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HEBER RAMOS BERTUCCI HAMARTIOLOGIA (A DOUTRINA DO PECADO): UMA INTRODUÇÃO SÃO PAULO JANEIRO DE 2009

HAMARTIOLOGIA - UMA INTRODUÇÃO

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HEBER RAMOS BERTUCCI

HAMARTIOLOGIA (A DOUTRINA DO PECADO): UMA INTRODUÇÃO

SÃO PAULO JANEIRO DE 2009

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Apostila de “Hamartiologia” (Doutrina do Pecado) / Igreja Presbiteriana JMC (Jandira – SP) Bacharel Heber Ramos Bertucci / Jan. 2009 / Escola Dominical / Página 2 de 29

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 4

I – A ORIGEM DO PECADO . 5

1.1 – DEUS NÃO É O AUTOR DO PECADO ................................................................................. 5

1.1.1 – A ONISCIÊNCIA DE DEUS ................................................................................................ 5

1.1.2 – VONTADE “DECRETIVA” E “PRECEPTIVA” DE DEUS .................................................. 6

1.1.3 – VONTADE PERMISSIVA DE DEUS .................................................................................... 7

1.2 – O PECADO ORIGINOU-SE NO MUNDO ANGÉLICO ........................................................ 8

1.2.1 – A CRIAÇÃO DOS ANJOS ................................................................................................... 8

1.2.2 – A QUEDA DOS ANJOS ....................................................................................................... 9

1.3 – A ORIGEM DO PECADO NA RAÇA HUMANA .................................................................. 10

1.3.1 – TENTAÇÃO DOS ANJOS: INTERNA ................................................................................ 10

1.3.2 – TENTAÇÃO DOS HOMENS: EXTERNA E INTERNA ....................................................... 11

1.3.3 – O PECADO DE ADÃO E EVA ......................................................................................... 12

II – A NATUREZA DO PECADO 13

2.1 – O PECADO NÃO TEM EXISTÊNCIA AUTÔNOMA ........................................................... 13

2.1.1 – “DEFINIÇÃO” E “ACIDENTE” PARA ARISTÓTELES .................................................... 13

2.1.2 – APLICAÇÃO DE ARISTÓTELES EM FLACIUS ................................................................ 14

2.2 – O PECADO É SEMPRE EM RELAÇÃO A DEUS E SUA VONTADE .................................... 14

2.2.1 – OS DEZ MANDAMENTOS ............................................................................................. 15

2.2.2 – A NORMA DE LEI GRAVADA NO CORAÇÃO ................................................................ 15

2.3 – A SEDE DO PECADO É O CORAÇÃO ............................................................................... 17

2.4 – O PECADO ABRANGE PENSAMENTOS E AÇÕES ........................................................... 18

2.5 – O PECADO ENVOLVE CULPA E CORRUPÇÃO ................................................................ 19

2.5.1 – PECADO ORIGINAL ........................................................................................................ 19

2.5.1.1 – Definição e significado........................................................................ 19

2.5.1.2 – O erro de Pelágio ................................................................................. 20

2.5.1.3 – A opinião de Agostinho e Calvino .................................................... 21

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2.5.1.3.1 - Agostinho ........................................................................... 21

2.5.1.3.2 - Calvino ................................................................................ 22

2.5.1.4 – Dois elementos do pecado original .................................................. 23

2.5.1.4.1 – Culpa original ................................................................... 23

2.5.1.4.2 – Corrupção original ........................................................... 24

2.5.2 – PECADO ATUAL ............................................................................................................. 25

BIBLIOGRAFIA 27

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APRESENTAÇÃO

Este texto tem como meta fornecer aos alunos da classe “Lírio dos Vales” da Es-cola dominical da Igreja Presbiteriana Rev. José Manoel da Conceição, o conteúdo das aulas que serão lecionadas sobre “Hamartiologia: a doutrina do pecado” durante alguns domingos.

O tema proposto foi escolhido para dar aos alunos a idéia Bíblico – Reformada do pecado, para fazê-los saber do tema e também evitar a realidade do pecado em suas vidas através da força do Espírito Santo.

O que esperamos para esse texto é que ele seja útil para a classe, e também para todos aqueles que porventura, o lerem.

São Paulo, 9 de janeiro de 2009 Igreja Presbiteriana Rev. JMC

Bacharel Heber Ramos Bertucci _______________________________

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I – A ORIGEM DO PECADO

O mal é uma realidade na história humana. Ele é um dos dois únicos vertentes do caminho ético, pois em termos de atitude só se pode fazer o bem ou o mal. Não exis-te meio termo. Quando ouvimos ou assistimos qualquer história (principalmente as no-velas), o enredo principal corre sempre entre alguém bom que é prejudicado por al-guém mau. Daí, toda a saga se estrutura e dá ibope. Isso demonstra que o ser humano é acostumado com a idéia do mal. Nas palavras do teólogo Charles Hodge (1797 – 1878), “A existência do pecado é um fato inegável. Ninguém pode examinar sua própria natureza, nem observar a conduta de seus semelhantes, sem se ver dominado pela convicção de que existe um

mal chamado pecado.” 1

Qual a origem do pecado? É esta pergunta que tentaremos responder neste ca-

pítulo introdutório de nossa apostila respondendo alguns pontos: 2

1.1 – Deus não é o Autor do Pecado

Nossa Confissão de Fé de Westminster 3 afirma que “Segundo seu sábio e santo conselho, aprouve a Deus permitir o pecado deles, [de Adão e Eva] havendo proposto ordená-lo

para sua própria glória”. 4 O que a Confissão de Westminster quer nos ensinar é que Deus permitiu o pecado, mas não foi seu autor. Para entendermos isso, devemos estudar os três aspectos abaixo:

1.1.1 – A onisciência de Deus

1 HODGE, Charles. Teologia sistemática. Tradução de Valter Martins. São Paulo – SP: Hagnos, 2003. p. 581. 2 Sigo aqui os pontos de: BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Tradução de Odayr Olivetti. 2. ed. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2004. p. 204 – 205. 3 Alexander A. Hodge (1823 – 1886), filho de Charles Hodge escreve que “... a Confissão de Fé e os Catecis-mos de nossa Igreja foram compostos por uma grande e ilustre assembléia nacional de teólogos e civis reunidos em Westminster, Inglaterra, pelo Grande Parlamento, de 1 de Julho de 1643 a 22 de fevereiro de 1648.” (HODGE, Ale-xander A. Confissão de Fé Westmisnter: comentada por A. A. Hodge. Tradução de Valter G. Martins. São Paulo – SP: Os Puritanos, 1999. Introdução, capítulo II, p. 38). 4 Ibid., VI, I, p. 149.

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O termo onisciência vem do latim: “ominis” significa “toda” e “scire”, “saber”. 5 Em teologia esse termo é explicado como sendo uma característica essencial e não co-

municável de Deus, isto é, que Deus é o único que sempre sabe de todas as coisas. 6 Nosso conhecimento não é igual ao de Deus. Nós precisamos pesquisar e analisar os fatos para chegarmos a conclusões que, muitas vezes, ainda são falaciais. Com Deus não ocorre isso: o seu conhecimento é perfeito. (Cf.: Hb. 4: 13; Is. 55:9; Sl. 147:5; Is. 46: 9 – 10; Rm. 11:33; I Jo. 3:20; etc.).

Com relação ao pecado, Deus, sendo onisciente, sabia que ele iria ocorrer. John L. Dagg (1794 – 1884) nos ajuda a entender isso quando diz: “A EXTENSÃO do conhecimen-to de Deus é ilimitada. Deus conhece todas as coisas – todas as coisas possíveis e todas as coisas reais. (...) Todos os acontecimentos que já ocorreram, estão ocorrendo ou ainda ocorrerão – pas-

sado, presente e futuro – são conhecidos por Deus.” 7 Vemos isso em Is. 41:22 – 23 e Dt. 18:22. No texto de Deuteronômio vemos Deus dizendo a Israel que os verdadeiros pro-fetas sempre acertam suas profecias porque foi o Deus onisciente quem revelou a eles o que iria acontecer. Sobre esse texto, Dagg diz: “O conhecimento prévio sobre esses eventos futuros não poderia ter sido transmitido por Deus aos Seus profetas, caso Ele mesmo não fosse

possuidor deste conhecimento.” 8

Desta forma, quando olhamos pelo prisma da onisciência de Deus, podemos concordar com a Confissão Westminster quando ela diz que Deus permitiu o pecado de nossos primeiros pais. O que queremos dizer com o termo “permitir” será explicado agora, no próximo ponto.

1.1.2 – Vontade “decretiva” e “preceptiva” de Deus

A vontade de Deus é ligada diretamente com o seu decreto eterno que pode ser definido como “... o plano eterno pelo qual Deus tornou certos todos os eventos do universo,

passados, presentes e futuros.” 9 Vemos esta doutrina em textos como: Jó. 38:2; Is. 14:26; 46:11; Jr. 4:28; At. 2:23; Ef. 1:11; etc.

Dentre algumas classificações dadas à vontade de Deus temos a chamada von-tade “decretiva” e “preceptiva”. A primeira se refere aos propósitos de Deus em que ele “... projeta ou decreta tudo que virá a acontecer, quer pretenda realizá-lo efetivamente (causati-

5 Cf.: Onisciência. In: CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 6. ed. São Paulo – SP: Hagnos, v. 4 (M - O), 2002. p. 598. 6 Cf.: Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 307. 7 DAGG, John L. Manual de Teologia. 2. ed. São José dos Campos – SP: Fiel, 1988. p. 52; 53. 8 Ibid., p. 53.

9 STRONG, Augustus H. Teologia sistemática. Tradução de Augusto Victorino. São Paulo – SP: Teológi-ca, 2002. Vol. I – A Doutrina de Deus, p. 522.

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vamente), quer permita que venha ocorrer por meio da livre ação das Suas criaturas

racionais.” 10 Por meio dessa vontade Deus decreta os acontecimentos em que ele inter-virá diretamente e aqueles em que ele permitirá que suas criaturas ajam. Mas, mesmo esse agir das criaturas de Deus, é supervisionado por ele e culmina para a sua glória. A

segunda “... se relaciona com a norma do dever para com suas criaturas racionais.” 11 Trata-se

das leis de Deus em que ele dá ao homem a sua vontade. L. Berkhof escreve que “A primeira [vontade decretatória de Deus] é realizada sempre, ao passo que a segunda [vontade precep-

tiva] é desobedecida com freqüência.” 12

Essas duas vontades de Deus jamais podem se conflitar porque vêm de um Deus perfeito. Aplicando esta realidade a questão do pecado, C. Hodge escreve:

Deus nunca decreta fazer ou levar outros a fazer o que ele proíbe. 13 Ele pode, como vimos que faz, permitir o que proíbe. Ele permite aos homens pecar, embo-ra o pecado seja proibido. Isso é expresso de forma mais escolástica pelos teólo-gos, dizendo: Uma vontade decretiva positiva não pode consistir em uma vonta-de preceptiva negativa; ou seja, Deus não pode decretar fazer os homens

pecar. 14

1.1.3 – Vontade permissiva de Deus

Na citação acima observamos que C. Hodge classifica o pecado em termos da vontade permissiva de Deus. Anthony Hoekema (1913 – 1988) também enfatiza que mesmo quando Deus permite algo acontecer, isso não significa que ele tenha perdido o controle da situação. Ele escreve: “... a queda de nossos primeiros pais em pecado não ocorreu sem a permissão providencial de Deus. Deus não causou a queda do homem – mas a permitiu. (...) o pecado é, portanto contra a vontade de Deus mas nunca sem ou além da [praeter] sua

vontade.” 15 L. Berkhof segue a mesma linha:

10 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 74. 11 Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 304. 12 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 74. Cf.: Ibid., p. 76. 13 Cf.: CALVINO, João. A instituição da religião cristã. Tradução de Carlos E. de Oliveira, José C. Estevão e Maria C. Pullin. São Paulo – SP: UNESP, 2008. Tomo I, Livro I, Cap. XVIII, 3, p. 216 – 218. (Edição de 1559). 14 Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 304 – 307. [Grifo Nosso]. 15 HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus. Tradução de Heber Carlos de Campos. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1999. p. 150.

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É costume denominar o decreto de Deus, de permissivo a respeito do mal moral. Por seu decreto, Deus tornou as ações pecaminosas do homem infalivelmente certas de acontecerem, sem decidir efetuá-las agindo imediatamente sobre ela na vontade finita. (...) este decreto permissivo não implica uma permissão passiva de algo que não está sob o controle da vontade divina. É um decreto que garante com absoluta certeza a realização do ato pecaminoso futuro, em que Deus de-termina (a) não impedir a autodeterminação pecaminosa da vontade finita; e (b)

regular e controlar o resultado dessa autodeterminação pecaminosa. 16

Podemos citar alguns textos da Bíblia em que vemos Deus permitindo sobera-

namente os erros de suas criaturas: Sl. 78:29; 106: 13 – 15; At. 14:16 e 17:30. 17

João Calvino (1509 – 1564) é enfático ao apresentar Deus como soberano mesmo quando permite que algo ocorra. Ele, em sua obra magna, Institutas, escreve: “Pois os homens nada fazem senão pelo secreto arbítrio de Deus, e prova-se, por numerosos e claros teste-munhos, que ninguém delibera nada a não ser que o próprio Deus já o tenha decretado e em sua

secreta direção o estabeleça.” 18 Dentre os exemplos bíblicos que Calvino cita para compro-var a soberania de Deus sobre as obras humanas temos: Sl. 115:3; Jó. 1:21; I Rs. 22:20; II Sm. 12:12. Calvino ensina que mesmo na permissão, Deus age. Também diz que é tolice os que “... no lugar da providência de Deus, põe a mera permissão, como se Deus estivesse sen-tado numa torre, esperando eventos fortuitos, com seus juízos dependentes do arbítrio

humano.” 19

1.2 – O Pecado Originou-se no Mundo Angélico

1.2.1 – A criação dos anjos

Os anjos, como todas as outras coisas, foram criados por Deus. Cf.: Sl. 33:6; Ne. 9:6; Jo. 1:3; Rm. 11:36; Ef. 3:9; etc. “Embora não possamos estar certos a respeito do tempo da criação dos anjos, podemos ter certeza de que eles foram criados antes de Deus dizer que estava

para descansar de toda a sua obra: (...) (Gn. 1.31).” 20

16 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 99. 17 Para uma boa exposição sobre o assunto ver: COSTA, Hermisten M. P. da. Providência de Deus: gover-no ou fatalismo? São Paulo – SP, Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, Maio de 2005. 88 f. Anotações de aula da disciplina “Teologia Sistemática I” ministrada no Seminário Presbite-riano Rev. J. M. Conceição. [Trabalho não publicado]. 18 João CALVINO, A instituição da religião cristã. Tomo I, Livro I, Cap. XVIII, 1, p. 213.

19 Ibid., Tomo I, Livro I, Cap. XVIII, 1, p. 215.

20 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 140.

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1.2.2 – A queda dos anjos

A Escritura não fala sobre a queda dos anjos com precisão. Apenas alguns tex-tos podem nortear nossa compreensão do assunto. Por exemplo, Jd. 6 nos relata que alguns anjos não guardaram o seu estado original. Estes anjos são chamados de demô-nios, palavra que vem do grego, daimo,nion (daimónion) que indica “uma divindade” (Cf.:

At. 17:18) ou um “espírito maligno” (Cf.: Mc. 1:34). 21 Daimo,nion (daimónion) é derivado de dai,mwn (daimon) que por sua vez provém do termo “... doiomai, ‘dividir’, ‘partilhar’. Pode haver alguma conexão com a idéia do deus dos mortos como sendo aquele que divide os ca-

dáveres. Significa ‘poder ‘sobre-humano’, ‘deus’, ‘deusa’, ‘destino’, e ‘demônio’.” 22 De acordo com o Empédocles (c. 490 – 430 a.C.), filósofo e médico grego pré-socrático, “... o dai-mon era um ser espiritual separado, que não era a psyche que acompanhava um homem desde o

seu nascimento.” 23 Ele também afirmava que “... o homem é um daemon decaído (uma divindade secundária), cujas vagueações por este mundo teriam sido a causa de sua queda. (...)

Ele descrevia a si mesmo como desses exilados, um ‘vagabundo que se afastou dos deuses’.” 24

Platão fala sobre o “daimónion” socrático em seus escritos. Em um deles, Sócra-tes (470 – 399 a.C.) termina de fazer um discurso sobre o amor a Fedro, diz que vai em-bora, mas uma força externa o faz resolver ficar. Ele então diz a Fedro:

Caro amigo! Quando quis atravessar o regato despertou em mim o ‘daimónion’ e manifestou-se o sinal costumeiro. Ele sempre me impede de fazer o que desejo. Pareceu-me ouvir uma voz que vinha cá de dentro e que não me permitia ir em-bora antes de oferecer aos deuses uma explicação como se eu houvesse cometido

uma impiedade. 25

21 daimo,nion. In: GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick. Léxico do N.T. grego/português. Tradução de Júlio P. T. Zabatiero. São Paulo – SP: Vida Nova, 2003. p. 49. 22 H. Bietenhard. daimo,nion. In: COENEN, Lothar; BROWN, Colin. Dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento. Tradução de Gordon Chown. 2. ed. São Paulo – SP: Vida Nova, 2004. v. I (A – M), p. 514. 23 H. Bietenhard. daimo,nion. In: Ibid., p. 514. 24 Empédocles. In: CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 6. ed. São Paulo – SP: Hagnos, v. 2 (D - G), 2002. p. 356.

Champlin também descreve que Empédocles “... afirmava que era capaz de lembrar sua vereda de inúmeras vicissitudes, desde o reino animal até o estado de ser humano; e que, uma vez tendo chegado a ser homem, foi vários seres humanos.” (Empédocles. In: Ibid., p. 356). 25 PLATÃO. Fedro. Tradução de Alex Martins. São Paulo – SP: Martin Claret, 2005. v. 60, 242, p. 75 – 76. (Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”).

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Uma das explicações aceitas para esse daimónion socrático é dada por Xenofon-te (430 – 355 a.C.), o discípulo mais direto de Sócrates. Para ele, os “daimones” são gê-neros intermediários entre o homem e a divindade. 26

O autores bíblicos pegaram emprestado o termo daimo,nion (daimónion) para se referirem aos anjos decaídos que seguiram a revolta do dia,boloj (diabolos) que significa

“diabo”, “caluniador, difamador”. 27 Por mais que haja alguns que defendam que esses “daimónios” sejam os espíritos dos seguidores de satanás que já partiram dessa vida, é

claro que isso não tem base bíblica. 28

Comentando o texto que citamos acima, Jd. 6, A. Hoekema diz que “Parece que esses anjos não ficaram satisfeitos com o lugar onde Deus os havia colocado, mas desejaram uma posição de maior autoridade. A raiz do seu pecado, portanto, parece ter sido o orgulho, que con-

duziu à rebelião contra Deus.” 29 Um outro texto que diz isso de forma bem clara é I Tm. 3:6. O orgulho é sempre “arma” do diabo. L. Berkhof de forma interessante liga o peca-do dos anjos com a oferta de satanás a Adão e Eva no paraíso, dizendo que eles “Não estavam contentes com a sua parte, com o governo e poder que lhes fora confiado. Se o desejo de serem semelhantes a Deus foi a tentação peculiar que sofreram, isto explica por que tentaram o

homem nesse ponto particular.” 30

1.3 – A origem do pecado na raça humana

1.3.1 – Tentação dos anjos: interna

A origem do pecado na raça humana foi precedido pelo pecado dos anjos. A. Hoekema escreve: “... o pecado não se originou no mundo dos seres humanos mas no mundo dos espíritos. Esses espíritos não foram tentados ao pecado por alguma força ou poder fora deles

próprios; eles tropeçaram em e por si mesmos.” 31 Isso significa que o pecado dos anjos foi interno, porque eles geraram o mal em seu íntimo. Entretanto, é importante lembrar-nos aqui que nesses dois casos, isto é, no pecado angélico e humano Deus não foi pego de surpresa. Lewis S. Chafer acerta quando diz que “A criação dos anjos e a posterior dos seres humanos, imediatamente geraram uma possibilidade para o mal se tornar um fato real; e

26 Cf.: PLATÃO. Fedro, nota 41, p. 76. 27 dia,boloj. In: F. Wilbur GINGRICH; Frederick DANKER, Léxico do N.T. grego/português, p. 53. 28 Cf.: Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 479. 29 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 141. 30 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 99. 31 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 141.

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isto aconteceu através da queda dos anjos e da do gênero humano. Em tal contingência, Deus não

é surpreendido nem derrotado.” 32

Conforme já vimos, Deus é onisciente e por isso, sabe de todas as coisas. Então se ele sabia do pecado dos homens, com certeza sabia também do pecado dos anjos, e resolveu em sua soberania permiti-los. Por que ele faria isso? A Confissão de Fé West-

minster responde que tudo foi para a sua glória. 33 Alexander A. Hodge ao comentar a primeira seção do quarto capítulo da Confissão Westminster fala que tudo que Deus faz

é para sua própria glória. 34 Isso é claro nos seguintes textos das Escrituras: Cl. 1:16; Pv. 16:4; Ap. 4:11; Rm. 11:36; Ef. 1:5,6,12; Ef. 3:10.

1.3.2 – Tentação dos homens: externa e interna

Se o pecado dos anjos foi interno, isto é, foi motivado por si só, o dos homens teve uma influência externa para somente depois alcançar o seu íntimo. A Confissão de Fé Westminster afirma que o pecado surgiu no coração de Adão e Eva quando eles fo-

ram “... seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás”. 35 Assim sendo, significando o verbo

“seduzir” “enganar ardilosamente; desonrar, valendo-se de promessas, encantos ou amavios”, 36

e o substantivo “sedução”, “ação ou efeito de fazer cair em erro ou culpa”, 37 a Confissão Westminster afirma que houve uma influência externa que ajudou-os a pecar. Disso observamos dois tipos de tentação no homem pós-queda: a externa, que nos leva a sata-nás, chamado na Bíblia de “tentador” (Cf. Mt. 4:3; I Ts. 3:5), e a interna, que nos leva ao coração dos homens, de onde, segundo Cristo, procedem todos os maus desígnios (Cf.: Mt. 15:19). O apóstolo Tiago também afirma que cada um é tentado por sua própria “cobiça” (Cf.: Tg. 01: 14 – 15). O termo traduzido por cobiça nesse texto é evpiqumi,a (epi-

thymia) que no grego clássico (cf.: 900 a.C. a 330 a.C.) 38 tinha o sentido de “impulso” ou “desejo”. Este desejo é ruim porque afasta o homem de Deus prometendo-o

32 CHAFER, Lewis S. Teologia sistemática. Tradução de Heber Carlos de Campos. São Paulo – SP: Hag-nos, 2003. v. 1 – 2, p. 640. 33 Cf.: Alexander A. HODGE. Confissão de Fé Westmisnter: comentada por A. A. Hodge. VI, I, p. 149.

34 Cf.: Ibid. Comentário de IV, II, p. 121 – 122.

35 Ibid. VI, I, p. 149.

36 Seduzir. In: BOYER, O. S. Pequena enciclopédia bíblica. 10. ed. Belo Horizonte – MG: Vida, 1986. p. 569. 37 Sedução. In: Ibid., p. 569.

38 O período do grego clássico (cf.: 900 a.C. a 330 a.C.) “... tornou-se conhecido graças a famosas obras literárias que aí tiveram origem e foram preservadas até hoje: a Ilíada e a Odisséia, atribuídas a Homero, são os exemplos mais antigos da literatura grega, seguidas mais tarde por obras de Hesíodo, Herótodo e Platão, entre outros. Nesse período, o dialeto que mais se destacou foi o ático. Esse dialeto também chegou a ser a base principal para o grego

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... completa liberdade e independência, mas, na realidade, escraviza-o de modo abjeto. Sempre está de espreita dento do homem, de tal modo que, no momento certo, este cede a epithymia, tornando-se sujeito a ela (Tg 1:14). Quando isto acontece, ‘dá a luz’ a ação pecaminosa, que faz com que o homem seja culpado diante de Deus (Tg 1:15). E assim, finalmente leva até a morte (Rm 7:5) e à cor-

rupção (2 Pe 1:4). 39

1.3.3 – O pecado de Adão e Eva

O pecado de Adão e Eva foi comer o fruto proibido. 40 Porém este pecado deve ser analisado em seu aspecto subjetivo e não apenas objetivo. Quem o analisa apenas objetivamente pensa que o erro deles teve a ver diretamente com o fruto da árvore, mas se esquecem que a árvore em si nada representava. L. Berkhof diz: “Não sabemos que es-pécie de árvore era. Poderia ser uma tamareira ou uma figueira ou qualquer outra árvore frutífe-

ra. Nada havia de ofensivo no fruto da árvore como tal.” 41 Porém, há questões subjetivas em jogo. O que foi aguçado em Adão e Eva? Voltamos aqui a uma citação já feita de L. Berkhof em que ele afirma que “Se o desejo [dos anjos] de serem semelhantes a Deus foi a tentação peculiar que sofreram, isto explica por que tentaram o homem nesse ponto

particular.” 42 Adão e Eva cobiçaram ser iguais a Deus. Esse é o principal aspecto subje-tivo do pecado deles. John Dagg resume isso muito bem quando escreve: “Nessa trans-gressão, podemos ver não somente o desejo por uma fruta agradável, mas também o desejo de isenção da dependência nas decisões divinas como regra de conduta – ‘árvore desejável para dar

entendimento...’ (Gn 3:6), isto é, para ser feito independente da sabedoria divina.” 43 Então “Tal foi a primeira transgressão: rejeitou a autoridade de Deus, usurpou à Sua prerrogativa, e deixou

suas mentes ao domínio do desejo natural.” 44 Após este erro de Adão e Eva todos os seus descendentes nascem com sua vontade rebelada contra Deus, e precisam de Cristo para a remissão de seus pecados. (c.: Rm. 5:15).

Koinê, o grego em que iria ser escrito o NT.” (REGA, Lourenço S.; BERGMANN, Johannes. Noções do grego bíblico: gramática fundamental. São Paulo – SP: Vida Nova, p. 8). 39 H. Schönweiss. evpiqumi,a. In: Lothar COENEN, Colin BROWN. Dicionário internacional de Teologia do Novo Testamento. v. I (A – M), p. 526. 40 A Confissão Westminster cita que “nossos primeiros pais, (...) pecaram, comendo o fruto proibido.” (Ale-xander A. HODGE. Confissão de Fé Westmisnter: comentada por A. A. Hodge. VI, I, p. 149).

41 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 205. 42 Ibid., p. 99. 43 John L. DAGG, Manual de Teologia, p. 122. 44 Ibid., p. 122.

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II – A NATUREZA DO PECADO

A natureza do pecado só é encontrada corretamente na revelação de Deus. Nes-te capítulo, abrangeremos de maneira sistemática como a Bíblia descreve o pecado.

2.1 – O Pecado não tem Existência Autônoma

Para entendermos melhor este ponto devemos conhecer a idéia do teólogo lute-rano alemão Matthias Flacius Illyricus (1520 – 1575) que tentou explicar a atual condi-ção do homem usando a classificação aristotélica para as definições.

2.1.1 – “Definição” e “acidente” para Aristóteles

Aristóteles (384 - 322 a.C.) em sua famosa obra “Tópicos” descreve o que um bom raciocínio deve possuir. Dentre os elementos que ele enumera estão os conceitos de “definição” e “acidente”. Uma definição seria “... uma frase que significa a essência de uma

coisa.” 45 Nicola Abbagnano (1901 – 1990) explica: “A doutrina aristotélica da definição diz respeito à essência substancial. Aristóteles afirma explicitamente que a definição concerne à es-sência e à substância (...) E os vários significados de definição que ele enumera referem-se todos

à essência substancial.” 46 Desta forma, quando falamos de definição essencial, nós nos referimos diretamente ao que é essencialmente intrínseco a constituição de um objeto,

isto é, àquilo que o faz ser o que é. 47 Já um acidente seria “... algo que pode pertencer ou

não pertencer a alguma coisa, sem que por isso a coisa deixe de ser ela mesma...”. 48

45 ARISTÓTELES. Tópicos. In: _____. Aristóteles. Tradução de L. Vallandro & G. Bornheim. São Paulo – SP: Abril Cultural, 1978. Coleção “Os Pensadores”, Vol. I, 5, p. 7. 46 Definição. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. 2. ed. São Paulo – SP: Martins Fontes, 1998. p. 235. 47 Cf.: COSTA, Hermisten M. P. da. Noções de Lógica. São Paulo - SP, Agosto de 2001. Anotações de aula da disciplina “Lógica” ministrada no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. p. 35. [Trabalho não publicado]. 48 ARISTÓTELES. Tópicos. In: _____. Aristóteles. Vol. I, 5, p. 8.

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2.1.2 – Aplicação de Aristóteles em Flacius

De acordo com Anthony Hoekema (1913 – 1988), “Flacius alegava que o pecado não era apenas um ‘acidente’ da condição do homem (ou seja, uma perversão de sua essência)

mas havia se tornado a essência e substância do homem.” 49 O grande problema dessa visão é cair no ideal platônica de que o mal está intimamente ligado ao corpo. Segundo Platão narra, Sócrates (470 – 399 a.C.) ensinava que a alma é encarcerada pelo corpo e tem que se libertar dele, pois ela é pura e ele é mau. Ele diz que está a “... alma (...) presa a um corpo, como que colocada nele; que esse corpo constituía para ela uma espécie de cárcere, sendo constrangida a encarar as realidades por meio dele, em vez de o fazer pelos seus próprios meios e

por ela mesma; e que ela estava, enfim, mergulhada em uma ignorância absoluta.” 50

Contra essa idéia platônica temos que “De acordo com as Escrituras, o corpo não é

menos real do que a alma. Deus criou o homem em sua totalidade, corpo e alma.” 51 Deus criou o corpo do homem santo, mas, por causa do pecado, esse corpo se corrompeu. Mesmo assim, Deus valoriza o nosso corpo e nos ensina a usarmos nosso corpo para o Senhor porque é a habitação do seu Espírito. (c. I Co. 6:13; Rm. 12:1; I Ts. 5:23).

Se o pecado fosse essencial aos homens, como poderia Cristo encarnar-se? Ele seria impedido pela impureza do corpo que serviria apenas para aprisionar o seu espíri-

to. 52 Concluindo este ponto, A. Hoekema escreve: “Esse entendimento infere que o pecado não mudou nossa essência, mas a direção para qual nos movemos. (...) O pecado, portanto, não é alguma coisa física mas ética. Ele não foi dado com a criação mas surgiu depois da criação; é uma

deformação do que existe.” 53

2.2 – O Pecado é Sempre em Relação a Deus e Sua Vontade

Uma boa definição de pecado é-nos dada pelo apóstolo João quando escreve que “o pecado é a transgressão da lei.” (I Jo. 3:4). Seguindo este texto bíblico o Catecismo Maior de Westminster define pecado como sendo “... qualquer falta de conformidade com a

49 HOEKEMA, Anthony. Criados à imagem de Deus. Tradução de Heber Carlos de Campos. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1999. p. 187. 50 PLATÃO. Fédon: diálogo sobre a alma e morte de Sócrates. Tradução de Miguel Ruas. São Paulo – SP: Martin Claret, 2003. V. 118, p. 55. (Coleção “Obra Prima – Prima de Cada Autor”). 51 HOEKEMA, Anthony. A Bíblia e o futuro: a doutrina bíblica das últimas coisas. Tradução de Karl H. Kepler. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1999. p. 109 – 110. 52 Cf.: Ibid., p. 110; Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 188; Corpo. In: CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 6. ed. São Paulo – SP: Hagnos, v. 1 (A - C), 2002. p. 929. 53 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 188.

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lei de Deus, ou a transgressão de qualquer lei por ele dada como regra à criatura racional.” 54 Percebemos com esta definição que a idéia de lei que se tem é mais ampla do que ape-nas a lei dada a Moisés no Monte Sinai, conhecida como “Os Dez Mandamentos”. Tra-ta-se da quebra de “qualquer” lei dada por Deus as suas criaturas racionais. Charles Hodge (1797 – 1878) afirma que “Como seres morais e racionais, estamos necessariamente

sujeitos à lei do direito. Isso está incluído na consciência da obrigação.” 55

Então, a qual lei a quebra do pecado se refere? Veremos esse ponto agora:

2.2.1 – Os Dez Mandamentos

Claro que o primeiro referencial de lei que temos é aquela que é dada por Deus a Moisés e descrita em Êx. 20 e Dt. 5. A. Hoekema enfatiza que a lei que devemos obe-decer tem o seu cerne nos dez mandamentos: “Embora existam muitas leis na Bíblia, espe-cialmente nos primeiros cinco livros do Antigo Testamento, entende-se por lei aqui o pequeno grupo de mandamentos cujo conteúdo reconhecemos como um breve sumário do que Deus requer

do homem, a saber, os Dez Mandamentos.” 56 Ele ensina que essa lei continha padrões mo-rais gerais conhecidos aos demais homens. Este será o nosso próximo ponto. O que nos interessa aqui é reafirmar a importância do estudo da Lei de Deus expressa nos Dez Mandamentos. Ao descumprirmos essas leis, aplicando-as à nossa realidade no Novo Testamento, estaremos pecando contra Deus.

2.2.2 – A norma de lei gravada no coração

Além de se referir aos Dez Mandamentos propriamente ditos, as leis de Deus gravadas nos corações dos gentios também devem ser obedecidas, pois sua não obser-vância gera pecado. Paulo diz em Rm. 2: 14-16: “14Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mes-mos. 15 Estes mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se, 16 no dia em que Deus, por meio de Cristo Jesus, julgar os segredos dos homens, de conformidade com o meu e-vangelho.”

O que Paulo quer nestes versos é responder a pergunta que surge na leitura do v. 12: “se os gentios estão sem a lei, como poderíamos imaginar que eles pecaram?” Paulo responde que “... embora os gentios estejam ‘sem lei’ e não possuam ‘lei’, no sentido de

54 CATECISMO MAIOR. 2. ed. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1999. Perg. 24, p. 33.

55 HODGE, Charles. Teologia sistemática. Tradução de Valter Martins. São Paulo – SP: Hagnos, 2003. p. 619. 56 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 189.

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uma lei revelada de modo especial, não estão inteiramente destituídos de lei, que lhes torna e pesa

sobre eles de outra maneira.” 57 Os gentios têm lei. Trata-se da lei que eles têm para si mesmos gravada nos seus corações. A expressão “por natureza” significa um contraste com o que é externo, ou seja, os gentios têm uma lei que vem por uma propensão natu-ral. Por causa dessa natureza, eles andam “de conformidade com a lei”, expressão que

... deve significar certas coisas prescritas pela lei,aludindo àquelas praticadas pe-los pagãos e que se acham estipuladas na lei, tais como o seguir uma profissão legítima, o procriar filhos, os afetos filiais e naturais, o cuidado em favor dos po-bres e enfermos e numerosas outras virtudes naturais, que também são exigidas

pela lei. 58

Essa lei dos gentios tem ligação direta com a lei de Deus porque a pressupõe. Ela não pode ser interpretada como modernamente dizemos que alguém é lei para si mesmo. “Ela significa quase o contrário, ou seja, que os gentios, por motivo daquilo que foi im-

plantado em suas naturezas, defrontam-se com a lei de Deus.” 59 Com relação a expressão do verso 15, “norma da lei gravada no seu coração”, podemos dizer que esta lei trata-se da lei de Deus que os judeus possuíam, mas não os gentios; e que Paulo não diz que os genti-os cumprem a lei de forma digna, mas sim que eles tem princípios da lei em suas atitu-des. Essas atitudes revelam a consciência moral que faz com que os gentios acusem-se

ou defendam-se de críticas contra as suas ações. 60

Em toda essa esfera da lei de Deus há pecado se ela não for cumprida pelos homens. Quanto maior responsabilidade é para nós, que conhecemos a Palavra do Se-nhor. Nossa função é pregar a Palavra para que outras pessoas evitem desobedecer a lei de Deus e o glorifiquem nas suas atitudes. A lei do Senhor deve ser o nosso prazer (Sl. 1:2) e não podemos ter receio de obedecê-la. De acordo com Davi, a Lei do Senhor é per-feita e restaura a nossa alma (c. Sl. 19:7). John F. MacArthur, Jr. ensina que Davi usa o termo “lei” nesse texto “... para se referir às Escrituras como a totalidade do que Deus revelou para nossa instrução, quer seja credo (o que cremos), caráter (o que somos) ou conduta (o que

fazemos).” 61 Já o termo “perfeito” significa que a Escritura é inteira e suficiente para nos transmitir a vontade de Deus. A idéia básica da palavra “restaurar” é, para MacArthur, “transformar”. Ele assim parafraseia Davi neste verso: “a Escritura é tão poderosa e abran-gente que pode converter e transformar a pessoa toda, tornando-a em alguém precisamente como

57 MURRAY, John. Romanos. São José dos Campos – SP: 2003. Rm. 2:14, p. 101. (Comentário Bíblico Fiel). 58 Ibid., Rm. 2:14, p. 102. 59 Ibid., Rm. 2:14, p. 102. 60 Cf.: Ibid., Rm. 2:15, p. 103. 61 MACARTHUR, JR., John F. Nossa suficiência em Cristo. São José dos Campos – SP: Fiel, 1995. p. 66.

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Deus quer que ela seja.” 62 Por isso não podemos temer a Palavra de Deus, pois, por ela, Deus tem o melhor para nós.

Para concluirmos este ponto é importante frisarmos que até mesmo o pecado contra nossos semelhantes é pecado contra Deus. Vemos isso no Sl. 51:4 onde Davi con-fessa ao Senhor o seu pecado de adultério com Bate-Seba e de assassinar a Urias, e diz pecou somente contra Deus. Devemos ter cautela com nosso relacionamento com o nos-so próximo, pois, se pecamos nele, também pecamos contra Deus.

2.3 – A Sede do Pecado é o Coração

A sede do pecado não reside apenas em uma faculdade do homem. Quando se fala de pecado no homem, não é correto afirmar que ele está em apenas esta ou aquela esfera do homem. Dentre duas vertentes deste erro, estão aqueles que afirmam que o pecado está apenas no corpo ou nos sentimentos do homem. Quando se diz que ele está apenas no corpo, a idéia é que “O único mal do pecado de Adão sobre sua posteridade, admi-tido por alguns teólogos, é a desordem de sua natureza física, pela qual os apetites e paixões do

corpo adquirem indébita influência.” 63 E quando se afirma que o pecado está apenas nos sentimentos dos homens,

Tal idéia está ligada à idéia de que todo pecado e santidade são formas de senti-mento ou estados dos afetos. (..) Tudo depende das inclinações ou estado dos sentimentos. Em vez de os afetos seguirem o entendimento, o entendimento, a-firma-se, segue os afetos. Uma pessoa só compreende e recebe a verdade quando

a ama. 64

Contra estas teorias a Bíblia ensina que o a sede do pecado é o coração do ho-mem que nas Escrituras é “... uma descrição do âmago da pessoa; o ‘órgão’ que pensa, sente e

quer, o ponto central de todas as nossas funções.” 65 (c. Pv. 4:23). O coração é a sede dos sen-timentos (Sl. 28:7; Rm. 9:2); da vontade (I Co. 4:5) e do intelecto (Rm. 10:6; Hb. 11:6). Por representar o homem todo, quando afirmamos que a sede do pecado é a coração do homem, afirmamos que o pecado atinge “... o intelecto, a vontade, as emoções – em suma, a

62 John F. MACARTHUR, JR., Nossa suficiência em Cristo, p. 67.

63 Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 673. 64 Ibid., p. 673. 65 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 191.

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todo homem, seu corpo inclusive. Em seu estado pecaminoso, o homem completo é objeto de des-

prazer de Deus.” 66

Agostinho de Hipona (354 – 430) tinha esta idéia quando afirmou que o pecado tem a sua fonte na vontade do homem. Ele escreveu: “... ou a vontade é a causa primeira do pecado, e nenhum pecado será causa primeira do pecado, e a nada se pode imputar justamente o pecado a não ser a quem seja dono da vontade. Ou, afinal, a vontade não será mais a causa do

pecado e, assim, não haverá mais pecado algum.” 67 A idéia de vontade é apenas um outro nome para nos referirmos a pessoa inteira. A. Hoekema explicando Agostinho diz que “A vontade, ou desejo, jamais é exercida sem a concorrência de outros aspectos da personalida-

de, como o intelecto e a emoção. Por detrás do desejo/querer está a pessoa que deseja/quer.” 68 Portanto, podemos afirmar que somos agostinianos no que se refere a sede do pecado no homem. C. Hodge resume esta questão assim:

Em oposição a todas estas doutrinas, [que não localizam a sede do pecado do homem em seu coração] o agostinianismo, tal como o mantêm as igrejas luteranas e reformada, ensina que o homem todo, alma e corpo, o mais elevado assim como o mais baixo, e as faculdades intelectuais assim como as emocionais da alma, acha-se afetado pela corrupção de nossa natureza derivada de nossos

primeiros pais. 69

2.4 – O Pecado Abrange Pensamentos e Ações

O pecado não é manifesto apenas no que falamos ou agimos. Ele envolve tam-bém os nossos pensamentos. Lembremos que o décimo mandamento de Deus proíbe a cobiça que é uma questão interna, do coração. (Ex. 20:17). Também Jesus diz que o adul-tério não é apenas algo externo, como, por exemplo, quando um marido trai sua esposa com outra mulher, mas é também algo interno do coração. (Mt. 5:28). Isso quer dizer que o pecado envolve desejos e não apenas ações. Devemos ter cuidado com os desejos de nosso coração porque ele ainda é corrupto (Jr. 17:9) e carece da transformação de Cristo para evitar o mal. (c. Ef. 3:16 – 19).

66 BERKHOF, Louis. Teologia sistemática. Tradução de Odayr Olivetti. 2. ed. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2004. p. 216. 67 AGOSTINHO. O livre – arbítrio. Tradução de Nair de Assis Oliveira. São Paulo – SP: Paulus, 1995. p. 207. (Grifos Nosso). 68 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 191. 69 Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 673.

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2.5 – O Pecado Envolve Culpa e Corrupção

Podemos biblicamente afirmar dois tipos de pecado na história da humanidade:

2.5.1 – Pecado original

2.5.1.1 – Definição e significado

O pecado original é o nome que se dá ao estado e condição pecaminosa em que todos os homens nascem. Uma classe de textos bíblicos que comprovam o pecado origi-nal são aqueles que dizem respeito à Universalidade do pecado: I Rs. 8:46; Ec. 7:20; Is.

53:6; 64:6; Sl. 103:3; 143:2; Rm. 3:19, 22-23; Gl. 3:22; Tg. 3:2; I Jo. 1:8,10; 5:19. 70

O homem foi criado para se relacionar com o seu Criador, mas, se afastou dele. João Calvino (1509 – 1564) chama esse afastamento de Deus de “... o infortúnio da

alma.” 71 Escrevendo sobre a submersão espiritual que toda a humanidade e demais cri-aturas de Deus tiveram em Adão, Calvino diz: “Se for buscada a causa, não há dúvida de que sustentem parte daquela pena da qual o homem é merecedor, em cuja herança foram encerra-

dos.” 72 Calvino também relaciona essa herança com o termo “pecado original”: “Tal é a corrupção hereditária a que os antigos chamaram pecado original, entendendo pela palavra ‘peca-

do’ a depravação da natureza até então pura e boa.” 73 Por isso A. Hoekema ensina que o nome “pecado original” é dado: “(1) porque o pecado tem a sua origem na época da origem da raça humana e (2) porque o pecado que chamamos ‘original’ é a fonte de nossos pecados atuais

(embora não de um modo que nos isente de responsabilidade pelos pecados que cometemos)”. 74

Essa doutrina é afirmada pelas Igrejas Reformadas (calvinistas), mas negada em sua gravidade pela Igreja Romana. A Igreja de Roma diminui a gravidade do pecado original quando afirma que ele pode ser purificado pelo sacramento do batismo. O Ca-tecismo da Igreja Católica ensina:

... a natureza humana não é totalmente corrompida: ela é lesada em suas pró-prias forças naturais, submetida à ignorância, ao sofrimento e ao império da

70 Cf.: Charles HODGE, Teologia sistemática, p. 673. 71 CALVINO, João. A instituição da religião cristã. Tradução de Carlos E. de Oliveira, José C. Estevão e Maria C. Pullin. São Paulo – SP: UNESP, 2008. Tomo I, Livro II, Cap. I, 5, p. 229. (Edição de 1559). 72 Ibid., Tomo I, Livro II, Cap. I, 5, p. 229.

73 Ibid., Tomo I, Livro II, Cap. I, 5, p. 230.

74 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 161 – 162.

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morte, e inclinada ao pecado (esta propensão ao mal é chamada ‘concupiscên-cia’). O Batismo, ao conferir a vida da graça em Cristo, apaga o pecado original e faz o homem voltar para Deus. Porém, as conseqüências de tal pecado sobre a natureza, enfraquecida e inclinada ao mal, permanecem no homem e o incitam

ao combate espiritual. 75

Entretanto esta visão não tem base bíblica porque as Escrituras ensinam clara-

mente a realidade do pecado original e de que o batismo não salva. 76

L. Berkhof também nos ensina que o pecado original “... está presente na vida de todo e qualquer indivíduo, desde a hora de seu nascimento e, portanto, não pode ser considerado

como resultado de imitação”. 77 Esta sua última expressão (“não pode ser considerado como resultado de imitação”) deve ser levada em conta porque o pecado é inato ao ser humano e não fruto de uma imitação inconsciente ou consciente. Quem defende essa opinião ensina que uma criança não nasce no estado de pecado, mas ela aprende a pecar obser-vando e imitando os que estão ao seu redor. Isso não tem base bíblica, mas foi ensinado por um homem chamado Pelágio (360 – 420) conforme veremos agora.

2.5.1.2 – O erro de Pelágio

Pelágio (360 – 420) foi um herege do passado, contemporâneo e adversário teo-lógico de Agostinho (354 – 430), que negou o pecado original. Pelágio foi “... monge bri-

tânico, provavelmente de origem irlandesa, que se estabeleceu em Wales do Sul.” 78 Ele “... ficara

famoso por sua austeridade”, 79 era uma “... pessoa fria e calma”, 80 um “... homem (...) tão

75 CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 9. ed. [Revisada de acordo com o texto oficial em latim]. São Paulo – SP: Loyola, 2006. Primeira parte, Segunda sessão, cap. I, art. 1, Parágrafo 7, III, 405, p. 115. 76 Com relação a este último ponto ver: Jo. 1:29; Jo. 3: 5 – 7 com Is. 32:15; 44:3; Ez. 36:25 – 27. (Os termos “água” e “espírito” referem-se a uma expressão única que apontam para o derramamento do Espírito de Deus no fim dos tempos). (Cf.: Bíblia. Português. Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo – SP: Cultura Cristã & Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. Comentário de Jo. 3:5, p.1233). 77 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 227. 78 WAND, J. W. C. História da Igreja primitiva: até o ano 500. Tradução de Roberto T. de Carvalho e Daniel Costa. São Paulo – SP: Custom, 2004. p. 258. Cf.: WRIGHT, R. K. Mc Gregor. A soberania banida: redenção para a cultura pós-moderna. Tradução de Heber Carlos de Campos. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1998. p. 22; Pelágio. In: CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. 6. ed. São Paulo – SP: Hagnos, v. 5 (P - R), 2002. p. 184; CAIRNS, Earle E. O cristianismo através dos sécu-los: uma história da Igreja cristã. Tradução de Israel B. de Azevedo. 2. ed. São Paulo – SP: Vida Nova, 2007. p. 103. 79 GONZALES, Justo L. A era dos gigantes. Tradução de Hans Udo Fuchs. São Paulo – SP: Vida Nova, 2003. v. 02, p. 174. 80 Earle E. CAIRNS, O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja cristã, p. 111.

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livre de misticismo como de aspirações ambiciosas”, 81 um “moralista sincero” 82 e ainda um

“... monge de grande erudição”. 83

Pelágio defendia que “não existe tal coisa como pecado original ou como pecado her-dado. O homem torna-se no que é mediante sua desobediência proposital; mas ele tem capacidade

de reverter isso para a obediência proposital.” 84 Então a tese de Pelágio era que a queda de Adão “... prejudicou exclusivamente a ele mesmo, e não tolheu a natureza humana para o bem. Não existe transmissão hereditária de natureza pecaminosa ou de culpa e, conseqüentemente,

inexiste tal coisa como o pecado original.” 85 A diferença básica que há entre Adão e os seus descendentes é que eles têm o seu mau exemplo, enquanto que Adão foi o seu próprio mau exemplo. O pecado assim é visto apenas como atos isolados e a natureza pecami-nosa com suas disposições não existem. A conseqüência é que as crianças nascem como uma tábua rasa e pode-se dizer que estão no mesmo estado que Adão estava antes da

queda, sendo inocentes. 86 E quando e como essas crianças vão pecar? Pelágio ensina

que elas “... não têm nenhum pecado até que elas mesmas, individualmente, decidam pecar.” 87 Uma influência que poderia vir de fora delas, seria, por exemplo, o mau ambiente. 88

2.5.1.3 – A opinião de Agostinho e Calvino

2.5.1.3.1 - Agostinho

Agostinho discordava de Pelágio com relação ao pecado original. Para Agosti-nho “... se o homem fosse bom, agiria de outra forma. Agora, porém, que está nesse estado, ele não é bom nem possui o poder de se tornar bom. Seja porque não vê em que estado deve se colo-car, seja porque, embora o vendo, não tem a força a se alçar nesse estado melhor, no qual se sabe

que teria o dever de se pôr.” 89

81 Wiggers apud BERKHOF, Louis. A história das doutrinas cristãs. Tradução de João Marques Bentes & Gordon Chown. São Paulo – SP: Publicações Evangélicas Selecionadas, 1992. p. 119. 82 R. K. Mc Gregor WRIGHT, A soberania banida: redenção para a cultura pós-moderna, p. 22.

83 Pelágio. In: Russel Norman CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. v. 5 (P - R), p. 184; E. CAIRNS, O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja cristã, p. 110. 84 Pelágio. In: Russel Norman CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. v. 5 (P - R), p. 184.

85 Louis BERKHOF, A história das doutrinas cristãs, p. 120. 86 Pelágio. In: Russel Norman CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. v. 5 (P - R), p. 185.

87 Justo L. GONZALES, A era dos gigantes. v. 02, p. 175.

88 Cf.: TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. Tradução de Jaci Maraschin. 3. ed. São Paulo – SP: Aste, 2004. p. 136. 89 AGOSTINHO, O livre – arbítrio, p. 207. (Grifo Nosso).

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Observamos que para Agostinho o homem não nasce uma tábua rasa onde ele pode, por meio de sua escolha decidir seguir o bem. Pelágio ensinava que “a vontade humana sempre foi e continua sendo livre para escolher o bem. Essa vontade pode rejeitar o mal,

porquanto isso está ao alcance do homem, inteiramente à parte da degradação do pecado.” 90 Já Agostinho não. Para ele o estado do homem pós-queda é de escravidão ao pecado e por isso o homem não pode por suas próprias forças escolher seguir o caminho do bem.

2.5.1.3.2 - Calvino

Calvino nas Institutas diz que a doutrina do pecado original não teve tanta dis-

cussão entre os primeiros Pais da Igreja 91 até que surgisse Pelágio com seu comentário profano e sendo usado por Satanás: “Entretanto, essa timidez não pode impedir que surgisse Pelágio, cujo comentário profano foi que Adão pecou apenas para sua condenação, em nada afe-tando à sua posteridade: por essa astúcia, Satanás tentava ocultar a doença para que se tornasse

incurável.” 92 Depois Calvino condena a idéia de que o pecado de Adão passaria a sua descendência apenas pela imitação: “De resto, por ter ultrapassado o testemunho manifesto

90 Pelágio. In: Russel Norman CHAMPLIN. Enciclopédia de Bíblia teologia e filosofia. v. 5 (P - R), p. 184.

91 O título “Pai da Igreja” é muito antigo. De acordo com Christopher A. Hall, “A idéia de um pai na fé tem uma longa história no uso bíblico e eclesiológico. O apóstolo Paulo fala de si mesmo como um pai para a igreja de Corinto (...) 1 Co 4.15. (...) “Ás vezes, os rabinos eram chamados pais, e o termo ocorre também em círculos pitagóricos e cínicos. Ele geralmente designa um professor que está instruindo e guiando discípulos para a verdade religiosa e filosófica.” (HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Tradução de Rubens Castilho. Viçosa – MG: Ultimato, 2002. p. 52). Hermisten M. P. da Costa escreve: “‘O designativo ‘Pais’ foi aplicado aos bispos da Igreja no segundo século. A obra anônima O Martírio de Policarpo, escrita por uma testemunha ocular do ocorrido, por volta de 155 AD, relata que ‘a turba pagã e judia’ desejando matar Poli-carpo, por ser cristão, vociferou: ‘Eis o doutor da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor dos deuses, que com seu ensino afasta os homens dos sacrifícios e da adoração’.” (COSTA, Hermisten M. P. da. A inspiração e inerrân-cia das Escrituras: uma perspectiva reformada. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1998. Nota 29, p. 22). Com relação ao seu uso mais técnico, Hall ensina: “O termo adquiriu sentido mais técnico desde o quarto século, especialmente no contexto das controvérsias teológicas que povoaram o quarto e quinto séculos. Enquanto os bispos – os professores da Igreja – tinham sido chamados pais do segundo século em diante, bispos que preserva-ram e protegeram fielmente as decisões do Concílio de Nicéia (325 d.C.), Constantinopla (381) e Calcedônia (451) receberam esta designação como pessoas dignas de especial consideração por terem preservado o ensino ortodoxo durante o tempo da grande prova.” (Christopher A. HALL, Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja, p. 52). Também é importante ser dito que ser um Pai da Igreja era ser fiel à tradição apostólica: “Este significado mais abrangente de ‘pai’ foi ‘estendido aos escritores eclesiásticos, à medida que eram aceitos como representantes da tradição da igreja.’” (Ibid., p. 52). Um escritor antigo, chamado Clemente de Alexandria, escreveu que “Daí nós chamamos estes que nos instruíram de pais. (...) E todo que é instruído, está em respeito de sujeição a filho de seu instrutor.” (CLEMENTE DE ALEXANDRIA. The Stromata, or Miscellanies. Book 1, chapter 1, p. 584 – 585. In: ROBERTS, Alexander; DONALDSON, James. (Eds). The Ante-Nicene fathers: the writings of the Fathers down to A.D. 325. Albany, OR USA: AGES Software, 1997. 1 CD-ROM. v. 2. (The Ages Digital Library Collections, Version 2.0). [CD-ROM 1, The Master Christian Library (“Theology & Col-lection Library”) © 2000 AGES Software]. 92 João CALVINO. A instituição da religião cristã. Tomo I, Livro II, Cap. I, 5, p. 230. (Grifo nosso).

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da Escritura, de que o pecado do primeiro homem passasse a toda a posteridade, sofismava que

passaria por imitação, e não pela prole.” 93 Para o Reformador, negar a realidade do pecado original foi uma grande audácia. Pelo contrário, devemos crer que “... todos os que des-cendemos de uma semente impura, nascemos infectos pelo contágio do pecado, ou melhor, antes de voltarmos o olhar àquela luz da vida, estamos sujos e manchados aos olhos de Deus. Quem, de

fato, tomaria por puro o impuro? Com certeza ninguém, como está no livro de Jó [Jó 14,4].” 94

2.5.1.4 – Dois elementos do pecado original

O pecado original envolve dois elementos, a saber, a culpa original e a corrup-ção original.

2.5.1.4.1 – Culpa original

A culpa é “... um conceito judicial ou legal que descreve a relação de uma pessoa com a lei – neste caso, especificamente com a lei de Deus. A culpa é a condição de se merecer a condena-

ção ou de se estar sujeito à punição porque à lei foi violada.” 95 Nós podemos falar de culpa em dois sentidos: reatus culpae (réu convicto) e como reatus poenae (réu passível de con-denação). Na reatus culpae (réu convicto) temos a quebra da lei como essencial ao peca-dor. Nesse sentido, os homens são essencialmente pecadores e merecem por isso a con-denação de Deus. Esse aspecto da culpa não é associado a teologia e L. Berkhof explica que isso é porque ele

Prende-se somente aos que praticam pessoalmente ações pecaminosas, e prende-se a eles permanentemente. Não pode ser removida pelo perdão, não é removida pela justificação baseada nos méritos de Jesus Cristo, muito menos pelo perdão puro e simples. Os pecados do homem são inerentemente merecedores de mães, mesmo depois que ele foi justificado. Nesse sentido, a culpa não pode ser transfe-

rida para uma outra pessoa. 96

O aspecto da culpa relacionado com a teologia é a reatus poenae (réu passível de condenação). Nesse caso há o “... merecimento de punição, ou obrigação d prestar satisfação à justiça de Deus pela violação da lei, feita por determinação pessoal. Nesse sentido, a culpa não faz

93 João CALVINO. A instituição da religião cristã. Tomo I, Livro II, Cap. I, 5, p. 230. (Grifo nosso).

94 Ibid., Tomo I, Livro II, Cap. I, 5, p. 230 – 231. (Grifo nosso).

95 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 166 – 167. 96 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 228.

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parte da essência do pecado, mas é, antes, uma relação com a sanção penal da lei.” 97 Isso quer dizer que há uma quebra da lei que precisa ser satisfeita. Na reatus poenae (réu passível de condenação) a culpa pode ser removida pela satisfação da justiça de forma pessoal ou vicariamente, isto é, ela pode ser transferida de uma pessoa a outra ou ainda assu-mida por uma pessoa em lugar de outra. Foi isso que Cristo fez por nós e Lewis S. Cha-fer escreve:

Cristo levou sobre si a nossa culpa, não historicamente, que poderia significar que Ele se tornou o real feitor dos crimes dos homens, mas num sentido em que o pecado do homem é uma obrigação perante a justiça divina. Como substituto, Ele morreu, ‘o justo pelos injustos’. Nesse empreendimento, Ele nunca se tor-nou um injusto, mas como justo suportou o fardo que foi sempre a porção justa

do injusto. 98

Um dos motivos que nos faz precisar de Cristo é o fato de que nascemos com a culpa do pecado de Adão em nós. A culpa gera a morte e isso é ensinado nas Escrituras: Rm. 5: 12 – 19; Ef. 2:3; I Co. 15:22. Isso será visto melhor quando estudarmos a visão federal da queda que defende que “... Adão agiu como um representante da raça humana inteira. Com o teste que Deus colocou perante Adão e Eva, Ele estava testando toda a humanida-de. (...) Ele foi colocado no jardim para agir não somente por si mesmo, mas por todos os seus

futuros descendentes.” 99

2.5.1.4.2 – Corrupção original

A corrupção é um conceito moral e tem a ver com nossa condição moral ao in-vés de nossa situação perante a lei. O homem foi criado como um ser moral. “A palavra

moral é originária do latim moralis, ‘relativo aos costumes’.” 100 Ela sempre se relaciona com a questão da conduta e guia os homens para julgar suas ações, isto é, se são boas ou más. Francis A. Schaeffer (1912 – 1984) escreve que o cristianismo ensina que “... o ho-mem é uma criatura moral, feita à imagem do Criador; que há uma lei no universo que, se que-brada, significa que o homem é culpável. De acordo com esta visão, o homem é moralmente signi-

97 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 228. 98 CHAFER, Lewis S. Teologia sistemática. Tradução de Heber Carlos de Campos. São Paulo – SP: Hag-nos, 2003. v. 1 – 2, p. 679. 99 SPROUL, R. C. Eleitos de Deus. Tradução de Gilberto C. Cury. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 1998. p. 79. 100 COSTA, Hermisten M. P. da. Noções de Lógica. São Paulo - SP, Agosto de 2001. Anotações de aula da disciplina “Lógica” ministrada no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição. p. 26. [Traba-lho não publicado].

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ficativo tanto no que tange a Deus, quanto no que diz respeito aos seus companheiros.” 101 En-tretanto, por causa do pecado original o homem perde a noção de sua moralidade e se esquece de agir corretamente diante de Deus e dos homens. Daí vem a corrupção origi-nal que é resultado do pecado original. A. Hoekema define “corrupção original” como sendo a “... a corrupção de nossa natureza que é conseqüência do pecado e que produz pecado. Como uma implicação necessária de nosso comprometimento com a culpa de Adão, todos os seres

humanos nascem em um estado de corrupção.” 102 Há dois aspectos da corrupção original que são: Depravação generalizada e incapacidade espiritual. Esses pontos serão estuda-dos no próximo capítulo de nossa pesquisa.

2.5.2 – Pecado Atual

A transmissão do pecado de Adão, a que chamamos de “pecado original” faz com que todos os homens sejam pecadores já ao nascer. L. Berkhof esclarece-nos que “...

esta corrupção interna é a fonte poluída de todos os pecados atuais.” 103 O pecado atual, cujo termo técnico é peccatum actuale (pecado fatual ou atual), é então conseqüência direta do pecado original. Ele “... não indica apenas as ações externas praticadas por meio do corpo, mas também todos os pensamentos e vontades conscientes que decorrem do pecado original. São os

pecados individuais expressos em atos, diversamente da natureza e inclinação herdada.” 104 Ve-mos aqui novamente a idéia de que o pecado tem sua sede no homem inteiro, isto é, em todo o seu ser.

“Se o pecado original é somente um; o pecado fatual é múltiplo.” 105 Isso é assim por-que o pecado atual se refere a todos os pecados que os homens cometem em sua vida desde a queda de Adão. São os pecados internos, como, por exemplo, a inveja, cobiça, ira injusta, palavras torpes no pensamento, etc., e os externos, como o adultério, furto, palavras torpes proferidas, assassinato, etc.

Enquanto que o pecado original é às vezes negado conforme já vimos, o pecado atual é geralmente admitido pelos indivíduos. Todos sabem que a humanidade é feita de pessoas falhas e que, por isso, em muitos acabam pecando. Entretanto, isso não quer dizer que as pessoas tenham consciência da gravidade do pecado. Atualmente ouvimos

101 SCHAEFFER, Francis A. O Deus que intervém: o abandono da verdade e as trágicas conseqüências para a nossa cultura – a única esperança na verdade histórica do cristianismo. Tradução de Gabrielle Gregersen. São Paulo – SP: Cultura Cristã, 2002. p. 166. 102 Anthony HOEKEMA, Criados à imagem de Deus, p. 168. 103 Louis BERKHOF, Teologia sistemática, p. 233. 104 Ibid., p. 233. 105 Ibid., p. 233.

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muito falar da “perda da consciência” de pecado, onde se brinca muito com o conceito de pecado. F. Schaeffer explica que o mundo moderno não-cristão

... nega a legitimidade dos absolutos morais, recusa-se a fazer qualquer juízo moral definitivo sobre as ações humanas e assim, reduz os atos cruéis e não cru-éis ao mesmo nível. Com esta resposta, o conceito de pecado não só é reduzido a algo inferior ao conceito bíblico, mas o homem é reduzido a algo inferior ao

conceito bíblico de homem culpado. 106

Isso é grave porque se o homem perde a noção do pecado, ele diretamente per-de a noção de seu compromisso com Deus. Nós, os cristãos, vivemos em constante luta contra o pecado e quando minimizamos os seus efeitos e conseqüências, nossa vida es-piritual para. Não podemos deixar isso acontecer, mas devemos viver como Pedro nos ensina: não de acordo com as paixões dos homens, mas sim, segundo a vontade de Deus. (c. I Pe. 4:1 – 6).

São Paulo, 9 de janeiro de 2009 Igreja Presbiteriana Rev. JMC

Bacharel Heber Ramos Bertucci _______________________________

106 Francis A. SCHAEFFER, O Deus que intervém: o abandono da verdade e as trágicas conseqüências para a nossa cultura – a única esperança na verdade histórica do cristianismo, p. 166.

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