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06 Revista Científica do HCE Raimundo Sérgio Furtado de Oliveira , Rubem Santos Júnior 2 , Paula Regina Pimenta de Souza Gouvêa 3 . Cel Med Radiologista e Diretor Médico do Centro de Diagnósticos Avançados. 2. Cel Med Radiologista e Chefe da Subseção do Serviço de Radiodiagnóstico do Hospital Central do Exército. 3. 1º Ten Med Radiologista do Hospital Central do Exército. Endereço para correspondência: Paula Regina Pimenta de Souza Gouvêa Rua Barão de Mesquita, 314 - bl. A /apto 1104 - CEP.: 20540-003 – Tijuca - Rio de Janeiro - RJ E-mail: [email protected] ESPONDILOLISTESE E OLISTESE DEGENERATIVA: ESCOLHENDO O MELHOR TERMO A SER USADO Spondylolisthesis and Degenerative Olisthesis: Choosing the Best Expression for Use RESUMO Neste artigo, são revisados os termos conhecidos como espondilolistese e olistese degenerativa, os tipos de olisteses, os sinais radiológicos e as diferenças entre eles, e a melhor maneira de empregar cada um. Palavras-chave: coluna vertebral, olistese, espon- dilolistese, espondilólise, olistese degenerativa. ABSTRACT In this article we review the condition known as spondylolisthesis and degenerative olisthesis, the types of olisthesis, the radiological signs and differences between them, and the best way to use each one. Keywords: spine, olisthesis, spondylolisthesis, spondylosis, degenerative spondylolisthesis.

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Page 1: Hospital Central do Exército: HCE

�06Revista Científica do HCE

Raimundo Sérgio Furtado de Oliveira�, Rubem Santos Júnior2, Paula Regina Pimenta de Souza Gouvêa3

�. Cel Med Radiologista e Diretor Médico do Centro de Diagnósticos Avançados.2. Cel Med Radiologista e Chefe da Subseção do Serviço de Radiodiagnóstico do Hospital Central do Exército.

3. 1º Ten Med Radiologista do Hospital Central do Exército.

Endereço para correspondência: Paula Regina Pimenta de Souza GouvêaRua Barão de Mesquita, 314 - bl. A /apto 1104 - CEP.: 20540-003 – Tijuca - Rio de Janeiro - RJ

E-mail: [email protected]

ESPONDILOLISTESE E OLISTESE DEGENERATIVA: ESCOLHENDO O MELHOR TERMO A SER USADO

Spondylolisthesis and Degenerative Olisthesis:Choosing the Best Expression for Use

RESUMONeste artigo, são revisados os termos conhecidos

como espondilolistese e olistese degenerativa, os tipos de olisteses, os sinais radiológicos e as diferenças entre eles, e a melhor maneira de empregar cada um.

Palavras-chave: coluna vertebral, olistese, espon-dilolistese, espondilólise, olistese degenerativa.

ABSTRACTIn this article we review the condition known

as spondylolisthesis and degenerative olisthesis, the types of olisthesis, the radiological signs and differences between them, and the best way to use each one.

Keywords: spine, olisthesis, spondylolisthesis, spondylosis, degenerative spondylolisthesis.

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�07 Ano III • Nº 02

Revisamos os termos em dicionários médicos e da língua portuguesa, buscando as informações mais qualificadas e corretas quanto a grafia e definições. O termo Olistese (olistia) significa escorregamento de uma articulação sobre outra, usada aqui para representar mais especificamente o escorregamento de uma vértebra sobre outra. Na literatura americana, principalmente, todas as olisteses são classificadas como Spondylolisthesis (definido como a subluxação de um corpo vertebral sobre outro).

A nomenclatura utilizada para descrição do escorregamento de uma vértebra sobre a outra teve início com Killian, em �854, ao criar o termo espondilolistese para representar o deslocamento de uma vértebra sobre a outra, na presença de um defeito da integridade do arco neural. Daí em diante, vários outros termos foram criados por outros autores para explicar essa condição, gerando controvérsia e chamando a atenção para o tema.

Seria fácil entender a condição se a definição estivesse totalmente correta: espondilolistese (espôndilo – coluna e olistese – escorregamento). Entretanto, o referido termo, como mencionado acima, está consagrado na literatura como associado à presença de espondilólise. Assim, devemos reservar o termo espondilolistese quando há defeito na pars interarticular (espondilólise). É importante lembrar desde logo que o escorregamento é sempre da vértebra superior sobre a inferior.

OLISTESESAs olisteses mais importantes são a espon-

dilolistese, a olistese degenerativa, a olistese traumática, a neoplásica, a inflamatória, a olistese por displasia congênita e a pós-cirúrgica, sendo as duas primeiras muito mais freqüentes.

Wiltse classificou as olisteses quanto à causa em seis tipos: Tipo I – Displásica: associada à anormalidade congênita do sacro e arco posterior das vértebras lombares.Tipo II – Ístmica: defeito na pars interarticular, podendo ser uma fratura de fadiga, uma fratura aguda ou a pars interarticular alongada.Tipo III – Degenerativa: instabilidade intersegmentar de

longa data.Tipo IV – Traumática: fratura de elementos posteriores, diferente do istmo.Tipo V – Patológica – doença óssea localizada ou difusa.Tipo VI – Iatrogênica: geralmente pós-cirúrgica.

Além disso, as olisteses podem ser classificadas também quanto à direção em: anterolisteses, quando a vértebra superior desloca-se anteriormente sobre a de baixo; retrolisteses, quando há um deslocamento posterior da vértebra superior; e laterolistese , quando a vértebra superior desloca-se lateralmente em relação ao eixo da coluna.

O termo olistese degenerativa foi descrito em �93� por Junghans como pseudoespondilolistese, que acomete 4% dos idosos e está associada a graves alterações degenerativas nas articu-lações zigapofisárias. Às vezes é chamada espon-dilolistese degenerativa ou espondilolistese sem espondilólise, terminologia que deve ser evitada, pois esta condição representa o escorregamento de uma vértebra sobre a outra, causado pela redução do espaço articular interfacetário por processo degenerativo. Não é classificado, como a espondilolistese, em quatro graus, uma vez que o escorregamento é limitado ao espaço articular interfacetário (incluindo aí a cartilagem articular) e ao grau de remodelamento das facetas; por-tanto, sempre será grau �, a não ser em casos muito severos de artropatia neuropática. Como é sempre grau I, não há necessidade de classificar. O arco neural está intacto, mas as alterações da osteoartrite degenerativa nas articulações interapofisárias formam um ponto de fraqueza no mecanismo de acoplamento de uma vértebra na outra. O efeito de uma faceta por cima da outra

Olistese degenerativa-escorregamento de uma vértebra sobre a outra mostrado na radiografia (letra a), causado pela redução do espaço articular interfacetário por processo degenerativo mostrado na TC (letra b).

Figura 1a Figura 1b

revisão de Literatura

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�08Revista Científica do HCE

perde sua eficiência, fazendo com que as facetas inferiores das vértebras de cima gradualmente percam seu lugar com as facetas superiores das vértebras inferiores, permitindo o deslocamento (Fig. 1 a e 1b).

ESPONDILOLISTESE E ESPONDILÓLISE O termo espondilolistese deve ser reservado

para uso quando há defeito na pars interarticular (espondilólise).

A espondilólise representa um defeito na porção interarticular do istmo – pars interarticular, que divide o arco neural em dois segmentos (Fig.2). O segmento antero-superior consiste do pedículo, processo transverso e faceta superior, e o segmento póstero-inferior consiste da faceta inferior, lâmina e processo espinhoso (Fig. 3). Esta pode ocorrer por trauma agudo (fratura aguda), defeito fibroso

adquirido ou congênito e fratura por estresse (trauma mínimo repetido), e geralmente acomete L5 (90%), L4 (10%) e L3 (menos de 1%), sendo muito rara em outros níveis.

A espondilólise pode ser classificada de acordo com a sua localização (Fig.4):

�. Persistência da sincondrose neurocentral;2. Fenda pedicular ou retrosomática;3. Fenda na “pars interarticularis” (Espondilólise verdadeira); 4. Fenda retro-ístmica;5. Fenda para-espinhosa;6. Fenda espinhosa.

A espondilólise ocorre em 5% da população, sendo rara antes dos cinco anos de idade. A maioria se desenvolve entre os sete e quatorze anos, é mais freqüente entre as meninas, e 60% dos pacientes com espondilólise têm espondilolistese (Fig. 5a e 5b).

A espondilolistese pode ser classificada, de acordo com Meyerding, em quatro graus, de acordo com o deslizamento anterior de L5 sobre S1: Grau I, Grau II, Grau III, Grau IV (Fig.6).

Figura 2. Espondilólise – peça anatômica de um segmento da coluna no plano sagital mostrando o pedículo (PED), a porção interarticular do istmo – pars interarticular (PARS), que divide o arco neural em dois segmentos, S (superior) e I (inferior)

Figura 3. Espondilólise – o segmento antero-superior consiste do pedículo, processo transverso e faceta superior,

e o segmento póstero-inferior consiste da faceta inferior, lâmina e processo

espinhoso

Figura 4. Classificação da espondilólise de

acordo com a sua localização na vértebra.

Figuras 5a e 5b. Espondilólise na pars interarticular de L5 com espondilolistese

Figura 6. Classificação de Meyerding para as espondilolisteses com espondilólise

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�09 Ano III • Nº 02

SINAIS RADIOLÓGICOS DE ESPONDILOLISTESE E ESPONDILÓLISE

Figura 7a, 7b e 7c. Sinal do chapéu de Napoleão invertido - espondilolistese grau IV.

Figura 8. Sinal do processo espinhoso

Figura 9. Sinal do anel incompleto

Figura 10. Sinal da coleira de cachorro - espondilólise na pars interarticular

Figuras 11a e 11b. Sinal das facetas numerosas

Figura 12. Sinal do duplo canal

Figura 13a e 13b. Pseudoprotrusão discal por escorregamento dos corpos vertebrais.

Figura 14. Sinal da faceta fragmentada

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��0Revista Científica do HCE

Figura 15a e 15b. Sinal do pão-duro - degeneração da articulação interfacetária.

Figura 16. Sinal da chave inglesa- degeneração da articulação interfacetária.

CONCLUSÃOA Olistese representa o deslizamento, especial-

mente de duas superfícies articulares oponentes (luxação incompleta), usado caracteristicamente na coluna vertebral. Seus dois tipos mais fre-qüentes são representados por Espondilolistese (quando na presença de espondilólise) e a olistese degenerativa ou pseudoespondilolistese de Jughans. Devemos conhecer bem os mecanismos de produção de cada uma delas e seus aspectos nos exames de imagem para que possamos fazer diagnósticos mais precisos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Greenspan A. Radiologia ortopédica. 2ª Ed. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, �996.2. Resnick D. Diagnosis of bone and joint disorders. 3rd ed.

Philadelphia: WB Saunders, 1995.3. Amour TES, Hodges SC, Laakman RW, Tamas DE. MRI of the

spine. New York: Raven Press, 1994.4. Atlas S. Magnetic resonance imaging of the brain and spine. 2nd

ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1996.5. Osborn AG. Diagnostic neuroradiology. St. Louis: Mosby, 1994.6. Ferreira ABH. Novo Aurélio Século XXI – o Dicionário da Língua

Portuguesa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.7. Dicionário Médico Ilustrado Dorland. 28ª ed. São Paulo: Manole,

�999.8. Dicionário Médico Stedman. 23ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara

Koogan, �979.9. Webster’s Medical Desk Dictionary. Massachussetts: Merrian-

Webster, �986.10. Michaelis: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo:

Companhia Melhoramentos, �998.11. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia

Brasileira de Letras. 3ª ed. Rio de Janeiro: Corbã Editora Artes Gráficas, 1999.

Para facilitar a memorização dos achados radiológicos, consulte a tabela abaixo:

Diagnóstico Diferencial Espondilolistese olistese Degenerativa0� Degrau do processo espinhoso acima abaixo02 Artrose e hipertrofia facetária não sim03 Espondilólise sim não04 Estenose de canal (geralmente) não sim05 Nível mais freqüente L5-S1 L4-L506 Idade jovem idoso07 Sexo (mais freqüente) masculino feminino08 Graduação � a 4 �09 Número de níveis comprometidos � � ou mais�0 Radiculopatia (freqüentemente) negativo positivo