Upload
ngodien
View
222
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Graciele Maria Valente
MATEMATICANDO A L1TERATURA
Trabalho de Concluslo de Curso apresentado aocurso de Pedagogia da Faculdade de Ci~nciasHumann, Letras e Artes da Universidade Tuiuti doParana como requisito para 0 titulo de gradua~ioem Pedagogia.
Orientador: prof. Carlos Petronzelli
Aqueles que me ajudaram e contribuiram direta au indiretamente
para a conclusao deste trabalho, lamiliares, amigos, prolessores e
alunos.
Em especial ao anjo a quem devo tudo que tenho e sou hoje:
minha mae.
j£ Universidade Tuiuti do Parana"y
FACULDADE DE CI~NCIAS HUMANAS, LETRASEARTESCurso de Pedagogia
TERMO DEAPROVA<;:AO
NOME DO ALUNO: GRACIELEMARIA VALENTE
TITULO: Matematicando a literatura
TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO APROVADO COMO REQUISITO PARCIALPARA A OBTEN<;:AODO GRAU DE LlCENCIADO EM PEDAGOGlA, DO CURSO DEPEDAGOGIA, DA FACULDADE DE CI~NCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES, DAUNIVERSIDADETUIUTI DO PARANA.
MEMBROSDA COMISSAO AVALlADO~!J () .'
PROF(a). CARLOS PETRONZELLI ~LP~ ~ORIENTADOR(A) -
PROF(a). MARIA FRANCISCAVILAS BOASLEFFERA:6r~MEMBRODA BANCA ~ .
PROF(a)SELMA KOZEL PA ITl m4r,!2. ~MEMBRODA BANCA '11DATA: 20/12/2005
MEDIA: :3_~ _CURITIBA - PARANA
2005
AGRADECIMENTOS
Ao professor Carlos Petronzelli, pela orientayao, sugestoos
apresentadas e liberdade nas produ¢es.
As amigas Andrea Malmegrim Elias, Helen Milani, Lilian Lopes de
Amorin e Poliana de Araujo Rodrigues.
Agradecimento especial a minha irma Ariane Valente Rogiski pelo
apoio incondicional nos varios momentos deste trabalho.
"Ubertar devolver ao mundo,conhecer 0 ser humano a fundo.Se h8 luz no horizonte,se ha vida em cada olhar, libertar e viver.Ser livre para voar, ser livre para sentir,ser livre para mostrar que 0 ceu e logo ali.Ser livre, ser 0 que sonhou.Meu destino e ser feliz,nisso eu quere acreditar.Fazer tudo 0 que eu nao fiz,lutar por um lugar no mundo e conseguir:Ubert8r e viver"
SUMARIO
RESUMO ...
1 INTRODUvAO .....
. 6
....7
2 A MATEMATICA COMO CIENCIA HUMANA: UMA ABORDAGEM HISTORICA
............. 10
2.1 0 ENSINO DA MATEMATICA NA ESCOLA CONTEMPORANEA: LlMITES E
AVANCOS.. ..15
3 MATEMATICA E liNGUA MATERNA: A TEORIA DE NILSON JOSE MACHADO
.................................................................... 30
3.1 LlTERATURA E MATEMATICA: NOVAS PROPOSTAS PARA VELHOS
PROBLEMAS .. . .4
5 CONSIDERAVC>ES FINAlS .. . .72
REFERENCIAS . . .75
RESUMO
Matematicando a Literatura e urna pesquisa que focaliza a estudo das rela96es entre aMaternatica e a Literatura, toma esta como estrategia metodologica para desmistificar 0medo de aprender que a primeira tern causado nas crianc;as das series iniciais doEnsino Fundamental. Busea as possibilidades que a Literatura oferece aDs conteudosproprios da Maternatica e a compreensao de que ela nao e a vila da hist6ria e pode sertraduzida para a "lingua da gente", a lingua materna porque ambas S8 complementampois a linguagem e a expressao das necessidades humanas. A metodologia dapesquisa e caracterizada pelo levantamento bibliografico, com produc;ao textualmediante as reflex6es e evidencias abordadas pelos autores consultados com reviseo efichamento das obras, partindo de leitura sistematica para estruturar a pesquisa erefletir diante das questoes levantadas com a problematica: Aquela montanha denumeros pode deixar de causar 0 medo de aprender se integrada a Literatura? Apesquisa recomenda a Literatura nas aulas do en sino da Matematica como estrategiasignificativa, contextuaHzada, promotora de uma variedade de habilidades depensamento necessarias para a aprendizagem e significado dos conteudos.
1 INTRODU<;Ao
7
o trabalho com a Literatura pode romper com a barreira que a ascola cria no
trabalho com todas as areas do conhecimento. Nesta pesquisa mais precisamente
com a Matematica.
Acerca da problematizayao desenvolvida sabre a construc;ao de conceitos
matematicos, observa-se que ha urna nova abordagem metodol6gica que utiliza a
Literatura como forma dessa constru~o, 0 que gerou 0 seguinte problema: a
Matematica, aquela montanha de numeros pode deixar de causar 0 medo de
aprender nas series iniciais do Ensine Fundamental se aliada a Literatura, com
destaque para a import~nciada lingua materna nessa tarefa?
Esla estudo tem como objetivo geral desmistificar a mado que a Matematica
causa na aprendizagem das crian98s das series iniciais. Para tanto, esta pesquisa
pretende conhecer as relagiies entre a Matematica e a Lingua Materna,
compreender que a Matematica nao e a vila da hist6ria, mas 0 medo que ela tem
causado nas crianyas e conhecer a estrategia metodologica que utiliza a Literatura
para desmistificar a medo da Matematica e tarnar a ensina mais prazerasa quando
"as numeros 58 transfarmam em palavras" atraves de historias infantis.
Em decarrencia das necessidades e defasagens que tern surgida aa lango
dos anos no ensina da Matematica nas escolas, a pesquisa se justifica devida 0
distanciamenta da linguagem matematica em relac;ao a lingua materna. Existem
equfvocos que estao sedimentados e fazem aumentar a limitac;tlo da aprendizagem
em Matematica, como pracedimentos metodol6gicos inadequados, deficiencia na
capacidade de analise e interpretac;ao da lingua escrita. Acrescenta·se aqui a ideia
de que a Matematica e uma ciAncia absoluta e exata que remete aos numeras e aos
calculos precisas para sua aprendizagem sem relaciana-las com as produc;6es
8
humanas, bern como 0 privi1E~gio da tecnica para a resoluc;ao da especificidade de
seus conteudos, 0 que supoe 0 "rigor mate matico"
Quanto ao "rigor mate matico" constata-se que os proprios professores 0
privilegiam em detrimento das linguagens matematicas, e 0 que S8 detecta sao as
definic;:6es descontextualizadas no lugar da conceitu8C;:30, como tambem observou-
S8 urn certo exagero dos exercicios de fix8c;:ao, ou seja, 0 calculo pelo calculo,
prejudicando as exercfcios mentals, seja ele aproximado e exato.
Teda essa problematica vern exigindo nas escolas urn desenvolvimento
linear, ou seja, aconteee a valoriz8c;:ao da tecnica em detrimento da com preen sao, 0
decorar no lugar de memorizar.
A preocupa"ao com a defasagem na aprendizagem Matematica e a produ9ao
didatica em educ8<;ao matematica sao preocupac;:oes desta pesquisa que propoe
reflex6es sabre a aproximac;aa entre a Literatura e a Matematica.
No primeiro capitulo apresenta-se uma abordagem historica da Matematica,
sua importfmcia na vida dos homens desde 0 proprio aparecimento, 0 surgimento
nas escolas, enfatizando-se a Matematica Escolar no Brasil.
Ao destacar 0 ensino da Matematica na escola cantemporanea, a pesquisa
deteve-se aos limites e avanc;os dessa area a partir do sEkulo XX, abordando as
principais tend€mcias metodol6gicas de maneira sucinta mediante uma reflexao e
relevancia da organizac;ao da pn3tica do professor.
No capitulo dois, "Matematica e LIngua Materna: a teo ria de Nilson Jose
Machado", a Matematica apresenta-se intima mente ligada a lingua, e, par sua vez,
dependente dos significados e significantes proprios de uma produ9ao lingOistica,
considerando a ligac;ao direta entre elas e as relac;6es entre usa da Literatura como
uma abardagem metodol6gica para a ensina da Matematica.
9
No mesmo capitulo, a Literatura e a Matematica surgem como
complementares a partir de propostas de auto res que defendem a construC;;80 de
model os de ensino e de aprendizagem de Matematica mais qualificados que
quantitativQs, visando a supera~o de modelos que supervalorizam 0 "rigor
matematico", destacando a possibilidade de desenvolver atitudes e praticas
didaticas favoraveis aD desenvolvimento integral das crianyas como a valorizaQao da
aprendizagem da leitura e da escrita na linguagem matematica par meio da
linguagem literaria.
Para estruturar a pesquisa a metodologia e caracterizada a partir da pesquisa
bibliografica, na qual S8 selecionou textes que abordam 0 tema em questeo, livros,
artigos, dissertaC;8o, revista, sites e bibliografias complementares mediante leitura
Sistematica, com fichamento das obras. As reflex6es sao norteadas para resposta asua problematica e alcance de seus objetivos.
10
2. A MATEMATlCA COMO CIENCIA HUMANA: UMA ABORDAGEM
HISTORICA
A vida dos seres humanos esta total mente relacionada e interligada com a
Matematica, pois, no dia-a-dia todos S8 deparam com Situ8ye8S problema, que, para
serem resolvidas precisam de questionamentos, investigac;:{)es, levantamento de
hip6teses, cria90es, solU90es. Essas resolu0es com 0 passar do lempo Icram
sofrendo modificac;6es, pois a propria vida e consequentemente a Matematica S8
transformaram nas rela<;Oes humanas e nas necessidades que delas provem.
Oesde 0 aparecimento do homem, ele S8 encontrava envolvido com a
Matematica, procurando atender as necessidades determinadas par sua condic;:ao
de vida. Ete contava, media e calculava, masma sem possuir ainda urna
formaliz8c;:ao dos conceitos mate maticos.
Nas observa96es detectou-se que ate mesmo os animais se utilizam da 16gica
Matematica. A prop6sito, algumas especies de animais, com capacidade de
memoriza<;ilo, como uma determinada esp€!cie de corvos que distingue conjuntos de
ate quatro elementos.
Nao obstante, a Matematica que existe hoje e resultado da simplicidade do
conceito de numero, grandeza e forma que sao desprezados devido a cumplicidade
intelectual criada pelo homem ao longo da evolU(;ao da humanidade.
Ela deixou de ser contextualizada na percepyao da natureza e da
necessidade de sobrevivencia do homem, 8, a partir do seculo XIX constituiu-se sob
os fundamentos da cilmcia e do corpo cientifico da propria Matematica que utilizou-
S8 da abstrac;ao das semelham;as e compara¢es convertidas em numeros.
11
Os numeros, segundo BOYER (1996), expressam um processo "gradual" e
"Iongo" no desenvolvimento cultural do homem. Ao contar, 0 homem utilizava-se dos
dedos das maos e dos pes. Foi assim que iniciou-se a sistema decimal.
A comunicayao entre as homens favoreceu a utilizac;ao e surgimento das
abstrac;6es. No inicio naG existia palavra para S8 definir quantidade, era mais facit
fazer urna marca em urn objeto. A linguagem dos numeros demorou para ser
abstraida, au seja, demorou-se para criar urna simbologia que simplificasse as
medidas. Exemplo disso e a medida par palmos, pes e partes do corpo.
Para confirmar a dificuldade e 0 longo processo de evolu9ilo Matematica,
BOYER relata:
Os milhares de anos que foram necess~rios par~ que 0 homem fizesse adistinvao entre conceitos abstratos e repetidas silua¢es concretas mostrilmas dificuldades que devem ter sido experimentadas para se estabeleceruma base ainda que muito primitiva para a matematica.(BOYER,1996, pA)
Entre as teorias que argumentam sabre sua origem, duas aparecem no livro
de BOYER (1996). A primeira pressupOe que a Matematica surgiu das necessidades
praticas do homem, ja, a outra diz que tern relac;,ao com rituais religiosos que exigiam
ordenac;.ao em suas encena¢es, dai surgiu a contagem.
Para D'AMBROSIO, as raizes da Matematica se confundem com a historia da
humanidade, pOis a civiliza9ao ocidental tem como "espinha dorsal" a Matematica,
outras civilizac;6es tambem possuem formas de matematica e verificando 0
pensamento desse autor frisa-se que:
(...) 85 ideias malematicas comparecem em toda a evolu~o dahumanidade, definindo estrategias de agao para lidar com 0 ambienle,criando e desenhando instrumentos para esse tim, e buscando explica(f6essobre os fatos e fen6menos da nature.Zil e pari! a propria existencia. Emlodos os momentos da hist6ria e em todas as civiliz3yaes, as ideias
12
matematicas estao presentes em todas as fOlTTliS de (azer e de saber.(O'AMBR6sIO,U. apud BICUOO, 1999, p. 97)
As origens como diz BOYER, podem nao ser explicadas, ja que a escrita
surgiu a seis mil anos e a que houve antes disso nao S9 sabe. Existem teorias que
apontam para a civilizayao egipcia como principio par nao S8 ter indfcios anteriores.
Oesenhos pre-historicos demonstravam preocupacyao com a espa~ e
consequentemente iniciou-se as primordios da geometria. Objetos daquela epoca
mostravam simetria e preocupa<;Aa oom configura96es e relac;.6es entre as formas. A
geometria pode ter origem na construc;.ao de templos primitiv~s, na divisao das terras
e em representa90es do bela demonstradas e observadas em produy6es de
civiliza¢es antigas.
Em S8 tratando da origem da Matematica nao ha segundo os estudos sua
comprovac;ao. Sabe.-se apenas que e muito mais antiga do que se imagina, mas,
como e preciso ter alga concreto para se provar, 0 homem restringe-se ao estudo de
documentos passiveis de observa~o.
Quando a Matematica foi considerada como ciencia, em se tratando da
Matematica Escolar ha toda uma especificidade e sistematiza~o que devem ser
consideradas e que a distingue enquanto objeto de estudo.
Nas escolas, a Matematica surgiu no final do secula XVIII, ate entao as
CiEmcias eram reservadas aos fil6sofos. A Revoluc;ao Industrial e os sistemas
bancarios e de produC;8o passaram a exigir mais do ddadao, e como decorr€mcia
disso a Matematica chega nas escolas, as curriculos e livres didaticos sao criados
com base na formaliza~o e no raciocinio dedutivo do grego Euclides (sec. III a.C.).
Essa obra e crucial para compreender a Matematica, mas inadequada para aulas no
Ensino Basico.
13
No Brasil, nos periodos da Colt>nia e do Imperio, registrou-se muito pouco
sobre a Matematica. Segundo VALENTE,
( ... )no ensino jesuitico nada se encontrou sabre as origens dOl matematicaescolar que pudesse servir de referenda, pois as escoles de Companhia deJesus legavam a Malematica urn carnler secundariO. Eta era 0 instrumentopara 0 desenvolvimento do raciocinio para a Fisica e QutrascienciDs".(VALENTE apud ZIMER, 2002, p. 9)
Percebe-se que 0 interesse dos jesuitas pel as ciencias e muito antigo e
podem ter sido eles as pioneiros da ciencia moderna. Urn exemplo e a jesuita
chamado Clavio. Nasceu na Alemanha em 1537 e morreu em Rama no ana de
1612, era matematico, astr6nomo e tai 0 responsavel par inserir nas institui90es 0
ens ina da Matematica, com 0 intuito de mostrar que a Matematica e a astronomia
tinham um import ante valor cientifico. Ele escreveu livros e tratados sobre aritmetica,
geometria, algebra e astronomia e esses foram divulgados por toda a Europa e
utilizados pel os colegios jesuitas.
No Brasil, um dos documentos dessa apoca que podem ser considerados a
respeito do ensino da Matematica nos coh~gios e 0 "Auto de Inventario e Avalia<;8o
dos livros Achados no Colegio dos Jesuitas do Rio de Janeiro e Sequestrados em
1775, que possuem livros de Clavio e de muitos outros autores jesuitas. 0 que
impedia 0 desenvolvimento da Matematica nas escolas era 0 fato de nao haver
professores treinados e 0 que tinha maior importancia eram outras ciemcias.
Tram5correra muito tempo, nao somente no Brasil. mas em tOOa a Europa,para que a malematica troque status de ensino pratico, tecnico e menor eganhe lugar, junto das letras, como cullum gerat escolar. E me.smo acondit;Ao de uUlidade e necessidade prntica ira demorar multo a se afinnar.Tudo leva il erer, enfim, apesar dos poucos conhecimenlos que lernos sabreo lema, que as ci~nci8s, e em particular a Matematica, nlio constituiram, 80
longo des d~~~aWDtn~os de escolarizayAe jesuitica no Brasil, urn elemente
•..~' ~~ ~'" -.!1~~~~lECc...\U'~ .::;.
14
integrnnle ds cullum escolar e forrnae;io daqueles que 80S colegios dOlCompanhia de Jesus acorriam. (VALENTE, 1999, p. 35)
A Matematica escolar no Brasil 56 aconteceri8 nas aulas de Artilharia, que
tinha como finalidade preparar urn militar para a guerra, formando e capacitando-o
para 0 usa das armas, sendo urn conhecimento uti I e pratico. Depois, esse
conhecimento passaria a formar engenheiros que segundo VALENTE (1999), sao
matematicos e tern como efieia a "rapidez, solidez e economia."
Nos seculos XVIII e XX, a Matematica Escolar des envoi vida no Brasil passu!a
carater tecoico e especializado, proprio das Academias Militares da epoca. S6 a
partir da metade do seculo XIX, que a Matematica Escolar passou ao ensina dos
colegios sofrendo modificay6es na 16gica de organizac;:llo dos conteudos, do ensino
e do aprendizado.
o primeiro livro didatico de Matematica no Brasil foi organizado e escrito pelo
professor Alpoim, este foi um dos primeiros engenheiros militares a atuar no pais, as
livros eram
"estruturados por meio de perglmtas e respostas. Os conteudos da Hartemilitar" sao precedidos da matematica necessaria a sua compreens:'o. (...)dedicados a geometria e it trigonometria" (...) Do ponto de vista damalematiCll que nos livros aparece e ela etementar. constitui-se deconteudos que hoje encontramos no ensino fundamental e media e. maisque iS5O,naD se tem conhecimento de textos de matemcHicamais antigosescritos na colOnia. (VALENTE, 1999, p. 48)
Com 0 avan<;:o da pr6pria sociedade capitalista, a Matematica foi ampliando
seu espac;o de aplicac;Ao, aproximando-se cada vez mais das relac;6es construidas
no cotidiano e nas necessidades da vida urbana. Para tanto, sera possivel verificar
no proximo capitulo, esta imediaticidade - fruto da constru98o historica dessa ciencia
15
- que sofreu evolut;6es gradativas para chegar no ensina que se conhece
atualmente.
16
2.1 0 ENSINO DA MATEMATICA NA ESCOLA CONTEMPORANEA:
LlMITES EAVANyOS
No sEkula XX no transcorrer das guerras mundiais, a Matematica evoluiu e
adquiriu importancia na escola, mas, continuou distante da vida do aluno. Urn
numero cada vez maior de criancyas chegava as salas, aumentando as dificuldades.
o rendimento escolar caiu, a disciplina passou a sar 0 principal motivo de
reprovac;ao.
Na decada de 30, a Matematica Escolar no Brasil, seguiu ideias reformistas
do escolanovista Euclides Roxo que implantouMas no Colegio Pedro II. Essas ideias
sobrevivem ate hOje, notadamente 0 ensina de Matematica, em todas as series do
Ensine Fundamental e Media cuja apresentar;20 por maio de grandes blocos da
Matematica Escolar - aritmetica, algebra, geometria e medidas - sem aquala rigida
divis~o da Escola Tradieional, de anos de eseolaridade reservados para cada urn
desses bloeos e prevendo urna Matematica voltada ao eotidiano dos homens.
A eseola tradicional tinha par objetiva a transmiss~o do conhecimento
aeumulado historicamente, era baseada numa metodologia expositiva e tinha por
modelo 0 professor, detentor do saber e centro que determinava os me-todos de
ensino. Na Escola Nova, ao eontrario, 0 centro e 0 aluno, com suas caracteristicas
afetivas e psicol6gicas, seus interesses, suas motivay5es.
A proposta da Eseola Nova preocupava-se em descentrar 0 en sino do
professor para centra-Io no aluno, atribuindo importancia a atividade da crianc;a, as
suas necessidades e, principalmente, aos seus interesses.
17
Alem disso, a Escola Nova tentou romper a hegemonia da escola tradicional,
para tarnar 0 ensina mais democratico. Ela tinha como primeiro objetivo a
constru~o de urna sociedade aberta. Essas mudan~s eram repreendidas pel a
maioria dos educadores conservadores e pela Igreja da epoca, que, controlando
grande parte do ensino no Brasil. procurou mobilizar seu poder politico contra os
renovadores do ensina. Ela queria, naquele momento, preservar a liberdade para
determinar as Gurriculos, tsr independ~nciae poder para tamar decisOes sabre a
educayao. (Revista brasileira de estudos pedag6gicos, 2000, p. 415-424)
Ate a decada de 30, na Inglaterra, os livros didaticos eram tradu~Oes diretas
da obra de Euclides. Os alunos eram classificados em fortes, medias e fracos, 0
objetivD da disciplina era a fix8c;ao de calculos, modelos e problemas, sem a
preocupa~ao com a compreensao dos conteudos basicos. A avaliayao era centrada
em resultados quantitativQs, expressos em graus e notas e a organiza~o do
trabalho pedag6gico reduzia-se a fazer listagens de conteudos extensos e nao
levava em considera~o a faixa etaria do aluno. Esta organiza~o curricular mantem-
se praticamente inalterada ate a decada de 60.
Na decada de 60, com a Guerra Fria e a corrida espacial, os norte-
americanos reformulam 0 curriculo a fim de formar cientistas e superar os avanr;os
sovieticos. Surge a Matematica Modema, uma boa ideia mal encaminhada. Ela se
apoia na teo ria dos conjuntos, no treinamento de tecnicas operatorias e
nomenclaturas. Mantem 0 foco nos procedimentos e isola a geometria, privilegiando
os resultados finais, 0 born desempenho em calculos, bern como a facilidade para
memorizar formulas, regras e simbolos. Pretendia-se a jntegra~o dos conteudos de
aritmetica, algebra e geometria pelo ensino da logica e da linguagem da teoria dos
18
conjuntos. Os conteudos basi cos como geometria e medidas nas series iniciais,
Icram substituidospar conjuntos,numerose operagiies.
Segundo CARVALHO e ONAGA (1995), antes dos anos 60 no Brasil, as
criticas a Matematica eram relacionadas aos objetivos, centeudos e metodos. Os
profess ores preocupavam-se com 0 alcance dos objetivos, que resumiam-se em
dominar as conteudos mesma que de forma mecanica e repetitiva. Esta area do
conhecimento era fragmentada considerando-se as conteudos, Aritmetica,
Geometria e Algebra que visavam 0 treinamento dos alunos, a que contribuia para
selecionar as alunos, sem a preocupa<;Bo com a aquisic;ao de conceitos, mas, com a
lixa980 de tecnicasde calculo.
Em 1962, ocorreu a movimento "Matematica Moderna"', no qual atraves de
cursos de L6gica e Tearia dos Conjuntos professores franceses e americanos
tentavam reverter 0 alto indice de reprovac;.ao mas continuavam dando enfase as
tecnicas. 0 que deveria acontecer era uma reformulac;ao na metodologia e uma
revisao nos conteudos, transformando assim "0 ensino de matematica em
aprendizagem de matematica"
Na verdade, a que aconteceu e que tada elaboral'80 das praticas
pedag6gicas foram aplicadas somente a um pequeno grupo de escolas devido a
lalta de condigiies olertadas pelas politicas educacionais. Paralelamente a
Secreta ria de Educac;ao de Sao Paulo elaborou uma pro posta curricular que deveria
ser aplicada e cumprida sem questionamentos e, junto disso, ocorreu a
1 ~ importanle ressallar que 0 tenno "Matematica Moderna" esta designando um movimento quepermeou 0 ensino da Matematica na decada de 60 e 70. Portanto, nao refere-.se as abordagensatuais.
19
"democratizac;ao do ensino:z", na qual 0 tazer educativo tornou-se diffcil na escola,
pais liberou-se a entrada de alunos sem uvivencia nos bancos escolares"
Nessa decada, 0 ~analfabetismo matematico" continuou nas camadas socia is
menes favorecidas, por isso, as objetivos de aprendizagem deveriam ser
repensados.
a movimento da Matematica Madema S8 expandiu, ganhando novas
propon;:6es enos anos 70, come90u 0 Movimento de EduC8C;80 Matematica, com a
participal"i0 de professores do mundo todo organizados em grupos de estudos e
pesquisas. Especialistas descobriram como S8 construfa 0 conhecimento na crianc;a
e estudaram form as alternativas de avaliayao resultante da aproximayao com a
Psicologia. (FIORENTINt apud ZIMER, 2002, p.16).
Essa aproximac;ao com a Psicologia colaborou com a Matematica Mederna, 0
que contribuiu para que muitas tendencias pedag6gicas fossem elaboradas, como a
Construtivista, na qual, Woconhecimento matematico nao resulta nem diretamente do
mundo fisico nem de mentes humanas isoladas do mundo, mas sim da a~o
interativa/ reflexiva do homem com 0 meio ambiente e/ou com atividades,"
(FIORENTINI apud ZIMER, 2002, p.16), dando enfase ao processo e nao ao produto
do conhecimento. 0 importante e ~aprender a aprender e desenvo!ver 0 pensamento
16gico formal." (ZIMER, 2002, p.16)
No decurso deste contexto, surge tambem a tendencia Interacionista - S6cio
Cultural, cuja fundamental"io te6rica esta assentada numa visao multiculturalista,
sendo que essa tendencia considera as influencias sociais e culturais na elaborayao
do conhecimento matematico, fazendo 0 aluno observar e manipular 0 que ve,
2 A democratiza~o do ensitlo deu·se com 0 desenvolvimento urbano-industrial que exigia ageneraliza~o da escrita como nece·ssidadep.trn 0 processo produtivo, convertendo-se em urnabandeira da sociedade burguesa para a universalila~o gratuila da escola. obrigal6ria e leigs.(SAVIANI, 1994, p.156)
20
produzindo significados e construindo conceitos a partir de seu referendal de
analise. (ZIMER, 2002, p.16).
A decada de 80 trouxe novas abordagens para a ensina, que segundo
D'AMBROSIO,S., na maiaria das escolas acontecia com urna aula expositiva, na
qual 0 professor passava aquilo que pensava ser importante e 0 aluno copiava e
fazia exercicios de aplicayao seguindo a modele adotado.
Essa pratica, mostra como 0 professor esta presQ ao modelo de en sine
adotado. E, segundo D'Ambr6sio, 0 professor segue esse processo de transmissao
de conhecimento fazendo com que as alunos passem a acreditar que a
aprendizagem de matematica S8 da atraves de urn acumulo de f6rmulas e
algoritmos.
Os alunos acabam acreditando que a Matemiltica e algo pronto e acabado e
que nao esta relacionado com situ8yoes do dia-a-dia. Esses alunos estao sem
coragem para analisar, refietir, relacionar e solucionar os problemas de forma
diferente do professor, nao possuem confianca em si masmo.
Pensando na mudanc;a, 0 professor deve rever e analisar num primeiro
momenta para que serve a Matematica hoje ensinada aos seus alunos. E, a partir do
modelo adotado refletir sobre a forma de transmiss:!lo dos conceitos, nao dando
enfase apenas aos conteudos, ou a quanti dade deles, mas relevando a
aprendizagem do aluno.
E dificil 0 professor que consegue se convencer de que seu objetivoprincipal do processa educacional e que as alunos tenham 0 maioraproveitamento passivel, e que esse objetivo fiCoil longe de ser atingidoquando a meta do professor passa a ser cobrir a maior quantidade pos.sivelde materia em aula. (D'AMBROSIO, B.1996, p.16)
21
Cabe aD professor aprimorar a criatividade dos alunos e agu~r a curiosidade
a partir de desafios e resoluvao de situa98D - problema. Assim obtera resultados
positiv~s, pois os alunos estarao gostando do que fazem e participando efetivamente
da construyao de conceitos matematicos.
A proposito, a autora discute uma proposta de trabalho que considera "0 ate
de fazer matematica e como se aprende matematica" (D'AMBROSIO, B. 1996, p.16),
para que realmente aconte<;aa aprendizagem.
Esta proposta coloca a aluno no centro do processo de ensina -
aprendizagem, pais segundo ela 0 aluno e urn ser ativo e 0 professor meramente urn
orientador das atividades propostas.
Muitas vezes acredita-se que 0 aluno aprendeu determinado conteudo
atraves de suas respostas, mas, utilizando 0 mesma conceito trocando apenas 0
contexto, a aluno pade apresentar erros inesperados, pais sle nac aprendeu, apenas
mecanizou 0 processo.
A autora cita algumas pro pastas metodol6gicas como: resolu98.0 de
problemas, 1l10delagem. etnomatem<itica, historia da Matematica, uso de
computadores e jogos matematicos, todas visando uma melhoria para a ensino.
Tambem destaca que a abordagem denorninada resolu9210 de problemas.
num prirneiro momenta, apenas dava destaque aos passos para a resolucyao de
problemas, hoje e considerada cemo metodologia de ensino. Segundo ela essa
metodologia,
22
No decorrer desse processo 0 aluno envolve-se com a ~fazer" mate matico
criando hip6teses para uma futura investigagao.
Ja, SMOlE & DINIZ (orgs.), definem a resolu9iio de problemas como uma
perspectiva metodologica,
(... ) cujo significado Ruma certa fonna de ver" au "urn certo ponto de vista"corresponde a amptiar a conceitua~o de Resoluyao de Problemas comosimples metodologia au conjunto de orienta~es didilticas. ( ... ) baseitHie naproposi((o'!io e no enfrentamento do que chamaremos de situayllo-problema.Isla e, ampliando 0 conceito de problema, devemos considerar que aResolu9lo de Problemas lrata de situa¢es que nAo possuem SOlWy80evidente e que exigem que 0 resolvedor combine seus conhecimentos edecida pela maneira de usa-los em busca da soluyao.(2001, p. 89)
Nesta perspectiva, problema envolve problematiza<;:ljo,"podem ser atividades
planejadas, jogos, busca e sele<;:ljode informa90es, resolu\'iio de problemas - nao
convencionais e mesmo canvencionais, desde que permitam a processo
investigativo." (DINIZ apud SMOlE & DINIZ, 2001, p.90). Essa abordagem provoca
uma postura de analise e desenvalvimento do sensa crftico e da criatividade, bem
como mativa a aluna a buscar par "ele" mesma a saber, ampliar estrategias e
continuar a aprender.
Outra abordagem citada por Beatriz, e a Madelagem, utilizada para relacionar
a Matematica a situac;Oes cotidianas, ou seja, 0 aluno colocara em pratica conceitos
matematicos adquiridos para resolu<;:ljo de problemas do dia-a-dia. Nessa
perspectiva, 0 aluno reconhece na Matematica urn meio para analisar e aplicar as
situac;6es de sua realidade.
A Etnomatematica valoriza a Matematica dos diferentes grupos culturais e os
conceitos elaborados a partir de suas pr6prias experiencias. Ou seja, "essa proposta
de trabalho requer uma prepara<;:ljo do professor no sentido de reconhecer e
23
identificar as constru\'iies conceituais desenvolvidas pelos alunos". (D'AMBROSIO,
B. 1996, p.17)
Sobre a Etnomatematica, Ubiratan D'AMBROSIO em seu livro
Etnomatematica: arte au tecnica de explicar au conhecer, da urna definirrao
(...) ume abordagem aberta 8 educa~o matematic.a, com atividadesorientadas, motived••s e induzidas a partir do meio, e, consequentemente,refletindo conhecimentos anteriores. tsso nos leva ao que chamamos deetnomatemcjtica e que restabelece a matematica como umll pratica natural eespont~nea. (1996, p. 31)
A Hist6ria da Matematica como urna perspectiva metodol6gica, torna·se
passlvel segundo 8eatriz para contextualizar as produc;oes humanas ern diferentes
culturas, conhecer a constru~o dos conc:eitos matematicos, sua evoluc;ao e 0
porque de sua existencia. 0 que torna possivel a percep<;:aodas diferen<;:asde
aprendizagem entre diferentes grupos socia is.
Outfa perspectiva metodol6gica citada pela mesma autora e a usa de
computadores e programas que seguem uma linha construtiva de aprendizagem,
como a linguagem "logoU par exemplo, programa na qual a aluno trabalha com a
construt;8o de conceitos matematicos, criando ambiente de investiga~o e
levantando hip6teses.
Com e$$3 abordagern a Matematica deixa de ser urn corpo deconhecimentos prontos e sirnplesrnente transmitido5 a05 alunos e pas5a aser algo em que 0 aluno faz parte integrante no processo de construr;ao deseus conceitos. (D'AMBROSIO, B. 1996 p.18)
Os jogos mate maticos tambem constituem uma abordagem. Eles se baseiam
na constru<;:aodo conhecimento matematico pelo aluno a partir das diversas
experiencias. 0 uso de jogos resgata 0 ludico, 0 pensamento 16gico- matematico, 0
24
pensamento espacial, desenvolvendo 0 calculo mental e a estimativa, pais, com a
supervalorizayao do usa do algoritmo, esses itens foram esquecidos par muitos
educadores.
Com ales 0 aluno sa torna um ser ativa na propria aprendizagem percebendo
que e capaz de resolver e solucionar problemas.
Beatriz D' Ambrosio reitera que
E dificil. num trabalho escolar, desenvolver a Matemalica de fonna rica paralodos os atunos se enfatizannos apenas uma linha metodol6gica (mica. Amelhoria do ensino de matemtHica cnvolve, 8s5im, urn processo dediversifica~o metodolOgica, porem, tendo uma coerencia no que se refere afundamentactao psicologica das diversaslinhas abordadas. (1996, p.18)
Sobre a melhoria do processo de aprendizagem, entre 1997 e 1998 sao
lanc;ados no Brasil as Par~metros Curriculares Nacionais para as oito series do
Ensino Fundamental. 0 capitulo dedicado a disciplina e elaborado por integrantes
brasileiros do Movimento de Educa~o Matematica.
Segundo os especialistas, os peN's ainda sao 0 melhor instrumento de
orientacyao para todos as professores que querem mudar sua maneira de dar aula e
com bater 0 fracasso escolar. Neles 0 objet iva e que 0 ensina da disciplina vise a
forma~o do cidadao, que utiliza cada vez mais conceitos mate maticos em sua
rotina. Ao acompanhar uma pesquisa eleitoral, calcular 0 salaria, escolher urn m6vel
para a sala, utilizar urn computador ou ate mesma aD comprar paezinhos numa
padaria, as pessoas aplicam conceitos numericos, fazem operac;Oes, calculam
medidas, utilizam raciocinio 16gico, au seja, vivenciam diariamente diferentes
SitU8c;6BS problemas. Para tanto, as crianc;as devem desenvolver essas habilidades
ja nas primeiras series escolares. Par estar tao presente no colidiano, a Matematica
25
da ao professor a chance de desafiar seus alunos a encontrar solw;oes que
enfrentam na vida diaria.
Po rem, ao embasar 0 trabalho nos peN'S, a professor deve estar preparado
e consciente da maneira que ira seguir, para alcanyar as proprios objetivos e
consequentemente os da Matematica, preparando a aluno para a vida e n~o apenas
para a eseela. As necessidades dos alunos devem ser consideradas e 0 professor
deve criar condiyoes para que as mesmas sejam superadas.
As ideias contidas nos Parametros servem como apaio para 0
encaminhamento do trabalho com a Matematica, n~o devendo ser a unica fonte de
apoio pedagogico para todo 0 processo de ensino aprendizagem.
Para D'AMBROStO, U. a sabedoria da crianc;a seja de quatquer esfera social,
economica, politica, racial, deve ser considerada, pois, esse conhecimento va; gerar
urn vinculo entre 0 formal e 0 cultural, 0 que prepara para a aquisic;ao do
conhecimento, como afirma 0 autar sabre uma situayaa cultural,
A utilizayao do cotidiano des compras para ensinar matematica revel8praticas apreendidas fora do ambiente escolar, uma verdadeiraetnomatematica do comercio. Um importante componente daetnomatematica e possibilitar uma vis~o critiCll de realidade, utilizandoinstrumentos de natureza matemiltica. ( ...) it etnomatematica e parte docotidiano. que e 0 universo no qual se situam as expectativas e as angllstiasdes crien~s e dos adultos. (2002, p.23 e 25)
A resolw;ao de situal):6es problema, a modelagem, 0 uso de computadores
(linguagem LOGO ou outros programas), a etnomatematica, a historia da
matematica como motiva~a para a ensino de t6picas do curriculo e 0 usa de jogas
matematicos no ensina sao alguns exemplos de propostas de trabalho que visam
26
supera~o do ensina Tradicional e Taeniasta da Matematica constituindo-se em urna
perspectiva de diversos objetivos que leva a busca de diferentes recursos nas mais
variadas realidades.
Atualmente urn dos abjetivos da eseDla de Ensino Fundamental e formar a
personalidade da crianya como urn todo, estimulando e equilibrando as suas
capacidades: fisica, moral, intelectual, social, economica, politica e artistica,
desenvolvendo suas qual ida des individuais e sociais, pois, 0 homem e urn sar social
e nao viva senaa em sociedade.
Desse modo, as preocupac;:68s com 0 ensina da Matematica no Ensino
Fundamental e Educa~o Infantil, cada vez mais frequentes, nao podem prescindir
de urna relayao mais unitaria com a formac;ao do homem contemporaneo.
No trabalho com a Matematica dave haver a explorayao de uma grande
variedade de ideias nao apenas numericas, mas relacionadas a geometria, medidas,
noc;6es de probabilidade e estatistica. Isso faz com que a crianya desenvolva e
potencialize a sua curiosidade sintonizando-se cada vez mais com a sua realidade,
produ96es humanas e evoluyao historica.
o conhecimento mate matico nao S8 restringe a memoriza~o. Aprender
numeros nao e apenas contar. Embora essa atividade seja importante para a
aquisi~o do conceito de numera, que pressup6e a com preen sao de muitos outros
conceitos como a classificayao, seriayao, ordenaryao e a conservayao de
quantidades. (D'AMBROSIO,U. 1998, passim)
A finalidade do trabalho com a constru~o do numero significa dar it crian<;a a
possibilidade de compreensao da l6gica matematica, comparando, seriando,
27
ordenando, associando e conservando quantidades. Uma pro posta desse tipo
incorpora as contextos do mundo real, as experiencias e a linguagem natural da
crianya no desenvolvimento das no¢es matematicas, sem, no entanto, esquecer
que a escola deve fazer 0 aluno ir alem daquilo que ele sabe, tentando compreender
como ele pensa, que conhedmentos traz e como utiliza~los.
o que define 0 problema como situa~o de aprendizagem na Matematica e a
constru~o faita pela crianr;:a de procedimentos de soluc;:ao. Atraves de suas
experiencias com problemas de naturezas diferentes ela interpreta 0 fen6meno
mate matico e procura explica~lo dentro de sua concepyao de matematica. 0 aluno
envolve-se com 0 "fazer" mate matico no senti do de criar hip6teses e conjecturas e
investiga-Ias a partir da situa<;iio problema proposta.
Buscar 0 potencial em cada individuo significa descobrir talentos em todas as
pessoas individual mente, partindo-se do pressuposto de que ninguem e tao
severa mente prejudicado que nao possua uma habilidade, mas que cada um as
apresenta de maneiras diferentes.
Oeve-se educar nao pelo acumulo de conhecimentos no cerebro do aluno,
mas atraves dos hilbitos de observar, comparar, procurar saber 0 porque das coisas
e realizar as suas proprias experiencias atraves da descoberta. 0 professor e a
escola devem permitir que 0 aluno expresse seus interesses, sentimentos,
preocupay6es e ideais, de maneira que seja respeitado permitindo que cada aluno
se desenvolva e amadurec;.a, de acordo com as suas potencialidades. Observando
esses pressupostos te6ricos pode-se exemplificar fazendo uso do sistema numerico
decimal, 0 qual reintegra 0 aluno,
28
simbolos, deve, tambem, compreender, codificar, decodificar, comparar e ordenar
qualquer numeral e quantidade,
Saber eretu3r reduy6es de quilolitro para decilitro; ou decimetro cubico adecifitro, nao da condic;Oes ;10 individuo de optar peln compra do produtomais vantajosa, relacionando prer;:o a capaddade de embalagem. I:. rnaissignificativQ desenvolver tecnicas especificas de medir, usando as unidadesconvencionais ou nAo, com experi/!ncias vinculadas a realidilde do atuno.(CARVALHO; ONAGA, 1995, mimeo).
Aqui as conc8itos mate maticos devem estar relacionados ao dia-a-dia do
aluno, e ele devera saber observar, interpretar, refletir, criticar sabre qualquer
situagao para poder resolve-la, pois nas aulas de matematica alem de explorar os
conteudos, dave tambem ser estimulado no usa do raciocinio logico e na forma~o
do pensamento critieD.
o pensamento de todos, deve ser estimulado e desenvolvido para que
possam resolver qualquer situayao nas diversas disciplinas. 0 aluno depende da
escola para ter acesso ao conhecimento elaborado e sistematizado. MA cham ada
~democratizayao do ensinoM deveria ter como principal func;ao favorecer 0
desenvolvimento dessas habilidades em toda a populagao", (CARVALHO; ONAGA,
1995, mimeo)
o professor deve proporcionar urn ensino reflexivo e critico, pois, a partir de
novas praticas pedag6gicas conseguir-se-a diminuir ou ate mesmo terminar com 0
"analfabetismo em MatematicaN•
DUARTE (1985) faz uma reflexijo a partir do trabalho de ensino e de pesquisa
sobre a pratica da matematica com adultos na UFSCar, tratando a rela«iio entre 0
compromisso politico do educador e 0 ensino da Matematic8. Segundo este autor, 0
ensino contribui para a transformac;ao social na relaytlo entre 0 constituido e a forma
29
de sua transmiss~o - assimilacyao. Para que essa contribui9C10 aconte98 alguns
educadores estao relacionando os conteudos a realidade economica social, dando
urn caraler mais politizante ao ensina da Matematica.
Os conteudos mate maticos devem sar socializados, para que as camadas
populares lenham 0 dominic desse conhecimento historicamente produzido. Mas, a
assimilacyao par 5i 56 nao e sufidente. E a que ocorre quando, sem perceber,
transmite-se, atrav9S do fazer pedagogica, urna visao eslatica do conteudo
matematico como S8 ele fosse pronto e acabado. De fato, 0 conteudo assim
trabalhado acaba sendo absolutizado no tempo e no espac;o. (DUARTE, 1985, p.80)
Dessa forma, ao ensinar alguma tscnica au conteudo nao pode-s8 esquecer
das reflexoes sabre a origem do mesma, fazendo com que os alunos percebam 0
processo de construyao pOis a Matematica nao e algo estatico, muito pelo contrario,
no decorrer dos anos ela esla em constante transforma~o facilitando a vida do
homem ern todos os sentidos.
N:io se trsta do professor querer au nao que essa dimensAa politica exists.Trala-5e dele dirlgir intencionalmenle essa dimensao em funyAo dosobjetivo5 que praclama. Essa dimensaa politica sempre exisle, pais falando-se ou nao de assunlos lidos como politiC05, 0 ensino da malemalicadesenvoive uma poSlura nos agentes nele envoividos e essa postura ternreflexos no restante da pratica social desses agenles. (DUARTE,1geS. p.81)
o autor descreve como 0 educador pode socializar de maneira intencional 0
ensino da Matematica, Num primeiro momento, Duarte coloca que e necessaria que
a crianc;a compreenda a sistema decimal de numerayllo, para entender 0 valor
posicional do numeral, pois ~nao basta apenas ler e escrever os mimeros, e preciso
que essa escrita seja a exteriorizavao de urn dominic dos principios e propriedades
do sistema decimal de numerayao posicional." (1985, p.82)
31
3 MATEMATICA E LiNGUA MATERNA: A TEORIA DE NILSON JOSE
MACHADO
Ao analisar a obra de Nilson Jose Machado, buscou-se a relat;~o entre a
Matematica e Lingua, pois, a linguagem oral esta presente na vida das crian98s
mesmo antes do inicio de sua escolaridade. Constituindo-se, par iS50, em urn
recurso muito utilizado par elas para expressarem seus sentimentos, necessidades,
desconfortos, descobertas. A crianya, mesma naG dominando a lingua gem escrita e
capaz de resolver situayaes e expressar-s8 oral mente para transmitir a sua resposta
e seu raciocinio. E 0 que aconteee quando ela reconta as hist6rias que auviu,
responde perguntas a raspeito e assim sucessivamente.
Segundo Machado (1998), desde 0 tempo que a esccla era 0 lugar de
aprender a "Ier, escrever e contar" a ensina da Matematica S8 dava de maneira
isolada da Lingua Materna, e a preocupayao central era aprender a escrever
corretamente.
Oessa forma, a pro posta do autor, e a de refletir sobre a verdadeira rela"ao
existente entre Lingua Materna e Matematica. Para que isso aconteya, faz-se
necessario compreender que a Matematica e tao importante quanto a alfabetiza~o,
po is ambas estao presentes no dia-a-dia do ser humane e a articula~o de ambas
possibilita 0 desenvolvimento do raciocinio.
Entre os objetivos de Nilson Jose Machado esta 0 de difundir 0 valor da
Lingua Materna e 0 da Matematica como essencial para a aquisi~o do
conhecimento.
Como diz Machado,
32
(... ) elas tern vOllor instrumental e constituem condiyao de possibilidade deconhecimento em qualquer 3ssunto para a qual a aleny:io e dirigida. A55im,as renexos, dessa falta de cJareza sao facilmente irradiados, sendoconduzidos, como ums seiva, a IOOos as ramos do conhecimento.
(MACHADO, 1998, p. 19).
Para que S8 fac;a acontecer, tal difusao necessita da desmistifica~o de ide-ias
que valid am a Matematica como ciencia para poucos e problemas para professores
e alunos. 0 autor vem discutir e propor -8 ruptura dessa reda de no.yoes
preconcebidas· (MACHADO, 1998, p. 21) para alcanyar pnlticas significativas para 0
ensino da Matematica.
Outre objetivo presente na obra e 0 de mostrar a cumplicidade entre a Lingua
Materna e a Matematica, sando a segunda dependente da primeira para sa fazer
valar nas escolas.
E, no masmo livre, Machado apresenta maneiras de se adequar a rela~ao
entre a Lingua Materna e a Matematica nos curriculos e conteudos desenvolvidos
nas aulas, dando enfase a Geometria e ao Calculo numa perspectiva de analise
des sa rela~o para Mtransformar de modo notavel a nossa concep~ao das rela~6es
que ligam a matematica, a lingua e a realidade" (PETITO apud MACHADO, 1998, p.
23) dando suporte ao professor em sua pratica pedag6gica, articulando os
elementos para se alcanyar uma aprendizagem matematica eficiente.
Ao falar da Matematica, algumas concep~es acabaram par se cristalizarem
ao longo da historia, constituindo-se em ideias absolutas, que S8 aplicam aMatematica na escola, como exemplifica MACHADO:
MA matematica e exata""A malematica e abstralsV
"A capacidade para a Matematica e inata""A matematica justifica-.se pelas aplicay6es pnflticas""A malematica desenvolve 0 raciocinio"(MACHAOO, 1998, p. 29).
33
Partindo destas ideias, a Matematica e vista como urna cianci a natural mente
complicada pelo senso comum, ou seja, nAo aplica-se urna analise profunda sobre
as discursas, a que gera aceita~a de dificuldades e satisfayaa par parte das ideias
previas que se tern ao ler urna das frases aeima citadas.
o autor faz alusao ao termo "slogans", considerando estas frases a respeito
da Matematica relevantes e respansaveis pela interpretayaa e aplica9~a de urn
conjunto de ideias de determinados movimentos educacionais como: "(...). a
Matematica nao comporta resultados aproximadas; lidar com abstra90es e urna
caracteristica exclusiva da Matematica; (. .. ). e natural que grande parte das pessoas
encontre dificuldades em Matematica; 56 a Matamatica desenvolve 0 raciocfnio; ( .. )"
(MACHADO, 1998, p. 30)
Frases como as citadas aeima tern carater simb61ico e carater de afirma98D
direta. Cada uma delas ideias sao analisadas ao longo do texto, considerando-se as
supastaspropasi96es.
Para este trabalho, cabe analisar as seguintas:
~A Matematica e exataN• Nesta proposiyao, constata-se que 0 conhecimento
matematico fol considerado pelos racionalistas como a unico e verdadeiro se
comparado aqueles que admitem suposic;:Oes, duvidas, ambiguidade, filosofia.
Isso significa que todo conhecimento S9 embasado no concreto 9 na
comprovayao, au e verdadeiro, ou e falso; sa verdadeiro pode ser provado por meio
do raciocinio 16gico; e demon strada em numeros.
A ideia supOe que a linguagem matematica e exata, 0 que a diferencia da
instabilidade da linguagem materna, evidenciando assim a distancia entre am bas.
Machado questiona essa ideia ao revelar as seguintes questoes:
34
( ...) que fBzer com essa exatidAo? Em Qutres palavras, e possivel traduzir 0conhecimento em todas as areas na linguagem asseptica que a Matematicaoferece? Ou existem setores da re:alidade que nAo se deixlIrn aprender partal linguagem, em que a ambigUidade 13essencial e inevitavel, afastando~sedas simplifica¢es que conduzem a contradi¢es e aproximando~se doterritoriO das rnais ferteis quest6es epistemol6gicas? (...) (MACHADO, 1'W98,p.34)
Percebe·se que a pensamento matematico a passive I de limita,oes e
duvidas, ratificando a idaia do lisico Albert Einstein, citado par Machado ao dizer que
"na medida em que as leis matematicas referem-se a realidade, alas n~osao exatas
e na medida em que silo exatas, elas nao se referem a realidade." (EINSTEN apud
KORZYBSK, 1958, p. 66).
Esta claro que a realidade S8 acerca de pensamentos filos6ficos, "conteudos
semimticos au valores· (MACHADO, 1998, p. 35) pais pode sofrer modifica90es.
Outra questao apresentada que poem a prova a exatidao e principios
infaliveis da matematica a a seguinte: "tudo e demonstravel?" (MACHADO, 1998, p.
36).
Desde a sacula XIX, a formaliza9llo das ciancias se constituiu em uma
obsess~o da raz~o humana, 0 que evidenciou que, em sentido restrito, portanto,
"demonstrar uma proposi~o e apresenta-Ia como conclusao de um argumento, em
que as premissas (... ) au sao proposic;6es previamente demonstradas c..r(MACHADO, 1998, p.37) ou nao ~o verdadeiras.
Nesse sentido, s6 seria verdadeiro aquilo que se comprovasse mediante
raciocinio concludente. Demonstrar implica em duas coisas. Uma delas provem de
verdade evidente em si mesma, resultado de deduc;ao por raciocinio, e, a outra
apresenta-se em sentindo amplo, dependente ou resultado da comunica~o entre
um emissor e um receptor.
Na primeira, a formalidade exige uma complexa rede de l6gica global. Ja, na
segunda, existe a possibilidade de reduzir a global para a local, au seja, se a
35
primeira e complexa porque e abrangente e objetiva, a segunda possibilita a
utiliza~o da linguagem materna "na construt;ao das demonstra9-6es, na medida em
que elas sa.o avaliadas em func;ao da convicc;a.o que erigem na mente do receptor"
(MACHADO, 1998, p. 38).
Em rela~o a demonstrac;ao, a Matematica seria urn sistema formal completo,
mas seu conleudo e passivo de inlerpretac;ao e, portanto, como diz GODEL, nas
palavras de MACHADO, (...) em qualquer sistema que tenho objetos suficientes para
possibilitar uma interpretayao (inclusao) da aritmetica elementar, e passivel a
conslruc;ao de proposi<;6esque nao se podem deduzir se sao verdadeiras ou falsas
..) (GODEL,1973 apud MACHADO, 1998, p. 38)
Num amplo senti do, nem tudo na Matematica pode ser demonstrado, uassim,
a demonstrabilidade de lodas as proposic;6es nao pode, pois, servir de fundamento
para a exatidao da Matematica nem em senti do estrito, ende ala e falsa, nem em
sentido lato, onde ela e inespecifica". (MACHADO, 1998, p. 39)
Cabe agora analisar a vertente da ideia de que a "a Matematica e exata- e
par conseqOencia expressa em numeros.
Essa idei8 de expressao numerica tern relac;Ao com a "esfera soberana na
qual as numeros ocupariam um lugar proeminente com freqOlmcia esta associ ada as
representac;6es religiosas do mundo, considerando harmonico, simetrico, de
rela<;6esperfeitas e absolutas. (MACHADO, 1998, p. 39), ideia essa defendida por
Platao, no qual os numeros representariam essencialmente a exatidao expressas
pelas ideias.
Outro fil6sofo, Arist61eles defende contrariamente a Platao a ideia de que a
Matematica e resultado das percepy6es e da abstra~o dos conceitos matematicos
presentes nos objetos. Isso significa que para Arisl6teles, os numeros sao produtos
da experiencia, e, em conseqOencia do mundo empirico.
36
Platao defende a ideia de que os numeros sao axiomas e existem par si sos
independente da cria<;iiohumana.
Para 0 autor, "(...) hoje, no entanto, jll nao e possivel uma dislin<;iio tao
categorica entre concepcoes platonicas au aristotelicas. Ha muito desenvolveram-se
concep90es intermediarias que martirizaram significativamente lais distin¢es. ( ... )"
(MACHADO, 1998, pAO)
Em relayao ao sensa comum, que e 0 intermediario desse trabalho, ja que e a
realidade a qual se aplica a Matematica, ha que 58 destacar sua visao ace rca da
exatid80 da Matematica com urna ~(... ) natureza essencialmente sincretica ( ...r(MACHADO, 1998, p. 41), ou seja, ele acredita na abstrayljo da Matematica e em
sua formalidade, e, convive com contagens e medidas nern sempre exatas e faceis
de sa abstrair.
Ainda ern relac;:ao ao sensa comum, 0 autor destaca a experiencia que sa tern
desde muito ceda com as numeros e a utllizayao dos slogans para se defender au
explicar determinadas evidencias com exatidao ou aproximayllo.
Machado conclui tal ideia afirmando que 0 homem vive rodeado por numeros
que nao sao exatas, numeros irracionais, e, que constitufram-se em numeros
racionais. Essa afirmayao remete ao fato de se oonsiderar que a Matemidica e exata
pela produyllo humana, mas aproximada por suas experiencias.
Em se tratando da frase Y A Matematica e abstrata", a autor fundamenta os
seus pensamentos fazendo uso das palavras de Hayakawa: "(...) fazemos
abstrayoes num numero indefinido de nfveis abstraindo de abstrac;:aes, abstraindo de
abslra90es de abstra<;Oesetc. (HAYAKAWA apud CAMPOS, 1977, p. 273) citado
por Machado.
37
Ao se falar em abstrato, logo, pensa-se em algo que gera uma rede de
raciocfnios que caracterizam 0 real, 0 concreto3, 0 palpavel par maio da imaginayao.
o abstrato representa para 0 sensa comum algo negativo que S8 aproxima e
S8 distancia do real. Para tanto, Machado descreve que
(...) em certos contextos, considerava-se umn abstrac;Ao 0 resultado dadepura~o do real, eliminando--5e as circunsli'incias irrelevantes e retendo-se exc/usivamenfe suas caracteristicas essenciais; Qutras vezes diz-se, dasabstra¢es que se situ am muito distantes da realidlJde, que tl!m pouco quevcr com ela. Que estranho objelo e esse, a abstraC(ao, tao proximo esimultaneamente tao distante da realidade concreta? E em que consiste.efetivamente, 0 concreto? (MACHADO, 199ts, p.46)
Machado faz alusao II abstrayiio presente em um livro de Matematica, 0 que
n~o acontece ao S8 falar em um livro de Hist6ria no senti do que 0 conteudo de
ambos nao e manipuliwel. Aqui reside as diferenc;as em rela~o a concretude ao se
deli near os significados que os livros trazem em seu conteudo nos quais as relay6es
determinam e estruturam-se com diferentes entendimentos do concreto,
organizando-se a partir de abstra¢es.
Nilson Jose Machado escreve sobre 0 abstrato como um todo, apesar de
exemplifica-Io com a Matematica. Ao falar sobre abstra<;6es,argumenta sobre "(...)0
papel das abstra¢es no ambito da constituiyao da linguagem, ou mais
precisamente, no aprendizado da Lingua Materna" (MACHADO, 1998, p. 54)
Nesse caso, e passive I perceber que a evoluyao da lingua gem escrita
apresentou abstrar;aes, ou seja, na infcio os signas eram iguais as representay6es.
Com a tempo houve urn distanciamento entre 0 significante e a significado.
Assim como na Maternatica utiliza-se poucos signas para representar uma
infinidade, na linguagem escrita nao e diferente. Os sons produzidos pela tala
1 Cabe aqui explicar 0 que significa 0 lermo concreto. Significa algo que e passivo de manipulac;:io evisualiz89lio. e algo material. Ja 0 abstrato e 0 nao . concreto, e a abstrayAo d~s ideias.
38
convertem-se em significante a partir de uma quanti dade reduzida de signos
lingOisticos representados pelo alfabeto. A combina98o entre as letras produz a
representa9BO fonetica, semantica e escrita.
Nesse contexto, torna-se relevante destacar 0 papel das abstra90es ( ..)
"enquanto elementos mediadores de um processo que parte e a ele se destina" (.. ).
E nesse contexte enquadra~se 0 valor semantico da frase "A Matematica e abstrata"
sen do empobrecido ja que tanto a Matematica quanta a Lingua Materna geram
abstrac;:ao e "constituem condit;ao de possibilidade para 0 conhecimento em
qualquer area" (MACHADO, 1998, p.54-55)
Em Dutro momenta, Machado discute as mites sabre a afirma~o que segue:
"A capacidade para a Matematica e inata" Esta Irase sup6e entre outras
interpreta96es a de JUNG apud HUNTLEY citado por MACHADO,
A verdade e que a Malematica pre5Supe.e urn tipo definido de constjtui~opsicol6gica que naD e de modo algum universal e que nao pode seradquirido. Para os que naD possuem capacidade, a matemiltica torna-semeramente urn assunto a ser memorizado (JUNG apud HUNTLEY, 1985,p.18).
Isso significa que se a Matematica exige um desempenho inato naqueles que
a estudam, ~esvazia-<se de que esse conhecimento seja partilhado por todos, assim
como nao se espera que todas as pessoas revelem competencia em temas como a
musica"(...) (MACHADO, 1998, p.58), 0 que supoe que se a Matematica exclui,
talvez n~o seria obrigat6ria. Mas existe uma tendencia relacionada com as
necessidades humanas que sedimentou 0 usa dela entre os individuos.
Ao falar em competencia para a Matematica, 0 autor expoe algumas
contradi<;6es. Cita a fata de algumas pessoas se destacarem em areas que nao sao
da matematica, mas que se utilizam de instrumentas que exigem abstrac;ao tanto
quanto aquela que se aplica a competencia em Matematica.
39
Defends a ideia de que nac e 56 a Matematica que vai garantir competencia,
mas que ela e passivel para todos e nao resultado de urn inatismo. Historicamente 0
que se percebe e que as pessoas declaram sua incompetencia Matematica sem
conhecer ua capacidade universal de utilizayao consciente de urn instrumento basieD
para a representa~o da realidade (...)" (p.58).
Ao conceber a inatismo para a capacidade em Matematica, cabe exemplificar
as relayoes de natureza instintiva, como e 0 caso de urn recern-nascido, 0 que
caracteriza-se como urn "instinto universar (p.59). Pensa-se assim na competemcia
para a Matematica: "nasceram para isso' (p.59).
Outro exemplo do autor e do linguista Noam Chomsky para desmistificar esse
inatismo. A linguagem nao e apenas resultado do meio no qual esta inserido urn
individuo, pode-se pensar que a que e geral pode sar inato, mas urna doenya pode
ser inata e nao generalizada.
Aa destacar a necessidade para uma analise semantica do termo inato,
ressalta a seguinte dicotornia: ~a que se refere ao inato e ao construidoM
(MACHADO, 1998, p.60).
Parece existir a aceitac;:aode um em detrimento do outro. Isso acontece com
o termo construido. Enquanto ele e exaltado, 0 outr~ €I secundarizado, ou vice-versa.
Nao obstante, embora a apropria~o dos conceitos matematicos sejam decorrencia
de sua constru~o social, tal construyao nAo e independente dos funcionamentos e
processos mentais humanos inatos.
Entretanto, ter carater universal nao significa que e inata, assim como 0 que einato nao e necessariamente universal.
Em se tratando da competencia Maternatica, as pessoas nao a desenvolvern
"par mera matura~o' (MACHADO, 1998, p.63) e nao sao exclusivamente inatas as
40
manifesta~es a respeito de Matematica. (MONaD apud PIATELLI; PALMARINI
citado por MACHADO).
Deve-se a priori dizer que a totalidade da matematica moderna, da
matematica classica e da matematica euclidiana e, de fato, inata? Naturalmente que
nao. De forma similar os procedimentos elementares 16gicosque dao funcionalidade
ao pensamento matematico tambem nao sao inatos. Com essa ideia, percebe-se
que a conhecimento matematico resulta de mecanismos que nao sao inatos, e sao
comuns a todas as pessoas, 0 que pode ser diferenaado em S8 tralando de "algum
lipo particular de funcionamenlo da inteligencia, nao partilhado por todos.
Ao lalar em predisposi~6es inatas, coloca a questao da diferen~ entre 0
aprendizado da Lingua Materna e da Matematica aD super a ideia de inatismo na
primeira. Se ha uma capacidede inata para aprender a linguagem, entao, porque
essa capacidade esbarra no aprendizado da Matematica, e nao no aprendizado da
Lingua?
Explicando com a fala de Ducrot, 0 aulor ressalta que
( ... ) a separac;ao entre as "Ielras" e a matemiltiWl parece refletir umaduatidade inerente a realidade humana, e sua colocayao em quesUio, desdeque nio seja samenle 0 objeto de di5cu5si5es academicas e, por assimdizer, intraliteranas, desde que eln torn II corpo numa prlltica efetiva, tern 0efeito de uma violayl\o de tabus.
Esle trecho de Ducrot (1981), expressa a ideia de complementaridade entre a
Matematica e a Ungua Materna, sendo am bas produto da realidade e para ela
voltados como fundamentais para que se concretize 0 conhecimento.
Quanto a linguagem, 0 autor destaca a dificuldade aparente entre as diversas
representayOes alfabeticas ou nao, 0 que nao ocorre na Matematica como
exemplifica-se a seguir: "(... ) A matematica alia a sua caracterizayao como atividade
41
linguas, que paraee credencia-Ia como instrumento basico para com preen sao global
do mundo ( ..)" (MACHADO, 1998, p.84). Curioso torna-se a contradic;ao inerente aMatematica como sistema de comunicac;ao universal e sua considera~o
reducionista aqueles poucos que a compreendem.
Mesmo a Matematica tendo uma linguagem bem definida com 0 destaque
para a abstrac;aoe exatidao por exemplo, sendo considerada privilegio daqueles que
tern compet~ncia,passui de maneira analoga a desenvolvimento do raciocfnio l6gico
e da abstrac;ao na lingua Materna.
Portanto, a fragmentayao que limita a Matematica aos calculos numericos
isolados, e a LIngua Materna a comunicac;ao par palavras deve ser desmembrada,
chegando-se a "impregnac;aomutua" como diz Machado.
As rela¢es entre a linguageme a matematica demonstram que existe urna
dependencia mutua, a que 8590ta as possibilidades de conhecimento quando
considera~se urna isolada da Dutra.
Machado (1998) explicita no capitulo "A lingua materna e a matematica" as
fun96es inerentes a cada uma delas.
A primeira, tern urna finalidade na relayao entre as areas abordadas, ficando
clara na analise das "rela¢es entre 0 oral e 0 escrito na Lingua Materna e na
Matematica" (p.99).
Sobre tais assuntos, trata do "prestigio da Eserta" e do "oral em Matematica",
ressaltando 0 valor que foi dado ao ato de escrever e ler, em detrimento da oralidade
a partir do seculo XV, considerando-.se ate as dias atuais a fala em segundo plano.
Ao citar a escole, associ a as relacy6es entre fala e escrita destacando que
(... ) a maior parte das atividades pedag6gicss envolvidas no processoeducational ainda restringem-..5e a oralidade, onde a fala do professor e. nomaximo, entremeada de diillogos (... ) salvo em rams circunsU~ncias,como
42
nas teses ou concu~os, quase sempre associ ad as a defesa de umtexlo.(MACHADO, 1998,p.1 02)
Mesmo com a valoriza~o do discurso oral, atualmente e refon,ada a
produc;:ao escrita. Quando urn aluno chega a eseDla ale ja domina sua realidade par
meio dos significados presentes em sua fala. Significados asses que passam a sar
representados par 5ign05, 0 que e aprendido pelo aluno "apesar de ser tecnicamente
passivel a aprendizagem da escrita como a de urn c6digo restrito apenas a seus
aspectos sintaticos, com a total ignorancia do significado dos 5ign05 envolvidos, nao
e assim que ela naturalmente ocorre em qualquer lugar do mundo"(MACHADO,
1998,p.103).
Par essa razao, na aseela nao basta a decodificac;:ao de urn c6digo sem a
amplitudedo entendimentode seus significados.
Portanto,
se enlenderrnos que 0 processo nao se cristaliza na produ91o da falatetrada, funcionando como urn verdadeiro cicio no qual, em certo momenta,CIescrita emerge da fCila para, numa etapa seguinte, passar a agir sabre ela,entao 0 esquema proposto constitui interessante subsidio para acompreens:io das complexas inter-relayOes entre 0 oral e 0 escrito noaprendizado na Lingu. Materna, (MACHADO,1998, p.104)
No casa da Matematica, a oralidade nao Ihe e propria, mas emprestada da
Lingua Materna, ja que na linguagem matematica nao existe a que se pode chamar
de rela~o grafema- fonema',
Para tanto, "a Matematica nao pode ser tratada estritamente como uma
linguagem formal. Se assim fosse, a inexistencia" de uma quanti dade de fonemas
que se articulam e formam palavras, "(",) conduziria a um degrau de dificil
4 Na escrita alfnbi!tiCCI existe ums reta~o entre as tetras que s~o os sinais graficos, portanto osgrafemas. Ja os sons representados por estes sinais sao os fonemas.
43
transposi\'lio, na passagem do pensamento a escrita ( ... j" em Matematica.
Par iS50, a autor aproxima a Lingua Materna da Matematica para emprestar
a oralidade da primeira a segunda para que S8 chegue ao entendimento e
aprendizagem dos "signos mate maticos", e, a experiencia comum entre todos as
membros de uma determinada comunidade lingOistica na linguagem matematica, da
mesma forma que ocorre com a comunicayao oral.
44
4 MATERATURA OU LlTEMATICA?: NOVAS PROPOSTAS PARA
VELHOS PROBLEMAS
Nilson Jose Machado em sua obra "Matematica e Lingua Materna: analise de
uma impregnaC;:8o mutua", aponta as passive is ligac;:6es da Matematica com a
LIngua Materna, que, segundo ele, sao necessarias para que real mente acontec;a a
entendimento e aquisic;ao dos conceilos malematicos palos alunos. Mas, como fazer
na escola? Como fazer desaparecer 0 medo de aprender Matematica?
o trabalho nas escolas com a lingua dave ser realizado com prazer,
entusiasmo, curiosidade, alegria e significado, entendimento da construc;:ao e do
conhecimento historicamente produzido pelos homens par meio da leitura, escrita e
oralidade.
A comunicac;.ao que acontece na Literatura naD deve sar algo obrigat6rio,
vista apenas como tarafa au dever, pelo contraria, deve propiciar ao aluno uma
viagem ao mundo da imagina~o.
Para que isso aconte<;a, a escola deve ter um numero consideravel de livros,
° professor deve conhecer as historias, essas devem ter um conteudo interessante,
e de qualidade, ° aluno deve ter ° direito de escolher 0 livre, explora-Io livremente,
contar a hist6ria por meio das imagens, registrar suas ideias por meio de desenhos,
e, alem dessas atividades, realizar outras como explora~o do formato, editora, tipo
e tamanho de letra, desenhos, cores, figuras.
Segundo ABRAMOVICH (1997), quando 0 professor escolhe um livro para
realizar uma atividade, deve considerar 0 perfil da turma, explorar a hist6ria antes
de apresenta-Ia e nao usar a leitura apenas com objetivo especifico, como por
exemplo, 0 estudo da gramatica. 0 trabalho deve estar relacionado com a forma~o
45
de leitores criticos, que irao refJetir,duvidar, perguntar e dar opiniao sabre a historia.
Na obra ~Era urna vez na Matematica urna conex8o com a Literatura Infanti!",
SMOLE (et al 1996). caleca que a Literatura proporciona ao aluno viajar, inventar,
criar, renovar, discordar, conhecer, enfim, S8 torna urna maneira divertida de
aprender. Considerando importante relacionar e unir 0 ensina da Lingua Materna a
Matematica, as autoras realizaram urn trabalho relacionando Matematica com
Literatura, considerando sar Judico, prazeroso, significativo e proporcionador de
aprendizagem.
A obra apresenta a possibilidade de romper com obstaculos em rela91\0 ao
ensina da matematica. Matematica e literatura trabalhadas simultaneamente devem
fazer com que 0 aluno desenvolva varias habilidades, como leitura, interpreta~o,
criac;:ao, levantamento de hip6teses, resoluyao de problemas.
Esse trabalho que SMOLE apresenta, tem como objetivo translormar 0 ensino
da matematica para algo prazeroso e criativo, pois a Literatura possui uma variedade
de hist6rias, poesias e outros generos linguisticos com diversos contextos, que
possibilitam uma metodologia dilerenciada.
Assim, essa nova proposta de trabalho que tem como objetivo desmistificar 0
medo de aprender Matematica por meio da Literatura vem apontar uma soluyao para
um velho problema que e 0 alto indice de reprovayiio e a diliculdade de resolver
problemas 16gicose capacidade de abstrayiio.
Sobre este assunto Flavio Ferreira e Paulo de Camargo, no cademo Sinapse
da Folha de Sao Paulo apresentam a diliculdade da Matematica como um lator
hist6rico que remonta seculos. Os autores abordam a problematica que envolve 0
ensino da Matematica: 0 problema e que as professores nao ensinam e por isso as
alunos nao aprendem. Ao denunciar tal problematica, evidenciam a ignorimcia das
pessoas diante de situat;Cies simples. Para provar suas 8videncias, utilizaram-se de
46
pesquisas nacionais como a Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional (INAF)
realizada pelo Inslituto Paulo Montenegro vinculado ao Ibope, que testou 2000
pessoas entre 15 e 64 anos com questOes diversificadas e de niveis variados.
Dessas, 79% revelaram alfabetismo matematico e desses masmas, 32%
resolveram apenas situa¢es simples como verificar data em calendario. 44%
apresentaram capacidade de resolver problemas em raZ80 de seu trabalho, urn
vendedor de balas, por exemplo. E 3% fcram incapazes de realizar qualquer tarafa
como anotar urn numero de telefone. Do todo, urn quinto apresentou total condiy6es
de resolver algumas quest6es, apesar de considerar-se apenas urn acerto para
incluf-Io nesse grupe.
No masmo artigo, a alusao que S8 faz entre as professores e 0 problema, esla
evidenciando qU8st6es importantes que explicam a ineficacia da pn3tica: os pr6prios
professores tambem apresentam problemas quando as ac;5es envolvem processos
de abstra95es.
Essa incapacidade esta associada a dificuldade que se tem com os numeros
em todos as segmentos da vida soda I e que segue para toda a vida de uma pessoa,
definindo ate seu espac;o nas classes superiores, 0 que sup6e que a brasileiro esta
limitado ao que sa pode chamar de sobrevivencia: var hora, resolver situa96es
diretas do trabalho como as que envolvem dinheiro, localizac;ao, trans porte e assim
par diante.
Para 0 professor Bigode, autor de livros didaticos, 0 Brasil esta em escala
mundial estatisticamente nas ultimas posic;Oes, em conseqOencia da ineficacia das
pro pastas educacionais desenvolvidas pelas Secretarias Estatuais de Educac;ao, e,
que segundo ele esta distante da realidade na qual 0 individuo asta inserido.
o artigo diz que 0 cerne do problema est'; na c6pia que a sistema
educacional brasileiro costuma fazer de modelos educacionais internacionais, como
47
foi 0 caso da matematica moderna. A ansiedade em aplica-Io gerou deficiencia na
principal fonte de sucesso para 0 programa: a forma9ao do professor e 0 significado
do ensina.
A questeo assoda-se as reflexoes criativas e contextualizadas que surgem
em maio aos avanc;os da Pedagogia s6cio-interacionista ande e privilegiado 0
conhecimento de area as necessidades dos homens.
Essa tendlmcia surgiu ha 20 anos e destaca-se 0 trabalho com a
etnamatematica e as relay6es com 0 cotidiano.
o grande problema esta em preparar 0 professor para este trabalho, sabendo
articular de maneira contextualizada 0 cotidiano com as numeros. Caso contrario,
ocorre 0 que Maria Ignez Diniz, doutora da USP diz: "Ja encontramos alunos que
sabiam fazer fray6es usanda pizzas e bolos, mas naD utilizando numeros~.
Apresentando a Matematica de maneira inadequada.
Dessa forma, GIARDINETTO aponta 0 problema da supervalonza9iio do
saber cotidiano na Educa9iio Matematica,
(...) e preci50 considerar que, em bora seja necessaria valarizar 0conhecimento cotidiano no proce5S0 pedag6gico, verifica-se em algumaspesqlJisas, uma polarizacao entre "s.,.ber colidiano~ e "saber escolar",enfatizando-.se de fonna unilateral a utilizayiio do saber cotidiano, egerando, como iS50, 0 fen6meno da supervl\lor1zll~o do saber cotidiano emdetrimento da sua relayao com 0 saber escolar.( 1999, p.58)
Portanto, ao fazer uso de novas propostas 0 professor deve conhecer,
analisar e refietir sobre 0 que as mesmas prop6em, utilizar 0 que julga conveniente
para determinada realidada e faixa etaria.
Nesse contexto, as autoras do livro Era uma vaz.. na matematica: uma
conexao com a literatura infantil (SMOlE et al 1996), verificou-se que 05 problemas
matematicos apresentados as crian~s tambern gerarn urna barreira na
48
aprendizagem, pais sao padronizados, a que signifiea que a maieria deles tern urna
sequencia preestabelecida para se chegar a soluyao sem qualquer criayao ou
levantamento de hip6teses par parte dos alunos, apenas dominic de urna dada
tecnica.
Isso pode gerar no aluno um constrangimento quando nao se alcanc;a 0
objetivo, e diante do problema urna soluyao correta que S8 aspera, e a organizac;ao
de modelos que busquem a soluc;ao do mas mo.
Como as autoras definem, a resoluy80 de urn problema mate matico nao
precisa necessaria mente envolver a utiliza~o de algoritmo, mas Ma coordena~o do
conhecimento, experiemcia anterior, intuiyao, confian<;8, analise e comparay8o( ... )
Oeste modo urn born problema deve ser interessante, desafiador e significativD para
o aluno: (SMOLE,1996, p.6)
Ao resolver problemas nao ha que se destinar a pratica apenas a area da
Matematica, pais, resolver problemas pode ser urna metodologia na qual a
comunica9C30, investigac;ao, leitura, interpretayao acontecem e proporcionam 0
desenvolvimento de habilidades diversas que envolvem diversas linguagens,
incluindo a literaria. 1550 pressupoe tambem, a adequayao de conhecimentos
informais nos conteudos matematicos forma is.
Ocorre nesse sentido, uma nova maneira de trabalhar com a aquisiC;80 de
conceitos, por meio da Literatura Infantil ja que esta area exerce um grande fascinio.
De fato, ela contextualiza variadas situac;6es que exigem a utilizac;ao do pensamento
e podem "matematizar uma dada situayao" (SMOLE,1996, p.l) que pode ser
aplicada para a aquisiC;80 de conceitos matematicos.
Ao contar e explorar urna hist6ria, 0 professor, segundo as autoras, podera
envolver os alunos em diversas tematicas. Assim, a explorac;ao visual e textual eimprescindivel, bem como outras formas de explorayao ja citadas.
49
Num texto litera rio a Matematica pode aparecer diretamente ou estar nas
entrelinhas, precisando assim ser adequado as problematiz8C;Oes matematicas, para
~tornar 0 trabalho mais dinamico" no sentido de enfocar conceitos matematicos,
podendo relacionar 0 trabalho as outras areas do conhecimento.
Nesse contexto, as autoras defendem que
Seja qual for a forma pel a qual se leve a literatura infantil para as aulas dematemati~, e bom lembrarmos que a impress:io fundamental da hist6rianao deve ser distaroda por uma ~nfa5e indevida em urn aspectomatematico (SMOlE, 1990, p.9)
Para auxiliar 0 trabalho do professor, as autoras listam alguns livros que
podem ser usados nas aulas de Matematica, estes fcram classificados como livros
de contagem e de numeros que possibilitam 0 trabalho com as ideias mate mati cas e
conceitos relacionados aos numeros. Historias como fabulas e contos trazem as
conceitos mate maticos implicitos e que precisam do professor para problematiza-
los.
Outro grupo de livros e aquele que envolve conceitos especfficos da
matematica sem a formalidade dos livros "convencionais, pois s~o escritos de tal
modo que encantam 0 leitor e ao mesmo tempo estimulam uma investigac;ao mais
profundados conceitos". (SMOLE,1996, p.13)
Finalmente, a ultima classificac;:llo e ados livros de Charadas, que envolvem
outras habilidades mentais por parte do leitar,
previs:io, checagem, levantamento de hip6teses, tentativa e enu, que saoimportantes para 0 desenvolvimento da aprendizagem da matematica e,mais espeeificamente essenciais para desenvotver a caJl6Cidade de resolverproblem<'ls e construir a linguagem matematica. (SMOlE,1966, p.12)
50
Nao existe, portanto, par parte das autoras a intenc;ao de reduzir 0 usa da
Literatura Infantil ao universe da Matematica, pOis, valoriza~se primeiramente a
paixao pela leitura.
No decorrer do livra, algumas sugest6es metodol6gicas e atividades a partir
de livros sao apresentadas, sendo:
importante lembrar que antes de cada atividade deve haver um cont<.lto dacriany.a com a historia e que as atividades nao devem !>ef realizadas todasde uma (mica vez, um mesmo livro pode ser explorado matematicamenteem diferentes momentos do trabalho escolar(SMOLE, 1996, p.13)
Entre as Ilvros de Literatura Infantil citados estao Meus Porquinhos de Don e
Audrey Wood da Editora Atica indicado para educa,.ao infantil e primeira serie na
categoria hist6rias variadas; as tres partes de Edson L. Kosminski da Editora Atica
indicado para educac;ao infantil e series iniciais na categoria historias variadas; A
revolta dos numeros de Odete de Barros Mott das Edi<;OesPaulinas para l' e 2'
series na categoria livra dos numeros.
Cita-s8 a explorac;ao de urn texto jornalistico para confrontar situ890es e
diferenciar tipologias textuais, ajudando na interpreta~o de ideias, solu,.ao de
problemas que possam ser levantados a partir dos dados da reportagem e tambem
urn livre de charadas indicado para educayao infantil e series iniciais.
Apresenta-se a seguir algumas sugest6es das autoras sabre alguns conceitos
que podem ser explorados a partir da estrategia de uso do livro de literatura infanti!.
No livro Meus Porquinhos, pode-se explorar a contagem, lateralidade,
situa<;<'iesde adi~o e subtra,.ao, agrupamentos, verbaliza,.ao, levantamento de
hipoteses a partir de situa,.ao problema criada. No livro As tres partes, explora-se as
figuras geometricas, a simetria, relayoos espaciais, criayao, organizac;ao de dados
em tabela (numero de angulos e lados), resolu,.ao de situa<;<'iesproblema. Em a
51
Revolta dos numeros, explora-s8 a dificuldade para S8 resolver problemas,
sequencia numerica, valor posicional, no~o de duzia, adiyao e subtrat;.§o,lNo livre
de Charadas, 0 que e 0 que e? Desenvolve-se habilidades a partir de noC;:Oes de
numera, medida, geometria, analise, comparac;ao, criayao entre Qutras.
Nesse cenario 0 professor tem um papel de desmistificar 0 medo que se tem
da matematica, dando a ala urn espayo significativQ para que as alunos possam
criar, resolver, pensar e aprender matematica de maneira prazerosa.
Foi assim que S8 originou a ideia dessa conex8o, do prazer da leitura e do
universe multiplo que a Literatura proporciona em todas as areas, inclusive na
Matematica. Cabe destacar que, segundo as autoras, nilo se deve esquecer que
"nao sao todos os livros de literatura infantil que servem para estabelecer urn
trabalho com a matematica e, principal mente, que 0 professor nao deve fazer a
conex~o com a literatura e a matematica com todos os livros que seus alunos farem
ler". (SMOlE, 1996, p.89), para que nao ocorram equivocos quanto a especificidade
da Literatura que cria um mundo imaginario pr6prio para ouvir, ler, contar, inventar
hist6rias em diversos momentos que nao apenas aqueles que advem do professor
mas tem a fun~o de gosto pel a leitura.
Ao final do livro hit urna serie de titulos citados para ajudar 0 professor a
contextualizar e dar significado as suas aulas de matematica a partir da literatura
infantil, categorizando-os por idade, serie, no.yOes matematicas envolvidas e
tipologias (historia variada, livro de numeros, livres conceituais, Ilvros de charada, e
assim par diante.
Nessa perspectiva de leitura indica-se 0 livra "0 diabo dos numeros", no qual
o autor, Hans Magnus Enzensberger traduziu em palavras 0 pensarnento
matematico de maneira ludica com um anrado que envolve 0 leitor e rnostra que a
52
Matematica naG e 0 monstro que amedronta . Esta hist6ria vern desmistificar 0 medo
que a escola tern causado nas crianyas em relayao a Matematica.
Nesse contexte de "impregnac;Aa mutua" como ja disse Machado, confirma-se
a possibilidade de urn trabalho prazeroso que proporciona a aquisi<;ao de
conhecimentos, pais, nao ha como aprender uma em detrimento da outra. Ambas se
complementam e tornam 0 aprendizado rnais din~mico e significativD, dando apalavra escrita e falada 0 papel de mediadora, para desmistificar 0 medo de
aprender Matematica.
Esse e apenas urn exemplo de como S8 pode valer da leitura de bans livros
para enriquecer as aulas de Matematica e traz8r significado aos centaudos
vivenciados palos alunos.
53
5 CONSIDERA<;:OES FINAlS
A partir da pesquisa, chegou-se a conclusiio de que a Literatura e capaz de
criar momentos de renex~o que superam e ultrapassam 0 medo e os limites para a
aperfei~oamento das habilidades matematicas.
Convem salientar, tambem, que ha tempos, diferenles autores vl!m
escrevendo sobre a import~ncia da Literatura Infantil no aprendizado da Lingua
Materna. Considerando as diversas competencias que sa desenvolvem no ensina da
Lingua Materna, a Matematica ocupa urn lugar especial devido a utiliza~o da
comunicayao para a resoluyao de diversas situa<;6es, bem como, capacidade de
utiliza~o da linguagem literaria no aprendizado de seus signTficados, transformando-
as e combinando-os para a aquisi98,O de novas aprendizagens.
tsso significa que as habitidades relacionadas a comunicagljo proposta pela
Literatura nas aulas de Matematica, podem desenvolver diferentes aprendizagens,
pois, essa relayao preporciona mementos de prazer que ingressam a crianc;.a em um
contexto significative e contextualizado.
Assirn, a Matematica deixa de ser uma area isolada para aliar ~se a leitura, aescrita, desenho e resolu<;ao de problemas que se iniciam de forma bastante
simples, tornando-se mais sofisticada e complexa, a medida que as crianc;as tern
oportunidade de usar formas de representa~o que consideram valid as, em
consonancia com 0 conhecimento cientifica adquirido na escola e mediado pelo
trabalha do professor de maneira formalizada, par meio da Literatura.
54
o momento e de reconhecer a importancia do ensina da Matematica no
contexto escolar, pais, existe urn percentual significativo de jovens e adultos que
apresentam dificuldades e ate uma certa aversao a disciplina.
Sabe-se que hi! possibilidade de rnudar esse quadra e rnastrar que a
Matematica pode ser uma divertida e desafiante, uma aventura. alE~mde oferecer ascriancyas uma escala de qualidade, de bases s61idas e capaz de propiciar a formayao
de urn educando apta a interferir na rea Iidade de forma competente
A Literatura como estrategia metodol6gica leva ao despertar da curiosidade
da crianc;a, ague,;8 e desenvolve a capacidade de buscar 0 conhecimento e as
res pastas as situac;6es do dia a dia, a resoluyao de exercfcios sem 0 usa mecanico
de f6rmulas, a valoriz8C;8o do raciocinio e a utiliz8980 de estrategias e
procedimentos para solucionar os problemas e aprender conceitos rnatematicos.
Esse trabalho sO sera possivel, se houver urn planejamento consciente dos
profissionais envolvidos, devendo ser adequado aos objetivos da escola, as
necessidades e a realidade das crian~s de forma a garantir a espayo para
explorayaes, reformulac;:oes, desafios, aquisiyao de novas aprendizagens e
desenvolvimento da autonomia e capacidade de enfrentar problemas sem medos.
Essa perspectiva metodologica no ensino da Matematica se torna uma
estrategia que favorece nao apenas a aprendizagem dos conceitos, mas uma nova
maneira de pensar a Matematica, como tambem proporciona a desenvolvimento de
competencias de leitura, escrita, interpretayao e produ~o de textos, nas mais
diversas situa¢es.
Espera-se que essa pesquisa contribua para a organizac;:ao do trabalho do~
professores, de maneira que possam identificar praticas e reconhece-Ias como uma
base de grande valor para a educac;ao.
55
REFERENCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: goslosuras e bobices. Sao Paulo:Scipione, 1997.
BICUDO, M. AV. (Or9) Pesquisa em educa~ao matematica: concep~es eperspectivas. Sao Paulo: Editora UNEP, 1999.
BOYER, C. Hist6ria da Matematica. Trad. Edgar Blachev. Sao Paulo: lDTAEditora, 1974.
CAMARGO, P., FERREIRA, F. Obstaculo no meio do caminho. Folha deSao Paulo, 25 fev. 2003. Cademo Sinapse, p. 9 -13.
CARVALHO, D. L.; ONAGA, D. S. A que serve a educa~iio matematica.Sao Paulo: 1995
D'AMBROSIO, B. S. Como ensinar matematica hoje? Sao Paulo: Autoresassociados,1996
D'AMBROSIO, U. Etnomatematica: arte ou tecnica de explicar e conhecer.Sao Paulo: Afiliada, 1998.
D'AMBROSIO, U. Etnomatematica: elo entre as tradi,oes e a modern ida de.2 ed. Bela Horizonte: Autentica, 2002.
DUARTE, N. ° compromisso politico do educador no ensino damatematica.
ENZENSBERGER, H. M. °diabo dos numeros. Sao Paulo: Companhia dasletrinhas, 2004.
GIARDINETTO, J. R. B. Matematica escolar e matematica da vidacotidiana. Campinas, SP: Autores Associados, 1999.
MACHADO, N. J. Matematica e lingua materna: analise de umaimpregna,ao mutua. Sao Paulo:Cortez,1990
REVISTA BRASllEIRA DE ESTUDOS PEDAGOGICOS. Brasilia: GOOGlEv.81, n. 199, set./dez. 2000. Disponivel em: <http://www.qoogle.com.br/>. Acessoem:6 ju1.2005.
SAVIANI, D. ° trabalho como principio educativo frente as novas tecnologias.In FERRETI, C. et al. Novas tecnologias, trabalho e Educa~iio: urn debatemultidisciplinar. Petropolis, RJ. Vozes, 1994
SMOlE, K.; et al. Era uma vez na matematica: uma conexao com a literaturainfantil. 3 ed. Sao Paulo: CAEM, 1996.
56
SMOlE, K. S. ; DINIZ, M. I. (orgs.) ler, escrever e resolver problemas:habilidades basicas para aprender matematica. Porto Alegre: Artemed Editora, 2001.
TRIVINOS, A. N. S. Introdu<;ao II pesquisa em ci~ncias socia is: a pesquisaqualitativa em educa<;iio. sao Paulo: Atlas,19B?
VALENTE, W. R. Uma hist6ria da matematica escolar no Brasil, 1730 -1930. Sao Paulo: Annablume: FAPESP,1999.
ZIMER, T. T. B. Mundos de significados: saberes e praticas do ensino dematematica na formac;ao de professores das series iniciais no curso de pedagogiada Universidade Federal do Parana. 2002. Disserta980 (Mestrado em Educa<;8o)Universidade Federal do Parana, Curitiba, 2002.