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Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA CRIATIVA Moda Pernambuco: uma plataforma de divulgação, fomento e capacitação de marcas de moda Mariana Araújo Mestre em Indústrias Criativas, Universidade Católica de Pernambuco Luiz Carlos Pinto da Costa Jr Professor do Mestrado em Indústrias Criativas, Universidade Católica de Pernambuco

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Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA CRIATIVA

Moda Pernambuco: uma plataforma de divulgação, fomento e capacitação de

marcas de moda

Mariana Araújo

Mestre em Indústrias Criativas, Universidade Católica de Pernambuco

Luiz Carlos Pinto da Costa Jr

Professor do Mestrado em Indústrias Criativas, Universidade Católica de Pernambuco

Page 2: Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA

Resumo

O artigo expressa o resultado final de uma pesquisa de mestrado que buscou identificar

demandas do mercado local de moda, em Pernambuco, para a construção de uma plataforma

online voltada para atender demandas dos pequenos empresários desse setor. A plataforma

tem como objetivo tornar-se uma ponte entre empreendedores e seus clientes, além de

referência na divulgação de tendências, consultoria técnica em marketing e branding e agenda

de eventos. Para a criação da plataforma, fez-se uma revisão bibliográfica focada em conceitos

de Indústrias Criativas e seus usos por mercados locais, fortalecimento de redes, consumo de

ativismo, branding, marketing e marketing de moda. Também foram realizados estudos

netnográficos em perfis de marcas de moda pernambucanas e entrevistas em profundidade com

empreendedores, onde percebeu-se a necessidade de criação da plataforma proposta.

Palavras-chave: Indústrias Criativas; Moda; Marketing; Branding; Desenvolvimento Local.

Abstract

The article expresses the final result of a master's research that sought to identify demands of

the local fashion market, in Pernambuco, for the construction of an online platform aimed at

meeting the demands of small business owners in this sector. The platform aims to become a

bridge between entrepreneurs and their customers, as well as a reference in the dissemination

of trends, technical consultancy in marketing and branding and an agenda for events. For the

creation of the platform, a bibliographic review focused on concepts of Creative Industries and

their use by local markets, strengthening of networks, consumption of activism, branding,

marketing and fashion marketing was carried out. Netnographic studies were also carried out

on profiles of fashion brands in Pernambuco and in-depth interviews with entrepreneurs, where

the need to create the proposed platform was realized.

Key words: Creative Industries; Fashion; Marketing; Branding; Local Development.

Page 3: Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA

Introdução

As redes sociais digitais estão presentes no cotidiano das pessoas, principalmente quando

acessadas por smartphones. Atualmente, o número de aparelhos é superior à população do País

(FGV, 2020), com suas múltiplas funcionalidades, atividades como organização de agenda,

entretenimento, contato com amigos e grupos de trabalho, acompanhamento de atividades

físicas, entre outras. E com o consumo não poderia ser diferente.

Cada vez mais pessoas usam o smartphone para fazer compras. O papel das redes sociais digitais

também se amplia nessa área. Um total de 46% dos brasileiros as utiliza para buscar informações

e inspirações para compras (PCW BRASIL, 2018). O ano de 2018 registrou um incremento de

12% nas compras online, totalizando R$ 53,2 milhões de faturamento. A pandemia do novo

coronavírus ampliou o consumo online no Brasil em 73%, no comparativo do mês de março dos

anos de 2019 e 2020.

Cabe observar se o hábito de comprar online será mantido após o período crítico da pandemia.

A presente pesquisa foi desenvolvida entre os anos de 2018 e início de 2020, quando as medidas

de isolamento social estavam sendo implantadas. Portanto, os estudos sobre comportamento

do consumidor ainda são inconclusivos. Nesse ambiente, é necessário que empresas e marcas

busquem se comunicar cada vez mais com seu público, convertendo esse relacionamento em

negócios. E, após, a pandemia, posicionamentos de marca estão em evidência. O consumidor,

que já buscava se relacionar com marcas que embutiam valores e crenças ficou mais atento.

Este artigo apresenta o resultado final de uma pesquisa para o Mestrado Profissional em

Indústrias Criativas, pela Universidade Católica de Pernambuco, na qual foi proposta a criação

de uma plataforma online voltada para promoção e divulgação de marcas de moda

pernambucanas, intitulada Moda Pernambuco. O serviço pretende atuar na divulgação,

curadoria, fomento e consultoria para empreendedores do setor, trabalhando, também, ações

de marketing e branding (gestão da marca) aliando o comportamento do consumidor

pernambucano, através da compreensão das suas demandas. A plataforma pretende ainda ser

um elo entre marcas de moda e clientes, divulgando-as junto ao público e tornando-se

referência em moda local.

Por meio da observação do mercado, notou-se uma lacuna no setor de divulgação da moda

pernambucana. Daí, surgiu a ideia de criar um espaço virtual com informações que atendam a

marcas e clientes. Para a pesquisa, foram realizados estudos nas áreas de indústrias criativas,

consumo de ativismo, branding, marketing de moda, marketing digital, entre outras, além do

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uso de metodologias de pesquisa como netnografia e análise de discurso. Nas sessões seguintes,

o artigo apresenta esses estudos e descreve o desenvolvimento da pesquisa, a apresentação da

plataforma e as principais conclusões.

Estudos bibliográficos

A moda integra as áreas abrangidas pelas Indústrias Criativas. A regionalização do consumo, com

clientes comprando mais a produtores locais, mais próximos de sua identidade, contribui para

o desenvolvimento local. O consumidor também pode ter acesso a produtos mais

personalizados e condizentes com os seus gostos, diferentemente do que é oferecido por

grandes lojas varejistas (BENDASSOLLI ET AL, 2008). Os autores analisam uma mudança no

hábito de consumo na era pós-materialista, olhando para a criação de uma identidade cada vez

mais individual e uma reconstrução mercadológica do consumidor que tem experimentado cada

vez mais produtos e serviços que agreguem artes, negócios e tecnologia.

Ao optar pelo consumo local, o consumidor está assumindo um comportamento, se

expressando diante dos demais e tornando o ato de compra algo além de uma ação puramente

econômica. Escolher um produto ao outro com base em fatores que levam a um posicionamento

é analisado como consumo de ativismo pelas autoras Domingues e Miranda (2018). Esses

fatores de decisão podem ser sociais, culturais ou políticos, e provocam um posicionamento do

consumidor, que pode estar abraçando determinadas causas, validando o comportamento de

marcas. As autoras avaliam ainda que as marcas buscam as redes sociais digitais para se

comunicar com seu público e clientes, transmitindo seus valores e atendendo aos anseios do

cliente. Dessa forma, há um equilíbrio entre consumo e ativismo.

O comportamento colaborativo do consumidor com as marcas e das marcas com os

consumidores forma redes, transportadas para o ambiente virtual. Castells (2015) afirma que as

redes sociais digitais geram um espaço para troca de experiências, onde são compartilhadas

emoções, culturas e percepções, criando vínculos e práticas e levando, em muitos casos, à

concretização de atividades econômicas. “Assim, as redes são estruturas complexas de

comunicação construídas em torno de um conjunto de metas que simultaneamente garantem

a unidade de propósito e a flexibilidade de execução em virtude da sua adaptabilidade ao

ambiente operacional.” (CASTELLS, 2015, p. 67)

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Percebendo a proximidade do consumidor com as redes sociais digitais, as lojas se fazem

presentes em diversos canais, tanto do e-commerce (compras pelo computador) quando no m-

commerce (transações realizadas por dispositivos móveis, como smartphones e tablets). Pontos

de contato como o Facebook e sites das lojas ampliam a experiência de compra. Muitas marcas

e lojas atuam de forma a estarem presentes virtualmente para o consumidor, fazendo com que

não haja mais diferenciação entre o e-commerce e m-commerce. “Nós estamos nos movendo

rapidamente para onde o mobile não é referido como um canal separado; m-commerce e e-

commerce e toda a experiência do cliente no serviço da empresa convergiram essencialmente”,

(BILGIHAN, KANDAMPULLY & ZHANG, 2015, p. 105, tradução nossa).

Esse ambiente de contato e fortalecimento da relação com consumidores amplia a possibilidade

das marcas se fazerem presentes na vida dos clientes, provocando-lhes sensações de bem-estar,

favorecendo às marcas mostrarem seus valores e ações, ou seja, o trabalho de gestão da marca,

ou branding. O termo é definido por Tomyia (2010) como “um processo estruturado, consistente

e integrado, que garante a melhoria contínua da entrega da promessa da marca, desde a

definição dessa promessa até a implementação em todos os seus pontos de contato com

públicos estratégicos.” (TOMYIA, 2010, p. 33). O autor acrescenta que o posicionamento da

marca deve seguir critérios de estratégia do negócio, diferenciais competitivos e necessidades

do(s) público(s).

Para Bedendo (2015), os benefícios que a marca oferece ao consumidor, principalmente os

emocionais, contribuem para a auto expressão do consumidor, tornando-o engajado em ações

da marca, com a marca sendo capaz de traduzir e expressar seus sentimentos e valores. O autor

acrescenta que uma empresa se fortalece com a definição da sua identidade, principalmente os

pequenos negócios. “O propósito é aquilo que fez o empreendedor se apaixonar pelo seu

empreendimento. A razão do seu empreendimento existir.” (BEDENDO, 2015, p. 72).

Quando o cliente se identifica com a marca, é necessário criar um círculo vicioso do

relacionamento com o consumidor, visando a fidelizá-los. Em nova obra, Bedendo (2019) explica

que a marca deve entender o cliente, o que ele pensa e o que anseia. Esse processo inclui a

compra e recompra, por parte do cliente, a informação comportamental do consumidor, a

formação de clusters de consumidores, oferta específica por cluster e a maior percepção de

valor. O autor acrescenta que a adoção de causas e posicionamentos por parte das marcas

contribui para uma maior identificação com os consumidores e, normalmente, é valorizada por

eles. “Essa relação ideológica adotada pelas marcas possibilita que elas transcendam a lógica de

produtos para uma lógica de ideologias sociais.” (BEDENDO, 2019, p. 48).

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Nesse sentido, pode ser incentivado um consumo que torna-se ativista ou de ativismo, como já

citaram Domingues e Miranda (2018).

Se, no passado, apenas os produtos utilizados em contextos sociais envolviam uma carga simbólica relevante, hoje, pela possibilidade de exposição, especialmente em redes sociais, qualquer atividade humana ganha um capital simbólico e, por consequência, essa atividade pode ser gerenciada sob a óptica das marcas. (BEDENDO, 2019, p. 49)

Kotler (2012) define esse relacionamento das marcas com os clientes abordando questões

humanas e de valores, reconhecendo os consumidores como seres humanos plenos, como faz

o Marketing 3.0. Para o autor, as ações das empresas não devem mais ser centradas apenas no

produto (Marketing 1.0) ou no cliente (Marketing 2.0). O novo modelo de relacionamento

envolve ações em coletividade, que visam a melhoria da sociedade e dos seus espaços de

convivência comum e até de satisfação espiritual. Esse relacionamento com o cliente deve

ocorrer nos mais diversos pontos de contato existentes, principalmente online.

O crescimento das redes sociais torna mais viável e mais fácil às pessoas conversarem sobre empresas, produtos e marcas existentes em termos de seu desempenho funcional e também de seu desempenho social. A nova geração de consumidores está muito mais antenada com as questões e preocupações sociais. As empresas terão de se reinventar e realizar o mais rápido possível a transição dos limites antes seguros do Marketing 1.0 e 2.0 para o novo marketing 3.0. (KOTLER, 2012, p. 206)

Ao analisar o marketing voltado para o setor da moda, Cobra (2007) defende que as marcas

busquem compreender o comportamento do cliente, sendo capazes de entregar emoções e

satisfações, fidelizando-o. O autor estabelece três passos para entender o comportamento do

consumidor: o primeiro baseia as estratégias de marketing em estudos comportamentais de

consumo de produtos regidos pelos ditames da moda. O segundo adverte que as estratégias de

comunicação devem considerar o que o consumidor busca. O último passo afirma que o

processo de venda deve estar focado no cliente de moda. As estratégias de comunicação são

usadas para buscar novos espaços na mente dele. “Na verdade, o consumidor de moda não

compra produtos, mas emoções que a marca proporciona.” (p. 118).

Desenvolvimento da pesquisa

A plataforma Moda Pernambuco, ideia de negócio proposta neste artigo, tem como objetivo

fomentar e atuar como curadoria e consultoria de marcas de moda pernambucanas.

Apresentando-se no formato online, a plataforma busca trabalhar aliada aos empreendedores

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de moda, servindo como mediadora das linguagens de marketing e branding, voltando-se para

empresários já ingressos ou que pretendem fazê-lo. Pretende, também, atingir o consumidor

interessado em moda local, servindo como ponte entre marcas e público. Com isso, a Moda

Pernambuco pode se tornar uma referência para os empreendedores, principalmente na área

de tendências de marketing e branding, como uma referência para os consumidores.

A viabilidade de criação da plataforma foi analisada por meio de pesquisas de benchmarking,

avaliando bureaus de moda existentes no Brasil e em outros países, além da escolha de quatro

marcas de produtos de moda atuantes no mercado local. Foi realizada uma análise do conteúdo

dos perfis dessas marcas durante um período de 15 dias corridos e entrevistas em profundidade

com seus responsáveis. Infelizmente, das quatro marcas que se dispuseram a participar, apenas

duas concederam a entrevista.

A escolha das marcas se deu em dois grupos. O primeiro, composto Lala Di (moda praia) e Soy

Marina (joias em prata), que participaram do programa de incubação do Marco Pernambucano

da Moda. No segundo, estão as marcas Viva Yemanjah (roupas femininas) e Tout (joias em

prata), escolhidas por adotarem estratégias eficientes de engajamento com clientes no

Instagram. Buscou-se entender se há diferenças substanciais no comportamento daquelas que

não receberam apoio institucional. Na época de realização da pesquisa, todas as marcas

possuíam vendas em lojas, fossem próprias ou em ambientes compartilhados e colaborativos.

Análise dos perfis das marcas no Instagram

A análise dos perfis seguiu estudos de netnografia de Kozinets (2014), que destaca os atores

sociais, ou “nodos”, e as relações sociais entre eles, ou “vínculos”, como meio de criar um

relacionamento de confiança, levando a um aumento de vendas. Esse conceito também é

defendido por Castells (2015). Trazendo a interpretação para a luz desta pesquisa, e alinhando

aos conceitos de gestão de marca já citados, pode-se compreender que a forma como as marcas

relacionam-se com seus clientes é extremamente importante para criar essa ligação que, como

citado, pode ser, inclusive, emocional e afetiva. A observação dos perfis foi feita por um período

de 15 dias corridos – de 04 a 18 de fevereiro de 2020. O resumo dos posts no feed de cada um

dos perfis é verificado na tabela abaixo.

Tabela 1. Resumo das postagens realizadas pelas marcas analisadas

Marca Nº total de posts no período

Nº de posts comerciais

Nº de posts de relacionamento

Nº total de comentários

Lala Di 08 06 02 18

Soy Marina 04 04 - 9

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Viva Yemanjah 09 08 01 10

Tout 22 20 02 77 Fonte: Autora

Percebe-se que as marcas optaram por exibir massivamente os seus produtos nas postagens no

feed, colocando em uma escala menor aquelas destinadas ao relacionamento com os clientes.

As histórias não apresentaram diferenças substanciais do que foi postado no feed de cada uma

das marcas. A seguir, alguns exemplos de postagens feitas pelas marcas no período analisado.

Figura 1. Postagens das marcas Lala Di e Soy Marina

Fonte: Autora

Figura 2. Postagens da marca Tout

Fonte: Autora

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Figura 3. Postagens da marca Viva Yemanjah

Fonte: Autora

Na Figura 1, percebe-se que a marca Lala Di buscou engajamento com os clientes postando

imagem que não são de produtos, enquanto a marca Soy Marina focou exclusivamente na

divulgação de suas peças. Na Figura 2, temos duas postagens da marca Tout com interação com

os clientes. A marca buscou uma interação direta, ao estimulá-los a contarem experiências

vividas durante um verão e, em outro momento, traz interações com os clientes nos

comentários, numa tentativa de ajudar a solucionar problemas. A Figura 3 reúne postagens da

marca Viva Yemanjah, quando, postado nas histórias, traz uma interação sobre o uso de óleos

essenciais e seus benefícios para a saúde e, em outro momento, apresenta peças novas.

Da análise dos perfis no Instagram, percebe-se que as marcas procuraram estabelecer

frequência e organização dos posts, mantendo os clientes atualizados. Esses elementos

atendem a itens apontados por Bilgihan, Kandampully e Zhang (2016) como forma de melhorar

o relacionamento com o cliente e para uma boa experiência online. A organização e a frequência

dos posts também demonstram que as marcas têm algum planejamento de divulgação, embora

não seja metodologicamente implementado, como veremos na seção seguinte. Também pode-

se notar que as marcas buscaram interagir com os clientes, indo além de apresentar seus

produtos. Isso pode ser entendido como uma técnica de fortalecimento e gestão da marca, de

acordo com conceitos de branding e marketing já apresentados por Tomyia (2010) e Bedendo

(2015 e 2019) – ainda que essa interação não seja necessariamente sistematizada em uma

estratégia. É importante lembrar que a análise completa está disponível em Araújo (2020).

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Entrevistas com as responsáveis pelas marcas

Nas entrevistas, foram abordados os temas: 1) administração do perfil da marca no Instagram;

2) planejamento de branding, marketing e marketing digital; 3) ativismo por parte da marca; 4)

acesso a programas e projetos institucionais e financeiros; 5) fontes de pesquisa para elaboração

de produtos e coleções; 6) espaços disponíveis para divulgação das marcas, fomento e

assessoria técnica; 7) opinião sobre a criação de uma plataforma com os objetivos da Moda

Pernambuco. A responsável pela marca Soy Marina, Marina Leon, optou pela entrevista

presencial, enquanto a gestora da marca Viva Yemanjah, Claudia Renda, respondeu aos

questionamentos por meio do aplicativo Whatsapp. Conforme citado, as outras duas marcas

não responderam. Destaca-se que as entrevistas completas estão em Araújo (2020).

Tabela 2. Resumo das respostas obtidas nas entrevistas em profundidade com as responsáveis pelas marcas Soy Marina e Viva Yemanjah

Tema/Marca Soy Marina Viva Yemanjah

Administração do perfil do Instagram por sócios da marca e não por empresa especializada em marketing digital

X X

Planejamento de branding, marketing e marketing digital X

Uso de ativismo na marca X

Acesso a programas e projetos institucionais X

Acesso a financiamentos

Facilidade de espaços para divulgação da marca e dos produtos

Favorável à criação de uma plataforma com os objetivos da Moda Pernambuco

X X

Fonte: Autora

Sobre o tema de planejamento de branding, marketing e marketing digital, a Viva Yemanjah

afirmou que adotou uma estratégia de formação da identidade da marca, voltada para consumo

sustentável, e a divulgação no ambiente online.

Eu fiz uma pesquisa de benchmarking de marcas de fora que eu achava com uma proposta interessante e aí construí todo o branding em cima disso. Mas o branding da marca ao longo desses três anos foi alterando um pouco (...) E aí eu fui também fazendo esse processo enquanto eu estava na faculdade de design de moda. (...) Nesses projetos que eu fiz durante a faculdade, foi feito mais um planejamento de branding para que tudo ficasse mais fechadinho. (RENDA, 2020)

Quando questionadas sobre ativismo, apenas a marca Viva Yemanjah afirmou que busca um

engajamento junto aos seus clientes sobre consumo sustentável de moda, abordando o tema

em postagens no Instagram.

Acho que esse é um dos principais propósitos como marca, que é prezar por uma moda mais consciente, tanto no aspecto socioambiental como humano,

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e o aspecto mais criativo, trazendo uma moda mais artesanal, que tenha um processo criativo maior por trás das peças, que as peças tenham a capacidade de comunicar mais. (RENDA, 2020)

As afirmações de Renda (2020) enquadram-se nos conceitos apresentados por Bedendo (2019),

de que o uso de posicionamentos ideológicos e causas por parte das marcas buscam a

identificação com os consumidores, e de Tomya (2010), que defende um posicionamento da

marca de acordo com estratégias de negócio.

Quando abordado o tema de acesso a programas e projetos institucionais e financeiros, a Soy

Marina respondeu que a participação no programa de incubação no Marco Pernambucano da

Moda foi fundamental para o desenvolvimento da marca. "O Marco pra mim foi realmente

maravilhoso. Eu consegui aproveitar bastante o que eles tinham para me dar. Me dei bem com

os consultores, foi uma coisa muito boa." (LEON, 2019). Já a Viva Yemanjah afirmou ter buscado

informações junto ao Sebrae. Ambas negaram ter tido apoio financeiro de órgãos oficiais para

iniciar a marca.

No tocante a espaços para divulgação e fomento das marcas, a Soy Marina e a Viva Yemanjah

afirmaram que não existem canais oficiais para isso, e que a busca por feiras e eventos depende

do esforço de cada marca. Cabe às marcas definirem quais feiras são mais apropriadas aos seus

objetivos.

Quando questionadas sobre a necessidade de criação de uma plataforma com os objetivos da

Moda Pernambuco, ambas as marcas mostraram-se favoráveis. “Maravilhoso, mais do que

necessário, inclusive. (...) As pessoas ficam perdidas, completamente perdidas (...) Se uma

plataforma reunir todo esse tipo de informação, pode facilitar muito a vida de quem está

empreendendo.” (LEON, 2019). “Eu acho que essa plataforma iria facilitar para um consumidor

que está começando a ter um consumo mais consciente. (...) Existem sim pessoas que gostariam

de consumir mais do mercado local, mas que não tem acesso a todas as marcas.” (RENDA, 2020)

Análise dos resultados

As interpretações dos resultados tiveram como base as duas entrevistas concedidas pelas

responsáveis pelas marcas e as análises dos perfis das quatro marcas pernambucanas de moda,

já citadas. Inicialmente, percebe-se que as marcas não se preocuparam em fazer um

planejamento da gestão. Isso pode representar uma falta de conhecimento sobre o trabalho de

branding e como ele pode contribuir para o estabelecimento de uma marca de moda local. Ainda

que o corpus de pesquisa tenha sido pequeno, essas empresas representam o conjunto de

possíveis interessadas na oferta de serviços da plataforma.

Page 12: Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA

Das marcas que concederam entrevistas, apenas uma afirmou utilizar na sua comunicação com

o público alguma estratégia de ativismo. Tal comportamento pode representar a falta de

compreensão de que o engajamento é capaz de atrair um nicho de mercado específico. Por

outro lado, ao não adotarem uma bandeira, as marcas indicam não estar interessadas em um

mercado estritamente segmentado, optando por ter um público-alvo de clientes mais amplo.

Nas entrevistas, percebe-se a demanda por apoio institucional. Por fim, as marcas mostraram-

se favoráveis à criação de uma plataforma específica de divulgação para a moda pernambucana,

entendendo que esse espaço é capaz de agregar um público interessado nesse tipo de produto,

além de potenciais clientes das marcas locais e, ainda, contribuir para o fortalecimento do setor,

especialmente para os pequenos produtores, com consultorias e capacitações.

Apresentação da plataforma Moda Pernambuco

Neste artigo, assim como na pesquisa completa (ARAÚJO, 2020), optou-se por apresentar um

mapa do site da plataforma Moda Pernambuco, especificando suas sessões. Essa decisão foi

tomada por considerar a demanda de abastecimento de informações, incompatíveis com as

atividades, à época, da pesquisadora.

Como a plataforma pretende atingir públicos distintos, pensou-se em um design de site que

deixe claro para o visitante que há áreas específicas para os públicos de empreendedores e

clientes das marcas. Assim, são elas: uma dedicada à apresentação da plataforma; a segunda,

destinada aos dois públicos; a terceira, com conteúdo multimídia também voltada para ambos

os públicos; e a quarta, uma área destinada exclusivamente às marcas, oferecendo serviços.

Figura 4. Mapa do site da Plataforma Moda Pernambuco

Page 13: Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA

Fonte: Autora

A primeira sessão foi denominada “Home”, destinada à apresentação da plataforma e aos

contatos voltados para os públicos-alvo. Ela se divide nas subseções “Apresentação” (objetivo

do projeto, a quem se destina e informações sobre sua criação); Contato (e-mail, formulário de

mensagens e telefone); “Quem somos” (informações sobre os profissionais que integram a

plataforma) e “Redes sociais” (redes sociais digitais da plataforma).

À segunda sessão foi dada o nome de “Menu Geral”, com informações que contemplem todos

os públicos que plataforma pretende atender. As suas subseções são “Notícias” (relacionadas a

tendências de moda, desfiles, temas de marketing digital e branding, políticas de publicação de

redes sociais digitais, entre outros); “Colunas” (especialistas convidados especialistas em moda

e em marketing e branding); “Calendário de Eventos” (divulgação de eventos, tais como feiras,

rodadas de negócios, desfiles, capacitações, etc); “Blog” (abordando experiências pessoais) e

“Guia de Marcas” (apresentação das marcas de moda autoral).

A terceira sessão trará a parte “Multimídia”, também voltada a ambos os públicos, com

“Podcast” (reunindo especialistas em moda e negócios) e “Canal de Vídeo” (entrevistas,

cobertura de eventos, apresentação de tendências, perfis de marcas, etc.).

A quarta e última sessão é “Consultoria” e será dedicada exclusivamente às marcas, que poderão

contratar os serviços voltados para a gestão da marca, marketing e conteúdo, além de

apresentações de cases. Suas subseções estão divididas em “Consultoria em branding e

marketing” (serviços e ferramentas que ajudem as marcas a construírem suas identidades, de

forma a mantê-las presentes junto aos seus clientes e público-alvo); “Palestras e workshops”

(voltados para empreendedores de moda em Pernambuco) e “Conteúdo especializado” (serviço

Page 14: Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA

de edição de produtos editoriais, tais como revistas, folders, conteúdo para sites das marcas que

tenham como objetivo aproximá-las do público, buscando uma fidelização dos consumidores).

Considerações finais

Os estudos realizados para a pesquisa confirmam que há um campo de atuação em branding e

marketing para pequenas marcas de moda locais, uma lacuna de mercado que pode ser

preenchida pelo produto aqui proposto – a plataforma Moda Pernambuco. Percebe-se que há

uma necessidade de as marcas de moda pernambucanas conhecerem técnicas e conceitos de

marketing e branding para poderem se firmarem no mercado, criarem suas identidades e

formarem uma rede de clientes engajados, gerando uma ampla rede de relacionamento.

Também pode se considerar que há uma necessidade de incentivar e contribuir para que haja

uma sofisticação da cultura empresarial para os empreendedores de moda, através da

divulgação e produção de conhecimento do mercado, com suas características locais. É

importante destacar, ainda, a necessidade de criação de uma política de incentivo à produção

de moda local, que pode contribuir para o fortalecimento e o desenvolvimento sustentável

dessas pequenas empresas e do setor como um todo, tornando Pernambuco uma referência no

cenário nacional de moda autoral.

Como já citado, a presente pesquisa teve início em 2018 e foi concluída no primeiro semestre

de 2020. Já no seu término, o mundo foi atingido por uma pandemia, com consequências graves

à saúde e à economia mundial. Os estudos sobre os reais impactos não eram, à época,

conclusivos. Além disso, há um quadro de imprevisibilidade sobre o real legado que a pandemia

deixará em diversos setores, sejam eles políticos, econômicos ou sociais.

Ainda assim, a plataforma Moda Pernambuco apresenta-se como um produto viável para o

mercado local, pois reunirá a potencialidade das Indústrias Criativas, principalmente a moda,

através da formação de uma rede de clientes engajados e divulgadores. É possível que essa

função se torne ainda mais necessária no contexto que se desenha na pós-pandemia. Para tanto,

é preciso conhecer esse consumidor interessado em produtos locais e analisando esses

comportamentos em redes sociais digitais. Essas etapas dependem da abordagem prática de

conceitos e técnicas de branding e de marketing.

Page 15: Grupo de Trabalho: COMUNICAÇÃO, MARKETING E ECONOMIA

Referências

ARAÚJO, Mariana. Moda Pernambuco: uma plataforma de divulgação, fomento e capacitação de marcas de moda em Pernambuco. 2020. 136 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado Profissional em Indústrias Criativas, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2020. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1sTYGqxJ7uqDNwANHAnzwaM0mVK6nAGjs/view?usp=sharing. Acesso em: 19 out. 2020.

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SOY MARINA. Bom demais é levar pedrinhas naturais de água marinha perto do coração ✨ Aproveita que o site tá todo com 15% de desconto, hein? É só usar o cupom "soyverao" e

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TOUT. As curvas delicadas do nosso anel Chevron 💗. 16 fev. 2020. Instagram: @instadatout. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B8pTpitHLXD/. Acesso em: 16 fev. 2020.

______. Qual é a sua história preferida de verão? Recife, 10 fev. 2020. Instagram: @instadatout. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B8Z5srPFxKd/. Acesso em: 10 fev. 2020.

VIVA YEMANJAH. Nossa estampa Ribeira é uma homenagem a toda abundância que rola nas

ladeiras de Olinda durante o carnaval 💙♥️💚💛 . E ela foi fruto de uma collab maravilhosa com @rafaelladcs. 09 fev. 2020. Instagram: @vivayemanjah. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B8XYo7zHYKP/. Acesso em: 09 fev. 2020.