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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES JOYCE ARIANE DE SOUZA Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade São Paulo 2014

Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

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Page 1: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

JOYCE ARIANE DE SOUZA

Inclusão digital em um país desigual:

muito além da tecnicidade

São Paulo

2014

Page 2: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

JOYCE ARIANE DE SOUZA

Inclusão digital em um país desigual:

muito além da tecnicidade

Monografia apresentada ao Departamento de

Relações Públicas, Propaganda e Turismo da

Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, em cumprimento às exigências do

Curso de Pós-Graduação Lato Sensu, para

obtenção do título de Especialista em Gestão

Integrada da Comunicação Digital nas

Empresas .

Orientador: Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa

São Paulo

2014

Page 3: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

Autorizo a reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou

eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

Souza, Joyce Ariane de

Comunicação digital nas empresas: uma avaliação. Joyce Ariane de Souza:

orientador Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa. - São Paulo, 2014. 47 fls.

Monografia (Especialização Lato Sensu) – Escola de Comunicações e Artes,

Universidade de São Paulo, 2014.

1. Sociedade da Informação. 2. Inclusão digital. 3. Exclusão digital. 4.

Marginalização digital. 5. Tecnologia da informação e da comunicação. 6. Inclusão

social.

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Nome: SOUZA, Joyce Ariane de

Título: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

Monografia apresentada ao Departamento de

Relações Públicas, Propaganda e Turismo da

Escola de Comunicações e Artes da Universidade

de São Paulo, em cumprimento às exigências do

Curso de Especialização Lato Sensu, para

obtenção do título de Especialista em Gestão

Integrada da Comunicação Digital para

Ambientes Corporativos, sob orientação do Prof.

Dr. Mauro Wilton de Sousa.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Instituição:

Julgamento: Assinatura:

Prof. Instituição:

Julgamento: Assinatura:

Prof. Instituição:

Julgamento: Assinatura:

Page 5: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

RESUMO

SOUZA, Joyce Ariane de. Inclusão digital em um país desigual: muito além da

tecnicidade. 2014. 47 f. Monografia (Especialização Lato Sensu) – Escola de

Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

Os últimos 200 anos da história foram marcados pelo surgimento de novas

tecnologias, cuja rápida evolução invadiu todas as esferas da vida humana, transformando

radicalmente o modo de produção empreendido desde o século XX, criando, assim, o que

se denominou Sociedade da Informação. Desenvolvida de maneira díspar entre países

desenvolvidos e em desenvolvimento, as novas tecnologias, que inicialmente pareciam

contrubuir com uma globalização democrática, ampliaram o contexto da desigualdade

social, relacionado diretamente ao não acesso às Tecnologias da Informação e

Comunicação (TICs). Esta monografia estuda as consequências deixadas pela revolução

tecnológica em um país desigual, mais especificamente no Brasil. O estudo apresenta a

mudança do modo capistalista, a estratificação social ocasionada pelo digital e a

importância do entendimento dos termos exclusão e inclusão para o desenvolvimento de

Programas de Inclusão Digital. Apresenta-se uma reflexão crítica do desenvolvimento das

iniciativas públicas de inclusão digital no Brasil, desde o registro dos discursos dos

principais programas até sua eficácia perante os atores marginalizados, de acordo com

conceitos advindos da esfera digital, como dromoaptidão.

Palavras-chave: Sociedade da Informação. Inclusão digital. Exclusão digital.

Marginalização digital. Tecnologia da informação e da comunicação. Inclusão social.

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ABSTRACT

SOUZA, Joyce Ariane de. Digital inclusion in an unequal country: beyond the

technicality. 2014. XX f. Monografia (Especialização Lato Sensu) - Escola de

Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

The last 200 years of history have been marked by the emergence of new

technologies, whose rapid development has invaded all spheres of human life, radically

transforming the mode of production undertaken since the twentieth century, thus creating

what is called Information Society. Developed in a diverse way between developed and

developing countries, new technologies, which initially seemed to contribute with a

democratic globalization, actually expanded the context of social inequality, not directly

related to access to Information and Communication Technologies (ICTs). This

monograph regards the consequences left by the technological revolution in an unequal

country, more specifically in Brazil. In this sense this study introduces the changes of the

capistalism, social stratification caused by the digital and the importance of understanding

the terms exclusion and inclusion for the development of Digital Inclusion Program. It

presents a critical view about the development of public digital inclusion initiatives in

Brazil, from the record of the programs discourse to its real effectiveness against

marginalized actors, according to concepts under digital sphere, as like the concept of

“dromoaptidão” (or dromo-apititude).

Key words: Information Society. Digital inclusion. Digital divide. Digital

marginalization. Information and communication tecnhnology. Social inclusion.

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AGRADECIMENTOS

A todos que partilharam comigo os momentos árduos, conflituosos, mas também

muito gratificantes da trajetória dos estudos e da construção desta monografia.

Agradeço, primeiramente, à minha família, que sempre me deu condições

financeiras e emocionais para prosseguir com os estudos, e ao meu namorado, pelo

incentivo incessante na procura de novos conhecimentos e pela paixão com a qual busca

construir um mundo mais igualitário. A vocês, meu amor verdadeiro e único.

À memória do meu amigo e mestre, Dr. Celso Charuri. Minha eterna gratidão.

Aos mestres que, ao longo da minha pequena trajetória acadêmica,

proporcionaram-me leituras, debates e experiências engrandecedoras.

Aos amigos do Digicorp pelo intercâmbio de ideais, reflexões e apoio nos

momentos de desespero na reta final desta monografia.

Aos autores que percorri ao longo da redação deste trabalho. Sem os legados

deixados continuamente pelos senhores(as) não seria possível a conclusão desta

monografia. Meu eterno respeito.

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao Prof. Dr. Mauro Wilton de Sousa, por acreditar que eu podia contribuir com

os estudos acerca da inclusão digital no Brasil, pelos encontros e aulas incríveis, que me

proporcionavam ainda mais energia para o estudo e para a escrita desta monografia, e

pelos cafés, regados a reflexões sobre o modo capitalista em que estamos inseridos. Meu

muito obrigada!

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O capitalismo transformou o mundo e durante este processo se

transformou.

Edilson Cazeloto

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11

1. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO .............................................................................. 14

1.1 Contexto contemporâneo ........................................................................................ 14

1.2 O paradigma da Sociedade da Informação ............................................................. 15

1.3 Desigualdade social e o pertencimento ................................................................... 18

2. EXCLUSÃO E INCLUSÃO NAS NOVAS TECNOLOGIAS ..................................... 22

2.1 Estratificação social ................................................................................................ 22

2.2 Exclusão e inclusão digital ...................................................................................... 26

3 CENÁRIO DA EXCLUSÃO E INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL ......................... 31

3.1 Exclusão digital no Brasil ....................................................................................... 31

3.2 Inclusão digital no Brasil ........................................................................................ 34

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 39

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 41

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INTRODUÇÃO

Frente ao contexto das mudanças ocasionadas a partir da revolução tecnológica e

que invadiu todas as esferas da vida humana desde o final dos anos 1980 em todo o

mundo, construiu-se uma sociedade informacional. Este estudo concentra-se na reflexão

sobre a inclusão digital em um país desigual, mais especificamente no Brasil, pelo prisma

da importância do desenvolvimento de programas de inclusão digital com bases que vão

além da tecnicidade, visando minimizar a desigualdade social ampliada pela globalização

digital.

A nova economia é, decerto neste momento, uma economia capitalista. De fato,

pela primeira vez na história, todo o planeta é capitalista ou depende de sua

ligação às redes capitalistas globais. [...] a nova economia tem/terá por base um

surto no crescimento da produtividade resultante da capacidade de se usar a nova

tecnologia da informação para alimentar um sistema de produção fundamentado

nos conhecimentos. [...] Contudo, a nova economia não deixa de ter falhas e

riscos. Sua expansão é muito desigual em todo o planeta [...] afeta a tudo e a

todos, mas é inclusiva e exclusiva ao mesmo tempo; os limites da inclusão

variam em todas as sociedades, dependendo das instituições, das políticas e dos

regulamentos. (CASTELLS, 2013, p. 202-3)

Como descrito acima, nas palavras de Castells (2013), nas últimas décadas,

assistiu-se a uma profunda transformação social, política e econômica. A tecnologia

trouxe uma nova forma de organização em que a informação tornou-se mercadoria, ou

seja, fonte de valor e poder, invertendo a lógica do capitalismo clássico em que o poder

concentrava-se na produção de bens de consumo. Dessa forma, não só o acesso aos

aparatos tecnológicos, mas a troca de conhecimento na rede, ou seja, a inteligência

coletiva1, como denomina Pierre Lévy (2007), possibilitada pela Internet, tornaram-se

fundamentais para o desenvolvimento socioeconômico e a participação ativa e

democrática dos indivíduos na Sociedade da Informação.

1 “É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em

uma mobilização das competências [...]. A coordenação das inteligências em tempo real provoca a intervenção de

agenciamentos de comunicação que, além de certo limiar quantitativo, só podem basear-se nas tecnologias digitais da

informação.” (LÉVY, 2007, p. 28-9).

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A emergência da sociedade da informação recolocou o debate sobre o potencial

das tecnologias para ampliar o desenvolvimento, reduzir os níveis de pobreza,

aumentar a liberdade dos indivíduos e aprimorar a democracia. [...] No Brasil, a

expressão ‘exclusão digital’ passou a caracterizar o fenômeno das barreiras

socioeconômicas, colocadas diante da maioria da população, para uso das

tecnologias da informação, desde o final dos anos 1990. (SILVEIRA, 2011, p.

49).

Ao contextualizar as mudanças ocasionadas pela Sociedade da Informação e o

desenvolvimento de políticas públicas de inclusão digital no Brasil, este trabalho poderá

oferecer subsídios para a avaliação sobre o potencial dos conceitos desses programas e o

que na prática eles exercem para minimizar o quadro de exclusão no país.

Os objetivos desta monografia, portanto, são: 1) Analisar o contexto

contemporâneo da Sociedade da Informação e os impactos causados pela revolução

tecnológica em um país desigual, mais especificamente, o Brasil; 2) Entender as

características da estratificação social ocasionada pela revolução tecnológica e os

conceitos de exclusão/marginalização e inclusão digital; 3) Percorrer e analisar as

indagações críticas sobre as proposições e a práticas de programas públicos de inclusão

digital no Brasil.

Tais objetivos traduzem a questão que permeia o desenvolvimento desta

monografia desde a sua formulação até as considerações finais:

Os programas públicos de inclusão digital no Brasil apresentam potencial

significativo de mudança no cenário da exclusão/marginalização em um país desigual,

especialmente sob os pontos de vista que vão além da tecnicidade e consideram

fundamentais conceitos como velocidade e acesso material e cognitivo às novas

tecnologias da informação e comunicação?

Neste contexto, tecnicidade assume o conceito de histórico de concretização, ou

seja, de aprendizado dos objetos técnicos, como do computador, para que um sujeito seja

incluído digitalmente.

Dessa forma, este trabalho se consolidou em três capítulos:

O Capítulo 1, denominado Sociedade da Informação, aborda as principais

características do contexto contemporâneo e as transformações derivadas da revolução

tecnológica, que afetou direta ou indiretamente a vida de toda a humanidade. Esse capítulo

perpassa aspectos desde a reestrutução do capitalismo até o sentimento de pertencimento

gerado no sujeito que não participa diretamente desse novo quadro político, econômico e

social.

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No Capítulo 2, Exclusão e inclusão nas novas tecnologias, temas como

estratificação social e exclusão e inclusão digital são conceituados com base em

estudiosos da esfera digital, a fim de obter parâmetros para uma análise crítica do cenário

de políticas públicas de inclusão digital no Brasil.

O Capítulo 3, Cenário da exclusão e inclusão digital no Brasil, traz dados recentes

sobre o acesso às novas tecnologias no país, de acordo com o poder socioeconômico da

população, e analisa a proposição e a prática de alguns programas de inclusão digital

mediante conhecimentos adquiridos ao longo da construção do segundo capítulo.

Por fim, as considerações finais apresentam uma reflexão crítica sobre os

programas de inclusão digital no Brasil e um possível caminho para a melhora das

políticas públicas no âmbito do digital.

Para entender e analisar todo o contexto contemporâneo aqui exposto, este trabalho

adotou o método de pesquisa bibliográfica e realizou uma revisão literária multidisciplinar,

com exposição e análise de conceitos que perpassam a Comunicação, a Sociologia, as

Ciências Sociais e a Filosofia.

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1. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

1.1 Contexto contemporâneo

A Sociedade da Informação

2, advinda do avanço tecnológico ocorrido no final

dos anos 1980, é hoje uma realidade inquestionável, seja para os indivíduos

participantes ativamente, seja para os que apenas sofrem com seus efeitos de exclusão

ou marginalização, como denominam alguns autores, como Demo (2007, p. 4) ao

afirmar que: “os que estão fora são parte do mesmo sistema, dentro da mesma unidade

de contrários”.

É notório que essa realidade inquestionável invadiu todas as esferas da vida

humana e está presente tanto em atividades rotineiras, por exemplo, nas formas de

pagamento via cartões, como nos sistemas educacional, político e financeiro.

Com uma rápida evolução global, a informação transformou-se em um bem

maior, modificando a base material de nossas vidas, como descreve Castells (2013, p.

XXIX-XXX):

A revolução tecnológica, com seus dois principais campos inter-relacionados,

as tecnologias de comunicação baseadas em micro-eletrônica e a engenharia

genética, continuou a aumentar de ritmo, transformando a base material de

nossas vidas. As redes se tornaram a forma organizacional predominantemente

de todos os campos da atividade humana. A globalização se intensificou e se

diversificou. As tecnologias de comunicação construíram a virtualidade como

uma dimensão fundamental da nossa realidade.

Essa nova realidade, absorvida de forma diversa no mundo, deixou um vácuo

nas camadas sociais da população, em especial, nos países em desenvolvimento, como é

o caso do Brasil. Tal vácuo consistiu na formação de uma nova estratificação social,

baseada em características advindas da esfera digital, como a velocidade e a

dromoaptidão, conceitos que serão explorados posteriormente.

Nesse contexto, nota-se que a participação e a atuação direta na rede é possível

somente para os indivíduos incluídos, ou seja, para aqueles que detém de poder

econômico para aquisições materiais (como infraestrutura de acesso e computador) e

2 Termo utilizado para definir o contexto contemporâneo vivido, no qual todas as esferas (política, econômica e

social) estão pautadas pela informatização, resultado da revolução tecnológica (CASTELLS, 2013).

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cognitivas (para estudos constantes com o objetivo de acompanhar a velocidade de

transformação das novas tecnologias da informação e da comunicação).

Enquanto os países desenvolvidos discutem a implementação de tecnologias

móveis de última geração como o iPhone3, muitas nações em desenvolvimento

não possuem sequer uma rede de telecomunicação capaz de garantir o acesso

universal de sua população aos serviços de comunicação de base, muito menos

à Internet. (BALBONI, 2007, p. 1)

É esse cenário, dos excluídos e dos incluídos digitalmente, que este trabalho

pretende indagar, ainda que de forma sucinta, em virtude do escopo de uma monografia

de pós-graduação. Objetiva-se discutir o que tem sido realizado no Brasil para

minimizar o impacto gerado pela revolução tecnológica e pela sua nova forma de

organização em rede, à qual será chamada de âmbito da Sociedade da Informação

(CASTELLS, 2013).

1.2 O paradigma da Sociedade da Informação

A rápida evolução das tecnologias da informação4 – especialmente a

convergência das telecomunicações e da informática – transformou radicalmente o

modo de produção empreendido desde os anos 1980 e criou uma ruptura com os

padrões da sociedade industrial, desenvolvendo um novo modo capitalista de produção.

O capitalismo transformou o mundo e, durante esse processo, se transformou.

[...] esse capitalismo global impõe as metas e os padrões de desenvolvimento,

regula as relações trabalhistas, delimita os marcos simbólicos, desestabiliza as

formas culturais tradicionais, estabelece os critérios de aferição das

performances e constrói hierarquia internacional de privilégios e comando.

(CAZELOTO, 2008, p. 20).

Invadindo globalmente toda a esfera econômica, política e social, a tecnização e

a informatização, presentes no cerne desse novo capitalismo, transformaram o

3 “Segundo Ethevaldo Siqueira (2007), ‘trata-se de um celular sem teclado, com tela gigante, sensível ao toque dos

dedos, câmera digital de 2 megapixels, memória para armazenar até 8 gigabytes de músicas, fotos ou vídeos, acesso à

Internet, capacidade para enviar e receber e-mails e Sistema operacional OSX, entre outros recursos’” (BALBONI,

2007, p. 1). 4 As tecnologias da informação abrangem “o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação

(software e hardware), telecomunicações/radiodifusão e optoeletrônica” (CASTELLS, 2013, p. 49).

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conhecimento em um bem maior, fonte de valor e poder, o que provocou profundas

alterações na organização do trabalho, com a passagem do modelo taylorista-fordista

para o modelo da especialização flexível5.

No modelo taylorista ou também chamado de organização científica do trabalho,

característico da sociedade industrial, a organização do trabalho se baseava na rígida

repartição de tarefas, na hierarquia de funções entre supervisão humana especializada

(trabalho intelectual) e execução (trabalho manual) e na otimização entre tempo,

produtividade e lucro, este último o centro do modo de produção.

Já no paradigma informacional, surge uma nova organização do trabalho,

centrada na flexibilização dos processos em decorrência da rápida transformação

cultural, tecnológica e institucional vivenciada na economia informacional. Segundo

Cazeloto (2008, p. 28) “uma das transformações mais radicais de nosso tempo seria

justamente o fato de que o trabalho deixou de ser uma centralidade”.

A própria empresa mudou seu modelo organizacional para adaptar-se às

condições de imprevisibilidade introduzidas pela rápida transformação

econômica tecnológica. A principal mudança pode ser caracterizada como a

mudança de burocracias verticais para a empresa horizontal. A empresa

horizontal parece apresentar sete tendências principais: organização em torno

do processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe;

medida do desempenho da equipe; maximização dos contatos com

fornecedores e clientes; informação, treinamento e retreinamento de

funcionários em todos os níveis. (CASTELLS, 2013, p. 20)

Esse novo cenário, no qual todas as atividades humanas se encontram cada vez

mais dependentes das infraestruturas eletrônicas da informação, é conhecido como

sociedade da informação.

Amplamente estudada e debatida nas últimas décadas, essa nova sociedade

mantém como característica intrínseca o conhecimento e a informação, vastamente

difundidos pelas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Para Castells

(2013), esse processo só ocorre pelo surgimento das estruturas básicas em rede6.

5 Termo adotado por Piore e Sabel para descrever a atual evolução organizacional no trabalho: “é a transição da

produção em massa para a produção flexível” (CASTELLS, 2013, p. 211). 6 “Rede é um conjunto de nós interconectados. Nó é o ponto no qual uma curva se entrecorta. [...] Redes são

estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se

dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de comunicação (por exemplo, valores ou

objetivos de desempenho)” (CASTELLS, 2013, p. 567).

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A revolução da tecnologia da informação e a reestruturação do capitalismo

introduziram uma nova forma de sociedade, a sociedade em rede. Essa

sociedade é caracterizada pela globalização das atividades econômicas

decisivas do ponto de vista estratégico; por sua forma de organização em

redes; pela flexibilidade e instabilidade de emprego e da individualização da

mão-de-obra. (CASTELLS, 2013, p. 67)

Desenvolvida em primeira instância pelos Estados Unidos, pela necessidade de

alimentar a reestruturação do capitalismo e manter o seu poder na hierarquia

internacional, a revolução tecnológica da informação foi iniciada e impulsionada pelos

Estados em todo o mundo, porém contou também com uma gama de empresários

inovadores, que não poderiam estar a par desse novo sistema e massificaram a

revolução tecnológica, como os que iniciaram e até hoje mantém o Vale do Silício7.

Esse novo contexto global, que avança de forma assustadoramente rápida e

enérgica, possibilita, de acordo com Castells (2013, p. 108-9), a análise de cinco

paradigmas centrais: a informação é matéria-prima; as novas tecnologias penetram em

todas as atividades humanas; a lógica de redes encontra-se presente em qualquer sistema

ou conjunto de relações; a flexibilidade de organização e reorganização de todos os

processos, organizações e instituições existentes na sociedade informacional, e, por fim:

“[...] a crescente convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente

integrado, no qual trajetórias tecnológicas antigas ficam literalmente impossíveis de se

distinguir em separado” (CASTELLS, 2013, p. 109, grifo do autor).

Com tantos atores empenhados na sua revolução, a tecnologia da informação é

até:

[...] genericamente compreendida como uma “ágora” de conhecimento, onde a

informação estaria universalmente disponível. Mais do que isso, uma estrutura

dinâmica em cujas redes a informação flui, potencializando processos

produtivos, a democracia direta e a diversidade cultural. (BALBONI, 2007, p.

8).

Embora a difusão do informacionalismo ocorresse em processos inseparáveis em

escala global e, portanto, devesse acontecer de forma igualitária em todo o mundo, a

lógica do capital não permitiu esse processo e cada sociedade, de acordo com o seu

7 “O Vale do Silício (em inglês: Silicon Valley), na Califórnia, Estados Unidos, é uma região na qual está situado um

conjunto de empresas implantadas a partir da década de 1950 com o objetivo de gerar inovações científicas e

tecnológicas, destacando-se na produção de circuitos eletrônicos, na eletrônica e informática”. VALE DO SILÍCIO.

In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vale_do_Sil%C3%ADcio&oldid=39758860>. Acesso em: 1 jul. 2014.

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processo histórico político, econômico e social, agiu e reagiu de forma distinta à

chegada da sociedade da informação.

Segundo o Information Economy Report 20138, da ONU, o desenvolvimento

igualitário e democrático em relação ao acesso à rede no mundo está longe de ser uma

realidade, em especial quando o assunto é concectividade em banda larga. A média de

penetração em economias desenvolvidas é de 28 assinaturas para cada 100 pessoas, 6

nos países em desenvolvimento e apenas 0,2 nos países menos desenvolvidos.

A realidade apresentada por dados demostra que as revoluções tecnológicas

ocorrem apenas em algumas sociedades e são difundidas em áreas geográficas

relativamente limitadas, de acordo com o poder do capital desenvolvido ao longo da

história. Com isso, há consideráveis segmentos da população que estão desconectados

do novo sistema tecnológico.

A construção social das novas formas dominantes de espaço e tempo

desenvolve uma mata-rede que ignora as funções não essenciais, os grupos

sociais subordinados e os territórios desvalorizados. Com isso, gera-se uma

distância social infinita entre essa meta-rede e a maioria das pessoas,

atividades e locais no mundo. (CASTELLS, 2013, p. 573)

Nota-se, então, que nem a sociedade informacional nem o pós-industrialismo

trouxeram a utopia da emancipação (política, econômica e cultural) por meio do

conhecimento e da informação amplamente disponíveis, o que houve é que modificou-

se o modo de produção capitalista, “como um rearranjo interno que tende a realizar a

recomposição da hegemonia do capital em um cenário de intensas transformações

sociais” (CAZELOTO, 2008, p. 28).

1.3 Desigualdade social e o pertencimento

Mesmo sendo um entusiasta da sociedade da informação e dos frutos advindos da

revolução tecnológica, Castells (2013) reconhece que parcelas significativas da

população mundial não possuem condições cognitivas e econômicas para se conectar a

rede, muito menos de acompanhar a velocidade incessante das atualizações no âmbito da

tecnologia: o que se sabe hoje, amanhã não existe mais.

8 Disponível em Information Economy Report, 2013, UNCTAD, em

<http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/ier2013_en.pdf >. Acesso em: 15 maio 2014.

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Parece haver uma lógica de excluir os agentes da exclusão, de redefinição dos

critérios de valor e significado em um mundo em que há pouco espaço para os

não-iniciados em computadores, para os grupos que consomem menos e para

os territórios não atualizados com a comunicação. Quando a Rede desliga o

Ser, o Ser, individual ou coletivo, constrói seu significado sem a referência

instrumental global: o processo de desconexão torna-se recíproco após a

recusa, pelo excluídos, da lógica unilateral de dominação estrutural e exclusão

social. (CASTELLS, 2013, p. 60)

É notório que há uma lógica no processo de exclusão e, consequentemente, na

ampliação da desigualdade social na esfera da tecnologia. Em um país em

desenvolvimento, como é o caso do Brasil, a desigualdade social, econômica e política é

uma realidade vivenciada e caracterizada pela distribuição de poder e renda ou, ainda,

pela posição ocupada na produção (trabalho), conforme conceito de Karl Marx:

Tratando-se dos proletários, ao contrário, a sua condição de vida, o trabalho, e

com este todas as condições de existência da sociedade atual, converteram-se

para eles em algo fortuito, no qual cada proletário de per si não tinha o menor

controle, e sobretudo nenhuma organização social podia lhe dar tal controle. A

contradição entre a personalidade do proletário individual e sua condição de

vida, tal como lhe é imposto, isto é, o trabalho, revela-se ante si mesmo,

sobretudo porque já se vê sacrificado a partir de sua infância, por não ter

dentro de sua classe as condições que o coloquem em outra situação. (MARX

e ENGELS, 1989, p. 89-90, apud HIRANO, 2002, p. 129)

Nessa lógica, a classe menos favorecida, ou seja, os proletários, não interessa

para a nova sociedade informacional, pois o consumo passa a ser o cerne do seu

desenvolvimento capitalista e a prole não tem poder de consumo, seja de bens materiais

ou de intelectuais.

Para Castells (2013), o novo capitalismo dissolve a coletividade e a existência de

seres individuais impera na sociedade informacional:

[...] em nível mais profundo da nova realidade social, as relações sociais de

produção foram desligadas de sua existência real. O capital tende a fugir em

seu hiperespaço de pura circulação, enquanto os trabalhadores dissolvem sua

entidade coletiva em uma variação infinita de existências individuais. Nas

condições da sociedade em rede, o capital é coordenado globalmente.

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(CASTELLS, 2013, p. 571-2)

Com a distribuição desigual de recursos relacionados à tecnologia da informação

e da comunicação, no entanto, propaga-se a consolidação das classes sociais, o que

difere do apontado por Castells, já que as classes sociais são definidas por condições

comuns ou como afirma Marx: “Idênticas condições, idênticas antíteses e idênticos

interesses” (MARX e ENGELS, 1989, p. 89-90 apud HIRANO, 2002, p. 129), ou seja,

são seres individuais que, em virtude dessas características, atuam em conjunto e são

tratados por políticas públicas, no âmbito da tecnologia, como grupos que acessam

(incluídos) ou não (excluídos) a rede.

Dessa maneira, o incluído (digitalmente) é caracterizado como um indivíduo de

alta renda e o excluído como um indivíduo de renda baixa, que sofre fortemente o

processo de desigualdade social.

Nesse cenário, a propagação da importância das tecnologias de informação e

comunicação e do compartilhamento do conhecimento na rede, motiva o sentimento de

pertencimento no cidadão excluído.

Admite-se, pois, que não é difícil apontar que a dimensão subjetiva que

motiva o pertencer a um todo é, no caso, o próprio sentimento de

pertencimento, acionado de alguma forma pela necessidade já presente

nesse todo que é buscado como objeto-fim. (SOUSA, 2010, p. 37)

No contexto do informacionalismo, esse objeto-fim pode ser amplamente

caracterizado pela busca por melhorias nas condições sociais vivenciadas pelos menos

privilegiados no novo modelo de produção capitalista, em que a qualificação cognitiva9

e técnica, em especial, em relação às novas tecnologias, proporcionam melhor

posicionamento no mercado de trabalho e, consequentemente, ampliação da renda.

O sentimento de pertencimento ao comum em relação ao digital é caracterizado

no Brasil pelo desenvolvimento de comunidades, que se reúnem em torno de projetos

para compartilhar “essencialmente uma reivindicação por diferença” (SILVERSTONE,

1999 apud SOUSA, 2010, p. 39), consolidando assim o exercício de estar junto

9 “Cognição é o ato ou processo da aquisição do conhecimento que se dá através da percepção, da

atenção, memória, raciocínio, juízo, imaginação, pensamento e linguagem”. COGNIÇÃO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cogni%C3%A7%C3%A3o&oldid=39673551>. Acesso em: 1 jul. 2014.

Page 21: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

21

socialmente e disseminando que, apesar da sociedade informacional ser caracterizada

também pelo individualismo, quando se sente a par de um sistema e se encontra um

comum, estes se unem, assim como ocorria na luta de classes.

Se pertencer também é expressão marcante de uma crise de nossa era, é tanto

mais buscado à medida que a sociedade não provê condições de realizá-lo, e

identidade e pertencimento se confundem. [...] Esse caráter efêmero e

transitório que as comunidades podem assumir não invalida o sentimento que

motiva buscá-las, à procura de conexão, de um pertencer e “estar com”, ainda

que com as possíveis características do que Castells denomina de “Mass Self

Communication (intercomunicação individual”, 2006) ou Flichy criticamente

denomina de “comunicação de massa individual” ou “sociedade do

individualismo conectado” (2004). (SOUSA, 2010, p. 40).

Como apresenta Castells (2013, p. 59), as novas tecnologias da informação “não

são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos.

Usuários e criadores podem tornar-se a mesma coisa”.

Da falta do conhecimento dessas novas tecnologias resulta a exclusão e a

inclusão digital no âmbito socioeconômico de acesso à rede, em que os menos

favorecidos encontram-se impossibilitados de participar e interagir de forma autônoma e

protagonista dos recursos oferecidos por uma sociedade em plena expansão.

Page 22: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

22

2. EXCLUSÃO E INCLUSÃO NAS NOVAS TECNOLOGIAS

2.1 Estratificação social

A Sociedade da Informação, como definida no capítulo anterior, apresenta

características únicas, como a dominância da tecnologia na ordem mundial, como

conceitua Eugênio Trivinho10

em sua obra A dromocracia cibercultural, 2007:

[...] a configuração material e a atmosfera simbólica e imaginária

internacionais da era pós-industrial avançada, corresponde à informatização e

virtualização generalizada da vida social, seja no âmbito do trabalho, seja no

do tempo livre – configuração e atmosfera que não reduzem, portanto, ao que

desenrola apenas na interioridade do cyberspace, estando, antes, aquém e além

dessa rede. (TRIVINHO, 2007a, p. 101)

Analisar este cenário, em que o capitalismo surge reestruturado, o cotidiano

informatizado e a ênfase não se concentra mais na produção e sim no consumo, por isso

a flexibilização dos processos e da empresa horizontal, não é tarefa simples, porém

fundamental para entender a exclusão e inclusão digital, além de ampliar a visão de

tecnicidade apresentada como primordial em programas sociais de inclusão digital, que

serão analisados no último capítulo deste trabalho.

Mediante essas análises pretende-se demonstrar que variantes são postas de lado

em detrimento da tecnicidade e do acesso às ferramentas de inclusão, como o

computador e a banda larga. Poucos são os casos em que a cognição e os ganhos pela

interação na rede são estruturados e postos em exaltação e prioridade em políticas

públicas e projetos de inclusão.

Em outras palavras, em que pesem as possibilidades de ganhos sociais

no uso intensivo de ferramentas informáticas, essas “virtualidades”,

normalmente associadas às características intrínsecas do computador,

visto como objeto tecnológico em si, podem se dissipar diante dos usos

concretos de máquinas, sempre presididos por relações hierárquicas e

de poder que lhes são igualmente inerentes. (CAZELOTO, 2008, p.

107)

10 Eugênio Trivinho intitula esse período histórico como Cibercultura. Neste trabalho, o período histórico atual será

denominado como Sociedade da Informação, pois acredita-se que Cibercultura está em “declínio da popularidade na

literatura especializada” (FELINTO, 2011).

Page 23: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

23

A hipótese é que características estruturantes da Sociedade da Informação como,

por exemplo, a velocidade, sejam as novas formas de estratificação social junto as

categorias econômicas.

A velocidade está intrinsecamente presente na informatização do cotidiano e

talvez seja a característica mais influente no processo de hierarquização e estratificação

da Sociedade da Informação, pois é ela quem dita as regras nas múltiplas e constantes

interações nas redes.

Desta forma, cabe averiguar que o acesso veloz aos elementos materiais – neste

caso à Internet – e aos simbólicos é uma realidade somente para países desenvolvidos,

como a Coreia do Sul, a Suécia, a Islândia, a Dinamarca, a Finlândia, a Noruega, entre

outros.

Segundo relatório anual da União Internacional de Telecomunicações (UIT) –

Medindo a Sociedade de Informação 201311

– o número de domicílios com acesso à

Internet está aumentando em todas as regiões do mundo, porém as diferenças

hierárquicas persistem: as taxas de acessibilidade ao final de 2013, de acordo com

estimativas da UIT, chegaram a quase 80% no mundo desenvolvido, em comparação

com 28% nos países em desenvolvimento.

Estima-se, ainda, que 1,1 bilhão de domicílios em todo o mundo ainda não estão

conectados à Internet, 90% dos quais estão situados nos países em desenvolvimento.

Os dados mostram que a Sociedade da Informação, amplamente desenvolvida no

final do século XX, criou um ambiente destinado à elite mundial, que se beneficia, com

os poderes políticos, econômicos, sociais e culturais, da atuação em e na rede. Para os

menos favorecidos, a tecnologia e a velocidade, características intrínsecas deste

momento histórico, também são presentes, porém desenvolvendo novas formas de

dominação, pelo que se denominou de digital divide, digital apartheid ou, no Brasil,

exclusão digital.

No período contemporâneo de transição, o interregno glogal, podemos assistir

ao surgimento de uma nova topografia da exploração e de novas hierarquias

econômicas, cujas linhas desenham-se acima e abaixo das fronteiras nacionais.

Estamos vivendo num sistema de apartheid global. Devemos deixar claro, no

entanto, que o apartheid não é apenas um sistema de exclusão, como se as

populações subordinadas fossem simplesmente isoladas, sem valor e

11 Disponível em: Measuring the Information Society Report, 2013, UIT, <http://www.itu.int/en/ITU-

D/Statistics/Pages/publications/mis2013.aspx> . Acesso em: 15 maio 2014.

Page 24: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

24

descartáveis. No Império global de hoje, tal como acontecia antes na África do

Sul, a apartheid é um sistema produtivo de inclusão hierárquica que perpetua a

riqueza de poucos graças ao trabalho e à pobreza de muitos. Desse modo, o

corpo político global também é um corpo econômico definido pelas divisões

globais de trabalho e poder. (NEGRI et al., 2005 apud SILVEIRA, 2008, p.

51).

Por meio das transformações ocorridas no período contemporâneo, como “o

declínio da centralidade do trabalho na constituição do sujeito” (CAZELOTO, 2008, p.

110), é possível observar a existência de uma nova estratificação social baseada no

digital, ou seja, no acesso aos recursos necessários para a participação na Sociedade da

Informação e na dromoaptidão.

O conceito de dromoaptidão foi desenvolvido por Trivinho (2007a) pelas

premissas lançadas por Paul Virilio12

em Velocidade e Política (1997). Dromo, do

prefixo grego drómos, expressa a ideia de corrida, andamento, rapidez e aptidão,

segundo o dicionário Michaellis, é “a capacidade natural de adquirir conhecimentos ou

habilidades motoras”13

. Assim, a dromoaptidão pode ser interpretada como a capacidade

material e cognitiva de ser veloz. No âmbito do digital, trata-se do acesso irrestrito às

novas tecnologias, por exemplo, aos computadores de ponta disponíveis no mercado, e

também à capacidade de interação na rede, ou seja, na prática cultural do indivíduo em

ser emissor e receptor no universo das novas TICs.

Indubitavelmente, a “dromoaptidão” é uma capacidade que depende cada vez

mais da destreza no domínio das TIC, que podemos chamar também de

tecnologias da velocidade. Esta capacidade de acompanhar a velocidade das

inovações, de saber utilizar habilmente as últimas ferramentas, de remixar

técnicas distintas, recombinar conteúdos de modo original, só pode ser

realizado pelos incluídos digitais. (SILVEIRA, 2008, p. 59)

Dessa forma, é possível compreender as novas formas de subordinação

existentes na Sociedade da Informação. A capacidade de ser veloz e a aptidão no

ambiente digital abrangem competências econômicas, que em países em

desenvolvimento ficam à cargo da elite, como a aquisição e a troca constante de 12 “Paul Virilio (Paris, França, 1932) é filósofo, urbanista francês, arquiteto, polemista, pesquisador e autor de vários

livros sobre as tecnologias da comunicação”. PAUL VIRILIO. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida:

Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Paul_Virilio&oldid=37881597>. Acesso em: 01 ago. 2014. 13 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

portugues&palavra=aptid%E3o>. Acesso em: 24 ago. 2014.

Page 25: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

25

tecnologias e o conhecimento cognitivo e pragmático das linguagens da informática, em

processo de constante mutação.

Na medida em que a distribuição social das senhas infotécnicas, da

dromoaptidão conforme e, portanto, dos acessos, realizada via mercado, é

aleatoriamente desigual – e se, por um par de anos, fosse equitativa, não

resistiria à lógica da reciclagem estrutural – arranjam-se, como princípios seja

de causação, seja de reverberação encadeada, as condições propícias de

produção de uma estratificação sociodromocrática flexível em cujo topo

figura a nova casta dos privilegiados, a elite cibercultural dromoapta, que

opera quase inteiramente no filão virtual do tempo real e já nem toca mais no

solo das zonas urbanas, então convertido em lugar morto de passagem, visto a

partir do automóvel, do helicóptero ou do jato particular; e em cuja parte

interior se confina uma extensa e espessa área povoada por um “proletariado”

historicamente reescalonado, assim converso em “camada social dromoinapta”

pelo modus operandi sistêmico da cibercultura, ordem renovada de seres

descartáveis a cujos cérebros o presente lança a sobrecarga de defasagem

patrocinada pela miséria informática socialmente produzida. (TRIVINHO,

2005, p. 72, grifos do autor)

O acesso aos recursos materiais e cognitivos da Sociedade da Informação é um

privilégio da elite mundial, amplamente desenvolvido e motivado pela resstruturação do

capitalismo. Talvez isso justifique a falta de interesse das populações em destinarem

recursos financeiros para uma inclusão digital mundial ampla e eficiente, em que a

tecnicidade e o mercado de trabalho não sejam pautas únicas e fundamentais.

Não basta simplesmente prover uma infra-estrutura de acesso. É necessário

que ela seja veloz. Do mesmo modo, é fundamental que as pessoas sejam

capacitadas cognitivamente, formadas para realizarem no mesmo ritmo das

elites a busca de suas necessidades e a defesa dos seus direitos. (SILVEIRA,

2008, p. 60)

Entender essa “nova” conjuntura da estratificação social, baseada na velocidade,

no controle ao acesso e no desenvolvimento cognitivo, permite observar com um olhar

mais crítico os conceitos de inclusão e exclusão, bem como os discursos de legitimação

dos programas de inclusão digital realizados no Brasil, abordados a seguir.

Page 26: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

26

2.2 Exclusão e inclusão digital

Compreender a exclusão e a inclusão digital se tornou fundamental no contexto

contemporâneo, uma vez que o tema tem sido pauta mundial de políticas públicas,

econômicas, sociais e culturais em decorrência do acelerado processo de evolução da

Sociedade Informacional e de suas consequências.

Conforme analisado anteriormente, a reestruturação do capitalismo, marcada

pela revolução tecnológica ocorrida principalmente no final do século XX, ocasionou

uma nova estratificação social, relacionada ao acesso às novas tecnologias e à

dromoaptidão, mantendo, assim, a hierarquia de poder centralizada em uma elite

mundial.

Com base nesse contexto e na garantia à comunicação, considerada um dos

direitos fundamentais de acordo com o artigo 1914

da Declaração Universal dos Direitos

Humanos de 1948, os termos exclusão e inclusão digital entraram em cena na dinâmica

da Sociedade da Informação, na maioria das vezes, por meio da implantação de

programas direcionados à informatização.

No âmbito global, pode-se dizer que o debate iniciou-se com a junção da União

Internacional de Telecomunicações (UIT), da Secretária Geral da ONU e de grandes

corporações para uma reunião de cúpula de chefes de Estado com o propósito de

construir um consenso mundial sobre os caminhos dessa nova sociedade.

A Cúpula da Sociedade da Informação (CMSI – World Summit of Information

Society), como foi nomeada, ocorreu em duas fases: 2003 em Genebra e 2005 em

Tunis. Já no primeiro encontro, desenvolveu-se um plano de ação com compromissos

políticos e sociais e uma declaração de princípios.

A Declaração de Princípios de Genebra aborda os diferentes desafios

enfrentados pelo mundo em rede e propõem a superação da brecha digital

transformando a exclusão em oportunidade para o desenvolvimento de uma Sociedade

da Informação global:

Nós também estamos plenamente conscientes de que os benefícios da

revolução da tecnologia da informação são hoje distribuídos de forma desigual

entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento e dentro das sociedades.

14 O Art. 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem traz: “Todo o homem tem direito à liberdade de opinião

e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir

informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”. Disponível em:

<http://unicrio.org.br/img/DeclU_D_HumanosVersoInternet.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2014.

Page 27: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

27

Estamos totalmente empenhados em transformar esse fosso digital numa

oportunidade para todos, especialmente para aqueles que correm o risco de

ficar para trás e ser ainda mais marginalizados.15

(Declaração de Princípios de

Genebra, 2003, tradução nossa).

A CMSI, diferentemente de outras Cúpulas patrocinadas pelas Nações Unidas,

incluiu o setor privado como ator-chave e, como pontuado por Silveira (2008, p. 2),:

“Sem a participação expressiva de Chefes de Estados, produziu apenas um documento

em que a questão da divisão digital aparece como central, mas nenhuma medida foi

adotada”.

No Brasil a exclusão e a inclusão digital começam a ganhar coro político em

2000, com o lançamento do Livro Verde – Sociedade da Informação no Brasil

(TAKAHASHI, 2000).

É justamente no âmbito dessas iniciativas que se identificam as desigualdades

quanto ao acesso de grandes contingentes populacionais às Tecnologias da

Informação e Comunicação (TIC). Tais desigualdades vêm sendo

denominadas genericamente como digital divide, gap digital, apartheid digital,

infoexclusão, ou exclusão digital, e têm justificado a formulação de numerosas

políticas públicas com a finalidade de minimizá-las. (BONILLA e PRETTO,

2011, p. 24)

No Brasil, todas essas terminologias culminaram no termo exclusão digital. O

termo exclusão já era utilizado no campo das Ciências Sociais para caracterizar a forma

de organização de segmentos da sociedade em relação a sua forma de organização e

seus direitos sociais, políticos e econômicos.

No âmbito do digital, o termo tonou-se um sinal da época, que, marcada pela

revolução tecnológica e pela atuação cada vez mais em rede – após do boom da Internet,

no ano 2000 – nega o acesso e a interação a uma maioria, tornando o que seria um

lugar-comum da Sociedade Informacional em algo excludente e elitista, já que o acesso

está relacionado ao poder financeiro e educacional (DEMO, 2007).

Apesar de exclusão digital refletir a atual realidade social, alguns autores

divergem quanto a sua eficácia. Para Demo (2007, p. 6), o conceito de exclusão:

15 DECLARATION of Principles Building the Information Society, 2003: a global challenge in the new Millennium:

“We are also fully aware that the benefits of the information technology revolution are today unevenly distributed

between the developed and developing countries and within societies. We are fully committed to turning this digital

divide into a digital opportunity for all, particularly for those who risk being left behind and being further

marginalized”. Disponível em: <http://www.itu.int/wsis/docs/geneva/official/dop.html>. Acesso em: 02 jun. 2014.

Page 28: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

28

[...] tende a ser estanque: ou fora ou dentro. Como os pesquisadores mais

críticos sugerem, trata-se de percepção equivocada, já que os que estão fora

são parte do mesmo sistema, dentro da mesma unidade de contrários.

Ademais, ao serem os pobres incluídos, o que costuma ocorrer é a inclusão na

margem, ou seja, continuam marginalizados, ainda que um pouco mais dentro

do sistema. [...] Deixa-se de perceber que estar fora é modo de estar dentro,

dialeticamente falando. A produção de pobres não é fortuita, mas própria do

sistema.

Com essa visão, o autor utiliza o termo marginalização para designar as

múltiplas discriminações ocorridas no digital, como a cognitiva.

O mais importante é reconhecer que a marginalização do digital está se

tornando uma das mais drásticas, tanto porque segrega pessoas e sociedades

do usufruto tecnológico, quanto porque agrava a pobreza política: estar

analfabeto não é apenas não saber ler, escrever e contar, é principalmente estar

fora do mundo digital, em especial das oportunidades de saber pensar

mediadas por plataformas informacionais. (DEMO, 2007, p. 7-8)

Já Silveira (2008), para analisar o termo exclusão, observa algumas

considerações feitas por Lévy (1999) ao abordar o tema de modo simplista, ao

contemplar que a exclusão se dá na esfera daqueles que ainda não tiveram acesso a uma

nova tecnologia, sem fazer distinção entre todos os processos inseridos nesta realidade.

Porém, ao mesmo tempo, Silveira destaca lampejos importantes de Lévy ao alertar que

“o excluído está desconectado. Não participa da densidade relacional e cognitiva das

comunidades virtuais e da inteligência coletiva” (LÉVY, 1999, p. 238).

Ao analisar não só Lévy (1999), mas também Warschauer (2006), que reforça

que o termo exclusão digital aponta somente para o processo de tecnicidade e acesso,

Silveira (2008) afirma que o termo até pode parecer simplista, mas que a interpretação

depende do viés do observador. Para o autor o termo:

[...] diz respeito a um processo social e econômico que impede as

pessoas de participarem plenamente de uma ou das várias esferas de

que a sociedade é composta. Mas, dada a complexidade da sociedade,

o termo exclusão assume uma dimensão muito ampla quando se refere

a sociedade do que quando é utilizado referindo-se ao bloqueio do

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29

direito de uso autônomo da comunicação em rede. Exclusão social se

dá no mercado de consumo, no mercado de trabalho, na esfera pública,

no cenário dos direitos do cidadão e até aos bloqueis para o acesso ao

ensino público e gratuito. (SILVEIRA, 2008, p. 50)

É essa busca pelo entendimento do período histórico atual, bem como as

consequências deixadas na sociedade, por meio da exclusão gerada pelo apartheid

digital, seja na esfera social e/ou econômica, que surgiram estudos e mapeamentos para

minimizar os impactos e criar programas de inclusão digital.

No entanto, nesse contexto, o que seria inclusão? Assim, como o termo exclusão

se torna amplo e, por vezes, ambíguo na Sociedade da Informação, com a inclusão o

processo não é muito diferente.

O termo incluir, de acordo com o dicionário Michaellis16

, significa: inserir,

introduzir; abranger, compreender. Estas são palavras presentes em planejamentos

públicos e privados de inclusão digital, porém limitadas à maneira tecnocrática, em que

se acredita que somente o acesso já é suficiente para sanar o abismo entre os

marginalizados e a elite dominadora do cenário informacional.

Os programas de inclusão digital que privilegiam apenas o acesso ou a

profissionalização (dimensão de mercado) dos seus usuários deixam de

lado a dimensão da cidadania (direito humano universal à

comunicação) e da capacidade de apropriação e uso autônomo das

tecnologias, se resumindo a apenas mais uma forma de utilizar um

esforço público de sociedades pobres para consumir produtos dos

países centrais ou ainda para reforçar o domínio oligopolista de

grandes grupos transnacionais. (SILVEIRA, 2008, p. 62)

Ao encontro da necessidade de ampliação da temática do termo incluir e da

abordagem realizada pelos programas de inclusão, Lemos e Costa (2005) questionam os

pressupostos, largamente aceitos, denominando-os como dogmas da inclusão digital e

acreditam que somente remetendo a severos questionamentos sobre o contexto atual é

que se pode chegar a uma análise mais assertiva do que vem a ser essa inclusão, que

deve ir além da tecnicidade, ou seja, envolver também a esfera cognitiva:

16 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-

portugues&palavra=incluir>. Acesso em: 25 ago. 2014.

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30

O que será essa Sociedade da Informação? Quem será esse indivíduo

incluído? E o que ele fará em posse dessas novas ferramentas? Pouco

importa. Não há garantias de empregabilidade e a velocidade do

sucateamento tecnológico é enorme. O discurso da inclusão digital

feito dessa forma parece contentar apenas algumas empresas, ONGs e

tecnoutópicos que vão nos vender, sob essa ideologia, mais e mais

brinquedinhos tecnológicos. (LEMOS e COSTA, 2005, p. 6)

Cabe agora analisar até que ponto as ações de inclusão digital no Brasil

potencializam a rigidez dos termos exclusão e inclusão ou potencializam as interações e

as possibilidades dos indivíduos atuarem de forma ativa, participativa, seletiva e

construtora para si e para o ambiente em que estão inseridos.

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31

3 CENÁRIO DA EXCLUSÃO E INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL

3.1 Exclusão digital no Brasil

Com fortes investimentos do Governo Federal nos últimos anos em programas

de redução da pobreza, o Brasil passou por profundas transformações sociais, com

redução dos índices de pobreza e crescimento econômico, diminuindo assim as

desigualdades regionais do país, de acordo com o Relatório Territorial Brasil 201317

, da

Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)18

.

O relatório destaca que as políticas voltadas a disseminar os benefícios do

crescimento econômico têm sido eficazes na redução da desigualdade social no país,

principalmente em relação ao acesso à educação, o que permite um número reduzido de

desemprego no país, porém alerta que a educação não segue o mesmo ritmo da

economia.

Apesar dos avanços, o relatório aponta que o Brasil apresenta ainda ampla

desigualdade social e ocupa a segunda pior posição no ranking dos 34 países mais

industrializados do mundo.

Em relação aos estudos realizados no país, a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (Pnad 2013)19

, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), demonstra que, considerando os rendimentos de todas as fontes de renda

(incluindo, além da renda do trabalho, outras como patrimônios e investimentos), a

distribuição teve tendência decrescente, o que indica melhora na distribuição de renda

no país.

O Índice de Gini, que mede o grau de concentração de uma distribuição, cujo

valor varia de zero (perfeita igualdade) até um (desigualdade máxima) caiu

continuamente, mas em patamares diferentes: ficou estável em 2001 e 2002 – 0,569;

diminuiu para 0,504 em 2012 e, em 2013, voltou aos indicativos de 2011, de 0,505 (ver

17 Disponível em: <http://www.oecd-ilibrary.org/urban-rural-and-regional-development/relatorio-territorial-da-ocde-

brasil_9789264189058-pt>. Acesso em: 01 set. 2014. 18 A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico é um órgão que reúne os 34 países mais

industrializados do mundo e fornece uma plataforma comparativa de políticas económicas, solução de problemas

comuns e coordenação de políticas domésticas e internacionais. Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Económico. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2014. Disponível em:

<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Organiza%C3%A7%C3%A3o_para_a_Coopera%C3%A7%C3%A3o_e_

Desenvolvimento_Econ%C3%B3mico&oldid=40027236>. Acesso em: 12 set. 2014. 19 IBGE, 2013. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=40>. Acesso em: 18 set.

2014.

Page 32: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

32

gráfico a seguir).

Gráfico 1 – Índice de Gini.

Fonte: IBEG 2014

De acordo com a pesquisa, no ano de 2013 os 10% mais pobres receberam, em

média, R$ 235 por mês, valor 3,5% superior ao registrado no ano anterior, e os 10%

mais ricos concentraram 41,2% do total de rendimento de trabalho – ganhando em

média, R$ 6.930, valor 6,4% maior do que em 2012. Motivo pelo qual o Índice Gini

registrou uma estagnação no avanço na distribuição igualitária de renda no Brasil, já que

houve uma ligeira queda de 0,002.

De maneira geral, a renda dos trabalhadores subiu 5,7% acima da inflação de

2012 para 2013, aumentando de R$ 1.590 para R$ 1.681 por mês.

De todas as fontes analisadas, o Amazonas foi o estado que teve o maior

aumento da renda, 12,8%, atingindo R$ 1.455, enquanto o Acre, o Amapá e o Espírito

Santo tiveram queda no rendimento. O Distrito Federal apresenta o maior rendimento

médio, com R$ 3.114, ante R$ 2.083 em São Paulo, o segundo colocado. As menores

médias estão em três estados nordestinos: Ceará (R$ 1.019), Piauí (R$ 1.037) e em

Alagoas (R$ 1.052).

O Índice de Gini mostra, portanto, que apesar dos avanços ocorridos nos últimos

anos, a desigualdade social ainda é o problema mais sério enfrentado pela população

brasileira e que se concentra especialmente nas regiões Nordeste e Norte.

Ao analisar os serviços de telecomunicações existentes no Brasil, é possível

verificar que a exclusão digital acompanha o cenário da exclusão social, ou seja, as

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33

populações presentes ou próximas aos centros urbanos, além de contarem com

rendimentos maiores, também contam com mais acesso à infraestrutura de

telecomunicações e aos serviços de Internet, em especial, ao de banda larga,

fundamental no processo de inclusão digital.

Redes mais velozes são preferidas às redes lentas. Não há nenhum

sentido em buscar o contrário. Por isso, a velocidade da conexão é um

elemento crucial nos processos de inclusão digital. Conectar uma

localidade à internet é um passo importante, mas se o acesso for em

banda estreita, dificilmente aquela comunidade poderá acessar recursos

tecnológicos que dependem de uma alta transferência de dados por

segundo. (SILVEIRA, 2011, p. 54)

Segundo os dados da pesquisa TIC Domicílios 201320

, realizada pelo Centro

Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br),

vinculado ao Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br) e ao Núcleo de Informação e

Coordenação do Ponto BR (NIC.br), 51% da população – 103,38 milhões de brasileiros

– já acessa à Internet e 49% do total de residências no país possuem computador.

A pesquisa mostra, ainda, que a rede de telefonia móvel está em expansão: 85%

das pessoas com 10 anos de idade ou mais nas clases A, B e C utitilizam esse serviço,

porém nas classes D e E essa proporção diminui para 69%.

O uso da Internet por meio da telefonia móvel se destacou em 2013, duplicando

a porcentagem em relação a 2011, e atingindo 31% dos brasileiros com 10 anos ou

mais, o que representa 52,5 milhões de pessoas em números absolutos.

Apesar de a pesquisa mostrar avanços otimistas e significativos em relação ao

acesso às infraestruturas essenciais para a participação ativa da população na Sociedade

de Informação, ou seja, ao computador e aos serviços de telecomunicações, dados

revelam a persistente desigualdade no âmbito digital: na classe A, a proporção de

domicílios com acesso à Internet é de 98%; na classe B, 80%; na classe C, 39%; e nas

classes D e E, 8%.

A pesquisa também confirma que as desigualdades também se dão na esfera

regional, já que nas áreas urbanas a proporção de domicílios com acesso à Internet é de

20 O estudo foi realizado em mais de 16 mil domicílios brasileiros, entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014.

Disponível em: <http://cetic.br/noticia/tic-domicilios-indica-que-31-da-populacao-brasileira-usa-internet-pelo-

telefone-celular/10044>. Acesso em: 03 set. 2014.

Page 34: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

34

48%, enquanto nas áreas rurais é de 15%. Esse dado ainda é reafirmado por meio do

Atlas Brasileiro de Telecomunicações 201421

, que demonstra que os serviços de

telecomunicações concentram-se, em especial, nas regiões urbanas, com mais potencial

de consumo de bens materiais e intelectuais.

A TIC Domicílios (2013) registrou, ainda, que 24,2 milhões de domicílios com

renda familiar de até dois salários mínimos ainda estão desprovidos de acesso à Internet,

o que caracteriza a Sociedade da Informação benéfica somente para uma pequena

camada da população, aquela provida de bens materiais, ou seja, a elite.

A construção social das novas formas dominantes de espaço e tempo

desenvolve uma meta-rede que ignora as funções não essenciais, os

grupos sociais subordinados e os territórios desvalorizados. Com isso,

gera-se uma distância social infinita entre essa metarrede e a maioria

das pessoas, atividades e locais no mundo. Não que as pessoas, locais e

atividades desapareçam. Mas seu sentido estrutural deixa de existir,

incluído a lógica invisível da meta-rede em que se produz valor, criam-

se códigos culturais e decide-se o poder. (CASTELLS, 2013, p. 573)

Ao analisar a complexidade de fatores geográficos, sociais e econômicos que

envolvem a desigualdade social e sua relação com a inclusão digital no Brasil, nota-se a

urgência de políticas públicas compensatórias, ou seja, que ampliem a distribuição de

renda no país e criem programas específicos à inclusão digital, em que o acesso a

computadores e a serviços de telecomunicações caminhe junto aos conhecimentos

cognitivos direcionados à esfera digital.

A construção de novas mídias; de um novo sistema de comunicação social no

país, representa uma oportunidade única de redesenhar o pacto de

solidariedade nacional em nome do interesse público, do desenvolvimento

econômico e social de longo prazo e da defesa intransigente da democracia

como valor universal. (SCHWARTZ 2003, apud BALBONI, 2007, p. 25)

3.2 Inclusão digital no Brasil

A preocupação com a inclusão digital no Brasil iniciou-se em 1995, durante o

governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), responsável por privatizar o sistema de

21 Disponível em: <http://issuu.com/telaviva/docs/atlas2014_site>. Acesso em: 01 set. 2014.

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35

telecomunicações do país, denominado na época como Telebrás, de acordo com a Lei

Geral de Telecomunicações22

e seu Plano de Metas de Universalização23

, que tinha

como obrigações: “possibilitar o acesso de qualquer pessoa ou instituição a serviço de

telecomunicações, independentemente de sua localização e condição sócio-econômica;

e permitir a utilização das telecomunicações em serviços essenciais de interesse

público”.

No início, a inclusão digital foi caracterizada pela importância do acesso aos

serviços de telecomunicações. Por causa da criação de obrigações para as empresas

privadas que assumiram o lugar da Telebrás, a infraestrutura desenvolvida no país

permitiu a ampliação das redes de telefonia fixa e, posteriormente, da móvel, porém

esse processo não atingiu a sociedade de forma igualitária, ou seja, priorizou algumas

condições geográficas e de renda per capita.

Somente em 2000, o governo de FHC dá um passo significativo em relação à

ampliação do conceito e das ações de inclusão digital e cria o Governo Eletrônico, a

partir do Decreto Presidencial de 03 de abril de 200024

, gerido pelo Comitê Executivo

do Governo Eletrônico (CEGE) com o objetivo de democratizar o acesso às novas TICs

e ampliar o debate e a participação popular na construção das políticas públicas. Dessa

ação, originaram-se os primeiros programas estaduais e municipais de inclusão digital

ainda destinado ao acesso, dentre eles: infocentros do Acessa São Paulo, iniciativa do

governo do Estado de São Paulo, e o Sampa.org, desenvolvido pelo Instituto de

Políticas Públicas Florestan Fernandes.

Apesar das iniciativas de FHC, foi com a chegada de Luís Inácio Lula da Silva

ao Governo Federal que os programas de inclusão digital se multiplicaram,

“principalmente projetos de abertura e manutenção de telecentros, locais de acesso

gratuito à internet” (SILVEIRA, 2011, p. 50).

Em 2003, a inclusão digital – termo que substitui a universalização do acesso

no discurso público nacional – passou a ser anunciada como um dos principais

insumos para o desenvolvimento do país, e ganhou destaque na mídia. A

estratégia de inclusão digital adotada pelo governo federal reúne diversas

22 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9472.htm>. Acesso em: 05 set. 2014. 23Disponível em:

<http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalNivelDois.do?codItemCanal=1277&nomeVisao=Cidad%E3o&nomeCa

nal=Telefonia%20Fixa&nomeItemCanal=Universaliza%E7%E3o>. Acesso em: 05 set. 2014. 24 Disponível em: <http://www.governoeletronico.gov.br/anexos/E15_90Decreto_3_de_abril_de_2000.pdf>.

Acesso em: 13 ago. 2014.

Page 36: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

36

iniciativas ministeriais e interministeriais que, com alguma articulação entre

si, obtiveram resultados significativos, mas ainda inexpressivos diante do

tamanho da exclusão brasileira. (BALBONI, 2007, p. 30)

Nesse cenário, novas propostas foram elaboradas em diferentes ministérios que

passaram a compor as iniciativas de inclusão digital, como o Ministério das

Comunicações, o Ministério da Ciência e da Tecnologia, o Ministério da Cultura e o da

Educação, entre outros. Isso engrandeceu as contribuições de cada área com o objetivo

de não priorizar somente o acesso, mas sim a interação cognitiva possibilitada pelas

novas TICs.

Além disso, no final da primeira década do século XXI, com políticas públicas

focadas na melhoria da distribuição de renda no país, houve um aumento na aquisição

de computadores e as comunidades começaram a cobrar dos seus municípios o acesso à

Internet.

Algumas cidades, diante da demanda, iniciaram seus trabalhos para adentrarem

ao programa do Ministério da Cultura, chamado de Cidades Digitais. Mediante um

processo de seleção, a cidade aprovada passa, dentre outras funções, a oferecer pontos

de acesso à internet para uso livre e gratuito em espaço de ampla circulação, como

praças, parques, rodoviárias, entre outros25

.

Além do Cidades Digitais, atualmente o Governo Federal desenvolve, por meio

do Governo Eletrônico, quinze projetos que visam garantir a disseminação e uso das

TICs, o desenvolvimento social, econômico, política e cultural na esfera digital, bem

como a aproximação dos excluídos à nova Sociedade da Informação. São eles: Banda

Larga nas Escolas; Casa Brasil; Centros de Recondicionamento de Computadores

(CRCs); Computadores para Inclusão; Inclusão digital da juventude rural; Oficina para

a Inclusão Digital; Projeto Cidadão Conectado – Computador para Todos; Programa

GESAC; Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; Programa de

Inclusão Social e Digital; ProInfo Integrado; Redes Digitais da Cidadania; Telecentros;

Territórios Digitais; Um Computador por Aluno.

Alguns desses projetos contam com a articulação entre Governo Federal,

empresas privadas, governos estaduais e municipais, organizações não governamentais

e outras entidades da sociedade civil. Um exemplo é o projeto Computador para Todos,

25 As informações referentes às iniciativas do Governo Federal aqui descritas são frutos de pesquisas no site

<http://www.governoeletronico.gov.br/acoes-e-projetos/inclusao-digital>, bem como nos sites dos respectivos

Ministérios.

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37

que conta com uma linha de financiamento para promover a venda de computadores e o

acesso à Internet a preços subsidiários de até R$ 1.400,00 para as classes B e C; outro

projeto é o Programa de Inclusão Digital e Social, que desenvolve espaços de cidadania

e cultura digital em regiões com baixo índice de desenvolvimento humano,

disponibilizando acesso à Internet e à laboratórios para produções multimídias, com

foco no desenvolvimento da comunidade pelas TICs.

Os agentes mais relevantes da chamada política de inclusão digital

podiam ser relatados como: os telecentros públicos, estatais e

comunitários, os pontos de cultura digital, as escolas conectadas, o

reconhecimento das lan houses como atividades de

microempreendedorismo que gerava inclusão, cidades digitais com

nuvens wireless conectando moradores, os programas de

financiamento de computadores para as camadas médias e

pauperizadas da sociedade. Todos eles se concentravam na garantia de

conexão para as pessoas em seus territórios. E o crescimento da

conectividade alertou a sociedade para o garlago da infraestrutura de

telecomunicações, a ausência da banda larga em enormes áreas do

território nacional. (SILVEIRA, 2011, p. 50-1)

Nesse contexto dos serviços de telecomunicação no país e da ampliação de

consciência da sociedade frente à importância do acesso e do conhecimento das TICs

para a melhoria das condições de vida, em 2010, pelo decreto n.º 7.175/201026

, o então

presidente Lula implementa o Plano Nacional de Banda Larga, com o objetivo de

massificar o acesso à internet de banda larga no país, em especial, nas regiões mais

carentes de tecnologia e de chegar a 40 milhões de domicílios conectados à rede de alta

velocidade.

Imediatamente ao anúncio do Plano Nacional de Banda Larga as

operadoras de telefonia passaram a atuar para bloquear qualquer

tentativa do Estado de atuar diretamente na oferta de conexão, ou até

mesmo de implementação de controles mais rígidos de preço e

qualidade. Acusadas de ineptas na construção desta infraestrutura, as

operadoras voltaram sua carga para reverter o plano iniciado por Lula

26 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Decreto/D7175.htm>. Acesso em: 12

set. 2014.

Page 38: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

38

em um plano de ampliação dos benefícios econômicos para sua

atividade. (SILVEIRA, 2011, p. 51)

A partir desse quadro social é possível notar que nas últimas décadas o Brasil

desenvolveu diversas políticas públicas visando a diminuição da estratificação social

ocasionada pela revolução tecnológica, porém a maior parte dessas políticas se mostram

pouco impactantes quando analisado o uso pleno das TICs pela população de baixa

renda, a iniciar pelo acesso limitado a infraestruturas e a velocidade com que essa nova

sociedade se reinventa.

O Estado não conseguiu organizar uma política pública coerente e

minimamente articulada que possa ser comparável ao Sistema Único

de Saúde ou à Política Educacional. É perceptível que os líderes

políticos e gestores públicos têm grande dificuldade de entender a

importância da inserção do conjunto das camadas sociais na

comunicação em rede para romper o processo de reprodução da

miséria. (SILVEIRA, 2011, p. 51)

Page 39: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A informatização do cotidiano, ou seja, de todos os processos políticos,

econômicos e sociais advindos da revolução tecnológica e do surgimento da Sociedade

da Informação no final do século XX, colaborou para uma nova estratificação social da

sociedade brasileira, pois contribuiu para a concentração do poder junto à elite, que

representa apenas 10% da população atual.

O poder na era informacional está diretamente relacionado ao acesso e ao

domínio intelectual das novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Por isso, os

que possuem capital, tempo e condições sociais prévias – como o conceito de

dromoaptidão apresentou no segundo capítulo – mantém vantagem em relação aos

marginalizados, aqueles que estão aquém do acesso e que dirá do conhecimento e da

interação plena com as novas tecnologias.

O Governo Federal brasileiro implementou diversas políticas públicas focadas

na diminuição dessa nova estratificação social, causada pela revolução tecnológica e

pela reestruturação do capitalismo em torno da informatização.

Apesar de avançar em relação à diminuição da pobreza por meio de programas

de distribuição de renda, o que começa a permitir o acesso a infraestruturas da nova

sociedade, como aquisição de computadores e pacotes de conexão, o Governo Federal

não conseguiu se articular para impedir o descaso das empresas privadas em relação ao

fornecimento de infraestrutura adequada para toda a população e não desenvolveu um

órgão, por exemplo, uma secretaria única destinada destinada ao entendimento amplo

do que é a inclusão digital e o que os sujeitos excluídos necessitam para pertencer a esta

nova organização social, política e econômica.

Com diversos ministérios a frente dos programas de inclusão digital, o objetivo

desses programas ainda permanece na tecnicidade, ou seja, no acesso ao computador, à

Internet e à utilização de serviços básicos, como o pacote Office, voltado,

principalmente, ao mercado de trabalho.

Tendo, ainda, que discutir a qualidade dos serviços ofertados no âmbito das

telecomunicações, os programas de inclusão digital, apesar de apresentarem em seus

discursos a importância das TICs para o desenvolvimento socioeconômico da

sociedade, pouco fazem em relação à ampliação do conhecimento e das possibilidades

que as TICs ofertam para uma sociedade desigual.

Dessa forma, a inclusão digital no Brasil segue os preceitos do capitalismo, que

Page 40: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

40

amplia a desigualdade social e prioriza apenas uma classe, a qual pertence o poder que,

no caso da Sociedade da Informação, passou a ser o conhecimento.

Se é verdade que a Internet veio para democratizar o conhecimento, o que se

notou, por meio das análises apresentadas nesta monografia, foi que o Brasil está

distante desta realidade. A Internet pode ser compreendida como um instrumento da

Sociedade Informacional capaz de gerar mais desigualdade social, não só porque o

acesso ao computador e à rede de alta velocidade é restrito, mas porque a maioria da

população não terá condições econômicas e sociais, mesmo depois de incluídas, de

acompanhar a capacidade e a velocidade brutal com que esse sistema se recicla,

conforme aponta a dromoaptidão.

Dessa forma, fica a reflexão acerca da possibilidade real de inclusão digital no

Brasil e o que o Governo Federal poderá construir e implementar, considerando a

velocidade dessa nova sociedade e a necessidade do desenvolvimento de conhecimentos

cognitivos e não somente de acesso para diminuir ou quem sabe eliminar os que estão à

margem da Sociedade da Informação, incluindo a todos.

Page 41: Inclusão digital em um país desigual: muito além da tecnicidade

41

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<http://revistas.univerciencia.org/index.php/famecos/article/viewFile/452/379>. Acesso

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Vale do Silício. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,

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<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Vale_do_Sil%C3%ADcio&oldid=39758860

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