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lizzabathory.blogspot.pt http://lizzabathory.blogspot.pt/2015/01/goetia-simplificada-frater-michael.html Goetia Simplificada — Frater Michael Sebastian Lùx Para muitos aspirantes a magista, a prática da evocação mágicka de forças demoníacas sugere imagens de magos medievais trajando longos robes, armados com varinhas e espadas, de pé em círculos evocando agentes do Inferno a fim de realizar pactos para obter riqueza, amor, eterna juventude, ou qualquer outra coisa que convir à vaidade do intrépido bruxo. Talvez seja esta imagem e os métodos aparentemente difíceis de preparação das ferramentas dos rituais, memorização de longas conjurações e exorcismos, e a incompreensão das prosaicas forças ligadas à nossa realidade espiritual, o que tem feito a prática da evocação goética ser muito denegrida e incompreendida, mesmo por alguns dos grandes adeptos da nossa atualidade. Até que ponto esse viés é merecido ou não está totalmente aberto ao debate. A meu ver, no entanto, seus benefícios não podem ser questionados por aqueles determinados a tomar as medidas necessárias para se envolverem com essas forças face-a-face e que o processo para fazê-lo não precisa ser demasiado complicado pela recriação de cada detalhe, quer seja das ferramentas ou templos descritos nos vários textos que nos foram transmitidos. Este ensaio visa proporcionar um resumo simplificado de minha extensa prática da evocação ao longo de quase dez anos e demonstrar que este não é apenas um processo acessível, mas que pode enriquecer a vida do mago, independentemente de sua situação. Para o leitor, talvez o mais famoso livro que detalha a prática da evocação mágicka seja o Lemegeton, ou a Chave Menor do Rei Salomão traduzido por S.L. MacGregor Mathers, o grande adepto da Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn); muito foi escrito sobre este texto em particular nos últimos cem anos por magos e acadêmicos da mesma forma e, em muitos aspectos, está em conformidade com a imagem da evocação presente no inconsciente coletivo com um círculo mágicko complicado, descrição exaustiva de ferramentas necessárias e coisas efêmeras e um registro ou hierarquia de espíritos com descrições de seus poderes e habilidades. Muitos autores contemporâneos como Lon Milo DuQuette, Christopher Hyatt, Carroll Runyon e Michael Osiris Snuffin têm escrito extensivamente sobre este livro em particular e têm informado, a uma geração inteira, sobre sua aplicabilidade prática. Há, porém, outros grimórios que não são tão bem explorados, ou têm passado somente nos últimos anos pelo processo de serem cuidadosamente examinados e re-examinados pelo seu papel na consciência do emergente renascimento mágicko. Textos como o Grimorium Verum, o Dragon Rouge, e outros do início da era moderna e da bibliothèque bleu estão sendo redescobertos e re-explorados em seus contextos individuais e comparados com outros de datas anteriores. Este ensaio, em particular, essencialmente abordará a experiência com a Chave Menor de Salomão e o Grimorium Verum, mas para aqueles que estão interessados em explorar outros textos eu incluí uma bibliografia no final deste ensaio. A maior parte da literatura contemporânea sobre a prática da evocação demoníaca tende a enfocar a prática em dois modelos: a) o paradigma psicológico em que as entidades evocadas são complexas projeções subjetivas do inconsciente do magista ou b) o paradigma espiritual, em que as entidades evocadas são tratadas como entidades únicas e independentes separadas da consciência do mago. Na minha opinião, a questão epistemológica de saber se existem essas entidades subjetiva ou objetivamente, enquanto certamente merecedora de um tratamento mais completo, é provisoriamente discutível, e independentemente de sua natureza, os seres evocados frequentemente atuam independentemente, dadas as considerações apropriadas e tratados como tal — isto também se aplica a outros seres e entidades que o mago pode encontrar em sua vocação. É, no entanto, de primordial importância que o magista que irá participar da prática da evocação tenha mente sã e um profundo conhecimento prático de magia elemental antes de começar a prática da evocação mágicka. No mínimo, eu incentivaria o indivíduo a passar algum tempo a familiarizar-se com os exercícios mencionados no Appendix VII do Liber ABA, em particular o Liber HHH, Liber O, e o Bornless Ritual (Ritual do Inascido, também conhecido como Liber Samekh). Além disso, incentivo a leitura atenta do ensaio de Aleister Crowley, “An Initiated Interpretation of Ceremonial Magic” (Interpretação Iniciática da Magia Cerimonial), que pode facilmente ser encontrado on-line, bem como da maioria das edições da Chave Menor de Salomão de Mathers / Crowley, assim como do Crystal Vision Through Crystal Gazing de Frater Achad. Dependendo da situação, a prática da evocação em escala completa pode ser difícil de ser realizada devido a

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Goetia Simplificada — Frater Michael Sebastian Lùx

Para muitos aspirantes a magista, a prática da evocação mágicka de forças demoníacas sugere imagens demagos medievais trajando longos robes, armados com varinhas e espadas, de pé em círculos evocando agentesdo Inferno a fim de realizar pactos para obter riqueza, amor, eterna juventude, ou qualquer outra coisa que convirà vaidade do intrépido bruxo. Talvez seja esta imagem e os métodos aparentemente difíceis de preparação dasferramentas dos rituais, memorização de longas conjurações e exorcismos, e a incompreensão das prosaicasforças ligadas à nossa realidade espiritual, o que tem feito a prática da evocação goética ser muito denegrida eincompreendida, mesmo por alguns dos grandes adeptos da nossa atualidade. Até que ponto esse viés émerecido ou não está totalmente aberto ao debate. A meu ver, no entanto, seus benefícios não podem serquestionados por aqueles determinados a tomar as medidas necessárias para se envolverem com essas forçasface-a-face e que o processo para fazê-lo não precisa ser demasiado complicado pela recriação de cada detalhe,quer seja das ferramentas ou templos descritos nos vários textos que nos foram transmitidos. Este ensaio visaproporcionar um resumo simplificado de minha extensa prática da evocação ao longo de quase dez anos edemonstrar que este não é apenas um processo acessível, mas que pode enriquecer a vida do mago,independentemente de sua situação.

Para o leitor, talvez o mais famoso livro que detalha a prática da evocação mágicka seja o Lemegeton, ou aChave Menor do Rei Salomão traduzido por S.L. MacGregor Mathers, o grande adepto da Ordem Hermética daAurora Dourada (Golden Dawn); muito foi escrito sobre este texto em particular nos últimos cem anos por magose acadêmicos da mesma forma e, em muitos aspectos, está em conformidade com a imagem da evocaçãopresente no inconsciente coletivo com um círculo mágicko complicado, descrição exaustiva de ferramentasnecessárias e coisas efêmeras e um registro ou hierarquia de espíritos com descrições de seus poderes ehabilidades. Muitos autores contemporâneos como Lon Milo DuQuette, Christopher Hyatt, Carroll Runyon eMichael Osiris Snuffin têm escrito extensivamente sobre este livro em particular e têm informado, a uma geraçãointeira, sobre sua aplicabilidade prática. Há, porém, outros grimórios que não são tão bem explorados, ou têmpassado somente nos últimos anos pelo processo de serem cuidadosamente examinados e re-examinados peloseu papel na consciência do emergente renascimento mágicko. Textos como o Grimorium Verum, o DragonRouge, e outros do início da era moderna e da bibliothèque bleu estão sendo redescobertos e re-explorados emseus contextos individuais e comparados com outros de datas anteriores. Este ensaio, em particular,essencialmente abordará a experiência com a Chave Menor de Salomão e o Grimorium Verum, mas paraaqueles que estão interessados em explorar outros textos eu incluí uma bibliografia no final deste ensaio.

A maior parte da literatura contemporânea sobre a prática da evocação demoníaca tende a enfocar a prática emdois modelos: a) o paradigma psicológico em que as entidades evocadas são complexas projeções subjetivas doinconsciente do magista ou b) o paradigma espiritual, em que as entidades evocadas são tratadas comoentidades únicas e independentes separadas da consciência do mago. Na minha opinião, a questãoepistemológica de saber se existem essas entidades subjetiva ou objetivamente, enquanto certamentemerecedora de um tratamento mais completo, é provisoriamente discutível, e independentemente de suanatureza, os seres evocados frequentemente atuam independentemente, dadas as considerações apropriadas etratados como tal — isto também se aplica a outros seres e entidades que o mago pode encontrar em suavocação. É, no entanto, de primordial importância que o magista que irá participar da prática da evocação tenhamente sã e um profundo conhecimento prático de magia elemental antes de começar a prática da evocaçãomágicka. No mínimo, eu incentivaria o indivíduo a passar algum tempo a familiarizar-se com os exercíciosmencionados no Appendix VII do Liber ABA, em particular o Liber HHH, Liber O, e o Bornless Ritual (Ritual doInascido, também conhecido como Liber Samekh). Além disso, incentivo a leitura atenta do ensaio de AleisterCrowley, “An Initiated Interpretation of Ceremonial Magic” (Interpretação Iniciática da Magia Cerimonial), quepode facilmente ser encontrado on-line, bem como da maioria das edições da Chave Menor de Salomão deMathers / Crowley, assim como do Crystal Vision Through Crystal Gazing de Frater Achad.

Dependendo da situação, a prática da evocação em escala completa pode ser difícil de ser realizada devido a

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restrições espaciais, especialmente na maioria dos ambientes urbanos. Mesmo um templo temporário para aprática da evocação mágicka exige, no mínimo, oito a nove metros de espaço desobstruído — não incluindo opróprio círculo mágicko! Por esta razão, é provavelmente mais conveniente para muitos de nós praticar o quealguns chamam de evocação no plano astral. Embora eu tenha algumas divergências sobre a definiçãosemântica devido às diferenças na compreensão operatória, a prática da evocação no astral através de algunsmeios reflexivos tem uma longa e honrada história na prática mágicka, e tem a vantagem de ser capaz de serrealizada, mesmo em um pequeno apartamento. Usando o nosso método especial, o templo mínimo requer:

→ uma mesa ou escrivaninha de pelo menos 90x30 cm;→ espelho de vidência ou bola de cristal,→ tecido pesado preto de 45x45 cm;→ papel ou pergaminho.

Além destes, pode-se desejar usar água benta que pode facilmente ser feita em casa ou obtida na Igreja Católicaou Episcopal local; um aspergillum feito a partir de alecrim, manjerona, hortelã, arruda; e qualquer vesteritualística. Dependendo do grimório que esteja sendo usado, há inúmeras opiniões diferentes sobre asconsiderações para a preparação e consagração de suas ferramentas mágickas. A meu ver em umacircunstância ideal preparar-se-ia cada uma segundo as regras específicas do livro mágicko em questão, mas,uma vez que este raramente é o caso, pode-se prepará-las de acordo com o espírito do texto e ainda obterresultados eficazes. Adicionalmente velas, incensos e armas elementais, tais como as utilizadas na Golden Dawnou por iniciados de A.·.A.·. podem ser úteis para o mago.

Com o tecido preto o magista vai fazer o que eu tenho chamado de Linho da Arte — não particularmenteadequado, com certeza, mas, na ausência de um círculo em escala completa, o Linho da Arte pode tornar-seuma ferramenta poderosa para evocação. Para este efeito, o magista terá de pegar o tecido e dividi-lo em novequadrados de modo a criar uma grade de 3 linhas x 3 colunas. Curiosamente, estas dimensões não são muitodiferentes do triângulo e fazem alusão a três como o primeiro sólido, bem como a Saturno, o planeta daslimitações. Restringindo os espíritos em um triângulo, tal como sugerido na Chave Menor de Salomão, o queestamos fazendo limita a sua capacidade de moverem-se livremente e controla seus poderes primordiais para osnossos próprios fins (presumivelmente) construtivos. Três multiplicado por três é nove que também é único namedida em que é o número da Sephirah Yesod, que rege a Lua e a manifestação de visões, sonhos efenômenos psíquicos.

No centro do quadrado faça um triângulo equilátero em branco ou vermelho usando uma tinta não-solúvel emágua tal como tinta acrílica ou silk-screen. Em torno deste, pinte dois círculos concêntricos de modo que vocêacabará com uma imagem como esta (Figura 1):

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Isto está de acordo com o Triângulo de Evocação descrito na literatura salomônica, contudo assemelha-se maisaproximadamente do círculo mágicko descrito no Dragon Rouge e no Grimorium Verum. Durante o seu processode evocação você estará chamando os espíritos para sua bola de cristal (ou espelho de vidência) que será postasobre o triângulo na mesa.

O próximo passo na criação do Linho da Arte será pintar o hexagrama de Salomão (veja Figura 2) sobre os ladoscardinais do tecido de modo que, quando colocados na mesa ou altar, eles apareçam virados para as quatrodireções. A imagem utilizada em particular é o mesmo hexagrama descrito no Grimorium Verum, Dragon Rouge,Heptameron e em muitos outros grimórios medievais e modernos, como representado abaixo:

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Esta imagem pode facilmente ser modificada paraatender ao hexagrama descrito na Chave Menor deSalomão, que é usado no avental do mago (Figura 3)ou até mesmo pode ser simplificada ainda mais parao hexagrama mágicko descrito por Crowley com otriângulo descendente vermelho e o ascendenteazul, com a imagem de um Tau dourado invertido nocentro (Figura 4). O objetivo do hexagrama, dequalquer forma, é evitar que energias nãoconvidadas se aproximem da mesa de trabalho domago, bem como para lembrar aos espíritos e aomagista o seu lugar no macrocosmo.

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Quando todo o Linho da Arte for espalhado, ele deve assemelhar-se a isto (Figura 5):

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O próximo passo na construção do Linho da Arte, assim como todos os instrumentos utilizados pelo mago, estedeve ser consagrado ou dedicado adequadamente. Uma vez que este é uma ferramenta relativamente recente,existe uma série de opções que se poderia seguir, mas de acordo com a tradição da magia goética, temosoptado por usar a consagração da Chave Maior de Salomão do Livro II, capítulo XVII:

"Sede presente para ajudar-me, e minha operação ser consumada através de vós; ZAZAII,ZALMAII, DALMAII, ADONAI, ANAPHAXETON, CEDRION, CRIPON, PRION, ANAIRETON,ELION, OCTINOMON, ZEVANION, ALAZAION, ZIDEON, AGLA, ON, YOD HE VAU HE, ARTOR,DINOTOR, Santos Anjos de Deus; se façam presentes e infundam virtude neste [Linho], de modoque ele assim obtenha poder através de vós, que todos os Nomes e Símbolos nele escritosrecebam o devido poder, e que todo o dolo e empecilho parta deste, através de Deus o Senhormisericordioso e gracioso, Aquele que vive e reina por todas as eras. Amém."

Em seguida recite os salmos 72, 117, 134 e o "Benedicite Omnia Opera" e finalmente este é aspergido com águabenta e incensado, dizendo:

"Eu te conjuro, ó [Linho], por todos os Nomes Sagrados que tu recebas eficácia e força, e tornes-te exorcizado e consagrado, de modo que nenhuma das coisas escritas sobre ti se apaguem doLivro da Verdade. Amém."

Está concluído, o Linho da Arte está pronto para uso e, quando não estiver sendo utilizado, pode serseguramente dobrado e armazenado num local seguro.

O próximo item importante necessário para esta forma de evocação é a bola de cristal ou espelho de vidência.Durante o processo de evocação, este item será colocado no meio do triângulo, é neste item que o espírito seráconjurado. Não há regras rígidas e rápidas para este item, mas na minha opinião este deveria ter pelo menos 15cm de diâmetro para acomodar uma visualização confortável e ser consagrado durante um momento auspicioso.Para isso, encontramos uma sugestão no livro Wicca: a Guide for the Solitary Practitioner (Guia Essencial daBruxa Solitária) de Scott Cunningham: basta que o item seja imerso em uma tisana de artemísia (Artemisiavulgaris), durante uma Lua Cheia. Pode-se também tomar como referência os métodos de Franz Bardon em suaobra A Prática da Evocação Mágica, que delineia uma série de considerações muito avançadas, mas vantajosaspara a evocação em geral.

Antes da evocação, vale a pena levar em conta quais espíritos seriam úteis para o mago. O Lemegeton faz umbom trabalho de descrição de características particulares de cada espírito e seus campos (ou reinos) de ação deuma maneira que outros, incluindo o Grimorium Verum, não o fazem. Para explorações iniciais, sugiro fazer umalista de suas necessidades imediatas e os espíritos correspondentes que podem o auxiliar. Outro método,sugerido-me uma vez por Michael Snuffin, consiste em usar as cartas do Tarot of Ceremonial Magic de LonDuQuette, que apresentam os selos dos espíritos d'A Chave Menor, embaralhá-las, tirando três cartas, e fazeruma adivinhação com base nos espíritos que aparecem. Embora este método tenha um certo grau deambiguidade, tem me servido bem em algumas operações e pode fornecer algum tipo de assistência paraoutros. Uma vez decidido o espírito, seu selo pode ser desenhado na cor apropriada em cartolina ou gravada emmadeira, metal ou numa jóia apropriada (se houver). Na maioria dos casos, cartolina é mais do que suficiente.Este é então abençoado com água benta e deixado de lado até a hora da evocação.

Na data da evocação, sugiro que separe o dia (ou, no mínimo, a metade deste) para meditar sobre a operação.De acordo com as sugestões dos grimórios, considero útil abster-se de carnes e bebidas alcoólicas, bem comodesligar telefone e computadores para limitar as interações sociais a aquelas relativas à nossa família ou a

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amigos muito íntimos. Durante este tempo prepare a mesa, lavando-a com água benta e consagrando-a comóleo de Abramelin marcando cinco cruzes na a superfície sob a forma de um pentagrama antes de colocar oLinho da Arte sobre a superfície, colocando a bola de cristal no triângulo e cobrindo-a com um pano de sedapreta, juntamente com o sigilo do espírito. Uma vez que o tempo ideal para a evocação é à noite, pode ser útildispor velas no altar de cada lado do círculo. Lâmpadas votivas de cobalto ou vidro vermelho escuro podem serparticularmente eficazes na eliminação de distrações enquanto tornam o ambiente apropriado.

O óleo de Abramelin pode ser confecionado misturando 2 ml de óleo essencial de Mirra com 4 ml de óleoessencial de Canela, 1 ml de óleo essencial de Galanga e 3,5 ml do melhor azeite de oliva (ao aumentar areceita sempre siga a mesma proporção entre os ingredientes).

O resumo da operação é o seguinte:

I. Trabalho Preliminara. Preparação do templo e instrumentos, incluindo revisão das conjuraçõesb. Abstenção de sexo e comida durante pelo menos seis horas antes da operaçãoc. Banho ritualísticod. Meditação ou trabalho energético, como o Pilar do Meio

II. Abertura a. Ritual de Banimento do Pentagramab. Ritual de Banimento do Hexagramac. Ritual do Não-Nascido (Liber Samekh)d. A purificação do templo com água benta e incenso

III. Conjuração a. Análise do sigilo do espírito até que o elo seja estabelecidob. Recitação da conjuração [1]

IV. Recepção do Espírito a. Interrogatório sobre a identidade do espíritob. Juramento ou Contrato de Obediênciac. Estabelecimento da comissão do serviçod. Contrato de Pagamento [2]

V. Despedida a. Licença para partirb. Rituais de banimento como na abertura

Este método de evocação, enquanto quase idêntico em estrutura aos métodos convencionais, é decididamentesimplificado e como mencionado não requer o extenso trabalho ou espaço necessário para a evocaçãotradicional. Seu único obstáculo é ser uma experiência um pouco limitada em comparação com a evocaçãoconvencional, da mesma forma que comunicar-se com alguém face-a-face é diferente de comunicar-se comalguém via Skype. De acordo com a minha experiência pessoal, as conjurações usadas podem ser comutadas,dependendo do grimório usado, mantendo a consistência interna com o texto a ser utilizado. Além disso, como omago experiente deve ter notado, alguns dos termos usados para esquematizar a operação forampropositadamente alterados para refletir uma relação mais igualitária com os espíritos em contraste com arelação hierárquica "mestre / escravo" que é decididamente um resultado da perspectiva pré-moderna,monoteísta e patriarcal tipicamente prevalecente nas visões judaica, cristã e islâmica de mundo. Assim, proponhoque se aproxime dos espíritos com o mesmo respeito que teria no comissionamento de alguém para criar umaobra de arte ou na contratação de alguém para um emprego, o que traz à tona o próximo ponto.

Sem dúvida, muitos vão ter objeções à ideia de fazer um juramento ou pacto com entidades demoníacas. Estemedo, enquanto compreensível, é na maioria dos casos irracional posto que espíritos fazendo exigênciasultrajantes é apenas mais um dos contos morais de magos medievais que vendem a sua alma ao Diabo em trocade seus desejos. Embora a possibilidade de "vender a alma" seja merecedora de muita exploração teológica, o

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fornecimento de pagamentos simples, como acender velas em honra dos espíritos, gravar seus sigilos emmateriais mais caros após a conclusão bem sucedida de trabalhos, ou mesmo espalhar seu nome são mais doque o suficiente para agradar a estas entidades. Como sempre, gostaria de advertir o aspirante a mago contraoferecer elementos próprios, tais como sangue ou outros fluidos corporais, mas sinto a necessidade de salientarque nem mesmo estas ofertas estão excluídas dos anais da goetia ou até mesmo entre alguns praticantescontemporâneos.

Após a conclusão bem-sucedida de uma evocação, é importante que o mago faça um cuidadoso registro de suavida espiritual e mundana em um diário. Isso tem duas utilidades, na medida em que: a) fornece um registrosubjetivo de eventos e acontecimentos e, b) serve como referência de eventos que podem voltar a ocorrer ouque precisam ser observados em uma continuação da operação. É importante notar que o processo operatóriode evocação estende-se, frequentemente, para além do ritual de evocação em si. Por esta razão, após aentidade ter prestado os seus serviços, caberia a ele [o mago] executar uma conjuração para formalmenteagradecer ao espírito por sua ajuda, bem como para fornecer, quaisquer que sejam, os pagamentos que foramacordados no âmbito do Contrato de Pagamento. Sob nenhuma circunstância deve o espírito ser pago antes daconclusão da tarefa! Se um espírito, que já havia concordado em trabalhar para o mago, não conseguir cumprir oserviço, ele pode ser evocado novamente e ser demitido das suas funções ou amaldiçoado e amarrado àobediência. Como sempre, eu prefiro a primeira opção, mas deixo isto a critério do mago.

Se uma determinada operação está acordada a ser cumprida a longo prazo, o mago pode precisar fornecer aoespírito algum apoio adicional, um pouco diferente do que foi discutido no Contrato de Pagamento. Isso tambémnão é inédito, a Chave Maior de Salomão dedica um capítulo inteiro a esta consideração no Livro II, capítuloXXII:

"Em muitas operações, é necessário fazer algum tipo de sacrifício aos demônios. Às vezes, osanimais brancos são sacrificados para os bons espíritos e pretos para os maus. Tais sacrifíciosconsistem no sangue e, por vezes, a carne... Quando é necessário, com todas as cerimôniasapropriadas, fazer sacrifícios de fogo, eles devem ser feitos com madeira que tenha algumaqualidade correlacionada aos espíritos invocados... Quando fazemos sacrifícios de comida ebebida, tudo que for necessário deve ser preparado sem o Círculo, e as carnes devem sercobertas com algum pano branco limpo, e deve haver também um pano branco limpo abaixodelas; com pão novo e bom vinho e espumante..."

De acordo com um método específico discutido por Lon Milo DuQuette em seu My Life With Spirits, pode-seprosseguir com o trabalho preliminar de costume e a conjuração do espírito e oferecer-lhe sangue de animalcomprado em um açougue ou espremido de boa carne moída e misturado com qualquer bebida alcoólica de boaqualidade (minha preferência é Bacardi 151), por fim ateando fogo à mistura. De acordo com a narrativamitológica do Novo Testamento o feiticeiro Jesus de Nazaré exorcizou uma legião de demônios colocando-a emuma horda de suínos [3], eu descobri que o sangue dos porcos, comprado em qualquer supermercado asiático,proporciona um grande sacrifício que muitos espíritos parecem gostar.

Por fim, a prática da evocação mágicka não é inteiramente sobre como conseguir o que se quer, mas simformular novas relações e explorar novas formas de experimentar o mundo e pode ser um poderoso método deenriquecimento espiritual (e pessoal). Dizer que é fácil seria enganoso e desonesto — conheci alguns espíritosque não foram nada cordiais e que tiveram de ser submetidos aos rigores de maldições e banimentos —,contudo depois de algum tempo e esforço, o mago vai achar que lidar com espíritos é, em muitos aspectos,como lidar com pessoas que simplesmente não têm corpos. A minha esperança é que este material sejasuficiente para motivar seu interesse e que você comece sua própria exploração do mundo dos demônios.Desejo-lhe o melhor em suas experiências.

BIBLIOGRAFIA

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NOTAS

1 A meu ver, o espírito não pode aparecer após uma única recitação, por isso é melhor esperar por um ou doisminutos entre recitações sucessivas para permitir que o espírito apareça na bola de cristal ou espelho. Se elenão aparecer após três, ou, no máximo, sete recitações é melhor abandonar a operação. Considero que asmaldições tradicionais são o melhor recurso quando nenhum outro está disponível ou se os espíritos conjuradossão abertamente agressivos com o mago.

2 Enquanto muitos podem oporem-se a ideia de fazer um contrato recíproco com um espírito, a meu ver, forneceralguma forma de pagamento em troca de serviços prestados é um grande passo no desenvolvimento de umrelacionamento com entidades espirituais, bem como corporais, como o seu barista ou garçom favorito.

3 Marcos 5: 1-20, Mateus 8: 28-34, Lucas 8: 26-39

Traduzido por Lizza Bathory de Edge of the Circle Books Newsletter — Simplified Goetia