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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Visite nosso site: geael.wordpress.com e baixe os números anteriores Um dia, numa das reuniões da família, o pai lera uma passagem de O Livro dos Espíritos, concernente à música celeste. Uma de suas filhas, boa musicista, dizia a si mesma: Mas não há música no mundo invisível; isso lhe parecia impossível, todavia, não deu a conhecer o seu pensamento. À noite, ela mesma escreveu, espontanea- mente, a comunicação seguinte: Esta manhã, minha filha, teu pai te leu uma passagem de O Livro dos Espíritos; tratava-se de música, tu aprendeste que a do céu é muito mais bela do que a da Terra, os Espíritos a acham muito superior à vossa. Tudo isto é a verdade; entretanto, te dizias à parte e a ti mesma: Como Bellini poderia vir me dar conselhos e ouvir a minha música? Provavelmente, foi algum Espírito leviano e farsante. (Alusão aos conselhos que o Espírito de Bellini lhe dava, às vezes, sobre a música.) Tu te enganas, minha filha, quando os Espíritos tomam um encarnado sob a sua proteção, seu objetivo é fazê- -lo avançar. “Assim, Bellini não acha mais a sua música bela, porque não pode compará-la à do espaço, mas ele vê a tua aplicação e o teu amor por essa arte, se te dá conselhos é por satisfação sincera; deseja que teu professor seja recompensado por todo o seu trabalho; mesmo achando teu divertimento muito infantil, diante das sublimes harmonias do mundo invisível, aprecia teu talento que se pode chamar grande sobre essa Terra. Crede-o, minha filha, o som de vossos instrumentos, vossa mais bela voz, não poderiam vos dar a mais fraca idéia da música celeste e de sua suave harmonia. Alguns instantes depois, a jovem disse: “Papai, papai, eu adormeço, eu caio...” Logo abateu-se sobre uma poltro- na exclamando: “Ó! papai, papai, que música deliciosa!... Desperte-me, porque para lá me vou.” Os assistentes, assustados, não sabendo como despertá- -la, ela disse: “Água, água.” Com efeito, algumas gotas lançadas sobre o seu rosto produziram um pronto resultado; de início atur- dida, retornou lentamente a si, sem ter a menor consciência do que se passara. Na mesma noite, estando o pai só, obteve a explicação seguinte do Espírito de São Luís: Quando lias, para a tua filha, a passagem de O Livro dos Espíritos tratando da música celeste, ela estava na dúvida; não compreendia que a música pudesse existir no mundo espiritual. Eis porque, esta noite, eu lhe disse a verdade; isso não podendo persuadi-la, Deus permitiu, para convencê-la, que lhe fosse enviado um sono sonambúlico. Então, seu Espírito, se desligando de seu corpo adormecido, lançou-se no espaço e foi admitido nas regiões etéreas, seu êxtase era produzido pela impressão da harmonia celeste; também ela exclamou: “Que música! Que música!” mas sentindo-se cada vez mais transportada nas regiões elevadas do mundo espiritual, pediu para ser despertada, tendo indicado o meio para isso, quer dizer,com água. Tudo se faz pela vontade de Deus. O Espírito de tua filha não duvidará mais; embora não tenha, estando desperta, conservado a memória nítida do que se passou, seu Espírito sabe no que ater-se. Agradecei a Deus pelos favores com os quais cumula essa criança; agradecei-lhe por dignar-se, cada vez mais, vos fazer conhecer a sua onipotência e a sua bondade. Que suas bênçãos se derramem sobre vós e sobre esse médium feliz entre mil! Nota. Perguntar-se-á, talvez, que convicção pode resultar para essa jovem daquilo que ouviu, se disso não se lembra mais. Se, no estado de vigília, os detalhes se apagaram de sua memória, o Espírito se lembra; resta nele uma intuição que modifica os seus pensamentos; em lugar de fazer oposição, Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 19 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL A música celeste

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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1

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Um dia, numa das reuniões da família, o pai lera uma passagem de O Livro dos Espíritos, concernente à música celeste. Uma de suas filhas, boa musicista, dizia a si mesma: Mas não há música no mundo invisível; isso lhe parecia impossível, todavia, não deu a conhecer o seu pensamento. À noite, ela mesma escreveu, espontanea-mente, a comunicação seguinte:

Esta manhã, minha filha, teu pai te leu uma passagem de O Livro dos Espíritos; tratava-se de música, tu aprendeste que a do céu é muito mais bela do que a da Terra, os Espíritos a acham muito superior à vossa. Tudo isto é a verdade; entretanto, te dizias à parte e a ti mesma: Como Bellini poderia vir me dar conselhos e ouvir a minha música? Provavelmente, foi algum Espírito leviano e farsante. (Alusão aos conselhos que o Espírito de Bellini lhe dava, às vezes, sobre a música.) Tu te enganas, minha filha, quando os Espíritos tomam um encarnado sob a sua proteção, seu objetivo é fazê--lo avançar.“Assim, Bellini não acha mais a sua música bela, porque não pode compará-la à do espaço, mas ele vê a tua aplicação e o teu amor por essa arte, se te dá conselhos é por satisfação sincera; deseja que teu professor seja recompensado por todo o seu trabalho; mesmo achando teu divertimento muito infantil, diante das sublimes harmonias do mundo invisível, aprecia teu talento que se pode chamar grande sobre essa Terra. Crede-o, minha filha, o som de vossos instrumentos, vossa mais bela voz, não poderiam vos dar a mais fraca idéia da música celeste e de sua suave harmonia.

Alguns instantes depois, a jovem disse: “Papai, papai, eu adormeço, eu caio...” Logo abateu-se sobre uma poltro-na exclamando: “Ó! papai, papai, que música deliciosa!... Desperte-me, porque para lá me vou.”

Os assistentes, assustados, não sabendo como despertá--la, ela disse:

“Água, água.” Com efeito, algumas gotas lançadas sobre o seu rosto produziram um pronto resultado; de início atur-dida, retornou lentamente a si, sem ter a menor consciência do que se passara.

Na mesma noite, estando o pai só, obteve a explicação seguinte do Espírito de São Luís:

Quando lias, para a tua filha, a passagem de O Livro dos Espíritos tratando da música celeste, ela estava na dúvida; não compreendia que a música pudesse existir no mundo

espiritual. Eis porque, esta noite, eu lhe disse a verdade; isso não podendo persuadi-la, Deus permitiu, para convencê-la, que lhe fosse enviado um sono sonambúlico. Então, seu Espírito, se desligando de seu corpo adormecido, lançou-se no espaço e foi admitido nas regiões etéreas, seu êxtase era produzido pela impressão da harmonia celeste; também ela exclamou: “Que música! Que música!” mas sentindo-se cada vez mais transportada nas regiões elevadas do mundo espiritual, pediu para ser despertada, tendo indicado o meio para isso, quer dizer,com água.Tudo se faz pela vontade de Deus. O Espírito de tua filha não duvidará mais; embora não tenha, estando desperta, conservado a memória nítida do que se passou, seu Espírito sabe no que ater-se.Agradecei a Deus pelos favores com os quais cumula essa criança; agradecei-lhe por dignar-se, cada vez mais, vos fazer conhecer a sua onipotência e a sua bondade. Que suas bênçãos se derramem sobre vós e sobre esse médium feliz entre mil!

Nota. Perguntar-se-á, talvez, que convicção pode resultar para essa jovem daquilo que ouviu, se disso não se lembra mais. Se, no estado de vigília, os detalhes se apagaram de sua memória, o Espírito se lembra; resta nele uma intuição que modifica os seus pensamentos; em lugar de fazer oposição,

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraConhecendo a Doutrina Espírita – 19

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• A música celeste

2 Conhecendo a Doutrina Espírita

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aceitará sem dificuldade as explicações que lhe serão dadas porque as compreenderá, e, intuitivamente, as achará de acordo com o seu sentimento íntimo.

O que se passou aqui, por um fato isolado, no espaço de alguns minutos, durante a curta excursão que o Espírito da jovem fez no mundo espiritual, é análogo ao que ocorre de uma existência a outra quando o Espírito, que se encarna, possui luzes sobre um assunto qualquer; ele se apropria, sem dificuldade, de todas as idéias que se relacionam com esse assunto, se bem que não se lembre, como homem, da maneira pela qual as adquiriu. As idéias, ao contrário, para as quais não está maduro, entram com dificuldade em seu cérebro.

Assim se explica a facilidade com que certas pessoas assimilam as idéias espíritas. Essa idéias não fazem senão despertar nelas as que já possuíam; são espíritas de nasci-mento como outras são poetas, músicos ou matemáticos. Elas compreendem da primeira palavra, e não têm necessidade de fatos materiais para se convencerem. Incontestavelmente, é um sinal de adiantamento moral e do princípio espiritual.

Na comunicação acima está dito: “Agradecei a Deus pelos favores com os quais cumula essa criança; que suas bênçãos se derramem sobre este médium, feliz entre mil”. Estas palavras pareceriam indicar um favor, uma preferência, um privilégio, ao passo que o Espiritismo nos ensina que Deus, sendo soberanamente justo, nenhuma de suas criaturas é privilegiada, e que não facilita mais o caminho a uns do que aos outros. Sem nenhuma dúvida, o mesmo caminho está aberto a todo o mundo, mas nem todos o percorrem com a mesma rapidez: e com o mesmo fruto; nem todos aproveita-rão igualmente as instruções que recebem. O Espírito dessa criança, embora jovem como encarnada, sem dúvida, já viveu muito, e certamente progrediu.

Os bons Espíritos, encontrando-a então dócil aos seus ensinos, se alegram em instruí-la, como faz o professor com o aluno em que encontra felizes disposições; é a esse título que é médium feliz entre muitos outros que, por seu adiantamen-to moral, não tiram nenhum fruto de sua mediunidade. Não há, pois, neste caso, nem favor, nem privilégio, mas sim uma recompensa; se o Espírito cessasse de ser digno dela, logo seria abandonada por seus bons guias, para ver acorrer, ao seu redor, uma multidão de maus Espíritos.

A música espíritaRecentemente, na sede da Sociedade Espírita de Paris, o

Presidente me deu a honra de pedir a minha opinião sobre o estado atual da música e sobre as modificações que lhe poderiam trazer a influência das crenças espíritas. Se não me entreguei em seguida a esse benevolente e simpático pedido, crede-o bem, senhores, que só uma causa maior motivou a minha abstenção.

Os músicos, meu Deus! são homens como os outros, mais homens talvez, e, a esse título, são fracos e pecáveis. Não fui isento de fraquezas, e se Deus me fez a vida longa, a fim de me dar o tempo de me arrepender, a embriaguez do sucesso, a complacência dos amigos, a bajulação dos aduladores, fre-

quentemente, disso me retiraram a possibilidade. Um maes-tro é uma força, neste mundo onde o prazer desempenha tão grande papel. Aquele cuja arte consiste em seduzir os ouvi-dos, a comover o coração, vê muitas armadilhas se criarem sob os seus passos, e nelas cai, o infeliz! Embriaga-se com a embriaguez dos outros; os aplausos lhe tapam os ouvidos, e vai direto ao abismo, sem procurar um ponto de apoio para resistir ao arrastamento.

Entretanto, apesar dos meus erros, eu tinha fé em Deus; acreditava na alma que vibrava em mim e, desligado de sua carga sonora, ela depressa reconheceu-se no meio das harmo-nias da criação e confundiu a sua prece com aquelas que se elevam da Natureza ao infinito da criação, ao Ser incriado!....

Estou feliz pelo sentimento que provocou a minha vinda entre os espíritas, porque foi a simpatia que a ditou, e, se a curiosidade de início me atraiu, é ao meu reconhecimento que devereis a minha apreciação da questão que me foi colocada. Eu estava lá, prestes a partir, crendo tudo saber, quando o meu orgulho caindo me revelou minha ignorância. Eu per-manecia mudo, e escutava: retomei, instruí-me, e quando, às palavras de verdade emitidas pelos vossos instrutores, se juntaram a reflexão e a meditação, eu disse a mim: O grande maestro Rossini, o criador de tantas obras de arte, segundo os homens, não fez, ai de mim! senão debulhar algumas das pérolas menos perfeitas do escrínio musical criado pelo Mestre dos mestres. Rossini juntou notas, compôs melodias, saboreou no copo que contém todas as harmonias; furtou algumas centelhas ao fogo sagrado, mas esse fogo sagrado, nem ele nem outros não o criaram! – Não inventamos nada: copiamos do grande livro da Natureza e a multidão aplaude quando não deformamos muito a partitura.

Uma dissertação sobre a música celeste! Quem poderia disso se encarregar? Que Espírito sobre-humano poderia fazer vibrar a matéria em uníssono dessa arte encantadora! Que cérebro humano, que Espírito encarnado poderia dela apreender as nuanças variadas ao infinito?... Quem possui, nesse ponto, o sentimento da harmonia?... Não, o homem não está feito para semelhantes condições!... Mais tarde?... bem mais tarde!...

Esperando, talvez venha logo satisfazer ao vosso dese-jo e vos dar a minha apreciação sobre o estado atual da música, e dizer-vos das transformações, dos progressos que o Espiritismo poderá nela introduzir. – Hoje é muito cedo ainda. O assunto é vasto, já o estudei, mas me excede ainda; quando nele for mestre, se todavia a coisa for possível, ou melhor, quando tiver entrevisto tanto quando o estado de meu Espírito mo permitirá, eu vos satisfarei; mas ainda um pouco de tempo. Se um músico pode falar sozinho da música do futuro, deve fazê-lo como mestre, e Rossini não quer, dela falar como um escolar.

ROSSINI (Médium, sr. Desliens)

Obras PóstumasAllan Kardec

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Diante da pergunta: A alma existe? A ciência responde talvez; os fenômenos do magnetismo, do hipnotismo, da anes-tesia respondem sim e, com isso, confirmam todas as dedu-ções da filosofia e as afirmações da consciência.

Forçados, pela evidência dos fatos, a admitir no homem uma força diretriz, muitos materialistas se refugiam numa derradeira negação, sustentando que essa energia se extingue com o corpo, do qual era apenas uma emanação. Como todas as forças físicas e químicas – dizem eles – a alma, essa resul-tante vital, cessa com a causa que a tinha produzido; morto o homem, a alma se extingue.

Será isso possível? Não passamos de um vulgar aglome-rado de moléculas sem solidariedade entre si? Nossa indivi-dualidade deverá desaparecer para sempre, e do que foi um homem restará somente um cadáver destinado a desagregar--se lentamente na fria escuridão do túmulo?

Diante da grandiosa questão da imortalidade do ser pen-sante, diante do temível problema que apaixonou as mais vastas inteligências, diante desse desconhecido cheio de mis-tério, não hesitamos em responder de maneira afirmativa.

Temos provas seguras da existência da alma após a mor-te, podemos afirmar, incontestavelmente, que estamos com a razão, e isso por meio de experiências simples, práticas, ao alcance de todos e para cuja explicação não se precisa de um gênio transcendente. O ignorante, tal como o sábio, pode for-mar uma convicção, e esse resultado se deve a uma nova ci-ência: o espiritismo.

Quando se pensa na gravidade que se atribui à solução do problema da sobrevivência do eu e nas consequências que disso resultam, não seria demais insistir nos fenômenos que nos revelam de modo convincente a existência da alma depois da morte. A vida social e as leis que a dirigem são baseadas num ideal moral que só pode apoiar-se na crença em Deus e numa vida futura.

Há séculos, com efeito, baseando-se nos princípios de suas religiões, que lhes pareciam inabaláveis, as nações acei-taram as leis ditadas por seus legisladores. Mas com os tem-pos modernos, com a livre discussão, surgiram dúvidas sobre a legitimidade dessas leis, o direito divino que tornava o ho-mem senhor do povo soçobrou na torrente de 93, e o resul-tado deveu-se, do mesmo modo que na política e na filosofia, ao descrédito em que caíram as idéias religiosas. Havia uma íntima aliança entre a realeza e o clero; quando os enciclope-distas minaram os dogmas, o trono também ruiu.

A fé cega imposta pelos padres produziu inúmeros er-ros e crimes contra os quais o espírito humano, liberto dos seus preconceitos, se revoltou. Ninguém encara sem horror os massacres dos valdenses, dos albigenses, dos camisards. Os gritos das vítimas da noite de São Bartolomeu, dos Savona-rola e de João Huss ecoam dolorosamente no fundo dos co-rações, e os suplícios da Inquisição, seus monstruosos autos--de-fé, são uma mancha sangrenta na história do catolicismo.

Os fanáticos que condenaram Galileu nada sabiam sobre as maravilhas da Universo; sua fé tacanha e ignorante só po-dia engendrar ignorância e credulidade. Os cristãos da Idade Média tinham uma idéia acanhada do nosso mundo, que só conheciam em parte. Consideravam-no a base do Universo; viam o céu apenas como a morada de Deus, e as estrelas, como simples pontos luminosos. Assim, tinham estabelecido uma hierarquia rudimentar, colocando o inferno no centro da Terra e o paraíso, acima do Sol, de modo que nós éramos o pivô de toda a criação e fora do nosso mundinho nada existia.

Mas a astronomia veio derrubar essa fabulosa concepção. Nossos conhecimentos ampliaram-se, o infinito expôs sua ex-tensão diante de nossos olhos maravilhados. As estrelas não são tachinhas brilhantes colocadas pela mão do criador para iluminar nossas noites, são mundos imensos rolando no espa-ço, são sóis radiosos que, no seu curso através do infinito, le-vam consigo um cortejo de planetas. A imensidão mostrou-se com suas insondáveis profundezas; sabemos que nossa Terra é somente uma ínfima parte da poeira de mundos que turbi-lhonam no éter, de modo que as crenças baseadas em nosso orgulho dissiparam-se ante o sopro da realidade. O Universo inteiro expôs diante de nós os esplendores da sua harmonia eterna, a inalterável simetria de suas mudanças, sua imuta-bilidade, sua imensidão! Diante de espetáculos tão inusita-dos, os homens reconheceram a inanidade das suas primeiras crenças, queimaram o que haviam adorado, e, levando o des-prezo pelo passado aos limites extremos, repeliram as noções de Deus e de alma, como entidades separadas, sem qualquer valor objetivo. Assim se estabeleceu a corrente materialista nascida, no séc. XVIII, da luta contra os abusos. O homem da nossa época não quer mais crer, desconfia até mesmo da razão, refugia-se na experiência sensível, como se fosse a úni-ca capaz de lhe fornecer a verdade; eis por que exige provas inquestionáveis, fenômenos que até agora eram domínio pró-prio da filosofia. Essas considerações nos explicam o pouco sucesso obtido por eminentes escritores, como Ballauche, Constant Savy, Esquiros, Charles Bonnet, Jean Reynaud, que pregaram a imortalidade da alma.

Atualmente, um filósofo e sábio, Camille Flammarion, segue os gloriosos passos daqueles grandes homens. Esse propagador de gênio semeia a mancheias as idéias da palin-genesia humana, e o sucesso retribui-lhe os nobres esforços, mas ele deve sua fama mais a um estilo esplêndido do que às idéias que emite. O espírito humano, há séculos oscilando entre os mais diversos sistemas, está cansado de especula-ções metafísicas e se agarra à observação material como a uma tábua de salvação. Daí o grande prestígio dos homens de ciência no momento atual. Estes, por sua vez, formam uma corporação sacrossanta, cujas sentenças são inapeláveis. Têm toda a arrogância dos antigos colégios sacerdotais, sem deles possuir as raras virtudes, e em ambos os lados a intolerância é a mesma.

4 Conhecendo a Doutrina Espírita

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O povo, que só capta o exterior das coisas, vendo seus antigos conhecimentos destruídos pelas modernas descober-tas, acredita cegamente em seus novos condutores e, acom-panhando-os, se joga no mais absoluto materialismo. Não se raciocina mais; de cabeça baixa, vai-se às últimas consequên-cias, e, como está provado que o cérebro é a sede do pensa-mento, a alma não existe mais, porque não se acredita mais em Jeová planando sobre uma nuvem. Deus não passa de um mito fabuloso.

É contra essas tendências que o espiritismo vem reagir. Sendo nosso século o século da demonstração material, ele traz ao observador imparcial fatos bem constatados. Deixan-do de lado as teorias nebulosas, o espiritismo se afasta dos dogmas e das superstições, apóia-se na base inabalável da observação científica, e os próprios positivistas conseguem declarar-se satisfeitos com as provas que apresentamos às dis-cussões, porque elas nos são fornecidas pelos maiores nomes, de quem a ciência contemporânea se orgulha.

Cinquenta anos depois que essa doutrina fez sua reapa-rição no mundo, ela foi submetida a críticas apaixonadas, a ataques muitas vezes desleais. Seus adeptos foram vilipendia-dos, ridicularizados, execrados, quiseram transformá-los em derradeiros representantes da feitiçaria e, contudo, apesar das perseguições, eles são hoje mais numerosos e mais fortes do que nunca; não mais são recrutados na massa ignorante, mas entre homens esclarecidos: escritores, artistas, sábios etc.

O espiritismo se expande no mundo com uma rapidez extraordinária. Nenhuma filosofia, nenhuma religião teve um desenvolvimento tão considerável em tão pouco tempo.

Hoje, mais de quarenta publicações, mensais ou sema-nais, levam a pontos distantes o resultado das pesquisas em-preendidas em todas as partes do mundo, e seus partidários, agrupados em sociedades, contam com milhões de sócios na superfície do globo.

A que se deve essa progressão formidável? Naturalmente, à simplicidade dos ensinamentos espíritas baseados na justi-ça de Deus, e principalmente aos meios práticos de convencer--se da imortalidade da alma que são proporcionados a todos pela nova ciência.

Na história do espiritismo, há duas fases distintas que é útil assinalar. A primeira abrange o período compreendido entre 1846, momento da sua aparição, e 1869, marcado pela morte do célebre escritor Allan Kardec. Nesse lapso de tempo, o fenômeno espírita foi estudado por todo lado, as experiên-cias se multiplicaram e os observadores sérios descobriram que fatos inusitados eram produzidos por inteligências viven-do uma existência diferente da nossa. Dessa certeza nasceu o desejo de estudar essas manifestações tão curiosas, e, com documentos recolhidos em toda parte, Allan Kardec compôs O Livro dos Espíritos e, mais tarde, O Livro dos Médiuns, cuja consulta é indispensável a toda pessoa desejosa de iniciar-se nessas práticas novas. O grande filósofo que os escreveu im-primiu um formidável impulso às pesquisas, e pode-se dizer que se deve ao seu devotamento infatigável a propagação tão rápida dessas consoladoras verdades.

O segundo período, que vai de 1869 até os dias atuais, é caracterizado pelo movimento científico que começou a girar em torno das manifestações dos Espíritos. A Inglaterra, a Ale-manha, os Estados Unidos parecem marchar de comum acor-do quanto às investigações. Os sábios mais autorizados desses países já proclamam em voz alta a validade dos fenômenos espíritas, e dentro em breve o mundo todo se associará a esses nobres trabalhos, cuja finalidade é afastar-nos das degradan-tes crenças do materialismo. Logo exporemos os documentos em que baseamos nossa afirmativa.

Passou-se o tempo em que podiam, a priori, rejeitar nos-sas idéias; hoje o espiritismo se impõe à atenção pública. É preciso que os preconceitos absurdos com que foi recebido ao nascer desapareçam diante da realidade. É necessário que todos saibam que, longe de serem visionários, cabeças ocas, os espíritas são observadores imparciais e metódicos, que só relatam fatos perfeitamente constatados.

Deve-se convencê-los de que vários milhões de homens não são vítimas de uma loucura contagiosa, de que, se crêem, é porque sua doutrina oferece os mais nobres ensinamentos, porque abre ao espírito os mais vastos horizontes. É preciso, enfim, que deixem de lado as piadas fáceis há vinte e cinco anos publicadas por jornalecos e das quais nem seus editores acham mais graça. A nova ciência que ensinamos não consis-te só no movimento de uma mesa, porque, dessas modestas tentativas a suas consequências, há a mesma distância que havia entre a maçã de Newton e a gravitação universal.

Convidamos os homens de boa fé a fazer pesquisas sérias, a meditar sobre os ensinamentos da nossa filosofia, e ficarão convencidos de que o sobrenatural jamais interfere nas nos-sas explicações.

O espiritismo rejeita o milagre com todas as suas forças. Ele faz de Deus o ideal da justiça e da ciência; diz que o cria-dor do mundo, tendo estabelecido leis que são a expressão do seu pensamento, não pode condescender, porque elas são a obra da suprema razão, e é impossível qualquer infração a es-sas leis. Todos os fatos espíritas podem, se não ser explicados, pelo menos ser incluídos entre os dados da ciência atual. É o que demonstraremos no final desta obra.

A parte espiritual do homem foi negligenciada pelos sá-bios, seus trabalhos tinham por objeto somente o corpo, e eis que hoje os Espíritos invadem a ciência que os havia desde-nhado.

(continua no próximo número)

O Espiritismo Perante a CiênciaGabriel Delanne

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15. O volume da Terra aumenta, diminui, ou está estacionário?Para sustentar a ideia do aumento do volume da Terra, algumas pessoas se

baseiam no fato de as plantas darem ao solo mais do que dele tiram, o que num senti-do é exato, mas noutro não o é. As plantas se nutrem tanto, e até mais, das substâncias gasosas que aspiram da atmosfera, do que das que sugam pelas suas raízes; ora, a atmosfera é parte integrante do globo; os gases que a constituem provêm da decompo-sição dos corpos sólidos, e estes, recompon-do-se, retomam o que lhe haviam dado. É uma troca, ou melhor, uma perpétua trans-formação, de tal modo que, operando-se o crescimento dos vegetais e dos animais com o auxílio dos elementos constitutivos do globo, seus restos, por mais considerá-veis que sejam, não acrescentam um átomo à massa. Se, por causa disso, a parte sólida do globo aumentasse de modo permanen-te, seria em detrimento da atmosfera, que diminuiria na mesma proporção e acabaria por tornar-se imprópria à vida, se ela não recuperasse, pela decomposição dos corpos sólidos, o que perde pela composição deles.

Na origem da Terra, as primeiras camadas geológicas formaram-se de maté-rias sólidas momentaneamente volatiliza-das por causa da alta temperatura, e que, mais tarde, condensada pelo resfriamento, se precipitaram. Incontestavelmente, elas elevaram um pouco a superfície do solo, sem nada acrescentar, porém, à massa total, pois tratava-se apenas de um deslo-camento de matéria. Quando, expurgada dos elementos estranhos que continha em suspensão, a atmosfera se encontrou no seu estado normal, as coisas seguiram o curso regular que mantiveram depois. Hoje, a menor modificação na constitui-ção da atmosfera levaria, forçosamente, à destruição dos atuais habitantes do pla-neta; mas, provavelmente, também se for-massem novas raças em outras condições.

Considerada sob esse ponto de vista, a massa do globo, isto é, a soma das moléculas que compõem o conjunto das suas partes sólidas, líquidas e gasosas, é incontestavelmente a mesma desde a sua origem; se o globo sofresse uma dilatação ou uma condensação, seu volume aumen-taria ou diminuiria, sem que a massa sofresse qualquer alteração. Se, pois, a Terra aumentasse de massa, seria por

6 Conhecendo a Doutrina Espírita

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efeito de uma causa estranha, já que ela não poderia extrair de si mesma os elementos necessários ao seu aumento.

Segundo um certo modo de ver, o globo aumentaria de massa e de volume pelo aflu-xo da matéria cósmica interplanetária. Esta ideia nada tem de irracional, mas é demasia-do hipotética para ser admitida em princípio. Não passa de um sistema combatido por sistemas contrários, sobre os quais a ciência nada estabeleceu. Sobre este assunto, eis aqui a opinião do eminente espírito que ditou os sábios estudos uranográficos reproduzidos antes, no capítulo VI:

“Envelhecendo, os mundos se esgotam e tendem a dissolver-se para servir de ele-mentos de formação para outros universos. Pouco a pouco, devolvem ao fluido cósmico universal do espaço o que dele tiraram para formar-se. Além disso, todos os corpos se desgastam pelo atrito; o movimento rápido e incessante do globo através do fluido cós-mico tem por consequência diminuir-lhes constantemente a massa, embora de uma quantidade inapreciável em dado tempo.

“A existência dos mundos pode, a meu ver, dividir-se em três períodos. – Primeiro período: condensação da matéria, período durante o qual o volume do globo diminui cnsideravelmente, mas a massa permanece a mesma; é o período da infância. – Segundo período: contração, solidificação da crosta; eclosão dos germes, desenvolvimento da vida até à aparição do tipo mais suscetível de aperfeiçoamento. Nesse momento, o globo está em toda a sua plenitude, é a época da virilidade; ele perde, mas muito poucos dos seus elementos constitutivos. À medidda que seus habitantes progridem espiritu-almente, ele passa para o período de declínio material; ele perde não somente em consequência do atrito, mas também pela desagregação das moléculas, como uma pedra dura que, desgastada pelo tempo, acaba se transformando em pó. Em seu duplo movimento, de rotação e de translação, ele entrega ao espaço parcelas flui-dificadas da sua substância, até o momento em que sua dissolução se completar.

“Mas então, como a força de atração é proporcional à massa – não digo ao volume –, diminuindo a massa do globo, suas condições de equilíbrio no espaço se modificam; dominado por globos maiores, aos quais não pode fazer contra-peso, daí resultam desvios nos seus movimentos, e também, consequentemente, mudanças profundas nas condições da vida na sua superfície. Assim, nascimen-to, vida e morte; ou infância, virilidade, decrepitude, tais são as três fases pelas quais passa toda aglomeração de matéria orgânica ou inorgânica; só o espírito, que não é matéria, é indestrutível.” (GALILEU, Sociedade de Paris, 1868.)

A GêneseAllan Kardec

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303. Se é desagradável ser enganado, mais desagradável ainda é ser mistifica-do; este, aliás, é um dos inconvenientes de que mais facilmente podemos resguar-dar-nos. Todas as instruções precedentes dão destaque aos meios de frustrar os ardis dos Espíritos mistificadores. Por isso pouco falaremos sobre o assunto. Eis as respostas dos Espíritos a esse respeito:

I. As mistificações constituem um dos problemas mais desagradáveis do espi-ritismo prático. Existe um meio de nos preservarmos delas?

— Parece-me que podeis encontrar a resposta em tudo que vos foi ensinado. Certamente, há, sim, um meio simples para isso, que é pedir ao espiritismo só o que ele pode e deve dar-vos. Seu objetivo é o aperfeiçoamento moral da humanida-de; se não vos afastardes dele, jamais sereis enganados, porque não existem duas maneiras de compreender a verdadeira moral, a moral que todo o homem de bom senso pode admitir.

Os Espíritos vêm para instruir-vos e guiar-vos no caminho do bem, e não no das honrarias e da riqueza, ou para servir às vossas paixões mesquinhas. Se nunca lhes pedíssemos coisas fúteis, ou fora das suas atribuições, não daríamos qualquer poder aos Espíritos enganadores; donde deveis concluir que quem é mistificado apenas tem o que merece.

O papel dos Espíritos não é esclarecer-vos sobre as coisas deste mundo, mas guiar-vos com segurança no que vos possa ser útil no outro mundo. Se vos falam de coisas da Terra, é porque julgam necessário, mas não para atender a um pedido vosso. Se vedes os Espíritos como substitutos de adivinhos e feiticeiros, por certo sereis enganados.

Se lhes bastasse apenas dirigir-se aos Espíritos para saber tudo, os homens dei-xariam de ter livre-arbítrio e sairiam do caminho traçado por Deus para a humani-dade. O homem deve agir por si mesmo; Deus não envia os Espíritos para aplainar--lhes a estrada material da vida, mas para preparar-lhes a estrada do futuro.

Ia. Mas, não há pessoas que nada perguntam e que são indignamente engana-das por Espíritos que vêm espontaneamente, sem serem chamados?

— Embora nada perguntem, permitem que falem, o que dá no mesmo. Se re-cebessem com reserva e desconfiança tudo o que se afasta do objetivo essencial do espiritismo, os Espíritos levianos não as fariam tão facilmente de tolas.

II. Por que Deus permite que pessoas sinceras e que aceitam o espiritismo de boa fé sejam mistificadas? Isso não poderia ter o inconveniente de abalar-lhes a crença?

— Se isso lhes abalasse a crença, é porque sua fé não era muito sólida; pessoas que renunciassem ao espiritismo por um simples desapontamento, provariam que não o compreenderam e não se interessaram pela parte séria. Deus permite as mis-tificações para pôr à prova a perseverança dos verdadeiros adeptos e punir os que fazem do espiritismo objeto de diversão.

O Espírito de Verdade

O Livro dos MédiunsAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

8 Conhecendo a Doutrina Espírita

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É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

13. Seus discípulos, aproximando-se, disseram-Lhe: “Por que lhes falas por parábolas?”. E, respondendo-lhes, Jesus disse: “É porque a vós outros vos foi permitido conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas, quanto a eles, isso não lhes foi permitido. Porque a todo aquele que já tem, mais lhe será dado, e ficará na abundância; mas àquele que nada possui, até mesmo o que tem lhe será tirado. Eis por que lhes falo por parábolas: porque ao ver, nada vêem, e ao ouvir, nada escutam nem compreendem. E a profecia de Isaías neles se cumpre, quando diz: ‘Ouvireis com vossos ouvidos, e nada entendereis; olhareis com vossos olhos, e nada vereis’ ”. (Mateus, 13:10-14).

14. Tende muito cuidado com o que ouvis, porque se usará para convosco a mesma medida que houverdes usado para com os outros, e se vos será dado ainda mais; pois dar-se-á àquele que tem, e, ao que nada possui, ser-lhe-á tirado até o que tem. (Marcos, 4:24-25).

15. Dá-se ao que já tem e tira-se do que não tem. Me-ditai sobre esses grandes ensinamentos que muitas vezes vos parecem paradoxais. Aquele que recebeu é aquele que co-nhece o sentido da palavra divina. Só recebeu porque tentou

tornar-se digno dela, e porque o Senhor, no Seu amor mi-sericordioso, encoraja todos os esforços que visam ao bem. Esses esforços constantes atraem as graças do Senhor: são como um ímã que atrai para si, progressivamente, o que há de melhor; atrai as graças abundantes que vos tornam fortes suficiente para escalar a montanha sagrada, em cujo cume se encontra o repouso após o trabalho.

Tira-se do que nada possui, ou tem pouco. Tomai isso como uma contradição apenas no sentido figurado, pois Deus não retira de Suas criaturas o bem que Se dignou a fazer-lhes. Homens cegos e surdos! Abri vossas inteligên-cias e vossos corações! Vede através de vossa mente; escutai através de vossa alma, e não interpreteis de modo tão im-prudente e injusto as palavras daquele que fez resplandecer diante de vós a justiça do Senhor. Não é Deus quem retira daquele que pouco recebeu, é o próprio espírito que, negli-gente, não sabe conservar o que tem; não sabe multiplicar a dádiva que lhe caiu no coração.

Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai conquistou, e do qual é herdeiro, vê o campo cobrir-se de ervas daninhas. Acaso é seu pai quem lhe toma as co-

lheitas que ele não quis preparar? Se, por falta de cuidado, deixou mofarem os grãos destinados a produzir nesse cam-po, será que deve acusar o pai se eles nada produzem? Não, não! Em vez de acusar ao pai, que tudo havia preparado para ele, em vez de reclamar do que o pai lhe deixou, que acuse o verdadeiro causador de suas misérias, e que então, arrepen-dido e diligente, se lance à obra com coragem; que are a terra improdutiva com vontade; que a lavre profundamente com a ajuda do arrependimento e da esperança; que nela lance com confiança a semente que tiver escolhido como boa, entre as más; que a regue com o seu amor e a sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já tem. Verá, então, seus esforços coroados de sucesso, e um grão produzir cem, e outro, mil. Coragem, lavradores! Pegai vossas grades e arados! Arai vossos corações; arrancai deles o joio; semeai neles o bom grão que o Senhor vos dá, e o orvalho do amor fará com que a terra produza frutos de caridade. (uM espíri-to protetor, Bordéus, 1862).

Capítulo XVIII