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GUIA DE ESTUDOS DA
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL
DA SAÚDE
XI UNISIM
2017
APRESENTAÇÃO
Queridas delegadas e delegados,
Sejam bem-vindas e bem-vindos a XI edição da UNISIM-RN, mais especificamente,
ao comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS). É com muita honra que nós recebemos
vocês em nosso comitê para discutir dois temas imprescindíveis para a comunidade
internacional, quais sejam “A preservação da saúde mental dos indivíduos envolvidos em
emergências humanitárias” e “A influência da indústria farmacêutica no tocante ao combate à
AIDS no continente africano”.
Nesta edição, teremos a oportunidade de discutir esses problemas e refletir sobre as
causas, os efeitos e as prevenções pertinentes, além de como os Estados em conjunto podem
atuar. De acordo com o primeiro capítulo de sua constituição, a OMS tem por objetivo
primário a obtenção, por parte de todos os povos do mundo, do maior nível de saúde
possível, fazendo com que essa organização assuma sua posição de liderança em questões
globais referentes à saúde pública, Com isso, cabe, agora, a vocês, como delegadas e
delegados, buscarem o melhor para a humanidade.
Nós, da mesa diretora, estamos ansiosos para poder auxiliá-los no processo de
discussão em busca de solucionar esses problemas tão alarmantes. Desejamos que vocês
tenham um excelente processo de estudo e que isso resulte em um estimulante debate em
nosso comitê. Mas, para que possam nos conhecer melhor, segue abaixo uma breve descrição
das loucas e dos loucos por trás desse comitê.
Beatriz de Azevedo Gomes
Saiam da frente que a louca dos signos chegou! Acham que
estou exagerando? Caso um dia venham a se conhecer, ela não
vai te stalkear, talvez nem pergunte seu nome; mas, certamente,
ela procurará sua data de nascimento para saber se rola mesmo a
interação. Capaz de só se dirigir a palavra a você depois que
você revelar todo seu mapa astral, para evitar qualquer tipo de
conflito, principalmente se você for ... Xá pra lá. Nossa
calourinha está cursando o 1º período de Direito na UFRN. É
doce, sensível, linda e simpatissíssima, resumindo, ela é um verdadeiro amor de pessoa (até
ela descobrir o seu signo e então definir que você tem um signo de terra, ou seja, não pode ser
amigx dela, porque ela é água e água com terra dá terra molhada, ou seja, Lua em Sandy e
Junior. A partir desse momento ela te odiará eternamente!). Brincadeiras astrológicas à parte,
Bia veio para encher nosso comitê com toda sua luz e brilho, alegria e sorriso, voz e coração.
Eu falei voz? Nossa sereia canta como ninguém, só para terminar de matar azinimiga de
inveja e conquistar ainda mais os corações de todos a sua volta.
Beatriz Costa da Silveira Barreto Também conhecida como "a Bia que parece a Cléo Pires",
Beatriz Costa é uma das serumaninhas lacradoras que fazem
parte do comitê da OMS da XI UNISIM. Meiga e emotiva, ela
está sempre disposta a conversar com os amigos, jogar uma
polêmica partida de uno e admirar a fofura dos milhares de
gatinhos que moram na UFRN. Rainha da ginástica rítmica, Bia
não hesita em mostrar a sincronia e animação dos seus
movimentos nas festas que frequenta, principalmente quando
quando o fundo musical é bom funk. Mas não enganem: a
sensibilidade e a descontração são apenas algumas das características da pisciana do nosso
comitê. Acima de tudo, essa jovem recém-convertida ao vegetarianismo se notabiliza pela sua
inteligência e pelo empenho com que defende aquilo em que acredita.
Bruno de Oliveira Simonetti
Marinho Vamos abrir a roda, enlarguecer para entrar o #TheBoss desse
comitê do amô. Um ser de luz, compreensivo, calmo e bem-
humorado certamente não são adjetivos que se encaixam muito
bem no nosso estudante do 4° período de Direito na
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Bruno Simonetti
Marinho. Ele divide seu tempo entre os estudos (?), os amigos
(??), cinquenta mil projetos (como uma pessoa tem tanto
tempo???) e os golpes nossos de cada dia. Com um talento especial para críticas, nosso
companheiro de luta se empenha em trazer pelo menos uma discórdia por dia, no maior estilo
#100TretasDays. Toda montada na base do glitter, nossa RuPauls versão piorada, Inês Brasil
fora do salto, é toda trabalhada nos comentários sarcásticos e na manipulação dos
coleguinhas. Como se não bastasse, também, é o secretário acadêmico da OMS, tarefa que
concilia com as tentativas constantes de tirar a #pas dos coleguinhas. Causando discórdia por
onde passa, a vida do nosso #CompanheiroDeLuta é cheia de jogos de uno, tretas e músicas
de Zeca Baleiro. Altamente canceriana, a querida é rancorosa e vingativa mexxxmo e
centraliza tudo também, mas, apesar tirações de juízo, é aquele ditado né, tem muito amor
envolvido!
Emanuelle Campbell Campos Felix
Agora que o tapete vermelho já foi estendido, podemos proceder
a apresentação de Emanuelle Campbell. Estudante do 4º período
de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Manu concilia (não sabemos como) a vida de professora, aluna,
chefe do lar e amiga de Bruno (amiga ou companheira de luta?).
Como a diretora acadêmica da OMS e, portanto, mais próxima
do deus da discórdia – Bruno Marinho – Emanuelle intercede
por nós junto a ele, para nossa eterna alegria e gratidão. Além
disso, quando se junta ao namorado na pista de dança, se prepara que lá vem close certo (e
muita inveja branca!). Mas nem tudo são flores. Leonina com ascendente em Áries (e somente
a exposição desse fato já me faz temer por minha vida), nossa querida Manu pode ser bem
bruta, não se amedronta nem mesmo diante de um professor de penal peladeiro. No entanto,
devido a uma forte influência canceriana em seu mapa astral, tem o coração bem mole, então
não temam! Nesse coração enorme sempre cabe mais um.
João Luis Macêdo Silva Cardoso Agora, senhorxs delegadxs, é chegada a hora de conhecer
ninguém menos que ELE, o nosso diretor assistente, podendo ser
previamente intitulado de #DireFofo, mais conhecido como João
Luís (só João para os íntimos, ok? Ok). O fofíssimo é estudante
do 4º Período no curso de Direito da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, tem 18 anos, é aquariano e o seu estado
civil é #solteiro. Manas, venham que esta é a oportunidade de
conhecer esse dire mais de perto! Autointitulado de
"excêntrico", ou melhor dizendo, #diferentão, o nosso querido João usa o seu tempo livre para
desenhar mangás, escutar uma boa música (vale lembrar que o nosso #direfofo prefere as
internacionais, ou seja, nada de aldair playboy pro lado dele), além de venerar a sua diva pop,
ela mesma, aquela que adora uma SUPER BASS, a própria Nicki Minaj. Quem o vê de longe,
já pode sentir o amorzinho em pessoa que ele é. No facebük, João é aquele que ama
compartilhar fotos de doguinhos e deixar seus amigos da rede, conscientes dos seus direitos,
além de procurar sempre desconstruir preconceitos (STEP LESS, JOÃO, I BEG YOU!). Mas,
queridxs delegadinhxs, não se enganem, pois o belíssimo já praticou karatê durante anos,
então, CUIDADO, mantenham o decoro e não façam raiva a ele, pelas caridade.
Júlia Pinheiro Barreto de Souza Eu poderia começar apresentando essa jovem como uma GATA
DE ARRASAR, daquelas que param o trânsito, porém não é
necessário, basta dar uma olhada pra garota que tudo faz sentido
(vou poupar muitos de vocês do trabalho: ela tem namorado,
nem adianta). Júlia Barreto é a real oficial diretora desse comitê
mara, com apenas 19 aninhos, ela cursa o quarto período de
direito na UniRN e ja promete arrasar todos os corações com seu
sorriso meigo e seu jeitinho tímido. Antes que vocês se assustem, ESPEREM EU
TERMINAR O RACIOCÍNIO, essa frô é capricorniana com ascendente em virgem (para
aqueles que sabem sobre signos, EU SEI), but ja marcamos de fazer o seu mapa astral porque
a garota é um anjo, não tem condição ou isso esta errado ou incompleto (inclusive me fez
repensar crenças pq nadaver). O que sabemos sobre a moça é que: ela é amante do mar, tem
um coração bem montado na poesia, é espontânea de um jeito simples, super dedicada e
estudiosa, está sempre pronta pra ajudar, tem um gosto musical "super linear", que inclui
Lana, SOJA e Aviões (???); faz o tipo #GirlPower corajosa e vai com certeza encantar todos
vocês, assim como fez com o resto de nós.
Khadja Vanessa Brito de Oliveira Dizem por aí que se você falar “Oswaldo Montenegro” três
vezes na frente do espelho a nossa diretora Khadja aparecerá
atrás de você com um CD e uma faca na mão, então espero que
você goste do cantor e compositor caso contrário um final feliz
não será fruto desse encontro que te espera. Doutoranda em
fazer playlists para deixar seus amigos felizes, Khadja Oliveira é
uma senhora presa no corpo de uma menina. Mas, olhem lá, a
velhice não a ajudou em nada quando o assunto é paciência, não
demore mais de um minuto para responder às suas mensagens, caso contrário não nos
responsabilizamos pelos danos causados pela fúria avassaladora de 1 metro e 68. Ela e o seu
coração de gelo não acreditam em relacionamentos e seguem a risca a instrução do guia do
mochileiro das galáxias sobre o amor: “Amor: geralmente doloroso, se puder, evite-o”.
Porém, por mais contraditório que seja, ela adora abraços, então, em qualquer oportunidade
que tiver, corra para os braços dessa fantástica fusão da Merida com o Olaf.
Marila Soares Melo Queridos amigos delegados, vocês agora têm a honra de
conhecer Marila Soares, mais conhecida também como Roberta
Pardo, em uma versão melhorada e mais sofrida. Estudante de
direito, do 4° período da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, essa diva dos animes tem como uma das suas missões na
terra disseminar o filme kimi no na wa (se os senhores quiserem ter o mínimo de relação com
essa deusa, é necessário que deem aquela olhada amiga, já que é o melhor filme da vida e já
foi reassistido pela nossa telespectadora favorita pelo menos 13 vezes). Jogadora de uno
vingativa e com traços golpistas (pela convivência com o nosso #TheBoss), ela é detentora de
todo nosso amor, mas se engana quem acha que o sentimento é recíproco. A nossa Deusa de
Cavaleiros do Zodíaco só tem olhos para os jogadores de lol que a fazem sofrer quando
"jogam com a bunda". E não para por aqui. As qualidades da nossa Marila só aumentam.
Além de tudo, ela é uma gênia da astrologia, aquariana com ascendente em leão
(comprovando uma pessoa complicada porém amorzinho), faz o mapa astral de todos os
conhecidos! Mas calma, nem tudo são rosas... alguns signos como libra e gêmeos não têm
uma boa reputação com o nosso docinho de limão. Então senhores, essa mulher é
maravilhosa e a única coisa que me resta dizer é que aproveitem essa joia rara que estao tendo
a oportunidade de conhecer. #AquarianaSemCoração!
Orientadores:
Ângelo José Menezes Silvino1
Pitágoras José Bindé2
1 Mestre em Direito Constitucional e Econômico pelo Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Participante do XXXIV Programa de Intercâmbio do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Professor Substituto da UFRN e da Faculdade
Maurício de Nassau (RN).
2 Doutor em Psicologia Geral e Ecológica pela Eberhard-Kalrs Universität Tübingen – Tübingen, Alemanha.
Professor Associado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Pós-doutor na University of
British Columbia – (UBC), em Vancouver, Canadá. Experiência na área de Psicologia da Gestão Integral de
Riscos e de Desastres; Políticas Públicas, com especial foco em Desenvolvimento Sustentável.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
1 DA ONU ................................................................................................................................ 1
2 DA OMS ................................................................................................................................ 2
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS, INSTITUIÇÕES PRECEDENTES E A
CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA POLÍTICA SANITÁRIA ................................................. 2
2.2 A OMS E A CRISE DO VÍRUS EBOLA ............................................................................ 5
2.3 NOVOS RUMOS E NOVOS DESAFIOS ........................................................................... 6
3. TEMA A: PRESERVAÇÃO DA SAÚDE MENTAL DOS ENVOLVIDOS EM
EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS .................................................................................... 8
3.1 CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO DAS EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS ...... 8
3.1.1 Conceitos para uma gestão integrada de riscos e desastres ...................................... 10
3.1.2 Efeitos psicossociais das emergências humanitárias .................................................. 11
3.1.3 O Marco de Sendai e a gestão integral de riscos de desastres .................................. 12
3.2 O ASPECTO JURÍDICO DA “INTERVENÇÃO” E “NÃO-INTERVENÇÃO” EM
CRISES ..................................................................................................................................... 13
3.2.1 Fatores que afetam o (Des)Equilíbrio em situações de crise .................................... 19
3.3 SITUAÇÃO DE ABANDONO EM CENÁRIOS COMPLEXOS DE EMERGÊNCIAS
HUMANITÁRIAS ................................................................................................................... 21
3.4 PRINCIPAIS TRANSTORNOS QUE AFETAM A SAÚDE MENTAL DE VÍTIMAS DE
EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS ............................................................................................ 25
3.5 PLANOS DE CONTINGÊNCIA COMO ESTRATÉGIA DE RESILIÊNCIA PARA
EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS ..................................................................................... 27
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 29
4.TEMA B: A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NO TOCANTE AO
COMBATE À AIDS NO CONTINENTE AFRICANO ...................................................... 31
4.1 CONTEXTO BIOLÓGICO DA AIDS E DO HIV ........................................................... 31
4.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA AIDS E DO HIV ............................................................. 32
4.3 A AIDS NA ÁFRICA ........................................................................................................ 33
4.4 AVANÇOS ESTRUTURAIS DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA .............................. 34
4.4.1 Desenvolvimento biológico e cenário de investimentos no continente africano ...... 35
4.5 O IMPACTO QUE O VÍRUS HIV EXERCE NA ECONOMIA ..................................... 37
4.5.1 As patentes e o combate ao HIV ................................................................................... 39
4.5.2 “Trips-plus measures” e o interesse dos EUA na proteção das patentes .................. 40
4.6 FINANCIAMENTO DO COMBATE AO HIV NA ÁFRICA ......................................... 42
4.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 46
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 48
1
INTRODUÇÃO
A fim de se compreender e estudar melhor a Organização Mundial da Saúde (OMS) e
seu funcionamento, faz-se necessário também estudar, sob uma ótica geral, a Organização das
Nações Unidas (ONU), tendo em vista que a OMS consiste em agência especializada em
saúde subordinada àquela Organização maior. Portanto, a princípio partiremos de uma
dedução pela qual analisaremos primeiro a ONU com o propósito de atingir a OMS.
1 DA ONU
A Organização das Nações Unidas é uma organização internacional universal de fins
gerais, fundada em 1945, ao fim da Segunda Guerra Mundial frente ao fracasso da Liga das
Nações. Os propósitos desta organização são: manter a paz e a segurança internacionais;
desenvolver relações amistosas entre as nações; realizar a cooperação internacional para
resolver os problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e humanitário,
promovendo o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais; e ser um centro
destinado a harmonizar a ação dos povos para a consecução desses objetivos comuns (ONU,
1945).
É composta por 193 (cento e noventa e três) países, além do Estado do Vaticano e da
Palestina. Para tornar-se membro das Nações Unidas, é conferido a qualquer nação amante da
paz tal direito, desde que aceitem os compromissos dispostos na Carta e que, a critério da
Organização, estiverem aptas e dispostas a cumprir com tais obrigações. Esta Organização
surgiu oficialmente após a ratificação da Carta das Nações Unidas (ONU, 1945), a qual
estipulou seus objetivos essenciais como: a defesa dos direitos fundamentais do ser humano; a
garantia da paz mundial, colocando-se contra qualquer tipo de conflito armado; a busca de
mecanismos que promovam o progresso social das nações e; criar condições para manter a
justiça e o direito internacional (USP, 2010).
No intuito de melhor gerir suas atividades, a ONU decidiu por estabelecer seis órgãos
principais, sendo eles: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Conselho Econômico
e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado (ONU,
1945). Além disso, criou várias entidades especializadas por acordos intergovernamentais e
com amplas responsabilidades internacionais definidas em seus instrumentos básicos nos
2
campos econômico, social, cultural, educacional, sanitário e conexos, vinculados às Nações
Unidas. É nesse contexto que surge a OMS.
2 DA OMS
A Organização Mundial da Saúde traduz-se em uma agência especializada em saúde
subordinada à ONU. Fundada em 1948, seus objetivos, funções e demais dispositivos que
regem sua forma de atuação encontram-se positivados em sua constituição, a qual aponta
como seu objetivo principal o de desenvolver a saúde de todos os povos ao máximo possível
(OMS, 1946). Ela foi assinada por 61 países na época, durante a Conferência Mundial de
Saúde em Nova Iorque, em 22 de julho de 1946.
Antes de iniciarmos uma abordagem sobre a OMS, é fundamental ressaltar os
primeiros acordos de cooperação internacional relacionados à saúde e citar as organizações
que antecederam esta (que é objeto de estudo).
2.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS, INSTITUIÇÕES PRECEDENTES E A
CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA POLÍTICA SANITÁRIA
A primeira Conferência Sanitária Internacional, ocorrida em 23 de julho de 1851, em
Paris, foi convocada com o objetivo de diminuir os danos resultantes da política sanitária de
destaque da época. Nesse tempo, os navios com mercadorias e pessoas eram submetidos a
longos períodos de quarentena, as quais provocavam grandes prejuízos à economia europeia,
por travarem a circulação destes artigos por um tempo prolongado. Fruto dessas discussões
iniciais, originaram-se as primeiras normas regionais ligadas à saúde, em 1892, na sétima
Conferência Sanitária Internacional (SOUZA, 2014).
Com a continuidade das Conferências foi oficializada a primeira Convenção Sanitária
Internacional, em 1903, e nela foi apresentada a necessidade de criação de uma agência de
saúde internacional vinculada aos países europeus, à exemplo das nações americanas que já
haviam estabelecido tratados e agências sanitárias de alcance internacional, um ano antes
(SOUZA, 2014). Assim, em 1907, fundou-se o Instituto Internacional de Higiene Pública, o
qual, a priori, debruçou-se sobre as questões das quarentenas.
Nesse contexto, é possível concluir que a preocupação para com a formulação de
novas políticas sanitárias advieram de dois fatores principais: primeiro, por questões
3
econômicas, pois esse tempo em que os navios permaneciam aportados provocam prejuízos a
quem vendia e também a quem estava à espera do produto e, segundo, em função do clamor
popular por medidas mais eficazes, pois os casos de adoecimento estavam causando uma
tensão constante entre a população, e as quarentenas provocavam a ausência de produtos
essenciais para o convívio diário.
Mais a frente, com o suporte das agências e das conferências se passou, também, a
considerar relevante às intervenções relacionadas aos comportamentos individuais dos
sujeitos enquanto parte da coletividade. Isto é, iniciou-se um estímulo a hábitos ligados a
questões básicas de higiene e precaução de doenças. Dessa maneira, possibilitando menores
custos relacionados à saúde ao Estado (SOUZA, 2014), considerando-se que os gastos com a
prevenção às doenças são substancialmente menores do que com o tratamento da doença em
si.
Em virtude da Primeira Guerra Mundial, seguindo-se a formação da Liga das Nações,
foi formulada uma nova agência responsável pela saúde em alguns países da Europa,
vinculada à Liga. Essa nova agência dispunha como responsabilidades e diretrizes, em suma,
o controle e a prevenção das doenças que tendem a se proliferar rapidamente neste cenário de
grande movimentação de pessoas entre fronteiras.
É importante salientar que o Instituto Internacional de Higiene Pública, em
desconformidade com as demais organizações internacionais existentes na época, não aderiu à
Liga das Nações, isso devido à participação dos Estados Unidos da América como membro, o
qual vetou a fusão por não participar da Liga das Nações (SOUZA, 2014).
Desse modo, o período entre guerras foi marcado pela existência de duas organizações
internacionais, o que ocasionou impasses relativos à existência de duas regulamentações
distintas, afetando práticas ligadas ao comércio e à saúde das populações, pois não ficava
claro qual regulamentação deveria ser seguida. Isso tudo ocorreu apesar de ambas as
organizações terem objetivos semelhantes.
Contudo, devido à Segunda Guerra Mundial os trabalhos voltados a área sanitária na
esfera internacional foram interrompidos e essa situação só veio ser revertida com o fim da
Guerra e fundação da ONU. Assim, por provocação feita pelos representantes do Brasil e da
China, os quais propuseram a criação de uma agência internacional vinculada a essa recém-
formada Organização - que possuiria como objeto de seus trabalhos a saúde internacional -
deu-se princípio à OMS.
4
Em face deste contexto, um fator importante a ser ressaltado é o paradigma gerado a
partir da criação da OMS, isto é, a unificação das várias agências sanitárias que já existiam. A
exemplo disso temos a OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde – que detinha forte
atuação desde 1902, contando com orçamento e estrutura superiores a da recém instituída
OMS, fazendo com que, portanto, reivindicasse autonomia (MATTA, 2005). Assim, durante
a segunda Assembleia Mundial da Saúde, estabeleceu-se um acordo entre as organizações de
forma que a OPAS se tornou, sem a perda de sua identidade, uma Oficina Regional para as
Américas da OMS.
Nessa perspectiva, o mundo se via frente de uma nova organização que tentava se
consolidar, não só como uma agência que buscava assistir seus países membros no que diz
respeito a doenças, mas que também se propunha a realizar intervenções e desenvolver
estratégias e políticas tanto no âmbito sanitário como também no âmbito social. Isto por
entender que a saúde é fundamental para o desenvolvimento econômico e social.
Desde então a Organização Mundial da Saúde tem se encontrado à frente ou, de
alguma forma, envolvida nos grandes avanços na saúde pública, lutando por hegemonia,
reunindo especialistas de alto nível do ramo da saúde, definindo soluções, fornecendo
orientações e mobilizando governos, trabalhadores e parceiros de saúde com o objetivo de
incidir positivamente na saúde das pessoas (MATTA, 2005).
A organização trabalha em estreita colaboração com outras agências das Nações
Unidas, doadores, organizações não-governamentais (ONG), centros de colaboração da OMS
e o setor privado, e contribui para promover a saúde geral das pessoas em todo o mundo.
Além de coordenar os esforços internacionais para o controle de surtos de doenças, a OMS
busca patrocinar programas para prevenir e tratar tais enfermidades.
O objetivo da Organização Mundial da Saúde é de construir um melhor e mais
saudável futuro para todas as pessoas ao redor do mundo (WHO, 2016). Com isso, é
importante salientar que a OMS define saúde como um estado de completo bem-estar físico,
mental e social, e não apenas na ausência de doenças.
Nessa perspectiva, a Organização em tela possui 6 (seis) principais prioridades, sendo
elas: promover a cobertura e a saúde universal; atingir objetivos de desenvolvimento
relacionados à saúde, como trabalhar em desafios inacabados e futuros relativos à
maternidade e à saúde infantil, ao combate contra o HIV, a malária, a tuberculose, além de
completar à erradicação da poliomielite e de uma série de doenças tropicais negligenciadas;
enfrentar o desafio das doenças não transmissíveis e da saúde mental, violência, lesões e
5
deficiências; assegurar que todos os países possam detectar e responder a ameaças agudas à
saúde pública nos termos do Regulamento Sanitário Internacional; aumentar o acesso a
produtos médicos (medicamentos, vacinas, diagnósticos e outras tecnologias sanitárias) de
qualidade, seguros, eficazes e acessíveis; abordar os determinantes sociais, econômicos e
ambientais da saúde como meio de promover os resultados de saúde e reduzir as
desigualdades sanitárias dentro e entre os países (WHO, 2016).
A OMS é composta por 194 (cento e noventa e quatro) Estados-Membros, todos os
membros da ONU, com exceção de Liechtenstein, Niue e Ilhas Cook. Dentro da Organização
também é possível ser um Membro Associado, o qual tem alguns direitos limitados, ou
possuir a posição de Observador. Esses Estados-membros nomeiam delegações para a
Assembleia Geral da Saúde, e essa analisa as políticas de financiamento do órgão e o
orçamento proposto.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde abarca de atuação superior a época de
sua fundação, tendo em vista sua ampliação de 55 países membros para os atuais 194. Em
função disso, sua atuação de monitoramento e intervenções possuem dimensões mundiais e é
considerada a principal agência de índices, conhecimentos e práticas direcionadas à saúde.
Por fim, cumpre destacar que os acordos e convenções adotadas pela Assembleia só
passam a vigorar quando possuem consonância com a legislação interna de cada Estado
membro, e essas convenções e acordos devem se limitar as competências da OMS, em suma,
assuntos concernentes à saúde. Em síntese, o papel da Organização Mundial da Saúde no
âmbito da ação sanitária internacional, é o de elaborar uma legislação sanitária internacional,
como também, de conduzir ações em favor da saúde global (BATISTA, 2002)
2.2 A OMS E A CRISE DO VÍRUS EBOLA
No ano de 2014, a Organização Mundial da Saúde enfrentou um dos seus maiores
desafios enquanto organização internacional responsável pela saúde ao deparar-se com a
epidemia da doença pelo vírus Ebola (DVE).
O surto teve princípio no mês de março, do referido ano, na República de Guiné e
rapidamente se espalhou para os países vizinhos, como Serra Leoa, Libéria e Nigéria. Ao
mesmo tempo, um segundo foco separado surgiu na República do Congo, em que se foi
identificado uma cepa diferente do vírus. Por meses, o vírus foi transmitido sem chamar a
atenção das autoridades, levando à morte centenas de pessoas.
6
A gravidade da situação foi tamanha que a OMS decretou essa epidemia como
Emergência Sanitária Internacional, instituto o qual só foi invocado outras duas vezes desde
2009, com a gripe aviária na Ásia, e em maio de 2014 devido ao desenvolvimento da
poliomielite no Oriente Médio. Nesse mesmo sentido, atestando a gravidade da situação a
então Diretora Geral da OMS declarou, na época, não só que se tratava da emergência em
saúde pública mais grave dos tempos atuais, como também, a posteriori, admitiu sérias falhas
ao lidar com o surto do ebola na África Ocidental.
Os países dessa região, que padeceram durante décadas com guerras civis, estavam
agora enfrentando – sem os recursos necessários – a morte de milhares de pessoas por causa
de uma epidemia. Fragilizados e impossibilitados de enfrentar o surto e suas consequências,
limitaram-se a dependência da ajuda humanitária internacional de organizações como o
Médico Sem Fronteiras e a Cruz Vermelha, ao passo que o mundo entrava em alerta máximo
e preparava seus planos de contingência (SAMPAIO; SCHÜTZ, 2016).
Um grande exemplo da falta de proficiência da comunidade internacional no
enfrentamento do surto de Ebola foram os relatos de casos em que os pacientes dos centros de
tratamento de DVE estavam sem receber comida e água. Fato este que provocou grande
comoção e revolta entre os pacientes, culminando em uma fuga em massa de pacientes
sintomáticos, o que ajudou a disseminar ainda mais a doença (SAMPAIO; SCHÜTZ, 2016).
Nesse contexto, essa epidemia ficará marcada na história da humanidade como a
maior e mais complexa já registrada, alcançando o número de mais de 28 mil infectados e
mais de 11 mil mortos até a primeira quinzena de outubro de 2015. Nessa epidemia, por
vezes, os direitos humanos consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(DUDH) foram desrespeitados, principalmente o direito à saúde e à liberdade. Países como
Guiné, Libéria e Serra Leoa, que por anos sofreram com guerras civis, enfrentavam agora um
inimigo invisível que deixaria gritantes cicatrizes.
2.3 NOVOS RUMOS E NOVOS DESAFIOS
No ano de 2017, a OMS tomou um rumo sem precedentes e hoje navega por águas
jamais exploradas. Após uma década de gestão, a chinesa, Margaret Chan, deixa seu cargo de
Diretora Geral da Organização Mundial da Saúde e cede sua posição ao ex-ministro etíope da
saúde, Tedros Adhanom. É, portanto, a primeira vez que um africano dirigirá essa
organização.
7
O novo chefe da organização estabelece como prioridades a efetivação da cobertura
universal da saúde e garantia de fortes respostas em situações de emergência, ele assume o
cargo em meio a fortes críticas quanto a forma de atuação da OMS frente a crise do vírus
Ebola na África.
A eleição de Tedros como novo Diretor Geral demonstra uma nova tendência
geopolítica na Organização. Isso porque é a primeira vez que três candidatos disputam o cargo
em questão, depois de anos em que apenas o nome lançado como candidato, geralmente
indicado pelo Conselho Executivo, era submetido à votação da Assembleia. Não só isso, mas
também o ex-ministro etíope era apoiado pela União Africana (UA), demonstrando, dessa
forma, o papel cada vez mais protagonista da UA – e da África – no cenário internacional e na
Organização.
Por fim, vislumbra-se que historicamente as políticas sanitárias foram pautadas
observando critérios econômicos e o bem estar daqueles que ocupam posições de poder,
desprezando e desrespeitando àqueles em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Todavia, sob uma nova ótica do direito internacional e por meio de uma busca cada vez maior
de efetivação de direitos sociais, as políticas de cooperação internacional e o direito à saúde
ganham uma nova roupagem e a Organização Mundial da Saúde não pode deixar de
acompanhar essas transformações, sob o risco de se tornar uma organização caduca.
8
3. TEMA A: PRESERVAÇÃO DA SAÚDE MENTAL DOS ENVOLVIDOS EM
EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS
3.1 CONTEXTUALIZANDO O CENÁRIO DAS EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS
Trazer à discussão o tema “Preservação da Saúde Mental dos Indivíduos envolvidos
em Emergências Humanitárias” implica em elucidar ao leitor certos significados inerentes ao
título: O latim de “preservação” - praeservare - alude à ideia de “guardar de antemão” (de
prae, “antes”; acrescido de servare, “vigiar”). A etimologia da palavra sugere uma espécie de
estratégia para “manter algo a salvo”, ou seja, de adotar previamente algum tipo de “cuidado
especial”, com a finalidade de alcançar, posteriormente, uma maior resiliência, isto é,
aumentando a capacidade dos indivíduos e/ou comunidades para administrar satisfatoriamente
os “efeitos indesejados” de cenários complexos, seja qual for tal situação.
Portanto, o título deste tema se refere diretamente a uma gestão integral dos riscos e de
desastres, para o aumento da resiliência psicossocial em cenários de emergências
humanitárias. Dito isso, o tema em tela carece, ainda, de uma definição mais detalhada acerca
do que se entende por desastre, por ser um conceito ainda muito amplo e impreciso, mas
essencial para a compreensão da complexidade envolvida no cenário dos desastres.
Como se tem conhecimento, durante a história de desastres, no geral, tais eventos
extremos não estão limitados ao mundo contemporâneo. A erupção do vulcão Vesúvio em 79,
que destruiu toda a cidade de Pompeia, e a Peste Negra, epidemia que devastou a Europa no
século XIV, são exemplos de desastres que assolaram a humanidade no passado. Observa-se,
no entanto, que desde meados da década de 1970, segundo a Fundação Oswaldo Cruz [2017],
países e profissionais têm adotado um enfoque mais proativo para prevenir e enfrentar as
consequências de tais acontecimentos, abandonando uma abordagem de caráter simplista, não
contextualizada e fatalista que imperava na comunidade científica internacional.
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) vem atuando mais
insistentemente nos desastres ambientais, por meio de suas resoluções, com destaque para a
sua atuação nos grandes eventos ocorridos como os terremotos que atingiram o Irã em 1962,
além da Iugoslávia e Cuba em 1963.
Isto posto, a década de 1960 pode ser analisada como um período em que medidas
importantes foram tomadas no combate aos desastres. Na década de 70, por sua vez, foram
desenvolvidas ações importantes para a organização da assistência em situações de desastres
naturais que contaram com recomendações aos Países Membros das Nações Unidas, além da
9
instituição do Serviço de Assistência das Nações Unidas de Desastres (UNDRO). Esta
evolução culminou na década de 90, denominada como a “Década Internacional para a
Redução do Risco de Desastres”. Tais movimentos provocaram o desenvolvimento de
diversas taxonomias no que tange à definição de desastre.
Dessa forma, os desastres se deixam agrupar como naturais, que são aqueles
ocasionados por fenômenos naturais (terremotos, erupções vulcânicas, enchentes, por
exemplo), e humanos, que derivam da ação humana (como conflitos armados, acidentes em
plantas industriais). Existem também as chamadas emergências complexas, nas quais se
observa uma combinação de fatores naturais e humanos e diferentes causas de
vulnerabilidade. Mais além, é possível subdividir as crises naturais em geofísicas (terremotos,
tsunamis e erupções vulcânicas), hidrológicas (enchentes e avalanches), climatológicas
(secas), meteorológicas (tornados e tempestades) e biológicas (epidemias).
(HUMANITARIAN COALITION, [2017]).
Porém, faz-se mister salientar que o debate sobre uma possível classificação referente
à origem dos desastres, se de origem da natureza ou se de origem humana, é pouco frutífero
em tempos modernos, visto que tanto a natureza desencadeia impactos no comportamento
humano, como também o comportamento humano impacta diretamente na degradação da
natureza (por exemplo, comportamento de consumo irracional das pessoas na sociedade
moderna interfere diretamente no aquecimento global do planeta).
Outro aspecto preponderante, centra-se no questionamento: de que forma podemos
conceituar uma emergência humanitária? Segundo o United Nations Office for Outer Space
Affairs (UNOOSA) - Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Sideral [2017],
uma emergência humanitária pode ser definida como um evento ou série de eventos que
constituem uma ameaça crítica à incolumidade, à segurança e ao bem-estar de uma
comunidade ou grupo de pessoas, em geral, sobre uma grande área.
Distingue-se, no entanto, emergências de desastres, pois, no primeiro caso, é possível
responder satisfatoriamente às demandas com os recursos disponíveis localmente, ou seja, não
há necessidade de solicitar ajuda externa. No segundo caso, as demandas extrapolam as
capacidades de respostas locais, necessitando, por consequência, de ajuda externa para lidar
com os efeitos dali decorrentes. Nesse sentido, os governos declaram um estado de desastre
ou calamidade como forma de requerer suporte da comunidade internacional para lidar com as
consequências do desastre. (UNOOSA, [2017]).
10
Entre os exemplos recentes envolvendo crises humanitárias, é possível citar o
terremoto que devastou o Haiti em 2010, o Furacão Katrina que atingiu os Estados Unidos em
2005. Igualmente, a tragédia ocorrida na Central Nuclear de Fukushima I, em 11 de março de
2011, causado pelo derretimento de três dos seis reatores nucleares da usina. A falha ocorreu
quando a usina japonesa foi atingida por um tsunami provocado por um terremoto de
magnitude 9,0 (escala Richter). Mais recentemente, a crise dos refugiados sírios, que atingiu
níveis críticos em 2015 e persiste em 2017, já é considerada pela ONU como a “maior crise
humanitária da nossa era”, de acordo com a rede de notícias BBC (2014), pois mais de 4,25
milhões de pessoas foram forçosamente deslocadas internamente na Síria e dois milhões de
sírios estão refugiados no exterior, o que chega a quase um terço da população do país em
uma, por assim dizer, mobilidade forçada.
Nesse contexto, é necessário ressaltar que todas as ações humanitárias são e devem ser
guiadas por quatro princípios basilares, definidos pelo United Nations Office For The
Coordination Of Humanitarian Affairs (OCHA) - Escritório das Nações Unidas para a
Coordenação de Assuntos Humanitários (2012), a saber: a humanidade, a neutralidade, a
imparcialidade e a independência.
A humanidade, por sua vez, é o principal motor propulsor para qualquer ação
humanitária, pois deste prisma se busca proteger a vida e a dignidade humana em momentos
de crise. Pela neutralidade, as ações humanitárias não devem tomar partido em conflitos ou
participar de controvérsias políticas, raciais, religiosas ou ideológicas. Distinções baseadas,
por exemplo, em nacionalidade, raça, religião, gênero, classe social ou opinião política não
são admitidas, pois pelo princípio da imparcialidade a ajuda deve ser oferecida com base
apenas na necessidade, priorizando de forma imparcial os casos de demandas mais urgentes.
Por fim, para manter sua independência, as ações humanitárias devem ser autônomas de
quaisquer objetivos políticos, militares, econômicos e não humanitários que outros atores
sociais possam ter na região que receberá a ajuda.
3.1.1 Conceitos para uma gestão integral de riscos e de desastres
O cenário das emergências humanitárias é extremamente complexo, em decorrência
dos conflitos de interesses (nacionais, expansionistas, políticos, econômicos, bélicos, entre
outros) envolvidos em tais ações, bem como do conjunto de fragilidades dos sistemas sociais
impactados. Para ilustrar esta afirmação, como explicar que, por exemplo, terremotos de
11
mesma intensidade na escala Richter resultem em consequências tão desiguais? Terremotos
com intensidade de 6.5 graus provocaram cinco óbitos na Califórnia-USA, enquanto que na
Armênia esse número chegou aos quarenta mil (CASTRO, 2007).
Para explicar essa discrepância é necessário trazer à discussão o conceito de
vulnerabilidade. Segundo a International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies
- Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho [2017],
a vulnerabilidade de uma comunidade consiste, nos fatores e processos sociais, físicos,
econômicos, políticos e ambientais que a tornam mais suscetível ao impacto de ameaças de
eventos extremos. Quanto mais vulnerável, menor a capacidade do grupo/comunidade de
antecipar, lidar, resistir e de se recuperar do desastre (comunidade mais frágil implica em
maior exposição aos riscos, i.e., comunidade menos resiliente).
Por exemplo, as edificações mais modernas tendem a ser mais resistentes aos impactos
de um evento extremo, como de um terremoto. A história dos desastres demonstra que, em
geral, o potencial de vulnerabilidade de uma comunidade está vinculado à sua situação
socioeconômica, embora esta também seja influenciada por outros fatores já referidos. Da
interação entre as condições de vulnerabilidade e a exposição a determinadas ameaças, é
possível compreender o conceito de risco.
O risco é a avaliação da probabilidade de ocorrência de determinado evento extremo e
a magnitude das prováveis consequências. Desse modo, o conceito de “percepção do risco”
passa a ser essencial para que o indivíduo e a sociedade respondam adequadamente à situação
extrema, influenciando diretamente a noção de “cuidado”. A partir do entendimento
preliminar e contextualização da temática em questão, emerge a necessidade de tratar a
resiliência de comunidades. (Estratégia Internacional para a Redução de Desastres – EIRD,
2004, apud BRASIL, 2010),
Segundo a EIRD (2005, apud BRASIL, 2010), resiliência sugere “a capacidade de um
sistema, comunidade ou sociedade potencialmente exposta a perigos de se adaptar, resistindo
ou mudando, de forma a atingir e manter um nível aceitável de funcionamento e estrutura”.
Para tanto, o sistema deve ser capaz de aprender com os desastres passados para aperfeiçoar a
sua proteção futura e suas medidas de redução de risco, ou seja, sua resiliência.
3.1.2 Efeitos psicossociais das emergências humanitárias
12
Sejam naturais ou humanos, não há dúvida de que esses acontecimentos provocam
efeitos psicossociais nos afetados. A ACT Alliance [2017] define como efeitos psicológicos
aqueles que afetam as emoções, o comportamento, o aprendizado, a memória, os pensamentos
e o próprio modo pelo qual a situação é percebida e compreendida. Já os efeitos sociais
referem-se às alterações provocadas nas relações interpessoais. Uma vez que os eventos
extremos desencadeiam reflexos multissetoriais – ao nível individual, familiar, comunitário e
social -, é necessário adotar um enfoque também multidisciplinar para responder
adequadamente à situação complexa. Nesta visão é que decorre a necessidade de mudança no
modelo de atuação da psicologia em situações extremas de emergências e desastres, que
durante muito tempo concentrou-se apenas na fase do pós-desastre, com ações de socorro,
assistência e reabilitação das pessoas envolvidas.
Com o novo paradigma psicológico (concepção social do desastre), o impacto do
evento extremo é adotado como um processo social que pode levar (ou não) a um cenário de
desastre, influenciado diretamente pela combinação de riscos, ameaças e vulnerabilidades. Em
outras palavras, todo desastre é fruto de um gerenciamento inadequado do evento extremo,
mas nem todo evento extremo se tornará, necessariamente, um desastre. Nesse sentido, um
modelo inovador na psicologia caracteriza-se por ser um modelo de gestão integral de riscos e
de desastres.
Nessa concepção, os psicólogos deveriam atuar em todas as etapas desse processo de
gestão (prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação), para efetivamente
perseguir ações para reduzir o impacto das vulnerabilidades e aumentar a resiliência da
comunidade local, com vistas a minimizar o risco e a magnitude do desastre.
3.1.3 O Marco de Sendai e a gestão integral de riscos e de desastres
Esse novo modelo de gestão integral de riscos e de desastres é orientado pelo Marco
de Sendai para a Redução de Riscos de Desastres 2015-2030, de acordo com a United Nations
(2015), que sucedeu o Tratado de Hyogo. O Marco de Sendai é um plano global de prevenção
de desastres que visa reduzir substancialmente os riscos de desastres em todos os níveis e por
todos os setores. Para tanto, estabelece quatro prioridades: compreender os riscos de
desastres; fortalecer o gerenciamento dos riscos; investir na redução dos riscos e no aumento
da resiliência; além de reforçar a prevenção de desastres para dar respostas efetivas e facilitar
o processo de recuperação, reabilitação e reconstrução.
13
Além disso, por meio do Marco de Sendai se observa uma mudança clara de foco no
gerenciamento do desastre, que antes era feito de forma isolada, para um gerenciamento
integrado e preventivo dos riscos de desastre. A meta é prevenir a criação de riscos, reduzir os
existentes e construir resiliência. Esse gerenciamento não pode ser visto como um setor em si,
mas uma prática que deve ser aplicada em todos os setores, como enfatiza a EIRD (2005,
apud BRASIL, 2010).
No entanto, o Comitê de Oxford de Combate à Fome – Oxfam [2017] expressa
desapontamento quanto ao supracitado documento, que teria falhado em criar compromissos
concretos. Embora apresente maior ênfase no impacto de desastres em grupos vulneráveis,
como mulheres e idosos, o documento peca principalmente na parte financeira (previsão de
orçamento) e em não impor pressão internacional suficiente para que os governos
efetivamente reduzam os riscos de desastres. É crítico, por exemplo, que os países em
desenvolvimento recebam ajuda financeira para lidar com os desastres, uma vez que não
possuem condições de financiar todas as medidas sozinhos.
3.2 O ASPECTO JURÍDICO DA “ INTERVENÇÃO” E “NÃO-INTERVENÇÃO EM
CRISES”
Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social, absoluto e
incontestável, que não reconhece, acima de si, nenhum outro poder. Num dado ordenamento
jurídico, tem soberania quem possui poder absoluto de ação legítima no âmbito político e
jurídico de uma sociedade. (CARRAZZA, 2000, p.89).
Historicamente, o conceito de soberania se fortificou com o Tratado de Westfália, no
qual constou uma série de tratados que encerraram a Guerra dos Trinta Anos, que envolveu
várias nações europeias por motivos como rivalidades religiosas, dinásticas, comerciais e
territoriais. Para Spieler e Herz (2007), esse tratado foi importante para delimitar a soberania
de cada país em seu território, sem que fosse indispensável à destruição de outro Estado ou o
sistema internacional do qual faziam parte.
Dessa maneira, todos os Estados eram atores por excelência e sua soberania era
absoluta, conquanto, após a 1ª Guerra Mundial, ocorreram três modificações em relação ao
conceito de soberania no âmbito internacional, a partir da criação da Liga das Nações, com o
intento de evitar outro grande conflito como o que acabara de devastar a Europa. Tais
mudanças seriam que,
14
[...] (i) os princípios da soberania e independência passaram a ser restringidos
legalmente e por meios institucionais; (ii) o reconhecimento de tais princípios, que
antes eram exclusivos aos Estados europeus, aos Estados da Ásia, África e América
Latina; e (iii) o reconhecimento dos indivíduos como sujeitos internacionais,
transformando, por conseguinte, o conceito tradicional de soberania. (SPIELER;
HERZ, 2007).
A partir disso, os Estados tiveram sua soberania limitada por normas internacionais e,
consequentemente, seus cidadãos tiveram seus direitos assegurados internacionalmente.
No que concerne ao princípio da “não-intervenção”, este, apareceu pela primeira vez
nos escritos dos jusnaturalistas Christian Wolff e Emmerich de Vattel. “[...] Eles valorizam a
soberania do Estado e seu direito de conduzir a política interna sem qualquer ingerência
externa." (SPIELER; HERZ, 2007). Esse princípio, na verdade, objetiva proteger o princípio
da soberania, já que limita a influência que um Estado pode exercer em outro a partir da
abstenção de intervenção. Contudo, a partir da década de 90, a soberania deixou de ser
absoluta, diante do contexto Pós-Guerra Fria, podendo ser temporariamente violada quando
houver graves violações dos direitos humanos. "Isto porque o Conselho de Segurança (CS)
vem entendendo que, em alguns casos, o princípio da não-intervenção comporta exceção a
partir do momento que há graves violações dos direitos humanos ocorrendo em determinado
Estado." (SPIELER; HERZ, 2007).
Nesse arcabouço, enquanto uns defendiam a soberania, outros começaram a defender
cada vez mais a recente ideia de necessidade de intervenção e proteção. No Canadá, por
exemplo, o governo patrocinou uma comissão internacional, denominada International
Commission on Intervention and State Sovereignty (ICISS) – Comissão Internacional de
Intervenção e Soberania Estadual, com especialistas de diversas nacionalidades para discutir a
legitimidade e legalidade de ações de intervenção humanitária. Ao final desta missão, foi
publicado um relatório com as conclusões após os debates, no qual foi introduzido o conceito
de Responsabilidade de Proteger.
Consoante tal conceito, parte da soberania advém da responsabilidade de proteger sua
população de situações de grave risco à vida. Quando a ação do Estado é falha ou negligente
nesse seu dever, ou quando esta ação é a própria causa ou a perpetuadora de guerras internas,
repressões, insurgências e violações, a Comunidade Internacional assume a responsabilidade
de proteger tal população que se encontra em um estado de necessidades inegáveis
(International Commission on Intervention and State Sovereignty, 2001).
Assim, o enfoque da intervenção nos Estados - o qual gera inúmeras controvérsias -,
foi alterado passando para uma Responsabilidade de Proteger, colocando o indivíduo como
centro, pois a soberania deixa de ser apenas autoridade e poder para se tornar uma
15
responsabilidade. Ou seja, os Estados assumiram novas obrigações, como membros das
Nações Unidas, para impedir genocídio, crimes de guerra, limpeza étnica e crimes contra a
humanidade.
Para viabilizar a concretização dessas obrigações, a Responsabilidade de Proteger
utilizar-se-ia de três principais responsabilidades, quais sejam, a responsabilidade de prevenir,
a responsabilidade de reagir, e a responsabilidade de reconstruir. (International Commission
on Intervention and State Sovereignty, 2001). Isso demonstra que, apesar de a ICISS ter sido
criada com o fito de regulamentar determinadas intervenções, há uma tentativa de desassociar
a responsabilidade de proteger com uma mera intervenção humanitária. Essa caracteriza uma
conjunção de respostas entre o Estado e a comunidade internacional, a fim de encarregar-se
tanto da prevenção das violações até a reconstrução, em caso de crises humanitárias.
No entanto, uma crítica muito frequente à responsabilidade de proteger respalda-se no
fato de sua execução não ser livre de interesses dos Estados que intervêm. Levando-se em
conta a força e o poder das grandes potências, é possível uma manipulação do conceito da
responsabilidade de proteger para amparar os interesses de tais países e de empresas
multinacionais ocidentais a eles relacionados.
Vale ressaltar que, além das intervenções entre países, há também intervenções que
partem de organizações. Uma das principais intervenções da Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN), por exemplo, foi a operação militar na antiga Iugoslávia, em 1999.
Nessa ocasião, foram enviadas tropas para reprimir a tentativa de limpeza étnica chefiada pelo
então presidente iugoslavo Slobodan Milosevic contra os albaneses em Kosovo. A
organização também interveio na Guerra Civil da Líbia, em 2011, apoiando a oposição que
almejava a derrubada do governo de Muammar al-Gaddafi.
Quanto às organizações não-governamentais mais conhecidas por suas ações
humanitárias, tem-se a Cruz Vermelha Internacional, os Médicos Sem Fronteiras e a Agência
Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais, os quais trabalham de forma
complementar oferecendo algum tipo de assistência para que as necessidades humanas sejam
satisfatoriamente contempladas.
Outrossim, por exemplo, destacam-se as intervenções após instabilidade político-
social no Haiti, o Furacão Katrina e a Guerra na Síria. Quanto à primeira emergência, após o
terremoto devastador, instalou-se uma implacável epidemia de cólera, a convulsão social que
levou à queda do então presidente Jean Bertrand Aristides e um princípio de guerra civil.
16
No que tange ao Haiti, o país enfrentou por muitas décadas grande instabilidade
política, a qual dificultava a implementação de reformas políticas profundas. O diálogo entre
oposição e governo ficou prejudicado, gerando levantes que ocasionaram na solicitação de
assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica, mantendo a
segurança interna.
Neste cenário de agravamento da miséria, o Conselho de Segurança da ONU
implantou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah). A missão é
liderada pelo Brasil, com atuação do Exército Brasileiro, mas também com soldados de várias
nacionalidades nos últimos 13 anos. Entretanto, de acordo com a UN News Centre (2017b), a
missão de paz chegará oficialmente ao fim no dia 15 de outubro deste ano, visto que os
Estados Unidos da América – EUA cortará as contribuições financeiras às missões de paz da
ONU.
Quanto à segunda, refere-se ao furacão em 2005, com ventos que causaram grandes
prejuízos na região litorânea do sul dos EUA, especialmente em torno da região metropolitana
de Nova Orleans. Foi um dos furacões mais destrutivos a ter atingido os EUA, mas dezenas de
países comprometeram-se com doações em dinheiro ou outras formas de assistência. Essa
emergência serviu como símbolo quanto à importância da gestão integral de risco de desastres
em todo o mundo, de acordo com o chefe do Escritório das Nações Unidas para a Redução do
Risco de Desastres (UNISDR). (UN NEWS CENTRE, [2017a]).
Até o presente momento, a emergência humanitária com maior destaque é em função
dos efeitos impactantes da Guerra na Síria, a qual se iniciou em 2011 com diversos protestos
da população com objetivo de derrubar o presidente do país, Bashar Al-Assad, bem como
para criar um país com maior democracia e liberdades individuais. Devido à repressão das
forças de segurança, os manifestantes foram se mobilizando de maneira mais agressiva,
transformando o movimento em uma revolta armada.
Como resposta do governo sírio, soldados foram enviados para tentar controlar e
desfazer os protestos, transformando-se em conflito entre população e soldados com centenas
de mortes, principalmente, de civis. Com isso, a Cruz Vermelha Internacional e a ONU
classificaram tal conflito, em 2012, como guerra civil, iniciando as cobranças quanto à
aplicação do Direito Humanitário Internacional.
Ademais, a fome e a miséria são armas que também punem a população, juntas do
controle governamental das grandes cidades e das principais estradas do país. Ainda, segundo
17
a rede de notícias BBC, foram feitos ataques químicos que deixaram milhares de mortos e
feridos em 2013 e, mais recentemente, em abril de 2017.
A procedência dos ataques não foi confirmada; entretanto, a oposição acusa o governo
sírio pela autoria, apesar das negações do presidente Bashar Al-Assad. Segundo os dados da
Syrian Centre For Policy Research (2016), a guerra na Síria, até 2015, teve como
consequência pelo menos 470.000 mortos e quase dois milhões de feridos. Por causa da
violência, com medo de serem presas e mortas, milhares de pessoas têm deixado a Síria todos
os dias, nesses últimos anos de guerra.
A crise dos refugiados dominou as manchetes internacionais nos últimos meses,
principalmente, por razão da chegada (“mobilidade forçada”) de milhares de imigrantes à
Europa. A União Europeia, por sua vez, está em busca de soluções para o fluxo crescente de
imigrantes desesperados que chegam diariamente pelo Mar Mediterrâneo. A “solução”
encontrada por muitos países foi ameaçar fechar as suas fronteiras para impedir a entrada do
povo sírio, como ocorreu com a Bulgária, Romênia e Sérvia.
Ainda, em 2015, a Eslovênia anunciou que poderia fechar suas fronteiras
unilateralmente se Bruxelas não oferecesse uma solução para a crise e esse tipo de
comportamento se repetiu nos últimos anos em diversas reuniões da União Europeia. No
entanto, apesar da grande divulgação midiática sobre a entrada exacerbada de refugiados na
Europa, o maior fluxo migratório se dá dentro do país em crise e em países fronteiriços. Aqui
constatado não somente no caso dos refugiados da Síria, mas também em casos gerais de
emergências humanitárias.
De acordo com The UN Refugee Agency (2017b), em português, o Alto Comissariado
das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), há 5.029.562 refugiados sírios registrados,
nos quais:
18
Fonte: Autores.
Ainda segundo dados de The UN Refugee Agency (2017a), atualizados em 16 de
fevereiro de 2017, 13,5 milhões de pessoas estão em estado de necessidade na Síria, 6,3
milhões de pessoas foram deslocadas internamente e 4,7 milhões de pessoas estão em áreas de
difícil acesso. Não obstante, até outubro de 2016, 884,461 de sírios pediram asilo na Europa,
nos quais:
39,8
57,7%
0,5% 2%
Gráfico 1 - Sírios registrados pelo ACNUR até 06 de abril de
2017
Sírios registrados pelo ACNUR no Egito, no Iraque, na Jordânia e no
Líbano (2.000.000)
Sírios registrados pelo governo da Turquia (2.900.000)
Sírios registrados no Norte da África (29.000)
Dado não informado
19
Fonte: Autores.
Isto posto, é notório que os países de primeiro acolhimento são, na maioria das vezes,
regiões próximas aos afetados pelas crises. Esses também passam a enfrentar dificuldades por
conta de toda a conjuntura local, principalmente nos setores de investimento, turismo,
comércio e produção. Vale citar, por exemplo, que uma avaliação sobre o impacto do conflito
no Líbano e na Jordânia mostra que houve um crescimento “da deterioração das economias,
com impacto direto sobre os rendimentos e níveis de pobreza, especialmente entre as
populações mais vulneráveis”. (NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL, 2013).
Apesar disso, todos os países acolhedores devem estar com as fronteiras abertas para
passagem de refugiados, que não podem ser devolvidos “[...]para as fronteiras dos territórios
em que a sua vida ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua religião, da
sua nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões políticas. ” (ONU,
1951).
Além das obrigações legais de receber refugiados e não devolvê-los, derivadas da
Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados (1951), também a União Europeia não pode
responsabilizar países como Grécia, Itália e Hungria pelo fato de estes serem o ponto dos
refugiados de alcance à Europa, visto que o título V, capítulo 2, art. 77º do Tratado da União
Europeia (2007), aduz que a União desenvolve uma política que visa introduzir gradualmente
um sistema integrado de gestão das fronteiras externas.
Portanto, todos os países da UE exercem controle migratório em nome do bloco, não
apenas por um ato de soberania própria. Dito isso, tomando-se como exemplo a emergência
64%
22%
14%
Gráfico 2 - Solicitação de asilo para sírios nos países da
Europa
Alemanha e Suécia
Hungria, Áustria, Países Baixos, Dinamarca e Bulgária
Todos os outros países europeus
20
humanitária para os sírios, em foco na atualidade, e seus efeitos colaterais globais, é possível
concluir que atos como fechar fronteiras - por terra ou por via marítima-, coibir a chegada e
estabelecer cotas extremamente rígidas de entrada de refugiados beiram sim ao instituto da
ilegalidade (além de ferir a solidariedade internacional no que tange aos casos de emergências
humanitárias).
3.2.1 Fatores que Afetam o (Des)Equilíbrio em Situações de Crise
Como já observado, as ações humanitárias são importantes para garantir às vítimas a
não violação de seus direitos, além de prevenir acidentes e garantir o acesso ao básico à
sobrevivência: água, saneamento, alimentação, abrigo e cuidados médicos. Diversas
organizações governamentais e não governamentais atuam nessa perspectiva; porém,
enfrentam determinados obstáculos, desde financeiros até burocráticos e políticos.
Em primeiro lugar, quando se considera o conceito de intervenção humanitária como
sinônimo de uso da força de um Estado (ou grupo de Estados) que atravessa as fronteiras de
outro, para evitar violações graves de direitos humanos, emergem-se lacunas interpretativas
para considerar tal conceito como sinônimo de intervenção militar. A relação entre os
conceitos de intervenção humanitária e intervenção militar pode fazer com que as
organizações não-governamentais que prestam serviços humanitários sejam consideradas
parte de uma estratégia política ou militar, principalmente, quando tais organizações recebem
fundos de governos que também costumam participar dessas intervenções. (CRISES…,
2016). Um exemplo disso foi o assassinato de Osama Bin Laden, em 2011, em que “segundo
relatos na mídia, a CIA estava monitorando a casa há algum tempo, porém só recebeu a
confirmação de que Bin Laden estava no interior da base por meio de uma campanha de
vacinação na qual obteve uma amostra de DNA das crianças na casa. ” (Shah, 2011 apud
CRISES…, 2016).
Em segundo lugar, em alguns casos, há a transformação da ajuda humanitária em um
desenvolvimento de longo prazo. Enquanto o primeiro se refere a uma ação imediata de salvar
vidas de forma independente de interesses governamentais, pautadas nos princípios de
imparcialidade, neutralidade e independência, o segundo envolve um processo político e
econômico com vistas a combater desigualdades estruturais e pobreza. Sendo assim, a
necessidade de autonomia governamental da ação humanitária, bem como o engajamento
político para o desenvolvimento, em longo prazo, se tornam, por assim dizer, conflitantes.
21
Ambos os casos supracitados se encontram em um mesmo destino: Organizações com
finalidade humanitária, ao serem relacionadas com governos, enfrentam dificuldades para
adentrar em algumas áreas de conflito, principalmente, quando o Estado está relacionado, por
exemplo, com a causa dos acontecimentos. Nesses casos, receber ajuda de determinadas
organizações humanitárias poderia ser interpretado, por algum dos grupos conflitantes, como
um ato de “tomar partido”, levando as vítimas, por exemplo, a algum tipo de retaliação.
Além disso, em decorrência dos altos custos com alimentação, medicamentos,
infraestrutura e trabalhadores capacitados e, devido à ocorrência constante de novos conflitos,
se faz necessário pensar em estratégias para obtenção de mais fundos para a causa das
emergências humanitárias. O financiamento de organizações que prestam serviço humanitário
é oriundo de empresas, Estados e doações. Entretanto, geralmente, a quantia arrecadada é
insuficiente, dificultando o cumprimento do objetivo traçado pelas organizações. (NAÇÕES
UNIDAS NO BRASIL, 2015).
Outrossim, as condições locais interferem muito no modo e na possibilidade de
atuação. Regiões de difícil acesso, a inexistência de permissão de atuação por parte de alguma
das partes conflitantes para a realização das ações, bem como a falta de segurança são fatores
que acompanham constantemente o trabalho de voluntários envolvidos nas emergências
(voluntários profissionais ou não). Um exemplo disso ocorreu em 2015, quando alguns países
tentaram negociar com o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS) a deixar a Agência
Infantil da ONU/UNICEF atuar em áreas que os militantes controlavam. (AL ARABYIA
ENGLISH, 2015). Fatos como este favorecem a desistência de atuação dos que estão no
ambiente de confronto e desestimulam novos voluntários a se disponibilizarem para os
serviços humanitários.
3.3 SITUAÇÃO DE ABANDONO EM CENÁRIOS COMPLEXOS DE EMERGÊNCIAS
HUMANITÁRIAS
Entre embates políticos e conflitos ideológicos, os pilares que regem a ajuda
humanitária se moldam cada vez mais para atender as questões particulares e interesses
específicos de certos grupos. Abrindo mão do caráter assistencialista, esse tipo de ajuda sofre
uma ressignificação, se tornando um braço estatal para autopromoção em vez de se tornar
uma ferramenta e estratégia de melhoria social para populações que passaram por situações
traumáticas extremas.
22
De acordo com dados divulgados pela OMS (2017), comunidades expostas a situações
de emergência sofrem uma extensa série de efeitos psicossociais. Do tratamento inadequado,
surgem, também, vícios, como uma consequência da falta de apoio, dentre eles o consumo
excessivo de drogas lícitas e ilícitas, que podem desencadear e/ou potencializar, no futuro,
transtornos mentais graves. Este quadro de transtorno mental pode ser agravado por certos
fatores como o quadro psicológico do indivíduo, o ambiente, o histórico de distúrbios mentais
na família e o uso de substâncias psicoativas. Isso, somado aos transtornos pós-traumáticos e,
igualmente, à falta de assistência humanitária pode desencadear em mortes em massa,
geralmente, ligadas à descrença em melhoras situacionais.
Conforme estabelecido pelo Direito Humanitário Internacional, no que tange aos
ideais de Assistência Humanitária, todos os países constituem uma sociedade na qual o
respeito e proteção à vida são valores primordiais e necessários, de modo que organizações
governamentais e não governamentais (p.ex., a Cruz Vermelha Internacional) têm o dever de
tornar público em suas ações os princípios internacionais e auxiliar em situações de risco,
propiciando uma melhor abordagem para/com as vítimas.
De maneira complementar, o Direito de Genebra (vertente assistencialista dentro do
núcleo de Direito Internacional Humanitário) convenciona ações solidárias sem discriminação
- em casos de intervenção militar internacional ou em situações de risco e/ou desastres-, de
maneira que, independentemente de interesses políticos, econômicos ou religiosos, os
indivíduos que se tornassem vítimas de situações traumáticas extremas (promovidas por
desastres naturais ou por interferência humana) deveriam receber apoio externo pautado na
sempre na ética internacional.
Nesse sentido, a saúde mental em situações de emergência humanitária passa a ser a
peça-chave para o bem-estar geral da população, da sociedade e do país em recuperação
(OMS, 2017). Igualmente, devido aos prejuízos das tragédias e seus impactos dentro de uma
comunidade, as ações humanitárias também podem fornecer subsídios necessários para a
construção de uma sociedade preocupada em desenvolver sistemas locais melhorados no que
se refere à saúde mental (LOPES et al., 2010).
No entanto, ao longo dos anos, o pretexto de ajudar vítimas de desastres tem servido
para articular golpes, alavancar regimes políticos ditatoriais e perseguir inimigos estatais. Por
ação ou omissão, governos estrangeiros beneficiam uma comunidade em detrimento de outra,
como uma forma de impor seu poderio político e econômico, além de estabelecer as formas
de governo e grupos dominantes nos países afetados (CHARLEAUX, 2016). Vários exemplos
23
disso se somam numa história marcada por guerras globais (como a Guerra Fria), que
impulsionaram novos mecanismos econômicos (como a democracia liberal, no caso da guerra
acima citada).
Partindo de uma série de estratégias lançadas na mídia na forma de humanitarismo,
governos e organizações investem milhões de dólares em áreas de crises, gerando um
comércio estruturado (e estruturante), que se utiliza da repressão para controlar problemas,
sem resolvê-los de fato. Por ação ou omissão, governos estrangeiros beneficiam uma
comunidade em detrimento de outra, como uma forma de impor seu poderio político e
econômico, além de estabelecer as formas de governo e grupos dominantes nos países
afetados (CHARLEAUX, 2016). Este paradigma se confirma nas definições de Holzegrefe
(2003, apud WHITTALL; REIS; DEUS, 2016), nas quais Intervenção Humanitária significa
“a ameaça ou uso da força de um Estado [...] que atravessa as fronteiras de outro Estado com
o objetivo de evitar ou dar fim a violações graves e generalizadas dos direitos humanos
fundamentais de indivíduos [...]”. Esse conceito - não podendo ser equivalente ao de
Intervenção Militar -, se porta como uma justificativa dele, dando uma roupagem instrumental
à ajuda humanitária, para a aquisição de fins políticos dentro de organismos internacionais.
Outra face do problema se dá nos conflitos internos, como ocorreu em Ruanda e na
Líbia, nos quais a ajuda humanitária internacional se resumiu ao pouco destaque e críticas
diversas. Numa atmosfera geral, os cenários de devastação são logo esquecidos e as propostas
de reconstrução previstas para esses locais raras vezes são concretizadas. Pautada numa
premissa midiática, a solidariedade global dura apenas o suficiente para gerar lucros que,
como tais, não serão convertidos em melhorias para as regiões afetadas pelo trauma, mas, ao
contrário, servirão para manter a dicotomia entre grandes potências mundiais e países
subdesenvolvidos.
Partindo disso, estabelece-se uma relação, em alguns contextos, entre a manipulação
da ajuda humanitária e a redução e/ou prejuízo da capacidade de resposta às emergências
(WHITTALL; REIS; DEUS, 2016). Mudanças sociais e mudanças no quadro psicológico das
pessoas, tanto nas comunidades atingidas por eventos extremos, como também nos
profissionais envolvidos na causa, são efeitos colaterais decorrentes desta manipulação
intencional, vindo a potencializar um cenário de desastre.
Trazendo como exemplo uma situação já citada anteriormente, o descaso mundial
pode ser observado na questão dos refugiados ao redor do mundo. Distribuídos em campos de
concentração e arcando com a negligência governamental, esses povos sofrem perseguições e
24
ameaças constantes, tanto por parte do país de origem, como daquele no qual estão sendo
abrigados. Em concordância ao que já foi aludido, é necessário frisar que cerca de 175
milhões de pessoas vivendo em condições subumanas sofrem diretamente com os efeitos da
insensibilidade da opinião pública e de líderes mundiais, que não encontram soluções viáveis
para a situação dos refugiados.
É necessário reforçar a ideia de que, em crises como essa dos refugiados, dois
panoramas são identificados: (1) o dos países ricos, que se eximem da responsabilidade com
qualquer uma das comunidades envolvidas no problema; e (2) o de países em
desenvolvimento, que arcam, sem apoio efetivo de organizações internacionais, com os custos
da ajuda e asilo, adentrando, sem força militar suficiente, em Estados com profunda
desregulação social e vulnerabilidade política. Nesse caso, os problemas atingem tanto a
população abandonada quanto o país que prestou a ajuda, considerando que, a partir disso, a
nação doadora fragiliza fronteiras e aumenta as dívidas internacionais para o abrigo de
refugiados.
Segundo a edição de setembro de 2016 do periódico Global Humanitarian Assistance
(FORCED..., 2016), existem alguns fatos acerca dessa questão. Conforme o editorial, o
aumento nos níveis de deslocamento forçado intensifica a necessidade de financiamentos
emergenciais investidos, principalmente, no Oriente Médio e na África (principais origens de
refugiados). Além disso, os países que acolhem os imigrantes detêm, em grande parte, baixas
receitas internas e inquéritos nacionais excludentes que não abrangem, de forma sistêmica, os
refugiados nos quadros de desenvolvimento.
Outro exemplo, também já abordado em tópicos anteriores, de descaso generalizado
pode ser observado no Haiti. País considerado “problemático” pela quase totalidade das
entidades governamentais e não governamentais, que supostamente enviam profissionais e
verba suficiente para a recuperação de áreas devastadas no país, mas sem nunca recuperar
essas áreas de fato, deixando a nação em contínua situação alarmante, o que faz com que ela
seja reincidente no cenário internacional de pobreza e miséria (SÁ, 2017). Tendo os Direitos
Humanos renegados, a população haitiana conta com menosprezo mundial devido às más
relações políticas feitas pelo país e devido à falta de apoio midiático, dando mais uma
demonstração do quanto o humanitarismo faz parte de um complexo jogo de interesses
estadistas.
Do ponto de vista psicológico, os efeitos das situações de emergência humanitária são
os mais diversos possíveis; desde pequenos transtornos mentais até fortes perturbações
25
psicossociais circundam as situações de emergência humanitária. Para tal, a comunidade
envolvida nesses cenários extremos deve ter acompanhamento constante, assim como as
equipes de profissionais, que necessitam de um apoio psicológico para minimizar os efeitos
colaterais daí decorrentes. Dados da OMS (2017) revelam que pessoas que se sentem seguras,
calmas e esperançosas, recebendo assistência, física e emocional, de forma satisfatória, têm
maiores possibilidades de se recuperarem dos efeitos psicológicos decorrentes dos traumas do
desastre.
É diante desses cenários e da perspectiva de superação que os atores sociais
envolvidos se mobilizam de forma a atender, da melhor maneira possível, às vítimas. Como já
citado anteriormente, é importante salientar a necessidade de boas condições de trabalho aos
profissionais da saúde envoltos nessas situações. Expostos à precariedade de um sistema
falido, os sujeitos responsáveis pelo atendimento em áreas de risco também estão propensos
ao desenvolvimento precoce de problemas psicossomáticos. Dentro desse cenário, médicos,
enfermeiros e assistentes se acomodam diante da falta de estrutura e impossibilidade de ação
efetiva em ambiente de trabalho.
Como reflexo de um panorama moderno, conforme Silveira (2011), o Estado e a
sociedade buscam, em um primeiro momento, garantir as necessidades básicas da população
atingida: a instalação de abrigos provisórios para os desabrigados, a viabilização de
alimentação e atenção médica imediata, como comumente acontece em eventos extremos.
Como é possível observar em situações de emergência humanitária - posterior a uma resposta
inicial-, pouca mobilização é feita (no curto, médio e longo prazo), para reparar os efeitos
indesejáveis de determinado evento extremo no cotidiano da comunidade.
No modelo ideal seria necessário incluir medidas e serviços especializados em saúde
mental para prestar à população acometida pelo evento extremo e aos profissionais de
emergências humanitárias, um suporte psicológico de qualidade. Este suporte ajudaria na
descarga emocional e promoveria a solidariedade entre os indivíduos que sofreram algum
trauma.
Entretanto, apesar de alguns avanços no auxílio prestado às vítimas, ainda é preciso
progredir muito no que tange às estratégias preventivas de tais ações. Para tanto, é necessário
somar esforços no sentido de avançar rumo a uma cultura preventiva em emergências
humanitárias, adotando um sentido amplo e democrático nos conselhos em nível de governo e
aproximar/incluir a comunidade na elaboração e no acompanhamento dessa política
(REICHERT, 2011).
26
Na falta de políticas nesse sentido, volta-se ao problema inicial e se torna necessário
frisar, novamente, os quão evidentes são os prejuízos da falta de preparação e do descaso
governamental. Dentro dessa perspectiva o abandono passa a fazer parte do cotidiano de
parcela da população mais vulnerável, ou seja, desprovida de seguridade social. O progresso
atual, em face da reforma da saúde mental (costumeiramente precarizada em áreas de crise),
teria maior efetividade e seria acelerado caso os interesses de curto prazo empreendidos nessa
área de estudo não se restringissem ao movimento pouco dinâmico em áreas de trauma
específicas, mas se expandisse a todas as áreas de desastre no mundo, promovendo uma maior
valorização do panorama psicossocial e integração da psicologia à emergências humanitárias,
visto que, sem essa inclusão, os efeitos negativos são os mais diversos (OMS, 2017).
3.4 PRINCIPAIS TRANSTORNOS QUE AFETAM A SAÚDE MENTAL DE VÍTIMAS DE
EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS
Devido à série de acontecimentos potencialmente traumáticos que envolvem as
emergências humanitárias, é comum o desencadeamento de reações emocionais e cognitivas
muito diversas, podendo até transformar-se, à longo prazo, em transtornos mentais graves.
Destarte, em 2015, foi publicado pela OMS e o Alto Comissariado das Nações Unidas
para Refugiados, um guia do Programa de Intervenção Humanitária para Ação em Favor da
Saúde Mental. Este guia é direcionado aos profissionais da saúde, sem formação em saúde
mental, para que possam melhor identificar e lidar com as necessidades específicas de
populações mais vulneráveis.
Neste guia, são tratados, por exemplo, os aspectos de atendimento em casos de estresse
agudo, luto, transtorno depressivo moderado a grave, transtorno por estresse pós-traumático,
psicoses, epilepsia ou crises epilépticas, deficiência intelectual, consumo nocivo de álcool e
drogas, suicídio e outros sintomas emocionais importantes comuns em cenários de
emergências humanitárias. Ilustrando, casos de estresse agudo, provocado pela sensação de
estar revivendo experiências negativas e o sentimento de ameaça permanente (quando
algumas pessoas passam pela experiência de luto, situação esta ocorrida com grande
frequência em certas emergências humanitárias), é possível que estas pessoas desenvolvam
transtornos físicos sem qualquer causa médica aparente, dificultando o desempenho cotidiano
e gerando profunda tristeza e desolamento.
27
De acordo com a Organização Mundial da Saúde e o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados - World Health Organization e United Nations High Commissioner
for Refugees (2015), o estresse intenso dessas situações desencadeia sentimentos de aflição,
medo, culpa, vergonha e desesperança, baixa autoestima, aumentando o risco de transtorno
depressivo moderado à grave. Como consequência, a pessoa sente grande dificuldade em lidar
com situações simples do dia-a-dia nas esferas pessoal, familiar, social, educativa,
ocupacional, entre outras. Ainda, devido às constantes tensões e medos extremos,
desintegração das fontes de apoio social e da interrupção dos serviços de saúde, é possível
observar o desenvolvimento de psicoses, tornando a pessoa vulnerável a diversas violações de
seus direitos humanos, tais como negligência, abandono, maltrato e estigmatização social.
Além disso, o referido guia também aborda, dentre outros, o problema de excesso de
consumo de álcool, drogas ilícitas e medicamentos, que crescem nessas situações ao oferecer
uma espécie de “escape momentâneo” para os sentimentos e emoções, vindo tal escape a se
perpetuar devido ao contexto de pouca resiliência e muita vulnerabilidade. Além de crises de
abstinência, o uso dessas substâncias gera transtornos comportamentais de risco para a saúde,
problemas familiares ou conjugais, violência sexual e física, negligência e maltrato de
menores, dificuldades econômicas, entre outros exemplos.
Como consequência e risco de agravamento de todos esses transtornos mentais, podem
surgir casos de automutilação e/ou suicídio. O suicídio é um ato derradeiro que pode ser
compreendido pelas pessoas como uma espécie de refúgio, uma fuga para dar fim ao
sofrimento humano. Porém, em tais casos, o suicídio implica em uma perda do sentido
existencial, da autopreservação instintiva, fugindo à racionalidade humana, exigindo dos
profissionais da saúde estratégias para o aumento da resiliência das vítimas.
3.5 PLANOS DE CONTINGÊNCIA COMO ESTRATÉGIA DE RESILIÊNCIA PARA
EMERGÊNCIAS HUMANITÁRIAS
Considerando os efeitos colaterais multidimensionais envolvidos em emergências
humanitárias, faz-se indubitavelmente necessário desenvolver estratégias para o aumento da
resiliência das comunidades atingidas por eventos extremos, cuja finalidade se sustenta na
minimização das potencialidades da configuração de cenários de desastres. Idealizados com o
intuito de serem ações estratégicas promovidas pela e para a comunidade, em conjunto com
organizações de saúde e organizações governamentais e não governamentais, os planos de
28
contingência são formas de preparação para um controle adequado de possíveis situações de
emergência. Para Lopes (2010), esses planos se baseiam em análises de riscos (lê-se “gestão
integral dos riscos”) e aplicação de gerenciamento de cenários de desastres, para um
planejamento logístico e operacional mais eficaz.
A Psicologia, dentro desses contextos multidisciplinares e integrados, se encontra
enquanto meio necessário para a promoção do bem-estar psicossocial, prestando apoio na
esfera individual e/ou coletiva, de modo a gerar mudanças significativas em cenários de crise.
“Considera-se que não há mais possibilidade de recuo desse campo de estudos, levando-se em
conta a desorganização social produzida pelas catástrofes e a bandeira do compromisso social
erguida pela psicologia [...].” (SILVEIRA, 2011).
A preparação, bem como a forma pela qual essas ocorrências serão dimensionadas (ou
seja, previstas) em uma ocasião de emergência – por exemplo, o modo como será executada a
intervenção -, produz efeitos importantes, de modo que, caso esta seja inadequada, pode,
inclusive, acumular os danos para as pessoas atingidas (COÊLHO, 2006 apud TRINDADE;
SERPA, 2013). Do ponto de vista psicológico, os traumas dai decorrentes podem gerar
problemas em diversos setores sociais, provocando desde medos excessivos (fobias), até
problemas com a capacidade de socialização futura.
Desse modo, o enfrentamento das emergências e dos desastres está diretamente ligado
ao engajamento e à preparação da comunidade, ou seja, relacionado à organização da
sociedade civil (REICHERT, 2011). Tendo esse intuito, um plano de contingência deve conter
explicitamente as responsabilidades de cada organização, as prioridades e as medidas iniciais
a serem tomadas, bem como a forma como os recursos disponíveis serão empregados (LOPES
et al., 2010).
Assim sendo, os planos são elaborados com base em diferentes tipos de ameaças, ou
seja, pode existir mais de uma linha estratégica, cada uma sendo especializada em um tipo de
desastre diferente, de modo que vários projetos possam ser elaborados para uma mesma área
física. Conforme RAMÍREZ (2011), essas estratégias se fundamentam nos princípios de
Gestão Integral dos Riscos, mecanismo que agrega “ameaça” e “vulnerabilidade” originando
diferentes tipos de riscos, para os quais são exigidas diferentes perspectivas
multidisciplinares. A partir do mapeamento dos riscos em determinadas regiões, o
planejamento das ações deve ser elaborado previamente, através dos quais órgãos e entidades
devem ter tarefas/funções predefinidas.
Este planejamento estratégico deve conter informações sobre o que deverá ser feito
29
com prioridade/urgência, por exemplo, como se darão os procedimentos de evacuação,
disposição dos abrigos, estratégias de arrecadação de doações etc. Já os psicólogos devem
determinar técnicas de socorro multimodais, como protocolos de atendimento à comunidade
afetada, de modo a promover o fortalecimento da rede social da comunidade e
sustentabilidade de novas redes construídas (LOPES et al., 2010).
Depois de construído em cooperação com a comunidade, o plano de contingência deve
ser testado em conjunto com a população, por meio de simulados que incentivem a percepção
externa a situações de risco em comunidades vulneráveis. O simulado deve ser realizado nas
localidades mapeadas na análise de riscos, com efetiva participação e engajamento popular,
podendo contribuir na redução da vulnerabilidade da comunidade, minimizando os riscos de
formação de cenários de desastres (LOPES et al., 2010). Na realidade, a redução dos riscos
exige uma série de ações amplas de redução das crises de seguridade social em ambientes
vulneráveis, e esse não é propriamente o papel dos simulados.
Esses servem, basicamente, como preparação para respostas rápidas e objetivas que,
como tais, buscam avaliar as ações realizadas e os recursos empreendidos, promovendo a
capacitação e treinamento das equipes para enfrentar adequadamente uma situação de
emergência (BRASIL, 2012). No aspecto psicológico, por em prática aquilo anteriormente
exposto, atesta a preparação da população para situações de emergência. Ao fim dos
treinamentos, o psicólogo deverá analisar novamente o plano do ponto de vista da ação
humana, de modo a realizar as alterações válidas e adequadas para o contexto da comunidade.
Por fim, após a elaboração e aplicação da gestão emergencial antes e durante a crise, é
necessário formular os planos de desmobilização, momento no qual já se tem noções da
dimensão dos efeitos colaterais do evento extremo (ou já de um desastre), número de vítimas,
resultado das políticas de doação, etc. Todos os recursos devem ser desmobilizados - a partir
de um planejamento-, de forma gradual e proporcional à reabilitação dos cenários afetados
(LOPES et al., 2010).
3.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, percebe-se que a área da gestão integral dos riscos de desastres
ainda tem muito a ser explorada e desenvolvida, com vistas a sua efetiva implementação.
As intervenções humanitárias devem sempre ser pautadas pelos seus quatro princípios
básicos (humanidade, imparcialidade, neutralidade e independência), para garantir a sua
30
legitimidade. É inegável que, infelizmente, muitas das ações humanitárias são contaminadas
por outros interesses, colocando o bem-estar social da população afetada em segundo plano. A
flexibilização desses princípios deve ser combatida, a fim de que a ação humanitária
realmente se comprometa apenas com a melhoria social das populações afetadas, em vez de se
portar como um braço estatal.
Observa-se também que, depois de uma ajuda inicial, muitas vezes, o país é deixado a
sua própria sorte no processo de reconstrução. Assim sendo, é fundamental que os países e as
organizações internacionais envolvidas atuem de forma realmente imparcial e solidária e,
principalmente, com eficácia e compromisso a longo prazo.
Nesse aspecto, o plano de contingência se revela como uma ferramenta eficaz ao
gerenciamento integral dos riscos e dos desastres, visto que tal planejamento estratégico pode
alterar sensivelmente a magnitude de um evento extremo, minimizando consideravelmente o
potencial de configuração de um cenário de desastre. Portanto, este novo paradigma de uma
gestão integral de riscos de desastres é uma resposta efetiva que exige a participação e
inclusão de uma equipe multidisciplinar e da comunidade envolvida, norteando também a
preparação dos planos de contingência e as diretrizes do apoio internacional.
A partir desta contextualização e análise crítica do cenário dos desastres, com especial
destaque para a “Preservação da Saúde Mental dos Indivíduos envolvidos em Emergências
Humanitárias”, é possível constatar que a ineficiência governamental para gerenciar os efeitos
indesejáveis decorrentes do desenfreado avanço dos riscos de desastres e o precário
engajamento social são elementos fundamentais para o agravamento do evento extremo em
questão, vindo fomentar a configuração de cenários de desastres no que tange às emergências
humanitárias.
Nesse sentido, emergem alguns desafios futuros advindos de uma base empírica, que
podem servir para trabalhos vindouros, a saber: (1) Como definir uma emergência
humanitária de forma que tal conceito envolva toda a complexidade e as particularidades de
tal cenário? (2) Considerando a gestão integral dos riscos, como os governos locais,
juntamente com a população, podem se preparar de forma mais resiliente, para que um evento
extremo não se transforme em um cenário vulnerável a desastres? (3) Para finalizar, como
uma gestão integral de emergências humanitárias pode se tornar mais eficaz, visto que a sua
ineficácia poderá ser um indicador de desastre?
31
4. TEMA B: A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA NO TOCANTE AO
COMBATE À AIDS NO CONTINENTE AFRICANO
Estima-se que 2,5 milhões de indivíduos sejam infectados pelo vírus da
imunodeficiência humana (HIV) anualmente (DAILY MONITOR, 2016). É, pois,
compreensível que ele tenha sido objeto de inúmeras pesquisas e discussões envolvendo a
comunidade científica global. Há décadas esse vírus tem vitimado pessoas em diversas
localidades, fazendo com que elas desenvolvessem AIDS e, consequentemente, tivessem as
suas funções orgânicas comprometidas. Devido ao impacto que o HIV pode provocar na
saúde dos seus portadores, os debates relacionados a ele passaram a ocorrer em diversos
setores da sociedade, envolvendo, por exemplo, estudiosos da economia e gestores públicos.
Como o continente africano apresenta o maior percentual de pessoas soropositivas, faz-se
necessário analisar os fatores que contribuem para o aumento do número de infecções nos
seus países, bem como os efeitos desse aumento nas esferas social, sanitária e econômica.
4.1 CONTEXTO BIOLÓGICO DA AIDS E DO HIV
A AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é uma infecção causada pelo vírus
HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), tendo como característica principal o surgimento
de outras doenças, consequência do enfraquecimento do sistema imunológico do indivíduo
pelo vírus.
O HIV interfere na eficiência do sistema imunológico humano, atacando as células de
defesa do organismo - os linfócitos TCD4 - e causando uma mutação nessas células que, a
partir de então, não cumprem mais com sua função de defesa e passam a servir de anteparo
para a propagação do vírus. Essa disseminação pode ocorrer de várias formas, já que o vírus é
transmitido, por exemplo, pela troca de secreções entre os seres, tais como sangue, no ato da
transfusão de sangue infectado; por meio de agulhas e seringas contaminadas; sexualmente,
graças a relações íntimas sem uso de preservativo (camisinha); e de mãe para filho, tanto na
amamentação quanto na própria gestação.
A identificação do HIV ocorre a partir de um teste diagnóstico, realizado por meio de
uma amostra sanguínea. Após a contaminação, anticorpos particulares começam a ser
produzidos pelo organismo. Assim, é recomendável que o teste seja feito 60 dias após o
32
possível contágio, pois, se a infecção for muito recente, o nível dos anticorpos pode estar
baixo e haver então uma falha nos resultados.
Dessa forma, é possível que indivíduos sejam portadores do vírus e não manifestem a
síndrome. E, apesar de não apresentarem os sintomas, essas pessoas continuam sendo
veículos de transmissão do HIV. É importante frisar que a AIDS normalmente é exposta
depois de algum tempo que o vírus já está no organismo, pois com o enfraquecimento do
sistema imunológico, diversas doenças se aproveitam para adentrar no indivíduo, sendo estas
denominadas de “oportunistas’’. Esse é um dos motivos que fazem com que a AIDS tenha um
diagnóstico tão difícil, visto que os sintomas que a caracterizam são os mesmos de outras
enfermidades comuns: febre, fadiga, dores de cabeça e musculares são alguns dos vários
exemplos. (ABCMED, 2011).
A AIDS ainda não tem cura, mas há tratamento realizado com antirretrovirais. Tais
drogas inibem a multiplicação do vírus HIV, garantindo uma melhor qualidade de vida para
os seus portadores, mas não erradicam a contaminação. É de suma importância destacar que o
tratamento com antirretrovirais tem um resultado positivo em pacientes com AIDS ou outros
sintomas causados pela imunodeficiência decorrente do HIV e aqueles que iniciam ainda em
fase assintomática têm a possibilidade de atingir uma expectativa de vida próxima do restante
da população. (DEPARTAMENTO DE IST, AIDS E HEPATITES VIRAIS, 2014);
(DOUTÍSSIMA, 2013).
4.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA AIDS E DO HIV
Os primeiros registros da AIDS foram entre 1977 e 1978 na África, Haiti e Estados
Unidos da América. A descoberta da doença por cientistas ocorreu no ano de 1982, ao passo
que a constatação do vírus HIV só ocorreu um pouco mais tarde, em 1984.
(DEPARTAMENTO DE IST, AIDS E HEPATITES VIRAIS, 2004).
A teoria mais aceita atualmente acerca do surgimento de tal enfermidade diz respeito à
interação sanguínea entre um ser humano no continente africano, no início do século XX e um
tipo de chimpanzé. De acordo com essa linha de raciocínio, um vírus que ataca o sistema
imunológico desses animais (SIV), ao entrar em contato com o homem, deu origem ao vírus
responsável por desencadear a síndrome da imunodeficiência adquirida. (SOUSA, [2017]).
A princípio, o reconhecimento da doença era difícil para os cientistas da área. A
enfermidade foi muitas vezes confundida com algum tipo de pneumonia, pela similaridade
33
dos sintomas. No início da década de 1960, a partir das inúmeras guerras de independência
em países africanos, vários indivíduos que habitavam tais territórios se refugiaram em outros
países. À vista disso, a síndrome que antes estava restrita a determinadas regiões do
continente africano passou a se espalhar pelo mundo.
Os primeiros casos da AIDS foram reconhecidos nos Estados Unidos da América, a
partir de um conjunto de sintomas, como Sarcoma de Kaposi e Pneumonia pelo fungo
Pneunocistis carinii. Tais enfermidades já haviam sido conhecidas anteriormente, mas nunca
ao mesmo tempo. A simultaneidade dos fatos foi reconhecida, inicialmente, em homossexuais
do sexo masculino sem histórico de outras doenças, porém não tardou para que se tornassem
comuns os casos em heterossexuais e crianças recém-nascidas. Pelo alto índice de
mortalidade, era recomendado que as pessoas não mantivessem contato com os portadores da
doença, desencadeando muitas noções ilusórias contra determinados indivíduos, infelizmente
até hoje o preconceito contra os pacientes da síndrome perdura. (REVISTA BRASILEIRA
DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS, 2004).
Em 1986, foi aprovada pelo órgão estadunidense de controle sobre medicamentos
Food and Drug Administration (FDA) a primeira droga antiviral, chamada de azidotimidina, a
ocasionou uma suave mudança positiva para os portadores do HIV, diminuindo a mortalidade.
Somente no ano de 1994 um tipo de medicamento começou a tomar destaque com a função de
inibir a proteína protease e com forte efeito antiviral. Os inibidores de protease passaram a ser
usados isoladamente ou em conjunto com o grupo da azidotimidina e, logo em seguida, houve
uma melhora significativa no número de mortes pela AIDS e na qualidade de vida dos
enfermos. Em contrapartida, os coquetéis de medicamentos causavam vários efeitos
colaterais, além de terem um custo muito alto e serem compostos por várias pílulas diárias,
essas características expunham um lado desconfortável e até inacessível (para alguns) dessas
drogas. (REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS, 2004).
4.3 A AIDS NA ÁFRICA
A AIDS na África caracteriza-se como um sério problema social e, nas últimas
décadas, principalmente, a doença vem prejudicando severamente o desenvolvimento do
território africano. O início da contaminação se deu na década de 80, e em 1990 já havia cerca
de 10 milhões de enfermos. Desde então o número de contágios só cresce, hoje estima-se que
aproximadamente 40 milhões de africanos tenham a doença. (FREITAS, [2017]).
34
Dessa forma, o índice de mortalidade é tão alto que afeta negativamente o IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano) no que tange à esperança de vida da população. Além disso, a
síndrome interfere na constituição da PEA (População Economicamente Ativa) dos países,
faixa populacional formada por adultos que estão no mercado de trabalho e que podem gerar
renda. Assim, de acordo com Freitas [2017], a AIDS mostra-se como um problema também
econômico, pois com a diminuição da PEA, os países sofrem para dinamizar a economia
local. A adversidade é tão séria que há estimativas de que até 2020 os países da África
perderão até um quarto da sua força de trabalho.
No entanto, são raras as nações que obtêm sucesso nas suas campanhas de prevenção,
com exceção da Uganda. O país conseguiu reverter sua população afetada de 8% para 5% a
partir de três pilares: abstinência sexual, monogamia e preservativo. Ademais, foram
realizadas também campanhas de informação através do rádio e segundo o presidente Yowei
Kaguta Museveni o sucesso se deu através da educação. (DEPARTAMENTO DE IST, AIDS
E HEPATITES VIRAIS, 2003).
4.4 AVANÇOS ESTRUTURAIS DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Considerando o caráter multifacetado da indústria farmacêutica, intensos
investimentos direcionados a especialidades distintas dentro de uma mesma corporação foram
substituídos ao longo dos últimos anos por uma maior divisão dos agentes científicos. Desse
modo, assim como o modelo fordista de produção que partia do pressuposto de que cada
trabalhador deveria realizar uma atividade determinada e independente das demais etapas da
produção, essa indústria foi crescendo junto a um modelo similar, daí o crescente número de
acordos, alianças estratégicas e de empresas especializadas em algum segmento específico.
Essa nova configuração da indústria tornou-se indispensável para manter uma
competitividade adequada, já que cada segmento diferente possuía agora um líder diferente.
Seja na parte de manufatura, venda, distribuição ou biotecnologia, essa divisão possibilitou
não só a subcontratação de empresas específicas pelas multinacionais como garantiu
especializações mais eficientes dos estágios produtivos e um avanço em termos de
investimento em tecnologia e biotecnologia para o ramo. (RADAELLI, 2007).
Em termos práticos, enquanto em 1990 os estudos de novas drogas eram conduzidos
em 80% dos casos por centros acadêmicos de saúde, pouco mais de dez anos depois 70%
desses testes já eram controlados por empresas terceirizadas. Consequentemente, o que antes
35
era uma indústria estreita e voltada para a química orgânica se tornou uma ampla fonte de
desenvolvimento econômico e biológico. (NOGUEIRA, 2015).
Como base nisso, a indústria farmacêutica é caracterizada pela existência de um
número pequeno de grandes transnacionais e alguns milhares de empresas menores associadas
com pesquisa especializada ou produtos genéricos. A fabricação e comercialização de seus
produtos é permitida somente após pesquisas, descobertas e testes, durando alguns meses ou
anos de investimentos. Levando-se em consideração, também, a violação das patentes, o
crescimento dos produtos genéricos e o atraso nos registros e testes devido à maior
fiscalização dos órgãos de saúde, tem-se como resultado uma interferência direta na balança
comercial das grandes empresas.
Como consequência disso, é possível inferirmos uma mudança em suas diretrizes, isso
porque o foco virou o lucro, que se encontra estritamente ligado ao aproveitamento
mercantilizado dos conhecimentos específicos. Fundamentado nisso, é possível visualizar um
investimento maior em pesquisas de tratamentos caros, já que contraria as curas efetivas que
acabam com o problema em si, estas podem ser de caráter rotativo – com pequenas
modificações nas composições, que encarecem os medicamentos – e asseguram uma
necessidade mais prolongada para os consumidores e uma lucratividade mais prolongada para
a indústria.
4.4.1 Desenvolvimento biológico e cenário de investimentos no continente africano
A química analítica – utilizada para isolar os componentes terapêuticos de plantas – é
tida como abordagem base no desenvolvimento dos medicamentos inovadores para a área da
saúde, sobretudo, entre o final do séc. XIX e o começo do XX nos Estados Unidos e no Reino
Unido. Contudo, com a introdução de estudos mais avançados sobre a química sintética pela
Alemanha e pela Suíça, o que conferiu à Alemanha o abastecimento de 80% do mercado
global dessa indústria até a Primeira Guerra Mundial; e as descobertas estarem ligadas mais a
laboratórios acadêmicos e hospitais universitários do que a projetos do próprio governo, essa
área ganhou duas diretrizes diferentes, uma natural e a outra mais ligada às tecnologias.
(BRITO; PONTES;).
Já nos anos de 1920 com a descoberta da penicilina e a forte eficácia e distribuição em
larga escala da droga durante a Segunda Guerra Mundial (1940), os Estados Unidos
conseguiram superar a liderança alemã e ganhar experiência em pesquisas à base de
36
antibióticos. Logo após, surgiu a Sulfonamida como o primeiro antibiótico testado e aprovado
em humanos e a Talidomina, que apesar de causar diversos transtornos ao sistema de saúde
direcionado às gestantes, iniciou um processo de rigidez e controle tornando os testes clínicos
mais severos e aprimorou milhões de medicamentos já existentes. (NASCIMENTO, 2011).
Contudo, o cenário mundial ainda apresentava milhares de crianças levadas a óbito por
doenças consideradas “básicas” no mundo moderno, como diarreia, pneumonia, tuberculose e
frequentes epidemias de sarampo, varíola, escarlatina, coqueluche e difteria, uma visão que
apesar de drasticamente mudada na segunda metade do século, com a erradicação em diversos
países, mas sobrevivente em continentes inteiros, como a África. Além disso, novos
problemas surgiam, sem soluções até os dias de hoje, como a diabetes tipo 1, a esquizofrenia,
Alzheimer e AIDS.
No caso particular do vírus HIV, investigadores da área confirmaram o surgimento da
Aids na República Democrática do Congo nos anos 1920, contudo, toda questão do vírus HIV
ainda era completamente silenciosa e desconhecida, ou seja, só começaram a ser feitas
maiores investigações médicas e farmacêuticas após sua epidemia na década de 1980.
Mesmo com campanhas a nível mundial e toda a batalha contra o tempo, já que
milhares morrem diariamente, é possível observar a presença dos ideais e interesses
capitalistas, visto que muitas dessas campanhas são utilizadas por empresas como forma de
conferir uma boa imagem ao público e o fator lucratividade (fundamentado no conhecimento
geral de que o capitalismo como sistema econômico e social finda o lucro acima de todas as
coisas). Desde 1997, com a promulgação da lei 90, assinada pelo então presidente Nelson
Mandela, que permite um acesso amplo e a custos menores da população a medicamentos de
doenças infecciosas e para o controle do HIV, há uma disputa entre a África do Sul e 39 das
maiores indústrias farmacêuticas pelo monopólio e fim da lei, evidenciando o cartel presente
nessa indústria.
Outrossim, apesar de já existirem diversos tratamentos e até curas relativamente
“simples” para alguns tipos de DSTs e Hepatites, elas ainda obtêm o maior percentual de
mortes na África. Ainda, apesar de compreender apenas 2% na população mundial, 30% dos
casos de HIV se encontram na região sul-africana, sendo a maior causa de morte do
continente e a quarta no mundo, evidenciando o abandono referente a essa região.
Segundo a OMS (2011), apenas 4% dos remédios registrados entre 2000 e 2011 têm
aplicação às doenças tropicais negligenciadas, o que afeta diretamente cerca de 1,5 milhão de
pessoas todos os anos, ou seja, os investimentos são rasos porque não teriam como objetivo
37
um retorno financeiro e sim a vida humana. O que prova mais uma vez que o
desenvolvimento não é só oportunista como seletivo. (BBC BRASIL, 2015); (CONSELHO
FEDERAL DE FARMÁCIA, 2013).
Muito se tem questionado sobre os investimentos direcionados a tal problema, a
questão é que a parcela necessária, que soma os investimentos diretos (medicamentos,
acompanhamento e hospitais) aos investimentos indiretos (educação, saneamento, prevenção),
é significativamente maior do que a disponibilizada, ou seja, mesmo com as divisões de
assistência humanitária de organizações não governamentais, a demanda ainda é bastante
superior à disponibilidade de recursos.
Isso, somado aos impasses encontrados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e
ao Banco Mundial com relação a todas as crises do capital, principalmente a crise imobiliária
de 2008 que estancou de forma global a distribuição de recursos financeiros, levando os
investimentos estimados em 20 bilhões para 2008 a menos da metade do previsto. Uma
necessidade extrema que infelizmente pode ser exemplificada com uma realidade que mostra
que, a cada novo tratamento instituído, cerca de 2,7 pessoas são infectadas pelo vírus HIV.
(GRECO, 2008).
4.5 O IMPACTO QUE O VÍRUS HIV EXERCE NA ECONOMIA
Estima-se que 78 milhões de pessoas tenham contraído o vírus da imunodeficiência
humana (HIV) e que 35 milhões de mortes tenham ocorrido em decorrência de doenças
relacionadas a ele desde a década de 1980 (AVERT, 2017a). Embora ainda não tenha sido
desenvolvido um medicamento capaz de eliminar o vírus HIV do corpo humano de modo
definitivo, a expectativa de vida dos seus portadores é elevada consideravelmente com o uso
dos antirretrovirais (ARVs), que existem desde a década referida. Esses fármacos, ademais,
reduzem as chances de o vírus ser transmitido por meio de uma relação sexual ou de uma mãe
soropositiva para o seu filho que ainda não nasceu.
O elevado número de pessoas que utilizam os “coquetéis antiaids” de forma contínua e
durante toda a vida tem inúmeras implicações sociais, econômicas e políticas. Como esses
medicamentos são extremamente caros, é necessário que os Estados os distribuam
gratuitamente à população. Logo, uma parcela considerável dos investimentos realizados nos
sistemas de saúde se destinam ao tratamento do HIV.
38
De acordo com dados do Programa Conjunto das Nações Unida sobre HIV/AIDS
(UNAIDS), 17 milhões de pessoas tiveram acesso ao tratamento antirretroviral (ART) em
2015 (AVERT, 2017a). Embora esse número represente um avanço, ainda está aquém das
expectativas da UNAIDS. Ela almeja que, até o ano de 2020, 90% dos soropositivos saibam
que são portadores do HIV, 90% das pessoas que sabem que portam esse vírus recebam
tratamento e 90% dos indivíduos em tratamento tenham uma carga viral indetectável. Desse
modo, o objetivo da UNAIDS é que a epidemia de AIDS chegue ao fim até 2030 (UNAIDS,
[entre 2013 e 2015]).
As antigas diretrizes da Organização Mundial da Saúde tinham um caráter restritivo,
pois recomendavam que o tratamento antirretroviral não fosse disponibilizado para todos os
portadores do vírus. Orientava-se, por conseguinte, que ele fosse direcionado apenas às
gestantes infectadas pelo HIV, aos indivíduos com o sistema imunológico extremamente
debilitado e aos acometidos por doenças como a tuberculose. Posteriormente, comprometida
com a meta conhecida como 90-90-90, essa organização passou a recomendar que todos os
soropositivos recebam o tratamento logo após serem diagnosticados. (AVERT, 2017b).
Dessa forma, assim como a conscientização da população das áreas mais afetadas e a
distribuição gratuita de preservativos, o tratamento antirretroviral constitui um meio
necessário para que as metas traçadas pela UNAIDS e pela OMS sejam alcançadas. Não
obstante, existem inúmeros fatores que dificultam o combate ao vírus HIV e
consequentemente contribuem para que a AIDS continue tendo uma elevada prevalência no
mundo. Dentre esses fatores, destacam-se os de ordem social, como a violência de gênero,
que pode manifestar-se por meio de agressões físicas e psicológicas ou da privação de
direitos.
Na África subsaariana, por exemplo, a violência de gênero exerce uma grande
influência na problemática do HIV, fazendo com que a incidência desse vírus entre jovens do
sexo feminino seja muito maior do que entre jovens do sexo masculino. (AVERT, 2017c).
Nesse aspecto, a falta de acesso à educação e aos serviços de saúde impede que adolescentes e
mulheres com menos de 24 anos tenham conhecimento acerca do HIV e, caso sejam
soropositivas, possam receber o tratamento adequado. Essa desproporção também decorre do
fato de elas serem frequentemente forçadas a manter relações sexuais ou de serem proibidas
de utilizar preservativos pelos seus parceiros. (UNAIDS, 2014).
Ademais, questões de caráter econômico contribuem para a perpetuação desse cenário.
Os países mais afetados pela epidemia de AIDS não possuem recursos suficientes para
39
assegurar o acesso de todos os soropositivos aos antirretrovirais, o que compromete a saúde
desses indivíduos e permite que o vírus HIV continue disseminando-se. (AVERT, 2017c).
Em 2015, foram investidos 19 bilhões de dólares para o combate à AIDS e ao HIV nos
países com recursos escassos ou medianos, dos quais 57% foram oriundos dos orçamentos
domésticos (AVERT, 2017a). Nos dias de hoje, o número de infecções ainda é crescente em
muitas localidades, de modo que, em 2020, o combate à epidemia demandará 26,2 bilhões de
dólares (AVERT, 2017b). A necessidade de maiores investimentos para erradicar esse
problema pode comprometer ainda mais as finanças dos principais países afetados.
Nessa perspectiva, o impacto que as infecções pelo vírus HIV têm na África poderá
tornar-se ainda maior, contribuindo para a desestruturação do continente. Atualmente, cerca
de 70% das pessoas soropositivas vivem nos países que pertencem à África subsaariana, como
África do Sul, Botsuana e Lesoto (AVERT, 2017c). Profundamente maculada pelo
Imperialismo, essa região hodiernamente possui inúmeros problemas sociais e econômicos,
permanecendo dependente do capital estrangeiro. Muitos desses Estados estão entre os mais
pobres do mundo, apresentando uma renda per capita inferior a mil dólares. (CALEIRO,
2016).
Decorrentes da exploração histórica à qual esses países têm sido submetidos, tais
problemas agravam a epidemia de AIDS, pois dificultam o combate ao vírus causador dessa
enfermidade. As medidas de caráter preventivo e o fornecimento dos antirretrovirais exigem a
realização de gastos muito elevados, que correspondem a uma parcela considerável dos
orçamentos nacionais. À medida que mais pessoas são infectadas pelo HIV, faz-se necessário
aumentar esses gastos, ainda que o Produto Interno Bruto (PIB) desses países não se eleve de
modo expressivo. Assim, o custo do tratamento do HIV nessa região poderá aumentar três
vezes mais do que o PIB dos países que fazem parte dela nos próximos vinte anos,
dificultando a concretização dos objetivos da UNAIDS e da OMS. (HAACKER; LULE, 2012
apud AVERT, 2017c).
4.5.1 As patentes e o combate ao HIV
O valor relacionado com a distribuição de antirretrovirais para a população equivale a
uma parcela significativa dos gastos realizados para combater o HIV. Portanto, aumentar o
número de pessoas que têm acesso ao tratamento desse vírus só é economicamente viável se
forem reduzidos os custos que os governos têm com esses medicamentos. No caso dos países
40
africanos e dos demais que são considerados subdesenvolvidos ou emergentes, essa redução
frequentemente é inviabilizada em função dos interesses das indústrias farmacêuticas.
Na maior parte dos casos, essas indústrias detêm as patentes dos antirretrovirais e estas
são previstas na legislação nacional. Desse modo, elas não têm de competir com empresas
produtoras de genéricos durante um determinado período, monopolizando a venda desses
fármacos. Como não possuem concorrência, estipulam preços excessivamente elevados, o
que, como já foi exposto, compromete o orçamento de tais países.
Os defensores dos interesses dessas empresas argumentam que as patentes são
necessárias para compensar os investimentos realizados durante o desenvolvimento dos
antirretrovirais. “Estima-se que, de cada 250 estudos clínicos para testar novas drogas, só um
seja aprovado e chegue à fase de comercialização” (MARTINS, 2016). Dessa maneira, esse
processo é extremamente dispendioso para as indústrias farmacêuticas, as quais exigem um
retorno financeiro para continuarem pesquisando novas fórmulas. (MARTINS, 2016).
Por outro lado, as pessoas que defendem o acesso universal à saúde criticam as
grandes corporações da seara farmacêutica, alegando que elas sobrepõem os seus interesses
financeiros ao bem da coletividade. Por determinarem o encarecimento dos antirretrovirais,
essas empresas são consideradas “[...] responsáveis diretas pela morte de milhões de pessoas
ao redor do mundo – e especialmente na África”. (MARTINS, 2016).
As patentes que as indústrias farmacêuticas detêm encontram respaldo em normas de
direito internacional. Uma dessas normas é o “Agreement on Trade-Related Aspects of
Intellectual Property Rights” (TRIPS), um acordo firmado pelos membros da Organização
Mundial do Comércio (OMC) para estabelecer um padrão mínimo de proteção aos direitos de
propriedade intelectual (VIEIRA, 2010, p.17). Conforme o artigo 7 desse documento, a
proteção e o fortalecimento de tais direitos devem visar à promoção e à disseminação da
tecnologia, contribuindo para a geração de bem estar social e econômico. (AGREEMENT...,
[2017]).
Em função das previsões do TRIPS, tais indústrias têm o direito de exigir, durante
vinte anos, que outras do setor não produzam, usem, vendam nem importem os antirretrovirais
que elas desenvolveram. Além disso, os países que são membros da OMC podem elaborar
uma legislação que aumente a proteção à propriedade intelectual, desde que ela não seja
conflitante com esse acordo.
41
4.5.2 “Trips-plus measures” e o interesse dos EUA na proteção das patentes
Nos últimos vinte anos, inúmeros acordos internacionais de iniciativa norte-americana
têm sido firmados com países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Frequentemente,
esses tratados condicionam o livre comércio a uma maior proteção das patentes dos
antirretrovirais e de outros medicamentos. Assim, implicam a prorrogação do período em que
essas patentes vigoram e protegem as informações obtidas com o teste de novas fórmulas por
cinco anos. Além disso, determinam a redução do número de invenções que não podem ser
patenteadas e obrigam as autoridades nacionais a impedir o registro de medicamentos
genéricos. (CASTRO; WESTERHAUS, 2006).
Esses acordos, que vêm sendo chamados de “TRIPS-plus measures”, também
preveem a redução do número de casos em que os países podem recorrer ao licenciamento
compulsório. Essa medida permite que as fábricas de genéricos produzam, utilizem ou
vendam determinados medicamentos ainda que as empresas detentoras das patentes não lhes
autorizem a fazer isso. Apesar de o licenciamento compulsório fundamentar-se nos
dispositivos do TRIPS, as situações nas quais ele pode ser utilizado não foram explicitamente
definidas nesse acordo. (CASTRO; WESTERHAUS, 2006).
Para suprir as lacunas legais referentes ao licenciamento compulsório, as delegações
da OMC se reuniram em Doha, capital do Catar, no ano de 2001. Nessa ocasião, elaboraram
um documento “[...] favorecendo o seu uso nas situações de emergência de saúde pública”
(CASTRO; WESTERHAUS, 2006, tradução nossa). Ele ficou conhecido como Declaração de
Doha e estabelece que o TRIPS seja interpretado de modo a não prejudicar os sistemas de
saúde dos países-membros (AGREEMENT..., [2017]). A obtenção de lucros para futuramente
desenvolver novos medicamentos, portanto, deve ser compatibilizada com o acesso da
população aos que já existem. (CASTRO; WESTERHAUS, 2006).
Assim, ao elaborarem acordos internacionais que restringem as hipóteses de utilização
dos licenciamentos compulsórios, os Estados Unidos almejam garantir que os laboratórios
detentores das patentes maximizem os seus lucros, mesmo que isso dificulte a ampliação do
número de pessoas que têm acesso aos antirretrovirais. O objetivo desse país ao proteger esses
laboratórios é facilmente identificado quando se constata que eles, em sua maioria,
originaram-se no seu território.
Em 2001, quando o Brasil ameaçou quebrar as patentes de alguns antirretrovirais, o
governo norte-americano apresentou uma reclamação ao Órgão de Solução de Controvérsias
42
da OMC (CASTRO; WESTERHAUS, 2006). Na época, afirmou que o artigo 68 da Lei de
Propriedade Intelectual Brasileira, que prevê o licenciamento compulsório, violava o TRIPS
de maneira direta. Nesse ano, os Estados Unidos também se opuseram à proposta de “[...]
transformar ‘o acesso a drogas para doentes de AIDS’ em um ‘direito
humano’”. (MARTINS, 2016).
O interesse dos Estados Unidos em garantir o lucro das grandes empresas
farmacêuticas também é evidenciado pela influência que esse país tem exercido sobre a Índia
no tocante à proteção dos direitos de propriedade intelectual. Atualmente, os genéricos nela
produzidos correspondem a 76% dos antirretrovirais usados nas localidades com recursos
escassos ou medianos (MEDECINS SANS FRONTIERES, 2016b, p.12). Durante décadas, a
Índia encorajou a competição entre as fábricas produtoras dos antirretrovirais, uma vez que a
sua legislação não previa a existência de patentes para medicamentos. Em 2005, teve de se
submeter às normas de comércio internacional e criar leis regulamentando as patentes. Estas,
todavia, obedecem a critérios rigorosos que objetivam salvaguardar a saúde pública.
Recentemente, esse país vem sofrendo com a pressão nacional e internacional para
alterar as suas leis que tratam dos direitos de propriedade intelectual, estando os EUA entre os
principais responsáveis por essa pressão. De acordo com a organização Médicos Sem
Fronteiras, a atuação norte-americana nessa questão foi particularmente intensa em 2014 e
2015. (MEDECINS SANS FRONTIERES, 2016b, p.12).
De maneira similar, os EUA vêm agindo com o escopo de impedir a venda de ARVs
genéricos na África. Para concretizar o seu objetivo, têm tentado firmar acordos bilaterais de
livre comércio com alguns países do continente, como Botsuana, Lesoto, Namíbia, África do
Sul e Suazilândia. Nessa esfera, a atuação constante dos EUA no continente africano pode
inviabilizar a expansão do tratamento do HIV, pois os medicamentos genéricos correspondem
à maior parte dos medicamentos acessíveis usados nas localidades mais pobres (CASTRO;
WESTERHAUS, 2006). Por comprometerem a saúde pública de outros países, esses acordos
de iniciativa estadunidense estão em desconformidade com o TRIPS e com a Declaração de
Doha.
4.6 FINANCIAMENTO DO COMBATE AO HIV NA ÁFRICA
Por permitir que doenças que normalmente não são fatais levem os seus portadores a
óbito, o vírus da imunodeficiência humana tem sido objeto de muitas discussões envolvendo
43
os representantes de organizações internacionais, os chefes de governo, a comunidade
científica e a população afetada por ele. A pressão exercida por cada um desses sujeitos, que
às vezes possuem interesses distintos, tem contribuído para que os programas de combate ao
HIV apresentem o perfil e a abordagem atualmente verificados.
Assim, o avanço que esses programas têm tido nas últimas décadas ocorreu em função
de inúmeros fatores, como o desenvolvimento de novos estudos a respeito da temática, a
mobilização popular em defesa do acesso universal aos antirretrovirais e a realização de
doações por parte de alguns países, organizações internacionais e pessoas físicas. Essas
doações são particularmente importantes para o combate ao HIV e à AIDS nos países
africanos, visto que muitos deles não têm condições de arcar com os custos de tais programas.
Embora sejam fundamentais para a prevenção e tratamento do HIV nas localidades
mais pobres, as doações internacionais diminuíram 13% entre 2014 e 2015 (AVERT, 2017d).
Essa redução ocorreu devido à contenção de gastos que alguns países têm realizado e ao
contexto geopolítico atual, marcado pela crise migratória e por outros problemas que
demandam a liberação de capital.
Durante décadas, as medidas de combate ao HIV implementadas nos países
subdesenvolvidos foram financiadas principalmente por doações de outros Estados. Não
obstante, hodiernamente, a tendência é de que os países com menos condições econômicas
contribuam mais para o financiamento dos programas efetivados nos seus territórios. Em
outras palavras, uma parcela cada vez maior dos gastos com tais programas advém dos seus
orçamentos domésticos. (AVERT, 2017d).
Destarte, alguns países da África subsaariana vêm aumentando o valor destinado à
prevenção de novas infecções e ao tratamento antirretroviral. A África do Sul, por exemplo,
investiu 1,5 bilhão de dólares no seu programa de tratamento do HIV e da AIDS no ano de
2014. (AVERT, 2017d).
Entretanto, o financiamento do combate ao HIV e à AIDS por parte dos governos
africanos pode enfrentar grandes obstáculos futuramente, já que, além de caro, o tratamento
fornecido aos soropositivos possui um caráter vitalício. Dessa maneira, é improvável que eles
se tornem independentes do financiamento internacional nos próximos anos.
Ademais, o auxílio que as organizações internacionais e os Estados mais ricos fornecem a
alguns países desse continente ainda não é suficiente para atender às suas necessidades
relacionadas ao controle da epidemia de AIDS. De acordo com um relatório elaborado pelos
Médicos Sem Fronteiras (MEDECINS SANS FRONTIERES, 2016a), a resposta global ao
44
vírus causador dessa doença não tem contemplado os países da África Central e Ocidental em
função de a incidência do HIV neles ser menor do que em outros países do continente. Não
obstante, o percentual de pessoas infectadas nessa região é quase o triplo da prevalência
mundial e ela é responsável por 20% dos novos casos que ocorrem em todo o mundo, o que
elimina as dúvidas quanto à necessidade de esses países serem beneficiados por essas
doações. (MEDECINS SANS FRONTIERES, 2016a).
Os países que mais colaboram financeiramente para o combate ao HIV são os Estados
Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha e a Holanda (KAISER FAMILY; UNAIDS,
2015, p.2). A assistência desses países concretiza-se por meio de doações monetárias, de
empréstimos, de fornecimento de materiais e de outros tipos de ajuda (KAISER FAMILY;
UNAIDS, 2015, p.5). Outrossim, essa assistência pode ocorrer mediante canais bilaterais ou
multilaterais.
A assistência é considerada bilateral quando as doações dos países mais ricos são
distribuídas diretamente para os países aos quais elas se destinam. Geralmente, a assistência
bilateral é fornecida por meio de programas ou projetos os quais permitem que os doadores
controlem a maneira como as doações serão utilizadas. Consequentemente, eles podem
submeter essas doações a algumas condições. “Em 2015, três quartos do financiamento do
HIV (74%) foram fornecidos bilateralmente” (KAISER FAMILY; UNAIDS, 2015, p.2,
tradução nossa). Entretanto, houve uma redução de 11% dos gastos bilaterais em relação ao
ano de 2014. (KAISER FAMILY; UNAIDS, 2015, p.2).
Uma importante fonte de assistência bilateral é o plano chamado The United States
President’s Emergency Plan for AIDS Relief (PEPFAR), de iniciativa norte-americana. Desde
2003, o PEPFAR tem gastado 70 bilhões de dólares com programas de combate ao HIV e a
outras doenças, como a malária. Em 2016, ele foi responsável pelo fornecimento de 5.217.000
dólares para programas de assistência bilateral (U.S. PRESIDENT’S EMERGENCY PLAN
FOR AIDS RELIEF, [2016 ou 2017]). O financiamento oriundo desse plano tem sido
destinado a programas em países específicos, que pertencem em sua maioria à África
subsaariana.
Por sua vez, a assistência multilateral ocorre quando os doadores contribuem para
organizações multilaterais que atuam no combate ao HIV em pelo menos um país. 26% do
financiamento internacional dos programas de combate ao HIV procederam de organizações
multilaterais em 2015. Exemplos dessas organizações multilaterais que contribuíram para esse
financiamento são o Global Fund e a UNITAID. (AVERT, 2017d).
45
A UNITAID é uma iniciativa de saúde pública que almeja aumentar o acesso à
prevenção e ao tratamento do HIV, da AIDS, da malária e da tuberculose (AVERT, 2017d).
Em 2010, ela criou o programa Medicines Patent Pool (MPP), que estimula a produção de
medicamentos genéricos e o desenvolvimento de novos medicamentos. Para alcançar esses
fins aparentemente incompatíveis, ela participa de acordos com as empresas que detêm as
suas patentes, promovendo o licenciamento voluntário dos antirretrovirais. Assim, as
corporações que elaboraram as suas fórmulas lucram com o pagamento de royalties e as
fábricas de genéricos passam a ter o direito de produzi-los, acarretando uma redução dos
preços. (MEDICINES PATENT POOL, [2017]).
Criado em 2002, o Global Fund também é uma organização que tem o objetivo de
mobilizar recursos para a prevenção e o tratamento do HIV, da tuberculose e da malária. Ele é
o maior financiador multilateral dos programas que visam ao combate dessas enfermidades
atualmente. No ano de 2015, 55% dos recursos que distribuiu se destinaram a esses
programas. (AVERT, 2017d).
Entre 2012 e 2016, a alocação dos recursos disponibilizados pelo Global Fund se
baseava em critérios como a prevalência do vírus HIV e a capacidade de o país combatê-lo
com o dinheiro oriundo do seu próprio orçamento. Entretanto, em 2016, essa organização
alterou o modo como ela destina as suas doações, de maneira que, de 2017 a 2019, serão
priorizados os países realmente pobres e com maior sobrecarga relacionada a esse vírus. Essa
mudança tem sido criticada por algumas organizações não governamentais, pois os grupos
mais afetados pelo vírus que vivem em países com recursos medianos, os “middle-income
countries”, não receberão a assistência necessária. (AVERT, 2017d).
Para que o combate ao HIV seja efetivo, é imprescindível que os programas
financiados por esses doadores apresentem uma abordagem diferenciada em relação a tais
grupos. Deles fazem parte os homens que mantêm relações sexuais com outros homens,
profissionais do sexo, mulheres jovens que se relacionam com homens mais velhos e pessoas
que fazem uso de drogas injetáveis. A estigmatização desses indivíduos constitui um dos
principais obstáculos para o combate ao vírus referido. Comumente, a discriminação que eles
sofrem faz com que não tenham acesso aos serviços de saúde, o que os torna ainda mais
marginalizados socialmente. Estima-se que 40 a 50% das novas infecções envolvam essas
“populações-chave”, mas apenas 2% do valor total que é investido para combater o HIV as
têm como alvo. (AVERT, 2017d).
46
A contribuição de entidades filantrópicas também tem sido extremamente relevante
para o desenvolvimento de programas que visam a acabar com a epidemia de AIDS na África.
Em 2014, elas destinaram cerca de 618 milhões de dólares para esses programas. Dentre tais
entidades, a Fundação Bill e Melinda Gates se destaca pelo seu notável empenho em
proporcionar o acesso à saúde em regiões marcadas pela pobreza extrema. No ano referido,
ela foi responsável por 34% de todas as doações filantrópicas relacionadas com a
problemática do HIV (AVERT, 2017d). Em função da grande quantidade de pessoas
infectadas pelo vírus na África subsaariana, ela consiste no foco de atuação dessa fundação,
que busca, dentre outras coisas, aumentar o número de diagnósticos, incentivar a adoção de
medidas preventivas e desenvolver uma vacina para o vírus da imunodeficiência humana.
(BILL AND MELINDA GATES FOUNDATION, [2017]).
4.7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Logo, o elevado número de pessoas infectadas pelo vírus HIV tem implicações
sociais, sanitárias e econômicas. Maculada por um processo histórico predatório, a África é
atualmente o continente mais afetado por esse vírus. Especificamente, a região conhecida
como África subsaariana, à qual pertencem países como África do Sul e Botsuana, é a que
apresenta o maior percentual de soropositivos no mundo, motivo pelo qual se faz necessário
desenvolver, nos âmbitos nacional e internacional, mais medidas voltadas para o combate ao
HIV e à AIDS nessa localidade.
O enfrentamento da epidemia de AIDS no continente africano, todavia, é dificultado
por inúmeros fatores. A marginalização dos grupos mais afetados por essa enfermidade, como
o das profissionais do sexo, obsta o acesso aos tratamentos antirretrovirais e
consequentemente contribui para que os casos dessa doença se tornem cada vez mais
numerosos. Nessa perspectiva, deve-se ressaltar que o fato de temas relacionados à
sexualidade serem raramente debatidos nessa região também constitui um empecilho à
resolução desse problema, pois impede que as pessoas tenham conhecimento sobre o vírus
HIV e sobre a AIDS.
Outrossim, é imperativo reconhecer a influência das questões de ordem econômica no
combate à epidemia de AIDS nos países africanos. Por serem majoritariamente pobres, eles
dependem diretamente dos recursos fornecidos por outros Estados, organismos internacionais
e entidades filantrópicas. Em um cenário marcado por crises humanitárias e instabilidades
47
econômicas, esse auxílio comumente é reduzido ou deixa de ser prestado, o que inviabiliza a
manutenção de programas voltados para o controle dessa epidemia e o desenvolvimento de
novas medidas que visem a combatê-la.
Portanto, é necessário que os agentes supracitados discutam e elaborem conjuntamente
um plano para solucionar esse problema sem comprometer os orçamentos nacionais. Com
efeito, as discussões referentes a essa temática devem levar em consideração o papel que eles
desempenham na ordem geopolítica global e as realidades socioeconômicas vivenciadas em
cada país, além da conjuntura em que se insere a indústria farmacêutica e seu objetivo
lucrativo como um obstáculo ao desenvolvimento de uma saúde ampla e com alcance
universal. Ademais, é fundamental que sejam revistas as leis e os tratados internacionais
referentes ao licenciamento compulsório, pois as patentes dos antirretrovirais encarecem os
tratamentos e, assim, impedem que um número maior de soropositivos tenha acesso a eles.
Contudo, em função de as indústrias farmacêuticas precisarem auferir lucro para continuar
desenvolvendo novas fórmulas, deve-se buscar um meio de compatibilizar os seus interesses
com a ampliação dos programas voltados para o combate do HIV e da AIDS.
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