História da Educação - RHE - n. 22

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    ASSOCIAO SUL-RIO-GRANDENSE DEPESQUISADORES EM HISTRIA DA EDUCAO

    HISTRIA DA EDUCAO

    NMERO 22Maio/Ago 2007

    Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe QuadrimestralHistria da Educao Pelotas n. 22 p. 1-282 Maio/Ago 2007

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    HISTRIA DA EDUCAO ASPHE

    Presidente: Maria Helena Cmara Bastos

    Vice-Presidente: Maria StephanouSecretrio: Claudemir de Quadros

    Conselho Editorial Nacional Dra. Denice Cattani (USP)Dr. Dermeval Saviani (UNICAMP)Dr. Elomar Antonio Callegaro Tambara (UFPel)Dr. Jorge Luiz da Cunha (UFSM)Dr. Jos Gonalves Gondra (UERJ)Dr. Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG)

    Dr. Lcio Kreutz (UCS)Dr. Maria Teresa Santos Cunha (UDESC)Dra. Maria Helena Bastos (PUCRS)Dra. Marta Maria de Arajo (UFRGN)

    Conselho Editorial Internacional Dr. Alain Choppin(INRP, Frana) Dr. Antonio Castillo Gmez(Univer. de Alcal Espanha)Dr. Lus Miguel Carvalho(Univer. Tcnica de Lisboa)

    Dr. Rogrio Fernandes(Univer. de Lisboa)

    Comisso ExecutivaProf. Dr. Elomar Antonio Callegaro TambaraProfa. Dra. Eliane Teresinha Peres

    Consultores Ad-hoc

    Dr. Lcio Kreutz (UCS)Dra. Giana Lange do Amaral (UFPel)Dra. Berenice Corsetti (UNISINOS)Dr. Claudemir de Quadros (UNIFRA)

    Editorao eletrnica e capaFlvia [email protected]

    Imagem da capa

    Deux mres de familleElizabeth GardnerLe Salon de 1888Paris

    Histria da EducaoNmero avulso: R$ 15,00Single Number: U$ 10,00 (postage included).Histria da Educao / ASPHE (Associao Sul-Rio-Grandensede Pesquisadores em Histria da Educao) FaE/UFPel. n. 22(Maio/Ago 2007) - Pelotas: ASPHE - Quadrimestral.ISSN 1414-3518 v. 1 n. 1 Abril, 1997

    1. Histria da Educao - peridico I. ASPHE/FaE/UFPel

    CDD: 370-5

    Indexao:CLASE (Citas Latinoamericas em Cincias Sociales y Humanidades)Bibliografia brasileira de Educao BBE.CIBEC/INEP/MECEDUBASE (FE/UNICAMP)

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    SUMRIO

    APRESENTAO.......................................................................................5

    CRIAO E REINVENO DOS LICEUS: 1802-1902 LYCE(S) CREATION AND RECREATION: 1802 1902Philippe Savoie; Traduo de Eduardo Arriada e Maria Helena CamaraBastos.............................................................................................................9

    UMA NOVA FORMA DE ENSINO DE DESENHO NA FRANA NO INCIO DO SCULO XIX: O DESENHO LINEARTHE LINEAR DRAWING AS A NEW DRAWING TEACHING METHOD IN FRANCE IN THE BEGINNING OF NINETEENTH CENTURY Renaud dEnfert; Traduo de Maria Helena Camara Bastos..........................31

    A CO-EDUCAO DOS SEXOS: APONTAMENTOS PARA UMA INTERPRETAO HISTRICA THE CO-EDUCATION OF THE SEXES: NOTES FOR AN HISTORICAL INTERPRETATION Jane Soares de Almeida.................................................................................61

    ESCOLAS ANARCO-SINDICALISTAS NO BRASIL: ALGUNSPRINCPIOS, MTODOS E ORGANIZAO CURRICULAR ANARCHO-SYNDICALIST SCHOOLS IN BRAZIL: SOME PRINCIPLES, METHODS AND CURRICULAR ORGANIZATION Dagoberto Buim Arena.................................................................................87

    A PUC-CAMPINAS: AS MUDANAS INSTITUCIONAISNARRADAS POR SEUS DOCENTES MAIS VELHOS PUC UNIVERSITY OF CAMPINAS (BRAZIL): THE INSTITUTIONAL CHANGES NARRATED BY ITS OLDEST TEACHERS

    Rogrio Canciam; Vera Lcia de Carvalho Machado (co-autora).................. 109

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    JOHN DEWEY NA ARGUMENTAO DE AUTORESCATLICOSTHE WAY JOHN DEWEYS IDEAS ARE USED BY CATHOLIC AUTHORS Viviane da Costa.........................................................................................121

    EDUCAO E FILANTROPIA NA CIDADE DE SO PAULO,NO FINAL DO SCULO XIX E PRIMEIRAS DCADAS DOSCULO XX: UM ESTUDO DA OBRA DO CONDE JOS VICENTE DE AZEVEDO NO BAIRRO DO IPIRANGA EDUCATION AND PHILANTHROPY IN THE CITY OF SO PAULO, IN THE END OF THE NINETEENTH CENTURY AND FIRST DECADES OF THE TWENTIETH CENTURY: A STUDY OF THE WORKMANSHIP OF THE COUNT JOS VICENTE DE AZEVEDO IN THE SUBURB OF IPIRANGALincoln Etchebhre Jnior; Leonel Mazzali; Rosemari Fag Viegas ............155

    ENTRE O CURA E O MDICO: HIGIENE, DOCNCIA EESCOLARIZAO NO BRASIL IMPERIAL BETWEEN THE CURI AND THE PHYSICIAN: HYGIENE,TEACHING AND SCHOLARSHIP IN IMPERIAL BRASIL Jos Gonalves Gondra................................................................................183

    RESENHA AGNCIAS MULTILATERAIS E A EDUCAOPROFISSIONAL BRASILEIRA Manoel Jos Porto Jnior; Giana Lange do Amaral......................................207

    DOCUMENTOREVISTA DA LIGA DO ENSINO (n.1, janeiro de 1884, p.1-30)...........217REVISTA DA LIGA DO ENSINO (n.3, maro de 1884, p.57 a p. 84) ...235

    ORIENTAES AOS COLABORADORES.........................................281

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    Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 22, p. 5-7, Maio/Ago 2007Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe

    APRESENTAO

    A revista Histria da Educao cumprindo seucompromisso editorial, em seu nmero 22, apresenta a seusleitores uma srie de artigos que, sem dvida, reafirmam suamisso que a de colaborar para o desenvolvimento da reada histria da educao.

    Abrimos nossa revista com dois artigos depesquisadores franceses Philippe Savoie e Renaud dEnfertque com seus textos Criao e reinveno dos Liceus (1802-1902) eUma nova forma de ensino de desenho na Frana no incio do Sculo XIX: o desenho linearnos trazem preciosacontribuio investigao da histria da educao do sculo XIX. sabido de todos os estudiosos da rea de educao acontribuio da Frana para a constituio do sistema deensino brasileiro, portanto estes trabalhos trazem novas luzesno sentido de melhor conhecermos a gnese do estruturaeducacional do sculo XIX.

    Com o texto A co-educao dos sexos: apontamentos para uma interpretao histrica a renomada pesquisadora Jane Soares de Almeida nos brinda com um trabalho deexcepcional qualidade e que contribui para uma melhorcompreenso da questo da coeducao.

    O professor Dagoberto Buim Arena retoma umaquesto relacionada aos movimentos anarquistas e que temocupado a ateno de vrios estudiosos na rea da Histriada Educao. Escolas anarco-sindicalistas no Brasil: alguns princpios, mtodos e organizao curricular mais umacontribuio para a a construo de um bom entendimentoda atuao deste movimento ideolgico na rea da educao.

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    No trabalho Puc-Campinas: as mudanasinstitucionais narradas por seus docentes mais velhososprofessores Rogrio Canciam; Vera Lcia de CarvalhoMachado retomam com propriedade e competncia umaquesto terico-metodolgica muito investigada na rea deHistria da Educao que a memria como fonte deinvestigao.

    A professora Viviane da Costa no texto John Dewey na argumentao de autores catlicostrabalha umautor de significativa importncia no Brasil, mormente noque diz respeito ao movimento da Escola Nova, que Dewey. Seu trabalho investiga a influncia deste tericonorte americano na constituio terico-ideolgica deautores catlicos.

    Educao e filantropia na cidade de So Paulo, no final do Sculo XIX e primeiras dcadas do Sculo XX: um estudo da obra do conde Jos Vicente de Azevedo no bairro d Ipiranga outro texto que explora em termos metodolgicosa tcnica de histria de vida. Lincoln Etchebhre Jnior;Leonel Mazzali; Rosemari Fag Viegas exploram aspectosimportantes da constituio do sistema educacional em SoPaulo principalmente nas primeiras dcadas do sculo XX.

    O renomado pesquisador da rea da educao JosGonalves Gondra analisa em seu trabalho Entre o cura e o mdico: Higiene, docncia e escolarizao no Brasil Imperialaspectos fundamentais para a compreenso da constituiodo movimento higienista na rea da educao no BrasilImperial.

    Na tradicional seco Documentoscomplementamos o documento iniciado no nmero anteriorA revista da Liga de Ensino que, temos a convico, muito

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    contribuir como fonte para futuras investigaes na rea dahistria da educao brasileira.

    Esperamos que os leitores faam bom proveito destecontedo configurando revista Histria da Educao umpapel importante em suas vidas de investigadores na rea daeducao e particularmente na de histria da educao.

    A comisso executiva

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    Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 22, p. 9-30, Maio/Ago 2007Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe

    CRIAO E REINVENO DOS LICEUS:1802-19021

    Philippe SavoieTraduo: Eduardo Arriada e

    Maria Helena Camara Bastos

    ResumoEste artigo analisa a trajetria percorrida desde o liceu criado porBonaparte em 1802 at o liceu moderno, que resulta da grandereforma de 1902. A questo fundamenta-se, primeiramente, no que

    aconteceu ao papel atribudo aos liceus na construo de umainstruo pblica dominada pelo Estado, e de um ensino secundrioem que eles devem coexistir com estabelecimentos municipais eparticulares. A segunda parte da anlise fundamenta-se na tensoentre uma lgica do estabelecimento, arraigada na tradiohumanista, e uma lgica da ctedra professoral, perceptvel namobilidade dos professores e na especializao dos ensinos. Odecrscimo do nmero de alunos internos dos liceus precipita a crisedo ensino secundrio e conduz reforma de 1902, que cria o liceumoderno e marca o fim do modelo humanista.

    Palavras-chave:Frana, sculo XIX, liceus, ensino secundrioLYCE(S) CREATION AND RECREATION: 1802 1902

    AbstractThis article analyzes the lyce trajectory since the one created by Bonaparte in 1802 to the modern lyce resulted from the 1902 bigReform. Firstly, the question is about what occurred to the lyceascribed role, concerning to the construction of a public instructiondominated by the state. Also, the text mentions secondary instruction and its coexistence with private and municipal

    institutions; secondly, the analysis is based on the tension between alogic deep-rooted institution based on a humanist tradition, and alogic of the professoral cathedra, perceptible in teachersmobility andin teaching specialization. The internal lyce students decreased innumber. This fact caused to happen the secondary teaching crisis and

    1 Ttulo original Cration et rinvention des lyces (1802-1902), in PierreCaspard, Jean-Nol Luc, Philippe Savoie (dir.), Lyces, lycens, lycennes. Deuxsicles dhistoire, Paris, INRP, 2005. Publicao autorizada pelo autor.

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    leaded to the 1902 Reform that created the modern lyce andmarked the humanist model end.Keywords:France; XIX century; lyceum; secondary school

    CREACIN Y REINVENCIN DE LOS LICEOS: 1802-1902ResumenEste artculo analiza el camino recorrido desde el liceo creado porBonaparte en 1802 hasta el liceo moderno, que resulta de la grandereforma de 1902. La cuestin est fundamentada, primeramente, enlo que ha pasado al rol atribuido a los liceos en la construccin deuna instruccin pblica dominada por el Estado, y de una enseanzasecundaria en que ellos deben coexistir con establecimientosmunicipales y particulares. La segunda parte del anlisis sefundamenta en la tensin entre una lgica del establecimiento,arraigada en la tradicin humanista, y una lgica de la ctedraprofesoral, perceptible en la movilidad de los profesores y en laespecializacin de la enseanza. El decrecido del nmero de alumnosinternos de los liceos precipita la crisis de la enseanza secundaria y conduje a la reforma de 1902, que crea el liceo moderno y marca elfin del modelo humanista.Palabras-clave:Francia, siglo XIX, liceos, enseanza secundaria

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    O nascimento e os primeiros anos dos liceus coincidemcom o apogeu e mais tarde com o desmoronamento do sistemapoltico napolenico. Esse impactante contexto incita a privilegiar,na anlise da sua criao e na da instaurao do monopliouniversitrio, a dimenso poltica e os aspectos conjunturais etticos2. Contudo, longe de se reduzir a essas evidentespreocupaes externas, a criao dos liceus e da Universidadeinscreve-se em um projeto conjunto que permanecefundamentalmente o mesmo3. Gostaramos de tentar recolocaressa criao dentro da histria de longa durao das instituiesescolares, esboando a trajetria que conduz do liceu arcaico dapoca consular ao liceu moderno e examinando as conseqnciasdo projeto e do dispositivo de 1802, bem como as contradies eas tenses que o caracterizavam. Fazemos uma anlise, de formaevidentemente muito breve, do perodo de um sculo, j que,acertadamente, o comeo do liceu moderno considerado comotendo ocorrido em 1902, ano do centenrio dos liceus, mastambm de uma profunda reforma do ensino secundrio que

    marca, de muitas formas, a inclinao decisiva em direo ao novomodelo. A lei do 11 floreal do ano X (1 de maio de 1802)4, cujo

    objeto o de organizar a instruo pblica na Frana, cria o liceue lhe confere um lugar bastante central no embrio do sistemaeducacional. Com o liceu se pretende, devido sua fama e suainfluncia, transformar toda a oferta educacional, ao menos no

    2 Ver o trabalho sempre til de Alphonse Aulard, Napolon I et le monopoleuniversitaire. Origines et fonctionnement de lUniversit impriale, Paris, 1911,385 p.3 Philippe Savoie, Construire un systme dinstruction publique. De la crationdes lyces au monopole renforc (1802-1814) , in Jean-Franois Boudon (dir.),Napolon et les lyces. Enseignement et socit en Europe au dbut du XIX sicle, Paris, Nouveau Monde ditions, 2004, pp. 39-55.4 Recueil des lois et rglements concernant linstruction publique (RLR), t. 2, pp.43-54.

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    que se refere formao das elites. Quanto sua organizao, oliceu distingue-se radicalmente das escolas centrais que substitui,aproximando-se do modelo dos colgios de humanidades dossculos anteriores no sentido de que constitui um verdadeiroestabelecimento escolar e no um simples somatrio de ctedrasprofessorais5. A vocao que tem o liceu para agir sobre o conjuntoda instituio escolar, pblica e privada, a construo de umestabelecimento estruturado conforme um modelo jexperimentado: essas duas caractersticas centrais fornecero osdois eixos principais desta reflexo. Examinamos, portanto, apstermos apontado os aspectos principais do liceu de 1802 edefinido seu lugar no sistema da instruo pblica, como esselugar evoluiu com as profundas modificaes institucionais,pedaggicas e tambm financeiras que a instruo pblicaatravessou. Vemos, depois, como a lgica do estabelecimento podecoabitar com uma outra lgica que surgiu com o desaparecimentodas escolas centrais: a da ctedra de ensino como centro daorganizao escolar.

    A criao dos liceus: inspirar-se no passado para inovar

    A lei da instruo pblica substitui atravs dos liceus asescolas centrais criadas, em 1795, pela Conveno termidoriana.Sob vrios pontos de vista, os novos estabelecimentos opem-se asescolas centrais. A criao dos liceus marca, primeiramente, o

    retorno a um tipo de organizao escolar: a dos colgios do AntigoRegime. Tal organizao escolar caracteriza-se pela diviso dosalunos em classes sucessivas correspondendo cada uma a um nvelde estudos e, ao percorr-las, a um curso traado anteriormente

    5 Marie-Madeleine Compre, Philippe Savoie, Ltablissement secondaire etlhistoire de lducation , in : M-M. Compre, Ph. Savoie (dir.), Ltablissementscolaire. Des collges dhumanits lenseignement secondaire, XVI-XX sicles,numro spcial dHistoire de lducation, n 90, mai 2001, pp. 5-20.

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    mestres de estudo8. Os liceus recebem tambm os externos, masmuitos deles so de fato alunos de uma penso privada na qual sebeneficiam de servios anlogos, enquanto que outros moram nacasa de um professor. A criao dos liceus marca ainda mas de maneiraequilibrada em 18029 o retorno s humanidades clssicas e aoreino do latim, que as escolas centrais haviam substitudo em prolde um ensino de inspirao enciclopedista, dando mais interesse scincias, ao desenho e s matrias modernas em geral. Entretanto,nas escolas centrais, assim como nos primeiros liceus, a realidadeafasta-se s vezes bastante das prescries regulamentares e acontinuidade parcial do corpo de professores matiza as rupturas10.

    Enfim, essa criao inscreve-se em um projeto global defundao de uma instruo pblica controlada pelo Estado. Tal

    8 Marie-Madeleine Compre, Philippe Savoie, Temps scolaire et condition desenseignants en France depuis deux sicles, in: M-M. Compre (dir.), Histoiredu temps scolaire en Europe, Paris, INRP Economica, 1997, pp. 267-312;

    Antoine Prost, Histoire de lenseignement en France, 1800-1967, Paris, Armand Colin, 1968, pp. 50-58; Andr Chervel, Les travaux crits des lvesdans lenseignement secondaire du XIX sicle, in Pierre Caspard (dir.). Travauxdlves, XIX-XX sicles. Pour une histoires des performances scolaires et de leurvaluation, numro spcial dhistoire de lducation, n 54, mai 1992, pp. 13-38. (conforme A. Chervel, La culture scolaire. Une approche historique, Paris,Belin, l998, pp. 57-75).9 Desde o segundo ano de estudos, os professores de matemtica dividem ohorrio de aula com os de latim e de letras (acrdo de 19 frimaire ano XI 10de dezembro 1802) Philippe Savoie, Les enseignants du secondaire. Le corps, lescarrires. Textes officiels. Tome 1 : 1802-1914, Paris, INRP Economica,2000, pp. 96-99). A partir de 1809, o ensino das cincias dirigido s altasclasses, at se encontrar reduzido aos dois anos de filosofia em 1821 (ibid, pp.184-185). A seguir encontra um lugar menos marginal.10 Marie-Madeleine Compre, Les professeurs de la Rpublique. Rupture etcontinuit dans le personnel enseignant des coles centrales, Annales historiquesde la Rvolution franaise, janvier-mars 1981, n 243, pp. 39-60; PaulCourteauld, Les origines du lyce de Bordeau. Le lyce de lan XI, Bordeaux,1905, pp. 95-112; A. Aulard, op.cit, pp. 111-114.

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    projeto, longe de ser dirigista e monopolista, como se tornar maisadiante, de inspirao semi-liberal. De fato, aos olhos doscriadores dos liceus, e especialmente para Fourcroy, que apresentaseu projeto diante do Corpo Legislativo11, o dispositivo das escolascentrais cometeu o erro de dispersar os recursos muito limitadosde que dispunha o Estado recursos humanos e recursosfinanceiros , alm de multiplicar as escolas quando teria sidopreciso concentrar as foras. O projeto de 1802 no pretendeganhar terreno nem oferecer para todos uma instruo garantidapelo Estado. Pretende, sim, fazer escolas suficientemente bemcotadas por seus professores, seus alunos e a fora de seu ensino,para que possam impor seu modelo a todas aquelas que propemestudos da mesma ordem. Pretende, alis, criar um lao entre asoutras escolas e os liceus, recrutando nelas os futuros alunos dogoverno, isto , os bolsistas nacionais que fornecem a cada liceusua clientela fundamental.

    Em 1802, contava-se com uma centena de escolascentrais. A lgica que tinha presidido a construo desse mapa

    escolar novo era a da repartio homognea sobre todo o territrionacional. Aps se ter dado a essa repartio uma base demogrfica voltou-se a um princpio mais simples e no limitador: uma escolacentral por departamento, geralmente na capital da comarca, masnem sempre12. A lei do 11 floreal do ano X prev limitar osestabelecimentos do Estado a um nmero ainda mais restrito. A alada dos tribunais de recursos faz doravante referncia ao lugardos departamentos. Em 1811, nos limites polticos da Frana de

    11 Discours de Fourcroy devant le Corps lgislatif, du 30 germinal an X (20 abril1802), RLR, t. 2, pp. 55-84.12 Dcrets des 7 ventse et 18 germinal an III (25 de fevereiro e 7 de abril de1795), et loi du 3 brumaire an IV (25 de outubro de 1795), RLR, t. 1, Paris,1814, pp. 37-49. Cf. Dominique Julia (dir.), Lenseignement, 1760-1815, t. 2de Serge Bonin, Claude Langlois (dir.), Atlas de la Rvolution franaise, Paris,EHESS, 1987, p. 40. Paris faz exceo, com suas trs escolas centrais (eramprevistas cinco, inicialmente).

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    1789, cada liceu substitui aproximadamente trs velhas escolascentrais. O princpio de igualdade territorial no desaparece,contudo encontrado no modo de recrutamento dos alunos dogoverno, cada departamento deve fornecer um contingenteproporcional a sua populao. Tais alunos so recrutadosessencialmente nos estabelecimentos que a lei qualifica comoescolas secundrias. So considerados como tais osestabelecimentos com status comunal ou privado onde se ensinamas lnguas latina e francesa, os primeiros princpios da geografia,da histria e da matemtica. A definio suficientemente frouxapara que o inspetor geral e o comissrio do Instituto encarregadosda criao do liceu de Moulins emitam reservas sobre aclassificao efetuada pelos servios da prefeitura13. Tais escolasso antigos colgios, penses que sobreviveram Revoluo eestabelecimentos que floresceram desde ento, aproveitando-se dadesconfiana de vrias famlias em relao s escolas centrais.

    Habituados a uma arquitetura institucional maissimples, temos hoje uma certa dificuldade para conceber a

    articulao entre as escolas secundrias e os liceus. Os liceussituam-se no mesmo plano ou por sobre as escolas secundrias? A denominao escolas secundrias, por si s, parece indicar que alei de floreal instaura uma ordem de ensino secundrio do qual osliceus seriam parte importante. Isso constituiria uma extrapolaoprematura, bem como um anacronismo. De fato, embora os liceuse as escolas secundrias tenham em comum o fato de ensinaremletras e cincias e de recrutarem alunos da mesma idade, no sopensados como estabelecimentos do mesmo nvel14. Os liceus tm13 Correspondncia de Delambre e Villar, em misso no outono de 1802 emCantal e Allier para selecionar os alunos nacionais, com Fourcroy, diretor dainstruo pblica. (AN, F17 7886). A qualidade da escola secundria reconhecida pelo governo conforme o relatrio dos prefeitos e sub-prefeitos.(Acrdo de 4 messidor ano X, RLR, t. 2, pp. 271-273).14 Pretendeu-se, com as escolas secundrias, preencher o espao, demasiado

    grande, deixado pela lei Daunou de 1795 entre as escolas primrias e as escolascentrais, os liceus ocupando, aproximadamente, o lugar destas ltimas. Ver as

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    aulas de gramtica, como as escolas secundrias, mas o que significativo na sua inscrio na hierarquia escolar, a existncia eo nvel de suas aulas superiores. Assim como os primeiros colgiode humanidades, os da Universidade de Paris no sculo XVI,davam em suas aulas superiores um ensino dependente dafaculdade de artes e acolhiam alunos versados em gramtica - talmistura uma das caractersticas do modelo parisiense15, osprimeiros liceus associam o alto nvel de ensino ao da gramticalatina (e aos elementos de aritmtica). Esse paralelo torna-seexplcito, a partir de 1808, com a criao da Universidadeimperial, cuja ao estende-se a todo o territrio nacional: osbacharelados em letras e em cincias, primeiros graus dasfaculdades acadmicas, preparam-se nos liceus e certas ctedrasdessa faculdade de letras e de cincias so ocupadas pelosprofessores das classes superiores dos liceus. preciso esperar oanos 1830 para que a noo de ensino secundrio se imponha no vocabulrio administrativo16.

    As relaes entre os liceus e as escolas secundrias

    colocam-se, ento, sob o signo de uma desigualdade de princpioTal desigualdade existe tambm entre os prprios liceus. Fourcroyreivindica tal princpio no seu discurso de apresentao, opondo-oa uma uniformidade inacessvel e estril. A hierarquia dosestabelecimentos constitui de fato uma das aes com a qual a leide instruo pblica pretende jogar para melhorar quantitativa equalitativamente a oferta do ensino com poucos meios. Recebendoos melhores alunos das escolas secundrias, na qualidade de

    precises enunciados por Fourcroy em seu discurso diante do Corpo legislativo d20 floral ano X (30 de abril de 1802), RLR, t. 2, pp. 235-247.15 M-M Compre, op. cit., 19-30.16 Andr Chervel, De quand date lenseignement secondaire ?, in: ClaireBlanche-Benveniste, Andr Chervel, Maurice Gross (dir.), Grammaire etHistoire de la grammaire. Hommage la mmoire de Jean Stfanini,Publications-diffusion de lUniversit de Provence, 1988, pp. 105-118(conforme A. Chervel, La culture scolaire..., op. cit., pp. 149-159).

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    bolsistas, especialmente, os liceus devem, ao mesmo tempo,suscitar a emulao, servir de modelo e assegurar a promoo deuma elite escolar nacional, ainda que os servios prestados ptriae ao regime sejam o primeiro critrio na distribuio das bolsas.Fourcroy, que foi um dos criadores da Escola politcnica, podeobservar como a organizao de concursos descentralizados derecrutamento tinham causado, por toda parte, o florescimento deescolas ou aulas preparatrias, inclusive nas escolas centrais. Esse o fenmeno que ele afirma querer reproduzir com os liceus e, aofazer isso, pe o dedo em uma ao essencial na dinmica dedesenvolvimento e de evoluo da instituio escolar: a atrao donvel escolar superior ou do exame de sada, que puxa e modela onvel inferior17.

    A emergncia do ensino secundrio: um resultado do projeto de 1802?

    Os limites do dispositivo concebido em 1802 aparecemlogo. Os liceus tm dificuldades para recrutar sua clientela pagantee, at mesmo, para alguns, como o liceu de Bruxelas, paraencontrar candidatos bolsistas18. Sua suposta superioridade sobreos estabelecimentos privados revela-se mais difcil de demonstrardo que se previa. Tais dificuldades originam, por um lado, uma

    17 Bruno Belhoste, Les caractres gnraux de lenseignement secondairescientifique de la fin de lAncien Rgime la Premire Guerre mondiale,Histoire de lducation, n 41, janvier 1989, pp. 3-45. Um mecanismo domesmo gnero que intervm nas escolas de artes e ofcios, instituies criadasaps os liceus e segundo o mesmo modelo de organizao determinou aevoluo do ensino tcnico industrial na Frana. Cf. Philippe Savoie,Lenseignement technique industriel en France : linfluence des coles darts etmtiers, in: Grard Bod, Philippe Marchand (dir.), Formation professionnelleet apprentissage (XVIII-XX sicles), Villeneuve-dAscq-Paris, Revue du Nord-INRP, 2003, pp. 129-141.18 AN, F17 2484 (inspection gnrale de 1809).

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    reviso do regime disciplinar dos liceus e, por outro, a criao daUniversidade imperial. Quando da criao dos liceus, a antigaUniversidade de Paris tinha manifestamente constitudo ummodelo de referncia para a concepo do quadro institucional.Com a Universidade imperial, decretada em 1806 e organizadaem 180819, recria-se, por analogia, tal quadro para estend-lo atoda a Frana. Mesmo permanecendo dentro de uma lgicaglobalmente semelhante trata-se ainda de organizar a dominaode uma rede de estabelecimentos do Estado sobre uma massa deestabelecimentos municipais e privados -, a criao daUniversidade imperial marca a passagem de um regime semiliberaa um regime autoritrio e monopolizador em seu princpio,embora mais leve em sua aplicao.

    Como as universidades medievais, a Universidadeimperial uma instituio corporativa. No nvel ideal, aUniversidade o governo do corpo docente por si mesmo. Nonvel da realidade, tem-se uma instituio estreitamentecontrolada pelo poder poltico. Ela toma a forma antiga da

    corporao, com sua hierarquia prpria, seus mecanismos deascenso interna, seus tribunais e as garantias e privilgiosconferidos por pertencer ao corpo. Esse sistema permite ligar todosaqueles que contam dentro da instituio escolar, incluindo oschefes de instituies e de penses privadas, pela pertena comumao corpo e pela submisso a seu sistema de graus e diplomas20. Defato, o princpio do monoplio exerce-se de forma muito diversasegundo os setores: praticamente nenhum no primrio e de formaabsoluta nos graus universitrios. No ensino secundrio, modificaas relaes dos liceus com o que se chamava at ento de escolassecundrias. Os estabelecimentos municipais tornam-se colgioscomunais, cujos docentes so progressivamente integrados ao

    19 Loi du 10 mai 1806 et dcret imprial du 17 mars 1808, RLR, t. 3, p. 144-145 et t. 4, pp. 1-30.20 Ph. Savoie, Les enseignants du secondaire... op. cit., pp. 31-36.

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    corpo universitrio21. Os estabelecimentos privados, denominadosde penses ou instituies, segundo o nvel de estudos quepropem, submetem-se, por sua parte, a um controle estrito e ataxas que alimentam as caixas da Universidade.O regime universitrio conhece, por sua vez, umendurecimento a partir de 1811 decorente de um contexto polticotenso. As penses e instituies devem doravante enviar seusalunos s aulas do liceu ou s do colgio vizinho. , de fato, oretorno a uma prtica que vigorava nas antigas universidades.Como naquela poca, salvo os estabelecimentos autorizados aexistir fora das cidades, o setor privado pode viver apenas, aomenos nas classes superiores, como um complemento aosestabelecimentos pblicos. Ele apresenta, ento, uma tendnciapara executar os mesmos servios que o internato dos liceus. pelo conforto da acolhida, pela disciplina menos rude, pelaqualidade do ambiente, pelas repeties, pelas interrogaes, pelaslies particulares que os professores dos liceus ministravamseguidamente, tais estabelecimentos podem se distinguir e atrair a

    clientela. Alguns o conseguem admiravelmente, em especialaqueles na rea da preparao para os concursos das escolasespeciais do governo, como o da escola politcnica.22

    Quanto ao setor pblico, o governo pretende nessa pocadesenvolv-lo fora, abandonando o modelo pragmtico da pocaconsular. O objetivo do decreto do 15 de novembro de 181123 ode elevar o nmero de liceus a cem em todo o Imprio, ou seja, amais do dobro do que havia. Mas os estudos feitos no fim doregime imperial para levar a cabo tal objetivo, especialmente21 Mas preciso criar um fundo particular para conferir a essas pessoas o direito aposentadoria, que marca a pertinncia ao pleno direito corporao. (ordem de25 de junho 1823, ibid, pp. 188-191).22 Bruno Belhoste, La prparation aux grandes coles scientifiques au XIX sicle: tablissements publics et institutions prives, in: M-M. Compre, Ph.Savoie, Ltablissement scolaire... op. cit., pp. 101-130.23 RLR, t. 4, pp. 298-305.

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    atravs da transformao de colgios comunais e da aquisio deestabelecimentos to prestigiados como os pensionatos de Juilly,Sorrze ou Pontlevoy, concluem, na maioria dos casos, pela viabilidade duvidosa dos estabelecimentos projetados. Cada quapermanecer igual24. O decreto de novembro de 1811 pretendetambm regulamentar o funcionamento muito diverso dos colgioscomunais. Nesse ponto, tambm se fica na letra morta: nopodendo se comprometer financeiramente, o Estado obrigado afechar os olhos quanto aos tratamentos miserveis dados maioriados regentes e quanto s mudanas na regulamentao25. A partirdo fim da monarquia de Julho, o aumento da modesta subvenodo Estado aos colgios26 permite criar algumas novas ctedras paraque estes possam seguir, na medida do possvel, a evoluo dosplanos de estudos e a especializao disciplinar em curso, emborasem modificar profundamente a situao.

    A lei Falloux de 185027 pe fim ao regime universitrioe ao que resta do monoplio aps dois regimes, a Restaurao e amonarquia de Julho, hostis a prioriao princpio, ainda que bem

    diferentes em seus comportamentos no relativo Universidade. Asconseqncias da lei Falloux so bem conhecidas no que se referes relaes do ensino privado com os liceus e colgios, colocadosob o signo da livre concorrncia e no mais nacomplementaridade imposta. Doravante, no h mais ligao entreo ensino secundrio pblico e privado a no ser a sua comum

    24 AN, F17 9105.25 Muitos pequenos colgios reagrupam as classes em duas, sob os mesmosregentes, preferentemente para reduzir seu currculo s aulas de gramtica, comoo impe a regulamentao. Cf. O relatrio Villemain que descreve uma realidadesem relao com os textos oficiais.. (Rapport au roi sur linstruction secondaire,du 3 mars 1843, Bulletin universitaire, t. 13, pp. 52-57).26 Charles Jourdain, Le budget de linstruction publique et des tablissementsscientifiques et littraires, Paris, 1857, p. 158.27 Loi du 15 mars 1850, Bulletin administratif de linstruction publique, t. 1,pp. 57-80.

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    submisso ao monoplio dos graus universitrios. Apenas oscolgios comunais permanecem na rbita dos liceus. O artigo 74da lei Falloux aplica-lhes um regime contratual que condiciona aajuda do Estado a um compromisso das municipalidades em pagaro corpo docente e em assegurar a manuteno dosestabelecimentos por cinco anos. A primeira conseqncia destenovo regime uma dolorosa clarificao. Muitos colgios fechamou se tornam estabelecimentos confessionais. A longo prazo, oregime contratual vai constituir, para a instruo pblica, uminstrumento de nivelamento dos colgios. Mas para isso precisoque o Estado se decida a engajar-se com mais rigor.

    Liceus e colgios so de fato estabelecimentos pagantes,supostamente devem se sustentar por si mesmos com os meios quelhes do o Estado e as municipalidades. No incio, tais meiosconsistem em prdios, em despesas subsidirias e no pagamento debolsas. A partir de 1817, uma parte dos liceus depende de umasubveno permanente do Estado para pagar a totalidade dasdespesas com os professores28. Mas h dificuldades para se obterem

    crditos. Em 1853, uma ampla reforma do regime financeiro dosliceus tem por resultado o aumento do encargo das famlias,repartindo-se os gastos de forma mais eqitativa29. Quanto aoscolgios, raramente as municipalidades aceitam sacrifcios paramanter uma estrutura escolar rica demais para os recursos doestabelecimento. Na realidade, elas o fazem essencialmente noscasos dos grandes colgios urbanos e para conseguir que setransformem em liceus, o que representa um grande empenho dapopulao e aumenta o prestgio da cidade, ao mesmo tempo quetransfere a responsabilidade do estabelecimento ao Estado. No fim

    28 Ch. Jourdain, op. cit., pp. 146-147.29 Dcret du 16 avril 1853 (Ph. Savoie, Les enseignants du secondaire... op. cit.,pp. 322-331).

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    do sculo XIX, essa perspectiva motiva os esforos de muitasmunicipalidades30.

    Para que o Estado se decida a abandonar o dogma doautofinanciamento dos estabelecimentos secundrios e a secomprometer significativamente, preciso esperar a TerceiraRepblica31. Tal compromisso financeiro implica, nos liceus, umformidvel progresso nos vencimentos e nas carreiras, assim comoa chegada de professores especializados aos pequenosestabelecimentos que no os tinham h dcadas. Nos colgios,permite construir e fazer respeitar uma grade de vencimentos docorpo docente e valorizar a questo pedaggica. Mediante umsistema de assimilaes, os vencimentos do corpo docente doscolgios se definem pouco a pouco em relao aos dos docentesdos liceus. Isso permite criar uma circulao de docentes entre osliceus e os colgios, tornada necessria pelo progresso no nvegeral de formao e pelo bloqueio recorrente das carreiras32. Desdeento, os liceus e colgios tendem a formar uma nica rede,embora as diferenas continuem sendo considerveis. Ocorre o

    mesmo no interior do recente ensino secundrio feminino queest, naquela poca, separado de seu homlogo masculino33.Esses progressos e a organizao num sistema

    constituem, um sculo depois, um elemento importante para arealizao do projeto de 1802, mas ao preo de um compromissofinanceiro do Estado, que estava antes excludo. Graas a tal

    30 AN, F17 14088-14145. Le nombre des lyces de garons est de 110 la findu XIX sicle.31 Ph. Savoie, Autonomie et personnalit des lyces: la rforme administrativede 1902 et ses origines, in: M-M. Compre, Ph. Savoie, Ltablissementscolaire... op. cit., pp. 169-204.32 Ph. Savoie, Les enseignants du secondaire...op. cit., pp. 61-85.33 Ibid., pp. 73-85; Franoise Mayeur, Lenseignement secondaire des jeunefilles sous la Troisime Rpublique, Paris, Presses de la Fondation nationale dessciences politiques, 1977, 488 p.

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    esforo, o ensino secundrio pblico comea enfim, emboramodestamente, a se homogeneizar. No ensino privado, osestabelecimentos confessionais tinham se tornado preponderantese o peso do bacharelado e dos outros graus universitrios vestgios muito significativos do regime de monoplio , alm dosconcursos de admisso s grandes escolas pblicas, atenuam oefeito centrfugo das leis que instauram a liberdade do ensinosecundrio e superior34. Mas, na construo desse ensinosecundrio relativamente coerente, a influncia do liceu e de suasuperestrutura institucional sobre os estabelecimentos municipaise privados no foi uma via de mo nica. A criao oficial doensino secundrio especial em 1865, por exemplo, consagra osensinamentos modernos e utilitrios que se tinham desenvolvidomuito cedo, ao lado ou no lugar do ensino clssico, nos colgioscomunais ou nas penses privadas. E, sob o Segundo Imprio, osmaiores liceus inspiram-se nas instituies privadas em seusmtodos de preparao para as grandes escolas35.

    Alm disso, o ensino secundrio pblico, do fim do

    sculo XIX, sofre uma crise de recrutamento especialmente dealunos internos, o que muito prejudicial financeiramente , aopasso que os pensionatos confessionais no apresentam aindaproblemas. Tal situao origina a convocao, em 1898, dacomisso parlamentar presidida por Alexandre Ribot e da reformade 1902, inspirada pelo que foi concludo na comisso. Ora, umadas concluses mais importantes do relatrio Ribot a de que preciso desenvolver a personalidade dos estabelecimentos e, paraisso, restaurar sua autonomia, que o engajamento financeiro doEstado tinha contribudo para sufocar36. Na passagem do sculo

    34 Loi relative la libert de lenseignement suprieur, du 12 juillet 1875,Bulletin administratif du ministre de linstruction publique, t. 18, pp. 430-438.35 B. Belhoste, La prparation aux grandes coles..., op. cit., pp. 125-128.36 Ph. Savoie, Autonomie et personnalit des lyces..., op. cit., pp. 170-171 etpp. 185-188.

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    XIX para o sculo XX, o prprio modelo do liceu que est emquesto na crise do ensino secundrio.

    A tenso entre o estabelecimento e a ctedraprofessoral

    Descrevemos acima a oposio fundamental que existeentre o modelo dos colgios de humanidades, prottipos doestabelecimento escolar, e o das escolas centrais, que no so nadamais do que a justaposio das ctedras professorais que ascompem. O nascimento do liceu constitui, evidentemente, umretorno ao primeiro dos modelos. Contudo, uma lgica da ctedraconcorre com a do estabelecimento de modo muito mais ntido doque nos antigos colgios. Ela se integra tanto s caractersticas dacarreira professoral quanto evoluo pedaggica.

    Durante meio sculo (1803-1853), os professores deliceu esto em uma situao que evoca os titulares de benefcios oude ofcios sob o Antigo Regime: sua remunerao determinada,no pelo seu trabalho, mas pela ctedra que ocupam37. Os liceusrepartem-se em trs classes s quais se sobrepe a categoriasuperior dos liceus de Paris. As classes determinam o montantedas penses, o da retribuio paga pelos externos e os vencimentodos diretores, dos censores, dos procuradores, dos professores e domestres de estudos. As ctedras professorais so elas prpriasclassificadas em trs ordens. No total, o leque de vencimentos

    fixos dos professores vai do simples ao triplo. Ao vencimento fixacrescenta-se um vencimento eventual, que consiste em uma parteda renda adiantada das famlias (retribuies e penses) e queaumenta as diferenas38. interessante notar que, na primeiraregulamentao, esse vencimento eventual calculado por aula, e

    37 M.-M. Compre, Ph. Savoie, Temps scolaire et condition des enseignants...,op. cit., pp. 286-291.38 Ph. Savoie, Les enseignants du secondaire...op. cit., pp. 29-30.

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    o nmero de alunos prprios influencia a remunerao de cadaprofessor. Tudo ocorre como se fosse considerado que o renomepessoal do mestre que faz vir os alunos. Tal concepo tem razesmuito antigas, mas tampouco estranha aos modelos das escolascentrais onde cada ctedra existia quase que por si mesma. Nosprimeiros anos da existncia dos liceus, h um afastamento dessalgica de individualizao das ctedras. A personalidade doprofessor continua a orientar a escolha de um estabelecimento emcertos casos, especialmente para a preparao dos concursos, mas o estabelecimento como um todo que se torna normalmente oobjeto de atrao ou de repulsa. E sobre o estabelecimento esobre a disciplina interna que as autoridades escolares aplicam seusesforos, a partir de 1805, para ganhar a confiana das famlias.

    Em 1805, com efeito, a fraca reputao dos liceus emmatria de educao moral e religiosa considerada como uma dascausas da desafeio de que sofrem39. Desde ento, tudo se fazpara elevar sua reputao. O fechamento dos estabelecimentos, asegregao por idades e por sexos, a represso das leituras proibidas

    e a regularidade da prtica religiosa tornam-se objeto de vigilnciaminuciosa e ostensiva. Para seduzir as famlias, as autoridadesescolares sonham com ancorar os professores em seusestabelecimentos e se esforam, para tal, em reativar o esprito,suposto e idealizado, das comunidades educacionais dos antigoscolgios congregacionistas. Mas a secularizao do corpoprofessoral, iniciada com a Revoluo, prossegue a despeito dossonhos nostlgicos de seus chefes e acelera a dissoluo dascomunidades educacionais40. Um indcio, entre outros, dessaevoluo: vrios professores casados ocupam, apesar dosregulamentos, apartamentos dos liceus com suas famlias,deixando seus colegas solteiros alojar-se na cidade e arriscar a

    39 A. Aulard, op. cit., pp 148-150. Entretanto, um capelo catlico j estencarregado dos exerccios religiosos em cada liceu.40 Ph. Savoie, Les enseignants du secondaire...op. cit., pp. 41-43.

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    reputao do estabelecimento. Alis, o projeto de enraizamentolocal do corpo docente ope-se ao interesse de carreira dosfuncionrios, que lhes recomenda exatamente o contrrio.

    Em sntese, o sistema de remunerao faz com que anica forma de progredir na carreira seja a de subir na hierarquiadas ctedras e na dos liceus. Ao organizar a Universidade imperialNapoleo aproximou-a da carreira militar. A incitao mobilidade provoca a cada ano em Paris a corrida dos funcionriosque vm solicitar uma boa promoo. Tenta-se, a partir dos anos1820, estabelecer complementos de vencimentos querecompensem a estabilidade do cargo; mas no se pode manter deforma duradoura os sistemas que penalizam a mobilidade, os quaispermanecem como o modo essencial de avano. A reforma doregime financeiro de 1853 comea a destruir essa fatalidade aoindividualizar os vencimentos fixos. Ser preciso, no entanto,esperar 1887 para que se estabelea um regime salarial que nocomporte nem vencimento eventual nem classificao dosestabelecimentos, embora os estabelecimentos parisienses fiquem

    acima dos outros. Contudo, como a hierarquia das ctedras e dosestabelecimentos guardam uma grande fora simblica, amobilidade segue sendo um trunfo na carreira41.

    Uma outra dimenso do desenvolvimento de uma lgicada ctedra professoral a diferenciao disciplinar que comeamuito cedo no sculo XIX mediante a especializao dos ensinos -a histria desligando-se das letras e as cincias fsicas, dasmatemticas ou pela promoo de matrias acessrias como aslnguas vivas. Desde a criao dos liceus, a presena de professorede matemtica tinha rompido o regime do mestre nico que era odos antigos colgios. A Restaurao concilia o retornomomentneo arquitetura de estudos do Antigo Regime e ocomeo da diferenciao disciplinar. Hippolyte Fortoul, decidido a voltar atrs no que diz respeito a essa especializao, somente

    41 Sobre esta contradio entre enraizamento e mobilidade, cf. Ph. Savoie,Autonomie et personnalit des lyces..., op. cit., pp. 171-177.

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    consegue suspend-la entre 1851 e 185642. A diferenciaodisciplinar constitui o retorno do esprito enciclopdico a umensino secundrio dominado pelas humanidades clssicas. Talretorno traz consigo uma contestao ao modelo pedaggico em vigor. Fundado sobre a memria, a imitao e a repetio, implicaum uso intensivo do exerccio escrito. A multiplicao dasmatrias acomoda-se h muito a esse modelo, mas no estranha evoluo das prticas pedaggicas. O curso magistral, inspiradono ensino das faculdades, que visa a transmitir conhecimentosatravs da palavra, concorre com a aula tradicional, que organizada em torno do trabalho pessoal dos alunos. Umapedagogia da observao, da experimentao e da reflexo ope-seaos mtodos antigos43. Nesse novo quadro pedaggico, a diviso dotempo escolar entre a aula e o estudo perde o carter denecessidade funcional.

    , ento, a prpria organizao do estabelecimentoherdado dos antigos colgios que est em questo quando, a partirde 1880, os modernizadores do ensino comeam a impor-se sobre

    os defensores das humanidades clssicas. Tal mutao coincidecom a crise do internato, evocada anteriormente, que acentua seusefeitos. A crise do internato acaba por destruir o modelo segundoo qual o liceu vivera durante um sculo. Os repetidores, que forampor muito tempo um proletariado superexplorado, aproveitam aconjuntura para conquistar um status mais invejvel. Com areforma de 1902, sua funo desliga-se do servio noturno e horasde ensino completam os servios de vigilncia daqueles que dentreeles tomam o ttulo de professores adjuntos. Mas tal promooapenas acelera o declnio da funo de repetidor, funo essa que

    42 Ph. Savoie, Les enseignants du secondaire...op. cit., pp. 36-56.43 Antoine Prost, Histoire de lenseignement en France, 1800-1967, Paris, Armand Colin, 1968, pp. 50-58 et 246-252.

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    correspondia a um tipo de estabelecimento e a uma organizaopedaggica ultrapassada e logo abandonada44

    *************************Com a reforma de 1902, o liceu inclina-se para um

    modelo de organizao que corresponde dominao de um novomodelo pedaggico, com finalidades novas, menos voltadas para aaquisio de uma cultura que marque a pertena a uma elite e, deforma geral, a um desejo por parte das famlias de no maisconfiarem a educao e a instruo de seus filhos apenas aos

    estabelecimentos escolares. No a primeira vez que o liceu maiou menos profundamente reformado o que lhe permitiuatravessar os regimes polticos e se adaptar s desordensinstitucionais -, mas a reinveno de 1902 marca o desgaste deuma velha formula escolar de quatro sculos fundada sobre oprimado do latim e da cultura clssica, sobre uma pedagogia doexerccio, sobre o enquadramento do trabalho pessoal dos alunos esobre o pensionato. Entretanto, no se pode dizer que oapagamento do velho modelo aponte para uma alternativa maisdefinida. O liceu de 1902 est procura de sua identidade e seucorpo docente, desestabilizado pela nova pedagogia e pelapromoo dos repetidores, est tomado pela obsesso dadesqualificao45. O liceu est mais aberto ao mundo do que

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    Os adjuntos de ensino, categoria criada pelo decreto de 22 de dezembro de1945 e hoje em via de extino, foram os ltimos representantes da funo. A penria dos professores dos anos 1960 levou-os a desviar de sua misso primeirade responsveis pelo estudo, para consagr-los ao ensino magistral.45 Ph. Savoie, Autonomie et personnalit des lyces..., op. cit., pp. 199-201.Essas dificuldades no parecem ter sido superadas. Cf. Antoine Prost,ducations, politiques et socits. Une histoire de lenseignement de 1945 nosjours, Paris, ditions du Seuil, 1997 (2 dition), pp. 156-184 et pp. 204-221.Os relatrios oficiais dos ltimos trinta anos testemunham sua persistncia. Cf.

    Philippe Savoie, lments danalyse historique de la littrature officielle sur leenseignants du secondaire, annexe n 1 de Jean-Pierre Obin, Enseigner um

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    aquele de 1802, mas ao acentuar a desembarao intelectual doaluno mais do que seu trabalho, a evoluo pedaggica torna oacesso talvez ainda mais difcil s crianas dos novos meios sociaise culturais. O liceu moderno continua sendo o liceu de uma elite

    Philippe Savoie, PhD, diretor adjunto doService dhistoire de lducation(Institut national de recherche pdagogique colenormale suprieure) em Paris. Estuda histria da educaofrancesa do sculo XIX e XX. Suas pesquisas e publicaes so

    sobre professores de escolas secundrias, histria da educaosecundria, o desenvolvimento da educao tcnica e outros tiposde educao ps-elementar. Bem como a relao entre os nveisnacional e local na histria da educao. Foi presidente do Comitorganizador do XXIV ISCHE. Suas publicaes incluem : Les Enseignants du secondaire. Le corps, le mtier, les carrires. XIXe- Xxe sicles. Tome l : 1802-1914(2000); Ltablissement scolaire. Des collges dhumanits lenseignement secondaire, XVIe-XX sicles,nmero especial da Histoire de lducation, 90, maio de2001 ( ed. Com M.-M. Compre); LOffre locale denseignement. Les Formations techniques et intermdiaires, XIXe-Xxe sicles, nmero especial da Histoire de lducation, 66, maio de 1995 (ed.com G. Bod). membro do comit executivo da ConfernciaInternacional para a Histria da Educao (ISCHE), responsveltanto pelos membership (associao) quanto pelo website.

    Recebido em: 12/04/2007 Aceito em: 20/07/2007

    mtier por demain, rapport au ministre de lducation nationale, Paris, LaDocumentation franaise, 2003, pp. 119-135.

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    Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 22, p. 31-60, Maio/Ago 2007Disponvel em: http//fae.ufpel.edu.br/asphe

    UMA NOVA FORMA DE ENSINO DE DESENHONA FRANA NO INCIO DO SCULO XIX:

    O DESENHO LINEAR1 Renaud dEnfert

    Traduo: Maria Helena Camara Bastos

    ResumoInventado para as escolas mtuas, que se desenvolveram na Frana apartir de 1815, institucionalizado, mais tarde, na instruo primria,o desenho linear uma forma alternativa de ensino do desenho que

    se distingue da tradio acadmica. Este artigo coloca em evidnciaas condies e pretenses da popularizao desse novo ensino queamplia, alm do tradicional ler, escrever, contar, a gama deconhecimentos ensinados aos alunos. Procura tambm descrever asprincipais caractersticas desse novo modelo didtico que se constituie depois se normaliza no seio da instituio escolar em funo dasexigncias pedaggicas e das finalidades que lhe so prprias.Palavras-chave:ensino primrio; disciplina escolar; desenho;geometria; sculo XIX.

    THE LINEAR DRAWING AS A NEW DRAWINGTEACHING METHOD IN FRANCE IN THE BEGINNINGOF NINETEENTH CENTURY

    AbstractLinear drawing is an alternative drawing teaching method which isdifferent from the one of academical tradition. It was created formutual schools developed in France since 1815. Later, it wasinstitutionalized in Elementary education. This article discussespopularization of this new teaching models conditions andintentions which enlarge studentslearning, beyond to the traditional

    read, write and count. This work also seeks for describing this new

    1 Originalmente esse artigo foi publicado em M. Grandire et A. Lahalle, L'innovation dans l'enseignement franais, XVIe-XXe sicle,INRP/CRDP des Paysde Loire, 2004, pp. 77-98, com o ttulo Une nouvelle forme denseignemet dudessin en France au XIX e sicle: le dessin linaire. Artigo autorizado paratraduo e publicao pelo autor e pelo Service des publications do InstitututNational de Recherche Pdagogique. As figuras foram cedidas pela BibliothquNationale de France (BNF) e autorizadas para publicao, pois so de domniopblico.

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    didactic model main characteristics which become usual in the schoolinstitution as a result of its pedagogical requirements and peculiarends.Keywords:Primary school; school subjects; drawing; geometry; XIX century UNA NUEVA FORMA DE ENSEANZA DE DIBUJO EN FRANCIA EN EL INICIO DEL SIGLO XIX: EL DIBUJO

    LINEARResumenCreado para las escuelas mutuas, que se desarrollaron en Francia apartir de 1815, institucionalizado, ms tarde, en la instruccinprimaria, el dibujo linear es una forma alternativa de enseanza deldibujo que se distingue de la tradicin acadmica. Este artculo poneen evidencia las condiciones y pretensiones de la popularizacin deesa nueva enseanza que amplia, ms all del tradicional leer,escribir, contar, la gama de conocimientos enseados a los alumnos.Busca tambin describir las principales caractersticas de ese nuevomodelo didctico que se constituye y luego se normaliza en el seno dela institucin escolar en funcin de las exigencias pedaggicas y de asfinalidades que le son propias.Palabras-clave:enseanza primaria; disciplina escolar; dibujo;geometra; siglo XIX.

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    Inventado para as escolas mtuas da Restaurao, odesenho linear descrito por um dos seus primeiros promotorescomo a arte de imitar contornos dos corpos e de suas partes coma ajuda de linhas simples, e sem o recurso de sombras nem decores2. Sua difuso, no campo da instruo primria, marca umaetapa importante na histria do ensino de desenho, mas tambmna histria da escola. Por um lado, coloca um fim ao monoplioexercido pelos artistas sobre o ensino elementar do desenho,rompendo radicalmente com as modalidades acadmicas baseadano estudo do corpo humano, em vigor nas escolas de desenho, aaprendizagem do desenho linear tem fundamento no traado dasfiguras geomtricas, sendo o desenho da arquitetura ou doornamento sua principal aplicao. Por outro lado, opera umamudana decisiva no cursus dos jovens estudantes que sededicavam at ento ao tradicional ler, escrever, contar. Chaptalafirma, em 1819, que a educao das crianas no poderia selimitar a aprender a ler e a escrever, a conhecer as principais regrasda aritmtica, e a estudar o desenho linear?3.

    O desenho linear: um ensino para o povo

    Enquanto o Imprio se desinteressa da instruoprimria para se consagrar fundao da Universidade, assistimossob a Restaurao a uma renovao de interesse pela educao dasclasses inferiores. Essa renovao se traduz pelo desenvolvimen

    do ensino mtuo, promovido pela Socit pour linstructionlmentaire (SIE) criada em 1815, por iniciativa de um grupo defilantropos liberais. Aps a queda do Imprio, esses desejavam

    2 Louis-Benjamin Francur, L'enseignement du dessin linaire d'aprs une mthode applicable toutes les coles primaires quel que soit le mode d'instru qu'on y suit, Paris, L. Colas et Bachelier, 1827, p. 9.3 Jean-Antoine Chaptal, De l'industrie franaise. Prsentation de Louis Bergeron,Paris, Imprimerie nationale, 1993, p. 418 (1re d. 1819).

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    conciliar uma ordem social e poltica estvel com os princpios deliberdade herdados da Revoluo. Considerando a educao e ainstruo pblicas como um meio de regenerao poltica e social,sustentam a idia que se pode instruir todas as camadas dasociedade, mesmo as mais pobres, sem risco de desordem social.Bem mais que um sistema de instruo, o ensino mtuo, queconsiste, segundo um dos seus promotores, na reciprocidade doensino entre os alunos, o mais capaz servindo de mestre quelemenos capaz4, aparece como um verdadeiro instrumento deeducao poltica e moral fundado sobre a razo, visando aaprendizagem dos deveres futuros de homem e de cidado.

    Essa ao recebe a adeso da grande maioria das elitesintelectuais e polticas da Restaurao. Particularmente, entre1815 e 1820, os ministros do Interior, Lain e sobretudoDecazes, do seu apoio favorecendo a implantao de escolasmtuas na provncia mediante subvenes e envio de circulares aosprefeitos de departamento. O esforo fornecido pelo poderconstitudo assegurado pela SIE e suas filiais provinciais

    importante, pois at fevereiro de 1820 pode-se contar (talvez deforma exagerada) em torno de 1.300 escolas mtuas, na Frana,atendendo 150.000 alunos5.

    Uma extenso razovel dos estudos primrios A vontade de esclarecer os meios populares se traduz por

    um aumento do nmero de matrias alm do tradicional ler,escrever, contar, que caracterizava at ento a instruo primria.Novas matrias surgem nas escolas mtuas: a geografia, agramtica, mas tambm a ginstica e o canto. Mas , sobretudo,

    4 Joseph Hamel, L'enseignement mutuel , Paris, 1818. Citado por Octave Grard,no artigo Mutuel (enseignement), in: Ferdinand Buisson (dir.), Dictionnaire de pdagogie et d'instruction primaire, Paris, Hachette, 1887, 1re partie, tome 2, p.1998.5 Journal d'ducation, tome 9, 1820, p. 219.

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    com a introduo do desenho linear nas escolas que a SIE semobiliza desde 1818. Julgado indispensvel maioria dasprofisses, este considerado como o quarto ramo dosconhecimentos primrios6, equivalente leitura, escrita e aritmtica. De fato, o desenho linear vai simbolizar por muitotempo a extenso razovel7 que possvel atribuir aos primeirosestudos. Regenerar e moralizar as classes pobres, favorecer oprogresso industrial e a prosperidade da nao, so os dois temasindissociavelmente ligados em torno dos quais se desenvolve aargumentao dos promotores do desenho linear.

    A moralizao da classe operria um argumento depeso. O ensino de desenho linear deve dar hbitos de ordem e dedisciplina, o gosto pelo trabalho bem feito: tantas qualidades quefazem com que os antigos alunos das escolas mtuas sejamprocurados pelos mestres-artesos. Talvez estes promotorestenham em vista concorrer com as escolas de desenho, queoferecem somente um ensino em tempo parcial, seguidoparalelamente da aprendizagem. Oferecer lies de desenho linear

    na escola mtua , graas a um ensino reputado til, prolongaruma educao moral iniciada desde as primeiras aprendizagens daleitura e da escrita, que as escolas de desenho no ofereciamrealmente. Embrio da formao profissional, o desenho linear igualmente visto como uma alternativa aprendizagem precoceem ateli onde os jovens correm os riscos de conviver com osoperrios cujas qualidades morais no so sempre comprovadasMantendo por mais tempo os alunos na escola primria, o ensinodo desenho linear aparece conseqentemente como uma formaconservadora ou de regulao social que responde plenamentao projeto poltico da monarquia constitucional. Mas essa vontadeconservadora no deve esconder as possibilidades de promoo

    6 Ibid., p. 315.7 Charles Boutereau,Gomtrie usuelle, dessin gomtrique et dessin linaire sansinstrumens, en cent vingt tableaux, Beauvais, Tremblay jeune, 1832, p. 1.

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    social: o conhecimento do desenho, mas tambm mais geralmentea instruo, deve permitir a cada um revelar seus talentos e obteruma posio social em relao as suas competncias.

    Alm da moralizao das classes inferiores, espera-se apopularizao do desenho linear efeitos positivos para a indstria.Essa argumentao no evoluiu desde o Antigo Regime, defendidopelas mesmas frmulas retricas empregadas no sculo XVIII paramostrar a utilidade do desenho: o desenho linear contribui aoprogresso das artes e da indstria, aperfeioa o gosto e ahabilidade dos operrios, conduzindo prosperidade do pas comode seus habitantes. Alm de um discurso que pode parecer clssico, preciso vincular as ambies industriais dos promotores dodesenho linear s evolues tcnicas do momento. Imprprias parauma verdadeira educao moral dos operrios, as escolas dedesenho so igualmente desqualificadas quanto a sua capacidade deformar operrios para a indstria, seu ensino julgado muitoartstico. Apesar de muitos autores insistirem sobre a educaoesttica inerente ao ensino do desenho linear, esse aparece

    sobretudo como a disciplina especfica das artes mecnicas.Mesmo se o vocabulrio da poca no est claramente definido,seus promotores contribuem, s vezes apesar deles, para confrontara figura do operrio-tcnico (o desenho linear) do arteso-artista(as escolas de desenho).

    Esta especificidade ao mesmo tempo operria e tcnicado desenho linear remete preciso do grafismo, que se inscrevemenos na perspectiva esttica que caracterizava a segunda metadedo sculo XVIII, com o combate contra o estilo rococ, do que emuma vontade de recuperar o atraso tcnico em relao Inglaterrana indstria do ferro como na construo mecnica. O desenholinear interpretado como uma transposio, escala do operrio,da geometria descritiva de Gaspard Monge. Por detrs dalinguagem grfica elaborada por Monge, o conjunto das relaesentre os diferentes atores do processo de produo que est emjogo. Desde a Revoluo, a geometria descritiva o meio decomunicao das novas elites tcnicas formadas na Escola

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    Politcnica. Os engenheiros, mas tambm os chefes de atelis,devem se fazer compreender por seus operrios: o desenho lineapode habituar esses ltimos linguagem das projees, precisa erigorosa. A partir do momento em que, desde 1825, CharlesDupin populariza seus cursos de geometria e de mecnicaaplicados s artes, numerosos so os autores que no hesitaromais em colocar o ensino do desenho sob a gide da cincia umacincia sinnimo de progresso tcnico e em dar exclusividade geometria e ao desenho exato.

    A popularizao do desenho linearSegundo o Journal dducation, rgo do SIE, a

    iniciativa da introduo do desenho linear nas escolas mtuasfrancesas deve-se ao ministro do Interior Decazes. No incio de1818, ele solicita SIE a elaborao de um mtodo de desenhoque habilite os alunos a copiar ou mesmo traar de memria ouimaginando, as figuras e os ornamentos que so usados nas artesmecnicas, em arquitetura e nas construes8. Uma comisso decinco membros logo reunida, cujos trabalhos levam elaboraode um mtodo de desenho linear por um de seus membros, omatemtico e politcnico Louis-Benjamin Francoeur. Aps testesconclusivos na escola mtua de Libourne (fundada por Decazes),depois na escola parisiense da rua Popincourt, a SIE decide suageneralizao em Paris e na provncia. O mtodo publicado em1819 com o ttulo Le dessin linaire daprs la mthode de lenseignement mutuel 9. Alm do seu financiamento, o ministroDecazes assegura a sua promoo enviando uma circular aosprefeitos10. Le Dessin linairede Francoeur figura assim como

    8 Louis-Benjamin Francur, Rapport sur le dessin linaire, fait la sancegnrale du 3 fvrier 1820, Journal d'ducation, tome 9, 1820, p. 282.9 Louis-Benjamin Francur, Le dessin linaire d'aprs la mthode de l'enseignement mutuel , Paris, Colas, 1819.10

    Circular de 8 de agosto 1819. Esta circular est publicada em RenauddEnfert, Lenseignement mathmatique lcole primaire, de la Rvolution n

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    manual oficial, apesar da publicao no mesmo ano pelo pedagogo Alexandre Boniface doCours lmentaire et pratique de dessinqueapresenta inmeros pontos comuns11. A SIE e suas filiaisprovinciais se mobilizam igualmente, organizando formaesaceleradas para os monitores das escolas mtuas, cujos alunos soescolhidos entre os mais avanados a fim de ensinar os seuscondiscpulos repartidos em pequenos grupos. Desde o final de1820, uma centena de escolas mtuas, nmero ao menosequivalente ao das escolas de desenho do pas, oferecem um ensinode desenho linear12. Principalmente urbanas, elas atendem umpblico masculino ligado ao mundo do artesanato. Para as moas,ao contrrio, os trabalhos de costura, que oferecem uma iniciaos futuras tarefas femininas, tanto profissionais (atividade txtil)que familiares (coser ou consertar roupas), so geralmentepreferidas ao desenho linear.

    A SIE tenta igualmente exportar o mtodo deFrancoeur. Considerado como uma inovao tipicamentefrancesa, o desenho linear deve participar da expanso

    internacional do ensino mtuo. Vrios pases europeus so deacordo, como os Pases Baixos (Bruxelas), a Dinamarca, a Sucia,ou a Sua. Em contrapartida, sua adoo na Gr-Bretanha,ptria do sistema monitorial,se faz com dificuldade13. O manual deFrancoeur foi traduzido para o ingls em 1825, mas com afinalidade de introduzir o desenho linear nos estabelecimentos de

    jours. Textes officiels. Tome 1: 1791-1914, Paris, INRP, 2003, pp. 61-62. Afimde facilitar as notas, remetemos o leitor para essa obra, onde esto publicados amaioria dos textos oficiais citados nesse artigo e onde se encontram refernciasmais precisas.11 Alexandre Boniface,Cours lmentaire et pratique de dessin, d'aprs les principes de Pestalozzi, suivi Yverdun, sous les principes de M. J. Ramsauer, et publi avec de nombreuses modifications, Paris, Baudoin fils, 1819.12 Journal d'ducation, tome 11, 1821, p. 269.13 Journal dducation, tome 12, 1821, p. 34 et tome 13, 1821, p. 30.

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    ensino mtuo da cidade de Boston nos Estados Unidos14. Enfim,a popularizao do desenho linear aproveita o apoio da SIE aospases recentemente independentes, lhes fornecendo manuais ematerial escolar para que possam abrir escolas mtuas. Em 1824,decidem enviar um exemplar do Dessin linairede Francoeur paraa escola mtua que foi aberta recentemente no Rio de Janeiro/Brasil. No ano seguinte, a vez da Grcia, em luta contraa dominao do Imprio Otomano, de receber quatro manuaisbem como instrumentos de desenho15. Alm dessas indicaesconcernentes somente aos anos de 1820, necessrio realizar umestudo mais completo a fim de avaliar o verdadeiro impacto dadifuso do desenho linear no estrangeiro e suas conseqnciassobre o ensino do desenho nos diferentes pases.

    Aps o perodo de reao ultra, entre 1820 e 1828,pouco benevolente em relao ao ensino mtuo, o retorno aopoder dos liberais abre um perodo favorvel consolidao dainstituio primria, com o desenvolvimento, notadamente desde1828, das escolas normais primrias (professores primrios) e a

    criao em 1833 do ensino primrio superior. Institudo pela leiGuizot de 28 de junho de 1833, que divide a instruo primriaem dois graus elementar e superior, a instruo primriasuperior deve ser, ao mesmo tempo, o prolongamento da escolaelementar e uma preparao vida profissional, oferecendo a umaparte significativa da populao uma cultura um pouco mais

    14 L.-B. Francur, An Introduction to Linear Drawing,Boston, Cummings,Hilliard and C. A obra traduzida por William Bentley Fowle, foi reeditada em1828 et 1830. O ensino de desenho nos Estados Unidos da Amrica foiestudado por Peter C. Marzio,The Art Crusade. An Analysis of American Drawing Manuals, 1820-1860, Washington, Smithsonian Institution Press,1976. Ver igualmente Arthur D. Efland, A History of Art Education. Intellectual and Social Currents in Teaching the Visual Arts, Teachers College, ColumbiaUniversity, New York and London, 1990. Essa ltima obra d (p. 75) detalhessobre o envolvimento de Fowle no ensino mtuo em Boston.15 Journal dducation, tome 16, 1824, p.74 et tome18, 1825, p. 15.

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    relevante que aquela dada pela instruo primria16. A lei Guizottorna obrigatrio o desenho linear nas escolas primrias superiores(mas no nas escolas elementares), ao mesmo tempo em queinstitui o ensino de geometria compreendendo um componenteprtico, voltaremos a falar sobre isso. Uma extenso decorrentedas formaes grficas ser em seguida autorizada, com ageometria descritiva e prtica; o desenho aplicado a todas asprofisses; a perspectiva; os elementos de mecnica; o traado deplantas; o corte de pedras e carpintaria17.

    A lei Guizot refere-se somente s escolas de meninos.Foi preciso aguardar um decreto de 28 de dezembro de 1836 paraque fosse estendida ao ensino feminino. Mas enquanto o desenholinear facultativo nas escolas primrias elementares de meninos,ele faz parte das matrias obrigatrias das escolas primriasfemininas, sejam elas elementares ou superiores. Essa medida podesurpreender quando se sabe que o desenho linear uma disciplinaessencialmente masculina. Fazendo parte dos trabalhos deagulha, o desenho linear no considerado como uma arte

    recreativa, mas visa sobretudo oferecer s moas modelos dereferncia em bordado e em confeco. Com a lei Falloux de 15de maro de 1850, que suprime a existncia legal do ensinoprimrio superior, o desenho linear far parte das vrias matriasfacultativas do ensino primrio masculino e feminino.

    As escolas normais de professores primrios ocupamuma posio estratgica no seio da instituio primria. Assegurando a formao de mestres, elas permitem agir sobre oconjunto do sistema, e se constituem assim como uma alavancaessencial da poltica oficial. O regulamento de 14 de dezembro de1832 obriga a ensinar aos alunos-mestres o desenho linear, a

    16 Expos des motifs du projet de loi sur l'instruction primaire, prsent laChambre des dputs par M. le ministre secrtaire d'tat de l'Instructionpublique, 2 janvier 1833, Bulletin universitaire, tome 3, p. 249.17 Circulaire du 28 dcembre 1838.

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    agrimensura e as outras aplicaes da geometria. Ratifica, emgrande parte, um estado de fato, um grande nmero dessesestabelecimentos oferecem h muitos anos esse ensino, articulandogeralmente desenho linear e geometria prtica. Dois diplomas decapacitao, elementar e superior, qualificam para ensinar em cadaum dos graus de instruo primria: num primeiro momento, sos candidatos portadores de um diploma superior devem conhecero desenho linear, assim como a geometria e suas aplicaes usuaistais como medida, agrimensura, traado de plantas. Em 1841, odesenho linear faz parte finalmente das provas de capacitaoelementar, favorecendo assim sua divulgao no primeiro grau dainstruo primria18. Alm da formao dos futuros mestres dainstruo primria, as escolas normais se destinam igualmente aosprofessores em exerccio organizando conferncias pedaggicasElas desempenham um papel determinante na generalizao doensino de desenho na instruo primria. De mais a mais, noincio dos anos de 1830, j existem em torno de 2.000 escolasprimrias que oferecem lies de desenho linear19, e no mais uma

    centena como em 1820. ento nas escolas normais que oMinistrio de Instruo Pblica vai, com toda lgica, dirigir seusesforos at o final dos anos de 1840, a fim de uniformizar asprticas pedaggicas dos professores primrios.

    Os manuais escolares representam igualmente um meiode tornar mais eficiente, mas tambm mais homogneo, o ensinode desenho. Mas se os ministros Montalivet e Guizot mandamredigir uma srie de cinco manuais elementares destinados distribuio nas escolas primrias, o desenho linear no levadoem conta. Igualmente, sobre um total de mais de 700.000 livros

    18 Rglement du 19 juillet 1833; arrt du 23 juillet 1841 et circulaire du 12aot 1841. O conhecimento do desenho linear exigido para as futurasprofessoras primrias obterem o diploma elementar depois de 1836.19 Segundo Alexandre de Laborde, in: Jrme Madival et mile Laurent, Archives parlementaires de 1787 1860, 2e srie, tome 93, Paris, Paul Dupont,1892, p. 245.

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    distribudos pelo ministrio em 1832, somente 120 manuais dedesenho linear so enviados s escolas francesas (talvez s escolasnormais?), em partes iguais entre o manual de Francoeur e o deLouis Lamotte20. Sob a Monarquia de Juillet, todavia, um certonmero de obras so oficializadas pelo Conselho Real de InstruoPblica. Uma primeira lista dos manuais autorizados assimpublicada em 1836, que divulga os valores seguros do desenholinear (Francoeur, Boniface, Lamotte, Bergery 21) aos olhos daadministrao primria, e atesta sua vontade de introduzir esteensino a todas as sries da instruo primria no somente nonvel das escolas normais ou primrias superiores22.

    O esforo empreendido em favor da formao dosmestres como a divulgao crescente dos manuais no devemascarar a relativa lentido com a qual se populariza o desenholinear nas escolas elementares. Sob a Monarquia de Juillet, asituao no evolui em relao aos resultados da enqute Guizotde 1833. Em seus relatrios, os inspetores primrios raramente osmencionam, salvo para constatar a sua fraca implantao nas

    escolas elementares23

    . Os professores primrios destacam asdisciplinas obrigatrias leitura e escrita, ortografia, clculo -, aopasso que os inspetores incentivam o estudo da lngua francesa e

    20 Louis Lamotte,Cours mthodique de dessin linaire et de gomtrie usuelle applicable tous les modes d'enseignement; ouvrage destin aux collges, au pensions et aux coles primaires, Paris, Hachette, 1832 (2e d.). Sobre isso, vermanuais, cf. Alain Choppin, Le pouvoir et les livres scolaires au XIXe sicle. Les commissions d'examen des livres lmentaires et classiques 1802-1875, Thse dedoctorat de 3e cycle de lUniversit Paris I, 1989, p. 92.21 Claude-Lucien Bergery, Dessin linaire vue pour les coles primaires, 1re partie,Metz, Paris, Thiel, Bachelier et Chamerot, 1835.22 Liste des ouvrages dont l'usage a t et demeure autoris dans lestablissements d'instruction primaire, 30 dcembre 1836. (Lista das obras cujautilizao foi e permanece autorizada nos estabelecimentos de instruo primria)23 AN/F/17/9306, 9307 et 9311. Rapports des inspecteurs primaires sur lescoles primaires, 1837-1838 ; 1839-1840 et 1845-1846).

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    do sistema mtrico, prioritrios no quadro da unificao nacional:o desenho linear permanece acessrio. Se juntarmos a isso a faltade formao dos mestres nessa rea, veremos como foi difcil suaimplantao nas escolas, sobretudo no meio rural: por um lado, asescolas normais no formam mestres em nmero suficiente eningum obrigado a passar por elas para se tornar professorprimrio; por outro lado, a grande maioria dos professores titularde um diploma elementar, para o qual o desenho linear no exigido, lembremos, ser exigido a partir de 1841. Quanto sescolas de meninas, o desenho no aparece realmente como umaprioridade. De fato, so sobretudo as escolas mtuas das grandescidades que representam, tanto para as meninas quanto para osmeninos, o lugar privilegiado do ensino de desenho linear no nveelementar.

    O desenho linear, disciplina escolar?

    A historiografia assinala seguidamente o desenho linearao desenho tcnico porque emprega formas grficas simplesresultado das configuraes geomtricas regulares e representahorizontalmente produtos da arquitetura ou da indstria. Narealidade, o desenho linear engloba sobretudo um mtododeensino elementar do desenho, isto , um conjunto deprocedimentos didticos que fornece os elementos. Mas se, sob Restaurao, o desenho linear aparece como uma inovao, se

    distinguindo das modalidades acadmicas em vigor nas escolas ddesenho, o terreno j est bem preparado, no somente pelageometria descritiva de Gaspard Monge, mas tambm pelosmtodos geomtricos preconizados, no fim do sculo XVIII, poralguns artistas-professores que desejavam garantir, em umaperspectiva neoclssica, a predominncia do contorno e do trao24.

    24 Cf. Renaud dEnfert, L'enseignement du dessin dans les coles centrales(1795-1802), Paedagogica Historica, volume 36, n 2, 2000, pp. 601-629.

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    preciso igualmente contar com os mtodos criados pelopedagogo suo Johann Heinrich Pestalozzi no seu Instituto de Yverdon, nas margens do lago de Neuchtel, que so tambmmuito representativos. Aperfeioar o olho e a mo

    As concepes de Pestalozzi, expostas em 1801 no livroComo Gertrudes educa seus filhos, inserem uma viso global daeducao das crianas25. Para Pestalozzi, o conhecimento temfundamento na percepo sensvel da natureza, e, mais

    particularmente, nas sensaes visuais. Mas o conhecimento dosobjetos no deve resultar somente das impresses produzidas pelossentidos. Ele repousa sobre um ABC da intuioou ABC da percepoque, para uma arte da medida, leva observao dasformas e a sua comparao com as figuras geomtricaselementares, e depois sua representao atravs do desenho26.Para o autor, o estudo do desenho, e mais particularmente dodesenho linear (Linearzeichnungkunst27), no senoarealizao dessa aptido para perceber as relaes que se adquirepela observao e identificao do nome e dos objetos. Consisteem exerccios de aplicao das formas geomtricas a motivos deornamento, de dificuldade graduada, inicialmente na lousa, o que

    25 J.-H. Pestalozzi,Comment Gertrude instruit ses enfants. Un essai pour introduire les mres lart denseigner elles-mmes, traduction, introduction et notes deMichel Sotard, Albeuve, Castella, 1985;Wie Gertrude ihre Kinder lehrt; einVersuch, den Mttern Anleitung zu geben, ihre Kinder selbst zu unterrichten, in Briefen. Herasugegeben von Prof. Dr. Albert Reble, Bad Heilbrunn/Obb,Klinkhardt, 1983 (1red., Bern und Zrich, 1801).26 Johann Heinrich Pestalozzi, ABC der Anschauung, Zrich, H. Gessner, 1803.27 J.-H.,Wie Gertrude, op. cit., 1983, p. 88. Segundo Pestalozzi, op. cit.,1985, p. 154, a escrita no que um exemplo de desenho linearparticular(eine eigentliche Art Linearzeichnung, na edio alem de 1983, op. cit., p.90). o que salientamos.

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    constitui uma diferena notvel com o ensino acadmico, e emseguida no papel.

    Particularmente sensvel s concepes de Pestalozzi, aSIE faz da prfeio do gesto a primeira das qualidades que permitedesenvolver o desenho linear. Os exerccios sistemticos dedesenho geomtrico mo livre elaborados como uma ferramentadestinada a afinar os sentidos, levaando-os at mesmo ao mais altoponto da perfeio, fazendo do corpo um instrumento prprio paratraar as figuras. O sucesso do novo ensino avaliadoespecialmente pela destreza adquirida pelos jovens alunos, a custde inmeros exerccios, destreza que surpreende o pblico quandoda entrega de prmios de fim de ano. Mas o que encanta, no tanto a qualidade esttica dos desenhos realizados pelos alunos,mas a virtuosidade desses. Alm do seu aspecto sensacional, esseexerccios de destreza no so desprovidos intenes educativasbem ao contrrio. Insistir sobre a habilidade manual equivale aeclipsar o aspecto liberal do desenho em proveito de uma visomais utilitria, mas tambm disciplinar o gesto e os

    comportamentos.Trata-se igualmente de aprender a ver bem. Em seuCours lmentaire et pratique de dessin linaire, Alexandre Boniface,discpulo de Pestalozzi, alterna assim os captulos destinados formao do olhar e aqueles verdadeiramente dedicados aodesenho, comeando pela classificao de linhas de comprimentodesiguais ou de inclinaes diferentes, a fim de exercitar ojulgamento dos alunos que, pouco a pouco, aprendem a reconhecere a nomear as principais figuras geomtricas. Tanto quanto adestreza manual, se a preciso do olhar um elemento importantede qualificao profissional, o alcance pedaggico desses exerccique servem para formar, desenvolver, e exercer uma avaliao28

    28 Journal d'ducation, tome 7, 1818, p. 174 ; Alexandre Boniface,Cours lmentaire et pratique de dessin linaire appliqu l'enseignement individu l'enseignement simultan et l'enseignement mutuel , Paris, Ferra jeune et Aim Andr, 1823 (2e d.).

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    toma um grande sentido no contexto poltico da monarquiaconstitucional.

    Destinado a exercitar a viso e as mos dos alunos, oensino do desenho linear se desenvolve por meio de um mtodoprogressivo, analtico, retomando para isso os grandes princpiosdos mtodos de desenho em uso no sculo anterior. Mas,enquanto que os artistas do fim do sculo XVIII no detinhamseus alunos nas preliminares geomtricas, passando rapidamenteao estudo da figura humana, a pedagogia pestalozziana favoreciaao contrrio sua sistematizao, institutindo a graduao dasaprendizagens em um corpo de doutrina. O carter progressivo dosmtodos aparece particularmente na organizao dos exerccios dedesenho geomtrico. Geralmente, os alunos estudam o traado (mo livre) das linhas retas e das linhas retilneas, antes de abordaras linhas curvas e as figuras curvilneas, para chegar finalmente aotraado de molduras e de ornamentos de arquitetura, quecombinam as diferentes formas estudadas. Alguns autores inseremtambm representaes em perspectiva de slidos geomtricos.

    Para Francoeur, por exemplo, o estudo dos poliedros dcontinuidade ao dos polgonos ao passo que o desenho dos corposredondos sucede o das linhas circulares. Outros autoresdesenvolvem sucessivamente o plano e depois o espao: o desenhodos slidos geomtricos comea somente depois que os alunosestudaram o conjunto das linhas retas e curvas29.

    Cada aprendizagem subdividida em exerccioselementares. Por exemplo, os primeiros exerccios de Dessin linairede Francur consistem em fazer os alunos traarem linhasretas distinguindo direo e tamanho, depois dividi-las a olho emduas, trs, quatro partes iguais. Ele fornece uma formulasimplificada do mtodo empregado por Pestalozzi, cujos alunos

    29 Jean-Baptiste Henry (des Vosges),Cours lmentaire de dessin linaire, d'arpentage et d'architecture, adapt tous les modes d'enseignement, destin aux maisons d'ducation des deux sexes, aux coles primaires des villes et des campagne et aux personnes qui s'occupent du dessin, Paris, Isidore Pesron, 1843 (3e d.).

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    deviam dividir as linhas at dez partes iguais30. O Cours lmentaire et pratiquede Alexandre Boniface particularmenteexemplificativo dessa decomposio ao extremo inspirada nosprocedimentos de Pestalozzi. Tomemos o exemplo do traado deum semi-crculo mo livre (fig.1): o autor manda construirinicialmente um ngulo reto de lados iguais que o aluno devedividir em dois, depois em quatro ngulos adjacentes isomtricosLigando para as extremidades, obtm-se assim um quarto decrculo. A reunio dos dois quartos de crculo, traados segundo omesmo procedimento, forma um semi-crculo. O aluno seexercita, em seguida, a traar um semi-crculo, somente a partir deum dimetro e de um raio perpendicular, depois a partir de umnico dimetro, aps de um s raio e, enfim, unicamente docentro.

    30 Amaury-Duval, Prcis de la nouvelle mthode d'ducation de M. Pestalozzi, Paris,Panckoucke, an XII, 1804, p.44. Contra as divises excessivas do mtodo dePestalozzi, Francur afirma: A metade, o tero, o quarto, so s as fraes asquais nossa viso pode se acostumar: no a mais que confuso, porque nopodemos mais julgar as proporesLa moiti, le tiers, le quart, sont peu prs lesseules fractions auxquelles notre il puisse s'accoutumer : au-del il n'y a plusque confusion, parce que nous ne pouvons plus juger des proportions (L.-B.Francur, op. cit., 1819, p. 69)

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    Figura. 1. Formao de um quarto de crculo e de um semi-crculo,inAlexandreBoniface,Cours lmentaire et pratique de dessin linaire appliqu lenseignement mutuel, lenseignement individuel et lenseignement simultan, daprs d

    d ncipes de Pestalozzi; suivi dun trait lmentaire de perspective linaire, Paris,

    Ferra, 1847 (4e

    d.), pl. 12. (Cote BNF: V32602 + atlas V 32603) O traadodo semi-crculo ilustra bem o caminho analtico que sustenta a progresso daaprendizagem.

    Esse recurso sistemtico ao desenho das figurasgeomtricas impe uma nova progresso didtica, j esboada pelomatemtico Lacroix no seu Essais sur lenseignement 31. Nadamais natural do que, aps esses numerosos exerccios

    preparatrios, desenhar entrelaamentos ou um perfil de molduracompostos unicamente de linhas retas ou circulares, ao invs deiniciar imediatamente o estudo da figura humana. De fato, odesenho linear recompe a aprendizagem do desenho segundo umaprogresso que vai das figuras simples da geometria at as maiscomplexas da arquitetura e do ornamento (fig.2), conduzindo

    31 Sylvestre-Franois Lacroix, Essais sur l'enseignement en gnral et sur celui des mathmatiques en particulier, Paris, Courcier, 1805.

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    depois eventualmente figura humana (fig.3). Essa constituiento a ltima etapa do estudo de desenho cujas dificuldadesforam contornadas graas ao estudo prvio do desenho linear. Bemmais que os temas da arquitetura, o desenho de ornamento,considerado como uma aplicao da combinao e da juno daslinhas retas e curvas, revestido de uma importncia particular namedida em que permite prolongar o princpio de progresso dosexerccios levando os alunos insensvelmente e com prazer acopiar as formas as mais complicadas32.

    Figura 2. Louis-Benjamin Francur, Lenseignement du dessin linaire daprs

    une mthode applicable toutes les coles primaires quel que soit le mode dinstr quon y suit, Paris, L. Colas et Bachelier, 1827, cinquime tableau (par AchilleLeclre) (Cote BNF: V2403 + atlas in folio V 4144). O desenho de molduras ede vasos, muito inspirado na arte antiga, combina linhas retas e curvaspreviamente estudadas.

    32 F.PB. (Frre Philippe Bransiet), Abrg de gomtrie applique au dessin linaire, l'arpentage, au nivellement et au lever des plans, suivi des principe l'architecture et de la perspective, Tours, Paris, Mame et Poussielgue-Rusand,1854, p. 267.

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    Figura 3. Aplicao do desenho linear. Traado de uma cabea de perfil,in Bruno Renard,Cours de dessin linaire lusage des coles darts et mtiers, des coles de dessin et des coles primaires, Paris, Lithographie dEngelmann et Cie,1828. (Cote BNF: V240) O desenho linear pode constituir uma preparao aoestudo da figura humana.

    O primeiro mtodo de Francoeur e seus limitesPublicado em 1819, revisado em 1827 e depois em

    1832, o mtodo de Francoeur um modelo para vrios autores demanuais. Destinado primordialmente ao ensino mtuo, o autor oadequou organizao e s regras deste sistema de ensino, dando

    uma descrio minuciosa das modalidades didticas e do materialpedaggico necessrio. A utilizao do quadro negro e das lousas,mais econmicas que o papel, privilegiada. Os alunos desenhamcom giz, s os mais avanados esto autorizados a desenhar nopapel. Cada lio de acordo com os procedimentos habituais domtodo mtuo, como para a escrita e o clculo. Sentados a suamesa e munidos de suas lousas ou reunidos em semi-crculo emtorno de um quadro negro, os alunos desenham seguindo ummodelo ou conforme os comandos dados pelo monitor que os

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    corrigir em seguida (fig.4)33: Tracem uma linha reta e dividamem trs partes iguais (primeira classe); dividam um crculo emoito partes iguais (terceira classe); desenhem umtalo 34, comfiletes (quinta classe). Se rguas de madeira so fixadas no altodos quadros negros a fim de fixar a vista, a utilizao deinstrumentos matemticos (rguas, esquadros, transferidores,compassos) proibida, salvo para os monitores que os utilizampara verificar a exadito dos traos realizados pelos seus alunos35. Antes da aula, o professor explica aos monitores, em uma sessoparticular, a construo de cada uma das figuras e osconhecimentos tericos correspondentes.

    Figura 4. Louis-Benjamin Francur, Lenseignement du dessin linaire daprsune mthode applicable toutes les coles primaires quel que soit le mode dinstr

    quon y suit, Paris, L. Colas et Bachelier, 1827, premier tableau. (Cote BNF: V2403 + atlas in folio V 4144) Dividir um ngulo obtuso em seis partesiguais, fig. 28: fig. 28: na escola mtua, o desenho de cada figura correspondea um comando particular.

    33 Louis-Benjamin Francur, op. cit., 1819, livret des moniteurs.34 Moldura cncava (NT)35 Ibid ., p. 5 et 14; Alexandre Boniface prope uso similar dos instrumentos dematemtica.

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    Desde meados dos anos de 1820 se expressa anecessidade de publicar novos manuais de desenho linear. Alm da vontade de propor aos alunos um maior nmero de modelos (aprimeira edio do manual de Francoeur comporta somente 5gravuras), trata-se de desprender-se demasiadamente dos rgidosprocedimentos do ensino mtuo e de propor um mtodo queconvenha a todos os mtodos de ensino e, mais particularmente,ao ensino simul