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INFO nº17

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Outubro - Dezembro 2008 Biotecnologia: A nova Engenharia Química

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info

O final de 2008 reservou uma agradável notícia para a Ordem dosEngenheiros – Região Norte (OERN): a da aprovação do projectoPLATENG – Plataforma Para A Mobilidade e Cooperação dasEngenharias Norte de Portugal/Galiza, no âmbito do Programa deCooperação Transfronteiriça Portugal – Espanha, 2007 / 2011. Falar daintensa relação entre o Norte de Portugal e a Galiza não é certamentenotícia nem para Galegos nem para Nortenhos. Na verdade nascemos evivemos num contexto geográfico, cultural e económico que sempre noslevou a ver e sentir este espaço como um todo uno, cimentado não sópelas fortes afinidades culturais, mas também pela vivência dedificuldades e anseios comuns.Ao desenvolvimento natural e informal das relações transfronteiriçasseguiu-se nos anos mais recentes um movimento de institucionalizaçãoe estruturação dessas relações, seja por força do relacionamento políticomais estreito entre os decisores regionais, seja pela consolidação deparcerias duradouras no âmbito do movimento associativo económico,social ou cultural.Decididos a participar no reforço das relações entre o Norte de Portugale a Galiza, a OERN, o Colegio de Ingenieros de Caminos, Canales yPuertos, o Ilustre Colegio Oficial de Ingenieros Industriales de Galicia e oConsejo General de Colegios Oficiales de Ingenieros Agronomos, atravésdo Colégio Oficial de Ingenieros Agronomos de Galicia, propuseram-sedesenvolver os estudos necessários para a construção de um modelo dereconhecimento profissional dos seus membros em ambos os lados dafronteira. Pretende-se, desta forma, facilitar a mobilidade dosengenheiros Galegos e do Norte de Portugal, assegurando, porém, umpadrão de qualidade apropriado ao risco e relevância social e económicada intervenção destes profissionais.O desenvolvimento deste projecto permitir-nos-á antecipar osacontecimentos, estudando profunda e ponderadamente as questõespreponderantes, evitando-se assim uma intervenção reactiva precipitadae pressionada pela evolução dos acontecimentos, nada aconselhável emmatéria tão sensível como é a da segurança da intervenção dosengenheiros.Cumpre-nos agradecer o apoio recebido e a confiança depositada, aomesmo tempo que reafirmamos a determinação em fazer do próximoano o ano zero de um novo ciclo do relacionamento entre osengenheiros do Norte de Portugal e da Galiza, contribuindo desta formapara o fortalecimento da Euroregião do Noroeste peninsular, desideratovital para o nosso desenvolvimento social e económico.

Um bom ano para todos.

Gerardo Saraiva de MenezesPresidente do Conselho Directivo da Região Norte

índice6Notícias

Destaque 3010Vida Associativa

41Perfil Jovem

Propriedade: Ordem dos Engenheiros – Região Norte.Director: Luís Ramos ([email protected]).Conselho Editorial: Gerardo Saraiva de Menezes, Maria Teresa Ponce de Leão,Fernando de Almeida Santos, Carlos Pedro Castro Fernandes Alves, AntónioMachado e Moura, Joaquim Ferreira Guedes, Paulo Edgar Rodrigues RibeirinhoSoares, Carlos Brito, Luís Guimarães Almeida, Carlos Neves, FranciscoAntunes Malcata, Pedro Jorge da Silva Guimarães, Vítor Manuel Lopes Correia,Carlos Vaz Ribeiro, Fernando Junqueira Martins, Luís Martins Marinheiro, LuísPizarro, Luís Machado Macedo, António Rodrigues da Cruz, Amílcar Lousada.Redacção: Susana Branco (edição), Paula Cardoso Almeida e Sónia Resende.Paginação: Paulo Raimundo.Imagens: Arquivo QuidNovi.Grafismo, Pré-impressão e Impressão: QuidNovi. Praceta D. Nuno Álvares Pereira, 20 4.º DQ – 4450-218 Matosinhos. Tel.229 388 155.www.quidnovi.pt. [email protected]ção trimestral: Out/Nov/Dez – n.º 17/2008. Preço: 2,00 euros. Tiragem: 12 500 exemplares. ICS: 113324. Depósito legal: 29 299/89.Sede: Rua de Rodrigues Sampaio, 123 – 4000-425 Porto. Tel. 222 071 300. Fax.222 002 876. http://norte.ordemdosengenheiros.ptDelegação de Braga: Largo de S. Paulo, 13 – 4700-042 Braga. Tel. 253 269 080. Fax. 253 269 114.Delegação de Bragança: Av. Sá Carneiro, 155/1.º/Fracção AL. Edifício Celas – 5300-252 Bragança. Tel. 273 333 808.Delegação de Viana do Castelo: Av. Luís de Camões, 28/1.º/sala 1 – 4900-473 Viana do Castelo. Tel. 258 823 522.Delegação de Vila Real: Av. 1.º de Maio, 74/1º dir. – 5000-651 Vila Real. Tel. 259 378 473.

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editorial

Ficha Técnica

Engenharia no Mundo

4042

Lazer

42

44Disciplina46

Agenda

Recomendações doColégio de Civil

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Page 3: INFO nº17

1. Introdução

Estando em curso mudanças legislativas importantes nosector da construção, considera oportuno a Ordem dosEngenheiros, através do Colégio de Engenharia Civil, formularrecomendações que possam contribuir para a melhoria daqualidade da construção, designadamente dos actosprofissionais praticados pelos seus membros. Esta é maisuma forma da OE demonstrar que está mais preocupada coma defesa da qualidade do que com o espaço e os interessesdos seus membros.Com efeito, embora com o carácter de simplesrecomendações, é importante sensibilizar os EngenheirosCivis, e demais agentes do processo construtivo, para anecessidade de intervenções mais qualificadas e responsáveis,contribuindo, assim, para a qualidade final das realizações,valorização da Engenharia e dos Engenheiros, clarificação etransparência do mercado.Face à abrangência das intervenções no acto de construir éfundamental que se definam com objectividade os diferentesactos profissionais, a sua graduação em importância ecomplexidade, e quais as competências requeridas para a suaprática. Sem pretender condicionar de forma limitadora oexercício profissional, tem que se indexar a prática dos actosprofissionais à formação escolar de base, experiência eformação contínua, diferenciando o que é naturalmentediferente, recomendando que os actos mais complexos e demaior responsabilidade sejam praticados pelos maishabilitados para a sua prática. Por outro lado, numa sociedade mais concorrencial econflituosa, em que por vezes se exacerbam os direitos emdetrimento dos deveres, é fundamental enfatizar a defesa dosvalores éticos e deontológicos, cujo respeito permitiria emmuitos casos evitar grandes problemas. Numa outradimensão, os desafios para que as realizações se desenvolvamcada vez mais em prazos e condições pouco compatíveis coma qualidade mínima requerida, levam a reflectir e verificar cadavez menos o que se faz, na expectativa que ferramentasinformáticas pretensamente potentes, mas cujofuncionamento muitas vezes se desconhece, ajudem paraalém do que elas próprias são capazes de fazer.Por tudo isto parece importante formular estas primeirasrecomendações, que se pretendem aprofundar e completar,como forma de promover a melhoria das práticas naconstrução e na Engenharia. Para além dos aspectos geraisconsiderados mais importantes, apresentam-se um conjuntode recomendações para o projecto de estruturas, que foramobjecto de discussão e validação em sessões promovidas pelaEspecialização em Estruturas da OE, nas quais se discutiu aqualidade de projecto. Com efeito, o projecto de estruturas,que no passado constituía um dos actos mais prestigiados daEngenharia Civil, tem visto a sua importânciaprogressivamente reduzida, verificando-se infelizmente que há

um número expressivo de projectos com qualidade inferior àrecomendável. Este facto radica-se em múltiplas causas,algumas delas as gerais já referidas, mas também um menorcontrolo deste tipo de projectos, comparativamente aprojectos que visam assegurar outras exigências dasconstruções com requisitos mais apertados, quer nascompetências requeridas para a sua prática, quer naverificação e controlo dos mesmos. Por este conjunto derazões pareceu-nos importante começar pelos projectos deestruturas, estando previsto estender estas recomendações aoutros projectos.

2. Recomendações Gerais

2.1. Ética Significativa parte das causas de projectos deficientes têm nasua base o não cumprimento da Deontologia Profissional,título integrante do “Estatuto da Ordem dos Engenheiros”(“EOE”) aprovado pelo Decreto-Lei n.º 119/92, de 30 de Junho. A não observância das disposições nele contidas constituiobviamente uma falta deontológica. Nos pontos que seseguem são dadas recomendações que resultam directa ouindirectamente do estipulado nos artigos 86.º a 89.º do “EOE”,como, por exemplo: “É dever fundamental do engenheiro possuir uma boapreparação.” (Art.º 86.º-1); “O engenheiro não deve aceitar trabalhos ou exercer funçõesque ultrapassem a sua competência ou exijam mais tempo doque aquele que disponha” (Art.º 88.º-4); “O engenheiro deve garantir a segurança dos utentes.”(Art.º86.º-3).2.2. Qualificação

A qualificação inclui simultaneamente a formação e aexperiência. Se a formação desempenha papel fulcral no bomprojecto (decorrendo do nível de ensino, da sua qualidade eda sua continuidade no tempo), a exigência da adequação daexperiência à complexidade e dimensão de um determinadoprojecto não é secundária e sem ela resulta inevitavelmenteum projecto deficiente, com o prejuízo da segurança e daeconomia. Daqui decorrem as seguintes recomendações específicas:a) Exigência na qualificação do projectista (nível e qualidadedas habilitações académicas); b) Incentivo à formação contínua;c) Adequação das qualificações e da experiência do projectistaàs especificidades da obra, em particular no que respeita àdificuldade de concepção e ao volume de construção.2.3. Ferramentas InformáticasA utilização intensiva e sem critério dos programas de cálculoautomático disponíveis no mercado tem-se revelado uma dasprincipais causas de projectos deficientes, com consequênciasimportantes nas condições de segurança e de utilização dasconstruções.

infoPágina 4 RECOMENDAÇÕES DO COLÉGIO DE CIVIL

Recomendações do Colégio de Engenharia Civil para a Melhoria da Qualidade dos Actos Profissionais

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info Página 5RECOMENDAÇÕES DO COLÉGIO DE CIVIL

Alguns programas de cálculo são fornecidos sem manuais deutilização em português, não oferecem a adequadaassistência técnica e não estão em conformidade com aregulamentação nacional. Afigura-se provavelmente comonecessária uma “certificação”, por entidade idónea, dosprogramas comerciais de análise e cálculo estrutural. Na utilização do cálculo automático, deve ter-se ematenção que: a) O “software” é uma mera mas sofisticada ferramenta decálculo que induz, pela sua sofisticação, excessivaconfiança ao utilizador;b) Um cálculo automático, como qualquer outro, sóconduzirá a resultados correctos se for correcto o modeloestrutural adoptado;c) O recurso ao cálculo automático deve ser criterioso e seralvo de atento e estrito controlo nas fases de modulação,de definição e introdução das acções e dos dadosgeométricos e mecânicos da estrutura.2.4. Controlo e Garantias2.4.1. Revisão do Projecto A Revisão do Projecto constitui uma actividade fundamentaldo controlo de qualidade e deve ser exercida, no estritocumprimento da Deontologia Profissional (Art.º 87.º-3; 88.º-1, 6 e 7; 89.º-2 e 4 do “EOE”), com um nível associado auma classe de risco e por técnicos independentes eexperientes. Deve centrar-se prioritariamente nacomponente da concepção e modelação estrutural e incluirentre outras as seguintes acções:a) Avaliação da qualidade e exequibilidade das soluções deprojecto;b) Análise da adequação das especificações técnicas;c) Verificação da consistência, da compatibilidade e dasuficiência da informação para construção, nomeadamenteno domínio da informação geotécnica;d) Garantia da coerência entre as peças do projecto e dacompatibilidade das soluções estruturais com os requisitosdas outras áreas disciplinares.2.4.2. Implementação de um “Seguro de Projecto”2.4.3. Criação de um “Sistema Integrado de Certificação daConstrução”

3. Recomendações Específicas para o Projecto deEstruturas

3.1. Organização do projecto e da respectiva equipaa) Completa e correcta constituição das peças de projecto(escritas e desenhadas), correspondentes a cada fase deprojecto (por exemplo, em conformidade com o estipuladonas “Instruções para o Cálculo de Honorários”, à data emrevisão pelo Governo);b) Elaboração de adequada “Memória Descritiva eJustificativa” do projecto, de modo a permitir uma claraidentificação e verificação dos dados e soluções do

projecto, muito em particular dos modelos e acçõesadoptados no cálculo automático; c) Direcção, enquadramento e coordenação das equipas deprojecto, constituídas em função das especificidades daconstrução; d) Valorização da acção do Coordenador do projecto;e) Implementação de um sistema, mesmo que expedito, deverificação das peças de projecto antes da sua emissão eposterior avaliação da sua conformidade e suficiência paraefeitos construtivos;f) Elaboração de especificações e de peças desenhadasrelativas a condições de execução; g) Especificação e eventual pormenorização de elementos nãoestruturais.3.2. Graduação dos actos de Engenharia de Estruturas

Em função dos graus de exigência e de complexidade e com oobjectivo do seu exercício ser limitado a profissionais com anecessária qualificação, deve ser efectuada uma graduaçãodos actos de Engenharia de Estruturas.3.2.1. Projectos de estruturas de elevada complexidade ou queenvolvam o recurso a técnicas construtivas ou materiais deconstrução não correntes ou que tenham exigênciasacrescidas no domínio da segurança de pessoas e bens. Emparticular e a título indicativo: I) Edifícios urbanos: com um número de pisos igual ousuperior a 15 (quinze) ou com vãos típicos superiores a 8 mou com estruturas de configuração irregular (em planta ou emaltura) ou com a menor dimensão em planta igual ou superiora 100 m ou com concentração de massas em altura ou comapoios de natureza especial.II) Obras de arte: com vãos iguais ou superiores a 50 m ou dotipo suspensas/atirantadas ou com processos construtivosespeciais (autolançadas, por avanços sucessivos, de cimbresmóveis) ou com curvatura acentuada em planta (raios deordem inferior a 200 m).III) Reservatórios e silos: de diâmetro igual ou superior a 8 mou altura igual ou superior a 30 m.IV) Túneis.v) Obras de contenção de terras: de altura igual ou superior a10 m. VI) Torres, mastros e chaminés: de altura superior a 50 m. VII) Outras obras especiais.3.2.2. Coordenação ou chefia de equipas de projectos deestruturas referidas em i).3.2.3. Revisão ou verificação de projectos de estruturasreferidas em I).3.2.4. Peritagem e reforço de estruturas: edifícios referidos emI), edifícios históricos ou classificados ou de construção dealvenaria com mais de 4 (quatro) pisos ou de construção “degaiola”; obras de arte com vãos iguais ou superiores a 15 m;reservatórios e silos; obras de contenção e/ou de fundação.

OE, 29 de Outubro de 2008

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infoPágina 6 NOTÍCIAS

Projecto de expansão do Metro do Porto

A expansão do Metro do Porto deve serrepensada. Foi a esta conclusão quechegaram Eduardo Souto Moura, PauloPinho, António Perez Babo e ManuelCorreia Fernandes num debateorganizado pela Ordem dosEngenheiros – Região Norte, emNovembro, na Fundação Cupertino deMiranda, no Porto. Embora discordantes em muitosaspectos, estes especialistasconcordaram na necessidade de rever oprojecto de expansão do Metro, atéporque, como recordou Souto Moura,“não era essa a filosofia inicial”.

Aliás, de acordo com o engenheiro civilAntónio Babo, a proposta de expansãoque está actualmente em cima da mesa“sofreu uma inflexão muito grande” emrelação ao que estava inicialmenteprevisto.Também Paulo Pinho se mostrou“admirado com a mais recente soluçãode expansão do Metro”. O responsávelpelo estudo de expansão do Metro, noâmbito do memorando deentendimento entre a JuntaMetropolitana e o Governo, consideraque esta nova proposta perdeu “adimensão metropolitana” e limitou oalargamento a “linhas que maisparecem corredores de eléctrico”. Contudo, segundo António Babo eManuel Correia Fernandes, utilizar oeléctrico em algumas zonas – como asavenidas da Boavista e de Fernão

Magalhães, a rua da Constituição, aCircunvalação e a zona de AntunesGuimarães – poderia ser uma alternativamais viável, sobretudo do ponto de vistaeconómico. O arquitecto CorreiaFernandes acha mesmo que “houve umabate criminoso da rede de eléctricos”. É uma opção que, porém, não agradaa Paulo Pinho, que acha que a“solução dos eléctricos podefuncionar a nível das cidades, masnunca no âmbito alargado da ÁreaMetropolitana do Porto”. Aliás, paraeste engenheiro civil só há um dadoaceite: o de que a expansão do Metrotem obrigatoriamente de passar pelaavenida da Boavista. Uma visãopartilhada pelo arquitecto SoutoMoura, que, no entanto, critica a ideiade se poder vir a optar por um metrosubterrâneo nessa zona, quanto mais

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Página 7info NOTÍCIAS

não seja pelo facto de ser “um veículocaríssimo que foi idealizado paracircular à superfície”.A Ordem dos Engenheiros não tomouposição na discussão, mas, comoexplicou Gerardo Saraiva de Menezes,presidente do Conselho Directivo daRegião Norte, entendeu que era seu“dever proporcionar as condições paraque se promova o debate”. Recorde-se que o Metro da Invicta foigalardoado ainda este ano com oprémio mundial do melhor novo MetroLigeiro de Superfície pela UITP – Associação Internacional deTransporte Público.

Novo Código de Contratos Públicosdebatido em Braga

O novo Código de Contratos Públicos foitema do seminário realizado no dia 25de Setembro, no Parque de Exposiçõesde Braga, onde decorria também a 18ºedição da Construnor – ExposiçãoInternacional de Máquinas e Materiaisde Construção. A organização desta jornada, pelaOrdem dos Engenheiros – Região Norte(OERN), com o apoio da Associaçãodos Industriais da Construção Civil eObras Públicas (AICCOPN), teve comoobjectivo dar resposta à procura deformação qualificada que osprofissionais do sector continuam aevidenciar, bem como debater asprincipais dificuldades que se têmcolocado a todos os intervenientes noprocesso de contratação. O tema foianalisado e discutido por Cláudia Viana,do Instituto Politécnico do Cávado e doAve, e Alberto Teixeira, da Comissão deCoordenação e DesenvolvimentoRegional do Norte.

Cláudia Viana considera absolutamenteessencial o debate e o estudo dasmelhores soluções para conseguirconcretizar o grande objectivo docódigo, ou seja, “uma melhor gestãodos dinheiros públicos, maistransparência, mais rigor e uma aberturacada vez maior à concorrência,actualmente alargada ao espaçocomunitário europeu”. Durante amanhã, a jurista debateu os váriosaspectos gerais e específicos dosprocedimentos pré-contratuais que aentidade adjudicante tem queconcretizar e em relação aos quais osoperadores económicos apresentam assuas propostas. “Este processo culminacom uma decisão de adjudicação, isto é,a escolha daquela que for a melhorproposta”, salientou. Com base nessa escolha, a entidadeadjudicante celebra o contratoadministrativo, cujos aspectos gerais eespecíficos foram debatidos durante a

parte da tarde por Alberto Teixeira. O contrato de empreitada foi um pontosevidenciados pelo jurista: “Há não sóuma preocupação de adaptação da novalegislação às alterações que tinhamsurgido em termos de DireitoComunitário, como também umapreocupação de, como se tenta adesmaterialização, criar uma maiorresponsabilização dos intervenientesneste processos, quer por parte daadministração, quer por parte dosparticulares”. Este último aspecto éevidente em várias medidasconsagradas no novo código “como aantecipação de pagamentos ou osprémios, por exemplo, por cumprimentoatempado ou até antecipado”. Alberto Teixeira considera ainda que umdos grandes desafios deste novo códigose coloca no ponto de vista dos seusprocedimentos: “A eliminação gradualde tudo o que é comunicação através depapel e, portanto, a sua implementação

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infoPágina 8 NOTÍCIAS

através de procedimentos online,implica uma mudança muito grandequer para os serviços da administraçãopública, quer para os agenteseconómicos”. A complexidade e a novidade dasorientações do novo Código deContratos Públicos suscitou um longodebate entre o público presente e osdois palestrantes do seminário.

ComunidadesIntermunicipais

O novo modelo organizacional dasassociações de municípios esteve emdebate numa conferência realizada nodia 28 de Novembro, na Escola Superiorde Tecnologia e Gestão, em Viana doCastelo, promovida pelas ordensprofissionais dos engenheiros,advogados, economistas e médicos. José Oliveira Rocha, jurista e professorcatedrático da Universidade do Minho(UM), e António Figueiredo, economistae professor auxiliar convidado daFaculdade de Economia da Universidadedo Porto, foram os oradores convidadospara dissertarem sobre as“Comunidades Intermunicipais – NovosActores de Desenvolvimento”. Sobre amesma temática e segundo AntónioFigueiredo, “o nosso modelo deorganização territorial está esgotadopelo facto de ainda não se terconseguido ultrapassar a fortíssimacentralização a que se encontra sujeito”.Ainda assim o economista olha para asComunidades Intermunicipais (CIM)como uma oportunidade que não podeser desperdiçada, “um associativismomunicipal que corresponderia a um nívelintermédio de regionalização”. Umaforma, concluiu António Figueiredo, deaproximar a “democracia da participaçãodo cidadão”.

Oliveira Rocha partilha da ideia de queas CIM podem estar na génese de umanova regionalização, advertindo,contudo, para “o Centro que não cedepoder”. Relativamente à nova Lei 45/2008, de 27de Agosto, o docente da UM consideraque não se trata apenas de umaoportunidade de aceder às verbas, mastambém de uma procura de adaptaçãodos ajustamentos às necessidades deaplicar o QREN (Quadro de ReferênciaEstratégico Nacional) e uma tentativa dereorganização judiciária e de centros desaúde regionais. Para António Figueiredo as associaçõesintermunicipais, “nos seus avanços erecuos serão interlocutoras de políticaspúblicas nas quais o QREN vai propiciare lançar novos desafios”. No quase repleto auditório da escolasuperior de Viana do Castelo o debatefoi bastante participado entre ospresentes, tendo sido abordada aquestão polémica do referendo. Umassunto que não mereceu resposta porparte dos conferencistas, uma vez quenão se enquadrava no âmbito datemática do debate.

Xavier Malcatagalardoado com maisuma distinçãointernacional

Xavier Malcata – professor catedráticoda Escola Superior de Biotecnologia(ESB) da Universidade CatólicaPortuguesa e coordenador do Colégiode Engenharia Química da RegiãoNorte da Ordem dos Engenheiros –acabou de receber o Scientist of theYear Award.Atribuído pela European Federation ofFood Science and Technology

(EFFoST) – uma organização sem finslucrativos sediada na Holanda, quereúne 80 sociedades profissionais naárea alimentar provenientes de 21países da Europa – o galardão foientregue ao cientista português duranteo First European Food Congressrealizado em Ljubljana (Eslovénia).Este prémio pretende distinguirpublicamente um cientista europeupelo seu trabalho de elevado méritocientífico e pelo seu contributo para oconjunto de competências europeiasem ciência e tecnologia alimentar evem reconhecer, a nível internacional,o mérito dos trabalhos desenvolvidosno seio do seu grupo de investigaçãona ESB e sob a sua supervisão.A proposta de atribuição de talprémio foi da iniciativa de Fidel Toldrá– professor do Departamento deCiência Alimentar da Universidade deValência (Espanha), membro docomité executivo da EFFoST e editordas conceituadas revistas CurrentNutrition and Food Science e Trends inFood Science and Technology. Naspalavras deste reconhecido cientista,as múltiplas evidências disponíveissobre as extensivas, inovadoras eextraordinárias contribuições do

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Página 9info NOTÍCIAS

professor Xavier Malcata para oavanço do estado da arte em ciência etecnologia alimentar constituem umindicador indelével da sua excelênciaenquanto investigador, cobrindo umalargado conjunto de disciplinas eprodutos alimentares,designadamente nos campos daQuímica, Microbiologia, Engenharia eNutrição, para além da suacapacidade única de colaboração comoutros grupos e da sua estratégicavisão internacional.

Museu do ISEPreconhecidointernacionalmente

O Museu Parada Leitão, situado nocoração do Instituto Superior deEngenharia do Porto (ISEP), encontra-se

agora na rota internacional dosmuseus de artigos científicos depoisde, no final de Setembro, ter recebidoa visita de um grupo composto pelosmais conceituados especialistas naárea. Com um total de 10 mil peças, oespólio deste museu estende-se aquase todas as áreas da Engenharia,leccionadas no ISEP, desde a Física àElectrotecnia, da Matemática àMecânica, da Engenharia Química àCivil, das Minas à Metalurgia,passando ainda pela vasta colecçãode Mineralogia. Criado em 1998, este museu espelhaa história dos 155 anos de ensino doISEP exibindo peças comoinstrumentos científicos, estampas,desenhos e fotos, bem como umarara enciclopédia de Diderot eAlembert que retrata os mais de 150anos de história do ensino daEngenharia Técnica. De destacarainda uma colecção de Geometria

Descritiva, tanto quanto se sabe,única a nível nacional.Integrada na vigésima sétima ediçãodo Symposium of the ScientificInstrument Commission (SIC 2008), avisita ao Museu Parada Leitão levou60 especialistas a conhecer aquelaque é uma das mais completascolecções científicas académicas dopaís. A par dos melhores museuscientíficos de Portugal, o museu doISEP foi escolhido pelos críticostambém por se encontrar no maisantigo instituto de Engenharia dopaís. A nível nacional o Museu ParadaLeitão tem igualmente registado umreconhecimento crescente. Em 2006,de resto, foi o terceiro museu maisvisitado, no âmbito da iniciativa“Famílias no Museu”, apenassuperado pelo Museu Nacional deSoares dos Reis e pelo Museu PapelMoeda.

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infoPágina 10 DESTAQUE

ENQUADRAMENTO

Tal como o século XIX foi o século da Química (sobretudodevido aos desenvolvimentos na elucidação estrutural e sínteseorgânica) e o século XX foi o século da Física (sobretudodevido ao advento dos semicondutores e tecnologias dainformação), o século XXI está (e vai continuar) a ser o séculoda Biologia (sobretudo devido à descodificação dos genomasmais complexos e à multiplicação das aplicações daBiotecnologia nos mais diversos campos).Por definição a Biotecnologia consiste na utilização deferramentas biológicas – na forma de seres vivosmetabolicamente activos (microrganismos, ou tecidosvegetais ou animais viáveis) ou desses seres vivos em formanão viável, ou de porções deles (enzimas) para a produçãode bens ou serviços capazes de satisfazer, directa ouindirectamente, necessidades ou conveniências do Homem.Porém, uma abordagem mais fenomenológica e disciplinarpermite identificar sistemas de natureza física e química naBiologia (embora com uma complexidade e grau deinteracção muito acima dos normalmente encontradosnaquelas áreas do conhecimento mais clássicas) eoperações unitárias de implementação na tecnologia (comocorrência confinada no espaço e no tempo e sob condiçõescontroladas e optimizadas) que, no seu conjunto,consubstanciam operacionalmente a Biotecnologia. Ora,quer aqueles sistemas, quer aquelas operações, constituemconceptual e operacionalmente o cerne da EngenhariaQuímica. Com efeito, considerandos de índoletermodinâmica (que lidam com estados de equilíbrioquímico, sobretudo no seio de sistemas multifásicos) e deíndole cinética (que lidam com estados dinâmicos,envolvendo sobretudo transporte de energia e massa, bemcomo transformação por reacção química) que normalmenteperfazem as disciplinas nucleares de Engenharia Química,encontram na Biotecnologia um dos seus mais ricos epromissores mananciais de aplicação: recorde-se que estaintervenção é suportada pelos pilares de aceleração dadinâmica dos processos, ou seja, os catalisadores que

continuam a ser moléculas, mas agora dotadas de estruturastridimensionais mais complexas e sensíveis (proteínas) eque possuem, para além disso, possibilidade de replicação,tomando como matriz informativa outras moléculascaracterizadas por estruturas lineares criteriosamenterepetitivas (ácidos nucleicos). Numa perspectiva mais holística os engenheiros químicos sãotreinados para uma abordagem da realidade que se caracterizapor quatro vectores estruturantes: 1) trabalharconfortavelmente com o erro; 2) lidar com sistemas muitomais do que com unidades; 3) gerir quantidades e nãonúmeros; 4) privilegiar a síntese em detrimento da análise. Taisvectores afiguram-se como factor de diferenciação nodesenvolvimento de esforços em Biotecnologia, dado que: 1) onúmero de graus de liberdade dos sistemas vivos éparticularmente elevado; 2) a vida se baseia num conjunto dereacções químicas, cuja ocorrência deve acontecer em conjuntoe uníssono; 3) as ordens de grandeza determinam os regimes,muito mais do que os valores exactos; 4) a compreensão doessencial, em detrimento da caracterização do acessório, édeterminante na concepção e optimização de processos,respectivamente.Por forma a concretizar tal ideia, quiçá mais especulativa eaté filosófica, vale a pena considerar o case study da EscolaSuperior de Biotecnologia, mercê do seu pioneirismo e dasua envolvente preferencial mas também pela meteóricaascensão, em qualidade e quantidade, das actividades por elatituladas e desenvolvidas no seu seio (e que permitiu já que,de um total de 2.37 milhões de registos no www.google.ptsob a palavra chave “Biotecnologia”, esta escola apareça logona segunda posição, a seguir à definição da Wikipedia).Criada há mais de duas décadas, como projecto de alto riscoe numa altura em que em Portugal ainda se falava de formaincipiente sobre Biotecnologia, foi fruto da visão e a suaestratégia tem sido suportada pela intervenção deengenheiros químicos desde o seu arranque – sendo que oseu núcleo mais estruturante de saber possui formação debase em Engenharia Química. E se este foi talvez o caso maisemblemático – por causa da notoriedade regional, nacional e

A reorientação estratégica da Engenharia Química para a Biotecnologia

Biotecnologia: a nova Engenharia Química

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info Página 11DESTAQUE

internacional que granjeou, a par da multiplicidade deintervenções complementares, ao nível da transmissão deconhecimento avançado (formação universitária), deprodução de conhecimento de fronteira (investigação edesenvolvimento), de extensão (prestação de serviços àcomunidade socioeconómica) e de empreendedorismo(disponibilização de apoio a startups e spinoffs emergentes) –,diversos outros empreendimentos seguiram de perto o seuexemplo – de entre os quais se destaca o Departamento deEngenharia Biológica da Universidade do Minho enquantocriação de raiz, na senda de inúmeros exemplos de excelênciamundial em Biotecnologia que emergiram a partir dedepartamentos de Engenharia Química. Mas o exemplo daEscola Superior de Biotecnologia, originariamente adstrito àmatriz alimentos, tem vindo a provar a sua validadeconceptual ao conseguir responder, de forma horizontal eigualmente satisfatória, à matriz ambiente e, maisrecentemente, à matriz saúde, num esforço que tem sidonotavelmente replicado no próprio Departamento deEngenharia Química da Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (embora seguindo a sequênciainversa, ambiente-alimentos). Com a reportagem âncora dedicada à Engenharia Químicaneste número do órgão oficial da Ordem dos Engenheiros

da Região Norte pretende-se, portanto, consubstanciar oespaço e a oportunidade de intervenção dos engenheirosquímicos naquela que é a mais significativa das áreasemergentes derivadas da sua formação-base: aBiotecnologia. Para tal foram criteriosamenteseleccionados um número de profissionais detentores detal formação-base, todos sediados na Região Norte (e dealguma forma ligados às referidas três instituições dereferência), e bem assim protagonistas de sucessoprofissional e alvo de reconhecimento pelos pares – os quais se têm vindo a distinguir pelas suasintervenções no âmbito alargado da Biotecnologia. Espera-se, através deste formato e desta forma simultaneamenteintegrada e estruturada, colocar tal área de conhecimentoem perspectiva com a optimização de recursos, odesenvolvimento de novas metodologias, a criação denovos processos e produtos e a interacção favorável como meio ambiente, podendo servir como base de reflexãopara os actuais engenheiros químicos ou de apoio nadecisão vocacional para futuros engenheiros químicos.

Xavier MalcataEngenheiro químico

Professor Catedrático da Universidade Católica Portuguesa

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Luís MeloEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Porto

A Engenharia Químicadesenvolveu-se a partir dosanos 20 do século xx sobreum suporte de conhecimentoscientíficos abrangendo astradicionais bases deMatemática, Física e Química,a que se associaram, nos anos60, de forma estruturada, asciências de Engenharia, comoos Fenómenos deTransferência, os Processos deSeparação e a Engenharia da Reacção. A partir de meadosdo século, o contributo da Ciência dos Materiais despoletouinovadoras intervenções da Engenharia Química nas áreasdos Polímeros e Materiais Compósitos que prosseguemactualmente com a descoberta fascinante do mundo dasNanotecnologias e dos Materiais Funcionais. Nas últimas décadas o peso crescente das Ciências da Vida,não só directamente aplicadas à saúde mas também àsáreas da produção industrial e agrícola, reformularamfortemente o modo como a Engenharia Química seposiciona na sociedade actual. A Biotecnologia é hoje umdos domínios onde a vocação dos engenheiros químicos seestá a afirmar com mais ênfase nos sectores podutivos e dainvestigação. Inclui, entre muitos outros exemplos, aprodução de diversas substâncias com intervenção demacro e microrganismos (antibióticos, insulina e outrosfármacos, alimentos e bebidas, etc.) e o tratamentobiológico de efluentes. Cada vez mais as engenhariasnecessitam da Biologia e esta, por sua vez, procura asferramentas da Engenharia para a compreensão,quantificação e previsão dos fenómenos que ocorrem nascélulas – também entendidas como “fábricas celulares”,mas bem mais complexas do que as instalações industriaisdesenhadas pelo ser humano.

Mário BarbosaEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Porto

A importância das modernasciências biológicas nosavanços obtidos nos domíniosda saúde, alimentação eambiente tem vindo aacentuar-se nas últimas duasdécadas. Não é descabidoafirmar-se que o grau dedesenvolvimento económicodas sociedades e os seusíndices de qualidade de vidaestão cada vez mais ligados àBiotecnologia. Isto sucede porque esta área do saberatravessa-se na evolução de muitas outras áreasigualmente importantes, bem como nos campos deaplicação associados, como sejam as engenhariastradicionais, a medicina, a agricultura, o ambiente e osnovos materiais funcionais. Os engenheiros gostam deusar o termo Bioengenharia como uma área de interfaceentre a Engenharia e a Biologia que, ao mesmo tempo, étambém uma área de emergência de novos conhecimentosque progressivamente vão adquirindo identidade própria.O tecido social português ainda está relativamente malinformado sobre a amplitude das marcas que a revoluçãobiotecnológica está a começar a deixar no devir dassociedades modernas. É certo que o cidadão ouve falar,por exemplo, do papel das tecnologias biológicas notratamento de efluentes ou da genómica na prevenção etratamento de doenças. Mas não interiorizou, ainda, oimpacto que a intersecção das ciências de Engenharia comos fundamentos da Biologia e da Bioquímica já tem, e irácrescentemente ter, em sectores tão diversos como arobótica, os produtos alimentares transformados, aenergia renovável, a agricultura de precisão, o vestuário, aquímica fina dos cosméticos e aromas, a químicafarmacêutica, a produção de dispositivos médicos, aregeneração de tecidos e órgãos, a libertação controladade fármacos para o combate localizado a infecções, a

Pontos de vista

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preservação de culturas vegetais sem recurso a agentesquímicos tóxicos, etc. Algumas das aplicações referidasapoiam-se na articulação entre Biotecnologia eNanotecnologia (utilização de nanopartículas enanocápsulas inteligentes, por exemplo). Numa época emque se advinham problemas agravados de acesso a fontesde energia fósseis e aumentos dos seus custos, aBioengenharia já testou a utilização de microrganismosque degradam poluentes de águas residuais para produzirelectricidade em células de combustível microbianas (acurto prazo, ver-se-á a aplicação desta tecnologia emnaves espaciais, usando como matéria-prima osrespectivos esgotos). No futuro, iremos assistir a avançosno recurso à Engenharia Biomolecular na concepção demáquinas inteligentes.Na última década as escolas de Engenharia maisavançadas assimilaram a ideia de que as ciências-base deEngenharia passaram a abarcar não só a Matemática, aFísica e a Química, como também a Biologia, o chamadoquarto “pilar”. A crescente matematização das ciênciasbiológicas (de que é exemplo a abordagem das célulasvivas como “fábricas” no interior das quais existemcomplexos fluxos de informação, transporte físico ereacção bioquímica) facilitou a sua integração no universoconceptual da Engenharia, esbatendo barreiras entre estasáreas do conhecimento.

João Paulo FerreiraEngenheiro químicoProfessor Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa

À semelhança de outrossectores tecnológicos, muitosdos avanços recentes emBiotecnologia têm por base amanipulação de micro enanosistemas. Ou seja, há umatendência clara paracomplementar ou substituir aanálise de unidades e deprocessos (macroscópicos)industriais, clássicos daEngenharia Química, comestudos ao nível de agregados moleculares. Aliás, pode afirmar-se com bom fundamento que a Biotecnologia, lidando comcélulas e biomoléculas, foi uma forte precursora dasNanociências. Quais as consequências desta evolução para ascompetências exigidas ao engenheiro químico? Afigura-se,assim, que ele deverá ter uma forte preparação em ciênciasfundamentais, com destaque para a Química-Física e,consequentemente, a Química e a Física. Pode-se mesmointerrogar se os currículos de Engenharia Química não devemsubstituir, em parte, a modelização de unidades processuais(reactores, unidades de separação, etc.) por um reforçodaqueles saberes.Um projecto desenvolvido recentemente na Escola Superior deBiotecnologia, enquadrado nesta linha, visa criar micro enanoemulsões que incorporam agentes antimicrobianos. Taisemulsões deverão ter amplo espectro de actuação, apresentarbaixa toxicidade e funcionar como alternativa a antibióticos ououtros agentes físicos e químicos com os efeitos nefastosconhecidos. A formulação dessas emulsões e a interpretaçãodo seu mecanismo de actuação envolvem a análise a nívelmolecular traduzida, por exemplo, em diagramas de fasescomo o da figura.

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Filipe MergulhãoEngenheiro químicoProfessor Auxiliar da Universidade do Porto

O primeiro curso universitárioem Engenharia Químicasurgiu em 1888, noMassachusetts Institute ofTechnology, e foi pensadonum contexto de uma grandeinterdisciplinaridade,combinando a EngenhariaMecânica com a QuímicaIndustrial. De acordo com asua descrição original o cursoera dirigido àquelesestudantes que desejavam uma formação geral emEngenharia Mecânica e que, ao mesmo tempo, queriamestudar as aplicações da Química aos processos industriais.A formação clássica em Engenharia Química sempreconferiu uma capacidade de analisar problemas complexos,tendo como base as ciências da Matemática, da Física e daQuímica. Esta maneira de pensar nos problemas de umaforma interdisciplinar coloca os engenheiros químicosnuma posição altamente favorável para abraçarem novasáreas em que a Biologia desempenha um papelfundamental.As primeiras aplicações da Biotecnologia tradicionalresultaram da sistematização de conhecimentos vindos dasciências da vida à volta dos quais se construíram processosindustriais, muito à semelhança do que tinha acontecidoanteriormente com a indústria química. Contudo, aBiotecnologia Moderna resultante das tecnologias do DNArecombinante apresenta novos desafios. Estes desafiosapontam para o trabalho em equipas multidisciplinares emque os engenheiros químicos com alguma formação nasciências da vida podem estabelecer uma ponte entreprofissionais com uma formação essencialmente biológica ea indústria. Estes novos engenheiros, com novascompetências, estarão melhor preparados para lidar com ascomplexas interacções metabólicas tão características dosorganismos vivos.

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Xavier MalcataEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade Católica Portuguesa

Centro de Biotecnologia e Química Fina – INTERFACE A4

As ciências da vida e aBiotecnologia são, regra geral,consideradas como astecnologias de ponta maispromissoras das próximasdécadas, cobrindo campos tãodiversos como os da saúde,agro-alimentar, não-alimentar edo ambiente.Na área da saúde, aBiotecnologia permite já aprodução segura, e de formaeticamente aceitável, de um número crescente demedicamentos e serviços médicos. Neste contexto, ainvestigação sobre células germinais abre caminho àsubstituição de tecidos e órgãos para fins de tratamento dedoenças degenerativas, por exemplo Alzheimer e Parkinson.Na fileira agroalimentar, a Biotecnologia permite melhorar aqualidade dos géneros alimentícios e das rações para animais,contribuindo para a prevenção de doenças e para a reduçãoglobal dos riscos para a saúde. A investigação sobre o genomavegetal constitui hoje em dia um elemento-chave. A esserespeito registe-se que a superfície consagrada no mundo àsculturas geneticamente modificadas quase duplicou nosúltimos 10 anos.No sector não-alimentar, a Biotecnologia contribui para umamelhor utilização das matérias-primas industriais,designadamente ao nível da produção de energia. Asmodificações principais em curso dizem respeito a hidratos decarbono, óleos, gorduras, proteínas e fibras. Paralelamente abiomassa poderia fornecer energia de substituição, através debiocombustíveis tanto líquidos como sólidos, como osexemplos do biodiesel e o bioetanol.No contexto ambiental, a Biotecnologia oferece novos meiospara protecção e melhoria do ambiente, nomeadamente emtermos de ar, solo, água e resíduos. A investigação centra-sehoje no desenvolvimento de produtos e processos industriais

mais limpos, bem como nas práticas agrícolas maissustentáveis.O Centro de Biotecnologia e Química Fina (CBQF) arrancouem 1990 no intuito de ajudar a responder aos desejoscolocados por tais determinantes, com actividades no sectoragro-alimentar, possuindo carácter de intervenção vertical ouorientado para o produto, vindo a correr paralelamente àlicenciatura em Engenharia Alimentar – pioneira no nosso paíse originariamente criada em 1984 pela sua instituição deacolhimento. Mais recentemente a intervenção do CBQF emBiotecnologia tem-se estendido até ao sector primário e aosector terciário com ênfase particular nas interfaces com asaúde, o ambiente e a agro-pecuária em que Portugal emgeral, e a região Norte em particular, evidenciam elevadascarências de integração e articulação. Trata-se de umaextensão estratégica da sua área nuclear de actividade emalimentos até aos sectores terciário e primário, cobrindo todaa cadeia alimentar e garantindo, assim, uma abordagemintegrada e completa, complementando a sua intervenção nosector da transformação industrial e permitindo aendogeneização coordenada de conhecimentos. De acordocom tal desiderato tem sido enfatizada a componenteprodutiva – animal e vegetal, dos alimentos (sector primário)– mas ao mesmo tempo a relação com o consumidor –enquanto cidadão e pessoa, nas vertentes da nutrição, dasaúde pública e da pegada ecológica (sector terciário).Registe-se, a este propósito, que as actividades de I&D noCBQF se têm vindo a fortalecer na interface Biotecnologiacom o ambiente e na interface Biotecnologia com a saúde, deque são exemplo a aprovação e execução de diversosprojectos mobilizadores e estruturantes. Com efeito o CBQF tem um longo historial dereconhecimento da qualidade e da operacionalidade dosrecursos disponíveis e de excelência de intervenção científico-tecnológica que evidenciam liderança a nível internacional nosector alimentar, sendo (de longe) a instituição portuguesamais citada pelos pares e ocupando inclusivamente a 15.ªposição mundial em termos de produção científica na áreabibliométrica das Agricultural Sciences (de entre 1756laboratórios, com pelo menos uma publicação nos últimos 10anos), e a 74.ª posição mundial, em termos de número decitações pelos pares (de entre 1756 laboratórios, com pelomenos 50 citações nos últimos 10 anos).

Infra-estruturas institucionais

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Aquando da concessão do estatuto de Laboratório Associadode Estado, em 2004, o CBQF abraçou duas grandes linhastemáticas transdisciplinares e translaboratoriais:Avaliação do Risco, no contexto da Segurança Alimentar eAmbiental; e Percepção e Formação do Cidadão, perante aSegurança Alimentar e Ambiental. As actividades de I&D contam com a colaboração deempresas e instituições de investigação, nacionais einternacionais, nomeadamente através de ligaçõesestabelecidas com membros da associação industrial(AESBUC) e distribuindo-se por quatro grandes áreas: Ciênciae Tecnologia Alimentar, Ambiente, Enzimas e Microrganismos,e Nutrição e Saúde. Actualmente o CBQF conta com cerca de100 investigadores, 50 dos quais detentores de doutoramento.As diversas actividades desenvolvidas pelo CBQF têm sidoalvo de avaliação externa, por painéis internacionais, sob aégide da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, dos quais seincluem a seguir alguns excertos por demais elucidativos daqualidade e utilidade da prestação científica desta instituiçãode investigação.

“(...) This is a very well managed Research Center, clearly focusedon a few areas of Food Technology. The organization andoperation concepts are quite impressive, and they show a strongdrive and leadership. (...)Overall Research Unit quality: VERY GOOD.”

“(...) The connection with the industry is excellent (...). The capitalin know-how is very good and inestimable for the future. (...) Overall Research Unit quality: VERY GOOD.”

“(...) This Center was created with high investment to achieve topquality science with extensive investment in sophisticated state ofthe art equipment. (...).Overall Research Unit quality: VERY GOOD.”

De entre as acções de formação pós-graduada e conducentesa grau académico desenvolvidas no CBQF, destacam-se:Doutoramento em Biotecnologia (especialidades em: Ciênciae Engenharia Alimentar; Ciência e Engenharia do Ambiente;Engenharia Bioquímica; Microbiologia; e Química). Pós-graduações em Enologia; Inovação e Indústria Agro-Alimentar;Microbiologia Aplicada; Segurança Alimentar; e Mestradosem: Inovação Alimentar; Inovação Ambiental; EngenhariaAlimentar; Engenharia do Ambiente; Engenharia Biomédica;Microbiologia; Bioquímica; Bioinformática; Ciências daNutrição; Ciência Alimentar; e Ciências do Ambiente.

José A. TeixeiraEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do MinhoDirector do Centro de Engenharia Biológica

Centro de Engenharia Biológica

O departamento deEngenharia Biológica é umaestrutura permanente daEscola de Engenharia daUniversidade do Minho,responsável pela produção etransmissão de conhecimentoem Engenharia Biológica,Engenharia Química eEngenharia Biomédica. NoDepartamento de EngenhariaBiológica está instalado oCentro de Engenharia Biológica (CEB) que integra 150investigadores, 50 dos quais doutorados.O Centro de Engenharia Biológica está integrado noInstituto de Biotecnologia e Bioengenharia (LaboratórioAssociado) que tem como objectivo promover a excelênciana Investigação e Desenvolvimento, Educação eTransferência de Tecnologia, assegurando competitividadenacional e internacional em Biotecnologia e Bioengenhariapara o desenvolvimento industrial, na saúde e no ambiente. As actividades de investigação desenvolvidas no Centro deEngenharia Biológica integram as ciências básicas – Química,Bioquímica, Microbiologia e Biologia Molecular – com asciências de Engenharia – fenómenos de transporte,Engenharia das Reacções – para a obtenção de produtos devalor acrescentado e desenvolvimento de novos processosnas indústrias alimentar, química, biotecnológica e ambiental. A competência científica do CEB é reconhecida nacional einternacionalmente, sendo uma das unidades deinvestigação com o maior número de citações por artigo emEngenharia Química e Bioquímica e vários dos seusinvestigadores integram os corpos editoriais de revistas, ascomissões técnicas e as comissões científicas de váriasconferências internacionais.A investigação realizada no CEB centra-se em quatro áreastemáticas: Engenharia e Ciência dos Biofilmes,Biorreactores e Fisiologia Aplicada, Biocatálise eBioseparações e Processos Químicos e Alimentares.

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Mário BarbosaEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Porto

A Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (FEUP)foi a primeira escolaportuguesa a lançar ummestrado em EngenhariaBiomédica (há 12 anos) e umprograma doutoral emEngenharia Biomédica,articulando recursos humanose materiais existentes emáreas científicas diversas,como os biomateriais, aelectrónica e instrumentação, a mecânica e a informática.Nos últimos anos a Bioengenharia na FEUP expandiu-seancorada numa estratégia mais abrangente, integrando aEngenharia Biomédica e a Engenharia Biológica (maisfocada nos processos da indústria biotecnológica, isto é, asbiotecnologias farmacêutica e da química fina, alimentar,ambiental).

Assim, a FEUP oferece:

– um mestrado integrado em Bioengenharia (colaboraçãocom o ICBAS – Instituto de Ciências Biomédicas AbelSalazar), curso de cinco anos que contempla três ramosterminais: Engenharia Biomédica, Engenharia Biológica eBiotecnologia Molecular, sendo os dois primeiros maiscentrados na FEUP.– um programa doutoral em Bioengenharia (colaboraçãocom o ICBAS e a Faculdade de Medicina), apoiado naactividade de várias unidades de investigação daUniversidade do Porto, como o INEB (Instituto Nacional deEngenharia Biomédica), o IBMC (Instituto de BiologiaMolecular e Celular), o LEPAE (Laboratório de Engenhariade Processos, Ambiente e Energia) e o IPATIMUP (Institutode Patologia e Imunologia).– um programa de pós-graduação em Nanomedicina queenvolve um conjunto alargado de universidades do Nortede Portugal (Porto, Aveiro e Minho) e da Galiza (Santiagode Compostela, Corunha e Vigo) e o apoio de 18 unidadesde investigação.

Biomateriais para Implantes

Obtenção de Produtos e Células num ProcessoFermentativo

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Luís MeloEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Porto

O meu encontro com aBiotecnologia começou com oproblema da contaminaçãobiológica das superfícies empermutadores de calor ecircuitos de água dearrefecimento onde reinam osbiofilmes (verdadeiras“cidades de microrganismos”eregidas sobre superfícies).Rapidamente esta interfaceEngenharia Química-Biotecnologia estendeu-se, na minha actividade, a outroscampos de interesse, como sejam os tratamentosbiológicos de efluentes e, mais recentemente, as nano-micro-tecnologias aplicadas a sistemas biológicos. É extremamente estimulante apercebermo-nos o quantopodemos aprender com os mecanismos celulares e, poroutro lado, como estes podem ser descritos, controlados eoptimizados aplicando os conceitos e metodologias cujodesenvolvimento a Engenharia Química ajudou aaprofundar no domínio industrial. É um privilégio poderassistir e participar na construção de um círculo alargadode conhecimentos que volta a congregar as matemáticas e aBiologia, os materiais e a Bioquímica, a Física e os seresvivos. A ciência está a saltar para um novo patamar em que avocação inter e transdiciplinar predomina e a EngenhariaQuímica é, sem dúvida, um vector muito relevante dessemovimento.

Eugénio C. FerreiraEngenheiro químicoProfessor Associado com Agregação da Universidade do Minho

Em Setembro de 1986, logoapós ter obtido a minhalicenciatura em EngenhariaQuímica, opção Bioengenhariapela Faculdade de Engenhariada Universidade do Porto(FEUP), rumo a Lisboa paraingressar na unidade deBiotecnologia do departamentode Tecnologias e IndústriasQuímicas do LNETI (actualINETI). Integrei-me inicialmentenum projecto de crescimento em cultura contínua da bactériametanogénica Methanosarcina barkeri sob supervisão de JoséDuarte. A partir de 1988 colaboro activamente num projectoda Comissão Europeia de monitorização avançada e controlopor computador de processos biotecnológicos, debruçando-seem especial na aplicação de técnicas de modelação doprocesso de síntese enzimática de ampicilina. No âmbitodeste projecto tive a oportunidade de estagiar no Laboratóriode Automática, Dinâmica e Análise de Sistemas da UniversitéCatholique de Louvain, em Louvain-la-Neuve (Bélgica),encetando uma duradoura colaboração com os professoresGeorges Bastin e Denis Dochain. Em 1989, ainda no LNETI,inscrevo-me para doutoramento na FEUP no tema“Identificação e controlo adaptativo de processosbiotecnológicos”, sob a supervisão do professor SebastiãoFeyo de Azevedo. Em Março de 1991 regresso ao Norte, ingressando naUniversidade do Minho como assistente convidado do cursode licenciatura em Engenharia Biológica. Em Julho de 1995obtenho o grau de doutor e sou promovido a professorauxiliar. No primeiro semestre de 1997/98 tive oportunidadede desenvolver estudos de pós-doutoramento na UniversidadeAutónoma de Barcelona no tema “Supervisão e controlo deestações de tratamento biológico de efluentes”. Em 2001 soupromovido a professor associado e em 2004 obtenho aaprovação por unanimidade em provas de agregação em

Testemunhos pessoais

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Engenharia Química e Biológica pela Universidade do Minho.No período de Setembro de 2001 a Agosto de 2003 fuidirector do curso da licenciatura em Engenharia Biológica. Em2004 promovi o lançamento do curso de mestrado em GestãoAmbiental e mais recentemente colaborei no lançamento doscursos de doutoramento em Sistemas de Bioengenharia, noâmbito do Programa MIT-Portugal, e de mestrado emBioinformática. Sou, desde 2004, director-adjunto dodepartamento de Engenharia Biológica.Lidero um grupo de investigação em Engenharia de Sistemase Bioprocessos. A minha actividade de investigação tem sidofocalizada no desenvolvimento e aplicação de metodologiasde Engenharia de Sistemas (modelação, supervisão e controlo,análise de imagem) a processos biotecnológicos,biofarmacêuticos e ambientais. Orientei cinco teses dedoutoramento, uma delas vencedora em 2004 do prémio CUFe oito dissertações de mestrado. Tenho em curso a orientaçãode cinco doutorandos e cinco mestrandos. Sou autor/editorde quatro livros, autor de 60 artigos e capítulos de livros emais de 150 artigos e comunicações em congressos.Sou, desde 2004, secretário-geral da Sociedade Portuguesa deBiotecnologia e vogal do Colégio Nacional de EngenhariaQuímica da Ordem dos Engenheiros onde tenhoresponsabilidades editoriais no portal da internet deEngenharia Química da Ordem dos Engenheiros. Integro ocomité técnico em Biossistemas e Bioprocessos da FederaçãoInternacional de Controlo Automático. Em 2005 promovi olançamento da revista “Engenharia Química – Indústria,Ciência e Tecnologia”, sendo o seu director editorial.

Alcina M. BernardoEngenheira químicaProfessora Auxiliar da Universidade Católica Portuguesa

Alcina Maria Miranda Bernardonasceu no Porto a 30 de Junhode 1962. É actualmentecoordenadora da EngenhariaAlimentar da licenciatura deBioengenharia e do mestradoda Escola Superior deBiotecnologia (ESB) daUniversidade CatólicaPortuguesa (UCP). Licenciou-seem Engenharia Química naFaculdade de Engenharia daUniversidade do Porto emAgosto de 1985. Já no último ano da licenciatura fez umaabordagem à Biotecnologia ao desenvolver o anteprojectosegundo o tema Produção de “Single Cell Protein”. Emseguida desenvolveu trabalho no Laboratoire de l’UNGDA,em Paris (França), conducente, depois da aprovação, a umleque de disciplinas em Engenharia, ao DEA (Diplomed’Etudes Appronfondies) cujo grau foi atribuído em Setembrode 1986 pela Ecole Nationale Supérieure des IndustriesAgricoles et Alimentaires (ENSIA), em Massy (França). Foidurante este percurso que iniciou investigação emEngenharia Alimentar, debruçando-se sobre a aplicação daespectrofotometria no infravermelho próximo à análise deprodutos de fermentação e destilação, aplicandoconhecimentos de Métodos Instrumentais de Análise eferramentas matemáticas, adquiridos durante a licenciatura.Continuou para doutoramento na ENSIA, desenvolvendoestudos de secagem de produtos alimentares por ar quente epor vapor de água sobreaquecido. Nestes estudos teve aoportunidade de aplicar o que havia aprendido em Processode Separação, Laboratórios de Engenharia Química,Fenómenos de Transferência, Estratégia dos ProcessosQuímicos e Análise Matemática do curso de EngenhariaQuímica. Obteve o grau de doutora pela ENSIA, em Fevereirode 1990, tendo-lhe sido atribuída equivalência pela UCP, emJunho de 1990. É professora auxiliar da UCP na ESB desdeentão. Tem leccionado várias disciplinas aos 1.º e 2.º ciclos deestudos, desde disciplinas de base, tais como Álgebra (1.ºciclo de Bioengenharia e Biociências), até disciplinas maisespecíficas, tais como Tecnologias Alimentares (1.º ciclo deBioengenharia) e “Fruits and Vegetables” (European M.Sc. inFood Science, Technology and Nutrition).

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Em 1991 frequentou um curso em Tecnologia Pós-Colheita naUniversity of California em Davis, na Califórnia (EUA), edesenvolveu um programa de pós-doutoramento naUniversity of Florida em Gainesville, na Flórida (EUA), namesma área. Desde então tem desenvolvido, de modoautónomo, esta área na ESB, actualmente no Centro deBiotecnologia e Química Fina da ESB, focando, sobretudo, aavaliação e a optimização da qualidade de frutos e legumesfrescos ou minimamente processados após aplicação de pré-tratamentos e/ou tecnologias, tais como tratamento químico,revestimento comestível, embalamento sob vácuo,armazenamento em atmosfera controlada ou modificada. Notrabalho de investigação que tem desenvolvido, tem aplicadoconceitos de Química, Bioquímica, Métodos Instrumentaisde Análise, Fenómenos de Transferência, Análise Matemática,entre outros, que adquiriu durante o curso de EngenhariaQuímica. Um exemplo concreto de aplicação foi o projecto deembalagem em atmosfera modificada que desenvolveu paramaçã Bravo de Esmolfe, tendo recorrido a modelagemmatemática. Tem orientado alunos de mestrado e doutoramento,participado em congressos com comunicações orais ou empainel e é autora ou co-autora de artigos científicosinternacionais com revisão por pares (35 até à data) enacionais, actuando ela mesma como revisora convidada deartigos científicos para revistas internacionais. Participou emprojectos de investigação e acções concertadas, tendo sidodelegada nacional de uma acção COST e participou naorganização de congressos na área alimentar.De Maio de 1999 a Fevereiro de 2001, foi subdirectoraadjunta da extensão da ESB em Caldas da Rainha, daUniversidade Católica Portuguesa.

Filipe MergulhãoEngenheiro químicoProfessor Auxiliar da Universidade do Porto

A minha intervenção naBiotecnologia começou com atentativa de resolver umproblema de EngenhariaQuímica, ou melhor, umproblema de EngenhariaBiológica. Comecei a trabalharna produção de proteínas embactérias e em estratégiasgenéticas para simplificar asua purificação. Trata-se deuma abordagem que envolve aBiologia Molecular e os “tradicionais” Processos deSeparação provenientes da Engenharia Química.Actualmente também me dedico ao estudo de mecanismosmoleculares com influência na formação de depósitosbacterianos, os chamados biofilmes, que normalmente sãovistos como um problema em várias operações unitárias naindústria química e alimentar. O meu trabalho encontra-senos limites entre a Biologia e a Engenharia Química. Comoqualquer engenheiro sabe, trabalhar perto dos limites podeser arriscado mas pode também conduzir a soluções maiseficientes.

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José A. TeixeiraEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Minho

José António Couto Teixeiranasceu em Valadares, noconcelho de Vila Nova deGaia. Licenciou-se emEngenharia Química naFaculdade de Engenharia daUniversidade do Porto(FEUP), em 1980, instituiçãona qual se doutorou em 1988.Iniciou o seu percursoacadémica na FEUP, em 1980,onde foi, sucessivamente,assistente estagiário, assistente, professor auxiliar eprofessor associado. Já como professor associado da FEUPsolicitou a transferência para a Universidade do Minho(UM), em 1993. Fez a agregação em Engenharia Química eBiológica em 1999 na Universidade do Minho e ascendeu aprofessor catedrático em 2001. O seu interesse pelaBiotecnologia teve início ainda como aluno da licenciaturaem Engenharia Química da FEUP, tendo escolhidofrequentar a recém-criada opção de Bioengenharia. Foinessa altura que percebeu o papel relevante daBiotecnologia e começou a colaborar, sob a orientação doprofessor Joaquim Reis, nos projectos de investigação emcurso no Centro de Engenharia Química: extracção deproteínas de erva e obtenção de xaropes de alfarroba. Otrabalho de doutoramento realizado no departamento deEngenharia Química da FEUP, com a orientação doprofessor Manuel Mota, sobre a fermentação alcoólica dosoro de queijo foi a confirmação de que uma boa formaçãoem Engenharia Química complementada com formaçãoem ciências da vida permite o desenvolvimento de umainvestigação consistente e de qualidade em Biotecnologia.Deve ser aqui salientada a importância da frequência dedisciplinas de Microbiologia na FEUP e a participação numcurso NATO. Desde então e, em particular com atransferência para o departamento de Engenharia Biológica em1993, tem desenvolvido uma intensa actividade de investigaçãoem Biotecnologia. A sua actividade de investigação tem-secentrado em duas linhas principais – tecnologia da fermentação (em particular, biorreactores multifásicos)e tecnologia alimentar. Mais recentemente temdesenvolvido actividades na produção (por viafermentativa, enzimática e extractiva), purificação e

aplicação de compostos bioactivos para aplicação médicae alimentar, prestando particular atenção à valorização derecursos naturais. Foi responsável científico até aomomento de 21 projectos de investigação, dos quais cincoeuropeus (responsável pela participação da UM). Orientou13 alunos de doutoramento e é responsável pelasactividades de investigação de 12 alunos de pós-doutoramento. Publicou 140 artigos em revistas comavaliação pelos pares e, para além de ter publicado várioscapítulos de livros, é co-coordenador do livro “ReactoresBiológicos – Fundamentos e Aplicações”.

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Maria da Conceição HoggEngenheira químicaProfessora Auxiliar na Universidade Católica Portuguesa

Já em 1969, num artigo darevista “Chemical Engineering”,da autoria de Daniel Wang eArthur Humphrey, lia-se: “Se aEngenharia é a profissão quese dedica à aplicação datecnologia para a criação eprodução de valores materiaisnecessários para a vida, entãoera inevitável que mais cedo oumais tarde os engenheirosfossem arrastados para asáreas das ciências biológicas”. Eu fui!O meu primeiro contacto com Biotecnologia aconteceu naFaculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP),mais concretamente aquando da minha entrada no curso deEngenharia Química, em 1979. Lembro-me que num doslaboratórios de investigação do Centro de EngenhariaQuímica estudava-se a obtenção de “bifes”, isto é, proteína, apartir de relva. Este contacto, aparentemente tão leve ebreve, deve ter despertado um interesse que me acompanhoudesde aquela altura e que me fez escolher a opção deBioengenharia. Concluí a licenciatura em Julho de 1984 edecidi então seguir a carreira académica. Foi óbvio que aproximidade com as ciências biológicas seria importante paramim. Assim, aceitei o desafio para fazer parte dos primeiroselementos do corpo docente da Escola Superior deBiotecnologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP),que então iniciava a sua actividade, e onde permaneço atéhoje.Em 1985 parto para Inglaterra para iniciar o meu programa dedoutoramento no departmento de Ciência e TecnologiaAlimentar da Universidade de Reading com a orientação dosprofessores Juan Asenjo e Mike Lewis, ambos engenheirosquímicos de formação mas já ligados pela profissão àBiotecnologia. O trabalho envolveu o desenvolvimento deum reactor de membranas para a sacarificação enzimática doamido. A história da produção de substitutos da sacarose a partir doamido é um óptimo exemplo na história da Biotecnologia eda viragem gradual da Engenharia Química para aEngenharia Bioquímica. A produção destes açúcarescomeçou por seguir uma via de catálise química mas, àmedida que foram progressivamente aparecendo enzimas

para uso industrial, transformou-se num processo em quetodas as conversões químicas são catalisadas por enzimas,permitindo uma maior diversidade de produtos e outrosganhos em termos de eficiência.Regressei a Portugal em 1989 e continuei a trabalhar naconversão enzimática do amido, agora com o objectivo deproduzir malto-oligossacáridos específicos.Com os conhecimentos que adquiri na área da Bioquímicainteressei-me também pela utilização de enzimas com vista amelhorar o perfil aromático de vinhos. Das várias disciplinas que lecciono, as que me têm dadoparticular satisfação fazem parte da licenciatura emMicrobiologia: Introdução aos Processos Industriais,Tecnologia de Bioprocessamentos e Fermentação eEnzimologia. Primeiro porque foi um grande desafio esegundo porque tenho a oportunidade de ensinar osconceitos e a linguagem da Engenharia a microbiólogos queassim ficam preparados para integrar equipasmultidisciplinares, essenciais para uma actividade na área daBiotecnologia. Em todo este percurso sinto-me privilegiada por fazer parteda comunidade de profissionais e académicos que sededicam à aplicação dos conhecimentos de Engenharia – edas ciências básicas que suportam esta disciplina – noaproveitamento de sistemas biológicos para resolverproblemas reais e criar novos produtos e processos,exactamente como Daniel Wang e Arthur Humphreydescreveram no artigo de 1969 e cujas ideias ainda semantêm perfeitamente actuais.

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Mário BarbosaEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Porto

As ciências e tecnologias dasaúde são uma das principaisáreas de investigação daUniversidade do Porto, fazendocom que esta seja reconhecidacomo um dos principais centrosde produção de conhecimentono país. A concentração de umelevado número deinvestigadores em unidades deinvestigação de grande e médiadimensão, a longa tradição dainvestigação em ciências da saúde e a existência de domíniosem que o mérito da investigação tem sido reconhecidointernacionalmente são factores que contribuem decisivamentepara o prestígio da Universidade do Porto. Embora aEngenharia Biomédica seja de aparecimento mais recente doque outras áreas, a Universidade do Porto foi pioneira na suadinamização. O primeiro congresso de Engenharia Biomédicarealizou-se no Porto, em 1988. Um ano depois foi constituído oInstituto de Engenharia Biomédica (INEB) e em 1996 foramcriados os programas de doutoramento e mestrado emEngenharia Biomédica, funcionando de forma articulada. Todasestas iniciativas tiveram um contributo decisivo de docentes ede investigadores de várias faculdades da Universidade doPorto e, nomeadamente, da Faculdade de Engenharia. Com oreforço da Engenharia Biológica nesta escola foi possível abrirnovos horizontes à colaboração interdisciplinar e, em especial,atingir uma nova etapa na interacção entre a Engenharia e asciências da vida. Hoje, graças a aproximações feitas a partir deambas as áreas, tem-se construído um tecido forte e coerente àvolta daquilo que se designa, genericamente, porBioengenharia. Olhando para estas etapas e para o meu envolvimento nelas,tiro várias lições. A primeira é que, quando surgem osestímulos externos (procura, financiamentos, etc.) para acriação de qualquer coisa, o mais certo é chegarmos tardedemais. A segunda é que apostar numa ideia implica quesacrifiquemos outras. A terceira é que para que essa ideia dêcerto é preciso sorte e sofrimento. A quarta é que a coisa maispreciosa que um curso de Engenharia nos ensina é um métodopara enfrentar problemas. Finalmente a quinta é que aQuímica, nas suas várias roupagens, continua a ser umaferramenta poderosa para perceber melhor a vida.

Manuel MotaEngenheiro químicoProfessor Catedrático da Universidade do Minho

Terminei a minha licenciaturaem Engenharia Química naFaculdade de Engenharia daUniversidade do Porto (FEUP),em 1971 (uma licenciatura detransição que durou cinco anose meio), tendo em seguidaefectuado um estágio de seismeses na empresa Brunner,situada em Leça do Balio, quefabricava PVA (poli-vinil-acetato).A nota final de licenciatura, após a apresentação do relatóriode estágio, foi-me atribuída em 1972, tendo sido convocadopara o serviço militar em Julho de 1972.Após ter acabado o serviço militar obrigatório em Agosto de1975 fui contratado como assistente do 1.º triénio para odepartamento de Engenharia Química do Instituto Superiorde Engenharia do Porto (ISEP), onde permaneci até 1978,altura em que fui contratado como assistente para odepartamento de Engenharia Química da FEUP. Comecei a interessar-me pela investigação emBiotecnologia já em 1976, tendo frequentado um cursoavançado no Instituto Gulbenkian de Ciência, intitulado“Immobilised Enzymes”, dado pelos professores Emery eJúlio Novais.Na FEUP passei a trabalhar em investigação sob aorientação do professor Joaquim Reis, recentementeregressado dos Estados Unidos, onde tinha feito o seudoutoramento. O tema que o professor Joaquim Reis mesugeriu foi a investigação em xaropes de alfarroba, tendoessa investigação sido efectuada na empresa RAR. Dessainvestigação resultaram alguns trabalhos apresentados sob aforma de posters em vários congressos nacionais.Entretanto frequentei mais alguns cursos avançados noInstituto Gulbenkian de Ciência, sendo de salientar o cursode “Industrial Microbiology”, leccionado pelo professorRose, da Universidade de Bath, que me impressionoufortemente e me levou a enveredar pela investigação emfenómenos fermentativos, pelo fascínio que o trabalho commicrorganismos exerceu sobre mim.Em 1980 o professor Reis começou a envolver-se cada vezmais numa carreira de gestor, pelo que decidi procurar forado país um tema ligado a processos fermentativos, tendo

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concorrido a uma bolsa INVOTAN que me foi concedidapara fazer investigação em França, no Institut National desSciences Appliquées de Toulouse. Tive de frequentar um mestrado em Microbiologia,extremamente exigente, tendo tido aulas de Microbiologia,Genética Molecular, Engenharia Enzimática e EngenhariaBioquímica, fazendo exames a todas as disciplinas. Foi-meatribuído como tema de tese de mestrado a FermentaçãoAlcoólica, sob orientação do professor Gérard Goma.Após a defesa da tese de mestrado, prossegui a investigaçãoem Fermentação Alcoólica, continuando sob a orientação doprofessor Goma, tendo defendido a tese de doutoramentotrês anos depois, em 1985, sob o título “Conceitos nãoConvencionais de Fermentação Alcoólica”, tendo trabalhadocom culturas de elevada densidade celular, obtendoconcentrações de biomassa superiores a 200 g/litro.É de notar que o ambiente dentro do laboratório defermentações do INSA de Toulouse era na alturaextraordinário, pois trabalhava-se em open-space,convivendo com os mais diversos tipos de microrganismosindustriais. Assim, durante a minha estadia, trabalhei comcinco espécies diferentes de leveduras. Ao meu ladotrabalhava um colega com Corynebacterium glutamicum, aproduzir ácido glutâmico, do outro lado trabalhava umcolega com Clostridium acetobutyulicum, a produzir acetonae butanol, em frente um outro trabalhava emmetanogénese. Ainda noutra instalação produzia-se Bacillusturingiensis, para extrair insecticidas, e noutra aindaAspergillus niger. Como observávamos ao microscópio asculturas uns dos outros e nos ajudávamos mutuamente apreparar as culturas, esterilizar os meios e a arrancar asfermentações, com uma constante discussão dosresultados, acabei por absorver uma grande quantidade deinformação, familiarizando-me com o cultivo dos maisdiversos microrganismos. Ao regressar a Portugal, à FEUP, com um doutoramento emEngenharia Bioquímica, foi-me atribuída a regência dasdisciplinas de Bioengenharia I e II, e a partir daí jamaisabandonei a Biotecnologia.Passei a trabalhar na Universidade do Minho, em 1991,tendo entretanto diversificado os meus interesses, sobretudoem Microbiologia. Assim, desenvolvi investigação emprotozoários e em microrganismos anaeróbios. Trabalheitambém com várias espécies de fungos filamentosos. Maisrecentemente, na Universidade do Minho, faço investigaçãoem Engenharia Biomédica e dedico a minha atenção aomundo fascinante das diatomáceas, as quais desempenhamum papel fundamental nos ecossistemas aquáticos.

Cristina L. M. SilvaEngenheira químicaProfessora Associada da Universidade Católica Portuguesa

Durante os meus estudos aonível do ensino secundário tivesempre um interesse particularpela Matemática, gostandotambém bastante de Físico-Química e Biologia. Comopretendia uma formação emque pudesse aplicar osconhecimentos, e integrassetodas estas disciplinas, opteipela licenciatura em EngenhariaQuímica na Faculdade deEngenharia da Universidade do Porto (FEUP). Sem dúvida quea área de fenómenos de transferência foi a que mais meseduziu. Quando iniciei a minha primeira actividadeprofissional, como colaboradora da Escola Superior deBiotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, fuiconfrontada com o pedido de ajuda de uma empresa quepretendia desenvolver um novo produto enlatado. Pude nessaaltura constatar que o projecto de condições de esterilizaçãorequer conhecimentos de transferência de calor, Microbiologiae Cinética Química. De facto, a minha formação-base emEngenharia Química permitiu-me rapidamente conseguircompreender os diferentes fenómenos envolvidos assimcomo modelizar matematicamente e optimizar os processos.Foi nesta área que realizei o meu doutoramento. A actividadede investigação desenvolvida no Laboratório de Optimizaçãode Processos Alimentares (http://www.esb.ucp.pt/lopa/), soba minha coordenação, está ilustrada na figura. Para projectar eoptimizar condições de processamento alimentares sãonecessários conhecimentos multidisciplinares, fornecidos poruma boa formação de base em Engenharia Química,complementados por conhecimentos de Microbiologia,Análise Sensorial, Reologia, Estatística, entre outros. Estaestratégia é aplicada em diversas operações unitárias, taiscomo secagem, congelação, esterilização, pasteurização, ebranqueamento, e outras tecnologias não térmicas, comosonicação, aplicação de ozono, ou radiação UV. A minhaformação em Engenharia Química, complementada com odoutoramento em Biotecnologia – Especialidade emEngenharia Alimentar –, permitiu-me integrar diversas equipasmultidisciplinares e ser um bom elo para comunicação entremicrobiólogos, engenheiros mecânicos e engenheirosquímicos (e.g. projecto BUGDEATH ).

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José C. FonsecaEngenheiro químicoProfessor Auxiliar da Universidade do Porto

A Química começou para mimpor acaso no meu 10.º ano deescolaridade. Ainda melembro de como foi fácilaprender Química. Tratava-sede perceber como as coisasrealmente funcionavam àescala do átomo, o que paramim era compreender ascoisas no seu âmago. Depoishavia as experiências e eusempre gostei de experimentarpara perceber.Portanto, quando se tratou de escolher um curso não tivehesitações: quis Engenharia Química para aprenderQuímica. Quando cheguei ao final do curso também nãotive dúvidas em escolher a área da investigação, pois tinhadesenvolvido ainda mais o gosto de compreender,experimentando e pensando nas coisas. Fiz o meudoutoramento na área da Electroquímica Fundamental, emParis, e por essa altura comecei a sentir que compreenderpor compreender, quase sempre visando uma aplicaçãolongínqua, já não me satisfazia.Após mais algum tempo em França concorri a um lugar depós-doutoramento no Instituto de Engenharia Biomédica noPorto, sob a supervisão do professor Mário Barbosa. Pudeentão finalmente ver que os meus conhecimentos deQuímica e de Electroquímica poderiam ter uma aplicação,ainda para mais numa área à qual sou particularmentesensível – a saúde humana. Havia questões muitoconcretas para responder na área dos materiais e umdesafio ainda maior: sendo os sistemas muito maiscomplexos era imperioso conseguir distinguir o que éimportante do que é acessório para tirar conclusões. Inicieitambém um projecto tendo como objectivo odesenvolvimento de eléctrodos não invasivos para amonitorização de sinais biológicos, em particularelectroencefalográficos. Deparei-me com um mundocompletamente novo onde a electrónica, a ciência demateriais e a fisiologia médica se tinham de cruzar pararesponder às questões colocadas. Percebi, então, aimportância e o desafio da pluridisciplinaridade naEngenharia Biomédica. Utimamente tenho também tido oprivilégio de participar num projecto cujo objectivo é o

desenvolvimento de um sistema implantável para reparar amedula espinal após lesão. A equipa envolve médicos,biólogos e investigadores na área dos materiais onde todos,independentemente das suas formações, procuram sempreconceitos uma linguagem comum que lhes permitacruzar conhecimentos e contribuir para uma solução. Ofacto de já por diversas vezes as nossas reuniões se teremrealizado num hospital de paraplégicos tem-me permitidosentir até que ponto esta investigação vale a pena etambém de que valeu a pena todo o caminho que já ficoupara trás. A experiência da Engenharia Biomédica tem sidosobretudo o prazer da ciência justificada pela aplicação e daaprendizagem continuada que não conhece fronteiras entreáreas do conhecimento.

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Qual é a sensação de ser o primeiro cientista português areceber o prémio “Samuel Cate Prescott”, atribuído peloInstitute of Food Technologists (IFT) dos Estados Unidos e quea info divulgou no seu número de Abril/Junho deste ano?A sensação primeira é de uma enorme satisfação pessoal – uma sensação de dever cumprido, a qual é deverasmotivante porquanto derivada do reconhecimento pelos paresdo trabalho de longos anos neste país à beira-mar plantado.Com efeito, não é por se ser português que se é menos capazdo que os outros e o ser possível ombrear com quem trabalhanos países mais desenvolvidos do mundo deverá constituirexemplo para muitos outros investigadores que trabalhamnesta e noutras áreas do conhecimento. Logo depois asensação é de orgulho institucional, na medida em que osesforços em diversas frentes que tenho vindo a desenvolver aolongo de duas décadas não teriam sido possíveis sem ter sob aminha supervisão um grande grupo de gente competente etrabalhadora e uma instituição (a Universidade Católica doPorto) que se pauta pelos mais exigentes padrões de qualidadeinternacional.

Em que consistiu a sua investigação? A minha investigação, ao longo dos últimos anos, consistiusobretudo na caracterização e melhoramento de alimentostradicionais portugueses. Estamos a falar de queijos (como porexemplo o da Serra da Estrela, Picante da Beira Baixa,Terrincho, Serpa e São Jorge), de bagaceiras (de vinho verdebranco), de broa (de Avintes), etc. Porém, tenho vindo ainvestir cada vez mais nos novos alimentos funcionais, ou seja,aqueles que, para além da sua função primária de satisfação derequisitos nutricionais e da sua função secundária de satisfaçãosensorial, desempenham a função terciária de contribuiçãoproactiva para um estado geral de saúde e bem estar (desdeque consumidos de forma regular e como parte de uma dietaequilibrada). Um exemplo é o requeijão probiótico, de infusõesaquosas de plantas autóctones portuguesas, ou de alimentosenriquecidos em ácidos gordos poli-insaturados sintetizadospor microalgas.

Na ciência alimentar o que falta ainda descobrir?Tal como as outras ciências aplicadas, a ciência alimentarestá em constante evolução e se hoje se consegue darresposta a uma necessidade/conveniência ou resolver um

problema, amanhã novas questões surgem, o que justificanovos esforços de investigação e novos desafios declarificação fundamental e de intervenção aplicada. Portanto,falta descobrir muito, e cada vez mais. Numa perspectivasocrática quanto mais avançamos no conhecimento, maishumildes nos sentimos perante aquilo que nos apercebemosque ainda falta conhecer. Mas de entre os desafios maisactuais gostaria de enfatizar o dos alimentos probióticos epré-bióticos – alimentos do futuro, de elevado valoracrescentado –, cuja contribuição para a qualidade de vida(dar “vida aos anos”) é notável e reconhecida numasociedade em que a batalha da longevidade (“dar anos àvida”) está essencialmente ganha.

Como cientista alimentar que conselhos dá a quem o está a ler?O progresso da ciência e da tecnologia alimentares, ao longode muitas décadas, tem permitido perceber cada vez melhoros fenómenos que ocorrem nos alimentos, durante a suaprodução, processamento, conservação e confecção, o quetem servido de base à optimização de processos e àdiversificação de produtos. No cômputo geral a qualidade ea segurança dos alimentos tem vindo a aumentar de formasustentada, pelo que se pode afirmar, sem qualquer margempara dúvida, que nunca dispusemos de alimentos tão bons,saudáveis, seguros, nutritivos e apelativos como hoje em dia.Porém, tal constatação geral não significa que não haja riscosassociados aos alimentos, nem tão-pouco que não existamoperadores alimentares que prevaricam atentando contra asaúde pública e contra os direitos do consumidor. Felizmenteque as técnicas analíticas nunca foram tão fiáveis e sensíveis,pelo que a capacidade de detecção de irregularidades noprocessamento e formulação é particularmente poderosa e aprobabilidade de provar a existência de falsificações e depráticas danosas é particularmente elevada. E se ouvimoscom alguma frequência falar de intoxicações ou infecçõesalimentares, tal não significa que os alimentos sejam pioresou menos seguros do que no passado, outrossim que osconsumidores estão mais atentos e possuem níveis culturaismais elevados que a comunicação social globalizadamultiplica a disseminação da informação sobre eventosdesfavoráveis, e que os técnicos dispõem de meios maiseficientes de monitorização e controlo.

Entrevista com Xavier Malcata

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Como concilia o cargo de direcção da Escola de Biotecnologiacom a vida de cientista?Desde o momento em que fui convidado para dirigir a Escolade Biotecnologia do centro regional do Porto da UniversidadeCatólica que impus, como condição para a aceitação desseenorme desafio, o facto de poder manter as minhas actividadesde investigação e, bem assim, de docência. Durante estesúltimos dez anos tenho sido capaz de conciliar as minhasvocações estruturais, enquanto professor, com as minhasfunções conjunturais, enquanto gestor. Esta síntese única epouco usual dos dois tipos de actividades foi inclusiverecentemente reconhecida pela International Association ofFood Protection através da concessão do InternationalLeadership Award – que recebi pessoalmente em Columbus, noOhio (EUA) há algumas semanas. Em resumo: não poderiaconciliar o cargo de director sem manter activas as minhascapacidades de avançar e transmitir conhecimento. As minhasresponsabilidades, enquanto director, têm usufruído imensopela exposição que continuo diariamente a manter face àsquestões de ciência e tecnologia na área dos alimentos e dasensibilidade que nunca perdi face à interface entre quemproduz e quem utiliza conhecimento.

Quais são os projectos futuros?Muitos e constituem desafios de escala e exigência cada vezmaiores. Neste momento o mais importante é a constituiçãode um Pólo de Competitividade Nacional, na área agro-alimentar, o qual tem recebido desde o início o apoio daComissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional doNorte e do próprio Ministério da Economia, a par de algunsdos mais conceituados agentes alimentares, desde empresas aassociações empresariais, e desde universidades a institutos deinvestigação. Têm sido longos meses de maturação pragmáticado conceito e de angariação criteriosa de parceiros, mas oesforço de bastidor está prestes a dar os seus frutos,constituindo-se mais uma vez como catalisador de um esforçotransversal da sociedade civil (e do sector privado emparticular) e mobilizador de toda a cadeia alimentarconsiderada de forma integrada.

O nosso mercado a nível da ciência continua a ser pequeno? O mercado da ciência é o mundo e não apenas este rectânguloonde se fala a língua portuguesa! Os esforços quedesenvolvemos na Escola Superior de Biotecnologia pautam-sepor critérios internacionais de excelência e o sermosactualmente (e de longe) a instituição portuguesa mais citada

pelos pares na área das ciências agro-alimentares acaba portraduzir, de forma objectiva, a qualidade, a oportunidade e arelevância dos esforços de investigação que desenvolvemos.Desde a nossa fundação, há quase 25 anos, que seguimos omodelo americano: uma escola virada para a sociedade e capazde responder de forma eficiente e atempada aos seusproblemas.

No seu caso, eis o exemplo de “uma boa cabeça” que ficou por cá… Não porque não tivesse ofertas de emprego aliciantes noestrangeiro, mas porque sou antes de tudo português e, tendoorgulho nisso, não poderia deixar de voltar para o país que meviu nascer, trazendo comigo o que aprendi lá fora epotenciando com isso o desenvolvimento dos meusconcidadãos. Se tive a sorte de nascer com capacidadespessoais específicas e se tive a sorte de contar com apoiosocioeconómico relevante, tenho o dever moral de colocaraquilo que faço ao serviço dos outros. Fazendo parte de umaelite tento ajudar os outros a crescer e a serem ainda melhoresdo que eu, pois só assim um país consegue avançar. Comoreza a minha divisa – Ad augusta per angusta –, tento sersempre melhor mas à custa do meu esforço e tenhoconseguido na escola que dirijo passar esta ideia, tornando-ana instituição de referência que já é a nível nacional e que cadavez é mais a nível internacional.

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Sobre o autor:

F. Xavier MalcataNascido em Malange (Angola)Pai de dois filhos (5 e 14 anos).Residente no Porto.

Percurso formativo:Licenciatura em Engenharia Química – opção deBioengenharia (Faculdade de Engenharia da Universidade doPorto, 1986)Doctor of Philosophy – distributed minor in Food Science,Biochemistry & Statistics (University of Wisconsin, Madison,EUA, 1991)Agregação em Biotecnologia – Ciência e Engenharia Alimentar(Universidade Católica Portuguesa, 2004).

Percurso profissional:Professor Auxiliar (Universidade Católica Portuguesa,1991/1997)Professor Associado (Universidade Católica Portuguesa,1997/2004)Director (Escola Superior de Biotecnologia, 1998/2008)Administrador Delegado (Associação para a Escola Superiorde Biotecnologia da Universidade Católica, 1998/2008)Professor Catedrático (Universidade Católica Portuguesa, 2004)Administrador Executivo (Centro de Incubação eDesenvolvimento de Empresas em Biotecnologia,2004/2008).

Percurso público:Representante Nacional na Community Initiative COST95 – Improvement of the quality of production of raw milkcheeses (1995/1999)Representante Nacional no VI Framework Programme – FoodQuality & Safety (2002/2005)Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa deBiotecnologia (2003)Representante do Conselho de Reitores das UniversidadesPortuguesas no Conselho Nacional de Alimentação e Nutrição(2003/2007)Coordenador do Colégio de Engenharia Química da RegiãoNorte da Ordem dos Engenheiros (2004)Representante Nacional no VII Framework Programme – Food, Agriculture & Biotechnology (2006/2008).

Percurso de mérito:Prémio C. P. Spratley (Departamento de Engenharia Químicada Universidade do Porto, 1987)Prémio Centenário (Faculdade de Engenharia da Universidadedo Porto, 1987)

Ph.D. research fellowship (NATO International ScientificExchange Program, EUA, 1987/1991)IFT graduate fellowship (Institute of Food Technologists,EUA, 1989)General Mills/J. V. Luck graduate fellowship (Institute ofFood Technologists, EUA, 1990)Eleição para Sigma Xi, sociedade honorífica de ScientificResearch (EUA, 1990)Eleição para Tau Beta Pi, sociedade honorífica deEngineering (EUA, 1991)Ralph H. Potts Memorial Award (American Oil Chemists’Society, EUA, 1991)Eleição para Phi Tau Sigma, sociedade honorífica de FoodScience (EUA, 1991)ADSA Foundation Scholar Award (American Dairy ScienceAssociation, EUA, 1998)Chevalier dans l’Ordre des Palmes Academiques(Gouvernement Français, França, 1999)Young Scientist Research Award (American Oil Chemists’Society, EUA, 2001)Canadian/International Constituency Young InvestigatorAward in physical sciences and engineering (Sigma Xi,EUA, 2002/2004)Prémio Estímulo à Excelência (Fundação para a Ciência e aTecnologia, 2004/2005)DANISCO International Dairy Science Award (AmericanDairy Science Association, 2006)Scientist of the Year (European Federation of Food Scienceand Technology, 2007)Samuel Prescott Award (Institute of Food Technologists,2008)International Leadership Award (International Associationof Food Protection, 2008)

Percurso produtivo:30 artigos em revistas nacionais240 artigos em revistas internacionais arbitradas1.700 citações internacionais documentadas40 projectos de I&D, com financiamento nacional oucomunitário70 bolsas de investigação de mestrados, doutoramentos epós-doutoramentos, nacionais e internacionais40 resumos alargados em actas de congressos30 capítulos em livros editados11 monografias5 livros editados17 teses de doutoramento430 apresentações voluntárias em congressos130 conferências convidadas, em Portugal e noestrangeiro.

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infoPágina 30 VIDA ASSOCIATIVA

XVII Congresso da Ordem dosEngenheirosUm minuto de silêncio em memória doengenheiro Adolfo Roque marcou oinício do XVII Congresso da Ordem dosEngenheiros realizado no Theatro Circo,em Braga, entre os dias 1 e 3 de Outubro. A percepção da importância daEngenharia para a transformação deconhecimento em produtos e serviços devalor acrescentado foi uma das principaisconclusões deste congresso centrado notema “A Internacionalização daEngenharia Portuguesa”.Na sessão de abertura o ministro dasObras Públicas, Transportes eComunicações, Mário Lino, começou porelogiar a cidade anfitriã do encontro,“uma região com marcas indeléveis daEngenharia”, reportando-se àUniversidade do Minho e ao futuroLaboratório Ibérico de Nanotecnologias.O ministro sublinhou o papel doGoverno no apoio à internacionalizaçãodas empresas, nomeadamente asempresas ligadas à Engenharia, numesforço conjunto: “A ajuda tem que serde todos, em particular da Ordem dosEngenheiros, quer na formação, quer nasensibilização e no diálogo com oGoverno, as universidades, asinstituições e as empresas”, disse.Mário Lino apontou ainda o computadorMagalhães como um exemplo doempenho do Governo nainternacionalização das empresasportuguesas, a aprovação do novoCódigo dos Contratos Públicos, comoum instrumento de simplificação aoserviço da Engenharia, e a revisão doprojecto-lei 73/73, outro dos alicercespara a solidificação da Engenharianacional. O presidente do Conselho Directivo daRegião Norte da Ordem dos Engenheiros

aludiu para a importância do debate dotema “numa região campeã emexportações nacionais e um paradigmana adaptação em novos modelos denegócio (apostando nainternacionalização) e onde podemosencontrar casos de sucesso do universocomercial português”. Num estudo sobre “O Contributo daEngenharia para o Desenvolvimento daEconomia” apresentado por DanielBessa, o presidente da Escola de Gestãodo Porto partilhou com os presentesalgumas reflexões importantes, como aredução do défice e a balança depagamentos que deverá ser umaprioridade nacional, dado que em 2007as exportações de bens apenas cobriram65,9% das importações. Com base numaanálise dos sectores produtivos que maistêm contribuído para as exportaçõesnacionais, Daniel Bessa afirmou que ossectores com maior incorporação daEngenharia são os mais significativosnas exportações portuguesas, comdestaque para o fabrico de máquinas,

ferramentas e equipamentos, materialeléctrico e electrónico e material detransporte e indústria automóvel. Em conjunto, estes sectoresrepresentaram, no ano passado, 32,6%das nossas exportações, como concluiuo orador. De acordo com o mesmoestudo as exportações de serviços deEngenharia e consultoria duplicaramentre 2002 e 2007, a criação deempresas de base tecnológica cresceu60% entre 2000 e 2006 e as empresasde construção que iniciaram processosde internacionalização em 2002 têmregistado um forte incremento da suaactividade nos mercados internacionaistendo contado com a colaboração dosengenheiros portugueses e demaistécnicos envolvidos nos processosprodutivos.Durante a primeira sessão plenária,sobre a temática da AbordagemEstratégica da Internacionalização, opresidente da AICEP – Agência para oInvestimento e Comércio Externo dePortugal, Basílio Horta, lançou um repto:

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info Página 31VIDA ASSOCIATIVA

“A AICEP está disponível para a criação,juntamente com a Ordem dosEngenheiros, de um pólo decompetitividade da Engenhariaportuguesa nos seus diversos sectores”.Ao longo de dois dias de conferências oXVII Congresso da Ordem dosEngenheiros, que contou com 54intervenções nas quais participaramrepresentantes de 30 empresas ligadas aprocesso de internacionalização,abordou ainda diversos temas e sectores,como a Engenharia em AcçõesHumanitárias, os Recursos Humanos, oEmpreendedorismo, a RegulaçãoEuropeia, a avaliação do Ensino Superiorde Engenharia, a Qualificação dosEngenheiros, as Competências e osActos de Engenharia e a visão da Ordemdos Engenheiros sobre os principaisdesafios do século XXI.Neste encontro o Bastonário FernandoSanto enumerou algumas áreasfundamentais, merecedoras de especialatenção por parte dos responsáveispolíticos: a maior aposta na formaçãodos alunos em ciências-base daEngenharia; um aumento da formaçãotécnica e profissional, a partir do 10º ano,em moldes mais exigentes; ointercâmbio entre universidadesportuguesas e estrangeiras, a ligaçãopróxima entre universidades e empresas;a redução da dependência energética;uma maior aproximação aos países delíngua oficial portuguesa e castelhana,um mercado natural da nossa economia;e o combate contra o excesso delegislação, sobre o qual a Ordem dosEngenheiros preparou uma propostacom um conjunto de recomendações.Factores decisivos para odesenvolvimento futuro do país sobre oqual, como sublinhou o Bastonário, osengenheiros têm um papel abrangente.“Os engenheiros não poderão serreduzidos apenas a técnicos especialistasdo séc. XXI que ignoram o contexto da

sua actividade. Para além de técnicosespecialistas, deverão ser também osfilósofos que reflectem e discutem sobreo sentido e consequências do seutrabalho”, concluiu.

Visita aos EstaleirosNavais de Viana do Castelo

A Ordem dos Engenheiros, através daespecialização em Transportes e Vias deComunicação e numa acção conjuntacom a Região Norte, promoveu, no dia13 de Outubro, uma visita ao maiorestaleiro de construção naval dePortugal, em Viana do Castelo.Quando os Estaleiros Navais de Vianado Castelo (ENVC) foram criados, acidade era um meio poucodesenvolvido. Actualmente, é um dosdois únicos estaleiros portugueses emfranca actividade de construção ereparação navais e durante os seus maisde 60 anos de existência “muitocontribuíram para o desenvolvimento dacidade e mesmo da região”, afirmouAntónio Jardim, engenheiro dos ENVCque ministrou uma apresentação sobrea empresa e a sua actividade.

Foram sobretudo cinco as faseshistóricas dos ENVC, começando peloano que marcou o início da actividade:1944. Eram, então, cerca de 200trabalhadores, numa área deaproximadamente 35 mil m2. Em 1972dá-se o primeiro grande plano dedesenvolvimento: a área praticamentequintuplica (170 mil m2) e passam a ser1400 trabalhadores, devido à criação denovas oficinas. Em 1975 os estaleirosforam nacionalizados, passando aempresa pública, estatuto que manteveaté 1991, altura em que foramtransformados em Sociedade Anónimade Capitais Maioritariamente Públicos. A criação de uma plataforma deconstrução assinalou, em 1989, umnovo plano de desenvolvimentosignificativo dos estaleiros. Desde que os estaleiros da cidademinhota iniciaram a sua actividade, jáconstruíram mais de 200 navios devários tipos: batelões, rebocadores, ferry-boats, navios de pesca, carga a granel,porta-contentores, transportadores decimento, navios tanques, LPG,transportadores de produtos químicos evasos de guerra. A Alemanha, Espanha, França, Ucrânia eos Estados Unidos da América sãoalguns dos países de destino destesnavios.

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Em termos de recursos humanos, dosmais de 900 trabalhadores actualmenteempregados nos ENVC, 62,5% estãoligados à produção e 13,7% ao desenho/projecto. “Comparativamente aanos anteriores, verifica-se uma descidado número de trabalhadores. Nãosignifica, porém, a redução do númerode postos de trabalho. Recorre-se mais asubempreitadas de algumas áreas,nomeadamente áreas de apoio daconstrução naval”, referiu AntónioJardim. Também a área ocupada pelos ENVCsofreu um decréscimo com o volver dosanos – de 400 mil m2 para 250 m2 –,uma vez que parte dos estaleiros foicedida à empresa eólica Enercom.Os ENVC têm capacidade a nível deplataforma e de doca para construir,transformar e reparar navios mercantesaté 30 mil TDW, 190 metros decomprimento (a doca maior tem 200metros de comprimento) e 29 metros deboca, bem como navios militares depequena/média tonelagem. Longe vai o tempo em que os ENVCestavam carenciados de meios deelevação para a execução destestrabalhos. Actualmente, contam comdois guindastes de 100 toneladas, bemcomo uma série de guindastes maispequenos que servem para manobras deapoio.Do programa da visita fez parte, ainda,uma apresentação dos projectos em queos ENVC estão a trabalhar.Presentemente os ENVC estão comquatro tipos de navios em curso: naviosporta-contentores, navios militares,navios de passageiros e mega-iates(navios de luxo com 100 metros decomprimento, ainda em fase deprojecto). De acordo com AntónioJardim, “não existem muitos estaleiros aconstruir estes navios mega-iates, daíquerermos apostar neste mercado”. Seguiu-se ainda uma visita à salas de

projectos dos navios. Desde a suafundação, os ENVC desenvolveram assuas próprias ferramentas de desenho,acumulando um imenso capital deknow-how e inovação técnica.Actualmente, usam as mais recentesferramentas CAD/CAM, garantindogrande capacidade para projectar,construir, converter e reparar naviossofisticados. Estes softwares permitemfazer toda a estrutura do navio a trêsdimensões. No final, os visitantes mostraram-serealizados com a experiência deconhecer a evolução dos projectos emcurso nos ENVC, bem como asperspectivas para o seudesenvolvimento futuro. Entre osvisitantes estiveram alguns engenheirosgalegos que também se revelaramsatisfeitos com a troca de experiênciasentre engenheiros portugueses eespanhóis.

I.º Encontro/Convívio distrital

A delegação distrital de Bragança daOrdem dos Engenheiros realizou nopassado dia 18 de Outubro, em Freixo deEspada à Cinta, o I Encontro/Convívio

distrital, com a colaboração da CâmaraMunicipal.Estiveram presentes cerca de quarentapessoas, colegas e famílias, alguns deoutros distritos, tendo-nos tambémlisonjeado com a sua presença opresidente do Conselho Directivo daRegião Norte (CDRN), Gerardo Saraivade Menezes, acompanhado pela esposa.A recepção foi feita no auditóriomunicipal pelo vice-presidente daCâmara Municipal, Pedro Mora, tendohavido intervenções breves do delegadodistrital, do presidente do CDRN e dovice-presidente da autarquia.Seguiu-se uma visita à adega cooperativalocal, onde o enólogo Rui Madeiraexplicou em detalhe os pormenores ealguns segredos do fabrico do vinho,cuja excelente qualidade tivemos aoportunidade de verificar com a provaque nos foi oferecida no final da visita.Para abrir o apetite, Pedro Morapresenteou-nos com um passeio guiadopela zona histórica, mostrando-nos oporquê de Freixo de Espada à Cinta ser avila mais manuelina de Portugal.O almoço na Casa do Conselheiro, daresponsabilidade da D. Mariazinha, foium banquete delicioso de sabores emanjares, regados com vinhos que jáantes prováramos, tendo Pedro Moracontinuado a ser o nosso cicerone,

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descrevendo minuciosa eapaixonadamente os segredos equalidades de cada manjar que nosera servido.Saímos, em autocarro cedido pelaautarquia, em direcção ao miradourode Penedo Durão, onde tivemos aoportunidade de admirar a paisagemmaravilhosa que o Douro e as arribasconstituem.E para terminar em beleza aí fomos,desde a Congida, rio Douro acima,em direcção a Aldeadávila, num dosbarcos que diariamente fazem aqueletrajecto, navegando por um Dourocalmo e encantador, de águastranquilas, entre as barragensespanholas de Saucelhe e deAldeadávila.Foi uma jornada de são e alegreconvívio, em que os engenheiros e assuas famílias tiveram a oportunidadede conhecer melhor aquele cantinhodo Nordeste Transmontano, ficandoalguma tristeza pelo dia ter sido tãocurto. Ficou também a vontade devoltar e a certeza de um novoencontro no próximo ano noutrolocal.Finalmente, o nosso mais sinceroagradecimento à Câmara Municipalde Freixo de Espada à Cinta peladisponibilidade demonstrada desde oprimeiro momento, pela maneiracortês como nos recebeu e pelo diamaravilhoso que nos proporcionou.

Amílcar LousadaDelegado Distrital de Bragança

Encontro de membrosdirigentes

No passado dia 8 de Novembrorealizou-se o 6.º Encontro deMembros Dirigentes, o segundo deste

ano. Desta feita foi escolhida a cidadede Macedo de Cavaleiros, no distritode Bragança.Com representação de todos osórgãos regionais, o encontro começoucom uma sessão de debate livre eterminou com o almoço servido norestaurante típico “O Montanhês”,dando corpo aos objectivosidentificados de promoção do debatesobre a região e a Ordem epropiciando um saudável convívioentre todos. Presidido pelo presidente doConselho Directivo da Região Norteda Ordem dos Engenheiros, GerardoSaraiva de Menezes, este encontrorevestiu-se de capital importânciatanto mais que, em jeito de balançode 2008 e de término de planeamentode actividades para 2009, foramanalisados e discutidos os grandeseixos norteadores e de actuaçãoplaneados. A carreira dosengenheiros, a regulação do exercícioda profissão, a comunicação e aaproximação a todos, as relações

transfronteiriças e a região foramalguns dos muitos conteúdosdebatidos.

I CongressoInternacional de EngenhariaCivil e Território Nortede Portugal-Galiza

Vigo, como cidade aberta ao mar, foia cidade escolhida para acolher o ICongresso Internacional deEngenharia Civil e Território Norte dePortugal-Galiza, que teve lugar nosdias 22, 23 e 24 de Outubro noauditório do Centro Social Caixanova.Mais de 500 profissionaisparticiparam neste congresso inseridonos encontros bianuais de EngenhariaCivil, promovidos conjuntamente pelaOrdem dos Engenheiros – RegiãoNorte (OERN) e pelo Colegio deIngenieros de Caminos, Canales yPuertos de Galicia. O litoral, compreendendo não só oespaço delimitado pela faixa costeira,mas também o território urbano e ruraldependente dos elementos naturais edas actividades correlacionadas, foi otema eleito para esta edição quemereceu 57 comunicações agrupadasem quatro grandes assuntos:ordenamento do território; portos ecomunicações, a recuperação daságuas; e a gestão integral da costa.Na sessão de abertura deste“intercâmbio de experiências e projectosfuturos”, como o apelidou o alcaide deVigo, o decano do colégio espanhol,Carlos Nárdiz Ortiz, e o presidente daOERN, Gerardo Saraiva de Menezes,enalteceram a “colaboraçãoextremamente frutífera” entre a as duas

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instituições, reafirmando ocompromisso no estreitamento dasrelações entre os engenheiros doNorte de Portugal e da Galiza. Umarelação, afirmaram, que tem comoelemento-chave a criação daPlataforma para a Mobilidade eCooperação para as EngenhariasNorte de Portugal-Galiza. Carlos Lage, presidente da Comissãode Coordenação e DesenvolvimentoRegional do Norte, justificou a suapresença neste congresso aplicandotrês epítetos para justificar a suapresença neste congresso: um prazer,“pela ilustre plateia de personalidadesaqui reunida que demonstra avitalidade das relações científicas esocioeconómicas e pelos interessescompartilhados pelas duas regiõespara a construção de umacomunidade euro-regional”; umaobrigação, como responsável dosdestinos da Comunidade de TrabalhoGaliza – Norte de Portugal, “uma vezque passou a caber-me o papel depromotor de um ambicioso plano – oPrograma Estratégico de CooperaçãoNorte/Galiza 2007/2013 – e o deembaixador da sua missão que é a deconverter a euro-região num territórioatractivo para viver, investir etrabalhar”; e, finalmente, umaexpectativa, “perante esta grandeescola de oradores e participantes equanto às conclusões e propostas,também políticas, deixadas aqui”,referiu.Quanto à questão do ordenamento doterritório, consubstanciada nosprogramas nacional e regional daspolíticas de ordenamento, CarlosLage, em declarações à info,sublinhou a “coincidência naorientação portuguesa e galega naluta contra o urbanismo difuso, oesfacelamento das periferias, oabandono das aldeias e a

compactação (sem massificação) doscentros urbanos”.A coordenação das infra-estruturas detransporte no litoral da euro-regiãoNorte de Portugal/Galiza com oobjectivo de garantir uma melhorintegração do território e umaplanificação ambiental adequada emprol da população foi uma dasprincipais conclusões deste ICongresso Internacional deEngenharia Civil e Território Norte de Portugal-Galiza cujos oradoresreiteraram o compromisso de adequara mobilidade com a sustentabilidadedo litoral, tendo como porta--estandartes a ferrovia e os transportesmarítimos na devida aplicação de umapolítica comum de transporte. A necessidade da realização deestudos detalhados e a proposta demodelos que permitam fazer

estimativas reais sobre acontaminação existente no limitecosteiro foi outro dos aspectos emdestaque sobre a temática darecuperação do litoral. Ficaram aindaa conhecer-se vários projectos derecuperação de zonas naturais dolitoral peninsular aquando daabordagem da gestão integral dacosta. Finalmente, o comité organizadordeixou ainda expresso o total apoio àLei de Costas de 1988 como uminstrumento que demonstrou sereficaz na protecção do litoral.No encerramento deste encontro, ocoordenador do Colégio de EngenhariaCivil, Paulo Ribeirinho Soares,anunciou a realização do próximocongresso internacional que terá lugardentro de dois anos no Norte dePortugal e versará sobre o Património.

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Entrevista com o decanoCarlos Nárdiz Ortiz

O sucesso dos encontros bianuais deEngenharia Civil, promovidos desde2002 conjuntamente pela RegiãoNorte da Ordem dos Engenheiros epelo Colegio de Ingenieros deCaminos, Canales y Puertos de Galicia,ditou um desafio ainda maior para osseus organizadores. Qual é o balançodo I Congresso Internacional deEngenharia Civil e Território Norte de Portugal-Galiza?Tanto o Colegio de Ingenieros deCaminos, Canales y Puertos como aOrdem dos Engenheiros – Região Norte(OERN) apostaram em transformar oquarto encontro num congresso quetivesse uma participação significativa,desde os assistentes aos relatores,abrindo o debate aos participantes.

Consideramos que o balanço desteprimeiro congresso dedicado ao litoralfoi extremamente positivo, desde logopela resposta de mais de 450 inscrições,o que nos surpreendeu.Simultaneamente, conseguimostransmitir uma visão integral dosproblemas que afectam o litoral, aosolhos dos engenheiros do nosso colégioe dos engenheiros civis da OERN.

O litoral foi o tema eleito para estecongresso. Resumidamente qual é opanorama actual de cada país no espaçodelimitado pela faixa costeira e noterritório urbano e rural?O litoral, tanto para a Galiza – que tem amaior extensão de costa espanhola comcerca de 1500 km –, como para o Nortede Portugal, é uma oportunidade, pelosseus valores naturais, patrimoniais eurbanos, para conseguirmos um

elemento identificativo da Euro-regiãoGaliza/Norte de Portugal. O panoramaactual é de uma grande pressãourbanística sobre a franja costeira,acompanhada da necessidade deconstruir novas infra-estruturas viárias,portuárias e sanitárias, juntamente àszonas industriais que foram construídassem respeitar os valores do território.Podem por isso supor um lastro para odesenvolvimento futuro dos espaçoslitorais e aí não nos podemos enganar.Desde a Engenharia Civil ao trabalho deformação e de educação dos colégiosprofissionais temos de fazer o possívelpara que isso não aconteça.

Ordenamento do território, portos ecomunicações, a recuperação das águase a gestão integral da costa foram osquatro grandes temas de reflexão. Quepolíticas e estratégias estão em

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desenvolvimento, em cada uma destasáreas? Em relação à ordenação do territórioforam apresentadas as directrizes daGaliza e do Norte de Portugal quedevem servir para coordenar asdiferentes políticas sectoriais,inclusivamente as políticas das infra-estruturas de transporte. As decisõessobre a ampliação dos portos e aconstrução de novas vias de terrestresque afectam o litoral não podem sertomadas de forma sectorial ou mesmofuncional, mas sim através das suasimplicações sobre o território, apaisagem e o meio ambiente. Emespaços tão sensíveis como o são osda franja litoral, nós cremos que asauto-estradas já construídas, como asnovas estradas e pontes que salvem asmargens do rio Minho, bem como alinha férrea de alta velocidade, sãoinfra-estruturas fundamentais para aintegração de Euro-região Galiza/Nortede Portugal. Também a recuperaçãodas águas e a gestão integral da costa,de acordo com a Directiva Marco delAgua, devem converter-se numa

aposta conjunta com o objectivo deque os cidadãos a reivindiquem comoum valor do território e da Euro-região.

Um dos grandes objectivos comuns,entre profissionais, instituições eempresas, é a harmonização deestratégias na denominada Euro-regiãodo Eixo Atlântico. Esta é uma realidadepróxima?O precedente das directivas deordenamento do território, que nãoacabam nos limites das fronteiras – jáque os processos de urbanização ou adefesa dos valores paisagísticos eambientais do território não conhecefronteiras –, deve constituir umobjectivo comum que harmonizeestratégias conjuntas e isto, dada aglobalidade que têm hoje os processosde urbanização, tem que ser umarealidade próxima.

Quais foram as principais conclusõesdeste congresso?Concluímos um total de nove pontosque foram apresentados pelo presidentedo comité técnico, Rafael Eimil. A Lei de

Costas, de 1988, continua a ser uminstrumento eficaz para a protecçãopública colectiva do litoral e aplicável aqualquer modelo territorial dascomunidades autónomas. As directivasde ordenamento, traçadas pela Xunta deGalicia para o litoral, identificam-se coma actuação estabelecida pelo Ministériodo Meio Ambiente e Meio Rural eMarinho para a recuperação ambientaldas áreas naturais e a humanização dasáreas urbanas. As infra-estruturas detransporte no litoral da Euro-regiãoGaliza/Norte de Portugal devem sercoordenadas para uma melhorintegração do território da Euro-região euma adequada planificação a nívelambiental e ao serviço da população. O compromisso de um conceito demobilidade sustentável levou a UniãoEuropeia a aplicar uma política comumde transporte, conjugando os interessessociais com o respeito pelo meioambiente, tendo como porta-estandarteo caminho-de-ferro e o transportemarítimo. A consequência da práticadestas medidas é a potenciação dotransporte combinado e daintermodalidade. Desta formadelinearam-se como uma oportunidadede potencialização das plataformaslogísticas. Em todas as apresentaçõesesteve presente a ideia da necessidadeda existência de estudos detalhadossobre o contexto de actuação, dada acomplexidade dos processos fisico-químicos que afectam os recursos nolitoral. A necessidade da realização deplanificações e de estudos, assim comoa proposta de modelos que permitamfazer estimativas realistas dacontaminação existente no meiocosteiro são ferramentas fundamentaispara trabalhar na linha da recuperaçãodas águas do litoral. A gestão da costaestá a ser ponderada por propostaspara unidades fisiográficas completas.Além disso desenvolveram-se

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metodologias aplicáveis à sua gestão.Os projectos de recuperação foramdedicados a zonas naturais em áreasprotegidas e prestou-se demasiadaatenção ao património históricoexistente no litoral.

A oficialização (em Abril passado) de um plano de cooperaçãotransfronteiriça, com a criação daPlataforma para a Mobilidade eCooperação das Engenharias Norte de Portugal/Galiza, foi mais umimportante passo para aproximar oscolégios de Engenharia de ambos oslados da fronteira ao nível decompetências e de mobilidade deprofissionais. Em que fase se encontraeste processo? Neste momento cremos que aresposta vai ser positiva por parte dosorganismos encarregues dacooperação, pois achamos que, querdo ponto de vista profissional, emrelação ao papel dos engenheirosindustriais e civis de ambos osterritórios, quer quanto à coordenaçãode normas, será um elemento que iráfavorecer a mobilidade das empresasentre a Galiza e o Norte de Portugal,com repercussões em última instânciana imagem da Engenharia.

Que expectativas tem para odesenvolvimento das relações e dacooperação entre a Região Norte daOrdem dos Engenheiros e o Colégioque representa?As mais imediatas estão relacionadascom as oportunidades que vãopermitir a plataforma para amobilidade e cooperação dasengenharias, das quais vão derivarnovos encontros, jornadas, cursos...Além disso, no prazo de dois anos, vaihaver um novo congresso, que destavez se realizará no Norte de Portugal,que segundo os representantes da

Ordem dos Engenheiros será dedicadoao património construído.

Qual o impacto desta cooperação entreas duas instituições nodesenvolvimento (económico, social,cultural…) da Euro-região? Vai ter bastante impacto no futuro,sobretudo no que se refere àsburocracias para a mobilidade ereconhecimento dos profissionais,tanto da Ordem como do Colégio. É uma aposta comum por reivindicaraquelas soluções conjuntas para osproblemas inerentes à integração daEuro-região, nos quais ascomunicações e a defesa dos valorespatrimoniais do território devem seruma reivindicação constante dasengenharias que, esperamos, cheguematé aos responsáveis políticos.

O próximo encontro, em 2010, vaiversar sobre o património construído.Que expectativas tem quanto a estatemática?Os engenheiros industriais e civisintervêm sobre o território através dasinfra-estruturas e, tal como as infra-estruturas históricas foram elementosfundamentais da construção doterritório, queremos que o sejam deigual forma as actuais. Em suma,reivindicamos as infra-estruturas,como património construído do pontode vista urbano e territorial.Independentemente de nosrelacionarmos com temas históricos,relacionamo-nos com uma realidadeactual que tem a ver com um trabalhoprofissional de reabilitação dessepatrimónio e com a necessáriasensibilidade que devemos ter com asnovas infra-estruturas que viermos aprojectar e a construir, pois irãoconverter-se, se o nosso trabalho foradequado, em parte do futuropatrimónio construído.

Entrevista com o engenheiroPaulo Ribeirinho Soares

O sucesso dos encontros bianuais deEngenharia Civil, promovidos desde2002 conjuntamente pela RegiãoNorte da Ordem dos Engenheiros epelo Colegio de Ingenieros deCaminos, Canales y Puertos de Galicia,ditou um desafio ainda maior para osseus organizadores. Qual é o balançodo I Congresso Internacional deEngenharia Civil e Território Norte dePortugal-Galiza?Fazemos um balanço positivo, por trêsrazões: – teve uma elevada participação, cercade cinco centenas de congressistasespanhóis e portugueses;– os conferencistas, presidentes demesa, moderadores e relatoresapresentaram palestras e comunicaçõese protagonizaram intervenções deelevado nível técnico e cíentifico queproporcionaram um debate muitoparticipado e enriquecedor;– a Euro-região Norte de Portugal-Galiza,que concentra uma população de seismilhões de habitantes, é um espaço deforte relacionamento social, económico ecultural e tem um grande potencial dedesenvolvimento futuro. Foram dadas aconhecer diferentes experiências sobre asrealidades regionais, numa importanteplataforma de discussão sobre o litoral,tendo-se concluído pela vantagem dacoordenação das diferentes políticassectoriais.

O litoral foi o tema eleito para estecongresso. Resumidamente qual é opanorama actual de cada país no espaçodelimitado pela faixa costeira e noterritório urbano e rural?Portugal tem uma faixa costeira decerca de 1.200 km e é uma das maioresZonas Económicas Exclusivas (ZEE) daEuropa, cobrindo mais de 1.700.000

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km2 (18 vezes superior à área territorialdo país) e deve-se, em grande parte, aofacto do território português seestender às regiões ultraperiféricas dosAçores e da Madeira. A populaçãoportuguesa residente nestas áreasatinge um rácio de 76%. O turismo costeiro é o sector maisimportante das actividades marítimasportuguesas. A costa atrai 90% dosturistas estrangeiros, sendo estaactividade responsável por 11% doProduto Interno Bruto (PIB) do país epor cerca de 10% da totalidade dospostos de trabalho.Em 2006 Portugal estabeleceu umaEstratégia Nacional para o Mar, cujoobjectivo principal é o de fazer ummelhor aproveitamento do mar e dosrecursos costeiros, promovendo odesenvolvimento económico e socialsustentável, através de uma

coordenação eficiente, responsável eempenhada. Uma percentagem significativa dacosta continental atlântica portuguesaencontra-se sob a ameaça de erosãocosteira, com taxas de recuo quechegam a alguns metros por ano, emdeterminadas zonas. As actividades ligadas ao turismo e àlogística têm exercido uma pressão naconstrução em equipamentos e eminfra-estruturas nas zonas costeirasque impõem uma gestão integral dacosta, eficiente e sustentável.

Ordenamento do território, portos ecomunicações, a recuperação das águase a gestão integral da costa foram osquatro grandes temas de reflexão. Quepolíticas e estratégias estão emdesenvolvimento, em cada uma destasáreas?

As políticas e estratégias dos temasacima referidos, em traços gerais, sãoas seguintes:– Promoção da coesão territorialatravés de um desenvolvimento sociale económico mais equilibrado dasregiões e de uma maiorcompetitividade;– Promoção de uma acessibilidademais equilibrada;– Redução dos danos ambientais;– Valorização e protecção dos recursosnaturais e do património natural;– Valorização do património culturalcomo factor de desenvolvimento;– Incentivos para um turismosustentável e de qualidade.

Um dos grandes objectivos comuns,entre profissionais, instituições eempresas, é a harmonização deestratégias na denominada Euro-regiãodo Eixo Atlântico. Esta é uma realidadepróxima?Este congresso e o tema – transversalàs duas regiões – é claramente umamanifestação de interesse do Colégiode Engenheiros de Caminhos, Canais ePortos da Galiza e do Colégio deEngenharia Civil da Região Norte daOrdem dos Engenheiros querepresentam a maioria dos agentesqualificados que intervêm nestas áreas,na procura de soluções concertadas. Para isso fomentam o relacionamentoentre agentes, estruturas e entidades,públicas e privadas, susceptíveis decontribuírem para o desenvolvimentosustentável dos respectivos territóriosfronteiriços.

Quais foram as principais conclusõesdeste congresso?As recomendações mais relevantes sãoas seguintes:– Os planos de ordenamento devemser elaborados tendo como objectivo arecuperação do meio ambiente e das

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áreas protegidas com o repovoamentodas áreas urbanas;– As infra-estruturas de transporte nolitoral da Euro-região Galiza-Norte dePortugal devem ser planeadas ecoordenadas tendo como objectivo amelhor integração ambiental doterritório na Euro-região; – A mobilidade sustentável deveconjugar os interesses sociais com osambientais e assentar numa políticacomum de transporte combinado e daintermodalidade, o que sugere aconstrução de plataformas logísticas; – Promover o desenvolvimento demodelos que permitam fazer avaliaçõesda contaminação existente na faixacosteira. Estes modelos constituemferramentas fundamentais de trabalhona recuperação das águas do litoral;– A gestão da costa deve estarreferenciada em Planos da Orla Costeira.É essencial adoptar na gestão do espaçomarinho e do litoral os seus recursos e asua exploração pelo homem com umaabordagem integrada, interdisciplinar einter-sectorial.

As bases estratégicas da GestãoIntegrada da Zona Costeira relevam:– Uma visão corporizada nacooperação internacional e integraçãocomunitária; – Um reforço e promoção daarticulação institucional;– Uma conservação de recursos e dopatrimónio natural e paisagístico;– Uma qualificação da zona costeira eo desenvolvimento sustentável dasactividades e dos seus usosespecíficos;– A minimização das situações derisco e dos impactes ambientais,sociais e económicos;– Concepção de políticas operacionaisintegradas, com base na previsão amédio/longo prazo;– A promoção do conhecimento e

participação pública na avaliaçãointegrada de políticas e deinstrumentos de gestão da zonacosteira.

A oficialização (em Abril passado) de um plano de cooperaçãotransfronteiriça, com a criação daPlataforma para a Mobilidade eCooperação das Engenharias Norte de Portugal/Galiza, foi mais umimportante passo para aproximar oscolégios de Engenharia de ambos oslados da fronteira ao nível decompetências e de mobilidade deprofissionais. Em que fase se encontraeste processo? O projecto, denominado “Plataformapara a Mobilidade e Cooperação dasEngenharias”, candidatado ao ProgramaOperacional para a CooperaçãoTransfronteiriça Norte de Portugal--Galiza, está em vias de aprovação,tendo já sido emitido um parecerfavorável por parte da CCDRN/DGPCT.Este projecto, resultado da vontade dasduas instituições, é de todo o interessepara a mobilidade dos profissionais daEngenharia, nesta Euro-região.

Que expectativas tem para odesenvolvimento das relações e dacooperação entre a Região Norte daOrdem dos Engenheiros e o Colegio deIngenieros?Criar condições para que asinstituições aprofundem as formas deintercâmbio e de reconhecimentomútuo do exercício da actividade, comóbvios reflexos no plano nacional. Dinamizar o relacionamento a nívelinstitucional e profissional e aproximaros engenheiros e o sector daconstrução no mercado ibérico, numaaltura em que a integração dosmercados apresenta um reconhecidodesequilíbrio no desenvolvimento deactividade relevante no país vizinho,

pelas organizações portuguesas.Questões como o reconhecimentoprofissional, a forma defuncionamento do mercado e o papeldas diferentes entidades sãofundamentais.

Qual o impacto desta cooperaçãoentre as duas instituições nodesenvolvimento (económico, social,cultural…) da Euro-região? Esta Euro-região, com cerca de seismilhões de habitantes, vai estarmelhor preparada com umreconhecimento profissional mútuo ecélere que permita uma mobilidadeefectiva dos profissionais deEngenharia. O desenvolvimento tecnológico, ocorpo de conhecimentos e asmelhores práticas permitem que osprojectos tenham um âmbito maisalargado, em competências e emáreas, sendo a cooperação eintegração essenciais.

O próximo encontro, em 2010, vaiversar sobre o património construído.Que expectativas tem quanto a estatemática?O património construído abrangetodas as obras, desde as enterradasaté aos edifícios, estradas, pontes,barragens, etc., e atravessa todas asáreas de conhecimento dasengenharias.A construção nas últimas dezenas deanos não tem tido a manutençãorequerida e por isso observa-se umadegradação acelerada em grande partedo património que urge cuidar.O ritmo das construções novas jáabrandou e a recuperação e reabilitação,no sentido mais amplo, é uma boaoportunidade para a indústria daconstrução, em que a alma mater são asengenharias.É um tema tão vasto, quanto aliciante.

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infoPágina 40 ENGENHARIA NO MUNDO

Inovação mundial de aluno da FEUPvence Prémio BES

José Carlos Ferreira é o autor doprojecto Polight que envolve postesde iluminação e electricidade maisleves, mais resistentes e recicláveis, esem perigo de electrocussão. Umainovação mundial, cujo Plano deNegócios e Inovação valeu ao alunode mestrado da Faculdade deEngenharia da Universidade do Porto(FEUP) a vitória, na categoria“Processo Industrial”, da IV edição doConcurso Nacional de Inovação doBES. Um prémio no valor de 60 mileuros. Engenheiro electrotécnico e quadrosuperior da EDP Distribuição, JoséCarlos Ferreira desenvolveu a ideia noâmbito de uma disciplina doMestrado em Inovação eEmpreendedorismo Tecnológico(MIETE). Com base no materialcompósito Towpreg, o mentor doprojecto constatou a possibilidade deconceber postes, feitos em betão eem metal, mais vantajosos do que osactuais, implicando uma redução decustos bastante significativa para asempresas distribuidoras de energiaeléctrica e para os municípios emgeral. O pioneirismo do Polightpassa, assim, pelo desenvolvimentode postes de iluminação e dedistribuição de energia com estematerial compósito que tem um peso10 vezes inferior ao do betão e umaresistência específica 10 vezessuperior à do aço. Outras dasvantagens são que se trata de ummaterial 100% reciclável que nãonecessita de manutenção e elimina orisco de morte por electrocussão. Recentemente José Carlos Ferreira

criou a empresa Ownersmark Polight,detentora da patente da marcaPolight, que se dedica à produçãoindustrial de compósito e produtosfinais com base em Towpreg, taiscomo postes para a iluminaçãopública, média tensão, baixa tensão etorres para energia eólica. Numaparceria com o Instituto deEngenharia de Sistemas eComputadores do Porto, visando aprodução de postes inteligentes, aempresa de José Carlos Ferreira estáainda a desenvolver sensores de fogoiminente e corte de corrente. A patente Polight – cujos direitos sãopartilhados pela Universidade doPorto, pela Universidade do Minho epelo Instituto de EngenhariaMecânica e Gestão Industrial – está

agora em vias de ser aplicada nopróximo ano, prevendo-se queinicialmente comece a produzir emAngola e em 2010 na Europa. Comum investimento inicial de trêsmilhões de euros, a OwnersmarkPolight conta investir mais 10 milhõesde euros nos próximos três anos.Foi em 2004 que arrancou o MIETEda Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto, emcolaboração com o HITEC CentreTeam at the North Carolina StateUniversity, a Faculdade de Economiada Universidade do Porto e a EscolaSuperior de Artes e Design deMatosinhos, tendo já dado origem atrês empresas: Ideavity, TomorrowOptions Microelectronics eOwnersmark Polight.

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info Página 41PERFIL JOVEM

Estágio profissional “Leonardo Da Vinci”

Estagiou recentemente na empresa Sefimota, em Praga, aoabrigo do Programa “Leonardo da Vinci”. Quais as motivaçõesque o levaram a candidatar-se a este estágio?Os principais motivos que me levaram a candidatar aoPrograma “Leonardo Da Vinci” foram a internacionalização daminha carreira como engenheiro civil. Pretendia ganharexperiência num país com outra cultura e modo de trabalhodiferente da realidade nacional. A possibilidade de entrar numaempresa com a envergadura e prestígio da Mota-Engil foiigualmente importante.

Começou por trabalhar no departamento de planeamento daSefimota. Qual foi exactamente a sua função?No departamento de planeamento da Sefimota tive aresponsabilidade de fazer a reorçamentação de uma obra dereabilitação de grande envergardura. Fiz a remedição da obra ealém disso os trabalhos preparatórios, nomeadamente cálculodas áreas de andaime, e participei no planeamento da obra.Passei apenas duas semanas neste departamento, mas aexperiência adquirida em termos de planeamento e gestão deobra adquirida neste período tem-se revelado fulcral nodesempenho das minhas funções na direcção de produção deobra.

Encontrou metodologias de trabalho muito diferentes?Na República Checa encontrei metodologias e modos detrabalho distintos daquilo a que estava habituado em Portugal.O planeamento de obra é feito com muito mais rigor edetalhe, ao ponto de se poder monotorizar a evolução dumadada tarefa num compartimento de um determinado andar doedifício.

Depois do planeamento foi deslocado para uma obra emexecução nos arredores da cidade...Depois da minha passagem pelo departamento deplaneamento fui deslocado para uma obra na periferia dacidade de Praga. Nesta obra fui responsável pela frente dearranjos exteriores. Foi-me incumbida a responsabilidade daimplantação dos arruamentos e passeios. Tive a oportunidadede aplicar alguns dos ensinamentos adquiridos na faculdade,nomeadamente nas disciplinas de Topografia e Vias deComunicação, trabalhando em conjunto com um encarregadona marcação da obra exterior. Ganhei alguns conhecimentosem termos de trabalho com aparelhos de topometria,nomeadamente no que diz respeito à implantação duma obraem altimetria.

À margem destas funções executou ainda outras. Quais?À margem das funções que desempenhei no departamento deplaneamento e na direcção da frente de arranjos exteriores tivetambém a responsabilidade de executar as telas finais de todasas especialidades da obra. Neste trabalho revelou-sefundamental o domínio da ferramenta, ACAD que me permitiuelaborar desenhos finais da obra, em termos de Arquitectura,com todas as alterações solicitadas pelos clientes, assim comoáguas e esgotos e electricidade. Além disso executei osmarketing drawings que serviram como documento de adendaao contrato de compra e venda dos apartamentos, nos quaisconstava toda a informação em termos de áreas doscompartimentos interiores e exteriores e o layout de cada umadas casas que constituíam os diversos edifícios doempreendimento.

De que forma é que este estágio influenciou e/ou beneficiou oseu início de carreira? O estágio que tive na República Checa e, mais concretamente,na empresa Sefimota do grupo Mota-Engil, foi enriquecedora atodos os níveis. Em termos profissionais ganhei conhecimentosde outras metodologias de trabalho e ferramentas novas queservirão para o meu futuro profissional. A experiência foi muitoimportante em termos de elevação dos meus índices deautoconfiança como engenheiro de construção civil. Apliquei osconhecimentos teórico-práticos adquiridos ao longo da minhavida académica e ainda por cima num país estrangeiro, comtodas as dificuldades acrescidas que isso representa,principalmente ao nível da comunicação. Parti com osentimento de dever cumprido e de que poderei desempenhara minha profissão em qualquer parte do mundo.Finalmente, mas não menos importante, foram as experiênciase vivências que tive no plano pessoal. A experiência de tervivido em Praga, na minha opinião a cidade mais bonita daEuropa, durante seis meses, é algo que me marcará para toda aminha vida. Não esquecerei jamais as amizades que cultivei edas coisas que vi naquela cidade mágica, única, e que ficaráeternamente gravada na minha memória e no meu coração.

Daniel Amorim

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Agostinho Peixoto, consultor/especialista em Turismo

infoPágina 42 LAZER

Açores – Um territórioturístico sustentável

A opção por uma política desustentabilidade, assente noequilíbrio entre a oferta e a procura,tem levado ao desenvolvimento doturismo nos Açores de uma formagradual, essencialmente orientadapara o turismo de natureza.Tem-se seguido de uma formaincondicional o desenvolvimentoturístico sustentável baseado noequilíbrio Homem/Natureza, que porsua vez tem influenciado o crescimentoda oferta de alojamento, privilegiandode modo especial o turismo no espaçorural (TER), bem como a escolha dosprodutos turísticos.Contudo, o aumento da procura nosúltimos anos pressionou o aumentodesta oferta, sobretudo ao nível doalojamento na hotelaria tradicional ede turismo no espaço rural, mastambém ao nível dos produtos quetendencialmente estão vocacionadospara o exercício de actividadesligadas à natureza.Por outro lado, as especificidadesnaturais e culturais das ilhasaçorianas têm favorecido, por umlado, a prática do turismo activo,proporcionando no seu conjunto aosvisitantes uma combinação rara deactividades ligadas à natureza, desdea observação de cetáceos, ospercursos pedestres, o mergulho, apesca desportiva, o golfe, os passeiosde barco, o montanhismo, aespeleologia, etc., e, por outro lado, àredescoberta da sua história ecultura, com destaque para o roteirodos baleeiros, os passeios a pé emAngra do Heroísmo, CidadePatrimónio Mundial da UNESCO.O turismo, pela dinâmica dos seusresponsáveis, tanto públicos como

privados, e pelo seu ritmo decrescimento, é actualmente um dossectores mais importantes nocontexto da economia da região.A recente visibilidade que oarquipélago dos Açores tem vindo aconquistar no panorama turísticointernacional, como um destino deturismo de natureza único no mundo,resulta da política sustentável quetem orientado o desenvolvimento doturismo na Região Autónoma dosAçores, ao longo de um percurso queactualmente atingiu um patamar decrescimento que, por um lado,reforça a necessidade de se continuara acautelar uma estratégia correcta desustentabilidade que não ponha emrisco a atractividade do nosso destinoe, por outro lado, reforça também aambição de continuar a crescer,dentro dos nossos condicionalismosgeográficos e dimensionais.A oferta turística açoriana é única eespecial, e tem como argumentoprincipal a natureza, de uma imensaversatilidade, que resulta em muitaspossibilidades de produtos: desdebaleias e golfinhos, montanhas,grutas e vulcões, caminhadas, fauna

e flora, artesanato e gastronomia,mar e lagoas, golfe rústico, jeepsafaris e outros desportos deaventura… Produtos estes que vão deencontro às tendências mundiais mastambém de encontro às expectativasdos turistas mais exigentes emtermos de qualidade ambiental, quenos interessa cativar e captar, e temhavido a preocupação de procurar, nomercado internacional, fluxosturísticos que permitam desenvolvera actividade de uma formasustentável, sem afectar os seusrecursos naturais.Ao nível do alojamento, apesar doaumento significativo do número decamas de alojamento tradicional, nosúltimos anos, sobretudo nas cidades,pressionado pelo aumento daprocura, continuamos a privilegiar demodo especial o turismo no espaçorural através de incentivos queapoiam novos projectos dereabilitação ou criação de unidadesTER, o que tem levado a umcrescimento extraordinário da ofertade alojamento nas zonas rurais.No que diz respeito aos produtos aaposta continua a ser no touring e no

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info Página 43LAZER

turismo activo e de natureza, tanto nomercado nacional como no estrangeiro,também tem havido um esforçoparalelo no sentido de reforçar a ofertade produtos complementares queconsideramos fundamentais para aépoca média-baixa, como sejam o golfe,com melhoria de infra-estruturas nostrês campos de golfe existentes nasilhas de São Miguel e da Terceira, e aconstrução de dois novos campos, nasilhas do Faial e de Santa Maria; aMeeting Industry, estando a regiãoequipada, neste momento, com salascapacitadas para congressos eincentivos, como sejam, na ilha Terceira,os centros de congressos de Angra doHeroísmo e da Praia da Vitória, e na ilhade São Miguel, o Teatro Micaelense e oColiseu Micaelense, assim como oCentro de Congressos do ProjectoPortas do Mar, que será inaugurado nopróximo mês de Julho e que será umestrutura polivalente, na área doturismo náutico e de cruzeiros; e,finalmente, no segmento da saúde ebem-estar, com a requalificação dasTermas do Carapacho, na ilha Graciosae das Termas da Ferraria, na ilha de SãoMiguel, assim como a transformaçãoem Hotel das Termas do Varadouro, nailha do Faial, e com a abertura do novoFurnas SPA Hotel, também em S.Miguel.O facto de ser um arquipélagoperiférico, que depende fortementedo transporte aéreo, tem dificultado opercurso do turismo regional, mas averdade é que temos vindo aconseguir grandes avanços,sobretudo ao nível da diversificaçãode mercados e aumento dasoperações, existindo presentementeligações directas da Suécia, Noruega,Dinamarca, Alemanha, França,Finlândia, Reino Unido, Áustria,Espanha e Irlanda, e num futuropróximo, da Itália e da França, para

além das ligações com os EUA eCanadá, que aproximam os Açores daEuropa e do mundo e facilita acirculação de fluxos turísticos durantetodo o ano.Podemos ainda não ter atingido onível de projecção internacional queambicionamos como destino

turístico, mas estamos convencidosque estamos no bom caminho para láchegarmos, a partir da altura em quea National Geographic Traveller nosdistinguiu como “As segundasmelhores ilhas para o Turismo” nomundo, numa óptica dedesenvolvimento sustentável.

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infoPágina 44 DISCIPLINA

FUNDAMENTAÇÃO:

Apreciando todos os elementos de prova constantes no processo, o Conselho Disciplinar da Região Norte da Ordem dosEngenheiros deu como provados os seguintes factos, com relevo para a decisão do processo:Que o arguido foi o director técnico da obra de construção civil situada no concelho de M, a que correspondia o Processode Obra n.º X/99 da Câmara Municipal de M;Que o Livro de Obra foi assinado pelo arguido e se encontrava na posse do empreiteiro quando o dono da obra eparticipante o pediu ao arguido;Que o arguido não se lembra da obra em causa nem de ter feito alguma visita técnica à mesma;Que o arguido aceitou ser indicado como director técnico da obra pelo Gabinete de Arquitectura S, em virtude de ser amigopessoal do falecido arquitecto S, tendo sido este Arquitecto quem, de facto, assumiu essas funções, directamente ouatravés de colaboradores do seu gabinete;Que o arguido subscreveu o termo de responsabilidade de obra, na qualidade de director técnico desta, sem que tenhaefectivamente exercido o cargo, apenas por favor ao arquitecto projectista, que era seu amigo;Que o arguido não tem antecedentes disciplinares, tem uma longa carreira profissional em que prestou serviços de relevona área da Engenharia Civil e é de idade avançada.

Os factos considerados provados no presente processo disciplinar, acima referidos, confirmam que o engenheiro oraarguido aceitou subscrever um termo de responsabilidade de obra, na qualidade de director técnico desta, sem que tenhaexercido efectivamente o cargo. O arguido alega em sua defesa que aceitou subscrever o termo de responsabilidade eassinar o livro de obra porque era amigo de longa data do arquitecto projectista, que, posteriormente, veio a falecer e,portanto, não foi inquirido no âmbito deste processo disciplinar.

O responsável pela direcção técnica de uma obra de construção civil, também conhecido como director técnico de obra, éaquele técnico que tem a seu cargo o cumprimento dos projectos aprovados no procedimento administrativo deautorização ou licenciamento da obra, bem como o cumprimento das disposições legais ou regulamentares aplicáveis àexecução da obra. Os contornos genéricos desta figura encontram-se no Regime Jurídico da Urbanização e Edificação(RJUE), estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, alterado e republicado pelo Decreto-Lei n.º 177/2001,de 4 de Junho, cuja redacção actual resulta da aprovação da Lei n.º 60/2007, de 4 de Setembro.

De acordo com a redacção do RJUE em vigor à data a que se reportam os factos, as principais competências do directortécnico da obra são as seguintes:– Subscrever o termo de responsabilidade necessário para a instrução do requerimento de licença ou autorização deutilização, no qual o director técnico da obra deve declarar que a obra foi executada de acordo com o projecto aprovado ecom as condições da licença e/ou autorização e, se for caso disso, as alterações efectuadas ao projecto estão emconformidade com as normas legais e regulamentares que lhe são aplicáveis (n.º 1 do artigo 63º do RJUE).– Em caso de realização de vistoria pela Câmara Municipal, participar nessa vistoria, acompanhando o dono da obra, massem direito a voto (n.º 3 do artigo 65º do RJUE).

Acórdão do Conselho Disciplinar da Região Norte da Ordem dos Engenheiros – Síntese

Processo CDISN 07/2007

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info Página 45DISCIPLINA

– Registar no livro de obra todos os factos relevantes relativos à execução da obra e conservar este livro no local da suarealização para consulta pelos funcionários municipais responsáveis pela fiscalização de obras. São obrigatoriamenteregistados no livro de obra, para além das respectivas datas de início e conclusão, todos os factos que impliquem a suaparagem ou suspensão, bem como todas as alterações feitas ao projecto licenciado ou autorizado (n.ºs 1 e 2 do artigo 97ºdo RJUE).– Em caso de embargo administrativo de obras de urbanização, edificação, demolição, ou de trabalhos de remodelação deterrenos, determinado pelo presidente da Câmara Municipal territorialmente competente, receber a respectiva notificação,sendo esta suficiente para obrigar à suspensão dos trabalhos (n.º 2 do artigo 102º do RJUE).

Um dos deveres essenciais do director técnico da obra é, por conseguinte, acompanhar a evolução da obra, verificar seesta está a ser executada de acordo com os projectos aprovados e se as alterações efectuadas ao projecto estão emconformidade com as normas legais e regulamentares que lhe são aplicáveis.

É também dever basilar do director técnico da obra registar no livro de obra todos os factos relevantes relativos à execuçãoda obra e conservar este livro no local da sua realização para consulta pelos funcionários municipais responsáveis pelafiscalização de obras.

Dos factos que resultaram provados no presente processo disciplinar, facilmente se infere que o engenheiro arguido nãoexerceu efectivamente as funções que competem a um director técnico de obra, apesar de ter aceitado ocupar este cargo,nunca se ter desvinculado dele e ter subscrito o respectivo termo de responsabilidade. Mostram-se, por conseguinte,comprovados os pressupostos da acusação, uma vez que o comportamento do engenheiro arguido configura uma violaçãodo dever deontológico que obriga os engenheiros, na sua actividade profissional, a só assinarem pareceres, projectos ououtros trabalhos de que sejam autores ou colaboradores, previsto no n.º 5 do artigo 88º do Estatuto da Ordem dosEngenheiros. E tal violação não pode deixar de se considerar culposa, constituindo por isso, nos termos do disposto noartigo 67º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, uma infracção disciplinar, visto que o engenheiro arguido tinha aobrigação de saber que não podia aceitar ser director técnico de obra se, na verdade, não exercia nem pretendia exercerefectivamente o cargo.

DECISÃO:

Em face da Fundamentação do presente Acórdão, que acima vem exposta e tendo em conta o grau de culpa do arguido, agravidade da infracção por ele praticada, a ausência de consequências e as circunstâncias atenuantes resultantes doarguido não ter antecedentes disciplinares, ter uma longa carreira profissional em que prestou serviços de relevo na áreada Engenharia Civil e ser de idade avançada, condena-se o arguido numa pena de advertência, prevista na alínea a) do n.º1 do artigo 70º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros, pela prática da infracção disciplinar acima descrita, consistente naviolação culposa da norma deontológica prevista no n.º 5 do artigo 88º do Estatuto da Ordem dos Engenheiros.

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infoPágina 46 AGENDA

ENCONTROS, CONGRESSOS E SEMINÁRIOS OE

23 de Janeiro de 2009Local: Auditório da Biblioteca Almeida Garrett (Porto)Organização: CDRN e ISQ2.º SEMINÁRIO DE COORDENAÇÃO E GESTÃO DA SEGURANÇA NA CONSTRUÇÃO

13 e 14 de Fevereiro de 2009Local: Pousada de Santa Marinha (Guimarães)Organização: Ordem dos Engenheiros, Colégio Nacional de Engenharia Mecânica, Conselho Regional Norte deEngenharia Mecânica 5.º ENCONTRO NACIONAL DO COLÉGIO DE ENGENHARIA MECÂNICA – ENERGIA E TRANSPORTES

ENCONTROS, CONGRESSOS E SEMINÁRIOS EXTERNOS

11, 12 e 13 de Fevereiro de 2009Local: Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP)Organização: ISEPJORNADAS LUSO-BRASILEIRAS DE ENSINO E TECNOLOGIA EM ENGENHARIAMais informações: www.isep.ipp.pt/jlbe09

CURSOS DE ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

10 e 17 de Janeiro de 2009Local: PortoOrganização: OERN45.º CURSO DE ÉTICA E DEONTOLOGIAPROFISSIONAL

7 e 14 de Fevereiro de 2009Local: BragaOrganização: OERN46.º CURSO DE ÉTICA E DEONTOLOGIAPROFISSIONALInscrições através de www.oern.pt

Pin da Ordem dos Engenheiros – Região Norte à venda na sede

e nas delegações distritais por 5 euros