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7/18/2019 IANNI - O Estado e o Trabalhador Rural http://slidepdf.com/reader/full/ianni-o-estado-e-o-trabalhador-rural 1/14 13 inegavel que a SUDENE foi criada em conseqilencia das condi<;oessociais, economica e politicas envolvidas nesses proble- masNa medida em que e sses problemas se apresentavam, ou eram apresentados, como dilemareais ou imaginarios, cada gr upo e classsocial maiou menoenvolvido neles procurava uma solu- <;aoCada grupo e classe propunha debates, defendia interesses interpretava perspectivas, seja em termoparticulares, seja e~ fun<;ao dconvenienciamaigerais. Nesse contexto, encontra- vam-se aol igarquiatradicionais, de base agropecuaria, burgue- sia comercial, osetorefinanceiros, a burguesia industria lalguns setores da c lasse media, operarios, camponeses, intelectuais, parti- dos politicos, sindicato s, ligas camponesas, a Igreja,  0 governo federal (Executivo e Legislativo) etc. Cada grupo e class e, pois, segundo as s uarazoes particulares e a sua compreensao daconve- niencias geraisingressou no debate e elaborou os dile mas a seu modoNesse sentido e que o problemas apontados aci ma foram importantes para produ zir acondi<;oes que deram nasci mento  a SUDENE. Entretantoessas condi<;oes nao operaram individualmente; nem em c onjunto, como numa soma aritmeticaElas somente ope- raram na medida em que se transformaram em urn dilema politico fundamental, para os govern ante do Nordeste e do pais. Em essen- cia, os problemas contribuiram para a cri a<;aoda  SUDENE somente quando eleapareceram no entendimento dos governantes, poli- ticoseconomistas e tecnicos (inclusive setores milit ares) como urn dilema politico crucial E esse dilema politico consistia no seguinte: o rapido agravamento das contradi<;oes de classes, com suas impli- ca<;oes politicae economicas. Isto e, as estruturas de domina<;ao (politicas) e apropria<;ao (economicas) come<;aram secontesta- das, tanto nas a ssembleias como nos locais de tr abalho. Esse foi  0 dilema que provocou a "revolu<;ao" no espirito daqueles que toma- yam decisoes. Pensava-se que havia uma revolu<;aoem marcha, na cidade e no campo. o  Estado e  0trabalhadorural*  A  hist6ria do relacionamento entre  0Estado e a mao-de-obra agri- cola no Brasil, desde 1888, e tambem a hist6ria da proletariza<;ao do trabalhador rural 13a hist6ria do progressivo, mas ao mesmo tempo descontinuo e contradit6rio, processo de s epara<;ao entre a  propriedade dos meiode produ<;aoe a propriedade da for<;ade traball.Io. Envolve a analise de distintas formas de organiza<;ao das rela<;oes de produ<;ao. No interior dessas formade organiza<;ao social do trabalho produti vo, inserem-se arela<;oesentre  0traba- Ihador e  0empresario; ou entre colono, moradoragregado, em-  pregado, camarada, volante, b6ia-fria, peao, assalariado perma- nente e temporario, por urn lado, e fazendeiro, usineiro, criador, empreiteiro de mao-de -obra ou gato, por outro ladoEm geral,  0 Estado esta presente nessas rela<;oes,apesar de que freqilentemente aparece como se estivesse por fora ou acima delas. 13verdade que a aboli<;ao do regime de t rabalho escravo e a-/ cria<;aodo regime de trabalho assalariado, dur ante os anos 1850- 1888constituiram oprim6rdios da forma<;ao do proletariado ruralMas esse processo nao se completou em 1888, com a ssina- tura do decreto de aboli<;ao da escravatura; ou em 1891, com a

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Octavio Ianni O estado e o trabalhador rural In: Origens agrárias do estado brasileiro

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13inegavel que a SUDENE foi criada em conseqilencia das

condi<;oes sociais, economicas   e politicas envolvidas nesses proble-

mas.   Na medida em que esses problemas se apresentavam,   ou eram

apr esentados,   como dilemas   reais ou imaginarios, cada gr upo e

classe   social mais   ou menos   envolvido neles procurava uma solu-<;ao. Cad a grupo e   classe propunha debates, defendia   interesses

interpretava per  s pectivas, seja em term os   particulares, seja e~

f un<;ao d e   conveniencias   mais   gerais. Nesse contexto, encontra-

vam-se as oligarquias   tradicionais, de base agropecuaria, a burgue-

sia comer cial, os setores   financeiros, a burguesia industrial,   alguns

setores da classe media, operarios, camponeses, intelectuais, parti-

dos politicos, sindicatos, ligas camponesas, a Igreja,   0 governo

feder al (Executivo e Legislativo) etc. Cada grupo e classe, pois,

segundo as suas  razoes particulares e a sua compreensao d as conve-

niencias gerais,   ingressou no debate e elaborou os dilemas a seu

modo.   Nesse sentido e que os   problemas apontados acima foram

importantes para produzir as   condi<;oes que deram nascimento   a

SUDENE.

Entretanto,   essas condi<;oes nao operaram individualmente;

nem em conjunto, como numa   soma aritmetica.   Elas somente ope-

r aram na medida em que se transformaram em urn dilema  politico

fundamental, para os govern antes  do Nordeste e do pais.   Em essen-

cia, os problemas contribuiram para a cria<;aoda  SUDE NE somente

quando   eles   apareceram no entendimento dos governantes, poli-

ticos,   economistas e tecnicos (inclusive setores militar es) como urn

dilema politico crucial.   E esse dilema politico consistia   no seguinte:

o rapido agravamento das contradi<;oes de classes, com suas impli-

ca<;oes politicas   e economicas. Isto e, as estruturas de domina<;ao

(politicas) e apropria<;ao (economicas) come<;aram a   ser  contesta-

das, tanto nas assembleias como nos locais de tr a balho. Esse foi 0dilema que provocou a "revolu<;ao" no espirito daqueles que toma-

yam decisoes. Pensava-se que havia uma revolu<;ao em mar cha, na

cidade e no campo.

o   Estado

e   0trabalhador   rural*

 A   hist6ria do relacionamento entre   0Estado e a mao-de-obra agri-

cola no Brasil, desde 1888, e tambem a hist6ria da proletariza<;ao

d o trabalhador rural.   13a hist6ria do progressivo, mas ao mesmo

tempo descontinuo e contradit6rio, processo de s epara<;ao entre a

 propriedade dos meios   de produ<;aoe a propriedade da for<;ade

tr aball.Io. Envolve a analise de distintas formas de organiza<;ao das

rela<;oes de produ<;ao. No interior dessas formas   de organiza<;ao

social do trabalho produtivo, inserem-se as  rela<;oesentre   0 traba-

Ihador e   0empresario; ou entre colono, morador ,   agregado, em-

 pr egado, camarada, volante, b6ia-fria, peao, assalariado perma-

nente e temporario, por urn lado, e fazendeiro, usineiro, criador,empreiteiro de mao-de-obra ou gato, por outro lado.   Em geral,   0

Estado esta presente nessas rela<;oes,apesar de que freqilentemente

a parece como se estivesse por fora ou acima delas.

13verdade que a aboli<;ao do regime de  t rabalho escravo e a-/

cr ia<;aodo regime de trabalho assalariado, dur ante os anos 1850-

1888,   constituiram os   prim6r dios da forma<;ao do proletariado

rural.   Mas esse processo nao se completou em 1888, com a  assina-

tura do decreto de aboli<;ao da escravatura; ou em 1891, com a

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grand e   naturaliza<;a o d os   imigr antes estabelecida pela primeira

Constitui<;ao republicana. Com a aboli<;aoe a naturaliza<;ao, cons-

tituiu-se juridicamente   0 trabalhad or l ivre   no   Brasil.   Mas Mo se

constituiu na pnltica, economica e politicamente;   a nao  ser pouco a

 pouco, de forma descontinua e desigual, se examinamos   0con junto

~a hist6ria e da  sociedade do pais.   Dentre as  difer entes formas   d e

organiza<;ao das   rela<;oes de produ<;ao, algumas   baseavam-se,   ou

 baseiam-se, no trabalho assalariado, em sentido estrito.   Esse f oi  0

caso do camarada, na cafeicultura, desde a   segunda metade do

seculo XIX ate 1930; e mesmo depois,   em e scala menor .   Tambem e

o caso do b6ia-fria,   volante, corumba ou peao. Mas   ha distintas

formas de organiza<;ao social da produ<;ao, tais   como remanescen-

tes do colonato (com base no trabalho do colono, morador,   agre-

gado),   a parceria,   0arrend amento,   a mea<;ao e outras, q ue  nao se

ajustam pura e simplesmente   as condi<;oes  de compra e venda de

for<;a de trabalho.   0 barracao, armazem, venda, cambao,   avia-

mento sac distintas modalidades de comercio entre trabalhador esrurais e os seus empregadores, modalidades essas nas quais a condi-

<;aooperaria aparece subsumida ou articulada a for mas patrimo-

niais de organiza<;ao das rela<;oesde produ<;ao.   Em 1983, a  legisla-

<;aotrabalhista relativa as rela<;oesde trabalho no campo ainda esta

em processo de implanta<;ao, mesmo para   0 assalariad o per ma-

nente e residente nas terras da fazenda ou usina.Ha muitos acontecimentos   importantes   que precisam   ser 

esclarecidos,   se queremos conhecer a hist6ria do relacionamento

entre   0Estado e  0trabalhador rural.   0exame d esses acontecimen-

tos pode mostrar tanto avan<;os como recuos,   tanto descontinuida-

des como desencontros, no pr ocesso de forma<;ao do proletariado

rural.   Houve   0 cicio da borracha, nos   anos   1890-1912; tam bemhouve a ex pansao da cafeicultura,   desde   0 seculo passado ate a

crise maior, nos anos 1929-33.   Houve e continua   a   haver a for ma-

<;aoe a expansao da grande empresa agricola, pecuaria, agropecua-

ria e agr oindustrial, desde   0 sui gaucho a regiao   amazonica.   Os

incentivos   fiscais e as  facilidades de crectito, propiciados   pelo pod er 

 publico,   estao impulsionando a   f orma<;ao e  a ex pansao da gra~de

empresa na Amazonia legal.   Ao mesmo tem po,   cresce nessa reglaO

o contingente de peoes,   assalariados   temporarios, trabalhand o no

d esmatamento das terr as   para a forma<;ao de fazendas. Mas e escas-

sa,   ou nula,   a prote<;ao legal que tern ali tanto   0 peao,   enquanto

assalar iado   tem por ar io, como   0 vaqueir o, enquanto   assalariado

 permanente ha bitand o nas ter r as   d a fazend a de gado.

Em   certas ocasioes encontramos alguma   atua<;ao do poder 

 pu blico, com refer encia a mao-d e-obra, quanto   aos  direitos   e d eve-

res dos assalar iados rurais.   As vezes essa atua<;ao a par ece na legis-

la<;ao,0que nao signif ica   q ue se efetiva   na prMica das  rela<;oesd e

 prod u<;ao. Outras vezes   ha omissoes   do poder   publico. Mas ha

atua<;oesque se realizam por modos   indiretos, como aquelas relati-

vas as condi<;oesd e posse e  d ominie das ter r as   d evolutas,   ao povoa-

mento e a coloniza<;ao, as r eser vas   ind igenas, ou outras modalida-

des d e   d inamizar    0desenvolvimento das f or<;as produtivas e rela-

<;oesde produ<;ao na   agr icultura.

Assim,   par a   estud ar    0relacionamento entre   0Estado e  0tr ~

 balhador   assalar iado do campo, parece   conveniente come<;ar por 

estabelecer algumas   preliminares. Primeiro, esse relacionamento

 pod e ser visto ao longo do tempo,   em seus desenvolvimentos.   Segun-

do, em boa   par te esse relacionamento   e as suas   modifica<;oes estao

ex pressos   na   legisla<;ao trabalhista. Terceiro, tambem as omissoes

do pod er publico, quanta a questoes sociais   no campo, sac outras

tantas  d imensoes importantes   do relacionamento entre   0Estado e  0tra balhador rural.   Quarto, nao e apenas a legisla<;ao trabalhista

que ex pressa   0 car Mer   e a modifica<;ao do relacionamento entre   0

Estad o   e   0 trabalha do r r  ural,   mas tambem as politicas   de terra,

 povoamento,   coloniza<;ao, indigenista e outras. Quinto, a legisla-

<;aotra balhista   pode   sempre  s er encarada na perspectiva do pr6prio

tr abalhador, alem da perspectiva do empresario ou do Estado.

Sexto,   0 relacionamento   entre   0 Estado e   0 trabalhador rural,

ex presso na legisla<;aotrabalhista, nas omissoes do poder publico,

ou nas   atua<;oes indir etas   deste,   pode   ser consider ado uma dimen-

sac  f undamental das  rela<;oesde prodUl;;aoprevalecentes no camp~

em distintas   ocasioes   e em diferentes lugares.

 Neste ponto, antes de prosseguir, cabe urn esclarecimento.Torno a expressao agricultura brasileira em sentido amplo, englo-

 bando a pecuaria, a agr oindustria e  0extrativismo. Nos pontos em

q ue a exposi<;aoexigir, explicitarei a conota<;ao principal envolvida

na analise.

Vejamos   alguns   dos acontecimentos que parecem mais rele-

vantes  a demarca<;ao da hist6ria da mao-de-obra agricola no Br sil.

Pr imeiro, a extin<;ao do trafico de escravos, a imigra<;ao de bra<;os

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 para a lavoura, a lei do ventre livre e a lei dos sexagenarios,   entr e

1850 e 1885.   Segundo, a abolir;ao do regime de trabalho escravo

em 1888, e a grande naturalizar;ao dos imigrantes, estabelecida pel~

Constituir;ao de 1891.   A abolir;ao e a natura1izar;ao geral d os   imi-

grantes que nada declarassem em contrario ao estipulado   na Cons-

tituir;ao foram atos politicos que instituiram 0 trabalho   livre,   0trabalhador como cidadao. Terceiro, 0 regime de trabalh o l ivr e

vigente na fazenda de cafe, desde a segunda metade do seculo XIX

ate 1930, foi 0 regime de colonato, que se estruturou em forma

 juridico-politica, segundo leis especiais. Quarto, no ciclo   amazo-

nico da borracha, que teve 0 seu apogeu nos anos 1890-1912, nao

houve qualquer tentativa do poder publico no sentido de garantir 

alguma reivindicar;ao ou algum direito do seringueiro.   0sistema d e

aviamento, que era baseado numa cadeia de endividamentos,   sub-

 jugava 0 seringueiro ao seringalista, este ao aviador e 0 aviador ao

exportador de borracha. Quinto, a Consolidar;ao das Leis do Tra-

 balho (CLT), promulgada pela ditadura do Estado Novo, em 1943,

nao contempla senao em plano muito secundario algumas reivindi-car;oes do proletariado rural.   Alias, 0 Estatuto da Lavour a   Cana-

vieira, de 1941, em seus artigos 19 a 26, procurava garantir a condi-

r;ao de morador para 0 trabalhador do canavial.   Esse estatuto   r ee-

ditava alguns dos dispositivos que haviam sido estabelecidos   no

comer;o do seculo para 0 colonato da fazenda de cafe.   Sexto, em

1963promulgou-se 0 Estatuto do Trabalhador Rural, no q ual, pela

 primeira vez definem-se em forma relativamente sistematica as con-

dir;oes politico-economicas do contrato de trabalho na agricultura

\ b:~sileira; e nao apenas na cafeicultura ou na agroindustr ia cana-

O'leira.Vejamos, agora, a titulo de registro, algumas das pr incipai~

leis adotadas e agencias governamentais criadas, relativamente a

mao-de-obra agricola. Incluem-se tambem a referencia   a leis ,e

agencias concernentes a terra, ao indio, ao povoamento e a colon~-

(zar;ao. Direta ou indiretamente, esta legislar;ao influencia as  condl-

I r;oesde trabalho e de vida do assalariado rural.  Mas e tambem   con-

veniente observar que a legislar;ao brasileira relativa ao assalariado

rural, ou a questoes que 0 afetam, nao pode ser entendida numa

unica perspectiva. As vezes a lei reflete mais ou menos fielmente

uma reivindicar;ao do proletariado rural, ou de urn dos seus setores.

Outras vezes reflete mais ou menos fielmente uma reivindicar ;ao da

 burguesia rural, ou de algum dos seus setores. Mas tambem   p~~e

expressar uma correlar;ao de fon;as de grupos ou classes SOCialS

envolvidos. Ha situar;oes - que nao sac poucas - nas quais 0

governo pode impor uma resolur;ao que atende, acomoda ou arti-

cula, tanto interesses de grupos ou classes sociais agrarios como

destes com grupos e classes urbanos. Muitas decisoes adotadas pelo

 poder publico, relativamente as relar;oes de produr;ao no mundo

rural, expressam nao s6 a supremacia da cidade sobre 0 campo,

 Imas 0 crescente predominio do capital industrial sobre a agricultu-

ra.   A regra nao e unica, nem a mais complexa, nem a mais simples.

Sao os contextos politico-economicos que explicam os significados

da lei ou das agencias governamentais. Nao se pode esquecer, entre-

tanto, que nem as relar;oes sociais estacam-se nos moldes da lei)

nem a lei se fixa numa unica moldura.

Quanto a mao-de-obra, as   condir;6es de trabalho do assala-

riado rural ,  sua condir;ao de grupo social em dado setor produtivo,

ou sua condir;ao de classe, a legislar;ao desdobra-se nas seguintes

leis e decretos. Em 1888decretou-se a emancipar;ao dos escravos, 0

que transformou 0 meio milhao restante de escravos do pais em

homens livres. Pode-se supor que a emancipar;ao dos escravos con-feriu uma nova definir;ao social tambem aos negros e mulatos livres.

Ao mesmo tempo, toda modalidade de trabalho brar;al ganhou

outra conotar;ao social, nao mais exclusiva do negro ou do escravo.

Alias, antes ja vinha a mao-de-obra do imigrante sendo utilizada

como trabalho livre. Assim, a emancipar;ao dos escravos criou   0-)trabalhador livre como categoria geral na sociedade brasileira, para

as lidas do campo e da cidade, da fazenda e da fabrica. Essa mu-

danr ;a talvez se complete, no plano juridico-politico, com a grande

naturalizar;ao dos imigrantes entrados no pais em escala crescente

nas decadas anteriores ao decreto da abolir;ao. Em 1903,0 Decreto.::J

Lei n? 979, de 6 de janeiro, praticamente inicia 0 ordenamento das

relar;oes de trabalho no campo. Eo Decreto-Lei n? 1637, de 1907,

foi 0 principal instrumento legal do sistema sindical proposto para

o ordenamento das relar;oes de produr;ao no campo. Mas foi a Lei

n? 1299-A, de 27 de dezembro de 1911, do governo do Estado de

Sao Paulo, que criou 0 Patronato Agricola, instituir;ao que se inse-

riu na base do regime de colonato entao vigente na cafeicultura.   0

Decreto n? 22789, de 1 de junho de 1933, criou 0 Instituto do Ar;u-

car e do Alcool (IAA) para assegurar 0 equilibrio entre as safras

anuais de cana e 0 consumo de ar;ucar, mas nada acrescentando

quanta as condir;oes de trabalho de moradores ou assalariados. Eo

Estatuto da Lavoura Canavieira, criado pelo Decreto-Lei n"3855,

de 21 de novembro de 1941, focalizou as relar;oes entre os fornece-

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dores de cana,   isto e pr oprietarios   de canaviais e as usinas.   No con-

texto da economia de guerra,   em 1942, a Portaria n? 28,   de 30 de

novembro desse   ano,   baixada pelo coordenador da Mobi1iza~ao

Economica, criou   0Servi~o Es pecial de Mobiliza~ao de Tr abalha_ 

dores para a Amazonia (SEMT A), servi~o este que deveria respon-

sabilizar-se pelo transporte e a localiza~ao de nordestinos   na Ama-

zonia,   para trabalhar na produ~ao da borracha e de outr os mate-

riais estrategicos.   A Consolida~ao das   Leis do Trabalho   (CLT) foi

 promulgada pelo Decreto-Lei n?   5452, de 1 de maio de 1943, esta-

 belecendo todas   as principais condi~oes das rela~oes entre   assala-

riados e empresarios, ou empr egadores; mas estabeleceu, e m seu

artigo setimo,   que os   pr eceitos da CL T nao se aplicariam   aos   traba-

lhadores rurais, salvo nos cas os em que isso fosse expresso.   0Decre-

to-Lei n? 6969,   de 19 de outubro de 1944, tratou dos direitos dos

trabalhadores rurais na agroindustria canavieira. Em 1963, a Lei

n? 4214, de 2 de m ar~o, criou 0 E statuto do T rabalha do r R ur al

(ETR). A Lei n? 4870,   d e   1 de dezembro de 1965, em seus artigos 35

e 36 tratou de assistencia aos   trabalhadores da agroindustria cana -

viei:a. A Lei Complementar n?   11,   de 25 de m aio de 1 971,   criou   0

Program a de Assistencia   ao Tr abalhador Rural (PRORURAL) e  0

Fu nd o d e Assistencia ao Tr abalhador Rural (FUNRURAL). E a

Lei n?   5889, d e 8 d e   junho de 1973, estatuiu normas   regulad o ra s d o

trabalho rural,   complementando 0 que havia sido estatu id o n o'

ETR. .

Os   problemas relativos   a   imigrariio ,   a   migrariio interna e a

colonizariio   foram   enfocados por leis,   decretos e agencias governa-

mentais em diferentes e pocas,   des de 0 seculo passado.   0quarto

 paragrafo do artigo 69 da Constitui~ao brasileira de 1891 estabel~-

cia que todos os imigrantes seriam considerados brasileiros,   em selS

meses se nada declarassem em   contrario. Durante os anos   1883-91, .   S   .   d defuncionou ativamente, e com apolO governamental, a   OCle a

Central de Imigra~ao,   para defender a imigra~ao europeia e f aze! a

sua propaganda, como alternativa para amp liar a oferta d e mao-. .   lmentede-obra na agricultura. A agricultura, no caso, era pnnclpa

a cafeicultura.   E 0 governo financiava boa par te da importa~ao de

 bra~os par a   a lavoura. "Campos   Sales, quando presidente de   Sa.o

Paulo,   na sua mensagem de 7 de abril de 1897 distinguia   os d~IS

tipos de imigra~ao: 'Os operarios   agricolas, que se colocam,   satlS-

feitos a servi~o da grande lavoura, nas  fazendas ,   e os colonos pro-,   . . " oam os  nu cleos priamente dltOS, os pequenos   propnetanos, que pov .

colonais e que dificilmente tomariam outro destino', DepOts   de se

declarar a favor, simultaneamente desses   dois tipos de imigra~ao

' para a solu~ao do dupl0 problema do povoamento e do trabalho' ,

Campos Sales defendia a  imigrariJo estipendiada   nos seguintes ter-

mos: 'Fala-se tambem da imigra~ao estipendiada e censura-se 0 sis-

tema paulista.   E  este urn ponto que deve ficar esclarecido,   pois quedele depende essencialmente a orienta~ao a imprimir-se a fu tu ra s

r esolu~oes legislativas.   Desde que se trata de introdu~ao de opera-

rios agricolas, uma de duas:   ou ela sera estipendiada, ou nao existi-

r a',") Em 19090 governo federal criou 0 Servi~o de Povoamento,

 junto ao Ministerio da Via~ao.   Seguiram-se as   seguintes agencias

governamentais relacionadas a problemas de imigra~ao, migra~ao

interna e coloniza~ao: Departamento Nacional de Povoamento, em

1931; Divisao de Terras e Coloniza~ao, em 1938; Instituto Nacio-

nal de Im igra~ao e Coloniza~ao, em 1954;   Superintendencia da

Politica Agraria (SUPRA), em 1962; Instituto Brasileiro de Refor~

ma Agraria (IBRA) e Instituto Nacional de Desenvolvimento Agra-

r io (lNDA),   em 1964; e Instituto Nacional de Coloniza~ao e Refor-ma Agraria (INCRA), em 1970.

Os   problemas indigenas,   tais como a preserva~ao do seu con-

tingente populacional,   da sua cultura, das suas terras, em face das

invasoes e agressoes das   frentes de expansao ou pioneiras, dos pos-

seiros, grileiros e fazendeiros, foram objeto das seguintes ag~ncias

ou regulamentos governamentais: Servi~o de Prote~ao aos Indios

(SPI), criado pelo Decreto n? 8072, de 20 de junho de 1910; Conse-

lho Nacional de Prote~ao aos Indios (CNPI),   criado pelo Decreto

n? 1794,   de 22 de novembro de 1939;   Funda~ao Nacional do Indio

(FUNAI), criada pelo Decreto-Lei de 5 de dezembro de 1967; eo

E statuto do Indio, promulgado conform e a lei n?   6001,   de 19 de

dezembro de 1973.

A  questiio da terra tern sido objeto de uma legisla~ao especial,

na qual se destacam as seguintes dis posi~oes legais: Lei n? 601, de

18 de setembro de 1850; Decreto-Lei n? 9760,   de 5 de setembro de

1946; Lei delegada n?   11, do dia 11 de outubro de 1962, criando a

Superintendencia de Politica Agraria (SUPRA); Lei n?   4504, de 30

de novembro de 1964,   dispondo sobre 0 Estatuto da Terra, ou seja,

a politica agraria governamental e a reforma agrar ia; Decreto-Lei

n? 1110, de 9 de julho de 1970, criando 0 Instituto Nacional de

1   J.   Fernando Carneiro,   Imigrar;:ao e Colonizar;:ao no Brasil,   Rio de Janeiro,

Faculdade Nacional de Filosofia,   Publicaf ;iio Avulsa n.o 2 da Cadeira de Geo-

graf ia   do Brasil,   1950,   p.   28.

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Colonizar;ao e Reforma Agnhia (INCRA); eo Decreto-Lei n?   1164

de I de abril de 1971, que declarou indispensaveis   a   seguranr ;a e  a~

desenvolvimento nacionais as terras devolutas situadas na faixa de

cern quilometros de largura de cada lado do eixo de rodovias   na

Amazonia lega1.2

 Neste ponto, vale a pena reler dois textos queresumem urn t6pico basico da doutrina que tern inspirado a legisla-

Gao da terra no Brasil.  Antes da Lei n? 601, de 1850, preconizavam _ 

se as seguintes providencias: "I) a importa<;ao de tra balhadores,

feita pelo governo, fixado, porem,   0respectivo tempo o brigat6rio

de servir;o; 2) a alienar;ao das terras devolutas por meio de venda,

mas fora de hasta publica, e a prer;o tao elevado quanta   bastasse

 para impedir    0 trabalhador importado de tornar-se proprietario,

demasiado cedo; 3) a aplicar;ao do produto total das alienar ;oes de

terras a urn fundo de imigrar;ao, destinado exclusivamente a custear 

a importar;ao de maior numero ainda de trabalhadores. Exceto a

abolir;ao da hasta publica, essas sao, de fato, as providencias   cons-

tantes dos artigos 18, 14 e §2, e 19 da nossa Lei de Terras", de~850.  3   E em 1888, numa consulta do Conselho de Estado, persistia

a preocupar;ao em "tornar mais custosa a aquisir;ao de terras ...

Como a profusao em datas de terras tern, mais que outras causas,

contribuido para a dificuldade que hoje se sente de obter tra balha-

dores livres, e seu parecer que d'ora em diante sejam as terr as   ven-

didas sem excer;ao alguma. Aumentando-se, assim,   0valor   das ter-

ras e dificultando-se, conseqtientemente, a sua aquisir;ao,   e de

esperar que   0 imigrado pobre alugue   0 seu trabalho efetivamente

 por algum tempo, antes de obter meios de se fazer proprietar io".4

Con forme sugerem essas breves informar;oes sobre a  leg isla-

r;ao relativa ao trabalhador rural, a imigrar;ao, a colonizar ;ao,   ao

indigena e a terra,   0 relaciomento entre   0Estado e  0assalariado

rural envolve varias e diferentes situar;oes politico-economicas.Mas cabe lembrar que uma coisa sao as leis e as agencias governa-

mentais, outra e a pratica cotidiana das relar;oes de produr;ao,   nas

diferentes formas de organizar;ao social do trabalho. As vezes a lei

e apenas uma declarar;ao de intenr;oes; mas ha casos em que ela se

efetiva. Ha leis que pegam e leis que nllo pegam.

2   Ainda quanta   a   terra, caberia lembrar   0   Grupo Executivo das Terras   do Ara-

guaia e Tocantins (GETAT) e  0 Grupo Executivo das Terras do  Baixo AmazO-

nas (GEBAMl.   em 1980.

3   Ruy Cirne Lima,   Pequena Hist6ria Territorial do Brasil,   2." ed.,   Porto Alegre,

Livraria Sulina Editora, 1954, pp. 81-82.

4   Ruy Cirne Lima,   op. cit.,   p. 82.

 Neste ponto, cabe uma breve informar;ao sobre a   evolufiio

recenle da populafiio aliva na agricultura.   Essa informar;ao pode

especificar alguns aspectos da hist6ria do trabalhador rural.

Durante todo 0 seculo XIX e boa parte do seculo XX, 0 BrasiJ7

foi urn "pais de vocar;ao essencialmente agraria". A economia pri-maria exportadora dominou a hist6ria social do pais ate 1930, de

forma mais ou menos absoluta. Em seguida, entre 1930 e 1960,

houve uma mudanr;a estrutural notavel, quando a economia brasi-

leira em conjunto diversificou-se amplamente e desenvolveu-se urn

setor industrial que passou a predominar sobre 0 conjunto. Nem

 por isso, no entanto, a agricultura deixou de apresentar grande

importancia economica e politica. Inclusive ela se modificou acen-

tuadamente, a medida que era reincorporada aos movimentos do

capital industrial, as exigencias da urbanizar;ao e as f1utuar;oes do

comercio internacional.   Esse e  0contexto hist6rico no qual ocor-

rem a evolur;ao e a diferencia;ao interna da popular;ao ativa empr 0gada na agricultura.

Em 1872 havia no pais 1510806 escravos; em 1888, no ana da

abolir;ao, ainda havia meio milhilo.   E 6bvio que nem todos estavam

na agricultura. Mas sabe-se que a grande maioria trabalhava nos

eitos, ror;ados, fazendas e criar;oes. Sem esquecer que ja naquele

entao havia ex-escravos, nascidos Iivres e imigrantes trabalhando

na agricultura. Na decada de 1890-99 entraram no Brasil 1 205803

imigrantes europeus, principalmente italianos.   E   verdade que uma

 parte desses imigrantes voltou aos seus paises de origem; e outra

 parte foi povoar as colonias nos Estados do Rio Grande do Sui,

Santa Catarina, Parana e outros. Mas a grande maioria dos imi-

grantes entrados no pais, tanto ao 10ngo da segunda metade do

seculo XIX como nas primeiras decadas do seculo XX, foi compor 

a mao-de-obra agricola dos cafezais do Estado de Sao Paulo. Em1920,havia 6376880 pessoas maiores de 14 anos de idade ocupadas

na agricultura, ao passo que eram 1264007 as pessoas ocupadas em

atividades de cunho industrial e artesanal.

Observemos, agora, a distribuir;ao dos assalariados rurais nas

decadas recentes. Em 1950, havia no pais 23,61 por cento assalaria-

dos permanentes e 38,37 temporarios, no conjunto da popular;ao

ocupada na agricultura. Em 1972, os assalariados permanentes na

agricultura somavam 7,28 por cento, ao passo que os temporarios

somavam 58,40 do total das pessoas ocupadas na agricultura. A

medida que se desenvolve a agricultura, em termos de grande em-

 presa agricola,   pecuaria,   agropecuaria ou agroindustrial, cresce   0

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contingente absoluto e relativo dos assalariados temponirios, de-

crescendo algumas outras categorias   de trabalhadores.

o  relacionamento entre   0Estado e  0 trabalhador r ural apare-

ce,  d e forma relativamente clara, em alguns momentos   da historia

social   da agricultura brasileira. Seria enganoso tomar esse relacio-

namento como continuo e harmonica; ao contnirio, e descontinuo

e contraditorio. Tanto assim que se podem eleger alguns   momentos

singulares, ou   cruciais, nos quais a natureza do relacionamento

entre   0Estado e  0 trabalhador rural aparece de forma mais nitida.

Penso que e vtl1idosugerir que os principais   momentos   do relacio-

name.nto entre   0Estado e  0 trabalhador rural sac aqueles  nos quais

ocor rem   0 desenvolvimento das forr;as produtivas e r elal;oes de

 pr odul;ao na agricultura. Alguns aspectos fundamentais   dessa pro- blematica estao presentes na cafeicultura capitalista, na politica de

 povoamento e colonizal;ao, no ciclo da borracha, na  politica indi-

genista, na politica da terra, no crescimento da agroindustria cana-

vieira, na expansao da grande empresa agricola, pecuaria, agrope-

cuaria e agroindustrial.   Ha algumas correspondencias e   desconti-

nuidad es   bastante expressivas, quando confrontamos   a expansao

dos negocios e   atividades agricolas, por ur n lade, e   0 relaciona-

mento entr e   0Estado e  0 trabalhador rural, por outro.

 Legis/ar ao   traba /hista no regime de co/ana to.   0colonato

constitui-se nas f azendas do cafe, do chamado Oeste paulista, prin-

cipalmente a partir de 1870. So b   esse regime de organizal;ao das

relal;oes  d e pr od ul;ao, e a familia que e contratada par a trabalhar na   f azenda,   na pessoa do seu chefe.  0fazendeiro paga   salario ao

chef e da   familia, pelo   trabalho executado no prepar e da terra,

 plantio,   r e plantio, limpa, apanha do cafe etc. Mas obriga-se a dar-

K   the casa  gr atuita e alguma terra, para p lantio de verdur as, legumes

e cereais, ou a cr ial;ao, tudo para   0consumo da familia  ou eventual

comercio.   0regime de colonato combina   0salario com a pr odul;ao

 para a auto-subsis tencia do assalariado e seus familiares. Isso impli-

ca q ue   0 pr odutor era induzido a tra balhar diretamente   na reprodu-

l;ao d a   propr ia f or  l;a de trabalho.

r  Mas nao eram tranqiiilas as relal;oes de produl;ao organizadas

sob a forma de colonato. Houve t~os que estiveram

na base da legislal;ao que se adotou para organizar   0relacionamento

entre fazendeiros   e colonos. "Nao e necessario narrar aqui a longa

luta social e diplomtltica que antecedeu e acompanhou a crial;ao do

regime de trabalho livre e do contrato de colonato. Houve fugas  d e

imigrantes das fazendas; houve retorno de imigrantes aos paises d e

origem; tambem protestos pela imprensa e meios diplomaticos.

Inclusive houve interrupl;oes nos fluxos migratorios, devido aos

maus-tratos a que foram   submetidos os imigrantes das primeir as

e poc~s, a esc,r~vidao. disfarl;ad.a ,ou aberta que lhes impunham.   Q - . J

q ue e necessano registrar aqUi e que   0 contrato de colonato e   0

r esultado de urn processo de tensoes, lutas e negocial;oes, no qu al

envolveram-se fazendeiros, colon os e governos.   Tantas foram   as

tensoes,   lutas e negocial;oes, que no Brasil   0 sindicalismo r ural

sur ge nessa epoca. Evaristo de Moraes Filho sugere que num   pais

 predominantemente agrario, na epoca em que se extingue   0regime

escravista, "nao podiamos deixar de iniciar a nossa  legislal;ao sin-

dical senao por este lado".   5

 Na legislal;ao relativa as relal;oes de produl;ao nas fazend as d ecafe,   cabe ressaltar uma lei inclusive pelo q ue envolve das  outras.   A

Lei n?  1299-A, de 27 de dezembro de 1911, do governo d o   Estado

d e Sao Paulo, cria   0Patronato Agricola com a finalidad e de "auxi-

liar as execul;oes das leis federais e estaduais no que concer ne a de-

fesa dos direitos e interesses dos operarios agricolas.   0Patronato e

subordinado ao secretario da Agricultura, e tern sua sede na ca pital'

do Estado de Sao Paulo.   Ele se faz representar no interior   do Esta-

do por 106 promotores publicos. Essa lei o briga   0 fazef\d eiro a

organizar a sua escritural;ao agricola e a fornecer aos colon os   as

cadernetas que   r eproduzem os lanl;amentos feitos pelo fazendeiro

em seu livro de contas correntes.   Dentre os seus varios fins ex pr es-

sos,   a Lei estadual n? 1299-A, de 1911, destina-se a fiscalizar as

cadernetas dos operarios agr icolas, a fim de verificar se estas se

revestem das formalidades prescritas pela Lei federal  n?  6437, de 27

de marl;o de 1907"6.

Ao lade do colono, assalariado permanente residente nas ter--

r as da fazenda, havia   0camarada. Este era urn assalariado tempo-

r ario, empregado nas ocasioes   de desmatamento, apanha ou seca-

5   Octavio Ianni,   A Classe Operaria vai ao Campo,   Sao Paulo,   CEBRAP-

Brasiliense, 1976,   p.   15;   Evaristo de Moraes Filho,   0  Problema do Sindicato

Unico no Brasil,  Rio de Janeiro,   Editora A Noite,   1952,   pp.   184-185.

6   Octavio Ianni,   op.   cit.,   p.   15.

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gem do cafe e mesmo outras   atividad es.7

Em muitos casos,   0cama-

rada era urn sitiante,   ou membro da   sua familia,   que se emprega

I· I   va

 para rea Izar a guma   r en da monetaria, par a   fazer compras   nas   ven-

das e armazens.'-

 Ausencia de legislariio trabalhista no monoextrativismo do

f  borracha.   Nas atividades relativas a   extr a~ao do latex, ao   pr eparodas   bolas e peles de borracha,   ao trans porte do produto ate   0 barra-

cao, armazem ou venda do   ser ingalista,   0seringueiro estava   subor-

dinado as   imposi~oes   do seringalista,   e s6 a e l e. N ao t inha para

quem apelar. Estava   atado   ao ser ingalista,   pela   divida continua-

mente renovada d  evido ao monop61io que este   exercia na venda dos

instrumentos   d e t r  a balho, armas,   utensilios   domest ic os , r  oupas,

calcados, bebidas etc. e compra das bolas e peles de borracha. Nessas

condkoes,   la   no fundo da mata,   0 seringueir o   era prisioneiro das

condi~oes   d e   produ~ao   articuladas   no aviamen to . 0 s is tema de

aviamento (pr ovimento de mer cadorias) atava   0 seringueir o ao

seringalista, este a casa   aviad or a (pr ovedora de mercadorias)   e esta

a empresa ex portador a   d e   borracha,   que f inanciava a cada   aviado-

ra. Nessa   cadeia de rela~oes e subordinacoes, a p i or po si Ca o   era a

do seringueiro,   que   se endividava   ao preparar -se para seguir    para   0

seringal e   comecar    a   tr a balhar .   E permanecia prisioneiro de   uma

) jlJcessao de dividas continuamente renovadas.   "E  preciso im pedir 

que   0trabalhador acumule reservas e fa~a economias que   0tornem

independente. Nesta regiao   semideserta de escassa mao-de-o bra, a

estabilidade do trabalho tern   sua maior   garantia no endividamento

do empregado. As dividas comecam logo ao ser contratado: ele adqui-

re a credito os   instrumentos que utilizar a,   e que embora muito rudi-

mentares   (0 machado, a faca,   as   tigelas   onde recolhe a goma) estao

acima de suas   posses, em regra,   nulas. FreqUentemente estara   ainda

devendo as   despesas   d e   passagem desd e sua terra nativa ate   0serin-

gal.   Estas dividas iniciais nunca se saldarao porque sempre   havera

meios de fazer as despesas do trabalhador ultrapassarem seus   magros

salarios. Generos   caros   (somente   0 pr o prietario pode fornece-Ios

 porque os centros urbanos estao longe), a aguardente . .. E q uando

isto ainda nao basta,   urn habil jogo d e   contas   que   a ignodl.ncia do

seringueiro analfabeto nao pod e   perce ber    completara a mano br a.

Enquanto deve,   0trabalhador nao pode abandonar    seu patrao c re -

dor; existe entre os proprietarios   urn compromisso   sagrado de  nao

7   Augusto Ramos,   0   Cafe no Brasil e no Estrangeiro,   Rio de Janeiro, Pap. Santa

Helena,   1923, pp.   203·204,   562,   568-569   e   571.

aceitarem a seu   ser vi~o empregados   com dividas para com outro e

nao   saldadas. Alias   a lei   vem sancionar este compromisso porque

r es ponsabiliza   0 patrao que contrata urn trabalhador pelas dividas

deste (C6digo Civil Brasileiro, art.   1230).   E quando tudo isto nao

 basta para reter    0empregado endividado,   existe   0recurso da for~a.Embora a margem da lei ninguem contesta ao proprietario   0direito

de emprega-Ia."8

Foi grande a populacao que se deslocou de outras atividades,

d o campo e da cidade, de perto e de longe,   para trabalhar nos serin-

gais. Muitos eram nordestinos. Nao houve legislacao tr abalhista,

sequer incipiente,   para proteger algum interesse do   seringueiro. 0

regulamento do   seringal era "impiedoso",   resguardando apenas   0

interesse   do seringalista.9 0   sistem a d e a viamento articulava de tal

f orm a as   rela~oes   de produ~ao que   0seringueiro estava totalmente

f ora do horizonte do poder publico; ou melhor, no caso   d o serin-

gueiro,   0 poder publico estava totalmente omisso. Nem por isso, no

entanto,   0Estado deixava de beneficiar-se do produto do trabalho

d o seringueiro.

Preservar ou recriar  0 colonato?   Na agroindustria canavieira,

a   legisla~ao pouco avancou,   salvo depois do Estatuto do Trabalha-

d or Rural,   adotado em 1963,   complementado pela Lei n?   5889, de

1973. Antes, pouco se havia feito. 0 Instituto do A~ucar e do Alcool

(IAA), criado em 1933, tratou d e   disciplinar principalmente as

r eservas regionais   de mercado para os engenhos e as usinas do Nor-

deste e do Centro-SuI.   E   0 Estatuto da Lavoura Canavieira, de

1941,   destinou-se a ordenar    0relacionamento entre fornecedores de

can a e usinas. Tratava-se de harmonizar ou acomodar as rela~oes

entre duas categorias de pr oprietarios.

Foi   0 Decr eto- Lei n?   6969, de 19 de outubro de 1944, que

come~ou a definir melhor    0relacionamento dos trabalhadores comos proprietarios   de planta~oes   de cana e usineiros. Nos artigos 19 a

26 desse decreto procurou-se garantir a sobrevivencia do morador 

nas terras do proprietario do canavial.   Vejamos   0que estabelecia   0

art.   23 e seu paragrafo unico: "0 trabalhador rural com m ais de

urn ana de   ser vico,   ter a direito   a concessao,   a titulo gratuito, de

uma area de terr a   pr6xima   a sua moradia,   suficiente para planta~ao

8   Caio Prado Junior ,   Hist6ria   Economica   do Brasil,   3." ed.,   Sao Paulo, Ed. Brasi-

liense,   1953,   p.   244.

9   Euclides da Cunha,   Um Parafso  Perdido IReuniiio   dos Ensaios  Amazonicos),

Petr6polis,   Ed.  Vozes,   1976,   pp.   109-11 2.

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e cria~ao necessarias   a  s U. bsi~tencia d e ~ua   f amilia.   0contrato-tipo

ou as mstrw;oes do lAA m dlcarao as   dlmensoes   minimas das  ar Id    .   b   eas

a que a u e este artlgo, em com o a distancia   maxima   a que   de _ 

rao ficar da moradia do trabalhador". Mas   a L ei n?   4870,   d e   1v~e

. dezembro de 1965, no   seu capitulo sobre a assistenci a a os tr  a ba lh _  dores .na agroin~us~ria canavieira (arts. 35 e 36) confere ao   d ono d~

canavlal e ao usmelro total monop61io   sobre   0modo de aplicar 

 programa de assistencia.   Se ja residente ou nao,   0assalariad o p er ~

~anente da fazenda de cana ou usin a e levado a receber a assisten-

c~a ~omo urn favor do empresario, antes do que uma parte de  urn

dlrelto seu. A forma pela qual pod e ser aplicada a legislac;ao r ela-

tiva a assistencia   social aos trabalhadores das usinas, destilar ias e

canaviais permite que   0 usineir o e   0 f azendeiro aumentem   0 seu

controle politico   sobre os oper f uios rurais e   industriais.

-   A grande empresa e  0desenvolvimento do proletariad o.   Nas

ulti~a~ decad~s,   a   agricultura brasileira adquiriu uma conotac;ao

capltahsta malS profunda   e generaliza da . Ne m p or    isso,   no en tan-

to, deixa de   ser bastante desigual, segund o as   cultur as,   regioes   ou

outros caracteristicos. Na estrutur a   fundiaria brasileira predomi-

nam principal mente a  g rande propriedade rural e a pequena proprie-

dade, sendo que em umas   e outras   a produc;ao   se organiza sob  dif e-

rentes   formas. Ha grandes   empr esas que apresentam altos indices

de mecanizac;ao e quimificac;ao dos   process os produtivos. Variarn

 bastante os indices de utilizac;ao da forc;a de trabalho bem como as

modalidades de sua vinculac;ao a unidade produtiva:   Sao diversas

as formas de organizac;ao   social das   forc;as   produtivas   e das   reia-

c;oes de produc;ao que se encontram na agricultura brasileira.   Nao

cabe descrever agora as formas que   se encontram aqui e acola. M as

sao diversos os pesquisadores que concordam quanta a expansao

da em pres a capitalista no campo: multiplicam-se , e xp an dem-se ediversificam-se, de ponta a ponta do pais. E alguns indicam inclu-

sive a influencia que essa expansao acarreta na modificac;ao da

estrutura da mao-de-obra. Vejamos algumas observac;o es d e   pes-

\   quisadores sobre a economia e as   relac;oes   de produc;a o n a ag r  icul-

tura.

 Hoffmann e Gra ziano   d a Silva:   "A constancia de   valores e1e-

vados para os indices de concentrac;ao da posse da terra no   Br asil

nesse meio   seculo (1920-1970)   indica   que   as   modif icac;oe.s-ocorrid as

na estrutura agraria do pais   nao rompera~   o padra o de   alta

concentrac;ao da riqueza, e, consequentemente,   do poder, no setor 

agricola. Ainda hoje coexistem   0 latif undio e   0 minifun di o c omo

for mas   d ominantes   de propriedade da   ter ra,   trac;o caracteristico de

uma distr i buic;:ao   da posse da terra altamente concentrada".10

 M end onr a d e Barros, Rizzieri e Pastore:   "Sem perda de gene-

ralidade   e   possivel admitir que   0 papel da agricultura no processo

do cr escimento econ6mico apresente cinco aspectos: oferta adequa-

da   de alimentos e   materias-pr i ma s p ar a   0setor urbano; colabora-

c;:aod ecisiva na   oferta de divisas;   oferta de mao-de-obra para as ati-

vidades   urbanas; c on tr  i buic;ao da poupanc;a gerada no  setor prima-

rio   para a formac;ao d e capital na industria; elevac;ao do mercado

 para produtos industriais.   Implicita no preenchimento destes papeis

esta, obviamente, a ideia de que junto com   0crescimento da produ-

c;ao total tambem cresc;a a produtividade no setor rural".11

Corr eia de And r ade:   "Essa expansao da area de produc;:ao e'1

feita atr aves   do empr ego cada   vez m aior do fator capital, de vez

que os grandes   proprietar ios   e as sociedades anonimas fazem gran-

des   inversoes   a   f im de organizarem uma produc;ao competitiva face

a concorrencia   internacional e se processa com a incorporac;ao de

terras   antes inexploradas ou ocupadas por pequenos agricultores   r q ue se deslocam abrindo frentes pioneiras. Constituindo-se dentre   •

os   mol des capitalistas mais   modernos, visando a maximizac;ao dos

lucros   e contando com o s   incentivos oficiais, canalizados atraves   d e

agencias   de desenvo lv im en to c omo a SUD AM n a Am az on ia e a

SUDENE no Nordeste e com as facilidades oferecidas as atividades

economicas voltadas   para a exportac;ao,   0 processo se faz com a

agregac;ao de tecnologias mais modernas e vem destruindo as for-

mas de relac;oes   de trabalho tradicionais, arcaicas   ... "   12   )

A   medida que se desenvolvem as   forc;as produtivas e as rela-

c;oes  de produc;ao, tanto se form a ou expande a grande empresa,

como se desenvolvem as s!flsse~ociaiJ' Desenvolvem -se - econo-

mica e politicamente - tanto a burguesia de base agraria (com ousem   vinculos na cidade) como   0 p£9letariado rural.   As   classes socials

e a empresa capitalista passaram a ser elementos essenciais da socie-

10   Rodolfo Hofmann e Jose Francisco Graziano da Silva.   A Estrutura Agraria

Brasileira.   Serie Pesquisa n.O 31,   Piracicaba.   Departamento de Cillncias

Sociais Aplicadas,   Escola Super ior de Agr icultura Luiz de Queiroz, 1975.

 p.35.11   Jose Roberto Mendon<;:a de Barros,   Juarez A. B. Rizzieri e Affonso Celso

Pastore.   A Evolur;ao Recente da Agricultura Brasileira.   Sao Paulo,   Instituto

de Pesquisas EconOmicas (lPE).   Faculdade de Economia e Administra<;:ao,

Universidade de Sao Paulo,   1975. pp.   1-2.

12   Manuel Cor r eia de Andrade.   0   Planejamento Regional e  0 Problema Agrario

no Br asil.   Sao Paulo.   Ed.   HUCITEC,   1976, pp.   148-149.

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dade agniria.   E   claro que de modo variavel, conforme a   area   0

Estado ou a regillo do pais. Em urn mesmo Estado, encontr am'-se

freqiientemente desenvolvimentos desiguais desses elementos.

A grande empresa agricola, pecuaria, agropecuaria   OU

agroindustrial se torna uma expressao fundamental da economia

 politica do campo.   E   inegavel que a pequena e a media   empresa

continuam a subsistir .   Inclusive podem tornar-se, como de f ato se

)  tornaram, elementos importantes da expansao das atividades r urais.

Os pr6prios regimes de arrendamento, parceria, meac;;ao,troca pela

forma e outras modalidades de organizac;;aoda produc;;aosubsistem

e redefinem-se continuamente, nos quadros da produc;;aorural  c api-

Ltalista. Ao lade destes desenvolvimentos, no entanto, expande-se a

grande empresa. Mesmo porque ela recebe apoio e estimulo   econo-

mico e politico do poder estatal, por intermedio de entidades  publi-

cas tais como   0Instituto do Ac;;ucare do Alcool (lAA), Su perinten-

dencia do Desenvolvimento da Amazonia (SUDAM), Banco da

\ Amazonia S.A. (BASA), Banco do Brasil e outras.13 Ocorre   que  0

Estado propicia novos canais de atuac;;ao(ou dinamiza os preexis-tentes) do capital industrial na economia rural: agricola,   pecuaria,

extrativa ou agroindustrial.   Em boa parte, as transformac;;oes havi-

das e em curso no mundo rural mostram como a industria su bjuga

e modifica as condic;;oesde produc;;aono campo.

Quanto a burguesia de base agraria, e claro que em geral ela

esta amplamente articulada com as burguesias industrial e financei-

ra, de base urbana.   Ao lade de empresarios (grandes, medios ou

 pequenos) de base exclusivamente agraria, cresce  0numero   daque-

les articulados com empresarios industriais e banqueiros. As vezes

as empresas rurais, industriais e financeiras fazem parte do  mesma

grupo economico. Outras vezes 0empresario e urn s6.  Ocorre   que  0

capital industrial submete, cada vez mais ampla e profundamente,

13   Obras nas quais examinam-se aspectos da aQaoestatal no mundo rural:   Ruy

Miller Paiva, S.   Schattan e C.  F. Trench de Freitas,   Setor Agricola   do  Brasil,

Sao Paulo,   Secreta ria da Agricultura, 1973; Jose de Souza Martins,   Capita-

lismo e Tr f Jdicionalismo,   Sao Paulo,   Livraria Pioneira Editora, 1975;   Jose

C. A. Gnaccarini,   Estado,   Ideologia e At;:ao Empresarial na Agroindustria

 At;:ucareira do Estado de Sao Paulo,   Sao Paulo, 1972, mimeo;   Or iowaldo

Queda,   A Intervent;:ao do Estado e a Agroindustria Acucareira Paulista,   Pira-

cicaba,   1972, mimeD;   Tamas Szmrecsanyi,   Contribuit;:ao   a   Analise do Pla-

nejamento da Agroindustria Canavieira do Brasil,   Campinas, 1976; Roberto

M. Perosa Jr .,   A Industria no Campo,   Campinas,   1977, mimeo; Octavia

lanni,   A Luta pela Terra,   Saa Paulo,   1977,   mimeo.

a agricultura, ou seus ramos, as exigencias da reproduc;;lloe expan-

sao desse mesmo capital.Ao mesmo tempo que se desenvolvem as forc;;asprodutivaS"7

as relac;;oesde produc;;ao no campo, desenvolve-se a classe  0  eraria

rural.   Ainda que ela nao se expanda permanentemente, em termos

qu~titativos, e inegavel que ela se modifica e amadurece qualitati-vamente; desenvolve-se economica e politicamente. Em varias par-

tes do pais, ocorre a expropriac;;ao de camponeses - isto e, sitian-

tes, posseiros,   rendeiros, parceiros e outros - de seus meios de

 produC;;llo.Tambem ocorre a expulsao de colonos, moradores e

outros residentes das terras de fazendas, criac;;oes, plantac;;oes ou

usinas de ac;;ucar .Inclusive verifica-se a expulsao de indios de suas

terras e a transformac;;ao deles em assalariados. Pouco a pouco,

formam-se dois contingentes principais de operarios agricolas:

os permanentes e os temporarios. Uns, os permanentes, em menor    1numero, sao aqueles contratados para trabalhar ao longo do an?,

ou mesmo anos seguidos, para a mesma empresa ou fazendeiro. As

vezes, sao residentes nas terras das fazendas, plantac;;oes, criac;;oesou usinas; outras, residem fora ou longe das terras onde trabalham.

Outros, os temporarios, sempre residem fora ou longe das terras

onde trabalham. Sao chamados "b6ia-fria", por exemplo, no

Estado de Sao Paulo, "corumba", em Pernambuco, ou "peao",

na Amazonia, entre outras denominac;;oes, pejorativas ou nao. Na

maioria dos casos, os trabalhadores assalariados temporarios sao

arregimentados por urn empreiteiro de mao-de-obra, que pode

denominar-se "gato", "caminhoneiro" ou outro termo, pejora-

tivo ou nao.   E  este,   0empreiteiro, que contrata a quantidade de

trabalhadores e as condic;;oessob as quais eles devem trabalhar para

o fazendeiro ou a empresa, nas usinas, fazendas de gada ou plan:)

tac;;oes. Rangel:   "A monocultura agricola e a pecuaria, na medida em

que, neste ultimo caso, essa atividade passa a estagios superiores,

tendendo a converter-se em explorac;;aointensiva, caracteriza-se por 

uma demanda altamente flutuante de mao-de-obra, segundo a esta-

c;;aodo ano. Sua saude economica e financeira exige, pois, urn mer-

cado especial de mao-de-obra, caracterizado por uma oferta forte-

mente elastica. Enquanto esse tipo de atividade constituia excec;;ao

ou estava ainda nos estagios iniciais do seu desenvolvimento, essa

oferta de mao-de-obra era assegurada pela populac;;ao camponesa,

instalada no latifundio convencional circunvizinho, ou no interior 

da pr6pria fazenda, em processo de conversao .... Trata-se de criar ,

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em locais previamente escolhidos, aldeias destinadas a rece ber   0

trabalhador tempon\rio com suas familias .... Ora, como seria

aberrante, por hostil aos  interessesfundamentais   da fazenda, exigir 

estabilidade da ocupa~ao minifundiaria   dentro da fazenda,   urge

que essa estabilidade seja assegurada   fora de/a.   A estabilid ade da

oferta de mao-de-obra a monocultura, tanto em termos de q uanti-dade como de salario, retiraria os 6bices presentes   a   expansao do

capitalismo no campo"   .14

 Brandao Lopes:   "Do modo como esta empresa (agropecua-

ria) esta surgindo no Brasil, os  empregados permanentes, que tr adi-

cionalmente soem guardar pelo menos resquicios de rela~oes  nao

capitalistas, tendem a restringir-se ao minima e aquela mao-de-

obra de mais alta qualifica~ao (tratoristas, contador, etc.). Pr oces-

sa-se a expulsao de colonos e moradores e cria-se assim urn proleta-

riado rural puro, (chamados 'volantes' ou 'b6ias-frias', em   Sao

Pauld, 'trabalhadores de fora' ou 'clandestinos' na Zona da Mata

nordestina), que se aglomera em novos bairros rurais a beir a das

estradas ou na periferia das cidades e vilas. A este proletar iadorecorrem as empresas agricolas para a maior parte das fainas   ru-

rais, utilizando-se do sistema de empreiteiros de turmas. A pr odu-

~ao, com   0declinio das atividades para autoconsumo, especializa-

se e a popula~ao residente nessas empresas passa a recorrer, para a

satisfa~ao de suas necessidades, ao mercado. Passando a vigir com-

 pletamente a l6gica do capital, mecanizam-se as tarefas agricolas,

elevando-se a composi~ao organica do capital".   15

Conceirao d'[ncao e Mello:   "E comum dentre os empresarios

rurais, a referencia ao Estatuto do Trabalhador Rural, como prin-

cipal responsavel por este tipo de explora~ao (intermitente)   do tra-

 balho no meio rural.   Entretanto, os estudos de caso realizad os r eve-

laram que, embora muitas vezes 0empregador adote   0 sistema decontrata~ao de trabalhadores 'b6ias-frias', como urn meio de f ugir 

aos compromissos trabalhistas,   0que the determina sobremaneira

esta possibilidade e que sempre ha disponibilidade de mao-de-obra

na regillo".   16   "A   medida, todavia, que a mecaniza~llo vai   sendo

14   Ignacio Rangel,   A Questao Agraria Brasileira,   Recife, Comissao de Desen-

volvimento EconOmico de Pernambuco, 1962, pp.   60-61.

15   Juarez Rubens Brandao Lopes,   Tipo de Areas Rurais no Brasil,   Sao Paulo,

Caderno CEBRAP n.D 26, 1975, p.   8.   Consultar tambem: Jose P. Gr aziano

da Silva e Jose G.  Guasques,   Diagn6stico Inicial do Volante em Sao Paulo,

Botucatu Faculdade de Cit'lncias Medicas e Biol6gicas, 1976.

16   Maria Co'ncei9ao d'incao e Mello,   a   "B6ia-Fria";   Acumular;:ao e Mis{uia,

Petr6polis, Ed. Vozes,   1975, p. 117.

introduzida na agricultura, em decorrencia da pr6pria acumula~ao,

dos financiamentos   bancarios e da eleva~ao do pre~o da terra, tra-

zendo consigo   0aumento da produtividade do trabalho e a conse-

qtiente diminui~ao da mao-de-obra necessaria, torna-se mais vanta-

 josa para  0

empresario rural a explora~ao da for~a de trabalho pelosistema de salariato. Esta solu~ao desonera   0 proprietario dos com-

 promissos com as instala~oes e a manuten~ao das numerosas fa,?i-

lias dos arrendatarios e parceiros, alem d e   permitir-lhe urn malOr 

controle sobre a qualidade da pr odu~ao, feita agora em melhores

condi~oes tecnicas.   E quando   0Estatuto do Trablhador Rural a~a-

rece como varia vel significativa na op~ao, pela contrata~ao do dla-

rista."   17

Essas modifica~oes ocorridas na economia e sociedade agra-

rias provocaram   0desenvolvimento das classes sociais no campo,

 principalmente   0 proletariado e a burguesia; e n?vos relacionamen-

tos entre   0campo e a cidade, a industria e a agncultura. Desenvol-

veram-se dois setores importantes no interior do proletariado rural;

o assalariado permanente e   0assalariado temporario. Ao mesmo

tempo,   0 proletariado rural e   0 proletariado u~ba.no passa:~m a

conviver cada vez mais nos mesmos espa~os economlcos e politiCOS.

Entrou em nova fase   0desenvolvimento do mercado nacional (ru-

ral e urbano, agricola e industrial) de for~a de trabalho. ,

A   medida que se expandiu e diversificou a empresa agncola,

desenvolveu-se a legisla~ao do trabalho no campo. 0 Estado pas-

sou a estabelecer diretrizes juridicas, ou melhor, condi~oes politico-

econ6micas destinadas a organizar ou reorganizar as rela~oes de

 produ~ao.   t claro que tern havido e continua a ha-:er razoavel des-

compasso entre   0 progresso da empresa, a prospendade do empre-

sario a organiza~ao politica da burguesia agraria, por urn lado, e

as c~ndi~oes politicas de negocia~ao do assalariado permanente,assalariado temporario ou   0 conjunto do proletariado rural, por 

outro.   0 empresario, individualmente ou como classe, tern acesso

as exigencias governamentais, bancos, contabilida,de ~e cus.tos,

garantia dos pre~os minimos para as suas mercadonas, Incentlvos

fiscais facilidades para a exporta~ao, reservas de mercado. 0 assa-

lariad~ ainda tern poucas possibilidades de defender os seus interes-

ses, com base na legisla~ao vigente. 0 seu sindicato foi basta~te

 burocratizado, atado ao aparelho estatal e orientado para   0asSlS-

tencialismo.

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Com as modifical;oes havidas na economia e sociedade   agra-

(ria, desenvolveram-se nao apenas as relal;oes de produl;ao e as clas-

ses sociais. Tambem generalizaram-se e aprofundaram-se os   anta-

gonismos sociais. Simultaneamente, e por isso mesmo, tornou-se

conveniente, para a empresa,   0empresariado, a reprodul;ao   do ca- pital, que   0governo estabelecesse limites a atividade politica dos

assalariados, em conjunto e em seus principais setores. Nao interes-

sava a empresa que as relal;oes de produl;ao ficassem totalmente ao

acaso das forl;as politicas em jogo. Mesmo porque   0sindicato r ural

e as ligas camponesas, ou outras organizal;oes de trabalhadores   do

campo, estavam fazendo propostas e encaminhando solul;oes   que

 pouco convinham aos interesses da empresa e do conjunto da   bur-

guesia agraria. Esse foi   0contexto no qual desenvolveu-se uma f or-

I ~alizal;ao mais "burocratica" das relal;oes de produl;ao na agr icul-

~ura brasileira.

"

A questao agrariae as formas do Estado*

 No Brasil,   a questao agraria e urn elemento importante para expli-

car tanto as diversas formas adquiridas   pelo Estado como as princi-

 pais rupturas ocorridas na hist6ria deste. No Imperio e na Republi-

r ca, os problemas da sociedade agraria marcam bastante, e as vezes

de modo decisivo, a fisionomia do Estado brasileiro. 0 poder mo-

'--   derador, a politica dos governadores,   0Estado Novo,   0 populismo   .(

e   0militarismo tern muito a ver com as forl;as sociais do campo;

naturalmente sempre em combinal;ao com as da cidade.   Da mesma

maneira, a abolil;ao da escravatura, a proclamal;ao da Republica, a

Revolul;ao de 1930,   0golpe de Estado de 1945 e  0golpe de Estado

de 1964 revelam a presenl;a e influencia das controversias e interes-

ses que se desenvolvem no campo.

E   verdade que as formas mais   notaveis do Estado brasileiro,

 bem como as suas rupturas, sao inexplicaveis se nao se levam em

conta   0Exercito, a Igreja e  0 imperialismo. Outra vez, no Imperio

e na Republica, essas   sao tres "instituil;oes" decisivas. Na hist6ria

do povo brasileiro, desde a Independencia, a questao agraria,   0

*   Inedito, escrito em setembro de 1983. 0 tema deste trabalho foi objeto de

uma conferE?Jncia realizada no Departamento de CiE?JnciasSociais da Universi-

dade Federal do Rio Grande do Norte,   em Natal,   a 23 de setembro do mesmo

ano.

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l i T O

@~m~• Amazonia:   Expansao do Capitalismo -   F.  H .   Cardoso   •

• Brasil-Hist6ria   -   Vol.   1  -   Colonia   -   A.   Mendes Jr .,   R.   Maranhao e

L.   Roncari (orgs.J

• Brasil-Hist6ria   -   Vol.   2   -   Imperio   -   A.   Mendes Jr.,   R. Maranhao e

L.   Roncari (orgs. J

• Cidade e Campo no Brasil   -   Manoel   C.  Andrade

• Da Colonia ao Imperio   -   Um Brasil para Ingles ver e Latifundiario

Nenhum Botar Defeito   -   Lilia Moritz Schwarcz e Miguel Paiva

• Economia Brasileira   -   Uma Introduc;:ao Critica   -   L.   C.  Bresser 

Pereira

• Evoluc;:aoPolitica do Brasil   -   Caio Prado Jr .

• Formac;:aodo Brasil Contemporaneo -   Caio Prado Jr .

• Getulio Vargas e a Oligarquia Paulista   -   Vavy Pacheco Borges

• Hist6ria da Agricultura Brasileira   -   Francisco Carlos T. Silveira   e

Maria Yedda Linhares

• Hist6r ia Economica do Brasil   -   Caio Prado Jr.

• 0 Massacre dos Posseiros   -   Ricardo Kotscho• Ouestao Agraria   -   Weber ,   Engels, Lenin,   Kautsky, Chayanov e Stalin

-   Jose Graziano da Silva e Verena Stolcke (orgs. J

• A Ouestao Agraria no Brasil  -   Caio Prado Jr.

• A Revoluc;:aode   1930   -   Boris Fausto

ColeC;:80 Primeiros Passos

• 0 que e Ouestao Agraria,   -   Jose Graziano da Silva

ColeC;:80 Tuclo   e   Hist6r~   ,:'

• A Burguesia Brasileira   ~'Jacob Gor~nder 

• Os Caipiras de sao   'Paulo   -   Carlos R;, Brandao

• A Civilizac;:aodo Ac;:ucar  ~   Vera L.. A.   Ferlini

• 0 Coronelismo   -   Uma Politica'de Compromissos   -   Maria de

Lourdes Janotti

• A Crise do Escravismo e a Grande Imigrac;:ao -   P. Beiguelman

• A Economia Cafeeira   -   J.   R. do Amaral Lapa

• Nordeste Insurgente   (1850-1890) -   Hamilton de  M .   Monteiro

• Reforma Agraria no Brasil-Colonia -   Leopoldo Jobim

ColeC;:8o Primeiros Voos

• 0 Antigo Sistema Colonial   -   J.   R.   Amaral Lapa

• Ouestao Agraria e Ecologia   -   Francisco Graziano Neto

.   ' .Orlgens agrarlaS

do Estado brasileiro

i P1984

RETOM A DO

~~~I< g   _ ,...................•...   _  ...

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B6ia-f ria   e mais-valia(Classes sociais rurais 132

/Lutas sociais no cam~~" 142A sociedade   ,. . .  . . .  . . .  . . . . . . . . .  .  . . . . .  .  .  .   . . . . . . .. 155

agrana.   . .  . . . . .  . .  . . .  .  . . . .  .  .  .  . . . 160Formas sociais da  ter ra   (,'7'] .

..................................

  ~,TERCEIRA PARTE

Agricultura e Estado

A crise do caf e e a Revolw;ao de 1930As ligas camponesas e a cria~ao da  S U D E N - E ' .o Estado e  0trabalhador rural   .

A quesHlo agraria e as  formas d~ 'E;t~d'; ....................

192

20 6

221

241

Prefacio _

E possivel dizer que todos os momentos mais ~otaveis da hist6ria

da sociedade brasileira estiio influenciados pela questiio agraria. As

rupturas politicas das u/timas decadas, quando   0 Brasil ja e um pais

bastante urbanizado e industria/izado, tambem revelam essa injluen-

cia.  A questiio agraria esta presente na transi~iio da Monarquia   a

 Republica, do Estado o/igarquico ao popu/ista, do populista ao

mi/ itar, na crise da ditadura mi/itar e nos movimentos e partidos

que estiio lutando pela constru~iio de outras formas de Estado. Ha

muito campo nessa hist6ria.

 A sociedade brasileira sempre esteve marcada por sua dimen-

siio   agraria. A despeito das aitera~oes ocorridas desde a e xtin~iio

da escravatura, continuam a ser importantes as bases agrarias dasociedade nacional. A industria/iza~ilo e a urbaniza~iio, que se

acent uaram desde 1930, modijicaram largamente   0mundo agrario.

Pode-se mesmo falar em industria/iza~ilo e urbani za~iio do campo.

 Houve uma revolu~ilo na agricultura. Do ponto de vista das classes

dominant es ,   0 sertilo ja virou mar e  0mar ja virou sertiio.

 A cidade e a indUstria nilo deixam de ter rai zes agrarias.  Em

termos sociais ,   economicos, polit icos   e cuitur ais , e f or t e a presen~a

do mundo agrario no mundo urbano.   As   classes sociais agrarias e

urbanas misturam-se e injluenciam-se em muitos lugares. Ao lado

d as  pecu/iaridades regionais, ganharam dimensoes nacionais. Do

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 ponto de vista dos camponeses e operarios rurais, juntamente com

os operarios urbanos, a metajora do sertao e mar ainda nao se des-lindou. Implica outra revolw;ao.

 E    verdade que ocorrem periodicos surtos de rearticularao

entre a cidade e   0campo. Nem por isso, no entanto, deixam de

recriar-se especijicidades lQe ca. Ha produroes culturais, jeitos de

olhar   0 tempo, entonaroes no modo dejalar, estilos de jazer poli-

tica, jormas de organizar   0 trabalho, produzir e reproduzir, que

expressam diversidades de ca e lQ. Elas podem ser basicas para a

compreensao das rearticularoes que injluenciam a narao como um

todo. Coloca-se, pois, a conveniencia de continuar   0estudo dasorigens agrarias da sociedade e do Estado.

Os trabalhos que compoem este livrojoram escritos em diver-

sas ocasioes, entre   1961  e   1983.   A primeira parte, intitulada "A

Classe Operaria Vai ao Campo", compreende uma pequena mono-

grajia completa. A segunda e a terceira parte, intituladas respecti-

vamente "Classes Agrarias e Sociedade Nacional" e "Agricultura e

 Estado", reunem estudos autonomos, escritos em dijerentes opor-

tunidades. Em cada texto, uma nota inicial indica a data da publi-carao, ou a data em que joi escrito e a condirao de inedito. Todos

 joram revistos para esta publicarao. No conjunto, os trabalhos que

compoem este livro abarcam um tempo que vai da abolirao daescravatura a  1983.

 Ha temas que reaparecem aqui e acolQ. Sao varios os que res-

soam em diversos escritos, algumas vezes repetidos, em geral desen-

volvidos.   E  claro que a sequencia dos textos revela alguma sequen-

cia na analise de temas, elaborarao de ideias, desenvolvimento

da linguagem, alargamento da rejlexao. Ha muito campo nessa his-toria.

,.A   classe operarla

vai ao campo*

. b Iho teve duas edir;;Oesanteriores, como*   Terceira edir;;ao, revista.   Este tra d

aa   do Centro Brasileiro de An~lise e Pla-

Caderno CEBRAP   n.o 24, em c~-e Ir;; 0   1977.nejamento com a Editora Brasillense, em 1976 e