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Mistérios do Tanakh: A Torre de Bavel 1 Mistérios do Tanakh A Torre de Bavel Por Sha’ul Bentsion I - Introdução Uma das passagens mais curiosas da Torah se refere ao episódio conhecido como a Torre de Bavel (Babel/Babilônia). Segundo a leitura tradicional do episódio, toda a humanidade teria se reunido após o dilúvio, numa arrogante tentativa de sobrepujar o Eterno, através da construção de uma torre que atingiria os céus. O Eterno teria então confundido as línguas da humanidade, que a partir daí teria se dividido em diversos dialetos diferentes. Por trás dessa intrigante história, o que há de mito popular, e o que é que as Escrituras realmente dizem? Quais as possíveis interpretações para o texto hebraico? Seria o episódio factual ou alegórico? Além da Torah, o que se sabe historicamente sobre essa colossal estrutura? Essas e outras perguntas serão aqui abordadas, numa impressionante jornada por uma das mais intrigantes histórias das Escrituras. II - Registro Arqueológico Curiosamente, a Torre de Bavel é uma das histórias do período antigo da Torah mais bem documentadas arqueologicamente. O que, de imediato, minimiza bastante a chance da narrativa ser poética ou alegórica. Aqui será apresentado um resumo sobre as principais informações acerca dessa impressionante construção. A mais importante referência arqueológica sobre a Torre de Bavel é uma estela da época de Nabucodonosor II (século VI AC), que é parte do acervo do colecionador norueguês Martin Schøyen, o maior acervo pessoal de manuscritos antigos do mundo, atualmente distribuído entre Londres e Oslo. As ruínas da torre de Bavel permaneceram durante séculos no local, até que o rei babilônio Nabopolassar, pai de Nabucodonosor II, iniciou um trabalho de restauração. Mas foi seu filho, Nabucodonosor II, o principal restaurador de torre, num trabalho que durou 43 anos. © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

I - Introdução · Torre de Bavel (Babel/Babilônia) ... !A arquitetura da torre de Bavel ... a trágica história das sucessivas tentativas frustradas de reconstrução da torre

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Mistérios do Tanakh!A Torre de Bavel!

Por Sha’ul Bentsion!!!I - Introdução!!

! Uma das passagens mais curiosas da Torah se refere ao episódio conhecido como a Torre de Bavel (Babel/Babilônia).!!! Segundo a leitura tradicional do episódio, toda a humanidade teria se reunido após o dilúvio, numa arrogante tentativa de sobrepujar o Eterno, através da construção de uma torre que atingiria os céus.!!! O Eterno teria então confundido as línguas da humanidade, que a partir daí teria se dividido em diversos dialetos diferentes.!!! Por trás dessa intrigante história, o que há de mito popular, e o que é que as Escrituras realmente dizem? Quais as possíveis interpretações para o texto hebraico? Seria o episódio factual ou alegórico? Além da Torah, o que se sabe historicamente sobre essa colossal estrutura?!!! Essas e outras perguntas serão aqui abordadas, numa impressionante jornada por uma das mais intrigantes histórias das Escrituras.!!!

II - Registro Arqueológico!!! Curiosamente, a Torre de Bavel é uma das histórias do período antigo da Torah mais bem documentadas arqueologicamente. O que, de imediato, minimiza bastante a chance da narrativa ser poética ou alegórica.!!! Aqui será apresentado um resumo sobre as principais informações acerca dessa impressionante construção.!!! A mais importante referência arqueológica sobre a Torre de Bavel é uma estela da época de Nabucodonosor II (século VI AC), que é parte do acervo do colecionador norueguês Martin Schøyen, o maior acervo pessoal de manuscritos antigos do mundo, atualmente distribuído entre Londres e Oslo.!!! As ruínas da torre de Bavel permaneceram durante séculos no local, até que o rei babilônio Nabopolassar, pai de Nabucodonosor II, iniciou um trabalho de restauração. Mas foi seu filho, Nabucodonosor II, o principal restaurador de torre, num trabalho que durou 43 anos.!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! A estela de Nabucodonosor II traz não apenas um texto descritivo, mas a única representação gráfica conhecida da Torre de Bavel.!!! A estela é assinada da seguinte forma:! !“A Casa, a Fundação do Céu e da Terra, Torre em Babibli. Nabucodonozor, rei da Babilônia, sou eu. Para concluir E-temen-anki e E-ur-me-imin-anki eu mobilizei todos os países em todo lugar, e cada governante que fora levantado por proeminência sobre todos os povos do mundo. A base eu cobri para tornar o terreno mais alto. Eu ergui suas estruturas com betume e tijolo assado ao longo. Eu a concluí erguendo o seu topo ao céu, fazendo-a brilhar clara como o sol.” !! Ao lado do texto, uma reconstrução da representação gráfica encontrada na estela de Nabucodonosor II.!!! Outro trecho da estela continua, e diz o seguinte:! !“A torre, a casa eterna, que eu fundei e ergui. Eu completei sua magnificência com prata, ouro, outros metais, pedra, tijolos esmaltados, abeto e pinho. A primeira, que é a casa da base da terra, o mais antigo monumento da Babilônia. Eu a ergui e a concluí. Eu exaltei grande mente seu topo com tijolos cobertos de cobre. Dizemos do outro, isto é, do edifício, a Casa das Sete Luzes da Terra, o monumento mais antigo de Borspia. Um rei anterior o construiu, estimam há 42 eras, mas não concluiu seu topo. Desde tempos remotos, o povo o abandonara, sem ordem que expressasse suas palavras. Desde aquele tempo terremotos e raios dispersaram sua argila seca ao sol; os tijolos da cobertura se fenderam, e a terra no interior se espalhou em montes. Merodach, o grande deus, instigou minha mente a consertar esta construção. Eu não movi o sítio nem removi de sua fundação. Em um mês fortuito, em um dia favorável, eu intentei construir pórticos em volta das massas cruas de tijolo, e a cobertura dos tijolos queimados. Eu adaptei os circuitos; eu coloquei a inscrição do meu nome o Kitir do pórtico. Eu empreendi minha mão para concluí-lo. E para exaltar sua cabeça. Como havia sido feito nos dias antigos, assim eu exaltei o seu cume.” !!

III - Cronologia Histórica!!! A representação arqueológica é impressionante, mas não é o único registro histórico da Torre de Bavel. !!! Ela também é mencionada pelo historiador grego Heródoto, século V AC, que foi testemunha ocular da torre, e relata o seguinte:!!“A muralha externa é a principal defesa da cidade. Existe, contudo, uma segunda muralha interna, de menor espessura do que a primeira, mas muito pouco inferior a ela em força. O centro de cada divisão da cidade foi ocupado por uma fortaleza. Em uma estava o palácio dos reis, cercado por uma muralha de grande força e tamanho: Na outra estava o precinto sagrado de Jupiter Belus, um recinto quadrado de 402m cada caminho, e portões de bronze sólido; que também permanecia em meu tempo. No meio do precinto havia uma torre de sólida alvenaria, 201m em comprimento e largura, que erguia uma © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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segunda torre, e sobre ela uma terceira, e assim por diante até oito. A subida ao topo é no exterior, por um caminho que serpenteia em volta de todas as torres. Quando alguém está cerca de metade da subida, encontra um local de repouso e assentos, onde as pessoas podem se sentar por um tempo, no seu caminho até o cume. No topo da torre existe um espaçoso templo, e dentro do templo há um divã de tamanho pouco usual, ricamente adornado, e uma mesa dourada ao lado. Não há estátua de nenhum tipo posta naquele local, nem sua câmara é ocupada à noite por ninguém exceto uma única mulher solteira nativa, a qual, segundo afirmam os caldeus, sacerdotes desse deus, é escolhida pela própria divindade para ele de todas as mulheres da terra.” (Histórias 1:181) !! Observa-se uma dupla-função na torre, ainda segundo o próprio Heródoto, tendo um viés de proteção, e ao mesmo tempo um viés religioso.!!! Isso não é surpreendente, uma vez que um povo que desejasse se proteger em uma situação de guerra certamente também se sentiria melhor buscando abrigo em meio aos seus deuses.!!! O que não é claro, porém, é se a conotação religiosa da torre, dedicada ao deus babilônio Bel-Merodach, a quem Heródoto chama de Júpiter Belus, sempre existiu, ou se isso teria sido uma inovação de Nabucodonosor II. Mas, o autor deste material aposta na primeira alternativa.!!! Heródoto menciona oito andares, ao passo que Nabucodonosor apenas sete. Isso provavelmente se explica pelo fato de Heródoto deve ter considerado o topo da torre/pirâmide como um andar, ou deve ter contado como dois algum dos andares inferiores.!!! A trágica história da torre de Bavel ao longo do tempo nos faz suspeitar que o local fosse amaldiçoado, pois a torre nunca conseguiu permanecer por muito tempo. !!! Restaurada no século VI AC por Nabucodonosor II, a torre já no século V foi destruída pelo rei persa Xerxes I, em sua incursão contra a Babilônia.!!! No século IV, Alexandre o Grande viria a capturar a cidade da Babilônia, e teria ordenado sua reconstrução.!!! Contudo, a dificuldade na restauração fez com que Alexandre ordenasse sua demolição, para reconstruí-la. No entanto, Alexandre viria logo depois a morrer antes de ter a chance de reconstruí-la, conforme narra o historiador Strabo, no século I AC:!!“Aqui também está a tumba de Belus, agora em ruínas, tendo sido demolida por Xerxes, conforme é dito. Era uma pirâmide quadrangular de tijolos assados, não apenas tendo um estádio de altura, mas também tendo lados de um estádio de comprimento. Alexandre intentou consertar esta pirâmide; mas teria sido uma tarefa muito grande e teria demandado um grande tempo (para simplesmente limpar o monte foi uma tarefa para dez mil homens em dois meses), de modo que ele não conseguiu concluir o que ele havia tentado; pois imediatamente o rei foi tomado por uma doença e morte. Nenhum de seus sucessores se importou com o assunto, e mesmo o que estava da cidade foi negligenciado e deixado às ruínas." (Geografia 16:1:5) !! No século III, o rei selêucida Antíoco I teria ainda feito uma visita ao local, levando ofertas e aparentemente intentando fazer um sacrifício a Bel, o que indica que talvez Antíoco I tivesse a intenção de reconstruir a torre de Bavel.! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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!! Contudo, Antíoco I teria sofrido um acidente nas ruínas do local, provavelmente caindo de sua montaria. !!! Irado, Antíoco I teria ordenado que o remanescente das ruínas da torre de Bavel fosse removido, e o terreno fosse totalmente liberado, o que marcou o fim definitivo da história da torre de Bavel, e de todas as fracassadas tentativas de reerguê-la de forma permanente.!!! Tal evento é descrito no texto histórico babilônio das Crônicas da Ruína da Torre:!!“… à Babilônia co[m…] de Bel; aos bab[ilôn]ios da [assembléia da To]rre ele [de]u uma oferta; na ruína da torre eles a [arran]jaram. Na ruína da Torre ele caíu. Bois [e] uma oferta do estilo grego ele fizera. O filho do rei, suas [tropa]s, suas carruagens, e seus elefantes recoveram o entulho da Torre. No terreno vazio da Torre eles comeram." (BCHP 6) !

IV - Arquitetura !

! A arquitetura da torre de Bavel indica que ela era, na realidade, semelhante ao brinquedo infantil chamado de torre de Hanói. Abaixo uma representação artística baseada nos achados arqueológicos e nas informações históricas.!!

! Não se sabe ao certo quantos andares a torre possuía nos tempos bíblicos. Contudo, a torre de Nabucodonosor II teria 7 andares e uma base, totalizando 8 níveis. Cada nível menor do que a base que lhe sustentava anteriormente.!!! A estela de Nabucodonosor II nos fornece a única representação gráfica da torre. Aliada à descrição de Heródoto, tem-se uma boa ideia de sua aparência. Ao lado, uma representação gráfica da torre.!!

! Do ponto de vista de suas dimensões, Strabo fornece uma medida um pouco menor da torre do que Heródoto, de aproximadamente 180m, contra cerca de 200m segundo Heródoto. Strabo também fornece a altura, que Heródoto omite.!!! A diferença se explica porque provavelmente tanto Heródoto quanto Strabo forneceram medidas aproximadas, e não um tamanho exato.!!! Pela descrição de ambos, a base da torre de Bavel teria uma área aproximada entre 5 e 6 campos de futebol, um pouco menor do que a base da Grande Pirâmide de Gizé no Egito.!!! Sua altura, contudo, também de aproximadamente 180m, seria ligeiramente maior do que a Grande Pirâmide, o que indica uma estrutura de proporções mais ou menos equivalentes, e certamente uma das obras mais impressionantes da antiguidade.!! ! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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IV - Conclusões sobre a Historicidade !! Os fatores históricos estão impressionantemente de acordo com a Torah, tanto no que diz respeito à origem da torre na antiguidade, quanto no tamanho, e até mesmo nos materiais que foram utilizados na construção de tal estrutura!!!! Além disso, a trágica história das sucessivas tentativas frustradas de reconstrução da torre são, no mínimo, muito curiosas, e estão plenamente alinhadas com a descrição da Torah, que parece indicar sua existência era uma afronta ao Eterno.!!! A seguir, será feita uma análise linguística e contextual do relato da narrativa da Torah, onde tais elementos também serão devidamente considerados.!!!

V - Pré-Análise !! Antes de mais nada, há uma passagem bastante intrigante no capítulo anterior ao relato da torre de Bavel. O texto de Bereshit (Gênesis) 10:2-5 diz o seguinte:!! בני יפת--גמר ומגוג ומדי ויון ותבל; ומש ותירס. ובני גמר--אשכנז וריפת ותגרמה. ובני יון אלישה

!ותרשיש כתים ודדנים. מאלה נפרדו איי הגוים בארצתם, איש ללשנו--למשפחתםבגויהם"Os filhos de Yefet são: Gomer, Magog, Maday, Yawan, Tuval, Meshekh e Tiras. E os filhos de Gomer são: Ashkenaz, Rifat e Togarmah. E os filhos de Yawan são: Elishah, Tarshish, Kitim e Dodanim. Por estes foram repartidas as ilhas das nações nas suas terras, cada qual segundo a sua língua, segundo as suas famílias, entre as suas nações.!!! Os nomes correspondem a antigas regiões justamente em volta do Mar Negro, o palco mais provável para o dilúvio (vide artigo a respeito do tema).!!! Observe como a Torah diz que os filhos de Yefet (Jafé) foram quem repartiu as ilhas das nações nas terras que possuíram, cada qual segundo a sua língua.!!! Em outras palavras, ao que tudo indica, as línguas dessas famílias, e povos já havia sido dividida antes do episódio da Torre de Bavel! !!! Claro, é possível também supor que Bereshit (Gênesis) 10 e 11 não estejam seguindo uma ordem cronológica linear, e que os eventos do capítulo 11 possam ter ocorrido antes dos narrados no capítulo 10.!!! Contudo, é possível já de início observar que talvez os eventos do capítulo 11 não se refiram a todas as línguas da humanidade.!!! Outro ponto importante é o uso do termo lashon (לשון), que significa literalmente língua, para se referir a diferentes idiomas. De fato, esse é o termo hebraico mais comum para idioma. E é curioso, como será observado mais adiante, que ele não apareça no capítulo 11!!!! Observe agora Bereshit (Gênesis) 10:6-20:!!

ובני חם--כוש ומצרים ופוט וכנען. ובני כוש--סבא וחוילה וסבתה ורעמה וסבתכא; ובני רעמה שבא ודדן. וכוש ילד את-נמרד; הוא החל להיות גבר בארץ. הוא-היה גבר-ציד לפני יהוה; על-כן

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יאמר כנמרד גבור ציד לפני יהוה. ותהי ראשית ממלכתו בבל ואר ואכד וכלנה בארץ שנער.מן-הארץ ההוא יצא אשור; ויבן את-נינוה ואת-רחבת עיר ואת-כלח. ואת-רסן בין נינוה ובין כלח-- הוא העיר הגדלה. ומצרים ילד את-לודים ואת-ענמים ואת-להבים--ואת-נפתחים. ואת-פתרסים

ואת-כסלחים אשר יצאו משם פלשתים--ואת-כפתרים. וכנען ילד את-צידן בכרו--ואת-חת. ואת-היבוסי ואת-האמרי ואת הגרגשי. ואת-החוי ואת-הערקי ואת-הסיני. ואת-הארודי

ואת-הצמרי ואת-החמתי; ואחר נפצו משפחות הכנעני. ויהי גבול הכנעני מצידן--באכה גררה עד-עזה: באכה סדמה ועמרה ואדמה וצבים--עד-לשע. אלה בני-חם למשפחתם ללשנתם

!.בארצתם בגויהםE os filhos de Ham são: Kush, Miṣraim, Put e Khena'an. E os filhos de Kush são: Seva, Hawilah, Savtah, Ra'mah e Savtekha; e os filhos de Ra'mah: Shevah e D'dan. E Khush gerou a Nimrod; este começou a ser poderoso na terra. E este foi poderoso caçador diante da face de YHWH; por isso se diz: Como Nimrod, poderoso caçador diante de YHWH. E o princípio do seu reino foi Bavel, Erekh, Akad e Khalneh, na terra de Shin'ar. Desta mesma terra saiu à Ashur e edificou a Ninweh, Rehovot-‘Ir, Kalah, E Ressen, entre Ninweh e Kalah (esta é a grande cidade). E Miṣraim gerou a Ludim, a 'Anamim, a Lehavim, a Naftuhim, a Patrussim e a Kasluhim (donde saíram os filisteus) e a Kaftorim. E Khena'an gerou a Ṣidon, seu primogênito, e a Het; E ao jebuseu, ao amorreu, ao girgaseu, E ao heveu, ao arqueu, ao sineu, e ao arvadeu, ao zemareu, e ao hamateu, e depois se espalharam as famílias dos cananeus. E foi o termo dos cananeus desde Ṣidon, indo para Gerarah, até 'Aza; indo para Sedomah e 'Amorah, Admah e Ṣeboim, até Lasha'. Estes são os filhos de Ham segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, em suas terras, em suas nações.!!! Observa-se aqui que os filhos de Ham (Cão) partem para uma região completamente diferente.!!! Mais uma vez, temos o uso do termo lashon (לשון) para se aplicar ao idioma. As mesmas observações anteriores são válidas para este trecho.!!! Os descendentes de Ham são descritos como tendo ocupado algumas cidades da costa nordeste da África.!!

ולשם ילד גם-הוא: אבי כל-בני-עבר--אחי יפת הגדול. בני שם עילם ואשור וארפכשד ולוד וארם. ובני ארם--עוץ וחול וגתר ומש. וארפכשד ילד את-שלח; ושלח ילד את-עבר. ולעבר ילד שני בנים:

שם האחד פלג כי בימיו נפלגה הארץ ושם אחיו יקטן. ויקטן ילד את-אלמודד ואת-שלף ואת-חצרמות ואת-ירח. ואת-הדורם ואת-אוזל ואת-דקלה. ואת-עובל ואת-אבימאל ואת-שבא.

ואת-אופר ואת-חוילה ואת-יובב; כל-אלה בני יקטן. ויהי מושבם ממשא באכה ספרה הר הקדם. אלה בני-שם למשפחתם ללשנתם בארצתם לגויהם.אלה משפחת בני-נח לתולדתם בגויהם;

!.ומאלה נפרדו הגוים בארץ--אחר המבולE a Shem nasceram filhos, e ele é o pai de todos os filhos de 'Ever, o irmão mais velho de Yefet. Os filhos de Shem são: 'Elam, Ashur, Arpakhshad, Lud e Aram. E os filhos de Aram são: 'Uṣ, Hul, Gueter e Mash. E Arpakhshad gerou a Shalah; e Shelah gerou a 'Ever. E a 'Ever nasceram dois filhos: o nome de um foi Peleg, porquanto em seus dias se repartiu a terra, e o nome do seu irmão foi Yoqtan. E Yoqtan gerou a Almodad, a Shalef, a Haṣṣarmawet, a Yarah, a Hadoram, a Uzal, a Diqlah, A 'Oval, a Avimael, a Sheva, A Ofir, a Hawilah e a Yovav; todos estes foram filhos de Yoqtan. E foi a sua habitação desde Mesha, indo para Sefarah, montanha do oriente. Estes são os filhos de Shem segundo as suas famílias, segundo as suas línguas, nas suas terras, segundo as suas nações. Estas são as famílias dos filhos de Noah segundo as suas gerações, nas suas nações; e destes foram divididas as nações na terra depois do dilúvio.!

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! Certamente é possível interpretar que toda a região do Oriente Médio foi repartida nos tempos de Peleg, e que isso se refira ao episódio da Torre de Bavel. Porém a Torah aqui fala de um repartir, e não de uma dispersão. !!! É possível que a referência seja unicamente ao repartir da terra de Shem entre os seus filhos. A principal porção dos filhos de Shem se distribuiu pela península da Arábia, e também adjacências à terra de Khena’an (Canaã).!!! Novamente, temos o termo lashon (לשון) como nos trechos anteriores.!!!Conclusão sobre a Pré-Análise!!! É intrigante que a Torah já se refira a uma divisão de idiomas no capítulo anterior. O capítulo reforça a ideia, já observada durante a análise da narrativa do dilúvio, de que ha’areṣ não se refira ao mundo, mas sim à região conhecida.!!! Observa-se ainda que os filhos de Noah se espalharam pelas seguintes regiões: Entorno do Mar Negro; Costa Nordeste da África, região de Khena’an (Canaã) e Península da Arábia.!!! Mesmo assim, a quantidade de cidades e povoados fundados é relativamente modesta, especialmente considerando que nos tempos antigos o que se chama de cidade seria menor do que um bairro para os nossos padrões.!!!

IV - Análise do Texto !! Em seguinda, será realizada a análise da passagem específica, referente a Bereshit (Gênesis) 11:1-9:!!!.ויהי כל-הארץ שפה אחת ודברים אחדיםwayhi khol-haareṣ shafah ehat udvarim ahadim.!E era toda a terra de mesmos lábios e de mesmos ditos.!!! A primeira coisa que chama a atenção nesta passagem é o uso da palavra safah !!.que significa literalmente lábios ,(שפה)! Essa palavra aparece nas Escrituras cerca de 175 vezes. Embora ela possa ser utilizada como idioma, tal ocorrência é bastante rara.!!! Talvez o exemplo mais claro de uso enquanto idioma esteja na passagem abaixo:!!"Naquele tempo haverá cinco cidades na terra do Egito que falarão a língua [sefat kenani - de Kena'an e farão juramento ao YHWH Ṣevaot; e uma se chamará: Cidade de [שפת כנעןdestruição.” (Yeshayahu/Isaías 19:18) !! Neste caso, o uso enquanto idioma é inequívoco, embora, conforme dito anteriormente, a palavra mais comum usada nas Escrituras para se referir a idioma seja a palavra lashon (לשון), que significa literalmente "língua".!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! Mas, e quanto aos demais usos do termo safah?!!! Na maioria das vezes em que não designa lábios literais, safah indica uma fala ou discurso.!!! Por exemplo, observe:!!"O que saiu dos teus lábios [sefateykha -שפתי] guardarás, e cumprirás, tal como voluntariamente votaste a YHWH teu Elohim, declarando-o pela tua boca.” (Devarim/Deuteronômio 23:23) !! O que saiu dos lábios é literalmente a fala ou discurso do voto.!!"Cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros [sefat halaqot - ! e coração dobrado.” (Tehilim/Salmos 12:3) [שפת חלקותOs lábios lisonjeiros nada mais são do que um discurso enganosamente positivo.!!"Não convém ao tolo a fala excelente [sefat yeter - שפת-יתר]; quanto menos ao príncipe, o lábio mentiroso [sefat shaker - שפת-שקר].” (Mishlê/Provérbios 17:7) !! Apesar do primeiro ser traduzido como fala e o segundo como lábio, o termo é o mesmo no hebraico. Nesse caso, safah representa novamente um discurso, seja ele positivo ou mentiroso.!!! Evidentemente que a leitura tradicional de safah enquanto idioma é perfeitamente plausível. Contudo, o objetivo do autor é demonstrar que existe outra leitura perfeitamente possível, e muito bem fundamentada: a de que safah indique discursos, e não idiomas.!!! Outro termo utilizado e que deve ser analisado é o termo devarim, que vem de davar (דבר). Embora seja frequentemente traduzida como palavra, davar geralmente não significa uma palavra isolada, como um substantivo ou um adjetivo - para o que mais comumente no hebraico se utiliza o termo milah (מלה), mas sim um dito, ou discurso.!!! Exemplos:!!"E eis que veio a palavra [devar - דבר] de YHWH a ele dizendo: Este não será o teu herdeiro; mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro.” (Bereshit/Gênesis 15:4) !"E ele lhe disse: Ora vai, vê como estão teus irmãos, e como está o rebanho, e traze-me resposta [davar - דבר]. Assim o enviou do vale de Hevron, e foi a Shekhem.” (Bereshit/Gênesis 37:14) !! Davar também pode significar um assunto, uma causa, ou questão. Exemplo:!!"Depois destas coisas [hadevarim - הדברים] veio a palavra [devar - דבר]de YHWH a Avram em visão, dizendo: Não temas, Avram, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão.” (Bereshit/Gênesis 15:1) ! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! Observe os dois usos de davar no mesmo passuq (versículo). No primeiro caso, traduzido como coisas, indica questões. !!"Então temeram aqueles homens, porquanto foram levados à casa de Yossef, e diziam: Por causa [‘al-devar - על-דבר] do dinheiro que dantes voltou nos nossos sacos, fomos trazidos aqui, para nos incriminar e cair sobre nós, para que nos tome por servos, e a nossos jumentos.” (Bereshit/Gênesis 43:18) !"O que atenta prudentemente para o assunto [‘al-devar - על-דבר] achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado.” (Mishlê/Provérbios 16:20) !! ‘Al-devar indica literalmente “por causa/acerca de uma questão”.!!! Compreender os dois sentidos de davar, enquanto dito/discurso ou enquanto questão, ajuda na interpretação do primeiro passuq (versículo).!!! Quando é dito que a terra tinha, literalmente, unidade de devarim, isso indica que os discursos, ou as questões, de todos estavam alinhados.!!! Em suma, a ideia de uma unidade de devarim, isto é, de ditos, discursos, ou questões, reforça a possibilidade da leitura de que eles possuíam unicidade de objetivos e se entendiam perfeitamente em todos os discursos ou assuntos. !!! ! Não necessariamente há aqui uma referência a falarem o mesmo idioma. Embora, claro, se eles se entendiam, certamente falavam o mesmo idioma.!!! A diferenciação do que diz o passuq (versículo) é importante para a compreensão, mais adiante, da ação do Eterno.!! ויאמרו איש אל-רעהו הבה נלבנה לבנים ונשרפה לשרפה; ותהי להם הלבנה לאבן והחמר היה!להם לחמרwayomeru ish el-re’ehu havah nilbenah levenim wenisrefah lisrefah; watehi lahem halevenah leaven wehahemar hayah lahem.!E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal.!!! A descrição da Torah de como foi feita a estrutura da torre de Bavel (Babilônia) é impressionantemente idêntica à descrição encontrada nos achados arqueológicos na própria Babilônia.!!!ויהי בנסעם מקדם; וימצאו בקעה בארץ שנער וישבו שםwayhi benas’am miqedem; wayiṣṣu viq’ah beereṣ shin’ar wayeshvu sham!E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Shin'ar; e habitaram ali.!!! Pelo que se observou da pré-análise do capítulo 10, há aqui duas hipóteses: Se o texto da Torah seguir uma cronologia linear, refere-se aos descendentes de Ham.!!! Caso se considere que a narrativa não é linear, e sim que o capítulo 10 é uma explicação resumida sobre a origem dos povos adjacentes, então é possível que o texto se refira aos descendentes de Noah como um todo.!

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! O autor deste material entende que a primeira opção seja a mais provável, embora afirme que a segunda seja igualmente possível!!! Como a narrativa na Torah nem sempre é linear, é possível que a divisão deles em goyim (povos) tenha ocorrido depois dos eventos narrados no capítulo 11.!!! Este passuq (versículo) nos ajuda a entender a questão de kol-haareṣ (toda a terra), no passuq (versículo) anterior. !!! Em sendo uma continuação do capítulo 10 e da história dos descendentes de Noah, cabe lembrar que vimos que o termo ereṣ (ארץ) pode ser utilizado para uma região específica, e não necessariamente se refere ao mundo como um todo.!!! Além disso, no artigo desta mesma série acerca do dilúvio, observou-se que a leitura mais provável do dilúvio era enquanto fenômeno local ocorrido no Oriente Médio. Sabe-se, historicamente, que ocorreu um dilúvio na região.!!! .ויאמרו הבה נבנה-לנו עיר ומגדל וראשו בשמים ונעשה-לנו שם: פן-נפוץ על-פני כל-הארץwayomeru havah nivneh-lanu ‘ir umigdal werosho bashamayim wena’asseh-lanu shem: pen-nafuṣ ‘al-penê khol-haareṣ.!E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.!!! O texto diz que a cabeça/topo (rosh - ראש) da torre (migdal - מגדל) ficaria literalmente nos céus (bashamayim - בשמים).!!! A ideia de fazer um nome significa tornar-se famoso. Esse é o objetivo daqueles que construiriam a cidade e a torre.!!! O autor deste material entende que a ideia de tornar-se famoso reforça o entendimento de que o acontecimento tenha sido local, e não global. Como poderiam aqueles homens tornarem-se famosos, se toda a humanidade estava participando do feito?!!! Alguém poderia interpretar isso como uma referência a tornar-se famoso perante as futuras gerações. Sem dúvida, essa é uma leitura cabível. No entanto, o autor deste material entende que a primeira leitura seja a mais provável, e deixa a critério do leitor decidir a esse respeito.!!!וירד יהוה לראת את-העיר ואת-המגדל אשר בנו בני האדםwayered YHWH lirot et-ha’ir weet-hamigdal asher banu benê haadam.!Então desceu YHWH para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam;!!! A ideia do Eterno descendo para ver o evento pode parecer estranha a um leitor do século XXI, acostumado com uma descrição mais etérea e abstrata do Eterno. Como pode um ser onipresente, externo à Criação, descer para ver as obras dos filhos dos homens?!!! A narrativa é antropomórfica, e visa apenas elucidar que o Eterno observava atentamente o que faziam os homens na terra de Shin’ar.!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! Para melhor entendimento do uso de figuras de linguagem antropomórficas nas Escrituras, sugere-se a leitura da reflexão “Monoteísmo e Antropomorfismo”, deste mesmo autor.!! ויאמר יהוה הן עם אחד ושפה אחת לכלם וזה החלם לעשות; ועתה לא-יבצר מהם כל אשר יזמו!לעשות. הבה נרדה ונבלה שם שפתם--אשר לא ישמעו איש שפת רעהוwayomer YHWH hen ‘am ehad weshafah ahat lekhulam wezeh hahilam la’assot; we’atah lo-yebaṣṣer mehem kol asher yazemu la’assot. havah nerdah wenavelah sham sefatam—asher lo yishme’u ish safat re’ehu.!E YHWH disse: Eis que o povo é um, e todos têm mesmos lábios; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos e confundamos ali os seus lábios, para que não entenda um os lábios do outro.!!! A primeira coisa a ser observada é a questão do suo de safah (lábios). A interpretação mais comum é a de que o Eterno teria feito cada pessoa, ou grupo de pessoas, falar um idioma diferente, e isso teria feito com que não conseguissem se entender.!!! No entanto, quando consideramos safah (lábios) como discurso, tal como visto no comentário do primeiro passuq (versículo), então pode-se perceber que a questão de confundir o discurso não necessariamente exigiria uma multiplicação de idiomas.!!! É possível que o texto se refira simplesmente ao fato de que o Eterno tenha feito com que eles não mais conseguissem se entender em seus propósitos, objetivos, estratégias e questões, e com isso a construção tenha sido abandonada.!!! Existe ainda uma outra forma de compreender o episódio. Mas, antes dela, vamos a uma outra questão.!!! A segunda questão a ser indagada é: Por que o texto está no plural? Por que o Eterno diz desçamos, e com quem ele fala?!!! O entendimento tradicional é o de que o Eterno estivesse se referindo aos anjos, que teriam auxiliado na execução do plano de confundir as línguas e dispersar o povo.!!! Mas existe outra forma de entender. Há instâncias nas Escrituras, em que o Eterno é representado, de forma antropomórfica e poética, como falando aos elementos da natureza, como por exemplo ao sol, à terra, às estrelas, etc. Observe:!!“El, Elohim YHWH, fala e convoca a terra desde o nascer do sol até o seu ocaso.” (Tehilim/Salmos 50:1) !"Pois Ele falou, e fez levantar o vento tempestuoso, que eleva as ondas do mar.” (Tehilim/Salmos 107:25) !"O que fala ao sol, e ele não nasce, e sela as estrelas.” (Iyov/Jó 9:7) !! Em sendo assim, é possível entender que o texto se refira, semelhantemente, ao Eterno falando às forças natureza que foram utilizadas para confundir os construtores.!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! Rajadas de vento, chuvas e tempestades estão entre elementos que poderiam fazer com que eles se confundissem, e não conseguissem se ouvir. Ou que, em seu desespero, cada um tivesse uma ideia diferente sobre o que fazer.!!! Nabucodonosor II, em seu relato sobre a reconstrução da torre de Bavel (Babilônia) afirma que a mesma havia sido desgastada por relâmpagos e terremotos. Teriam sido esses alguns dos elementos utilizados para dispersar a população? O autor deste material deixa a encargo do leitor decidir sobre a interpretação que mais faz sentido.!!!.ויפץ יהוה אתם משם על-פני כל-הארץ; ויחדלו לבנת העירwayofeṣ YHWH otam misham al-penê khol-haareṣ; wayahdelu livnot ha’ir.!Assim YHWH os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade.!!! Mais uma vez, a terra não necessariamente significa o mundo todo, mas possivelmente a região do chamado Oriente Médio.!!! O plano dos homens de Shin’ar de evitarem ser dispersos não funcionou. Mas, seria possível indagar: Por que tais homens imaginavam que uma torre altíssima impediria a dispersão deles?!!! A hipótese tradicional diz que o povo de Shin’ar estava construindo uma mega-estrutura para que pudesse atingir os céus e declarar guerra ao Eterno, ou aos deuses nos quais eles pudessem supostamente crer, e assim evitar serem dispersos.!!! Mas, se essa era a razão, por que o Eterno precisaria tomar algum tipo de ação direta? Existe um limite de tamanho que um tipo de construção dessas poderia ter, sem colapsar por si própria. Por que não deixar a torre desabar sozinha?!!! E por que o Eterno teria dito “e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer”?!!! O texto parece indicar que o Eterno tinha receio do que pudesse ocorrer se Ele próprio não interviesse na construção da torre.!!! A resposta pode estar nas Escrituras:!!"Havia, porém, no meio da cidade uma torre forte [umigdal ‘oz - ומגדל-עז], na qual se refugiaram todos os habitantes da cidade, homens e mulheres; e fechando após si as portas, subiram ao eirado da torre.” (Shofetim/Juízes 9:51) !"Também Uziyahu edificou torres [migdalim - מגדלים] em Yerushalayim, à porta da esquina, à porta do vale e ao ângulo do muro, e as fortificou.” (Divrê haYamim Bet/2 Crônicas 26:9) !"Pois tu és o meu refúgio, uma torre forte [migdal-oz - מגדל-עז] contra o inimigo.” (Tehilim/Salmos 61:3) !! As torres tinham como principal objetivo proteger os habitantes de uma determinada região em situações de invasão e guerra.!

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! Com uma mega-estrutura de uma torre gigantesca, sua cidade seria impenetrável, e eles seriam capazes de construir um império poderosíssimo.!!! Essa ideia reforça ainda mais a tese de que os descendentes de Noah não eram os únicos habitantes da terra, isto é, considerando que ereṣ (ארץ) seja uma referência local e não global.!!! Considere ainda o leitor que a narrativa se localiza a não muitas gerações do episódio do dilúvio. Naquela ocasião, a iniquidade generalizada fez com que o Eterno precisasse tomar providências e destruir a região.!!! É possível que o Eterno estivesse procurando evitar uma situação semelhante, impedindo assim que o poderio militar dos homens de Shin’ar fosse responsável por nova catástrofe, pouco tempo depois.!! !! Outra questão a ser indagada é se já naquela época a estrutura estava sendo dedicada ao deus babilônio Bel-Merodach, ou se tal dedicação surge apenas posteriormente.!!! A idolatria, aliada ao poderio militar, também poderiam ser uma mistura catastrófica. Como, aliás, a história já provou.!!!על-כן קרא שמה בבל כי-שם בלל יהוה שפת כל-הארץ; ומשם הפיצם יהוה על-פני כל-הארץ‘al-ken qara shemah bavel ki-sham balal YHWH sefat kol-haareṣ; umisham hefiṣṣam YHWH al-penê kol-haareṣ!Por isso se chamou o seu nome Bavel, porquanto ali confundiu YHWH os lábios de toda a terra, e dali YHWH os espalhou sobre a face de toda a terra.!!! Há duas hipóteses para a expressão acima indicada. Uma é a de que o nome do local tenha realmente se originado desse evento. Esse é o entendimento tradicional.!!! A segunda hipótese é a de que, na realidade, a Torah esteja fazendo um trocadilho entre Bavel e balal (confundir), de forma jocosa.!!! Se a segunda hipótese for verdadeira, de onde viria originalmente o nome Bavel?!!! A resposta estaria no termo em acádio Bab-Ilu, que significaria literalmente “portão de El”, ou “portão poderoso”.!!! Nesse caso, o trocadilho entre Bavel e balal seria uma forma de ironizar o nome, indicando que o local que antes era tido como poderoso e imponente, havia sido palco de confusão.!!! O autor deste material entende que a segunda hipótese seja a mais provável, mas admite que a primeira seja igualmente possível.!!! O desfecho desta história é a dispersão dos homens, que deixaram de se concentrar na terra de Shin’ar, e se espalharam pelas regiões adjacentes.!!!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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V - Um Adendo Curioso !! Provavelmente, a essa altura, o leitor já deve ter uma ideia de que interpretação mais faz sentido acerca da confusão de lábios, isto é, se a referência é a idiomas, ou ao discurso.!!! Porém, isso também não coloca fim à questão. O confundir línguas é usado pelo menos em mais um lugar nas Escrituras:!!"Destrói, Adonai, reparte as suas línguas [palag leshonim - פלג לשונם] , pois vejo violência e contenda na cidade. Há destruição lá dentro; opressão e fraude não se apartam das suas ruas. Pois não é um inimigo que me afronta, então eu poderia suportá-lo; nem é um adversário que se exalta contra mim, porque dele poderia esconder-me; mas és tu, homem meu igual, meu companheiro e meu amigo íntimo.” (Tehilim/Salmos 55:11-13) !! Pelo contexto, Dawid (Davi) se angustia por causa de pessoas próximas a ele que tramavam o seu mal.!!! Poeticamente, a expressão se refere a trazer desentendimento entre aqueles que tramam o mal. !!! Ou seja, mesmo que safah (lábios) seja efetivamente sinônimo de lashon (língua), ainda seria possível compreender a passagem de forma figurativa, assim como o salmo.!!!

VII - Conclusão !! A história da Torre de Bavel torna-se ainda mais fascinante, e ganha vida, com a análise não apenas dos elementos arqueológicos e históricos, como também do texto hebraico original.!!! A arqueologia e a história confirmam o relato bíblico, desde sua composição, imponência, antiguidade, e até mesmo curioso abandono. E ainda fornecem detalhes interessantíssimos, tais como a trágica história das demais tentativas de reconstruir a torre, e a sua característica como fortaleza e local de culto.!!! A leitura tradicional da confusão dos idiomas da humanidade, referenciada tanto na introdução quanto ao longo do texto, certamente é possível a partir do texto hebraico original, restando apenas como interrogação a sua relação com a história da humanidade e com as descobertas históricas.!!! Porém, certamente essa não é a única leitura. E, para o autor deste material, também está bem longe de ser a melhor leitura, não apenas pela dificuldade histórica, como também pelas próprias questões inerentes ao texto hebraico.!!! A primeira coisa que fica bastante clara é a possibilidade, indicada por vários indícios do texto da própria Torah, de que o fenômeno fosse estritamente local, e não algo que envolvesse toda a humanidade. O autor deste material considera essa a leitura mais provável.!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! A segunda é a evidente possibilidade de que a confusão de lábios se referisse ao Eterno se certificando de que eles não se entenderiam sobre a construção da torre, e não uma alteração no idioma falado pelos habitantes da terra.!!! Supondo que se refira mesmo a alterações idiomáticas ocorridas de forma sobrenatural, deve-se ressaltar que isso não significa necessariamente supor que todos os idiomas da humanidade se originaram nesse evento, pois é perfeitamente possível, e mesmo provável, que os eventos tenham envolvido apenas habitantes locais.!!! O autor deste material, no entanto, entende como mais provável a ideia de que a Torah se refira simplesmente a uma falta de compreensão entre os envolvidos na construção.!!! Tendo em mente a linguagem e a forma de expressão semita, o autor deste material também não vê no discurso do Eterno nenhuma razão para supor um conceito politeísta. !!! Levando em consideração ainda a presença de descrições do Eterno se comunicando com a natureza, o autor deste material entende que sequer é necessário acreditar na existência de seres celestiais para justificar tal diálogo, embora entenda que não seja possível descartar essa hipótese para este texto especificamente.!!! Pelo contrário, a própria descrição de Nabucodonosor II sobre os elementos naturais que levaram à ruína da primeira construção da Torre de Bavel também, na opinião do autor, reforçam a tese de que o Eterno tenha apelado a tais elementos.!!! Por fim, o autor deste material entende ainda que a trágica história das sucessivas e frustradas tentativas de reconstrução da Torre são também um impressionante testemunho da desaprovação do Eterno para com o empreendimento, e da veracidade da Torah.!!

VI - A Mensagem !! Com tantas possibilidades de compreender os detalhes que cercam o relato da Torre de Bavel, como é possível ter certeza do que de fato ocorreu?!!! Na experiência do autor, tal perplexidade é um sintoma da sociedade atual, que tem verdadeira obsessão por saber todas as coisas, no nível do detalhe. Embora a curiosidade seja algo saudável, é preciso não perder o foco.!!! Via de regra, o Tanakh (as Escrituras), e em especial a Torah, é bastante claro no que diz respeito àquilo que verdadeiramente importa. Quando um detalhe é dotado de alguma obscuridade, ou não é totalmente conhecido, isso significa que ele é pouco relevante.!!! Fato é que, independentemente de quantas pessoas envolveu; ou a que nacionalidade elas pertenciam; se seus idiomas se alteraram ou se elas simplesmente deixaram de se entender e agir de comum acordo; se houve ou não o envolvimento de seres celestiais; o mais importante permanece inalterado: a mensagem da história.!! © 2013 Kol haTorah - http://www.kol-hatorah.org - Proibida Reprodução sem Autorização Prévia

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! A história da Torre de Bavel fala a respeito da húbris, da arrogância humana que frequentemente não respeita nenhum limite, desafiando, se possível for, as leis da natureza e até mesmo o próprio Eterno.!!! A moral da história da Torre de Bavel é que aquele que buscar se elevar e se colocar acima dos outros, vangloriando-se de atos impossíveis, invariavelmente será humilhado.!!! Frequentemente, o ser humano precisa se lembrar de que é pó, e ao pó retornará.!!! Essa mensagem é atemporal, e independe de termos as respostas acerca dos detalhes da narrativa.!!! O autor deste material é uma pessoa altamente favorável ao uso da razão, a aliar para fins de compreensão das Escrituras o conhecimento não apenas científico, como histórico e arqueológico, e sempre que possível privilegia explicações racionais acima das místicas, pois entende que esse é o espírito da própria Torah. !!! E entende ainda que isso em nada diminui dos milagres e prodígios realizados pelo Eterno. Pelo contrário, glorifica-O ainda mais, pela confirmação dEle como um perfeito autor e arquiteto dos eventos nos bastidores.!!! Porém, essa não é a única maneira de se entender os eventos, ou mesmo esta narrativa. Seja como for, o leitor jamais deve permitir que a fascinante jornada na busca pela compreensão dos detalhes das Escrituras tome o lugar de compreender e aplicar o propósito da mensagem revelada.!! !!!

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