Fluidoterapia Peq Anim

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  • FLUIDOTERAPIA EM PEQUENOS ANIMAIS

    Introduo fluidoterapia

    A fluidoterapia foi descrita pela primeira vez por Thomas Latta que, em 1832 relatou

    em uma carta a Lancet, a reanimao de um paciente humano com clera aps administrao de

    fluidoterapia intravenosa. A fluidoterapia considerada um tratamento de suporte, tendo como

    principais objetivos expandir a volemia, corrigir desequilbrios hdricos e eletrolticos,

    suplementar calorias e nutrientes, auxiliar no tratamento da doena primria. Entretanto

    importante que a doena primria seja diagnosticada e tratada adequadamente.

    gua corporal A gua a substncia mais abundante nos seres vivos, todas as reaes qumicas do

    organismo so realizadas em meio aquoso. A gua corporal total representa de 60 a 70% do

    peso corporal, porm considera-se uma porcentagem menor em animais idosos e obesos, e uma

    porcentagem maior em animais jovens. Destes 60%, 2/3 (40%) est localizado no espao

    intracelular e 1/3 (20%) no espao extracelular, que inclui plasma e espao intersticial (Figura

    1).

    PLASMA 1/4

    1/3 (20%)

    Fonte: Adaptado de College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 1. Distribuio da gua corporal total.

    Seminrio apresentado pela aluna NICOLE REGINA CAPACCHI HLAVAC na Disciplina de Transtornos Metablicos dos Animais Domsticos do Programa de Ps-Graduao em Cincias Veterinrias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no segundo semestre de 2008. Professor responsvel pela disciplina: Flix H. D. Gonzlez.

    INTRACELULAR

    LQUIDO INTERSTICIAL

    2/3 (40%)

    3/4

  • A gua ingressa no organismo atravs dos alimentos e da gua ingerida e eliminada

    por pele, pulmes, rins e intestino. Mesmo que ocorram variaes no consumo e perda de gua e

    eletrlitos no organismo, as concentraes destes nos diferentes compartimentos, mantida de

    forma relativamente constante.

    Perda de gua corporal A perda de gua pode ocorrer pro vrias rotas em animais normais. As perdas imperceptveis ocorrem pelo trato respiratrio durante a respirao, ou perdas pelo suor.

    Entretanto ces e gatos transpiram pouco atravs dos coxins plantares, ento as perdas

    imperceptveis ocorrem mais pelo trato respiratrio. O fluido perdido pela respirao prximo

    a gua pura, considerando-se perda hipotnica. O aumento da temperatura corporal,

    hiperventilao, febre e atividade fsica resultam em aumento das perdas imperceptveis.

    As perdas perceptveis so aquelas que so facilmente detectadas e mensuradas. Elas

    podem ocorrem atravs do trato urinrio e gastrointestinal. Tais perdas de gua normalmente

    so acompanhadas de perda de eletrlitos, sendo considerada perda isotnica. Vmito, diarria,

    hemorragia e poliria resultam em aumento das perdas perceptveis. Um animal normal perde

    em torno de 20 a 30 ml/Kg/dia de perdas perceptveis e imperceptveis.

    Desidratao

    importante que ocorra avaliao prvia do paciente para que o clnico possa escolher adequadamente o tipo de fluidoterapia que ser utilizada, assim como a via pela qual esta ser

    administrada. A necessidade de uma etapa de reidratao depende da doena primria do

    paciente. O tipo de desidratao classificado em funo da tonicidade do fluido corporal

    remanescente (ex. uma perda hipotnica resulta em desidratao hipertnica). O histrico sobre

    a via de perda de fluido pode sugerir o compartimento ou os compartimentos de fluidos

    envolvidos, assim como anormalidades no equilbrio eletroltico e cido-bsico do paciente.

    Informaes como perodo de tempo no qual ocorre a perda de fludo, estimativa de sua

    magnitude, consumo de alimentos e gua, ocorrncia de perdas gastrointestinais, urinrias ou

    perdas decorrentes de traumatismo, podem ser obtidas do proprietrio.

    Tipos de desidratao Na desidratao hipotnica ocorre reduo da osmolaridade do lquido extracelular (LEC), que ocorre aps perda hipertnica de fludo pelo organismo. O melhor exemplo para este

    tipo de perda o hipoadrenocorticismo (Sndrome de Addison), que cursa com deficincia de

    2

  • glicocorticides e mineralocorticides (aldosterona). A aldosterona responsvel pela excreo

    de potssio e reabsoro de sdio nos tbulos renais, ento sua deficincia leva a perda de sdio

    e reteno de potssio, ou seja, o LEC ficar com osmolaridade menor que a normal. A fim de

    restabelecer a tonicidade entre o lquido intracelular (LIC) e extracelular, o sdio pode se mover

    do LIC para o LEC, assim como a gua pode ser mover do LEC para o LIC. O movimento da

    gua normalmente passivo, e dos eletrlitos ativo. Na Figura 2 observa-se que como

    tentativa de equilibrar a osmolaridade entre os compartimentos h deslocamento de gua do

    LEC para o LIC. Porm como h grande perda de eletrlitos, o LEC fica hipotnico. Considera-

    se que a osmolaridade normal do LEC e LIC para pequenos animais em torno de 290 a 300

    mOSm/L.

    Fonte: Adaptado de College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 2. Desidratao hipotnica: movimento de gua do LEC para o LIC tentando restabelecer a tonicidade (1), perda da osmolaridade no fludo extracelular devido perda de

    eletrlitos (2).

    A maioria dos ces e gatos que ficam desidratados sofrem perdas isotnicas. Perdas

    urinrias e gastrointestinais resultam em perda de eletrlitos e gua, incluindo sdio, potssio,

    cloreto e bicarbonato. O tipo de perda depender da doena primria que acomete o paciente. Os

    fludos e eletrlitos perdidos originam-se inicialmente do compartimento extracelular. Porm

    no h mudana de osmolaridade nos compartimentos. Ambos os compartimentos, intra e

    extracelular, realizam trocas de gua e eletrlitos a fim de manter a osmolaridade (Figura 3). Se

    os fludos perdidos contm gua e soluto em proporo similar ao LEC, ento a osmolaridade

    do LEC no ser alterada, mesmo que haja reduo do tamanho do compartimento.

    LQUIDO INTRACELULAR

    300 mOsm/L

    LQUIDO EXTRACELULAR 280 mOsm/L

    MEIO EXTERNO

    290 mOsm/L

    2

    1

    290 mOsm/L

    3

  • MEIO EXTERNO LQUIDO

    INTRACELULAR

    300 mOsm/L LQUIDO

    EXTRACELULAR 300 mOsm/L

    Fonte: Adaptado de College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 3. Desidratao isotnica: mesmo ocorrendo perdas mantm a osmolaridade dos

    compartimentos.

    Desidratao hipertnica mais rara. Esta condio ocorre em pacientes com perda de

    fluido hipotnica, como nos casos de diabetes insipidus (deficincia de ADH), nos quais a urina

    quase gua pura. Ocorre uma perda maior de gua do que de eletrlitos na urina, deixando a

    osmolaridade do LEC maior que do LIC. Como observado na Figura 4, a fim de equilibrar a

    osmolaridade ocorre movimento de gua do LIC para o LEC, entretanto como h grande perda

    de gua o LEC fica hipertnico. As clulas que mais rapidamente demonstram sinais de perda

    intracelular de gua so os neurnios, levando os animais apresentarem dor de cabea e

    demncia.

    Exame fsico Os achados ao exame fsico associados s perdas de fluidos que correspondem de 5 a 15%

    do peso corporal variam desde alterao clinicamente no detectvel (5%) at sintomas de

    choque hipovolmico e morte eminente (15%) (Tabela 1). importante que o clnico avalie

    turgor cutneo, umidade das membranas mucosas, posio do globo ocular na rbita, freqncia

    cardaca, caracterstica do pulso perifrico e tempo de preenchimento capilar, podendo assim

    classificar o estado fsico do paciente e estimar a porcentagem de desidratao.

    4

  • Fonte: Adaptado de College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 4. Desidratao hipertnica: movimento de gua do LIC para o LEC tentando restabelecer a osmolaridade (1), aumento da osmolaridade no fludo extracelular devido perda de gua (2).

    Tabela 1. Achados ao exame fsico do animal desidratado

    Porcentagem de

    desidratao Sinais clnicos

    < 5

    Muito suave

    No detectvel Histrico: menor ingesto de gua

    5 6

    Suave

    Discreta perda do turgor cutneo ou elasticidade cutnea Histrico: episdios espordicos de vmito e diarria

    6 8

    Moderada

    Demora evidente o retorno da pele posio normal Ligeiro prolongamento do tempo de preenchimento capilar Possvel retrao do globo ocular Possvel ressecamento das membranas mucosas Histrico: inapetncia, vmito e diarria moderados

    10 12

    Severa

    Permanncia de pele em forma de tenda no local do teste Evidente prolongamento do tempo de preenchimento capilar Retrao do globo ocular Ressecamento de membranas mucosas Possveis sinais de choque (taquicardia, extremidades frias, pulso fraco e rpido) Histrico: anorexia, vmito e diarria severos, insuficincia renal crnica

    12 15

    Choque

    Sinais evidentes de choque Morte eminente Histrico: hemorragias, queimaduras

    Fonte: apaptado de DIBARTOLA & BATEMAN, 2006.

    LQUIDO INTRACELULAR

    300 mOsm/L

    LQUIDO EXTRACELULAR 320 mOsm/L

    MEIO EXTERNO

    290 mOsm/L 290 mOsm/L

    2

    1

    5

  • Ao avaliar o turgor cutneo, os animais obesos podem parecer adequadamente

    hidratados, apesar de desidratados, em razo do excesso de gordura subcutnea. Ao contrrio, os

    animais emaciados e mais velhos podem parecer mais desidratados do que realmente so por

    causa de deficincia de gordura e elastina subcutnea. Uma falsa impresso de desidratao

    tambm pode ser notada quando h respirao ofegante persistente, que pode secar a membrana

    mucosa bucal. Estes parmetros devem ser avaliados com freqncia em animais internados,

    pois estes iro auxiliar o clnico a escolher corretamente o tipo de fluido a ser administrado,

    assim como sua velocidade e tempo de administrao. Atravs do acompanhamento das

    caractersticas clnicas e evoluo do paciente sabe-se se o fluido de escolha est

    desempenhando o efeito desejado, ou se e necessrio troc-lo.

    Achados laboratoriais Testes laboratoriais de rotina como hematcrito (Ht), volume globular (VG), concentrao de protena plasmtica total (PPT) e densidade urinria (DU) podem auxiliar na

    avaliao do grau de desidratao. importante obter estes valores antes de depois de comear

    a fluidoterapia para acompanhar a evoluo do quadro clnico. O valor do VG e o teor de PPT

    aumentam em todos os tipos de perda de fluidos, excluindo hemorragia. Animais anmicos e

    desidratados podem ter Ht falsamente normal, pois a desidratao concentra as clulas

    vermelhas do sangue. Assim como, animais com doena inflamatria podem apresentar PPT

    elevado mesmo com hidratao normal. Doenas inflamatrias elevam os valores de globulinas,

    assim como a desidratao eleva os valores de albumina.

    De acordo com o tipo de desidratao (hipotnica, isotnica ou hipertnica) sero

    observados diferentes efeitos sob a concentrao srica de sdio. Antes da fluidoterapia til

    determinar a densidade urinria como avaliao preliminar da funo renal. Em ces ou gatos

    desidratados e com funo renal normal, a DU deve estar aumentada. Porm a administrao

    prvia de corticosterides ou furosemida pode diminuir a capacidade de concentrao da urina.

    Aps o inicio a fluidoterapia, a DU situa-se na variao isostenrica, caso se consiga a

    reidratao. Alm dos parmetros j citados, a dosagem de albumina, que uma das protenas

    plasmticas totais do plasma, e de uria tambm pode ser til na avaliao do quadro clinico. A

    albumina encontra-se elevada proporcionalmente ao nvel de desidratao, assim com tambm

    se observa elevao de uria sangunea.

    Componentes da fluidoterapia

    Depois de realizar a avaliao clnica e laboratorial do paciente, pode-se classificar o tipo e porcentagem de desidratao que este apresenta. Ento parte-se para a escolha do tipo de

    fluido a ser utilizado.

    6

  • A fluidoterapia compreende trs etapas: reanimao, reidratao e manuteno. A

    reanimao normalmente necessria em casos de emergncia, onde se devem repor perdas

    ocorridas devido a uma patologia existente. Um exemplo so pacientes em choque que

    necessitam de rpida administrao de grande volume de fluido, a fim de expandir o espao

    intravascular e corrigir o dficit de perfuso. Outro exemplo so pacientes com vmito e

    diarria severa. A reidratao a etapa de reposio, onde se necessita repor a volemia, repor

    perdas dos compartimentos intra e extracelular. A etapa de manuteno utilizada em casos de

    pacientes com hidratao normal, mas que so incapazes de ingerir volume de gua adequado

    para manter o equilbrio dos fluidos.

    Solues empregadas na fluidoterapia Os lquidos empregados na fluidoterapia so classificados de acordo com o tamanho molecular e permeabilidade capilar, osmolaridade ou tonicidade, e funo pretendida. De acordo

    com o tamanho molecular e permeabilidade capilar as solues podem ser classificadas em

    colides ou cristalides. As solues cristalides so as mais empregadas na fluidoterapia,

    consistem em uma soluo base de gua com molculas pequenas s quais a membrana capilar

    permevel, capazes de entrar em todos os compartimentos corpreos. J as solues colides

    so substncias de alto peso molecular, com permeabilidade restrita ao plasma de pacientes com

    endotlio ntegro e no comprometido. Os colides atuam principalmente no compartimento

    intravascular.

    De acordo com a osmolaridade as solues podem ser classificadas em hipotnicas,

    isotnicas ou hipertnicas. Solues hipotnicas possuem menor osmolaridade que o LEC,

    isotnicas possuem igual osmolaridade ao LEC e hipertnicas possuem maior osmolaridade que

    o LEC. De acordo com a funo pretendida, as solues so classificadas em relao e sua

    utilizao para manuteno ou reposio. Os lquidos de manuteno so utilizados em

    pacientes ainda enfermos, aps recuperao do dficit hdrico. As solues de manuteno so

    formuladas visando reposio das perdas dirias normais de lquidos hipotnicos e de

    eletrlitos. Tais solues no so elaboradas para infuses rpidas. J os lquidos para reposio

    so formulados para corrigir deficincias na concentrao plasmtica ou na quantidade corporal

    total de eletrlitos e lcalis. Normalmente so solues isotnicas, acidificantes ou

    alcalinizantes e, apesar de apresentarem composio de eletrlitos similar do plasma tem o

    sdio como base de sua constituio. Podem ser administradas rapidamente e em grandes

    volumes, sem alterar as concentraes eletrolticas normais do plasma.

    Tipos de fludos Ringer com lactato de sdio uma soluo isotnica, cristalide, com composio

    semelhante ao LEC, pH 6,5, utilizada para reposio. Tem caractersticas alcalinizantes, uma

    7

  • vez que o lactato sofre biotransformao heptica em bicarbonato, sendo indicado para acidoses

    metablicas Por conter clcio contra-indicada para pacientes hipercalcmicos, assim como no

    indicada para pacientes hepatopatas. No deve ser administrada junto com hemoderivados, no

    mesmo cateter intravenoso, para evitar precipitao do clcio com o anticoagulante.

    Ringer simples tem caractersticas semelhantes ao ringer lactato, porm no contm

    lactato, utilizada para reposio. Contm mais cloreto e mais clcio que outras solues,

    tornando-a levemente acidificantes (pH 5,5). uma soluo de emprego ideal nas alcaloses

    metablicas. uma soluo cristalide, isotnica.

    Soluo NaCl a 0,9% uma soluo cristalide, isotnica, utilizada para reposio, no

    uma soluo balanceada, pois contm apenas sdio, cloro e gua. acidificadora, sendo

    indicada para pacientes com alcalose, hipoadrenocorticismo (por aumentar reposio de sdio),

    insuficincia renal oligrica ou anrica (pois evita reteno de potssio) e hipercalcemia (pois

    no contm clcio).

    Soluo de glicose a 5% em NaCl a 0,9% tambm chamada de soluo glicofisiolgica,

    soluo cristalide utilizada para reposio. Possui composio semelhante soluo de NaCl a

    0,9%. Apresenta, porm maior osmolaridade e pH 4,0.

    Solues de manuteno so solues de reposio modificadas, nas quais se adiciona

    sdio, potssio ou glicose de acordo com as necessidades do animal. As solues aditivas mais

    utilizadas incluem dextrose 50%, frutose, cloreto de clcio, gluconato de clcio, fosfato de

    potssio, bicarbonato de sdio a 8,4%, vitaminas do complexo B, cloreto de potssio. Quando

    utilizar aditivos, o clinico deve lembrar que a osmolaridade final do fluido pode ser maior do

    que a prevista. A osmolaridade final influenciada pela adio de miliequivalentes por litro de

    eletrlito e de milimoles por litro de solutos livres de eletrlitos encontrados na soluo. A

    osmolaridade final tambm vai variar dependendo do modo de formulao da soluo. Tambm

    existem solues comerciais para manuteno, porm ainda no esto disponveis no Brasil.

    Alguns exemplos so Normosol R (CEVA Laboratories, Overland Park, KS) e Plasma

    Lyte (Travenol Laboratories, Deerfiel, IL.). Entretanto, estas solues comerciais so

    polinicas e algumas possuem acetato em sua formulao, ento seu uso no e indicado por via

    subcutnea e em pacientes com cetoacidose ou cetose.

    Soluo salina hipertnica uma soluo hipertnica utilizada para reanimao. indicada

    em casos de hemorragia, queimaduras, hipovolemia e choque. Nos casos de choque aconselha-

    se o uso de soluo salina hipertnica de NaCl a 7,5%. Solues hipertnicas levam ao

    aumento da freqncia cardaca, vasodilatao pulmonar e sistmica, manuteno do fluxo

    sanguneo nos rgos vitais. Ao administrar este tipo de soluo o paciente deve ser monitorado

    com ateno.

    Solues coloidais contm substncias de alto peso molecular restritas ao compartimento

    plasmtico. O colide indicado em pacientes que possuem PPT menor que 3,5 g/dL, e

    8

  • albumina menor que 1,5g/dl, e em casos de choque hipovolmico. So contra-indicados em

    pacientes com falncia renal, pois a metabolizao e excreo da soluo se do por via renal,

    em pacientes com coagulopatias, pois podem causar hemorragia e, importante salientar que

    estas solues so acidificantes. Os colides sintticos disponveis no mercado so derivados de

    dextranos (Dextran 40 e 70), polmeros de gelatina (Haemacel e Polisocel), amido de

    hidroxietila (Hetastarch) ou fludos carreadores de oxignio base de hemoglobina

    (Oxyglobin, Biopure Corporation, Cambridge, MA).

    Vias de administrao Via enteral indicada para hidratao de pacientes estveis, supondo que no h perda de fludo. Podem-se administrar solues de manuteno por esta via, atravs de seringa ou

    tubo nasoesofagiano (Figura 5). um mtodo barato, porm com absoro lenta. Algumas

    complicaes comuns so a ocorrncia de falsa via vmito quando a taxa de administrao

    muito alta, e hipercalemia por excesso de suplementao de potssio.

    Fonte: College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 5. Felino com sonda nasogstrica para suplementao por via enteral.

    Via intravenosa a mais comum via de administrao de fludos. Os cateteres so

    introduzidos as veias perifricas (ex. safena ou ceflica) ou na via jugular (Figura 6).

    necessria tcnica de assepsia e realizao de tricotomia local. uma das vias de acesso mais

    caras, porm mais efetivas e com efeito imediato. Para estes acessos necessrio utilizar

    fluidoterapia estril, e o paciente deve ser monitorado com freqncia. Esta via indicada para a

    administrao de fludo, anestsicos, medicamentos, alimentao parenteral e derivados de

    sangue. Complicaes comuns deste acesso so inflamao local, risco de trombose, falta de

    assepsia adequada, alm de alguns animais no aceitarem o acesso e morderem o catter.

    9

  • Fonte: do autor, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.

    Figura 6. Acesso intravenoso em um co com catter over-the-needle (que recobrem a agulha).

    Via subcutnea tambm muito utilizada, entretanto no indicada para pacientes com

    desidratao moderada a grave ou para aqueles que apresentam comprometimento circulatrio.

    A circulao cutnea est diminuda em animais com depleo de volume, resultando em

    absoro lenta. Este mtodo fcil e barato, e tem pode ser realizado pelo proprietrio quando

    necessrio utilizar em casa (Figura 7). Caso a absoro seja deficiente ou o volume excessivo,

    pode ocorrer acmulo de fludo que resulta em desconforto e reduo da temperatura corporal.

    Solues isotnicas de Ringer lactato e soluo salina a 0,9% so os fludos de escolha para a

    aplicao subcutnea. Estudos indicam que a utilizao de solues polinicas comerciais,

    como Normosol R ou Plasma Lyte podem provocar desconforto por via subcutnea,

    provavelmente por possurem acetato em sua formulao. Importante salientar que solues que

    contenham dextrose tambm no podem ser administradas por esta via. Formao de abscessos

    e celulite tambm podem ser complicaes decorrentes do uso dessa via quando no se emprega

    cuidadosa assepsia.

    A via intraperitoneal raramente utilizada, mas propicia uma absoro relativamente

    rpida de solues cristalides. Dentre as preocupaes com o uso desta via incluem-se doenas

    do abdome, leses de rgos intracavitrios e risco de peritonite por contaminao. Esta via

    indicada para neonatos, nos quais difcil o acesso venoso, e para realizao de autotransfuso.

    A autotransfuso deve ser utilizada com cuidado, s pode ser realizada aps se ter certeza de

    que o trato gastrointestinal no foi perfurado, no havendo contaminao da cavidade e do

    sangue nela contido com contedo intestinal. Solues que contem acetato devem ser evitadas

    porque parecem ser muito doloridas quando injetadas no abdome. Solues isotnicas de Ringer

    lactato e salina a 0,9% so recomendadas para essa via.

    10

  • Fonte: do autor, Universidade Federal do Paran, Curitiba, 2007.

    Figura 7. Fluidoterapia subcutnea em paciente canino com insuficincia renal crnica.

    A via retal no tipicamente utilizada, mas a via preferencial para administrao de

    drogas a pacientes com encefalopatia heptica. Estes pacientes normalmente esto to

    deprimidos que no toleram administrao de drogas por via oral. A administrao de lactulose

    e neomicina so indicadas por esta via, pois reduz a biotransformao de amnia, que contribui

    para os sinais de encefalopatia heptica. Tal via tambm utilizada para a realizao de enemas,

    porm se a soluo de enema no passar corretamente o fosfato da soluo ser absorvido

    sistemicamente. Este fosfato pode formar um complexo com clcio resultando em tetania

    hipocalcmica.

    Em pequenos animais peditricos e neonatos, a medula ssea do fmur e do mero,

    ocasionalmente, acessada com mais facilidade do que as veias de pequeno calibre colapsadas

    (Figura 8). necessria rigorosa tcnica de assepsia para evitar infeco e, por conseguinte,

    formao de abscesso e sepse. Esse procedimento dolorido e deve-se infiltrar lidocana na

    pele, o tecido subcutneo e no peristeo antes da introduo do cateter. Tambm, pode haver

    leso iatrognica aos nervos regionais. Embora quase sempre essa via seja indicada para animais

    muito jovens e pequenos, tal procedimento raramente utilizada. Esta via pode ser utilizada

    para administraes rpidas e em curto prazo, possui rpida absoro e recomendada para

    emprego de fludos, medicamentos e derivados do sangue.

    11

  • Fonte: College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 8. Acesso intra-sseo no fmur de felino.

    Volume de administrao Aps ter avaliado o paciente, classificado o tipo e a porcentagem de desidratao,

    escolhido a via de administrao e o tipo de fludo a ser empregado, deve-se pensar na

    velocidade e volume de administrao deste componente. Para saber o volume, o clnico dever

    levar em conta as etapas de reidratao, manuteno e reanimao. O clculo de reidratao

    realizado de acordo com a porcentagem de desidratao e o peso corporal do animal. Ento,

    Volume de reidratao (litros/dia) = % de desidratao x peso corporal (Kg)

    Para o clculo da manuteno consideram-se as perdas perceptveis e imperceptveis.

    Cerca de dois teros da necessidade de manuteno correspondem s perdas perceptveis, e um

    tero corresponde s perdas imperceptveis. Embora freqentemente seja utilizada estimativa de

    40 a 60 mL/kg/dia para ces e 70 mL/kg/dia para gatos no clculo das necessidades de

    manuteno de fluido, importante reconhecer que tais estimativas so confiveis apenas para

    alguns pacientes veterinrios. Pode-se usar tambm uma estimativa de acordo com as perdas,

    onde a necessidade de manuteno de perdas perceptveis corresponde de 27 a 40 mL/kg/dia, e

    das perdas imperceptveis corresponde de 13 a 20 mL/kg/dia.

    Para o clculo da reanimao consideram-se as peras ocorridas. Estas nem sempre so

    facilmente determinadas ou quantificadas em pequenos animais, mas podem ser muito

    importantes na definio da fluidoterapia. Deve-se tentar calcular perdas contnuas, inclusive

    aquelas relacionadas a vmito, diarria, poliria, ferimentos ou queimaduras extensas,

    drenagem, perdas peritoneais ou pleurais, respirao ofegante, febre e hemorragia. Durante um

    procedimento cirrgico, por exemplo, deve-se calcular o volume de sangue perdido,

    administrando 3mL de soluo cristalide para cada mililitro de sangue perdido. Perdas

    12

  • contnuas ou simultneas devem ser calculadas e cuidadosamente repostas, juntamente com o

    volume de fluido de manuteno. Para efeitos prticos de clculo considera-se que perdas

    relacionadas a vmitos necessitam de reposio de 40 mL/kg/dia, perdas relacionadas a diarria

    necessitam de 50 mL/kg/dia, e em caso de ambas as perdas considera-se como necessidade de

    reposio 60 mL/kg/dia.

    Contudo, para se obter o valor final de necessidade de reposio diria devem-se somar as

    necessidades relacionadas com reidratao, manuteno e reanimao, obtendo um valor final

    em litros, que corresponde a quantidade a ser reposta em 24 horas. de suma importncia que

    estas perdas sejam reavaliadas durante o dia e durante a reposio hdrica para que no se

    tenham falhas em se obter a reidratao.

    Velocidade de administrao Assim que estabelecido o volume a ser administrado, deve-se calcular a velocidade ideal de

    administrao. Os vrios tipos de sistemas ou aparatos de administrao de fluido e de

    dispositivos de conexo propiciam uma considervel flexibilidade na administrao intravenosa

    de fludo. Vrios conectores de sadas mltiplas permitem a infuso simultnea de solues

    compatveis por meio de um nico cateter. Todos os sistemas de administrao apresentam uma

    cmara de gotejamento no equipo que permite estimar a taxa de fluxo. Dependendo da marca, o

    tamanho das gotas calibrado de modo que 1 mL = 10, 15, 20 ou 60 gotas. Equipos

    convencionais so calibrados para 10 a 20 gotas por mL, e equipos peditricos para 60 gotas por

    mL. O nmero de gotas por minuto calculado pela frmula:

    Gotas/min = volume total de infuso x gotas/mL

    tempo total de infuso

    A taxa de fluxo controlada pela compresso ou liberao da braadeira reguladora do

    equipo intravenoso, ao mesmo tempo em que se observa e conta o nmero de gotas. A taxa de

    administrao de fludo tambm pode ser controlada pelos reguladores de fluxo de equipo ou,

    mais corretamente, pela bomba eletrnica de fludos ou por controladores de taxa de infuso

    (Figura 9). Essas bombas envolvem um mecanismo de peristalse contnuo que libera fludo

    continuamente, em uma taxa constante. Todas as bombas liberam fludos sob presso. Essa

    presso pode superar a resistncia ao fluxo de solues viscosas, filtros e veias parcialmente

    ocludas. Alm disso, aumenta o risco do paciente no caso de extravasamento, porque o fludo

    desviado sob presso ao tecido perivascular. A fim de se evitar tal ocorrncia, as bombas mais

    modernas so equipadas com circuito de monitorao de presso e podem ser reguladas para

    emitir um alarme de ocluso, em funo dos valores pr-estabelecidos.

    13

  • Fonte: College of Veterinary Medicine, Washington State University, 2008.

    Figura 9. Canino recebendo fluidoterapia com taxa de fluxo regulada por bomba de infuso

    (bomba eletrnica de fludos).

    Monitorao da fluidoterapia

    muito comum a administrao intravenosa de fludos em pacientes veterinrios, o uso de cateter intravenoso m dos procedimentos invasivos mais freqentes na clnica veterinria.

    A monitorao da resposta do paciente fluidoterapia e o risco de complicaes decorrentes

    desse procedimento, bem como a necessidade de um acesso vascular ao cateter so aspectos

    fundamentais do tratamento. Fludos intravenosos so medicamentos e fluidoterapia uma

    prescrio, e devem ser considerados como tal para evitar complicaes potenciais resultantes

    de escolha inadequada, subdose e dose excessiva.

    A definio do tipo e volume de fludo um importante componente do plano

    teraputico e deve incluir avaliao cuidadosa do tecido e perda intravascular, condio cido-

    bsica e eletroltica, idade e espcie animal, natureza da doena ou leso, evoluo aguda ou

    crnica, hematcrito e concentrao de albumina e uria, condio de coagulao e funo

    cardiorrespiratria. Portanto, necessria monitorao constante para se obter os efeitos

    desejveis. A administrao de fludo aos pacientes cardiopatas ou geritricos deve ser

    cautelosa, em comparao aos indivduos jovens e sadios.

    Exame fsico Sinais de alerta observados em pacientes em fluidoterapia so membros frios, temperatura retal baixa, aumento da freqncia cardaca e respiratria, palidez das membranas mucosas,

    tempo de preenchimento capilar prolongado e depresso mental. Estes sinais indicam uma baixa

    perfuso sangunea. Nesses casos importante tambm averiguar a presso sangunea. Ao se

    14

  • avaliar a resposta a fluidoterapia em animais com dor, devem-se administrar analgsicos

    opiides para o controle da dor e melhor avaliao do quadro clnico. A hipotermia pode ser

    decorrente de baixa perfuso secundria ao volume circulante deficiente ou causa primria com

    possibilidade de interferir na obteno dos objetivos da reanimao. O aumento da freqncia

    respiratria tambm pode estar associado a doena, leso ou excesso de fludo no pulmo.

    Todos os parmetros citados devem ser avaliados duas vezes ao dia, alm da avaliao do

    turgor cutneo e realizao de pesagens seriadas, sempre que possvel. A melhora no quadro

    clnico do paciente indicao de sucesso na fluidoterapia, deve-se constatar melhora na atitude

    do paciente medida que ocorre reanimao com fludo apropriado.

    Presso venosa central A presso venosa central (PVC) corresponde presso hidrosttica na via cava

    intratorcica. O posicionamento exato do cateter e sua fixao ao animal so extremamente

    importantes na interpretao dos resultados. Embora sejam considerados os riscos do

    procedimento, a mensurao da PVC durante a aplicao de fludo de reanimao, como na

    hipovolemia ou insuficincia renal aguda. Podendo de esta forma avaliar melhor a eficcia da

    terapia. Caso a PVC aumente acima de uma variao aceitvel aps aplicao de fluido em um

    animal com insuficincia renal aguda, a fluidoterapia deve ser reduzida ou interrompida. Alguns

    fatores como volume vascular, funo cardaca, hipertenso pulmonar, presso intratorcica

    podem influenciar na mensurao da PVC. Entretanto a PVC muito til quando necessrio

    realizar avaliao hemodinmica do paciente, bem como ter informaes seguras a respeito de

    freqncia cardaca e volume de sangue intravascular. A PVC normal de pequenos animais de

    0 a 3 cm de H20. Quando o paciente que est recebendo fluidoterapia retorna a PVC ao valor

    normal ou em nvel superior ao normal, um indicativo de que necessrio diminuir a taxa de

    fludo.

    Produo de urina Durante a hipovolemia e desidratao h diminuio do fluxo de sangue aos rins. Sdio e

    gua so conservados pela constrio das arterolas glomerulares, pela diminuio da taxa de

    filtrao glomerular, pelo aumento da reabsoro tubular de sal e gua e pela ativao do

    sistema renina-angiotensina-aldosterona. A menor presso arterial tambm acarreta secreo de

    hormnio antidiurtico. Em conseqncia disso o paciente produz pouca urina hipertnica.

    Alm disso, o volume de urina tambm depende da capacidade de concentrao renal, ou seja,

    funo renal normal. Entretanto, no caso de funo renal normal, a produo de urina e a

    densidade urinria so parmetros teis de monitorao quando se avalia o volume

    intravascular. A fluidoterapia intravenosa tambm expandir o compartimento intravascular e,

    por conseguinte, aumenta o volume de urina. O objetivo manter a excreo de urina entre 1 a 2

    15

  • mL/kg/hora, com densidade urinria de aproximadamente 1,026 (co) e 1,035 (gato). Diurese

    contnua pode requerer internao hospitalar prolongada para correo dos distrbios

    hidroeletrolticos resultantes. O ato de pesar o animal vrias vezes ao dia auxilia a estimar a

    perda ou ganho de fludo.

    Testes laboratoriais A monitorao freqente dos parmetros laboratoriais auxilia o clnico a avaliar a

    eficcia da fluidoterapia. So essenciais a obteno do Ht e PPT, antes e durante a realizao de

    fluidoterapia. Pode-se tambm avaliar a densidade urinria, como citado anteriormente,

    albumina e uria srica. Atravs do acompanhamento destes parmetros o clnico pode ter noo

    da efetividade do tratamento empregado, ou da necessidade de utilizar outro componente como

    colide ou hemoderivados.

    A dosagem do lactato pode ser um bom indicador de perfuso sangnea na

    monitorao de reanimao. O sangue deve ser coletado em frascos com heparina e a amostra

    deve se processada imediatamente. Mensuraes do teor de lactato podem ser realizadas em

    amostras de sangue arterial ou venoso. Quando h liberao de quantidade insuficiente de

    oxignio aos tecidos, as clulas utilizam metabolismo anaerbico e, conseqentemente, ocorre

    maior produo de lactato. Causas comuns de hiperlactemia so hipoperfuso e hipxia tecidual,

    ou secundrio a alcalose, hipoglicemia, medicamentos e doenas sistmicas. A monitorao da

    condio cido-bsica propicia informao adicional sobre a melhora da perfuso sangunea e

    da regresso da doena, bem como informaes necessrias para alteraes da fluidoterapia

    medida que a doena se modifica. Hipoperfuso e hipxia tecidual resultam em acidemia

    metablica. Na indisponibilidade de hemogasometria, os pacientes com acidemia decorrente de

    perda de HCO3- geralmente podem ser identificados pelo aumento da concentrao srica de

    cloreto, diminuio de CO2 total e anion gap normal. Ento a condio cido-bsica um bom

    indicador de perfuso sangunea, regresso da doena, e necessidade de alterao da

    fluidoterapia.

    Volume e velocidade Como citado anteriormente o volume e a velocidade de infuso do fluido de escolha

    deve ser monitorado cuidadosamente para que no ocorram falhas de hidratao ou

    complicaes iatrognicas. O volume de fluidos administrados tende a ser empiricamente

    deduzido e a resposta fluidoterapia deve servir como referncia para as necessidades

    contnuas. A administrao excessiva de fluido no propicia efeito terap6eutico e

    freqentemente resulta em distrbio do paciente. O volume excessivo administrado nos

    pacientes veterinrios um erro freqente cometido em animais hospitalizados ou durante

    16

  • procedimentos cirrgicos. As conseqncias mais comuns deste tipo de descuido so diurese

    excessiva e perda de eletrlitos resultando em desequilbrio cido-bsico e excreo excessiva

    de eletrlitos e, edema pulmonar e intersticial podendo suceder em efuso em espaos maiores

    (ex. cavidade pleural, pericrdica, peritoneal e cavidades articulares). Outra complicao a no

    administrao em velocidade e volume correto em pacientes emergenciais, como choque

    hemorrgico e hipovolmico. Os efeitos nocivos da fluidoterapia agressiva no tratamento de

    pacientes aps traumatismo, antes da avaliao completa, podem aumentar a taxa de

    mortalidade e morbidade. Complicaes comuns relacionadas com a velocidade de aplicao

    so broncoconstrio e respirao superficial.

    Complicaes da fluidoterapia

    No paciente com doena dinmica, as concentraes de eletrlitos no soro

    sanguneo necessitam de monitorao freqente. Na pratica comum observar

    alteraes hdricas e eletrolticas e cido-bsicas. Os dados clnicos e patolgicos

    costumam estar afetados no somente pelos problemas primrios e suas respostas

    secundrias, mas tambm pela terapia aplicada.

    Distrbios do potssio

    A hipocalemia pode ser seqela de doena ou tratamento. Baixos nveis de

    potssio esto relacionados com perdas gastrointestinais por vmito ou diarria, perdas

    renais por alterao da funo tubular renal, deficincia de potssio na dieta, movimento

    de potssio do LEC para o LIC em alcalose aguda, uso exagerado de diurticos,

    hiperadrenocorticismo, tratamento inadequado de insulina em diabticos. Pode ocorrer

    pseudohipocalemia em casos de hiperlipidemia, hiperproteinemia, hiperglicemia e

    azotemia. Sinais clnicos incluem debilidade muscular, arritmias cardacas, poliria e

    cimbras. O tratamento da hipocalemia baseia-se na suplementao oral, subcutnea ou

    intravenosa de potssio. importante realizar mensuraes sanguneas repetitivas para

    avaliar a resposta do paciente.

    As causas mais comuns de hipercalemia so a translocao de potssio entre

    espaos, comprometimento da excreo renal (ex. insuficincia renal crnica,

    hipoadrenocorticismo), iatrognica devido a fluidoterapia com potssio em excesso, uso

    de digitlicos ou diurticos poupadores de potssio. Pode ser observada falsa

    hipercalemia em amostras hemolisadas, devido alta concentrao de potssio nos

    eritrcitos. Os sinais clnicos comuns so fraqueza muscular e arritmias cardacas. O

    17

  • tratamento da hipercalemia envolve fluidoterapia adicional a base de cloreto de sdio,

    em casos de acidose pode ser fornecido bicarbonato de sdio, e na obstruo urinria

    recomenda-se aplicao de insulina e de soluo de glicose 5%.

    Distrbios do clcio

    O clcio o macromineral mais abundante no organismo e sua funo est

    relacionada com a mineralizao ssea, regulao metablica, coagulao sangunea,

    contrao muscular e transmisso de impulsos nervosos. A hipocalcemia pode ocorrer

    em fmeas de ces e gatos no final da gestao, ou no comeo da lactao. Este tipo de

    alterao comum em raas pequenas e chamado de eclampsia. Outra situao em

    que se observa hipocalcemia no hipoparatireiodismo devido a produo reduzida de

    paratormnio pelas glndulas paratireides. Os sinais clnicos mais comuns so rigidez

    muscular e tetania. O tratamento empregado a administrao de sais de clcio ou

    vitamina D.

    Hipercalcemia um distrbio comum em pequenos animais, a causa mais

    freqente pela produo de substncias bioqumicas pelos tumores, resultando na

    reteno de clcio. Este distrbio chamado de pseudohiperparatireoidismo. Outras

    causas de hipercalcemia so hiperparatireoidismo primrio e intoxicao por vitamina

    D. Os sinais clnicos mais comuns so arritmias cardacas, rigidez muscular, poliria. A

    hipercalcemia interfere na habilidade do hormnio antidiurtico levando a poliria

    (diabetes insipidus nefrognico). O tratamento indicado administrao de solues

    ricas em sdio e livres de clcio, por exemplo, NaCl a 0,9%. O uso de Lasix ir

    promover diminuio de sdio que acompanhada de perda renal de clcio.

    Distrbios do sdio

    As mudanas no equilbrio hdrico so as principais responsveis pelas mudanas

    na concentrao de sdio. Entre as causas de hiponatremia esto s perdas no volume

    efetivo circulante, hemorragias compensadas por aumento do consumo de gua,

    seqestro de fluidos que contenham sdio em cavidades (ex. ascite, peritonite, ruptura

    de bexiga), doena renal com deficiente absoro de sdio, deficincia de secreo de

    hormnio antidiurtico. Pode ocorrer pseudohiponatremia em quadros de hiperlipidemia

    e hiperproteinemia. Os sinais clnicos comuns so anorexia, letargia, taquicardia e

    transtornos musculares. O tratamento envolve fluidoterapia com solues isotnicas de

    18

  • NaCl a 0,9%. importante diferenciar hiponatremia falsa de verdadeira antes de

    realizar o tratamento.

    A hipernatremia est quase sempre associada elevao da osmolaridade no

    plasma. Ocorre em animais desidratados quando as perdas de gua excedem as perdas

    de eletrlitos. Observa-se hipernatremia em estgios iniciais de vmito, diarria e

    doena renal, queimaduras cutneas, causas iatrognicas (ex. nutrio parenteral, uso

    exagerado de diurticos), respirao ofegante por calor ou exerccio fsico intenso,

    diabetes insipidus, diabetes mellitus, hiperaldosteronismo por tumor adrenal. Os

    sintomas observados so fraqueza, letargia, sede, irritabilidade, depresso, ataxia,

    mioclonia e coma. Os sinais neurolgicos ocorrem devido a desidratao neuronal, que

    ocorre, pois h deslocamento de gua para o espao extracelular. O tratamento envolve

    a correo da causa primria e uso de solues hipotnicas de NaCl a 0,45% com

    dextrose 2,5%, de forma lenta para evitar edema cerebral. Entretanto, a correo oral

    prefervel em caso de dficit de gua.

    Desequilbrio cido-bsico

    As alteraes cido-bsicas do sangue podem ser devidas a um de quatro

    possveis estados: acidose respiratria, acidose metablica, alcalose respiratria ou

    alcalose metablica. A acidose pode ocorrer por excesso de cido ou deficincia de

    base, e a alcalose pode ocorrer por um excesso de base ou deficincia de cido. Para

    avaliar tais distrbios corretamente seria necessrio realizar hemogasometria.

    importante ter os valores de CO2 e HCO3- para poder determinar corretamente qual o

    tipo de distrbio est ocorrendo, assim como verificar a ocorrncia ou no de resposta

    compensatria. O pH urinrio e o pCO2 so importantes para determinar respostas

    compensatrias. Se for possvel realizar hemogasometria pode-se usar o calculo de

    excesso de base para calcular a quantidade de bicarbonato requerida e corrigir o

    equilbrio cido-bsico. Como tratamento utiliza-se precursores do bicarbonato como

    acetato, gluconato, lactato ou citrato.

    Qual o momento de interromper a fluidoterapia? importante identificar a causa primria de hipovolemia e selecionar o tipo de fluido

    apropriado. A chave do sucesso ter conscincia dos problemas associados que

    necessitam de seleo criteriosa de fluidos, volume e velocidade de administrao.

    19

  • 20

    Monitorao apropriada e contnua da doena reduzir o risco de complicaes

    secundrias fluidoterapia. O emprego de uma associao de mtodos de

    monitoramento e o conhecimento de suas limitaes auxilia o clnico a adotar a melhor

    avaliao possvel. A fluidoterapia deve ser interrompida quando se restabelece a

    hidratao e o animal pode manter o equilbrio de fluido mediante o consumo de gua e

    alimentos por si s. medida que o animal se recupera, reduz-se o volume de fluido em

    25 a 50% por dia. Em casos em que se observa anorexia por mais de 3 dias indica-se o

    uso de nutrio parenteral.

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