8
GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 12 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL A estrada da vida A questão da pluralidade das existências há muito tempo preocupa os filósofos, e mais de um viu, na anterioridade da alma, a única solução possível dos problemas mais importan- tes da psicologia; sem esse princípio, encontraram-se parados a cada passo e acolhidos num impasse de onde não puderam sair senão com a ajuda da pluralidade das existências. A maior objeção que se possa fazer a essa teoria é a au- sência da lembrança das existências anteriores. Com efeito, uma sucessão de existências inconscientes umas das outras; deixar um corpo para retomar logo um outro sem a memória do passado, equivaleria ao nada, porque isso seria o nada do pensamento; isso seria tantos pontos de partida novos, sem ligação com os precedentes; isso seria uma ruptura incessante de todas as afeições que fazem o encanto da vida presente e a esperança mais doce e mais consolado- ra do futuro; isso seria, enfim, a negação de toda responsabilidade moral. Seme- lhante doutrina seria tão inadmissível e tão incompatível com a justiça de Deus, quanto aquela de uma só existência com a perspectiva de uma eternidade absoluta de penas para faltas temporárias. Com- preende-se, pois, que aqueles que formam semelhante idéia da reencarnação a repi- lam, mas não é assim que o Espiritismo no-la apresenta. A existência espiritual da alma, nos diz ele, é sua existência normal, com lembrança retrospectiva indefinida; as existências corpóreas não são senão in- tervalos, curtas estações na existência es- piritual, e a soma de todas essas estações não é senão uma parte mínima da exis- tência normal, absolutamente como se, numa viagem de vários anos, se parasse de tempos em tempos durante algumas horas. Se, durante as existências corpó- reas, parece nela haver solução de con- tinuidade pela ausência da lembrança, a ligação se estabelece durante a vida espi- ritual, que não tem interrupção; a solução de continuidade não existe, em realidade, senão para a vida corpórea exterior e de relação; e aqui a ausência da lembrança prova a sabedoria da Providência que não quis que o homem fosse muito des- viado da vida real, onde tem deveres a cumprir; mas, no es- tado de repouso do corpo, no sono, a alma retoma em parte o seu vôo, e aí se restabelece a cadeia interrompida somente durante a vigília. A isso se pode ainda fazer uma objeção e perguntar que proveito se pode tirar de suas existências anteriores para a sua melhoria, se não se lembra das faltas que se cometeu. O Es- piritismo responde primeiro que a lembrança de existências infelizes, juntando-se às misérias da vida presente, tornaria esta ainda mais penosa; é, pois, um acréscimo de sofrimentos que Deus quis nos poupar; sem isso, frequentemente, quanto não seria nossa humilhação pensando no que fomos! Quanto ao nosso adiantamento, essa lembrança é inútil. Durante cada

GEAEL Estudos doutrinários do GEAEL A estrada da vida · A existência espiritual da alma, nos diz ele, é sua existência normal, ... todo traço da doença moral ten- ... perderam

  • Upload
    vukhanh

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraConhecendo a Doutrina Espírita – 12

Estudos doutrinários do GEAELGEAEL

• A estrada da vida

A questão da pluralidade das existências há muito tempo preocupa os filósofos, e mais de um viu, na anterioridade da alma, a única solução possível dos problemas mais importan-tes da psicologia; sem esse princípio, encontraram-se parados a cada passo e acolhidos num impasse de onde não puderam sair senão com a ajuda da pluralidade das existências.

A maior objeção que se possa fazer a essa teoria é a au-sência da lembrança das existências anteriores. Com efeito, uma sucessão de existências inconscientes umas das outras; deixar um corpo para retomar logo um outro sem a memória do passado, equivaleria ao nada, porque isso seria o nada do pensamento; isso seria tantos pontos de partida novos, sem ligação com os precedentes; isso seria uma ruptura incessante de todas as afeições que fazem o encanto da vida presente e

a esperança mais doce e mais consolado-ra do futuro; isso seria, enfim, a negação de toda responsabilidade moral. Seme-lhante doutrina seria tão inadmissível e tão incompatível com a justiça de Deus, quanto aquela de uma só existência com a perspectiva de uma eternidade absoluta de penas para faltas temporárias. Com-preende-se, pois, que aqueles que formam semelhante idéia da reencarnação a repi-lam, mas não é assim que o Espiritismo no-la apresenta.

A existência espiritual da alma, nos diz ele, é sua existência normal, com lembrança retrospectiva indefinida; as existências corpóreas não são senão in-tervalos, curtas estações na existência es-piritual, e a soma de todas essas estações não é senão uma parte mínima da exis-tência normal, absolutamente como se, numa viagem de vários anos, se parasse de tempos em tempos durante algumas horas. Se, durante as existências corpó-reas, parece nela haver solução de con-tinuidade pela ausência da lembrança, a ligação se estabelece durante a vida espi-ritual, que não tem interrupção; a solução de continuidade não existe, em realidade, senão para a vida corpórea exterior e de relação; e aqui a ausência da lembrança prova a sabedoria da Providência que não quis que o homem fosse muito des-

viado da vida real, onde tem deveres a cumprir; mas, no es-tado de repouso do corpo, no sono, a alma retoma em parte o seu vôo, e aí se restabelece a cadeia interrompida somente durante a vigília.

A isso se pode ainda fazer uma objeção e perguntar que proveito se pode tirar de suas existências anteriores para a sua melhoria, se não se lembra das faltas que se cometeu. O Es-piritismo responde primeiro que a lembrança de existências infelizes, juntando-se às misérias da vida presente, tornaria esta ainda mais penosa; é, pois, um acréscimo de sofrimentos que Deus quis nos poupar; sem isso, frequentemente, quanto não seria nossa humilhação pensando no que fomos! Quanto ao nosso adiantamento, essa lembrança é inútil. Durante cada

2 Conhecendo a Doutrina Espírita

existência, damos alguns passos adiante; adquirimos algumas qualidades e nos despojamos de algumas imperfeições; cada uma delas é, assim, um novo ponto de partida, em que somos o que nos houvermos feito, em que nos tomamos por aquilo que somos, sem ter que nos inquietarmos com aquilo que fo-mos. Se, numa existência anterior, fomos antropófagos, o que isso nos faz se não o somos mais? Se tivemos um defeito qual-quer do qual não resta mais os traços, é uma conta liquidada, com a qual não temos nada a nos preocupar. Suponhamos, ao contrário, uma falta da qual não se corrigiu senão a meta-de, o saldo se reencontrará na vida seguinte e é em corrigi-lo que é preciso se fixar. Tomemos um exemplo: um homem foi assassino e ladrão; disso foi punido, seja na vida corpórea, seja na vida espiritual; arrepende-se e se corrige da primeira tendência, mas não da segunda; na existência seguinte, ele não será senão ladrão; talvez grande ladrão, mas não mais as-sassino; ainda um passo adiante e ele não será senão pequeno ladrão; um pouco mais tarde, não roubará mais, mas poderá ter a veleidade de roubar, que sua consciência neutralizará; depois um último esforço, e, todo traço da doença moral ten-do desaparecido, será um modelo de probidade. Que lhe faz então o que foi? A lembrança de ter morrido no patíbulo não seria uma tortura, uma humilhação perpétuas? Aplicai este raciocínio a todos os vícios, a todas as manias, e podereis ver como a alma se melhora passando e repassando pela estame-nha da encarnação. Deus não é mais justo por ter tornado o

homem árbitro de sua própria sorte pelos esforços que pode fazer para se melhorar, do que ter feito a sua alma nascer ao mesmo tempo que seu corpo, e de condená-la a tormentos perpétuos por erros passageiros, sem dar-lhe os meios de se purificar de suas imperfeições? Pela pluralidade das existên-cias, seu futuro está em suas mãos; se leva muito tempo para se melhorar, disso sofre as consequências: é a suprema justiça; mas a esperança jamais lhe é obstruída.

A comparação seguinte pode ajudar a fazer compreender as peripécias da vida da alma.

Suponhamos uma longa estrada, sobre o percurso da qual se encontram, de distância em distância, mas em inter-valos desiguais, florestas que é preciso atravessar; à entrada de cada floresta, a estrada larga e bela é interrompida e não retoma senão na saída. Um viajor segue essa estrada e entra na primeira floresta; mas lá, não mais vereda batida; um dé-dalo inextricável no meio do qual se perde; a claridade do Sol desapareceu sob o espesso maciço das árvores; ele erra sem saber para onde vai; enfim, depois de fadigas extraordinárias chega aos confins da floresta, mas abatido de fadiga, rasgado pelos espinhos, machucado pelos calhaus. Lá, reencontra a estrada e a luz, e prossegue seu caminho, procurando se curar de suas feridas.

Mais longe, encontra uma segunda floresta, onde o espe-ram as mesmas dificuldades; mas já tem um pouco de expe-riência e dela sai menos contundido. Numa, encontra um le-nhador que lhe indica a direção que deve seguir e impede-o de se perder. A cada nova travessia a sua habilidade aumenta, se bem que os obstáculos são mais e mais facilmente superados; seguro de reencontrar a bela estrada na saída, essa confian-ça o sustenta; depois sabe se orientar para encontrá-la mais facilmente. A estrada termina no cume de uma montanha muito alta, de onde avista todo o percurso desde o ponto de partida; vê também as diferentes florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes que experimentou, mas essa lembran-ça nada tem de penosa, porque alcançou o objetivo; é como o velho soldado que, na calma do lar doméstico, se lembra das batalhas às quais assistiu. Essas florestas disseminadas sobre a estrada são para ele como pontos negros sobre uma conde-coração branca; ele diz a si mesmo: “Quando estava nessas florestas, nas primeiras sobretudo, como me pareciam longas para atravessar! Parecia-me que não chegaria mais ao fim; tudo me parecia gigantesco e intransponível ao meu redor. E quando penso que, sem esse bravo lenhador que me recolocou no bom caminho, talvez estaria ali ainda! Agora que conside-ro essas mesmas florestas, do ponto de vista onde estou, como me parecem pequenas!

Parece-me que, com um passo, teria podido transpô-las; bem mais, a minha vista as penetra e nelas distingo os meno-res detalhes; vejo até as faltas que cometi.”

Então, um velho lhe diz: – Meu filho, eis-te no fim da viagem, mas um repouso indefinido te causaria logo um tédio mortal, e ficarias a lamentar as vicissitudes que experimen-taste e que deram atividade aos teus membros e ao teu Espí-rito. Vês daqui um grande número de viajores sobre a estrada

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 3

que percorreste, e que, como tu, correm risco de se perder no caminho; tens a experiência, não temes mais nada; vai ao seu encontro e, pelos teus conselhos, trata de guiá-los, a fim de que cheguem mais cedo.

– Vou com alegria, redargue nosso homem; mas, ajuntou, por que não há uma estrada direta do ponto de partida até aqui? Isso pouparia, aos viajores, passar por essas abominá-veis florestas.

– Meu filho, replica o velho, olha bem nelas e verás que muitos evitam um certo número delas; são aqueles que, tendo adquirido mais cedo a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegar; mas essa experiência é o fruto do trabalho que as primeiras travessias necessitaram, de tal sorte que não chegam aqui senão em ra-zão de seu mérito. Que saberias, tu mesmo, se por ali não tivesses passado? A atividade que deveste desdobrar, os re-cursos de imaginação que te foram necessários para te traçar um caminho, aumentaram os teus conhecimentos e desenvol-veram a tua inteligência; sem isso, serias novato como em tua partida. E depois, procurando tirar-te dos embaraços, tu mes-mo contribuíste para a melhoria das florestas que atravessas-te; o que fizeste é pouca coisa, imperceptível; mas pensa nos milhares de viajores que o fazem também, e que, trabalhando todos para eles, trabalham, sem disso desconfiarem, para o bem comum. Não é justo que recebam o salário de seu traba-lho pelo repouso do qual gozam aqui? Que direito teriam a este repouso se nada tivessem feito?

– Meu pai, refete o viajor, numa dessas florestas, encon-trei um homem que me disse: “Sobre a borda há um imen-so abismo que é preciso transpor de um salto; mas, sobre mil, apenas um consegue; todos os outros lhe caem no fundo, numa fornalha ardente e estão perdidos sem retorno. Esse abismo eu nunca vi.”

– Meu filho, é que não existe, de outro modo isso seria uma armadilha abominável estendida a todos os viajores que viessem em minha casa. Eu bem sei que lhes é preciso superar as dificuldades, mas sei também que, cedo ou tarde, as supe-rarão; se tivesse criado impossibilidades para um único, sa-bendo que deveria sucumbir, teria sido cruel, e com mais forte razão se o fizera para o grande número. Esse abismo é uma alegoria da qual vais ver a explicação. Olha sobre a estrada, nos intervalos das florestas; entre os viajores, vês os que ca-minham lentamente, com um ar feliz, vês esses amigos que se perderam de vista nos labirintos da floresta, como estão felizes em se reencontrarem na saída; mas, ao lado deles, há outros que se arrastam penosamente; são estropiados e imploram a piedade dos que passam, porque sofrem cruelmente das feri-das que, por sua falta, fizeram a si mesmos através das sar-ças; mas disso se curarão, e isso será, para eles, uma lição da qual aproveitarão na nova floresta que terão que atravessar, e de onde sairão menos machucados. O abismo é a figura dos males que sofrem, e dizendo que sobre mil só um o transpõe, esse homem teve razão, porque o número dos imprudentes é muito grande; mas errou dizendo que, uma vez caído dentro, dele não se sai mais; há sempre uma saída para chegar a mim.

Vai, meu filho, vai mostrar essa saída àqueles que estão no fundo do abismo; vai sustentar os feridos da estrada e mostra o caminho àqueles que atravessam as florestas.

A estrada é a figura da vida espiritual da alma, sobre o percurso da qual se é mais ou menos feliz; as florestas são as existências corpóreas, onde se trabalha para o seu adianta-mento, ao mesmo tempo que para a obra geral; o viajor que chega ao objetivo e que retorna para ajudar aqueles que estão atrasados, é a dos anjos guardiães, missionários de Deus, que encontram a sua felicidade em seu objetivo, mas também na atividade que desdobram para fazerem o bem e obedecerem ao supremo Senhor.

Obras PóstumasAllan Kardec

Lake

4 Conhecendo a Doutrina Espírita

35. No seu estado normal, para nós o perispírito é invi-sível, mas o espírito, sendo formado de matéria etérea, pode, em certos casos, por um ato da sua vontade, submetê-lo a uma modificação molecular que o torna momentaneamen-te visível. Assim se produzem as aparições que, tal como outros fenômenos, não estão fora das leis da natureza. Este não é mais extraordinário do que o do vapor, que é invisível quando está muito rarefeito, mas se torna visível quando condensado.

Conforme o grau de condensação do fluido perispirítico, a aparição algumas vezes é vaga e vaporosa; outras, é mais nitidamente definida; outras, finalmente, tem toda a aparên-cia da matéria tangível; ela pode chegar até à tangibilidade real, a ponto de alguém poder enganar-se quanto à natureza do ser que tem diante de si.

As aparições vaporosas são frequentes, e é comum que indivíduos que já morreram se apresentem assim às pessoas que lhe foram caras. As aparições tangíveis são mais raras, embora delas existam exemplos bastante numerosos, perfeitamente autênticos. Se o espírito quiser ser reconhecido, porá em seu envoltório todos os traços exteriores que tinha quando vivia.1

1 O Livro dos Médiuns, caps. VI e VII.

36. Deve-se observar que as aparições tangíveis têm apenas o aspecto da matéria carnal, mas não poderiam ter as qualidades dela; devido à sua natureza fluídica, não podem ter a mesma coesão, porque, na realidade, nelas não há carne. Formam-se instantaneamente e instantaneamente desapare-cem, ou se evaporam pela desagregação das moléculas fluí-dicas. Os seres que se apresentam nessas condições, não nas-cem, nem morrem como os outros homens; veem-se e deixam de ser vistos sem que se saiba de onde vêm, como vieram, ou para onde vão; não se poderia matá-los, acorrentá-los, nem encarcerá-los, já que não possuem corpo carnal; os golpes que lhes desfechássemos golpeariam o vácuo.

Tal é o caráter dos agêneres, com os quais se pode con-versar, sem ter ideia do que sejam, mas que nunca se demoram por muito tempo e não podem tornar-se hóspedes habituais de uma casa, nem figurar entre os membros de uma família.

Além disso, em toda sua pessoa, nas suas atitudes, há algo de estranho e insólito que se assemelha tanto à materialidade como à espiritualidade: seu olhar, vaporoso e penetrante ao mesmo tempo, não tem a nitidez do olhar pelos olhos da carne; sua linguagem, lacônica e quase sempre sentenciosa, nada tem do som ruidoso e da volubilidade da linguagem humana; sua aproximação provoca uma sensação peculiar e indefinível de surpresa, que inspira uma espécie de receio, e, tomando-os por indivíduos iguais a todos os outros, diz-se automaticamente: Eis aí um ser singular.2

37. Sendo o mesmo nos encarnados e nos desencarnados, por um efeito completamente idêntico o perispírito pode, num momento de liberdade, aparecer em outro ponto que não aquele onde seu corpo repousa, com suas características habituais e com todos os indícios da sua identidade. Foi esse fenômeno, do qual se têm exemplos autênticos, que deu lugar à crença nos homens duplos.3

38. Um efeito próprio dessas espécies de fenômenos é que as aparições vaporosas, e mesmo tangíveis, não são perceptí-veis a todos indistintamente; os espíritos só se mostram quan-do querem e a quem eles querem. Portanto, numa reunião, um espírito poderia aparecer a um ou a muitos dos presentes, e não ser visto por outros. Isso decorre do fato de essas espécies de percepções se efetuarem pela vista espiritual e não pela vista carnal, pois não só a vista espiritual não é dada a todo mundo, mas pode, caso seja necessário, ser retirada, pela von-tade do espírito, daquele a quem não queira mostrar-se, como

2 Exemplos de aparições vaporosas ou tangíveis e de agêneres: Revista Espírita, janeiro de 1858; outubro de 1858; janeiro de 1859; fevereiro de 1859; março de 1859; agosto de 1859; novembro de 1859; abril de 1860; maio de 1860; julho de 1861; abril de 1866; “O Lavrador Martin Apresentado a Luís XVIII”, detalhes completos, dezembro de 1866.3 Exemplos de aparições de pessoas vivas: Revista Espírita, dezembro de 1858; fevereiro de 1859; agosto de 1859; novembro de 1860.

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 5

pode dá-la momentaneamente, se o julgar necessário.A condensação do fluido perispirítico nas aparições,

mesmo chegando à tangibilidade, não tem as propriedades da matéria comum. Se assim não fosse, sendo perceptíveis pelos olhos do corpo, seriam percebidas por todas as pessoas presentes.4

39. Podendo o espírito operar transformações no contexto do seu envoltório perispirítico, e irradiando-se esse envoltório ao redor do corpo como uma atmosfera fluídica, pode produzir-se, na própria superfície do corpo, um fenômeno análogo ao das aparições. Sob a camada fluídica, a imagem real do corpo pode apagar-se, mais, ou menos completamente, e assumir outra apa-rência; ou então, vistos através da camada fluídica modificada, como através de um prisma, os traços primitivos podem tomar outra expressão. Se, saindo do trivial, o espírito se identifica com as coisas do mundo espiritual, a expressão de um rosto feio pode tornar-se bela, radiante, luminosa, até; se, ao contrário, o espírito estiver exacerbado por más paixões, um rosto lindo pode assu-mir um aspecto hediondo.

É assim que se produzem as transfigurações, que são sempre o reflexo das qualidades e dos sentimentos predomi-nantes no espírio. Esse fenômeno é, portanto, o resultado de uma transformação fluídica; é uma espécie de aparição peris-

4 Devem-se aceitar com extrema reserva os relatos de aparições puramente individuais que, em determinados casos, poderiam ser resultado da imaginação superexcitada, e, por vezes, uma invenção feita com propósitos interesseiros. Convém, pois, fazer uma avaliação escrupulosa das circunstâncias, da honradez da pessoa, bem como do interesse que ela poderia ter em abusar da credulidade de indivíduos demasiado confiantes.

pirítica, que se produz no próprio corpo vivo e, às vezes, no momento da morte, em vez de produzir-se à distância, como nas aparições propriamente ditas. O que distingue as aspi-rações desse tipo é o fato de serem geralmente perceptíveis a todos os assistentes, e pelos olhos do corpo, precisamente por terem por suporte a matéria carnal visível, ao passo que, nas aparições puramente fluídicas, não existe, absolutamente, matéria tangível.5

A GêneseAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

5 Exemplo e teoria da transfiguração: Revista Espírita, março de 1859. (O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VIII.)

6 Conhecendo a Doutrina Espírita

Sr. JobardDiretor do Museu da Indústria de Bruxelas, nascido em

Baissey (Alto Marne) e falecido em Bruxelas, de um ataque de apoplexia fulminante, a 27 de outubro de 1861, com ses-senta e nove anos de idade.

O Sr. Jobard era presidente honorário da Sociedade Espírita de Paris. Propúnhamos evocá-lo na sessão de 8 de novembro, quando ele antecipou-se ao nosso desejo dando espontaneamente a seguinte comunicação:

Eis-me aqui, eu, a quem íeis evocar e que desejo mani-festar-me primeiro por este médium, a quem até aqui em vão tenho solicitado.

Desejo, inicialmente, contar-vos as minhas impressões no momento da separação da minha alma; senti um abalo incrível, lembrei-me de repente do meu nascimento, da minha juventude, da minha velhice; toda minha vida se expôs nitida-mente à minha lembrança. Sentia apenas um piedoso desejo de me encontrar nas regiões reveladas por nossa amada crença; depois, todo tumulto serenou. Eu estava livre e meu corpo jazia inerte. Ah! Meus caros amigos, que satisfação despojar-se do peso do corpo! Que prazer abranger o espaço! Não julgueis, no entanto, que me tenha tornado de repente um eleito do Senhor; não, estou entre os Espíritos que, tendo aprendido um pouco, muito devem aprender ainda. Não tardou muito a lembrar-me de vós, meus irmãos em exílio, e, asseguro-vos, toda minha simpatia e todos os meus desejos vos envolvem.

Quereis saber quais foram os Espíritos que me recebe-ram? Quais foram as minhas impressões? Meus amigos foram todos os que evocamos, todos os irmãos que compartilham dos nossos trabalhos. Vi-lhes o esplendor, mas não consigo descrevê-lo. Apliquei-me a descobrir o que era verdadeiro nas comunicações, pronto a emendar todas as afirmações erradas, pronto, enfim, a ser o cavaleiro da verdade no outro mundo, como o fui no vosso.

Jobard

1. Quando vivíeis, nos havíeis recomendado que vos evocássemos quando tivésseis deixado a Terra; nós o faze-mos não apenas para obedecer ao vosso desejo, mas prin-cipalmente para vos renovar o testemunho da nossa viva e sincera simpatia, como também para instruir-nos, pois vós melhor do que ninguém, estais em condições de dar--nos esclarecimentos precisos sobre o mundo que habitais. Seremos felizes se houverdes por bem responder a nossas perguntas.

– R. Neste momento, o que mais importa é a vossa ins-trução. Quanto à vossa simpatia, eu a vejo, e só lhe percebo a manifestação pelo ouvido, o que constitui um grande progresso.

2. Para fixar nossas ideias e não falar de um modo vago, perguntamos, inicialmente, em que lugar estais, e como o veríamos se pudéssemos vê-lo?

– R. Estou perto do médium; vós me veríeis sob a apa-rência do Jobard que se sentava à vossa mesa, visto que vos-sos olhos mortais, ainda vendados, só podem ver os Espíritos sob a aparência mortal.

3. Teríeis a possibilidade de tornar-vos visíveis para nós, e, se não o conseguirdes, que se opõe a isso?

– R. A disposição que vos é toda pessoal. Um médium vidente ver-me-ia: os outros não me veem.

4. Este lugar é o que ocupáveis quando vivíeis, quan-do assistíeis às nossas reuniões, e que vos reservamos. Aqueles que vis viram, devem representar-vos aí tal como éreis então. Se não estais aí com vosso corpo material, estais com vosso corpo fluídico que tem a mesma forma; se nós não o vemos com os olhos do corpo, nós vos vemos com os olhos do pensamento; se não podeis comunicar-vos pela palavra, podeis fazê-lo pela escrita com o auxílio de um intérprete; nossas relações convosco não estão abso-lutamente interrompidas por vossa morte, e nós podemos conversar convosco tão facilmente e tão completamente como outrora. É assim que se passam as coisas?

– R. Sim, e há muito tempo o sabeis. Ocuparei este lugar muitas vezes, mesmo sem o saberdes, pois meu Espírito habi-tará entre vós.1

5. Não há muito estáveis sentado nesse mesmo lugar; as condições em que estais aqui vos parecem agora estra-nhas? Qual é o efeito que essa mudança produz em vós?

– R. Essas condições não me parecem estranhas, uma vez 1 NOTA: Chamamos a atenção para esta última frase: “Meu Espírito habitará entre vós.” Na atual circunstância, não se trata de uma alegoria, mas de uma realidade. Pelo conhecimento que o Espiritismo nos dá sobre a natureza dos Espíritos, sabemos que um Espírito pode estar entre nós, não só pelo pensamen-to, mas em pessoa, com a ajuda do seu corpo etéreo, que o torna uma indivi-dualidade distinta. Um Espírito tanto pode habitar entre nós depois da morte, como também enquanto vivia; e, melhor ainda, já que ele pode vir e ir quando quiser. Temos assim uma infinidade de comensais invisíveis, uns indiferentes, outros que se apegaram a nós por afeição; é a estes últimos, principalmente, que se aplica esta frase: “Eles habitam entre nós”, que pode ser traduzida assim: Eles nos assistem, nos inspiram e nos protegem.

GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 7

que meu Espírito desencarnado goza de uma nitidez que não deixa na sombra nenhuma das questões que encare.

6. Lembrais-vos de ter estado nestas mesmas condi-ções antes da vossa última existência, e encontrais agora algumas mudanças?

– R. Lembro-me das minhas existências anteriores, e acho que progredi. Vejo, e identifico-me com o que vejo. Por ocasião das minhas encarnações precedentes, como Espírito perturbado, apenas me apercebia das faltas terrestres.

7. Lembrais-vos da vossa penúltima existência, da que precedeu a do Sr. Jobard?

– R. Na minha penúltima existência eu era um operário mecânico, atormentado pela miséria e pelo desejo de aperfei-çoar meu trabalho. Compreendi, como Jobard, os sonhos do pobre operário, e louvo a Deus cuja bondade infinita fez ger-minar a planta cuja semente havia depositado no meu cérebro.

8. Já vos tendes comunicado em outra parte?– R. Pouco me tenho comunicado; em vários lugares, um

Espírito tomou meu nome; algumas vezes estive perto dele sem poder fazê-lo diretamente; minha morte é tão recente que ainda pertenço a certas influências terrestres. É preciso uma perfeita simpatia para que eu possa expressar meu pensamento. Em breve, agirei distintamente; por enquanto, ainda não posso fazê-lo. Quando um homem pouco conheci-do morre, ele é chamado de todos os lados; mil Espíritos se apressam por assumir sua individualidade; eis o que aconte-ceu comigo em várias circunstâncias. Garanto-vos que, logo após o desprendimento, poucos Espíritos podem se comuni-car, mesmo por um médium preferido.

9. – Vedes os Espíritos que estão aqui conosco?– R. Vejo, principalmente, Lázaro e Erasto; depois, mais

afastado, o Espírito de Verdade pairando no espaço; depois, uma multidão de Espíritos amigos que vos rodeiam, solícitos e benévolos. Sede felizes, amigos, visto que boas influências vos disputam aos infortúnios do erro.

10. Enquanto vivíeis, partilháveis da opinião que foi emitida sobre a formação da Terra pela incrustação de quatro planetas que se teria unido. Vossa opinião ainda é a mesma?

– R. É um erro. As novas descobertas geológicas provam as convulsões da Terra e sua formação sucessiva. A Terra, como os outros planetas, teve sua vida própria, e Deus não precisou de tão grandes desordens ou dessa agregação de planetas. A água e o fogo são os únicos elementos orgânicos da Terra.

11. Pensáveis, também, que os homens pudessem entrar em catalepsia por um tempo ilimitado, e que o gênero humano tivesse assim aparecido na Terra?

– R. Ilusão da minha mente, que sempre excedia os limites. A catalepsia pode ser longa, mas não indetermina-da Tradições, lendas aumentadas pela imaginação oriental.

Meus amigos, já sofri muito ao repassar as ilusões com que nutri minha mente: não vos deixeis enganar. Muito aprendi, e, posso dizê-lo, minha inteligência, pronta a apropriar-se dos vastos e diversos estudos, havia guardado da minha última encarnação o amor pelo prodigioso e místico haurido nas imaginações populares. Ainda agora me tenho ocupado pouco com questões puramente intelectuais no sentido em que as compreendeis. Como poderia, deslumbrado, aturdido como estou pelo maravilhoso espetáculo que me cerca? O vínculo do Espiritismo, mais potente do que vós homens podeis conceber, é o único que pode atrair meu ser para esta terra que abandono, não só com alegria, seria uma impieda-de, mas com o profundo reconhecimento da libertação.

NOTA – Quando a subscrição aberta pela Sociedade, em benefício dos operários de Lião, em fevereiro de 1862, um membro depositou 50 francos, dos quais 25 por sua própria conta, e 25 em nome do Sr. Jobard. Este último deu a tal respeito a seguinte comunicação:

Sinto-me lisonjeado e grato por não ter sido esquecido entre meus irmãos Espíritas. Agradeço ao coração generoso que vos trouxe a oferenda que eu vos teria dado se ainda habitasse vosso mundo. Neste que agora habito, não se preci-sa de dinheiro; precisei recorrer à bolsa da amizade para dar provas materiais de que estava comovido com o infortúnio dos meus irmãos de Lião. Bravos trabalhadores que arduamente cultivais a vinha do Senhor, como deveis compreender que a caridade não é uma palavra vã, visto que pequenos e grandes vos mostraram simpatia e fraternidade. Estais na estrada humanitária do progresso; possa Deus manter-vos, e que sejais mais felizes; os Espíritos amigos vos sustentarão e triunfareis.

Eu começo a viver espiritualmente, mais calmo e menos perturbado pelas evocações constantes que sobre mim cho-viam. A moda também atua sobre os Espíritos; quando a moda Jobard der lugar a outra e eu passar para o nada do esqueci-mento humano, pedirei então aos meus amigos sérios, e com isso entendo aqueles cujas inteligências não esqueci, pedirei que me evoquem; aprofundaremos assim questões superficialmente tratadas, e o vosso Jobard, completamente transfigurado, vos poderá ser útil, tal como o deseja de todo coração.

Jobard

Após os primeiros tempos dedicados a tranquilizar seus amigos, o Sr. Jobard alinhou-se entre os Espíritos que traba-lham ativamente para a renovação social, esperando seu pró-ximo regresso entre os vivos para participar mais diretamen-te no movimento. Desde essa época, ele deu várias vezes à Sociedade de Paris, de onde continua membro, comunicações de incontestável superioridade, sem se afastar da originalida-de e dos repentes espirituosos que constituíam o fundo do seu caráter, e fazem com que seja reconhecido antes de assinar.

O Céu e o InfernoAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

8 Conhecendo a Doutrina Espírita

21. Quando a morte vem ceifar vossas famílias, levando sem a mínima consideração os jovens, antes dos idosos, mui-tas vezes dizeis: “Deus não é justo, pois sacrifica quem é forte e tem um futuro pela frente, e poupa os que já viveram longos anos cheios de decepções; leva aqueles que são úteis, e deixa os que não servem mais para nada; parte o coração de uma mãe, privando-a da inocente criatura que era a alegria de sua vida”.

Criaturas, é nisso que tendes necessidade de vos elevar acima das coisas mundanas, a fim de compreender que mui-tas vezes o bem está justamente onde só enxergais o mal. A sábia previdência está onde pensais ver uma cega fatalidade. Por que comparar a Justiça Divina com a vossa? Podeis ima-ginar que o Senhor dos mundos queira, somente por capri-cho, vos impor penas tão cruéis? Nada se faz sem um propó-

É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

sito inteligente, e, seja o que for que aconteça, tudo tem uma razão de ser. Se analisásseis melhor todas as dores que vos afligem, nelas encontraríeis sempre uma razão divina, rege-neradora. Então, vossos interesses mesquinhos mereceriam tão pouca atenção que os relegaríeis ao último plano.

Acreditai em mim! Numa encarnação de apenas vinte anos, é preferível a morte do que os vergonhosos desregra-mentos que arrasam famílias honradas, despedaçam o cora-ção de uma mãe e branqueiam os cabelos dos pais, antes do tempo. Muitas vezes, a morte prematura é um grande bene-fício que Deus concede a quem se vai, e que assim se vê pou-pado das misérias da vida, ou das seduções que poderiam levá-lo à perdição. Quem morre na flor da idade não é absolu-tamente vítima da fatalidade. É que Deus julga que não lhe é

proveitoso passar mais tempo na Terra.Muitas vezes dizeis: “Que terrível desgraça uma

vida tão cheia de esperanças ser interrompida assim tão cedo!”. Mas, de que esperanças estais a falar? Das esperanças da Terra, de onde quem se vai po-deria ter brilhado e acumulado fortuna? Sempre a mesma visão estreita que não consegue elevar-se além da matéria! Acaso sabeis qual seria a sorte dessa vida tão cheia de esperanças? Quem vos ga-rante que não seria cheia de amarguras? Levais em tão pouca consideração as esperanças da vida futu-ra que preferis as da vida passageira que arrastais na Terra? Achais, então, que mais vale ocupar uma posição entre os homens do que entre os espíritos bem-aventurados?

Ao invés de vos lamentar, alegrai-vos quando aprouver a Deus retirar desse vale de misérias um de Seus filhos. Não é egoísmo desejar que ele fique apenas para sofrer convosco? Ah! Compreende-se essa dor em quem não tem fé e vê na morte uma separação eterna. Mas vós, espíritas, sabeis que a alma vive melhor livre do seu invólucro corporal! Mães, sabeis que vossos fi-lhos bem-amados estão perto de vós. Sim, estão bem perto! Seus perispíritos vos envolvem, seus pensamen-tos vos protegem, vossa lembrança os deixa inebriados de alegria! Mas, ao contrário, vossas dores os afligem, porque demonstram falta de fé e revolta contra a von-tade de Deus.

Vós que compreendeis a vida espiritual, escu-tai as palpitações do vosso coração chamando esses entes queridos. E, se pedirdes a Deus que os aben-çoe, sentireis em vós as poderosas consolações que estancam as lágrimas, as aspirações maravilhosas que vos mostrarão o futuro prometido pelo soberano Senhor. (SanSão, antigo membro da Sociedade Espí-rita de Paris, Paris, 1863).

O Evangelho Segundo o EspiritismoAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto