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FERNANDO VAZIlustrações de Luís Montanari
4ª edição
Conforme a nova ortografia
LIVRO Carrego no Peito.indd 1 6/14/17 11:17 AM
Copyright © Fernando Vaz, 2002
Editor : ROGÉRIO GASTALDO
Assistente editorial: ELAINE CRISTINA DEL NERO
Secretária editorial: ROSILAINE REIS DA SILVA
Suplemento de trabalho: ROSANE PAMPLONA
Coordenação de revisão: LIVIA MARIA GIORGIO
Gerência de arte: NAIR DE MEDEIROS BARBOSA
Supervisão de arte: VAGNER CASTRO DOS SANTOS
Finalização de capa: ANTONIO ROBERTO BRESSAN
Projeto gráfico: ROSANGELA C. LIMA
Diagramação: WALTER REINOSO
Produtor gráfico: ROGÉRIO STRELCIUC
Impressão e acabamento:
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Vaz, FernandoCarrego no Peito / Fernando Vaz ; ilustrações de Luís
Montanari. — 4. ed. — São Paulo : Saraiva, 2009. — (Coleção Jabuti)
ISBN 978-85-02-03820-2
1. Literatura infantojuvenil I. Montanari, Luís. II. Título. III. Série.
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura infantil 028.52. Literatura infantojuvenil 028.5
Todos os direitos reservados.
CL: 810077 CAE: 605637
SARAIVA Educação S.A.
Avenida das Nações Unidas, 7.221 – Pinheiros
CEP 05425-902 – São Paulo – SP
www.editorasaraiva.com.br
Tel.: (0xx11) 4003-3061
11.ª tiragem, 2017
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— Todas pron tas? — pergun tou Lidi nha, que escon-dia o rosto nos braços apoia dos nas costas de minha irmã.
— Sim — respon de ram várias vozes ao mesmo tempo.
— Então vou come çar — retru cou e, quase gritando, desta cando as síla bas e balan çando as náde gas no ritmo da frase, decla mou: — Balance o caixão!
E fazendo os mesmos movi men tos com as náde gas, num ritmo de vaivém quase cantado, todas as meni nas respon de ram:
— Balance você! Dê um tapa na bunda e vá se escon-der!
— Lá vou eu — gritou a Lidi nha, erguendo o braço direito para o tapa; porém, parou o movi mento e pergun-tou: — Você não vai apron tar aquilo, né, Márcia?
— Não, pode bater — respon deu minha irmã, rindo.E lembrei-me daquele dia em que, bem nessa hora
de levar o tapa da compa nheira, ela soltou um pum baru-lhento, arran cando tantas garga lha das que a fila se desfez. A Márcia era assim: gostava de pregar peças, apron tar arma-di lhas para fazer rir. Uma menina alegre, gozada e diver tida. E pensando nisso, vi a Lidi nha descer o tapa com a mão direita que, com certeza, queria que fosse forte, mas o movi mento termi nou num paf sem graça na bunda de minha irmã, que riu mais forte e come çou a decla mar:
— Balance o caixão!— Balance você! Dê um tapa na bunda e vá se escon der! Márcia tirou o rosto dos braços que se apoia vam nos
quadris de Marili, ergueu a mão para dar um daque les tapas que esta la vam ardi dos, mas come çou a desmo ro nar, lenta-mente, como se o seu corpo tivesse se trans for mado numa estra nha geleia que se dese qui li brava sem derre ter. Não tive tempo nem de pensar, gritei:
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— Dona Lídia, a Márcia, a Márcia...E corri ao canteiro, onde minha irmã estava esta te-
lada no chão, as meni nas à sua volta, apavo ra das. Dona Lídia e eu chega mos ao mesmo tempo. Ela
pediu para o segu rança inter fo nar a minha mãe, abai xou-se e virou a Márcia de costas. Ela estava sem cor, os lábios bran cos. Antes de dona Lídia tomar qual quer provi dên cia, Márcia abriu os olhos e espan tou-se com as pessoas à sua volta. Levan tou-se e espan tou-se ainda mais ao ver meu pai e minha mãe correndo em sua dire ção.
— O que acon te ceu? Você está sentindo alguma coisa, minha filha?
— Não sei, quando o Daniel me chamou ela já estava caída no chão — expli cou dona Lídia.
— Eu estava vendo elas brin ca rem. A Márcia foi caindo deva gar, mãe, até pare cia em câmara lenta — contei.
— Você sentiu alguma coisa, Márcia? — quis saber meu pai.
— Não, não senti nada. Era minha vez de escon der. Ia dar o tapa e, quando vi, estava no chão, com todo o mundo em volta de mim.
— Vamos subir, Márcia — falou minha mãe.— Por quê? — protes tou minha irmã.— Porque nós preci sa mos saber o que acon te ceu.— Não acon te ceu nada, mãe.— Como não?! Então você perdeu os senti dos e não
acon te ceu nada? Vamos já ao médico.— Exata mente — confir mou meu pai, abra çando-a.— E eu? — pergun tei, pensando que minha manhã de
domingo também estava acabada.— Se prefe rir e se a Lídia concor dar em tomar conta
de você, pode ficar — respon deu minha mãe.
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— Claro que tomo — concor dou dona Lídia.— Então, Lídia, obri gada. Nós vamos subir e
marcar com o médico — disse minha mãe, já a cami nho do eleva dor.
! Dali a pouco, meu pai para ria o auto mó vel, expli ca ria
que esta vam indo ao médico e volta riam logo; se eu quisesse acom pa nhá-los… Vi o ar preo cu pado de minha mãe, a cara embur rada de Márcia e, meio em dúvida, preferi ficar.
Em uma hora esta vam de volta. Durante o almoço, eu soube que na manhã de segunda- feira Márcia faria diver sos exames e, até lá, fica ria de molho, sem sair de casa.
2 Algo errado
na ordem das coisasO dia seguinte foi uma epopeia por labo ra tó rios,
centros de diag nós ti cos e uma enxur rada de pala vras compli-ca das. De uma, jamais me esque ce ria: eletren ce fa lo grama. Ao fazê-lo, minha irmã ficou toda preo cu pada, prin ci pal-mente quando a enfer meira come çou a prepará-la.
— Não tenha receio, não vai doer nada — disse, pegando um punhado de fios.
— A senhora diz que não dói, me passa um troço gelado na cabeça e agora vem com esses fios! Não sou
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boba, é como conversa de farma cêu tico, a inje ção nunca dói, até que se espete a agulha — protes tou minha irmã.
— Fique tran quila, aqui não tem agulha — respon deu e expli cou que os fios seriam apenas sobre pos tos em sua cabeça. — Este exame veri fica como anda a ativi dade elétrica de seu cére-bro. Ou pensa que nossa ener gia não é elétrica? É sim. Temos eletri ci dade circu lando em todo o nosso corpo. E
muita. Se as coisas não esti ve rem bem, as corren tes elétri cas trom bam entre si, a gente leva uns choques, os órgãos não funcio nam direito etc. Por causa disso a gente pode até ficar lelé — brin cou, rindo e fixando aque les fios todos.
Dias depois, enve lo pes e enve lo pes, com núme ros, gráfi cos e rela tó rios com infor ma ções incom preen sí veis conti nham o resul tado dos exames. Meus pais e Márcia volta ram ao médico. Não pude acom pa nhá-los, fiquei em meu quarto, sentado à escri va ni nha, o caderno e o livro aber tos. Porém, meus olhos não liam nada. O manus crito descui dado do caderno e as letras do livro eram só pretexto para eu mergu lhar num poço de preo cu pa ções. Eu gosta ria de saber qual o problema de minha irmã. E não me confor-mava. Logo ela, sempre tão saudá vel. Desde que nasce mos, disse ram que eu era o mais fraco, ela, a mais forte. A domi-nante. E lembrava-me da expli ca ção de minha mãe, que ouço desde que me entendo por gente:
— Um dos gêmeos é sempre maior e mais forte. Em casa, esse papel coube a Márcia, muito mais robusta que o Daniel. Coitado, nasceu fran zino, magri nho, enco lhi di nho, embir rado. Pra ser sincera, quando o vi pela primeira vez,