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IDENTICAÇÃO E DESCRIÇÃO DE TERRAÇO FLUVIAL E DETERMINAÇÃO DE PALEOTENSÕES NA BACIA DO CÓRREGO GAMELEIRA, ESPINHAÇO MERIDIONAL,
GOUVEIA- MG.
Leonardo Cristian Rocha – UFU [email protected]/ Pesquisador do Núcleo de Análises Ambientais em Geociências – NAAGEO/ FACIP/UFU
Ricardo Diniz da Costa – UFMG [email protected] Bráulio Magalhães Fonseca – UFMG [email protected]
Resumo
Esta pesquisa foi realizada no Município de Gouveia – MG, região que se localiza na porção Meridional da Serra do Espinhaço. A Depressão de Gouveia passou por diversos eventos ao longo do quaternário, sendo a neotectônica um fator representativo. Tal evento gerou uma nova reorganização na rede drenagem, com entalhamento e vales e recuo de cabeceira. Esta nova dinâmica reativou processos erosivos na região. Geologicamente afloram rochas do Supergrupo Rio Paraúna, que possui característica vulcano sedimentar de origem epiclástica e terrenos graníticos de idade arqueana (Complexo Basal). Ao analisar os perfis estratigráficos dos terraços do Córrego Gameleira observava-se que estes sedimentos ora são espessos ora se estreitam. Este fato que pode ser interpretado como um canal meandrante, onde os locais de maior espessura de sedimentos seriam as barras de pontal, ou seja, as margens convexas, e os locais de pouco ou nenhum depósito seriam as margens côncavas, locais de maior erosão de um canal meandrante, podendo ter interdigitações de colúvio ou não. Nestes mesmos perfis foram encontrados planos estriados. Estes foram identificados através dos óxidos de manganês que recobre blocos de gnaisses as margens do Córrego Gameleira. Tal fato indica que a formação dos óxidos é posterior à exposição do bloco rochoso na superfície, visto que os óxidos de manganês são muito susceptíveis aos processos intempéricos. A formação dos planos estriados indica movimentação de blocos. Em campo foram medidos quatro planos em locais distintos. A análise dos dados permitiu identificar que a paleotensão determinada pelo método dos Diedros Retos (Angelier 1997) aponta que a tensão compressiva ocorreu no sentido NE/SW e a distensiva no sentido NNW/SSE. Estas direções indicam que as movimentações destes blocos são do período cenozóico, pois estão em concordância com a formação de bacias terciárias. Abstract This research was conducted in the city of Gouveia - Minas Gerais, a region that is located in the southern portion of the Serra do Espinhaço. The Depression of Gouveia went through various events during the Quaternary, being the neotectonic a representative factor. Such event resulted in a new reorganization of the drainage network, with carving of valleys and retreat headward. This new dynamic reactivated erosion processes in the region. Rocks from Supergroup Rio Paraúna, which has volcano sedimentary characteristics from epiclastic and granite land of Archean age (Basal Complex), outcrop. In analyzing the stratigraphic profiles of the terrace of the Gameleira’s stream we observe that those sediments are thick, becoming sometimes narrow, which can be interpreted as a meandering channel, where the places of greatest thickness of sediment are the point bars, that is, the convex banks, and the places with few or without deposit are the concave banks that are places with more erosion in a meandering channel, having or not intermingle of colluvium. In these same profiles were found striated plans. These were identified through the manganese oxides that recover blocks of gnaiss on the banks of the Gameleira’s stream. This fact indicates that the formation of oxides is after the exposure of the block on the surface, since the manganese oxides are very susceptible to weathering processes. The formation of striated plans indicates movement of blocks. During Fieldwork were measured four plans in different places. Data analysis identified that paleostress determined by the method of Diedros Retos (Angelier 1997) suggests that the compressive stress occurred towards NE / SW and to distend towards NNW / SSE. These directions indicate that the movement of these blocks is from Cenozoic periods, because they are in agreement with the formation of tertiary basins.
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi realizada no Município de Gouveia – MG, região que se localiza na porção
Meridional da Serra do Espinhaço. A região, pelas particularidades e pelas complexidades de sua
evolução, instiga a comunidade acadêmica a desenvolver diversos estudos dos mais variados temas,
buscando cada vez mais o entendimento da dinâmica da área em questão.
Figura 1. Mapa de localização do Município de Gouveia-MG
A Depressão de Gouveia apresenta singularidades em relação à evolução geomorfológica, uma vez
que esta é formada através da retração das escarpas quartizíticas do Supergrupo Espinhaço, gerando a
exumação do embasamento e, conseqüentemente, uma nova configuração da paisagem como alteração do
nível de base, entalhamento de canais fluviais, coluvionamentos, entre outros.
Ao longo do Quaternário, diversas mudanças assolaram a Depressão de Gouveia, gerando a nova
configuração dessa paisagem. Dentro deste contexto o objetivo deste trabalho será identificar e descrever
um nível de terraço na bacia do Córrego Gameleira que está sobre um bloco falhado e ao que tudo indica
uma movimentação recente.
Entretanto, como essa área já foi merecedora de inúmeros trabalhos, há possibilidade de uma
grande interação entre os dados já pesquisados sobre variados temas e sobre a dinâmica da região. Assim,
é neste contexto que a pesquisa irá se desenvolver, buscando sempre uma inter-relação com os trabalhos já
existentes, pois é através dessa interação que se acredita entender a paisagem atual.
2. CARACTERIZAÇÃO DA MICROBACIA DO CÓRREGO GAMELEIRA
2.1.A Bacia do Córrego Gameleira
A microbacia em estudo está situada na zona rural do município de Gouveia. Esta se localiza na
bacia do córrego Rio Grande. De acordo com a classificação de STRAHLER (1952), para hierarquizar
uma bacia hidrográfica, a microbacia do córrego Gameleira é classificada como uma sub-bacia de segunda
ordem. Em relação ao seu leito, este se apresenta com trechos de canais retilíneos e próximo a sua foz
adquire um caráter meandrante, com presença de point bar ou barra de pontal.
A bacia é pequena, sendo que seu perfil longitudinal não ultrapassa aos 5 km de extensão, mas esta
apresenta grande declividade, já que suas nascentes encontram-se aos 1300m de altitude e sua foz
encontra-se a 1050m, neste pequeno percurso a bacia do córrego gameleira esta enquadrada em três
grandes domínios morfoestruturais predominantes, são eles: Supergrupo Espinhaço dominado pelas
escarpas quartzíticas, grupo Costa Sena, e o Complexo Gouveia.
Ao observar o perfil longitudinal da bacia percebe-se que este córrego possui um longo trecho de
canal retilíneo, fato que pode indicar que seu leito corre sobre uma zona de falha. Importante ressaltar que
alguns blocos falhados foram encontrados no perfil estratigráfico. (ver figura 02).
Já o perfil transversal deste córrego foi feito no local na seção estratigráfica e percebe-se que este
também se mostra pequeno não chegando a 1,5 Km. Observa-se nesse perfil que o fundo de vale é
bastante plano e a porção oeste da bacia encontra-se mais elevada que a porção Leste.
Figura 03. Mapa da Bacia do Córrego Gameleira
2.2. Características Geológicas
As nascentes da bacia estão sobre os grupos Galho do Miguel, sendo marcado predominantemente
por quartzitos puros e sobre as rochas do complexo Gouveia. Entretanto, é importante destacar que a
maior parte dessa bacia encontra-se sobre o complexo Gouveia, estando associadas com rochas graníticas,
predominando sobre migmatitos, anfibolitos, milonitos, protomilonitos, ultramilonitos e filonitos. Outros
grupos ainda de fazem presente com menor representação como são eles: Formação São João da Chapada
e Costa Sena, além das intrusões de metabásicas em algumas partes da bacia. (Figura 04).
Figura 04. Mapa geológico da Bacia do Córrego do Rio Grande
2.3. Características Geomofológicas
A Geomorfologia da bacia do Córrego Gameleira apresenta-se de forma semelhante ao se
comparar com a depressão de Gouveia, estando à área de estudo mais deprimida em relação à área que a
circunda, uma vez que, ao redor, encontram-se áreas escarpadas em quartzitos pertencentes ao Supergrupo
Espinhaço (Figura 03)
Na microbacia encontram-se estágios erosivos avançados. Os mais marcantes são representados
pelo voçorocamento. Essa intensa atividade erosiva, promovida pelas voçorocas, é responsável por grande
parte do assoreamento dos córregos da região. CRUZ (2003) identificou nas voçorocas da microbacia, em
estudo, os diferentes estágios de evolução, condicionados pela presença da vegetação, pelo maior
gradiente hidráulico ao poder erosivo da enxurrada. Ambos são associados às dimensões das voçorocas.
AUGUSTIN (1999) ressalta que o fator antrópico tem caráter relevante em relação aos processos
erosivos, como a retirada da cobertura vegetal para a formação de pastagens, estradas mal construídas e os
terracetes formados pelo pisoteio do gado que, a partir deste, podem evoluir para uma ravina e até mesmo
para uma voçoroca.
Na área em estudo, AUGUSTIN (1995) encontrou resíduos bauxitizados que testemunham um
longo ciclo de intemperismo geoquímico. Esta autora mostra que, no período pleistoceno/holocênico, a
região é atingida por entalhe eficaz da rede de drenagem que permitiu o recuo das cabeceiras (Ciclo
Paraguaçu segundo KING, 1956). Este recuo, no entanto, corresponde às áreas de anfiteatros e alvéolos de
deposição susceptíveis ao voçorocamento.
O Ciclo pliopleistoceno propiciou, além do entalhe de ravinas profundas, a deposição de
cascalheiras de espessuras métricas. Essas foram soterradas por colúvios, deslocados durante o pleistoceno
superior e pelo Holoceno, demonstrados pelas datações de carbono 14 em depósitos de argilas ricas em
matéria orgânica feita por AUGUSTIN (1994).
AUGUSTIN (1999) destaca a pedogênese verificada em colúvios, em grande parte, ocorrida após
o início do Holoceno, apontando para um recuo dessa instabilidade, o que propiciou o desenvolvimento de
latossolos. Ademais, a autora assevera que a fase atual é marcada por uma retomada erosiva, induzida pela
ação antrópica, na qual se associa erosão linear (voçorocamento), encontrada especialmente nas antigas
áreas de instabilidade e a erosão em lençol, atuando no restante da vertente.
2.4. Características Climáticas
Para NIMER (1989), o tipo climático predominante nessa área, segundo a classificação de
KOPPEN, é o Cwb – mesotérmico, caracterizado tanto por verões brandos e úmidos quanto por invernos
secos com temperaturas baixas (IGA – Instituto de Geografia Aplicada do Estado de Minas Gerais, 1983).
Segundo os dados obtidos na estação meteorológica da área, localizada em Diamantina (Normais
CLIMATOLÓGICAS, 1992), a média do mês mais frio é 15,3º C (julho) e a do mês mais quente 20ºC
(fevereiro). A amplitude térmica anual é 4,7ºC, enquanto que a média anual é de 19,40ºC; a média
máxima anual é de 24,00ºC e a média mínima anual de 14,40ºC. O índice médio pluviométrico anual é
1.290,4mm (Gráfico 01), verificando-se maior concentração de novembro a janeiro e menores índices em
junho, julho e agosto (Gráfico 02), dados estes referidos por ALMEIDA ABREU (1989), baseados em
relatórios da CEMIG – Centrais Elétricas do Estado de Minas Gerais. O município de Gouveia possui
temperaturas amenizadas em função da influência do relevo que fornece, a essas condições climáticas,
uma significativa determinação orográfica.
2.5. Características da Vegetação
As características geomorfológicas e edáficas, o clima e as condições de drenagem têm
condicionado o tipo de cobertura vegetal, encontrado na região de Gouveia. Nos domínios das serras
quartzíticas, os solos são arenosos e pouco desenvolvidos. O relevo é acidentado com encostas íngremes
que condicionam uma vegetação escassa representada, predominantemente, por gramíneas, por flores
secas, por cactáceas e por alguns arbustos, denominando o tipo de cobertura como campo rupestre ou de
altitude (ALMEIDA ABREU, 1989).
Ainda nesses domínios, mas em vales profundos, com umidade permanente, aparecem às matas
ciliares com uma vegetação mais exuberante e com árvores de porte médio. Este autor define, nos
lineamentos estruturais preenchidos ou não por rochas metabásicas, substrato para matas de vários
extratos e maior densidade de espécies.
AUGUSTIN (1995) assevera que os fundos de vales são ocupados por matas ciliares, mais densas
nas nascentes, onde o fator antrópico é menos atuante. Eles constituem-se por vários estratos, misturando-
se às árvores de grande porte, aos arbustos, aos cipós, às samambaias e às gramíneas. Na cota inferior a
1000 metros, ocorrem também às gramíneas, utilizadas como pastos e, eventualmente, áreas de cultivo. As
inúmeras voçorocas que se abre para os vales são comumente encontradas nessas áreas.
Às áreas de granito, às rochas ígneas e básicas correspondem às topografias mais baixas (abaixo da
cota de 1000m, citado anteriormente), onde a cobertura vegetal adapta-se a essa morfologia. Observa-se a
ocupação do solo ligada à atividade agropecuária, especialmente na sub-bacia do Ribeirão do Chiqueiro e
em seus afluentes.
Na região, são comuns os vales separados por colinas alongadas de perfis convexo-côncavos,
interceptados geralmente por anfiteatros côncavos. Nos topos desses anfiteatros, verificam-se formações
vegetais mais exuberantes. A vegetação de cerrado e os campos rupestres degradados ocupam grande
parte das encostas dessa região, servindo como pastos naturais e dividindo o espaço com pastos plantados,
em geral, com a espécie Brachiária sp (QUINTERO, 2000).
2.6. Características Pedológicas
A descrição pedológica da Bacia do Córrego Gameleira foi feita por DINIZ (2002). Ao longo das
vertentes sobre embasamento granito/gnaisse encontra-se geralmente latossolos vermelhos-amarelos no
topo, Cambissolo na meia vertente e Neossolo na base. Cabe ressaltar que nas áreas de intrusão de
metabásicas encontras-se latossolos vermelhos. O referido autor citado acima mapeia ainda Neossolos
flúvicos próximo às calhas fluviais e Neossolos Litólicos nas escarpas quartzíticas.
ROCHA (2004) ao estudar os solos de duas vertentes da região constata que a seqüência de
Latossolos no topo, Cambissolos na meia vertente e Neossolos na base trata-se de um processos de
rejuvenescimento das mesmas. Este processo seria causado pelo o entalhe da drenagem atual e que estaria
promovendo a dissecação da depressão de Gouveia ao longo do quaternário.
O referido autor acima citado sugere ainda como hipótese que esta região estaria
passando por uma desmanche de uma antiga superfície de aplainamento elaborada em condições
tropicais úmidas, ou seja, etchplanação, este fato explicaria a formação de latossolos profundos
nos topos.
3. Procedimentos Metodológicos
Inicialmente foi feito a estereoscopia da área em estudo com fotografias aéreas, tendo
como fonte original DNPM/CPRM de 1979 na escala de 1:28.000 para o reconhecimento da
área. Posteriormente em trabalho de campo o terraço foi identificado e descrito a partir de seus
depósitos inicialmente os seixos foram medidos com trenas e observados o grau de
arredondamento.
Após a medição dos seixos foram sendo observados os materiais acima da linha de seixos,
a partir das observações de textura e cor a seções estratigráficas foram sendo subdivididas. Após
a delimitação das seções as mesmas foram classificadas pela cor utilizando a cartilha de cor de
Munsell.
Definindo-se as seções foram coletadas amostras deformadas para análises
granulométricas. Posteriormente foram identificados no terraço blocos falhados, estes foram
identificados por zonas de milonitizaçao e óxidos de manganês, após a utilização de bússola
classificou-se a falha como normal a partir dos planos estriados.
4. Discussão e Resultados
Ao analisar o perfil estratigráfico observa-se que um processo deposicional com cascalhos,
intercalados com algumas lentes e por ultimo um acréscimo da camada argilosa com decréscimo
do silte na medida em que se aproxima do topo. (Ver Figura 05 e tabela 01)
Inicialmente analisou-se os seixos, são na maioria composto por quartzos, possuem alto grau
de arredondamento, sendo alguns sub-angulosos, apresentavam-se bastante foscos e polidos.
O diâmetro dos seixos em sua maioria estavam entre 5 a 10cm, sendo poucos acima deste
diâmetro. Observou também que havia lentes de areia entre este nível de seixos. (Ver Foto 01)
Foto 01
O ponto 01 em campo foi definido inicialmente pela cor e pela textura, pois se mostrava
pelo tato mais arenoso. Mas ao fazer analises laboratoriais, tal fato se constatou visto há mais de
41% de areia do total granulométrico. O que chama a atenção são os elevados teores de silte.
Cabe resaltar que parte deste silte encontrado neste perfil pode ser resultado de um processo de
pegogenização, assim as areias estariam se fragmentando de formando silte.
Já no ponto 02 houve um leve acréscimo de areia, mas o fator que chama atenção e o
aumento de argila e o decréscimo do silte. A cor também foi fator determinante para delimitar o
ponto 01 em relação ao ponto 02, visto a grande diferença entre eles. Já que em termos
granulométricos não houve grandes alterações. (Ver cor na tabela 01)
Figura 05. Perfil Estratigráfico
Tabela 01. Granulométrica e Cor dos pontos amostrados.
Perfil Estratigráfico Areia Argila Silte Cor
Ponto 01 41,9 29,9 28,2 2,5Y 8/4
Amarelo claro acinzentado
Ponto 02 44,5 33,5 22,0 7,5YR 7/4 Rosado
Ponto 03 46,3 37,2 16,5 7,5YR 7/6 Amarelo avermelhado
No ponto 03 nota-se novamente um leve aumento das frações de areia, mas o aumento
mais significativo foi da argila com aumento considerável e a diminuição bem marcada do silte,
por este motivo em campo definiu-se esta área como camada mais argilosa. A cor apresentou
diferença do ponto de visual em campo sendo mais escura, em relação ao ponto 02, ao se utilizar
munsell, essa diferenciação ficou bem delimitada. Acima deste ponto havia uma outra camada de
tonalidade marrom com maior concentração de matéria orgânica.
Ao analisar o perfil estratigráfico fica nítido a partir das interpretações das frações
granulométricas que este depósito é tipicamente de dinâmica fluvial, pois, há uma
selecionamento das partículas com acréscimo de gradual de argila em direção ao topo.
Desta forma, não se pode classificar este material como depósito coluvial, analisando a
organização do pacote com aumento gradual das argilas e a diminuição gradual do silte e o
aumento pouco significativo das areias em direção ao topo. Além disso, o grau de
arredondamento dos seixos é típico de uma dinâmica fluvial. Outro fator que contribui para esta
análise são as estratificações cruzadas encontradas nos depósitos. Caso fosse unidade coluvial
não haveria tamanha organização e seleção do ponto de vista estratigráfico, pois, como o
colúvio e material transportado não há como ter uma organização do ponto de vista
granulométrico.
As unidades coluviais ocorrem na ultima camada a partir dos 2 metros onde o material
tem uma cor mais escura com influência da matéria orgânica, a partir deste ponto o material é
bem argiloso, com ausência de fragmentos de seixos e solo é estruturado em blocos sub-
angulares. Pelas características acima nota-se que esse pacote coluvial já sofreu intenso
processo de pedogênese, sendo possível classificá-lo como colúvio por está assentado sobre
depósitos fluviais.
Outro fator, que ajuda nesta análise são os blocos falhados, pois, ao observar os depósitos
constata-se que o paleo-canal depositava os seus sedimentos sobre o substrato rochoso, este
substrato posteriormente foi rebaixado por uma falha normal. Isso pode ser observado
claramente em campo, pois, encontraram-se os seixos do terraço há 90 cm abaixo do ponto de
estudo sobre o bloco falhado. Este fato indica que o falhamento foi posterior o encaixe da
drenagem. (Ver foto 02)
Foto 02
Este fato remete ainda a uma tectônica extremamente recente na área em estudo, pois,
foram identificados planos estriados com óxidos de manganês. Estes óxidos indicam o quanto é
jovem este evento, pois, estes são bastante solúveis em relação ao processo de intemperismo.
Sendo possível aferir que este falhamentos se remete ao mio/plioceno.
Figura 06. Projeção dos Planos Estriados
Adaptado de Rocha & Costa, 2007
Rocha & Costa, 2007 ao estudar os planos estriados em blocos falhados no córrego Gameleira
confirmam que este falhamento é resultante de um evento recente os autores acima citados que ao realizar
a análise dos dados pelo método dos Diedros Retos (Angelier, 1997) indicou um ambiente transcorrente
com tensão máxima sub-horizontal ENE/WSW e tensão mínima sub-horizontal NNW/SSE. (ver figura
06). Estes campos de tensões têm sido interpretados por Costa & Saadi (2005) como ativo no paleogeno e
compatível com a abertura das bacias terciárias no sudeste brasileiro.
Assim ao observar os depósitos duas hipóteses podem ser levantadas em relação à
dinâmica pretérita do canal em questão. O ponto do perfil estratigráfico era o local de maior
concentração de sedimentos em relação às bordas havia diminuição do percentual de sedimentos.
Este fato poderia indicar que o local de maior acumulação dos sedimentos era o fundo de leito e
o local de menor concentração as margens. Partindo desta interpretação o antigo canal correria
perpendicular a atual drenagem.
Mas ao analisar outros pontos ao longo desta bacia observava-se que estes sedimentos
ora eram espessos ora se estreitava. Este fato que pode ser interpretado como um canal
meandrante, onde os locais de maior espessura de sedimentos seriam as barras de pontal, ou
seja, as margens, convexas, e os locais de pouco ou nenhum depósito seriam as margens
côncavas, locais de maior erosão de um canal meandrante.
Estas análises estão em concordância com os trabalhos realizados por Augustin (1994,
1995) quando a mesma afirma que houve um grande entalhe da rede de drenagem e recuo das
cabeceiras ao longo do quaternário, mas a referida autora não menciona qual seria o fator
desencadeador de tais processos. Desta forma, ao analisar os planos estriados fica nítido que o
fator desencadeador deste processo pode ser a Neotectônica, fato identificado pelas falhas
encontradas e identificadas.
Um ponto importante merece ser destacado e que este terraço não possui nenhuma relação
com o processo de drenagem atual, pois este terraço é de um canal pretérito que cortava um
substrato rochoso e que teve seu leito alterado por um processo de falhamento, como visto
anteriormente. O córrego Gameleira é uma drenagem atual que tem suas nascentes nas escarpas
quartzíticas nas proximidades de Cuiabá e que aproveitou zonas de fraquezas e entalhou o seu
leito.
Assim fica nítida a importância de estudos de tal magnitude, pois, análises dentro desta
perspectiva mostram como a região vem sofrendo mudanças ao longo do quaternário e ajudam a
compreender a dinâmica atual da paisagem. Mas fica claro também que estudos posteriores com
maior grau de aprofundamento se tornam necessários, pois, poderão mostrar com maior exatidão
os processos geomorfológicos e geológicos que assolam a depressão de Gouveia, principalmente
no que se refere aos processos erosivos.
Conclusão
A Depressão de Gouveia passou por diversos eventos ao longo do quaternário, sendo a
neotectônica um fator representativo. Tal evento gerou uma nova reorganização na rede
drenagem, com entalhamento e vales e recuo de cabeceira. Esta nova dinâmica reativou
processos erosivos na região. Partindo desta perspectiva cabe ressaltar que os processos erosivos
ocorreriam de forma natural na depressão de Gouveia, portanto o fator antrópico estaria apenas
acelerando um processo natural.
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