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GÊNERO DIVERSIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA 1 Elisandra Tomascheski 2 INTRODUÇÃO Em nossa sociedade podemos entender a educação de várias formas, uma vez que sempre existem disparidades de opiniões, a sociedade se compõe assim. Então este trabalho vai apresentar como a educação e o ensino de história podem contribuir para formar uma sociedade mais justa, onde a igualdade e a liberdade possam sair de um mero pensamento utópico e se tornar algo concreto em nossa sociedade. Sabe-se que no Brasil o ato de aplainar as diferenças e desigualdades é algo muito relevante, uma vez que somos uma população com inúmeras distinções nas mais variadas esferas. Assim este trabalho vai discorrer brevemente sobre a composição da população brasileira, seus traços, hábitos e costumes diferenciados, já que frequentemente as dessemelhanças são anuladas, recorrendo-se a um padrão de sociedade pensado ainda nas atitudes e tradições ultrapassadas. Feito isso a discussão será afunilada, para tratar das diferenças dentro das escolas e da comunidade. Tentado exemplificar como o ensino acontece e como ele poderia melhorar ainda mais, optando por uma educação crítica pautada na formação plena dos estudantes e não só dos conteúdos repetidos ao longo da vida escolar. 1 Trabalho apresentado à Professora Doutora Adriana Aparecida Pinto, como requisito para conclusão da disciplina Tópicos Especiais de Movimentos Sociais e Instituições: Ensino de História e Instituições Escolares, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados PPGH-UFGD 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados PPGH-UFGD.

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GÊNERO DIVERSIDADE E O ENSINO DE HISTÓRIA1

Elisandra Tomascheski2

INTRODUÇÃO

Em nossa sociedade podemos entender a educação de várias formas, uma vez

que sempre existem disparidades de opiniões, a sociedade se compõe assim. Então este

trabalho vai apresentar como a educação e o ensino de história podem contribuir para

formar uma sociedade mais justa, onde a igualdade e a liberdade possam sair de um

mero pensamento utópico e se tornar algo concreto em nossa sociedade.

Sabe-se que no Brasil o ato de aplainar as diferenças e desigualdades é algo

muito relevante, uma vez que somos uma população com inúmeras distinções nas mais

variadas esferas.

Assim este trabalho vai discorrer brevemente sobre a composição da população

brasileira, seus traços, hábitos e costumes diferenciados, já que frequentemente as

dessemelhanças são anuladas, recorrendo-se a um padrão de sociedade pensado ainda

nas atitudes e tradições ultrapassadas.

Feito isso a discussão será afunilada, para tratar das diferenças dentro das

escolas e da comunidade. Tentado exemplificar como o ensino acontece e como ele

poderia melhorar ainda mais, optando por uma educação crítica pautada na formação

plena dos estudantes e não só dos conteúdos repetidos ao longo da vida escolar.

1 Trabalho apresentado à Professora Doutora Adriana Aparecida Pinto, como requisito para conclusão da disciplina Tópicos Especiais de Movimentos Sociais e Instituições: Ensino de História e Instituições Escolares, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados PPGH-UFGD 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados PPGH-UFGD.

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Perante os dilemas e problemas enfrentados pela escola e pela comunidade,

será apresentado também como a escola e a disciplina de história podem ser utilizadas

como ferramenta de mudança de uma realidade ajustada nos padrões desiguais e

preconceituosos que compõem a sociedade brasileira.

O último ponto a ser discutido nesse breve ensaio são as novas tecnologias e

como estas podem ser um fator negativo quando não bem utilizadas e planejadas para a

sala de aula, tornando-se então um instrumento de alienação tanto do professor como do

aluno. Podendo ainda ser uma ferramenta de exclusão social.

POPULAÇÃO BRASILEIRA DIVERSIDADE E DESIGUALDADE

A realidade brasileira é permeada por disparidades tanto culturais como físicas,

uma vez que a nossa população é fruto de uma miscigenação em alto grau. E um fator

que se faz presente no ideário desse povo é o alto nível de preconceito instituído, como

o preconceito de gênero, racial, social, associando as pessoas a rótulos e estigmas

construídos ao longo dos anos. Diante disso pode-se perguntar, mas o que são

essas camadas que geram as desigualdades? Para responder a esse questionamento

recorremos a Santos:

Algumas das características gerais das divisões sociais se referem a

(ao): diferenças culturais perpetuadas e sustentadas por crenças

dominantes, pela organização das instituições sociais e por interações

individuais; identidades compartilhadas por uma categoria e

contrastantes em relação aos membros de uma outra categoria; e

ainda, acesso desigual aos recursos (materiais e simbólicos) gerando

diferentes chances de vida e estilos de vida. (SANTOS, s.d. pag. 3)

Desta forma nota-se que a sociedade e a cidadania vão sendo formuladas e

reformuladas ao passar do tempo recorrendo a padrões sociais que muitas vezes

obedecem a regras sociais estipuladas por uma classe ou raça, na maioria das vezes

aquelas mais favorecidas social e economicamente. Destarte de acordo com Serejo:

No processo de construção da cidadania no Brasil, sobretudo nos

conceitos de nação estabelecidos por teóricos, percebe-se que um dos

maiores agravantes para se estabelecer a identidade brasileira reside

no fato da “superioridade europeia”, que na maioria das vezes,

decisivamente, não queria tomar o índio ou o negro como referência

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para uma identidade generalizada. Além de conceber o branco como

agente civilizador as outras etnias, também formadoras da nação,

posteriormente foi necessário unificar o país evitando assim rupturas

territoriais. (SEREJO, 2007, pag. 282)

Desta forma percebe-se que a nossa sociedade foi construída e pensada sobre

alguns fatores que privilegiam alguns povos em detrimento de outros, mostrando que o

princípio da alteridade não foi pensado ou foi deixado de lado, para construir uma

sociedade modelo dentro dos padrões sociais do “belo” e do “bom” criados por uma

coletividade exclusiva.

Assim se chega ao ponto central do problema do nosso país, como

criar padrões sociais em um país com características tão diversas, tanto sociais, quanto

políticas, religiosas, culturais:

A sociedade brasileira é formada não só por diferentes etnias, como

também por imigrantes de diferentes países. Além disso, as migrações

colocam em contato grupos diferenciados. Sabe-se que as regiões

brasileiras têm características culturais bastante diversas e que a

convivência entre grupos diferenciados nos planos social e cultural

muitas vezes é marcada pelo preconceito e pela discriminação.

(Parâmetros Curriculares Nacionais, pag. 117)

Deste modo pode-se afirmar que a sociedade brasileira é permeada por várias

diferenças, que muitas vezes são vistas como algo negativo, já que a partir delas surgem

várias formas de preconceitos e desigualdades, como por exemplo o preconceito e a

diferença de gênero, onde os homens heterossexuais são supervalorizados em

detrimento das mulheres ou dos homossexuais. Mas para iniciar essa discussão é

imprescindível deixar explícito a acepção dessa terminologia:

Gênero tratada construção social, da diferença sexual. Quando

adotamos a perspectiva de gênero, estamos pensando nas maneiras

como as sociedades entendem por exemplo o que é “ser homem” e

“ser mulher” e o que consideram “masculino” e “feminino”. (PINSKI,

2010, pag. 31)

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Assim sendo a população brasileira ainda convive com várias formas de

preconceitos contra a mulher que na maioria das vezes não é valorizada, sendo um

sujeito quase sempre visto em segundo plano ou como coadjuvante em todas as

atividades e esferas sociais nas quais se faz presente. Para tanto para justificar a

inferioridade feminina muitas pessoas recorrem a natureza, afirmando-se sobre o

discurso da fragilidade da mulher:

A argumentação que usa a “natureza” para justificar a divisão sexual

do trabalho traz implícita uma diferenciação que está na formação

cultural de homens e mulheres, nas representações das imagens que se

fazem do masculino e do feminino, está ligada aos afazeres

domésticos, sem visibilidade, enquanto que aos homens são destinadas

funções mais qualificadas e mais valorizadas, as do/no espaço público.

(TEDESCHI, 2012 pag. 29)

Esta afirmação vem nos mostrar como a mulher foi construída no juízo da

humanidade, já que até na construção da história esta foi deixada de lado, uma vez que

a historiografia, foi cunhada nos parâmetros dos androcentrismo, tendo o homem como

único e central sujeito nas mudanças, construções e conquistas da humanidade:

Escrever uma história das mulheres em muitos aspectos implica falar

em “invisibilidade”. Durante séculos, no que se refere à sociedade

ocidental, elas simplesmente não “aparecem” na história.

Acreditamos, entretanto, que esse ocultamento nada tem de “natural”,

mas é tecido cotidianamente na teia das representações sociais que

informam e valoram os diferentes papéis atribuídos a homens e

mulheres. (TEDESCHI, KUHN 2013 pag.53)

Desta maneira nota-se que as construções sociais vão sendo incorporadas e que

para que não existam preconceitos, desigualdades ou supervalorização de uns em

detrimento de outros é preciso que a sociedade de maneira generalizada tenha acesso a

uma educação de qualidade, pensando na formação de um sujeito crítico, não alienado e

aberto a novidades:

Entre todas as disciplinas escolares, a que mais se destaca como

instrumento norteador do senso crítico do aluno, é disciplina de

história. Os aspectos da vida em sociedade, juntamente com suas

normas de construção, são relativamente abordados dentro da

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disciplina histórica, que conceitua o papel do homem inserido

socialmente. (SEREJO, 2007, pag. 283)

Nesta conjuntura de formação de um sujeito crítico, constituído para superar

muitas regras sociais baseadas na desigualdade e no preconceito passaremos a discutir o

papel da escola, da disciplina de história e do professor como ferramentas de superação

da alienação social construída nos parâmetros da disparidade.

ESCOLA, PROFESSOR/A E A DISCIPLINA DE HISTÓRIA:

CONSTRUINDO NOVOS SUJEITOS

Para começar a discussão sobre como a escola e a disciplina de história podem

auxiliar na formação de um cidadão crítico se faz necessário explicitar quais funções e

papeis elas desempenham na sociedade, outro fator importante a ser discutido é como

estas duas instâncias sociais se adéquam aos novos parâmetros sociais com o advento

das tecnologias e tudo o que ela traz consigo para a sociedade contemporânea.

Para tanto primeiramente vamos discorrer sobre a escola e como esta

instituição foi pensada inicialmente e como vem se adequando às mudanças com as

quais a sociedade vem se adequando:

Originalmente a escola foi criada para cuidar do desenvolvimento

intelectual, vendo-se forçada a atender aos demais aspectos da

educação, por razões de ordem social – a sociedade vem exigindo

sempre mais da escola – por razões de ordem lógica – a educação é

um processo integral, não podendo desenvolver-se em setores. (DIAS

2001, pag.129)

Diante disso pode-se afirmar que a educação é algo que precisa trabalhar todos

os aspectos sociais, valorizando e conhecendo cada um, o educando não conseguirá

atingir o conhecimento se sentir-se excluído ou diferente em algum ambiente, por isso é

importante que a educação seja abrangente e dê conta de proporcionar além da teoria,

uma nova visão de vida não apenas aos alunos, mas também aos professores que

igualmente vão se construindo ao longo da carreira:

Que a educação, assim, arranque autonomamente, do ser do educando,

permitindo-lhe desenvolver suas potencialidades, desde que o

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desenvolvimento desta não se faça com meios que levem a

instrumentalização de outros homens, e que o educador veja no

educando “um fim em si”, com seus valores e fins próprios a

desenvolver e nunca o instrumento para seus próprios fins. (BARROS

2001, pag. 32)

Por conta desta conjuntura da necessidade de uma escola e de um professor que

trabalhem de maneira a libertar ideologicamente é que se faz necessário esse debate

principalmente em nosso país, uma vez que como já supracitado cotidianamente somos

assombrados pelo preconceito. Outro ponto importante com relação à escola são as

marcas que esta deixa na memória de todos os que nela passaram ou ainda vão passar:

As vivências e experiências escolares participam, de maneira maior ou

menor, da vida de cada um, tanto enquanto aluna ou aluno como

enquanto egresso ou egresso. Quem passa pela escola leva as suas

marcas, positivas ou negativas, visíveis ou invisíveis, “fracas” ou

“fortes” ... (GOETTERT 2009, pag. 122)

Assim a escola deve ser o lugar onde a criança encontra liberdade de

pensamento e de opiniões, onde minimamente possa viver e sentir marcas positivas sem

ser refém do preconceito e da alienação e mais que isso que a criança ou o adolescente

ao deixar a escola não seja um reprodutor de questões sociais estereotipadas travestidas

de convencionalismos. Todavia não podemos nos prender a alusões negativas do ato de

ensinar ou aprender, desacreditando no ser humano, a escola deve primordialmente

peregrinar por várias vias, demonstrando que o ser humano pode transformar seu modo

de vida e juntamente com suas crenças se for ensinado a buscar um mundo melhor para

os seus:

[...] a presença do homem civilizado neste planeta tem poucos

milhares de anos e tem causado terríveis males: destruímos sem dó a

natureza, submetemos os mais fracos, matamos por atacado e varejo,

deixamos um terço da população mundial com fome, queimamos

índios e por ai afora. Mas nossa presença não foi escrita apenas com

sangue. Escrevemos poesia sublime, teatro envolvente e romances

maravilhosos. Criamos deuses e categorias de pensamento complexos

para compreender o que nos cerca. (PINSKY e PINSKY 2010,

pag.20)

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Desta forma percebe-se fundamentalmente o papel da escola que pode formar

cidadãos livres e críticos ou simplesmente reproduzir conteúdo informando os alunos ao

invés de formar, promovendo o desenvolvimento de ideias a partir da percepção de

certo e errado do que nossos antepassados construíram, tendo como ponto primordial o

aprendizado e a reflexão e não simplesmente reprodução de conteúdo ou informações

desconexas e vazias de fundamentação ou assimilação do ser humano enquanto sujeito

que pode mudar o presente para superar o passado e ter esperanças para o futuro.

Só que diante disso nos deparamos com outro problema e quiçá o mais grave

de todos, a atual situação da escola pública que tenta muitas vezes fazer “milagres” para

atingir uma educação de qualidade, uma vez que grande parte delas contam com um

número elevado de alunos e boa parte do quadro de funcionários desmotivados por falta

de reconhecimento.

Desta forma o que acaba acontecendo infelizmente é um número exorbitante de

alunos que acabam se evadindo do ambiente escolar, frequentemente por não ver ou

encontrar um sentido naquilo que está aprendendo, ou também por ter contato com

conteúdos que vão muito além da sua vivencia não havendo a conexão entre realidade

concreta e aquilo que se aprende na unidade escolar:

Todos nós sabemos que entre vários desafios que a escola vem

enfrentando, um reside exatamente em criar condições – institucionais

ou não – que possam garantir a permanência dos alunos em seu

interior, pelo menos durante oito anos de escolarização obrigatória. As

taxas de evasão e repetência não deixam margem de dúvidas quanto a

essa necessidade! Se, de um lado, nós sabemos que as razões do

fracasso escolar não se restringem a escola, de outro pode-se

perguntar se a prática pedagógica quotidiana tem se dado no sentido

de captar os interesses da maioria da população, e desta forma reforçar

a luta pela permanência dos alunos que adentraram pela escola.

(NADAI 1985, pag. 117)

Em consequência destes e de outros problemas enfrentados pela educação e

pelo ensino nas escolas brasileiras é que se faz necessário repensar o modo que

caminhamos e para onde estamos indo, pensando assim uma transformação nos

métodos educacionais, para que o ato de aprender e de ensinar fique livre do carma da

desilusão e do desinteresse tanto por parte dos alunos como também e amiúde

majoritariamente por parte dos professores.

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Diante disso é essencial se pensar em uma educação inclusiva, que olhe de

igual maneira para todos os que fazem parte dela e é nesse sentido que novamente se

discutem as questões de gênero, uma vez que repetidamente a mulheres são excluídas de

áreas de protagonismo, onde sua existência foi importante, mas não lembrada:

Excluídas, silenciadas, invisíveis, as mulheres foram ignoradas no

âmbito doméstico e privado; também no econômico, social político e

cultural. A maioria das vezes foram descritas ou relatadas de forma

parcial. (GUARDIA 2005, pag. 13)

Nessa perspectiva se tem uma explicitação de como as escolas vão adotando

discursos unilaterais, frequentemente deixando sujeitos importantes de lado. Nessa

acepção não são só as mulheres que são deixadas de lado, como também os

homossexuais, negros e índios, que na ótica tradicionalista não são vistos como sujeitos

dentro da história.

Desta forma cabe a escola fazer uma mudança de paradigmas para aproximar

os conteúdos da realidade de cada sujeito que dela se aproxima, ressaltando que não se

tem como objetivo “promiscuidade” do ensino, mas uma teoria que se aproxime da

prática e que possa envolver a todos/as para que se sintam sujeitos e não como aqueles

que não foram e não serão importantes para a humanidade.

Assim se pode destacar o papel importante que professor de história têm dentro

das escolas e de como ele pode desenvolver um trabalho significativo para todos os

sujeitos utilizando simples ferramentas. Como por exemplo abordar um processo

histórico questionando sobre quem foram os sujeitos dele, fazendo transparecer que

além da história tradicional existem outros indivíduos que também foram

imprescindíveis para o desenrolar de todas as ações.

O passado deve ser interrogado a partir de questões que nos inquietam

no presente (caso contrário, estudá-lo fica sem sentido). Portanto as

aulas de história serão muito melhores se conseguirem estabelecer um

duplo compromisso: com o passado e o presente. (PINSKY e

PINSKY 2010, pag.23)

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Outro ponto importante é a percepção de como o ensino de história vem sendo

abordado nas instituições escolares, sendo tratada amiúde como uma disciplina

desnecessária por alguns dirigentes e também por alguns alunos, que não conseguem

perceber as causas de se estudar determinadas matérias. Isto frequentemente é um fator

de desmotivação dos profissionais que atuam nessa área. Mas não se pode deixar que

isso vire uma rotina nas escolas, uma vez que é a história que pode quebrar paradigmas

sociais a partir de suas abordagens:

É necessário, portanto, que o ensino de história seja revalorizado e que

os professores dessa disciplina conscientizem-se de sua

responsabilidade social perante os alunos, preocupando-se em ajudá-

los a compreender e – esperamos – a melhorar o mundo em que

vivem. (PINSKY e PINSKY 2010, pag.22)

Visto que é o professor de história que estabelece uma relação entre o passado

e o presente em que se vive ele precisa estar bem preparado intelectualmente e

principalmente motivado, uma vez que sem essas duas “fórmulas” nem o melhor

recurso tecnológico poderá fazer com que suas aulas tenham um rendimento propicio e

satisfatório tanto para si como para seus alunos.

Ao estar preparado o professor poderá abordar qualquer conteúdo que for

pertinente a ele, podendo fazer enfoques nos quais os alunos possam aprender e

perceber além do que foi dito, podendo analisar modos de vida, os sujeitos sociais,

pensamentos, organização social, questões de gênero, diversidade, fazendo comparações

com a atualidade:

Capacitar os estudantes para perceber a historicidade de concepções,

mentalidades, práticas e formas de relações sociais é uma das funções

das aulas de História. Ao observar que as ideias a respeito do que é

“ser homem” e se “ser mulher”, os papeis considerados femininos e os

masculinos ou a condição das mulheres, por exemplo, foram se

transformando ao longo da história (como e por que), os alunos

passam a ter uma visão mais crítica de suas próprias concepções, bem

como das regras sociais e verdades apresentadas como absolutas e

definitivas no que diz respeito às relações de gênero. (PINSKY 2010,

pag. 33)

Esse tem de ser o foco principal da escola e das disciplinas escolares de

maneira generalizada uma vez que é a partir das reflexões sobre a sua vivência que o

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aluno consegue assimilar os conteúdos aprendidos, podendo assim refletir sobre os

pontos de vista construídos na sua experiência de vida.

Por conta disso é importante pensar na atividade docente, enquanto atividade

conjunta com a comunidade, porque é o professor que recebe o aluno com saberes

acumulados a partir da vivência com o meio em que vive e auxilia

na resignificação desses conhecimentos:

Deve-se considerar ainda que a ação docente não é um ato individual,

mesmo que aparentemente o professor possa ficar isolado na sala de

aula com seus alunos. Sua ação é também coletiva, e talvez aí resida

seu maior poder. (BITTENCOURT 2009, pag. 51)

Assim o ensino e a aprendizagem não estão unicamente a cargo do professor,

uma vez que isso seria praticamente impossível, depende também de todo o entorno do

qual o estudante faz parte e da sua vivencia particular. E isso gera também um outro

dilema, muitas vezes nas aulas se faz a reflexão do aprendizado e também sobre os

problemas sociais, mas ao voltar para casa ou para a comunidade se tem o confronto

com os mesmos preconceitos e práticas tradicionalistas de segregação social.

Outro problema contemporâneo com relação à educação está no advento das

novas tecnologias que repetida vezes não são utilizadas como ferramentas de apoio, ou

para trazer uma aula mais dinâmica e proveitosa, mas sim como um substituto do

professor, o que deveria ser usado como suporte muitas vezes se torna a ferramenta

central, então se tem uma aula com cara de inovação onde os métodos continuam sendo

os retrógrados:

Há décadas houve um equívoco expressivo na modernização do

ensino. Julgou-se que era necessário introduzir máquinas para se ter

uma aula dinâmica. Multiplicaram-se os retroprojetores, os projetores

de slides e, posteriormente, os filmes em sala de aula. Retroprojetor,

em particular, ganhou uma oportunidade extraordinária no ensino

médio, fundamental e superior. Mais do que modernizar (o que

implica um ar de mera reforma), trata-se de pensar se a mensagem

apresenta validade, tenha cara nova ou velha. (KARNAL 2010, pag.

09)

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Desta forma muitas vezes se tem muitas aulas que se resumem em um filme ou

um vídeo que frequentemente não são complementados ou discutidos para se fazer o

aprofundamento do conteúdo, continuando assim com as práticas tradicionalistas

travestidas de modernidade vazias, caminhando num sentido contrário do que foi

proposto inicialmente ao se pensar as tecnologias em sala de aula, assim de acordo com

Bittencourt (2009 pag. 109) “Utilizar as informações da mídia televisiva ou as

provenientes da internet é fundamental na escola, mas o risco de, por conta disso, criar

pessoas alienadas não pode ser ignorado”.

Assim, os métodos tecnológicos de aula precisam ser analisados, uma vez que,

estes devem ser uma ferramenta a mais para dar suporte ao docente, auxiliando-o para

que ele consiga desenvolver uma aula mais dinâmica, chamando a atenção dos alunos.

Destarte parafraseando Karnal (2010, pag. 09), uma aula pode ser muito dinâmica e

atrativa, utilizando ferramentas tradicionais como o giz e lousa e uma aula com métodos

tecnológicos pode se transformar em algo maçante e ultrapassado. Desta forma nota-se

que tudo depende da metodologia que o professor utiliza e a maneira como este conduz

suas aulas.

Outra dificuldade encontrada com as novas tecnologias em sala de aula está

relacionada ao uso de computadores, uma vez que nem todos os alunos possuem este

recurso no seu dia-a-dia, transformando em exclusão social aquilo que deveria ser

inclusão.

O uso de computadores, notadamente pode transformar-se em mais

um meio de erguer barreiras entre os que têm acesso a esses produtos

e os demais alunos das precárias escolas públicas das periferias das

grandes cidades e das áreas mais carentes do país. Assim, o consumo

das novas tecnologias pode ser mais um instrumento de exclusão

social e cultural, situação que provoca diferenciações até mesmo entre

as diversas gerações até mesmo entre diversas gerações de

professores. (BITTENCOURT 2009, pag. 110)

Diante disso notamos o grande dilema vivido nas escolas públicas do país,

onde o advento das novas tecnologias acaba não suprindo muitas “esperanças” que nela

foram depositadas. Mas não se pode deixar de mencionar que estas ferramentas quando

bem utilizadas podem ser de grande valia dentro de uma sala de aula, como por

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exemplo, a utilização de um vídeo ou de uma música para mostrar como a teoria pode

ser aplicada na prática.

Deste modo nota-se mais uma vez que para que a educação em nosso país

tenha mais qualidade vai ser preciso um grande esforço de todos os trabalhadores em

educação. Estes devem escolher as melhores maneiras e técnicas para ajudar na

construção de indivíduos críticos e pensantes. Não é uma tarefa fácil frente a todas as

adversidades já citadas, mas cabe aos profissionais buscarem se adequar as realidades

dos alunos para assim promover uma educação baseada nos princípios da democracia

almejando a edificação do saber.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após esta breve análise sobre os temas abordados nesse conciso ensaio pôde

ficar explícito quão árdua é a função de educar em nosso país, uma vez que somos uma

população muito diversa, com hábitos e crenças diferentes concentrados num mesmo

espaço. E frequentemente cabe ao professor a tarefa de assimilar as diferenças e tentar

amenizá-las em sala de aula para que assim a sociedade possa se construir sob um

alicerce mais humano e igualitário.

Diante de todos os dilemas sociais de preconceito e alienação a escola cumpre

um papel fundamental na formação de um indivíduo fora dos padrões estipulados pela

sociedade tradicional, que consiga perceber que indiferente do sexo, da opção sexual, da

raça ou da cor, continuamos fazendo parte do mesmo grupo social e que temos os

mesmos direitos e deveres.

Assim não se pode deixar de mencionar o fundamental papel do professor de

história, uma vez que ele tem a capacidade de fazer uma análise crítica do passado para

ponderar sobre o presente pensando em um porvir melhor para a humanidade, tentando

fazer o abrandamento das diversas formas de preconceito presentes na sociedade.

Cabe também ao sistema de ensino fazer uma análise sobre as questões de

gênero nas unidades escolares, mostrando que as mulheres também são sujeitos

históricos importantes que precisam ser valorizadas. Já que amiúde as mulheres ainda

são relegadas a zonas inferiores, não sendo consideradas peças importantes para a vida e

a história da humanidade,

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Desta forma as unidades de ensino, juntamente com os profissionais que nela

atuam precisam considerar e repensar as formas de ensino instituídas ao longo do

tempo, avaliando se estas não precisam de mudanças, uma vez que a sociedade é algo

permanentemente em movimento e a escola não pode ser estática.

Destarte ensinar e aprender no Brasil é uma grande batalha dos sujeitos que se

propõem a essa empreitada, uma vez que as barreiras são muitas, os preconceitos são

grandes, já que infelizmente a nossa nação não pensa numa formação efetiva dos

discentes em todos os níveis de ensino. Assim sendo cabe ao professor fazer

“malabarismo” com métodos, técnicas e muitas vezes com recursos precários para

arriscar-se nessa caminhada chamada de ensino-aprendizagem.

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