às pessoas com deficiência no ambiente de trabalho, já que, de acordo com Carvalho-

Freitas, Nepomuceno e Marques (2008, p. 01), pesquisas sobre gestão de pessoas com deficiência

já inseridas no mercado constataram que as formas como os gerentes vêem a deficiência

interferem em suas ações em relação a elas. Por isso, faz-se mister que se conheça quais são as

crenças e pressupostos que as organizações têm para com os trabalhadores que têm algum tipo de

deficiência.

11

Este termo em inglês é muito utilizado pela literatura, e de acordo com Schein (2009) são as idéias e premissas que

governam as ações, o comportamento e as razões dos atos dos membros da organização, do que determina o modo de

ser, sentir, pensar e perceber a organização por seus membros

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Os estudiosos de cultura enfatizam que os pressupostos básicos de uma organização

requerem mais densidade na pesquisa, sendo necessária, para sua identificação, uma observação

mais intensa da organização, mais focada, envolvendo a participação dos membros para fazerem

uma auto-análise.

2.1.2.3 Ritos, rituais e cerimônias;

Esses elementos fazem parte da sociedade como um todo, e em várias ocasiões as pessoas

se deparam fazendo parte de ritos, rituais e cerimônias, quer seja por uma imposição ou por

vontade própria. De acordo com os pesquisadores os ritos organizacionais são facilmente

identificáveis, porém dificilmente interpretáveis. Silva (2008, p. 02) diz que os ritos e rituais

estão presentes em todas as culturas, das comunidades mais primitivas à sociedade

contemporânea, e segundo a autora “os ritos e rituais são fenômenos extremamente diversificados

e, sobretudo por essa diversificação, portam uma riqueza extraordinária e muito esclarecem sobre

o ser humano. Falar em vida social é falar em ritualização”.

Para Bettega (200-, p. 1) “os ritos são produtos culturais que visam à integração de

diferentes grupos sociais, ou seja, são construções sociais específicas de um determinado grupo,

simbolizando o elo entre „mundos separados‟, necessários à sobrevivência do indivíduo social”

(grifo do autor).

No contexto organizacional Silva, Mariângela (2008) salienta que os ritos, rituais e as

cerimônias passam a ser elementos estratégicos a serviço da construção e consolidação das

imagens das organizações, apoiadas na credibilidade e aceitação social das ações e realizações

desenvolvidas

Freitas, M (2007, p. 19) destaca que os rituais e os ritos são atividades planejadas que

manifestam o lado concreto da cultura organizacional. Para ela:

“Eles preenchem várias funções: comunicam a maneira como as pessoas devem se

comportar na organização, sinalizando os padrões de intimidade e decoro aceitáveis,

exemplificando a maneira como os procedimentos são executados, liberam tensões e

ansiedades [...]”.

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É importante ressaltar que, a maior parte dos eventos que ocorrem nas organizações

podem ser administrados, e que muitos deles são transformados em rotina, existindo até situações

que podem ser investidas de importância, de solenidade ou de glamour (FREITAS, 2007 p. 18).

No dia-a-dia das empresas, em várias ocasiões, pode-se observar a presença de ritos e

rituais, como por exemplo, quando um indivíduo é selecionado para fazer parte da organização,

este poderá ser recebido com maior ou menor formalidade; podendo, simplesmente, ser

apresentado pelo seu chefe aos colegas com quem trabalhará, ou poderá ser convidado a conhecer

as instalações da empresa, ou a assistir um filme ou documentário sobre o histórico da

organização (FREITAS, 2007 p. 19). Tudo dependerá da empresa e do grau de importância que

esta dá para este evento.

A maior parte dos pesquisadores refere-se a Harrison Trice e Janice Beyer (FLEURY,

2009a; ISLAM; ZYPHUR, 2009; TOMEI; BRAUNSTEIN, 1993; FREITAS, M., 1991a, 2007; e

outros) como sumidades no assunto ritos, rituais e cerimônias na cultura organizacional. Eles

oferecem um ponto de partida para esclarecer a discussão sobre estes elementos e tentam mostrar

como os rituais são similares, porém diferentes dos conceitos relacionados. Trice e Beyer12

(1984) descreveram rito e rituais da seguinte maneira:

“São conjuntos de atividades relativamente elaboradas, que combinam várias formas de

expressão cultural, as quais têm conseqüências práticas e expressivas. Os gestos, os

comportamentos ritualizados, a linguagem, os artefatos, constituem-se em algumas das

formas de desempenhar um rito” (TRICE E BEYER apud FREITAS, M 1991a p; 24-

25).

Ainda baseando-se em Trice e Beyer (1984), Freitas, M. (1991a, p. 24) apresentou seis

tipos de ritos que os autores identificaram como sendo os mais comuns nas organizações.

Segundo a autora os ritos organizacionais podem ser classificados como ritos de passagem,

degradação, reforço, renovação, redução de conflitos e de integração, conforme visto na Figura 3.

12

TRICE, ; BEYER, . Studying organizational culture through rites and cerimonials. Academy of Management

Review, vol. 9, n. 4, 1984

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34

Figura 3 - Ritos organizacionais mais comuns

Fonte: Adaptado de Freitas, M. (1991a, p. 24)

Freitas, M. (1991a, p. 24) explicou também algumas das principais características (ver

Figura 4) e a forma como esses ritos são usados dentro das organizações.

Figura 4 - Tipos de ritos e suas características

Fonte: Adaptado de FREITAS, M., 1991a.

RITOS ORGANIZACIONAIS

INTEGRAÇÃO

REDUÇÃO DE CONFLITOS

RENOVAÇÃO

REFORÇO

DEGRADAÇÃO

PASSAGEM

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Como se pode perceber, pela Figura 4, todos os ritos listados estão relacionados ao

departamento de recursos humanos e suas práticas como, por exemplo, o rito de passagem que

está relacionado à prática de contratação e promoção ou o rito de degradação que está relacionado

à prática demissional, entre outros. Nesta Figura pode-se observar também que os ritos

acompanham os indivíduos desde sua entrada na empresa até seu desligamento, e que também

fazem parte de outros momentos importantes para a empresa e para os profissionais.

Esses tipos de ritos podem ser encontrados em certas cerimônias, que desempenham

funções específicas. Existem cerimônias que envolvem os ritos de passagem ajudando os

indivíduos a efetuar uma mudança de status; as que envolvem os ritos de reforço ocorrem em

épocas de crise e atuam para aumentar a solidariedade do grupo e para diminuir a tensão existente

(SILVA, MARIÂNGELA, 2008 p. 06).

Já sobre cerimônias Silva, Mariângela (2008, p. 06) se refere a estas como “a

manifestação de sentimentos ou atitudes em comum”, através de ações formalmente ordenadas,

para a autora estes eventos são:

“de natureza essencialmente simbólica, sendo que, no contexto cerimonial, gestos,

posturas corporais e objetos específicos estão presentes. Por exemplo, as pessoas se

curvam, apertam as mãos, sentam em lugares previamente estabelecidos na mesa,

levantam e sentam a todo o momento, cantam hinos, aplaudem, discursam por ordem de

importância dos seus cargos e assumem outras posturas e gestos condizentes com o

local, a hora e o tipo de cerimônia”.

Tanure, Evans e Pucik (2007) destacam as cerimônias e os rituais como eventos especiais

nos quais são promovidos os valores específicos de cada organização. Avançando um pouco mais

nos estudos descobri-se que o termo cerimônia é freqüentemente usado como sinônimo de ritual,

porém o emprego os diferencia um do outro (SILVA, MARIÂNGELA, 2008 p. 06). A

fundamentação para diferenciar estes dois elementos foi baseada em Beals e Hoijer (1953)13

apud

Silva, Mariângela (2008 p. 06) que fizeram a seguinte definição:

“ritual é um modo prescritivo para realizar determinados eventos, e cerimônia como um

evento que envolve um conjunto de rituais entrelaçados e selecionados, desempenhados

em um determinado momento e em um determinado espaço físico.”

13

BEALS, R. L.; HOIJER, H. An introduction to anthropology. New York, Macmillan, 1953, p. 496-497.

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Com estas definições, pode-se entender que a cerimônia é um evento maior, composto de

um conjunto de ritos e rituais. De acordo com Fossá (2004), geralmente, a cerimônia envolve o

uso de objetos tais como bandeiras, cartazes, flâmulas, flores, cadeiras com espaldares mais ou

menos altos de acordo com o nível hierárquico da pessoa que terá assento à mesa. Para a autora

“todos estes objetos possuem significações simbólicas e, portanto, é necessário saber o

significado de tais atos nas cerimônias para captar os seus sentidos” (FOSSÁ, 2004).

Ainda sobre esse assunto, Freitas, M. (2007) explica ritos, rituais e cerimônias como

sendo atividades planejadas que têm conseqüências práticas e expressivas, tornando a cultura

mais tangível e coesa. Os ritos e cerimônias tornam expressiva a cultura à medida que

comunicam comportamentos e procedimentos, e exercem influência visível e penetrante, pois

promovem a integração dos membros da organização.

Muitas empresas quando decidem contratar uma pessoa para fazer parte do grupo, já têm

definidos uma série de eventos que englobarão: ritos, rituais e cerimônias. Já dentro da empresa

ele pode ser recebido com maior ou menor formalidade, pode ser apresentado pelo seu chefe aos

colegas com quem trabalhará, poderá ser convidado a conhecer as instalações da empresa ou a

assistir um filme ou documentário sobre o histórico da organização (FREITAS, 2007 p. 19).

2.1.2.4 Normas

Normas são regras que direcionam a forma como as pessoas devem proceder para a

realização dos objetivos da organização. Podem ser aceitas ou não pelo grupo. Assim, a norma é

o comportamento sancionado, através do qual as pessoas são recompensadas ou punidas,

confrontadas ou encorajadas, ou postas em ostracismo quando violam as normas. (FREITAS, M.,

1991a p. 33; CARVALHO, 2008 p. 28)

Toda cultura tem seu próprio modo de fazer as coisas; que pode ser denominada de

norma. Elas têm o poder de influenciar os membros, ditando-lhes os comportamentos esperados,

aceitos e apoiados por todo o grupo, sendo este comportamento fixado por uma norma formal ou

mesmo informal (FREITAS, 2007 p. 29). Assim sendo, Freitas, M. (1991a, p. 33), explica que “a

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norma é o comportamento sancionado, através do qual as pessoas são recompensadas ou punidas,

confrontadas ou encorajadas, ou postas em ostracismo quando as violam.”

Na opinião de Carvalho (2008) as normas podem “ser consideradas „leis‟ que um grupo

ou uma empresa têm sobre o que é certo ou errado.” (CARVALHO, 2008, p. 28, grifo do autor).

Onde quer que vá, o homem tem sua vida guiada por normas e dentro das organizações

não poderia ser diferente. O sistema normativo, de acordo com Freitas, M. (2007) tem como

fundamento a impessoalidade, onde todos devem segui-lo inclusive quem o criou. No mundo

organizacional conhecer sua estrutura normativa é:

“Conhecer o seu funcionamento e o nível de detalhes da dinâmica organizacional que

foram considerados previsíveis, bem como as respostas adequadas que devem ser dadas.

À medida que as pessoas convivem ao longo do tempo elas trazem ou criam certas

expectativas a respeito de seus comportamentos. [...] É comum associar as normas aos

manuais de instruções, o que guarda certa veracidade, pois estes dizem respeito aos

procedimentos adequados naquelas situações específicas, particularmente relacionadas

com normas de produção, padrões de qualidade e especificações técnicas” (FREITAS,

M., 2007 p. 29)

Algumas normas são totalmente expostas aos seus membros, outras ficam nas entrelinhas,

que não está escrito, mas que as pessoas sabem que devem seguir a peso de serem punidas.

Percebe-se, pela literatura, que neste caso, esses elementos são considerados tabus, que será visto

na próxima seção.

2.1.2.5 Tabus

O que é proibido em uma organização? O que não se pode falar? Nem sequer mencionar?

Este elemento cultural “é envolto de grande mistério, e aparece associado a temas que causam

mal estar nas organizações, como por exemplo: preconceitos, discriminação, assédios, fraudes,

etc.” (FREITAS, M., 2007 p. 28). Para Freitas, M.(1991a) existe uma constatação da quase total

ausência da menção aos tabus organizacionais, sendo difícil encontrar referencial teórico sobre o

assunto.

Freitas, M. (1991a) também argumenta que:

“Mesmo sendo estes em se tratando de um importante elemento cultural, que cumpre

também o papel de orientar o comportamento, demarcando áreas de proibição, os tabus

colocam em evidência o aspecto disciplinar da cultura com ênfase no não-permitido”

(FREITAS, M., 1991a p. 30).

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Os tabus referem-se às proibições, orientações ou fatos tidos como inquestionáveis

impostos aos membros da organização. Deal e Kennedy apud Freitas, M. (1991a, p.33), citam o

exemplo de mulheres que trabalham num ambiente masculino em que elas não têm acesso aos

determinados eventos sociais ou a certas pessoas da organização.

Talvez, por este fato, os tabus não venham prescritos em manuais, como as normas.

Existem empresas que com base nesse elemento cultural fazem proibições, enfatizando que não é

permitido, por exemplo, a contratação de pessoas da mesma família, envolvimento amoroso entre

seus funcionários, entre outros.

Segundo a literatura da área, ainda existem muitos preconceitos em relação à inserção de

pessoas com deficiência como força de trabalho (THOMAS E ELY, 1996; NASCIMENTO;

DAMASCENO; ASSIS, 2008; OMOTE, 1987; GLAT, 1995; CROCHÍK, 1996; POPOVICH et

al., 2003; QUINTÃO, 2005, dentre outros), onde o tabu gira em torno de sua capacidade

contributiva. A literatura mostra que esse preconceito, logicamente, não é exposto, mas fica

velado na parte oculta da cultura.

2.1.2.6 Mitos

“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”. Ao iniciar esta

seção com esta frase pretende-se fazer uma reflexão sobre aquilo que se acredita, afinal quantos

brasileiros têm em seu senso comum que a mensagem da letra da música do cantor Jorge Ben Jor

(1969) seja verdadeira? Qual a importância de se acreditar que realmente o Brasil é “um país

tropical abençoado por Deus”? Serão estas palavras parte de um mito? E o que é mito? Como ele

se forma? Há muitos anos os mitos fazem parte da história do homem. Muito do que se aprende

desde criança vem cercada de mitos, que acompanham o desenvolvimento humano.

Etimologicamente falando o termo mito é derivado do grego mythos que significa

“narração pública de feitos lendários de uma comunidade” (CHAUÍ, 2001OLIVEIRA et al,

2008). Marilena Chauí no Livro Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária (2001), fala que o

termo mito não é entendido apenas no sentido etimológico, mas também em sentido

antropológico, como se fosse uma narrativa de uma realidade que se quer explicar, entender, ou

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ainda justificar. A autora diz que mito “é a solução imaginária para tensões, conflitos e

contradições que não encontram caminhos para serem resolvidos no nível da realidade” (CHAUÍ,

2001 p. 9).

Diante do que diz a autora supracitada, seria o mito uma mentira? É muito comum ouvir a

frase: “Isso é verdade ou é Mito?”. De acordo com Campbell (1990, p. 180) a mitologia não é

uma mentira; e enfatiza que a considera como poesia, como algo metafórico. Rocha (1996)

entende mito como:

“Uma narrativa. É um discurso, uma fala. É uma forma de as sociedades espelharem

suas contradições, exprimirem seus paradoxos, dúvidas e inquietações. Pode ser visto

como uma possibilidade de se refletir sobre a existência, o cosmos, as situações de „estar

no mundo‟ ou as relações sociais” (grifo do autor) (ROCHA, 1996 p. 3).

Na verdade, de acordo com a literatura existe uma grande dificuldade em definir o real

significado de mito (ELIADE, 1962; ROCHA, 1996; CHAUÍ, 2001) já que existem vários

estudos que apresentam leituras diferentes na forma de entender o mito, seja através da religião,

cultura, história, entre outros. De acordo com esta idéia Kirk (1973, p. 8) afirma que mito “pode

significar lenda, conto”, mas que também pode ter outros significados, isso dependerá da época,

da cultura. O tema é assim também entendido por Rocha (1996, p. 3) que se refere à palavra mito

como uma “[...] constelação, uma gama versificada de idéias”. O mesmo autor acrescenta que “O

mito faz parte daquele conjunto de fenômenos cujo sentido é difuso, pouco nítido, múltiplo.

Serve para significar muitas coisas, representar várias idéias, ser usado em diversos contextos”

(ROCHA, 1996 p. 3).

Pode-se constatar que o mito permeia a vida social do homem, mas e quanto ao universo

empresarial, como o mito pode ser estudado? Na concepção de Enriquez (1997)14

apud Fossá

(2004, p.4) o mito pode ser estudado de várias formas, seja diante da sociedade ou de uma

organização ele é entendido sempre como “o guardião dos valores mais importantes, sendo seu

papel, evidentemente, complementado por vários outros atos simbólicos como rituais,

cerimônias, discursos e símbolos.”

Já Ziemer (1996, p.45) considera que “Da mesma forma que os mitos coletivos orientam a

vida de uma cultura, os mitos organizacionais o fazem para empresas e corporações, atribuindo

14

ENRIQUEZ, Eugéne. A Organização em Análise. Petropólis, Vozes, 1987.

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significado às ações e aos acontecimentos no ambiente de trabalho”. Para Thévenet (1989, p. 90)

“Os mitos estão associados aos símbolos e remetem para os momentos especiais da vida da

empresa”.

Dentro das organizações existem várias oportunidades de se encontrar mitos, já que estas

são compostas por pessoas que trazem as mais diferentes experiências que combinadas às

experiências da própria organização formam um mosaico, criando uma identificação e vínculo

social (COLPO, 2010 p. 7). Nesse contexto Chauí (2001) considera o mito como gerador de

representações da realidade organizacional, fazendo parte das fases da criação histórica da

organização. A autora também defende que, desta forma:

“as ideologias, que necessariamente acompanham o movimento histórico da formação,

alimenta-se das representações produzidas pela fundação, atualizando-as para adequá-las

à nova quadra histórica. É exatamente por isso que, sob novas roupagens, o mito pode

repetir-se indefinidamente. (CHAUÍ, 2001 p. 6)

Colpo (2010) explica que assim como a cultura das sociedades são orientadas pelos mitos

coletivos, também os mitos organizacionais atribuem significados às ações e acontecimentos no

ambiente da organização, o que para a autora representa uma grande parte dos pressupostos

subconscientes e elementos de senso comum que acontecem no contexto organizacional. Assim,

segundo a mesma autora cabe ainda destacar que:

“Estes mitos, muitas vezes, são responsáveis por explicar rotinas e procedimentos dentro

da cultura de uma organização, possibilitando a criação até de uma identidade cultural.

Estes mitos tornam-se elementos simbólicos carregados de significação para os sujeitos

de uma organização. Quanto mais se socializa o mito, entre os diferentes atores sociais,

mais ele se consolida dentro da cultura organizacional”. (COLPO, 2010 p. 8)

Entretanto, Enriquez (1997 apud Colpo, 2010) enfatiza que os mitos podem sofrer um

desgaste, quer na sociedade, quer nas organizações. Isso acontece, segundo o autor, à medida que

eles são repetidos, sendo, portanto necessário haver uma reinvenção constante do mito, fazendo,

com isso que ele se torne um elemento unificador, fazendo com que seu conteúdo mobilize os

afetos das pessoas.

Ainda seguindo o pensamento de Eugène Enriquez:

“a organização não pode viver sem segregar um ou alguns mitos unificadores, sem

instituir ritos de iniciação, de passagem e de execução, sem formar os seus heróis

tutelares (colhidos com freqüência entre os fundadores reais ou os fundadores

imaginários da organização), sem narrar ou inventar uma saga que viverá na memória

coletiva: mitos, ritos, heróis, que têm por função sedimentar a ação dos membros da

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organização, de lhes servir de sistema de legitimação e de dar assim uma significação

preestabelecida às suas práticas e à sua vida”. (ENRIQUEZ, 1997, p. 34 apud FOSSÁ,

2004).

Um dos mitos mais conhecidos dentro das organizações é o “mito da grande família”,

onde se destaca a frequente utilização da imagem da grande família reforçando o clima de

camaradagem e confiança que se pretende, bem como o comprometimento com os objetivos

organizacionais (FLEURY, 1987 p.16). Porém, ainda segundo a autora, ao analisar a família por

uma perspectiva histórica, nota-se o desenvolvimento de relações autoritárias, portanto para a

autora: “O mito da grande família, revela, assim, as duas faces presentes nas relações de trabalho:

a face visível de solidariedade, de cooperação e no outro eixo está a idéia relacionada à

dominação e a submissão”.

E quanto aos profissionais que tenham alguma deficiência, existem manifestações

mitológicas em relação a estas pessoas? Quais são os tipos? Positivos? Negativos? De acordo

com Nambu (2003, p. 17) em um estudo feito para a Secretaria Especial dos Direitos Humanos

da Presidência da República existem vários mitos, em relação ao trabalhador com deficiência,

que são freqüentemente encontrados no imaginário dos empregadores.

Em sua pesquisa a autora encontrou mitos que envolvem as pessoas com deficiência de

forma geral e mitos por tipo de deficiência. No Quadro 3 tem uma pequena síntese dos mitos que

foram identificados no estudo feito por Nambu (2003), o quadro está dividido em duas partes, no

lado esquerdo estão os mitos encontrados durante a investigação e no lado direito a explicação

sobre a realidade encontrada.

Os mitos apresentados no Quadro 3 são generalistas e têm características positivas e

negativas.

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42

Quadro 3 - Mitos sobre as pessoas com deficiência

O que as pessoas imaginam sobre as

pessoas com deficiência...

A realidade...

... chegam atrasadas ao trabalho

com freqüência

A falta de transporte público suficiente e adequado tem contribuído para

que qualquer trabalhador chegue ao trabalho atrasado e cansado. No caso

da pessoa com deficiência, especialmente as com deficiência física, isto

pode se agravar, já que nem todos os municípios possuem veículos

adaptados, nas empresas que servem os cidadãos. Assim, estes aspectos

devem ser analisados, ao se empregar qualquer pessoa.

... são mais produtivas

Todo trabalhador será mais ou menos produtivo, conforme as condições.

... são especiais

Ser especial não é uma característica inerente à pessoa com deficiência.

A palavra “especial” passou a ser associada a pessoas com deficiência,

na década de 80, com o intuito de substituir termos descritivos então

usados, que adquiriram conotação depreciativa. Como o que realmente

conta é a carga valorativa, associada ao termo, o termo especial, ainda

carrega atualmente uma carga de desvalorização e de diminuição da

pessoa com deficiência.

... são incapazes de roubar, de

matar, de mentir.

Qualquer pessoa pode ou não apresentar comportamentos como roubar,

matar, mentir, dependendo de sua história de construção de vida, de

personalidade, de valores éticos e morais.

... são feias e sujas

Quando se fala sobre pessoas com deficiência, a maioria das pessoas as

associa com pessoas “sujas e pedintes”. Isto tem uma explicação muito

clara! Por centenas de anos, as pessoas com deficiência foram mantidas

fechadas em seus lares, segregadas em instituições, ou esmolando nas

ruas, condições determinadas pela prática social da exclusão dessa

população. Poucas eram as oportunidades das pessoas se depararem com

pessoas com deficiência bem sucedidas, “limpas e cheirosas”. Este

quadro está em franca mudança. É interessante observar que, ao

encaminhar um trabalhador com deficiência a uma empresa, é comum

nos depararmos com o espanto dos empregadores com comentários do

tipo “Puxa, como ela é bonita!”, “Como ele se veste bem e é cheiroso!”

Fonte: NAMBU, 2003.

Diante do que foi exposto fica clara a importância de se conhecer este elemento cultural, e

desta forma poder entender como ele é trabalhado na cultura das organizações hoteleiras, tendo

em vista os trabalhadores com deficiência.

Em um estudo feito pela FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) intitulado “A

população com deficiência no Brasil fatos e percepções” resume o cuidado que se deve ter no

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estudo dos mitos: “[...] é necessário tomar cuidado para não subestimar ou superestimar o

desempenho deste colaborador, inventando mitos que, ao invés de contribuir para a inclusão,

acentuam as diferenças e geram novas formas de preconceito e discriminação” (FEBRABAN,

2006 p. 39).

2.1.2.7 Símbolos e Sinais

O mundo é cheio de símbolos, onde as pessoas têm que absorver e entender como

funcionam, para cada coisa, cada ato, cada situação, etc. existem símbolos diferente. O

comportamento simbólico faz parte do nosso cotidiano, e pode ser observado, por exemplo, ao

cumprimentar-se alguém com um aperto de mão simbolizando cordialidade; ou quando os noivos

trocam alianças no altar simbolizando amor e comunhão, ou mesmo quando uma bandeira branca

é hasteada.

Os símbolos se materializam por meio de objetos, atos, formações lingüísticas

(ALVESON, 2010) bem como nos relacionamentos, apresentando diversos significados e que

evocam emoções e impelem pessoas a agirem (TOMEI; BRAUNSTEIN, 1993 p. 15). Nesse

sentido tomemos como exemplo o símbolo da Bandeira Nacional, que é tida pelos países como

símbolo de soberania, e que qualquer ato contra esse símbolo será considerado contra seu país.

Talvez pelo fato do símbolo estar tão presente em nosso dia-a-dia, materializando-se mais

facilmente ante nossos olhos (NETO, 2007) eles sejam, de certo modo, mais fáceis de traduzir.

Para Neto (2007, p. 4) os símbolos são a cristalização de sentidos que, por vezes, alcançam a

condição de coisa material, passível de ser tocada,

No entendimento de Posner (2008, p. 234) os símbolos importam para as pessoas porque a

manifestação de suas atitudes em relação aos símbolos revela aos outros algo sobre seu caráter. O

autor ainda explica que “as pessoas confiam muito nesta informação para decidir realizar ou não

comportamentos cooperativos em todos os domínios de suas vidas” (POSNER, 2008 p. 234)

Os símbolos andam lado a lado com a cultura, e se ajustam conforme suas

especificidades, no caso das empresas não é diferente, principalmente aquelas que trabalham em

contato com outros países. Na visão de opinião de Tomei e Braunstein (1993, p. 15) os símbolos

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“são as maiores manifestações da cultura, pois são referências por si só, enquanto as outras

manifestações são formas de simbolismos”. Para os autores a formação da identidade da

organização acontece utilizando como meio a construção de símbolos. (TOMEI e

BRAUNSTEIN, 1993 p. 16).

Como uma expressão da cultura, nas empresas, os símbolos podem ser expressos através

de vários elementos, podendo ser observados assim que se entra em uma organização, elementos

como a arquitetura, a decoração, as formas de vestir e o comportamento das pessoas perante nós e

os demais funcionários (PARDINI; GONÇALVES; KILIMNIK, 2008 p. 53). Segundo Schein

(2009) esse elemento cultural se encontra no primeiro nível da cultura, que é o dos artefatos

visíveis, considerado pelo autor fácil de observar, porém difícil de ser decifrado, conforme

explicado na seção faz parte da seção, 2.1.3 (Níveis da cultura).

Em se tratando das pessoas com deficiência, a linguagem simbólica torna a vida mais

acessível, seja através das placas de sinalização, linguagem de sinais, linguagem em braile.

Quanto aos sinais, segundo Thévenet (1989), estes estão próximos aos símbolos e

condensam sentido e podem ser expressos através do ato, do gesto, do comportamento, do rito

simbólico, concentrando “um conjunto de significações tidas como importantes”. O autor entende

sinais como: “o conjunto dos meios de que a empresa se serve para transmitir um sentido a si

própria e ao contexto. Não resultam forçosamente da intenção de comunicar sentido, mas

comunicam-no por eles próprios” (THÉVENET, 1989 pag. 89).

Nas organizações os sinais representados pelo uniforme e o selo distintivo que dentro das

empresas carregam o conteúdo positivo da imagem da organização (PARDINI; GONÇALVES;

KILIMNIK, 2008 p. 59). Ainda a título de ilustração, de acordo com Pardini, Gonçalves e

Kilimni, (2008, p.51):

“Os sinais estão presentes arranjos físicos como as características da estrutura física

organizacional, os sinais de identificação para os públicos internos e externos e o modo

de vestir dos funcionários apresentam-se como poderosos indícios culturais da

organização”.

No entendimento de Thévenet (1989) os sinais e os símbolos têm diferenças e também

semelhanças. Quanto as diferenças o autor explica que

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“Os sinais referem-se a tudo aquilo que, no funcionamento quotidiano, pode ter um

sentido que se articule com as lógicas que suportam o funcionamento da empresa; no

que toca os símbolos, o que se procura é a síntese da realidade, que vive num fato, num

rito ou numa historinha” (THÉVENET, 1989 p. 90)

A semelhança dos sinais com os símbolos citada por Thévenet, reside no fato do interesse

dos dois estar na visibilidade, já que eles estão na parte emersa de certo número de valores ou de

lógicas de funcionamento da empresa. É suposto que esta parte emersa resume ou significa o

todo.

2.1.3 Níveis da cultura

Para demonstrar como os elementos culturais podem ser classificados e agrupados em

diferentes níveis Fleury e Sampaio (2002) e Gröschl e Doherty (2000) utilizaram a metáfora das

camadas de uma cebola para explicar os níveis de profundidade da cultura organizacional.

A visão de Fleury e Sampaio (2002) é muito parecida com a de Gröschl e Doherty (2000).

No entendimento dos primeiros autores a metáfora da cebola pode ser utilizada para realizar o

diagnóstico cultural de uma organização. A Figura 5 mostra que na primeira camada, que é a

mais superficial, estão os elementos simbólicos visíveis; já na segunda camada estão as histórias,

os mitos, os heróis e os fundadores; e, no centro da camada mais profunda estão os valores. Os

autores também dizem que atravessando todas as camadas existe uma crista formada pelas

Políticas e Práticas, o que possibilita chegar aos valores da organização.

Figura 5 - O processo de desvendar a cultura de uma organização

Fonte: Fleury e Sampaio (2002)

Valores

Mitos

Comportamento

Visíveis

Am

bien

te

Pro

duto

s

Políticas

e

Práticas

História

s

Heróis

Fundadore

s

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Já para Groeschl e Doherty (2000) na representação da metáfora da cebola (Figura 6), a

primeira camada é a mais superficial, representada pelo comportamento e representa a cultura

explícita. A cultura implícita inclui uma segunda camada mais profunda, que é determinada pelos

valores. O núcleo representa a parte mais profunda da cultura, e é formado pelas suposições

básicas. No caso desses autores aparecem as suposições básicas.

Figura 6 – Metáfora de cebola

Fonte: Groeschl e Doherty (2000)

Estas duas literaturas demonstram a dificuldade de haver um consenso não só de

conceituar os termos da cultura organizacional, mas também de classificá-los.

Em 1980 surge o modelo de cultura organizacional de Edgar Schein, que até hoje ilustra

as mais diversas pesquisas sobre cultura. Cabe ressaltar que no estudo da cultura organizacional

Edgar Schein foi um dos pioneiros e até hoje é o mais ilustre escritor da área, onde todos os

outros pesquisadores da área têm como base os seus ensinamentos, sendo dele o conceito mais

utilizado em pesquisas sobre cultura. Esse conceito, já descrito na seção 2.4.1, é o mais

abrangente sobre cultura organizacional e para Freitas, M. (1991a, p. 7) é o mais rico.

Segundo Fleury a sua proposta é referencial obrigatório para as pesquisas da área

(FLEURY, 2009a P. 20), já Freitas, M. (1991) diz perceber em Schein a preocupação de ir além

dos comportamentos observáveis e dos valore que podem ser justificados conscientemente.

De acordo com o modelo criado por Schein a cultura pode ser analisada em diversos

níveis, que para o autor significa o grau que a cultura pode ser visível para quem observa. No

Suposições

Básicas

Valores

Comportamento

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entendimento do autor esses níveis variam: “de manifestações abertas muito tangíveis que se

pode ver e sentir, às suposições básicas, inconscientes e profundamente inseridas” (SCHEIN,

2009 p.23).

O autor ainda revela que entre estas camadas estão várias crenças, valores, normas e

regras de comportamento, enfatizando que os valores estão abertos a discussão e as pessoas

podem até concordar ou não com eles, o que difere das suposições básicas, que “são tão

assumidas como verdadeiras que quem não as assume é visto como „louco‟ ou „estrangeiro‟ e, é

automaticamente rejeitado.” (grifos do autor).

Os três níveis de referência para as camadas da cultura organizacional são: Os artefatos

visíveis, valores assumidos e as suposições fundamentais básicas que estão descritos na Figura 7

elaborada por Freitas, M. (1991a) apresenta uma síntese do que são os níveis da cultura baseada

no modelo de Schein, a seguir:

Figura 7 - Níveis de cultura e suas interações

Fonte: Freitas, M. (1991)

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Nota-se que com a criação dos níveis da cultura organizacional, Schein fez com que o

entendimento ficasse mais fácil, já que se pode utilizar o pensamento analítico, onde o estudo das

partes é importante para se conhecer o todo.

NÍVEL 1 – ARTEFATOS

O ponto mais importante a ser destacado sobre esse nível da cultura é sua facilidade de

observação e a dificuldade de ser decifrado. Schein explica que em qualquer situação da vida os

artefatos são produzidos e eles estão na superfície e incluem tudo que é visível, como por

exemplo:

Arquitetura de seu ambiente físico; sua linguagem, sua tecnologia e produtos; criações

artísticas, seus rituais e cerimônias, mitos e histórias [...]. (SCHEIN, 2009 P. 24). O autor inclui

nos artefatos os processos organizacionais e o “clima” que para ele “é um artefato dos níveis

culturais mais profundos”

NÍVEL 2 – VALORES

A cultura organizacional é composta de crenças e valores assumidos. O autor explica que

“quando um grupo é criado ou quando enfrenta uma nova tarefa, questão ou problema, a primeira

solução proposta para lidar com ele reflete algumas suposições do próprio indivíduo sobre o que

é certo ou errado, o que funcionará ou não funcionará.” (SCHEIN, 2009 p. 26)

NÍVEL 3: SUPOSIÇÕES BÁSICAS

“Quando a solução de um problema funciona repetidamente, passamos a aceitá-la como

verdadeira” (SCHEIN, 2009 p. 28), o autor explica que se acredita tanto nessa verdade que dentro

do grupo existe pouca variação no comportamento, por este fato as suposições básicas tendem a

não ser confrontadas e, consequentemente, dificilmente são modificadas. Schein também explica

que quando novos grupos se formam seus componentes trazem a aprendizagem cultural do grupo

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anterior, e assim que este novo grupo passar a compartilhar a mesma história, desenvolverá suas

suposições básicas que farão parte desse novo grupo.

Esta divisão da cultura em níveis, criada por Schein, além de possibilitar seu

entendimento de forma mais fácil, ainda dá ao pesquisador a noção do campo em que está

atuando e quais inferências pode-se fazer em relação aos achados. A seção seguinte mostra a

cultura organizacional e sua relação com o departamento de recursos humanos.

2.1.4 Cultura Organizacional e a gestão de Recursos Humanos

De acordo com o exposto nas seções anteriores entende-se que a cultura organizacional é

como se fosse a personalidade de uma pessoa, que existem milhares, milhões, mas que cada uma

tem o seu jeito, a sua cara, o seu cheiro. Pode até haver aquelas que são parecidas, mas

dificilmente se encontrará a que seja tal e qual a outra.

Assim sendo, a literatura considera a cultura de uma organização como o conjunto de

características que permitem distingui-la de qualquer outra, e que determina o tipo de gestão

organizacional que se pratica, incluindo as práticas de gestão de recursos humanos.

Os temas cultura e recursos humanos vêm sendo foco de pesquisas e discussões de

profissionais de várias formações, que tentam em sua maioria explicar a influência que uma tem

sobre a outra. Sobre este assunto, Paiva (2007) acredita que não exista entre a cultura

organizacional e a gestão de recursos humanos uma relação pacífica. O autor explica que:

“Por um lado as práticas de gestão de recursos humanos são consideradas como

expressão da cultura organizacional, enquanto por outro lado é definido que a influência

é recíproca entre a cultura e a gestão de recursos humanos.” (PAIVA, 2007 p. 3).

Entender esta relação é importante a partir do momento que vivemos em um contexto de

mudanças e transformações. Estas transformações, segundo Machado et al (2008, p. 2) geram

“um ambiente complexo, marcado pelos avanços tecnológicos e científicos, mudanças de conceito, de

valores e quebra de paradigmas que norteiam todos os segmentos da sociedade”. Nessa perspectiva,

entrou em cena desde a década de noventa, uma parcela da população que teve por muitos anos seus

direitos de cidadãos mais básicos cerceados.

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O atendimento à Lei 8213/91, que estabeleceu cota empregatícia para as pessoas com

deficiência levou a gestão de RH de muitas empresas se adequarem a esta nova realidade. Neste

momento a cultura organizacional é um elemento balizador que pode recebê-las com muita,

pouca ou nenhuma barreiras restritivas à inserção destas pessoas. Assim sendo, entende-se que

organizações são "caixinhas de surpresas", onde as práticas de gestão de recursos humanos ficam

condicionadas a sua capacidade de adaptação diante da conjuntura que se apresenta.

Isto posto, encerrasse aqui a seção sobre cultura organizacional para dar lugar a seção

seguinte, onde serão conhecidas as práticas de gestão de recursos humanos escolhidas para este

estudo.

2.2 PRÁTICAS DA GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

A cultura influencia as políticas da gestão de recursos humanos e consequentemente suas

práticas. As organizações dependem num grau maior ou menor da atuação das pessoas e de seu

desempenho para obter sucesso (FISCHER, 2002 p. 11). Nesse sentido, cria-se nas organizações

mecanismos que orientarão sua forma de gestão, definindo princípios, estratégias, políticas,

práticas, processos (idem, p. 12).

O momento econômico, o lugar, a área de atuação, entre outros, são fatores que

influenciam na forma que os mecanismos, citados anteriormente, serão definidos pelas empresas.

A definição das práticas de gestão de pessoas é uma delas, já que esta sofre influências tanto

internas quanto externas (FERNANDES; SILVA, 2008 p. 192). Segundo Fleury (2009b, p.116)

“as políticas de recursos humanos, nos textos de administração, são definidos como diretrizes de

ação que orientam o desempenho do trabalhador para atingir os objetivos da empresa”.

As mudanças nas organizações, no ambiente empresarial e na sociedade são profundas e

ocorrem em ritmo cada vez mais acelerado (ALBUQUERQUE, 2002). Por esse motivo, é

imprescindível que as empresas tenham o departamento de Recursos Humanos – RH como uma

área estratégica, com uma atuação mais ampla do que o papel funcional/burocrático que lhe

sempre foi atribuído. (ALBUQUERQUE, 2002)

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Esta visão do RH como um elemento estratégico dependerá de cada organização. Um dos

fatores que fazem do RH uma área estratégica da empresa é a elaboração de políticas de RH que,

na opinião de Fleury (2009b), deve estar vinculada “ao seu planejamento estratégico,

transformando seus objetivos em diretrizes, que por sua vez, são traduzidas em práticas

organizacionais concretas” (FLEURY, 2009b, p.116).

Observando o lado das empresas descobre-se pela literatura, que o momento em que uma

empresa decide abrir postos de trabalho para pessoas com deficiência rompe as barreiras que

tradicionalmente excluem estas mesmas pessoas do processo produtivo.

“A partir daí, três questões devem ser enfrentadas prioritariamente pelas empresas: em

primeiro lugar, as dificuldades de compreensão e informação por parte de empregadores

e empregados; em segundo, a inexperiência das pessoas da empresa em conviver com

pessoas com deficiência; e, em terceiro, a precária educação e profissionalização da

maioria delas” (ETHOS, 2002 p. 21).

No Brasil, desde 1991 com a promulgação da lei de Cotas, as empresas com mais de cem

funcionários se viram na obrigação de contratar pessoas com deficiência, como já foi relatado na

seção anterior. Esse direito de atuar no mercado de trabalho, foi adquirido por meio da legislação

nacional e internacional (TANAKA; MANZINI, 2005).

Lang (2007) descreveu com muita propriedade o significado do trabalho seja para pessoas

com deficiência ou não; ele diz que:

“para que possamos viver melhor, de maneira digna, todos temos de ter um sustento, ou

seja, uma renda, não é diferente com o deficiente que, por vezes, é quem sustenta a

família. Mas para que tal situação ocorra é necessário que haja emprego, condições de

trabalho e preparo para o desempenho de funções (LANG, 2007, p. 305)

Entretanto, são poucos os que chegam a se colocar profissionalmente no mercado de

trabalho. É de senso comum a dificuldade que a PcD têm para conseguir fazer valer seus direitos

de cidadão, mas no caso da inserção no mercado de trabalho a coisa é muito pior. Schwarz e

Haber (2009, p. 215) consideram que ainda existem muitas barreiras a serem vencidas, os autores

explicam que a evolução das contratações de pessoas com deficiência, ainda tímida, decorre do

desconhecimento das empresas sobre a temática e da falta de profissionais com deficiência

capacitados.

Ainda de acordo com os autores esses profissionais ainda esbarram no problema de

acessibilidade estrutural, física, tecnológica, comunicacional e atitudinal de empresas, bem como

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na questão da mobilidade urbana, meios de transporte acessíveis e educação de qualidade para

todos.

Belizário (2009, p. 15) denuncia que entre as empresas existem umas que estão apenas

preocupadas em cumprir a lei e reservam as vagas de níveis hierárquicos inferiores, pior

remuneradas e sem perspectiva de ascensão na carreira para as PcDs; e existem outras que adiam

a contratação de pessoas com deficiência, mesmo correndo o risco de sanções legais, isso se deve

ao fato de seus gestores simplesmente imaginarem que terão de investir muito para ajustar seu

espaço e alterar demais a rotina de trabalho da empresa.

Estas informações podem ser confirmadas pela análise dos dados estatísticos do Censo

2000 (IBGE), que serviu de base para uma pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Sociais da

Fundação Getúlio Vargas em parceria com o Banco do Brasil e divulgada em novembro de 2003,

intitulada: Diversidade – Retratos da Deficiência no Brasil, que possibilitou compreender a

situação das PcDs no Brasil em vários aspectos, entre eles o trabalho.

Este estudo15

aponta que o Brasil possui cerca de 26 milhões de trabalhadores formais

ativos, ou seja, pessoas que trabalham com registro em carteira. Destes, aproximadamente 537

mil apresentam algum tipo de deficiência, ou seja, 2,05% da população com deficiência. Este

estudo também mostra que os setores de atividade com o número mais representativo de pessoas

com deficiência no mercado de trabalho formal são: serviços e a indústria. As participações das

PcDs e do total da população no setor de serviços são bastante parecidas, sendo de 48,39% para

as PcDs e 49,58% para a população total (NERI, 2003 p.2).

Em Belém dados do censo/2000 realizado pelo IBGE. Considerando a população paraense

neste ano cerca de 940.800 pessoas tinham algum tipo de deficiência. Deste total, 491.276,

desenvolviam algum tipo de atividade, portanto, eram consideradas pelo IBGE como ocupadas.

Como já vêm sendo discutido desde o início desse estudo, as pessoas com deficiência têm

o direito de acesso ao mercado de trabalho já garantido por lei, mas e quanto ao processo para

fazê-lo chegar até uma empresa e assumir um cargo? Por quantas e quais etapas ele passará? A

seção seguinte aborda justamente esse caminho que as PcDs têm que percorrer até ser

considerados um trabalhador.

15

Disponível em:http://www.fgv.br/cps/deficiencia_br/PDF/PPD_Sumario_Executivo.pdf

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2.2.1 Recrutamento e Seleção

A empresa hoteleira é uma das poucas empresas que trabalham produtos e serviços, na

maioria das vezes intangíveis (WALKER, 2002; CASTELLI, 1994) ao mesmo tempo em um só

lugar. Tendo que contratar profissionais para as mais variadas funções, das mais variadas

especialidades, são: recepcionistas, telefonistas, caixas, mensageiros, pintores, marceneiros,

garçons, maîtres, cozinheiros, camareiras, faxineiras, e várias outras funções que assumem, ou

não, posições no front office16

. Isso faz com que o gerenciamento dos Recursos Humanos seja

fundamental para o sucesso das organizações do setor (WALKER, 2002 p. 425). O processo de

recrutamento e seleção são ferramentas importantes não só na integração das pessoas nas

empresas, mas também como fator estratégico (LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002;

ZACARELLI; TEIXEIRA, 2008), cultural e político (ZACARELLI; TEIXEIRA, 2008 p.117).

Zacarelli e Teixeira (2008) ainda enfatizam que a escolha das pessoas para participar da

equipe de trabalho de uma empresa deixou de ser um processo isolado de gestão de pessoas. Esse

processo faz parte do dia-a-dia das empresas, que buscam sempre encontrar nos profissionais

recrutados e depois selecionados aqueles que agreguem as condições de diferencial e qualidade

determinadas pela empresa. Gil (2006, p.93) chama esse processo de agregação de pessoas, que

se refere “a todas as atividades realizadas com a finalidade de incluir novas pessoas na empresa”.

Pantzier e Schröder (2010, p. 75, grifo do autor) se referem ao recrutamento como uma

etapa “positiva” do processo de agregar pessoas, pois esta “destina-se a atrair e convidar pessoas

para fazerem parte da organização”.

Vale destacar também que o recrutamento deve estar de acordo com todas as exigências

legais relacionadas ao emprego e observar os códigos de prática recomendados (Mullins, 2004 p.

275). Mullins (2004, p. 275) ainda ressalta que “é importante garantir justiça e tratamento igual a

todos os candidatos”

Nesse sentido, como ficam as PcDs? Quais os cargos mais adequados para serem

assumidos por eles? O processo de recrutamento e seleção deve ser igual ao das outras pessoas?

16

Front Office é composto de setores que ficam em contato direto com os clientes, ele interage com todos os

departamentos do hotel, incluindo: Governança, alimentos e bebidas, eventos e banquetes, controladoria, segurança,

etc.(BARDI, 2010)

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O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) deixou bem claro na sua cartilha: A Inclusão

das Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho (2007, p. 27) que as empresas em um

processo de seleção de PcDs só devem fazer as exigências que estiverem adequadas às

peculiaridades que caracterizam as pessoas com deficiência, caso as empresas não tomem esta

atitude pode acabar inviabilizando a contratação destas pessoas, já que será exigido do candidato

um perfil sem qualquer tipo de restrição. Nesse caso, o MTE adverte que esse tipo de ação:

“pode configurar uma espécie de fraude contra a Lei de Cotas, que foi criada justamente

para abrir o mercado de trabalho para um segmento que não consegue competir em

igualdade de condições com as demais pessoas (art. 36, alínea “c”, da Recomendação nº

168 da OIT, c/c item 4 do Repertório de Recomendações Práticas da OIT: Gestão de

questões relativas à deficiência no local de trabalho)” (MTE, 2007 p. 27).

Diante desta constatação, uma parte da literatura consultada reconhece que há a

necessidade de um melhor planejamento e adequação das práticas de Recrutamento e Seleção

para as PcDs (ALMEIDA, COIMBRA, CARVALHO-FREITAS, 2007a). Outra parte defende

que deve haver uma adaptação tanto no processo como na organização, atendendo, assim, o

paradigma da inclusão (NAMBU, 2003; )

Entretanto, existem autores que discordam e pensam que o processo de recrutamento e

seleção das PcDs devem ser igual ao das outras pessoas “Para a seleção de pessoa portadora de

deficiência, espera-se que as empresas utilizem os mesmos testes aplicados nas pessoas não-

portadoras de deficiência, pois o objetivo é que aquelas concorram nas mesmas condições de

igualdade” (CARREIRA, 1997 p. 19).

O recrutamento é a fase inicial do preenchimento de vagas em aberto e dá subsídios para o

processo de seleção. Caso no recrutamento não existirem candidatos com o potencial para o

preenchimento de uma vaga, consequentemente não haverá a seleção (LIMONGI-FRANÇA;

ARELLANO, 2002 p. 64). O recrutamento pode advir de duas fontes: interna e externa

(LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002; PONTELO; CRUZ, 2006; FERREIRA; FORTUNA;

TACHIZAWA, 2006; ZACCARELLI; TEIXEIRA, 2008).

No caso da fonte interna, se trata de procurar o candidato à vaga dentro da própria

organização; Pimenta (2004, p. 132) em seus estudos apontou que dentro da empresa hoteleira o

recrutamento interno é responsável por cerca de 10% das contratações e que este pode funcionar

como importante motivador dos funcionários. Já no caso da fonte externa o candidato é

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procurado no mercado de trabalho fora da organização. Existem organizações que optam por

fazer um recrutamento misto, onde os candidatos são buscados tanto dentro quanto fora das

organizações (PONTELO e CRUZ, 2006 p. 24)

Para Ferreira, Fortuna e Tachizawa (2006 p.168) o que determinará a escolha da fonte de

recrutamento são as características da mão-de-obra.

Dias (2008) fez uma observação em sua dissertação, sobre o recrutamento interno de

funcionários com deficiência, ela observou que:

“Visto que a Lei de Cotas prevê a admissão de pessoas portadoras de deficiência, seria

incoerente realizar o recrutamento interno, pois se pressupõe que os funcionários que já

estão atuando na empresa e possuem deficiência são constituintes das cotas reservadas

para as PPDS”. (DIAS, 2008 p.60)

Sobre esse assunto, Schwarz e Haber (2009) alertam que devido existir uma

obrigatoriedade de contratação de PcDs este fato jamais deve sobrepujar a dignidade humana,

portanto todo o processo de admissão dos profissionais com deficiência deve ser feito da mesma

forma que os outros profissionais. Os autores enfatizam que esta admissão não deve ser feita:

“às pressas apenas para cumprir a lei. é preciso oferecer cargo ou atividades definidos,

respeitando o profissionalismo dessas pessoas que não querem mais ser objeto de

caridade tampouco permanecer excluídas em “instituições especiais”(SCHWARZ e

HABER, 2009, p. 215)

Um dos pesquisados em um estudo desenvolvido por Serrano e Brunstein (2007) relata

sua indignação aos anúncios de jornais solicitando pessoas com deficiência, pois o que se

contrata é a especialidade do indivíduo e não sua deficiência.

Esse é um relato de indignação muito pertinente, pois todos os dias, nas chamadas de

emprego no rádio, televisão, jornais, agências de empregos, e outros o que se pode constatar é o

recrutamento de pessoas para ocupar vagas para deficientes, sem que seja informado o cargo que

será ocupado. Nesse sentido entende-se que o que deve ser buscado pela empresa é a pessoa e

não a deficiência. As pessoas com deficiências têm o direito de serem respeitadas sejam quais

forem a natureza e a severidade de sua deficiência (MTE, 2007, p. 27).

Sobre o método utilizado, no recrutamento, para se chegar até as pessoas Souto e Garcia

(2009) explicam que isso irá variar de acordo com a empresa e seu porte. Algumas empresas

tentam buscar na concorrência os profissionais com o perfil que elas desejam, outras são mais

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tradicionais e utilizam as recomendações de empregados, propaganda, recrutamento nas escolas,

internet, além de entidades de classe, consultorias de outplacement17

ou replacement18

, agências

de empregos, consultoria e headhunters19

(Souto e Garcia, 2009 p. 49)

Em relação às organizações hoteleiras, no Brasil, de acordo com Pimenta (2004, p. 132)

as formas de recrutamento mais utilizadas são os “anúncios em meios de comunicação de massa

(principalmente jornais) e a propaganda „boca a boca‟ no mercado” (Grifo do autor).

No caso das PcDs as empresas podem buscar vias alternativas para chegar até estas

pessoas na hora do recrutamento. A Presidência da República divulgou em 2003, desenvolveu um

trabalho intitulado “Construindo um mercado de trabalho inclusivo: guia prático para

profissionais de recursos humanos”, este trabalho foi feito direcionado aos profissionais de RH,

onde estes poderiam tirar uma série de dúvidas sobre as PcDs. Um dos itens que consta nesse

trabalho é sobre as fontes de recrutamento, conforme mostrado abaixo:

“Onde encontrar pessoas portadoras de deficiência?

• No Sistema Público de Emprego: em todos os estados, a busca poderá ser feita em um

dos Postos de Atendimento do SINE - Sistema Nacional de Emprego;

• Organizações não governamentais;

• Sites;

• Agências de Emprego.

• Núcleos Regionais de Informações sobre deficiência do Sistema Nacional de

informações sobre deficiência”(NAMBU, 2003 p.31).

Em uma pesquisa sobre a “inclusão de pessoas com necessidades especiais no trabalho em

Curitiba” Araújo e Schmidt (2006) relataram que para o recrutamento de candidatos, as empresas,

em geral, afirmaram procurar:

“os serviços de agências de emprego (56%), incluindo, aí, os serviços do SINE, agência

de empregos ligada ao Governo Federal. Apenas 15% das empresas fizeram referência a

convênios com instituições educacionais para PNE's. Perguntadas sobre a existência de

programas de treinamento ou acompanhamento de PNE's no trabalho, a maioria das

empresas (53%) respondeu possuir esse tipo de programa. As demais não citaram

qualquer ação nesse sentido”

17

Outplacement uma solução profissional elaborada com o objetivo de conduzir com dignidade e respeito os

processos de demissão nas companhias. É um sistema de ganha-ganha, que busca o beneficio de todos os envolvidos. 18

Recolocação profissional, na qual a empresa de consultoria trabalha para recolocar o demitido no mercado de

trabalho Marras (2000) 19

Empresas de consultoria de pessoal especializada em encontrar as pessoas e que são contratadas por outras

empresas para que caçadores de talentos, que atuam somente na busca de profissionais extremamente qualificados ou

difíceis de serem localizados pela sua área de atuação (MARRAS, 2000).

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É interessante citar também o Instituto ETHOS (2002) que considera que uma das

técnicas de recrutamento muito utilizada por empresas que desejam contratar Pessoas Portadoras

de Deficiência é:

“a terceirização do serviço. Algumas organizações e entidades fornecem consultoria

auxiliando e orientando as empresas no processo de recrutamento e seleção. Na maioria

dos casos, essas entidades são o primeiro ponto de contato dessas pessoas com o

mercado de trabalho

Seleção é a escolha do candidato mais adequado para a organização, dentre todos os

recrutados por meio de vários instrumentos de análise, avaliação e comparação dos dados

(LIMONGI-FRANÇA; ARELLANO, 2002 p. 66). Nesse sentido, a escolha de tal candidato,

facilitaria o sucesso de programas que visam o aumento da produtividade de funcionários,

elevando a receita e diminuindo as despesas da organização (SANTOS; FRANCO; MIGUEL,

2003, p. 235).

Já segundo Tomei e Braunstein (1993) é muito importante a seleção de pessoas adequadas

e que reforcem a cultura da empresa como forma de manter e desenvolver a cultura da

organização. Eles também afirmam que a seleção de pessoal pode servir como meio de mudar a

cultura da empresa, trazendo para dentro dela pessoas com as características desejadas.

Fernandes e Silva (2008, p.194) se referem ao processo de seleção de uma Pessoa

Portadora de Deficiência, como um “processo de seleção de uma pessoa normal, é necessária

uma análise satisfatória dos cargos para os quais a empresa pretende contratar, pois é por meio

dela que se fará possível a alocação correta da PPD”.

Diferentemente do recrutamento que Pantzier e Schröder (2010, p. 75) chamam de fase

positiva, por atrair as pessoas, a etapa do processo de seleção os autores chamam de “negativa”

(grifo do autor). Eles explicam que isso se deve ao fato de que nesta fase os candidatos passam

por uma escolha, filtragem e posterior eliminação.

Mullins (2004, p. 276) afirma que antes de iniciar o processo de seleção, os gerentes

deveriam se perguntar: “conheço de fato o cargo a ser preenchido? Sei exatamente que tipo de

profissional estou procurando? Tenho condições de identificar com facilidade o candidato

adequado? A autora ainda enfatiza que “essas questões determinam a importância da análise de

cargos no contexto da abordagem sistemática de recrutamento e seleção”.

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Nesse sentido, se as organizações ao decidirem contratar uma pessoa com deficiência,

independente da obrigatoriedade da lei, entenderem que não terão condições de fazê-lo, existem

no Brasil empresas, ONGs e órgãos do governo que podem dar auxílio às empresas. Em Belém as

empresas podem contar com o SINE (Sistema Nacional do Emprego), a APPD (Associação

Paraenses de Portadores de Deficiência), a AVAPE (Associação para valorização de pessoas com

deficiência), entre outros.

No caso do processo seletivo para as pessoas com deficiência, de acordo com Fernandes e

Silva (2008, p. 193) o primeiro passo, quando uma empresa deseja recrutar e selecionar pessoas,

principalmente quando estas pessoas são portadores de deficiência é:

“analisar e prever alguns fatores como quantas pessoas devem ser contratadas, quais

habilidades necessárias, como e quando devem ser recrutadas, decidir a natureza das

vagas e as qualificações necessárias para preenchê-las. Esse planejamento do emprego

ajudará a identificar o número e o tipo de trabalhadores que serão necessários

(FERNANDES, SILVA,2008 p. 193)

Segundo Mullins (2004) o tipo de deficiência é a variável menos relevante no processo de

seleção. Num estudo feito pela autora ela concluiu que

“todas as empresas pesquisadas consideram que „às vezes‟ o tipo de deficiência pode

interferir na definição de uma contratação. Ainda que o tipo de deficiência não seja um

fator muito presente no processo seletivo, cabe salientar que a eleição de um único tipo

de deficiência pode se caracterizar uma prática discriminatória” (MULLINS, 2004

p.276).

Para se chegar à pessoa ideal para ocupar o cargo, faz-se necessária a aplicação de

algumas técnicas que ajudarão na decisão. Zaccarelli e Teixeira (2008, p. 131) sugerem alguns

critérios a serem utilizados na escolha dos métodos de seleção. Para os autores:

o primeiro critério seria o “talento do selecionador, que, possuiria o domínio e

conhecimento de técnicas, o que agilizaria o processo;

o segundo critério diz respeito ao sigilo do processo seletivo, que de acordo com o

cargo e o número de profissionais da área existentes no mercado, nesse processo deve

ser preservado o sigilo;

o terceiro e último consiste no número de candidatos x tempo a ser gasto x custo critério

que dificilmente que estão sendo selecionadas. (ZACCARELLI; TEIXEIRA, 2008

p.131, grifo nosso)

Os métodos de seleção utilizados pelas empresas variam de acordo com o contexto e a

época (ZACCARELLI; TEIXEIRA, 2008 p. 130), sendo que as principais técnicas utilizadas no

processo de seleção de pessoas são: Entrevistas, testes, técnicas de simulação. Zaccarelli e

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Teixeira (2008), ainda acrescentam a análise de curriculum como sendo a primeira etapa do

processo seletivo, momento em que é feita uma triagem pelos aspectos eliminatórios. Assim

como Limongi-França e Arellano (2002, p.69) destacam a utilização de provas de conhecimento

para determinados cargos, podendo estas provas ser de conhecimentos gerais ou específicos.

Sobre esse assunto Claro e Nickel (2002, p.25) entendem que, todos os instrumentos

utilizados no processo seletivo, sejam eles técnicas, testes ou entrevistas, visam a um mesmo fim:

“predizer qual dos indivíduos terá melhor capacidade de integração e adaptação à organização”.

No que tange as entrevistas, Marras (2000 p. 84) considera esta técnica, como sendo

atualmente, o principal instrumento para a avaliação de candidatos, e aponta os testes como

elementos complementares. Já Pimenta (2004, p.136) afirma que nas entrevistas procura-se

“identificar o preparo profissional e técnico do candidato”, a autora complementa dizendo que as

entrevistas podem ser “do tipo painel, quando vários entrevistadores perguntam, ou do tipo

padronizada com as mesmas questões para todos os candidatos”.

Nesse sentido, os profissionais que tenham algum tipo de deficiência já entram numa

seleção em desvantagem, visto que, de acordo com Ribas (2000):

“é fato que muitas pessoas portadoras de deficiência não estão qualificadas

profissionalmente para exercer tarefas profissionais específicas, até porque não têm

escolaridade formal, não passaram por nenhum programa de educação profissional,

nunca trabalharam. Todavia, também é fato que elas precisam trabalhar para terem

independência econômica e, portanto, melhor qualidade de vida”.

Em uma pesquisa feita por Araújo e Schmidt (2006) a escolarização foi apontada como o

grande empecilho para a maioria das empresas à contratação de PcDs, já que a exigência mínima

declarada pelas empresas participantes foi de Ensino Fundamental completo. Nesta pesquisa os

autores também constataram que “de modo geral, os dados apresentados mostraram que a grande

maioria das empresas entrevistadas não consegue cumprir a Lei de Cotas, ainda que,

predominantemente, afirmem que contratam PNE‟s exatamente por causa da pressão da referida

Lei” (ARAÚJO E SCHMIDT,2006 p.250).

Quanto à utilização de testes Marras (2000) afirma que eles variam de acordo com os

critérios da empresa e a determinação do entrevistador. Os principais tipos de testes utilizados

são:

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a) teste prático – adequado à avaliação de algum conhecimento específico;

b) teste situacional – para avaliação do candidato perante situações passíveis de ocorrerem na

rotina de trabalho;

c) teste psicológico – que incluem os testes de aptidões e de personalidade. O primeiro se

destinam a identificar tendências de capacidade do indivíduo para determinadas tarefas. O

segundo procura identificar o perfil comportamental do indivíduo;

d) teste grafológico – que é realizado mediante a análise da escrita individual, visando à

identificação de traços de personalidade.

Em se tratando de pessoas com deficiência, a OIT (Organização Internacional do

Trabalho) recomenda que ao realizar entrevistas e testes com candidatos com deficiência os

instrumentos utilizados devem “estar em formato acessível para as diferentes deficiências, como,

por exemplo, a presença de intérprete de sinais, quando o candidato for surdo, teste em Braile

para os cegos, etc” (MTE, 2007).

Algumas empresas também utilizam em seus processos de seleção Técnicas de

Simulação, chamadas por Limongi-França e Arellano (2002) de Técnicas Vivencias. Segundo os

autores, estas técnicas “exigem respostas a situações de forma que os candidatos interajam e

participem ativamente delas”. Os autores ainda enfatizam que “essas técnicas necessitam de

estruturação anterior e devem ser aplicadas por profissionais qualificados, capazes de controlar a

situação e evitar conflitos ou descontrole emocional de algum participante” e por fim as classifica

em três tipos: Provas situacionais, dinâmica de grupo e Psicodrama (LIMONGI-FRANÇA;

ARELLANO, 2002 p. 70)

Quando o processo seletivo chega ao fim, a empresa terá um laudo cuja síntese deverá

permitir a decisão de contratação ou não do indivíduo escolhido. Desta forma, esse processo é

definido por Schirato (2000, p. 87-88) como um “rito de iniciação, uma vez que conduz o

candidato à filosofia da organização, a seus valores e crenças”.

A partir da finalização desse processo o indivíduo, que até então era apenas um candidato

à vaga, se vê aceito por um grupo e, por conseguinte, se sente parte da organização. Neste

sentido, Schirato (2000) descreve de forma enfática o que representa esse momento para o

indivíduo: “O vínculo trabalhista que aí se realiza é, no imaginário do trabalhador, um vínculo

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existencial, visceral, essencial à sobrevivência, muito mais significativo do que o é na realidade,

cujo desenlace pode tornar-se fatal” (SCHIRATO,2000, p. 89).

A etapa seguinte é a de socialização do indivíduo selecionado à empresa, momento em

que são feitas as apresentações básicas, que compreendem a rotina de trabalho, a identificação

dos colegas e do ambiente de trabalho.

2.2.2 Socialização

Após uma maratona de entrevista, testes, exames é chegada a hora de assumir o

compromisso acordado com a empresa durante o processo de recrutamento e seleção. A partir

daí, começa outro processo na vida do candidato que virou membro de equipe e da empresa, esse

momento é chamado pelos especialistas de integração ou socialização funcional, que é

reconhecida como uma extensão natural do processo de recrutamento e seleção que começa na

entrevista e cobre os primeiros meses de trabalho. Para Souto e Garcia (2009, p. 51) esse período

de integração do indivíduo na empresa pode ser penoso, devido às incertezas e dificuldades, mas,

também pode propiciar um intenso e rico aprendizado.

Mullins (2004 p. 279) explica que o programa de integração “é projetado para ajudar os

novos funcionários da empresa a familiarizarem-se com o ambiente de trabalho, a adaptarem-se

com facilidade a suas novas funções e estabelecer boas relações profissionais com os membros

mais antigos”. Para a autora que no que se refere à empresa hoteleira, o treinamento de integração

deve “tornar evidente a natureza multicultural do ambiente de trabalho, destacando a importância

de todos atuarem de forma integrada e harmônica” (MULLINS, 2004 p. 280).

Pantzier e Schröder (2010, p. 76) chamam a socialização de processo de “aplicar pessoas

que para eles consiste em encaixá-las” na engrenagem organizacional. Eles explicam que existe

um grande engano no caso das empresas que pensam que na socialização de novos funcionários

basta que o superior hierárquico daquela pessoa faça uma breve apresentação deste aos quatro

cantos da empresa e aos demais colaboradores, imaginando que assim estará fazendo uma

integração.

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Os mesmos autores, ainda enfatizam que existem várias formas de fazer esta socialização

algumas delas com saídas bem criativas, a seguir serão apresentadas quatro destas saídas:

1 – Figura do tutor, padrinho ou anjo – trata-se de uma pessoa que é designada para

acompanhar o novo colaborador nas primeiras semanas, até que ele esteja naturalmente

integrado aos demais funcionários;

2 – Hobby do novo funcionário – trata-se de integrar o novo funcionário trabalhando seu

hobby para aproximá-lo dos demais, por exemplo, se o novo funcionário gosta de

futebol pode ser marcado um jogo para depois do expediente, e depois do jogo um bate-

papo, o que fará a pessoa se sentir mais a vontade;

3 – Vincular a integração a um evento que inclua alimentação - comida e bebida são

grandes fatores de integração entre as pessoas;

4 – Integração fora do ambiente da empresa – onde os vínculos de hierarquia ficam

menos presentes e as pessoas passam a se sentir mais próximas. (PANTZIER e

SCHRÖDER, 2010, p. 77)

Por outro lado para Van Maanen (2009, p.45, grifo do autor), a socialização

organizacional é uma forma de “processamento de pessoas”, uma vez que as experiências de

aprendizagem do indivíduo são estruturadas por outros indivíduos. Para esse autor, a socialização

se dá também pela mudança de função ou de atividade e não só pela entrada do indivíduo na

organização.

Na visão de Borges e Albuquerque (2004, p.332) citado por Souto e Garcia (2009, p.51)

“a socialização implica sempre certo nível de conformismo”, isso porque, no entendimento dos

autores as pessoas são inseridas em um contexto de normas e costumes que foram

antecipadamente formulados por outras pessoas. O mais interessante desta visão é que os autores

consideram o indivíduo como influenciado, num primeiro momento onde ele não sabe como

proceder, porém, com o passar do tempo e num outro contexto, ele agirá também como

influenciador, uma vez que suas ações após o conhecimento e o domínio destas condições

influenciarão outros novos empregados.

Esta mesma visão foi discutida anteriormente por Caldas (1999, p.218), de acordo com o

autor: “a conformidade do indivíduo tende a aumentar quanto mais sequencial for a tática de

socialização da organização”. Caldas também explica que “O indivíduo também tem interesse em

que o processo de socialização transcorra da forma menos dolorosa possível e, para acelerar sua

aceitação, busca informações que reduzam suas incertezas e dificuldades”.

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Complementando a idéia de Caldas (1999), Borges e Albuquerque (2004) esclarecem que

“essas informações são colhidas pela observação do ambiente, das pessoas mais antigas e, ainda,

pelas conversas e especulações possíveis com o seu agente de socialização”.

Voltando a Van Maanen, deve-se destacar seu estudo intitulado “Processando as pessoas

– Estratégias de socialização organizacional” onde o autor faz uma crítica para aquelas empresas

que utilizam estratégias diferentes e divergentes no mesmo ambiente organizacional. Van

Maanen faz uma metáfora interessante sobre esta situação, onde ele diz: “[...] semelhante às

variações do molde de um escultor, certas formas de socialização organizacional produzem

resultados notavelmente diferentes” (VAN MAANEN, 2009 p. 45).

Para o autor estas estratégias de socialização divergem dependendo do nível hierárquico,

do cargo, da experiência na empresa (caso de antigos funcionários que foram promovidos), se a

pessoa é recém contratada, etc. Nesse caso, estas estratégias podem representar precedentes

assumidos como certos, estabelecidos no passado de uma organização.

Coube a Thévenet (1989 p. 47) mostrar outro lado do processo de integração de um novo

funcionário, que é a influência que a cultura organizacional exerce sobre o indivíduo. Thévenet

(1989) ainda relata que é no decorrer dos primeiros dias ou das principais semanas de trabalho

que a empresa lhe transmite o que crê serem as mensagens fundamentais.

O valor da socialização em prol da cultura organizacional é revelada por Robbins (2005,

p.382) quando o autor a destaca como um dos três pilares da manutenção da cultura

organizacional, em conjunto com o processo de seleção e os estilos de atuação dos dirigentes.

Numa visão ainda mais ampliada Carvalho-Freitas (2010) entende por socialização

organizacional:

“o processo de aprendizagem de valores, crenças e formas de concepção do mundo

próprio de uma determinada cultura organizacional. Esse processo pode ser identificado

à aquisição de um ETHOS organizacional, tácito, não necessariamente expresso em

palavras, que oferece ao agente as condições necessárias para discriminar como deve se

portar e atuar, qual o grau de tolerância da organização para com as diferenças e

divergências, que expectativas profissionais podem alimentar, que questões podem ser

explicitadas, quando, como e a quem se dirigir, o que deve ser valorizado e o que deve

ser esquecido”.

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Ainda sobre a influência da cultura no processo de socialização, Souto e Garcia (2009)

explicam que “Quando indivíduos são inseridos em novas culturas, como é o caso dos recém

contratados, elas podem parecer incompreensíveis para estes”. Os autores também explicam que,

nesta fase, pode existir a possibilidade que haja rejeição por parte de profissionais com grande

potencial se eles não apresentarem o comportamento desejado ou aprovado pelos representantes

da empresa, mesmo que os encarregados pelo recrutamento, seleção e socialização procurem ser

imparciais em suas avaliações (SOUTO; GARCIA, 2009 p. 43).

Sobre esse assunto, Shinyashiki (2002, p.175) relata que quando os novos empregados

entram na organização vivenciam um choque de realidade ou surpresa, em especial quando seus

pressupostos existentes em relação aos eventos apresentados não combinam com os que vigoram

no ambiente. Como resultado, os novos empregados, para reduzir a incerteza ou a ansiedade que

permeiam o processo de entrada, podem ser forçados a reavaliar seus pressupostos

Diante do exposto, pergunta-se: como se dá a socialização das PcDs nas empresas? As

empresas hoteleiras acompanham a tendência das demais organizações? Esse processo acontece,

para as PcDs, diferentemente dos demais funcionários, conforme descreveu Van Maanen? Nesse

sentido Gil (2002) alerta que

“[...] é necessário assegurar as condições de interação das pessoas com deficiência com

os demais funcionários da empresa e com todos os parceiros e clientes com os quais lhes

caiba manter relacionamento. Não se trata, portanto, somente de contratar pessoas com

deficiência, mas também de oferecer as possibilidades para que possam desenvolver seus

talentos e permanecer na empresa, atendendo aos critérios de desempenho previamente

estabelecidos” (GIL, 2002 p.9).

2.2.3 Treinamento e Desenvolvimento

“O tempo não pára [...]” (CAZUZA, 1989)20

, o mundo não pára, a tecnologia não pára, o

conhecimento não pára, enfim, as coisas estão avançando muito depressa, a informação corre o

mundo em frações de segundos e as empresas devem se preparar para estas e outras mudanças.

Nesse contexto, as organizações buscam investir em treinamento e desenvolvimento para os seus

colaboradores.

20

O Tempo Não Pára foi o quarto álbum solo do cantor brasileiro de rock Cazuza, sendo o último registro ao vivo do

cantor. Disponível em: ttp://pt.wikipedia.org/wiki/O_Tempo_N%C3%A3o_P%C3%A1ra_%28%C3%A1lbum%29.

Acesso em: 09.10.2010

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É importante frisar que a conquista do sucesso para qualquer organização, está

especialmente ligado ao desempenho do elemento humano (MULLINS, 2004, TACHIZAWA,

2004). No caso da empresa hoteleira esta condição se faz presente a todo o momento, já que esse

tipo de empresa lida diariamente com pessoas de vários locais do mundo, com culturas muito

variadas, e com necessidades diversas, tendo os funcionários de diversos níveis que estar

preparados para enfrentar as situações mais inusitadas em uma empresa onde um dia nunca é

igual ao outro.

Nesse sentido, Naves e Coleta (2004 p. 97) chamam a atenção para o fato de que a

prestação de serviços engloba um alto grau de envolvimento humano, onde existe uma relação de

dependência do cliente para com o desempenho de cada colaborador no contexto da organização.

Os autores ainda defendem que são as pessoas que fazem a diferença, pela atenção que

propiciam, pelo atendimento cortês e eficaz, pelo esforço em atender além das expectativas, a

medida que trabalham no sentido de superá-las (NAVES e COLETA, (2004 p. 97).

Desta forma, parece inquestionável a relevância que as áreas de treinamento e

desenvolvimento (T&D) têm adquirido sobre as demais funções de gestão de pessoas (EBOLI,

2002 p. 185). Nesse sentido Pimenta (2004, p. 138) esclarece que esta relevância está atrelada ao

fato da empresa se tornar competitiva, o que para a autora já justifica o investimento em T&D.

Tachizawa (2004) defende que o processo de Treinamento e Desenvolvimento (T&D)

deva ser permanente e que envolva todas as áreas da empresa, sob a coordenação de Recursos

Humanos. O autor também afirma que esse processo:

“Deve considerar não só os funcionários recentemente admitidos ou promovidos, mas

também os que já estão no exercício da função. Deve ser utilizado, por ocasião da

introdução de novas rotinas, sistemas ou procedimentos e também para os já

implantados” (TACHIZAWA, 2004, p. 219).

Sobre o treinamento, Mullins (2004, p. 282) afirma que o objetivo do treinamento é

aumentar o conhecimento e as habilidades, desenvolvendo atitudes, por outro lado, o mesmo

autor defende que o treinamento também é a base para o desenvolvimento individual e também

para sucessão gerencial [...]. Bergamini (1980, p. 39) emprega o termo treinamento “como

preparo específico para o bom desempenho de várias tarefas que compõem os diferentes cargos”

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Já Ratto (2008 p. 265) defende que o treinamento é um dos muitos recursos utilizados no

processo de desenvolvimento, o autor ainda complementa dizendo que o treinamento visa ao

“aperfeiçoamento do desempenho funcional, ao aumento da produtividade e ao aperfeiçoamento

das relações interpessoais”.

No caso da atividade turística, é fato que para esta se desenvolver se faz necessário altos

níveis de qualidade e produtividade em seus recursos humanos, para isso, são necessárias

iniciativas que envolvam treinamento, pois este pode ser um fator chave para o desenvolvimento

pessoal e aumento nos padrões de qualidade que compreende as organizações turísticas

(RODRIGUES et al. 2005). Na percepção de Oliveira e Gueiros (2004), o treinamento deve ser

permanente, já que este aprimora o desempenho pessoal elevando o nível de competitividade da

empresa, portanto este deve estar de acordo com as estratégias organizacionais.

No que se refere a desenvolvimento, (Ratto 2008, p. 265) também explica que, nesse caso,

são trabalhados aspectos como “a integração do funcionário com a empresa e com seus

companheiros de trabalho, a flexibilidade e abertura para mudanças, o trabalho em equipe, a

qualificação para o exercício de cargos de chefe e o desenvolvimento de aptidões de liderança”.

É possível dizer que o treinamento tende a ter uma perspectiva microscópica e de curto

prazo, enquanto no desenvolvimento organizacional a perspectiva é de longo prazo. (PIMENTA,

2004 p. 143). Na Figura 8 também se pode ter uma leitura de que o treinamento é um dos

aspectos do desenvolvimento de pessoal e que os dois (treinamento e desenvolvimento de

pessoal) são aspectos de um planejamento maior que é o desenvolvimento organizacional.

Figura 8 - Posicionamento do Treinamento e Desenvolvimento

Fonte: Pimenta, 2004.

Desenvolvimento

Organizacional

Desenvolvimento de Pessoal

Treinamento

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Em relação às PcDs, como elas são envolvidas em todo esse contexto? Que tipo de

políticas as empresas têm de T&D para as pessoas que tenham algum tipo de deficiência ou

mesmo alguma limitação? No entendimento de Fonseca (2001 p. 155):

“O direito à profissionalização assume, aqui, papel imprescindível de socialização do

portador de deficiência, eis que suas limitações para o trabalho se constituem em

barreiras, tão somente, instrumentais, mesmo que seja ele portador de deficiência física,

mental, ou sensorial. Todas elas são superáveis, desde que se rompam os preconceitos

atávicos, herdados, talvez, das concepções antigas dos povos primitivos, de que o

portador de deficiência é um „pecador punido por Deus‟, que deve ser segregado.”

Uma vez que for efetivada a contratação, caberá à organização oportunizar às PcDs as

mesmas condições de treinamento e desenvolvimento, respeitando suas limitações, que os demais

funcionários. Sassaki (2003b, p. 69) sugere que sejam realizadas reuniões e seminários internos

de sensibilização para, com isso desenvolver habilidades de lidar com a questão da deficiência. O

autor sugere também que as empresas incluam os profissionais com deficiência em seus planos

de promoção na carreira de, oportunizando a eles igualdade de condições em relação aos outros

funcionários.

No que se refere à contratação, desenvolvimento e manutenção de colaboradores com

deficiência, Nascimento, Damasceno e Assis (2008, p.5) identificaram três posições básicas das

empresas, como representado na Figura 9:

Figura 9 - Três posições básicas das empresas

Fonte: Nascimento; Damasceno e Assis (2008)

hesitantes, que são a maioria, caracterizada mais pelas dúvidas que possuem sobre o tema do que

pelas suas convicções;

os partidários do tratamento igualitário de pessoas deficientes e não deficientes

os adeptos da inserção das pessoas com deficiência

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Diante de tudo que já foi explanado até aqui, e principalmente pela existência de barreiras

atitudinais: preconceitos, estigmas e estereótipos sobre pessoas com deficiência, fica difícil

acreditar que as mesmas empresas que se sentem obrigadas a fazer contratações de PcDs por

conta da Lei de Cotas aceitem fazer investimentos em treinamento e desenvolvimento.

Entretanto, esta visão deverá ser submetida à pesquisa e só por ela se chegar a um resultado. Na

seção seguinte será abordado o tema diversidade nas organizações, onde serão explorados: sua

conceituação, elementos e níveis.

2.3 DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

Igualdade: esse é um princípio que muitas pessoas buscam em vários campos de sua

existência, o que no Brasil foi garantido constitucionalmente pelo princípio da igualdade, que por

sua vez se ancora nos princípios universais dos direitos humanos. Mas, até que ponto somos

iguais; já que é próprio da natureza como um todo sermos diferentes?

O ser humano é diverso em vários aspectos e a convivência com a diversidade faz parte de

nosso dia-a-dia, acabando por se tornar pauta de estudos em muitos segmentos. Fleury (2000, p.

19) atribui à nossa História o fato de no Brasil termos determinados padrões culturais que,

segundo a autora, foram se desenvolvendo no país, como resultado da formação de uma

população culturalmente diversificada e miscigenada pelos casamentos interraciais. Por esse fato,

emergiu uma sociedade contraditória. A autora explica que:

“Os brasileiros valorizam sua origem diversificada, incluindo as raízes africanas,

presentes na música, na alimentação, no sincretismo religioso; gostam de se imaginar

como uma sociedade sem preconceitos de raça ou cor. Mas, por outro lado, é uma

sociedade estratificada, em que o acesso às oportunidades educacionais e às posições de

prestígio no mercado de trabalho é definido pelas origens econômica e racial”

(FLEURY, 2000, p. 19).

Gênero, raça, origem, etnia, língua, religião, idade, experiência de vida, grau de instrução,

estado civil, deficiência física, e muitos outros são os aspectos mais citados pela literatura que

trata do assunto diversidade (THOMAS; ELY, 1996; FLEURY, 2000; HANASHIRO, 2008

TAKAGI; GRÖSCHL, 2007; VERGARA; IRIGARAY, 2007; PEREIRA; HANASHIRO, 2008)

Segundo Fleury (2000), há muitos aspectos a serem considerados quando o assunto é

diversidade, onde se destacam grupos diferentes de pessoas e o assunto pode ser tratado de

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diferentes perspectivas, para a autora a diversidade pode ser estudada “no nível da sociedade, no

nível organizacional e no nível do grupo ou indivíduo” (FLEURY, 2000 p. 20).

Nesse sentido, entende-se diversidade como uma grande paleta de cores onde cada uma tem suas

singularidades e características próprias, podendo ser misturadas e formar novas cores ou serem

exploradas dentro de suas nuances (Figura 10), nesse último caso seria a diversidade da

diversidade.

Figura 10 - Paleta da Diversidade

Fonte: Elaborada pela autora

Levada para o mundo organizacional, a diversidade da força de trabalho pode ser estudada

como um todo ou em apenas um dos seus aspectos, e dentro de cada aspecto podem se abrir mais

“n” possibilidades de estudos. Como é o caso do tema escolhido para esta pesquisa: Pessoas com

deficiência, que pode ser estudado como um todo ou por tipo de deficiência, ou ainda separando-

se em seus aspectos diversos, como por exemplo: gênero, idade, classe social, etc.

Nos últimos anos, a diversidade vem se caracterizando como um tema relevante dos

estudos organizacionais (THOMAS; ELY, 1996; TAKAGI; GRÖSCHL, 2007; PEREIRA;

HANASHIRO, 2008). Nos Estados Unidos a diversidade é um tema recorrente de debates,

estudos e práticas gerenciais, estendendo-se para dentro das empresas, que criam cargos

específicos para tratar da diversidade. Já no Brasil, esta questão ainda não consta da pauta de

assuntos estratégicos das organizações (HANASHIRO, 2008, p. 57).

Religião Escolaridade

Religião

Etnia

Idade

PcD

Idioma

Gênero

Idioma

Renda

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Cabe destacar que, ainda, segundo Hanashiro (2008) a diversidade, por ser considerada

altamente complexa e multifacetada não possui conceitos prontos. Na opinião da autora a

diversidade “refere-se a características humanas que fazem as pessoas diferentes umas das

outras” (HANASHIRO, 2008 p.58). Em seguida a autora ainda diz que as fontes de diferenças

individuais são complexas, mas podem geralmente ser agrupadas em duas dimensões distintas: a

primária e a secundária ver Figura 11.

Figura 11 – Dimensões da diversidade

Fonte: Hanashiro, 2008

Vale a pena dedicar um pouco de atenção à dimensão primária e destacar o fato da autora

incluir nela apenas as características que são biologicamente determinadas, já que entende-se que

é aí que se enquadram as pessoas com deficiência, que tanto podem nascer com deficiência como

adquiri-la ao longo da vida.

A diversidade é um assunto presente, também, nos trabalhos dos Professores David A.

Thomas e Robin J. Ely, da Universidade de Harvard (EUA). Em um de seus artigos, os autores

oferecem uma explicação do por que os esforços em prol da diversidade não estão cumprindo a

sua promessa e apresentam um novo paradigma para a compreensão. Em seus estudos, eles

identificaram, que a atitude das empresas em relação à diversidade poderia ser nivelada e

demonstrada por paradigmas. A Figura 12 mostra cada um desses paradigmas:

DIMENSÃO PRIMÁRIA

Diz respeito às característica sobre as quais uma pessoa tem pouco ou nenhum controle, ou seja, essas características são biologicamente determinadas, como: raça, gênero, idade, habilidades, qualidades físicas e orientação sexual e alguns atributos físicos como família e sociedade na qual as pessoas nasceram.

DIMENSÃO SECUNDÁRIA

Inclui características que a pessoa pode adotar, abandonar ou modificar durante sua vida por meio de escolhas conscientes e esforços deliberados. São elas: localização geográfica, experiência de trabalho, renda, estado civil, experiência militar, crenças políticas e religiosas, entre outras .

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Figura 12 - Paradigmas da gestão da diversidade

Fonte: Thomas e Ely, 1996

A diversidade deve ser entendida como a variedade de perspectivas e abordagens que os

membros de grupos de diferentes identidades trazem para o trabalho, com a diversidade as

pessoas acabam levando para as organizações diferentes, importantes e competitivas

contribuições (THOMAS; ELY, 1996 p. 4).

Em outro estudo, no ano de 2001, os mesmos autores fizeram uma ponte entre a

diversidade e a cultura, e mostraram que a diversidade “assume muitas formas e seu impacto

depende em parte de que tipo de diversidade está sendo examinada”. Além disso, a pesquisa de

Thomas e Ely sugeriu que as formas como a diversidade de grupos de trabalho se apresentam

dependerá de vários outros aspectos do trabalho desse grupo e da organização da qual ele faz

parte. (THOMAS e ELY, 2001 p. 291)

Já Hanashiro (2008) entende que o estudo da diversidade tem duas dimensões: uma

primária e outra secundária. Neste estudo, a dimensão primária tem como aspecto estudado a

pessoa com deficiência, que apesar do autor não ter citado este aspecto como tal, entende-se que

se enquadre nesta dimensão pelo fato das pessoas terem pouco ou nenhum controle sobre ele; e

na dimensão secundária será estudada a força de trabalho, assunto que será tratado na próxima

seção.

•Dá início ao processo de contratação de colaboradores representativos da diversidade demográfica local, promovendo trabalho e emprego para todas as pessoas.

NÍVEL 1

Paradigma de Assimilação

• Estão aquelas empresas que, além da garantia da representação demográfica e promoção do direito ao trabalho, começam a reconhecer as diferenças entre as pessoas e a atribuir valor positivo a essas diferenças.

NÍVEL 2

Paradigma da Diversificação

•Transcende os paradigmas da assimilação e da diversificação, promovendo oportunidades iguais e valorizando as diferenças culturais.

NÍVEL 3

Paradigma da Integração Organizacional

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2.3.1 Diversidade da força de trabalho e Pessoas com Deficiência

O ambiente de trabalho está cada vez mais diversificado, muita coisa mudou nas empresas

e na sociedade: as pessoas, a sociedade, o ambiente, a tecnologia, a gestão, entre outros. Nesse

contexto, Mor-Barak (2005) diz que “a sociedade homogênea tornou-se heterogênea e esta

tendência é irreversível”, Nesse sentido, a autora é taxativa ao dizer que:

“Os problemas de gestão da força de trabalho de hoje em dia não derivam da

heterogeneidade da força de trabalho em si, mas da incapacidade infeliz de gestores das

empresas a compreender plenamente a sua dinâmica, despojar-se de seus preconceitos e

criativamente libertar o potencial embutido em uma força de trabalho multicultural”

(MOR-BARAK, 2005, p. 2)

A questão da diversidade, com destaque para sua gestão nos locais de trabalho, é um tema

relativamente recente nos estudos organizacionais (THOMAS; ELY, 1996; JONES, 1997; MOR-

BARAK, 2005) principalmente no que se refere à inserção e gestão do trabalho de pessoas com

deficiência (JONES, 1997). Nesse sentido, Jones (1997, p. 58) enfatiza que esse tema “no

contexto das organizações empresariais é ainda muito recente e controverso a população de

pessoas com deficiência, que é um grupo tão diverso como a população em geral”.

Jones (1997) ainda destaca que grande parte da investigação das questões de diversidade

acabam escolhendo falar sobre as mulheres, etnia e outras minorias e visivelmente exclui da

discussão as pessoas com deficiência. O autor completa explicando que:

“Isso melhorou um pouco desde a passagem do ADA. Conforme descrito no presente

documento, muitas das mesmas dinâmicas em organizações relacionadas com questões

de discriminação de outros grupos minoritários se aplicam também às pessoas com

deficiência. Os futuros debates das „minorias‟ (grifo do autor) e da diversidade nas

organizações devem incluir pessoas com deficiência” (JONES, 1997 p.71).

Apesar do estudo da diversidade ser, como já foi dito, um fenômeno recente, Mor-Barak

(2005, p.2) garante que o estudo da diversidade da força de trabalho não é um fenômeno

transitório, a autora afirma que esta “é a realidade de hoje, e está aqui para ficar”.

O respeito à diversidade terá conseqüências positivas para as pessoas com deficiência na

medida em que as corporações assumirem o compromisso de trazer para o seu interior a

valorização das diferenças (THOMAS e ELY, 2001). O tema é assim também entendido por

Bahia e Schommer (2010), que vêem no debate sobre inserção de PcDs e diversidade no trabalho

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uma intima ligação com a discussão nos ambientes empresariais, políticos e acadêmicos, relativo

à responsabilidade social empresarial (RSE).

Para esses autores esta tendência “tem como fruto as pressões sociais e exigências legais,

acompanhadas da ascensão do discurso da sustentabilidade no meio empresarial, muitas empresas

passam a integrar questões sociais e ambientais à gestão de seus negócios, entre elas a

diversidade no trabalho” (BAHIA; SCHOMMER 2010).

Entretanto, esta questão não é tão simples assim, pelo contrário a promoção da

diversidade e a inserção profissional de pessoas com deficiência são desafios complexos que

exigem a articulação da sociedade como um todo (BAHIA; SANTOS, 2009).

No que concerne ao mundo empresarial, um dos primeiros passos seria, segundo Keil et al

(2007, p. 8), a empresa reconhecer semelhanças e diferenças relevantes “no seu seio e no seu

ambiente”. A questão seguinte é saber como gerir tudo isto. Os autores complementam

explicando que “a „sensibilidade‟ às diferenças é necessária, mas só por si não basta para obter

resultados positivos” (grifo do autor).

O respeito à diversidade é uma questão que ainda será muito discutida. Para Correr (2002)

“[...] existe a necessidade de se construir uma sociedade para todos, onde a diversidade fosse

respeitada e as pessoas com alguma espécie de desvantagem deveriam receber suporte de forma a

garantir uma participação mais igualitária”. Sobre esta diversidade Aranha (2003) complementou

dizendo que:

[...] Sabe-se ilusória a expectativa de que a PcD se assemelha a não deficiente, já que a

diversidade é uma das principais características da humanidade, e que assim, não é

possível, aos homens, o ser igual. Além disso ser diferente não pode ser razão para que

se decrete a menor valia de uma pessoa, enquanto ser humano e ser social. (ARANHA,

2003 p.14)

A literatura mostra que a sociedade brasileira está se esforçando para construir um

contexto que reconheça, respeite e acolha com dignidade a diversidade que a constitui. Este

processo é complexo e demorado. Pois, de acordo com a FEBRABAN (2006) implica na

mudança do pensar social, das atitudes sociais e na inserção de adaptações objetivas que atendam

as necessidades específicas e peculiares de todos.

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74

Com a finalidade de compreender melhor os aspectos mais intrínsecos sobre as pessoas

com deficiência, buscou-se reunir, na seção seguinte, algumas informações consideradas

essenciais para o estudo em questão.

2.4 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Durante anos a sociedade excluiu as PcDs do convívio social. Ribas (2000) relata que a

imagem cultural de quem portava uma deficiência era quase que tão somente a da incapacidade

para o exercício de uma profissão. O autor ainda reforça que: “Coerente com esta imagem os

dirigentes das instituições filantrópicas da época procuravam o que entendiam ser o melhor: a

guarida, o abrigo, a proteção, o asilo”. Esta exclusão se reflete até hoje em diversos setores da

sociedade (ARANHA, 2001; COSTILLA; NERI; CARVALHO, 2002; FEBRABAN, 2006;

CRISTINA; RESENDE, 2006)

Apesar disso, foram diversas as conquistas em defesa das PcDs nos últimos anos. Estas

conquistas aconteceram de forma muito lenta e no pensamento de Brumer; Pavei e Mocelin

(2004, p. 302) se iniciou “no bojo do processo de formação de movimentos sociais em prol de

novos direitos, intensificados no pós-2ª Guerra Mundial, que as pessoas portadoras de

deficiências passam a ser reconhecidas também como sujeitos de direitos”. Nesse contexto,

Cristina e Resende (2006) chamam a atenção da sociedade dizendo que:

“Em muitos aspectos a vida do portador de deficiência, não é diferente dos demais,

possui momentos de alegria e conquistas, em outras palavras, bons e maus momentos

como qualquer ser humano, se diferenciam sim, em uma particularidade, são vitimas do

preconceito, de discriminação, principalmente no mercado de trabalho”.

Esse pensamento foi completado por Brumer; Pavei e Mocelin (2004, p. 302) que em sua

obra citam o Programa de Ação Mundial para Pessoas Deficientes, da ONU – Organização das

Nações Unidas (1982) cujo texto fala o seguinte:

“a experiência tem demonstrado que, em grande medida, é o meio que determina o efeito

de uma deficiência ou de uma incapacidade sobre a vida cotidiana da pessoa. A pessoa

vê-se relegada à invalidez quando lhe são negadas as oportunidades de que dispõe, em

geral, a comunidade, e que são necessárias aos aspectos fundamentais da vida, inclusive

a vida familiar, a educação, o trabalho, a habitação, a segurança econômica e pessoal, a

participação em grupos sociais e políticos, as atividades religiosas, os relacionamentos

afetivos e sexuais, o acesso às instalações públicas, a liberdade de movimentação e o

estilo geral da vida diária”.

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75

Desta forma, percebe-se que a ONU passa a ter uma perspectiva diferente das PcDs,

considerando-as então cidadãs possuidoras de direitos e obrigações, participantes e construtoras

da sociedade. Esse foi um marco na vida destas pessoas, pois a partir daí surgiram novas leis

internacionais que motivaram os países a também produzirem suas próprias leis que garantissem

às PcDs simplesmente o mesmo tratamento dispensado à todas as pessoas na sociedade.

Outro marco é a Convenção 159/83 da OIT organização da qual o Brasil faz parte, que

orienta os países-membros a formular e aplicar políticas igualitárias para que as PcDs tenham a

possibilidade de inclusão na sociedade e no mercado de trabalho, com a garantia de um emprego

adequado. Em seu texto a Convenção diz: “Permitir que as pessoas portadoras de deficiência

consigam e mantenham um emprego conveniente, progridam profissionalmente e tenham

garantida a sua inserção ou reinserção na sociedade”.

A OIT também determina que “PcDs desfrutem com eqüidade das oportunidades de

acesso, conquistem e desenvolvam o seu trabalho, o qual, sempre que possível, deve

corresponder à sua própria escolha e trazer qualidade de vida sustentável” (FEBRABAN, 2006).

A ONU em 2006 aprovou a Convenção sobre os direitos das PcDs, com o propósito de

promover, proteger e assegurar o exercício pleno eqüitativo de todos os direitos humanos e

liberdades fundamentais por todas as PcDs e promover o respeito pela sua dignidade inerente.

Vale lembrar que a inclusão das PcDs no mercado de trabalho não deve ser confundido

com ações sociais de responsabilidade social, mas é sim uma questão de ética empresarial fazer

valer um direito que foi conquistado após anos de luta, contra o preconceito e a exclusão.

Disponibilizar trabalho à estas pessoas não é caridade, mas sim respeitar o principio básico da

igualdade perante a sociedade.

A seguir serão apresentados os conceitos utilizados para se referir às pessoas com

deficiência, bem como a tipologia definida pela legislação brasileira para enquadramento das

pessoas podendo, desta forma, fazer valer seus direitos.

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2.4.1 Aspectos conceituais das deficiências

Durante muitos anos as PcDs foram chamadas de aleijadas; defeituosas; incapacitadas;

inválidas; excepcionais; deficientes (SASSAKI, 2003a ; COSTILLA; NERI; CARVALHO),

todos esses termos eram utilizados com freqüência até a década de 80. Romeu Sassaki (2003a)

conta que foi a partir de 1981, por influência do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, que

se começou a escrever e falar pela primeira vez a expressão pessoa deficiente. O autor ainda

acrescenta que a grande novidade na época foi a utilização da palavra pessoa, fazendo com que o

vocábulo deficiente passasse fazer a função de adjetivo; ele conta que no início, houve reações de

surpresa e espanto diante da palavra pessoa: “Puxa, os deficientes são pessoas?” (SASSAKI,

2003a p. 160)

Ainda segundo Sassaki (2003a) a partir da década de 1990 depois de pessoas deficientes

foram surgindo outros termos tais como: pessoas portadoras de deficiência; pessoas com

necessidades especiais e pessoas especiais; e mais recentemente, passaram a ser denominadas de

pessoas com deficiências, que é utilizado até os dias de hoje.

O termo utilizado na legislação brasileira sobre PcDs e em boa parte da literatura, é o

termo portador, o que é muito questionado, havendo concordâncias de que ele é impróprio

(ROSA; ANDRÉ; CABRAL 2003; SASSAKI, 2003a). Rosa, André e Cabral (2003) explica que

a deficiência não pode ser vista como um objeto que se carrega durante certo tempo e depois é

descartado como um sapato velho. É válido ressaltar que uma pessoa com deficiência pode portar

vários objetos (bengala, cadeira de rodas, aparelho auditivo, etc), mas ele não porta sua

deficiência. Esta é inerente à sua pessoa, é indissociável dela.

Coerente com esta idéia Sassaki (2003a) explica que no Brasil, o uso do termo portador de

deficiência (e suas flexões no feminino e no plural) tornou-se bastante popular, acentuadamente

entre 1986 e 1996, ocasião em que as PcDs viram que elas não portam deficiência; que a

deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos, como

por exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva (SASSAKI, 2003a).

Ainda segundo o mesmo autor o termo preferido passou a ser PcD, este termo foi

aprovado:

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“após debate mundial, na metade da década de 90, os termos „Pessoas com Deficiência‟

e „PcD‟ que permanece até os dias de hoje e que são utilizados no texto da Convenção

Internacional de Proteção e Promoção dos Direitos e da Dignidade das PcDs, em fase

final de elaboração pelo Comitê Especial da ONU” (SASSAKI, 2003, grifos do autor).

De acordo com Carvalho-Freitas (2009) entende-se por deficiência “a alteração completa

ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento das

funções física, auditiva ou visual”. Ainda segundo a mesmo autor em função de “contingências

históricas, sociais e espaciais, esta alteração poderá resultar em perda da autonomia para a pessoa,

trazer problemas de discriminação social e dificultar a inserção social das PcDs”.

De acordo com a OIT (2004) as PcDs não formam um grupo homogêneo, o que inclui

características próprias para cada caso. Ainda de acordo com a OIT, as deficiências podem ser:

“física, auditiva, visual, mental ou intelectual. A deficiência pode ser de nascença

(congênita) ou pode ter sido adquirida na infância, na adolescência ou mais tarde,

durante o período de educação posterior ou no emprego. A deficiência pode ter impacto

reduzido sobre a capacidade de trabalho de seu portador ou pouco interferir em sua

interação com o meio social; ou poderá ter impacto significativo, exigindo considerável

apoio e assistência”.

Antes de abordar a conceituação dos diferentes tipos de deficiências previstos na

legislação brasileira, faz-se necessário entender outros dois termos utilizados pela OMS. Em

1980, a Classificação Internacional de Impedimentos, Deficiência e Incapacidade21

(CIDI),

desenvolvida pela OMS, fez uma clara distinção entre os termos, os quais passaram a ser

utilizados em diversas áreas, como a reabilitação. No Quadro 4 tem-se a descrição do que é esta

classificação apresentada pela OMS:

21

A definição de incapacidade utilizada foi questionada por ser demasiadamente médica e centrada no indivíduo

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Quadro 4 - Classificação OMS impedimento, deficiência e incapacidade

TIPOS DEFICIÊNCIA CARACTERIZAÇÃO

IMPEDIMENTO

Alguma perda ou anormalidade das funções ou da estrutura anatômica,

fisiológica ou psicológica do corpo humano.

DEFICIÊNCIA

Alguma restrição ou perda, resultante do impedimento, para desenvolver

habilidades consideradas normais para o ser humano.

INCAPACIDADE

Uma desvantagem individual, resultante do impedimento ou da deficiência, que

limita ou impede o cumprimento ou desempenho de um papel social,

dependendo da idade, sexo e fatores sociais e culturais.

Fonte: OMS, 2004

Toda discussão acerca desta conceituação de deficiência é muito importante, já que é por

meio desta definição que se fazem os levantamentos estatísticos e preceitos legais são

estabelecidos. O Brasil utiliza o conceito de deficiência que consta na Classificação Internacional

de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde - CIF, recomendado pela OMS. Conforme esse

conceito, o IBGE divulgou em 2002 os resultados do Censo realizado em 2000, onde se pôde

afirmar que 14,5% da população brasileira apresenta alguma deficiência física, mental, ou

dificuldade para enxergar, ouvir ou locomover-se.

A CIF tem por objetivo geral proporcionar uma linguagem unificada e padronizada como

um sistema de descrição da saúde e de estados relacionados à saúde. Ela define os componentes

da saúde e alguns componentes do bem-estar relacionados à saúde (tais como educação e

trabalho). A CIF pertence à família das classificações internacionais desenvolvida pela OMS para

aplicação em vários aspectos da saúde. As classificações internacionais da OMS fornecem um

sistema para a codificação de uma ampla gama de informações sobre saúde (diagnóstico,

funcionalidade e incapacidade, razões para o contato com os serviços de saúde) e utiliza uma

linguagem comum padronizada que permite a comunicação sobre saúde e assistência médica em

todo o mundo entre várias disciplinas e ciências (OMS, 2004).

Na CIF consta que para compreender e explicar a incapacidade e a funcionalidade foram

propostos vários modelos conceituais. Esses modelos podem ser expressos numa dialética de

“modelo médico” versus “modelo social”. A CIF explica que:

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“O modelo médico considera a incapacidade como um problema da pessoa, causado

diretamente pela doença, trauma ou outro problema de saúde, que requer assistência

médica sob a forma de tratamento individual por profissionais. Os cuidados em relação à

incapacidade têm por objetivo a cura ou a adaptação do indivíduo e mudança de

comportamento. A assistência médica é considerada como a questão principal e, a nível

político, a principal resposta é a modificação ou reforma da política de saúde. O modelo

social de incapacidade, por sua vez, considera a questão principalmente como um

problema criado pela sociedade e, basicamente, como uma questão de integração plena

do indivíduo na sociedade. A incapacidade não é um atributo de um indivíduo, mas sim

um conjunto complexo de condições, muitas das quais criadas pelo ambiente social.

(OMS, 2004).

A CIF baseia-se numa integração desses dois modelos opostos. Para se obter a integração

das várias perspectivas de funcionalidade é utilizada uma abordagem "biopsicossocial". Assim, a

CIF tenta chegar a uma síntese que ofereça uma visão coerente das diferentes perspectivas de

saúde: biológica, individual e social.

Reitera-se que a definição do que vem a ser deficiência e suas características é muito

importante, principalmente para os governos que necessitam das definições para estabelecer leis e

políticas públicas direcionadas às PcDs; sendo importantes também para os pesquisadores que

dependem destas informações para que seus trabalhos possam ser encaminhados na direção certa.

Alicia Bercovich22

que foi Coordenadora do Comitê do Censo Demográfico 2000, da Diretoria de

Pesquisas (DPE), diz que “foi muito importante ter mudado e ampliado a definição de

deficiência”. E, sobre a utilização da terminologia utilizada no Censo/2000 ela assegura que:

“Nós nos baseamos nas recomendações internacionais, tanto da ONU quanto da Organização

Mundial de Saúde, que acaba de divulgar uma classificação de incapacidade”.

2.4.1.1 Tipos de Deficiências

Para efeito da lei, no Brasil, será considerada pessoa portadora de deficiência23

, aquela

que se enquadrar nas categorias estabelecidas nos termos do artigo 5º do§ 1º do Decreto nº 5.296

de 2 de dezembro de 2004, que considera pessoa com deficiência aquela que possui limitação ou

incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas tipificações especificadas pelo

citado Decreto. No Quadro 5 constam os tipos de deficiência mencionados no Decreto, quais

sejam: Deficiência Física, Deficiência Auditiva, Deficiência Visual, Deficiência Mental e

22

Disponível em: www.ibge.gov.br-censo-revista7. Acesso: 03.10.2010 23

Termo utilizado pela legislação brasileira direcionada às pessoas com deficiência.

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Deficiência Múltipla e suas devidas caracterizações, onde encontram-se especificadas uma a uma

das deficiências e o grau de gravidade de cada uma delas. Pela descrição das deficiências pode-se

notar que este decreto buscou incluir deficiências mais severas, inserindo também o nanismo.

Quadro 5 - Tipos de Deficiência

TIPO DE DEFICIÊNCIA CARACTERIZAÇÃO

I - Deficiência Física Alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,

acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma

de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,

triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de

membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou

adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades

para o desempenho de funções;

II - Deficiência Auditiva Perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais,

aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e

3.000Hz;

III - Deficiência Visual Na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a

melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e

0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a

somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor

que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;

IV - Deficiência Mental: Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com

manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais

áreas de habilidades adaptativas, tais como:

1. Comunicação;

2. Cuidado pessoal;

3. Habilidades sociais;

4. Utilização dos recursos da comunidade;

5. Saúde e segurança;

6. Habilidades acadêmicas;

7. Lazer; e

8. Trabalho;

V - Deficiência Múltipla Associação de duas ou mais deficiências.

Fonte: Decreto nº 5.296 de 2 de dezembro de 2004

Este decreto menciona também aquelas pessoas com mobilidade reduzida24

, e que, não se

enquadrando no conceito de pessoa portadora de deficiência, e que tenha, por qualquer motivo,

24

O Decreto 5.296/04 no Art. 5ºCap. II § 2º explica em que casos se aplica as pessoas com mobilidade reduzida: às

pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos, gestantes, lactantes e pessoas com criança de colo.

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dificuldade de movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da

mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção.

Como o Decreto 5.296/04 veio depois do Censo do IBGE/200025

, O conceito utilizado,

incluindo diversos níveis de limitação de atividades, permite distinguir os graus de incapacidade

de enxergar, ouvir e locomover-se, além de caracterizar a população portadora de deficiência e

seus aspectos socioeconômicos (IBGE, 2003).

De acordo com o IBGE esta conceituação “é compatível com as recomendações

internacionais, especialmente com a International Classification of Functioning, Disabilityand

Health - ICF 2001” (IBGE, 2003), que aqui no Brasil é chamada de CIF. Nesse contexto,

Mbogoni e Synneborn (2003) explicam que a utilização da classificação internacional como

marco teórico, seus conceitos e terminologias são recomendada pelas Nações Unidas, para

fornecer a comparabilidade internacional das estatísticas produzidas, sempre que atendam às

necessidades de informação de cada país.

Nesse sentido, a adoção desses conceitos adotados internacionalmente, se reveste de

grande importância, já que eles dão um bom grau de confiabilidade e comparabilidade

(TEIXEIRA; OLIVEIRA, 2003 p. 20) aos dados que estejam sendo gerados em outras

localidades, respeitando as especificidades de cada realidade.

No decorrer desse trabalho serão apresentadas algumas figuras que foram construídas

tendo como base nos dados divulgados pelo Censo/2000 que dava conta que, no Brasil, perto de

25 milhões de pessoas declararam ter pelo menos um tipo de deficiência. A seguir a Figura 13

mostra a quantidade da população residente por tipo de deficiência:

25

O Censo/IBGE/2000 utiliza o termo “ deficiente” . Porém, a partir da aprovação da Convenção da ONU, como

Emenda Constitucional, em 9 de Julho de 2008, sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência a terminologia correta

é pessoa com deficiência em substituição a “deficiente”.

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Figura 13 – População por tipo de deficiência

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Ao se observar a Figura 13 pode-se verificar que a soma das deficiências não corresponde

ao número de deficientes26

indicado pelo IBGE no Censo 2000, porém a explicação para esta

diferença é bem simples, uma vez que as pessoas incluídas em mais de um tipo de deficiência

foram contadas apenas uma vez, portanto, o número de pessoas que apresentam mais de uma

deficiência é de quase 10 milhões.

A seguir tem-se a representação gráfica (Figura 14) da distribuição percentual na

população residente por tipo de deficiência27

, por meio do gráfico pode-se notar que, no Brasil, a

maior parte da população que possui alguma deficiência tem deficiência visual (48%) e a menor

parte tem deficiência física (4,1%).

26

No Censo/2000 do IBGE foi utilizado o termo deficiente, o que foi mantido nesse trabalho. 27

Algumas pessoas declararam possuir mais de um tipo de deficiência. Por isto, quando somadas as ocorrências de

deficiências, o número é maior do que 24,6 milhões, que representa o número de pessoas, não de ocorrências de

deficiência.

= 34.580.722

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Figura 14– Percentual população residente por tipo de deficiência

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000.

Os resultados do Censo apontaram que das 16,6 milhões de pessoas que têm algum grau

deficiência visual, quase 150 mil se declararam incapazes de enxergar, e, entre os 5,7 milhões de

brasileiros com algum grau de deficiência auditiva, um pouco menos de 170 mil não ouvem

(IBGE, 2000).

Os Estados que têm os maiores índices (acima de 16%) são: Paraíba, Ceará, Piauí, Pará,

Pernambuco, Maranhão e Rio Grande do Norte e os estados que têm os menores índices (até

12%) são: Amapá, Roraima e São Paulo. Os dois extremos são os Estados de São Paulo e da

Paraíba, onde São Paulo apresenta o menor índice (11,2 %) de pessoas com deficiência e a

Paraíba, possui o maior índice (18,76 %), o equivalente a 700 mil pessoas apresentam algum tipo

de deficiência. A média nacional é de 14%.(IBGE/2000).

Levando em conta as grandes regiões do Brasil, a região Nordeste é a que tem a maior

prevalência de PcDs com 16,8% da população, em seguida vêm as regiões: Norte (14,7%), Sul

(14,35%), Centro-Oeste (13,9%) e Sudeste (13,1%). Os dados do Censo 2000 mostram, também,

que os homens predominam no caso de deficiência mental, física (especialmente no caso de falta

de membro ou parte dele) e auditiva. O resultado é compatível com o tipo de atividade

desenvolvida pelos homens e com o risco de acidentes de diversas causas. Já a predominância das

mulheres com dificuldades motoras (incapacidade de caminhar ou subir escadas) ou visuais é

48%

16,7% 4,1%

22,9%

8,3%

Número de Pessoas com Deficiência em Porcentagem

Def. Visual

Def. Auditiva

Def. Física

Def. Motora

Def. Mental

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coerente com a composição por sexo da população idosa, com o predomínio de mulheres a partir

dos 60 anos.

A próxima sub-seção traz informações e dados sobre as principais causas das deficiências

citadas pela literatura da área.

2.4.1.2 Causas da Deficiência

No mundo existem diferentes causas para que uma pessoa nasça ou adquira uma

deficiência. No Brasil, de acordo com Sansiviero e Dias (2005, p. 442), “o número elevado de

pessoas com algum tipo de deficiência, não tem a mesma causa dos Estados Unidos e nem dos

países da Europa”. Para as autoras a diferença é que, nestes países, aconteceram guerras28

que

ocasionaram o aumento do número de pessoas com deficiência de locomoção, de audição e de

visão e, como consequência disso o Estado teve que adotar uma posição de agente protetor.

Como já foi visto anteriormente, segundo a OMS estima-se que 10% da população dos

países desenvolvidos são constituídos por pessoas com algum tipo de deficiência. Já nos países

em desenvolvimento o percentual cresce para 12% a 15%, e deste universo 20% seriam

portadores de deficiência física. No Brasil, de acordo com o Censo/2000, a média de pessoas com

deficiência fica em torno de 15%.

Baseando-se nesses dados Sansiviero e Dias (2005, p. 442) fizeram um estudo sobre

hospitalidade e acessibilidade e destacaram que o índice percentual das deficiências (ver Quadro

6) e suas causas no mundo são:

28

A ocorrência de duas guerras mundiais fez aumentar muito o número de pessoas com deficiência e tornou-se um

importante marco histórico para o estudo da proteção das pessoas portadoras de deficiência (Sansiviero e Dias, 2004)

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Quadro 6 - Principais causas de deficiência no mundo

• 21% das deficiências têm origem em doenças crônico-degenerativas;

• 18% têm causas externas, como acidentes de trânsito, de trabalho e pela violência de uma

forma geral;

• 16,8 % ocorrem por falta de assistência à mulher durante a gravidez;

• 16,6% das deficiências são motivadas por transtornos congênitos e pré-natais, isto é,

ocorridos antes ou imediatamente após o parto;

• 11% resultam de desnutrição e outras causas ligadas às condições de miséria;

• 10% das deficiências são conseqüência do uso de álcool e de drogas.

• 6,6% acontecem em função de alterações psicológicas.

Fonte: Sansiviero e Dias, 2005

Este quadro demonstra que na maioria dos casos a deficiência é adquirida no decorrer da

vida do homem ficando bem a frente das causas congênitas. Podendo a deficiência acontecer

antes, durante ou depois do nascimento, em qualquer hora e de várias formas, dentre elas as que

têm os maiores percentuais são as doenças crônico-degenerativas e as causas externas.

De acordo com Humberto Lippo (2004) todos os dias, a cada minuto, várias pessoas estão

sendo acrescentados ao número de pessoas cujas deficiências resultam do “fracasso na prevenção

das doenças evitáveis e do fracasso no tratamento das condições tratáveis”. Em sua análise o

autor diz que os governos mundiais deveriam investir em estratégias de prevenção, que segundo

ele são possibilidades práticas e economicamente viáveis. Para o autor, o necessário é:

“a vontade política, principalmente de governos, para acabarmos com esta afronta à

humanidade. Todas as nações devem ter programas contínuos e de âmbito nacional para

reduzir ou prevenir qualquer risco que possa causar impedimento, deficiência ou

incapacidade, bem como programas de intervenção precoce para crianças e adultos que

se tornarem deficientes.” (HUMBERTO LIPPO, 2004 p. 252)

A FEBRABAN – Federação Brasileira de Bancos, instituição renomada e reconhecida por

seus trabalhos abordando o assunto pessoas com deficiência, em 2006, fez um estudo sobre a

população com deficiência no Brasil, e segundo este estudo o Brasil é apontado como “um dos

campeões em acidentes de trânsito e acidentes de trabalho, exibindo, ainda, índices crescentes de

violência urbana. Este estudo também mostra que as causas das deficiências são diversas. Esta

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abrangência é particularmente acentuada no caso do Brasil, que é afetado por dois grupos de

causas principais, um decorrente e característico dos países em desenvolvimento e, outro, típico

das metrópoles do primeiro mundo (FEBRABAN, 2006, p. 13).

Nesse contexto, Sansiviero e Dias (2005) entendem que no Brasil, que é um país marcado

por grandes contrastes e desigualdades sociais possuir algum tipo de deficiência significa:

“estar mais distante de receber um atendimento de saúde com qualidade, uma educação

de bom nível e uma digna oportunidade de trabalho no mercado formal. m grande

desafio e inúmeros obstáculos devem ser enfrentados ainda pela pessoa com deficiência,

quando busca atividades relacionadas ao lazer e ao turismo” (SANSIVIERO E DIAS

2005, p. 441)

Mas e quanto à acessibilidade? Como esse assunto é tratado no Brasil? Quais os principais

instrumentos legais existentes que garantem esse direito as PcDs? Na próxima seção será

abordado esse assunto dando as respostas para estas perguntas.

2.4.2 Acessibilidade no ambiente de trabalho

Acessibilidade é um tema que não pode ser desvinculado quando o assunto é PcD. O tema

vem sendo muito discutido tanto em nível nacional (NORMANN, 2004; PAGLIUCA et al. 2007)

quanto internacional (BLANK e SLIPP, 1994; CHEMERS et al, 1995;LEVINSON, 1998; MOR-

BARAK, 2005) entrando na pauta de discussão de vários países, dando as PcDs a possibilidade

de acesso e a utilização de ambientes e equipamentos com igualdade, autonomia e segurança.

Até porque existe uma determinação da Convenção 159 da OIT segundo a qual os países

membros deverão fazer com que: “pessoas com deficiência desfrutem com eqüidade das

oportunidades de acesso, conquistem e desenvolvam o seu trabalho, o qual, sempre que possível,

deve corresponder à sua própria escolha e trazer qualidade de vida sustentável”

De acordo com o Instituto ETHOS (2002, p.14) existe um crescimento perceptível da

presença das pessoas com deficiência nas ruas e espaços públicos, e acrescenta que elas ganham

mais autonomia a partir do momento que exista um maior número de equipamentos urbanos

acessíveis. Gil (2002) que coordenou a edição da cartilha “O que as Empresas podem fazer pela

Inclusão das Pessoas com Deficiência” do Instituto ETHOS mostra que:

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“Existem avanços em termos de acesso à educação e progressos nas comunicações, na

tecnologia e na informática, que têm ampliado as condições de participação das pessoas

com deficiência no mundo do trabalho e na vida social. Afinal, grande parte dessas

pessoas tem limitações que podem ser superadas num ambiente adequado” (GIL, 2002 p.

14).

A Lei nº. 10.098/2000 que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção

da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida define em

seu art. 2º acessibilidade como:

“a possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos

espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes e dos

sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com

mobilidade reduzida”.

Seguindo os mesmos preceitos da citada lei Prado (1997, p.1) afirma que o objetivo da

acessibilidade é “permitir um ganho de autonomia e de mobilidade a um número maior de

pessoas, até mesmo àquelas que tenham reduzido a sua mobilidade ou dificuldade em se

comunicar, para que usufruam os espaços com mais segurança, confiança e comodidade”.

Muitas foram as vitórias quando é levado em consideração o meio físico, o que possibilita

a construção de uma sociedade inclusiva que assimile progressivamente e idéia de integração

social e espacial de todas as pessoas independente de suas diferenças (NORMANN, 2004 p. 28).

Godoy et al (2000, p. 15) defende que a acessibilidade traz consigo a conquista por espaços sem

barreiras arquitetônicas, onde hoje o moderno conceito de acessibilidade envolve não apenas o

ambiente físico, como é o caso das edificações e dos transportes, mas também o acesso aos meios

de comunicação (rádio, televisão) entre outros.

Mas, e quando a acessibilidade estiver direcionada as PcDs no ambiente laboral? Já que é

importante que as PcDs se sintam acolhidas também no local de trabalho. Dias (2008, p. 48)

enfatiza que uma empresa “ao admitir em seu quadro funcional pessoas com deficiência, as

empresas têm obrigação em proporcionar a acessibilidade a estes indivíduos” a autora diz

também que “é necessário evitar constrangimentos e facilitar sua estada nas dependências da

empresa, barreiras arquitetônicas devem ser rompidas”.

Oliveira (2009) também é enfático quando diz que adaptação da estrutura física é uma das

questões que a organizações deve pensar quando se contrata uma PcD, já que elas precisam criar

ambientes acessíveis ao seu deslocamento.

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Em geral, as empresas precisam fazer algumas adaptações para receber as PcDs são

necessárias. Adaptações físicas como: instalações de rampas, de banheiros adaptados para

cadeiras de rodas, de sinais sonoros e instruções em Braille para deficientes visuais (ICEP

BRASIL29

, 2007). Entretanto, entende-se que só a adaptação física não é suficiente para que a

bandeira da acessibilidade seja erguida, pois existem outras adaptações que também devem ser

feitas.

Neste sentido, Goldschmidt (2006) em seu artigo “Os desafios da inclusão de deficientes

no mercado de trabalho” afirma que “as maiores adaptações estão relacionadas a questões

comportamentais”, a autora ainda complementa dizendo que: “a verdade é que não sabemos lidar

com as diferenças, não tivemos oportunidades, na infância, de conviver com PcDs e, por tudo

isso, temos uma enorme resistência a esta idéia” (GOLDSCHMIDT, 2006). Ela complementa seu

pensamento indicando pequenas ações de treinamento e sensibilização para poder resolver esse

problema.

Por esta razão, Quintão (2005 p.) defende que embora as pessoas se sintam incluídas,

muitas vezes a exclusão pode estar inserida nas relações sociais. Esta falta de acessibilidade nas

relações pessoais é chamada por alguns autores de atitudinal (Schwarz e Haber, 2009; ONU;

Pires, Bonfim e Bianchi, 2007), que é considerado pela literatura como sendo outro fator gerador

de sentimentos de exclusão.

No entendimento de Lima e Tavares (2007) as barreiras atitudinais podem estar baseadas

em preconceitos explícitos ou a eles dar origem, podendo aparecer em nossa linguagem, tanto

quanto em nossas ações ou omissões. Para os autores “as barreiras atitudinais nem sempre são

intencionais ou percebidas e o maior problema dessas barreiras está em não as removermos,

assim que são detectadas”.

Nos Estados Unidos, onde cerca de 43 milhões de pessoas têm deficiência, representando

20% da população norte-americana, desde 1990 com o American Disabilities Act (ADA)30

começou a dar incentivo financeiro para aquelas empresas que promovessem a acessibilidade na

29

Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de Pessoas com Deficiência do Brasil. Disponível em:

http://www.icpcultural.com.br/portal/control/noticia_detalhe.php?not_id=68

30 Disponível em: www.usdoj.gov/crt/ada/pubs/ada.txt

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contratação de pessoas com deficiência. Esse incentivo chega até as empresas pelo Disabled

Access Credit (DAC), onde metade das despesas com adaptações no ambiente de trabalho são

ressarcidas pelo Estado até o limite de US$ 5.000 (cinco mil dólares) por ano. Esses gastos

podem ser feitos com: eliminação de barreiras físicas, barreiras de comunicação, adaptações com

equipamentos, etc.

A acessibilidade nos abre as portas para a próxima seção que aborda, principalmente, a

legislação que protege a inserção das PcDs no mercado de trabalho.

2.4.3 Legislação de apoio às Pessoas com Deficiência

As pessoas com deficiência, historicamente, tiveram que vencer muitas batalhas até

chegar ao patamar onde hoje se encontram. Preconceitos, descaso, desinteresse, segregação,

isolamento eram os principais inimigos destas pessoas que até hoje lutam para ter seus direitos

garantidos como qualquer cidadão, buscando acesso à: educação, saúde, lazer, trabalho, entre

outros. Consoante com esse princípio, Lippo (2004, p. 235) enfatiza que:

“os direitos da pessoa com deficiência são direitos humanos. As pessoas com deficiência

são titulares de todo o conjunto de direitos civis, culturais, econômicos, políticos e

sociais consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, em igualdade com

todas as demais pessoas. A proteção igualitária de todos, incluindo os que têm uma

deficiência, e a não discriminação são os fundamentos nos quais se basearam os

instrumentos internacionais de direitos humanos”.

A luta para conseguir uma legislação que validasse os direitos das pessoas com

deficiência existe a mais de vinte anos, os ativistas desses direitos tentavam conseguir a

autorização da Assembléia Geral da ONU para levar em frente o processo de elaboração de uma

Convenção com características específicas que atendesse estas pessoas. Já existiam declarações

como a do deficiente mental de 1971 e a de pessoa deficiente de 1975, que não tiveram a eficácia

de alterar a conduta dos estados e da sociedade. Coube ao México, em 2001, apresentar a ONU,

uma nova versão de texto que iniciou o caminho para a Convenção tão sonhada quanto

necessária, sendo concretizada em 13 de dezembro de 2006 com a nova versão da Convenção

sobre os direitos das pessoas com deficiência. O Brasil assinou esta Convenção em abril de 2007.

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No Brasil, as lutas dos diversos movimentos sociais em prol das PcDs, começaram a

acontecer há menos de três décadas. Pinheiro (1997, p. 89) considera que nesse período avanços

significativos foram obtidos, entretanto, para o autor “ainda não é suficiente para obstaculizar um

senso comum arraigado ha séculos, senão milênios”.

O tema é assim também entendido por Brumer, Pavee e Mocelin (2004) que afirmam que;

“foi no bojo do processo de formação de movimentos sociais em prol de novos direitos,

intensificados no pós-2ª Guerra Mundial, que as pessoas portadoras de deficiências passam a ser

reconhecidas também como sujeitos de direitos”. Seguindo o mesmo raciocínio Cavalcante e

Jorge Neto (2001) relatam que em 1923:

“a OIT recomendou a aprovação de leis nacionais que obrigassem as entidades

públicas e privadas a empregar um certo montante de portadores de deficiência

causada por guerra e em 1944, na Reunião de Filadélfia, a OIT aprovou uma

recomendação, visando induzir os países membros a empregar uma quantidade

razoável de deficientes não combatentes [...]”

A partir desse momento os organismos de alcance mundial passaram a estabelecer

convenções, recomendações, tratados para proteger e oportunizar as pessoas com deficiência de

terem uma vida digna e plena de seus direitos como qualquer outro cidadão do planeta. Como é o

caso da OIT, OMS, ONU, Etc.

Um marco para o avanço da legislação direcionada as PcDs foi o ano de 1981, quando foi

instituído o Ano Internacional das Pessoas Deficientes, na ocasião começaram as reivindicações

pela participação plena e igualdade de oportunidades às PcDs. Só a título de curiosidade, a

literatura mostra que a década de 80 foi a mais importante para as pessoas com deficiência, pois

foi nesse período que elas conseguiram as maiores vitórias em relação aos seus direitos.

A nível mundial, no campo do trabalho, a legislação em prol da inserção das PcDs

avançou a partir da Convenção nº 159 da OIT, que estabeleceu definições mais precisas sobre a

deficiência nesse âmbito (ETHOS, 2002 p. 16). A promulgação da Convenção 159 da OIT trouxe

como recomendação a formulação e implementação de políticas nacionais ativas de apoio a esse

grupo social na obtenção e conservação de um emprego adequado (CARNEIRO e RIBEIRO

2008,p. 02)

Esta Convenção entrou em vigor, em 1985, e desde então já foi ratificada por mais de 70

países, inclusive o Brasil, que fez a ratificação através da Lei n° 7.853, editada em outubro de

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1989, e instituiu a política nacional de cotas empregatícias para portadores de deficiência por

meio da Lei n° 8.213, de julho de 1991.

Segundo Fonseca o direito ao trabalho está contido no artigo 27 da Convenção, cujo teor,

sinteticamente é o de:

“assegurar a liberdade de escolha de trabalho, adaptação física e atitudinal dos locais de

trabalho, formação profissional, justo salário em condição de igualdade com qualquer

outro cidadão, condições seguras e saudáveis de trabalho, sindicalização, garantia de

livre iniciativa no trabalho autônomo, empresarial ou cooperativado, ações afirmativas

de promoção de acesso ao emprego privado ou público, garantia de progressão

profissional e preservação do emprego, habilitação e reabilitação profissional, proteção

contra o trabalho forçado ou escravo, etc.” (FONSECA, 2008 p.94)

A legislação brasileira direcionada às PcDs, até a década de 1980, segundo Brumer, Pavee

e Mocelin (2004), tinha um caráter basicamente assistencialista e paternalista, esse pensamento

foi completado pelos mesmos autores quando eles dizem que:

“esse fato ratifica a visão e a prática com as quais geralmente vinham sendo tratadas as

questões envolvendo as pessoas portadoras de deficiência. Tais políticas centravam-se,

no caso dos deficientes visuais, na organização do ensino e instalação de classes em

Braille e na adaptação social e reabilitação. Sendo assim, cabia à pessoa adaptar-se ao

meio onde vive e não o contrário.” (BRUMER;PAVE E MOCELIN, 2004 p.304).

Brumer, Pavee e Mocelin (2004) ainda ressaltam a importância da postura adotada pelo

Brasil, no sentido de que sua estrutura legal e sua política nacional, que visam a integração dos

portadores de deficiência, de acompanhar as iniciativas realizadas em âmbito internacional,

organizadas pelos Movimentos de Direitos Humanos, pela ONU, OMS, OMT31

, entre outros.

Independentemente das dificuldades e problemas enfrentados pelas pessoas portadoras de

deficiência, pode-se dizer que a resolução do problema não está na formulação de mais

dispositivos legais que garantam a cidadania destas pessoas. O país possui uma gama legislativa

que obriga e permite vários avanços na área, começando pela Constituição Federal que trata com

clareza do tema em alguns de seus artigos: (FAGUNDES, 1997 P. 107)

Benevides (2004)32

relata que apenas cinco dos 24 países das Américas garantem proteção

e tratamento adequados para deficientes e o Brasil é o primeiro do ranking, de acordo com um

31

Organização Mundial do Trabalho

32 Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2004/08/040825_deficienciacass.shtml

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relatório divulgado. O autor chama a atenção ao fato de que segundo este relatório o Brasil tem

uma legislação modelo, superando até mesmo Estados Unidos e Canadá. Benevides (2004) ainda

enfatiza que o relatório regional é parte de esforço conjunto da Rede Internacional de Deficientes

e do Centro de Reabilitação Internacional e aponta o Brasil como campeão entre os países que

garantem proteção legal, educação e oportunidades de emprego, acessibilidade, saúde, moradia e

comunicação.

Coerente com o exposto Costilla, Neri e Carvalho (2002, p. 24) concordam que o Brasil

“dispõe de uma das mais avançadas legislações mundiais de proteção e apoio à pessoa com

deficiência”, entretanto, os autores relatam que ainda existe “uma lacuna grande na sua aplicação

prática, ainda arraigada de preconceitos e barreiras à sua integração no mercado de trabalho”.

Entretanto, apesar do fato do Brasil ter um forte arcabouço legal dispondo de uma das

mais avançadas legislações mundiais de proteção e apoio à PcD (COSTILHA;NERI;

CARVALHO, 2002; ARAÚJO; SCHMIDT, 2006) servindo até de modelo para alguns Países,

não garante que estas pessoas tenham todos os seus direitos garantidos perante a sociedade. A

literatura nos mostra que, mesmo havendo esse aparato legal, o Brasil, na prática, está longe da

situação desejada (SCHWARZ; HABER, 2009; TOLEDO; BLASCOVI-ASSIS, 2007; BAHIA;

SCHOMMER, 2010) no atendimento dos direitos das PcDs, que ainda não conquistaram muitos

daqueles garantidos por lei.

Nesse sentido Costilla, Neri e Carvalho (2002, p. 24) destacam que a solução da maioria

dos problemas enfrentados passa por mudança do ponto de vista sócio-cultural, o que implica no

engajamento da sociedade civil, para os autores:

“Não basta que tenhamos belas leis securitárias e trabalhistas, um exemplar sistema de

compensação das desigualdades, de programas de integração da PPD à comunidade. É

preciso que tudo isso seja efetivamente implementado através da participação ativa da

sociedade civil” (ibid. p. 24)

A literatura atesta que o Brasil tem uma das melhores legislações direcionada aos

cidadãos que possuem algum tipo de deficiência. Mas, e quanto à inserção desses profissionais no

mercado de trabalho? Quais as leis que sustentam o direito deles serem economicamente ativos?

Para se ter uma idéia do aparato legal que envolve a inserção das PcDs no mercado de

trabalho, buscou-se na próxima seção mostrar um resumos das principais leis pertinente ao

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assunto em pauta. Para um melhor entendimento, foram destacados alguns artigos, capítulos e

incisos da referida legislação.

2.4.3.1 Garantias legais de acesso ao trabalho no Brasil

A garantia de acesso a postos de trabalho nos setores públicos e privados para pessoas

com deficiência e a respectiva porcentagem estão previstas em uma série de dispositivos legais,

que no Brasil se iniciou há mais de 20 anos com a promulgação da Constituição em 5 de outubro

de 1988, data considerada um marco histórico para as PcDs, pois foi a partir dela que o número

de normas de proteção às pessoas com deficiência aumentou consideravelmente. Entre estas

normas, estão aquelas que têm o objetivo de proteger o trabalho dos profissionais com

deficiência.

No entendimento de Tanaka e Manzini (2005, p. 274) a oportunidade para a pessoa

deficiente, de ter acesso ao mercado de trabalho mesmo com a promulgação destas leis, ainda

caminhou em passos lentos durante muito tempo. No entanto, ainda segundo os autores, esta

legislação começou a tomar impulso com a fiscalização mais rigorosa pelo Ministério Público do

Trabalho - MPT, mediante punições às empresas que não vinham cumprindo com a lei.

a. Constituição Federal de 198833

Foi o primeiro instrumento legal de garantia de acesso ao trabalho às pessoas com

deficiência seja em cargos da iniciativa privada seja em cargos públicos. Logo nos primeiros

artigos da Constituição podemos observar o apelo pelo social e bem estar em geral, é o que se

pode notar no artigo 3º que diz que “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,

sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (CF/88 art. 3º inciso VIII) se

constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.

É importante frisar que perante nossa lei magna tem-se o direito a igualdade garantido.

Destacando-se o Art. 5º que expõe que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer

33

Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm

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natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do

direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”

A Constituição em seu artigo 7º prevê a “proibição de qualquer discriminação no tocante

a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”. Este dispositivo foi de

vital importância, pois a partir daí a sociedade brasileira passa a reconhecer nas pessoas com

deficiência, cidadãos capazes de assumir compromissos trabalhistas como qualquer outra pessoa.

No artigo 37 ficou determinado que a administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União (Estados, Distrito Federal e Municípios) deverá obedecer aos princípios de

legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, se aplicando a todos os

parágrafos listados nesse artigo, entre eles o VIII, segundo o qual “A lei reservará percentual dos

cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de

sua admissão”.

b. Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 199034

Esta lei dispõe sobre o regime jurídico único dos servidores públicos civis da União, das

autarquias e das fundações públicas federais. Ela estabelece em seu art. 5º, § 2º que:

“Às pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso

público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência

de que sejam portadoras: para tais pessoas serão reservadas até 20 por cento das vagas

oferecidas no concurso”.

O alcance desta normatividade é explicado por Sérgio de Andréa Ferreira: “Verifica-se

que, quanto ao acesso aos cargos e empregos públicos (as funções estão incluídas), o deficiente

poderá concorrer, em igualdade de condições – como ocorre no setor privado – com as demais

pessoas, e, nesta hipótese, deverá obter a pertinente habilitação isonomicamente com elas.

d. Lei 8213/91, de 24 de julho de 199135

Esta lei previdenciária também chamada de “Lei de Cotas” determina em seu artigo 93

que as empresas que tiverem a partir de 100 funcionários devem, obrigatoriamente, contratar

34

Disponível em: http://www.jfrj.jus.br/selegis/servidor/pdf/Leis/Lei8112.pdf

35 Disponível em: http://www3.dataprev.gov.br/SISLEX/paginas/42/1991/8213.htm

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PcDs ou Beneficiários Reabilitados para preenchimento de cargo, na proporção de 2% à 5%,

conforme o número de funcionários (ver Quadro 7):

Quadro 7– Percentual de cota por número de funcionários

Número de Funcionários Cota (%)

I – De 100 a 200 funcionários 2%

II – De 201 a 500 funcionários 3%

III – De 501 a 1000 funcionários 4%

IV – Mais de 1000 funcionários 5%

Fonte: BRASIL, Lei 8213/91, de 24 de julho de 1991

Esta Lei, na prática, só foi ser efetivamente cumprida pelas empresas no ano de 1999 após

a regulamentação que foi dada pelo Decreto N° 3.298 que dispõe sobre a Política Nacional para

Integração das Pessoas Portadoras de Deficiência na sociedade e no mercado de trabalho (NERI,

2003).

No art. 133 da citada lei é explicado que as empresas que não cumprirem a lei de Cotas

estarão sujeitas a multas pesadas que de acordo com a Tabela das Multas Administrativas de

valor variável do Ministério do Trabalho e Emprego variam entre R$ 1.329,18 à R$ 132.916,84,

bem como intervenções por parte do Ministério Público do Trabalho.

e. Decreto 3298/99, de 20 de dezembro de 199936

Este Decreto veio regulamentar a Lei no 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe

sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, trazendo novos

conceitos e parâmetros para se entender as deficiências e sua tipologia. No seu Art. 3º são

apresentados três novos termos que passaram a ser considerados legalmente: Deficiência,

deficiência permanente e incapacidade, como mostrados pela Figura 15.

36

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto/d3298.htm

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Figura 15 – Tipologias e conceitos novos de deficiência

Fonte: Elaborada pela autora (Decreto 3298/99)

Este Decreto serviu também para regulamentar a Lei de Cotas confirmando no artigo 36

as cotas de cargos na iniciativa privada aos beneficiários da Previdência Social reabilitados, bem

como as pessoas portadoras de deficiência habilitadas.

O que foi demonstrado nesta sub-seção é apenas uma pequena amostra da legislação

brasileira destinada às PcDs, chegando-se desta forma ao final da seção Pessoas com deficiência,

mas também encerra-se aqui a fundamentação teórica desta dissertação. Abrindo passagem para o

próximo capítulo, que é a metodologia.

I - DEFICIÊNCIA

•Toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano

II -DEFICIÊNCIA PERMANENTE

•Aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos

III - INCAPACIDADE

•uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.

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3 METODOLOGIA

Neste capítulo serão abordados os instrumentos da metodologia científica, que são

entendidos por Kahlmeyer-mertens et al (2007, p. 15) como o conjunto de processo orientados

por uma habilidade crítica e criadora voltada para descoberta da verdade e para construção da

ciência hoje.

Neste sentido, Apresentam-se a seguir os procedimentos metodológicos que foram

utilizados para a investigação do problema proposto e para cumprir os objetivos geral e

específicos desta pesquisa. A estruturação deste capítulo está representada na Figura 16.

Figura 16 - Metodologia

Fonte: Adaptada de OLIVEIRA, 2011

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3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Existem várias formas de se estudar a cultura de uma organização, e o que definirá qual

será o método utilizado será o propósito da pesquisa. Por esse motivo não existe dentro desta

temática uma tendência unilateral (Schein, 2009).

No estudo da cultura não existe uma tendência para a metodologia qualitativa ou

quantitativa, mas sim uma adequação aos objetivos pretendidos Portanto tendo em vista a

natureza do problema apresentado, a metodologia proposta está ancorada na abordagem

qualitativa. Sobre essa metodologia Godoy diz que:

“envolve a obtenção de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos

pelo contato direto do pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os

fenômenos segundo a perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em

estudo.” (GODOY, 1995a, p.58)

A escolha pela investigação qualitativa se deve ao fato da mesma possibilitar a abertura e

a flexibilidade que são fundamentais na capacidade de observação com os atores sociais

envolvidos. Para Minayo (2004, p. 101) “seus instrumentos costumam ser facilmente corrigidos e

readaptados durante o processo de trabalho de campo, visando as finalidades da investigação”.

Nesse sentido a pesquisa qualitativa trouxe a possibilidade de se buscar em campo o

fenômeno estudado sob a perspectiva das pessoas nele envolvidas, onde vários dados foram

coletados para, dessa forma, se entender a dinâmica do fenômeno (GODOY, 1995b)

Dentre os procedimentos técnicos, classificados por Gil (2002), foram utilizadas

pesquisas: bibliográfica e documental, para levantamento de material já elaborado; aliando-se a

um estudo de campo, onde foi feito o aprofundamento do problema em questão. Cabe ressaltar

que, segundo Godoy (1995b. p. 21), a abordagem qualitativa “oferece três possibilidades de se

realizar a pesquisa: pesquisa documental, o estudo de caso e etnografia”.

Assim, considerando os objetivos da pesquisa optou-se por se trabalhar o estudo de caso,

levando em consideração que este tipo de estratégia é mais indicada quando se colocam as

questões “como” e “por que” (YIN, 2001, grifos do autor) somando-se ao fato de que esta

estratégia também é utilizada, conforme Yin (2001, p. 19) “quando o pesquisador tem pouco

controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos inseridos em algum

contexto da vida real.”

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De acordo com a literatura, o estudo de caso foi classificado em dois tipos: estudo de caso

único, que é o desenho mais comum para se fazer estudo de caso e estudo de caso múltiplo, que é

o estudo em que estão envolvidos dois ou mais sujeitos ou duas ou mais instituições (YIN, 2001)

ver Figura 17.

Figura 17 - Tipos básicos de projetos para estudos de caso

Fonte - Yin (2001)

Pelo fato deste estudo ser direcionado a mais de um hotel (unidades de análise) e com

base em Yin (2001), entendeu-se que este seria de casos múltiplos e não de caso único. Pois de

acordo com este autor a opção pelo estudo de casos múltiplos se dá “quando o estudo ocorre em

mais de um caso único.” Yin (2001, p. 68). A Figura 16 mostra quatro tipos de estudo de caso:

dois tipos de estudo de caso único e dois tipos de estudos de caso múltiplos. No caso desta

pesquisa, sua classificação está no Tipo 3.

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O estudo é de natureza descritiva, que é explicado por Gil (1989) como sendo aquela que

tem como objetivo descrever as características de um grupo ou de uma população, incluindo

também nesse grupo as pesquisas que têm por objetivo levantar opiniões, atitudes e crenças de

uma população. Sendo esta coerente com o objetivo da pesquisa deste trabalho.

3.2 LOCUS DA INVESTIGAÇÃO

O lócus desta investigação constituiu-se de três hotéis na cidade de Belém, que hoje tem

uma estrutura hoteleira que se encontra em plena expansão, conforme relatado na

contextualização deste trabalho; A cidade possui hotéis de vários portes e padrões.

Estes três hotéis pesquisados são de três tipos de administração diferentes, sendo estes

classificados como Hotel Independente (HI), Hotel de Rede Nacional (HRN) e Hotel de Rede

Internacional (HRI).

A cidade de Belém, capital do Estado do Pará, é a maior cidade do Estado com uma

população de 1.393.399 habitantes (Censo IBGE, 2010), e também a maior cidade da Linha do

Equador. Belém está localizada na mesorregião Metropolitana de Belém; Em termos econômicos

sua principal atividade econômica, concentra-se no setor terciário, com intenso comércio e

serviços diversos, como: lazer, educação, saúde, turismo, transportes, entre outros (MTE/RAIS,

2003).

3.3 SELEÇÃO DOS SUJEITOS

A seleção dos sujeitos da pesquisa foi feita de acordo com o previsto na

contextualização do problema (seção 1.1), sendo direcionada aos gestores de Recursos Humanos

e funcionários com deficiência, Havendo, assim, a possibilidade de se conhecer como a cultura de

três padrões de administração hoteleira diferentes se comporta diante da inserção de PcDs neste

ramo de atividade.

A participação dos profissionais da área de Recursos Humanos se deve ao fato que eles

estão em contato direto com as políticas e práticas da gestão de pessoas, sendo detentores de

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informações essenciais para esta pesquisa; participaram também os profissionais com deficiência,

pois se acredita que eles, como parte interessada, poderiam dar grande contribuição a este estudo.

A escolha dos hotéis aconteceu com base em dois critérios:

1 – O hotel deveria ter mais de cem funcionários em seu quadro de pessoal, já que estes têm,

segundo a Lei de Cotas, a obrigatoriedade de contratar PcDs. Dessa forma, se teria a certeza de

encontrar esses profissionais nas empresas que se enquadrassem em tal lei;

2 – A receptividade do hotel à pesquisa, já que a cidade de Belém está passando por constantes

períodos de alta o que, em tese, dificultaria o acesso aos sujeitos da pesquisa.

Levando em conta os critérios citados acima, foram selecionados seis hotéis, dois de cada

classificação (HI, HRN e HRI). Para se chegar até os hotéis, gestores e funcionários; foram

utilizados três formas de contato, como se vê a seguir:

1ª – Contato via e-mail;

2ª – Contato Telefônico;

3ª – Visita Direta.

No caso da primeira estratégia não foi obtido resposta positiva, num segundo momento

foram feitos contatos telefônicos e por fim foram feitas visitas diretas nos hotéis (sem

agendamento), das três estratégias utilizadas para chegar até os sujeitos da pesquisa, a único que

não foi obtido êxito foi a primeira. Um HRI e um HI responderam positivamente à solicitação

telefônica, e um HRN e um HI responderam positivamente à visita direta, um HRI e um HRN

não atenderam a nenhuma solicitação.

Dos quatro hotéis que responderam positivamente à solicitação de pesquisa, três foram

pesquisados em sua totalidade (gestores e funcionários) e um Hotel Independente que foi um dos

primeiros hotéis a serem contatados foi excluído da pesquisa (os motivos estão apresentados nas

limitações). A seguir, no Quadro 8, tem-se o perfil dos sujeitos participantes da pesquisa, onde

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constam dados como: sexo, idade, função, tempo na empresa, formação profissional e algumas

observações sobre número de funcionários dos hotéis e cota a ser cumprida.

Quadro 8 - Perfil dos participantes da pesquisa

UA Entrevistados Sexo Idade Função Tempo na

empresa

Formação

Profissional

OBS

Ho

tel

Ind

epen

den

te

GHI F 49 Gestora de

DP

24 anos EM

158 funcionários

Cota: 3 PcDs F1HI F 40 Servente 1ano 6

meses

3º grau

incompleto

F2HI M 59 Serviço de

Manutenção

Geral

6 anos FI

F3HI M 32 Servente 1ano 7

meses

EM

Ho

tel

Red

e

Na

cio

na

l

GHRN F 44 Gestora de

DP

6 anos Administração 60 funcionários

Cota: 4 PcDs (soma

todos funcionários da

rede no Brasil) –

destinou-se 2 para

Belém

F1HRN F 40 Faxineira 11 meses EM

Ho

tel

Red

e

Inte

rna

cio

na

l

GHRI F 28 Supervisora

de RH

5 meses Psicologia

134 funcionários

Cota: 3 PcDs F1HRI M 22 Serviços

Gerais

5 meses FI

F2HRI F 23 Auxiliar

confeitaria

7 meses FI

LEGENDA: UA – Unidade de Análise; DP – Departamento Pessoal; EM – Ensino Médio; FI – Fundamental Incompleto

Fonte: Dados da pesquisa

Ao todo foram entrevistadas 9 pessoas, sendo 3 Gestoras de Recursos Humanos (só foram

encontradas mulheres) e 6 PcDs. Destes últimos, metade eram homens e a outra metade

mulheres. No caso das mulheres uma tinha nível fundamental incompleto, uma tinha nível médio

completo e a terceira tinha nível superior incompleto. Já os homens, apenas um tinha ensino

médio completo e os outros dois ensino fundamental incompleto. Das seis PcDs entrevistadas a

metade adquiriu a deficiência em acidentes, e os outros que nasceram com deficiência tem

problema auditivo.

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103

3.4 COLETA DE DADOS

3.4.1 Instrumentos

Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um roteiro para entrevista semi-

estruturado, por este ser o método mais utilizado em estudos de casos, e por esta ser uma técnica

eficiente para a obtenção de dados acerca dos mais diversos aspectos da vida social (GIL, 2002

p.63). Minayo (2004) revela que:

[...] a entrevista não é simplesmente um trabalho de coleta de dados, mas sempre uma

situação de interação na qual as informações dadas pelos sujeitos podem ser

profundamente afetadas pela natureza de suas relações com o entrevistador. (MINAYO,

2004 p.113)

Dentre os tipos de entrevistas existentes optou-se pela semi-estruturada, por esta combinar

perguntas fechadas e abertas (BONI; QUARESMA, 2005), VER SE ESTÁ CERTO o que

permitiu ao pesquisador flexibilidade no momento das entrevistas, às quais à medida que se

seguia o roteiro pôde-se fazer, quando necessário, outras questões para, ora esclarecer, ora

complementar, as informações solicitadas. Além das entrevistas também foram utilizados como

método de coleta de dados a observação direta e os artefatos físicos (YIN, 2001)

Foram criados dois roteiros de entrevista, um destinado aos gestores de Recursos

Humanos (Apêndice A) e outro destinado às PcDs (Apêndice B). Ambos foram estruturados em

duas partes: a primeira delas com perguntas de dados demográficos como: idade, cargo, tempo no

cargo, etc.; e a segunda contendo 21 perguntas destinadas a identificar aspectos relacionados à

cultura na inserção das pessoas com deficiência. Os dois roteiros possuem composição similares,

já que pretendia-se estabelecer comparações entre as respostas dos dois grupos.

A coleta de dados ocorreu no período de 01 de junho à 04 de julho de 2011. Participaram

da pesquisa três hotéis da cidade de Belém, Estado do Pará, sendo um de administração

independente, um de rede nacional e um de rede internacional. Todas as entrevistas aconteceram

com dia e hora marcada nas dependências dos hotéis de acordo com a disponibilidade dos

entrevistados, sempre na sala das gestoras de Recursos Humanos e com a presença das mesmas,

excetuando-se no HRI, que a gestora cedeu sua sala para que as entrevistas acontecessem.

As entrevistas duraram, em média, 27 minutos com os gestores e 15 minutos com os

funcionários. Estas foram gravadas em meio eletrônico e depois transcritas para o processador de

texto Word 2007 gerando um total de 2 horas e 20 minutos de gravação e 35 páginas de

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transcrição. As transcrições foram revisadas por uma segunda pessoa. E em seguida revistas

várias vezes, para que, desta forma, se garantisse a fidedignidade das informações. Esse processo

também serviu para selecionar as unidades de falas que continham informações pertinentes aos

propósitos da pesquisa.

Como já mencionado, além das entrevistas também foi utilizada como técnica de coleta de

dados a observação não-participante, que possibilitou fazer anotações sobre artefatos físicos e

comportamentais. Para melhor acompanhamento e controle dos itens que foram observados foi

criada uma listagem (APÊNDICE C) que acompanhou o roteiro de entrevista, onde se anotavam

as considerações sobre os itens listados no momento mais oportuno. Levou-se em consideração o

que disse Schein (2009) sobre os artefatos como os elementos mais acessíveis da cultura.

Na próxima seção será apresentado o método de análise de dados utilizado nesta pesquisa.

3.5 MÉTODO DE ANÁLISE DOS DADOS

Análise dos dados é, segundo Rauen (1999, p. 141), “a parte que apresenta os resultados

obtidos na pesquisa e analisa-os sob o crivo dos objetivos e/ou das hipóteses”, sendo pela análise

dos dados que o pesquisador faz um resumo das observações, de forma que estas permitam

respostas à pergunta de pesquisa. Levando-se em consideração o exposto e em conformidade com

os objetivos deste estudo, optou-se por utilizar como método de análise e interpretação dos

resultados o método da Análise de Conteúdo (AC), de Laurence Bardin que, segundo a autora, é

um “conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e

objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.” (BARDIN, 1977, p.38).

A AC constitui-se uma metodologia de pesquisa usada tanto para descrever quanto para

interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos. De acordo com Moraes (1999),

conduz a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas, ajudando a “reinterpretar as

mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma

leitura comum” (MORAES, 1999 p.3).

Na visão de Martins (2008, p.35 grifo do autor) a AC “busca a essência da substância de

um contexto nos detalhes dos dados e informações disponíveis. Não trabalha somente com o

texto per se, mas também com detalhes do contexto”. Para o mesmo autor a AC compreende três

etapas fundamentais, quais sejam:

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“(a) pré-análise – seleção dos materiais e definição dos procedimentos a serem seguidos;

(b) exploração do material – implementação dos procedimentos: contagem de palavras

ou outra unidade de análise, levantamento de categorias já testadas, ou construção de

categorias a partir das freqüências e significados comuns das unidades de análise;

(c) tratamentos dos dados e interpretações – geração de referências sobre o texto como

um todo e interpretações.” (MARTINS, 2008 p. 34)

Conforme descrição encontrada na literatura pesquisada, notou-se que a elaboração de

categorias temáticas permite uma análise de maneira apurada, objetivando a sua comparação e

discussão com as respostas apresentadas pelos entrevistados.

Para esta análise foram utilizados os textos originados das transcrições das entrevistas

feitas com as gestoras e com os funcionários com deficiência dos três hotéis selecionados para

fazer parte deste estudo, tiveram como referência seu conteúdo, isto é, o posicionamento dos

entrevistados quanto aos aspectos pesquisados. Foi observada a freqüência de respostas de

conteúdo análogo, considerando a predominância quantitativa das posições das pessoas sobre as

questões.

Seguindo os ensinamentos de Vergara (2005), foram definidas duas grades de análise:

1 – Grade aberta: as categorias de análise são identificadas conforme vão surgindo. Neste

caso, o pesquisador faz o rearranjo necessário conforme andamento da análise;

2 – Grade Mista: algumas categorias pertinentes ao objetivo são definidas, porém

conforme o processo de análise admite-se a inclusão de outras categorias

No caso deste estudo, a grade aberta foi utilizada para analisar o conteúdo das entrevistas

dos funcionários com deficiência e a grade mista para análise do conteúdo das entrevistas das

gestoras.

Por se tratar de um estudo de casos múltiplos, utilizou-se também para análise dos dados

a estratégia metodológica da triangulação dos dados coletados através das fontes já referidas,

fazendo os cruzamentos necessários para um maior aprofundamento do contexto de onde

emergem “os fatos, as falas e as ações dos indivíduos” (Souza; Zioni, 2003 p. 78)

3.6 LIMITAÇÕES

Esta pesquisa encontrou algumas limitações: a primeira delas foi com o lócus da pesquisa

que, a priori, tinha sido determinado à cidade do Recife-PE, porém o que se encontrou foi um

contexto de rejeição já prevista, mas não na intensidade vivenciada. Uma explicação que poderia

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justificar essa rejeição seria o tema abordado na pesquisa, inserção de PcDs, o que poderia ser

entendido como uma fiscalização, mesmo sob o argumento do anonimato das empresas

envolvidas na pesquisa. Nos contatos telefônicos feitos com os seis gestores de RH dos hotéis

que se enquadravam nos parâmetros da pesquisa encontrou-se as seguintes desculpas para não

participar da pesquisa:

_ “[...] Ah! pessoas com deficiência é difícil achar no mercado, aqui tinha três [...] uma

se demitiu, a outra foi demitida e a que ainda continua no hotel não vai poder ajudar [...] ela é

deficiente mental, e [...] imagina? Ela não pode ajudar, e a sua pesquisa vai ficar „pobre‟.”

_ “O hotel possui um número reduzido de funcionários com deficiência”. Foi

argumentado que o número de PcDs não faria diferença para pesquisa, então a gestora

informou que seria “impossível” o hotel participar da pesquisa; e diante de um novo argumento

de que a pesquisa poderia esperar e ser marcada em uma nova data e horário, convenientes ao

hotel, a mesma mais uma vez disse, meio sem paciência _ “Impossível! Ainda assim o hotel

estará lotado, sem previsão de data. E mesmo assim, não posso tirar um profissional do trabalho

pra falar com você. ” Então só restou um cordial agradecimento.

O primeiro relato aconteceu em um hotel independente e o segundo em um hotel de rede

internacional. E assim seguiram as outras investidas, ora os hotéis assumindo não ter em seu

quadro de pessoal PcDs, ora dizendo simplesmente não ter interesse em participar da pesquisa. A

exceção veio de uma rede pernambucana de hotéis que aceitou participar do pré-teste desta

pesquisa, porém cabe destacar o viés de se ter familiares trabalhando em dois dos hotéis da rede.

Diante desta constatação o local de realização da pesquisa foi modificado e voltou-se para

a cidade de Belém. Lá, encontrou-se, ainda, a limitação de existir uma série de eventos na cidade,

que estavam lotando os hotéis e consequentemente impediram a entrada nestas empresas, sendo

necessário aguardar a melhor data para iniciar a pesquisa, mas nada próximo ao ocorrido em

Recife.

Em Belém encontrou-se a limitação de uma gestora (Hotel Independente) que no meio do

processo de investigação resolveu travar o andamento da pesquisa impedindo o acesso às

funcionárias com deficiência. Ao ser entrevistada a gestora de RH informou que havia, em seu

quadro, três funcionárias com deficiência, porém não permitindo que estas fossem entrevistadas

naquele momento, solicitando que fosse marcado em outra data, o que foi tentado por mais duas

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vezes, obtendo sempre resposta negativa com a alegação de alta ocupação e férias de uma das

pessoas com deficiência.

Entretanto, na primeira visita feita ao hotel, dia em que foi feito agendamento da

entrevista da gestora, houve uma conversa com o executivo de vendas e este afirmou que o hotel

só tinha uma funcionária com deficiência que foi entrevistada naquela oportunidade e que

também mostrou desconhecer a presença de outras funcionárias com deficiência. Como restou a

dúvida se existiam ou não mais funcionárias com deficiência naquele hotel, pelas sucessivas

negativas da gestora, aliado ao tempo de três semanas transcorridos sem resultados, resolveu-se

investigar outro hotel da mesma condição deste e que já havia sinalizado positivamente.

A falta de conhecimento da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), aliado a falta de

intérpretes disponíveis para data, foi uma limitação que se instalou no processo da pesquisa

quando ocorreu a entrevista de dois funcionários com deficiência auditiva no Hotel de Rede

Internacional. Na ocasião da entrevista da gestora deste hotel a mesma informou que eles

conseguiam se comunicar, pois utilizavam aparelhos e ambos conseguiam “ter entendimento” e

ainda que sabiam ler e escrever. Por isto, foi feita uma adaptação no roteiro de pesquisa para uma

linguagem mais acessível e em formato de questionário, que foi impresso e entregue uma cópia

ao funcionário entrevistado enquanto seguia-se o roteiro.

No entanto, na prática a realidade era bem diferente daquela informada pela gestora, pois

eles não sabiam ler e escrever, nem usavam aparelhos auditivos. Foi tentada a leitura labial, e

arriscou-se algumas palavras em libras, daí vieram a decepção e a impotência diante da

impossibilidade de comunicação com os dois funcionários. Pensou-se em desistir deste hotel e

buscar outro de rede internacional, mas analisando a situação foi notado que esta era uma

realidade que deveria sim ser mostrada.

Diante deste contexto, resolveu-se observar e anotar a linguagem não-verbal transmitida

pelos entrevistados, neste sentido, foram tomadas notas do contato visual, expressão facial,

postura e gestos, buscando-se na literatura da área de comunicação o entendimento sobre o

assunto.

Estas foram as limitações encontradas durante a pesquisa e que encerram o terceiro

capítulo que tratou da Metodologia utilizada neste estudo. A seguir inicia-se o quarto capítulo que

trata da Análise e Discussão dos Dados.

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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A partir deste capítulo, este estudo apresentará as inferências realizadas a partir das

informações obtidas pela pesquisa, tendo como guia os objetivos específicos deste trabalho,

promovendo, ao final, discussão sobre os resultados.

As bases para a análise dos dados desta pesquisa foram as transcrições do conteúdo das

entrevistas e das anotações colhidas no diário de campo por intermédio da observação não

participante. Primeiramente foi feita uma exaustiva leitura das transcrições das entrevistas, e a

partir daí foram feitos alguns recortes. Os trechos recortados das transcrições das entrevistas

estão expostos de modo fiel à informação oral gravada dos entrevistados. Em função disto

observa-se que estão sujeitas a questões de estilo e problemas gramaticais provenientes das fontes

originais.

Por se tratar de um estudo de casos múltiplos, os hotéis foram analisados separadamente,

conforme sugerido por Merriam37

(1988) citado por Guimarães (2009, p. 121) que aponta que

“ao se realizar um estudo de múltiplos casos, há de se realizar dois estágios de análises: a

análise dentro de cada caso, que consiste em analisar cada uma das unidades de pesquisa

em separado, e a análise cruzada dos casos, que é realizada logo em seguida”

A análise se inicia com o Hotel Independente (HI) e finaliza com o Hotel de Rede

Internacional (HRI). Após as três análises terem sido feitas, procedeu-se a análise final fazendo o

cruzamento dos casos sugerido por Merriam (1988, apud Guimarães 2009) e Yin (2001). Assim

como nos demais capítulos, neste também encontra-se a estruturação deste capítulo, conforme

mostrado na Figura 18.

37

MERRIAM, Sharan B. Qualitative research and case study applications in education. 2. ed. San Francisco:

Jossey-Bass, 1998.

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109

Figura 18 – Análise e discussão dos dados

Fonte: Adaptada de OLIVEIRA, 2011

4.1 ANÁLISE DOS DADOS

Nesta seção serão apresentados e analisados os dados coletados nas três unidades de

análise (HI, HRN e HRI). Os dados encontrados na pesquisa são apresentados por unidade de

análise. É feita primeiramente a caracterização das unidades. Depois segue-se as análises que

foram definidas de acordo com os objetivos específicos desta pesquisa, dividida em:

caracterização do hotel; elementos culturais, práticas de gestão de RH e comparação de

percepções: Gestoras x PcDs. Esta mesma sequência foi utilizada para fazer a análise

comparativa dos dados.

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4.1.1 HOTEL INDEPENDENTE (HI)

4.1.1.1 Caracterização do Hotel

O hotel atua a mais de 30 anos na hotelaria belenense, tendo um grande prestígio no

mercado, e foi selecionado para pesquisa pelos motivos citados na seção 3.3. Possui 158

funcionários. Destes, três têm deficiência: um com deficiência visual, um com deficiência física e

uma com deficiência auditiva. Dois deles trabalham no setor de serviços gerais e o terceiro na

manutenção.

Os primeiros contatos foram feitos com o Gerente Financeiro, via e-mail, o que não deu

resultado, pois o mesmo alegava não gostar de ver o nome do hotel envolvido em pesquisas,

mesmo sob a garantia do anonimato das empresas participantes. A confirmação só veio depois de

contato telefônico com o Gerente, que contatou a gestora de RH marcando dia e hora para

pesquisa acontecer.

Neste hotel foram feitas as últimas entrevistas, pois a pesquisa destinada ao Hotel

Independente já estava acontecendo em outro hotel da cidade mas, pelos motivos esclarecidos no

item 3.6 (Limitações), não houve continuidade. O hotel possui uma ótima localização com várias

linhas de ônibus passando em sua frente, o que facilita a chegada dos funcionários em suas

dependências.

Da observação não-participante foram feitas algumas observações, como segue:

a) Portaria de serviço:

A entrada de serviço é feita pelo lado da garagem, mas com divisórias que garantem a

segurança de seus funcionários. Entre os hotéis pesquisados, este é o que possui a melhor portaria

de serviço, com acesso da rua para a calçada no mesmo patamar e sem rampas. O único detalhe

negativo é a altura da campainha que tem que ser tocada para chamar o segurança, não dando

condições de uma pessoa de baixa estatura e até mesmo um cadeirante acessá-la. A entrada

possui um largo corredor, sem nada impedindo a entrada e saída das pessoas; o espaço é

organizado e bem iluminado, dando sinais de uma cultura voltada para Cartazes informativos só

na entrada do RH em um quadro de avisos, não foi visto nenhum tipo de informe nos corredores.

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b) Uniformes:

Os uniformes deixaram bem claras as funções das pessoas, por meio desses artefatos

pôde-se perceber o nível hierárquico dos funcionários e notou-se que quanto maior o nível

hierárquico mais sofisticadas são as roupas, com tecidos mais nobres e cortes mais detalhados.

Por exemplo, a roupa do profissional da manutenção é de tecido grosso, talvez um brim,

aparentemente resistente, com cortes retos no estilo guarda-pó. Já a roupa do capitão porteiro é

uma espécie de dolman38

, com tecido mais fino, podendo ser gabardine, tecido muito utilizado

para uniformes sociais, já que este possui um baixo amarrotamento.

c) Normas:

Uma das primeiras normas que se apresentou foi o fato de que para ter acesso à Gerência

a entrada deveria ser feito pela portaria de serviço e não pela entrada social; Os funcionários

deixam seus pertences em armários individuais na portaria de serviço, todos identificados com

uma numeração e o nome do funcionário na porta, e só assim podem ter acesso às dependências

do hotel para se uniformizar; Notou-se uma correria para bater o cartão de ponto principalmente

para não haver atrasos.

d) Recepção:

A forma de receber foi um dos pontos fortes deste hotel, que mostrou a cortesia e

hospitalidade tão comum ao povo paraense (TEIXEIRA; TEIXEIRA; VIEIRA, 2006) e que é seu

cartão de visita. Na portaria de serviço, de forma cordial, foi feito convite para sentar-se e

aguardar. Em seguida o gerente financeiro veio dar as boas vindas e conduzir até a Gerente de

RH, que também se mostrou bastante solícita. Foi o único hotel a oferecer água, café e suco.

Além de fazer um convite para um café da manhã no restaurante do hotel, e oferecer o

estacionamento do hotel para guardar o carro. Foi oferecido como presente um belo “Guia da

Grande Belém do Gráo-Pará”, em capa dura com 376 folhas. Além do mais a entrevista da

38

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112

Gestora de RH foi danificada, sendo necessário entrevistá-la novamente e mais uma vez foi

confirmou-se a atenção especial na maneira de receber.

4.1.1.2 Elementos Culturais

Como um dos objetivos deste estudo era identificar elementos da cultura organizacional

presentes no relato das gestoras, e conforme a opção pela grade mista, algumas categorias foram

previamente definidas e outras surgiram no processo de análise. Desta forma, nesta seção estão

apresentados os elementos culturais identificados, tentando-se responder ao objetivo a seguir:

Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de

inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA

Os seguintes códigos foram estabelecidos para esta unidade de análise: para gestora GHI

(Gestora Hotel Independente), para os funcionários F1HI (Funcionário 1 do Hotel Independente),

mudando apenas o número determinado para cada funcionário).

a. Valores

Valores foram observados em dois trechos da entrevista da gestora GHI, foi observado

que estes valores apareceram no início e no final da entrevista, onde houve uma ênfase na não

discriminação das pessoas negras:

“...acho que a empresa tem cumprido a meta dela não discriminando nem

as pessoas que são negras, nada. Tanto que temos brancos, temos negros

e outros.” (GHI)

Em outro trecho um valor que apareceu de forma não tão explícita foi o cuidado em

onde alocar (setor) as pessoas com deficiência, já que nos relatos da entrevistada existem setores

dentro do hotel onde os funcionários com deficiência poderiam sofrer um acidente facilmente:

“e alguns outros setores, como por exemplo no restaurante também não,

a gente evita colocar na copa e na cozinha por material cortante,

lavanderia porque tem máquinas.” (GHI)

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b. Mitos

Em alguns trechos da entrevista da gestora, foi possível identificar um mito criado para

justificar a ausência de PcDs. Neste mito as PcDs não podem trabalhar em vários setores da

empresa, por entender que aquela deficiência as impossibilita de exercer tais atividades, como

pode verificar neste trecho da entrevista:

“A gente evita esses setores por causa disso, mas a gente consegue

encaixar eles em outro local” (GHI)

Por este motivo, entendeu-se que as PcDs acabam isoladas em dois setores: Manutenção

e Serviços Gerais.

c. Crenças

Foi identificada a crença de que a deficiência que a pessoa tem a impossibilita de ter

acesso a outros cargos, que não àqueles que eles ocupam. Esta crença está ancorada na

justificativa de que esta seria uma decisão protetora:

“... então têm lugares que a gente que... assim... que não vá nos causar

nenhum problema também, nem pra gente nem pra eles.”

Esta crença está ancorada nos valores apregoados pela gestora e também no mito criado

em torno da proteção ao funcionário com deficiência no sentido de evitar acidentes.

Outra crença identificada foi a de que é melhor, para os hóspedes, que o hotel contrate

pessoas de aparência “normal”, com deficiências mais leves e que sejam pouco visíveis:

“... então a gente tenta sim ver, por exemplo um surdo mudo, uma

deficiência que seja não muito visível (falou apontando para perna,

fazendo sinal como que desse pra esconder, e depois para as mãos), a

gente tenta ver isso, tenta fazer isso. têm lugares que a gente que...

assim... que não vá nos causar nenhum problema também, nem pra gente

nem pra eles.”

Atrelada à crença citada acima, vem a crença de que o hóspede está ali para ver coisas

belas. Não só na estrutura física do hotel, mas também nos seus funcionários:

“... a gente tenta achar uma pessoa que seja adequada de corpo.”

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“O hóspede chega ele quer ser bem recepcionado, quer ver uma

recepcionista bonita. Assim, né, uma boa noite bem dada aquelas coisas

todas que com deficiente fica mais complicado.”

d. Pressupostos

Apesar de, segundo a literatura, serem difíceis de identificar, foi possível ter contato

com pelo menos dois pressupostos. O primeiro originado no recrutamento das pessoas com

deficiência, que teve esta prática quase que delegada à Casa do trabalhador39

, que é um dos

órgãos onde as pessoas com deficiência fazem cadastro de emprego.

O segundo pressuposto adveio do fato de todas as contratações terem como prática de

seleção apenas as entrevistas com os gerentes, o que para o hotel é suficiente para escolher um

candidato. Após as entrevistas, este passa direto para o período de experiência:

P40

- No caso esta seleção, tem algum tipo de prova, teste?

GHI – Não, não.

P - É só a entrevista mesmo?

GHI - Só entrevista. Só a experiência que a gente dá 45 dias e depois

mais 45 dias, é “essa” o teste pra gente saber.

e) Normas

No relato da gestora, ela deixou claro que não existem normas específicas para os

funcionários com deficiência, mas que estas são para todos:

“Não, não. É igual. A única diferençazinha é que todos têm um

aparelhinho que se comunicam e a deficiente não tem por não conseguir

ouvir (se referindo a funcionária da faxina que tem deficiência auditiva)”

(GHI)

Outras normas foram identificadas na observação feita do ambiente e que já foram

relatadas na caracterização deste hotel.

39

Casa do trabalhador é como as gestoras e profissionais com deficiência chamam o SINE.

40 Pesquisadora

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f) Tabus

Um assunto considerado tabu e que foi citado duas vezes pela entrevistada, é a questão

da discriminação principalmente em relação às pessoas negras, assunto que nem estava sendo

mencionado no momento. A gestora falou:

“... foi determinado que nós tivéssemos, por exemplo, oito aprendizes,

três deficientes e... também havia... também discriminação de pessoas de

pele escura nós não temos isso aqui, aqui... Nos disseram que tem

empresas que não tem essas pessoas.”

g) Ritual

De acordo com a gestora, quando uma pessoa é contratada tem que passar por todos os

trâmites de uma contratação, como se fosse um ritual. Após a assinatura do contrato, o novo

funcionário recebe um manual com todas as normas da empresa que deve sempre trazer consigo.

h) Histórias

Este elemento foi o fator surpresa desta pesquisa e surgiu quando a GHI foi questionada

sobre a aparência física como pré-requisito para contratação. Então ela respondeu que preferia

pessoas com deficiências leves e relembrou um fato acontecido no passado:

“[...] estava fazendo uma seleção quando apareceu uma moça com uma

deficiência horrível, que até me assustei. Ela tinha um olho em cima e

outro em baixo, um próximo a sobrancelha e o outro na bochecha. Ora se

eu me assustei imagina os hóspedes, como ficariam?”

4.1.1.3 Práticas de gestão de RH

Para conseguir responder ao segundo objetivo específico, o tipo de grade escolhido para

categorização foi a fechada, onde todas as categorias foram definidas a partir do referencial, já

que foram investigadas a existência de algumas práticas de gestão de RH pré-determinadas. O

segundo objetivo específico é:

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Investigar se há e quais as práticas da gestão de recursos humanos adotadas por

hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com deficiência.

Diante do que foi extraído dos relatos da gestora, pôde-se notar que as práticas de

Gestão de Recursos Humanos ficam resumidas ao processo inicial de entrada das pessoas na

empresa. Compreendem apenas o recrutamento e a seleção, ficando de fora as outras práticas

citadas na fundamentação deste trabalho (Socialização, Treinamento e Desenvolvimento).

a. Recrutamento: É feito junto à Casa do Trabalhador e nenhum outro tipo de recurso é utilizado

para buscar essas pessoas no mercado. O único funcionário que foi contratado sem ter passado

pela Casa do Trabalhador, foi o que tem deficiência visual, que já prestava serviço para empresa

por uma terceirizada.

“...onde pegamos esses foi na Casa do Trabalhador. Os dois e um nós já

tínhamos porque ele quando veio pra cá já era deficiente da... da...

visual, e a gente já como ele já estava na empresa ele já foi encaixado.”

b. Seleção: Depois de fazer a solicitação para Casa do Trabalhador, o candidato é entrevistado

primeiro pelo gerente geral, depois pelo gerente da área:

“a gente solicita assim pro... pra Casa do Trabalhador, esses órgãos de

deficiência e o gerente entrevista, escolhe e a gente coloca na função que

a gente tem a vaga.”

De acordo com a entrevistada o Gerente Geral participa de todas as seleções,

entrevistando os candidatos. Outro detalhe sobre a seleção é que o único recurso utilizado é a

entrevista, não existem provas, nem testes, etc.. Foi o que afirmou a gestora:

“Só entrevista...” (GHI)

c. Socialização: Não existe nenhuma cerimônia para receber os recém-contratados. As pessoas,

independente de terem alguma deficiência ou não, são selecionadas e logo em seguida começam

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a trabalhar. O único ritual existente é que, após eles assinarem o contrato, estes recebem um

manual com as normas do hotel e são informados que eles devem ler e trazer sempre consigo. De

acordo com a gestora o que acontece é um acompanhamento durante o período de experiência:

“[...] mas na experiência eles são acompanhados, - „e olha faz isso‟.

Depois vai lá ver, verifica, - „olha não é bem, isso não é feito assim‟. E

vai empurrando até que acabo [...]”

d.Treinamento: Quando se fala em funcionários com deficiência, esta é outra prática inexistente

neste hotel. O que acontece são palestras, por exemplo, quando alguma empresa representante de

produtos que o hotel utilize queira fazer alguma demonstração. Neste caso, os funcionários

participam como a própria gestora explica:

GHI – “Não, não. A gente só faz, como eu lhe disse, a supervisora que

toma de conta deles que vai ensinando, que vai mostrando os produtos, já

a quantidade que usa. Essas pessoas que vendem material de limpeza,

eles mesmos fazem a demonstração de um litro de água pra não sei

quantos copos de, de...”

P - Sei as proporções, né?

GHI – “Isso, e aí eles vão trabalhando.”

Outra palestra que também é proporcionada aos funcionários, segundo relatos, é de

cuidados pessoais:

“o Dr. (nome do médico) veio dar curso, dar palestra de dente, de

produtos.” (GHI)

e. Desenvolvimento: A justificativa para a não existência de treinamento direcionado às PcDs

pôde ser percebida em um dos trechos da entrevista quando houve o questionamento sobre o

interesse do hotel em desenvolver essas pessoas:

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“Olha...(semblante de dúvida), assim... eles não, não demonstram, é isso

que estou lhe dizendo a dificuldade, do, do, do... de uma camareira, de

ser uma camareira, de ser um ajudante de garçon [...], quer dizer não

dá.”

Notou-se que ao responder esta pergunta a gestora quase se engasga, tendo dificuldade

para dar a resposta. Neste contexto, entendeu-se que mesmo constrangida pela resposta que iria

dar a verdade veio à tona: a empresa não tem intenção de investir em seus funcionários com

deficiência, ficando os mesmos relegados a dois setores e sem expectativas de crescimento.

4.1.1.4 Comparação de percepções: Gestora x PcDs HI

Para se chegar ao terceiro objetivo específico foram feitas comparações das percepções

da gestora com as dos funcionários com deficiência em relação à inserção dessas pessoas no

hotel. A grade de categorização utilizada para contemplar este objetivo foi também a mista, visto

já existiam algumas categorias pré-definidas dos dados produzidos pela gestora. O terceiro e

último objetivo específico é:

Comparar as percepções dos gestores e das pessoas com deficiência, quanto às

práticas de inserção dessas últimas em hotéis da rede hoteleira de Belém - PA.

Cabe destacar que as práticas mencionadas no objetivo específico 3, são as de gestão

recursos humanos (categorias pré-definidas), assim como as práticas mencionadas pela literatura

da área (SASSAKI, 1991; COSTILHA, NERI; CARVALHO, 2002; NAMBU, 2003, entre

outros) para inserção de pessoas com deficiência no ambiente laboral (categorias a serem

definidas). Esta mesma observação vale para todos os hotéis pesquisados.

Recrutamento e Seleção

Estas duas categorias houve convergência de informações entre o depoimento da gestora

em relação ao relato dos funcionários. Todos relataram que o recrutamento foi feito pela Casa do

trabalhador (F1HI e F3HI) e convite do próprio hotel (F3HI). Foi observado que existe neste

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hotel forte indício de delegação da prática de recrutamento aos órgãos de apoio à pessoa com

deficiência.

Socialização

Os dados apresentados também mostraram convergência nesta categoria, onde todos

concordaram não haver a prática de socialização, inclusive a gestora.

Treinamento e desenvolvimento (T e D)

Em relação a T e D, constatou-se pelos relatos dos funcionários e da gestora que não

existe investimento por parte deste hotel em treinamento e consequentemente em

desenvolvimento. A gestora ainda chegou a falar em palestras de representantes de produtos que

vêm até o hotel fazer demonstrações, e palestras de saúde e higiene pessoal, mas em seus relatos

não constam indícios de cursos, mini-cursos, participação em eventos, etc. destinados as PcDs

que trabalham neste hotel. Esta informação relatada pela gestora é compartilhada por F3HI,

conforme se observa nos trechos a seguir:

“Não, não. A gente só faz, como eu lhe disse, a supervisora que toma de

conta deles que vai ensinando, que vai mostrando os produtos, já a

quantidade que usa. Essas pessoas que vendem material de limpeza, eles

mesmos fazem a demonstração[...]” (GHI)

“Não, aqui eu estou trabalhando 1 ano e 7 meses e nunca fiz. Já fiz por

fora né, trabalhei por um tempo aqui na (empresa em que trabalhou), aí

de vez em quando tô passando por lá pra ver se tem alguma novidade de

negócios de prédio que eu fiz por lá, aí eu fico na expectativa que na

função que eu tô sempre tem produtos novos que a gente lida todo dia, aí

tem que está atualizado.” (F3HI)

No caso do F2HI, como ele é da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes)

acabou participando de alguns treinamentos específicos para quem faz parte desta Comissão, mas

que nada têm a ver com sua função dentro do hotel:

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“Já, aqui eu já participei da CIPA por duas vezes, teve um outro

treinamento que tá fazendo já um tempo...já tivemos umas três ou quatro

participação, inclusive até de bombeiro.” (F2HI)

Interesse pela inserção

Em relação à inserção das pessoas com deficiência, notou-se pelos relatos da gestora em

comparação com a percepção das PcDs que há divergência de opiniões. De um lado a

organização que deve cumprir uma lei, sob pena de pagar multa, de outro as PcD que têm uma

visão positiva sobre sua inserção naquela empresa. São duas visões diferentes que geraram

relatos diferentes, como os que seguem abaixo:

“O interesse é porque teve a lei, e que a empresa tem aquele percentual

ao qual ela tem que cumprir. E, aí nós fomos solicitados pela delegacia

do trabalho pra levar a quantidade de empregados e deter, foi

determinado que nós tivéssemos, por exemplo oito aprendizes, três

deficientes...” (GHI)

“Talvez seja uma espécie de dar oportunidade pras pessoas deficiente, o

que a pessoa faz muitas vezes, não é porque a pessoa é deficiente que não

é um bom profissional, então acho que deve ser por isso”. (F2HI)

“o interesse do hotel...? acho que eles valorizam nosso trabalho, sabem

que podemos também contribuir, mesmo tendo uma deficiência...” (F3HI)

Alocação de PcD no trabalho

A alocação de pessoas com deficiência é um costume, segundo a literatura, comum em

muitas empresas. A situação encontrada no HI não foi diferente, a gestora expos explicitamente

esta condição como sendo melhor para as PcD e também para o hotel. Em sua entrevista a gestora

explica que não tem como inserir pessoas com deficiência em alguns setores como: cozinha,

restaurante, recepção (incluindo portaria social), serviço de camareira, lavanderia; ou seja quase

todos os setores do hotel, sobrando apenas os setores administrativos, serviços gerais e

manutenção. Como visto no trecho a seguir:

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“Não. No caso, como lhe falei da recepção, porque às vezes não tem

como se colocar um surdo-mudo na recepção que não tem ... não tem

uma certa lógica. (GHI)

Já na alusão do funcionário F3HI, o que transparece é justamente o oposto do que foi

dito pela gestora: que ele teria oportunidade de concorrer a um cargo melhor dentro do hotel, se

ele estivesse qualificado. Segue abaixo dois trechos do relato deste funcionário:

“Acho que não, acho que todo mundo é capaz de exercer um cargo, pode

exercer qualquer cargo sem dificuldade nenhuma [...] (F3HI)

“... você que está qualificado pra poder exercer esta função, agora se

você não estiver, não tem como você ir pra um setor despreparado.”

(F3HI)

Este mesmo funcionário ainda vislumbra a possibilidade de, no futuro, trabalhar na

portaria do hotel e, para tanto, ele está investindo em cursos, para quando a vaga surgir:

“[...] eu tô fazendo curso... quem sabe surge uma vaga de porteiro aqui

né, mas só que eu não tenho... eu tenho pouca experiência porque lá onde

eu trabalhava eu tirava a folga do porteiro, ele tava de folga e eu tirava a

folga dele”. (F3HI)

No Quadro 9 tem-se a comparação entre as percepções da gestora e dos funcionários com

deficiência sobre a inserção das PcDs no hotel HI, mostrando-se os pontos divergentes e

convergentes dos relatos dos envolvidos. Como pontos divergentes foram encontradas práticas

de: Desenvolvimento, interesse pela inserção e setores específicos para PcDs; e como pontos

convergentes as práticas encontradas foram: Recrutamento, seleção, treinamento e socialização.

Como visto a seguir:

Quadro 9 - Comparação gestora x PCDs HI

COMPARAÇÃO GESTORA X PCDS HI

PONTOS DIVERGENTES PONTOS CONVERGENTES

Desenvolvimento Recrutamento e seleção

Interesse pela inserção Treinamento

Setores específicos para PcD Socialização

Fonte: Dados da pesquisa

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4.1.2 HOTEL REDE NACIONAL (HRN)

4.1.2.1 Caracterização do Hotel

Este hotel faz parte de uma rede de hotéis nacional que possui unidades em quatro

estados brasileiros. Ele foi selecionado para pesquisa pelos motivos citados na seção 3.3 e, apesar

de possuir apenas 60 (sessenta) funcionários, a gestora de RH informou que o hotel é obrigado a

contratar pelo menos duas pessoas com deficiência (a cota da rede é de quatro PcDs), pois,

segundo a mesma, após fiscalização do Ministério do trabalho ficou estipulada esta cota em

função do total de funcionários da rede, e não dos hotéis separadamente.

Neste hotel foram feitas as primeiras entrevistas e não houve nenhum tipo de resistência

à pesquisa. Pelo contrário, a gestora se mostrou bastante receptiva. O hotel tem localização

estratégica mas diferentemente dos outros meios de hospedagem pesquisados, este tem poucas

linhas de ônibus passando em sua frente. No entanto, existe também o transporte alternativo, feito

em vans e micro-ônibus e que, apesar de não ser regulamentado, é muito utilizado pela

população.

Como falado anteriormente este hotel deveria cumprir a cota de contratação de duas

pessoas com deficiência, mas na época da pesquisa tinha apenas uma. A gestora falou que estava

“dando um tempo” (GHRN), mas que em breve faria a seleção dos candidatos.

Da observação não-participante foram feitas algumas anotações, como segue:

a. Portaria de serviço:

A entrada de serviço é feita pela lateral do hotel, pelo mesmo local por onde é feita a

entrada de produtos que abastecem o hotel. Na verdade, não existe uma portaria de serviço

propriamente dita, mas sim uma pequena guarita por onde os funcionários passam, e que faz o

controle das pessoas que entram pelo local. Para entrar no hotel os funcionários tem que

caminhar da guarita até a entrada sem nenhum tipo de proteção contra sol e chuva.

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b. Uniformes:

Os únicos funcionários que se teve contato foram: os da recepção, a funcionária com

deficiência e o porteiro que toma conta da guarita. Os uniformes são simples, mesmo os da

recepção; o uniforme da funcionária com deficiência que trabalha nos serviços gerais era similar

ao da pessoa que fica na guarita, feito de tecido grosso apropriado para função.

c. Recepção:

A recepção neste hotel foi boa, os funcionários da recepção foram solícitos no

encaminhamento à gestora de RH, que por sua vez mostrou-se atenciosa e acessível à pesquisa.

4.1.2.2 Elementos Culturais

O direcionamento dado a esta seção é a mesma descrita no item 4.1.1.2. O primeiro

objetivo específico é:

Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de

inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA

Os seguintes códigos foram estabelecidos para esta unidade de análise: para gestora

GHRN (Gestora Hotel Rede Nacional), para os funcionários F1HRN (Funcionário 1 do Hotel

Independente), mudando apenas o número determinado para cada funcionário.

a. Mitos

Este elemento apareceu como se fosse um carro abre-alas da entrevista da gestora

GHRN, e fez parte de seus relatos do início ao fim. Foram encontrados mitos sobre a capacidade

contributiva dessas pessoas, a forma delas trabalharem, e até mesmo sobre o caráter dessas

pessoas. Em seus relatos, a gestora, acentua principalmente os mitos de sentido negativo:

“Eles entram... Ótimo... Depois começam a fazer corpo mole” (GHRN)

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De acordo com a entrevistada é comum as PcDs não trabalharem direito se prevalecendo

da deficiência, segundo ela um dos motivos seria a possibilidade de receber o FGTS, o seguro

desemprego e ainda a facilidade de se recolocar no mercado.

“que é pra quase chegar um ano eles já têm um benefício. De quê?

Seguro desemprego, rescisão e FGTS” (contando nos dedos). (GHRN)

“sabem que no outro dia se eles forem atrás já tem emprego pra eles,

entendeu? É complicado” (frase exclamativa) (GHRN)

b. Crenças

As crenças encontradas nos relatos da gestora deste hotel andam de braços dados com as

crenças, e aparentemente um apóia o outro. Além do que, assim como os mitos todas as crenças

que a gestora tem em relação às PcD são negativas, uma dessas crenças é a de que existe uma

“máfia dos atestados”, segundo seus relatos tem pessoas que chegam até ela com deficiências

muito leves, reforçando sua crença:

“muita coisa é máfia também, se consegue um atestado tal... ela é muito

pouco, muito pouco.” (GHRN)

A gestora também apresentou a crença de que a inserção das pessoas com deficiência foi

uma forma que o governo achou de repassar a responsabilidade da manutenção das PcDs aos

empresários, com isto o governo se isentaria e ainda proveria um ganho para as PcDs. Atrelado a

esta crença vem outra que é a do emprego fácil, o que levaria as PcD só quererem trabalhar até o

período máximo para obter os benefícios do FGTS e do seguro desemprego, e logo em seguida

conseguir um novo emprego:

“as „necessidades especiais‟ (pessoas com deficiência) viviam de...

aposentadoria, benefício. O que o governo fez? Ele tirou do dele e

colocou no do outro (a responsabilidade de prover um ganho), que é o

patrão, que é o empregador, né? E obrigou o empregador a contratar.

Então a gente tem que contratar (torcendo o canto da boca e piscando

um dos olhos).” (GHRN)

“Eles vão recebe (sic) a rescisão, recebe o FGTS, recebe o seguro e

sabem que no outro dia se eles forem atrás já tem emprego pra eles,

entendeu? (GHRN)

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c. Pressupostos

Foi possível identificar ao menos um pressuposto nos relatos da gestora de RH, no que

tange o recrutamento das pessoas com deficiência, que é feito pelo SINE e não pela gestora do

HRN, que solicita à este órgão as pessoas para fazerem só o procedimento deu certo das outras

vezes acabou criando-se o pressuposto de que a melhor forma de fazer o recrutamento é através

do SINE. Tendo, para ela, a vantagem ainda de economizar.

d. Normas

Os relatos da gestora indicam que as normas vigentes dentro do hotel são iguais para

todo mundo, não havendo diferença a favor das PcDs:

“Normal, normas. Eles trabalham 44 horas semanais, sete horas e vinte

minutos por dia com uma hora de intervalo, pega 6:40, eles largam às

15:10. É igual como todo mundo.” (GHRN)

e. Tabus

Os tabus, segundo Freitas (2007), ao contrário dos valores é um elemento da cultura

organizacional que ninguém quer mostrar, ficando escondido. Entretanto, no caso da gestora

entrevistada o que se pôde ver foi uma inversão. Em seus relatos não foram identificados indícios

de valores, diferentemente dos tabus se fizeram presentes. O principal tabu identificado foi o

preconceito, explicito em dois trechos de seu relato:

“É complicado, é uma „racinha‟ pra quem quiser trabalhar (frase falada

entre dentes)” (GHRN)

“Qual o interesse? A gente não tem interesse, o governo te obriga a

contratar. Eu pelo menos não tenho, como eu acabei de te falar, em

relação a terceira idade, menor se tivesse uma que eu pudesse eliminar

seriam eles, tá? Porque eles são... (revirou os olhos para cima).”

(GHRN)

f. Rituais

Este elemento apareceu de maneira muito discreta na entrevista da gestora que alegou

que o RH está sendo implantado e com isso, as práticas também. Enquanto isto não acontece os

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funcionários seguem um ritual básico de no primeiro dia de trabalho após assinatura do contrato

serem conduzidos a alguns setores do hotel e logo em seguida ao seu lugar de trabalho.

g. Histórias

Este elemento não havia sido listado como categoria de análise, mas diante do relato da

GHRN acabou sendo identificada, ao ser relatada a contratação de uma pessoa com deficiência

auditiva:

“uns cinco anos logo quando comecei a trabalhar, eu contratei uma

senhora que o problema dela era surdez, mas eu vou te falar ela ouvia

tudo, ela ouvia do telefone, normal, vou te falar normal que ela ouvia,

mas ela tinha atestado, né? Ela tinha atestado [...]

4.1.2.3 Práticas de gestão de HRN

O direcionamento dado a esta seção é a mesma descrita no item 4.1.1.3. O segundo

objetivo específico é:

Investigar se há e quais as práticas da gestão de recursos humanos adotadas por

hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com deficiência.

Diante do que se pôde observar, o que existe neste hotel é um DP (Departamento de

Pessoal) e que as práticas de Gestão de Recursos Humanos são, portanto, inexistentes. A gestora

desempenha atividades burocráticas do setor, sendo uma delas a contratação de mão-de-obra.

Neste sentido a única atividades desenvolvida para este fim (contratar pessoas) se resume ao

processo de seleção. Porque até a prática de recrutamento é delegada a um dos órgãos de apoio ao

trabalhador com deficiência.

a. Recrutamento: Os profissionais com deficiência são recrutados na APPD (Associação

Paraense de Portadores de Deficiência) e no SINE, porém muito mais no SINE, isto se deve ao

fato de ser mais fácil selecionar candidatos que já tenham passado por um crivo prévio, e ainda

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sem gastar nada mais pelo serviço prestado. E ainda pode-se inferir que, com esta declaração,

todas as chamadas de emprego para PcDs neste hotel são feitas pela deficiência e não pelo cargo.

Este procedimento já está tão imbricado que o recrutamento feito pelo SINE já se tornou um

pressuposto neste hotel:

“Olha eles são recrutados em vários órgãos. Tem a APPD, tem o SINE,

SINE. Tem vários órgãos que pode (sic) contratar. Eu contrato mais do

SINE porque eu acho que ela (funcionária do SINE) manda mais rápido,

a APPD as vezes eu peço e eles demoram muito pra mandar, e o SINE

não eles mandam até rápido, eles têm um banco lá bem...” (GHRN)

Nada (frase exclamativa). Por causa disso vou gastar dinheiro? (sorriu).

E as vezes... vai até aparecer, eu falo como é que funciona, tem que ter

atestado, não sei o que... então... é melhor pedir pra ela mesmo.”

(GHRN)

“Não, não, eu passo via direto e ela (funcionária do SINE) já me

manda.”

b. Seleção: Feito o recrutamento, passasse para fase seguinte que é a seleção. Em um primeiro

momento a informação foi de que na prática de seleção, o único método utilizado é a entrevista.

Depois veio a informação de que também está sendo dada atenção especial à experiência do

candidato, onde existe certa restrição àqueles candidatos que têm muita experiência, porque pode

sinalizar que aquela pessoa tenha algum problema

“Não só entrevista mesmo, só faço entrevista. Depois ele assina um

contrato de três meses.” (GHRN)

“Eu tenho que ver logo isso, se ele pára pouco” (GHRN)

“Muito cheia de carimbo. Passou um mês, passou dois, sabe? Em vários

não passou nem um ano.” (GHRN)

A respeito da severidade das deficiências, foram relatadas restrições para alguns tipos de

deficiência principalmente as mais severas. O hotel também não permite que as PcD concorram

ao mesmo cargo que as pessoas sem deficiência:

“Faz, eu escolho uma bem leve... Porque aqui a gente não contrata para

parte administrativa, mais pra (sic) serviços gerais.” (GHRN)

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“Não porque depois ela faz corpo mole. Ela faz. Depois ela vem dizer

que ela tem uma necessidade... ela... tudo que eu perguntei pra ela tá

tudo bem, mas depois de um certo tempo, ela vai dizer que: - Oh

(exclamação). Não sei o que, não posso fazer isso, não posso fazer

aquilo. (com a voz fina e a boca mole). Entendeu?” (GHRN)

c. Socialização: A pessoa contratada não passa por nenhum tipo de socialização. Foi observado

que existe apenas um ritual que é o de levar os recém-contratados para conhecer as dependências

do hotel e o seu local de trabalho.

d. Treinamento e desenvolvimento:

Estas duas práticas, no período da pesquisa eram inexistentes, mas a gestora alegou que o

Departamento de RH está sendo implantado, e quando for implantado será para todos os

funcionários:

“[...] a gente tá implantando os Recursos Humanos. Nós estávamos com

gerentes de Recursos humanos para formar os Recursos humanos, ele

passou por uma semana em treinamento para formar os Recursos

Humanos” (GHRN)

“É pra todo mundo. Pros funcionários em geral. Até porque, é muito

pouco o que temos.” (GHRN)

4.1.2.4 Comparação de percepções: Gestora x PcDs HRN

Todos os procedimentos descritos na seção 4.1.1.4 são válidos para esta seção. O terceiro

objetivo específico é:

Comparar as percepções dos gestores e das pessoas com deficiência, quanto às

práticas de inserção dessas últimas em hotéis da rede hoteleira de Belém - PA.

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Recrutamento e seleção

Como já relatado na seção anterior este hotel só realiza a seleção dos candidatos, ficando

o recrutamento por conta do SINE, informação compartilhada pela funcionária com deficiência

que também foi recrutada pelo citado órgão:

“Lá no Sisne (sic, referindo-se ao SINE) dali da Almirante Barroso

(principal avenida de entrada da cidade)” (F1HRN)

Como o cargo estava sendo ofertado em um órgão que trabalha para inserção de PcDs no

mercado de trabalho, entende-se que a vaga disponível era exclusiva para este perfil profissional.

E a seleção foi feita utilizando apenas a entrevista como técnica.

Socialização

Os dados apresentaram divergência em relação aos relatos da gestora com os da

funcionária. A gestora mencionou que após assinar o contrato a pessoa faz um passeio pelo hotel

e depois já vai conhecer seu local de trabalho. Já a funcionária disse ter feito um passeio, mas

pata conhecer os locais onde deveria trabalhar (serviços gerais).

Treinamento e desenvolvimento

Não houve ocorrência de relatos sobre treinamento e desenvolvimento de nenhuma das

duas participantes.

Interesse pela inserção

No item tabus(p.38) registrado como resposta ao primeiro objetivo da pesquisa, a

gestora sinalizou a falta de interesse do hotel em contratar pessoas com deficiência e que só o

fazia por ser obrigada por lei. Fato, que pelo relato da funcionária, não era compartilhado por ela,

que entendia que o hotel teria o interesse no seu trabalho e na sua experiência como faxineira:

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“A princípio eles queriam uma pessoa pra assumir a limpeza daqui de

fora aí eles gostaram do meu serviço que eu já tinha experiência [...]”

(F1HRN)

Alocação de PcD no trabalho

Sobre a o isolamento de pessoas com deficiência à setores específicos. A gestora em

seus relatos informou que as PcDs ficam preferencialmente no setor de serviços gerais, não

tendo, portanto, a possibilidade de exercer outras funções. Esta condição se mostrou

desconhecida para a funcionária entrevistada já que esta entendia que pudesse trabalhar em

qualquer setor da empresa:

“Não em qualquer um, mas só que aqui eu acho bom.

Entretanto, o hotel não admite pessoas com deficiência para outro setor que não seja o

de serviços gerais,fato este possível de ser verificado em um trecho da entrevista da gestora, onde

fica clara esta condição:

“Porque aqui a gente não contrata para parte administrativa, mais pra

serviços gerais.” (GHRN).

No Quadro 10, a seguir, tem-se a comparação entre as percepções da gestora e da

funcionária com deficiência sobre a inserção das PcDs no hotel HRN, mostrando-se os pontos

divergentes e convergentes dos relatos dos envolvidos. Como pontos divergentes foram

encontradas práticas de: socialização, interesse pela inserção e setores específicos para PcDs; e

como pontos convergentes as práticas encontradas foram: Recrutamento, seleção, treinamento.

Como visto a seguir:

Quadro 10 – Comparação Gestora x PCDs HRN

COMPARAÇÃO GESTORA X PCDS

PONTOS DIVERGENTES PONTOS CONVERGENTES

Socialização Recrutamento e seleção

Interesse pela inserção Treinamento

Setores específicos para PcDs

Fonte: Dados da pesquisa

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4.1.3 HOTEL DE REDE INTERNACIONAL (HRI )

4.1.3.1 Caracterização do Hotel

Hotel de bandeira internacional que possui 134 funcionários e dois com deficiência,

porém a cota exige a contratação de três, existe uma terceira pessoa com deficiência que trabalha

lá, porém ele não é formalmente contratado. O primeiro contato foi feito com a Gerente Geral

que atendeu de pronto a solicitação para pesquisa fazendo o encaminhamento para Gerente de

RH. Nesse hotel foi encontrada uma situação inusitada, na primeira visita que foi feita ao hotel

foi informado que existiam duas pessoas com deficiência auditiva, mas que elas conseguiam se

comunicar já que as mesmas usavam aparelho e também porque sabiam ler e escrever. Para

surpresa no dia marcado da entrevista desses funcionários notou-se que os dois tinham

deficiência auditiva grave, já que um deles não ouvia absolutamente nada e que o outro estava

quase perto disso. O hotel está localizado em uma área considerada nobre de Belém, numa das

principais avenidas da cidade com várias linhas de ônibus passando à sua porta, facilitando assim

o acesso de seus funcionários.

Neste hotel deveria haver três funcionários com deficiência (cota estabelecida por lei de

acordo com o número de funcionários), entretanto, apenas dois foram contratados.

Da observação não-participante foram feitas algumas anotações, como segue:

a. Portaria de Serviço:

Notou-se uma certa improvisação na entrada de funcionários, já que foi utilizado um dos

espaços da garagem para tal. A entrada é feita pela lateral da rampa de descida e subida dos

carros, com degraus largos e íngremes dificultando o acesso, principalmente para as pessoas com

dificuldade de locomoção, tendo que se apoiar em uma barra lateral para maior segurança. Antes

de acessar a entrada do estacionamento/portaria de serviço um segurança que fica na frente do

hotel questiona o que a pessoa deseja. Já no estacionamento outro segurança faz o

direcionamento do visitante. No local não existe lugar adequado para se aguardar a pessoa com

quem se vai falar. No corredor de acesso ao hotel existem armários dos funcionários para guarda

de seus pertences, e bem na entrada um quadro de avisos com algumas normas, como uso do

estacionamento restrito aos gerentes staff e uso de uniforme para bater o cartão de ponto.

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b. Uniformes:

Pelos uniformes pode-se observar que estes mostram a que nível hierárquico aquele

funcionário pertence. Até mesmo dentro de certos setores existem diferenças, por exemplo, na

recepção existem uniformes diferentes para cada cargo: mensageiros, recepcionista, chefe.

Um dos funcionários trabalha nos serviços gerais, setor que requer tecidos mais fortes e

de cortes mais simples; já a funcionária, por trabalhar na confeitaria do hotel trajava roupas de

tecido mais leve, com um tecido parecido com Oxford, ela vestia Dolman branco, com calça

preta e avental preto por cima da calça.

c. Normas:

Notou-se que os funcionários devem guardar seus pertences na entrada do acesso de

serviço. Uma norma que aparece afixada logo na entrada e que chamou a atenção foi a proibição

de usar o celular nas dependências do hotel, ficando os mesmos guardados no armários

pertencentes a cada funcionário, apenas a gerência tem permissão para usar celular dentro do

hotel. Outra norma que aparece estampada é a da proibição do estacionamento do hotel por

funcionários.

d. Recepção:

O primeiro contato com o hotel foi com o pessoal da recepção, que solicitou que

aguardasse a Gestora de RH, no lobby. Cerca de 10 minutos após, uma das recepcionistas fez o

encaminhamento até a gestora de RH.

4.1.3.2 Elementos Culturais

O direcionamento dado a esta seção foi o mesmo descrito no item 4.1.1.2. O primeiro

objetivo específico é:

Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de

inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA

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Os seguintes códigos foram estabelecidos para esta unidade de análise: para gestora GHRI

(Gestora Hotel Rede Internacional), para os funcionários F1HRI (Funcionário 1 do Hotel Rede

Internacional), mudando apenas o número determinado para cada funcionário.

a. Valores

Neste hotel os relatos da gestora levaram à identificação de valores, sendo que estes

foram identificados como: valores explícitos (declarados) e valores implícitos em relação ao

trabalho das PcD, Notou-se um valor relacionado ao zelo que se tem em não deixar que eles

fiquem sós. Este valor vem em conjunto com outro que é o fato das pessoas com deficiência

serem considerados normais e iguais às demais pessoas e não especiais, palavra que segundo os

estudiosos da área denota discriminação:

“É visto de uma forma respeitosa [...]”.(GHRI)

“[...] Eles são funcionários como outro qualquer (igualdade), a única

diferença é que eles nunca estão sozinhos, sempre tem algum outro

funcionário com eles (zelo).” (GHRI)

b. Mitos

Os mitos já fazem parte do dia-a-dia da pessoa com deficiência e no ambiente de

trabalho eles também são comuns. Nos relatos da gestora GHRI foram encontrados três mitos,

mas este número pode ser muito maior:

“são pessoas que tem uma dificuldade além das demais” (GHRI)

“além das dificuldades que eles vão entrar pra compreender o ambiente

de trabalho [...] (GHRI)

“[...] necessidades deles também tarem executando determinadas

atividades do cargo, né?” (GHRI - sic)

c. Crenças

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Assim como os mitos foram identificadas três crenças neste hotel: a primeira diz respeito

a forma de comunicação utilizada com as PcDs, que é tida como certa e suficiente, sobre o

assunto a gestora diz que:

“[...] a comunicação com eles é feita por alguns cartazes, códigos que

ficam nas paredes dos escritórios.” (GHRI)

A segunda crença diz respeito tem a ver também com comunicação, porém mais

especificamente a participação das PcDs em reuniões e treinamentos, notou-se que a gestora faz

questão de enfatizar que:

“Eles participam normalmente por todos os treinamentos [...]” (GHRI -

sic)

A terceira e última crença identificada é a de que existem deficiências que não poderão

ser alocadas em alguns dos setores, pois estas poderiam atrapalhar a execução do serviço. Além

da possibilidade de haver problemas com os hóspedes, neste sentido GHRI alega que:

“dependendo da necessidade da pessoa a gente tenta alocar aqui uma

vaga que esteja mais de acordo com a deficiência que ela tem, em si, pra

que ela possa executar suas atividades (GHRI)

d. Normas

No que diz respeito às normas, as pessoas começam a ter contato com elas desde o

processo de recrutamento. Depois elas vão se apresentando aos poucos até se materializarem na

contratação, onde algumas estão de forma concreta descritas em manuais e outras são aprendidas

na convivência dentro da organização. Neste hotel foram registradas algumas normas na

observação não-participante e outras foram identificadas em trechos do relato da gestora. No

trecho abaixo esta identificada uma norma sobre a participação em treinamentos:

“Eles participam normalmente por todos os treinamentos, eles são

convocados” (GHRI)

Nos relatos da gestora também foi possível notar que não existem normas específicas

para as PcDs e que estas são iguais para todos. No entanto, foi relatada uma diferença em relação

às PcDs:

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“O único diferencial é, por exemplo, quando os pais deles (que são as

pessoas responsáveis por eles) ligam dizendo que eles têm alguma

consulta ou curso, daí, então, eles são liberados [...]” (GHRI)

Esta seria, então, uma norma informal, criada pela gestora para melhorar o

relacionamento com as PcDs e seus familiares. Outra norma informal identificada em relação às

PcDs foi o fato dos funcionários que tem deficiência nunca estarem sozinhos, tendo sempre a

companhia de algum outro funcionário:

“Eles, quando eles... nunca tão sozinho” (GHRI - sic)

e. Tabus

Os tabus podem até ficar escondidos, porém ficam latentes e a qualquer hora eles podem

aparecer. Nos relatos da gestora GHRI foi identificada uma discriminação velada em relação à

inserção de PcDs no ambiente de trabalho. Em alguns trechos de seu depoimento pode-se notar

esse tabu:

“Olha. Além assim do desafio que é lidar com essas pessoas [...]”(GHRI)

“[...] porque são pessoas que tem uma dificuldade além das demais [...]”

(GHRI)

O fato das PcDs não concorrerem aos mesmos cargos que as pessoas ditas normais,

também configura como uma discriminação, como pode-se perceber no discurso da gestora:

“Não, porque não podemos abrir pra pessoas que de repente podem não

estar de acordo com as exigências do cargo.” (GHRI - sic)

f. Rituais e Cerimônias

Os rituais apareceram nos relatos da gestora, quando esta se refere ao processo de

agregar (termo muito utilizado pela entrevistada) as pessoas com deficiência, bem como quando

há referência sobre o momento de socialização, ou seja, nos eventos programados para

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recepcionar os novos funcionários, bem como nas reuniões e confraternizações que acontecem

em datas festivas ou após treinamentos, conforme trecho abaixo:

“Ontem mesmo teve um, participaram da quadrilha que teve, de tudo, da

festinha, fizemos uma reunião depois aproveitou e fez a festinha.” (GHRI

- sic)

g. Histórias

Este elemento apresentou-se na pesquisa quando a gestora foi questionada se o tipo e o

grau de deficiência faziam diferença na escolha do candidato, quando ela respondeu que fazia

diferença sim e acabou relatando a seguinte história:

[...] nós estávamos precisando de uma pessoa pra portaria de serviço, um

rapaz que foi recrutado tinha uma deficiência na mão, uma deficiência

pequena que estaria adequado para o cargo na entrada de serviço, ele foi

selecionado, mas resolveu não ficar e disse que o ambiente era muito

quente e ele preferia trabalhar em local com ar condicionado”. (GHRI –

sic)

4.1.3.3 Práticas de gestão de RH

O direcionamento dado a esta seção foi o mesmo descrito no item 4.1.1.3. O terceiro

objetivo específico é:

Investigar se há e quais as práticas da gestão de recursos humanos adotadas por

hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com deficiência.

Neste hotel notou-se a adoção de várias práticas de RH, porém nada específico às PcDs,

o que existe são práticas generalizadas utilizadas pra todos os funcionários, independente de

terem ou não deficiência, a seguir tem-se as considerações acerca de cada uma das práticas

observadas neste meio de hospedagem.

a. Recrutamento: As técnicas de recrutamento utilizadas por este hotel são variadas. De acordo

com a gestora eles já têm um bom banco de dados, quando solicitado informação sobre as últimas

contratações de funcionários com deficiência, foi relatado que o recrutamento é feito por diversas

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fontes, inclusive recrutamento interno. A chamada de emprego é feita pela deficiência e não pelo

cargo, o que aparentemente parece ser incoerente pelos valores declarados.

Pelo exposto acima e seguindo a mesma linha de raciocínio a gestora também justifica o

fato do hotel não aceitar que PcDs concorram aos mesmos cargos que as pessoas sem deficiência,

os argumentos da gestora giram em torno da impossibilidade das PcDs executarem algum tipo de

tarefa específica:

“Olha... a nossa fonte última foi anúncios mesmo de jornal, não foi nada

terceirizado, é mais tem o banco, o SENAC (Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial), entre outros locais, mas a fonte foi interna

mesmo de divulgação, em jornais” (GHRN)

“a gente nunca especifica função, mas dependendo da necessidade da

pessoa a gente tenta alocar aqui uma vaga que esteja mais de acordo

com a deficiência que ela tem, em si, pra que ela possa executar suas

atividades, não vou colocar alguém auditivo na minha portaria ou na

recepção que ele não vai ter o entendimento.” (GHRI - sic)

“Não, porque não podemos abrir pra pessoas que de repente podem não

estar de acordo com as exigências do cargo, por exemplo, eu não posso

colocar uma pessoa com deficiência auditiva no restaurante como

garçon, ou na recepção como mensageiro, pois os hóspedes podem

solicitá-los a qualquer momento e eles não terão como atender.” (GHRI -

sic)

b. Seleção: O processo de seleção deste hotel dependerá do cargo que está sendo pleiteado,

podendo ser utilizadas uma técnica ou a combinação de várias. No caso dos dois funcionários

com deficiência auditiva foi relatado que quando a gestora GHRI foi contratada pelo hotel F2HRI

já era funcionária e a contratação de F1HRI já estava sendo finalizada, mas que a seleção deles

foi feita pela aplicação de um teste prático, já que eles tinham histórico de experiência na área.

Porém nesta ocasião, foi esclarecido que na seleção, a escolha do candidato também é pautada no

tipo e no grau de sua deficiência. Conforme observado nos relatos abaixo:

“o que me transpareceu, no momento foi assim, eles já tiveram situações

anteriores já desempenharam funções semelhantes e o fato de não ter

sido uma deficiência física, mãos, braços deu a possibilidade de alocar

nos dois setores: cozinha e governança onde a gente tava precisando de

pessoas pra agregarem” (GHRI - sic)

“[...] Então no teste. - A gente sempre faz um teste (explicou), os dois não

tiveram dificuldades” (GHRI)

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“Com certeza faz sim, pelo fato de que dependendo da deficiência eu não

vou poder alocá-lo em alguns dos setores do hotel.” (GHRI)

c. Socialização: Neste hotel a socialização acontece uma vez por mês ocasião em que todos os

funcionários contratados no período são reunidos. No relato da gestora pôde-se perceber que no

momento da socialização, são apresentadas as normas, bem como os direitos e deveres de todos

os funcionários.

“A socialização é feita uma vez por mês e todas as pessoas contratadas

no mês participam, eles passam por uma espécie de treinamento onde o

hotel é apresentado, o que faz cada departamento, os serviços”. (GHRI)

d.Treinamento: Em relação aos treinamentos, os funcionários com deficiência participam de

todos treinamentos e também de todas atividades organizadas pelo hotel. Entretanto, em nenhum

deles é utilizado um interprete de LIBRAS, o que compromete a efetiva participação destes

profissionais nestes cursos. Ainda com um agravante ninguém dos quase 140 funcionários

domina a LIBRAS dificultando a comunicação com eles no ambiente de trabalho:

“Eles participam normalmente por todos os treinamentos, eles são

convocados, então como a gente utiliza recurso visual né? Então é super

tranqüilo pra eles, porque eles vão lendo o Powerpoint, as figuras, trazer

imagens pra eles conseguirem visualizar melhor.” (GHRI - sic)

“A cada dois meses tem a reunião geral aí toda empresa é convocada e

eles também participam, quando tem alguns treinamentos pontuais, eles

também participam. A semana passada nós tivemos um de atendimento

com a (nome da empresa contratada) estavam os dois presentes.”

(GHRI)

e. Desenvolvimento: A existência da possibilidade de ascensão de carreira foi relatada pela

gestora em um dos trechos de sua entrevista:

“Com certeza, até porque são duas pessoas super acessíveis, não tem

dificuldade em relação a nada, o horário, pontualidade, faltas.” (GHRI)

Este hotel trabalha todas as práticas de RH que fazem parte deste estudo, entretanto não

existem práticas direcionadas exclusivamente para inserção de PcDs. As práticas que foram

citadas no relato da gestora são direcionadas aos funcionários como um todo.

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4.1.3.4 Comparação de percepções: Gestora x PcDs HRI

O terceiro e último objetivo é:

Comparar as percepções dos gestores e das pessoas com deficiência, quanto às

práticas de inserção dessas últimas em hotéis da rede hoteleira de Belém - PA.

Para se chegar ao terceiro e último objetivo seria necessário analisar os relatos da

gestora e também o das PcDs, porém esta análise dentro desses parâmetros não foi possível. Foi-

se buscar na linguagem não-verbal uma tentativa para responder este objetivo. Como será visto a

seguir.

Nesse hotel foi encontrada uma situação inusitada, na primeira visita que foi feita, a

Gestora havia informado que existiam dois funcionários com deficiência auditiva, porém que eles

conseguiam se comunicar, e ainda que eles dominariam a leitura e a escrita, além de também ser

informado que eles não tinham dificuldade de entendimento por usarem aparelhos auditivos.

Neste contexto, este objetivo foi analisado de maneira diferente da maneira feita nas

demais unidades de análise, pelo fato já exposto acima. Portanto, primeiramente serão elencados

os achados retirados dos textos produzidos pela gestora (GHRI) e em seguida serão feitas

algumas considerações sobre os funcionários com deficiência. As práticas utilizadas para

inserção das pessoas com deficiência identificadas neste hotel foram:

Recrutamento

Em um trecho da entrevista de GHRI ficaram registradas as fontes de recrutamento

utilizadas pelo hotel HRI para chamar candidatos com deficiência, entre estas forma estavam os

anúncios nos jornais. O que foi confirmado por F1HRI, este funcionário consegue fazer leitura

labial. O mesmo funcionário também conseguiu responder, depois de muito esforço, que o

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anúncio era para pessoas com deficiência, coincidindo com a informação dada pela gestora que a

chamada de emprego é feita pela deficiência e não pelo cargo.

Estas foram as únicas declarações na linguagem verbal que houve no contato com estes

funcionários. Todas as outras práticas só foram possíveis identificar no relato da gestora.

Seleção, socialização, treinamento e desenvolvimento

Todas estas práticas da gestão de RH foram exploradas na seção anterior (item 4.1.3.4)

Interesse pela inserção (forma negativa)

Após um longo discurso, recheado de mitos, crenças, tabus e também de valores, a gestora

informou que a Lei de Cotas está por trás das contratações das pessoas com deficiência. E que a

imposição da Lei aparece como o principal fator para inserção de PcDs neste hotel. Foi

percebido, no relato da gestora, que a preferência deste hotel na inserção de PcDs é para aqueles

que têm deficiências leves. E que mesmo contratando duas pessoas com deficiência auditiva

grave, busca-se, no entanto, pessoas com o físico perfeito:

“[...] o fato de não ter sido uma deficiência física, mãos, braços deu a

possibilidade de alocar nos dois setores: cozinha e governança onde a

gente “tava” precisando de pessoas pra agregarem.” (GHRI – sic)

Alocação de PcDs (forma negativa)

A alocação de PcDs se dá de acordo com o tipo de deficiência. Os profissionais com

deficiência são alocados em setores específicos, conforme dados obtidos na pesquisa. Notou-se

que a gestora apresentou discriminação e preconceito em relação à capacidade de trabalho das

PcDs e consequentemente sua alocação em vários setores do hotel que foram citados pela gestora

(recepção, lavanderia, restaurante, cozinha, etc.)

No Quadro 11 estão listadas apenas as práticas encontradas no relato da gestora, já que

não foi possível fazer o cruzamento com os relatos das PcDs pelos motivos explicitados no início

desta seção.

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Quadro 11 – Práticas inserção PcDs - HRN

PRÁTICAS ENCONTRADAS GHRI

Recrutamento e seleção

Socialização

Treinamento e Desenvolvimento

Interesse pela inserção

Alocação de PcDs

Fonte: Dados da pesquisa

Diante do exposto, foram feitas anotações com base nas observações feitas da comunicação

não-verbal dos funcionários F1HRI e F2HRI, como será visto a seguir:

Comunicação não-verbal dos funcionários F1HRI e F2HRI (com deficiência

auditiva)

Tendo em vista este contexto que se apresentou e para melhorar a comunicação com

F1HRI e F2HRI foi feita uma adaptação no roteiro de entrevista para o formato de questionário,

as questões tiveram sua linguagem modificada e algumas foram refeitas para melhorar o

entendimento dos entrevistados. Foram impressas duas cópias do questionário, que foram

entregues aos entrevistados juntamente com lápis. Porém logo foi percebido que a realidade era

diferente daquela dita pela gestora, pois notou-se que os dois tinham deficiência auditiva grave, já

que os dois não ouviam nada. E ainda nenhum dos dois utilizam aparelhos auditivos.

As entrevistas aconteceram na sala da gestora de RH, que cedeu seu espaço de trabalho

para realização das mesmas. Como a pesquisa esbarrou na impossibilidade da entrevista ser feita

por meio da comunicação verbal, que seria a fala, a escrita e a linguagem de sinais41

(HOGAN,

2008), diante desta constatação, resolveu-se reforçar as anotações da comunicação não-verbal,

41

“A interpretação da comunicação verbal pode ser feita em todas as suas formas: falada, escrita e interpretada”

(HOGAN, 2001 p. 33)

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apoiada em Davis (1979, p. 178) que defende que a “linguagem se desenvolve também dentro de

um contexto não verbal que faz parte da mensagem”.

Como a situação vivenciada foi atípica todo e qualquer comportamento observado tinha

seu valor (FERREIRA, 2001) para que se buscasse o entendimento da mensagem que aquelas

pessoas estavam passando, mesmo de forma involuntária.

Nesse sentido, foram feitas anotações das observações com base na cinésica que para

Guiraud (2001, p. 59) “é o estudo dos gestos e mímicas utilizados como signos de comunicação,

quer por si só, quer como acompanhamentos da linguagem articulada.” Para cinésica, dentro do

contexto em análise, nenhum movimento ou expressão corporal é destituído de significado

estendendo-se por cinco áreas de estudo que são: o contato visual, os gestos, as expressões

faciais, a postura e os movimentos da cabeça. (FERREIRA, 2001).

A gestora relatou que os dois funcionários participam normalmente das atividades do

hotel como um todo, e enfatiza:

“Fazem questão inclusive de tá participando de tudo (frase exclamativa,

comentário feito sorrindo)” (GHRI)

Percebeu-se que quando eles são convocados para participar de alguma evento dentro do

hotel, eles não têm a mínima idéia do que está acontecendo. Eles participam porque são levados

ao local. E foi justamente isto que aconteceu no dia da entrevista quando eles foram tirados de

seu ambiente de trabalho.

F1HRI chegou primeiro ao local da entrevista, e logo depois F2HRI. Antes de se iniciar

o processo de resposta ao questionário, notou-se que F1HRI estava sentado de cabeça baixa, em

seguida ele levantou a cabeça e olhou de lado com leve franzimento da sobrancelha, esboçou um

breve sorriso com um dos cantos da boca, mas não se levantou; permaneceu sentado, ombros

baixos; cabeça também baixa. Ou seja, esta pessoa não estava nem um pouco confortável, pois

foi retirada do seu trabalho e levado até a sala do RH sem nem ao menos saber o que estava

acontecendo, uma vez que não havia comunicação entre estes funcionários e a gestora.

O olhar e a postura do corpo foram dentro da linguagem não-verbal o que mais marcou;

F1HRI ficava com o corpo levemente inclinado para frente; com olhar desconfiado, que boa parte

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do tempo se concentrava para baixo da mesa. As mãos que ficavam apoiadas nas pernas tinham

seus dedos entrelaçados.

Já F2HRI ao entrar na sala, sentou-se rapidamente na única cadeira que estava

disponível, que era a da gestora de RH. Estava com “ar de riso”, porém desconsiderou os

presentes: cruzou os braços e começou a girar a cadeira de um lado para o outro. Quando, enfim

parou, o movimento repetitivo passou para as pernas, que se balançavam sem parar, ao mesmo

tempo em que baixou a cabeça e os ombros.

De acordo com informações da gestora os funcionários com deficiência sabiam ler e

escrever, o que facilitava o seu entendimento durante os treinamentos. Entretanto quando F1HRI

recebeu o questionário em suas mãos a decepção foi perceptível, pois veio a constatação que ele

não sabia ler, apesar do mesmo ter informado que teria estudado até a 8ª série.

F1RHI sinalizou e falou com muita dificuldade que sabia ler bem pouco, foi entendido

que o pouco era quase nada já que raríssimas palavras foram identificadas por ele. No rosto a

expressão era de desalento, a boca levemente retorcida para um dos cantos e sobrancelhas

erguidas. Aí veio o sinal negativo com a cabeça. Então, foi perguntado:

P – Sabes o que está escrito aqui?

E ele respondeu:

F1HRI – “Não sabe.”

Foi perguntado a F2HRI, através de sinais, se ela escutava alguma coisa e ela com a

cabeça baixa, olhando meio de lado acenou com a cabeça que não. Ao receber o questionário ela

levou uma das mãos à boca e em seguida aos olhos, utilizando sinais foi solicitado que ela lesse e

respondesse as perguntas. Quando então, ela acenou com a cabeça que não e novamente levou as

mãos aos olhos, talvez simbolizando vergonha; ou por ter sido descoberto que ela não sabia ler.

Diante dos comportamentos não-verbais expressos pelos funcionários F1HRI e F2HRI

no momento da entrevista, foram feitas anotações com as quais foi possível elaborar um Quadro

(12) onde foram listados: o contato visual, expressões faciais e postura. Em seguida foram feitas

análises com base na literatura consultada.

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Quadro 12 – Análise do comportamento não-verbal

CONTATO VISUAL

COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL ANÁLISE

No pouco tempo de contato com F2HRI, percebeu-se

que ela ora virava os olhos para cima, ora fixava o

olhar para baixo da mesa, esse último

comportamento foi notado também em F1HRI. Tanto

F1HRI quanto F2HRI só direcionavam o olhar

quando era solicitada a atenção dos dois.

Para a literatura essa “imobilidade” é característica de

quem está imerso nos próprios pensamentos, em

“outro mundo” (DIMITRIUS; MAZZARELLA, 2000;

PEASE;PEASE, 2005)

EXPRESSÕES FACIAIS

COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL ANÁLISE

No contato com F1HRI pôde-se notar dois tipos de

expressões faciais: a boca levemente retorcida para

um dos cantos e sobrancelhas franzidas. A primeira

expressão de F1HRI também foi percebida em

F2HRI.

A primeira expressão é classificada por Dimitrius e

Mazzarella (2000) como sinal de nervosismo.

A segunda expressão de F1HRI é vista pelos memos

autores como uma atitude de suspeita, para eles

“suspeitar é ter dúvidas, mais ainda não ter uma opinião

formada. A pessoa que suspeita de algo ainda está

pensando no que deve acreditar e consequentemente as

características da suspeIta incluem as de estar absorto

nos próprios pensamentos.”(DIMITRIUS;

MAZZARELLA, 2000 p. 186).

POSTURA

COMPORTAMENTO NÃO-VERBAL ANÁLISE

O corpo de F1HRI ficava levemente inclinado para

frente, e os ombros e cabeça baixos. Já F2HRI logo

que entrou na sala e se sentou tinha uma postura

elevada, com cabeça e ombros erguidos, porém após

o primeiro contato F2HRI adotou uma postura

semelhante à observada em F1HRI ficando por

algum tempo também com os ombros e a cabeça

baixos.

A postura altiva de F2HRI ao entrar na sala, apresenta

sinais de uma pessoa, “orgulhosa”, “segura”

(GUIRAUD, 2001 grifos do autor) e disposta a encarar

o que estaria por vir.

No caso de F1HRI sua postura pode ser entendida com

a explicação de Guiraud (2001 p. 33) que diz que

“conforme estejam curvadas [...], as costas (a espinha)

são o signo da „submissão‟, da „humildade‟.” (grifos do

autor). Cardoso tem opinião semelhante: para o autor

“Tórax recolhido ou murcho indica falta de energia,

timidez, submissão ou até mesmo a imagem de uma

pessoa facilmente dominável.” (CARDOSO, 2008 p. 74

grifo do autor)

Em relação a mudança de postura de F2HRI, Pease e

Pease (2005) acreditam que quando duas pessoas

compartilham ponto de vista semelhante, acabam

compartilhando também uma mesma postura. Os

autores dizem que é frequente as pessoas imitarem as

atitudes corporais de outras, como se fosse uma imagem

refletida no espelho. Este fenômeno é denomina por

eles de posturas congruentes.

Fonte: dados da pesquisa, 2011.

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As inferências possíveis de serem feitas em relação ao contexto encontrado, é que o

comportamento não-verbal de F1HRI e F2HRI demonstrou que os mesmos estavam inseguros ao

serem conduzidos ao RH, sem saber de fato o que seria tratado no local. Sendo normal o

nervosismo e a insegurança apresentadas.

Com isto, finaliza-se aqui a análise dos dados do HRI e passa-se para a seção seguinte

onde serão feita a análise comparativa dos dados, com as comparações dos achados das três

unidades de análise.

4.1.4 ANÁLISE COMPARATIVA DOS CASOS

Nesta seção os dados obtidos em cada um dos estudos de caso serão cruzados e

comparados. Assim, após ter sido analisado cada um dos casos no tópico anterior, segue-se a

análise comparativa dos três hotéis que fizeram parte deste estudo. A análise comparativa deste

trabalho segue a mesma ordem das análises anteriores. Inicia-se pelas observações feitas de cada

hotel, seguido pela tentativa de responder os objetivos desta pesquisa.

4.1.4.1 Caracterização dos hotéis:

Portaria social:

Foi observado que o único hotel que tem sua portaria de entrada de serviços organizada e

estruturada é o HI, diferentemente dos hotéis HRN e HRI onde predomina a improvisação, sendo

a pior situação a do HRN onde a entrada dos funcionários é feita por uma guarita.

Uniformes:

Notou-se que este artefato é bem trabalhado nos hotéis HI e HRI, onde foi percebido um

cuidado maior com este símbolo cultural. Ao visualizar os uniformes consegue-se perceber pelos

tecidos, cortes, modelos sinais que apontam para os diferentes cargos, setores, níveis

hierárquicos, etc. Nos mesmos hotéis foi observado um cuidado maior com os uniformes da

recepção, entende-se que isto se deve ao fato deste ser o principal elo de contato com os

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hóspedes. Segundo Pardini, Gonçalves e Kilimnik, (2008 p. 59) os sinais representados pelos

uniformes “carregam o conteúdo positivo da imagem da organização”. Já no HRN estes artefatos

não são tão bem trabalhados o que deixou uma impressão não tão boa quanto os outros.

Normas:

Durante o processo de visita aos hotéis foi possível observar normas que se

apresentaram de forma explícita e outras de forma implícita. Em relação às normas explícitas

foram notados cartazes com normas principalmente proibitivas, como: não permissão para o

acesso ao ambiente de trabalho portando celular ou a utilização da garagem do hotel como

estacionamento (HRI); ou a permissão para entrar nas dependências do hotel apenas

uniformizados e sem bolsas (HI). Já o contato com as normas implícitas veio quando foi

informado que o contato com o gerente deveria ser feito pela portaria de serviço (HI).

Recepção:

Nos três hotéis a recepção foi boa, porém o hotel HI superou todas as expectativas. A

cordialidade e a hospitalidade típica do povo paraense se fez presente em todos os encontros

agendados neste hotel. Também nos três hotéis as entrevistas aconteceram nos horários

marcados, com atrasos pouco significativos.

4.1.4.2 Elementos Culturais

Nesta seção foi feito cruzamento das análises dos relatos das gestoras dos três hotéis

investigados, onde se buscou responder ao objetivo específico número 1, como segue:

Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de

inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA

Dos elementos da cultura organizacional citados pela literatura da área, quase todos

foram encontrados na pesquisa feita com os três hotéis selecionados, como pode ser visto na

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Figura 19. Esta figura foi adaptada de Geertz (1989) e mostra os elementos presos a uma teia

tecida pelas próprias pessoas e que acabam conduzindo seu comportamento diante das várias

situações apresentadas em relação à inserção de PcDs.

Figura 19 – Teia cultural

Fonte: Hofstede, 1984; Thévenet, 1989; Geertz 1989, Freitas, 1991; Tomei e Braunstein, 1993, Schein, 2009)

Para melhor visualização dos elementos encontrados na pesquisa, foi elaborado um

quadro comparativo dos três hotéis, com todos os elementos que foram encontrados na pesquisa

feita com os três hotéis selecionados, como pode ser visto no Quadro 13. Onde pode-se perceber

que os elementos identificados nos relatos das gestoras de todos os hotéis foram: mitos, crenças,

normas, tabus, rituais e histórias. Já os elementos não identificados foram: cerimônias no HI;

valores e cerimônias no HRN e pressupostos no HRI. Notou-se que em nenhum dos hotéis foram

identificados todos os elementos.

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Quadro 13- Elementos culturais identificados

ELEMENTOS

CULTURAIS

HI HRN HRI

Valores “...acho que a empresa

tem cumprido a meta dela

não discriminando nem as

pessoas que são negras,

nada. Tanto que temos

brancos, temos negros e

outros.”

Inexistente “É visto de uma forma

respeitosa [...]”.

Mitos “A gente evita esses

setores por acusa disso,

mas a gente consegue

encaixar eles em outro

local”

“Eles entram... Ótimo...

Depois começam a fazer

corpo mole”

“são pessoas que tem

uma dificuldade além

das demais”

Crenças “... a gente tenta achar

uma pessoa que seja

adequado de corpo.”

“muita coisa é máfia

também, se consegue um

atestado tal... ela é muito

pouco, muito pouco.”

“[...] a comunicação

com eles é feita por

alguns cartazes, códigos

que ficam nas paredes

dos escritórios.”

Pressupostos “Só entrevista. Só a

experiência que a gente dá

45 dias e depois mais 45

dias, é „essa‟ o teste pra

gente saber”

Recrutamento pelo SINE

Inexistente

Normas “Não, não é igual [...] “É igual como todo

mundo”

“Eles, quando eles...

nunca tão (sic) sozinho”

Tabus “[...] também

discriminação de pessoas

de pele escura nós não

temos isso aqui [...]”

“É complicado, é uma

„racinha‟ pra quem

quiser trabalhar (frase

falada entre dentes)”

“[...] além das

dificuldades que eles vão

entrar pra compreender

o ambiente de

trabalho.”

Rituais No momento da

contratação

“É a gente mostra,

mostra o local de

trabalho.”

Processo de agregar

Cerimônias Inexistente Inexistente “Ontem mesmo teve um,

participaram da

quadrilha que teve, de

tudo, da festinha,

fizemos uma reunião

depois aproveitou e fez a

festinha.”

Histórias “[...] ela ouvia do telefone,

normal, vou te falar

normal que ela ouvia, mas

ela tinha atestado, né? [...]

“[...] a moça tinha “um

olho em cima e outro em

baixo”, um próximo a

sobrancelha e o outro na

bochecha [...]”

“[...] ele foi selecionado,

mas resolveu não ficar e

disse que o ambiente era

muito quente e ele

preferia trabalhar em

local com ar

condicionado

Fonte: Dados da pesquisa

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De acordo com o que se pôde observar são poucos os elementos culturais que não foram

identificados na análise dos dados da pesquisa, entre eles: os ritos, os símbolos e os sinais. No

entanto, vários símbolos e sinais puderam ser identificados na observação do ambiente dos hotéis

em estudo, principalmente na estruturação física e uniformes dos funcionários, com destaque para

os hotéis HI e HRI onde a observação foi mais evidente. Notou-se que nestes dois hotéis prima-se

pela aparência de seus funcionários, principalmente os de linha de frente (recepção e portaria

social), com uniformes elegantes e de tecidos mais finos que os demais do hotel, assim como da

aparência de seus ambientes internos.

Em relação à cerimônia este elemento só foi identificado em um trecho do relato da

gestora do hotel HRI, o que é perfeitamente justificável, já que este hotel é o único que tem as

práticas de RH bem definidas e planejadas. Já os rituais apareceram, coincidentemente, no relato

das três gestoras, nos trechos em que mencionam a formalização da contratação dos funcionários

com deficiência, sendo este o único ritual encontrado nos hotéis HI e HRN, diferente do hotel

HRI que além do ritual feito na contratação, este elemento também aparece quando a gestora

GHRI se refere as cerimônias existentes no hotel.

Um elemento que não havia sido pensado e que foi identificado nos três hotéis foi o

elemento histórias. O mesmo acontece com as crenças que andam ao lado dos pressupostos e que

de acordo com a literatura são difíceis de identificar. No entanto como pode ser observado no

quadro 10 elas apareceram, nos relatos das três gestoras.

No caso dos mitos, foi observada uma coincidência de mitos negativos em relação à

competência das PcDs assumirem cargos diversos dentro dos hotéis, colocando em xeque sua

capacidade enquanto profissional. Outro ponto a ser observado é a não identificação do elemento

valores no discurso da gestora GHRN do hotel HRN

Uma vez tendo sido realizada a comparação dos achados nos relatos das gestoras dos três

identificando os elementos da cultura presentes em suas falas. Apresenta-se a seguir a

comparação dos achados para o objetivo específico número dois.

4.1.4.3 Práticas de gestão de RH

Nesta seção também foram feitos cruzamentos das análises do conteúdo dos relatos das

gestoras dos três hotéis, para que se pudesse chegar ao segundo objetivo específico:

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Investigar se há e quais as práticas da gestão de recursos humanos adotadas por

hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com deficiência.

Para melhor visualização das práticas de RH desenvolvidas pelos três hotéis foi

elaborada ao Quadro 14, que apresenta um resumo dos achados.

Quadro 14 – Práticas de RH encontradas

Práticas de RH HI HRN HRI

Recrutamento Órgãos de apoio às

PcDs

Órgãos de apoio às

PcDs

Planejado e

executado pelo

hotel

Seleção Só entrevista Entrevista e análise

de experiência

Depende do cargo

Socialização Inexistente Inexistente Faz uma vez no

mês

Treinamento Só palestras Inexistente Faz com

regularidade

Desenvolvimento Inexistente Inexistente Para todos

Observou-se que das práticas de RH elencadas neste estudo as que apareceram nas

entrevistas dos gestores como sendo práticas utilizadas rotineiramente em todos os hotéis foram:

recrutamento e seleção. No entanto apenas o HRI planeja e executa os dois processos, não

utilizando empresas terceirizadas nem mesmo os órgãos de apoio às PcDs para fazer o

recrutamento de seus funcionários. Este pode ser um sinal de que esta empresa se preocupa com

todo o processo de inserção de PcDs ou simplesmente que ela, por fazer parte de uma

multinacional, tenha que obedecer as políticas da rede. No discurso da gestora esta relação de

poder não ficou clara.

Diferente dos outros dois hotéis estudados (HI e HRN) que acabaram delegando a

prática do recrutamento aos órgãos de apoio ao trabalho de PcDs, que já possuem um banco de

cadastro com estes profissionais, sendo este um dos motivos para estes hotéis assumirem esta

atitude como a mais acertada (pressuposto). Em um trecho da entrevista da gestora do HRN, ela

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justifica sua escolha dizendo que além desses órgãos terem um ótimo banco de cadastrados, ela

também não gasta dinheiro e a pessoa ainda vem toda documentada com atestado.

Em relação à seleção o HI e o HRN seus relatos deram conta de que utilizam apenas a

entrevista como técnica para escolha de candidato, apesar da gestora do HRN em outro momento

enfatiza que também faz a análise da experiência em carteira, prática que tanto pode ajudar

quanto atrapalhar o candidato na hora da seleção.

Quando o assunto é socialização surge outra constatação: a de que apenas o HRI planeja

um evento para receber as pessoas recém contratadas. Esta cerimônia é realizada uma vez no mês

e dá a oportunidade dos novos funcionários conhecerem um pouco mais a empresa, este momento

também se reveste de importância, por mostrar de forma mais explícita sua cultura,

principalmente através das normas apresentadas.

Analisando os dados das entrevistas, verificou-se que a maioria dos gestores não utiliza

a prática do treinamento, sendo o HRI o único hotel a proporcionar este tipo de atividade aos seus

funcionários incluindo os profissionais com deficiência, que participam normalmente de todos os

treinamentos.

Já no HI a gestora relatou que os funcionários fazem treinamentos com seus chefes e

representantes de produtos utilizados por eles na limpeza, mas esta prática está longe de ser um

treinamento formal. No caso do HRN, nem treinamento informal foi observado.

Ao serem questionadas sobre o desenvolvimento das pessoas com deficiência para futura

ascensão de cargo, notou-se uma lamentável demonstração de preconceito principalmente por

parte da gestora do HI que foi taxativa em seu relato ao dizer:

Já no caso de HRI e HRN o discurso é pela ascensão de carreira para todos os

funcionários inclusive àqueles que tenham alguma deficiência. O posicionamento da gestora do

HRN em relação ao desenvolvimento não condiz com seu discurso discriminatório em relação às

PcDs, o que põe em dúvida o que havia sido falado anteriormente.

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4.1.4.4 Comparação de percepções: Gestoras x PcDs

Nesta seção foram feitos os cruzamentos dos resultados obtidos na análise dos três hotéis,

buscando atingir o objetivo específico três:

Comparar as percepções dos gestores e das pessoas com deficiência, quanto às

práticas de inserção dessas últimas em hotéis da rede hoteleira de Belém - PA.

Não foram encontradas práticas efetivas para inserção de pessoas com deficiência no

ambiente laboral, como adequações ou programas direcionados à estes profissionais. Buscou-se,

então, fazer as comparações com base nas práticas de RH utilizadas pelos hotéis para fazer a

inserção, analisando as duas fontes de dados: gestoras e funcionários.

Cabe destacar que no caso do HRI esta comparação foi dificultada pelo fato da

comunicação com os dois funcionários com deficiência auditiva não terem sido tão efetivas

quanto deveria, restando a observação da linguagem não-verbal emitida pelos mesmos.

Na comparação entre os relatos dos gestores e as percepções das PcDs sobre a prática de

inserção destes últimos no ambiente de trabalho, ficou claro que a segunda parte é crédula de que

esta prática acontece pelo fato das empresas acreditarem na sua importância como profissional e

na sua capacidade contributiva, sendo que a recíproca não é verdadeira. No relato das três

gestoras fica claro que o que está por trás da inserção destes profissionais é a legislação que

obriga as empresas a reservarem um determinado número de vagas para estas pessoas.

Esta constatação aparece de forma explícita em trechos das entrevistas das gestoras dos

hotéis HI e HRN, onde as mesmas expressam abertamente esta condição. O discurso mais

veemente é o da gestora do HRN, que se mostra indignada com esta obrigatoriedade e com as

conseqüentes multas, caso a lei não seja cumprida.

Sobre a prática de alocar as PcDs em setores específicos, foram encontrados relatos

desta prática nos três hotéis (HI, HRN e HRI), onde pôde-se observar relatos estereotipado e

preconceituosos demonstrando que nestas empresas as pessoas acabam sendo segregadas em

alguns setores por se entender que elas não teriam “condições” de assumirem outros cargos por

conta das limitações ocasionadas por suas deficiências.

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Pelo que pôde ser observado, este fato não é percebido pelos funcionários que mais uma

vez acreditam na possibilidade de ascensão na empresa em que trabalham, mesmo que as

empresas não oportunizem nenhum tipo de treinamento, como por exemplo, o funcionário do HI

(F3HRI) que está investindo em um curso por conta própria vislumbrando uma possibilidade de

mudança de cargo e de setor.

Entende-se que diante do discurso apresentado pela gestora GHI esta possibilidade seria

muito difícil de acontecer, visto na visão da gestora a recepção (setor almejado pelo auxiliar de

serviços gerais) não seria um lugar ideal para PcDs, este fato pode ser percebido em uma das

falas da gestora, quando ela diz que o hóspede quer ser bem recebido, com uma boa noite bem

dada, quer ver funcionários bonitos (GHI), elementos que segundo a mesma seria difícil de ter

com pessoas deficientes (termo utilizado pela entrevistada).

No caso do HRI, notou-se que a situação das PcDs não é muito diferente, apesar do

discurso da gestora ser inclusivo, sempre aparecem alguns “porém” e as dificuldades de adequar

as PcDs aos cargos emergem.

Em relação às práticas de RH utilizadas para inserção das PcDs foram encontrados

alguns pontos convergentes em relação ao recrutamento e seleção em todos os hotéis. Em relação

à prática de treinamento foram encontradas as seguintes situações:

Hotel HI: A gestora declarou não existir treinamento para as PcDs, e sim palestras de

representantes de produtos e orientações das supervisoras no próprio ambiente de trabalho, esta

declaração foi confirmada por todos os funcionários do hotel

Hotel HRN: Foi encontrada situação semelhante ao hotel HI onde não são oferecidos

treinamentos, sendo esta informação confirmada pela funcionária.

Hotel HRI: Neste hotel foi encontrado um panorama bem diferente em relação aos

outros dois. De acordo com a gestora cursos são ofertados com freqüência e os funcionários que

têm deficiência são incluídos em todos. Por outro lado o que se observou foram duas pessoas que

são levadas a participar de eventos, cursos, reuniões, etc. sem ter a mínima idéia do que está

acontecendo. Isto se deve ao fato do hotel não ter investido na comunicação efetiva com estes

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funcionários. De acordo com a gestora ninguém no hotel sabe falar em LIBRAS e nos cursos

proporcionados também não existe esta possibilidade.

Por fim, verificou-se que atrelado a questão do treinamento, vem a prática do

desenvolvimento desses profissionais, ficando evidenciado que esta não é a intenção de pelo

menos dois dos três hotéis pesquisados (HI e HRN). Apesar dos seus funcionários acreditarem no

contrário.

Encerram-se aqui as apresentações dos dados e inicia-se na seção seguinte a discussão

dos achados.

4.2 - DISCUSSÕES

O objetivo desta seção é discutir os resultados provenientes dos dados retirados dos

relatos das gestoras dos três hotéis pesquisados. Esta etapa do estudo seguirá a mesma sequência

dos objetivos específicos, julgando que desta forma será obtido um melhor entendimento.

Segue discussão sobre os dados do objetivo número1:

Identificar elementos da cultura organizacional perceptíveis no processo de

inserção de pessoas com deficiência em hotéis da rede hoteleira de Belém– PA

A análise dos dados apresentados mostraram a existência nos três hotéis de uma grande

teia (ver Figura 19) com elementos culturais, cheios de significados, que foi tecida pelos próprios

indivíduos (GEERTZ, 1989) pertencentes à estas organizações e onde eles se encontram

“amarrados”.

Nesta teia se encontram os elementos que irrigam a vida da organização. Vários destes

elementos foram identificados nos relatos das gestoras, eles foram se apresentando na pesquisa

um a um, marcando um discurso ideológico em relação à inserção das pessoas com deficiência no

mercado de trabalho dando a oportunidade de conhecermos o posicionamento dos hotéis em

relação ao tema.

Para Freitas (2007, p. 15) “a descrição dos elementos que constituem a cultura

organizacional, a forma como eles funcionam e as mudanças comportamentais que eles provocam

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são maneiras de dar ao assunto um tratamento mais concreto e possibilitar o seu reconhecimento

mais facilmente.” Assim, pelos elementos culturais foi possível identificar o real posicionamento

da organização pesquisada em relação aos profissionais com deficiência.

Nas crenças e mitos identificados notou-se que havia certa influência de uns sobre os

outros, por exemplo, um mito foi identificado no relato da gestora GHRI, quando ela disse:

“são pessoas que tem uma dificuldade além das demais” (GHRI)

Com isto ela acaba reforçando a crença de que existem setores que as PcDs não podem

trabalhar; Tendo até, de certo modo, uma justificativa para uma ação exclusiva. Nesse contexto

Chauí (2001) considera o mito como gerador de representações da realidade organizacional,

fazendo parte das fases da criação histórica da organização.

A carga depreciativa, discriminatória e preconceituosa, foi observada nos tabus que

envolvem a inserção das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Discursos pesados

deram a noção de que esta força produtiva realmente só se encontra nos quadros funcionais por

força da lei. Neste caso, foram encontrados dois “níveis” de preconceito: um pesado, dito de uma

forma agressiva e anti-ética, presente no relato da gestora GHRN; outro velado, que fica nas

entrelinhas, mas que também apresenta restrições à PcD como força de trabalho (GHI e GHRI).

Neste segundo nível é que a maioria das empresas se encaixam, já que o tabu é um elemento que

fica escondido, demarcando áreas de proibição (FREITAS, 1991b).

A surpresa veio por conta dos valores, que são elementos primordiais na vida

organizacional (THÉVENET, 1989; FREITAS, 1991, SCHEIN, 2009) e que não foram

identificados no relato de uma das gestoras (GHRN), o que causou estranhamento foi o fato de

que os valores representam o centro da cultura organizacional sendo estes responsáveis pela

programação mental existente na organização (HOFSTEDE, 1984).

Ainda sobre os relatos da gestora GHRN, foi notado que ao invés dos valores os

elementos mais presentes em seu discurso foram os tabus, tendência que pode ser preocupante,

pois segundo Freitas (2007) explica os tabus, assim como os valores, “são aspectos que irrigam a

vida grupal”. Porém, a autora argumenta que dentro das organizações um é inverso do outro,

onde os valores têm por finalidade orientar comportamentos e por esse motivo deve ser o mais

explicito possível, enquanto que os tabus são silenciados e mais escondidos possível.

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Freitas (1991a) também enfatiza que a importância dos valores deve ser ressaltada, já que

estes formam o coração da cultura organizacional, representando a essência da filosofia da

organização para o atingimento do sucesso, pois fornecem um senso de direção comum para

todos os empregados e um guia para o comportamento diário.

Neste momento não cabe a este estudo fazer qualquer inferência sobre este fato, visto que

se acredita que seja necessário um estudo mais aprofundado para saber as reais razões desta

inversão.

No caso dos símbolos estes são artefatos visíveis que são considerados por Schein (2009)

de fácil de observação, porém difícil de ser decifrado, conforme explicação que parte da seção

2.1.3 (Níveis da cultura).

Outro elemento que segundo Schein (2009) é muito difícil de ser identificado, pois

precisaria de um tempo maior de contato com as unidades de estudo são os pressupostos que

foram identificados nos discursos dos gestores do HI e do HRN, principalmente quando

questionadas sobre as práticas de recrutamento, que nos dois hotéis foram delegadas aos órgãos

de apoio ao emprego à pessoa dom deficiência, esta atitude para os gestores destes dois hotéis é

“taken for granted”, ou seja, tidas como certas (SCHEIN, 2009).

Dois elementos identificados não fazem parte do referencial teórico, são eles: histórias e

linguagem. Com relação as histórias, elas são, segundo Carvalho (2008, p. 28) “são narrativas

baseadas em eventos reais [...]” e foram encontrados nos três hotéis (HI, HRN, HRI). Neste

estudo as histórias vieram atreladas às crenças, aos tabus e aos mitos. Como por exemplo, a

história da GHRN que contou que uma pessoa que contratou com deficiência auditiva falava

perfeitamente ao telefone, este fato reforçou na gestora a crença de que existe uma “máfia dos

atestados” visto que aquela pessoa se tivesse uma deficiência seria muito leve.

Em alguns trechos dos relatos das gestoras foi identificado o elemento linguagem, que

dificilmente é citado pela literatura e que foi definido por Trice e Beyer “como uma forma ou

maneira particular através da qual os membros de um grupo usam sons vocais e sinais escritos

para transmitir significados para os outros” (1984, citado por FREITAS, 1991a). Dessa forma, a

linguagem aparece como uma forma de manifestação da cultura organizacional. Por meio deste

elemento, as experiências são compartilhadas e transmitidas não apenas como um conjunto de

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palavras e termos, mas também recheadas de significados ocultos. A análise de certas

características peculiares a determinada linguagem pode ser útil para desvendar a cultura de uma

organização. Que muitas vezes desenvolvem uma linguagem própria (TOMEI; BRAUNSTEIN,

1993 p. 16).

Neste caso, ancorada em Sassaki (2003a) que diz que é pela linguagem que se expressa o

respeito ou a discriminação em relação às pessoas com deficiências, seja de forma voluntaria ou

não. Notou-se dentro dos três hotéis a existência de uma linguagem própria para se referir às

PcDs. Os termos mais utilizados foram: deficientes (HI, HRN), necessidades (HRN) e portadores

(HRI, HI). Nenhuma das gestoras utilizou o termo pessoa com deficiência recomendado pela

ONU (SASSAKI, 2003a). Apesar da gestora GHRI ser a única a ter conhecimento deste termo,

ela em seu discurso utilizou os termos deficiente e portador.

A seguir encontra-se registrado as discussões a respeito do objetivo 2:

Investigar se há e quais as práticas da gestão de recursos humanos adotadas por

hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com deficiência.

Dentre os hotéis pesquisados apenas um deles (HRI) planeja e executa todas as práticas de

gestão de recursos humanos foco deste trabalho. E os outros dois basicamente fazem o processo

de seleção. Esta afirmação tem como base os discursos das gestoras que “confessaram” utilizar os

serviços de apoio à PcD do SINE e da APPD para recrutar estes profissionais, que chegam até à

empresa já pré-selecionados e com atestado de deficiência, o que acaba facilitando a vida do

gestor de RH.

Este pressuposto encontrado nos hotéis HI e HRN, mostra o despreparo que muitas

empresas têm quando o assunto é inserção de trabalhadores com deficiência. Para Ribas (2000)

isto acontece porque a “maioria das empresas até agora contrata apenas porque se vê obrigada a

cumprir a lei. Acabam contratando poucos, de forma atabalhoada, sem muitos critérios, sem

planejamento e, portanto, sem real comprometimento com a empregabilidade.”

Entende-se que mesmo no HRI, onde existem todas as práticas estudadas, existem

também sinais de que aquelas etapas cumpridas pela inserção das PcDs são feitas apenas por

existir um viés deste hotel ser pertencente a uma rede internacional que tem objetivos e metas que

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devem ser cumpridas. Este pensamento se deu pelo fato de que no discurso da gestora existem

indícios de os treinamentos ofertados pelas duas pessoas que trabalham na empresa e que têm

deficiência auditiva não saberem ler nem escrever (informação repassada através de sinais pelos

próprios funcionários em entrevista).

Em todos os hotéis pesquisados, notou-se que no processo de seleção o principal requisito

para contratação é o tipo e a severidade da deficiência ficando de fora as mais severas, o que leva

a crer que a inserção das pessoas no rol de funcionários destas empresas não significa que ela

esteja sendo incluída. (FERNANDES; SILVA, 2008). A luz da teoria de Sassaki (2003) na

realidade, tal ato é denominado integração. Complementando esta idéia Guimarães (1999) diz

que na integração, a adaptação é sempre pontual não exigindo uma mudança na estrutura da

empresa, sendo a pessoa com deficiência que passa a ter de se adaptar a uma situação não muito

bem planejada.

Este fato foi comprovado em dois dos hotéis pesquisados (HI e HRN), onde basicamente

a prática de gestão de RH inserção existente é a seleção, que se baseia apenas na entrevista e que

tem como critério absoluto a busca por uma deficiência leve, e não por uma pessoa que tenha as

competências necessárias ao cargo.

Todos os hotéis relataram não ter dificuldades em contratar pessoas com deficiência, no

entanto o único que cumpre a cota determinada pelo Ministério do Trabalho é o hotel HI, já que

nos hotéis HRN e HRI está faltando um funcionário com deficiência em cada.

Em relação à socialização, importante prática da gestão de recursos humanos que visa não

somente integrar os novos funcionários à empresa, mas também introduzir sua identidade e mais

que isto, na socialização acontece o processo de aprendizagem de valores, crenças e formas de

concepção do mundo próprio de uma determinada cultura organizacional (CARVALHO-

FREITAS et al., 2001, p. 265). O que faz desta prática imprescindível para ambas as partes. A

socialização é mais uma prática realizada apenas pelo hotel HRI, nesta cerimônia participam

todos independentes de ter ou não deficiência. Sendo um momento importante para quem sempre

se sentiu excluído. Já nos outros hotéis (HI e HRN) este tipo de ação inexiste.

Quanto ao treinamento e desenvolvimento (T e D) a situação se repete. Apenas o HRI tem

ações rotineiras na área de T e D. Já nos hotéis HI e HRN não existem ações desta natureza. No

depoimento da gestora GHI fica claro que não é intenção deste estabelecimento hoteleiro investir

em seus funcionários com deficiência, Esta ação impeditiva é também chamada pela literatura

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(Dias, 2008; Sassaki, 2003) de barreira atitudinal. Cox e Baele (1997) observam que um dos

fatores geradores do sentimento de exclusão é a falta de acessibilidade atitudinal, que traz

imbricada uma série de preconceitos e estereotipia.

Mas por que não investir nestas pessoas que já estão no quadro funcional da empresa? A

resposta para esta pergunta pode estar na conceituação de Marcondes (2008) sobre o que é

Treinamento e Desenvolvimento . Ele diz que: “treinamento é o aprimoramento do desempenho

do funcionário para que possa aumentar a produtividade dos recursos” já o desenvolvimento o

autor entende que é a capacitação do empregado para alcançar novas posições [...]”

(MARCONDES, 2008).

Em explicação semelhante Tachizawa (2004, p. 219) ressalta que a expressão

“treinamento e desenvolvimento” significam que as organizações não devem só ensinar a

executar tarefas e dar orientações para aumentar a produtividade, aspecto que estaria mais ligado

ao treinamento. O autor enfatiza que as organizações devem também investir em fatores que

dessem condições para o crescimento profissional, aspecto que estaria mais voltado ao

desenvolvimento.

Entretanto, remando na direção contrária ao que disse Marcondes e Tachizawa estão os

hotéis HI e HRI, que com suas crenças, mitos e tabus que envolvem as pessoas com deficiência,

estigmatiza e afasta-as principalmente do convívio com os hóspedes. Nos relatos das duas

gestoras (GHI e GHRN) esta condição fica bem clara, quando no processo de seleção não são

considerados itens como: escolaridade e experiência profissional.

Quando foram feitos questionamentos sobre as práticas de RH, pôde-se perceber nos

discursos das gestoras alguns sinais de preconceito e discriminação. A seguir estão listadas

algumas características destes discursos:

Preferência por deficiências leves;

Alocação em setores exclusivistas;

Busca por deficiências que se pudesse esconder;

Falta de perspectiva de crescimento dentro da empresa;

Crença de que as pessoas com deficiência não tem capacidade para desenvolver

atividades diversas;

Cumprimento da Lei 8213/91 (Lei de cotas) como principal motivador para contratação

de PcDs.

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A realidade encontrada mostra o desrespeito e o desconhecimento das capacidades de uma

PcD, o que para Ribas (2000) ainda são os grandes condutores da exclusão ou até mesmo

segregação em determinadas funções dentro da empresas, para o autor, isto se deve ao fato de que

da sociedade da competição de não serem compatíveis com os ideais e normas preestabelecidas

pela cultura da competitividade (RIBAS, 2000).

Comparar as percepções dos gestores e das pessoas com deficiência, quanto às

práticas de inserção dessas últimas em hotéis da rede hoteleira de Belém - PA.

O cruzamento das respostas da entrevista das PcDs com as das gestoras deu a

oportunidade de entender como esta relação funciona. Foi notado que houve convergência nos

depoimentos das gestoras em relação aos depoimentos dos funcionários com deficiência em

relação às práticas de RH no que tange o recrutamento, a seleção, a socialização e o treinamento.

Já em relação ao desenvolvimento, notou-se a influência da teia da rede social e cultural

em que se vive e descobriu-se que as pessoas com deficiência acreditam no discurso de que sua

inserção naquele hotel se deve ao fato deste acreditar em suas potencialidades enquanto

profissional e que lhe será dada oportunidade igual aos demais funcionários dentro da empresa.

Neste sentido acredita-se que mais uma vez a cultura organizacional está operando. De

acordo com Freitas (1991b) isto acontece porque a cultura organizacional funciona como “um

poderoso mecanismo de controle, que visa a conformar condutas, homogeneizar maneiras de

pensar e viver a organização, introjetando uma imagem positiva dela, onde todos são iguais,

escamoteando as diferenças e conflitos inerentes a um sistema que guarda um antagonismo e

anula a reflexão.” (FREITAS, 1991b p. 74)

Este trecho de um artigo de Freitas retrata exatamente a situação que os profissionais com

deficiência estão vivenciando nos três hotéis pesquisados e o porquê deles não conseguirem

enxergar este cenário, já que tanto os funcionários do hotel HI quanto os do HRN têm uma

percepção positiva em relação a sua inserção como profissional nesta empresa; já que eles, como

foi relatado anteriormente, têm a crença que poderão ter as mesmas oportunidades de crescimento

e desenvolvimento, dadas às pessoas sem deficiência. O que não coaduna com o discurso das

gestoras que mostrou justamente o oposto da crença desses funcionários.

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Percebeu-se que atrelada a inserção de PcDs está o simples cumprimento da Lei de Cotas,

realidade brasileira que já foi apontada no referencial teórico deste trabalho. e não a inclusão

social de uma força de trabalho, consciente de suas limitações, mas que pode ser tão produtiva

quanto qualquer outra pessoa (CRISTINA; RESENDE, 2006).

Os relatos das gestoras dos três hotéis também indicaram a alocação destes funcionários

em setores exclusivos, onde se leva em consideração a deficiência e suas limitações e não a

capacidade contributiva destes profissionais, realidade que também já foi apontada pela literatura

consultada.

Assim encerra-se o capítulo das análises dos resultados e discussões, e chega-se enfim ao

capítulo final deste estudo que são as conclusões e recomendações.

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5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Esta dissertação procurou investigar como a cultura organizacional e as práticas de

gestão de recursos humanos orientam a inserção de pessoas com deficiência em três hotéis da

rede hoteleira de Belém do Pará, tendo como foco os gestores de RH e as PcDs contratadas por

estas empresas.

A partir da formulação dos objetivos geral e específicos assim como pelos resultados

obtidos por meio das análises comparativas dos casos, chega-se às conclusões e às

recomendações deste estudo, que são apresentadas a seguir.

5.1 CONCLUSÕES

Esta pesquisa desenvolveu uma reflexão sobre a cultura organizacional e a inserção de

pessoas com deficiência no ambiente de trabalho, que tomou como base a orientação e subsídios

dados pela literatura no estudo da cultura organizacional, que ajudaram na busca para resposta da

pergunta de pesquisa.

Por entender que é a cultura que rege as ações dentro das empresas, e que esta tem o

departamento de RH como seu principal disseminador, setor que, segundo a literatura, atua em

conformidade com os valores e crenças da empresa, fortalecendo sua aceitação e consolidação

entre os empregados em todos os níveis hierárquicos.

Por uma questão metodológica optou-se por expor as conclusões seguindo os passos dos

objetivos específicos.

O primeiro objetivo dessa pesquisa foi identificar elementos da cultura organizacional,

por meio do discurso de gestores, ao se referirem à inserção de pessoas com deficiência em hotéis

da rede hoteleira de Belém. Através deste objetivo várias inferências puderam ser feitas.

Os dados identificaram a existência de vários elementos da cultura organizacional, entre

eles: valores, crenças, pressupostos, mitos, tabus, entre outros. Estes elementos demonstraram

como as pessoas com deficiência são vistas dentro das organizações hoteleiras e de que forma

acontece sua inserção.

Os elementos culturais identificados mostraram uma forte tendência das empresas

hoteleiras pesquisadas em ver a inserção dos profissionais de forma negativa, preponderando os

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tabus sobre os valores. A manifestação desta condição foi uma surpresa, visto os tabus são

elementos pouco divulgados dentro das organizações e que de acordo com a literatura esta

condição não é exposta, mas fica velada na parte oculta da cultura.

Pelos elementos identificados nos relatos das gestoras pode-se notar que as pessoas com

deficiências são inseridas nos quadros funcionais destas empresas apenas pelo cumprimento da

lei e consequentemente para fugir de multas. Alguns elementos se destacaram mais que outros e

despiram a realidade vivida por estes profissionais dentro destas empresas, entre eles os tabus,

crenças e mitos.

No caso dos tabus, foram encontrados vários, o que mais chamou atenção foi em relação

à aparência física, encontrado como fator condicionante para seleção de candidatos a vaga. Todos

os hotéis demonstraram este tabu, sendo identificado de forma mais sutil ou explícita. O discurso

mais explícito foi da gestora do HI, que disse literalmente selecionar àqueles que a deficiência

pudesse ser escondida. Esta problemática já havia sido levantada em outros estudos, e foi

confirmada também por esta pesquisa.

Neste contexto percebeu-se a existência da crença de que é melhor para os hotéis e para

os hóspedes que se contratem pessoas que tenham deficiência o mais leve possível. Deixando de

fora aquelas pessoas que têm deficiências mais severas. O que vai de encontro ao Decreto

5.296/04 que trás em seu texto mudanças na caracterização das deficiências para aquelas mais

severas, devendo as empresas obedecer ao que está determinado em tal lei.

Porém, notou-se que na inserção das pessoas com deficiência existe o “jeitinho

brasileiro”, traço da cultura brasileira, presente nas contratações feitas pelos hotéis que acabam

inserindo pessoas com deficiências leves.

Diante dos elementos culturais encontrados ficou claro que a inserção acontece tendo

como pano de fundo sempre o cumprimento da Lei 8213/91 também chamada Lei de Cotas.

Pelos discursos das gestoras pôde-se verificar a existência de dois perfis de inserção:

1. Um que insere as PcDs em seus quadros funcionais por força da lei (HI, HRN), onde

se notou que há indiferença em relação a capacidade contributiva destes profissionais;

2. Outro que insere por força da lei (HRI), mas que tem ações inclusivistas de

treinamento para seus funcionários que tem deficiência auditiva. Entretanto, a empresa não faz as

adaptações necessárias para tornar os cursos acessíveis a estes profissionais.

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Estes perfis foram identificados nos elementos crenças, tabus, normas e mitos. Em

relação aos mitos ficou evidenciado total despreparo das gestoras dos hotéis HI e HRN no trato

com os funcionários com deficiência, com discursos carregados de preconceito e estigmas.

Chegando ao total desrespeito e falta de ética profissional, quando GHRN chama os profissionais

com deficiência de “racinha”.

A utilização de rótulos, de adjetivações, de substantivação da pessoa com deficiência

também foi uma constante nos relatos das gestoras que se dirigiam aos profissionais com

deficiência de diversas formas.

Pelos mitos, tabus e crenças identificados pôde-se inferir que a inserção destes

profissionais de forma completa fica comprometida pela presença destes elementos que se

estabeleceram em todos os hotéis.

O segundo objetivo deste estudo foi investigar a existência de práticas da gestão de

recursos humanos adotadas por hotéis da rede hoteleira de Belém para inserir pessoas com

deficiência. Diante dos dados ficou comprovado que o único hotel que adota todas as práticas

evidenciadas neste estudo (recrutamento, seleção, socialização, treinamento e desenvolvimento)

foi o HRI como descrito na Quadro 14 (seção 4.1.4.3). E ainda com restrições, já que percebeu-se

que em relação às práticas de treinamento e desenvolvimento não existe a acessibilidade

necessária para que os funcionários tenham o real entendimento do que está sendo repassado nos

cursos para posterior aplicação.

Com relação aos hotéis HI e HRN basicamente a única prática efetivamente exercida

pelos hotéis é a seleção, já que o recrutamento é delegado aos órgãos de apoio ao emprego de

PcDs como SINE e APPD, como pressuposto de que nestes locais além do extenso banco de

cadastro com estes profissionais eles já chegam à empresa documentados com atestado

facilitando o trabalho do RH. Comprovando-se, com isso, que o que importa para estas empresas

é preencher a cota que a lei obriga.

Quanto à seleção, que é onde se dá a primeira oportunidade de moldar a cultura desejada

pela organização, ficou claro que somente o HRI tem a preocupação de ajustar sua seleção ao

perfil do candidato recrutado, podendo ser utilizadas várias técnicas para auxiliar nesta escolha,

conforme relato de GHRI, no caso dos dois funcionários com deficiência auditiva contratados

foram observados: a experiência na função e seus desempenhos em um teste prático aplicado no

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hotel. Já com relação ao HI e HRN a seleção aparece apenas como uma etapa da contratação de

PcDs, sem planejamento, sem organização, sem exigências.

Neste contexto, infere-se que estes hotéis (HI e HRN) selecionam, dentre os profissionais

com deficiência, aqueles que lhes são mais convenientes, tornando a prática de seleção um ato

discriminatório, excluindo deste processo as pessoas com deficiências mais graves.

Apesar destas diferenças entre os hotéis HI, HRN e HRI nas práticas de recrutamento e

seleção, as análises das entrevistas identificaram que a alocação de pessoas com deficiência em

setores exclusivos é uma temática comum entre as gestoras dos três hotéis, que se apóiam na

égide das limitações das deficiências de seus funcionários em assumirem determinados cargos.

Diante desta constatação, pode-se afirmar que nos hotéis pesquisados existe um foco na

deficiência e em suas limitações, em detrimento dos potenciais das pessoas e das suas

possibilidades de contribuição à empresa. Ficando os mesmo exilados em cargos específicos,

como por exemplo, serviços gerais (4 dos 6 entrevistados têm esta função).

Em todos os casos o que se percebeu foi que quando as gestoras citam setores onde seria

difícil inserir funcionários com deficiência, sempre seus relatos são pelo extremo da deficiência,

como por exemplo: Pessoa com deficiência visual na cozinha (GHI); deficiência auditiva na

recepção e no restaurante (GHI e GHRI); pessoa com deficiência física como camareira (GI), etc.

Dessa forma criaram-se barreiras e as pessoas com deficiência acabam sendo restritas a poucos

setores.

Por último, é importante sublinhar que diante da exposição de discursos tão

discriminatórios, não surpreendeu o fato de não serem encontradas referências à modificação dos

postos de trabalho para adequá-los aos trabalhadores com deficiência, pelo contrário são as PcDs

que, neste contexto, estão se adaptando aos cargos.

Os resultados também indicaram que a inexistência das práticas de treinamento e

desenvolvimento nos hotéis HI e HRN está relacionada ao exposto anteriormente. De acordo com

o discurso de suas gestoras, não há possibilidade de ascensão, nem de mudança de cargo para

outros setores, por terem como crença vários fatores impeditivos, como: a aparência física e a

própria deficiência.

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Assim, pode-se perceber que a questão da acessibilidade não se resume às questões físicas

(estruturais), mas também de revelar o quanto as pessoas são acessíveis e as mudanças que

deverão acontecer no ambiente de trabalho.

O terceiro e último objetivo foi comparar o discurso dos gestores com a percepção das

pessoas com deficiência em relação às práticas de inserção em três hotéis de Belém. Para se

chegar a este objetivo foi necessário fazer cruzamentos dos discursos dos gestores com os

discursos dos funcionários com deficiência. Que trouxe a tona considerações sobre a inserção

destes últimos nos hotéis pesquisados.

De modo geral foram encontradas mais convergências que divergências nos discursos

dos dois envolvidos na pesquisa. As convergências se deram em relação às práticas de gestão de

RH, sobre o recrutamento, seleção, socialização e treinamento.

Dois pontos divergentes foram notados, sendo que os dois têm uma relação muito

próxima. O primeiro diz respeito ao motivo pelo qual as empresas hoteleiras inserem em seu

quadro funcional as PcDs, e descobriu-se que os gestores têm a credulidade de seus funcionários

sobre a importância que os últimos têm para a empresa, condição que não é compartilhada pelos

primeiros, já que o imperativo é pelo cumprimento da lei de cotas. E mesmo quando se tem um

discurso “inclusivo” (GHRI) pela inserção de PcDs, nota-se vestígios de discriminação quando

são listadas várias dificuldades em relação à estas pessoas no ambiente de trabalho, dificuldades

estas que poderiam se ter com qualquer pessoa tenha ela uma deficiência ou não.

A segunda divergência vem atrelada a primeira que é justamente a questão do

desenvolvimento, que para os funcionários de dois (HI e HRN) dos três hotéis a empresa teria

intenção em mantê-los e desenvolvê-los, porém o discurso dos seus gestores diz justamente o

contrário.

Em relação ao hotel HRI o que se pode inferir é que pelo fato dos dois funcionários

terem deficiência auditiva e o hotel não providenciar um ambiente acessível, eles são levados a

reuniões, festas, treinamentos que eles nem tem idéia do que se trata, já que a única linguagem

que os dois dominam é a LIBRAS, e que ninguém no hotel tem conhecimento. Então, diante

desta conjuntura entende-se que o discurso da gestora GHRI de que “Eles fazem questão

inclusive de tá participando de tudo” não coaduna com a realidade destes profissionais. Ficando

evidente que, apesar do discurso em favor da inclusão social, este é situacional, tendo uma grande

diferença entre o que uma coisa parece ser e o que realmente ela é.

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Um achado que não faz parte dos objetivos, mas que deve ser revelado foi que diante do

discurso das gestoras e da observação feita nos locais de pesquisa, evidenciou-se que os três

hotéis de Belém, estão ainda na fase de integração da inserção de PcDs no ambiente de trabalho.

As empresas que estão nesta fase são aquelas que colocam seus funcionários com deficiência em

setores exclusivos, portanto segregativos, com ou sem modificações, de preferência afastados do

público (SASSAKI, 2003b). Neste cenário as pessoas também dificilmente participam de

programas de treinamento e desenvolvimento

A título de ilustração, tem-se no Quadro 15 a visualização da situação identificada dos

hotéis de Belém, que fizeram parte da pesquisa, em relação à inserção de PcDs (marcado de

azul).

Quadro 15 - Os paradigmas de inclusão de PcD e as formas de atuação das empresas

CARACTERÍSTICAS PARADIGMA

Assistencialismo Integração Inclusão

Período em que

predomina

Década de 1970 Década de 1980 A partir dos anos

1990

Terminologia

utilizada

Deficientes Pessoas portadoras

de deficiência (PPD)

Pessoas com

deficiência (PcD).

Forma de inserção Fora do ambiente

empresarial por meio

da contratação de

cooperativas sociais e

oficinas protegidas

Dentro do ambiente

empresarial, porém

em ambientes

específicos

Em todos os

ambientes da

empresa.

Tipos e graus de

deficiências

contratadas

Física, auditiva, visual

e mental consideradas

severas

Física, auditiva,

visual e mental

consideradas leves

Física, auditiva,

visual e mental

independente do

grau.

Premissa Tutela PPD se adequam às

empresas

Empresas se adéquam

às PcD.

Acessibilidade Elemento não

contemplado

Restrita ao aspecto arquitetônico

Observância de

aspectos

arquitetônicos,

comunicacionais,

metodológicos,

instrumentais,

programáticos e

atitudinais.

Motivo da

contratação

Caridade Obrigação legal Responsabilidade

social e valorização

diversidade. Fonte: Adaptado de SASSAKI, 2003b

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O Quadro 15 pode-se perceber que os três hotéis pesquisados, pelas características

apresentadas, estão quase que totalmente no paradigma de integração (década de 1980), tendo

ainda o agravante de no item acessibilidade ainda estar no paradigma do assistencialismo (década

de 1970), tendo portanto, muito a ser trabalhado na cultura destas organizações para inclusão das

PcDs.

Neste contexto, existe a favor da inclusão das PcDs no mercado de trabalho além das

pressões legais, as pressões do mercado. Já que investir no social está na moda, diante de uma

sociedade que vê com muitos bons olhos as empresas que demonstram preocupação com

questões sociais, levando as pessoas a terem uma imagem positiva daquelas que têm um

comportamento inclusivo.

Ao término deste trabalho, constata-se que mesmo com a existência de um enorme

aparato jurídico (tanto nacional, quanto internacional), visando à promoção dos direitos das

pessoas com deficiências, ainda existem forças culturais que dificultam o processo de inserção

das pessoas com deficiência ao no mercado de trabalho, havendo a necessidade de mudanças em

contextos sociais de forma mais ampla. Sobretudo em função da herança cultural e histórica de

preconceitos, discriminação, desigualdades e injustiças sociais que persistem, em certa medida,

nas relações sociais no Brasil.

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5.2 RECOMENDAÇÕES

“Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer

alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que

posso. “O que eu faço, é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano

será menor.”

Com este pensamento de Madre Teresa de Calcutá inicia-se a seção final desta

dissertação, com a certeza da contribuição dada por este estudo à sociedade em geral e

principalmente às pessoas com deficiência que têm sua história marcada por uma cultura baseada

em discriminação e preconceito.

Sabendo que a produção do conhecimento não se esgota e visando contribuir para a

continuidade de estudos nesta área, mesmo diante dos desafios impostos para a realização desta

pesquisa, sugere-se que outras produções científicas possam ser elaboradas no sentido diante não

apenas das lacunas percebidas por esta pesquisa, mas também sugestões para que novas

constatações e descobertas possam ser realizadas, portanto recomenda-se que:

Em investigações futuras os líderes (gerentes gerais) sejam inclusos como sujeitos da

pesquisa;

Esta investigação seja estendida para outros hotéis da cidade de Belém que tenham mais

de 100 funcionários, para que a visão do problema de pesquisa seja ampliada;

Este estudo também seja feito em outros braços da indústria da hospitalidade;

Esta pesquisa seja feita em um ou mais estados brasileiros, até mesmo em regiões

diferentes do território nacional e comparações posteriores;

Esta investigação seja feita utilizando a postura clínica e a observação participante;

Fazer um estudo sobre mitos organizacionais e pessoas com deficiência;

Sejam feitos estudos que incluam os traços da cultura brasileira;

Sejam feitos estudos que incluam outras práticas de gestão de RH, como por exemplo,

avaliação de desempenho, remuneração, etc.;

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Fazer um estudo sobre as fases da inserção das PcDs no mercado de trabalho em Belém,

baseado em Romeu Sassaki;

Desenvolver estudos que busquem identificar quais as barreiras encontradas em relação à

inserção de pessoas com deficiência;

Elaborar um estudo para que seja investigada a influência da aparência física para cultura

organizacional.

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171

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APÊNDICE A: Roteiro 1 - Gestores de Recursos Humanos

PARTE 1

Hotel (código): Data:

Nº de funcionários: Nº de PcDs:

Gestor participante (código): Idade: Sexo:

Formação:

Tempo no Hotel: Tempo no cargo:

PARTE 1

1. Qual o interesse ao se contratar PcD?

2. Onde as PcDs são recrutadas?

3. Como é feita a chamada de emprego: pela deficiência ou pelo cargo?

4. PcD concorrem com PsD, aos mesmos cargos?

5. O tipo e o grau de deficiência fazem diferença na escolha do candidato?

6. Quais os meios utilizados para se fazer seleção das PcDs?

7. Quais as dificuldades encontradas para se fazer contratação de PcDs?

8. Quais os tipos de deficiência que têm os funcionários que trabalham aqui?

9. Faz-se a socialização de PcD juntamente com as PsDs?

10. Como é feita a socialização de PcD?

11. Como é a rotina de trabalho de PcD?

12. Existem normas internas e procedimentos específicos para PcDs?

13. PcD trabalham em ambientes comuns aos hóspedes?

14. Quais os Setores mais adequados ao trabalho de PcD?

15. Existem adaptações para assegurar a acessibilidade de PcD, aos ambientes de trabalho?

16. Que tipo de adaptação, por exemplo?

17. Existe política de treinamento e desenvolvimento direcionada às PcD?

18. Há interesse em manter e desenvolver PcDs contratadas?

19. Dá-se orientação/treinamento, aos demais funcionários, sobre como se relacionar com PcDs?

20. Qual o nível de rotatividade dentre as PsDs?

21. Como a empresa vê o trabalho de PcDs ?

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APÊNDICE B: Roteiro 2 - Funcionários

PARTE 1

Funcionário (código): Idade: Sexo:

Escolaridade/Formação: Tipo de deficiência:

Causa (nascença/congênita/adquirida):

Utiliza algum recurso (adaptação):

Cargo ou função: Tempo no Hotel: Tempo no cargo:

PARTE 2

1. Na sua opinião, qual o interesse ao se contratar PcD?

2. Onde você ficou sabendo da vaga para esse emprego?

3. Como foi feita a chamada de emprego: pela deficiência ou pelo cargo?

4. Vocês concorrem com PsD, aos mesmos cargos?

5. Na sua opinião, o tipo e o grau de deficiência fazem diferença na escolha do candidato?

6. Quais os meios que foram utilizados para se fazer o processo de sua seleção? Quem participou?

7. Na sua opinião, quais as dificuldades encontradas para se contratar PcD?

8. Quais os tipos de deficiência que têm os funcionários que trabalham aqui?

9. Faz-se a socialização de PcDs juntamente com as PsDs?

10. Como é foi feita a sua socialização?

11. Como é a sua rotina de trabalho?

12. Existem normas internas e procedimentos específicos para PcD?

13. Você trabalha em ambiente comum aos hóspedes?

14. Existem Setores específicos para vocês trabalharem?

15. Existem adaptações para assegurar a acessibilidade de vocês, aos ambientes de trabalho?

16. Que tipo de adaptação, por exemplo?

17. Vocês recebem algum tipo de treinamento específico para o trabalho?

18. Na sua opinião, há interesse da parte do Hotel em lhe manter e desenvolver, no seu trabalho?

19. As pessoas aqui se relacionam bem com você?

20. Você sabe (percebe) como seu trabalho é visto pelo hotel?

21. Você tem intenção de permanecer trabalhando aqui?

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APÊNDICE C: Listagem de observações

ARTEFATOS OBSERVAÇÕES

Entrada área de

serviço

Acessibilidade

Tempo de espera

Normas

Uniformes

Recepção

Linguagem

Gestos

Cartazes informativos