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Habeas Corpus MODELO

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Avenida Alberto Maranhão nº 1505, Sala 55 – Centro, Mossoró/RN - Fone (84) 3061 1293 – 8855 7893

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

"A experiência mostrou que a

prisão, ao contrário do que se

sonhou e desejou, não regenera:

avilta, despersonaliza, degrada,

vicia, perverte, corrompe e

brutaliza"

Min. Evandro Lins e Silva.

HABEAS CORPUS

Ref. Processo nº 159.07.000589-0

Comarca de Umarizal

(DISTRIBUIÇÃO POR URGÊNCIA)

CARLOS CÉSAR DE CARVALHO LOPES, brasileiro,

solteiro, advogado devidamente inscrito na OAB/CE sob o nº 13.587,

com endereço profissional na Avenida Alberto Maranhão nº 1505, sala

55, Shopping Oásis Center, Centro, Mossoró/RN, onde recebe

intimações e notificações, vem respeitosamente perante V. Exa., com

fundamento nos artigos 647 e 648 do Código de Processo Penal e artigo

5º, inciso LXVIII da Constituição Federal, impetrar a presente ordem de:

HABEAS CORPUS

Em favor de FRANCISCO CLÉBER DA SILVA, brasileiro, solteiro,

mototaxista, portador do RG nº 002.559.040 SSP/Rn e CPF nº 066.391.284-

97, residente e domiciliado na Rua João Abílio nº 552, Centro,

Umarizal/RN.

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DOS FATOS

01. O paciente tomou conhecimento por

populares, da ocorrência de um roubo no dia 05 de outubro de 2007,

por volta de 21h30min, no Posto Miragem, na cidade de Umarizal (RN), e

para a sua própria surpresa, duas pessoas que estavam naquele local,

bradavam nos quatro cantos da cidade, que os autores daquele crime

teriam sido supostamente as pessoas do paciente e outra pessoa

conhecida como o “filho ou neto de Albenir”.

02. Surpreendido com a gravidade da acusação, e

convicto de sua inocência, uma vez que na hora do crime encontrava-

se com amigos na cidade vizinha de Lucrecia/RN, participando de uma

festa, fato esse amplamente provado durante a instrução processual; o

paciente no dia 08 de outubro de 2007, acompanhado de seu

advogado resolveu se APRESENTAR ESPONTANEAMENTE a autoridade

policial da cidade de Umarizal/RN.

03. Incontinenti o paciente fora surpreendido com

a informação declinada pela autoridade policial de que havia a MM

Juíza de Direito da Comarca de Umarizal decretado a sua prisão

temporária, ocasião em que já ficou recolhido em uma das celas da

delegacia daquela cidade.

04. Na data de 10 de outubro de 2007 o paciente

foi interrogado pela autoridade policial e dentre os direitos

constitucionais do preso, está o de ser advertido pela autoridade

quanto ao seu silencio e que esse silêncio não poderia ser interpretado

em seu desfavor; a autoridade policial caminhou em sentido contrário

ao preceito constitucional fazendo constar no auto de qualificação e

interrogatório a expressão “MMAASS QQUUEE OO SSEEUU SSIILLÊÊNNCCIIOO PPOODDEERRIIAA SSEERR

IINNTTEERRPPRREETTAADDOO EEMM PPRREEJJUUÍÍZZOO DDEE SSUUAA PPRRÓÓPPRRIIAA DDEEFFEESSAA”, (auto de

qualificação e interrogatório de fl. 13) o que já demonstra que não se

estava procurando investigar os fatos com imparcialidade, para se

encontrar o verdadeiro autor da prática delituosa e sim encontrar

qualquer culpado, tudo ao arrepio da “constituição cidadã”, para se

dar uma resposta a sociedade daquela cidade a todo custo.

05. Como se percebe, na fase pré-judicial, se deu

início ao constrangimento e ilegalidade pelo qual o paciente está

passando, situação essa que cessará com os efeitos de uma decisão a

ser prolatada por esta corte, restabelecendo o status libertatus do

paciente.

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06. A Constituição cidadã expressamente consagra

o principio da presunção de inocência, visto que o Estado por ser

detentor de uma máquina poderosa e treinada para investigar e

reprimir crimes, não poderia imputar ao cidadão a tarefa de provar a

sua inocência.

07. Preliminarmente já se verificam o desrespeito

aos direitos constitucionais do paciente, estes tratados no capítulo I do

art. 5º de nossa lei maior, os quais transcrevemos verbis:

LVII - ninguém será considerado culpado até o

trânsito em julgado de sentença penal

condenatória;

LXIII - o preso será informado de seus direitos,

entre os quais o de permanecer calado, sendo-

lhe assegurada a assistência da família e de

advogado;

08. Em agindo assim a autoridade policial,

consubstancia claramente o abuso e o constrangimento praticado

contra o paciente, o que de pronto já seria suficiente para que fosse

relaxada a sua prisão pela autoridade judiciária da Comarca de

Umarizal.

09. Por outro lado, na data de 10 de outubro de

2007, o paciente intentou pedido de liberdade provisória, vez que

estava preso em virtude de decretação da prisão temporária pela

autoridade judiciária da Comarca de Umarizal (autoridade coatora);

sendo que após a ouvida do Ministério Público, a magistrada daquela

Comarca, não só indeferiu o pedido de concessão da liberdade

provisória, como ato contínuo converteu a prisão temporária em prisão

preventiva do suposto acusado, sem que se verificasse qualquer das

condições descritas no art. 312 do Código de Processo Penal.

10. Dentre os motivos para a manutenção da

prisão preventiva do paciente, a MM. Juíza (autoridade coatora)

justificava o fato do paciente Francisco Cleber, ser portador de uma

extensa lista de antecedentes criminais, já tendo inclusive sido

condenado em um dos processos a que responde. (grifo nosso –

referente as expressões usadas pela Douta Magistrada em sua decisão

que indeferiu o pedido de revogação da prisão preventiva dos

acusados).

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11. Data Vênia discordamos dos argumentos

usados pela MM. Juíza da Comarca de Umarizal, para fundamentar a

sua decisão (fls. 112/113), mantendo a prisão preventiva do paciente

por entender a existência de indícios suficientes de autoria e que na

dúvida, deveria militar em favor da sociedade, ou seja, na dúvida, se

mantém a prisão, com isso relegando a segundo plano o princípio

constitucional da presunção de inocência, não mais sendo a regra o

estado de liberdade da pessoa.

12. Não se concebe entender como se pode

imputar a uma pessoa ser portadora de uma extensa lista de

antecedentes criminais, já tendo inclusive sido condenado; quando

qualquer interessado consultando o Sistema de Automação da Justiça

do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, verifica que o paciente

(Francisco Cléber da Silva) responde tão-somente a duas ações penais,

quais sejam: 159.07.000589-0 (processo no qual se está requerendo o

hábeas corpus) e processo nº. 159.03.000330-7.

13. No que se refere à condenação (processo nº

159.03.000330-7), novamente nos socorrendo do Sistema de Automação

da Justiça do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte), verificamos

que em 19/12/2006 consta como que o paciente fora condenado, e

analisando as movimentações seguintes, constatamos que somente em

11/10/2007 (cerca de 10 meses depois), provavelmente foi expedido

mandado para intimação da sentença, não constando a sua juntada,

razão pela qual se deduz que essa sentença ainda não transitou em

julgado, urge portanto que o paciente ainda não pode ser considerado

culpado.

14. O Artigo 312 do Código de Processo Penal,

discorre em numerus clausus os motivos pelos quais se pode decretar

uma prisão preventiva, prisão essa que tem natureza cautelar, e logo

que não mais se verifique aquelas condições, deverá de pronto ser

revogada, restabelecendo o status libertatis do indivíduo.

15. O estado de inocência ou presunção de

inocência, como direito fundamental previsto na Constituição Federal

de 1988, representa um princípio básico do Estado Democrático de

Direito no campo das garantias processuais penais, com o objetivo de

tutelar as liberdades individuais, coibindo abusos do Estado na limitação

da liberdade.

José Herval Sampaio Júnior e Pedro Rodrigues

Caldas Neto, dois magistrados do Estado do Rio Grande do Norte, em

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seu excelente trabalho “Manual de Prisão e Soltura sob a ótica

constitucional, 2007, pág. 314, Editora Método, discorre com sabedoria

sobre a regra ser a liberdade do indivíduo:

“Deste modo, a questão primordial referente

aos institutos de restabelecimento Status

libertatis no curso do processo penal não reside

na discussão da permissibilidade constitucional

do encarceramento sem pena, mas passa por

referencial maior, isto é, a exegese de que

qualquer possibilidade de encarceramento

antes da decisão condenatória transitada em

julgado somente se justifica em situação de

excepcionalidade, em face da impossibilidade

de limitar o alcance desta garantia apenas ao

campo meramente probatório da persecução

penal.

As hipóteses de liberdade provisória vinculada,

com ou sem fiança, e todos os demais institutos

processuais de restabelecimento do estado de

liberto no curso da persecução penal, tais

como o relaxamento da prisão, a liberdade

provisória desvinculada, a revogação da prisão

preventiva e o hábeas corpus, devem, assim,

dentro desta roupagem constitucional, ser

concebidos, conquanto a nova e necessária

visão mais benéfica da regra da liberdade no

curso da persecução penal.”

16. O Artigo 312 do Código de Processo Penal,

discorre em numerus clausus os motivos pelos quais se pode decretar

uma prisão preventiva, prisão essa que tem natureza cautelar, e logo

que não mais se verifique aquelas condições, deverá de pronto ser

revogada, restabelecendo o status libertatis do indivíduo.

17. A prisão preventiva tem a finalidade de

assegurar o bom andamento da instrução criminal, não podendo esta

prolongar-se indefinidamente, por culpa do juiz ou por atos

procrastinatórios da acusação, sob pena de configurar

constrangimento ilegal, sanável via hábeas corpus.

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18. O Artigo 312 do Código de Processo Penal,

dispõe verbis:

“Art. 312. A prisão preventiva poderá ser

decretada como garantia da ordem pública,

da ordem econômica, por conveniência da

instrução criminal, ou para assegurar a

aplicação da lei penal, quando houver prova

da existência do crime e indício suficiente de

autoria.”

19. A manutenção da prisão preventiva tendo por

base a garantia da ordem pública abre um leque hipotético sem

precedentes ao magistrado, visto que entende-se por garantia da

ordem pública, uma pretensa manutenção da ordem, que mais

parece uma expressão usada em regimes de exceção, com a

finalidade de coibir a prática de crimes, será que depois que foi

decretada a prisão preventiva do paciente, cessou a ocorrência de

crimes na região, por certo que não como é do conhecimento de

todos naquela cidade, então é sinal de que o paciente não seria a

pessoa que supostamente estaria cometendo crimes na cidade de

Umarizal.

20. No caso sub examine, verificamos que o

paciente não é pessoa dada à prática de crimes, nem detentor de

uma extensa lista de antecedentes criminais, como o queiram dizer,

mas um cidadão que tem profissão definida, labutando diariamente

como mototaxista na cidade de Umarizal, tendo residência fixa,

levando uma vida normal como qualquer pessoa, não oferecendo

qualquer risco à sociedade, pois não se trata de uma pessoa perigosa

como alguns o querem fazer.

21. A Conveniência da instrução criminal se daria

naqueles casos para se garantir a existência do devido processo legal,

no seu aspecto procedimental. A finalidade é que a instrução criminal

se faça de maneira equilibrada, imparcial, sempre na busca da

verdade real.

22. Compulsando os autos verificamos que já se

deu a oitiva de todas as testemunhas arroladas pela acusação e de

todas as testemunhas arroladas na defesa prévia do paciente, faltando

apenas à oitiva das testemunhas arroladas na defesa prévia pelo outro

acusado, não se podendo mais falar sobre a conveniência da

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instrução criminal, visto que o paciente em estando soltando, não

ofereceria qualquer risco as testemunhas.

23. A decretação da prisão preventiva do

paciente para assegurar a aplicação da lei penal, tendo como

finalidade proporcionar ao Estado o exercício do seu direito de punir,

aplicando a sanção devida.

24. Como se pode falar em iminente fuga do

distrito da culpa, se o paciente ao saber que estava sendo acusado de

ter cometido o crime, imediatamente compareceu perante a

autoridade policial, mostrando com isso que não tinha qualquer

intenção de se evadir do distrito da culpa, sabedor de sua inocência,

por demais já demonstrada nos autos.

25. Com relação aos indícios suficientes de autoria,

sem adentrar ao mérito da questão, visto que tais argumentos serão

utilizados no momento processual oportuno, só para mostrar o quão são

inconsistentes as provas; analisando os depoimentos das duas únicas

pessoas que dão suporte a acusação, vejamos a fragilidade de seus

depoimentos:

26. Leonardo Cardoso Abrantes (frentista do posto

de combustível assaltado), em seu depoimento de judicial de fl. 72,

expressamente declara:

“(...) Que no momento do assalto achou o

outro assaltante parecido com Francisco

Cléber, mas só teve certeza quando o vigia

informou que um dos assaltantes tinha

chamado outro por Cleber (...).”

27. No termo de acareação realizado na fase

judicial (fl. 72), entre Leonardo Cardoso Abrantes (frentista) e o Sr. João

Gaudêncio (vigia), para esclarecer com relação no tocante a

informação fornecida pelo vigia de que um dos assaltantes tinha

chamado por Cleber, o vigia João Gaudêncio assim se expressou:

“João Gaudêncio: Que não se lembra de ter

dito ao frentista ter visto os assaltantes na

churrascaria, mas apenas de ter ouvido falar

que os assaltantes estiveram na churrascaria

no dia dos fatos”.

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28. Com uma análise superficial das provas, já se

nota que os indícios são bastante frágeis, visto que as testemunhas são

contraditórias, sem falar no fato de que os que perpetraram o assalto o

fizeram com o rosto encoberto por capacetes.

29. Frise-se mais uma vez o fato de que o paciente

possui endereço certo (Rua João Abílio nº 552, Centro, Umarizal/RN),

trabalha na condição de mototaxista na cidade de Umarizal, onde

reside com sua família, e preenche os requisitos do parágrafo único do

art. 310 do Código de Processo Penal.

30. Assim, com a devida vênia, não se apresenta

como medida justa o encarceramento de pessoa cuja conduta sempre

pautou na honestidade e no trabalho.

31. O Paciente tecnicamente é primário, tem

família constituída, residência fixa. Inexistem, pois, motivos para que sua

prisão preventiva seja mantida; urge, portanto que seja imediatamente

restabelecida a sua liberdade.

32. Por outro lado, em nenhum momento o

paciente causou qualquer entrave a instrução processual, uma vez que,

como já afirmado anteriormente o mesmo se apresentou

espontaneamente a autoridade policial, demonstrando claramente a

sua boa vontade em contribuir com a investigação e com devida

elucidação dos fatos.

33. É de se aplicar o princípio constitucional de que

“ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado da

sentença penal condenatória” (CF. art. 5º, LVII). A prisão da Paciente

representa infringência a tal norma constitucional, constituindo-se sua

segregação em um irreparável prejuízo à sua pessoa, pelos gravames

que uma prisão temporária traz.

34. Como visto reiteradas vezes, os Tribunais

Superiores já decidiram no sentido de que supostas deduções, não são

requisitos autorizadores da custódia preventiva, devendo portanto ser

restabelecida a liberdade do indivíduo, conforme julgados:

EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL

PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA

DECRETADA POR CONVENIÊNCIA DA

INSTRUÇÃO CRIMINAL E PARA ASSEGURAR A

APLICAÇÃO DA LEI PENAL, SOB O FUNDAMENTO

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BÁSICO DE QUE O ACUSADO SE AUSENTOU DO

DISTRITO DA CULPA SEM DEIXAR O ENDEREÇO

PARA LOCALIZAÇÃO. DESNECESSIDADE DE

MANTER A CUSTÓDIA PREVENTIVA APÓS A

PLENA IDENTIFICAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DO

RÉU, POR SE TRATAR DE MEDIDA EXCEPCIONAL.

CONCESSÃO DA ORDEM. Tribunal de Justiça do

Rio Grande do Norte. Relator: Juiz Luiz Alberto

Dantas Filho (Convocado). Publicação:

08/01/2008.

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.

DENÚNCIA POR LATROCÍNIO. APRESENTAÇÃO

ESPONTÂNEA DO ACUSADO PARA O

INTERROGATÓRIO. CONCESSÃO DA LIBERDADE

PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA

PRISÃO PREVENTIVA. PREVALÊNCIA DA REGRA

DA LIBERDADE. Recurso improvido. (Recurso em

Sentido Estrito Nº 70022211387, Sexta Câmara

Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator:

Marco Antônio Bandeira Scapini, Julgado em

18/12/2007)

35. Por sua vez, o Supremo Tribunal Federal, através

da 1ª. Turma, em 30/10/2007, ao julgar o HC 91616, proclamou o

seguinte decisório:

EMENTA: HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA.

REQUISITOS DO ARTIGO 312 DO CÓDIGO DE

PROCESSO PENAL. INIDONEIDADE DO DECRETO

PRISIONAL. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA.

CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL.

RESGUARDO DA EVENTUAL APLICAÇÃO DA LEI

PENAL. CARÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.

ILEGALIDADE REPARÁVEL PELA VIA

PROCESSUALMENTE CONTIDA DO HABEAS

CORPUS. 1. A convivência das figuras da prisão

cautelar e da presunção da não-culpabilidade

pressupõe que o decreto de prisão esteja

embasado em fatos que denotem a

necessidade do cerceio à liberdade de

locomoção. 2. Às instâncias colegiadas não é

facultada a complementação do decreto de

prisão, eventualmente impugnado. No caso, o

fundamento da conveniência da instrução

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criminal foi acrescentado, pelo Tribunal de

Justiça, ao decreto de prisão preventiva.

Ilegalidade caracterizada. 3. A simples

afirmação de que os pacientes carecem de

domicílio certo e conhecido não tem a força

de lastrear a segregação provisória para

assegurar eventual aplicação da lei penal. 4. É

ilegal a prisão preventiva para a garantia da

ordem pública, baseada tão-somente na

gravidade do fato, na hediondez do delito ou

no clamor público. Precedentes. 5. A alteração

da base empírica, existente no momento da

decretação da prisão, implica a mudança dos

fundamentos da custódia. 6. Ordem

concedida, mediante o compromisso de

comparecimento dos pacientes aos atos

processuais.

36. O indeferimento, pois, do direito do Paciente

em aguardar em liberdade o desenrolar de seu processo constitui

constrangimento ilegal, uma vez preenchidas as exigências legais para

a concessão da liberdade provisória do mesmo.

37. Neste sentido, diz o insigne JULIO FABBRINI

MIRABETE, em seu festejado CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

INTERPRETADO, 8ª edição, pág. 670:

“Como, em princípio, ninguém deve ser

recolhido à prisão senão após a sentença

condenatória transitada em julgado, procura-

se estabelecer institutos e medidas que

assegurem o desenvolvimento regular do

processo com a presença do acusado sem

sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia

provisória apenas para as hipóteses de

absoluta necessidade.” Destaquei.

38. Mais adiante, comentando o parágrafo único

do art. 310, na pág. 672, diz:

“Inseriu a Lei nº 6.416, de 24-5-77, outra hipótese

de liberdade provisória sem fiança com vínculo

para a hipótese em que não se aplica ao preso

em flagrante qualquer das hipóteses em que se

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permite a prisão preventiva. A regra, assim,

passou a ser, salvo exceções expressas, de que

o réu pode defender-se em liberdade, se ônus

econômico, só permanecendo preso aquele

contra o qual se deve decretara prisão

preventiva.”

39. O dispositivo é aplicável tanto às infrações

afiançáveis como inafiançáveis, ainda que graves, a réus primários ou

reincidentes, de bons ou maus antecedentes, desde que não seja

hipótese em que se pode decretar a prisão preventiva. Trata-se, pois, de

um direito subjetivo processual do acusado, e não uma faculdade do

juiz, que permite ao preso em flagrante readquirir a liberdade por não

ser necessária sua custódia. Não pode o juiz, reconhecendo que não há

elementos que autorizariam a decretação da prisão preventiva, deixar

de conceder a liberdade provisória.” (Destaquei).

40. No mesmo sentido a jurisprudência assim tem se

manifestado:

“Embora preso em flagrante por crime

inafiançável, pode o réu ser libertado

provisoriamente, desde que inocorram razões

para a sua prisão preventiva” (RT 523/376).

E ainda:

“É possível a concessão de liberdade provisória

ao agente primário, com profissão definida e

residência fixa, por não estarem presentes os

pressupostos ensejadores da manutenção da

custódia cautelar.” (RJDTACRIM 40/321)”.

E mais:

“Se a ordem pública, a instrução criminal e a

aplicação da lei penal não correm perigo deve

a liberdade provisória ser concedida a

acusado preso em flagrante, nos termos do art.

310, parágrafo único, do CPP. A gravidade do

crime que lhe é imputado, desvinculada de

razões sérias e fundadas, devidamente

especificadas, não justifica sua custódia

provisória” (RT 562/329).

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41. Já nos incisos LIV, LVII, e LXVI e, do art. 5º, da

Carta Magna, diz o seguinte:

“LIV – ninguém será privado da liberdade ou de

seus bens sem o devido processo legal;”

(...)

“LVII – ninguém será considerado culpado até

o trânsito em julgado de sentença penal

condenatória;”

(...)

“LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela

mantido, quando a lei admitir a liberdade

provisória, com ou sem fiança;”

42. Desta forma ínclito Julgador, a concessão do

WRIT ao Acusado é medida que se ajusta perfeitamente ao caso em

tela, não havendo, por conseguinte, razões para a manutenção da

reclusão do mesmo.

43. Aliás, MM. Desembargador, não se pode

ignorar o espírito da lei, que na hipótese da prisão preventiva ou

cautelar visa a garantia da ordem pública; da ordem econômica; por

conveniência da instrução criminal; ou ainda, para assegurar a

aplicação da lei penal, que no presente caso, pelas razões

anteriormente transcritas, estão plenamente garantidas.

DO EXCESSO DE PRAZO

44. Com efeito, da data de decretação da prisão

temporária (08/10/2007) e sua conversão em prisão preventiva até o dia

20/01/2008, já decorreu um período de 105 (cento e cinco) dias,

faltando ainda serem ouvidas as testemunhas arroladas na defesa

prévia pelo outro acusado, que se encontra solto. Destarte, há de se

verificar o constrangimento ilegal efetivado em sua liberdade de

locomoção, haja vista restar superado o prazo de 81 (oitenta e um)

dias, tempo considerado suficiente para o término da colheita das

provas, restando de sobejo comprovado o constrangimento ilegal, nos

termos do art. 648, II, do Código de Processo Penal, in verbis:

“Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I – omissis;

II – quando alguém estiver preso por mais

tempo do que determina a lei; (grifei)

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(...) omissis

DO CONSTRANGIMENTO ILEGAL

45. A Convenção Americana sobre Direitos

Humanos, adotada no Brasil através do Decreto n. 678/92, consigna a

idéia de que toda pessoa detida ou retida tem o direito de ser julgada

dentro de um prazo razoável ou ser posta em liberdade, sem prejuízo de

que prossiga o processo.

46. Assim, toda pessoa detida ou retida deve ser

conduzida, sem demora, à presença de um Juiz ou outra autoridade

autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada

dentro de um prazo razoável ou ser posta em liberdade, sem prejuízo de

que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a

garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

47. Para a configuração do constrangimento ilegal,

adotou-se a contagem dos prazos nas várias fases da formação da

culpa em Juízo. Devendo, portanto, a instrução ser encerrada no prazo

de 81 dias. Senão vejamos:

EMENTA: HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO – PEDIDO

OBJETIVANDO A REVOGAÇÃO DA PRISÃO

PREVENTIVA DO PACIENTE – ACOLHIMENTO –

CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA

CLAUSURADA – NÃO PERFAZIMENTO DOS

REQUISITOS DO ART. 312 DO CÓDIGO DE

PROCESSO PENAL – APREENSÃO DE CDS E DVDS

REPRODUZIDOS COM VIOLAÇÃO DE DIREITOS

AUTORAIS – INOCORRÊNCIA DE OFENSA À

ORDEM PÚBLICA – EXCESSO DE PRAZO PARA O

OFERECIMENTO DA DENÚNCIA –

CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO –

DEMORA INJUSTIFICADA PARA A INSTAURAÇÃO

DA AÇÃO PENAL – CONCESSÃO DA ORDEM.

Inocorrentes os requisitos do art. 312 do Código

de Processo Penal, e preenchidas as exigências

do parágrafo único do art. 310 do mencionado

diploma legal, deve ser concedida liberdade

provisória clausurada ao agente que, preso sob

a acusação de reproduzir Cds e Dvds com

violação de direitos autorais, não configura

risco à ordem pública, à conveniência da

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instrução criminal ou à aplicação da lei penal.

Caracteriza constrangimento ilegal o excesso de

prazo para o oferecimento da denúncia

decorrente da injustificada demora para a

instauração da ação penal, estando o paciente

preso, na data da impetração, há mais de

quarenta dias, sem que tenha sido sequer

denunciado, além do fato de não se revestir de

complexidade a conduta delituosa ao mesmo

imputada. Relator: Des. Caio Alencar,

Publicação: Data: 11/01/2008, Órgão Julgador:

Câmara Criminal, Classe: Habeas Corpus com

Liminar.

EMENTA: CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL

PENAL. HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. EXCESSO

DE PRAZO NA INSTRUÇÃO PROCESSUAL.

PACIENTE PRESO DESDE NOVEMBRO DE 2006.

INTERROGATÓRIO AINDA NÃO REALIZADO.

DEMORA NÃO ATRIBUÍVEL À DEFESA. AUSÊNCIA

DE CAUSA JUSTIFICADORA DO ATRASO.

PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE AFASTADO.

CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO.

CONCESSÃO DA ORDEM. Processo:

2007.006579-1, Relator: Desª. Judite Nunes

Publicação: 09/11/2007, Órgão Julgador:

Câmara Criminal, Classe: Habeas Corpus com

Liminar

“PRISÃO PREVENTIVA – EXCESSO DE PRAZO.

Cabe ao Estado aparelhar-se objetivando a

tramitação e a conclusão do processo criminal

com atendimento dos prazos processuais e,

portanto, em tempo razoável. Configurado o

excesso, impõe-se, como conseqüência da

ordem jurídica em vigor, a liberdade do

acusado, até então simples acusado. Excesso

de prazo – Prisão preventiva. A

excepcionalidade maior da prisão preventiva

direciona à observância rígida dos prazos

processuais. Extravasados, cumpre reconhecer

a ilicitude da custódia, afastando-a”. (HC

86.104/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13.02.2007,

DJ 23.03.2007.

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EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL.

PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NÃO

ATRIBUÍDO AO RÉU. CONSTRANGIMENTO ILEGAL:

OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS

DEFERIDO PARA REVOGAR A PRISÃO

PREVENTIVA DO PACIENTE. 1. A jurisprudência

deste Supremo Tribunal firmou-se no sentido de

que o encerramento da instrução criminal

afasta a alegação de excesso de prazo. No

entanto, esse entendimento deverá ser tomado

com o temperamento jurídico necessário para

atender aos princípios constitucionais e

infraconstitucionais, especialmente quando se

evidencia flagrante ilegalidade decorrente do

excesso de prazo não imputável ao acusado.

Precedentes das Turmas. 2. Hábeas Corpus

deferido. HC 91199 / SP - SÃO PAULO, HABEAS

CORPUS, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA,

Julgamento: 16/10/2007, Órgão Julgador:

Primeira Turma, Publicação DJE-152 DIVULG 29-

11-2007, PUBLIC 30-11-2007, DJ 30-11-2007 PP-

00077 EMENT VOL-02301-03 PP-00488, Parte(s)

PACTE.(S): HIDELBRANDO MORAIS CARLOTA

JUNIOR, IMPTE.(S): ELISEU MINICHILLO DE

ARAÚJO E OUTRO(A/S), COATOR(A/S)(ES):

SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

HABEAS CORPUS – ROUBO CIRCUNSTANCIADO.

PRISÃO PREVENTIVA. AUDIÊNCIA DE INQUIRIÇÃO

DAS TESTEMUNHAS ADIADA PELO PRÓPRIO JUÍZO

VÁRIAS VEZES – AUSÊNCIA DE COMPLEXIDADE

DO FEITO - EXCESSO DE PRAZO. PRINCÍPIO DA

RAZOABILIDADE APLICADO EM FAVOR DO RÉU.

ORDEM CONCEDIDA. A prisão preventiva

constitui uma exceção e só deve ser aplicada

em casos excepcionais, não podendo se

prolongar no tempo sem a devida justificativa.

O adiamento da audiência de inquirição das

testemunhas de defesa, por várias vezes, pelo

próprio juízo, não é causa para o excesso de

prazo na conclusão da fase instrutória. Se há

excesso de prazo sem que o réu para ele tenha

contribuído e sem que haja complexidade do

feito ou incidentes que justifiquem o atraso

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processual, torna-se imperativa a aplicação do

princípio da razoabilidade em favor do

paciente. Ordem concedida, salvo

condenação. HC 91801 / BA, HABEAS CORPUS

2007/0234608-0, Relator(a) Ministra JANE SILVA

(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG),

Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA, Data do

Julgamento 28/11/2007, Data da

Publicação/Fonte DJ 17.12.2007 p. 284

PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – ROUBO

DUPLAMENTE MAJORADO – RECEPTAÇÃO

DUPLAMENTE QUALIFICADA – FORMAÇÃO DE

QUADRILHA – USO DE DOCUMENTO FALSO –

EXCESSO DE PRAZO – NECESSIDADE DE

EXPEDIÇÃO DE CARTA PRECATÓRIA PARA OUVIR

AS TESTEMUNHAS DA DEFESA – PROCESSO

PARADO HÁ QUASE NOVE MESES SEM QUE A

CARTA SEJA SEQUER EXPEDIDA – PRINCÍPIO DA

RAZOABILIDADE AFASTADO – MORA

DECORRENTE DA INÉRCIA DO ESTADO-JUIZ –

PRISÃO PROVISÓRIA DE DEZ DOS DOZE CO-RÉUS

JÁ RELAXADA – ORDEM CONCEDIDA. 1. A

ocorrência de situações peculiares que torna

complexo o processo afasta o constrangimento

ilegal por excesso de prazo, devendo ser

observado, nesse caso, o princípio da

razoabilidade. 2. Todavia, quando a excessiva

mora seja atribuída ao Estado-Juiz, posto que o

último ato processual foi praticado há quase

nove meses atrás, não havendo o Magistrado

singular sequer expedido a carta precatória

para a inquirição das testemunhas arroladas

pela defesa, deve ser afastado o mencionado

princípio a fim de relaxar a prisão provisória da

paciente, notadamente quando dez dos doze

co-réus já se encontram em liberdade. 3.

Ordem concedida. HC 90714 / PI HABEAS

CORPUS 2007/0218495-3, Relator(a) Ministro

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Relator(a) p/

Acórdão Ministra JANE SILVA

(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG),

Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA, Data do

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Julgamento 04/12/2007, Data da

Publicação/Fonte DJ 17.12.2007 p. 281.

48. Assim, estando o paciente preso há 105 (cento e

cinco) dias, e ainda não se ter concluída a instrução criminal,

caracteriza-se a mantença do paciente preso, em constrangimento

ilegal, de forma que a prisão deve ser relaxada.

49. O que se deve ressaltar, é que não há

justificativa para o acusado ser mantido preso por tanto tempo sem que

ao menos se tenha concluído a instrução criminal, pois sua locomoção

estaria constrangida, o que não é permitido por nossa lei pátria.

50. Ad argumentandum tantum, o acusado,

coagido, é pessoa de bom caráter, tendo bons antecedentes, não se

demonstrando que com a sua soltura possa trazer qualquer perigo à

sociedade.

51. A conservação do Paciente em tempo superior

ao convencionado para a finalização da instrução processual vulnera

também a Convenção Americana sobre Direitos Humanos e integrado

ao Direito Pátrio por força do Decreto n. 678, de 6.11.1992, cujo artigo 7º,

item 2, in verbis:

“Ninguém pode ser privado de sua liberdade

física, salvo pelas causas e nas condições

previamente fixadas pelas Constituições

Políticas dos Estados-partes ou pelas Leis de

acordo com elas promulgadas.”

52. O denominado Pacto de São José da Costa

Rica é direito brasileiro local, positivo e cogente, por força da disposição

do parágrafo 2º do artigo 5º da Constituição da República, no sentido

de que a relação dos direitos fundamentais, pelos mais de setenta

incisos em que se desdobram, é meramente enunciativa, constituindo

numerus apertus justamente para inclusão daqueles contidos nos

tratados de que o Brasil faça parte.

53. A prisão de alguém sem sentença condenatória

transitada em julgado é uma violência, que somente situações

especialíssimas devem ensejar. Não assiste ao presente caso, especial

situação.

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54. Portanto, Eminentes Julgadores, sabem ser

imperioso resguardar a idoneidade pública, porém imperiosa também a

devida e justa aplicação da lei penal em todos os sentidos.

DO DIREITO

55. O fundamento do WRIT deve descrever o artigo

infringido, quais sejam a não verificação dos motivos ensejadores da

decretação da prisão preventiva (CPP, art. 312) e art. 648, II do CPP, já

citado, bem como na “PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA”, de forma que

ninguém poderá ser considerado culpado sem sentença penal

condenatória transitada em julgado, ditada pela Constituição Federal

de 1988.

CONCLUSÕES

Por todas estas razões o paciente confia em

que este Tribunal, fiel à sua gloriosa tradição, conhecendo o

pedido, haverá de conceder liminarmente a presente ordem de

HABEAS CORPUS, para que o paciente possa gozar do benefício

de aguardar em liberdade o desenrolar de seu processo,

mediante termo de comparecimento a todos os atos, sendo

expedido Alvará de Soltura, o que se fará singela homenagem ao

DIREITO e à JUSTIÇA!

Pede deferimento.

Mossoró, 22 de janeiro de 2008.

__________________________________

CARLOS César de Carvalho LOPES

Advogado – OAB/CE 13.587