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A agricultura biológica Guia da regulamentação comunitária Comissão Europeia Direcção-Geral da Agricultura

Guia da regulamentação comunitáriaA agricultura biológica› 1 Introdução 3 Origem, desenvolvimento e definição da agricultura biológica 4 A regulamentação comunitária

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A agriculturabiológica

Guia da

regulamentação

comunitária

Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Agricultura

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Encontram-se disponíveis várias outras informações sobre a União Europeia na Internet, através do servidor Europa (http://europa.eu.int)

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais das Comunidades Europeias, 2001

Autores da publicação: Gwénaelle Le Guillou e Albérik Scharpé.

Os textos da presente publicação não comprometem a Comissão.

ISBN 92-894-0367-5

© Comunidades Europeias, 2000Reprodução autorizada mediante indicação da fonte

Printed in Belgium

IMPRESSO EM PAPEL RECICLADO.

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A agricul tura biológica › 1

Introdução 3

Origem, desenvolvimento e definição da agricultura biológica 4

A regulamentação comunitária 10

Alguns elementos de reflexão sobre a evolução da regulamentação 24

Anexos 26

– Anexo A

Anexos técnicos do Regulamento (CEE) n.° 2092/91

– Anexo B

Lista dos países cujos produtos de origem agrícola biológica são importados

na União Europeia

– Anexo C

As diferentes versões do logotipo comunitário

Índice

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2 ‹ Introdução

A agricultura biológico no dealbar do terceiro milénio

Em 27 e 28 de Maio de 1999, realizou-se em Baden(Áustria) uma conferência sobre "A Agricultura Biológicana União Europeia - Perspectivas para o Século XXI",organizada pelo Governo austríaco e pela Comissão. Nodecurso dessa conferência, verificou-se que o número dehectares cultivados segundo os métodos da agriculturabiológica, ou em conversão para este tipo de agricultura,aumentou de cerca de 900 000 hectares, em 1993, paracerca de 2,9 milhões de hectares, em 1998. Foi reconhe-cido o facto de que este tipo de agricultura possuir umpotencial de crescimento que pode fazê-la progredir dosactuais 2% de superfície para 5% a 10%, em média, daagricultura europeia, em 2005. Exceptuados os efeitos daregulamentação (…) e as medidas comunitárias deapoio financeiro tomadas a favor das práticas agrícolasfavoráveis ao ambiente, esta evolução parece resultar,em especial, de um aumento do interesse dos consumi-dores e dos produtores por uma agricultura particular-mente respeitadora do ambiente.

(Extraído de “A situação da agricultura na UniãoEuropeia - Relatório 1999” - COM (2000) 485 final, de26 de Julho de 2000).

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A agricul tura biológica › 3

Em Junho de 1991, o Conselho adoptou o Regulamento(CEE) n.º 2092/91 relativo ao modo de produção bioló-gico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produ-tos agrícolas e nos géneros alimentícios. Este regula-mento foi completado por diversas vezes, nomeada-mente em 1999, quando o Conselho incluiu a pecuáriabiológica no seu âmbito de aplicação.

Esta regulamentação constituía uma iniciativa inscritano âmbito da reforma da política agrícola comum, que,originalmente, tinha por objectivo aumentar a produti-vidade agrícola, a fim de obter um elevado nível deauto-suficiência alimentar na Comunidade Europeia.

Dado que tal objectivo havia, em larga medida, sidoalcançado no final dos anos 80, esta política adoptououtros objectivos, como a promoção dos produtos dequalidade e a integração da protecção do ambiente naagricultura. Estes dois objectivos proporcionaramimportantes potencialidades de desenvolvimento para osector da agricultura biológica, até então com umaexpressão marginal.

Desde a entrada em vigor desta regulamentação, em1992, contam-se por dezenas de milhares as explora-ções agrícolas que se converteram a este modo de pro-dução agrícola, tendência que se deverá manter nos pró-ximos anos. Paralelamente, o interesse dos consumido-res e do comércio pelos produtos da agricultura bioló-gica aumentou significativamente.

Com a adopção do Regulamento (CEE) n.º 2092/91, oConselho decidiu da criação de um enquadramentocomunitário que determina, com rigor, as exigências asatisfazer para que um produto agrícola ou um géneroalimentício possa ostentar a referência ao modo de pro-dução biológico. Trata-se de uma regulamentação bas-tante complexa, que define não só um modo de produ-ção para os vegetais e os animais, mas também regraspara a rotulagem, a transformação, a inspecção e ocomércio dos produtos da agricultura biológica no inte-rior da Comunidade, bem como para a importação des-tes produtos a partir de países terceiros.

A presente brochura é especialmente destinada a todosaqueles que, por interesse pessoal ou necessidade pro-fissional, pretendem obter uma informação de basesobre o desenvolvimento da agricultura biológica e asua normalização na União Europeia, no âmbito daregulamentação supracitada1.

1 A presente brochura não abrange as medidas comunitá-rias de apoio financeiro à agricultura de que a agriculturabiológica pode beneficiar em determinadas condições.

Introdução

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4 ‹ Origem e desenvolvimento da agricul tura biológica e da sua normalização

Origem e desenvolvimentoda agricultura biológica e da sua normalização

Origem e desenvolvimentoda agricultura biológica e da sua normalização

Origem da emergência de um novo tipo de produçãoagrícola: as diferentes correntes de pensamentoA agricultura biológica constitui a conclusão de umasérie de reflexões e o resultado do desenvolvimento devários métodos de produção agrícola alternativos, prati-cados, desde o início do século, essencialmente no norteda Europa.

Neste contexto, importa mencionar três correntes depensamento: • A agricultura biodinâmica, surgida na Alemanha e

impulsionada por Rudolf Steiner;• A agricultura orgânica (organic farming), surgida

em Inglaterra a partir das teses desenvolvidas por SirHoward no seu Testamento Agrícola (1940);

• A agricultura biológica, desenvolvida, na Suíça, porHans Peter Rusch e H. Muller.

Estes diferentes movimentos, na origem de alguns dostermos protegidos pela regulamentação comunitária,consideravam fundamental, com algumas cambiantes, ovínculo entre a agricultura e a natureza, bem como orespeito dos equilíbrios naturais, e distanciavam-se deuma abordagem mais dirigista da agricultura, que pro-cura maximizar os rendimentos através de múltiplasintervenções, com diversas categorias de produtos desíntese.

Apesar da existência – e do vigor – destas correntes depensamento, a agricultura biológica manteve-se durantemuito tempo embrionária na Europa.

Desenvolvimento da agricultura biológicaDurante os anos cinquenta, o principal objectivo daagricultura era satisfazer, graças a um substancialaumento da produtividade agrícola, as necessidadesimediatas de alimentos e aumentar o grau de auto-sufi-ciência da Comunidade Europeia. É, portanto, compre-ensível que, neste contexto, a agricultura biológica nãotenha sido, inicialmente, muito bem acolhida.

No f inal dos anos sessenta e, sobretudo, nos anossetenta, assistiu-se a uma importante tomada de cons-ciência ao nível da protecção do ambiente, a que a agri-cultura biológica podia dar uma resposta adequada.Foram criadas novas associações que reuniam produto-res, consumidores e outras pessoas interessadas noambiente e numa vida mais estreitamente ligada à natu-reza. Estas organizações elaboraram os seus próprioscadernos de especificações, com as regras de produçãoa observar.

Contudo, é nos anos oitenta que a agricultura biológicaganha um verdadeiro impulso, com este modo de pro-dução e o interesse dos consumidores pelos produtosassim obtidos a desenvolver-se, não só na maior partedos países europeus, mas também noutros países, comoos Estados Unidos, o Canadá, a Austrália e o Japão.Assiste-se, neste período, a um importante aumento donúmero de produtores e ao lançamento de iniciativas nodomínio da transformação e da comercialização de pro-dutos biológicos.

Este contexto favorável ao desenvolvimento da agricul-tura biológica decorre, em larga medida, da vontadeexpressa dos consumidores de obter produtos sãos emais compatíveis com o ambiente. Paralelamente, osserviços administrativos oficiais vão reconhecendo,pouco a pouco, a agricultura biológica, integrando-anos seus temas de investigação e dotando-se de legisla-ção específica para o sector (na Áustria, em França e na

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A agricul tura biológica › 5

Dinamarca, por exemplo). Alguns Estados-Membrosconcedem, aliás, subsídios, nacionais e regionais, paraeste tipo de agricultura.

Apesar destes esforços, a agricultura biológica levanta,nesta época, algumas dúvidas aos consumidores: comefeito, nem o próprio conceito de agricultura biológicanem as restrições que ele implica são muito claros.

Essa confusão decorre, essencialmente, da coexistênciade várias “escolas” e “filosofias”, da falta de harmoni-zação das terminologias utilizadas, da heterogéneaapresentação dos produtos e da amálgama entre produ-tos biológicos, produtos de qualidade, produtos natu-rais, etc.. Por outro lado, a utilização fraudulenta dasindicações relativas a este modo de produção torna asituação ainda mais confusa.

Fonte: Nicolas Lampkin, Welsh Institute of Rural Studies, University of Wales

D EL E F I Ö FIN B DK IRL L NL P S UK

14,9

101,7

42,9

9,0

46,9

44,3

45,3 13,0

28,8

35,0

10,5

12,8

45,2

20,9

10,4

Número de explorações certificadas como biológicas ou em conversão1988

1993

1998

1999 (Estimativa)

Taxa de crescimento anual

(1988-1998) em %

50 000

40 000

30 000

20 000

10 000

0

3 000

2 500

2 000

1 500

1 000

500

0

3 500

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6 ‹ Origem e desenvolvimento da agricul tura biológica e da sua normalização

Reconhecimento oficial e regulamentação da agricultura biológica na União Europeia Neste contexto, a adopção de um enquadramento regu-lamentar para a agricultura biológica impôs-se como aúnica forma de lhe permitir posicionar-se, de forma cre-dível, no mercado de nicho que constituem os produtosde qualidade. Em consequência, no início dos anosnoventa, a Comunidade Europeia adoptou um enqua-dramento legislativo para os produtos biológicos – oRegulamento (CEE) n.° 2092/91. Nos anos seguintes,este movimento de reconhecimento oficial da agricul-tura biológica alargou-se a diversos outros países, tendosido acompanhado de iniciativas a nível internacional.Por outro lado, o Regulamento (CEE) n.° 2078/922 abrenovas possibilidades de apoio financeiro, de que a agri-cultura biológica, pelas suas características, pode bene-ficiar.

O reconhecimento internacional da agricultura biológicaA IFOAM (International Federation of Organic Agri-culture Movements – Federação Internacional dosMovimentos de Agricultura Biológica) adoptou, emNovembro de 1998, “Cadernos de Especificações-Qua-dro da Agricultura Biológica e da Transformação”.Criada em 1972, esta federação reúne organizações detodo o mundo implicadas na produção, certificação,investigação, formação e promoção da agricultura bio-lógica. Os cadernos de especificações que adoptou nãosão vinculativos, mas constituem, seguramente, “pistasde reflexão”, na medida em que sintetizam o estadoactual dos métodos de produção e de transformação deprodutos biológicos.

Além disso, esta organização criou um grupo regional“União Europeia”, para manter um diálogo com aComissão Europeia acerca do desenvolvimento da agri-cultura biológica.

Por outro lado, em Junho de 1999, a Comissão doCodex Alimentarius3 adoptou directrizes relativas à pro-dução, transformação, rotulagem e comercialização dosalimentos produzidos biologicamente. Estas directrizesestabelecem os princípios da produção biológica aonível da exploração agrícola, da preparação, da armaze-nagem, do transporte, da rotulagem e da comercializa-ção dos produtos vegetais, e devem permitir que os paí-ses membros elaborem a sua própria regulamentação,com base nestes princípios, de modo a ter em contaespecificidades nacionais. Em breve serão adoptadasdirectrizes no domínio da produção biológica de produ-tos de origem animal.

Após 1999, a FAO4 adoptou igualmente um programade trabalho no domínio da agricultura biológica, quevisa, essencialmente, o desenvolvimento da agriculturabiológica nos países em desenvolvimento.

2 Regulamento (CEE) n.° 2078/92 do Conselho, de 30 deJunho de 1992, relativo a métodos de produção agrícolacompatíveis com as exigências da protecção do ambientee à preservação do espaço natural (JO n.° L 215 de30.7.1992, p. 85). Revogado pelo Regulamento (CE)n.° 1257/99 do Conselho, de 17 de Maio de 1999,relativo ao apoio do Fundo Europeu de Orientação e deGarantia Agrícola (FEOGA) ao desenvolvimento rural eque altera e revoga determinados regulamentos (JOn.° 160 de 26.6.1999, p. 80).Ver igualmente a nota n.° 1.

3 Os trabalhos da Comissão do Codex Alimentarius têm porobjectivo a instituição, a nível mundial, do Codex Alimen-tarius (ou código alimentar), que contém normas, códigosde utilização, directrizes e recomendações adoptados noâmbito do programa misto FAO/OMS para os génerosalimentícios, a fim de garantir a segurança dos alimentose a lealdade das transacções comerciais neste domínio.

4 FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimenta-ção e a Agricultura.

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A agricul tura biológica › 7

Acções de regulamentação em alguns paísesno exterior da União EuropeiaA Islândia, a Noruega e o Liechtenstein adoptaram, noâmbito do Espaço Económico Europeu, legislaçõesdecalcadas da legislação comunitária e participam, naqualidade de observadores, nos trabalhos de gestão aonível da Comissão Europeia.

Além disso, e dada a necessidade de assumir o acervocomunitário aquando da adesão, os países candidatos àadesão à União Europeia (países da Europa Central eOriental, Chipre, Malta e Turquia) já iniciaram um pro-cesso de adopção de legislação específica para a agricul-tura biológica, próxima da regulamentação comunitária.

Por outro lado, a Argentina, a Austrália, o Canadá, osEstados Unidos, Israel, o Japão e a Suíça, entre outrospaíses, já adoptaram ou estão em vias de adoptar legis-lação específica para a agricultura biológica.

Fonte: Nicolas Lampkin, Welsh Institute of Rural Studies, University of Wales

D E F I Ö S UK B DK EL IRL L NL P FIN

27,5

71,314,1

62,8

48,0

37,4

46,6

28,8

35,2

81,6

44,8

6,5

15,4

57,3

62,4

Número de hectares certificados como biológicos ou em conversão1988

1993

1998

1999 (Estimativa)

Taxa de crescimento anual

(1988-1998) em %

1 000 000

800 000

600 000

400 000

200 000

0

150 000

120 000

90 000

60 000

30 000

0

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8 ‹ Origem e desenvolvimento da agricul tura biológica e da sua normalização

Definição do conceitode agricultura biológica

Para a definição do conceito de agricultura biológica, éconveniente reportarmo-nos à definição elaborada peloCodex Alimentarius, com base em contribuições deespecialistas de todo o mundo. O Codex considera aagricultura biológica um sistema global de produçãoagrícola (vegetal e animal) que privilegia as práticas degestão em relação ao recurso a factores de produção deorigem externa. Nesta óptica, os métodos culturais, bio-lógicos e mecânicos são preferidos aos produtos quími-cos de síntese.

De acordo com as directrizes do Codex, a agricul-tura biológica deve contribuir para a realização dosseguintes objectivos5:• “aumentar a diversidade biológica em todo o sis-

tema; • aumentar a actividade biológica dos solos;• manter, a longo prazo, a fertilidade dos solos;• reciclar os resíduos de origem vegetal e animal, a

fim de restituir à terra os elementos nutritivos e,desta forma, reduzir ao mínimo a utilização derecursos não renováveis;

• apoiar os sistemas agrícolas organizados local-mente em recursos renováveis;

• promover a boa utilização dos solos, da água e doar, e reduzir ao mínimo todas as formas de polui-ção provocadas pelas práticas culturais e de pro-dução animal;

• manipular os produtos agrícolas tendo em aten-ção, nomeadamente, os métodos de transforma-ção, a fim de preservar, em todos os estádios, aintegridade biológica e as qualidades essenciais doproduto;

• ser adoptada, numa exploração existente, após umperíodo de conversão cuja duração deve ser deter-minada por factores específicos à exploração,como, por exemplo, o historial da terra e os tiposde cultura e de produção animal a realizar”.

5 Directrizes em matéria de produção, rotulagem e comer-cialização dos alimentos obtidos através da agriculturabiológica, Comissão do Codex Alimentarius, CAC/GL 32.1999, Ponto 7.

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A agricul tura biológica › 9

A produção animal no âmbito da agricultura biológicaassenta, por seu turno, no princípio de uma estreita liga-ção entre os animais e as terras agrícolas. Essa necessi-dade de um vínculo com o solo exige que os animaistenham bastante acesso a áreas exteriores de exercício eque a alimentação que lhes é dada seja não só biológica,mas, preferencialmente, obtida na própria exploração.Aliás, esta parte da agricultura biológica está enqua-drada por rigorosas disposições relativas ao bem-estardos animais e aos cuidados veterinários.

Sejam quais forem os produtos, vegetais ou animais, osobjectivos da produção biológica são os mesmos: utili-zação de práticas restritivas do ponto de vista da protec-ção do ambiente, ocupação mais harmoniosa do espaçorural, respeito do bem-estar dos animais, obtenção deprodutos de alta qualidade.

Para que estes objectivos dificilmente quantificáveistivessem contornos mais concretos, susceptíveis de tor-nar a agricultura biológica específica em relação à agri-cultura convencional, impunha-se a codificação das prá-ticas aceitáveis. Essa codificação foi realizada, inicial-mente, em cadernos de especificações privados e, emseguida, em regulamentações ou directrizes oficiais, anível nacional ou internacional.

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10 ‹ A regulamentação comunitária

O Regulamento (CEE) n.° 2092/91

O Regulamento (CEE) n.° 2092/91 do Conselho, de24 de Junho de 1991, relativo ao modo de produção bio-lógico de produtos agrícolas e à sua indicação nos pro-dutos agrícolas e nos géneros alimentícios, constitui,simultaneamente, o resultados das diligências com vistaao reconhecimento regulamentar da agricultura bioló-gica em alguns Estados-Membros e a afirmação da von-tade de clarificar, aos olhos dos consumidores, a noçãode agricultura biológica, numa tentativa de pôr termo,nomeadamente, às inúmeras fraudes que se verificavam.

Com efeito, o regulamento fixa regras comuns aplicá-veis à produção comunitária de produtos biológicos deorigem vegetal. Essas regras foram completadas pelaprimeira vez pelo Conselho em 1992, depois em 1995,quando foi prevista a possibilidade de desenvolver umlogotipo para o sector da agricultura biológica e foramdefinidas várias regras técnicas, respeitantes, nomeada-mente, à rotulagem e ao regime de importação. Poste-riormente, a Comissão adoptou diversos regulamentosque actualizaram ou completaram os anexos técnicos doRegulamento (CEE) n.° 2092/91.

Em 1999, o Conselho adoptou o Regulamento (CE)n.° 1804/1999, de 19 de Julho de 1999, que estabeleceas regras comunitárias relativas à produção de produtosbiológicos de origem animal, ficando assim completo oenquadramento regulamentar deste modo de produção,com a legislação comunitária a abranger a produçãovegetal e a produção animal.

O regulamento do Conselho mandata ainda a Comissãopara adoptar normas de execução e, nomeadamente,alterar, se for caso disso, os anexos técnicos do regula-mento. Este mandato permite manter as disposições doregulamento actualizadas em relação à evolução técnica

e científica e à realidade do mercado dos produtos daagricultura biológica.

Por último, a criação de um logotipo comunitário paraos produtos da agricultura biológica, em Março de2000, veio reforçar, simultaneamente, a protecção dosprodutos biológicos contra as fraudes e a valorizaçãodestes produtos, tanto vegetais como animais.

A agricultura biológica, elementoda política de qualidade

O enquadramento regulamentar instituído pela Comuni-dade Europeia para a produção biológica vegetal e ani-mal inscreve-se no contexto mais geral da política dequalidade dos produtos agrícolas.

Lançada no início dos anos 90, esta política responde auma crescente procura de produtos específicos por partedos consumidores, perante a normalização crescentedos produtos convencionais.

Os produtores cujos produtos satisfazem as condiçõesimpostas pela regulamentação europeia passaram a ter apossibilidade de optar pela qualidade, o que lhes permite uma maior valorização dos seus produtos. Osprodutos em causa podem, com efeito, benef iciar, consoante o vínculo que mantêm com a área geográficade produção e que pretendem valorizar, de duas indica-ções: a denominação de origem protegida e a indicaçãogeográfica protegida. Podem igualmente beneficiar deum certificado de especificidade (com a menção espe-cialidade tradicional garantida), que indica que os pro-dutos são elaborados segundo métodos tradicionais.A criação destes regimes de protecção permite, simulta-neamente, abrir uma via economicamente rentável paraexplorações afectadas, em regra geral, por importantes

A regulamentação comunitária

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A agricul tura biológica › 11

desvantagens estruturais e oferecer aos consumidoresprodutos realmente específicos 6.

A agricultura biológica inscreve-se igualmente nessanova política, sem deixar de manter a sua especifici-dade, uma vez que o seu principal objectivo é a protec-ção e a preservação do ambiente.

Âmbito de aplicaçãodo regulamento

O Regulamento (CEE) n.° 2092/91 do Conselho é apli-cável aos produtos vegetais e animais não transforma-dos, aos produtos agrícolas transformados destinados àalimentação humana e aos alimentos para animais7 cujarotulagem, publicidade e documentos comerciais osten-tem as indicações utilizadas em cada Estado-Membropara sugerir ao comprador que o produto em causa foiobtido segundo o modo de produção biológico definidono regulamento.

As regras definidas na regulamentação (por exemplo,em matéria de inspecção, ver “Inspecção” infra) só são,portanto, obrigatórias se o produtor pretender que osseus produtos ostentem as indicações referidas.

Num primeiro tempo, o Conselho definiu, para cada língua, o termo considerado mais característico para omodo de produção definido no regulamento e que bene-ficia da protecção conferida pelo regulamento. Os termos adoptados foram os seguintes:

em espanhol: ecológicoem dinamarquês: Økologiskem alemão: ökologisch, biologischem grego: ‚ÈÔÏÔÁÈÎfiem inglês: organicem francês: biologiqueem italiano: biologicoem neerlandês: biologischem português: biológicoem finlandês: luonnonmukainenem sueco: ekologisk

Além disso, aquando da adopção do Regulamento (CE)n.° 1804/1999, essa protecção foi alargada aos derivadoshabituais destes termos (tais como, “bio”, “eco”, etc.) eaos seus diminutivos, sozinhos ou em combinação8.

Aplicabilidade das regrasrespeitantes aos produtosconvencionais

Independentemente do previsto no Regulamento (CEE)n.° 2092/91, são aplicáveis as regras respeitantes aosprodutos convencionais. Em consequência, as regrasprevistas no Regulamento (CEE) n.° 2092/91 podem sermais, mas nunca menos, rigorosas do que as previstasna regulamentação comunitária geral aplicável à agri-cultura convencional e aos produtos destinados à ali-mentação humana. Deste modo, são aplicáveis as dispo-sições gerais que regem a produção, a preparação, acomercialização, a rotulagem e o controlo dos produtosagrícolas e dos géneros alimentícios convencionais9,sobretudo as regras em matéria de segurança dos produ-tos para a saúde humana.

6 Regulamento (CEE) n.° 2081/92 do Conselho, de 14 deJulho de 1992, relativo à protecção das indicações geo-gráficas e denominações de origem dos produtos agríco-las e dos géneros alimentícios; JO n.° L 208 de24.7.1992, p. 1.Regulamento (CEE) n.° 2082/92 do Conselho, de 14 deJulho de 1992, relativo aos certificados de especificidadedos produtos agrícolas e dos géneros alimentícios;JO n.° L 208 de 24.7.1992, p. 9.

7 Artigo 1º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91 do Con-selho, de 24 de Junho de 1991, relativo ao modo de pro-dução biológico de produtos agrícolas e à sua indicaçãonos produtos agrícolas e nos géneros alimentícios;JO n.° L 198 de 22.7.1991, p. 1.

8 Artigo 2° do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.9 Artigo 3° do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.

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12 ‹ A regulamentação comunitária

Regras relativas à produçãobiológica nas exploraçõesagrícolas

Produção vegetalAs regras de base do modo de produção biológico apli-cáveis aos produtos vegetais são enunciadas na Parte Ado Anexo I do regulamento.

Assim, deve procurar-se manter ou melhorar a fertili-dade e a actividade biológica dos solos através da utili-zação de fertilizantes verdes, do cultivo de leguminosase de plantas com um sistema radicular profundo, noâmbito de um programa de rotação anual10. Esta acçãopode ser completada pela incorporação de estrume ani-mal proveniente da produção biológica de animais, den-tro dos limites fixados na Parte B do Anexo I (170 kg deazoto por hectare e por ano) e de matérias orgânicas decompostagem ou não, produzidas em explorações querespeitem o modo de produção biológico.

Quando estes meios se revelarem insuficientes paraassegurar uma nutrição adequada dos vegetais ou acorrecção dos solos, são necessárias medidas comple-mentares. Contudo, só podem ser utilizados os fertili-zantes orgânicos ou minerais enumerados na Parte A doAnexo II do regulamento, que inclui, essencialmente,minerais naturais pouco solúveis e não obtidos por sín-tese química.

Por último, podem ainda ser utilizados para melhorar oestado geral do solo ou a disponibilidade de nutrientesno solo ou nas culturas preparados de microrganismos,não geneticamente modificados, desde que a necessi-dade de tal utilização tenha sido reconhecida peloEstado-Membro em causa.

A protecção das plantas contra os parasitas e as doen-ças, bem como a eliminação de ervas daninhas, devemser efectuadas de forma a evitar ao máximo a utilizaçãode produtos fitossanitários. Desde logo, a protecção dosvegetais deve ser assegurada, em primeiro lugar, pelaescolha de espécies e variedades naturalmente resisten-tes, por programas de rotação das culturas, por proces-sos mecânicos de cultura, pelo combate às infestantespor meio do fogo e pela protecção dos inimigos naturaisdos parasitas (por exemplo, sebes, ninhos, etc.)11.

Está, contudo, previsto que, em caso de perigo imediatopara a cultura, possam, em determinadas condições, serutilizados os produtos fitossanitários enumerados naParte B do Anexo II do regulamento. Essa lista autorizaa utilização de quatro categorias de produtos: determi-nados produtos de origem animal ou vegetal, produtos àbase de microrganismos, determinadas substânciasobrigatoriamente utilizadas nas armadilhas ou distribui-dores e, por último, outras substâncias utilizadas naagricultura biológica já antes da adopção do Regula-mento (CEE) n.° 2092/91.

10 Parte A, ponto 2, do Anexo I do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

11 Parte A, ponto 3, do Anexo I do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

12 Parte A, ponto 1, do Anexo I do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

13 Parte A, ponto 4, do Anexo I do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

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A agricul tura biológica › 13

O período mínimo de transição em caso de passagem daagricultura convencional para a agricultura biológica éde 2 anos (antes da sementeira) para as culturas anuais ede 3 anos (antes da primeira colheita) para as culturasperenes, com excepção dos prados. Esse período podeser prolongado ou encurtado em função dos anteceden-tes culturais. As condições para que o período de con-versão seja prolongado ou encurtado são definidas pelosEstados-Membros12.

Por último, o Anexo I do regulamento precisa que a col-heita dos vegetais que cresçam espontaneamente naszonas naturais, florestas e zonas agrícolas é equiparadaa um método de produção biológico, desde que as terrasem causa não tenham recebido, durante três anos, pro-dutos proibidos na agricultura biológica e que a colheitanão afecte a estabilidade do habitat natural e a sobrevi-vência das espécies13.

85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 est12

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Evolução da superfície média das explorações biológicas em relação àtotalidade das explorações

superfície média das explorações biológicas

Linear (superfície média das explorações biológicas)

Fonte: Lampkin, 1999 - Eurostat

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14 ‹ A regulamentação comunitária

Produção animalA Parte B do Anexo I do Regulamento (CEE)n.° 2092/91, tal como alterado, em 19 de Julho de 1999,pelo Regulamento (CE) n.° 1804/99, fixa as regrasmínimas relativas à produção biológica animal. OsEstados-Membros podem adoptar, ao abrigo do artigo12º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91, regras maisrigorosas para os animais e produtos animais produzi-dos no seu território.

De acordo com os princípios gerais aplicáveis à produ-ção animal biológica14, deve ser respeitado o princípioda complementaridade entre solo e animais. Fica, por-tanto, excluída a produção sem terra ('production horssol')15. O vínculo ao solo implica igualmente que os ani-mais tenham acesso a áreas ao ar livre e que a densidadede animais por hectare seja limitada16.

O reconhecimento de um princípio de separação obrigaainda a que todos os animais de uma mesma unidade deprodução sejam criados de acordo com as regras de pro-dução biológica17. Só são aceites derrogações se foremfornecidas garantias suficientes de que não é possívelqualquer confusão entre produção biológica e produçãoconvencional.

A Parte B do Anexo I do Regulamento (CEE)n.° 2092/91 fixa ainda regras relativas ao período deconversão e à origem dos efectivos18. Há dois tipos deperíodos de conversão é de dois tipos: a conversão dasterras agrícolas destinadas à produção animal e a con-versão do modo de produção dos animais.

Aquando da constituição do efectivo, deve ser prestadaespecial atenção à escolha das raças, de modo a que estasse adaptem o melhor possível ao meio e sejam resistentesa determinadas doenças. Os animais devem ainda provirde explorações que respeitem as regras da agriculturabiológica, devendo, durante toda a sua vida, ser criadosde acordo com as regras de produção biológica.

Foram igualmente adoptadas prescrições relativas à ali-mentação dos animais19. Esta alimentação deve ter sidoobtida segundo o modo de produção biológica e, de pre-ferência, na própria exploração. A alimentação natural

ocupa um lugar de destaque. Deste modo, todos osmamíferos devem ser alimentados com leite naturaldurante um período mínimo fixado no Anexo I do regu-lamento. Foram igualmente definidas regras precisaspara a composição da ração diária e as matérias-primas eoutras substâncias utilizadas nos alimentos dos animais.

Quanto aos princípios aplicáveis à profilaxia e à assis-tência veterinária20, é conferida prioridade à prevenção.As medidas a tomar, para além da escolha das raçasadequadas, incidem na utilização de práticas de produ-ção animal susceptíveis de reforçar a resistência dosanimais, na utilização de uma alimentação adequada ede qualidade, e na manutenção de uma densidade deanimais adequada.

Contudo, se estas medidas se revelarem insuficientespara evitar a ocorrência de uma doença, certos trata-mentos mais naturais (como os tratamentos fitoterapêu-ticos e homeopáticos) devem ser privilegiados em rela-ção aos antibióticos e aos medicamentos veterináriosalopáticos, susceptíveis de deixar resíduos nos produ-tos. Estes últimos tipos de tratamento podem, todavia,ser prescritos em certas condições, se se revelaremindispensáveis para curar o animal. Por último, é estrita-mente proibida a utilização de substâncias destinadas aestimular o crescimento (como as hormonas) ou a con-trolar a reprodução.

14 Parte B, ponto 1, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

15 Parte B, ponto 1,2, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

16 Parte B, ponto 1,4, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

17 Parte B, ponto 1,5, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

18 Parte B, pontos 2 e 3, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

19 Parte B, ponto 4, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

20 Parte B, ponto 5, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

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A agricul tura biológica › 15

O regulamento fornece ainda prescrições relativas aobem-estar dos animais21: certas práticas, tais como ocorte da cauda ou de dentes, o corte de bicos e o cortede chifres, estão sujeitas a autorização, que só pode serdada por razões de segurança, higiene, saúde ou bem-estar dos animais. Em princípio, é proibido manter osanimais amarrados, e as condições de alojamentodevem, de modo geral, responder às necessidades fisio-lógicas e etológicas dos animais. Para o efeito, são esti-puladas normas muito precisas sobre as característicasque os edifícios de alojamento devem apresentar. Por último, os animais devem ser transportados demodo a que o seu bem-estar seja sempre respeitado e aque o stress seja reduzido ao mínimo22.

O caso específico da apiculturaO Regulamento (CEE) n.° 2092/91 é igualmente aplicá-vel à apicultura. Contudo, como esta produção é muitoespecífica, as regras de produção foram estabelecidasseparadamente, na Parte C do Anexo I.

É possível destacar dois princípios específicos:• Em matéria de produção apícola, o período de con-

versão é de apenas um ano23; • A localização dos apiários deve obedecer a uma série

de regras. Deste modo, as fontes de néctar e de pólendisponíveis num raio de três quilómetros em redor dalocalização do apiário devem ser constituídas essen-cialmente por culturas que respeitem o modo de pro-dução biológico ou culturas submetidas a tratamentosde baixo impacto ambiental. Além disso, os apiáriosdevem estar suficientemente distantes de quaisquerfontes de produção não agrícola susceptíveis de cau-sar contaminação (como, por exemplo, centros urba-nos, aterros sanitários, incineradores de lixos, etc.)24.Os Estados-Membros podem proibir a produção demel biológico em determinadas regiões ou em deter-minadas zonas que não satisfaçam estas condições.

Regras relativasà transformação de produtosagrícolas biológicos em géneros alimentícios

As regras relativas à transformação são enunciadas noartigo 5º em articulação com o Anexo VI do regula-mento.

A regulamentação comunitária estabelece um equilíbrioentre a procura de produtos tão naturais quanto possívelpor parte dos consumidores e a necessidade de ter emconta, simultaneamente, a necessidade de uma gamasuficientemente vasta de géneros alimentícios apresen-tados sob a denominação de “biológico” e as limitaçõestecnológicas inerentes à actividade de transformação.

O Regulamento (CEE) n.° 2092/91 limita fortemente,mas não exclui totalmente, os ingredientes de origemnão agrícola (aditivos, aromatizantes, água, sal, prepara-dos à base de microrganismos e minerais)25, bem comoos auxiliares tecnológicos26, indispensáveis à preparaçãode géneros alimentícios a partir de produtos agrícolas deorigem biológica. A lista dos produtos autorizados natransformação de produtos biológicos consta dasPartes A e B do Anexo VI do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

Para além destas restrições, o artigo 5º proíbe o recursoa organismos geneticamente modificados e a tratamen-tos ionizantes. Além disso, e a fim de evitar qualquerrisco de fraude, é proibida a utilização concomitante domesmo tipo de ingrediente obtido pelo modo de produ-ção biológica e pelo modo de produção convencional27.

21 Parte B, ponto 6.2, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

22 Parte B, ponto 6.2, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

23 Parte C, ponto 2, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

24 Parte C, ponto 4, do Anexo I do Regulamento (CE)n.°1804/99.

25 Parte A do Anexo VI do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.26 Parte B do Anexo VI do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.27 N.° 10 do artigo 5º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.

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16 ‹ A regulamentação comunitária

Por último, a utilização de ingredientes agrícolas de ori-gem convencional está limitada a determinadas percen-tagens e ao caso de o ingrediente em causa não seencontrar disponível produzido por um método de pro-dução biológico. Estes ingredientes estão enumeradosna Parte C do Anexo VI, mas os Estados-Membrospodem conceder autorizações nacionais28.

Rotulagem e logotipocomunitário para a agriculturabiológica

RotulagemA rotulagem, tal como a publicidade, só pode fazerreferência ao modo de produção biológico se for clara-mente indicado que se trata de um modo de produçãoagrícola. O produto em causa deve estar em conformi-dade com o disposto no Regulamento (CEE)n.° 2092/91. Por último, o operador deve ter sido sujeitoàs medidas de controlo previstas no regulamento,devendo ser indicados o nome e/ou o número de códigodo organismo certificador29.

A regulamentação tem em conta o teor do produto emingredientes de origem agrícola biológica para determi-nar em que medida pode ser feita referência ao modo deprodução biológico.

Deste modo, a rotulagem e a publicidade de um géneroalimentício30 só podem conter, na denominação devenda, referências ao modo de produção biológica se oproduto contiver pelo menos 95% de ingredientes obti-dos pelo modo de produção biológico. Assim, os produ-tos podem conter até 5% de ingredientes produzidos demodo convencional, desde que se trate de produtos nãodisponíveis (certos frutos exóticos, por exemplo) oudisponíveis em quantidade insuficiente no mercadocomunitário de produtos biológicos. A lista dos ingre-dientes autorizados consta da Parte C do Anexo VI doRegulamento (CEE) n.° 2092/91.

Os produtos que contenham 70 a 95% de ingredientesobtidos pelo modo de produção biológico podem bene-ficiar de uma menção a este modo de produção na listade ingredientes, mas não na denominação de venda31.Às indicações relativas ao modo de produção biológicoconstantes da lista de ingredientes não pode ser confe-rido maior destaque do que às outras indicações da listade ingredientes. A percentagem de ingredientes obtidospelo modo de produção biológico deve obrigatoria-mente ser indicada.

No caso de produtos que contenham menos de 70% deingredientes de origem agrícola biológica, não pode serfeita qualquer referência ao modo de produção bioló-gico nem na rotulagem nem na publicidade do produto.

Entretanto, a regulamentação comunitária prevê a pos-sibilidade de mencionar o período de conversão32. Comefeito, podem ser apostas, nos produtos de origem vege-tal que respeitem as prescrições do Regulamento (CEE)n.° 2092/91 e relativamente aos quais o operador setenha submetido às medidas de controlo, indicaçõesrespeitantes à conversão para o modo de produção bio-lógica – “produto em conversão para a agricultura bio-lógica”.

Contudo, para tal as parcelas em causa devem estar emconversão há pelo menos doze meses. Além disso, asindicações não devem ser susceptíveis de confundir osconsumidores. A possibilidade de fazer referência aoperíodo de conversão tem por objectivo ajudar os

28 Artigo 3º do Regulamento (CEE) n.° 207/93 da Comis-são, de 29 de Janeiro de 1993, que estabelece o conte-údo do anexo VI do Regulamento (CEE) n.° 2092/91relativo ao modo de produção biológico de produtos agrí-colas e à sua indicação nos produtos agrícolas e nosgéneros alimentícios e estatui normas de execução do pre-ceito do n.° 4 do seu artigo 5º; JO n.° L 25 de 2.2.1993,p. 5-10.

29 N.°s 1, 3 e 5A do artigo 5º do Regulamento (CEE) n.°2092/91.

30 N.° 3, alíneas a) e b), do artigo 5º do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

31 N.° 5A, alínea a), do artigo 5º do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

32 N.° 5 do artigo 5º do Regulamento n.° 2092/91.

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A agricul tura biológica › 17

produtores na sua fase de transição para o modo de pro-dução biológico, período geralmente marcado porimportantes investimentos, permitindo-lhes, nomeada-mente, valorizar a sua produção após o primeiro ano.

O logotipo e a indicação de controloO Regulamento (CEE) n.° 2092/91, tal como alteradopelo Conselho em 199533, previa a possibilidade de aComissão Europeia desenvolver um logotipo específicopara o modo de produção biológico, bem como umaindicação de controlo, para explicitar que o produto emcausa foi submetido ao regime de controlo.

Em Março de 2000, o Regulamento (CE) n.° 331/2000da Comissão definiu o logotipo em causa, cujo objec-tivo consiste em aumentar a credibilidade dos produtosbiológicos aos olhos dos consumidores e facilitar a suaidentificação no mercado.

O logotipo não é obrigatório. Por conseguinte, os produ-tores podem utilizá-lo, a título voluntário, desde que osseus produtos satisfaçam as condições da sua utilização.

O logotipo e a indicação de controlo só podem ser apos-tos em determinados produtos abrangidos pelo Regula-mento (CEE) n.° 2092/91, nomeadamente aqueles quesatisfaçam as condições seguintes34:• contenham pelo menos 95% de ingredientes produzi-

dos pelo modo biológico,• tenham sido submetidos, ao longo de todo o processo

de produção e de preparação, ao regime de controloprevisto no regulamento; isto significa que os opera-dores responsáveis pela produção agrícola, a trans-formação, o acondicionamento e a rotulagem dosprodutos estão sujeitos a este regime de inspecção,

• sejam vendidos directamente em embalagens seladasou colocados no mercado como géneros alimentíciospré-embalados,

• ostentem, no rótulo, o nome e/ou a designação dafirma do produtor, preparador ou vendedor, bemcomo o número de código do organismo de controlo.

O Regulamento (CE) n.° 331/2000 estipula as condi-ções de apresentação e de utilização do logotipo comu-nitário. O logotipo aposto deve ser conforme aos mode-los constantes do anexo do regulamento.

Por último, o logotipo comunitário e as indicaçõesinerentes devem ser utilizados de acordo com as regrasde reprodução técnica enunciadas no manual gráfico.

33 Regulamento (CE) n.° 1935/95 do Conselho, de 22 deJunho de 1995, que altera o Regulamento (CEE)n.° 2092/91, relativo ao modo de produção biológicode produtos agrícolas e à sua indicação nos produtosagrícolas e nos géneros alimentícios; JO n.° L 186de 5.8.1995, p. 1-7.

34 Artigo 10º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91 e Regula-mento (CE) n.° 331/2000 da Comissão, de 17 deDezembro de 1999, que altera o anexo V do Regula-mento (CEE) n.° 2092/91 do Conselho, relativo ao modode produção biológico de produtos agrícolas e à sua indi-cação nos produtos agrícolas e nos géneros alimentícios; JO n.° L 48 de 19.2.2000, p. 1.

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18 ‹ A regulamentação comunitária

PublicidadeO Regulamento (CEE) n.° 2092/91 prevê igualmenteque a publicidade dos produtos da agricultura biológicarespeite determinadas condições35, a fim de não pôr emcausa os esforços de transparência desenvolvidos emmatéria de rotulagem dos produtos.

Neste contexto, importa lembrar a Directiva84/450/CEE do Conselho36, relativa à publicidade enga-nosa e comparativa, que proíbe a publicidade susceptí-vel de induzir os consumidores em erro e de prejudicara concorrência. Esta directiva prevê ainda que os Esta-dos-Membros se dotem de meios adequados e eficazespara proibir este tipo de publicidade.

Livre circulação no interiorda Comunidade Europeia

Todos os produtos que respeitem o disposto na regula-mentação comunitária relativa à agricultura biológicapodem, em conformidade com o princípio do mercadoúnico afirmado no Tratado de Roma, circular pelo terri-tório da União Europeia, quer tenham sido produzidosna União, quer tenham sido importados de países tercei-ros. Isto significa que um Estado-Membro não pode,por razões que se prendam com o modo de produçãobiológico e com a apresentação deste modo de produ-ção na rotulagem ou na publicidade, proibir ou restrin-gir a sua comercialização, se o produto em causa respei-tar as condições enunciadas no regulamento em causa37.

Inspecção

Atendendo à importância de assegurar um máximo decredibilidade ao sector da agricultura biológica, o regu-lamento introduziu várias medidas relativas à inspecçãodos operadores activos no sector.

Notificação prévia da actividade às autoridadescompetentes do Estado-Membro (artigo 8º)Os operadores que produzem, preparam ou importamde países terceiros produtos obtidos pelo modo de pro-dução biológico devem notificar a sua actividade à auto-ridade competente do Estado-Membro em que a exer-cem38. Essa notificação deve permitir identificar, nome-adamente, as parcelas cultivadas de acordo com o modode produção biológico e obter o compromisso explícitodo operador de respeitar as disposições do regulamento,bem como o nome do organismo de controlo encarre-gado do controlo da exploração.

Estabelecimento de um regime específico de controlopelos Estados-MembrosO regulamento impõe aos Estados-Membros o estabele-cimento de um regime de controlo, operado por uma ouvárias autoridades públicas e/ou por organismos priva-dos aprovados39. Os Estados-Membros devem aindadesignar uma autoridade responsável pela concessãodas aprovações e pela supervisão dos organismos priva-dos de controlo aprovados, no caso de terem optado poreste tipo de regime. Esta autoridade tem, nomeada-mente, a obrigação de supervisionar os organismos decontrolo, a fim de se certificar da sua capacidade paraproceder aos controlos previstos e de garantir a reali-dade e a objectividade dos controlos. Por outro lado,através dessa autoridade ou do sistema de acreditação,os Estados-Membros certificam-se da conformidadedos organismos privados com a norma EN 45011 (ouISO 65). Esta norma, def inida pela OrganizaçãoComum Europeia de Normalização (CEN), enuncia asexigências a satisfazer pelos organismos de certificaçãopara garantir que as suas certificações sejam efectuadasde forma sólida e credível.

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A agricul tura biológica › 19

Medidas de controlo Os operadores que, no âmbito de uma actividadecomercial, produzam, preparem ou importem produtosagrícolas ou géneros alimentícios que refiram o modode produção biológico devem submeter-se ao regimeespecífico de controlo instaurado pelo Estado-Membro.O regime de controlo é objecto de disposições porme-norizadas mínimas, constantes, nomeadamente, doAnexo III do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.

• Medidas de controlo aplicáveis aos agricultores 40

O sistema de controlo prevê a obrigação de o agricultore o organismo de controlo elaborarem uma descriçãopormenorizada da unidade. Essa descrição deve, nome-adamente, permitir identificar os locais de produção ede armazenagem, as zonas de colheita, os planos deestrumação e, eventualmente, os locais em que se reali-zam determinadas operações de transformação e/ou deacondicionamento. Devem ainda ser descritas as medi-das tomadas para garantir o respeito da regulamentaçãocomunitária. Após a elaboração da descrição, o produ-tor deve comunicar anualmente ao organismo o seu pro-grama de produção de produtos vegetais, discriminadopor parcelas.

Os produtores devem manter uma contabilidade porme-norizada, a fim de permitir uma rastreabilidade óptimados produtos. No caso da produção de produtos biológi-cos de origem animal, os produtores devem ainda com-prometer-se a manter um registo que forneça uma visãointegral do sistema de gestão do efectivo. Destes “regis-tos da exploração pecuária” devem constar as entradas esaídas de animais, por espécie, as eventuais perdas deanimais, a alimentação e os tratamentos veterinários uti-lizados.

No caso de uma produção biológica e uma produçãoconvencional coexistirem numa mesma exploraçãoagrícola, o produtor em causa deve separar, de formainequívoca, as parcelas e os locais de armazenagempara cada tipo de produção. Não é permitida a cul-tura/criação, segundo modos diferentes, de variedadesidênticas de vegetais ou de raças idênticas de animaisna mesma exploração. O controlo realizado pelo orga-nismo incide em toda a exploração, incluindo os locaisdestinados à produção de produtos convencionais.

35 N.°s 1, 3, 5 e 5A do artigo 5º e n.° 2 do artigo 10º doRegulamento (CEE) n.° 2092/91.

36 Directiva 97/55/CE do Parlamento Europeu e do Con-selho de 6 Outubro de 1997 que altera a Directiva 84/450/CEE do Conselho, de 10 de Setembrode 1984, relativa à publicidade enganosa e compara-tiva; JO n.° L 250 de 19.9.1984, p. 17-20.

37 Artigo 12º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.38 Artigo 8º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.39 Artigo 9º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.40 Parte A do Anexo III do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.

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20 ‹ A regulamentação comunitária

O organismo de controlo deve efectuar, no mínimo,uma inspecção anual no local em cada exploração. Estainspecção pode ser completada por inspecções inopina-das. Por ocasião destes controlos, o organismo verificao respeito da regulamentação, procedendo, se for casodisso, a colheitas para determinar a eventual utilizaçãode produtos proibidos.

• Medidas de controlo aplicáveis às unidades de prepa-ração de géneros alimentícios a partir de produtosbiológicos41

As unidades de transformação e de acondicionamentode produtos biológicos devem obedecer aos mesmosprincípios de identificação, acompanhamento e contabi-lidade. O princípio da separação dos locais de transfor-mação, armazenagem e acondicionamento é impostoigualmente aos operadores que procedem à manipula-ção de produtos de origem biológica e de produtos deorigem convencional.

• Medidas de controlo aplicáveis aos importadores deprodutos obtidos pelo modo de produção biológico42

A regulamentação aplicável ao controlo dos importado-res tem igualmente por objectivo assegurar a vigilânciados movimentos dos produtos importados de países ter-ceiros, ao nível dos lotes, exigindo, nomeadamente, aidentificação completa dos produtos (por quantidade,natureza, origem). As informações relativas ao trans-porte e ao destinatário dos produtos devem ser coloca-das à disposição do organismo de controlo.

• Sanções aplicáveis em caso de não respeito da regu-lamentação comunitária43

Quando observa uma irregularidade, o organismo decontrolo manda proceder à desclassificação dos lotesem causa, ou seja, os produtos em causa deixam depoder ser vendidos com a menção “biológico”. Estamedida pode ser agravada em caso de infracção mani-festa ou prolongada: com efeito, neste caso o operadorem causa pode ser proibido de produzir ou comerciali-zar produtos biológicos durante um período a determi-nar pelo organismo de controlo. A aplicação destasmedidas é antecipadamente aceite pelos operadoressubmetidos a este regime de controlo, que assinam umcontrato com o organismo em causa. A autoridade com-petente em cada Estado-Membro deve tomar conheci-mento das irregularidades e/ou infracções observadaspelos organismos privados de controlo44.

• Regras relativas ao transporte

Os produtos agrícolas que ostentem referências aomodo de produção biológico só podem ser transporta-dos em embalagens ou contentores fechados de modo aimpedir a substituição do seu conteúdo45.

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A agricul tura biológica › 21

Outras medidas necessárias para impedir a utiliza-ção fraudulenta das indicações relativas ao modo deprodução biológicoO Regulamento (CEE) n.° 2092/91 prevê ainda a obri-gação de os Estados-Membros adoptarem todas asmedidas necessárias para evitar a utilização fraudulentadas indicações relativas ao modo de produção bioló-gico46. Esta disposição implica que as actividades decontrolo desenvolvidas no âmbito do regime específicode controlo sejam completadas, se necessário, pelaacção das autoridades públicas de cada Estado-Mem-bro.

Regime de importação

A comercialização de produtos biológicos provenientesde países terceiros deve observar um processo de aná-lise da equivalência das regras aplicadas nestes paísesno domínio da agricultura biológica47. As regras aplica-das no país terceiro devem oferecer garantias equivalen-tes às da regulamentação comunitária. O objectivo destaexigência é o de garantir a credibilidade do mercadodos produtos biológicos, bem como uma concorrêncialeal entre produtores comunitários e produtores de paí-ses terceiros. Contudo, a análise da equivalência só seaplica no caso de os produtos em causa se destinarem aser comercializados sob a designação de “biológicos”.

Para poder avaliar a equivalência, a Comissão procede auma análise aprofundada da regulamentação do paísterceiro em causa, no que respeita às regras aplicáveis àprodução e à eficácia das medidas de controlo em vigor.Quando conclui pela equivalência, a Comissão inscreveo país terceiro numa lista de países autorizados, o queimplica que os produtos obtidos pelo modo de produçãobiológico provenientes desses países podem ser impor-tados e circular livremente na União Europeia. Actual-mente, constam dessa lista a Argentina, a Austrália, aRepública Checa, a Hungria, Israel e a Suíça48.

Ademais, os lotes importados devem ser acompanhadosde um certificado de controlo, emitido pela autoridadeou organismo competente do país terceiro, que atesteque o lote foi produzido de acordo com as regras deprodução e de inspecção cuja equivalência foi reconhe-cida49.

Foi, no entanto, instaurado um sistema paralelo, a vigo-rar até 2005, que permite aos Estados-Membros emitirautorizações de importação para lotes originários depaíses terceiros que não constam da lista comunitáriaestabelecida pela Comissão50. Neste caso, incumbe aoimportador provar que os produtos em causa foramobtidos de acordo com regras de produção equivalentesàs estabelecidas pela regulamentação comunitária eforam objecto de medidas de inspecção tão eficazes

41 Parte B do Anexo III do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.42 Parte C do Anexo III do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.43 N.° 9 do artigo 9º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.44 N.° 5, alínea c), do artigo 9º do Regulamento (CEE)

n.° 2092/91.45 Parte A.1, ponto 8, Parte B, ponto 6, e Parte C, ponto 8,

do Anexo III.46 N.° 2 do artigo 10º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.47 N.° 1 do artigo 11º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.48 Regulamento (CEE) n.° 94/92 da Comissão, de 14 de

Janeiro de 1992, que estatui as regras do regime deimportação de países terceiros previsto no Regulamento(CEE) n.° 2092/91, relativo ao modo de produção bioló-gico de produtos agrícolas e à sua indicação nos produ-tos agrícolas e nos géneros alimentícios; JO L 11 de 17.1.1992, p. 14-15.

49 N.° 1, alínea b), do artigo 11º do Regulamento (CEE)n.° 2092/91.

50 N.° 6 do artigo 11º do Regulamento (CEE) n.° 2092/91.

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22 ‹ A regulamentação comunitária

como as aplicáveis aos produtos comunitários. Emseguida, os Estados-Membros comunicam à Comissãoe aos demais Estados-Membros qual o país terceiro equais os produtos para que emitiu uma autorização.

Este sistema é especialmente importante para produ-ções específicas, controladas a nível regional ou local,provenientes de países terceiros em que a produção bio-lógica não está enquadrada por legislação nacional ougeneralizada à totalidade dos produtos agrícolas (plan-tações de café ou de chá num determinado país, porexemplo).

Fonte: Lampkin, 1999

Repartição das “terras biológicas” pelos diferentes Estados-Membros

1. F 45%

2. D 25%

3. UK 6%

4. A 6%

5. I 5%

6. DK 4%

7. Outros 9%

1985 1998

1. I 27%

2. D 16%

3. A 12%

4. E 10%

5. S 9%

6. F 8%

7. Outros 18%

1

2

3

4

5

6

7

1

2

3

4

5

6

7

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Colaboração entre a Comissãoe os Estados-Membros naaplicação do regulamento

A fim de permitir uma aplicação uniforme do regula-mento, os Estados-Membros colaboram estreitamenteentre si e com a Comissão.

O Comité PermanenteEssa colaboração é exercida, em primeiro lugar, no seiono Comité Permanente instituído pelo artigo 14º doregulamento. Este Comité, composto por representantesdos Estados-membros e presidido por um representanteda Comissão, emite pareceres sobre os projectos apre-sentados pela Comissão, para regulamentos de aplica-ção ou de actualização que a Comissão está mandatadapara adoptar51. A Comissão só pode adoptar sozinha asmedidas previstas se o parecer do Comité for favorável.Se o parecer do Comité não for favorável, o Conselhodeverá intervir para adoptar a medida em causa. Alémdisso, o Comité, ou os grupos de trabalho que este cons-tituir, discutem regularmente as questões levantadas noâmbito da aplicação do regulamento.

Informações obrigatórias entre os Estados-Membrose a Comissão e relatórios periódicosA fim de optimizar a colaboração entre os Estados-Membros e a Comissão, o regulamento prevê o intercâm-bio sistemático e regular de determinadas informações.

Nomeadamente, sempre que um Estado-Membroobserve uma irregularidade relativa à utilização dasindicações respeitantes ao modo de produção biológicoou do logotipo num produto proveniente de outroEstado-Membro, deve informar imediatamente oEstado-Membro que designou o organismo de controloe a Comissão52.

Os Estados-Membros devem informar anualmente aComissão das medidas tomadas com vista à execuçãodo regulamento. Designadamente, os Estados-Membrosque tenham optado por um regime de inspecção comrecurso a organismos privados devem apresentar anual-mente a lista dos organismos de controlo aprovados,bem como um relatório sobre a supervisão desses organismos.

51 ver ponto 1 supra.52 N.° 1 do artigo 10º A do Regulamento (CEE)

n.° 2092/91.

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24 ‹ Alguns elementos de ref lexão sobre a evolução da regulamentação

Alguns elementos de reflexão sobre a evolução da regulamentação

Com o Regulamento (CEE) n.° 2092/91, o sector daagricultura biológica dotou-se de um instrumento quelhe permite afirmar a sua especificidade e obter a credi-bilidade necessária para se posicionar no mercado dosgéneros alimentícios. Desde então, registaram-se pro-gressos significativos, ao nível tanto do sector da agri-cultura biológica como da política agrícola comum.Estes progressos, como, aliás, certas disposições tem-porárias (como, por exemplo, o n.° 6 do artigo 11º),impõem que, em breve, seja empreendida uma reflexãoacerca da pertinência da revisão de algumas disposiçõesde base do regulamento.

Desde 1991, a agricultura biológica deixou de ser umsector marginal, confinado ao mercado local, paraentrar no comércio nacional, intracomunitário e interna-cional, através, designadamente, da grande distribuição.As medidas de notificação e de controlo e as categoriasde operadores que a elas estão sujeitas devem ser ree-quacionadas neste novo contexto.

Por outro lado, a agricultura convencional está, dealguns anos a esta parte, cada vez mais sujeita a regrasestritas em matéria de protecção do ambiente e de bem-estar dos animais. Esta evolução conduz a novas abor-dagens e novas metodologias, como as da agriculturaintegrada53. O sector da agricultura biológica terá, pois,de posicionar-se em relação a estes novos desenvolvi-mentos e reconsiderar as regras de produção a aplicarpara manter uma identidade específica significativa-mente diferente da agricultura convencional.

53 A Organização Internacional de Luta Biológica e Inte-grada (OILB) desenvolveu a definição e as directivas técnicas para a produção integrada. Sucintamente, a produção integrada é definida como um sistema agrí-cola de produção de alimentos e de outros produtos dealta qualidade que utiliza recursos e mecanismos de regulação naturais para substituir substâncias prejudiciaisao ambiente, assegurando uma agricultura viável a longo prazo.

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Variáveis Dinamarca (1988) Alemanha (1992–1993) Suíça (1989–1991)

biológica tradicional biológica/ biológica tradicional biológica/ biológica tradicional biológica/tradicional (%) tradicional (%) tradicional (%)

Número de 36 - 101 444 34 34explorações

SAU (ha) 28 29 97 35 35 100 15 15 100Número de ETI 1,75 0,99 175 1,75 1,56 112 2,45 2,03 121

Rendimentos do trabalho 8 527 6 903 124 11 909 11 258 106 13 191 14 046 94(em ECU/ETI)

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Em geral, as análises demonstram que a agricultura bio-lógica requer um maior volume de trabalho. SegundoPadel e Lampkin55, o utilização de mão-de-obra, medidaquer em horas prestadas, quer em unidades de trabalhoa tempo inteiro, é, em regra geral, mais elevada nasexplorações biológicas do que nas explorações tradicio-nais equivalentes, pelo menos no Norte da Europa.

No quadro seguinte, Padel e Lampkin comparam asnecessidades de mão-de-obra, a preços constantes, combase em estatísticas agrícolas da OCDE. De um modogeral, a mão-de-obra ocupada, expressa em equivalentetempo inteiro (1 ETI = 2 200 horas), é superior nasexplorações biológicas. Os rendimentos do trabalho,medidos por ETI, são sempre superiores neste tipo deexplorações, excepto na Suíça, onde são ligeiramenteinferiores (-6%), apesar da sua importância em valorabsoluto (11% superiores aos da Alemanha, 55% supe-riores aos da Dinamarca).

Outros estudos revelam que a agricultura biológicarequer mais mão-de-obra devido, principalmente, àstarefas manuais e mecânicas indispensáveis às culturas.A preparação dos produtos para venda na exploração ouno mercado exige também mais trabalho nas explora-ções biológicas.

Agricultura biológica: uma maior densidade de emprego54

54 Fonte: Patrick Hau e Alain Joaris, L’agriculture biologique,(Eurostat).

55 Padel S., Lampkin N., 1994. Farm-level performance ofOrganic Farming Systems, em Lampkin N., Padel S. (eds):The economics of organic farming. An international pers-pective, CAB International, Wallingford.

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26 ‹ Anexos

Anexos

Anexo I. – Princípios de produção biológicanas exploraçõesA.Vegetais e produtos vegetaisB.Animais e produtos animais das seguintes espécies:

bovinos (incluindo as espécies bubalus e bison), suí-nos, ovinos, caprinos, equídeos e aves de capoeira

C.Apicultura e produtos da apicultura

Anexo II. – Produtos que podem ser utilizadosna agricultura biológicaA.Fertilizantes e correctivos do soloB.Produtos fitossanitáriosC.Matérias-primas convencionais para a alimentação

animalD.Aditivos para a alimentação animal, certas substân-

cias utilizadas na alimentação dos animais (Directiva82/471/CEE) e auxiliares tecnológicos utilizados nosalimentos para animais

E. Produtos autorizados para limpeza e desinfecção doslocais e instalações de pecuária (por exemplo, equi-pamentos e utensílios)

F. Outros produtos

Anexo III. – Exigências mínimas de controlo e medi-das de precaução previstas no âmbito do regime decontrolo a que se referem os artigos 8º e 9ºA.Explorações agrícolasB.Unidades de preparação (transformação, acondicio-

namento, rotulagem) C.Importadores de produtos obtidos pelo modo de pro-

dução biológico

Anexo IV. – Dados da notificação da actividadeà autoridade competente

Anexo V.A.Indicação de conformidade com o regime de controlo B.Logotipo comunitário e manual gráfico

Anexo VI. – Transformação de produtos agrícolasobtidos pelo modo de produção biológico e prepara-ção de géneros alimentíciosA.Ingredientes de origem não agrícola autorizadosB.Auxiliares tecnológicos e outros produtos susceptí-

veis de ser utilizados durante a transformação C.Ingredientes de origem agrícola convencional autori-

zados

Anexo VII.Produção animal biológica. Quadro de orientação rela-tivo ao número de animais por hectare equivalente ànorma de estrumação de 170 kg de azoto por hectare

Anexo VIII.Produção animal biológica. Superfícies mínimas inte-riores e exteriores e outras características do alojamentopara as diferentes espécies e tipos de produção

Anexo AAnexos técnicos do Regulamento (CEE) n.° 2092/91

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Processo previsto no n.° 1do artigo 11ºArgentina AustráliaHungriaIsraelRepública ChecaSuíça

Processo previsto no n.° 6do artigo 11ºÁfrica do SulArábia SauditaBelizeBirmâniaBolíviaBósnia - HerzegovinaBrasilBulgáriaBurquina FasoCabo VerdeCamarõesCanadáChileChinaChipreColômbiaComoresCosta do MarfimCosta RicaCroáciaCubaEgiptoEquadorEslováquiaEstados UnidosEtiópiaFilipinasGabãoGâmbiaGanaGuatemalaGuinéGuianaHondurasÍndiaIndonésiaJamaica

JapãoJugosláviaMadagáscarMalaviMarrocosMauríciaMayotte MéxicoNamíbiaNepalNicaráguaNova ZelândiaPapuãsia – Nova GuinéPaquistãoParaguaiPeruPolóniaQuéniaRepública DominicanaRepública ChecaRoméniaRússiaSalvadorSeichelesSérviaSri LancaTailândiaTogoTongaTunísiaTurquiaUgandaUcrâniaUruguaiVanuatu VietnameZâmbiaZimbabué

Anexo BLista dos países cujos produtos de origem agrícola biológicasão importados na União Europeia

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Anexo CAs diferentes versões do logotipo comunitário

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Comissão Europeia

A agricultura biológica

Luxemburgo: Serviço das Publicações Oficiais da Comunidades Europeias

2000 – 28 p. – 21.0 x 29.7 cm

ISBN 92-894-0367-5

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Comissão EuropeiaDirecção-Geral da Agricultura

SERVIÇO DAS PUBLICAÇÕES OFICIAISDAS COMUNIDADES EUROPEIAS

L – 2985 Luxembourg

3KF-32-00-912-PT-C