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O Espírito da glória Este livro não pode ser vendido. Desejando outros livros desta série, entre em contato com esta editora.

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OEspírito da glória

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“The Spirit of Glory”Copyright © 2011 by Assembly Testimony,49 Glenburn Rd, Dunmurry, Belfast, BT 17 9AN, N Ireland.

Tradução: Rochele B. PereiraCorreção: M. Janeta M. WattersonImpressão e Acabamento Gráfico — Suprema Gráfica Primeira edição brasileira — Setembro 2013

Publicado no Brasil com a devida autorização, e com todos os direitos reservados, por: Editora Sã DoutrinaCaixa Postal 241 — Pirassununga - SPCEP 13630-970 — BRASILwww.sadoutrina.com

São Carlos-SPSuprema Gráfica e Editora Ltda – EPP

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) O Espírito da glória / [Assembly Testimony ; tradução Rochele B. Pereira]. -- São Carlos,SP : Suprema Gráfica e Editora, 2013.

Título original: The spirit of glory.

1. Espírito Santo I. Assembly Testimony. ISBN: 978-85-98156-82-8

13-10019 CDD-231.3 Índices para catálogo sistemático: 1. Espírito Santo : Teologia cristã 231.3

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OEspírito da glória

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Abreviações:

AT ���������������Almeida Revista e Revisada fiel ao texto original� Versão da Bíblia em Português da Sociedade Bíblica Trinitaria-na�

ARC ������������Almeida Revista e Corrigida� Versão da Bíblia em Por-tuguês da Sociedade Bíblica do Brasil�

ARA ������������Almeida Revista e Atualizada� Versão da Bíblia em Por-tuguês da Sociedade Bíblica do Brasil�

VB ���������������Versão Brasileira�

NVI �������������Nova Versão Internacional�

AV ���������������Authorized Version� Versão da Bíblia em Inglês�

JND �������������Versão da Bíblia em Inglês de J� N� Darby�

H. e C. ���������Hinos e Cânticos�

N. do T� �������Nota do Tradutor

N. do E� �������Nota do Editor

Todas as Escrituras citadas neste livro são da versão Corrigida e Revisada Fiel ao texto Original, da Sociedade Bíblica Trinitariana

(AT), exceto quando indicado� O uso de outras versões da Bíblia nesta publicação não implica o endosso destas versões na sua totalidade�

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Índice

Abreviações: ................................................................................................4

Prefácio à edição em Inglês .....................................................................6

Introdução ...................................................................................................7

Prefácio à edição em Português .............................................................8

Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo ......................................9

Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo ............................................... 26

Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo .................................... 40

Cap. 4 — A obra do Espírito Santo em revelação e inspiração..........57

Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento ............................ 74

Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo .................................. 92

Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo............108

Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos ................................................121

Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos .......................................138

Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios ..................................152

Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas .........................................167

Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios ..........................................186

Cap. 13 — O Espírito Santo em Apocalipse ...................................199

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Prefácio à edição em InglêsQuando publicamos o primeiro dos livros Assembly Testimony* em

2006, não pensávamos que seriam tão apreciados� É com grande prazer que vemos sua ampla acolhida, e as expressões de apreciação nos incentivam a continuar com a publicação� Temos grande satisfação em entregar mais este livro nas mãos dos leitores, e oramos para que este, juntamente com os demais, venha a ser para o enriquecimento e edificação de todos os leitores, especialmente os santos mais jovens�

O título irá chamar a atenção já que não é “A Glória do Espírito”, como era de se esperar, com base nos títulos dos livros anteriores, e sim “O Espírito da Glória”� Encontramos nas Escrituras as expressões “Deus da glória” e a “glória de Deus”; lemos também do “Senhor da glória” e da “glória do Senhor”; além disso, encontramos a frase “o Espírito da Glória”, mas não lemos da “glória do Espírito” em lugar algum� Isso irá manter uma adequação ao Seu ministério, que não consiste em estimular ocupação con-sigo mesmo, mas com o Senhor Jesus� Em dias de tanto ensino falso acerca do Espírito Santo, dias em que alguns cristãos professos se ocupam com Ele e negligenciam o Senhor Jesus, uma compreensão do Seu ministério é essencial� Confiamos que esse livro pode ser de ajuda nesse sentido�

Temos que expressar mais uma vez nossa profunda apreciação a todos os colaboradores� São irmãos que andam muito ocupados no serviço do Senhor em várias regiões do mundo, e em seus variados aspectos� Alguns combinam o trabalho do Senhor com suas responsabilidades seculares e as responsabilidades com a igreja local, enquanto outros carregam o fardo da divulgação do Evangelho e do ensino dos santos� Apesar da pressão sobre o seu tempo, os autores trabalharam diligentemente para garantir que os santos tenham neste livro um volume que lhes assistirá na sua compreensão da verdade divina�

Apreciamos muito a boa vontade e o trabalho paciente dos nossos as-sistentes “nos bastidores”, e sabemos que seu trabalho será ricamente re-compensado no Tribunal de Cristo, que há de se dar em breve� São dignos de uma menção especial o nosso irmão Roy Reynolds por editar o livro, e nossos irmãos Walter Boyd e Joanna Currie que se encarregaram do tra-balho um tanto ingrato de revisão� Expressamos a cada um destes nossos sinceros agradecimentos�

Brian Currie, Irlanda do Norte, Março de 2009.

* Uma revista gratuita publicada por irmãos que se reúnem ao nome do Senhor Jesus Cristo na Irlanda do Norte. Maiores informações: www.assemblytestimony.org.

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IntroduçãoVisto que cremos irrevogavelmente na eternidade, personalidade,

igualdade e deidade absoluta do Espírito Santo, cabe a nós falar e escrever dEle de forma reverente e reticente� Seu ministério em relação ao mundo, à Igreja dispensacional, à Igreja local e a cada cristão, é inestimável� Como o servo anônimo de Abraão em Gênesis capítulo 24, Ele tem buscado incan-savelmente uma Noiva para o Filho do Seu Senhor, e nós que somos salvos temos uma dívida incalculável para com o Seu ministério de graça paciente e persistente� Seu envolvimento no Calvário fica claro através de Hebreus 9:14, e a Sua parte na nossa salvação também é evidente em João 3:6 e em I Pedro 1:2� No momento da conversão, em graça, Ele passa a habitar em cada cristão (Ef 1:13), e Ele é “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida���” (Ef 1:14)� Ele é o bendito Paracleto [Consolador] prometido por Cristo antes da Sua ascensão de volta ao Pai, que fornece a assistência e o socorro tão necessários; Ele é o Professor infalível de João 16 que nos guia em toda a verdade, e todo serviço de valor para o Mestre é energizado pelo Seu poder� Ele possui todos os atributos divinos, manifes-tamente onipresentes, mas em submissão voluntária, Sua esfera específica de operação é o mundo “até que do meio seja tirado” (II Ts 2:7)� Que nós, os cristãos, possamos viver de tal forma a não ferir a Sua santa sensibilidade�

À luz da tremenda importância deste assunto, não tenho dúvida de que este livro da série “Glória” será bem acolhido e apreciado por todos aqueles que desejam um conhecimento mais pleno da pessoa do Espírito Santo, e do papel importantíssimo que Ele tem nas nossas vidas e experiências espirituais�

Somos gratos pelas muitas horas empregadas pelos autores na produ-ção de seus capítulos, apresentando conteúdo que indubitavelmente será benéfico para todos que leem� A participação do irmão Brian Currie em todas as tarefas relativas à publicação deste volume é digna de uma menção especial�

Oramos para que o livro nos permita compreender com maior clareza as implicações de sermos habitados por um tão santo e distinto Hóspede�

Roy Reynolds, Irlanda do Norte, Março de 2009.

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Prefácio à edição em Português

No ano de 2011 iniciamos a publicação desta série com o lançamento do livro “A glória da Sua graça”� O Deus que nos permitiu publicarmos aquele livro merece nossa gratidão pela boa recepção que o livro teve entre nossos irmãos aqui no Brasil� No ano seguinte (2012) publicamos “A Gló-ria do Filho”, que igualmente foi recebido com alegria pelo povo de Deus�

Dando sequência a esta série, lançamos agora o terceiro volume, que trata da Pessoa do Espírito Santo, que é Deus� Nestes dias de tanta confu-são quanto à Pessoa e obra do Espírito Santo na atual dispensação, cremos que o ensino contido neste livro será de muito proveito para aqueles que querem conhecer melhor o Autor divino da Bíblia (II Pe 1:21), aquele que é o único capaz de nos ensinar o que este livro precioso contem (I Co 2:11-16)�

Agradecemos aos responsáveis pela revista Assembly Testimony pela sua cooperação tão importante nesta obra, e pelos irmãos e irmãs que volunta-riamente usaram seu tempo e talentos na produção deste livro� Novamente agradecemos a Deus pela oportunidade que Ele nos deu, através dos Seus servos na Irlanda do Norte e no Brasil, de oferecer este livro gratuitamente aos nossos irmãos e irmãs no Brasil, Portugal e Angola�

Pirassununga, Setembro de 2013.

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo

por David E. West, Inglaterra

IntroduçãoTodos os cristãos creem na verdade fundamental de que Deus é Um

— o único soberano, todo-poderoso e onisciente Criador e Sustentador de todo o Universo� Paulo diz: “Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória, pois, a Ele eternamente� Amém” (Rm 11:36)� Tanto o Velho quanto o Novo Testamentos são enfáticos e insistentes em relação a isto, e não ousamos ser descuidados em relação a essa ver-dade fundamental, para que não caiamos em erro�

Deus não apenas é Um, mas Ele é o Ser absolutamente único: “Eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a Mim” (Is 46:9)� No entanto, apesar da insistência das Escrituras na singularidade de Deus, o Novo Testamento constantemente nos apresenta o Pai, o Filho e o Espírito Santo, e faz declarações acerca de cada um que só podem ser verdadeiras de Deus� Uma consideração das muitas Escri-turas do Novo Testamento há de nos mostrar que essas Pessoas são distinguíveis� O Pai não é o Filho nem o Espírito Santo; o Filho não é o Pai nem o Espírito Santo; o Espírito Santo não é o Pai nem o Filho� Embora estas Pessoas sejam distintas entre si, elas não são separadas; de fato, o Senhor Jesus, depois da Sua ressurreição, quando falava aos Seus sobre fazer discípulos de todas as nações, disse: “batizando-os em nome [singular] do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28:19)�

Na nossa limitada experiência humana, um ser é uma pessoa; assim, para nós, os termos “ser” e “pessoa” tendem a ser considerados permu-táveis — mas não devemos confundir os dois� Deus é absolutamente único, e um aspecto dessa singularidade é que no Ser Único de Deus há três Pessoas�

O tema sob consideração é “O Espírito Santo”, e precisamos tomar cuidado para que Ele não seja relegado a uma posição de inferioridade por ser chamado de “a Terceira Pessoa da Trindade”�

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10 O Espírito da Glória

Pelas palavras do Senhor Jesus aos Seus: “Mas quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” ( Jo 16:13), alguns concluem que o Espírito nunca fala de Si mesmo, mas observamos que essa conclusão é incorreta quando con-sideramos todo o ensino do Novo Testamento sobre o Espírito Santo, ensino esse inspirado pelo próprio Espírito� A expressão “de Si mesmo” (ou “por Si mesmo”) significa “da Sua própria iniciativa”, como mos-tram as palavras que seguem: “mas dirá tudo o que tiver ouvido”�

É bom lembrar, no começo do nosso estudo, que dependemos do mesmo Espírito, pois sem Ele não teríamos a Bíblia — Ele é o Divino Autor: “… homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:21)�

Além disso, sem o Seu auxílio, não seríamos capazes sequer de en-tender as Escrituras� Os próprios instrumentos humanos usados pelo Espírito para escrever a Palavra de Deus se voltavam Àquele que os impelia, para encontrar luz quanto aos propósitos e o cronograma de Deus: “… da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava” (I Pe 1:10-11)� Enquanto somos encorajados a nos aplicar diligentemente ao estudo da Palavra de Deus, é o Espírito Santo quem deve inundar a página com luz divina� Assim, o Espírito deve receber o Seu devido lugar e, como para nos despertar para esse fato, Ele aparece na primeira e na última página da revelação divina: “E o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:2); “e o Espírito e a esposa dizem: Vem” (Ap 22: 17)�

Há, aproximadamente, cem referências ao Espírito Santo no Velho Testamento, e no Novo Testamento (que equivale a cerca de um terço do Velho Testamento) há em torno de duzentas e trinta referências� Isso significa que o Espírito Santo tem uma posição muito mais proe-minente na revelação do Novo Testamento, o que é compatível com o fato que a presente fase dos procedimentos de Deus com os homens é especificamente a do Espírito� Apenas três livros do Novo Testamento não mencionam o Espírito Santo: Filemon e II e III João� Também, encontramos somente uma referência ao Espírito Santo em outros sete: Colossenses, II Tessalonicenses, I e II Timóteo, Tito, Tiago e II Pedro�

Neste artigo serão considerados os seguintes tópicos:

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 11

• Os nomes e títulos do Espírito Santo;• A deidade do Espírito Santo;• A personalidade do Espírito Santo

Os nomes e títulos do Espírito SantoOs nomes e títulos desta bendita Pessoa são muitos e maravilhosos�

Nenhum dos Seus nomes pode ser separado de alguma expressão de Deidade� Todos os nomes manifestam algum aspecto da Sua posição como Deus, Seu relacionamento na Divindade ou Suas funções e per-feições em relação à realização dos propósitos de Deus�

O Espírito

“Espírito” é a tradução da palavra grega pneuma, que primariamente significa “vento”, e também “sopro”: “Mas Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profunde-zas de Deus” (I Co 2:10)�

Talvez deveríamos mencionar que uma das razões por que os ho-mens tendem a pensar no Espírito como um atributo impessoal, e não como uma Pessoa específica, é porque a palavra grega pneuma é uma palavra neutra, e algumas versões traduzem o pronome correspondente de forma impessoal*� Tal tradução está gramaticalmente correta, mas doutrinariamente incorreta� É desnecessário dizer que a natureza do Espírito não é determinada pelas regras gramaticais do grego, ou de qualquer outra língua!

O Espírito de Deus

Este nome enfatiza a Sua natureza, caráter e poder Divinos: “Por-tanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema” (I Co 12:3)�

O Espírito do Senhor

Foi na sinagoga de Nazaré, no dia de Sábado, que foi entregue ao Senhor Jesus “o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: o Espírito do Senhor é sobre Mim …” (Lc 4:17-18)� Embora o título “o Espírito do Senhor [ Jeová]” seja usado,

* Oautorcita,comoexemplo,Rm8:16,quenaAVusaopronomereflexivoimpes-soal(“itself”)aoinvésdopronomereflexivopessoal(“himself”)(N.doE.).

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12 O Espírito da Glória

por exemplo, em Isaías 11:2, a passagem do Velho Testamento que o Senhor Jesus leu traz: “O Espírito do Senhor Deus [Adonai Jeová] é sobre Mim” (Is 61:1)� Este último título é ainda mais enfático�

O Espírito do Deus vivo

Assim como Pedro confessou que Cristo era o “Filho do Deus vivo” (Mt 16:16), o Espírito Santo é descrito como o Espírito do Deus vivo: “… porque já é manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita, não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração” (II Co 3:3)�

O Espírito de Cristo

Esse nome destaca a relação do Espírito com Cristo: “… vós, po-rém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós� Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle” (Rm 8:9)� O “Espírito de Deus” e o “Espírito de Cristo” certamente se referem ao Espírito Santo, e mostram que Deus o Pai e Cristo mantém exatamente a mesma relação com o Espírito�

O Espírito de Seu Filho

Paulo escreve: “… e porque sois filhos, Deus enviou aos vossos co-rações o Espírito de Seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gl 4:6)� Este é o único lugar onde o título “o Espírito de Seu Filho” é usado� Em Roma-nos 8:15 Ele é chamado “o Espírito de adoção [filiação]”� Assim nós, como cristãos, agora possuímos “o Espírito de Seu Filho” para estar em correlação com a nossa condição de filhos�

O Espírito de Jesus Cristo

Esta designação é usada somente em Filipenses 1:19: “Porque sei que disto me resultará salvação, pela vossa oração e pelo socorro [isto é, a “abundante provisão”] do Espírito de Jesus Cristo”� É Jesus Cristo, o Homem agora exaltado à mão direita do Pai, que envia o Espírito� O título “o Espírito de Jesus Cristo” nos diz que o poder que conduziu a Jesus através desta cena terrestre, é exatamente o que nós necessitamos para nos levar em segurança através deste mundo�

O Espírito de Jesus

Lucas registra: “… e quando eles [Paulo e Timóteo] chegaram a

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 13

Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não lho per-mitiu” (At 16:7, VB)� Deve-se notar que, no contexto imediato, lemos que “passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impedidos pelo Espírito Santo de anunciar a palavra na Ásia” (At 16:6)� Logo, “o Espírito de Jesus” é o “Espírito Santo”� W� Kelly comenta: “O Espíri-to de Jesus harmoniza o interesse pessoal do Homem glorificado, cujo Nome era o desejo dos seus corações e o grande objetivo das suas vidas fazer conhecido, … com o poder do Espírito”� O conceito da relação do Espírito com o Homem Jesus fica ainda mais claro aqui�

O Espírito Santo

“Estando Maria Sua mãe, desposada com José, antes de se ajunta-rem, achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1:18)� Este nome enfatiza o caráter moral essencial do Espírito� Ele é Santo em Si mesmo�

O Espírito de santificação

Este título é usado somente em uma ocasião: “… declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos” (Rm 1:4)� Alguns sugerem que “o Espírito de santificação” se refere ao espírito humano de Cristo, que era absolutamente santo� Isto é distinto e, no entanto, inseparável do Espírito Santo�

O Espírito Santo da promessa

Paulo, se dirigindo aos santos de Éfeso, escreve: “… e tendo Nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13)� O selo de propriedade divina é o Espírito Santo habitando no cristão como o Espírito Santo da promessa� Embora o Espírito Santo fosse (e é) o Prometido, como revelado pelo Senhor Jesus antes da Sua ascensão (“… que esperassem a promessa do Pai, que de Mim ouvistes”, At 1:4), todavia no contexto do versículo citado da carta aos Efésios, o título “o Espírito Santo da promessa” parece estar mais ligado com a imutável promessa das nossas bênçãos futuras�

O Espírito de verdade

Três vezes em capítulos consecutivos ( João caps� 14, 15 e 16) o Senhor se refere ao Espírito Santo como “o Espírito de verdade”: por exemplo, “mas quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele tes-

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14 O Espírito da Glória

tificará de Mim” ( Jo 15:26)� A Sua essência é a verdade: “E o Espírito é O que testifica, porque o Espírito é a verdade” (I Jo 5 6)� Sua obra é comunicar a verdade: “Mas, quando vier Aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade” ( Jo 16:13)� Toda a verdade provém Dele�

O Espírito de vida

Paulo escreve: “… porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte” (Rm 8:2)� Há uma nova lei para uma nova vida� A frase “o Espírito de vida” não é subjetiva, isto é, “o Es-pírito que tem vida”, e sim objetiva; em outras palavras “o Espírito que dá vida”� O Senhor Jesus disse: “O Espírito é o que vivifica” ( Jo 6:63), referindo-Se ao Espírito Santo�

O Espírito da graça

Este título é usado somente em uma ocasião: “… de quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:29)� Portanto, o apóstata despreza, não apenas o Filho e o sacrifício, mas também o Espírito� Foi graça que trouxe o Filho de Deus à Terra e O levou ao Calvário� No exercício dessa mesma graça o Espírito de Deus exerce um ministério de graça para com os homens culpados� No entanto, esses apóstatas insultaram o Espírito da graça�

O Espírito da Glória

Este, obviamente, é o título deste livro� Pedro escreve: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da Glória e de Deus” (I Pe 4:14)� Lemos do “Deus da glória” (At 7:2), do “Pai da glória” (Ef 1:17), do “Senhor da glória” (I Co 2:8) e agora do “Espírito da glória”� Cristo estava na gló-ria; Pedro está dizendo a estes cristãos dispersos e estrangeiros que o Espírito, que veio daquela glória e daquele Deus, os enchia de gozo ao suportarem o vitupério� O Espírito Santo é o administrador de uma graça que culmina em glória�

O Espírito Eterno

Este título, usado pelo escritor aos Hebreus, será considerado mais adiante na seção “A divindade do Espírito Santo”: “Cristo … pelo Es-

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 15

pírito eterno se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14)�

O Consolador

Três vezes ( Jo 14:26; 15:26; 16:7) no “ministério do cenáculo” o Senhor Jesus se refere ao Espírito Santo como “o Consolador” (por exemplo, “… aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” — Jo 14:29), e uma vez como “outro [ou seja, do mesmo tipo que Ele] Consolador” ( Jo 14:16)� A palavra tra-duzida “Consolador” literalmente significa alguém chamado para ficar ao lado de outro para auxiliar, a ideia sendo alguém à mão para apoiar� É a mesma palavra traduzida “advogado” na primeira epístola de João: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se al-guém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (I Jo 2:1)�

Outros

A lista de nomes/títulos do Espírito Santo, dada acima, certamente não é completa� Alguns dos títulos adicionais encontrados no Velho Testamento são: “Espírito da sabedoria” (Êx 28:3; Dt 34:9); “o Teu bom Espírito” (Ne 9:20); “a inspiração [sopro] do Todo-Poderoso” ( Jó 34:3); “o Espírito de justiça” (Is 4:4; 28:6); “o Espírito de ardor” (Is 4:4); “o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11:2); “um Espírito novo” (Ez 11:19); “o Espírito de graça e de súplicas” (Zc 12:10)�

Algumas dos nomes menos usados no Novo Testamento, e que não foram mencionados até agora neste artigo são: “o Espírito de vosso Pai” (Mt 10:20); “a unção” (I Jo 2:27); “os sete espíritos” (Ap 1:4); “os sete espíritos de Deus” (Ap 3:1; 4:5; 5:6)�

A divindade do Espírito SantoAs Escrituras indicam claramente que o Espírito Santo é Deus�

Pedro disse a Ananias: “Porque encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo”, e continua: “Não mentistes aos homens, mas a Deus” (At 5:3-4)� A dedução lógica é que o Espírito Santo é Deus� Podemos tirar a mesma conclusão de I Coríntios 3, onde Paulo, dirigindo-se a igreja, diz: “… vós sois o templo de Deus” e então acres-

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16 O Espírito da Glória

centa: “… o Espírito de Deus habita em vós” (v� 16)� Também a inspi-ração de Deus em relação às Escrituras (“Toda a Escritura é inspirada por Deus” — II Tm 3:16) se iguala à inspiração dos “homens santos de Deus” que “falaram inspirados pelo Espírito Santo” (II Pe 1:21)�

“O Espírito do Senhor [ Jeová]”, o nome geralmente dado ao Es-pírito Santo no Velho Testamento, é usado como sinônimo de “o Se-nhor [ Jeová]”, por exemplo: “… e veio sobre ele [Otniel] o Espírito do Senhor, e julgou a Israel, e saiu à peleja; e o Senhor entregou na sua mão a Cusã-Risataim” ( Jz 3:10)� Os escritores do Novo Testamento, ao citarem as palavras faladas por Jeová no Velho Testamento, atribuem--nas ao Espírito Santo, por exemplo: as instruções de Jeová acerca da entrada de Aarão no lugar santíssimo além do véu, uma vez ao ano (Lv 16:2-34) são descritas pelo escritor aos Hebreus assim: “… dando nisto a entender o Espírito Santo que o caminho do santuário ainda não es-tava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo” (Hb 9:8)�

Os atributos ou qualidades essenciais da Divindade são absolutos� Cada Pessoa da Trindade possui todos esses atributos na sua totalidade� Devemos observar os seguintes atributos do Espírito Santo:

Sua onipresença

A onipresença de Deus foi reconhecida pelo salmista; no Salmo 139 ele enfatiza que é do Espírito de Deus que ele não pode fugir: “para onde me irei do Teu Espírito, ou para onde fugirei da Tua face?” (v� 7)� Para onde quer que o salmista fosse, seja na esfera terrestre (“Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a Tua mão me guiará e a Tua destra me susterá” — vs� 9-10), ou em esferas invisíveis (“Se subir ao céu, Tu lá estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que Tu ali estás também” — v� 8), ele sabe que ali ele encontrará o Espírito� Para o salmista não se tratava apenas de uma realidade solene, mas era também uma fonte de regozijo saber que nunca poderia chegar a um lugar onde estivesse além do alcance da Sua presença�

Nesta era presente, o corpo do cristão individual é o templo do Es-pírito Santo: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Co 6:19)� Essa é a condição contínua de todo filho de Deus a partir do momento da conversão� Semelhantemente, a igreja local é o templo de Deus; Paulo, dirigindo-se à igreja em Corinto diz: “Não sa-

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 17

beis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Co 3:16)� Já que isto é verdade de toda igreja local no mundo, a qualquer hora, o Espírito Santo não está limitado a uma localidade� Ele possui o atributo da onipresença�

Sua onisciência

A Palavra de Deus deixa claro que o Espírito possui todo o conhe-cimento� Paulo escreve: “porque o Espírito penetra todas as coisas, ain-da as profundezas de Deus� Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? Assim também nin-guém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (I Co 2:10,11)� Assim, o Espírito Santo é uma Pessoa Divina com onisciência� De fato, Isaías diz: “quem guiou o Espírito do Senhor, ou como Seu conselheiro O ensinou?” (Is 40:13)�

Sua onisciência pode ser discernida também nas verdades entregues sobre as coisas de Deus, já que o Espírito é o grande Mestre enviado pelo Pai para confortar e encorajar os Seus, depois da ascensão do Se-nhor Jesus: “… aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” ( Jo 14:26); “… quando vier Aquele, o Es-pírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade … e vos anunciará o que há de vir” ( Jo 16:13)�

Sua onipotência

O Espírito Santo é visto como possuindo poder ilimitado ao traba-lhar para cumprir os propósitos de Deus� A primeira menção do Espíri-to de Deus na Bíblia está relacionada à grande obra da Criação, onde “o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:2)� Na realida-de, Ele é a primeira pessoa da Trindade a ser especificamente nomeada�

Eliú sugere que o Espírito Santo concede a vida física: “o Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida” ( Jó 33:4)� O ato poderoso da ressurreição é atribuído a Ele: “E se o Espírito Daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo Seu Espírito que em vós habita” (Rm 8:11)� O escritor inspirado claramente declara o envolvimento do Espírito Santo na ressurreição de Cristo: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados … mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo

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18 O Espírito da Glória

Espírito” (I Pe 3:18)�O Espírito Santo demonstra Seu poder onipotente ao realizar o

novo nascimento: “… aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” ( Jo 3:5); “… não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a Sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3:5)�

O poder do Espírito de Deus é ilustrado nos milagres que o Senhor Jesus realizou� Estes foram produto, não apenas do poder Divino do próprio Cristo, mas também juntamente com o Espírito Santo: “Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus” (Mt 12:28)�

Devemos lembrar também que os termos “o Espírito Santo” e a “virtude do Altíssimo” parecem ser sinônimos quando o anjo Gabriel diz para Maria: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altís-simo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1:35)�

Sua eternidade

Outro atributo de Deus, que pertence unicamente a Ele e não é possuído por nenhum outro, é Sua eterna existência não criada� O es-critor aos Hebreus fala de “Cristo, que pelo Espírito Eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14)� Neste versículo encontra-mos as três pessoas da Trindade envolvidas na grande obra sacrificial de Cristo, mas o destaque aqui é que o Espírito é descrito como eterno, um atributo que é igualmente verdadeiro do Pai e do Filho�

A personalidade do Espírito SantoPrecisamos ter uma compreensão clara sobre a personalidade do

Espírito Santo; Ele não é uma influência� É natural pensar em Deus Pai como uma Pessoa, manifestada pelo Filho que encarnou e em graça humilde andou entre os homens� Mas quanto ao Espírito que é invisível e cujas operações são secretas e silenciosas, temos a tendência de pensar diferentemente�

A realidade da personalidade do Espírito Santo

O uso de pronomes pessoais

Já vimos que “Espírito” é a tradução da palavra grega pneuma, que é uma palavra neutra, e que em certos lugares é traduzida usando o pro-

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 19

nome reflexivo neutro em aposição (veja nota na pág� 11)� Afirmamos que embora isso seja gramaticalmente correto, o fato fica doutrinaria-mente errado�

Entretanto, no ministério do Senhor Jesus aos discípulos, no cená-culo, Ele repetidamente usou o pronome masculino “Ele” (ekeinos) ao falar do Espírito Santo, por exemplo: “… quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele [“Esse” enfático] testificará de Mim” ( Jo 15:26)�

O Espírito Santo também fala de Si mesmo na primeira pessoa: “Disse-lhe [a Pedro] o Espírito: Eis que três homens te buscam� Levan-ta-te, pois, desce, e vai com eles, não duvidando; porque Eu os enviei” (At 10:19-20); “disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que [Eu] os tenho chamado” (At 13:2)�

Características pessoais atribuídas ao Espírito Santo

Individualidade

Sua individualidade é declarada nas palavras do Senhor Jesus: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro [do grego allos, que significa ou-tro do mesmo tipo] Consolador, para que fique convosco para sempre” ( Jo 14:16)� Logo, o Salvador falava de uma Personalidade diferente da Sua própria�

Inteligência

O Espírito possui uma inteligência ativa: “… o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (I Co 2:10, ARA)�

Conhecimento

Intimamente ligado à Sua inteligência está o conhecimento das coisas de Deus: “… ninguém sabe as coisas de Deus senão o Espírito de Deus” (I Co 2:11)�

A oração de Paulo era que: “… o Deus de nosso Senhor Jesus Cris-to, o Pai da glória, vos dê em Seu conhecimento o Espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1:17)� O “Espírito de sabedoria e de revelação” é o Espírito Santo naquele aspecto específico de revelar Deus e Seu pro-pósito� Aqueles a quem Paulo estava escrevendo haviam sido selados com o “Espírito Santo da promessa” no momento de crer, mas aqui o apóstolo ora para que sejam iluminados pelo mesmo Espírito�

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20 O Espírito da Glória

Mente

Paulo escreve: “… e Aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito; porque segundo a vontade de Deus é que interce-de pelos santos” (Rm 8:27, ARA)� A palavra aqui traduzida “mente” é muito abrangente e inclui o conceito de pensamento, sentimento e propósito�

Vontade

Em relação à distribuição dos dons espirituais nós lemos: “… o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (I Co 12:11)�

Atos pessoais atribuídos ao Espírito Santo

Ele perscruta

Já citamos estas palavras importantes: “o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” (I Co 2:10, ARA); a pa-lavra traduzida “perscruta” significa “examinar”, “investigar”�

Ele ensina

O Senhor Jesus disse aos Seus discípulos: “… porque na mesma hora vos ensinará o Espírito Santo o que vos convenha falar” (Lc 12:12)� Paulo, dirigindo-se aos coríntios, escreve: “… as quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais” (I Co 2:13)�

Ele fala

No Novo Testamento há várias referências ao Espírito Santo falan-do, especialmente no livro de Atos, mas dois exemplos serão suficientes para ilustrar a questão: “E disse o Espírito a Filipe: chega-te e ajunta-te a esse carro” (At 8:29)� “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2:7)�

Ele testifica ou dá testemunho

Pedro menciona o Espírito de Cristo nos profetas do Velho Tes-tamento quando escreve: “… da qual salvação inquiriram e trataram

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 21

diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir” (I Pe 1:10-11)� Paulo, falando do ministério presente do Espírito Santo, diz: “… o mesmo Espírito testifica com o nosso Espírito que somos filhos de Deus” (Rm 8:16)�

Ele ordena

Quando Pedro relatava perante “os que eram da circuncisão” o que tinha acontecido, em relação a Cornélio, ele disse: “E disse-me [orde-nou] o Espírito que fosse com eles, nada duvidando” (At 11:12)�

Ele intercede

No capítulo da epístola aos Romanos que contém tanto ensino so-bre o Espírito Santo, Paulo escreve: “Porque não sabemos o que have-mos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8:26)�

Ele dá a entender

Quando o escritor aos Hebreus fala do acesso limitado ao Santo dos Santos no Tabernáculo, nos dias do Velho Testamento, ele diz: “… mas, no segundo, só o sumo sacerdote, uma vez no ano, não sem sangue, que oferecia por si mesmo e pelas culpas do povo; dando nisto a entender o Espírito Santo que ainda o caminho do santuário não estava descoberto enquanto se conservava em pé o primeiro tabernáculo” (Hb 9:7-8)�

Ele reprova

O Senhor Jesus ensinou Seus discípulos que, quando o Espírito Santo viesse, os cristãos seriam esclarecidos quanto ao verdadeiro ca-ráter desse presente mundo mau: “E quando Ele [o Consolador] vier, convencerá [reprovará] o mundo do pecado, e da justiça, e do juízo” ( Jo 16:8)� A palavra traduzida “convencerá” significa “provar a culpa, enver-gonhar ao provar que alguém está errado”� É a própria presença do Es-pírito Santo na Terra que objetivamente reprova ou censura o mundo�

Ele dirige

Talvez seja apropriado tratar deste assunto mais longamente porque

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22 O Espírito da Glória

há muita confusão sobre isso� A “direção do Espírito” é uma expressão que muitos associam com o Espírito Santo dirigindo irmãos quanto à parte audível que devem desempenhar na ceia do Senhor, ou na reunião de oração, por exemplo�

Entretanto, encontramos a frase “guiado pelo Espírito” apenas qua-tro vezes* no Novo Testamento, duas vezes a respeito do próprio Se-nhor Jesus Cristo:• “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tenta-

do pelo diabo” (Mt 4:1);• “E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo

Espírito ao deserto” (Lc 4:1)�Nas outras duas ocasiões a expressão é usada em relação a cristãos:

• “Porque todos os que são guiados pelo Espírito, esses são filhos de Deus” (Rm 8:14);

• “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5:18)�A referência em Romanos 8 fica no meio de uma seção que ensina

que, embora não haja condenação para os que estão em Cristo, ainda há neles dois poderes conflitantes, a carne e o Espírito� O cristão vive “segundo a carne” ou “segundo o Espírito”� Aqueles que são “guiados pelo Espírito” pelos caminhos de santidade e obediência manifestam a dignidade dos filhos de Deus; o Filho de Deus era conduzido pelo Espírito, e assim deve ser com os “filhos de Deus”�

A referência na epístola aos Gálatas ocorre numa seção que trata da vida de liberdade� Vemos, imediatamente, que alguém que é “guiado pelo Espírito” já abandonou “as obras da lei” como um meio de justifica-ção� A direção do Espírito nos tira do domínio tanto dos desejos carnais quanto das imposições legais — esses precisam ser deixados� Ao invés de se envolver nas obras da Lei, devemos manifestar o fruto nônuplo do Espírito; Paulo trata disto na última parte do cap� 5 de Gálatas�

Assim, em nenhuma ocorrência a expressão “dirigido pelo Espírito” se aplica específica ou exclusivamente às funções do cristão na Ceia do Senhor ou em qualquer outra reunião� Enquanto não há menção espe-cífica da direção do Espírito em I Coríntios 14, é razoável concluir que

* O autor se refere a expressão em inglês “led by the Spirit”, que é traduzida de diversasformasnasBíbliasemPortuguês(N.doE.).

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 23

Aquele que conduziu os cristãos durante a semana não há de abandoná--los quando estiverem reunidos na qualidade de igreja local�

O Espírito guia nas reuniões do povo de Deus precisamente da mesma maneira que Ele o faz na vida diária� Sua direção não é uma influência sobrenatural, nem um impulso repentino� Não vem através de sentimentos, mas de uma avaliação inteligente do que é apropriado para a ocasião; envolve o exercício de discernimento espiritual�

A direção do Espírito na Ceia do Senhor será discernida mais fa-cilmente se o indivíduo foi conscientemente guiado por Ele durante a semana, isto é, se ele não esteve andando segundo a carne� Devemos distinguir entre a direção do Espírito e as inclinações da carne�

Características pessoais do Espírito Santo

Uma das qualidades pessoais do Espírito Santo é Sua sensibilidade à oposição�

Ele pode ser entristecido

Paulo escreve: “… e não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção” (Ef 4:30)� No contexto, o apóstolo exorta: “… não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe” (v� 29); linguajar torpe é uma maneira certa de entristecer o Espírito Santo de Deus que habita no cristão e por Quem foi selado� Lemos no Velho Testamento: “Mas eles [Israel] foram rebeldes, e contristaram o Seu Es-pírito Santo; por isso Se lhes tornou em inimigo, e Ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63:10)�

Ele pode ser extinguido

Uma das breves exortações à igreja dos tessalonicenses é: “Não ex-tingais o Espírito” (Ts 5:19)� Nos vs� 19 a 22 desse capítulo final encon-tramos preceitos que se relacionam mais ao nosso andar público� Aqui no v� 19 estão em vista as operações públicas do Espírito Santo no nosso meio; não devemos obstruir a livre atuação do Espírito� Devemos sem-pre lembrar que o Espírito jamais agirá em contradição com a vontade de Deus revelada na Sua Palavra�

Ele pode ser agravado

O escritor aos Hebreus apresenta a pergunta retórica: “… de quan-to maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar

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24 O Espírito da Glória

o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10:29)� O Espírito Santo executa um ministério de graça para com os homens culpados, Ele produz uma percepção de Deus e um temor de enfrentar a eternida-de; Ele convence do pecado� Rejeitar Seu ministério gracioso é insultar o Espírito; e desprezar a Sua Divina Pessoa�

É possível mentir a Ele

Pedro fala muito diretamente com Ananias: “Ananias, porque en-cheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade?” (At 5:3)� Ananias havia mentido ao Espírito Santo quando guardou para si uma parte do preço da pro-priedade que vendera, dizendo ter entregado tudo� Ele pode ter pensado que mentia apenas ao homem, mas na verdade estava mentindo a Deus: “Não mentiste aos homens, mas a Deus” (v� 4)�

Ele pode ser tentado (posto à prova)

Tendo Ananias “expirado” (At 5:5) Pedro questiona sua esposa Sa-fira: “Porque é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor?” (v� 9)� Ela foi acusada de colaborar com seu marido a desafiar, ou pôr à prova, o Espírito do Senhor�

É possível resistir a Ele

Estevão, um pouco antes do seu martírio, fez a seguinte acusação contra a nação judaica: “Homens de dura cerviz, e incircuncisos de co-ração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais” (At 7:51)� Eles lutavam contra o Espírito Santo; as palavras “como vosso pais” confirmam que o “Espírito de Cristo” (I Pe 1:11) estava nos profetas do Velho Testamento�

É possível blasfemar contra Ele

O Senhor Jesus, dirigindo-Se aos fariseus, diz: “Todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens” (Mt 12:31)� O Senhor Jesus usou pala-vras tão solenes por causa da acusação blasfema dos fariseus: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12:24), quando Ele os expulsava pelo “Espírito de Deus” (v� 28)� Eles haviam blasfemado (falado injuriosamente) do Espírito ao dizer que

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Cap. 1 — A personalidade do Espírito Santo 25

o príncipe dos demônios estava presente com Cristo, e não o Espírito Santo� Eles faziam isso maliciosamente�

Portanto, o pecado era acusar o Senhor Jesus de fazer os Seus mila-gres pelo poder satânico e não pelo Espírito Santo� Este pecado somen-te poderia ser cometido enquanto o Senhor estava aqui na Terra�

ResumoEm suma, o uso de pronomes pessoais em relação ao Espírito San-

to, as características e os atos atribuídos a Ele, juntamente com Sua sen-sibilidade à oposição, todos apontam para o fato que o Espírito Santo é uma Pessoa e não uma mera influência� Podemos crer nesse fato em teoria, mas será, na nossa atitude prática para com Ele, que O tratamos como uma Pessoa real? Será que conhecemos algo da “comunhão do Espírito Santo” (II Co 13:14) da qual o apóstolo Paulo fala?

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santopor John M. Riddle, Inglaterra

As figuras, ou símbolos, do Espírito de Deus empregados nas Es-crituras, com seu profundo e variado significado, servem para enfatizar o imenso privilégio desfrutado pelos filhos de Deus� O próprio fato da igreja local ser “o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós” (I Co 3:16), e que o corpo do cristão é “o templo do Espírito Santo” (I Co 6:19), indicam a maravilhosa variedade da provisão de Deus para a manutenção e o desenvolvimento da vida espiritual� Cer-tamente, a declaração de que “o Seu Divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (II Pe 1:3), inclui a doação e a habitação do Espírito Santo, e as várias formas em que Ele é descrito transmitem a diversidade e profundidade dos recursos disponíveis a todo cristão� As figuras bíblicas do Espírito Santo são infinitamente mais do que meras variações de um tema� Cada figura expressa um aspecto diferente do Seu ministério, e todos são imensamente relevantes�

A lista de referências neste capítulo pode parecer um tanto abrevia-da quando comparada às obras mais extensas de certos comentaristas� Embora não há dúvida de que há grande benefício em nos aprofundar no assunto, esse capítulo trata das figuras do Espírito Santo que são especificamente confirmadas pelas Escrituras� Isso não deve ser toma-do como uma crítica velada aos auxílios mais extensos oferecidos por outros�

PombaA referência ao Espírito Santo como pomba é inconfundível: “E,

sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se Lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre Ele” (Mt 3:16)� Lucas desenvolve isso, dizendo: “E o Espírito desceu sobre Ele em forma corpórea, como pomba” (Lc 3:22)� Isso não significa que o Senhor Jesus já não era habitado pelo Espírito Santo, mas sim que Ele foi ungido com o Espírito Santo para o serviço: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim; porque o Senhor Me ungiu para pregar as boas novas aos mansos” (Is 61:1); “Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espí-

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 27

rito Santo e com virtude; O qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10:38)� Muitas vezes é dito que no Velho Testamento a pomba “não achou repouso para a planta do seu pé” (Gn 8:9), mas que aqui o Espírito Santo encontrou pleno repouso em Cristo� Foi dito a João Batista: “Sobre Aquele que vires descer o Espírito, e sobre Ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo” ( Jo 1:33)�

Como era de se esperar, foi muito apropriado que o Espírito Santo descesse “como pomba” sobre o Senhor Jesus� Os símbolos bíblicos não podem ser melhorados, e somente três das várias referências à pomba já serão suficientes para enfatizar esse ponto�

A pomba tem a natureza pura

Repare as palavras do esposo, ao falar da esposa: “A minha pomba, a minha imaculada, a única da sua mãe, e a mais querida daquela que a deu à luz” (Ct 6:9)� Nesse contexto, devemos notar que a pomba era um pássaro limpo, e podia ser trazida como sacrifício (Lv 1:14; 12:6, 8)� Não é à toa que o Espírito de Deus é chamado o “Espírito Santo”, e que numa passagem que recomenda pureza moral, lemos: “… porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação� Portanto quem despreza isto não despreza o homem, mas sim a Deus, que nos deu o Seu Espírito Santo” (I Ts 4:7-8)�

É igualmente significativo que foi na sinagoga de Nazaré, cidade da qual Natanael falou: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” ( Jo 1:46), que o Senhor Jesus leu: “O Espírito do Senhor é sobre Mim” e prosse-guiu dizendo: “hoje se cumpriu essa Escritura em vossos ouvidos” (Lc 4:18, 21)� Jamais foi necessário dizer a Ele: “Não entristeçais o Espírito” (Ef 4:30)� De fato, esta possibilidade nunca poderia existir, pois “nEle não há pecado” (I Jo 3:5)�

A pomba tem um comportamento meigo

Quando o Senhor Jesus enviou Seus discípulos, eles não tinham ilusões quanto à recepção que teriam: seriam como “ovelhas no meio de lobos”� Mas em tudo isso, deveriam ser “prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas” (Mt 10:16)� Quando o Espírito Santo desceu sobre o Senhor Jesus, Ele não veio como “um vento veemente e impetuoso”, ou como “fogo” (At 2:2-3), mas “como uma pomba”, indi-cando com isso, entre outras coisas, a meiguice do Seu ministério, que já

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28 O Espírito da Glória

tinha sido antecipada há muito tempo� Cerca de setecentos anos antes da Sua vinda foi dito: “… a cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega” (Is 42:3)� Quão bondosamente Ele tratou os emis-sários de João Batista, sem dúvida uma “cana trilhada” (Lc 7:19-23)� E quão carinhosamente Ele tratou aquelas duas “canas trilhadas” no caminho de Emaús! (Lc 24:13-32)

Quando o Senhor foi rejeitado pelos samaritanos (Lc 9:51-56), Tiago e João eram tudo menos “pombas inofensivas” ao dizer para o Senhor: “Senhor, queres que digamos que desça fogo do céu e os consu-ma, como Elias também fez?” Bem tinha o Salvador lhes dado o “nome de Boanerges, que significa: filhos do Trovão” (Mc 3:17)! Mas Ele de-monstrou o contrário: “Vós não sabeis de que espírito sois� Porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las”� Ele era o exemplo perfeito do Seu próprio ministério� As pa-lavras do Salvador ilustram Sua “mansidão e benignidade” (II Co 10:1), e nos fazem lembrar que “o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, lon-ganimidade, benignidade, bondade …” (Gl 5:22)� Dizem que o corpo da pomba não produz bile, e isso enfatiza a beleza e exatidão da figura�

A pomba tem uma expressão triste

Ezequias diz: “Como o grou, ou a andorinha, assim eu chilreava, e gemia como a pomba; alçava os meus olhos ao alto” (Is 38:14)� Nos dias futuros da tribulação, Israel clamará: “Todos nós bramamos como ursos, e continuamente gememos como pombas” (Is 59:11)� De acordo com o Comentário Ellicott, as três aves na passagem, “cada uma com a sua nota especial de lamentação, representam, por assim dizer, os clamores da dor, e o lamento baixo e sufocado do sofredor”� Como observou F� Cundick*: “Este pássaro de amor e lamentação representa apropria-damente a ternura da Santa Pessoa que repousa sobre o Homem de dores”� É o mesmo Espírito Santo que torna o povo de Deus capaz, não somente de “alegrar com os que se alegram”, mas também de “chorar com os que choram” (Rm 12:15)�

Como “a pomba”, o ministério do Espírito Santo na vida individual e da igreja local é reproduzir Sua pureza e santidade, Sua graça e man-sidão, e Sua terna simpatia� Todos são vistos perfeitamente no Filho amado de Deus, que era “cheio do Espírito Santo” (Lc 4:1)�

* CUNDICK, F. Precious Seed. Nov/Dez, 1964.

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 29

VentoO vento é um símbolo do Espírito Santo em pelo menos duas ma-

neiras: simboliza Sua soberania e enfatiza Seu poder�

Sua soberania

O Senhor Jesus mencionou o vento como uma figura do Espírito Santo� Veja, por exemplo, João 3:8: “O vento (pneuma) assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito (pneuma)”� Vale a pena destacar o erro daqueles que questionam esta afirmação argumentando que a ciência pode explicar as origens e movimentos dos ventos� Tais críticas ignoram o fato que o Senhor Jesus estava falando com Nicode-mos, naquela ocasião, e a incapacidade de Nicodemos de detectar “a ori-gem de uma corrente de vento específica, e seu destino”* não significava falta de conhecimento do próprio Criador, pois “todas as coisas foram feitas por Ele e sem Ele nada do que foi feito se fez” ( Jo 1:3)� Fora dis-so, a lição é clara: a maneira precisa como o Espírito Santo opera está além de revelação, mas não há dúvidas sobre o resultado� Como dizem as palavras do poeta:

Não sei como o Espírito operaPara os homens, do pecado convencer. Revelando a Jesus pela Palavra,Produzindo fé, para que possam crer.†

D. W. Whittle

Seu poder

“E cumprindo-se [“quando estava sendo cumprido”] o dia de Pen-tecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; e de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e en-cheu toda a casa em que estavam assentados … E todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2:1-4)� Devemos notar:

A fonte. Foi “do céu”� Tempestades sopram horizontalmente, mas essa

* HEADING,J.Comentário Ritchie do NT, volume 4 — João.Pirassununga:EditoraSã Doutrina, 2004.

† Tradução livre. O original diz: “I know not how the Spirit moves,/Convincing man of sin;/Revealing Jesus through the Word/Creating faith in Him.”

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30 O Espírito da Glória

veio de cima� Não era terrena, mas celestial� A vinda do Espírito Santo atestou a ressurreição e ascensão do Senhor: “Deus ressuscitou a este Jesus, de que todos nós somos testemunhas� De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2:32-33)� Compare João 7:39: “E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que nEle cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado”�

O som. Foi como um “vento veemente e impetuoso”� Aparentemente não se tratava de um vento natural� A expressão “e encheu toda a casa em que estavam assentados”, se refere ao som da vinda do Espírito� Como o Senhor Jesus explicou a Nicodemos, o Espírito Santo, assim como o vento, é invisível, mas poderoso� Como o vento, o Espírito San-to não pode ser visto, mas como o vento, a Sua presença é inconfundí-vel� Temos um exemplo do poder do vento em I Reis 19:11: “e eis que passava o Senhor, como também um grande e forte vento que fendia os montes, e quebrava as penhas diante do Senhor”�

A vinda do Espírito Santo “como um vento forte e impetuoso” in-dicou assim a concessão do poder Divino� Veja Atos 1:8 (VB): “Mas recebereis poder (dunamis) do Espírito Santo, que há de vir sobre vós”� Isto é, o poder que capacita para testemunhar� Assim também Atos 3:12 (VB): “Israelitas, por que vos maravilhais deste homem, ou por que fi-tais os olhos em nós, como se por nosso poder (dunamis) ou piedade o tivéssemos feito andar?”; Atos 4:33: “E os apóstolos davam, com gran-de poder (dunamis) testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça”; Atos 6:8: “E Estêvão [um dos sete homens “cheios do Espírito Santo e de sabedoria”], cheio de fé e de poder (dunamis), fazia prodígios e grandes sinais entre o povo”�

Ezequiel provou esse mesmo poder� “E levantou-me o Espírito, e ouvi por trás de mim uma voz de grande estrondo, que dizia: Bendita seja a glória do Senhor, desde o Seu lugar� E ouvi o ruído das rodas defronte deles, e o sonido de um grande estrondo� Então o Espírito me levantou, e me levou” (Ez 3:12-14)� É significativo que, nesta passagem, o poder do Espírito Santo está ligado com o trono de Deus� Os “seres viventes” estão associados com o trono (o carro semelhante a um trono) de Deus em Ezequiel 1:25-26� Em Atos 2, o poder provinha daquele mesmo trono� Era “do céu”�

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 31

Deploramos, corretamente, as assim chamadas práticas “carismá-ticas”, mas não há dúvida de que a presença do Espírito de Deus deve ser acompanhada de evidências de vida espiritual! Ausência de poder espiritual e eficácia são tão lamentáveis quanto os excessos que alguns alegam ser a obra do Espírito Santo�

FogoO batismo no Espírito (At 1:5), no dia de Pentecostes, não foi

acompanhado apenas de um “som, como de um vento veemente e im-petuoso”, mas também de “línguas repartidas como que de fogo” (At 2:2-3)� Deixando, por agora, a expressão “línguas repartidas”, devemos notar que Lucas descreve a vinda do Espírito Santo como línguas re-partidas de fogo� O aparecimento de fogo, ou chamas, sempre foi uma figura impressionante da presença de Deus em santidade e pureza� Veja Êxodo 3:1-8: “E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia … e disse: Não te chegues para cá; tira os sapatos de teus pés; por que o lugar em que tu estás é terra santa … E disse o Se-nhor: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que está no Egito … Portanto desci para livrá-lo” (Êx 3:1-8)� Mais tarde, no Sinai, Deus desceu “em fogo” (Êx 19:18); veja também Êxodo 24:17� Em Deutero-nômio 4:24 vemos o Senhor como “um fogo que consome, um Deus zeloso”� Esta passagem é citada em Hebreus 12:29: “O nosso Deus é um fogo consumidor”�

João observou que “diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete Espíritos de Deus” (Ap 4:5)� Já que nas Escrituras o número sete indica perfeição, inteireza, as palavras “os sete Espíritos de Deus que estão diante do Seu trono” e “os sete Espíritos de Deus” (Ap 1:4; 3:1), expressam perfeição de poder, mas na descrição “diante do tro-no ardiam sete lâmpadas” a ênfase é colocada na absoluta perfeição do juízo Divino� Todas as coisas estão sujeitas “à prova do poder penetrante do Espírito” *� Podemos entender, portanto, ainda melhor (veja nossos comentários sobre a natureza da pomba) por que o Espírito de Deus é chamado de “o Espírito Santo”� Também podemos compreender por que Paulo usa as palavras: “… no qual todo edifício, bem ajustado cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2:21)�

* CUNDICK, F. Precious Seed. Nov/Dez, 1964.

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32 O Espírito da Glória

As palavras “línguas repartidas, como que de fogo” exigem atenção� Enquanto alguns (veja por exemplo, Barnes on the New Testament — “Barnes sobre o Novo Testamento”) ligam as “línguas repartidas, como que de fogo” com o fato que eles “começaram a falar noutras línguas”, é mais provável que a expressão seja puramente descritiva� Não era um grande lençol de fogo� Para citar M� R� Vincent*: “Muitos preferem traduzir da seguinte maneira: ‘línguas que se distribuíam’, ou, ‘sendo distribuídas’ entre os discípulos, ao invés de atribuir isto à aparência re-partida de cada língua”� Entretanto, a tradução†: “línguas como de fogo, dividindo-se e pairando sobre cada um deles” provavelmente expressa a figura corretamente� James Anderson‡ explica da seguinte forma: “A ideia é que cada língua era dividida sobre todos os discípulos”� Compare com I Coríntios 12:11�

RiosDevemos dizer que nas Escrituras a água parada é uma figura da

Palavra de Deus, água corrente (ou em movimento) é uma figura do Espírito Santo, e a água do mar é uma figura das nações� João chama a nossa atenção aos acontecimentos na “festa dos judeus, a festa dos ta-bernáculos” ( Jo 7:2)� “E no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs--se em pé, e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba� Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre� E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que Nele cressem; porque o Espírito Santo ainda não fora dado, por ainda Jesus não ter sido glorificado” ( Jo 7:37-39)�

A� W� Pink sugere que o ventre é “aquela parte do homem que sem-pre anseia por algo”, e cita as palavras de Paulo: “… cujo deus é o ventre” (Fp 3:19) � Pink continua:

O “ventre” é aquela parte do homem que nunca está totalmente satisfeita, pois sempre clama por algo mais, para aplacar seus desejos. Mas o que é interessante, sim, bendito, é o fato que o cristão não apenas está satisfeito, mas ele transborda daquilo que satisfaz — das suas entranhas “correm rios de água viva”. A ideia

* VINCENT,M.R.Word Studies of the New Testament.GrandRapids,MI:Wm.B.EerdmansPublishingCo.,1977.

† SCOFIELD,C.I.Reference Bible — notas marginais.‡ ANDERSON,J.Comentário Ritchie do NT, volume 5 — Atos. Pirassununga:Editora

Sã Doutrina, 1999.

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 33

é mesmo impressionante*.

Isto seria realizado através da habitação do Espírito Santo� Em re-lação às palavras “como diz a Escritura”, parece provável que o Senhor Jesus estava se referindo a Isaías 58:11: “E serás como um jardim rega-do, e como um manancial, cujas águas nunca faltam”�

AzeiteNão há dúvida de que azeite é uma figura do Espírito Santo� Entre

outras coisas, devemos considerar a maneira como o azeite retrata Seu poder santificador, Sua força para testemunhar, e Sua provisão susten-tadora para a vida espiritual�

Seu poder santificador

No Velho Testamento os homens eram ungidos com azeite, indi-cando que Deus os tinha separado para um serviço especial, e os ca-pacitado para isso� Quando Saul foi ungido para ser rei, Samuel disse: “… e o Espírito do Senhor se apoderará de ti” (I Sm 10:1, 6)� Quando Davi foi designado rei em lugar dele, lemos que “então Samuel tomou o chifre do azeite, e ungiu-o no meio de seus irmãos; e desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi” (I Sm 16:13)� Já destacamos as palavras do Senhor Jesus: “O Espírito do Senhor está so-bre Mim; porque o Senhor me ungiu, para pregar boas novas aos man-sos” (Is 61:1)� Os cristãos, hoje em dia, são semelhantemente ungidos: “Mas Aquele que nos confirma convosco em Cristo [ JND, margem: literalmente “para Cristo”, significando “anexar firmemente a … conec-tar firmemente com”] e nos ungiu é Deus; que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nossos corações” (II Co 1:21, ARA)� João escreve: “E vós tendes a unção do Santo, e conheceis tudo” (I Jo 2:20), e “a unção que dele recebestes permanece em vós” (I Jo 2:27, ARA)�

Seu poder para testemunhar

O livro de Zacarias nos dá um excelente exemplo da provisão divina para testemunhar� Entre outras coisas, o profeta viu “um castiçal todo de ouro, e um vaso de azeite no seu topo, com as suas sete lâmpadas; e sete canudos, um para cada uma das lâmpadas que estão no seu topo� E, por

* PINK,A.W.Exposition of the Gospel of John.GrandRapids,MI:ZondervanPub-lishingHouse,1975.

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34 O Espírito da Glória

cima dele, duas oliveiras … Então respondeu o anjo que falava comigo, dizendo-me … Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força, nem por violência, mas sim pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:2-6)� As duas “oliveiras” que “estão junto aos dois tubos de ouro e que vertem de si azeite dourado” são identificadas como “os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra” (Zc 4:12-14)�

A visão apresenta um problema imediato� Se, como no Tabernáculo, o castiçal nos fala do Senhor Jesus, como pode ser alimentado pelas “duas oliveiras” que são claramente descritas como “os dois ungidos, que estão diante do Senhor de toda a terra” (v� 14)? O azeite para o castiçal é fornecido por eles, e foi dito a Zacarias que isto representava o Espírito Santo� Embora o ministério do Senhor Jesus é sempre no poder do Espírito Santo, Ele não recebe o Espírito Santo através de outros� Pelo menos isso deve ser muito óbvio a todos nós�

Qual é, então, o significado do castiçal visto por Zacarias? Um cas-tiçal tem uma função específica, que é, obviamente, dar luz� Esta é pre-cisamente a intenção de Deus para Israel: “… também te dei para luz dos gentios, para seres a Minha salvação até a extremidade da terra” (Is 49: 6)� “Por amor de Sião não Me calarei, e por amor de Jerusalém não Me aquietarei, até que saia a sua justiça como um resplendor, e a sua salvação como uma tocha acesa” (Is 62:1)�

Israel foi a nação escolhida para ser a testemunha do único verda-deiro Deus, e os sete braços do castiçal no coração da sua vida nacional eram um símbolo da sua vocação nesse sentido� Infelizmente Israel fa-lhou, e o auge do seu pecado foi a rejeição e crucificação do seu Messias� Isto levou à remoção do testemunho nacional, e o início de um novo testemunho — daí os “sete castiçais de ouro” (Ap 1:12)� A visão de Za-carias nos mostra, entretanto, que o propósito de Deus para o Seu povo terrestre será cumprido: Israel será novamente um portador da luz, e o poder da sua luz — o poder do Espírito Santo — será suprido pelas “duas oliveiras”, ou os “dois ungidos”� O fato de serem descritos como “oliveiras” e “que vertem de si azeite dourado” (v� 12), mostra que eles têm os recursos para manter a obra do castiçal�

No tempo da visão de Zacarias, o testemunho era mantido por dois homens: Josué e Zorobabel� Josué era o sumo sacerdote; Zorobabel o líder civil, e sendo da descendência de Davi, era um ancestral do Senhor Jesus (Mt 1:12-13)� Os dois homens são frequentemente mencionados

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 35

juntos (veja Ageu 1:1, 12; 2:2, etc�), e algumas lições importantes sur-gem dessa ligação� A posição de Josué é enfatizada no cap� 3; a posição de Zorobabel é enfatizada no cap� 4� Devemos notar que a fonte de provisão não é realmente mencionada� A expressão “dois ungidos” (“dois filhos de azeite”) descreve dois homens cheios do Espírito Santo�

Mas isso não esgota a passagem� Apocalipse 11 descreve as “duas testemunhas” de Deus no final dos tempos, quando Jerusalém se tor-nará, espiritualmente, “Sodoma e Egito, onde o Senhor também foi crucificado” (v� 8)� Elas são descritas como “as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Senhor da terra” (v� 4)� Assim Deus terá um testemunho mesmo naqueles dias escuros, e este será mantido pelo Espírito Santo� Mas a passagem certamente antecipa ainda mais do que isto� O testemunho final de Israel para o mundo não depende de Josué e Zorobabel, nem das duas testemunhas de Apocalipse 11�

Zacarias 6 refere-se ao “sacerdote no Seu trono” (v� 13)� Agora não se trata mais de Josué, o sacerdote, e Zorobabel da linhagem real, mas dos dois ofícios combinados em uma Pessoa� (Isto nos lembra de Melquisedeque, Gn 14:18 etc�) Quem é o “sacerdote no Seu trono”? O sacerdote-rei não é outro senão “o Renovo”� “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Eis aqui o Homem cujo nome é Renovo; Ele brotará do Seu lugar, e edificará o templo do Senhor” (v� 12)� A visão do cap� 4 de Zacarias será finalmente cumprida quando Cristo vier para reinar� Ele dará ao Seu povo o poder espiritual para iluminar o mundo inteiro� O Seu ministério então, como antes, será no poder do Espírito Santo: “… repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11:2)�

Sua provisão sustentadora para a vida espiritual

Um acontecimento na vida do profeta Elias oferece um belo quadro da provisão infalível para “vida e piedade”� Tendo ouvido: “Levanta-te, e vai para Sarepta … e habita ali; eis que Eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente”, o profeta obedeceu sem duvidar, e foi sustentado, junto com a viúva e seu filho, através de “um punhado de farinha numa panela” e “um pouco de azeite numa botija” durante “muitos dias” (I Rs 17:8-16)� Lemos claramente que tudo começou com “um punhado de farinha numa panela, e um pouco de azeite numa botija”� Para quem visse, os recursos eram praticamente nulos� Mas o Deus vivo estava en-

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36 O Espírito da Glória

volvido, e isto deu à panela de farinha e à botija suficiência ilimitada� A panela de farinha é uma linda ilustração do próprio Senhor Jesus, e a botija de azeite uma bela figura do Espírito Santo� Pessoas não salvas provavelmente zombam, e sugerem que esses são recursos escassos para sustentar a vida, mas o Filho de Deus sabe melhor! “O segredo do Se-nhor é com aqueles que O temem” (Sl 25:14)�

A “panela de farinha” chama a nossa atenção para o bondoso Salva-dor que nos sustenta e fortalece, e de Quem está escrito: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, hoje e eternamente” (Hb 13:8)� Verdadeiramente, “a farinha da panela não se acabará”� Mesmo a Criação, obra das Suas mãos, se desfará, mas Ele é invariável e imutável� O Senhor Jesus en-sinou com clareza que o Espírito seria uma fonte infalível de bênção para o Seu povo: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” ( Jo 14:16)� Podemos descansar nas provisões inesgotáveis do Senhor Jesus, e no ministério infalível do Espírito Santo� Certamente o “azeite da botija não faltará”!

A casa da viúva em Sarepta é uma linda figura da Igreja� Elias, o judeu, e a viúva e seu filho, gentios, foram sustentados por uma provisão desconhecida tanto para Israel como para as nações gentias, fazendo--nos lembrar de que a Igreja é sustentada pelo Senhor Jesus e pelo Espírito Santo� Isto é enfatizado no Novo Testamento: “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no Qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor� No qual também vós juntamente sois também edificados para morada de Deus em Espírito” (Ef 2:19-21)�

A provisão de Deus através da panela de farinha e da botija de azei-te foi prometida “até o dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra”� Nós somos chamados a testemunhar num mundo estéril� Todo o progresso empolgante de mil anos de ciência e tecnologia não alterou em nada o caráter moral e espiritual do mundo, que permanece estéril e infrutífero, porque os homens e mulheres rejeitaram o Deus vivo� Mas o tempo virá quando a profecia será cumprida: “Ele descerá como chuva sobre a erva ceifada, como os chuveiros que umedecem a terra” (Sl 72:6)� Esta promessa permanece� O mundo ainda há de ser abençoado, e até que chegue esta hora, podemos descansar na graça inefável e sustentadora do Senhor Jesus, e na presença e ministério infalíveis do Espírito Santo�

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 37

Para a mente carnal, como foi inicialmente com a viúva, estas coisas não são recursos� Mas como é diferente com os filhos de Deus! O nosso Deus é um Deus de fartura, não um Deus de miséria.

A referência de Paulo à unção (II Co 1:21) é acompanhada de mais dois símbolos do Espírito Santo: “O qual também nos selou, e deu o penhor do Espírito em nossos corações” (v� 22)�

Consideremos, então, estes dois�

SeloUm selo, seja ele impresso na cera fixada num documento ou di-

retamente sobre o papel, estabelece a identidade e direito do dono da propriedade à qual o documento se refere� Jeremias descreve (singular-mente) uma transação de propriedades em que isto se deu: “Comprei, pois, a herdade de Hanameel, filho de meu tio … e pesei-lhe o dinheiro … e assinei a escritura, e selei-a, e a fiz confirmar por testemunhas; e pe-sei-lhe o dinheiro numa balança� E tomei a escritura da compra, selada segundo a lei e os estatutos, e a cópia aberta� E dei a escritura da compra a Baruque …” ( Jr 32:9-12)� O significado profético desta transação não precisa nos deter, mas nos permite entender nossa segurança espiritual� Já foi dito* que no selar “a ideia principal é a de segurança: ‘e, indo eles, seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra’ (Mt 27:66)”� Assim como a escritura em relação ao campo de Jeremias, nós fomos selados� Escrevendo aos Efésios, Paulo diz: “… tendo Nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13); “… não entriste-çais o Espírito, no Qual estais selados para o dia da redenção” (Ef 4:30)� O contexto da expressão “com o Espírito Santo da promessa” sugere não tanto a promessa do Espírito Santo, mas o Espírito Santo cuja presença garante o cumprimento da promessa�

Na sua Bíblia de referências, Scofield define o significado de um selo como “uma transação terminada … Posse … Segurança”� Em ter-mos modernos, contrabando recuperado pelas autoridades é empacota-do, selado, e se torna a propriedade do Estado! No momento da nossa conversão, nós fomos selados pela habitação imediata do Espírito San-to, e Deus disse: “Tu és Meu”, e isto não somente durante a vida, mas por toda a eternidade�

De passagem, isso pode nos ajudar a entender por que os 144�000

* CUNDICK, F. Precious Seed. Nov/Dez, 1964.

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38 O Espírito da Glória

(que podem ser vistos como as verdadeiras testemunhas de Jeová, e to-dos eles são judeus) serão selados com “o selo do Deus vivo” (Ap 7:2-3)� Ninguém pode tocá-los ou fazer-lhes qualquer mal� Eles gozarão completa segurança, até mesmo quando os demônios-gafanhotos que subirão da fumaça do “poço do abismo” estiverem atormentando a hu-manidade em geral (veja Ap 9:1-6)� De fato, as testemunhas serão pre-servadas, sem uma única baixa, através da terrível perseguição no final dos tempos e, por fim, acompanharão o Cordeiro — todos eles — no Monte Sião (Ap 14:1)�

Penhor“Fostes selados com o Espírito Santo da promessa� O qual é o pe-

nhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para lou-vor da Sua glória” (Ef 1:13-14); “Ora Quem para isto nos preparou foi Deus, O qual nos deu também o penhor do Espírito” (II Co 5:5)� “O termo ‘penhor’ (arrabon) significa um depósito que é, em si mesmo, uma garantia de que a quantia total será paga mais tarde�” * De acordo com W� E� Vine† a palavra significava “originalmente, um adiantamento de-positado pelo comprador e ressarcido se a compra não se completasse, e era provavelmente uma palavra fenícia introduzida na Grécia� Ela veio a significar, no uso geral, uma garantia ou penhor de qualquer natureza”� Vine também destaca que “no grego moderno arranona é um anel de noivado”� Isto é muito esclarecedor� Se um anel de noivado incorpora o compromisso de um homem de cumprir a sua promessa e se casar com sua amada, o Espírito Santo é Ele mesmo uma garantia divina de que Deus cumprirá plenamente todas as promessas feitas ao Seu povo�

A palavra equivalente no Velho Testamento é traduzida “penhor” em Gênesis 38:17-18, 20�

Judá prometeu enviar um cabrito de presente a Tamar, mas ela não ficousatisfeitacomumamerapromessa;elaqueriaum“penhor”;então ele lhe deu o seu selo, cordão e cajado, que ela mais tarde apresentouparavergonhadele.OEspírito,comooPenhor,éagarantiadadaporDeusdequeElecumpriráaSuapromessa‡.

* HUGHESP.E.The Second Epistle to the Corinthians, New International Commentary. GrandRapids,MI:Wm.B.EerdmansPublishingCo.,1962.

† VINE,W.E.Expository Dictionary of New Testament Words.1940.‡ MARSH,F.E.Emblems of the Holy Spirit.James.Clark&Co.,Ltd.,1957.

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Cap. 2 — As figuras do Espírito Santo 39

ConclusãoA presença e as atividades do Espírito Santo na dispensação atual

são alguns dos frutos da exaltação de Cristo� Ser habitado pelo Espírito Santo é um imenso privilégio, mas como sempre, privilégios trazem responsabilidades� A maravilhosa variedade no Seu ministério confe-re peso à injunção: “… que não andamos segundo a carne” (Rm 8:4)� Em vista do variado significado de como Ele habita nos cristãos, bem podemos nos perguntar, usando as palavras do apóstolo Pedro em ou-tro contexto: “Que pessoas nos convém ser em santo trato e piedade?” (II Pe 3:12)� O Espírito Santo não apenas nos sustenta nas provações presentes e é suficiente para toda obra — Sua presença em nós como “o penhor da nossa herança” é uma lembrança constante de que não vai demorar muito até que estejamos rodeando “o trono de Deus e do Cordeiro” (Ap 22:3)�

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo

por Tom Wilson, Escócia

“Poderás descobrir as coisas profundas de Deus?” perguntou Zofar o naamatita na sua primeira resposta a Jó ( Jó 11:7, VB)� Ele disse mais, observando que tal sabedoria é “como as alturas dos céus”, e por isso totalmente inacessível ao homem; é insondável, sendo “mais profunda que o inferno”; e tão incompreensível no seu âmbito que “mais com-prida é a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar”� O ho-mem precisa curvar-se perante a grandeza de Deus, reconhecendo que somente o que Ele revela de Si mesmo pode ser conhecido do homem� A auto revelação é exclusiva à Deidade� Foi o nosso Senhor Jesus que revelou o Pai e nos falou do Espírito Santo� Foi o Pai que identificou o Senhor Jesus como o Seu Amado Filho, uma declaração com a qual o Espírito Santo se identificou na ocasião do batismo do Senhor Jesus por João (Mt 3:16-17)� O Espírito Santo nos tem revelado muito sobre a Sua Pessoa, caráter e obra nas Sagradas Escrituras; nelas encontramos diversas apresentações dos nomes e títulos que Ele em graça nos tem revelado (I Co 2:13; II Tm 3:16; II Pe 1:20-21)� Auto revelação per-tence a Deus, e assim ao Espírito Santo� Sem revelação, até mesmo o pesquisador mais diligente não descobrirá o Espírito Santo�

O nosso Senhor Jesus proclamou: “… ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho O quiser revelar” (Mt 11:27)� Ele estava identificando a Si mesmo como o Revelador do Pai� O Senhor também falou do Espírito como o Revelador do Filho: “Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar” ( Jo 16:14)� E quem é, então, o Revelador do Espírito Santo? Nosso Senhor não veio a este mundo como Reve-lador do Espírito, embora Ele falasse do Espírito� Ele indicou que o Espírito seria “enviado do céu” (I Pe 1:12), isto é, ao mundo� Sua missão era específica: “… não falará de Si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvi-do” ( Jo 16:13)� Nosso Senhor Jesus não disse que o Espírito não falaria sobre Si mesmo, e sim que Ele não falaria de (por) Si mesmo� Ele não falaria “por Sua própria autoridade pessoal”, mas em comunhão com o

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 41

Pai e o Filho� Uma vez que o Senhor estava exaltado no Céu, o Espírito revelou-Se ao Seu povo como o Intérprete do Velho Testamento e o Inspirador das Escrituras do Novo Testamento� O Novo Testamento revela muito acerca do Espírito Santo, na medida em que o próprio Espírito nos transmitiu, através de vasos escolhidos como Paulo e João, aquelas coisas que o Senhor revelaria para a edificação do Seu povo� Os títulos usados pelo Espírito apresentam muito sobre Sua Pessoa e obra da maneira como o Senhor quer que entendamos� Estas coisas estão entre as muitas que o Senhor tinha ainda para dizer aos Seus quando estava com eles, coisas que eles não podiam, naquela ocasião, suportar ( Jo 16:12)�

John Ritchie* sugeriu que há, nas Escrituras, pelo menos trinta no-mes e títulos do Espírito; e acrescentou: “… cada um com seu próprio significado”� No entanto, a centralidade de Cristo na Bíblia, que é fruto da obra do Espírito cujo prazer é glorificar a Cristo ( Jo 15:13-14), é evidente quando notamos que mais de duzentos nomes e títulos são atribuídos a Cristo†� Mesmo assim, J� E� Cummings‡ menciona oitenta e seis referências ao Espírito no Velho Testamento, e duzentas e ses-senta e uma no Novo Testamento; entre essas referências se encontram Seus nomes e títulos� Na primeira referência, Ele é chamado “o Espírito de Deus” (Gn 1:2); a última está em Apocalipse 22:17, onde o nome “o Espírito” é usado� Aquele que é o Espírito Eterno não teve princípio e Se movia sobre a face das águas (Gn 1:2)� Na última referência, Ele está associado com a Noiva, a Igreja� Entre a primeira e a última referência ao Espírito Santo, há muitos títulos e nomes que devem ser considera-dos em espírito de oração, alguns dos quais O apresentam na Sua glória singular, enquanto outros revelam Sua condescendência em habitar na-queles que conhecem o Salvador e em usá-los para a glória de Cristo�

Tão numerosos são os nomes e títulos associados com o Espírito Santo que o autor decidiu separá-los em três categorias para os propó-sitos deste artigo:• Nomes que pertencem ao Espírito por causa da Sua Divindade es-

sencial;

* RITCHIE,J.The Holy Spirit, em The Faith.Kilmarnock:JohnRitchieLtd.,1999.† PENTECOST,J.D.The Divine Comforter.GrandRapids,MI:KregelPublications,1963.‡ CUMMINGS,J.E.Through the Eternal Spirit: A Biblical Study on the Holy Ghost.

New York: Fleming H. Revell, 1896.

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42 O Espírito da Glória

• Nomes que enfatizam Seu relacionamento com o Pai e o Filho;• Nomes e títulos relacionados à Sua obra�

Essas categorias não são mutuamente exclusivas, mas permitem que alguns temas associados sejam desenvolvidos�

Nomes que pertencem ao Espírito porque Ele é Deus

• O Espírito Santo — Sl 51:11; Mt 1:20; I Co 6:19;• O Santo — I Jo 2:20;• O Senhor, o Espírito — II Co 3:18 (ARA);• O Espírito Eterno — Hb 9:14;• O Espírito da glória — I Pe 4:14;• O Espírito de vida — Rm 8:2; Ap 11:11;• O Espírito de santificação — Rm 1:4;• Um só Espírito — Ef 4:4;• Os Sete Espíritos — Ap 1:4; 3:1; 4:5; 5:6�

A revelação desta bendita Pessoa nada deixa a desejar em relação a tudo que associamos com o Pai e o Filho� Reconhecemos o “eterno Deus”, que é eterno no Seu ser (Rm 16:26), e portanto com alegria conhecemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são eternos� O nome “o Espírito eterno” confirma essa gloriosa verdade sobre o Espírito de Deus� Ele é, num sentido absoluto, santo, e disto dão testemunho três dos títulos acima listados: “o Espírito Santo”, “o Santo”, e o “Espírito de santificação”� Sendo Deus, ninguém pode lhe negar glória; Ele é o Espírito da glória� Sendo Deus, o próprio Espírito de vida é vida para o cristão “por causa da justiça” (Rm 8:10)� Como é apropriado associar Senhorio com o Filho, assim o é também com o Pai em Atos 4:29, e com o Espírito, como mostra II Coríntios 3:18 (ARA)� Podemos en-contrar mais confirmações do Senhorio do Espírito no diálogo entre Pedro e aquele cuja voz Pedro ouviu na sua visão (At 10:13, 15)� Os vs� 19-20 claramente identificam a voz como a voz que anteriormente dissera: “Vai com eles … Eu os enviei”� Não há razão para duvidar que a primeira voz foi a voz do Espírito Santo� Podemos concluir, a partir de um breve estudo dessas Escrituras, que o Espírito bendito é igual ao Pai e ao Filho�

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 43

O Espírito Santo, o Santo, o Espírito de santificação

O prejuízo será nosso se ignorarmos os três nomes associados à santidade� O mundo em que vivemos é corrompido e, no entanto, o Espírito Santo habita em nossos corpos (I Co 6:19)� Reconhecemos que “o Santo” nascido de Maria foi “concebido pelo Espírito Santo” (Lc 1:35; Mt 1:20) e compreendemos porque o poder do Altíssimo cobriu com Sua sombra o vaso escolhido, através de quem o Filho do Altíssimo entraria no mundo (Lc 1:32, 5)� Não estranhamos quando o Senhor Jesus descreve Seu corpo como “este templo” ( Jo 2:19), mas nos maravilhamos quando o mesmo Espírito tem feito do corpo do cristão o Seu templo� Que exigências isto cria na nossa vida! Quão sensível Ele é a tudo que é impuro! O Espírito de Deus é santo e por isso cada santo deve estar consciente de que Ele também escolheu fazer da igreja local o Seu templo� Quem ousaria “destruir [“corromper”] o templo de Deus … porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (I Co 3:16-17)� Seja através de comportamento carnal ou de associações corruptas, o Espírito Santo pode ser entristecido (Ef 4:30)� A expressão paulina “o Espírito [ou “espírito”] de santidade” pode se referir tanto ao espírito do Senhor Jesus quanto ao Espírito Santo� Pode destacar a santidade que sempre caracterizou o Santo de Deus que exerceu poder ressuscitador ao sair de entre os mortos; ou pode nos fazer pensar acerca do San-to sobre Quem o próprio Espírito agiria em poder ressuscitador para apresentar a este mundo a “evidência irrefutável de que Jesus Cristo … é verdadeiramente o Filho de Deus”�

O Espírito Eterno

O Espírito de Deus é também conhecido como “o Espírito eter-no”� Temos o registro de muitas das atividades do Espírito no período abrangido pelos dois Testamentos, mas aceitamos o testemunho das Escrituras de que Ele não teve princípio� Nos conselhos eternos Ele, juntamente com o Pai e o Filho, projetou o grande plano de salvação� Observamos Suas atividades no tempo e confessamos que tudo o que o Espírito Eterno faz, é para sempre (Ec 3:14)� Quão animador era para aqueles judeus, que compreenderam o fato solene de que as cerimônias envolvendo bodes e bois eram meramente temporárias, reconhecer que a obra do Calvário foi eternamente planejada e trazida à plena frui-ção, visto que “Cristo … pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14)� Nascemos de novo do Espírito, fomos

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44 O Espírito da Glória

selados pelo Espírito e Ele é, para nós, o Espírito de adoção� A respeito da Sua obra confessamos: “… nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar” (Ec 3:14)�

O Espírito da glória

O Espírito da glória nos faz lembrar que a glória pertence a Deus� Sabemos que quando Herodes Agripa I tomou para si honras divinas, “feriu-o o anjo do Senhor, porque não deu glória a Deus” (At 12:23)� Admira-nos o fato que este juízo não vem mais frequentemente sobre aqueles que consideram que sua voz é a “voz de Deus, e não de homem”� Mas honras divinas pertencem ao Espírito� Ele é o Espírito da glória� O título completo em I Pedro 4:14 — “o Espírito da glória e de Deus” — não deixa dúvida de que é o Espírito Santo que está em vista� A estrutura do texto grego coloca os dois genitivos (“a glória” e “o Deus”) entre o artigo definido “o” e o substantivo “Espírito”, e literalmente diz: “o da Glória e o de Deus Espírito repousa sobre vós”� Isso enfatiza as características deste que repousa complacentemente sobre os santos perseguidos, sobre quem o mundo lança o opróbrio e consequentemen-te rejeita� Quão evidente Ele torna o veredito do Céu sobre aquilo que os homens dizem! Que glória pertence àqueles que sofrem desprezo por Cristo! Tão importante quanto notar que Ele, como o Espírito da glória, tem o direito de honrar estes santos, é igualmente importante notar que Ele supre os afligidos com uma amostra da glória que eles um dia compartilharão� Sofreram com Cristo, e terão a glória de reinar com Cristo (II Tm 2:12)� Para estes, que foram participantes dos sofrimentos de Cristo, o Espírito da glória revela a verdade que um dia eles compar-tilharão da glória da Sua aparição (I Pe 4:12-14)�

O Espírito de vida

A apresentação do Espírito como o Espírito de vida é usada em relação à vida espiritual do cristão em Romanos 8:2, mas com relação à vida física em Apocalipse 11:11� Falamos, corretamente, do Senhor Jesus como o Doador da vida ( Jo 5:40; 6:33; 10:28; 17:2), e do Senhor ressuscitando os mortos fisicamente ( Jo 6:39-40)� O Espírito é o poder daquela vida que o Senhor, o Doador, nos concedeu na Sua infinita graça� Sem o Seu poder jamais poderíamos entrar na plenitude desta vida� O princípio fixo operativo no qual o Espírito age garante que cada cristão tenha o potencial de viver sem ser dominado pela lei do pecado

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 45

(Rm 8:2)� Aquele mesmo capítulo revela que a vivificação dos nossos corpos mortais será através do Espírito (Rm 8:11)� Mais tarde, depois que estivermos na glória, Ele vivificará os corpos das duas testemunhas, três dias e meio depois de serem martirizados (Ap 11:11)� Ele é o Espí-rito de vida, porque Ele é Deus� Sabemos que, pelo Espírito, João revela que “o Verbo era Deus” e “nEle estava a vida” ( Jo 1:1, 4)� Sabemos que o Pai tem vida em Si mesmo ( Jo 5:26)� Associamos, corretamente, a vida com o Espírito de vida�

O Um só Espírito, os Sete Espíritos de Deus

As duas referências finais na lista parecem, à primeira vista, ser con-traditórias� Confessamos: “há … um só Espírito … um só Senhor … um só Deus e Pai de todos, o Qual é sobre todos, e por todos e em todos vós” (Ef 4:4-6)� Somos batizados “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito” (Mt 28:19)� A obra do “um só Espírito” que habita em cada cristão está relacionada no contexto de Efésios 4 ao “um só corpo”� “Há um só corpo e um só Espírito”� Sem a Sua obra o “um só corpo” não teria vida, nem formaria um todo� Mas a apresentação do Espírito, em Apocalipse, se contrasta grandemente com Seu poder unificador no “um só corpo”� Apocalipse é o livro do Novo Testamento em que não encontramos o nome “Pai” depois do cap� 3, mas encontramos as frases “Aquele que estava assentado [“se assenta”] sobre o trono” (4:2-3; 5:1, 7, 13; 6:16; 7:10, 15; 19:4; 20:11; 21:5); e “o Senhor Todo-Poderoso, que é, e que era, e que há de vir” (1:4, 8; 11:17)� Apocalipse é o livro onde o nome “Senhor Jesus” ou “Senhor Jesus Cristo” não é usado até 22:20, mas o título “Cordeiro” é usado vinte e oito vezes� O próprio Senhor fala “Eu, Jesus” (22:16)� Não nos surpreende à luz das referências ao Pai e ao Filho, que em Apocalipse encontramos uma fraseologia diferente daquela usada em outros lugares do Novo Testamento, quando lemos quatro vezes dos “sete Espíritos de Deus”� O número sete é muito des-tacado em Apocalipse desde a sua primeira menção (“as sete igrejas”, Ap 1:1) até à última (“das últimas sete pragas”, Ap 21:9)� Mas a ênfa-se no número sete não explica o sentido da frase “os sete espíritos de Deus”, nem a razão para o seu uso� Na Revelação de Jesus Cristo alguns dos fios das Escrituras do Velho Testamento são entrelaçados na tece-lagem de uma magnífica tapeçaria das glórias de Cristo� Lembramos que em Isaías 11:2-3 o Messias é caracterizado como Aquele em Quem “repousará o Espírito do Senhor”� A plenitude daquela efusão sobre

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46 O Espírito da Glória

este Renovo das Raízes de Jessé é explicada em mais seis expressões, fornecendo uma explicação sétupla: “E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor … o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”� A plenitude do poder do Espírito pertence a Ele� Apocalipse nos revela este ministério sétuplo do Espírito em ação:• ao enriquecer as cenas associadas com o trono (1:4);• ao energizar as sete estrelas para brilharem na igreja sem vida de

Sardes (3:1);• ao iluminar as mentes dos que estão em redor do trono (4:5);• ao garantir que seja conhecida a sabedoria do Cordeiro vencedor

(5:6)�Concluímos que, visto que o Espírito é, em todos os aspectos, igual

ao Pai e ao Filho de Deus, a apresentação do Espírito no Novo Tes-tamento engloba eternidade, santidade, vida, Senhorio e plenitude de poder; e nós regozijamos em notar que assim como há unicamente um Pai e um Senhor, há também um Espírito�

Nomes que enfatizam o relacionamento do Espírito com o Pai e o Filho

John F� Walvoord* cita dezesseis referências que enfatizam o re-lacionamento do Espírito com o Pai e o Filho, mas parece omitir “o Espírito de vosso Pai” (Mt 10:20)� As referências bíblicas são muitas, e podem ser colocadas na seguinte ordem:• O Espírito de Deus — Gn 1:2; Mt 3:16;• O Espírito de Jeová — Jz 3:10 (VB);• O Espírito do Senhor — Lc 4:18; At 5:9; 8:39;• O Espírito do nosso Deus — I Co 6:11;• O Espírito do Deus vivo — II Co 3:3;• O Espírito de vosso Pai — Mt 10:20;• O Espírito Daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus —

Rm 8:11;• Meu Espírito — Gn 6:3;• Seu Espírito — Nm 11:29; Ef 3:16;

* WALVOORD,J.F.The Holy Spirit: A Comprehensive Study of the Person and Work of the Holy Spirit.GrandRapids,MI:Zondervan,1991.

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 47

• Teu Espírito — Sl 139:7;• O Espírito de Jesus — At 16:7 (VB);• O Espírito de Cristo — Rm 8:9; I Pe 1:11;• O Espírito de Jesus Cristo — Fp 1:19;• O Espírito de Seu Filho — Gl 4:6�

O Espírito de Deus, o Espírito de Jeová, o Espírito do Senhor, o Espírito do nosso Deus, o Espírito do Deus Vivo

Os primeiros cinco nomes que falam do relacionamento do Espíri-to com o Pai e o Filho não deixam dúvida na mente esclarecida de que o Bendito, chamado o Espírito de Deus, ou por qualquer dos outros qua-tro nomes, procedia de Deus para que o propósito de Deus pudesse ser revelado, quer em relação à Criação (Gn 1:2); ou à unção e aprovação do Servo de Jeová, o Filho Amado de Deus (Mt 3:16); ou à energização do Seu povo contra um inimigo feroz ( Jz 3:10); ou ao pregador das boas novas aos pobres (Lc 4:18); ou na santificação de um santo (I Co 6:11); ou na escrita de uma epístola de Cristo no coração, não em pedra, uma carta viva, não mandamentos que não podiam vivificar (II Co 3:2-6)� Tudo aquilo em que o Espírito tem se ocupado durante os milênios des-de Gênesis 1, é reconhecido por Deus e carrega o timbre da perfeição, assim como a obra do Pai e do Filho�

O leitor cuidadoso irá observar que o mesmo Espírito Santo, cuja igualdade com o Pai e o Filho estamos considerando, introduz ênfase na quarta e na quinta destas referências� Tais distinções não são meramente estilísticas ou a terminologia privilegiada do escritor humano, mas são as palavras “que o Espirito ensina” (I Co 2:13)� O apóstolo Paulo se refere a Deus, o “nosso Deus”, em I Coríntios 6:11, a única referência deste tipo nas duas cartas à igreja em Corinto� Em cada uma das duas cartas ele fala uma vez do “meu Deus” (I Co 14:18; II Co 12:21)� No contexto de I Coríntios 6 o apóstolo considera os pecados chocantes que caracterizaram os santos em Corinto, antes do Senhor salvá-los (I Co 6:9-10)� Não teríamos ficado surpreendidos se o nome usado para o Espírito fosse o “Espírito Santo” em contraste com a corrupção deles, mas as palavras do Espírito são “o Espírito do nosso Deus”� O Deus que nos “chamou à comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor”, esse Deus, nosso Deus, nos trouxe ao benefício da obra de Cristo pela fé e pelo Espírito do nosso Deus� Tal é o valor do sangue de Cristo que Ele pode fazer isso sem comprometer Sua natureza santa� O Espírito

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48 O Espírito da Glória

operou nas nossas almas para nos conferir a santificação para que pos-samos ter comunhão com o nosso Deus� Como já notamos acima, o uso do nome “o Espírito do Deus vivo” é um contraste flagrante com a letra morta da Lei que os falsos mestres recomendavam a qualquer gentio que se voltava para Cristo� Em contraste com aquilo que apenas servia para condenar, “o Espírito do Deus vivo” opera no coração do salvo� Para os primeiros destinatários daquela carta a Corinto, haveria também um contraste evidente com os ídolos mortos que eles haviam adorado�

O Espírito de vosso Pai, o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus

As referências ao “Espírito de vosso Pai” e ao “Espírito Daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus” ligam, de uma forma muito evidente, o Espírito com os interesses do Pai� A única outra referência, no Novo Testamento, que identifica o Espírito tão intimamente com o Pai está em Efésios 3:14-16 “… o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo… segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito”� Todos estes títulos indicam o prazer que o Pai tem em vindicar a Cristo, seja num santo acusado perante gover-nadores ou reis, ou gentios ignorantes e idólatras (Mt 10:19-20); ou em triunfo ao ressuscitar Cristo perante as hostes derrotadas do infer-no (Rm 8:11); ou na experiência diária de um cristão exaltando Cristo ao lugar de preeminência no coração (Ef 3:14-16)� As referências aos santos de Deus sendo acusados perante as autoridades judaicas são um incentivo para todos que são perseguidos pelos judeus ou gentios� O interesse do Pai está claramente evidente no nome que o Senhor Jesus emprega: “O Espírito de vosso Pai” (Mt 10:20)� Já notamos que, escre-vendo sobre o mesmo assunto, Pedro usa o nome “o Espírito da glória e de Deus” (I Pe 4:14)� Numa passagem paralela, em alguns aspectos, à Mateus 10, o Senhor promete aos acusados: “Eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lc 21:15)� Estêvão provou a verdade dessa promessa ao enfrentar a agressividade dos judeus, e Paulo também, diante dos po-deres romanos: “O Senhor assistiu-me e fortaleceu-me” (II Tm 4:17)� Evidentemente os recursos celestes estão a favor do santo� Mesmo que o resultado seja o martírio, os interesses do Pai serão garantidos pelo Espírito (Rm 8:11)� O fato dEle habitar no santo garante que ele será ressuscitado de entre os mortos� Pode parecer que ele morreu uma mor-

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 49

te ignominiosa, mas o seu corpo será um corpo de glória�

Meu Espírito, Seu Espírito, Teu Espírito

Nos três nomes do Espírito que trazem os pronomes pessoais “Meu”, “Seu” e “Teu”, há um reconhecimento evidente do Espírito e Sua obra� Eu reconheço, diz Deus, esse Obreiro Divino como “Meu Espírito” (Gn 6:3)� Ao repreender Josué que queria silenciar Eldade e Medade quando profetizavam, Moisés declarou que os que falam por Deus são aqueles sobre quem o “Espírito repousou” (Nm 11:25-26); “… o Senhor pusesse o Seu Espírito sobre ele” (Nm 11:29)� Moisés estava reconhecendo que o Espírito fora enviando por Deus para inspirar os Seus profetas� Davi também sabia que havia sido favorecido com o Es-pírito Santo vindo sobre si, e ele se refere a isto no Salmo 51:11, onde ele fala do “Teu Espírito Santo”� O Salmo 139:7 revela algo do Espírito buscando e operando no errante� Davi reconhece que essa é uma obra de Deus e que atingirá o seu propósito, pois é o próprio Espírito quem o efetua� Inerente também à pergunta de Davi: “Para onde me irei do Teu Espírito” (Sl 139:7) está o reconhecimento de que o Espírito é, não somente onipotente e onisciente, mas também onipresente (Sl 139:8-7)� Davi reconhece que o exercício das prerrogativas divinas do Espírito é para o seu bem�

O Espírito de Jesus

As quatro afirmações que estão tão claramente relacionadas ao pró-prio Senhor Jesus merecem a nossa meditação� Elas expressam nitida-mente a associação do Espírito com Cristo em humanidade, e sem dú-vida captam o prazer que Ele encontrou em associação com o Homem que trouxe prazer a Deus� Escrevendo sobre a expressão “o Espírito de Jesus”, Alford* destaca que as palavras “de Jesus” não são empregadas desta forma “em nenhuma outra parte, com base doutrinária”� Kelly† destaca a expressão:

“OEspíritodeJesus”mesclaointeressepessoaldoHomemglori-ficado(cujoNome,emsujeiçãoàSuavontade,eraodesejodosseus corações e o grande objetivo de suas vidas tornar conhecido) comopoderdoEspíritoqueéopoderdonovohomem.

* ALFORD,H.Alford’s Greek Testament Volume II.GrandRapids,MI:BakerBookHouse, 1980.

† KELLY,W.An Exposition of the Acts of the Apostles.London:C.A.Hammon,1952.

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50 O Espírito da Glória

Mas devemos ver também na expressão que o Espírito que guiava o Senhor Jesus como Homem dependente, fazendo-O ir a outras cidades (Lc 4:43); também O fez parar para que Bartimeu pudesse ser trazido a Ele (Lc 18:40); e O fez deter-Se junto a um poço para que uma mulher pudesse vir e falar com Ele ( Jo 4:6)� O Espírito de Jesus fez com que o apóstolo e seus cooperadores se detivessem, e esperassem para ouvir novas instruções (At 16:6-7)� Essa direção veio numa visão noturna de um homem da Macedônia; e assim o Evangelho chegou à Europa�

Características daquele Homem adorável eram evidentes em Paulo e seus conservos nesta e em outras ocasiões� Paulo e os seus companhei-ros se curvaram à vontade do Espírito de Jesus, que “não lho permitiu” (At 16:7)� Mais tarde, o mesmo Paulo teve a experiência de ser impedi-do pelos discípulos de se apresentar à multidão enfurecida em Éfeso (At 19:30)� É mais fácil discernir a vontade dos santos do que a de Deus, mas precisamos estar conscientes de ambas, como Paulo evidentemente estava� Que glória é para Deus quando somos sensíveis à direção do Espírito e sabemos quando não é da vontade de Deus que caminhemos numa determinada direção�

O Espírito de Cristo

O Espírito de Cristo é mais uma associação do Espírito com o Senhor Jesus� Aprendemos de I Pedro 1:11 que isto envolvia a reve-lação de Cristo através das Escrituras do Velho Testamento, que tão plenamente revelaram “anteriormente … os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que lhes havia de seguir”� Reconhecemos tam-bém que Ele foi o Revelador de Cristo através do Novo Testamento� I Pedro 1 não trata deste aspecto bíblico da revelação de Cristo, mas continua a falar do Espírito Santo “enviado do céu” como o poder por trás da pregação do Evangelho� Este mesmo nome do Espírito ocorre em Romanos 8:9, numa declaração absoluta: “Se alguém não tem o Es-pírito de Cristo, esse tal não é dEle”� Estes termos inequívocos deixam claro que todo cristão é habitado pelo Espírito� Se um homem não é habitado pelo Espírito, “esse tal não é dEle”; ele não é um cristão, não é salvo� Deveríamos ser capazes de ver a evidência dessa habitação na maneira como o indivíduo vive� O Espirito de Cristo, que revelou Cris-to nas Escrituras, sempre deseja revelar Cristo na vida do cristão� Albert Leckie comentou: “Não podemos ver o Espirito de Deus um no outro, mas podemos ver o Espirito de Cristo na medida em que Ele reproduz

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 51

Cristo em mim”�*

O Espírito de Jesus Cristo

Escrevendo aos filipenses Paulo usou a frase “o socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1:19)� É certo que aquela frase poderia se refe-rir aos suprimentos futuros que Cristo disponibilizaria a Paulo, mas também deve ser levado em consideração que talvez o próprio Paulo fosse encorajado pelo mesmo poder que tão ricamente supriu o próprio Senhor� O Espírito de Jesus Cristo é tanto o Dom como o Doador! Lembramo-nos da declaração de João: “… não Lhe dá Deus o Espírito por medida” ( Jo 3:34)� Não nos admira que as características daquele Homem bendito, tanto em público como em particular, deleitavam o Céu� Parece que havia na igreja dos filipenses muito que dava prazer ao coração do Senhor� Todas essas características são produzidas pelo “socorro do Espírito de Jesus Cristo” (Fp 1:19); não são o resultado de uma disposição natural�

O Espírito de Seu Filho

Escrevendo aos gálatas, Paulo descreve a experiência judaica ante-rior à vinda de Cristo como a de um menor colocado, pelo seu pai, sob um pedagogo� Os judeus permaneceram nessa posição até que “Deus enviou Seu Filho … para remir” (Gl 4:4-5)� Essa obra era essencial para remir os que estavam debaixo da Lei, como também era essencial o envio do Espírito para habitar nos judeus e gentios que se convertes-sem a Cristo� Lemos em outras partes do Pai enviando o Espírito, e do Filho enviando o Espírito ( Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7), mas aqui o Pai que enviou Seu Filho envia o Espírito, que é chamado o Espírito de Seu Filho (Gl 4:6)� No contexto, Ele dá o poder para que o santo tenha co-munhão com o Pai� A grandeza deste privilégio é destacada na própria linguagem que o filho será capaz de usar; Ele poderá se dirigir a Deus com a mesma linguagem que o próprio Senhor usou: “Aba, Pai” (Mc 14:36)� Entretanto a linguagem de comunhão não revela plenamente por que é usado o nome “o Espírito de Seu Filho”� Reconhecemos, com base na ressurreição, que o Senhor Jesus demonstrou o pleno alcance do privilégio da filiação quando Ele anunciou: “Eu subo para Meu Pai e vosso Pai, Meu Deus e vosso Deus” ( Jo 20:17)� O ministério da filia-

* LECKIE,A.Romans: a Commentary on Chapters 1- 8. Fareham: Precious Seed Publications,2007.

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52 O Espírito da Glória

ção foi inicialmente revelado pelo Filho que Deus enviou ao mundo� É o Espírito do Seu Filho que faz o coração responder ao privilégio de sermos filhos�

Nomes e títulos relacionados à obra do Espírito Santo

São inúmeras as obras do Espírito Santo� Em Gênesis 1:2, como já notamos, o Espírito está associado com a Criação, quando Ele Se movia sobre a face das águas, quando a densa “escuridão” era como “faixas” ( Jó 38:9)� O verbo “movia” está associado com o instinto maternal de uma ave pairando sobre o ninho onde estão os seus filhotes� São muitas as obras espirituais que associamos com o Espírito de Deus� Sabemos que dEle é a obra de regeneração, quando uma alma nasce “da água e do Espírito” ( Jo 3:5), assim como o ministério de convicção de pecado ( Jo 16:8-11), e o da santificação (I Co 6:11)� Somamos a essas operações iniciais na alma a Sua direção (Rm 8:14); Seu testemunho (Rm 8:16); Sua unção (II Co 1:21); Seu selo (II Co 1:22; Ef 1:13; 4:30); e Seu “en-cher” (Ef 5:18)� Ele é também o penhor da nossa herança (II Co 1:22; 5:5; Ef 1:14), e o Consolador ( João 14:16, 26; 16:7)� A inspiração das Escrituras é uma obra Sua, em ambos os Testamentos (II Tm� 3:16)�

Chafer* lista dezessete ministérios que pertencem ao Espírito de Deus, associados com os quais estão os nomes que revelam a Sua glória� Algumas das tarefas do Espírito, listadas por Chafer, serão abordadas em outras partes desse volume� Nesta seção notaremos dez nomes im-portantes, alguns dos quais já foram destacados nesse capítulo�• O Espírito de santificação — Rm 1:4;• O Espírito de verdade — Jo 14:17;• O Espírito de graça e de súplicas — Zc 12:10; Hb 10:29;• O Espírito de vida — Rm 8:2;• O Espírito de adoção — Rm 8:15;• O Espírito da promessa — Ef 1:13;• O Espírito da glória e de Deus — I Pe 4:14;• O Espírito de sabedoria — Is 11:2;• O Consolador — Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7;• O Espírito voluntário (ou “livre”) — Sl 51:12�

* CHAFER,L.S.Sistematic Theology Volume VI.GrandRapids,MI:KregelPublications,1993.

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 53

Já havíamos considerado acima que, como o próprio Deus, o “Espí-rito de santidade” pode ser uma referência ao Espírito Santo� Também já comentamos sobre o “Espírito da glória e de Deus”, o “Espírito de vida” e o “Espírito de sabedoria”�

O Espírito de verdade

Poderíamos ter considerado o título “o Espírito de verdade” junto com o grupo de títulos que pertencem ao Espírito por Ele ser Deus� So-mente Deus poderia ser descrito como “… o Espírito é a verdade” (I Jo 5:6)� Lembramos que o Senhor Jesus declarou com autoridade: “Eu sou … a verdade” ( Jo 14:6)� A totalidade da verdade revelada está incluída nas palavras “a verdade”�

A gloriosa designação do Espírito Santo como “o Espírito de ver-dade” não está simplesmente dizendo que Ele não mente — isso já sa-bemos, porque “Deus … não pode mentir” (Tt 1:2)� Quando a verdade é revelada em forma escrita, o Espírito de verdade é a fonte de toda essa revelação� Essa designação também nos faz lembrar que Ele molda nossos afetos de acordo com a verdade; no contexto de João 14 vemos que Ele nos motivaria a guardar os mandamentos de Cristo ( Jo 14:21)� Por serem habitados pelo Espírito de verdade, os cristãos têm os lombos do seu entendimento cingidos com a verdade (I Pe 1:13)� Visto que o Espírito da verdade nos regula pela verdade, o Seu interesse explicito é fazer-nos semelhantes a Cristo� Para isso temos que absorver a verdade exposta nas Escrituras, para que a obra de transformação possa prosse-guir em nossas almas� João 14:17 rejeita qualquer ideia de que essa obra de transformação possa incluir homens não regenerados� O mundo não pode receber o Espírito de verdade porque “não O vê”� Como observa William Kelly*: “Ele não é objeto de vista ou de conhecimento, e o mundo não tem fé, senão não seria o mundo”�

O Espírito de graça e de súplicas

Em ambos os Testamentos, o Espírito Santo é identificado como uma verdadeira fonte de graça� Em Zacarias 12 aprendemos sobre as provações que sobrevirão a Israel no final da Grande Tribulação� Eles serão trazidos a um ponto onde o extermínio parece certo, ponto esse em que o Senhor intervirá pessoalmente em seu favor: Ele procurará

* KELLY,W.An Exposition of the Gospel of John.London:C.A.Hammond,1966.

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54 O Espírito da Glória

“destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém” (Zc 12:9)� Ele não somente trabalhará por Israel, mas neles através do Seu Espírito� Naquele dia, a nação que endureceu o seu coração contra Ele no Seu primeiro advento se derreterá em súplicas e lamentos e amargura� O Espírito os moverá, tribo por tribo, família por família� Eles reconhe-cerão que a sua nação obstinadamente interpretou mal passagens como Isaías 53, porque não havia nenhuma beleza naquele que é descrito na-quela passagem, para que O desejassem (Is 53:2)� Essa nação há de ne-cessitar graça para suplicar; caso contrário seria devorada de demasiada tristeza (II Co 2:7)� Haverá graça para os quebrantados de espírito� Em Hebreus 10, entretanto, não se trata da necessidade dos quebrantados de espírito e arrependidos� Encontramos ali aqueles que abandonam a obra de Cristo em apostasia� Eles pisam o Filho de Deus, o sangue do concerto e o Espírito da graça� A obra do Espírito da graça que encon-trariam estaria em contraste total com as obras da Lei que os afastavam de Cristo� Como o Espírito da graça, Ele operaria naqueles que deixa-ram o ritual do Templo pela realidade de Cristo� Teria sido uma obra de consolidação, estabelecendo aqueles que foram atraídos a Cristo em graça� Nossas circunstâncias podem ser diferentes das que Zacarias e o escritor aos Hebreus tinham em mente, mas o ministério do Espírito da graça ainda é necessário, levando-nos à súplicas, e garantindo a con-solidação da obra de Deus nas nossas almas�

O Espírito de adoção, o Espírito da promessa

Duas apresentações no Novo Testamento, muito agradáveis a todos os que se regozijam na salvação, são: “o Espírito de adoção” (Rm 8:15), e o “Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13)� A primeira revela um pri-vilégio presente que pertence aos filhos de Deus, e a segunda também está relacionada ao período presente, antes da entrada dos herdeiros da promessa na sua herança� O Espírito veio para que pudéssemos manter o gozo do relacionamento que pertence a filhos, uma relação que nem mesmo os santos mais piedosos do Velho Testamento conheceram; eles eram mais como servos do que filhos (Gl 4:1-7)� Eles não tinham o direito de se dirigir a Deus como “Aba Pai”� Num lar rico do primeiro século, onde havia servos, um filho tinha privilégios que os servos não tinham� Se, com o coração transbordando de gratidão, o filho quisesse expressar a sua gratidão, ele podia fazê-lo� Se o filho sobrecarregado de problemas quisesse ouvir o conselho do seu pai, ele podia falar li-

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Cap. 3 — A apresentação do Espírito Santo 55

vremente como nenhum servo poderia� Da mesma forma, os filhos de Deus podem se dirigir ao Pai e clamar: “Aba Pai”� Entre os motivos para render graças está a promessa de glória futura� No Espírito da promessa os filhos de Deus têm o penhor da sua herança� O Espírito foi prome-tido aos santos; de fato, o Senhor Jesus falou dEle como “a promessa do Pai”, que eles receberiam “não muito depois” da Sua ascensão (At 1:4-5)� Entretanto, o nome “o Espírito da promessa” não relembra a promessa de que o Espírito seria enviado, mas aguarda a herança que o Senhor Jesus conquistou (Ef 1:15)� Ele é o penhor, isto é, o primeiro pagamento que nos assegura que somos herdeiros e que herdaremos com Cristo� De fato, o Espírito nos selou como aqueles que foram ad-quiridos para poderem herdar� Que ministério rico o Espírito fornece!

O Consolador

O título que muitos cristãos gostam de mencionar é “o Consola-dor”, ou “outro Consolador” ( Jo 14:16, 26; 15:26; 16:7)� Este título de-clara que o Espírito disponibiliza aos santos a orientação e proteção que os discípulos encontraram no Senhor, quando Ele estava com eles� É um título no qual João se gloria pelo Espírito� É com razão que a maioria relutaria em limitar o alcance de um ministério se o ensino do Senhor enfatiza a sua permanência, seu ensino, seu poder para lembrar, suas revelações de coisas futuras, seu testemunho a Cristo e sua censu-ra do mundo� Que ministério universalmente abrangente pertence ao Consolador!

O Espírito voluntário

Foi na sua hora mais negra que Davi clamou: “Restitui-me a ale-gria da minha salvação, e sustenta-me com um espírito voluntário” (Sl 51:12)� No v� 10 do Salmo, o “espírito reto” claramente se refere ao es-pírito do penitente, enquanto o apelo de Davi, no v� 11, para que o Es-pírito Santo não fosse retirado dele, é uma referência igualmente clara à pessoa do Espírito Santo� Não nos surpreende que haja certa divisão entre os comentaristas sobre o sentido ser “Teu Espírito voluntário” ou “um espírito voluntário”� O adjetivo hebraico traduzido “voluntário” também é usado em outras partes em relação às ofertas, logo, enfatiza espontaneidade, generosidade, disposição de agir sem relutância nem coerção� Esse tipo de espírito sustentaria Davi, evitando a sua queda� A ausência do pronome “teu” não contradiz a sugestão de que seja uma

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56 O Espírito da Glória

referência direta ao Espírito Santo� Somente o Espírito Santo poderia equipar o espírito de um homem que havia desrespeitado Bate-Seba e seu marido, para que ele não vivesse mais para agradar a si mesmo ou ceder às suas paixões; somente Ele é o Espírito que Se compraz em tornar um filho de Deus disposto a obedecê-lO e bençoar outros�

As glórias do EspíritoNotamos acima que o Senhor ensinou que o Espírito não falaria

por Si mesmo: “… não falará por Si mesmo, mas dirá tudo o que ti-ver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” ( Jo 16:13)� Notamos que nosso Senhor Jesus não disse que o Espírito Santo não falaria sobre Si mesmo� Ele disse, sim, que o Espírito não falaria “por Si mesmo”, isto é, Ele não falaria por Sua própria autoridade independente, mas em comunhão com o Pai e o Filho� Visto que Ele não fala independente-mente, temos a garantia de que toda glória que Ele revela de Si mesmo é Sua por direito, e que toda revelação é feita em comunhão com o Pai e o Filho� Nós regozijamos, e com razão, na apresentação do Espírito de Deus nas Escrituras� Ela é necessária e suficiente para o crescimento espiritual e o viver uma vida cristã� Esta apresentação da Pessoa e da obra do Espírito é necessária porque nenhum homem pode decifrar o Espírito de Deus por meio de pesquisa� Ela é suficiente porque a partir da apresentação das Escrituras podemos confessar: “Mais comprida é a sua medida do que a terra, e mais larga que o mar” ( Jó 11:7-9)�

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Cap. 4 — A obra do Espírito Santo em revelação e inspiração

por Walter A. Boyd, Irlanda do Norte

IntroduçãoAo considerar o assunto do papel do Espírito Santo na revelação

e na inspiração, é significativo que as duas passagens fundamentais das Escrituras que tratam disso se encontram em segundas epístolas: II Ti-móteo 3:16 e II Pedro 1:20� Aqueles que leem a Bíblia com atenção sa-bem que as segundas epístolas têm uma relação especial com os últimos dias da dispensação da graça� Ao incluir esses versículos preciosos nas segundas epístolas, o Espírito de Deus aparentemente está nos alertan-do para o fato que a verdade da inspiração divina das Escrituras sofrerá ataques especiais nos nossos dias�

Desde que se completou o cânon, Satanás e seus emissários estão empenhados numa campanha incansável contra a integridade das Es-crituras; e seus esforços se intensificaram desde o início do século XX� A primeira tentativa de minar a confiança humana na Palavra de Deus começou no Jardim do Éden, quando Satanás disse a Eva: “É assim que Deus disse?” (Gn 3:1)� Esta rejeição da Palavra de Deus ainda está conosco hoje, e estamos naquele período do qual Paulo escreveu em II Timóteo 4:3-4: “Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores confor-me as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”�

Para levar adiante o ataque à Palavra de Deus, tem havido uma ten-tativa combinada para desacreditar as doutrinas fundamentais da inspi-ração plena e da inspiração verbal das Escrituras Sagradas� Por verbal, queremos dizer que cada uma das palavras dos documentos originais é inspirada por Deus� Por plena, queremos dizer que todas as palavras são inspiradas por Deus� Todas as palavras dos manuscritos originais das Sagradas Escrituras, de Gênesis a Apocalipse, são inspiradas� Cada palavra com seus detalhes individuais, e todas as palavras juntas, for-

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58 O Espírito da Glória

mando o conjunto das Escrituras Sagradas, foram sopradas por Deus para serem registradas por escreventes humanos� Apesar da campanha incansável para subverter a Palavra de Deus, ainda há aqueles, como os Tessalonicenses, que definitivamente consideram as Sagradas Escritu-ras como confiáveis e vindas de Deus: “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a Palavra da prega-ção de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como Palavra de Deus, a qual também opera em vós os que crestes” (II Ts 2:13)�

As últimas palavras de Davi, conforme registradas em II Samuel 23, nos ajudam a entender a verdade da inspiração divina� Nos vs� 2-3 Davi diz: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a Sua Palavra está na minha boca� Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus”� Ao usar as expressões “a Sua Palavra está na minha boca” e “a Rocha de Israel a mim me falou”, Davi está falando da Sua experiência em registrar as palavras da Escritura Sagrada� Ele deixa claro que a ins-piração engloba dois elementos principais: Deus falou com Davi, e Davi falou em nome de Deus� Assim é também no caso de todos os escritores das Sagradas Escrituras: quando eles falam, Deus fala! A mesma ver-dade se encontra em Isaías 59:21: “… o Meu Espírito que está sobre ti, e as Minhas palavras, que pus na tua boca”� Quando aquilo que Isaías escreveu está sendo difamado, por alguém criticar o profeta ou a sua profecia, devemos lembrar que isso realmente é um ataque contra Deus, que inspirou o que Isaías escreveu�

Explicação

Revelação

Quando falamos sobre revelação divina, nos referimos a qualquer meio que não poderia, de outra forma, ser encontrado, por meio do qual Deus revela a verdade ao homem� Em II Coríntios 12:1 Paulo fala de receber “revelações do Senhor”� Em I Coríntios 2:10-11, Paulo mostra que assim como somente o próprio homem pode revelar os pen-samentos mais íntimos do seu coração a outra pessoa, assim também somente o Espírito Santo pode revelar ao homem “as profundezas de Deus”� O homem não tem capacidade para descobrir verdades acerca de Deus, a não ser que o Espírito Santo as revele� O agnóstico duvida que

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Cap. 4 — A obra do Espírito Santo em revelação e inspiração 59

Deus Se revele; e ao assim fazer ele está desafiando as afirmações de que Deus tem a capacidade de revelar-Se a Si mesmo, e que o homem tem a capacidade de conhecer a Deus� Qualquer conhecimento de Deus, através das Sagradas Escrituras, é obtido somente por revelação divina, pois o homem jamais poderia discerni-lO por sua própria capacidade, por mais erudito que fosse� A verdade divina está muito além das mais elevadas faculdades mentais e intelectuais do homem� Uma das per-guntas mais antigas na Bíblia é a pergunta de Jó: “Poderás descobrir … o Todo Poderoso?” ( Jó 11:7, VB)� Se Deus não Se revelar ao homem, Ele permanecerá desconhecido e incompreensível� Mas Deus em graça escolheu revelar-Se para que possamos aprender sobre Ele e Sua ines-crutável sabedoria e caminhos�

A capacidade de Deus de revelar-Se a Si mesmo

As Escrituras Sagradas são muito claras em afirmar que Deus não somente tem a capacidade de revelar-Se à humanidade, como de fato Ele o fez� Deus Se tem revelado de diversas maneiras�

Revelação na Criação

O Salmo 19:1 declara que Deus Se tem revelado através da Cria-ção: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das Suas mãos”� Paulo acrescenta a isso, ao dizer que a natureza invisível de Deus, seu eterno poder e Divindade “se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1:20)� A verdade de Deus na Criação é gloriosa (Sl 19) e evidente (Rm 1)�

O salmista declara no Salmo 8:3: “Quando vejo os Teus céus, obra de Teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; que é o homem mortal para que Te lembres dele? E o filho do homem para que o visites?”� O mundo criado manifesta tanto a majestade de Deus quanto a fraqueza do homem� Não é de admirar que Davi conclui o Salmo com a excla-mação do v� 9: “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o Teu nome sobre toda a terra!”

Falando durante o tumulto em Listra, o apóstolo Paulo disse: “… o Deus vivo, que fez o céu e a terra e o mar e tudo que há neles; o Qual nos tempos passados deixou andar todas as nações em seus próprios ca-minhos� E contudo não Se deixou a Si mesmo sem testemunho, bene-ficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo

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de mantimento e de alegria os vossos corações” (At 14:15-17)� Aqui somos novamente lembrados do testemunho de Deus para o homem na Criação� A repetição constante do ciclo das estações, no mundo criado, é um testemunho da bondade de Deus�

Revelação na consciência do homem

Deus também Se revela à Consciência do homem� Paulo, falando dos homens que rejeitam a revelação de Deus na Criação, declara que eles têm que tratar com Deus, cuja Lei está “escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm 2:15)� Embora o Senhor Jesus não tenha usado a palavra “consciência”, Ele declarou que o Espírito Santo “convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo” ( Jo 16:8)� A palavra “convencer” (que significa “expor”, ou “trazer à luz”) indica que o homem pecador seria conscientizado do seu pecado contra Deus� Embora seja verdade que Deus deu a cada pessoa a liberdade de exercer a sua própria vontade ao decidir a respeito da revelação de Deus, isso não quer dizer que ao fazê-lo em rebelião contra a lei de Deus ela ficará impune� O homem é livre para aceitar ou rejeitar a revelação de Deus na Criação e na consciência, mas terá que responder por essas decisões�

Revelação no cânon das Escrituras

Outro meio pelo qual Deus Se revela é no cânon das Sagradas Es-crituras� O apóstolo Paulo enfatizou o que muitos dos escritores do Velho Testamento haviam declarado em relação aos falsos deuses (veja, por exemplo, Sl 115:4-8 e Is 46:6-7) quando os descreve como “ídolos mudos”(I Co 12:2)� O Deus da Bíblia não é assim — Ele pode falar, e fala! A maravilha da Sua graça é que Ele fala de uma maneira que os homens possam entender e apreciar� Nos dias do Velho Testamen-to, Deus falou com indivíduos, como Abraão (Gn 12:1), Moisés (Êx 19:21), e Samuel (I Sm 3:4); e há repetidas revelações de Deus aos profetas (por exemplo, Jr 1:11, 014; 7:1; 11:1, etc�)�

Revelação e mistérios

No Novo Testamento certos aspectos da verdade que eram desco-nhecidos nos dias do Velho Testamento são revelados: são os chamados mistérios� A palavra não indica que haja algo curioso ou misterioso so-bre eles; e sim que são revelações de verdades completamente novas,

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Cap. 4 — A obra do Espírito Santo em revelação e inspiração 61

num tempo e para homens escolhidos por Deus� Essas revelações não poderiam ser compreendidas pelos homens se tivessem sido feitas numa época anterior� Paulo descreve a si mesmo e seus cooperadores como “ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus” (I Co 4:1)� Está além do alcance deste capítulo tratar dos mistérios doutrinários do Novo Testamento, mas o leitor que fizer deles um assunto de estudo pessoal terá uma rica recompensa na revelação da verdade� Outro as-sunto relacionado que podemos mencionar apenas de passagem é o dos milagres� Em certas ocasiões, Deus usou milagres para substanciar ou corroborar a mensagem na Sua revelação� Em II Coríntios 12:12 Paulo fala dos “sinais do meu apostolado”� Ele está se referindo aos aconteci-mentos milagrosos realizados por Paulo para convencer os homens da autenticidade da mensagem que Deus o tinha enviado a proclamar� Ao verem a evidência do poder Divino em operação, Deus tornou claro o conteúdo da Sua revelação e demonstrou a veracidade dela� Este é o sentido de Hebreus 2:4: “Testificando também Deus, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por Sua vontade”�

Entretanto, embora a Bíblia toda seja a Palavra inspirada de Deus, ela não é toda revelação� Há muitas passagens históricas que registram coisas que não podem ser consideradas como revelação� Por exemplo, quando Satanás disse a Eva: “Certamente não morrereis” — essas pala-vras, quando faladas por Satanás, não eram uma revelação de Deus� Mas em Gênesis 3:4 temos o registro divinamente inspirado da insinuação maligna de Satanás, assim assegurando a exatidão do relato� O mesmo se aplica ao exemplo nas Escrituras Sagradas onde as palavras dos ho-mens maus são registradas com exatidão por inspiração divina� Nesses casos a inspiração não confere crédito ao que os homens maus disseram, mas garante que o registro do que eles disseram é verdadeiro e exato�

Revelação progressiva

Nas Escrituras, a revelação da verdade é progressiva� Isso não quer dizer que revelações sucessivas corrigem ou eliminam revelações pré-vias; mas sim, que elas acrescentam às anteriores, dando-nos uma com-preensão mais completa� Mais verdade está sendo adicionada àquela que já é conhecida� Uma das primeiras afirmações de Deus na Bíblia se encontra em Gênesis 3:15: “E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe fe-

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62 O Espírito da Glória

rirás o calcanhar”� Um exemplo de revelação progressiva é quando Deus adiciona informação mais plena, ao identificar a Semente da mulher como Seu Filho: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a lei” (Gl 4:4)� Em Hebreus 2:14, é por meio da morte que Cristo derrotou Satanás: “… para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo”� Novamente, em Colossenses 2:14-15, Paulo mostra que o esmagar da cabeça de Satanás se deu na cruz: “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era con-trária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz� E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em Si mesmo”�

Revelação em Cristo

A revelação máxima de Deus aos homens está em Cristo� João diz: “Deus nunca foi visto por alguém� O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou” ( Jo 1:18)� Cristo nos anunciou tudo que o Pai quer que a humanidade saiba sobre Ele� Ele é a revelação mais plena de Deus aos homens� Em Hebreus 1:1-2 é dito que Deus “a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a Quem constituiu herdeiro de tudo, por Quem fez também o mundo”� Esta revelação por Deus nos dá uma compreensão da Pessoa de Cristo� Sua existência eterna, nascimento, morte, ressurreição, ascensão e retorno, todas estas coisas são reveladas nas Escrituras�

Revelação registrada

A revelação de Deus à humanidade, em forma escrita, chega ao seu ponto mais elevado no livro de Apocalipse no final do Novo Testa-mento� Apocalipse 1:1 afirma que é a “revelação de Jesus Cristo”� Disto concluímos que o livro é tanto uma revelação da parte de Jesus Cristo para João, e sobre Jesus Cristo para os homens� Estes conceitos são re-petidos no início de cada uma das cartas a serem enviadas por João às sete igrejas da Ásia, nos caps� 2 e 3� A introdução de cada carta começa com as palavras: “Isto diz …”, e em seguida temos um aspecto específico da visão do Cristo exaltado dada a João em Apocalipse 1:10-20: “Isto diz Aquele que tem na Sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro” (Ap 2:1)� A revelação por Jesus Cristo não apenas é sobre Ele mesmo como o exaltado e vitorioso Filho do Homem; João

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Cap. 4 — A obra do Espírito Santo em revelação e inspiração 63

recebeu também uma revelação da parte de Jesus Cristo sobre as “coisas que são, e as que depois destas hão de acontecer”�

A capacidade do homem de conhecer a Deus

Se um crítico da Bíblia pode provar que Deus não Se revelou à humanidade, ou que os seres humanos não têm a capacidade de reco-nhecer essa revelação, então ele sente que está isento de qualquer res-ponsabilidade para com Deus� Como já demonstramos, Deus tem Se revelado à humanidade de várias maneiras� E agora, o que dizer sobre a capacidade do homem de conhecer Deus?

Já vimos nesse capítulo que Deus, muitas vezes, realizou um mila-gre para confirmar a Sua mensagem� É interessante notar que, quando os homens ouviram as palavras do Senhor Jesus, eles disseram: “Nunca homem algum falou assim como esse Homem” ( Jo 7:46)� Marcos nos diz que, quando o Senhor Jesus curou o paralítico, “levantou-se e, to-mando logo o leito saiu em presença de todos, de sorte que se admira-ram, e glorificaram a Deus dizendo: Nunca tal vimos” (Mc 2:12)� Seja através das palavras faladas pelo Senhor, ou Seus milagres por Divino poder, os homens tinham a capacidade de apreciar o que viam e ouviam� Entretanto, nem todos corresponderam com fé àquilo que viram e ou-viram� Romanos 1:19 deixa claro que os homens em seus pecados têm a capacidade de saber a respeito da justiça e do poder de Deus, assim como de ter consciência do seu pecado: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou”� Na-quela parte de Romanos cap� 1 Paulo declara que homens injustos, que excluem a verdade de Deus revelada na Criação, estão sem desculpa� Tendo a capacidade de conhecer a Deus, optaram por não conhecê-lO; e são, assim, condenados por suas próprias ações� Esta verdade solene não está em contradição com I Coríntios 2:14, onde Paulo está dizen-do que qualquer revelação de Deus ao homem precisa vir através do Espírito Santo, pois o homem em si mesmo não é capaz de compreen-der a Deus� Consideradas juntas, as duas passagens estabelecem que o homem é responsável pelos seus próprios atos, quando Deus Se revela através de Cristo pelo Seu Espírito�

Inspiração

Deus também Se tem revelado na Palavra escrita� A revelação de Deus em palavras escritas foi dada a indivíduos que Ele escolheu, para

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que eles por sua vez comunicassem essa revelação aos seus semelhan-tes� Essa revelação não foi transmitida por palavras escolhidas por eles, antes, as palavras foram a escolha do Espírito Santo, descritas em I Coríntios 2:13 como as palavras “que o Espírito Santo ensina”�

É importante distinguir entre revelação e inspiração� Elas diferem em que revelação é a transmissão de verdade que não pode ser desco-berta pela mente humana; mas a inspiração garante que a verdade que Deus deseja que os homens conheçam é registrada com exatidão, para que tenha autoridade e seja infalível� Revelação significa aquilo que o homem sabe sobre Deus, enquanto inspiração assegura que aquilo que o homem sabe sobre Deus é exatamente, palavra por palavra, como Deus queria que fosse escrito� Revelação e inspiração estão intimamente liga-das quanto à maneira em que as Santas Escrituras nos foram disponibi-lizadas; no entanto, são distintas� Por exemplo, Moisés subiu ao Monte Sinai para receber instruções sobre a construção do Tabernáculo, por revelação de Deus; e então, mais tarde, ele registrou tudo, por inspiração, naquilo que hoje conhecemos como o livro de Êxodo� Moisés recebeu a revelação no Sinai, e mais tarde registrou essa revelação por inspiração divina�

Uma das melhores definições de inspiração continua sendo a do Professor Gaussen, um teólogo do século XIX, que a defendeu resolu-tamente no seu livro The Inspiration of the Holy Scriptures ( “A Inspiração das Sagradas Escrituras”):*

… esse termo é usado para descrever o poder misterioso que o EspíritoDivinoexerceusobreosautoresdasEscriturasdoVelhoe do Novo Testamento, capacitando-os para que as redigissem na forma em que foram recebidas pela Igreja de Deus das mãos deles. “TodaEscritura”,dizumapóstolo,“éteopnêustica".

Outra descrição valiosa é a de Rene Pache†:Inspiração…éainfluênciadeterminanteexercidapeloEspíritoSanto sobre os escritores do Velho e do Novo Testamento para que eles pudessem proclamar e estabelecer, de forma exata e autênti-ca,amensagemcomorecebidadeDeus.Estainfluênciaosguiavaaté mesmo no seu uso de palavras, para que fossem preserva-

* GAUSSEN,L.Prof.The inspiration of the Holy Scriptures. Chicago: Moody Press, 1949,pág.23.

† PACHE,R.The Inspiration and Authority of Scripture.Chicago:MoodyPress,1974,pág.45.

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das de todo erro e omissões … Uma inspiração semelhante foi concedida aos escritores sagrados, em relação a eventos ou fatos por eles já conhecidos sem uma revelação especial, para que seus relatos fossem de acordo com a vontade de Deus.

Não é apenas a própria Escritura que testifica da Sua inspiração divina; o Senhor Jesus e os apóstolos que O acompanharam no Seu ministério, testificaram do fato que as Escrituras Sagradas são divina-mente reveladas e inspiradas� O Senhor Jesus disse em Mateus 22:31: “E acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo …” O desafio do Senhor aos escribas e fariseus em Mateus 15:2-3, de que as tradições judaicas estavam em desacordo com as Escrituras do Velho Testamento, que são “os mandamentos de Deus”, é mais uma das muitas ocasiões em que Ele validou as Escrituras como sendo de Deus� É um estudo interessante pesquisar nos Evangelhos a confirmação do Salvador das Escrituras do Velho Testamento, por exemplo: sobre a Criação (Mt 19:4-5); o dilúvio e Noé (Lc 17:27); o resgate de Ló (Lc 17:29); a entrega da Lei (Mt 19:18)� Há muitas ou-tras provas, nas Suas palavras, de incidentes do Velho Testamento, e fica óbvio, por essas Suas declarações, que o Senhor Jesus tinha completa confiança na origem e veracidade daquilo que estava escrito no Velho Testamento�

Quanto aos apóstolos, o livro de Atos mostra que eles também ti-nham plena confiança de que as Escrituras do Velho Testamento eram divinamente inspiradas e, portanto, dotadas de autoridade e verdadeiras� Quando Pedro falou: “Homens irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo predisse pela boca de Davi, acerca de Ju-das, que foi o guia daqueles que prenderam a Jesus” (At 1:16), ele estava confirmando a inspiração divina das Escrituras Sagradas� O discurso de Estêvão é uma confirmação notável da historicidade do relato do Ve-lho Testamento sobre acontecimentos na vida dos Patriarcas até os dias do Templo de Salomão (At 7:2-50)� Nas epístolas aos Romanos e aos Gálatas, quando o apóstolo Paulo escreve para defender as doutrinas do Evangelho, ele cita amplamente as Escrituras do Velho Testamento (veja o uso que ele faz da expressão “como está escrito” em Rm 1:17; 2:24; 3:4; 4:17; 8:36; 9:13; 10:15; 11:8; 15:9)� Juntamente com outras ocorrências na epístola, estas mostram que em cada seção do tratado, ele tem plena confiança para basear seu argumento nas Escrituras do Velho Testamento como dotadas de autoridade e divinas� Para Paulo,

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o evangelho que lhe fora revelado era um cumprimento das promessas de Deus feitas anteriormente através dos profetas do Velho Testamen-to� Paulo claramente entendeu que as palavras das Sagradas Escrituras eram coextensivas e idênticas às palavras do próprio Deus�

Assim as Sagradas Escrituras vieram a existir quando homens “san-tos de Deus falaram inspirados [conduzidos, dirigidos, direcionados] pelo Espírito Santo”� Embora haja um bom número de passagens no Novo Testamento que afirmam e corroboram a doutrina da inspiração divina das Escrituras, como registradas por autores humanos, as duas mais importantes são II Timóteo 3:16 e II Pedro 1:21�

II Timóteo 3:16:-17

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”.

Esta é uma das passagens mais importantes na Palavra de Deus sobre o assunto da inspiração� Devemos fazer uma pausa para meditar cuidadosamente no seu significado, pois aqui o apóstolo fala da própria Bíblia e do propósito de Deus na sua inspiração� Uma tradução literal do grego das palavras iniciais deste versículo, aumenta o impacto do seu significado: “Toda a Escritura soprada por Deus”�

É importante notar que em I Timóteo 5:18 o apóstolo associa uma citação de Deuteronômio 25 com uma de Lucas 7, demonstrando as-sim que tanto o Velho e o Novo Testamentos são reconhecidos como Escrituras Sagradas; e portanto devem ser considerados como tendo a mesma origem� Ambos os Testamentos são inspirados por Deus, inde-pendentemente de quem foram os escreventes humanos�

Estes escreventes vieram de ambientes sociais e educacionais dife-rentes, e se espalharam por um período de tempo bem superior a mil anos� No entanto, em cada caso, as palavras eram sopradas por Deus! A maravilha da inspiração é que, dentre a variedade de homens, naquele longo período de tempo, não há uma discordância, em qualquer parte, naquilo que escreveram� De fato, a sua mensagem tem um tema básico que os une — eles falaram de Cristo�

Deus Se comunica através das Suas palavras� Ele não é como os ídolos mudos descritos no Salmo 115 como “obra das mãos dos ho-mens” (v� 4), que “têm boca, mas não falam” (v� 5)� Deus tem falado, e o que Ele disse foi registrado por autores humanos� Jeremias nos fala

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disso na sua profecia: “Mas o Senhor me disse: Não digas: Eu sou um menino; porque a todos a quem Eu te enviar, irás; e tudo quanto te mandar, falarás� Não temas diante deles; porque estou contigo para te livrar, diz o Senhor� E estendeu o Senhor a Sua mão, e tocou-me na boca; e disse-me o Senhor: eis que ponho as Minhas palavras na tua boca” ( Jr 1:7-9)� Quando Deus confiou as Suas palavras aos vários au-tores humanos, Ele o fez por inspiração� Com isso queremos dizer que as palavras foram sopradas por Deus, e os homens as receberam e em seguida escreveram� Estas palavras, sendo sopradas por Deus, contém a própria vida de Deus: é por isso que, em Hebreus 4:12, a palavra de Deus é descrita como “viva e eficaz”�

Este ato, que nós chamamos de inspiração, se deu quando Deus so-prou as palavras para os homens escreverem� A Palavra de Deus não se torna inspirada quando lida pelos homens, e quando ela lhes fala à cons-ciência� Portanto é errado dizer, como alguns, que a Escritura se torna a Palavra de Deus quando Ele a usa para falar com alguém� A Bíblia é a Palavra de Deus, cheia de vida e de vitalidade, seja ela reconhecida ou não, e aceita ou não, como tal� Também é errado dizer que a Escritura contém a Palavra de Deus, pois isso indica que também contém coisas que não são a Palavra de Deus� As Sagradas Escrituras são a Palavra de Deus; elas jamais serão algo menos, e nunca nada será acrescentado a elas� Isto é enfatizado pelas palavras do Salvador: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mt 5:18)� O Senhor Jesus diz que a menor letra do alfabeto hebraico (jota), e o menor traço usado para distinguir as letras deste alfabeto (til), permanecerão para sempre� Na mente de Deus, os menores detalhes das letras dos manuscritos ori-ginais são importantes� Vale a pena notar que o Senhor Jesus atribuiu o mesmo caráter eterno às Suas próprias palavras quando disse: “Os céus e a terra passarão, mas as Minhas palavras não hão de passar” (Mt 24:35)� As palavras faladas pelo Salvador têm o mesmo caráter perma-nente que as Sagradas Escrituras; e as Escrituras Sagradas têm a mesma veracidade e valor que as palavras faladas pelo Senhor Jesus Cristo�

Fica claro em Daniel 12:8-9 que os autores do Velho Testamento nem sempre compreendiam o significado daquilo que escreviam: “Eu, pois, ouvi mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas? E Ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até o tempo do fim”�

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Ao falar sobre inspiração, devemos entender, de II Timóteo 3:16-17 que, estritamente falando, se aplica às palavras das Sagradas Escrituras, e não aos homens que as escreveram: “Toda a Escritura é divinamente inspirada”� É errado dizer: “Deus inspirou o apóstolo Paulo a escrever …”� O que devemos dizer é: “Deus inspirou as palavras que o apóstolo Paulo escreveu”� A atividade de Deus pelo Espírito Santo sobre os es-critores das Sagradas Escrituras é explicada em II Pedro 1:20-21�

II Pedro 1:20-21

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por von-tade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados [“movidos”, VB] pelo Espírito Santo”.

A afirmação de Paulo em II Timóteo 3:16-17 enfatiza a origem e o resultado final da inspiração; e essas afirmações de Pedro enfatizam o processo e o poder envolvidos na inspiração� Para produzir o resultado final — a Palavra soprada por Deus — o Espírito Santo moveu autores humanos, e a Bíblia reconhece esse aspecto duplo de autoria� Usando seu próprio estilo e habilidade, os homens escreveram as palavras a eles entregues pelo Espírito Santo; e, no entanto, o que eles escreveram eram as próprias palavras de Deus� Pedro confirma esta autoria dupla: “Ama-dos, escrevo-vos agora esta segunda carta, em ambas as quais desperto com exortação o vosso ânimo sincero; para que vos lembreis das pala-vras que primeiramente foram ditas pelos santos profetas, e do nosso mandamento como apóstolos do Senhor e Salvador” (II Pe 3:1-2)� Ele queria que esses cristãos se lembrassem das palavras dos profetas e dos mandamentos dos apóstolos� Tanto o Velho Testamento como o Novo Testamento são atribuídos a autores humanos (profetas e apóstolos)� Em 3:15-16 Pedro reconhece a sabedoria dada a Paulo, manifesta na-quilo que ele escreveu em suas epístolas, e continua explicando como “os indoutos e inconstantes torcem” os escritos de Paulo e “igualmente as outras Escrituras”� Ao assim escrever, Pedro atribui a todas as epístolas de Paulo o caráter de “Escritura”� Toda Escritura é inspirada por Deus, ainda que escrita por homens�

Ao usar a expressão “segundo a sabedoria que lhe foi dada”, Pedro mostra que o processo de inspiração divina faz uso dos dons dados por Deus� Inspiração não é meramente um ditado mecânico, onde o autor humano registra palavras como uma secretária� As epístolas de Paulo

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foram escritas de acordo com a profundeza e detalhes do conhecimento especialmente dados a ele� Não era fruto de uma “particular interpreta-ção” (v� 20); mas ele foi “inspirado [movido] pelo Espírito Santo” (v� 21)� Deus usou o caráter e as habilidades dos homens que escreveram a Bí-blia, e ao mesmo tempo controlou o que escreviam, de forma que o que eles produziram é a Palavra inspirada de Deus� Os escritores da Bíblia não foram abandonados aos seus próprios recursos ao escrever� O Espí-rito Santo milagrosamente operou neles como homens caídos, para que o processo de inspiração invalidasse os seus defeitos; e os guiasse, como homens cheios do Espírito, a escrever exatamente o que Deus queria�

Quando Pedro diz que eles foram “movidos pelo Espírito Santo”, ele usa uma expressão que transmite a ideia de um navio sendo condu-zido pelo vento� Assim como o navio é controlado pelo seu poder pro-pulsor, assim também os autores humanos da Bíblia foram controlados pelo Espírito Santo� Quando o vento sopra, o navio navega; quando o vento para, o navio para� Esta expressão usada por Pedro mostra que os autores humanos estavam sob o controle direto do Espírito enquanto escreviam� O processo de inspiração era um cumprimento das palavras ditas pelo Senhor Jesus em João 16:13: “Mas, quando vier Aquele, o Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir� Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu e vo-lo há de anunciar”�

Que livro maravilhoso nós temos na Bíblia! Assim como o Verbo Eterno de Deus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem, assim também a Palavra de Deus escrita é, num sentido, as palavras de Deus e as palavras do homem�

ImplicaçõesAs implicações da inspiração e da revelação divinas são ao mes-

mo tempo confortantes e desafiadoras� Podemos encontrar um imenso conforto na leitura da Palavra de Deus, pois ela é infalível e confiável� Também somos desafiados ao lê-la, sabendo que ela tem autoridade e precisa ser obedecida� A seguir, trataremos brevemente da veracidade e da importância das Sagradas Escrituras�

Veracidade

Não há dúvida de que Deus é como descrito nas Escrituras, o “Deus

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da verdade” (Dt 32:4; Is 65:16; Sl 31:5)� Esta é a retumbante proclama-ção de cada uma das três partes do Velho Testamento: a Lei, os Profetas e os Salmos� Segue-se que o que o Deus da verdade diz é verdadeiro� Entretanto, há muitos que confessam honrar o Deus da Verdade, e ain-da negam a infalibilidade da Sua Palavra — uma contradição que eles, em vão, tentam explicar� O objetivo deste capítulo é fortalecer os leitores na sua confiança na Palavra de Deus, que é segura, verdadeira e exata� Encontramos uma das afirmações mais grandiosas que confirmam isso, nas palavras do Salvador em João 17:17: “A Tua Palavra é a verdade”� Acrescentando a isso a verdade que toda Escritura, como nos manuscri-tos originais, é soprada por Deus, podemos concluir sem medo de errar que toda Escritura é verdadeira� Como já mencionado neste capítulo, a veracidade das Escrituras não impede que o escritor inclua informação que, em si, não seja verdadeira, como quando Satanás disse a Eva: “Cer-tamente não morrereis” (Gn 3:4)� Neste caso, o registro inspirado das palavras mentirosas de Satanás é absolutamente verdadeiro, embora sua mentira continue enganosa como sempre� Podemos confiar que o relato do que Satanás disse a Eva é exato�

Importância

Visto que toda a Escritura, em todas as Suas partes, é divinamente inspirada, qual a Sua importância para nós hoje? Um dos resultados primários da inspiração divina da Palavra de Deus é a Sua autoridade� A questão central é: os cristãos devem considerar a Palavra de Deus não somente como uma autoridade, mas como a autoridade final para as suas vidas�

Uma velha heresia da Igreja de Roma diz que enquanto a Palavra de Deus tem alguma autoridade, a autoridade final está na sua interpreta-ção pela Igreja� Associado a esse erro antigo está o ataque mais recente do Pós-Modernismo, cujos proponentes dizem que povos diferentes têm padrões diferentes de verdade e moralidade� Eles ainda acrescen-tam que o indivíduo tem o direito de ver a Bíblia de acordo com seus próprios desejos� Estas atitudes são estranhas à Palavra de Deus, e con-trárias àquilo que Paulo recomenda aos tessalonicenses, pois lemos em I Tessalonicenses 2:13: “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é na verdade), como Palavra de Deus, a qual opera em vós os que crestes”� A implica-

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ção desta declaração de Paulo é profunda: a obra interior da Palavra de Deus ao vivificar pecadores é manifesta na sua aceitação subsequente dessa mesma Palavra� Quando alguém continuamente recusa se curvar perante a Palavra de Deus nas Suas exigências fiéis, isso põe em dúvida o fato do Espírito Santo e das Escrituras terem, algum dia, operado na sua alma trazendo-lhe vida espiritual�

A autoridade da Palavra de Deus é como a autoridade do Próprio Deus: ela procede da Sua própria natureza� Uma consequência direta da inspiração divina é que a Palavra inspirada está investida de toda a autoridade daquele que a inspirou� Para aqueles que pela fé aceitam a Palavra de Deus, é indiscutível que a autoridade das Sagradas Escrituras é uma verdade diante da qual temos que nos curvar em obediência e reverência�

O Pós-Modernismo nega que a Palavra de Deus é totalmen-te verdadeira e importante para nós hoje� O Pós-Modernismo é uma amalgamação de ideias que circulam desde o período do Iluminismo (tendência filosófica e política do século XVIII) até o século XX� Os erros de Schleiermacher (1768-1834); Wellhausen (1884-1918); Barth (1886-1968) e Pannenberg (1928-), entre outros, foram associados numa mistura peçonhenta que exalta a razão humana e degrada a inspi-ração divina, ao ponto de negá-la� Numa tentativa de responder muitas das perguntas mais profundas do coração humano, elas têm provocado mais perguntas do que respostas; e em muitas mentes essas perguntas destruíram o sólido fundamento do “Assim diz o Senhor”� Somente por aceitar a verdade Bíblica de que, nas Sagradas Escrituras, Deus nos tem revelado a Si mesmo e a Sua vontade, é que encontraremos respostas satisfatórias a estas perguntas profundas e reflexivas da existência hu-mana� Afirmamos que um cristão plenamente entregue à direção do Espírito Santo é capaz de compreender a Escritura da maneira como Deus pretende que ela seja compreendida�

Está além do alcance deste capítulo responder à pergunta: “Será que algum dos livros apócrifos é inspirado?”, a não ser para citar as observações daqueles que estudaram o assunto meticulosamente� Vale a pena ler o argumento completo apresentado por Geisler e Nix*� Eles colocam as seguintes razões para rejeitar os livros apócrifos:

* GEISLER,N.L.eNIX,W.E.A General Introduction to the Bible. Chicago: Moody Press,1971,págs.92-175.

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i) Eles promovem os erros de oração pelos mortos e salvação pelas obras humanas�

ii) Eles promovem ideias que são moralmente erradas, especialmente escolhas morais baseadas na conveniência� Isto é reconhecido como a base da “Ética Situacional”�*

iii) Josefo, na sua obra Against Apion (“Contra Apion”), argumentou que, desde que o Espírito Santo se apartou de Israel depois do mi-nistério dos últimos profetas, Ageu, Zacarias e Malaquias, não hou-ve mais Revelação Divina até os tempos do Senhor Jesus Cristo�

iv) Permeando os livros apócrifos, há ideias que são simplesmente fic-ção e cheias da imaginação do homem, com fortes tendências ao misticismo�

v) Os Pais da Igreja primitiva e os líderes estudiosos judeus daque-le período rejeitaram estes livros como sendo antibíblicos, e nunca questionaram sua exclusão do Cânon das Escrituras� Augustino os aceitou, mas foi firmemente resistido por Jerônimo (340-420 a� D�), o tradutor da Vulgata Latina�

ConclusãoA inspiração divina das Sagradas Escrituras é afirmada pela Lei,

pelos Profetas, e pelos Salmos; pelo ensino do Senhor Jesus nos Evan-gelhos; pela pregação dos Seus apóstolos no livro de Atos; nas epístolas do Novo Testamento e no livro de Apocalipse� Há uma perfeita con-cordância através de toda a Bíblia de que ela veio diretamente de Deus� A origem das Sagradas Escrituras determina a sua substância, e tanto a origem quanto a substância a dotam de supremacia�

* Um movimento que “chamou a atenção da opinião publica em 1966, quando o Dr. JosephFletcher,professordeéticasocialnoSeminárioEpiscopaldeCambridge,Massachusetts, publicou o livro Situation Ethics […] A principal característica da éticasituacionaléqueofimjustificaosmeios.[…]Ocertoeoerrado,segundoa cosmo-visão situacionista, é uma questão subjetiva, pragmática, existencial e deveestarbaseadanoamor.Emoutraspalavras,paraFletchereosdemaisteó-logos da situação, ao avaliar a veracidade de um determinado comportamento a perguntaaserfeitanãoé:“OqueaBíbliadiz?”,mas:“Oqueeuachodisso?”;“Dequeformaissopodemedarprazer?”;“Darácerto?”;eporúltimo:“Euestoufazendo por amor?” É claro que esses conceitos são demasiadamente ingênuos e conduzemfatalmenteàimoralidade”.Retiradode:<http://teologiacontemporanea.wordpress.com/2009/10/07/etica-situacional-joseph-fletcher-e-um-novo-conjunto-de-valores-para-o-homem-moderno/> (N. do T.).

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Cap. 4 — A obra do Espírito Santo em revelação e inspiração 73

Bíblia Preciosa! Que tesouroA Palavra de Deus fornece!Tudo que desejo para a vida ou prazer,Alimento e medicamento, armadura ou espada;Deixe que o mundo me considere pobre —Com Cristo e ela, de nada mais preciso.

John Newton*

* Tradução livre. O original diz:“Precious Bible! What a treasure/Does the Word of God afford!/All I want for life or pleasure,/Food and medicine, shield and sword;/Let the world account me poor —/Christ and this, I need no more.”

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento

por Samuel James McBride, Irlanda do Norte

IntroduçãoO Espírito Santo é o autor tanto do Velho quanto do Novo Tes-

tamento, e Sua obra em relação à Inspiração já foi considerada no cap� 4 deste livro� Devido a esta autoria divina não há elemento confuso ou contraditório quanto à Pessoa ou obra do Espírito Santo em qual-quer passagem do livro sagrado� O Velho Testamento contém muitas referências ao Espírito Santo, mencionadas explicitamente e represen-tadas ilustrativamente em tipos ou visões� O pleno alcance da revelação quanto a esta Pessoa Divina só pôde ser obtido com a chegada do Novo Testamento� Contudo, temos que admitir que um estudo dos atos do Espírito Santo nos tempos do Velho Testamento é muito importante para nos dar uma apreciação correta de como Ele opera na era presente, e de como Ele há de agir na era vindoura�

Esta apreciação é muito prática e importante, uma vez que alguns cristãos, com ideias confusas sobre o modo de agir do Espírito Santo na presente Dispensação da Graça, têm se apropriado de passagens do Velho Testamento sobre o Espírito Santo e as aplicado diretamente a si mesmos, com resultados tristes e prejudiciais� Nas eras sucessivas da história da Igreja houve diversas manifestações de fenômenos que são atribuídos à ação do Espírito Santo, mas quando vistos do ponto de vista dispensacional (isto é, “manejando [dividindo] bem” a Palavra da verdade) podem ser identificadas biblicamente como as obras astutas da carne, que tendem a promover os desígnios do inimigo*�

Embora haja muitos livros de ajuda sobre o Espírito Santo e Seu ministério, é bom reconhecer que a recuperação da verdade dispensa-cional†, no século XIX, enfatizou aspectos negligenciados da obra do

* Os Montanistas, alguns Anabatistas, seguidores de Irvin e o movimento Carismático sãoexemplos;vejaMiller’s Church History, Pickering & Inglis, 1929.

† John Nelson Darby foi importante neste movimento — veja Precious truths revived

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 75

Espírito Santo em relação ao Seu papel na Igreja, no mundo e no cristão individual nesta era presente, enquanto enfatizava aspectos evidentes do Seu ministério em dispensações anteriores�

Antes do Dilúvio

Criação

Bem no começo das Sagradas Escrituras, encontramos referências ao Espírito Santo� A narrativa da Criação se inicia com Ele se movendo sobre a face das águas quando a Terra estava no seu caos primordial (Gn 1:2)� A palavra “mover” também poderia ser traduzida “agitar”, “es-voaçar”, como as asas de um pássaro� Esse papel criatorial do Espírito Santo é mencionado em Jó 26:13: “Pelo Seu Espírito ornou os céus”� Salmo 33:6 também fala metaforicamente do Espírito Santo na Cria-ção: “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo Espírito da Sua boca”�*

O Espírito Santo não é apenas central na Criação, mas também está envolvido na sustentação da Criação através daquilo que podemos considerar como sendo as leis da natureza (veja Sl 104:29 e Is 34:16)� Versículos como esses deveriam obrigar os cristãos a julgar as pressu-posições ateístas ou agnósticas da ciência natural contemporânea como fundamentalmente falhas†�

A Nova Criação é um termo do Novo Testamento que se apropria da doutrina da Criação do Velho Testamento, e a centralidade do Espí-rito Santo é tão importante em uma quanto na outra‡� A doutrina do novo nascimento não é exclusiva ao Novo Testamento� Nicodemos foi admoestado pelo Senhor Jesus Cristo por causa da sua fraca compreen-são desta importante doutrina do Velho Testamento, que alguém com

and defended de Roy Huebner (Present Truth Publishers, Jackson, NJ, 2004) e Life in the victory of Christ: the meaning of law and grace in the life of Christians according to John Nelson Darby,deBertholdSchwarz(Giessen,2008).

* Ou“sopro”(ARA).EssaexpressãomuitasvezesserefereaoEspíritoSanto.VejatambémIs11:4,30:27-33,Ez37:1-14.

† É muito perigoso entrar numa discussão apologética com cientistas incrédulos se concordarmosemnosrestringiraosfatoscientíficosestabelecidos.Adepravaçãodamente não regenerada inevitavelmente torce qualquer fato supostamente “neutro”, poissuprimeaverdadedeDeus.VejaRm1:18-23.

‡ IICo4:6;5:16-17.Nafrase“…daquipordiante…[não]segundoacarne”estánecessariamentecontidaaaçãodoEspíritoSantoemrelaçãoàNovaCriação.

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76 O Espírito da Glória

o seu conhecimento religioso deveria ter conhecido� O Espírito Santo é fundamental para o novo nascimento de uma alma� Sua semelhança com o vento e a respiração é usada� O vento na visão que Ezequiel teve do vale de ossos secos (Ez 37:1-14) vem para vivificar os corpos sem vida, um exemplo no Velho Testamento da atividade do Espírito Santo, que Nicodemos deveria ter reconhecido�

Os dias de Noé

A impiedade do homem se multiplicou grandemente no período antediluviano� No entanto, a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, mesmo depois de Deus ter anunciado a Sua decisão de destruir o mundo com um dilúvio� Durante esse período o Espírito de Deus es-tava ativo� “Ele contendeu com o homem na sua impiedade desenfreada até que Deus cessou contender mais (Gn 6:3)”�*

O fato que uma pequena minoria dos habitantes da Terra era de crentes fiéis demonstra a vivificação espiritual destes patriarcas que an-tes estavam mortos em ofensas e pecados� Abel, Enoque e Noé são três exemplos mencionados no Novo Testamento�

Além do Espírito Santo contender com o homem e vivificar almas, encontramos Seu testemunho em operação naquela era longínqua, atra-vés dos primeiros casos de profecia e pregação� A profecia de Enoque, acerca do juízo vindouro sobre o mundo que rejeitava a Deus, ia além do cataclismo imediato do juízo divino nos dias do seu neto Noé� O fato de Enoque estar ciente do dilúvio vindouro é indicado pelo significado do nome do seu filho Matusalém (“quando ele morrer virá”), e no mesmo ano da morte deste homem, o que mais tempo viveu, o Dilúvio levou todos os ímpios do mundo� A mensagem de Enoque também incorpo-ra uma referência clara ao Arrebatamento dos santos antes da Segunda Vinda em juízo, pois precisa haver uma reunião prévia do Senhor com os Seus santos antes que eles sejam trazidos com Ele na manifestação apo-calíptica� Essa profecia notável é omitida no relato do Velho Testamento, e desvendada a nós somente na epístola de Judas� O Espírito Santo, que inspirou a mensagem inicial de Enoque, teve por apropriado, na Sua sa-bedoria, incorporar essa mensagem antiga numa das últimas epístolas do Novo Testamento — prova da imutável verdade e importância da pro-

* STUART,C.E.A slight sketch of the Holy Spirit’s ways and receiving the Holy Ghost. London:G.Morrish,s.d.

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 77

fecia divina, não importa quão antiga ela seja, e da nossa confiança no Espírito Santo para preservar a Palavra de Deus através das eras�

Pregação

Noé era um pregador da justiça� Não pode haver dúvida que a sua pregação era no poder do Espírito Santo, pois o Novo Testamento afirma que foi através do Espírito Santo que o Senhor Jesus pregou aos espíritos em prisão (I Pe 3:19)� Isto geralmente é entendido* como se referindo à pregação fiel de Noé àqueles antediluvianos que desprezaram a Deus, descritos por Pedro como “espíritos em prisão”� Eles tinham se beneficia-do da longanimidade paciente de Deus; eles resistiram à obra do Espírito Santo; ignoraram a construção da arca que estava sendo construída diante dos seus próprios olhos, e foram desobedientes à pregação de Noé� Eles são coletivamente descritos como “o mundo dos ímpios” (II Pe 2:5)�

É notável que o grande assunto da pregação de Noé era a justiça� Hebreus 11 nos faz lembrar que Noé foi feito “herdeiro da justiça que é segundo a fé” — linguagem semelhante àquela usada de Abraão como herdeiro, em Romanos 4:3, onde é declarado que não foi pela Lei, mas pela justiça da fé� Justificação pela fé é o grande elemento unificador da pregação do Evangelho através de todas as eras� A pregação de Noé é singular pelo fato de ter durado mais tempo� Ele continuou pregando durante cento e vinte anos� O grande tema da justiça de Deus não pode ser exaurido, mesmo durante um período de tempo longo como esse� Devemos notar que Noé pregava uma justiça exigida por Deus, en-quanto que a mensagem de hoje é de uma justiça suprida por Deus no Seu Filho� Contudo, isso é uma lição e um desafio a todos que pregam o evangelho nesta era presente: temos nós esse tipo de compreensão da doutrina da justificação pela fé? É salutar perceber que a pregação de Noé, embora energizada pelo Espírito Santo, não resultou em conver-sões além daquelas da sua própria família� As Escrituras nos dizem que por ela, ele “condenou o mundo” (Hb 11:7)�

Os profetas do Velho TestamentoO status dos escritos do Velho Testamento como divinamente ins-

pirados diretamente pelo Espírito Santo é plenamente afirmado no

* EstainterpretaçãoédefendidacompropriedadeporWilliamKellyemThe Spirits in Prison (STEM Publishing).

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Novo Testamento� Os profetas no Velho Testamento são descritos, cer-ca de nove vezes, como “Meus servos, os profetas” (ex� Jr 7:25; 26:5; 29:19; 35:15; 44:4)� Eles tinham um mandato autorizado pelo Espíri-to para comunicar segredos revelados a eles por Deus, avisar de juízos vindouros por causa dos pecados do povo de Deus, e colocar diante do Seu povo a Lei de Deus� Abraão é a primeira pessoa especificamente chamada de profeta (Gn 20:7), embora, como já vimos, não fosse o primeiro a profetizar� Os outros patriarcas também são chamados de profetas, veja Salmo 105:15�

Embora não seja frequentemente mencionada em relação à inaugu-ração dos profetas, a prática de ungir profetas era reconhecida; Elias é um exemplo disso, e os profetas patriarcais foram descritos como “Meus ungidos” (Sl 105:15)� A unção de Davi por Deus é mencionada em relação aos seus salmos e declarações inspiradas, embora sua unção por Samuel pareça concentrar-se na sua realeza� “Davi … o ungido do Deus de Jacó, e o suave em salmos de Israel”, disse: “O Espírito do Senhor falou por mim, e a Sua Palavra está na minha boca” (II Sm 23:1-2)� A unção era uma prática ritual que significava que a pessoa era especial-mente dotada pelo Espírito Santo para um ofício ou serviço específico� Pela declaração de Moisés a Josué, no incidente de Medade e Eldade, aprendemos que os profetas eram constituídos profetas pelo Espírito do Senhor, quer fosse ou não aplicada uma unção externa� “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o Seu Espírito sobre ele!” (Nm 11:29)�

O tema comum a “todos os Seus santos profetas desde o princípio” é a “restauração de tudo”, no segundo advento do Senhor Jesus Cris-to (At 3:21-22)� O ministério profético também envolvia repreender o povo pelo seu pecado� Como disse Miquéias: “Mas eu estou cheio do poder do Espírito do Senhor, e de juízo, e de força, para anunciar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Mq 3:8)� Houve, algumas vezes, certo grau de arrependimento associado com o adiamento do juízo iminente� Entretanto, como ressalta S� Ridout, não encontramos o profeta tentando restaurar à sua condição anterior um estado de coisas arruinado� “Para os olhos da razão o trabalho do profeta era desanima-dor e extremamente deprimente … Mas se o pessimismo repousava sobre a cena presente, a glória de Deus iluminava o futuro”�*

* RIDOUT, Samuel. Lecture 1 em The Person and Work of the Holy Spirit: Seven Lectures. Kilmarnock:JohnRitchieLtd,s.d.

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 79

O Novo Testamento nos proporciona uma compreensão especial da obra do Espírito Santo no ministério profético do Velho Testamen-to� Este tópico também se enquadra sob o cabeçalho da doutrina da Inspiração� A profecia provinha não de iniciativa humana, mas Divina� “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (I Pe 1:21)�

Além disso, os profetas eram estudiosos diligentes das suas pró-prias declarações, procurando saber sobre a futura salvação e graça e o tempo do cumprimento destas profecias� “Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir� Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” (I Pe 1:11-12)� A passagem de I Pedro nos diz que o Es-pírito Santo “estava” nos profetas do Velho Testamento� Não devemos entender disso que Ele habitava neles no sentido do Novo Testamen-to, pois em seguida lemos que a transmissão “agora” da mensagem do Evangelho é através da pregação “pelo Espírito Santo enviado do céu”� Isto destaca uma distinção importante entre os profetas do Velho Tes-tamento e os ministros da Nova Aliança de hoje� Os profetas do Velho Testamento profetizavam do futuro, dos sofrimentos de Cristo e da gló-ria que se haveria de seguir, as quais são agora proclamadas como fatos históricos pelo pregador do Evangelho� O Espírito Santo está na Terra, tendo sido “enviado do céu”� Ele não está mais temporariamente nos cristãos, Ele habita neles permanentemente� Os profetas do Velho Tes-tamento receberam do Espírito Santo a revelação de que a sua profecia estava relacionada com o futuro e com a geração vindoura� Enquanto cremos que eles permaneceram ignorantes dos mistérios doutrinários do Novo Testamento, não devemos subestimar a sua compreensão, dada pelo Espírito, de doutrinas importantes*�

Nem toda a profecia do Velho Testamento foi proclamada por “ho-mens santos de Deus”� Nas Suas operações soberanas, o Espírito Santo às vezes julgou apropriado operar nos inimigos de Deus, fazendo-os

* De que outra forma Moisés saberia acerca do vitupério de Cristo, que ele estimou comomaioresriquezasdoqueostesourosdoEgito?(Hb11:26)

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80 O Espírito da Glória

proferir palavras e fazer coisas que eram contrárias às suas inclinações e trajetória� Balaão e Saul são dois dos principais exemplos disso� O último exemplo de um profetizar involuntário da parte de um inimigo de Deus é visto em Caifás, que disse aos seus companheiros: “Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação� Ora ele não disse isso de si mesmo, mas sendo o sumo sacerdote daquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação� E não somente pela nação …” ( Jo 11:49-52)�

O TabernáculoO Espírito de Deus era o principal agente que capacitava as pessoas

na construção do Tabernáculo no deserto� Bezalel é especialmente des-tacado como o artesão chefe do grande projeto do Tabernáculo� Ele é descrito como sendo cheio “do Espírito de Deus, de sabedoria, e de en-tendimento, e de ciência, e em todo o lavor” (Êx 31:3)� Associados com ele estavam Aoliabe e um número indeterminado de indivíduos anôni-mos que são descritos como “sábios de coração”� Destes é dito: “Tenho dado sabedoria de coração a todos aqueles que são hábeis, para que façam tudo o que tenho ordenado” (Êx 31:6)� Essa infusão de sabedoria divina não é o mero aumento da uma qualidade natural notável, pois em Êxodo 28:3 os homens sábios de coração que foram encarregados de fazer as vestes sacerdotais de glória e beleza, são descritos como cheios do “espírito de sabedoria”, isto é, o Espírito Santo� O posterior Templo de Salomão deve a sua existência ao Espírito Santo, pois o seu modelo, que Davi entregou a Salomão, foi dado a Davi pelo Espírito Santo: “… a planta de tudo que ele tinha pelo Espírito* …” (I Cr 28:12)�

Assim aprendemos que o centro de ajuntamento para o povo de Deus — Sua habitação terrena, ou templo — era o resultado direto da mente de Deus� O Espírito de Deus comunicou o padrão, e a constru-ção (incluindo coisas como as vestes sacerdotais) não foi o mero pro-duto de habilidade humana, mas de trabalhadores habilidosos dotados com o Espírito de Deus� Sendo que foi assim nos tempos do Velho Testamento, o que devemos esperar em relação à base atual para o ajun-tamento do povo de Deus e a habitação de Deus na Terra, hoje? Vive-

* As versões em Português traduzem “mente” ou “ânimo”, mas o texto da KJV em inglêstraduz“Espírito”.Nohebraicoéusadaapalavranormalpara“espírito”no VT (ruach), palavra que também pode ser traduzida “mente”, “sopro”, etc. (N. doE.).

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 81

mos numa era de grande indiferença entre os cristãos, em relação a esta questão� Os colaboradores deste livro estão convencidos que somente as Escrituras fornecem o padrão dado pelo Espírito que permanece como a autoridade máxima para o ajuntamento dos cristãos, e que os princí-pios do Novo Testamento para a igreja se tornam operacionais somente através de dependência no Espírito de Deus e em concordância com a Sua vontade revelada (veja “A glória da igreja local”, publicado por Assembly Testimony*)�

O Espírito Santo e o MessiasHá duas passagens em Isaías que são de especial importância em

profetizar sobre o papel e a ação do Espírito Santo em relação à vinda do Messias� Isaías 11:2 declara: “E repousará sobre Ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de con-selho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”� Reconhecemos, imediatamente, que isto se cumpriu no Senhor Jesus Cristo� O cumprimento é relatado na descida visível do Espírito Santo que repousou como pomba sobre o Senhor Jesus� No entanto, há ainda um sentido no qual uma aplicação mais ampla deste versículo é verdade, em relação aos cristãos da era presente, pois em I Pedro 4:14 lemos: “Se pelo nome de Cristo sois vituperados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus”� Não era assim com os crentes do Velho Testamento — nem mesmo com os heróis da fé mais notáveis em Hebreus 11 — mas é verdade quanto aos cristãos desta dis-pensação� É um exemplo da grandeza do nosso privilégio, nesta época da graça, encontrar o Espírito Santo aplicando a pecadores redimidos, em I Pedro 4:14, linguagem que originalmente era verdadeira somente do Senhor Jesus Cristo (em Is 11:2)� Vamos reconhecer, juntamente com Paulo, a nossa dívida de gratidão, atribuindo louvor e adoração “àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre� Amém�” (Ef 3:20-21)�

Em Isaías 11:2, cada um dos títulos do Espírito Santo é significati-

* Esperamos publicar este livro logo, se Deus permitir. Cremos plenamente naafirmaçãofeitaacimasobreaimportânciadeseguirmosopadrãodeixadopeloEspíritonaBíbliaparaasigrejaslocais,efazê-lonopoderdopróprioEspírito(N.doE.).

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82 O Espírito da Glória

vo e digno de consideração — especialmente quando nos perguntamos até que ponto estamos cheios do Espírito�

O Espírito de sabedoriaEssetipodesabedorianãoécultivadaatravésdointelectooudoesforço do homem … pois ela é vida, força, uma capacidade que entranaprópriacomposiçãodaalmaeéopróprioprincípiodasuaexistênciaebem-estar.Vemdecimaeconduzamenteàscoi-sasquesãodecima…LogoestasabedoriapareceseraprincipaldasoperaçõesdivinasdoEspírito;porqueéabaseeofundamen-to de todo o resto.*

Josué é um exemplo histórico de alguém descrito como cheio do Espírito de sabedoria (Dt� 34:9), e em outro lugar ele é descrito como “um homem em quem está o Espírito”, o que nos dá uma prova suple-mentar de que o “espírito de sabedoria” é um título divino� Devemos notar que a menção de Josué ter o Espírito precede, e não está casual-mente relacionado com, a imposição das mãos de Moisés� Aquela ce-rimônia ocorreu em obediência ao Senhor que disse a Moisés: “E põe sobre ele da tua glória, para que lhe obedeça toda a congregação dos filhos de Israel” (Nm 27:20)� Temos um nobre exemplo desse aspecto do ministério do Espírito Santo pós-Pentecostes na pregação de Estêvão†, quando seus oponentes incrédulos “não podiam resistir à sabedoria, e ao espírito com que falava”�

O Espírito de entendimento

Isto significa entendimento principalmente no sentido de discerni-mento� Essa faculdade era essencial para o exercício do serviço sacerdotal, tanto ao fazer distinções morais e espirituais quanto como um pré-requisito para ensinar os outros (Lv 10:10-11; Ml 2:7)� Entre os cristãos de hoje, esse discernimento é um aspecto de maturidade espiritual (Hb 5:14)�

* SERLE,Ambose.Essay on the Spirit of Wisdom em Horae Solitariae.Londres:Scott,Webster&Geary,1837.

† Atos6:8-15—éimportanteaprenderaliçãoquedestrezaehabilidadesoratórias,mesmoquandotãomanifestamenteenergizadaspeloEspíritoSantoeacompa-nhadas por milagres, não garantem sucesso em convencer os ouvintes. Mas o testemunhodeEstêvãonãofoinenhumfracasso.SaulodeTarsoestavaentreosouvintes, e embora fosse então um inimigo fervoroso de Cristo, depois da sua conversão os elementos-chave do seu ministério doutrinário podem ser traçados aoúltimonobresermãodeEstêvão.

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 83

O Espírito de conselho e de fortaleza

“Conselheiro” é um dos títulos do Salvador prometido� Ele será ca-racterizado pelo conselho de paz ao combinar os ofícios de Rei e Sa-cerdote no reino futuro*� Essa é uma característica rara, mas altamente valorizada entre os cristãos� Paulo lamentou a ausência disto em Co-rinto ao contemplar a triste cena dos irmãos se lançando em litígio uns contra os outros (I Co 6:1-11)� Que sejamos cuidadosos e aprendamos, nos nossos dias, as lições de Corinto, e que possamos aprender daquele que é manso e humilde de coração (Mt 11:29)�

“Fortaleza” refere-se ao poder onipotente que acompanha o con-selho divino e que o torna diferente de mero conselho� Além do mais, somos lembrados que qualquer outra forma de poder é vã, comparada com Ele: “Não por força, nem por violência, mas sim pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6)�

O Espírito de conhecimento e de temor do Senhor

A aquisição de conhecimento espiritual não pode ser obtida inde-pendentemente do Espírito do Senhor; e nem pode ser separada de um intenso senso do temor do Senhor� “Se alguém quiser [“está disposto a”, diz Newberry] fazer a vontade dEle, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus” ( Jo 7:17)� O Espírito Santo é aquela unção comum a to-dos os cristãos desta era, e que age para promover percepções espirituais acuradas, independentemente de dependência em ensinadores huma-nos (I Jo 2:20-21)� O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e isso nos leva diretamente de volta ao primeiro atributo do Espírito, mencio-nado no nosso breve estudo de Isaías 11:2� A associação da perfeita e imensurável plenitude do Espírito Santo repousando sobre o impecável Filho de Deus encarnado é digna de muita reflexão reverente� Verdadei-ramente, Ele é digno dos títulos: “Maravilho, Conselheiro, Deus Forte, o Pai da Eternidade, o Príncipe da Paz” (Is 9:6)�

Isaías 61 começa com as palavras: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim; porque o Senhor Me ungiu para pregar as boas novas aos mansos …”� Essa passagem foi escolhida pelo Senhor Jesus Cristo na-quele notável incidente na sinagoga de Nazaré, registrado em Lucas 4�

* DesdeMelquisedequenãosevêumresultadopacíficodacombinaçãodosofíciosde Sacerdote e Rei sobre a Terra. Somente o Senhor Jesus Cristo poderá fazer isso (Zc6:13).

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84 O Espírito da Glória

Quando o Senhor Jesus leu essa mesma passagem do rolo de Isaías, Ele encerrou a leitura imediatamente após ler as palavras “a anunciar o ano aceitável do Senhor” — no meio da frase; Ele omitiu as palavras “e o dia da vingança do nosso Deus” — e fechando o livro entregou-o novamen-te ao assistente e Se assentou� Os ouvintes ficaram estarrecidos� “Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvi-dos” (v� 21)� Para os ouvintes de Nazaré isso foi algo surpreendente� Ele havia acabado de Se identificar com o Messias ungido pelo Espírito� Nem menos surpreendente foi o ponto onde o Senhor parou de ler, pois o Senhor estava inserindo ali, naquele versículo de Isaías 61, um grande intervalo dispensacional — aquele no qual ainda estamos agora� O “dia da vingança do nosso Deus” ainda está para se cumprir�

O Espírito Santo antes e depois de PentecostesParece, através do Velho Testamento e dos Evangelhos, que o re-

lacionamento do Espírito Santo com o crente era semelhante em cada dispensação anterior a Pentecostes� O Espírito não habitava nos cren-tes, naquele tempo�

Há exemplos no Velho Testamento de indivíduos dos quais se diz que tinham o Espírito Santo, e estes são às vezes usados para contra-dizer essa afirmação� Entretanto, esses casos não são típicos dos santos do Velho Testamento em geral, mas sim de pessoas especiais que foram escolhidas para cumprir um papel específico em serviço para Deus�

Há aqueles dos quais se diz que eram cheios do Espírito Santo (Be-zalel e seus companheiros — veja acima)� Lemos de outros “em quem está o Espírito” ( José e Josué)� Sobre os Setenta Anciãos está escrito que, quando o Espírito repousava sobre eles, eles profetizavam� No caso de vários juízes, o Espírito do Senhor vinha sobre eles� Estão incluídos Otniel ( Jz 3:10), Gideão (6:34), Jefté (11:29), e Sansão (esporadica-mente, na sua conturbada carreira — Juízes caps� 13-15)�

O Espírito do Senhor também veio sobre Saul, como profetizado por Samuel (I Sm 10:6), em mais de uma ocasião� Entretanto, depois da unção de Davi lemos que “o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor” (I Sm 16:14), embora mesmo durante a sua perseguição de Davi, há uma ocasião final quando o Espírito de Deus veio sobre ele fazendo-o profetizar (I Sm 19:23-24)� Davi era diferente de Saul no fato que, “desde aquele dia em diante o Espírito do Senhor Se apoderou de Davi” (I Sm 16:13),

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 85

indicando assim que o Espírito Santo esteve em Davi no decorrer da sua vida� Davi era muito cônscio desse privilégio, e na sua contrição, re-lacionada ao caso de Urias, o heteu, e sem dúvida lembrando-se do que acontecera com Saul, ele suplica: “Não retires de mim o Teu Espírito Santo” (Sl 51:11)� O cristão de hoje não deve orar: “Não retires de mim o Teu Espírito Santo”, pois sabemos que somos, por Ele, “selados para o dia da redenção” (Ef 4:30)�

A análise abrangente desses casos do Velho Testamento leva à con-clusão que são exemplos da energização do Espírito para a execução de uma tarefa específica, ou para o exercício de um ofício*� Eles não en-sinam que o Espírito Santo habitava nos crentes naquele tempo, como Ele habita agora, depois de Pentecostes†�

Manifestações milagrosas do poder do Espírito nos tempos do Velho Testamento

O poder do Espírito Santo para fisicamente arrebatar uma pessoa (por exemplo, Elias) e transportá-la instantaneamente para outro lu-gar, era plenamente aceito pelos Israelitas crentes — Obadias temeu que isso acontecesse depois dele informar Acabe do paradeiro de Elias (I Rs 18:12), e os filhos dos profetas erroneamente postularam isto, como explicação para o desaparecimento de Elias depois dele ter sido arrebatado para o Céu (II Rs 2:16)� Ezequiel também passou por esta experiência sobrenatural de ser transportado pelo Espírito Santo, em diversas ocasiões (Ez 3:14; 8:3; 11:1; 43:5)�

O mesmo fenômeno é também exemplificado no Novo Testamen-to, no caso de Filipe, o evangelista (At 8:39)� A força sobrenatural dada a Sansão e suas proezas de força e resistência física são diretamente atribuídas ao Espírito de Deus� Outros milagres do Velho Testamento são creditados a Deus, ou ao Senhor, sem maiores distinções quanto às Pessoas divinas�

* VejaHAMILTON,JamesM.Jr.God’s Indwelling Presence: The Holy Spirit in the Old and New Testaments.Nashville:B&HAcademics,2006,cáp.3.

† OusoqueJ.FWalvoordfazdaexpressão“habitarem”paradescrevero“sercheio”ea“vindasobre”doEspíritoSantonaspessoasnoVT,éumaescolhainfeliz de terminologia no seu livro, que do resto é muito útil. The Holy Spirit: A comprehensive study of the Person and Work of the Holy Spirit.GrandRapids,MI:Zondervan,1974,3ªedição.

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86 O Espírito da Glória

Hostilidade contra o Espírito SantoPerto do final do Velho Testamento, quando israelitas piedosos

contemplavam a historia nacional, eles reconheceram o pecado e o fracasso do povo em obedecer a Deus� Eles reconheceram, especifica-mente, a questão da resistência e oposição ao Espírito Santo por parte da nação como um todo� Esta hostilidade contra o Espírito Santo se manifestou na indiferença e inimizade contra os profetas, divinamente comissionados� “E deste o Teu bom Espírito para os ensinar” (Ne 9:20)� “Porém estendeste a Tua benignidade sobre eles por muitos anos, e tes-tificaste contra eles pelo Teu Espírito, pelo ministério dos Teus profetas; porém eles não deram ouvidos; por isso os entregaste nas mãos dos povos das terras” (Ne 9:30)� “Mas eles foram rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo; por isso Se lhes tornou em inimigo, e Ele mes-mo pelejou contra eles” (Is 63:10)� “Sim, fizeram seus corações como pedra de diamante, para que não ouvissem a lei, nem as palavras que o Senhor dos Exércitos enviara pelo Seu Espírito por intermédio dos primeiros profetas; daí veio a grande ira do Senhor dos Exércitos” (Zc 7:12)� O resumo de Estêvão da história de Israel continua este tema, e ele intencionalmente conclui com as palavras: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim vós sois como vossos pais� A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anun-ciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas” (At 7:51-52)�

Aspectos futuros do Espírito Santo revelados no Velho Testamento

Com o arrebatamento da Igreja, a operação do Espírito Santo no mundo para impedir o aparecimento do Homem do Pecado cessará� O relacionamento do Espírito Santo com o mundo e os fiéis sobre a Terra voltará a ser como era nos dias do Velho Testamento� Isso não indica a ausência do Espírito Santo, como fica claro pelo fato que haverá muitas conversões (Ap 7:9-17), e pela presença de um remanescente fiel em Is-rael� A estes mensageiros do Reino vindouro, perseguidos durante a Tri-bulação, o Senhor Jesus promete que o Espírito Santo os suprirá com o que devem falar quando interrogados por Sua causa (Mt 10:17-20)�

É certo que no Milênio o Espírito Santo habitará nos fiéis, e que esse é um dos resultados do pleno cumprimento da Nova Aliança� Eze-

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 87

quiel 36:25-29 fala da nação de Israel restaurada e sendo aspergida com água limpa, purificada de toda a sua imundícia� Essas pessoas restau-radas receberão um novo coração e um novo espírito� Deus promete: “E porei dentro de vós o Meu Espírito, e farei que andeis nos Meus estatutos, e guardeis os Meus juízos, e os observeis”�

Diz a grande promessa de Isaías 59:21: “Esta é a Minha aliança com eles, diz o Senhor: o Meu Espírito, que está sobre ti, e as Minhas palavras que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o Senhor, desde agora e para todo o sempre”� Isso nos ensina que os fiéis de Israel que entrarem no Milênio terão em si mesmos o Espírito Santo, assim como seus descendentes que se tornarem verdadeiros cren-tes eternamente� Jeremias 31:33-35 é uma passagem semelhante sobre a Nova Aliança, e é novamente explicada em Hebreus 8, que embora não menciona claramente o Espírito Santo, está em pleno acordo com outras passagens que o fazem� A rebelião final de Gogue e Magogue consistirá daqueles gentios não salvos que viverão na periferia da bên-ção divina, e não inclui ninguém da semente de Israel (Ap 20:8-9)� Enquanto todos os que entrarem no Reino Milenar serão regenerados ( Jo 3:3, compare com Zc 14:16), os descendentes da primeira geração de gentios cristãos não serão todos salvos, e enquanto a conformidade aparente ao domínio justo do Reino não será desafiada, a multidão dos rebeldes, no final, provará que mil anos de paz mundial com justiça, não melhorou em nada a depravação natural do coração humano�

A descrição dessa bem-aventurança futura de Israel inclui a pro-messa de que o Espírito Santo será “derramado”� Joel 2:28-32 é a pas-sagem específica citada no Dia de Pentecostes� Isaías 44:3 também fala do mesmo derramamento do “Meu Espírito sobre a tua semente”, e Ezequiel 39:29 diz: “Pois derramarei o Meu Espírito sobre a casa de Is-rael, diz o Senhor Deus”� A fase inicial desse derramamento do Espírito Santo é descrita em Zacarias 12:10, onde Deus promete que durante o dia do retorno vitorioso do Senhor Jesus Cristo a Jerusalém, “sobre a casa de Davi, e sobre os habitantes de Jerusalém, derramarei o Espírito de graças e de súplicas; e olharão para Mim, a Quem traspassaram”� Este é o momento do arrependimento do remanescente de Israel� “Na-quele dia haverá uma fonte aberta para a casa de Davi, e para os habi-tantes de Jerusalém, para purificação do pecado e da imundícia” (Zc 13:1), indicando que esse arrependimento nacional e o derramamento

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88 O Espírito da Glória

do Espírito de Deus, dependem da aplicação do poder purificador do grande Sacrifício do Pastor ferido (Zc 13:7)�

A citação de Joel 2 no sermão de Pedro, em Atos 2, não quer dizer que a descida do Espírito Santo no Pentecostes, e todos os fenômenos miraculosos associados com isso, tenha cumprido plenamente essa pro-fecia� Pedro diz: “Isto é o que foi dito …”, mas deve-se diferenciar isto de um cumprimento final� Walvoord* nos ajuda, ao apontar uma dife-rença importante entre a vinda do Espírito Santo no Pentecostes e o derramamento do Espírito no Segundo Advento� O batismo do Espíri-to é notável por estar relacionado, de forma exclusiva, com a doutrina da Igreja que é o Seu corpo (I Co 12:13), e limitada à dispensação presente� Não há nenhuma referência ao batismo do Espírito em qualquer outra era� O testemunho coletivo à verdade divina na época presente é carac-terizado pelo desaparecimento de distinções nacionais� Não há “parede de separação” entre aqueles que Deus tirou dentre as nações como um povo para o Seu nome (Ef 2:11-12; At 14:14)� Após o arrebatamento, entretanto, as distinções nacionais e as promessas proféticas voltarão a operar� A ideia de um organismo transnacional como o Corpo de Cristo presente na Terra é desconhecida na Tribulação ou no Milênio�

Reprimidor do malEm todas as dispensações o Espírito opera como um reprimidor

do mal� Seja como em Gênesis, contendendo com os antediluvianos, ou como aquele que resiste em II Tessalonicenses 2, cuja remoção (no Arrebatamento) abrirá a porta para o aparecimento do Homem do Pe-cado, o Espírito Santo representa uma restrição poderosa sobre a mal-dade humana� Isso se dá, além de intervenção divina direta, através do impacto da palavra profética, ou do exemplo moral dos justos, ou da in-fluência das Escrituras Sagradas� Toda a história do Velho Testamento testemunha disto� O testemunho inconsciente prestado a essa verdade ocorre nos escritos de historiadores seculares e até mesmo de jornalistas contemporâneos†�

* WALVOORD,J.F.The Holy Spirit: A comprehensive study of the Person and Work of the Holy Spirit.GrandRapids,MI:Zondervan,3ªedição,1974,cap.24.

† O impacto da disseminação do Cristianismo no Império Romano é reconhecido por EdwardGibbonemseulivroDecline and Fall of the Roman Empire. O reavivamento evangéliconaépocadeWesleyenoperíodosubsequenteresultounumagranderestriçãodomal,incluindooimpactodeWilliamWilberforceeLordShaftesbury.

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 89

Representações simbólicas do Espírito SantoUma introdução abrangente à doutrina do Espírito Santo no Velho

Testamento precisa notar as passagens onde Ele não é explicitamente mencionado, mas Sua presença e atividade são ensinadas, de forma em-blemática� Este assunto já foi tratado em muito mais detalhe no cap� 2 deste livro� Outra referência útil é o livro de Samuel Jardine: Floods upon the Dry Ground*� Assim, aqui nos limitaremos a mencionar quatro dos símbolos mais destacados no Velho Testamento�

Pomba

O relato do batismo do Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento, escrito por João, não deixa dúvida quanto ao significado desta figura� Ela ocorre em Gênesis, vista por alguns no “mover-se” do Espírito Santo sobre a face das águas em 1:2, a primeira de tais referências� A primeira referência explícita está na pomba de Noé, em Gênesis 8:8, onde a sua pureza é destacada em contraste com a impureza do corvo carnívoro�

Vento/Sopro

A palavra traduzida “Espírito” (ruach) algumas vezes é traduzida “sopro” ou “vento”� No ato da criação de Adão, Deus soprou em suas narinas o fôlego (ou sopro) da vida� A invocação do vento por Ezequiel para soprar o fôlego de vida nos corpos do vale de ossos secos (cap� 37) é mais uma ilustração� Exemplos do poder divino em destruição ou juízo, associados com o sopro de Deus ou com o vento, ocorrem no Velho Testamento e ilustram a ação do Espírito Santo� Entre eles estão a desolação da infiel Samaria (Os 13:15-16), o vento destruidor contra Babilônia ( Jr 51:1), e a morte do ímpio pelo sopro dos Seus lábios (Is 11:4) — que é tão semelhante à descrição de Paulo da destruição do Homem do Pecado com o sopro da Sua boca (II Ts 2:8)�

Azeite

O uso de azeite como combustível para lâmpadas é um símbolo

A diminuição de crimes e desordem em Ulster como resultado do reavivamento de1859foinotável.VejaStanleyBarnesemA pictorial history of the 1859 Revival and related awakenings in Ulster. Belfast: Ambassor Publications, 2008.

* “Rios sobre a terra seca”. Publicado pela editora Precious Seed,1975.Oleitorinteressado deve consultar esse livro.

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90 O Espírito da Glória

do Espírito Santo tanto no Velho quanto no Novo Testamentos� Veja Zacarias 4:1-10, comparando com Apocalipse 4:5 e com os detalhes do castiçal de ouro do Tabernáculo� Essa figura também está contida no significado do azeite na parábola das dez virgens, em Mateus 25�

O azeite também é uma figura do Espírito Santo no que diz respei-to à unção� As três ordens especiais de serviço espiritual no Velho Testa-mento são: profeta, sacerdote e rei� Para cada um desses há exemplos da sua nomeação através de uma unção cerimonial� Isso representa o sím-bolo visível do Espirito Santo, suprindo as habilidades necessárias para o desempenho do ofício� No caso de Davi, a unção por Samuel estava intimamente associada com a vinda do Espírito Santo sobre ele, daque-le momento em diante� Já temos observado anteriormente a unção dos profetas� A mistura especial de óleo usada para ungir o Sumo Sacerdote era feita segundo a arte do perfumista, e era chamada de azeite da san-ta unção� Era uma substância muito restrita, pois havia uma proibição severa contra qualquer imitação da sua composição e contra sua aplica-ção não aprovada (Êx 30:22-38)� Era usado na consagração do Sumo Sacerdote e seus filhos, e usado também para ungir o Tabernáculo com seus utensílios e vestes sacerdotais*, indicando que o Espírito Santo era indispensável na operação do sistema sacerdotal no Tabernáculo� O Sal-mo 133 usa essa unção fragrante permeando o Sumo Sacerdote e suas vestes como uma metáfora da união espiritual entre irmãos� Isso enfa-tiza o valor que Deus vê na união entre irmãos, e nos ensina que isso só pode ser alcançado através de dependência no Espírito Santo� Essas li-ções tipológicas deixam óbvio que a igreja local, como uma congregação de Deus, requer a presença do Espírito Santo para torná-la e mantê-la operacional� Vários movimentos para promover a união entre cristãos professos, baseados numa espiritualidade falsa, espelham as tendências da carne de violar a proibição de usar uma imitação do azeite da unção� Tais inovações são da carne e promovem o controle humano, usurpando o controle do Espírito Santo entre os cristãos†�

Água

No clima semidesértico de Israel, com sua economia agrícola, havia

* VejaLevíticocap.8paraessascerimoniais.† EracomissoemmentequeumdosprimeirosfolhetosdeJohnNelsonDarbyfoi

intitulado:“AideiadeumclérigoédispensacionalmenteopecadocontraoEspíritoSanto”.

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Cap. 5 — O Espírito Santo no Velho Testamento 91

uma maior apreciação deste símbolo específico do Espírito Santo do que em países bem regados pela chuva� Em Isaías 44:1-5 há uma pro-messa muito clara da concessão futura do Espírito Santo à restaurada nação de Israel, representada por água derramada “sobre o sedento, e rios sobre a terra seca”� Isso combina com as palavras do Salvador em João 7:38-39, onde essa promessa é condicionada à glorificação do Se-nhor Jesus� Nacionalmente, ela ainda espera seu cumprimento futuro para Israel� O “homem bem-aventurado” do Salmo 1 é comparado a “árvore plantada junto a ribeiros de águas” (v� 3), simbolizando o se-gredo espiritual do sustento e da fertilidade num mundo hostil� Isaías 12:3 representa a alegria de tirar águas das fontes da salvação� Isaías 55:1 lança um convite do Evangelho: “Vós, os que tendes sede, vinde às águas”� O Senhor Jesus Cristo disse no Seu discurso à mulher de Samaria: “Qualquer que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna” ( Jo 4:14)� Não há outra provisão para a alma sedenta a não ser o Senhor Jesus Cristo como Salvador, e o gozo da salvação através do Espírito Santo� Será que o leitor já obedeceu ao chamado final do Evangelho, da parte do Espírito Santo: “E o Espírito e a esposa dizem: Vem� E quem ouve, diga: vem� E quem tem sede venha� E quem quiser, tome de graça da água da vida”? (Ap 22:17)�

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo

por James M. Flanigan, Irlanda do Norte

Na primeira menção da oferta de manjares, no segundo capítulo de Levítico, todos os expositores devocionais concordam que a flor de farinha da oferta é uma prefiguração tipológica da beleza da vida do Senhor Jesus, uma vida na qual todas as virtudes morais se mesclavam num equilíbrio perfeito� Não há derramamento de sangue nessa oferta, nem menção de pecado ou expiação� Há sugestões de sofrimento, en-tretanto, e a oferta de manjares é um quadro belíssimo de uma vida de serviço fragrante, e de devoção no sofrimento; devoção que trouxe tanto prazer a Deus�

Três vezes naquele capítulo temos a instrução de que azeite deveria ser aplicado à oferta nas suas variadas formas, e três palavras diferentes são empregadas para essas aplicações do azeite�

Algumas vezes o azeite deveria ser amassado com a flor de farinha (vs� 4-5)� Em outros casos, o azeite era para ser deitado sobre a oferta (vs� 1, 6), e também a oferta poderia ser untada [literalmente, “ungida”]com óleo (v� 4)� São palavras distintas que têm um significado simbólico� A oferta poderia ser amassada, ungida ou saturada com azeite�

Novamente há um consenso quanto a ser o azeite, nas Escrituras, um símbolo consistente do Espírito Santo, e na Sua associação divina com o Filho de Deus o pleno cumprimento dessas palavras importan-tes e interessantes é claramente visto; amassado, ungido, saturado� No mistério da encarnação de Cristo a farinha e o óleo foram amassados juntos� Por ocasião do batismo do Salvador no Jordão, é como se a ofer-ta fosse ungida com óleo, e no Seu ministério miraculoso subsequente podemos observar um ministério essencialmente saturado com o poder do Espírito� Mas essas considerações precisam ser abordadas reverente-mente e em detalhes�

O Espírito Santo na encarnaçãoMuitos homens, talvez bem-intencionados, têm procurado explicar

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 93

a fisiologia humana na concepção milagrosa do Filho de Deus no ventre da virgem� Todas essas explicações são vãs, e algumas até irreverentes, se não blasfemas� Nunca se pede ao cristão que ele entenda, explique ou exponha o mistério� “Grande é o mistério da piedade: Deus se manifes-tou em carne” (I Tm 3:16)� Talvez o antigo Credo dos Apóstolos* diz tudo o que pode ou precisa ser dito sobre este assunto sagrado� Ele foi “concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da virgem Maria”� Os detalhes santos do que aconteceu no ventre de Maria estão entre as coi-sas encobertas “pertencentes ao Senhor nosso Deus” (Dt 29:29), e em verdadeira devoção o cristão deve se prostrar em admiração e adoração diante da encarnação do Filho de Deus�

Além do breve comentário de Mateus, que simplesmente diz que ela “achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1:18), as palavras de Gabriel a Maria são o único comentário bíblico acerca daquela concep-ção divina� Disse Gabriel à donzela aflita: “Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus� E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus� Este será grande e será chamado o Filho do Altíssimo”� Quando Maria, uma virgem, perguntou: “Como se fará isto?”, o anjo respondeu: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a Sua sombra; por isso também o Santo que de ti há de nascer será chamado o Filho de Deus” (Lc 1:30-35)�

Foi a operação do Espírito Santo no ventre da virgem que resul-tou na concepção do Salvador� Quando Maria, a virgem, “achou-se ter concebido do Espírito Santo”, havia se cumprido a antiga palavra pro-fética: “Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um Filho, e chamará o Seu nome Emanuel” (Is 7:14)� Era como se o óleo e a farinha fossem amassados juntos de for-ma milagrosa, no ventre daquela donzela humilde e piedosa de Nazaré, que haveria de ser a mãe virgem do Messias prometido� Tudo isto está além da compreensão do ser humano� É maior que o intelecto e que a compreensão dos mais sábios filósofos terrestres, mas não é problema para aqueles que amam a Palavra de Deus e o Filho de Deus� Para estes basta saber que Ele foi de fato “concebido do Espírito Santo”� Como escreve H� C� Hewlett: “Nossa parte é crer, não explicar, e adorar, não

* Oautorrefere-seaumantigotratadocontendoumaafirmaçãodefédoscristãos,queaindahojeéaceitopordiversasdenominaçõesnocristianismo(N.doE.).

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94 O Espírito da Glória

investigar”�* João, o apóstolo amado, diz: “E o Verbo Se fez carne” ( Jo 1:14)� O Filho eterno foi achado na forma de homem (Fp 2:8)�

Em carne oculta, veja a Deidade;Salve! Divindade Encarnada!†

(C. Wesley)

Assim se iniciou, no ventre da virgem, numa santa comunhão entre duas Pessoas Divinas, a história de um Ser único que em santidade impecável deleitaria o coração de Deus e traria a Ele uma fragrância que em muito excede a fragrância da oferta de manjares da antiguidade, onde a flor de farinha era amassada junto com o azeite�

O Espírito Santo na apresentação de Jesus no Templo

No tempo devido, depois da visita angelical a Maria, sua santa Criança nasceu� Foi com prazer que O viram crescer “em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52)� Mas nos primeiros dias da Sua infância o piedoso Simeão foi trazido pelo Espírito para o Templo, exatamente quando José e Maria chegaram com o Menino� Ele tinha quarenta dias de vida, e eles O trouxeram ao Templo para cumprir uma lei antiga� “O levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor … e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: Um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2:22-24; Lv 12:2, 6, 8)� O Espírito Santo é mencionado três vezes em relação a Si-meão e a apresentação de Jesus no Templo� Simeão era “justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele” (Lc 2:25)� Simeão era um homem essencialmente espiritual, e esse momento exato já havia sido predito a ele pelo mesmo Espírito Santo, que lhe revelara que ele não veria a morte “antes de ter visto o Cristo do Senhor” (v� 26)� Agora, conduzido pelo Espírito, Simeão tomou o Menino em seus braços e bendisse a Deus (v� 28), e os abençoou (v� 34) e profetizou grandes coisas para o Filho de Maria� Desde a infância, passando pela adolescência e até a idade adulta, Jesus cresceu com uma graça que deve ter trazido muita alegria a Maria e José� Ele era de fato

* HEWLETT,H.C.Glories of our Lord.Kilmarnock:JohnRitchieLtd.,1994.† Tradução livre. O original diz: “Veiled in flesh, the Godhead see, /Hail! Incarnate

Deity!"

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 95

uma raiz de uma terra seca (Is 53:2)� Na esterilidade espiritual da nação, e até mesmo na corrupção de Nazaré, Ele crescia com fragrância, tra-zendo constante prazer ao Seu Pai, e era conhecido na localidade como o Carpinteiro, e o Filho do Carpinteiro (Mt 13:55; Mc 6:3)�

O Espírito Santo no batismo do SalvadorAgora, depois dos anos de relativo silêncio em Nazaré, Jesus era um

homem maduro, com cerca de trinta anos de idade (Lc 3:23), e Ele saiu da sua cidade natal para ir até o rio Jordão, ao lugar onde João estava batizando� Todos os Evangelhos registram algo sobre o próprio Jesus ser batizado por João no Jordão (Mt 3:13-17; Mc 1:9-11; Lc 3:21-22; Jo 1:32)� Embora João não registre o ato do batismo do Senhor ele relata, como os outros, que naquela ocasião o Espírito desceu dos Céus “que se abriram” e repousou sobre Ele�

O batismo de João era um batismo para o arrependimento (Mt 3:11) mas, como todo cristão sabe, o Salvador, na Sua impecabilidade, nada tinha do que Se arrepender� Então por que Ele pediu para ser batizado por João? (Mt 3:13-15) Em imensa graça Ele desejava Se as-sociar com aqueles que estavam aceitando a pregação de João� Era um reconhecimento da mensagem do Batista e, como foi dito: “Ele viu as Suas ovelhas debatendo nas águas escuras da morte, e de bom grado quis estar com elas”� Será que isso era uma prévia do Calvário, quando Ele, de uma forma terrivelmente real, entraria na morte em lugar deles?

Foi nesta ocasião do Seu batismo no Jordão que os Céus se abri-ram sobre Ele e o Espírito Santo desceu na forma de uma pomba� No contexto do relato de João, isso é muito lindo� João, que escreveu o quar-to Evangelho, relata que foi João Batista quem apontou Jesus como o Cordeiro de Deus� Em mansidão e gentileza, Ele havia vivido por trinta anos no Seu lar na Galileia, e em conformidade com as Escrituras típi-cas, Ele era um Cordeiro sem mácula, sem mancha nem defeito no Seu caráter� Mais tarde, Ele seria levado “como um Cordeiro ao matadouro” (Is 53:7), mas agora sobre o manso Cordeiro desceu o Espírito Santo na forma de uma pomba� E que ser é mais meigo, mais facilmente assusta-do do que uma pomba? Foi nesta forma que o Espírito repousou sobre o Cordeiro� Não havia nada no meigo Cordeiro para afligir ou assustar a Pomba� Quando o Espírito pousa sobre Ele, é como se a oferta estivesse sendo ungida com óleo� Era isso que Pedro tinha em mente quando ele pregou, dizendo: “Esta palavra, vós bem sabeis, veio por toda a Judeia,

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96 O Espírito da Glória

começando pela Galileia, depois do batismo que João pregou; como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude” (At 10:37-38)�

Devemos lembrar e compreender, ainda que seja um mistério, que essa unção pelo Espírito de forma alguma sugere que havia algo fal-tando na Pessoa do Senhor Jesus antes disso� Nenhuma habilidade ou poder foi conferido a Ele por essa unção, que Ele já não possuísse em Si mesmo� Outros servos de Deus podem de fato precisar de uma unção especial para equipá-los para o serviço, mas o Filho de Deus possuía poder pessoal inerente como uma Pessoa Divina, e não precisava desse dom� Essa unção do Salvador foi sem dúvida para mostrar, de uma ma-neira bem pública, a aprovação celestial de Jesus nesse momento inicial do Seu ministério�

Ligado a isso temos o comentário de que há aqui uma evidência maravilhosa da grande Trindade, três Pessoas divinas em santa harmo-nia� O Filho encarnado está na água� O Espírito pousa sobre Ele, en-quanto a voz do Pai declara, desde os Céus abertos, o Seu prazer no Seu Filho� Pai, Filho e o Espírito de graça estão igualmente envolvidos no grande plano de redenção que estava para se desenvolver�

O Espírito Santo e a tentação no desertoOs Evangelhos Sinópticos — Mateus, Marcos e Lucas — todos

registram que foi pelo Espírito Santo que Jesus, depois do Seu batismo, foi impelido para o deserto para um confronto com o diabo�

Nunca é dito que nosso Senhor foi enchido com o Espírito da ma-neira como os Seus santos podem ser, mas Ele estava “cheio do Espírito Santo”, e foi agora “levado pelo Espírito” (Lc 4:1) ao deserto, para quase seis semanas solitárias de tentação� Repare que Zacarias e Isabel, os pais de João Batista, foram cheios “do Espírito Santo”, assim como o pró-prio João (Lc 1:15, 41, 67)� O mesmo é dito de Pedro e Paulo em Atos 4:8 e 13:9� Se a expressão “cheio do Espírito Santo” é usada de outros, como Estêvão e Barnabé (Atos 7:55; 11:24), essa plenitude com eles era o resultado de terem sido enchidos com o Espírito, mas não foi assim com Jesus� Ele sempre foi e sempre esteve “cheio do Espírito Santo”� E a meiga submissão do Cordeiro está novamente evidente quando Ele se entrega sem resistência à direção do Espírito, sabendo das tentações que Lhe seriam apresentadas, pelo próprio Satanás, naquele estéril deserto da Judeia�

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 97

Precisamos ressaltar vez após vez que o Senhor Jesus era impecável: incapaz de pecar� Ele não somente não pecou, como também Ele não podia pecar� Não havia nada nEle para corresponder às tentações peca-minosas e, portanto, quando falamos da tentação no deserto, a palavra “tentação” precisa ser entendida corretamente� Com os homens caídos, tentação significa uma atração para pecar, um apelo ao mal� Isto nunca pode ser dito do Salvador, pois Ele jamais poderia ser atraído ao mal� O outro significado da palavra é “testar”, “provar”� “Tentação” é a pala-vra grega peirazo (Concordância de Strong, 3985), definida por Strong como: “examinar, esquadrinhar, escrutinar, provar, experimentar, como também tentar” (veja Jo 6:6; At 16:7, “intentavam”; II Co 13:5; Hb 11:17; Ap 2:2; Ap 3:10 onde essas várias alternativas são usadas)�

O nosso Senhor Jesus foi provado, ou testado, por Satanás, não para ver se poderia, ou iria, pecar, mas sim para, de acordo com o plano de Deus, demonstrar bem no começo do Seu ministério público que Ele era realmente impecável� Para Ele, pecar era impossível� Ele não podia pecar mesmo sendo tentado no Seu corpo, alma e espírito� Satanás O testou quanto à Sua dependência, Sua obediência e Sua paciência, mas o Senhor não se afastou, nem poderia ter-Se afastado do caminho da vontade do Pai para Ele�

Depois de quarenta dias naquele deserto, Jesus retornou, ainda no poder do Espírito, para a Galileia (Lc 4:14)� Ele havia sido provado, como se prova o ouro puro, mas não havia impureza, e em comunhão com o Espírito Santo Ele voltou à Sua Galileia nativa para iniciar um ministério público muito intenso que se estenderia por três anos, tra-zendo muita glória a Deus, muitas bênçãos aos homens e muita tristeza a Si mesmo� Ele foi conduzido pelo Espírito ao deserto, e Ele voltou do deserto no poder daquele mesmo Espírito.

O Espírito Santo e o caráter de CristoEm Isaías 42:1, onde Cristo é apresentado como o Servo perfeito,

Jeová diz: “Pus o Meu Espírito sobre Ele”� Isto é o que chamamos de o “passado profético”, falando em antecipação de algo ainda no porvir como se de fato já tivesse acontecido� Aqui está antecipada aquela co-munhão inquebrável que seria sempre desfrutada entre o Servo Divino e o Espírito de Deus� Sendo que há certas características morais conhe-cidas como “o fruto do Espírito” (Gl 5:22-23), é de esperar, portanto, que esse fruto fosse manifestado na vida agradável daquele que vivia em

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98 O Espírito da Glória

santa comunhão com o Espírito Santo: “o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, tempe-rança”, e é interessante seguir os passos de Jesus através dos Evangelhos e ver cada aspecto desse fruto em evidência em todas as variadas cir-cunstâncias da Sua vida�

O amor é o primeiro a ser mencionado, e houve, naturalmente, muitas demonstrações do Seu amor� Ele amava o que não era amável� Ele amava os párias� Ele amava os publicanos e pecadores, a ponto de ser conhecido como “amigo dos publicanos e pecadores” (Mt 11:19; Lc 7:34)� Ele amava a viúva e o órfão, e amava aqueles que não tinham amor nenhum por Ele� Seu amor não tinha fronteiras, pois se estendia aos leprosos e aleijados, aos surdos e mudos e cegos, mas Seus discípulos eram o alvo especial do Seu amor� “Como havia amado os Seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim” ( Jo 13:1)� Eles O magoaram muitas vezes, mas Ele nunca deixou de amá-los�

Depois havia o gozo� Num belíssimo paradoxo, o Salvador era o Homem de dores e, no entanto, estava ungido “com óleo de alegria” mais do que os outros (Sl 45:7; Hb 1:9)� Ele carregava um fardo de angústia� A dor era Sua constante companheira (Is 53:3), mas ainda assim Ele manifestava a alegria de um Homem que Se deleitava em fazer a vontade do Seu Pai, e na Sua última noite com os Seus discípulos Ele falou do “Meu gozo”, desejando que eles também o conhecessem ( Jo 15:11)� Ele pode Se regozijar de muitas maneiras e circunstâncias� Seu era o gozo de um Filho amado se deleitando em santa comunhão com o Pai� “Se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças Te dou ó Pai, Senhor do céu e da terra” (Lc 10:21)� Seu era também o gozo de um Pastor encontrando uma ovelha desgarrada� “E achando-a, a põe sobre os seus ombros, gostoso; e, chegando a casa convoca os amigos e vizinhos, dizendo-lhes: Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida” (Lc 15:5-6)� E havia também o gozo do Redentor que deu tudo o que tinha para comprar o tesouro escondido num campo e “pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo” (Mt 13:44)� E ainda mais, havia o gozo que Lhe estava proposto e que seria completo depois de suportar a cruz (Hb 12:2) e então, também em antecipação, o gozo do retorno do Soberano que dirá aos Seus servos fiéis: “Bem está … entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25:21,23)�

Havia também a paz� O profeta Isaías chamou o Salvador de “Prín-cipe da Paz” (Is 9:6), e em santa serenidade Ele viveu e andou em meio

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 99

à afronta e à humilhação durante todos os dias do Seu ministério, indo até o sofrimento e a morte� É um Homem em paz que diz no Getsêma-ni: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22:42)� É um homem em paz que ficou em pé com dignidade perante o Sumo Sacerdote de Israel até mesmo quando os homens cuspiam no Seu rosto (Mt 26:67)� É um Homem em paz que ficou diante do governador Romano e dian-te de Herodes naquelas horas finais, e “não lhes respondeu palavra” (Mt 27:14)� Não nos admira que Pilatos se maravilhasse! Haveria ele, antes, visto uma paz como esta num prisioneiro?

Quão longânimo era Jesus� Esse também é o fruto do Espírito� Ele suportou com tanta paciência os homens que não O compreendiam� Ele lhes expôs a verdade de Deus com uma longanimidade que espe-rava enquanto a lentidão deles compreendesse o significado� Veja isso em evidência no caminho de Emaús quando Ele guiou aqueles dois discípulos, passo a passo, até Se revelar a eles (Lc 24)� Eles eram tardos de coração, mas Ele foi paciente com eles�

A benignidade [literalmente “gentileza”] era outra característica deleitável do Senhor Jesus� Não era uma característica dos escribas e fariseus que eram, na sua maioria, homens orgulhosos e arrogantes� Será que as criancinhas teriam se aproximado daqueles homens austeros, assim como se aproximaram do Senhor? (Mc 10:13-16) No entanto, o grande ancestral desses líderes da nação, o Rei Davi, atribuiu a sua grandeza à brandura de Jeová, dizendo: “Pela Tua brandura me vieste a engrandecer” (II Sm 22:36; Sl 18:35)� A benignidade de Jeová foi vista no caráter de Jesus� Muitos anos mais tarde Paulo lembra seus leitores da mansidão e benignidade de Cristo (II Co 10:1)� É interessante que Paulo, que não conheceu a Cristo nos dias da Sua carne, falaria da Sua benignidade! Será que foram outros, que O haviam conhecido, que re-lataram isso a Paulo, recordando de ocasiões que demonstraram aquele caráter meigo e aquela maneira terna de tratar com os homens?

E o que podemos dizer da Sua bondade? Esta é uma das caracte-rísticas de Deus, de quem o salmista podia dizer: “Tu és bom e fazes bem” (Sl 119:68), e o caráter de Deus é visto em um homem que andou fazendo bem, Jesus de Nazaré, ungido com o Espírito Santo (At 10:38)� Uma vez alguém se dirigiu a Ele como “Bom Mestre”, e o Salvador lhe respondeu: “Por que me chamas bom? Não há bom senão Um só, que é Deus” (Mt 19:16-17; Mc 10:17-18; Lc 18:18-19)� O Senhor Jesus não estava, naturalmente, negando que Ele era bom, antes, estava mostran-

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100 O Espírito da Glória

do ao jovem, se ele somente pudesse ter entendido, que Aquele a quem ele chamara “Bom Mestre” era realmente Deus, uma Pessoa divina�

Como um Homem dependente, o nosso Senhor Jesus vivia por fé, outro aspecto do fruto do Espírito� Geralmente se diz que os sen-timentos de Jesus são vistos nos Salmos� De fato, isso é verdade� Lá Ele diz profeticamente: “Sobre Ti fui lançado desde a madre; Tu és o Meu Deus desde o ventre da Minha mãe” (Sl 22:10)� Desde a infância, na adolescência, e chegando à idade adulta, Ele foi caracterizado por dependência em Deus� Até mesmo Seus inimigos reconheceram isso, quando disseram, quase que citando literalmente os Salmos: “Confiou em Deus; livre-O agora, se O ama” (Mt 27:43; Sl 22:8)�

Quanto à mansidão, foi Ele mesmo que disse: “Sou manso e hu-milde” (Mt 11:29)� Note que somente Ele em Sua perfeição moral poderia reivindicar ser manso e humilde, e ainda continuar sendo� Se um homem comum dissesse isso de si mesmo, esse fato em si seria a negação da sua humildade, soando quase como arrogância� Mas não era assim com Ele, e lembramos que no início do Seu ministério Ele ensinou: “Bem-aventurados os mansos” (Mt 5:5), então Ele mesmo é o insuperável bem-aventurado, manso e humilde de coração�

A palavra temperança talvez fosse melhor traduzida “autocontro-le”, e isso foi maravilhosamente manifesto na reação do Senhor às acu-sações injustas e às provocações dos Seus inimigos� Com tudo o que disseram sobre Ele ou para Ele, Ele manteve a compostura e dignidade� Quando outros homens teriam respondido com indignação às zomba-rias, o Salvador permaneceu calmo, exercendo um autocontrole perfeito� Quando poderia ter chamado dez mil anjos para destruir Seus acusado-res, Ele entregou-Se e suportou a afronta e a zombaria com majestade silenciosa�

Assim, durante aqueles trinta e três anos de perfeita Humanidade, o fruto do Espírito foi certamente manifestado na vida do Senhor Jesus� “Pus o Meu Espírito sobre Ele”, disse Jeová em Isaías 42:1, e nEle os homens viram amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e autocontrole em perfeito equilíbrio� Essa era a flor de farinha da oferta de manjares, uma consistência homogênea no caráter daquele de quem todas as ofertas eram meras prefigurações�

O Espírito Santo e o ministério público de CristoTendo ministrado nas sinagogas da Galileia, Jesus veio para Nazaré,

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 101

Sua cidade natal� Ele conhecia bem aquela sinagoga, e era bem conhe-cido ali� Ele havia assistido as reuniões na sinagoga de forma constante durante todos aqueles anos, mas agora seria diferente� Ele veio no Sába-do como era Seu costume, e quando surgiu a oportunidade Ele se levan-tou para ler a porção das Escrituras para aquela ocasião� Era o direito de todo homem judeu adulto ler as Escrituras publicamente, e assim o atendente entregou o Rolo Sagrado a Jesus� Ainda não havia uma di-visão em capítulos e versículos, mas Ele com calma achou a passagem� Ele conhecia bem a Palavra, pois Ele era o verdadeiro Bem-Aventurado cujo prazer estava na Lei do Senhor e naquela Lei Ele meditava de dia e de noite (Sl 1:2)� Ele abriu o rolo no lugar que hoje é conhecido como Isaías 61 e começou a ler�

Este não era exatamente o começo do Seu ministério, pois Ele já estivera ensinando em outras regiões da Galileia, mas era uma introdu-ção ao Seu ministério em Nazaré, onde havia sido criado� Ele leu: “O Espírito do Senhor é sobre Mim, pois que Me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar li-berdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor”� Neste ponto da leitura Ele fechou o Livro, devolveu o Rolo ao atendente e Se assentou para ministrar, dizendo que essa Escritura estava agora sendo cumprida diante deles (Lc 4:14-19)�

Note a referência à Trindade nas palavras iniciais do Senhor: “O Espírito do Senhor é sobre Mim”� Assim como o Pai, o Filho e o Es-pírito estiveram juntos no Seu batismo, assim agora eles estavam em comunhão santa no Seu ministério� “O Espírito … Senhor … Mim”�

“Ungiu-Me”� Estes judeus sabiam tudo sobre ungir� Seus profetas, sacerdotes e reis eram todos ungidos para assumir seus vários ofícios, e se somente tivessem tido inteligência espiritual para enxergar, ali esta-va alguém na sua sinagoga cujo ministério variado seria o de Profeta, Sacerdote e Rei, e para esses ofícios Ele fora divinamente ungido� Mais tarde Pedro iria lembrá-los de que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10:38)�

No poder da Sua unção Jesus anunciou que Ele viera pregar as boas novas aos pobres� Aqui estava o ministério do Profeta, pregando e ensi-nando a Palavra de Deus� Ele viera também para curar os quebrantados de coração� Este era um ministério sacerdotal, e quantas vezes nos anos

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102 O Espírito da Glória

que se seguiram Ele de fato confortou os que sofriam� Ele veio também para libertar os cativos do pecado e de Satanás, e com a palavra de auto-ridade de um Rei Ele de fato libertaria a muitos� O grande Médico iria restaurar a vista aos cegos e pôr em liberdade os que haviam sido opri-midos pela vida� Ensinando! Pregando! Curando! Mateus resume isso tudo em poucas palavras: “E percorria Jesus toda a Galileia ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo” (Mt 4:23; 9:35)� O Messias há muito prometido estava no meio deles no poder do Espírito: seu Pro-feta, Sacerdote e Rei�

O Espírito Santo e a expulsão de demôniosTodos sabem que muito do ministério subsequente do Senhor en-

volveu a expulsão de demônios, e a maior parte, se não todos, os casos de possessão registrados aconteceram, por alguma razão, na Galileia� Há algum exemplo de possessão demoníaca na Judeia? Há duas razões sugeridas para a predominância deste ataque satânico na Galiléia� Era, e Satanás sabia disso, a Província na qual Jesus o Messias vivera durante os primeiros trinta anos da Sua vida, e seria a esfera de grande parte do Seu ministério messiânico� Esta razão já explica por que houve tanta atividade demoníaca naquela Província� Além disso, a Galileia e os ga-lileus não eram tão sofisticados quanto a Judeia e os seus habitantes� Na Judeia estava localizada a Cidade Santa e o Templo� Era ali que o Sumo Sacerdote e muitos sacerdotes habitavam, e era também na Judeia que o poderoso Sinédrio se reunia� Talvez com todos esses privilégios hou-vesse certa proteção contra o demonismo na Judeia, que não havia na Galileia�

Há certa tristeza no fato que talvez a primeira ocorrência de posses-são demoníaca acontecesse numa sinagoga� É triste porque um homem com espírito imundo era, aparentemente, tolerado na sinagoga ali, e no entanto, eles tinham se enfurecido com as palavras bondosas de Jesus na sinagoga em Nazaré (Mc 1:23; Lc 4:28, 33)� Depois, no outro extremo, houve o caso do homem que habitava entre os sepulcros em Gadara, possesso por uma legião de demônios (Lc 8:26-36)� Houve também outras cenas, como quando, “tendo chegado a tarde, quando já se es-tava pondo o sol, trouxeram-Lhe todos os que se achavam enfermos, e os endemoninhados … E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios” (Mc 1:32, 34)�

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 103

Foram, realmente, dias notáveis!Entretanto, houve uma reação adversa cruel da parte dos fariseus a

essa expulsão de demônios� Esses homens frios e insensíveis pareciam desconsiderar o alívio dado aos pobres sofredores, e aparentemente pre-feriam usar essas ocasiões para dar vazão à sua oposição invejosa ao Salvador� Em uma dessas ocasiões “a multidão se maravilhou, dizendo: Nunca tal se viu em Israel� Mas os fariseus diziam: Ele expulsa os de-mônios pelo príncipe dos demônios” (Mt 9:33-34)� Em outra ocasião eles disseram: “Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, prín-cipe dos demônios” (Mt 12:24)�

Essa foi realmente uma acusação muito solene, dizer que Jesus es-tava associado com o Diabo� Ele agora os faria ver que, além de ser uma acusação insensata, era uma blasfêmia, pois o Seu ministério de expulsão de demônios na realidade era exercido no poder do Espírito de Deus� Era uma ideia insensata, porque “todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá”� Como seria possível Ele expulsar demônios pelo prín-cipe dos demônios? “Se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino?” (Mt 12:25-26)� Sua sugestão de conspiração com Satanás era ridícula�

O Espírito Santo e o pecado imperdoávelMas havia um aspecto ainda mais sério na acusação deles� A expul-

são dos demônios era uma evidência de que o Rei e o reino, em poder, estavam entre eles� “Mas se Eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, logo é chegado a vós o reino de Deus” (Mt 12:28)� Ao atribuir as Suas obras ao diabo, eles estavam blasfemando contra o Espírito Santo, e tal blasfêmia era um pecado imperdoável, solene ao extremo, como Ele disse: “Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens� E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mt 12:31-32)�

O pecado imperdoável consistia em atribuir ao poder do diabo as obras que Jesus tinha executado no poder do Espírito de Deus� A serie-dade de insultar o Espírito Santo estava nisso, que Ele é o único que re-vela aos homens sua condição espiritual e sua carência, e então traz aos corações entenebrecidos a luz do Evangelho� Se Ele for rejeitado, que

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104 O Espírito da Glória

esperança há de perdão para o homem? Um homem pode falar contra Cristo, como muitos fazem, mas o Espírito de Deus pode atuar nesse homem e levá-lo ao arrependimento e salvação, mas se o ministério, em graça, do Espírito for difamado e recusado, então o arrependimento é impossível� Este pecado não tem perdão� Se alguém perguntar: “É pos-sível cometer esse pecado hoje?”, devemos lembrar que é algo terrível rejeitar os apelos do Espírito, pois quem além dEle pode despertar a consciência, trazer convicção do pecado e revelar Cristo ao coração? Rejeitar o Espírito Santo é a rejeição de toda esperança ou possibilidade de salvação�

O Espírito Santo e o sofrimento finalOs cristãos muitas vezes cantam o hino de E� Denny que diz:

“Sempre no Teu coração oprimido pesava um fardo de sofrimento”,* e embora isso seja verdade, houve sofrimentos no final do ministério e vida terrestre do Senhor que ofuscaram todos os demais�

Embora seja absolutamente verdade que o Senhor Jesus Se ofe-receu a Si mesmo prontamente, e que Ele foi voluntariamente até o sofrimento final e a morte, também lemos que foi pelo Espírito eterno que Ele Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus (Hb 9:14)� É ver-dade que alguns estudiosos não veem nisso uma referência ao Espírito Santo de Deus, mas ao espírito pessoal do Senhor Jesus, Seu próprio espírito� Neste artigo presumimos que é, de fato, uma referência ao Es-pírito Santo, e de acordo com o comentário de Albert Barnes, essa é “a interpretação que ocorreria à grande maioria dos leitores do Novo Tes-tamento� Presume-se que a grande maioria de leitores sóbrios, simples e inteligentes da Bíblia, ao ler atentamente essa passagem, deduz que ela se refere ao Espírito Santo” †� Isso não prova nada, necessariamente, mas mostra que a maioria dos leitores e estudiosos aceitará que se trata de uma referência ao Espírito Santo de Deus�

Gólgota é, naturalmente, o lugar do sacrifício físico de Cristo, onde Ele levou “em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” (I Pe 2:24)� Mas quando e onde começou a ser vista essa entrega de Si mesmo em toda a sua crua realidade? Foi na Sua última noite com Seus discípulos, e logo após celebrarem aquela última Páscoa, quando Ele atravessou * “Forever on Thy burdened heart a weight of sorrow hung”.

† BARNES,A.Notes on the New Testament.GrandRapids,MI:KregelPublications,1962.

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 105

o ribeiro Cedrom rumo ao Getsêmani� Precisamos nos aproximar do Jardim com absoluta reverência� Deixando oito discípulos um pouco para trás, o Salvador levou os privilegiados Pedro, Tiago e João um pou-co mais adiante, mas Ele mesmo foi mais adiante ainda, à solidão do jardim, para orar no meio das oliveiras� Mateus, Marcos e Lucas descre-vem a cena: “Então chegou Jesus com eles a um lugar chamado Getsê-mani, e disse aos Seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto vou além orar� E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-Se e a angustiar-Se muito� Então lhes disse: a Minha alma está cheia de tristeza até a morte; ficai aqui e velai comigo� E, indo um pouco mais para adiante, prostrou-Se sobre o Seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; todavia, não seja como Eu quero, mas como Tu queres� E, voltando para os Seus dis-cípulos, achou-os adormecidos; e disse a Pedro: Então nem uma hora pudeste velar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca� E, indo segunda vez, orou, dizendo: Pai Meu, se este cálice não pode passar de Mim sem Eu o beber, faça-Se a Tua vontade� E, voltando-Se, achou-os outra vez adormecidos; porque os seus olhos estavam pesados� E, deixando-os de novo, foi orar pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras” (Mt 26:36-44)� “Não a Minha vontade, mas a Tua”, era a santa linguagem daquele que Se entregava a Deus, à cruz e à morte�

Não pode haver dúvida de que enquanto Hebreus 9:14 conduz o leitor ao Calvário, o ministério daquele mesmo Espírito está em evi-dência na submissão do Senhor Jesus no jardim de Getsêmani� Foi em comunhão inquebrável com o Espírito que o Salvador viveu Sua vida e exerceu Seus variados ministérios — será que o Espírito O deixaria sozinho agora, quando Ele enfrentaria a morte pela manhã?

Eles O prenderam de forma cruel tarde da noite daquele dia, vindo com lanternas, tochas e armas� Eles O amarraram, e conduziram-nO de volta, pelo vale de Cedrom, ao palácio do Sumo Sacerdote� Na injustiça de um julgamento noturno, sem defesa, Jesus suportou o escárnio e as cusparadas até que, cedo pela manhã, eles O entregaram aos romanos� Ali a zombaria e a dor física continuaram, com uma coroa de espinhos, o manto de púrpura, os açoites e, finalmente, a cruz posta sobre Suas costas ensanguentadas� Ele não ofereceu resistência� Ele Se entregou no jardim, sabendo muito bem de tudo que estava pela frente� Como dizem, de maneira tão bela, as seguintes palavras:

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O juramento estava sobre Ti —Vieste para Te entregar à morte,E consagração caracterizou o Teu caminho E falou em cada palavra.*

McLeod Wylie

Sentenciado à morte, eles O levaram ao Gólgota onde, pregado pe-las mãos e pelos pés sobre a cruz, Ele se tornou uma verdadeira oferta pelo pecado� Mas agora, “o Senhor [ Jeová] fez cair sobre Ele a iniqui-dade de nós todos” (Is 53:6)� “Pelo Espírito eterno Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus” (Hb 9:14)� Foi pelo mesmo Espírito Santo, que havia efetuado a Sua concepção milagrosa no ventre da virgem, e que havia estado com Ele durante todos os anos da Sua vida e de Seu ministério, que agora Ele foi levado aos sofrimentos indescritíveis como Aquele que levou sobre Si o pecado� Mas esse não é o fim!

O Espírito Santo na ressurreição de CristoO tão bem-conhecido e precioso versículo de I Pedro 3:18, nos fala

do nosso Senhor sendo “mortificado, na verdade, na carne, mas vivifica-do pelo Espírito”, e aqui, novamente, surge o mesmo problema quanto à interpretação de “espírito” como em Hebreus 9:14� Trata-se do Espírito Santo ou do espírito pessoal do Senhor Jesus? Os expositores nova-mente estão divididos, e Spurgeon diz de forma interessante, mesmo se um tanto abrupta: “Ninguém entende essa passagem, embora alguns acham que a entendem”� Mas não foi por aquele Espírito de Santidade, o Espírito Santo, que pelo poder da ressurreição Ele foi declarado ser o Filho de Deus? (Rm 1:4) Paulo fala do “Espírito dAquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus” (Rm 8:11), e embora isso não liga o Espírito Santo diretamente à ressurreição pessoal do nosso Senhor, podemos certamente concluir isto�

O Espírito Santo e a exaltação e glorificação de Cristo

No último dia da grande Festa dos Tabernáculos o Senhor Jesus prometera rios de água viva para aqueles que cressem nEle ( Jo 7: 37-

* Tradução livre. O original diz: “The vow was on Thee — Thou didst come/To yield Thyself to death./And consecration marked Thy path/And spoke in every breath.”

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Cap. 6 — O Espírito Santo na vida de Cristo 107

39)� O v� 39 é um parêntesis, explicando que Jesus estava falando do Espírito Santo que ainda não havia sido dado� Sua vinda dependia da glorificação do Salvador� O Espírito Santo era outro Consolador, que viria habitar com eles depois da partida de Jesus, mas como o Espírito seria uma dádiva do Cristo ressurrecto, Sua vinda precisava esperar até que Cristo tivesse de fato ressurgido dentre os mortos, ascendido e sido glorificado�

Os santos e os profetas da antiguidade certamente provaram algo do poder do Espírito vindo sobre eles, mas eles não O conheciam como um Companheiro permanente� Isso só aconteceria numa nova dispensação, que aguardava a ascensão do nosso Senhor à glória� É por isso que Ele disse: “… vos convém que Eu vá; porque, se Eu não for o Consolador não virá a vós; mas quando Eu for, vo-lO enviarei” ( Jo 16:7)� Outra vez Ele disse: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim” ( Jo 15:26)� Isso em breve realmente se cumpriu, e Pedro podia pregar dizendo: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vede e ouvis” (At 2:33)� Uma nova era havia começado! Mas este é o tema de Atos dos Apóstolos�

Lembrando que tudo isso que temos considerado tem a ver com a santa comunhão entre duas Pessoas divinas, não é surpreendente que tanta coisa fica além do alcance da compreensão de meros mortais� Às vezes temos somente que nos maravilhar e adorar, pois não é possível compreender� Mas, isso não demonstra a grandeza do Eterno? Três Pes-soas numa Divindade inefável, todas interessadas nas vidas e no bem--estar dos fracos homens� Bem pode o apóstolo escrever: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós” (II Co 13:14)� Pai, Filho e o Espírito da graça estão juntamente envolvidos na bênção daqueles que amam ao Salvador�

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo

por Thomas H. Matthews, Brasil

Todos que conhecem bem os quatro Evangelhos sabem que o Evangelho de João dá muito destaque ao Espírito Santo nos ensina-mentos de Cristo� A preciosa revelação da vinda do “Consolador” logo vem à mente� É a este Evangelho, na medida em que ele desenvolve este assunto, que dirigimos a atenção dos leitores deste capítulo�

João 1:32-33

Embora nenhum ensino tenha sido dado pelo Senhor Jesus na oca-sião do Seu batismo, parece oportuno considerar aquela ocorrência ma-ravilhosa e profundamente significante� O escritor não menciona o ba-tismo do Senhor, mas fala da descida do Espírito Santo naquela ocasião� O testemunho de João Batista foi: “Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre Ele”� As palavras “e repousar sobre Ele” não se encontram nas passagens correspondentes nos Evangelhos Sinópticos� Assim como a pomba retornou à arca com a folha de oliveira “arranca-da” no bico, anunciando uma nova era a Noé (Gn 8:11), também aquela pomba que repousou, e era realmente o Espírito Santo, anunciava uma nova era que seria iniciada pelo Senhor Jesus� Ele haveria de batizar com o Espírito Santo (v� 33)� João, e muitos outros desde então, tem realizado batismos na água, mas batizar no Espírito Santo é algo que somente uma Pessoa Divina pode fazer� Assim, muito apropriadamente, João “deu testemunho” de que Este era o Filho de Deus� Essa nova era se iniciou quando, em Atos 2, “cumpriu-se o dia de Pentecostes”� Esta é a era maravilhosa do “um corpo” no qual todos os cristãos, desde o dia de Pentecostes, são batizados� Isto significa não somente uma ligação unificadora com todos os outros cristãos, mas também uma união in-dissolúvel com o próprio Cabeça do corpo�

John F� Walvoord afirma:Danaturezadapomba,quandousadacomoumafiguradoEspí-rito Santo, podemos deduzir que pelo menos quatro aspectos do EspíritoSantoestãoemevidência:1)beleza;2)mansidão;3)paz;

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo 109

4) natureza e origem celestial. A pomba, pelas suas características gerais,éumtipoapropriadodoEspíritoSanto*.

Visto que todas essas características foram encontradas com perfei-ção no Senhor Jesus, certamente foi com evidente prazer que o Espírito Divino “repousou” sobre o Filho de Deus!

No dia seguinte, João “estava outra vez ali”, mas Jesus “passava” (vs� 35-36)� O ministério de João estava chegando ao seu fim, mas o do Senhor tinha que ir mais adiante� João O descreve como “o Cordeiro de Deus” (v� 36)� O caráter de pomba do Espírito combina tão bem com o caráter de cordeiro do Senhor� O caráter de pomba sugere a sensi-bilidade do Espírito, e o caráter de cordeiro do Senhor sugere a Sua submissão� Mas a referência ao Senhor Jesus como o Cordeiro de Deus tem mais do que submissão em vista� Ela nos faz pensar na Sua morte e de livramento do pecado�

João 3:5, 8

O “mestre de Israel” foi levemente censurado pelo Senhor pela sua falta de conhecimento sobre o novo nascimento� Alguém na sua posição deveria ter tido algum conhecimento do assunto, pela sua leitura de passagens como Ezequiel 36:25-27� Como resultado da conversa da-quela noite milhares de pessoas, iletradas e acadêmicas, têm descoberto a necessidade e o significado do novo nascimento� O Senhor explicou que é um nascimento da “água e do Espírito”� Ser nascido da água cor-responde ao termo “aquele que está lavado” ( Jo 13:10) e também ao co-mentário adicional “estais limpos”� É uma referência à purificação que é uma parte essencial do novo nascimento� De fato os dois pensamentos, ser nascido da água e do Espírito, bem podem ser relacionados com a “lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3: 5)�

Nas bem-conhecidas palavras do v� 8, o Senhor apresenta o vento como uma parábola do Espírito e Sua atividade� No grego, a mesma pa-lavra é usada para “espírito” e “vento”� Os homens não podem controlar o vento; “ele sopra onde quer”� Assim o novo nascimento produzido pelo Espírito está além do poder humano de efetuar e compreender� O vento é invisível, ainda que seus efeitos estejam longe de serem invisí-veis� Assim o nascimento do Espírito não pode ser visto no momento em que acontece, mas sem dúvida seus efeitos, em termos de uma nova

* WALVOORD,JohnF.The Holy Spirit.GrandRapids,MI:Zondervan,1958,pág.19.

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110 O Espírito da Glória

vida, são manifestos aos olhos de todos�

João 3: 34

Neste versículo temos a afirmação: “… não [Lhe] dá Deus o Es-pírito por medida”� É verdade que a palavra “lhe” não consta do texto original, mas a referência ao Senhor Jesus é clara� Deus enviou muitos profetas ao Seu povo� Eles provaram a medida necessária do Espíri-to� Mas o Espírito repousou no Senhor Jesus numa medida plena� “O testemunho de Jesus é a perfeita verdade de Deus� Ele é o mensageiro perfeito de Deus e entrega a mensagem de Deus de forma perfeita”�* Essa passagem triunfante leva o assunto mais adiante, dizendo: “O Pai ama o Filho, e todas as coisas entregou nas Suas mãos” (v� 35)� Ele é o Emissário perfeito de Deus� Felizes aqueles que recebem o Seu teste-munho (v� 33), pois deles é a vida eterna (v� 36)�

João 4:13-14; 7:37-39

É evidente que várias passagens do Evangelho de João têm um sig-nificado relacionado com o futuro� As duas passagens que vamos con-siderar agora são exemplos disso� Dirigindo-Se à mulher samaritana, o Senhor disse: “… mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca terá sede, porque a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte d’água que salte para a vida eterna”� Parece que palavras semelhantes a estas, encontradas em 7:38-39, são aplicáveis a esta afirmação, isto é, a expli-cação: “E isto disse Ele do Espírito que haviam de receber os que Nele cressem…”� A “fonte de água que salte para a vida eterna” certamente é o resultado de ser nascido do Espírito� A habitação do Espírito na alma renascida é uma fonte infalível de satisfação� O encanto da vida eterna é o prazer da vida futura conhecida e desfrutada nesta vida� A passa-gem do cap� 7 não somente indica a satisfação pessoal interior, mas que esta fonte alcança também a outros� Talvez podemos ver um exemplo do correr de “rios de água viva” numa alma recém nascida na exclama-ção da mulher samaritana: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura não é este o Cristo?” (v� 29)� O prazer presente nas “fontes de águas” é apenas uma antecipação daquilo que é apresentado em Apocalipse 22:1: “E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordei-

* BRUCE,E.F.The Gospel and Epistles of John.GrandRapids,MI:Wm.B.EerdmansPublishingCo.,1983,pág.97.

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo 111

ro”� Ninguém aqui na Terra pode formar uma concepção adequada das alegrias indescritíveis da vida eterna, como indicadas nestas palavras� J� N� Darby (1800-1882) procurou compreender esta verdade ao escrever:

Cordeiro e Deus, no Céu!Conheço a fonte aliDe gozo e paz sem descriçãoQue eu sei ser minha em Ti.Mas quem pode o fulgorDa viva luz contar,Onde Deus vive, e o resplendorDo Cordeiro apreciar?Deus e o Cordeiro irãoA luz e o Templo serE as hostes gloriosas vãoSua glória compartilhar!*

Deus é, verdadeiramente, o Deus de refrigério e a fonte de verda-deira satisfação� Chegando às últimas páginas da Bíblia, podemos voltar às primeiras, e ali encontramos um rio sempre se estendendo, enrique-cendo o solo que produziu os frutos sadios do Jardim do Éden� Mais tarde, no Salmo 46, em relação à Jerusalém terrestre, lemos: “Há um rio cujas correntes alegram a cidade de Deus” (v� 4)� Parece claro que essa é uma referência ao próprio Deus em toda a Sua plenitude: “Deus está no meio dela: não se abalará� Deus a ajudará, já ao romper da manhã” (v� 5)�

Em relação à Jerusalém dos dias Milenares diz Isaías 33:21: “Mas ali o glorioso Senhor será para nós um lugar de rios e correntes largas”� O quadro consistente apresentado em Apocalipse 22, Salmo 46 e Isaías 33 forma um grande contraste com a Jerusalém dos dias do Senhor, com suas “festas dos judeus”, tão vazias de conteúdo espiritual ( Jo 7:2)� Para aqueles que sentiam a aridez e a esterilidade da religião destituída do poder de Deus, o bendito Senhor estendeu a oferta de “rios de água viva”, cuja plena experiência viria com a dádiva do Espírito Santo�

* Tradução e adaptação do hino original de J. N. Darby: “God and the Lamb! ‘Tis well/ I know that source divine/Of joy and peace no tongue can tell/Yet know that all is mine.//But who that glorious blaze/Of living light shall tell;/Where all His brightness God displays,/And the Lamb’s glories dwell?//God and the Lamb shall there/The light and Temple be,/And radiant host for ever share/The unveiled mystery”.

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112 O Espírito da Glória

João 6:63

Neste versículo o Senhor Jesus diz: “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos disse são espírito e vida”�

O alimentar dos cinco mil (vs� 5-13) forma o pano de fundo da conversa que o Senhor Jesus teve, mais tarde, com os judeus e alguns discípulos professos em Cafarnaum� Ele Se apresenta como o “verda-deiro Pão do céu” (v� 32)� Assim Ele é visto como o verdadeiro maná� Os judeus murmuravam por causa da Sua reivindicação de ser o verda-deiro pão que desceu do Céu, palavras que claramente indicavam a Sua encarnação (v� 41)� Mais adiante, no v� 51, o Senhor fala da Sua morte, descrevendo-a como a entrega da Sua carne pela vida do mundo� Isso é explicado em mais detalhe no v� 53, onde Ele faz a seguinte impressio-nante afirmação: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”� Comer a Sua carne e beber o Seu sangue é uma forma mais expressiva de falar sobre confiança nEle� Isso se torna claro ao compararmos o v� 47 (“Aquele que crê em Mim tem a vida eterna”) com o v� 54� Ambos conduzem à mesma coisa� A aceitação plena do Senhor Jesus como Salvador inclui a aceitação da Sua morte como a grande base da salvação�

Assim como eles contestaram a referência à Sua encarnação, tam-bém consideraram a referência à Sua morte um “duro discurso” (v� 60)� O Senhor responde falando da Sua ascensão vindoura ao Céu (v� 62)� A pergunta quase pressupõe a rejeição deles disso também� Em seguida Ele diz: “O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita …” Só podemos oferecer uma sugestão quanto à importância dessas palavras no contexto� Seu raciocínio carnal os manteria nas trevas da incredu-lidade para sempre� Somente ao responderem aos apelos do Espírito poderiam eles ser levados a entender o significado espiritual das Suas palavras, e assim, pela fé nEle, nascerem do Espírito�

Ensino sobre o Consolador, dado no Cenáculo

João 14:16-17

Em relação ao ministério no cenáculo, o já falecido William Trew (1902-1971) fez a seguinte afirmação: “Os caps� 13-16 contém as pa-

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo 113

lavras do Filho de Deus transbordantes de amor para os Seus — um legado espiritual de riqueza eterna do qual podemos sacar e desfrutar tão plenamente quanto quisermos� Nunca seremos capazes de esgotar o suprimento diário”� Uma análise cuidadosa dos capítulos servirá apenas para confirmar estas palavras�

As questões levantadas pelos discípulos, na primeira parte do cap� 14, revelam quão inadequadamente eles haviam compreendido a reve-lação do Pai no Filho, e quão nebulosa era a visão deles da Sua morte, ressurreição e ascensão ao Pai� Como então iriam eles sobreviver na Sua ausência? A resposta é a promessa do Consolador� Ele é descrito como “outro Consolador”� Eles já tinham um� Aquele que havia de vir seria igual àquele que já conheciam� Ele ficaria com eles “para sempre”� Essa era uma revelação de uma verdade de tremenda importância para esses homens� Alguém igual Àquele que já era conhecido havia de vir, e viria para ficar! Assim, ao invés de serem prejudicados pela “ida” do Senhor Jesus, eles teriam a vantagem de um segundo Consolador�

A dimensão adicional é importante: “estará em vós”� O que significa ser habitado pelo Espírito Santo? Romanos 5:5 explica: “O amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”� O comentário Jamieson, Fausset e Brown diz o seguinte sobre esse versículo:

Ecomopodeessaesperançadeglória,quecomocristãosestima-mos,nosdeixarenvergonhadosquandosentimosopróprioDeus,peloSeuEspíritoquenosfoidado,inundarosnossoscoraçõescom as sensações doces e confortantes do Seu maravilhoso amor para conosco em Cristo Jesus?*

I Coríntios 2:12 afirma: “Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos co-nhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus”� Ler versículos como esses nos fazem lembrar as palavras do Senhor Jesus em João 7:38: “… rios de água viva correrão do seu ventre”� Que abundância de bênção e poder para servir estava contida na promessa de que o Consolador estaria “neles”!

Devemos notar que o Senhor descreve o Consolador como “o Es-pírito de verdade”� O que está envolvido nisso ficará mais claro no cap� 16:13-15� A ocorrência de três referências ao “Espírito de verdade”

* Jamieson, Fausset and Brown. One Volume Commentary.Edinburgh:Oliphants,Ltd.,1964,pág.1149.

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114 O Espírito da Glória

(14:17, 15:26, 16:13), junto com a referência à “Tua verdade”, deixa bem claro a importância, aos olhos do Senhor, da verdade para a manutenção do testemunho na Sua ausência� Todos os variados aspectos do ensino se juntam para formar “a verdade”� O Senhor não fala de “verdades”, mas de “a verdade”� Feliz o filho de Deus que tem encontrado o seu lar espiritual onde a verdade ensinada pode ser confrontada com toda a Escritura� Usando a linguagem de II Pedro 1:3, podemos dizer que para tal pessoa foi concedido “tudo o que diz respeito à vida e piedade”�

É importante observar a palavra “e” no começo do v� 16, e notar o versículo anterior: “Se me amais, guardai os Meus mandamentos”� Depois disso o Senhor diz: “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre”� A sugestão parece ser que corações amorosos e obedientes serão um lar apropriado para o Espírito de verdade� E é assim ainda hoje�

O comentário do Senhor: “… que o mundo não pode receber, por-que não O vê nem O conhece”, deixa claro que a presença do Espírito Santo irá salientar a separação deles do mundo� O mundo não O pode receber� A atitude do mundo para com o Espírito Santo e Suas manifes-tações é vista com clareza no dia de Pentecostes em Atos 2� Na melhor das hipóteses o mundo fica confuso e exclama: “Que quer isto dizer?” (v� 12)� E na pior, ele escarnece e diz: “Estão cheios de mosto” (v� 13)�

João 14:26

Tendo apresentado o assunto ao falar de “outro Consolador” (v� 16), o Senhor continua o Seu ensino mantendo este título diante dos discí-pulos� Veja 14:26, 15:26, 16:7� Somente no ministério dado no Cenácu-lo é que o Espírito Santo de Deus é assim chamado� É de conhecimento geral que a palavra “advogado” em I João 2:1 é uma tradução desta mes-ma palavra grega, e se refere ao Senhor Jesus Cristo� Como esta palavra preciosa deve ter-se gravado na memória dos onze, durante cada fase do seu ministério, até o final da jornada! Para eles sempre estaria associada com aquela noite de lembranças comoventes! Eles teriam entendido o significado da palavra: alguém que está ao seu lado para ajudar, de fato alguém que está sempre com você e que nunca lhe deixará�

Ao considerar as referências ao “Consolador” há muito que apren-der quanto à perfeita harmonia da Trindade� Em João 14:16 o Filho “rogará ao Pai”, como alguém em posição de igualdade com Ele� Não há dúvida quanto ao resultado do pedido: “Ele vos dará …” Também

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo 115

não há nenhuma dúvida quanto ao resultado da missão do Espírito� A execução perfeita da Sua tarefa não pode ser questionada� Agora o v� 26 diz que o Pai há de enviar o Espírito Santo em nome do Filho� A Trindade age em perfeita harmonia para a manutenção do testemunho�

O Espírito Santo será o Divino Mestre e realizará um milagre na memória dos discípulos, trazendo à lembrança deles “tudo quanto vos tenho dito”� Esta certamente é a base para os quatro Evangelhos� Ma-teus estava presente nessa ocasião, João também� Somos informados de que João escreveu o seu Evangelho muitos anos mais tarde� Se olhar-mos numa Bíblia que tem as palavras do Senhor escritas em vermelho, veremos quão plenamente a promessa do v� 26 foi cumprida� Fontes confiáveis dizem que Pedro foi o informante por trás do Evangelho de Marcos� Ele foi outro para quem a promessa foi feita, garantindo assim a precisão da pesquisa de Marcos� Sem dúvida os apóstolos estavam entre aqueles que “presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra” (Lc 1:2), dando a Lucas informações minuciosas de tudo “desde o princípio”� Os quatro Evangelhos apresentam um registro di-vinamente inspirado dos feitos e das palavras do Senhor, junto com acontecimentos associados� Temos, portanto, diante de nós, no minis-tério do Cenáculo, ensino claro quanto à importância destes preciosos relatos da vida, morte e ressurreição do Senhor� Se os retirarmos da Bí-blia, ela deixa de fazer sentido, pois são o próprio coração das Escrituras� Não é de se admirar que o ataque a eles continue até o século XXI� É de suma importância estudar, continuamente, esses quatro grandes pilares da verdade Divina�

João 15:26

O contexto desse versículo é um de ódio e perseguição� No v� 18 o Senhor tinha dito: “Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós me odiou a Mim”� As Escrituras se cumpriram: “Odiaram-Me sem causa” (v� 25)� Logo os discípulos seriam submetidos ao ódio que o Senhor provou� Ele seria crucificado como um malfeitor ( Jo 18:30)� Como poderia ser essa acusação refutada e o nome do Senhor limpo para que Ele pudesse ser proclamado como o único Salvador dos ho-mens? Eis a resposta: “Quando vier o Consolador, que Eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, Ele testificará de Mim� E vós também testificareis …” Atos 5:32 apre-senta um cumprimento desta promessa� Com acusações tais como as

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116 O Espírito da Glória

que os judeus fabricaram contra o Senhor Jesus, os membros do Con-selho achavam que tinham todo o direito de obrigar os discípulos a não ensinarem “nesse nome” (At 5:28)� Mas a posição deles estava enfraque-cendo diante do poder do Espírito de Deus nas curas maravilhosas (At 5:15-16), na libertação milagrosa da prisão (At 5:22-23), e ainda mais na defesa poderosa de Pedro, cujo testemunho da exaltação de Jesus à destra de Deus foi irresistível� Por que foi irresistível? Pedro explica: “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que Lhe obedecem” (At 5:32)�

João 16: 7-15

O leitor desses versículos tem diante de si uma passagem de pro-funda importância e de verdade preciosíssima� Os discípulos bem pode-riam ter questionado em suas mentes como que poderia ser proveitoso a eles que o Senhor fosse embora� Mas a Sua ida era um passo essencial no avanço do grande programa de salvação de Deus� Eles precisavam vê-la como oportuna� A mensagem do Evangelho logo soaria na cidade de Jerusalém com resultados extraordinários� Para isso era necessário que o Espírito viesse, e para que Ele viesse, o Senhor Jesus precisava morrer, ressuscitar e ser assunto aos Céus�

Tendo vindo, o Espírito convenceria o mundo do pecado, “porque não creem em Mim”� Parece que a referência ao “mundo” tem em vista, em primeiro lugar, a nação de Israel� Toda a sua simulação de fé em Deus foi provada falsa na sua rejeição daquele que o Pai enviou� O po-der do Espírito para convencer do pecado teve uma manifestação, logo no cap� 3 de Atos, quando a acusação do triste pecado de incredulidade no Cristo foi lançada contra a nação, nas palavras de Pedro: “Mas vós negastes o Santo e o Justo, e pedistes que se vos desse um homem ho-micida� E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou den-tre os mortos, do que nós somos testemunhas” (At 3:14-15)� Observe os resultados positivos do poder do Espírito para convencer, em Atos 4:4: “Muitos, porém, dos que ouviram a palavra, creram”� Sem dúvida o Espírito continua a Sua obra no mundo, convencendo os homens de pecado, e especialmente do pecado de incredulidade� A incredulidade estava por trás do pecado de Adão no Jardim� Isso explica a rejeição de Deus, tão comum entre os homens hoje em dia� Concluindo, podemos dizer que a rejeição do Senhor Jesus pela nação dos judeus sintetiza a antiga rebelião contra Deus no coração humano�

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo 117

O Consolador também convencerá “do juízo, porque vou para Meu Pai e não Me vereis mais”� Ele foi crucificado como um crimino-so comum� Esse veredito não pode permanecer! Deus o reverteu pela ressurreição e ascensão do Senhor Jesus� Os Salmos 16 e 110 foram cumpridos� Os surpreendentes acontecimentos do Dia de Pentecostes confirmam o cumprimento das Escrituras, não somente em relação à ressurreição do Senhor Jesus Cristo, mas também em relação à vinda do Espírito� A prova é conclusiva� Deus não ressuscitou um criminoso comum, mas o Seu “Santo”, agora Se regozijando na alegria de estar diante do Pai, e estar exaltado à Sua destra� O Senhor Jesus é o abso-lutamente Justo, e como tal, é digno de ser universalmente aclamado como o Salvador dos homens� “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o Justo pelos injustos, para levar-nos a Deus” (I Pe 3:18)� A leitura cuidadosa dos capítulos iniciais de Atos impressiona o leitor com a excelência da obra de convencimento do Espírito� E como Ele ainda está aqui, que encorajamento há nestes capítulos para aqueles que estão empenhados na propagação do Evangelho�

Falta ainda o terceiro aspecto da obra do Espírito: “… do juízo, porque já o príncipe desse mundo está julgado”� Dois grandes fatos (en-tre outros) foram estabelecidos na morte e ressurreição de Cristo: 1) o ataque virulento de Satanás contra o Filho de Deus foi rechaçado no triunfo da ressurreição; 2) sua alegação, vista pela primeira vez no Jardim do Éden, de que Deus era contra o homem, foi exposta como mentirosa na morte de Cristo por pobres pecadores�

Orebeldemaisviolentopodeserperdoadoereconciliado;opecadormaisimundopodeserjustificadoepurificado,etudogratuitamente e sem preço, pela graça de Deus. Ninguém precisa perecer.Sealgunsperecerem,nemmesmoopróprioSatanáspoderá argumentar que foi culpa de Deus. A mentira secular de Satanás foi revelada ser o que verdadeiramente é.*

Em Ester 6:13 a mulher de Hamã disse ao seu marido em relação a Mardoqueu: “Se Mardoqueu, diante de quem já começaste a cair, é da descendência dos judeus, não prevalecerás contra ele, antes certamente cairás diante dele”� Assim também, diante do Senhor Jesus, o “Prínci-pe deste Mundo” começou a cair, e “certamente cairá diante Ele” (Ap 20:10)�

* GOODING,David. In the School of Christ. PortColborne:Gospel Folio Press,1995,págs.204-205.

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118 O Espírito da Glória

Na seção seguinte temos uma explicação maravilhosa sobre a fonte e transmissão da verdade� O Espírito de Verdade guiará a toda a ver-dade� Isso Ele recebe do Filho, porque “há de receber o que é Meu e vo-lo há de anunciar” (v� 15)� Mas o Filho é o possuidor de “tudo o que o Pai tem”� Quem pode compreender a riqueza infinita desse “tudo”? É a plenitude da verdade e a perfeição de transmissão!

Se mais cedo, em 14:25-26, foi dada a promessa que é a base dos quatro Evangelhos, aqui, em 16:13-15, há uma promessa que foi em grande parte cumprida com os apóstolos, e especialmente através do ministério singular do apóstolo Paulo� Observando que, no v� 13, o Se-nhor acrescenta “e vos anunciará o que há de vir”, o cumprimento desta parte claramente aponta para as grandes partes proféticas do Novo Tes-tamento, especialmente o Livro de Apocalipse�

É evidente então que a verdade a ser revelada é a que encontramos no Novo Testamento, e que a promessa de João 16:13 é dada ao grupo apostólico e seus associados, isto é, Paulo, Tiago (o escritor da epístola) e Judas� Assim, no Novo Testamento toda a verdade foi comunicada� Outras supostas revelações de verdade são falsas�

Se alguém perguntar onde se encaixam na promessa os cristãos do século XXI, a resposta é tanto simples como preciosa� O grande depó-sito de toda a verdade dado aos apóstolos e seus associados foi “uma vez para sempre confiada aos santos” ( Jd 3, VB)� Assim os santos da era presente podem se deleitar nas profundezas tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus, como vistos no grande plano de salvação em Romanos� Eles podem se deleitar num Deus para Quem haverá “glória na igreja por Jesus Cristo em todas as gerações para todo o sempre”, enquanto ponderam nas “riquezas incompreensíveis de Cristo” em Efé-sios� Enriquecimento espiritual aguarda todos na medida em que “todos os tesouros da sabedoria e da ciência” forem descobertos em Cristo (Cl 2:2-3)� Para resumir, toda a riqueza da verdade Divina está diante de cada cristão enquanto ele medita no Novo Testamento�

João 20:22

A referência final ao Espírito Santo no Evangelho de João se en-contra naquela ocasião em que o Senhor ressuscitado apareceu aos Seus discípulos no Cenáculo, e soprou sobre eles dizendo: “Recebei o Espí-rito Santo”�

Naquele primeiro dia da semana, o ambiente entre os onze era de

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Cap. 7 — O Espírito Santo nos ensinamentos de Cristo 119

temor e apreensão� Subitamente, estando as portas fechadas, “chegou Jesus e pôs-Se no meio”� Dá para imaginar a surpresa deles, porém Ele não apenas falou de paz, mas ao fazê-lo, trouxe paz àquele grupo� Pelo sinal dos cravos e por Seu lado ferido, Ele estabeleceu Sua identidade: os outros que foram crucificados tinham o sinal dos cravos, mas somen-te Ele tinha o lado ferido� O temor se foi, dando lugar ao gozo: “… de sorte que os discípulos se alegraram, vendo o Senhor”� Logo a paz foi novamente manifestada e a bem conhecida voz declarou: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”� Essas eram palavras fa-miliares� Veja João 15:16 e especialmente João 17:18� Sua ação de soprar sobre eles dizendo: “Recebei o Espírito Santo” apresenta dificuldades que o presente escritor não é capaz de resolver� O Comentário Jamieson Fausset e Brown traz uma breve nota que vale a pena considerar: “… um penhor e primícias da efusão mais abundante do Pentecostes”�*

Não deve haver hesitação em definir o sentido das palavras que se-guem: “Aqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados; e aque-les a quem os retiverdes lhes serão retidos”� Não se trata do poder de perdoar pecados� Até mesmo os escribas e fariseus sabiam que somente Deus pode perdoar pecados (Lc 5:21)� Diz F� F Bruce:

[…] as duas formas passivas: “serão perdoados” e “serão retidos” indicamaçãodivina;atarefadopregadorédeclaratória,maséDeus que, com efeito, perdoa ou retém. Aos servos de Cristo não é dada nenhuma autoridade independente da Sua, nem é dada a eles qualquer garantia de infalibilidade. †

O ensino do Senhor relacionado ao Espírito Santo, no Evange-lho de João, pode ser divido em duas partes� Primeiro, há o ensino na primeira parte do Evangelho, dado durante os vários estágios do mi-nistério público do Senhor, que termina no capítulo 12� Então começa o ensino do cenáculo, que é dado em particular aos “Onze”� As refe-rências na primeira parte são: 3:5, 8; 6:63 e 7:37-39� As primeiras três enfatizam que o novo nascimento é uma obra do Espírito de Deus� As palavras de 7:38 levam o assunto além e mostram que a obra realizada pelo Espírito resulta em “amor, vida e gozo permanente”� Num Evan-gelho escrito para que os leitores possam crer (20:31), esse ensino tem

* Jamieson, Fausset and Brown. One Volume Commentary.Edinburgh:Oliphants,Ltd.,1964,pág.1077.

† BRUCE,F.F.The Gospels & Epistles of John.GrandRapids,MI:Wm.B.EerdmansPublishingCo.,1983,pág.392.

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120 O Espírito da Glória

um papel fundamental�Há uma plenitude no ensino dado no cenáculo que não é encon-

trada nas referências iniciais� Isso é o que se espera, visto que foram os discípulos nascidos do Espírito que receberam este ensino� O ensino inicial de que o novo nascimento vem através do Espírito é a base para o que segue� O Espírito Santo virá para ficar e habitar naqueles que dEle são nascidos� Ele será a fonte do seu poder para testemunhar e os guiará em toda a verdade� Ao se aproximar da sua conclusão, o ensino apresen-ta a promessa de um futuro que conduz à glória eterna, pois o Espírito lhes mostrará “o que há de vir”� O Evangelho de João pode ter poucas referências proféticas, mas quanto está contido na promessa do Senhor acerca de Si mesmo: “Virei outra vez, e vos levarei para Mim mesmo” (14:3), e na Sua promessa acerca do Espírito: “E vos anunciará o que há de vir” (16:13)� Que vislumbres de glória brilham sobre o caminho, emanando dessas duas “grandíssimas e preciosas promessas”!

Nenhum cristão estudioso pode meditar no ensino do Senhor acerca do Espírito Santo, encontrado no Evangelho de João, sem ser encorajado e incentivado em todas as esferas da sua vida cristã� Quer seja na manutenção do testemunho em geral, ou mais especificamente, na divulgação do Evangelho e no estudo e prática da verdade divina, a presença e o auxílio constante do Espírito são garantidos enquanto os santos da era presente estiveram aqui no mundo�

Como o orvalho que cai sobre o Hermon E refresca as planícies abaixoA santa unção do EspíritoSobre nós flui, Senhor, de Ti.Então quão bom e agradável é,Como um, viver em amor, Esquecendo de tudo do presenteNa esperança de alegrias no Céu.*

Mary Peters (1813-1856).

* Tradução livre. O original diz: “As dews that fall on Hermon,/Refresh the plains below/The Spirit’s holy unction/Through Thee to us doth flow./Ah, then, how good and pleasant,/As one, to live in love,/Forgetting all things present/In hope of joys above.”

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atospor B. Currie, Irlanda do Norte

Como a presente publicação indica, referências ao Espírito Santo são encontradas através de toda a Bíblia� Embora o cap� três tenha tra-tado da “Apresentação do Espírito Santo”, e destacado muitos dos Seus títulos, talvez seja bom mencionar que há somente três referências ao “Espírito Santo” no Velho Testamento� Estas são: “Não me lances fora da Tua presença, e não retires de mim o Teu Espírito Santo” (Sl 51:11); “Mas eles foram rebeldes, e contristaram o Seu Espírito Santo … onde está o que pôs no meio deles o Seu Espírito Santo” (Is 63:10, 11)� Este é, portanto, um título predominantemente neotestamentário� Entretanto, não podemos negar que a Bíblia está repleta de referências à Pessoa do Espírito Santo� A primeira delas se encontra no segundo versículo da Bíblia: “… e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1:2)� A última referência está bem no seu final: “O Espírito e a esposa dizem: vem” (Ap 22:17)� É difícil afirmar definitivamente o número de referências ao Espírito, já que em alguns casos a interpretação é discu-tível, mas é correto afirmar que há aproximadamente trezentas e vinte referências� Destas, cerca de cinquenta e quatro (mais ou menos um sexto do total) estão no Livro dos Atos� Por isso alguns já sugeriram que o livro bem poderia se chamar “Os Atos do Espírito Santo”� É muito instrutivo listar as ocorrências dessas referências em cada capítulo� Nos caps� 2 e 8 há seis referências em cada, e nos caps� 10 e 11 há cinco em cada� Assim, os caps� 2, 8, 10 e 11 devem ser muito importantes para o assunto aqui estudado� Descobrimos que esses são de fato os capítulos centrais no desenvolvimento da história dos Atos� No cap� 2, o Espí-rito Santo é derramado no dia de Pentecostes e isso incluiu “judeus e prosélitos” (2:10)� No cap� 8, o Evangelho chega a Samaria, e caps� 10 e 11 registram a conversão de Cornélio, um gentio, e seus amigos� Dessa forma esses capítulos apresentam o cumprimento de 1:8: “Ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia, e Samaria, e até aos confins da terra”�

É preciso notar também que o livro de Atos é a ligação entre os Evangelhos e as epístolas� Nos Evangelhos uma Pessoa Divina, o Filho de Deus, veio a este mundo corporalmente, e Sua obra é traçada nestes

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122 O Espírito da Glória

primeiros quatro livros do Novo Testamento� No Livro de Atos outra Pessoa Divina vem à Terra e forma o corpo místico de Cristo, no qual Ele habita, e Sua obra é traçada nos capítulos de Atos�

A obra da salvação é revelada nos Evangelhos, e o Senhor Jesus realizou esta obra sozinho� Em Atos, o Espírito Santo usa homens para realizar a obra pela qual a história da salvação é divulgada por toda a parte� Inicialmente, estes homens eram os apóstolos, mas antes do final do livro, os homens que se destacam são chamados “anciãos” (20:17)� Trata-se, portanto, de um livro de transição da era apostólica à nova era ou dispensação da Igreja, que é chamada “o dia da salvação” (II Co 6:2)� Esse é o motivo pelo qual existem verdades relacionadas à atividade do Espírito Santo naqueles longínquos dias apostólicos que não serão vistas no presente, porque os cristãos da era presente possuem a plena revelação da verdade divina na Bíblia completa� Ensino mais detalhado sobre isso será encontrado no cap� 10 desse volume�

Também é bom notar que não há referências ao Espírito Santo na parte histórica de Atos — veja os caps� 3, 12, 14, 17, 18, 21-27� Quando o relato é narrativo, o Espírito Santo instruiu o autor humano, Lucas, a registrar o trabalho que foi feito, e não a Pessoa que fornecia o poder àqueles que faziam a obra� Isso concorda com o ministério do Espírito Santo: “Mas quando vier aquele Espírito de verdade, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de Si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir” ( Jo 16:13)� Isso não quer dizer que o Espírito Santo não falaria sobre Si mesmo� Muito é ensi-nado na Bíblia sobre o Espírito Santo (e também em livros como este), e Ele foi o divino Instigador de tal ensino� O sentido realmente é que Ele não falará da Sua própria autoridade, como se fosse independente do Pai e do Filho� O Senhor Jesus disse: “Ele Me glorificará, porque há de receber do que é Meu, e vo-lo há de anunciar” ( Jo 16:14)� Assim, o propósito da Sua vinda foi glorificar o Filho� Essa observação destaca o caráter antibíblico daqueles grupos que dão a preeminência ao Espírito� Devemos enfatizar que, no que diz respeito ao Senhor Jesus, o mesmo Espírito Santo guiou Paulo a escrever: “Para que em tudo tenha a pree-minência” (Cl 1:18)�

Tratar de cada referência individualmente exigiria muito mais es-paço do que essa publicação permite, portanto, o assunto será agrupado em vários tópicos�

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 123

O Espírito Santo e a formação do Corpo de CristoA compreensão deste assunto é muito importante, pois é a base para

a compreensão correta do Novo Testamento� A Igreja, como o Corpo de Cristo e o lugar da atual habitação da Divindade, não é vista no Velho Testamento� O Tabernáculo judaico foi construído como um lugar de habitação de Jeová: “Me farão um santuário, e habitarei no meio deles” (Êx 25:8)� Este foi substituído mais tarde por vários templos, desde o de Salomão até o Templo de Herodes, que estava em uso quando o Senhor Jesus esteve aqui na Terra� No programa de Deus relacionado com os homens, o judaísmo e o culto no Templo já se passaram� Isso foi demonstrado, visivelmente, quando o Sumo Sacerdote rasgou as suas vestes (Mt 26:65; Mc 14:63), e quando o véu do Templo se rasgou (Mt 27:51; Mc 15:38; Lc 23:45)� Estes dois acontecimentos demonstraram que esta ordem sacerdotal e este lugar de adoração eram obsoletos� Um novo sacerdócio e uma nova esfera de adoração eram necessários, e am-bos foram cumpridos na Igreja, que é um conceito exclusivamente neo-testamentário�

Este dia de Pentecostes foi profetizado em figura nas festas de Jeová em Levítico 23:15-21, e é chamado “a festas das semanas” em Deute-ronômio 16: 10� Esse é o significado da expressão “cumprindo-se o dia de Pentecostes” (At 2:1)� Aquilo que fora prometido havia finalmente chegado; foi neste dia que o Corpo de Cristo foi formado� Até Atos 2 os discípulos seguiam o Senhor Jesus Cristo como indivíduos, mas nes-ta ocasião eles foram constituídos um corpo que abrange tanto judeus quanto gentios, num organismo vivo que é o Corpo de Cristo� “Há um só corpo” (Ef 4:4)� Não podia haver um corpo na Terra enquanto não houvesse um Cabeça no Céu, e foi isso que o Senhor Se tornou quando foi exaltado à destra de Deus: “… e sobre todas as coisas O constitui como Cabeça da Igreja, que é o Seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos” (Ef 1:22-23)�

O que aconteceu neste dia era também o cumprimento da promessa do Senhor Jesus nos relatos dos Evangelhos: “… Ele vos batizará com o [no] Espírito Santo” (Mt 3:11); “…� Ele, porém vos batizará com o [no] Espírito Santo” (Marcos 1: 8); “… Esse vos batizará com o [no] Espí-rito” (Lc 3:16); “… Esse é O que batiza com o [no] Espírito Santo” ( Jo 1:33)� Estes quatro versículos tratam do assunto profeticamente� Em Atos, ele é tratado historicamente, e em apenas duas ocasiões: “Vós se-

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124 O Espírito da Glória

reis batizados com o [no] Espírito Santo, não muito depois destes dias” (1:5); “… vós sereis batizados com o [no] Espírito Santo” (11:16)� Na última e sétima referência a verdade é apresentada doutrinariamente: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Co 12:13)�

É possível apreciar, pelo uso frequente dos colchetes acima, que não se trata de um batismo “com” ou “pelo” ou “do” Espírito Santo, mas sempre “no” Espírito Santo� Muitos erros têm surgido por causa da ne-gligência desse fato� Três coisas são necessárias em qualquer batismo: a pessoa que vai ser batizada, a pessoa que está fazendo o batismo, e o elemento no qual a pessoa será batizada� Neste batismo do Espírito, a Igreja é que vai ser batizada, o Senhor Jesus é quem faz o batismo (note a linguagem das referências no parágrafo anterior, e em Atos 2:23) e o elemento é o Espírito Santo� Isso anula certas perguntas muito frequen-tes, tais como: “Você já foi batizado com o Espírito Santo?”, ou “Você já recebeu o batismo do Espírito Santo?”� Não existe nas Escrituras nenhum batismo “com”, “pelo” ou “do” Espírito Santo�

Já foi dito anteriormente que a passagem doutrinária deste assunto é I Coríntios 12:12-13� O v� 12 diz: “Porque assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros sendo muitos são um só corpo, assim é Cristo também”� Aqui temos o fato do corpo� O artigo definido ocorre antes da palavra “Cristo” (no original), e assim a leitura correta é “o Cristo”, que é um termo técnico referindo-se a Cristo o Cabeça Ressurrecto do corpo e a Igreja composta dos seus membros� Quando foi que isso se iniciou? O v� 13 responde, e nos fala sobre o a formação do corpo: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”� Este versículo obviamente se divide em duas partes: a primeira é algo que não podemos fazer por nós mesmos, e a segunda é algo que ninguém pode fazer por nós� A primei-ra é batizar, e obviamente não podemos batizar a nós mesmos — assim o “corpo de Cristo” veio a existir em Atos 2 por um ato soberano, que foi histórico e nunca foi repetido� Alguns rejeitam a sugestão de que Atos 2 se refere ao batismo, já que a palavra não é usada� Entretanto, Atos 2:2 afirma que o Espírito “encheu toda a casa em que estavam assentados”� Não há dúvida que isso significa que eles foram submergidos, completa-mente mergulhados no Espírito Santo, portanto foi um verdadeiro ba-tismo� Na segunda parte está o beber, que ninguém pode fazer por nós�

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 125

No momento da nossa conversão exercemos a nossa responsabilidade e, pela fé, absorvemos (bebemos) a verdade da mensagem do Evangelho, e naquele instante nos tornamos participantes do Espírito vivificador de Deus� Aqui, como através de toda a Bíblia, a soberania de Deus e a responsabilidade do homem andam de mãos dadas� Esse beber nada tem a ver com participar da Ceia do Senhor�

É necessário fazer várias observações com relação ao batismo no Espírito Santo�

O batismo no Espírito Santo não é uma experiência individual

Note a linguagem utilizada: “… estavam todos concordemente no mesmo lugar” (At 2:1); “… todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (I Co 12:13)� Ensinar que se trata de uma expe-riência individual nega o fato que o Espírito Santo é uma Pessoa� Para realizar esse batismo o Espírito foi “derramado” (At 2:33; veja também os vs� 17-18)� Isto é confirmado por Paulo: “… o Espírito Santo, que abundantemente Ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salva-dor” (Tt 3:5-6)� É obvio que uma pessoa não pode ser dissecada e dada em partes, e assim é com a Pessoa do Espírito Santo� Não se pode der-ramar uma parte dEle; temos Ele como um todo, ou então não temos nada� Se houvesse uma repetição de Pentecostes toda vez que uma pes-soa aceita o Senhor Jesus como seu Salvador, Ele teria que ser retirado, derramado, retirado e novamente derramado, e assim por diante� Isso é um absurdo� O Senhor Jesus prometeu que o Consolador não seria retirado: “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” ( Jo 14:16)�

O batismo no Espírito Santo não é repetido

Como já foi colocado acima, esse acontecimento é histórico e ser-viu para apresentar esta nova entidade, o corpo de Cristo� Não deve-ria ser um acontecimento habitualmente repetido nesta nova ordem� É semelhante à vinda do Senhor Jesus e à obra consumada na cruz� Foram acontecimentos totalmente e absolutamente completos e nunca repetidos� No momento da sua conversão, o pecador arrependido entra no gozo de tudo que foi realizado� Assim é também com o Pentecos-tes� Não pode haver outro derramamento do Espírito Santo� Isso foi realizado uma única vez, como prometido pelo Senhor Jesus: “Toda-via digo-vos a verdade, que vos convém que Eu vá; porque, se Eu não

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for, o Consolador não virá a vós; mas, quando Eu for, vo-lO enviarei” ( Jo 16:7)� Também, no momento da sua conversão o cristão, na sua experiência pessoal, entra no gozo daquele acontecimento� É verdade que alguns logo citam Atos 10:45: “E os fiéis que eram da circunci-são, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios”� Este acontecimento foi reminiscente de Pentecostes (11:16), mas não era uma repetição� Diz Atos 10:44: “Caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra”� Para que fosse uma repetição do Pentecostes, o aposento teria que ter ficado cheio do Espírito Santo, imergindo todos os presentes, inclusive Pedro e seus companheiros, que teriam sido bati-zados uma segunda vez! A razão da semelhança nos dois acontecimen-tos é explicada por Pedro: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando os seus corações pela fé” (15:8-9)�

O batismo no Espírito Santo não é assunto de oração

Existem aqueles que ensinam que os cristãos devem se esforçar e perseverar até terem a experiência especial que os elevará a um plano espiritual mais elevado do que o do cristão “comum”� Precisamos notar que não há no Novo Testamento nenhuma exortação para que sejamos batizados no Espírito Santo� Este acontecimento está fora do alcance da capacidade humana� Não deve ser buscado através de oração, esfor-ços, nem angústia física ou emocional� O Senhor Jesus ordenou a Seus discípulos “que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai que, (disse Ele) de Mim ouvistes� Porque na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o [no] Espírito Santo, não muito depois destes dias” (At 1:4,5)� Isso já se cumpriu e como não pode ser repetido, não há nenhuma base bíblica para usar essa passagem como autoridade para ter reuniões de oração para pedir o batismo do Espírito Santo�

O batismo no Espírito Santo não é somente para os “superespirituais”

Alguns sugerem que há pelo menos duas classes de cristãos: os “su-perespirituais” e os outros� Estes cristãos “superespirituais” são descritos como aqueles que, depois da salvação, receberam o Espírito Santo, en-

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 127

quanto que os outros, da classe comum, estão ainda lutando para alcan-çar um nível de espiritualidade quando este Dom lhes será concedido� Este ensino cria uma divisão — “os que têm e os que não têm” — entre os cristãos� Neste contexto é importante notar a linguagem de I Corín-tios 12:13: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo”� É importante perceber que este batismo envolveu “todos”� Eram esses “todos” cristãos “superespirituais”? Deixemos Paulo respon-der: “Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, conten-das e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” (I Co 3:3)� A conclusão óbvia é que todos foram batizados em um Espírito formando o corpo de Cristo, e isso não depende de nenhum nível de espiritualidade alcançado depois da salvação�

O batismo no Espírito Santo não é demonstrado por falar em línguas

Outra ideia comum é que quando uma pessoa é batizada no Espí-rito Santo ela irá falar em línguas� Esse raciocínio se origina numa má compreensão de Atos 2, onde as línguas foram usadas para transmi-tir a mensagem a todos que estavam presentes� Foi o contrário do que aconteceu em Gênesis 11 na Torre de Babel, e era numa indicação da universalidade desta nova mensagem, que ultrapassaria as fronteiras do Judaísmo�

Novamente é importante destacar a palavra “todos” em I Corín-tios 12:13� Se todos foram batizados no Espírito Santo, todos falam línguas? É a mesma pergunta que Paulo faz nesse mesmo capítulo: “E a uns Deus pôs na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro doutores, depois milagres, depois dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas� Porventura são todos após-tolos? São todos profetas? São todos doutores? São todos operadores de milagres? Têm todos o dom de curar? Falam todos diversas línguas? Interpretam todos?” (vs� 28-30)� Todas estas sete perguntas têm uma resposta negativa� Logo, não há nenhuma ligação entre o batismo no Espírito Santo e dons espirituais especiais ou espetaculares�

Cristãos cheios do Espírito SantoO batismo no Espírito Santo é algo feito por Deus, inclui todo

cristão, e nunca é repetido; mas diferente disso, estar cheio do Espíri-to Santo é uma experiência que se repete, e é de responsabilidade do

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cristão verificar que esteja numa condição apropriada para estar cheio� No Novo Testamento há 15 referências a estar cheio do Espírito San-to� Três destas são semelhantes ao que acontecia no Velho Testamento, onde as pessoas ficavam cheias do Espírito para um propósito específi-co: João Batista, sua mãe Isabel e seu pai Zacarias� Todas as referências, com exceção de Efésios 5:18, estão nos escritos de Lucas — temos a forma verbal em Atos 2:4; 4:8, 31; 9:17; 13:9, 52; e o adjetivo em Lucas 4:1; Atos 6:3, 5; 7:55; 11:24�

O fato dessa experiência ser uma ordem em Efésios 5:18 prova que ela não se limitava à era apostólica� Em Efésios 5:18 o apóstolo Paulo manda: “enchei-vos do Espírito”, e já que está no tempo presente* não se trata de uma ocasião isolada, mas deve ser a experiência contínua e ininterrupta do cristão� Poderia ser traduzido “continuai estando cheios em Espírito”� A ausência do artigo definido† antes de Espírito indica que toda a nossa plenitude deve ser na esfera do Espírito (note a cons-trução semelhante [no grego] em Efésios 2:22, referente à habitação de Deus; 3:5, referente à revelação de Deus; 6:18, referente às nossas sú-plicas)� Em Efésios 5:18 o contraste é com os ímpios que são continua-mente controlados pelo vinho, enquanto o cristão deve ser controlado na esfera do Espírito Santo, isto é, a ideia é de direção�

É importante apreciar que um cristão nunca é exortado a ser habi-tado, selado com ou batizado em, o Espírito� Estas são questões que não estão sob o nosso controle e pertencem unicamente a Deus� Também, estar cheio do Espírito não é uma experiência única e definitiva que acontece no momento da salvação� É separada da salvação e não pode ser conhecida antes dela� Uma pessoa que está cheia com o Espírito Santo é totalmente e completamente controlada pelo Espírito Santo� Não é que recebemos mais do Espírito, já que somente é possível ter ou não ter uma Pessoa, mas é o Espírito tendo mais de nós; quando não há nenhum compartimento da nossa vida do qual Ele está excluído� A bem-conhecida ilustração de uma garrafa sendo enchida com água e assim esvaziada de ar é apropriada� Somente ao sermos esvaziados de tudo que O impede de ter total controle de todos os setores das nossas

* No texto grego, o verbo usado aqui está no tempo presente, na voz passiva e no modo imperativo — em Português, o modo imperativo é indeterminado no tempo (N.doE.).

† AstraduçõesemPortuguêsincluemoartigodefinido(“doEspírito”),maselenãoexistenogrego(N.doE.).

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 129

vidas é que Ele pode nos encher�Em Atos, há cinco ocasiões destacadas quando homens específicos

foram “cheios” ou “enchidos com” o Espírito�

Pedro para pregar com perspicácia (4:8)

“Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo, e vós anciãos de Israel …”

Nesta história um homem, que nascera coxo e “jazia todos os dias à porta do Templo” mendigando, foi curado por Pedro� Pedro e João não aceitaram nenhum mérito por isso, mas corretamente deram toda a glória ao Senhor� “Homens israelitas, porque vos maravilhais disto? Ou, porque olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem?” (3:12)� “Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou de entre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós” (4:10)� O resultado foi que “muitos, porém, dos que ouviram a palavra creram, e chegou o número desses homens a quase cinco mil” (4:4)� Eles foram trazidos perante os líderes hostis que tentaram intimidá-los� O que deu aos apóstolos o poder de testemunhar em meio a circunstâncias tão terríveis? “Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse …” (4:8)� Não era uma bravata natural� Esse é o mesmo homem que em fraqueza negou o Senhor durante o Seu julgamento na Sala de Audiência� Que diferença vemos agora que ele é controlado pelo Espírito Santo� A lição óbvia para nós é que se vamos pregar Cristo ousadamente e com resul-tados poderosos temos que estar cheios do Espírito Santo� O testemu-nho deles teve um efeito maravilhoso naquele grupo: “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus” (4:13)�

Estêvão para solucionar problemas (6:5)

“… elegeram a Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo …”

Um problema surgiu entre os cristãos� “Ora, naqueles dias, cres-cendo o número dos discípulos, houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas eram desprezadas no ministé-rio cotidiano” (6:1)� A multiplicação levou à murmuração, por causa de

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130 O Espírito da Glória

nacionalidade e um favoritismo percebido na liderança! Que desastre! Quem iria lidar com isso? Hoje em dia alguns sugeririam homens de discernimento em negócios, treinados na gerência de recursos humanos; que são conhecidos por seu tato e capacidade de negociar acordos, mas essas não eram as qualificações� “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio”� Assim “elegeram a Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas, e Nicolau, prosélito de Antioquia” (6:3-5)� O problema foi causado pelos gregos (judeus helenistas, de fala gre-ga) murmurando contra os hebreus� Os homens escolhidos para tratar desse problema eram, a julgar pelos seus nomes, todos gregos� Isso é graça e sabedoria espiritual, já que ajudaria a fechar a boca dos quei-xosos�

Estêvão para perseguição violenta (7:55)

“Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus …”

Estêvão havia sido falsamente acusado: “Então subornaram uns homens, para que dissessem: Ouvimos-lhe proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus … e apresentaram falsas testemunhas, que diziam: Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei” (6:11, 13)� De forma magistral, Estêvão res-pondeu às suas acusações e as virou contra eles: “Vós sempre resistis ao Espírito Santo” (7:51)� Isto os deixou furiosos: “Enfureceram-se em seus corações e rangeram os dentes contra ele” (7:54)� Parece que quase todo o seu ser foi afetado pela loucura da ira: coração, dentes (v� 54); voz, ouvidos, pés (“arremeteram”, v� 57); mãos (“apedrejaram”, v� 58)�

No centro de todo esse pandemônio está uma alma a caminho do céu, e ele está calmo� Por quê? “Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus” (v� 55)� A referência à Santa Trindade — Espírito, Filho e Pai — revela o segredo desta serenidade� Trata-se de um homem “cheio do Es-pírito Santo”, que pode imitar o Seu Senhor em oração e perdão� “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (v� 59); “e pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor não lhes impute este pecado” (v� 60)� Que maneira de morrer! Sua pessoa estava cheia do Espírito Santo, seus olhos cheios de glória, sua boca cheia de Cristo e seu coração cheio de perdão�

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 131

Barnabé para pastorear pessoas (11:24)

“Porque era homem de bem e cheio do Espírito Santo e de fé…”

Uma nova obra começara em Antioquia e os cristãos em Jerusalém queriam saber o que estava acontecendo ali� Eles precisavam de um homem de confiança que trouxesse de volta um relato completo e fiel dos acontecimentos, e por isso “enviaram Barnabé a Antioquia” (11:22)� Quando ele chegou lá, a sua reação foi dupla: alegria e exortação: “… o qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos que permanecessem no Senhor, com propósito de coração” (v� 23)� Que tipo de homem se alegraria em ver o serviço de outro sendo abençoado? Quem buscaria ajudar cristãos tão jovens a progredir para o Senhor? Barnabé era “um homem de bem e cheio de Espírito Santo e de fé” (v� 24)� Aos olhos dos homens ele era um “homem de bem”; esse era o seu caráter; aos olhos de Deus ele era “cheio do Espírito Santo e de fé”; estes eram o seu controle e a sua confiança� Essas qualificações espirituais, e não um treinamento acadêmico, são necessários para todo verdadeiro pastor do povo de Deus�

Paulo para um pronunciamento solene (13:9-10)

“Todavia Saulo, que também se chamava Paulo, cheio do Espírito Santo, e fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor?”

Elimas, o mágico, estava procurando impedir a obra de Deus, “pro-curando apartar da fé o procônsul” (13:8)� Isso exigia uma ação enérgica e espiritual� Assim, Paulo não apenas descreveu o caráter do homem no v� 9, como também deu detalhes da sua condenação: “Eis aí, pois, agora contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo� E no mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele e, andando à roda, buscava quem o guiasse pela mão” (v� 11)� Somente alguém “cheio do Espírito Santo” poderia fazer isso de uma maneira que glorificasse a Deus� O resultado foi, não a tristeza do juízo, mas a alegria da bênção: “Então o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor” (v� 12)� Naturalmente, os dias de tal poder milagroso já se foram, mas a lição é que poder espiritual é necessário para silenciar os inimigos e conquistar a pessoa, e não mero intelecto e força para argumentar� Pelo poder da lógica poderíamos ga-

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132 O Espírito da Glória

nhar um argumento, mas perder a pessoa�

O Espírito Santo e a Sua função no cristãoPode-se argumentar que os homens acima mencionados eram um

tanto especiais, mas e quanto aos demais cristãos? Se o Espírito Santo habita em todos os cristãos, que diferença isso faz? Qual é a Sua função na vida deles? Ele:

Dá poder para testemunhar

O Senhor Jesus disse aos Seus discípulos que uma das funções do Espírito Santo seria conceder-lhes o poder de serem Suas testemunhas numa esfera geográfica mais ampla: “Mas recebereis a virtude do Espí-rito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-Me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra” (1:8)� Assim, na questão mais básica de falar aos outros sobre o Senhor Jesus, podemos determinar se estamos ou não permitindo que o Espí-rito Santo opere nas nossas vidas como Ele desejaria� Isto é confirmado por Pedro: “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e tam-bém o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que Lhe obedecem” (5:32)�

Dá graça para distribuir bens

Como já notamos acima, depois que o homem que jazia à porta do Templo foi curado, as autoridades ameaçaram os apóstolos� Depois lemos: “E, soltos eles, foram para os seus, e contaram tudo o que lhes disseram os principais dos sacerdotes e os anciãos� E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus …” (4:23-24)� Como consequência da sua oração, “moveu-se o lugar em que estavam reunidos, e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a Palavra de Deus� E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns” (4:31-32)� Eles foram capacitados a declarar a verdade de Deus, e distribuir os seus bens ao povo de Deus� Isso se torna muito prático nesta era materialista em que a maioria quer ajuntar mais e mais riquezas, e a ganância é muito mais popular do que a generosidade� Uma pessoa que está disposta a se entregar ao Espírito de Deus não será mesquinha e avarenta�

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 133

Dá direção sobre onde servir

A direção de Deus pelo Seu Santo Espírito é uma parte essencial do serviço cristão� Procurar mover-se na curso da Vontade de Deus en-quanto O servimos sempre é motivo de profundo exercício perante o Senhor� Assim lemos de Filipe: “E disse o Espírito a Filipe: chega-te e ajunta-te a esse carro” (At 8:29)� Isto resultou na salvação do etíope, e na entrada do Evangelho no seu país� Em Atos 10, Pedro teve uma visão que o preparou para aceitar a conversão dos gentios� Quando isso estava prestes a acontecer, ele recebeu orientação do Céu: “E, pensando Pedro naquela visão, disse-lhe o Espírito: eis que três homens te bus-cam� Levanta-te, pois, desce, e vai com eles, nada duvidando; porque Eu os enviei” (vs� 19-20)� Isso resultou na salvação de Cornélio e de toda a sua casa�

Essa direção pode também ser negativa, quando portas são fecha-das: “E, passando pela Frígia e pela província da Galácia, foram impe-didos pelo Espírito de anunciar a palavra na Ásia� E, quando chegaram à Mísia, intentavam ir para Bitínia, mas o Espírito não lho permitiu” (16:6-7)� Isto abriu a porta para o Evangelho chegar à Europa� É so-mente o Senhor que pode dizer: “Diante de ti pus uma porta aberta, e ninguém a pode fechar” (Ap 3:8)� Paulo provou isto de uma forma po-sitiva também: “Ora, quando cheguei à Trôade para pregar o evangelho de Cristo, abrindo-se-me uma porta no Senhor …” (II Co 2:12)�

Dá orientação quanto a quem deve servir

Enquanto cada cristão deve servir ao Senhor constantemente, exis-tem aqueles que foram dotados por Deus para servi-lO de uma forma itinerante, vivendo pela fé� Esta não é a esfera de todo cristão� Orienta-ção para um chamado a esse serviço é dada em Atos 13: “E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-Me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado� Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos os despediram� E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre” (vs� 2-4)� Sem um chamado Divino, confirmado pela confiança e comunhão dos irmãos na igreja local, nenhum homem deve assumir esse trabalho�

Outro aspecto muito importante deste serviço é a liderança na igre-ja local� Feliz é a igreja guiada por homens espirituais que oferecem uma forte liderança bíblica e alimento espiritual sólido� Como devem ser reconhecidos os anciãos, presbíteros, bispos ou pastores (todas estas

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134 O Espírito da Glória

palavras descrevem os mesmos homens)? Em alguns grupos eles são indicados pelos “membros da igreja”; alguns são votados para o cargo; em outros casos, eles recebem uma educação especial e depois são “or-denados”; muitos e variados são os esquemas dos homens� Nós devemos consultar a Bíblia para descobrir como Deus produz tais servos� O livro de Atos expõe claramente o método divino: “Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que Ele resgatou com o Seu próprio sangue” (20:28)� Deus produz anciãos; os homens não podem fazê-lo� Um ancião é um dom dado à igreja local assim como o é o ensinador, e esta incluído na categoria de “governos” (I Co 12:28)�

Dá aviso de perigos no serviço

A direção do Espírito Santo é vista no aviso profético: “E levan-tando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César” (11:28)� Este homem também avisou Paulo do perigo de ir a Jerusalém: “Tomou a cinta de Paulo, e ligando-se aos seus próprios pés e mãos, disse: Isto diz o Espírito Santo: Assim ligarão os judeus em Jerusalém o homem de quem é esta cinta, e o entregarão nas mãos dos gentios” (21:11)� Isto confirmou a advertência dada pelos discípulos: “E eles pelo Espírito diziam a Paulo que não subisse a Jeru-salém” (v� 4)� Esse aviso não era novidade para Paulo, já que ele decla-rou: “E agora, eis que, ligado eu pelo Espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que me há de acontecer, senão o que pelo Espírito de cidade em cidade me revela, dizendo que me esperam prisões e tribulações” (20:22-23)�

O Espírito Santo e fraudeAtos cap� 5 registra a triste história de Ananias e Safira, que queriam

parecer diante dos homens mais espirituais do que o seu caráter permi-tia� Eles venderam uma propriedade e deram parte do preço obtido para os apóstolos, mas mentiram querendo que os apóstolos pensassem que haviam entregado todo o dinheiro� Seu pecado não era ficar com uma parte do que tinham recebido, e foi isso que Pedro disse: “Guardando-a, não ficava para ti? E vendida, não estava em teu poder? Porque formaste este desígnio em teu coração? Não mentistes aos homens, mas a Deus” (5:4 — já que o Espírito Santo é aqui chamado Deus, esta é uma refe-

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 135

rência clara à Sua divindade)� O pecado estava na sua hipocrisia e no fato que mentiram “ao Espírito Santo” (5:3)� Eles haviam concordado entre si “tentar o Espírito do Senhor” (v� 9)� O juízo foi imediato e salu-tar: ambos foram sepultados naquele mesmo dia� Essa história enfatiza a seriedade do pecado da mentira� Talvez seja bom, para muitos, que o Senhor não está agindo desta maneira hoje em dia, quando estamos nos aproximando do final desta dispensação� Alguém comentou que se Ele agisse assim hoje em dia, haveria muito poucos moços restando, ou talvez nenhum, para transportar os mortos!

Outro caso relacionado com fraudulência e o Espírito Santo se en-contra em Atos 8� Simão, uma figura notável, que “tinha iludido o povo de Samaria, dizendo que era uma grande personagem”, professou a sal-vação e foi batizado� Quando os apóstolos em Jerusalém ouviram que os de Samaria haviam aceitado a pregação de Filipe, eles enviaram Pedro e João para investigar� Quando chegaram de Jerusalém, eles descobriram que aqueles crentes não haviam recebido o Espírito Santo, e isso só aconteceu quando os apóstolos lhes impuseram as mãos� Isso revelou a falsidade da profissão de Simão, e Pedro pronunciou juízo sobre ele� As perguntas a serem respondidas são: por que foi necessário que os após-tolos comunicassem o Espírito Santo aos samaritanos? Deve-se esperar, na era presente, que haja um intervalo entre a salvação e o recebimento do Espírito Santo?

Esta foi a primeira vez que o Evangelho havia sido pregado fora dos limites da Jerusalém judaica� Todos sabiam que os judeus não se co-municavam com os samaritanos ( Jo 4:9), de fato, havia animosidade� Se nestas duas regiões a obra tivesse começado separadamente, mas simul-taneamente, é bem provável que cada local reivindicaria ser o verdadeiro trabalho de Deus, e uma dissensão teria surgido logo no início� Que forma melhor de demonstrar que essa animosidade não existia entre os crentes no Senhor Jesus, do que através de uma demonstração pública de grande bênção espiritual sendo conferida aos samaritanos pelos de Jerusalém? Isso deixou claro que a obra em Samaria não estava em opo-sição à de Jerusalém, antes era uma extensão dela� Em Cristo Jesus toda barreira nacional, social e de gênero foi removida, e “não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo” (Gl 3:28)�

Isto também indicava publicamente que esses novos convertidos aceitavam a autoridade dos apóstolos, e por essa razão Filipe não lhes

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136 O Espírito da Glória

transmitiu o Espírito Santo� Nenhuma obra que é de Deus ousaria questionar a autoridade dos apóstolos, que agora está contida no minis-tério escrito destes apóstolos� O questionamento da autoridade apostó-lica e do caráter final e decisivo das Sagradas Escrituras são as principais razões por que muitos problemas hoje enfrentados na Cristandade não estão sendo resolvidos�

Obviamente, as condições de Atos cap� 8 não se aplicam hoje, e não há apóstolos para transmitirem o Espírito Santo a outros� Também não há qualquer demora no recebimento do Espírito Santo, já que todo cris-tão recebe o Espírito Santo no momento da conversão: “E tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1:13)� O selar está sincronizado com o crer, assim como uma luz elétrica está sincronizada com o ligar do interruptor�

Há quem questione este ensino baseado em Atos 19� Paulo encon-trou “uns doze” discípulos em Éfeso, e perguntou-lhes: “Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes?” (v� 2)� Eles responderam: “Não, nem sequer ouvimos falar que o Espírito Santo é dado” (VB)� Eles não tinham conhecimento do que acontecera no dia de Pentecostes, tendo sido batizados “no batismo de João”; e estando assim numa posição pré--Pentecostes, precisavam ser trazidos à posição cristã; isto é, eles não eram salvos e não haviam se tornado membros da Igreja, e para isso precisavam ser salvos� A sua posição refletia a de Cornélio� Quando ouviram a verdade sobre crer “em Cristo Jesus” eles agiram com fé, fo-ram batizados como cristãos e, novamente, para demonstrar publica-mente que agora eram verdadeiros cristãos, Paulo como apóstolo lhes concedeu o Espírito Santo� Para demonstrar a realidade dessa recepção interior, foi-lhes dado o sinal exterior de falar em línguas� Este aconte-cimento também indicou a união dos apóstolos na obra de Deus, já que em Atos 8 foram Pedro e João que estavam presentes, e aqui foi Paulo� O apostolado de Paulo não tinha menor valor, nem menos autoridade, que o dos doze�

É importante notar que essa é a terceira e última vez, no livro de Atos, que o falar em línguas é mencionado� As outras ocasiões são Atos 2 e 10� Não é estranho que algo que ocupa um espaço tão insignificante neste livro tenha assumido tamanha importância nos nossos dias? Ou-tros capítulos deste volume, e especialmente o cap� 10, tratam disso mais detalhadamente�

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Cap. 8 — O Espírito Santo em Atos 137

O Espírito Santo e frutoA razão indisputável para a operação do Espírito Santo num cristão

é produzir na sua vida fruto espiritual aceitável a Deus� Esse assunto é considerado no cap� 11 desta publicação� Há, entretanto, um versículo em Atos que dá o exemplo perfeito daquele que viveu cada momento para a glória de Deus: “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem, e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (10:38)� Neste versículo temos a menção da Trindade: “Deus … Jesus … Espírito Santo”: a autoridade de Cristo, “poder”; Sua atividade, “andou fazendo o bem”; Seu remédio, “curando”; Seu inimigo, “o diabo”� Se todo santo, estando cheio do Espírito Santo, pudesse seguir esse exemplo, que diferença haveria no testemunho individual e coletivo�

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanospor James B. Currie, Japão

IntroduçãoA primeira das cartas apostólicas no Novo Testamento é, possivel-

mente, a mais importante� Tratando do Evangelho de nosso Senhor Je-sus Cristo (sua necessidade, seu caráter, seu resultado e suas exigências), a Epístola aos Romanos não tem paralelo no Cânon das Escrituras� To-das as outras cartas do Novo Testamento parecem ter razões locais por terem sido escritas e enviadas às igrejas ou aos indivíduos, mas as duas que tratam da doutrina do Evangelho, Romanos e Gálatas, são ende-reçadas a um grupo de leitores mais amplo� Reconhecemos que a carta aos Romanos foi originalmente dirigida a várias igrejas locais na cidade de Roma, e seu propósito era apresentar o Evangelho, como pregado por Paulo, aos santos que nunca haviam se encontrado com ele� Sendo que a verdade fundamental do Evangelho é o tema, não nos admira que o Espírito Santo seja tão frequentemente mencionado nesta carta: um total de vinte e sete vezes� Das treze cartas que levam o nome de Paulo, apenas a pequena carta pessoal a Filemon não traz nenhuma referência ao Espírito Santo� Sete das suas cartas têm uma ou duas menções do Espírito, mas as que se referem especialmente à Sua Pessoa e obra são Romanos, as duas epístolas aos Coríntios e a carta aos Efésios� Nestas o apóstolo apresenta o Espírito Santo em três relacionamentos específi-cos� Para o cristão individual em Romanos Ele é visto, sobretudo, como o “Espírito de Vida”; nas cartas aos Coríntios, em relação à igreja local, Ele é retratado como o “Espírito de Poder” (especialmente caps� 12-14); em Efésios, relacionado à “igreja que é o Seu corpo”, Ele é descrito como o “Espírito da Promessa”�

Talvez seria bom mencionar de passagem que há numerosas men-ções ao Espírito Santo na carta às igrejas da Galácia — veja o cap� 11 deste livro� Ali também, o Espírito é descrito de forma muito apropria-da� Ele é chamado o “Espírito do Seu Filho” por quem o cristão, des-frutando de uma plena emancipação, pode clamar: “Aba, Pai” (Gl 4:6)�

Duas coisas relacionadas com o Espírito se destacam em Romanos�

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos 139

A primeira é o Seu caráter expresso nos diferentes títulos atribuídos a Ele� A segunda é a abrangência da Sua atividade no e a favor do cristão�

A epístola se divide em três partes bem-conhecidas: caps� 1-8: Jus-tiça Exigida; caps� 9-11: Justiça Declarada; caps� 12-16: Justiça De-monstrada� Acompanhando essas divisões, o Espírito Santo é retratado em três aspectos diferentes� Ligado à exigência feita à humanidade em geral por uma justiça comensurável com a absoluta santidade do caráter do próprio Deus, Ele é chamado o “Espírito de santificação” (1:4)� O título “Espírito de adoção”, dado a Ele em 8:15, é muito apto quando ligado à declaração da justiça que obtém para Israel um relacionamento imerecido com Deus, baseado nas promessas do concerto� O terceiro tí-tulo significativo que Ele leva na epístola é o de “Espírito de vida” (8:2)� Isto também é expressivo quando a demonstração prática da justiça é reconhecida como o tema dos caps� 12-16� É notável que a carta aos Romanos, ocupada com um assunto como este, tem como seu ponto fo-cal o cap� 8, onde o Espírito Santo é mencionado mais frequentemente do que em qualquer outro capítulo da Bíblia� As dezenove vezes em que Ele é mencionado nessa parte fundamental da carta merecem a atenção de todos os leitores atentos da Palavra�

Capítulo 1Muitas vezes não é fácil determinar se devemos usar o “e” maiúsculo

ou minúsculo quando a palavra “espírito” aparece nas Sagradas Escri-turas� A primeira ocorrência em Romanos (1:4) é um exemplo� Entre-tanto, como geralmente é aceito que a frase “Espírito de santificação” se refere a caráter, é melhor explicar o termo relacionado ao Espírito Santo do que aplicá-lo a alguma área indistinta onde a santidade é enfática. Veja as notas de J� N� Darby sobre Romanos 1:3-4 em The Synopsis of the Bible (“A Sinopse da Bíblia”)� Estes versículos formam uma gran-diosa declaração Cristológica como um fato básico do Evangelho� Eles abrangem a jornada terrestre do Senhor, desde a Sua encarnação até a Sua gloriosa ressurreição dos mortos� Sua participação em humanidade impecável, Sua experiência na morte e subsequente ressurreição dentre os mortos pelo poder de Deus, foram totalmente compatíveis com o caráter Divino como revelado pelo “Espírito de santificação”�

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140 O Espírito da Glória

Capítulo 5A mesma ênfase é mantida na segunda passagem em que a palavra

“espírito” é usada e, contextualmente, é fácil entender por que� Tendo mostrado a verdadeira natureza da condição pecadora do homem com suas terríveis consequências, e tendo traçado a eficácia do Evangelho até o ponto onde ele afirma: “tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo”, Paulo acrescenta em 5:5 que “o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”� Numa epístola dedicada à exposição da justiça envolvida com a provisão da salvação para a humanidade culpada, ênfa-se é colocada na santidade do Espírito� Nada poderia estar mais distante do santo caráter de Deus do que promulgar um meio de reconciliação sobre uma base que não fosse justa e santa� A santidade do Espírito de Deus é salientada pelo relacionamento que Ele mantém com a res-surreição do Senhor e pelas atividades que Ele desempenha em favor daqueles que, tendo sido justificados pela fé, têm paz com Deus�

Capítulo 8O cap� 8 diz muito sobre a obra do Espírito Santo no Seu relaciona-

mento com o cristão, e muitos títulos significativos Lhe são atribuídos� Entre as dezenove ocorrências da palavra “Espírito” encontradas neste capítulo, lemos duas vezes do “Espírito de Deus” (vs� 9, 14); uma vez Ele é chamado o “Espírito de vida” (v� 2); uma vez temos o “Espírito de Cristo” (v� 9), e em outra o “Espírito de adoção” (v� 15)� Todos os demais usos da palavra têm a ver com os atributos, a obra e com o relaciona-mento que o Espírito mantém com o cristão�

Capítulo 8:1-4

O cenário de Romanos 8 é muito significativo� O argumento de Paulo, relacionado com a “justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo” (3:22), atinge seu clímax neste capítulo� A morte do pecador é exigida e não se pode escapar dela� O “Evangelho de Deus” indica que um Subs-tituto para o pecador condenado foi encontrado na Pessoa do Filho de Deus� O ponto central para uma vida cristã se encontra no cap� 6: “Sa-bendo isto, que o nosso homem velho foi com Ele [Cristo] crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado� Porque aquele que está morto está justificado do pecado”

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos 141

(vs� 6-7)� Ao progredir espiritualmente, o cristão vem a ter a mesma compreensão de Paulo, que disse: “Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento” (7:23)� Libertado para sempre da pena do pecado, o cristão fica arrasado ao descobrir que é “carnal”, isto é, sujeito a todas as fraquezas da carne e, em si mesmo, incapaz de enfrentar o inimigo com esperanças de vitória� Pensar nestas coisas, como ele certamente faz, o leva quase ao desespero� A constante introversão vista no cap� 7 leva ao clamor: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (v� 24)� Graças a Deus, Paulo sabe que há socorro disponível� Ele retorna à sua conclusão anterior, de que o cristão morreu com Cristo e não é mais sujeito à pena do pecado� “Portanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (8:1)� Ligado a Cristo numa união permanente, o cristão está livre, não somente da condenação do pecado, como também da influência do pecado, porque uma nova “lei” opera no seu interior, chamada a “lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus” (8:2)� É uma lei de emancipação e poder, enquanto que a Lei mosaica não podia livrar da penalidade do pecado, nem dar poder para superá-la, por estar enfraquecida pelo meio que precisaria usar, isto é, a carne� “A lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus,” não conhece tal limitação� Ao cristão é assegurada libertação pelo Espírito que nos foi dado, e assim somos capacitados a andar, não mais sob os ditames da carne, mas no poder do Espírito Santo�

Falar sobre “o Espírito de Deus” e “o Espírito de Cristo” em abso-luta igualdade, define a relação íntima desfrutada pelas Pessoas Divi-nas� Como o “Espírito de Vida”, Ele é o poder regenerador pelo qual o cristão nasce de cima ( Jo 3:5-8), e como o “Espírito de Adoção”, entre outras bênçãos, o Espírito Santo capacita o filho de Deus a dizer: “Aba, Pai” ao se aproximar de Deus (8:15)� Infidelidade, quer seja eclesiástica ou de culto, é um charco impenetrável onde as pessoas se afundam no seu desejo de negar a divindade e a personalidade do Espírito Santo� Mas o vasto conjunto de ensino em mais de duzentas e trinta referên-cias através de toda a Sagrada Escritura não lhes permite distorcer a Palavra de Deus a ponto de negar o que é tão claro�

Há muitos bons ensinadores que omitem as palavras “que não an-dam segundo a carne, mas segundo o Espírito” do v� 1� A razão que dão é que a frase “nenhuma condenação há” é absolutamente incondicional, não dependendo de nada que o cristão faça, mas somente em virtude dele estar “em Cristo”� As palavras, de fato, encaixam bem no final do

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142 O Espírito da Glória

v� 4, mas certamente se aplicam bem aqui também, se aceitarmos a tra-dução de J� N� Darby: “Não há nenhuma condenação para aqueles que, em Cristo Jesus, não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito”, mesmo embora ele omita as palavras na sua tradução� O sentido per-manece o mesmo em ambos os versículos� Aqueles que estão em Cristo Jesus não devem mais andar segundo os ditames da carne, mas segundo o poder regenerador do Espírito Santo de Deus�

A Lei no Sinai condenava, e a lei do pecado trouxe escravidão e miséria� Mas agora uma lei inteiramente diferente é apresentada, cha-mada a “lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus”� Esta lei é a do Espírito vivificador que habita no cristão, por cujo poder ele foi libertado da escravidão do pecado e suas consequências finais� Concordando com o que foi deixado bem claro no capítulo anterior, vemos que isso não é resultado de guardar a Lei no poder próprio, mas pela operação em graça do grande propósito de Deus de que “a justiça da lei se cumprisse em nós”� Ele enviou Seu Filho, que veio “em semelhança da carne do pecado”, e pela Sua morte sacrificial no madeiro desfez o pecado e a morte para aqueles que estão ligados a Ele pela fé� O que caracteriza aqueles que estão associados com Ele, judicialmente fora do alcance do pecado e da morte, é que eles “não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito”� Isso não descreve meramente um contraste aparente entre os que estão associados com Cristo e os que não estão� O descrente é caracterizado por uma mente em inimizade com Deus, voltada para as coisas desta vida e os impulsos carnais� O cristão agora é caracteri-zado por coisas que agradam a Deus e sua mentalidade corresponde à região “espiritual” na qual ele habita� Novamente uma consulta a JND vai mostrar que as palavras “segundo a carne” e “segundo o Espírito” são substantivos, e seriam melhor traduzidas “mente da carne” e “mente do Espirito”, indicando respectivamente que a mente é entregue aos interesses carnais e espirituais� Ter uma mente espiritual é ter todos os pensamentos controlados pelo Espírito� É impossível agradar a Deus a menos que essa seja a experiência contínua do cristão�

Capítulo 8:9-17

No curto espaço desses nove versículos o Espírito Santo é mencio-nado dez vezes� No v� 9 Ele aparece três vezes e é chamado “o Espírito”, “o Espírito de Deus” e “o Espírito de Cristo”� Aqui, imediatamente, surgem duas características importantes� Uma é que a Divindade existe

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos 143

como uma Trindade� Assim como o Senhor Jesus disse à mulher junto ao poço de Samaria que “Deus é Espírito” ( Jo 4:24), também o Espírito Santo, quanto à Sua própria personalidade é “Espírito”, e é Ele quem o Pai envia em nome do Filho� Este versículo, juntamente com muitos outros, declara a verdade das palavras formuladas há muitos anos como parte de uma declaração de fé: “O Espírito Santo, procedendo do Pai e do Filho, é da mesma substância, majestade e glória do Pai e do Filho, Deus verdadeiro e eterno”�

Ser chamado o “Espírito de Deus” enfatiza a afirmação incondicio-nal feita pelo Senhor Jesus, em João 15:26, de que Ele enviaria o Con-solador, “aquele Espírito de verdade, que procede do Pai”� Assim, Ele é descrito como procedendo, ou emanando, do Pai� A palavra “emanar” também traz a ideia de “exalar” como ao respirar� Essa nuança é dada em Jó 33:4, onde Eliú diz: “O Espírito do Senhor me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida”� Essa mesma palavra, descrevendo o “Espírito de Deus”, é encontrada em muitas outras passagens também� Poderíamos dizer que no processo natural de respirar, o “fôlego da vida” emana do homem, mas nunca existe como uma entidade separada do homem; assim o Espírito Santo procede e é enviado pelo Pai para tes-tificar de Cristo� O Pai envia o Espírito Santo e assim é afirmado que Ele procede do Pai, e é corretamente chamado de “o Espírito de Deus”� Da mesma forma, Ele é enviado pelo Filho e é chamado “o Espírito de Cristo”� O Pai, o Filho e o Espírito são da mesma natureza, mas, enquanto é dito que o Espírito procede tanto do Pai quanto do Fi-lho, nunca lemos que o Pai ou o Filho procedem do Espírito Santo� O Espírito de Deus habita no cristão como o Espírito de Cristo e isso pelo poder do Espírito Santo� Somos aqui lembrados que não é possí-vel pertencer a Cristo se o Espírito de Cristo não habitar na pessoa (v� 9)� A união eterna e espiritual formada por Deus habitando no cristão é enfatizada aqui� O corpo do cristão é sujeito à morte e um dia, se a vinda do Senhor Jesus não se der, seremos levados por ela, mas nesse meio tempo, Deus o Pai é a fonte interna de vida; nosso Senhor Jesus é o canal e o Espírito Santo o elemento místico da sua concessão� O cris-tão foi trasladado da esfera onde a morte reina, e agora é habitado pelo Espírito de Deus na plenitude dos Seus santos atributos� Sendo assim habitado por Deus, através do Espírito, o cristão possui uma mente que pode agradar, e de fato agrada, a Deus� Na prática, o cristão deve então “andar segundo o Espírito” e tendo a “mente do Espírito”, deve “aplicar

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a mente às coisas do Espírito”�Os muitos relatos da proclamação do Evangelho no livro de Atos

dos Apóstolos continuamente enfatizam o fato que “a esse Jesus Deus ressuscitou” (veja, por exemplo, 2:24; 3:15; 4:10; 5:30; etc�)� As epístolas também não são negligentes em apresentar este fato básico do Evange-lho (veja I Co 6:14; Gl 1:1; etc�)� Aqui em Romanos lemos de Deus que ressuscitou a Jesus dentre os mortos (4:24)� O Espírito Santo é chama-do “o Espírito de Vida” (Rm 8:2)� A descrição do Espírito Santo como “o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus” (8:11) é muito apropriada, pois está relacionada com a vida Divina sendo mani-festada no cristão� Esta declaração singular também está associada com aquela obra da graça que, sem a Lei, será revelada na vida ressurrecta manifestada no poder do Espírito�

Em qualquer estudo relacionado com o Espírito Santo, o capítulo 8:9-11 é de grande importância; ainda mais, visto que o ensino apresen-tado é dado de forma indireta� Paulo não está defendendo a Trindade, mas os versículos em questão são inexplicáveis se não reconhecemos que a pluralidade da Divindade é expressa como uma Trindade� Note que no v� 9 aquele que é chamado de “o Espírito” é também chamado “o Espírito de Deus” e “o Espírito de Cristo”� Da mesma forma o v� 11 fala do “Espírito”, “o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus”; e “aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo”� Em ambos os casos todas as três Pessoas da Divindade são claramente identifica-das� Aquilo que é declarado do Espírito Santo, aqui e em muitas outras Escrituras, mostra que Ele está em perfeita igualdade com o Pai e com o nosso Senhor Jesus Cristo� Ele é descrito ainda como sendo o Espíri-to vivificante pelo qual o corpo mortal do cristão será, num dia futuro, ressuscitado dentre os mortos� Isso será realizado “pelo Seu [de Deus] Espírito que em vós habita”�

Outro aspecto da habitação do Espírito Santo no cristão é o fato de ser esse cristão guiado pelo Espírito� Uma má compreensão contextual do v� 14 tem produzido aplicações muito distantes do seu significado correto aqui, e na única outra menção direta sobre ser guiado pelo Espí-rito, em Gálatas 5:18� Em nenhuma das duas referências é mencionada a ideia de participação inteligente nas atividades das reuniões públi-cas da igreja� Temos que entender que onde a direção do Espírito é reconhecida, isso será evidente nas reuniões dos santos� Entretanto, a “direção do Espírito” é muito mais importante e mais abrangente do

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos 145

que isso�Os muitos exemplos dados nas Escrituras de como o Senhor Jesus

foi conduzido pelo Espírito Santo devem nos esclarecer quanto ao sig-nificado da palavra� Bem no início do Seu ministério público, e tendo sido plenamente reconhecido pelo Céu como “Meu amado Filho”, o Senhor Jesus imediatamente “foi conduzido pelo Espírito ao deserto” (Mt 4:1)� Na expressão da Sua humanidade irrepreensível, nosso Se-nhor Jesus é o exemplo perfeito ao Seu povo de ser guiado pelo Espírito� Assim como o clamor do salmista no Salmo 25:5 pode ser aplicado às palavras ditas pelo Senhor Jesus, assim também devem encontrar um forte ecoar no coração do cristão: “Guia-Me na Tua verdade, e ensina--Me, pois Tu és o Deus da Minha salvação; por Ti estou esperando todo o dia”�

A lei do pecado e da morte permanece ativa no cristão, mas o “Espí-rito de Cristo”, que é “o Espírito de vida”, também habita nele, portanto, diz Paulo: “De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne” (v� 12), mas temos a obrigação de “pelo Espírito mortificar as obras do corpo” (v� 13), dando assim evidência da vida que possuímos� “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, es-ses [e somente esses] são filhos [maduros] de Deus” (v� 14)� Maturidade nas coisas espirituais só pode ser manifestada por uma vida de completa sujeição à direção do Espírito Santo em amor, sabedoria e poder� Deve-mos nos lembrar do que Jeremias disse: “Não é do homem o seu cami-nho” ( Jr 10:23)� Aquilo que a Lei não pode fazer por causa da fraqueza da carne, e aquilo que o homem não pode fazer por si mesmo no poder da carne, é efetuado pelo Espírito de vida que nele habita, de sorte que os que são nascidos na família de Deus recebem o desejo e a capacidade de agradar a Deus no entendimento maduro da Sua vontade�

Novamente um contraste é apresentado no v� 15: “o espírito de es-cravidão” é justaposto com o “Espírito de adoção” ou o “Espírito de filiação”� Em eras passadas os crentes estavam sob a Lei e, na medida da sua compreensão disso, “com medo da morte estavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2:15)� Ter medo da morte é temer as conse-quências da Lei, daí o termo “a lei da servidão”� Pelo poder regenerador do Espírito Santo, o cristão foi libertado e não está mais sob o domínio da Lei� Cada cristão já recebeu o “Espírito de adoção”� O uso da palavra adoção, nesta versão, não deve nos deixar confusos por causa do proces-so moderno de adoção de órfãos na família� A palavra aqui é exatamente

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a mesma que em “adoção de filhos” ou “filiação”, que encontramos em Gálatas 4:5� Ela se refere a uma “condição adotada, uma posição con-ferida a alguém para quem não é natural”� Este é o título maravilhoso que descreve aquilo que o cristão desfruta em relação a Deus, o Pai� So-mos então capacitados pelo Espírito a dizer: “Aba, Pai”� Essas palavras, embora dando um sentido muito íntimo à invocação, nunca deveriam ser usadas para criar uma familiaridade exagerada quando falamos com Deus em oração� Note como, em Lucas 11:2, o Senhor Jesus ensinou os Seus a orarem: “Pai nosso … santificado seja o Teu nome”�

Aba Pai! Te adoramos, prestando humilde homenagem;É a alegria dos Teus filhos conhecer-Te, recebidos pelo caminho vivo;Esta grande honra nós herdamos, Tua dádiva pelo sangue de Jesus;Deus o Espírito, com nosso espírito, testifica que somos filhos de Deus.*

A última das dez referências ao Espírito Santo nesta pequena por-ção de Romanos 8 tem a ver com Seu testemunho da realidade da posi-ção do cristão na família de Deus� O testemunho ao espírito do próprio cristão, produzido pelo poder do Espírito que nele habita, é triplo� Pri-meiro, temos a garantia inegável de que somos nascidos de Deus como Seus verdadeiros filhos� Segundo, somos assim constituídos “herdeiros de Deus” (v� 17)� Pedro nos lembra de que o “Deus e Pai de nosso Se-nhor Jesus Cristo … nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incor-ruptível, incontaminável, e que não se pode murchar …” (I Pe 1:3-4)� Em terceiro lugar, também nos foi conferido o título maravilhoso de “coerdeiros de Cristo”�

Segundo o pensamento de alguns, o uso do pronome impessoal para o Espírito Santo† apresenta um problema� Não deveria� As pala-vras aqui seguem uma regra gramatical simples no grego: um substanti-vo de gênero neutro exige um pronome que também o seja� Esse uso de forma alguma anula as muitas Escrituras que falam do Espírito Santo com um pronome masculino� De fato, no Evangelho segundo João exis-tem alguns casos que os especialistas em Gramática Bíblica chamam “o

* Tradução livre. O original diz: “Abba Father! We adore Thee, humbly now our homage pay;/Tis Thy children’s bliss to know Thee, welcomed through the living way,/This high honour we inherit, Thy free gift through Jesus' blood;/God the Spirit, with our spirit, witnesseth we’re sons of God".

† Nasversõeseminglês;oproblemamencionadopeloautornãoexistenasversõesemPortuguês(N.doE.).

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fenômeno da gramática”, onde a palavra “Espírito” no modo neutro está ligada ao pronome masculino “Ele” (veja, por exemplo, João 14:16- 17)� Assim, na margem da tradução de Newberry lemos: “O Espírito, Ele mesmo testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (v� 16)�

Capítulo 8:18-28

As últimas quatro referências no cap� 8 são interessantes e contém instrução valiosa relacionada às atividades do Espírito� A garantia de pertencer à família de Deus na qualidade de filhos é dada a todos os cristãos pelo Espírito� No entanto, isso não isenta os cristãos das pro-vações e dificuldades da sua presente condição humana pois, diz Paulo, a Criação foi sujeita à vaidade pela vontade de Deus como resultado do pecado do homem e, até o presente momento, geme aguardando a redenção desta servidão sob a corrupção para a liberdade da glória dos filhos de Deus (vs� 20-22)� Em vista daquilo para o qual o cristão foi selado, os sofrimentos presentes não são para comparar com a glória que há de ser revelada a nós e em nós (v� 18)� Contudo, o cristão ainda geme juntamente com a Criação, esperando a manifestação pública da sua filiação, ou seja, a redenção do corpo (v� 23)� Em meio à Criação que geme e aos sofrimentos presentes, o cristão já possui o Espírito Santo como as primícias da glória, que é uma certeza inabalável da glória que nos será revelada� O cristão é capaz, no poder do Espírito que nele ha-bita, de aguardar com esperança o refulgir daquela glória que tem sido, desde a fundação do mundo, o propósito imutável de Deus�

Outra necessidade do cristão é atendida pelo trabalho, em graça, do Espírito� Frequentemente o filho de Deus se encontra perplexo quanto à vontade de Deus em relação ao que deve fazer e, mais especificamente, como neste contexto, quanto ao panorama geral do propósito de Deus� Surgem ocasiões quando “não sabemos o que havemos de pedir como convém” (v� 26)� Complicações surgem no caminho do cristão, quan-do mal sabemos para que lado ir� Em virtude disso nossas orações se tornam, indubitavelmente, menos definidas� A palavra expressiva usada aqui (“ajuda”, e também em Lc 10:40) é melhor descrita por uma cena bem comum nas terras do Extremo Oriente: dois homens carregando entre si, um fardo numa longa vara� Poderíamos dizer que um ou o outro está “ajudando”� Em graça, o Espírito Santo que conhece a nossa incapacidade de orar como devemos nos ajuda ao fazer intercessão por nós� Ao assim fazer, nossas preces são elevadas àquele nível de inteli-

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gência espiritual característico da mente do Espírito, que é também a mente do Pai�

Habitados pelo “Espírito de Deus”, o “Espírito de Cristo”, e o “Es-pírito de vida”, somos emancipados e recebemos o direito de clamar, como filhos de Deus: “Aba, Pai”� Olhamos com ousadia para o fulgor da glória no final do túnel escuro, pois já temos o Espírito que é as “primí-cias” de tudo que Deus se comprometeu a nos dar, e nas nossas orações, apesar da fraqueza pessoal, o Espírito Santo nos faz aptos a estar em sintonia com a mente do Céu� Não nos admira que Paulo pudesse es-crever: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito” (8:28)�

Capítulos 9-11Se, na primeira parte da epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo

focalizou no tema do Espírito Santo de forma doutrinária, ele não ne-gligenciou a aplicação prática da verdade� Ele incentiva os santos em Roma a andar “não segundo a carne, mas segundo o Espírito”, e os lembra de que “a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Es-pírito é vida e paz” (v� 6)� Estas exortações são sérias e solenes� Os três capítulos que seguem se ocupam com a justiça de Deus e Seus cami-nhos para com Israel� A apresentação dos fatos deixa claro que não há injustiça em Deus ao colocar de lado ou, futuramente, restaurar a nação à bênção, mas que em todas as Suas ações para com eles as “profundi-dades das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus” são insondáveis e os Seus caminhos inescrutáveis (11:33)� Nesses capítulos o Espírito Santo é mencionado somente uma vez, destacando a reali-dade da grande tristeza de Paulo por causa da infeliz condição presente de Israel� Falando disso ele diz que o Espírito Santo é testemunha (9:1)� Ele mostra ainda, relacionado a isso, que sua confiança no cumprimento das promessas do concerto de Deus com Israel em nada diminuiu� Ele invoca o Espírito de Deus para dar testemunho do fato que aquilo que ele escreve é exatamente aquilo do qual ele tem certeza�

Capítulos 12-16No final da carta Paulo está escrevendo aos santos romanos de ma-

neira exortativa� O início do cap� 12 é decisivo nesse ponto� Se uma

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos 149

posição de perfeita justiça me foi concedida a um custo tão infinito quanto a morte do Filho de Deus, minha resposta precisa ser à altura� “Para que experimenteis [na prática] qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (12:2)�

Em todas as épocas e em todos os lugares um perigo sutil ameaça os filhos de Deus� É o de permitir que aquilo que é meramente externo e superficial seja considerado o verdadeiro valor espiritual na vida de alguém� Carnes puras ou imundas: comê-las ou abster-se delas: é disso que Paulo escreve no cap� 14, e da atitude de aceitar um ou o outro como o parâmetro verdadeiro de espiritualidade quando, na realidade, tais atitudes resultam em julgar, entristecer ou tropeçar nossos irmãos� Essas coisas, Paulo escreve, não são as características de um “andar em amor”� O reino de Deus consiste em muito mais do que aquilo que comemos e bebemos� Seus atributos são: “justiça, paz, e alegria no Es-pírito Santo” (14:17)� Em Gálatas 5:22 o apóstolo nos diz que “gozo” é uma das facetas do nônuplo fruto do Espírito Santo� Quando o Senhor prometeu enviar o Seu Espírito, Ele também prometeu dar a “Sua paz” e o “Seu gozo” ( Jo 14:7; 15:11, 26)� Todas estas coisas são prometidas no contexto do Espírito Santo, e disso podemos reconhecer o Espírito Santo como o Agente através de quem essas bênçãos fluem� O gozo produzido pelo Espírito Santo é a característica inconfundível daqueles que pertencem ao Reino de Deus e que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito�

Romanos 16 é quase totalmente dedicado à saudação de diversos indivíduos e grupos de santos na cidade de Roma, sem nenhuma re-ferência ao Espírito Santo, mas o cap� 15 ainda tem algo a dizer sobre Ele� Há quatro referências a Ele no capítulo, e três características dEle são mencionadas — poder, santificação e amor� É mencionada “a virtu-de [poder] do Espírito Santo” (v� 13); “santificada pelo Espírito Santo” (v� 16); “a virtude [poder] do Espírito de Deus ” (v� 19); e o “amor do Espírito” (v� 30)� Estas palavras descrevem atributos ou atividades do Espírito que estão em completa harmonia com o contexto geral em que são encontradas�

Paulo, através dessa carta importante aos santos em Roma, apre-senta, em linguagem inequívoca, o que ele chama de “o meu evangelho” (2:16)� Ele usa um cenário jurídico em que a humanidade em geral está perante o tribunal Divino, indiciada, culpada, e sobre quem paira a sentença de morte� De uma maneira notável, um meio de perdão é pla-

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nejado e anunciado pelo Próprio Juiz, e isto baseado em perfeita justiça� O grande poder de Deus, abundando através do Espírito Santo, toma o desespero do acusado e convicto e o substitui por esperança, gozo e paz com base na fé� Além disso, pelo mesmo poder produzido pelo Es-pírito Santo, “sinais e prodígios” (15:19) são manifestados na pregação do Evangelho do apóstolo, para que os homens possam ser obedientes à Palavra de Deus� Acrescentando a tudo o que já foi dito até agora, poder também é atribuído ao Espírito Santo por causa destes benditos feitos (veja vs� 13, 19)�

Notamos que Paulo está consciente de que há um aspecto de adora-ção envolvido no ministério do Evangelho� Seu desejo é que na “oferta” (v� 16), ou sacrifício dos gentios, o seu ministério seja aceitável a Deus pelas energias santificadoras do Espírito de Deus� Como o Espírito de santidade, o Espírito de Deus declarou a Divina Filiação do Senhor Jesus pela Sua ressurreição dentre os mortos� Semelhantemente, o Es-pírito, em poder santificador, constitui o corpo de gentios crentes uma oferta aceitável a Deus� Sabendo disso, Paulo se esforçou para chegar a lugares onde Cristo ainda não havia sido nomeado (vs� 19-20)�

Um último detalhe de interesse relacionado com o Espírito Santo na Epístola aos Romanos é a exortação final do apóstolo, encontrada em 15:30� A primeira menção ao Espírito na parte central da carta se encontra em 5:5� Notamos ali que, pelo Espírito Santo que nos foi dado, o amor de Deus inunda os corações de todos os cristãos� Essa efusão do amor Divino é demonstrado a nós “em que Cristo morreu por nós sen-do nós ainda pecadores” (5:8)� Ao final das partes prática e doutrinária da epístola, Paulo, pela segunda vez, apela intensamente aos seus leitores para que sejam caracterizados por um comportamento correspondente à sua profissão� No cap� 12 o apelo foi para que apresentassem os seus corpos como sacrifício vivo a Deus e isso, ele acrescenta, nada mais é do que serviço inteligente em vista daquilo em que eles vieram a crer� No cap� 15 ele se dirige a eles novamente com a mesma intensidade, dessa vez para que possam combater com ele em oração� Ele pede para ser o objeto dessas orações unidas, com um propósito triplo (vs� 31-32):• Para que ele fosse livre da ira dos incrédulos na Judeia;• Para que o seu ministério de levar ajuda financeira dos gentios cris-

tãos aos de Jerusalém fosse aceito por esses últimos;• Para que, no tempo devido, ele pudesse visitar os santos em Roma

com refrigério, pela vontade de Deus�

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Cap. 9 — O Espírito Santo em Romanos 151

O fervor desse pedido é evidente nas palavras: “E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais co-migo” (v� 30)� Inteligentemente, oração é feita a Deus, a autoridade desta oração está no Senhorio de Cristo, e a eficácia da oração está no vínculo de amor que flui do próprio Espírito Santo� Novamente, e de uma forma indireta, vemos a unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo�

ConclusãoEle é o Espírito de Deus; o Espírito de Cristo; o Espírito de Santidade;

o Espírito vivificante; o Espírito Santificador; e em grande poder, o Espíri-to daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus� Em Seus variados atri-butos e atividades o Espírito Santo é em Si mesmo a própria incorporação do Evangelho acerca do Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo� É assim que Paulo apresenta o Espírito de Deus na sua carta aos cristãos romanos�

Pelo bendito Espírito Santo, enviado por Ti dos Céus,Te adoramos, Pai, por esta dádiva de amor.Igual e eterno contigo, no entanto em sublime graça veioConvencer-nos, pelo Seu poder, do pecado, culpa e vergonha.

Então mostrou-nos que o Salvador levara na cruz nosso pecado; E quando, pela fé, O recebemos, nos selou e agora habita em nós.Agora Ele nos ensina e guia, através da Tua Santa Palavra;E nos dá poder para o serviço do nosso Salvador, Cristo o Senhor.

Não permita que O entristeçamos por descuido ou erro deliberado;Dá-nos a conhecer a plenitude do Teu Espírito no interior.Pela presença do Espírito Santo, Confortador e Guia DivinoDe coração, unidos, Te louvamos por Teu dom benevolente.

Alfred Gibbs*

* Tradução livre. O original diz: “For the blessed Holy Spirit, sent by Thee from heaven above/We would join to praise Thee, Father, for this matchless gift of love./Equal and eternal with Thee, yet, in wondrous grace He came;/By His power to convict us of our sin and guilt and shame.//Then He showed us that the Saviour, on the cross had borne our sin;/And when we by faith received Him, sealed us and now dwells within./Now He seeks to teach and guide us, from Thy precious Holy Word;/And empower us for the service of our Saviour Christ the Lord.//O, forbid that we should grieve Him by neglect or willful sin;/Grant that we may know the fullness of Thy Spirit now within./For the Holy Spirit’s presence, Comforter and Guide Divine;/From our hearts we join to praise Thee for this gracious gift of Thine.”

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntiospor William M. Banks, Escócia

IntroduçãoO assunto do Espírito Santo em I Coríntios está concentrado em três

áreas principais� Estas são primeiramente o cap� 2, depois cap� 12, e final-mente os caps� 3 e 6, onde tanto a igreja local quanto o corpo do cristão são chamados de templo de Deus e templo do Espírito Santo, respectivamente�

O assunto do cap� 2 é a demonstração do poder do Espírito Santo na pregação do Evangelho, contrastada com a sabedoria humana� No cap� 12, o tema é dons espirituais e seu exercício da igreja local, como demonstrados pela figura do corpo� Há também uma referência dou-trinária importante e vital ao batismo no Espírito Santo que precisa ser compreendida para podermos evitar os excessos vistos nos círculos carismáticos� As referências ao Espírito Santo em relação ao templo, nos caps� 3 e 6, que juntas são tidas como a terceira referência principal no livro, enfatizam de forma inequívoca a necessidade de pureza e san-tidade tanto em termos individuais como coletivamente�

O assunto será tratado nestas três divisões principais e na ordem em que se encontram na epístola�

O Espírito Santo e o EvangelhoGodet* sugere que nos capítulos iniciais da epístola aos Coríntios

o apóstolo se esforça para enfatizar que as contendas não combinam com o Evangelho crido e pregado (caps� 1 e 2), e com o ministério que desempenhamos nos caps� 3 e 4�

O Evangelho não é uma exibição de sabedoria terrena ou huma-na, como Paulo indica em 1:17: “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça vã”� Entretanto, tem como seu objetivo a verdadeira sabedoria, isto é, a sabedoria de Deus� “Todavia falamos sabedoria entre os perfeitos; não, porém, a sabedoria deste mundo, nem

* GODET,F.L.Commentary on First Corinthians.GrandRapids,MI:KregelPublica-tions,1979.

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 153

dos príncipes deste mundo, que se aniquilam; mas falamos a sabedoria de Deus” (I Co 2:6-7)�

O assunto é então ampliado da seguinte maneira:O evangelho não está relacionado à sabedoria humana:• Quantoàmensagemquepregamos(acruzdeCristo—1:18-25);• Quantoaosmembrosquesãochamados(nãosãomuitosossábios

… poderosos … nobres — 1:26-31);• Quantoaosmétodosadotados(2:1-5).O evangelho tem como tema a verdadeira sabedoria, isto é, a sabe-

doria de Deus:• Definidoquantoaosseusdetalhes(2:6-9);• Disseminadocomobaseadoemrevelação(2:10-13);• Discernidoquantoàsuarecepção(2:14-16).

A primeira referência ao Espírito Santo está na seção que trata dos métodos adotados (2:1-5) na disseminação da mensagem� Esta seção pode ser considerada uma das duas seções principais do capítulo:• O Evangelho não é a sabedoria do homem — 2:1-5�• O Evangelho é a sabedoria de Deus — 2:6-16�

Vamos considerar cada uma destas, por sua vez�

O Evangelho não é a sabedoria do homem (2:1-5)

Nos vs� 1-5, o Evangelho é visto como não sendo a sabedoria dos homens sob quatro aspectos:

A mensagem que é ensinada (2:1-2)

O autor da mensagem é o próprio Deus: “… o testemunho de [da parte de] Deus”� Seu tema é “Jesus Cristo, e Este crucificado”� Isso quer dizer que não tivemos nada a ver com sua origem, e não temos o direito de interferir no conteúdo� A crucificação, obviamente, é o aspecto me-nos atrativo para a sabedoria humana� A mensagem é simples e básica: não temos o direito de introduzir nossas próprias ideias no assunto� O Autor da mensagem sabe o que é melhor!

O mensageiro que ensina (2:3)

O homem precisa ser coerente com o caráter da mensagem� Ele não vem com um ar de sucesso garantido, ousadia e confiança� A im-

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portância da mensagem é claramente enfatizada� Ele se apresenta “em fraqueza, e em temor, e em grande tremor”� Talvez se isso fosse mais evidente nos pregadores de hoje os resultados seriam semelhantes aos do apóstolo� Talvez suas experiências em Tessalônica e Beréia (At 17:1-5) ainda estivessem vivas na sua memória, mas não devemos perder de vista a necessidade de seriedade no pregador do Evangelho�

Os métodos adotados (2:1, 4)

Aqui é apresentado tanto o lado negativo quanto o positivo� Ele não veio com “sublimidade de palavras”, isto é, usando eloquência e refinamento para impressionar psicologicamente e conseguir uma res-posta� Não que o apóstolo não fosse capaz de eloquência, mas ele não a usava adversamente para induzir decisões� Ele veio não com “sabedoria”, usando de profundidade filosófica e conhecimento científico para im-pressionar� Ele não veio com “palavras persuasivas de sabedoria huma-na” (v� 4), usando de persuasão e pressão� Não havia nenhum espetáculo�

Por outro lado, há quatro palavras que indicam o lado positivo do método usado pelo apóstolo� É bom destacarmos o que é positivo e evi-tar o que é negativo� As quatro palavras são “anunciar” (v� 1), “palavra” e “pregação” (v� 4), e “demonstração” (v� 4)� A ideia contida em “anunciar” é proclamar publicamente, dando testemunho de um fato� O testemunho era simples e direto — a proclamação da pessoa de “Jesus Cristo” (v� 2)�

O segundo termo é “palavra”� É o nosso bem conhecido vocábulo “logos”, e significa “discurso, referindo-se à maneira da sua apresentação do evangelho”�*

A palavra “pregação” (v� 4) indica a proclamação da mensagem� Os dois termos “palavra” e “pregação” juntos indicam o “o quê” e o “como” da mensagem� Em um o que ela contém, e no outro o método pelo qual é comunicado� É essencial que o pregador do Evangelho considere ambos� Ele precisa ter conteúdo — incluindo a base doutrinária da sua mensagem — e ela precisa ser comunicada com seriedade e vigor, com consciência da importância da Pessoa que é o seu tema� Não deve haver engodo com mera gratificação da “coceira nos ouvidos”, ou para satis-fazer a curiosidade do ouvinte� Ele falará “segundo as palavras de Deus … para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo” (I Pe 4:11)�

A palavra final nos leva ao âmago do nosso assunto: deve ser “em

* VINE,W.E.The Collected Writings of W. E. Vine, Vol. 2.Glasgow:GospelTractPublications,1985.

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 155

demonstração de Espírito e de poder” (v� 4)� A palavra traduzida “de-monstração” é usada somente aqui no Novo Testamento� Ela traz a ideia de manifestar, uma evidência, uma apresentação� É algo que convence através da operação do Espírito Santo� Assim, o pregador está conscien-te do poder por trás da mensagem� Vine diz:

Existeumadúvidaquantoàconstrução,seelaésubjetiva,significando“ademonstraçãoquevemdoEspíritoedepoder”,ouobjetiva:“ademonstraçãoquemanifestaaobradoEspíritoepoder”. É quase certo que a primeira opção contenha o sentido correto.AordemopostaéusadaemITessalonicenses1:5,ondeoapóstolodizaosseusleitoresqueoEvangelhoqueeleeseuscole-gas pregavam não veio a eles “somente em palavras”, isto é, não somentecomoaafirmaçãodeumfato,“mastambémempoder,enoEspíritoSanto”.Lá,comoaqui,oartigodefinidoestáausentenooriginal.Masissonãojustificaaideiadequeéumareferênciaao espírito humano. A ausência do artigo serve para enfatizar o caráterdopoder(istoé,opoderdoEspíritoSantoemoperação).ComparecomRomanos15:19.*

O propósito a ser alcançado (2:5)

O apóstolo deseja que aqueles que exercem “fé” o façam sobre um fundamento sólido — “não … em sabedoria dos homens, mas no po-der de Deus”� A sabedoria dos homens seria mutável e passageira, sem convicção real� O poder de Deus garante um alicerce sólido que há de permanecer firme nos dias de provação� A mensagem, o mensageiro e o método adotados terão um efeito correspondente na pessoa que exerceu fé� Argumentos inteligentes, excelentes habilidades de debate e sabedo-ria humana jamais serão um fundamento firme para a fé� É necessário uma demonstração do Espírito de Deus para que almas possam estar sobre um firme fundamento, estabelecidas, e permanecer firmes�

Os pregadores de hoje deveriam levar isso tudo a sério e verificar que a mensagem pregada tenha um sólido fundamento, para que as almas não sejam levadas a uma decisão baseada em métodos que não tenham fundamento na Palavra de Deus� “Portanto, o Evangelho não é um co-nhecimento, mas um poder … não é uma filosofia, mas a salvação”�†

* Ibid.† GODET,F.L.Commentary on First Corinthians.GrandRapids,MI:KregelPublica-

tions,1979.

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156 O Espírito da Glória

O Evangelho é a sabedoria de Deus (2:6-16)

O apóstolo agora volta sua atenção para a verdadeira sabedoria, “a sabedoria de Deus”� O parágrafo se inicia com “todavia”, um adversa-tivo� Existe alguma coisa a mais que precisa ser dita! Ele já indicou a pobreza da sabedoria humana� Já demonstrou isso pela sua experiência pessoal: “eu … me … eu” (vs� 1, 2, 3)� Todavia, embora o Evangelho não seja uma sabedoria, ele contém sabedoria; aliás, o Evangelho é “a sabedoria de Deus” (v� 7)� Isso ele demonstra, não por experiência pes-soal somente, mas mencionando também os demais apóstolos: “[nós] falamos sabedoria”!

Nesta parte o tema é apresentado nas palavras iniciais do v� 6: “fala-mos sabedoria entre os perfeitos”, e daqui para frente a frase é desenvol-vida para mostrar o que a sabedoria é; indicar a sua fonte; e, finalmente, indicar as condições necessárias naquele que a recebe para que possa apreciar o seu verdadeiro valor�

A definição e a natureza da verdadeira sabedoria (2:6-9)

O apóstolo já indicou que a mensagem só pode ser apreciada pelos “perfeitos”� Essa palavra, enquanto indica maturidade espiritual, talvez signifique algo mais no contexto� Ela era usada nos dias do Novo Testa-mento para aqueles que eram “iniciados” nos mistérios� Já que o apósto-lo vai se referir a um “mistério” no v� 7, é provável que fosse essa a ideia que ele tinha em mente� Aqueles que exercem a verdadeira “fé” do v� 5 estão entre aqueles a quem os mistérios foram revelados� Assim, o após-tolo começa indicando os recebedores; as pessoas a quem a verdadeira sabedoria foi manifestada�

Em seguida ele indica a fonte, novamente sob o aspecto negati-vo e o positivo� Ela não é a “sabedoria deste mundo [era, época], nem dos príncipes deste mundo”� Sua sabedoria vangloriada “se aniquila”, termina em nada! A fonte da verdadeira sabedoria é o próprio Deus� A natureza dessa sabedoria é indicada como sendo um mistério — a palavra usual para mistério no Novo Testamento (musterion)� Não se trata, naturalmente, de algo misterioso ou difícil de compreender — é simplesmente uma verdade até então oculta, mas agora revelada, “que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora” (Rm 16:25-26)� A ordenação (ou predeterminação) — a mesma palavra tra-duzida “predestinar” em Romanos 8:29-30) — se deu antes do tempo, tendo em vista a “nossa glória”� Esse era o propósito de Deus na Sua

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 157

sabedoria — a salvação daqueles que exercem a “fé” do v� 5 — trazendo--os até a glória�

O cristão está mais bem informado do que os “príncipes deste mun-do”� Bruce* os descreve como “os senhores desta era” e diz que

Paulo está pensando … no poder na esfera espiritual pelo qual as autoridades humanas eram compelidas no seu caminho escolhido. [Setivessemconhecidoasconsequências]nãoteriamcrucificadooSenhordaGlória,selandoassimaprópriacondenação.CompareColossenses2:15,ondeapaixãodeCristoéretratadacomoSualuta vitoriosa contra “principados e potestades” agressivos.

Há um contraste interessante entre “os príncipes deste mundo” e o “Senhor da glória”� Este último título indica não somente a supremacia, como também a divindade do Senhor� Entretanto, as maravilhas dessa glória futura são sublimes e inacessíveis ao homem (sem a revelação do Espírito de Deus) quer seja através dos olhos, ouvidos, ou coração (v� 9)�

A revelação da verdade através do Espírito Santo (2:10-13)

É aqui que entra a atividade do Espírito Santo� Que glorioso “Mas”! Aquilo que está escondido dos senhores desta era e seus seguidores foi revelado a nós “pelo Seu Espírito”� Assim, temos dois detalhes nestes versículos:• A revelação de Deus (vs� 10-11);• A recepção pelos iniciados (vs� 12-13)�

A revelação foi feita através do Seu Espírito� A razão pela qual o Espírito pode assim nos revelar estas coisas é que Ele penetra “todas as coisas, ainda as profundezas de Deus”� A ideia por traz de “penetrar”, ou sondar, é de uma pesquisa detalhada (não para adquirir conhecimento — Ele sabe, v� 11) levando a uma conclusão favorável em revelação� O futuro nos foi revelado pelo penetrante poder do Espírito de Deus, ilu-minando aqueles em quem Ele habita� Ele penetra “as profundezas de Deus”: os conselhos e propósitos, sabedoria e mistérios, tendo em vista sua comunicação nas Escrituras inspiradas�

No v� 11, há um contraste interessante entre as “coisas do homem” e as “coisas de Deus”, e entre o “espírito do homem” e o “Espírito de Deus”� A revelação da verdade divina só pode ser feita por Um que

* BRUCE,F.F.I and II Corinthians, em New Century Bible.Edinburgh:Oliphants,1971.

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158 O Espírito da Glória

discerne corretamente as coisas de Deus�A recepção da verdade é na mesma base que sua revelação, ou seja,

pela operação do Espírito Santo� Há um contraste no v� 12 entre o “es-pírito do mundo” e o “Espírito que provêm de Deus”� Este último foi dado como um “dom” que recebemos no momento da conversão� Tendo recebido o dom do Espírito Santo devemos conhecer “o que nos é dado gratuitamente por Deus”� Já fomos grandemente abençoados agora, e ainda o seremos de uma maneira infinitamente maior no futuro� Ponde-rar essas realidades deveria ser parte do nosso exercício espiritual�

A recepção do v� 12 leva ao ensino do v� 13� Não houve mudan-ça quanto ao conteúdo, por isso a inclusão da palavra “também”; havia poder Divino na comunicação: “com palavras … que o Espírito Santo ensina”; havia a consciência de que condições espirituais eram necessá-rias tanto no ensinador quanto no ouvinte, “comparando as coisas espi-rituais com as espirituais”�

O discernimento necessário para apreciar a verdade espiritual (2:14-16)

O homem natural, ou seja, o homem “carnal” (não regenerado) vê as coisas do Espírito de Deus como loucura, e não pode aceitá-las, pois não tem o que é necessário para apreciar o espiritual — ele não é capaz nem de começar a entendê-las — elas se discernem espiritualmente�

Por outro lado, o homem espiritual — o homem dominado por e sujeito à direção do Espírito — é capaz de discernir as coisas espirituais� Ele mesmo, entretanto, é discernido por ninguém, isto é, por ninguém que não tem o Espírito de Deus e, portanto, neste contexto, o homem natural�

O capítulo conclui indicando que a mente do Senhor só pode ser conhecida por aquele que tem uma mente espiritual� Assim o homem natural não pode sequer começar a discernir os verdadeiros motivos das atividades e ministérios do apóstolo, que tem a mente do Espírito�

Assim, nesse capítulo há várias referências à atividade do Espírito Santo� Elas podem ser resumidas assim:• A demonstração do Espírito (v� 4)�• A revelação do Espírito (v� 10), baseada no fato que: O Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus (v� 10); O Espírito sabe as coisas de Deus (v� 11);• A recepção do Espírito (v� 12);

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 159

A primeira destas coisas leva ao poder na pregação do Evangelho, a segunda leva à iluminação na perspectiva do cristão, e a terceira leva ao conhecimento na apresentação da Palavra inspirada�

O Espírito Santo e o templo Duas vezes nesta epístola há uma referência ao Espírito Santo em

relação ao templo� Na primeira ocasião (3:16) o apóstolo está se diri-gindo à igreja local como um todo, indicando que coletivamente são o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita neles� Em 6:19 Paulo se dirige aos cristãos individualmente: “ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”

O contexto do cap. 3

No cap� 3 o apóstolo está tratando do assunto da esfera de minis-tério cristão� Ele mostra que o seu espírito contencioso (1:12; 3:4) é inconsistente com o ministério que lhes foi confiado� Para assim fazer, ele está “mostrando a casa à casa” (Ez 43:10) através de uma metáfora tripla� A primeira é a de um campo, ou lavoura� “Vós sois lavoura de Deus” (v� 9), e isso requer fruto para Deus resultando em recompensa: “cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho” (v� 8b)� Logo, os servos não devem ser comparados um ao outro, já que um servo não receberá a recompensa pelo trabalho de outro, e é somente Deus que determina o valor do serviço prestado (v� 9a)�

A segunda metáfora é a de um edifício — “vós sois … edifício de Deus” (v�9b), e isso requer fidelidade a Cristo emanando de uma apre-ciação da responsabilidade individual — “veja cada um como edifica sobre ele”� Aquele que lança o fundamento apenas dá início à obra; ou-tros precisam construir a superestrutura� Assim ele enfatiza: não se deve conferir aos membros fundadores a posição de líderes partidários� Cada um deve assumir responsabilidade para o desenvolvimento do trabalho�

A última metáfora é a do templo de Deus� Aqui fidelidade à Pessoa do Espírito Santo como a presença que habita no interior é enfatizada, com a correspondente necessidade de reverência� A questão aqui é a possibilidade, não de edificar mal, mas de destruir o que já foi construí-do� Se um espírito partidário for tolerado, a possibilidade de intrusão do “homem natural” (2:14) na esfera da igreja de Deus aumenta� Há então, a possibilidade do templo de Deus ser corrompido (3:17; comparar com

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160 O Espírito da Glória

Sl 79:1)� Com certeza essa contaminação seria totalmente inconsistente com a presença do Espírito de Deus que ali habita� Seria totalmente incompatível com a afirmação do apóstolo: “Vós sois o [um] templo de Deus”, ou “vós sois templo de Deus”�

A omissão do artigo dá ênfase ao caráter da igreja local, como descrito pela metáfora. A palavra é naos,umsantuário;emrelação ao templo em Jerusalém, naos se referia ao santuário interior, o lugar santíssimo, em contraste ao edifício todo, o hieron (veja9:13),ecorrespondiaàparteinteriordoTabernáculo,ondeficavamaarcaeopropiciatório.Nasaplicaçõesfigurativasnaos sempreéusado,quersejadaigrejacomoumtodo(Ef2:21),oude uma igreja local — como é o caso aqui e em II Coríntios 6:16, ouaindadocorpodocristão(6:19);étambémusadaatravésdetodo o Apocalipse.

A palavra bem poderia ser traduzida “santuário”. Uma igreja local,retratadadessaforma,éumajuntamentocolocadoàpartepara Deus, um lugar de adoração, uma comunidade a ser carac-terizadaporsantidadeepelamanifestaçãodaSuaglóriacomovista na vida e testemunho daqueles que a constituem, e pela beleza do caráter de Cristo. A situação de partidarismo e divisão na igreja em Corinto era uma negação de tudo isso.*

A santidade do templo é enfaticamente afirmada no v� 17: “Porque o templo de Deus, que sois vós, é santo”� A palavra para santo é hagios� Essa palavra significa,

…primariamente,“separado”e,portanto,noseusignificadomoraleespiritualnasEscrituras,significaseparadodopecadoeconsagradoaDeus.Háumagrandeênfasenopronome“vós”.O“que”étidoporalgunscomosereferindoa“santo”;emboraissoseja possível, a adição em itálico [na versão inglesa] da palavra “templo” parece estar correta. Aqueles que ensinam a Palavra de Deus deveriam tremer, com receio de, até mesmo involuntariamen-te,danificaraestruturaqueestãoprocurandoerguer.†

O contexto do cap. 6

Há duas partes no capítulo 6 (vs� 1-11 e vs� 12-20), onde encon-

* VINE,W.E.The Collected Writings of W. E. Vine, Vol. 2.Glasgow:GospelTractPublications,1985.

† Ibid.

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 161

tramos seis vezes o apelo: “Não sabeis” — nos vs� 2, 3 e 9 na primeira parte, e nos vs� 15, 16 e 19 na segunda� O tema da primeira parte é a inconsistência e o contrassenso do cristão levar outro perante a lei� “Não sabeis” que:• “os santos hão de julgar o mundo?” (v� 2);• “havemos de julgar os anjos?” (v� 3);• “os injustos não hão de herdar o Reino de Deus?” (v� 9)�

Será que vocês são “indignos de julgar as coisas mínimas” (v� 2b)? As duras realidades são apresentadas com poder convincente e autoridade legal!

O tema da segunda parte é o do corpo de cristão e da necessidade de santidade por causa do Espírito Santo que nele habita� Há oito refe-rências ao corpo, duas vezes nos vs� 13 e 18, e depois nos vs� 15, 16, 19 e 20� “Não sabeis”, diz o apóstolo com aparente incredulidade:• “que os vossos corpos são membros de Cristo?” (v� 15a);• “que o que se ajunta com a meretriz faz-se um corpo com ela?” (v� 16);• “que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo?” (v� 19)�

Os primeiros dois não fazem parte do nosso estudo, mas enfatizam, no primeiro, a ligação entre Cristo, o Cabeça, nos Céus, e os membros da Sua Igreja� É uma ligação mística, indissolúvel e eterna� O corpo é o veículo através do qual o serviço para Cristo é realizado� Seria total-mente inapropriado tomar os membros de Cristo e fazê-los membros de uma meretriz�

A segunda referência vai além — em flagrante contraste à “uma só carne” do relacionamento matrimonial, que indica uma união tanto emocional quanto física, e o “um só espírito” do relacionamento com o Senhor, unir-se a uma meretriz é um relacionamento de “um só corpo”, e nada mais é do que gratificação da vil concupiscência, uma distorção total do ideal divino e uma negação de tudo que é espiritual�*

O apelo final que Paulo faz em relação a isso no v� 19 indica a dig-nidade e santidade do corpo do cristão — “o vosso corpo é o templo do Espírito Santo”� A palavra para templo novamente é naos, como no cap� 3, indicando um santuário� A ideia de adoração e honra está assim ligada, não somente com a igreja local, mas também com o corpo do

* BANKS,W.M. eWILSON, T.O que Deus ajuntou. Pirassununga: Editora SãDoutrina,2010,cap.5.

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162 O Espírito da Glória

cristão� O apóstolo acrescenta três fatos adicionais:

A presença do Espírito Santo — “que habita em vós”

Isso é uma indicação do que aconteceu na conversão do cristão, mas que continua como um fato permanente (Rm 8:9)� Em Efésios 1:13 o apóstolo declara: “… em quem vós estais, e tendo nEle também crido … fostes selados com o Espírito Santo da promessa”� A ideia é que o selar ocorreu quando creram (“tendo crido”), e o Espírito Santo, a partir de então, habita no cristão�

O dom do Espírito — “proveniente de Deus”

Isso indica que o recebimento do Espírito pelo cristão é o resultado direto de uma implantação Divina� Deus dá o dom do Espírito Santo�

A responsabilidade resultante do dom — “não sois de vós mesmos”

Há uma responsabilidade correspondente para nos comportarmos de acordo com o que já vimos� Pertencemos a outro, portanto, não temos o direito de agir como se fôssemos de nós mesmos (comparar com o v� 18)� O resultado final é que o preço pago (v� 20) deveria resultar num reconhecimento da necessidade de glorificar a Deus no corpo que é de Deus, e é habitado pelo Espírito de Deus�

O Espírito e o ministérioAs últimas referências ao Espírito Santo se encontram no cap� 12

do nosso livro, na seção que trata das coisas “espirituais” (12:1), espe-cialmente os dons espirituais� Fica naquela seção geral da epístola onde Paulo está respondendo a carta recebida dos coríntios: “Quanto às coi-sas que me escrevestes” (7:1)� Aqui ele está tratando dos espirituais e seu ministério: “Acerca dos …” (12:1)� Compare, relacionado a isso, outros aspectos desta correspondência: 7:1; 8:1 e 16:1�

O assunto dos espirituais é tratado nos caps� 12-14, onde o apóstolo considera:Cap� 12 — os dons em si, em três listas — o que eu tenho;Cap� 13 — a graça com que os dons devem ser usados — o que eu sou;Cap� 14 — o governo dos dons — o que eu faço;

O cap� 12 pode ser dividido em três partes:

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 163

• A variedade dos dons quanto a sua esfera de ação (vs� 1-3), diversi-dade (vs� 4-6), desígnio (v� 7) e distribuição (vs� 8-11);

• A administração dos dons (vs� 12-27);• O resumo do ensino (vs� 28-31)�

Aqui iremos considerar a primeira dessas seções�

A esfera de ação dos dons espirituais (12:1-3)

Nesta seção, vemos que o campo de ação da operação do dom está “no Espírito”� A preposição grega traduzida “pelo” duas vezes no v� 3 é en� Ela inclui o ambiente em que o verdadeiro Senhorio de Cristo é reconhecido� A obra do Espírito é glorificar a Cristo: “Ele Me glorifi-cará” ( Jo 16:14)� Toda verdade deve ser testada em relação à Pessoa de Cristo� Ele é o parâmetro� A confissão de que Jesus é o Senhor é vista aqui como uma exclamação baseada num modo de vida, e no resultado de um processo deliberado� Confirma a afirmação feita por Pedro no dia de Pentecostes: “A esse Jesus … Deus O fez Senhor e Cristo” (At 2:36)� Seu título deve ser dado a Ele!

A diversidade dos dons espirituais (12:4-6)

A diversidade dos dons detalhadamente é dada numa seção que trata da diversidade do ministério espiritual em geral� Nestes versículos, a Trindade é vista como a verdadeira fonte de todo exercício espiritual�

Diversidade de dons espirituais (v� 4) o mesmo Espírito aptidão dadaDiversidade da administração (v� 5) o mesmo Senhor ação antecipadaDiversidade de operações (v� 6) o mesmo Deus atuação esperada

O Espírito de Deus é visto, assim, como quem distribui os dons espirituais� A repetição tripla das palavras “diversidade” e “mesmo” in-dica a união das forças espirituais em diversidade� Esse pensamento é desenvolvido na continuidade do capítulo, a partir do v� 12�

Estes dons são “dons de graça” — uma aptidão gratuitamente con-cedida� Não se trata de habilidade humana, mas, sem dúvida, é coerente com ela� Os dons são dados a todo cristão pelo Espírito, e o propósito de serem assim gratuitamente comunicados por Deus é promover o de-senvolvimento espiritual e o crescimento do corpo de Cristo� Devem ser usados (v� 5) sob o Senhorio de Cristo para a realização do propósito divino (v� 6)� É interessante que a referência ao “mesmo Espírito” é re-

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164 O Espírito da Glória

petida nos vs� 8, 9 (duas vezes) e 11�

O desígnio dos dons espirituais (12:7)

Não pode haver dúvida quanto ao propósito geral da distribuição dos dons� O único alvo e objetivo é o bem de todo o grupo� Deveria haver uma manifestação da habitação e poder do Espírito� Os dons não são dados para promoção pessoal ou para ostentação� Já foi dito que o princípio comum que os produz deveria levar ao fim comum que os une, isto é, o benefício espiritual e mútuo do grupo como um todo�

A distribuição dos dons espirituais (12:8-11)

É enfatizado que cada um (v� 11) recebe um dom: “… a um … a outro”� Os dons provavelmente são dados no momento em que o indi-víduo é salvo� Para que o corpo funcione de forma correta, cada membro precisa fazer a sua parte� Assim, cabe a cada cristão verificar qual é o seu dom e usá-lo para a glória de Deus e para o bem do corpo de Cristo, tanto localmente como em geral�

Os nove dons são apresentados detalhadamente nos vs� 8-10� Eles parecem estar em três mini-listas de dois, cinco e dois, separados pela palavra heteros (traduzida “outro”, e que significa “outro de um tipo di-ferente”), diferentemente de allos (que significa “outro do mesmo tipo”)� Heteros é o primeiro “outro” do v� 9 e o quarto “outro” do v� 10�

Isso significa que a lista se divide da seguinte maneira:• A palavra da sabedoria e a palavra da ciência�• Fé, dons de curar, operação de maravilhas, profecia, e discernimento

de espíritos�• Variedade de línguas, interpretação das línguas�

É possível que todos os dons mencionados aqui fossem de natureza temporária, dados antes da conclusão do cânon das Escrituras e usados para autenticar a obra de Deus na igreja primitiva�

O receptor não tinha parte na escolha do dom recebido� O mesmo Espírito reparte “particularmente a cada um como quer” (v� 11)�

O batismo no Espírito Santo (12:13)

A referência final ao Espírito Santo em I Coríntios está neste ver-sículo� É de muita importância doutrinária, e certamente não deixa de estar relacionado com o que acabamos de ver� Estabelece a esfera de

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Cap. 10 — O Espírito Santo em I Coríntios 165

operação dos dons mencionados nos vs� 1-11, e indica o poder pelo qual eles podem ser implementados para o benefício da Igreja que é o Corpo de Cristo como um todo, e também na sua expressão local�

Há, no Novo Testamento, sete referências ao “Batismo no Espírito”� Há cinco referências proféticas: Mateus 3:11, Marcos 1:8, Lucas 3:16, João 1:33 e Atos 1:5� Há uma referência histórica em Atos 11:16, e finalmente uma referência doutrinária — aqui em I Coríntios 12:13�

Há quatro coisas que são verdade de todo batismo:• Aquele que batiza;• A pessoa, ou pessoas, que são batizadas;• O elemento no qual o batismo é feito;• O propósito para o qual o batismo é realizado�

As últimas três são indicadas no v� 13� As pessoas a serem batizadas somos “todos nós”; assim incluindo Paulo e os coríntios� O elemento no qual o batismo acontece é “em um Espírito”� A palavra “em” no v� 13 é a palavra grega en, usada uniformemente em todas as referências ao batismo no Espírito no Novo Testamento� O propósito pelo qual o batismo acontece é para formar “um corpo”� Assim o propósito é a for-mação de um corpo� Trata-se de uma referência “à formação da Igreja como o corpo de Cristo no dia de Pentecostes”,* conforme descrito em Atos 2� Note o tempo passado do verbo no v� 13: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito”�

Embora “aquele que batiza” não seja especificamente mencionado em I Coríntios, nas referências históricas Ele é claramente indicado� Por exemplo, João Batista, em Marcos 1:8, referindo-se a alguém “que é maior do que eu”, diz: “Ele vos batizará com o [no] Espírito Santo”�

E� W� Rogers disse que há quatro coisas verdadeiras acerca desse batismo:• É histórico (At 2:1)� Houve um momento quando, um lugar onde,

e um modo como aconteceu� O dia de Pentecostes foi “cumprido”�• É único� Nunca algo assim acontecera antes�• É definitivo� Nunca algo assim acontecerá novamente� Nunca será

repetido�• É coletivo� Tem em vista nosso estado, não a nossa posição�

O batismo no Espírito resultou na formação do corpo de Cristo�

* DAVIES,J.M.Letters to the Corinthians.G.L.S.Press,1982.

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166 O Espírito da Glória

Na conversão, cada cristão passa a fazer parte daquilo que foi formado no Pentecostes, e se torna um membro daquele corpo� Não há nenhuma sugestão de “segunda bênção”, nem de uma busca especial por esse ba-tismo — ele é definitivo, completo, e envolve nossa incorporação em um corpo, indicando uma posição de bênção� O corpo é assim feito — “um corpo” (v� 13), sem distinções nacionais (“quer judeus, quer gregos”) e sem distinções sociais (“quer servos, quer livres”)� Tendo todos “bebido de um mesmo Espírito”, cada cristão saturado com novas forças pode então servir o corpo do qual agora é membro�

O ensino do cap� 12 mostra como isso poder ser feito, tanto para o corpo como um todo quanto para o ajuntamento local específico, como o apóstolo enfatiza no v� 27: “Vós sois o corpo de Cristo, e seus membros em particular”�

ConclusãoO Espírito Santo foi assim visto em três relacionamentos na pri-

meira epístola aos Coríntios: o Evangelho, o templo e o ministério� Em cada caso a responsabilidade pessoal do cristão foi enfatizada� O Evan-gelho deve ser pregado na demonstração do poder do Espírito� A igreja local e o corpo do cristão devem demonstrar a santidade e a dignidade de serem habitados pelo Espírito� Todo cristão deve apreciar a neces-sidade de exercitar o dom dado pelo Espírito, pelo poder do mesmo Espírito, no Corpo do qual é membro e para o benefício geral e proveito do povo de Deus�

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálataspor James Paterson Jr., Escócia

IntroduçãoAs Escrituras nos mostram que o Espírito Santo tem visitado a Ter-

ra desde a sua formação (Gn 1:2), e podemos ver, de maneiras variadas, Sua atividade através do Novo Testamento� Ele participou ativamente da Criação (Gn 1:2, Jó 33:4, Sl 104:30)� Ele operou nas vidas de muitas pessoas dos tempos do Velho Testamento, como por exemplo: José (Gn 41:38); Daniel (Dn 5:11); Davi (II Sm 23:2)� Ele esteve envolvido na concepção de Jesus (Lc 1:35), e quando o Senhor Jesus foi batizado por João, no rio Jordão, o Espírito Santo veio sobre Ele (Lc 3:22)�

A promessa do Senhor Jesus aos Seus discípulos, no Cenáculo, foi que Ele enviaria “outro Consolador … o Espírito de verdade” ( Jo 14:16-17, 26), e essa promessa se cumpriu no dia de Pentecostes, quan-do o Espírito Santo desceu, enchendo e capacitando os discípulos (At 2:2-4)� A evidência do poder do Espírito Santo na Igreja primitiva é vista no livro de Atos, como descrito no cap� 8 deste livro�

O Espírito Santo ainda tem um papel essencial nas vidas dos cris-tãos de hoje, e continuará a ter até o final desta dispensação� Seu papel nas atividades das igrejas locais é evidenciado no ensino das epístolas do Novo Testamento e, ao lermos a Palavra de Deus, vemos que o Espírito está envolvido numa variedade de esferas, tanto no cristão individual como nas atividades da igreja local� Estas incluem renovação e regene-ração (Tt 3:4-5); iluminação tanto para cristãos como para descrentes ( Jo 16:8, 14); habitação (I Co 3:16; Ef 1:13-14); poder e capacitação (At 1:8; I Co 12:8)� Entretanto, o foco deste capítulo é o Espírito Santo na epístola aos Gálatas�

SantificaçãoNesta epístola aprendemos que o Espírito Santo é Aquele que, adi-

cionado a todo o serviço acima mencionado, energiza o processo de santificação na vida do cristão� Sendo habitados pelo Espírito Santo, somos capazes de reprimir o controle potencial da nossa natureza pe-

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168 O Espírito da Glória

caminosa, subjugar os impulsos da carne, e nos tornarmos mais seme-lhantes a Cristo, ao demonstrar nas nossas vidas o “fruto do Espírito” (Gl 5:22-23)� Embora o assunto de santificação não seja mencionado por nome nestes versículos, nem na epístola aos Gálatas, ao examiná-los poderemos apreciar esta verdade�

Aqui o Espírito Santo é visto principalmente em contraste com a carne, e esse aspecto é que irá ocupar a maior parte da nossa atenção� Entretanto, há outros aspectos do Espírito, na epístola� Vale a pena no-tar que nesta epístola a palavra pneuma (“espírito”) ocorre dezoito vezes; destas, as versões AT e ARA traduzem “Espírito” dezesseis vezes e “es-pírito” duas vezes, enquanto que a ARC traduz “Espírito” apenas quinze vezes, e “espírito” três vezes*� A diferença aparentemente se deve ao fato de que não há letras maiúsculas nos manuscritos gregos mais antigos, e seu uso vem por interpretação e não tradução�

O Espírito Santo e a LeiA pergunta feita por Paulo: “Recebestes o Espírito pelas obras da lei

ou pela pregação da fé?” (3:2), leva os gálatas de volta ao começo da sua vida cristã, e como a obra de Deus neles começou (veja v� 5)�

Baseado no fato de que eles receberam o Espírito no momento da sua salvação, Paulo pergunta se eles pretendem continuar por si mesmos uma obra que foi iniciada pelo Espírito Santo� É muita pretensão pensar que uma obra iniciada pelo Espírito pode ser levada adiante pela carne, e que aqueles que foram feitos justos busquem estabelecer a sua própria justiça pelas obras da Lei� Paulo coloca as obras da Lei sob o cabeçalho da carne� A carne simboliza a natureza humana na sua condição decaí-da� Paulo vê como as obras da Lei podem alimentar o orgulho humano e a carne, já que alguns irão pensar que alguém pode ser justificado pelos seus próprios esforços� A obra iniciada numa vida, pelo Espírito, e mantida no poder do mesmo Espírito, significa que nós, assim como os gálatas, não necessitamos de olhar para as obras carnais da Lei para pro-gredir nas coisas espirituais� A obra redentora de Cristo é o meio pelo qual somos libertados da maldição da Lei� Essa obra redentora resulta no recebimento do dom do Espírito que, como prometido, chegou “aos gentios por Jesus Cristo” (3:14)� Embora não haja menção do Espírito

* AdiferençaentreaARCeasoutrasduasversõesestáem5:5.Noinglês,asocor-rênciaseasversõesmencionadasnesteparágrafoeram,obviamente,diferentes;adaptamososdadosmencionadospeloautor(N.doE.).

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 169

na promessa feita a Abraão, no Velho Testamento, aqui Paulo liga a bênção de justificação com o recebimento do Espírito Santo�

O Espírito de Seu FilhoNa seção que trata de filhos e herdeiros (4:1-7), Paulo descreve o

Espírito Santo como o “Espírito de Seu Filho”, título que é usado para enfatizar o testemunho do Espírito (veja também Rm 8:16)� Gálatas 4:6 é a única ocasião em que esse título é usado, e é uma das várias descri-ções do Espírito Santo em relação ao Filho, dadas no Novo Testamento� A atividade específica do Espírito Santo, uma vez enviado ao coração do cristão, está relacionado com nosso clamor a Deus, chamando-O de Pai� Embora seja o Espírito (no v�6) que é representado como cla-mando no coração do cristão, o clamor do próprio cristão parece estar claramente indicado� Portanto, é o Espírito que habita no interior quem ensina e capacita cada cristão a orar usando esses termos pelos quais o Senhor Jesus se dirige a Deus, e ao assim fazer, mostramos que temos o “Espírito de Seu Filho”� Isto mostra a proximidade e a intimidade do relacionamento que temos com o Pai, e o Espírito Santo desenvolve e fortalece nossa sensibilidade para com Ele, permitindo que o relaciona-mento seja desfrutado� Deus enviou Seu Filho para nos redimir, e o Es-pírito Santo aos nossos corações para confirmar nossa filiação� Portanto, como filhos somos herdeiros “de Deus por Cristo” (4:7)�

Entre outros títulos descritivos do Espírito Santo estão:• Espírito de Verdade ( Jo 14:17);• Espírito de Jesus (At 16:7, VB);• Espírito de Vida (Rm 8:2);• Espírito de Deus e Espírito de Cristo (Rm 8:9);• Espírito dAquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus (Rm 8:11);• Espírito de adoção (Rm 8:15);• Espírito do Deus Vivo (II Co 3:3);• Espírito Santo da Promessa (Ef 1:13);• Espírito de Jesus Cristo (Fp 1:19);• Espírito Eterno (Hb 9:14);• Espírito da graça (Hb 10:29);• Espírito da glória e de Deus (I Pe 4:14)�

Estes títulos descrevem algo do caráter e da função do Espírito, e a maioria deles será examinada em outras partes dessa publicação�

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170 O Espírito da Glória

Realização da justiça através do EspíritoNo cap� 5 o cristão é visto como uma pessoa livre em Cristo: “Estai,

pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou” (5:1)� Esta é a verdadeira posição do cristão, que é incompatível com a dos judaizantes legalistas� Como cristãos, portanto, “pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça” (5:5)� Isto significa que através da ação do Espí-rito somos ensinados a apreciar essa esperança, e pela Sua presença so-mos capacitados a permanecer nela� Precisamos lembrar que a esfera de operação do Espírito é o coração humano (veja Rm 8:16; II Co 1:22), logo o impulso para obedecer a vontade de Deus no nosso espírito é o resultado da Sua operação em nós� Assim, tendo o Espírito Santo, aguardamos com esperança a realização da justiça� Esta justiça se refere à completa conformidade do cristão a toda exigência da vontade de Deus� Por um lado somos justificados diante de Deus mediante a obra consumada de Cristo, e por outro, esperamos com confiança o aperfei-çoamento da obra começada em nós, quando seremos completamente conformados à imagem de Cristo�

Andar no Espírito; conflito com o Espírito; ser guiado pelo Espírito

O cristão não deve andar independentemente do Espírito Santo; ele não pode operar na sua própria força e esperar ser bem sucedido, pois a vida cristã depende da obra do Espírito� Portanto, Paulo dá o mandamento em 5:16: “Andai em Espírito”, que poderia ser traduzido: “continue andando”� É necessário que o cristão siga esta instrução para que a concupiscência da carne não seja satisfeita na vida� Isso realmen-te é a revelação do segredo de uma vida cristã bem sucedida� Há um mandamento claro para o cristão subjugar a carne, e esse subjugar é o fundamento do viver cristão� Quando nós, como cristãos, andamos pelo Espírito, os desejos da carne não são realizados� Isso não é uma simpli-ficação exagerada, mas é a verdade da Palavra de Deus�

Andar é uma referência bíblica típica a viver e, portanto, andar no Espírito significa estar constantemente sob a direção, controle e orien-tação do Espírito de Deus� Somente por viver desta forma podemos ter certeza de que não iremos “cumprir” os desejos de uma natureza pecaminosa� Embora não possamos dominar o pecado totalmente nes-ta vida, por andar no Espírito podemos subjugar um padrão de vida

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 171

pecaminoso� Podemos cultivar um modo de pensar espiritual através de comunhão diária com Deus, e de nos alimentar constantemente da Sua Palavra, para que os nossos pensamentos sejam os pensamentos de Deus� Paulo resume essa exigência quando ele diz: “cada dia morro” (I Co 15:31)� Todo dia devemos morrer para o pecado e para nós mesmos, e andar pelo Espírito�

Muitas instruções são dadas, em outras partes do Novo Testamento, sobre o andar do cristão e sobre os resultados de um andar espiritual� Vale a pena salientar algumas delas:• “Porque andamos por fé, e não por vista” (II Co 5:7);• “Andeis como é digno da vocação com que fostes chamados” (Ef 4:1);• “Não andeis mais como andam também os gentios” (Ef 4:17);• “Andai em amor” (Ef 5:2);• “Andai como filhos da luz” (Ef 5:8);• “Vede prudentemente como andais, não como néscios, mas como

sábios” (Ef 5:15);• “Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus

Cristo, que vos aparteis de todo o irmão que anda desordenada-mente, e não segundo a tradição que de nós recebestes” (II Ts 3:6);

• “Não tenho maior gozo do que este, o de ouvir que os meus filhos andam na verdade” (III Jo 4)�Para andar em humildade, pureza, contentamento, fé, boas obras,

separação, amor, luz, sabedoria e verdade, o cristão precisa andar pelo Espírito, pois apenas o Espírito pode produzir estas virtudes� Quan-do andamos por Ele não satisfazemos as concupiscências e desejos da carne� As soluções humanas não podem resolver problemas que são es-sencialmente espirituais� Usar métodos humanos como a psicologia, o pragmatismo ou a razão para resolver problemas carnais não vai levar à vitória sobre as prevalecentes concupiscências da carne� Uma vida cristã vitoriosa só é conseguida por andar no Espírito�

Talvez seja oportuno definir o princípio da “carne”, que é, como vemos nesta epístola, uma força perigosa na vida do cristão� A palavra grega sarx é um termo muito importante no ensino do Novo Testa-mento� É usada às vezes referindo-se ao corpo, como por exemplo, em Lucas 24:39, quando o Senhor Jesus diz: “Pois um espírito não tem carne [sarx] nem ossos, como vedes que Eu tenho”; uma referência ao Seu corpo santo no qual Ele se apresentou diante dos Seus discípu-

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172 O Espírito da Glória

los� É também usada para indicar esforço humano, como em Gálatas 3:3: “Sois vós tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, acabeis agora pela carne [sarx]?” Aqui é uma referência aos esforços do homem para realizar o sobrenatural por meios naturais� O Senhor Jesus faz uma afirmação exata a respeito da carne sendo o estado não regenerado do homem: “O que é nascido da carne [sarx] é carne [sarx], e o que é nas-cido do Espírito é espírito” ( Jo 3:6), mostrando a diferença clara entre a carne e o espírito�

O significado principal de carne na vida do cristão é sua referência à natureza de Adão, que ainda é suscetível ao pecado� Paulo resume esse preceito quando diz: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem� Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço� Ora, se eu faço o que não quero, já não o faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7:18-20)�

Enquanto Gálatas 5:16 sugere um conflito, Paulo é mais específico no v� 17� Neste versículo ele diz claramente que “a carne cobiça contra o espírito”, isto é, está em oposição� É por isso que existe um conflito na vida do cristão que não existe na vida do descrente, pois este último não tem o Espírito�

A exortação do v� 16 é para andar em Espírito, mas a expectativa no v� 17 é que o cristão encontrará oposição ao procurar fazê-lo (veja a referência a Rm 7:18-20)� O que podemos deduzir, no v� 16, é explicito no v� 17, isto é, a carne e o espírito são totalmente opostos� É essa opo-sição que explica por que andar no Espírito, inevitavelmente, resultará no não cumprimento dos desejos da carne� A frase condicional do v� 18 (“Mas se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”) mostra que o cristão não é um expectador impotente no conflito entre a carne e o Espírito� Ser guiado pelo Espírito é entregar-se, de forma volun-tária e inteligente, não somente seguir passivamente� Essa afirmação complementa a do v� 16, mostrando que, assim como o cristão anda no conselho de Deus, pelo Espírito, o Espírito guia e conduz o cristão na sua jornada na vida� O apóstolo Paulo parece destacar a Lei como a incitadora da transgressão� Nestes versículos há um duplo antagonismo contra o Espírito; no v� 16 é o Espírito contra a carne, e no v� 18 o Espí-rito contra a Lei� A Lei lidava com a conduta dos homens, mas era inca-paz de controlar esta conduta, porque a conduta está sob o controle das emoções, e as emoções, por sua vez, estão sob o controle do pecado� Ser

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 173

guiado pelo Espírito nos garante que o controle do pecado sobre nós não é mais necessário, pois não estamos sob a Lei, que exige obediência, mas não pode suprir o poder sem o qual essa obediência é impossível� De modo oposto, estamos sob a graça, onde a fraqueza encontra a força disponível e suficiente através do Espírito Santo� A Lei e a carne estão intimamente ligadas� Segundo a exposição de Paulo em Romanos, a Lei, ao invés de conter a carne, na verdade produz o efeito inverso� Por um lado a Lei provoca e aumenta o pecado, pois a carne faz a pessoa se opor à Lei de Deus; por outro lado, devido à fraqueza da carne, que não pode guardar a Lei de Deus, quanto mais uma pessoa tenta guardar a Lei, tanto mais se achará nas garras do pecado�

Uma citação do livro “O Peregrino”, de John Bunyan, pode ilustrar esse princípio� Há no livro uma cena na “Casa do Intérprete”� Nessa casa há um aposento coberto com uma grossa camada de poeira� Ch-ristian, o personagem principal do livro, viu alguém entrar e começar a varrer o cômodo� Logo havia uma nuvem de poeira que encheu o cômodo e sufocava todos que ali estavam, antes de voltar ao lugar de onde fora varrido� O Intérprete explicou a Christian: “Esse aposento é o coração de um homem que nunca foi santificado pela maravilhosa gra-ça do Evangelho: a poeira é seu pecado original, e a corrupção interior contaminou o homem todo� Aquele que começou a varrer era a Lei”� A Lei somente agita a poeira do pecado; ela é incapaz de purificar alguém� A carne necessita de uma solução espiritual�

As obras da carneAntes de escrever sobre o “fruto do Espírito”, Paulo menciona as

obras da carne em 5:19-21� A razão para isso é que Paulo contrasta o fruto do Espírito com a lista contida nestes versículos�

Poucos negariam que muitos problemas na vida vêm da carne, e que a solução deles vêm do Espírito! Como cristãos desfrutamos da verdade animadora de II Coríntios 6:16: “E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e Eu serei o seu Deus e eles serão o Meu povo”� Deus vive em nós� Ele anda conosco e nos guia� O Espírito do Deus Todo-Poderoso é nosso� Temos que seguir por onde Ele guia, pois este é o único modo de vencer a carne�

É interessante notar que o “fruto” do v� 22 é singular, em contraste com a palavra “obras” do v� 19, que é plural� A carne se manifesta de

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muitas e diferentes maneiras, ainda que nem todos pratiquem todas as obras listadas nos vs� 19-21� Enquanto temos dezessete obras da carne listadas na versão que usamos, a maioria dos comentaristas sugere que os manuscritos originais omitem adultério (v� 19) e homicídios (v� 21); entretanto, a omissão destas palavras não diminui a seriedade das obras da carne�

Falando em termos gerais, a lista contida nestes versículos se divide em quatro categorias: pecados sexuais, desvios religiosos, desordens de relacionamento, comportamento destemperado�

Pecados sexuais

Em primeiro lugar na lista está prostituição*, que aparece nos es-critos de Paulo em I Coríntios 5:1 (VB); 6:13, 18; 7:2; II Coríntios 12:21; Efésios 5:3; Colossenses 3:5; I Tessalonicenses 4:3� Refere-se a relacionamentos sexuais ilícitos, e inclui relações ilícitas de toda espécie, praticadas em oculto ou abertamente� Portanto, neste contexto, pode incluir adultério� Pecado de origem sexual era então, e ainda é hoje, uma característica marcante da vida sem Cristo� Quando Paulo escreve sobre esse pecado, em I Coríntios 6:15-18, ele mostra a seriedade de se envol-ver em práticas que estabelecem ligações que não podem ser desfeitas, e são uma ofensa contra o corpo todo� Intimamente associada com a imoralidade está a impureza, que é um conceito muito abrangente e in-clui, além de ações impuras, palavras, pensamentos e desejos impuros do coração� Também neste primeiro grupo de obras da carne está incluída a lascívia, ou licenciosidade, que enfatiza a falta de autocontrole em questões morais, e caracteriza a pessoa que dá livre curso aos impulsos da sua natureza pecaminosa�

Desvios religiosos

O próximo grupo, que trata dos desvios religiosos, começa com ido-latria, que se refere não somente à adoração de imagens, mas também a qualquer prática maligna relacionada à essa adoração, assim como a substituição do verdadeiro Deus, que é revelado em Jesus Cristo, por qualquer outra coisa� Podemos incluir aqui o “eu”, na forma de avareza, “que é idolatria” (Cl 3:5)� Intimamente ligada com a idolatria está a fei-

* O autor está considerando que “adultério” (a primeira palavra na versão AT, que serve de base para esta publicação) não deveria estar na lista, como ele escreveu poucaslinhasacima(N.doE.).

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 175

tiçaria (bruxaria)� O feiticeiro geralmente alegava ter acesso a um poder sobrenatural, e assim praticava seu ofício� Paulo usa a palavra somente nessa passagem� Pode ser útil notar que a palavra traduzida feitiçaria, ou bruxaria, vem da palavra grega pharmakeia que, enquanto significa o uso medicinal de drogas, pode salientar o perigo, na nossa sociedade, de culto às drogas, do desejo de muitos por experiências alucinantes, sobrenaturais, que melhoram o desempenho, e que nada tem a ver com espiritualidade�

Desordens de relacionamento

Agora temos um grupo de oito* itens que indicam pecados nas relações pessoais� Cada item mencionado nesta seção está no plural, o que mostra os múltiplos aspectos de cada uma dessas obras carnais� Parece que o potencial de relacionamentos destruídos é ilimitado! Essa seção inicia com inimizades [ou “ódio”], que é uma característica de um homicida, e este não tem o Espírito de Deus: “Vós sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele” (I Jo 3:15)� É uma condição satânica, e faz-nos lembrar da manifestação de ódio de Caim contra Abel em Gênesis 4�

Sem entrar em detalhes sobre cada uma das obras da carne mencio-nadas nestes versículos, podemos dizer que elas se resumem na palavra “rivalidade”� Cada uma destas obras da carne é baseada na busca do homem por promoção pessoal à custa dos outros, e o conflito que re-sulta disso� A seção termina com inveja, que também está incluída nas listas das características indesejáveis em Romanos 1:29; I Timóteo 6:4; Tito 3:3, e até mesmo é mencionada em relação a pregadores de Cristo (Fp 1:15)� O pecado de ciúmes já foi mencionado nesta parte da lista (traduzido “emulações”)� Sempre que esses dois, ciúmes e inveja, podem ser diferenciados um do outro — como aqui — o primeiro pode ser descrito como o medo de perder o que se tem, e o segundo é o despra-zer de ver alguém com algo que não temos� A palavra “inveja” vem do latim in-video, que significa olhar comparando; ou seja, olhar para outra pessoa com má vontade por causa daquilo que ela é, ou tem� Um dos pecados que mais destroem a alma é a inveja, que como a palavra grega phthonos indica, “corrói” a pessoa� A inveja é descrita como “podridão para os ossos” (Pv 14:30)� Foi a inveja que causou o assassinato de Abel; que lançou José na cova; que levou Coré, Datã e Abirão a se rebelarem

* Seincluirmos“homicídios”(vejaanotaanterior)serãonoveitens(N.doE.).

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contra Moisés; que impeliu Saul a perseguir Davi; e que entregou o Senhor Jesus para ser crucificado: “Porque ele bem sabia que por inveja os principais dos sacerdotes O tinham entregado” (Mc 15:10)� Portanto, é significativo que este tema é salientado na lista dos pecados de rela-cionamentos�

Comportamento destemperado

A parte final da lista das obras da carne trata de comportamento descontrolado� Paulo menciona dois exemplos do pecado de intempe-rança: bebedices e glutonarias� A condição de embriaguez é destaca-da por Paulo nas suas listas em Romanos 13, I Coríntios 5 e 6, e nas passagens em Coríntios as palavras “bêbados” e “beberrão” são usadas� Isto enfatiza a condição resultante da embriaguez, isto é, transformar--se num bêbado� Devemos notar que o alcoolismo é visto nas Escrituras não como uma doença, mas como um pecado� Embora testemunhemos diariamente, e reconheçamos o aspecto médico do alcoolismo, nunca devemos esquecer o aspecto da responsabilidade� O perigo é de se mi-nimizar a responsabilidade pessoal, colocando a culpa na dependência criada pela situação e desculpar o participante� Embriaguez é uma ati-vidade associada aos que estão nas trevas, e não deve ser praticada pelos que andam na luz: “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas” (I Ts 5:5)� As orgias em que o bêbado participa são uma característica do estilo de vida pagão, iden-tificando-se com Dionísio (ou Baco), o deus do vinho, e traz consigo a ideia de imoralidade libertina, como já descrita nestes versículos�

Essa lista das obras da carne é bem representativa, embora não seja completa� Muitos pecados mencionados em outros escritos de Paulo não são mencionados aqui, mas o apóstolo está enfatizando, nesta pas-sagem, o pecado das paixões sensuais, como visto no primeiro e no últi-mo pecado da lista� Entretanto, indiferentemente de como classificamos ou dividimos essas obras da carne mencionadas, elas são manifestações de vidas dominadas pela carne, ao invés de dirigidas pelo Espírito� É importante saber que aqueles que permanecem sob a influência da car-ne, e praticam tais pecados, “não herdarão o reino de Deus” (Gl 5:21)�

O fruto do EspíritoProsseguindo com o seu ensino em Gálatas 5, Paulo nota que, en-

quanto as obras da carne são múltiplas, o Espírito produz um único

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 177

fruto� Isso indica a união das qualidades espirituais descritas por Paulo� Aqueles que andam por esse Espírito verão, não alguns, mas todos os aspectos do fruto do Espírito nas suas vidas� Parece que a pessoa tem todo o fruto ou não tem nada! “O fruto” é melhor considerado como um todo, e realmente pode ser entendido como “a sega”� Esse é o resultado de andar em Espírito (v� 16), de ser guiado pelo Espírito (v� 18) e de viver em Espírito (v� 25)� O Espírito Santo produz o Seu fruto na vida do cristão que vive nessa condição� Logo, as qualidades listadas nos vs� 22-23 não são o resultado de uma extenuante observação de algum có-digo externo de regras, mas o produto natural de uma vida controlada e guiada pelo Espírito� Este fruto é uma dádiva concedida a cada cristão, e não tem relação com as manifestações extraordinárias e temporárias do poder do Espírito nos primeiros dias da era da Igreja� A lista contida nestes versículos é obviamente muito diferente da diversidade dos dons espirituais mencionados em I Coríntios 12, onde lemos do Espírito Santo “repartindo particularmente a cada um como quer” (I Co 12:11)�

Já descrevemos esse grupo de nove características como facetas di-ferentes de uma colheita; talvez seja melhor considerá-las individual-mente ao invés de dividi-las em subgrupos� Não pretendemos, de forma alguma, desrespeitar os grandes ensinadores que o fizeram oralmente ou por escrito: trata-se apenas de uma preferência pessoal do presente escritor, de acordo com os comentários anteriores�

Amor

O amor resplandece fortemente da pessoa cheia do Espírito� A pa-lavra usada aqui é aquela palavra usada do amor de Deus para com o homem (agape), sugerindo que nós amamos os outros como Deus nos ama� Amor não é apenas uma emoção, mas é evidenciado em vários aspectos da vida do cristão� Amor é:• o motivo de todos os atos (I Co 16:14);• o poder motivador do perdão (II Co 2:7, 8);• evidenciado no dar sacrificial (II Co 8:24);• o meio de controle da liberdade cristã (Gl 5:13);• demonstrado para com os demais cristãos (Ef 1:15);• uma evidência de maturidade espiritual (Ef 4:15);• evidenciado por aqueles que são seguidores de Deus (Ef 5:2);• o segredo da união (Cl 2:2);• uma veste para ser vestida (Cl 3:14);

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• parte da atitude correta para com os anciãos (I Ts 5:12);• a base do apelo cristão (Fl 9)�

Embora o amor não seja gerado por si mesmo, mas é um fruto do Espírito Santo, somos exortados a “seguir o amor” (I Co 14:1)� Esse se-guir, quando visto à luz da passagem à nossa frente, equivale a ser guiado pelo e andar no Espírito�

Gozo

A palavra chara não se refere à felicidade humana e terrena� Ela é sempre usada nas Escrituras para indicar alegria que é baseada em fatores espirituais� Não é o resultado de circunstâncias positivas, mas da alegria interior profunda de Deus� Um bem conhecido adágio afirma que “alegria depende de acontecimentos* — o gozo não”�

O gozo espiritual transcende as circunstâncias: “Em que vós gran-demente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; ao qual, não O havendo visto, amais; no qual, não O vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” (I Pe 1:6-8)� A exortação de Paulo dada à igreja em Filipos foi: “Regozijai-vos sempre no Senhor” (Fp 3:1; 4:4)�

O gozo cristão permanece inalterado em meio à tristeza e tribula-ção, e de fato, prova o seu poder no meio de tais condições: “… como contristados, mas sempre alegres” (II Co 6:10)� “Como em muita prova de tribulação houve abundância do seu gozo, e como a sua profunda pobreza abundou em riquezas da sua generosidade” (II Co 8:2)�

Paulo é um grande exemplo de gozo, pois mesmo nas circunstâncias mais aflitivas em Roma ele se regozijava, e nós somos abençoados com as suas epístolas da prisão� É um homem espiritual que pode dizer: “Regozijai-vos sempre” (I Ts 5:16)� E embora seja mais fácil “chorar com os que choram”, o homem espiritual alegra-se “com os que se ale-gram” (Rm 12:15)�

* No inglês há um jogo de palavras interessante entre “happiness” (alegria) e “happenings”(acontecimentos)queseperdenatradução(N.doE.).

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 179

Paz

Paz (eirene), como o hebraico shalom, significa mais do que a ausên-cia de problemas ou discórdia� Possui a ideia mais positiva de estabilida-de, integridade, prosperidade, serenidade e tranquilidade, e é, portanto, uma demonstração do fruto espiritual� É uma condição que não pode ser induzida por uma situação externa, mas vem do Espírito que habi-ta no interior� Paz espiritual não inclui necessariamente circunstâncias pacíficas, mas um coração pacífico em condições turbulentas ainda re-sultará em paz� Paz é um dos atributos de Deus� Ele é o “Deus de paz” (Rm 15:33; 16:20; II Co 13:11; Fp 4:9; I Ts 5:23)� Assim, com Deus como a fonte de paz, e o Espírito Santo como Aquele através de Quem a paz vem, o fruto da paz deve ser evidenciado no cristão� Esta paz é baseada na obra consumada da reconciliação feita por Cristo através do derramamento do Seu sangue: “Havendo por Ele feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio dEle reconciliasse consigo mesmo todas as coisas” (Cl 1:20), e por causa dessa reconciliação Ele tornou possível para o homem ser justificado e ter “paz com Deus” (Rm 5:1)�

Paz será evidenciada na igreja local na medida em que aderirmos à exortação de Paulo: “… procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3)�

Pode ser que, nesses versículos, a paz se refira especificamente ao nosso relacionamento com os outros, tanto cristãos como não salvos, mas também devemos incluir no seu significado a paz interior que re-sulta de um relacionamento correto com Deus� De fato tal relaciona-mento seria manifesto na nossa maneira de tratar as outras pessoas�

Longanimidade

Longanimidade (makrothymia; ou “paciência”, NVI) é o oposto de impaciência� Não se trata meramente da habilidade de “aguentar” as pessoas ou circunstâncias por um longo período, mas tem um aspecto espiritual mais profundo, sendo uma faceta do fruto do Espírito� É tam-bém outro atributo de Deus: “O Senhor, o Senhor Deus misericordioso e piedoso, tardio em irar-se [longânimo] e grande em beneficência e verdade” (Êx 34:6); “Porém Tu, Senhor, és um Deus de compaixão, e piedoso, sofredor [longânimo], e grande em benignidade e verdade” (Sl 86:15)� A longanimidade de Deus para com a humanidade é a base e a razão da paciência do cristão para com os outros� Para viver à altura da nossa vocação nós, os cristãos, precisamos demonstrar as seguintes

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características: “… com toda a humildade, e mansidão, com longanimi-dade, suportando-vos uns aos outros em amor” (Ef 4:2)� Esse atributo atinge mais do que os membros da família cristã em I Tessalonisenses 5:14, onde Paulo escreve: “Rogamos-vos, também, irmãos, que admoes-teis os desordeiros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos”� Essa paciência deveria ser evidenciada também naqueles que pregam a palavra: “Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (II Tm 4:2)�

Benignidade

Benignidade (chrestotes; “amabilidade”, NVI) é encontrada no Novo Testamento somente nos escritos de Paulo� Essa palavra, quando aplica-da a Deus, indica Sua atitude e atuação em graça para com os pecadores� Todavia, visto que é um dos atributos de Deus, não indica fraqueza: “Considera, pois, a bondade [chrestotes] e a severidade de Deus” (Rm 11:22)� Isso sugere que Sua benignidade não é inescrupulosa ou senti-mental� A benignidade nunca deve ser confundida na vida dos cristãos com fraqueza ou falta de convicção� Ela permite a indignação, quando esta é necessária, mas agressividade em atos ou palavras nunca é vista como parte do fruto do Espírito� Paulo é um exemplo disso no seu ministério: “Antes fomos brandos entre vós, como a ama que cria seus filhos” (I Ts 2:7)� Aqueles que provaram a benignidade da salvação de Deus e que andam no Espírito devem demonstrar esta benignidade no seu viver diário� É um dos sete itens com os quais devemos nos revestir (Cl 3:12), e um dos atributos daqueles que têm aprendido de Cristo: “Sede uns para com os outros benignos” (Ef 4:32)� Essa qualidade é um ingrediente essencial do amor e, como o amor, se expressa em atos, isto é, aqueles que são benignos tratam os outros da mesma maneira como Deus os tratou�

Bondade

Bondade (agathosyne) é a atitude de uma pessoa que é basicamen-te boa, isto é, exibe qualidades de excelência moral� Está ligado, como fruto do Espírito em Efésios 5:9, à justiça e verdade, e ligado com o homem justo em Romanos 5:7� C� Leslie Mitton, no seu livro Ephesians [“Efésios”] escreve: “Bondade é uma atitude de generosa benevolência para com os outros, que fica feliz ao fazer muito mais do que é necessá-

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 181

rio pela mera justiça”� Portanto, generosidade parece ser um aspecto de bondade, e aqui no v� 22 representa uma bondade que manifesta uma generosidade prática, e assim pode ser considerada como um contraste à inveja, que está na lista das obras da carne�

Fé (pistis; ou “fidelidade”, ARA)� Esta palavra é usada nesta epís-tola acerca de fé justificadora e salvadora, e é usada em outras partes para indicar um dos dons espirituais (I Co 12:9)� Aqui parece significar fidelidade e lealdade, isto é, confiabilidade e honestidade nos negócios com os outros� Como em Tito 2:10: “Mostrando toda a boa lealdade”� É a qualidade do indivíduo em cujo serviço fiel se pode confiar, e cuja palavra pode ser aceita sem reservas� É uma qualidade básica, necessária, naqueles que são habitados pelo Espírito Santo� A importância dessa qualidade é apresentada pelo Senhor aos Seus discípulos, e a nós, no Seu ministério parabólico:• a parábola dos talentos (Mt 25:14-30);• a parábola do servo vigilante (Lc 12:35-48);• a parábola do mordomo infiel (Lc 16:1-3);• a parábola das minas (Lc 19:12-27)�

O Senhor Jesus é visto como o maior exemplo de fidelidade e ver-dade:• “… um misericordioso e fiel Sumo Sacerdote …” (Hb 2:17);• “Jesus Cristo … sendo fiel ao que O constituiu” (Hb 3:1-2);• “Mas fiel é o Senhor …” (II Ts 3:3)• “… Jesus Cristo, que é a fiel testemunha …” (Ap 1:5);• “O que estava assentado sobre ele chama-Se Fiel e Verdadeiro” (Ap

19:11)�Além deste exemplo perfeito de toda a espiritualidade, temos ho-

mens que foram recomendados quanto à sua fidelidade, como sendo dignos de confiança:• Timóteo: “Por esta causa vos mandei Timóteo, que é meu filho

amado, e fiel no Senhor” (I Co 4:17);• Tíquico: “Ora, para que vós também possais saber dos meus ne-

gócios, e o que eu faço, Tíquico, irmão amado, e fiel ministro do Senhor, vos informará de tudo” (Ef 6:21);

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182 O Espírito da Glória

• Epafras: “Como aprendeste de Epafras, nosso amado conservo, que para vós é um fiel ministro de Cristo” (Cl 1:7);

• Onésimo: “Juntamente com Onésimo, amado e fiel irmão, que é dos vossos” (Cl 4:9)�Essa faceta do fruto do Espírito descreve o cristão em quem é de-

monstrada a fidelidade invariável de Jesus Cristo, e a confiança absoluta de Deus�

Mansidão

A palavra praytes não transmite o significado de fraqueza, mas des-creve uma pessoa em quem a força e a gentileza andam juntas� Portanto, nunca se deve confundir mansidão com fraqueza! No Novo Testamento essa atitude geralmente significa uma disposição humilde de se subme-ter à vontade de Deus� No Novo Testamento, mansidão é a atitude na qual:• A Palavra de Deus deve ser recebida: “Recebei com mansidão a

palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas” (Tg 1:21);

• O irmão errante é restaurado: “Encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também ten-tado” (Gl 6:1);

• Aquele que se opõe ao ensino correto deve ser corrigido: “Instruin-do com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (II Tm 2:25)�Esta atitude pode ser descrita como uma submissão humilde e dócil

à vontade de Deus, que é refletida em humildade, paciência e tolerância para com os outros, considerando até os insultos e injúrias como os meios de Deus de desenvolver as qualidades cristãs� Como, por exem-plo, na declaração de Paulo: “Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo; nós fracos, e vós fortes; vós ilustres e nós vis� Até esta presente hora sofremos fome, e sede, e estamos nus, e recebemos bofetadas, e não temos pousada certa, e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos� Somos injuriados e bendizemos; somos per-seguidos, e sofremos; somos blasfemados, e rogamos; até o presente te-mos chegado a ser como o lixo deste mundo, e a escória de todos” (I Co 4:10-13)�

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 183

Temperança

Temperança (enkrateia; “autocontrole”, JND) é a última faceta do fruto do Espírito nesta lista� Traz a ideia de autocontrole em todas as coisas� Deus deu ao ser humano o poder de exercer a sua própria vonta-de, e sem a presença do Espírito Santo no seu interior, o homem só abu-sa desse privilégio� Somente ao se tornar sujeito à operação do Espírito Santo, pela fé em Cristo, pode o homem exercer controle sobre a sua própria vontade� A palavra é usada por Paulo para descrever aqueles que lutam pela coroa incorruptível (I Co 9: 21-27); na lista de qualificações de um ancião (Tt 1:8) e, curiosamente, foi parte da mensagem que ele pregou a Félix, na Cesaréia (At 24:25)� Ele também menciona o assunto em I Coríntios 7, em relação ao casamento� Pode ser que, em Gálatas 5, Paulo esteja contrastando a temperança com as obras da carne: fornica-ção, impureza e lascívia, bebedice e glutonaria, listadas anteriormente; todas elas incluem demonstrações descontroladas de paixões�

A lista de descrições do fruto do Espírito não é, como a lista ante-rior sobre as obras da carne, completa, mas representativa� Não pretende limitar as belezas do Espírito�

É um aspecto característico de todos os cristãos que eles crucifi-caram a carne (v� 24), estão vivendo pelo Espírito (v� 25), e assim estão comprometidos a serem guiados pelo Espírito (v� 25)� Nestas condições o fruto do Espírito será manifestado em contraste com as obras da car-ne�

A responsabilidade daqueles que andam pelo Espírito

Andar pelo Espírito há de não somente evitar provocação e inveja e o abster-se das obras vis da carne (5:19-26), mas, do ponto de vis-ta positivo, levar à restauração daqueles que caíram em pecado (6:1)� A qualificação para esse serviço, que geralmente será de uma natureza delicada, é descrita em uma palavra, “espiritual”� Curiosamente, essa pa-lavra não aparece no Velho Testamento,* nem nos Evangelhos; é usada somente depois do Pentecostes� O homem espiritual é aquela pessoa que anda pelo espírito no sentido de 5:16, 25, e que evidencia o fruto do

* OautormencionaumareferêncianoVT (Os9:7)onde,no inglês,éusadaapalavra “espiritual”, mas explica que o sentido é outro. Omitimos essa frase pois emPortuguêsatraduçãoé“homemdeespírito”(N.doE.).

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Espírito na sua vida� Além disso, é pelo padrão do Espírito Santo que um homem deve julgar-se a si mesmo� Ser espiritual nas Escrituras é o normal para o cristão; entretanto, pode haver aqueles que, devido à falta de maturidade, ainda não atingiram esse padrão, como em I Coríntios 3:1-3� Outros, como em Gálatas 6:1, podem ter perdido a condição de espiritualidade ao sucumbirem à carne� Isso não quer dizer, de forma alguma, que um cristão pode perder o Espírito Santo� Vemos a confir-mação disto no processo de restauração (colocação de um osso no lugar) destes versículos� A obra de restauração sempre é feita por uma pessoa espiritual, mostrando que não deve ser assumida levianamente ou de uma maneira carnal� Se julgarmos nosso padrão de espiritualidade, ba-seados nos detalhes do fruto do Espírito, saberemos se somos ou não idôneos para esta obra�

O último grande contrasteO apóstolo, ao concluir a sua carta de uma maneira encorajadora,

faz uma última referência às facções conflitantes, isto é, a carne e o Espírito�

O princípio declarado — “tudo o que o homem semear, isso tam-bém ceifará” (6:7) — é uma regra que vale para todas as pessoas� No contexto ele se refere à maneira como irão reagir à sua presente carta, mas naturalmente o princípio que “Deus não se deixa escarnecer” ex-cede, em muito, tudo o que ele escreveu� Semear na carne significa dar livre curso à velha natureza� Assim também semear no Espírito significa permitir que o Espírito Santo esteja no controle� A pessoa que faz isso está andando pelo Espírito (5:16), e sendo guiada pelo Espírito (5:18)�

É interessante que aquele que semeia para a carne “semeia na sua [própria] carne”, que é um quadro perturbador da carnalidade egoísta� Entretanto, isso pode significar que essa pessoa ainda está no estado na-tural, e não conhece a salvação de Deus� De qualquer forma, essa pessoa “da carne ceifará corrupção”, primeiramente nesta vida, mas também na vida por vir� Se um cristão semear na sua carne, ele está indo contra Deus, e deve esperar a intervenção de Deus� Embora sua alma nunca poderá se perder, sua perda futuro de galardão e posição no Reino será um resultado direto da sua vida na Terra� Entretanto, se, como é mais provável, a pessoa que demonstra este estilo de vida é um descrente, sua expectativa não pode ser outra senão o eterno juízo de Deus�

Por outro lado, há aqueles que semeiam no Espírito� Enquanto es-

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Cap. 11 — O Espírito Santo em Gálatas 185

tes desfrutarão de uma qualidade de vida condizente com o fruto pro-duzido por meio do Espírito habitando no seu interior, o resultado final do seu semear é “a vida eterna”� Isso significa que:• Eles trarão “a imagem do celestial” (I Co 15:49);• Eles terão um corpo “conforme o Seu corpo glorioso” (Fp 3:21);• Eles serão “semelhantes a Ele”, porque O verão “assim como [Ele]

é” (I Jo 3:2)�W� E� Vine, no seu comentário sobre Gálatas, resume o assunto da

seguinte maneira:Não existe exceção para a lei da semeadura e do tempo da colheita, seja no reino físico ou espiritual. O que colhemos é o que semeamos;nãooquepretendíamossemear,ouquepensávamoster semeado, mas sim o que de fato semeamos.

ConclusãoNa epístola aos Gálatas o conflito entre a carne e o Espírito parece

ser constante� Entretanto, para aqueles que são espirituais, isto é, que evidenciam o efeito da presença do Espírito no seu interior, e demons-tram o fruto do Espírito ao ponto de excluir as obras da carne, há so-mente um resultado: eles ceifarão “do Espírito … a vida eterna” (Gl 6:8)�

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésiospor Thomas Bentley, Malásia

Certamente é instrutivo e animador saber que tanto no primeiro quanto no último capítulo da Bíblia há uma menção muito importante do Espírito Santo de Deus� Embora Ele não seja mencionado em todos os livros da nossa Bíblia, é importante reconhecer que Ele é a Fonte e o Meio de comunicação divina que confere à Bíblia a sua autoridade, autenticidade e aceitabilidade�

O conceito de certas pessoas modernistas e cultas é que o Espírito Santo é uma mera influência abstrata, o que nega a Sua Personalidade divina� Mas nós devemos observar que:• Atitudes para com o Espírito indicam personalidade inquestioná-

vel: “Foram rebeldes” (Is 63:10); “Mentisses ao” (At 5:3); “Resistis” (At 7:51); “Entristeçais” (Ef 4:30)�• Ações pelo Espírito Santo também confirmam Sua Personalidade: A instrução do Espírito ( Jo 14:26); A convicção do Espírito ( Jo 16:9); O chamado do Espírito (At 13:2); A intercessão do Espírito (Rm 8:26)�

A Palavra de Deus afirma que:• Ele tem atributos divinos: Onipotência ( Jó 33:4); Onipresença (Sl 139:7); Onisciência (I Co 2:11-12)�• Ele executa atividades divinas: Criação (Sl 104:30); Revelação (At 28:25); Ressurreição (Rm 8:11);

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios 187

Santificação (Rm 15:16); Habitação ( Jo 14:17)�• Ele é reconhecido como Deus (At 5:3-4; 10:13-19; II Co 3:17)�• Ele tem amplitudes divinas: Sabe (I Co 2:11); Sonda (I Co 2:10); Ensina (I Co 2:13)�

A aptidão divina do Espírito Santo é nitidamente declarada no tí-tulo sétuplo encontrado em Isaías 11:2: “ Repousará sobre Ele o Espí-rito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor”�

É muito importante que os santos de Deus estejam bem informa-dos acerca dos títulos que são aplicados ao Espírito Santo� Estes podem ser classificados sob os seguintes cabeçalhos:• Em relação a Deus Espírito de Deus (Mt 3:16); Espírito do Deus vivo (II Co 3:3); Espírito do Senhor (Lc 4:18); Espírito do vosso Pai (Mt 10:20); Espírito do nosso Deus (I Co 6:11); Seu Espírito (Rm 8:11);• Em relação a Si mesmo O Espírito Santo (Mt 1:20); O Senhor o Espírito (II Co 3:18, VB); O Espírito Eterno (Hb 9:14); O Santo (I Jo 2:20)�• Em relação a Nós O Espírito de Verdade ( Jo 14:17); O Espírito de Vida (Rm 8:2); O Espírito de Santificação (Rm 1:4); O Espírito de Fé (II Co 4:13); O Espírito de Sabedoria e de Revelação (Ef 1:17); O Espírito de Adoção (Rm 8:15); O Espírito da Graça (Hb 10:29)�

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188 O Espírito da Glória

Lucas, pelo Espírito de Deus, registra no livro de Atos três inci-dentes relevantes quando três classes diferentes de pessoas receberam o Espírito Santo de Deus� Estes foram: judeus (cap� 2), samaritanos (cap� 8), e gentios (cap� 10)� Entretanto, quando Paulo chegou a Éfeso, ele encontrou doze homens que haviam sido batizados com o batismo de João, e que não tinham conhecimento da vinda do Espírito Santo, como suas palavras mostram: “Nem sequer ouvimos que o Espírito Santo é dado” (At 19:2, VB)� O v� 6 acrescenta: “E impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam”�

Portanto, não deixa de ser significativo que, mais tarde, quando Paulo se comunicou com a igreja em Éfeso, ele fizesse, pelo Espírito Santo, doze referências claras ao Espírito Santo, que serão o nosso as-sunto daqui para frente�

O ministério mediador do Espírito de Deus

Em relação ao propósito divino (1:13)

Nesta passagem de tanta importância divina, aprendemos sobre a conclusão, pelo Espírito, da obra da Trindade mediadora, na qual temos o propósito do Pai (vs� 2-6), a aquisição do Filho (v� 7), e a presença do prometido Espírito Santo (vs� 13-14)� Se a minha salvação depende somente da escolha soberana de Deus, então, que necessidade tenho eu de crer? Paulo certamente não está confundindo o assunto, antes, por inspiração divina, está confirmando o meu imenso privilégio de ter ou-vido o Evangelho, seguido pela reação necessária de crer, momento no qual eu fui selado com o Espírito Santo da promessa�

Em relação à provisão divina (1:17)

A misericórdia enriquecedora do nosso Deus está registrada para nosso bem e encorajamento espiritual, como podemos ver na dádiva feita a nós do “Espírito de sabedoria e de revelação”, por quem somos capazes de compreender o propósito da provisão divina� Assim nós te-mos esclarecimento (v� 18a), encorajamento (v� 18b), enriquecimento (v� 18c), e eficiência (v� 19) divinos� Se uma alma nunca crê, essa bênção nunca será sua, pois Seu poder é “sobre nós, os que cremos”�

Em relação à presença divina (2:18-22)

O ministério enriquecedor do Espírito de Deus é muito valorizado

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios 189

quando reconhecemos que o nosso conhecimento do Pai é, em primeiro lugar, o resultado da obra do Senhor Jesus tanto para judeus quanto para gentios salvos pela graça, e que o bendito acesso que valorizamos como um dos nossos maiores privilégios é conhecido pelo poder do Espírito� Nós não somente temos esse privilégio como também, no v� 19, reco-nhecemos com prazer inexpressível que nós, como gentios, não somos mais “estrangeiros nem forasteiros”, mas “concidadãos dos santos, e da família de Deus”� Mas ainda há mais pela frente, pois ao ponderarmos sobre a obra contínua da graça, vemos que não fomos somente trazidos ao Pai: mas também o Pai, como nosso Deus, foi trazido a nós, como afirma o v� 22: “No qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus em Espírito”�

Em relação ao preceito divino (3:5; 6:17)

A própria natureza desta dispensação da graça excede em muito a compreensão natural� As pessoas ao nosso redor, sem Cristo, nada sa-bem do caráter da época em que vivemos, e não compreendem que há pessoas vivas que são nascidas de Deus e que pertencem a Deus� Aqui em Efésios 3:5, a Palavra de revelação, para a dispensação presente, é comunicada pelo Espírito de Deus� Poucos são, nos nossos dias, os que aceitam a absoluta autoridade da revelação divina, mas Paulo certamen-te deixa claro que essa grande e rica comunicação de Deus, tendo em vista a bênção dos Seus, é dada “pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas”� A maior farsa da atualidade é a alegação de que o Espírito de Deus continua a se comunicar através de revelação divina� É impor-tante que os santos estudem cada palavra, em qualquer passagem das Escrituras Sagradas� Ao fazer isso em Efésios 6:17, será esclarecedor descobrir que o termo traduzido “palavra” é rhema, e não é a palavra geralmente usada, logos� Desta distinção aprendemos que a palavra divi-namente entregue é sempre apropriada e apta para a ocasião�

Em relação ao poder divino (3:16; 5:18)

O parágrafo em que se encontra o nosso assunto (3:14-19) registra a segunda oração de Paulo pelos santos em Éfeso: a sua oração pelos santos é que o Pai lhes conceda serem fortalecidos pelo Espírito no homem interior, para que Cristo possa habitar em seus corações� Aqui temos um ponto muito animador com relação à presença do Espírito em nós� É Ele que nos dá o poder para oferecermos uma morada ao

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Salvador� Lembramos, com tristeza, que quando Ele veio à Terra pela primeira vez “não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2:7)� Mas quando Ele falou com Zaqueu, Suas palavras foram maravilhosas: “Por-que hoje Me convém pousar em tua casa”� É somente pelo poder do Espírito Santo que habita em nós que podemos oferecer ao Salvador uma morada�

Em 5:18 somos capacitados pelo Espírito a viver com louvor abun-dante subindo continuamente dos nossos corações a Cristo� Cada um de nós entende plenamente as consequências da primeira parte deste versículo, pois muitas vezes já nos encontramos com pessoas domina-das por outro tipo de espírito, e testemunhamos as consequências disso� Mas simplesmente estar cheio do Espírito nos permite oferecer louvor abundante ao nosso bendito Senhor com salmos, hinos e cânticos espi-rituais, cantando ao Senhor no nosso coração�

Em relação ao privilégio divino (4:3, 30)

Vendo essa exortação direta e tão necessária, é muito reconfortante saber que nós não precisamos criar esta unidade� Ela já existe como resultado da soberania divina, portanto é a nossa obrigação correspon-der e manter aquilo que já existe, e isso pelo poder e auxílio do próprio Espírito Santo�

Já fomos exortados, no v� 3, a manter a unidade, e agora, no v� 30, temos um mandamento relacionado com sensitividade, que nos ensina a não entristecer o Espírito Santo� De acordo com o relato de Isaías, até mesmo o povo de Deus, no passado, fez exatamente isto (63:10)� Tal ação desagradaria profundamente a Deus, e justificaria retribuição divina em castigo severo�

Em relação a provisão divina (4:4; 6:18)

O lugar que o Espírito Santo ocupa em I Coríntios 12 é semelhante ao da passagem agora diante de nós, já que ambas anunciam a concessão de dons para a edificação do corpo de Cristo, localmente em Corín-tios, mas num contexto dispensacional em Efésios� Assim, o Espírito está constantemente provendo para o nosso crescimento espiritual com recursos que são divinamente inesgotáveis� O Espírito de Deus não so-mente concede o dom, como também supre abundantemente o poder, a graça e a habilidade pelos quais o dom opera� Qual é o poder pelo qual um servo de Deus, trabalhando como evangelista, encontra auxílio,

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios 191

fruto e bênção? É somente pelo poder e graça do Espírito de Deus que capacita� Assim também com o ensinador, o ancião, ou em qualquer outro serviço prestado, nenhuma bênção será provada ou gozada sem o poder e capacitação do Espírito�

Se o termo “pregação” descreve o serviço que consideramos no pa-rágrafo anterior, podemos dizer que a palavra “oração” engloba o exer-cício em Efésios 6:18, que é promovido somente pelo Espírito� O v� 18 traz um uso simples, mas instrutivo, do que chamaremos uma “pequena” palavra� É pequena porque é composta de somente quatro letras, mas sua abrangência é vasta, como, na realidade, “toda” sempre é� Repare: “toda a oração” — a prática do nosso exercício; “todo o tempo” — a per-petuidade do nosso exercício; “toda a perseverança” — a perseverança do nosso exercício; “todos os santos” — as pessoas do nosso exercício�

A importância prática e pessoal do Espírito de DeusSempre fazemos questão de evitar mera repetição, entretanto, é um

exercício encorajador visualizar estas doze referências à Pessoa e obra do Espírito Santo de uma maneira pessoal, que trará a plenitude e graça do Espírito de Deus para dentro das nossas vidas diárias, de forma prática e efetiva�

Minha herança e certeza (1:13)

Nada traz mais certeza para alguém que acaba de receber uma he-rança inesperada, do que ter todos os detalhes oficializados num docu-mento legal� Ele pode ouvir isso da boca de alguém, mas nada traz mais certeza do que ter a prova confirmada por um carimbo oficial� Cada crente no Senhor Jesus tem a mesma garantia confortadora de tudo que temos em relação à nossa herança espiritual eterna� Isso é gloriosamente confirmado pelo fato que fomos “selados pelo Espírito Santo da pro-messa”� Refletir sobre as palavras de Paulo aos Coríntios (II Co 1:22; 5:5) confirma a garantia que ele dá aos santos em Éfeso, e a todos os que têm depositado a sua total confiança no Senhor Jesus Cristo como Sal-vador� Embora seja um fato, é também inacreditável, que muitos propa-gam a possibilidade (como eles dizem) que “uma pessoa pode ser salva hoje, e perdida amanhã”! O Deus que nos salvou e abençoou com uma certeza tão bendita acrescenta: “… o Qual é o penhor da nossa herança, para [até a] redenção da possessão adquirida, para louvor da Sua glória”�

Vale a pena considerar o significado da palavra “penhor” (arrhabon),

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192 O Espírito da Glória

pois não somente confirma a segurança da questão, como também indi-ca, de forma significativa, a continuidade da bênção que o nosso Deus em graça nos tem concedido�

Minha instrução e apreensão (1:17)

Falando de um ponto de vista natural, se eu fosse o escritor des-sa expressão valiosa, teria colocado o tema da revelação em primeiro lugar, e depois a sabedoria, mas quão esclarecedor é reconhecer que a ordem que Deus segue se aplica à atuação da Sua obra de graça em nossos corações� Assim, o tema diante de nós é rico e real, ao sermos enriquecidos e depois esclarecidos� No momento quando confiamos no Senhor Jesus, agimos em obediência ao Evangelho� Entretanto, havia muito acerca do nosso novo estado que não apreciávamos, mas fomos divinamente capacitados a compreender plenamente a causa e a direção da nossa mudança� No v� 18 Paulo está confirmando a revelação do nos-so esclarecimento (compare Ed 9:8, a sua recuperação — Sl 13:3, a sua realidade — Sl 19:8, a sua retidão — Pv 29:13, os seus recursos — I Sm 14:17-28, a sua reposição)� Em seguida temos algo para encorajar (“para que saibais qual seja a esperança da Sua vocação”), algo para enriquecer (“e quais as riquezas da glória da Sua herança”), e algo para energizar (“e qual a sobre-excelente grandeza do Seu poder”)�

Minha introdução e acesso (2:18)

Que realidade bendita Paulo expressa no v� 14, quando ele usa a simples palavra “um”: “… o Qual de ambos os povos fez um”� É sempre bom ter certeza que entendemos as palavras simples e a estrutura gra-matical empregada pelo Espírito� A palavra “um” aqui é neutra* quanto ao gênero, deixando perfeitamente claro que Paulo está enfatizando que as duas posições são uma, o que revela claramente que os de Israel que confiaram em Cristo, juntamente com os cristãos gentios, ocupam uma mesma posição diante de Deus� Olhemos agora para a mesma palavra nos vs� 15-16 (“um novo homem”; “um corpo”)� Aqui está no gêne-ro masculino, logo os povos são um� Isso nos traz ao nosso privilégio, que ao nos aproximarmos da presença e Pessoa do nosso Deus e Pai, fazemo-lo no poder e ajuda do “um” Espírito que formou a unidade

* Neste parágrafo o autor contrasta as palavras gregas eiv (quer no grego tem o gênero masculino) com en (que é neutra no grego). Tal distinção não aparece nas versõesemPortuguês(N.doE.).

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios 193

acima mencionada�

Minha edificação e consciência (2:22)

Mais uma vez estamos diante de outro aspecto da nossa posição e privilégio comuns� Nunca devemos ignorar o fato que Paulo está falan-do da Igreja dispensacional, da qual fazemos parte por meio da graça divina� Paulo começa com “no Qual”, que certamente se refere à Pessoa mencionada nos vs� 20-21 — “Jesus Cristo” e “Senhor”� As próximas palavras, “também vós”, referem-se ao povo� Que privilégio isso revela quando meditamos na graça de Deus que nos coloca nesta associação� Depois seguem as palavras “juntamente sois edificados”, indicando o processo� A estrutura é incontestável, a unanimidade é indisputável e a unidade é imutável� Mas ainda tem mais: Paulo, pelo Espírito, revela o propósito: “para morada de Deus”� Ficamos abismados ao pensar que o nosso Deus tenha escolhido tal morada� Finalmente, o poder para essa verdade é “em Espírito”� Se esse ato bondoso de Deus, em plano e pro-pósito, tivesse sido deixado para nós como Seu povo, é óbvio que devido à nossa fraqueza humana nunca teria se concretizado� É isso que suscita o nosso louvor e adoração da Sua soberana graça e poder, demonstrada no e pelo Espírito de Deus�

Minha inclusão e associação (3:5)

Antes de tudo, Paulo relata que lhe foi concedido por Deus com-preender a verdade do mistério por revelação divina, como ele afirma no v� 3� Isso deu ao apóstolo uma noção clara do propósito divino, como ele confirma nas palavras do v� 4: “… podeis perceber a minha compreen-são do mistério de Cristo”� No v� 5 ele confirma que não foi o único a receber esta verdade, pois ele acrescenta: “… como agora tem sido re-velado pelo Espírito aos santos apóstolos e profetas”� Continuando, no v� 6, aprendemos que, no propósito divino, somos “coerdeiros”, “de um mesmo corpo”, e “participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”� Nada pode ser comparado com o nosso privilégio, mas que a nossa sin-cera intenção seja viver de acordo com aquilo que o propósito de Deus, por graça divina, nos apresentou� A plenitude disso enche os nossos corações de gratidão e confiança, condenando claramente qualquer rei-vindicação de uma nova revelação, o que definitivamente tornaria esta passagem incompleta�

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194 O Espírito da Glória

Minha intimidade e atividade (3:16)

Uma característica bem instrutiva da maioria das epístolas de Paulo é a menção que ele faz do seu exercício em oração por aqueles para quem está escrevendo� Já observamos sua oração no cap� 1, que tem a ver com questões de posição; mas na passagem diante de nós (vs� 14-19) a ocupação de Paulo tem a ver com coisas práticas� Isso é ma-nifestado de forma maravilhosa no uso quíntuplo das palavras simples mas instrutivas, “para que”� A primeira indica o seu desejo pelo nosso enriquecimento: “para que … vos conceda”� A seguir vem a nossa ener-gização: “para que… sejais corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior”� Pode haver algo de que mais necessitamos, hoje, do que ver este pedido de Paulo plenamente realizado nas nossas vidas pelo poder do Espírito Santo de Deus? É uma verdade, mas ainda há mais, pois Paulo faz um pedido relacionado ao nosso privilégio: “para que Cristo habite pela fé em vossos corações”� Isso nos faz lembrar as palavras de Cristo a Zaqueu: “Hoje Me convém pousar em tua casa”� Ter o Senhor tão próximo já é precioso, mas será que é uma coisa cons-tante? O próximo uso dessas palavras significativas é: “a fim de que [para que], estando arraigados e fundados em amor”, e aqui podemos empregar acertadamente as palavras esfera de atuação como sendo descritivas do exercício de Paulo� Nada enriquece mais a alma do que andar diariamente consciente do valor, da riqueza e da adoração que o Seu amor promove� Chegamos agora à última: “para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus”, que nos permite compreender a nossa expansão espiritual, que não é somente para os anos de vida, mas para toda a eternidade�

Meu envolvimento e apreciação (4:3)

A preservação das coisas que são essencialmente divinas está segura, pois são divinamente protegidas pelo poder de Deus, e podemos ter certeza que se alguém ou alguma coisa tentar fazer algo para contami-nar ou destruir, o resultado será um juízo inevitável� No entanto neste versículo, ao usar as palavras “esforçando-vos diligentemente” (VB), o apóstolo se dirige aos santos e os convoca a estar sempre vigilantes� Qual é o assunto na mente do apóstolo? “Guardar a unidade do Es-pírito”� Isso nos preservará como povo de Deus, fazendo-nos desistir de introduzir qualquer coisa que seja contrária ao princípio e à prática divina� É a nossa maior responsabilidade manter aquilo que o nosso

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios 195

Deus, em graça, nos tem revelado� Deve ser óbvio a todos que, onde houve desobediência resoluta desta ordem celeste, o resultado triste foi a destruição da Verdade e a divisão do testemunho� Este comportamen-to tem, muitas vezes, perturbado a harmonia dos santos, e por isso é que há a necessidade de desejar graça para cumprir a exigência clara do Espírito para manter a unidade “pelo vínculo da paz”�

Meus interesses e aceitação (4:4)

O fato que o Espírito Santo, como em I Coríntios 12:4-11, ocupa tal lugar em termos da Trindade, nos assegura da Sua Divindade e au-toridade, que deve ser constantemente e efetivamente reconhecida, em todo aspecto do nosso serviço, ao usarmos o dom concedido por Ele� No decorrer do nosso estudo da Bíblia devemos seguir o princípio de inter-pretação de que a verdade da Palavra nunca seja comprometida, do con-trário a verdade fica nublada e o ensino das Escrituras confuso� Amados no Senhor, permitam-me enfatizar esta obra do Espírito Santo, pois muitos, hoje em dia, escolhem desconsiderar fidelidade à Palavra� O Espírito nos ajuda a extrair (interpretar), e não acrescentar às Escrituras�

Minha insensibilidade e atenção (4:30)

Será que posso ser insensível ao fato que sou capaz de entristecer o Espírito? Investigando as ocorrências desta palavra “entristecer” (lupeo), vemos que ela é usada vinte e seis vezes no Novo Testamento� Seu uso geralmente indica uma condição de tristeza, mágoa� Será que pelo meu modo de viver, de qualquer forma, eu posso entristecer o Santo Espírito de Deus? Que o Senhor possa nos preservar, na Sua graça, de tal possi-bilidade, já que infelizmente isso pode, sim, acontecer� Já notamos que Isaías deixa claro que Israel fez isso (63:9)� É uma grande manifestação de graça, que nossos atos desfavoráveis não alteram a nossa segurança, pois estamos “selados para o dia da redenção” pelo mesmo Espírito�

Minha energização e alvo (5:18)

Uma leitura de Lucas 1:15 confirmará que João, desde o seu nasci-mento, deveria se sujeitar às características de um nazireu, em relação àquilo que ele não deveria fazer, e que por divina graça ele seria “cheio do Espírito”� Na medida em que caminhamos no nazireado espiritual nós, do dia da graça, podemos conhecer o privilégio de sermos cheios do Espírito Santo� Nada irá exercitar mais nossas ações, trabalho e ser-

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196 O Espírito da Glória

viço do que estar verdadeiramente cônscios da presença e do poder do Espírito no nosso interior� Isso resultará numa abundância de louvor ao nosso bendito Senhor, pessoalmente e coletivamente (v� 19), ao darmos graças, continuamente, ao nosso Deus e Pai em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (v� 20)� Esses atos preciosos de adoração e louvor devem ser seguidos por uma submissão espiritual uns aos outros, no temor de Deus (v� 21)� Como é triste saber que os irmãos podem falar com o Senhor em reuniões de qualquer tipo, e ao mesmo tempo, deixam, propositalmente, de falar com seus irmãos�

Meu instrumento e armadura (6:17)

É maravilhoso como o nosso Deus nos tem equipado para a posi-ção que Ele espera que mantenhamos nesses dias de conflito espiritual� Sendo os “lombos” a fonte de contribuição, certamente é necessário que eles estejam cingidos com a verdade, do contrário podemos dizer e fazer coisas que seria totalmente contrários à mente e à vontade de Deus� Se-melhantemente, a fonte da nossa afeição precisa ser preservada, para que o nosso amor e afeições não sejam direcionados a outros e não a Deus� Da mesma forma, nossos pés precisam ser calçados com a preparação do Evangelho da paz, pois muitos que conhecemos hoje no serviço do Evangelho andam em áreas onde prevalecem a desonra e desobediência espiritual� Temos ainda para nossa proteção o “escudo da fé”� Trata-se de um escudo longo que protege o corpo todo, e aqui é retratado como a revelação plena de Deus, como uma proteção forte contra os dardos inflamados do inimigo� A nossa proteção total não pode estar completa sem o uso de dois itens essenciais da nossa armadura: “o capacete da sal-vação e a espada do Espírito”� É o “capacete da salvação” que preserva a mente de aceitar sem reservas qualquer coisa além da Palavra� A “espada do Espírito, que é a palavra de Deus” se refere à totalidade da Bíblia� Já notamos que o termo para “palavra” usado aqui pelo Espírito de Deus refere-se à palavra adequada para o momento� Daí a nossa necessidade de estarmos plenamente e diariamente familiarizados com a Palavra de Deus (compare Ne 8:18a)� Assim, na rica provisão que o nosso Deus tem feito para nossa cabeça e mão, temos os recursos adequados que promoverão e preservarão nossa capacidade de “estar firmes contra as astutas ciladas do diabo”�

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Cap. 12 — O Espírito Santo em Efésios 197

Minha intercessão e súplica (6:18)

Paulo nos garante que na nossa oração precisamos da capacitação divina que somente o Espírito pode dar (Rm 8:26-27)� Da mesma for-ma, Judas 20 tem as seguintes palavras de conselho espiritual: “Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo”� Chegamos agora à última referência ao Espírito Santo na epístola aos Efésios, e ela O revela sob um aspecto muito necessário na nossa vida para Deus� Em nosso exercício de ora-ção, necessitamos da Sua capacitação divina para que possamos orar de acordo com a Sua Palavra, para que possamos pedir o que Ele há de conceder liberalmente, se for de acordo com a Sua vontade� Embora as palavras “todos os santos” abrangem muitos que não conhecemos, e de cujas necessidades não sabemos, é confortador saber que Aquele a quem fazemos nossos pedidos conhece a todos� Há aqueles que conhecemos pessoalmente, e obviamente as nossas orações por estes podem ser es-pecíficas, como Paulo faz com clareza ao dirigir o exercício espiritual dos santos em Éfeso em relação ao seu próprio serviço para o Senhor (vs� 19-20)�

Para todos os que leem estas linhas, concluímos com as palavras do apóstolo, ao terminar a carta:“Paz seja com os irmãos” — sua oração pela tranquilidade deles;“e amor com fé” — seu pedido pela fidelidade deles;“da parte de Deus Pai”“e da do Senhor Jesus Cristo” — sua confiança na continuidade deles;“A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo com

amor incorruptível” (VB) — seu desejo pela sinceridade deles�Quão apropriadas são as palavras de Albert Midlane:Nosso Pai e nosso Deus! Abençoamos Teu santo nome; As promessas a nós cumpridas, Tua fidelidade proclamam.

Por Jesus glorificado o Espírito Santo foi dado,Para aumentar no peito dos filhos Teus o penhor do seu lar.

Os tesouros que encontramos em Jesus, Ele revela; Ele nos conquista, pelo amor de Jesus, para amar os caminhos de Jesus.

E pelo Seu poder constrangidos, o testemunho compartilhamosDe Jesus e Seu sacrifício, por quem os mortos vivem.

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198 O Espírito da Glória

Ele, pela Tua Palavra fiel, ilumina nosso caminho;E Ele escreve nos corações do Seu povo a Tua Palavra santa.

As promessas se tornam para nós uma porção segura,E, na esperança do que está por vir, pelo Seu poder perseveramos.

Que nunca O magoemos, mas na luz e no amor andemos,Na alegria de santa comunhão provarmos da alegria do Céu.

Guiados pelo Teu Espírito, como filhos de Deus, desconhecidos,Selados, até o dia da redenção, quando Teus filhos receberás.*

* Tradução livre. O original diz: “Our Father and our God!/We bless Thy sacred name;/The promises to us fulfilled,/Thy faithfulness proclaim;//Through Jesus glorified,/The Holy Ghost hath come,/To swell within Thy children’s breast,/The earnest of their home.//The treasures that are found/In Jesus He displays;/He wins our heart, by Jesus’ love,/To love of Jesus’ ways;//And by His power constrained,/The witness round we give/Of Jesus and His sacrifice,/Through whom the dead may live.//He, by Thy faithful Word,/Sheds on our pathway light;/And He upon His people’s hearts/That holy Word doth write.//The promises become/To us a portion sure;/And, in the hope of things to come,/We by His might endure//Him may we never grieve,/But walk in light and love,/In joy of holy fellowship,/Foretaste of joy above.//Led by Thy Spirit on,/As sons of God, unknown,/Sealed, till the full redemption’s day/When Thou Thy sons wilt own.”

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Cap. 13 — O Espírito Santo em Apocalipsepor James R. Baker, Escócia

IntroduçãoA importância da Pessoa e da Divindade do Espírito Santo é vista

no fato que Sua primeira aparição nas Escrituras está no segundo ver-sículo de Gênesis 1, e a última se encontra nos versículos iniciais do parágrafo final de Apocalipse 22� Entre esses dois pontos das Escrituras há muitas referências à Sua Pessoa Divina� Isso tem sido enfatizado através de todo este livro, enquanto cada um dos capítulos tem explo-rado a grande variedade de contextos e circunstâncias nas quais Ele é apresentado na Palavra de Deus� Nesse livro final da Bíblia, há vários as-pectos fascinantes da Sua obra ainda a serem considerados, em relação à importância da Pessoa, presença e poder do Espírito Santo no futuro�

Encontramos um assunto de grande importância dispensacional no livro de Apocalipse, notando as passagens exatas onde a Pessoa ou ministério do Espírito Santo são mencionados� Uma leitura cuidadosa revela que há longas seções no livro onde a pessoa do Espírito Santo ou Sua atividade não são descritos nem mencionados� Esta caracterís-tica é única entre todos os outros livros do Novo Testamento, e está em contraste com outras seções do livro, onde há contextos precisos onde encontramos claramente Seu nome e função� Vemos um exemplo conhecido disto ao contrastar as duas primeiras seções do livro com a terceira� Essas seções são mencionadas em Apocalipse 1:19, onde o escritor é instruído a dividir seus escritos em três partes, que são: cap� 1, que descreve “as coisas que tens visto” (e inclui a bem-conhecida visão de Cristo naquele capítulo); a segunda parte vai do começo do cap� 2 até o final do cap� 3 — ela descreve “as [coisas] que são” (incluindo a descrição e detalhes das mensagens às sete igrejas); a terceira parte co-meça em 4:1, que se inicia com o convite celeste para João: “Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer”�

Outro fator introdutório a ser considerado é o fato que o ministério do Espírito Santo é uma característica exclusiva da era presente, na qual aqueles que são salvos fazem parte da Igreja que é o Corpo de Cristo�

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200 O Espírito da Glória

Essa grande verdade não era conhecida nos dias do Velho Testamento� Vemos isso claramente nas palavras do apóstolo Paulo: “O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos Seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3:5)� O Corpo em si foi formado no Dia de Pentecostes: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, e todos te-mos bebido de um Espírito” (I Co 12:13)� Um fato semelhante a esse é que o Espírito Santo habita pessoalmente em cada cristão de hoje� Isso não acontecia nos tempos do Velho Testamento, mas vai continuar até o Arrebatamento da Igreja� E não são somente os santos da Igreja que desfrutam dessa grande perspectiva, mas o próprio Espírito Santo: “E o Espírito e a esposa dizem: vem” (Ap 22:17)�

Uma razão clara, mas simples, que explica esses fatos é vista ime-diatamente se reconhecermos que o principal motivo para a existência do livro de Apocalipse é indicado no seu título, que significa “revelação”� A palavra grega apokalupsis significa literalmente “desvendar”� Durante os dias da vida e do ministério terrestre do Senhor Jesus houve uma revelação clara da Sua glória moral, mas embora os aspectos oficiais da Sua glória foram mencionados, eles estavam, em grande parte, ocultos� Assim, o motivo e o significado do livro de Apocalipse é revelar a Pessoa e a glória de nosso Senhor Jesus Cristo, como Ele será visto nos dias futuros da Sua manifestação� Já aprendemos em outras partes desse vo-lume que um ministério específico do Espírito Santo é glorificar e dar honra à Pessoa de Cristo� É compreensível, portanto, que neste último livro da Bíblia haja seções especiais em que esse ministério acontece� A terceira e maior seção deste livro é dedicada às descrições dos juízos finais que serão derramados desde os Céus durante o período de sete anos comumente descrito como a “septuagésima semana de Daniel”� Os últimos capítulos apresentam cenas da vindicação de Deus e de Cristo, e da realização do propósito divino no Céu e na Terra�

O ministério singular do Espírito junto às igrejasAs menções ao Espírito Santo nestes três primeiros capítulos do Li-

vro de Apocalipse são muito significativas na sua terminologia� O primei-ro termo pelo qual essa Pessoa divina é apresentada é “os sete Espíritos que estão diante do Seu trono” (1:4)� Uma consideração cuidadosa do contexto em que essa expressão aparece mostra que ela é, em primeiro lugar, uma evidência da divindade do Espírito Santo� Embora em muitas

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Cap. 13 — O Espírito Santo em Apocalipse 201

referências das Escrituras a ordem da divina Trindade seja Pai, Filho e Espírito Santo, a importância da mudança nestes versículos não deve ser ignorada� A inserção do Espírito Santo antes de Jesus Cristo evidencia claramente Sua igualdade e divindade� Se tivesse sido colocado em ter-ceiro lugar, sua posição na frase seria usada por alguns como um apoio para a rejeição da verdade da Sua divindade� Com clareza, a introdução e saudação de João às sete igrejas invoca a bênção da parte de cada Pessoa divina dentro da Trindade, e o Espírito Santo é mencionado como es-tando no centro deste círculo divino� Uma apreciação disto mostra que o uso de termos tais como primeira e segunda Pessoa da Divindade é uma contradição da harmonia, unidade e igualdade que existe na Trindade� Cada Pessoa divina é igualmente eterna e possui todos os atributos di-vinos� Não há a menor indicação nas Escrituras de qualquer aspecto de inferioridade ou superioridade entre as Pessoas Divinas�

A expressão singular, usada aqui dos sete Espíritos, não deve ser meramente ligada com o uso geral do número sete no livro de Apo-calipse� Ela traz a ideia da completa plenitude e fecundidade do Espí-rito de Deus� Isso pode ser traçado até no Velho Testamento, onde há menção clara do caráter sétuplo desta Pessoa Divina� Talvez a evidência mais forte no Velho Testamento esteja no livro de Zacarias, quando o profeta viu o castiçal de ouro com as sete lâmpadas e os sete canu-dos junto com as duas oliveiras e perguntou: “Senhor meu, que é isto?” A linguagem da explicação dada pelo anjo ao falar com o profeta foi bem clara: “Não sabes tu o que é isto? … Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:5-6)� A passagem em Zacarias é também a base principal para ver o “azeite” como uma figura do Espírito Santo em várias partes das Escrituras� Outra menção do ca-ráter sétuplo desta Pessoa Divina é a profecia de Isaías 11:2, onde é feita uma referência profética à vinda futura do Messias de Israel� Ali a unção da presença do Espírito Santo e Seu poder são prometidos para ungir o Cristo vindouro, e são delineados de uma maneira sétupla, e acerca disso J� Riddle* diz: “O versículo também explica a expressão ‘os sete espíritos de Deus’ (Ap 4:5)� Sete é o número de plenitude e perfeição”�

A próxima menção do Espírito Santo se encontra em 1:10, onde é usado um termo mais familiar: “Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor”� Esta expressão tem sido interpretada de muitas maneiras,

* RIDDLE,J.R.What the Bible teaches — Isaiah.Kilmarnock:JohnRitchieLtd.,2005.

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202 O Espírito da Glória

mas o ponto de vista mais comum é vê-la como uma descrição do dia da semana em que João recebeu a grande visão do cap� 1� É de conheci-mento geral que o apóstolo João estava na ilha solitária de Patmos nesta ocasião, e é bom apreciar que, apesar da ausência de companhia huma-na, João estava vivendo no gozo de uma contínua comunhão com Deus� Sem dúvida ele se lembraria dAquele em cujo seio ele havia reclinado, assim como das Suas palavras: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós” ( Jo 14:18), e “Eu rogarei ao Pai, e Ele vos enviará outro Consola-dor, para que fique convosco para sempre” ( Jo 14:16)� Foi João quem lembrara e escrevera as muitas promessas dadas acerca do Espírito San-to� Assim, João “estava no* Espírito” naquele dia� O ensino do Novo Testamento relativo ao cristão e ao Espírito Santo revela a proximidade e a intimidade deste relacionamento� Estes aspectos já foram tratados em outras partes deste livro, e agora só nos resta enfatizar o fato que se espera que cada cristão, hoje, viva e ande no Espírito e seja guiado pelo Espirito (Gl 5:16, 25)� J� Allen† disse o seguinte sobre isso:

A condição normal que se espera encontrar em todos os salvos équeestejam“no[em]Espírito”(Rom.8:9),masquandoDeususa homens como meios de comunicação, uma aptidão especial édada,comovemosemEf.3:5:“agoratemsidoreveladopeloEspíritoaosseussantosapóstoloseprofetas”(literalmente“emEspírito”).Aexpressão“emEspírito”descreveaquelaexaltaçãoeseparaçãodeespíritoefetuadapeloEspíritoSanto,quecapacitouJoão a tornar-se um meio de comunicação divina.

Outra questão a ser considerada é em relação ao “dia” que está em vista� As duas principais alternativas são que esta expressão descreve o “primeiro dia da semana”, ou que descreve João sendo projetado, na sua visão, para o “Dia do Senhor”� Preferimos a primeira sugestão pelas seguintes razões:• O adjetivo usado para descrever o dia do Senhor está expressando, li-

teralmente, a ideia de um dia “senhoril”� Não é sem importância que o único outro uso semelhante deste adjetivo numa construção gramatical como esta, no Novo Testamento, se encontra nas palavras escritas pelo apóstolo Paulo, descrevendo a Ceia do Senhor, que também é literal-mente uma ceia “senhoril”� É bom notar a ligação entre as duas descri-

* Notequeapalavra“arrebatado”naARCeATestáemitálico,oquesignificaquenãofazpartedotextooriginal(N.doE.).

† Allen, J. Comentário Ritchie do NT, vol 16 — Apocalipse.Pirassununga:EditoraSãDoutrina,2008,pág56.

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Cap. 13 — O Espírito Santo em Apocalipse 203

ções, nas palavras escritas por Lucas: “E no primeiro dia da semana, ajuntando-se os discípulos para partir o pão” (At 20: 7)�

• O caráter da visão e suas circunstâncias estão mais intimamente ligados ao testemunho de Deus e Seu povo nesse dia da Graça, do que o Dia do Senhor, que é mencionado tanto no Velho quanto no Novo Testamento� O Dia do Senhor será caracterizado por juízo, em contraste com graça�

• As sete igrejas não são sinagogas judaicas, mas igrejas neotesta-mentárias� Isso pode ser provado pelo uso da palavra grega ecclesia, como também pelo fato que Éfeso, o primeiro lugar mencionado e Laodicéia, o último, ambos eram lugares onde havia uma igreja local neotestamentária� Vemos Laodicéia mencionada duas vezes em Colossenses (2:1; 4:16)�Nos caps� 2 e 3 há uma série de sete mensagens específicas a sete

igrejas neotestamentárias situadas na Ásia Menor� Elas geralmente são chamadas as cartas às sete igrejas� Cada uma e todas as mensagens com-pletas às sete igrejas incluem uma aplicação que é única à circunstância e condição daquela igreja específica� No início do livro de Apocalipse fica claro que o livro todo é uma revelação do Senhor Jesus Cristo, que a recebeu de Deus, e a enviou por um anjo ao apóstolo João, acom-panhada de sinais� A presente consideração não pretende expor tudo sobre cada carta, mas notar que nos dois capítulos temos oito referên-cias específicas ao Espírito Santo� Sete aparecem exatamente no mesmo formato e são uma mensagem idêntica a cada igreja� Essa mensagem específica é dada uma vez a cada uma das sete igrejas endereçadas� A referência extra é dirigida exclusivamente à igreja em Sardes, e iremos considerá-la separadamente�

A mensagem a cada igreja é breve, mas muito importante: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22)� Essa exortação sétupla enfatiza dois pontos específicos; primei-ro, que embora a carta seja dirigida à igreja toda, cabe a cada cristão na igreja local dar ouvidos ao ministério perscrutador, e segundo, que a mensagem é a voz do Espírito de Deus a todas as igrejas� Estas duas questões devem ser muito importantes a qualquer cristão exercitado; é muito importante, em toda a leitura pública e ministério da Palavra de Deus, que cada indivíduo esteja atento� Essa frase está enfatizando que o ouvido humano é apenas o instrumento através do qual a mensagem é recebida, mas a exortação é para que haja um exercício ativo de um ver-

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dadeiro ouvir e acatar aquilo que está sendo dito pelo Espírito de Deus� Essa exortação, dada logo no início do dia da graça, ainda é importante para aqueles que estão vivendo agora, perto do seu final�

A segunda parte desta exortação é igualmente importante� Aqui é en-sinado o fato importante que todo ministério bíblico é a voz do Espírito de Deus, portanto nenhum aspecto dele deve ser negligenciado� Ao filho de Deus não é permitido selecionar as verdades nas quais vai crer, e quais vai praticar, já que “toda Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (II Tm 3:16-17)� Além disso, a frase que estamos considerando encer-ra com outra questão importante relacionada com ouvir a voz do Espírito Santo nas Escrituras� É o fato que, embora cada igreja individualmente tenha recebido uma mensagem específica, elas são instruídas a dar ouvidos a todas as sete mensagens� Isso torna cada carta importante a todos� Isso também destaca a importância de toda a Escritura inspirada� Cada parte da Bíblia completa deve ser lida e apreciada como a Palavra de Deus�

A referência extra, mencionada mais cedo, é dirigida unicamente à igreja de Sardes: “E ao anjo da igreja que está em Sardes escreve: Isto diz O que tem os Sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives, e estás morto” (Ap 3:1)� Sa-bemos que o Senhor Jesus Se apresenta de uma forma diferente, com títulos diferentes, a cada uma das sete igrejas� Bem no começo da men-sagem à igreja de Sardes, há uma ênfase específica no ministério e pre-sença do Espírito Santo� Vemos isso na apresentação do Senhor Jesus à igreja como “O que tem os sete Espíritos de Deus, e as sete estrelas”� A condição da igreja em Sardes é dada como “prestes a morrer”� Havia pouca vida e pouco poder nesta igreja do Novo Testamento, e Aquele que a estava analisando o fazia no poder e sabedoria do Espírito de Deus� Foi somente a essa igreja que esse lembrete foi dado�

Esse ministério poderoso a uma igreja local é revelado e explicado nos capítulos finais da primeira epístola aos Coríntios� Ali aprendemos que a igreja é a esfera da atividade e do ministério do Espírito� Isso já foi exposto neste livro, e sua importância deveria ser sempre apreciada por todo cristão que se reúne ao nome de nosso Senhor Jesus Cristo� É uma maravilha que não pode ser explicada, que nas reuniões da igreja podemos observar um dos fóruns do ministério do Espírito Santo na Terra� Deve-mos acrescentar que outra esfera importante do Seu ministério é o corpo

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físico de cada cristão�

O Dia do SenhorJá notamos que o livro de Apocalipse se divide em três partes, uma

divisão feita pelas palavras do Filho do Homem em 1:19� A primeira seção se cumpriu quando João viu a importante visão do Filho do Ho-mem andando no meio dos sete castiçais� A segunda seção abrange o período do testemunho da igreja, descrito nos caps� 2 e 3; e embora as sete igrejas estejam em vista, fica claro que os dois capítulos descrevem o testemunho terrestre das igrejas locais do Novo Testamento nos dias de hoje� A terceira seção, a partir do cap� 4, começa depois do arreba-tamento dos santos, e coincide com, e descreve, o Dia do Senhor� Este termo descreve o programa de eventos de juízo que acontecerão na Ter-ra, afetando Israel e as nações� É predito no Velho Testamento e men-cionado também no Novo Testamento� Na compreensão do presente escritor, um programa celeste também começa precisamente no mesmo tempo� É o Dia de Cristo, que é um período caracterizado por eventos que acontecerão no Céu� Estes acontecimentos incluirão o Tribunal de Cristo, seguido pelas Bodas do Cordeiro�

Logo percebemos que, imediatamente depois da Igreja deste pe-ríodo presente ser arrebatada para os Céus, Deus retomará Seus planos com a nação de Israel e com as nações em geral� Os caps� 4 e 5 do livro de Apocalipse proporcionam vislumbres do Céu e do Cordeiro glori-ficado, assim como dos santos da era presente, já que estes estarão com o Senhor depois do Arrebatamento� Há somente três menções do Es-pírito Santo nesta porção das Escrituras� A primeira, em 4:2, está sim-plesmente enfatizando o fato que a experiência espiritual na qual João estava ocupado era uma obra do Espírito Santo de Deus� A segunda e a terceira menção estão em 4:5 e 5:6� Ambas reforçam o fato anterior-mente mencionado que, depois do Arrebatamento, a localização do Es-pírito Santo será o Céu e não a Terra, como é agora no período presente�

A frase “no Espirito” aparece quatro vezes no livro de Apocalipse, e cada referência revela uma experiência e revelação espiritual especi-ficamente importante dada a João� A primeira está em 1:10, onde João recebe a grandiosa visão do Filho do Homem no meio dos sete castiçais de ouro� A segunda está em 4:2, onde João contempla a visão dos caps� 4 e 5, onde ele vê o Cordeiro no meio do trono, dos quatro animais e dos vinte e quatro anciãos� A terceira menção aparece em 17:3, onde ele

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vê a mulher assentada sobre a besta de cor de escarlata representando a Babilônia, a mãe das prostituições� A referência final é em 21:10, onde é concedido a João uma visão prévia da Noiva, a esposa do Cordeiro� Cada uma destas referências a estar “no Espírito” se referem a João na sua experiência de revelação divina�

Depois da referência no cap� 5, não há menção direta do Espirito Santo, a não ser por uma menção em 11:3-4, onde lemos das duas tes-temunhas que aparecerão em algum momento perto da metade da sep-tuagésima semana da profecia de Daniel 9� As testemunhas são descritas como “as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da terra” (Ap 11:4)� A grande importância dessa passagem está relaciona-da ao fato que, durante um período de quarenta e dois meses, nos quais os gentios pisarão o solo sagrado do templo em Israel, Deus terá dois homens que manifestarão características sacerdotais em suas vidas e tes-temunho, e nenhum poder, satânico ou terreno, será capaz de resisti-los� A menção indireta ao Espírito Santo está na referência às oliveiras e aos castiçais� O paralelo direto e óbvio está no Velho Testamento, em Zaca-rias 4:1-14, onde encontramos a única outra referência bíblica a duas oli-veiras� Naqueles tempos sombrios em Israel, Deus levantou dois ungidos ( Josué e Zorobabel, Zc 4:14), e o poder não era deles mesmos, mas vindo do Espírito Santo� Assim, no dia em que a habitação do Espírito San-to será os Céus, haverá dois homens na Terra cujo ministério será dado pela mesma Pessoa Divina� Naquele dia eles viverão suas vidas diante do Deus da Terra, e no poder e plenitude do Espírito Santo� O mesmo capítulo continua descrevendo muitos detalhes do que caracterizará esses homens e seu ministério singular naquele dia vindouro, e mais tarde, no v� 11, descreve o “espírito [“sopro”, NVI] de vida, vindo de Deus” entrando nas duas testemunhas, depois de haverem estado mortas por “três dias e meio”� Alguns veem nisso outra menção do Espírito Santo, mas é pouco provável que Ele esteja em vista aqui� Parece mais certo pensar que foi um milagre direto de Deus, ao devolver a estes homens a sua vida humana�

A próxima referência ao Espírito Santo é quando João ouve a Sua voz falando desde o Céu: “E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor� Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os seguem” (Ap 14:13)� Sempre é interessante observar as sete bem-aven-turanças do livro de Apocalipse, a primeira das quais está em 1:13, e a última em 22:14� Cada uma é de grande interesse, estando intercaladas

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entre as várias passagens proféticas� É bom saber que nos dias negros da experiência amarga de Israel, há bênçãos prometidas para aqueles que vencerem� A bem-aventurança no presente capítulo é a segunda da sé-rie completa, e embora essas palavras sejam muitas vezes aplicadas ao momento da morte do povo de Deus hoje, sua beleza e poder realmente pertencem àqueles de um período futuro� Muitos terão sido martirizados durante o reino da Besta� Isto é indicado nas palavras “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor: Sim, diz o Espírito”� A própria característica de não estarem em Cristo distingue estes indivíduos futuros dos santos do presente� O Espírito Santo está aqui, do Céu, fa-lando estas palavras de conforto e encorajamento para aqueles que hão de sofrer e servir e morrer, e suas obras certamente os seguirão�

A referência final ao Espírito Santo no livro de Apocalipse se en-contra em 22:17� A narrativa geral da parte central do livro já terminou no v� 5, e até o final do capítulo temos uma seção sobremaneira bendita, onde a voz do Senhor que está para vir é claramente ouvida, quando três vezes soa a gloriosa promessa: “Cedo venho” (vs� 7, 12, 20)� O v� 17 se refere à grande antecipação da vinda do Senhor Jesus Cristo até os ares para o Arrebatamento� Ele descreve um notável desejo duplo pela Sua vinda, primeiro da parte do Espírito Santo, e depois da noiva do Cordeiro� Esta última claramente se refere aos santos do presente dia da graça, aguardando ansiosamente a chegada de Cristo aos ares� A primeira parte do versículo ensina, de forma igualmente clara, que o mesmo desejo é expresso pelo próprio Espírito Santo� Aquele que opera sobre a Terra na Igreja também anela pelo dia em que Ele mesmo será arrebatado� Esse será para Ele o dia glorioso da sua vitória ao entregar a Noiva ao Noivo� A figura de Gênesis 24 será então completa, e assim como o servo trouxe Rebeca em segurança a Isaque, assim também o Divino Servo de hoje terminará a Sua obra, cumprindo o propósito divino� Assim os santos do presente podem cantar em expectativa:

Ele e eu na glória excelsaCompartilharemos um profundo gozo; Eu, de estar para sempre com Ele — Ele, de me ter ali!

E.F. Bevan*

* Tradução livre. O original diz: “He and I in that bright glory/ One deep joy shall share;/Mine,tobeforeverwithHim./His,thatIamthere”

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