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Regiane de Souza Fasanella
Habilidades de comunicao nas demncias avanadas
Dissertao apresentada Faculdade de Medicina
da Universidade de So Paulo para obteno do
ttulo de Mestre em Cincias
Programa de: Cincias da Reabilitao
rea de Concentrao: Comunicao Humana
Orientadora: Prof. Dra. Letcia Lessa Mansur
So Paulo
2011
Regiane de Souza Fasanella
Habilidades de comunicao nas demncias avanadas
Dissertao apresentada Faculdade de Medicina
da Universidade de So Paulo para obteno do
ttulo de Mestre em Cincias
Programa de: Cincias da Reabilitao
rea de Concentrao: Comunicao Humana
Orientadora: Prof. Dra. Letcia Lessa Mansur
(verso corrigida Resoluo CoPGr 5890, de 20 de dezembro de 2010. A verso original est disponvel na Biblioteca FMUSP)
So Paulo
2011
FICHA CATALOGRFICA
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
reproduo autorizada pelo autor
Fasanella, Regiane de Souza Habilidades de comunicao nas demncias avanadas / Regiane de Souza Fasanella. -- So Paulo, 2011.
Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Programa de Cincias da Reabilitao. rea de concentrao: Comunicao Humana.
Orientadora: Letcia Lessa Mansur.
Descritores: 1.Demncia 2.Doena de Alzheimer 3.Comunicao 4.Degenerao
lobar frontotemporal 5.Cognio 6.Linguagem
USP/FM/DBD-234/11
DEDICATRIA
Ao, Gianpaolo, meu marido, por dar um
significado incomparvel a minha vida, exemplo
de companheirismo, amor e amizade.
Obrigada por todo incentivo e compreenso, eles
foram essenciais na concretizao deste
trabalho.
AGRADECIMENTOS
Aos pacientes e seus familiares que participaram desse estudo, meu respeito e agradecimento. Prof. Dra. Letcia Lessa Mansur, minha orientadora neste trabalho, pelo enorme auxlio e por todos os conhecimentos que contriburam para o meu crescimento pessoal e profissional. Todo meu carinho, admirao e respeito. Aos meus amados pais, Ivanise e Arlindo (em memria) que me ensinaram o valor da dedicao e seriedade na conquista de nossos sonhos. Aos meus familiares (tios, primos, sogros e padrinhos) que mesmo a distncia devido a rotina do dia-a-dia se tornaram presentes durante esse percurso em minha vida, em especial minha av Elza, meus irmos Roberta e Renato, meu cunhado Mrio e meu afilhadinho Gabriel. amiga querida Fga. Cntia Matsuda Toledo, pela parceria na coleta de dados e traduo do material utilizado na pesquisa, mas principalmente pela amizade diria, risadas e choros compartilhados. Sua companhia e apoio foram essenciais na concretizao deste trabalho. amiga Fga. Luiza C. Spezzano, pela amizade e carinho dirios, mas principalmente pela compreenso nos perodos de maior ausncia. banca de qualificao, Dra. Maria Silvia Crnio, Prof. Dra. Eliane Schochat e Dra. Isabel DAvila Freitas, pelas valiosas sugestes que engrandeceram este estudo. Aos colegas do Ambulatrio de Comprometimento Cognitivo Avanado (ACCA), em especial a Dra. Lilian Schafirovits Morillo, pela confiana e ensinamentos que contriburam para o aprimoramento deste estudo. Dra. Claudia Kimie Suemoto Zoriki pela inestimvel contribuio na elaborao deste trabalho, mas sobretudo, por toda sua pacincia e ateno no decorrer das anlises. Aos colegas do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento, em especial ao Prof. Dr. Ricardo Nitrini e Dra. Valria Santoro Bahia, pelas valiosas contribuies e encaminhamento dos pacientes participantes desse estudo. fonoaudiloga Marlia Barbieri por todo auxlio no processo de traduo e retro-traduo do instrumento utilizado na pesquisa. Ao Dr. Daniel Apolinrio pelo auxlio e orientaes nas anlises estatsticas.
toda equipe de Reabilitao do Hospital Pimentas Bonsucesso, em especial a Dra Solange Aoki e a fonoaudiloga Lissandra Montagneri por terem me recebido de forma acolhedora e pelas palavras de coragem e incentivo no perodo de finalizao do trabalho. A todos que de alguma forma contriburam para a realizao desta pesquisa,
a minha eterna gratido, mas, sobretudo a Deus que me proporcionou a concretizao desse sonho.
Pesquisa realizada com suporte da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal do Ensino Superior CAPES.
Ministrio da Educao. Brasil
NORMALIZAO ADOTADA
Esta dissertao est de acordo com as seguintes normas, em vigor no
momento desta publicao:
Referncias: adaptado de International Committee of Medical Journals
Editors (Vancouver)
Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina. Servio de Biblioteca e
Documentao. Guia de apresentao de dissertaes, teses e monografias.
Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi,
Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Arago, Suely Campos Cardoso,
Valria Vilhena. 2a ed. So Paulo: Servio de Biblioteca e Documentao;
2005.
Abreviaturas dos ttulos dos peridicos de acordo com List of Journals
Indexed in Index Medicus.
SUMRIO
Lista de abreviaturas Lista de tabelas Resumo Summary
1. INTRODUO.............................................................................. 01
2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO ....................................................
03
3. OBJETIVOS.................................................................................. 04
4. REVISO DA LITERATURA......................................................... 05
4.1 Linguagem nas Demncias Avanadas ..................................... 05
4.1.1 Doena de Alzheimer............................................................... 05
4.1.2 Degenerao Lobar Frontotemporal........................................ 10
4.1.3 Doena de Alzheimer associada demncia Vascular ...... 13
4.2 Avaliao da Linguagem nas Demncias e o FLCI .................... 15
4.3 Traduo e adaptao transcultural de um instrumento de avaliao.......................................................................................
21
4.4 Propriedades de um instrumento de avaliao ..........................
22
5. MTODOS.................................................................................... 25
5.1 Desenho do Estudo..................................................................... 25
5.2 Casustica.................................................................................... 25
5.3 Procedimentos............................................................................. 27
5.4 Escalas e testes aplicados .........................................................
27
5.5 Traduo e Adaptao Transcultural do FLCI ............................
29
5.6 Confiabilidade e Validade de Critrio ........................................
30
5.7 Aplicao do FLCI....................................................................... 31
5.8 Anlise Estatstica ...................................................................... 33
6. RESULTADOS.............................................................................. 35
6.1Composio e Caracterizao da Amostra .................................
35
6.2 Anlise de consistncia interna do FLCI ....................................
36
6.3 Anlise de confiabilidade ............................................................
36
6.4 Correlaes entre o FLCI e as escalas cognitivas ......................
37
6.5 Comparao de desempenho no FLCI entre os grupos estudados ....................................................................................
39
6.6 Perfil de desempenho dos grupos estudados no FLCI ...............
41
6.7 Correlaes entre idade e escolaridade e o desempenho no FLCI ............................................................................................
43
6.8 Associao do desempenho no FLCI com a funcionalidade ...... 44
7. DISCUSSO................................................................................. 46
8. CONCLUSES............................................................................. 59
9. ANEXOS....................................................................................... 61
10. REFERNCIAS ........................................................................... 86
LISTA DE SIGLAS
ABCD Bateria Arizona para Desordens da Comunicao em Demncia ACCA Ambulatrio de Comprometimento Cognitivo Avanado APNF Afasia progressiva no fluente ASHA American Speech-Language-Hearing Association ASHA-FACS Avaliao Funcional das Habilidades de Comunicao AVC Acidente Vascular Cerebral CAPES - Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPPesq Comisso de tica para Anlise de Projetos de Pesquisa CDR Clinical Dementia Rating CDR SC Clinical Dementia Rating soma das caixas CS/EOF Compreenso de sinais / emparelhamento objeto-figura DA Doena de Alzheimer DA+DV Demncia de Alzheimer associada a Demncia Vascular DFT Demncia Frontotemporal DLFT Degenerao Lobar Frontotemporal DS Demncia Semntica DSM-IV Manual de Diagnstico e Estatstica dos Distrbios Mentais da Associao Americana de Psiquiatria (4 edio) DV Demncia Vascular FAST Escala de Estadiamento funcional (Functional Assessment Staging) FASTmod Escala de Estadiamento funcional modificada FLCI Inventrio Lingstico de Comunicao Funcional FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo
HCFMUSP Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica ICC Coeficiente de Correlao Interclasse IQCODE Informant Questionnaire on Cognitive Decline in the Elderly MEEM Mini Exame do Estado Mental MEEMg Mini Exame do Estado Mental grave NINCDS-ADRDA National Institute of Neurological Communicative Disorders and Stroke - Alzheimers Disease and related Disorders Association SPSS Statistical Package for Social Sciences TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido USP Universidade de So Paulo
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Caracterizao da amostra .................................. 35
Tabela 2 Anlises de confiabilidade intra e interexaminadores do FLCI ........................................................................
37
Tabela 3 Desempenho no teste FLCI e seus sub-testes, de acordo com a gravidade da demncia ........................
39
Tabela 4 Desempenho no teste FLCI e seus sub-testes, de acordo com a classificao nosolgica de demncia ..
40
Tabela 5 Itens dicotmicos: porcentagem de sujeitos que completaram os itens dicotmicos do FLCI, de acordo com a gravidade da doena ........................................
42
Tabela 6 Itens pontuveis: desempenho dos sujeitos, de acordo com a gravidade da doena.............................
43
Tabela 7 Correlao entre a varivel idade e o FLCI para amostra total ................................................................
44
Tabela 8 Correlao entre a varivel escolaridade e o FLCI para amostra total ........................................................
44
Tabela 9 Correlao entre a escala FAST e o FLCI para amostra total ................................................................
44
Tabela 10 Escores da Avaliao Clnica da Demncia ................
74
Tabela 11 Domnios adicionais do CDR DLFT de Comportamento e Personalidade e Linguagem ..........
75
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Correlao entre o MEEM e o FLCI .............................. 37
Grfico 2 Correlao entre o MEEM grave e o FLCI .................... 38
Grfico 3 Correlao entre soma das caixas do CDR e FLCI ......
38
Grfico 4 Perfil de desempenho dos grupos de DA, DA+DV e DLFT no FLCI ............................................................
41
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A Aprovao CAPPesq .................................................... 61
ANEXO B Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............. 62
ANEXO C Critrios DSM-IV para demncia .................................. 64
ANEXO D Critrios NINCDS-ADRDA para doena de Alzheimer.. 65
ANEXO E Escore Clnico de Demncia CDR ............................. 66
ANEXO F Escore Clnico de Demncia CDR adaptado para DLFT .............................................................................
75
ANEXO G Mini Exame do Estado Mental MEEM ....................... 76
ANEXO H Mini-Exame do Estado Mental grave MEEMg ........... 77
ANEXO I Escala de Estadiamento Funcional FAST ................. 79
ANEXO J FLCI Folha de resposta ............................................. 80
ANEXO K FLCI Folha de pontuao .......................................... 83
ANEXO L Consentimento para traduo e adaptao do FLCI .... 85
RESUMO
FASANELLA RS. Habilidades de comunicao nas demncias avanadas [dissertao]. So Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de So Paulo; 2011.
INTRODUO: O aumento da expectativa de vida tem contribudo para o crescimento da populao idosa em todo o mundo. O envelhecimento uma condio de risco para o desenvolvimento de doenas, entre as quais as demncias, que respondero nas prximas dcadas por um nmero significativo de idosos com comprometimento cognitivo, comportamental e funcional. A ampliao de cuidados a esses pacientes est associada ao aumento de sua expectativa de vida; por isso crescente o nmero de indivduos dementes em estgios avanados. Os quadros demenciais comprometem gradualmente o comportamento e a cognio, e observa-se uma progressiva deteriorao tambm na comunicao. As caractersticas da linguagem em fases mais avanadas tm sido pouco detalhadas nas demncias. Da a necessidade de se disponibilizar instrumento, em lngua portuguesa brasileira, para avaliao da linguagem na demncia em fases moderada e grave, o FLCI (Inventrio de Comunicao Lingstico Funcional). O FLCI gera dados para auxiliar o diagnstico, acompanhamento e evoluo da doena e, alm disso, para orientar familiares e cuidadores. O FLCI foi aplicado a populao com doena de Alzheimer (DA). Desconhece-se sua aplicabilidade em outros quadros demenciais como doena de Alzheimer associada a demncia vascular (DA+DV), demncias do espectro lobar frontotemporal (DLFT) em fases avanadas. OBJETIVOS: 1.realizar a traduo e adaptao transcultural do FLCI para uso na populao brasileira; 2.comparar o desempenho de pacientes com DA, DA+DV e DLFT em fase moderada e grave e 3.correlacionar as habilidades lingstico-cognitivas com a funcionalidade na vida cotidiana. MTODOS: A amostra foi composta por 57 sujeitos, sendo 24 com DA, 24 com DA+DV e 09 com DLFT, com idade a partir de 60 anos e CDR (Clinical Dementia Rating) em nveis 2 e 3, moderado e grave respectivamente. Foi realizada a traduo e adaptao transcultural do FLCI e verificada a consistncia interna, confiabilidade inter e intra-examinadores, assim como a validade de critrio do instrumento pela correlao com o Mini-Exame do Estado Mental (MEEM). O desempenho lingstico-cognitivo dos sujeitos agrupados segundo diagnstico foi analisado por meio da aplicao do FLCI, para comparao de mdias de desempenho nos diferentes sub-testes. Foi possvel correlacionar os aspectos cognitivos com a funcionalidade por meio da escala FAST (Functional Assessment Staging) e analisar a correlao desta com o FLCI. Verificou-se tambm o efeito da idade e da escolaridade no desempenho comunicativo dos pacientes. RESULTADOS: As anlises estatsticas indicaram que o FLCI apresenta consistncia interna satisfatria (alfa de Cronbach=0,890), tima confiabilidade intra e interexaminador (coeficiente de correlao interclasse - ICC=0,999 e 0,100 respectivamente) e tima validade de critrio ao ser correlacionado com o MEEM. Todos os sub-testes
que compem o FLCI apresentaram diferenas significativas para a amostra total classificada de acordo com a gravidade da demncia aps ser correlacionada a pontuao total do teste com a escala FAST. De acordo com a classificao nosolgica da demncia, somente um sub-teste do FLCI apresentou diferenas estatisticamente significativas: compreenso de sinais e emparelhamento objeto-figura. As variveis idade e a escolaridade no apresentaram influncia sobre o desempenho comunicativo da amostra. Comparando-se o perfil de desempenho, a partir da pontuao mdia em cada sub-teste do FLCI, observou-se melhor desempenho na maioria dos sub-testes para o grupo DLFT, em seguida o grupo DA e por ltimo o grupo de DA+DV. A partir da comparao da pontuao total do FLCI com a FAST modificada, foi possvel correlacionar a funcionalidade com as habilidades de comunicao. Verificou-se correlao significativa nas anlises entre a escala FAST e a pontuao total do FLCI e escala FAST entre os itens dicotmicos (pontuados como sim/no) e itens pontuveis (pontuao aberta) que compem o FLCI. CONCLUSO: O FLCI, verso em portugus, instrumento vlido e confivel para avaliao de pacientes com demncia avanada, til para identificar as habilidades de comunicao de dementes em fases moderada e grave. O FLCI vem preencher importante lacuna de carncia de instrumentos eficazes para intervenes de linguagem e comunicao em pacientes com demncia em fase avanada.
Descritores: 1. Demncia; 2.Doena de Alzheimer; 3.Comunicao; 4.Degenerao Lobar Frontotemporal; 5.Cognio; 6. Linguagem
SUMMARY
FASANELLA RS. Communication abilities in advanced dementia [dissertation]. So Paulo: School of Medicine, University of So Paulo; 2011.
BACKGROUND: The increase in life expectancy has contributed to the growth of elderly population all over the world. Aging is a risk factor for many diseases including dementia that, in the next decades, will answer for a significant number of elderly with cognitive, behavioral and functional deficits. The expansion of care for these patients is associated to the increase in their life expectancy; therefore there is also an increase in the number of demented individuals in advanced stages. Dementia gradually undertakes behavior and cognition, and a progressive deterioration in communication is also observed. Language characteristics in advanced stages of dementia have been little detailed in literature, hence the need to provide a Brazilian Portuguese version of an instrument to evaluate language in moderate and severe dementia, the Functional Linguistic Communication Inventory (FLCI). The FLCI generates data to help diagnosis, monitoring and evolution of the disease and, moreover, for the orientation of family and caregivers. The FLCI have been used in population with Alzheimers disease (AD), but its applicability in other types of dementia, such as Alzheimers associated to vascular dementia (AD+VD) and frontotemporal lobar degeneration spectrum dementia (FTLD) in advanced stages, is unknown. PURPOSE: 1. to translate and culturally adapt the FLCI for use with the Brazilian population; 2. to compare the performances of patients with moderate and severe AD, AD+VD, and FTLD; and 3. to correlate cognitive-linguistic abilities and functionality in daily life. METHODS: Participants were 57 subjects (24 with AD, 24 with AD+VD, and 09 with FTLD) with ages 60 years and up and levels 2 or 3 in the Clinical Dementia Rating (CDR), moderate or severe, respectively. It was carried out the translation and cultural adaptation of the FLCI, and internal consistency, intra- and inter-examiners reliability were verified, as well as the criterion validity of the instrument through its correlation with the Mini-Mental State Examination (MMSE). The cognitive-linguistic performance of the subjects grouped according to diagnosis was analyzed by comparing mean scores on different subtests of the FLCI. It was possible to correlate cognitive aspects and functionality through the FAST scale (Functional Assessment Staging) and to analyze its correlation with the FLCI. It was also verified the effects of age and education level on the communicative performance of these patients. RESULTS: Statistical analysis indicated that the FLCI presents satisfactory internal consistency (Cronbachs =.890), great intra- and inter-examiner reliability (interclass correlation coefficient ICC=.999 and .100, respectively), and great criterion validity when correlated to the MMSE. All subtests that compose the FLCI presented significant differences for the total sample classified according to the severity of dementia, after total score on the test was correlated to the FAST scale. According to the nosological classification of dementia, only one FLCI subtest showed significant differences: sign comprehension and object-to-picture matching. The
variables age and education level did not influence the communicative performance of the sample. When performance profiles based on the average score in each FLCI subtest were compared, it was observed better performance of the FTLD group in most subtests, followed by the AD group and, last, by the AD+VD group. Functionality and communication abilities were correlated based on the comparison between total score on the FLCI and the modified FAST scale. It was verified a correlation between total, dichotomous (scored yes/no) and scored (open scored) items of FLCI and the FAST scale. CONCLUSION: The Brazilian Portuguese version of the FLCI is a valid and reliable instrument to evaluate patients with advanced dementia, useful to identify communication abilities of demented in moderate and severe stages. The FLCI fulfills an important lack of efficient instruments for language and communication intervention in patients with dementia in advanced stages.
Descriptors: 1. Dementia; 2. AlzheimersDisease; 3.Communication; 4. Frontotemporal Lobar Degeneration; 5.Cognition; 6. Language
1
1. INTRODUO
A populao idosa mundial, incluindo-se a brasileira, vem crescendo
significativamente nos ltimos anos. Segundo dados do IBGE (2004), em
2000, havia 1,8 milhes de pessoas com 80 anos ou mais no Brasil e em
2050 esperado que essa populao atinja 13,7 milhes. Com isso, o pas
passar a ocupar o 6 lugar em populao de idosos no mundo, em valores
absolutos (Gordilho et al., 2000).
O aumento da populao idosa traz o risco de ocorrncia de
demncias, realidade mundial e tambm em nosso pas (Nitrini et al., 2004).
A demncia, segundo os critrios DSM-IV, uma sndrome
caracterizada por declnio de memria associado a dficit de pelo menos
outra funo cognitiva (gnosia, praxia, linguagem ou funo executiva) com
intensidade suficiente para interferir nas atividades de vida dirias do
indivduo (American Psychiatric Association, 1994).
A maioria das sndromes demenciais ocorre em fases mais tardias da
vida, com uma prevalncia de 30% a 50% aos 85 anos (Scazufca et al.,
2002).
crescente o nmero de indivduos dementes em estgios
avanados, dada a ampliao e acesso aos cuidados, que tem acrescentado
tempo de vida a esses pacientes. A sobrevida mdia aps o diagnstico de
demncia varia entre um a 16 anos, enquanto um tero dos dementes vivem
no estgio avanado da doena (Herrmann e Gauthier, 2008).
2
Como os quadros demenciais comprometem gradualmente o
comportamento e a cognio, uma progressiva deteriorao tambm
observada na linguagem (Vuorinen et al., 2000).
Uma das principais queixas, de familiares e/ou cuidadores de
pacientes com demncia, principalmente em fase moderada e grave, a
dificuldade na manuteno da comunicao. Essa dificuldade tem impacto
negativo no manejo dos pacientes e no convvio social, uma vez que inibe ou
reduz as tentativas de interao entre os familiares.
As caractersticas da linguagem em fases mais avanadas tm sido
pouco detalhadas nas demncias. Da a necessidade de se disponibilizar um
instrumento, em lngua portuguesa brasileira, para avaliao da linguagem
na demncia em fases moderada e grave, o FLCI (Inventrio de
Comunicao Lingstico Funcional), desenvolvido por Bayles e Tomoeda
(1994).
O FLCI gera dados para o acompanhamento e evoluo da doena e,
alm disso, para orientar familiares e cuidadores. A aplicao populao
americana limitou-se doena de Alzheimer (DA); desconhece-se sua
aplicabilidade em outros quadros demenciais como doena de Alzheimer
associada demncia vascular (DA+DV) e demncias do espectro lobar
frontotemporal (DLFT) em fases avanadas.
3
2. JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
O aumento da sobrevida nas demncias uma realidade mundial.
Isso significa que teremos maior nmero de indivduos com quadro
demencial em fases avanadas, dependentes e carentes de cuidados.
Desconhecemos a existncia de instrumentos para avaliao da linguagem
nas demncias em fase avanada, no Brasil. Sua utilizao seria de grande
valia para auxiliar o diagnstico, acompanhamento e evoluo da doena,
como tambm a orientao a familiares e cuidadores.
Este estudo teve como objetivo traduzir, realizar a adaptao
transcultural do FLCI e verificar a aplicabilidade na populao brasileira
portadora de demncias em fases moderada e grave. O instrumento fornece
informaes sobre habilidades lingstico-cognitivas e funcionais desses
pacientes.
4
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Realizar a traduo e adaptao transcultural do FLCI - Inventrio de
Comunicao Funcional Lingstica (no ingls, Functional Linguistic
Communication Inventory), para o Portugus Brasileiro e verificar a
aplicabilidade na avaliao das habilidades lingstico-cognitivas de
pacientes com demncias em fase moderada e grave.
3.2 Objetivos Especficos
Avaliar a confiabilidade intra-examinador da aplicao do FLCI
verso em Portugus Brasileiro.
Avaliar a confiabilidade interexaminador da aplicao do FLCI
verso em Portugus Brasileiro.
Verificar a validao de critrio do FLCI, verso em Portugus
Brasileiro, para pacientes com demncia de Alzheimer (DA), demncia
de Alzheimer associada demncia vascular (DA+DV) e Degenerao
Lobar Frontotemporal (DLFT).
Comparar o desempenho de pacientes com DA, DA+DV e DLFT com
comprometimento moderado e grave.
Correlacionar habilidades lingistico-cognitivas e de funcionalidade na
vida cotidiana.
5
4. REVISO DE LITERATURA
4.1 Linguagem nas Demncias Avanadas
O presente captulo pretende abordar aspectos relevantes para um
maior entendimento da DA, DA+DV e DLFT, particularmente os dficits de
linguagem decorrentes da doena, observados nas fases moderada e grave.
4.1.1. Doena de Alzheimer (DA)
Grande parte da compreenso atual sobre demncia em idosos tem
sido estruturada a partir do estudo e definio da DA (Romn, 2002).
A DA a forma mais freqente de demncia, no Brasil, a incidncia
de 4,9% segundo estudo de base populacional, onde tambm constatou-se
que o aumento da idade leva maior prevalncia de demncia,
predominando a DA, observado na maioria dos pases do mundo (Nitrini et
al., 2004).
Um estudo de base populacional realizado no Brasil por Herrera et al.,
(2002) constatou que houve maior ocorrncia de demncia em analfabetos
(12,2%) do que em indivduos com escolaridade igual ou superior a 8 anos
(3,5%). A DA foi mais prevalente no sexo feminino. Os dois fatores, gnero e
escolaridade tem sido consistentemente associados a risco significativo para
a demncia (Borenstein et al., 2006, Hall et al., 2007).
6
Os critrios do NINCDS-ADRDA (National Institute of Neurologic,
Communicative Disorders and Stroke- Alzheimers Disease and Related
Disorders Association) ainda so os mais utilizados para diagnosticar a DA.
Esses critrios permitem classificar a DA em provvel, possvel ou definida,
esse ltimo confirmado por exames neuropatolgicos (McKhann et al., 1984).
O diagnstico de DA provvel refere a um incio insidioso do declnio
da memria e comprometimento de mais uma funo cognitiva, com
evoluo progressiva, nvel de conscincia preservado e ausncia de outras
condies que poderiam acarretar o mesmo problema. O diagnstico de DA
possvel menos especfico, destinado a quadros com apresentao e
progresso atpicas, presena de sinais neurolgicos focais ou a coexistncia
de outras desordens que poderiam acarretar demncia (Mayeux e Sano,
1999).
Pacientes com DA apresentam alteraes cognitivas e
comportamentais. Dentre as alteraes comportamentais observa-se:
mudana de apetite, delrios e alucinaes, apatia, agressividade e
desinibio (Almeida e Crocco, 2000). Alm do comprometimento da
memria, observa-se tambm dficits nas demais habilidades cognitivas
como: linguagem, memria, sobretudo a memria episdica, orientao,
ateno, capacidade para resolver problemas e habilidades para
desempenhar as atividades da vida diria (Caramelli e Barbosa, 2002 e
Albert, 2008).
7
Descries clssicas relatam alteraes sutis na fase inicial da
doena, caracterizadas por falhas de acesso lexical. Esses dficits lxico-
semnticos se intensificam, somam-se aos pragmticos em fase moderada,
com relativa preservao dos aspectos fonolgicos e sintticos, at estgios
mais avanados da doena (Marin et al., 2000; Albert, 2008 e Turgeon e
Macoir, 2008).
Os instrumentos para avaliao de linguagem na DA, em sua maioria
foram delineados para detectar as mudanas e comprometimentos que
permitam contribuir para o diagnstico etiolgico. Por meio deles chegou-se
ao consenso de que na DA, as habilidades pragmticas e semnticas so
mais vulnerveis s perdas do que as fontico-fonolgicas e sintticas
(Hopper e Bayles, 2001).
Falhas na compreenso em geral so amplamente relatadas pelos
familiares ou cuidadores. Elas ocorrem freqentemente em situaes de
sobrecarga e complexidade de processamento, como grande nmero de
informaes ou frases no cannicas (por exemplo, na voz passiva) e ainda,
na compreenso de discursos, tornando-se mais evidentes em estgios
intermedirios da doena (Rochon et al., 2000).
Falhas na leitura tambm se apresentam em fases intermedirias da
DA. A leitura uma habilidade complexa e pode ser examinada sob vrias
perspectivas e processos: semnticos, fonolgicos e perceptuais, altamente
dependentes da ateno e da memria. A capacidade de compreenso da
leitura um indicador sensvel para verificar falhas semnticas na DA
(Carthery et al., 2005; Albert, 2008).
8
Na escrita, constatou-se que pacientes com DA apresentam erros
ortogrficos, prxicos e motores desde a fase inicial da doena. Na fase
moderada nota-se agrafia mista, com comprometimento da rota lexical e de
um ou mais processos perifricos da escrita (Carthery, 2000).
Uma vez que a compreenso e a expresso lingstica dependem da
integridade de outras funes cognitivas que lhe do suporte, o rebaixamento
das mesmas acarreta alteraes significativas nas tarefas de comunicao
(Bayles, 2003). Alteraes da memria episdica, presentes nas fases
iniciais da doena j foram amplamente descritas, bem como seu impacto na
comunicao (Hodges e Patterson, 1995; Izquierdo, 2002). Alm da perda da
capacidade de resgate de informaes da memria episdica, na fase
moderada, contam com reduo de recursos da memria operacional,
somados dificuldade de manuteno da ateno e de busca e resgate da
informao (Daly et al., 2000). Com o agravamento da doena dficits de
memria semntica, afetam o armazenamento do conhecimento conceitual e
factual (Allegri et al., 2001).
A interao de perdas de linguagem e cognitivas tem significativo
impacto na vida cotidiana e nas atividades funcionais. O declnio observado
de incio nas atividades mais complexas (como as instrumentais) e estende-
se na fase moderada da doena, para as mais simples e bsicas atividades
de vida diria, tais como, perda da higiene pessoal e no-reconhecimento de
objetos e pessoas estreitamente relacionadas. Nas fases mais avanadas a
perda intensa, e o paciente necessita de assistncia integral. Pode
apresentar disfagia e incontinncia urinria e fecal, freqentemente
9
resultando na necessidade de institucionalizao (Forlenza e Caramelli,
2000; Machado, 2000; Pettersson et al., 2002).
Na literatura h relatos de comprometimento nas fases tardias: todas
as funes lingsticas encontram-se comprometidas, o discurso repetitivo,
falta coerncia, as perseveraes so abundantes e a comunicao
restringe-se produo de sons incompreensveis at completo mutismo
(Corey-Bloom, 2004).
Entretanto, Bayles et al., (2000) ao avaliarem indivduos com
demncia avanada por meio do FLCI constataram que estes apresentam
algumas habilidades residuais de comunicao, apesar da limitao do
vocabulrio, falta de iniciativa e espontaneidade e dificuldade em fornecer
informaes precisas. Entre essas habilidades esto as de repetio,
reconhecimento do prprio nome e habilidades sociais. Este estudo revelou
que pacientes em estgio tardio da doena tm maiores competncias de
linguagem do que indicam algumas escalas funcionais amplamente utilizadas
para o estadiamento da demncia, como a FAST (Functional Assessment
Staging) elaborada por Reisberg (1988). Uma importante proposta de Bayles
(op cit.) a correlao entre habilidades de comunicao e funcionalidade de
vida diria.
A incontinncia urinria tem sido considerada na literatura como marco
objetivo e confivel, no estadiamento de indivduos com DA (Del-Ser et al,
1996). Bayles et al., (op. cit.) observaram ainda que muitos indivduos com
incontinncia, porm no acamados, produziam sentenas inteligveis e com
significado. J os sujeitos considerados muito graves com incontinncia
10
total e acamados, apresentaram completa inabilidade em realizar qualquer
tarefa de linguagem. Concluiu que indivduos incontinentes para urina
apresentam mais habilidades de comunicao do que indivduos que so
incontinentes totais; alm disso, verificou que a associao das condies de
incontinncia total e restrio ao leito esto associadas linguagem bastante
limitada; entretanto, tornar-se incontinente e no deambular no esto
necessariamente associados com limitao de fala a 6 palavras ou menos,
como especifica a escala FAST.
Gillioz et al., (2009) realizaram um estudo longitudinal com 126
pacientes com DA em fase avanada e observaram que habilidades de
interao social e resposta ao prprio nome mantiveram-se preservadas.
4.1.2. Degenerao Lobar Frontotemporal (DLFT)
A Degenerao Lobar Frontotemporal (DLFT) uma doena
neurodegenerativa progressiva, com um padro heterogneo de prejuzo
cognitivo. Est associada a faixas etrias pr-senis, porm so crescentes os
relatos de casos em pacientes considerados idosos (Ratnavalli et al., 2002).
Hodges et al., (2009) realizaram uma extensa descrio sobre
caractersticas sciodemogrficas e prognstico de 100 pacientes com DLFT.
Observaram que a apresentao da doena em idade superior aos 65 anos
maior do que o previsto pela literatura. Quanto ao gnero, observou-se que a
DLFT prevalece no masculino (Snowden et al., 2002; Ratnavalli et al., 2002).
11
Os critrios mais utilizados para o diagnstico de DLFT so os
propostos Neary et al., (1998).
A DLFT caracterizada por distrbios proeminentes e graduais de
comportamento, como condutas anti-sociais e desinibio, transtornos de
personalidade e de linguagem. Em contrapartida, a memria relativamente
preservada at as fases mais avanadas, com exceo da memria
semntica (Johnson et al., 2005, Neary et al., 2005).
O espectro da DLFT inclui trs variantes: comportamental, tambm
chamada de variante scio-executiva, caracterizada por mudanas no
comportamento e personalidade, que se justificam pelo stio de
acometimento predominante em lobos frontais, principalmente direita; outra
variante a demncia semntica, sndrome que cursa com perda
progressiva, proeminente, do conhecimento de palavras e objetos, associada
ao comprometimento de lobos temporais anteriores, com predomnio
esquerda; por fim, a afasia progressiva primria no fluente, caracterizada
por esforo produo da linguagem e perdas gramaticais correlacionveis
atrofia cortical perisilviana (Neary et al., 1998) Abaixo apresentamos as
principais caractersticas dessas variantes.
Variante socio-executiva
A linguagem dos pacientes acometidos pela variante socioexecutiva
da DLFT expressa tanto desinibio quanto a inibio do comportamento.
Nota-se perseverao e ecolalia ou tendncia a repetir e, por outro lado,
mutismo e reduo da fluncia e de iniciativa nos dilogos, com
12
empobrecimento de contedo (Kirshner, 2010). A compreenso de frases
est afetada, na medida em que sistemas de suporte da linguagem, como a
memria operacional e seus controles executivos esto comprometidos
nessa doena (Peelle et al., 2008). O comprometimento se projeta, e
evidente, em situaes abertas e mais complexas, como a conversao.
Esses indivduos so dependentes do interlocutor para gerenciar e dar
continuidade interao.
A descrio da linguagem nas variantes da APP, do complexo DLFT
foi baseada em Gorno-Tempini (2011).
Afasia progressiva primria no fluente
Os sintomas proeminentes no subgrupo de afasias progressivas
primrias no fluentes so os de linguagem. O comportamento e outras
funes cognitivas permanecem inalteradas e o paciente mantm a
funcionalidade no cotidiano. Eles comportam-se de modo eficiente e
adequado. Alguns pacientes podem desenvolver sintomas comportamentais
semelhantes aos da variante socioexecutiva, aps alguns anos da
manifestao da doena.
As manifestaes da alterao da linguagem se iniciam com
dificuldades de acesso lexical, no contexto de progressiva disfluncia e
hesitao. Essas dificuldades podem caminhar em paralelo com
comprometimento da compreenso, especialmente para material
sintaticamente mais complexo.
13
A produo da linguagem denota esforo e assemelha-se em alguns
aspectos afasia de Broca, com agramatismo (Gorno-Tempini, 2011).
Demncia semntica
Na demncia semntica a fluncia est preservada com acentuada
dificuldade no conhecimento de palavras, mesmo para palavras isoladas. A
anomia de cunho semntico; tanto a nomeao quanto o conhecimento dos
prprios objetos e do nome de pessoas est comprometido. A repetio est
preservada assim como a capacidade de leitura em voz alta; porm, os
pacientes tm dislexia de superfcie (Gorno-Tempini et al., 2004).
4.1.3. Doena de Alzheimer associada a Demncia Vascular
No final do sculo XX reconheceu-se que a Doena de Alzheimer
poderia coexistir com a Demncia Vascular. De acordo com NINDS-AIREN,
"doena de Alzheimer associada doena crebro-vascular" (DA+DV) o
termo preferido para designar tal quadro clnico (Roman, 2003).
DA+DV a entidade nosolgica caracterizada pela ocorrncia
simultnea de eventos caractersticos dos dois tipos de demncias. Estima-
se que mais de um tero dos pacientes com DA apresentem tambm leses
vasculares, e proporo similar de pacientes com demncia vascular (DV)
exibam alteraes patolgicas caractersticas de DA (Kalaria e Ballard,
1999).
14
O conceito de DA+DV clinicamente importante, porque a
combinao das duas doenas podem ter maior impacto sobre o crebro do
que qualquer uma delas, isoladamente (Lim et al., 1999). O complexo
DA+DV apresenta grande prevalncia em nosso pas, e responde por 14,4%
dos casos (Herrera et al., 2002).
A presena de leses vasculares nos pacientes com DA pode estar
subestimada e parece estar associada deteriorao clnica mais rpida
(Romn, 2002), ao aumento dos efeitos patolgicos desta ltima e
acentuao do comprometimento cognitivo (Fuh et al., 2005).
A apresentao mais frequente da DA+DV a do paciente com
sintomas e caractersticas clnicas tpicas de DA que sofre piora abrupta,
acompanhada pela presena de sinais clnicos de acidente vascular cerebral
(AVC) (Hnon et al., 2001).
Em um estudo realizado por Fonseca et al., (2008), pacientes com
DA+DV apresentaram apatia, alucinaes e idias delirantes em maior
freqncia, quando comparados a pacientes com DA, por serem sintomas
compatveis com fases avanadas desses ltimos. Esse complexo
sindrmico sinaliza a instalao de sintomas neuropsiquitricos, mais
precoce na DA+DV.
Tierney et al., (2001) relatam que apesar de haver similaridades entre
DA e DV, a associao delas acarreta maior comprometimento da funo
frontal executiva quando comparada memria verbal de longo prazo.
O perfil cognitivo dos pacientes com DA+DV tem sido pouco estudado
de forma isolada. As habilidades de linguagem so ainda menos estudadas.
15
O perfil cognitivo dos indivduos em fase avanada da doena ainda no
conhecido. Em resumo, informaes sobre a linguagem na DA+DV so
escassas e as descries so bastante heterogneas, o que resulta em
importante dificuldade de se estabelecer o perfil lingstico desses pacientes.
A apresentao sindrmica da demncia em estgio avanado
caracteriza-se por grande homogeneidade, com perda substancial das
habilidades comunicativas e cognitivas. Da a dificuldade de estabelecer
diferenciao nosolgica entre elas, nesse estgio. Habilidades residuais
podem contribuir para a identificao dos quadros (Rascovsky et al, 2002).
4.2 Avaliao da Linguagem nas Demncias e o Inventrio Lingstico
de Comunicao Funcional FLCI
Diversos instrumentos tm sido desenvolvidos para avaliao clnica
em estgios leve e moderado da demncia, mas o mesmo no acontece
para a avaliao de pacientes com demncia em estgio grave.
Estudos sobre demncia tm sido conduzidos com base na avaliao
da linguagem por meio de instrumentos poucos especficos, elaborados para
indivduos com afasia decorrente de AVC e no para pacientes com
demncia (Turgeon e Macoir, 2008).
Na deteco de comprometimento cognitivo o instrumento para
rastreio mais utilizado o Mini Exame de Estado Mental (MEEM). O teste
avalia os aspectos predominantemente presentes no hemisfrio cerebral
esquerdo. Algumas variveis podem influenciar o desempenho dos
16
indivduos no teste, tais como escolaridade, nvel de conscincia, audio,
viso, distrbios motores e dominncia de lateralidade (Folstein et al., 1975).
Este instrumento foi adaptado populao brasileira por Bertolucci et
al., (1994), que verificaram o impacto da escolaridade nos resultados obtidos.
Em seguida, Brucki et al., (2003) publicaram recomendaes para uma
aplicao uniforme do MEEM em diferentes ambientes (hospitalar,
ambulatorial e comunitrio). O teste apresenta boa sensibilidade, porm sua
especificidade modesta quando utilizado de forma isolada, o que
recomenda sua associao com outros instrumentos (Cummings et al.,
1980).
Harrell et al., (2000) desenvolveram o MEEM grave (MEEMg),
baseado no MEEM original para a avaliao de pacientes em estgios
avanados. Observaram que pacientes com DA em fase avanada so
capazes de produzir e escrever o prprio nome, seguir um comando simples,
quando quase todas as outras habilidades cognitivas so perdidas, no
sendo capazes de realizar tarefas de nomeao, portanto um item sensvel
para detectar o declnio da capacidade cognitiva. Wajman e Bertolucci (2006)
realizaram a traduo dessa escala para o portugus brasileiro,
possibilitando seu uso em nosso pas.
Existem alguns questionrios que abordam a funcionalidade do
paciente na vida cotidiana incluindo informaes relacionadas linguagem,
como o Questionrio do Informante IQCode (Jorm, 1994), a Escala Clnica
de Estadiamento CDR (Morris, 1993), Questionrio de habilidades
17
funcionais ASHA FACS (Fratalli et al., 1995) e escala FAST - Functional
Assessment Staging (Reisberg, 1988; Sclan e Reisberg,1992).
A escala FAST composta por 16 estgios sucessivos a partir de
idosos normais at pacientes com DA em estgio grave. O benefcio desta
medida foi a especificao da ordem de ocorrncia da sintomatologia. A
FAST tambm compreende 7 estgios e especifica a ordem de quais
sintomas ocorrem nos estgios 6 e 7, considerados declnio cognitivo grave
e declnio cognitivo muito grave respectivamente. Relatam mudanas
relativas comunicao apenas no estgio 7a, quando os pacientes so
caracterizados pela capacidade de falar limitada a meia dzia de palavras
ou menos, no curso mdio de um dia (Reisberg, 1988; Sclan e
Reisberg,1992).
Uma avaliao funcional deve verificar o impacto do distrbio na
funcionalidade, com a identificao dos ajustes necessrios para atender a
demanda do meio. Difere, ento, de outras avaliaes, como as
neuropsicolgicas, neurolgicas ou psiquitricas, que so medidas
diagnsticas e prognsticas com foco no distrbio (Carvalho e Mansur,
2008).
Como a maioria das escalas neuropsicolgicas so voltadas para
pacientes com demncia em fase iniciais, indivduos em estgio grave
freqentemente apresentam efeito solo, com desempenho prximo do nulo,
sendo considerados no testveis por muitos profissionais. Entretanto,
segundo Wajman e Bertolucci (2006) mesmo em estgio avanado da
18
demncia pode haver reas cognitivas ainda preservadas que necessitam de
uma melhor investigao.
Behl et al., (2005) relatam que necessrio rever as caractersticas de
progresso da demncia, como pr-requisito para adaptar as ferramentas
para que estas se tornem mais precisas na avaliao de pacientes com
demncia em fase avanada.
Inicialmente Bayles e Tomoeda (1993) desenvolveram a Bateria
Arizona para Distrbios da Comunicao em Demncia (no ingls Arizona
Battery for Communication Disorders of Dementia - ABCD), designada para
qualificar e quantificar os dficits lingstico-cognitivos associados com a DA
e outras demncias, em seus estgios inicial e intermedirio, fornecendo
informaes sobre a cognio, orientao, memria e habilidade de
recuperar informaes. Esta bateria tambm til para o diagnstico
diferencial e para o estadiamento da doena.
Em 1994, Bayles e Tomoeda, desenvolveram o Inventrio de
Comunicao Funcional Lingstica (no ingls, Functional Linguistic
Communication Inventory FLCI) com o objetivo de quantificar e qualificar as
habilidades funcionais de comunicao de indivduos com DA em estgios
avanados da doena e dessa forma suprir a demanda necessria para a
investigao da comunicao dessa populao.
Aproximadamente metade dos itens do FLCI foi construda a partir de
um conjunto de estudos longitudinais, nos quais os autores reuniram o
desempenho de 91 sujeitos, que no apresentaram diferenas intergrupos
para idade, escolaridade e QI estimado.
19
Trata-se de um instrumento que fornece informaes sobre a
comunicao funcional. Os sub-testes verificam a funcionalidade em tarefas
como saudaes, habilidades de nomeao, respostas a questes, escrita,
emparelhamento de objeto-figura, compreenso de sinais, leitura e
compreenso de palavras, reminiscncia, seguimento de comandos (simples
e complexo), pantomima, habilidade de comunicar-se por meio de gestos e
habilidade do individuo participar de uma conversao, habilidades
necessrias para o desempenho comunicativo eficiente (Bayles e Tomoeda,
1994).
O construto Saudao e Nomeao composto por 7 sub-itens com
perguntas que permitem ao examinador observar o paciente desde o
momento inicial da apresentao: se o mesmo responde saudao verbal,
se cumprimenta atravs do aperto de mos, responde ao nome quando
solicitado, reconhece o prprio nome escrito em um carto, responde o nome
de seu acompanhante e realiza nomeao por confrontao visual. Nessa
ltima situao, avalia a expresso lingstica e memria semntica do
paciente por meio de 9 estmulos visuais coloridos.
O segundo construto chamado de Resposta a Questes composto
por 4 sub-testes que so: respostas a questes abertas, onde so abordados
trs temas do cotidiano; questes fechadas com respostas de sim/no,
questes de dupla e de mltiplas escolhas, que visam avaliar a compreenso
lingstica do sujeito. Esse sub-teste, assim como o sub-teste citado
anteriormente, est diretamente relacionado com a memria semntica que
20
armazena o significado de palavras e conhecimentos gerais (Kipps &
Hodges, 2005).
O terceiro construto avalia a Escrita atravs da gerao do prprio
nome, de uma sentena sobre si mesmo e ditado de palavras (Bayles et al.,
2000).
O quarto construto avalia a compreenso de sinais freqentes, como
smbolo que representa o gnero masculino e feminino, freqentemente
encontrados em sanitrios, placas de trnsito de parada obrigatria e de
entrada/sada de ambientes. Nesse domnio examina-se ainda a habilidade
de realizar emparelhamento de objetos e figuras.
O construto de Leitura avalia a habilidade de ler palavras isoladas
corretamente e a compreenso delas, por meio de figuras. Esse sub-teste
exige do sujeito a converso grafema-fonema e busca lexical para a sua
compreenso. As palavras lidas referem-se aos mesmos estmulos
apresentados no sub-teste de nomeao e escrita de palavras (Bayles et al.,
2000).
O sexto construto refere-se Reminiscncia de dois itens semnticos.
Verifica o reconhecimento e a possibilidade de evocao de uma srie de
memrias do item apresentado.
O construto Seguimento de Comandos avalia a habilidade de realizar
e compreender uma ordem simples e uma complexa.
O oitavo construto do Inventrio chamado de Pantomima. Solicita-
se ao sujeito que demonstre o uso dos mesmos objetos abordados nas
sesses anteriores.
21
A habilidade de realizao de Gestos abordada a seguir, com 4 sub-
itens para avaliar praxia ideomotora, que a habilidade de executar um
gesto simples sob comando (Carrilho, 1996).
Por fim, o ltimo construto refere-se Conversao. Nessa situao,
verifica-se a capacidade do sujeito para responder apropriadamente a um
elogio, reao a uma informao errnea dada pelo examinador e a
despedida da avaliao, desta forma possvel verificar a iniciativa e
gerenciamento do uso da linguagem em contexto (Bayles et al., 2000).
4.3 Traduo e adaptao transcultural de um instrumento de avaliao
Devido tendncia crescente no desenvolvimento de pesquisas
multicntricas, estabeleceu-se a necessidade de serem elaboradas medidas
especficas para utilizao de instrumentos em outros idiomas, uma vez que
diferenas culturais importantes podem estar presentes.
Aps uma reviso sistemtica da literatura sobre adaptao
transcultural de instrumentos, foram propostas orientaes padronizadas
para a realizao de adaptaes transculturais. Segundo os autores,
adaptao transcultural o processo de produzir uma medida equivalente
adaptada a uma outra cultura. Esse processo descrito abaixo e segue o
mtodo proposto por Guillemin et al., (1993).
A traduo pressupe a obteno de uma verso que preserve o
mesmo significado de cada item entre dois idiomas, procurando manter a
integridade do instrumento de medida. Para ser efetiva, deve ser executada
22
por dois tradutores independentes, permitindo, dessa forma, a identificao
de erros e interpretaes divergentes de termos ambguos no idioma original.
Aps a etapa de traduo deve-se realizar a retrotraduao, ou seja,
traduo transversa, procedimento de transformar o instrumento traduzido de
volta ao seu idioma de origem, o que permite a comparao com o original e
deteco de erros e discrepncias na traduo.
A etapa seguinte a composio de um comit de juzes bilnges
capazes de realizar a reviso da traduo e assim elaborar a verso final do
instrumento em questo. O comit deve sugerir modificaes ou eliminaes
de itens considerados ambguos, irrelevantes ou inadequados, indicando
outros culturalmente mais adequados para a populao-alvo (Guillemin et al.,
1993).
4.4 Propriedades de um instrumento de avaliao
Um instrumento de avaliao confivel deve conter como propriedades
principais a confiabilidade e a validade (Fernandes, 2003). De acordo com
Armstrong et al., (1994), citados por Menezes e Nascimento (2000): o termo
confiabilidade geralmente utilizado para se referir reprodutibilidade de
uma medida, ou seja, ao grau de concordncia entre mltiplas medidas de
um mesmo objeto.
A confiabilidade refere-se habilidade de o instrumento avaliar o
desempenho estvel do sujeito, sem interferncia de variveis externas.
Dessa forma, a avaliao da confiabilidade de um instrumento feita por
23
meio da comparao de algumas aplicaes do teste entre diferentes
examinadores (interexaminador) ao mesmo indivduo (Franzen, 2000).
Por meio da comparao da avaliao realizada por dois ou mais
examinadores possvel investigar a concordncia de aplicao e/ou
interpretao entre os avaliadores. A confiabilidade teste-reteste (intra-
examinador) realizada atravs da avaliao por um nico examinador de
um mesmo sujeito em diferente momentos, podendo dessa forma
estabelecer em que grau o instrumento pode reproduzir os resultados.
importante considerar o intervalo entre as duas avaliaes, de forma que as
respostas da segunda avaliao no sejam influenciadas pela memria da
primeira, apesar de isso no se aplicar as demncias avanadas, e tambm
no seja um intervalo muito extenso, onde possa ocorrer mudanas em
relao ao aspecto avaliado (Menezes e Nascimento, 2000).
A validade diz respeito capacidade de o instrumento avaliar aquilo a
que se props. Alguns aspectos podem ser considerados, como a validade
de critrio. Verifica-se a a eficincia do emprego do teste em um
determinado contexto; pode ser evidenciada pela correlao entre a
pontuao do teste e outra varivel externa. Essa varivel pode ser outro
instrumento utilizado como padro de referncia (Menezes e Nascimento,
2000).
O termo confiabilidade utilizado para descrever estabilidade temporal
de procedimentos de medida (Franzen, 2000). Outros termos importantes
so consistncia interna e concordncia entre diferentes avaliadores.
24
A medida de consistncia interna a estimativa a partir da
porcentagem de variao de erro na aplicao de um instrumento, ou seja,
a anlise da correlao entre os itens de um instrumento entre si e com a
pontuao geral, uma vez que medem o mesmo fenmeno. O teste
frequentemente utilizado para essa medida o alfa de Cronbach, que reflete
o grau de covarincia dos itens, entre si (Franzen, 2000).
25
5. MTODO
5.1. Desenho do Estudo
O presente trabalho um estudo transversal descritivo e analtico,
aprovado previamente pela Comisso de tica para Anlise de Projetos de
Pesquisa (CAPPesq) do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo (HCFMUSP), sob o protocolo de pesquisa
nmero 0363/10 (Anexo A).
5.2. Casustica
A fim de obedecer aos preceitos ticos na realizao de pesquisas
com seres humanos, foi elaborado um Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) (Anexo B) referente participao dos sujeitos na
pesquisa. Este Termo foi elaborado seguindo as normas do desenvolvimento
de pesquisas com seres humanos (CNS 196/96). Aps receberem
informaes detalhadas sobre o estudo, todos os sujeitos assinaram o TCLE,
autorizando dessa forma a participao na pesquisa.
A amostra deste estudo foi constituda de indivduos idosos, com idade
igual ou superior a 60 anos que foram divididos em trs grupos conforme o
diagnstico mdico: grupo com doena de Alzheimer (DA), grupo com
degenerao lobar frontotemporal (DLFT) e grupo com doena de Alzheimer
associada demncia vascular (DA+DV).
26
Para todos os grupos foram definidos os seguintes critrios de
incluso no estudo: ser falante nativo da Lngua Portuguesa Brasileira, no
usar drogas com aes alm da teraputica preconizada para o tratamento
das demncias em nosso pas, pontuao inferior a 17 pontos no MEEM,
segundo critrios de Folstein et al., (1975), estar classificados nos estgios
moderado ou grave, da escala de estadiamento da demncia - CDR (Clinical
Dementia Rating), respectivamente CDR 2 e CDR 3 (Morris, 1993; Montao
e Ramos, 2005) e diagnstico sindrmico da demncia, segundo os critrios
DSM-IV (American Psychiatric Association, 1994) (Anexo C).
A amostra total foi composta por 57 pacientes, 24 com o diagnstico
de DA, 24 com DA+DV e nove com DLFT, provenientes dos ambulatrios de
Comprometimento Cognitivo Avanado (ACCA) da Diviso de Clinica Mdica
e Neurologia Cognitiva e do Comportamento da Diviso de Neurologia do
Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So
Paulo (HC-FMUSP).
Os critrios de incluso especficos para o grupo de DA foram:
- Diagnstico de Doena de Alzheimer provvel, segundo os critrios
NINCDS-ADRDA (National Institute of Neurologic Communicative Disorders
and Stroke-Alzheimer Disease and Related Disorders Association)
(McKhann et al., 1984) (Anexo D).
Os critrios de incluso especficos para o grupo de DLFT foram:
- diagnstico de degenerao lobar frontotemporal, baseado em dados de
anamnese, exame neurolgico e avaliao neuropsicolgica, neuroimagem
estrutural (tomografia computadorizada ou ressonncia magntica) e SPECT
27
funcional junto com uma bateria de testes de triagem de sangue de rotina. O
diagnstico de DLFT foi baseado nos critrios propostos por Neary et al.,
(1998).
Os critrios de incluso especficos para o grupo de DA+DV foram:
- diagnstico de doena de Alzheimer associado demncia vascular,
segundo os critrios DSM IV.
Os critrios de excluso foram iguais para todos os grupos: alteraes
sensoriais (dficits visuais e auditivos no corrigidos); dados obtidos por meio
da entrevista inicial.
5.3. Procedimentos
5.3.1. Escalas e testes aplicados
Foram aplicados inicialmente testes para incluso dos sujeitos:
- Mini-Exame do Estado Mental - MEEM (Folstein et al, 1975;
Bertolucci et al, 1994; Brucki et al, 2003). O teste dirige-se ao sujeito e
subdividido em sete reas: orientao temporal, orientao espacial,
memria imediata e tardia, linguagem, ateno, clculo e habilidades
visuoconstrutivas, que so avaliadas por meio de questionamentos e
realizao de tarefas. A pontuao pode variar de 0 (ausncia de respostas
ou respostas erradas) a 30 (total mximo de acertos) (Anexo G).
- Mini-Exame do Estado Mental grave MEEM-g (Harrell et al, 2000;
Wajman e Bertolucci, 2006). O teste solicita resposta a questes sobre
28
conhecimento autobiogrfico e orientao e realizao de tarefas: realizao
de comandos simples, praxia construtiva, repetio, fluncia verbal
semntica e memria episdica. O escore pode variar de 0 a 30 pontos, e as
maiores pontuaes representam melhores desempenhos (Anexo H).
- Escala para o estadiamento clnico da demncia - CDR (no ingls,
Clinical Dementia Rating). A escala possibilita classificar a gravidade dos
comprometimentos cognitivos, com base em dados funcionais de sete
categorias: memria, orientao, julgamento e soluo de problemas,
relaes comunitrias, lar e passatempos e cuidados pessoais. A pontuao
de cada rea resumida e classificada em: 0 (nenhuma alterao), 0,5
(questionvel), 1 (demncia leve), 2 (demncia moderada) e 3 (demncia
grave) (Morris, 1993). A fase da doena classificada de acordo com o
escore total do teste. Por exemplo, o CDR total igual a 1, inclui as demncias
leves, o 2, as moderadas e 3, graves. O instrumento aplicado em duas
etapas: uma entrevista semi-estruturada, aplicada individualmente ao
cuidador e posteriormente ao paciente. A pontuao ir seguir os critrios
propostos por Morris (1993) por meio da soma das caixas (Anexo E).
- Escala para o estadiamento clnico da demncia CDR especfico
para DLFT, expandido com a introduo de dois domnios: linguagem e
comportamento e personalidade (Anexo F) proposto por Knopman et al.,
(2008), a fim de obter as caractersticas de pacientes com DLFT que no so
explicitamente medidas pelo CDR padro. Os novos domnios foram
estruturados de forma paralela aos domnios padres e pontuados na mesma
29
escala. Estes domnios foram incorporados a uma soma das pontuaes de
todos os domnios (soma das caixas).
5.3.2 Traduo e Adaptao Transcultural do FLCI
A verso em portugus do Brasil resulta da traduo e adaptao
transcultural (Guillemin et al., 1993), a qual prev os passos de traduo para
o portugus do Brasil, retrotraduo, comparao de verses e reviso final
do material.
Na primeira etapa, foi realizada traduo, de modo independente por
profissionais da rea da sade, sendo 02 fonoaudilogas e 01 tradutor, leigo
no assunto, todos fluentes em ingls. Foram comparadas as trs tradues,
e chegou-se a uma verso consensual.
A etapa seguinte foi a de retrotraduo (back-translation) realizada
por uma fonoaudiloga e um tradutor independente leigo no assunto, que
receberam apenas a verso consensual anteriormente traduzida, desta
forma, assegurando que houve entendimento e concordncia entre os
idiomas e entre tradutores.
As verses produzidas foram revisadas por uma comisso de juzes
bilnges, especialistas na rea e leigos no assunto, sendo elaborada a
verso final do material. Esta terceira etapa garante a adequao e a
reprodutibilidade do instrumento traduzido.
30
Esse processo foi realizado tanto para o livro de estmulos, quanto
para o manual de aplicao do teste, formulrio de respostas e de pontuao
do FLCI.
5.3.3 Confiabilidade e Validade de Critrio
Para avaliar a confiabilidade inter e intra-examinador (teste-reteste),
foram selecionados 10 sujeitos, selecionados na casustica estabelecida.
A autora e uma fonoaudiloga com conhecimento prvio do
instrumento avaliaram a confiabilidade interexaminador. A primeira avaliao
realizada pela autora foi gravada na ntegra, com equipamento digital
(Panasonic, RR-US360), para garantir o acesso s informaes e com vistas
interpretao da pontuao do FLCI de modo independente.
Para analisar a confiabilidade intra-examinador (teste-reteste), os
mesmos sujeitos foram avaliados pela autora em dois momentos, com uma
mdia de intervalo entre as avaliaes de aproximadamente duas semanas.
Foi analisado o grau em que o instrumento discrimina sujeitos que
diferem em determinadas caractersticas de acordo com critrio padro. Para
isso, foi utilizado o MEEM, instrumento amplamente utilizado na literatura e
de fcil aplicao.
31
5.3.4 Aplicao do FLCI
Para a utilizao do FLCI no Brasil, os autores do teste foram
contatados e deram consentimento para a traduo e adaptao do teste
para o Portugus do Brasil (Anexo L).
Aps a incluso dos sujeitos iniciou-se a aplicao do teste FLCI para
avaliar as habilidades lingsticas dos participantes. Os testes foram
aplicados de acordo com a seqncia estabelecida no protocolo de
respostas. As avaliaes foram realizadas individualmente, em uma nica
sesso em ambiente silencioso. O tempo de aplicao foi medido como uma
varivel para verificar a aplicabilidade do Inventrio.
O FLCI formado por 10 sub-testes que possuem itens dicotmicos,
que exigem uma resposta do tipo deciso e so pontuveis como: sim ou
no e itens pontuveis, cujas respostas devem ser geradas.
A aplicao completa do FLCI levou a trs tipos de: um valor bruto
obtido pela soma dos pontos de um sub-teste e que permite a anlise de
cada prova separadamente; um escore bruto de cada um dos construtos que
obtido pela soma dos valores brutos de cada uma dos sub-testes que
compem cada construto e a pontuao total do FLCI que obtido pela
soma da pontuao de todos os construtos.
As respostas dos sujeitos e as observaes do examinador foram
registradas no Formulrio de Respostas (Anexo J). O conjunto de respostas
foi transposto para o Formulrio de Pontuao, o que permite a determinao
32
dos vrios nveis de gravidade (Anexo K), sendo possvel verificar o nvel de
gravidade na escala FAST modificada associando pontuao total do FLCI.
No estudo original da validao do FLCI, correlacionou-se a pontuao
total do teste com a Escala de Estadiamento Funcional - FAST (no ingls,
Functional Assessment Staging) (Reisberg, 1988; Sclan e Reisberg,1992).
Esse procedimento foi adotado tendo em vista que a aplicao dos
instrumentos em populao controle de indivduos sem demncias levaria ao
desempenho com efeito teto, dada a simplicidade das tarefas.
A FAST originalmente compreende nveis de gravidade graduados em
escala ordinal de 01 (funo normal) a 07 (demncia grave). Os nveis 06 e
07 so subdivididos em 16 graus de comprometimento. Cada nvel indicado
pela descrio de uma funo para a pontuao clnica. Entretanto, Bayles e
Tomoeda, (1994) realizaram uma adaptao da escala (Anexo I), sendo
possvel pontuar o nvel de gravidade do paciente, a partir de seu
desempenho funcional.
Na FAST modificada, indivduos com incontinncia urinria que no
eram acamados receberam grau 6 e foram designados como
moderadamente graves. Indivduos que eram incontinentes totais (fecal e
urinrio), mas no eram acamados receberam grau 7 e foram designados
como graves. Sujeitos que eram incontinentes totais e eram acamados
receberam grau 8, sendo designados por muito graves.
33
5.4 Anlise Estatstica
Para a anlise dos dados foi utilizado o programa SPSS (Statistical
Package for Social Sciences), em sua verso 19.0. Adotou-se o nvel de
significncia de 5% (p=0,05), para a interpretao dos resultados.
Foi realizada inicialmente uma anlise descritiva (com medidas de
posio e disperso: mdia, desvio padro, intervalo e percentis)
caracterizando o perfil da amostra.
Para analisar a consistncia interna do FLCI, foi calculado o
coeficiente alfa de Cronbach.
Para analisar a estabilidade temporal (teste-reteste) e a concordncia
interexaminadores, foi utilizado o coeficiente de correlao interclasse (ICC).
Para as anlises de correlao entre o FLCI e as escalas cognitivas
(MEEM, MEEMg e CDR) foi utilizada a correlao de Spearman.
Para verificar possveis efeitos de idade e escolaridade foram
realizadas correlaes de Spearman.
Aplicou-se o Teste de Kruskal-Wallis para verificar o desempenho no
FLCI e seus sub-testes, assim como o tempo de aplicao do teste, dos trs
grupos estudados (DA, DLFT e DA+DV), quando comparados
concomitantemente. Esse mesmo teste foi usado para comparar os grupos
de acordo com a gravidade da demncia a partir da escala FAST.
Aplicou-se tambm o Teste de Mann-Whitney, ajustado pela Correo
de Bonferroni, com o intuito de identificar diferenas entre os grupos, par a
par, somente nos itens que apresentaram com diferenas significantes.
34
Foi realizado o teste exato de Fisher nas anlises do desempenho dos
sujeitos de acordo com a gravidade da doena de acertos nos itens
dicotmicos do FLCI.
Para os itens pontuveis do FLCI, foi realizada a anlise do
desempenho dos sujeitos de acordo com a gravidade da demncia, por meio
do teste de Kruskal-Wallis. Novamente aplicou-se o teste de Mann-Whitney,
ajustado pela correo de Bonferroni, com o intuito de identificar diferenas
par a par, para os itens que apresentaram diferenas estatisticamente
significantes.
Por fim, foi traado o perfil de comunicao (Bayles et al., 2000) a
partir das mdias encontradas em cada grupo analisado e realizado uma
anlise qualitativa a partir dos dados obtidos.
35
6. RESULTADOS
6.1 Composio e Caracterizao da Amostra
Foram avaliados 65 indivduos com demncia, dos quais 8 foram
excludos por terem apresentado escores superiores aos definidos como
critrio de incluso nos testes cognitivos e/ou ausncia de exame objetivo
neurolgico comprobatrio de leso vascular no caso da demncia de
Alzheimer associada demncia vascular. Desta forma participaram do
estudo 57 sujeitos, sendo 24 com DA provvel, 24 com DA+DV e 9 com
DLFT.
As caractersticas sociodemogrficas (gnero, idade e escolaridade)
da amostra, assim como das escalas cognitivas aplicadas (MEEM, MEEMg,
CDR e CDR soma das caixas) esto apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1. Caracterizao da amostra
Grupo N Gnero
%F %M
Idade mdia (DP)
intervalo
Escol. mdia (DP)
intervalo
MEEM mdia (DP) intervalo
MEEMg mdia (DP) intervalo
CDR mdia (DP) intervalo
CDR SC mdia (DP)
intervalo
DA+DV 24 67 F 33 M
80 (8,3) 64-91
2,4 (1,2) 1-4
7,7 (6,0) 0-17
11,0 (8,1) 0-24
2,5 (0,5) 2-3
18,5 (2,6) 13-24
DA 24 67 F 33 M
82 (6,5) 60-95
3,8 (2,3) 1-12
7,7 (5,6) 0-17
12,5 (9,4) 1-26
2,5 (0,5) 2-3
18,6 (4,0) 11-24
DLFT 09 67 F 33 M
66 (5,6) 60-77
12,3 (7,1) 3-24
11,1 (7,1) 1-17
12,5 (7,0) 4-20
2,4 (0,5) 2-3
16,3 (4,7) 12-24
n=nmero de sujeitos; escol.= escolaridade; MEEM= Mini Exame do Estado Mental; MEEMg = Mini Exame do Estado Mental grave; CDR = Escala de Estadiamento clnico da demncia; CDR SC = Escore do CDR atravs da soma das caixas; DP=desvio padro, DA+DV= demncia de Alzheimer associada a demncia vascular, DA=demncia de Alzheimer, DLFT=degenerao lobar frontotemporal.
No grupo DLFT, 03 indivduos tiveram o diagnstico de demncia
semntica, 02 de afasia progressiva primria no fluente e 04 de demncia
frontotemporal, variante scio-executiva.
36
A amostra contou com maior nmero de sujeitos do gnero feminino
nos trs grupos de demncia. Quanto idade, a mdia dos grupos DA e
DA+DV foi balanceada, porm o grupo de DLFT apresentou menor mdia de
idade em relao aos demais. Em relao escolaridade, o grupo DLFT
apresentou maior mdia com grande diferena dos demais. Para todas as
escalas cognitivas a amostra mostrou-se homognea.
6.2 Anlise de consistncia interna do FLCI
A consistncia interna do FLCI foi calculada atravs do coeficiente alfa
de Cronbach. Os valores de alfa acima de 0,70 indicam alta consistncia
interna. O clculo do alfa Cronbach demonstrou uma consistncia interna
satisfatria para o FLCI, com coeficiente de 0,890.
6.3 Anlise de confiabilidade
Para as anlises de confiabilidade intra-examinador e interexaminador,
considerou-se apenas um grupo, DA moderado e grave, com amostra total
composta por 10 sujeitos.
A Tabela 2 apresenta as anlises de confiabilidade teste-reteste (intra-
examinador) e de confiabilidade interexaminador do FLCI (ICC e intervalos).
Os valores apresentados nessa tabela sugerem alta concordncia entre os
valores de teste-reteste e interexaminador para a pontuao total do FLCI.
37
Tabela 2. Anlises de confiabilidade intra e interexaminadores do FLCI
Confiabilidade Amostra Total (n=10)
ICC Intervalo Intra-examinador 0,999 0,99 1,00 Interexaminador 0,100 0,99 1,00
6.4 Correlaes entre o FLCI e as escalas cognitivas
O grfico 1 mostra os valores de correlao entre o FLCI e o MEEM,
selecionado como padro de referncia para verificar a validade de critrio
de aplicao do FLCI para essa populao.
Grfico 1. Correlao entre MEEM e FLCI
Rho=0,85; p
38
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
0 10 20 30 40 50 60 70
FLC
I
MEEM grave
Os grficos 2 e 3 ilustram as correlaes entre o FLCI e o MEEM
grave e ainda do FLCI e o CDR soma das caixas. Neste ltimo o ndice de
correlao negativo, ou seja, conforme maior pontuao no CDR pior o
nvel cognitivo do sujeito. Ambas as escalas apresentaram correlao
significativa com o FLCI.
Grfico 2. Correlao entre MEEM grave e FLCI
Rho=0,69; p
39
6.5 Comparao de desempenho no FLCI entre os grupos estudados
A Tabela 3 demonstra o desempenho no teste FLCI e seus sub-testes,
da amostra total de sujeitos avaliados de acordo com a gravidade da
demncia. A gravidade da demncia foi obtida pela associao da pontuao
total do FLCI com a escala FAST indicada no estudo padronizado do FLCI.
Observou-se diferenas significantes para todos os sub-testes que compem
o FLCI.
Tabela 3. Desempenho no teste FLCI e seus sub-testes, de acordo com a gravidade da demncia (n=57)
Varivel Leve mediana
(intervalo)
Moderado mediana
(intervalo)
Moderado grave mediana
(intervalo)
Grave mediana
(intervalo)
p*
FLCI 72,0 (72-79) 56,0 (47-70)a 36,5 (26-45) a,b 10,0 (0-21) a,b,c
40
Tabela 4. Desempenho no teste FLCI e seus sub-testes, de acordo com a classificao nosolgica de demncia (n=57)
Varivel DA+DV mediana
(intervalo)
DA mediana
(intervalo)
DLFT mediana
(intervalo)
p*
FLCI 41,0 (0-66) 45,0 (2-78) 54,0 (4-79) 0,25 Saudao e nomeao 7,0 (0-13) 8,0 (1-12) 7,0 (2-14) 0,49 Resposta a questes 7,5 (0-12) 9,0 (0-12) 7,0 (0-11) 0,67 Escrita 1,0 (0-9) 1,0 (0-11) 5,0 (0-11) 0,14 Compreenso de sinais/Emparelhamento objeto-figura 3,0 (0-6) 5,0 (0-6) 6,0 (0-6) a 0,04 Leitura e compreenso de palavras 3,0 (0-15) 10,5 (0-18) 13,0 (0-18) 0,10 Reminiscncia 1,0 (0-5) 2,0 (0-6) 4,0 (0-6) 0,54 Seguimento de comandos 1,5 (0-2) 2,0 (0-2) 1,0 (0-2) 0,94 Pantomima 5,0 (0-8) 5,5 (0-9) 6,0 (0-9) 0,66 Gestos 2,0 (0-4) 3,0 (0-4) 2,0 (0-4) 0,62 Conversao 3,0 (0-5) 3,5 (0-4) 2,0 (1-4) 0,08 Tempo em minutos 32,0 (20-42) 30,0 (14-75) 35,0 (13-55) 0,23 Total, n (%) 24 (42,10) 24 (42,10) 9 (15,8)
FLCI= Functional Linguistic Communication Inventory, n= nmero de sujeitos, DA= demncia de Alzheimer, DA+DV= demncia de Alzheimer associada a demncia vascular, DLFT= degenerao lobar frontotemporal
*Teste de Kruskal-Wallis a diferente de DA+DV, Teste de Mann Whitney
A comparao tambm foi realizada com o tempo de aplicao do
FLCI, medido atravs de um cronmetro desde a apresentao do
examinador at o trmino da avaliao de cada sujeito. No foram
observadas diferenas no tempo de aplicao, entre os grupos. O tempo
mdio de aplicao para a amostra total foi de 31 minutos.
Foi aplicado o teste de Mann-Whitney, ajustado pela Correo de
Bonferroni aos resultados que apresentaram diferenas estatisticamente
significantes, com o objetivo de identificar diferenas entre os grupos, quando
comparados par a par (Tabelas 6 e 7).
Observa-se, portanto, quanto ao sub-teste CS/EOF (compreenso de
sinais e emparelhamento objeto-figura) que houve quando os pares de grupo
de DLFT com DA+DV foram comparados.
41
6.6 Perfil de desempenho dos grupos estudados no FLCI
Com o objetivo de demonstrar qualitativamente o desempenho no
FLCI dos sujeitos com DA, DA+DV e DLFT, as mdias de pontuao em
cada sub-teste foram transformadas em porcentagem, como ilustra o grfico
4.
Grfico 4. Perfil de desempenho dos grupos de DA, DA+DV e DLFT no FLCI
SN= saudao e nomeao, RQ= resposta a questes, E= escrita, CSEOF=compreenso de
sinais e emparelhamento objeto-figura, LCP= leitura e compreenso de palavras, R= reminiscncia, SC= seguimento de comandos, P= pantomima, G= gestos, C= conversao
A Tabela 5 apresenta a porcentagem de acerto dos sujeitos, nos itens
dicotmicos que compem o FLCI, de acordo com a gravidade da doena.
42
Tabela 5. Itens dicotmicos: porcentagem de sujeitos que completaram os itens dicotmicos do FLCI, de acordo com a gravidade da doena (n=57)
Item do FLCI Leve Moderado Moderado-grave
Grave p*
1. forneceu resposta verbal apropriada 100 100 100 73,3 0,01
2. cumprimentou 100 95,2 92,3 73,3 0,16
3. falou o prprio nome 100 100 100 66,7 0,002
4. reconheceu a forma escrita de seu nome 100 95,2 76,9 26,7
43
Tabela 6. Itens pontuveis: desempenho dos sujeitos, de acordo com a gravidade da doena (n=57)
Item do FLCI Leve mdia (DP)
Moderado mdia (DP)
Moderado grave mdia (DP)
Grave mdia (DP)
p*
6. nomeao de figuras 5,00 (1,4) 4,09 (1,8) 1,69 (1,3) a,b 0,40 (0,5) a,b,c
44
Tabela 7. Correlao entre a varivel idade e o FLCI para amostra total (n=57)
Par de variveis Correlao de Spearman p Idade e FLCI (total) -0.1257 0.3513 Idade e FLCI (itens dicotmicos) -0.051 0.7063 Idade e FLCI (itens pontuveis) -0.0671 0.6135
N=nmero de indivduos; FLCI = Inventrio de Comunicao Funcional Lingstica Tabela 8. Correlao entre a varivel escolaridade e o FLCI para amostra total (n=57)
Par de variveis Correlao de Spearman p Escolaridade e FLCI (total) 0.1248 0.3549 Escolaridade e FLCI (itens dicotmicos) 0.0196 0.8851 Escolaridade e FLCI (itens pontuveis) 0.0644 0.6282
N=nmero de indivduos; FLCI = Inventrio de Comunicao Funcional Lingstica
A anlise de correlao mostra que as variveis idade e escolaridade
no esto associadas ao resultado total do FLCI, itens dicotmicos e
pontuveis que compem o teste, ou seja, a idade e a escolaridade no tm
influncia sobre o desempenho comunicativo da amostra.
6.8 Associao do desempenho no FLCI com a funcionalidade
Os valores de correlao da amostra total entre a escala FAST e a
pontuao total do FLCI e tambm da escala FAST com os itens dicotmicos
e pontuveis que compem o FLCI esto apresentados na Tabela 9.
Tabela 9. Correlao entre a escala FAST e o FLCI para amostra total (n=57)
FLCI
(total) FLCI
(itens dicotmicos) FLCI
(itens pontuveis)
FAST (n=57)
r = -0.9617 p = < 0.0001
r = -0.8645 p = < 0.0001
r = -0.2951 p = 0.0232
Valores em negrito tem significncia estatstica. N=nmero de indivduos
Observa-se correlao significativa nas anlises entre a escala FAST
e a pontuao total do FCLI, itens dicotmicos e pontuveis que compem o
FLCI.
45
Apenas 01 sujeito do estudo, com DA+DV, foi classificado como
muito grave, nvel 8 da escala FAST modificada (FASTmod), o que
inviabilizou a aplicao do FLCI e do questionrio FAST. Quinze sujeitos,
foram classificamos como grave, nvel 7 e 7,5 da FASTmod; treze sujeitos
foram classificados como moderadamente grave, nvel 6 e 6,5 da
FASTmod; vinte e um sujeitos foram classificados como moderado, nvel 5
e 5,5 da FASTmod e por fim, oito sujeitos foram classificados como leve,
nvel 4 e 4,5 da escala FASTmod.
46
7. DISCUSSO
Este estudo foi motivado principalmente pela falta de instrumentos que
auxiliassem a avaliao da comunicao de pacientes com demncia
avanada, com finalidade clnica e de pesquisa. Propusemo-nos a
caracterizar esses dficits em pacientes com DA, DLFT e DA+DV com
comprometimento moderado e grave, por meio da utilizao de um
instrumento de avaliao direcionado a essa populao, na Lngua
Portuguesa Brasileira e avaliar a aplicabilidade em populaes distintas de
demncia.
Muitos estudos sobre demncia tm avaliado a linguagem dos
pacientes com instrumentos poucos especficos, construdos para pacientes
afsicos, e no para pacientes com demncia (Turgeon e Macoir, 2008).
Grande parte das pesquisas com instrumentos de linguagem so
voltadas para o diagnstico e, portanto, avaliam pacientes com demncia em
fase leve e moderada. A Bateria Arizona para Distrbios da Comunicao em
Demncia (Bayles e Tomoeda, 1993) um exemplo de instrumento para
avaliao da DA em fases inicial e moderada.
Por outro lado, h carncia de instrumentos que busquem
compreender a linguagem, no contexto do agravamento da doena e das
demais funes cognitivas.
Adicione-se a esse quadro, a falta de instrumentos que forneam
informaes sobre a relao entre linguagem e aspectos funcionais. Para a
populao em estgios moderado e grave, tem sido desenvolvidas escalas
para estadiamento global da demncia com base nas habilidades funcionais,
47
como a escala CDR - Clinical Dementia Rating (Morris, 1993) e a escala
FAST - Functional Assessment Staging (Reisberg, 1988; Sclan e
Reisberg,1992). Porm, a nfase dada linguagem nessas escalas
restrita. Um ensaio nesse sentido o CDR expandido (Knopman et al., 2008)
As descries disponveis sobre a linguagem na demncia avanada
baseiam-se em observaes informais e valorizam aspectos fragmentados e
pouco representativos da linguagem e da funcionalidade dos pacientes,
como por exemplo, o nmero de palavras
A avaliao funcional complementa a avaliao clnica, pois
dimensiona a habilidade do indivduo em realizar atividades de vida diria.
Entretanto tambm so escassos os instrumentos de avaliao funcional que
abordam diretamente a comunicao. Nesse sentido, a escala ASHA FACS
(Functional Assessment of Communication Skills for Adults) foi desenvolvida
e validada para a populao brasileira (Carvalho, Mansur, 2008), de modo a
verificar habilidades de comunicao social, necessidades bsicas, leitura,
escrita e conceitos numricos e planejamento mediado pela linguagem,
necessrias para a funcionalidade de comunicao eficiente.
A dificuldade em se comunicar pode ser um fator agravante para a
perda da independncia e funcionalidade global, com conseqente
comprometimento da qualidade de vida dos pacientes e familiares. Da a
importncia de se caracterizar a comunicao nas fases avanadas da
demncia.
48
A adaptao transcultural de um instrumento de avaliao pressupe
um mtodo que engloba vrias etapas para adequao do material, de
acordo com aspectos culturais e de linguagem da populao-alvo.
Para a adaptao transcultural do FLCI, foram seguidas as
orientaes metodolgicas propostas por Guillemin et al., (1993). No foi
utilizado grupo controle para comparao do desempenho dos sujeitos, pois
se trata de um instrumento para pacientes graves e obteramos efeito teto na
aplicao de sujeitos normais.
Houve necessidade de poucas adaptaes na verso brasileira do
FLCI. Na tarefa de nomeao a adaptao dos itens E e G foi feita para
garantir a qualidade do estmulo e minimizar falhas de percepo e
interpretao. A freqncia de ocorrncia do item lexical, numa lngua, assim
como sua categoria gramatical e semntica e a familiaridade do estmulo,
tm sido reconhecidos como fatores que podem interferir no desempenho da
tarefa, da a necessidade da adaptao transcultural realizada nesta verso
do Inventrio (Raymer e Rothi, 2001).
Os resultados desse estudo mostram que o FLCI apresentou boa
reprodutibilidade inter e intra-examinadores, consistncia interna satisfatria,
indicando ser um instrumento confivel para a avaliao das habilidades
comunicativas em demncias avanadas.
No foi possvel aplicar o protocolo de avaliao de maneira cega,
uma vez que a seleo dos sujeitos e as avaliaes foram feitas pela autora
da pesquisa. Com o intuito de minimizar esse vis, o profissional responsvel
pelas anotaes do FLCI durante a reavaliao para analisar a confiabilidade
49
inter-examinador no teve conhecimento prvio dos diagnsticos dos
sujeitos.
Com o intuito de reduzir efeitos da progresso da doena no
desempenho, foi estipulado intervalo de duas semanas entre as avaliaes,
para as anlises de confiabilidade intra-examinador. A suposio de no
haver uma mudana significativa no curso da doena nesse intervalo
razovel para esses tipos de demncia (Leifer, 2003).
Um melhor desempenho durante o resteste esperado em indivduos
sem alteraes de memria, por ocorrer o efeito aprendizado. Para os
sujeitos avaliados, que se encontram em fase avanada da demncia, os
dficits de memria so significativos, impossibilitando a ocorrncia do efeito
de aprendizado.
O MEEM foi utilizado como teste padro ouro, para verificar a
validade de critrio do FLCI em determinado contexto. O MEEM foi escolhido
para esse propsito por tratar-se de um instrumento amplamente utilizado na
literatura, de fcil aplicao, traduzido, adaptado e validado para a populao