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FICHA DE IDENTIFICAÇÃO

Título: AS FUNÇÕES PARENTAIS COMO FACILITADORAS DE UM AMBIENTE SUFICIENTEMENTE BOM PARA A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL DE 0 A 03 ANOS

Autor Rosy Ferreira

Disciplina/Área Educação Especial

Escola de Atuação Colégio Estadual Hugo Simas Ensino Fundamental e Médio Rua Pio XII, 195 – Londrina/PR

Município da escola Londrina

Núcleo Regional de Educação Londrina

Professor Orientador Profª. Dra. Cleide Vitor Mussini Batista

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina – UEL

Relação Interdisciplinar Psicologia na educação especial

Resumo: A criança ao nascer é totalmente dependente e necessita de cuidados. Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, (1983), utiliza o termo “mãe suficientemente boa” para caracterizar a preocupação materna primária, sendo a mãe dedicada comum ou ambiente facilitador. À luz da teoria psicanalítica é sabido da importância dos pais e/ou cuidadores proporcionarem e garantirem um ambiente “suficientemente bom” para suas crianças. A mãe da criança deficiente visual, quando se depara com a deficiência de seu bebê, geralmente se sente insegurança e conflitos de sentimentos surgem, podendo influenciar ou perturbar aquilo que se desenvolve naturalmente nas mães, que é cuidar do seu bebê. Existe também, a possibilidade do bebê necessitar permanecer na incubadora por um longo período de tempo, dificultando a relação dos pais com a criança. Bruno (1997), afirma que é preciso oportunizar à criança deficiente visual a ação sobre o meio, onde as experiências vividas e a interação social com crianças de sua idade, adultos ou adolescentes, lhe trarão mensagens sociais adequadas e principalmente a construção da noção do eu-outro e testar suas hipóteses perceptivas, simbólicas e pré-lógicas. As questões ambientais e afetivas são relevantes para que a aprendizagem aconteça.

Palavras-chave Relação mãe-bebê, ambiente facilitador, mãe suficientemente boa, criança deficiente visual, aprendizagem.

Formato do material didático Unidade Didática.

Público Alvo

Professores, pais e alunos de 0 a 03 anos do CAEDV – Centro de Atendimento Educacional Especializado na Área da Deficiência Visual.

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1 APRESENTAÇÃO

A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e fenômenos psíquicos

humanos, ou seja, se preocupa com o que motiva o comportamento do ser humano

e seus processos mentais, observando a emoção, sensação, percepção,

aprendizagem e inteligência envolvidas.

Na educação, fornece subsídios para uma maior compreensão e

entendimento sobre as etapas do desenvolvimento humano, além de ampliar

conhecimentos sobre a aprendizagem, permitindo possibilidades de ser melhor

apropriada significativamente.

A utilização da psicologia no campo da educação especial é motivadora e, ao

mesmo tempo, um desafio. Oferece estudos atualizados e pertinentes,

proporcionando pesquisas de vários e renomados estudiosos da área.

Donald Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, constatou, em sua prática,

que a maioria dos problemas emocionais eram provenientes dos estágios precoces

do desenvolvimento humano. O autor, por meio de seus estudos, nos remete à

compreensão das fases mais primitivas do desenvolvimento psíquico do ser

humano.

A teoria winnicottiana se preocupou com a relação mãe-bebê, afirmando que

o fundamento das bases da saúde mental do indivíduo são ajustadas pela mãe no

convívio com o bebê, na sua fase inicial de vida.

Abram (2000, p. 45) relata em sua obra, que Winnicott nomeou a relação

mãe-bebê de “estado de preocupação primária”, que segundo ele, é a capacidade

que a mãe tem de cuidar de seu bebê, suprindo suas necessidades, fazendo a coisa

certa, na hora certa, desta forma, apoiando e oferecendo suporte na construção do

self (eu sou) do seu bebê. É a criação de um ambiente relacional, emocional e físico

de cuidado e proteção.

Para esse psicanalista, a capacidade de cuidar de seu bebê é natural para a

mãe, ou seja, naturalmente ela é capaz dessa “devoção” para com seu bebê,

adaptando-se sensível e ativamente às necessidades de seu filho, que inicialmente

são inquestionáveis e absolutas.

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Essa relação mãe-bebê envolvida de estímulo do vínculo afetivo, compreende

da valorização do toque e carícia materna proporcionando um ambiente

“suficientemente bom” para esse bebê se desenvolver de forma sadia.

Com relação ao toque corporal, segundo Abram (2000, p.29-30), Winnicott

valoriza a pele como um órgão de extrema importância que oportuniza esse contato

mãe-bebê, o acariciar, pegar no colo, amamentar ou dar mamadeira, enfim, todo o

toque corporal é um estímulo para uma vida saudável dentro do corpo do bebê

(psique-soma). Todo esse ambiente “suficientemente bom” estimula o processo de

integração do ser/criança por meio dos cuidados que a mãe oferece ao seu bebê,

sendo que este, sempre depende de um cuidador. A relação é óbvia, mãe e bebê

fazem parte dessa relação. Quando temos um bebê, também temos uma mãe,

juntos, a maternagem, o cuidado se fazem presente. A evolução e o

desenvolvimento do potencial de crescimento e amadurecimento desse bebê está

totalmente vinculado a essa relação parental e afetiva.

Para que todo o exercício materno dessas funções aconteçam de forma

adequada, a mãe precisa ser “suficientemente boa”, assumindo às funções

maternas de “holding”, um campo acolhedor, “handling” , o tomar conta do bebê

pelas suas mãos cuidadosas e, a apresentação de objetos que, segundo

Winnicott, são condições indispensáveis para que o bebê possa sentir-se

onipotente, coexistir entre psique/soma e relacionar-se com o ambiente de forma

tranquila, confiante e sadia.

“[...] o bebê é amparado pela mãe, e somente compreende o amor que é expresso em ternos físicos, ou seja, através da vida, do holding humano. Eis a dependência absoluta. A falha do ambiente nesse estágio inicial não pode ser contestada, a não ser por um impedimento ao processo de desenvolvimento ou pela psicoce infantil...estamos mais interessados no holding que a mãe oferece ao bebê do que com a mãe que o alimenta.” (WINNICOTT apud ABRAM, 2000, p. 135).

Winnicott também considera importante a herança física e biológica que o

bebê traz consigo ao nascer, mas defende que de início, devido a sua imaturidade, o

bebê não apresenta condições para lidar com as exigências do seu meio interno e

externo, dependendo da interferência de sua mãe. Lembrando que o bebê, nessa

fase, por estar fundido à sua mãe, não é capaz de distinguir o EU e o não-EU. Há

integração dos comportamentos externos (meio ambiente) e de seus impulsos

internos (hereditários), objetivando a autonomia para a relação de objetos, pessoas

e ambiente.

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Segundo Goulart, Piaget, epistemólogo genético, também dedicou-se em

seus estudos, nessa fase inicial da criança, nomeando-a de fase sensório-motora.

Segundo a autora, o estudioso considerava como um período da formação de

inteligência prática, que se baseia na manipulação de objetos, na percepção e nos

movimentos. Há uma rica predisposição da criança em explorar o seu corpo e o

espaço físico de forma a se desenvolver sadiamente.

O primeiro momento do desenvolvimento lógico é denominado sensório-motor porque nele se verifica uma coordenação sensório-motora de ação baseada na evolução da percepção e da motricidade. Estende-se do nascimento ao aparecimento da linguagem, isto é, de 0 mês até por volta dos 2 anos. Nesta fase, rápida embora importante, Piaget situa a origem de um comportamento inteligente. Trata-se, entretanto, de inteligência essencialmente prática, tendente à busca de resultados favoráveis mais do que ao enunciado das verdades. (GOULART, 1999, p. 27).

Todas as colocações acima nos despertam para a valorização dos cuidados

maternos que Winnicott nomeia a mãe como referência, pela predisposição natural

que a ela possui em cuidar do seu bebê, a partir de sua concepção. Vale salientar,

que a mãe, nesse contexto, pode ser substituída por um cuidador afetivo que dê

conta de satisfazer e atender às necessidades da criança.

Winnicott valorizava o convívio social e as práticas realizadas como

imprescindíveis para o aparecimento da consciência. Sua teoria se preocupa em

favorecer um desenvolvimento sadio dos seres humanos, independente de sua

condição orgânica, física e mental.

A concepção winnicottiana da constituição do ser humano nos ajuda a integrar as especificidades causadas por diferentes condições orgânicas dentro dos mesmos princípios norteadores do desenvolvimento geral e a compreender as vicissitudes causadas pela condição de deficiência como rupturas no processo de amadurecimento devido a falhas ambientais, o que permite refletir sobre procedimentos que possam vir a minorar ou sanar as dificuldades vivenciadas por esse grupo de pessoas. (AMIRALIAN, 2003, v. 8, n. 15).

A teoria winnicottiana, revela a importância dos pais e/ou cuidadores

proporcionarem e garantirem um ambiente “suficientemente bom” para suas

crianças, assim acreditamos na pertinência em situá-lo na questão dos pais de

crianças deficientes visuais, considerando Amiralian:

Ao déficit físico ou funcional, somam-se as vivências advindas das interações permeadas pela condição de deficiência e de seu significado no ambiente que o circunda, o que nos permite afirmar, com mais convicção, que a deficiência é uma condição constituinte e estruturante do ser humano que a tem, e, portanto, tem diferenças qualitativas em relação àqueles com condições orgânicas diferentes [...] a deficiência é parte de sua natureza, e assim ele deve ser aceito. (2003, v. 8, n. 15).

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O ser humano, deficiente ou não, é um ser social e afetivo, sendo assim, se

desenvolve por meio das relações e experiências, uns com os outros e, com o

ambiente, enfrentando desafios desenvolvem sua intelectualidade.

Se pensarmos o psiquismo como a elaboração imaginativa das experiências vividas, o ser com deficiências físicas, por exemplo, o cego congênito, terá experiências somáticas peculiares, ou seja, entrará em contato com o ambiente externo a partir de seu conjunto sensorial, e seu psiquismo terá como base essas vivências. [...] (AMIRALIAN, 2003, v. 8, n. 15).

O processo de desenvolvimento humano é o mesmo para todos os indivíduos.

O deficiente irá aprender, pertencer e interagir com o mundo, a partir da formação de

estratégias e recursos apropriados para isso. Desenvolverá sua consciência,

potencialidade, conceitos, abstração e pensamento pelas suas experiências vividas,

permitindo assim, sua autonomia.

Considerando o contexto, reportamos aos pais de uma criança deficiente

visual, quando se deparam com a deficiência de seu bebê, geralmente se sentem

inseguros e conflitos de sentimentos surgem, podendo influenciar ou perturbar aquilo

que se desenvolve naturalmente nas mães, que conforme a teoria winnicottiana, é

cuidar do seu bebê.

Consideramos que, ao nascer um filho com deficiência numa família, há um contraste muito grande entre o filho esperado e o que acaba de nascer, afetando a função materna, pois a mãe sofre pelo luto da perda do filho imaginado [...]. Faz-se importante salientar que a espera de um filho está invariavelmente pautada em expectativas a serem confirmadas no nascimento. [...] (ANAUATE, 2007, p. 4-5).

Existe também, a possibilidade do bebê necessitar permanecer na incubadora

por um longo período de tempo, dificultando a relação dos pais com a criança.

Diante do exposto, o objetivo dessa unidade temática é o estudo de textos,

com aprofundamento teórico/metodológico do tema em questão, contribuindo para a

compreensão afetiva (emoções e sentimentos) e sua importância na relação

parental, interferindo significativamente no processo de ensino e aprendizagem da

criança deficiente visual, bem como seu papel nos diferentes estágios de

desenvolvimento nos seus primeiros anos de vida.

Pretendemos à luz da teoria winnicottiana, auxiliar e contribuir no enfrentamento

das dificuldades parentais e no atendimento de estimulação precoce das referidas

crianças, utilizando-se de recursos adaptados e adequados em um ambiente

promissor, confiável e harmonioso.

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2 ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

Nosso material de estudo se compõe de textos dispostos em quatro momentos,

a seguir:

Primeiro momento: A deficiência visual, nas questões do conceito, causas,

família e implicações da deficiência visual na aprendizagem da criança.

Segundo momento: O atendimento da criança deficiente visual, como a

estimulação precoce e avaliação.

Terceiro momento: A estimulação ambiental e aprendizagem.

Quarto momento: Conceitos específicos winnicottianos como “a mãe

suficientemente boa” e o “brincar”.

E, por final, incluiremos na proposta, anexos informativos e sugestivos para os

pais e professores do Centro de Atendimento Educacional Especializado na Área da

Deficiência Visual, CAEDV, do Colégio Estadual Hugo Simas, em Londrina.

Ao iniciarmos o ano letivo de 2013, possivelmente, na Semana de Prática

Pedagógica, apresentaremos a proposta de intervenção didático-pedagógica à

direção, equipe pedagógica e professores em geral, do referido colégio.

Os estudos e a discussão dos textos acontecerão em grupos de estudos com os

envolvidos no projeto, pais e professores do Centro, juntos e, em momentos

distintos.

A intervenção, também, será desenvolvida com crianças deficientes visuais,

cegas ou de baixa visão, de 0 a 03 anos de idade e suas respectivas mães ou

cuidadores, durante os atendimentos individuais de seus filhos, sendo estas,

participantes e orientadas na intenção de proporcionar um ambiente facilitador, em

uma interação sadia entre mãe-bebê.

Durante o processo de estudo e intervenção, as professoras do CAEDV, poderão

utilizar a abordagem winnicottiana em seus atendimentos com as crianças do

Centro. Isso ocorrendo, serão feitas as retomadas necessárias nos grupos de estudo

para esclarecer dúvidas, questionamentos ou mesmo sugestões, se for o caso.

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3 DESENVOLVIMENTO DOS TEXTOS PARA ESTUDO

3.1 DEFICIÊNCIA VISUAL

3.1.1 Conceitos e Causas

Parpinelli (1997), apresentou as definições de deficiência visual, abaixo

listadas, utilizando-se do documento da Secretaria da Educação: Política Nacional

de Educação Especial do MEC: Política Nacional de Educação Especial – 1993 e

Diretrizes Teórico-metodológicas da SEED-PR.

A deficiência visual consiste na redução ou perda total da capacidade de ver

com o melhor olho e após a melhor correção ótica.

A baixa visão ou visão reduzida ocorre quando a acuidade visual se situa

entre 6/20 e 6/60, no melhor olho, após correção máxima: 6/20 quer dizer que o

indivíduo só pode ver na distância de seis metros o que outro indivíduo com visão

normal vê a 20 metros, 6/60 que o indivíduo com visão subnormal só vê a seis

metros o que outra com visão normal vê a 60 metros, utilizando o seu melhor olho e

com o auxílio de lentes ou óculos.

A cegueira acontece quando ocorre a perda da visão em ambos os olhos, de

menos 0,1 (10%), no melhor olho, e após correção, ou um campo visual não

excedente de 20 graus, no maior meridiano do melhor olho, mesmo com o uso de

lentes para correção.

Segundo a autora, as causas mais frequentes de cegueira e baixa visão são:

retinopatia da prematuridade, em consequência de parto prematuro; catarata

congênita proveniente de rubéola ou de outras infecções na gestação: atrofia óptica

que são degenerações retinianas e alterações visuais corticais. A cegueira e a baixa

visão podem também resultar de doenças como diabetes, descolamento de retina ou

traumatismos oculares.

3.1.2 O que Significa a Perda da Visão

A cegueira, ou perda total da visão, pode ser adquirida ou congênita (desde o

nascimento). O indivíduo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o mais tarde,

guarda memórias visuais, consegue se lembrar das imagens, luzes e cores que

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conheceu, e isso é muito útil para sua readaptação Quem nasce sem a capacidade

da visão, por outro lado, jamais pode formar uma memória visual, possuir

lembranças visuais.

Crianças que adquirem cegueira após terem enxergado, mesmo que por curto intervalo de tempo, levam vantagem, em termos do desenvolvimento global, uma vez que tiveram oportunidade de organizar determinadas estruturas mentais básicas que influenciam a organização comportamental (RODRIGUES, 2002, p. 10).

Para quem enxerga, é impossível imaginar a vida sem qualquer forma visual

ou sem cor, porque as imagens e as cores fazem parte de nosso pensamento. Não

basta fechar os olhos e tentar reproduzir o comportamento cego, pois, tendo

memória visual, a pessoa tem consciência do que não está vendo.

O impacto da deficiência visual (congênita ou adquirida) sobre o

desenvolvimento individual e psicológico varia muito entre os indivíduos. Depende

da idade em que ocorre, do grau da deficiência, da associação (ou não) com outras

deficiências, da dinâmica geral da família, aspectos ambientais, das intervenções

que forem tratadas, da personalidade da pessoa, enfim, de uma infinidade de

fatores.

Quando a deficiência visual acontece na infância, pode trazer prejuízos ao

desenvolvimento psicomotor, com repercussões educacionais, emocionais e sociais,

que podem perdurar ao longo de toda a vida, se não houver um tratamento

adequado, o mais cedo possível.

O sucesso de um programa de reabilitação do deficiente visual depende da

atuação da equipe de profissionais junto à criança e a família, desde o momento do

diagnóstico.

3.1.3 A Importância da Visão

A visão é o canal mais importante de relacionamento com o mundo exterior.

Tal como a audição, ela capta registros próximos ou distantes e permite organizar,

no nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos do sentido.

Muitos pesquisadores afirmam que 80% das informações que recebemos são captadas pelo sentido visual. São integradas com informações advindas de outros canais sensoriais, propiciando e favorecendo o desenvolvimento global da criança (RODRIGUES, 2002, p. 09).

Estudos recentes revelam que enxergar não é uma habilidade inata, ou seja,

ao nascer ainda não sabemos enxergar, é preciso aprender a ver. Não é um

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processo consciente. Embora nem pensemos nisso, estamos ensinando um bebê a

enxergar, ao carregá-lo no colo e ir mostrando: “olha o gatinho!”, “cadê o carrinho?”,

“olha a mamadeira!”

A criança que vê movimenta-se tão logo sua curiosidade é aguçada; quando vê um objeto atraente, quer tê-lo, experimenta-lo e examiná-lo. A criança cega carece de motivação para mover-se, uma vez que o espaço percebido por ela limita-se ao seu próprio corpo. Sem dúvida, ela não descobrirá aquilo que a criança “vidente” descobre brincando (RODRIGUES, 2002, p. 13).

Nós temos e utilizamos de diversas referências que são formas muito

pessoais que servem para nos orientar no espaço, em geral sem tomar consciência

disso. Por exemplo: para aprender um caminho, há quem se oriente por uma casa

diferente, um prédio, ou outro marco de referência. Outros têm uma boa noção dos

pontos cardeais, usando-a como orientação. Estas referências poderemos chamar

de “sistemas guia”, e a visão constitui, provavelmente, o mais poderoso deles. Assim

os cegos precisam recorrer a outros tipos de sistema-guia. Alguns, por exemplo,

usam como referência o tipo de calçamento das ruas (asfalto, paralelepípedos, etc)

ou curvas e esquinas das ruas de seu trajeto. Outros recorrem a pistas olfativas

(uma fábrica de bolachas, por exemplo) ou auditivas (ruídos de uma praça

movimentada).

A visão possibilita um registro imediato e simultâneo das características do

mundo externo no que se refere à posição, distância, tamanho, cor e forma. Sendo,

desta forma, considerada como o mais sofisticado e objetivo dos sentidos.

Ressaltamos que, no início do desenvolvimento, a criança capta uma

sensação por vez, depois, estas ganham significados e dão lugar às percepções.

Gradativamente, a criança interage com as percepções obtidas de centros nervosos

diferentes. Desta forma, aos 4/5 meses, percebe sensações proprioceptivas, táteis e

visuais, iniciando a organização da coordenação óculo-manual.

Os movimentos reflexos involuntários, regidos pelos níveis mais inferiores do

sistema nervoso vão sendo integrados, cedendo lugar à reações e às coordenações.

Estas são monitorizadas pelo mesencéfalo e pelo córtex cerebral, onde são

aperfeiçoadas com o tempo e, através desse processo dinâmico, proporcionam à

criança os mais variados e adequados padrões de movimento.

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3.1.4 A implicação da Deficiência Visual na Aprendizagem da Criança

A ausência de visão, nos primeiros meses de vida, implica numa baixa

atividade motora, tornando-se suas imagens proprioceptivas muito pobres.

Rodrigues (2002, p.11) nos faz um alerta sobre essas crianças “é indispensável que

a criança sinta-se motivada aos mais variados movimentos. Só através da execução

e repetição dos mesmos, serão assimilados e poderão ser reproduzidos”.

A pobreza de atividades impostas pela deficiência visual pode promover

desvios, atrasos e dificuldades na aquisição de habilidades sensório-motoras. Esses

desvios interferem no desenvolvimento global: pessoal, social, psíquico e cognitivo.

A falta de motivação para o movimento é a mola mestra que inibe

significativamente a motricidade da criança cega. O movimento humano é construído

a partir de um objetivo. Só se pode tomar qualquer iniciativa quando é dada uma

significação ao movimento e à situação exterior.

Se existe privação visual, a criança mantém suas relações com o mundo, com

os outros e com os objetos através das informações disponíveis captadas por seus

sentidos remanescentes e intactos, sendo assim, a criança cega é muito dependente

do tato para elaborar, planejar ou idealizar pensamentos e ações.

A percepção espacial na criança cega não pode concentrar-se na função

dominante da visão e, por isso, tem que recorrer à função tátil-cinestésica. Faz-se

necessário o contato direto com os objetos para que, pela exploração dos mesmos,

possa perceber sua forma, tamanho, textura e outras qualidades. O sentido tátil-

cinestésico, isoladamente, apresenta limitações com as quais a criança cega se

depara: a necessidade do contato direto, a acessibilidade da experiência e sua

qualidade analítica.

A mão será o canal principal de assimilação, apreensão e compreensão do mundo, por isso, deve adquirir autonomia. Para isso, a criança necessita de ajuda com estímulos intersensoriais, ao alcance, para que possa localizar objetos nos diferentes pontos do espaço e, desta forma, desenvolver a busca tátil dirigida, a autonomia da mãos e a construção da noção de espaço (BRUNO, 1997, p.50).

A criança com perda visual deve ser alertada e informada pelo toque ou pista

auditiva, para que possa coordenar os esquemas de que o objeto se encontra no

seu campo tátil de ação, de audição, tato e preensão. Basicamente, é a audição que

garante à criança cega, a noção de distância, localização e direção dos objetos,

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porém, esse sentido não pode fornecer qualquer ideia concreta dos mesmos, suas

qualidades e disposições.

Os sentidos do olfato e paladar se limitam a fornecer pistas às crianças

cegas. Tais informações servem como pistas para sua orientação e localização.

Sendo assim, como a audição, o olfato e o paladar como sentidos isolados,

fornecem pouco significado à criança cega. Devem ser associados a situações

concretas para que possam ser mais bem percebidos por ela. Por exemplo: O cheiro

do leite materno, para que assuma significados, deve vir acompanhado do toque do

seio ou mamadeira, ao ser alimentada.

A construção do sistema de significação depende inicialmente da capacidade da criança de agir e de perceber suas próprias ações e a dos outros, para poder imita-las. As crianças com deficiência visual poderão encontrar dificuldade em criar um sistema de significação em virtude da falta de observação direta de pessoas, objetos e eventos. (BRUNO 1997, p. 50).

A criança cega só aprenderá a imitar e a brincar se encontrar pessoas

disponíveis para interagir, com movimentos ativos e dinâmicos, para que

compreenda tátil-cinestesicamente a ação pelo contato físico.

Bruno ainda afirma, que é preciso oportunizar à criança cega a ação sobre o

meio, onde as experiências vividas e a interação social com crianças de sua idade,

adultos ou adolescentes, lhe trarão mensagens sociais adequadas e principalmente

a construção da noção do eu-outro e testar suas hipóteses perceptivas, simbólicas e

pré-lógicas.

O jogo simbólico é de fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança com deficiência visual porque, através dele, a criança exercita o pensamento pré-lógico, estabelece relações e comunica-nos a sua compreensão do meio, seus sentimentos, fantasias e aprende a lidar com suas emoções (BRUNO, 1997, p. 51).

Com referência a questão pedagógica, o profissional que atende esta clientela

em trabalho conjunto com a família, terá como prioridade o enriquecimento de

experiências e vivências da criança, estimulando naturalmente em todos os

momentos de rotina familiar e escolar, o desenvolvimento dos sentidos tátil-

cinestésico, auditivo, olfativo e gustativo, se a criança for cega ou se a criança tiver

baixa visão, acrescentar a estimulação visual. Todo o treinamento sensorial deverá

estar contextualizado, correndo risco, caso contrário, de pouco contribuir para

aquisição da linguagem significativa e de conceitos, que irão contribuir de forma

decisiva para sua aprendizagem.

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3.1.5 A Família e o Deficiente Visual

A família representa nossa matriz de identidade, é o primeiro grupo social do

qual fazemos parte e será essencial em nosso processo de humanização.

O papel da família é fundamental como facilitador das aquisições dos padrões de postura e do movimento, na educação, no desenvolvimento da inteligência e na organização da personalidade, em todas as fases do processo evolutivo da criança normal. Assim maior é a importância da atuação dos pais no desenvolvimento de uma criança com deficiência sensorial (RODRIGUES, 2002, p. 20).

Os pais, ao terem a notícia do nascimento de um filho deficiente visual,

tendem, normalmente a negar o fato, como tentativa de proteção, a não acreditar

que algo tão aterrorizador esteja acontecendo com eles. Acostumados com os

valores culturalmente transmitidos, com as cobranças sociais, políticas e

econômicas, com a valorização da competitividade, sentem sérias dificuldades em

aceitar e se adequar à situação. Surge a raiva de todos e de tudo, e até mesmo de

Deus, por ter permitido que acontecesse tal desgraça e, consequentemente sentem

culpa por terem gerado um filho problema.

Quando nasce uma criança cega todo o “mundo de fantasia” criado pelos pais desmorona. Surgem, então, vários sentimentos que, muitas vezes, não são bem definidos ou se misturam: decepção, revolta, angústia, culpa, rejeição, superproteção, entre outros. O “choque” e a frustração influenciam profundamente a interação com a criança, dificultando a construção de um vínculo afetivo saudável. Os pais, sem saber como lidar com seu filho “tão diferente”, tendem a deixá-lo por muito tempo no berço, sem a atenção e o carinho necessários. A criança ociosa “brinca” com seu corpo podendo desenvolve comportamentos atípicos e estereotipados (RODRIGUES, 2002, p. 20).

Não é fácil para a família, principalmente, para quem cuida desta criança

definir os limites, sem correr o risco de super-protegê-la. A superproteção é comum

enquanto a família considera o deficiente visual como frágil, embora há riscos reais,

mas o que se observa, são cuidados e atenções especiais exagerados e

dispensáveis, atribuindo à deficiência um grau maior de limitação do que o real,

impedindo-o de agir e reagir no ambiente, além de comprometer e restringir seu

campo de sociabilidade.

Crianças oriundas de famílias ou ambientes superprotetores, e não orientadas precocemente, que sofreram privação de vivências sensório-motoras integradas, limitações de movimento e espaço, terão danos irreversíveis para a construção da inteligência prática e elaboração das

representações simbólicas (BRUNO, 1997, p. 50).

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Mães ou familiares superprotetores, na maioria das vezes, reforçam a baixa

atividade motora gerada pela ausência de visão. É necessário um bom vínculo

afetivo e de confiança com sua mãe e que possa fornecer estímulos constantes para

que ela realize os mais variados movimentos. É fundamental que a criança cega ou

de baixa visão desenvolvam autoconfiança de modo que possam tomar a iniciativa

de explorarem o espaço à sua volta.

Se a criança cega receber afeto de sua mãe, se tiver a chance de se familiarizar com muitas posições do seu corpo, se seus ouvidos e mãos receberem grande variedade de estímulos através de objetos que unam os sentidos táteis-cinestésicos ela encontrará interesse em explorar o espaço mais amplo (RODRIGUES, 2002, p. 14).

A criança deficiente visual requer um atendimento por profissionais

especializados, e os pais e familiares também precisam de orientações para lidar

com essa deficiência, e quanto mais cedo isso acontecer, mais chance de resultados

favoráveis e positivos, caso contrário, a mesma estará correndo sérios riscos de

atraso neuro-psicomotor, comprometendo seriamente seu desenvolvimento.

A cegueira e a baixa visão não inviabilizam o processo de desenvolvimento.

Porém, há que se contar com assistência, em tempo hábil e recursos adequados e

específicos, para que seus efeitos negativos não se instalem. Para que isso ocorre,

precisamos da presença e comprometimento da família para dar continuidade do

atendimento, conforme a orientação do profissional.

Os profissionais devem esclarecer os pais, que o atendimento por profissionais especializados é importante, mas é essencial que no ambiente familiar os pais e outros familiares que convivem com a pessoa portadora (sic) de deficiência, aproveitem as inúmeras oportunidades dessa convivência para dar continuidade ao atendimento especializado (PARPINELLI,1997, p. 47).

O papel principal da família é transmitir os estímulos que favorecem o

desenvolvimento integral da criança, independente da condição do indivíduo ser

deficiente ou não. Os pais têm seus próprios conhecimentos a transmitir, e por vias

diferentes da que apresenta numa escola regular ou numa instituição de ensino

especial. A participação dos pais é importante no campo afetivo: apoio, tolerância e

respeito, visando o bem estar da criança e seu desenvolvimento harmônico.

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3.2 O ATENDIMENTO DA CRIANÇA DEFICIENTE VISUAL

3.2.1 A Avaliação Funcional do Deficiente Visual

A avaliação funcional da criança deficiente visual, cega ou de baixa visão, não avalia

apenas seu visual, mas busca entender o que pode ser útil e funcional para melhorar o

desempenho global, o acesso ao conhecimento, garantindo assim, a melhoria e qualidade

de vida do aluno e seus familiares. “É a observação do desempenho visual do aluno em

todas as atividades diárias, desde como se orienta e locomove-se no espaço, alimenta-se,

brinca, até como usa a visão para a realização de tarefas escolares ou práticas.”

(SEED/NRE-LONDRINA, 2005).

A avaliação funcional possibilita a busca de elementos informativos, permitindo um

diagnóstico com finalidade formativa, com tomadas de consciência, auxiliando no refletir

sobre do processo de intervenção, além de situar o aluno na etapa evolutiva de

desenvolvimento, garantindo conhecimento ao professor especialista em que situação se

encontra o aluno. “É o ponto de partida para a compreensão das possibilidades e

necessidades educacionais especiais, que deverão ser contempladas, no plano de

atendimento individual ou grupo, e nas adaptações curriculares que deverão ser parte

integrante do Projeto Político Pedagógico da escola” (SEED/NRE-LONDRINA, 2005).

A prática em relação à avaliação funcional da visão é construída a partir de um

trabalho diferenciado, mediante a integração da área médica e educacional.

A avaliação clínica-funcional deve ser feita o mais cedo possível para a

detectação das alterações funcionais da visão, no primeiro ano de vida,

para que a criança tenha oportunidade de adquirir experiências, prevenindo-

se, desta forma, alterações e de defasagens importantes no

desenvolvimento global ((SEED/NRE-LONDRINA, 2005).

Em caso de criança com baixa visão, o oftalmologista especializado pelos exames de

rotina corrige as possíveis alterações de refração que possam impedir o desenvolvimento

visual e faz a avaliação das funções visuais que são de grande valia para a orientação do

trabalho pedagógico.

O professor avaliador deve observar, anotar, replanejar junto aos pais,

corresponsáveis pela educação dos filhos, considerando como parte significativa dos

estímulos ambientais e afetivo que recebem.

A participação da família no processo de avaliação funcional é fundamental, porque

contribui com informações sobre a necessidade da criança, seus interesses, como percebe

a si e o mundo, as pessoas, o que lhe é difícil, como interage, comunica-se e brinca com

outras crianças. Como já dito anteriormente, o formulário “entrevista com os pais” faz parte

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da documentação da avaliação funcional, nos auxiliando na coleta de dados do aluno, além

da dinâmica familiar a qual pertence.

Nesse processo avaliativo, a família tem a oportunidade de explicitar suas dúvidas,

ansiedades e frustrações, como, também de participar como mediador no processo

educacional da criança.

Além da avaliação de ingresso, o professor especialista, nos centros de atendimento,

realiza relatórios semestrais sobre a evolução do aluno nos seus atendimentos, dando

continuidade necessária à avaliação, considerando-a não como um fim, mas como um

processo diagnóstico constante.

Luckesi (2012), esclarece que o processo avaliativo é um processo construtivo, com

caráter provisório ou processual, sendo que, o resultado servirá de base para o passo

seguinte. Para ele, a avaliação é diagnóstica e dinâmica, possibilitando a tomada de

decisões, inclusiva enquanto não marginaliza, nem tampouco exclui. A avaliação deve estar

a serviço de um projeto pedagógico que considera o ser humano em construção

permanente.

3.2.2 A Estimulação Precoce e o Deficiente Visual

Consideremos que toda criança necessita de estímulos para se desenvolver

satisfatoriamente. Sobre a importância dos estímulos, Rodrigues (2002) afirma que

toda criança necessita de estímulos para se desenvolver efetivamente. O organismo

pode estar preparado para reagir, mas se não houver estímulos adequados, poderá

permanecer em estado de latência. Afirma a autora:

Quando o organismo infantil não apresenta distúrbios ou qualquer deficiência, a figura materna intervém e estimula a criança “naturalmente”, valendo-se dos laços afetivos estabelecidos, dando significado às suas sensações. A criança motivada se desenvolve de forma saudável e satisfatória. As ações realizadas pelo senso comum não são totalmente desprovidas de fundamentação científica, como pode parecer. É importante que estas ações sejam percebidas de forma mais consciente, de modo a a garantir o máximo desenvolvimento das potencialidades da criança (p. 07).

De acordo com a teoria piagetiana, a criança de 0 a 24 meses de idade

encontra-se na etapa do desenvolvimento do período sensório motor e está no bebê,

caracterizado pelos primeiros gestos e ações que se repetem por prazer funcional.

O período sensório motor, tomando como referencia básica as teorias de Piaget e Erickson, compreende desde o nascimento até 24 meses, aproximadamente, quando a interação da criança com o seu ambiente é baseada somente em ações sensoriais e motoras. Caracteriza-se pelo predomínio do uso dos sentidos e dos movimentos da criança sobre o

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ambiente, valendo-se de estímulos para intermediar este processo. É mediante a interação da criança com o meio que vão se construindo, progressivamente, os esquemas de ação básicos (ações que possibilitam a adaptação ao meio) os quais, no início, são rudimentares e isolados e passam, gradativamente, pelo processo de generalização, diferenciação e coordenação (RODRIGUES, 2002, p. 16).

Caso a criança apresente alguma deficiência, comprometendo as

possibilidades de seu desenvolvimento, faz-se necessário um atendimento ou

intervenção de um profissional especializado, no programa de estimulação precoce.

Tal intervenção deve ser realizada o mais cedo possível, objetivando prevenir

atrasos ou alterações, facilitando sua adaptação ao meio.

Consideremos a estimulação precoce como: “conjunto dinâmico de atividades

e de recursos humanos e ambientais incentivadores que são destinados a

proporcionar à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas

para alcançar pelo desenvolvimento no seu processo evolutivo” (RODRIGUES,

2002, p. 16).

O termo precoce, na estimulação, significa um conjunto de ações,

suficientemente, antecipadas, com o objetivo de evitar, atenuar ou compensar os

efeitos da deficiência e suas consequências, a seguir:

A “Estimulação Precoce” se organiza através de serviços destinados a crianças deficientes, portadoras (sic) de distúrbios e com atrasos em seu desenvolvimento neuropsicomotor e para tal, deve contar com equipe multidisciplinar, constituída pelos seguintes especialistas: pediatra, oftalmologista e neurologista; fisioterapeuta; pedagogo; psicólogo; fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, assistente social; musicoterapia, dentre outros (RODRIGUES, 2002, p. 16)

Percebemos que o atendimento neste programa, se preocupa com a

prevenção, ao mencionar o “evitar”. Quanto mais cedo a criança estiver sendo

atendida no programa, maiores serão as chances de minimizar, os efeitos negativos

de uma privação sensorial, para que não venha apresentar alterações em seu

desenvolvimento.

Oportunamente, trataremos sobre os serviços de estimulação precoce que se

destinam à criança na faixa etária de zero a três anos, cujo diagnóstico indique

cegueira ou baixa visão.

A deficiência visual pode afetar significativamente o desenvolvimento global

da criança e, certamente, este programa é de extrema importância, pois são nos

primeiros anos de vida da criança que se formam os alicerces para todas as suas

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futuras aquisições, Rodrigues (2002) afirma que a criança deficiente visual se

organiza e se estrutura de forma diferente das crianças videntes. Ela deve utilizar e

integrar os sentidos remanescentes, para conseguir um desenvolvimento global, ou

seja, a criança cega necessita de mais tempo para se organizar.

A estimulação precoce do deficiente visual necessita da parceria da família no

processo para assegurar a eficácia do plano individual, em função das condições

particulares de seu filho e sua continuidade em casa.

Com certeza a criança deficiente visual requer da família maiores cuidados e

investimentos na utilização de recursos apropriados para que ela possa interagir

com as pessoas e o ambiente.

Vale a pena ressaltar que, o trabalho de estimulação precoce do deficiente

visual tem um cunho lúdico. O prazer deve estar envolvido, a criança precisa sentir

prazer na atividade ao ser estimulada, para que sinta motivada a repetir e

aperfeiçoar suas ações. A flexibilidade do programa consente aproveitar todas as

situações que surgirem, muitas vezes inesperadas, para estimular a criança.

Durante a execução do programa, é prevista a avaliação contínua por parte

do profissional, para verificar os progressos resultantes da estimulação e incluir, se

necessário, novos procedimentos.

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3.3 A ESTIMULAÇÃO AMBIENTAL E APRENDIZAGEM

3.3.1 A Importância do Relacionamento Familiar na Aprendizagem

Além das multirelações que se estabelecem no contexto escolar, deve-se

considerar a dinâmica sócio-afetiva da família e suas implicações no aprender da

criança.

Kamlot (1997) considera a família como o primeiro núcleo de socialização da

criança, definindo as primeiras relações e interações sociais. Para a autora, o

aprendendo a aprender inicia-se em casa, onde as relações familiares são os

primeiros vínculos da criança com o saber.

A infância é uma fase da vida onde todas as funções estão em pleno

desenvolvimento e que, obviamente, requer um maior investimento afetivo por parte

da família.

O processo educacional se inicia, a partir das primeiras relações afetivas com

a mãe, com o pai e com a família, ou seja, as primeiras gratificações e frustrações,

os sentimentos de si mesmo e de confiança básica. Se a criança desde seu

nascimento estiver amparada e envolvida em relações objetais saudáveis, a sua

capacidade de fantasiar e realizar desejos através da simbolização será satisfatória.

No seu brincar, através do imaginário poderá viver situações afetivas positivas e

negativas, de amor e de ódio, de destruição e reparações. Estes sentimentos

antagônicos quando são adequadamente modulados, equilibrados pelo ego,

contribuem para sentimentos de segurança, amor, desinibições, e uma capacidade

maior de tolerar frustrações.

Esses serão os primeiros ensinamentos que os pais passarão aos seus filhos.

Trata-se de um ensino informal e espontâneo, mas que será de fundamental

importância para a criança no seu trajeto à aprendizagem.

O aspecto afetivo interfere decisivamente no fluir do aprender, portanto a

história familiar da criança deve ser considerada. Segundo Kamlot (1997), é a partir

do contexto familiar que a criança vai estruturar-se como sujeito desejante ou não,

na construção de seu processo cognitivo.

Há famílias, cuja dinâmica não favorece em despertar na criança o interesse,

o gosto pelo aprender. São famílias, onde não há o desejo do adulto em apresentar

o mundo à criança, conversando, questionando, sorrindo para a criança. Os pais

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precisam contar com a capacidade de comunicação da criança, mesmo que ela não

possua tal condição, como por exemplo: a mãe pede com um sorriso carinhoso ao

seu bebê, que é incapaz de andar e falar, “Vem com a mamãe!”, “Você quer passear

de carro com o papai ou quer ir na casa da vovó com a mamãe?” Ou “meu bebê tá

chorando porque está fazendo birra, né!”.

São situações estimulantes e provocadoras, que irão favorecer o processo de

desenvolvimento desta criança, sendo que, por meio deste procedimento a criança,

gradativamente, assimilará a fala à ação da mãe.

Naturalmente, à medida que a criança vai crescendo, as solicitações e os

desafios aumentam, se tornam mais complexos, assim como, o ambiente e o social

da criança também se ampliam, exigindo dela uma maior flexibilidade de

pensamento, ao identificar, reconhecer, comparar, discriminar, enfim, interpretar as

coisas do mundo.

Assim acontece a aprendizagem, por isso é importante um ensinante ativo,

afetivo, questionador, investidor no desenvolvimento emocional sadio da criança,

permitindo que, gradativamente, ela conquiste sua autonomia na exploração do

ambiente para a construção do pensamento abstrato, utilizando-se das estruturas

intelectuais.

Lapierre e Aucouturier (1985), acreditam que os instrumentos da inteligência

são as estruturas de pensamento que permitem relacionar o concreto ao abstrato,

conservando assim, um valor permanente.

Fernandez (1994) acredita que o conhecimento para ser aprendido deve ter

significado pelo ensinante como algo de bom, que ele oferece para alguém que é

significativo para ele. Com certeza a criança deficiente visual requer da família

maiores cuidados e investimentos na utilização de recursos apropriados para que

ela possa interagir com as pessoas e o ambiente.

Os estímulos ambientais são fundamentais no desenvolvimento psicomotor,

na elaboração do pensamento e abstração (simbólico) da criança. Segundo

Condemarin; Chadwick e Milicic (1989), os estímulos ambientais influenciam

significativamente no aprendizado escolar da criança. A ausência de estímulos não

favorece a curiosidade infantil, dificulta o saber, ocorrendo o desinteresse por parte

da criança. O valor e a eficácia da estimulação dependem basicamente do contexto

afetivo em que este se insere e da qualidade o relacionamento do adulto com a

criança.

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O vínculo afetivo é vivenciado a partir do contato corporal do bebê com a mãe

desde o seu nascimento. Tanto a criança cega ou com baixa visão quanto à vidente,

necessitam de uma interação calorosa para que possam sentir-se aceitas, seguras e

motivadas a interagirem com o ambiente e assim, iniciarem suas primeiras

experiências motoras e perceptivas.

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3.4 ABORDAGEM WINNICOTTIANA

3.4.1 A Mãe Suficientemente Boa

A criança ao nascer é totalmente dependente e necessita de cuidados.

Winnicott, utiliza o termo “mãe suficientemente boa” para caracterizar a preocupação

materna primária, sendo a mãe dedicada comum ou ambiente facilitador.

Em minha terminologia, a mãe suficientemente boa é aquela que é capaz de satisfazer as necessidades do nenê no início, e satisfazê-las tão bem que a criança, na sua saída da matriz do relacionamento mãe-filho, é capaz de ter uma breve experiência de onipotência [...] (WINNICOTT, 1983, p.56).

Nesta fase, o bebê e a mãe, esta representada pelo cuidado materno, formam

uma unidade. É como se ele estivesse fundido em sua mãe e vice-versa. O

sentimento de unidade plena entre mãe-bebê, segue proporcionando naturalmente

as próximas etapas, ou seja:

[...] Estas coisas dão ao bebê a oportunidade de ser, a partir da qual podem surgir as coisas seguintes, que têm a ver com a ação, o fazer e o deixar que façam por ele. Aqui estão os fundamentos daquilo que, gradualmente, se torna para o bebê uma existência fundamentada na auto-percepção (WINNICOTT, 1988, p.5).

À medida que ocorrem as repetições dos atos pela mãe, o bebê os assimila e

repete o que aprendeu, se surpreende, faz de novo, e, sucessivamente vai

desenvolvendo mecanismos de maturação herdados. Para Winnicott (1983), a

maturidade satisfatória só é possível no ambiente sadio e maduro, onde o sujeito

normal se relaciona com o ambiente, sendo eles, interdependentes. Normalmente, a

criança vai se tornando, aos poucos, independente, ao se defrontar com o mundo,

ampliar sua vida social, permitindo assim, sua identificação na sociedade.

Para explicar este processo, o autor utiliza-se de três categorias para

conceituar a fase “da dependência à independência” no desenvolvimento do

indivíduo, sendo elas: dependência absoluta, dependência relativa e rumo à

independência.

A dependência absoluta é o estágio inicial que dura poucos meses,

compreendendo o fim da gravidez e as primeiras semanas de nascimento de uma

criança. A mãe deve adaptar-se aos processos de maturação do bebê, exigindo dela

uma provisão natural de acordo com as necessidades do mesmo. O lactente não

tem consciência desta provisão.

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Winnicott (1983), valoriza esta provisão, quando afirma:“[...] A mãe é capaz de

se devotar, por um período, e essa tarefa natural, é capaz de proteger o vir-a-ser de

seu nenê. Qualquer irritação, ou falta de adaptação, causa uma reação no lactente,

e essa reação quebra esse vir-a-ser” (p. 82).

Uma boa mãe que evite estrilações de seu bebê, dedicando-se às provisões

para com ele, favorece uma saúde mental futura para esta criança. Gradativamente,

o bebê adquire uma habilidade na sua adaptação, onde o autor define como “falhas

menores de adaptação” que coincide com a época em que a mãe inicia com a

retomada de seus afazeres anteriores ao nascimento desta criança. Inicia-se a

independência das necessidades da criança.

Com o tempo, o bebê começa a precisar da mãe para ser malsucedido em sua

adaptação – e esta falha também é um processo gradual que não pode ser

aprendido nos livros. Para uma criança, seria muito aborrecido continuar vivenciando

uma situação de onipotência quando ela já dispõe dos mecanismos que lhe

permitem conviver com as frustrações e as dificuldades de seu meio ambiente. Viver

um sentimento de raiva, que não se transforma em desespero, pode trazer muita

satisfação (WINNICOTT, 1988. p.06).

Neste período é imprescindível que a criança, apesar da frustração que sofre, conte

com um ambiente seguro e de confiança, para que possa superá-la de forma suportável.

Percebemos que a dependência relativa se caracteriza pelo começo da compreensão

intelectual do bebê. Ele passa a se utilizar de pistas do ambiente oferecidas pelo seu

provedor, para antecipar uma ação e saber esperá-la, contando que a mesma irá ocorrer,

como por exemplo:

[...] (Imaginem um lactente esperando a alimentação. Vem o tempo em que o lactente pode esperar uns poucos minutos porque os ruídos da cozinha indicam que a comida estás prestes a aparecer. Ao invés de simplesmente ficar excitado pelos ruídos, o lactente usa esses novos itens para se capacitar a esperar (WINNICOTT. 1983, p. 83).

Para que o processo ocorra naturalmente, é necessário que o provedor da

criança seja continuamente ele mesmo, mantendo uma regularidade nas ações,

para que as mesmas possam ser percebida pelo lactente.

Neste estágio, o bebê passa a se conscientizar da existência e sua

dependência da mãe. O lactente torna-se ansioso na sua ausência. O período desta

fase é de aproximadamente de seis meses a dois anos. Ao final deste, graças a

novos desenvolvimentos da personalidade da criança, a mesma já passa a lidar com

a perda.

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O autor (1983, p. 84), considera alguns fatores ambientais como importantes,

a seguir:

[...] Pode haver tias e avós adequados ou amigos especiais dos pais que pela sua presença constante se qualificam como substitutos da mãe. O esposo da mãe também pode ser uma pessoa importante na casa, ajudando a criar um lar, e pode ser um bom substituto da mãe, ou pode ser importante de um modo mais masculino ao dar à esposa o apoio e o sentimento de segurança que ela pode transmitir à criança (grifo nosso) [...].

Como vimos, os cuidados com a criança podem ser substituídos e a

participação do pai no processo apresenta sua importância e não deve ser excluída.

Lembrando que o ambiente oferecido ao bebê deve ser acolhedor e harmônico.

Em rumo à independência, considera-se que os acontecimentos das

categorias anteriores tenham ocorridos normalmente, a criança aos poucos vai se

deparando com o social, se identificando e se integrando a ele, em círculos cada vez

mais abrangentes, descrevendo os esforços da criança na fase da pré-escola e na

puberdade.

Baseando nas afirmações de Winnicott (1983), acreditamos na possibilidade

que as duas categorias anteriores ao “rumo à independência”, proposta pelo autor,

sendo elas, dependência absoluta e dependência relativa, não foram vivenciadas

normalmente por esta criança, comprometendo assim sua independência.

O processo de crescer e amadurecer deve continuar na vida dos adultos, pois

segundo o autor (1983, p. 87), “raramente atingem a maturidade completa”, embora

que ao encontrar um trabalho, constituir uma família ou qualquer atitude de imitar os

pais e se afirmar na identidade pessoal, pode considerar o começo da vida adulta,

passando da dependência à independência.

Winnicott (1983) acrescenta que dependendo da relação afetiva construída

entre a mãe e seu bebê no início da vida, vai dar a ele um amadurecimento no

desenvolver emocional, sendo este, a capacidade de ficar só. É possível

desenvolver a capacidade de ficar só, à medida que a criança sinta confiança na

figura protetora e carinhosa da mãe, mesmo na sua ausência.

Segundo o autor, para que esta capacidade se desenvolva é necessário que

a criança experimente ficar sozinha, na presença da mãe, como por exemplo, a mãe

está no jardim em frente à janela e o bebê no berço em seu quarto. Nesta situação,

ele conta mentalmente com sua presença e tolera sua ausência.

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A criança passa a perceber seu “eu” e a mãe sendo uma outra pessoa, que

não está junto dela, mas que está por perto, sempre protegendo-a, dando-lhe

segurança. Esta capacidade só irá se desenvolver se encontrar um ambiente

propício:

[...] Maturidade e capacidade de ficar só significam que o indivíduo teve oportunidade através de maternidade suficientemente boa de construir uma crença num ambiente benigno. Essa crença se constrói através da repetição de gratificações instintivas satisfatórias (WINNICOTT, 1983, p. 34).

Neste ambiente benigno e de confiança, com o passar do tempo, a criança

introjeta o ego de apoio da mãe ou substituta, tornando-se capaz de ficar sozinho

sem a ajuda constante da mesma ou algo que a represente.

Esta conduta normal da criança é de fundamental importância, a medida que

a criança, gradativamente, está pronta para dispensar espontaneamente a presença

real da mãe ou a figura materna.

Observamos que a “capacidade de ficar só” está relacionada ao processo “da

dependência à independência”, segundo Winnicott (1983), o desenvolvimento da

capacidade de ficar só favorece a independência da criança.

Percebemos a responsabilidade da mãe ou cuidador da criança em manter

um ambiente facilitador, bondoso, afetivo e natural para que ela possa se

desenvolver satisfatoriamente.

[...] reconhecer o valor positivo do fato “mãe dedicada comum”..- a necessidade vital que tem cada bebê de que alguém facilite os estágios iniciais dos processos de desenvolvimento psicológico, ou desenvolvimento psicossomático, ou, como talvez eu deva dizer, do desenvolvimento da personalidade mais imatura e absolutamente dependência, que é a personalidade humana (WINNICOTT, 1988, p. 07).

Diante do que foi exposto, consideremos que as questões ambientais e

afetivas são extremamente relevantes para aprendizagem da criança, ou seja, na

apresentação do mundo à criança.

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3.4.2 O Brincar

A criança gosta de brincar e tudo para ela é brincadeira. Ela coloca ludicidade

até nas atividades cotidianas como na alimentação e higiene.

Não é à toa que brincamos com ela na hora de comer, fazendo “aviãozinho” e

na hora do banho, ela brinca com a água e reluta para sair da banheira.

A psicanálise infantil utiliza o brincar em seus estudos na formulação e

fundamentação de sua teoria sobre a evolução e estágios do desenvolvimento da

criança, considerando que o brincar faz parte de seu mundo. Ela o faz

naturalmente, demonstra seu estado saúde emocional, expõe seus sentimentos,

consciente e inconscientemente.

Para Winnicott, (apud Abram, 2000, p. 57), o brincar é uma experiência

criadora e prazerosa que garante a saúde da criança que cresce.

[...] Valorizem a capacidade de brincar da criança. Se a criança brinca existe espaço para um sintoma ou dois. Se ela tem prazer em brincar, tanto só como com outras crianças, é porque não temos sérias preocupações a caminho. Se uma rica imaginação por empregada nesse brincar, e se prazer advir desses jogos que dependem de uma percepção exata ou da realidade externa, poderemos nos dar por satisfeitos, até mesmo se a criança em questão ainda molhar a cama, gaguejar, exibir um temperamento raivoso, ou repetidas vezes sofrer de ataques de cólera ou depressão. O brincar demonstra que essa criança está apta, dadas as circunstâncias razoavelmente boas e estáveis, a criar um modo de vida particular, eventualmente tornando-se um ser humano completo, desejado como tal, e sendo acolhido pelo mundo como livre.

No brincar temos uma produção surgida da articulação psíquica, emocional,

cognitiva e social. A criança necessita do Outro para mediar e organizar essa

relação com o brinquedo.

Nesse contexto, segundo Winnicott (1975) uma mãe suficientemente boa

atende e frustra o bebê em suas necessidades. Ao mesmo tempo que se

posicionará de forma empática em relação ao bebê, não poderá satisfazê-lo

plenamente, pois, ela própria porta uma falta característica do humano.

Winnicott apud Abram (2000, p. 61) apresenta uma sequência de estágios do

desenvolvimento das relações na natureza do brincar de uma criança.

Em um primeiro momento, a mãe oferece ao bebê, portanto, um holding, ou

seja, um campo acolhedor, de compreensão de seus estados afetivos, um colo

sustentado pela mãe e, um handling onde a criança entra em contato com as

diversas partes do corpo por meio das mãos cuidadosas da mãe, facilitando assim, a

formação de uma parceria psicossomática.

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Uma mãe suficientemente boa investe no bebê, sobre seu corpo. Por meio do

olhar, da fala, das brincadeiras corporais acontecerá a estruturação psíquica deste

sujeito que a de vir.

A mãe investe no bebê e seu suporte simbólico conduzirá seu desejo por

meio das demandas atribuídas ao filho. O bebê se identifica com o objeto de desejo

da mãe e nele se alienará, situando-se a si mesmo como objeto de desejo dela,

brincando com os objetos que ela oferece. Segundo Winnicott (1975, p. 70) “O bebê

e o objeto estão fundidos um no outro. A visão que o bebê tem do objeto é subjetiva

e a mãe se orienta no sentido de tornar concreto aquilo que o bebê está pronto a

encontrar”.

Segundo Abram (2000, p. 61), “Isto está associado ao período de

dependência absoluta, à preocupação materna primária e ao papel que a mãe tem

de apresentar o objeto.” Por exemplo: Enquanto mama, o bebê coloca o dedo na

boca de sua mãe, mexe nos seus cabelos, acaricia seu rosto, seu seio, etc. Neste

estágio o corpo da mãe é o brinquedo do bebê.

Winnicott (1975, p.70) descreve a fase seguinte em que o objeto apresentado

é repudiado e aceito novamente, em um processo dependente da mãe que

participará do processo, devolvendo o que é abandonado. “Isso significa que a mãe

(ou parte dela) se acha num permanente oscilar entre ser o que o bebê tem

capacidade de encontrar e (alternativamente) ser ela própria, aguardando ser

encontrada”. E acrescenta:

Se a mãe pode desempenhar esse papel por certo tempo, sem permitir impedimentos (por assim dizer), então o bebê tem certa experiência de controle mágico, isto é, experiência daquilo é chamado de “onipotência” na descrição de processos intra-psíquicos (1975, p. 70).

A mãe cria um espaço entre ela e o bebê, para que o brincar aconteça. Ela

primeiro o ensina como fazer, isto é, representa o Outro que apresenta o objeto para

a criança, promovendo uma relação confiável.

O bebê, neste estágio, ainda necessita do Outro participando de sua

brincadeira, devolvendo o que lhe foi abandonado. A criança necessita da presença

constante da mãe, embora tolere sua falta. Se a mãe corresponder bem nessa

tarefa, a confiança na mãe, cria um espaço de confiança entre eles, que o autor

denomina de playground.

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No estado de confiança que se desenvolve quando a mãe pode desempenhar-se bem dessa difícil tarefa (não se for incapaz de fazê-la), o bebê começa a fruir de experiências baseadas num “casamento” da onipotência dos processos intrapsíquicos com o controle que tem do real. A confiança na mãe cria aqui um playground intermediário, onde a idéia (sic) da magia se origina, visto que o bebê, até certo ponto, experimenta onipotência. [...] Chamo isso de playground porque a brincadeira começa aqui. O playground é um espaço potencial entre a mãe e o bebê, ou que se une mãe e bebê (1975, p. 71).

Exemplifiquemos: Brincar de esconder o rosto com fralda e retirá-la, a mãe diz

“achou” e a criança acha muita graça, jogar objetos no chão para a mãe pegar, etc).

A brincadeira é extremamente excitante. Compreenda-se que é excitante não primariamente porque os instintos se acham envolvidos; isso está implícito. A importância do brincar é sempre a precariedade do interjogo entre a realidade psíquica pessoal e a experiência de controle de objetos reais. É precariedade da própria magia, magia que se origina na intimidade, num relacionamento que está sendo descoberto como digno de confiança. Para ser digno de confiança, o relacionamento é necessariamente motivado pelo amor da mãe, ou pelo seu amor-ódio ou pela sua relação de objeto, não por formações reativa (WINNICOTT, 1975, p.71).

Consideremos a próxima fase como a capacidade de brincar sozinho,

contanto com a confiança de que não se está sozinho:

[...] A criança está brincando agora com base na suposição de que a pessoa a quem ama e que, portanto, é digna de confiança, e lhe dá segurança, está disponível e permanece disponível quando é lembrada, após ter sido esquecida. Essa pessoa é sentida como se refletisse de volta o que acontece no brincar [...] Em primeiro lugar, naturalmente, é a mãe quem brinca com o bebê, mas com cuidado suficiente para ajustar-se às suas atividades lúdicas (WINNICOTT, 1975, p. 71).

A criança é capaz de brincar sozinha, tendo ao alcance de seus olhos alguém

confiável, desta forma, se sente segura e conta a disponibilidade do Outro.

Há interesses em atividades de encaixe e o bebê engatinha na procura e

descoberta de objetos.

Naturalmente, a criança segue para a fase do brincar com o outro, permitindo

que o Outro introduza suas brincadeiras. Isso acontece de forma ajustada. Inicia-se

o brincar compartilhado. O bebê aceita e gosta de brincar de casinha, jogos de

mesa, enfim jogos coletivos que apresentem regras.

A criança consente e realiza uma superposição de duas áreas de brincadeira:

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Em primeiro lugar, naturalmente, é a mãe quem brinca com o bebê, mas com cuidado suficiente para ajustar-se às suas atividades lúdicas. Mais cedo ou mais tarde, ela introduz seu próprio brincar e descobre como é vária a capacidade dos bebês de aceitar ou não a introdução de idéias (sic) que não lhes são próprias. Dessa maneira, está preparado o caminho para um brincar conjunto num relacionamento (WINNICOTT, 1975, p. 71-72).

Desde o nascimento, a criança realiza um verdadeiro trabalho de enlace e

constituição, apoiando-se na função materna e paterna que lhe dá origem como

sujeito, que a constitui como sujeito desejante, ligando o real do corpo à dimensão

imaginária e simbólica. “Há uma evolução direta dos fenômenos transicionais para o

brincar, do brincar para o brincar compartilhado e deste para as experiências

culturais” (WINNICOTT, 1975, p. 76).

Sendo assim, o brincar é visto como a capacidade de construir relações

objetais onde o Outro é diferenciado do Eu, onde a mediação simbólica dá

consistência ao vínculo com o objeto.

O brincar deverá estar, portanto, em todas as relações objetais ao longo da

vida do sujeito, pois é a possibilidade de lidar com o outro e consigo mesmo de

forma criativa, sem aprisionamento de sentidos.

A criança adquire experiência ao brincar. O brincar é uma parte importantíssima de sua vida. Tanto as experiências externas quanto as internas podem ser muito ricas para o adulto, mas para a criança as mais enriquecedoras estão para ser descobertas principalmente no brincar e na fantasia. Da mesma forma que a personalidade do adulto é desenvolvida através de suas experiências de vida, a da criança desenvolve-se através de seu brincar, assim como do brincar criativo de outras crianças e adultos. Ao enriquecer-se a criança gradualmente aumenta sua capacidade de enxergar a riqueza do mundo real externo. O brincar constitui-se na constante evidência da criatividade, o que implica estar vivo. (WINNICOTT apud ABRAM, 2000, p. 59).

Para Abram, (2000, p. 59) “Do brincar faz parte o enriquecimento da

experiência de viver. Winnicott acredita ser apenas através do brincar que a criança

torna-se capaz de descobrir o sel”.

O brincar favorece a auto-descoberta do mundo externo, promovendo a

elaboração do eu e do Outro.

Abram (2000, p. 59) coloca que: “A criatividade, o estar vivo e o sentimento

de ser real são a garantia da sanidade do indivíduo [...]”.

Para Winnicott é somente por meio do brincar que as relações de amizade

surgem e, possibilita a identificação do Outro ser diverso e separado.

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“É através do brincar, onde outras crianças são colocadas em papéis preestabelecidos, que a criança começa a admitir que esses outros possuem uma existência independente. Assim como alguns adultos esperam sentados durante anos a fio e não fazem outra coisa senão admirarem-se de que ninguém lhes quer bem. Da mesma forma, a criança faz amigos e inimigos ao brincar, o que seria mais difícil em outra situação. O brincar proporciona uma certa organização para que tenham início as relações emocionais, o que torna possível os contatos sociais.” (WINNICOTT apud ABRAM, 2000, p. 60)

O ato de brincar é muito significativo no desenvolvimento emocional do

indivíduo. Enriquece a experiência de viver. Winnicott (1975) defende que somente

por meio do brincar é que nós, crianças e adultos tornamos capazes de descobrir o

self, ou seja, o eu sou.

No brincar há uma relação da realidade psíquica e a experiência de controlar

os objetos reais (interjogo), desta forma, auxilia na percepção da identidade pessoal

e corporal.

Posteriormente, com o passar dos anos, as brincadeiras e os jogos são

substituídos por passatempos que, naturalmente permitem e encontram outra

finalidade, o trabalho. Segundo Stragliottto, (2008, p. 185), “Esse vínculo idêntico ao

brinquedo é experimentado pelo adulto na prática do trabalho [...]. O desejo pelo

saber intelectual, a curiosidade infantil e a epistemofilia, são transformados em

prática significante do trabalho.”

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REFERÊNCIAS

ABRAM, Jan. A Linguagem de Winnicott. Dicionário das palavras e Expressões

Utilizadas por Donald Winnicott. Tradução de Marcelo Del Grande da Silva. Rio de

Janeiro: Editora Revinter, 2000. 305 p. Tradução de: The Language of Winnicott: A

dictionary of Winnicott’s Use of Words.

AMIRALIAN, Maria Lúcia de Toledo Moraes. Deficiências: um novo olhar.

Contribuições a partir da psicanálise winnicottiana. USP Portal de Revistas, São

Paulo, v. 8, n. 15, jun. 2003.

ANAUADE, c.; AMIRALIAN, M. L. T. A importância da intervenção precoce com

os pais de bebês que nascem com alguma deficiência. UFPR Revista Educar,

Curitiba, nº 30, 2007, p. 5-14.

BRUNO, Marilda. Deficiência Visual: Reflexão sobre a prática pedagógica. São Paulo:

Laramara. 1997, 124 p.

CONDEMARIN, M; CHADWICK M.; MILICIC, N. Maturidade Escolar. Porto Alegre: Artes

Médicas, 1989. 414 p.

FERNANDEZ, A. A mulher Escondida na Professora. Uma leitura psicopedagógica do ser

mulher, da Corporalidade e da Aprendizagem. A modalidade de Aprendizagem tem uma

fonte somática. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1994, 102 p.

FONSECA, Vitor da. PSICOMOTRICIDADE/ Psicologia e Pedagogia. São Paulo: Editora

Martins Fontes,1988. 371 p.

GOULART, Iris Barbosa. Piaget: Experiências básicas para utilização pelo professor.

15ª ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes, 1999, 158 p.

KAMLOT, E. Família, desejo e aprendizagem. Revista Psicopedagógica da Associação

Brasileira de Psicopedagogia. São Paulo: ABPp, nº 40, 1997, p. 28-34.

LARAMARA - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual. Ler e escrever em braille. São Paulo. Gráfica Laramara. 1999.

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LARAMARA - Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual. Toque o bebê. São Paulo. Gráfica Laramara. 1996.

LAPIERREE, A.; AUCOUTURIER, B. Os Constrastes e a descoberta das noções

fundamentais. São Paulo: Editora Manole Ltda., 1985. 237 p.

LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem; visão geral. Disponível em:

http://goo.gl/COEZY ou Website: www.luckesi,com.br. Acesso em 08 de junho de 2012.

OITERAL, José. (Org.), WINNICOTT – SEMINÁRIOS DE LONDRINA. Londrina: Editora

Revinter, 2009, 129 p.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Núcleo Regional de Educação de Londrina.

Setor de Educação Especial. AVALIAÇÃO FUNCIONAL. 30 de Junho de 2005.

PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Especial para a Construção de

Currículos Inclusivos. Matiskei A. C.R.M. – SEED. Curitiba, 2006.

PARPINELLI, E. P. Deficiências: Família e Prevenção. Londrina: Grafman, 1997, p.103.

REVISTA ISTO É. A AVENTURA DE CRESCER . São Paulo. 1550-16/06/99.

RODRIGUES, M. R. C. Estimulação precoce. Revista Benjamin Constant. Rio de Janeiro:

IBCENTRO, nº 21, Abr. 2002, p. 6-22.

STRAGLIOTTO, Cristina E. Boll. Pensando sobre o Brincar: Analises on Play

Activities. Contemporânea – Psicanálise e Transdisciplinaridade, Porto Alegre: n. 05,

Jan/Fev/Mar 2008. Disponível em: www.contemporaneo.org.br/contemporânea.php.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. O desenvolvimento dos processos

psicológicos superiores. Tradução de José Cipolla Neto. São Paulo: Editora Martins

Fontes, 1984, p. 182. Tradução de: MIND AND SOCIETY – THE DEVELOPMENT

OF HIGHTER PSYCHOLOGICAL PROCESSES.

WINNICOTT, D. W. O Brincar & a Realidade. Tradução de José Otávio de Aguiar

Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago Editora , 1975. p. 13-33, 70-77, 152-

157. Tradução de: Playing and Reality.

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WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do

desenvolvimento emocional. Tradução de Irineo Constantino Schuch Ortiz. Porto Alegre: 3ª

ed . Artes Médicas, 1983, p. 15-98.

WINNICOTT, D. W. OS BEBÊS E SUAS MÃES. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São

Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1988. p.03-41. Tradução de: BABIES AND THEIR

MOTHERS.

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ANEXOS

Estimular a criança em todas as

áreas de desenvolvimento é muito

importante!

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ANEXO 1

Meus 03 primeiros anos!

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Meus 03 primeiros anos

0 a 01 ano

Estimular a criança é muito importante...

A visão e todos os outros órgãos dos sentidos: tato, olfato,

paladar e audição.

Motricidade grossa como: rolar, engatinhar, sentar, andar.

01 a 02 anos

Estimular a criança é muito importante...

Os hábitos de higiene e de vida autônoma (alimentação e

vestuário)... assim como, organizar e guardar seus

brinquedos...

Andar, correr, chutar, subir e descer escadas...

A criança tem a necessidade de domínio de si e do meio

ambiente. Arrisca na fala, tem necessidade de contato

físico, de ficar no colo, de ser acariciada, principalmente

quando fica cansada, doente, machucada, triste ou está

com sono. É muito importante o diálogo da mãe com a

criança. Gosta de ouvir sua própria voz e se interessa por

objetos com os quais pode brincar, sacudir, morder e

jogar.

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Meus 03 primeiros anos

02 a 03 anos

Estimular a criança é muito importante...

Explora o mundo ao seu redor através do próprio corpo,

vivenciando diferentes situações da exploração do

espaço. Ela não se aquieta. Ela sobe, desce, pula, entra e

sai de pequenos lugares, desenvolvendo assim a noção de

espaço e tempo. O egocentrismo (deseja ser o centro do

mundo) é característica nessa fase, e é aos poucos que

iniciará a comunicação social, interagindo com outras

crianças. A linguagem está se estruturando, é articulada,

num primeiro momento com trocas de palavras e/ou

omissões. É importante que a criança ouça as palavras

corretamente. Nomeia pessoas e animais ainda com

termos próprios. A criança também gosta muito de ajudar

as pessoas através de pequenas tarefas imediatas.

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ANEXO 2

Deficiência

Visual

Orientação aos pais

A evolução de cada criança é diferente. Não

compare o ritmo de desenvolvimento de seu

filho com o de outra criança.

Brincar e cantar para seu filho são atitudes

simples que têm papel fundamental no seu

desenvolvimento.

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Deficiência Visual

Orientação aos pais

Seu filho precisa de ajuda, com estímulos e

brincadeiras. Permita sua participação no ambiente.

A interação com pessoas e objetos é muito

importante para ele.

Com brinquedos adequados ele pode brincar

e se divertir.

Chame seu bebê pelo nome, desta forma, o fará

entender que ele faz parte dos acontecimentos.

Caso ele não possa aprender pela imitação visual,

faça com ele cada movimento: ensine-o desde as

posturas mais simples até as mais complexas:

firmar a cabeça, rolar, sentar, agarrar objetos,

engatinhar, andar, comer, vestir, brincar...

Ajude-o a refinar seus sentidos para que possa

aprender e reconhecer tudo o que ele tem

dificuldade ou não pode ver .

Antes de lhe apresentar um objeto, toque

delicadamente sua mão e fale a respeito.

Auxilie seu filho a conhecer o seu próprio corpo.

Nomeia cada parte para ele, mostre e fale que você

e as outras pessoas também a possui.

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Deficiência Visual

Orientação aos pais

Deixe e estimule seu filho a tatear seu rosto, assim

ele percebe suas expressões faciais. Não

esqueça dos gestos corporais.

Desperte sua curiosidade, utilizando estímulos

adequados para que ele se motive na procura de

objetos.

É muito importante que você explique a

proveniência do som que ele escuta a todo

momento.

E não esqueça! Seu filho precisa conviver com

muitas pessoas e principalmente com crianças.

Auxilie seu filho na formação de conceitos.

Participe seu filho das rotinas diárias de sua família,

das refeições, dos passeios, visitas recebidas...

Converse muito com ele, conte-lhe tudo o que está

acontecendo, só assim ele poderá se interar da

situação, sentindo-se seguro.

Diga-lhe os nomes dos objetos, pessoas, animais e

ações.

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Deficiência Visual

Orientação aos pais

Reserve um tempo para ler para seu filho, mostre-

lhe o livro e deixe que ele perceba o virar a página

guiando as mãos dele.

Não esqueça de mostrar tatilmente como é feita a

leitura, da esquerda para direita, de cima para

baixo.

Estimule sua linguagem, explicando e nomeando

tudo, corrija-o, ajude-o a ampliar o seu vocabulário.

Respeite o limite de seu filho. Não exagere nas

informações e atividades. Fique com ele, faça

carinhos, lhe diga o quanto o ama e lhe dê atenção.

O contato com os animais de estimação e, de

pequeno porte, geralmente, oferecem muito prazer

à criança, favorecendo sua descontração.

Incentive-o a explorar objetos, representar cenas,

dançar...

Ofereça-lhe miniaturas de objetos, coisas e animais

reais que normalmente ele não tem possibilidade de

conhecer pelo tato: uma baleia, um prédio, um

gorila, um avião, um trem, um leão, uma cobra...

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Deficiência Visual

Orientação aos pais

Conte objetos junto com ele. Aproveite e os misture

para que ele os separe, coloque em potes...

Incentive-o a cantar, conhecer músicas e

instrumentos musicais.

Situe o seu filho no tempo, fale das coisas que

acontecem a cada hora, sobre o passado (ontem),

presente (hoje) e o amanhã (futuro).

Fale para ele sobre o tempo (clima), a temperatura,

chuva, vento, frio, calor...

Crie estratégias de situações práticas difíceis de

visualizar: uma miniatura de peixinho nadando, um

mini-submarino imerso na água...

Deixe-o tocar os alimentos, fale de como se planta,

colhe, sua origem, o preparo...

Ensine seu filho a combinar peças, arrumá-las e

guardá-las.

Fale sobre as coisas que nós não podemos tocar:

lua, sol, estrela...

Deixe-o tocar nas árvores, nas flores, na grama, nos

arbustos. Faça passeios no campo com ele...

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Deficiência Visual

Orientação aos pais

Fale sobre os rios, lagos e mares. Leve-o à praia

sempre que possível, brincar na areia, tomar banho

de mar...

Auxilie seu filho a se orientar no espaço: lados, em

cima, embaixo... sentido de busca e direção...

Percepção de pistas, referências visuais, táteis,

olfativas...

Expresse seus sentimentos a ele, incentive que seu

filho faça o mesmo, por meio de expressões

corporais e faciais.

Fala sobre os aromas, cheiro dos alimentos e

materiais de limpeza, ajudando-o a identificá-los. Dê-

lhe as embalagens para cheirar e identificar, mas

cuidado, esses materiais não devem ficar ao alcance

de crianças.

Deixe que ele ajude nas tarefas de casa, ele se

sentirá incluído e participante da dinâmica familiar.

Leve-o com você para fazer compras. Se possível,

deixe-o fazer escolhas e peça sua ajuda.

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Deficiência Visual

Orientação aos pais

Ele precisa aprender a fazer sua higiene, se

alimentar e se vestir sozinho.

Em caso de cegueira, utilize sons agradáveis e

motivadores para estimular seu filho a se

movimentar, o tato para sentir texturas, formatos e o

aroma, o cheiro também é uma boa pista...

Utilize cores contrastantes, sem muito detalhes,

brinquedos luminosos e sonoros para auxiliar na

estimulação de seu filho com baixa visão.

Seu filho, assim como qualquer outra criança,

também precisa de limites, saber o que é certo e o

que é errado, faz parte da educação.

Explique suas decisões sempre que possível, mas

seu filho lhe deve obediência, quando necessário.

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ANEXO 3

Sugestões para atendimento

no Programa de

Estimulação Precoce para

o Deficiente Visual

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Sugestões para atendimento no Programa de

Estimulação Precoce para o Deficiente Visual

O planejamento de trabalho a ser realizado com cada criança é

individual, considerando: idade de desenvolvimento (não

cronológica), patologia, condição viso-psico-motora, cognitiva,

social e necessidades ou não de auxílios ópticos.

Na avaliação, proceder os registros das informações, anotar o que

não ficou satisfatoriamente avaliado para posterior realização.

Avaliação é formativa, processo constante.

Se possível, marque horário longe do sono do bebê para a

avaliação e atendimento.

Procure verificar se a criança faz uso de medicamentos, se

possível, atendê-lo longe desse horário.

Esteja atento ao desenvolvimento e progresso da criança. Observe

e anote tudo que for embasar seu atendimento.

A criança necessita de um ambiente confiável para uma avaliação

fidedigna, se necessário, peça para a mãe estar presente.

Esteja sempre receptivo para os questionamentos dos pais ou

cuidador.

Preserve um tratamento cordial, respeitoso e atencioso para com

as crianças e os pais.

O afeto e a predisposição profissional é fundamental para um bom

atendimento.

Convide a mãe para participar do atendimento e a oriente para dar

continuidade nas atividades em casa.

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Sugestões para atendimento no Programa de

Estimulação Precoce para o Deficiente Visual

Aos pais, recomende leituras simples e pertinentes ao atendimento

de seu filho e retome o assunto em questão.

Estude sempre! Conheça as fases de desenvolvimento de uma

criança e, como estimular adequadamente a criança cega e com

baixa visão.

Dê sugestões para que o processo educacional de uma criança

possa auxiliar sua independência e autonomia junto com sua

família.

Invista na movimentação corporal da criança, no rolar, sentar com

apoio, arrastar, engatinhar, sentar, ficar em pé, andar...

Utilize colchonetes, almofadas, brinquedos agradáveis ao bebê,

principalmente sonoros: pandeirinhos, bichinhos de ar, bolinhas

moles e coloridas, bonecos, carrinhos, chocalhos, pedacinhos de

pano, papel, madeira, enfim, escolha o brinquedo apropriado para

seu aluno, considerando a cor, o detalhe, o tamanho, forma e

textura.

Atividades de encaixes e pareamentos simples conforme critérios

estabelecidos, despir e vestir bonecos, massa de modelar, imitar

gestos corporais...

Procure, de forma espontânea e acolhedora, conscientizar a

família, da importância de sua participação no processo

educacional de seu filho.