Introdução ao livro de Crônicas

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  • 7/29/2019 Introduo ao livro de Crnicas

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    Introduo ao Livro das Crnicas - Paz no futuro e glria no passado.

    Os livros de 1 e 2 Crnicas, assim como os livros de Samuel e Reis, formavam umnico volume, e, na Bblia hebraica vinha logo aps os livros de Esdras e Neemias. Istosugere ao menos 2 coisas:

    Aceitao posterior no cnon hebraico Crnicas seria considerado um apndice, ou um complemento das histrias deSamuel e Reis

    Nossa Bblia segue o padro do AT grego (a Septuaginta), colocando Crnicasaps o livro de Reis, antes de Esdras-Neemias.

    Quando passamos de Reis diretamente para Crnicas, sentimos certafamiliaridade, mas a nfase dada pelo cronista (chamaremos seu autor desta forma) nahistria de Jud torna este livro nico, e desta maneira, justifica seu estudoseparadamente do livro dos Reis.

    O cronista no um historiador no sentido pleno do termo, pois ele entendia que ahistria dos reinos de Israel e Jud estava carregada de lies morais e espirituais, porisso ele toma como fontes primrias de informao os livros de Samuel e Reis, e no sepreocupa com os dados em si mesmos mas com o seu significado. Logo, podemos dizerque este livro tem um contedo histrico altamente interpretativo.

    E, para interpretar esta histria, o cronista abrange os momentos histricos deIsrael desde os patriarcas (usando genealogias) at a derrocada do reino do Sul, Jud,pelas mos da Babilnia.

    O cronista registra a histria do povo de Israel na monarquia unida desde Ado atDavi com o foco na Aliana de Jav com o povo hebreu, com ateno especial nospatriarcas. Ainda na monarquia unida o autor destaca os acontecimentos ligados arcada aliana e ao templo, construdo por Salomo. Durante a monarquia dividida os relatosde Crnicas praticamente desprezam o Reino do Norte, Israel.

    Na poca da produo de Crnicas, o povo de Jud estava no perodo ps-exlico,e era importante reafirmar a f em Jav. Portanto, o cronista interpreta a histria de Israelpermitindo que o judeu percebesse que Jav estava no governo da histria e que suaaliana ainda era vlida.

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    O fracasso de Zorobabel em instaurar o reino messinico previsto por Zacarias e

    Ageu, aliado s breves reformas religiosas propostas por Esdras e Neemias, desafiaram oautor de Crnicas a enxergar esperana para os judeus tomando por base a prpriahistria de Israel. A restaurao estava a caminho, e, o segundo xodo previsto porZacarias, inaugurando o reino do Messias em Jerusalm, invadiria a histria humana (Zc.8:1-8)

    Para reconstruir a histria, e dar ao povo judeu a esperana no futuro, o autor deCrnicas selecionou apenas os fatos positivos dos reis de Jud, praticamente excluiu asnarrativas do reino do Norte e os pecados de Davi e a apostasia de Salomo. O autortambm se utilizou de fatos no narrados em Samuel e Reis (2 Cr. 33:18-20).

    O nome do livro em hebraico, tirado dos primeiros versculos, "as palavras dosdias" e seu nome "Crnicas" vem da sugesto abreviada de Jernimo que o chamou de"crnica de toda histria divina".

    Houve tempo que os estudiosos consideravam Crnicas uma obra do mesmo autor

    de Esdras-Neemias, mas atualmente esta teoria no encontra mais adeptos. Entretanto, amaioria dos eruditos concordam quanto data de sua produo em torno do ano 400a.C., um pouco depois da composio dos livros de Esdras-Neemias e cerca de 100 anosaps o profeta Malaquias. O registro cronolgico da genealogia de Zorobabel em 1 Cr3:17-21 apoia este teoria.

    Alm de recorrer aos livros de Samuel e Reis para compor a histria cronista, seuautor tambm reuniu outras fontes histricas tais como:

    Registros genealgicos (1 Cr. 4:33; 5:17; 7:9,40; 9:1,22; 2 Cr. 12:15) Cartas e documentos oficiais (1 Cr. 28:11-12; 2 Cr. 32:17-20; 2 Cr. 36:22-23) Poemas, oraes, discursos e cnticos (1 Cr. 16:8-36; 1 Cr. 29:10-22; 2 Cr. 29:30;

    2 Cr. 35:25) Registros histricos dos reis de Israel e Jud (2 Cr. 16:11; 2 Cr. 25:26; 2 Cr. 27:7; 2

    Cr. 28:26; 2 Cr. 32:32; 2 Cr. 36:8) Registros histricos de do rei Davi (1 Cr. 27:24) Comentrios sobre dos livros dos reis (2 Cr. 24:27) Literatura proftica primitiva, tais como os registros de Samuel, Nat, Gade (1 Cr.

    29:29) Literatura proftica posterior, tais como os registros de Aas, Ido, Semaas, Je e

    Isaas (2 Cr. 12:15; 20:34; 32:32)Andrew Hill & J. H. Walton, Panorama do Antigo Testamento. So Paulo: Vida, 2007.

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    Estrutura de Crnicas

    O livro de Crnicas pode ser dividido literariamente da seguinte forma:

    Genealogia desde Ado at os exilados que retornaram (1 Cr. 1 - 9) Monarquia unida de Davi e Salomo (1 Cr. 10 - 2 Cr. 9)

    Monarquia dividida de Jud (2 Cr. 10 - 36:16) Exlio de Jud na Babilnia (2 Cr. 36:17-23)

    Nesta diviso fica claro que o objetivo do cronista mostrar o ideal monrquico deDavi e Salomo, afinal so dedicados vinte e nove captulos a estes reis. Para reanimar af do povo judeu que retornara do exlio o cronista compara o apogeu vivido nestesreinados com a realizao da Aliana de Jav com seu povo. Do comeo ao fim do livroso citadas as intervenes divinas neste perodo (1 Cr. 10:14; 2 Cr. 10:15).

    A estrutura literria do livro tambm destaca a centralidade do templo como localde adorao nico de Jav ao comear o segundo livro com a construo do primeiro

    templo e termin-lo com o dito do rei Ciro para a reconstruo deste templo.

    As genealogias, longe de serem apenas um enchimento literrio, reala a unidadede todo Israel, um assunto primordial em virtude da separao dos reinos e retorno doexlio babilnico. O foco das genealogias so principalmente as tribos de Jud e Levi, isto, a realeza e o sacerdcio respectivamente.

    O incentivo e desafio amplamente visto durante a exposio da narrativa docronista. A coroao de Davi (1 Cr. 11 - 12) e as circunstncias que a envolveramdestacam a unidade e o ideal davdico da aliana. O tema f e confiana foi bemexplorado em 2 Cr. 13 a 16, enquanto os captulos 21 a 23 evidenciam a preservao da

    dinastia davdica.

    A desobedincia de Saul contrastada com a obedincia de Davi e seu cuidadopara com a arca da aliana, os preparativos para a construo do templo e a organizaodo culto a Jav.

    O livro tambm enfatiza os reis Ezequias e Josias por suas contribuies ao culto aJav e sua dedicao purificao do templo de Jerusalm. A profecia tambm recebeuma ateno particular ao apresentar as benos e maldies previstas no cdigo daAliana (2 Cr. 36:17-21). Mesmo os casos de reis, cuja avaliao negativa, tal qualManasss e Amom, so apresentados como casos de converso da apostasia (2 Cr.

    33:1-9; 33:21-25).

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    O livro destaca que a rebelio contra Jav trouxe consequncias graves para o

    povo da aliana, a dinastia davdica e o templo de Jav. Alm do desterro, que era umadas promessas de Jav ao povo escolhido, o templo, como smbolo do governo teocrticode Jav, foi destrudo. Contudo, assim como Jav cumpriu sua palavra acerca do exlioela tambm se cumpriu na restaurao e retorno dos judeus sob o governo de Ciro (2 Cr.

    36:21-22).Propsito e contedo

    Com relao ao seu propsito e contedo, o livro de Crnicas abrange osseguintes temas principais:

    Recordao do passado para a esperana no presente A centralidade na adorao no Templo de Jerusalm Os reinados de Davi e Salomo como ideais da aliana Autenticar a liderana dos sacerdotes e levitas

    O objetivo do cronista foi mostar que os reinados de Davi e Salomo privilegiarama adorao correta de Jav, e isso impulsionou a monarquia no perodo que se manteveunida. Portanto, se a comunidade judaica ps-exlica seguisse o exemplo da monarquiaunida da adorao centralizada no templo, a restaurao prevista pelos profetas seconcretizaria.

    A escolha de Israel feita por Jav refletida nas longas listas genealgicas (1 Cr. 1- 9) e a repetio dos feitos de Jav na histria de Israel, cujo paradigma so os reinadosde Davi e Salomo, tornou-se a garantia da sua futura interveno para o cumprimento deseus propsitos com relao aliana com os hebreus.

    Ao relembrar seu passado, a nova comunidade ps-exlica tomou cincia dasbnos e maldies referentes aliana, alm de observarem o respeito para com aliderana instituda por Jav, no caso os sacerdotes e levitas. Este parecia ser o caminhopara a retomada do sucesso de outrora.

    Na recodao histrica feita pelo cronista, Jud torna-se herdeiro das promessasde Jav a "Israel" e chama a todos os israelitas, por meio das genealogias, a unirem-se aliana com Jav novamente. Desta forma os dias de glria do passado seriam revividos.

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    A viso cronista tambm apontava para a esperana que os profetas disseram de

    que Jerusalm seria o centro poltico e religioso do mundo, e agiria da mesma maneiracomo agiu nos reinados de Davi e Salomo (Zc. 14:12-21).

    Adorao no Antigo Testamento

    A adorao de Jav no templo de Jerusalm era o ideal cltico que o cronista tinhaem mente. Exemplos de adorao enfatizados em Crnicas:

    Adorao comunitria e individual - 1 Cr. 15:29; 2 Cr. 31:20-21 Adorao liderada pelos sacerdotes observando o calendrio litrgico - 2 Cr. 35:1-

    19 Resposta espontnea de adorao a Jav quando Ezequias celebra a pscoa duas

    vezes em um ano - 2 Cr. 30:13-22. Adorao particular - 1 Cr. 16:23-27 Adorao pblica - 1 Cr. 16:36; 29:9; 2 Cr. 5:2-14; 6:3-11

    O cronista enfatizou tambm que a verdadeira adorao vem do temor ao Senhor(2 Cr. 6:31-33) e do amor a Jav de todo corao (1 Cr. 28:9; 2 Cr. 19:9).

    Apesar da nfase no Templo de Jerusalm, pois representava a prpria presenade Jav no meio do seu povo, o cronista tambm destacou que a verdadeira adoraono pode ser restringida a um tempo ou lugar sagrado (2 Cr. 6:12-23).

    Ainda em relaco adorao o autor de Crnicas destaca o papel dos sacerdotesna vida religiosa da nao de Israel. Quanto aos levitas, aps a instituio do templo, elesno precisariam mais carregar o tabernculo, por isso o livro destaca as seguintes tarefaspara estes personagens: cantores, msicos, guardas das portas, professores da lei e

    juzes (1 Cr. 24 - 26; 2 Cr. 17:7-9; 19:11).

    Quando a monarquia em Israel foi extinta, os sacerdotes e levitas ficaramresponsveis pela administrao da nao e o cronista pensou que esta classe socialrestabeleceria a teocracia em Israel, mas no foi o que aconteceu. Por isso Malaquiascensura os sacerdotes por no cumprirem com suas funes sagradas (Ml. 1:6 - 2:9).

    No Novo Testamento isso fundamentou o papel de Jesus como sacerdote de umaaliana superior (Hb. 7:20-22).

    Arrependimento e misericrdia

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    O cronista alm de historiador era tambm telogo, pois conhecia a misericrdia e

    graa de Jav diante do arrependimento genuno de seu povo (compare x. 32:11-14com 2 Cr. 12:6-12). Seu perdo estava continuamente estendido a todos os que sedispunham a mudar suas atitudes e se voltavam para ele (2 Cr. 15:4; 32:26). Antigoshabitantes do reino do norte (Israel) experimentariam sua bondade se retornassem aosseus caminhos (2 Cr. 30:6-9). At mesmo o perverso rei Manasss provou a misericrdia

    de Jav (2 Cr. 33:12-14).