Introdução ao livro de Jó

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  • 7/29/2019 Introduo ao livro de J

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    Introduo ao Livro de J - Haja pacincia.

    O livro de J, traduz para a vida prtica uma das mais antigas perguntas filosficasda humanidade: Por que sofremos? A busca racional pela compreenso do sofrimento navida do ser humano no sofreu modificaes nos ltimos 5 mil anos e, alm disso, temsido um dos pilares sobre os quais os telogos desenvolvem seus pensamentos.

    O livro de J modifica a viso que temos da soberania divina, da arrognciahumana quando no sabe o quadro completo da situao e da perspectiva bblica dosofrimento.

    possvel que haja um trocadilho do nome do personagem principal do livro('iyyb no original hebraico) com o lamento de J em ser "inimigo" ('yeb em hebraico) deDeus (Jo 13:24).

    Se o livro de J classificado como literatura de sabedoria possvel, segundo osestudiosos, que os dilogos no tenham sido citaes literais, mas um ambiente criado

    para explicar as razes do sofrimento humano e a soberania divina na histria.

    Apesar de no haver um consenso sobre a data dos acontecimentos, a narrativade J uma das mais antigas do Oriente Mdio pelos seguintes fatores:

    A forma literria do prlogo - 1:1 - 2:13 A forma literria do eplogo - 42:7-17 No h meno de santurio ou sacerdcio - J executava seu prprio sacrifcio

    (1:5) As posses de J so medidas por bois, ovelhas, jumentos e servos (1:3; compare

    com Gn. 12:16 e Gn. 32:5) Sua terra era ameaada por ataques de tribos nmades - 1:15-17 No h meno da Lei ou da Aliana Deus no mencionado como Jav,El Shaddai mais frequente

    Embora a narrativa do livro seja contempornea ao perodo dos patriarcas (versemelhanas com Gnesis), a maioria dos estudiosos concordam que a composio dolivro tenha sido por volta do sculo VII, ou seja, antes do exlio babilnico, durante amonarquia dividida. Isto no representa um problema, pois a mensagem do livro de Jultrapassada as barreiras do tempo.

    Estrutura de J

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    O livro, embora esteja includo na seo dos poticos, possui diversas formas

    literrias:

    Dilogos - Caps. 4 a 27 Monlogo - Cap. 3 Discursos - Caps. 29 a 41 Narrativas - Caps. 1 e 2 Hino - Cap. 28

    O livro de J pode ser dividido da seguinte forma:

    Prlogo (prosa) - 1 - 2 Discursos (poesia) - 3 - 42:6

    Dilogo - 3 - 28 Lamento de J - 3 Dilogo entre J e seus amigos - 4 - 27 Poema da sabedoria - 28

    Monlogo 29 - 42:6 J se diz inocente - 29 - 31 Discurso de Eli - 32 - 37 Discursos de Jav - 38 - 42:6

    Eplogo (prosa) - 42:7-17

    O livro de J estruturado para que o leitor conhea os personagens e algunsdetalhes que eles mesmos desconhecem, como por exemplo, o desafio de Satans aJav. Desta forma, o leitor sabe de antemo que os amigos de J esto equivocados aseu respeito.

    O lamento de J no captulo 3 d incio ao ciclo de dilogos que vai do Cap. 4 ao27. Nestes dilogos os amigos de J tornam-se cada vez mais contrrios a ele, e, emboraa teologia desses amigos no esteja incorreta, fato que seu papel como consolador ficamuito aqum do esperado. A teologia tradicional da poca dizia que o justo prospera e ompio sofre. Este a chamada Justia Retirbutiva, muito afirmada nos livros de Salmos eProvrbios. Os amigos de J utilizam-se da deduo deste princpio para o acusarem.

    J afirma que este Princpio pode ter sua exceo, com a prosperidade do mpio eo sofrimento do justo, mas desconfia da justia divina e passa a colocar Deus no bancodos rus. As respostas dos amigos de J apresentam a filosofia da poca, isto , desistirde entender a vida e confessar crimes no cometidos para acalmar a divindade. O trecho

    de 27:1-6 mostra que a integridade de J se manteve justamente por se recusar a fazer

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    isso. Ao agir desta maneira J recusou o tratamento que outros povos davam sdivindades pags, que faziam falsas confisses para obter favores e benos.

    O dilogo quebrado pelo hino Sabedoria no captulo 28, que sugere que averdadeira sabedoria ainda no se manigestou. Este hino mostra Deus como criador daSabedoria e ensina que a sabedoria humana s pode vir do temor do Senhor. Issointroduz o trecho dos discursos, ou monlogos e indica a concluso do dilema.

    O primeiro discurso apresenta o lamento de J ao recordar sua antiga posio ever sua situao atual. O juramento que ele faz tem a inteno de forar Deus a agir, isto, se ele for culpado de qualquer coisa citada no juramento Deus deveria executar seujuzo contra ele, portanto o silncio de Deus serviria com sua justificao.

    O segundo discurso mantm o suspense em relao resposta de Deus a J. AquiEli expoe de forma mais filosfica a questo do sofrimento humano, que pode, alm depunitivo, ser preventivo, isto , Deus, por meio do sofrimento, fazia J manter-se nocaminho correto. Desta forma, o sofrimento pode ser uma maneira de Deus demonstrar

    sua misericrdia.

    O terceiro discurso, quando Deus toma a palavra, caracterizado pela ausnciadas respostas esperadas. Desconsidera a queixa de J, e no responde ao juramento deinocncia. Deus muda o rumo do discurso de sua justia para sua sabedoria, pois Deus responsvel pela criao do mundo e sua sustentao soberana. Deus diz que o mundono foi criado pelo principio da retribuio (38:26), inclusive desafia J a criar um mundocom este princpio como fundamento (40:10-14). A concluso que as causas dosofrimento no so coerentes e ningum sbio o suficiente para questionar a justiadivina.

    No eplogo a prosperidade de J no se d de forma gratuita, mas uma respostaa Satans de que Deus continuar intervindo em favor do justo. Os amigos de J sorepreendidos, no por se posicionarem contra J, mas por no falar corretamente arespeito de Deus (42:7-8). Mesmo tendo sua vida restaurada, J no tem a explicao doseu sofrimento, pois, para o livro o mais importante no o motivo do sofrimento, mas asaes e os procedimentos de Deus. Para o leitor, J no culpado de nada, e foijustificado no por causa do seu sofrimento, mas pela demonstrao de grandesabedoria.

    Propsito e contedo

    O livro de J trata dos seguintes princpios:

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    O princpio da retribuio deve ser entendido a partir de Deus e no do homem. A

    Teologia do Antigo Testamento afirma inmeras vezes que Deus far prosperar o justo epunir o mpio, entretanto este princpio no deve ser usado para exigir a ao imediatade Deus, e nem deve ser usada como fundamento para entender o sucesso ou sofrimentoindividuais. Nosso consolo est fundamentado na soberania e sabedoria de Deus.

    A soberania de Deus, sua justia e sabedoria

    Na literatura de sabedoria em geral, e tambm no livro de J, a sabedoria, justia esoberania de Deus so amplamente discutidas. Embora o livro de J no estejaintimamente ligado com a Aliana podemos estabelecer um paralelo com os conceitosteolgicos da Aliana j apresentados em outras ocasies tais como: a lealdade, acompaixo e a bondade (x. 34:6; Jl. 2:13; Jn. 4:2; Ne. 9:17; Sl. 86:15; 103:8; 145:8).

    O livro de J nos mostra que a oniscincia de Deus apenas uma parte de suasabedoria infinita, a onipotncia somente um aspecto de sua soberania ilimitada e amisericrdia entendida como a sua justia. Estas categorias maiores nos ajudam a

    entender quem Deus , do que somente aquilo que ele pode fazer por algum.

    O mediador

    Em vrios momentos do livro, J parece crer na interveno de um advogado, umredentor (5:1; 9:33; 16:18-22; 19:25-27; 33:23). Alguns acreditam que se trata da crenana ressurreio, outros entendem que J ter a justia aplicada aps a morte, e outrosainda creem que se trata de uma previso messinica.

    Independente das variadas posies, o papel do mediador parece claro. A maioriacre que J espera pelo prprio Deus, porm, algumas definies parecem apontar para

    algum parente distante que viria ajud-lo (tal qual o remidor estudado em Rute).

    Entretanto, o tema do redentor aparece somente nos dilogos, e parece no ter umpapel fundamental no fim da trama, quando J, diante da sabedoria de Deus tem anecessidade de um redentor eliminada diante da restaurao que Deus promovera.