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Especial de Migrações
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GEOGRAFIA EM
AÇÃO EDIÇÃO ESPECIAL SOBRE IMIGRAÇÃO
REPÚBLICA IMIGRANTE DO BRASIL
Entre 2010 e 2011, quase 600 mil pessoas vieram morar no Brasil. Nunca
tivemos tantos imigrantes por aqui desde 1890. Veja agora um panorama da
imigração no país década a década. Conheça histórias de estrangeiros que
escolheram chamar o Brasil de lar.
Legenda:
: Alemães : Argentinos
: Paraguaios : Uruguaios
: Portugueses : Bolivianos
: Espanhóis
: Italianos
: Sírios- Turcos
: Japoneses
: Libaneses
A IMIGRAÇÃO RECENTE NO ESPÍRITO SANTO
Observar a população do Espírito Santo nos permite perceber que grande parte
dos cidadãos veio para as terras capixabas emigrando de outros estados.
Alguns municípios, como o da Serra, chegam a possuir mais de 50% de sua
população composta por “estrangeiros”. Esse cenário nos lança, naturalmente,
um questionamento: como surgiu e se desenvolveu tal quadro migratório?
No início da década de 1970, o Brasil vivia o regime militar, que tinha como
característica as grandes obras e o desenvolvimento da industrialização. Nesse
contexto, o governo do Espírito Santo, na época aliado da administração
federal, também se inseriu na proposta industrial. Tal parceria pode ser
verificada no outdoor abaixo, que mostra o general Ernesto Geisel ao lado do
então governador Élcio Álvares.
Para se desenvolver na indústria, o governo estadual implantou a chamada
Política de Erradicação do Café, que visava reverter o eixo da economia
capixaba da cafeicultura para as máquinas. Com isso, o fim das lavouras no
interior levou um grande número de migrantes para as cidades do centro
político e econômico do estado. Nesse cenário, situam-se os municípios da
Região Metropolitana da Grande Vitória, a saber: Vitória, Vila Velha, Serra,
Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão.
Aliado à problemática da erradicação do café, o Espírito Santo recebeu
grandes empreendimentos, como a Samarco, a Companhia Vale do Rio Doce
(atual Vale), a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), atualmente a Acelor
Mital, entre outros. A consequência direta dessas obras foi a atração de
pessoas que fugiam da pobreza do nordeste (sobretudo da Bahia) e do interior
de Minas Gerais.
A maioria desses povos era de baixa renda, com pouca instrução e migravam
para o Espírito Santo contando com oportunidade de emprego e conduzidos
pela própria sorte. Assim, grande parte iniciou sua habitação na Região
Metropolitana na marginalidade. À época, o estado recebeu um intenso fluxo
migratório e, como não contava com infraestrutura adequada, não apresentou
eficiência da recepção de tais comunidades, nem forneceu condições básicas e
dignas de saneamento.
Um bairro de Vitória que recebeu grande fluxo migratório foi São Pedro, sendo
inicialmente invadido e, posteriormente, urbanizado. As imagens de satélite
abaixo demonstram bem a ocupação da localidade.
Grande São Pedro, início da dec. Grande São Pedro, ano de 2008
O problema da pobreza e da marginalidade que já era grande durante os
grandes complexos industriais, agravou-se ainda mais nas décadas seguintes.
Com o término das obras, uma grande massa trabalhadora ficou
desempregada, fazendo aumentar, assim, os índices de violência e
criminalidade nos municípios que receberam a maior parte dos migrantes.
Aliado a isso, os estados do nordeste seguiam vivendo problemas sociais,
havendo, ainda, forte emigração.
Tais acontecimentos refletem na atualidade. Segundo dados do Censo IBGE
2010, o município de Vitória possui cerca de 70 mil moradores advindos de
outros estados, enquanto o total de habitantes é de 330 mil. Já Serra
contabiliza 127 mil “estrangeiros”, de 130 mil cidadãos totais. Cariacica tem,
hoje 60 mil migrantes, ao passo que sua população total é de 350 mil. Viana,
por sua vez, tem 11 mil, com 65 mil totais. Enquanto isso, Vila Velha tem cerca
de 105 mil imigrantes, de 415 mil totais. Dos 105 mil habitantes de Guarapari,
31 mil nasceram em outros estados. E em Fundão, dos 17 mil totais, cerca de 3
mil são de fora.
Percebe-se, assim, que a Região Metropolitana da Grande Vitória foi alvo de
imigração e recebeu (e ainda recebe) grande fluxo migratório. Há de se atentar
para o atual desenvolvimento do Espírito Santo, desde os complexos
industriais até os empreendimentos de petróleo e pré-sal. Tais anúncios têm
atraído mão de obra para as terras capixabas, que parecem novamente
despreparadas para tais absorções. Portanto, é preciso atentar para o risco de
o estado atrair, novamente, um enorme fluxo populacional que poderá acarretar
novos problemas sociais.
Entrevista com Arnoldo Marion Balarine:
1- Por que você e sal família se mudaram para Vitória?
“Meu pai estava à procura de melhores condições de vida e Vitória por ser a capital do estado oferecia essas condições. Logo que chegamos tivemos grande dificuldade o custo de vida era mais alto, por isso eu e meus irmãos tivemos que trabalhar cedo para botar comida em casa.”
2- Como foi a mudança? Conte-me detalhes do que você e sua família passaram no inicio e como isso afetou em você.
“Primeiramente, devido à mudança não pude terminar meus estudos, só fiz até o 2° grau incompleto. Eu tive que sair pra trabalhar cedo vendendo doces nas ruas, chegando em casa de noite para dormir e comer só. Nós tínhamos casa própria, mas nenhum conforto. Comiamos somente ovo, pão e farinha, porque sustentava e matava a fome. O fato de trabalhar cedo, me fez criar um habito e me fez dar valor as oportunidades além de me tornar mais responsável.”
3- Como era a cidade quando você chegou?
“A cidade era urbanizada somente no centro, onde havia o comércio. Nos arredores eram somente residências familiares. Havia muitos locais que não era possível transitar senão a pé devido ao mato, lama. Vitória nós podemos dizer que é um grande aterro.”
BRASIL SE TORNA DESTINO DE NOVOS IMIGRANTES
A maior projeção do Brasil no exterior, aliada às crescentes restrições à
entrada de imigrantes na Europa e nos Estados Unidos, está provocando
uma diversificação no grupo de estrangeiros que têm optado por viver em
terras brasileiras.
Além de atrair cada vez mais imigrantes de países vizinhos e executivos
europeus e americanos que fogem da crise econômica, o Brasil tem assistido a
um aumento expressivo na chegada de migrantes e refugiados de
nacionalidades que tradicionalmente não migram ao país.
No último dia 12, o governo agiu para controlar o maior desses novos fluxos, o
de imigrantes do Haiti que têm entrado no Brasil pela Amazônia, ao estabelecer
um limite de cem vistos de trabalho os haitianos por mês.
Dados do Ministério da Justiça também revelam aumento considerável, ainda
que sobre uma base pequena, na chegada de imigrantes de países da Ásia
Meridional e da África.
Em 2009, havia 2.172 indianos vivendo regularmente no Brasil. Em junho de
2011, o número saltou para 2.639. No mesmo período, a quantidade de
paquistaneses no país passou de 134 a 216, e a de bengalis (oriundos de
Bangladesh), de 64 a 109. O MJ também detectou aumento na chegada de
africanos de várias nacionalidades.
Os números, porém, não revelam a quantidade exata de novas chegadas ao
país, já que nem todos os imigrantes se regularizam. Além disso, boa parte dos
estrangeiros provenientes de países em conflito (como paquistaneses, afegãos
e somalis) obtêm status de refúgio no país e não entram na conta, uma vez que
o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) não divulga a quantidade de
pedidos de refúgio atendidos por nacionalidade.
TRÁFICO HUMANO
Segundo Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho Nacional de
Imigração (Cnig), o aumento nas chegadas de migrantes ou refugiados
africanos e da Ásia Meridional ao Brasil é recente e reflete a maior projeção do
Brasil no exterior.
"Além da projeção pelo bom desempenho econômico num momento de crise
mundial, o país conseguiu destaque por ter obtido o direito de sediar grandes
eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Isso faz com que o Brasil
acabe entrando na rota mundial dos migrantes, pessoas que buscam um
trabalho e viver melhor."
Para Almeida, o processo é natural. Ele diz que o Brasil já passou por vários
ciclos de migração ao longo de sua história, tendo sempre conseguido absorver
os estrangeiros.
"Entendemos que o país vem crescendo e gerando empregos, oportunidades.
Estamos monitorando permanentemente a situação, mas por ora não há motivo
para alarde."
A principal preocupação do governo, diz Almeida, é evitar que quadrilhas de
tráfico humano atuem em território nacional. A ação desses grupos, que
cobram para facilitar a travessia de imigrantes de um país ao outro, muitas
vezes submetendo-os a riscos e práticas violentas, foi denunciada por vários
haitianos que chegaram ao Brasil.
O Ministério da Justiça e a Polícia Federal estão investigando essas quadrilhas.
A atuação delas, porém, não se restringe às fronteiras amazônicas, segundo
relatos obtidos pela BBC Brasil.
Refugiados oriundos da fronteira do Paquistão com o Afeganistão afirmaram à
reportagem terem pago cerca de US$ 5 mil a uma quadrilha local com a
promessa de serem enviados ao Brasil. Após o pagamento, dizem ter obtido
vistos temporários de trabalho (que permitem permanência de 90 dias no país)
e viajado de avião a Dubai, onde pegaram conexão para o aeroporto de
Guarulhos (SP).
Mais do que a crescente projeção do Brasil no exterior, o principal fator a
motivar a vinda deles foram os elevados preços cobrados pela quadrilha para
levá-los aos seus destinos prioritários – a Europa e aos Estados Unidos.
Para obterem vistos e desembarcarem nesses locais, teriam de pagar cerca de
US$ 30 mil. Segundo eles, a crise econômica e as preocupações com o
terrorismo têm dificultado (e encarecido) a entrada de paquistaneses e afegãos
na Europa e nos EUA nos últimos anos.
SEGUNDA OPÇÃO
Há um ano no Brasil, o paquistanês Haleem (nome fictício), de 40 anos, não
recorreu às gangues de tráfico humano para chegar ao país, mas também não
o tinha como destino prioritário.
"Acabei aqui por acaso", ele lembra.
Formado em matemática e em jornalismo, Haleem (nome fictício; ele prefere
não se identificar) trabalhava com a exportação de frutas no Paquistão. Como
os negócios não iam bem e julgou que enfrentaria muitas dificuldades para se
instalar legalmente nos países em que gostaria de viver (Canadá ou Suíça),
tentou a sorte na Venezuela, onde tinha alguns amigos.
No entanto, ele diz que a burocracia e a desorganização do país vizinho o
fizeram arrumar as malas outra vez. Após uma longa viagem de ônibus, em
que passou pela Colômbia e pelo Peru, finalmente chegou ao Brasil.
"De imediato, senti que estava num país bom, com pessoas boas. No Peru, tive
que subornar policiais".
Haleem se instalou em Brasília, onde logo arranjou uma namorada brasileira,
com quem se casaria alguns meses depois.
Hoje tem todos os documentos regularizados e planeja abrir uma importadora
de tecidos e instrumentos cirúrgicos paquistaneses.
Atento às oportunidades de negócio que a Copa do Mundo de 2014 trará,
também pretende comercializar uniformes esportivos e bonés.
"Estou muito feliz no Brasil. Estaria ainda mais se não fossem os altos
impostos."
CONSELHO DE IMIGRAÇÃO APROVA RESTRIÇÃO À ENTRADA DE HAITIANOS
No mesmo dia em que se completam dois anos desde o terremoto que
devastou o Haiti, o Conselho Nacional de Imigração (Cnig) brasileiro
concordou em restringir a cem os números mensais de vistos a serem
concedidos a haitianos que queiram emigrar ao Brasil.
A medida é parte de uma proposta do Ministério da Justiça para regularizar a
situação migratória de haitianos no Brasil, que ganhou a atenção da opinião
pública por eles virem, muitas vezes, por rotas ilegais, intermediadas por
coiotes (atravessadores), e se concentrarem em cidades amazônicas com
poucas condições para abrigá-los.
Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, anunciou que os haitianos que já se encontram no Brasil – número
estimado pelo governo em 4 mil pessoas, dos quais 2.400 estariam em
situação irregular – terão sua situação legalizada, recebendo autorização de
residência que lhes dará direito a morar e trabalhar aqui.
O documento terá validade de cinco anos e para obtê-lo não será necessário
comprovar qualificação ou vínculo com empresa. A limitação de emissão de
vistos mensais vai vigorar nos próximos dois anos.
Com a resolução, os haitianos que quiserem vir ao Brasil em busca de um
trabalho terão uma cota de cem vistos por mês, a serem concedidos pela
Embaixada do Brasil em Porto Príncipe. Quem chegar sem documentos após a
resolução corre o risco de ser deportado.
Entrada de haitianos no Brasil
Como é hoje: A maioria dos haitianos
veio de forma irregular e pediu refúgio. O
status de refugiado não foi concedido, já
que se entendeu que os haitianos não
sofriam perseguição em seu país. Em
vez disso, o Brasil tem concedido visto
humanitários a essas pessoas, levando
em conta a frágil situação econômica em
que se encontram.
Como pode ficar: Caso o Conselho
Nacional de Imigração aceite às
propostas do Ministério da Justiça,
haitianas que queiram vir ao Brasil sem
um trabalho fixo teriam, a partir de hoje,
uma cota de cem vistos por mês, a
serem concedidos pela Embaixada do
Brasil em Porto Príncipe. Quem já estiver
aqui vai ser regularizado; quem chegar
sem documentos a partir desta data corre
o risco de ser deportado.
"O Brasil criou um canal adicional aos haitianos, além do canal tradicional de vistos (para quem já tem um vínculo empregatício no Brasil)", diz o secretário
executivo e ex-ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, em entrevista à BBC Brasil. "Nossa preocupação não é tanto com o número de imigrantes, mas com a forma como vêm (por intermediários ilegais, pela floresta).Soubemos de casos de estupro, de roubos, de violência (contra os haitianos). O Brasil não tem essa tradição."
Fluxo migratório está em queda no Brasil, segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
A partir de 2008, o Sudeste voltou a receber mais nordestinos. As duas
regiões concentram 60% dos migrantes.
Migrantes nordestinos no Terminal Rodoviário Tietê, em São Paulo (Fernando Pereira).
O número de pessoas que se mudam de uma região para outra do país – os
chamados migrantes - vem caindo nos últimos anos, como mostra o estudo
Migração Interna no Brasil, divulgado nesta terça-feira pelo Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o estudo, em 1995 o número de
migrantes se aproximava de quatro milhões de pessoas - 3% da população. Já
em 2008, o total caiu para 3,3 milhões (1,9% da população).
As regiões Nordeste e Sudeste do país concentram mais de 60% dos
migrantes, de acordo com o relatório, que pesquisou os anos de 1995, 2001,
2005 e 2008. O instituto utilizou para a análise dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e considerou como migrantes aqueles que
mudaram de estado nos cinco anos anteriores a cada uma das datas usadas
na pesquisa
A pesquisa aponta que desde o começo da série (1995) até o ano de 2001, o
fluxo do Nordeste para o Sudeste era maior que o fluxo inverso, situação que
sofreu uma reviravolta nos sete primeiros anos desta década. Em 2008, o fluxo
entre as duas regiões voltou a ser favorável ao Sudeste. A pesquisa dá como
uma das explicações para essa alteração uma mudança de perfil dos
migrantes. Segundo o instituto, "os migrantes do Nordeste para o Sudeste já
gozam de melhor situação, em termos de formalização do trabalho, que a dos
próprios trabalhadores não migrantes da região Sudeste".
A pesquisa revela que ainda que os fluxos migratórios não se dão apenas de
regiões pobres para regiões ricas. A migração do Norte, por exemplo, é maior
para o Nordeste do que para o Sudeste nos anos analisados. O documento
informa que "a ideia comum de exportação da pobreza de regiões menos
desenvolvidas para outras de maior poder e dinamismo econômico deve sofrer,
então, restrições, ou melhor, qualificações, já que a proximidade também é um
fator relevante para explicar os fluxos".
Escolaridade - A pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
mostra que a alta escolaridade do migrante - com 12 ou mais anos de estudos -
aumenta nos anos analisados. O mesmo ocorre com não migrantes, embora
em um ritmo menor. O estudo afirma que a escolarização aumenta a
probabilidade de migração: o porcentual de migrantes com pelo menos 12 anos
de estudo é maior que o de não migrantes nessa situação.
Na análise do que ocorre nas regiões Nordeste e Sudeste são levados em
consideração a distância da migração. O trabalho aponta que os mais
escolarizados preferem migrar dentro da própria região, enquanto a decisão de
mudar de região fica mais restrita aos menos escolarizados. O oposto acontece
entre os migrantes das regiões Sul e Centro-Oeste.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) diz que se deve avaliar a
hipótese de que a migração inter-regional sofre efeitos da estrutura do mercado
de trabalho, que, segundo o estudo, é mais aberta aos migrantes de menor
qualificação. A pesquisa destaca a Região Sudeste, "capaz de absorver mão
de obra de menor qualificação relativa vinda do Nordeste, enquanto o
trabalhador mais escolarizado multiplica suas estratégias de mobilidade
considerando o aumento do seu capital relativo no contexto da sua própria
região".
Globalização de populares
Nunca houve tantos imigrantes no planeta. O desafio será criar regras para viver em harmonia com eles
Imigrantes africanos exaustos são socorridos nas Ilhas Canárias: vinte horas de travessia
Fruto de guerras e da disparidade de oportunidades entre países e regiões, a imigração
marca desde sempre a história humana. Esse fenômeno acentuou-se nas últimas quatro
décadas com a diminuição dos custos de transporte e o aumento do fluxo de
informações. Para se ter uma ideia de como está mais fácil se mover pelo mundo, a
milha voada, que custava 27 centavos de dólar para os passageiros há cinquenta anos,
atualmente sai por 10 centavos – pouco mais de um terço. Imigrantes compõem 3% da
população mundial atual, o maior porcentual de que se tem notícia. Trata-se de uma
realidade auspiciosa para todas as partes envolvidas. Para os países que exportam
migrantes, as vantagens voltam principalmente sob a forma de remessas – 199 bilhões
de dólares em 2006, mais do que o total de ajuda humanitária que esses países
receberam. Para o país receptor, o imigrante aumenta e complementa a força de
trabalho, equilibra o sistema de previdência e contribui para a prosperidade – um terço
das empresas do Vale do Silício, na Califórnia, é de empreendimentos de chineses e
indianos. Um terço dos físicos americanos laureados com o Prêmio Nobel nos últimos
sete anos são imigrantes.
Somente sob essa ótica, os países não deveriam manter controles rigorosos de
fronteiras. Mas há outros fatores em jogo. Por motivos de segurança, e para dosar, a
critério de cada país, o fluxo e o perfil desejáveis de estrangeiros, os sistemas de
imigração são cada vez mais rígidos – e às vezes injustos com pessoas que fazem
apenas turismo ou cursos no exterior, erroneamente confundidas com imigrantes ilegais.
História vivida por alguns dos 950 brasileiros que, desde o começo do ano, foram
impedidos de entrar na Espanha, um dos países que mais recebem imigrantes na Europa.
Entre 2006 e 2007, a média mensal de barrados saltou de vinte para 200, numa
proporção muito maior que a do crescimento de viajantes brasileiros para a Espanha.
Nem mesmo pesquisadores e estudantes de pós-graduação a caminho de congressos
científicos foram poupados, ainda que tivessem todos os documentos comprobatórios
exigidos. Antes de serem expulsos, os viajantes ficaram detidos em salas da polícia
espanhola dentro do Aeroporto de Barajas, em Madri, onde foram submetidos a horas
de espera – quando não dias – até serem mandados de volta.
"A maior parte dos imigrantes ilegais não chega à Espanha nadando, mas por aeroportos, com visto de turista, passagem de volta e toda a documentação
A expulsão de brasileiros causou furor na opinião pública local, logo captado pelo Ministério das Relações Exteriores e pelo Congresso. Convidado a explicar-se, o embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, respondeu que seu governo cumpre apenas o que está determinado na lei e que não há maus-tratos aos cidadãos estrangeiros. Insatisfeito com essa resposta, o Brasil não só protestou pelas vias legais e diplomáticas, mas também passou a revidar. Desde o dia 6, já mandou de volta 24 espanhóis. Embora negue que haja retaliação, um inspetor da Polícia Federal apareceu em recente reportagem da Rede Globo barrando a entrada de um espanhol no país "pelos mesmos motivos que os brasileiros estão voltando da Espanha". O turista, que ia para o Ceará, tinha o nome do hotel onde iria ficar, mas não a reserva. "Os atos da Polícia Federal do Brasil são recíprocos aos atos da Polícia Federal da Espanha", disse o encarregado do setor de imigração.
Hans Bethe, imigrante
alemão que ganhou o Nobel
nos Estados Unido.
Considerando que a Espanha não exporta imigrantes ilegais para o Brasil, e que só a
cidade de Barcelona recebe, num ano, quatro vezes mais turistas que os que
chegam aos portos e aeroportos brasileiros no mesmo período, é de imaginar que a
retaliação não tenha sensibilizado o outro lado do Atlântico, mais preocupado com a
situação política interna. O aumento no número de barrados coincide com o período
eleitoral no país, que no último dia 9 passou por eleições parlamentares. Mariano
Rajoy, candidato do partido conservador, criticou a política de imigração do atual
governo de José Luis Rodríguez Zapatero. Rajoy entoava a bandeira de que "não há
espaço para todos", culpando os imigrantes pelo aumento do desemprego no país e
conquistando a simpatia de parte do eleitorado. Em contrapartida, o primeiro-
ministro, que buscava a reeleição, endureceu o discurso e a prática.
Por sua proximidade geográfica com a África e histórica e linguística com a América
Latina, a Espanha recebe 1 000 imigrantes clandestinos por dia. Na última década, a
proporção de estrangeiros residentes na Espanha saltou de menos de 2% para
atuais 10% da população, ajudando a economia a crescer acima da média europeia.
Nem todos, no entanto, entraram pelas vias legais. Nas Ilhas Canárias não é raro
que turistas tenham de socorrer imigrantes exaustos e desidratados depois de 1 500
quilômetros de viagem em mar aberto. Estima-se que oito em cada dez prostitutas
na Espanha sejam brasileiras, imigrantes ilegais.
exigida pela lei", disse a VEJA o economista espanhol Rafael Muñoz de Bustillo, da Universidade de Salamanca. Depois de desembarcarem, fazem a siesta e resolvem ficar por ali mesmo.
À luz das ameaças terroristas e da falta de coordenação entre os países, seria utópico imaginar a simples eliminação das barreiras fronteiriças – em políticas de imigração, nenhuma nação quer ter regras mais liberais que as do país vizinho. Além disso, as preocupações com a segurança se sobrepõem aos argumentos econômicos a favor da imigração. Com o aumento dramático dos fluxos migratórios e do turismo, no entanto, os países precisam ter regras mais transparentes sobre as exigências que fazem na recepção a estrangeiros.
IMIGRAÇÃO ESPANHOLA RETÉM BRASILEIRA DE 77 ANOS EM
AEROPORTO
A imigração espanhola mantém retida há três dias no aeroporto de Madri uma idosa brasileira que pretendia visitar familiares na Espanha. Desde segunda-feira (5) Amanda de Oliveira só consegue conversar com a avó, Dionísia Rosa da Silva, de 77 anos, pelo telefone. Dionísia partiu com a neta do aeroporto de Cumbica, em São Paulo, no domingo. "Chegamos em Madri era 8h de segunda-feira, numa boa, feliz e contente”, conta Amanda.
Mas na hora de passar pela imigração no aeroporto de Barajas, as duas foram chamadas por funcionários. “Aí ele perguntou: 'você tem documentação? ' Dei a passagem dela de ida e volta. Eu dei tudo. Ele viu a data, tudo certinho e pediu a carta de incitação. Eu falei que ela estava acompanhada comigo. E 'hotel, você tem reserva de hotel? ', Não, 'ela vai ficar na minha casa'. 'Então nesse caso ela tem que passar numa entrevista'”, relembra Amanda.
A avó de Amanda não saiu mais do aeroporto. “Meio-dia, 14h, dão o almoço; 21h, dão a janta. Aí vende o café com euros. Eu não compro não, não vou dar dinheiro para esse povo”, conta Dionísia, por telefone.
Casos como o de Dionísia levaram o governo brasileiro a adotar medidas de reciprocidade. As autoridades da Espanha já foram avisadas que os turistas espanhóis receberão o mesmo tratamento dado aos turistas brasileiros. A partir de abril, quem vier para o Brasil e não comprovar que tem dinheiro para gastar e lugar para ficar pode ser obrigado a se hospedar no aeroporto, até o voo de volta.
O Itamaraty diz que o consulado do Brasil, em Madri, está acompanhando desde terça-feira (6) o caso da Dionísia. O Itamaraty afirma que a idosa chega ao Brasil nessa quinta-feira (8). Mas a família diz que não recebeu qualquer informação sobre o retorno dela.
A preocupação é com a saúde da aposentada, que já sofreu um derrame. “Eu estou sentindo um pouco de coluna, porque o banco é de madeira e dói os ossos. Chateada pela ocorrência que está acontecendo, mas tudo bem”, fala Dionísia.
CAMINHO DO IMIGRANTE NO ESPÍRITO SANTO
O Caminho do Imigrante foi idealizado no processo de desenvolvimento do Projeto Imigrante Espírito Santo. Nasceu de uma necessidade de se ampliar o conhecimento sobre a história da imigração no Estado, praticando os mesmos trajetos percorridos pelos camponeses imigrantes que vieram colonizar o Espírito Santo no século XIX.
Início do percurso na cidade de Santa Leopoldina. Ponte sobre o rio Santa Maria da Vitória, no local extremo até onde o mesmo era navegável. Porto de desembarque de mais de 12 mil
imigrantes que entraram na colônia a partir de 6 março de 1857.
Tomamos por base as descrições contidas nos documentos históricos do Arquivo Público, de livros clássicos sobre o assunto, como: Karina, de Virginia Tamanini, e Canaã, de Graça Aranha, que registraram em suas obras, referências importantíssimas desse percurso, muito trilhado por seus personagens. O caminho, devido à sua importância estratégica, também assumia o papel de personagem principal nessas obras-primas da ficção capixaba.
Andarilhos seguem pela antiga trilha por onde passavam as tropas.
Porém, o maior legado da importância histórica desse caminho, que foi utilizado pelos primeiros imigrantes para alcançar a tão sonhada Mèrica em terras capixabas, é aquele registrado como memória, fruto da tradição oral, referenciado pelos milhares de seus descendentes.
Testemunhas oculares também foram os tropeiros que levavam produtos a serem consumidos pelos camponeses e traziam aqueles produzidos pelos colonos e vendidos na praça comercial de Santa Leopoldina. Aí então entravam novamente em cena os canoeiros do rio Santa Maria, geralmente negros, que desde o período da escravidão trilhavam o “caminho fluvial” do rio Santa Maria até alcançar Vitória para também levar e trazer os imigrantes e seus produtos à bordo das canoas. São muitas as histórias deixadas por estes desbravadores o que dignifica ainda mais a importância da região dentro do contexto da imigração no Espírito Santo.
Nos braços dos canoeiros estavam a força do progresso de Santa Leopoldina, responsáveis pelo transporte dos passageiros e mercadorias produzidas na região.
A abertura dessas veias de comunicação por entre a densa floresta da Mata Atlântica tornava-se um dos maiores desafios para os desbravadores, já desiludidos pelas promessas dos agenciadores de que aqui encontrariam estradas, terrenos prontos para o cultivo, utensílios para o trabalho, entre outros itens necessários à sua subsistência. A Mata Atlântica, então, era uma muralha verde a ser vencida. Ali, o colono deveria tirar o seu sustento, exibindo o solo nu da grande floresta; abrindo picadas e preparando o terreno para receber as sementes que lhe daria o pão e o tão sonhado progresso.
Esse pedaço da história é retomado como lembrança de um tempo heróico de nossos antepassados que agora são homenageados pelos caminhantes, neste início de século XXI; porém, sem as antigas armas e adversidades encontradas por aqueles “primeiros trilheiros”.
Estão agregados, então, outros valores demandados pela realidade deste início de Século XXI: a preservação da natureza, homenagem aos imigrantes desbravadores; um maior conhecimento da história aliado ao lazer turístico; prática de exercícios físicos, entre outros objetivos particulares de cada caminhante.
Cachoeira Véu da Noiva. Uma das belezas naturais, junto ao percurso, presenteada aos caminhantes.
Buscamos então parcerias para a realização do evento, contando com o apoio exclusivo de várias instituições do Governo do Estado do Espírito Santo, Secretaria de Estado da Cultura; das Prefeituras de Santa Leopoldina e de Santa Teresa, bem como de diversas entidades dos municípios envolvidos.
E nada mais adequado para realizar a primeira edição do Caminho do Imigrante em 2004, ano em que comemoramos os 130 anos da Imigração Italiana no Brasil, cuja referência é a chegada dos 388 colonos da Expedição Tabacchi, a bordo do navio Sofia, ocorrida em 17 de fevereiro de 1874, no Espírito Santo, queira ou não alguns historiadores do Sul brasileiro.
Além disso, o percurso escolhido não poderia ser outro senão aquele trilhado pelos imigrantes que se libertaram das mãos de Tabacchi e subiram o rio Santa Maria para alcançar os lotes coloniais no então recém-criado Núcleo Colonial de Timbuhy, abrindo novas trilhas - caminhos que hoje buscamos refazer – e fundando assim a primeira cidade italiana do Brasil: Santa Teresa.
Essa mesma trilha foi então ampliada em 1919 para servir de estrada para o trânsito de automóveis. Foi a primeira no Espírito Santo. Inaugurada pelo então governador, Bernardino Monteiro (ficando denominada assim de ES-080- Bernardino Monteiro), antes mesmo que Vitória possuísse veículos. Na região, com o progresso das colônias e do comércio do café colhido pelos imigrantes, a realidade já era outra.
A data fixa escolhida para a realização do evento não poderia ser outra senão o 1º de Maio, Dia do Trabalho, feriado internacional, pois foi por meio do trabalho que milhares de famílias, formadas por crianças, jovens, adultos e idosos, entraram no hinterland capixaba empregando a cultura herdada dos ancestrais e agregando novos conhecimentos adquiridos dos antigos capixabas, contribuíram para o desenvolvimento do Estado.
O Caminho do Imigrante já é um sucesso entre os caminhantes, trilheiros capixabas e de outros Estados do país. É grande a participação dos descendentes daqueles imigrantes que há mais de 130 anos abriram as primeiras trilhas em meio à densa floresta tropical da então Colônia de Santa Leopoldina e que hoje se empenham para completar os 29 Km do percurso. Prova disso, é o crescente número de participantes a cada edição do evento. A primeira edição contou com a presença de mil pessoas e a quarta, em 2006, superou a quantia de 2.500 andarilhos.
A preparação para a caminhada começa ainda na véspera com o Carnaval de Veneza que é animado por banda de música e foliões mascarados pelas ruas de Santa Leopoldina.
Caminho é citado em duas importantes obras literárias
O escritor Graça Aranha cita o caminho que foi percorrido pelos principais personagens de sua obra-prima, Canaã: "E os dois caminhavam afastando-se do Porto do Cachoeiro [porto de Santa Leopoldina] na direção de Santa Teresa. A princípio a estrada cortava por cima de pequenos morros descobertos, onde, numa paisagem acidentada e limpa, passeavam errantes as sombras das nuvens; daí a momentos ela morria na boca da mata. Milkau e Lentz, ao penetrarem na escuridão repentina e fria, sentiram pelos olhos o véu de uma ligeira vertigem. Pouco a pouco eles se recompuseram, e então admiraram."
Em Karina, a escritora Virgínia G. Tamanini assim descreve a abertura do caminho: "A trilha foi se alargando dentro da floresta e a estrada se assentando cada dia um pouco mais. Quase um ano, entretanto, ainda decorreria até que nossos homens alcançassem o núcleo colonial. Foram recebidos com festas pelos imigrantes que os haviam antecedido, responsáveis pela picada primitiva, origem daquela estrada".