69
•ENTREVISTAS •PARECERESEJURISPRUDÊNCIA •EMFOCO •PERGUNTEAOIBAM •GESTÃOENERGÉTICA •PROCELGEM •EFICIÊNCIAENERGÉTICA •PRÊMIOPROCELCIDADEEFICIENTE •REDUZINDOASDESPESAS •AEXPERIÊNCIANOAMAZONAS •ILUMINAÇÃOPÚBLICA •PESQUISADESATISFAÇÃO ARTIGOS EMAIS Revista de Administração Municipal – MUNICÍPIOS IBAM Outubro/Novembro/Dezembro 2011 Ano 57 Nº 278 GĞƐƚĆŽ EŶĞƌŐĠƟĐĂ MƵŶŝĐŝƉĂů

Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Citation preview

Page 1: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

•ENTREVISTAS•PARECERESEJURISPRUDÊNCIA•EMFOCO•PERGUNTEAOIBAM

•GESTÃOENERGÉTICA•PROCELGEM•EFICIÊNCIAENERGÉTICA•PRÊMIOPROCELCIDADEEFICIENTE•REDUZINDOASDESPESAS•AEXPERIÊNCIANOAMAZONAS•ILUMINAÇÃOPÚBLICA•PESQUISADESATISFAÇÃO

ARTIGOS EMAIS

Revi

sta d

e A

dm

inis

traçã

o M

unic

ipal –

MU

NIC

ÍPIO

S

IB

AM

O

utu

bro

/No

vem

bro

/Deze

mbro

2011

A

no 5

7

N

º 278

GWゲデ?ラ EミWヴェYピI; M┌ミキIキヮ;ノ

Page 2: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 3

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

OS EDITORES

EDITORIAL

Missão da Revista A missão da Revista é ser um meio de difusão de informação, de estudos, de resultados de pesquisas inéditas e um fórum de debate sobre temas de interesse nacional e internacional relacionados ao federalismo, à descentralização, ao desenvolvimento da capacidade institucional dos governos municipais, à construção de uma sociedade democrática e à valorização da cidadania.

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Após 10 anos da crise de for-necimento de energia elétrica, ocorrido em 2001, que afetou todos os consumidores, em es-pecial os Poderes Públicos, o nú-mero 278 da Revista de Adminis-tração Municipal apresenta uma edição especial sobre o tema Gestão Energética Municipal.

O artigo Gestão Energética e Municípios: Progressos e No-vos Desafios, de Luciana Hama-da, apresenta o cenário energéti-co do setor público e os avanços na aplicação da Metodologia de Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica (PLAMGEs), pelo IBAM, além dos novos desafios e oportunidades que se configuram aos gestores municipais na condução do tema.

As entrevistas e as repor-tagens realizadas com diversas instituições e gestores do sistema elétrico reúnem nesta edição um conjunto de assuntos relevantes e oportunos. Importantes informa-ções sobre a aplicação de recursos dos Programas Anuais de Eficiên-cia Energética das concessionárias distribuidoras de energia elétrica nos Projetos de Gestão Energé-tica Municipal e as mudanças ocorridas na Resolução Norma-tiva n.º 414 da ANEEL pertinen-tes aos Municípios são prestadas por Máximo Luiz Pompermayer e Marcos Bragatto. A experiência da

ELETROBRAS/PROCEL no desen-volvimento de ações para municí-pios em diversos temas – Gestão Energética Municipal, Iluminação Pública e Prédios Públicos – são apresentadas por Fernando Pinto Dias Perrone. Os principais bene-fícios ocorridos com a aplicação da Metodologia de Elaboração de PLAMGEs nos Municípios da área de concessão das concessionárias distribuidoras de energia elétrica são destacados por Evandro Gus-tavo Romanini, Ana Maria Kersting Battaglin e Neusa Maria Lobato Rodrigues. As mudanças trazidas com o estabelecimento de pa-drões de consumo e o gerencia-mento do consumo de energia elétrica nos segmentos de consu-mo – iluminação pública, prédios públicos e sistemas de saneamen-to – por meio da implementação da Metodologia de PLAMGEs são relatadas por Paulo de Tarso Carva-lhaes, do Município de Guarulhos (SP), e Josimar Santana Nogueira, do Município de Santarém (PA).

O Trabalho do PROCEL GEM para Reduzir os Gastos das Prefeituras com Energia Elétrica, de Marcella Fuchs Salo-mão; Informação: O Primeiro Passo das Prefeituras Rumo à Eficiência Energética, de Davi Veiga Miranda; Prêmio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica, de Vanda Alves dos San-tos, e Reduzindo as Despesas dos Municípios com o Uso Eficiente da Energia Elétrica:

O Programa “Comunidades de Aprendizagem em Eficiên-cia Energética”, de Paulo Benet-ti e Clara Ramalho apresentam os resultados dos programas e prin-cipais atividades ofertadas pela ELETROBRAS/PROCEL aos muni-cípios brasileiros.

Anderson Bittencourt apresen-ta as políticas estratégicas que vêm sendo trabalhadas pelo governo do Estado do Amazonas no arti-go A Experiência da Aplicação da Metodologia de GEM no Estado do Amazonas na am-pliação da metodologia de GEM no Estado do Amazonas. Ques-tões Relevantes sobre a Ilu-minação Pública Brasileira, de Luiz Felipe Lacerda Pacheco, contribui para o debate da gestão e operacionalização do serviço de iluminação pública nos Municípios brasileiros. Anderson Ferreira, Con-ceição Dilene Batista Cavalcanti e Sergio Henrique Mourthé Duarte apresentam as estratégias de re-lacionamento da empresa CEMIG Distribuição com os municípios e de satisfação dos(as) prefeitos(as) mineiros(as), com a “Pesquisa de Satisfação da Qualidade Percebida e os Programas de Eficiência Energética no Relacionamento com Prefei-turas Municipais em Minas Gerais”.

Complementam esta edição a seção PARECERES e JURISPRU-DÊNCIA, EM FOCO e PERGUNTE AO IBAM.

Gestão Energética Municipal

Page 3: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro4

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

EXPEDIENTE

A Revista de Administração Municipal – MUNICÍPIOS é uma publicação

do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, de periodicida-

de trimestral, indexada à Qualis CAPES Internacional, depositada na Re-

serva Legal da Biblioteca Nacional e no Centro Brasileiro do ISSN, IBICT

sob o n.° ISSN 0034-7604. Registro Civil de Pessoas Jurídicas n.° 2.215.

Editores

Heraldo da Costa Reis – Editor Técnico

Sandra Mager – Produção GráicaAna Kelly de Jesus – Apoio Editorial

Conselho EditorialAna Maria Brasileiro (UNI FEM/ONU /Washington/Estados Unidos), Celina

Vargas do Amaral Peixoto (FGV/Rio de Janeiro/RJ), Emir Simão Sader(CLACSO/Buenos Aires/ARGENTINA), Fabrício Ricardo de Limas

Tomio(UFPr/Curitiba/PR), Jorge Wilheim (Consultor em urbanismo, São

Paulo/(SP), Paulo du Pin Calmon (UNB/CEAG/Brasília/DF) e Rubem Cé-

sar Fernandes (VIVA RIO/Rio de Janeiro/RJ).

Conselho TécnicoAlexandre Santos, Heraldo da Costa Reis e Marlene Fernandes.

Esta publicação consta do indexador internacional Lilacs – América Latina

e Caribe e nas seguintes páginas:

• FEA/USP - Departamento de Administração• FGV - Biblioteca Mário Henrique Simonsen• UNB - Biblioteca Machado de Assis• Biblioteca Nacional• Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia -Catálogo Coletivo Nacional (CCN)

• Association of Research Libraries• Latin Americanist Research Resources Project• Institut des Hautes Études de l’Amérique Latine - Centrede Recherche et de Documentation sur l’Amérique Latine• Facultad de Ciencias Juridicas y Politicas - Universidad Centralde Venezuela

• HACER - Hispanic American Center for Economic Research

ASSINATURAS

Tel.: (21) 2536-9711/ 2536-9712 • [email protected] da assinatura anual: R$ 48,00

Tiragem: 2 mil exemplares

REDAÇÃO

Coordenação EditorialEdição 1 – Comunicação & Serviços Ltda. • Telefax: (21) 2462-1933Jornalista responsável: Mauricio S. Lima (MTb 20.776)

Jornalismo: Ana Cristina Soares

Revisora gramatical: Lucíola M. Brasil

Programação visual: Virgilio Pinheiro

Foto de Capa: sxc.hu

DEPARTAMENTO COMERCIAL

Contato: (21) 2462-1933

Os artigos reletem a opinião de seus autores. É permitida a suareprodução desde que citada a fonte.

IBAM – Edifício Diogo Lordello de MelloLargo IBAM, 1 – Humaitá – Rio de Janeiro, RJ CEP 22271-070

Tel.: (21) 2536-9797

www.ibam.org.br

Conselho de AdministraçãoEdson de Oliveira Nunes (Presidente), Edgar Flexa Ribeiro, Edvaldo Brito,

Henrique Brandão Cavalcanti, João Pessoa de Albuquerque, Luiz Antonio Santini Rodrigues da Silva, Maria Terezinha Tourinho Saraiva, Mayr Go-

doy, Paulo Alcantâra Gomes, Tito Bruno Bandeira Ryff.

Conselho FiscalAguinaldo Helcio Guimarães, Raymundo Tarcísio Delgado, Willian Alberto

de Aquino Pereira, Paulo Reis Vieira (Suplente), Roberto Guimarães Boclin (Suplente).

Superintendência GeralPaulo Timm

REPRESENTAÇÕES

São PauloAvenida Ceci, 2081 • Planalto Paulista, São Paulo • SP• CEP 04065-004 • Tel/Fax: (11) 5583-3388 • [email protected]

Santa CatarinaRua Sete de Setembro, 483 - sl. 01 - Edifício Ipiranga - Centro - Blumenau- SC - CEP 89010-201 • Tel/Fax: (47) 3041-6262 • [email protected]

SEÇÕES / SECTIONS

PARECERES E JURISPRUDÊNCIA / REPORTS AND JURISPRUDENCE

ARTIGOS E REPORTAGEM /ARTICLES AND REPORTAGE

14– ENTREVISTAS / INTERVIEW

69 – PERGUNTE AO IBAM / ASK TO IBAM

70– EM FOCO / HIGHLIGHTING

05

30

34

40

44

62

66

ÍNDICE

A não recepção dos dispositivos que vinculam o piso salarial dos técnicos em radiologia ao salário mínimo: desdobramentos da decisão cautelar do STF

Gestão energética e municípios: progressos e novos desafios / Energy management and municipal districts: progress and new challenges

Luciana Hamada

O trabalho do PROCEL GEM para reduzir os gastos das Prefeituras com energia elétrica / The work of PROCEL GEM to reduce spending on electricity by local governments

Marcella Fuchs Salomão

Informação: o primeiro passo das Prefeituras rumo à eficiência energé-tica / Information: the first step towards energy efficiency of the muni-cipality

Davi Veiga Miranda

Prêmio Procel Cidade Eficiente em Energia Elétrica / The PROCEL Elec-tric Energy Efficient City Award

Vanda Alves dos Santos

Reduzindo as despesas dos municípios com o uso eficiente da energia elétrica: o programa “Comunidades de Aprendizado em Eficiência Ener-gética” / Cutting the municipalities expenses with electric power energy efficiency: the program “Learning Communities in Efficiency Energy”

Paulo C. A. Benetti e Clara R. J. Lacerda Ramalho

A experiência de aplicação da metodologia de GEM no Estado do Ama-zonas / The experience of the application of the methodology of GEM in the State of Amazonas

Anderson Silva Bittencourt

Questões relevantes sobre a iluminação pública no Brasil / Relevant issues on the public lighting in Brazil

Luiz Felipe Lacerda Pacheco

37

49

Limites à iniciativa legislativa e o princípio da reserva da administração

54 Pesquisa de satisfação da qualidade percebida e os programas de eficiên-cia energética no relacionamento com prefeituras municipais em Minas Gerais / Satisfaction Research of Perceived Quality and Energy Esficiency Programs with Municipal Authorities of Minas Gerais Anderson Ferreira, Conceição Dilene Batista Cavalcanti, Sergio Henrique Mourthé Duarte

Page 4: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 5

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

RESUMO

Gestão energética e municípios: progressos e novos desafios

GESTÃO ENERGÉTICA

O artigo constata o cenário energético para o Setor Público e os avanços na disseminação dos princípios da Gestão Energética Municipal e na aplicação da Metodologia de Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica (PLAMGEs) nos municípios brasileiros, acompanhados pelo IBAM e pela ELETROBRAS/PROCEL. Ao final, são apresentados os novos desafios e oportunidades que se configuram aos gestores municipais na condução da gestão da energia elétrica.

Palavras-chave: Gestão Energética Municipal. Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica. Eficiência Energética.

LucianaHamadaArquiteta e urbanista, mestre em Conforto Ambiental e Eficiência Energética, Coordenadora do Programa de Eficiência Energética do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM/[email protected]

APRESENTAÇÃO

Em abril de 2001, a Edição 228 da Revista de Administração Municipal foi dedicada à divulga-ção do empenho dos municípios e da União nos programas de combate ao desperdício de energia elétrica existentes. Na ocasião, devido à crise do for-necimento de energia elétrica, iniciava-se o racionamento e a necessidade do comprometi-mento das Administrações Mu-nicipais na adoção de medidas estratégicas para o enfrentamen-to da situação.

Diante das circunstâncias apresentadas, foi instituído pelo Governo Federal o Programa de Racionamento que vigorou no período de 1o de junho de 2001 a 28 de fevereiro de 2002. Esse programa abrangeu todos os con-

sumidores das regiões afetadas pela crise com consumo mensal acima de 100kWh, ficando sujei-tos ao corte de energia elétrica por descumprimento da meta de economia estipulada por cada classe de consumo (comercial, industrial, residencial e poderes públicos).

Para as Administrações Pú-blicas, os pressupostos da Re-solução n.o 8, de 25 de maio de 2001, emitida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)1 determinavam que as Prefeituras Municipais deve-riam economizar entre 25% e 35% nos gastos com energia elétrica, para as unidades con-sumidoras classificadas como Poder Público; 20% de redução na área de educação; 35% na iluminação pública e; 10% na área de saúde. As ações então

providenciadas pelas diversas Administrações Municipais em seus setores de consumo in-cluíram desde a alteração do horário de funcionamento do expediente, a diminuição do número de lâmpadas acesas e do uso de aparelhos de ar--condicionado até a troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes.

Em decorrência da crise de 2001, surgiram as primeiras ini-ciativas federais em termos de legislações para a promoção da eficiência energética no País. O destaque foi para os comandos da Lei n.º 10.295, de 17 de outubro de 2001, que “dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia”, determinando que o Poder Executivo deve estabelecer níveis máximos de

Page 5: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro6

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

consumo específico de ener-gia, ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia elétrica fabricados ou comercializados no Brasil; e que este desenvolva mecanismos que promovam a eficiência energética nas edificações cons-truídas no País.

No mesmo período, no âmbi-to da parceria entre o IBAM e a ELETROBRAS/PROCEL, aplicou--se em dez municípios-pilotos de diversas regiões do Brasil (Carazinho – RS / Cascavel – PR / Dourados – MS / Guarulhos – SP / Itabaininha – SE / Natal – RN / Nazaré da Mata – PE / Para-guaçu – MG / Parauapebas – PA / Serra – ES) a Metodologia de Elaboração de Planos Munici-pais de Gestão da Energia Elétrica – PLAMGEs, associada

à utilização do software Sistema de Informação Energética Municipal – SIEM, com o intui-to de desenvolver a competência municipal na gestão do consumo de energia elétrica.

Passados 10 anos e 290 implementações da Metodolo-gia de PLAMGEs, o desafio da gestão da energia elétrica pelo administrador municipal perma-nece atual e necessário, espe-cialmente, após as discussões e os acordos na esfera nacional e mundial realizados sobre o clima em que as ações de eficiência energética foram ampliadas em consideração à sua importância na minimização das mudanças climáticas.

Este artigo apresenta o atual cenário energético para o setor público e os avanços na aplica-ção da Metodologia de PLAM-

GEs nos municípios brasileiros acompanhados pelo IBAM e pela ELETROBRAS, além dos novos desafios e oportunidades que se configuram aos gestores munici-pais na condução do tema.

CENÁRIO ENERGÉTICO DO SETOR PÚBLICO

O Balanço Energético Nacio-nal (EPE/MME, 2011)2, elabo-rado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE)3 do Ministério de Minas e Energia, aponta que, mesmo após as medidas adota-das durante o racionamento de 2001, o consumo de energia elétrica pelo Setor Poder Público se apresenta crescente, conforme dados ilustrados na Tabela 1.

Em 2010, o consumo to-tal de energia elétrica no País foi de 455.660GWh, sendo 37.016GWh relativo ao Poder Público, o que representa 8% do consumo total.

O BEN de 2011 aponta, ainda, que a principal fonte energética utilizada pelo Setor Poder Público foi a eletricidade, representando 87,5% do consumo total. O consumo de outras fontes de energia, como óleo diesel, óleo combustível e outros5, apresen-tam participações reduzidas com 0,3%, 0,1% e 12,1%, respecti-vamente. A Tabela 2 apresenta a evolução do consumo dos ener-géticos pelo Setor Poder Público, entre 2001 e 2010.

Quanto à projeção do consumo de energia elétrica para os Poderes Públicos6, as análises realizadas no

Em 2010, o consumo total de energia elétrica no País foi de 455.660GWh, sendo 37.016GWh relativo ao Poder Público, o que representa 8% do consumo total

Page 6: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 7

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAMGESTÃO ENERGÉTICA

Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE, 2019)7 consideram uma taxa média de crescimento em torno de 4% ao ano, para o período de 2010 a 2019. A Tabe-la 3 apresenta o comparativo do consumo de eletricidade na rede pelas Classes Residencial, Indus-trial, Comercial e Outros.

Vale destacar ainda, no mes-mo estudo, a expectativa de con-servação de energia elétrica para a Classe “Outros Setores”, que

será igual a 3,5% do consumo, em 2019, conforme apresentado na Tabela 4.

As análises realizadas no PDE 2019 consideram a existência de duas vertentes relacionadas ao aumento da eficiência energéti-ca: (i) o primeiro denominado aumento tendencial corresponde ao aumento da eficiência em uma trajetória do tipo business as usual e inclui a reposição tec-nológica pelo término da vida útil de equipamentos e os efeitos de programas e ações de conserva-

ção já em prática no País; e (ii) o segundo denominado aumento induzido refere-se à instituição de programas e ações adicionais orientados para determinados se-tores, refletindo políticas públicas, programas e mecanismos ainda não implantados no Brasil.

Em consideração aos pressu-postos apresentados e a capaci-dade da redução de consumo de energia elétrica por parte do con-junto dos municípios brasileiros,

é possível afirmar que, por meio da Gestão Energética Municipal, há um importante potencial a ser considerado, capaz de contribuir com esse esforço.

GESTÃO ENERGÉTICA MUNICIPAL: PROGRESSOS ESTABELECIDOS PARA O TEMA

Ao longo da parceria de 15 anos com a ELETROBRAS/PRO-CEL, o IBAM vem consolidando a Gestão Energética Municipal

nos municípios brasileiros, um trabalho que contemplou inicial-mente ações de conscientização e sensibilização para o tema com a elaboração de guias técnicos em eficiência energética, estudos sobre o sistema de iluminação pública nos municípios brasilei-ros, diagnósticos energéticos em prédios públicos e a realização de cursos de capacitação para técnicos municipais, com o intui-to de promover a gestão do uso

eficiente da energia elétrica na Administração Municipal.

Entre os trabalhos mais sig-nificativos, destaca-se a criação em 1998, da Rede Cidades Eficientes em Energia Elé-trica – RCE, a elaboração e a implementação da Metodolo-gia de Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica – PLAM-GEs, iniciada em 2001, e a realização anual do Prêmio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica.

Gestão Energética

Page 7: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro8

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

A RCE, que atualmente conta com 941 municípios associados, foi criada inicialmente com o objetivo de promover o inter-câmbio de informações e de projetos de eficiência energé-tica, visando contribuir para o aperfeiçoamento da gestão da energia elétrica dos municípios associados. Desde a sua criação, o Escritório Técnico da RCE está instalado na sede do IBAM, que fornece apoio técnico, logístico e de infraestrutura, visando ao seu pleno funcionamento. No momento, a ELETROBRAS/PRO-CEL e o IBAM avaliam a nova forma de atuação da RCE, com a finalidade de remodelar a sua estrutura, de forma que possa torná-la ainda mais atrativa aos seus associados.

Ao longo do período de 2001 a 2010, a aplicação e o estabelecimento da Metodologia de Elaboração de PLAMGEs em diversos municípios brasileiros tornaram-se possível com a promulgação da Lei n.o 9.991, de 24/07/2000. Esta Lei determina a realização de investimentos em eficiência energética, no montante equivalente a 0,5%, das Receitas Operacionais Lí-quidas (ROLs) das concessio-nárias distribuidoras de energia elétrica, por meio do Programa de Eficiência Energética (PEE), regulamentado e supervisionado pela ANEEL, especialmente em Projetos de Gestão Energética Municipal.

Por meio dos PEEs, as parce-rias com as concessionárias distri-buidoras de energia elétrica têm se apresentado fundamentais para o desenvolvimento da com-petência da gestão do consumo da energia elétrica nos municípios das suas áreas de concessão.

Nos últimos 10 anos, 290 municípios foram contemplados

com a metodologia PLAMGE, cujos resultados, no período de 2001 a 2007, apontaram um potencial de redução do consumo de energia elétrica, no

período de 2001 a 2007, nas Etapas de Organização e Ge-renciamento, de 122GWh/ano, o que equivale a uma economia de recursos em torno de R$ 21 milhões/ano.

As ações recomendadas pelos PLAMGEs incluíram prin-cipalmente a melhoria da gestão e da eficiência energética do sistema de iluminação pública e de abastecimento de água, o monitoramento e o controle da demanda de energia elétrica nos prédios públicos e a formação de professores na metodologia PROCEL nas Escolas para atua-rem como agentes multiplicado-res na sensibilização dos alunos e de suas famílias.

Com o objetivo principal de auxiliar os municípios a me-lhor gerenciar o consumo de energia elétrica, de modo que se reduzam os desperdícios e os gastos com esse insumo, foi criado em 2003 pelo PRO-CEL o subprograma PROCEL GEM. Além da Metodologia de Elaboração de PLAMGEs, foi criado o Projeto Comunidades de Aprendizado e vêm sendo realizados treinamentos em Gestão Energética Municipal, iluminação pública e prédios públicos, como formas de complementar o atendimento aos municípios interessados na gestão e no uso eficiente da energia elétrica.

A experiência adquirida pelo IBAM e pela ELETROBRAS/

Agestãoeiciente

daenergiaelétrica

destaca-secomouma

dasprincipaisações

dodesenvolvimento

sustentável,evitando

odesperdícioe

possibilitando

signiicativa

economiaderecursos,

quepodemser

direcionadospelo

Executivoparaoutros

setoresprioritáriosda

PrefeituraMunicipal

Page 8: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 9

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAMGESTÃO ENERGÉTICA

PROCEL, na implementação da Gestão Energética Municipal e, em especial dos PLAMGEs, fa-voreceu, em 2009, a renovação da parceira entre as instituições. O objetivo foi a atualização dos métodos e dos avanços do SIEM, na versão em Plataforma Web, permitindo a incorpora-ção de recomendações práti-cas, testadas e aprimoradas, buscando maior eficácia dos resultados de eficiência ener-gética com as municipalidades.

Destacam-se ainda a rea-lização de Cursos de Multipli-cadores na Metodologia de PLAMGEs, duas últimas edições do Prêmio PROCEL Cidade Efi-ciente em Energia Elétrica, além da revisão e atualização dos Guias Técnicos “Modelo para Elaboração de Código de Obras e Edificações” e o “Planejamen-to Urbano e o Uso Eficiente da Energia Elétrica”, com o intui-to de incorporar a legislação pertinente, instituída na última década, bem como os aspectos relacionados à sustentabilidade ambiental e urbana.

Os Cursos de Multiplicadores na Metodologia de PLAMGEs têm como objetivo principal fo-mentar a criação de uma rede de profissionais no âmbito nacional com o propósito de disseminar a aplicação da GEM nos municípios brasileiros. Os cursos são reali-zados de forma eminentemente práticos, tendo como apoio a utilização do software SIEM 6.0, na versão WEB, para a resolução das atividades.

Até o momento, foram certi-ficados 45 profissionais, prove-nientes de diversas regiões do Brasil, por meio de um sistema amplo de avaliação com crité-rios acordados entre o IBAM e a ELETROBRAS/PROCEL e que compreende, entre outros aspec-

tos, a aplicação de dez avaliações, previamente preparadas pelos instrutores.

O Prêmio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica, que teve em 2011 a sua 8ª Edição, é considerado como uma das ações que mais contribuem para a divulgação da eficiência energé-tica nos municípios, pois, além de reconhecer e premiar as cidades que mais se destacaram com ações e iniciativas eficientes no uso da energia elétrica, possibilita a replicação de experiências exi-tosas em eficiência energética e incentiva que as concessionárias de energia elétrica realizem ações nos municípios.

Desde o seu lançamento, em 2000, o Prêmio já foi concedido a 32 experiências de 27 muni-cípios, além de reconhecer seis Prêmios Destaque em Promoção dos Conceitos de Eficiência Ener-gética de experiências municipais e estaduais.

Ao longo das edições, essa premiação vem se consagrando como uma referência para os municípios e o setor elétrico, pois, além da premiação da

experiência local, as parcerias8 participantes do projeto são agraciadas com “Reconheci-mento de Mérito” pelas ações desempenhadas na Administra-ção Municipal.

NOVOS DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA OS MUNICÍPIOS

Além das experiências já mencionadas, novos desafios e oportunidades vêm se configu-rando para o gestor público na Gestão Energética Municipal. Descritos, a seguir, referem-se ao atual cenário energético e ambiental, abrangendo diferen-tes enfoques dados à questão e que confirmam a importância da promoção de ações de ges-tão eficiente da energia elétrica nas competências atribuídas ao Poder Público municipal.

•Mudanças Climáticas Além dos benefícios da redu-ção da conta e do consumo, os estudos desenvolvidos pelo Painel Intergovernamental so-bre Mudança do Clima (IPCC,

Gestão Energética

Page 9: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro10

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

2007) apontam que as ações de eficiência energética re-presentam uma das principais oportunidades para a redução da emissão de fontes emissoras de gases de efeito estufa (GEE), para alguns dos setores identi-ficados como principais fontes poluidoras .

Segundo dados do “Estudo de Baixo Carbono para o Brasil” (GOUVELLO, 2010), as emis-sões de gases causadores do efeito estufa das áreas urbanas são decorrentes principalmen-te, do consumo de energia (18%), do transporte (11%) e da disposição final dos resíduos sólidos (5%). Estima-se que, em uma cidade média, a Pre-feitura Municipal responda por até 10% das emissões totais, o que a caracteriza como a maior emissora individual da cidade. Esta condição ressalta a impor-tância do papel dos governos locais para influenciar e controlar diversas atividades poluidoras e emissoras de GEE.

• Plano Nacional sobre

Mudança do Clima (PNMC, 2008)

Lançado em dezembro de 2008 pelo Governo Federal, visa incentivar o desenvolvimento e o aprimoramento de ações de mitigação no Brasil, colaborando com o esforço mundial de redu-ção das emissões de gases de efeito estufa, bem como objetiva a criação de condições internas para lidar com os impactos das mudanças climáticas globais (adaptação). A aplicação do PNMC não se restringe somente à esfera interministerial, mas ao empenho em nível nacional, que conta com a contribuição tanto de estados quanto de municípios.

Entre as oportunidades de práticas de mitigação11 para as

condições brasileiras, identifi-cadas para o Setor de Energia, foram consideradas: (i) a me-lhoria da eficiência da oferta e distribuição de energia; e (ii) a substituição de combustíveis mais carbono-intensivos por aqueles com menor teores de carbono ou por combustíveis de fontes renováveis, e captação e armazenamento de carbono.

A redução do consumo de energia foi apontada como a mais barata e ambientalmente mais sustentável do que a ener-gia economizada, com potencial atual de conservação da ordem de 32TWh de energia elétrica e de 6 milhões de toneladas equi-valentes de petróleo.

Apesar de se ter clareza de que as contribuições brasileiras em emissões são, em sua maior parte, oriundas do desmatamen-to e queimadas, e que o Brasil dispõe de uma matriz energética bastante favorável nesse quesito, sabe-se que há um potencial im-portante de redução de consumo de energia elétrica, especialmen-te nas cidades, na esfera pública, por meio de ações de gestão e da implementação de projetos eficientes.

•Plano Nacional de Efici-ência Energética 2030 (PNEf, 2011)

Promulgado em outubro de 2011, o PNEf orienta as ações a serem implementadas com vistas a contribuir com as metas de economia de energia no con-texto do Planejamento Energético Nacional.

Segundo suas premissas e diretrizes básicas, a meta de redução é de 10% (aproxima-damente 106TWh) do consu-mo de energia elétrica ao final de 2030. Para alcançar este objetivo, o PNEf deve identificar

os instrumentos de ação e de captação dos recursos, de pro-moção do aperfeiçoamento do marco legal e regulatório afeto ao assunto, de forma que se possibilite um mercado susten-tável de eficiência energética e se mobilize a sociedade brasi-leira no combate ao desperdí-cio de energia.

Vale destacar, também, as li-nhas e as ações propostas e o po-tencial de redução do consumo energético, para os sistemas de iluminação pública, saneamento e prédios públicos, segmentos de consumo mantidos pelo Município.

• Conferência das Na-ções Unidas sobre Desen-volvimento Sustentável (UNCED) Rio + 20

Com o intuito de marcar o 20º aniversário da UNCED 1992, ocorrida no Rio de Ja-neiro, e o 10º aniversário da Cúpula Mundial para o Desen-volvimento Sustentável 2002 (WSSD), realizado em Joanes-burgo, foi prevista a Conferên-cia Internacional prevista para ocorrer em junho de 2012, no Rio de Janeiro, com a par-ticipação de chefes de Estado e de Governo. A conferência objetiva garantir um compro-misso político renovado para o desenvolvimento sustentável, avaliar o progresso alcançado e as lacunas ainda existentes na implementação dos resultados das grandes cúpulas sobre desenvolvimento sustentável e enfrentar os desafios novos e emergentes.

A gestão eficiente da ener-gia elétrica destaca-se como uma das principais ações do desenvolvimento sustentável, evitando o desperdício e possi-bilitando significativa economia

Page 10: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 11

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAMGESTÃO ENERGÉTICA

de recursos, que podem ser di-recionados pelo Executivo para outros setores prioritários da Prefeitura Municipal. A redução da demanda em energia elé-trica contribui essencialmente para a preservação ambiental, postergando a construção de novas hidrelétricas e a utilização de outras fontes de energia alta-mente intensivas em petróleo, como as termelétricas (HAMA-DA, 2006).

• A B N T N B R I S O 50.001:2011 – Sistemas de Gestão de Energia – Requisi-tos com Orientações de Uso

Publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em julho deste ano, a ISO 50.001 é a primeira norma padrão internacional, criada para orientar a implantação e a manu-tenção de Sistemas de Gestão de Energia.

O seu objetivo é permitir que as organizações públicas e privadas estabeleçam siste-mas e processos necessários para melhorar o desempe-nho de energia, incluindo eficiência, uso, consumo e intensidade da energia. Para a implementação da ISO 50.001 recomenda-se a considera-ção das reduções em custos de energia, das emissões de gases de efeito estufa e de outros impactos ambientais, por meio de gestão sistemáti-ca de energia. Ela é aplicável a todos os tipos e tamanhos de organizações independen-tes de condições geográficas, culturais ou sociais.

Com a ISO 50.001, o poten-cial da ampliação da metodolo-gia de elaboração de PLAMGEs torna-se promissor uma vez que a aplicação das premissas da Gestão Energética Munici-

pal permitirá a certificação das Administrações Públicas em conformidade com as ações administrativas de gestão do consumo de energia elétrica e de eficiência energética.

•Resolução Normativa no 414 da ANEEL

Promulgada em setembro de 2010, a resolução estabelece as condições gerais de fornecimen-to de energia elétrica. Em sua versão revista, traz mudanças pertinentes a todos os consu-midores de energia elétrica, especialmente aos municípios, que entre os pressupostos, de-termina a transferência ao Poder Público Municipal dos ativos do sistema de iluminação pública que pertencem às distribuidoras de energia elétrica.

Em decorrência da impor-tância desta determinação, a ANEEL estabeleceu, por meio da Nota Técnica n.º 021/2011-SRC/ANEEL, o mês de julho de 2013 como novo prazo para o processo de transferência. Para a discussão do tema, foram previstas pela ANEEL Audiências Públicas nos municípios de Ma-naus, Recife, São Paulo e Belo Horizonte.

Segundo dados do PRO-CEL Reluz (2008), a ilumina-ção pública é responsável por aproximadamente 2,94% da energia elétrica total consumida no Brasil, o equivalente a um consumo de 10,6 milhões de kWh/ano.

•Etiquetagem do Nível de Eficiência Energética de Edificações

Na última década, em de-corrência da crise de energia elétrica, ocorrida em 2001, o Governo Federal vem se empenhando para cumprir as

determinações instituídas pela Lei de Eficiência Energética. Em especial às edificações, para a regulamentação da Lei, foi promulgado o Decreto n.º 4.059 (19/12/2001), que, em seu artigo 2º, determina que o Poder Executivo deve-rá desenvolver mecanismos que promovam a eficiência energética nas edificações a serem construídas no País. O mesmo decreto instituiu, ain-da, o Comitê Gestor de Índices e Níveis de Eficiência Energé-tica – CGIEE, apoiado pelo Grupo Técnico de Energia em Edificações – GT Edificações.

Pelo conhecimento em revisão e atualização e/ou elaboração de leis específicas, como o Código de Obras e Edificações e Planos Diretores, o IBAM integrou a Secretaria Técnica (ST) do Grupo Técnico Edificações. A ST teve como atribuições adotar procedimen-tos para avaliação de eficiência energética das edificações, definir indicadores técnicos referenciais do consumo de energia das edificações para certificação de sua conformida-de com a eficiência energética e elaborar requisitos técnicos para que os projetos de edifi-cações a serem construídos no País atendam aos indicadores preestabelecidos.

Como resultados dos tra-balhos desempenhados pela ST, foram lançados pela ELE-TROBRAS e o INMETRO a Etiqueta Nacional de Con-servação de Energia em Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos, em junho de 2009, e a Etiqueta Nacional de Conservação de Energia de Edifícios Residenciais, em novembro de 2010.

Gestão Energética

Page 11: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro12

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O Requisito de Avaliação da Conformidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifí-cios Comerciais, de Serviços e Públicos (RAC-C) especifica requisitos técnicos necessá-rios para a classificação do nível de eficiência energética para três sistemas principais: o desempenho térmico da envoltória, a eficiência e po-tência instalada do sistema de iluminação e a eficiência do sistema de condicionamento do ar, por meio de sua clas-sificação que pode ser de A (mais eficiente) até E (menos eficiente).

Quanto ao Requisito de Avalia-ção da Conformidade para o Nível de Eficiência Energética de Edi-fícios Residenciais (RAC-R), são detalhados os requisitos técnicos necessários para a classificação do nível de eficiência energética do desempenho térmico da en-voltória (fachadas e coberturas), assim como a eficiência do sis-tema de aquecimento de água. São outorgadas etiquetas para unidades residenciais autônomas, edificações multifamiliares e para áreas de uso comum de edifica-ções residenciais multifamiliares.

As etiquetagens são de caráter voluntário para edificações novas e existentes e passará a ser obri-gatório para edificações novas em prazo a ser definido pelo Ministério de Minas e Energia e o INMETRO. Aos administradores municipais, será oportuno con-siderar a adequação do cumpri-mento dos novos índices a serem estabelecidos nos instrumentos edilícios e urbanísticos da com-petência dos municípios.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências municipais acompanhadas e apoiadas

pelo IBAM e pela ELETRO-BRAS/PROCEL nos últimos anos demonstram que os municípios brasileiros vêm ampliando o seu papel de consumidor como planejador consciente do consumo de energia elétrica nos segmentos de responsabilidade da Admi-nistração Municipal.

A incorporação da gestão do uso eficiente da energia elétrica, estimulada a par-tir da década de 90, vem mostrando que esta é uma importante ferramenta para a redução do consumo de energia elétrica nos usos finais (iluminação, climatiza-ção etc). Diante de tantas ações de eficiência energéti-ca aplicadas nos municípios brasileiros e oportunidades para o desenvolvimento e a ampliação da Gestão Ener-gética Municipal, observa-se ainda que o potencial de economia de energia elétrica nos municípios é bastante considerável.

De acordo com a Associa-ção Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia – ABESCO, para a Classe Poder Público, existe um potencial técnico de economia de energia que alcança cerca de 1.575.433MWh/ano (ABESCO, 2006).

A aplicação da Metodolo-gia de PLAMGEs aprimorada pelo IBAM em parceria com a ELETROBRAS/PROCEL pos-sibilitou avaliar os resultados das ações de gestão eficien-te, por meio do método de Medição e Verificação (M&V), cujos resultados de estudos de caso aponta-ram para um Município de médio porte, uma redução imediata de consumo de

energia elétrica, em torno de 1.000MWh, que corresponde a aproximadamente 4%, ou seja, cerca de R$ 300.500,00 / ano de economia nas con-tas públicas.

Entre as ações de gestão eficiente executadas nas Uni-dades Consumidoras (UCs) municipais, destacam-se a atualização do cadastro, a ava-liação do cancelamento de cobrança em instalações com consumo mínimo, a redução de multas por atraso de paga-mento, a identificação do uso indevido de energia elétrica por terceiros, a reavaliação do grupo tarifário e a redução do fator de potência.

Além deste potencial de economia, caso os municípios executem os projetos de efici-ência energética propostos nos PLAMGEs, poderão alcançar uma redução em torno de 38,6 % no consumo de energia elétrica, o que corresponderia a 10.000MWh/ano ou seja, cerca de R$ 3.000.000,00 que deixa-riam de ser gastos anualmente.

A implementação da me-todologia, além de possibilitar efetiva redução no consu-mo de energia elétrica e, por conseguinte, nas despesas municipais, proporciona uma interlocução positiva entre as concessionárias distribuidoras de energia elétrica e os muni-cípios pertencentes à sua área de concessão.

O IBAM, atento a este cenário, vem cumprindo com o seu papel de difusor de boas práticas em energia elétrica, desenvolvendo mecanismos que promovem a eficiência energética no âmbito municipal e aperfeiçoando os produtos às novas demandas surgidas no tema da Gestão Energetica Municipal.

Page 12: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 13

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM GESTÃO ENERGÉTICA

1 Criada em 1998 pelo Governo Federal, como parte integrante de um conjunto de reformas das regras setoriais, a ANEEL é o órgão regulador e fiscalizador dos serviços públicos de energia elétrica.2 Entre as competências da EPE, destacam-se a elaboração e a publicação do Balanço Energético Nacional – BEN. O relatório consolidado do BEN documenta e divulga, anualmente, extensa pesquisa e a contabilidade relativas à oferta e ao consumo de energia no Brasil, contemplando as atividades de extração de recursos energéticos primários, sua conversão em formas secundárias, a importação e exportação, a distribuição e o uso final da energia.3 A EPE é uma empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, instituída nos termos da Lei n.° 10.847, de 15 de março de 2004, e do Decreto n.° 5.184, de 16 de agosto de 2004, em decorrência das mudanças institucionais ocorridas no setor energético ao longo dos últimos 15 anos. Sua finalidade é prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinados a subsidiar o planeja-mento do setor energético, tais como: energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência energética, dentre outras.4 Segundo a Resolução 456/2000 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), para o consumo do Poder Público, devem ser consideradas as seguintes subclasses: Poder Público Federal, Poder Público Estadual ou Distrital e Poder Público Municipal.5 A fonte “outros” se refere ao gás natural e liquefeito de petróleo.6 Os estudos do PDE consideram o Setor Poder Público na Classe “Outros Setores”, juntamente com os Setores Agropecuário, Energético e Transportes.7 O PDE, elaborado pelo EPE, tem como objetivo a avaliação das adequações das políticas e ações dos agentes do setor elétrico para a garantia do abastecimento do mercado nacional de energia, no horizonte dos próximos dez anos.8 Destacam-se as concessionárias distribuidoras de energia elétrica, o SEBRAE, as instituições de pesquisa e as empresas de prestação de serviços.9 O IPCC é o principal organismo internacional para a avaliação das mudanças climáticas, por meio de estudos científicos sobre o estado atual do conhecimento na mudança do clima e seus poten-ciais impactos ambientais e socioeconômico. Estabelecido pelo Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM), é aberto a todos os países-membros das Nações Unidas (ONU) e da OMM, sendo constituído atualmente por 194 países membros.10 As principais fontes poluidoras citadas no estudo foram o suprimento de energia, transporte, indústrias, edifícios, agricultura, queimadas de florestas e incineração de resíduos.11 Entende-se por mitigação as mudanças e as substituições tecnológicas que reduzam o uso de recursos e as emissões por unidades de produção, bem como a implementação de medidas que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros de carbono.

NOTAS

ABSTRACT

RESUMEN

Energy management and municipal districts: progress and new challenges

The article notes the energy scenario for the Public Sector and advances in the dissemination of the principles of the Municipal Energy Management and the application of the Methodology for Municipal Development Plan for the Management of Electrical Energy (PLAMGEs) in Brazilian Municipalities, supervised by IBAM and ELETROBRAS PROCEL. At the end presents new challengers and opportunities that shape the conduct of municipal managers in the management of electrical energy.

Keywords: Municipal Energy Management. Municipal Plan for the Management of Electrical Energy. Energy Efficiency.

La gestión energética y los municipios: avances y nuevos desafíos

El artículo señala el escenario energético para el sector público y los avances en la difusión de los principios de la gestión energética municipal y la aplicación de la Metodología para el Plan de Desarrollo Municipal para la Gestión de la Energía Eléctrica (PLAMGEs) en los municipios brasileños, supervisados por IBAM y PROCEL ELETROBRAS. Al final se presentan nuevos desafíos y oportunidades que dan forma a la conducta de los gestores municipales en la gestión de la energía eléctrica.

Palabras clave: La Gestión Energética Municipal. Plan Municipal para la Gestión de la Energía Eléctrica. Eficiencia Energética.

ABESCO. Associação Brasileira das Empresas dos Serviços de Conservação de Energia. Apresenta informações sobre as empresas de engenharia especializadas em servi-ços de conservação de energia e projetos de eficiência energética. Disponível em: <http://www.abesco.com.br/siterobot/>. Acesso em outubro de 2011.ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, 2011. Apresenta informações sobre os principais serviços de normalização e certificação de processos, material, produtos e empresas. Disponível em <http://www.abnt.org.br/>. Acesso em outubro de 2011.ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília, MME, 2011. Apresenta informações sobre os Programas de Eficiência Energética e do Setor Elétrico. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em setembro de 2011.BALANÇO ENERGÉTICO NACIONAL. Rio de Janeiro. Empresa de Pesquisa Energética, 2011. 267 p. Disponível em: <https://ben.epe.gov.br/BENRelatorioFinal2011.aspx>. Acesso em setembro de 2011.GOUVELLO, C. Estudo de baixo carbono para o Brasil. Brasília: Banco Mundial, 2010. 280 p. Disponível em: <http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resources/3817166-1276778791019/Relatorio_Principal_integra_Portugues.pdf>. Acesso em outubro de 2011.HAMADA, L. Energia elétrica e Municípios: cenários de eficiência. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Administração Municipal, 2006, 15p.PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Rio de Janeiro, MME, 2011. Apresenta áreas de atuação do PROCEL e informações do setor elétrico. Disponível em: <http://www.eletrobras.com/procel>.PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA. Quarto Relatório de Avaliação do IPCC, Grupo de Trabalho III. OMM/PNUMA, 2007. 42p.PLANO DECENAL DE EXPANSÃO DE ENERGIA. Rio de Janeiro. Empresa de Pesquisa Energética, 2011. 332 p. Disponível em: <http://www.epe.gov.br/PDEE/20101129_1.pdf>. Acesso em novembro de 2011.PLANO NACIONAL DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA. Brasília. Ministério de Minas e Energia, 2011. 156 p. Disponível em <http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/PlanoNacEfiEnergetica.pdf>. Acesso em outubro de 2011.PLANO NACIONAL DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Brasília. Ministério de Meio Ambiente, 2008. 132 p. <http://www.mma.gov.br/estruturas/smcq_climaticas/_publica-cao/141_publicacao07122009030757.pdf>. Acesso em outubro de 2011.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Gestão Energética

Page 13: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro14

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro14

ENTREVISTA

Gestão Energética Municipal

A crise do fornecimento de energia elétrica em 2001 e o comprometimento do gestor municipal com o

Programa de Racionamento instituído pelo Governo Federal lançaram um cenário de ações e iniciativas

para a promoção da eficiência energética no País. Cerca de 10 anos depois, a Revista de Administração

Municipal – Municípios em edição especial traz uma reportagem com alguns dos maiores especialistas em

Gestão Energética Municipal e as experiências da ELETROBRAS, ANEEL, ELETRONORTE, Elektro, COPEL e das

Prefeituras Municipais de Guarulhos e Santarém.

O desenvolvimento de ações para os municípios como treinamentos, linhas de financiamentos, entre outros,

assim como a aplicação dos recursos dos Programas Anuais e Eficiência Energética das concessionárias, os

benefícios com a aplicação da Metodologia de Elaboração de PLAMGEs e os principais resultados e mudanças

trazidas com o estabelecimento de padrões de consumo foram alguns dos assuntos abordados nas entrevistas.

Esta edição contou com a colaboração de nomes como Fernando Pinto Dias Perrone, chefe do Departamento

de Projetos de Eficiência Energética da ELETROBRAS; Máximo Luiz Pompermayer, superintendente de Pesqui-

sa e Desenvolvimento e Eficiência Energética da ANEEL; Marcos Bragatto, superintendente de Regulação da

Comercialização da Eletricidade – SRC; Neusa Maria Lobato, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento

Tecnológico e Eficiência Energética da ELETRONORTE; Evandro Gustavo Romanini, coordenador do Programa

de Eficiência Energética da Elektro; Ana Maria Kersting Battaglin, superintendente Comercial de Distribuição da

COPEL; Paulo de Tarso Carvalhaes, diretor do Departamento de Iluminação da Secretaria de Obras da Prefei-

tura Municipal de Guarulhos (SP) e Josimar Santana Nogueira, coordenador da Unidade de Gestão Energética

Municipal de Santarém (PA).

Page 14: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 15

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

ENTREVISTA COM FERNANDO PERRONE

Apoio aos projetos é fundamental

Para Fernando Perrone, chefe do Departamento

de Projetos de Eficiência Energética da ELETRO-

BRAS, as ações implementadas no setor público

dependem muito do interesse e do comprometi-

mento dos gestores com o assunto

“Sem envolvimento e sem apoio dos gestores públicos, há mais dificuldades no desen-volvimento dos projetos, e os resultados são, normalmente, menos significativos”. Este é o pensamento de um dos maio-res especialistas em eficiência energética do país para o setor público. Em entrevista exclusiva para a Revista de Administração Municipal – Municípios, Fernando Perrone, chefe do Departamento de Projetos de Eficiência Energé-tica da ELETROBRAS, falou, em detalhes, sobre a experiência da ELETROBRAS/PROCEL no de-senvolvimento de diversas ações para municípios em áreas como gestão energética municipal, ilu-minação pública, prédios públicos e sistemas de saneamento.

RAM: Quais as principais formas de atuação da ELETROBRAS/PROCEL voltadas para o setor público, notadamente com as Prefeituras?

Fernando Perrone: O PROCEL é dividido em subprogramas seto-riais, com áreas de atuação específi-cas, e quatro deles são de interesse

do setor público: o PROCEL Sanear cuida da eficiência energética no setor de saneamento, que é uma atribuição dos governos municipais; o PROCEL EPP atua na eficiência no uso da energia elétrica nos prédios públicos nas três esferas – federal, estadual e municipal; o PROCEL Reluz atua especificamente na iluminação pública e na iluminação semafórica a LED, outra atribuição das Prefeituras municipais e que representa a maior parte de seu consumo de energia elétrica; e o PROCEL GEM atuando na gestão e no controle do uso da energia elétrica nas unidades consumido-ras da Prefeitura.

RAM: Existe alguma ação inicial a ser seguida?

Fernando Perrone: Considera-mos que o PROCEL GEM seja o passo inicial para qualquer ação de eficiência energética no setor público por diagnosticar e orientar os administradores públicos para as melhores oportunidades de redução do consumo de ener-gia elétrica e por propiciar uma continuidade no trabalho de gerenciamento do uso da energia

pelas unidades consumidoras da Prefeitura. RAM: A meta de redução do consumo de energia elétrica é de 10% ao final de 2030, segundo o Plano Nacional de Eficiência Energética 2030 (PNEf 2030). Qual o plano de implementação do PNEf?

Fernando Perrone: O Plano de Ação que irá definir a implementa-ção do PNEf ainda está em elabo-ração, mas, de qualquer forma, os municípios terão grande importân-cia para que a meta seja atingida, considerando-se que hoje o Poder Público representa cerca de 10% do consumo total de energia do País e seu potencial de economia é muito grande, devido à grande quantidade de equipamentos inefi-cientes em uso e ainda à cultura de hábitos de consumo ineficientes.

RAM: E o papel dos municípios na contribuição dos resultados?

Fernando Perrone: Nossa experiência em trabalhos com as Prefeituras mostra potenciais de economia que chegam pró-

ENTREVISTA

Entrevista

Page 15: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro16

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

ximo a 30% de seu consumo. Portanto, trabalhar para reduzir esses desperdícios é essencial para contribuir nas metas gerais. RAM: As etiquetas Nacional de Conservação de Energia em Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (2009), Nacional de Conservação de Energia de Edi-fícios Residenciais (2010) foram pioneiras para promover a eficiên-cia energética em edificações. De que forma os gestores públicos podem contribuir para a consoli-dação destes regulamentos?

Fernando Perrone: Dentre as medidas que os gestores públicos podem tomar para contribuir para o processo, destacam-se: a inserção em seus editais de obras públicas novas e de reforma/retrofit, como requisito, a Etiquetagem quanto à Eficiência Energética para Edifícios Comerciais, de Serviço e Públicos do PROCEL Edifica/INMETRO; a criação de taxas diferenciadas de IPTU para edificações que tenham boa classificação (A ou B) em suas etiquetas e a exigência de que, para manter tais incentivos especiais, haja um plano de melhoria con-tínua, estabelecendo-se uma pe-riodicidade para a reetiquetagem. RAM: Ainda sobre o tema, quais ações foram definidas pela ELE-TROBRAS para a disseminação da etiquetagem em edifícios públicos?

Fernando Perrone: Em se tratan-do de um programa recente, a ELE-TROBRAS, por meio do PROCEL Edifica tem investido em alguns campos: capacitação de profissio-nais, principalmente arquitetos e engenheiros, e multiplicadores, no intuito de disseminar o conhe-cimento da aplicação dos regula-mentos; elaboração de um softwa-re de simulação termo energética

nacional, mesclado a um conteúdo educacional multidisciplinar sobre o tema; e a publicação de guias de Eficiência Energética, que favore-cem não só a Etiquetagem em si, mas também o conforto ambiental e a consciência da sustentabilidade pela sociedade.

RAM: Existe algum convênio nesta área?

Fernando Perrone: Em especial, está em andamento um convênio com diversas universidades por todo o Brasil para a criação da R3E (Rede de Eficiência Energética em Edificações), que integrará profissio-nais capacitados, professores, pes-quisadores, consultores e alunos, provendo um portal com conteúdo acerca do tema e ministrando cur-sos padronizados dentro e fora da grade curricular destas instituições.Além disso, estamos investindo na estruturação de um mercado sustentável de eficiência energé-tica nos edifícios, que abrange a capacitação de organismos de ins-peção a serem acreditados pelo INMETRO que desempenharão o papel de agentes certificadores.

RAM: A ELETROBRAS, por meio

do PROCEL, vem desenvolvendo formas de atuação diferenciadas para as Prefeituras brasileiras, como a Rede Cidades Eficien-tes em Energia Elétrica – RCE, a Metodologia de PLAMGEs – Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica, os Treinamentos Economizando Energia Elétrica nas Prefeituras e o Projeto Co-munidades de Aprendizado em Gestão Energética Municipal. Qual a estratégia por trás desse desenvolvimento? As Prefeituras podem esperar mais novidades?

Fernando Perrone: Essas me-todologias vêm sendo desenvol-vidas no âmbito do PROCEL GEM, subprograma que comentei an-teriormente de forte atuação nos municípios. A estratégia definida é verificar os principais problemas enfrentados pelos municípios, levando-se em consideração suas características, como tamanho, localização e infraestrutura, por exemplo; definir as principais de-mandas que eles apresentam e criar produtos/metodologias que possam auxiliá-los na tarefa de reduzir desperdícios e promover a eficiência energética. Dessa for-ma, foram definidas metodologias

Para Fernando Perrone, os benefícios das ações de eficiência energética são inegáveis

Page 16: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 17

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

específicas e formatados o Projeto Comunidades de Aprendizado – para pequenas Prefeituras – e os treinamentos – para suprir uma carência de informações. Para o futuro, estamos preparando algo que facilitará e acelerará o atendi-mento às Prefeituras que nos de-mandam auxílio. Essa nova forma de atendimento deve ser lançada no primeiro semestre de 2012. RAM: Desde 1996, a ELETRO-BRAS/PROCEL estabelece parce-rias com o IBAM para o desenvolvi-mento de ações que promovem a gestão eficiente da energia elétrica no âmbito municipal. Para a ELE-TROBRAS/PROCEL, quais foram os resultados e os benefícios mais significativos desta longa parceria? Fernando Perrone: Temos, por exemplo, a metodologia de PLA-MGEs, que é a mais difundida e já foi aplicada em quase 300 mu-nicípios; temos o Prêmio PROCEL Cidade Eficiente, que já teve oito edições realizadas e premiou mais de 40 municípios por ações de sucesso em eficiência energética e temos também a Rede Cidades Eficientes, que é um canal de troca de experiências e informações.

RAM: E após a atualização da Metodologia de Elaboração de Planos Municipais de Gestão da Energia Elétrica (PLAMGEs) e do software SIEM, na sua versão Web, quais os principais benefí-cios previstos pelo PROCEL?

Fernando Perrone: A atualiza-ção da metodologia incorporou e documentou procedimentos que, ao longo dos anos, foram adotados pelos profissionais que aplicaram a metodologia para facilitar e melhorar o trabalho. As sete etapas da metodologia atual são muito intuitivas, o que ajuda

o desenvolvimento do trabalho, e foram transferidas para o SIEM. Isso significa que, ao trabalhar com o software, as etapas vão sendo cumpridas automaticamente até o resultado final. Além disso, a plata-forma Web (o programa funciona em um site da Internet, como um home-banking) oferece segurança para os dados e facilidade de aces-so a partir de qualquer local com acesso à grande rede cibernética. RAM: Quais as próximas ações para as melhorias das ferramentas e da metodologia de aplicação da GEM?

Fernando Perrone: Um sof-tware como o SIEM precisa ser constantemente atualizado, tanto pela evolução tecnológica dos equipamentos como pelas demandas dos usuários. A pla-taforma Web nos permitirá fazer isso com muito mais agilidade, já que o usuário não precisará tomar nenhuma providência. Para ele, será tudo automático. E continuaremos verificando quais as necessidades dos municípios para melhorar nossas ferramen-tas e criar outras novas. É o que fazemos, é para isso que existi-mos como implementadores da política de eficiência energética. RAM: De que forma a IN SLTI/MPOG n.º 01, de 19/01/2010, que dispõe sobre os critérios de sustentabilidade ambiental, po-dem contribuir para as ações de eficiência energética e sustenta-bilidade nos âmbitos municipais, estaduais e federais?

Fernando Perrone: Essa instrução normativa oferece ao gestor público a possibilidade de comprar bens, contratar serviços e licitar obras con-siderando critérios de sustentabili-dade e não apenas pelo critério de preço, até agora comumente aplica-

do. O Decreto de Compras Públicas Sustentáveis, em desenvolvimento, regulamentará esta ação, facilitan-do a escolha de bens – móveis e imóveis – mais eficientes, já que a eficiência energética é um dos critérios da sustentabilidade. Considerando que o setor público brasileiro em suas três esferas – federal, estadual e municipal – é o principal comprador de nosso País, é possível afirmar que esse instru-mento legal possibilita o uso de tal poder de compra como um fun-damental mecanismo de exemplo de liderança pela eficiência e que, certamente, alavancará o mercado de produtos eficientes, notadamen-te aqueles com Etiqueta Nacional de Conservação de Energia nível A, Selo Procel e Selo Conpet.

RAM: Em suas palavras finais, qual mensagem deixaria aos gestores públicos?

Fernando Perrone: Os be-nefícios das ações de eficiên-cia energética são inegáveis e podemos destacar alguns: menos recursos gastos no pa-gamento das contas de energia elétrica, atualização do parque de equipamentos, redução da necessidade de manutenção, capacitação da equipe própria da Prefeitura e aumento da satisfa-ção de usuários. Mas as ações implementadas no setor público dependem muito do interesse e do comprometimento dos ges-tores com o assunto. Sem esse envolvimento e apoio, há mais dificuldades no desenvolvimento dos projetos e os resultados nor-malmente menos significativos. Assim, minha mensagem é: engajem-se! Apoiem os projetos, acreditem nos benefícios que proporcionarão a toda popula-ção. Os resultados falarão por si, e todos sairão ganhando.

ENTREVISTA

Entrevista

Page 17: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro18

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Gestão Energética Municipal e os benefícios sociais

ENTREVISTA

Estudos do IBAM e da ELETRO-BRAS/PROCEL, pela experiência na aplicação da Gestão Energé-tica Municipal desde 1998, vêm constatando que a energia elétrica normalmente ocupa o segundo ou o terceiro lugar dentre os maiores custos nas contas municipais. É um cenário que tem chamado a atenção de prefeitos, que passa-ram a perceber a importância de ações de economia de energia elétrica capazes de gerar reduções de gastos nos cofres públicos. No entanto, para Máximo Luiz Pompermayer, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficiência Energética da ANEEL, o número de projetos ainda é muito reduzido na esfera municipal. Até 2005, foram realizados 27 projetos de Gestão Energética Municipal (GEM) no âmbito do Programa de Eficiência Energética regulado pela ANEEL (PEE), totalizando R$ 10.967.171,32 de investimentos. “A partir de 2008, quando a regu-lamentação da ANEEL incluiu no-vamente essa modalidade, foram carregados no sistema 11 projetos de GEM, totalizando investimentos previstos de R$ 6.924.959,59. Consideramos um número baixo

de projetos e investimentos rea-lizados, tendo em vista o núme-ro de municípios, a ineficiência energética nesse segmento e as dimensões do País” – disse.

Embora as primeiras resoluções do início do Programa de Eficiência Energética (PEE) contemplassem um pequeno percentual obrigatório para projetos no setor público, Má-ximo Luiz Pompermayer revela que as diferentes características de mer-cado das mais de 100 distribuido-ras de energia elétrica espalhadas pelas 27 unidades da federação dificultam a fixação de cotas ou per-centuais mínimos de investimento. “O percentual mínimo estabelecido para os consumidores residenciais cadastrados na Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE), por força de lei, tem sido mais um obstáculo à realização de bons projetos de eficiência energética do que um mecanismo eficaz de promoção da eficiência energética em segmento prioritário” – sinalizou.

GESTÃO ENERGÉTICA MUNICIPAL

Neste cenário, projetos nes-ta área ganham um diferencial

estratégico. É o caso do Projeto de Gestão Energética Municipal (GEM) que traz inúmeros bene-fícios sociais, além de contribuir com a redução de gastos pela organização e a adequação do Município aos excedentes de cobrança existentes. Durante a aplicação da GEM, surgem eco-nomias de energia associadas à mudança de hábitos de consumo, desligamento de cargas desne-cessárias, ou até mesmo trocas de alguns equipamentos com recursos próprios das Prefeituras. Máximo Luiz Pompermayer co-menta que estes benefícios ultra-passam o limite da administração, dando qualidade de vida a toda a sociedade. “Para as Prefeituras, os benefícios são o uso eficiente e racional de recursos e redução de custos. Para as distribuidoras, a redução de inadimplência, a prospecção de novos projetos de eficiência energética e a melhoria de sua imagem perante a socie-dade. Para a sociedade, a criação e a disseminação da cultura de eficiência energética, o uso ra-cional dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente” – explica.

O Projeto de Gestão Energética Municipal (GEM) que traz inúmeros benefícios sociais, além de con-tribuir com a redução de gastos pela organização e a adequação do Município aos excedentes de cobrança existentes

Page 18: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 19

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Ao final dos trabalhos realiza-dos pelo GEM, o gestor público recebe um documento orientador (PLAMGE – Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica) com diretrizes e projetos eficientes indicados para execução, visando a um futuro racional para o uso da energia elétrica no Município.

CULTURA DA GESTÃO DO CONSUMO

No entanto, ainda se percebe a necessidade de uma ampliação da cultura da gestão do consumo de energia elétrica no âmbito municipal com a adoção de me-canismos de incentivo. A ANEEL defende a aplicação ampliada do recurso dos Programas Anuais das concessionárias de energia elétrica em Projetos de Gestão Energética Municipal. Mas, Má-ximo Luiz Pompermayer reco-menda, inicialmente, um estudo preliminar. “Antes de uma ação específica de estímulo a essa modalidade, recomendamos a realização de um seminário ou workshop sobre os projetos

realizados, resultados obtidos, dificuldades encontradas e pers-pectivas em relação a projetos futuros. Conhecendo melhor os resultados obtidos e as dificulda-des encontradas, pode-se definir uma estratégia conjunta (ANEEL, concessionárias e IBAM) para am-pliação do número de projetos e do volume de investimentos em projetos futuros.”

Em 2005, aconteceu um exemplo que reflete bem a opi-nião de Máximo. O Projeto de GEM foi retirado do programa do PEE, por não apresentar, no modelo anterior, resultados significativos de economia de energia durante a aplicação da Gestão. O IBAM, em parceria com a ELETROBRAS/PROCEL, reformulou a metodologia de PLAMGE, com a condição do método de Medição & Verifi-cação para a determinação da economia de energia elétrica nos Projetos de GEM.

RESOLUÇÃO NORMATIVA

No setor elétrico, em setem-bro de 2010, a Resolução Nor-mativa n.º 414 (09/09/2010) estabeleceu condições gerais de fornecimento de energia elétrica

de forma atualizada e consolida-da, trazendo mudanças quanto ao sistema de iluminação pública. Para Marcos Bragatto, superinten-dente de Regulação da Comercia-lização da Eletricidade – SRC, a responsabilidade pelo sistema de iluminação pública ganhou um outro enfoque. “A Resolução Nor-mativa n.º 414/2010 é categórica em dizer que não será mais admitido que as distribuidoras continuem a deter a propriedade dos ativos de iluminação públi-ca. Reza a Constituição Federal que compete aos municípios organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluindo o de transporte coletivo, que tem caráter essencial. Dessa forma, foi estabelecido um cronograma para que as distribuidoras que ainda detêm ativos de iluminação pública efetuem a transferência aos respectivos municípios” – disse.

ATIVOS DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA

No que tange à transferência dos ativos de iluminação públi-ca para os municípios, Marcos

“Entendo que a qualidade do

serviçodeiluminaçãopúblicaestará

diretamente relacionada com a

qualidade da gestão municipal,

tal qual já ocorre com a maioria

dos municípios brasileiros que

respondem por esses serviços”

– Marcos Bragatto, superintendente

de Regulação da Comercialização da

Eletricidade – SRC

Entrevista

Conhecendomelhor

osresultadosobtidos

easdiiculdades

encontradas,pode-se

deinirumaestratégia

conjunta(ANEEL,

concessionáriase

IBAM)paraampliação

donúmerodeprojetos

edovolumede

investimentosem

projetosfuturos

Page 19: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro20

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Bragatto acredita que esta prá-tica não representa um risco de queda de qualidade do serviço de iluminação pública pela inex-periência dos municípios com este serviço. Ele explica que o sistema de iluminação pública é de responsabilidade dos mu-nicípios em aproximadamente 65% do total de municípios brasileiros. “Portanto, dizer que a transferência representa risco de qualidade do serviço pela inex-periência não é exato. Há muitos exemplos de boa gestão por parte da municipalidade e que podem ser absorvidos por aqueles que a partir de breve espaço de tempo também deverão assumir tal responsabilidade. Entendo que a

qualidade do serviço de ilumina-ção pública estará diretamente relacionada com a qualidade da gestão municipal, tal qual já ocor-re com a maioria dos municípios brasileiros que respondem por esses serviços.” – explica.

Bragatto disse ainda que a ANEEL pretende que o proces-so de transferência transcorra da melhor forma e no prazo mais adequado. Com este objetivo, a instituição suspendeu os prazos do cronograma original e reabriu a discussão acerca dos prazos a serem considerados. “O tema é objeto da Audiência Pública n.º 49/2011 e prevê a realização de quatro sessões presenciais. As primeiras foram realizadas

nos municípios de Manaus (19/10) e Recife (04/11), e depois em São Paulo e Belo Horizonte, nos dias 17 e 24 de novembro respectivamente” – explicou.

A Resolução Normativa em questão trata de diversos assun-tos de interesse dos consumido-res, havendo entre estes a classe denominada Poder Público. Assim, destacamos que, além da iluminação pública, há temas como atendimento a novos lo-teamentos de caráter específico ou social, atendimento de áreas em processo de regularização fundiária, ligações provisórias, contratos de fornecimento de energia elétrica, dentre outros.

Page 20: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 21

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

A economia de energia não foi o único benefício que a aplicação da metodologia do PLAMGE (Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica) trouxe para as Prefeituras mu-nicipais de Santarém, no Pará, e de Guarulhos, em São Paulo. Ao fazer uso dessa metodologia, ambas passaram a estabelecer princípios, metas, normas e padrões para o uso eficiente e racional da energia, além de gerenciar o seu uso e adotar ações de eficiência energética nos vários setores de consumo da Administração Municipal.

A Revista de Administração Municipal – Municípios entre-vistou os responsáveis pela implantação desse projeto nas duas cidades para saber detalhes sobre o processo de implementação dessa metodo-logia e sobre os benefícios con-quistados por cada uma delas.

A EXPERIÊNCIA DE SANTARÉM

Santarém foi um dos muni-cípios mais bem-sucedidos na

aplicação da metodologia do PLAMGE, no âmbito do Projeto de Gestão Energética Municipal do Programa de Eficiência Energética da Rede Celpa; o que só foi pos-sível graças a três bases de apoio: ao incentivo irrestrito da prefeita Municipal de Santarém, Maria do Carmo Martins Lima, à parceria com a concessionária Celpa e ao trabalho de sensibilização sobre a importância do projeto, feito pelas secretarias municipais.

De acordo com Josimar Santana Nogueira, coordena-

dor técnico da Unidade de Gestão Energética Municipal (UGEM) da Secretaria Munici-pal de Infraestrutura (Seminf), dentre as ações implementa-das, destacam-se a elabora-ção e a aprovação da lei que criou a UGEM; o diagnóstico da situação de consumo dos prédios públicos municipais e o monitoramento desses prédios; a distribuição de ma-terial educativo, como folders, cartazes e cartilhas a todas as secretarias e o gerenciamento

ENTREVISTA COM FERNANDO PERRONE

Plano Municipal de Gestão da Energia ElétricaPrefeituras de Santarém, no Pará, e de Guaru-

lhos, em São Paulo, aprovam a metodologia de

PLAMGE – Plano Municipal de Gestão da Ener-

gia Elétrica, destacando as melhorias percebi-

das pelos munícipes

ENTREVISTA

“Os prédios públicos construídos

apósaaplicaçãodoPLAMGEforam

adequados às novas exigências

dispostasno referidoPlano,oque

acarretou uma redução de gastos

públicoscomoconsumodeenergia”

–Josimar Santana Nogueira, coordenador

Técnico da Unidade de Gestão Energética

Municipal (UGEM) da Secretaria Municipal

de Infraestrutura (Seminf) de Santarém

Entrevista

Page 21: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro22

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

do consumo de energia dos prédios públicos e da ilumina-ção pública.

“O maior benefício se con-cretizou na aquisição de ma-teriais e equipamentos para obras públicas e iluminação pública, pois um dos critérios estabelecidos nas licitações foi o de se adquirirem equipamen-tos e materiais com selo do PROCEL e de baixo consumo. Assim, os prédios públicos construídos após a aplicação da PLAMGE foram adequados às novas exigências dispostas no referido Plano, o que acar-retou uma redução de gastos públicos com o consumo de energia”, explicou Josimar, ressaltando que, após o início do trabalho, o resultado que mais chamou sua atenção foi a redução do consumo das faturas de energia dos prédios com medição em alta tensão (AT), grupo A. Segundo ele, com base nessa redução, foi

realizado um novo contrato de demanda com a concessionária de energia, adequado à nova realidade de consumo.

Em 2008, o Município de Santarém foi vencedor na categoria Gestão Energética Municipal da 6ª Edição do Prêmio PROCEL Cidade Efi-ciente em Energia Elétrica, o que permitiu ampliar as ações desenvolvidas pela Unidade de Gestão Energética Munici-pal, como a aquisição de um espaço para funcionamento dessa UGEM e a abertura de diálogos com a prefeita e seus secretariados.

“E o gerenciamento do con-sumo de energia dos prédios públicos continua, fortalecendo o link com a concessionária de energia, fornecendo o acesso aos dados do consumo de cada prédio público para importar no banco de dados do SIEM”, contou o coordenador.

De acordo com Josimar,

o apoio irrestrito do gestor municipal, como ocorreu em Santarém, é primordial para que uma cidade consiga im-plementar a Gestão Energética Municipal. O segundo passo se-ria montar uma equipe técnica para desenvolver os trabalhos e, posteriormente, informar aos secretários sobre os benefícios do projeto e sensibilizar os servidores municipais. Para ele, a metodologia utilizada pelos consultores é de grande nível técnico, uma vez que trouxe informações inovadoras como subsídio ao Plano Municipal de Gestão em Energia Elétrica.

“Sugiro apenas visitas téc-nicas periódicas dos consul-tores para as atualizações do software SIEM, para melhor aproveitamento dos dados fornecidos pelas concessioná-rias”, disse Josimar, acrescen-tando que, para a ampliação da gestão do uso eficiente da energia elétrica nas Adminis-trações Públicas, é necessá-rio divulgar os benefícios da implementação do Plano na gestão municipal.

“Uma das ferramentas de convencimento poderia ser os exemplos bem-sucedidos de outros municípios que aderiram ao projeto e foram agraciados não só com o Prêmio PROCEL mas também com a economia com o uso racional do consu-mo de energia dos prédios pú-blicos e da iluminação pública”, concluiu.

GUARULHOS: UM MUNICÍPIO-PILOTO

Guarulhos foi outro muni-cípio-piloto que implementou a metodologia de Planos Mu-nicipais de Gestão da Energia Elétrica (PLAMGEs), no ano

Santarém foi um dos municípios mais bem-sucedidos na aplicação da metodologia de PLAMGEs

Page 22: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 23

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

de 2000, no âmbito das ações desenvolvidas pelo IBAM e a ELETROBRAS/PROCEL. Em 2010, foi vencedor na categoria Gestão Energética Municipal da 7ª Edição do prêmio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica.

De acordo com Paulo de Tarso Carvalhaes, diretor do Departamento de Iluminação Pública, vinculado à Secretaria de Obras, essa política pública

deu tão certo que é mantida até hoje.

Ele conta que, no início da gestão 2001/2004, a Admi-nistração Municipal adotou a metodologia do PLAMGE para a elaboração de seu “Plano Diretor de Modernização e Eficiência” nos sistemas elé-tricos dos serviços públicos municipais. A equipe técnica da Secretaria de Obras teve o apoio do Convênio IBAM/ELETROBRAS e do GEPEA/USP para essa elaboração, emprestando especial aten-ção ao sistema de iluminação pública municipal, em razão de sua obsolecência, bem como ao sistema de adução do Serviço Autônomo de

Água e Esgoto e ao sistema semafórico municipal, ambos passíveis de importantes me-lhorias para maior segurança operacional e eficiência ener-gética.

“Esforços iniciais buscaram o enquadramento dos proje-tos no Programa de Eficien-tização de Energia – PEE da EDP Bandeirante S.A., pois as dificuldades financeiras en-contradas no Município pela

nova Administração Municipal impossibilitavam contrair em-préstimos nos órgãos oficiais e privados de financiamento. Foram desenvolvidos com decisivo apoio e parceria da EDP Bandeirante S.A. projetos nas áreas do saneamento, sinalização semafórica e ilumi-nação pública da região cen-tral da cidade. Programa de auditoria técnica nos cadastros dos sistemas de iluminação pública, entradas de energia e demais itens relativos à regu-lamentação do fornecimento de energia elétrica foram implementados pelo Departa-mento de Iluminação Pública, sem necessidade de investi-mentos, o qual possibilitou a

redução de dispêndios com energia elétrica na ordem de R$ 170.239,00 anuais. Ainda com recursos do PEE, foram implementados programas em instalações elétricas pre-diais de dois hospitais, de um ginásio esportivo e de uma entidade assistencial. Também foi possível a implantação de sistema de aquecimento solar em 1.126 apartamentos de conjuntos habitacionais po-pulares. Foi possível também empreender o Programa Re-luz no sistema de iluminação pública com melhorias para todos os bairros da cidade. Os investimentos no conjunto destes programas montaram R$ 27.275.795,00 e propor-cionam, desde então, uma economia anual da ordem de R$ 5.252.400,00, devido à redução do consumo de ener-gia da ordem de 26.351,00 MWh. A redução da deman-da no sistema elétrico foi de 7MW!”, detalhou Paulo de Tarso, acrescentado que, pa-ralelamente a estas ações, re-centemente foi sancionada a Lei Municipal n.º 6.793/2010, a Lei do IPTU Verde, que possibilita a redução de até 20% no valor do IPTU anual das edificações que adotem medidas de conservação de energia e água.

A recomposição dos níveis de iluminação nos logradou-ros, resultando em maior conforto e bem-estar geral para o usufruto dos espaços urbanos no período noturno em parques, praças e siste-ma viário; o afastamento e a redução de atos ilícitos e a melhoria nas condições de trafego, além das melhorias operacionais dos sistemas de adução do SAAE e a grande

“Para ampliação da gestão do uso

eficiente da energia elétrica nas

Administrações Públicas, gostaria de

sugerir aos interlocutores, no caso o

IBAM e a ELETROBRAS/PROCEL, maior

interferência nas indústrias, para que

avancemnaproduçãodeequipamentos

demaioreiciênciaenergética”–Paulo de

Tarso Carvalhaes, diretor do Departamento

de Iluminação Pública, vinculado à

Secretaria de Obras de Guarullhos

ENTREVISTA

Entrevista

Page 23: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro24

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

satisfação das famílias con-templadas com o sistema de aquecimento solar em seus apartamentos foram destaca-das por Paulo de Tarso como as principais mudanças trazi-das com a implementação da Metodologia do PLAMGE.

“A sensível melhoria na iluminação da cidade foi per-cebida com satisfação pelos munícipes. Esta melhoria se deu porque, além da maior intensidade luminosa das novas lâmpadas adotadas, a vapor de sódio, as lâmpadas a mercúrio do sistema anti-go tinham sua intensidade luminosa depreciada, inferior em até 20% de seu valor nominal. Muitas instalações classificadas como Poder Público vieram a ser reclassi-ficadas como Iluminação Pú-blica em decorrência do novo cadastramento, resultando em redução nos custos com a energia. Os contratos de energia em média tensão para 19 próprios municipais estavam inadequados ao desempenho das instalações elétricas a que se destinavam com demanda contratada em valores inferiores ou superiores ao efetivamente utilizado, implicando paga-mento sistemático de mul-tas de ultrapassagem ou por demanda não utilizada”, completou.

Segundo ele, algumas ações já foram definidas para a continuidade do Projeto Gestão Energética Municipal, entre elas avançar com ava-liação de novas tecnologias para o uso de energia no âmbito municipal; contribuir com o aprimoramento dos produtos e dos equipamen-tos destinados à iluminação

pública; desenvolver novos métodos de gestão do sis-tema de iluminação públi-ca, valendo-se do cadastro georreferenciado; o uso de dispositivos de comando e de controle das luminárias em tempo real; e o uso de veículo registrador de grande-zas luminotécnicas, ao longo do sistema viário municipal.

“Também vamos apoiar as comunidades, sobretudo as de baixa renda, para a adoção de sistemas de aquecimento solar de baixo custo, de forma que se generalize o uso desta energia limpa no Município, e pretendemos avançar também com o uso de energia solar em próprios municipais e explorar, em parceria com universida-des, institutos de pesquisas e iniciativa privada, a geração e o uso de fontes de energia de biomassa e eólica”, disse.

Para um Município que pretende implantar a Gestão Energética Municipal, Paulo de Tarso frisa que é impor-tante atentar para a qualidade dos serviços de iluminação pública, seus custos efetivos e o grande potencial de eco-nomia a ser alcançado com respectivos programas de eficientização, e assegurar-se de que custos futuros sejam inferiores àqueles existentes, evitando-se a criação ou a ampliação de “tarifas” ou “contribuições” a serem pagas pelos munícipes.

“É fundamental também implementar leis e favorecer o uso de energias ‘limpas’ no Município, além de aproveitar das leis de universalização e da tarifa social de energia elétrica para o benefício da população carente, do desempenho do sistema de distribuidor de

energia local e do sistema elétrico nacional”, ressaltou, acrescentando que é grande o interesse em continuar aprimo-rando a metodologia do PLA-MGE, mas, para isso, é preciso ampliar o escopo e o domínio das ações do Protocolo IBAM/ELETROBRAS, permitindo o uso de recursos do PROCEL para além da Administração Municipal, com a inclusão de programas de fomento ao uso de energia solar, tanto nos domicílios como nas ativida-des econômicas, da indústria e comércio. O mesmo vale para o uso de energia eólica, biodigestores, sistemas de craqueamento de resíduos de esgoto e lixo molhado.

“Para ampliação da gestão do uso eficiente da energia elétrica nas Administrações Públicas, gostaria de sugerir aos interlocutores, no caso o IBAM e a ELETROBRAS/PRO-CEL, maior interferência nas indústrias, para que avancem na produção de equipamentos de maior eficiência energética, baseados em novas tecno-logias; maior nível de comu-nicação com os municípios para a sensibilização de seus gestores quanto às políticas de conservação de energia e às novidades e às viabilidades de uso de energias alterna-tivas nos serviços públicos, bem como pelos munícipes e agentes econômicos. É im-portante também intervir na explicitação dos custos efetivos com os serviços de iluminação pública, em razão do advento da Resolução Normativa ANE-EL n.º 414, de modo que este serviço venha ser absorvido pelas municipalidades a custos justos e explicáveis”, finalizou Paulo de Tarso.

Page 24: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 25

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

ENTREVISTA

Promovendo benefícios para a população e o meio ambiente

Identificar áreas com poten-cial de redução de consumo de energia e implementar novas atividades que visem à eficiência energética têm sido a preocupa-ção de diversas Prefeituras em todo o Brasil. Várias delas adota-ram o PLAMGE (Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica) e têm obtido excelentes resultados. Essa metodologia, que agrupa um conjunto de normas que bus-cam a diminuição de despesas municipais e a implementação de ações de eficiência energética, foi desenvolvida pelo IBAM e pela ELETROBRAS/PROCEL.

Desde quando foi iniciado, em 2001, até setembro do ano passado, foram elaborados 277 PLAMGEs em 18 estados. A ELETROBRAS foi responsável diretamente por 46 deles, e os demais foram iniciativas das distri-buidoras de energia, por meio do Programa de Eficiência Energética da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), e das próprias Prefeituras.

As concessionária ELETRO-NORTE, COPEL e Elektro também aplicaram a Metodologia de Ela-

boração de PLAMGEs nos municí-pios de suas áreas de concessão; e seus representantes falaram à Revista de Adminstração Munici-pal – Municípios sobre as estra-tégias de atuação e os principais resultados dessa iniciativa.

ELETRONORTE

Entre as empresas que com-põe o Sistema ELETROBRAS, a ELETROBRAS/ELETRONORTE se destaca em ações desenvolvidas nas Administrações Municipais, especialmente no que diz res-peito à aplicação da Metodologia de Elaboração de PLAMGEs. Em 2005, a ELETRONORTE apro-vou por meio de Resolução de Diretoria o PEEE – Programa ELETRONORTE de Eficiência Energética, cujos principais obje-tivos são “atender aos requisitos de sustentabilidade do Sistema ELETROBRAS” e “promover ações que propiciem a melhoria da ima-gem da empresa, consolidando a marca ELETROBRAS/ELETRO-NORTE”. O Mapa Estratégico 2010-2020 da ELETRONORTE tem como tema estratégico a

Sustentabilidade. De acordo com Neusa Maria

Lobato, superintendente de Pes-quisa e Desenvolvimento Tecno-lógico e Eficiência Energética da ELETRONORTE, é válido ressaltar que a concessionária não é dis-tribuidora de energia e, por isso, não tem obrigação de investir em Eficiência Energética (EE) por conta da Lei n.º 9.991/2000; entretanto, a ELETRONORTE entende que esse investimento é imprescindível para ser uma empresa sustentável e atingir seus objetivos.

“Não temos orçamento defini-do por lei, nossas ações de EE são realizadas por meio de convênio com a ELETROBRAS (recursos do PROCEL) e com recursos exclusi-vos da ELETRONORTE. Isso só é possível quando seus dirigentes acreditam no processo. Em 2011, foi aprovada pela Diretoria uma Política de EE para a ELETRONOR-TE que é um desdobramento da Política de EE da ELETROBRAS”, contou Neusa Lobato.

O fortalecimento da imagem e o reconhecimento da ELETRO-NORTE por parte da população

Experiência de concessionárias mostra que o

Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica

auxilia não só a redução do consumo mas tam-

bém a conscientização para uma melhor gestão

do recurso destinado à energia elétrica no País

Entrevista

Page 25: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro26

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

como uma empresa socialmente responsável foram considerados por Neusa como os maiores benefícios conquistados pela concessionária com a aplicação desta Metodologia nos municí-pios da sua área de concessão. Segundo ela, o mundo mudou, e as empresas que só pensam em lucros não vão permanecer por muito tempo no mercado. Todas as ações precisam ser sus-tentáveis financeira, ambiental e socialmente.

“Nosso produto é Energia Elétrica, assim sendo, nada mais correto do que sermos responsá-veis pelo que produzimos. Esse é um dos motivos para aplicação da Metodologia nos municípios. Não resta dúvida de que, se toda a economia pecuniária resultante da Gestão Energética Municipal fosse revertida em benefício direto para a população, como em melhorias na educação e na saúde, por exemplo, esse seria nosso grande benefício; e, dessa maneira, seríamos responsáveis por um processo onde todos ganham: população, meio am-biente e empresa”, afirmou.

Para a ELETRONORTE conse-guir implantar a metodologia de PLAMGEs em Estados da Amazô-

nia Legal, a região mais carente e a de menor IDH de todo o País, foram necessárias mudanças. De acordo com Neusa, para um projeto como esse dar certo, o fundamental é que os gestores dos municípios acreditem no pro-cesso e que todos os parceiros – ELETROBRAS, ELETRONORTE e Prefeitura – sejam determinados.

“Dentro da Amazônia Legal, onde estão nossas ações de EE, temos projetos que foram um sucesso e outros que não alcan-çaram os resultados esperados, porém isso nunca ocorreu devido às características do Município e sim aos prefeitos de onde o projeto foi inserido”, garantiu, dando como exemplo de suces-so o prefeito de Ariquemes, em Rondônia. “Ele é exemplo prático de que ‘querer é fazer’. O prefeito de Ariquemes acreditava no pro-cesso e lá tivemos um resultado fantástico”, completou.

DESAFIO

O grande desafio na elabo-ração de PLAMGEs é a continui-dade e a sustentabilidade das Unidades de Gestão Energética Municipal (UGEM) criadas nos municípios, além das sucessões

municipais que ocorrem a cada quatro anos. Para superar esses obstáculos, a ELETRONORTE as-sina um acordo de cooperação técnica com as Prefeituras, com duração de 36 meses, período esse que extrapola o tempo de elaboração do PLAMGE, já que a partir da entrega efetiva do do-cumento, a concessionária con-tinua acompanhando as ações, inclusive recebendo as faturas de energia para comprovação dos ganhos.

“O acordo de cooperação as-sinado não resolve nem garante que as ações continuarão, porém ajuda a cobrança da continuidade das ações, haja vista que frisa-mos que ele foi assinado com a Prefeitura, e não com o prefeito A ou B, embora isso esteja inter-ligado”, explicou Neusa Lobato, acrescentando que, entre uma série de ações, são feitas visitas periódicas às UGEMs, visando não só melhorar o que está indo bem mas também bloquear o que for preciso, diante de resul-tados indesejáveis.

Neusa Lobato conta ainda que, além de 10 PLAMGEs já concluídos, estão em fase de contratação mais 10. A ELETRO-NORTE, inclusive, já iniciou um processo para desenvolvimento de 50 comunidades de apren-dizagem, sendo 25 em Mato Grosso e 25 no Maranhão.

“Comunidade de aprendiza-gem é um PLAMGE desenvolvido em municípios menores que, por terem essa característica, é realizada de forma diferente, ou seja, ensinamos como fazer, en-tretanto o resultado esperado é o mesmo: diagnóstico do consumo de energia elétrica das unidades consumidoras da Prefeitura e a conscientização para uma melhor gestão do recurso destinado à energia elétrica. Quem não mede

“Nãorestadúvidadeque,setodaa

economia pecuniária resultante da

Gestão Energética Municipal fosse

revertida em benefício direto para

apopulação,comoemmelhoriasna

educaçãoenasaúde,porexemplo,

esse serianossograndebenefício”,

Neusa Maria Lobato, superintendente de

Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico

e Eficiência Energética da ELETRONORTE

Page 26: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 27

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

não controla”, explicou a superin-tendente, acrescentando que um dos pontos observados no diag-nóstico é o elevado consumo nas escolas municipais. “As ações edu-cacionais são fundamentais para a mudança de hábito da população em relação ao uso consciente da energia elétrica”, completou.

Atualmente, a ELETRONORTE está com um programa educa-cional em sete estados, compre-endendo 53 municípios e 1.320 escolas, onde foram capacitados 8.144 professores, com a partici-pação de 875.443 alunos. “Bus-camos desenvolver esse trabalho em geral nos municípios onde já possuímos um diagnóstico (PLAMGE). Isso é o ideal. Os re-sultados obtidos com o PROCEL educacional sempre superam nossas expectativas”, contou.

Por dois anos consecutivos, 2010 e 2011, o Município de Timom – MA, que recebeu o PROCEL nas Escolas, foi agra-ciado com o prêmio “Prêmio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica”, na categoria Educação. Este prêmio é uma parceria do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM.

Em 2005, foram iniciadas nos municípios ações de eficiência energética em hospitais públicos, em dois hospitais de Belém – PA. Entretanto, segundo Neusa Lobato, devido às diretrizes de que ações dentro do PROCEL-PP (Procel Prédios Públicos) não devem ser realizadas por meio de fomento e sim por meio de contrato de Reserva Global de Reversão – RGR, concessão de empréstimos a concessionárias para expansão e melhoria dos ser-viços públicos de energia elétrica, movimentada pela ELETROBRAS, isso se tornou quase impossível.

“Além de atuarmos em mu-nicípios pobres, os contratos de RGR exigem a autorização prévia de endividamento que é expe-dida pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN”, contou.

ELEKTRO

A Elektro também investiu alto na aplicação da Metodologia de Elaboração de PLAMGEs. De acordo com Evandro Gustavo Romanini, coordenador do Pro-grama de Eficiência Energética da Elektro, esse é um projeto muito interessante para estreitar o relacionamento da Elektro com as Prefeituras de sua área de concessão, possibilitando disse-minar os conceitos de gestão e conservação da energia elétrica.

“Dessa maneira, a implantação do GEM promove uma mudança comportamental e cultural dentro da esfera pública municipal, com abrangência nos diversos setores das Prefeituras, atingindo desde a área de compras ou licitações de novos equipamentos e materiais, passando por diversas secretárias, como saúde, meio ambiente e educação, até o uso final da energia pelo servidor público”, co-mentou, acrescentando que, com

o oferecimento de projetos inova-dores, os municípios reconhecem o empenho da Elektro em propor grandes parcerias. “Isto pode ser notado nos municípios escolhi-dos pelo cumprimento de seus compromissos assumidos com a Elektro”, ressaltou.

Considerando que a área de concessão da Elektro abrange 228 municípios e por existir um recurso limitado de investimento para esse tipo de projeto, faz-se necessária a realização de um processo seletivo entre os mu-nicípios a serem atendidos. De acordo com Evandro Romanini, são priorizadas Prefeituras que vêm demonstrando ao longo dos anos grande comprometimento com a Elektro e que demonstram forte interesse em participar do projeto.

MÚLTIPLAS AÇÕES

Além dessa atuação, a Elektro desenvolve uma série de outras ações nos municípios. Ainda na vertente do Programa de Eficiência Energética, existe o projeto Prédios Públicos, que atende a hospitais, escolas, pa-ços e sistemas de água e esgoto municipais, gerando melhorias

“A Elektro também atua nas

comunidades de baixa renda por

meiodoprojetoEnergiaComunitária,

fazendo a regularização interna

da parte elétrica nas residências,

visando reduzir o consumo da

energia e aumentar a segurança

dos moradores”, Evandro Romanini,

coordenador do Programa de Eficiência

Energética da Elektro

ENTREVISTA

Entrevista

Page 27: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro28

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

nos sistemas de iluminação e bombeamento, reduzindo o con-sumo da energia e promovendo maior bem-estar aos usuários. Outro projeto de destaque é o Elektro nas Escolas, que realiza o treinamento de professores municipais, capacitando-os como multiplicadores dos conceitos de uso racional da energia elétrica entre os alunos. Para firmar os conceitos aprendidos, os alunos passam a conhecer todo o pro-cesso de geração, transmissão e distribuição da energia por meio de experimentos lúdicos, conhe-cendo os riscos e aprendendo sobre a segurança na utilização da energia elétrica.

“A Elektro também atua nas comunidades de baixa renda por meio do projeto Energia Comunitária, fazendo a regula-rização interna da parte elétrica nas residências, visando reduzir o consumo da energia e aumentar a segurança dos moradores. Nas residências atendidas, com base em uma avaliação, realiza-se a troca de lâmpadas, chuveiros e geladeiras que apresentam alto consumo, por equipamentos novos com selo PROCEL e baixo consumo de energia”, explicou o coordenador.

Para Evandro Romanini, para que a gestão do uso eficiente de energia elétrica nas Administra-ções Públicas seja ampliada, é preciso muito trabalho e deter-minação.

“Continuar desenvolvendo novos multiplicadores da me-todologia é fundamental para disseminação das etapas de implementação do projeto e para a apresentação das ferra-mentas disponíveis. Localizar e convidar os profissionais com larga experiência nas áreas institucionais das distribuidoras de energia pode ser um grande diferencial na implantação do projeto, pois esses profissionais são especialistas em lidar com os servidores públicos muni-cipais, tendo domínio de todo assunto ligado às atividades que serão desenvolvidas pelas UGEMs. Além disso, poderão contribuir fortemente nas etapas de sensibilização com os prefei-tos e os servidores municipais, aumentando muito a garantia de sucesso do projeto”, concluiu.

COPEL

A COPEL é uma das con-cessionárias distribuidoras de

energia elétrica que mais aplicou a Metodologia de PLAMGEs nos municípios da sua área de conces-são – foram ao todo 122 muni-cípios – por meio dos Programas Anuais de Eficiência Energética da ANEEL. De acordo com Ana Maria Kersting Battaglin, superintenden-te Comercial de Distribuição, a concessionária optou por benefi-ciar os municípios de sua área de atuação, oferecendo oportunida-des de aprofundamento no tema “Eficiência Energética”, por meio da aplicação da metodologia de GEM, além de oferecer ferramenta de controle total na área de ener-gia elétrica, por meio do software SIEM (Sistema de Informação Energética Municipal).

“Foram percebidos muitos benefícios nos municípios de-pois que essa metodologia foi implementada, entre eles po-demos citar a disseminação dos conceitos de eficiência contidos na metodologia por meio das Unidades de Gestão Energética Municipal (UGEMs) criadas por decreto em cada Município, o ple-no conhecimento e a administra-ção do faturamento da Prefeitura por meio do SIEM, a busca de ações e a aplicação de projetos de Eficientização, contidos nos PLAMGEs – Planos Municipais de Gestão de Energia Elétrica, produtos finais do Projeto”, de-clarou Ana Maria, lembrando que a COPEL, visando primar pela isonomia de seus clientes, utiliza critérios técnicos para a escolha dos municípios, que são selecio-nados de acordo com a tabela do IBGE. “São escolhidos aqueles que possuem maior população urbana”, explicou.

Para conseguir superar os grandes desafios dos Projetos de GEM, que são a continuidade e a sustentabilidade das Unidades de Gestão Energética Municipal

“Forampercebidosmuitosbenefícios

nos municípios depois que essa

metodologiafoiimplementada,entre

elespodemoscitaradisseminaçãodos

conceitos de eiciência contidos na

metodologiapormeiodasUnidades

deGestãoEnergéticaMunicipal”,Ana

Maria Kersting Battaglin, superintendente

Comercial de Distribuição da ANEEL

Page 28: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 29

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

(UGEM) criadas nos municípios, a primeira providência da COPEL foi a exigência de que os membros das UGEMs e os técnicos dos mu-nicípios, que são treinados, sejam funcionários concursados, evitan-do assim a descontinuidade do processo, após a implantação do projeto em cada Município. Após a conclusão do projeto, a con-cessionária envia mensalmente os dados das faturas de energia elétrica, para que haja atualização e acompanhamento permanente.

“Além disso, temos feito, de forma permanente, Chamadas Públicas, que proporcionam às Prefeituras a oportunidade de apresentar projetos oriundos do projeto realizado, podendo assim implantar as ações de eficiência constante no Plano de Gestão Energética Munici-pal, sem nenhum ônus para o Município”, disse a superin-tendente, ressaltando que, para que a ampliação da gestão do uso eficiente da energia elétrica

nas Administrações Públicas seja possível, é necessário que os principais interlocutores, IBAM e ELETROBRAS/PROCEL, conti-nuem desenvolvendo na Admi-nistração Pública projetos que agreguem a eficiência energética e o melhor uso dos recursos pú-blicos, evitando o desperdício de energia elétrica e disseminando os conceitos do uso eficiente da energia não só com os fun-cionários da administração mas também com toda a sociedade.

ENTREVISTA

Entrevista

Page 29: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro30

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O trabalho do PROCEL GEM para reduzir os gastos dasPrefeituras com energia elétrica

RESUMO

MarcellaFuchsSalomãoProfissional de Letras, com Mestrado em Linguística Aplicada e especialização em Gestão Empresarial. Trabalha na ELETROBRAS há nove anos, dos quais cinco são no PROCEL na área de Gestão Energética Municipal. Dedicada nos temas relacionados às políticas públicas na área de conservação de energia elé[email protected]

Não adianta chorar pelo leite derramado é um dito popular bastante conhecido que signifi-ca que, após algo desagradável acontecer, não há mais o que fazer. Deve-se, portanto, agir antes. Ainda no sentido literal, comprende-se muito bem a sabedoria popular: leite é um alimento importante, que custa dinheiro e, por isso, não deve ser desperdiçado.

Curiosamente, o mesmo não se dá com a energia elétrica. Esse valioso insumo que nos permite usufruir dos confortos da vida moderna e fazer uso de serviços essenciais é comumente “jogado fora” por mau uso ou falta de aten-ção. Leite e energia elétrica rece-bem tratamentos bem diferentes. Não se veem pessoas jogando um copo de leite fresco ralo abaixo. Contudo, com energia elétrica, esse esbanjamento acontece em todas as camadas da sociedade brasileira. Até por quem deveria dar o exemplo aos cidadãos.

A energia elétrica é um bem que deveria ser consumido com

responsabilidade por todos, prin-cipalmente no Poder Público, mas o que se vê é considerável desperdício, falta de informação e de controle por parte dos ad-ministradores públicos. Não há no Brasil a cultura voltada ao uso eficiente da energia elétrica no setor público nacional.

Entende-se como setor pú-blico aquele que “engloba en-tidades de Poder Público e os serviços de utilidade pública. O Poder Público é composto pelas Forças Armadas, escolas, hospitais da rede oficial e órgãos da Administração Pública, nos diversos níveis governamentais. Entre os serviços de utilidade pública, destacam-se, quanto ao consumo de eletricidade, os prestados por empresas de água e saneamento e iluminação pú-blica”1. Esses órgãos e instituições públicas deveriam ser modelos de gestão dos gastos com energia elétrica para toda a sociedade. Contrariando as expectativas, porém, é um setor que sofre para arcar com as despesas com

energia elétrica (popularmente chamadas de contas de luz). Devido à falta de informações, interesse ou responsabilidade de administradores públicos, medi-das simples de gestão das contas de luz não são implementadas para a redução de gastos.

Por ocasião da crise energética de 2001, o Poder Público teve de frear seu consumo; os prédios federais, por exemplo, tiveram de reduzir seu consumo de energia elétrica em 20%. Antes disso, al-guns contavam com uma Comis-são Interna de Conservação de Energia (Cice) para o controle e o acompanhamento do consumo das contas de luz de suas edifi-cações. Nos governos estaduais e municipais, não houve essa obrigatoriedade. Sendo assim, é possível que a redução observada nas contas de luz, naquela época, tenha sido mais em função de medidas duras de privação do consumo, como o desligamento de equipamentos e elevadores, apagamento de luzes e, até mes-mo, redução de horas de serviço.

Este artigo trata da falta de gestão das contas e do consumo de energia elétrica pelos municípios brasileiros. Apresenta, ainda, o trabalho do Procel GEM – Gestão Energética Municipal, subprograma do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL, o qual busca ajudar as Prefeituras a gastar menos com energia elétrica.

Palavras-chave: Gestão Energética Municipal. Contas de energia elétrica. Consumo. Procel GEM. Prefeituras.

PROCEL GEM

Page 30: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 31

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

A crise de 2001 está cada vez mais distante, e o que se obser-va ainda é a falta de gestão das contas e do consumo de energia elétrica em grande parte do setor público. A situação é ainda mais grave nos governos municipais, uma vez que a Constituição Federal de 1988 repassou às Prefeituras a responsabilidade de prestação de vários serviços aos cidadãos antes nas mãos do Governo Federal. Os municípios brasileiros, por exemplo, pas-saram a ser responsáveis pela iluminação pública e semafórica (sinais de trânsito), por seus prédios públicos e, em alguns casos, serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Apesar dessas atribuições, eles não parecem ter se estruturado para lidar com essas novas des-pesas.

Alguns municípios adotam práticas de gestão da energia elétrica, mas eles não são a maio-ria. Voltado para conscientizar os administradores municipais sobre a importância e os benefícios do controle e acompanhamento das

contas de luz municipais, o Pro-grama Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL criou o PROCEL GEM – Gestão Energética Municipal, que visa levar conhecimento e oferecer meios para que as Prefeituras brasileiras deixem de desperdiçar

energia elétrica. Criado em 2003, o PROCEL

GEM é um dos subprogramas do Programa Nacional de Conserva-ção de Energia Elétrica – PROCEL, uma iniciativa dos Ministérios de Minas e Energia e o Ministério da Indústria e Comércio, regulamen-tado pelo Decreto n.º 3.789/91 e

administrado pela ELETROBRAS, está, desde 1985, lutando para mudar a cultura do desperdício de energia elétrica no Brasil.

Pela experiência do PROCEL GEM, o Poder Público municipal tem pouco conhecimento sobre a gestão de seus gastos com energia elétrica. Observa-se que as contas de luz chegam e são pagas, às vezes, sem nenhum controle, seja porque uma certa secretaria cuida do recolhimento e da quitação de todas as demais contas ou porque tradicionalmen-te não há uma análise da conta, então, “paga-se sem discutir”. Há casos em que a Prefeitura, pela falta de recursos, não consegue arcar com seus gastos e fica inadimplente com a concessio-nária de energia local.

Apesar de as despesas com energia elétrica, notadamente com a iluminação pública e se-mafórica, serem a segunda maior despesa da Prefeitura, perden-do apenas para as de pessoal, poucos municípios contam com pessoas designadas a fazer o con-trole e o acompanhamento des-ses gastos ou mesmo a compra de equipamentos mais eficientes. Prefeituras das maiores cidades brasileiras têm uma secretaria ou companhia municipal para cuidar da manutenção e gastos com o parque de iluminação pública e os sinais de trânsitos. Municí-pios de menor porte, contudo, não dispõem dessa estrutura. Diante dessa preocupante situ-ação dos municípios brasileiros, o PROCEL GEM tem buscado diversas formas de alcançar sua missão, que é “ajudar as Prefeituras a gastar menos com energia elétrica”. É uma tarefa ambiciosa, levando-se em conta a diversidade e os mais de 5.566 municípios no Brasil. Cada vez mais, busca-se alavancar práticas

Voltado para municípios de até 30.000 habitantes, o treinamento visa à formação de Agentes Municipais de Eficiência Energética

Agestãodaenergia

elétricanosmunicípios

precisamesmoéde

informaçãoeinteresse

dosadministradores

municipais

PROCEL GEM

Page 31: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro32

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

de gestão energética municipal, por meio da criação de formas diversificadas de trabalho com as Prefeituras.

A gestão da energia elétrica ou gestão das contas de luz das Prefeituras não necessariamente precisa ser algo elaborado ou mui-to técnico, pelo menos, em um primeiro momento. Também não é necessário usar termos como eficiência energética ou conserva-ção de energia, pois podem não ser inteiramente compreendidos, ao passo que reduzir desperdícios e economizar dinheiro público são de entendimento imediato. A gestão, cujos pilares são conhe-cimento, controle, acompanha-mento e planejamento, requer, em muitos casos, poucos recursos humanos e materiais, mas muito comprometimento e querer fazer. Muitas vezes, medidas de baixís-simo custo contribuem significa-tivamente para a economia nas contas de luz e sem prejudicar a qualidade dos serviços prestados e o conforto aos municípes. Um exemplo simples é passar as con-tas de luz para o débito automático a fim de evitar o pagamento com atraso. Inúmeros são os casos de a Prefeitura pagar multas sem se dar conta disso.

Quando há pessoas na Prefei-tura para verificar e acompanhar as conta de luz, chega a ser sur-preendente o que se “consegue descobrir” ao se prestar mais atenção ao que se está pagando. Igualmente importante é ter um histórico das contas durante o ano para se observar o comportamen-to do consumo, sua sazonalidade. Em escolas, é compreensível que o consumo seja menor nos meses de férias. Caso contrário, certamente haverá algum proble-ma a ser sanado, mas isso só é possível quando a Prefeitura está atenta às suas contas de luz.

Por não haver políticas públi-cas ou incentivos que levem o ad-ministrador municipal a gerenciar melhor suas contas de energia elétrica, o PROCEL GEM vem exercendo essa função ao levar a gestão energética municipal às Prefeituras brasileiras por meio de diversas formas de atendimento, destacadas a seguir:

PLAMGE – Plano Municipal de Gestão da Energia Elétrica: é certamente a mais conhecida e consagrada das metodologias do PROCEL GEM. Fruto de uma par-ceria com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM no final dos anos 1990, tem por objeti-vo o treinamento de uma equipe de técnicos municipais em conceitos de gestão energética municipal e no software de informações energéti-cas municipais, SIEM. Por meio de Decreto Municipal, é criada a UGEM – Unidade de Gestão Municipal, for-mada pelos técnicos treinados, que assumem a responsabilidade de cuidar da gestão das contas de luz da Prefeitura. Com a orientação de consultores certificados, esse grupo também aprende a fazer o levanta-

mento da situação do consumo de energia elétrica pela Prefeitura e a elaborar o relatório final, o PLAMGE. Esse documento, com média de elaboração de oito meses, ajuda o prefeito a localizar oportunidades de redução de desperdícios e contém simples projetos para melhorar a eficiência das áreas consumidoras de energia elétrica do Município.

Treinamento Economizando

Energia Elétrica nas Prefei-turas: este trabalho de dois dias é voltado aos técnicos municipais e, geralmente, conta com o apoio da distribuidora de energia elétrica local. O objetivo é sensibilizar os profissionais e apresentar conceitos de gestão da energia elétrica, ilumi-nação pública e semafórica e prédios públicos. (Leia neste número da revista o artigo Informação: O Pri-meiro Passo das Prefeituras Rumo à Eficiência Energética com detalhes sobre os treinamentos Economizan-do Energia Elétrica nas Prefeituras).

Comunidades de Aprendi-zado em Gestão Energética Municipal: voltado para muni-cípios de até 30.000 habitantes,

Os municípios brasileiros passaram a ser responsáveis pela iluminação pública e semafórica, por seus prédios públicos e, em alguns casos, pelos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário. Apesar dessas atribuições, eles não parecem ter se estruturado para lidar com essas novas despesas

Page 32: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 33

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM PROCEL GEM

esse treinamento visa à formação de Agentes Municipais de Efici-ência Energética. Em três oficinas com duração de dois a três dias cada e durante um prazo entre 6 e 10 meses, os participantes apren-dem conceitos de gestão energé-tica e técnicas de convencimento para atuarem em seus municípios e multiplicarem o conhecimento adquirido. Eles levantam e orga-nizam os dados do Município em planilhas simples para, em seguida, elaborar planos básicos de ação para reduzir os desperdícios nas contas de luz de suas Prefeituras, por meio de medidas de gestão e troca de equipamentos.

Até 2010, o PROCEL GEM já conseguiu que os municípios deixassem de consumir quase 64.000MWh, o que equivale-ria ao abastecimento de uma cidade de 148 mil habitantes durante um ano. É algo conside-rável, uma vez que, geralmente, bastava apenas atenção e acom-panhamento do consumo e da negociação com a concessioná-ria de energia elétrica local para

1 CADERNOS Temáticos 2008 - PNE 2030 Eficiência Energética, Empresa de Pesquisa Energética, p. 46.2 KURAHASSI, L.F., RIBEIRO, F.S., SAIDEL, M.A. e GIMENES, A.L.V. Gestão da Energia Elétrica. Bases para uma Política Pública Municipal. Revista Brasileira de Energia, Vol.14, N.º 2, 2º Sem. 2008, pp.47-65

NOTAS

corrigir erros que perpetuavam ano a ano.

A gestão da energia elétrica nos municípios precisa mesmo é de informação e interesse dos administradores municipais. Esse trabalho necessita ser feito de modo sistemático, contínuo e por pessoal dedicado a essa tarefa. Há ferramentas computa-cionais de controle que podem ser usadas para facilitar esse trabalho, mas planilhas feitas à mão também servem. Viu-se também que é possível fazer gestão energética com poucos recursos financeiros. Entretanto, em uma segunda etapa, após o diagnóstico da situação ener-gética do Município, pode-se investir na aquisição de equipa-mentos eficientes. Para isso, há, pelo menos, duas possibilidades ao alcance do Munícipio: 1) reinvestir os ganhos resultantes das economias obtidas com as medidas de gestão; e 2) as dis-trituidoras de energia elétrica são obrigadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) a

aplicarem recursos em eficiência energética, o que, no caso das Prefeituras, pode ser feito em vários tipos de projetos: gestão energética de prédios e serviços públicos. Os prefeitos podem entrar em contato com a empre-sa local e negociar esse apoio. Por fim, seguem as palavras do Prof. Marco Antonio Saidel, da Escola Politécnica da Uni-versidade de São Paulo2, sobre a importância do controle e do acompanhamento das contas de luz nas Prefeituras:

“A gestão da energia elétrica não é uma solução para a falta de recursos dos municípios, mas pode contribuir significativamente para reduzir os impactos deste insumo essencial nas contas públicas e permitir a destinação de tais economias para outras iniciativas necessárias.”

Essa afirmativa espelha o entendimento do PROCEL GEM quanto a essa questão e mostra, de forma cristalina, o que se almeja com a gestão energética municipal.

The work of PROCEL GEM to reduce spending on electricity by local governments

This article deals with the lack of management of electric energy bills and consumption by Brazilian municipalities. It also presents the work of Procel GEM – Municipal Electricity Management, a sub-program of the National Electricity Conservation Program – Procel, which aims to help local governments spend less on electricity.

Keywords: Municipal Electricity Management. Electricity bills. Electricity consumption. Procel GEM. Local governments.

El trabajo del PROCEL GEM para reducir los gastos de los municipios con la energía eléctrica

Este artículo se refiere a la falta de gestión de cuentas y de consumo de electricidad por los municipios brasileños. También se presenta el trabajo de Procel GEM – Gestión de la Energía Eléctrica Municipal, sub-programa del Programa Nacional de Conservación de la Energía Eléctrica – Procel, que tiene como objetivo ayudar a los gobiernos locales a gastar menos en electricidad.

Palabras clave: Gestión de la Energía Eléctrica Municipal. Cuentas de electricidad. Consumo. Procel GEM. Gobiernos locales.

ABSTRACT

RESUMEN

PROCEL GEM

Page 33: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro34

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

RESUMO

Informação: o primeiro passo das Prefeituras rumo à eficiência energética

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

A falta de acesso a informações sobre eficiência energética é a principal demanda das equipes técnicas do Poder Público. Com base neste dado, a ELETROBRAS/PROCEL promove treinamentos sobre conceitos de gestão energética municipal para técnicos das Prefeituras Brasileiras, enfatizando dicas e soluções práticas nas áreas de iluminação pública e prédios públicos. Como resultado, as Prefeituras passam a conhecer o assunto e buscam soluções para reduzirem seu consumo de energia elétrica.

Palavras-chave: Eficiência energética. Gestão. Treinamento. Prefeitura.

DaviVeigaMirandaArquiteto e urbanista. MBA em Gerenciamento de Projetos. Mestre em Gestão Empresarial. Trabalha na ELETROBRAS há oito anos, no Departamento responsável pelo PROCEL, e sempre na área de Gestão Energética [email protected]

Profissionais que trabalham em contato constante com o Poder Público provavelmente já notaram uma característica marcante desse público: há uma carência de informações para as equipes. Informações técnicas, informações sobre fontes de recursos, inovações e qualquer outro tipo de conhecimento que possa auxiliar a tarefa de gerir com eficiência os recursos que têm à disposição. Em nosso trabalho no PROCEL GEM – Ges-tão Energética Municipal, onde buscamos auxiliar as Prefeituras a gastar menos com energia elétrica, essa preocupação já foi notada desde 2004, quando re-alizamos uma pesquisa que nos revelou, entre outros, o dado de que, quando se trata de eficiência energética, o que os municípios mais buscam são informações sobre o assunto. Mais até do que recursos financeiros!

Este dado foi um dos orien-tadores de nossas ações a partir

de então, juntamente com a percepção de que os municí-pios brasileiros possuem perfis e características diferentes que influenciam os problemas que eles enfrentam. Dessa forma, para atendê-los de forma eficaz, fazia-se necessário desenvolver formas de atuação que conside-rassem a avidez por informações e, ao mesmo tempo, buscassem solução para suas dificuldades do dia a dia. E é exatamente isso o que vem sendo feito.

Percebemos que o desco-nhecimento por parte das Ad-ministrações Municipais de que havia oportunidades de reduzir o desperdício no uso de ener-gia elétrica em suas instalações não permitia sequer que eles procurassem por ajuda. Eles não notavam que isso era um proble-ma e, portanto, nada faziam para resolvê-lo.

A nossa série de treinamentos “Economizando Energia Elétrica nas Prefeituras” tem exatamente

o objetivo de chamar a atenção dos técnicos municipais para este problema do desperdí-cio de energia elétrica. É uma sensibilização, uma forma de transmitir conhecimentos, mas sem aprofundamentos, que lhes

(...)aELETROBRAS/

PROCELconsideraque

ostreinamentostêm

umaimportânciamuito

grandeparaamelhor

gestãoeeiciência

energética

Page 34: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 35

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

permita entender a importância da gestão eficiente, acompanhar o consumo de energia elétrica, identificar oportunidades de economia e implementar ações simples para resolver os proble-mas mais comuns.

Desde 2005 até o momento, foram realizados nove treinamen-tos: Rio de Janeiro – RJ, Recife – PE, Salvador – BA, Florianópolis – SC, Brasília – DF, Porto Alegre – RS, Caxias do Sul – RS, Vila Ve-lha – ES e Campo Grande – MS. Foram mais de 700 técnicos de 261 Prefeituras que receberam informações sobre os assuntos mais importantes dentro da área de eficiência energética nas Pre-feituras: iluminação pública, que representa cerca de 75% do con-sumo da Administração Pública municipal; prédios públicos, que abrange quase todo o restante; e gestão energética municipal, que gera benefícios no conhecimento das características e no controle das despesas.

O treinamento é baseado em conhecimentos de fácil absorção, já que o perfil dos participantes

é, geralmente, de leigos no as-sunto. A Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, nossa parceira na realização dos trei-namentos e responsável pela definição dos conteúdos técnicos, incluiu, por exemplo, dicas de gestão, explorando a experiência da ELETROBRAS no assunto e mostrando casos e oportuni-dades que encontramos nos municípios em que trabalhamos e que podem ocorrer com os participantes; orientações sobre a legislação vigente, o que auxilia as Prefeituras em seu relaciona-mento com as concessionárias distribuidoras; apresentações de equipamentos e lâmpadas efi-cientes, para que as Prefeituras saibam como comprar; sugestões de trocas eficientes, o que facilita o trabalho de especificação dos projetos; e ensinamentos básicos sobre como elaborar projetos de eficiência energética.

Outro aspecto importante, e diríamos crucial, dos treinamentos é a participação das concessioná-rias distribuidoras locais na sua organização e promoção. Temos

ciência do grande contato que as Prefeituras têm com essas empresas devido tanto à natureza fornecedor – cliente, quanto pela importância do cliente “Poder Pú-blico” em termos de quantidade de energia consumida e, conse-quentemente, valores elevados de contas de energia. Assim, um convite da concessionária, aliado a um incentivo de participação pessoal, tem peso e credibilidade muito grandes. Além disso, é uma grande oportunidade de melhorar esse relacionamento, pois os conhecimentos permitem que os técnicos das Prefeituras entendam melhor as contas e os contratos de fornecimento e ainda possam conversar com os representantes da concessionária, que sempre estão presentes. E isso funciona! A participação das Prefeituras tem sido bastante ativa.

Por sinal, um dos grandes resultados que temos desses treinamentos são os contatos posteriores que os participantes e suas Prefeituras fazem conosco em busca de mais informações e aprofundamento no assunto. Consideramos que, após o trei-namento, que geralmente é um contato inicial das Prefeituras com o assunto, os técnicos que se interessam e que enxergam opor-tunidades de trabalho procuram saber mais para efetivamente implementar ações de eficiência energética em seus municípios. Neste momento, a visão do PROCEL GEM em se tornar uma referência nesse assunto começa a ganhar força, pois recebemos sempre diversos telefonemas, e-mails e visitas buscando essas informações. E como o interesse das Prefeituras é um fator-chave de sucesso para as ações de eficiência energética, esses con-tatos são muito bem-vindos, pois podemos auxiliá-los a buscar

A série de treinamentos “Economizando Energia Elétrica nas Prefeituras” tem exatamente o objetivo de chamar a atenção dos técnicos municipais para este problema do desperdício de energia elétrica

Eficiência Energética

Page 35: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro36

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

recursos, elaborar projetos e encaminhá-los aos parceiros mais interessantes para cada caso.

Enfim, a ELETROBRAS/PRO-CEL considera que os treinamen-tos têm uma importância muito grande para a melhor gestão e eficiência energética. É uma forma muito eficaz de repassar as infor-mações das quais as Prefeituras e seus técnicos são tão carentes, ajuda a destacar os municípios in-teressados no assunto, melhora o relacionamento entre administra-

Information: the first step towards energy efficiency of the municipality

Lack of access to information about energy efficiency is the main demand of the technical teams of the municipalities. Based on this, Eletrobras Procel promotes training on municipal energy management concepts to technicians of the brazilian municipalities, emphasizing tips and practical solutions in the areas of public lighting and public buildings. As a result, local governments know the issue and seek solutions to reduce their electricity consumption.

Keywords: Energy efficiency. Management. Training. Municipality.

Información: el primer paso hacia la eficiencia energética de la polidad

La falta de acceso a la información sobre la eficiencia energética es la principal demanda de los equipos técnicos de la opinión pública. Basándose en estos datos, Eletrobras Procel promueve la formación de conceptos de gestión energética municipal a los técnicos de los municipios brasileños, haciendo hincapié en consejos y soluciones prácticas en las áreas de alumbrado público y edificios públicos. Como resultado, los gobiernos locales conocen el problema y buscan soluciones para reducir su consumo de electricidad.

Palabras clave: Eficiencia energética. Gestión. Formación. Gobierno Municipal.

dores públicos e concessionárias e ainda aumenta as chances de sucesso dos projetos de gestão e eficiência energética, pois consi-deramos que a gestão feita pela própria Prefeitura é essencial para que benefícios de projetos, como os de iluminação pública, de climatização ou iluminação de prédios, não se percam com o fim da vida útil dos equipamentos substituídos. Somente uma equi-pe capacitada, ciente da impor-tância da manutenção e que saiba

como comprar de forma eficiente poderá garantir que a economia gerada inicialmente se perpetue.

Ainda temos treinamentos a realizar, nas regiões Nordeste, Norte e Sudeste do nosso País. Convidamos você, leitor, a parti-cipar destes eventos. E, mais que isso, a nos procurar posteriormen-te, pois isso é o que buscamos: Prefeituras interessadas e dispos-tas a reduzirem seus desperdícios de energia elétrica, tornando-se cidades eficientes!

ABSTRACT

RESUMEN

Page 36: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 37

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Prêmio Procel Cidade Eficiente em Energia Elétrica

PRÊMIO PROCEL

VandaAlvesdosSantosEngenheira eletricista com MBA em Economia e Gestão em Energia pela COPPEAD/UFRJ. Gerente da Divisão de Gestão da Eficiencia Energética - DTPG - PROCEL/[email protected]

RESUMO

O Premio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica foi instituido pela Centrais Eletricas Brasileiras S/A – ELETRO-BRAS, no âmbito do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL, em parceria com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, com o objetivo de incentivar as Prefeituras brasileiras a desenvolverem cada vez mais projetos de gestão e eficiência energética.

Palavras-chave: Prêmio. Município. Gestão. Energia elétrica.

O Prêmio PROCEL Cidade Eficiente em Energia Elétrica foi instituido em 2000 por meio de uma parceria entre a ELE-TROBRAS/PROCEL – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica e o IBAM – Ins-tituto Brasileiro de Administração Municipal, no âmbito do Subpro-grama PROCEL GEM – Gestão Energética Municipal e da RCE – Rede Cidades Eficientes em Energia Elétrica.

O prêmio objetiva, por meio do reconhecimento das experiências locais que mais se destacaram na gestão e no uso eficiente da ener-gia elétrica, estimular os municípios vencedores a incorporarem as práticas do uso eficiente da energia elétrica e a despertar nos demais municípios o interesse em adota-rem posturas semelhantes, visto os benefícios alcançados pelos municípios premiados, nos diversos segmentos de consumo municipal.

Sendo assim, a premia-ção promove a divulgação das

experiências bem-sucedidas, servindo como incentivo aos municípios na continuidade e na expansão dos trabalhos que levem à melhor gestão e ao uso eficiente da energia elétrica, além de se revelar ferramenta capaz de contribuir para a qualidade de vida da população, ao meio ambiente e ao desenvolvimento socioeconômico dos municípios.

Ao longo dos anos, foram premiadas Prefeituras de todas as regiões do Brasil, bem como instituições apoiadoras dos mu-nicípios na implementação dos projetos, como empresas de energia elétrica e universidades.

No primeiro prêmio em 2001, foram agraciadas as Prefeituras nas seguintes categorias:

•CategoriaEducação–Prefei-tura Municipal de Santa Helena (PR)

•CategoriaGestãoEnergéticaMunicipal – Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro (RJ)

•CategoriaIluminaçãoPública– Prefeitura Municipal de Santo André (SP)

• Categoria Prédios Públicos– Prefeitura Municipal de Santa Helena (PR)

A Cerimônia da Premiação ocorreu na abertura do VII Con-gresso Brasileiro de Municípios, no dia 5 de março, em Brasília, DF, e contou com a presença de várias autoridades entre as quais, os ministros de Estado, Sr. Pimen-ta da Veiga e Sr.Ney Suassuna, o presidente da ELETROBRAS, a superintendente Geral do IBAM.

No ano de 2002, foi entregue a segunda edição do prêmio com uma novidade, a inclusão de uma categoria Iluminação Pública com recursos do Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente – RELUZ. Seguem, abaixo, os vencedores da 2ª edição.

•CategoriaEducação–Prefei-tura Municipal de Paracambi (RJ)

Page 37: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro38

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

•CategoriaGestãoEnergéticaMunicipal – Prefeitura Municipal do Natal (RN)

•CategoriaIluminaçãoPública– Prefeitura Municipal de Vitória (ES)

•CategoriaIluminaçãoPública– Programa RELUZ – Prefeitura municipal de Paracambi (RJ)

•CategoriaLegislação–Prefei-tura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro (RJ)

• Categoria Prédios PúblicosMunicipais – Prefeitura Municipal de Pelotas (RS)

•CategoriaSaneamento–Pre-feitura Municipal de Piracicaba (SP)

A Cerimônia de entrega da 2ª edição do prêmio foi realizada no VIII Congresso Brasileiro de Municípios – CBM em março, na cidade de Brasília, com a presen-ça de várias autoridades.

Em 2003, foi entregue a 3ª edição do prêmio com os seguin-tes premiados:

•CategoriaEducação–Prefei-tura Municipal de Paracambi (RJ)

•CategoriaGestãoEnergéticaMunicipal – Prefeitura Municipal de Elói Mendes (MG)

•CategoriaIluminaçãoPública– Prefeitura Municipal de Floria-nópolis (SC)

•CategoriaIluminaçãoPública– Programa RELUZ – Prefeitura Municipal de Bagé (RS)

• Categoria Prédios PúblicosMunicipais – Sistemas Eficientes – Prefeitura Municipal de Para-cambi (RJ)

•CategoriaPrédiosPúblicosMu-nicipais – Novas Edificações – Pre-feitura Municipal de Palmas (TO)

•CategoriaSaneamento–Pre-feitura Municipal de Imbé (RS)

A Cerimônia de Premiação ocorreu na abertura do IX Congres-so Brasileiro de Municípios – CBM,

no dia 5 de abril, em Salvador.O Prêmio sofreu uma modifi-

cação no seu nome por ocasião da entrega da 4ª edição, que foi entregue em 2004, e o mesmo passou a chamar-se, Prêmio PROCEL Cidade Eficiente. Esta mudança promoveu uma maior identificação com o seu principal promotor que é o PROCEL. Os premiados neste ano foram:

• Categoria Educação – Pre-feitura Municipal de Limeira (SP)

•CategoriaGestãoEnergéticaMunicipal – Prefeitura Municipal de Londrina (PR)

• Categoria Iluminação Pú-blica – Prefeitura Municipal de Fortaleza (CE)

•CategoriaSaneamento–Pre-feitura Municipal de Palhoça (SC)

Nesta edição, foram conferidos os Prêmios Destaque em Promo-ção dos Conceitos de Eficiência Energética à Prefeitura Municipal de Almirante Tamandaré (PR) e à Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul (RS).

A Cerimônia da Premiação ocorreu na ocasião do II Seminário

Internacional de Federalismo e De-senvolvimento, no dia 21 de maio, evento promovido pela Associação Brasileira de Municípios – ABM.

A 5ª edição do Prêmio ocorreu por ocasião da 2ª Conferência das Cidades no ano de 2005, evento promovido pelo Ministério das Cidades e que contou com mais de 2.500 participantes. Nesse ano, os vencedores foram:

•CategoriaIluminaçãoPública:Fortaleza – CE

•CategoriaGestãoEnergéticaMunicipal: Londrina – PR

•CategoriaSistemasdeSane-amento: Palhoça – SC

•CategoriaEducação:Limeira–SP

Destaque em Promoção dos Conceitos de Eficiência Energé-tica: Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul.

Obs.: Este ano não houve inscritos na categoria Legislação.

Durante os anos de 2006 e 2007, não houve premiação que foi retomada em 2008.

A 6ª edição do Prêmio PRO-CEL Cidade Eficiente foi entre-gue durante a realização do

A 6ª edição do Prêmio PROCEL Cidade Eficiente foi entregue durante a realização do III Seminário Internacional de Federalismo e Desenvolvimento, promovido pela Associação Brasileira de Municípios – ABM, no dia 24 de junho de 2008, em Brasília

Page 38: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 39

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM PRÊMIO PROCEL

III Seminário Internacional de Federalismo e Desenvolvimen-to, promovido pela Associação Brasileira de Municípios – ABM, no dia 24 de junho de 2008, em Brasília.

•CategoriaEducação–Prefeitu-ra Municipal de Monte Belo (MG)

•CategoriaGestãoEnergéticaMunicipal – Prefeitura Municipal de Santarém (PA)

• Categoria Prédios PúblicosMunicipais – Prefeitura Municipal de Butiá (RS)

Prêmio Destaque em Promo-ção dos Conceitos de Eficiência

Folder premiados de 2001 a 2010

Energética – Prefeitura Municipal de Cujubim (RO)

Até o momento, o Prêmio PROCEL Cidade Eficiente en-tregou 7 edições, sendo que a última em 2010, e a Cerimônia da Premiação foi realizada no I Seminário de Gestão da Quali-dade – Excelência na Administra-ção, promovido pela Associação Brasileira de Municípios – ABM, no dia 11 de novembro de 2010, em Campinas (SP). Os agracia-dos com o Prêmio foram:

•CategoriaEducação–Prefeitu-ra Municipal de Timon (MA)

• Categoria Gestão Energética

Municipal – Prefeitura Municipal de Guarulhos (SP)

•CategoriaIluminaçãoPública–Prefeitura Municipal de Cuiabá (MT)

• Categoria Prédios PúblicosMunicipais – Prefeitura Municipal de São Lourenço (MG)

• Categoria Saneamento –Prefeitura Municipal de Caxias do Sul (RS)

PRÊMIO DESTAQUE EM PRO-MOÇÃO DOS CONCEITOS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:

•PrefeituraMunicipaldeJoãoPessoa – PB e Governo do Estado do Amazonas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

The PROCEL Electric Energy Efficient City Award

Was created by Centrais Elétricas Brasileiras S/A – ELETROBRAS, under the National Electric Energy Conservation Program - PROCEL in partnership with the Instituto Nacional de Administração Municipal – IBAM, with the aim to encouraging Brazilian municipalities to develop more projects on electric energy management and efficiency.

Keywords: Award. Municipalities. Management. Electric energy.

El premio PROCEL Ciudad Eficiente em la Energía Eléctrica

Fue creado por el Centrais Elétricas Brasileiras S/A – ELETROBRAS, en el marco del Programa Nacional de Conservación de Energía Eléctrica – PROCEL en colaboración con el Instituto Nacional de Administração Municipal – IBAM, con el objetivo de fomentar los municipios brasileños para desarrollar proyectos de la gestión y la eficiencia energética.

Palabras clave: Premio. Municipios. Administracion. Energía eléctrica.

ABSTRACT

RESUMEN

Prêmio PROCEL

Page 39: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro40

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Reduzindo as despesas dos municípios com o uso eficiente da energia elétrica: o programa “Comunidades de Aprendizado em Eficiência Energética”

REDUZINDO AS DESPESAS

PauloC.A.BenettiEconomista e diretor da Inteligência Natural Consultoria. Formado pela Creative Education Foundation em facilitação de grupos Mestrado na Espanha sobre Criatividade [email protected]

ClaraR.J.LacerdaRamalhoEngenheira eletricista, com pós-graduação em Uso Racional da Energia pela Universidade Federal de Itajubá. Diretora da Lumina [email protected]

A eficiência energética é o principal item no tratamento da sustentabilidade do planeta. A sua adoção pode melhorar as despesas correntes dos pequenos municípios brasileiros. O programa “Comunidade de Aprendizado em Eficiência Energética”, desenvolvido pela ELETROBRAS, atende a estes dois eixos, sem representar custo para os municípios. Este artigo mostra como funciona e de que forma chegou a este resultado bastante inovador.

Palavras-chave: Economia de energia elétrica. Redução de despesas dos municípios. Comunidades de aprendizado. Treinamento de eletricistas municipais.

RESUMO

INTRODUÇÃO

O uso eficiente da energia elétrica tornou-se uma questão de preocupação mundial. Afinal, como promover o crescimento de um país sem a utilização des-te recurso? Para que tenhamos uma qualidade de vida melhor e sustentabilidade no uso dos recursos existentes, a redução do consumo de energia e seu uso eficiente é uma das mais impor-tantes questões que os governos terão de resolver, investindo em soluções inovadoras.

É possível imaginar que, parte da solução do problema possa vir de municípios brasileiros com 30.000 habitantes ou menos?

Pode-se pensar que boas respostas à questão possam ad-vir de humildes pessoas desses municípios que trabalhem como eletricistas ou mesmo em outras funções, não necessariamente ligadas à energia?

É possível termos um progra-ma de treinamento cujo desen-volvimento não somente prepara as pessoas, do ponto de vista técnico e comportamental, mas também mostra os resultados oriundos das ações implemen-tadas?

Além disto, é possível imagi-nar que o programa é totalmente gratuito para os municípios, sen-do realizado com recursos de utilização obrigatória, oriundos

Éfundamental

paraumprograma

detreinamentoe

desenvolvimentoque

eletenhaobjetivos.

Pode-sedizerquemais

importanteaindaéque

elecrieumarelação

decomprometimento

dostreinandoscomos

resultados

Page 40: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 41

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

do PEE – Programa de Eficiência Energética das empresas distri-buidoras de energia elétrica?

E ainda, que as ações utiliza-das para a redução do consumo pelos municípios sejam obtidas, basicamente, por meio de mu-dança de hábitos, pela adoção de medidas sem nenhuma despesa ou de baixo investimento, pela multiplicação do conhecimento e convencimento de membros da Prefeitura?

Pois o programa “Comunida-des de Aprendizado em Eficiência Energética” desenvolvido por uma equipe de consultores da

Fundação Coge para a ELETRO-BRAS alcançou esse ambicioso propósito.

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

A área de Gestão Energéti-ca Municipal da ELETROBRAS, PROCEL GEM, desejava ter um programa que fosse mais efetivo para as cidades pequenas, aqui

entendidas como cidades de até 30.000 habitantes. Assim, havia uma disposição e abertura para novas ideias para o atendimento a estas municipalidades.

O programa, que mais tarde veio chamar-se de “Comunidade de Aprendizado em Eficiência Energética”, foi desenvolvido da mesma forma que os programas de padrão internacional o são.

Uma das dificuldades encon-tradas no desenvolvimento de programas é que se acredita que as pessoas aprendem porque têm de aprender. É muito comum aplicar-se um treinamento e pen-

sar que os resultados virão em seguida. Pois, esta foi uma das pedras de toque do desenvolvi-mento da metodologia: entender que a construção da aprendiza-gem é a parte mais importante de um treinamento. Como disse Lao Tsé, “saber e não fazer ainda não é saber.”

É fundamental para um pro-grama de treinamento e de-senvolvimento que ele tenha

objetivos. Pode-se dizer que mais importante ainda é que ele crie uma relação de comprome-timento dos treinandos com os resultados. Assim, os resultados devem estar no alvo principal.

Para que o desejo se tornasse realidade, foi preparado um plano para experimentar a aplicação do programa.

Primeiro, foi elaborado um manual, cujo conteúdo técnico relativo a prédios públicos, ilu-minação pública, legislação, sa-neamento e cultura da eficiência foram ordenados por especia-listas em eficiência energética e trabalhados por especialistas em Pedagogia para colocá-los em uma linguagem clara e objetiva já que atenderiam a priori pessoas que teriam baixa escolaridade, diferentes cursos, formas de se interagir e processos de trabalho.

Também foi escrito um módu-lo chamado cultura da eficiência, algo novo para um manual de cunho técnico. Posteriormente, devido à realidade dos municí-pios, acabou-se por privilegiar a questão da economia de água e nem tanto o saneamento por tratar-se de uma questão, na maioria das vezes, que não per-tence à esfera municipal.

Foram elaborados e agrega-dos ao manual outras mídias, tais como: cartazes, adesivos, vídeos e outros que ajudariam os partici-pantes a compreender o tema de economia de energia e eficiência energética, o que poderia auxiliá--los em seus municípios.

Segundo, o programa foi de-senvolvido dentro da linha de fa-cilitação e não de aulas comuns, ou seja, não há relação formal de professor-aluno. Parte-se da premissa – cuja estimulação vem de Paulo Freire – que todos já trazem um saber e que é preci-so fazer aflorá-lo; envolvê-las no

Foram elaborados e agregados ao manual outras mídias, tais como: cartazes, adesivos, vídeos e outros que ajudariam os participantes a compreender o tema de economia de energia e eficiência energética, o que poderia auxiliá-los em seus municípios

Reduzindo as Despesas

Page 41: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro42

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

tema; estimulá-las na aquisição de um novo conhecimento; e mostrá-las que são capazes de trazer resultados.

Foram escolhidas três regiões para dar início ao programa piloto. Em torno de 30 municípios de cada Estado: Bahia, Minas Gerais e Maranhão foram selecionados para enviar seus eletricistas para aprenderem como economizar energia sem perda de qualidade de vida, sem racionamento. A intenção era a de melhorar o uso da energia, usá-la de forma eficiente. O Estado do Pará foi incluído também no programa, um pouco mais à frente.

Os selecionados pelas Prefeitu-ras para participar do treinamento receberam o manual, anterior-mente citado, para que tivessem um primeiro contato com o tema.

Durante o desenvolvimento do trabalho, os facilitadores observaram que poucos selecionados tinham lido os manuais entregues anterior-mente. Foi necessário criar espaços durante o treinamento para a leitura. Explica-se essa atitude pelo fato de a grande maioria dos participantes estar envolvida em diversos seg-mentos de trabalho dos municípios ou mesmo, pela falta de hábito ou dificuldade de leitura.

Foram desenvolvidas três ofici-nas para cada grupo. A primeira, objetivava despertar o interesse para o tema e passar o conheci-mento básico para o uso da energia de forma eficiente em suas cidades. Enfatizou-se a aplicação de ações de custo zero e mudança de hábi-tos evitando o desperdício. E que estas mudanças deviam ser inicia-das em suas próprias residências. Os participantes já saíam da oficina com um programa de trabalho para aplicar no retorno a suas cidades.

A segunda oficina, quase dois meses depois da primeira, com a mesma duração, tinha o objetivo

de sedimentar, ampliar os co-nhecimentos e tirar dúvidas. Os eletricistas haviam voltado para suas cidades, após o primeiro encontro e certamente encon-traram dificuldades. A solução destas dificuldades, na maioria das vezes, partia da troca de ex-periências entre eles, daí o nome “Comunidade de Aprendizado”. Isto queria dizer que eles podiam aprender uns com os outros, que podiam se ajudar mutuamente na solução de problemas que afetam suas comunidades.

Seis meses depois desta se-gunda oficina, tinha-se a terceira oficina onde traziam os resulta-dos, que seriam apresentados aos facilitadores e aos conso-lidados em forma de relatório, posteriormente.

RESULTADOS DO PROJETO

Após quatro grupos prepa-rados, o projeto chegou aos seguintes resultados:

• 59 eletricistas e ains trei-nados;

• 45 cidades de 4 regiõesbeneficiadas;

• 3.300.000KWh/ano redu-zidos; e

•Emtornodeummilhãodereais economizados.

Em uma avaliação feita com estes grupos um ano após, observou-se que os participantes continuavam a trabalhar, obtendo novos resultados.

A partir do ano de 2010, este programa foi apresentado à ANE-EL pela ELETROBRAS Rondônia, como parte de seu PEE. Atual-mente, a ANEEL está avaliando os relatórios elaborados pela ELETROBRAS Rondônia, com base nos resultados obtidos com a implementação do programa, para a emissão de um parecer final. Com isso, abre-se a pos-sibilidade de que os milhares de municípios brasileiros sejam beneficiados com este programa, sem qualquer custo proveniente de seus municípios, já que todas as despesas, inclusive as de via-gens e estadas dos participantes, são cobertas pelas distribuidoras

Durante o desenvolvimento do trabalho, os facilitadores observaram que poucos selecionados tinham lido os manuais entregues anteriormente. Foi necessário criar espaços durante o treinamento para a leitura

Page 42: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 43

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM REDUZINDO AS DESPESAS

BENETTI et alii: Changing de way you teach: creative tools for management educators; Septem Ediciones, Barcelona (2005)FREIRE, Paulo: Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa; Paz e Terra (1996)HOFSTEDE, Geert: Culture and Organizations: Intercultural cooperation and its importance for survival; McGrawHill (1991)ISAKSEN, Dorval, Treffinger: Creative approaches to problem solving; CPSB (1993)NOLAN, Vicent editor: Creative Education: Educating a nation of innovators; Sinectics (2000)PARNES, Sidney: A facilitating style of leadership; Bearly (1985)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABSTRACT

RESUMEN

de energia, por meio do PEE da ANEEL. Cabe aos municípios estimular as concessionárias de energia elétrica – que têm interesse em desenvolver este programa – para a sua aplicação nas suas regiões.

Com a aplicação do programa, a ELETROBRAS Rondônia conse-guiu reduzir 509.072kWh/ano de energia.

Assim, por meio de uma metodologia que utiliza a cons-trução do conhecimento, a troca de experiências e vivên-

cias, exemplos da vida diária, estímulo à ação, mudança de postura e hábitos de consumo, apresentação de conceitos de eficiência energética e estímulo à motivação dos participantes podem-se obter resultados muito satisfatórios, contribuindo, assim, para a economia de um recurso tão importante para o País como a energia elétrica e, acima de tudo, transformar cidadãos.

A experiência tem mostrado que poucos municípios brasi-

leiros conhecem suas unidades consumidoras, não têm cadastro de IP ou de PP (IP, PP), desco-nhecem quantos e quais equipa-mentos têm instalados, quanto consomem, quanto gastam e, sobretudo, qual seu o potencial de economia destas unidades. Tendo em vista que cada R$/KWh economizado poderá ser revertido para outras melhorias, ter seus profissionais treinados para res-ponder e resolver estas questões é uma oportunidade que nenhum Município pode prescindir.

Cutting the municipalities expenses with electric power energy efficiency: the program “Learning Communities in Efficiency Energy”

Energy efficiency is the main issue for the planet sustainability treatment. Its adoption can help the current expenses of Brazilian small municipalities. The program “Comunidade de Aprendizado em Eficiência Energética”, developed by ELETROBRAS, pay attention on these two axes, without cost for the municipalities. This article shows how this program works and how got this innovative result.

Keywords: Electric energy economy. Municipalities’ expenses reduction. Learning Communities. Municipality’s electricians training.

Reduciendo los gastos en las municipalidades con el uso eficiente de la energía eléctrica: el programa “Comunidades de Aprendizaje en Eficiencia Energética”

La eficiencia energética es lo principal tema para el tratamiento de la sustentabilidad del planeta. Su adopción puede mejorar las expensas de los pequeños municipios brasileños. El programa “Comunidad de Aprendizaje en Eficiencia Energética”, desarrollado por la ELETROBRAS, atiende los dos ejes, sin representar costo para los municipios. Este articulo mostrad como funciona y la forma que llegó a este resultado muy innovador.

Palabras clave: Economía de energía eléctrica. Reducción de gastos de los pequeños municipios. Comunidades de Aprendizaje. Entrenamiento de electricistas municipales.

Reduzindo as Despesas

Page 43: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro44

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

RESUMO

A experiência de aplicação da metodologia de GEM no Estado do Amazonas

A EXPERIÊNCIA NO AMAZONAS

Tendo em vista as políticas estratégicas que vêm sendo trabalhadas pelo Governo do Estado do Amazonas, tais como: a política ambiental, com grande destaque à questão das mudanças climáticas, a realização do programa “Gestão Estadual Eficiente de Energia Elétrica para Redução e Controle do Consumo das Unidades Consumidoras” abre caminho para aplicação da conservação de energia em todas as unidades consumidoras do Estado, dando insumos para a criação da Unidade de Gestão da Energia Elétrica do Estado do Amazonas – UGEST. Somando-se a isso, ajuda o Governo a atingir uma de suas principais metas que é o equilíbrio de suas contas e, assim, gerar recursos para mais investimentos em outras áreas.

Palavras-chave: Energia elétrica. Eficiência energética. Gestão estadual eficiente de energia elétrica.

AndersonSilvaBittencourtEngenheiro Eletricista. Trabalha no Departamento de Energias Alternativas e Eficiência Energética da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do [email protected]

INTRODUÇÃO

A eficiência energética é uma opção estratégica cuja importân-cia vem crescendo nas discus-sões do setor energético, seja de energia elétrica ou de combustí-veis. Ressalta-se que a eficiência energética, muitas vezes, é uma decisão do consumidor e, por este motivo, é importante a pro-moção de ações estruturantes, cujos resultados são observados indiretamente, para criar um am-biente favorável para este novo mercado com consumidores conscientes.

O crescimento do PIB assim como do consumo de energia elétrica possuem uma correlação bastante alta. Estima-se que, para cada ponto percentual acrescido no PIB, o País precisa aumentar a produção de energia elétrica em 3%. Isso se deve ao fato de que o crescimento econômico

está ligado diretamente à quan-tidade de produtos e serviços que possuem a energia elétrica como seu principal insumo para produção, sem contar que um dos primeiros segmentos que acompanham o crescimento econômico (após o aumento de consumo de alimentos) é o de bens duráveis (eletrodomésticos, eletroeletrônicos) que, via de re-gra, consumirão energia elétrica.

Em relação ao Estado do Ama-zonas, não é diferente. Porém, por apresentar locais de difícil acesso e não estar interligado ao sistema elétrico nacional, torna--se complicado levar à energia elétrica da maneira convencional. Pela dificuldade na distribuição, a energia elétrica assume impor-tância significativa no processo de integração do Amazonas ao desenvolvimento nacional.

No Estado do Amazonas, po-de-se dizer que a falta de energia

elétrica é um fator de inibição do desenvolvimento regional e, em muitas localidades, menores e mais isoladas, um fator de mar-ginalização econômica, social e cultural. A região se distingue das demais do País pela existência de diversos sistemas isolados, a maior parte deles de pequeno porte, com baixa confiabilidade e qualidade de serviços, e com cus-tos elevadíssimos, tendo em vista a necessidade de geração térmica a diesel e a óleo combustível.

A geração de energia elétrica no Amazonas tem crescido a uma taxa média anual de 7,91% (na capital) e 11,38% (no interior) de 2009 para 2010. Durante esse tempo, ela sempre foi dominada pela termo eletricidade, responsável por mais de 80% do total gerado no Estado hoje. Aproximadamente 112 usinas termelétricas estão em operação. Entre estas, cerca de 10, com uma potência instalada

Page 44: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 45

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

superior a 30MW cada, são res-ponsáveis por mais de 80% da capacidade elétrica total instalada. Para efeitos de registro, essa capa-cidade totalizava, no final de 2010, aproximadamente 1.997,5MW.

Por outro lado, existe ainda um enorme potencial hidrelétrico para ser explorado, distribuído de maneira não uniforme por todo o Estado. Este potencial encontra--se distante dos principais centros consumidores, que se localizam na Região Metropolitana de Manaus. Esta inviabilidade física de fazer coincidir os recursos de geração de eletricidade no Esta-do com sua eventual demanda por energia acarreta altos custos de geração térmica, bem como severas restrições para o meio ambiente.

Nesse contexto, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e De-senvolvimento Sustentável (SDS), por meio do Centro Estadual de Mudanças Climáticas (CECLIMA), tem desenvolvido projetos e ações ligados ao tema Conservação de Energia previstos na Lei Estadual de Mudanças Climáticas, Conser-vação Ambiental e Desenvolvi-mento Sustentável (Lei n.º 3.135, de 5 de junho de 2007), sendo o CECLIMA o centro governamental

especializado em articular e im-plementar políticas públicas sobre eficiencia energética.

PROJETO PILOTO “GESTÃO ESTADUAL EFICIENTE DE ENERGIA ELÉTRICA PARA REDUÇÃO E CONTROLE DO CONSUMO DAS UNIDADES CONSUMIDORAS”

Descrição e Detalhamento do Projeto

O projeto, financiado pela Secretaria de Estado da Fazenda (SEFAZ) e executado pela SDS,

por meio do CECLIMA e em par-ceria com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), teve como objetivos principais:

• realizar o diagnóstico do

consumo de energia elétrica em 9 (nove) unidades consumidoras do Estado (representando 10% do consumo mensal de energia elétrica), localizadas no Município de Manaus – AM;

• capacitar 15 técnicos esta-duais das instituições do projeto na metodologia IBAM/ELETRO-BRAS/PROCEL em temas técni-cos sobre eficiência energética em prédios públicos;

•elaboraroDocumentoFinalOrientador, contendo orientações para a realização de projetos eficientes e diretrizes para suas aplicações e replicações em ou-tras unidades;

• criar aUnidadedeGestãodo Consumo de Energia Elétrica Estadual (UGEST), voltada para organizar, gerenciar e planejar o consumo de energia elétrica das unidades consumidoras do setor público estadual.

Em uma escala maior, este projeto e a criação da UGEST,

Representantes do governo do Amazonas, junto com o consultor do IBAM: esforço para equilibrar as contas e gerar recursos para mais investimentos em outras áreas

Figura 1 – Organograma do Projeto Piloto1

Fonte: CECLIMA (2010)

Experiência no Amazonas

Page 45: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro46

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

com todos os seus resultados positivos que trouxeram, permi-tiram a formulação do Decreto Estadual n.º 31.342, de 3 de Junho de 2011, sobre a adoção de medidas destinadas ao con-trole do consumo e à demanda de energia elétrica no âmbito da Administração Pública estadual direta, autárquica e fundacional.

Metas e Resultados

Após a finalização do pro-jeto piloto, as ações de gestão apresentaram resultados de até 30% de economia na conta de energia de cada unidade. Isto significa que, com medidas de baixo ou nenhum custo, pode ser gerada uma economia de 350 MWh/mês, significando R$ 115 mil que deixariam de ser gastos mensalmente com desperdício de energia elétrica. Com aplicação dos projetos de iluminação, refrigeração e de motores, nas unidades consu-midoras analisadas do Governo do Estado, a energia economiza-da prevista é de 4.561,19MWh/ano, e uma economia de R$ 912.238,00 anual. Consideran-do os resultados que podem ser alcançados por meio dos proje-tos eficientes nas nove unidades consumidoras analisadas e das medidas administrativas a serem

realizadas pela UGEST em todas as unidades do Governo do Estado, algumas metas foram traçadas, dentre elas:

•implantar25projetoseicien-tes nas nove unidades consumi-doras diagnosticadas, ocasionan-do uma redução de até 4.561,19 MWh/ano no consumo de ener-gia elétrica, representando uma economia de R$ 912.238,00/ano;

• reduzir até 4.200MWh/ano com aplicação de medi-das administrativas nas nove unidades consumidoras, repre-sentando uma economia de R$ 730.000,00/ano;

• contribuir para a reduçãodas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) com a redução de 2.440 tCO2/ano pela redução da queima de combustíveis fósseis nas termelétricas;

•expandiraGestãoEicientede Energia Elétrica para as outras unidades do Governo do Estado do Amazonas;

• acessar fontes de recursosdisponíveis para ações de efi-ciência energética em prédios públicos estaduais no Programa de Eficiência Energética (PEE) das Concessionárias de Energia Elétrica.

PLANO DE AÇÃO DO GOVERNO DO ESTADO DO AMAZONAS

Quanto à nova Política Pública

Após a apresentação de al-guns fatores técnicos avaliados, podendo citar o know-how em relação à experiência com o projeto piloto, no início de ja-neiro de 2011, o governador do Amazonas transformou o projeto piloto em um Programa Estadual

de Eficiência Energética, quando, no dia 3 de junho de 2011, assinou o Decreto Estadual n.º 31.342, reafirmando o compro-misso do Governo na adoção de medidas destinadas ao controle do consumo e à demanda de energia elétrica.

Quanto aos Arranjos Institucionais

A partir da publicação do De-creto, foi estabelecido um prazo de 90 dias para a implantação das medidas destinadas ao uso racional e à economia de energia elétrica. As três principais medi-das foram:

•estudareajustarosenqua-dramentos tarifários, os contratos de demanda e os fatores de potência das unidades;

•pagarasfaturasemdia,semônus de cobrança de multas, juros e demais encargos;

• realizaraçõespráticaspararedução do consumo, seja pela aquisição de equipamentos de maior eficiência energética ou pela implantação de rotinas que proporcionem a otimização dos gastos.

O acompanhamento das ações de melhoria está sendo feito pela SDS, por meio do Departamento de Energias Alter-nativas e Eficiência Energética do CECLIMA e pela SEFAZ.

A meta de redução de con-sumo com energia elétrica, quantificável e verificável, con-siderando as especificidades da Administração Pública direta, autárquica e fundacional, é de 20%, tendo como base o ano de 2010, e o prazo limite para atendimento da meta: dezembro de 2011. Caberá à SDS, por meio do Departa-

Umapolíticadeação

quegarantaaeiciência

energéticatemdeter

comometaoemprego

detécnicasepráticas

capazesdepromovero

uso“inteligente”

daenergia(...)

Page 46: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 47

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM A EXPERIÊNCIA NO AMAZONAS

mento de Energias Alternativas e Eficiência Energética, e à SEFAZ, por meio da Comissão de Gestão Administrativa do Estado (CGA), a consolidação mensal dos dados, verificação de metas e gestão gerencial do Programa.

Quanto à Concientização sobre o Uso Racional de Energia no Setor Público

Uma política de ação que ga-ranta a eficiência energética tem de ter como meta o emprego de técnicas e práticas capazes de promover o uso “inteligente” da energia, reduzindo custos e produzindo ganhos de produ-tividade e de lucratividade no ambiente de trabalho. Cabe a cada um de nós tentar mudar nossos hábitos no ambiente de trabalho, além de cultivar permanentemente uma postura voltada para a eliminação de desperdícios.

Visando à multiplicação das boas práticas do uso inteligen-te da energia, um importan-te passo dado pelo Governo foi a realização da Campa-nha de Eficiência Energética “Energia Eficiente, Governo Inteligente”(SDS, 2011) nas unidades consumidoras das áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública na Semana do Meio Ambiente, no período de 30 de maio a 3 de junho de 2011, para os servidores públicos destas unidades.

A campanha foi promovida pela SDS, em parceria com a Secretaria de Estado de Edu-cação (SEDUC), Secretaria de Estado da Saúde (SU-SAM), Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), Polícia Militar (PM) e Polícia Civil (PC). Foram capacitados 900 servidores públicos em 30 oficinas sobre o tema “Eficiência Energética: eco-nomizar energia elétrica no serviço público é uma postura de responsabilidade social e ambiental”, e entregues 2.000 cartilhas sobre o tema “Melhorando nossa Eficiência Energética”, uma ferramenta voltada para os servidores públicos sobre como econo-mizar energia no ambiente de trabalho.

RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resultados do Programa de Eficiência Energética

O Governo do Amazonas possui 1.423 unidades consu-midoras de energia elétrica em todo Estado. Na capital, são 634 unidades consumidoras, que representaram um consu-mo em 2009 de 133.103,75 MWh e um faturamento de R$ 49.860.238,29 e, no interior, são 789 unidades consumidoras que representaram, por sua vez, um consumo no mesmo ano de 45.006,00 MWh e um fatu-

ramento de R$ 19.220.614,03. O trabalho está sendo iniciado pela capital, que representa 75% do consumo de energia elétrica anual, atuando nas três áreas prioritárias do Governo que são, Saúde, Educação e Segurança Pública.

• educação – 289 unida-des consumidoras, consumo de 49 .298 ,57MWh/anua l e faturamento anual de R$ 20.181.032,74 (40% do fatura-mento da capital);

•saúde–92unidadesconsu-midoras, consumo de 47.293,00 MWh/anual e faturamento anual de R$ 15.326.871,98 (31% do faturamento da capital);

• segurança pública – 75unidades consumidoras, con-sumo de 13.329,51MWh/anu-al e faturamento anual de R$ 4.805.488,55 (10% do fatura-mento da capital).

Com a aplicação de medidas (mudança de hábitos e gestão) e projetos (ações corretivas) de eficiência energética, a economia pode chegar até 30% na conta de energia de cada unidade consumidora.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na primeira medição das ações de gestão do Programa de Eficiência Energética, foi re-alizada uma análise semestral sobre o comportamento dos gastos com energia elétrica

Experiência no Amazonas

Page 47: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro48

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

ELETROBRAS AMAZONAS ENERGIA, Cenário Econômico e Perspectivas de Crescimento da Economia Amazonense. Relatório de Administração, 51 pág., Manaus, 2010.JANNUZZI, G.; Políticas públicas para eficiência energética e energia renovável no novo contexto de mercado. A Eficiência Energética, pág. 27-41, São Paulo, 2000.Sites Consultados na WEBCECLIMA. Centro Estadual de Mudanças Climáticas, 2010. Apresenta informações sobre eficiência energética. Disponível em: <http://www.ceclima.sds.am.gov.br>. Acesso em setembro de 2011.ABESCO. Associação Brasileira das Empresas dos Serviços de Conservação de Energia, 2006. Apresenta informações sobre eficiência energética. Disponível em: <http://www.abesco.com.br>. Acesso em setembro de 2011.ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. Brasília, MME, 2008. Apresenta informações sobre os Programas de Eficiência Energética e do Setor Elétrico. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br>. Acesso em setembro de 2011.BNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Rio de Janeiro, 2008. Apresenta áreas de atuação do BNDES e as linhas de financiamento disponíveis aos Municípios. Disponível em <http://www.bndes.gov.br>. Acesso em setembro de 2011.PROCEL. Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. Rio de Janeiro, MME, 2008. Apresenta áreas de atuação do PROCEL e informações do setor elétrico. Disponível em <http://www.eletrobras.com/procel>. Acesso em setembro de 2011.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABSTRACT

RESUMEN

das unidades consumidoras do Governo, comparando o ano base 2010 com o ano atual 2011. O resultado de redução de 3% no faturamento de energia elétrica comprovou--se tão revolucionário quanto viável, e pretende-se com este resultado unir os integrantes da Administração Pública em uma cruzada contra o desperdício, avançando naquele que já tem sido um exercício cotidiano da atual administração: aplicar melhor cada real do orçamento do Estado.

1 As nove unidades consumidoras estão classificadas por consumo anual de energia elétrica – Ano de referência – 2009. O Governo do Estado possui 1.423 unidades consumidoras localizadas na capital e no interior do Estado.

The experience of the application of the methodology of GEM in the State of Amazonas

Given the strategic policies that have been worked by the government of Amazonas state, such as environmental policy, with great attention to the issue of climate change, the aplication of the “Management of State Program for Energy Efficiency” opens the way for implementation of energy conservation in all consumer units of the state, providing inputs for the creation of the Management Unit of Electrical Energy of the State of Amazonas – UGEST. Adding to this, it helps the government to achieve one of its main goals that is the balance of their accounts and thus generate more resources for investment in other areas.

Keywords: Electricity. Energy efficiency. Management of State program for energy efficiency.

La experiencia de aplicación de la metodología GEM en el Estado de Amazonas

Teniendo en cuenta las políticas estratégicas que se están trabajando por el Gobierno del Estado de Amazonas, como la política medioambiental, con gran atención a la cuestión del cambio climático, la aplicación del programa “Gestión Eficiente de Energía Eléctrica del Estado para la Reducción y Control de Consumo de Unidades de Consumo” allana el camino para la implementación de la conservación de la energía en todas las unidades de consumo del Estado, dando entradas para la creación de la Unidad de Gestión de Energía Eléctrica del Estado de Amazonas – UGEST. Además de esto, ayuda al Gobierno a lograr uno de sus principales objetivos es el saldo de sus cuentas y por lo tanto generar más recursos para la inversión en otras áreas.

Palabras clave: Energía eléctrica. Eficiencia energética. Gestión eficiente de energía eléctrica del Estado.

NOTAS

Gráico 1 - Análise Semestral Comparativa 2010 - 2011 do Faturamento deEnergia Elétrica do Governo do Amazonas

Page 48: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 49

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

RESUMO

Questões relevantes sobre a iluminação pública no Brasil

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

O objetivo deste artigo foi apresentar o panorama das várias questões afetas ao sistema de iluminação pública, contribuindo para o debate da gestão e da operacionalização deste serviço nos municípios brasileiros. São apresen-tadas as questões pertinentes aos temas relacionadas à segurança pública à medição do sistema, à Contribuição de Iluminação Pública, à eficiência energética, à qualidade e à gestão específica do sistema de iluminação pública.

Palavras-chave: Iluminação pública. Eficiência energética. Gestão. Serviço público.

LuizFelipeLacerdaPachecoEngenheiro Eletricista, especialista em eficiência energética e Gestão Energética Municipal. Professor e Consultor do [email protected]

INTRODUÇÃO

Na grande maioria dos mu-nicípios brasileiros a iluminação pública constitui o segundo maior gasto municipal, logo após a folha de pagamento. Segundo dados de pesquisa da ELETROBRAS / Programa Nacional de Conserva-ção de Energia Elétrica (PROCEL) de 2008, a iluminação pública no Brasil conta aproximadamente com 14,8 milhões de pontos de luz. Uns 63% das lâmpadas utilizadas são da tecnologia vapor de sódio alta pressão, o que cor-responde a 4,5% da demanda nacional e a 3% do consumo total de energia elétrica do País,

equivalente a uma demanda de 2,2GW e a um consumo de 9,7 bilhões de KWh/ano. Se mudarmos o foco de Brasil para Município, a iluminação pública tem sua participação aumentada de 3% para 65% no consumo total de energia elétrica.

Daí decorre a grande impor-tância de projetos eficientes de iluminação pública, que, além de representar uma parcela im-portante nos gastos dos municí-pios, embeleza as áreas urbanas, destaca e valoriza monumentos, prédios e paisagens, facilita a hierarquia viária, orienta percur-sos e favorece o aproveitamento das áreas de lazer, funcionando

no horário de ponta, intervalo de consumo mais crítico para a estabilidade do sistema elétrico do País.

A iluminação pública contribui significativamente para a qualida-de de vida nas cidades, já que permite a utilização noturna dos espaços urbanos. Logo, qualquer melhoria aplicada ao sistema de iluminação pública resulta em melhorias da própria cidade. A melhoria da iluminação das ci-dades faz com que seja possível observar problemas que, até então, eram escondidos por uma iluminação precária, fazendo com que os administradores tomem providências efetivas. Com isso,

Page 49: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro50

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

o turismo, o comércio e o lazer noturnos são favorecidos, contri-buindo para o desenvolvimento social e econômico dos municí-pios.

A QUESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA

Além de ser um de seus objetivos favorecer a segurança pública no tráfego de veículos e pedestres, evitando acidentes, a iluminação pública está direta-mente associada à prevenção da criminalidade. Vale lembrar que a história da iluminação pública teve seu início por iniciativa dos moradores para a segurança noturna, com a implantação de lampadários de madeira, envi-draçados, à base de azeite de peixe, e suspensos por varões de ferro.

Com a expansão da ilumina-ção pública, graças aos subsídios reais (1741), a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil (1808) e a criação do imposto para a iluminação (1810), ca-racterizando a preocupação da realeza com a segurança pública, os lampadários passaram a ser acesos pela polícia todas as noi-tes, exceto na lua cheia.

Pode-se perceber a preocupa-ção com a segurança e a relação direta com a iluminação pública, além da eficiência energética, com os desligamentos nos perío-dos de lua cheia para a economia do combustível da época.

Uma das ações significati-vas do governo brasileiro em relação a este tema foi o lança-mento do Programa Nacional de Segurança Pública no ano 2000, que disponibilizou três bilhões de reais para a causa, com um terço da verba destina-da ao lançamento do Programa Nacional de Iluminação Pública

Eficiente – RELUZ. Este progra-ma, estruturado e coordenado pela ELETROBRAS / PROCEL, perdura até os dias de hoje, com o objetivo de financiar, com juros baixos, projetos efi-cientes de iluminação urbana para municípios, via concessio-nária local de distribuição de energia elétrica.

Uma boa notícia é que a linha de crédito RGR (Reserva Global de Reversão) / Conservação, responsável pelos recursos dis-poníveis para o programa RELUZ e que tinha seu término previsto para o final do ano de 2010, foi prorrogada até o final do ano de 2035. Isto demonstra o apoio que a iluminação pública de qualidade presta à segurança e a necessidade de termos recursos para acompanhar o desenvol-vimento tecnológico associado ao tema.

A QUESTÃO DA MEDIÇÃO

Segundo Resolução Norma-tiva n.º 414 / 2010 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as concessionárias locais de distribuição não são obrigadas a instalar medidores de consumo de energia elétrica quando o fornecimento for des-tinado para iluminação pública ou semáforos. Porém, no caso de fornecimento destinado a circuitos exclusivos de ilumina-ção pública, a concessionária deverá instalar os respectivos equipamentos de medição sempre que julgar necessário ou quando solicitados pelos municípios.

Poucas Prefeituras se preo-cupam com essa questão. Cer-tamente, a adoção desta medida em praças, quadras e avenidas principais tornaria mais justo e real o valor cobrado pela energia

elétrica municipal consumida. No caso de não existir medição, ou-tro ponto fundamental é manter um cadastro de equipamentos que expresse a realidade e seja de conhecimento e aprovação da concessionária local, evi-tando desvios no faturamento estimado.

Um ponto que gera muitas dúvidas e controvérsias diz respeito à quantidade de horas a ser tarifada na iluminação pública. A Resolução diz, que para o cálculo estimado, deve--se considerar a quantidade, a potência e o horário de funcio-namento das lâmpadas de 11 horas e 52, além das perdas dos equipamentos auxiliares (relés e reatores). Entretanto, diz que a concessionária deverá ajustar com o consumidor o número de horas mensais para fins de faturamento quando, por meio de estudos realizados pelas partes, for constatado um número de horas diferente do estabelecido. Não se pode esquecer a influência de outros fatores, além das condições climáticas, como redução do iluminamento pela arborização e qualidade do relé fotoelétrico, que pode variar o nível de acio-namento ao longo do tempo.

Prega a Resolução que o cálculo da energia consumida pelos equipamentos auxiliares de iluminação pública deverá ser feito com base nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em dados do fabricante dos equipamentos ou em ensaios realizados em laboratórios credenciados, de-vendo as condições pactuadas constarem do contrato de for-necimento.

Existem equipamentos au-tomáticos de controle de carga, que reduzem o consumo de

Page 50: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 51

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

energia elétrica do sistema de iluminação pública, ou seja, equipamentos de redução de consumo de energia em deter-minados horários de redução de fluxo de veículos e pedestres. Caso venham a ser aplicados, a concessionária deverá aplicar

na conta a economia proporcio-nada por esses equipamentos. Porém, tais equipamentos são pouco utilizados no Brasil devi-do a problemas de variação de tensão na rede e por alterarem a sensação de segurança da população.

A QUESTÃO DA CIP

Após diversas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) pela inconstitucionalidade da taxa de iluminação pública (an-tiga TIP), então aplicada por diversos municípios, foi alterada a Constituição Federal com o objetivo de contornar a decisão do Supremo. O objetivo foi permitir aos municípios e ao Distrito Federal cobrarem este

tributo, não como taxa, mas como contribuição, necessário para o custeio e a evolução dos sistemas de iluminação pública dos municípios brasileiros.

Para a Constituição, as espé-cies de tributo são: Imposto, Taxa, Contribuição de Melhoria, Em-préstimo Compulsório e outras Contribuições. Com a Emenda Constitucional n.º 39, que inseriu o artigo 149-A na Constituição, a Contribuição de Iluminação Pública (CIP) se tornou possível, caracterizando-se pela natureza jurídica de contribuição.

O imposto é um tributo não vinculado, sem destinação espe-cífica, enquanto a contribuição tem destinação específica, no caso da CIP, o custeio do consu-mo e dos serviços associados à iluminação pública. Para ser taxa, a CIP teria de decorrer do poder de polícia, ou ser referente a um serviço público divisível e espe-cífico; e o serviço de iluminação pública é um serviço destinado à coletividade e indivisível, pois ninguém é dono de seu próprio poste ou ponto de luz. Sendo assim, a CIP não tem nature-za jurídica de taxa. Também não poderá ter natureza de contribuição de melhoria, que deve decorrer de obras públi-cas. Por fim, não tem natureza de empréstimo compulsório, que só poderá ser instituído para a tender a despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública, guerra ou sua iminência ou no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional. De fato, o custeio do serviço de iluminação pública não constitui uma despesa es-pecial provocada por um grupo específico de pessoas, mas sim uma despesa provocada por toda a coletividade.

A QUESTÃO DA EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Quaisquer ações de eficiên-cia energética nos sistemas de iluminação pública são muito bem-vindas para o sistema elé-trico brasileiro, para os cofres públicos municipais e, por incrível que pareça, por ser uma ação lucrativa, para as concessionárias distribuidoras de energia elétrica.

Com base nisto, foi criado o Programa Nacional de Ilumina-ção Pública Eficiente (RELUZ), que, por meio de um financia-mento com juros baixos ,con-seguiu atingir as necessidades dos agentes envolvidos no pro-jeto. A ELETROBRAS / PROCEL queria financiar e fomentar a eficiência na iluminação públi-ca. A concessionária aplicaria o projeto se obtivesse lucro. Com os juros baixos e a transferência da energia economizada para consumidores com tarifas mais altas, os lucros eram iminentes e possibilitavam até a contratação de empreiteiras para execução do projeto. A Prefeitura queria um parque de iluminação novo com baixo custo e que futura-mente diminuísse seus gastos com iluminação pública.

Satisfazendo os interesses dos agentes citados acima, na última década, foi conseguida uma radi-cal mudança de tecnologias nos sistemas de iluminação pública do País, onde os projetos exe-cutados alcançaram, em média, economias de 40% no consumo de energia elétrica.

Até agora, a maneira mais tradicional de se iluminar, com eficiência, grandes ambientes considerando neste caso não apenas ruas e estradas mas tam-bém monumentos públicos ou grandes edifícios, era a aplicação de lâmpadas de vapor de des-

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

Éextremamente

importanteoestudo

corretosobreousoda

luznosambientese,

consequentemente,nos

logradourospúblicos,

jáqueummau

planejamentolumínico

podecausaracidentes

eproblemasàsaúdedo

olhohumano

Iluminação Pública

Page 51: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro52

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

carga em alta pressão (vapor de sódio ou multi vapor metálicas). Contudo, a indústria da ilumina-ção trilha novos caminhos e, em breve, estaremos diante de uma nova tecnologia superior à atual-mente utilizada, possivelmente o diodo emissor de luz (LED) e que deve ser adotada pelo programa RELUZ para uma nova revolução na iluminação pública do País, buscando a eficiência (lm/W) e a sustentabilidade.

Quatro cidades norte-ame-ricanas estão fazendo testes para implantar em larga escala a tecnologia LED em iluminação pública. Seattle, no noroeste dos Estados Unidos; Bangor, no Estado de Maine; Palo Alto, no vale do Silício; Nova York, que ilu-minou com LED a ponte George Washington que liga Manhattan a Nova Jersey sobre o Rio Hudson.

Ainda há alguns desvios a serem resolvidos para uma ilumi-nação de LEDs em larga escala. É preciso evoluir as luminárias para uma melhor distribuição de luz e iluminância adequada para vias públicas, o que leva a um dilema, pois um é inversamente proporcional ao outro.

A QUESTÃO DA QUALIDADE DA ILUMINAÇÃO

Criar um ambiente agradável significa dar ao ser humano uma melhor qualidade de vida, exer-cendo sobre ele uma influência psicológica positiva. Logo, é ex-tremamente importante o estudo correto sobre o uso da luz nos ambientes, e consequentemente, nos logradouros públicos, já que um mau planejamento lumínico pode causar acidentes e proble-mas à saúde do olho humano. Então, quando pensarmos em eficiência na iluminação, não basta pensar na relação Lumem

por Watt e sim também no con-forto visual.

A iluminação pública é de-finida a partir de critérios de qualidade e de quantidade de luz a ser fornecida. Diante das tarefas relacionadas à condu-ção de veículos e circulação de pedestres, a iluminação para logradouros públicos demanda elevada acuidade visual, ou seja, o fornecimento de altos níveis de densidade de fluxo luminoso. Porém, além da intensidade lu-minosa precisamos ter uma luz de qualidade para que possamos diferenciar manchas de sangue e óleo em caso de acidente. Neste caso, a qualidade do projeto está diretamente ligada à distribuição das iluminâncias, à existência de contrastes de brilho e cor, à for-mação de sombras e à ausência de ofuscamento, de modo que contribua para a eficiência visual ou menor esforço do olho huma-no para se enxergar.

O ofuscamento é uma sen-sação desagradável que pode ocasionar cansaço visual e dores, causado por luz excessiva, acar-retando mal-estar e desconforto, devendo, portanto, ser evitado.

A iluminação urbana atualmen-te está focada em vias, semáforos, praças, quadras esportivas, mo-numentos, chafarizes, fachadas prediais e arborizações e existe uma gama de lâmpadas e critérios para atender à qualidade lumínica exigida de cada situação ou proje-to. O planejamento lumínico torna a iluminação noturna confortável, favorecendo consequentemente o aumento da qualidade de vida noturna da população. Consultar um projetista de iluminação é necessário para que este planeje adequadamente a iluminação dos ambientes ou dos logradouros de forma correta, confortável e sem exageros.

Outro ponto interessante sobre a luz e os seres humanos é a interação com ritmo, estabe-lecido de acordo com o relógio biológico de cada indivíduo, que gerencia os períodos de descan-so em um ciclo de 24 horas. A alternância entre os períodos de luz e escuridão possui um papel fundamental e importante em nosso comportamento físico e psicológico. Logo, vale a pena lembrar que a luz possui outras funções além da criação de estímulos visuais. Mais saúde e bem-estar, motivação e qualidade do sono, além da estabilidade do ritmo biológico, são apenas alguns atributos que podem ser agregados em um projeto bem planejado. E que venha a geração LED para que possamos sempre ter a melhor luz na intensidade certa para cada momento do dia e da noite.

A QUESTÃO DA GESTÃO ESPECÍFICA

Os gestores que assumirem

as Prefeituras em 2013, e têm como prestadoras de serviços de iluminação pública a própria concessionária de energia elétrica local, terão uma preocupação a mais.

A partir de junho de 2013, já com prorrogação de nove meses do descrito na Resolução n.º 414 / 2010 da ANEEL, os municípios não terão mais à disposição a tarifa B4b de iluminação pública, que incluía a manutenção dos sis-temas de iluminação pública pela concessionária de energia local.

Com a mudança, os ativos imobilizados das concessionárias (equipamentos de iluminação pública) serão doados aos mu-nicípios, devendo as Prefeituras se estruturarem para continuar a cumprir com sua responsabi-

Page 52: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 53

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

lidade de prestar os serviços de projeto, implantação, expansão, operação e manutenção das ins-talações de iluminação pública.

Pode ser que ainda haja pror-rogação na data de cumpri-mento da Resolução. Porém, os municípios devem começar a se preparar para essa inevitável mudança. A seguir, observam-se algumas modalidades que exis-tem no mercado e que devem ser estudadas pelos municípios para uma futura adoção:

- concessionária interessada em continuar a prestação de serviços através de um contrato específico e desvinculado do con-trato de fornecimento de energia;

- empresas que assumirão por completo a gestão da ilumina-

ABSTRACT

RESUMEN

Relevant issues on the public lighting in Brazil

The objective of this paper is to present an overview of the various issues affecting the public lighting system, contributing to the debate on management and operation of this service in Brazilian municipalities. Presents the issues relevant to the themes related to public safety measurement system, the Contribution of Public Lighting, energy efficiency, quality and management system-specific lighting.

Keywords: Public lighting. Energy efficiency. Management. Public service.

Cuestiones relevantes sobre el iluminación público en Brasil

El objetivo de este trabajo es presentar una visión general de las diversas cuestiones que afectan al sistema de iluminación público, contribuyendo al debate sobre la gestión y el funcionamiento de este servicio en los municipios brasileños. Presenta los temas relevantes para las cuestiones relacionadas con el sistema de medición de la seguridad pública, la Contribución de Iluminación Público, la eficiencia energética, calidad y gestión del sistema de iluminación.

Palabras clave: Iluminación público. Eficiencia energética. Gestión. Servicio público.

ILUMINAÇÃO PÚBLICA

ção pública do município (cus-teio do consumo e manutenção e aplicação de gestão com software específico) e cobram um valor mensal por ponto de luz. Nesse caso a Prefeitura delega sua responsabilidade. Logo a empresa deve ser fiscalizada, principalmente na evolução anual dos parâmetros de qualidade oferecidos;

- empresas que possuem um software de gestão de iluminação pública, que atuam com a equipe de técnicos do município treinada por eles ou uma equipe mesclada com técnicos da empresa e do Município. Nessa opção, a Prefei-tura fica como centro de controle, contratando pessoal, empreiteira, comprando equipamentos etc.;

- criação de uma empresa

pública (autarquia) para presta-ção dos serviços relacionados à iluminação pública.

Vale ressaltar que os mais afetados com essa exigência da Resolução são os municípios pequenos, que terão de se as-sociar, por meio de consórcios, para apresentarem números de pontos de iluminação pública significativos para contratação de empresas. Caso contrário, terão de criar sua própria equipe para assumir os serviços relacionados à iluminação pública.

Os gastos das Prefeituras com iluminação pública deverão aumen-tar. E quem vai pagar a conta é, com certeza, a população, com provavel-mente um aumento automático da CIP e repassado na conta de luz.

Iluminação Pública

Page 53: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro54

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

RESUMO

Pesquisa de satisfação da qualidade percebida e os programas de eficiência energética no relacionamento com prefeituras municipais em Minas Gerais

PESQUISA DE SATIFISÇÃO

O presente estudo teve como objetivo analisar as Pesquisas de Satisfação das Prefeituras Municipais, realizadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) em sua área de concessão acerca da percepção sobre o Recebimento de Informações e Orientações para as Prefeituras, sobretudo do Uso Adequado de Energia, que compõe o Índice de Satisfação da Qualidade Percebida da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE). Foi evidenciado que as Prefeituras Municipais de Minas Gerais apresentam a necessidade de implantar programas de eficiência energética com o intuito de racionalização do uso de energia. Nesse sentido, foi feito um comparativo entre a Pesquisa de Satisfação de 2009 e 2010, para demonstrar como a incorporação de programas no planejamento da empresa pode impactar na melhoria do Relacionamento com o Poder Público Municipal,sobremaneira na sua percepção da qualidade dos serviços prestados.

Palavras-chave: Satisfação. Qualidade percebida. Poder público. ISQP. Eficiência energética.

AndersonFerreiraGerente de Relacionamento com o Poder Público da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)[email protected]

ConceiçãoDileneBatistaCavalcantiAgente de Planejamento e Acompanhamento do Relacionamento com o Poder Público da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)[email protected]

SergioHenriqueMourthéDuarteGerente de Planejamento e Acompanhamento do Relacionamento Comercial com clientes da Distribuição da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG)[email protected]

INTRODUÇÃO

No mercado do século XXI, caracterizado pela variedade de produtos e serviços, as empresas passaram a perceber a neces-sidade de alinhar os processos internos à percepção de quali-dade dos consumidores. Assim,

buscam desenvolver parâmetros de negócios com base em es-tratégias de relacionamento a longo prazo, ao invés de focalizar em transações isoladas, como no passado. Corroborando com essa ideia, Berry (2000, p. 30) afirma que “as empresas cujos líderes creem apaixonadamente

na importância da qualidade do serviço, independente do setor, terão vantagem competitiva no mercado”.

Entender que a qualidade percebida dos serviços pres-tados é um antecedente da satisfação e que, se preservada, gera relacionamentos duradou-

Page 54: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 55

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

ros torna-se um fator de grande importância para as empresas públicas ou privadas que dese-jam cumprir a sua missão. Para Zeithaml e Bitner (2003), valori-zar a criação dos serviços e criar uma operação de serviços bem--sucedida é, incontestavelmente, uma tarefa difícil, mas sustentar esse sucesso é ainda mais difícil.

Neste contexto, está o merca-do de energia elétrica, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Criada pela Lei

n.º 9.427/96, a ANEEL atua como agente regulador e fiscalizador do setor elétrico brasileiro (produção, transmissão e comercialização de energia elétrica), com a capacida-de de articular o mercado.

Atualmente, o Setor de Ener-gia Elétrica está subdividido em quatro etapas: geração, trans-

missão, distribuição e comer-cialização. Atribui-se à geração a função de obter a energia elétrica a partir de diversas fontes, como hidráulica, térmica, eólica, solar e das marés (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2009).

A Cemig Distribuição S/A é a concessionária que atua como distribuidora de energia elétri-ca no Estado de Minas Gerais, desenvolvendo atividades em 774 municípios, atendendo a aproximadamente 7,2 milhões

de consumidores nas classes residencial, rural, industrial, co-mercial e serviços públicos, sendo responsável pelo fornecimento de energia elétrica para clientes cativos, em sua área de conces-são, e pelo transporte de energia elétrica, em níveis de tensão infe-riores a 230kV, para clientes livres.

A Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) se en-quadra como um dos maiores grupos empresariais do setor energético brasileiro, gerindo um portfólio de ativos em três áreas distintas: geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. Assim, precisa fortalecer a sua imagem perante os públicos de interesse e assegurar uma gestão voltada para o atendimento das necessidades e das expectativas de seus clientes formadores de opinião, especialmente as Prefei-turas, avaliando a qualidade dos serviços prestados, a satisfação e o relacionamento, fatores essen-ciais ao sucesso do seu negócio. Segundo Trout (1997), negócios não são batalhas entre produtos e serviços, mas sim uma batalha pela mente do consumidor. A atuação da Cemig é fundamen-tal para o bom desempenho da Corporação no que tange ao

relacionamento com os clientes, sejam dos serviços públicos, como as Prefeituras, ou dos demais clientes atendidos em outros segmentos de mercado (rural, comercial e/ou industrial). É neste viés que a Cemig busca compreender a percepção de qualidade de seus clientes para

Eficiência Energética

Os brasileiros desperdiçam, anualmente, 18% de toda a energia

gerada no País, ou seja, a energia elétrica produzida por uma Cemig

e meia é jogada fora. Para saber como disseminar conceitos básicos

de economia de energia a seus familiares e amigos, visite o site de

Eficiência Energética no Portal Cemig no endereço www.cemig.com.br.

Para que a energia elétrica chegue aos consumidores precisa ser gerada, transmitida, distribuída e comercializada

Pesquisa de Satisfação

Page 55: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro56

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

promover a melhoria dos seus processos internos e resultados organizacionais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As empresas neste novo milênio devem entender que um bom desempenho em ser-viços reforça a competitividade, estabelece um relacionamento com o cliente, consolida a força da marca e aprimora a comu-nicação com o mercado na busca de melhores resultados de vendas e políticas de preços (BERRY, 1995). A forma social específica dos serviços públicos e a caracterização de busca pela lucratividade dos serviços priva-dos resultam em transformações diferenciadas por esses setores com relação ao fornecimento de serviços. Alguns exemplos da forma pela qual a introdução da inovação tecnológica é condu-zida de modo diverso entre os setores público e privado, para um mesmo objetivo de moder-nização, podem ser resumidos e exemplificados segundo Kon

(1996), com relação à: auto-provisão parcial, intensificação, subcontratação, materialização, realocação especial, domestica-ção, centralização e, sobretudo, a racionalização.

Apesar de os serviços privados terem recebido maior atenção nos estudos recentes, os servi-ços públicos agregam grande parte do emprego em serviços. Esses serviços são fornecidos por meio de várias combinações de organizações locais e nacionais, algumas operando de forma conjunta com um setor privado menor, por exemplo, Educação, Saúde e, mesmo, Segurança (KON, 1996).

O significado etimológico da palavra satisfação vem do Latim satisfactio-onis. Em um entendimento amplo, significa “contentamento”, “alegria”, “de-leite” e “aprazimento” (FERREI-RA, 1986). Entretanto, Oliver (1997) menciona que, em seu sentido etimológico, satisfação deriva do Latim satis (suficiente) e facere (fazer), ou seja, aquilo que proporciona suficiência. Já

no sentido restrito do termo, é definida por Oliver (1997) como “atendimento de uma demanda do consumidor – um julgamento de que as características de um produto ou serviço provê um ní-vel de satisfação de atendimento das necessidades de consumo, com inclusão dos níveis de baixo e de cima”.

A importância do conhe-cimento pela empresa da sa-tisfação de seus clientes de forma dinâmica é comentada por Hamel e Prahalad (1995, p. 64) quando afirmam que o nosso conhecimento sobre determinada área vale “menos neste exato momento do que valia quando iniciamos a ler este trabalho. Houve mudanças nas necessidades dos clientes, no progresso tecnológico e na evolução no planejamento dos concorrentes enquanto estávamos passando essa página”.

Sobre esse aspecto, Berry (1995) afirma que o fator crucial e determinante na qualidade dos serviços prestados é a diferença entre expectativas e impressões na avaliação dos clientes. Os autores deixam claro que a ex-pressão “expectativa” tem dois sentidos distintos: primeiro, aqui-lo que os clientes acreditam que ocorrerá quando se defrontam com um serviço (previsões), e se-gundo, aquilo que eles esperam que aconteça (desejos).

A qualidade dos contatos dos clientes com as empresas tem sido motivo de avaliação de muitos pesquisadores, dada a relevância do assunto. A per-cepção e o julgamento do cliente sobre uma empresa dependem muito da qualidade do contato e do relacionamento que o cliente teve com a empresa, tornando a qualidade do contato a parte crítica do processo, na concepção

Alcançar a excelência em satisfação requer um relacionamento duradouro

Page 56: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 57

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

de Albrecht e Zemke (2002). Day (2000), a propósito, lembra que implícito em todo relacio-namento de mercado está um processo de troca em que valor é dado e recebido. Quando tal processo é bem desenvolvido, criam-se excelentes condições para que ocorra o fortalecimento das relações entre a empresa e seus clientes. E como o cliente é, indiscutivelmente, o centro das estratégias de negócios bem-sucedidas (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2002), as organi-zações têm se empenhado em estabelecer relações que maxi-mizem resultados (valor) para os dois lados.

Costuma-se dizer que o que não é medido não pode ser gerenciado. Sem medições, os gerentes não podem saber onde existem e quais são as potenciais ações para aumentar a qualidade em serviços. Além disso, é preci-so medir para determinar se as metas de melhoria estão sendo alcançadas após a implementa-ção de mudanças (LOVELOCK; WIRTZ, 2006).

O modelo SERVQUAL, como mencionado por Rodrigues (2001, p.119), “é considerado por muitos autores no domínio do marketing um instrumento adequado ao estudo da proble-mática da qualidade em servi-ços”. Na forma básica, a escala SERVQUAL contém 22 itens de percepções e uma série de itens de expectativa que refletem as cinco dimensões da qualidade em serviços apresentadas: a tangibilidade, a confiabilidade, a responsividade, a segurança e a empatia, de acordo com Lovelock e Wirtz (2006).ÍNDICE DE SATISFAÇÃO

O indicador de qualidade dos serviços prestados das distribui-

doras de energia elétrica deno-mina-se “Índice de Satisfação de Qualidade Percebida’, ou ISQP, que é apurado pela ABRADEE (Associação Brasileira de Distri-buidores de Energia Elétrica), criada formalmente em 1995. Essa Associação tem como mis-são institucional contribuir para a excelência na gestão operacional e econômico-financeira de suas associadas, com foco no atendi-mento ao cliente (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA, 2009).

Após estudos, em 2007, a ABRADEE concluiu a metodo-logia de pesquisa para que as distribuidoras de energia pudes-sem avaliar a qualidade dos seus serviços prestados às Prefeituras Municipais, com os atributos se-melhantes à pesquisa aplicada para os clientes residenciais já

mencionadas. Para as distribuido-ras com mais de 30 municípios (a Cemig Distribuição conta com 774), sugere-se a realização da pesquisa com agrupamentos de acordo com o porte (pequeno, médio e grande) dos municípios, definidos a partir da quantidade de clientes faturados, como uma variável de controle de amostra e análise. Pode-se também, além

desse agrupamento, utilizar a divisão demográfica regional, des-de que a Distribuidora tenha um número adequado de municípios para isso.

METODOLOGIA

Para proporcionar a qualidade em serviços é essencial para as empresas descobrirem o que o cliente espera, e a pesquisa é um veículo central para compreender as expectativas e as percepções que os clientes possuem sobre os serviços (ZEITHAML; BITNER, 2003). Gil (1991) sugere que é usual a classificação de pesqui-sas com base em seus objetivos gerais. Do ponto de vista de seus objetivos, foi realizada uma pesquisa descritiva, que, segundo Vergara (2003), expõe caracterís-ticas de determinada população

ou de determinado fenômeno. Neste contexto, realizou-se

uma pesquisa do tipo descritiva de natureza quantitativa, por meio do método Survey1, com aplica-ção de questionários predefinidos e padronizados adaptados ao modelo ABRADEE, tendo como respondentes da pesquisa os prefeitos e/ou substitutos, res-ponsáveis juridicamente pelos

PESQUISA DE SATISFAÇÃO

Desperdício de Energia Elétrica

O contrato de concessão firmado pelas empresas concessionárias

do serviço público de distribuição de energia elétrica com a ANEEL

estabelece obrigações e encargos perante o poder concedente. Uma

dessas obrigações consiste em aplicar anualmente o montante de,

no mínimo, 0,5% de sua receita operacional líquida em ações que

tenham como objetivo o combate ao desperdício de energia elétrica,

o que consiste no Programa de Eficiência Energética das Empresas

de Distribuição (PEE).

Pesquisa de Satisfação

Page 57: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro58

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

municípios. Assim, a amostra de 2009 contemplou a aplicação de 244 questionários para uma população de 774 Prefeituras, correspondendo a 31,65% do universo pesquisado. A amostra de 2010 contemplou a aplicação de 281 questionários. Corres-pondendo a 36,30. As pesquisas tiveram uma margem média de erro de 6, 5% para mais ou para menos, em um intervalo de con-fiança de 95%.

Utilizou-se como instrumento para a coleta de dados um questio-nário, que, para facilitar o entendi-mento por parte dos respondentes, foi elaborado em três partes. A primeira refere-se à caracterização do respondente (nome, cargo, mandato, idade e escolaridade) e do Município (porte e colegiado) e aos esclarecimentos sobre a sequência dos assuntos a serem perguntados. Na segunda parte, buscou-se captar as respostas sobre a percepção das Prefeituras quanto ao relacionamento com a Distribuidora, avaliando o nível de conhecimento sobre a empresa, incluindo os programas sociais re-lacionados às Prefeituras, os canais de comunicação e a percepção de proximidade. Na terceira parte, com as perguntas a serem respondidas com base em uma escala de notas que variaram de 1 a 10, avaliou--se a qualidade percebida dos serviços prestados em relação aos aspetos técnicos do fornecimento de energia elétrica, assim como as informações e as orientações que a Distribuidora disponibiliza para Prefeituras, a qualidade das infor-

mações das faturas globalizadas de energia (chamou-se a atenção do respondente que o que estava sendo avaliado era o documento recebido e não a avaliação acer-ca da tarifa ou do preço total a pagar), o atendimento prestado pelos agentes de relacionamento (dividindo-se em três blocos: comportamental, relacional e orga-nizacional), o nível de concordância com atributos relacionados à ima-gem da Distribuidora, a percepção das ações de responsabilidade sócioempresarial desenvolvidas pela empresa nos municípios e a avaliação sobre obras ou serviços adicionais ofertados e contratados pelas Prefeituras. Para cada conjun-to de atributos, foram constituídos os índices IDARs, enquanto os atributos propriamente represen-taram-se pelos IDATs, como é o caso do Uso Adequado de Energia, analisado por este trabalho.

Com o objetivo de distinguir os principais determinantes da satisfação geral de cada área avaliada e o quanto de sua va-riabilidade é explicado pela va-riação dos atributos de avaliação sobre a área, utilizou-se a técnica estatística chamada “Regressão multivariada”. O modelo de regressão utilizado foi o “Ste-pwise”. Nesse procedimento, foram utilizados como variáveis independentes os atributos de avaliação sobre a área e como variável dependente a satisfação geral com a área. Na regressão “stepwise”, só permanecem na equação final os atributos que forem estatisticamente signi-

ficativos para a explicação da variação da satisfação geral da área avaliada. Em modelos de regressão, a explicação é consi-derada satisfatória quando é igual ou superior a 40%.

Esse procedimento estatístico foi realizado para as sete áreas: qualidade e continuidade da energia elétrica; informações e orientações gerais para a Prefeitura; fatura globalizada; atendimento; imagem; respon-sabilidade social; e obras ou serviços adicionais. Em todos os modelos, a explicação foi satisfatória. Para este trabalho, foi feita uma análise do atributo Informações e Orientações para Prefeituras, sobremaneira acerca da perspectiva do Uso Adequa-do de Energia, que, a seguir passa a ser apresentada.

ANÁLISE DE RESULTADOS

O índice para informações e orientações para a Prefeitura indica que o índice geral foi de 49,6%. Os índices por porte do município foram: 49,7% para os municípios de porte A ou B; 46,2% para os de porte C (menor índice); 49,6% para os de porte D; 50,5% para os de porte E (maior índice); e 49,9% para os de porte F. O índice para o recebimento de orientação sobre uso adequado de energia mostrou que o índice geral é de 43,7%. Os índices por porte do município foram: 42,9% para os municípios de porte A ou B; 43,2% para os

Page 58: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 59

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM PESQUISA DE SATISFAÇÃO

de porte C; 44,4% para os de porte D; 50,0% para os de porte E (maior índice); e 25,7% para os de porte F (menor índice),

de acordo com a Tabela 1. As-sim, percebe-se a importância deste atributo que teve a sua explicação estatística satisfatória, sendo que apenas o porte F de municípios teve o valor abaixo de 40%.

O mesmo ocorreu satisfatoria-

mente com relação aos Colegia-dos, em que o índice geral foi de 43,7%. O índice obtido por cole-giado foi de: 20,0% para o Belo

Horizonte e para o Mantiqueira 1 (menores índices); 45,5% para o Centro; 44,4% para o Leste; 36,4% para o Mantiqueira 2; 34,4% para o Norte; 50,0% para o Oeste (maior índice); 56,3% para o Sul; 39,1% para o Triângu-lo; e 33,3% para o Vale do Aço,

conforme se observa na Tabela 2.De forma geral, a regressão

para explicar as informações e as orientações para a Prefeitura tem explicação total de 71,5% – mo-delo também considerado como possuidor de alto poder explica-tivo. No caso do recebimento de orientações sobre o uso adequa-do de energia, foi percebido um índice de 43,7% que explica em 12,2% a regressão, consoante a Tabela 3.

Ao analisarmos um com-parativo entre a Pesquisa de Satisfação da Qualidade Perce-bida de 2009 e 2010, realizada no Poder Público Municipal, percebe-se a evolução do atri-buto Uso Adequado de Energia, que apresentou uma melhora de 43,7% para 62,9% entre os anos pesquisados, significado da implantação de programas e da prestação de informações e orientações aos clientes do Poder Público da Cemig. Pelo Gráfico 1, demonstra-se a melhora de 19,3% nesse atributo.

Dessa forma, os programas de eficiência energética que a Distri-buidora vem incorporando ao seu planejamento, com vistas ao uso eficiente e a minimização do des-perdício da energia, trazem be-

Fonte: Adaptado pela autora.

Figura 3 – Subdivisão das dez regionais do estado de Minas Gerais

Pesquisa de Satisfação

Page 59: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro60

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

nefícios aos dois lados, visto que a empresa pode comercializar seu produto de outras maneiras e cumprir sua Responsabilidade Ambiental perante à sociedade, enquanto as Prefeituras têm a ca-pacidade de reduzir suas despe-

sas, reinvestindo o economizado em Iluminação Pública.

Como exposto, os IDATs são os índices de cada atributo pes-quisado. O Uso Adequado de Energia teve uma melhora, e este fenômeno pode ser observado

na análise por colegiados abaixo ilustrada pela Tabela 4.

É possível notar que todos os colegiados tiveram um resultado positivo na comparação entre as pesquisas, sendo que, na capital, a proporção da melhora foi de 200%. De fato, apenas o Colegiado Leste teve um resultado insatisfatório. A margem de erro foi de 4,3%.

No caso da análise por portes, o resultado comparativo mais uma vez foi satisfatório, posto que houve uma melhora na proporção de 44,1%, em que todos os portes apresenta-ram resultado positivo, sendo que os resultados mais expressivos foram do porte F e do porte C.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em relação às implicações gerenciais, observou-se que a satisfação é um determinante da qualidade dos clientes da Distribuidora e que o constru-to satisfação exerce impacto significativo na percepção e no relacionamento das Prefeituras com a Concessionária.

Em especial, nota-se um impacto significativo que as informações e as orientações exercem na satisfação da qua-lidade percebida dos serviços prestados. Isso realça a im-portância de proporcionar a esses clientes, além do contato

Tabela 5 – Índice do Atributo Informações e Orientações/Resultado do IDAT (análise por Porte)

Fonte: Dados da Pesquisa

Tabela 4 – Indice do Atributo Informações e Orientações/Resultado do IDAT (análise por Colegiado)

Fonte: Dados da Pesquisa

Page 60: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 61

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Satisfaction Research of Perceived Quality and Energy Esficiency Programs with Municipal Authori-ties of Minas Gerais.

This study had the power to review the Satisfaction Surveys of municipal authorities, carried out by Companhia Energetica de Minas Gerais (Cemig) in its concession area regarding the perception of receiving information and guidelines for municipalities, especially the proper use of energy, which comprise the index of Satisfaction Perceived Quality of the Association of Electricity Distributors (ABRADEE). It was shown that the municipal authorities of Minas Gerais have the need to implement energy efficiency programs in order to rationalize the use of energy. Accordingly, a comparison was made between the Satisfaction Survey 2009 and 2010, to demonstrate how the incorporation of the company’s planning programs can impact on improving the relationship with the municipal government, greatly in their perception of service quality.

Key words: Satisfaction. Perceived quality. Government. ISQP. Energy efficiency.

Pesquisa Satisfacción de La Calidad Percibida y los Programas de Eficiencia Energética em la Relación con Prefecturas Municipales de Minas Gerais.

El presente estudio tuvo el poder de revisar las encuestas de satisfacción de las autoridades municipales, llevada a cabo por la Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) en su área de concesión en relación a la percepción acerca de la recepción de información y directrices para los municipios, especialmente en el uso adecuado de energía, que componen el índice de satisfacción de la calidad percibida de la Asociación de Distribuidores de Electricidad (ABRADEE). Se ha demostrado que las autoridades municipales de Minas Gerais tiene la necesidad de implementar programas de eficiencia energética con el fin de racionalizar el uso de la energía. En consecuencia, se hizo una comparación entre la Encuesta de Satisfacción 2009 y 2010, para demostrar cómo la incorporación de los programas de planificación de la empresa puede impactar en la mejoría de la relación con el gobierno municipal, principalmente en su percepción de la calidad del servicio.

Palabras clave: Satisfacción. Calidad percibida. Gobierno. ISQP. Eficiencia energética.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NOTAS

ABSTRACT

RESUMEN

PESQUISA DE SATISFAÇÃO

presencial, novos canais de comunicação, por meio do ge-renciamento adequado e site, permitindo maior aproximação com o objetivo de construir uma performance de relacionamento tênue e contínuo e não apenas de atendimento eficaz.

Nota-se, ainda, a necessi-dade de criação de programas específicos sobre o uso ade-quado de energia elétrica e oferecerem fontes alternativas de energia às Prefeituras e incentivá-las na participação em projetos de desenvolvimento

socioambiental nos municípios, para melhorar a responsabili-dade social da Distribuidora e a sua imagem organizacional, por se tratar de um benefício que engloba grande parte dos stakeholders das distribuidoras de energia elétrica.

AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Centro de documentação. Disponível em: <HTTP://www.aneel.gov.br>. Acesso em: 13 ago. 2009.ALBRECHT, Karl; ZEMKE, Ron. Serviço ao cliente: a reinvenção da gestão do atendimento ao cliente. Rio de Janeiro: Campus, 2002. BERRY, Leonard L. Relationship Marketing of Services Growing Interest, Emerging Perspectives. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 23, p. 236-45, Fall 1995ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISTRIBUIDORES DE ENERGIA ELÉTRICA. Quem somos. Disponível em: <HTTP://www.abradee.org.br>. Acesso em: 13 ago. 2009GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1991FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2. ed. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1986. HITT, Michael A.; IRELAND, R. D.; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica: competitividade e globalização. São Paulo: Pioneira Thomson Learnig, 2002.KON, A. Evolução do Setor terciário brasileiro. Relatório n.14. EAESP/FGV, 1996LOVELOCK, Christopher; WIRTZ, Jochen. Marketing de Serviços: pessoas, tecnologia e resultados. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada. 3. ed.Porto Alegre: Bookman, 2001.MANUAL DE GESTÃO CEMIG, 2008. Disponível em: <www.cemig.com>. Acesso em: 2 dez. 2009.RODRIGUES, Alziro César M. Uma escala de mensuração da zona de tolerância de consumidores de serviço. RAC Revista de Administração Contemporânea, 2001.OLIVER, R. L., Satisfaction: a behavioral perspective on the consumer. McGraw-Hill, 1997. ZEITHAML, Valarie A.; BITNER, Mary J. Marketing de serviços: a empresa com foco no cliente. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2003. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2003.TROUT, J.; MILUNOVICH, S.; RIES, A.; PORTER, M. Porter, ries e trout: ideias em comum. HSM Management, ano 1, n. 3, 1997.

1 A técnica de levantamento ou survey envolve entrevistas com base em uma amostra da população, por meio de questionários, que buscam levantar aspectos relacionados ao seu comporta-mento, percepções, opiniões, atitudes, etc. Podem-se coletar dados de forma pessoal, via telefone, por e-mail, correio e etc. A maioria das perguntas é de alternativa fixa ou predeterminada. As conclusões obtidas por meio de survey apresentam maior caráter de generalização, por trabalharem com amostras grandes e representativas da população (MALHOTRA, 1996).

Pesquisa de Satisfação

Page 61: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro62

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

PARECERES E JURISPRUDÊNCIA

CONSULTA

O consulente, após narrar a pretensão de determinado técnico em radiolgia no sentido de ter seus vencimentos majorados, indaga acerca da forma de cálculo do valor da remuneração dessa categoria profissional, questionando se o servidor teria direito à revisão.

Para tanto, informa que, no pleito de aumento da remuneração, o funcionário invoca, como fundamentos principais, a decisão emitida pelo Supremo Tribunal Federal nos autos da ADPF 151 e a Lei Estadual n.º 5950, que instituiu o piso salarial dos técnicos em radiologia no âmbito do Estado do Rio de Janeiro.

A fim de robustecer o pedido e arrematar a questão, o referido servidor cita que a Lei Federal n.º 7394/1985, combinada com a jurisprudência firmada no STF, definiria que o piso salarial do Técnico em Radiologia é equivalente a dois salários minimos da região, acrescido de 40% de risco de vida e insalubridade, nos termos do artigo 16 da Lei n.º 7394/1985.

A consulta não veio acompanhada de documentos que explicitem os valores exatos recebidos pelo servidor tampouco de referências às quantias pleiteadas.

A não recepção dos dispositivos que vinculam o piso salarial dos técnicos em radiologia ao salário mínimo: desdobramentos da decisão cautelar do STF

Victor Soares da Silva Cereja Consultor Técnico do IBAM

RESPOSTA

A questão do piso salarial para a categoria dos técnicos em radiologia é tormentosa, mas, com a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Fede-ral nos autos da Arguição de Decumprimento de Preceito Fundamental 151, os delinea-mentos corretos começam a ser desenvolvidos.

A discussão tem como ponto de partida o artigo 16 da Lei n.º 7.394/1985, que regula o exercício da profissão:

“Art. 16 O salário mínimo dos profissionais, que executam

as técnicas definidas no Art. 1º desta Lei, será equivalente a 2 (dois) salários mínimos profissionais da região, incidindo sobre esses vencimentos 40% (quarenta por cento) de risco de vida e insalubridade.”

Ocorre que tal dispositivo não foi recepcionado, pois não está em consonância com as regras constitucionais, haja vista que o inciso IV do artigo 7º da Consti-tuição Federal veda a vinculação do salário mínimo, nos seguintes termos:

“Art. 7º São direitos dos traba-lhadores urbanos e rurais, além

de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessi-dades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimen-tação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;”

Ante a incompatibilidade das normas transcritas, o Supremo

Page 62: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 63

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

Tribunal Federal deferiu a medida cautelar nos autos da ADPF 151.

No entanto, a fim de evitar um vácuo legislativo, já que ao Poder Judiciário não é dado exercer a função de legislador, o que apenas causaria maiores transtornos sociais, culminando em insegurança nas relações trabalhistas, a Corte entendeu por bem que se continuasse “aplicando os critérios estabe-lecidos pela lei em questão, até que sobrevenha norma que fixe nova base de cálculo, seja lei federal, editada pelo Congresso Nacional, sejam convenções ou acordos coletivos de tra-balho, ou, ainda, lei estadual, editada conforme delegação prevista na Lei Complementar n.º 103/2000.”

Determinou-se, ainda, o con-gelamento da base de cálculo do adicional de 40%, para que seja calculada de acordo com o valor de dois salários mínimos vigente na data do trânsito em julgado da decisão, de modo que se desindexe o salário mí-nimo, valor este que deverá ser corrigido com base nos índices de reajustes de salários.

Logo, o Tribunal se valeu de técnica de decisão que reco-nhece a ilegitimidade da norma, mas impede a configuração de anomia, salvaguardando os direitos dos trabalhadores, sem esvaziar o conteúdo da decisão proferida. A título elucidativo, vale colacionar a ementa do julgado:

“Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Direito do Trabalho. Art. 16 da Lei n.º 7.394/1985. Piso salarial dos técnicos em radiologia. Adicional de insalubridade. Vinculação ao salário mínimo. Súmula Vinculan-te 4. Impossibilidade de fixação de piso salarial com base em

múltiplos do salário mínimo. Precedentes: AI-AgR 357.477, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 14.10.2005; o AI-AgR 524.020, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 15.10.2010; e o AI-AgR 277.835, Rel. Min. Cezar Peluso, Se-gunda Turma, DJe 26.2.2010. 2. Ilegitimidade da norma. Nova base de cálculo. Impossibilidade de fixação pelo Poder Judiciário. Precedente: RE 565.714, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 7.11.2008. Ne-cessidade de manutenção dos critérios estabelecidos. O art. 16 da Lei n.º 7.394/1985 deve ser declarado ilegítimo, por não recepção, mas os critérios esta-belecidos pela referida lei de-vem continuar sendo aplicados, até que sobrevenha norma que fixe nova base de cálculo, seja lei federal, editada pelo Congres-so Nacional, sejam convenções ou acordos coletivos de tra-balho, ou, ainda, lei estadual, editada conforme delegação prevista na Lei Complementar n.º 103/2000. 3. Congelamento da base de cálculo em questão, para que seja calculada de acor-do com o valor de dois salários mínimos vigentes na data do trânsito em julgado desta deci-são, de modo que se desindexe o salário mínimo. Solução que, a um só tempo, repele do orde-namento jurídico lei incompatível com a Constituição atual, não deixe um vácuo legislativo que acabaria por eliminar direitos dos trabalhadores, mas também não esvazia o conteúdo da decisão proferida por este Supremo Tri-bunal Federal.

4. Medida cautelar deferida.”

No momento, a partir da de-cisão do Supremo, é possível vislumbrar duas situações princi-

pais: os técnicos em radiologia regidos por legislações estaduais eventualmente edi tadas , nos termos da Lei Complementar n.º 103/2000; e técnicos em radiologia regidos pela norma federal – ainda que não recep-cionada – até o advento de nova base de cálculo, seja por lei federal, convenções ou acordos coletivos ou, ainda, lei estadual.

Contudo, o que não se afigu-ra plausível é uma mistura entre regimes jurídicos distintos, o que parece ser a intenção de algumas entidades representati-vas dos técnicos em radiologia.

Com efeito, a edição da Lei Complementar n.º 103/2000 autorizou os Estados a instituírem piso salarial regional:

“Art. 1º Os Estados e o Dis-trito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de inicia-tiva do Poder Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do artigo 7º da Constituição Federal para os empregados que não tenham piso salarial definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho.”

Com a possibilidade de cria-ção pelos Estados de um piso salarial por categoria, os técni-cos em radiologia vem sendo enquadrados em categoria di-ferenciada, com piso estadual superior ao salário mínimo nacional, como é o caso do Estado do Rio de Janeiro, que editou recentemente a Lei n.º 5.950/2011, nos seguintes termos:

“Art. 1º No Estado do Rio de Janeiro, o piso salarial dos empregados, integrantes das categorias profissionais a b a i x o enunciadas, que não o tenham definido em lei federal, con-

Pareceres e Jurisprudência

Page 63: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro64

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

venção ou acordo coletivo de trabalho, será de:

“(...)

VII - R$ 860,14 (oitocentos e sessenta reais e quatorze centavos) - Para trabalhadores de serviço de contabilidade de nível técnico; técnicos em enfer-magem; trabalhadores de nível técnico devidamente registrados nos conselhos de suas áreas; técnicos de transações imobiliá-rias; técnicos em secretariado; técnicos em farmácia; técnicos em radiologia; técnicos e m l a -boratório; e técnicos em higiene dental;”

Nesse contexto, uma inter-pretação fria do artigo 16 da Lei n.º 7.394/1985 poderia levar à conclusão de que o piso salarial estadual da catego-ria dos técnicos em radiologia é atingido pela multiplicação por dois do piso salarial especifica-do na respectiva Lei Estadual , ante a previsão de “2 (dois) salários mínimos profissionais da região”. E sobre este valor incidiria, ainda, o adicional de 40% de risco de vida e insalu-bridade.

Tanto é verdade que, em virtude da publicação da men-cionada lei, as empresas que possuem técnicos em radiologia em seu quadro funcional foram surpreendidas com um Ofício do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares em Radiologia do Es-tado do Rio de Janeiro que, em síntese, dispõe que: (Informaçao retirada do artigo ZAMPIER FILHO, José Carlos. Da definição acerca do piso salarial dos técni-cos em radiologia após a limi-nar concedida pelo Supremo Tribunal Federal na ADPF 151. Jus Navigandi, Teresina, ano 16,

n.º 2969, 18 ago. 2011. Acesso em: 21 ago. 2011):

“(...) Com o advento da Lei n.º 5.950, de 13 de abril de 2011, no Estado do Rio de Janeiro, um salário mínimo re-gional do Técnico em Radiologia é de R$ 860,10, que passa a vigorar a partir do dia 1º de abril de 2011, nos termos da citada lei grupo VII.”

“(...)

Lei n.º 7.394/85 em seu arti-go 16 define: ‘O salário mínimo dos profissionais que executam as técnicas definidas no art. 1º desta lei será equivalente a dois salários mínimos profissionais da região...’

(...)

Em termos práticos, teremos:

O salário mínimo regional item VII............ = R$ 860,14

O Salário mínimo Profissio-nal..................... = R$ 1.720,28

Salário 40% insalubridade ........................ = R$ 2.408,39”

Com as vênias devidas, não nos afigura possível advogar tal tese, pois, conforme já se consignou, a manutenção da regência das relações pelo artigo 16 da Lei n.º 7.394/85 somente se aplica aos técnicos em radiolo-gia que não sejam enquadrados em leis estaduais editadas em decorrência da Lei Complemen-tar n.º 103/2000.

A partir da leitura da ementa do acórdão, vislumbra-se que a solução empreendida pelo Su-premo somente se presta para evitar casos de vácuo legislativo.

Havendo o piso salarial no Esta-do de R$ 860,14, esse é o valor mínimo para a remuneração, quando não houver acordo ou convenção coletiva; se o em-pregador, no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, desembolsa valor superior ao previsto na legislação estadual, já cumpre com seus deveres. Ressalte-se que esse empregado não faz jus nem mesmo ao adicional de 40%, tendo em vista a não recepção da norma que o prevê.

Mesmo que se considerasse possível a combinação de regi-mes – o que já se demons-trou inviável –, a construção do pensamento do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares em Radiologia do Estado do Rio de Janeiro incorre em mais um equívoco ao considerar que a base de cálculo seria o salário mínimo regional, confundindo seu conceito com as defini-ções de piso salarial e salário mínimo.

Como bem lembrou o relator Min. Gilmar Mendes, há subs-tancial distinção entre salário mí-nimo regional e piso salarial. O salário mínimo, “nos termos do art. 7º, IV, da CF, haveria de ter valor único, já que as necessida-des vitais básicas do trabalhador e de sua família não variariam de acordo com a região do País, não sendo possível, assim, que cada Estado-membro o fi-xasse por lei própria. Por outro lado, em relação ao piso sala-rial, o inciso V desse mesmo dispositivo constitucional, ao se referir à respectiva extensão e complexidade, agasalharia a consideração do próprio traba-lho desenvolvido” (Informativo 614).

O Min. Gilmar Mendes re-gistrou que a disciplina do piso salarial fixado pela Lei n.º

Page 64: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 65

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

7.394/1985 teria sido posterior-mente alterada pelo art. 2º, § 1º, do Decreto-Lei n.º 2.351/87, que substituiu a vinculação ao salário mínimo regional pela vinculação ao salário mínimo de referência, e pelo art. 5º da Lei n.º 7.789/1989, por meio da qual teriam deixado de existir o salário mínimo de referência e o piso nacional de salários, passando a vigorar apenas o salário mínimo. Consignou que, a partir daí, o piso salarial dos radiologistas previsto na Lei n.º 7.394/85 teria passado a ser interpretado como de dois salários mínimos.

Ou seja, a partir de 1989, não há mais que se falar em salário mínimo de referência ou regional, subsistindo tão somen-te o salário mínimo, o que, por si só, já demonstraria a inviabili-dade do raciocínio apresentado, afinal, restou cristalino, tanto na legislação quanto no acórdão do STF, que a base de cálculo não se refere ao salário mínimo regional (não admitido), mas sim ao salário mínimo (previsto de forma equânime para todo o território nacional).

Ademais, a premissa maior, repise-se, é a de que as regras do piso salarial nacional não se aplicam aos técnicos em radiolo-gia no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, eis que já são regidos por legislação própria.

Porém, no caso em comen-to, apesar de serem importan-tes para a contextualização da controvérsia, essas assertivas acabam por ser inócuas, já que não se aplicam aos servidores públicos municipais, por expressa previsão legal.

Isso porque, quando da edição da Lei Complementar n.º 103/2000, como forma de se assegurar a autonomia

municipal, prestigiando o pacto federativo, restou previsto que os pisos salariais estaduais não po-deriam ser exercidos em relação à remuneração dos servidores públicos municipais:

“Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a insti-tuir, mediante lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal para os empregados que não tenham piso salarial definido em lei fede-ral, convenção ou acordo coletivo de trabalho.

§ 1º A autorização de que trata este artigo não poderá ser exercida:

II - em relação à remune-ração de servidores públicos municipais.”

A mesma disposição foi re-produzida na Lei Estadual que cuida do piso salarial regional dos técnicos em radiologia.

Assim, verificada a exclusão dos servidores municipais do âmbito de incidência da norma estadual, percebe-se que o ser-vidor municipal deve ser regido pela regra geral dos técnicos em radiologia, consubstanciada na decisão da Corte Suprema que definiu que os critérios es-tabelecidos pelo artigo 16 da Lei n.º 7.394/1985 devem ser aplicados, incidindo o adicional de 40%, mas congelando-se a base de cálculo em questão, para que seja calculada de acor-do com o valor de dois salários mínimos vigentes na data do trânsito em julgado da decisão, de modo que se desindexe o salário mínimo.

A par dessa decisão e ciente de que ainda vigem os critérios

apresentados pela legislação federal até que sobrevenha norma que fixe nova base de cálculo, seja lei federal, edita-da pelo Congresso Nacional, sejam convenções ou acordos coletivos de trabalho, é possível estabelecer que o piso salarial dos técnicos em radiologia que sejam servidores públicos municipais é equivalente a dois salários mínimos, calculados na data do trânsito em julgado da decisão, incidindo sobre esses vencimen-tos 40% de adicional de risco de vida e insalubridade, ou seja, duas vezes o salário mínimo (2 x R$ 545,00 = R$1.090,00), acrescido de 40% de insalubri-dade (R$1.090,00 R$ 436,00 = R$ 1.526,00), totalizando o valor de R$ 1.526,00.

Ressalte-se que a base de cálculo deve ficar congelada, não recebendo influxos de eventuais aumentos posteriores do salário mínimo, devendo ser reajustada tão somente para restabelecer o valor corroído pelos efeitos da inflação, quando da revisão geral anual concedida a todos os servidores públicos municipais.

Ante o exposto, conclui-se que, aos servidores munici-pais que exerçam o cargo de técnico em radiologia, devem ser aplicados os critérios da Lei n.º 7.394/1995, congelando-se a base de cálculo em questão, para que seja calculada de acor-do com o valor de dois salários mínimos vigentes na data do trânsito em julgado da decisão, acrescidos de 40%, de modo que se desindexe o salário míni-mo. Impende consignar que es-ses critérios devem permanecer até que sobrevenha lei federal que fixe nova base de cálculo, eis que o Município não se sujeita ao disposto em convenções ou acordos coletivos de trabalho.

Pareceres e Jurisprudência

Page 65: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro66

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

PARECERES E JURISPRUDÊNCIA

CONSULTA

A consulente, Câmara Municipal, informa que deseja contratar assessoria técnica especializada para regularizar o Código Fiscal, o Código de Posturas, o Código Ambiental, o Código Sanitário e o Código de Obras e Uso de Ocupação do Solo, dado que Lei Municipal do Plano Diretor de 2006 fixou o prazo de dois anos para o Executivo elaborar as legislações citadas, mas, até a presente data, nada foi feito.

Assim, solicita Parecer:

1 - sobre possibilidade de contratação de assessoria técnica especializada;2 - sobre possibilidade da Câmara iniciar a regularização das referidas leis;3 - caso negativo, sobre a possibilidade de proceder “por meio de estudos e elaboração da minuta do projeto e

indicação para o executivo”.

Limites à iniciativa legislativa e o princípio da reserva da administração

Amanda do Carmo Lopes Olivo Mendonça Monteiro Consultora Técnica do IBAM

RESPOSTA

A Constituição Federal, em sua distribuição de competência legis-lativa, declara a quem pertence a capacidade para legislar sobre de-terminada matéria, distribuindo as competências legislativas entre os entes da federação e reservando a iniciativa, em determinados casos, a este ou àquele Poder.

Assim, em alguns casos, a Constituição reserva expressa-

mente a iniciativa ao Poder Exe-cutivo. Pela aplicação dos princí-pios constitucionais da simetria e da separação dos poderes, no âmbito municipal, tais matérias ficam reservadas à iniciativa do prefeito, no que couber.

Em linhas gerais, é da com-petência privativa do prefeito a proposição de projetos de lei que disponham sobre criação de cargos, funções ou empre-gos públicos na administração

direta ou indireta e que fixem ou aumentem sua remunera-ção; que tratem da organização administrativa da Prefeitura; que imponham atribuições ao Execu-tivo; que abordem matéria sobre servidores da administração direta ou indireta e seu regime jurídico; que proponham ou alterem planos plurianuais, diretri-zes orçamentárias e orçamentos anuais (CF, arts. 2º, 61 § 1º, II, “a” e “e”, e 165).

Page 66: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 67

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O processo legislativo relacio-nado a todas as demais matérias pode ter início no Legislativo, estando elas, de maneira ampla, relacionadas no art. 30 da Cons-tituição da República.

Esse entendimento, cuja relevância é manifesta, restou muito bem abordado em aresto do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, relatado pelo então de-sembargador Carlos Alberto Me-nezes Direito (Representação de Inconstitucionalidade n.° 10/94), nos seguintes termos:

“É claro que a iniciativa re-servada, porque configura um privilégio legislativo outorgado a outro poder do Estado que não o Legislativo, assim o Exe-cutivo ou o Judiciário, só existe quando expressamente con-signada na Constituição. Sem que isso ocorra, não é possível reservar a iniciativa das leis. A Constituição, como é óbvio, impõe a iniciativa exclusiva em razão da matéria, discriminando aquelas que não serão objeto do processo legislativo sem a iniciativa do órgão de poder indicado. Isto quer dizer que não há nenhuma possibilidade técnica de reservar a iniciativa a qualquer órgão de poder do Estado por interpretação construtiva. Ou a matéria está elencada entre aquelas que a Constituição reservou a certo órgão e, então, só este pode deflagrar o processo legislativo, ou a matéria não consta da rela-ção constitucional e a iniciativa não está reservada, podendo qualquer parlamentar apresen-tar o projeto de lei respectivo”.

No mesmo sentido, é a orien-tação do STF, tal como decidido no julgamento da ADI nº 724-MC. DJ de 27/04/2001, Rel.

Min. Celso de Mello. Confira-se trecho da ementa:

“A Constituição de 1988 admite a iniciativa parlamen-tar na instauração do processo legislativo em tema de direito tributário. A iniciativa reservada, por constituir matéria de direito estrito, não se presume e nem comporta interpretação amplia-tiva, na medida em que – por implicar limitação ao poder de instauração do processo legis-lativo – deve necessariamente derivar de norma constitucional explícita e inequívoca. O ato de legislar sobre direito tributário, ainda que para conceder bene-fícios jurídicos de ordem fiscal, não se equipara – especialmente para os fins de instauração do respectivo processo legislativo – ao ato de legislar sobre o or-çamento do Estado”.

Logo, nesses casos, pode o Poder Legislativo dar início ao processo legislativo e até mesmo contratar serviços de assessoria técnica especializada quando se fizer necessário, mesmo porque há determinadas normas de cunho eminentemente técnico que exigem a elaboração de estudos técnicos e de planeja-mento à luz da realidade local para que se tornem efetivamente eficazes e atinjam o fim colimado pela municipalidade. De fato, normas como as que se preten-dem editar podem em nada co-laborar para o desenvolvimento local e bem-estar da população se forem fruto de mero ímpeto político do legislador local ou simplesmente copiadas de outros municípios.

Nesse sentido, milita a pre-sunção de que o Executivo, devido à sua própria estrutura, estaria mais apto a dar início ao

processo legislativo que trate desses temas. Ocorre que, como visto, a iniciativa dessas matérias não lhe é reservada pelo Texto Constitucional, que, nesse as-pecto, não admite interpretações construtivas ou ampliativas, de modo que caso o Legislativo por si só ou com o auxílio de consultoria especializada realize os estudos necessários à elabo-ração da norma, a iniciativa par-lamentar é perfeitamente válida e livre de vícios.

O que não se admite é que, a pretexto de legislar sobre matéria cuja iniciativa não foi reservada ao Executivo, a propositura de iniciativa parlamentar adentre nessas matérias, criando atribui-ções a órgãos do Executivo ou até mesmo dispondo sobre ma-térias de cunho eminentemente administrativo.

É o caso, por exemplo, de leis de iniciativa parlamentar meramente autorizativas, que subvertem a ordem constitucio-nal para autorizar o Executivo a praticar atos que já se encontra autorizado a praticar e que inde-pendem de lei específica para serem praticados, tais como: a celebração de contratos e con-vênios em geral, a edição de decreto regulamentador, o tom-bamento de bens, a promoção de determinadas ações na área da saúde, da educação ou da ação social, d a s campanhas de combate a algum mal, de conscientização, de educação, entre outros.

Isto porque os atos de mera gestão da coisa pública sujeitam--se única e exclusivamente ao julgamento administrativo de conveniência e oportunidade do Poder Executivo, cuja prática não se sujeita à oitiva, à autori-zação ou ao controle prévio do Legislativo, Tribunal de Contas

Pareceres e Jurisprudência

Page 67: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro68

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

ou a qualquer outro órgão de controle externo.

Com efeito, tais matérias se inserem no rol do que se con-vencionou chamar de “Reserva da Administração”. Sobre o tema, pertinente é a citação de trecho do seguinte Acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal:

“O princípio constitucional da reserva de administração impede a ingerência normativa do Poder Legislativo em matérias sujeitas à exclusiva competência admi-nistrativa do Poder Executivo. (...) Essa prática legislativa, quando efetivada, subverte a função pri-mária da lei, transgride o princí-pio da divisão funcional do poder,

representa comportamento hete-rodoxo da instituição parlamentar e importa em atuação ultravires do Poder Legislativo, que não pode, em sua atuação político--jurídica, exorbitar dos limites que definem o exercício de suas prerrogativas institucionais. (STF – Tribunal Pleno. ADI-MC n.º 2.364/AL. DJ de 14/12/2001, p. 23. Rel. Min. CELSO DE MELLO).”

Concluindo: nada impede que o Poder Legislativo, em matérias que são de iniciativa comum ou concorrente, como é o caso do Código Tributário, do Código Ambiental, do Códi-go de Posturas, do Código Sa-nitário e do Código de Obras,

contrate estudos técnicos, bem como inicie o processo legislativo para a edição de tais leis, dado que não é razoável reservar a iniciativa a qualquer órgão de poder do Estado por interpretação construtiva ou ampliativa. Entretanto, há de se observar, no caso concreto, que as pretendidas normas não podem invadir assuntos de competência privativa do Poder Executivo, criando ór-gãos ou atribuições a órgãos já existentes daquele Poder, ou muito menos “autorizar” ou determinar ao Executivo que pratique atos que já se encontra autorizado a praticar e indepen-dem da edição de lei específica.

Page 68: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278Outubro/Novembro/Dezembro 69

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

PERGUNTE AO IBAM

Sim, o IBAM disponibiliza o Sistema de Informação Energéti-ca Municipal – SIEM.

Criado em 1998, originalmen-te pela parceria ELETROBRAS/ PROCEL e o Programa ALURE, da Comissão Europeia, o SIEM foi aperfeiçoado pela parceria IBAM e a ELETROBRAS/PROCEL ao longo dos doze anos de sua uti-lização, com o intuito de agregar melhorias advindas com o uso da ferramenta pelos municípios, multiplicadores e demais agentes envolvidos.

As atualizações realizadas desde então se relacionaram à criação de uma interface cada vez mais amigável, à evolução de tecnologias de linguagem do programa e, ainda, aos aperfei-çoamentos técnico-operacionais para o fornecimento de mais recursos e resultados.

O SIEM é um software desti-nado a auxiliar os gestores muni-cipais no acompanhamento do uso de energia elétrica nos seg-mentos de consumo do Municí-pio – prédios públicos municipais, sistemas de iluminação pública e de saneamento – que produz efeitos positivos imediatos sobre o gasto público controlando a evolução do consumo, com base na adoção de uma metodologia de gestão voltada para o uso efi-ciente da energia elétrica.

Trata-se de uma ferramenta indispensável para a elaboração e a implementação das ações e dos projetos do Plano Mu-

nicipal de Gestão da Energia Elétrica – PLAMGE, na medida em que os gestores têm à sua disposição relatórios técnicos que permitem fazer análises comparativas entre o consu-mo efetivo do Município e os cenários propostos, garantindo a avaliação do resultado da im-plementação dos projetos de eficiência energética.

A atual versão contempla, além das melhorias citadas, o módulo de Medição e Veri-

O IBAM disponibiliza ou possui conhecimento de alguma ferramenta computacional que auxilie a gestão do consumo de energia elétrica nas Administrações Públicas?

Leonardo Romeiro Santiago Estagiário da Área de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do [email protected]

ficação (M&V) dos resultados das ações de gestão, além de permitir a utilização no âmbito estadual e federal e até mesmo a aplicação em uma única unidade consumidora.

O lançamento do SIEM na versão Web está previsto para o primeiro semestre de 2012 pelo IBAM e pela ELETROBRAS/ PROCEL. Informações adicionais podem ser solicitadas pelos telefones (21) 2536-9792 / 2536-9787.

O SIEM é um software destinado a auxiliar os gestores municipais no acompanhamento do uso de energia elétrica nos segmentos de consumo do Município

Pergunte ao IBAM

Page 69: Gestão Energética Municipal - Revista de Administração Municipal - Edição 278 - IBAM

Ano 57 - Nº 278 Outubro/Novembro/Dezembro70

Revista de Administração Municipal - MUNICÍPIOS - IBAM

O principal objetivo visado pelo Projeto Integrado Coroa do Meio foi elevar o padrão de qualidade de vida de uma po-pulação de cerca de 2.500 famí-lias, a qual vivia sem condições mínimas de habitabilidade, em um ambiente insalubre, som-brio e de desagregação social, ocupando uma área importante encravada na paisagem urbana de Aracaju.

Tais objetivos estão sendo al-cançados por meio das seguintes intervenções: (1) recuperação das áreas de manguezal; (2) implantação de infraestrutura urbana; (3) regularização da situação de precariedade das habitações; (4) planejamento e implementação do processo de regularização fundiária; (5) viabilização da permanência dos moradores garantindo-lhes re-assentamento na área; (6) garantia de sustentabilidade por meio de programas de geração de ocupação e renda; (7) resgate da cidadania por meio da implan-tação do trabalho de participação comunitária; (8) implantação de equipamentos comunitários; (9) contenção de invasões da área de preservação ambiental;

(10) resgate cultural por meio da construção do Centro de Re-ferência Ambiental (Museu do Mangue).

Resultou dessa experiência a certeza de que a integração de diversos parceiros e a comunhão dos interesses do Poder Público local com as necessidades da co-munidade é a melhor estratégia para solução de problemas que afligem as comunidades carentes vivendo em assentamentos ur-

Projeto Integrado Coroa do Meio, Aracaju/SE

EM FOCO

banos informais, ressaltando-se a importância da mobilização e da participação comunitária nas definições das ações do Projeto.

O Projeto conta com um amplo reconhecimento nacional: recebeu em 2005 o Prêmio Ob-jetivos de Desenvolvimento do Milênio – ODM Brasil. Em 2009, foi uma das 20 práticas premia-das pela CAIXA, tendo também concorrido ao Prêmio Melhores Práticas Dubai 2010.

Uma das intervenções é a construção do Centro de Referência Ambiental, também conhecido como

Museu do Mangue

Marlene Fernandes Assessora para Assuntos Internacionais do IBAMCoordenadora do Centro de Referência Melhores Práticas do [email protected]

Em Foco