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Hidrelétricas na Amazônia - Volume 1

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Impactos ambientais e sociais na tomada de decisões sobre grandes obras.

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  • HIDRELTRICAS NA AMAZNIAIMPACTOS AMBIENTAIS E SOCIAIS NA TOMADA DE DECISES SOBRE GRANDES OBRAS

    PHILIP M. FEARNSIDE VOL. 1

  • Av. Andr Arajo, 2936, PetrpolisCEP 69067-375 - Manaus - AM - Brasil Fone: +55 (92) 3643 3030 e-mail: [email protected] | website: http://acta.inpa.gov.br

    F288 Fearnside, Philip M. Hidreltricas na Amaznia: impactos ambientais e sociais na tomada de

    decises sobre grandes obras / Philip M. Fearnside. - Manaus: Editora do INPA, 2015.

    v. 2 : il.

    ISBN: 978-85-211-0143-7

    1. Hidreltricas - Amaznia. I. Ttulo.

    CDD 621.312134

    Copyright 2015, Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia

    Presidente da RepblicaDilma Vana Rousseff Linhares

    Ministro da cincia, Tecnologia e InovaoJos Aldo Rebelo Figueiredo

    Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da AmazniaLuiz Renato de Frana

    Editora INPAEditor: Mario Cohn-Haft. Produo editorial: Rodrigo Verosa, Shirley Ribeiro Cavalcante, Tito Fernandes. Bolsistas: Angela Hermila Lopes, Henrique Silva, Izabele Lira, Sara Oliveira, Tiago Nascimento.

    IlustraoHoan Marques

    Capa Descrio: Ilustrao baseada em fotografias da hidreltrica de Tucuru, localizada no rio TocantinsIlustrador: Hoan Marques

    Editorao EletrnicaRodrigo VerosaTiago NascimentoTito Fernandes

    Ficha Catalogrfica

  • APRESENTAO ............................................................................................................................................................................ 5I. INTRODUO ............................................................................................................................................................................ 71. Desenvolvimento Hidreltrico na Amaznia .......................................................................................................................................................9II. HIDRELTRICA DE TUCURU ............................................................................................................................................. 352. Impactos Sociais da Barragem de Tucuru ........................................................................................................................................................ 373. Impactos Ambientais da Barragem de Tucuru: Lies ainda no Aprendidas para o Desenvolvimento Hidreltrico na Amaznia ................534. Emisses de Gases de Efeito Estufa de um Reservatrio Hidreltrico (a Represa de Tucuru) e as suas Implicaes para Poltica Energtica ......75III. HIDRELTRICA DE BALBINA ............................................................................................................................................. 955. A Hidreltrica de Balbina: O Faraonismo Irreversvel versus o Meio Ambiente na Amaznia .........................................................................976. Estimativa da zona de deplecionamento da hidreltrica de Balbina por tcnica de sensoriamento remoto ..........................................127IV. BARRAGENS DO RIO MADEIRA ........................................................................................................................................ 1357. Impactos das Barragens do Rio Madeira: Lies No Aprendidas para o Desenvolvimento Hidreltrico na Amaznia ...............................1378. A Tomada de Deciso sobre Barragens na Amaznia: Poltica Vence a Incerteza na Controvrsia sobre os Sedimentos no Rio Madeira ...........1539. As Barragens do Rio Madeira: Um Revs para a Poltica Ambiental no Desenvolvimento da Amaznia Brasileira .......................................16710. Crdito para Mitigao das Mudanas Climticas por Barragens Amaznicas:

    Brechas e Impactos Ilustrados pelo Projeto da Hidreltrica de Jirau .............................................................................................................18111. Hidreltricas no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: A Barragem de Santo Antnio como exemplo da necessidade de mudana.................203V. HIDRELTRICA DE BELO MONTE & BACIA DO RIO XINGU ....................................................................................... 22912. Barragens na Amaznia: Belo Monte e o Desenvolvimento Hidreltrico da Bacia do Rio Xingu .................................................................23113. Belo Monte: A Ponta de Lana da Construo de Barragens na Amaznia? ...............................................................................................24514. As Hidreltricas de Belo Monte e Altamira (Babaquara) como Fontes de Gases do Efeito Estufa ..................................................................24915. Gases de Efeito Estufa no EIA-RIMA da Hidreltrica de Belo Monte ......................................................................................................27916. A Hidreltrica de Belo Monte como Fonte de Gases de Efeito Estufa: Desafios para Midiatizao da Cincia na Amaznia ....................28717. Belo Monte: Resposta a Rogrio Cezar de Cerqueira Leite ..........................................................................................................................295

    SUMRIO

  • 5Hidreltricas na AmazniaImpactos Ambientais e Sociais na Tomada de

    Decises sobre Grandes Obras

    APRESENTAOAs decises tomadas nos prximos anos so-

    bre desenvolvimento hidreltrico sero entre as mais influentes em determinar o futuro da po-pulao humana e do meio ambiente na regio Amaznica. A maioria dos captulos deste livro so tradues atualizadas de trabalhos original-mente publicados na literatura internacional, o de trabalhos na literatura brasileira. O livro co-bre os cinco maiores hidreltricas existentes hoje na Amaznia Legal (Tucuru, Balbina, Samuel, Santo Antnio e Jirau), alm de duas barragens menores (Curu-Uma e Jatapu), duas em cons-truo (Teles Pires e Belo Monte), e outras in diferentes estgios de planejamento. Os cap-tulos incluem discusses dos principais planos para desenvolvimento hidreltrico futuro, por exemplo, nas bacias dos rios Xingu, Tocantins/Araguaia, Madeira e Tapajs. A magnitude dos planos, junto com a magnitude dos impactos provocados pela construo de obras deste por-te, faz com que seja extremamente importante tirar todas as lies possveis dos erros e acertos no planejamento e construo das hidreltricas na regio at agora. Estas experincias indicam a necessidade de melhoria dos sistemas de pla-nejamento de desenvolvimento, anlise de im-pactos e licenciamento de obras. Este livro re-ne as informaes de uma forma acessvel para

    facilitar um re-pensamento da forma de planejar e licenciar grandes projetos de todos os tipos, no apenas hidreltricas.

    As publicaes originais para os captu-los aqui apresentados abrangem um perodo de tempo de 25 anos (1989-2014). Isso levanta a questo de como lidar com a atualizao das informaes, especialmente onde a informao atual mudaria significativamente os resultados numricos que tm sido amplamente citados em sua forma clssica. Esse dilema tem sido tratado, mantendo os valores originais e adicio-nando notas indicando as alteraes relevantes no conhecimento. Especialmente importantes so a existncia de um grande pico de emisso de metano nos primeiros anos depois de encher um reservatrio e uma sucesso de aumentos nas estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudana Climtica (IPCC) para o impacto so-bre o aquecimento global causado por cada tone-lada de metano. Em outros casos, os eventos des-de a publicao original precisam ser resumidos. Cada captulo do livro, assim como as publica-es originais, intencionado a ser independente dos outros, o que significa que alguma repetio de informao necessria.

  • Desenvolvimento Hidreltrico na Amaznia

  • 9Hidreltricas na AmazniaImpactos Ambientais e Sociais na Tomada de

    Decises sobre Grandes Obras

    Captulo 1Desenvolvimento Hidreltrico na Amaznia

    Philip M. FearnsideInstituto Nacional de Pesquisas da Amaznia (INPA). Av. Andr Arajo, 2936 - CEP: 69.067-375, Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: [email protected]

    Traduo parcial de:Fearnside, P.M. 2014. Anlisis de los principales proyectos hidro-energticos en la regin amaznica. Derecho, Ambiente

    y Recursos Naturales (DAR) & Centro Latinoamericano de Ecologa Social (CLAES), Lima, Peru. 55 p.

  • 10 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    RESUMO

    Planos para construir hidreltricas na Amaznia prevem dezenas de grandes barragens e mais de uma centena de pequenas barragens. Brasil, Peru e Bolvia so os pases mais afeta-dos, mas tambm existem planos para o Equador, Colmbia, Venezuela, Guiana e Suriname. A to-mada de decises no Brasil fundamental para es-tas tendncias, no s devido ao grande nmero de barragens planejadas na Amaznia brasileira, mas tambm porque o Brasil o financiador e cons-trutor de muitas das barragens em pases vizinhos. Impactos das barragens incluem efeitos sobre os povos indgenas, como a perda de peixes e de ou-tros recursos dos rios. Impactos do reassentamento de pessoas urbanas e rurais representam uma con-centrao do custo humano desta forma de desen-volvimento. Isto tambm verdade em relao aos impactos sobre os moradores a jusante, que per-dem a subsistncia baseada na pesca e agricultura na vrzea. Impactos dos reservatrios sobre a sade incluem a proliferao de insetos e a metilao de mercrio (transformao deste metal na sua forma txica). A perda de vegetao pode ocorrer no s por causa da inundao direta, mas tambm pelo desmatamento por residentes deslocados pelo re-servatrio e por imigrantes e investidores atrados para a rea (inclusive pela construo de estradas at os locais das barragens), e o agronegcio viabi-lizado pelas hidrovias associadas s barragens. As barragens emitem gases de efeito estufa; o dixido de carbono emitido pela decomposio de r-vores mortas por inundao e o xido nitroso, e, especialmente, o metano so emitidos pela gua nos reservatrios e da gua que passa atravs das turbinas e vertedouros. O crdito de carbono para barragens sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), do Protocolo de Quioto, j repre-senta uma importante fonte adicional de impacto sobre o aquecimento global porque quase todas as barragens que ganham crdito seriam construdas do mesmo modo sem este subsdio, o que significa que os pases que compram o crdito podem emitir gases sem existir uma mudana real para neutra-lizar o impacto das emisses. A maneira em que as emisses de barragens so comparadas com as de combustveis fsseis muitas vezes distorce os resultados, particularmente para o valor do tempo. O impacto das barragens muito pior, em relao aos combustveis fsseis, se os clculos so feitos de uma forma que representa melhor os interesses

    da sociedade. Alm dos impactos sociais e ambien-tais nos locais afetados pelos projetos, a constru-o de barragens tambm tem efeitos perniciosos em processos democrticos, com implicaes de longo alcance em todos os pases da Amaznia. A tomada de decises sobre barragens precisa ser re-formada para evitar desenvolver opes que resulta em injustia social, destruio do meio ambiente e benefcios locais mnimos. Mais importante um debate democrtico sobre o uso de energia, se-guido de uma avaliao equilibrada dos impactos e benefcios de vrias energias alternativas. O li-cenciamento de barragens atualmente tem vrios problemas que impedem que esta ferramenta evi-te problemas graves na execuo de projetos, bem como deixa esse processo sem o importante papel de fornecer uma fonte de informao para as de-cises sobre a construo ou no de barragens es-pecficas. Normas para barragens e outros projetos foram feitas pela Comisso Mundial de Barragens (WCD) e outros organismos. Em vez de uma falta de regras, a violao das regras existentes a causa de muitos dos problemas associados com barra-gens. Recomendaes incluem abordar a questo subjacente de como a eletricidade usada, uma mudana na nfase do desenvolvimento de ener-gias alternativas, a conservao de eletricidade, a avaliao e a discusso democrtica dos custos e benefcios ambientais e sociais antes das decises reais, os esforos para minimizar a presso poltica sobre os rgos ambientais, mecanismos para rea-lizar estudos de impacto ambiental sem que sejam financiados pelos proponentes dos projetos, o fim do crdito de carbono para barragens, o respeito pela legislao ambiental, garantias constitucionais e, finalmente, a tomada de decises que d valor a impactos humanos, em vez de ganhos financeiros.

    BARRAGENS EXISTENTES E PLANEJADAS

    Amaznia Andina (Peru, Bolvia, Equador e Colmbia)

    O acordo Brasil-Peru de 2010 inclui cinco barragens na Amaznia peruana que sero finan-ciadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), do Brasil, em gran-de parte para a exportao de energia eltrica para o Brasil: Inambari, Mainique, Paquitzapango, Tambo 40 e Tambo 60 (ver: Finer & Jenkins, 2012a,b). Mais de uma dzia de barragens brasileiras adi-cionais esto planejadas para a Amaznia peruana

  • 11Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    (Dourojeanni, 2009; FSP, 2011a; International Rivers, 2011a) (Figura 1). As autoridades do setor eltrico culpam as normas ambientais pelos frequen-tes atrasos na construo de barragens no Brasil, em-bora o Ministrio de Minas e Energia (MME) Brasil negue veementemente que o Peru seja um alvo da ELETROBRS e BNDES devido suaves restri-es sociais e ambientais no licenciamento de proje-tos; no entanto, a aprovao mais rpida dos projetos no Peru admitida como um fator-chave (Wiziack,

    Figura 1. Barragens planejadas na regio amaznica do Peru (fonte: International Rivers, 2011).

    2012). Financiamento do BNDES para barragens tambm est previsto no Equador.

    Finer e Jenkins (2012a,b) publicaram uma extensa reviso das barragens planejadas na bacia amaznica dos pases andinos. Uma tabela complementar onli-ne oferece informaes sobre 48 barragens planejadas e a existncia de 151 barragens com 2 MW de ca-pacidade instalada (disponvel em: http://www.edito-rialmanager.com/pone/download.aspx?id=2756637 & guid = 7304e246-f213-4aae-8bf4-0df889734272

  • 12 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    Figura 2. Barragens de vrios tamanhos de existentes e planejadas na Amaznia Andina (fonte: Finer & Jenkins, 2012a).

    foi revelada pelas autoridades eltricas brasileiras a extenso plena dos planos para desenvolvimento hidreltrico na Amaznia, quando o Plano 2010 foi liberado em 1987 (depois que j havia vazado para o domnio pblico) (Brasil, ELETROBRS, 1987). O plano provocou muitas crticas, e desde ento as autoridades eltricas apenas liberam planos para curtos intervalos de anos, no sobre o total dos aproveitamentos planejados.

    A escala de desenvolvimento hidreltrico plane-jada para a Amaznia tremenda. O Plano 2010 listou 79 barragens na Amaznia, independente das datas projetadas para construo das obras (Figura 3). Embora as dificuldades financeiras do Brasil tenham forado, repetidamente, o adiamento dos planos para construo das barragens, a escala pla-nejada, independente da data de concluso de cada represa, permanece essencialmente inalterada, re-presentando uma considerao importante para o futuro. As represas inundariam 10 milhes de hecta-res, ou aproximadamente 2% da regio da Amaznia Legal e aproximadamente 3% da poro brasileira da floresta amaznica. Inundar esta rea provoca-ria perturbao de florestas em reas maiores que

    & esquema = 1). Das barragens planejadas (Figura 2), 79 esto no Peru, 60 no Equador, 10 na Bolvia e 2 na Colmbia. Das 17 barragens classificadas como muito grandes (1000 MW), 10 esto no Peru, 5 no Equador e 2 na Bolvia. A maior parte das barragens planejadas est localizada em montanhas no sop dos Andes, entretanto, 21 das barragens esto abaixo de 400 metros acima do nvel do mar, onde o clima e a vegetao so tropicais e onde um menor relevo to-pogrfico d origem a grandes reservatrios. Um sis-tema de classificao foi aplicado para categorizar as barragens planejadas como de impacto alto, mdio ou baixo, baseado no potencial para desmatamento (por exemplo, devido necessidade de novas estra-das), inundao de floresta (implicando na emisso de gases de efeito estufa) e fragmentao do rio (bloque-ando as migraes dos peixes). O impacto ecolgico de 71 (47%) das barragens planejadas foi classificado como alto, 51 (34%) como mdio e 29 (19%) como baixo. Mais informaes esto disponveis em um mapa interativo online mantido pela International Rivers, a Fundao proteger e ECOA, que fornecem informaes sobre 146 barragens ao longo dos pases amaznicos (http://dams-info.org/en).

    Uma das mais controversas a barragem de Inambari, no Peru. Por um lado, em 14 de junho de 2011 foi anunciado o cancelamento pelo go-verno peruano devido forte oposio popular (International Rivers, 2011b), mas ainda conti-nua nos planos brasileiros. O Plano de Expanso Energtica 2012-2021 informa que o projeto Inambari est na fase mais avanada [dos planos no Peru], embora o incio da construo esteja sem previso (Brasil, MME, 2012, p. 66).

    O Ministrio de Minas e Energia brasileiro es-timou o potencial hidreltrico dos pases vizinhos, visando exportao de excedentes para o Brasil. Calculou-se o potencial de capacidade instalada de 180.000 MW no Peru, 20,3 mil MW na Bolvia e 8.000 MW na Guiana Francesa (Brasil, MME, 2012, p. 66-67).

    Amaznia brasileira

    A Amaznia brasileira tem um grande poten-cial para gerao hidreltrica, graas s quantidades enormes de gua que passam pela regio e s que-das topogrficas significativas nos afluentes do Rio Amazonas, quando esses descem a partir do Escudo Brasileiro (na parte sul da regio) ou do Escudo Guianenses (no lado norte). Apenas uma nica vez

  • 13Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    os reservatrios em si. Os habitats aquticos seriam alterados drasticamente. O impacto sobre povos in-dgenas tambm seria grande, sendo que uma das partes da Amaznia com maior concentrao desses povos se encontra na faixa da maioria dos locais que

    Figura 3. Barragens listadas no Plano 2010 (Brasil, ELETROBRS, 1987). Contornos dos reservatrios redesenhados do CIMI et al. (1986) e Sev (1990), que usou os mapas de Brasil, ELETROBRS(1986) e Brasil, ELETRONORTE (1985); ver: Fearnside (1995). Barragens: 1. So Gabriel (2.000 MW); 2. Santa Isabel-Uaups/Negro: (2.000 MW); 3. Caracara-Mucaja (1.000 MW); 4. Marac (500 MW); 5. Surumu (100 MW); 6. Bacaro (200 MW); 7. Santo Antnio [Cotingo] (200 MW); 8. Endimari (200 MW); 9. Madeira/Caripiana (3800 MW); 10. Samuel (200 MW); 11. Tabajara-JP-3 (400 MW); 12. Jaru-JP-16 (300 MW); 13. Ji-Paran-JP-28 (100 MW); 14. Preto RV-6 (300 MW); 15. Muiraquit RV-27 (200 MW); 16. Roosevelt RV-38 (100 MW); 17. Vila do Carmo AN-26 (700 MW); 18. Jacaretinga AN-18 (200 MW); 19. Aripuan AN-26 (300 MW); 20. Umiris SR-6 (100 MW); 21. Itaituba (13.000 MW) 22. Barra So Manuel (6.000 MW); 23. Santo Augusto (2.000 MW); 24. Barra do Madeira [Juruena] (1000 MW); 25. Barra do Apiacs (2000 MW); 26. Talama [Novo Horizonte] (1.000 MW); 27. Curu-Una (100 MW); 28. Belo Monte [Carara] (8.400 MW) 29. Babaquara (6.300 MW); 30. Ipixuna (2.300 MW); 31. Kokraimoro (1.900 MW); 32. Jarina (600 MW); 33. Iriri (900 MW); 34. Balbina (250 MW); 35. Fumaa (100 MW); 36. Ona (300 MW); 37. Katuema (300 MW); 38. Nhamund/Mapuera (200 MW); 39. Cachoeira Porteira (1.400 MW); 40. Taj (300 MW); 41. Mara Jos (200 MW); 42. Treze Quedas (200 MW); 43. Carona (300 MW); 44. Carapan (600 MW); 150 Mel (500 MW); 46. Armazm (400 MW); 47. Pacincia (300 MW); 48. Curu (100 MW); 49. Maecuru (100 MW); 50. Paru III (200 MW); 51. Paru II (200 MW); 52. Paru I (100 MW); 53. Jari IV (300 MW); 54. Jari III (500 MW); 55. Jari II (200 MW); 56. Jari I (100 MW); 57. F. Gomes (100 MW); 58. Paredo (200 MW); 59. Caldeiro (200 MW); 60. Arrependido (200 MW); 61. Santo Antnio [Araguari] (100 MW); 62. Tucuru (6.600 MW); 63. Marab (3.900 MW); 64. Santo Antnio [Tocantins] (1.400 MW); 65. Carolina (1.200 MW); 66. Lajeado (800 MW); 67. Ipueiras (500 MW); 68. So Flix (1.200 MW); 69. Sono II (200 MW); 70. Sono I (100 MW); 71. Balsas I (100 MW); 72. Itacainas II (200 MW); 73. Itacainas I (100 MW); 74. Santa Isabel (Araguaia) (2200 MW); 75. Barra do Caiap (200 MW); 76. Torixoru (200 MW); 77. Barra do Peixe (300 MW); 78. Couto de Magalhes (200 MW); 79. Noidori (100 W).

    so favorveis para desenvolvimento hidreltrico: ao longo dos trechos medianos e superiores dos afluen-tes que comeam no planalto central brasileiro e se-guem ao norte para encontrar com o rio Amazonas: o Xingu, Tocantins, Araguaia, Tapajs e outros.

  • 14 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    A construo de represas hidreltricas na Amaznia brasileira causa impactos sociais e am-bientais significativos, como tambm o caso em outras partes do mundo (WCD, 2000). O proces-so de tomada de deciso para iniciar projetos novos tende a subestimar em muito estes impactos, e tam-bm superestima sistematicamente os benefcios das represas (Fearnside, 1989, 2005a). Tambm so su-bestimados sistematicamente os custos financeiros de construo das barragens. Alm da disparidade na magnitude dos custos e benefcios, h tambm grandes desigualdades em termos de quem paga os custos e quem desfruta dos benefcios. Populaes locais frequentemente recebem os principais im-pactos, enquanto as recompensas beneficiam, em grande parte, centros urbanos e, no caso da maior represa (Tucuru), outros pases (Fearnside, 1999, 2001). Das represas planejadas, as mais controversas so as projetadas no Rio Xingu, comeando com a barragem de Belo Monte.

    O Plano Decenal de Expanso Energtica 2011-2020 previa 30 novas grandes barragens

    Tabela 1. Barragens existentes* na Amaznia Legal brasileira.

    No. na Fig. 4

    Ano enchido

    Nome Estado RioCapacidade

    Instalada(MW)

    rea do reservatrio (km2)

    coordenadas Referncias

    1 1975 Coaracy-Nunes Amap Araguari78 [298 MW

    at 2016]23 (para os 78 MW

    iniciais)005424 N;511531 O

    2 1977 Curu-Una Par Curu-Una 10078 (para os 40 MW

    iniciais)024911.49 S;541759.64 O

    Fearnside, 2005a

    3 1984 Tucuru Par Tocantins 8.370 2.850034954 S; 493848 O

    Fearnside, 1999, 2001

    4 1987 Balbina Amazonas Uatum 250 2.996015502 S; 592825 O

    Fearnside, 1989; Feitosa et al., 2007

    5 1987 Manso Mato

    GrossoManso 212 427

    145216 S;554708 O

    6 1988 Samuel Rondnia Jamari 210 56008451 S;632720 O

    Fearnside, 2005b

    7 1999Lajeado (Luis

    Eduardo Magalhes)Tocantins Tocantins 800 630

    094526 S;482217 O

    Agostinho et al., 2007

    8 2006 Peixe Angical Tocantins Tocantins 452 294121502 S;482254 O

    9 2011 DardanelosMato

    GrossoAripuan 261 0.24

    100937 S;592655O

    Brasil, MME, 2006a, p. 69

    10 2011Santo Antnio

    (Madeira)Rondnia Madeira

    3.150 at 2015

    350084804,0 S;635659,8 O

    Brasil, MME, 2006a, p. 70

    11 2011 Rondon II Rondnia Comemorao 73.5 23115851 S;604156 O

    Brasil, MME, 2010b, p. 54

    12 2012 Estreito (Tocantins)Maranho/ Tocantins

    Tocantins 1.087 744,6806 3511 S;472727 O

    Brazil, MME, 2011

    13 2013 Jirau Rondnia Madeira3.750 at

    2015361.6

    09o1517.96 S;64o3840.13 O

    *Barragens com > 30 MW de capacidade instalada com os seus reservatrios enchidos at 01 de marco de 2013.

    (definidas como > 30 MW no Brasil) na regio da Amaznia Legal brasileira at 2020 (Brasil, MME, 2011, p. 285). Vrias pequenas barragens includas no plano 2011-2020 foram adiadas at depois de 2021 no plano 2012-2021, mas duas grandes bar-ragens, Simo Alba (3.509 MW) e Salto Augusto Baixo (1.464 MW), ambas no do rio Juruena, fo-ram aceleradas para ser concludas at 2021 (Brasil, MME, 2012). As barragens a serem concludas no perodo 2012-2021 na Amaznia Legal bra-sileira somam 17: Santo Antnio em 2012, Jirau em 2013, Santo Antnio do Jari em 2014, Belo Monte, Colder, Ferreira Gomes e Teles Pires, em 2015, Sinop, Cachoeira Caldeiro, So Manoel em 2017, Ribero Gonalves e So Luiz do Tapajs em 2018, Jatob em 2019, gua Lima e Bem Querer at 2020 e Simao Alba, Marab e Salto Baixo de Augusto em 2021 (Brasil, MME, 2012, p. 77-78). As 13 barragens existentes (aqueles com seus re-servatrios cheios at 01 de maro de 2013) so mostradas na Tabela 1. Na Tabela 2 esto listadas 38 barragens na fase de planejamento ou constru-o mencionada nos planos recentes. As barragens

  • 15Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    existentes e planejadas listadas nas Tabelas 1 e 2 so apresentadas no mapa na Figura 4. Existem muitas outras barragens inventariadas (e.g., Brasil, ANA, s/d [C. 2006], p. 51-56), tais como as 62 barragens adicionais que foram includas no Plano 2010, mas que ainda no aparecem nos planos de-cenais de expanso de energia (ver a legenda da Figura 3). J h preparaes em curso em alguns

    desses locais adicionais que no foram menciona-dos, como o Paredo em Roraima e o Machadinho em Rondnia. No Estado do Amazonas existe um interesse recente nos rios Aripuan e Roosevelt, nos locais Sumauma, Prainha, Inferninho, e Cachoeira Galinha (e.g., Farias, 2012). Preparaes j esto em andamento em Prainha.

    Tabela 2. Barragens planejadas ou em construo na Amaznia Legal brasileira (> 30 MW).

    No. na Fig. 4

    Nome Estado RioCapacidade

    Instalada (MW)

    rea do reservatrio

    (km2)Situao

    Ano previsto de concluso

    Coordenadas Referncias

    14 gua Limpa Mato Grosso Das Mortes 320 17,9 Planejado 2020152053 S;532549 O

    Brasil, MME, 2012, p. 82

    15Babaquara [Altamira]

    Par Xingu 6.300 6.140Oficialmente

    no mencionado031800 S;521230 O

    Fearnside, 2006a

    16 Belo Monte Par Xingu 11.233 516Em

    construo2015

    03657 S;514745 O

    17 Bem Querer Roraima Rio Branco 709 559,1 Planejado 2020015240 N;610157 O

    Brasil, MME, 2012, p. 83;Brasil, MME,

    2010a

    18Cachoeira Caldeiro

    Amap Araguari 219 48 Planejado 20170051,200 N;511200 O

    Brasil, MME, 2012, p. 77

    19 Cachoeira do Ca Par Jamanxim 802 420 Planejado 2020050505 S;562805 O

    20Cachoeira dos

    Patos Par Jamanxim 528 117 Planejado

    055459 S;554536 O

    21 Cachoeiro Mato Grosso Juruena 64 2,6 Planejado125922 S;585729 O

    Brasil, MME, 2007, p. 149

    22 Chacoro Par Tapajs 3.336 616Oficialmente

    no mencionado063008 S;581853 O

    23 Colder Mato Grosso Teles Pires 342 171,7Em

    construo2015

    10 59 5.9 S;55 45 57.6 O

    Brasil, MME, 2007, p. 148

    24 Couto MagalhesMato Grosso/

    GoisAraguaia 150 900 Planejado

    18 1235 S;53 3106 O

    Brasil, ANA , s/d (C. 2006), p. 54

    25 Ferreira Gomes Amap Araguari 100 17,72Licena

    preliminar2015

    005120.126 N;

    511141.071 O

    26 Foz do Apiacs Mato Grosso Apiacs 230 89,6 Planejado 2016091223 S;570511 O

    Brasil, MME, 2012, p. 82

    27 Ipueiras Tocantins Tocantins 480 933,5 Planejado111511 S;482853 O

    Brasil, MME, 2012, p. 82

    28 Jamanxim Par Jamanxim 881 75 Planejado 2020053848 S;555238 O

    29 Jardim de Ouro Par Jamanxim 227 426 Planejado061549 S;554553 O

    30 Jatob Par Tapajs 2.336 646 Planejado 2019051148 S;565511 O

    31 Juruena Mato Grosso Juruena 46 1,9 Planejado132405 S;590027 O

    Brasil, MME, 2009, p. 109

    32 Marab Par Tocantins 2.160 1.115,4 Planejado 20210519 S;4904 O

    Brasil, ANA , s/d (C. 2006), p. 52

    33 Magessi Mato Grosso Teles Pires 53 Planejado133435 S;551554 O,

    Brasil, MME, 2007, p. 149

    34 Novo Acordo TocantinsSono/

    Tocantins160 Planejado

    095825 S;473823 O

    Brasil, MME, 2009, p. 104

    35Ribeiro

    GonalvesMaranho /

    PiauParanaba 113 238 Planejado 2018

    07 3431S;451902 O

    Brasil, MME, 2012, p. 83

    36Salto Augusto Baixo [JRN-

    234b] Mato Grosso Juruena 1.464 107 Planejado 2021

    08536.3 S;583330.1 O

    Brasil, MME, 2012, p. 77

  • 16 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    No. na Fig. 4

    Nome Estado RioCapacidade

    Instalada (MW)

    rea do reservatrio

    (km2)Situao

    Ano previsto de concluso

    Coordenadas Referncias

    37Santa Isabel (Araguaia)

    Par Araguaia 1.080 236 Planejado06 08 00 S;48 20 00 O

    Brasil, ANA , s/d (C. 2006), p. 56

    38Santo Antonio

    do JariPar/Amap Jari 167 31,7

    Licena preliminar

    20140039 S;5231 O

    Brasil, MME, 2007, p. 148

    39So Luiz do

    TapajsPar Tapajs 6.133 722 Planejado 2018

    043410 S;564706 O

    40 So Manoel Mato Grosso Teles Pires 746 53 Planejado 2017091129S;

    0570260 OBrasil, MME, 2012, p. 83

    41 So SalvadorTocantins/

    GoisTocantins 243,2 99,65

    Em construo

    124845 S;481529 O

    Brasil, ANA , s/d (C. 2006), p. 55

    42 Serra Quebrada Maranho Tocantins 1.328 420Licena

    preliminar2020

    054152 S;472911 O

    Brasil, MME, 2012, p. 83

    43Simo Alba [JRN-117a]

    Mato Grosso Juruena 3.509 > 1.000 Planejado 2021081333.5 S;581923.9 O

    Brasil, MME, 2012, p. 77

    44 Sinop Mato Grosso Teles Pires 461 329.6Licena

    preliminar2016

    111610 S;552707 O

    Brasil, MME, 2012, p. 83;Brasil, MME,

    2010b, pp. 44-45

    45 Tabajara Rondnia Ji-Paran 350 Planejado085415 S;621021 O

    Brasil, MME, 2009, p. 104

    46 Teles Pires Mato Grosso Teles Pires 1.820 151,8Em

    construo2015

    09 20 35 S;56 46 35 O,

    Brasil, MME, 2007, p. 148;Brasil, MME,

    2010b, pp. 46-47

    47Tocantins

    [Renascer]Tocantins Tocantins 480 700 Planejado

    164710 S;475631 O

    Brasil, MME, 2007, p. 149

    48 Toricoejo Mato Grosso Das Mortes 76 48Licena

    preliminar151405 S;530657 O

    Brasil, ANA , s/d (C. 2006), p. 56

    49 TorixoruMato Grosso/

    GoisAraguaia 408 900

    Licencia preliminar

    161659 S;523700 O

    Brasil, MME, 2007, p. 148

    50 Tupirantins Tocantins Tocantins 620 370 Planejado081059 S;481000 O

    Brasil, MME, 2012, p. 83

    51 UruuMaranho /

    PiauParanaba 164 279

    Licena preliminar

    071408 S;443401 O

    Brasil, MME, 2012, p. 83

    Obs.: Mais 62 outras represas esto listadas no Plano 2010 que ainda no aparecem nos Planos Decenais de Expanso Energtica (PDEs) (ver: Legenda da Figura 3)

    Tabela 2. Continuao

    IMPACTOS DE BARRAGENS

    Impactos sobre os povos indgenas

    As hidreltricas existentes e planejadas afetam algumas das partes da Amaznia que concentram as maiores populaes de povos indgenas. A bar-ragem de Tucuru no Rio de Tocantins inundou parte de trs reservas indgenas (Parakan, Pucuru e Montanha) e sua linha de transmisso cortou ou-tras quatro (Me Maria, Trocar, Krikati e Cana Brava). A rea Indgena Trocar, habitada pelos Asurin do Tocantins, est situada a 24 km a jusan-te da represa, portanto sofrendo os efeitos da po-luio da gua e perda de recursos pesqueiros que afetam todos os residentes a jusante da barragem. No caso da hidreltrica de Balbina, foi inundada parte da reserva Waimiri-Atroari. Mais dramti-ca a previso de impactos sobre povos indgenas caso que sejam construdas represas no rio Xingu.

    A primeira represa planejada (Belo Monte), pro-vavelmente iniciar um movimento em cadeia de eventos que conduziria construo de pelo menos algumas das outras represas descritas em documen-tos sobre os planos, inclusive no Plano 2010. O lo-cal fsico da hidreltrica proposta de Belo Monte um sonho para construtores de barragens, com uma queda de 94 m e uma vazo mdia de 8.600 m3/s. O problema em aproveitar isto institucional: as autoridades eltricas do Brasil podem declarar que apenas a primeira represa seria construda, mas es-sas declaraes no tero qualquer efeito para evitar a construo das outras represas quando o tempo delas chegar ao cronograma de construo. A his-tria de promessas quebradas (para usar um eufe-mismo) nos casos Balbina e Tucurui-II representam exemplos diretamente paralelos (documentado em Fearnside, 2006a). Em 2006, o plano de expanso energtica 2006-2015 incluiu Belo Monte com a sua

  • 17Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    Figura 4. Barragens existentes (reservatrio cheio at 01 de maro de 2013) e barragens planejadas ou em construo na regio da Amaznia Legal brasileira. Os nmeros das barragens existentes (indicadas com crculos) correspondem aos nmeros listados na Tabela 1 e os nmeros das barragens planejadas e em construo (indicadas por tringulos) correspondem aos nmeros na Tabela 2.

    capacidade instalada reduzida de 11.183 MW para 5.500 MW (Brasil, MME, 2006b). Embora no in-cludo no texto do plano de 2006, o anncio da ca-pacidade reduzida (de 5.500 MW) de Belo Monte em outubro de 2003 indicou que isto presume que apenas a Belo Monte seria construda, sem regulao da vazo do rio Xingu a montante. Mas o plano de expanso 2008-2017 (Brasil, MME, 2009) colocou uma capacidade planejada para Belo Monte no nvel original de 11 mil MW, levantando dvidas sobre declaraes de que barragens a montante no seriam planejadas. A configurao final de Belo Monte foi aumentada para 11.233 MW, o que seria ainda mais inexplicvel sem as barragens a montante.

    Impactos de reassentamento

    O deslocamento de populao da rea de re-servatrio pode ser um impacto severo em alguns

    locais. No caso de Tucuru foram deslocadas 23.871 pessoas. Trinta anos depois, muitos ainda no rece-beram qualquer compensao (Xingu Vivo, 2012). Problemas de restabelecimento levaram o Tribunal Internacional das guas a condenar o governo bra-sileiro pelos impactos de Tucuru na sua sesso de 1991 em Amsterd. Embora o Tribunal tenha ape-nas autoridade moral, a condenao trouxe ateno mundial existncia de um padro subjacente de problemas sociais e ambientais causados por este empreendimento que pretende ser um modelo. A barragem de Marab, no rio Tocantins a montan-te de Tucuru, foi planejada para ser concluda em 2016 (Brasil, MME, 2009, p. 38); aproximadamente 40.000 pessoas seriam deslocadas, segundo fontes no-governamentais.

    Planos para a maioria dos rios da Amaznia bra-sileira abrangem, essencialmente, todos os rios leste do rio Madeira, consistem na construo de cadeias

  • 18 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    de barragens que se desenvolvem ao longo de cada rio em uma srie contnua de barragens (Figura 3). Desde praticamente toda a populao tradicional da Amaznia, ou seja, os povos indgenas e os ha-bitantes ribeirinhos vivendo ao longo dos rios e so totalmente dependentes de peixes e outros recursos dos rios para sua subsistncia, estes planos essencial-mente envolvem a expulso de toda esta populao. Este impacto cumulativo dos planos ultrapassa em muito o impacto de qualquer barragem individual. O impacto social da expulso de pessoas que vive-ram por geraes em um determinado lugar e cujas habilidades, tais como a pesca, no os torna adequa-dos para outros contextos. O dano muito maior do que no caso de deslocamento de populaes urbanas ou as populaes de colonos recm-chegados.

    Residentes a jusante

    Quando uma represa construda, os residentes a jusante, ao longo do rio, sofrem impactos severos. Enquanto o reservatrio est enchendo, o trecho abaixo da represa frequentemente seca completa-mente, assim negando aos residentes ribeirinhos o acesso gua e pesca. No caso da hidreltrica de Balbina, os primeiros 45 km a jusante ficaram secos durante a fase de enchimento. Depois que a represa encheu, a gua liberada pelos vertedouros e turbinas era praticamente destituda de oxignio, provocando mortandade de peixes no rio a jusante, ao longo de uma distncia significativa abaixo da represa. A falta de oxignio, tambm, inibe o reestabelecimento das populaes de peixe. A perda praticamente total de peixes por falta de oxignio se estendeu para 145 km em Balbina, enquanto em Tucuru por 60 km, na estao seca no lado ocidental do rio. A migrao bloqueada reduz os estoques de peixes ao longo de todo o trecho entre estas represas e as confluncias dos afluentes com o rio Amazonas: 200 km no caso de Balbina e 500 km no caso de Tucuru.

    No segundo ano aps o fechamento da bar-ragem de Tucuru as capturas de peixe foram trs vezes menores do que nos nveis pr-represa (Odinetz-Collart, 1987). Os peixes capturados por unidade de esforo de pesca, por exemplo, medido em kg por viagem ou pescador, caiu em aproxima-damente 60%, enquanto o nmero de pescadores tambm caiu dramaticamente. Alm de declnios em capturas de peixe, diminuram tambm colheitas de camaro de gua doce: a produo local no bai-xo Tocantins caiu em 66%, comeando no segundo

    ano depois do fechamento. Dados sobre os peixes at 2006 para o reservatrio de Tucuru e cidades ao longo de partes do Rio sem barragens mostram que a quantidade de peixes no reservatrio nunca subs-tituo as perdas na pesca do rio Tocantins como um todo (Cintra, 2009).

    Impactos na sade

    Insetos

    Impactos sobre a sade causados por represas hidreltricas so significativos.

    A malria endmica s reas onde esto sendo construdas as represas, assim conduzindo ao au-mento da incidncia quando populaes humanas migram para essas reas. Reservatrios provm cria-douros para mosquitos Anopheles, assim mantendo ou aumentando a populao dos vetores para essa doena nas reas circunvizinhas (Tadei et al., 1983).

    No caso de Tucuru, um impacto dramtico foi uma praga de mosquitos do gnero Mansonia. Esses mosquitos no transmitem malria, mas po-dem transmitir vrias arboviroses. Tambm podem ser vetores de filaria, o verme parasitrio que causa elefantase. Embora esta doena ocorra em pases vi-zinhos, tais como o Suriname, ainda no se espalhou para a Amaznia brasileira. Depois de encher o re-servatrio de Tucuru, populaes de Mansonia ex-plodiram ao longo da costa ocidental do lago. Esses mosquitos picam de noite e de dia, a intensidade das picadas sendo medida em at 600 picadas/hora em iscas humanas expostas (Tadei et al., 1991).

    Mercrio

    A metilao de mercrio representa uma gran-de preocupao para o desenvolvimento de centrais hidreltricas na Amaznia. Mercrio destina-se biologicamente, e aumenta a concentrao de uma ordem de magnitude, com cada etapa da cadeia ali-mentar. Os seres humanos tendem a ocupar a lti-ma posio, e pode-se esperar que eles tenham os nveis mais altos de mercrio. provvel que as altas concentraes que foram encontradas no solo e na vegetao na Amaznia foram deposio de fundo acumulado durante milhes de anos, e no das con-tribuies antropognicas recentes da minerao de ouro (Roulet et al., 1996; Silva-Forsberg et al., 1999).

    A metilao est ocorrendo em reservatrios, como indicado por altos nveis de mercrio em peixes

  • 19Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    e em cabelos humanos em Tucuru. Em uma amos-tra de 230 peixes retirados do reservatrio (Leino & Lodeius, 1995), 92% dos 101 peixes predadores ob-tiveram nveis de Hg mais altos do que o limite de segurana de 0,5 mg Hg por kg de peso fresco usado no Brasil. O tucunar (Cichla ocellaris e C. temensis), um peixe predatrio que compe mais da metade da captura comercial em Tucuru, est contaminado com nveis altos, calculados, em mdia, em 1,1 mg Hg por kg, ou seja, mais do dobro do limite de segurana de 0,5 mg Hg por kg de peso fresco.

    O teor mdio de Hg encontrado no cabelo das pessoas que pescam no reservatrio de Tucuru era 65 mg por kg de cabelo estudado por Leino e Lodenius (1995), um valor muitas vezes mais alto do que os nveis encontrados em reas de minerao de ouro. Por exemplo, em minas de ouro prximas de Carajs, as concentraes de Hg em cabelo va-riaram de 0,25 a 15,7 mg por kg de cabelo estudado por Fernandes et al. (1990). Dados do rio Tapajs indicaram sintomas mensurveis, tais como a redu-o do campo visual, entre residentes ribeirinhos cujos nveis de Hg no cabelo eram substancialmente mais baixos do que, ambos, os nveis encontrados em Tucuru e o limiar de 50 mg por kg que reconheci-do atualmente como o padro. As concentraes de Hg em cabelo humano em Tucuru j so mais que o dobro daquelas encontradas para causar dano fetal, resultando em retardamento psicomotor.

    Perda de vegetao

    Entre os muitos impactos causados pela cons-truo de hidreltricas em regies tropicais, um deles o estimulo ao desmatamento. Isto devido parcialmente s estradas que so construdas para dar acesso a cada barragem. As estradas so bem conhecidas como um dos motores mais poderosos do desmatamento (por exemplo, Fearnside, 2002a; Laurance et al., 2002; Soares-Filho et al., 2004). Um exemplo a usina de Balbina, onde a terra ao longo da estrada construda para ligar a barragem rodovia BR-174 (Manaus-Boa Vista) veio a ser rapidamen-te invadida por posseiros (Fearnside, 1989), e, mais tarde, parte da rea foi convertido em um projeto de assentamento do Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) (Massoca, 2010).

    Barragens construdas em reas com um nme-ro considervel de pessoas resultam em uma popu-lao deslocada que desmata nas reas oficiais de as-sentamento ou em outros lugares. Adicionado a isto

    o desmatamento pela populao que migra para a rea por sua prpria iniciativa. No caso da barra-gem de Tucuru, alm do desmatamento em reas de reassentamento, parte da populao mudou-se uma segunda vez devido a uma praga de mosquitos, dan-do origem formao de um dos maiores focos de desmatamento na Amaznia no local onde eles fi-nalmente se estabeleceram (Fearnside, 1999, 2001).

    A barragem de Belo Monte, hoje em constru-o no rio Xingu, atraiu uma grande populao na rea de Altamira, Par (Barreto et al., 2011). Esta rea tornou-se um dos dois pontos de maior des-matamento em 2010 e 2011; o outro a rea em torno das barragens de Santo Antnio e Jirau, que esto em construo no rio Madeira, em Rondnia (Angelo & Magalhes, 2011; Hayashi et al., 2011; Escada et al., 2013).

    Talvez o mais controverso dos projetos de na-vegao aquele associado s barragens de Santo Antnio e Jirau, no rio Madeira (por exemplo, IIRSA, 2007; Killeen, 2007). Essas barragens se-riam parte da Hidrovia Rio Madeira e permitiriam a implementao de mais de 4.000 km de hidro-vias na Bolvia. As estimativas preliminares para a quantidade de gros (principalmente soja) a serem transportados indicam um total de 28 milhes de toneladas por ano de Mato Grosso e 24 milhes de toneladas por ano de Bolvia (PCE et al., 2002, p. 6.4). Poderia ser exagerada a quantidade de soja que prevista para a Bolvia, sendo que o zoneamento boliviano (Zonisig et al., 1997, citado por Vera-Diaz et al., 2007) indica baixo potencial agrcola em gran-de parte da rea onde os estudos brasileiros dizem que h 8 milhes de hectares de solos adequados (PCE et al., 2002, p. 6.4). Se h 8 milhes de hec-tares de terra adequada na Bolvia, e esta rea for transformada em soja, os impactos de hidreltricos e navegao devem incluir a perda de reas de ecos-sistemas naturais, que representa um total mais de 150 vezes maior que a superfcie dos reservatrios. Embora no mencionado no relatrio, deve-se notar que muitos produtores de soja na Amaznia bolivia-na hoje so brasileiros, e provvel que grande parte da expanso da soja na rea adicional que seria aber-ta navegao seria tambm feita por brasileiros. A discusso sobre os benefcios das barragens est em escopo internacional (integrao da Amrica do Sul e transporte da soja de Bolvia), mas a discus-so dos impactos limitada ao Brasil nos relatrios subsequentes, incluindo o estudo de viabilidade

  • 20 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    (PCE et al., 2005, Vol. 2, p. II-83) e o EIA-RIMA (FURNAS et al., 2005a,b).

    A Avaliao Estratgica Ambiental (AAE) para barragens no rio Madeira refere-se ao cresci-mento inexorvel como uma caracterstica da rea da Bolvia a qual a hidrovia proporcionaria acesso (ARCADIS Tetraplan et al., 2005). O estudo de viabilidade destacou a inexorabilidade da integra-o fsica da Amrica do Sul e a inexorabilidade do avano da ocupao (PCE et al., 2005, Vol. 2, p. II-85). Os relatrios implicam que os impactos ambien-tais so inevitveis em todo caso, mesmo sem novas plantaes de soja que seriam estimuladas no interior. No entanto, a AAE do projeto Rio Madeira men-cionou que a expanso agrcola (i.e., soja) estimu-lada pela hidrovia resultar em perda de vegetao natural na Bolvia (ARCADIS Tetraplan et al., 2005, p. 169-170). Alm de impactos na biodiversidade, a possibilidade de afetar o regime hidrolgico do rio Madeira mencionada como um problema a qual o desmatamento iria contribuir. A contramedida pro-posta era ao integrada entre Brasil e Bolvia, que necessria para permitir a regulamentao ambiental e territorial, que visa controlar a ocupao da terra e manter a integridade das reas protegidas. Embora estas medidas sejam desejveis para ajudar a reduzir mesmo a perda ainda mais reas, mas no compensa-riam o impacto da hidrovia em estimular a converso de uma grande rea de ecossistemas naturais em soja (por exemplo, Vera Dias et al., 2007).

    Embora as reas ao lado das barragens de Santo Antnio e Jirau foram reservadas para a possvel fu-tura construo de eclusas, o Ministrio de Minas e Energia (MME) deixou claro que nenhuma deci-so foi tomada sobre a construo de eclusas (Brasil, MME, 2006b). A pergunta chave se atrasar a de-ciso sobre as eclusas absolve os proponentes da barragem de qualquer responsabilidade de conside-rar os impactos da hidrovia nos estudos de impacto ambiental. O contraste evidente entre o entusiasmo para as vantagens da hidrovia na hora de descrever os benefcios das barragens e a falta de incluso dos impactos da expanso da soja quando se fala sobre os custos ambientais das barragens.

    Em suma, hidreltricas amaznicas causam per-da de vegetao no s pela inundao direta, mas tambm por causa do desmatamento estimulado pela atrao e o deslocamento da populao e a aber-tura de estradas at os canteiros de obras das bar-ragens. As barragens tambm permitem a abertura

    de hidrovias que permitem trfego de barcaas em rios que eram anteriormente no navegveis. A ex-panso da soja est intimamente relacionada com o custo de transporte, levando ao desmatamento pela converso direta de floresta em soja e pela converso de pastagens em soja, deslocando assim, as reas de produo animal para a floresta em outras partes da Amaznia. Esses impactos so ignorados quase na sua totalidade em licenas ambientais de barragens, bem como em projetos para obteno de crditos de carbono da energia hidreltrica.

    Gases de efeito estufa

    Embora hidreltricas sejam, muitas vezes, apre-sentadas como energia verde, que significa uma fonte de energia sem emisses de gases de efeito estufa, barragens, na verdade, emitem quantidades considerveis de gases (por exemplo, Fearnside, 2012a; Gunkel, 2009). A quantidade de emisso varia consideravelmente dependendo da localizao geogrfica, idade da barragem, entradas externas de nutrientes e de carbono e as caractersticas do reser-vatrio, tais como a vazo, o tempo de reposio da gua, a rea, a profundidade, as flutuaes do nvel da gua e a localizao das turbinas e vertedouros. Barragens em reas tropicais emitem mais metano que barragens em reas temperadas e boreais (ver reviso de Barros et al., 2011; Matthews et al., 2005). Bastviken et al. (2011) estimativaram que os reser-vatrios cobrem 500.000 km2 em todo o mundo e emitem anualmente 20 milhes de toneladas de metano (CH4). Isso equivale a 136 milhes de to-neladas de carbono equivalente a CO2 se calculado usando o potencial de aquecimento global potencial (GWP) de metano de 25 a partir do quarto relat-rio do IPCC (Forster et al., 2007), ou 185 milhes de toneladas de carbono equivalente a CO2 se cal-culado usando o valor mais recente de 34 (Shindell et al., 2009). No entanto, estes nmeros incluem apenas as emisses das superfcies dos reservat-rios de ebulio (bolhas) e difuso, no as emisses produzidas quando gua rica em metano (sob pres-so) da camada mais profunda na coluna de gua passa atravs das turbinas e dos vertedouros, o que pode mais do que dobrar o total (p. ex., Abril et al., 2005; Fearnside, 2008, 2009a; Kemenes et al., 2008). No entanto, a quantidade de informao necess-ria para estimativas confiveis destas emisses para cada barragem dificulta, atualmente, uma estimati-va global. Algum detalhe justifica-se para explicar a natureza do problema, tendo em conta os esforos

  • 21Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    significativos da indstria de energia hidreltrica para retratar as barragens como tendo emisses m-nimas (ver: Fearnside, 2007, 2012a).

    Dixido de carbono (CO2)

    As barragens emitem gases de efeito estufa em vrias formas ao longo da vida destes projetos. Em primeiro lugar, h as emisses da construo da bar-ragem devido ao cimento, ao e combustvel utilizado. Estas emisses so superiores as de uma instalao equivalente para gerar a mesma quantidade de ele-tricidade a partir de combustveis fsseis ou de fontes alternativas como elica e solar. As emisses da cons-truo da barragem tambm ocorrerem vrios anos antes do incio da produo de electricidade, que no o caso para outras fontes. Sendo que o tempo tem um grande valor para efeitos do aquecimento glo-bal, esta diferena de tempo adicionada ao impacto das barragens em relao maioria das outras fontes (Fearnside, 1997). Emisses de construo foram es-timadas para o Brasil em 0,98 milhes de toneladas de carbono equivalente de CO2 para a represa de Belo Monte e 0,78 milhes de toneladas para a represa de Babaquara/Altamira, se calculado sem ponderao por tempo (Fearnside, 2009a).

    Quando uma paisagem terrestre inundada por um reservatrio, emisses e remoes pela paisagem pr-barragem devem ser deduzidas dos fluxos cor-respondente de gases do reservatrio a fim de avaliar o impacto lquido da barragem. Em reas de floresta tropical, o balano de carbono da vegetao um fator crtico. Na dcada de 1990, muitos acreditavam que a Amaznia era um timo receptor de carbono atmosfrico, o que aumentaria o impacto lquido so-bre o aquecimento global da converso de florestas para outros usos, incluindo reservatrios. No entan-to, posteriormente, a correo de alguns problemas em tcnicas de medio reduziram as estimativas de absoro da floresta em mais do que cinco vezes, e j no mais se acredita que a vegetao seja, em mdia, um sumidor importante de carbono (e.g., Araujo et al., 2002; Fearnside, 2000; Kruijt et al., 2004).

    A quantidade de absoro de carbono varia subs-tancialmente entre diferentes locais na Amaznia (Ometto et al., 2005). As maiores taxas de absor-o foram estimadas por medies do crescimento das rvores no Peru e Equador (Phillips et al., 1998, 2004); Infelizmente, no h nenhuma torre nestes locais para fornecer medies de correlao de vr-tices comparveis s medidas no Brasil. As taxas de

    absoro desde os Andes at o Oceano Atlntico, um padro que tem sido atribudo a um gradien-te correspondente na fertilidade do solo (Malhi et al., 2006). Em 2010, o Brasil assinou um acordo com Peru para permitir que a empresa de energia do governo brasileiro (ELETROBRS) construs-se os primeiros cinco entre mais de uma dzia de barragens planejadas na parte amaznica do Peru, e o atual presidente do Peru reafirmou o compromisso com o Pacto (FSP, 2011b).

    As emisses do desmatamento podem ser subs-tanciais, como resultado de deslocamentos de popu-laes e a estimulao do desmatamento nos arre-dores de novas barragens e suas estradas de acesso, como j mencionado. Emisses deslocadas podem ocorrer no s devido perda do uso da terra, mas tambm pela perda do uso da gua, por exemplo, para substituir o peixe que foi produzido anterior-mente pelo rio. Esta uma preocupao para as barragens em construo no rio Madeira no Brasil (Fearnside, 2009b).

    Outra importante fonte de emisses o carbono liberado a partir da decomposio das rvores mortas pela inundao. rvores geralmente permanecem no reservatrio, onde parte delas se projetam acima da gua e se decompem na presena de oxignio, libe-rando o carbono como CO2. rvores adicionais so afetadas na floresta prxima da margem, incluindo a floresta, nas ilhas formadas no reservatrio, devido ascenso do lenol fretico. Esta adio maior em reservatrios com um extenso litoral e muitas ilhas, como o caso da barragem de Balbina (Feitosa et al., 2007). A liberao de carbono pela morte das rvores comea quando o reservatrio estiver cheio inicialmente (antes de qualquer gerao de eletrici-dade), fazendo com que a maior parte das emisses seja produzida nos primeiros anos de vida do reser-vatrio. Devido ao valor do tempo, isso causa um substancial impacto inicial na gerao hidreltrica, em comparao com a gerao a partir de combus-tveis fsseis, sendo que combustveis fsseis lanam a grande maioria do seu CO2 na mesma hora que a eletricidade produzida (Fearnside, 1997). De 1990 (o ano padro dos inventrios iniciais das emisses de gases de efeito estufa, nos termos da Conveno do Clima), a edio anual da repartio das par-tes das rvores que se projetam para fora da gua (sem contar a mortalidade na margem) foi esti-mada em 6,4 milhes de toneladas de carbono em Balbina (Fearnside, 1995), 1,1 milhes de tonela-das em Samuel (Fearnside, 2005a) e 2,5 milhes de

  • 22 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    toneladas em Tucuru (Fearnside, 2002b). A represa de Babaquara/Altamira, no oficialmente previs-ta para a construo, a montante de Belo Monte, junto com Belo Monte, susceptvel de se tornar a campe destas emisses de decomposio sobre a gua, com uma mdia estimada em 9,6 milhes de toneladas de carbono anualmente derivada de rvores inundadas, mais 0,07 milhes toneladas de emisses da margem durante os primeiros dez anos (Fearnside, 2009a, 2011a).

    A gua do reservatrio tambm emite dixido de carbono, atravs de bolhas (ebulio) ou difu-so (emanao) em toda a superfcie do reservat-rio pela gua liberada atravs das turbinas e verte-douros. Este CO2 se origina de fontes diferentes, e importante evitar a dupla contagem do carbono. Uma parte a decomposio de rvores submersas inicialmente presentes no reservatrio, seja como CO2 produzido diretamente quando a biomassa das rvores se decompe na camada superficial da gua, que contm oxignio, ou indiretamente se a biomas-sa decompe em camadas profundas onde h pouca ou nenhuma concentrao de oxignio. O carbono liberado como metano e, mais tarde, uma parte disso transformada em CO2 por bactrias nas camadas superficiais. Acredita-se que esta via de emisso, com o carbono na biomassa das rvores sendo transfor-mado em metano dissolvido, e mais tarde em CO2 dissolvido, seja a principal fonte de CO2 na gua em Balbina (Kemenes et al., 2011).

    Dixido de carbono tambm liberado a partir do carbono do solo alagado. Assim como no caso das rvores, uma fonte fixa que eventualmente se esgotar. A questo tambm maior nos primeiros anos. Na barragem de Petit Saut, na Guiana Francesa, pesquisadores acreditam que o carbono do solo a principal fonte de CO2 e de metano produ-zido no pulso emisso inicial depois da inundao (Tremblay et al., s/d [C. 2005]).

    Emisses de CO2 na gua incluem o carbono lanado a partir de fontes renovveis, alm do car-bono de fontes fixas, tais como rvores e carbono do solo. O carbono tambm entra no reservatrio na forma de carbono orgnico dissolvido (a partir de lixiviao) e de sedimentos da eroso do solo em toda a bacia hidrogrfica a montante do reser-vatrio. Este carbono est constantemente sendo removido da atmosfera pela fotossntese realizada pela vegetao. O carbono incorporado vegetao depois depositado no cho da floresta na forma

    de folhas e madeira morta. Uma parte disto con-vertida em carbono do solo orgnico, e outra parte exportada diretamente ainda em forma de necro-massa. Quantidades substanciais de serapilheira no decompostas so transportadas pela gua pluvial para crregos durante chuvas pesadas (Monteiro, 2005). Uma parte deste carbono termina arma-zenada em sedimentos no fundo do reservatrio. Este armazenamento de sedimentos acaba sendo um benefcio de carbono de barragens (por exem-plo, Gagnon, 2002). No entanto, uma contabilidade completa exigiria a deduo da parcela de carbono que, sem a barragem, teria sido transportado pelo rio e depositado em sedimentos marinhos. Uma parte teria deixado a gua do rio a jusante: a gua no rio Amazonas conhecida como um importante emis-sor de CO2 (Richey et al., 2002).

    Outras fontes de carbono renovveis incluem a fotossntese do fitoplncton, assim como as algas e macrfitas (plantas aquticas) no prprio reser-vatrio. Tambm uma fonte renovvel de plantas herbceas que crescem na zona de deplecionamento (drawdown zone). Esta uma rea pantanosa que exposta ao redor da borda do reservatrio sempre que a gua retirada para gerao de energia durante a estao seca. Pequenas plantas herbceas, como er-vas, crescem rapidamente nesta rea quando o nvel da gua desce. A rea de deplecionamento pode ser enorme: 659,6 km2 em Balbina (Feitosa et al., 2007) e 3.580 km2 no reservatrio no-oficialmente pla-nejado de Babaquara/Altamira (Fearnside, 2009a, 2011a). Quando a gua sobe de novo, as plantas morrem e, em seguida, se decompem rapidamen-te, porque possuem um tecido vegetal macio (em contraste com a madeira, que contm lignina e se decompe muito lentamente sob a gua). Quando o oxignio est presente na gua, este carbono lan-ado na forma de CO2, mas no caso de plantas que esto enraizadas no fundo, grande parte da decom-posio ocorrer na parte inferior do reservatrio em gua sem oxignio, produzindo metano. Assim como funciona tambm com o metano proveniente de outras fontes, parte do metano pode ser oxida-da em CO2 por bactrias antes de atingir a super-fcie. O resto ser lanado como metano a partir de uma zona de deplecionamento que representa uma verdadeira fbrica de metano que continuamente converte o CO2 atmosfrico em metano (CH4), que um componente muito mais poderoso em cau-sar o aquecimento global por cada tonelada de gs (Fearnside, 2008).

  • 23Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    O CO2 na gua que provm de fontes renov-veis, como a serapilheira da floresta, fitoplncton, algas, macrfitas (vegetao aqutica) e a vegetao na zona de deplecionamento, deve ser distinguido do CO2 proveniente de fontes fixas, como rvo-res inundadas e carbono do solo. A parte de fon-tes fixas representa uma contribuio lquida para o aquecimento global. No entanto, o CO2 das fontes renovveis no representa uma contribuio para o aquecimento global porque a mesma quantidade de CO2 que foi removido da atmosfera pela fotossnte-se simplesmente retorna para a atmosfera da mesma forma (CO2) aps um perodo de meses ou anos. Parte do mesmo carbono contabilizada duas vezes quando a biomassa das rvores mortas quantifi-cada como uma emisso de desmatamento, calcu-lada baseada na diferena entre a biomassa da flo-resta e a biomassa da rea alagada, como no caso da metodologia do IPCC (Duchemin et al., 2006; IPCC, 1997) utilizada pelo Brasil nos inventrios sob o Conveno do Clima (Brasil, MCT, 2004, 2010). Clculos do impacto de reservatrios que quantificam todo este CO2 como sendo um impacto no aquecimento global (por exemplo, Saint Louis et al., 2002; dos Santos et al., 2008; Kemenes et al., 2011) sobrestimam esta parte da emisso. Deve ser uma prioridade as pesquisas necessrias para melhor quantificar as fontes de carbono das quais so deri-vadas as emisses de CO2 em reservatrios. At que essas informaes estejam disponveis, este autor es-colheu contabilizar apenas o metano, e no o CO2, no caso das emisses da superfcie do reservatrio e da gua que passa atravs das turbinas e vertedou-ros (por exemplo, Fearnside, 2002b, 2005b, 2009a, 2011a). Dixido de carbono s contado a partir da decomposio das rvores mortas que se decom-pem acima da gua.

    xido nitroso (N2O)

    xido nitroso (N2O) outro gs de efeito estufa com uma contribuio dos reservatrios. Superfcies de represas amaznicas emitem uma mdia de 7,6 kg N2O km-2 dia- 1 (Lima et al., 2002), ou 27,6 kg ha-1 ano-1. O solo da floresta tropical emite 8,7 kg ha-1 ano-1 (Verchot et al., 1999, p. 37). Portanto, os reser-vatrios emitem trs vezes mais do que as florestas que substituem. Tendo em conta o valor para o po-tencial de aquecimento global de xido nitroso adota-do pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC) no seu quarto relatrio, cada to-nelada de N2O tem um impacto durante um perodo

    de 100 anos equivalente a 298 toneladas de gs de CO2 (Forster et al., 2007). Reservas amaznicas, por-tanto, emitem 2,26 Mg ha-1 ano-1 de carbono equiva-lente a CO2, contra 0,74 Mg ha-1 ano-1 emitido pela floresta, deixando uma emisso lquida de 1,52 Mg ha-1 ano-1 de carbono equivalente a CO2. Para um reservatrio de 3.000 km2, como Balbina, isso repre-senta quase 500 mil toneladas de carbono equivalente a CO2 por ano. As medies das emisses de N2O no reservatrio de Petit Saut, na Guiana Francesa, e no reservatrio de Fortuna, no Panam, indicam emisses de aproximadamente duas vezes as dos so-los sob florestas tropicais (Guerin et al., 2008). As emisses dos solos da floresta variam consideravel-mente entre localidades, o que indica a importncia de medidas especficas para estimar as emisses pr--represa. Diferente de CO2 e CH4, quase a totalidade das emisses de N2O de barragens ocorre atravs da superfcie do reservatrio, e no pela desgaseificao de jusante da barragem (Guerin et al., 2008). O in-tervalo de transmisso grande: considerando apenas as emisses da superfcie do reservatrio, a proporo dos efeitos do aquecimento global de N2O represen-ta entre 29 e 31% da emisso total do CO2, CH4 e N2O das superfcies de quatro reservatrios em re-as de floresta tropical: Tucuru, Samuel, Petit Saut e Fortuna (Guerin et al., 2008). Emisses de N2O so muito mais baixas em reservatrios que no esto lo-calizados em reas de floresta tropical.

    Metano (CH4)

    A emisso de metano uma importante contri-buio das barragens hidreltricas ao aquecimento global. Metano (CH4) formado quando a matria orgnica se decompe sem o oxignio estar presente, por exemplo, no fundo de um reservatrio. A gua em um reservatrio estratificada em duas camadas: uma camada de superfcie (epilmnio) onde a gua est mais quente e est em contato com o ar, e uma camada inferior (hipolmnio) que fica abaixo de um limite divisrio (a termoclina). A gua abaixo deste divisrio muito mais fria. Se expressa em termos do contedo de oxignio dissolvido, a delimitao, que ocorre em aproximadamente na mesma profun-didade de 2 a 10 m, e conhecido como a oxicli-na. gua abaixo da termoclina (ou a oxiclina) no se mistura com a gua de superfcie, exceto durante eventos ocasionais cuja estratificao quebrada e a gua do fundo sobe para a superfcie, matando mui-tos peixes. Na Amaznia, isso acontece durante o fenmeno das friagens, que so uma caracterstica

  • 24 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    climtica na parte ocidental, mas no na parte orien-tal da Amaznia. Balbina situa-se aproximadamente na extremidade leste deste fenmeno e foi afetada por mortes de peixes durante as friagens. Em condi-es normais, a gua fria na parte inferior separada abaixo da termoclina e o oxignio dissolvido na gua desaparece rapidamente atravs da oxidao de uma parte de folhas e outra matria orgnica no fundo do reservatrio. Aps isso, essencialmente toda a de-composio deve terminar no CH4 em vez de CO2. Altas concentraes do gs podem ser dissolvidas na gua do fundo do reservatrio, porque a gua fria.

    Lagos naturais e reas midas, incluindo a vr-zea (rea de inundao anual em rios amaznicos de gua branca) e o pantanal (zonas hmidas na bacia do rio Paran), so importantes fontes globais de metano (Devol et al., 1990; Hamilton et al., 1995; Melack et al., 2004; Wassmann & Martius, 1997). Uma usina hidreltrica, no entanto, uma fonte substancialmente maior de CH4 por hectare de gua devido a uma diferena crucial: a gua que sai do re-servatrio extrada do fundo, em vez da superfcie. Lagos naturais e reservatrios emitem CH4 atravs de bolhas e difuso da superfcie, mas no caso de uma represa existe uma fonte adicional de CH4 da gua passando atravs das turbinas e vertedouros. Eles tiram gua de abaixo da termoclina, onde ela est saturada com metano. O reservatrio como uma banheira, onde a tampa retirada do ralo e a gua drena do fundo, em vez de transbordar da parte superior, como no caso de um lago. Como a gua que sai das turbinas vem da camada aprisionada abaixo do termoclina e est com alta concentrao de metano, a diferena com a pequena concentrao no r muito grande e boa parte do metano rapi-damente liberada para a atmosfera logo abaixo das turbinas. Ao longo de um tempo maior, o aqueci-mento gradual da gua que flui a jusante no rio abai-xo da barragem produzir uma reduo adicional na solubilidade, e, portanto, um aumento na liberao de gs (Princpio de Le Chatalier).

    Para o gs dissolvido na gua que flui a jusante, abaixo de uma represa, a liberao para a atmosfera rpida o suficiente para que a maior parte do CH4 es-cape de ser convertida em CO2 por bactrias na gua. Na verdade, a emisso de forma imediata na sada das turbinas ou mesmo dentro das prprias turbinas. Esta a razo por que a medio da vazo de gs da superfcie da gua no rio abaixo da barragem no suficiente para medir o impacto das emisses de gua que passa pelas turbinas, pois escapa muito da emisso.

    Esta a principal explicao, por exemplo, porque o grupo de pesquisa montado por FURNAS foi capaz de afirmar que as hidreltricas so 100 vezes me-lhores do que os combustveis fsseis em termos de aquecimento global (Garcia, 2007). Na verdade, as medies de fluxo comearam em distncias abaixo da barragem que variaram de 50 m nas barragens de Estreito, Furnas e Peixoto (dos Santos et al., 2009, p. 835; Ometto et al., 2011) a 500 m nas represas de Serra da Mesa e Xing (da Silva et al., 2007). A nica maneira de estimar a liberao sem esses desvios im-portantes de base-la na diferena entre a concen-trao de CH4 na gua acima e abaixo da barragem (por exemplo, Fearnside, 2002b; Fearnside & Pueyo, 2012; Kemenes et al., 2007).

    As estimativas da magnitude do impacto de barragens amaznicas no aquecimento global tm variado enormemente. A maioria das pessoas que tomam cincia de diferentes estimativas atravs da imprensa no tm nenhuma informao sobre como as medies subjacentes foram feitas e o que est includo ou omitido de estimativas. essencial ana-lisar os estudos originais por todos os lados do deba-te. Informaes sobre o amplo debate, considerando ambos os lados, sobre as emisses de gases de efei-to estufa esto disponveis na seo Controvrsias amaznicas do site http://philip.inpa.gov.br .

    Uma breve reviso das razes para os resulta-dos muito dspares necessria. Em primeiro lugar, a omisso das emisses oriundas da gua que passa atravs das turbinas e vertedouros uma razo que deveria ser bvia. Essa omisso tem sido uma carac-terstica de longa data das estimativas oficiais brasi-leiras, como destacado no memorvel debate sobre este assunto na revista Climatic Change (ver: Rosa et al., 2004, 2006; Fearnside, 2004, 2006b). A omis-so do mesmo se aplica para as emisses de gases de efeito estufa estimadas para barragens na primeira comunicao nacional do Brasil sob a Conveno de Clima (Brasil, MCT, 2004; Rosa et al., 2002), com resultados mais de dez vezes inferiores s estimativas desse autor para barragens como Tucuru e Samuel (Fearnside, 2002b, 2005a). A omisso das turbinas e vertedouros foi a principal explicao. O importante papel desempenhado pelas emisses de gua lan-adas por turbinas aparente a partir de medies diretas feitas acima e abaixo de barragens em Petit Saut, na Guiana Francesa (Abril et al., 2005; Delmas et al., 2004; Galy-Lacaux et al., 1997, 1999; Gurin et al., 2006) e em Balbina, no Brasil (Kemenes et al., 2007, 2008, 2011).

  • 25Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    No primeiro inventrio brasileiro de gases de efeito estufa, as emisses de energia hidreltrica fo-ram calculadas para nove de 223 barragens no Pas, mas os resultados foram confinados a uma caixa de texto e no foram includas na contagem das emis-ses nacionais (Brasil, MCT, 2004, p. 152-153). No segundo inventrio nacional (Brasil, MCT, 2010), as emisses de hidreltricas foram completamente omitidas. No entanto, embora o impacto da libera-o de CO2 das rvores mortas por reservatrio seja uma importante omisso de muitas discusses sobre o papel das barragens no aquecimento global, no caso do segundo inventrio nacional, a liberao de CO2 da perda de biomassa na converso de florestas em zonas midas foi includa como forma de mu-dana de uso da terra.

    Exagero da emisso de pr-represa outra ma-neira que as emisses lquidas de barragens podem ser subestimadas. Como j mencionado, as zonas midas naturais so importantes fontes de metano, e isso tem sido usado para afirmar que a terra inundada por uma represa teria emitido grandes quantidades de metano de qualquer forma, mesmo se a barragem no fosse construda. Por exemplo, a Associao Internacional de Hidreltricas (IHA, sigla em in-gls) considera as emisses de usinas hidreltricas como sendo uma questo de soma zero, porque no excederiam as emisses pr-represa (Gagnon, 2002). No Estudo de Impacto Ambiental (EIA) para a barragem de Belo Monte, foi presumida que a rea a ser inundada poderia emitir 48 mg CH4 m-2 dia-1 antes da criao do reservatrio, com base em dois conjuntos de medies da emisso da superfcie do rio e do solo em locais prximo margem do rio (Brasil, ELETROBRS, 2009, Apndice 7.1.3-1; ver: Fearnside, 2011a). A maioria das medies das emisses do solo na poca das chuvas foram em so-los encharcados, recentemente expostos pela queda sazonal do nvel de gua (Brasil, ELETROBRS, 2009 Apndice 7.1.3-1, p. 72), resultando em sua alta emisso de CH4 e influenciando fortemente na mdia utilizada por toda a superfcie da terra a ser inundada por Belo Monte. No entanto, hidreltricas geralmente so construdas em locais com solos bem drenados, sendo que locais com corredeiras e cacho-eiras so escolhidos em vez de zonas midas planas. Isso ocorre porque a topografia ngreme resulta em maior produo de eletricidade. O solo sazonalmen-te inundado pelo rio no pode ser generalizado para a rea do reservatrio, pois na Amaznia os reserva-trios geralmente ficam em reas de floresta de terra

    firme. O solo sob floresta de terra firme normal-mente considerado como um sumidouro de metano, ao invs de uma fonte (Keller et al., 1991; Potter et al., 1996). Uma estimativa irrealisticamente alta para a emisso pr-barragem leva a uma subestimao do impacto lquido. No caso do EIA de Belo Monte, as 48 mg CH4 m-2 dia- 1 so subtradas das 70,7 mg CH4 m-2 dia-1 estimadas no EIA para a emisso do reservatrio (o que subestimado por vrias razes, incluindo a utilizao como metade da estimativa um conjunto de medidas no reservatrio de Xing, localizado na zona semirida da regio nordeste, onde as emisses seriam muito menores em uma barragem amaznica), deixando apenas 70,7-48,0 = 22,7 mg CH4 m-2 dia-1 como emisso lquida.

    Outra fonte de baixas estimativas para as emis-ses das hidreltricas no Brasil uma correo da lei potncia matematicamente errada que foi aplica-da repetidamente nos clculos oficiais das emisses de ebulio e difuso das superfcies de reservat-rios brasileiros. Isso vem de uma tese de doutorado (dos Santos, 2000), que a base de um relatrio ofi-cial da ELETROBRS (Brasil, ELETROBRS, 2000). O relatrio calcula e tabula as emisses para todas as 223 grandes barragens no Brasil naquela poca, com uma rea total de superfcie de gua de 32.975 km2, que uma rea maior do que a Blgica. A correo errada continua a ser aplicada (por exemplo, dos Santos et al., 2008). Esses ajustes da ELETROBRS reduzem as estimativas de emis-so para as superfcies dos reservatrios em 76% em comparao com a mdia simples dos valores de medio no mesmo estudo (ver: Pueyo & Fearnside, 2011). O problema que as bolhas da superfcie de reservatrios geralmente ocorrem em episdios espordicos, com intenso borbulhamento durante um curto perodo, seguido por longos perodos com poucas bolhas. Assim, o nmero de amostras inevi-tavelmente insuficiente para representar esses even-tos relativamente pouco frequentes, e uma correo pela lei de potncia pode ser aplicada aos dados de medio. No entanto, eventos que so raros, porm de alto impacto, aumentam levemente a mdia real das emisses, ao invs de reduzi-la. Na verdade, h pelo menos cinco graves erros matemticos no cl-culo da ELETROBRS, incluindo uma inverso do sinal de positivo para negativo. Observe, entre-tanto, que a subestimao dos erros na aplicao da correo da lei de potncia no se aplica s ao me-tano, mas tambm s bolhas de CO2, que nem sem-pre uma contribuio lquida para o aquecimento

  • 26 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    global. A aplicao correta da lei de potncia resulta em estimativas das emisses de metano superficial 345% maiores do que as estimativas relatadas pela ELETROBRS (ver: Pueyo & Fearnside, 2011).

    Metodologia de amostragem inadequada outra maneira que pode levar a valores para emisso que so vrias vezes menores do que deveriam ser. Como j mencionado, estimar as emisses das turbinas e vertedouros baseando-se apenas em medies de flu-xo na superfcie da gua a jusante de uma barragem est destinado a perder a maior parte das emisses, resultando em grandes subestimativas do impacto total. Este um importante fator para as baixas es-timativas feitas por FURNAS e ELETROBRS. Mesmo para estimativas baseadas em concentrao (incluindo as minhas) tm subestimado as emisses devido metodologia de amostragem utilizada para obter a gua junto ao fundo do reservatrio. O m-todo quase universal a garrafa Ruttner, que um tubo com portas que se abrem em cada extremi-dade. Tubo submergido atravs de um cabo com duas portas, em seguida, as portas so fechadas e a garrafa puxada para a superfcie. Ento, a gua para anlise qumica removida. O problema que os gases dissolvidos na gua formam bolhas quando a presso diminui dentro da garrafa Ruttner enquanto puxada para a superfcie. O gs vaza em torno de portas (que no so hermeticamente seladas), mas em qualquer caso este sempre seria perdido quando a gua fosse extrada na superfcie (com uma serin-ga) para a determinao do espao de cabea (head space) do volume de gs e produtos qumicos de anlise. Esse problema j foi abordado recentemen-te por Kemenes et al. (2011). Alexandre Kemenes inventou uma garrafa Kemenes, que recolhe a gua em uma seringa que submergida at a profundi-dade necessria. A seringa tem um mecanismo de mola que puxa a gua para a amostra, e as bolhas de gs que emergem so capturadas e medidas quando a amostra recolhida na superfcie. Uma compara-o dos dois mtodos de amostragem indica que a concentrao mdia de metano para uma amostra colhida a 30 m de profundidade 116% superior se for medida com a garrafa Kemenes, dobrando a quantidade de metano estimada na gua que passa atravs das turbinas em Balbina. A diferena seria ainda maior para barragens com turbinas em pro-fundidades maiores, como no caso de Tucuru.

    Outro fator importante que afeta o impacto calculado de hidreltricas o potencial de aque-cimento global (GWP) do metano. Este o fator

    para converter toneladas de metano em toneladas de CO2 equivalente. Os valores para essa converso aumentaram em sucessivas estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudana Climtica (IPCC) e em publicaes desde o ltimo relatrio do IPCC em 2007. Converses baseiam-se no hori-zonte de tempo de 100 anos, adotado pelo protocolo de Quioto. O relatrio intercalar do IPCC em 1994 estimou um valor de 11 para o GWP do metano, ou seja, o lanamento de uma tonelada de metano teria o mesmo impacto sobre o aquecimento global, como o lanamento de 11 toneladas de CO2 (Albritton et al., 1995). Isto aumentou para 21 no segundo re-latrio de avaliao em 1995, usada pelo Protocolo de Quioto (Schimel et al., 1996). Em 2001 o valor foi aumentado para 23 no terceiro relatrio de ava-liao (Ramaswamy et al., 2001) e depois para 25 no quarto relatrio de avaliao em 2007 (Forster et al., 2007). Desde ento, um trabalho publicado na revista Science que inclui efeitos indiretos que no eram considerados no quarto relatrio de avalia-o tem o valor estimado em 34, com o intervalo de incerteza que se estende at um valor de mais de 40 (Shindell et al., 2009). Em comparao com o valor de 21, adotado pelo Protocolo de Quioto para o perodo 2008-2012, o valor de 34 representa um aumento de 62%, ou um tremendo aumento no impacto da energia hidreltrica. Para hidreltricas, emisso de metano representa o maior impacto, en-quanto que, no caso dos combustveis fsseis, quase toda a emisso est na forma de CO2. Cabe lembrar que estes valores para o impacto de metano so ba-seados em um horizonte de tempo de 100 anos, sem desconto pelo valor do tempo, como foi adotado na regulamentao do Protocolo de Quioto. No entan-to, o impacto relativo de metano sobe em muito se a ateno for focada nas prximas dcadas: o valor do quarto relatrio do IPCC sobe de 25 para 72 se for considerado 20 anos no lugar de 100. Sendo que o aquecimento global precisa ser controlado nessa es-cala de tempo mais curta se for para evitar consequ-ncias desastrosas, esses valores mais altos devem ser considerados na tomada de decises, o que pesaria fortamente contra as hidreltricas.

    Comparaes entre barragens e combustveis fsseis

    O valor do tempo crucial para comparar o im-pacto sobre o aquecimento global de hidroeletrici-dade e combustveis fsseis ou outras fontes de ener-gia. Energia hidreltrica tem uma enorme emisso

  • 27Desenvolvimento Hidreltrico na

    Amaznia

    nos primeiros anos devido morte de rvores, de-composio subaqutica do carbono do solo e das folhas de vegetao original e a exploso de plantas aquticas (macrfitas) devido maior fertilidade de gua. Nos anos seguintes, esta emisso ser reduzida para um nvel inferior e ser mantida por tempo in-determinado a partir de fontes renovveis, tais como a inundao anual da vegetao macia na zona de deplecionamento. O enorme pico de emisses nos primeiros anos cria uma dvida que ser paga len-tamente na medida em que a gerao de energia da usina substitui a gerao de energia a partir de combustveis fsseis nos anos subsequentes. O tem-po decorrido pode ser substancial. Por exemplo, no caso de Belo Monte junto com a primeira barragem a montante (Babaquara/Altamira), o tempo neces-srio para saldar a dvida da questo inicial esti-mado em 41 anos (Fearnside, 2009a, 2011a). Este nmero subestima o impacto real que clculo usa o valor de 21 do Protocolo de Quioto como o GWP do metano e porque usa as concentraes de metano medidas com as tradicionais garrafas Ruttner. Um perodo de 41 anos tem uma importncia enorme para a Amaznia, onde a floresta est ameaada por alteraes climticas projetadas nesta escala de tem-po (por exemplo, Fearnside, 2009c). Uma fonte de energia que demora 41 anos ou mais para zerar a dvida de carbono no pode ser considerada energia verde em termos de aquecimento global.

    Gases de efeito estufa emitidos diretamente por hidreltricas no so a nica maneira em que as bar-ragens aumentam o aquecimento global. Crditos de carbono so concedidos para hidreltricas pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), no mbito do Protocolo de Quioto, que se baseiam em presunes de que (1) as barragens no seriam construdas sem o financiamento do MDL e (2) ao longo da durao de 7 a 10 anos dos projetos de carbono, as barragens hidreltricas teriam emisses mnimas em comparao com a eletricidade gera-da por combustveis fsseis, que supostamente seria deslocada. Estes pressupostos so falsos, especial-mente no caso de barragens tropicais, tais como as previstas na Amaznia. No caso das barragens de Teles Pires, Jirau e Santo Antnio, todas j estavam em construo quando foram solicitados crditos de carbono. Estes casos servem como exemplos concretos, indicando a necessidade de reforma das normas do MDL, eliminando o crdito para hi-dreltricas (Fearnside, 2012b,c, 2013).

    O comportamento normal em negcios no consistente com investimentos nessa escala se as barragens, na verdade, estariam perdendo dinhei-ro na ausncia de um financiamento adicional do MDL. A ideia de que essas barragens so abnegadas contribuies para os esforos internacionais para conter o aquecimento global ultrapassam os limites da credibilidade. Quando os crditos de carbono so concedidos para projetos, como represas, que iriam para frente de qualquer forma na ausncia dos cr-ditos de carbono, os pases que compram os crditos esto autorizados a emitir essa quantidade de carbo-no para a atmosfera sem qualquer emisso equiva-lente realmente ter sido evitada. O resultado uma emisso de mais gases de efeito estufa na atmosfera e um desperdcio dos fundos escassos que o mundo est atualmente disposto a dedicar luta contra o aquecimento global.

    O controle do aquecimento global exigir uma correta contabilizao das emisses lquidas ao re-dor do mundo: qualquer emisso que excluda ou subestimada implica que os acordos de mitigao, projetados para conter o aumento da temperatura dentro de um limite especificado (como o limite de 2 C convencionada, atualmente, na Conveno do Clima) simplesmente no impediro que siga o aumento da temperatura. A Amaznia um dos lugares que se espera sofrer as consequncias mais graves, se ns falharmos nesta responsabilidade.

    AGRADECIMENTOS

    Este documento foi preparado para o Painel Internacional de Meio Ambiente e Energia: Um Diagnstico dos Principais Projetos Hidroenergticos, Bogot, Colmbia, 15-16 de abril de 2013 (Fearnside, 2014). Pores desta discusso so adaptaes de Fearnside, 2011b, 2012d, s/d. Agradeo ao International Rivers por permitir a publicao das Figuras 1 e ao Matt Finer e Clinton Jenkins pela Figura 2. O Marcelo Augusto dos Santos preparou a Figuras 4. As pesquisas do autor so financiadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) (proc. 304020/2010-9; 573810/2008-7) e a Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) (proc. 708565). Agradeo ao Paulo Mauricio Lima de Alencastro Graa pelos comentrios. Esta uma traduo de Fearnside (2014).

  • 28 Hidreltricas na Amaznia Impactos Ambientais e Sociais na Tomada de Decises sobre Grandes Obras

    LITERATURA CITADA

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